Psicologia do Trânsito – Especialização

Transcrição

Psicologia do Trânsito – Especialização
Psicologia do Trânsito
Adriana Caetano Bastos
Psicóloga CRP 16/2712
Por muitos séculos, a psicologia foi considerada um
capítulo da Filosofia.
René Descartes (1596- 1650) dividiu o homem em duas
partes distintas: a Alma (mente, espírito) e o corpo (a
máquina)
Base de sua certeza filosófica: Penso, logo existo.
Racionalista, acreditava na Razão.
Contra o Racionalismo, surge o Empirismo John Locke
(1632-1704); a valorização da ideia, que se agrupando
com associações, temos a percepção.
1830 a 1887, tempo das Especulações: qual a relação
entre o mundo físico material e o mundo psicológico
das percepções.
Meados do Século XIX: avanço das descobertas e
desenvolvimento da Fisiologia.
Wilhelm Wundt (1832-1920), médico e assistente, vem
unir a Filosofia do empirismo, a metodologia da
Psicofísica e a experimentação fisiológica e construir a
Psicologia Experimental.
Coisa de louco? Como estudar a Mente, a Consciência!!
Nos anos seguintes, nasce a Nova Psicologia, e muitos
interessados em conhecê-la.
Estudavam-se a atenção, a percepção, a imaginação, a
memória e o tempo de reação. O objeto de estudo: a
Consciência.
John Watson (1878-1959) surge o Bahaviorismo ou
o comportamentalismo.
Com os trabalhos de Piaget, Neisser e outros, os
processos cognitivos tornavam a ser estudados
mais profundamente.
Atualmente, podemos definir Psicologia como a
“ciência que estuda, por métodos científicos, o
Comportamento e os fatores e processos externos
ou internos, conscientes ou inconscientes, que o
provocam ou o alteram.”
 Definição Segundo o CTB:
Considera-se trânsito a utilização das vias por
pessoas, veículos e animais, isolados ou em grupos,
conduzidos ou não, para fins de circulação, parada,
estacionamento e operação de carga e descarga.
E ainda:
O trânsito, em condições seguras, é um direito de
todos e dever dos órgãos e entidades
competentes adotar medidas destinadas a
assegurar esse direito.
Conclusão: Necessitamos de Normas, Regras.
 O meio de locomoção mais antigo e rudimentar é o
próprio ato de caminhar. Depois disso, algumas
invenções permitiram o deslocamento mais fácil e
rápido, como a roda, trenó, canoa etc.
 A construção de alguns impérios, como persa e romano,
impulsionou o desenvolvimento das estradas, pois os
caminhos de pedras eram construídos para garantir a
expansão do império.
 Os romanos foram considerados os grandes peritos em
construção de estradas. Possuíam uma extensa rede
viária com mais de 350.000 km de estradas sem
pavimentação e já tinham sinalizações, marcos
quilométricos, indicadores de sentido e as primeiras
regulamentações de tráfego.
 Júlio César já proibira o tráfego de veículo em Roma
durante o dia, e o Imperador Adriano, limitou os
números de carroças que podiam circular em Roma.
Leonardo da Vici, no Séc. XVI, em seus estudos, já se
preocupava em oferecer soluções, que com o aumento
de veículos nas cidades, surgiriam. Propôs passeios e
leitos em níveis diferentes.
 Os Pedestres já eram objetos de preocupação e
cuidado. As ruas da Roma antiga eram feitas de pedras
assentadas uma ao lado da outra. A travessia de
pedestres era feita por blocos de pedras quadrados
colocados sobre a rua, um sim, um não, para que as
carroças passassem entre os vãos, fazendo a redução
forçada das mesmas e oferecendo segurança aos que
precisavam atravessar a via.
O primeiro automóvel, invenção do francês Nicholas Cugnot, ficou
pronto em 1771 e se deslocava a uma velocidade de 4 km/h. Nesse
mesmo ano, aconteceu o primeiro acidente automobilístico da história.
O próprio Cugnot perdeu o controle da direção ao tentar fazer uma
curva e, por não ter freio, destruiu um muro no pátio de manobras no
Quartel Real de Vicences (França).
Brasil: O primeiro carro foi trazido de Paris para São Paulo por
Henrique Santos Dumont (irmão de Alberto) em 1891. Era um Peugeot
com motor Daimler de patente alemã. Já o primeiro acidente
automobilístico aconteceu alguns anos depois: em 1897, no Rio de
Janeiro. O abolicionista José do Patrocínio importou um carro e
emprestou para Olavo Bilac que, sem ser habilitado, bateu na primeira
árvore que encontrou na Estrada Velha da Tijuca.
O primeiro acidente com vítima fatal no trânsito aconteceu em maio de
1869 no Condado de Offaly na Irlanda. A vítima foi arremessada e
atropelada pelo próprio veículo a uma velocidade aproximada de 6 km/h.
Mesmo com a baixa velocidade, teve uma fratura no pescoço e não
resistiu aos ferimentos.
A psicologia do trânsito estuda o
comportamento do ser humano nas
diversas maneiras de participar do
trânsito.
(Rozestraten, 1983)
Todo mundo da sociedade moderna participa do
trânsito:
 Os bebês, usam carrinhos ou são presos as
cadeirinhas nos veículos; mais tarde, em seu
crescimento natural, circularão de velocípedes,
patins, skates, motoquinhas, biciletas, etc.
 Adolescentes: participam com ciclomotores,
veículos mais leves, até se tornarem motoristas.
 Idosos: trarão para a via algumas limitações.
“AÇÕES” HUMANAS
Existe uma infinidade de tipos de
personalidade: o apressadinho, o orgulhoso, o
hiperagressivo, o indiferente, o zombador, o
nervosinho, etc.. Todos eles são sujeitos da
Psicologia do Trânsito e seus
comportamentos poderão ser estudados sob
vários aspectos.
 Pedestres;
 Ciclistas;
 Motociclistas;
 Motoristas;
 Passageiros de ônibus e taxi;
 Autoridades de trânsito;
 Legisladores e membros de órgãos que produzem




