cepha-eba/ufrj - ElitE Digital BR
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Ano1 n. º1 2011 Ar t eeE d uc aç ã o b Hi st ór i a e novosr umosno b Br asi l REVISTA DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA DE ARTIGOS, PESQUISAS E TRABALHOS NO CAMPO DAS ARTES - CEPHA-EBA/UFRJ Ano I nº 1 DEZEMBRO 2011 REALIZAÇÃO COORDENADORES Prof. Dr. Carlos Terra Diretor da EBA/UFRJ Coordenador Externo do CEPHA-EBA/UFRJ Prof. Me. Rubens de Andrade Professor do Dep.BAH-EBA/UFRJ Vice-coordenador Externo do CEPHA-EBA/UFRJ Bruna Baptista Coordenadora do CEPHA-EBA/UFRJ Négina Vidal Vice-coordenadora do CEPHA-EBA/UFRJ ORGANIZAÇÃO CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM HISTÓRIA DA ARTE - CEPHA Anderson Venâncio Jacqueline Melo Joana Pinho José Luiz Avellar Lilian Wilson Victor A. Costa APOIO E PARCERIA Casa de Cultura Prof. Almir Paredes Escola de Belas Artes - EBA Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ EXPEDIENTE EQUIPE EDITORIAL Anderson Venâncio Jacqueline Melo Lilian Wilson Négina Vidal www.cepha.eba.ufrj.br [email protected] REVISÃO Lilian Wilson Négina Vidal DIAGRAMAÇÃO Jacqueline Melo Victor A. Costa AGRADECIMENTOS CAPA Prof. Almir Paredes Prfª. Helenise Monteiro Guimarães Profª. Lindalva de Oliveira Pereira Marcos Teixeira Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ Escola de Belas Artes - EBA Casa de Cultura Professor Almir Paredes Victor A. Costa SUPERVISÃO Carlos Gonçalves Terra Rubens de Andrade COLABORADORES Ângela Ancora da Luz Anderson Venâncio Carlos Gonçalves Terra Daniel Wyllie L. Rodrigues Jacqueline Melo José Luiz Avellar Lilian Wilson Maria Cristina Volpi Nacif Maria Helena Wyllie L.Rodrigues Madalena Grimaldi de Carvalho PRODUÇÃO PARCERIAS UFRJ APOIO SUMÁRIO 02 03 04 EXPEDIENTE SUMÁRIO APRESENTAÇÃO Prof. Dr. Carlos Terra 05 EDITORIAL 06 CONEXÕES ENTRE AS ARTES VISUAIS, CIÊNCIAS E TECNOLOGIA: EXPERIÊNCIAS DIDÁTICAS A UFRJ Lilian Wilson Maria Helena Wyllie L.Rodrigues Daniel Wyllie L. Rodrigues Madalena Grimaldi de Carvalho 10 ARTE E EDUCAÇÃO: HISTÓRIA E NOVOS RUMOS NO BRASIL Jacqueline Melo 12 14 BATE-PAPO COM MARCOS TEIXEIRA José Luiz Avellar Négina Vidal PÚLPITO: UMA HOMENAGEM À ALMIR PAREDES CUNHA. UMA REFERÊNCIA PARA OS ESTUDANTES DE HISTÓRIA DA ARTE Ângela Ancora da Luz 15 O CENTRO DE REFERÊNCIA TÊXTIL / VESTUÁRIO: GUARDA E CONSERVAÇÃO DE OBJETOS TÊXTEIS NA EBA Maria Cristina Volpi Nacif 21 AGENDARTE 22 ENTREVISTA COM Profª. LINDALVA DE OLIVEIRA FERREIRA Lilian Wilson REVISTA CATAVENTO I SUMÁRIO I Nº 1 I DEZEMBRO 2011 03 Apresentação do DIRETOR A revista catavento lança seu primeiro número com bastante otimismo. O grupo idealizador de sua organização deseja que a publicação seja semestral e que consiga manter sua periodicidade, mesmo reconhecendo as dificuldades de se editar uma revista de Artes. A ideia é ser uma revista de Artes Visuais mas que também focalizará outros campos de atividades artísticas, em uma linguagem acadêmica. Poderíamos dizer que será uma revista comprometida com a arte de nosso país e com o presente, mas sem, no entanto, deixar de enfatizar a criação estética de outros tempos e de outros países. Cada número da revista catavento trará ao leitor uma completa visão do que está fazendo, dizendo ou pensando no mundo das artes, fazendo jus ao seu nome - colher tudo e depois lançar ao leitor ao sabor do vento. Informar, esclarecer e criticar são os principais objetivos. Com vocês, a estréia da revista catavento. Bom divertimento! Prof. Dr. Carlos Terra Diretor da EBA/UFRJ Coordenador Externo do CEPHA-EBA/UFRJ 04 REVISTA CATAVENTO I Nº 1 I DEZEMBRO 2011 EDITORIAL Cata-vento é um instrumento que indica a velocidade e a direção dos ventos. Suas pontas indicam múltiplas possibilidades. O que queremos passar com isso? Assim como o cata-vento as Artes apontam para um mundo plurívoco, no qual as possibilidades de significação são múltiplas e infindáveis. Não queremos apontar um Norte, uma direção. Queremos as várias possibilidades que cada ponta do cata-vento pode nos levar e nelas queremos nos achar, nos perder e achar novamente, ou seja, um movimento de intensa renovação. Também, temos o intuito de contribuir com a divulgação das Artes, ao menos aquela visível por nós, tornar acessível ao público interessado pelas Artes os acontecimentos artísticos, as discursões e os trabalhos científicos no campo em questão. Assim, o CEPHA espera que a revista de fato fomente as discursões acerca dos assuntos pertinentes as Artes. A revista tem como objetivo fazer a divulgação científica de artigos de alunos da Escola de Belas Artes, assim como de qualquer pesquisador e interessado em divulgar suas pesquisas e trabalhos dentro do campo das artes e afins. Também, abrir espaço para discursões sobre as artes e áreas afins aos graduandos tendo em vista que essa publicação é fruto do trabalho do CEPHA (Centro de Estudo e Pesquisa em História da Arte) criado por alunos da graduação de História da Arte. Esperamos que todos os alunos da Escola de Belas Artes fiquem entusiasmados com o trabalho e que futuramente sejam, também, assíduos colaboradores da Revista Catavento, afinal precisamos de todos para espalhar aos sete ventos que a Arte é viva, um bem cultural e que todos nós devemos nos apropriar dela. Bons Ventos, e que a leitura comece! Lílian Wilson Coordenadora da Revista REVISTA CATAVENTO I Nº 1 I DEZEMBRO 2011 05 CONEXÕES ENTRE AS ARTES VISUAIS, CIÊNCIA E TECNOLOGIA: EXPERIÊNCIAS DIDÁTICAS NA UFRJ Maria Helena Wyllie L.Rodrigues Daniel Wyllie L. Rodrigues Madalena Grimaldi de Carvalho SÍNTESE: Neste artigo, são descritas algumas das iniciativas adotadas pelos autores na condução de disciplinas de fundamentação geométrica, que constam do currículo dos cursos de licenciatura em Educação Artística e de especialização em Técnicas de Representação Gráfica (pós-graduação), oferecidos na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tal tipo de ação personifica um projeto, cujo objetivo principal é fazer com que os educadores possam se emancipar e promover mudanças em sua prática pedagógica, de modo a desenvolver a criatividade de seus alunos e proporcionar-lhes os benefícios da visão interdisciplinar do conhecimento. Palavras-chave: geometria e arte; tecnologia; criatividade; atividades didáticas. 1. OS CURSOS DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO ARTÍSTICA E DE ESPECIALIZAÇÃO EM TÉCNICAS DE REPRESENTAÇÃO GRÁFICA A lém das graduações em diferentes modalidades da arte, a Escola da Belas Artes da UFRJ oferece o curso de Licenciatura em Educação Artística, nas habilitações em Artes Plásticas e Desenho. Ambas possuem, nos primeiros períodos letivos, conteúdos programáti cos comuns distribuídos entre disciplinas que fornecem uma fundamentação teórica de caráter cultural - História das Artes e das Técnicas, Arte no Brasil, Estética, Folclore e outras de cunho mais prático: Desenho Geométrico, Técnicas de Expressão Oral e Corporal, Musicalização, Linguagem Teatral e Metodologia Visual. A partir dessa estrutura básica, o currículo atende às especificidades das distintas áreas de atuação. Assim, os licenciandos em Artes Plásticas são preparados nos ateliês de Escultura, Gravura e Pintura, para conhecerem as linguagens artísticas bem como as diversas técnicas e materiais existentes no mercado. Na formação em Desenho, há uma oferta de disciplinas técnicas, tais como a Geometria