AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA TÉCNICA NA UTILIZAÇÃO
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AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA TÉCNICA NA UTILIZAÇÃO
AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA TÉCNICA NA UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS DO Sistema Único de saúde NA PRODUÇÃO AMBULATORIAL M aria P aula F erreira M arcelo T rindade P itta Resumo: Este estudo pretende contribuir para a avaliação da eficiência técnica na utilização dos recursos do SUS na produção ambulatorial dos municípios paulistas. Como medida de eficiência técnica definiu-se a relação entre a produção ambulatorial do município e as transferências financeiras recebidas do SUS para a realização desse atendimento e foram consideradas como unidades de análise as DIRs. Palavras-chave: Eficiência. Saúde. Avaliação de políticas. Abstract: The present study intends to contribute to the evaluation of techinical eficiency in SUS resources used in ambulatory production of Sao Paulo municipalities. The measure of technical efficiency was defined as the relation between ambulatory production of the municipalities and the financial transferences passed by SUS to realize the attendance, the analytical units are the DIR’s. Key words: Efficiency. Health. Public management. A Constituição Federal de 1988 redefiniu o conceito de Seguridade Social, incluindo previdência, saúde e assistência social e tendo como princípios e objetivos: universalidade da cobertura e do atendimento; uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços a toda a população; seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; irredutibilidade do valor dos benefícios; eqüidade na forma de participação do custeio; diversidade da base de financiamento; democratização e descentralização da gestão, com participação da comunidade (DRAIBE, 1997). Na área da saúde, a partir da criação de um sistema nacional denominado – Sistema Único de Saúde – SUS, buscou-se garantir maior eqüidade no atendimento das necessidades da população, em um contexto em que, além da redução dos recursos disponíveis, observava-se a mudança no perfil epidemiológico e demográfico da população. A partir da Lei Orgânica da Saúde (Lei n. 8.080/90), que estabeleceu as atribuições e competências de cada nível de governo no âmbito do SUS, coube aos Estados a responsabilidade pela promoção da descentralização dos serviços e ações de saúde, com a prestação do apoio técnico e financeiro aos municípios. Entre suas São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 2, p. 55-71, jul./dez. 2008 56 maria paula ferreira/marcelo trindade pitta atribuições estão, principalmente, acompanhamento, controle e avaliação das redes hierarquizadas do SUS, bem como a gestão dos sistemas públicos de alta complexidade, de referência regional e estadual. Os municípios tornaram-se responsáveis pelo gerenciamento e execução dos serviços públicos de saúde locais. A gestão do sistema de saúde foi descentralizada por meio de duas normas: Norma Operacional Básica 1993 (NOB SUS 93) e Norma Operacional Básica 1996 (NOB SUS 96).1 A primeira fortaleceu a relação entre governo federal e municípios, ao estabelecer que a habilitação destes ao SUS somente ocorreria por solicitação municipal, além de supor graus distintos de responsabilidades sobre a gestão dos serviços (ARRETCHE, 1996). Três formas de adesão foram definidas: gestão incipiente, gestão parcial e gestão semiplena dos serviços. A segunda, NOB SUS 96, reafirmou os princípios estabelecidos na NOB SUS 93 e aumentou a respon sabilidade dos municípios pela gestão da política de saúde: A presente NOB tem por finalidade promover e consolidar o pleno exercício, por parte do poder público municipal e do Distrito Federal, da função de gestor de atenção à saúde de seus munícipes, com a conseqüente redefinição das responsabilidades dos Estados, do Distrito Federal e da União, avançando na consolidação dos princípios do SUS. Esse exercício compreende, portanto, não só a responsabilidade por algum tipo de prestação de serviços de saúde, como, da mesma forma, a responsabilidade pela gestão de um sistema que atenda, com integralidade, a demanda das pessoas pela assistência à saúde e às exigências sanitárias ambientais. Busca-se, dessa forma, a plena responsabilidade do poder público municipal (BRASIL, 1996). Essa norma estabeleceu dois tipos de gestão: a plena da atenção básica e a plena de sistema. Para os Estados, coube: exercer a gestão do SUS no âmbito estadual; promover as condições e incentivar o poder municipal para que assuma a gestão da atenção à saúde de seus munícipes, sempre na perspectiva da atenção integral; assumir em caráter transitório a gestão da atenção São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 2, p. 55-71, jul./dez. 2008 à saúde daquelas populações pertencentes a municípios que ainda não tomaram para si esta responsabilidade; ser o promotor da harmonização, da integração e da modernização dos sistemas municipais, compondo assim o SUS-Estadual (BRASIL, 1996). A NOB SUS 1996 aumentou a participação da transferência fundo a fundo dos recursos federais a Estados e municípios e reduziu a transferência devido a remuneração por serviços produzidos. A responsabilidade pelo financiamento do SUS continuou sob a responsabilidade das três esferas de governo – União, Estado e município –, cada uma delas devendo assegurar