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PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO: ANÁLISE DA IMPLANTAÇÃO DA
ETNOTRILHA DO SELVAGEM NA ALDEIA BEIJA-FLOR NO MUNICÍPIO
DE RIO PRETO DA EVA
Ronisley da Silva Martins1
Selma Paula Maciel Batista2
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo avaliar e descrever os métodos participativos de planejamento para implantação da
Etnotrilha do Selvagem, de base comunitária, desenvolvido na Aldeia Beija-Flor no Município do Rio Preto da Eva. Ao
adotar como técnica a pesquisa-ação, assume como posicionamento analisar, discutir e sintetizar os princípios
metodológicos para a implantação de atividades em trilhas com planejamento e gestão de base comunitária com a
proposta do mínimo impacto como alternativa para a prática de uma atividade sustentável com foco no
desenvolvimento local. A base do trabalho se alicerça nas informações da Terceira (3a) Meta do Projeto de Turismo
Rural na Agricultura Familiar do Amazonas (TRAF/AM), que consiste na Implantação de Sistema de Trilhas
Ecológicas, como estratégia de fortalecimento da atividade do TRAF no município. A execução da meta consistiu em
cinco capacitações: Monitores de Trilha, Agentes Ambientais, Análise de Impactos Ambientais, Oficina Participativa
para Construção de Cartilha do Sistema de Trilha e Implantação de Sistema de Trilhas.
Palavras – Chaves: Métodos Participativos. Etnotrilha do Selvagem. Turismo Rural na Agricultura Familiar
INTRODUÇÃO
Os espaços rurais no Amazonas possuem contextos pertinentes aos povos tradicionais,
alicerçados em costumes, hábitos e tradições, cuja identidade se reflete na organização desses
espaços que, pela amplitude das relações estabelecidas entre o homem e o meio, estruturam os
territórios. Estes, pela gama de fatores típicos, com o processo, imprimem na paisagem suas
representações e marcas. Dinâmica socioespacial que ao agrega ao lugar um significado simbólico o
torna passível de ser apropriado para a prática de atividades turísticas. Esta prática, a partir do
1
Bacharel em Turismo e Pós-Graduando em Turismo e Desenvolvimento Local pela Universidade do Estado do
Amazonas-UEA. E-mail: [email protected]
2
Mestre em Geografia pela Universidade Federal da Bahia – UFBA, Doutoranda em Geografia Humana pelo programa
DINTER/MINTER USP/UEA. [email protected]
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desejo de uma comunidade pode, mediante um projeto turístico em parceria com o poder público e
privado, viabilizar a formatação de produtos turísticos que ao agregar novos valores aos elementos
culturais do lugar, se apresenta como uma alternativa para o desenvolvimento local.
Considerando este princípio, foi desenvolvido no município de Rio Preto da Eva, junto aos
agricultores parceiros no Projeto de Turismo Rural na Agricultura Familiar no Amazonas
(TRAF/AM), um projeto piloto cuja proposta consistiu em, mediante o uso de uma metodologia de
enfoque participativo, capacitá-los para a elaboração de um plano de manejo, prevendo a
implantação e gestão de uma trilha de base comunitária na Comunidade Indígena Beija-Flor, na
AM-010 no Km79, a 40 minutos da cidade de Manaus. Localizada a cem metros da cidade, na Rua
Plácido Serrano, Bairro Monte Castelo, ocupa uma área de 42 hectares, atualmente constituída por
sete etnias: SATERÊ-MAWÊ, DESSANA, TUKANO, ARARA, BARÉ, TUYUCA e BORARI,
cada uma convivendo com suas próprias culturas, dentro de um respeito mútuo, ocupando a mesma
aldeia.
A partir desta proposta o objetivo deste artigo é trazer como contribuição as etapas
desenvolvidas no processo de execução do projeto, onde metodologia aplicada com base em
implantação de trilhas sustentáveis de Lechner (2006) e técnicas de enfoque participativo de
Cordioli (2001) visam detalhar os métodos adotados para a implantação da trilha, com as práticas de
capacitações em: Monitor de Trilha, Agente Ambiental, Análise de Impactos Ambientais, Oficina
Participativa para Construção da Cartilha de Trilha Ecológica e Implantação de Trilha, cujos
resultados, como descritos a seguir, identificados como satisfatórios, poderão ser aplicados em
outras comunidades com o propósito de favorecer o desenvolvimento do turismo endógeno, de base
comunitária no Amazonas.