Descritiva, Teoria do Desenho Geométrico, Desenho Técnico, Perspectiva e Sombras, Axonometria e Desenho de Edificações, entre outras, com vistas a levar os estudantes ao domínio dos métodos exatos de representação da forma. Os que se enquadram nesta habilitação também cursam algumas oficinas. Nas duas habilitações, os diversos programas curriculares são enfocados de maneira a desenvolver hábitos de reflexão e raciocínio, bem como estimular a criatividade por meio do relacionamento entre as disciplinas teóricas e práticas. Espera-se que, ao final do curso, os alunos estejam aptos a realizar e propor atividades no campo de conhecimento em que irão trabalhar. Para possibilitar a continuidade da formação acadêmica dos licenciados em Educação Artística e de 06 REVISTA CATAVENTO I ARTIGO 1 I Nº 1 I DEZEMBRO 2011 graduados em áreas afins, a Escola de Belas Artes da UFRJ oferece, desde 1995, o curso de especialização em Técnicas de Representação Gráfica. Seu objetivo principal consiste em aperfeiçoar e atualizar profissionais da área de expressão gráfica, interessados no ensino e na pesquisa. Possui duração prevista para no máximo quatro períodos letivos, perfazendo 480 horas-aula, e é subdividido em dois núcleos: o de formação específica e o de formação pedagógica. Os conteúdos abordados no primeiro núcleo referem-se a conceitos de fundamentação geométrica. Para explorá-los, utilizam-se ambientes computacionais apropriados ao estudo da geometrografia, à modelagem de objetos e à elaboração de trabalhos em artes visuais. Fazem parte deste conjunto as seguintes disciplinas: Geometria Analítica, Geometria Gráfica Tridimensional I e II, Geometrografia Dinâmica e Aplicações de Computação na Expressão Gráfica. As três disciplinas que formam o segundo núcleo Teoria e Prática de Pesquisa: tópicos especiais de metodologia da pesquisa na área das técnicas de representação gráfica, Técnicas de Produção de Material Didático Informatizado e Aprendizagem por meio de Jogos e Desafios fornecem o instrumental metodológico de suporte para a produção científica e didática dos futuros especialistas. Ao concluir a especialização, o aluno deverá apresentar uma monografia que é desenvolvida ao longo dos dois anos do curso com encontros periódicos e sob a orientação dos professores. É preocupação constante dos docentes conduzir as aulas de modo a estimular o pós-graduando a pesquisar e conquistar seu próprio conhecimento, garantindo, assim, a sua emancipação no aprendizado, na aquisição de competências e na decisão sobre as alternativas pedagógicas que virá a adotar em seu trabalho. ¹O currículo inclui disciplinas pedagógicas cursadas na Faculdade de Educação da UFRJ. 2.COMO SE TRABALHA NAS TURMAS DE LICENCIATURA? Na Licenciatura em Educação Artística com habilitação em desenho, que visa o conhecimento da geometria (plana e projetiva) e sua aplicação às diferentes técnicas de representação gráfica, a grade curricular dispõe de um elenco de disciplinas teórico-práticas, que buscam desenvolver nos estudantes a capacidade de visualizar formas, analisar estruturas e elementos geométricos e deduzir suas propriedades. A evolução das técnicas de representação gráfica trouxe ao docente a necessidade de se atualizar e promover a interação dos recursos tradicionais com os computacionais em suas aulas, ampliando assim os horizontes intelectuais dos alunos. Atualmente, na EBA, os conteúdos programáticos do Desenho Técnico, Geometria Descritiva, Axonometria e Teoria do Desenho Geométrico, entre outras disciplinas, são trabalhados alternadamente em sala, por meio da utilização convencional do quadro-de-giz, e nos laboratórios com aplicativos gráficos. Cabe destacar que a informática, por si só, não agrega qualidade ao ensino. No traçado da formação dos discentes deve-se dar importância ao desenvolvimento do raciocínio e ao domínio da teoria, não somente à familiarização com os recursos computacionais disponíveis. Nesse universo cabe ao professor contextualizar o conhecimento para levar os estudantes à percepção do significado e da utilidade do que estão fazendo. Essa atitude tornou-se quase um imperativo para responder aos que chegam à universidade questionando o real valor de informações tão técnicas e abstratas no cotidiano. Para exemplificar a metodologia aplicada, citamos a disciplina “Desenho Geométrico Básico” em que se utilizam quebra-cabeças. Essa alternativa didática permite que o aluno aprenda de modo prazeroso e, simultaneamente, associe aquele saber a exemplos práticos do dia-a-dia. Brincar para criar? Sim! A matemática recreativa tem-nos inspirado a elaborar atividades instigantes e desafiadoras e a trazer para a sala de aula alguns brinquedos comerciais de forte embasamento geométrico. Ao tentar compreender as características destes objetos, cada estudante aprimora não apenas a percepção espacial, mas, também, os pensamentos cogitativo e reflexivo. Quando um brinquedo é investigado após o outro, cria-se uma sólida ponte geométrica entre eles. Assim, utilizando materiais concretos como apoio, buscamos combater a fragmentação dos conteúdos previstos na ementa da disciplina. (RODRIGUES et al, 2011, pp 6 ,7) Figura 1: Composições com os três tipos de peças / losangos do Fractiles-7 Figura 2: Peças (5 lagartos e 5 morcegos) e arranjos do Batty Lizards A segunda atividade é tentar provar que um polígono regular com 2q lados contém q losangos (i / q), para cada inteiro positivo i menor do que q / 2, mais q / 2 quadrados se q for ímpar” (Frederickson, 2002, p. 10). O que pode ser exemplificado pelo último arranjo da figura 1, que é um polígono de 14 lados (q=7) e que possui 21 losangos. Na terceira etapa, o aluno é estimulado a pensar em determinadas transformações pontuais, como transladar, refletir e rotacionar buscando solucionar outros arranjos num polígono de 12 lados (Figura 3). Tal tarefa pode ser desenvolvida em papel, com os tradicionais esquadros e compasso, ou no computador em ambiente adequado de geometria dinâmica. Figura 3: Três arranjos dos losangos internos ao polígono de 12 lados Esse método de ensino se utiliza de uma poderosa Um dos exercícios propostos, descrito e ilustrado na publicação acima referenciada (pp 7 e 8) é trabalhado ferramenta de produção do conhecimento, devido a em três etapas: na primeira, a tarefa é encaixar as peças, desenvolver o pensamento criativo e a reflexão de montando os quebra-cabeças. As possibilidades são ideias, com base na matemática. variadas (fig. 1 e 2), o que permite ao professor propor questões desafiadoras, tais como: De quantas maneiras ² http://www.fractiles.com/ podemos solucionar o quebra-cabeça? Quais são as ³ OSBORN, J. A. L. Variably assemblable figurative tiles for games, puzzles, transformações pontuais aplicadas na solução? Quais são and for covering surfaces. US Patent No.: 5619830, Mar 13, 1995; Apr 15, 1997. os ângulos internos de cada peça? Qual se encaixa em qual? De que modo podemos garantir seu encaixe? REVISTA CATAVENTO I ARTIGO 1 I Nº 1 I DEZEMBRO 2011 07 3. COMO SE TRABALHA NAS TURMAS DE ESPECIALIZAÇÃO? A clientela da especialização em Técnicas de Representação Gráfica é, em sua maior parte, constituída por professores de Educação Artística na habilitação em Desenho, que atuam nos níveis fundamental e médio de ensino. Contudo, vários candidatos ao ingresso no curso possuem outras formações e o procuram porque desejam