Revista da Universidade Ibirapuera
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ISSN 2179-6998 Revista da Universidade Ibirapuera Revista da Universidade Ibirapuera Volume 4 - Julho/dezembro 2012 Volume 4 – Julho/dezembro 2012 Revista da Universidade Ibirapuera Volume 4 – Julho/dezembro 2012 ISSN 2179-6998 Revista da Universidade Ibirapuera Universidade Ibirapuera Reitor Prof. José Campos de Andrade Pró-Reitor Administrativo Prof. José Campos de Andrade Filho Pró-Reitor de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Prof. Dr. Antônio Carlos Guedes-Pinto Diretor Acadêmico Prof. Alan Almario Diretora Científica Profa. Kilça Tanaka Botelho Editora-Chefe Profa. Camila Soares COMITÊ EDITORIAL (UNIVERSIDADE IBIRAPUERA) Prof. Alan Almario Profa. Ana Carolina Santos Profa. Camila Soares Profa. Carina Macedo Martini Prof. Cassio José Callegaro Prof. Cyro Eduardo de Carvalho Ottoni Prof. Eduardo Colalillo Prof. Glauco Belmiro Rocha Profa. Kilça Tanaka Botelho Profa. Luciana Baltazar Dias Prof. Manoel Ricardo Severo Profa. Maria da Penha Meirelles Almeida Costa Profa. Maria Helena Bacaicoa Prof. Rafael Biffaratte Prof. Rodrigo Toledo CONSULTORES CIENTÍFICOS Profa. Adriana Maria Fraiha Monteiro – Universidade de São Paulo (USP) Profa. Alessandra Corsi – Instituto de Pesquisas Tec¬nológicas (IPT/USP) Profa. Aurea Rodrigues - Universidade do Porto – Portugal Profa. Elita Urano de Carvalho – Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN/USP) Prof. Geraldo Jorge Mayer Martins – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Prof. Humberto Gracher Riella – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Prof. Julio Nelson Scussel - Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Prof. Leandro Dos Santos Afonso – Universidade Bandei¬rante (UNIBAN) Profa. Kênia Warmiling Milanez - Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Prof. Kleberson Ricardo Pereira – Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) Prof. Rogério Ota – Universidade São Judas Tadeu Profa. Sônia Maria Lanza – Centro Universitário FIEO (UNIFIEO) EQUIPE TÉCNICA Projeto Gráfico e Diagramação – Lincoln Schindler Bibliotecária Responsável – Paola de Carvalho (CRB 8756) Áreas de interesse da revista Ciências Agrárias,Ciências Biológicas, Ciências da Saúde, Ciências Exatas e da Terra, Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas, Engenha¬rias, Linguistica, Letras e Artes SUMÁRIO A mãe e o desenvolvimento infantil nas teorias psicanalíticas Fabiana Mara Esteca Bullying: uma perspectiva sobre o agressor Norma Vicença Martins, Alan Almario O treinamento pliométrico: uma revisão Andrea Maculano Esteves, Marco Tulio de Melo, Daniel Alves Cavagnolli, Adalberto Souza A alfabetização matemática nas séries iniciais: o que é? Como fazer? Edvânia Maria da Silva Lourenço, Vivian Tammy Baiochi, Alessandra Carvalho Teixeira Língua inglesa: conceitos, crenças e prática de ensino Luciano Machado Rodrigues EDITORIAL A Revista da Universidade Ibirapuera chega ao quarto volume consolidando a diversidade de assuntos abordados, aspecto característico de nossa revista desde a primeira edição. Com autores de várias instituições do país, é possível perceber o interesse e a importância do periódico. Nesta edição, são apresentados temas nas áreas de saúde, que envolvem discussões sobre mente e corpo. Bullying e os ensinos de matemática e língua inglesa estão entre as abordagens em educação. Que a leitura dos textos contribua para fomentar reflexões, bem como estimular discussões e pesquisas. Profª Kilça Tanaka Botelho Diretora Científica Artigos científicos / Scientific articles Revista da Universidade Ibirapuera São Paulo, v. 4, p. 11-16, jul/dez 2012 A MÃE E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL NAS TEORIAS PSICANALÍTICAS Fabiana Mara Esteca Universidade Ibirapuera Av. Interlagos, 1329 – São Paulo – SP [email protected] Resumo Este artigo tem por objetivo discorrer sobre a compreensão do papel da mãe na formação do indivíduo sob o vértice da psicanálise. Pretendemos apontar para a necessidade de integrar a teoria com o contexto histórico-cultural em que foi constituída, a fim de evitar reduzir a complexidade humana aos moldes de uma teoria localizada em um tempo e um espaço muito distinto do nosso cenário atual. Para tanto, contamos com o substrato teórico de Freud, Winnicott, Melanie Klein e Bion. A teoria psicanalítica requer sempre a reflexão do contexto em que se aplica (como qualquer campo do conhecimento que investigue o humano), pois de outro modo corre-se o risco de recortar o sujeito para que ele caiba na teoria, impondo aspectos normativos, que reduzem a psicanálise de seu potencial transformador. Defendemos a importância de articular outras áreas do conhecimento como a antropologia, a sociologia e a história, em prol da construção de um conhecimento integrado sobre a realidade que nos cerca. Palavras-chave: função materna, relação mãe-bebê, psicanálise. Abstract This article aims to discuss the understanding of the role of the mother in shaping the individual under the apex of psychoanalysis. We intend to point to the need to integrate theory with the historical and cultural context in which it was formed in order to avoid reducing human complexity to mold a theory based in a time and a place very different from our current scenario. For this, we rely on the theoretical background of Freud, Winnicott, Melanie Klein and Bion. Psychoanalytic theory always requires reflection on the context in which it applies (as any field of knowledge that investigate human), because otherwise we run the risk of cutting the subject to fit the theory, imposing regulatory aspects, which reduce the psychoanalysis of its transformative potential. We advocate the importance of linking other areas of knowledge such as anthropology, sociology and history, in favor of building an integrated knowledge about the reality around us. Keywords: maternal function, mother-infant relationship, psychoanalysis. Revista da Universidade Ibirapuera - São Paulo, v. 4, p. 11-16, jul/dez 2012 12 1. Introdução Mandelbaum (2008), a partir das formulações de Adorno & Horkheimer (1973), compreende que, embora o conceito Este artigo foi elaborado a partir dos constructos teórico proposto por Freud tivesse um caráter universal (e teóricos realizados na dissertação “A mãe que trabalha daí, provavelmente a escolha feita por temas da mitologia fora: a criança e a família em relação ao trabalho materno”. grega para ilustrar sua teoria), a família enquanto institui- O referido estudo pretendeu investigar como a variável tra- ção reflete suas circunstâncias externas. balhar fora interfere (ou não) na percepção da criança so- bre sua constelação familiar e também sobre a relação com exemplo, ilustra a típica família burguesa do início do sécu- a mãe. O percurso teórico buscou articular o conhecimento lo XX, detentora da propriedade e herança familiar. O pai advindo da história da família burguesa, com o auxílio do era a figura idealizada e respeitada pelos filhos: provedor, substrato teórico da psicanálise. austero, respeitado, condições que paulatinamente foram sendo re-significadas, diante das crises que se seguiram A partir da contextualização histórica realizada em Como lembra a autora, o Complexo de Édipo, por trabalho anterior (Esteca, 2012) percebemos o quanto as- no decorrer do século. suntos relacionados à família vêm sendo explorados desde o início do século XX em vários campos do saber. A socie- grar a compreensão dos processos sociais com as mudanças dade ocidental passou por intensas transformações, na es- oriundas da dinâmica familiar, na formação do indivíduo. fera pública e privada. Os modelos de família “do passado” já não comportam os efeitos da modernidade e ainda funcio- fator de considerável teor na composição dessas linhas nam como lugar idealizado para se criar filhos saudáveis. teóricas. De acordo com Ariès (1978), a criança passou O advento da psicanálise colaborou também com a ser o centro da família no final do século XIX, fato que essa idealização da família nuclear tradicional, e, sobretu- transformou radicalmente as relações dentro da família e, do, à sobrecarga feminina atual, diante do imperativo de principalmente, os papéis e funções parentais. ser boa mãe, boa esposa e boa profissional. Ou seja, uma grande mudança estrutural ocorreu, gerando relativa perda teoria psicanalítica, que continuou se desenvolvendo ao de referencial acerca dos papéis a serem desempenhados longo de todo o século XX, contando com contribuições dos por homens e mulheres. Estas questões merecem atenção discípulos de Freud. Entre eles, Melanie Klein, da Escola por parte dos profissionais do campo da saúde mental, pois Inglesa de Psicanálise, apresentou suas ideias referentes acreditamos que a relação dos pais entre si e o sentimen- à relação objetal, entre a mãe e seu bebê. Posteriormente, to destes frente à dupla tarefa de ser pai e mãe, e ainda suas formulações serviram de base para a elaboração da exercer uma profissão, irá refletir diretamente no modo de Psicanálise de Família. Psicanalistas partiram do princípio educar e criar seus filhos. de que a primeira relação objetal entre mãe-bebê estaria na gênese de todas as relações futuras na vida individual Buscamos, com este artigo, contextualizar alguns Este apontamento evidencia a necessidade de inte- O lugar de destaque da criança na família é outro Concomitantemente a esse processo, “nascia” a pontos propostos pela psicanálise a fim de contribuir para (Gomes & Levy, 2009). a construção de um conhecimento afinado com o momento histórico, social e cultural em que vivemos. o bebê”, um estado de onipotência infantil, contraponto de 2. Discussão seu intenso desamparo de origem, Freud (1911) introduz No início da elaboração de sua teoria psicanalítica, como lembra Mandelbaum (2008), Freud já se debruçava sobre as intrincadas relações familiares na análise do caso do menino Hans (Análise de uma fobia em um menino de cinco anos: o pequeno Hans – Freud, 1909), tendo como eixo principal de compreensão o Complexo de Édipo. Referindo-se ao que chamou de “Sua majestade, uma nota de rodapé na qual coloca que “uma ficção como esta só é possível se se considera a existência de uma mãe”. Está marcada desde aí a importância da figura materna para ancorar o desenvolvimento infantil, impedindo que seu bebê, ainda precariamente constituído, se veja precocemente imerso no desespero de seu desamparo e dependência. Nos primórdios da teoria de Freud, porém, Revista da Universidade Ibirapuera - São Paulo, v. 4, p. 11-16, jul/dez 2012 13 a luz girava em torno do Complexo de Édipo e ele estava primeira relação objetal da criança com o mundo externo, mais interessado em compreender, a partir da infância, a apresentada pela figura materna. sexualidade adulta. A ênfase sobre o primeiro relaciona- mento com a mãe veio com força maior posteriormente, tra-se na experiência emocional, sobretudo nos elementos sub- com os discípulos de sua teoria (Phillips, 2006). jetivos que “dão o colorido dessas experiências” (p. 275). É interessante considerar, a partir do ponto de vis- Seu vértice de observação, como lembra a autora, cen- A descrição da formação do aparelho psíquico ta de Ferraz (2008), o quanto a teoria freudiana postulou proposta por Melanie Klein é feita, predominantemente, a sobre o feminino, a partir do referencial da falta, da própria partir da descrição dos movimentos do mundo interno na castração, com que Freud manejava sua análise sobre as tarefa de lidar com os conflitos gerados pela ambivalência mulheres. Ou seja, enquanto ser faltante, a mulher apenas e frustração, mediados pelo seio materno. poderia compensar sua “falta estrutural” de origem a partir da maternidade, enquanto único destino possível de reali- corpo da mãe configura o eixo do processo de formação zação. O filho, portanto, ocuparia o lugar de substituto simbólico simbólica e promove as condições psíquicas para o rela- do pênis – único modo de a mulher ser alguém na sociedade. cionamento inicial com o mundo externo (Segal, 1975). Psicanalistas como Winnicott, Bion, Klein e Lacan, Podemos afirmar que as contribuições de Klein alavanca- deram sequência às formulações freudianas, trazendo con- ram o salto que a teoria psicanalítica deu em direção ao tribuições próprias, mantendo os moldes propostos pelo “pai reconhecimento da vida emocional na primeira infância, da psicanálise”. A teoria se desenvolveu e a principal contri- influenciando fortemente as formulações futuras dentro da buição foi o reconhecimento consensual acerca dos cuida- teoria psicanalítica. dos que uma criança precisa para se desenvolver, em todos os aspectos. Embora nos dias de hoje, isso pareça ser tão Klein influenciaram fortemente as formulações de Winni- evidente, outrora o reconhecimento da vida emocional de um cott, que por sua vez, complementa e critica continuamente bebê ou de uma criança era praticamente inexistente, já que o trabalho da psicanalista. O ponto de intersecção perpas- o foco estava apenas em manter aquele ser vivo e alimenta- sa pelo olhar sobre a importância dos estágios precoces do, até que pudesse ser considerado um indivíduo, o que, de do desenvolvimento, a partir do que cada um constrói seus acordo com Ariès (1978) começava a acontecer por volta dos pontos de vista, sempre privilegiando o lugar ocupado pela sete anos de idade até fins do século XVIII. mãe nas primeiras relações. Portanto, esses discípulos de Freud, cada um à Na teoria Kleiniana, a relação da criança com o De acordo com Phillips (2006), as contribuições de Não podemos deixar de citar, contudo, a grande sua maneira, destacaram a importância da presença de um influência do naturalista Darwin na obra de Winnicott, fa- adulto capaz de cumprir com o que atualmente chamamos tor que provavelmente tem relação com seu legado acerca de função materna. A falha nesta função materna é aponta- da mãe enquanto figura primordial nos cuidados iniciais do da por diversos autores como responsável por dificuldades bebê. De acordo com Phillips (2006), o naturalista britâ- marcantes no desenvolvimento emocional. nico observou que a sobrevivência das espécies depen- Melanie Klein, uma das grandes pioneiras na aná- dia de sua capacidade de adaptação ao meio. Winnicott, lise de crianças, traz à luz a importância das primeiras rela- pela mesma linha, propõe que na espécie humana, é a ções na vida do recém nascido, voltando a atenção para o mãe quem “se adapta ativamente às necessidades de seu lugar da relação do bebê com sua mãe ou, mais especifica- bebê.” (Phillips, 2006, p. 25). Para esse autor, Winnicott mente, do bebê com o seio da mãe. De acordo com Souza debruça-se sobre os processos “naturais” de desenvolvi- (2007) a descrição de Klein acerca da posição esquizopa- mento, e nessa concepção, a mãe é aquela que emocional ranóide e da posição depressiva, enquanto dinâmicas de e fisiologicamente está apta a adaptar-se e estimular o re- organização das ansiedades e defesas do ego, configura cém-nascido. uma de suas mais importantes contribuições à psicanáli- se. Estas duas instâncias psíquicas são inauguradas na cuidados maternos serem satisfatoriamente supridos por Revista da Universidade Ibirapuera - Embora esses teóricos pontuem que é possível os São Paulo, v. 4, p. 11-16, jul/dez 2012 14 cuidadores substitutos, apontam argumentos pautados na concepção de amor materno, enquanto biologicamente justificado. ra, fato que para este autor culminou na grande valorização da figura materna como nunca antes: “Com a chegada de Melanie Klein à Inglaterra, em 