o aporte regular de recursos ao respectivo fundo de saúde. Segundo Viana e Dal Poz (2005), a partir dessa norma teve início no Brasil a reforma incremental do SUS, ou a reforma da reforma, isto é, um conjunto de ajustes no desenho e operação da política de saúde. Os autores identificam como fatores que caracterizam esse processo a mudança nas formas de transferência financeira entre os gestores e as formas de pagamento dos serviços de saúde e a criação do Programa de Saúde da Família – PSF. Segundo Barreto e Silva (2004), bem-sucedido a princípio, o processo de municipalização passou a apresentar alguns limites e restrições, ao final da década de 1990, em especial no que se refere à organização da atenção dos serviços regionais, de referência intermunicipal e de alta complexidade. Assim, no sentido de reorganizar a atenção regional em sistemas de saúde não necessariamente confinados aos territórios municipais e, portanto, sob responsabilidade coordenadora dos governos estaduais, o Ministério da Saúde editou, em 26 de janeiro de 2001, a Norma Operacional de Assistência à Saúde – Noas SUS 01/2001. Esta norma amplia as responsabilidades dos municípios na Atenção Básica; define o processo de regionalização da assistência; cria mecanismos para o fortalecimento da capacidade de gestão do Sistema Único de Saúde e procede à atualização dos critérios de habilitação de Estados e municípios (BRASIL, 2001, Art. 1º). Entre os princípios e objetivos estabelecidos por essa norma, destaca-se a “diretriz de regionalização avaliação da eficiência técnica na utilização dos recursos do sistema... dos sistemas como estratégia de hierarquização dos serviços de saúde e de busca de maior eqüidade” (BRASIL, 2001). Para tanto, instituiu-se o Plano Diretor de Regionalização – PDR como o instrumento de ordenamento do processo de regionalização da assistência em cada Estado, a partir da definição das necessidades de saúde da população e garantia de acesso dos cidadãos a todos os níveis de atenção. A partir desse plano, o território estadual foi organizado em regiões de saúde, de tal forma a garantir à população tanto o acesso aos serviços e ações de saúde como sua assistência integral. Em 27 de fevereiro de 2002, por meio da portaria de n. 373/GM foi editada a Norma Operacional de Assistência à Saúde – Noas SUS 01/2002, que reafirma as diretrizes definidas pela Noas SUS 01/2001 e incorpora regulamentação complementar relacionada ao comando único sobre os prestadores de serviços de média e alta complexidades e do fortalecimento da gestão dos Estados sobre as referências intermunicipais. Nesse contexto, assume relevância o papel da Secretaria Estadual de Saúde, na coordenação do planejamento regional e no desenvolvimento de mecanismos de regulação tanto para a assistência hospitalar e ambulatorial como para o atendimento de urgência/emergência. Também é de responsabilidade estadual, por meio da Programação Pactuada e Integrada – PPI, prever a parcela dos recursos a ser gasta em cada município para cada área de alta complexidade, destacando a proporção a ser utilizada com a população local e aquela a ser gasta com a população de referência, uma vez que os municípios classificados como pólos de atendimento regional e com oferta de equipamentos para realização de procedimentos de alto custo e alta complexidade passaram a ser computados de forma distinta. Quanto aos gestores municipais, aqueles habilitados em Gestão Plena do Sistema Municipal devem desempenhar as funções referentes à organização dos serviços de alta complexidade, visando assegurar o comando único sobre os prestadores. Já a área de abrangência desses serviços e o limite financeiro para seu custeio são definidos pela Secretaria Estadual de Saúde, dado que o gestor estadual deve garantir o acesso da população aos serviços não disponíveis em seu município de residência. Assim, diante do caráter regional do planejamento da assistência à saúde definido pela Noas, este estudo pretende contribuir para a avaliação da eficiência técnica na utilização dos recursos na produção ambulatorial, em âmbito regional. Segundo Figueiredo e Figueiredo (1986), a avaliação de eficácia e eficiência tem como propósito confrontar a adequação dos meios e recursos utilizados aos resultados parciais ou finais obtidos, referenciados aos objetivos e metas propostos pela política. Especificamente, a importância da avaliação de eficiência para o planejamento e gestão das políticas reside, segundo Arretche (2001), na possibilidade de dar ao gasto público melhor alocação e uso mais racional: Tendo em vista o cenário da crise fiscal do Estado, [...] podemos notar a fundamental importância das avaliações de eficiência. Em outras palavras, percebeu-se que o estreitamento das fontes novas ou tradicionais de arrecadação induz a inovações, no terreno específico da gestão da eficiência, que demandam estudos de avaliação. O Estado de São Paulo, em 2005, era dividido em 24 regionais de saúde, denominadas Direções Regionais – DIRs, que eram responsáveis pela coordenação e articulação dos sistemas municipais de saúde, respondendo por sua avaliação, controle e auditoria, além de apoiarem os municípios a organizar sua rede básica. Naquele ano, o Estado de São Paulo possuía 39.949.487 habitantes distribuídos em 24 Direções Regionais de Saúde – DIRs, que agregavam os 645 municípios paulistas. A DIR com o maior número de municípios era a de São José do Rio