acrescentar à sua bagagem acadêmica as noções, técnicas e ferramentas ali exploradas, de modo a valer-se delas em suas respectivas atividades profissionais. Dessa forma, no grupo de alunos, conta-se também com a participação de professores de matemática, arquitetos, decoradores, programadores visuais, desenhistas industriais, cenógrafos, figurinistas e artistas plásticos. Em função da diversidade e consequente intercâmbio de conhecimentos e experiências entre os estudantes na realização de trabalhos em equipe, tem-se a preocupação de promover, ao longo das aulas, possíveis alianças entre os campos científico e artístico. Essa integração está presente na proposta de inúmeras atividades executadas em ambientes gráfico-computacionais. No rol das disciplinas constantes do currículo, a que mais tem concorrido para fortalecer aqueles vínculos é a Geometrografia Dinâmica, distribuída em 15 sessões de 3 horas-aula em laboratório, acrescidas de uma hora para a realização de atividades nas quais os tópicos, ali desenvolvidos, são aplicados. Ao longo dos encontros, tem-se a chance de rever a teoria relativa às construções geométricas e praticar a arte de executá-las, trabalhando nos chamados 'cadernos de rascunho interativos' da geometria dinâmica (G. Din.). Vale explicitar que a G. Din. vem a ser um ambiente de trabalho eminentemente didático, um campo fecundo para a exploração, demonstração e redescoberta de conceitos, relações e operações geométricas essenciais à construção de figuras e à resolução de problemas. Além disso, como aponta Rodrigues (2003, p.19), a oportunidade de operar com os programas de geometria dinâmica “promove, na mente gráfica do usuário, uma transformação de inestimável valor uma espécie de upgrade ou seja, um salto para uma dimensão cognitiva superior.” Nesses micromundos, o menu que vem se mostrando mais aplicável à releitura e elaboração de trabalhos artísticos é o das transformações pontuais. Com recurso à reflexão, translação, rotação, homotetia, ao meio-giro, e suas combinações, podem ser criados símbolos, logos, frisos, rosáceas, mosaicos, padrões de estamparia, azulejos, caleidoscópios, painéis animados e outros elementos ornamentais. Também se utiliza a geometria das transformações para trabalhar dinamicamente sobre imagens de obras de pintores (fig. 4) e artistas gráficos (fig. 5), reproduzidas na tela, bem como para criar composições decorativas, aplicando iterações (fig. 6). Figura 5: Trademark Torin, reconstrução geométrica e variações Figura 4: (A) “Cata-ventos” (B) Tratamento Geométrico (C) Recurso de Animação Na figura 4, tomou-se como base o quadro de Alfredo Volpi intitulado “Cata-ventos” (A) para reconstruir algumas peças geometricamente (B), de modo que pudessem girar ao comando de um botão de animação (C). A figura 5 mostra a possibilidade de, a partir de um logo redesenhado com elementos que mantêm relações geométricas entre si, alterar sua forma para criar novas configurações. Em (A), tem-se a imagem original do símbolo; em (B), resgata-se a geometria do módulo inicial, e em (C, D, E, F, G, H, I), são apresentadas diferentes soluções obtidas com o simples arrastar do centro das rotações que geraram o conjunto. ARTE EM DIÁ S IA R Á R O P LOGO M E T EXPOSIÇÕES NENTES MÚSICA NO A M R E P S E Õ IÇ S O MUSEU EXP 08 REVISTA CATAVENTO I ARTIGO 1 I Nº 1 I DEZEMBRO 2011 Na figura 6, vê-se uma estrutura fractal formada por meio de transformações iterativas, aplicações estas que se tornam possíveis graças à razão de homotetia imposta aos elementos iniciais (A). Procuramos enriquecer a imagem, utilizando rotação e reflexão. Assim, para cada lado do ramo, foram aplicadas uma (B), duas (C), três (D) e sete (E) iterações. AUTORES Maria Helena Wyllie Lacerda Rodrigues Professora Associada, quadro de inativos, colaboradora oficial no curso de especialização em Técnicas de Representação Gráfica. Instituição EBA UFRJ. e-mail: [email protected] Daniel Wyllie Lacerda Rodrigues Professor Adjunto. EBA UFRJ e-mail: [email protected] Madalena Grimaldi de Carvalho Professora Adjunta. EBA UFRJ e-mail: [email protected] Observação: Os três autores fazem parte do grupo de pesquisa “PVGAD -Pensamento Visual e Geometria Aplicada ao Design” - registrado no CNPq. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FREDERICKSON, Greg (2002): Dissections: Plane & Fancy. Cambridge: Cambridge University Press. Figura 6: Módulo inicial e sucessivas iterações 4 RODRIGUES, Daniel W. L., RODRIGUES, Maria Helena W. L. & CARVALHO, Madalena Grimaldi (2011): Brincando com a Geometria . In: IX INTERNATIONAL CONFERENCE ON GRAPHICS ENGINEERING FOR ARTS AND DESIGN E 20° SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOMETRIA DESCRITIVA E DESENHO TÉCNICO, 2011, Rio de Janeiro. Graphica 2011 Rio de Janeiro: UFRJ, 2011. v. 1. Pertencente a uma família de imigrantes italianos, Volpi (1896-1988) chegou de Lucca ao Brasil no final do século XIX, enveredando-se pelo caminho da pintura e passando por diversas fases em sua escalada artística. RODRIGUES, Maria Helena W. L. (2003): Sob o Olhar da Geometria Dinâmica. In: Boletim da Aproged vol. 22. Pp19/26. 5 TORIN (AIR-MOVING EQUIPMENT, WIRE AND STRIP FORM MACHINERY) (fonte: Trademarks designed by Chermayeff & Gelsmar - Lars Müller Publishers - 2000) 6 Considerando o ponto inferior do módulo inicial como centro de homotetia, o ponto de bifurcação dos galhos é o transformado do superior (vazado) na razão 1/3. 4. CONCLUSÃO A educação artística possui uma 'ecologia' extremamente rica. Trata-se de um hábitat onde são encontradas as condições ideais para se plantar o germe da criatividade. A nosso ver, a verdadeira missão empreendedora dos educadores, neste vasto campo de comunicação e expressão, é a de mantê-lo fértil e produtivo de modo a dar maior amplitude à formação dos alunos. Para isso, basta preparar e alimentar o ambiente propício à mobilização de recursos nos vários domínios do conhecimento, promovendo a articulação e a integração da capacidade criativa (o imaginar) com o poder de assimilação, associação e apropriação de conteúdos disciplinares (o saber) e a conquista de habilidades operacionais (o fazer). STUDOS E E S A IS PESQU TE RIA DA AR Ó T S I H M E SEMINÁRIOS AS OFICIN CURSOS EVENTOS ACADÊMIC O S PALESTRAS www.museunacional.ufrj.br REVISTA CATAVENTO I ARTIGO 1 I Nº 1 I DEZEMBRO 2011 09 Arte/Educação no Brasil: Uma atividade ou uma matéria? IMAGENS DE INTERNET Jacqueline Melo Uma frase que defini bem Arte-Educação ou Ensino de Arte é a educação que oportuniza ao indivíduo o acesso à Arte como linguagem expressiva e forma de conhecimento. Tal conhecimento tem grande importância no âmbito educacional, porque procura através das tendências individuais, estimular a inteligência e contribuir para a formação da personalidade da criança ou indivíduo sem ter a preocupação de formar um artista, mais sim de proporcionar a ele processos pelos quais possa desenvolver a percepção, a imaginação, a observação, raciocínio, libertando-se das tensões, controlando emoções e organizando pensamentos e sentimentos, ou seja, educando-se. Na década de 30, surgiram de forma extracurricular as primeiras tentativas de escolas especializadas em arte para crianças e adolescentes, porém, foram interrompidas na década de 40 com a implantação do regime ditatorial que se instalava no Brasil naquela época. Isto impediu o desenvolvimento