Campus da Universidade de Brasília

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Campus da Universidade de Brasília
2011
Brasília - 25 a 28 de abril
Campus da Universidade de Brasília
Sumário
Conferência de abertura do Colóquio
Changements et continuités structurelles du journalisme
D. Ruellan
O criador da assinatura coletiva ou dialogia social
Cremilda Medina
5
10
GT1 - Sociologia do Jornalismo
Apprentissage et marché du travail.
Les premières expériences journalistiques comme indicateurs
de mutations
18
Pierre Leroux e Marie-Christine Lipani Vaissade
Jornalistas e Assessores de Imprensa: a tensão entre os campos da comunicação e da informação a configuração do processo produtivo da notícia
25
Giovandro Ferreira e Claudiane Carvalho
Jornalistas Legislativos: uma nova categoria profissional?
Francisco Sant’Anna e Rogério Dy La Fuente Gonçalves
34
Interesse Público e Deontologia Profissional dos Jornalistas Brasileiros
47
Des journalistes et des livres. Un tournant auctorial dans la pratique du journalisme ?
56
José Ricardo da Silveira e Veruska Sayonara de Góis
Roselyne Ringoot e Gilles Bastin
Lugares das colunas de opinião: contornos de uma mudança no
jornalismo atual
69
Antónia Carmo Barriga
GT2 - Mediação, mediatização e prática jornalística
La croisée des voix dans l’espace du journal
métamorphoses de la polyphonie dans les textes d’information
79
Emmanuël Souchier e Adeline Wrona
Uma via alternativa de reflexão sobre as práticas jornalísticas
Beatriz Marocco
Efeitos do processo de mediatização (em curso) sobre o jornalismo impresso
Carlos Alberto de Carvalho e Leandro Rodrigues Lage
A opacidade do acontecimento e a missão emancipatória do
jornalismo. Uma reflexão em torno de 3 casos
Luiz Martins da Silva e Dione Oliveira Moura
88
97
106
GT3 - Economia das empresas de comunicação
Utilisation discursive et réalité de la « convergence » au service
d’un repositionnement du médiatique
Arnaud Anciaux
Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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114
2
Hibridações entre o jornalismo e a publicidade na região central
mexicana
124
Salvador de Leon
Entre bits e dólares: desafios para o financiamento da produção
fotojornalística contemporânea
132
Mudanças estruturais no jornalismo: convergir é preciso. Reflexões sobre as empresas, a convergência de redações e o perfil
dos profissionais
143
Nouvelle mode: convergence et hiérarchie journalistique
153
José Afonso da Silva Junior e João Guilherme Peixoto
Thaïs de Mendonça Jorge e Zélia Leal Adghirni
Chantal Francoeur
GT4 - Jornalismo Digital
Des sources aux contenus : La construction des nouvelles en
ligne
Benoît Grevisse e Amandine Degand
160
Mudanças no fazer jornalístico online? Aspectos das reportagens do portal de notícias G1
170
A convergência digital na produção da notícia: Dois modelos de
integração entre meio impresso e digital
182
Liana Vidigal Rocha
Kenia Beatriz Ferreira Maia e Luciane Fassarella Agnez
Quando o jornalismo se aproveita da Web: rumo à integração do
datajournalism
Olivier Trédan
192
Infografia Interativa na América Latina
Marcilia Luzia Gomes da Costa Mendes e William Robson Cordeiro da Silva
GT5 - Jornalismo alternativo
Jornais Plurais? A identidade dos veículos jornalísticos em tempos desafiadores
Bruno Souza Leal
201
212
Mudança discursiva no jornal O Trecheiro
220
Jornalismo feito em casa: a mídia informativa do terceiro setor
230
Viviane Resende e María del Pilar Tobar Acosta
Elton Antunes e Ana Carolina Silveira
Quando o Social entra em Pauta
Marta Maia, Hila Rodrigues e Ana Paola de Morais Amorim Valente
239
GT6 - Novas relações com a audiência
O papel dos receptores no ensino-aprendizagem do jornalismo
online
Janara Sousa e Márcia Marques
Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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248
3
Transformações contemporâneas no jornalismo: a prática profissional do jornalista como um mobilizador de audiência da internet
257
Jornalismo e Mídias Sociais Digitais: transformações no processo de legitimação institucional no serviço de micromensagens
Twitter
266
Leonel Azevedo de Aguiar e Adriana Barsotti
Eugenia Mariano da Rocha Barichello e Luciana Menezes Carvalho
Perspectivas para repensar a comunicação: a dionisíaca intenção
entre a internet e o mito do Brasil como paraíso terrestre
Marcus Minuzzi
275
GT7 - Tranformações no telejornalismo
Hibridização e interatividade: observações em dois telejornais
brasileiros
Elza Aparecida Oliveira Filha e Raphael Rodrigues Faerreira da Costa
Televisão digital e mudanças no telejornalismo: potencialidades
da multiprogramação
Yvana Carla Fechine de Brito, Carlos André Guimarães Ferraz, Lívia Cirne e Jorge
Fonsêca
Telejornalismo e Ciberespaço: a materialidade do virtual no jornalismo televisivo
Edna de Mello Silva
285
296
307
GT8 - Jornalismo e discurso
Hibridismos discursivos na Comunicação em Saúde
Viviane Cristina Vieira Sebba Ramalho
La retórica del silencio en el discurso informativo
Araceli Soní Soto
316
326
Discours sur la presse écrite nord-américaine de la fin du 19e
siècle et implantation du journalisme d’information
Jean-René Philibert
Conferência de encerramento do Colóquio
Jornalismo em tempo de crise: ascensão, glória, agonia e ressurreição
José Marques de Melo
Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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Conferência de Abertura do Colóquio
Mudanças e continuidades estruturais do jornalismo
Denis Ruellan
Université de Rennes 1
Primeiramente, eu gostaria de agradecer à Universidade de Brasília, à Faculdade de Comuni-­
cação, a todas as pessoas que participaram da preparação deste evento, e especialmente, ao profes-­
sor Fábio Pereira e à professora Zélia Leal-­Adghirni. Eu gostaria de agradecer-­lhes por ter organiza-­
do esse colóquio tão importante para nosso ramo de estudos, o jornalismo. Esses quatro dias serão ricos em conhecimentos e troca de informações.
Gostaria de agradecer também a esses professores por continuarem seguindo o caminho que começamos a trilhar há doze anos, quando passamos a visitar uns aos outros, a fazer pesquisas jun-­
tos, a receber estudantes vindos do outro lado do oceano, à publicar conjuntamente, a orientar dou-­
torandos. Este colóquio segue e alarga o caminho desta colaboração por sua verdadeira dimensão internacional, acolhendo colegas do Brasil, do Chile, do México, de Portugal e diversos francófonos (um total de quinze pessoas, vindas da França, do Canadá e da Bélgica).
Este evento acadêmico estabelece também um novo horizonte de nossas relações, pois ele mostra que daqui em diante nosso intercâmbio não é mais bilateral, e sim multilateral. Como vocês viram no programa, o colóquio será seguido por um dia de estudos organizado pelos colegas em tor-­
no dos métodos de pesquisa sobre o jornalismo. Esse dia será destinado ao método de entrevista, com a presença de cinco especialistas, entre brasileiros, canadenses e franceses, que foram especial-­
mente convidados para falar sobre o assunto. Este evento se enquadra originalmente em um ciclo de jornadas criado em 2007, chamado de Jornada “Olhares Cruzados” da Rede de estudos sobre o jornalismo, o REJ, disponível no site www.surlejournalisme.com
Esse site é uma das manifestações dessa trajetória multilateral que nós seguimos. Ele e pro-­
duzido em várias línguas e publica informações sobre as pesquisas desenvolvidas em diversos es-­
paços linguísticos, principalmente brasileiros, canadenses e franceses. Essa iniciativa será seguida por uma revista trinacional, trilingue SUR LE JOURNALISME – ABOUT JOURNALISM – SOBRE JORNALISMO, que será lançada em breve.
(X DJUDGHoR SRU ¿P j RUJDQL]DomR SRU WHU PH FRQYLGDGR SDUD IDODU QHVWD FRQIHUrQFLD GH
abertura do colóquio, cujo tema envolve as mudanças estruturais do jornalismo.
Muitos pesquisadores se perguntaram, nesses últimos anos na França, sobre a capacidade de invenção e, portanto, de transformação do jornalismo (Ringoot & Utard, dir, 2006. Augey, Demers & Têtu, 2008), e particularmente sobre sua inovação nas margens, por meio da incorporação de no-­
vas práticas que apareceram na periferia ou fora da área do jornalismo, como por exemplo, a inter-­
net.
Esses questionamentos são muito interessantes porque eles permitem retirar a pesquisa de uma abordagem muito centrada nos meios de comunicação dominantes e nos jornalistas, uma abor-­
dagem impregnada pela visão de um jornalismo imóvel. Eu creio, no entanto, que nossa prática está marcada por dois limites:
2SULPHLURpDIDOWDGHDWHQomRHPUHODomRjVJUDQGHVUHGHVjVDGDSWDo}HVTXHQmRPRGL¿-­
cam a natureza, nem a constância das práticas e suas identidades. A partir desse ponto de vista, nós QmRHVWDULDPRVLQGRQRVHQWLGRFRQWUiULRRXVHMDYHQGRPRGL¿FDo}HVHVWUXWXUDLVHPWRGRVRVOXJD-­
res? Por exemplo, normalmente nós falamos que a internet permite a circulação circular da informa-­
ção (Bourdieu, 1996) favorecendo o fenômeno de cópia de conteúdos. Nós sabemos, no entanto, que os primeiros jornais copiavam conteúdos de outros jornais, muitas vezes as cópias eram publicadas VHPQHQKXPDPRGL¿FDomRLJXDODRRULJLQDO1yVVDEHPRVTXHDLPSUHQVDORFDOQRUPDOPHQWHFRSLD
a impressa da capital, principalmente porque ela tem acesso reduzido às agências de notícias nacio-­
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nais e internacionais. Nós sabemos que hoje as equipe das redações de rádio lêem os jornais impres-­
sos para escolherem as informações que serão apresentadas, isso porque normalmente as redações de impresso tem mais repórteres. Essa prática de cópia é antiga. Estimamos que antes da revolução francesa a metade das obras era resultado de plágio parcial ou integral (Darnton, 2011). A imprensa não inventou a cópia de informações, muito menos a internet.
2VHJXQGROLPLWHHVWiOLJDGRDRSULPHLURQyVHVFXWDPRVPXLWRVGLVFXUVRVGHSUR¿VVLRQDLV
GRMRUQDOLVPRTXHUHODWDPPXGDQoDVHPVXDViUHDVVHPSRGHUYHUL¿FiODV1yVRVHVFXWDPRVVHP
rigor de análise.
Poucas vezes ouvimos que esses discursos não mudam muito com o tempo, que eles atraves-­
sam épocas e dizem a mesma coisa. Por exemplo, o discurso sobre a crise do jornalismo é um dos mais permanentes, mais recorrentes. Nós devemos nos questionar sobre o lugar desse discurso na construção de identidade mais do que simplesmente repercutir os discursos de crise. Outro exem-­
SORRGLVFXUVRVREUHDIRUPDomRMRUQDOtVWLFDHRIDWRTXH¿QDOPHQWHRMRUQDOLVPRQmRVHDSUHQGHU
senão na prática. 2VGHVD¿RVGDSHVTXLVDVREUHMRUQDOLVPRSRGHULDPVHUWDPEpPDDQiOLVHHROXJDUGRTXHQmR
muda, das estruturas imóveis. Esse é mais uma das questões propostas por esse colóquio sobre as mudanças estruturais. Eu gostaria de relembrar as três questões centrais propostas pelos organiza-­
dores:
-­ Quais são os indicadores (sociológicos, econômicos, semióticos, históricos, políticos...) que permitem sustentar a tese dessa transformação da base do jornalismo, e como pode-­se relacionar GLPHQV}HVGLVWLQWDVDFRPSRVLomRGDSUR¿VVmRDVD~GHGDVHPSUHVDVRVFRQWH~GRVHFRPRHOHV
são postos em prática, etc.) para compor um quadro geral que consiga argumentar que as mudan-­
ças não são localizadas tampouco conjunturais, mas, sim, se situam num nível global e estrutural.
-­ Pode-­se sustentar, ao contrário, que o jornalismo é uma prática social, uma atividade eco-­
nômica, um espaço de discurso político, que faz prova após quatro séculos de grande estabilida-­
de de uma permanência além das mudanças conjunturais pelas quais tem passado? Quais serão, então, os indicadores de uma continuidade para além das mutações profundas que afetaram as VRFLHGDGHVGHVGHR¿PGRVpFXORTXDQGRGRVXUJLPHQWRGRVSULPHLURVMRUQDLV"
-­ Como, então, deve-­se levar em conta o discurso vindo dos meios acadêmicos e apoiado por SUR¿VVLRQDLV H VXDV RUJDQL]Do}HV YHLFXODGRV WDPEpP PXLWDV YH]HV SRU RUDGRUHV SROtWLFRV TXH
apresentam um quadro dessa transformação, chegando a mencionar uma crise do jornalismo? 3DUDTXDLV¿QVWDLVGLVFXUVRVVmRVXVWHQWDGRVHTXDOUHSUHVHQWDomRGRMRUQDOLVPRGHQWURGDVVR-­
ciedades democráticas eles apoiam?
Tal pensamento poderia parecer essencialista porque consideraria o jornalismo como atem-­
poral. Não, trata-­se somente de proporcionar os meios para escapar de discursos que nos impõem a ideia de uma mudança constante. E de perseguir os caminhos inteiramente heurísticos que esses dscursos abrem involuntariamente. Por “involuntariamente”, quero dizer que a análise desses dis-­
FXUVRVUHYHODSRUYH]HVSRUVXDVLQVLVWrQFLDVRXSRUVXDVQHJDo}HVHVSRQWkQHDVSRUVXDVMXVWL¿FDWL-­
vas e suas doutrinas, estruturas que não soubemos ver (Le Cam, 2009). Darei um exemplo. É sobre o papel que as fontes e os públicos têm no conjunto contínuo da produção de informação.
Desde cerca de 2004, ouviu-­se muito sobre a ideia de que a internet iria revolucionar o jor-­
nalismo porque ela permitiria a todo mundo se tornar jornalista para os outros e de ser seu próprio jornalista, isso graças à relação reticular do meio;; dentro dessa hipótese, a internet é uma rede em malha que permite relações entre todos e, não, apenas de um em direção a muitos. Os meios de massa que precedem a internet são vetores relevantes do modelo da difusão (de um para muitos) e, não, do modelo de rede (de todos para todos);; tal modelo se aplica à imprensa de massa, à rádio e à televisão. O modelo de rede, que se desenvolveu para as comunicações interpessoais (o telefone, em particular, desde o início do século 20) não se estendeu aos meios de informação.
Esta hipótese não é precisa. Por um lado, porque ela se aplica somente à mídia de massa e, por outro, porque ela ignora uma parte da organização dessa mídia :
-­Desde sempre, a imprensa cultural, política, associativa, religiosa é uma imprensa que cir-­
FXODHPUHGHVMXQWRDJUXSRVGH¿QLGRVHUHVWULWRV(OHID]SDUWHGHXPDOyJLFDFRPXQLWiULDTXHD
Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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mídia tradicional quis copiar para reforçar sentimentos de pertencimento e identidade ;; Esta forma de jornalismo também está presente no rádio, na televisão e na internet.
(VWDOyJLFDFRPXQLWiULDQmRpYHUL¿FDGDVRPHQWHQDGLIXVmR(ODWDPEpPSRGHVHUREVHU-­
vada na produção ;; os conteúdos destes veículos são, em parte ou no todo, produzidos por seus pró-­
prios membros, revelando assim a lógica coletiva da produção ;; Tal lógica não é exclusiva da mídia comunitária. Ela foi capitalizada pelos veículos de massa. Estes pedem, há muito tempo, que os lei-­
WRUHVOKHVIRUQHoDPIRWRJUD¿DVHLQIRUPDo}HVjVYH]HVGHPDQHLUDEDVWDQWHRUJDQL]DGDFRPRWHP
provado, na França, o sistema de correspondentes locais de imprensa que se apoia numa ampla rede de colaboradores.
-­ No começo, os blogs pareciam todos pertencer ao modelo da difusão, em que cada um esta-­
ria habilitado a falar a todos. Contudo, trabalhos recentes têm revelado que não há nada disso : os blogs são uma conversa coletiva que permite a seus autores se exprimir para e dentro de uma rede de pares (Trédan, 2010). Esta lógica não é nova. A imprensa sempre possuiu esta função de permitir a membros de uma comunidade se dirigirem a seus equivalentes, de se expressar no espaço público aos olhos de todos, mas voltando-­se a alguns poucos em particular.
(Q¿PRPRGHORGDGLIXVmRHRGDUHGHFRH[LVWHPQRVYHtFXORVPLGLiWLFRVHVHULDDEXVLYRLQ-­
sinuar que a internet invente uma nova realidade. Mas os discursos que « descobrem » a dimensão reticular da mídia são interessantes, pois eles revelam uma percepção do jornalismo, uma visão do SDSHOGRVMRUQDOLVWDVXPDGRXWULQDSUR¿VVLRQDO(VWXGHLWUrVEORJVGHMRUQDOLVWDVGXUDQWHTXDWURRX
cinco anos, entre 2005 e 2009, e me interessei pela evolução da percepção dos mesmos sobre o que está em jogo neste meio e suas transformações. Estes três blogs são especializados na análise das mutações do jornalismo, como deixam claro seus nomes : Transnet (sobre a transformação da inter-­
net), Médiacafé (sobre o aspecto Conversação das Mídias) e Amanhã, todos jornalistas ? (o título é claro).
Esses três blogs estudados seguem a mesma trajetória : começam muito entusiastas em re-­
lação às possibilidades de o internauta produzir conteúdo informativo. Eles propõem que os jorna-­
listas, a partir de então, vão descer de suas posições de superioridade e se transformar em anima-­
dores de debates entre os cidadãos, entre os jornalistas-­cidadãos. Além disso, eles insistem na ideia de que esses internautas contribuem fortemente à produção de informação, e que os jornalistas são QHFHVViULRVDSHQDVHPXPFRQWH[WRGHFRODERUDomRHQWUHSUR¿VVLRQDLVHDPDGRUHV)LQDOPHQWHHOHV
conduzem ao pensamento de que os jornalistas são indispensáveis para organizar esse participação dos internautas e para validar as informações : os jornalistas têm a técnica, sabem como executar o trabalho e têm a moral.
A trajetória desses discursos são muito simples : diante da profusão de discursos, os jornalis-­
tas primeiramente testaram essa pluralidade, para melhor constatá-­la, e para reluzi-­la. Eles contes-­
WDUDPHFRPEDWHUDPDLGHLDGHXPDWUDQVIRUPDomRSDUDD¿UPDURGLVFXUVRGHOHVSUySULRVDRUGHP
deles mesmos (Foucault, 1971), a visão deles de um jornalismo que corresponde aos interesses cor-­
porativos dos próprios meios de comunicação.
$RORQJRGRVDQRVGRLVDUJXPHQWRVIRUDPLGHQWL¿FDGRV
-­ O primeiro diz respeito ao interesse dos internautas em participar do processo
-­ O segundo diz respeito ao trabalho dos internautas
Os jornalistas responsáveis por esses blogs consideram que a contribuição dos internautas é XPDULTXH]DTXHGHYHVHUDSURYHLWDGDMiTXHRVPHLRVGHFRPXQLFDomRWrPHQIUHQWDGRGL¿FXOGDGHV
econômicas. O trabalho do internauta é valorizado como um interesse das empresas. Eles observam ainda que os internautas são voluntários a participar do processo de fabricação da informação, e se convencem de maneira relativamente rápida de que essa atividade lhes é prazerosa. Que prazer, que interesse? Os autores de blogs evocam, de maneira ainda muito imprecisa, um benefício simbólico, PDVQmRLQVLVWHPQHVVDD¿UPDomRSRUTXHVDEHPGDH[LVWrQFLDGHXPDVDWLVIDomRSHVVRDOGRLQWHU-­
nauta, de seu ego, em colaborar com o envio de uma foto de um evento, ou de um fato grave, ou de um comentário, uma informação banal. Não se trata de diversão, deve haver algum outro motivo. Os jornalistas reconhecem o valor econômico dessas contribuições, e destacam aí o interesse da em-­
presa em manter a colaboração, mas não chegam a conclusões sobre a motivação do internauta.
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$SHVDUGLVVRDUHÀH[mRFROHWLYDpKHXUtVWLFDVREUHGRLVDVSHFWRV
2SULPHLURpUHÀHWLUVREUHFRPRDFLUFXODomRGDLQIRUPDomRHQWUHQRFRWLGLDQRGRVLQGLYt-­
GXRVHGRVJUXSRVVRFLDLV(VVDUHÀH[mRSHUPLWHSHQVDUQmRDSHQDVQRTXHDPtGLDID]FRPRVUHFHS-­
tores da informação, mas no que os receptores fazem com a mídia. E por “o que se faz com a mídia” entenda-­se como o receptor é incorporado nas relações dos indivíduos e dos grupos, como o conteú-­
do por ele produzido circula e é utilizado pelo atores sociais (de Certeau, 1983. Pasquier, 1999. Gou-­
let, 2010). A mídia fala, sim, mas podemos também dizer que ela é falada, coletivamente, e que seu sentido é construído coletivamente.
-­ O segundo aspecto interessante é o valor do trabalho dos usuários da mídia. Entendo por « usuário » os públicos e as fontes de informação. Desde o século XIX, temos o hábito de pensar que DHFRQRPLDGDPtGLDpEDVHDGDHPGRLVUHFXUVRVDFRPSUDGRSURGXWR¿QDOL]DGRSHORVUHFHSWR-­
res e a compra do espaço pelos anunciantes. Nós negligenciamos uma variável : o valor do trabalho produzido pelos que contribuem, direta ou indiretamente, para a informação. Um jornal não é ja-­
mais feito sem fontes e nós sabemos que essas fontes são, agora muito ativas para propor conteúdos bastante organizados e estruturados. E essas fontes são, também, em parte, o público do jornal, nós lemos o jornal porque ele se parece conosco, porque nós nos vemos nele, porque nós o produzimos. O público é, de fato, utilizado pela mídia, por meio dos comentários e contribuições. Essa produção das fontes e públicos usuários tem um verdadeiro valor para a mídia.Se conseguir organizar este tra-­
balho, a mídia pode tirar dele um grande proveito, que deve ser medido de duas formas :
a) o valor do trabalho que não é remunerado (Dujarier, 2008), que não é pago pelo jornal, as-­
sim, não é pago pelo receptor nem pelo anunciante
b) o vínculo (Hennion, 2004) dos que contribuem gratuitamente para a produção da infor-­
mação da mídia.
« Gratuitamente » não é uma boa palavra, é melhor dizer voluntariamente porque os usuá-­
rios que trabalham para a mídia sem remuneração o fazem por um interesse. Qual é esse interesse ? Acreditamos, com a internet, que os usuários desejam, agora, a « desintermediação », o desapare-­
cimento da mediação do jornal e dos jornalistas. Eu acredito que, ao contrário, eles esperam mais mediação do jornal. O que eles querem é que o jornal seja, ainda e sempre, um espaço pelo qual eles criem e construam relações sociais, econômicas e políticas. Um jornal como lugar compartilhado, um lugar ao qual eles estão ligados porque ele os conecta aos outros, ao mundo e a seus mundos sociais. E isto, a mídia como bem comum, « no centro da aldeia » (Ringlet, 1980), não é uma ideia nova, mas eu percebo que é uma perspectiva a ser explorada para compreender as mudanças e as continuidades estruturais do jornalismo.
Eu agradeço sua atenção e agradeço aos seis estudantes e diplomados da Faculdade de Co-­
municação da UnB, que foram, também, estudantes da Universidade de Rennes 1, porque foram intercambistas por um ano na IUT de Lannion, eu os agradeço por terem me ajudado a traduzir esta mensagem : Isabela Azevedo, Ana Rita Cunha, Dominique Lima, Rodrigo Magalhães Alves, Li-­
via Mota, e Johanna Nublat.
Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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Conferência de abertura do Colóquio
O criador da assinatura coletiva ou dialogia social
Cremilda Medina
Universidade de São Paulo
Na edição de O Estado de S. Paulo de 14 de abril de 2011, colhem-­se três exemplos de autoria na comunicação social e, em particular, no jornalismo: José Serra, o ex-­governador de São Paulo e FDQGLGDWRjSUHVLGrQFLDGHUURWDGRHPGH¿QHGHPRGRSUHFLVRQXPDHQWUHYLVWDDFRODERUD-­
ção ao jornal iniciada nessa data. No mesmo dia, Demétrio Magnoli, articulista do Estado, analisa vários diagnósticos sobre o assassino-­suicida da tragédia na Escola Tasso da Silveira em Realengo. E uma nota da América Latina dá conta do racismo que se manifesta na internet contra o candida-­
WRjSUHVLGrQFLDGR3HUX2OODQWD+XPDOD2VWUrVFDVRVRIHUHFHPVXEVtGLRVjUHÀH[mRTXHVLWXDQD
contemporaneidade, os descendentes da livre expressão.
“Eu ainda acredito muito no poder da razão, das ideias, do conhecimento, na importância da persuasão. (...) Meus artigos serão engajados: ideias, conhecimento, esforço de persuasão.”José Serra
“De onde saiu este cara?” (Indagação do motorista de ônibus Gérson da Silva, padrinho de uma das vítimas, Laryssa, a respeito do assassino das doze crianças em Realengo.) “(...) A indagação de Gérson da Silva não tem um resposta, mas muitas, que são conjeturas.” Demétrio Magnoli
“Após o primeiro turno das eleições peruanas, racismo -­ um dos maiores tabus do país -­ ganhou espaço na internet. Em redes sociais, como o Facebook e o Twitter, comentários preconceituosos multiplicaram-­se contra o nacionalista Ollanta Humala que enfrenta no segundo turno a deputada Keiko Fujimore, de origem japonesa. Em uma página do Facebook intitulada “Não a Ollanta Humala”, internautas chamam o candidato de “animal” e “analfabeto”. No Twitter, usuários referem-­se pejorativamente à origem do candidato nacionalista. Notícia publicada no caderno Internacional, pág. 23, de O Estado, 14 de abril de 2011.
Não há dúvida de que os dois articulistas representam a herança da opinião de assinatura individualizada nas mídias tradicionais. Representam também a liberdade de expressão vocalizada FRPYLJRUQDVWULEXQDVGDVUHYROXo}HVOLEHUDLVGRVpFXOR;9,,,HDWpKRMHVXMHLWDDFRQÀLWRVQRV(V-­
tados autoritários que se regem pelo direito absoluto da informação. Já na internet, libera-­se, prati-­
camente sem freios (que só persistem em sociedades extremamente controladas), o amplo circuito das vozes cujos juízos de valor não têm limites. Há, no entanto, sutis diferenças no campo simbólico destas opiniões.
José Serra se apresenta como um autor iluminista cujo conhecimento racional, em geral pro-­
veniente do saber acadêmico, deve construir a argumentação. Em sua primeira colaboração ao jor-­
nal paulista descreve os “negócios da China”, aproveitando a visita da presidente Dilma a esse país. Embora a opinião se proponha apartidária e o comentário esteja amparado por fatos político-­eco-­
nômicos, quer demonstrar a tese de um Brasil neoperiférico perante o gigantismo chinês. Na entre-­
YLVWDTXHGiQDPHVPDHGLomRWDPEpPOHPEUDDH[SHULrQFLDGHSURIHVVRUHQHODVHYHUL¿FDDFOiVVLFD
posição de magister dixit, ou seja, aquele que racionalmente persuade os alunos na transmissão de conhecimentos adquiridos. Sem dúvida, uma autoria que divulga a ciência sobre os fatos contem-­
porâneos.
Demétrio Magnoli assume um estilo diferente ao percorrer alguns diagnósticos do massacre: YDOHVHGH¿QDLURQLDDRFLWDUSROtWLFRVTXHLQVWUXPHQWDOL]DPDVLWXDomRDRVDERUGRVLQWHUHVVHVLGH-­
ológicos;; traz à discussão pública a voz especializada de psiquiatras e outros analistas da Academia;; FROKHFRPHQWiULRVGRVHQVRFRPXPHGDVDXWRULGDGHVGDMXVWLoD1HVVDUHGHGHVLJQL¿FDGRVVREUH
Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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um presente doloroso, não omite o choro e comoção coletiva. (Vale lembrar, de passagem, a brilhan-­
te manchete -­ 'R]HPRUWRVHPLOK}HVGHIHULGRV do jornal Diário de Pernambuco, a 8 de abril de 2011.) No conjunto de opiniões orquestradas por Magnoli, porém, a voz do articulista não está oculta numa pseudo objetividade descritiva. Ao contrário, ela emerge tanto na competência da arti-­
culação de sentidos, quanto no próprio diagnóstico que não se entrega à monocausalidade. Prefere procurar, em meio às causalidades múltiplas, ambiguidades e contradições. Há um constante viés interrogativo que tempera a persuasão ou a adesão a determinada verdade. O autor usa o espaço de opinião para lançar dúvidas. A notícia da internet sobre as eleições no Peru desnuda os descalabros da acessibilidade tec-­
nológica, a ausência de fronteiras da livre expressão no mundo digital. Que fazer com o monstro que habita a individualidade nas psicopatias ou nas sociopatias? Uma pergunta que perturba a euforia dos tribunos da comunicação e a platitude dos neopatas da tecnologia. As sociedades contemporâ-­
QHDVHXIyULFDVFRPRGHVHQYROYLPHQWRGD(UD'LJLWDOHGDOLYUHH[SUHVVmRSHUPDQHFHPGH¿FLWiULDV
no que tange o Direito Social à Informação, cujo eixo de legitimidade é a mediação autoral respon-­
sável em que se inscreve o jornalista.
É justamente essa autoria que passo a defender. Não mais a assinatura individual, mas o mediador-­autor que se reporta aos acontecimentos do presente. Na internet, em que se exacerba a livre-­expressão dos indivíduos, estaria superada a assinatura coletiva da reportagem? O mundo das redes telemáticas substitui pelo personalismo a cultura da comunicação anônima, universo simbóli-­
co inspirador para o garimpo do repórter? Os vasos comunicantes se auto-­regulam, prescindem de FRPXQLFDGRUHV"'LVSHQVDVHRDXWRUTXHUHFXSHUDRVVHQWLGRVGR5HDOFRPFDSDFLGDGHVHVSHFt¿FDV
-­ éticas, técnicas, estéticas -­ ou, em resumo, a linguagem dialógica?
(Neste momento, não me eximo de confessar minha adesão: há cinco décadas, optei por ser repórter, embora a formação acadêmica e o contexto de época me empurrassem para o articulismo, a resenha e a crítica literária ou, quem sabe, o editorialismo. Resisti, graças a misteriosas motiva-­
ções e permaneci convicta no lócus da reportagem. Mesmo em funções diretivas em várias etapas SUR¿VVLRQDLVVHPSUHIXJLGDEXURFUDFLDGRSRGHUGDFODXVWURIRELDGRDPELHQWHGHHGLomRSDUDPH
R[LJHQDUQRWUkQVLWRVRFLDOGDUXDeQDWXUDOSRLVTXHDtWHQKDDQFRUDGRWDQWRDUHÀH[mRTXDQWRD
prática da comunicação social. E ainda bem que posso citar 50 coletâneas que organizei e 14 livros de minha autoria -­ todos atestam o título desta intervenção.)
Feito o intervalo intimista, retome-­se a força da autoria na mediação coletiva. Se ela se tor-­
na explícita na opinião assinada no campo das idéias, da persuasão, das interrogações conceituais nas mídias tradicionais ou dos juízos de valor dos internautas, quero sublinhar a partir de agora a marca de criação do jornalista -­ diga-­se, repórter -­ no processo de interação social. Nos estudos dos jovens pesquisadores da escrita digitalKiXPFRQWLQJHQWHVLJQL¿FDWLYRTXHUHFXSHUDDFHQWUDOLGDGH
do mediador-­autor que, não importa os suportes tecnológicos da comunicação, cria condições para RGLiORJRGRVGLIHUHQWHVFROKHQGRHDUWLFXODQGRVLJQL¿FDGRVFRPSRUWDPHQWRVYLV}HVGHPXQGR
Diria, como educadora, que não é diverso o que acontece na relação professor-­aluno, presencial ou à distância: o signo da relação só acontece se o mestre se desfaz do signo da divulgação.
$tpTXHUHVLGHRGHVD¿R)iFLOVHSURQXQFLDUcomunicador social ou educador. A prática, no entanto, se realiza no modo dogmatizado de GLVWULEXLULQIRUPDo}HVRSLQL}HVVLJQL¿FDGRVXQLODWH-­
raisSDUDDVPDVVDVRXSDUDRVDOXQRV1RFDVRHVSHFt¿FRGRMRUQDOLVPRVHMDRLQGLYtGXRHPSUHJDGR
na empresa de comunicação, na instituição pública, nos grupos sociais organizados ou não organi-­
zados, ou na autonomia on-­line, quase sempre vence a inércia do vetor EU para o Outro objeto. Se formos à semântica de comunicação, substituímos a mecânica da difusão pela dinâmica dialógica, em que emerge um complexo EU-­TU, para lembrar Martin Buber. Então, a produção simbólica se confronta com obstáculos que exigem laboratórios epistemológicos e de visão de mundo não dese-­
nhados nos tradicionais aprendizados técnicos.
Por isso se impõe a pergunta: o autor de assinatura coletiva nasce feito? Pode ele se formar no espontaneismo da vivência? Especialistas de áreas como, por exemplo, medicina, química, física, matemática, sociologia, história ou antropologia podem ser recrutados para a reportagem? Quanto DHVWHVSUR¿VVLRQDLVSUHVXPHVHTXHDEDQGRQHPDYR]FDQWDQWHGHVXDVHVSHFLDOLGDGHVHVHLQLFLHP
ao longo caminho da aprendizagem no Diálogo Social. Quanto aos autodidatas, a questão de fun-­
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do é a difícil ruptura entre a monologia reducionista e a complexidade multilógica. O reducionismo mobiliza as explicações epidérmicas do acontecer humano;; a sutileza da mente complexa cria estra-­
tégias da possível compreensão dos fatos sociais. Tanto o autodidatismo como as técnicas daí origi-­
QiULDVH[SUHVVDPRWRPDUURJDQWHGDVH[SOLFDo}HVGH¿QLWLYDVHPRQRFDXVDLVHQTXDQWRDKXPLOGDGH
compreensiva de um repórter procura articular as contraditórias verdades do mundo à volta.
O comportamento egocêntrico, inerente ao indivíduo isolado do convívio ou até mesmo do que circula em sociedade, fechado em perguntas e respostas prontas, ergue naturalmente muros que impedem a dialogia. Daí a necessária experiência de sensibilização perante o coletivo. Ainda não in-­
YHQWDUDPRXWUDIRUPDPDLVH¿FLHQWHHGHPRFUiWLFDGRTXHDHVFRODUL]DomR$HVFRODGRWDOHQWRLQ-­
dividual não oferece a oportunidade de conscientizar a experiência social. Na universidade, em seu SOHQRVHQWLGRKiQRDUDWpIRUDGDVDODGHDXODXPFRQYLWHDUHGX]LUDKLSHUWUR¿DGRYLUWXRVLVPR
individual para se disponibilizar à escuta dos outros. O laboratório de ensino-­aprendizagem con-­
templa assim a abertura ao diálogo.
0DV Ki RXWUR ÀDQFR TXH WHP VLGR SUHFLRVR QR SURMHWR GH UHVVHQVLELOL]DomR &RVWXPR FRJ-­
nominá-­lo de Gesto da Arte. Tanto na graduação disciplinar -­ formação de jornalistas -­ quanto na pós-­graduação inter e transdisciplinar, o laboratório de imersão na arte dá à linguagem dialógica uma motivação complementar ao trânsito social da reportagem. Os artistas nascem e se inserem permanentemente em um povo, a marca identitária é intransferível. Daí que o aprendiz da dialogia, ao mergulhar na cultura, por meio do contato com a oratura, e na arte, por meio da literatura (lato senso), descobre o encantamento do coletivo. Resulta então uma narrativa autoral, inspirada no fér-­
til cruzamento Povo e Personagem (título da tese de livre-­docência que defendi em 1989). 1RYDPHQWHFKDPRRFDVRFRQFUHWRSDUDH[HPSOL¿FDUDVpULH6mR3DXORGH3HU¿O, realizada na USP, bem como em outros espaços sociais (Brasília, Salvador e Mococa, cidade do interior de São Paulo) reúne, pela reportagem de 29 edições, aproximadamente 600 autores. Qualquer um desses media-­
dores-­autores que esteja espalhado pelo mundo -­ em Barcelona, no interior do Pará, em Manaus, HP6mR3DXORRXQR5LRGH-DQHLURJXDUGDQDYLGDSUR¿VVLRQDOMiPDGXUDXPYtQFXORGHUHSyUWHU
esteja ele trabalhando como autônomo ou em empresas de comunicação tradicionais. Ao encontrar um desses jornalistas que conheci na primeira juventude, percebo o brilho de autor numa assinatu-­
ra coletiva. Uma parte deles volta à universidade para, na pós-­graduação, retomarem o laboratório HSLVWHPROyJLFRHUHFRQVWLWXtUHPYLV}HVGHPXQGRTXHVHGHVJDVWDPQDVURWLQDVSUR¿VVLRQDLV
A permeabilidade ao outro enquanto projeto de vida implica, pois, na desconstrução dos pré-­
FRQFHLWRVGRVGRJPDVHGRVSDUDGLJPDVHVWUDWL¿FDGRV7RGRRVDQWRGLDVHHVEDUUDFRPDPHQWH
reducionista que, à partida, pré-­pauta o mundo. Difícil achar a mente complexa que viaja no pro-­
cesso de construção de pauta, por meio de uma interação criativa na experiência social. A curiosi-­
dade, então, descarta as certezas apriorísticas, as travas ideológicas e aciona a busca de múltiplas IRUoDVGHVLJQL¿FDomRGRVIDWRVP~OWLSORVPRGRVGHVHUP~OWLSODVDEVWUDo}HVQRPXQGRGDVLGpLDV
Em laboratórios epistemológicos se trabalha com a racionalidade esquemática que a vulgata positi-­
YLVWDGHL[RXQDVWpFQLFDVSUR¿VVLRQDLV3RURXWURODGRDDWUR¿DGRVFLQFRVHQWLGRVUHIRUoDDLQpUFLD
FHUHEUDO1DLQWHUHWUDQVGLVFLSOLQDULGDGHGHVHPLQiULRVHHQVDLRVGHUHÀH[mRRSURMHWRGHSHVTXLVD
Saber Plural e a Crise de Paradigmas põe em relevo as neurociências. Estas, por sua vez, nos ad-­
YHUWHPSDUDRULVFRGDLQWHOLJrQFLDQDWXUDOVHDWUR¿DUGLDQWHGDFRPSOH[DDFHOHUDomRGDLQWHOLJrQFLD
DUWL¿FLDO
É a mente consciente, sensibilizada pelos cinco sentidos, que nos faz abertos ao mundo e sua circunstância. Por isso, na reportagem enquanto diálogo social, a observação vai à frente da técnica de entrevista. Se esta já mereceu revisões críticas no jornalismo, pouco se presta atenção no aparato sensível em que se dá o contato com o outro e o mundo. Na captação plena, os sentidos se mobili-­
]DPSDUDHQYLDULQIRUPDo}HVSUHFLRVDVjOLQJXDJHPGLDOyJLFD'DH[SHULrQFLDFRPSUR¿VVLRQDLVGD
comunicação e da experiência de formação universitária de jornalistas, diria, de acordo com o psica-­
nalista colombiano Luis Carlos Restrepo que a observação do repórter entregue ao destino autodi-­
data padece de analfabetismo afetivo. Quando circulamos socialmente tendemos a olhar o que nos interessa e ouvir o queremos;; não exercemos o faro, nem o paladar, muito menos o toque sensível;; disso resulta não uma observação rica e sutil, mas um enquadramento da realidade sem a dinâmica das imagens mentais in-­formadas pelos cinco sentidos. Restrepo alerta para a cultura reducionis-­
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ta que se divorcia dos afetos. O neurocientista português António Damásio descreve, na anatomia cerebral, como estar afeto a, o sentimento complexo do mundo, se funda nos sentidos e chega ao cérebro do sapiens na trama neural que se completa na decisão consciente. O que o neurocientis-­
WDEUDVLOHLUR+HQULTXH'HO1HURGH¿QHQRsítio da mente como o agir responsável, ético, resulta do pleno casamento entre o sentir e o pensar. E para permanecermos nas neurociências, vale lembrar também Gill Taylor, a cientista que curou o próprio cérebro. Se testemunho parte da ausência de movimentos e do sofrimento do derrame para mostrar a misteriosa anatomia da viagem do silêncio, da paralisia, ao retorno à vida social.