normas e regulamentações;
Engenheiros de trânsito e tráfego;
Engenheiros que projetam os veículos;
Socorristas;
Etc.
A psicologia apesar de ser
recente como profissão é tão
antiga quanto o próprio ser
humano.
Tão antiga quanto a psicologia é
a necessidade de deslocamento
do ser humano.
 Foi nos últimos anos da Década de 50 e no começo dos
anos 60 que a Psicologia do Trânsito começou a
desenvolver-se. A partir de então, começam a surgir o
Centros de pesquisa deste comportamento nas
Universidades e órgãos governamentais, e os governos
da Inglaterra, da Alemanha, da Suiça, da França e da
Holanda, da Finlândia, da Austrália e da Áustria, do
Canadá, dos Estados Unidos e do Japão, começaram a
investir em atividades de pesquisa em Psicologia dos
Trânsito. Aos poucos, começou-se a dispor de meios de
pesquisa mais sofisticados, como carros equipados com
registradores, simuladores aperfeiçoados, câmera de
vídeos, etc...
No Brasil: Estamos ainda em Construção deste
interesse.
Objetivo:
Compreender o trânsito como
ambiente social e psicológico de
interações humanas, onde estão
presentes elementos individuais e
sociais que afetam o
comportamento dos motoristas e a
dinâmica do trânsito.
 Ambiente: somos parte do ambiente e
pertencemos a ele.
 O ser humano se molda pelo ambiente ao
mesmo tempo que o modifica.
Como se constrói
o comportamento
 Natureza Humana?
 Condição Humana
 Natureza:
 Cultura: colere – cuidar/cultivar
 “É a forma pela qual os humanos se humanizam por
meio de práticas que criam a existência SOCIAL,
POLÍTICA, ECONÔMICA, RELIGIOSA,
INTELECTUAL E ARTÍSTICA.” (Chaui,2003)
 Ideologia
 Ordem Simbólica
Pesquisas apontam que
a falta de atenção é
um dos fatores mais
importantes causadores
de acindente.
 Difusa ou vigilância: o motorista varre o campo visual
na sua frente a procura de algum indício de perigo.
é a percepção de algo que pode ser importante.
 Concentrada seletiva: se concentra sobre um
determinado item e seleciona este item de todo o
resto de milhares de estímulos que estão à sua volta.
 Distribuída: permite concentrar sobre dois ou mais
focos (conversar, dirigir e ouvir música).
1.
2.
3.
4.
5.
Tomada de informação
Processamento da informação
Tomada de decisão
Resposta, reação ou comportamento
Feedback ou retroalimentação
1. Tomada de informação: Atenção
Detectar os objetos, visualizar as informações
distinção entre visão e percepção.
A verificação da Acuidade é necessária e pertinente
ao processo.
2. Processamento da Informação: Previsão
Identificação, conhecimento
sinalização, regras, leis.
e
compreensão
da
3. Tomada de decisão:
O processo de julgamento que apesar de ser um ato
intelectual, está intimamente ligado à nossa
personalidade, a nosso quadro de valores e a nossas
atitudes. Também é influenciado por razoes ilógicas,
sentimentais, egoísticas e morais.
Estudos de Fergenson (1971) em pessoas
envolvidas em acidentes mostram que os tempos
de decisão nelas era 2 a 3 centésimos de
segundo maior do que os tempos de decisão de
pessoas que nunca tiveram acidentes
A rapidez da decisão engloba a rapidez do
julgamento. Quem tem dificuldade de julgar,
também demora para tomar decisões. Por outro
lado decisão rápida pode levar a julgamento mal
feito.
4. Resposta, Reação ou Comportamento:
Movimento, tempo de reação.
5. Feedback:
Observação de seus atos ao volante. Escutar o
retorno do veículo em suas mãos; entender suas
ações nesta condução.
 Álcool;
 Fadiga e sono;
 Consumo de drogas (lícitas e ilícitas);
 Estresse, tensão e imposição exagerada;
 Estado emocional (perda de um ente querido,
brigas, etc.);
 Atitude anti-social (“são todos uns molengas e têm
medo de velocidade”, “é preciso ser esperto e
rápido”).
 Ignorância (da lei, dos deveres, dos sinais, das
placas, etc.);
 Desobediência;
 Emoção (estados emocionais fortes podem
influenciar o raciocínio);
• Diagnosticar a
estrutura dinâmica
dos indivíduos e grupos nos aspectos
afetivos, cognitivos e comportamentais;
• Colaborar na elaboração e implantação
de ações de engenharia e operação
de tráfego;