1926, com a Este trecho de Winnicott (1990), por exemplo, rea- obra de John Bowlby e o próprio Winnicott e as crianças despe- firma essa concepção: jadas durante a guerra, e com os insights derivados da versão de “Seu amor por seu próprio bebê provavelmente é Anna Freud sobre a análise de criança, um novo quadro emergiu mais verdadeiro, menos sentimental do que o de qualquer na psicanálise, tratando da relevância dos relacionamentos pre- substituto; uma adaptação extrema às necessidades do bebê coces para o desenvolvimento individual. No mesmo momento pode ser feita pela mãe real sem ressentimento.” (p. 132) em que as mulheres estavam sendo novamente encorajadas a As formulações do psicanalista inglês refletiam o ficar em casa após seu papel decisivo durante a guerra, teorias modo como a sociedade ocidental estava organizada, na- convincentes e coercitivas sobre a importância da maternagem quele momento, isto é, de acordo com os padrões da fa- contínua para crianças e sobre os perigos potenciais da sepa- mília nuclear tradicional. Ora, se o pai não estaria em casa ração começaram a ser publicadas, e essas teorias poderiam para estar atento aos apelos de sua cria, a mãe seria aquela facilmente ser usadas para persuadi-las a assim o fazerem. Na que ficaria reclusa do mundo até que seu bebê começasse a psicanálise britânica pós-guerra não houve um retorno a Freud, desenvolver algum tipo de autonomia. Os papéis e funções, como houvera na França com a obra de Lacan, mas um retorno à na teoria e mesmo na vida prática, naquele momento esta- Mãe.” (Phillips, 2006, p.32) vam plenamente definidos, organizados e hierarquizados. Explorando um pouco mais a teoria winnicottiana, Ferraz (2008) lembra que, em meados da década temos que o recém-nascido vive um estado de dependên- de 60, Lacan amplia os conceitos psicanalíticos referen- cia absoluta e necessita, nessa fase, de um ambiente ca- tes às figuras de “pai” e “mãe” e introduz o termo “função paz de uma identificação tão íntima a ponto de ser capaz paterna” e “função materna”, trabalhando estes conceitos de responder adequadamente às suas necessidades. Este enquanto símbolos. Isso inaugura uma nova forma de com- ambiente seria representado inicialmente pela mãe, pois preender os determinantes psíquicos na primeira infância, estaria ela vivenciando o estado emocional que denomi- na medida em que estende o termo para além do pai e mãe nou “preocupação materna primária”, um estado peculiar biológicos e não se limita a uma questão de gênero. Para que a capacitaria para ser sensível às demandas do seu o autor, os escritos de Lacan promovem outro olhar sobre recém-nascido. De acordo com Winnicott (2000), essa o Complexo de Édipo, antes restrito à família burguesa e identificação só é possível por ter ela mesmo (a mãe) sido ocidental, e ganha um caráter mais universal: um bebê e ter recebido esses cuidados. Diante do desam- paro total exposto pelo recém-nascido, a mãe vivencia pai e mãe, mas por dizer respeito a elementos estruturais seu próprio desamparo e fica também vulnerável, diante de toda e qualquer cultura, tais como “lei” e “linguagem”. da responsabilidade de suprir integralmente as necessida- (Ferraz, 2008, p. 62) des daquele novo ser. Esta concepção leva o psicanalista a colocar o pai na posição de protetor da mãe, ou seja, a nea, a mulher ampliou suas possibilidades de existência: função do pai, nesse momento, é de transmitir confiança e proteção à sua mulher, para que ela possa desempenhar que lhe confira existência plena como sujeito, e nem pre- sua função de mãe plenamente. Outro fator que contribui cisa ser encarada como saída “natural” ou”biológica” para para essa fragilização é a própria preocupação materna uma mulher confirgurar-se como tal.” (Ferraz, 2008, p.69). primária, diante da regressão a estados primitivos, que a mãe vivencia nessa fase. atividades profissionais, esportes, política, artes, etc. O fi- lho não é mais sua única fonte de prazer. De acordo com Phillips (2006), o manejar dessas teorias teve relação direta com o clima da Europa pós-guer- “por não mais se referir a figuras demarcadas de Por fim, conclui o autor, na sociedade contemporâ“... a maternidade não é necessária como prótese Vemos hoje a mulher encontrando realização em Concordamos com o autor, quando este sugere uma reflexão acerca dos conceitos e da linguagem psicaRevista da Universidade Ibirapuera - São Paulo, v. 4, p. 11-16, jul/dez 2012 15 nalítica, tomando o cuidado em não se perder diante das imposições provenientes do ritmo acelerado das mudanças culturais. Uma reflexão dessa natureza deve ser feita para não corrermos o risco de reduzir a complexidade humana aos moldes de uma teoria localizada em um tempo e um espaço muito distinto do nosso cenário atual sem, contudo “jogar fora o bebê com a água do banho”. única responsável pela saúde psíquica de seu bebê. Lamb (2005, citado em Rossetti-Ferreira, Amorim & Oliveira, 2009) após ampla revisão bibliográfica sobre pesquisas em desenvolvimento humano, afirma que os indivíduos se desenvolvem em grupos mais complexos e diversificados do que puramente na sua relação com a De acordo com Rossetti-Ferreira,Amorim & Oliveira (2009): “Todo discurso cientifico sempre fala de algum lugar, para alguém, dentro de uma determinada época e contexto, a partir de certas perguntas, tendo como base determinadas abordagens teóricometodológicas. Esses discursos orientam certas formas de recorte do fluxo dos fenômenos (e não outras), certas ações e intervenções (e não outras), e consequentemente certos percursos desenvolvimentais (e não outros). Assim, cabe ao pesquisador a tarefa de traçar essas múltiplas vozes, identificando respostas às perguntas colocadas, para posicionar-se criticamente em relação a elas.” (p.16) mais, a figura materna, que passa a ser concebida como a mãe. Além disso, as novas formas de estruturação e re-estruturação familiar implicam em novas figuras significativas na vida de uma criança, tais como padrastos, madrastas e irmãos de outras uniões dos pais. Outra questão levantada pelo autor diz respeito à crescente participação da mulher no mercado de trabalho, exigindo que essas crianças recebam um cuidado compartilhado desde os anos iniciais. Nossa pesquisa pode apontar alguns elementos importantes referentes aos modelos de família da atualidade e evidenciou o quanto estão presentes resquícios do modelo tradicional na organização da dinâmica familiar e/ ou no imaginário dos pais. Esse padrão parece afetar ain- A teoria psicanalítica requer sempre a reflexão do da, e muito, as possibilidades de realização pessoal e pro- contexto em que se aplica (como qualquer campo do co- fissional da mulher, gerando “ruídos” na relação conjugal, nhecimento que investigue o humano), pois de outro modo bem como no modo de parentar seus filhos. corre-se o risco de recortar o sujeito para que ele caiba na teoria, impondo aspectos normativos, que reduzem a bricada relação entre a mudança ideológica e estrutural da psicanálise de seu potencial transformador. Tanis (2001) nossa sociedade, revelando que, embora o salto da eman- defende que este olhar é fundamental “para abordar psi- cipação feminina tenha ocorrido há mais de quatro déca- canaliticamente certos aspectos da contemporaneidade” das, ainda resistem na nova configuração familiar elemen- (p.40), e ainda lançar mão de outras áreas como a antro- tos arcaicos reproduzidos pela herança geracional. Talvez pologia, a sociologia e a história, as quais dialogam entre em futuras pesquisas possamos encontrar maior número si em prol da construção de um conhecimento integrado de famílias igualitárias, que neste momento parecem que- sobre a realidade que nos cerca. rer despontar, mas ainda em caráter de raridade. Essa pesquisa permitiu ainda refletir sobre a im- Pesquisas como a de Souza (1994) mostram que o pai, cada vez mais, tem sido capaz de exercer não só o seu papel de ancorar a mãe, como Winnicott defendia, mas também de cumprir com parte dessa função materna. Resta tentar compreender o quanto essas antigas ideias ainda fazem parte do imaginário popular, frente a uma realidade que exige novos encargos de homens e mulheres. Alguns estudiosos da psicologia do desenvol- vimento vêm questionando em que medida essa função precisa ser cumprida pela mãe, strictu sensu (Rossetti-Ferreira, Amorim, Oliveira, 2009), na medida em que tal interpretação dessas teorias acaba por sobrecarregar, ainda Revista da Universidade Ibirapuera - São Paulo, v. 4, p. 11-16, jul/dez 2012 16 6. Referências Bibliográficas Ariès, P. (1978). História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Zahar editores. Ferraz, F. C. (2008). O primado masculino em xeque. Interlocuções sobre o feminino na clínica, na teoria, na cultura. São Paulo: Escuta. Freud, S. (1909). O pequeno Hans. Trad. Sob a direção de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1969. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v.X). __________ (1911). Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental. Trad. Sob a direção de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1969. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v.XII). Gomes, I. C. , Levy, L. (junho/2009). Psicanálise de família e casal: Principais referenciais teóricos e perspectivas brasileiras. Canoas: Aletheia, n.29. Mandelbaum, B. P. H. (2008). Psicanálise da família. São Paulo: Casa do Psicólogo. Phillips, A. (2006). Winnicott. São Paulo: Ideias e Letras. Segal, H. (1975). Introdução à obra de Melanie Klein. Rio de Janeiro: Imago Souza, A. S. L. (2007). Dois vértices emocionais. O livro de ouro da psicanálise. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S. A. Souza, R. M. (1994). Paternidade em transformação: o pai singular e sua família. Tese de Doutorado. Pontifícia Universidade Católica, São Paulo. Rossetti-Ferreira, M. C., Amorim, K. S., Oliveira, Z. M. (set/2009). Olhando a criança e seus outros: uma trajetória de pesquisa em educação infantil. Psicologia USP 20 (3), p.437-464. Winnicott, D. (2000). A criança e seu mundo. Rio de janeiro: Imago ___________ (1990). Natureza humana. Rio de Janeiro: Imago Revista da Universidade Ibirapuera - São Paulo, v. 4, p. 11-16, jul/dez 2012 Revista da Universidade Ibirapuera - - Universidade Ibirapuera São Paulo, v. 4, p. 17-21, jul/dez 2012 BULLYING: UMA PERSPECTIVA SOBRE O AGRESSOR Norma Vicença Martins¹, Alan Almario¹ Universidade Ibirapuera Av. Interlagos, 1329 – São Paulo – SP [email protected] Resumo Este artigo pretende avaliar a formação psíquica do agressor do Bullying escolar de forma a justificar que seu comportamento de violência com outro não se trata apenas de uma ação particular, pois provêm da contribuição de uma sociedade violenta e da formação cidadã prejudicada de educação familiar e social marcada pela delegação de responsabilidades e por um afeto cada vez mais distante. Para tal fim, serão abordados aspectos relevantes da teoria psicanalítica, a fim de traçar um perfil do autor principal do bullying, o agressor. O estudo teórico, baseado em revisão bibliográfica, tem como objetivo refletir sobre a contribuição de uma sociedade social e familiar, bem como a história do homem com a agressividade através do olhar de um praticante de bullying. Palavras-chave: Bullying, agressividade, agressor, violência e psicanálise. Abstract This article aims to assess the psychological makeup of the offender’s School bullying in order to justify their violence behavior with another is not just a particular action because it comes from the contribution of a violent society and citizenship training impaired family education and social marked by the delegation of responsibilities and an increasingly distant affection. To this end, I will discuss relevant aspects of psychoanalytic theory in order to draw a profile of the author of the bullying, the aggressor. The theoretical study, based on literature review, aims to reflect on the contribution of a social society and family, as well as the story of the man with the aggressiveness through the eyes of a practitioner of bullying. Keywords: Bullying, violence, psychoanalytic theory. Revista da Universidade Ibirapuera - São Paulo, v. 4, p. 17-21, jul/dez 2012 18 1. Introdução mento. Conceituam em sua formação, os autores (agressores), que praticam violência contra os colegas, vitimizan- O trabalho procura analisar os componentes dos do os mais fracos e usando a agressividade para se impor fatores psíquicos que constituem o comportamento do e liderar algum grupo; as vítimas (alvos) são alunos que agressor no processo do bullying com a preocupação de estão expostos de forma repetida, e durante algum tem- uma nova reflexão. Não se trata de encontrar uma justi- po, às ações negativas praticadas por um ou mais alunos ficativa para as ações tão nocivas e cruéis que por ele é no ambiente escolar, e os espectadores (podendo ser ati- cometida; tem a finalidade de humanizar as ideias acerca vos ou passivos) são aqueles que não participam direta- desse agente, que também é um alvo da sociedade, seja mente da agressão, mas que passivamente, contribuem familiar, política ou social. Tal perspectiva supõe mudanças para a formação do bullying. Para se caracterizar bullying no olhar para essa criança ou adolescente. é necessário que ocorra entre pares de iguais e em insti- Apesar de o bullying ocorrer no contexto das ins- tuições escolares. Sabemos que o bullying começou a ser tituições escolares, ele não é só um problema da escola, reconhecido como um problema crescente na escola. Para mas de toda sociedade, visto ser um fenômeno que gera Freire e Aires, 2012 é um fenômeno de difícil identificação problemas em longo prazo, causando graves danos ao psi- por acontecer longe de adultos e por não haver denúncias quismo e interferindo negativamente no desenvolvimento por parte das vítimas devido ao medo de retaliação. cognitivo, emocional e socioeducacional dos envolvidos. Freire e Aires, 2012 in apud Fante, 2008. meno social, portanto, as formas de enfrentamento e pre- É preciso pensar o bullying escolar como um fenô- venção devem estar em plena comunhão com o contexto 2. Bullying onde ocorre, envolvendo medidas psicopedagógicas e preventivas, que levem em consideração aspectos sociais, Agredir, vitimar, violentar, maltratar, humilhar, in- psicológicos e econômicos, muito mais do que medidas timidar. Palavras que auxiliam na definição do bullying, caracterizadas por punições, ameaças e intimidações ou sobretudo, seu conceito está alem da discussão de seu formas prontas de enfrentamento (Freire e Aires, 2012). significado. O “fenômeno bullying” se trata de um comportamento intencional em “ferir” o outro fisicamente ou psico- 3. Agressividade: Uma causa ou um efeito? logicamente. A vontade consciente e o desejo de agredir alguém podem ser manifestados por bater, empurrar, tirar Na perspectiva freudiana o ato inaugural da cultura dinheiro, chantagear, ameaçar, chamar de apelidos pejo- é um ato de extrema violência: o assassinato do pai a horda rativos ou excluir; ações essas que ocorrem em grupos de primitiva, após isso sabemos que a história da civilização iguais. Segundo Pereira, 2002, a persistência e níveis de vêm de uma dolorosa violência entre os homens. De fato, o violência física e psicológica constituem fatores de risco que ameaçam gravemente o desenvolvimento psicológico e o bem estar das crianças e dos jovens. A autora ressalva que o bullying não pode ser confundido com outras formas de comportamento agressivo, normalmente expresso em determinadas idades ou na expansividade e envolvimento físico dos