Entre as várias e preciosas prescrições que Gill Taylor faz a médicos e paramédicos, seleciono apenas uma, a 14ª de quarenta: “Apresente-­se ao mundo sinestesicamente. Deixe-­me sentir tudo. (Sou uma criança novamente.)” A experiência do repórter passa por aí: estar afeto ao parceiro de História, aproximar-­se dele e de seu contexto coletivo com os sentidos-­radares capazes de motivar a interação humana no convívio dos diferentes, criar uma paisagem original de trabalho que passa pelos códigos não-­verbais e pelo silêncio e chega ao diálogo possível da verbalização. O processo al-­
cança um nível simbólico muito mais abrangente do que uma simples entrevista pré-­pautada. Não há termos de comparação.
A noção de interação social criadora vem da pedagogia dos afetos, no encontro entre edu-­
cador-­educando. Verdadeiramente uma epifania que pode ou não ocorrer na escola. Mas ao nos deslocarmos para a tecitura das narrativas da contemporaneidade, a autoria de assinatura coletiva GHVTXDOL¿FD RV DSULRULVPRV LQGLYLGXDOLVWDV SDUD VH HQWUHJDU DR SURFHVVR GH DXWRULD SDUWLOKDGD RX
FRQÀLWLYDGRVHQFRQWURVRXHVWUDQKDPHQWRVVRFLDLVRUDDOHDWyULRVRUDSDXWDGRVQDLQIRUPDomRGH
atualidade. Em qualquer circunstância, a observação-­experiência (com ressonâncias na observa-­
ção participante da antropologia) envolve as falas da entrevista de virtualidades criadoras que estão à margem na técnica Pergunta-­Resposta (P-­R) tradicional. Ainda que se recorra exclusivamente a conceitos, números, declarações políticas ou juízos de valores em porta-­vozes de poderes constituí-­
dos, um mediador-­autor não se satisfaz com as respostas fechadas a suas perguntas também fecha-­
GDV$HQFHQDomRGDHQWUHYLVWDHVWiFRQVDJUDGDHMiVHVDEHHVWiDQXQFLDGDDPRUWHGDÀXrQFLDGD
HVSRQWDQHLGDGHGRPHUJXOKRGRLPDJLQiULRRXGRDÀRUDPHQWRGRQmRFRQVFLHQWH1DHQFHQDomR
apressada da entrevista desaparece a cena viva motivadora da troca criativa dos sentidos humanos. ,QWHUDomRVRFLDOFULDGRUDLUURPSHQRHQFRQWURGHVHQFRQWURSURFHVVRHFRQÀLWRHPTXHWRGRVSUR-­
tagonistas da linguagem dialógica se transformam. Assim o signo da educação acontece;; assim o sig-­
no da comunicação pode acontecer. Não se esqueça que ainda há dois momentos culminantes: a narrativa de autor e a circulari-­
dade complexa emissor-­meio/mensagem-­recepção. Recepção, ó céus, é cheia de mistérios. Por mais que se tente sistematizar os estudos da ação receptiva, sempre surgem surpresas com o leitor que se encontra aleatoriamente no caminho e lhe diga, na multidão, leio seus textos. Só transitando no mundo, na persona de repórter sensível ao inusitado, é possível viver tal experiência, que culmina em um forte abraço presencial. Haveria aqui oportunidade para relatar achamentos surpreenden-­
tes de recepção que remetem mais para a arte da viagem do que para os conceitos de recepção. Me sinto alimentada pela experiência do repórter que, em sociedade, abraça a emissão e a recepção no esforço dialógico.
1HVVHHVIRUoRGHREVHUYDomRGHFRQWDWRVHQVtYHOHGHFRGL¿FDomRGRVIDODUHVGHVWDFDVHWDPEpPD
importância da estética da narrativa, perceptível na arte, na literatura em particular, e que se trans-­
põe para a autoria das narrativas da contemporaneidade. Outro capítulo para laboratórios, para aprendizado contínuo e, ao mesmo tempo, intrinsecamente ligado à dinâmica da reportagem. Ou seja, não há narrativa da contemporaneidade sem reportagem, nem reportagem sem narrativa.
É claro que quando o articulista provém da literatura, a estética se traduz numa narrativa sedutora, HPTXHRVIDWRVKXPDQRVYrPHPSULPHLURSODQRHFRQFHLWRVDUJXPHQWDomRHMXt]RVGHYDORU¿FDP
nas entrelinhas. O assassinato das crianças em Realengo deu margem para uma tipologia autoral inesgotável, do editorial aos artigos, comentários e crônicas de ocasião. Mas raros os textos que se valem da ação ou narram os movimentos da cena trágica como o do poeta Ferreira Gullar na Folha de S. Paulo de 17 de abril de 2011 (Ilustrada, E8). O casamento, porém, da arte com o jornalismo dá à reportagem as virtualidades poéticas, quebrando os paradigmas da palavra opaca, burocrática que Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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adota as fórmulas e não se permite as formas autorais. Rodapé ou sumário da estilística de autor
Embora não possa desenvolver neste texto a proposta da estilística de autor, objeto de outros HVWXGRVELEOLRJUi¿FRVGHOHLWXUDVFXOWXUDLVHGHH[SHULPHQWRVODERUDWRULDLVQDGLVFLSOLQDDFDGrPL-­
ca Narrativas da contemporaneidade, faz-­se necessária a articulação dos apontamentos anteriores TXDQWRjYLVmRGHPXQGRQRo}HVHSLVWHPROyJLFDVGLDORJLDDRFDSWDUVLJQL¿FDGRVFRPSRUWDPHQWRV
GLDJQyVWLFRVSURJQyVWLFRVGRSURWDJRQLVPRVRFLDOHRDWRFXOPLQDQWHGDFRGL¿FDomRHPXPDQDUUD-­
tiva. Uma das diferenças estilísticas da reportagem em relação à assinatura do artigo, comentário, editorial ou pitacos da livre expressão nas infovias se traduz no texto polifônico e polissêmico. Há uma competência técnica (racionalidade complexa), uma sensibilidade ética (cumplicidade afetiva) e originalidade estética (marca de autor) ao orquestrar múltiplas e dissonantes vozes, bem como ao editar a SOXUDOLGDGHFRQÀLWLYDGHVLJQL¿FDGRV-iHVFUHYLVREUHDSHUVRQDOLGDGHGRMRUQDOLVWDFRPR
leitor cultural dos acontecimentos contemporâneos. O exercício dessa virtualidade faz dele um pro-­
dutor de sentidos, um agente da produção simbólica de seu tempo.
Assim, ao se deslocar do EU autoral para a alteridade captada no contexto coletivo do pre-­
sente, a narrativa da reportagem se defronta com múltiplas vozes, múltiplos comportamentos, múl-­
WLSORVHVHPSUHFRQWUDGLWyULRVVLJQL¿FDGRV1HVVHFDRVDSDUHQWHPHQWHLQGHFLIUiYHODHVWLOtVWLFDGR
criador da assinatura coletiva se perde e se acha na inquietude sem as âncoras engessadas nas fór-­
mulas da gramática do jornalismo. Ou melhor, a estética inovadora ensaia uma narrativa, ato cria-­
dor de autoria ou prazer estético de escrever um cosmos. Aí se funda sua assinatura, cuja batuta rege, tal qual o maestro, a sinfonia social e o imaginário coletivo. As forças simbólicas que aí se cru-­
zam diferem das ideologias reducionistas, das certezas e dogmas estabelecidos ou dos juízos de valor à queima roupa.
O signo da relação,tema de pesquisa recorrente, se alimenta, acima de tudo, na dinâmica processu-­
al de três forças simbólicas, reinterpretação que desenvolvi há décadas inspirada na teoria do belga Jean Lohisse. A polissemia se faz presente, em primeiro lugar, nos sentidos do poder (qualquer for-­
ma de poder) e se pretendem determinantes – ou a imposição dos lidertipos;; mas travam uma luta nem sempre vitoriosa nos embates das culturas -­ a dinâmica dos osmotipos;; e quer se queira ou não no âmbito da consciência, o processo simbólico é pressionado pelos valores universais do humano ser – a subjetividade dos arquétipos$VSUiWLFDVSUR¿VVLRQDLVSULRUL]DPRVOLGHUWLSRVQmRDWHQWDP
para a osmose cultural e, muitas vezes, sem pauta explícita, se deixam tomar pela arquitipia huma-­
na, porque esta atravessa o coração como, por exemplo, o assassinato de crianças ou o ato patológico de jogar um recém-­nascido no lixo.
O laboratório da narrativa se reencanta nessas descobertas e gradualmente o pulso autoral se motiva no mergulho do complexo coletivo para daí extrair uma assinatura polifônica e polissê-­
mica. A arte de tecer o presente se constrói sob a regência da autoria, uma textura compósita de va-­
ORUHVXQLYHUVDLVWURFDVFXOWXUDLVHGHVFRQ¿DQoDSHUDQWHRVVLJQL¿FDGRVKLHUDUTXLFDPHQWHLPSRVWRV
SHODVIRQWHVR¿FLDLV$YHUVmRWpFQLFDGHRXYLUum favor e outro contra é uma caricatura que exige desmascaramento. O mundo não é nem dicotômico nem monológico. Mire-­se, outra vez, o gesto da arte. Nessa experiência, encontra-­se a sutileza que sacode reducionismos e revela ambiguidades do humano. Basta fruir (não analisar) o protagonismo das personagens literárias, a trama incerta e não VDELGDGHXPURPDQFHRXGHXPSRHPDRXDIXQGDUQRVXEWH[WRGHXPDREUDFLQHPDWRJUi¿FDRXVH
embalar no imprevisível da música;; ou se emocionar no teatro;; ou deslizar nas metáforas das artes plásticas.
Cúmplice no gesto da arte, o leitor cultural, o jornalista, se torna afeto ao povo que o circun-­
da, à cena dramática do cotidiano (como já escrevi, forma-­se uma aliança entre povo e personagem). 2YLJRUGDQDUUDWLYD¿FFLRQDOSRGHSHUIHLWDPHQWHPLJUDUSDUDDVQDUUDWLYDVGDFRQWHPSRUDQHLGDGH
As fronteiras estilísticas se borram, apenas subsiste, no jornalismo, a concretude do acontecimento do presente e do protagonista social, com identidade registrada, diante da trama atemporal da lite-­
ratura e de suas personagens compósitas, como diria Marguerite Yourcenar ao apresentar o impe-­
rador romano em seu romance Memórias de Adriano. Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. 14
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O jornalismo de autor, ou melhor, a reportagem da cena social, do real simbolicamente pre-­
VHQWL¿FDGRH[LJHYLUWXRVLVPRVHPHOKDQWHDRGDDUWH9DOHDSHQDUHJLVWUDUXPDUiSLGDVLQRSVHGH
algumas das habilidades a serem cultivadas no laboratório das narrativas da contemporaneidade. A começar, a concepção de narrador que, diferentemente do autor, não está no domínio da realidade (pessoa concreta) e sim, constitui uma instância literária. Na estilística contemporânea, cuja matriz teórica provém da narratologia, este já é um fato consumado. Autor, personalidade real;; narrador, criação literária de quem conta uma história, apresenta uma situação, fala pela voz dos protagonis-­
tas da cena. Tem sido muito rica, nos laboratórios de narrativas da contemporaneidade, a experi-­
mentação de múltiplos narradores. Tal descentralização do Autor não corresponde a ênfases forma-­
listas, mas responde ao esforço democrático de sair do EU para se fundir no TU e nele apreender a sua fala, seu gesto, sua maneira de ser. A terceira pessoa da prática jornalística tradicional não é então uma camisa de força, mesmo porque constitui a ilusão do relato imparcial e objetivo. Já o narrador mutante encontra sintonias, LGHQWL¿FDo}HVTXHWUDGX]HPDVYR]HVTXHFRPS}HPDVVLQDWXUDFROHWLYD(QmRPHYHQKDPTXHD
cartilha, os manuais, as gramáticas não permitem essa atitude estilística. Em dez anos no jornal O Estado de S. PauloGHDRVSUR¿VVLRQDLVHHXQXPDHGLWRULDTXHOLGHUHLH[SHULPHQWD-­
mos múltiplos narradores e nunca houve qualquer cerceamento por parte de chefes conservadores que exigissem a terceira pessoa “objetiva” do jornalismo.) O narrador mutante, que assume várias pessoas verbais, não exclusivamente a impessoalidade da terceira, leva o autor à pesquisa das falas YLYDVXPXQLYHUVRGHHQFDQWDPHQWRTXHRVHVFULWRUHVGH¿FomRGHVIUXWDPQDR¿FLQDOLWHUiULD6HR
jornalista é de fato um leitor cultural da contemporaneidade, como pode prescindir da vivacidade da oratura para se fechar em códigos assépticos e estandartizados?
O retorno da leitura dos primeiros exemplares da série 6mR3DXORGH3HU¿O nas escolas públi-­
cas de segundo grau da capital trouxe ao projeto de pesquisa, Diálogo Social, subsídios preciosos. &RQVWDWDVHQDVREVHUYDo}HVGRVOHLWRUHVTXHRSULQFLSDOÀDQFRGDQDUUDWLYDpD cena viva, ou seja, D HVWLOtVWLFD GH UHHQFHQDU VLPEROLFDPHQWH QD UHSRUWDJHP RV PRYLPHQWRV GD DomR FROHWLYD $¿QDO
como dizem os norte-­americanos, a reportagem se traduz numa story. Mais um ponto de contato com a narrativa artística da literatura, do cinema, do teatro -­ contar uma estória humana, meio ca-­
PLQKRDQGDGRSDUDVHFRPXQLFDU$VHVWiWLFDVGHVFULo}HVSRYRDGDVSRUQ~PHURVJUi¿FRVFRQFHL-­
tos abstratos não seduzem o leitor. Este se amarra na cumplicidade da ação, da aventura humana do real ao imaginário, como diria Mílton Greco.
Está certo, não sejamos radicais. Sinopses informativas são necessárias ao jornalismo como QRVOLYURVGLGiWLFRVRXFLHQWt¿FRVPDVDstory representa o mundo vivo em que as pessoas se movi-­
PHQWDP$¿QDORTXHFDUDFWHUL]DDVDJDKXPDQDGRQDVFLPHQWRjPRUWH"1HVVDYLDJHPDIRUoDGD
palavra poética se impõe perante a palavra conceitual. A narrativa dá conta das lutas da vida, seja no viés trágico ou no viés cômico, enquanto os relatos áridos do realizou-­se ontem congelam a ação da sobrevivência. (Não é por acaso que tenho intercalado narrativas ou contado histórias no meio de meus três livros mais recentes que discorrem sobre noções epistemológicas.) Reportagens de guerra como as contemporâneas na Líbia só fazem História no Jornalismo se trouxerem a marca narrativa de autor ao criar cenas e protagonistas da ação coletiva. A palavra poética traz à pauta laboratorial uma agenda de pesquisa: para narrar o Outro e sua Circunstância, é preciso passar além da dor, lembrando Pessoa. Neste caso, a metáfora da dor seria o despojamento da segurança oferecida pela gramática da enunciação jornalística. O criador da as-­
sinatura polifônica e polissêmica se lança, sem rede de proteção, à escuta do modo de ser, mo’dizer (título de minha tese de doutorado, em 1986) dos que nos cercam nas suas diferentes identidades culturais. Não há como se despir de dogmatismos e criar literariamente narradores descentraliza-­
dos, se não se pesquisam falares, comportamentos, visões de mundo, imaginários que em muito ul-­
trapassam a impessoalidade declaratória da fonte de informação tradicional. Esta, quase sempre HQXQFLDGDSRUIRQWHGHLQIRUPDomRR¿FLDOFRPRDWHVWDPLQ~PHUDVSHVTXLVDV
A insistência se faz necessária: vamos à literatura e aí encontramos a assinatura cultural ex-­
plícita na poética da linguagem. Como pasteurizar o modo de dizer, que expressa o modo de ser, das FXOWXUDV"2VDUWLVWDVEUDVLOHLURVSRUH[HPSORD¿UPDUDPDRORQJRGRVVpFXORVDEHOH]DLQFRQIXQ-­
dível da linguagem literária, inspirada na oratura do povo e transcriada na própria sintaxe, na se-­
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mântica, nas ousadias morfológicas. (Observação à margem: eles não cometem o equívoco de alte-­
UDUDUHSUHVHQWDomRJUi¿FDGRVIRQHPDVSRLVTXDOTXHUPXGDQoDRUWRJUi¿FDVHGHFLGHHPFRQVHQVRV
históricos.) No jornalismo, sempre que se encontra um texto, não importa o código predominante, iluminado pelo modo de ser e, portanto, modo de dizer brasileiro, guarda-­se na memória das peças de autoria. Em qualquer mídia -­ impressa, eletrônica ou on line – o criador dessa assinatura deixa o terreno do labor fugaz para irradiar a aura da estrela candente.
Tais virtudes, acrescidas do rigor nas sinopses informativas e dos diagnósticos e prognósticos dos especialistas formam um mural do presente que dá à reportagem o estatuto de coluna vertebral da narrativa polifônica e polissêmica. Sem menosprezar o quadro conceitual de fundo de artigos, comentários, críticas, resenhas ou editoriais, é no ato de reportar que se percebe a circunstância presente, passível de tratamentos analíticos. Nunca esqueço de citar o ineditismo da atitude do so-­
ciólogo Lúcio Kowarick (USP), quando convidado a escrever um artigo sobre a periferia paulistana para compor livro À margem do Ipiranga (nº8 da série 6mR3DXORGH3HU¿O), pediu para ler antes as reportagens já realizadas. Com isso, ele alegou se impregnar do protagonismo e do contexto dos pontos extremos da cidade, para então propor sua análise, intitulada “Periferias e subcidadanias”. E mais: no corpo conceitual da análise, o cientista social inseriu falas vivas retiradas das reportagens. Cabe também ao repórter cultivar a abrangência da vivência que capta na reportagem, reen-­
cenada na narrativa, e da conceituação dos analistas. Se possível a interpretação jornalística une a simbolização da ação social e um mundo das idéias ou das mensurações estatísticas. A poética da interpretação se enriquece, ao compará-­la com a opinião individualizada. O protagonismo humano e histórias de vida, contexto coletivo, raízes histórico-­culturais e diagnósticos/prognósticos dos es-­
pecialistas comparecem à arte de tecer o presente ou a reportagem assinada por um vocalizador-­ar-­
ticulador da voz coletiva. A narrativa da contemporaneidade se mostra então fértil na racionalidade complexa, irrigada pela sensibilidade ética e a inovação estética. Há espaço na montagem simbólica, cuja luz central se irradia das histórias humanas, com ênfase nos anônimos e no cotidiano, para o contexto regido por forças de poder econômico, político, cultural e analisado pelos especialistas. No painel da assinatura coletiva, o autor da reportagem polifônica e polissêmica traz à tecitura de seu QDUUDUDSHVTXLVDVLVWHPDWL]DGDGHLQIRUPDo}HVSDUDDOLPHQWDUDFRVWXUDGHQH[RVHQ¿PDinter-­
pretação ensaiada no esforço de compreensão do acontecimento do presente. Tem sido fundamental neste laboratório o convívio interdisciplinar da pesquisa Saber Plural e a Crise de Paradigmas, a partir de 1990. Constata-­se, nos seminários, que os dilemas de paradig-­
PDVHYLVmRGHPXQGRGRVFRPXQLFDGRUHVQDGDWrPGHGLIHUHQWHVGRVGHVD¿RVGRVPpGLFRVGRVTXt-­
micos ou dos educadores, só para citar alguns exemplos. Daí ser oportuno que os estudiosos da co-­
municação coordenemDUHÀH[mRLQWHUGLVFLSOLQDUHUHWRUQHPjVXDGLVFLSOLQDDlinguagem dialógi-­
ca, com munição reforçada. Das grandes questões debatidas com os pares do Saber Plural, extrai-­se um aprendizado maiúsculo: a emergência da relação sujeito-­sujeito, no lugar da autoritária relação sujeito-­objeto. Haverá laboratório epistemológico mais contundente para atuar na dialogia social?
1RIXQGRSRUpPQmRKiJDUDQWLDGH¿QLWLYDQRVVDEHUHVFLHQWt¿FRV2VItVLFRVRXRVQHXUR-­
cientistas trazem à mesa de negociações simbólicas, encenadas nesses seminários, a epifania do mistério e da incerteza. Ou
Como resumir racionalmente o grande e movediço terreno do mistério e da incerteza no imaginário coletivo e sua representação na estilística do Autor? Nenhuma segurança técnica, nenhuma tecnologia avançada, nenhuma intenção política resguarda a busca eticamente solidária da DVVLQDWXUDFROHWLYD0DVHVWXGDUFRPHQJHQKRHDUWHHVVHSURFHVVRQDR¿FLQDSHGDJyJLFDGHFLQFR
décadas tem sido altamente compensador.
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$FDVDLPDJLQiULD3DXOLFpLD3URPHWLGD¬PDUJHPGR,SLUDQJD(VFRODQRRXWRQR2
SULPHLURKDELWDQWH)DUUDDOIRUULD7FKDX,WiOLDFLDR%UDVLO*XLDGDVDOPDV1DXGRV
GHVHMRV9DPRVDRFHQWUR$[p7LHWrPmHGDViJXDV9LDJHPDRVROSRHQWH%HP
YLYHUPDOYLYHU0XQGmRYpLRVHPSRUWHLUD&KiGHEDPEX&RWLGLDQRVGRPHWU{Ï
)UHJXHVLDTXDQWDVKLVWyULDV6DJDVGR(VSLJmRDQRVGHPHGLFLQDHYLGD&DPLQKRGRFDIp3DUD-­
QDSLDFDEDPXVHXHVTXHFLGR863/HVWHHVHXVYL]LQKRV
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GT1 - Sociologia do jornalismo
Apprentissage et marché du travail.
Les premières expériences journalistiques comme indicateurs de mutations
Pierre Leroux
CRAPE IEP de Rennes / UCO Angers
Marie-Christine Lipani Vaissade
MICA- Bordeaux III
Institut de Journalisme Bordeaux Aquitaine
Resumo
1D)UDQoDRHVWiJLRGHVHPSHQKDXPSDSHOLPSRUWDQWHGHQWURGRSURFHVVRFRPSOH[RGHSUR¿VVLR-­
nalização no percurso de formação em jornalismo. O grau de investimento dos estagiários no jorna-­
lismo impresso é paradoxal: aqueles que teriam menos a aprender – os melhores formados – inte-­
JUDULDPPDLVIDFLOPHQWHDSUR¿VVmRID]HQGRHVWiJLRVHTXLYDOHQWHVDH[SHULrQFLDVGH³TXDVHWLWXOD-­
res”, enquanto que os que não estão tão bem (ou pouco) formados – que necessitam de mais experi-­
ência e acompanhamento – são confrontados ao risco de marginalização em uma experiência pouco formadora de “observação não-­participante”. A pesquisa apresentada aqui é fundamentada sobre o SULQFtSLRGHTXHDDQiOLVHGDVH[SHULrQFLDVGHHVWiJLRGHMRYHQVFDQGLGDWRVjSUR¿VVmRFRQVWLWXLXP
TXDGURSHUWLQHQWHSDUDXPDDQiOLVHTXDOLWDWLYDGHHYHQWXDLV³PXGDQoDV´GDSUR¿VVmR
Introdução
Les stages ont acquis en France de façon générale une place de plus en plus grande dans les formations quelles que soient par ailleurs leur nature. Leur nombre a presque doublé en moins de cinq ans, passant de 800 000 à 1,5 millions et concerne un étudiant sur deux dans les cursus de Master de Lettres, Sciences Humaines et Sociales1. Dans les cursus universitaires classiques et spé-­
cialisés, dans les formations secondaires, comme aux différentes étapes des études supérieures et professionnelles (écoles spécialisées et Masters), les temps aménagés pour les stages ont pour fonc-­
WLRQRI¿FLHOOHG¶DLGHUOHVpWXGLDQWVjDI¿QHUOHXUSURMHWSURIHVVLRQQHOHWVRQWVHQVpVOHXUDSSRUWHUOH
supplément de « professionnalisation » qui manquerait aux formations. En nous intéressant dans ce travail au stage comme possible indicateur des mutations du métier journalistique, nous avons exploré deux dimensions et trois axes. Les deux dimensions sont relatives à la relation qui s’établit pour un stage entre, d’une part, une structure accueillante et le stagiaire d’autre part. Procédant par entretien, nous avons rencontré des représentants de ces deux pôles : des stagiaires et des journalistes en poste amenés à jouer un rôle dans l’encadrement des stagiaires.2 Trois axes ont par ailleurs été explorés pour l’ensemble des entretiens. Le premier est temporel : quelle est l’évolution des mises en situation professionnelle des stagiaires ? Quelles sont-­
elles actuellement et comment les professionnels en poste analysent les causes d’éventuelles trans-­
formations en référence à leur propre apprentissage du métier à des époques plus ou moins loin-­
taines, comme à leur expérience personnelle d’encadrement de stagiaires ? Le deuxième concerne les possibles incidences des transformations de l’organisation du travail (gestion du temps), de la PRGL¿FDWLRQPRUSKRORJLTXHGHVVXSSRUWVVXUO¶HQFDGUHPHQWGHVVWDJLDLUHVHWOHVSRVVLELOLWpVSUDWL-­
ques d’apprentissage offertes à des jeunes peu expérimentés. Le troisième concerne les modalités d’apprentissage : quelles sont-­elles et à quelles formes de « savoirs » et de « savoirs faire » condui-­
sent-­elles ? Nous questionnons ici plus particulièrement le degré d’investissement des stagiaires (en le mettant en relation avec les « exigences » de formation attendues des stagiaires), ainsi que la pla-­
ce du « compagnonnage » dans l’expérience de formation des stagiaires. Nous n’avons pas exploré dans notre travail le troisième « pôle » de la contractualisation : l’organisme formateur dont relève 1 Source : Observatoire de la vie étudiante.
2 9RLUO¶HQFDGUpjOD¿QGXWH[WH
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l’étudiant stagiaire. Il semble que, à des degrés variables cependant, les structures de formation (au sens large) laissent une grande liberté aux entreprises accueillant des stagiaires pour traiter le vo-­
let « formation », se contentant principalement d’un contrôle administratif de routine de la légalité (temps de travail, durée du stage…) et de l’adéquation entre le stage et la formation, Ces deux condi-­
tions étant au moins dans les conventions toujours remplies, les exigences de l’organisme de forma-­
tion vont rarement au delà et semblent laisser toute latitude à la structure accueillante pour ce qui concerne les modalités concrètes de la formation. Les conventions de stage, signées par l’entreprise d’accueil, l’établissement scolaire, et l’étudiant concerné, précisent, sans trop de détails, le contenu du stage. Malgré tout, une grande partie des étudiants, surtout ceux qui ne suivaient pas une forma-­
tion spécialisée au moment de leur stage, ne savaient pas trop quelles seraient les missions (éven-­
tuelles) à effectuer.
Le marché des stages : un premier marché du travail
Les parcours3 conduisant en France aux métiers du journalisme sont variés. Profession ou-­
verte en théorie (pas de diplôme exigé), elle est aussi relativement fermée sous d’autres aspects : re-­
crutement social, niveau d’étude.4 Le stage témoigne bien de ce paradoxe. D’une part, les stagiaires EpQp¿FLHQWWRXVLPSOLFLWHPHQWGHVDWRXWVG¶XQHIRUPDWLRQGDQVO¶HQVHLJQHPHQWVXSpULHXUTXLLP-­
plique un niveau général et une maîtrise technique minimale de l’écrit qui apparaît comme un préa-­
lable aux structures accueillantes. Et, d’autre part, les stagiaires insistent sur le fait que la recherche de stage n’a pas été, dans l’ensemble5, une étape trop ardue. Sous certaines conditions, la profes-­
sion reste donc ouverte. Les professionnels de l’information sont très attachés à cette caractéristi-­
que et, dans les structures d’accueil les journalistes en poste, en référence à leur propre passé soulig-­
nent l’importance de conserver cette ouverture, notamment à travers l’accueil de stagiaires. De fait, l’accès à ce métier passe encore par le terrain, malgré une profusion de formations en journalisme en France6 et les rédactions accueillent des stagiaires venant des horizons les plus divers mais avec un niveau scolaire moyen voire élevé. Sur les douze récits d’expérience entendus, seulement deux étudiants n’étaient pas en relation avec d’autres jeunes collègues pendant leur stage7. Dans la plu-­
part des situations évoquées, les stagiaires étaient entourés au moins d’un autre étudiant, parfois deux, voire davantage (France 3, par exemple, recevait en même temps quatre stagiaires). La ma-­
MRULWpGHFHVDXWUHVVWDJLDLUHVQ¶pWDLHQWSDVLVVXVGHVpFROHVUHFRQQXHV3DUPLOHVSULQFLSDX[SUR¿OV
beaucoup venaient d’un institut d’études politiques, d’écoles de commerce, d’EHESS….
/DUHFKHUFKHGHVWDJHQHVHPEOHSDVWURSDYRLUSRVpGHUpHOOHVGLI¿FXOWpVGDQVODPHVXUHR
il s’agissait, d’une part, d’un stage conventionné entre l’entreprise de presse et l’établissement sco-­
laire, et, d’autre part, parce que les recherches personnelles du candidat étaient le plus souvent appuyées par le personnel enseignant. De nombreux étudiants mettent cependant en avant le poids décisif des relations. Ainsi, en raison même de la composition de la population enquêtée (ayant ob-­
WHQXXQVWDJHHWGLVSRVDQWG¶XQQLYHDXVFRODLUHpOHYpOHVGLI¿FXOWpVSRXUREWHQLUXQVWDJHVRQWVDQV
doute affaiblies. Le point de vue des accueillants apporte cependant des nuances importantes quant à l’ouverture de la profession. C’est d’abord l’importance du nombre des postulants qui est frappan-­
te. Un responsable d’une rédaction départementale d’un quotidien régional fait état d’un nombre important de demandes, évalué en moyenne à vingt par jour. Dès lors les critères de sélec-­
3 Nous entendons ici par « parcours » les voies empruntées par les individus pour les conduire à l’occupation d’un poste de journaliste tel TX¶LOHVWGp¿QLRI¿FLHOOHPHQWRFFXSDWLRQSULQFLSDOHHWjWHPSVFRPSOHWSDVVDQWGXVWDWXWG¶pWXGLDQWjFHOXLGHVDODULp
4 Le pourcentage des individus n’ayant pas le baccalauréat parmi les nouveaux titulaires de la carte ont été divisé par deux, passant de 12 % en 1990 à 5,8 % en 1998. Sur le recrutement social, cf p. 131 et suivantes les tensions entre désir d’ouverture et fermeture à travers des études sélectives (Devenir journaliste, La documentation française, 2001).
5 6HXOVGHX[pWXGLDQWVUHFRQQDLVVHQWDYRLUHXGHVGLI¿FXOWpVjWURXYHUXQVWDJH
6 Près de soixante dix formations publiques et privées recensées.
7 Il s’agit de l’agence de Draguignan et L’Echo du Centre. Pour le premier exemple, cela s’analyse par le fait que les agences locales ont rarement la possibilité d’accueillir plusieurs stagiaires en même temps. Pour L’Echo du Centre, la faible notoriété de ce titre peut expliquer l’absence de stagiaire en grand nombre.
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tion sont mécaniquement de plus en plus élevés, et tendent à valoriser tout ce qui peut de diverses façons s’imposer comme des moyens d’évaluer a priori l’adéquation du stagiaire au poste qu’il pour-­
rait occuper, fermant de fait un peu plus la porte à des postulants sans expérience. Ainsi, nombre GHVWDJLDLUHVVRXOLJQHQWTX¶LOVRQWEpQp¿FLpG¶XQHDLGHVXSSOpPHQWDLUHSDUOHELDLVGH©SLVWRQªRX
de relations que ce soit simplement pour obtenir un stage ou pour que celui-­ci corresponde à leurs critères particuliers de choix. De la même façon, ils considèrent le stage comme un lieu de constitu-­
tion d’un réseau pouvant leur permettre dans le futur d’obtenir le stage qu’ils souhaiteraient, assorti de meilleures conditions globales d’exercice (possibilités de rémunération, pression moindre, tra-­
vail plus intéressant, expérience plus riche). De façon similaire à la hiérarchie ascendante des postes dessinés dans un idéal de carrière, on trouverait chez la plupart des stagiaires une progression du même ordre, aboutissant par exemple, dans le cadre des stages « école » à un remplacement d’été UpPXQpUp&HUWDLQVPpGLDVDSSDUDLVVHQWDLQVLSOXVGLI¿FLOHVjSpQpWUHUVDQVUHODWLRQF¶HVWOHFDVGHV
grands médias du secteur de l’audiovisuel (privés et publics) alors que, à l’inverse les quotidiens ré-­
gionaux apparaissent aux stagiaires -­ et sont effectivement -­ plus accessibles. La première expé-­
rience est donc déterminante pour le postulant à la formation puisqu’elle joue un rôle autorisant la constitution des premiers éléments d’un capital professionnel valorisable par la suite pour d’autres stages, un emploi saisonnier et l’entrée dans une formation professionnelle. Une stagiaire d’une éco-­
le labellisée souligne ainsi qu’il n’y a qu’un seul étudiant à n’avoir pas effectué de stage dans sa pro-­
motion (25 étudiants) à n’avoir pas eu d’expérience dans le journalisme auparavant.
&HWWHDPELYDOHQFHRXYHUWXUHIHUPHWXUHHVWXQHFDUDFWpULVWLTXHVSpFL¿TXHG¶XQPDUFKpJOR-­
EDOGXWUDYDLOGHSOXVHQSOXVWHQGXRjXQHH[WUpPLWpOHVSUHPLqUHVH[SpULHQFHVGRLYHQWrWUHPXO-­
WLSOLpHVVXUXQPDUFKpFHUWHVHQH[SDQVLRQPDLVLQFDSDEOHG¶DEVRUEHUWRXWHVOHVGHPDQGHVHWRGH
l’autre les étapes d’accession à un emploi stable s’allongent de plus en plus et devient parfois inac-­
cessible. En ce sens, le stage, joue le rôle d’un premier sas de sélection des postulants à la profession, quand bien même le « tri » reste encore peu sélectif, il devient quasiment inimaginable d’envisager d’exercer le métier sans passer par l’expérience du stage. Le phénomène n’est pas nouveau, mais il n’en a pas toujours été ainsi. Un journaliste proche aujourd’hui de la retraite évoque ainsi le démar-­
FKDJHGHVHPSOR\HXUVDXSUqVGHVIXWXUVGLSO{PpVGHODIDFXOWpGH'URLWRLOWHUPLQDLWVHVpWXGHVHW
qui l’a fait choisir de débuter dans le journalisme sans expérience préalable.
De réelles mises en situation
Les propos des stagiaires révèlent assez souvent une représentation du travail journalisti-­
que très éloignée de la réalité. Les jeunes ont encore une certaine tendance à idéaliser la profession, le journaliste est souvent assimilé à l’image du grand reporter qui parcourt le monde. Cependant, même si pour certains, ce stage pratique comportait une part d’inconnu, la majorité des stagiaires, y compris ceux les moins expérimentés, s’attendaient (et souhaitaient) à « aller sur le terrain » ;; au-­
trement dit, à partir en reportage. C’est une composante clé du métier dans l’imaginaire des futurs journalistes et, bien que peu préparés et formés à de telles pratiques, le stage constitue, de ce point de vue, une opportunité. Dans la pratique, les stagiaires étaient, dans la majorité des situations, in-­
YLWpVDX[FRQIpUHQFHVGHUpGDFWLRQHWVHYR\DLHQWFRQ¿HUGHVVXMHWVjWUDLWHURXSRXYDLHQWSDUODVXLWH
proposer des sujets. Ils s’intégraient dans le quotidien de la rédaction, avec parfois, pour certains, une seule journée en compagnie d’un journaliste professionnel, avant d’être « lâché » dans la nature. Pour ces jeunes, la découverte du métier passe inévitablement par le « faire », par une mise en si-­
tuation professionnelle directe même si certains ne se sentent pas vraiment opérationnels à l’image de Marthe (21 ans) qui se trouva fort embarrassée lorsque le rédacteur en chef de L’Echo du Centre lui proposa d’aller enquêter sur la prostitution à Limoges8. Tout se passe comme si, la valeur des sa-­
voirs techniques enseignés dans le cadre des études avait une valeur faible comparativement à cel-­
le que les professionnels peuvent donner, quand bien même les contenus seraient sensiblement les mêmes. Cela peut s’expliquer par une référence dominante à la technique dans le travail donné au VWDJLDLUH/HVVXMHWVFRQ¿pVVRQWGHVH[HUFLFHVjO¶LPDJHGHFHWWHVWDJLDLUHGHYDQWpFULUHVRQWSUHPLHU
papier le premier jour de stage (sur l’ouverture d’un magasin) et n’ayant pour seule recours face à 8 &HWWHLGpHDSUqVTXHOTXHVGLVFXVVLRQVHWGHYDQWOHVKpVLWDWLRQVGHODMHXQH¿OOHIXWDEDQGRQQpHSDUOHUpGDFWHXUHQFKHI
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la banalité et au manque d’intérêt du sujet que d’appliquer à la lettre les consignes d’écriture d’un collègue en poste. A la différence des travaux donnés en cours, valorisant souvent une dimension plus noble et plus ambitieuse du métier par les sujets et l’autonomie de traitement, les premiers exercices en vraie grandeur implique un retour aux « fondamentaux » et une certaine abnégation.