1 CONTEXTUALIZAÇÃO DA TEMÁTICA
O Turismo Rural na Agricultura Familiar caracteriza em seus princípios um turismo
ambientalmente correto e socialmente justo, que oferece produtos locais, valoriza e resgata o
artesanato regional, a cultura da família do campo e os eventos típicos do meio rural, incentiva a
diversificação da produção e propicia a comercialização direta pelo agricultor, contribui para a
revitalização do território rural e para o resgate e manutenção da auto-estima dos agricultores
familiares, complementa às demais atividades da unidade de produção familiar, proporcionar a
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convivência entre os visitantes e a família rural, estimular o desenvolvimento da agroecologia e
desenvolvido de forma associativa e organizada no território (MDA, 2006).
No processo de ordenamento do Turismo Rural na Agricultura Familiar as trilhas surgem
como uma ação do planejamento, como cita Machado (2005) sendo uma das primeiras ações na
organização do espaço, agrega os valores culturais das atividades tradicionais favorecendo a
interação com a natureza, uma vez que as trilhas permitem o acesso à áreas com importância
ecológica e paisagísticas. Formas de relação que justificam a valorização de um planejamento
participativo de base comunitária em projetos para implantação de trilhas visando o monitoramento
de impactos e gestão do controle de visitação.
No Amazonas, o surgimento das trilhas estão atrelados aos aspectos culturais através das
atividades extrativistas, quando ocorrem as retiradas de frutos, sementes, óleos, plantas medicinais,
cipós, palhas; no uso rural em cultivos agrícolas; na migração de pessoas provocada por conflitos
sociais ou escassez de recursos; retirada de madeiras para construção de casas ou venda ilegal;
demarcação de territórios para limitar os sítios particulares; na pesca para facilitar o acesso aos
lagos e rios; para caça como estratégia chamada varridas ou peregrinações religiosas.
A relação de interação do homem às formas de ordenamento do território adotando trilhas
para o seu deslocamento, também foram observadas no Planejamento e Implantação da Etnotrilha
do Selvagem. Onde a determinação do espaço geográfico para sua implantação foi pautado em
variáveis que buscaram resgatar a herança cultural, a valorização do homem tradicional no seu
território vivido e o contexto simbólico quanto ao uso da floresta em suas atividades laborais e de
subsistência. Resgate determinante, tomado como base para a leitura e interpretação da paisagem no
sentido de relacionar e compreender a identidade cultural por meio da interação do homem com a
natureza e o uso cotidiano que ele estabelece com as trilhas traçadas, permitindo identificar os
olhares, costumes e tradições das várias etnias que compõem a Comunidade Beija Flor.
Como afirma Lechner (2006), a interpretação da paisagem é uma etapa importante no
planejamento , a fim de evitar que a intensificação do uso comprometa os aspectos da conservação
ambiental. Por este motivo, o plano de manejo, deve adotar técnicas que visem o monitoramento de
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visitantes como meio de garantir a utilização das trilhas sem comprometer os recursos, conforme
descreve o autor:
A sustentabilidade das trilhas, particularmente no que diz respeito a sistemas de trilhas, é
mais facilmente alcançável mediante uma abordagem integrada no seu manejo. Este tipo de
abordagem integra o planejamento, a construção, a manutenção, o monitoramento e a
avaliação, vinculados cada uma dessas atividades por intermédio de retorno e interação
contínuos. (2006, p. 14)
Considerando o exposto, busca-se adaptar as contribuições teóricas pertinentes ao
planejamento para construção e manejo de trilhas à realidade Amazônica. Logo, o uso da
metodologia de enfoque participativa associado ao método ZOPP e a técnica de visualização
garantiram ao grupo de agricultores, em suas diferentes capacitações, a construção de um
conhecimento sólido, construído em equipe com foco na implantação da Etnotrilha do Selvagem na
comunidade Indígena Beija Flor, como forma de valorizar o histórico das trilhas já estabelecidas na
comunidade e utilizadas tradicionalmente para caça, pesca, extração de ervas medicinais para a
cura.