intervenientes, mas que não existe a intencionalidade de magoar ou causar danos. A literatura aponta como definição do Bullying um homem é tentado a satisfazer sua agressividade. Para que a civilização possa restringir sua agressividade foi posto em ação uma natureza a principio da ética e moral. A forma ideal para cumprí-la adequadamente foi a educação, preparando o homem para viver em sociedade. Nogueira, 2003 nos fala que a sociedade compete em refrear o ímpeto de agressão dos indivíduos que a compõem. No entanto, a mesma sociedade que insere o indivíduo a com- conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas portamentos “adequados” é a que pune agressivamente que ocorrem sem motivação evidente, adotada por um ou quem a desrespeita, formando por muitas vezes um núcleo mais alunos contra outro, causando dor, angústia e sofri- discriminatório e injusto. Revista da Universidade Ibirapuera - São Paulo, v. 4, p. 17-21, jul/dez 2012 19 A civilização contemporânea, edificada sobre um social são fatores importantes como reguladoras dos im- sofisticado aparato técnico cientifico, é atravessada por pulsos destrutivos. alguns elementos negativos que geram dentro dela um indisfarçável sentimento de mal-estar. Algo como a sen- como: dificuldade no controle de impulsos e no prazer de sação de habitarmos um mundo “torto”, inevitavelmente controlar sua vítima sem esperar retaliações. Estudos de- quebrado, onde as relações humanas se fazem cada vez monstram que o agressor de bullying pode se tornar um mais difíceis, marcadas como estão pela competição e a delinquente no futuro, ou seja, os comportamentos antisso- desconfiança (Nogueira, 2003). Vemos a agressividade ciais na infância e adolescência pode ser um fator promis- misturar-se à busca de prazer e desembocar nas diversas sor para uma vida social futura de criminalidade. Segundo modalidades de violência. Para a psicanálise a agressivi- Pereira, 2002 in apud Olweus, 1978, 1987, os agressores dade é sua manifestação, na ordem social, da pulsão de tem confiança em si próprio e não tem medo. Os agresso- morte que, por ser silenciosa, não tem outro espaço para res apresentam tendências agressivas devido à vida fami- expressar-se a não ser o do meio sociocultural. liar, visto que: os pais parecem fomentar mais a hostilidade Se observarmos as relações humanas, são mar- do que o afeto; existe um padrão familiar de permissivida- cadas pela vontade de poder e dominação, como sepa- de. Para Freire, 2005 a violência dos opressores, que os rar isso do ambiente escolar? Como educar uma criança faz também desumanizados, não instaura outra vocação, que agride outro no seu ambiente de cotidiano, se a so- a do ser menos. Como distorção do ser mais, o ser menos ciedade contribui para uma formação de cidadania que o leva os oprimidos, cedo ou tarde, a lutar contra quem os mais forte sempre vence. fez menos. Nesse paralelo entre opressores e agressores, A educação e a cultura deveriam tender a elimi- oprimidos e vítimas, revela-se uma mutável troca dos pa- nar as formas agressivas de resolução de tensões que peis instaurados na personalidade do agressor do Bullying, provocam as diferenças individuais. A educação deveria uma criança vítima de um poder abusivo em um ambiente valorizar e promover os comportamentos de empatia, a familiar ou social torna-se, quando encontra sua oportuni- negociação verbal, o intercâmbio de ideias, a cedência dade, o agente causador de dor ou humilhação. de ambas as partes na procura de justiça, no direito à igualdade de oportunidades para todos e no direito à di- bullying, proveniente de uma estrutura familiar que tem ferença de cada um (Pereira, 2002). como educação a violência, seja verbal ou física, o alvo As crianças agressivas podem ser identificadas Pensando o comportamento do agressor de que no centro da família pode ser colocado no lugar da víti4. Percepções sobre o papel do agressor no fenômeno ma, do que sofre abusos, e na escola que pode encontrar a bullying oportunidade de ocupar o lugar do agressor, transformando outros em vítimas, uma forma psíquica de “gritar” sua O ser humano é agressivo? Trata-se de um ques- agressividade. tionamento em que a resposta pensada ou falada está de acordo com os valores vividos de cada um. Uns vão afirmar 5. A sociedade familiar como contribuidora para o que não, pois existem pessoas que sempre estão dispos- bullying tas a fazer o “bem”, incapazes de manifestar um impulso destrutivo na sua relação com o mundo e com as pesso- as. Então a agressividade é determinada pela ação do Ela é responsável por transmitir valores, normas e modelos comportamento de um indivíduo? Para Ana Bock, 2008 a de conduta a que essa criança será submetida, tornando- agressividade sempre está relacionada com as atividades se sujeitos de deveres e direitos na sociedade que está de pensamento, imaginação ou de ação verbal e não ver- incluída. Pode se afirmar que se trata de um grupo impor- bal. Para a teoria freudiana, afirma-se que a agressividade tante para o desenvolvimento psíquico de uma criança, e é constitutiva do ser humano, no entanto, a cultura, a vida que esse desenvolvimento pode ser um dos contribuintes Revista da Universidade Ibirapuera - A família oferece a primeira educação à criança. São Paulo, v. 4, p. 17-21, jul/dez 2012 20 para determinar o seu comportamento futuro. Para Davis, dade. Analisando a situação do agressor do bullying, fica 2010 o desenvolvimento é o processo pelo qual o indivíduo claro que algo se perdeu na formação de valores e moral constrói ativamente, nas relações que estabelece com o desse indivíduo, vários são os fatores: ausência familiar, ambiente físico e social, as suas características. violência como educação, falta de limites, a troca do afeto Observa-se em famílias que em sua dinâmica pro- por objetos de valor. Hoje a sociedade contribui para que movem a violência, seja física, sexual ou psicológica, as o indivíduo se perca numa formação cidadã sem identifica- crianças refletem esses comportamentos no ambiente es- ções de autoridade e valores. colar, sendo às vezes no papel do agressor ou do alvo no bullying escolar. O agressor que tem por modelo a violência 6. Considerações Finais como forma de se comunicar, encontra nela a única forma de contato com o mundo. A crueldade, muitas vezes, adqui- rida em casa, em seu papel de alvo, traspõe nas relações do que discutir suas estatísticas e formas de ações, tra- com colegas na escola, tornando-se assim um agressor. ta-se antes de tudo, de um ato de violência que excede o A educação familiar pode assumir características convívio entre estudantes de instituições escolares, cau- autoritárias, democráticas ou permissivas (Pereira, 2002). sando uma formação psíquica prejudicada para qualquer Os agressores identificam-se com o poder e falta de coe- dos ditos “protagonistas” desse fenômeno. Necessita de são de uma família, as vítimas podem estar relacionadas ações que propicie uma nova formação de valores morais com a falta de capacidade de afeto dos pais ou ao contrá- que possa ir muito alem da responsabilidade do professor, rio, pelo excesso de proteção. da escola e da família, é algo inevitavelmente social, que O Superego, como uma dinâmica da personalida- carece de uma reflexão que abrange a todos essas vari- de, diz Rappaport, 1981 é responsável pela estruturação áveis, visto que se trata de um problema nascido e sus- interna dos valores morais, ou seja, pela internalização das tentado pela sociedade, uma sociedade cada vez mais normas referentes ao que é moralmente proibido. A autora intolerante e que preza em seu inconsciente uma relação ressalta ainda que o superego é uma estrutura necessária de poder e dominação. para o desenvolvimento do grupo social. Sem ele, seria- mos todos delinquentes, respeitando apenas as restrições um olhar discriminatório tanto por parte da escola, como da força externa. Contudo, observamos hoje, a dificuldade da sociedade. Discutem-se as ações desse agente em ní- do jovem em respeitar limites e figuras de autoridade, tal vel criminal, a criança ou o adolescente, sofre rotulações, situação é muito bem perceptível em uma sala de aula. como marginal ou personalidade agressiva patológica. Na A criança ou adolescente chega à escola acredi- mídia, nas rodas de escola, na rua, se fala do agressor tando que pode satisfazer a todos os seus desejos, inclu- com a incapacidade de uma análise que avalie o contexto sive o da agressividade. Na relação com outro, sua forma histórico desse jovem. A proposta aqui não é uma bandei- é de humilhação, de causar sofrimento, como se a consequência de seu ato fosse uma forma de alcançar satisfação. Na teoria freudiana o complexo de Édipo que é vivido intensamente por criança entre 3 e 5 anos, se caracteriza pela recusa da criança com seu objeto de amor, no qual podemos referenciá-lo aqui, como o papel da mãe. Quando a criança entende que seu desejo por esse objeto de amor precisa ser renunciado, inicia-se uma nova fase, de considerar a realidade. É através dessa quebra das fantasias O bullying, fruto do mundo contemporâneo, mais O protagonista do bullying, o agressor, é visto com ra defensiva à agressividade ou violência, mas sim uma análise do fenômeno bullying como fruto dessa sociedade que habitamos. Trabalhar o agressor como marginal, com punição criminal continua sendo validar essa violência escolar tão primitiva e dolorosa. É necessário, olhar o fato com corresponsabilidade social, familiar e política; construir uma sociedade justa, que valoriza a solidariedade e a educação, que denotam ações que consequentemente infantis que a criança é introduzida à essência da cultura e forma o indivíduo para se relacionar com o outro de forma dos valores morais, tanto introduzidos pelos pais ou socie- ética e moral, repeitando os limites impostos. Revista da Universidade Ibirapuera - São Paulo, v. 4, p. 17-21, jul/dez 2012 21 O estudo da psicanálise aponta que o jovem, hoje, é o reflexo de uma sociedade sem pai e sem mãe. A educação baseada na falta de limites, numa permissividade, gera na criança uma independência de seus desejos, muitas vezes sem regras e com a dificuldade de enfrentar às frustrações. É nas manifestações de agressividade que se evidencia um jovem que não aprendeu a conviver com seus impulsos destrutivos, e ainda impossibilitado de uma prática social onde se preza o valor, a ética e a moral. 6. Referências Bibliográficas BOCK. A.F. Psicologia: Uma introdução à psicologia. São Paulo: Saraiva 2008. DAVIS, C.; OLIVEIRA, Z.M.R. Psicologia na Educação. São Paulo: Cortez, 2010. FREIRE. P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. FREIRE, N.A; AIRES, J.S. A contribuição da Psicologia escolar na prevenção e no enfrentamento do bullying. São Paulo: Revista Semestral daAssoc. Bras. De Psicologia Escolar e Educacional, 2012. NOGUEIRA, João Carlos. Pulsões de Morte e civilização. In: MORAES, Regis (org.). Sociedade: o espelho partido, Campinas: Edicamp, 2003. PEREIRA, Beatriz Oliveira. Para uma escola sem violência. São Paulo: F.C.G., 2002. RAPPAPORT, C.R. Temas Básicos da Psicologia. São Paulo: EPU. Vol. 7, 2003. ___________, C.R.; Fiori, W.R.; Davis, C. Psicologia do Desenvolvimento. São Paulo: EPU. Vol. 1, 1981. Revista da Universidade Ibirapuera - São Paulo, v. 4, p. 17-21, jul/dez 2012 Revista da Universidade Ibirapuera - - Universidade Ibirapuera São Paulo, v. 4, p. 22-31, jul/dez 2012 O TREINAMENTO PLIOMÉTRICO: UMA REVISÃO Andrea Maculano Esteves¹, Marco Túlio de Melo¹, Daniel Alves Cavagnolli¹, Adalberto Souza² ¹ Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP Rua Sena Madureira, 1500 - São Paulo - SP [email protected] ² Hospital do Servidor Público de São Paulo - IAMSPE Resumo A Atividade Física é de grande importância na vida dos seres humanos, já que quando bem orientada e utilizada pode tornar-se um hábito de vida saudável contribuindo para uma maior expectativa de vida. Para a realização de qualquer movimento, há a necessidade da aplicação de uma força. O treinamento de força é uma forma muito utilizada para se obter o condicionamento físico e pode ser estruturado de acordo com os objetivos e necessidades de cada indivíduo. Dentro do mundo esportivo, cada modalidade possui suas manifestações particulares de força. Esportes com características explosivas, como o voleibol, basquetebol, handebol, se utilizam muito da força rápida específica de saltos. Isso ocorre devido aos inúmeros saltos decorrentes das ações específicas desses esportes. Pensando nisso, a melhor opção para o desenvolvimento desse tipo de capacidade física é o treinamento pliométrico. O treinamento pliométrico foi desenvolvido e difundido pelo mundo através de estudos da extinta URSS, tendo como princípio o impacto das quedas e sua ação nos órgãos (fuso muscular e órgão tendinoso de Golgi) e a expansão dos componentes elásticos dos músculos para o aumento do salto subseqüente. Apesar de ser a característica marcante de alguns esportes, o treinamento pliométrico, ao longo dos anos, foi utilizado para modalidades com características aeróbias, como auxiliar na performance de esportes de velocidade e até com o intuito de aumentar a densidade mineral óssea de pessoas fisicamente ativas. Palavras-chaves:força motora, treinamento pliométrico, fuso muscular, órgão tendinoso de Golgi, componentes elásticos em série. Abstract: Physical Activity is of great importance in the life of human beings, as well as targeted and used can become a habit of healthy life contributing to greater life expectancy. To perform any movement, is necessary to apply force. Strength training is a common method used in order to obtain physical fitness and it can be planned according to the individual needs. In the sports world each sport has different needs of power. In sports with explosive characteristics, such as, volleyball, basketball an handball, are used power jumps series training due to the numerous jumps that happens during the games. The plyometric training is the best way to develop the explosive force. Plyometric training is was developed and spread throughout the world through the researches in URSS. These researches were based on falls impact principle, in the effects in organ proprioceptors (Muscle Spindle and Golgi Tendon Organ) and the expansion of the elastic components of the muscles to improve the performance in subsequent jumps. Despite being important characteristics of some sports plyometric training is applied for a long time in aerobic sports, to improve speed and to increase bone mineral density in individuals physically active. Keywords: Motor Force, Plyometric Training, Muscle Spindle, Golgi Tendon Organ, Elastic components. Revista da Universidade Ibirapuera - São Paulo, v. 4, p. 22-31, jul/dez 2012 23 1. A Força para Saltar lares são responsáveis pela detecção do grau de alongamento músculo-tendinoso e desempenham sua função for- O salto é uma ação básica para várias modalidades mando uma sinapse diretamente com um neurônio-motor esportivas e pode possibilitar a obtenção de importantes no corno anterior da substância cinzenta da medula. Esse vantagens nas ações ofensivas e defensivas (Rodacki et neurônio-motor, por sua vez, tem a função de transmitir im- al., 1997; Barbanti & Ugrinowitsch, 1998). A força de sal- pulsos de retorno ao músculo. A partir de um determinado tos ou força rápida específica de saltos é a capacidade limiar de estiramento, desencadeiam uma ação muscular de superar o peso corporal e/ou a força da gravidade no reflexa, concêntrica ou isométrica, como forma de proteção intuito de alcançar a maior altura ou distância possível da estrutura a um alongamento excessivo e rápido, poten- (Barbanti, 1996, 1997). cializando a contração muscular (Barbanti, 1997; Barbanti & Ugrinowitsch, 1998; Weineck, 1999; Mcardle, Katch & Até hoje, o treinamento pliométrico desenvolvido na antiga e extinta URSS e difundido pelo mundo a par- Katch, 2003). tir dos estudos de Popou (1967) e Verkhoshanski (1968) (Dantas, 2003) é a forma mais utilizada para desenvolver muscular, é observada uma alteração na resposta de rela- esse tipo de capacidade (Barbanti, 1996). Também conhe- xamento dos órgãos tendinosos de Golgi (Weineck, 1999). cido como treinamento de elasticidade, treinamento reati- Esses proprioceptores estão localizados nos tendões dos vo, treinamento excêntrico, ou por sua sub-categoria como músculos e tem a capacidade de controlar a magnitude das treinamento de saltos em profundidade (Weineck, 1999), o contrações através do envio de estímulos inibitórios, que treinamento pliométrico tem sua eficiência comprovada e utili- fazem com que o músculo, ou músculos responsáveis pela za a ação sistematizada de saltar relacionada a velocidade de ação motora relaxem antes que a contração se torne preju- contração e a coordenação específica desse movimento. dicial as outras estruturas corporais (Guyton & Hall, 1996, Em 1984, a seleção norte-americana de voleibol, Barbanti & Ugrinowitsch, 1998). Com o devido treinamento em sua programação de treinamentos, realizava o treina- os tendões dos músculos se adaptam, aumentando sua mento pliométrico que variava de aproximadamente 200 a força. O aumento de força dos tendões diminui o feedback 400 saltos por sessão. No início do treinamento os atletas negativo desses órgãos e consequentemente, os múscu- saltavam em média 83,57 cm. Ao final do programa de treina- los aumentam se potencial para a contração. mento saltavam, em média, 93,63 cm (McGown et al., 1990). Os resultados práticos puderam ser vistos nas Olimpíadas de re a expansão dos componentes elásticos dos músculos. 