Ces mises en situation professionnelles sont assez fréquentes dans la presse quotidienne ré-­
gionale. Louise (20 ans) aux DNA insiste sur ce fait. « Dès mon arrivée, dit-­elle, j’ai été mise à con-­
tribution et je suis partie en reportage ». Même sentiment chez Annissa (24 ans) à la NRCO. « Je partais seule la journée à la recherche de sujets et de reportagesªH[SOLTXHODMHXQH¿OOH(QIDLW
tous les jeunes entendus, évoquent une implication très concrète au sein de leur rédaction respecti-­
ve, à l’exception du stagiaire intégré au sein de France 39, ce qui n’est pas étonnant. Les médias au-­
diovisuels nationaux accueillent beaucoup de jeunes gens pour des stages d’observation, même lors-­
que la durée prévue pour le stage est relativement longue. Les expériences pratiques sont réservées aux étudiants des écoles reconnues. Aucun reportage sur le terrain non plus pour Nastasia (23 ans) en stage au sein du site telerama.fr. En revanche, Julien (19 ans) en stage à 79 (chaine de télévision locale à Bordeaux), est souvent parti en tournage sur le terrain, accomplissant à la fois un travail de -5,WRXUQDJHPRQWDJHHWG¶DQLPDWHXUSUpVHQWDWLRQTXRWLGLHQQHGHVÀDVKHVPpWpR
Du coté des structures accueillantes, il semble bien que la volonté d’une immersion rapide dans le quotidien du métier varie en fonction des besoins plus généraux en personnel. A l’exception GHVVWUXFWXUHVWUqVKLpUDUFKLVpHVFRPPH)UDQFHRODGLPHQVLRQWHFKQLTXHGHODSUDWLTXHHWOHV
exigences de résultat sont avancées par les journalistes en poste comme des freins à la mise en situ-­
ation professionnelle du stagiaire ;; dans la plupart des cas, l’apport des stagiaires apparaît comme non négligeable. Interrogé sur cet apport, les journalistes et responsables de rédaction de PQR peu-­
YHQWDXVVLELHQGLUHGDQVXQHUpGDFWLRQROHVFRQGLWLRQVGHWUDYDLOVRQWERQQHVDXUHJDUGGXQRP-­
bre de titulaires que « c’est un plus » et laisser au stagiaire l’initiative de s’investir ;; alors que dans un titre ayant subi une réduction globale de ses moyens « on ne sert pas le café et les petits gâte-­
aux » (selon un journaliste en poste) pour accueillir le stagiaire, mais on lui donne immédiatement sa première leçon de journalisme (il doit avoir pris l’édition du journal de la veille et la parcourir avant de rejoindre la salle de rédaction) avant de le présenter aux « collègues » lors de la conférence GHUpGDFWLRQHWGHOXLFRQ¿HUVRQSUHPLHU©SDSLHUª,OVHPEOHELHQTXHSDUDGR[DOHPHQWXQVWDJLDL-­
UHSXLVVHLQWHUSUpWHUSHUVRQQHOOHPHQWFRPPHXQHSUHXYHGHFRQ¿DQFHRXXQHUHFRQQDLVVDQFHG¶XQ
savoir-­faire ce qui relève côté « employeur » d’une nécessité et de procédures routinières. Ainsi, un ou deux postes de travail (parfois plus) sont réservés aux stagiaires, et les procédures « d’accueil » du stagiaire sont routinières, puisqu’ils se succèdent tout au long de l’année10. Le « confort » du sta-­
giaire apparaît également comme un moyen d’utiliser rapidement sa force de travail et de permet-­
WUHXQHSURGXFWLYLWpLPSRUWDQWHDLQVLLOSDUDvWGLI¿FLOHSUDWLTXHPHQWGHWUDYDLOOHUVDQVXWLOLVHUXQ
WpOpSKRQHSRUWDEOHPDLVRQDSXUHPDUTXHUTX¶XQDSSDUHLOHVWDWWULEXpVHXOHPHQWGDQVOHVFDVR
le stagiaire est susceptible de s’en servir pour ramener des images ou des vidéos. Si on le compare à des stages dans d’autres milieux professionnels de l’univers de la communication, il ne s’agit pas là G¶XQHVSpFL¿FLWpGXMRXUQDOLVPHERQQRPEUHGHVHFWHXUVDFFRUGHQWGHVFRQGLWLRQVGHWUDYDLOVDWLV-­
faisantes au regard des nécessités du travail dès lors qu’ils prennent place dans des structures orga-­
nisées, professionnalisées et hiérarchisées comme c’est le cas dans le journalisme.
L’apprentissage technique apparaît d’ailleurs comme un passage obligé de la plupart des sta-­
ges. La prise en main du matériel pour devenir rapidement productif donne lieu à ce qui est bien souvent le seul moment formel d’apprentissage. De ce point de vue, la tendance du journalisme à DJUpJHUGHVPpWLHUVDXWUHIRLVVSpFL¿TXHVHVWDYpUpHVXUOHORQJWHUPHHWRQQHSHXWSDVSDUOHUG¶XQH
mutation mais plutôt d’un processus qui trouve dans certains cas ses limites par la multiplicité des 9 Ce stage à France 3 consistait à assister aux conférences de rédaction, à la fabrication des sujets, à passer d’un service à l’autre… l’étudiant n’a pas été autorisé à partir sur le terrain avec un journaliste.
10 D’une manière générale, les étudiants interrogés ont la perception d’avoir été bien acceptés par l’ensemble des professionnels de la rédac-­
WLRQ7RXVRQWSDUWLFLSpDX[GLIIpUHQWHVFRQIpUHQFHVGHUpGDFWLRQHWDX[DXWUHVUpXQLRQVpYHQWXHOOHV3UHVTXHWRXVVHVRQWYXVFRQ¿HUGHVPLVVLRQV
précises. Cependant, Julien (22 ans) en stage au sein de L’Humanité remarque que « les journalistes, surtout les plus jeunes, sont assez blasés de voir circuler des stagiaires ». Un ressenti quelque peu similaire chez Nastasia (23 ans) au sein du site telerama.fr. Signalons que le fait pour les pWXGLDQWVG¶rWUHELHQDFFHSWpVHWELHQDFFXHLOOLVQHVLJQL¿HSDVSRXUDXWDQWTX¶LOVDLHQWpWpELHQHQFDGUpV
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« pratiques » techniques ainsi regroupées. Du temps lointain en presse écrite de la saisie des textes par des clavistes à celui plus récent de leur mise en ligne par un salarié dédié à cette tâche (en voie de disparition), de la disparition des équipes de tournage au JRI (qui peut aujourd’hui cumuler le WHUUDLQDYHFOHPRQWDJHHWSDUIRLVODSUpVHQWDWLRQHQWpOpYLVLRQORFDOHODVLPSOL¿FDWLRQGHVSURFp-­
GXUHVWHFKQLTXHVDXWRULVHXQUDFFRXUFLVVHPHQWGHVpWDSHVTXLDSSDUDvWSUR¿WDEOHjXQHUpDFWLYLWp
DFFUXHWRXMRXUVYDORULVpHGDQVOHMRXUQDOLVPH/HVMHXQHVJpQpUDWLRQVEpQp¿FLHQWG¶XQa priori fa-­
vorable dans ce domaine, leur familiarité – réelle ou supposée – avec les technologies nouvelles. Mais les journalistes en poste soulignent qu’il s’agit là d’une transformation importante du métier – sans pour autant la rejeter – et qu’elle a connu une accélération ces dernières années. Deux points sont relevés par les journalistes titulaires. D’une part les nouvelles tâches sont venues s’ajouter aux anciennes, ce qui n’est pas compensé par le raccourcissement des formats pourtant souligné par la plupart de nos interlocuteurs. D’autre part, les nécessités d’une production en continu ont trans-­
formé l’autonomie d’organisation de la journée de travail. En presse écrite, le journaliste disposait d’une liberté d’aménagement du temps jusqu’à l’heure du bouclage, les exigences d’alimenter le site Internet, de mettre en ligne rapidement brèves, photos et vidéos laissent peu de marge de manœu-­
vre. Dans l’audiovisuel, sur une chaîne locale, le rythme soutenu, pouvant aller jusqu’à la produc-­
tion d’une moyenne de trois sujets par jour, ce sont les nécessités de l’organisation du travail qui imposent de répartir le travail sur la journée pour étaler le montage des sujets. On voit bien chez les VWDJLDLUHVGRQWOHSRVWHVHGp¿QLWG¶HPEOpHSDUXQHSURGXFWLRQpOHYpHTXHO¶RUJDQLVDWLRQGXWUDYDLO
VHGp¿QLWSDUUDSSRUWjODSRVVLELOLWpGH¿QDOLVHUOHVVXMHWVGDQVOHWHPSVLPSDUWLSRXUODMRXUQpHGH
travail sous peine d’allonger celle-­ci. La nécessité de travailler rapidement fait partie intégrante du métier, moins comme un idéal de chasse aux nouvelles et aux derniers événements que comme un LPSpUDWLIDXUHJDUGGHODFKDUJHGHWUDYDLOGp¿QLH
L’écriture : une concrétisation professionnelle
Tous les stagiaires en immersion sur le terrain, (soit en mission imposée, soit à la recherche d’un sujet), ressentent cette expérience comme un apprentissage concret et palpable du métier. Si FHUWDLQVV¶pWRQQqUHQWGHVWkFKHVFRQ¿pHVODSOXSDUWDSSUpFLqUHQWFHWWHSUDWLTXHFRQVLGpUpHFRPPH
une forme d’autonomie. « J’ai beaucoup écrit » : ce sentiment est fréquent chez les stagiaires. Ils V¶pWRQQHQWSDUIRLVHX[PrPHVGHVWkFKHVFRQ¿pHVHWGHOHXUSURSUHSURGXFWLYLWpDXUHJDUGGHVFRP-­
pétences qu’ils pensaient posséder au début de leur stage, que ce soit quelquefois par rapport au type GHVXMHWTXLOHXUVRQWFRQ¿pVTX¶LOVFRQQDLVVHQWPDORXSOXVIUpTXHPPHQWSDUFHTX¶LOVVHYR\DLHQW
EpQp¿FLHUG¶XQDSSUHQWLVVDJHSOXVSURJUHVVLI/jHQFRUHF¶HVWODQpFHVVLWpTXLFRPPDQGHOHSOXVVRX-­
YHQWO¶LPSRUWDQFHGHVWkFKHVFRQ¿pHV2QODLVVHUDDXVWDJLDLUHOHWUDYDLOGpODLVVpSDUOHVWLWXODLUHVHW
les « petits sujets » incontournables dès lors que les titulaires disposent du temps pour couvrir les TXHVWLRQVSOXVGLI¿FLOHVHWOHVVXMHWVVSpFLDOLVpVPDLVLOSHXWDUULYHUTXHOD©PLVHjO¶pSUHXYHªGX
stagiaire se fasse précocement en raison du manque de personnel titulaire disponible. Reste que le SOXVVRXYHQWOHVIRUPHVGHGpTXDOL¿FDWLRQGHFHUWDLQVSRVWHVDXWRULVHQWODYDORULVDWLRQLPPpGLDWH
du travail du stagiaire, tant ils ne semblent par requérir de compétences hors de portées d’étudiants moyens. C’est le cas pour des stagiaires dans la grande majorité des sites sans qu’on puisse faire véritablement de grandes différences entre un titre reconnu ou non. De même, les routines du tra-­
vail étudiant se trouve parfois importées dans l’univers du journalisme comme lorsque l’utilisation d’Internet et de Wikipédia pallie le manque de culture, ou lorsque qu’il s’agit de boucler dans les dé-­
lais un travail d’écriture sans illusion sur la qualité du travail rendu.
Certains pensent même avoir énormément produit comme Julien (23 ans) au sein de la ré-­
daction de Midi Olympique qui décrit plus de 20 articles réalisés en 2 mois ou Mélanie à Presse-­
Océan qui, tous formats confondus, totalise 80 « articles » après quelques semaines de stage. Un ar-­
ticle publié (souvent signé) est le symbole, chez les jeunes, d’une vraie concrétisation professionnel-­
le. C’est donc par l’écriture (et la publication) que se matérialise la perception d’une appartenance (en partie) à une communauté professionnelle. La publication renforce également, chez ces jeunes, l’idée que leur orientation professionnelle (devenir journaliste) est la bonne. A regarder plus en dé-­
tail, les productions de ces apprentis journalistes, apparait une disproportion entre un article court Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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de 1200 signes qui, pour un professionnel est une simple mouture ou un petit compte rendu, et qui est perçu, (parfois) par le stagiaire, comme un papier de reportage ou un article de fond. Le travail en équipe : une découverte
Bien que très impliqués au sein de leur différente rédaction, ces jeunes journalistes ont affronté TXHOTXHVGLI¿FXOWpV/DSUHPLqUHHVWOLpHjODIDLEOHVVHGHO¶HQFDGUHPHQWHWDXPDQTXHG¶LQIRUPDWLRQV
sur l’organisation générale de la rédaction et les attentes de cette dernière vis-­à-­vis des stagiaires ;; ce qui fut pour certains, déstabilisant, du moins au début du stage. « Peu de relecture, j’ai dû solliciter des conseils »FRQ¿H/XGLYLQHDQVVWDJLDLUHjVar Matin. Même son de cloche chez Julien (22 ans) en poste à L’Humanité. Il est précis « Peu de retour sur mon travail, même si on me relisait. Je n’avais pas trop d’information notamment sur les choix des sujets ». Certains attendaient un ac-­
compagnement plus conséquent, en particulier au niveau de l’écriture. En effet, pour de nombreux MHXQHVSDVVXI¿VDPPHQWSUpSDUpVODPLVHHQUpFLWIXWXQHYpULWDEOHFRPSOLFDWLRQ« Je ne savais pas ce qu’était un angle, déclare Julie (21 ans) stagiaire à Paris Normandie, j’ai un peu galéré au début ». Caroline (20 ans) employée à Valeurs actuelles déclare : « deux rédacteurs m’ont appris à composer un article et mon écriture a gagné en densité ». Par ailleurs, de nombreux stagiaires ont UHJUHWWpQHSDVrWUHGDYDQWDJHXQHVRXUFHGHSURSRVLWLRQV,OVpYRTXHQWYRORQWLHUVOHXUVGLI¿FXOWpVj
présenter et défendre un sujet. Tous sont surpris par le caractère collectif du travail journalistique. Les stagiaires ont découvert le travail en équipe, mais aussi les contraintes relationnelles inhéren-­
WHVjFHVVLWXDWLRQVLQWHUORFXWLYHV1DVWDVLDOHFRQ¿UPH©au sein du site telerama.fr, j’ai bien vu qu’il y avait des sujets réservés à certains journalistes, chacun défendait son territoire ». Le stage est donc aussi vécu comme une occasion de découvrir les coulisses d’une rédaction avec ses jeux de pouvoir et ses dysfonctionnements. Si l’on peut à travers de telles perceptions postuler que le métier était perçu avant le stage comme essentiellement individualisé et autonome, plus généralement, on peut souligner que les stagiaires découvrent la nature des relations dans l’univers du travail qui sont ORLQG¶rWUHWRXWHVVSpFL¿TXHVDXMRXUQDOLVPH
L’importance du réseau
Les stages pratiques au sein des rédactions professionnelles éclairent-­ ils sur les éventuelles mutations du journalisme ? L’analyse succincte de nos entretiens et documents, dévoile, selon nous, plusieurs éléments, qui pour n’être pas interprétables comme les signes d’un changement profond, sont les prémices de transformation des pratiques professionnelles en particulier celles contraintes par la situation économique des titres, et par ailleurs, des attentes des jeunes journalistes, de nou-­
velles manières de penser et d’appréhender leur futur métier. Le marché des stages est un marché du travail qui a ses particularités mais dont les évolu-­
tions nous renseignent sur des transformations du métier. Les stagiaires, de plus en plus nombreux DXVHLQGHVUpGDFWLRQVVRQWDVVH]YLWHVROOLFLWpVSRXUGHUpHOOHVPLVVLRQVFHTXLVLJQL¿HO¶H[LVWHQFH±
voire le besoin – dans de nombreux médias d’un type de travail important en volume et ne nécessi-­
WDQWSDVXQHTXDOL¿FDWLRQLPSRUWDQWH1RWUHWUDYDLOQ¶HVWSDVHQFRUHDVVH]DYDQFpSRXUFRQFOXUHjXQ
SKpQRPqQHSOXVODUJHGH©GpTXDOL¿FDWLRQªFHSHQGDQWSRXUFHUWDLQVW\SHVG¶HPSORLHWGHVWUXFWXUH
pPHUJHDQWHOHVQpFHVVLWpVGHTXDOL¿FDWLRQVRQWIDLEOHVF¶HVWOHFDVSRXUOHVVLWHV/HVQpFHVVLWpVGH
polyvalence des stagiaires nous renseignent aussi sur ce qui apparaît comme un accroissement de la polyvalence allant de pair avec une technicité accrue dans beaucoup de secteur.
(Q¿QODTXHVWLRQGHO¶HQFDGUHPHQWVRXYHQWSUREOpPDWLTXHGHVVWDJLDLUHVIDLWUHVVRUWLUjOD
fois le fait que les titulaires disposent de peu de temps à y consacrer (bien que plusieurs journalistes partent du principe que « quand on veut prendre le temps on le peut ») et/ou que le turn-­over éle-­
vé des stagiaires donne peu d’intérêt à cet investissement. Ce recours (systématique) aux stagiaires, plutôt qu’une volonté d’instaurer un vrai compagnonnage entre les journalistes expérimentés et les débutants, serait aussi le signe du manque de fonds propres des rédactions et d’une précarisation de la profession qui intègre plus volontiers des stagiaires, peu indemnisés11, plutôt que des pigistes. 11 Les stages très courts sont rarement indemnisés, seuls les stages de plus de deux mois doivent être en général rémunérés. Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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Alors qu’ils sont en situation d’apprentissage, et pas toujours opérationnels, les futurs journalistes revendiquent une certaine indépendance qui semble une composante importante des représenta-­
tions du métier et participe de son attrait. Les jeunes veulent tout de suite être dans l’action. Le stage est le passage obligé pour accéder au métier. En outre, les jeunes ont très vite, dès leur premier stage, ce qui est relativement nouveau, la perception immédiate de l’importance du réseau social. Les jeu-­
nes ont compris que le stage n’est pas seulement un lieu d’apprentissage mais le sas incontournable de leur insertion professionnelle. Le stage est aussi utilisé pour construire un réseau, pour créer des contacts, des passerelles, du coup il n’est plus automatiquement inscrit dans un parcours profes-­
sionnel cohérent (comme par exemple, un stage au sein d’un titre spécialisé en sport pour un jeune soucieux de devenir journaliste sportif) mais il est pensé comme une opportunité, une porte ouverte, XQDFFqVj«(Q¿QOHVMHXQHVUHFRQQDLVVHQWrWUHDWWLUpVSDUFHUWDLQVPpGLDV3RXUHX[XQVWDJHLQ-­
WpUHVVDQWSDVVHGDYDQWDJHSDUODQRWRULpWpGXWLWUHTXHSDUO¶HQFDGUHPHQWRXPrPHODJUDWL¿FDWLRQ
Peu évoquent la ligne éditoriale, les questionnements éthiques, tous ou presque recherchent avant tout de pouvoir exercer, faire du journalisme. Pour notre enquête sur l’analyse des expériences de stages de jeunes candidats à la profession, nous avons travaillé d’une part sur environ 70 rapports de stage (de 4 à 6 semaines) d’étudiants de Licence 2 et 3 en information et communication. Nous avons aussi réalisé des entretiens semi-­directifs pour dégager les indices d’une éventuelle transformation des pratiques journalistiques à travers, le récit d’expérience et les perceptions de jeunes gens, désireux de devenir journaliste ;; ayant effectué un stage court (de 2 à 8 semaines) dans une rédaction de presse écrite locale, régionale ou nationale (ou dans un site d’informations en ligne)12. Toutes ces personnes interrogées sont (ou étaient au moment de l’entretien) titulaires d’une licence ou en voie de l’obtenir. La plupart se préparaient au concours d’entrée des écoles de journalisme reconnues par la Commission Paritaire Nationale de l’Emploi de Journaliste (CPNEJ)13. Certains VXLYDLHQWRXHQYLVDJHDLHQWGHVXLYUHXQFXUVXVMRXUQDOLVWLTXHQRQUHFRQQXFRPPHSDUH[HPSOHOHV¿OLqUHVLQIRUPDWLRQ
– communication ou certaines licences professionnelles de journalisme non labellisées). D’autres encore (très peu), se destinaient à rejoindre cette profession uniquement par le terrain, c’est-­à-­dire par le biais de stages pratiques. Notre démarche, se situe dans une optique d’une interview « intensive » (Morin 1984) et nous avons entendu douze étudiants (14) sur la base du volontariat (15) et souvent d’une façon intuitive, l’idée étant de maintenir une sorte d’équilibre entre les âges et les sexes. Les stages obtenus sont les suivants : un mois au sein du quotidien régional Var Matin, agence de Draguignan, Trois semaines au sein du quotidien national L’Humanité, deux mois au sein du bi hebdomadaire Midi Olympique à Toulouse, un mois au sein du quotidien régional La Nouvelle République du Centre Ouest (NRCO) à Tours, deux semaines au sein de la rédaction nationale de )UDQFH, à Paris, deux mois au sein de la chaine locale 79 à Bordeaux, deux mois au sein du quotidien régional Paris-­Normandie, à Rouen, un mois au sein du quotidien régional Sud Ouest à Périgueux, un mois au sein de l’hebdomadaire Valeurs Actuelles à Paris, trois semaines au sein du site d’informations en ligne télérama.fr à Paris, un mois au sein du quotidien régional Les Dernières Nouvelles d’Alsace (DNA) à Strasbourg, et un mois au sein du quotidien régional L’Echo du Centre, à Limoges16. Nous avons donc construit une sorte d’échantillon probabiliste (De Singly, 2001), établi sur les lois du hasard dans une population étudiée. Nous disposions d’une grille de questions précises. La première période de l’entretien était descriptive (dernier stage effectué, GXUpHGpPDUFKHVPLVVLRQVFRQ¿pHVMRXUQpHW\SHHQFDGUHPHQWJUDWL¿FDWLRQpYHQWXHOOHSUpVHQFHG¶DXWUHVVWDJLDLUHV
réalisation de productions….). La seconde était plus axée sur le ressenti des stagiaires et la façon dont ils intégraient FHWWHH[SpULHQFHGDQVOHXUSDUFRXUVG¶LQVHUWLRQSURIHVVLRQQHOOHOHVREMHFWLIVDWWHQGXVOHEpQp¿FHGHFHWWHLQLWLDWLRQOH
GHJUpG¶LQYHVWLVVHPHQWOHVGLI¿FXOWpVOHVpWRQQHPHQWV«/HVSURIHVVLRQQHOVHQSRVWHDXSUqVGHVTXHOVRQWpWpPHQpVGHV
entretiens appartiennent à des rédactions accueillant régulièrement des stagiaires, et nous avons rencontré aussi bien des responsables de rédaction que des journalistes n’ayant pas de responsabilités particulières. Pour l’instant – le travail étant actuellement en cours – une vingtaine de ces journalistes ont été rencontrés. Ouvrages cités
De Singly François, 2001, L’enquête et ses méthodes : le questionnaire, Paris, Nathan (Coll. 128).
Morin, Edgar, 1984, Sociologie, Paris, Fayard.
12 Nous avons aussi entendu deux étudiants ayant effectué leur premier stage dans un média audiovisuel.
13 Les écoles reconnues sont : Le CELSA (Paris), le CPJ (Paris), L’IPJ (Paris), Sciences Po-­Paris-­Ecole de Journalisme, Le CUEJ (Stras-­
bourg), L’EJCM (Marseille), L’EJT (Toulouse), L’ESJ (Lille), L’ICM (Grenoble), l’IUT de Lannion, l’IUT de Tours, l’IJBA (Bordeaux), L’IFP (Paris).
14 Trois étudiants titulaires d’une licence d’histoire, deux de droit, deux d’une licence information communication, un d’une licence de web MRXUQDOLVPHXQG¶XQHOLFHQFHGHOHWWUHVDSSOLTXpHVWURLVHQWURLVLqPHDQQpHG¶,(3,O\DYDLWVHSW¿OOHVHWFLQTJDUoRQV
15 Aucune personne sollicitée n’a refusé de rĠƉŽŶĚƌĞăŶŽƐƋƵĞƐƟŽŶƐ͘
16 Tous les étudiants effectuaient leur stage comme rédacteur, à l’exception de la personne employée à Paris Normandie qui a alterné une période en secrétariat de rédaction et une autre en rédaction.
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GT1 - Sociologia do jornalismo
Jornalistas Assessores de Imprensa: a tensão entre os campos da comunicação e
da informação e a configuração do processo produtivo da notícia
Giovandro Ferreira
Claudiane Carvalho
Universidade Federal da Bahia, UFBA
Resumo
Este trabalho, fruto de uma pesquisa em andamento, busca compreender o processo produtivo da notícia, a partir da perspectiva de um embaralhamento entre os campos do jornalismo e da comu-­
nicação. Nossos investimentos são com a proposta de entender que posição e tomadas de posição (Bourdieu, 1996) o jornalista, no cargo de assessor de imprensa, assume para garantir um lugar (“de pauteiro”) no processo de produção da notícia nas mídias convencionais. Além disso, indicar pistas para uma discussão sobre uma possível mudança identitária do jornalista. O embaralhamento dos campos
$VIURQWHLUDVHQWUHRVFDPSRVGDFRPXQLFDomRHGDLQIRUPDomRQR%UDVLOSDUHFHPGHVD¿DU
as demarcações mais tradicionais (ou os referenciais europeus) que os localizam como esferas dis-­
tintas. Enquanto o primeiro concerne ao contexto da comunicação em instituições públicas, priva-­
das, terceiro setor etc, o segundo abarca o jornalismo -­ o processo de produção, circulação e consu-­
mo de notícias no campo das mídias (Adghirni, 2004). E é, exatamente, no processo produtivo e distributivo da notícia que os limites são borrados e os campos se misturam e se confundem. E essa visão embaçada não pode ser atribuída apenas ao trânsito livre do jornalista entre os dois campos, QHPVHUUHVXPLGDDRIDWRGHTXHQRVGRLVHVWHSUR¿VVLRQDOODQoDPmRGRVFULWpULRVWpFQLFDVHYD-­
lores do fazer jornalístico. A discussão é mais ampla e contempla o processo produtivo da notícia na perspectiva de um encolhimento do campo do jornalismo em detrimento do campo da comunicação (Adghirni, 2004). Além do trabalho de relacionamento com a imprensa, as instituições das mais diferentes naturezas produzem seus próprios veículos de comunicação (jornais, TV, rádio, internet), denominados, por Sant`Anna(2005), em oposição às mídias convencionais, como “mídias das fontes”1. Para o pesqui-­
sador, estas diluem as barreiras entre as funções de fonte e redator e legitimam ao jornalismo insti-­
WXFLRQDODGLVSXWDSHODGH¿QLomRGDDJHQGDVHWWLQJFRQWULEXLQGRDVVLPSDUDDJHUDomRGDRSLQLmR
pública.
Aqui, nossos investimentos são com a proposta de entender que posição e tomadas de posi-­
ção (Bourdieu, 1996) o jornalista, no cargo de assessor de imprensa, assume para garantir um lugar (“de pauteiro”) no processo de produção da notícia nas mídias convencionais. Além disso, indicar algumas conquistas que determinaram o reconhecimento e consagração da área de assessoria de 1 Para Sant’Anna, a imprensa tradicional, progressivamente, vem perdendo a totalidade do domínio da cena informativa, uma vez que a opinião pública passa a ser construída também a partir do acesso às informações pautadas, coletadas, tratadas editorialmente e publiciza-­
das por organizações de diferentes setores. Ele destaca ainda que essa mídia (que também pode ser denominada de mídia corporativa) busca ocupar um lugar de fala na agenda midiática. Ver mais em: SANT’ANNA, Francisco. Mídia das fontes: o difusor do jornalismo corporativo. Brasília : Casa das Musas, 2005
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imprensa.
a) Da consagração – mediação entre fonte e imprensa e a participação no agenciamento da notícia
Em 1922, quando escreveu a obra Opinião Pública, Walter Lippmann já levantava uma ques-­
tão que, hoje, dispensa explicações exaustivas. A complexidade da sociedade contemporânea coloca às redações tradicionais de jornalismo a irrefutável impossibilidade de cobrir todos os acontecimen-­
tos sociais. Uma rotina padronizada garante, sim, a produção e distribuição de notícia. Mas,para além disso, o jornalismo “tem observadores estacionados em certos lugares”(Lippmann, 2008, 289). $IDOrQFLDGHQHJyFLRH[HPSOL¿FD/LSSPDQQQmRRFRUUHQRPRPHQWRHPTXHpIHLWRQRFDUWyULRR
registro deste obituário. O fenômeno é processual, mas o seu registro é que legitima o acontecimen-­
to noticioso. “Onde for que exista uma boa maquinaria de registro, o moderno serviço de notícias trabalhará com grande precisão”(Lippmann, 2008, 292).
O fato do jornalismo trabalhar, na maioria das vezes, com uma matéria-­prima de “segun-­
da mão” (o registro do acontecimento, e não o acontecimento em processo) parece denotar que a própria natureza da notícia estimula e sustenta um processo produtivo que, hoje, depende das as-­
sessorias. Lippmann reforça: “Os eventos que não são pontuados são reportados ou como assunto pessoal e opiniões convencionais, ou então não são notícias. Não tomam a forma até que alguém proteste, investigue, ou alguém publicamente, no sentido etimológico da palavra, faça uma polêmi-­
ca deles” (Idem, 293). Aqui, assegura o autor, está a razão subjacente para a existência do assessor de imprensa. O mediador entre a instituição assessorada e a imprensa atende tanto aos interesses do jornalismo pela pauta, quanto aos interesse da instituição no que tange à seleção do que vai ser divulgado e como o será. O embaralhamento ocorre, portanto, também, porque há um conjunto de interesses partilhados entre os campos, a disputa (ou comunhão), aqui, é pela notícia midiatizada. Os próprios marcos da história da Assessoria de Imprensa apontam pistas para a consagra-­
ção deste serviço no processo de produção da notícia. Neste sentido, um dos principais foi o acom-­
panhamento dado pelo então jornalista americano, Ivy Lee, ao magnata capitalista John Rockfeller. Em 1906, quando houve um grave acidente na Pennsylvania Railroad, na localidade de Gap, Estado da Pennsylvania, Lee usou uma estratégia de mediação com a imprensa muito distante do que se praticava na época Ao invés de sonegar informações, assumiu o acidente, levou jornalistas ao local do ocorrido, colocou os engenheiros da empresa para falar com a imprensa e também estabeleceu uma relação com editores e pauteiros a partir da notícia, pela pauta, como atesta a carta de princí-­
pios, distribuída pelo mesmo, no início do século XX, aos editores e chefes de reportagem dos perió-­
dicos americanos: “Este não é um serviço de imprensa secreto. Todo nosso trabalho é feito às claras. Pretendemos fazer a divulgação de notícias. Isto não é agenciamento de anúncios. Se acharem que o QRVVRDVVXQWR¿FDULDPHOKRUQDVHomRFRPHUFLDOQmRRXVHP´/((DSXG&KDSDUUR
Embora já se saiba que Lee não trabalhou durante todo o tempo com os critérios da transpa-­
rência e interesse público, suas práticas e serviços são reconhecidos como o primórdio da assessoria GHLPSUHQVD3RXFRDQWHVGH/HHQR¿QDOGRVpFXOR;,;DOLWHUDWXUDGDiUHDWDPEpPUHVVDOWDRFDVR
do Circo Barnum, cujo proprietário, Phineas Barnum, estabeleceu uma estratégia de divulgação, que não consistia em informar o circo no geral, mas destacar cada uma das suas atrações. Assim, os trapezistas eram os melhores, os animais os mais bem treinados etc. Estes dois casos são apontados, historicamente, como os princípios da centenária história da assessoria de imprensa. Deste relato, entretanto, retiram-­se dois aspectos que merecem ser destacados: o estabelecimento da relação com a imprensa a partir da notícia/ da pauta e a elaboração de estratégias de divulgação que permitiram a entrada dos temas nas redações enquanto matérias, reportagens.
Hoje, como já dito, vivemos numa sociedade complexa e a circulação da informação mudou HPXLWRVXDFRQ¿JXUDomRHSHUIRUPDQFH$LPSRUWkQFLDHVWUDWpJLFDGDFLUFXODomRGDLQIRUPDomRH
dessa mediação entre as instituições e a imprensa foi ganhando corpo e consagrando-­se como parte do processo de agenciamento da notícia. Nas Grandes Guerras Mundiais, por exemplo, os Estados Unidos da América lançaram mão da sala de imprensa na Casa Branca, dos serviços de coletiva para centralização da informação. Destaque também para a comunicação realizada depois da Queda da Bolsa de Nova York, em 1929, quando informar à opinião pública o que ocorria consistia num re-­
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curso para conter as manifestações sociais e permitir a compreensão de que a crise se tratava, na verdade, de um colapso, que atingia a todos. Neste ponto, entra em cena, mais uma vez, a discussão trazida por Lippmann sobre o papel e a função da assessoria, assegurados e tecidos na própria cons-­
tituição social da notícia:“Se a reportagem fosse a simples recuperação de fatos óbvios, o assessor de imprensa seria nada mais que um secretário. Mais uma vez que, no que diz respeito aos grandes tópicos das notícias, os fatos não são simples, e nem tão óbvios, mas objeto de escolha e opinião” (Lippmann, 2008, 294)
b) Assessoria de imprensa no Brasil O desenvolvimento dos serviços e produtos de assessoria de imprensa no Brasil foi patrocina-­
do, até a década de 80, muito pelos projetos de comunicação dos governos de Estado e, em segunda escala, pela iniciativa privada, especialmente, a partir da chegada, nos anos 50, de empresas estran-­
geiras no mercado brasileiro.
Desde o governo de Nilo Peçanha, em 1909, já havia redatores, no então Ministério de Agri-­
cultura, Comércio e Indústria, para produção de jornais e também envio de material para a impren-­
sa. Nos anos 30, esta relação com a mídia, a centralização e controle da informação foram muito in-­
WHQVL¿FDGRVFRPR(VWDGR1RYRGH*HW~OLR9DUJDV2GLWDGRULQYHVWLXQDH[SDQVmRGDUDGLRGLIXVmR
LQFHQWLYRXRPHUFDGRHGLWRULDOPDVWDPEpPPDQWHYHDSUHVHQoDGHSUR¿VVLRQDLVGDFRPXQLFDomR
nos setores do governo para garantir a circulação da informação. Nos anos 50, houve um boom econômico com a chegada de empresas multinacionais. Estas HPSUHVDVGHVD¿DUDPRPHUFDGRGDpSRFDSRUTXHMiSUHYLDPRVGHSDUWDPHQWRVGHFRPXQLFDomRHP
seus organogramas. Foi assim que Alaor Gomes (da Tv Record) e Reginaldo Finotti (do jornal Úl-­
tima Hora) deixaram seus locais de trabalho para assumir a assessoria da Volkswagem e implantar um modelo inovador. Eles se dedicaram a trabalhar o automobilismo como pauta. Não se renderam jVIDFLOLGDGHVGDVQRWDVFDOKDXVPDVDVVXPLUDPRGHVD¿RGHLGHQWL¿FDUQRWtFLDVDSDUWLUGHXP
novo comportamento e novas pránticas socais, que estavam sendo gestadas com a ampliação da in-­
dústria automobilística. 1DpSRFDGR5HJLPH0LOLWDUKRXYHRUHFRQKHFLPHQWRGDVSUR¿VV}HVGHMRUQDOLVPRHUHOD-­
ções-­públicas. Essa legalização explicava-­se também pelo grande aporte de comunicação montado pelos militares para garantir a circulação, distribuição e controle da informação durante os “anos GHFKXPER´0DVRGHVD¿RIH]VHPDLVYLVtYHOQRVDQRV2%UDVLOHPSURFHVVRGHUHGHPRFUDWL-­
zação e com novas perspectivas de crescimento foi um campo fértil para o trabalho de assessoria de LPSUHQVD,QVWLWXLo}HVGDVPDLVGLIHUHQWHVQDWXUH]DVFRPHoDUDPDLQYHVWLUHPFRPXQLFDomRD¿P
de consolidar uma imagem pública e agregar valores à marca. Essa conjunção de fatores e o acúmulo de experiências ao longo dos anos impeliram os as-­
VHVVRUHVDXPDSUR¿VVLRQDOL]DomRHWDPEpPDXPDSHUIHLoRDPHQWRGRID]HUDVVHVVRULDSDXWDGRQR
MRUQDOLVPR$¿QDOGHFRQWDVRVIDWRVQmRWRPDPIRUPDHVSRQWDQHDPHQWH³$OJXpPSUHFLVDOKHVGDU
uma forma, e uma vez que na rotina diária os repórteres não podem dar forma aos fatos, e que existe pouca organização desinteressada da inteligência, a necessidade por alguma formulação está sendo feita pelas partes interessadas” (Lippmann, 2008, 294)
Mudanças no agenciamento da notícia
É considerável a literatura sobre o fazer jornalístico, no que tange às rotinas de seleção, elei-­
ção e produção da notícia. Há uma preocupação em entender quais valores e critérios devem ser abarcados no momento de se destacar, entre as ocorrências sociais, aquelas que serão emolduradas enquanto notícia. Aqui, autores como Wolf (2005) tratam dos processos de elaboração da notícia, ressaltando a importância de reconhecer, nos fatos, o “valor notícia” e apontar uma série de atri-­
EXWRVTXHSRGHPVHUGH¿QLGRVFRPR³FULWpULRVGHQRWLFLDELOLGDGH´RXVHMDFDUDFWHUtVWLFDVDVDEHU
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factualidade, interesse público, serviço, atualidade, relevância etc), que alçam a ocorrência, ou fe-­
nômeno social, à condição de notícia. Wolf ampliou a noção de gatekeepers (White, 1950, e Donohue-­Tchenor-­Olien, 1972)2 para tratar da abordagem do newsmaking. Assim, o autor pôde contemplar que a produção da notícia HQYROYHWDPEpPDFXOWXUDSUR¿VVLRQDOHDVUHVWULo}HVOLJDGDVjVRUJDQL]Do}HVGRWUDEDOKR$VVLPR
DXWRUSRGHFRQWHPSODUTXHDSURGXomRGDQRWtFLDHQYROYHWDPEpPDFXOWXUDSUR¿VVLRQDOHDVUHVWUL-­
ções ligadas às organizações do trabalho. Neste sentido, Wolf destaca que os valores/ notícia “deri-­
vam de admissões implícitas ou de considerações relativas a :a) os caracteres substantivos das notí-­
cias: o seu conteúdo;; b)a disponibilidade do material e os critérios relativos ao produto informativo;; c)público e d) a concorrência” (Wolf, 2005,p.2007).
