cepha-eba/ufrj - ElitE Digital BR

Transcrição

cepha-eba/ufrj - ElitE Digital BR
Ano1
n.
º1
2011
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REVISTA DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA DE ARTIGOS,
PESQUISAS E TRABALHOS NO CAMPO DAS ARTES - CEPHA-EBA/UFRJ
Ano I
nº 1
DEZEMBRO 2011
REALIZAÇÃO
COORDENADORES
Prof. Dr. Carlos Terra
Diretor da EBA/UFRJ
Coordenador Externo do CEPHA-EBA/UFRJ
Prof. Me. Rubens de Andrade
Professor do Dep.BAH-EBA/UFRJ
Vice-coordenador Externo do CEPHA-EBA/UFRJ
Bruna Baptista
Coordenadora do CEPHA-EBA/UFRJ
Négina Vidal
Vice-coordenadora do CEPHA-EBA/UFRJ
ORGANIZAÇÃO
CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM HISTÓRIA DA ARTE - CEPHA
Anderson Venâncio
Jacqueline Melo
Joana Pinho
José Luiz Avellar
Lilian Wilson
Victor A. Costa
APOIO E PARCERIA
Casa de Cultura Prof. Almir Paredes
Escola de Belas Artes - EBA
Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
EXPEDIENTE
EQUIPE EDITORIAL
Anderson Venâncio
Jacqueline Melo
Lilian Wilson
Négina Vidal
www.cepha.eba.ufrj.br
[email protected]
REVISÃO
Lilian Wilson
Négina Vidal
DIAGRAMAÇÃO
Jacqueline Melo
Victor A. Costa
AGRADECIMENTOS
CAPA
Prof. Almir Paredes
Prfª. Helenise Monteiro Guimarães
Profª. Lindalva de Oliveira Pereira
Marcos Teixeira
Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
Escola de Belas Artes - EBA
Casa de Cultura Professor Almir Paredes
Victor A. Costa
SUPERVISÃO
Carlos Gonçalves Terra
Rubens de Andrade
COLABORADORES
Ângela Ancora da Luz
Anderson Venâncio
Carlos Gonçalves Terra
Daniel Wyllie L. Rodrigues
Jacqueline Melo
José Luiz Avellar
Lilian Wilson
Maria Cristina Volpi Nacif
Maria Helena Wyllie L.Rodrigues
Madalena Grimaldi de Carvalho
PRODUÇÃO
PARCERIAS
UFRJ
APOIO
SUMÁRIO
02
03
04
EXPEDIENTE
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
Prof. Dr. Carlos Terra
05
EDITORIAL
06
CONEXÕES ENTRE AS ARTES VISUAIS, CIÊNCIAS E TECNOLOGIA:
EXPERIÊNCIAS DIDÁTICAS A UFRJ
Lilian Wilson
Maria Helena Wyllie L.Rodrigues
Daniel Wyllie L. Rodrigues
Madalena Grimaldi de Carvalho
10
ARTE E EDUCAÇÃO:
HISTÓRIA E NOVOS RUMOS NO BRASIL
Jacqueline Melo
12
14
BATE-PAPO COM MARCOS TEIXEIRA
José Luiz Avellar
Négina Vidal
PÚLPITO: UMA HOMENAGEM À ALMIR PAREDES CUNHA.
UMA REFERÊNCIA PARA OS ESTUDANTES DE HISTÓRIA DA ARTE
Ângela Ancora da Luz
15
O CENTRO DE REFERÊNCIA TÊXTIL / VESTUÁRIO:
GUARDA E CONSERVAÇÃO DE OBJETOS TÊXTEIS NA EBA
Maria Cristina Volpi Nacif
21
AGENDARTE
22
ENTREVISTA COM Profª. LINDALVA DE OLIVEIRA FERREIRA
Lilian Wilson
REVISTA CATAVENTO I SUMÁRIO I Nº 1 I DEZEMBRO 2011 03
Apresentação
do DIRETOR
A revista catavento lança seu primeiro número com bastante otimismo.
O grupo idealizador de sua organização deseja que a publicação
seja semestral e que consiga manter sua periodicidade,
mesmo reconhecendo as dificuldades de se editar uma revista de Artes.
A ideia é ser uma revista de Artes Visuais mas que também
focalizará outros campos de atividades artísticas,
em uma linguagem acadêmica. Poderíamos dizer que será
uma revista comprometida com a arte de nosso país e com o presente,
mas sem, no entanto, deixar de enfatizar a criação estética de
outros tempos e de outros países.
Cada número da revista catavento trará ao leitor uma completa
visão do que está fazendo, dizendo ou pensando no mundo das artes,
fazendo jus ao seu nome - colher tudo e depois lançar ao
leitor ao sabor do vento.
Informar, esclarecer e criticar são os principais objetivos.
Com vocês, a estréia da revista catavento.
Bom divertimento!
Prof. Dr. Carlos Terra
Diretor da EBA/UFRJ
Coordenador Externo do CEPHA-EBA/UFRJ
04 REVISTA CATAVENTO I Nº 1 I DEZEMBRO 2011
EDITORIAL
Cata-vento é um instrumento que indica a velocidade e a direção dos ventos. Suas pontas indicam
múltiplas possibilidades. O que queremos passar com isso? Assim como o cata-vento as Artes apontam
para um mundo plurívoco, no qual as possibilidades de significação são múltiplas e infindáveis. Não queremos
apontar um Norte, uma direção. Queremos as várias possibilidades que cada ponta do cata-vento pode nos levar
e nelas queremos nos achar, nos perder e achar novamente, ou seja, um movimento de intensa renovação.
Também, temos o intuito de contribuir com a divulgação das Artes, ao menos aquela visível por nós, tornar
acessível ao público interessado pelas Artes os acontecimentos artísticos, as discursões e os trabalhos
científicos no campo em questão. Assim, o CEPHA espera que a revista de fato fomente as discursões acerca
dos assuntos pertinentes as Artes.
A revista tem como objetivo fazer a divulgação científica de artigos de alunos da Escola de Belas Artes,
assim como de qualquer pesquisador e interessado em divulgar suas pesquisas e trabalhos dentro
do campo das artes e afins. Também, abrir espaço para discursões sobre as artes e áreas afins aos
graduandos tendo em vista que essa publicação é fruto do trabalho do CEPHA (Centro de Estudo
e Pesquisa em História da Arte) criado por alunos da graduação de História da Arte.
Esperamos que todos os alunos da Escola de Belas Artes fiquem entusiasmados com o trabalho
e que futuramente sejam, também, assíduos colaboradores da Revista Catavento, afinal precisamos de
todos para espalhar aos sete ventos que a Arte é viva, um bem cultural e que todos nós
devemos nos apropriar dela.
Bons Ventos, e que a leitura comece!
Lílian Wilson
Coordenadora da Revista
REVISTA CATAVENTO I Nº 1 I DEZEMBRO 2011 05
CONEXÕES
ENTRE AS ARTES VISUAIS,
CIÊNCIA E TECNOLOGIA:
EXPERIÊNCIAS DIDÁTICAS NA UFRJ
Maria Helena Wyllie L.Rodrigues
Daniel Wyllie L. Rodrigues
Madalena Grimaldi de Carvalho
SÍNTESE: Neste artigo, são descritas algumas das iniciativas adotadas pelos autores na condução de
disciplinas de fundamentação geométrica, que constam do currículo dos cursos de licenciatura em
Educação Artística e de especialização em Técnicas de Representação Gráfica (pós-graduação), oferecidos
na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tal tipo de ação personifica um projeto,
cujo objetivo principal é fazer com que os educadores possam se emancipar e promover mudanças em sua
prática pedagógica, de modo a desenvolver a criatividade de seus alunos e proporcionar-lhes os benefícios
da visão interdisciplinar do conhecimento.
Palavras-chave: geometria e arte; tecnologia; criatividade; atividades didáticas.