da Arte-Educação e solidificou o ensino de alguns processos como o desenho geométrico, o desenho pedagógico e a cópia de estampas usadas para as aulas de composição em língua portuguesa. Nesse período Pós-Estado Novo iniciou-se a pedagogização da arte nas escolas, dando espaço para a utilização instrumental da arte para treinar o olho e a visão ou liberar emoções, tendo como marco o surgimento das famosas Escolinhas de Artes do Brasil, espaços experimentais que tinham como objetivos liberar a expressão da criança fazendo com que ela se manifestasse livremente. Após um longo período de escuridão, em meio a mais uma ditadura militar, precisamente em 1971, o ensino da Arte é colocado como matéria obrigatória nas escolas, por conta de uma exigência dos educadores norte-americanos ao MEC, só que naquela época no Brasil não havia cursos ou universidades capazes de preparar Arte-educadores, sendo criados tais cursos apartir de 1973, através de uma Portaria da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, criada no mesmo ano, onde permitia que um professor de artes fosse formado em apenas dois anos e este teria que estar apto a, de forma concomitante, lecionar música, desenho, teatro, dança, artes visuais e desenho geométrico, sem nenhuma garantia de conhecimento profundo em alguma dessas áreas. 10 REVISTA CATAVENTO I MATÉRIA CAPA I Nº 1 I DEZEMBRO 2011 Diante de tais circunstâncias políticas a prática de arte nas escolas públicas primárias ficou restrita à prática de desenho e às sugestões de temas como comemorações cívicas e outras festas, não tendo nenhum comprometimento com notas, se tornando apenas uma atividade onde os alunos pintavam e coloriam figuras em datas comemorativas e não uma matéria com objetivos práticos na sala de aula: “Até hoje existem em alguns locais reflexos dessa época, exemplo disso são os desenhos em Xerox de coelhinhos de páscoa, bonequinho de índios para o dia do Índio”, comentário de Ana Mae Barbosa, pesquisadora e especialista em Arte-educação. De lá pra cá os caminhos da Arte-educação no Brasil passaram por algumas transformações em 1997; o Governo Federal estabelece os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), diretrizes que têm como objetivo difundir os princípios da reforma curricular e orientar os professores na busca de novas abordagens e metodologias. Porém, segundo os Arte-educadores, foi desconsiderado o trabalho de revolução curricular, baseado na Aprendizagem Triangular, que Paulo Freire desenvolveu quando Secretário Municipal de Educação de São Paulo. Segundo Ana Mae Barbosa (1994), o ensino da Arte deve seguir, o que ela chama de Metodologia Triangular que é composta pela História da Arte, pela leitura da obra de arte e pelo fazer artístico, ou seja, a pessoa que aprende Arte deve saber não apenas fazer algo, mas também saber de onde veio aquilo que ela está fazendo, o que levou aquelas pessoas a fazerem aquela obra, para assim, fazerem a leitura da obra, podendo perceber a mensagem o que o artista quis passar através da sua obra. Além disso, ao criarem suas obras artísticas poderão gerar algo que transmita uma mensagem, dando sentido à Arte. Isso não significa que a técnica deva ser deixada de lado, é importante que o aprendiz venha a conhecê-las para aprimorar cada dia mais o seu trabalho, mas a técnica sozinha não dá sentido à obra. A nomenclatura dos componentes da Aprendizagem Triangular de Paulo Freire designava como Fazer Arte (ou Produção), Leitura da Obra de Arte e Contextualização, sendo essas trocadas para Produção, Apreciação e Reflexão para alunos da (1ª a 4ª série) ou Produção, Apreciação e Contextualização para os alunos de (5ª a 8ª série). Até o surgimento da nova LDB e dos novos PCN's, prevalecia o ensino das Artes Plásticas. Com a LDB de 1996 (lei no. 9.394/96), revogam-se as disposições anteriores e a Arte é considerada disciplina obrigatória na educação básica conforme o seu artigo 26, parágrafo 2°, no qual o ensino de arte constitui componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, visando o desenvolvimento cultural dos alunos. Atualmente, o ensino de Arte está voltado para as linguagens de Música, Dança, Teatro (Artes Cênicas) e Artes Plásticas. Em 2008, com a aprovação da Lei Federal nª 11.769, o ensino de música passou a ser obrigatório devendo ser ministrado por professor com licenciatura plena em Música e os sistemas de ensino têm três anos para se adequarem às mudanças. Segundo HERNÁNDEZ (2000), o estudo da Arte contribui para diversas coisas, entre elas: a cultura visual como universo de significados, a Arte como construção e representação social, a perspectiva de pesquisa sobre a compreensão no ensino da Arte e uma interpretação crítica da realidade e destaca o uso de um portfólio para se registrar o que foi aprendido ou até mesmo ensinado. Com esses elementos, o aluno poderá refletir sobre o seu processo de aprendizagem, transmitir pensamentos atravé da arte e entender o que o artista quis transmitir através da imagem ou objeto que produziu. Portanto, não só as Artes Plásticas, mas as linguagens artísticas em geral, contribuem para a formação de cidadãos críticos e conscientes daquilo que produzem. Referências Bibliográficas: - BARBOSA. Ana Mae Tavares Bastos. A imagem no ensino da arte:anos oitenta e novos tempos. São Paulo: Perspectiva, 1994. - HERNANDES. Fernando. Cultura visual, mudança educativa e projeto de trabalho. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. - Lei Federal n°. 5692/71 - Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. - Lei Federal n°. 9394/96 - Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. - Lei Federal n°. 11769/2008 - Dispõe sobre a obrigatoriedade do ensino de Música na Educação Básica. Museu Dom João VI O Museu Dom João VI da Escola de Belas Artes/UFRJ tem sua história iniciada no século XIX. Após um século da fundação da Academia, em 1937, o acervo foi dividido com o Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), pois em 1937 (também ano de criação do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) a enorme coleção foi desmembrada. A maior parte ficou no MNBA e a outra parte, voltada ao ensino e, portanto, mais didática, foi distribuída entre as salas e os ateliês da Escola Nacional de Belas Artes (ENBA). As duas instituições, no entanto, ocupavam o mesmo prédio: o MNBA na parte da frente, voltada para a avenida Rio Branco, e a ENBA a sua parte posterior, na esquina das ruas Araújo Porto-Alegre e México. Galeria de Artes Saiba mais sobre o Museu em: www.museu.eba.ufrj.br Acervo As coleções da antiga Academia Imperial, depois Escola Nacion al de Belas Artes e hoje EBA/UFRJ, foram formadas por obras de professores e alunos, provenientes de concursos para prêmios de viajem ou para vagas de professor, cópias realizadas nos museus europeus e todo o material didático das diversas disciplinas. Esse acervo extraordinário, acumulado desde a criação da Academia em 1816, foi desmembrado em 1937: grande parte dele deu origem ao Museu Nacional de Belas Artes, continuando na Escola, de modo geral, o acervo mais ligado ao ensino e o arquivo documental – origem do Museu D. João VI, criado em 1979. ES Õ Ç I S O EXP Endereço ESCOLA DE BELAS ARTES Av. Ipê, 550 - 7º andar Cidade Universitária - Ilha do Fundão CEP 21941-590 – Rio de Janeiro, RJ Tel.: 2598-1653 / 2598-1654 O acervo permanente do Museu está à disposição para visitação e pesquisa, no horário das 10 às 16 hs REVISTA CATAVENTO I MATÉRIA CAPA I Nº 1 I DEZEMBRO 2011 11 BATE-PAPO MARCOS TEIXEIRA “Aluno da EBA foi um dos ganhadores do Prêmio Fórmula Santander” 1.Como é a sensação de ganhar o Premio Santander? Foi muito boa aquela sexta feira (25 de novembro) no autódromo de Interlagos, em São Paulo. Lá estávamos nós os 100 estudantes de todo o Brasil contemplados com as bolsas do Programa Fórmula Santander, o piloto Felipe Massa, o presidente mundial do Santander, Dom Emilio Botín, o presidente do Santander Brasil, Marcial Portela e reitores. Além de receber a bolsa das mãos de Felipe Massa e de Dom Emilio, tivemos um tratamento fantástico. Depois da cerimônia de entrega das bolsas, foi-nos oferecido um almoço e logo em seguida assistimos ao treino livre do GP do Brasil. Tenho boas lembranças dos outros bolsistas que conheci por lá e até fizemos planos para o período em que estivermos na Europa. 