Preto (101), respondendo por 3,6% da população do Estado. Já a DIR da capital, composta apenas pelo Município de São Paulo, concentrava quase 27% da população estadual. De acordo com a distribuição da população no Estado, as regionais de saúde localizadas nas regiões metropolitanas – de São Paulo, de Campinas e da Baixada Santista – são as que concentram maiores parcelas populacionais (Gráfico 1). São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 2, p. 55-71, jul./dez. 2008 57 maria paula ferreira/marcelo trindade pitta Gráfico 1 Número de Municípios e Distribuição da População, segundo Direções Regionais de Saúde – DIRs Estado de São Paulo – 2005 o N de Municípios % 110 101 Municípios 100 30 P opulação 25 90 80 20 70 60 15 50 45 45 40 42 40 38 37 31 30 10 28 27 25 25 25 22 20 20 19 15 15 10 12 11 5 9 7 5 1 o eg is tro C M am og id po as s C ru ze s S an S to an s Fr to an An co dr é da R oc ha C ap ita l to s R do s Jo sé S ão Jo ão ão S 0 sc re sa ar O B ca Vi st a oa da B si s an As Fr M ar í lia ot uc a tu P ira ci ca ba Ta ub R ib a ei té rã o P re Ar to ar aq ua ra B te am pi na Ar s aç at ub a B au ru ru P te C ba re P oc a si de n io R or S re P do Jo sé ão de n to 0 S 58 Fonte: Fundação Seade. Sistema de Estatísticas Vitais. Nota: Projeção populacional para julho de 2005. METODOLOGIA O modelo utilizado foi a Análise por Envoltória de Dados (Data Envelopment Analysis – DEA) desenvolvida por Charnes, Cooper e Rhodes em 1978, que tem sido empregada em larga escala na avaliação de programas e projetos de órgãos governamentais, organizações não-governamentais e, mais recentemente, em empresas do setor privado. Um exemplo de uso da DEA é o estudo feito por Marinho (2001), no qual foram avaliados os serviços ambulatoriais e hospitalares nos municípios do Estado do Rio de Janeiro relativos a 1998. Marinho analisou a eficiência da prestação de serviços de saúde em 74 cidades, as quais definiram as unidades tomadoras de decisão – DMUs que constam do modelo da DEA. Com base nesses dados, a rede de serviços de saúde daquele Estado foi representada como um sistema de entradas e de saídas que transforma capacidade de atendimento, materializada em recursos materiais e financeiros, em serviços típicos do São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 2, p. 55-71, jul./dez. 2008 atendimento hospitalar e ambulatorial, além de um indicador de qualidade (MARINHO, 2001). Em Faria et al. (2008), apresenta-se uma análise da relação existente entre os gastos públicos com educação e saúde realizados em diversos municípios fluminenses e os indicadores de condição de vida da população, no final dos anos 1990, por meio da técnica de Análise Envoltória de Dados. Gonçalves et al. (2007) analisaram hospitais públicos das capitais brasileiras por meio do modelo de DEA. A DEA permite estimar, por meio de programação linear, uma razão de eficiência técnica para cada Unidade Tomadora de Decisão – DMU (Decision Making Unit). Essa razão consiste na relação entre os resultados ou outputs observados para as DMUs e os insumos ou inputs associados aos recursos disponibilizados para que sejam alcançados tais resultados. O método encontra, para o conjunto de DMUs avaliadas, aquelas que apresentam a melhor relação. No presente estudo, as DMUs correspondem às 24 Direções Regionais de Saúde – DIRs, a produção avaliação da eficiência técnica na utilização dos recursos do sistema... Gráfico 2 Exemplo da Relação entre Despesas Totais em Saúde (Input) e Produção Ambulatorial (Output) Pressuposta nos Modelos CCR e BCC DIR Despesa em Saúde DIR Mode lo B C C P rodução Ambulatorial Produção Ambulatorial Modelo CCR Des pes a em S aúde Fonte: Elaboração dos autores. ambulatorial apresentada no ano, ao output, e o total das despesas em saúde em 2005, ao input. Os dois modelos clássicos em DEA são utilizados no estudo. O modelo CCR (Charnes, Cooper e Rhodes) ou CRS (Constant Return to Scale) pressupõe retornos constantes de escalas, ou seja, para um crescimento nas despesas em saúde ocorre um aumento proporcional na produção ambulatorial. Nesse caso, não se consideram as condições de produção, como, por exemplo, o porte e a complexidade do sistema de saúde existente na DIR. O segundo modelo, denominado BCC (Banker, Charnes e Cooper, em 1984) ou VRS (Variable Return to Scale), não pressupõe proporcionalidade entre inputs e outputs, ou seja, o aumento dos gastos em saúde implicará crescimento na produção ambulatorial não proporcional aos recursos investidos. Essa suposição mostra-se adequada no caso das regionais de saúde que englobam grandes populações ou sistemas de saúde muito complexos, como as DIRs da capital e de Campinas, entre outras. O Gráfico 2 apresenta a relação entre inputs e outputs nos dois modelos. Nesse modelo DEA, considera-se uma DIR eficiente quando, em comparação às demais DIRs, atinge um grau de produção de recursos condizente com a quantidade de insumos que possui, isto é, se sua produção ambulatorial mostra-se compatível com o montante das despesas em saúde. Em contraposição, uma regional de saúde com muita produção ambulatorial pode ser classificada como ineficiente, pois, dada a quantidade de recursos recebidos, os resultados alcançados são menores que os esperados (em comparação ao conjunto das outras 23 DIRs analisadas). A eficiência não está nos resultados alcançados, mas sim na relação entre resultados e gastos. Já a eficácia associa-se aos