Há ainda a discussão da notícia enquanto formato e/ou matéria-­ prima do fazer jornalístico. Expressivos ainda são os estudos (consideram-­se, aqui, também os manuais de redação e estilo) que se debruçam a traçar as características do texto noticioso e compreender as dinâmicas de produção dentro das redações, delimitando os papéis dos pauteiros, produtores, editores, repórteres de rua, IRWRMRUQDOLVWDVGLDJUDPDGRUHVHWF$WRUHVHQYROYLGRVQDHVFROKDHODERUDomRHGH¿QLomRIRUPDGH
expressão e forma de conteúdo -­ do material jornalístico, que vai circular e ser distribuído para con-­
sumo de leitores, ouvintes, expectadores, internautas, etc.
(PERUDH[LVWDXPHVIRUoRFLHQWt¿FRSDUDWUDoDURVSURFHVVRVSURGXWLYRVGDQRWtFLD pouco se WHPWUDEDOKDGRVREUHDOJXPDVHVSHFL¿FLGDGHVGHVVHIHQ{PHQR$TXLVXEOLQKDVHXPDSUHRFXSDomR
com as dinâmicas sociais da circulação da informação, que transformam as redações em “recepto-­
res” de notícias ou sugestões de pautas, advindas das assessorias de imprensa3. Num olhar mais panorâmico sobre este processo, percebe-­se que, atualmente, organizações GHGLIHUHQWHVQDWXUH]DVS~EOLFDVSULYDGDVGHWHUFHLURVHWRUVLQGLFDLV¿ODQWUySLFDVEHQH¿FHQWHV
etc) criam estruturas de comunicação, que assumem o lugar de mediação entre as fontes e os veícu-­
los jornalísticos. Diariamente, portanto, as redações tradicionais recebem releases e/ou press kits dos departamentos de comunicação dessas instituições;; material, aliás, que tem a qualidade atesta-­
da, quando é construído a partir do discurso informativo, demarcando um distanciamento em rela-­
ção ao discurso propagandístico. As informações, enviadas pelos assessores de imprensa (em sua maioria, também jornalistas) às redações, ganham o “status” de notícias, pois já passaram por um processo de eleição e produ-­
ção que, assim, as legitimaram. Nas redações, portanto, elas vão concorrer com outras pautas, numa acirrada disputa pelo espaço midiático. Para tanto, os produtores da notícia nas assessorias buscam utilizar os mesmos formatos instaurados e regulados pelos jornalistas dos veículos massivos, conhe-­
FHPDVURWLQDVGHSURGXomRGDVUHGDo}HVWUDEDOKDPFRPRYLpVGRVGLIHUHQWHVSHU¿VHGLWRULDLVH
gêneros jornalísticos e respeitam a lógica implacável do dead line. Nesta relação, as assessorias con-­
¿JXUDPVHFRPRDV³SDXWHLUDV´HPSULPHLUDLQVWkQFLDXPDYH]TXHPHVPRFRPRDX[tOLRGDVDJrQ-­
FLDVR¿FLDLVGHQRWtFLDVRVYHtFXORVMRUQDOtVWLFRVUHFRUUHPDRPDWHULDOHQYLDGRSHODVDVVHVVRULDVD¿-­
nal de contas, tem-­se aí um olhar do especialista fora das redações. O assessor jornalista, portanto, acumula e conquista capitais que o permitam agir neste embaralhamento dos campos, tesionando, inclusive, a identidade do jornalista. ³:KLWHXVRXRWHUPRJDWHNHHSHUVSDUDHVWXGDURGHVHQYROYLPHQWRGRÀX[RGHQRWtFLDVGHQWURGRVFDQDLVRUJDQL]DFLR-­
QDLVSDUDGH¿QLUSRQWRVTXHVHUYLULDPFRPREDUUHLUDVSDUDDFHLWDURXUHMHLWDUXPDLQIRUPDomRHQTXDQWRQRWtFLD$QRomRGHJDWHNHHSHUVQRV
PHLRVGHFRPXQLFDomRGHPDVVDLQFOXLWRGDVDVIRUPDVGHFRQWUROHGDLQIRUPDomRTXHSRGHPVHUGHWHUPLQDGDVVREUHDFRGL¿FDomRGDPHQVDJHPD
seleção, a formação da mensagem, a difusão da programação etc (White, 1950, Donohue-­Tchenor-­Olien, 1972)” (ver WOLF, 2005)
3 Um uso já consolidado nas práticas do mercado, o termo imprensa, aqui, não se refere apenas ao trabalho desenvolvido com os veículos impressos. Em tempo, lembramos também que há uma diferenciação entre assessoria de imprensa, que se refere aos produtos e serviços do MRUQDOLVPRHPSUHVDULDOHDVVHVVRULDGHFRPXQLFDomRTXHDEDUFDRVGLIHUHQWHVSUR¿VVLRQDLVGDiUHDMRUQDOLVPRSXEOLFLGDGHHSURSDJDQGD5HOD-­
ções Públicas e marketing) numa ação sinergia para o desenvolvimento da comunicação organizacional integrada. Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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Posição e tomadas de posição do assessor de imprensa jornalista
O Brasil consagrou um modelo peculiar de fazer assessoria de imprensa, pautado nas regras e rotinas do fazer jornalístico (Chaparro, 2003). Embora não seja legalizada uma reserva de mercado da assessoria de imprensa para o jornalista4pHVWHSUR¿VVLRQDOGDFRPXQLFDomRTXHPDLVRFXSDR
cargo no país. Trata-­se de uma regulação feita pelo próprio mercado, uma vez que, aqui, a assessoria construiu para si o lugar da pauta, uma espécie de promotora da notícia. Segundo Molotch e Lester (in Traquina, 1993, p.34), para que uma ocorrência social transforme-­se em notícia é necessário um processo de agenciamento, ou seja, é necessária uma construção promovida por agências (indiví-­
duos ou grupos) e suas rotinas. A primeira destas agências é construída pelos news promoters (as assessorias, por exemplo). São eles que alimentam os news assemblersWRGRVRVSUR¿VVLRQDLVGRV
campos jornalísticos), que, por sua vez, vão alimentar os news consumers (os consumidores da no-­
tícia, o público). Por mais completa e extensa que seja a equipe de uma redação jornalística, o processo da SDXWDQmRVHUHVWULQJHDRVSUR¿VVLRQDLVGDHPSUHVDGHFRPXQLFDomR$VUHGDo}HVFULDUDPXPDHV-­
pécie de relação de co-­dependência com as assessorias de imprensa, que investem na construção do papel de “pauteiras”, primeira agência no processo de produção da notícia. O material enviado pelo assessor, entretanto, é sempre passível de uma investigação, pois constitui as primeiras etapas no agenciamento da notícia. Observa-­se, então, que o jornalista, na posição de assessor, produz mate-­
rial para os veículos massivos e, com base na instauração desse relacionamento de co-­dependência, DVVXPHDWRPDGDGHSRVLomRGHXP³SDXWHLUR´3DUD%RXUGLHX³FDGDSRVLomRpREMHWLYDPHQWHGH¿QL-­
da por sua relação objetiva com outras posições ou, em outros termos, pelo sistema de propriedades SHUWLQHQWHVLVWRpH¿FLHQWHVTXHSHUPLWHPVLWXiODFRPUHODomRDWRGDVDRXWUDVQDHVWUXWXUDGD
distribuição global das propriedades”. (1996a, p.261)
Bordieu destaca que as tomadas de posição “dependem da posição que os agentes ocupem QDHVWUXWXUDGRFDPSRLVWRpQDGLVWULEXLomRGRFDSLWDOVLPEyOLFRHVSHFt¿FRLQVWLWXFLRQDOL]DGRRX
não” (1996b, p. 63). A garantia ao jornalista assessor dessa posição de “promotor” no processo de agenciamento da notícia é tributária de um conjunto de capitais simbólicos . Além de compactuar e compartilhar da perspectiva de que o acontecimento precisa ter valor-­notícia -­ os critérios de noti-­
ciabilidade , o assessor precisa ainda: 1. Conhecer a rotina de produção das redações – para tanto, precisa de ferramentas como o mailing da imprensa, compreender a lógica do dead line e agendar com antecedência os assuntos para concorrer com as pautas do dia (trabalhar antes do tempo da redação);;
2. Conhecer os veículos e suas dinâmicas para saber sugerir pautas. Esse mapeamento permite um melhor desenvolvimento dos planos e estratégias de divulgação da notícias;;
0RQWDUHVWUDWpJLDVGHGLYXOJDomROHYDQGRHPFRQWDDVHVSHFL¿FLGDGHVGRVYHtFXORVGH
comunicação, a concorrência entre os meios e o público;;
4. Saber sugerir pautas, a partir do novo, mas também saber atualizar informações -­ ganchos (newspeg)
5. Desenvolver contatos com a imprensa e também atendê-­la em suas demandas (Aqui, são importantes serviços, como o follow up, a leitura da mídia a partir do clipping e a avaliação de resultados) 1RPDLVSUHFLVDFRPSUHHQGHUTXHRWUDEDOKRGDDVVHVVRULDSRGHHQYROYHUWDPEpPDTXDOL¿FDomR
de fontes (media training) e informações (técnicas e valores do jornalismo)
4 Não há, no Brasil, nenhuma legislação que reserve o trabalho de assessoria de imprensa para o jornalista. Em 1967, quando DVSUR¿VV}HVGHMRUQDOLVWDHUHODo}HVS~EOLFDVIRUDPUHFRQKHFLGDVHVWHVHUYLoRIRLGLUHFLRQDGRDR530DVRID]HUIRLDSRQWDQGRRXWURVFDPLQKRV
([LVWHXPDGLVSXWDOHJDOHQWUHMRUQDOLVWDVHUHODo}HVS~EOLFDVSRUHVWDDWXDomR(QTXDQWRDVLWXDomRQmRWHPXPGHVIHFKRR¿FLDORSUySULRPHUFD-­
do parece criar seus mecanismos de regulação.
Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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Não se propõe, aqui, exaurir as competências que o jornalista assessor deve acumular para posicionar-­se como “pauteiro” de primeira instância no processo produtivo da notícia5. Ele vai lan-­
çar mão também dos capitais simbólicos disponíveis, entre eles pode-­se apontar: a experiência acu-­
mulada em anos de trabalho nas redações convencionais, cujo legado envolve o conhecimento das rotinas e valores jornalísticos e também uma relação pessoal com os editores, chefes de reportagem etc6. Jornalista assessor e jornalista das redações tradicionais vivenciam uma disputa tácita de capitais. É um jogo, cuja luta garante o espaço no campo de batalha – à parte a metáfora, o campo, para Bourdieu, constitui um espaço bélico, de disputas, tensionamentos e lutas. O sociólogo defende uma perspectiva relacional e, portanto, de comparação. O que é comparado é a relação entre as po-­
sições ( a posição do jornalista assessor e a posição do jornalista de redação convencional). E, para $GJKLUQLHVVDVSRVLo}HVSDVVDPSRUXPPRPHQWRGHUHGH¿QLomRXPDYH]TXHDVIURQWHLUDV
borradas entre os campos da comunicação e da informação abalam a identidade do jornalista, que está em transição. Fronteiras borradas – os capitais em jogo para o assessor no processo de agenciamento da notícia
1HVWHFRQWH[WRPDUFDGRSHODVIURQWHLUDVHVPDHFLGDVHSHODWUDQVLomRLGHQWLWiULDGRSUR¿V-­
sional, o poder de “fazer crer” está vinculado à imagem de credibilidade do jornalismo, com a qual o jornalista assessor busca aderência. O assessor surge como o mediador entre a organização, que quer ser fonte de informação (uma referência em sua área, legitimada pela opinião pública) e os ve-­
ículos de comunicação (que buscam, diariamente, pautas). Assim, o assessor assume um território no processo produtivo da notícia, o papel do primeiro pauteiro, embora se reconheça que, na notícia institucional, há uma tensão, uma negociação entre o valor-­notícia e os interesses da instituição. “A notícia institucional não consiste num “ mero espelho da realidade”, mas passa a ser encarada como um processo de interação social, negociações com forte papel sociológico” (Monteiro, 2003). Nes-­
te sentido, Monteiro destaca que: a realidade cotidiana é uma realidade socialmente construída;; os media desempenham papel importante na construção da realidade e os media não criam, autono-­
mamente, as notícias (dependem das fontes). Para ser reconhecido enquanto notícia no veículo de comunicação, o material do assessor precisa adequar-­se ás regras do jogo deste contrato. Esse domínio do fazer jornalístico e das dinâ-­
PLFDVHVSHFt¿FDVGHFDGDHPSUHVDGHFRPXQLFDomRDWHVWDWDPEpPDTXDOLGDGHHFRPSHWrQFLDGR
assessor, que está relacionada ao grau de aderência da sua produção aos discursos informativos. Como numa gangorra de interesses, o assessor parece ter que negociar, em algum instante, entre os interesses da redação/ do discurso jornalístico e os interesses da instituição. Como, na maioria das vezes, a assessoria é quem busca a imprensa para sugerir matéria – a informação da assessoria precisa estar respaldada no valor notícia para ser reconhecida como legí-­
tima. Além disso, o assessor, enquanto informador, é também avaliador. Em princípio, a posição social do assessor (experiência de mercado, relação com as redações, conhecimentos das rotinas e práticas do fazer jornalístico) são observadas e tornam-­se cruciais na troca. Neste contrato, o lugar do assessor como representante da fonte também carece de um certo apagamento, ele deve apare-­
FHUPDLVFRPRXPMRUQDOLVWDRXSUR¿VVLRQDOGRVPHLRVGDFRPXQLFDomRGRTXHFRPRSRUWDYR]GD
empresa. Além disso, o grau de engajamento também deve ser esmaecido. As marcas desse engaja-­
mento organizacional precisam, por exemplo, ser retiradas do material que é enviado à imprensa 5 A convergência midiática, que vem acarretando o enxugamento das redações nas empresa de comunicaçao, e a rotina estafante GRSUR¿VVLRQDOUHVSRQViYHOSHORIHFKDPHQWRGHPXLWDSDXWDVHPSRXFRWHPSRWDPEpPVmRDSRQWDGRVFRPRIDWRUHVTXHSURSLFLDPRXVRGRPDWH-­
rial jornalístico enviado pelas assessorias.
(PERUDYDOKDjSHQDUHVVDOWDUHQWUHWDQWRTXHHVWDDSUR[LPDomRFRPRVFROHJDVGHSUR¿VVmRQmRJDUDQWHDDFHLWDomRGDSDXWD
HQYLDGDSHORMRUQDOLVWDDVVHVVRUWRGDYLDSHUPLWHOKHXPOXJDUGHGHVWDTXHQDVFHQWHQDVGHHPDLOVUHFHELGRVGLDULDPHQWHSHORVSUR¿VVLRQDLVGD
redações tradicionais. Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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(releases e press kit) e, para tanto, vale-­se dos critérios e formas do fazer jornalístico -­ formato do texto, dados, declaração das fontes, fotos etc. No caso do assessor, espera-­se que ele apague o seu engajamento e a informação é dada como “evidente”, produz efeito de objetivação e de autenticação. Aqui, o receptor do material enviado pelos assessores são os jornalistas7, e eles precisam co-­
mungar dos mesmos códigos, das mesmas regras do fazer jornalístico, do mesmo conhecimento, para que se estabeleça a relação, o contrato de comunicação. Quando o assessor entra em contato com a redação, há, de ambas as partes, uma expectativa sobre o outro. Há uma situação de comuni-­
cação posta. Em cena, estão, a prioriSUR¿VVLRQDLVGDFRPXQLFDomR
O fato do agenciamento da notícia começar fora das redações tradicionais de jornalismo con-­
GX]LXKLVWRULFDPHQWHRVSUR¿VVLRQDLVGDiUHDjEXVFDGHGHOLPLWDomRHOHJLWLPDomRGDVSUiWLFDVD
SDUWLUWDPEpPGHDVVRFLDo}HVHHQWLGDGHVHVSHFt¿FDV)XQGDGDHPDHQWmR$VVRFLDomR%UD-­
VLOHLUDGRV(GLWRUHVGH5HYLVWDVH-RUQDLV(PSUHVDULDLV$%(5-(SRUH[HPSORUHXQLDRVSUR¿V-­
VLRQDLVGHFRPXQLFDomRTXHQDpSRFDGHGLFDYDPVHDRFKDPDGRMRUQDOLVPRHPSUHVDULDOD¿PGH
FRQVWLWXLUXPHVSDoRGHGLVFXVVmRDSHUIHLoRDPHQWRHSUR¿VVLRQDOL]DomRGDiUHD$LQVWLWXLomRFUHV-­
ceu e, hoje, abarca todas as estratégias e serviços da comunicação organizacional, cujo exercício é HVWLPXODGRSHOR¿ORVR¿DGDFRPXQLFDomRLQWHJUDGDTXHDJUHJDGHIRUPDVLQpUJLFDRVSUR¿VVLRQDLV
de Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Relações Públicas e Marketing. Mesmo mantendo a sigla ABERJE, hoje, é conhecida como a Associação Brasileira da Comu-­
nicação Empresarial, que, além de promover cursos e eventos e difundir o debate em espaços aca-­
dêmicos e no mercado, desenvolve pesquisas, congrega importantes grupos de comunicação e rea-­
liza o prêmio Aberje, um dos mais respeitados na área. Em 2010, o premio chegou à 36a edição, do Brasil, contemplando categorias divididas em três áreas: Gestão de Comunicação e Relacionamento, Mídias e Pequenas e Médias Organizações. Na primeira área, consta a premiação para a categoria ³&RPXQLFDomRH5HODFLRQDPHQWRFRPD,PSUHQVD´TXHUHFRQKHFHRVSODQRVGHDVVHVVRULDPDLVH¿-­
cazes, ou seja, que melhor e mais pautaram a imprensa sobre um determinado tema.
Mais direcionadas que o trabalho da ABERJE, foram as ações que buscaram uma autono-­
mia da assessoria de imprensa em relação às estruturas, teorias e práticas de relações-­públicas. Em R6LQGLFDWRGRV-RUQDOLVWDV3UR¿VVLRQDLVGR(VWDGRGH6mR3DXORFULRXD&RPLVVmR3HUPDQHQ-­
te e Aberta dos Jornalistas em Assessorias de Imprensa. Em 83, foi realizado o primeiro encontro es-­
tadual dos assessores que reuniu 250 jornalistas paulistas. Já em 1984, foi realizado o primeiro Ma-­
nual de Assessoria de Imprensa, que foi editado e adotado pela Federação Nacional dos Jornalistas SUR¿VVLRQDLVHP$~OWLPDYHUVmRGRGRFXPHQWRIRLHGLWDGDHPUHD¿UPDTXHDIXQomRGH
assessoria de Imprensa deva ser realizada, privativa e exclusivamente, por um jornalista diplomado.
(PR&RQJUHVVR1DFLRQDODSURYRXRSURMHWRGHOHLTXHEXVFDYDR¿FLDOL]DURTXHMip
regulamentado pelo mercado, ou seja, delimitar a função de assessoria de imprensa para jornalista. Por conta das mobilizações acionadas pelo Conselho Nacional de Relações Públicas, a decisão foi interrompida na instância presidencial, que, poucos dias depois, direcionou sua atenção para a en-­
xurrada nacional de acusações de corrupção no partido do presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT).
Autores, como Koplin e Ferraretto (1996) e Chaparro (2006) defendem que o trabalho de as-­
sessoria de imprensa solicita os conhecimentos e práticas do fazer jornalístico, portanto, a regulação desta prática acaba sendo implementada pelo mercado e pelas rotinas produtivas da notícia em so-­
ciedades complexas, as quais embaralham os campos e solicitam, constatemente, novos capitais.
7 Vale ressaltar que, quando o assessor contata o jornalista da redação, ele também mira, em certa medida, o público, uma vez TXHDRFRQVWUXLURWH[WRDSDUWLUGDVOyJLFDVGRSHU¿OHGLWRULDOHGDVGHPDQGDVHVSHFt¿FDVGHFDGDFDGHUQRSURJUDPDRXHGLWRULDWDPEpPHVWiFRQ-­
templando, ali, o leitor. Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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Considerações Finais
Esta pesquisa ainda está em fase de desenvolvimento, portanto, os questionamentos tornam-­
se ainda mais evidentes que as possíveis respostas. E muitas são as pistas para futuros estudos e também aprimoramento do que, por agora, é apresentado. O embaralhamento entre os campos da comunicação e do jornalismo apontam para um encolhimento deste segundo. Ao buscar os indica-­
tivos deste aspecto no processo produtivo da notícia, percebe-­se que o agenciamento da notícia co-­
meça nos departamentos de comunicação, implantados pelas fontes. Enquanto mediadores entre a fonte a imprensa, os assessores negociam os interesses da instituição e também do fazer jornalístico e esta tensão é permitida e sustentada pela própria natureza da noticia (Lippmann, 2008). Um ou-­
WURLQGLFDWLYRpDUHFRQ¿JXUDomRLGHQWLWiULDGRMRUQDOLVWDDTXDOQmRSRGHVHUDWULEXtGDDSHQDVDR
fato de que o fazer assessoria lança mão dos critérios, técnicas e valores do fazer jornalístico. Há, claro, outras questões contextuais (enxugamento das redações, convergência midiática, entre ou-­
tros) que precisam ser contempladas, mas o papel do assessor enquanto o “pauteiro” direciona um QRYRROKDUSDUDDVUHGDo}HVWUDGLFLRQDLVHGHVD¿DSDUDUHÀH[}HVVREUHDVWRPDGDVGHSRVLomRGHVWH
SUR¿VVLRQDOQRVFDPSRVHVREUHRVFDSLWDLVHPMRJRQDGLVSXWD
Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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GT1 - Sociologia do jornalismo
Jornalistas Legislativos: uma nova categoria profissional?
Francisco Sant’Anna
Senado Federal, Université de Rennes 1
Rogério Dy La Fuente Gonçalves
Senado Federal, Universidade de Brasília
Resumo
O crescimento de instituições legislativas que usam estruturas de comunicação de massa geridas SRUHODVSUySULDVDEULXXPLPSRUWDQWHWHUULWyULRSUR¿VVLRQDOSDUD-RUQDOLVWDV$VGXDV&DVDVGR
Congresso Nacional, as Assembléias Legislativas estaduais e as Câmaras Municipais de Vereado-­
res respondem hoje pela contratação de um universo de jornalistas estimados em cerca de 1.500 SUR¿VVLRQDLV2SUHVHQWHWUDEDOKRYLVDOHYDQWDURSHU¿OGHVWHVWUDEDOKDGRUHVHVHHOHVFRQ¿JXUDP
XPDFDWHJRULDSUR¿VVLRQDOFRPHOHPHQWRVLGHQWLWiULRVFRPXQVVX¿FLHQWHVSDUDFODVVL¿FiORVFRPR
Jornalistas LegislativosHVHDSURGXomRLQIRUPDWLYDSRUHOHVH[HFXWDGDSRGHFRQ¿JXUDUXPQRYR
gênero jornalístico, qual seja o do Jornalismo Legislativo. O artigo se baseia em pesquisas pré-­
existentes e em novos trabalhos de campo.
Introdução
A paisagem midiática brasileira guarda uma singularidade própria: a existência acentuada de meios de comunicação legislativos. Dentre os recursos comunicacionais operados pelo Poder Le-­
gislativo – incluindo-­se as assembléias legislativas estaduais (ALs) e diversas câmaras municipais (CMs) – destacam-­se canais de televisão, emissoras de rádio e agências noticiosas, de texto e fotos.
As casas legislativas brasileiras se transformaram assim em importantes fontes difusão direta e autônoma à opinião pública de informação já pronta ou por meio da intermediação de mídias tra-­
dicionais. Essa estrutura midiática também se transformou na grande responsável pela produção da matéria prima informativa utilizada por outros meios de comunicação, em especial a webimprensa e, no interior do País, a imprensa escrita e radiofônica. Para responder a esta produção informativa, as casas legislativas nas três esferas da Federa-­
ção se viram obrigadas a se equiparem com recursos técnicos e, principalmente, humanos. Nas duas LQVWkQFLDVGR&RQJUHVVR1DFLRQDORVMRUQDOLVWDVUHSUHVHQWDPFHUFDGHSUR¿VVLRQDLV'HQWUHDV
CMs e ALs, as estatísticas mais recentes apontam um quantitativo de 5681 e 4002SUR¿VVLRQDLVUHV-­
SHFWLYDPHQWH'LDQWHGHWDOFHQiULRHVWHDUWLJREXVFDYHUL¿FDUVHVLPXOWDQHDPHQWHDRQDVFLPHQWR
GDVPtGLDVOHJLVODWLYDVpSRVVtYHOD¿UPDUH[LVWLUXPDQRYDFDWHJRULDSUR¿VVLRQDOHXPDQRYDHVSH-­
cialização jornalística que poderiam ser denominados Jornalistas Legislativos e Jornalismo Legis-­
lativo.
3
Cf. Censo do Legislativo Brasileiro (2005).
2 Estimativas construídas a partir de enquete junto às assessorias de imprensa das casas Legislativas. Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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Problemática e metodologia
Valeremo-­nos de três pesquisas levadas a cabo por SANT’ANNA (2007), GONÇALVES (2010) e QUEIROZ (2007). A análise cruzada dos respectivos dados empíricos – cujos focos foram os jor-­
nalistas contratados pelo Senado Federal (SF), Câmara dos Deputados (CD), ALs e CMs – permitirá LGHQWL¿FDUDH[LVWrQFLDRXQmRGHXPSDGUmRLQIRUPDWLYRHSUR¿VVLRQDOQRVWUrVQtYHLVOHJLVODWLYRV
As pesquisas se valeram da mesma metodologia e aplicação de um questionário do tipo self-­
administered survey, construídos a partir dos métodos utilizados junto a jornalistas norte-­america-­
nos por Weaver e Wilhoit’s (1982 e 1992)3, respectivamente.4
Juntamente com as pesquisas citadas, consideraremos as informações obtidas pelo Censo sobre a Realidade Municipal, realizado em 2005, pelo Programa de Modernização do Legislativo do Brasil – Interlegis, operado pelo SF. Para este artigo, foi realizada, em 2010, uma enquete junto às assembleias legislativas e câmaras de vereadores. Questionários foram enviados aos associados da $VVRFLDomRGH7HOHYLVmRH5iGLR/HJLVODWLYR±$VWUDOFRPRREMHWLYRGHLGHQWL¿FDUDVPtGLDVH[LVWHQ-­
WHVHPFDGDFDVDHRSHU¿OGHUHFXUVRVKXPDQRVXWLOL]DGRSRUHVWDVPtGLDV
1RVVRUHIHUHQFLDOVHEDVHLDQRWDGDPHQWHQDVRFLRORJLDSUR¿VVLRQDORXRFXSDFLRQDOGRFDP-­
po jornalístico, enquanto atividade inserida na comunicação de massa (HIRSCH, 1980). Também se ID]HPSUHVHQWHRVHVWXGRVGHWHUULWyULRVSUR¿VVLRQDLVRFXSDGRVSHORVDWRUHVGDLQIRUPDomRHGRV
elementos que caracterizam tal atividade jornalística (RUELLAN, 1993). Assim, este texto tem por base quatro pontos de observação da ação informativa parlamentar:
ƒLGHQWL¿FDomRHGHOLPLWDomRGRWHUULWyULRSUR¿VVLRQDOQHVWDVPtGLDV
ƒ
estudo das tarefas, rotinas, balizas editoriais internas e das relações com outros atores;;
ƒLGHQWL¿FDomRGDH[LVWrQFLDGHPDQXDLVFRPSDUDGLJPDVSUR¿VVLRQDLV ƒ
iGHQWL¿FDomRGDH[LVWrQFLDGHVXEJUXSRVQRLQWHULRUGHVWHJUXSDPHQWRSUR¿VVLRQDO
)H]VHQHFHVViULRDLQGDYHUL¿FDUDH[LVWrQFLDGHXPDPHVPDUHDOLGDGHSUR¿VVLRQDOSDUDRV
jornalistas que trabalham nos três níveis do Poder Legislativo brasileiro (federal, estadual e munici-­
SDO7RGDVHVWDVLQLFLDWLYDVQRVSHUPLWLUmRYHUL¿FDUDSHUWLQrQFLDGDVGXDVKLSyWHVHVTXHJXLDPHVWD
pesquisa. A saber: O surgimento das mídias legislativas em grande escala no Brasil permite pensar na existên-­
cia de:
a) uma nova especialidade jornalística, a do Jornalismo Legislativo?
EXPDQRYDFDWHJRULDSUR¿VVLRQDODGRV Jornalistas Legislativos?
As mídias legislativas – uma rápida retrospectiva
A existência de estruturas informativas parlamentares não é, em si, uma novidade, nem mes-­
mo o uso de canais legislativos. Eles existem, praticamente, em todos os países do mundo. Mídias geridas por casas legislativas já são, assim, parte integrante do leque de meios de comunicação ofer-­
tados à sociedade. Embora o Congresso Nacional fosse detentor de uma freqüência de rádio em Ondas Curtas desde 1967,5 no Brasil, os canais legislativos nascem com a lei nº. 8.977 de 6/01/1995, que regula a cabodifusão. A partir da lei, os legislativos municipais, estaduais e as duas casas do Congresso Na-­
cional passaram a ter o direito de explorar canais de televisão por meio do cabo. Na realidade, o pio-­
neirismo se deve a Assembléia Legislativa do estado de Minas Gerais – ALMG. Em 30/11/1995, a TV 3 Resultados publicados em 1986 e 1996. 3HVTXLVDVLPLODUIRLDSOLFDGDQDGpFDGDGHSRU0F0DQHSDUDGH¿QLURSHU¿OGRMRUQDOLVWDRFLGHQWDO(P+(56&29,7=
VHYDOHXGDPHVPDPHWRGRORJLDSDUDDQDOLVDURVMRUQDOLVWDVEUDVLOHLURVHPDWXDomRHP6mR3DXORH1(*5(,526FRPSUR¿VVLRQDLV
portugueses.
5 Concessão outorgada pelo General Arthur da Costa e Silva, no período da ditadura militar por meio de decreto Decreto 61.258, de FI'LiULR2¿FLDOGD8QLmR6HomRSiJ&RQWH~GRGLVSRQtYHOHPhttp://www2.camara.gov.br/legin/fed/de-­
cret/1960-­1969/decreto-­61258-­31-­agosto-­1967-­402495-­publicacao-­1-­pe.html Visitado em 21/01/2011. Segundo CHACON, Sérgio (2008:24) A crise institucional e o fechamento do Congresso Nacional, em dezembro de 68, frustraram a implantação da Rádio do Congresso. Citando Costa e Silva (2001: 27), ele lembra que a rádio seria operacionalizada pela Rádio Nacional de Brasília, controlada pelo Poder Executivo.
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Legislativo – TVL deu início às transmissões pelo canal 40 do serviço de cabodifusão local.
Em 05/02/1996, um ano após a promulgação da lei, a TV Senado começou a operar, contando com uma equipe de apenas dez jornalistas. A TV Câmara nasceu três anos depois, em 20/01/1998. Ao contrário de outros países, como o México e a França, onde as duas instâncias do parlamento compartilham um só canal, no Brasil, cada Casa opera a sua própria estrutura e freqüência.
Os dois canais surgiram dentro de um contexto político de redemocratização do Brasil. Após três décadas de ditadura militar, fazia-­se necessário abrir as portas e janelas do poder para a cidada-­
nia e dar um basta às caixas pretas governamentais. Nas palavras de MATOS (2003), a criação dos canais parlamentares implicou um esforço de construção de uma comunicação pública que envol-­
YHULDRFLGDGmRGHPDQHLUDGLYHUVDSDUWLFLSDWLYDHVWDEHOHFHQGRXPÀX[RGHUHODo}HVFRPXQLFD-­
tivas entre o Estado e a sociedade.
Eles seriam instrumentos de uma glasnot, ampliando a ação de accountability, entendida enquanto processo de prestação de contas por parte das autoridades públicas parlamentares diante dos cidadãos. Um instrumento para dotar de maior transparência os feitos legislativos. As decisões, antes tomadas entre quatro paredes, passaram a ser vistas pelo cidadão do seu sofá, sem montagens, cortes. Ampliou-­se a transparência dos feitos públicos e permitiu se ao espectador/cidadão ser, ele mesmo, o cão de guarda, tarefa anteriormente atribuída por alguns autores aos jornalistas.
A iniciativa federal teve repercussões imediatas nos Estados e municípios. Em 2006, 17 Esta-­
dos dispunham de canais legislativos e três outros estavam em fase de implantação. Em 2009, três anos mais tarde, já somavam 24 Estados7 e um outro estava implantando seu canal. A realidade não é muito diferente nos municípios. Em 2005, apenas 8 capitais e 30 cidades de médio porte se valiam de tal recurso midiático. Em 2009, já somavam 12 CMs de capitais e 48 de cidades de médio porte. Em maio de 2010, 84 ALs e CMs já contavam com canais legislativos. Em termos geográ-­
¿FRV PDLV GD PHWDGH GR WHUULWyULR QDFLRQDO p FREHUWD SHORV VLQDLV WUDQVPLWLGRV SRU HVWHV FDQDLV
(SANT’ANNA, 2009:315). À primeira vista, uma verdadeira rede midiática parlamentar, mas, ape-­
sar da existência da Astral, não existe uma rede de TVs e rádios legislativas no sentido organizacio-­
nal e estrutural. Cada canal é independente e possui grade própria de programas e objHWLYRHGLWRULDO
HVSHFt¿FR
A estrutura midiática parlamentar
A organização legislativa do Brasil se dá em três níveis. Todos são autônomos e atuam segun-­
do suas diretivas próprias. Esta é uma das razões de as mídias parlamentares terem sido fundadas HPPRPHQWRVGLIHUHQWHVVHJXLQGRGHFLV}HVHVSHFL¿FDVGHFDGDFDVDOHJLVODWLYD1mRKiVHTXHUD
obrigação de criá-­las ou de seguir um mesmo padrão.
No âmbito Federal, cada Casa possui seu canal de televisão (a cabo, satélite, aberto em UHF e na web), duas freqüências radiofônicas, OT e FM, jornal impresso e na internet e agência de fotos e notícias. Dentre as três assembleias legislativas que não contavam com canal de televisão em 2010, uma estava em fase de instalação e duas outras se valiam de espaços comprados ou cedidos junto a emissoras públicas e privadas. Na radiofonia, duas possuíam emissoras de rádio e uma terceira es-­
tava instalando seus equipamentos quando da realização de nossa enquete. A existência de jornais impressos ou na internet e de serviços de agência de notícias e de fotos é bem mais comum.
Nossa enquete junto às ALs8, apontou que na estratégia comunicacional, há a predileção pe-­
los meios de comunicação que reforçam a exposição da imagem física dos parlamentares. Há nítida preferência pelo meio televisivo, mesmo sendo esta a mais cara de todas as opções. Ela se faz presen-­
te em 89% das ALs. A segunda mídia mais utilizada são as agências de distribuição de fotos, 71,4%. Agências de notícia e a publicação de diários – impressos ou em linha – são operadas por 57% das casas legislativas estaduais. Por outro lado, a difusão radiofônica, seja ela na web ou hertziana, só se faz presente em 42,8% dos legislativos estaduais. 6 7 8 Política de transparência e de divulgação de informação adotada na União Soviética por ocasião da perestroïka.
Cinco canais possuem sinais abertos, a cabo e na internet;; 17 apenas no cabo e na web, e dois canais apenas na web.
Dentre as 27 Assembléias, a enquente alcançou 7 delas 7 (26%).
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No espectro municipal, nos apoiamos no censo realizado, em 2005, pelo Interlegis e informa-­
ções da Astral. Segundo a associação, em 2010, 60 câmaras municipais operavam canais parlamen-­
tares, dos quais 12 eram capitais estaduais. Pelos dados do censo9, em apenas 1.125 CMs (20,23%) existia de forma estruturada e orgânica uma assessoria de imprensa ou de comunicação. Em 2.912 (52,35%), dos 5.562 municípios brasileiros, as CMs não possuiam qualquer meio para se comunicar com o público ou mesmo com a imprensa tradicional.
Os jornalistas legislativos
2VXUJLPHQWRGHVWDVQRYDVPtGLDVGHVHQYROYHXXPQRYRWHUULWyULRSUR¿VVLRQDOSDUDRVMRUQD-­
OLVWDV1mRH[LVWHPHVWDWtVWLFDV¿iYHLVVREUHRXQLYHUVRGHMRUQDOLVWDVDWXDQGRQRFDPSRGDLQIRUPD-­
ção legislativa, mas podemos estimar um contingente próximo a 1.500 pessoas. A estrutura comunicacional do SF – TV, rádio, jornal agências de notícias, radiofônica e de fotos, portal web e a administração central, além do setor de Relações Públicas – reunia, em maio de SHVVRDV'DGRVH[WUDR¿FLDLVDSRQWDPTXHRVMRUQDOLVWDVUHSUHVHQWDPGHVWHXQLYHUVR
SUR¿VVLRQDLV10. Na CD os jornalistas eram estimados em 2009 em 104 assalariados11.
As TVs são responsáveis pelo maior volume de contratação. Mais de 1/3 dos jornalistas tra-­
balha na TV Câmara (39,4%) e 28% na TV Senado. Os demais operam na imprensa escrita, agência de notícias e nos portais de cada Casa. As ALs que responderam a nossa pesquisa informaram contar com 103 jornalistas. Também DTXLDSULRULGDGHpSRUDORFDUWDLVSUR¿VVLRQDLVQDV79VOHJLVODWLYDV$VDJrQFLDVGHQRWtFLDV
HPOLQKDFRQVRPHPGRVSUR¿VVLRQDLV2VGHPDLVVmRGLYLGLGRVHQWUHVHUYLoRVIRWRJUi¿FRVLP-­
prensa escrita e radiofônica e a tradicional assessoria de imprensa.
As CMs dotadas de serviços de imprensa empregam 2.054 funcionários no setor de comu-­
nicação. Entretanto, a preocupação em contar com tais serviços não representa, necessariamente, XPDSUR¿VVLRQDOL]DomRGHVXDVDWLYLGDGHV6HJXQGRRFHQVRTXDVHDPHWDGHGRSHVVRDOFRQWUDWDGR
pIRUPDGDSRUDPDGRUHVRXSRUSHVVRDVVHPIRUPDomRSUR¿VVLRQDOHPTXDOTXHUiUHDGD&RPX-­
nicação – Relações Públicas, Jornalismo ou Publicidade. Os jornalistas – grupo foco neste trabalho – totalizam 568 pessoas. Os RPs, 151, e os Publicitários, 65 (ilustração 1). Para melhor conhecer este território, enviamos por correio eletrônico um questionário a 106 câmaras municipais associadas à Astral e 10, dentre elas (9,4% da amostra) nos atenderam.