2. Quais os artistas que lhe deram mais inspiração no seu caminho artístico? E quais outros fatores do mundo não artístico lhe influenciaram em suas obras? Cresci em Brás Pires, uma cidade do interior de Minas Gerais, e tinha contato apenas com a Arte popular, como serestas, folias de Reis, artesanato, festas tradicionais, Igrejas Barrocas etc.... 12 REVISTA CATAVENTO I Nº 1 I DEZEMBRO 2011 José Luiz Avellar Négina Vidal Lembro-me que um único livro que tínhamos em casa continha as duas paixões da minha vida: arte e Teologia Cristã. Este livro era a Bíblia ilustrada. Quando pequeno ficava reparando em suas reproduções e tentava reproduzir em grafite Rafael, Da Vinci, Dürer, Caravaggio, Vermeer, Gauguin, entre outros. Acredito que todo meu imaginário é povoado por este ambiente e é alicerce para todo meu trabalho. Quando cheguei ao Rio em 2004 pude ver exposições com originais vindos de diversas partes do mundo, além de outras de artistas brasileiros. Tive aulas com Henrique Sant'anna e ingressei na EBA em 2007. Lá pude conhecer outros artistas que se tornaram meus professores e influenciaram muito no desenvolvimento do meu pensamento plástico, entre eles se destacam Nelson Macedo, Rui de Oliveira, Marcelo Duprat e Renato Alvim. Gosto muito da arte Italiana do Renascimento, mas sou eclético e admiro pintores de diversos períodos, entre meus favoritos estão: Rafael, Michelangelo, Rembrandt, Velázquez, El Greco, Van Gogh, Hodler, Toulouse La utrec, Portinari e Eg on Schiele. Com relação a outras coisas do mundo não artístico que me influenciam, acredito que tudo que chega até mim das suas mais variadas formas habitam o meu imaginário e sendo assim, contribuem para o meu fazer artístico. 3. Tivemos a informação que você irá para a Universidade do Porto , em Portu gal, quando embarcará? Quanto tempo irá permanecer lá? O que espera que essa oportunidade traga em retorno? Embarco em janeiro e a previsão é de que eu retorne em agosto do próximo ano, mas ao que tudo indica ficarei mais um semestre por lá. Bom, só o fato de sair do País e morar em outro continente já é uma grande experiência. Com relação a minha vida acadêmica, espero fazer disciplinas que não tenho aqui na Escola de Belas Artes da UFRJ. Outra coisa que muito me motiva é o fato de que poderei ver de perto todas as obras de arte que sempre vi apenas em reproduções. 4. O que você pretende transmitir com sua obra? Quando estou pintando quero fazer um bom trabalho e estou ali preocupado com as relações entre os elementos abstratos e poéticos, não posso voltar minha atenção para o que meu trabalho vai causar no espectador. É fato que se pinto não o faço para esconder meu trabalho debaixo da cama, mas sim para expô-lo, mas esta não é a motivação primeira. Se meu trabalho pudesse elevar o espírito humano, independente se estou pintando um par de tênis ou uma epopéia do mundo contemporâneo, a um estado de contemplação que não fosse apenas um prazer para seus olhos, mas reverberasse em seu imaginário transmitindo algo de bom, já me daria por satisfeito! 8. Qual a importância da Escola de Belas Artes para você? Alguma sugestão para aqueles que pensam em cursar Hoje em dia impera uma ideologia neo-dadaísta que não democratiza os espaços que foram conquistados por a mesma? 5. Qual sua opinião sobre o cenário atual da arte brasileira? verdadeiros artistas e todos aqueles que fazem outra espécie de trabalho são tidos como reacionários. Sob este aspecto vários nomes de peso já se pronunciaram e entre eles cito Ferreira Gullar que ultimamente tem escrito críticas sobre o cenário cultural vigente. É preciso que formemos um coro que brade: “o rei está nu”. 6. O que você considera importante para alguém ser um bom artista? Se fosse possível transcreveria aqui as cartas de Rainer Maria Rilke para o jovem Franz Xaver Kapus, nelas o poeta dá conselhos que, a meu ver, servem para o artista de qualquer área, seja ele poeta, pintor, ator etc... Então fica aqui a dica do livro “Cartas a um jovem poeta”. De qualquer forma meu conselho é: se quer ser um bom pintor cole em bons pintores! Pode parecer ironia, mas hoje em dia é preciso dizer isso, pois todo o pensamento plástico foi deixado de lado em favor de um “conceitualismo mórbido”. Mas, fora as características específicas que formam um bom artista, acredito existirem outras que tornam brilhante qualquer profissional: dedicação, amor pelo que faz (aliás isso é essencial) e ética. Tenho um grande respeito e estima por esta instituição que tem longa tradição e formou grandes artistas. Sinto-me honrado em saber que estudo em uma escola que formou grandes pintores como Rodolfo Amoedo, Visconti, Portinari, Bandeira de Mello, entre outros. Nela pude aprender muito do fazer artístico e o contato com meus professores e colegas vou levar para a vida toda. Sempre digo que tenho a oportunidade de estudar com alguns dos meus ídolos, pois tenho professores e colegas que são muito bons no que fazem. Para aqueles que pensam em fazer um curso na EBA digo o mesmo que sempre disse àqueles que pedem minha opinião: não posso falar dos outros cursos, mas se querem fazer pintura, devem ter muito amor a ela e não podem pensar em retorno financeiro rápido e grandioso. Ao final tudo vale à pena desde que estejam fazendo aquilo de que gostam e acreditam. 7. Como você optou por seguir o caminho das artes para sua vida? Não foi fácil esta escolha. Meus pais sempre me aconselhavam a seguir outra carreira e ter a pintura como hobby. Hoje entendo a preocupação deles, mas foi difícil decidir por conta própria e deixar de lado o preconceito de parentes e amigos e seguir o que eu realmente gosto de fazer. O mais importante foi romper com o meu preconceito, afinal sou um profissional como outro qualquer. Geralmente existe a ideia de que arte é um bem supérfluo Ela pode não ser essencial para se sobreviver, mas é essencial para se viver. Acho que arte e religião são as duas coisas que dão sentido ao existir humano, sem elas o mundo entraria em “parafuso”. No trabalho artístico e na prática cristã encontrei a verdadeira “busca de sentido” de que fala Viktor Frankl. REVISTA CATAVENTO I Nº 1 I DEZEMBRO 2011 13 PÚLPITO: Ângela Ancora da Luz Historiadora e Critica da Arte UMA HOMENAGEM À ALMIR PAREDES CUNHA. UMA REFERÊNCIA PARA OS ESTUDANTES DE HISTÓRIA DA ARTE Almir Paredes Ex-diretor de 1975/80 Evento de comemoração de 195 anos da EBA 14 REVISTA CATAVENTO