1. OS CURSOS DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO ARTÍSTICA E DE
ESPECIALIZAÇÃO EM TÉCNICAS DE REPRESENTAÇÃO GRÁFICA
A
lém das graduações em diferentes modalidades da arte,
a Escola da Belas Artes da UFRJ oferece o curso de
Licenciatura em Educação Artística, nas habilitações em
Artes Plásticas e Desenho. Ambas possuem, nos primeiros
períodos letivos, conteúdos programáti cos comuns
distribuídos entre disciplinas que fornecem uma fundamentação teórica de caráter cultural - História das Artes
e das Técnicas, Arte no Brasil, Estética, Folclore e outras de cunho mais prático: Desenho Geométrico,
Técnicas de Expressão Oral e Corporal, Musicalização,
Linguagem Teatral e Metodologia Visual.
A partir dessa estrutura básica, o currículo atende às
especificidades das distintas áreas de atuação. Assim,
os licenciandos em Artes Plásticas são preparados nos
ateliês de Escultura, Gravura e Pintura, para conhecerem
as linguagens artísticas bem como as diversas técnicas
e materiais existentes no mercado.
Na formação em Desenho, há uma oferta de disciplinas técnicas, tais como a Geometria Descritiva,
Teoria do Desenho Geométrico, Desenho Técnico,
Perspectiva e Sombras, Axonometria e Desenho de
Edificações, entre outras, com vistas a levar os estudantes
ao domínio dos métodos exatos de representação da
forma. Os que se enquadram nesta habilitação também
cursam algumas oficinas.
Nas duas habilitações, os diversos programas curriculares são enfocados de maneira a desenvolver hábitos
de reflexão e raciocínio, bem como estimular a criatividade por meio do relacionamento entre as disciplinas
teóricas e práticas. Espera-se que, ao final do curso, os
alunos estejam aptos a realizar e propor atividades no
campo de conhecimento em que irão trabalhar.
Para possibilitar a continuidade da formação
acadêmica dos licenciados em Educação Artística e de
06 REVISTA CATAVENTO I ARTIGO 1 I Nº 1 I DEZEMBRO 2011
graduados em áreas afins, a Escola de Belas Artes da UFRJ
oferece, desde 1995, o curso de especialização em Técnicas
de Representação Gráfica. Seu objetivo principal consiste
em aperfeiçoar e atualizar profissionais da área de expressão
gráfica, interessados no ensino e na pesquisa. Possui duração
prevista para no máximo quatro períodos letivos, perfazendo
480 horas-aula, e é subdividido em dois núcleos: o de
formação específica e o de formação pedagógica.
Os conteúdos abordados no primeiro núcleo referem-se
a conceitos de fundamentação geométrica. Para explorá-los,
utilizam-se ambientes computacionais apropriados ao
estudo da geometrografia, à modelagem de objetos e à
elaboração de trabalhos em artes visuais. Fazem parte
deste conjunto as seguintes disciplinas: Geometria
Analítica, Geometria Gráfica Tridimensional I e II,
Geometrografia Dinâmica e Aplicações de Computação
na Expressão Gráfica.
As três disciplinas que formam o segundo núcleo
Teoria e Prática de Pesquisa: tópicos especiais de metodologia da pesquisa na área das técnicas de representação gráfica, Técnicas de Produção de Material Didático
Informatizado e Aprendizagem por meio de Jogos e Desafios fornecem o instrumental metodológico de suporte
para a produção científica e didática dos futuros especialistas. Ao concluir a especialização, o aluno deverá apresentar uma monografia que é desenvolvida ao longo dos
dois anos do curso com encontros periódicos e sob a
orientação dos professores. É preocupação constante dos
docentes conduzir as aulas de modo a estimular o
pós-graduando a pesquisar e conquistar seu próprio
conhecimento, garantindo, assim, a sua emancipação
no aprendizado, na aquisição de competências e na
decisão sobre as alternativas pedagógicas que virá a
adotar em seu trabalho.
¹O currículo inclui disciplinas pedagógicas cursadas na
Faculdade de Educação da UFRJ.
2.COMO SE TRABALHA NAS TURMAS DE LICENCIATURA?
Na Licenciatura em Educação Artística com habilitação
em desenho, que visa o conhecimento da geometria
(plana e projetiva) e sua aplicação às diferentes técnicas
de representação gráfica, a grade curricular dispõe de um
elenco de disciplinas teórico-práticas, que buscam desenvolver nos estudantes a capacidade de visualizar formas,
analisar estruturas e elementos geométricos e deduzir
suas propriedades.
A evolução das técnicas de representação gráfica trouxe
ao docente a necessidade de se atualizar e promover a
interação dos recursos tradicionais com os computacionais
em suas aulas, ampliando assim os horizontes intelectuais
dos alunos. Atualmente, na EBA, os conteúdos programáticos do Desenho Técnico, Geometria Descritiva,
Axonometria e Teoria do Desenho Geométrico, entre
outras disciplinas, são trabalhados alternadamente em
sala, por meio da utilização convencional do quadro-de-giz,
e nos laboratórios com aplicativos gráficos.
Cabe destacar que a informática, por si só, não agrega
qualidade ao ensino. No traçado da formação dos discentes
deve-se dar importância ao desenvolvimento do raciocínio
e ao domínio da teoria, não somente à familiarização
com os recursos computacionais disponíveis. Nesse universo cabe ao professor contextualizar o conhecimento
para levar os estudantes à percepção do significado e da
utilidade do que estão fazendo. Essa atitude tornou-se
quase um imperativo para responder aos que chegam à
universidade questionando o real valor de informações
tão técnicas e abstratas no cotidiano.
Para exemplificar a metodologia aplicada, citamos a
disciplina “Desenho Geométrico Básico” em que se
utilizam quebra-cabeças. Essa alternativa didática permite
que o aluno aprenda de modo prazeroso e, simultaneamente, associe aquele saber a exemplos práticos do
dia-a-dia.
Brincar para criar? Sim! A matemática recreativa tem-nos
inspirado a elaborar atividades instigantes e desafiadoras
e a trazer para a sala de aula alguns brinquedos comerciais
de forte embasamento geométrico. Ao tentar compreender
as características destes objetos, cada estudante aprimora
não apenas a percepção espacial, mas, também, os
pensamentos cogitativo e reflexivo.
Quando um brinquedo é investigado após o outro, cria-se
uma sólida ponte geométrica entre eles. Assim, utilizando
materiais concretos como apoio, buscamos combater a
fragmentação dos conteúdos previstos na ementa da disciplina.
(RODRIGUES et al, 2011, pp 6 ,7)
Figura 1: Composições com os três tipos de peças / losangos do Fractiles-7
Figura 2: Peças (5 lagartos e 5 morcegos) e arranjos do Batty Lizards
A segunda atividade é tentar provar que um polígono
regular com 2q lados contém q losangos (i / q), para
cada inteiro positivo i menor do que q / 2, mais q / 2 quadrados
se q for ímpar” (Frederickson, 2002, p. 10). O que pode
ser exemplificado pelo último arranjo da figura 1, que
é um polígono de 14 lados (q=7) e que possui 21 losangos.
Na terceira etapa, o aluno é estimulado a pensar em
determinadas transformações pontuais, como transladar,
refletir e rotacionar buscando solucionar outros arranjos
num polígono de 12 lados (Figura 3). Tal tarefa pode
ser desenvolvida em papel, com os tradicionais esquadros
e compasso, ou no computador em ambiente adequado
de geometria dinâmica.
Figura 3: Três arranjos dos losangos internos ao polígono de 12 lados
Esse método de ensino se utiliza de uma poderosa
Um dos exercícios propostos, descrito e ilustrado na
publicação acima referenciada (pp 7 e 8) é trabalhado ferramenta de produção do conhecimento, devido a
em três etapas: na primeira, a tarefa é encaixar as peças, desenvolver o pensamento criativo e a reflexão de
montando os quebra-cabeças. As possibilidades são ideias, com base na matemática.
variadas (fig. 1 e 2), o que permite ao professor propor
questões desafiadoras, tais como: De quantas maneiras
² http://www.fractiles.com/
podemos solucionar o quebra-cabeça? Quais são as
³ OSBORN, J. A. L. Variably assemblable figurative tiles for games, puzzles,
transformações pontuais aplicadas na solução? Quais são
and for covering surfaces. US Patent No.: 5619830, Mar 13, 1995;
Apr 15, 1997.
os ângulos internos de cada peça? Qual se encaixa em qual?
De que modo podemos garantir seu encaixe?