ILUSTRAÇÃO 1
PERFIL DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL NAS ASSESSORIAS DE IMPRENSA DAS CÂMARAS MUNICIPAIS – BRASIL 2005 Jornalismo
14,70%
RP
27,65%
Publicidade
47,12%
7,35%
Outra -­ não
Comunicação
Sem resposta
3,16%
Fonte: Interlegis, &HQVRGR/HJLVODWLYR. Apud, GONÇALVES, 2010: 206.
2REMHWLYRGRFHQVRHUDLGHQWL¿FDUDVLQIUDHVWUXWXUDVItVLFDVGHFDGDFkPDUDPXQLFLSDODH¿FiFLDGRVVHUYLoRVDGRWDGRVHVWUXWXUDFRPX-­
QLFDFLRQDOUHFXUVRVKXPDQRVSURGXomROHJLVODWLYDFDSDFLGDGH¿QDQFHLUDHFRPSRVLomRSDUODPHQWDU
10
(VWmRLQFOXtGRVQHVWHVGDGRVSHORVPHQRVSUR¿VVLRQDLVFRPIRUPDomRXQLYHUVLWiULDHP-RUQDOLVPRPDVTXHIRUDPFRQWUDWDGRVFRPR
técnicos legislativos (radialistas de nível médio) pelo fato de estarem envolvidos cotidianamente na produção jornalística, em especial na Rádio e na TV Senado.
11 Cf. informação enviada por correio eletrônico pela secretaria de Comunicação da Câmara dos Deputados (Secom), em 29/03/2009. É VDELGRFRQWXGRTXHQRYRVMRUQDOLVWDVIRUDPFRQWUDWDGRVHPHLQtFLRGHPDVRVGDGRVR¿FLDLVQmRVmRFRQKHFLGRV
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A seleção e recrutamento
Para atuar como jornalista no SF e na CD é necessário ser selecionado por um concurso públi-­
co que avalia por meio de provas práticas e teóricas o conhecimento da teoria da comunicação social, a prática do Jornalismo, noções de direito constitucional e do regulamento interno do Parlamento e também o domínio de um idioma estrangeiro. Desde 1989, pelo menos seis concursos foram reali-­
zados. Milhares de candidatos se inscrevem para concorrer a algumas dezenas de vagas. O jornalista aprovado passa por um período de estágio probatório de três anos, antes de ter sua contratação de-­
¿QLWLYDPHQWHKRPRORJDGD6yDVVLPHOHWHUiVHXVWDWXVGHVHUYLGRUS~EOLFRUHJLGRSHOR5HJLPH-X-­
rídico Único, condição que lhe garante estabilidade no emprego e um plano de carreira. Ele só pode ser demitido se cometer falta grave apurada em processo administrativo. Esta realidade não se reproduz nas ALs e CMs. Nos legislativos estaduais e locais prevalece o vínculo precário e temporário dos jornalistas. Possuir jornalistas selecionados em concurso públi-­
co e com status de servidor do quadro funcional é uma realidade em apenas 14% das ALs e CMs. A opção preferida é o «cargo comissionado», onde o vínculo precário é válido unicamente durante o SUD]RGHYDOLGDGHGDQRPHDomR1DPDLRULDGHVVHVFDVRVVmRSUR¿VVLRQDLVHVFROKLGRVFRPEDVHQD
opção ideológica ou relação de amizades com os parlamentares. Dentre as ALs, 56% utilizam tal re-­
crutamento, mas em muitos casos não de forma exclusiva. Da parte das CMs, 28,6% delas trabalham exclusivamente com «jornalistas comissionados». 2XWUDIRUPDGHSUHFDUL]DomRpDWHUFHLUL]DomRGHSUR¿VVLRQDLV(PSUHVDVORFDGRUDVGHPmR
de-­obra fornecem-­nos e, em alguns casos, até fazem a gestão dos serviços de comunicação. Na prá-­
tica, a empresa contrata os jornalistas e demais comunicadores pré-­indicados pelas câmaras. 42,8% das ALs informaram que se valem de terceirizações, nas CMs este percentual sobe para 70%. Em DSHQDVKiSUR¿VVLRQDLVHVWiYHLV
A importância da condição de jornalista concursado não se limita a uma questão de estabi-­
OLGDGHIXQFLRQDO(ODSHUPLWHH[HUFHUXPSHU¿OLQIRUPDWLYRLQGHSHQGHQWH2UHFUXWDPHQWRGHMRU-­
nalistas privilegiando a meritocracia elimina nomeações de caráter político ou pessoal. Além disso, WUD]HOHPHQWRVTXHSHUPLWHPDVVHJXUDULQGHSHQGrQFLDSUR¿VVLRQDOIDFHDDEXVRVHGLWRULDLVRXHYHQ-­
tuais pressões oriundas de níveis hierárquicos superiores e ou mesmo da parte de parlamentares e de outras fontes. Trata-­se de uma condição importante para quem trabalha em instâncias políticas e isso tem se comprovado na prática, pelo menos no SF. Como relata Freitas (2004: 26), os jornalistas se mos-­
tram mais engajados nos objetivos centrais das mídias daquela Casa, entre estes, a transparência da atividade legislativa e não os projetos pessoais dos parlamentares. Tecnicamente, na relação com as fontes, em especial com os parlamentares, os jornalistas não são subordinados a eles. Paradigmas jornalísticos
Kuhn (1972, apud MATHIEN, 2001: 107) GH¿QH paradigma como sendo um conjunto de crenças e de valores guias e de técnicas que são comuns aos membros de um determinado grupo e Ringoot (2001) crê que na imprensa os paradigmas informativos compreendem elementos comuns ao discurso, tais como títulos, ângulos, retrancas, assinaturas (ou não) dos textos, gêneros redacio-­
nais, etc. De sua parte, De Bonville (2001: 13) considera que paradigmas jornalísticos constituem convenções, geralmente implícitas, que administram o referencial jornalístico: o tipo de informação pertinente, a relação com as fontes e a maneira de coletar informações e de redigir os textos, etc. Quais são os paradigmas dos jornalistas legislativos? Responder a esta questão faz-­se ne-­
cessário pelo fato desses paradigmas delimitarem e enquadrarem a atividade informativa dentro – ou fora – do campo jornalístico (BOURDIEU, 1980) e de fornecerem os meios para a sua execução (BONVILLE, 2001: 13). No jornalismo legislativo,RSUR¿VVLRQDOPDQWpPRhabitus (BOURDIEU, 1980: 91) e o ethos jornalísticoDVFRQYHQo}HVTXHDGPLQLVWUDPRUHIHUHQFLDOGDSUR¿VVmRQRVHXHV-­
paço tradicional, ou ele se transforma em um ator engajado pelas ações patrocinadas pelos empre-­
gadores, as Casas Legislativas? E este comportamento é comum aos três níveis do Legislativo? Primeiramente, ao contrário das duas casas do Congresso Nacional, que elaboraram manuais Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. 38
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GHUHGDomRGH¿QLQGRSULQFtSLRVHQRUPDVUHGDFLRQDLVFRQVWDWDPRVTXHMXQWRjV$/VQHQKXPDGHODV
teve a mesma preocupação. Inexiste qualquer carta de referenciais jornalísticos a serem adotados. Segundo nossa enquete, os paradigmas são abstratos e múltiplos. Os mais citados, 16,7%, foram: «utilização dos mesmos parâmetros da mídia comercial», «focar na ação legislativa e parlamentar» e «transparência». Em seguida, «pluralidade», «isonomia» e «precisão». Entre as CMs, 20% redigi-­
ram seus manuais próprios ou adotam códigos precisos. Neste grupo, 30% citaram: «foco editorial sobre a ação legislativa» e 20% «foco editorial na ação parlamentar» como principal paradigma.
Avaliamos que estes parâmetros não representam verdadeiramente paradigmas jornalísti-­
cos, mas sim, alvo da ação informativa. Num segundo grupo de citações, encontramos os conceitos «proximidade com a sociedade», «imparcialidade» e «os mesmos da imprensa privada». 8VXDOPHQWHDLQWHJUDomRGRMRUQDOLVWDjVFRQYHQo}HVHGLWRULDLVHSUR¿VVLRQDLVVHGiQRVSUR-­
FHVVRVGHVRFLDOL]DomRSUR¿VVLRQDOVREIRUPDGHPRGHORVGHHVWLORGHWUDQVPLVVmRGHXPDJHUDomRD
outra, e, no caso brasileiro – onde a formação universitária em Jornalismo era obrigatória até 2009 SDUDRH[HUFtFLRSUR¿VVLRQDO±DVIDFXOGDGHVVHDSUHVHQWDPFRPRXPPHLRLJXDOPHQWHLPSRUWDQWH
A deontologia jornalística
2VYDORUHVPRUDLVHRVSULQFtSLRVTXHDMXGDPDGH¿QLURTXHpFHUWRHHUUDGRIRUPDPDTXLOR
TXHFKDPDUtDPRVGHYDORUHVpWLFRV$/76&+8//-+%XVFDPRVLGHQWL¿FDURVYDORUHVpWL-­
cos que norteiam os jornalistas legislativosHLQWHUIHUHPHPVXDVURWLQDVSUR¿VVLRQDLV4XHVWLRQD-­
dos sobre situações hipotéticas passíveis de serem vivenciadas no cotidiano na captação e produção de informação, demonstraram possuir condutas bem rígidas. O grupo, como um todo, não é muito ÀH[tYHOVREUHRVSDUkPHWURVpWLFRVSUR¿VVLRQDLV
1XPDHVFDODGHWUrVSRQWRVRQGHUHSUHVHQWDQHQKXPDÀH[LELOLGDGHpWLFDHVWHVMRUQD-­
listas obtiveram média de 2,66 pontos. Os jornalistas das CMs são os mais rígidos, 2,83, seguidos pelos do Senado Federal, 2,7, das ALs 2,6, e, por último pelos da CD, que assim se mostram os mais ÀH[tYHLVSRQWRVYHUWDEHOD(VWH~OWLPRJUXSRDSUHVHQWDFRPSRUWDPHQWRVHPHOKDQWHDRYH-­
UL¿FDGRSRU6DQW¶$QQDMXQWRDRVUHSyUWHUHVGHSROtWLFDFUHGHQFLDGRVFRPRVHWRULVWDVQR
Congresso Nacional: 2,43.
TABELA 1
COMPORTAMENTO ÉTICO
Jornalistas
Situação
Senado Federal
Câmara dos Deputados
Assembléias Legislativas
Câmaras de Setoristas no Vereadores Congresso Nacional
2,98
3,0 3,0 3,0 2,88 2,88
2,37
3,0
3,0
2,58 (VWLPXORj
ocorrência de IDWRVRFLDOPHQWH
FRQGHQiYHO
visando transformar o episódio em notícia
Romper o Off -­ UHYHODURQRPHGH
uma fonte
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39
2,80 3,0
2,67
3,0
2,80 2,75 2,89
2,33
2,67
2,47 2,49 2,05
2,0
2,83
2,49 Pagar fontes para obter informação
Empregar-­se em empresa/ repartição S~EOLFDSREWHU
FODQGHVWLQDPHQWH
informações
'LVVLPXODomR
da identidade SUR¿VVLRQDO
2,78
2,66
2,60
2,90
2,64
Média
Fonte: Elaboração pessoa a partir de SANT`ANNA (2009:399), GONÇALVES (2010: 221) e de enquete realizada por QUEIROZ em 2007 e não publicada.
$ÀH[LELOLGDGHpPDLVSUHVHQWHQDVVLWXDo}HVPDLVSUy[LPDVDRTXH7KRPSVRQ
113) descreveu como princípio de WUDQVSDUrQFLDGRVIHLWRVS~EOLFRVGH¿QLGDSRUHOHFRPR©WUDQV-­
IRUPDomRGDYLVLELOLGDGHª$XWLOL]DomRQmRDXWRUL]DGDGHGRFXPHQWRVSHORVSUR¿VVLRQDLVpPHQ-­
surada em três situações: GRFXPHQWRVSHVVRDLVHIRWRVtQWLPDVGRFXPHQWRVRXIRWRVR¿FLDLVQmR
FODVVL¿FDGRVFRPRFRQ¿GHQFLDLV;; e GRFXPHQWRVFRQ¿GHQFLDLVS~EOLFRVRXSULYDGRV. TABELA 2
UTILIZAÇÃO DE DOCUMENTOS E FOTOS
Jornalistas
Situação
Senado Federal
Câmara dos Deputados
Assembléias Legislativas
Câmaras de Setoristas no Vereadores Congresso Nacional
2,85
2,26
3,0
3,0
2,62
2,53
2,26
1,83
2,17
2,00
Uso não autorizado de documentos pessoais e fotos íntimas
Uso não autorizado de documentos FRQ¿GHQFLDLV
S~EOLFRVRX
SULYDGRV
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40
2,29
2,05
2,67
3,0
1,88
Uso sem autorização de documentos ou IRWRVR¿FLDLV
QmRFODVVL¿FDGRV
como FRQ¿GHQFLDLV
2,55
2,19
2,50
2,72
2,17
Média
Fonte: Elaboração pessoa a partir de SANT`ANNA (2009:399), GONÇALVES (2010: 221) e de enquete realizada por QUEIROZ em 2007 e não publicadas.
$XWLOL]DomRVHPDXWRUL]DomRGHGRFXPHQWRVHIRWRJUD¿DVSHVVRDLVRXR¿FLDLVGHVDJUDGDRV
SUR¿VVLRQDLVPDVQmRWDQWRFRPRQDVVLWXDo}HVGHVFULWDVQDWDEHOD2XVRQmRDXWRUL]DGRSHOD
IRQWHGHGRFXPHQWRVFRQ¿GHQFLDLVS~EOLFRVRXSULYDGRVREWHYHPpGLDGHDPDLVSUy[LPDGR
centro da escala e muito próximo de um comportamento editorial não recomendável. Entretanto, segundo Thompson (2005: 81), uma vez aceita a idéia de que podem ser retiradas as cortinas que cobrem a cúpula do poder, torna-­se difícil manter uma distinção estrita entre os segredos referentes ao exercício do poder e os segredos concernentes à vida privada. A diferença de valores entre os grupos de Jornalistas pode ser decorrente dos padrões de cada meio ou das normas internas de cada casa legislativa, mesmo que estas não sejam materializadas por escrito. É o esprit maisonGH¿QLGRSRU0DWKLHQ1992, 195), enquanto a cultura interna da em-­
presa de comunicação que interfere na informação difundida. Isso é o resultado de um sistema de YDORUHVTXHRVGLULJHQWHVFULDPFRPDSRLRRXQmRGRVSUR¿VVLRQDLV±GL]HOH. Assim, a maneira de FRQWUDWDURV-RUQDOLVWDVHRSHU¿OGRFRQWUDWDQWHSRGHPLQÀXHQFLDURPRGRGHROKDUGHFDGDJUXSR
VREUHRVSDUDGLJPDVSUR¿VVLRQDLV
1RVHXFRWLGLDQRWRGRMRUQDOLVWDSUHFLVDDGPLQLVWUDURFRQÀLWRHQWUHRVYDORUHVSHVVRDLVHRV
critérios editoriais estabelecidos pelos empregadores. A fragilidade do Jornalista em impor seus va-­
ORUHVpPDLRUTXDQWRPDLVSUHFiULDIRUVXDUHODomRGHWUDEDOKR'HVWDIRUPDHVWHFRQÀLWRHPWHVH
pode ser mais presente entre os jornalistas comissionados e terceirizados. 3RULVVRWHQWDPRVLGHQWL¿FDURQtYHOGHDXWRQRPLDGRVJLs HPUHODomRDRSHU¿OGRHPSUHJD-­
GRU&RQVWDWRXVHXPIUDFRSRGHUGHGHFLVmRHQWUHHVWHVSUR¿VVLRQDLV3DUDLQH[LVWHOLEHUGDGH
GHHVFROKDGDSDXWDD¿UPDPQmRWHURGLUHLWRGHGH¿QLURFRQWH~GRQHPDDERUGDJHPGRWHPD
a ser coberto e 50% não podem selecionar as fontes a serem ouvidas. TABELA 3
PERCEPÇÃO DE AUTONOMIA JORNALÍSTICA
9RFrWHPWRWDOOLEHUGDGHSDUDGH¿QLUVXDSDXWD"
Câmara dos Assembléias Câmaras de Jornalistas no
Senado Federal
Deputados
Legislativas
Vereadores
Média
Sim
Não
Sem resposta
9RFrWHPWRWDOOLEHUGDGHSDUDGH¿QLURFRQWH~GRkQJXORGDVXDPDWpULD"
Sim
Não
Sem resposta
9RFrWHPWRWDOOLEHUGDGHSDUDGH¿QLUVXDVIRQWHV"
Sim
Não
Sem resposta
Fonte: Elaboração pessoal a partir de SANT`ANNA (2009:399), GONÇALVES (2010: 221) e de enquete realizada por Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
Disponível em: www.mejor.com.br
41
QUEIROZ em 2007 e não publicada.
Analisando a tabela 3, constatamos que a paisagem não é homogênea. Nas CMs as limita-­
ções são mais presentes. Os jornalistas são verdadeiros paus-­mandados ou nas palavras de Mathien (1992: 148), soldats d’infanterie que executam as estratégias superiores. É na CD que se encontra mais liberdade de escolha quanto ao ângulo e fontes, mas uma elevada limitação na escolha de te-­
mas. Quanto aos que trabalham para as ALs, a autonomia só se faz um pouco mais presente no quesito escolha das fontes. Esta realidade reforça as idéias organizacionais de Warren Breed, que, segundo Traquina (2002: 71), sublinha a importância dos constrangimentos organizacionais sobre a atividade pro-­
¿VVLRQDOGRMRUQDOLVWD7DPEpPD7HRULDGD$omR3ROtWLFDGHYHVHUFRQVLGHUDGD6HJXQGR7UDTXLQD
(2002: 80-­81), os meios de comunicação são vistos de uma forma instrumentalista. Servem objeti-­
vamente a certos interesses políticos, em especial para manter o status quo do poder estabelecido, seja ele de esquerda ou de direita.
TABELA 4
VALORES JORNALÍSTICOS
Prioridades editoriais, segundo os valores pessoas dos Jornalistas Análise e interpretação dos temas para o público
Objetividade/
Imparcialidade
Transparência dos feitos S~EOLFRV
Divulgação rápida
Senado Federal
47,0% (1°)
37,0% (2°)
31,0% (3°)
27,0% (4°)
Precisão 27%,0 (4°)
Pluralidade das fontes
Destaque para a visão R¿FLDOGRVIDWRV
Destaque para a visão QmRR¿FLDOGRVIDWRV
23,0% (5°)
3,9% (6°)
0% (7°)
Câmara dos Assembléias Câmaras de Setoristas no Deputados Legislativas Vereadores Congresso Nacional
13,6%(3°)
0%
16,7% 67,5% (1°)
(2°)
16,0% (2°)
18,2% 8,3% 35,0% (4°)
(3°)
(3°)
9,1%
9,1% 0%
12,5%
(4°)
11,4 % (4°)
27,3% 33,3% 27,5%
(2°)
(1°)
13,6% (3°)
9,1% 8,3% 40,0% (3°)
(4°)
(3°)
25,0% (1°)
0%
0%
50,0% (2°)
11,4% (4°)
36,4% 33,3% 7,5%
(1°)
(1°)
0%
0%
0%
10,0%
Fonte: Elaboração pessoal a partir de SANT`ANNA (2009:399), GONÇALVES (2010: 221) e de enquete realizada por QUEIROZ em 2007 e não publicada.
É no quesito parâmetros pessoais (tabela 4) que encontramos as maiores diferenças entre os legislativos analisados. Para os Jornalistas do SF e setoristas no Congresso, o principal valor jorna-­
lístico é a DQiOLVHHLQWHUSUHWDomRGRVWHPDVSDUDRS~EOLFR, com 47% e 67% das citações, respecti-­
vamente. Já nas CMs, este ponto é o segundo mais importante. Na CD, o terceiro, e nas ALs é inexis-­
tente. A coincidência de preferência por parte dos jornalistas do SF e setoristas do Congresso pelo mesmo parâmetro pode ser interpretada como uma demonstração da preservação do que Bourdieu GH¿QLXFRPRhabitus – neste caso habitus jornalístico±HQWUHRVSUR¿VVLRQDLVGDVPtGLDV
do SF. Este habitus, segundo o autor – destaca Sant’Anna (2009: 410) –, é resultante do condicio-­
namento a práticas individuais e coletivas, que interferem historicamente nas formas de pensar e de agir. É um referencial mais intenso do que as eventuais regras e normas internas formais e permite DUWLFXODUFRQMXQWDPHQWHDVSUiWLFDVHDVUHSUHVHQWDo}HVSUR¿VVLRQDLV
O segundo valor mais importante nas duas Casas do Congresso Nacional é a objetividade/
imparcialidade (mais forte no SF, 37%, do que na CD, 16%). Nas ALs, prevalece a velocidade na di-­
fusão de informação, 27,3%, e nas CMs a análise da informação, 16%. De sua parte, na imprensa tradicional predomina a pluralidade de fontes como segundo valor mais forte. Nos demais itens da tabela prevalece uma multiplicidade de preferências nos levando a concluir que a constatação mais Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. 42
Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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importante é justamente a inexistência de padrões iguais entre os legislativos, do que a similitude de referências. Para a base da pirâmide legislativa, o mais importante na ação jornalística é destaque para DYLVmRR¿FLDOGRVIDWRV (36% nas ALs e 33% nas CMs). É evidenciada a prioridade editorial pelas IRQWHVHQmRSHORS~EOLFRSHORFLGDGmR(QWHQGHPRVTXHHVWDSUHIHUrQFLDSHODYLVmRR¿FLDOGRVIDWRV
pPDLVXPUHÀH[RGDSUHFDULHGDGHGDVUHODo}HVGHWUDEDOKR
É necessário destacar que o valor transparência, citado em terceiro lugar pelos Jornalis-­
tas do SF enquanto referencial editorial, está na origem da criação da estrutura informativa daquela Casa. Os manuais de redação do SF, que têm força normativa, são claros quanto ao cidadão ter direi-­
12
to ao acesso à totalidade dos trabalhos legislativos, com isenção e transparência. Havia a intenção de garantir transparência à atuação do Senado e de promover a democratização da informação -­ registra o manual de redação da Agência Senado e Jornal do Senado (2003: 7). Nossa tarefa – 13
complementa o manual de redação da Rádio Senado -­ é mostrar o Legislativo como instituição viva, com diferentes facções políticas e diferentes correntes de opinião sobre todos os temas. Nas demais mídias legislativas, criadas posteriormente e sob um novo cenário político, ele é mais ausente. Talvez, esta não preocupação com o valor transparência se deva à nova realidade nacional, na qual a visibilidade parlamentar e mesmo o marketing político se mostram mais importantes.
TABELA 5
VALORES JORNALÍSTICOS PATRONAIS
Prioridades editoriais, GH¿QLGDVSHOR
empregador $QiOLVHHLQWHUSUHWDomR
dos temas para o S~EOLFR
Objetividade/
,PSDUFLDOLGDGH
Transparência Senado Federal
'LYXOJDomRUiSLGD
Câmara dos Assembléias Câmaras de Deputados Legislativas Vereadores
ž
ž
Precisão 3OXUDOLGDGHGDVIRQWHV
ž
Destaque para a visão ž
ž
R¿FLDOGRVIDWRV
Destaque para a visão QmRR¿FLDOGRVIDWRV
Fonte: Elaboração pessoal a partir de SANT`ANNA (2009:399), GONÇALVES (2010: 221) e de enquete realizada por QUEIROZ em 2007 e não publicada.
1RVVDSHVTXLVDSHUPLWLXFRQVWDWDUDLQH[LVWrQFLDGHXPSDGUmR~QLFRHQWUHRVSUR¿VVLRQDLV
que atuam para as mídias legislativas. Eles possuem, mais ou menos, a mesma tarefa, mas sofrem pressões diferentes para exercê-­las, dependendo do local de trabalho e das relações contratuais de trabalho. É perceptível a diferença entre os valores editoriais patronais dentre os três níveis do Legisla-­
tivo (ver Tabela 5), pelo menos na representação social que os jornalistas constroem, já que não há normas escritas para todos. No SF, nas ALs e nas CMs, os dois principais parâmetros estabelecidos pelo empregador seriam um misto de UDSLGH]HGHVWDTXHSDUDDYHUVmRR¿FLDOGRVDFRQWHFLPHQ-­
tos. Rapidez pode ser explicada a partir do fato que em função da competitividade entre os meios de comunicação, o fator tempo já se impregnou na cultura jornalística e nos valores do newsmaking, suplantando, segundo Schlesinger (1999), o caráter notícia dos fatos. Mas a CD já se difere, ao esta-­
belecer a pluralidade das fontes como a principal exigência editorial patronal.
12 13 Cf. TV Senado, in: http://www.senado.gov.br/tv/conheca/manual/intro.htm
Cf. O SENADO, in: http://www.senado.gov.br/radio/
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Conclusão
A comparação das realidades midiáticas do Poder Legislativo em suas três esferas nos permi-­
WHD¿UPDUTXHpFUHVFHQWHDLPSRUWkQFLDGRVHJPHQWRGRVjornalistas legislativos, principalmente, HPWHUPRVGHXPQRYRWHUULWyULRSUR¿VVLRQDO±HVWLPDGRHPGRPHUFDGRGHWUDEDOKRQDFLRQDO
– e também em função do ineditismo e da amplitude da ação de difusão de informação parlamentar.
A identidade do grupo se reforça mais pelos elementos que os diferenciam em relação aos de-­
mais jornalistas tradicionais, do que necessariamente à homogeneidade interna. Os elementos que XQL¿FDPVmRLWHQVFRPRRSHU¿OGRHPSUHJDGRUSURGXomRLQIRUPDWLYDIRFDGDQDDomRSDUODPHQWDU
e não partidária e o objetivo central de aproximar a sociedade de seus parlamentares.
$SHVDUGHH[LVWLUXPSHU¿OpWLFRSHVVRDOVHPHOKDQWH±RPHVPRpEDVWDQWHSUy[LPRDRMRUQD-­
lista brasileiro de modo geral –, as diferenças no interior do grupo são importantes. Diferenças na forma de recrutamento e contratação – na base do Legislativo prevalecem a precarização das rela-­
o}HVGHWUDEDOKR±UHÀHWHPVREUHDDXWRQRPLDSUR¿VVLRQDOSRLVVmRLQWHUQDOL]DGDVIRUWHPHQWHQRV
paradigmas pessoais dos Jornalistas, em especial nas ALs e CMs. A precarização funcional estimula DGLIXVmRGHLQIRUPDo}HVR¿FLDLVchapa branca e focadas na técnica relacionista de construção da imagem, ao mesmo tempo em que enfraquece a ação informativa tradicional, voltada à transparên-­
cia, à participação cidadã e à análise dos fatos. Nas ALs e CMs se percebe mais o modelo jornalístico soldat de l’infanterie -­ na realidade peça da engrenagem da máquina midiática montada pelos generais. $DXWRQRPLDHGLWRULDOHSUR¿VVLRQDO
é reconhecida por eles mesmo com inexistente. A preocupação com a visibilidade parlamentar e com RPDUNHWLQJSROtWLFRpPDLVQtWLGRQHVWDVHVIHUDVORFDLVHHVWDGXDLV$VVLPLGHQWL¿FDPRVXPPRGHOR
informativo muito mais próximo às ferramentas das Relações Públicas, do marketing político e da Propaganda. De outro lado, no Congresso Nacional e em algumas ALs, que operam suas mídias há mais tempo, o modelo jornalístico se faz presente até mesmo nos manuais editoriais, priorizando as mídias para uma ação de accountability, informação para a construção da cidadania. 6HGHXPODGRpSRVVtYHOFRQFHEHUXPQRYRWHUULWyULRSUR¿VVLRQDOHPFRQVWDQWHFUHVFLPHQ-­
to e consolidação, de outro, ainda é cedo -­ mesmo considerando a existência de uma ciber-­comuni-­
dade que reúne Jornalistas Legislativos de todo o Brasil (e que sonha em se transformar numa asso-­
FLDomRSUR¿VVLRQDOIRUPDO±SDUDVXVWHQWDUDWHVHGDH[LVWrQFLDGHXPDFDWHJRULDSUR¿VVLRQDO±RX
PHVPRGHXPVXEJUXSRSUR¿VVLRQDO±KRPRJrQHRRVX¿FLHQWHSDUDVHUQRPHDGRFRPRJornalistas Legislativos. As diferenças existentes no interior do grupo e da inexistência de uma mesma realidade pro-­
¿VVLRQDOHFRPXQLFDFLRQDOQRVWUrVQtYHLVOHJLVODWLYRVDLQH[LVWrQFLDGHXPFyGLJRHGLWRULDOFRPXP
ou mesmo de manuais de redação com normas semelhantes reforçam nossa leitura. Não foi possível, nem mesmo, reunir elementos que nos levem a pensar na existência de uma especialidade jornalís-­
tica denominada Jornalismo Legislativo, como existe o econômico, desportivo ou internacional. Exceto pelo fato do objetivo deste segmento ser a difusão dos feitos parlamentares, não existem ro-­
WLQDVQRUPDVSUpGH¿QLGDVHGHXVRFRPXPTXHEDOL]HPHVWDDomRLQIRUPDWLYDGHPDQHLUDFRPXP
a todos. Os conceitos e modus operandis mudam de município a município, de Estado a Estado. (VWHFRQMXQWRGHSUR¿VVLRQDLVSRGHSHORPRPHQWRVHUFRQFHELGRPDLVFRPRXPVHJPHQWR
SUR¿VVLRQDOHPIDVHGHIRUPDWDomRGRTXHXPJUXSRRXFDWHJRULDVHJXQGRDVGH¿QLo}HVVRFLROyJL-­
cas. Uma especialidade jornalística exige elementos comuns que permitam a sua diferenciação em relação das demais. É possível que isto venha acontecer no futuro, mas por enquanto o que temos é XPFRQWLQJHQWHH[SUHVVLYRGHSUR¿VVLRQDLVTXHDWXDPSDUDDV&DVDV/HJLVODWLYDVGR%UDVLO
Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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GT1 - Sociologia do jornalismo
Interesse Público e Deontologia Profissional dos Jornalistas Brasileiros
José Ricardo da Silveira
Veruska Sayonara de Góis
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
Resumo
O texto trata das questões deontológicas ligadas à prática do jornalismo e de como o interesse pú-­
blico se enquadra na problemática. Considera as esferas pública e privada como detentoras de ele-­
PHQWRVGH¿QLGRUHVGHXPID]HUSUR¿VVLRQDOTXHVHWUDQVIRUPDDSDUWLUGHLQÀXrQFLDVH[yJHQDVPDV
também tendo como fonte as posturas dos jornalistas frente a sua função e a sua deontologia. Abor-­
GDVREXPYLpVVRFLROyJLFRSUR¿VVLRQDODVVLWXDo}HVFRQÀLWXRVDVFRPRDSUHVHQoDGRVDVVHVVRUHV
GHLPSUHQVDHPXPWHUULWyULRSUR¿VVLRQDOjSDUWHPDVFRPRIURQWHLUDVVHPXPDQLWLGH]VDWLVIDWy-­
ria. Discorre sobre atos jurídicos desregulamentadores originados na Suprema Corte brasileira, que LQWHUIHUHPQDRUJDQL]DomRGDSUR¿VVmRGHMRUQDOLVWDFRPUHÀH[RVQRGHVHQYROYLPHQWRGDSUySULD
atividade jornalística.
Introdução
As mudanças que acometem o jornalismo brasileiro na atualidade devem ser pensadas não DSHQDVDSDUWLUGDVLQÀXrQFLDVH[WHUQDVHVSHFLDOPHQWHDVGHQDWXUH]DHFRQ{PLFDHSROtWLFDeFHUWR
que essas dimensões são determinantes no fortalecimento de um modelo de jornalismo e é forçoso pensar que exercem um papel crucial. Porém, priorizamos neste texto seu aspecto interno deonto-­
OyJLFRHRVUHÀH[RVTXHRPHVPRSRGHSURGX]LUQRMRUQDOLVPRDSDUWLUGDFDWHJRULDSUR¿VVLRQDOGRV
jornalistas.
Buscamos construir uma abordagem que contemple os espaços público e privado como esfe-­
UDVFHQWUDLVSDUDDGH¿QLomRGRSUySULRLQWHUHVVHS~EOLFRQDDQiOLVHGRH[HUFtFLRGRMRUQDOLVPRHGD
própria produção jornalística. Preocupamo-­nos em oferecer um panorama acerca da problemática deontológica envolvendo jornalistas que trabalham nos meios de comunicação e nas assessorias de LPSUHQVDEHPFRPRVREUHDVFRQVHTXrQFLDVGDGHVUHJXODPHQWDomRGDSUR¿VVmRFRPDTXHGDGD
obrigatoriedade do diploma para o seu exercício.
O público e o privado no âmbito social e sua relação com o jornalismo
2GHVHQYROYLPHQWRGDVSUR¿VV}HVHVXDVWUDQVIRUPDo}HVGHSHQGHPHPJUDQGHSDUWHGDV
PRGL¿FDo}HVRSHUDGDVQRWHUUHQRVRFLDOHGHFRPRWDLVPXWDo}HVYmRGHVHQKDQGRPRGRVGHDJLU
adotados pelos indivíduos. Tais indivíduos – no caso aqui tratado representados pela classe jornalís-­
tica – estão inseridos num turbilhão de experiências cotidianas ambientadas nas dimensões privada e pública da vida e das quais eles são personagens constantes, visto que, uma vez fora das mesmas, eles estariam excluídos, também, do mundo que o jornalismo busca representar através de seus re-­
cortes e delimitações. Nessa hipótese, teríamos seres isolados do tecido social, o que não se mostra possível de operacionalizar na vida em sociedade, ao menos se esse indivíduo busca ser reconhecido socialmente.
A HVIHUDS~EOLFD e a esfera privada são mostradas por Jürgen Habermas como espaços dife-­
renciados e que dependem um do outro para se constituir num objeto de representação e de discus-­
são da realidade. Uma dimensão ganha visibilidade a partir do contraste que se estabelece com a ou-­
tra. O autor as retrata como categorias originadas na Antiguidade, quando, “na cidade-­estado grega desenvolvida, a esfera da pólis que é comum aos cidadãos livres (koiné) é rigorosamente separada Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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da esfera do oikos [casa], que é particular a cada indivíduo (idia)” (HABERMAS, 2003, p. 15).
A vida pública, porém, não estava circunscrita apenas a uma representação de espaço físico à vista de todos, mas ampliava-­se para a esfera do que poderia ser concretizado através da fala, da análise da realidade no plano político. Tudo que fosse caracterizado pelo interesse coletivo deveria ser discutido na esfera pública, ao contrário dos assuntos privados, mantidos no oikos. Com o passar dos séculos, a noção de privado foi ampliada, não se restringindo apenas ao que se desenrolava no âmbito doméstico, mas abarcando também demais assuntos relativos à vida privada do indivíduo, mesmo que esses temas se materializassem em outros espaços fora de sua casa.
O jornalismo, desde sua gênese, opera majoritariamente na esfera pública, apesar de não dei-­
xar de fazer incursões nos espaços privativos. Em alguns setores do mercado que emprega jornalis-­
tas, a exemplo do formato das revistas, muito do espaço editorial pode ser destinado a acontecimen-­
tos que seriam de interesse apenas do indivíduo protagonista da situação descrita ou narrada, ou, no máximo, de grupos muito próximos a essas pessoas.
As revistas especializadas em fofocas são, talvez, o exemplo mais visível dessa abordagem do privado, ao mesmo tempo em que se tenta dotá-­las de ares de interesse público. Porém, em relação a essa atividade, o simples fato de empregar jornalistas não lhe garantiria a marca honorável de ve-­
ículo jornalístico. Pelo menos temos que admitir ser legítimo o questionamento de que esses veícu-­
los de comunicação não abordam temas de interesse público e apenas se enlameiam naquilo que, para alguns, é o imoral escrutínio da vida privada alheia. Assim, temos que a abordagem do privado muitas vezes traz uma tentativa subjacente de travestir-­se de análise do que é público e de interesse público.
Todavia, como nos alerta Hannah Arendt, não devemos cair na tentação de acreditar que tudo que está na esfera privada seja irremediavelmente irrelevante e, portanto, de segunda classe. É indispensável, porém, percebermos que os acontecimentos irrelevantes estão circundados pelas fronteiras do privado e os fatos públicos e interessantes para a esfera pública – de interesse público ±QmRGLVSHQVDPDTXDOL¿FDomRGHVHUHPUHOHYDQWHV1HVVDGXDOLGDGHFRQÀLWXRVD³>@HPERUDDHV-­
fera pública possa ser grande, não pode ser encantadora precisamente porque é incapaz de abrigar o irrelevante” (ARENDT, 2000, p. 62). Segundo a autora, é a esfera privada a detentora da primazia de ser “encantadora”, e, a partir disso, também ostenta seu valor.
Se a atividade jornalística se transforma e, nesse processo, aproxima-­se cada vez mais do en-­
WUHWHQLPHQWRRWUDEDOKRGHVHQYROYLGRSHODVDVVHVVRULDVGHLPSUHQVDFRQ¿JXUDVHHPXPSURFHVVR
GHWUDQVIRUPDomRYLYHQFLDGRQRHVSDoRSUR¿VVLRQDOGDFDWHJRULD3RUXPODGRHVVDDWLYLGDGHWHPVH
submetido a questionamentos quanto à certeza de que a mesma integraria a seara jornalística;; nou-­
WURÀDQFRHPHVSHFLDOSRUSDUWHGHVLQGLFDWRVEXVFDVHDDFHLWDomRLQFRQWHVWiYHOGHTXHVHWUDWDGH
uma função jornalística.
No Brasil, entretanto, é difícil negar que, culturalmente, o “jornalista-­assessor” de fato exista, quando não abandona formalmente seu estatuto de jornalista nem dele é destituído por qualquer LQVWkQFLDVXSHULRUHPDLVDLQGDTXDQGRDPDLRUSDUWHGRVSUR¿VVLRQDLVJUDGXDGRVHP-RUQDOLVPR
ocupam postos de trabalho nas redações de assessoria, conforme dados fornecidos pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ).1
Mais uma vez temos diante de nós a expectativa acerca daquilo que é público e do que é pri-­
vado. A corrente contrária à aceitação das assessorias como espaços que podem gerar conteúdos de LQWHUHVVHS~EOLFR±SRUWDQWRFODVVL¿FDQGRDVFRPRHVSDoRVSULYDWLYRVHLQFRPSDWtYHLVFRPRLGHDO
jornalístico – sustentam que raramente poderia haver harmonia entre os objetivos das organizações que abrigam essas estruturas de comunicação e os cânones do jornalismo. Nessa direção, as asses-­
sorias estariam harmônicas com a missão organizacional, em detrimento de qualquer contrato im-­
plícito com a sociedade.
Por outro lado, também seria possível sustentar a premissa de que os jornalistas-­assessores poderiam adotar posturas consoantes às expectativas dessa mesma sociedade, bastando que a co-­
brança por maior responsabilidade social a partir das organizações desembocasse numa adequação ou aperfeiçoamento de conduta, na hipótese disso se mostrar necessário. Dessa forma, os assessores 1 Segundo dados fornecidos pela diretoria da FENAJ, em janeiro de 2009, 70% dos jornalistas em atividade encontram-­se inseridos no nicho das assessorias.