1984, em Los Angeles, Estados Unidos, onde o treinamen- Essa expansão causa acúmulo de parte da energia me- to pliométrico pode ter tido grande influência na conquista da cânica gerada pelos elementos elásticos em série. Esse medalha de ouro pela equipe norte-americana de voleibol. armazenamento de energia, posteriormente, na fase po- Na pliometria utiliza-se o reflexo de estiramento, sitiva do movimento, é transformada em energia cinética e o reflexo tendinoso e o momento de expansão dos com- quando há uma passagem rápida da fase excêntrica para ponentes elásticos dos músculos (Barbanti, 1996, 1997; a concêntrica os músculos podem utilizar esta energia au- Weineck, 1999). mentando a geração de força no salto (fase concêntrica) Com a fase de amortecimento (fase excêntrica ou com um menor custo metabólico, impulsionando o corpo para negativa) os músculos envolvidos no movimento do salto se cima e/ou para frente. Conseqüentemente, pode ocorrer um estiram, distendem (Barbanti, 1996, 1997; Barbanti & Ugri- aumento na eficácia e altura ou distância final do salto (Bar- nowitsch, 1998; Weineck, 1999). A partir desse estiramento banti & Ugrinowitsch, 1998; Weineck, 1999; Verkhoshansky, um receptor nervoso sensorial no músculo é estimulado e 2001). No entanto, se a passagem de uma fase para outra for transmite os impulsos através da fibra muscular nervosa lenta, a energia potencial elástica será dissipada na forma sensorial para a medula espinhal. Os fusos neuromuscu- de calor, não se convertendo em energia cinética (Barbanti Além das alterações observadas no fuso neuro- Juntando-se a isso, na fase negativa do salto ocor- & Ugrinowitsch, 1998; Verkhoshansky, 2001). Revista da Universidade Ibirapuera - São Paulo, v. 4, p. 22-31, jul/dez 2012 24 Com o treinamento pliométrico visa-se o au- • Os exercícios de salto devem ser realizados logo após mento da força rápida específica de saltos a partir do um aquecimento intenso, pois exigem grande coordena- aumento do recrutamento das unidades motoras e da ção intramuscular e ativação do sistema neuromuscular; correta utilização do potencial elástico dos músculos. Nele objetiva-se rápido ganho de força em função da • Os exercícios de salto nunca devem ser realizados em alta intensidade das cargas sem aumento da massa dias posteriores a sessões de treino com cargas eleva- muscular ou aumento da massa corporal total (Weineck, das, acarretando em grande grau de fadiga e diminuição 1999). da velocidade de execução dos exercícios. Isso alteraria o padrão coordenativo do movimento e diminuiria a 2. Pesquisas Envolvendo o Treinamento Pliométrico Diversos estudos envolvendo o treinamento pliométrico foram desenvolvidos ao longo dos anos. Neles, vários objetivos foram propostos no intuito de criar métodos de treinamento eficientes para os diferentes esportes onde os saltos são importantes. Hakkinen (1993) acompanhou 17 jogadoras de voleibol por 1 macrociclo de treinamento. O objetivo do estudo foi avaliar as alterações decorrentes do treinamento específico desta modalidade (preparação física, técnica e tática das jogadoras). As variáveis analisadas foram: squat jump (salto vertical partindo da posição agachado), countermovement jump (salto com contramovimento), salto de bloqueio, salto de ataque, força máxima isométrica dos extensores do joelho, tempo de produção de força, arremesso de medicineball, VO2máx., resistência de saltos em teste de 30 segundos. Durante o 1º período competitivo todos os saltos tiveram aumento significativo em suas medidas, enquanto a força explosiva de membros superiores, a força isométrica dos extensores do joelho e o VO2máx. permaneceram inalterados. Durante o 2º período competitivo, todas as variáveis analisadas tiveram decréscimo significativo, com exceção do VO2máx. que ainda permaneceu inalterado. Segundo o autor, esse decréscimo poderia ter ocorrido porque na metade do 2º período foi excluido das sessões de treinamento o treino de força máxima. No entanto, os testes para análise da evolução do treinamento só foram realizados no início e no final desse período podendo sugerir ainda que a performance das atletas estaria diminuída em razão de um possível overtraining. Para Barbanti e Ugrinowitsch (1998) em revisão sobre o tema, para que os objetivos sejam atingidos o treinamento pliométrico deve obedecer alguns princípios: Revista da Universidade Ibirapuera - eficiência da utilização dos componentes elásticos dos músculos durante o salto; • As séries devem ser intensas (máximas), mantendo o padrão de ativação das unidades motoras próximo ao dos esportes; • Somente o sistema anaeróbio alático deve ser utilizado, por isso as séries devem ser curtas compostas por quatro a oito saltos; • O intervalo de descanso deve contemplar a completa restauração das reservas de ATP-CP. O não cumprimento desses princípios poderia incorrer em fadiga precoce. O quadro de fadiga pode provocar aumento na transição da fase excêntrica para a concêntrica do movimento, dando mais tempo ao indivíduo para gerar a força não específica que é necessária para realizar um salto com a mesma elevação do centro de gravidade. Mesmo compensando a potência perdida, a energia potencial elástica que foi acumulada é perdida na forma de calor e o efeito de treinamento é diminuído pela não solicitação dos componentes específicos do salto. Além disso, o quadro de fadiga faz com que o indivíduo também perca parte da capacidade de amortecer o impacto da queda, acarretando em maior sobrecarga do aparelho articular por perda da qualidade do controle do movimento (Barbanti & Ugrinowitsch, 1998). Em outro estudo com jogadores de voleibol, Newton, Kraemer e Hakkinen (1999) compararam dois protocolos de treino no intuito de saber qual programa era mais eficiente. Participaram desse estudo 16 atletas altamente treinados na modalidade. Todos completaram São Paulo, v. 4, p. 22-31, jul/dez 2012 25 o período de preparação básica, composto por elementos possuem essa característica. Para muitos esportes onde técnicos e táticos combinado com um programa de treina- a velocidade inicial tem grande importância quanto a velo- mento de resistência. Após o período básico, foram enga- cidade máxima, o treinamento pliométrico pode auxiliar no jados aleatoriamente em 2 grupos. O grupo 1 realizou 8 aumento da performance. semanas de treinamento pliométrico com saltos partindo da posição de meio agachamento (joelhos flexionados for- realizado com jogadores de rugby profissional tentaram mando um ângulo de 90°). O grupo 2 realizou exercícios encontrar uma relação entre a força máxima e potência de agachamento e leg press com a carga máxima para com a velocidade do 1º passo (velocidade de saída para 6-RMs. Testes de impulsão vertical parado e com aproxi- o movimento), velocidade de aceleração e velocidade má- mação foram realizados em plataforma de força antes e após xima nesse esporte. Testes de 3-RMs, squat jump, coun- o treinamento de saltos. Foram feitas mensurações de força, termovement jump e drop jumps (salto em profundidade), velocidade e potência produzida pelos saltos. Os resultados mensurações dos picos de torque e razão de torque do apontaram para aumentos significativos na altura dos saltos quadríceps e isquitibiais a 60 graus por segundo (°.s) e do grupo experimental de 5,95 ± 3,1% e 6,3% ± 5,1% para 300°.s e sprints de 5, 10 e 30 metros foram realizados. Os squat jump e salto com aproximação, enquanto o grupo con- resultados sugerem que em esportes com características trole não obteve aumentos significativos. explosivas, o aumento da potência por Kg de massa cor- poral e o treinamento pliométrico podem aumentar a velo- Buscando alternativas de treinamento para atletas A partir disso, Cronin e Hansen (2005) em estudo de alto nível, Matavulj et al. (2001) compararam a altura da cidade de jogadores de nível profissional. queda na performance do salto vertical em atletas da cate- goria júnior de basquetebol. Três grupos foram formados: podem ser beneficiados com o treinamento pliométrico, Grupo 1 (controle) realizou somente meio período de treino entretanto, o mecanismo responsável pela melhora conti- com atividades técnicas e táticas. Grupo 2 (experimental) nua não esclarecido. realizou saltos com queda de 50 centímetros (cm) de altu- ra. Grupo 3 (experimental) realizou saltos com queda de (2003) examinaram se as alterações na performance da 100 cm de altura. A altura máxima de salto vertical a partir corrida tinham relação com o treinamento pliométrico. De- do countermovement jump, a força voluntária máxima e a zessete homens treinados participaram do estudo e reali- razão de desenvolvimento de força dos extensores do qua- zaram testes de força máxima isométrica, 5 saltos múlti- dril e dos joelhos foram avaliadas antes e após o treino. plos em distância, countermovement jump, economia de Aumentos de 4,8 e 4,6 cm foram encontrados na corrida, VO2máx., limiar de lactato, e tempo nos 3000 me- altura do salto nas quedas de 50 e 100 cm, respectiva- tros. Os voluntários foram aleatóriamente divididos em 2 mente. A força dos extensores do quadril e a razão de de- grupos: Grupo 1 (experimental) realizou 6 semanas de trei- senvolvimento de força dos extensores dos joelhos foram namento pliométrico em conjunto com sua rotina normal de significativamente maiores após o treinamento nos grupos treinos de corrida; e Grupo 2 (controle) realizou apenas a experimentais em relação ao período anterior ao treina- rotina normal de treino para corrida. O grupo experimen- mento e em relação ao grupo controle. Não foram obser- tal melhorou significativamente a performance nos 3000 vadas diferenças significativas entre os dois grupos expe- metros (2,7%), a economia de corrida, a altura do coun- rimentais. Em conclusão pode-se dizer que o aumento na termovement jump, a distância final dos 5 saltos múltiplos altura do salto é parcialmente explicada pelo aumento da e a flexibilidade músculotendinosa. Não ocorreram altera- força dos extensores do quadril e da razão de desenvolvi- ções significativas no VO2máx. e no limiar de lactato desse mento de força dos extensores dos joelhos. grupo. Já para o grupo controle, não ocorreram alterações Apesar do salto ser um fundamento básico de es- significativas para as variáveis mensuradas. Segundo os portes como o voleibol, basquetebol e futebol, o treinamen- autores, uma possível explicação seria a melhora na flexi- to pliométrico também foi proposto para esportes que não bilidade músculotendinosa e a economia de corrida. Revista da Universidade Ibirapuera - Esportes com características aeróbias também Pensando nisso, Spurrs, Murphy e Watsford São Paulo, v. 4, p. 22-31, jul/dez 2012 26 Os mesmos princípios do treinamento pliométrico posterior aumentando a intensidade do treinamento plio- com saltos também pode ser aplicados aos membros su- métrico subsequente (Brandenburg, 2005). periores. Com isso, Swanik et al. (2002) realizou um expe- tividade de um programa de treinamento pliométrico na rimento com 24 nadadoras de elite por 6 semanas com o produção de potência dos músculos posteriores dos om- objetivo de melhorar a propriocepção, cinestesia e as ca- bros e extensores e flexores dos cotovelos. Vinte e oito vo- racteríscas de seleção muscular dos músculos rotadores luntários adultos (5 homens e 23 mulheres) foram divididos internos do ombro. O treinamento consistia em 3 séries aleatoriamente dentro de 1 grupo controle e 1 grupo ex- de 15 repetições com medicineball e elásticos resistidos, perimental. Antes e após o experimento foram realizados 2 vezes por semana. As variáveis analisadas foram a pro- testes de força em dinamômetro isocinético e teste de es- priocepção e a cinestesia dos rotadores internos e exter- tabilidade em exercício de cadeia fechada para membros nos do ombro a 0° e 75° de rotação e a 90% da rotação ex- superiores. O grupo treinado apresentou aumentos sig- terna máxima de cada sujeito. A força desses movimentos nificativos apenas na potência produzida pelos músculos foi avaliada em dinamômetro isocinético a 60°.s, 240°.s e extensores dos cotovelos (tríceps). O grupo controle não 450°.s. Os testes foram aplicados antes e após o progra- apresentou diferenças significativas no decorrer do estudo. ma de treinamento e demonstraram aumento significativo na propriocepção a 0° no movimento de rotação externa e Wilson, Murphy e Giorgi (1996) submeteram 41 homens 75°.s e 90% da rotação máxima em ambos os movimentos, a dois protocolos de treinamento no intuito de saber qual mostrando aumentos significativos na cinestesia para to- era mais efetivo para o aumento das forças excêntrica e das as variáveis analisadas. Ocorreram também, ganhos concêntrica. Um dos grupos realizou treinamento de força significativos no pico de torque a 60°.s e 240°.s e o tempo máxima em aparelhos de musculação, enquanto o outro de amortização a 450°.s. Segundo Swanik et al. (2002) realizou exercícios pliométricos. Ambos os grupos treina- esse estudo sugere que o treinamento pliométrico pode ram por um período de 8 semanas. Os seguintes testes facilitar as adaptações neurais, incluindo a propriocepção, foram realizados: salto vertical, testes isoinerciais de força a cinestesia e a performance muscular. concêntrica e excêntrica e testes de força máxima no su- Em outro estudo envolvendo o treinamento plio- pino e agachamento. Seus resultados apontaram para um métrico para membros superiores Brandenburg (2005) aumento significativo na força excêntrica de membros infe- objetivou determinar se a força explosiva de membros su- riores maior nos exercícios pliométricos. Em