REVISTA CATAVENTO I ARTIGO 1 I Nº 1 I DEZEMBRO 2011 07
3. COMO SE TRABALHA NAS
TURMAS DE ESPECIALIZAÇÃO?
A clientela da especialização em Técnicas de Representação
Gráfica é, em sua maior parte, constituída por professores
de Educação Artística na habilitação em Desenho, que
atuam nos níveis fundamental e médio de ensino. Contudo,
vários candidatos ao ingresso no curso possuem outras
formações e o procuram porque desejam acrescentar à
sua bagagem acadêmica as noções, técnicas e ferramentas
ali exploradas, de modo a valer-se delas em suas respectivas
atividades profissionais. Dessa forma, no grupo de alunos,
conta-se também com a participação de professores de
matemática, arquitetos, decoradores, programadores visuais,
desenhistas industriais, cenógrafos, figurinistas e artistas
plásticos.
Em função da diversidade e consequente intercâmbio de
conhecimentos e experiências entre os estudantes na
realização de trabalhos em equipe, tem-se a preocupação
de promover, ao longo das aulas, possíveis alianças entre
os campos científico e artístico. Essa integração está
presente na proposta de inúmeras atividades executadas
em ambientes gráfico-computacionais.
No rol das disciplinas constantes do currículo, a que
mais tem concorrido para fortalecer aqueles vínculos é a
Geometrografia Dinâmica, distribuída em 15 sessões
de 3 horas-aula em laboratório, acrescidas de uma hora
para a realização de atividades nas quais os tópicos, ali
desenvolvidos, são aplicados. Ao longo dos encontros,
tem-se a chance de rever a teoria relativa às construções
geométricas e praticar a arte de executá-las, trabalhando
nos chamados 'cadernos de rascunho interativos' da
geometria dinâmica (G. Din.).
Vale explicitar que a G. Din. vem a ser um ambiente
de trabalho eminentemente didático, um campo fecundo
para a exploração, demonstração e redescoberta de
conceitos, relações e operações geométricas essenciais
à construção de figuras e à resolução de problemas. Além
disso, como aponta Rodrigues (2003, p.19), a oportunidade
de operar com os programas de geometria dinâmica
“promove, na mente gráfica do usuário, uma transformação de inestimável valor uma espécie de upgrade
ou seja, um salto para uma dimensão cognitiva superior.”
Nesses micromundos, o menu que vem se mostrando
mais aplicável à releitura e elaboração de trabalhos
artísticos é o das transformações pontuais. Com recurso
à reflexão, translação, rotação, homotetia, ao meio-giro,
e suas combinações, podem ser criados símbolos, logos,
frisos, rosáceas, mosaicos, padrões de estamparia,
azulejos, caleidoscópios, painéis animados e outros
elementos ornamentais. Também se utiliza a geometria
das transformações para trabalhar dinamicamente sobre
imagens de obras de pintores (fig. 4) e artistas gráficos
(fig. 5), reproduzidas na tela, bem como para criar
composições decorativas, aplicando iterações (fig. 6).
Figura 5: Trademark Torin, reconstrução geométrica e variações
Figura 4: (A) “Cata-ventos” (B) Tratamento Geométrico (C) Recurso de Animação
Na figura 4, tomou-se como base o quadro de Alfredo
Volpi intitulado “Cata-ventos” (A) para reconstruir
algumas peças geometricamente (B), de modo que
pudessem girar ao comando de um botão de
animação (C).
A figura 5 mostra a possibilidade de, a partir de um
logo redesenhado com elementos que mantêm relações
geométricas entre si, alterar sua forma para criar novas
configurações. Em (A), tem-se a imagem original do
símbolo; em (B), resgata-se a geometria do módulo
inicial, e em (C, D, E, F, G, H, I), são apresentadas
diferentes soluções obtidas com o simples arrastar do
centro das rotações que geraram o conjunto.
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08 REVISTA CATAVENTO I ARTIGO 1 I Nº 1 I DEZEMBRO 2011
Na figura 6, vê-se uma estrutura fractal formada por
meio de transformações iterativas, aplicações estas que
se tornam possíveis graças à razão de homotetia imposta
aos elementos iniciais (A). Procuramos enriquecer a
imagem, utilizando rotação e reflexão. Assim, para cada
lado do ramo, foram aplicadas uma (B), duas (C), três (D)
e sete (E) iterações.
AUTORES
Maria Helena Wyllie Lacerda Rodrigues
Professora Associada, quadro de inativos,
colaboradora oficial no curso de especialização
em Técnicas de Representação Gráfica.
Instituição EBA UFRJ.
e-mail: [email protected]
Daniel Wyllie Lacerda Rodrigues
Professor Adjunto. EBA UFRJ
e-mail: [email protected]
Madalena Grimaldi de Carvalho
Professora Adjunta. EBA UFRJ
e-mail: [email protected]
Observação:
Os três autores fazem parte do grupo de pesquisa
“PVGAD -Pensamento Visual e Geometria
Aplicada ao Design” - registrado no CNPq.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREDERICKSON, Greg (2002): Dissections:
Plane & Fancy. Cambridge: Cambridge University Press.
Figura 6: Módulo inicial e sucessivas iterações
4
RODRIGUES, Daniel W. L., RODRIGUES, Maria Helena W. L. & CARVALHO,
Madalena Grimaldi (2011): Brincando com a Geometria .
In: IX INTERNATIONAL CONFERENCE ON GRAPHICS ENGINEERING
FOR ARTS AND DESIGN E 20° SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOMETRIA
DESCRITIVA E DESENHO TÉCNICO, 2011, Rio de Janeiro.
Graphica 2011 Rio de Janeiro: UFRJ, 2011. v. 1.
Pertencente a uma família de imigrantes italianos, Volpi (1896-1988)
chegou de Lucca ao Brasil no final do século XIX, enveredando-se pelo
caminho da pintura e passando por diversas fases em sua escalada artística.
RODRIGUES, Maria Helena W. L. (2003):
Sob o Olhar da Geometria Dinâmica. In:
Boletim da Aproged vol. 22. Pp19/26.
5 TORIN
(AIR-MOVING EQUIPMENT, WIRE AND STRIP FORM MACHINERY)
(fonte: Trademarks designed by Chermayeff & Gelsmar - Lars Müller
Publishers - 2000)
6 Considerando
o ponto inferior do módulo inicial como centro de homotetia,
o ponto de bifurcação dos galhos é o transformado do superior (vazado) na
razão 1/3.
4. CONCLUSÃO
A educação artística possui uma 'ecologia' extremamente rica. Trata-se de um hábitat onde são encontradas
as condições ideais para se plantar o germe da criatividade.
A nosso ver, a verdadeira missão empreendedora
dos educadores, neste vasto campo de comunicação
e expressão, é a de mantê-lo fértil e produtivo de modo
a dar maior amplitude à formação dos alunos. Para
isso, basta preparar e alimentar o ambiente propício
à mobilização de recursos nos vários domínios do
conhecimento, promovendo a articulação e a integração da capacidade criativa (o imaginar) com o poder
de assimilação, associação e apropriação de conteúdos
disciplinares (o saber) e a conquista de habilidades
operacionais (o fazer).
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www.museunacional.ufrj.br
REVISTA CATAVENTO I ARTIGO 1 I Nº 1 I DEZEMBRO 2011 09
Arte/Educação no Brasil:
Uma atividade ou uma matéria?
IMAGENS DE INTERNET
Jacqueline Melo
Uma frase que defini bem Arte-Educação ou Ensino
de Arte é a educação que oportuniza ao indivíduo o
acesso à Arte como linguagem expressiva e forma
de conhecimento. Tal conhecimento tem grande
importância no âmbito educacional, porque procura
através das tendências individuais, estimular a
inteligência e contribuir para a formação da
personalidade da criança ou indivíduo sem ter a
preocupação de formar um artista, mais sim de
proporcionar a ele processos pelos quais possa
desenvolver a percepção, a imaginação, a observação,
raciocínio, libertando-se das tensões, controlando
emoções e organizando pensamentos e sentimentos,
ou seja, educando-se.