I PÚLPITO I Nº 1 I DEZEMBRO 2011 O Centro de Referência Têxtil/Vestuário: Guarda e conservação de objetos têxteis na EBA Profª. Drª. Maria Cristina Volpi Nacif Resumo: Este artigo é o relato do desenvolvimento do projeto do Centro de Referência Têxtil/Vestuário entre alunos de graduação da Escola de Belas Artes. O Centro de Referência Têxtil/Vestuário consiste em acervos de imagem, imagem em movimento, tecidos, vestuário e acessórios, organizados como materiotecas e banco de imagens para atender às necessidades didático-pedagógicas do Curso de Artes Cênicas, com foco em indumentária, atendendo aos alunos do Curso, da Escola de Belas Artes e de outras IES. As ações necessárias para a realização do projeto contribuem para o despertar de diversas competências entre os alunos da EBA, além daquelas usualmente desenvolvidas ao longo de sua formação universitária. Palavras-chave: materioteca, banco de imagens, cultura material, formas vestimentares, figurino. INTRODUÇÃO O projeto do Centro de Referência Têxtil/Vestuário que se desenvolve no âmbito do Núcleo Interdisciplinar de Estudo da Imagem e do Objeto/NIO do Programa de Pós-graduação em Artes Visuais/PPGAV e no contexto do Curso de Artes Cênicas da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, apoia-se na minha experiência de ensino em cursos de artes e design em universidades no Estado do Rio de Janeiro, ao longo de dezesseis anos. Minha própria vivência como pesquisadora me levou a reconhecer os benefícios de integrar o aprendizado a partir dos objetos e do entendimento de seus contextos históricos mais amplos. Os alunos que pretendem se tornar designers, diretores de arte ou figurinistas, são levados a projetar, pesquisar ou conceber objetos. O que estes estudantes têm em comum é a necessidade de conhecer os objetos que fazem parte de seu contexto profissional, entendendo como são feitos, para que são usados e quais são os seus valores expressivos em termos culturais e estéticos. Geralmente, as instituições de ensino superior possuem bibliotecas com acervos gerais e temáticos e videotecas onde os alunos podem pesquisar. Tanto a cidade quanto o estado do Rio de Janeiro possuem importantes acervos bibliográficos e museus públicos. As coleções da Casa de Rui Barbosa, do Museu Carmen Miranda, do Museu da República, do Museu Histórico Nacional no Rio de Janeiro, do Museu Imperial em Petrópolis, e da Casa da Hera em Vassouras, são alguns dos museus que possuem coleções de indumentária do séc. XIX e XX. Nos últimos dez anos, seguindo uma tendência internacional, alguns desses museus ampliaram seus acervos de indumentária, ou desenvolveram uma política de valorização e visibilidade, através da restauração e melhoria da guarda de suas peças, além da realização de exposições temáticas. Neste mesmo período, novos cursos de design de moda foram criados no Rio de Janeiro, contribuindo com bibliotecas especializadas e em alguns casos, com a criação de tecitecas. O incentivo à visitação de exposições de indumentária ou visitas aos acervos museológicos como estratégia para aproximar o estudante de seus objetos de estudo, é muitas vezes prejudicada pela carga horária de aula ou pela distancia entre os campi e a localização dos museus. O Museu Nacional da UFRJ na Quinta da Boa Vista, tem uma coleção de têxteis arqueológicos que foi exposta em 2006. O Museu Dom João VI, situado dentro da Escola de Belas Artes/UFRJ no prédio da Reitoria na Ilha do Fundão, possui um pequeno acervo de obj et os pes soai s e indum ent ár ia ecl es iás tica. O mesmo Museu possui uma coleção de obras raras muito importantes. Somados aos ateliers de pintura, escultura, gravura e têxteis, a EBA proporciona aos alunos oportunidade de formação teórico-prática de qualidade. No entanto, em levantamento realizado em 2004 junto ao SIBI/UFRJ, foi constatada pouca atualização em bibliografias de referência nas áreas de indumentária e têxtil. Já o acervo têxtil e de indumentária apontado eram praticamente desconhecidos. Um dos primeiros desafios foi, portanto, encontrar uma maneira dos estudantes conseguirem uma primeira experiência da “coisa real”. A criação do Centro de Referência Têxtil/Vestuário O curso de Artes Cênicas da Escola de Belas Artes da UFRJ orgulha-se de seu papel pioneiro na formação de profissionais para atuarem como cenógrafos, figurinistas, diretores de arte e produtores culturais em teatro, cinema e televisão. O curso foi também, durante mais de vinte anos, o único no país a formar figurinistas. A formação do artista cênico no âmbito da Escola de Belas Artes, até o final da década de 1950, se dava através do oferecimento da disciplina indumentária histórica, ministrada pela Profª. Sofia Magno de Carvalho. As disciplinas de cenografia foram ministradas pelo cenógrafo Santa Rosa até 1956, ano de seu falecimento. A cenografia era uma especialização, oferecida até 1971 quando houve a reforma universitária, e os cursos foram transformados em graduação com duas habilitações: cenografia e indumentária. REVISTA CATAVENTO I ARTIGO 2 I Nº 1 I DEZEMBRO 2011 15 A FUJB/UFRJ financiou parcialmente a participação das alunas no Seminário Internacional; Tecidos e sua conservação no Brasil: museus e coleções, realizado em São Paulo na USP, de 08 a 13 de maio de 2006. Desde 2007 as alunas pesquisadoras participam do Colóquio Nacional de Moda, atualmente em sua sétima edição. A participação em congressos científicos contribui para a formação complementar e especializada sobre técnicas de guarda e restauração de têxteis, além de contato com pesquisas de ponta e referências atualizadas. Por outro lado, a apresentação anual de posters nos Colóquios de Moda, leva a uma vivencia maior em eventos científicos, contribuindo para troca de experiências e despertando a vocação para pesquisa. A partir de 2007 o projeto teve o apoio da UFRJ, do CNPq e da FAPERJ através de bolsas de Iniciação Artística e Cultural e Iniciação Científica; a sala prevista para a localização do CRTV e o mobiliário existente foram reformados; e através de projeto financiado pela FAPERJ, foi possível a aquisiç ão de computadores, scanner, impressora e máquina fotográfica digital, necessários para dar continuidade aos trabalhos. OS RESULTADOS OBTIDOS Colecionar amostras ou fazer levantamentos pode ser uma tarefa sem fim. Levando-se em conta o espaço disponível e os objetivos a que se propõe a organização do CRTV, foram estabelecidos parâmetros para a constituição dos acervos. No caso da teciteca, priorizamos ter exemplos dos tipos de tecido de fibras naturais e artificiais. Para formar a coleção de vestuário e acessórios, foi feito uma linha do tempo, com os principais acontecimentos da história do Brasil; e também um levantamento de designers de moda e figurinistas, para direcionar os nossos pedidos de doação. Através da Assessoria de Comunicação, com o mesmo objetivo, também fizemos uma carta aberta à comunidade da UFRJ. Os tecidos já foram selecionados e acondicionados, ficando o excedente para uso de trabalhos em sala de aula. As fichas de coleta e catalogação de imagens, tecidos, vídeos, trajes e acessórios foram desenvolvidas pelas alunas, baseadas em pesquisa de campo. 