Com o desenvolvimento do piloto de capacitações era intenção constatar a importância da
metodologia de enfoque participativo para que, no planejamento, o procedimento de resgate dos
elementos simbólicos no processo de implantação da Etnotrilha do Selvagem fosse identificado para
adiante, a trilha aberta à visitação pública permitisse, com a prática do turismo desenvolvido no
limite do espaço vivido pela comunidade indígena, agregar novos valores introduzidos pelo
mercado turístico, mas, sem comprometer o patrimônio natural e cultural desses espaços
tipicamente amazônicos.
2 METODOLOGIA UTILIZADA NO PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DA TRILHA
O presente estudo estruturou-se no levantamento bibliográfico referente às temáticas das
capacitações: monitor de trilha, agente ambiental e nas oficinas participativas de construção da
cartilha de trilhas ecológicas, análise de impactos ambientais e implantação de trilha, a fim de
resgatar e aprimorar teoricamente e prática as concepções referente a trilhas sustentáveis de base
comunitária.
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Nas aplicações teóricas e práticas se estruturou o desenvolvimento da pesquisa
experimental, que de acordo com Dencker (1998) “consiste em verificar as alterações causadas por
uma determinada variável no objeto escolhido para estudo”. Como técnica, se adotou a prática de
oficinas elaboradas e organizadas em dinâmicas envolvendo perguntas formuladas de acordo com
as problemáticas vigentes dentro de uma perspectiva da realidade vivida sobre o assunto especifico
de cada tema abordado. Perguntas e respostas eram fixadas em painéis que garantiam a visualização
pelo grupo, favorecendo ampliar de forma coletiva, participativa e democrática a reflexão e busca
de soluções cerca das temáticas. A metodologia Metaplan empregando as técnicas de moderação,
visualização, problematização e análise, empregada por Cordioli (2001) adota como princípio, a
participação coletiva, constituída pela aplicação harmoniosa de um conjunto de instrumentos com a
finalidade de facilitar a comunicação entre indivíduos, em diferentes contextos, para diagnóstico das
necessidades, identificação das problemáticas, definição dos objetivos e socialização do
conhecimento.
2.1 DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES NA PRÁTICA
Dencker (1998), corroborando com o uso da metodologia de Cordioli (2001), afirma ao
investigar métodos e pesquisa em turismo, haver a necessidade do uso de metodologias
participativas com foco para o desenvolvimento local. Seguindo este princípio, o uso das oficinas
participativas no processo de planejamento da Etnotrilha do Selvagem, se concretizou como
satisfatório, excedendo as expectativas ao trabalhar a temática da percepção ambiental de acordo
com a descrição, a seguir, das atividades desenvolvidas nas oficinas:
De acordo com o planejamento orientado por objetivo (ZOPP), para início dos cursos de
capacitação, foi solicitada a formação de três grupos de trabalho, por eles, posteriormente
nomeados: Susuarana (tipo de felino), Cupiuba (espécie de árvore) e Urudelos (tipo de anfíbio),
cada grupo com 05 (cinco) a 06 (seis) participantes. Desta forma iniciaram-se trabalhos do curso de
Monitores de Trilha (MT) com uma carga horária de sessenta (60hs) direcionado aos agricultores
familiares do Rio Preto da Eva totalizando dezesseis (16) agricultores e indígenas. Os temas
estudados abordaram os fundamentos do Turismo Rural na Agricultura Familiar (TRAF); Princípios
e Valores Éticos Profissional; A importância do Planejamento de Trilha; Fundamento de
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Cartografia e Manuseio de Carta Topográfica e Bússola com prática de campo; Planejamento e
Manejo de Trilhas Sustentáveis; Análise de Sitio; Legislações Ambientais e NBR aplicada à trilha;
Demarcação; Mapeamento; Drenagem; Sinalização; equipamentos de transposição; técnicas de
condução de grupos; Unidades de Conservação; Educação e Interpretação Ambiental; Primeiros
Socorros e Resgate em Ambiente de Selva.
Em seguida o curso de Agente Ambiental com a carga horária de sessenta (60hs) teve como
objetivo ensinamentos para a futura gestão e o monitoramento da Etnotrilha do Selvagem. O curso
teve como conteúdo abordagens teóricas sobre ecologia e ecossistema ambiental; educação
ambiental e legislação ambiental; monitoramento ambiental; estudo de capacidade de carga; estudo
de pericia ambiental; manejo ambiental; ecoturismo e desenvolvimento sustentável.