resultados, ou seja, às variáveis de output. Uma DIR eficaz compreende altos índices de consulta médica por habitante, boa cobertura vacinal e outros indicadores de saúde satisfatórios. Assim, existem DIRs eficientes e eficazes – a situação desejável, correspondendo às boas práticas –, ineficientes e eficazes – nas quais poderia haver melhor alocação dos recursos existentes –, eficientes e ineficazes – em que são necessários mais recursos para aumentar a produção –, e ineficientes e ineficazes – a situação mais desfavorável, em que os processos precisam ser aprimorados e os recursos, ampliados. Duas medidas de eficiência foram calculadas: Eficiência Técnica (CCR), que corresponde à eficiência na utilização dos recursos (gastos em saúde), independentemente das condições de produção, como, por exemplo, o porte e a complexidade do sistema de saúde existente na DIR; e a Eficiência Puramente Técnica (BCC), que fornece a eficiência considerando-se implicitamente o porte e a complexidade do sistema de saúde da DIR. Neste caso, pressupõe-se no modelo um retorno variável de escala, ou seja, o aumento dos gastos em saúde implicará crescimento na produção ambulatorial não proporcional aos recursos investiSão Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 2, p. 55-71, jul./dez. 2008 59 60 maria paula ferreira/marcelo trindade pitta dos. Essa suposição mostra-se adequada no caso das regionais de saúde que englobam grandes populações e/ou sistemas de saúde muito complexos, como as DIRs Capital, Campinas e outras. Uma DIR pode ser ineficiente globalmente, mas eficiente localmente, quando para sua complexidade está operando eficientemente. Os modelos DEA foram processados com orientação output, ou seja, o quanto seria possível maximizar a produção ambulatorial. Optou-se por esta orientação uma vez que não se considera factível pressupor a diminuição de recursos na área de saúde. As fontes de informação utilizadas foram o Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde – Siops e o Sistema de Informações Ambulatoriais – SIA, disponíveis para consulta pública no site do sistema Datasus (www.datasus.gov.br). O Siops foi implantado pelo Ministério da Saúde e Ministério Público Federal e seu objetivo é subsidiar o planejamento, a gestão e o controle do financiamento e do gasto público em saúde nas três esferas de governo. Esse sistema é constituído por um banco de dados sobre despesas e receitas referentes a ações e serviços de saúde de responsabilidade do poder público. Os dados informados são de responsabilidade do município e, desde 2002, de preenchimento obrigatório, dado que o mesmo é requisito para a habilitação da localidade na Gestão Plena de Sistema ou na Gestão Plena da Atenção Básica Ampliada (Norma Operacional de Assistência à Saúde – Noas 2002), e integram o Relatório Resumido da Execução Orçamentária da Lei de Responsabilidade Fiscal. Em 2005, entre os 645 municípios do Estado de São Paulo, seis apresentaram valor zero na despesa total com saúde e transferências do SUS. São eles: Águas de Lindóia, Flora Rica, Itobi, Morro Agudo, Murutinga do Sul e Chavantes. O Sistema de Informações Ambulatoriais – SIA, também disponível no site do Datasus, é responsável pela captação e processamento das contas ambulatoriais do SUS, por meio do Boletim de Produção Ambulatorial – BPA, preenchido por essas unidades de saúde. O sistema apresenta informações referentes ao número de atendimentos e tipos de procedimentos realizados para todos os municípios brasileiros desde 1994. O Quadro 1 mostra as variáveis utilizadas no modelo. Foram consideradas como recursos (inputs) as despesas totais em saúde, a proporção de transferências de alta e média complexidades no total de transferências do SUS (proxy de complexidade do sistema de saúde) e a proporção da produção ambulatorial realizada por prestadores federais e estaduais. Como variáveis de resultados (outputs) utilizaram-se o total da produção ambulatorial de média e alta complexidades e o total do atendimento básico. Quadro 1 Variáveis Selecionadas para Compor o Modelo de Análise Envoltória de Dados Variável Total das despesas em saúde Descrição Posição Inclui o montante das despesas com a administração direta e Input indireta com o setor de saúde. Exclui os pagamentos com inativos. As despesas são referentes aos valores pagos no ano-base. Fonte Siops Proporção da produção ambulatorial Razão entre o total da produção ambulatorial apresentada em de prestadores estaduais e federais no 2005 por prestadores estaduais e federais e o total da produção total da produção ambulatorial ambulatorial. Input SIA; elaboração dos autores Proxy de complexidade do sistema de saúde Razão entre o montante recebido em transferências – média e alta complexidades – e a soma das transferências de atenção básica e de média e alta complexidades. Input Siops; elaboração dos autores Total da produção ambulatorial em atenção básica Número de procedimentos de atenção básica apresentados em 2005, realizados nas unidades ambulatoriais. Output SIA Total da produção ambulatorial em média e alta complexidades Número de procedimentos de média e alta complexidades apresentados em 2005, realizados nas unidades ambulatoriais. Output SIA Nota: As variáveis foram consideradas no modelo em 100.000 unidades (no caso dos repasses, R$ 100.000,00). São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 2, p. 55-71, jul./dez. 2008 avaliação da eficiência