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estariam livres – ou pelo menos mais livres – da pecha de manipuladores.
A realidade da profissão de jornalista face à deontologia profissional
No Brasil, desde meados dos anos 1990, a expansão do ensino superior – especialmente no VHWRUSULYDGR±IH]FRPTXHXPDXPHQWRVLJQL¿FDWLYRQRQ~PHURGHMRUQDOLVWDVIRUPDGRVSURYRFDV-­
se um excesso de mão de obra sem precedentes no mercado jornalístico. Ao passo que o aumento de vagas nas universidades contribuiu para essa realidade, outro fator também pressionou nesse senti-­
do: o enxugamento das equipes editoriais nos meios de comunicação convencionais, provocado pelo DYDQoRWHFQROyJLFRHSHODIRUPDomRPXOWLPtGLDGHVVHVSUR¿VVLRQDLV
O fato é que os jornalistas brasileiros tem experimentado uma precariedade não apenas em termos de baixos salários2, mas também nas condições de trabalho. Em geral atuando em mais de XPHPSUHJRSDUDDVVHJXUDUUHQGDVX¿FLHQWHSDUDDVREUHYLYrQFLDDVURWLQDVHVWDIDQWHVjVTXDLVHVVH
JUXSRSUR¿VVLRQDOWHPVLGRVXEPHWLGRID]FRPTXHLPDJLQHPRVVHUSURYiYHOTXHHVVHTXDGURLQÀXD
diretamente nas características do jornalismo brasileiro.
Uma vez sobrecarregados de trabalho e com o tempo exíguo, os jornalistas das rádios, dos MRUQDLVGDV79VHGRVSRUWDLVGHQRWtFLDVHQFRQWUDPGL¿FXOGDGHVSDUDUHFXVDUPDWHULDOSURQWRHQ-­
viado pelas assessorias de imprensa. Essa realidade é caracterizada pelo que Ciro Marcondes Filho aponta como um expansionismo da
indústria da consciência no plano das estratégias de comunicação e persuasão dentro do noticiário HGDLQIRUPDomReDLQÀDomRGHFRPXQLFDGRVHPDWHULDLVGHLPSUHQVDTXHSDVVDPDVHUIRUQHFLGRV
aos jornais por agentes empresariais e públicos (assessorias de imprensa) e que se misturam e se confundem com a informação jornalística (vinda da reportagem principalmente), depreciando-­a “pela overdose” (MARCONDES FILHO, 2002, p. 30).
(QWHQGHPRVTXHQDDWXDOLGDGHHVVDWHPVLGRXPDGDVWUDQVIRUPDo}HVPDLVGHVD¿DQWHVQR
GRPtQLRMRUQDOtVWLFREUDVLOHLUR1mRKiMXVWL¿FDWLYDSODXVtYHOTXHDPSDUHHVVDSDVVLYLGDGHGHUHSyU-­
teres e editores, mas, por outro lado, não se pode criticá-­los sem apontar as saídas para que os mes-­
mos se desvencilhem do processo de precarização.
$ GHRQWRORJLD GD FDWHJRULD SUR¿VVLRQDO QmR WHP GDGR FRQWD GH HQIUHQWDU R GLOHPD LPSRV-­
to por essa realidade, pelo simples fato de que o código deontológico dos jornalistas passa ao largo GHVVDSUHRFXSDomRTXDQGRQmRGH¿QHFODUDPHQWHTXDORSRVLFLRQDPHQWRHVSHUDGRGRVDVVHVVRUHVH
dos “jornalistas convencionais”3. Bucci (2009, p. 95) nos alerta que os assessores e seus colegas dos meios de comunicação trabalham para diferentes clientes e com objetivos totalmente diferenciados e a situação reclama normas deontológicas distintas.
Dessa forma, entendemos que não haveria como agrupá-­los sob um mesmo guarda-­chuva da FRQGXWDpWLFD'HIDWRpGLItFLOHDSUySULDFDWHJRULDMRUQDOtVWLFDYLYHQFLDHVVDGL¿FXOGDGHTXDQGR
DRUHIRUPXODUVHXFyGLJRGHpWLFDQmRFRQVHJXHDYDQoDUVLJQL¿FDWLYDPHQWHQDUHGDomRGHXPWH[WR
TXHHVSHFL¿TXHFODUDPHQWHTXDLVDVIXQo}HVGHFDGDXPGRVVXEJUXSRV$GHVSHLWRGRFyGLJRYLJHQ-­
te, aprovado em 2007, deixar claro que os jornalistas-­assessores estão a ele submetidos, não aborda TXHVW}HVSUiWLFDVGRDJLUSUR¿VVLRQDOQDVIXQo}HVGHDVVHVVRULDDH[HPSORGRTXHID]FRPDVIXQ-­
ções exercidas pelos jornalistas convencionais (SILVEIRA, 2010, p. 283).
(QmRpVXUSUHHQGHQWHDIDOWDGHDYDQoRQHVWHDVSHFWRYHUL¿FDGDQDUHIRUPDGRFyGLJRSRLV
de fato, não é fácil abrigar direitos e obrigações dos jornalistas-­assessores no mesmo instrumental deontológico dos jornalistas convencionais. Não seria fácil para qualquer um que integrasse uma co-­
missão com essa incumbência. Os dois subgrupos, visivelmente, estão em terrenos cuja consistência não é a mesma. O que nos parece mais viável é a construção de um segundo código que, a exemplo 2 Ver tabela dos pisos salariais no site da FENAJ: www.fenaj.org.br
3 Adotamos o pressuposto que os jornalistas que migram para o ambiente das assessorias continuam integrantes da categoria, já que PDQWrPRVODoRVFRPDVHQWLGDGHVUHSUHVHQWDWLYDVGRJUXSRSUR¿VVLRQDO$VVLPSDUDGLIHUHQFLDURVGRLVVXEJUXSRVSRGHPRVIDODUGHjornalistas convencionais e jornalistas de assessoria, pelo menos até que se construa um consenso, se for o caso, de que os formadores do segundo subgrupo SHUGHPLQH[RUDYHOPHQWHRHVWDWXWROHJDOHSUR¿VVLRQDOGHMRUQDOLVWDV
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GRDWXDORUELWDULDHPWRUQRGRJUXSRSUR¿VVLRQDOGRVMRUQDOLVWDVHPJHUDOPDVTXHGHL[DULDOtP-­
pida e sem zonas turvas as expectativas que todos deveríamos ter em relação ao trabalho dos asses-­
VRUHV(Q¿PWHUtDPRVGRLVFyGLJRVGHpWLFDHPTXHXPGHOHVVHULDDGRWDGRTXDQGRRSUR¿VVLRQDO
estivesse atuando nas redações de assessoria e o outro quando o jornalista integrasse equipes das redações convencionais.
Entretanto, é comum emergir o seguinte questionamento: não seria mais simples e correto H[FOXLURVMRUQDOLVWDVDVVHVVRUHVGRJUXSRSUR¿VVLRQDO"Não compreendemos como exequível essa exclusão, pois, no Brasil, culturalmente, os assessores tem sido cada vez mais aceitos no grupo pro-­
¿VVLRQDOMRUQDOtVWLFRHVXDDWLYLGDGHSUHHQFKHRWUDEDOKRFRWLGLDQRGDPDLRUSDUWHGRVHJUHVVRVGDV
faculdades de Jornalismo. Da parte dos assessores, não parece ser do seu interesse perder a conexão VLPEyOLFDFRPRLPDJLQiULRPtWLFRDFHUFDGDSUR¿VVmRGHMRUQDOLVWDGRTXDOHOHVVHDOLPHQWDP'D
parte das entidades representativas sindicais, não seria interessante a perda de uma grande fatia de sua base de representados. Em meio ao dilema envolvendo interesse público e privado, parece exis-­
tir, ainda, um interesse de classe.
Os direitos do público e as imposições deontológicas
Falar de direitos do público e da interferência que as assessorias poderiam exercer evoca uma quantidade de questões, a começar pela nomenclatura tratada anteriormente, e traduzida na dicoto-­
mia público/privado. Esse público ou audiência, tradicionalmente amorfo e entendido como a ins-­
WLWXLomRGRµKRPHPPpGLR¶RXDPpGLDHVWDWtVWLFDGDRSLQLmRS~EOLFDWHPPRGL¿FDGRDQDWXUH]DGH
VXDFRQ¿JXUDomRHUHFODPDGRXPDSDUWLFLSDomRFDGDYH]PDLVDJUHVVLYD
Assim, pode-­se tratar de jornalismos, no plural (NEVEU, 2006), e também, de públicos. Divi-­
de-­se, então, o desenho clássico do jornalismo praticado nas empresas de comunicação, com exclu-­
sividade no trato da informação pelos jornalistas;; e o jornalismo colaborativo, praticado por aqueles que, outrora, eram fontes, e que, via de regra, são amadores.
Cabe uma divisão ainda dentro do jornalismo clássico: tratamos, aqui, do jornalismo pratica-­
GRSRUSUR¿VVLRQDLVHPUHGDo}HVGHDVVHVVRULDORFDOL]DGDVHPRUJDQL]Do}HVTXHFULDPVXDHVWUXWXUD
GHFRPXQLFDomRHVHXFRUSRGHSUR¿VVLRQDLVGDiUHDRXVHMDDDVVHVVRULDGHFRPXQLFDomR(VVHkP-­
bito do jornalismo compartilha um traço do jornalismo colaborativo: o fato de que tais organizações também ocupavam o papel de audiência ou fonte, em tempos anteriores.
Nessa evolução do jornalismo clássico para o “de mercado”, o primeiro jornalismo perde um OXJDUSULYLOHJLDGRQDPHGLDomRGHLQIRUPDomRFRPRSRVVtYHOUHVXOWDGRGD³GLVVROXomRGDSUR¿VVmR
jornalística num continuum GH SUR¿VV}HV GH FRPXQLFDomR LOXVWUDGD SHOR QHRORJLVPR DPHULFDQR
media-­worker” (NEVEU, 2006, p. 163).
O público também muda de ares, passando à condição de participante ativo em meios de co-­
municação como a Internet, nos espaços reservados à colaboração pelas empresas de comunicação;; ou, livremente, em páginas pessoais e redes sociais. Porém, conserva ainda na sua relação com os meios de comunicação tradicionais, o papel de audiência ou espectador, mais passivo, menos dialó-­
gico. Nessa relação, o público costuma aparecer como a ideia do leitor mediano, para o qual se di-­
rige o trabalho jornalístico. “Esse personagem-­totem simboliza uma capacidade de atenção (fraca!) à qual a mensagem jornalística deve se adaptar para ser inteligível” (NEVEU, 2006, p. 104). Nessa mesma passagem de texto o autor nos fala de uma “representação intuitiva do público” e temos um exemplo da mesma no episódio em que um dos apresentadores do Jornal Nacional, William Bonner, caracteriza o seu telespectador médio como o personagem Homer Simpson:
Sempre abordo, por exemplo, a necessidade de sermos rigorosamente claros no que escrevemos para o público. Brasileiros de todos os níveis sociais, dos mais diferentes graus de escolaridade. E o didatismo que buscamos para o público de menor escolaridade não deve aborrecer os que HVWXGDUDPPDLV1HVWHGHVD¿RFRPRH[HPSORGRTXHVHULDRS~EOLFRPpGLRQHVVDJDPDLPHQVD
às vezes cito o personagem Lineu, de “A Grande Família”. Às vezes, Homer, de “Os Simpsons”. 1RVGRLVFDVRVUH¿URPHDSDLVGHIDPtOLDWUDEDOKDGRUHVSURWHWRUHVFRQVHUYDGRUHVVHPFXUVR
VXSHULRUTXHDVVLVWHPj79GHSRLVGDMRUQDGDGHWUDEDOKR1R¿PGRGLDFDQVDGRVTXHUHPVH
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informar sobre os fatos mais relevantes do dia de maneira clara e objetiva. Este é o Homer de que falo. (BONNER, 2005). Nesse sentido, recupera-­se a noção de público aqui trabalhada, que corresponderia, em es-­
sência, à de sociedade civil, ou às pessoas, cidadãos em sua multiplicidade. A palavra cidadão apare-­
ce não por acaso, mas por evocar a persona política, o debate enquanto possibilidade de participa-­
ção nos espaços de visibilidade. 2MRUQDOLVPRTXHVXUJHFRPRSUiWLFDHGLVFXUVRHVSHFt¿FRVGRPXQGRFDSLWDOLVWDRFLGHQWDO
pretensamente democrático, é desenvolvido nos espaços midiáticos, por excelência, espaços de visi-­
bilidade – e não aleatoriamente, lócus para onde se transfere contemporaneamente a atenção polí-­
tica. Talvez por ser oriundo de uma ideologia marcadamente liberal, o jornalismo pouco fala de seus GHYHUHVSDUDFRPRS~EOLFRRXSRXFRYROWDVHXROKDUSDUDVHXSUySULRHVWDWXWRS~EOLFR±SUR¿VVLR-­
nal e político. Ao tempo em que se arroga o olhar vigilante da sociedade, reclamando uma delegação de po-­
deres para trabalhar a informação (se não de forma exclusiva, com certeza, de forma privilegiada), destaca somente seu espaço de prerrogativas. Ou seja, o jornalismo dá primazia à extensão de liber-­
dade para buscar, tratar e emitir informação – tratamento esse que deve ocorrer conforme a sua ma-­
neira. Imbuídos da cartilha empresarial, partilham esses atores implicitamente o silêncio sobre os deveres anexos aos seus direitos de liberdade – responsabilidades estas que irão constituir o teor dos direitos do público. Reconhece-­se o “papel central que cabe à comunicação na organização da vida colectiva dos nossos dias” (ESTEVES, 2003, p. 21), bem como a tensão entre as correntes da ³WHRULDOLEHUDOFOiVVLFDGDLPSUHQVDHD¿ORVR¿DGRVHUYLoRS~EOLFR´(67(9(6S2DXWRU
vê, nesse embate, o cerne do problema ético e de um “mal-­estar moral muito próprio de nossos dias” (2003, p. 27).
Para representar a tensão existente, diremos que a teoria liberal clássica trata o jornalismo no âmbito da prestação de serviços a um mercado, com base nos princípios da liberdade e propriedade, e no livre mercado de ideias. Assim, o mercado se autorregula para estabelecer os bons e expurgar RVPDXV¿QFDGRQDGHPDQGDGHFRQVXPLGRUHVHQDOHLGDRIHUWDHGDSURFXUD$VUHVSRQVDELOLGDGHV
éticas dependem da tendência das empresas, e do grau de exigência moral do público. 'RXWURODGRD¿ORVR¿DGRVHUYLoRS~EOLFRWUDWDDLPSUHQVDOLYUHRXPDLVFRQWHPSRUDQHD-­
PHQWHDPtGLDHPDLVHVSHFL¿FDPHQWHRMRUQDOLVPRFRPRLQVWLWXLo}HVHVVHQFLDLVGDGHPRFUDFLD
constituindo um de seus mecanismos de equilíbrio. Volta-­se para um papel político de observação e educação, não se prestando somente à demanda privada de consumo. Detém, assim, prerrogativas organizadas em direitos e garantias, contendo, de forma anexa, deveres e responsabilidades corres-­
pondentes. De qualquer maneira, pode-­se vislumbrar, em uma ou outra corrente, um conjunto mínimo de delineamentos acerca dos direitos do público. É possível falar desses direitos à base das impo-­
sições deontológicas, na dimensão estrita da ética funcional (sobrelevando os aspectos práticos e relacionais do trabalho, com o público externo e o interno), a despeito das dimensões corporativa, cotidiana e cívica, na compreensão de Max Weber (apud ARAÚJO, 2004, p. 81-­82).
Entretanto, na rotina dos jornalistas, a ética seguida parece acentuar a dimensão corporativa HDFRWLGLDQDFRPEDL[RLPSDFWRGRVFyGLJRVGHRQWROyJLFRVQRH[HUFtFLRGDSUR¿VVmR7DLVFyGLJRV
aparecem no início do século XX, tendo origem nos Conselhos de Imprensa (CORNU, 1994, p. 43). Apresentam como eixos a assunção de uma “missão” pela mídia, o respeito pela verdade e a digni-­
dade da pessoa humana (CORNU, 1994, p. 42-­43).
2VFyGLJRVGHRQWROyJLFRVVmRHODERUDGRVSHODVFDWHJRULDVSUR¿VVLRQDLVQRH[HUFtFLRGDDX-­
torregulação, e eventualmente, podem ser promulgados pelo Congresso Nacional, tendo força de lei (ex: código da publicidade, código da medicina). No caso de serem elaborados pela categoria, há duas situações possíveis: na primeira, têm poder coativo moderado, consistente em mecanismos internos, a exemplo da advertência ou da censura pública, aplicados pelos conselhos de ética. Esse TXDGURVHFRQ¿JXUDTXDQGRDSUR¿VVmRWHPIUDFDGHOLPLWDomRIXQFLRQDOHSUHFiULDUHJXODPHQWDomR
QmRWHQGRDFDWHJRULDRUJDQL]DomRHQTXDQWRDXWDUTXLDFRUSRUDWLYDRXSUR¿VVLRQDO
(PXPDVHJXQGDFRQ¿JXUDomRDSUR¿VVmRpUHJXODPHQWDGDSHOR(VWDGRSRVVXLQGR¿OWURVGH
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DFHVVRH¿VFDOL]DomRGDDWXDomRSHODSUySULDFDWHJRULDTXHH[HUFHRSRGHUGHSROtFLDSDUDFRQWUROH
GRH[HUFtFLRSUR¿VVLRQDODGYRFDFLDHPHGLFLQDSRUH[HPSOR1HVVHFDVRRSRGHUFRDWLYRGRFyGLJR
GHRQWROyJLFRpIRUWHSRGHQGRDVDXWDUTXLDVSUR¿VVLRQDLVH[FOXLULQWHJUDQWHVGRTXDGURGDSUR¿V-­
são.
O Código de Ética do Jornalista (CEJ), elaborado em congressos organizados pela FENAJ, é voltado essencialmente para o jornalismo clássico exercido nas redações dos meios de comunicação, HVWDEHOHFHQGRHQWUHWDQWRSUHPLVVDVJHUDLVSDUDDSUR¿VVmRFRPRDVXD¿QDOLGDGHS~EOLFDHUHV-­
ponsabilidade social, contida no Art. 2º (CEJ, 2007).
Interessante registrar que o CEJ brasileiro é, em muitos modos, uma versão condensada de tratados internacionais de direitos humanos e da própria Constituição Federal do Brasil (1988). De maneira que o seu conteúdo está abrigado em importantes documentos legais, o que, em tese, tor-­
naria o próprio texto deontológico obrigatório. O que “atrapalha”, assim por dizer, a lógica desse UDFLRFtQLRpDDXVrQFLDGHyUJmRVHVSHFt¿FRVSDUD¿VFDOL]DomRGDPtGLDHPVXDVFRQGXWDVQmRVH
GHYHQGRHQWHQGHUDTXLTXHHVWDPRVQRVUHIHULQGRj¿VFDOL]DomRGHFRQWH~GR1RFDVREUDVLOHLURR
controle pulverizado pela sociedade tem sido equivalente à ausência de controle. Importante registrar ainda que, nos últimos anos, ao passo em que se desregulamentou a SUR¿VVmRGH MRUQDOLVPRTXHGDGDH[LJLELOLGDGH GR GLSORPDQR6XSUHPR7ULEXQDO)HGHUDO 67)
$'3);; queda da Lei de Imprensa no STF, 5HFXUVR([WUDRUGLQiULR5(, criou-­se juris-­
prudência (consolidação de entendimento judicial em variados julgamentos) acerca da responsabi-­
OLGDGHVRFLDOGDPtGLDHHVSHFL¿FDPHQWHGRMRUQDOLVPRDWUDYpVGRMXOJDPHQWRGHFDVRVHPEOHPi-­
ticos como os citados.
Sobre os direitos do público, a 'HFODUDomR8QLYHUVDOGRV'LUHLWRV+XPDQRV, produzida na Organização das Nações Unidas (ONU), em 1948, deixa claro em seu artigo XIX, que toda pessoa deve ser livre para buscar, receber e transmitir informações, independentemente de limites fron-­
teiriços. Na mesma direção, a Convenção Americana de Direitos Humanos, mais conhecida como Pacto de San José da Costa Rica, formulado em 1969 no seio da Organização dos Estados America-­
QRV2($UDWL¿FDHVVHDQVHLRSRUOLEHUGDGHFRQWLGRGDGHFODUDomRGD218
A Constituição Federal do Brasil (1988) expressa o direito à liberdade de expressão e comu-­
nicação (Art. 5º, IX), bem como o acesso à informação (Art. 5º, XIV), garantindo, de forma particu-­
larizada, a “plena liberdade de informação jornalística” (Art. 220, § 1º). Então, garante-­se o acesso à informação jornalística, em uma primeira abordagem, diretamente para a fruição do público, im-­
plicando em reconhecer uma instituição “imprensa livre”, de maneira a possibilitar o pluralismo ex-­
terno de empresas e atores midiáticos.
O direito à informação pode ser entendido nas seguintes acepções: a) direito a informar;; b) direito de se informar;; e c) direito de ser informado. A informação, que é um bem jurídico, corres-­
pondente ao conteúdo de um direito, deve se conformar pela verdade, pelo interesse público e pelos critérios de qualidade jornalística. Enlaçam-­se os compromissos deontológicos de respeito à verdade e dignidade da pessoa hu-­
mana com a missão do jornalismo, a saber, de cumprir uma tarefa política, comprometendo-­se com o próprio desenvolvimento humano. De fato, “o exercício pleno da cidadania na democracia [...] pressupõe a liberdade de expressão do pensamento, de acesso às informações de interesse público e a visibilidade do poder público” (BENEDETI, 2009, p. 21).
A responsabilidade ética advém aqui do jornalismo e da fonte, mesclando a dimensão cor-­
porativa e a cívica;; mormente quando a fonte é também jornalista (ou jornalista-­assessor). Em um momento em que o jornalismo passa a caracterizar o entretenimento como simples produto, é ne-­
FHVViULRUHÀHWLUDVXDSHUVSHFWLYDSROtWLFDeDSRQWXDomRTXHID]3DWULFN&KDUDXGHDX
As mídias são uma máquina sem memória que tende a construir uma consciência cidadã também sem memória. Assim, a opinião pública construída pelas mídias escapa ao político, pois apenas raramente ele corresponde ao que deveria ser o alvo do discurso político: uma consciência política (CHARAUDEAU, 2006, p. 295).
Hamelink sugere a adoção dos direitos humanos como o único conjunto universalmente dis-­
ponível de padrões para a dignidade e a integridade de todos os seres humanos, relacionando-­os Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. 52
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com os desenvolvimentos informativos, nas acepções tecnológica, cultural, sociopolítica e econômi-­
ca (HAMELINK, 2005, p. 105-­106).
Se, “no jornalismo, a informação é compreendida como um bem social e não como um sim-­
ples produto” (UNESCO, 1983), a informação jornalística passa à categoria de bem jurídico, com-­
ponente do patrimônio imaterial dos sujeitos de direitos humanos, para quem se dirige a ação dos jornalistas – o que implica considerar mais de perto essa categoria.
O modelo aberto de jornalismo e seus impactos sobre direitos e deveres profissionais
O jornalismo é exercido sobre a base tradicional das liberdades clássicas, ou seja, direito à expressão e à comunicação, englobando a manifestação artística, ideológica, religiosa, ou, generi-­
camente, manifestação do pensamento. Afora o detalhe que não são os jornalistas “aquelas pessoas TXHVHGHGLFDPSUR¿VVLRQDOPHQWHDRH[HUFtFLRSOHQRGDOLEHUGDGHGHH[SUHVVmR´67)±5(
SRHVWDWXWRS~EOLFRGRMRUQDOLVPRWHPVLGRUHOHJDGRDRVHJXQGRSODQRGHL[DQGRVHRSUR¿VVLR-­
nal impotente frente às estruturas midiáticas.
A Constituição Federal não dotou o jornalista de um rol expressivo de garantias, ressalvando-­
se as liberdades externas, a saber, de pluralismo de meios de comunicação, de propriedade, estando a “plena liberdade de informação jornalística” (CF, Art. 220, §1º) bem mais voltada aos veículos da PtGLDGRTXHDRSUR¿VVLRQDO
Aliás, registre-­se que, com a diminuição das fronteiras entre jornalismo, publicidade e rela-­
o}HVS~EOLFDVFRQ¿JXUDVHDGLOXLomRHVWUXWXUDOGRTXHVHULDD³LQIRUPDomRMRUQDOtVWLFD´YH]TXHRV
UHIHUHQFLDLVVHMDDSDUWLUGRPHLRFRQWH~GRRXDJHQWHDSDUHQWHPHQWHGHV¿]HUDPVH5$021(7
2007, p. 55).
No tocante à liberdade interna do jornalista, na produção do CEJ, houve a preocupação no tocante às políticas editoriais e à autocensura, inserindo-­se, entre os direitos do jornalista, a cláusula GHFRQVFLrQFLDHPVHX$UWSHODTXDORSUR¿VVLRQDOQmRpREULJDGRDUHDOL]DUWDUHIDTXHFRQWUD-­
ULHVXDVSUySULDVFRQYLFo}HVRX¿UDRVSULQFtSLRVGHRQWROyJLFRVGDSUR¿VVmR2UHIHULGRGLUHLWR±GH
cunho moral – não tem sido aplicado.
Acerca dos deveres, impõe-­se CEJ a máxima segundo a qual “o compromisso fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos fatos” [Art. 4º]. Essa verdade implica o zelo na busca da LQIRUPDomRRSOXUDOLVPRGHIRQWHVHRGHYHUGHUHWL¿FDomR³UHVVDOYDGDVDVHVSHFL¿FLGDGHVGDDVVHV-­
soria de imprensa” [Art. 12º, Inciso I]. Deve o jornalista também “informar claramente à socieda-­
de quando suas matérias tiverem caráter publicitário ou decorrerem de patrocínios ou promoções” [Art. 12º, Inciso IV].
Tais obrigações morais contrariam tanto a prática das assessorias de imprensa, como o jorna-­
lismo praticado em blogsH¿QDQFLDGRSRUSDWURFLQDGRUHVHDQXQFLDQWHVQHPVHPSUHGHFODUDGRV
De maneira que cabe a observação de Frantinatti.
Os portais não superam os limites do jornalismo comercial e, no mais das vezes, dão vazão ao que esse modelo produziu de pior, colaborando para o encolhimento da cidadania, para o descrédito do público em relação ao jornalismo: a exploração das catástrofes de modo frívolo, em coberturas de tragédias;; a exploração da curiosidade do leitor pelo mórbido, ou da sua repressão, que gera ‘compulsivo’ interesse pela privacidade alheia;; a expressa preferência pelo uso do espaço jornalístico em temáticas de escasso ou nulo interesse público, em detrimento da cobertura de fatos de efetiva relevância social. Representam o triunfo da informação movida por interesses comerciais (FRANTINATTI, 2010, p. 16).
7DOLQIRUPDomRQmRWHPUHDLVFRPSURPLVVRVFRPDGHRQWRORJLDSUR¿VVLRQDOQHPFRPDLQV-­
tância política do ponto de vista da cidadania, empurrando o jornalismo para a vala comum da co-­
municação pela sensação e pelo espetáculo da audiência. Impõe-­se a pergunta: “devemos dar conti-­
nuidade às mudanças estruturais realizadas pela esfera burguesa?” (LUHMANN, 1999, p. 121-­122). $SUR¿VVmRpSUHFDUL]DGDDDEHUWXUDpFRPHPRUDGDFRPRDYLWyULDGDOLEHUGDGHGHH[SUHVVmR
ao passo que se ressalta a esfera do individualismo (privado), em detrimento do coletivo (público). O jornalismo individual, assim por dizer, consolida-­se.
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Considerações Finais
&RPR SUiWLFD VRFLDO H SUR¿VVLRQDO GHVHQYROYLGD QDV GHPRFUDFLDV FDSLWDOLVWDV RFLGHQWDLV R
jornalismo muda, com o advento de novos arranjos tecnológicos e econômicos. No caso brasileiro, QDDXVrQFLDGHPDUFRVMXUtGLFRVJDUDQWLGRUHVRHVWDWXWRS~EOLFRGRMRUQDOLVWDpDWUR¿DGROHYDQGR
DSUR¿VVmRDXPH[HUFtFLROLEHUDOL]DQWHGHFXQKRSULYDWLVWD2PRGHORDWXDOGDFRPXQLFDomRSXOYH-­
riza o jornalismo e fragmenta a informação, em um mosaico de vozes e veículos apolitizados, sem UHVSRQVDELOLGDGHVRFLDOQHP¿VFDOL]DomR&RPRVtQWHVHGHXPWHPDTXHPHUHFHPXLWRVDSURIXQGD-­
mentos, compreende-­se que apenas uma decisão política, através dos espaços institucionalizados, poderia dar sentido à prática do jornalismo enquanto função social, preservada em seus aspectos éticos fundamentais.
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GT1 - Sociologia do jornalismo
Des journalistes et des livres. Un tournant auctorial dans la pratique du journalisme ?
Gilles Bastin
Institut d’Etudes Politiques de Grenoble
Roselyne Ringoot
Institut d’Etudes Politiques de Rennes
Resumo
Esta contribuição questiona um objeto até então pouco considerado nos estudos de Jornalismo: os livros escritos por jornalistas. Ela aborda o estatuto do livro no âmbito da produção jornalística e RHVWDWXWRGRDXWRUQRkPELWRGDSUR¿VVmRVLWXDQGRVHQDIURQWHLUDHQWUHDVRFLRORJLDHDGLVFXUVL-­
vidade do jornalismo. Partindo da hipótese de que os jornalistas publicam cada vez mais livros na França e que essas práticas podem ser interpretadas como uma marca das mudanças na atividade jornalística, queremos estabelecer os primeiros marcos de uma pesquisa que visa abalizar a autoria jornalística. Trata-­se, por um lado, de empreender um recenseamento dos livros escritos por jorna-­
listas a partir dos arquivos da Biblioteca Nacional da França e, por outro, de questionar o processo de distinção dessas obras, sobretudo analisando a concessão de “prêmios”.
Cette contribution s’inscrit dans un cadre de recherche visant à questionner un ob-­
jet jusqu’ici peu considéré dans l’étude du journalisme : les livres écrits par des journalistes. L’interrogation inaugurale porte donc simultanément sur le statut du livre au sein de la produc-­
tion journalistique et sur le statut d’auteur au sein de la profession. Formulant l’hypothèse que les journalistes publient de plus en plus de livres en France, ou que, pour le moins, cette produc-­
tion est de plus en plus visible, et que cette pratique peut s’interpréter comme un marqueur de changements dans l’activité journalistique, nous voulons ici poser les premiers jalons d’une re-­
cherche en devenir sur un objet à la croisée de la sociologie et de la discursivité du journalisme. En questionnant la production des journalistes au prisme des livres que ceux-­ci écrivent, cet-­
te contribution s’inscrit donc dans le cadre de travaux considérant le journalisme comme une acti-­
YLWpSOXULHOOH1HYHXHWFRPPHXQHSURIHVVLRQFXOWLYDQWXQÀRXLGHQWLWDLUH5XHOODQ
Elle développe aussi la question des cadres discursifs du journalisme telle que traitée en terme de genres et de dispersion (Ringoot, Utard, 2005) et celle des formes de « codage » de leur activité dont usent dans leurs textes même les journalistes (Bastin, 2009). Nous proposons d’ancrer notre propos dans une analyse de l’auctorialité journalistique inspirée par les travaux de Dominique Maingue-­
neau (2009) sur la notion d’auteur et d’image d’auteur (partie1), en menant deux approches com-­
plémentaires permettant d’une part d’entamer un recensement des livres de journalistes publiés HQ)UDQFHDX;;qPHVLqFOHjSDUWLUGHV¿FKLHUVGHOD%LEOLRWKqTXH1DWLRQDOHGH)UDQFHSDUWLHHW
d’autre part, de questionner d’éventuels processus de distinction des livres de journalistes, notam-­
ment celui des « prix » (partie3), ou dit autrement, d’interroger “la fabrique de l’ honneur” (Du-­
mons, Pollet, 2009) journalistique par le livre. Une autre phase du travail dont nous ne rendrons pas compte ici, mais qui sera exposée lors de notre communication, consistera à isoler un nombre très restreint d’ouvrages récents (dont celui de Florence Aubenas), dans l’objectif d’étudier la struc-­
turation énonciative des livres. Fondée sur un corpus d’enquêtes sociales contemporaines, l’analyse sémio-­narrative et discursive veut repérer les méthodes journalistiques utilisées et leurs mises en scène dans l’écriture (immersion, entretiens, ressources documentaires mobilisées), en comparant les modalités de construction de l’ethos discursif professionnel1. 1 Je remercie ici les étudiants avec qui j’échange sur cette question dans le cadre d’un module du Master Journalisme de l’IEP de Rennes : P. Baumer, M. Boireau, J. Brémaud, A. Casanova, E. Dardenne, V. Dauphous-­Eddos, C. Durand, F. Fontant, A. Lagadec, C. Pesnel, C. Salomé, L. Simon, V.Trin
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L’auctorialité journalistique L’existence d’un phénomène éditorial récent autour des livres de journalistes est attestée en France de plusieurs façons. Depuis les années 2000, des salons littéraires ont mis des journalistes à l’honneur (L’Eté du livre de Metz prenant le label “Journalisme et littérature”, Quais du polar créé à Lyon en 2005), alors que, récemment, certains livres de journalistes ont reçu un éclairage médiatique très important. On peut notamment citer Le quai de Ouistreham (2010) de Florence Aubenas, journaliste emblématique de la profession et qui s’est mise en congé de son employeur, Le Nouvel Observateur, pour réaliser l’enquête en immersion qui a donné lieu à ce livre, Gomorra : dans l’empire de la camorra (2007) de Roberto Saviano qui fut très rapidement adapté DXFLQpPDRXHQFRUHHQPDWLqUHGH¿FWLRQOHVXFFqVPRQGLDOGHMillenium de Stieg Larsson.2 La grande visibilité de certains journalistes pourtant non éligibles à la carte de presse car publiant leurs enquêtes uniquement ou principalement sur le support livre (Denis Robert3, Pierre Péan), attire également l’attention, tout comme le lien accru entre maison d’édition et production journalistique (Laurent Beccaria dirigeant la maison d’édition Les Arènes et la revue XXI, Actes Sud). Les journalistes eux-­mêmes interrogent les conditions de publication d’enquêtes et selon certains, l’édition serait en passe de devenir le « dernier bastion du journalisme d’investigation » au motif que les rédactions préfèrent éviter le risque de poursuites en justice4.
Reprenant la célèbre question de Michel Foucault “Qu’est-­ce qu’un auteur ?” (1969), Do-­
minique Maingueneau (2009) interroge l’auctorialité dans le cadre de l’analyse de discours qui a longtemps minimisé cette approche plutôt traitée en littérature. Il distingue trois dimensions dans la notion d’auteur que nous rappelons ici : -­ celle de l’“auteur-­répondant” : « l’instance qui répond d’un texte (...) être l’auteur d’un texte” vaut de n’importe quel genre de texte (...)
-­ celle de l’ “auteur-­acteur”qui, organisant son existence autour de l’activité de production de textes, doit gérer une trajectoire, une carrière. Ce n’est pas nécessairement une profession, mais c’est un type d’activité, de comportement (...)
-­ celle de l’auteur en tant que corrélat d’une oeuvre (...) on pourrait parler d’ “auteur-­
auctor”. Si tout texte implique par nature un “auteur-­répondant”, seul un nombre très restreint 2 YRLU5LQJRRW/HVIRUPHVURPDQHVTXHVGHO¶pWKLTXHMRXUQDOLVWLTXH0LOOHQLXPXQPDJD]LQHHWGHVMRXUQDOLVWHVHQWUHUpDOLWpHW¿FWLRQ
Colloque « Les journalismes, réalité plurielle, éthique commune » ?, Université d’Ottawa, 8 mai 2010 (http://www.crej.ca/REJ2010/Ringoot.pdf).
3 cf cet extrait d’une itw par le Nl Obs: Pourquoi quittez-­vous Libération en 1995 ?
-­ Voir cette interview de D. Robert : « La vraie raison c’est parce que j’ai envie d’écrire. Je suis mangé par l’écriture et les bouquins. J’avais eu l’ex-­
périence de Chair Mathilde, c’est un roman que j’avais écrit en 1991, j’étais en train d’écrire Je ferai un malheur... Contrairement à la manière dont généralement on me présente, je ne suis pas du tout journaliste ou alors j’ai inventé mon journalisme à moi. Je suis quelqu’un qui écrit et qui vit de ce qu’il écrit. Longtemps, la question qu’on m’a souvent posée c’est «êtes-­vous journaliste ou écrivain», c’est une question qui m’a perturbé parce que je savais pas vraiment quoi dire. Elle ne me pose plus de problème. En France, jusqu’à présent, il n’y a pas de place pour un type comme moi dans les journaux. Je pourrais de temps en temps écrire, c’est ce que je fais, mais aux Etats-­Unis ou en Angleterre c’est beaucoup plus facile d’écrire des «stories». Je m’ennuie à lire les journaux, mais, en même temps, je lis des journaux. Là je me suis réabonné à l’Obs, parce que j’en suis à ma sixième ou sep-­
tième montre, je lis Libé, je lis moins Le Monde parce qu’ils m’ont particulièrement énervé ces derniers temps... Je déconne en disant ça.