Na década de 30, surgiram de forma extracurricular
as primeiras tentativas de escolas especializadas
em arte para crianças e adolescentes, porém, foram
interrompidas na década de 40 com a implantação
do regime ditatorial que se instalava no Brasil
naquela época. Isto impediu o desenvolvimento da
Arte-Educação e solidificou o ensino de alguns
processos como o desenho geométrico, o desenho
pedagógico e a cópia de estampas usadas para as
aulas de composição em língua portuguesa.
Nesse período Pós-Estado Novo iniciou-se a pedagogização da arte nas escolas, dando espaço para a utilização
instrumental da arte para treinar o olho e a visão ou liberar
emoções, tendo como marco o surgimento das famosas
Escolinhas de Artes do Brasil, espaços experimentais que
tinham como objetivos liberar a expressão da criança
fazendo com que ela se manifestasse livremente.
Após um longo período de escuridão, em meio a mais
uma ditadura militar, precisamente em 1971, o ensino
da Arte é colocado como matéria obrigatória nas escolas,
por conta de uma exigência dos educadores norte-americanos
ao MEC, só que naquela época no Brasil não havia cursos
ou universidades capazes de preparar Arte-educadores,
sendo criados tais cursos apartir de 1973, através de uma
Portaria da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, criada
no mesmo ano, onde permitia que um professor de artes
fosse formado em apenas dois anos e este teria que estar
apto a, de forma concomitante, lecionar música, desenho,
teatro, dança, artes visuais e desenho geométrico, sem
nenhuma garantia de conhecimento profundo em alguma
dessas áreas.
10 REVISTA CATAVENTO I MATÉRIA CAPA I Nº 1 I DEZEMBRO 2011
Diante de tais circunstâncias políticas a prática de arte
nas escolas públicas primárias ficou restrita à prática de
desenho e às sugestões de temas como comemorações
cívicas e outras festas, não tendo nenhum comprometimento com notas, se tornando apenas uma atividade onde
os alunos pintavam e coloriam figuras em datas comemorativas e não uma matéria com objetivos práticos na sala
de aula: “Até hoje existem em alguns locais reflexos
dessa época, exemplo disso são os desenhos em Xerox de
coelhinhos de páscoa, bonequinho de índios para o dia
do Índio”, comentário de Ana Mae Barbosa, pesquisadora
e especialista em Arte-educação.
De lá pra cá os caminhos da Arte-educação no Brasil
passaram por algumas transformações em 1997; o Governo
Federal estabelece os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs), diretrizes que têm como objetivo difundir os
princípios da reforma curricular e orientar os professores
na busca de novas abordagens e metodologias. Porém,
segundo os Arte-educadores, foi desconsiderado o
trabalho de revolução curricular, baseado na Aprendizagem
Triangular, que Paulo Freire desenvolveu quando Secretário
Municipal de Educação de São Paulo.
Segundo Ana Mae Barbosa (1994), o ensino da Arte
deve seguir, o que ela chama de Metodologia Triangular
que é composta pela História da Arte, pela leitura da
obra de arte e pelo fazer artístico, ou seja, a pessoa
que aprende Arte deve saber não apenas fazer algo,
mas também saber de onde veio aquilo que ela está
fazendo, o que levou aquelas pessoas a fazerem aquela
obra, para assim, fazerem a leitura da obra, podendo
perceber a mensagem o que o artista quis passar através
da sua obra. Além disso, ao criarem suas obras artísticas
poderão gerar algo que transmita uma mensagem, dando
sentido à Arte. Isso não significa que a técnica deva ser
deixada de lado, é importante que o aprendiz venha a
conhecê-las para aprimorar cada dia mais o seu trabalho,
mas a técnica sozinha não dá sentido à obra.
A nomenclatura dos componentes da Aprendizagem
Triangular de Paulo Freire designava como Fazer Arte
(ou Produção), Leitura da Obra de Arte e Contextualização, sendo essas trocadas para Produção, Apreciação
e Reflexão para alunos da (1ª a 4ª série) ou Produção,
Apreciação e Contextualização para os alunos de
(5ª a 8ª série).
Até o surgimento da nova LDB e dos novos PCN's,
prevalecia o ensino das Artes Plásticas. Com a LDB
de 1996 (lei no. 9.394/96), revogam-se as disposições
anteriores e a Arte é considerada disciplina obrigatória
na educação básica conforme o seu artigo 26, parágrafo 2°, no qual o ensino de arte constitui componente
curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação
básica, visando o desenvolvimento cultural dos alunos.
Atualmente, o ensino de Arte está voltado para as
linguagens de Música, Dança, Teatro (Artes Cênicas)
e Artes Plásticas. Em 2008, com a aprovação da Lei
Federal nª 11.769, o ensino de música passou a ser
obrigatório devendo ser ministrado por professor
com licenciatura plena em Música e os sistemas de
ensino têm três anos para se adequarem às mudanças.
Segundo HERNÁNDEZ (2000), o estudo da Arte contribui
para diversas coisas, entre elas: a cultura visual como
universo de significados, a Arte como construção e representação social, a perspectiva de pesquisa sobre a
compreensão no ensino da Arte e uma interpretação
crítica da realidade e destaca o uso de um portfólio para
se registrar o que foi aprendido ou até mesmo ensinado.
Com esses elementos, o aluno poderá refletir sobre o seu
processo de aprendizagem, transmitir pensamentos atravé
da arte e entender o que o artista quis transmitir através
da imagem ou objeto que produziu. Portanto, não só as
Artes Plásticas, mas as linguagens artísticas em geral,
contribuem para a formação de cidadãos críticos e conscientes daquilo que produzem.
Referências Bibliográficas:
- BARBOSA. Ana Mae Tavares Bastos. A imagem no ensino da arte:anos oitenta e novos tempos. São Paulo: Perspectiva, 1994.
- HERNANDES. Fernando. Cultura visual, mudança educativa e projeto de trabalho. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
- Lei Federal n°. 5692/71 - Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
- Lei Federal n°. 9394/96 - Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
- Lei Federal n°. 11769/2008 - Dispõe sobre a obrigatoriedade do ensino de Música na Educação Básica.
Museu Dom João VI
O Museu Dom João VI da Escola de Belas Artes/UFRJ tem sua história iniciada no século XIX. Após um século
da fundação da Academia, em 1937, o acervo foi dividido com o Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), pois
em 1937 (também ano de criação do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) a enorme coleção foi
desmembrada. A maior parte ficou no MNBA e a outra parte, voltada ao ensino e, portanto, mais didática, foi
distribuída entre as salas e os ateliês da Escola Nacional de Belas Artes (ENBA). As duas instituições, no entanto,
ocupavam o mesmo prédio: o MNBA na parte da frente, voltada para a avenida Rio Branco, e a ENBA a sua parte
posterior, na esquina das ruas Araújo Porto-Alegre e México.
Galeria de Artes
Saiba mais sobre o Museu em:
www.museu.eba.ufrj.br
Acervo
As coleções da antiga Academia Imperial, depois Escola
Nacion al de Belas Artes e hoje EBA/UFRJ, foram
formadas por obras de professores e alunos, provenientes
de concursos para prêmios de viajem ou para vagas de
professor, cópias realizadas nos museus europeus e todo o
material didático das diversas disciplinas. Esse acervo
extraordinário, acumulado desde a criação da Academia
em 1816, foi desmembrado em 1937: grande parte dele
deu origem ao Museu Nacional de Belas Artes, continuando
na Escola, de modo geral, o acervo mais ligado ao
ensino e o arquivo documental – origem do Museu D. João VI,
criado em 1979.
ES
Õ
Ç
I
S
O
EXP
Endereço
ESCOLA DE BELAS ARTES
Av. Ipê, 550 - 7º andar
Cidade Universitária - Ilha do Fundão
CEP 21941-590 – Rio de Janeiro, RJ
Tel.: 2598-1653 / 2598-1654
O acervo permanente do Museu
está à disposição para visitação
e pesquisa, no horário das 10 às 16 hs
REVISTA CATAVENTO I MATÉRIA CAPA I Nº 1 I DEZEMBRO 2011 11
BATE-PAPO
MARCOS
TEIXEIRA
“Aluno da EBA
foi um dos ganhadores do
Prêmio Fórmula Santander”
1.Como é a sensação de ganhar o Premio Santander?