técnica na utilização dos recursos do sistema... A opção de trabalhar apenas com os recursos financeiros deveu-se ao fato de que não é possível discriminar nas bases de dados relativas a recursos humanos o tipo de serviço realizado – ambulatorial ou hospitalar. Porém, no sentido de incorporar a diversidade existente entre os sistemas de saúde das 24 DIRs, considerou-se como componente do modelo uma variável proxy da complexidade do sistema de saúde, que considera a proporção entre o montante recebido em transferências – média e alta com- plexidades – e a soma das transferências de atenção básica e de média e alta complexidades. Já a aglutinação do indicador proporção da produção ambulatorial de prestadores estaduais e federais no total da produção ambulatorial teve como objetivo ajustar a participação porcentual da produção dos estabelecimentos sob gestão estadual, que estão contabilizados nas variáveis de output. Os dados utilizados no modelo são descritos na Tabela 1. Tabela 1 Variáveis Selecionadas para Compor o Modelo de Análise Envoltória de Dados, segundo Direções Regionais de Saúde – DIRs Estado de São Paulo – 2005 Direção Regional de Saúde Despesa Total em Saúde (em reais de 2005) DIR 01 - Capital Produção Ambulatorial em Atenção Básica Produção Ambulatorial em Média e Alta Complexidades Proxy de Complexidade do Sistema de Saúde (%) Proporção da Produção Ambulatorial de Prestadores Estaduais e Federais no Total (%) 2.753.399.279 43.782.161 127.020.470 48,27 52,09 DIR 02 - Santo André 639.196.570 14.889.804 18.591.851 58,26 21,35 DIR 03 - Mogi das Cruzes 379.686.836 14.051.750 15.780.882 36,22 26,81 DIR 04 - Franco da Rocha 81.016.185 3.443.479 3.521.084 53,53 12,75 DIR 05 - Osasco 540.110.000 22.071.572 16.799.919 44,57 19,36 DIR 06 - Araçatuba 176.201.344 4.036.301 3.424.004 48,13 27,61 DIR 07 - Araraquara 199.993.857 7.113.255 5.051.846 42,98 18,01 DIR 08 - Assis 98.345.681 5.829.845 4.036.207 52,10 13,95 DIR 09 - Barretos 98.715.634 4.428.481 4.351.988 62,15 18,81 157.616.184 7.856.043 8.605.134 26,99 22,93 98.919.493 4.291.192 6.833.150 37,49 47,63 DIR 10 - Bauru DIR 11 - Botucatu DIR 12 - Campinas 1.082.452.266 23.117.074 31.378.626 60,80 22,55 DIR 13 - Franca 136.306.042 4.141.329 4.579.310 46,66 28,62 DIR 14 - Marília 158.814.497 6.346.583 6.351.225 59,09 21,89 DIR 15 - Piracicaba 308.653.264 7.922.805 8.182.170 59,91 16,90 DIR 16 - Presidente Prudente 150.897.791 7.731.786 5.887.371 24,67 21,27 62.836.385 2.494.036 1.712.395 0,78 0,00 DIR 18 - Ribeirão Preto 291.448.676 11.674.745 11.951.178 51,47 32,65 DIR 19 - Santos 457.051.788 14.108.572 13.954.755 57,41 13,42 DIR 20 - São João da Boa Vista 163.363.592 7.201.039 5.874.906 54,82 17,13 DIR 21 - São José dos Campos 418.676.617 7.720.820 8.877.996 51,24 12,28 DIR 22 - São José do Rio Preto 301.693.383 12.660.024 15.579.878 45,79 28,83 DIR 23 - Sorocaba 436.141.569 16.235.772 14.781.636 53,53 20,91 DIR 24 - Taubaté 199.156.342 7.341.648 6.947.682 44,23 12,61 DIR 17 - Registro Fonte: Ministério da Saúde. Datasus. Elaboração dos autores. São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 2, p. 55-71, jul./dez. 2008 61 maria paula ferreira/marcelo trindade pitta RESULTADOS Uma análise exploratória da despesa per capita em saúde dos 645 municípios do Estado de São Paulo, agrupados nas 24 Direções Regionais de Saúde, para o período de 2000 a 2005, mostrou que apenas nove DIRs registraram gasto em saúde superior à média estadual, que foi de R$ 235,06: São José dos Campos (R$ 348,70), Campinas (R$ 289,34), Santos (R$ 281,24), Marília (R$ 258,27), Capital (R$ 256,27), Araçatuba (R$ 256,05), Santo André (R$ 254,59), Ribeirão Preto (R$ 243,09) e Barretos (R$ 240,59). Ressalte-se que a DIR de São José dos Campos apresentou a maior despesa por habitante para os anos considerados. No outro extremo encontra-se a DIR de Mogi das Cruzes, com os menores valores no período analisado (Gráfico 3). Para a DIR Capital os resultados devem ser analisados com cuidado, uma vez que, até 2000, o Município de São Paulo, que a compõe, não estava habilitado ao SUS. Portanto, não é possível contabilizar, para aquele ano, as despesas municipais com saúde para essa cidade a partir do Siops. Entre 2000 e 2005, houve redução de 5,5 pontos porcentuais da participação da transferência do SUS na despesa total com saúde dos municípios, que passou de 35,5% para 30,0%, no conjunto do Estado, excluindo a capital. Entre as DIRs, com exceção de Mogi das Cruzes, em que aumentou 4,3 pontos porcentuais a participação das transferências do SUS, todas as demais apresentaram decréscimo. A DIR Capital não foi considerada nessa análise, dado que em 2000 as transferências do SUS representavam apenas 1,7% dos gastos, devido à não-habilitação do Município de São Paulo ao Sistema Único de Saúde (Gráfico 4). Em 2005, entre os 645 municípios paulistas, 623 (97%) já haviam alcançado o patamar mínimo de recursos próprios gastos em saúde, conforme definido pela Emenda Constitucional 29/00.2 Entre estes, a proporção destinada à saúde é variada, de forma que a maioria das localidades (58,5%) mantém-se na faixa entre 15% e 20% (Gráfico 5). Gráfico 3 Despesa Total per Capita em Saúde, por Direções Regionais de Saúde – DIRs Estado de São Paulo – 2000-2005 440 Em R$ 400 2000 2003 2005 360 320 280 240 200 160 120 80 40 ão Jo sé C do s C am a m pos pi na s S an to s M ar í lia C ap ita A ra l ça S a n tuba to R A nd ib ei ré rã o P re