Aujourd’hui, les relations que j’ai avec Van Ruymbeke [ndr: juge d’instruction] ou avec Bertossa [ndlr: procureur à Genève] sont des relations ami-­
cales, que je ne pourrais pas avoir si j’étais toujours à Libération. Qu’on le veuille on non c’est très compliqué quand on est journaliste. J’ai un très bon ami qui s’appelle Gilbert Thiel [ndlr: juge d’instruction], que j’ai connu à Nancy. Aujourd’hui, c’est beaucoup plus simple de dire que c’est mon pote. Je peux le dire en interview. Cette relation-­là est beaucoup plus saine maintenant qu’elle ne l’aurait été au moment des Affaires. Avec Renaud van Ruymbeke, c’est plus facile aussi parce que je ne suis pas là à exploiter ce qu’il me raconte. » (Premières questions à Denis Robert, 19 mai 2001, http://tempsreel.nouvelobs.com/actualite/opinion/00014491.EDI0001/premieres-­questionsa-­
denis-­robert.html)
4 http://www.mediapart.fr/club/blog/camilleguillaume/260410/ledition-­dernier-­bastion-­du-­journalisme-­dinvestigation
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d’individus accède au statut d’ “auctor”, d’instance douée d’autorité. » (p.6) Il appelle à « prendre acte de la distorsion entre le foisonnement des formes d’auctorialité (tout genre de texte a un au-­
teur-­répondant et l’ethos correspondant) et l’extrême restriction des individus susceptibles d’être “auteurs-­auctores”, associé à une “image d’auteur” » et souligne qu’ « une condition nécessai-­
UHPDLVSDVVXI¿VDQWHpYLGHPPHQWSRXUTX¶LO\HVW³DXFWRU´HVWO¶H[LVWHQFHG¶XQQRPG¶DXWHXU´
(Mainguenau, 2009, p.8). Notre hypothèse est que la publication de livre représente une « auctorisation » des journalis-­
tes accrue par rapport à celle qui concerne la rédaction d’articles signés et publiés pour et par un ti-­
tre de presse (journal, magazine…) donc au nom d’une instance collective. Partant de là, on peut ap-­
préhender l’auctorisation journalistique sur deux plans : le livre de recueil d’articles (reportages, en-­
quête…) publiés en amont, et le livre comme premier support d’écriture. La pratique consistant pour des journalistes à écrire des livres n’est certes pas nouvelle mais nous faisons l’hypothèse que le sché-­
ma traditionnel selon lequel un journaliste publie sous la forme de livre des enquêtes déjà publiées sous la forme d’articles pour le média qui l’emploie est aujourd’hui concurrencé par un schéma dans OHTXHOOHOLYUHVHVXI¿WjOXLPrPHHWH[LVWHHQGHKRUVGXUDWWDFKHPHQWGXMRXUQDOLVWHjXQHORJLTXH
éditoriale collective. Le premier schéma caractérise assez bien les cas fameux de Nellie Bly publiant en 1887 sous le titre Ten Days in a Mad House une enquête parue quelques mois auparavant dans les pages du 1HZ<RUN:RUOG de Albert Londres dont les reportages pour le Petit Parisien sont repris à partir des années 1920 sous forme de livre par Albin Michel ;; de Woodward et Bernstein publiant chez Simon & Schuster en 1974 un livre tiré de l’enquête menée depuis 1972 sur l’affaire du Waterga-­
te pour le Washington Post ou encore de Michael Herr publiant en 1977 sous le titre Dispatches un matériau collecté plusieurs années auparavant au Viet Nam pour Esquire Magazine. Autrement dit, FHV¿JXUHVGRPLQDQWHVGHSUDWLTXHVMRXUQDOLVWLTXHVDXVVLYDULpHVTXHOHmuckracking, le grand re-­
portage, l’investigation ou le nouveau journalisme ont publié sous la forme de livre un travail dont la légitimité était tirée de sa réalisation pour des journaux. Le journaliste Lincoln Steffens avait d’une certaine façon résumé cet usage journalistique du livre en commençant l’ouvrage tiré en 1904 de son enquête sur la corruption municipale dans les grandes villes américaines par la formule « This is not a book »5. Il nous semble que de plus en plus de livres de journalistes pourraient justement aujourd’hui commencer par une formule inverse : « this is a book » ! Le propos de cette communication est donc d’explorer les changements induits par ce glissement quant au statut même de journaliste.
La question qui nous préoccupe est donc de savoir si les journalistes qui publient aujourd’hui des livres à titre individuel en substitution plutôt qu’en complément d’une activité dans un média (les cas de Denis Robert ou Pierre Péan sont bien connus en France mais on pourrait citer aussi Bob Woodward aux Etats-­Unis qui a suscité de nombreuses critiques récentes après avoir publié dans ses livres des informations qu’il avait cachées à son journal6SDUWLFLSHQWG¶XQHUHGp¿QLWLRQGHVIURQ-­
tières du journalisme, à la fois du point de vue des conditions d’exercice de cette profession, de son statut social7 et de l’autorité dont jouissent les journalistes (leur auctorialité). Ce phénomène peut 5 Voir Rem Rieder, “Say it isn’t so Bob. Woodward keeps a secret -­ from his bosses”, American Journalism Review, October/November 2005.
6 /DTXHVWLRQGHVDYRLUVLXQMRXUQDOLVWHHVWO¶DXWHXUGHVHVDUWLFOHVDpWpFHQWUDOHGDQVODGp¿QLWLRQGXVWDWXWSURIHVVLRQQHOHQHWHOOH
est, jusqu’à aujourd’hui, l’objet de négociations permanentes (droit d’auteur, réutilisation des contenus par les médias, etc.)
7 &H¿FKLHUFRPSWHDXPRPHQWRQRXVpFULYRQVFHWH[WHDXWHXUVUHFHQVpVFRPPH©MRXUQDOLVWHªRX©UHSRUWHUª2QWURXYHUDSOXV
EDVXQH[HPSOHGH¿FKHFHOOHGH)ORUHQFH$XEHQDV
Aubenas, Florence (1961-­....) forme internationale
Nationalité(s) : France
Langue(s) : français
Sexe : féminin
Responsabilité(s) exercée(s) sur les documents : Auteur, participant
Naissance : 1961-­02-­06
Diplômée du Centre de Formation des journalistes (CFJ) de Paris (en 1984). -­ Reporter à «Libération» (en 1995) Source(s) :
On a deux yeux de trop : avec les réfugiés rwandais, Goma, Zaïre, 1994 / Anthony Suau, Florence Aubenas, 1995. -­ Cent jours sans / [publ. par le] Comité de soutien à Florence Aubenas et Hussein Hanoun, impr. 2005
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s’apparenter à diverses manifestations contemporaines de l’affaiblissement du statut profession-­
nel des journalistes, des capacités de mobilisation des organisations médiatiques. Mais il peut aussi questionner un éventuel renforcement du statut symbolique des journalistes, par un positionne-­
ment dans l’espace public en nom propre, et par la singularisation de formes d’activité et de répu-­
WDWLRQVGRQWLQWHUQHWHVWSDUDLOOHXUVXQDXWUHFDVGH¿JXUH1RWUHSUHPLqUHSKDVHGHWUDYDLOFRQVLVWH
à mener deux approches pour délimiter notre champ de recherche : une approche quantitative vou-­
lant mesurer le phénomène éditorial, et une approche questionnant d’éventuels processus de dis-­
tinction des livres de journalistes, notamment celui des « prix ». Un phénomène éditorial récent ?
,OHVWGLI¿FLOHGHPHVXUHUODSRUWpHpGLWRULDOHUpHOOHGHFHSKpQRPqQHGRQWODYLVLELOLWpPpGLD-­
WLTXHSRXUUDLWrWUHODUJHPHQWXQHFRQVWUXFWLRQ$¿QGHTXDOL¿HUGHIDoRQSOXVSUpFLVHODSURGXFWLRQ
GHOLYUHVSDUGHVMRXUQDOLVWHVQRXVDYRQVPHQpXQHLQYHVWLJDWLRQGDQVOHV¿FKLHUVGHOD%LEOLRWKqTXH
1DWLRQDOHGH)UDQFHD¿QGHUHSpUHUGHIDoRQODSOXVH[KDXVWLYHSRVVLEOHO¶HQVHPEOHGHVOLYUHVSX-­
EOLpVSDUGHVMRXUQDOLVWHV3RXUFHODQRXVDYRQVXWLOLVpGHX[¿FKLHUVFHOXLGHVLPSULPpVGDQVOHTXHO
les qualités de l’auteur du livre déposé sont parfois mentionnées et qui présente l’intérêt de recen-­
ser l’ensemble des livres publiés en France du fait de l’obligation faite aux éditeurs d’en déposer un H[HPSODLUHjOD%1)FHOXLGHV³DXWRULWpV´XQ¿FKLHUTXLUHFHQVHWRXVOHVDXWHXUVG¶RXYUDJHVGpSRVpV
jOD%1)HWGRQQHWUqVVRXYHQWGHVLQGLFDWLRQVELRJUDSKLTXHVSOXVSRXVVpHVTXHOH¿FKLHUGHVLPSUL-­
més8,OYDGHVRLTXHO¶XWLOLVDWLRQGHFHV¿FKLHUVQRXVUHQGWULEXWDLUHVGHVSUDWLTXHVGHGRFXPHQWD-­
tion des notices de la BNF (on peut imaginer qu’elles n’ont pas été uniformes dans le temps). Cepen-­
GDQWFHWWHVRXUFHHVWODSOXV¿DEOHTXLH[LVWHSRXUPHVXUHUVXUOHWHPSVORQJHWGHIDoRQH[KDXVWLYH
l’activité éditoriale des journalistes français.
Le Graphique 1 mesure cette activité depuis les années 1950. Il montre assez clairement le très net développement du marché des livres de journalistes dont la croissance suit une tendance UpJXOLqUHVLO¶RQH[FHSWHXQHVLWXDWLRQH[FHSWLRQQHOOHjOD¿QGHVDQQpHV
Google : http://www.lemonde.fr (2005-­07-­27) Domaine(s) : 020
Notice n° : FRBNF12489175
Création : 95/11/07 Mise à jour : 10/08/24 http://catalogue.bnf.fr/ark:/12148/cb124891754/PUBLIC
8 &IO¶DUJXPHQWGH'DYLG.LUNSDWULFNMRXUQDOLVWHSRXU)RUWXQHHWDXWHXUG¶XQOLYUHVXUIDFHERRN³,NQHZIRUDJRRGWHQRU¿IWHHQ\HDUV
WKDW,VKRXOGZULWHDERRN±EHFDXVHLQRXU¿HOGZULWLQJDERRNLVWKHZD\WRWDNH\RXUFDUHHUWRWKHQH[WOHYHO7KDW¶VMXVWSURYHQWLPHDQGWLPH
again. No matter how good you are at magazine or newspaper journalism, if you write a book (even a crummy book!), you are a book author. Some-­
how that changes the world’s perception of you” (http://www.mediabistro.com/galleycat/david-­kirkpatrick-­advises-­journalists-­write-­a-­book-­if-­you-­
possibly-­can_b11982)
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Graphique 1/DSURGXFWLRQpGLWRULDOHGHVMRXUQDOLVWHVUHFHQVpHGDQVOH¿FKLHUGHVLPSULPpVGHOD%1)SDUDQQpH
de publication
Cependant, si l’on essaie de replacer ce phénomène dans la longue durée cette évolution appa-­
UDvWFRPPHPRLQVRULJLQDOH/H*UDSKLTXHFRQVWUXLWjSDUWLUGX¿FKLHUGHV©DXWRULWpVªPRQWUHHQ
effet que la croissance des années 1980-­2000 pourrait en fait répliquer un phénomène déjà connu dans les années 1940-­1950.
Graphique 2/DSURGXFWLRQpGLWRULDOHGHVMRXUQDOLVWHVUHFHQVpHGDQVOH¿FKLHUGHVDXWRULWpVGHOD%1)SDU
décennie de publication des ouvrages
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A ce stade de notre recherche, nous ne pouvons pas proposer d’interprétations de cette évo-­
lution. Nous nous proposons de continuer nos investigations en mettant l’accent sur plusieurs fac-­
teurs explicatifs possibles : l’état du marché éditorial qui joue sans doute un rôle attracteur pour les journalistes (une partie des livres écrits par des journalistes étant des commandes d’éditeurs) ;; des FKDQJHPHQWVGDQVOHVPRGDOLWpVGHVFDUULqUHVGHVMRXUQDOLVWHVGDQVODPHVXUHRO¶pFULWXUHG¶XQOLYUH
peut apparaître comme un outil de visibilité particulièrement utile quand se développent des modes freelance d’engagement des journalistes9 et un instrument de la « démultiplication de soi » (Men-­
ger) qui est la règle dans ce type d’organisation10 ;; l’état économique des entreprises médiatiques.
Les journalistes distingués par le livre
Il existe de nombreux prix honorant les productions journalistiques. Sous une rubrique dé-­
diée, le portail professionnel11 Journalisme.com en recense une trentaine réservés aux « journalis-­
WHVFRQ¿UPpVªHWXQHYLQJWDLQHV¶DGUHVVDQWDX[©MHXQHVMRXUQDOLVWHVª'DQVO¶HQVHPEOHFHVSUL[
sont nominatifs (très peu concernent un média d’exercice) et portent sur une production récente présentée dans le dossier de candidature. Tous les supports sont représentés12 soit exclusivement (sept prix réservés à la photographie), soit en co-­occurrence. Sous la rubrique jeunes journalistes pratiquement tous les prix comportent une spécialité presse écrite, alors qu’ils sont au nombre de 14 VRXVODUXEULTXH©MRXUQDOLVWHVFRQ¿UPpVª13. Les genres éligibles sont principalement le reportage 9 You can write a bestseller and retire young! Well, that’s a little tongue in cheek, but many journalists write books that are moderately successful and provide considerable extra income-­-­year after year, because royalties go on for years. You can even publish a compilation of some of your articles into a book, and some of these hit the bestseller list;; as did “The Root Report”, which was published in England many years ago and is still in the bookshops.” (Brian Hunt, “10 reasons to be a freelance journalist”, http://ezinearticles.com/?10-­Reasons-­To-­Be-­A-­Freelance-­
Journalist&id=518857)
10 You can write a bestseller and retire young! Well, that’s a little tongue in cheek, but many journalists write books that are moderately suc-­
You can write a bestseller and retire young! Well, that’s a little tongue in cheek, but many journalists write books that are moderately suc-­
cessful and provide considerable extra income-­-­year after year, because royalties go on for years. You can even publish a compilation of some of your articles into a book, and some of these hit the bestseller list;; as did “The Root Report”, which was published in England many years ago and is still in the bookshops.” (Brian Hunt, “10 reasons to be a freelance journalist”, http://ezinearticles.com/?10-­Reasons-­To-­Be-­A-­Freelance-­
Journalist&id=518857)
11 http://www.journalisme.com/
12 La production web étant encore peu représentée
13 Parmi ces 14, 5 sont gérés par des organismes non français : Prix Unesco, Euromed, Reuters, IWMF, Louise Weiss, à ceci s’ajoute Le prix de la parole libre de Reporters sans Frontières
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et l’enquête et la plupart des candidatures portent sur un seul article. En revanche, les prix consacrés aux livres sont plus rares. De notre première recherche il res-­
sort que cinq prix différents récompensent des livres : le Prix Albert Londres, le Prix international de l’enquête CFJ, Les Prix des Assises du journalisme, mentionnés sur le site Journalisme.com, ain-­
si que le Prix Joseph Kessel et le Prix Gondecourt que nous avons repérés ailleurs. Le plus fameux d’entre eux, le Prix Albert Londres peut porter sur plusieurs reportages ou sur un livre. Tableau 1 : Prix distinguant des livres de journalistes
PRIX
1 e r &DUDFWpULVWLTXHV
ODXUpDW
3UL[$OEHUW
OH3UL[
Londres
JUDQGVUHSRUWHUV
en mai
Prix SCAM du OLYUHGHYHQX
1991
Prix Joseph .HVVHO
Sur une dizaine de reportages maximum VXU DQQpH /HV OLYUHV
sont admis si s’agit de reportages traitant de VXMHWV G¶DFWXDOLWp (WUH
kJpGHDXSOXV1
&RQVDFUHO¶DXWHXU
d’un ouvrage de haute TXDOLWpOLWWpUDLUHUpFLW
GHYR\DJHELRJUDSKLH
HVVDL3UL[GpFHUQpORUV
GXIHVWLYDO(WRQQDQWV
YR\DJHXUV6DLQW0DOR
1EUHGHOLYUHV *pUpSDU
/
Montant UpFRPSHQVH
SRXU
UHFHQVpV
VXUOHVLWH
VLJQDOpSDU(
Gatien2
HXURV
19 HXURV
en mai
Prix Gondecourt en novembre
3UL[ GX OLYUH d’Investigation du CFJ
Prix des Assises GXMRXUQDOLVPH
en novembre
QRPG¶XQYLOODJHGX6XG QRQUHPLVHQ
GH/LOOH5pFRPSHQVHXQH HQTXrWH MRXUQDOLVWLTXH HXURV
DWWULEXpOHPrPHMRXUTXH
OHSUL[*RQFRXUW 5 DXFXQHLQIRGHSXLV 1 ? Laurence Lacour
'LVWLQJXHGHVOLYUHV
UpÀH[LIVVXUOHMOVPHHWOH
ƒOLYUHG¶XQMHXQHMOVWH
MXU\VOHVSUHPLqUHV
DQQpHVMOVWHVpWXGLDQWV
HQMOVPH
MXU\VHQ
MRXUQDOLVWHVFKHUFKHXUV
pWXGLDQWVHQMOVPH6
$VVRGX3UL[$OEHUW
Londres
(WDGPLQLVWUpSDUOD6&$0
depuis 1985
)oDLV
pWUDQJHU
euros
OLYUH
UpÀH[LIƒOLYUH
HXURV
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-OVWHV5HFKHUFKH
ƒOLYUHRX
DUWLFOHPpGLDV
SCAM46RFLpWp&LYLOH
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OHVDXWHXUVG¶°XYUHV
pFULWHVDXGLRYLVXHOOHVHW
UDGLRSKRQLTXHVjFDUDFWqUH
documentaire
-XU\GHMRXUQDOLVWHVGX
Nord et avocats
Association des anciens du Centre de Formation des -RXUQDOLVWHV
$VVRFLDWLRQ ³-RXUQDOLVPH
HW
&LWR\HQQHWp´ j
O¶LQLWLDWLYH GH -pU{PH
%RXYLHU
(Footnotes)
1 source : http://www.scam.fr/AlbertLondres/londres.html
2 Emmanuelle Gatien, “Prétendre à l’excellence. Prix journalistiques et transformations du champ journalistique”, thèse de doctorat soute-­
nue le 2/12/2010 à l’IEP de Toulouse.
3 source : http://www.prix-­litteraires.net/prix/16,prix-­joseph-­kessel.html
4 http://www.scam.fr/fr/Accueil/tabid/363222/Default.aspx
5 source : http://www.prix-­litteraires.net/prix/994,prix-­gondecourt.html
6 source : http://www.journalisme.com/content/view/974/130/
7 signalé par Emmanuelle Gatien voir note de bas de page n°15
Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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/¶LQWLWXOpGXSUL[V¶DYqUHVLJQL¿FDWLIHQVRLGDQVODPHVXUHROHVGHX[SOXVDQFLHQVVHUpIq-­
UHQWjGHV¿JXUHVHPEOpPDWLTXHVGXMRXUQDOLVPHSHUVRQQDOLVDQWIRUWHPHQWODGLVWLQFWLRQ$OEHUW
Londres et Joseph Kessel). Non réservé aux livres mais premier à les primer, le Prix Albert Londres a distingué 3 livres dans chacune des décennies 40, 50, 60, 2 livres dans chacune des décennies 70 et 80, alors que les années 90 ne voient aucun livre retenu et les années 2000, un seul (Chienne de guerre d’Anne Nivat). Les livres doivent respecter deux critères, ceux de l’actualité et du reportage. Ceux du Prix Joseph Kessel sont plus larges et moins journalistiques. Ce prix récompense en effet des romans, mais fortement ancrés dans la réalité. Outre ces deux distinctions prestigieuses, on note à partir du début des années 2000 l’émergence de prix orientés vers d’autres critères de sélection HQTXrWHLQYHVWLJDWLRQUpÀH[LRQVXUOHPpWLHU/H3UL[*RQGHFRXUWLQYHQWpSRXUIDLUHSHQGDQWDX
WUqVUpSXWp*RQFRXUWOLWWpUDWXUHKRQRUHXQOLYUHG¶HQTXrWH/H*RQGHFRXUWV¶DI¿FKDQWPRGHVWHHW
ludique a malgré tout acquis de la notoriété, comme en témoigne une recherche sur Google faisant remonter des articles consacrés aux lauréats dans la presse locale du Nord mais aussi dans les mé-­
dias nationaux. Il est aussi référencé sur le site dédié aux prix littéraires (www.prix-­litteraires.net) et sur le site professionnel de LivresHebdo.fr14. Le prix du livre d’investigation du CFJ, toujours signalé sur le site Journalisme.com, paraît effectif pour la seule année 2006, nous ne trouvons pas d’autres traces. Par rapport aux deux prix que nous venons d’évoquer, ceux des Assises internationales du journalisme, derniers en date, se démarquent par leur inscription dans cette nouvelle instance créée en 2007 et réunissant différents acteurs : des journalistes, des éditeurs, des étudiants et enseignants principalement issus des formations agréées, et plus récemment des chercheurs. Les Assises parti-­
FLSHQWjODSURPRWLRQGXGpEDWHWGHODUpÀH[LRQVXUOHMRXUQDOLVPHHWVDSUDWLTXHHQOLHQDYHFOHV
Etats généraux de la presse (2009) et la Conférence nationale des métiers du journalisme (2010)15. Se structurant progressivement, les prix des Assises 16 récompensent, depuis leur création, un livre UpÀH[LI pFULW SDU XQH MRXUQDOLVWH DORUV TX¶XQH FDWpJRULH 5HFKHUFKH HVW LQLWLpH HQ 8Q SUL[
« premier livre ou reportage écrit » décerné par les étudiants a été mis en place en 2008.
Tableau 2 : Lauréats
/DXUpDWV
Les Assises LQWHUQDWLRQDOHV
GXMRXUQDOLVPH
$XWHXUVOLYUHV
MRXUQDOLVWHV
SRXU
WLWUHVGRQW
FRpFULW
femmes
3UL[ GX OLYUH
d’Investigation du CFJ
Auteurs -­ Titres 0DLVRQVG¶pGLWLRQ
-HDQ3DXO0DULSans blessures apparentes -OVWH/ -XOLH6HGHOLes Medias & la Banlieue UHFKHUFKH/XF)ROOLHWNauru, l’île dévastée ƒOLYUH
5REHUW/DIIRQW%RUGGHO¶(DX/D
'pFRXYHUWH
5\V]DUG.DSXVFLQVNLjWLWUHSRVWKXPH
Autoportrait d’un reporter /RUUDLQH0LOORWLa Russie nouvelleƒOLYUH
3ORQ$FWHV6XG
Editions Nevicata / Presses -RULV Luyendijk,'HV+RPPHVFRPPHOHV
8QLYHUVLWDLUHVGH*UHQREOHLe DXWUHV-OVWH'RPQLTXH Marchetti, Quand la santé devient médiatiqueUHFKHUFKH<YHV(XGHV©/¶qUHGHV MondePDUV
URERWVMRXUQDOLVWHVªDUWLFOHPpGLDV
Fayard 'DQLqOH*UDQHWHW&DWKHULQH/DPRXU
Médiabusiness, le nouvel eldorado0LFKDHO)LQNHOLe pGLWLRQV%XFKHW&KDVWHO
journaliste et le meurtrier3UL[pWUDQJHU
/HV$UqQHV
/DXUHQFH/DFRXULe bûcher des innocents
14 http://prixlitteraires.livreshebdo.fr/tous-­les-­prix-­litteraires.aspx
15 sous l’égide de trois ministères : Enseignement supérieur et recherche, Culture et communication, Emploi
16 Trois comités fonctionnent aujourd’hui (Assises, Enseignement, Recherche)
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Prix Gondecourt
Auteurs :11 dont 2 femmes
Titres : 8 dont FRpFULWV
Prix Joseph .HVVHO
$XWHXUV-OVWHV
RXH[MOVWHV
SRXUWLWUHV
IHPPHV
7RWDODXWHXUV
GRQW
IHPPHV
WLWUHV
3UL[$OEHUW
Londres
JUDQGV
UHSRUWHUV
Auteurs : 16 dont 2 femmes
Titres : 15
&KDUOHV (QGHUOLQ Un enfant est mort / &KULVWRSKH 'XERLV 0DULH&KULVWLQH Tabet, L’argent des politiques Elise 2YDUW%DUDWWH Les Ch’tis, c’était les clichés9LQFHQW2XLY\ Abus de pouvoir/ %HUWUDQG *RELQ *XLOODXPH G¶+HUEOLQ Le secret des Mulliez-­Révélations sur le premiers empire famillial français ULHQ 3LHUUH %DOOHVWHU 'DYLG
:DOVK/$&RQ¿GHQWLHOOHVVHFUHWVGH/DQFH$PVWURQJ / 'DQLHO&DUWRQ%LHQHQWHQGXF¶HVWRIIFHTXHOHV
journalistes politiques ne vous racontent jamais
'HQLV5REHUWLa boîte noire
/HV>@VLJQDOHQWOHVDXWHXUVQRQMRXUQDOLVWHV
Florence AubenasQuai de Ouistréham >(ULN2UVHQQDL’Avenir de l’eau Petit précis de mondialisation II@6RUM&KDODQGRQMon traître / 3LHUUH.DOIRQPampa Pierre HaskiLe sang de la Chine -­ Quand le silence tue / Anne VallaeysMédecins sans frontières, la biographie-HDQ+DW]IHOGUne saison de machettes >$ODLQ%RUHUKoba] *LOOHV/DSRXJHLa Mission des frontières
%HUQDUG2OOLYLHULongue marche*HQHYLqYH
0ROOYvonne de Gaulle&KULVWLDQ0LOODXAu galop des hussards2OLYLHU:HEHULucien Bodard, un aventurier dans le siècle-HDQ
3DXO.DXIIPDQLa Chambre noire de Longwood / -HDQ&ODXGH*XLOOHEDXGEcoutez voir ! / 1995 : <YHV&RXUULHUHPierre Lazareff ou le vagabond / 1994 :'DQLHO6FKQHLGHUPDQQArrêts sur images / >5pJLV'HEUD\Vie et mort de l’image, une histoire du regard en occident] / 1992 : Serge Daney
Devant la recrudescence des vols de sacs à main / >0LFKHO'HJX\$XVXMHWGH6KRDKOH¿OPGH
Claude Lanzmann] 0DUFHO3LFDUGJ’étais un correspondant de guerre7 $QGUp%ODQFKHWDébarquement à Haïphong HW'RPLQLTXH3DGRRussie de Staline $OL[G¶8QLHQYLOOEn vol +HQULGH7XUHQQHRetour de Corée $UPDQG*DWWLEnvoyé spécial dans la cage aux fauves 0DUFHO1LHGHUJDQJTempête sur le Congo 9LFWRU)UDQFRCuba, La révolution sensuelle -RVp+DQX4XDQGOHYHQWVRXIÀHHQ$QJROD1968 <YHV&XDX Israël attaque -HDQ)UDQoRLV'HODVVXV/H-DSRQPRQVWUHRX
modèle )UDQoRLV'HEUpCambodge, la révolution de la forêt &KULVWLQH&OHUFLe bonheur d’être français
-HDQ5ROOLQLa ligne de front $QQH1LYDWOuest-­France, Libération) Chienne de guerre
Don Quichotte / $OELQ 0LFKHO &DOPDQQ/pY\GX0RPHQW/D
%RUQH6HL]H$OELQ0LFKHO/HV
$UqQHV
(GLWLRQV GH O¶2OLYLHU (GLWLRQV
)D\DUG *UDVVHW /H 6HXLO *UDVVHW)D\DUG/H6HXLO/H
6HXLO$OELQ0LFKHO(G3KpEXV
(G 5DPVD\ (G Bernard de )DOORV 3ORQ (G /D WDEOH
URQGH (G$UOpD *DOOLPDUG )D\DUG *DOOLPDUG (G$UOpD %HOLQ
(G-DQLFRW(GDorian et (G(OYp]LU$OELQ0LFKHO
-XOOLDUG6HXLO3ORQ*UDVVHW
(G%UHSROV5REHUW/DIIRQ
+DFKHWWH)ODPPDULRQ*UDVVHW
(G4XDL9ROWDLUH)D\DUG
La première lecture du 7DEOHDX/DXUpDWVfait apparaître que l’auctorialité telle que cons-­
truite par ces prix est masculine et mono-­auctoriale (un auteur unique). 47 livres sont distingués avec 51 auteurs dont 11 femmes, seulement 4 livres sont co-­signés (la co-­signature concerne les prix les plus récents) : 3 Gondecourt et 1 pour Les Assises17. A une exception près (Christine Clerc lau-­
réate Albert Londres18 en 1982), la féminisation intervient en 2000 avec Anne Nivat (Albert Londres 17 sur ces 4 livres co-­signés, 1 l’est par 2 femmes, 1 l’est par un homme et une femme, 2 le sont par 2 hommes
18 Albert Londres : 5 lauréates entre 2001 et 2010 (dont Sophie Bouillon pour la Revue XXI), 3 lauréates dans la décennie précédente
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et Geneviève Moll (Joseph Kessel), et devient plus fréquente dans la seconde moitié de la décennie : en 2005 Annes Valleys (JK), en 2006 Laurence Lacour (CFJ), en 2007 Danièle Granet et Catherine Lamour (co-­auteurs Assises), en 2008 Elise Ovart-­Baratte (Gondecourt) et Lorène Millot (Assises), en 2009 Marie-­Christine Tabet (co-­auteur Gondecourt), en 2010 Florence Aubenas (JK). La quinzaine d’ouvrages récompensés par l’Albert Londres porte principalement sur des re-­
portages de guerre19 ou liés à une guerre. Le prix Joseph Kessel, non réservé aux journalistes, s’avère pourtant remporté par eux. Remis 19 fois, le prix a été décerné à 15 journalistes ou ex journalistes (plus d’un tiers a travaillé à Libération), distinguant leurs qualités de biographes, d’essayistes, de romanciers, d’historiens, de spécialistes. Deux livres concernent une émission ou une rubrique jour-­
nalistique (Arrêts sur images et Ecouter voir). Une analyse sémio-­discursive des titres d’ouvrages fait apparaître trois grandes catégories sémantiques à l’œuvre : la /spatialité / ou l’ancrage territorial principalement par un nom propre de lieu, la /violence/ articulée sur un lexique animalier ou guerrier, la /professionnalité/ qui renvoie aux lexiques des médias et du journalisme. Le recours aux patronymes dans les titres concerne uni-­
quement deux prix : trois biographies primées par le Prix Joseph Kessel (<YRQQHGH*DXOOH , Lucien %RGDUG3LHUUH/D]DUHII et deux livres d’enquête primés par le Gondecourt (Le secret des Mulliez, les secrets de Lance Amstrong ). Tableaux 3 : Analyse lexicale des titres de livres
VSDWLDOWRSRQ\PHVDGMHFWLIV
$OEHUW/RQGUHV
-RVHSK.HVVHO
De Corée
Sur le Congo
Cuba
En Angola
Israel Le Japon
Cambodge
rWUHfrançais
De la Chine
De Longwood A Haïphong
Russie
De Ouistréham
(Pampa)
Gondecourt
Les Chtis
Empire français Assises
Nauru, l’île
fam La Russie
YLROHQFH
$OEHUW/RQGUHV
(Corres) de guerre
débarquement
Cage aux fauves
Tempête sur
Revolution ( 2 occurrences)
Attaque
Monstre
Ligne de front
Chienne de guerre
Bûcher (CFJ)
-RVHSK.HVVHO
Traître
sang et tue machettes
JDORShussards vol Gondecourt
Assises
Un enfant est Blessures apparentes
mort
L’île dévastée Le meurtrier
SURIHVVLRQQDOLWp
19 Le journalisme de guerre est honoré par un prix spécialisé, le Prix Bayeux-­Cavados des correspondants de guerre qui existe depuis 1994. Ce prix ne concerne pas les livres mais un salon leur est dédié, qui privilégie une quinzaine d’auteurs participant à des tables rondes et au Forum médias
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$ O E H U W -RVHSK.HVVHO
PpGLD Londres
Quand le silence tue
Ecoutez voir
Chambre noire
Arrêt sur images
-OVPH
correspondant de guerre
Envoyé spécial
Chienne guerre
de Gondecourt
clichés
Assises
médiabisnesss
Boite noire
C’est off jlstes politiques
Ne racontent jamais
Secret Révélation
Autoportrait reporter d’un &RQ¿GHQWLHOVHFUHW
(Des hommes comme les autres) ?
Le journaliste et le meurtrier
Incontournables en titres de presse d’information générale, récurrents dans les premiers livres primés par l’Albert Londres, les toponymes subissent un usage différentiel à partir des an-­
nées 1990. Cette rupture est repérable sur deux plans. D’une part parce qu’ils ne sont plus em-­
ployés même quand le livre porte sur un pays étranger : Ligne de front (prix AL en 1989, report du toponyme en sous-­titre : un voyage en Afrique australe), Chienne de guerre (ne mentionne pas la Tchétchénie), 8QHVDLVRQGHPDFKHWWHV(ne mentionne pas le Rwanda), Des Hommes comme les au-­
tres (correspondance au Moyen-­Orient), Sans blessures apparentes (grands reportages de guerre Irak, Rwanda, Moyen-­Orient, Bosnie, Sierra Leone, Somalie, Sri Lanka). Deux ouvrages à caractère KLVWRULTXHPDLVURPDQFpVSUL[-.pYLWHQWOHVWRSRQ\PHVHQWLWUHDXSUR¿WGHQRPVFRPPXQVpYR-­
cateurs : Pampa (Argentine), La Mission des frontières (Brésil). D’autre part, quand il y a utilisa-­
tion d’un toponyme, c’est plus pour sa portée exotique ou mystérieuse que pour sa fonction infor-­
mative : Quai de Ouistréham (prix JK), ou encore Nauru, l’île dévastée (Assisses) qui renvoient à deux enquêtes journalistiques, ou encore La Chambre noire de Longwood (prix JK) biographie de Napoléon Bonaparte à Saint Hélène, entre récit de voyage et enquête historique. (QUHYDQFKHODPLVHHQVFqQHGHODUpÀH[LYLWpSURIHVVLRQQHOOHGDQVOHWLWUHTXHO¶RQUHSqUHGqV
les premiers livres primés (correspondant de guerre, envoyé spécial) perdure et s’accentue. Chien-­
ne de guerre (2000) croise symboliquement la mission du watchdog journaliste et celle du reporter de guerre, mais fait également référence au mouvement des « Chiennes de garde » initié en France en 1999 et largement médiatisé, dont l’objectif est de lutter contre les insultes faites aux femmes. Les titres des prix récents du Gondecourt mettent en évidence la divulgation (clivage secret/révé-­
lation que l’on retrouve aussi plus implicitement dans Abus de pouvoir et L’argent des politiques). /¶DI¿FKDJHGXVWDWXWjournalistes politiques, reporter, journaliste), voire au jargon (C’est off) peut également apparaître sous forme elliptique ou en creux (Des hommes comme les autres ou Sans bles-­
sures apparentes). On peut remarquer aussi que le registre de la violence, qui n’étonne pas dans la presque spécialisation du prix Albert Londres, ne lui est pas réservé.
Pour ne pas conclure
Cette communication veut initier une recherche encore à venir sur les livres de journalistes, restreinte ici par deux approches complémentaires. L’approche quantitative demande une investi-­
gation de données permettant de préciser, au sein de la production des journalistes, quels sont les genres et les thématiques mobilisés, de manière à dégager des catégories, car si notre intérêt se por-­
te au départ sur l’enquête journalistique, force est de constater une grande diversité de sujets trai-­
WpV,OV¶DJLUDLWDXVVLGHTXDQWL¿HUOHVSXEOLFDWLRQVGHMRXUQDOLVWHVDXVHLQGHVSXEOLFDWLRQVGHOLYUHV
en général. Selon Robert Darnton, « le codex continue à dominer le marché. En fait sa part de mar-­
ché croît réellement. Selon %RZNHU¶V*OREDO%RRNVLQ3ULQW700 000 nouveaux titres ont été publi-­
és dans le monde en 1998, 859 000 en 2003 et 976 000 en 2007. Malgré la régression économique actuelle, bientôt il paraîtra un million de livres chaque année. La persistance du pouvoir du vieux codex illustre un principe général dans l’histoire de la communication : un moyen de communica-­
tion n’en chasse pas un autre au moins à court terme.» (Darnton, 2009 p.16). En France, malgré une chute des ventes enregistrée en 2006, LivresHebdo estime à environ 58 000 les nouveaux titres pu-­
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bliés, en constatant que « la production a plus que doublé en dix ans: en 1996, elle s’élevait à 27224 nouveautés et nouvelles éditions.»20 L’autre approche des livres de journalistes développée ici dans une logique qualitative et fon-­
dée sur les prix comme facteurs de distinction peut s’inscrire dans une sociologie des élites jour-­
nalistiques telle que pratiquée par Rémy Rieffel et invite à de futurs recoupements et exploitations de travaux, particulièrement celui d’Emmanuelle Gatien “Prétendre à l’excellence. Prix journalisti-­
ques et transformations du champ journalistique”21. Cependant, la problématique de l’auctorialité journalistique ne saurait nous restreindre aux seuls auteurs et ouvrages honorés par des prix, qui représentent une très faible proportion. En outre, elle nous oriente de façon conjointe vers une in-­
vestigation des écrits, -­ le texte -­ des livres, du paratexte (titre, présentation de l’auteur, etc.), et des discours tenus autours de ces livres et de ces auteurs, notamment dans les médias. Dit autre-­
ment, il s’agit de mesurer comment s’articulent les jeux sur l’écriture journalistique, sur le nom du journaliste auteur de livre en nom propre, ou auteur contributeur au nom du journal. Pendant que la presse quotidienne décline, alors que l’e-­book reste embryonnaire et le journalisme en ligne en quête de légitimité, les livres de journalistes re-­questionnent la « hiérarchie dans la validité des dis-­
cours »22journalistiques.
20 Thèse soutenue le 2/12/2010 à l’Institut d’Etudes Politiques de Toulouse, sous la direction d’Eric Darras.
21 Emprunté à Roger Chartier : « À l’époque du codex, une hiérarchie des objets pouvait indiquer plus ou moins une hiérarchie dans la YDOLGLWpGHVGLVFRXUV,O\DYDLWXQHGLIIpUHQFHLPPpGLDWHPHQWSHUFHSWLEOHHQWUHO¶HQF\FORSpGLHOHOLYUHOHMRXUQDOODUHYXHOD¿FKHODOHWWUHHWF
qui étaient matériellement donnés à lire, à voir, à manier, et qui correspondaient à des registres de discours qui s’inscrivaient dans cette pluralité de formes. » http://www.laviedesidees.fr/Le-­livre-­son-­passe-­son-­avenir.html, Entretien avec Roger Chartier, par Ivan Jablonka [29-­09-­2008]
22 Emprunté à Roger Chartier : « À l’époque du codex, une hiérarchie des objets pouvait indiquer plus ou moins une hiérarchie dans la YDOLGLWpGHVGLVFRXUV,O\DYDLWXQHGLIIpUHQFHLPPpGLDWHPHQWSHUFHSWLEOHHQWUHO¶HQF\FORSpGLHOHOLYUHOHMRXUQDOODUHYXHOD¿FKHODOHWWUHHWF
qui étaient matériellement donnés à lire, à voir, à manier, et qui correspondaient à des registres de discours qui s’inscrivaient dans cette pluralité de formes. » http://www.laviedesidees.fr/Le-­livre-­son-­passe-­son-­avenir.html, Entretien avec Roger Chartier, par Ivan Jablonka [29-­09-­2008]
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GT1 - Sociologia do jornalismo
“Lugares” das colunas de opinião: contornos de uma mudança no jornalismo atual
Antónia do Carmo Barriga
Universidade da Beira Interior
Resumo
Utiliza-­se o termo “lugares” recorrendo à polissemia que a palavra pode sugerir: qual o lugar físico que o texto de opinião ocupa no jornal? De que “lugar social” fala quem assina a “opinião”? Que mu-­
danças e continuidades introduziu a opinião publicada no jornalismo? São algumas das questões a que o texto desta comunicação pretende ajudar a responder.