Foi muito boa aquela sexta feira (25 de novembro) no
autódromo de Interlagos, em São Paulo. Lá estávamos
nós os 100 estudantes de todo o Brasil contemplados
com as bolsas do Programa Fórmula Santander, o piloto
Felipe Massa, o presidente mundial do Santander,
Dom Emilio Botín, o presidente do Santander Brasil,
Marcial Portela e reitores.
Além de receber a bolsa das mãos de Felipe Massa e
de Dom Emilio, tivemos um tratamento fantástico. Depois
da cerimônia de entrega das bolsas, foi-nos oferecido um
almoço e logo em seguida assistimos ao treino livre do
GP do Brasil.
Tenho boas lembranças dos outros bolsistas que conheci
por lá e até fizemos planos para o período em que
estivermos na Europa.
2. Quais os artistas que lhe deram mais inspiração no
seu caminho artístico? E quais outros fatores do
mundo não artístico lhe influenciaram em suas obras?
Cresci em Brás Pires, uma cidade do interior de Minas
Gerais, e tinha contato apenas com a Arte popular, como
serestas, folias de Reis, artesanato, festas tradicionais,
Igrejas Barrocas etc....
12 REVISTA CATAVENTO I Nº 1 I DEZEMBRO 2011
José Luiz Avellar
Négina Vidal
Lembro-me que um único livro que tínhamos em
casa continha as duas paixões da minha vida: arte e
Teologia Cristã. Este livro era a Bíblia ilustrada.
Quando pequeno ficava reparando em suas reproduções e tentava reproduzir em grafite Rafael,
Da Vinci, Dürer, Caravaggio, Vermeer, Gauguin,
entre outros.
Acredito que todo meu imaginário é povoado por
este ambiente e é alicerce para todo meu trabalho.
Quando cheguei ao Rio em 2004 pude ver exposições
com originais vindos de diversas partes do mundo,
além de outras de artistas brasileiros. Tive aulas com
Henrique Sant'anna e ingressei na EBA em 2007.
Lá pude conhecer outros artistas que se tornaram
meus professores e influenciaram muito no desenvolvimento do meu pensamento plástico, entre eles se
destacam Nelson Macedo, Rui de Oliveira, Marcelo
Duprat e Renato Alvim.
Gosto muito da arte Italiana do Renascimento, mas
sou eclético e admiro pintores de diversos períodos,
entre meus favoritos estão: Rafael, Michelangelo,
Rembrandt, Velázquez, El Greco, Van Gogh, Hodler,
Toulouse La utrec, Portinari e Eg on Schiele.
Com relação a outras coisas do mundo não artístico
que me influenciam, acredito que tudo que chega até
mim das suas mais variadas formas habitam o meu
imaginário e sendo assim, contribuem para o meu
fazer artístico.
3. Tivemos a informação que você irá para a
Universidade do Porto , em Portu gal, quando
embarcará? Quanto tempo irá permanecer lá?
O que espera que essa oportunidade traga em retorno?
Embarco em janeiro e a previsão é de que eu retorne
em agosto do próximo ano, mas ao que tudo indica
ficarei mais um semestre por lá.
Bom, só o fato de sair do País e morar em outro
continente já é uma grande experiência. Com relação
a minha vida acadêmica, espero fazer disciplinas que
não tenho aqui na Escola de Belas Artes da UFRJ.
Outra coisa que muito me motiva é o fato de que
poderei ver de perto todas as obras de arte que sempre
vi apenas em reproduções.
4. O que você pretende transmitir com sua obra?
Quando estou pintando quero fazer um bom trabalho
e estou ali preocupado com as relações entre os
elementos abstratos e poéticos, não posso voltar minha
atenção para o que meu trabalho vai causar no espectador.
É fato que se pinto não o faço para esconder meu
trabalho debaixo da cama, mas sim para expô-lo, mas
esta não é a motivação primeira.
Se meu trabalho pudesse elevar o espírito humano,
independente se estou pintando um par de tênis ou uma
epopéia do mundo contemporâneo, a um estado de
contemplação que não fosse apenas um prazer para
seus olhos, mas reverberasse em seu imaginário
transmitindo algo de bom, já me daria por satisfeito!
8. Qual a importância da Escola de Belas Artes para você?
Alguma
sugestão para aqueles que pensam em cursar
Hoje em dia impera uma ideologia neo-dadaísta que
não democratiza os espaços que foram conquistados por a mesma?
5. Qual sua opinião sobre o cenário atual da arte brasileira?
verdadeiros artistas e todos aqueles que fazem outra
espécie de trabalho são tidos como reacionários. Sob este
aspecto vários nomes de peso já se pronunciaram e entre
eles cito Ferreira Gullar que ultimamente tem escrito
críticas sobre o cenário cultural vigente. É preciso que
formemos um coro que brade: “o rei está nu”.
6. O que você considera importante para alguém ser
um bom artista?
Se fosse possível transcreveria aqui as cartas de Rainer
Maria Rilke para o jovem Franz Xaver Kapus, nelas o
poeta dá conselhos que, a meu ver, servem para o artista
de qualquer área, seja ele poeta, pintor, ator etc... Então
fica aqui a dica do livro “Cartas a um jovem poeta”. De
qualquer forma meu conselho é: se quer ser um bom pintor
cole em bons pintores! Pode parecer ironia, mas hoje em
dia é preciso dizer isso, pois todo o pensamento plástico
foi deixado de lado em favor de um “conceitualismo mórbido”.
Mas, fora as características específicas que formam um
bom artista, acredito existirem outras que tornam brilhante
qualquer profissional: dedicação, amor pelo que faz
(aliás isso é essencial) e ética.
Tenho um grande respeito e estima por esta instituição
que tem longa tradição e formou grandes artistas. Sinto-me
honrado em saber que estudo em uma escola que formou
grandes pintores como Rodolfo Amoedo, Visconti, Portinari,
Bandeira de Mello, entre outros. Nela pude aprender muito
do fazer artístico e o contato com meus professores e colegas
vou levar para a vida toda. Sempre digo que tenho a
oportunidade de estudar com alguns dos meus ídolos, pois
tenho professores e colegas que são muito bons no que fazem.
Para aqueles que pensam em fazer um curso na EBA digo
o mesmo que sempre disse àqueles que pedem minha
opinião: não posso falar dos outros cursos, mas se querem
fazer pintura, devem ter muito amor a ela e não podem
pensar em retorno financeiro rápido e grandioso. Ao final
tudo vale à pena desde que estejam fazendo aquilo de que
gostam e acreditam.
7. Como você optou por seguir o caminho das artes
para sua vida?
Não foi fácil esta escolha. Meus pais sempre me aconselhavam a seguir outra carreira e ter a pintura como hobby.
Hoje entendo a preocupação deles, mas foi difícil decidir
por conta própria e deixar de lado o preconceito de parentes
e amigos e seguir o que eu realmente gosto de fazer. O mais
importante foi romper com o meu preconceito, afinal sou
um profissional como outro qualquer.
Geralmente existe a ideia de que arte é um bem supérfluo
Ela pode não ser essencial para se sobreviver, mas é essencial
para se viver. Acho que arte e religião são as duas coisas
que dão sentido ao existir humano, sem elas o mundo
entraria em “parafuso”. No trabalho artístico e na prática
cristã encontrei a verdadeira “busca de sentido” de que
fala Viktor Frankl.
REVISTA CATAVENTO I Nº 1 I DEZEMBRO 2011
13
PÚLPITO:
Ângela Ancora da Luz
Historiadora e Critica da Arte
UMA HOMENAGEM À
ALMIR PAREDES CUNHA.
UMA REFERÊNCIA PARA OS
ESTUDANTES DE HISTÓRIA DA ARTE
Almir Paredes
Ex-diretor de 1975/80
Evento de comemoração de 195 anos da EBA
14 REVISTA CATAVENTO I PÚLPITO I Nº 1 I DEZEMBRO 2011
O Centro de Referência Têxtil/Vestuário:
Guarda e conservação de objetos
têxteis na EBA
Profª. Drª. Maria Cristina Volpi Nacif
Resumo: Este artigo é o relato do desenvolvimento do projeto do Centro de Referência Têxtil/Vestuário
entre alunos de graduação da Escola de Belas Artes. O Centro de Referência Têxtil/Vestuário consiste
em acervos de imagem, imagem em movimento, tecidos, vestuário e acessórios, organizados como
materiotecas e banco de imagens para atender às necessidades didático-pedagógicas do Curso de Artes
Cênicas, com foco em indumentária, atendendo aos alunos do Curso, da Escola de Belas Artes e de outras
IES. As ações necessárias para a realização do projeto contribuem para o despertar de diversas competências
entre os alunos da EBA, além daquelas usualmente desenvolvidas ao longo de sua formação universitária.