No complemento das ações foram moderadas 03 (três) oficinas participativas, sendo a
primeira Análise de Impacto Ambiental, que teve as seguintes perguntas orientadoras: Quais os
impactos negativos na implantação e uso da trilha para atividade turística? Quais os impactos
positivos no uso da trilha para atividade turística? Quais os controles para os impactos sociais,
econômicos e ambientais na implantação e uso da trilha? Quais as medidas mitigadoras para os
impactos na implantação da trilha?, Quais os impactos de maior relevância para implantação e uso
da trilha? Quais os projetos de encaminhamento para o controle de impactos? E, Qual impacto você
classificaria como sendo o mais grave?
A segunda foi a oficina de Construção da Cartilha de Trilhas Ecológicas, que seguiu os
mesmos parâmetros participativos com perguntas orientadoras: O que é turismo rural na agricultura
familiar? Quais as atividades do TRAF que podem ser desenvolvidas no meio rural? Quais os
principais produtos do turismo rural na agricultura familiar? Quais os encaminhamentos para o
desenvolvimento do TRAF/AM? O que você entende por Caminho, Picada e Trilha? Como são
estabelecidas as trilhas na comunidade? O que podemos observar como atrativo nas trilhas? Quais
atividades são realizadas nas trilhas? Tradicional e Turística, Qual o público alvo para a utilização
da trilha em ambiente rural? Quais os elementos fundamentais para o planejamento e implantação
de uma trilha? Como gerenciar a manutenção e utilização da trilha? Quais os critérios de
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conservação e segurança para a utilização de uma trilha? Qual à contribuição de uma trilha
planejada para o desenvolvimento local?
Na terceira e última oficina, se abordou o tema Implantação de Trilha, onde os
participantes tiveram uma palestra sobre “Planejamento de Trilhas” elaborada com base nas
atividades práticas, anteriormente, desenvolvidas envolvendo o preenchimento da ficha de campo e
visitas técnicas para o traçado da Etnotrilha do Selvagem, na Comunidade Indígena Beija-Flor.
Com estas oficinas se encerrou as atividades teórico-práticas previstas no projeto, finalizando os
conteúdos acerca de desenvolvimento de Sistemas de Trilhas.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES DOS TRABALHOS PARTICIPATIVOS
3.1 Aspectos Históricos e Culturais
No ano de 1991, o Americano, Richard Melnik, trouxe várias famílias indígenas das etnias
SATERÊ-MAWÊ, TUCANO, BANIWA, TUYUCA, DESSANA E BARASSANA para sua
propriedade situada na AM-010, km 80/81, Município do Rio Preto do Eva, com a proposta de criar
uma comunidade denominada Beija-Flor, que se destinaria a dar apoio as famílias migrantes.
A comunidade localiza-se agora a cem metros da cidade, na Rua Plácido Serrano, Bairro
Monte Castelo, ocupando uma área de 42 hectares e atualmente está constituída por sete etnias:
SATERÊ-MAWÊ, DESSANA, TUKANO, ARARA, BARÉ, TUYUCA e BORARI, cada uma
convivendo com suas próprias culturas, dentro de um respeito mutuo. Neste contexto de diversidade
cultural, encontram-se muitas características comuns entre essas etnias, principalmente no que se
diz respeito aos mitos, as atividades de subsistência, arquitetura tradicional e cultura material.
Pelo seu espírito de luta e sobrevivência, faz com que a experiência desta comunidade seja
inédita, uma vez que, mesmo inserida dentro de uma área que sofre um processo acelerado de
urbanização e, por sua vez trás, entre outras conseqüências, a perda de identidade cultural, a
comunidade Beija-Flor, mesmo em situações difíceis está conseguindo inverter esse processo,
voltando-se para uma vida ligada a terra e as tradições indígenas.
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3.2 Aspectos socioeconômicos do local
A Comunidade Indígena é administrada pela Associação Etno Ambiental da Comunidade
Beija-Flor que é composta pela seguinte Diretoria:
Presidente – Sergio Campos Guerreiro; Vice Presidente – Fausto Andrade; Secretária – Terezinha
Freitas; Tesoureira – Rosemeire Noronha; Conselho Fiscal – Germano Campos.
Atividades principais– Produção de Farinha, Frutas Regionais, Turismo de Estudo, Turismo de
Observação, Turismo Cultural e Artesanato, com renda mensal aproximada de R$ 9.600,00 e anual
R$ 115.200,00, a comercialização é feita na própria aldeia e o excedente vendido em Manaus.