2. Ficha de catalogação de vídeos: TÍTULO: Emma Localização Nº.: 25 TÍTULO ORIGINAL: Emma ANO DE LANÇAMENTO: FORMATO: DVD PRODUTOR: Twentieth Century Fox 1997 DISTRIBUIÇÃO: Europa Filmes DIREÇÃO: Diarmuid Lawrence GÊNERO: Comédia COR: Colorido DURAÇÃO: 107 minutos Kate Beckinsale, Bernard Hepton, Mark Strong, Samantha Bond e James Hazeldine. Douglas McGrath ATORES: ROTEIRO: DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA: Ian Wilson DIREÇÃO DE ARTE: Michael Howells FIGURINO: Ruth Myres CENOGRAFIA: DOADO POR: Europa Filmes DATA DE DOAÇÃO: 13/ 03/ 2008 FONTE: pesquisa realizada pela aluna Carolina Morgado Pereira 3.Ficha de catalogação de tecidos: TECIDO PLANO Exemplos de fichas de catalogação: NOME Xadrez Listrado Maquinetado 1.Ficha de catalogação de imagem: banco de imagens e glossário COMPOSIÇÃO 100 % Algodão LARGURA 1,60 m PESO 239 g/m2 ASSUNTO: COLEÇÃO: NOME/TÍTULO: A Deusa das Serpentes Museu de Hieráclion, Creta LOCAL: 1700 - 1550 a.C. DATA: Deusa com braços elevados, DESCRIÇÃO: serpentes nas mãos e gato sobre a cabeça. Estatueta GÊNERO: Faiança colorida MATERIAL: Knossos ORIGEM: FONTE: NPD/FAU Virgínia Braz Assanti CONSTRUÇÃO Sarja 2 x 1 TÍTULO Ne 40/2 LOCALIZAÇÃO MALHA NOME Suedine COMPOSIÇÃO 100 % Algodão REVISTA CATAVENTO I ARTIGO 2 I Nº 1 I DEZEMBRO 2011 17 DENSIDADE 250 g/m2 COR MÁQUINA Circular OUTROS CURSO Quadrante Malha FOTO DO DETALHE COLUNA Branco LOCALIZAÇÃO FONTE: SENAI/CETIQT Alessandra Cavalcanti 4.Ficha de catalogação de trajes: CLASSE Objeto pessoal SUBCLASSE Objeto de indumentária TITULO Camisola NÚMERO DE INVENTÁRIO LOCALIZAÇÃO Armário 10 FOTO Pala do peito e gola com aplicação de renda e bordado inglês. FONTE: Museu D. João VI/Tesaurus/ pesquisa feita pelas alunas Fernanda Garcia Nunes e Elisa Emmel Vilas. Procedimentos quanto ao estabelecimento de sistemas de armazenagem: USADO POR Marta Isabel Ribeiro Gomes Gonçalves de Mello Cláudia Ribeiro Gomes DATAÇÃO 1959 DOADOR DESCRIÇÃO: Os sistemas de armazenagem das coleções têxteis que privilegiamos foram os planos e os verticais. A escolha se deveu aos tipos de objetos que fazem parte do acervo atualmente. Para a armazenagem plana, foram utilizadas as mapotecasexistentes. Como ainda não temos os materiais necessários para a guarda nas gavetas de madeira, utilizamos papel vegetal para forrar e envolver as peças individualmente. Ai foi armazenado os objetos têxteis como bandeiras de tecido, roupas feitas de renda ou cambraia, peças menores, como as luvas, roupas de baixo e trajes infantis. DIMENSÕES AUTOR s/a ASSINATURA s/a DESCRIÇÃO DA Camisola de manga curta, com gola e abotoamento na frente PEÇA DESCRIÇÃO DE s/pc PEÇAS COMPLEMENTARES DESENHO TÉCNICO REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA OUTRAS REFERÊNCIAS TÉCNICA/MATERIAL Exemplo de armazenagem plana: luvas. Foto: Fernanda Garcia Nunes 2008. Mista/algodão 18 REVISTA CATAVENTO I ARTIGO 2 I Nº 1 I DEZEMBRO 2011 As peças de vestuário, como os casacos, paletós e vestidos foram armazenados verticalmente, em cabides de plástico e cobertas com capas de algodão cru, no modelo tirado da apostila de conservação preventiva, resultante do treinamento no Museo del Traje de Madri. Exemplo de armazenagem vertical: fraque, colete e gravata. Foto: Aurea Bezerra 2008. As capas foram feitas com uma janela na lateral, forrada com poliéster transparente, para que se possa ver uma parte do traje, e um bolso para ser incluída uma fotografia da peça. Desse modo, fica mais fácil identificar rapidamente a peça. As alunas envolvidas neste trabalho desenvolveram um manual com o registro das formas empregadas e etapas da confecção das capas. Tivemos também a importante contribuição dos alunos do curso de restauração de papel que, sob a orientação da Profa. Laura Pereira de Castro restauraram uma das caixas de chapéus. Breve conclusão Atualmente, o Centro de Referência Têxtil Vestuário conta com duas bolsistas participando das atividades de organização dos acervos de tecidos, de vestuário e acessórios e do banco de imagens. A videoteca está organizada. A arrumação e colocação do siglado nas peças do acervo têxtil e de vestuário, do preenchimento das fichas de catalogação já foram concluídas. Na continuidade dos trabalhos, está previsto a disponibilização de um espaço para o banco de imagens do CRTV junto a Área de Sistemas de Informação do Núcleo de Computação Eletrônica (ASI/NCE) da UFRJ, e orientação das alunas para utilizar ferramentas de inserção de dados e imagens no SIBI. As alunas serão treinadas junto à Divisão de Processamento Técnico do SIBI/UFRJ, para indexação das coleções videográficas, de tecidos, de trajes e acessórios na base de dados do SIBI. O acervo indexado ficará disponível através da página do Núcleo de Interdisciplinar da Imagem e do Objeto/NIO. As atividades do CRTV estão direcionadas para a finalização do projeto original, com a criação do banco de imagens, a elaboração das apostilas e catálogos. O passo seguinte será a manutenção das coleções, o estabelecimento das rotinas de utilização do acervo e o desenvolvimento de pesquisas sobre as peças que o compõe. O que sem dúvida se constitui um terceiro desafio. Equipe Coordenação Profa. Dra. Maria Cristina Volpi 2005/2006 Modelo de capa desenvolvido pelas alunas Áurea Bezerra e Laura Bezerra, a partir do relatório de estágio de Angélica da Silva Santos realizado no Museo del Traje/ Madrid - Espanha. Foto: Fernanda Garcia Nunes - 2008. Alessandra Cavalcanti Angélica da Silva Santos Fernanda Garcia Nunes Gabriela Alves da Costa Isabella Navarro Karinna Zarro Santos Kelly Marilyn Scofano Roberta Magalhães Martins 2007/2008 Anna Cristina Ferreira de Souza Áurea Bezerra da Silva Daniella Freitas Alves Firmo de Lima Elisa Emmel Vilas Fernanda Garcia Nunes Laura Bezerra da Silva Paula Bahiana Wotzasek Suzane Albernaz Gomes Virgínia Braz Assanti REVISTA CATAVENTO I ARTIGO 2 I Nº 1 I DEZEMBRO 2011 19 A AGEND RTE Período: 1º de Fevereiro a 20 de Maio de 2012 Rua Benjamim Constant, 48 Glória - Rio de Janeiro (21) 3734-6961 Horário de Funcionamento: Secretaria: 13h30 às 19h00 2ª a 6ª Exposição Eliseu Visconti - A Modernidade Antecipada A partir de 04 de Abril no MNBA REVISTA CATAVENTO I AGENDARTE I Nº 1 I DEZEMBRO 2011 21 COLUNA: CONVERSANDO Por Lílian Wilson 1.Fale um pouco da sua formação e seus anos de carreira? Desde muito cedo meu exame vocacional já tendia para arte. Meu colegial foi em desenho de instalações elétricas, foi o mais próximo de formação técnica para o trabalho. Vindo de família negra e humilde não tinha recursos para concorrer com candidatos, preparadíssimos, em arquitetura, curso que almejava. Optei para uma formação mais realista dentro de meu alcance. O Curso de Educação Artística era o que mais tinha haver com a minha realidade na época. Então garantia que fosse feito da melhor maneira. Quando entrei na FACEN em Niterói. Era um curso novo, onde a grade curricular atendia às novas tendências e o mais interessante, devido a uma proposta educacional na época, seria para formação imediata, o curso era de Licenciatura curta. Mais tarde, precisei acompanhar o meu marido, que na época era fuzileiro naval, para o Rio Grande do sul, foi quando ele entrou na UFRS e ficou sabendo da nova legislação de complementação do Curso de Educação Artística. Nesse mesmo período entrei para a UFRS e fiz a Licenciatura plena pela Universidade do Rio Grande do Sul. Durante toda a minha formação acadêmica participei de oficinas, concursos, cursos e exposições de trabalhos. Dentro de minhas atividades educacionais pude agregar algum as aprovaçõ es, menções honrosas e publicações. Lá se vão 20 anos de dedicação exclusiva à Educação Artística. A escolha da minha Especialização teve influência da Lei 10639/2003, que é essencialmente inclusiva: todos os profissionais de Educação teriam que reformular seus planejamentos anuais para que fosse implementada a lei com propostas da cultura africana. Este Curso de Especialização atende à resolução CES 01/07, que certifica minha conclusão do curso de Pós-graduação Lato Senso, em Educação Especial Inclusiva, à distância pelo POSEAD. 