contrapartida, periores pode ser aumentada quando os testes são prece- os exercícios de força máxima foram significativamente didos por protocolos de exercícios dinâmicos. Oito sujeitos mais efetivos que os exercícios pliométricos para o aumen- fisicamente ativos foram submetidos a 3 sessões que con- to da força concêntrica. Em conclusão, os resultados en- sistiam em 5 repetições no supino usando 100%, 75% e contrados podem ser atribuídos ao estresse específico que 50% de 5-RMs. Uma quarta sessão serviu de controle para causa adaptações também específicas para os diferentes as 3 situações anteriores onde não aconteciam exercícios tipos de treinamento. prévios. As sessões foram realizadas em dias diferentes e a ordem das cargas era sorteada. As médias de potência treinamento pliométrico com contrações lentas e rápidas foram determinadas e comparadas com a sessão controle. na performance do salto vertical de 30 voluntários do sexo Os resultados apontam para melhoras na força explosiva masculino, com idades entre 19 e 22 anos. Nesse experi- quando o teste é realizado após exercícios dinâmicos com mento, os autores dividiram os voluntários em 3 grupos: no as diferentes cargas. Não ocorreram diferenças significa- grupo 1 (n=12) os sujeitos partiam da posição agachado, tivas em as 3 sobrecargas que precederam os testes, indi- com os joelhos flexonados a 90° com velocidade controlada cando que o aquecimento realizado previamente a sessão a 0,4 metros por segundo (m/s). O grupo 2 (n=12) realizou de treino de força explosiva pode auxiliar no desempenho o mesmo procedimento, mas com velocidade de 0,2 m/s. O Revista da Universidade Ibirapuera - Schulte-Edelmann et al. (2005) examinaram a efe- Em outro estudo com pessoas fisicamente ativas, Em 2004, Toumi et al. compararam os efeitos do São Paulo, v. 4, p. 22-31, jul/dez 2012 27 grupo 3 (n=6) serviu de controle para o experimento. O treinamento consistia na realização de um exercício entre a sessão controle e a sessão com saltos em pro- de salto vertical, com 6 séries de 10 repetições a 70% fundidade sugerindo que a realização de saltos antes da força máxima isométrica, 4 vezes por semana, por da sessão de teste de 1-RM pode aumentar a perfor- um período de 8 semanas. A carga foi ajustada a cada mance desse teste. duas semanas de acordo com um novo teste realiza- do. Além do teste de força isométrica que foi realiza- indivíduos adultos distribuídos em 3 programas de do a cada duas semanas, foram realizados testes de treino combinado. No primeiro programa, os voluntá- salto vertical (squat jump e countermovement jump), rios realizavam luta livre, softball e treinamento plio- verificação da atividade eletromiográfica de superfície métrico. O segundo programa consistia somente no dos múculos envolvidos na ação e o tempo do salto treinamento resistido. O terceiro programa combinava dividido em 3 fases: fase excêntrica, fase de transição o treinamento resistido e o treinamento pliométrico. e fase concêntrica. Essas mensurações foram reali- Nos testes de corrida de 40 jardas, salto vertical e zadas antes e após o período de treino. arremesso de medicineball, todos os grupos aumen- Ocorreram aumentos significativos na força taram significativamente a performance quando com- de extensão das pernas, velocidade final do salto e parados com seu resultado pré-treino. No shuttle run, atividade eletromiográfica nos testes de salto para os nenhum grupo conseguiu melhoras significativas. No 2 grupos experimentais. O grupo 1 mostrou melho- teste de salto vertical, todos os programas foram efeti- ras significativas no teste com contra movimento e na vos, quando comparados com a performance pré-trei- velocidade da fase de transição em relação ao gru- no. Nenhuma diferença significativa foi encontrada na po 2. Com os resultados os autores concluíram que a comparação dos grupos. performance no salto vertical depende da velocidade da contração muscular e que os melhores resultados liza-se contrações excêntricas prévias intensas (salto são alcançados quando o treinamento é realizado em em profundidade) para a maximização do salto, au- velocidades máximas. mentando o nível de lesão muscular após as sessões O efeito agudo do treinamento pliométrico foi de treino também são muito intensas. Na tentativa estudado por Masamoto et al. (2003). Nesse estudo de encontrar formas alternativas de treino que pro- foram submetidos ao treinamento 12 homens fisica- mova adaptações positivas e diminuam o nível de mente ativos, com idade de 20,5 ± 1,4. Nele foi ava- lesão muscular protocolos de investigação com sal- liado o efeito do treinamento de saltos no 1-RM do tos foram realizados na água (Robinson et el., 2004; agachamento. Foram realizadas 3 sessões de testes Martel et al., 2005). separadas por 6 dias de descanso. Na primeira ses- são os voluntários realizaram aquecimento prévio em lheres adultas foram divididas aleatoriamente em 2 cicloergômetro por 5 minutos e depois realizavam 5 grupos. O treinamento foi o mesmo para ambos os séries submáximas de 1 a 8 repetições antes do teste grupos com exceção do terreno de aterrissagem. O de 1-RM. O intervalo entre as tentativas para 1-RM grupo 1 realizava o treinamento tradicional em quadra era de 4 minutos. Na segunda e terceira sessões de e o grupo 2 realizava o treinamento na água. A potên- teste foram utilizados 3 saltos verticais e 2 saltos em cia gerada pelo salto, torque, velocidade e o nível de profundidade. A média do 1-RM das sessões foi de lesão muscular foram analisados em testes realiza- 139,6 ± 29,3 Kg, 140,5 ± 25,6 Kg e 144,5 ± 30,2 Kg, dos antes, após 4 semanas de treinamento e ao final respectivamente para sessão controle, sessão com do programa. O nível de lesão muscular foi avaliado saltos verticais e sessão com saltos m profundidade. através de palpação e escala de percepção de dor 96 Revista da Universidade Ibirapuera - Diferenças significativas foram encontradas Ford et al. (1983) realizou um estudo com 50 No treinamento pliométrico convencional uti- No estudo de Robinson et al. (2004), 32 mu- São Paulo, v. 4, p. 22-31, jul/dez 2012 28 horas após o término das sessões na 1ª, 3ª e 6ª semana adultos foram divididos aleatoriamente em 2 grupos. A de treino. Os resultados apontaram para aumentos signifi- participação das articulações dos joelhos, quadril e tor- cativos em cada mensuração na altura do salto (pré-treina- nozelos foram analisadas através da atividade eletromio- mento < 4 semanas < pós-treinamento, p ≤ 0,001). O nível gráfica dos músculos que envolvem essas articulações, de lesão muscular foi significativamente maior no grupo juntamente com a mensuração de força, altura de salto, que treinou na quadra em comparação ao grupo que treino torque, potência e trabalho realizado. O trabalho realiza- na água em todas as mensurações. Segundo os autores, do pela articulação dos tornozelos em saltos baixos, altos os resultados demonstram o mesmo aumento da perfor- e máximos foi de 1,80, 1,97 e 2,06, respectivamente, a mance nos dois tipos de superfície de aterrissagem, no en- força foi de 3,596. Na articulação dos joelhos as medidas tanto, o nível de lesão muscular das quedas na água são foram de 1,62, 1,77, 1,94 para saltos baixos, altos e má- significativamente menores que os saltos realizados em ximos, respectivamente. A força produzida pelos joelhos piso de quadra. Esses resultados poderiam ser explicados foi de 1,492. O trabalho da articulação do quadril foi de pela maior força necessária a ser aplicada na fase concên- 1,03 (salto baixo), 1,84 (salto alto) e 3,24 (salto máximo) trica e menor impacto na aterrissagem, respectivamente. e a força produzida foi de 110,143. Todas as unidades de Martel et al. (2005) separaram aleatoriamente 19 medida são em joules/Kg. Em conclusão pôde-se notar jogadoras de voleibol com idades entre 15 e 16 anos em 2 que existem diferenças na solicitação das articulações grupos para 6 semanas de treinamento. O grupo 1 (expe- dependendo do grau de dificuldade do salto e que esse rimental) além de realizar as sessões técnicas e táticas e trabalho não encontrou os mesmos resultados do traba- o período de preparação básica da modalidade, realizou o lho realizado por Luthanen e Komi (1978) que em estudos treinamento pliométrico na água. O grupo 2 (controle) re- realizados com o salto vertical sob o ponto de vista biome- alizou as sessões técnicas e táticas, o período de prepa- cânico, divulgaram nos resultados de suas pesquisas que ração básica e ao invés dos saltos, faziam exercícios de o movimento de maior influência no salto é a extensão flexibilidade. Testes de força de membros inferiores foram dos joelhos, com participação de 56% na ação do salto, realizados antes e após o período de treinamento e testes seguido pela flexão plantar, 22%, extensão do tronco e de salto vertical foram realizados antes, após 2, 4 e 6 sema- balanceamento dos braços, 10%, e balanceamento da nas. Similares aumentos foram observados no salto ver- cabeça, 2%, provando assim que a correta execução do tical em ambos os grupos (experimental = 3,1%, controle 4,9%) até a 4ª semana de treinamento. Entretanto, houve um aumento adicional no grupo experimental de 8% da 4ª para a 6ª semana enquanto no grupo controle ocorreu uma redução não significativa de 0,9%. Os testes de força também mostraram aumentos significativos no pico de torque concêntrico durante a extensão e flexão de joelhos a 60° .s e 180° .s. Em conclusão os autores afirmam que o treinamento pliométrico na água pode ser uma interessante salto (quando utilizados todos os movimentos auxiliadores) tem valor determinante em sua eficiência final (Barbanti, 1996). Essa diferença encontrada pode ser devido aos avanços das técnicas eletromiográficas que geralmente são utilizadas nesse tipo de estudo. Apesar da intensidade dos saltos ser extrema- mente elevada e o impacto da queda causar grande nível de lesão muscular, o salto pode ser benéfico para algu- alternativa para a rotina de treinamento pois este permite mas populações. aumentos significativos na performance e produzem níveis reduzidos de lesão muscular quando comparados com o doras de voleibol recreativo e mulheres que não pratica- treinamento convencional em pisos duros. vam esse tipo de atividade com faixa etária de 42 a 62 Nessa mesma linha de pensamento, Lees, Van- anos, menopausicas, Ito et al. (2001) encontraram um renterghem e De Clercq (2004) compararam o efeito de aumento da densidade mineral óssea da coluna lombar, séries de saltos máximos com o efeito de séries de sal- calcâneo e tíbia nas mulheres jogadoras quando compa- tos submáximos (saltos baixos e máximos). Vinte homens radas as mulheres que não praticavam esse esporte. Revista da Universidade Ibirapuera - Analisando a estrutura óssea de mulheres joga- São Paulo, v. 4, p. 22-31, jul/dez 2012 29 A partir desses resultados, Kato et al. (2006) ava- A natação e a corrida, cujo os saltos não são sua carac- liaram o efeito do treinamento pliométrico por 6 meses em terística marcante, são exemplos claros dessas modali- 36 mulheres com média de idade de 20,7 ± 0,7 anos. Essas dades e tiveram grandes evoluções metodológicas. Nas voluntárias foram aleatoriamente divididas em 2 grupos: avaliações com atletas de esportes de grande impacto, grupo experimental, que realizava 3 séries de 10 repeti- descobriu-se o aumento da densidade mineral óssea ções de salto vertical, 3 vezes por semana; e grupo con- desses indivíduos. trole, que não realizava nenhum tipo de treinamento. Os resultados desse estudo não mostraram ser os mesmos mento pliométrico foi aplicado em voluntários que não que no estudo de Ito et al. (2001). As análises da densidade praticavam esse tipo de esporte. Entretanto, o resultado mineral óssea da cabeça do fêmur e da coluna lombar (L2 a esperado não foi encontrado. Isso pode ser devido aos L4) mostraram aumento significativo quando mensurados anos de treinamento dos atletas. por Dexa no grupo experimental e no grupo controle, quan- do comparados à seus valores de base. Não ocorreram se estabelecer programas de treinamento de força segu- diferenças significativas na comparação entre os grupos. ros para todas as faixas etárias e para que as diversas modalidades esportivas possam ser beneficiadas. A densidade mineral óssea do triângulo de Ward, Tentando reproduzir esses resultados, o treina- Novas pesquisas devem ser feitas no intuito de do trocanter maior e a densidade mineral óssea total do quadril não mostraram diferenças significativas. As diferenças nos resultados dos estudos podem ser decorrentes das diferenças de idade nas populações estudas, já que no estudo de Ito et al. (2001) as voluntárias já se encontravam na menopausa, enquanto no estudo de Kato et al. (2006) as voluntárias se encontravam em idade de pico da massa óssea. Conclusão A Força é de essencial importância para o ser hu- mano, pois ela é a base para a realização de todos os movimentos corporais. O treinamento de força é muito importante em to- das as fases da vida. Ele pode ser utilizado tanto para a compensação muscular dos organismos em desenvolvimento ou organismos debilitados, quanto para a melhora da performance atlética. Isso pode ser conseguido através de suas inúmeras adaptações. Um dos claros exemplos de trabalho de força que objetiva a performance é o treinamento pliométrico, onde sua utilização visa o aumento da impulsão dos atletas, possibilitando a maximização da performance nos diversos esportes onde os saltos podem ser o diferencial. No entanto, com a evolução dos instrumentos de pesquisa nos últimos anos, diversos estudos que envolveram o treinamento pliométrico tiveram por objetivo o aumento da performance em outros esportes. Revista da Universidade Ibirapuera - São Paulo, v. 4, p. 22-31, jul/dez 2012 30 and conditioning. . J Strength Cond Res, v. 18, n. 4, p. 787-91, 2004. Referências Bibliográficas Barbanti, V. J. Treinamento Físico: Bases Científicas. 3ª ed. São Paulo, SP, CLR Balieiro, 1996. _____________. Teoria e Prática do Treinamento Esportivo. 2ª ed. São Paulo, SP, Edgard Blücher Ltda, 1997. _____________; UGRINOWITSCH, C. O ciclo de alongamento e encurtamento e a performance no salto vertical. Revista Paulista de Educação Física, v. 12, n. 1, p. 85-94, janeiro a junho de 1998. Brandenburg, J. P. The acute effects of prior dynamic resistance exercise using different loads on subsequent upper-body explosive performance in resistance trained men. J Strength Cond Res, v. 19, n. 2, p. 427-32, 2005. 