Palavras-chave: materioteca, banco de imagens, cultura material, formas vestimentares, figurino.
INTRODUÇÃO
O projeto do Centro de Referência Têxtil/Vestuário que
se desenvolve no âmbito do Núcleo Interdisciplinar de
Estudo da Imagem e do Objeto/NIO do Programa de
Pós-graduação em Artes Visuais/PPGAV e no contexto
do Curso de Artes Cênicas da Escola de Belas Artes da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, apoia-se na minha
experiência de ensino em cursos de artes e design em
universidades no Estado do Rio de Janeiro, ao longo de
dezesseis anos. Minha própria vivência como pesquisadora
me levou a reconhecer os benefícios de integrar o aprendizado
a partir dos objetos e do entendimento de seus contextos
históricos mais amplos.
Os alunos que pretendem se tornar designers, diretores
de arte ou figurinistas, são levados a projetar, pesquisar
ou conceber objetos. O que estes estudantes têm em
comum é a necessidade de conhecer os objetos que fazem
parte de seu contexto profissional, entendendo como são
feitos, para que são usados e quais são os seus valores
expressivos em termos culturais e estéticos.
Geralmente, as instituições de ensino superior possuem
bibliotecas com acervos gerais e temáticos e videotecas
onde os alunos podem pesquisar.
Tanto a cidade quanto o estado do Rio de Janeiro possuem
importantes acervos bibliográficos e museus públicos.
As coleções da Casa de Rui Barbosa, do Museu Carmen
Miranda, do Museu da República, do Museu Histórico
Nacional no Rio de Janeiro, do Museu Imperial em
Petrópolis, e da Casa da Hera em Vassouras, são alguns
dos museus que possuem coleções de indumentária do
séc. XIX e XX.
Nos últimos dez anos, seguindo uma tendência internacional, alguns desses museus ampliaram seus acervos de
indumentária, ou desenvolveram uma política de valorização e visibilidade, através da restauração e melhoria
da guarda de suas peças, além da realização de exposições
temáticas. Neste mesmo período, novos cursos de design
de moda foram criados no Rio de Janeiro, contribuindo
com bibliotecas especializadas e em alguns casos, com a
criação de tecitecas.
O incentivo à visitação de exposições de indumentária
ou visitas aos acervos museológicos como estratégia
para aproximar o estudante de seus objetos de estudo,
é muitas vezes prejudicada pela carga horária de aula
ou pela distancia entre os campi e a localização dos museus.
O Museu Nacional da UFRJ na Quinta da Boa Vista,
tem uma coleção de têxteis arqueológicos que foi
exposta em 2006. O Museu Dom João VI, situado
dentro da Escola de Belas Artes/UFRJ no prédio da
Reitoria na Ilha do Fundão, possui um pequeno acervo
de obj et os pes soai s e indum ent ár ia ecl es iás tica.
O mesmo Museu possui uma coleção de obras raras
muito importantes. Somados aos ateliers de pintura,
escultura, gravura e têxteis, a EBA proporciona aos
alunos oportunidade de formação teórico-prática de
qualidade. No entanto, em levantamento realizado
em 2004 junto ao SIBI/UFRJ, foi constatada pouca
atualização em bibliografias de referência nas áreas
de indumentária e têxtil. Já o acervo têxtil e de indumentária apontado eram praticamente desconhecidos.
Um dos primeiros desafios foi, portanto, encontrar
uma maneira dos estudantes conseguirem uma
primeira experiência da “coisa real”.
A criação do Centro de Referência Têxtil/Vestuário
O curso de Artes Cênicas da Escola de Belas Artes
da UFRJ orgulha-se de seu papel pioneiro na formação
de profissionais para atuarem como cenógrafos,
figurinistas, diretores de arte e produtores culturais
em teatro, cinema e televisão. O curso foi também,
durante mais de vinte anos, o único no país a formar
figurinistas.
A formação do artista cênico no âmbito da Escola de
Belas Artes, até o final da década de 1950, se dava
através do oferecimento da disciplina indumentária
histórica, ministrada pela Profª. Sofia Magno de Carvalho.
As disciplinas de cenografia foram ministradas pelo
cenógrafo Santa Rosa até 1956, ano de seu falecimento.
A cenografia era uma especialização, oferecida até 1971
quando houve a reforma universitária, e os cursos foram
transformados em graduação com duas habilitações:
cenografia e indumentária.
REVISTA CATAVENTO I ARTIGO 2 I Nº 1 I DEZEMBRO 2011 15
A FUJB/UFRJ financiou parcialmente a participação das
alunas no Seminário Internacional; Tecidos e sua conservação no Brasil: museus e coleções, realizado em São
Paulo na USP, de 08 a 13 de maio de 2006. Desde 2007
as alunas pesquisadoras participam do Colóquio Nacional
de Moda, atualmente em sua sétima edição. A participação
em congressos científicos contribui para a formação complementar e especializada sobre técnicas de guarda e restauração
de têxteis, além de contato com pesquisas de ponta e referências atualizadas. Por outro lado, a apresentação anual de
posters nos Colóquios de Moda, leva a uma vivencia maior
em eventos científicos, contribuindo para troca de experiências e despertando a vocação para pesquisa.
A partir de 2007 o projeto teve o apoio da UFRJ, do CNPq
e da FAPERJ através de bolsas de Iniciação Artística e
Cultural e Iniciação Científica; a sala prevista para a
localização do CRTV e o mobiliário existente foram
reformados; e através de projeto financiado pela FAPERJ,
foi possível a aquisiç ão de computadores, scanner,
impressora e máquina fotográfica digital, necessários
para dar continuidade aos trabalhos.
OS RESULTADOS OBTIDOS
Colecionar amostras ou fazer levantamentos pode ser uma
tarefa sem fim. Levando-se em conta o espaço disponível
e os objetivos a que se propõe a organização do CRTV,
foram estabelecidos parâmetros para a constituição dos
acervos. No caso da teciteca, priorizamos ter exemplos
dos tipos de tecido de fibras naturais e artificiais. Para
formar a coleção de vestuário e acessórios, foi feito uma
linha do tempo, com os principais acontecimentos da
história do Brasil; e também um levantamento de designers
de moda e figurinistas, para direcionar os nossos pedidos
de doação. Através da Assessoria de Comunicação, com
o mesmo objetivo, também fizemos uma carta aberta à
comunidade da UFRJ.
Os tecidos já foram selecionados e acondicionados, ficando
o excedente para uso de trabalhos em sala de aula. As fichas
de coleta e catalogação de imagens, tecidos, vídeos, trajes
e acessórios foram desenvolvidas pelas alunas, baseadas
em pesquisa de campo.
2. Ficha de catalogação de vídeos:
TÍTULO:
Emma
Localização Nº.: 25
TÍTULO ORIGINAL: Emma
ANO DE
LANÇAMENTO:
FORMATO:
DVD
PRODUTOR:
Twentieth Century Fox
1997
DISTRIBUIÇÃO: Europa Filmes
DIREÇÃO:
Diarmuid Lawrence
GÊNERO:
Comédia
COR:
Colorido
DURAÇÃO:
107 minutos
Kate Beckinsale, Bernard Hepton,
Mark Strong, Samantha Bond
e James Hazeldine.