• Desenvolver ações
educativas com: diretores
e instrutores dos Centros
de Formação
de
Condutores, examinadores
de trânsito e professores
dos diferentes níveis de
ensino;
• Realizar pesquisas científicas no campo
dos processos psicológicos, psicossociais e
psicofísicos, para elaboração e
implantação de programas de saúde,
educação e segurança no trânsito;
• Participar de equipes multiprofissionais
no planejamento e realização das
políticas de segurança para o trânsito;
• Analisar os acidentes de trânsito,
considerando os diferentes fatores
envolvidos para sugerir formas de
evitar e/ou atenuar as suas
incidências;
• Elaborar laudos, pareceres
psicológicos, relatórios técnicos e
científicos;
 Desenvolver estudos sobre o fator humano para
favorecer a elaboração e aplicação de medidas
de segurança;
 Dialogar com os profissionais
da área médica
e da educação (instrutores/professores/
examinadores) por meio de estudos de caso de
candidatos à Carteira
Nacional de
Habilitação;
• Elaborar e aplicar técnicas de
mensuração das aptidões, habilidades
e capacidades psicológicas dos
condutores e candidatos à
habilitação, atuando em equipes
multiprofissionais, para aplicar os
métodos psicotécnicos de diagnóstico;
• Estudar os
efeitos psicológicos do uso
de drogas e outras substâncias químicas na
situação de trânsito;
• Participar no processo de recuperação e
orientação de acidentados, familiares e
infratores;
• Colaborar na preparação psicológica dos
socorristas, policiais, agentes de trânsito
e auxiliares, que atuam diretamente junto
à população;
• Propagar a Psicologia do Trânsito em
conferências, artigos etc., e colaborar na
formação de novos psicólogos do trânsito.
 Uso do carro como a extensão da
casa do motorista
Conf litos no Trânsito
 Proteção física: segurança.
 Proteção psicológica: lugar de relações
intrafamiliares e afetos.
Casa
 É um espaço de privacidade onde o ser humano
se dá o direito de ser como ele quer e não
necessariamente como os padrões da
sociedade impõem que ele seja.
 É um espaço de conflito entre seus moradores.
 42,5% - param durante o percurso longo para
dormir, namorar ou descansar no carro. (quarto).
 78,3% - gostam de conversar com a família/amigos
enquanto passeiam de carro; acham romântico
passear com o parceiro e gostam de oferecer
carona (sala de estar).
 87,5% - gostam de ter no carro suas músicas
preferidas (sala de som).
 40,8% - antes de sair do carro usam o
espelho para verificar a aparência;
têm pente/escova no carro
(banheiro).
 55% - fazem lanche no interior do
carro e
 70% - o porta mala deve acomodar as
compras do mercado(despensa).
 70% - cuidam da limpeza carregando
sacolinha para jogar o lixo e colocam
sachê no carro.
 62% fazem anotações enquanto
estacionados (escritório).
 80% - preocupam com conforto.
 95% - consideram o carro como lugar
seguro.
 49,1% - se identificam com o carro e
não gostam quando alguém faz alguma
alteração nele; chegam a afirmar, que
o carro tem a “sua” cara.
Fonte: Corassa, 2001. Pesquisa com usuários de carro dos quais 50% eram homens,
para investigar qual o significado que atribuem ao automóvel.
 Homens: são competitivos, agressivos,
apresentam raciocínio lógico, tem
orientação espacial, definem objetivos e
por eles se condicionam;
 Mulheres: preferem argumentar, são
intuitivas e pensam no futuro, têm
destreza manual e são voltadas para o
cuidado (maternidade).
Fonte: Shaywtz e Shaywtz (1995). Pesquisa sobre características dominantes de acordo com cada
gênero.
Em situação imprevista, não se pode recorrer
aos automatismos, que são mais ligeiros, mas tem
que se tomar o caminho psicológico mais comprido
(Processamento de Informação e a Tomada de
Decisão).
Exatamente quando a pessoa precisa
adotar comportamentos mais rápidos,
ela tem de recorrer a
processos mais demorados.
 Apavoramento;
 Pressa que alguns candidatos tem
para aprender a dirigir.
A aprendizagem motora
requer mais tempo
Determinar se a pessoa
assume muitos riscos,
poucos, ou a quantidade
exata para a satisfação de
seus objetivos.