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Interlagos, 1329 – São Paulo - SP [email protected] Resumo Este artigo tem como finalidade refletir sobre a importância da alfabetização matemática nas séries iniciais. Considerando os problemas enfrentados ao ouvir a palavra Matemática, resolvemos aprofundar sobre tema para uma mudança dessa concepção. Iremos analisar a importância da seriação, ordenação e classificação, para as séries iniciais, onde encontramos a base do processo de alfabetização. As turmas analisadas constam de um 1º e um 2º anos compostos por 47 alunos. O objetivo é discutir a importância de alguns conceitos no processo de alfabetização matemática. Para nossa fundamentação em relação às análises escolhemos centrar nosso foco na análise de erros, considerando que não desejamos apenas descobrir que alunos erram a seriação, ordenação e classificação, mas levantar indícios dos motivos pelos quais isso acontece e pode interferir no processo de aprendizagem. Ao final de nossas análises constatamos que em decorrência dos problemas do sistema de numeração decimal o significado das operações fica comprometido. Por fim fazemos algumas reflexões sobre as analises realizadas e alguns indicativos para o trabalho com a alfabetização matemática. Palavras-chaves: Alfabetização Matemática. Seriação. Ordenação. Classificação. Valor posicional. Abstract This article aims to reflect on the importance of math literacy in the early grades. Considering the problems faced at the word mathematics, decided to expand on this topic for a design change. We will analyze the importance of grading, sorting and classification, for the initial series, where we find the basis of the literacy process. The groups analyzed contained a 1st and a 2nd year consisting of 47 students. The aim is to discuss the importance of concepts in math literacy process. For our reasoning regarding choosing to focus our analyzes focus on error analysis , considering we do not want only to find that students miss the ranking, sorting and classification, but to raise evidence of why this happens and can interfere with the learning process . At the end of our analysis we found that due to the problems of the decimal system the meaning of operations is compromised. Finally we make some reflections on the analysis performed and some indications for work with mathematical literacy. Keywords: Mathematical Literacy. Grading. Ordering. Rating. Positional value. Revista da Universidade Ibirapuera - São Paulo, v. 4, p. 32-39, jul/dez. 2012 33 1. Introdução Segundo Kamii (1986) muitas crianças hoje demoram a raciocinar qual número repre Falar em Alfabetização Matemática ainda senta determinada quantidade. Muitos aprensoa estranho aos ouvidos de muitos. De maneira dem de maneira mecânica, apenas decorando geral, só se reconhece o termo ‘alfabetização’ sequências, mas sem ter o conceito. O profespara denominar o processo de aquisição da leitura sor precisa criar um espaço para que o alfabetie da escrita na Língua Materna. O fato é que ainda zando possa transcrever livremente o seu pené muito presente na escolarização inicial a ideia de sar matemático, intervindo no processo como que primeiro é preciso garantir a inserção nos pro- um problema. Assim a criança poderá perceber o cessos de leitura e de escrita para depois desen- cálculo mental como um conhecimento que pode volver o trabalho com as noções matemáticas. ser representado de várias maneiras. Contudo a tarefa de alfabetizar não é sim- Para que o aluno aprenda matemática, ele ples e vem se modificando ao longo dos últimos precisa se sentir seguro diante de sua represenanos, o que nos faz pensar na seguinte questão: tação, precisa descobrir o caminho de uma relaO alfabetizar matematicamente existe ou é uma ção menos angustiante, substituindo o caráter que utopia? Para responder essa questão, devemos o oprime na aprendizagem pela alegria da descolembrar que não basta apenas aprender a recon- berta, para que juntos, aluno e professor, possam hecer os números, é necessário compreender a qual aprender, criar e recriar seus conhecimentos. quantidade ele se refere, o que é uma tarefa desafia- Kamii (1986) ainda ressalta que a criança dora e considerada complexa por muitas pessoas. progride na construção do conhecimento lógico Partindo do pressuposto de que o Ensi- matemático pela coordenação das relações simno Fundamental é responsável por promover a ples que anteriormente ela criou entre os objeaprendizagem matemática visando à aquisição tos. Quando as crianças colocam todos os tipos significativa das ideias básicas pertinentes à dis- de conteúdos em relações, seus pensamentos ciplina, bem como das especificidades de sua lin- se tornam mais móveis. As crianças são sim caguagem, sem, no entanto, separá-la da Língua pazes de entender e desafiar a matemática, mas quando se deparam com o professor com o qual Materna, voltamos nossos olhares para as classnão tiveram uma experiência agradável com a es das séries iniciais a fim de compreender e indisciplina, a mesma se trava diante da construção terpretar o fenômeno alfabetização matemática do conhecimento. a partir das concepções de professores e alunos sobre a disciplina, o tratamento dado aos conteúEncorajar a criança a estar alerta e colocar todos os tidos matemáticos na escola e a relação dos alupos de objetos, eventos e ações em todas as espécies nos com os mesmos. de relações. A pensarem sobre números e quantidades O que é alfabetizar matematicamente? de objetos quando estes sejam significativos para elas. A matemática está em nosso cotidiano e não Encorajar a criança a quantificar objetos logicamente e podemos negar, e ao alfabetizar matematicaa comparar conjuntos e a fazer conjuntos com objetos mente muitos educadores sentem-se insegumóveis. (Kamii, 1986, p.16). ros, pois não “sabem” o método, a forma como Podemos perceber na citação de Kamii alfabetizá-los. Sabemos que alfabetizar a criança (1986) a necessidade de trabalhar o concreto no propara conhecerem letras, formar palavras, é algo cesso de construção do conhecimento, principalmente muito claro, pois o resultado é visível. Mas, e alfaquando se trata da relação números e quantidades. betizar matematicamente? Revista da Universidade Ibirapuera - São Paulo, v. 4, p. 32-39, jul/dez. 2012 34 eração lógica de importância fundamental em nossa vida, pois nos ajuda a organizar a realidade que nos cerca. Estamos sempre classificando, algumas vezes no concreto quando manipulamos objetos, como por exemplo CDs, roupas, compras de supermercado etc. Outras vezes classificamos apenas mentalmente, como por exemplo os animais, países etc. A classificação é iniciada na educação A alfabetização matemática é um fenômeno que trata da compreensão, da interpretação e da co- infantil e retomada nas séries iniciais em níveis municação dos conteúdos matemáticos ensinados diferentes de abordagem. A partir dessa fase de na escola tidos como iniciais para a construção do escolarização entramos num processo de elaboconhecimento matemático. Ser alfabetizado em ração e reelaboração por parte do aluno, desde matemática, então, é compreender o que se lê e es- a captação intuitiva das ideias básicas e sua aplicrever o que se compreende a respeito das primeiras cação a situações problema, até em se tratando noções de lógica, de aritmética e geometria. Assim, da utilização do pensamento lógico. Segundo Danyluk (1997), a matemática infelizmente é considerada por muitos uma ciência para “poucos” ou uma ciência para “gênios”. A sociedade em si parece acreditar que a matemática está fora do cotidiano escolar. O que acontece é que a sociedade não percebe a matemática por isso não gostam, ou melhor, eles não foram alfabetizados matematicamente. a escrita e a leitura das primeiras ideias matemáticas podem fazer parte do contexto de alfabetização. Seriação (Danyluk, 1997, p. 12). Segundo Toledo (1997) enquanto a classificação repete as semelhanças entre os elementos, a Com base na citação de Danyluk (1997, seriação trabalha mais com as diferenças entre p. 12), fica claro o fato de que a alfabetização eles. Quando dizemos que estamos seriando, matemática pode acontecer junto com o proces- categorizando os objetos, estabelecemos entre so de leitura e escrita, uma vez que ser alfabet- eles uma relação de diferença que possa ser izado em Matemática significa “compreender o quantificada, permitindo que os elementos sejam que se lê e escrever o que se compreende”. colocados em ordem crescente ou decrescente. Silva (2008) define a alfabetização pode ser enten- A seriação em relação aos números, podedida como a organização das representações em se dizer que é a série numérica. Portanto, se conum sistema, que também pode ser concebida como siderarmos a ordem crescente de quantidade de a língua materna, estabelecendo o seu ensino, car- elementos, qualquer conjunto de três elementos acterizando uma alfabetização em matemática. que imaginarmos, estará colocado depois de A classificação, seriação, ordenação, qualquer conjunto de dois elementos. Assim a sistema decimal e valor posicional serão apre- criança vai de um esquema inicial de seriação até sentados nesse artigo por serem alguns concei- a estruturação de uma forma mais elaborada de tos e instrumentos importantes para o processo relacionar os elementos entre si. de alfabetização matemática. A análise do Ordenação erro é uma das metodologias utilizadas para A ordenação nada mais é a sequência dos oba construção do conhecimento e também jetos. Para se organizar uma fila, utiliza-se uma será comentada a seguir. sequência, que considera as diferenças de naClassificação tureza qualitativa e não permite a ordenação Como resposta à questão “O que é classificar?”, crescente ou decrescente. Toledo (1997) afirma que classificar é uma opRevista da Universidade Ibirapuera - São Paulo, v. 4, p. 32-39, jul/dez. 2012 35 Toledo (1997) exemplifica a ordenação como um colar de miçangas onde, a criança irá encontrar uma caixa com apenas círculos do mesmo tamanho e em outra caixa, miçangas de vários formatos e tamanhos. A criança terá que criar dois colares diferentes, ordená-los de maneira que fiquem com uma aparência limpa, sem muita informação e de modo que as formas e tamanhos se complementem. Sistema decimal Ao percorrer as civilizações antigas, notamos que houve muitas tentativas até se chegar a um sistema que permitisse representar os números com poucos algarismos e de modo tão prático. Todo esse esforço demonstrava que ele não é tão simples, nem tão fácil de ser compreendido quanto parece. A partir de pesquisas realizadas com crianças entre 4 e 9 anos de idade, a pesquisadora Kamii (1994) observou o seguinte: A criança de 6 e 7 anos está ainda em processo de construir o sistema numérico, com operações de “+1”. O sistema escrito na base decimal exige a construção mental de “1” em dez unidades e a coordenação da estrutura hierárquica de dois níveis. É impossível construir o segundo nível, quando o primeiro ainda está sendo construído. A criança não pode criar a estrutura hierárquica da inclusão numérica antes da idade de 7 ou 8 anos, que é quando seu pensamento se torna reversível. (Ibidem, p. 49) Portanto, para introduzir o sistema decimal aos alunos, é aconselhável que o professor realize um trabalho mais prolongado, desde as séries iniciais do ensino fundamental, com atividades diversificadas sobre agrupamentos e trocas, além da familiarização com o valor posicional dos algarismos. Essas atividades culminam com o estudo da representação formal, que pode ser feito no 3º ano. Revista da Universidade Ibirapuera - Valor posicional Antes de entrar na escola as crianças já estão em contato com o mundo dos números, em sua relação com as pessoas e na interação com os objetos em seu entorno, tendo uma série de vivências. Elas utilizam noções e vocabulários em situações diversas: sabem dizer quantos anos têm, primeiro nos dedos e mais tarde verbalizando; são capazes de contar degraus da escada etc. Pouco a pouco, percebem que os números lhe permitem quantificar. O valor posicional é apresentado de acordo com a ordem em que o algarismo se encontra. Por exemplo, o algarismo 9 no número 896 ocupa a 2ª ordem, isto é, a casa das dezenas. Assim seu valor posicional é 90. O valor posicional é algo muito difícil para os alunos de 2º ano e extremamente confuso para os dois anos seguintes. Kamii (2005) afirma que agrupar objetos e lidar com grandes quantidades é um problema. A criança de sete anos está em processo de construir o sistema numérico, através da abstração reflexiva. Aprender a escrever números requer técnica, já para aprender a somar, subtrair, multiplicar e dividir envolve raciocínio lógico-matemático. Primeiramente ensina-se o que é unidade, depois dezena e centena, cada um passo a passo. Após compreender a unidade poderá começar a construir a dezena e assim sucessivamente. Análise de erros Segundo Cury (2008) o erro pode ser utilizado para a construção do conhecimento, sendo assim, cabe ao professor encorajar seus alunos a verbalizar suas ideias, ou seja, argumentar. O erro deve ser aproveitado, pois ele serve de trampolim para a aprendizagem, e esse aproveitamento consequentemente ajudará docentes e alunos a chegarem ao conhecimento desejado por ambos. Para Cury (2008) a análise das produções escritas traz a possibilidade de entender como São Paulo, v. 4, p. 32-39, jul/dez. 2012 36 se dá a construção do conhecimento dos alunos, tanto para docentes quanto para discentes. A análise pode ser vista tanto como metodologia de pesquisa como de ensino, sendo a segunda a partir do emprego da mesma, como impulso para a aprendizagem. Para Brousseau (1983) o erro é o efeito de um conhecimento prévio que se revela falso ou inadaptado, sendo constituídos em obstáculos. São aqueles inerentes ao conhecimento matemático, aqueles que não se pode fugir, pois são constitutivos do conhecimento. Ainda segundo Cury (2008), um texto matemático de qualquer natureza pode ser analisado com base em procedimentos sistemáticos para deduzir sobre como um determinado aluno construiu o saber matemático em questão. Sobre o erro Cury (2008) destaca que: Descrição e resultado da análise realizada Como citado anteriormente neste artigo apresentaremos a análise dos protocolos de quarenta e sete alunos de 1º e 2º anos do Ensino Fundamental de uma escola do município de São Paulo. No primeiro momento da pesquisa aplicamos para os alunos do 1º ano uma atividade que continha três exercícios: • um sobre seriação, onde, deveriam pintar com as cores que foram comandadas as “famílias” das formas geométricas: triângulo, quadrado e círculo. Esse exercício tinha como objetivo trazer a percepção ao aluno que mesmo as formas sendo de tamanhos diferenciados, pertenciam ao mesmo grupo e também trabalhar o reconhecimento das cores. • Um onde trabalhamos a ordenação numérica com o objetivo dos alunos completarem a se[...] o erro se constitui como um conhecimento, é quência numérica iniciada pela dezena 10 e terum saber que o aluno possui, construído de alguma minando com 30, para verificar se o aluno reconforma, e é necessário elaborar intervenções didátihece o símbolo numérico ou não. cas que desestabilizem as certezas, levando o estu• No último exercício trabalhamos a classifidante a um questionamento sobre suas respostas. cação, cujo objetivo seria o aluno identificar a (Ibidem, p. 80) forma geométrica e o reconhecimento da quantidade solicitada. Na análise de repostas dos alunos, o importante não é o acerto ou o erro em si, que são pontuados em uma prova de avaliação da aprendizagem, mas as formas de se apropriar de um determinado conhecimento, que emergem na produção escrita e que podem evidenciar dificuldades de aprendizagem, porque é preciso reinventar os passos, pois todos os alunos nunca trilham o mesmo caminho. Figura 1 – Resolução exercício 1 – Aluno 7 A análise de erros é uma abordagem de pesquisa, com fundamentações teóricas varia- das, mas também é uma metodologia de ensi- Na figura 1 percebemos que, por hipótese, o aluno, podendo ser empregada quando se detecta no não compreendeu o enunciado da atividade ou dificuldades de aprendizagem dos alunos e se não se apropriou do conceito de seriação, ele apenas coloriu algumas imagens o que não cor quer explorá-las em sala de aula. responde ao objetivo. Revista da Universidade Ibirapuera - São Paulo, v. 4, p. 32-39, jul/dez. 2012 37 Figura 2 – Resolução exercício 2 – aluno 8 Na figura 2 observamos que o aluno chegou ao resultado esperado, mas espelhou a escrita dos números 20 e 30. A escrita espelhada foi observada em muitos protocolos, e é considerada normal em relação ao nível de escolarização pesquisado em se tratando do processo de aprendizagem da linguagem escrita, uma vez que a criança ainda não sabe todas as regularidades. Outro ponto a ser considerado quanto à escrita espelhada é de que a criança em fase de alfabetização ainda está adquirindo a noção de lateralidade (direita e esquerda) Observando os protocolos dos alunos, concluímos que uma quantidade significativa dos alunos pesquisados possui dificuldade em identificar o número. Verificamos que 38% dos alunos conseguiram dominar os conceitos trabalhados, o que indica que mais de 60% dos alunos ainda apresentam dificuldade quanto à seriação e ordenação. Em se tratando da classificação, os alunos não apresentaram dificuldades na realização do exercício proposto. No segundo momento da pesquisa aplicamos para os alunos do 2º ano uma atividade com três problemas para verificar se os alunos haviam de apropriado do conceito de valor posicional. O resultado dos problemas não entrou na análise da pesquisa considerando que para a turma foi um desafio de se realizar já que começaram a estudar problemas no inicio da mesma semana que fizemos a pesquisa de campo, mesmo assim teceremos alguns comentários. Os problemas apresentados aos alunos foram: 1) Seu Manoel fez ___ pastéis e vendeu ___. Quantos pastéis sobraram? 