to B ar re to P s ira ci ca A ba ra ra qu ar a A ss i s R eg S is ão tro Jo Fr sé an P ca re do si R d S e n io ão P te re Jo P ru to ão de da nt e B oa V S or is ta oc ab Ta a ub at é O sa sc B o Fr ot an uc co at u da R oc ha M og B au id ru as C ru ze s 0 S 62 Fonte: Datasus. Sistema de Orçamentos Públicos de Saúde – Siops. Elaboração dos autores. Nota: Em reais de 2005 inflacionados pelo INPC anual. São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 2, p. 55-71, jul./dez. 2008 avaliação da eficiência técnica na utilização dos recursos do sistema... Gráfico 4 Participação das Transferências do SUS nas Despesas Totais com Saúde, por Direções Regionais de Saúde – DIRs Estado de São Paulo – 2000-2005 Marília 60 Osasco Bauru 2000 Presidente Prudente Franca 50 São José dos Campos Franco da Rocha 40 30 Santo André 2005 % Assis 20 Registro Araçatuba 10 0 São José do Rio Preto Barretos Campinas Piracicaba Taubaté Araraquara Mogi das Cruzes Sorocaba Botucatu São João da Boa Vista Santos Ribeirão Preto Fonte: Datasus. Sistema de Orçamentos Públicos de Saúde – Siops. Elaboração dos autores. A análise dos dados da produção ambulatorial dos municípios paulistas, para o período de 2000 a 2005,3 mostrou queda acentuada da participação dos procedimentos de atenção básica no total dos procedimentos ambulatoriais referentes aos municípios. No total do Estado, essa redução foi de 9,5 pontos porcentuais, passando de 52,2% para 42,7%. O mesmo comportamento é observado em relação às Direções Regionais de Saúde – DIRs (Gráfico 6). Contribui para explicar esse comportamento o aumento do número de procedimentos assistenciais de alta complexidade realizados pelas unidades ambulatoriais, especificamente o procedimento 36 – Medica- mentos, que entre 2000 e 2005 passou de 5,6% para 19,0% no total dos procedimentos ambulatoriais no Estado de São Paulo. Esses resultados indicam a diversidade dos sistemas de saúde existentes nas 24 DIRs, tais como a rede instalada de estabelecimentos de saúde com diferentes níveis de complexidade . As regionais de saúde que englobam os grandes centros urbanos do Estado de São Paulo, municípios localizados no entorno das três regiões metropolitanas ou aqueles que são referência em determinados serviços de saúde, como Barretos, apresentam maiores porcentuais em média e alta complexidades. São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 2, p. 55-71, jul./dez. 2008 63 64 maria paula ferreira/marcelo trindade pitta Gráfico 5 Box Plot da Participação dos Recursos Próprios em Saúde nas Receitas Totais do Município, por Direções Regionais de Saúde – DIRs Estado de São Paulo – 2000 - 2005 % 50 Ilhabela 40 Guapiara Biritiba Mirim * Lindóia 30 Itaberá Iepê * São Vicente Pindorama Salto Valentim Gentil Cedral Marília Alvinlândia 20 Ilha Comprida 10 Andradina Chavantes * 0 1 2 3 4 5 6 Floreal * 7 8 Morro Agudo Flora Rica * Itobi * * 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 Direção Regional de Saúde Fonte: Datasus. Sistema de Orçamentos Públicos de Saúde – Siops. Elaboração dos autores. No sentido de avaliar a eficiência da produção ambulatorial dos municípios do Estado de São Paulo, dado seu gasto em saúde, segundo as 24 regionais de saúde, foi gerado o modelo de eficiência. Os recursos (inputs) referem-se às despesas totais em saúde, à proporção de transferências de alta e média complexidades no total de transferências do SUS e à proporção da produção ambulatorial realizada por prestadores federais e estaduais. Os resultados (outputs) correspondem às produções de alta e média complexidades e de atendimento básico. A Figura 1 apresenta de forma esquemática o modelo utilizado. São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 2, p. 55-71, jul./dez. 2008 A eficiência técnica média, mensurada segundo o modelo descrito na Figura 1, foi de 83,49%, com 14 DIRs atingindo um escore de eficiência superior a este valor. Sete foram consideradas globalmente eficientes, uma vez que registraram escore igual a 100%. São elas: DIR 1 – Capital; DIR 8 – Assis; DIR 10 – Bauru; DIR 11 – Botucatu; DIR 16 – Presidente Prudente; DIR 17 – Registro e DIR 22 – São José do Rio Preto (Tabela 1). Em termos populacionais, essas regionais representam 38,1% da população do Estado, distribuída em 256 municípios. avaliação da eficiência técnica na utilização dos recursos do sistema... Gráfico 6 Participação dos Procedimentos de Atenção Básica no Total dos Procedimentos Ambulatoriais, por Direções Regionais de Saúde – DIRs Estado de São Paulo – 2000-2005 % 100 2000 90 2005 80 70 60 50 40 30 20 10 r si de O s a as nt e Jo co P ão ru de da nt B e oa A Vi ra s t ça a tu ba S or oc ab Ta a ub at é B ar re to s S an to Fr s an M ar co í lia d R aR ib e i oc rã ha o P r P ira e to ci ca ba B au ru M Fr og S ão an i ca J o da s s S C ão é ru d ze J o os s sé C a do m p o R s S io P an to re to A nd C a m ré pi na B ot s uc at u C ap ita l is qu a ss ão P re A ra ra A eg R S E st ad o de S ão P au is tro lo 0 Fonte: Datasus. Sistema de Orçamentos Públicos de Saúde – Siops. Elaboração dos autores. Figura 1 Modelo Empírico de Eficiência Resultados (OUTPUTS) Recursos (INPUTS) • Despesas totais em saúde • % da produção de média e alta complexidades no total da produção ambulatorial Assistência à Saúde • Produção ambulatorial em atenção básica • Produção ambulatorial em média e alta complexidades • % da produção dos prestadores estaduais e federais no total