A Aldeia é mista com povos de diversas origens: Saterê Maué – Origem Maués e
Barreirinha, Tucano – Alto Rio Negro, Dessana – Alto Rio Negro, Tuyuka – Alto Rio Negro,
Apurinã – Alto Madeira, Baré – Alto Madeira e Alto Rio Negro, Arará – Pará – Santarém, Aborari
– Pará – Alto Tapajós. Possuem um total de 16 famílias, com um total de 62 habitantes na
Comunidade de Beija-Flor.
As infra-estruturas e serviços foram identificados na Comunidade: 14 residências, Escola
Municipal, Congregação Adventista, Centro Comunitário (chapéu de Palha), Espaço Turístico
(trilha), casa da farinha,
Serviços Básicos – Sistema de Fonia, Posto de Energia 24 horas, água encanada, telefone e Escola.
3.3 Características de Manejo da Etnotrilha do Selvagem
As características para o manejo de trilha requer um constante monitoramento e avaliação
das condições ambientais das trilhas. Neste sentido Lechner (2006) afirma ser o “monitoramento
um componente essencial do manejo” e ressalta:
O seu monitoramento e avaliação que constituem a base do programa de manutenção,
podendo também fornecer informações importantes para serem utilizadas em esforços
futuros de planejamento e ampliação. As trilhas têm que ser monitoradas tanto em termos
de condições sociais como biofísicas, além dos seus impactos associados.
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De acordo com as considerações sugeridas por (COLE, 1983 apud LECHNER, 2006) da
necessidade de consenso completo dos problemas envolvendo a identificação e a descrição em
detalhes das condições da mesma, segue abaixo os resultados obtidos nas capacitações
participativas realizadas com atividades praticadas no espaço geográfico onde ocorreu a
implantação da trilha.
A Etnotrilha do Selvagem, o nome da trilha ficou definido pelos participantes através de
pesquisas no local e consulta com os indígenas, atribuído ao igarapé que passa ao lado com o
mesmo nome, e por ser implantada aproveitando os caminhos utilizados para caça pelos indígenas
da Aldeia Beija-Flor assim quando chegaram.
Determina o grau de dificuldade: fácil, de acordo com os apontamentos de Machado (2005) em
relação ao grau de dificuldade.
Parâmetros: Trilha relativamente curta, (1.100 m de extensão) e bem constituída, apresentando
condições ótimas para vencer desníveis. Um trajeto que não requer preparo físico ou habilidades
esportivas. Construída para pessoas de todas as idades vestidas com calçados e roupas adequadas,
podendo ser percorrida em quase todas as condições de tempo e clima. Localizada
preferencialmente em zona de uso intensivo.
Diretrizes de manejo: alto nível de intervenção com pavimentação ou endurecimento do leito
(compactação, revestimento onde necessário) em trechos sujeitos ao tráfego intenso de pessoas e/ou
alta erosão; aceita movimentos de terra para diminuição da declividade e contenção de encostas;
dotada de lugares para descanso (podendo incluir bancos e estruturas de sombreamento) em
intervalos regulares e em trechos de forte desnível.
Largura do leito da trilha até 1m; presença de estruturas como pontes, passarelas e escadas para
facilitar a travessia de cursos de água e desníveis; sinalização intensiva e placas interpretativas
bastante evidentes e harmônicas com o contexto cultural e natural.
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Público-alvo: visitantes de variada faixa etária, especificamente acadêmicos universitários que não
estão buscando a prática da caminhada, mas ter um contato direto com a cultura e vivencia
tradicional.
Manutenção da Etnotrilha: para esta trilha fica definido, a manutenção periódica, devendo ser
feita ao menos uma vez ao mês, e para cada aviso ou agendamento de visitação a Etnotrilha do
Selvagem, deve ser percorrida para verificar a manutenção. A atividade de manutenção da trilha e
reparos de estruturas deve ser acompanhado por especialistas para dar suporte e orientações.
Regulamento da Trilha: o regulamento tem como objetivo conscientizar e orientar o visitante
quanto à conduta no percurso da trilha. Observando aspectos importantes foram estabelecidas as
seguintes orientações: 1. Caminhar na trilha somente com monitores locais, 2. Caminhar
observando a biodiversidade com o mínimo de ruídos, 3. Interagir respeitando a diversidade
cultural, 4. Retirar somente fotos do local, mediante autorização previa do monitor e 5. Colaborar
com a limpeza da trilha.