2) Rita fez ____ brigadeiros e sua mãe fez mais ___. Quantos brigadeiros ficaram no total? Revista da Universidade Ibirapuera - 3) Seu João tinha ___ melancias e vendeu ___. Com quantas melancias ele ficou? Os espaços criados nos problemas foram preenchidos pelos alunos com as dezenas 89 e 75, 90 e 85, 88 e 34, respectivamente. O objetivo era analisarmos se a criança tinha o domínio da escrita numérica. Figura 3 – Resolução problema 1 – aluno 18 Na figura 3 observamos que para facilitar o cálculo, o mesmo dividiu as “casas”, acertando assim o resultado e também que soube posicionar as ordens corretamente. O aluno 18 não apresenta dificuldades na escrita numérica. Figura 4 – resolução problema 2 – aluno 21 Na figura 4 temos como hipótese que o aluno 21 já se apropria do cálculo mental e não apresenta dificuldades na escrita numérica da ordem das dezenas e das centenas. Figura 5 – Resolução problema 3 – aluno 12 São Paulo, v. 4, p. 32-39, jul/dez. 2012 38 Na figura 5, observamos que o aluno elabora o algoritmo da adição, mas não compreende e/ou adquiriu plenamente o conceito de dezena. O aluno decompôs o resultado e a escrita do algarismo é feita de maneira espelhada. Se o professor verificar o raciocínio utilizado pelo aluno, perceberá que o referido conceito ainda está em fase de compreensão, pois a criança soma corretamente as unidades e desdobra as dezenas. Na figura 7 percebemos que o aluno 8 não se apropriou do algoritmo da subtração. Uma das hipóteses é que o mesmo esteja na fase de alfabetização, o que pode ter dificultado a compreensão do enunciado. Considerando que os valores utilizados para resolução dos problemas não correspondem aos indicados nos enunciados, podemos considerar que o aluno utilizou valores conhecidos por ele. Podemos observar nos protocolos que os alunos não apresentam dificuldades na escrita das dezenas, mas outras dificuldades existem. Mesmo assim percebemos que 72% dos alunos podem ser considerados alfabetizados matematicamente e sabem trabalhar com o valor posicional dos algarismos. Já 9% ainda não se apropriaram do conceito de valor posicional e ainda estão sendo alfabetizados matematicamente. Considerações finais Figura 6 – resolução problema 1 e 2 – aluno 7 Observamos na figura 6 que o aluno utiliza o sistema de contagem por “palitos” para chegar ao resultado e mesmo assim apresenta dificuldade na subtração. O aluno 7 não se apropriou da ideia de tirar. Alfabetização em Matemática é ou deveria ser tarefa prioritária das séries iniciais, quando os alunos têm seus primeiros contatos com a matemática escolarizada e deve ser um processo interno à alfabetização na língua materna. Afinal de contas, tanto uma quanto a outra são ferramentas essenciais para a compreensão da realidade, além de ser o principal motivo da repulsa pela matemática, uma vez que é nas séries iniciais que os alunos têm os primeiros contatos com essa ciência, vista como um conhecimento apresentado em linguagem formal. Porém, quando esta alfabetização não ocorre na infância, deve ser pensada para que ocorra o mais rápido possível, uma vez que irá desmistificar a matemática como sendo o “bicho papão” das salas de aula. Mostrar acima de tudo que a Matemática tem uma função relevante no desenvolvimento do aluno como um ser social. Como nos mostra Brasil (1997): A matemática pode dar sua contribuição à formação do cidadão ao desenvolver metodologias que enfatizem a Figura 7 – resolução dos problemas 1, 2 e 3 – Aluno 8 construção de estratégias, a comprovação e justificativa de resultados, a criatividade, a iniciativa pessoal, o trabal- Revista da Universidade Ibirapuera - São Paulo, v. 4, p. 32-39, jul/dez. 2012 39 ho coletivo e a autonomia advinda da confiança na própria capacidade para enfrentar desafios (Ibidem, pag.27). Vimos através do estudo de caso a dificuldade que os alunos apresentam na compreensão dessa ciência. Sabemos que essa dificuldade não é só em matemática, mas, em outras disciplinas. Um dos fatores necessários para que a criança domine a matemática é a apropriação da lógica, a qual “estimula” a compreensão e a construção do pensamento. Brasil (1997) diz que é fundamental que haja uma reflexão crítica sobre suas práticas. Este é um dos saberes necessários para o bom andamento de seu trabalho educativo. É essencial também, que o professor saiba que “ensinar não é transferir conhecimentos”, ou seja, o aluno não é um depositário de informações, que deverão ser memorizadas e repassadas tal como aprendeu. Ensinar é sim proporcionar condições para a construção dos conhecimentos pelos alunos, de forma crítica, consciente, estimulando a autonomia, reflexão, discussão e o raciocínio. Falar em alfabetização matemática, ainda soa estranho ao ouvido de muitos. De maneira geral só se reconhece o termo “alfabetização” para denominar o processo de aquisição da leitura e da escrita na língua materna. O fato é que ainda é muito presente na escolarização inicial a ideia de que primeiro é preciso garantir a inserção nos processos de leitura e de escrita para depois desenvolver o trabalho com as noções matemáticas. Por tanto, alfabetizar matematicamente é ir além do saber escrever e ler um algarismo, é construir na criança a percepção de quantidade e o símbolo. Trazê-la para o mundo dos números requer muita atenção e vontade do profissional. Revista da Universidade Ibirapuera - Referências Bibliográfiacas BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental, Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática, vol 3, Brasília: MEC/ SEF, 1997. BROUSSEAU, G. Les obstacles épistémologiques et les problèmes em mathématiques. Recherches em Didactique des Mathématiques. Volume 4, 1983. CURY, Helena Noronha. Análise de erro: o que podemos aprender com as respostas dos alunos. Autêntica editora 1° Edição. 2008. DANYLUK, O. S. 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Introdução ciedade, temos percepções, sobre o que é linguagem, O Inglês sempre foi um diferencial competitivo no assim também como sugestões e ideias próprias sobre mercado de trabalho. Hoje, para que possamos desenvol- a melhor maneira de aprender línguas e sobre nossa ver nossas habilidades e dominar as novas tecnologias, o atuação em sala de aula, sendo que tais percepções domínio do Inglês se faz essencial. Vivemos em um mun- podem afetar ou mesmo inibir a receptividade do aluno do globalizado, onde a Língua Inglesa é o principal veículo quanto aos métodos de ensino trazidos pelo professor. de uso internacional, sendo aceita em todos os cantos do mundo como instrumento de intercâmbio cultural, comer- por Almeida Filho (1993) para se referir às maneiras de cial, diplomático, tecnológico, científico, entre outros. Co- estudar e de se preparar para o uso da língua alvo con- nhecer o idioma significa ter acesso a um maior número sideradas como “normais pelo aluno”. Essas maneiras, de informações nesse cenário tão competitivo. Atualmen- que são típicas de sua região étnica, classe social e gru- te, ao candidatar-se a uma vaga de emprego nas grandes po familiar restrito em alguns casos, são transmitidas empresas, é pressuposto que se tenha Inglês como língua com tradição através do tempo, de uma forma “naturali- estrangeira, tão essencial quanto o seu conhecimento em zada, subconsciente e implícita”. Língua Portuguesa. Cultura de aprender línguas é o termo utilizado Almeida Filho coloca a cultura de aprender lín- guas como um dos principais fatores determinantes no 2. O conceito de cultura de aprender Línguas processo de ensinar e aprender línguas e como uma força potencial que se relaciona com a abordagem de ensi- A relevância dos estudos sobre a cultura de apren- nar. Segundo o autor, a abordagem de ensinar “equivale der línguas está no fato de que ela pode revelar possíveis a um conjunto de disposições, conhecimentos, crenças, discrepâncias existentes entre o que o aluno espera do en- pressupostos e eventualmente, princípios sobre o que é sino e o que o professor espera desse aluno. linguagem humana, língua estrangeira o que é aprender A consciência a respeito das crenças dos aprendi- e ensinar uma língua alvo, além de abranger também os zes pode ajudar na compreensão das suas frustrações e conceitos de pessoa humana, sala de aula e dos papéis dificuldades permitindo aos professores a elaboração de representados de professor e aluno de uma nova língua”. um plano de ação mais efetivo com os seus alunos no pro- pósito comum de aprender a língua (KERN, 1995). alunos sobre a melhor maneira de aprender ou sobre As expectativas culturais de alunos e professores como se deve aprender são aspectos da cultura”. Des- podem causar dificuldades na interação entre ambos, pois sa maneira, o termo cultura de aprender línguas é ade- os professores podem perceber como frustrante, confuso e quado para a investigação das crenças dos aprendizes às vezes, assustador, o fato de o aluno não agir de acordo sobre como se deve aprender uma Língua Estrangeira. com as suas expectativas culturais. Isso inibe o professor de aprender com os alunos e de avaliar corretamente seu aluno que deseja ser professor de língua, oferecendo conhecimento (ERICKSON, 1986). subsídios para que ele possa tomar consciência das Cada sociedade faz uma leitura do quê, como, e suas crenças em relação à aprendizagem de línguas, para que se deve aprender (CARMAGNANI, 1993). Profes- ajudando-o a tornar-se um professor mais crítico na ta- sores e alunos possuem seus hábitos, costumes e expec- refa de ajudar outras pessoas na aprendizagem de uma tativas sobre aprendizagem de língua estrangeira que são língua estrangeira, no nosso caso, a Língua Inglesa. Segundo Erickson (1984) “as explicações dos É importante oferecer oportunidades para o sustentados legitimamente e aceitos na sociedade. Quanto mais informados estivermos sobre as 3. Como escolher um programa de Inglês crenças de nossos alunos, maiores serão as chances de sucesso de qualquer intervenção que se queira fazer, uma ta não só pessoal como também profissional. Na hora vez que como membros de um grupo de determinada so- de escolher entre as diversas opções de cursos, alguns Revista da Universidade Ibirapuera - Dominar outro idioma pode ser uma ferramen- São Paulo, v. 4, p. 40-46, jul/dez 2012 42 fatores importantes devem ser analisados com atenção. A globalização e a Internet derrubaram barreiras políticas, essa qualificação básica será necessário obtê-la por outros econômicas e culturais, facilitando o acesso à informação. meios. Este novo mercado para o ensino de Inglês no Brasil Para usufruir todos os benefícios dessas mudanças é ne- cresce rapidamente e torna-se muito vulnerável ao comér- cessário o conhecimento de outras línguas. cio improvisado e amador, uma vez que é difícil para quem ainda não fala a língua estrangeira avaliar a qualidade do Antes de escolher um programa de Inglês, tenha Enquanto o ensino fundamental não proporcionar claro se o seu objetivo é pessoal ou profissional. Pessoal- que lhe é oferecido. mente, o idioma amplia sua formação cultural, ajudando em pesquisas escolares ou da faculdade. No âmbito profissio- então verificar que o método utilizado durante o aprendiza- nal onde é necessário falar e escrever corretamente, cur- do da língua não deu resultado. sos intensivos ou aulas particulares são os mais adequa- dos. Alguns fatores devem ser considerados na escolha do cursos de línguas são classificados como “cursos livres”, curso: Qualificação dos professores, credenciamento de não estando sujeitos a qualquer tipo de controle nem reco- exames internacionais que atestem a qualidade da insti- nhecimento. Ao concluir um curso de idiomas, o que real- tuição, eventos culturais e sociais oferecidos pela escola, mente vale é a habilidade adquirida. É importante não se instrumentos de controle de qualidade, como: pesquisa de influenciar pelo simples acúmulo de certificados de conclu- satisfação, observação das aulas e aprovação em exames são de módulos. internacionais, recursos pedagógicos da unidade, rotativi- dade dos professores e sistema de avaliação dos alunos. provação é um vício da nossa cultura brasileira, herdado Além dos objetivos pessoais e da qualidade da da aristocracia colonialista, importante em muitas outras escola, é necessário verificar a conveniência das aulas a áreas de atuação, mas diante da exposição das habilida- se cotidiano. Horário das aulas que não sobrecarreguem o des comunicativas de uma língua estrangeira torna-se ob- aluno, localização e estrutura também são fatores que de- soleto. Se houver uma real necessidade de comprovação vem ser levados em consideração. A visão crítica de alunos de proficiência, a pessoa deve procurar se submeter a um atuais ou antigos da escola é um bom referencial quanto à dos vários testes internacionais de avaliação de proficiên- aprendizagem. Verifique também se a escola está atualiza- cia existentes no mercado. da com os métodos recentes de ensino e se há investimen- tos em pesquisa pedagógica e desenvolvimento de cursos interesses e necessidades próprios. A eficácia do treina- na formação dos professores. mento será maior se as atividades forem adaptadas às Avaliar a qualidade de um programa de Inglês tor- necessidades e aos interesses específicos de cada grupo na-se fator indispensável em nosso contexto atual, onde a e a de cada aluno. Verificar se a escola depende de um habilidade de se falar Inglês é vista como uma qualificação pacote didático pré-determinado e rígido ao qual instrutor tanto cultural como profissional básica e seu aprendizado e aluno têm que se adaptar, ou se a instituição dispõe de exige um considerável investimento que envolve tempo e dinheiro, ao mesmo tempo em que escolas e cursinhos de Inglês se proliferam de forma devastadora. Tanto nas grandes metrópoles quanto nas cidades menores, temos um número considerável de escolas de idiomas, com suas mensagens publicitárias agressivas, usando recursos linguísticos e imagens de astros conhecidos da TV, deixando o cidadão comum numa situação difícil diante da escolha do curso a ser adquirido. Revista da Universidade Ibirapuera - É comum o aluno estudar em torno de dois anos e De acordo com o Ministério da Educação, todos os O culto ao documento como instrumento de com- Segundo Vygotsky (1985), diferentes pessoas têm talentos individuais, com competência lingüística e cultural, capazes de desenvolver sua própria didática, trabalhando as quatro habilidades comunicativas em todas as aulas (leitura, escrita, audição e conversação) são fatores importantes a serem considerados antes da escolha da escola de idiomas que se pretende estudar. Assistir a uma aula demonstrativa para conhecer o método da escola é uma boa alternativa. Observar se durante a aula há interação entre alunos e professor e se o plano didático se relaciona à realidade dos envolvidos. São Paulo, v. 4, p. 40-46, jul/dez 2012 43 O importante durante o processo de ensino-apren- Tais cursos comportam diferentes matérias voltadas para dizagem da Língua Inglesa é assimilar o idioma uniforme- praticas pedagógicas, além da carga horária dedicada a mente, em todos os seus aspectos, tais como: diferenças estágios, por imposição do MEC. Já o mercado de trabalho idiomáticas e vocabulário em geral, estruturação de frases, impõe que esses cursos tenham sua duração reduzida a fonética, diferenças culturais, etc. Na medida em que se três anos, já que ultimamente a demanda por cursos de desenvolve habilidade sobre a língua, o aluno vai natural- licenciatura é muito maior do que a procura. Devemos con- mente direcionando a sua assimilação semântica ao que siderar que grande parte dos alunos apresenta deficiências lhe é mais útil. provenientes do ensino médio, cabendo aos professores o desafio de tentar resolver uma grande variedade de infor- Linguagem é comportamento humano e habilidade sobre uma língua depende de prática no convívio e no con- mações nesse pouco tempo que dispõem. tato com pessoas que falam esta língua com naturalidade e desenvoltura. Plano didático, regras gramaticais, livros, professores de Prática de Ensino de Inglês do Norte do DVDs entre outros, podem constituir-se num complemento Paraná, afirma que esses professores podem não estar interessante, mas pouco lhe ajudarão a desenvolver a ha- formando professores integralmente, mas somente treinando bilidade funcional de que você necessita caso não haja por futuros instrutores, o que pode impedir a obtenção de resul- trás disso tudo um professor motivado e envolvido. tados mais satisfatórios nas disciplinas. Uma vez que se esta Filgueira dos Reis (1992) em sua pesquisa com lançando profissionais despreparados para o mercado. 