Douglas McGrath
ATORES:
ROTEIRO:
DIREÇÃO DE
FOTOGRAFIA:
Ian Wilson
DIREÇÃO DE
ARTE:
Michael Howells
FIGURINO:
Ruth Myres
CENOGRAFIA:
DOADO POR:
Europa Filmes
DATA DE DOAÇÃO: 13/ 03/ 2008
FONTE: pesquisa realizada pela aluna
Carolina Morgado Pereira
3.Ficha de catalogação de tecidos:
TECIDO PLANO
Exemplos de fichas de catalogação:
NOME
Xadrez Listrado Maquinetado
1.Ficha de catalogação de imagem: banco de imagens e glossário
COMPOSIÇÃO
100 % Algodão
LARGURA
1,60 m
PESO
239 g/m2
ASSUNTO:
COLEÇÃO:
NOME/TÍTULO: A Deusa das Serpentes
Museu de Hieráclion, Creta
LOCAL:
1700 - 1550 a.C.
DATA:
Deusa
com braços elevados,
DESCRIÇÃO:
serpentes nas mãos e gato
sobre a cabeça.
Estatueta
GÊNERO:
Faiança colorida
MATERIAL:
Knossos
ORIGEM:
FONTE: NPD/FAU
Virgínia Braz Assanti
CONSTRUÇÃO Sarja 2 x 1
TÍTULO
Ne 40/2
LOCALIZAÇÃO
MALHA
NOME
Suedine
COMPOSIÇÃO
100 % Algodão
REVISTA CATAVENTO I ARTIGO 2 I Nº 1 I DEZEMBRO 2011 17
DENSIDADE
250 g/m2
COR
MÁQUINA
Circular
OUTROS
CURSO
Quadrante Malha
FOTO DO
DETALHE
COLUNA
Branco
LOCALIZAÇÃO
FONTE: SENAI/CETIQT
Alessandra Cavalcanti
4.Ficha de catalogação de trajes:
CLASSE
Objeto pessoal
SUBCLASSE
Objeto de indumentária
TITULO
Camisola
NÚMERO DE
INVENTÁRIO
LOCALIZAÇÃO
Armário 10
FOTO
Pala do peito e gola com
aplicação de renda e bordado
inglês.
FONTE: Museu D. João VI/Tesaurus/ pesquisa
feita pelas alunas Fernanda Garcia Nunes e
Elisa Emmel Vilas.
Procedimentos quanto ao estabelecimento de sistemas de armazenagem:
USADO POR
Marta Isabel Ribeiro Gomes
Gonçalves de Mello
Cláudia Ribeiro Gomes
DATAÇÃO
1959
DOADOR
DESCRIÇÃO:
Os sistemas de armazenagem das coleções têxteis
que privilegiamos foram os planos e os verticais.
A escolha se deveu aos tipos de objetos que fazem
parte do acervo atualmente.
Para a armazenagem plana, foram utilizadas as
mapotecasexistentes. Como ainda não temos os
materiais necessários para a guarda nas gavetas
de madeira, utilizamos papel vegetal para forrar
e envolver as peças individualmente. Ai foi armazenado
os objetos têxteis como bandeiras de tecido, roupas
feitas de renda ou cambraia, peças menores, como
as luvas, roupas de baixo e trajes infantis.
DIMENSÕES
AUTOR
s/a
ASSINATURA
s/a
DESCRIÇÃO DA Camisola de manga curta,
com gola e abotoamento na frente
PEÇA
DESCRIÇÃO DE
s/pc
PEÇAS
COMPLEMENTARES
DESENHO TÉCNICO
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA
OUTRAS
REFERÊNCIAS
TÉCNICA/MATERIAL
Exemplo de armazenagem plana: luvas.
Foto: Fernanda Garcia Nunes 2008.
Mista/algodão
18 REVISTA CATAVENTO I ARTIGO 2 I Nº 1 I DEZEMBRO 2011
As peças de vestuário, como os casacos, paletós e vestidos
foram armazenados verticalmente, em cabides de plástico
e cobertas com capas de algodão cru, no modelo tirado da
apostila de conservação preventiva, resultante do treinamento no Museo del Traje de Madri.
Exemplo de armazenagem vertical:
fraque, colete e gravata.
Foto: Aurea Bezerra 2008.
As capas foram feitas com uma janela na lateral,
forrada com poliéster transparente, para que se possa ver
uma parte do traje, e um bolso para ser incluída uma
fotografia da peça. Desse modo, fica mais fácil identificar
rapidamente a peça.
As alunas envolvidas neste trabalho desenvolveram um
manual com o registro das formas empregadas e etapas
da confecção das capas.
Tivemos também a importante contribuição dos alunos
do curso de restauração de papel que, sob a orientação
da Profa. Laura Pereira de Castro restauraram uma das
caixas de chapéus.
Breve conclusão
Atualmente, o Centro de Referência Têxtil Vestuário
conta com duas bolsistas participando das atividades
de organização dos acervos de tecidos, de vestuário
e acessórios e do banco de imagens. A videoteca está
organizada. A arrumação e colocação do siglado nas
peças do acervo têxtil e de vestuário, do preenchimento
das fichas de catalogação já foram concluídas.
Na continuidade dos trabalhos, está previsto a disponibilização de um espaço para o banco de imagens
do CRTV junto a Área de Sistemas de Informação
do Núcleo de Computação Eletrônica (ASI/NCE)
da UFRJ, e orientação das alunas para utilizar ferramentas de inserção de dados e imagens no SIBI.
As alunas serão treinadas junto à Divisão de Processamento Técnico do SIBI/UFRJ, para indexação das
coleções videográficas, de tecidos, de trajes e acessórios
na base de dados do SIBI.
O acervo indexado ficará disponível através da
página do Núcleo de Interdisciplinar da Imagem e
do Objeto/NIO. As atividades do CRTV estão direcionadas para a finalização do projeto original, com
a criação do banco de imagens, a elaboração das
apostilas e catálogos. O passo seguinte será a manutenção das coleções, o estabelecimento das rotinas
de utilização do acervo e o desenvolvimento de
pesquisas sobre as peças que o compõe. O que sem
dúvida se constitui um terceiro desafio.
Equipe
Coordenação
Profa. Dra. Maria Cristina Volpi
2005/2006
Modelo de capa desenvolvido pelas alunas Áurea Bezerra
e Laura Bezerra, a partir do relatório de estágio de Angélica
da Silva Santos realizado no Museo del Traje/ Madrid - Espanha.
Foto: Fernanda Garcia Nunes - 2008.
Alessandra Cavalcanti
Angélica da Silva Santos
Fernanda Garcia Nunes
Gabriela Alves da Costa
Isabella Navarro
Karinna Zarro Santos
Kelly Marilyn Scofano
Roberta Magalhães Martins
2007/2008
Anna Cristina Ferreira de Souza
Áurea Bezerra da Silva
Daniella Freitas Alves Firmo de Lima
Elisa Emmel Vilas
Fernanda Garcia Nunes
Laura Bezerra da Silva
Paula Bahiana Wotzasek
Suzane Albernaz Gomes
Virgínia Braz Assanti
REVISTA CATAVENTO I ARTIGO 2 I Nº 1 I DEZEMBRO 2011 19
A
AGEND RTE
Período: 1º de Fevereiro a 20 de Maio de 2012
Rua Benjamim Constant,
48 Glória - Rio de Janeiro
(21) 3734-6961
Horário de Funcionamento:
Secretaria: 13h30 às 19h00
2ª a 6ª
Exposição Eliseu Visconti - A Modernidade Antecipada
A partir de 04 de Abril no MNBA
REVISTA CATAVENTO I AGENDARTE I Nº 1 I DEZEMBRO 2011 21
COLUNA: CONVERSANDO
Por Lílian Wilson
1.Fale um pouco da sua formação
e seus anos de carreira?
Desde muito cedo meu exame vocacional já tendia para
arte. Meu colegial foi em desenho de instalações elétricas,
foi o mais próximo de formação técnica para o trabalho.
Vindo de família negra e humilde não tinha recursos
para concorrer com candidatos, preparadíssimos,
em arquitetura, curso que almejava. Optei para uma
formação mais realista dentro de meu alcance. O Curso
de Educação Artística era o que mais tinha haver com a
minha realidade na época. Então garantia que fosse feito
da melhor maneira. Quando entrei na FACEN em Niterói.
Era um curso novo, onde a grade curricular atendia às
novas tendências e o mais interessante, devido a uma
proposta educacional na época, seria para formação
imediata, o curso era de Licenciatura curta. Mais tarde,
precisei acompanhar o meu marido, que na época era
fuzileiro naval, para o Rio Grande do sul, foi quando
ele entrou na UFRS e ficou sabendo da nova legislação
de complementação do Curso de Educação Artística.