Forma do traçado/design: segundo os critérios de Andrade (2003), a Etnotrilha do Selvagem
possui o formato circular, definida quando estabelecida passando por diferentes paisagens sem
repetir o percurso voltando ao mesmo ponto de partida.
Capacidade de Suporte de Carga: 92 visitantes por dia com intervalos de 30 minutos e pode ser
aceitável até 110 visitantes no período de sol.
Taxa de manutenção e serviço: Turistas – R$5,00/ Acadêmicos - R$ 5,00/ Estudantes - R$3,00,
com doações de alimentos não perecíveis e roupas.
Serviços de monitor/ Condutor Local: Taxa de R$ 30,00 à R$ 60,00, variando de acordo com o
público para a visita.
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Horário estabelecido para funcionamento da Etnotrilha do Selvagem: 6hs00 às 17hs00, com
intervalos de um grupo para outro de 30minutos, sendo a entrada do último grupo as 16hs00 devido
à segurança.
Pessoal capacitado do local: 16 agricultores familiares em Monitor de Trilha e Agente Ambiental,
sendo dois (02) especificamente da Aldeia Beija-Flor.
Critério para condução: Seguindo as orientações da ABNT NBR 15505-1 - Turismo com
atividades de caminhada Parte 1: Requisitos para produto, define que o responsável pela operação
deve garantir a quantidade mínima de condutores – 01 (um) e auxiliares – 01(um) por grupo de 10
(dez) pessoas. A operação deve garantir que os grupos tenham no máximo 20 clientes. Caso haja
mais clientes, deve ser formado outro grupo. Esta proporção pode necessitar de um número maior
de condutores de acordo com a classificação do percurso, segundo a ABNT NBR 15505-1, em
qualquer um de seus critérios.
Classificação do Percurso Implantado: Segue as referencias da ABNT NBR 15505-2 - Turismo
com atividades de caminhada Parte 2: Classificação de percursos, Nome da trilha: Etnotrilha do
Selvagem, Localidade: Aldeia Beija-Flor, Atividade: Caminhadas guiadas, Trajeto: Formato
circular de fácil acesso, Desnível de subidas: 100m, Desnível de descida: 140m distancia do
percurso: 1.100m, tempo médio de percurso: 1hs30, Severidade do meio: 1 – Pouco Severo,
Orientação no percurso: 1- Caminhos e cruzamentos bem definidos, Condições do terreno: 3Percurso em terreno irregular, Intensidade de Esforço Físico: 2- Esforço Moderado e Condições
Específicas: Período de chuva - novembro a maio.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Baseado na abordagem e resultados descritos se considera o projeto piloto de capacitação
envolvendo oficinas de enfoque participativo com a meta de habilitar agricultores e indígenas para
planejar, implantar e executar a gestão de base comunitária da Etnotrilha do Selvagem uma
experiência extremamente pertinente e necessária em se considerando a realidade do espaço
amazônico em suas especificidades e totalidade. O uso de ferramentas como o ZOPP e Metaplan,
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como metodologias aplicadas em propostas que visa construir, para o Amazonas, um turismo de
base comunitária se apresenta como fundamental para garantir no planejamento, a sustentabilidade
dos recursos, a preservação e memória da identidade do lugar, as características do modo de vida do
ribeirinho, caboclo e indígena. Povos Tradicionais do Amazonas, cujos espaços construídos a partir
de seus saberes merecem ser visitados favorecendo a troca de conhecimentos e cultura. No entanto,
este teve ser um procedimento pautado em critérios de planejamento que considerem em um
processo continuo o monitoramento de impactos tanto positivos como negativos gerados com a
visitação, favorecendo com esta prática o desenvolvimento da capacidade de gestão comunitária,
em suas dimensões ambientais, sociais e econômicas. Optar por esta metodologia envolve em todo
o processo iniciativas que exigem uma postura ética e profissional do turimólogo, direcionado
inicialmente ao planejamento e implantação e, posteriormente, ao monitoramento da gestão do
manejo de visitação visando valorizar e potencializar a oferta as opções de lazer com conservação
da natureza. No caso do objeto de estudo deste artigo, o resultado mais favorável é a sensibilização
de todos os envolvidos, comunidade local, gestores e visitantes, para a importância da Etnotrilha do
Selvagem da Comunidade Beija Flor para a conservação das áreas naturais e a valorização da
cultura local.
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