da produção ambulatorial São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 2, p. 55-71, jul./dez. 2008 65 66 maria paula ferreira/marcelo trindade pitta Entre as 17 regionais consideradas não eficientes, pelo ponto de corte adotado na análise (100%), destacam-se quatro grupos distintos: um formado por Osasco (94,96%), Mogi das Cruzes (93,45%), Sorocaba (88,97%), São João da Boa Vista (86,25%), Taubaté (85,53%), Barretos (85,51%), Ribeirão Preto (84,46%), Santos (83,27%) e Franco da Rocha (82,69%), que apresentam escores superiores ou próximos à média estadual; um agrupamento intermediário forma- do por Marília (78,38%), Campinas (74,05%), Araraquara (72,03%) e Santo André (71,89%); um terceiro composto por Piracicaba (63,69%), Franca (60,72%) e São José dos Campos (54,85%); e um quarto agrupamento formado por Araçatuba (43,14%), que se diferencia por apresentar escore muito inferior ao conjunto das demais DIRs (Tabela 2). A regional de Araçatuba reúne 40 municípios que, em 2005, representavam 1,7% da população do Estado (Gráfico 1). Tabela 2 Eficiência Técnica e Puramente Técnica, segundo Direções Regionais de Saúde – DIRs Estado de São Paulo – 2005 Direções Regionais de Saúde Eficiência Técnica Eficiência Puramente Condição de (%) Técnica (%) Eficiência Técnical Condição de Eficiência Puramente Técnica DIR 01 – Capital 100,00 100,00 Sim Sim DIR 08 – Assis 100,00 100,00 Sim Sim DIR 10 – Bauru 100,00 100,00 Sim Sim DIR 11 – Botucatu 100,00 100,00 Sim Sim DIR 16 – Presidente Prudente 100,00 100,00 Sim Sim DIR 17 – Registro 100,00 100,00 Sim Sim DIR 22 – São José do Rio Preto 100,00 100,00 Sim Sim DIR 05 – Osasco 94,96 100,00 Não Sim DIR 03 – Mogi das Cruzes 93,45 100,00 Não Sim DIR 23 – Sorocaba 88,97 93,23 Não Não DIR 20 – São João da Boa Vista 86,25 88,04 Não Não DIR 24 – Taubaté 85,53 87,05 Não Não DIR 09 – Barretos 85,51 90,87 Não Não DIR 18 – Ribeirão Preto 84,46 92,48 Não Não DIR 19 – Santos 83,27 90,30 Não Não DIR 04 – Franco da Rocha 82,69 98,80 Não Sim DIR 14 – Marília 78,38 79,96 Não Não DIR 12 – Campinas 74,05 97,99 Não Sim DIR 07 – Araraquara 72,03 74,42 Não Não DIR 02 – Santo André 71,89 75,18 Não Não DIR 15 – Piracicaba 63,69 66,04 Não Não DIR 13 – Franca 60,72 60,83 Não Não DIR 21 – São José dos Campos 54,85 57,59 Não Não DIR 06 – Araçatuba 43,14 46,74 Não Não Média do Estado 83,49 87,44 - - 3,28 3,27 - - Desvio Padrão Fonte: Elaboração dos autores. São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 2, p. 55-71, jul./dez. 2008 avaliação da eficiência técnica na utilização dos recursos do sistema... Quando a eficiência puramente técnica é estimada, ou seja, pressupondo que as regionais de saúde possuem realidades diversas e, portanto, não é possível esperar um retorno constante de escala na aplicação dos recursos em assistência à saúde, a eficiência média estadual passa a ser de 87,44%. Das 24 DIRs, 16 superam a média e as regionais de Mogi das Cruzes e Osasco atingem o escore de 100%. Nessa escala, Franco da Rocha e Campinas atingem valores próximos a 100%, respectivamente 98,80% e 97,99% e, portanto, foram consideradas eficientes na análise (Tabela 2). Assim, aumentos de recursos implicariam acréscimos na produção ambulatorial, porém em proporções menores do que ocorreria nas sete regionais classificadas como globalmente eficientes pelo modelo. Para Mogi das Cruzes é possível constatar, pela análise da série histórica das transferências do SUS no período 2000–2005, a ampliação de recursos no âmbito federal. É possível quantificar o porcentual de crescimento da produção ambulatorial, sem aumento dos recursos, para que as regionais classificadas como globalmente não eficientes possam tornar-se eficientes no âmbito do modelo de DEA. O aumento da produção ambulatorial total, somando-se os atendimentos básicos e os de alta e média complexidades, nas DIRs consideradas não eficientes, varia entre 5%, em Osasco, a 132%, em Araçatuba (Gráfico 7). Gráfico 7 Aumento da Produção Ambulatorial para que seja Alcançada a Eficiência Técnica, por Direções Regionais de Saúde – DIRs Estado de São Paulo – 2005 % 140,0 132,0 120,0 100,0 82,0 80,0 65,0 57,0 60,0 39,0 40,0 39,0 35,0 28,0 21,0 20,0 20,0 18,0 17,0 17,0 16,0 12,0 7,0 5,0 o sc sa da s O C ru ze s ba oc a is ta or og i S ão M V da B oa Ta B ar re Jo ão S ub at é to s to re ib ei rã o P an to s S R da Fr an co R oc ha í lia ar M ra am pi na s C qu a ra A nd ré ra A ba an to ci ca S ira P am po s Fr an ca S ão Jo sé do s A C ra ça tu ba 0,0 Fonte: Elaboração dos autores. São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 2, p. 55-71, jul./dez. 2008 67 68 maria paula ferreira/marcelo trindade pitta As regionais consideradas eficientes também se mostraram, em média, mais eficazes em relação à cobertura da produção ambulatorial. Os indicadores de produção ambulatorial por habitante, tanto na atenção básica quanto em média e alta complexidades, tendem a ser maiores para o conjunto das sete DIRs classificadas como eficientes. Esse resultado também é observado quando se analisa o número médio de consultas básicas por habitante/ano rea lizado por regional de saúde. Novamente a capital se diferencia por apresentar baixa cobertura em atenção básica, e conseqüentemente em consultas (Gráfico 8). As regionais consideradas tecnicamente mais eficientes na utilização dos recursos para a produção ambulatorial também exibiram menores taxas de mortalidade infantil e maior esperança de vida (Gráfico 9). Gráfico 8 Box Plots da Produção Ambulatorial por Habitante e Número de Consultas Médicas nas Especialidades Básicas por Habitante, por Eficiência Técnica nas Direções Regionais de Saúde – DIRs Estado de São Paulo – 2005 Produção de alta e média complexidade por habitante Produção no atendimento básico por habitante 14 12 12 10 10 8 8 6 6 4 Capital 4 Eficientes Não-eficientes Direções Regionais de Saúde Eficientes Não-eficientes Direções Regionais de Saúde Média anual de consultas médicas por habitante nas especialidades básicas 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 Capital Eficientes Não-eficientes Direções Regionais de Saúde Fonte: Datasus. Sistema de Informações Ambulatoriais. Elaboração dos autores. São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 2, p. 55-71, jul./dez. 2008 avaliação da eficiência técnica na utilização dos recursos do sistema... Gráfico 9 Box Plots da Taxa de Mortalidade Infantil e Esperança de Vida ao Nascer, por Eficiência Técnica nas Direções Regionais de Saúde – DIRs Estado de São Paulo – 2005 Taxa de mortalidade infantil Esperança de vida ao nascer 75 20 18 70 16 14 65 12 10 60 8 Eficientes Eficientes Não-eficientes Direções Regionais de Saúde Não-eficientes Direções Regionais de Saúde Fonte: Fundação Seade. Sistemas de Estatísticas Vitais. Elaboração dos autores. CONSIDERAÇÕES FINAIS No sentido de contribuir para o debate do planejamento da assistência à saúde na ótica regional, assim como definido pela Noas 2002, foi realizada uma análise exploratória da eficiência na utilização dos recursos do SUS nas 24 regionais de saúde em 2005. Para tanto, utilizou-se a Análise Envoltória de Dados (Data Envelopment Analysis – DEA), que permite estabelecer de forma empírica a relação de eficiência entre recursos e produção ambulatorial e, portanto, classificar as regionais de saúde a partir dessa relação. Logo, estes resultados devem ser interpretados como indicativos, pois, como todo modelo matemático, também constituem uma redução da realidade e devem ser lidos e analisados como tal. Foram consideradas como variáveis de recursos apenas as relacionadas a valores monetários, como as transferências federais e o gasto próprio em saúde, não se contemplando considerar no modelo a componente referente a recursos humanos – por exemplo, número de médicos que prestam atendimento na rede ambulatorial. Também não foi possível incorporar indicadores relacionados à infra-estrutura, tais como número de unidades ambulatoriais, leitos hospitalares e outros. A partir das fontes de dados utilizadas no estudo não foi possível discriminar quais recursos financeiros eram destinados especificamente para a produção ambulatorial, o que levou à adoção do gasto per capita total com saúde. Assim, um dos possíveis problemas desse modelo é classificar DIRs eficientes como não eficientes, dado o aumento na variável de input, decorrente das despesas hospitalares ali contabilizadas. No sentido de neutralizar esse possível problema na estimação dos resultados foi utilizado o indicador proxy de complexidade do sistema de saúde como uma variável de controle, dado que se considera a participação da média e alta complexidades no sistema de saúde (ambulatorial). Também foi realizada uma comparação gráfica das despesas per capita em saúde entre os dois grupos de DIRs – globalmente eficientes e globalmente não eficientes –, que mostrou que o gasto não é muito diferente entre elas. São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 2, p. 55-71, jul./dez. 2008 69 70 maria paula ferreira/marcelo trindade pitta Notas 1.A Norma Operacional Básica SUS 01/96 foi editada em janeiro de 1997 e passou a vigorar em janeiro de 1998. 2.Em 2000, definiu-se um patamar mínimo para o gasto com ações e serviços públicos de saúde para União, Estados e Municípios. Para estes últimos, em termos de recursos próprios aplicados na saúde, a Emenda Constitucional 29/00 Referências Bibliográficas ARRETCHE, M.T.S. Tendências no estudo sobre avaliação. Avaliação de políticas sociais: uma questão em debate. São Paulo: Cortez, 2001. p. 29-39. estabelece como piso, em seu Artigo 7º, Parágrafo III, 15% do produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam os artigos 158 e 159, inciso i, alínea b e § 3º. Esse mesmo artigo indica que os municípios teriam até 2004 para alcançar o patamar mínimo de gasto como a saúde, ou seja, 15%. 3. Ano de competência. 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Suplemento. São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 2, p. 55-71, jul./dez. 2008 avaliação da eficiência técnica na utilização dos recursos do sistema... Maria Paula Ferreira Estatística, Mestre em Epidemiologia pela Faculdade de Saúde Pública da USP, Chefe da Divisão de Metodologia e Métodos Quantitativos da Fundação Seade. Marcelo Trindade Pitta Estatístico, Mestre em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais pela Ence, Analista da Fundação Seade. Artigo recebido em 18 de dezembro de 2007. Aprovado em 4 de agosto de 2008. Como citar o artigo: FERREIRA, M.P.; PITTA, M.T. Avaliação da eficiência técnica na utilização dos recursos do Sistema Único de Saúde na produção ambulatorial. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, Fundação Seade, v. 22, n. 2, p. 55-71, jul./dez. 2008. Disponível em: <http://www.seade.gov.br>; <http://www.scielo.br>. São Paulo em Perspectiva, v. 22, n. 2, p. 55-71, jul./dez. 2008 71