4. A formação do professor de Língua Inglesa ditando que irá adquirir a fluência verbal em Inglês na facul- Uma mudança significativa na formação e na iden- tidade profissional daqueles que se dedicam ao ofício de professor é uma necessidade imediata, juntamente com o desenvolvimento e enriquecimento das competências. As mudanças do mundo globalizado indicam que a função de professor requer uma grande quantidade de ideias, de habilidade nos procedimentos, no modo de lidar com os alunos, nas estratégias de ensinar, entre outros. Tudo isso incluindo a capacidade de decisão, criatividade e muita autonomia, evitando fórmulas pré-estabelecidas. Cavalcanti e Moita Lopes (1991) afirmam que os cursos universitários de formação de professores de Língua Estrangeira idealmente enfatizam o desenvolvimento da proficiência do professor-aluno esperando, que esta ênfase, de alguma forma, seja pervertida na melhora do ensino uma vez que, geralmente, apenas um ano (do total de quatro) é destinado a prática de ensino e esta disciplina na maioria dos casos, não prevê a reflexão sobre a prática, restringindo-se a um receituário de atividades para a sala de aula. Refletindo sobre a realidade daqueles que buscam uma licenciatura numa instituição privada, verificamos um outro contexto. Na maioria das faculdades/ universidades privadas atualmente, os cursos de graduação em letras são de licenciatura em Português e Inglês, ocasionalmente Espanhol. Revista da Universidade Ibirapuera - Muitas vezes, o aluno inicia sua licenciatura acre- dade e isto é um grande erro. O perfil do aluno que frequenta a faculdade particu- lar noturna é diferenciado. Muitas vezes ele trabalha durante o dia, estuda a noite e veio do ensino médio público, carregando toda uma série de dificuldades que já conhecemos. Torna-se um bom professor de Língua Inglesa nesse contexto é uma tarefa árdua, mas possível de ser realizada. A formação durante a graduação deve ser comple- mentada com eventos de atualização, a procura de bons recursos didáticos e frequentar um curso de idiomas, para aqueles que ainda não possuem a proficiência da Língua. Cavalcante, e Moita Lopes (1991) criticam o fato de muitos professores acreditarem que a conclusão da graduação implica o término de sua formação. A formação do professor deve ser algo contínuo. Quanto mais básica ela for, maior a probabilidade de ele agir em sala de aula e cobrar atitudes de seus alunos orientado por uma competência constituída de intuições, crenças, experiências pessoais de como foram ensinados ou como aprenderam a Língua Estrangeira. Para os alunos que buscaram uma licenciatura em Le- tras e ainda não possuem o domínio da Língua Inglesa, a procura por uma escola de idiomas é o caminho mais sensato. A sociedade brasileira reconhece um valor forma- tivo no estudo de línguas estrangeiras na escola. Ao mes- São Paulo, v. 4, p. 40-46, jul/dez 2012 44 mo tempo assistimos a uma escolarização precária em línguas estrangeiras nos contextos tradicionais de ensino de línguas na escola pública e particular (ALMEIDA FILHO, 1991; CABRAL DOS SANTOS, 1993). Ao procurar um curso de idiomas, a expectativa do aluno é encontrar um local onde possa desenvolver as funções estruturais e funcionais da língua, sendo função primordial da instituição promover um ambiente onde o aluno possa interagir com outras áreas do conhecimento e desenvolver as atividades comunicativas. Para Almeida Filho (1993), a competência profis- sional se desenvolve através da participação do professor em movimentos e atividades de atualização profissional e através de atualização de forma permanente. Para um desempenho profissional satisfatório, o educador necessita acompanhar as mudanças que estão ocorrendo e a flexibilidade para inovar e se transformar constantemente. Nada disso será feito se não houver reflexão. Alarcão (1996), baseando-se nas crenças de Schön defende uma proposta em que haja uma reflexão da prática da formação do professor. Ao estudar a formação dos professores seguindo os pensamentos de Schön, Alarcão considera que talvez os cursos não preparem para as profissões e indica a análise da performance do profissional como uma possível resposta para todas essas questões. Dominar o conteúdo, escolher formas adequadas de apresentar a matéria, ter bom relacionamento e tornar a aula agradável e produtiva são formas do educador praticar o exercício da excelência, mas o maior desafio não é somente alcançar o nível de qualidade desejado, mas sim superá-lo a cada momento. Dessa forma, verificamos que a análise da performance proposta por Schön e divulgada a construção do aprender e do ensinar uma nova língua (ALMEIDA FILHO, 1993). Autores como Schön defendem uma proposta em que haja uma reflexão da prática da formação do professor, que fuja dos antigos modelos onde existe a questão teórica seguida de um estágio desvinculando, dessa forma, haverá a interação entre teoria e prática. Estudar o que se passa em determinados ambientes de aprendizagem pode ser um bom passo na solução de determinadas questões. É importante buscar uma solução adequada para cada caso, considerando a solução de questões que envolvam a ciência e a técnica, tendo como foco os envolvidos nas diversas situações. Sem a presença de um professor reflexivo, que saiba atuar nesse processo, toda a questão da construção do conhecimento torna-se impraticável. No âmbito do conhecimento sobre as diferentes formas de pensar e seus reflexos na educação, podemos citar o filósofo americano John Dewey (1859-1952) e algumas de suas ideias que vão de encontro com nossa opinião. Para o autor, aprender a pensar significa resolver as questões entre teoria e prática. Para que as atividades não sejam mecânicas e rotineiras é necessário uma relação entre pensamento e ação. Do ponto de vista da linguística aplicada é desejá- vel a crescente explicação pelos professores da sua abordagem de ensinar. Para analisar uma filosofia de ensinar uma nova língua é necessário pormenorizar a configuração de traços indicadores das concepções de língua, linguagem língua estrangeira, de ensinar e de aprender uma língua subjacente às atividades desempenhadas por um professor sob análise. por outros tantos pesquisadores é fator primordial. 5. Considerações Finais O professor reflexivo é justamente esse que con- O objetivo de toda essa reflexão é que as práti- segue fazer da reflexão uma competência fundamental na cas de sala de aula sejam questionadas e alteradas, no sua formação. intuito de gerar um desenvolvimento contínuo da prática de Todo professor de Língua Estrangeira constrói ensinar língua estrangeira. Desta forma, os cursos de for- um ensino com pelo menos quatro dimensões (as de pla- mação ou de formação continuados de professores de lín- nejar cursos, escolher ou fazer materiais, criar experiên- gua estrangeira têm sido cada vez mais entendidos como cias com a nova língua e avaliar o desenvolvimento do contextos para a reflexão por meio do envolvimento dos programa dos alunos), todas elas influenciadas simulta- professores em práticas de investigação. neamente por uma dada abordagem de ensinar que vão construindo. O objeto direto de abordar é o processo ou Revista da Universidade Ibirapuera - São Paulo, v. 4, p. 40-46, jul/dez 2012 45 Referências Bibliográficas HARMER, J. The Practice of English Language Teaching – ALARCÃO, I. Reflexão crítica sobre o pensamento de D. London – New York: Longman, 1994. Schön e os programas de formação de professores. In: ALARCÃO, Isabel (org.). Formação reflexiva de professores estratégias de supervisão. Portugal: Porto Editora, HARPAZ, I. 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Interlagos, 1329 – 4º andar – Chácara Flora CEP 04661-100 – São Paulo/ SP As seguintes contribuições serão consideradas para publicação: trabalhos científicos originais, relatos de casos de interesse especial, notas técnicas (comunicações breves), revisões, editoriais (mediante convite dos editores), revisões de livros e cartas ao editor. Reservam-se à Revista da Universidade Ibirapuera todos os direitos autorais do trabalho publicado, inclusive de tradução, sem remuneração alguma aos autores do trabalho. Por ocasião do aceite do artigo, o autor correspondente (responsável) receberá um formulário de cessão de direitos autorais, que deverá retornar firmado por todos os autores Os artigos serão submetidos à revisão pelo Conselho Editorial e pelo Conselho Científico (revisão por pares). A decisão final de aceitação ou rejeição de artigos é tomada soberanamente pelo Conselho Editorial. Artigos serão considerados para publicação no entendimento de que não estejam submetidos simultaneamente para publicação em outra Revista, em qualquer idioma. Os trabalhos não aceitos pelo Corpo Editorial serão devolvidos aos autores. Os conceitos emitidos nos trabalhos são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo a opinião do Corpo Editorial. À Revista reservam-se todos os direitos autorais do trabalho publicado, permitindo, entretanto, a sua posterior reprodução como transcrição e com a devida citação da fonte. A data de recebimento e aceitação do original constará, obrigatoriamente, no final do mesmo, quando da sua publicação. Quando houver experimentos realizados in vivo em homens ou animais, devem vir acompanhados com aprovação do Comitê de Ética que analisou a pesquisa. Os seres humanos não poderão ser identificados a não ser que dêem o consentimento por escrito. Os nomes dos autores devem aparecer apenas na página de título, não podendo ser mencionados durante o texto. 3. Submissão de Trabalhos Os trabalhos devem ser apresentados em formato Word for Windows, fonte Arial, tamanho 12, espaçamento 1,5, tinta preta, páginas numeradas no canto superior direito. As páginas devem ser no formato A4, incluindo as referências, ilustrações,quadros, tabelas e gráficos. O número máximo de páginas por artigo é de vinte (20). O número máximo de autores por artigo é de seis (06). Os quadros, tabelas, gráficos e ilustrações devem estar em alta resolução, ser limitados ao mínimo indispensável, identificados e numerados consecutivamente em algarismos arábicos. No corpo do texto dever vir a posição aproximada para sua inserção. Os trabalhos encaminhados podem ser escritos em português, espanhol ou inglês. Os artigos enviados em português e espanhol devem conter o resumo também em inglês (abstract). Abreviações oficiais poderão ser empregadas somente após primeira menção completa. 48 Deverão constar, no final dos trabalhos, o endereço completo de todos os autores, afiliação, telefone, fax e e-mail para encaminhamento de correspondência pela comissão editorial. 3.1 Cabeçalho Título do artigo em português (letras maiúsculas, em negrito, fonte Arial, tamanho 12 parágrafo centralizado, subtítulo em letras minúsculas (exceção para nomes próprios e em inglês. 3.1.1 Apresentação dos Autores do Trabalho Nome completo, afiliação institucional (nome da instituição de vínculo (se é docente, ou está vinculado a alguma linha de pesquisa), cidade, estado e e-mail. 3.2 Resumo e Abstract É a apresentação sintetizada dos pontos principais do texto, destacando as considerações emitidas pelo autor. Para elaboração do resumo, usar no máximo 250 palavras. Palavras-chave e Keywords:. O número de descritores desejados é de no mínimo três e no máximo cinco. 3.3 O Corpo do Texto 3.3.1 Introdução: Deve apontar o propósito do estudo, de maneira concisa, e descrever quais os avanços que foram alcançados com a pesquisa. 3.3.2 Discussão Interpretar os resultados e relacioná-los aos conhecimentos existentes, principalmente os que foram indicados anteriormente na introdução. Essa parte deve ser apresentada separadamente dos resultados. 3.3.3 Referências e Citações Devem ser abreviadas no corpo do texto e em notas de pé de página (autor, ano da publicação e, quando for o caso, página) e completas nas referências no final do texto, segundo as normas para apresentação de trabalhos da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. Declaração: Título do artigo:_________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ O(s) autor(es) abaixo assinado(s) submeto(emos) o trabalho intitulado acima à apreciação da Revista da Universidade Ibirapuera para ser publicado, declara(mos) estar de acordo que os direitos autorais referentes ao citado trabalho tornem-se propriedade exclusiva da Revista da Universidade Ibirapuera desde a data de sua submissão, sendo vedada qualquer reprodução total ou parcial, em qualquer outra parte ou meio de divulgação de qualquer natureza, sem que a prévia e necessária autorização seja solicitada e obtida junto à Revista da Universidade Ibirapuera. No caso de o trabalho não ser aceito, a transferência de direitos autorais será automaticamente revogada, sendo feita a devolução do citado trabalho por parte da Revista da Universidade Ibirapuera. Declaro(amos) ainda que é um trabalho original sendo que seu conteúdo não foi ou está sendo considerado para publicação em outra revista, quer no formato impresso ou eletrônico. Concordo(amos) com os direitos autorais da revista sobre o mesmo e com as normas acima descritas, com total responsabilidade quanto às informações contidas no artigo, assim como em relação às questões éticas. Data: ___/___/___ Nome dos autores Assinatura ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________