Freio;
Visibilidade;
Pneumáticos;
Faróis;
Sinaleiro;
Sistema de direção (condições);
Motor;
Pára-choques;
Cor do veículo (tamanho)
Buzina;
Carga.










Sinalização;
Tipo de pista;
Estado de conservação;
Aclive e declive;
Visibilidade;
Pista seca, úmida, molhada, áspera, escorregadia;
Curvas;
Sinalização adequada ou não de locais em obras;
Inclinação transversal das outras vias;
Levantamento e dimensionamento de todas as
circunstâncias existentes neste local.
 Dia e noite;
 Iluminação no local;
 Tempo (bom,chuva normal, chuva






torrencial,neblina,etc.)
Pista (seca, úmida, lavada ou molhada após a chuva)
Excesso de cartazes nas estradas ou luminosos na
cidade;
Som, ruído ou vibração
Presença de poeira ou fumaça na estrada
Participação de outros veículos, suas condições,
danos, etc.
Participação de transeuntes, sua condição e estado.
A – fatores físico-fisiológicos :
 Acuidade visual;
 Acuidade auditiva;
 Sentido do olfato;
 Sentido do tato;
 Sentido do paladar;
 Equilíbrio cinestésico: informação que é
recebida pelo condutor em decorrência de uma
mudança repentina de seu equilíbrio (buraco,
ruptura de um pneumático, mudança de direção,
etc.
 Falta de atenção;
 Impulsividade;
 Indisciplina;
 Baixo nível mental;
 Dificuldade de aprendizagem;
 Apatia;
 Desequilíbrio psicomotor;
 Tendências ao negativismo;
 Tendência à oposição.
 Doenças do coração;
 Epilepsia;
 Diabetes;
 Senilidade;
 Estado de alcoolismo ou sob efeito de
substância tóxica.
 Os componentes psicotécnicos do condutor, diante
dos fatores que o envolvem (veículo, estrada,
tempo e trânsito), dependem dos componentes que
constituem a personalidade do condutor e dos
componentes que afetam a personalidade do
condutor.
“É uma desavença não intencional, envolvendo um
ou mais participantes do trânsito, implicando
algum dano e noticiado à polícia diretamente ou
através dos serviços de Medicina Legal e pela
qual o motorista foi julgado culpado pelas
instâncias competentes”.
Shinar - 1978
 Causas humanas diretas = são comportamentos que
precedem imediatamente ao acidente e que são
diretamente responsáveis por eles.
 Causas humanas indiretas = são condições e estado
de fadiga, como sono e embriaguez, por exemplo,
que deterioram o nível dos diversos processos
básicos
A Questão da Competência
O bom desempenho do condutor:
Conhecimento – aptidões Cognitivas
Habilidade – Físicas
Atitude - Personalidade
Queda da percepção de estímulos
A pessoa fica vulnerável a um
comportamento de risco
Pode levar ao acidente
[email protected]

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