22 REVISTA CATAVENTO I Nº 1 I DEZEMBRO 2011 Lindalva de Oliveira Ferreira é professora da FAETEC e do Estado do Rio de Janeiro, formada na UFRS em Educação Artística, habilitação em artes plásticas e especializada em Educação Inclusiva. Nessa entrevista concedida à Revista Catavento nos fala um pouco da sua prática docente. Fotos: Lilian Wilson 2.Como a HISTÓRIA DA ARTE é abordada em suas aulas? A História da Arte é a base, o professor antes de tudo tem que ter em mente o domínio do conteúdo a ser abordado, para desenvolvê-lo com clareza e objetividade. Cabe ao professor dirimir e traçar sua linha de ação. Dentro das atividades de Educação Artística, o professor deve oferecer propostas privilegiando sempre a construção do conhecimento trabalhado, ou seja, contextualizar, tendo como suporte a História da Arte. A maneira de abordar determinado conteúdo, nunca foi meu problema em sala de aula. Por excelência a disciplina ajuda bastante, embora eu tenha muita criatividade, o professor nunca deve limitar-se a transmitir apenas a informação, deve propiciar ao alunado uma proposta instigante e descontraída. Procuro sempre desenvolver o conteúdo a partir de cinco palavras: habilidade é importante, mas habilidade sem sensibilidade é quase nada; percepção; imaginação e reflexão. 3.Sabemos que a formação do aluno é muito importante para a vida dele. Para você qual a importância da Arte na formação escolar? 4.Você é coordenadora da Equipe de Artes da E.E.F. República/FAETEC. Como é feito o trabalho da Equipe de artes? Nesse mundo globalizado onde as novas tendências tecnológicas levam a competitividade o conhecimento torna-se um processo permanente e integrador na vida educacional e social desse aluno, nesse contexto a educação ajuda na construção de sua identidade, na escolha do seu projeto de vida, permitindo-o a encontrar seus espaços: pessoais, sociais e profissionais; tornando-os cidadãos realizados e produtivos. Nesse prisma a arte tem uma grande importância na formação escolar, que no geral ela exerce uma função indispensável na vida das pessoas desde o início das civilizações, tornando-se um fator essencial de humanização, pois, a arte é compreendida como uma atividade essencialmente humana que tem o intuito de fazer com que o aluno se torne uma peça atuante na sociedade, melhor no mundo em que ele está inserido. Assim, a arte colabora para o seu desenvolvimento expressivo, para a construção de sua poética pessoal e para o desenvolvimento de sua criatividade, tornando-o um ser sensível. A equipe de arte se baseia no documento escolar norteador, que é o planejamento anual. As reuniões de área servem para discutir propostas sobre do Planejamento Anual, com aproveitamento do agendamento escolar em parceria com a Equipe Pedagógica. Cabe a cada Coordenador reunir sua equipe e colocar em prática todas as determinações coletivas. Essas reuniões ocorrem quinzenalmente, determinadas pela Direção Pedagógica. Todos os Planos de Ação Pedagógica são resultantes dessas reuniões. REVISTA CATAVENTO I Nº 1 I DEZEMBRO 2011 23 5.Como você faz a avaliação dos seus alunos? A avaliação do aluno será realizada através da observação direta individual e coletiva, da correção dos exercícios feitos em sala de aula, das avaliações (bimestral, trimestral ou semestral) dos trabalhos práticos feitos em sala de aula ou mesmo em casa, das pesquisas feitas em casa, dos testes e das provas, em todas as etapas (série/ano escolar). Esquema de Avaliação: Parte formativa + produção e fruição (momento de criação/proposta diversificada) + reflexão (teste e prova). 6.Quais projetos você já desenvolveu ao longo de sua carreira? Hoje em dia está envolvida em algum projeto? 7.Você participou da elaboração de livros didáticos para Ensino a distância. Conte um pouco dessas publicações? Sim, foi um convite da FAETEC e CECIERJ/CEDERJ. Os professores convidados para elaboração do livro didático deveriam ter experiência em Educação à Distância, pois seria observado o artigo 38 da LDB (sistema de curso supletivo), mantendo a base nacional comum do currículo, habilitando os alunos do curso à distância e habilitando o aluno ao prosseguimento de estudos em caráter regular. Quanto à Educação à distância, é uma modalidade de educação que através de projeto pedagógico apropriado, utiliza qualquer meio de comunicação e é essencialmente não presencial. No caso de Eduação Artística, os exemplares elaborados por mim são compostos de Módulo 1 e 2, em segmentação, ou seja, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Para tanto, a linha do tempo de Artes manteve a mesma segmentação dentro da História da Arte. Foram: “Humanizar é preciso” 2003, proposta com ação pedagógica sobre trabalhos feitos em oficina para tombamento e inauguração do Corredor Cultural. Foi desenvolvido: gêneros da pintura (Romantismo - retrato); “Tributo a Zumbi: África dos brasileiros” 2007 tinha um olhar inclusivo e desenvolveram-se trabalhos históricos sobre os Quilombos, em placas grandes de Eucatex sobre as defesas do Quilombo, defesas pessoais e espirituais; “Na Ótica do Tridimensional” 2009 trabalhou-se o espaço da estrutura escultural a partir da técnica do Papie Maché. Hoje estou envolvida com o Projeto “Oriafrogami Marcando Encontro no Conto das Diversidades Culturais” 2011. Proposta dinâmica e inclusiva tendo como base a História da África e dos Africanos onde a abordagem é a diversidade cultural através das manifestações culturais Japão e África. Atividade desenvolvida metodologicamente através da arte tradicional e secular japonesa de dobrar o papel reforçando os aspectos da cultura africana. Esta já está em vias de registro para publicação. 8.Para você qual a razão de se ensinar arte? Partindo da premissa dialogada podemos afirmar que arte não é apenas desenhar e pintar ou um mero fazer artístico. Dentro dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e amarados ao Projeto Político Pedagógico (PPP), nós, arte-educadores, procuramos enfatizar o ensino e a aprendizagem da arte trabalhando os conteúdos através da práxis agregado aos temas transversais, traçando uma linha de ação pedagógica. Para tanto entendemos que o fazer artístico não carrega a ideia de arte pela arte, ou seja, não é confundida com proposta puramente artesanal, que é livre, pois, segue outra linha. Fixamos para cada atividade proposta um objetivo, onde o aluno é levado a pensar, explorar e descobrir dentro das possibilidades, das relações e dos espaços tendo como paradigma a História da Arte. Na integração das linguagens há uma consonância com o trabalho a ser desenvolvido, ou seja, há toda uma estrutura de adequação, cabendo ao professor respeitar a seleção do conteúdo proposto na série (ano) com uma ligação histórica à próxima série (ano) do segmento. 24 REVISTA CATAVENTO I Nº 1 I DEZEMBRO 2011 Real i z aç ão Apoi o CASA DECULTURA PROFESSOR ALMI R PAREDES