Nesse mesmo período entrei para a UFRS e fiz a
Licenciatura plena pela Universidade do Rio Grande do
Sul. Durante toda a minha formação acadêmica participei de oficinas, concursos, cursos e exposições de trabalhos. Dentro de minhas atividades educacionais pude
agregar algum as aprovaçõ es, menções honrosas e
publicações. Lá se vão 20 anos de dedicação exclusiva
à Educação Artística. A escolha da minha Especialização
teve influência da Lei 10639/2003, que é essencialmente
inclusiva: todos os profissionais de Educação teriam
que reformular seus planejamentos anuais para que fosse
implementada a lei com propostas da cultura africana.
Este Curso de Especialização atende à resolução CES
01/07, que certifica minha conclusão do curso de
Pós-graduação Lato Senso, em Educação Especial
Inclusiva, à distância pelo POSEAD.
22 REVISTA CATAVENTO I Nº 1 I DEZEMBRO 2011
Lindalva de Oliveira Ferreira
é professora da FAETEC
e do Estado do Rio de Janeiro,
formada na UFRS em Educação Artística,
habilitação em artes plásticas
e especializada em Educação Inclusiva.
Nessa entrevista concedida
à Revista Catavento nos fala um
pouco da sua prática docente.
Fotos: Lilian Wilson
2.Como a HISTÓRIA DA ARTE é abordada em suas aulas?
A História da Arte é a base, o professor antes de tudo tem que ter em mente o domínio do conteúdo a ser abordado,
para desenvolvê-lo com clareza e objetividade. Cabe ao professor dirimir e traçar sua linha de ação. Dentro das
atividades de Educação Artística, o professor deve oferecer propostas privilegiando sempre a construção do
conhecimento trabalhado, ou seja, contextualizar, tendo como suporte a História da Arte. A maneira de abordar
determinado conteúdo, nunca foi meu problema em sala de aula. Por excelência a disciplina ajuda bastante,
embora eu tenha muita criatividade, o professor nunca deve limitar-se a transmitir apenas a informação, deve
propiciar ao alunado uma proposta instigante e descontraída. Procuro sempre desenvolver o conteúdo a partir de
cinco palavras: habilidade é importante, mas habilidade sem sensibilidade é quase nada; percepção; imaginação e
reflexão.
3.Sabemos que a formação do aluno
é muito importante para a vida dele.
Para você qual a importância da Arte
na formação escolar?
4.Você é coordenadora da Equipe
de Artes da E.E.F. República/FAETEC.
Como é feito o trabalho da Equipe
de artes?
Nesse mundo globalizado onde as novas tendências
tecnológicas levam a competitividade o conhecimento
torna-se um processo permanente e integrador na vida
educacional e social desse aluno, nesse contexto a educação
ajuda na construção de sua identidade, na escolha do seu
projeto de vida, permitindo-o a encontrar seus espaços:
pessoais, sociais e profissionais; tornando-os cidadãos
realizados e produtivos. Nesse prisma a arte tem uma
grande importância na formação escolar, que no geral
ela exerce uma função indispensável na vida das pessoas
desde o início das civilizações, tornando-se um fator
essencial de humanização, pois, a arte é compreendida
como uma atividade essencialmente humana que tem o
intuito de fazer com que o aluno se torne uma peça atuante
na sociedade, melhor no mundo em que ele está inserido.
Assim, a arte colabora para o seu desenvolvimento expressivo,
para a construção de sua poética pessoal e para o desenvolvimento de sua criatividade, tornando-o um ser sensível.
A equipe de arte se baseia no documento escolar
norteador, que é o planejamento anual. As reuniões
de área servem para discutir propostas sobre do
Planejamento Anual, com aproveitamento do agendamento escolar em parceria com a Equipe Pedagógica.
Cabe a cada Coordenador reunir sua equipe e colocar
em prática todas as determinações coletivas. Essas
reuniões ocorrem quinzenalmente, determinadas pela
Direção Pedagógica. Todos os Planos de Ação
Pedagógica são resultantes dessas reuniões.
REVISTA CATAVENTO I Nº 1 I DEZEMBRO 2011 23
5.Como você faz a avaliação dos seus alunos?
A avaliação do aluno será realizada através da observação direta individual e coletiva, da correção dos exercícios
feitos em sala de aula, das avaliações (bimestral, trimestral ou semestral) dos trabalhos práticos feitos em sala de aula
ou mesmo em casa, das pesquisas feitas em casa, dos testes e das provas, em todas as etapas (série/ano escolar).
Esquema de Avaliação:
Parte formativa + produção e fruição (momento de criação/proposta diversificada) + reflexão (teste e prova).
6.Quais projetos você já desenvolveu
ao longo de sua carreira? Hoje em
dia está envolvida em algum projeto?
7.Você participou da elaboração de livros
didáticos para Ensino a distância. Conte
um pouco dessas publicações?
Sim, foi um convite da FAETEC e CECIERJ/CEDERJ.
Os professores convidados para elaboração do livro
didático deveriam ter experiência em Educação à Distância,
pois seria observado o artigo 38 da LDB (sistema de
curso supletivo), mantendo a base nacional comum do
currículo, habilitando os alunos do curso à distância e
habilitando o aluno ao prosseguimento de estudos em
caráter regular. Quanto à Educação à distância, é uma
modalidade de educação que através de projeto pedagógico
apropriado, utiliza qualquer meio de comunicação e é
essencialmente não presencial. No caso de Eduação
Artística, os exemplares elaborados por mim são compostos de Módulo 1 e 2, em segmentação, ou seja, Ensino
Fundamental e Ensino Médio. Para tanto, a linha do
tempo de Artes manteve a mesma segmentação dentro
da História da Arte.
Foram: “Humanizar é preciso” 2003, proposta
com ação pedagógica sobre trabalhos feitos em
oficina para tombamento e inauguração do Corredor
Cultural. Foi desenvolvido: gêneros da pintura
(Romantismo - retrato); “Tributo a Zumbi: África dos
brasileiros” 2007 tinha um olhar inclusivo e desenvolveram-se trabalhos históricos sobre os Quilombos,
em placas grandes de Eucatex sobre as defesas do
Quilombo, defesas pessoais e espirituais; “Na Ótica
do Tridimensional” 2009 trabalhou-se o espaço da
estrutura escultural a partir da técnica do Papie Maché.
Hoje estou envolvida com o Projeto “Oriafrogami
Marcando Encontro no Conto das Diversidades
Culturais” 2011. Proposta dinâmica e inclusiva tendo
como base a História da África e dos Africanos onde
a abordagem é a diversidade cultural através das
manifestações culturais Japão e África. Atividade
desenvolvida metodologicamente através da arte tradicional e secular japonesa de dobrar o papel reforçando
os aspectos da cultura africana. Esta já está em vias
de registro para publicação.
8.Para você qual a razão de se
ensinar arte?
Partindo da premissa dialogada podemos afirmar que
arte não é apenas desenhar e pintar ou um mero fazer
artístico. Dentro dos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs) e amarados ao Projeto Político Pedagógico (PPP), nós, arte-educadores, procuramos enfatizar o ensino e
a aprendizagem da arte trabalhando os conteúdos através da práxis agregado aos temas transversais, traçando uma
linha de ação pedagógica. Para tanto entendemos que o fazer artístico não carrega a ideia de arte pela arte, ou seja,
não é confundida com proposta puramente artesanal, que é livre, pois, segue outra linha. Fixamos para cada
atividade proposta um objetivo, onde o aluno é levado a pensar, explorar e descobrir dentro das possibilidades,
das relações e dos espaços tendo como paradigma a História da Arte. Na integração das linguagens há uma
consonância com o trabalho a ser desenvolvido, ou seja, há toda uma estrutura de adequação, cabendo ao
professor respeitar a seleção do conteúdo proposto na série (ano) com uma ligação histórica à próxima série
(ano) do segmento.
24 REVISTA CATAVENTO I Nº 1 I DEZEMBRO 2011
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CASA DECULTURA
PROFESSOR ALMI
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