O lugar da opinião no espaço físico do jornal
Aceitando que não existe uma separação concludente entre informação e opinião -­ não exis-­
te informação “pura” como não existe opinião, pelo menos credível, que não parta de “factos” – há que admitir a existência de uma clara distinção conceptual entre as duas. Para além dos (importan-­
tes) aspectos de natureza teórica e analítica, o “espaço” da opinião adquire para os seus leitores uma H[LVWrQFLDUHODWLYDPHQWH³DXWyQRPD´REVHUYiYHOHLGHQWL¿FiYHOQRHVSDoRItVLFRGRMRUQDODWUDYpV
GHWtWXORVUHIHUHQFLDLVHVSHFt¿FRV±³(VSDoR3~EOLFR”, “Opinião” – como sendo o “lugar” onde ocor-­
rem as manifestações – caracterizadas, para muitos autores, como operações retóricas, eminente-­
mente argumentativas e em permanente busca da adesão do leitor – que são os “géneros opinati-­
vos”. Ora, é este “espaço” que se tem ampliado enormemente. A crescente relevância (ao nível polí-­
tico, social, mediático) que a opinião publicada começa a adquirir em Portugal na década de oitenta, consolidando-­se na década seguinte, atingindo o seu apogeu nos nossos dias. Esta situação resulta das profundas mudanças que se operaram na paisagem mediática (não deixando de ser para elas um contributo). Tais mudanças foram marcadas por três situações: a re-­
RUJDQL]DomRGRVHFWRUGDLPSUHQVDRUHRUGHQDPHQWRGRHVSDoRUDGLRIyQLFRHR¿PGRPRQRSyOLR
televisivo (Paquete de Oliveira, 1992:378) Atualmente, e num contexto de feroz concorrência e de concentração da propriedade dos me-­
dia, o panorama actual na imprensa dita de referência portuguesa caracteriza-­se por uma forte pre-­
sença de colunistas, o espaço dedicado à opinião nos jornais bem como o número de colunistas tem indubitavelmente aumentado. Manuel Carlos Chaparro, comparando alguns aspectos do jornalismo SRUWXJXrVHEUDVLOHLURGH¿QHDLPSUHQVDSRUWXJXHVDFRPR³KLVWyULFDHFXOWXUDOPHQWHYLQFXODGDj
escola francesa”, onde, “mais do que os factos, as ideias dão tom aos jornais mais conceituados” – pendor que é também conferido pelo lugar nobre que esses textos de opinião ocupam e pelo espaço que lhes é concedido1. A importância das colunas de opinião no jornalismo actual é claramente per-­
ceptível pela sua forte presença na maioria dos jornais. De resto, os diferentes media, incluindo as rádios e televisões, incrementaram, de modo sistemático, a presença do comentário, do debate e da análise da actividade política.
Contudo, a presença da “Opinião” no jornalismo não é um aspecto inteiramente novo, no fun-­
GRUHFXSHUDVHHLQWHQVL¿FDVHXPDGLQkPLFDTXHYLQKDPXLWRGHWUiV2VSULPHLURVDQWHFHGHQWHV
da opinião publicada em Portugal podem talvez datar-­se do início do século XIX, quando se obser-­
1 Chaparro ilustra esta situação com um exemplo: o Público de 11 de Abril de 2004, ocupou com artigos (de opinião), oito das onze páginas iniciais da edição, tendo sido o desporto, com dez páginas (do total de sessenta e quatro que teve a edição), a única editoria a superar o espaço da opinião. (“Observatório da Imprensa”, Junho de 2004)
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vou um grande desenvolvimento da imprensa de opinião, impulsionado, em muito, pelos liberais portugueses regressados do exílio, que transpuseram para Portugal as técnicas e os processos jorna-­
lísticos mais recentes.2 Não obstante a pujança de algumas crónicas e cronistas bem como a intensa proliferação de títulos jornalísticos no período pós-­revolucionário, com forte conotação político-­partidária, é en-­
tre a década de 80 e 90, fruto das profundas alterações no sistema dos media que surgem projectos jornalísticos que em muito impulsionaram a opinião publicada. Na imprensa escrita, destacamos o semanário Independente, em Maio de 1988 e o diário Público, em Março de 1990, ainda que outros jornais e outros media ajudassem fortemente a consolidar essa tendência.3
A coluna como um lugar de promoção do jornal
Nunca tanto como hoje, os media se autopromoveram através da opinião publicada ou difun-­
dida de colunistas, colaboradores, comentadores ou auto-­proclamados analistas. O incremento do papel dos colunistas em Portugal deve-­se a razões várias, entre elas as que estão ligadas à inovação tecnológica e às estratégias empresariais. A inovação tecnológica contribuiu para que a informação passasse a ser contínua, em directo, em “tempo real”, reduzindo o tempo entre o momento em que as coisas ocorrem e o momento em que passam a ser divulgadas;; tal faz com que também o tempo e o espaço que o jornalista detinha para a interpretação e para o comentário tives-­
sem diminuído, o que abriu caminho a que outros ocupassem esse papel (Rebelo, 2000;; 25). Por outro lado, pode admitir-­se que “o registo do comentário ou da análise corresponde, em regra, a uma forma de contornar o predomínio do discurso dos actores políticos, considerado uma “cassete” monocórdica e doutrinária.” (Mesquita, Jornal 3~EOLFR 24/8/2003). Podemos também, à semelhança de Cantavela, entender o sucesso das colunas e crónicas de opinião face à sua capacida-­
de de não se limitarem, de forma distante, ao relato daquilo que vai sucedendo na actualidade: nun-­
ca tanto como hoje o indivíduo se sentiu rodeado por tantas notícias e nunca antes como agora, dada a dispersão, houve a necessidade de reunir coerentemente e dar sentido a esses factos (2004:404). È admissível que todo o texto assinado suponha um ponto de vista que compromete, a vários níveis, também o jornal. As razões do jornal para a sua inclusão podem ser várias. Pode fazê-­lo precisamen-­
te porque o considera pertinente tendo em conta a sua linha ideológico-­editorial (Moreno Espinosa, 2003);; mas pode fazê-­lo, justamente, na contra-­mão dessa linha, optando por dar voz a opiniões díspares da sua e dispares entre si, recolhendo dividendos dessa tal alusão à (ou “ilusão” de) plura-­
lidade. É também através da “selecção” que fazem dos colunistas, do destaque que lhes dão ou não, TXHRVMRUQDLVFRQVROLGDPDVXD³SROtWLFDGHRSLQLmR´GH¿QHPDVXDLGHQWLGDGHHFDGDXPVHD¿UPD
como sujeito semiótico, no entendimento que Landovski (1989: 157) lhe dá, enquanto entidade sus-­
2 5H¿UDVHDWtWXORVXSOHPHQWDUTXHRSULPHLURMRUQDOSRUWXJXrVVXUJLXHP7LQKDXPQRPHH[WHQVRGazeta, em que se relatam DVQRYDVWRGDVTXHRXYHQHVWDFRUWHHTXHYLHUDPGHYiULDVSDUWHVQRPrVGHQRYHPEURGH. Já anteriormente se tinham divulgado notícias QDVFKDPDGDV³UHODo}HV´HPERUDHVWDVQmRRIHUHFHVVHPRFDUiFWHUGHSHULRGLFLGDGHTXHGH¿QHRMRUQDO$VJD]HWDVDRLQYpVHUDPSXEOLFDGDVFRP
regularidade.
3 Indissociáveis desta tendência de valorizar a opinião estiveram o aparecimento da TSF – rádio jornal, em 1988 (que assentava muito da sua estratégia na presença de comentadores) e das televisões privadas – SIC, em 1992 e a TVI, no ano seguinte. Posteriormente, em 2001, o canal temático, por cabo, SIC Notícias teve um contributo decisivo, QDPHGLGDHPTXHQmRVyH[LEHIUHTXHQWHPHQWHPRGHORVGHFRPHQWiULRSROtWLFRD
VyVHPGXRRXFRPJUXSRVUHVWULWRVGH¿JXUDVFRPRVXJHVWLRQRXRVRXWURVFDQDLVDID]rORA estratégia de ter comentadores permanentes nos MRUQDLVWHOHYLVLYRVGXUDQWHRVHXGHFRUUHUDFRPHQWDUDVQRWtFLDVRXQR¿QDOGRVMRUQDLVWHQGRVLGRLPSXOVLRQDGDFRPRVXUJLPHQWRGD6,&1RWt-­
FLDVSRSXOL]DUVHtDFRPD79,DWUDYpVGDSUHVHQoDGRLQÀXHQWH3URIHVVRUGH'LUHLWRHH[OtGHUGR36'DFWXDOVHJXQGRPDLRUSDUWLGRSROtWLFRFRP
assento na Assembleia da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa. O facto das televisões promoverem os espaços de opinião teve repercus-­
são nas estratégias dos jornais, que também aumentaram a visibilidade e a valorização do comentário escrito.
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ceptível de ser reconhecida pelos seus leitores, não só enquanto personalidade jurídica mas também HPUHVXOWDGRGRVHXHVWLORGRVHXSHU¿O
Mas tal não deixará de ser também uma estratégia comercial com vista à obtenção de ganhos de audiências. No contexto atual, marcado pela feroz lógica de mercado em que se luta pelas melho-­
res audiências e, nos jornais, contra o declínio do número de leitores, tem aumentado a concorrên-­
cia entre os diversos media, disputando a contratação de determinado colunista de referência (cuja opinião se tornou emblemática, e por isso, viu o seu capital simbólico reforçado).
(PFRQVHTXrQFLDGDVGL¿FXOGDGHVFULVHTXHDLPSUHQVDYHPHQIUHQWDQGRDVVLVWHVHjWHQGrQFLD
do decréscimo na circulação e nas audiências dos jornais de papel, acompanhando a tendência ve-­
UL¿FDGDHPPXLWRVSDtVHVSDUHFHKDYHUXPDDSRVWDQRXWURV³SURGXWRV´TXHYDORUL]HPRVMRUQDLV
Ora, a opinião parece ser um desses produtos/estratégias de valorização. Parafraseando Mário Bet-­
tencout Resendes, emblemático Director do Jornal Diário de Notícias:
“um jornal de referência assenta, cada vez mais, uma parcela importante do seu valor acrescentado QDTXDOL¿FDomRLQWHUHVVHHSOXUDOLGDGHGRVVHXVFROXQLVWDV(DIRUPDGHWUDQVIRUPDURFXVWR
de um jornal num investimento para quem compra está menos na divulgação de factos que GL¿FLOPHQWHVHUmRQRYLGDGHGRTXHQDFDSDFLGDGHGHRVFRQWH[WXDOL]DUHDSURIXQGDUQRWHUUHQRGD
opinião, de preferência com a chancela do nome de um comentador credível” (Diário de Notícias 12/1/2006). O “valor” que é atribuído à opinião de certos colunistas, transparece também nas estratégias promocionais de fazer chamadas de primeira página à “carteira” de novos colunistas ou nas cam-­
panhas publicitárias que os jornais exibem, em que a opinião promove o jornal, aparecendo como um valor que lhe acrescenta qualidade4 .Esta estratégia de valorização e, simultaneamente, de au-­
tonomização desse produto, pode observar-­se também na criação de títulos referenciais, como “Es-­
SDoR3~EOLFR” ou “Opinião”.1RHQWHQGLPHQWRGDRSLQLmRFRPRXP³FRQWH~GRYDOLRVR´HD¿PGH
DXPHQWDUHGLYHUVL¿FDUDVUHFHLWDVHFRQyPLFDVGRVMRUQDLV0iULR%HWWHQFRXUW5HVHQGHVSURS}HD
rentabilização da opinião através do patrocínio das colunas, argumentando que “ (...) os programas de debate político e os espaços de opinião na rádio e na televisão deram já esse passo, sem que se sinta qualquer condicionalismo por parte dos intervenientes” (Diário de Notícias, 12/1/2006). Colunismo: um lugar de afunilamento do espaço público?
Atualmente, assiste-­se em Portugal (à semelhança de outros países) a uma simbiose de ener-­
gias entre a imprensa, a televisão e a rádio, que resulta numa forte transitoriedade e omnipresença dos mesmos actores (maioritariamente do sexo masculino): os comentários televisivos são publica-­
dos na imprensa dita de referência e é nos espaços de opinião desta que são recrutados os comenta-­
dores da televisão e da rádio, com um predomínio de jornalistas e políticos com posições hierárqui-­
cas de topo (seja na direcção dos media, seja na cúpula dos partidos políticos). Ou seja, à transitoriedade dos colunistas tem-­se juntado outra tendência: a da acumulação de vários registos de opinião em diversos media numa só pessoa. Nesta tendência, não exclusivamente portuguesa, é frequente os jornalistas com posições hierárquicas de topo (como o caso dos directo-­
res dos jornais e das rádios) serem também presença habitual na televisão, conjuntamente com os políticos, aos quais se atribuem qualidades comunicativas (uma dessas “qualidades” ou mais valia será certamente a facilidade de ser reconhecido pelo público -­notoriedade que os próprios media ajudaram a construir). De igual modo, muitos dos colunistas que escrevem na imprensa asseguram também a sua presença no espaço televisivo, na rádio, nos blogues. Também aqui, podemos ver “os media repetindo os media, imitando os media”, como diz Ramonet (1999:39). Funcionam, por isso, “em circuito fechado, isto é, constituem grupos reduzidos, de lenta renovação” (Rebelo, 2000: 26), nos quais as mulheres têm uma expressão reduzida. 4 Veja-­se, a título de exemplo, como o Expresso, em Janeiro de 2006, é publicitado: “Mais e melhor opinião no expresso”;;“opiniões que contam”;; ou o anúncio publicitário, de Novembro de 2004, em que o Público utiliza a metáfora “O ‘Público’ tem coluna” (ver “Pública” de 14/11/2004, p. 73).
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Note-­se que o requisito da pluralidade de opiniões aparece valorizado no discurso dos direc-­
tores dos jornais, até mesmo para legitimar a presença das colunistas que exercem actividade polí-­
tica. Como diz Estrela Serrano:
“(...) os directores procuram ter um leque variado de colaboradores, quase sempre com a preocupação principal de abranger o espectro político-­partidário, habituados que estão a esgotar o pluralismo nos membros dos partidos ou em personalidades que situam ‘à esquerda’ e ‘à direita’” (Diário de Notícias, 11/5/2003). Na imprensa, e na opinião de Mário Mesquita, “a pluralidade dos jornais e revistas constitui, apesar de tudo, uma protecção da diversidade” (Jornal3~EOLFR, 25/1/2004). No entanto o mesmo autor alerta que “ (...) se a proliferação de suportes e dos lugares de comentário político faz com que se abram muitas ³MDQHODVGHRSRUWXQLGDGHVDFRQFHQWUDomRGRV³PHGLD´UHGH¿QHRVOLPLWHVHDVIURQWHLUDVGR
círculo de colunistas da imprensa. (...) basta alguma incompatibilidade com um patrão para ser projectado para fora das luzes da ribalta” (Ibidem). &RQFHQWUDomRSRGHSRLVVLJQL¿FDUOLPLWDomRTXDQWRDRSOXUDOLVPRGHRSLQL}HV0DVQmRp
em nosso entender, e em si mesma, a única variável da qual dependem o pluralismo e a qualidade.5 A coluna enquanto lugar de poder
Numa perspectiva teórica marcada pelo “determinismo da estrutura” (que se pode rotular de “estruturalismo construtivista”) mas de incontestável profundidade analítica (reconhecida), Bour-­
dieu articula poder e linguagem, no quadro de uma pragmática sociológica que a territorialize, que indague sobre o que funda a legitimidade ou a validade das acções comunicativas e intercompre-­
ensiva, que se centre na legitimidade de quem fala. Bourdieu (1983, 1989), denunciando o “erro de Austin” (ainda que outros depois dele também tivessem persistido nesse engano), insurge-­se contra a procura do “poder das palavras nas palavras, ou seja, num lugar onde ele não está” (1989:93). Ao referir-­se à constituição social da “competência linguística” como uma instância de poder -­ o poder de “impor a recepção”, o direito à palavra, a linguagem legítima como linguagem autorizada, como linguagem de autoridade -­ evidencia esta dimensão de circulação de poder presente no acto de co-­
municação: “ (...) O uso da linguagem (...) depende da posição social do locutor, a qual comanda RDFHVVRTXHHVWHSRGHWHUjOtQJXDGDLQVWLWXLomRjSDODYUDR¿FLDORUWRGR[DOHJtWLPD´
Quando alguém fala, fá-­lo de algum lugar, com uma certa autoridade. O discurso é, pois, um instru-­
PHQWRGHSRGHUSRGHUGHµFODVVL¿FDU¶µYHU¶HµID]HUYHU¶RPXQGRSRGHUTXHVHPDQLIHVWDQDVUHOD-­
ções de força estabelecidas entre grupos que coexistem na sociedade, cada qual operando com uma competência linguística que lhe é correspondente (1989: 108-­123).
Importa, então, seguindo Bourdieu, sublinhar que a força ilocutória de certas expressões não tem a sua origem na própria substância da linguagem, mas fora dela, que o poder (de agir sobre o PXQGRSHORIDFWRGHDJLUVREUHDUHSUHVHQWDomRGRPXQGRFXPSUHVHVLPQDHSHODUHODomRGH¿-­
nida que cria a crença na legitimidade das palavras e das pessoas que as pronunciam, e só opera na PHGLGDHPTXHDTXHODVTXHRVXSRUWDPUHFRQKHFHPDTXHOHVTXHRH[HUFHPSHORTXHDH¿FiFLDGD
palavra deverá, pois, relacionar-­se com a posição social do locutor (1989:107). E este é o âmago da questão de todo o discurso (do seu poder, da sua aceitabilidade, da sua legitimidade) e também dos discursos dos colunistas. 'HPRGRFUHVFHQWHVROLGL¿FDVHDRSLQLmRGDTXHOHVSDUDTXHP³RVOXJDUHVGHPDLRULQ-­
ÀXrQFLDSROtWLFDHVWmRQDVFROXQDVHGLWRULDLVGRVMRUQDLVRXQRDOLQKDPHQWRGRVWHOHMRUQDLV´$X-­
gusto Santos Silva, 2003)6&RPRHVFUHYH0iULR0HVTXLWD³D¿QDORDUWLJRGRMRUQDO±DSHVDU
5 Como bem nota Jean-­Marie Colombani (Director do Le monde), saber se a concentração põe em risco tais qualidades depende da cultura, dos países e das pessoas (por exemplo, se o grupo criado por Murdoch é uma “catástrofe” o enorme grupo de imprensa criado pelo “New York Ti-­
mes” manteve inalterável o pluralismo e a qualidade) (in Jornal Expresso, 22 de Abril de 2006).
6 Artigo publicado no Jornal 3~EOLFR(8/11/2003). Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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da televisão e da Internet, da política espectáculo e do predomínio da imagem – ainda faz tremer governos e cair ministros. Ora, entre outros mecanismos e espaços informativos, o editorial e algumas colunas de opi-­
QLmRUHÀHFWHPHUHSUHVHQWDPH[WUDRUGLQDULDPHQWHEHPHVVHSRGHUHVVHSRGHUGHLQÀXrQFLD&RPR
bem assinala Morán Torres (1988:140), ainda que o editorial seja pouco lido e por isso não chegue a XPS~EOLFRPDLRULWiULRDVXDLQÀXrQFLDSDUDGR[DOPHQWHpPXLWRSRGHURVD
Um subcampo dos media – lugar de intersecção entre o campo político e o jornalístico
Hoje pode dizer-­se acerca do colunismo, o que se publicava acerca do jornalismo, em 1851 HP )UDQoD QXP 'LFLRQiULR GDV 3UR¿VV}HV ³2 -RUQDOLVPR QmR p XPD SUR¿VVmR QR VHQWLGR KDEL-­
WXDOGRWHUPR,VWRpWmRYHUGDGHTXHHOHUHFUXWDQDVRXWUDVSUR¿VV}HVJHUDOPHQWHDVTXHH[LJHP
conhecimentos gerais, a advocacia, os professores, os homens de letras ou das ciências 7. Contu-­
do, e utilizando a expressão de Pacheco Pereira, ele próprio colunista, diríamos que há hoje uma “indústria do comentário”, uma indústria de falar/escrever sob a forma de comentário, nascida no advento das novas tecnologias, que é uma “indústria de ponta” (Blog Abrupto, 28/2/2005).
Porém, o conjunto de actores que assina as colunas de opinião ou os editoriais nas páginas dos jornais não constitui um grupo especializado que possua um monopólio de conhecimentos ou VDEHUHVHVSHFLDOL]DGRVDLQGDTXHRFRQFHLWRGH³SUR¿VVmR´FRQWLQXHHPFRQVWUXomRWDQWRPDLVTXH
FRQWLQXDPQDVRFLHGDGHPRGHUQDDHPHUJLUQRYDVRFXSDo}HVTXHDVSLUDPDRµHVWDWXWR¶GHSUR¿VVmR
e a desaparecer outras que aparentemente já se tinham constituído como tal, assistindo-­se nas so-­
FLHGDGHVFRQWHPSRUkQHDVDXPDLQWHQVDHGLQkPLFDUHFRQ¿JXUDomRSUR¿VVLRQDOHVRFLDO
Os colunistas não são, pois, em rigor e sob nenhum ponto de vista formal, incluindo o corpo GHSUREOHPDWL]Do}HVHFRQFHLWRVGDVRFLRORJLDGDVSUR¿VV}HVFRQVLGHUDGRVXPJUXSRRFXSDFLRQDO
0DLVGRTXHXPDSUR¿VVmRRVFROXQLVWDVDVVXPHPDQWHVFDUDFWHUtVWLFDVGHXPD³FRPXQLGDGHLQ-­
terpretativa”. No entanto, é nossa opção, situá-­los num interior de campo, recorrendo à conceptua-­
lização de Pierre Bourdieu.
O conjunto de actores que expõe a sua opinião nos media inclui pessoas que não sendo re-­
ferenciadas ao campo político (mesmo que com ele mantenham relações) também não o poderão VHUDRFDPSRMRUQDOtVWLFRDLQGDTXHPXLWRVVHMDPMRUQDOLVWDVGHSUR¿VVmRHTXHDVFROXQDVSRVVDP
conter elementos informativos e estar ao serviço de estratégias mais globais dos media). Estes colu-­
nistas provêm, maioritariamente, de dois campos tradicionais: o campo do jornalismo e o da polí-­
tica – situam-­se na convergência de uma vertente mediática e de uma vertente político-­partidária, valendo politicamente enquanto sujeitos mediáticos e mediaticamente enquanto sujeitos políticos (Rebelo, 2000: 26) – ainda que existam actores provenientes de outros campos (como o académico), mantêm com os outros dois campos uma forte relação. Esta relação acontece seja por se enquadra-­
rem nas regras e lógicas mediáticas, seja por terem exercido funções políticas, seja por encontrarem QDWHPiWLFD³SROtWLFD´XPFDPSRGHUHÀH[mRHLQWHUHVVH*HQHULFDPHQWHSRGHUVHmRLQFOXLUDVVLP
no “campo dos media”, enquanto lugar onde se cruzam protagonistas oriundos de varias actividades SUR¿VVLRQDLVMRUQDOLVWDVSROtWLFRVDGYRJDGRVFLHQWLVWDVHVFULWRUHVHQTXDQWRFDPSRPDUFDGR
pela enorme proximidade com outros campos. Importa, agora, referir que a tese central da teoria dos campos funda-­se no pressuposto da organização das sociedades desenvolvidas terem por base uma progressiva individualização e auto-­
nomia dos campos sociais, sendo que a formação dos campos sociais (com uma estrutura própria: valores, normas, papeis) realiza-­se num quadro genérico de organização e diferenciação da activi-­
dade humana. O campo dos media – com funções de mediação essencialmente de ordem simbólica – pode ser considerado como a resposta, ao nível da organização da sociedade, ao vasto conjunto de necessidades de ordem cultural que nasceram da generalização da linguagem (Esteves, 1998:131). Mas nos campos sociais, estabilidade e mudança estão sempre presentes e em permanente tensão 7 2SURFHVVRGHSUR¿VVLRQDOL]DomRGR-RUQDOLVPRpDERUGDGRHHQTXDGUDGRWHRULFDPHQWHSRUH[HPSORHP1HOVRQ7UDTXLQDA Tribo Jornalística, Editorial Notícias, Lisboa Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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– em ambos convergem tanto a sociedade no seu conjunto como cada um dos seus membros (Este-­
ves, 1998:141). No campo dos media, e na sua relação com outros campos (o político é central), es-­
sas tensões são notórias, seja pelos condicionalismos e estratégias a que estão sujeitas as funções de mediação social, seja por incorporar no seu funcionamento estratégias que nada tem a ver com os processos de mediação simbólica, seja por esta passar à margem dos media, seja, ainda, pela prolife-­
ração de novas técnicas e dispositivos informacionais (Idem, 144-­145). Pelo que, na senda também do que diz Adriano Duarte Rodrigues (1990), há que concordar que:
“o campo dos media, ao mesmo tempo que vê reforçado o seu papel nas sociedades desenvolvidas, assume uma forma mais multifacetada e polimorfa, que não autoriza, por conseguinte, a sua conotação estrita com os mass media” (Pissarra Esteves, 1998:145). Mas a acção discursiva dos colunistas – ainda que usando explicita (mas não exclusivamente) os media como veículos, gerando também algumas tensões, reforçando, simultaneamente, certas es-­
tratégias mediáticas e sendo certamente reveladora de alterações no seu interior do campo dos me-­
GLD±QmRFRQ¿JXUDHVSHFL¿FLGDGHVVX¿FLHQWHVSDUDTXHSRVVDPRVHQWHQGrODHQTXDQWRJHUDGDQXP
subcampo, em reforçada relação com outros campos? $VVLPGDGDDHVSHFL¿FLGDGHTXHDWULEXtPRVDHVWDDFWLYLGDGHGHprodução de opinião e face à crescente aparente autonomia e legitimidade, conferida pelo próprio campo dos media, quase in-­
dividualizando e diferenciando esse “bem próprio” que é a “opinião” tornada pública – uma espécie de monopólio de competências por parte de alguns – parece-­nos não ser abusivo entendê-­la como produto de um subcampo do campo dos media – lugar de intersecção entre o campo político e o jor-­
nalístico, submetido à coacção deste último (tal como o campo político) e servindo, sobretudo, os VHXV¿QV
Para Bourdieu, a existência de um campo, considerado como um “espaço social estruturado, um campo de forças, num campo de força” implica a existência de um enjeu ou prémio que é dispu-­
WDGRSRUDJHQWHVVRFLDLVGLYHUVRVHLPSOLFDDH[LVWrQFLDGHXPJUXSRHVSHFLDOL]DGRTXHD¿UPDSRV-­
suir um monopólio de conhecimentos ou saberes especializados. No campo jornalístico, o “prémio” são as notícias e o “grupo especializado” os jornalistas, os quais detêm o monopólio de “saber pro-­
duzir notícias”. Ora, a “opinião”, ainda que assinada por jornalistas, não remete para este prémio, nem releva destas competências, mas remete para outro tipo de prémios e competências que o campo dos me-­
dia e a sua acção, crescentemente tem quase autonomizado e legitimado. Diríamos mesmo que os textos de opinião até quando escritos por jornalistas (ainda que por vezes indissociáveis da matéria noticiosa que ajudam a interpretar) aproximam-­se mais dos produtos emanados do campo político do que do jornalístico (não obstante o movimento inverso: crescentemente a opinião contaminar os textos informativos). Tal aproximação pode explicar-­se na medida em que se entende o campo polí-­
tico como: “ (...) o lugar em que se gera, na concorrência entre os agentes que nele se acham envolvidos, produtos políticos, problemas, programas, análises, comentários, conceitos, acontecimentos, entre os quais os cidadãos comuns, reduzidos ao estatuto de “consumidores”, devem escolher, com probabilidade de mal-­entendidos tanto maiores quanto mais afastados estão do lugar de produção” (Bourdieu, 1989:164)
Existem, contudo, outras aproximações. O colunista, tal como o político (e talvez mais que o MRUQDOLVWDDFWRU³DQyQLPR´IXQGDRVHXSRGHUQDFRQ¿DQoDHQDFUHQoDUHWLUDDVXDIRUoDGDFRQ-­
¿DQoDTXHXPJUXSRQHOHGHSRVLWDGDIpQDUHSUHVHQWDomRTXHHOHGiDRJUXSRHGDVXDUHODomRFRP
os outros grupos (cf. Bourdieu, 1989). E nessa medida, o seu poder, porque supõe um reconheci-­
mento, o desconhecimento da violência que se exerce através dele, é imensamente simbólico. O seu trabalho consiste em melhorar a sua “credibilidade”, a sua “notoriedade”. Tal como os políticos, são SRUWDGRUHVGHXPFDSLWDOHVSHFt¿FRVLPEyOLFRTXH%RXUGLHXLGHQWL¿FDFRPRXP³SXURYDORU¿GXFL-­
iULR´GHSHQGHQWHGD¿GHVGDUHSUHVHQWDomRGDRSLQLmRGDFUHQoD
&RQWLQXDQGRDVHJXLU%RXUGLHXGLUVHiTXHRVGLVFXUVRVSROtWLFRVTXHRVSUR¿VVLRQDLVSUR-­
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duzem são sempre duplamente determinados, afectados de uma duplicidade resultante da duali-­
GDGHGRVFDPSRVGHUHIHUrQFLDHGDQHFHVVLGDGHGHVHUYLURV¿QVHVRWpULFRVGDVOXWDVLQWHUQDVH
VLPXOWDQHDPHQWHRV¿QVHVRWpULFRVGDVOXWDVH[WHUQDV$SURGXomRGHWRPDGDGHSRVLo}HVGHSHQ-­
de do sistema das tomadas de posição propostas em concorrência pelos partidos antagonistas. Pelo que, os partidos, como as tendências que se desenvolvem no seio deles, só têm existência relacional, VHQGRYmWHQWDUGH¿QLUTXHHODVVmRLQGHSHQGHQWHVGRTXHVmRRVVHXVFRQFRUUHQWHV2UDHVWDSDUH-­
ce-­nos ser outra similitude com o discurso dos colunistas.
Na mesma linha, uma das questões que interessa colocar é a de saber quais são os mecanis-­
mos através dos quais os colunistas adquirem a legitimidade para expor as suas opiniões nas páginas dos jornais. Vários autores, directa ou indirectamente, a têm colocado.
Subscrevemos Pedro Solera (2000), que não crê que seja possível, conhecer as múltiplas cau-­
sas pelas quais pode ser contratado um colunista (políticas, tribais, estéticas, económicas, sociais, HWFRXDOFDQoDUXPDFODVVL¿FDomRGHDFRUGRFRPSRVVtYHLVFULWpULRVIRUPDLVHLVVRSRUTXHVHREVHU-­
va que os critérios diferem, até ao ponto de não existirem. Contudo, é de admitir que a legitimidade do colunista se construa “ (...) algures na intersecção dos direitos de liberdade de expressão e de liberdade de criação de empresas jornalísticas”, que suponha “ (...) consensos mínimos entre diversas fontes de decisão interna (direcção, redacção, às vezes o juízo dominante entre os jornalistas...)”. (Mário Mesquita, Jornal 3~EOLFR 25/1/2004). Mas trata-­se de uma legitimidade “frágil”, baseada em factores subjectivos e mutáveis. São opções que, como refere Michel Mathien, se processam na “caixa preta” das empresas jornalísticas.
Não temos total concordância com Pacheco Pereira (blog Abrupto, 28/2/2005), que, encarando a opinião numa perspectiva economicista (como se de um qualquer bem se tratasse), diz que o que le-­
gitima a opinião é o seu “valor”. Diz ser essa “indústria”, onde ele próprio se inclui, ferozmente com-­
SHWLWLYDQDTXDOKiÀX[RVHQWUHRVGLIHUHQWHVVHFWRUHVGHSURGXomRGHTXHVmRH[HPSORRGDSROtWL-­
ca tradicional para o comentário ou o da escrita bloguística para a escrita dos jornais, e vice-­versa). Trata-­se, para ele, de uma economia assente num mercado aberto onde os bens são escassos, e onde tudo se mede pela qualidade da opinião – reforçada pelas competências a montante e a jusante, mas não é por elas legitimada – opinião mede-­se contra opinião. No mercado aberto da “indústria do co-­
PHQWiULRDTXDOLGDGHGDRSLQLmRPHGHVHSRUGRLVSDUkPHWURVDDXGLrQFLDHDLQÀXrQFLDQmRQH-­
cessariamente coincidentes). CRQYpPUHFRUGDU-RVp*LOSDUDTXHPQR³GHEDWHIXODQL]DGR´QRHVSDoRS~EOLFRRTXHLQÀXLH
pesa na discussão como uma “mais-­valia” de sentido e de verdade no seu discurso é a personalidade social dos interlocutores -­ essa “espécie de argumento de autoridade invisível”, para cuja força con-­
tribui o seu prestígio: “a condição de legitimação de um discurso é a sua passagem pelo plano do prestígio mediático -­ que, longe de dissolver o sujeito, o reforça e o enquista numa imagem «em carne e osso», subjectivando-­o como o melhor, o mais competente, o que realmente merece estar no palco do mundo”(2004:33)8. 8 Note-­se que já Gustave Le Bon (“As Opiniões e as Crenças”) “teorizava” sobre o papel do prestígio na formação da opinião: “(...) facil-­
mente nos habituamos a admitir, com prontidão, um conceito defendido por um personagem aureolado de prestígio.(...)Sobre os assuntos técnicos GDQRVVDSUR¿VVmRVRPRVFDSD]HVGHIRUPXODUFRQFHLWRVPXLWRVHJXURVPDVQRWRFDQWHDRUHVWRQmRSURFXUDPRVVHTXHUUDFLRFLQDUSUHIHULQGR
admitir, com os olhos fechados, as opiniões que nos são impostas por um personagem ou um grupo dotado de prestígio. (...) De facto, quer se seja estadista, artista, escritor ou sábio, o destino depende, sobretudo, da quantidade de prestígio que se possui e, por conseguinte, do grau de sugestão inconsciente que se pode criar. (...) Mesmo entre sábios eminentes, o prestígio é, muitas vezes, um dos factores mais certos de uma convicção. Para os espíritos ordinários, ele o é sempre. Criador de opiniões e dominador das vontades, o prestígio é uma potência moral superior às potências mate-­
riais. As sociedades nele se fundam muito mais do que na força. (...) A necessidade de adoração das multidões torna-­as logo escravas dos indivíduos que nelas exercem prestígio”
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É também nossa a convicção que o que autoriza e legitima os colunistas para expor as suas impressões ou argumentos advém, em grande parte, do poder simbólico – chamemos-­lhe assim na HVWHLUDGH%RXUGLHX±TXHjSDUWLGDMiGHWpPeXPFDSLWDOFLHQWt¿FRSROtWLFRPHGLiWLFRTXHVH
reconverte ou reforça. Mais do que “competências comunicacionais”, será este capital simbólico que é mobilizado:
“ (...) o poder que constitui o dado ao enunciá-­lo, o poder de agir sobre o mundo pelo facto de agir sobre a representação do mundo, não reside em “sistemas simbólicos”, na forma de uma força ³LORFXFLRQiULD´&XPSUHVHVLPQDHSHODUHODomRGH¿QLGDTXHFULDDFUHQoDQDOHJLWLPLGDGHGDV
palavras e das pessoas que as pronunciam, e só opera na medida em que aquelas que o suportam reconhecem aqueles que o exercem” ( 1989:107).
Dos argumentos de Bourdieu e dos elementos empíricos, observáveis entre nós, pode dedu-­
zir-­se que esse capital simbólico reconhecido e institucionalizado que possuem, e em consequência do aumento de visibilidade mediática, da consagração, se reforce não apenas junto de algumas ca-­
madas da população leitora de jornais mas dentro do próprio campo,9 afectando a distribuição do capital simbólico e, em consequência, a hierarquia dos lugares políticos ou (no campo académico) a SXEOLFDomRGHDUWLJRVOLYURVRX¿QDQFLDPHQWRVS~EOLFRV3RUpPQDOJXQVFDVRVHHPSDUWLFXODUQRV
académicos que acedem à televisão, é de admitir que esse capital simbólico se “fragilize” junto dos seus grupos de pertença. Os seus “pares” tendem a menosprezar a sobreexposição mediática que REHGHFHDOyJLFDVTXHQmRDFLHQWt¿FDDUDSLGH]TXHVHH[LJHpLQFRPSDWtYHOFRPRSHQVDPHQWRSHOR
que pensam por “ideias feitas”, e é como fast-­thinkers que Bourdieu (1997:25), de modo depreciati-­
vo, os referencia.
Existem, contudo outros factores e outras perspectivas a considerar no processo de atribui-­
ção de legitimidade e credibilidade
De acordo López Pan10, os colunistas ao escolherem os temas, as ideias, os estilos, ao hierar-­
quizarem valores, vão revelando uma personalidade, um modo de ser e estar face aos acontecimen-­
tos, certas preferências morais – e por vezes políticas –, determinadas intenções e gostos. São todos estes elementos que criam o que na retórica clássica se chamava o ethos do orador. A coincidência FRPHVVHHWKRVHVVHTXDGURGHUHIHUrQFLDLQGLYLGXDOGiOXJDUDXPDFRQ¿DQoDRULJLQiULDTXHGRWDR
colunista de credibilidade e autoridade, no sentido de reconhecimento social, e que se converte em audiência. Não se trata tanto da adequação do colunista aos leitores, mas antes do inverso: são os OHLWRUHVTXHHQFRQWUDPQRMRUQDODOJXpPFRPTXHPHVWmRHPVLQWRQLDHHPTXHPFRQ¿DPDRVTXDLV
VHWRUQDP¿HLVQXPDDWPRVIHUDGHLQWLPLGDGH1DSHUVSHFWLYDGHVWHDXWRUpHVVDFRLQFLGrQFLDKDEL
. N
Na a perspectiva deste autor, é essa coincidência habi-­
tual entre o colunista e o leitor que faz com que este procure “orientação”, queira uma explicação que nasça do confronto do que acontece no mundo com os princípios valorativos de alguém com quem coincide totalmente ou em parte (López Pan, 1995)11 &RQFOXtPRVVXEOLQKDQGRTXHSDUDHQWHQGHUDHVSHFL¿FLGDGHGHVVDUHODomRGHFRQ¿DQoDHQWUH
o leitor e o colunista bem como o processo de atribuição de credibilidade e autoridade, será preciso, 7DOYDLDRDUUHSLRGDGH¿QLomRIXQGDGRUDGH³FDPSR´QDPHGLGDTXHHVWHFRQFHLWREiVLFRGDREUDGH%RXUGLHXGHVLJQDXPDFRQ¿JXUD
7DOYDLDRDUUHSLRGDGH¿QLomRIXQGDGRUDGH³FDPSR´QDPHGLGDTXHHVWHFRQFHLWREiVLFRGDREUDGH%RXUGLHXGHVLJQDXPDFRQ¿JXUD-­
omRGHUHODo}HVREMHFWLYDVHQWUHSRVLo}HVGHDJHQWHVRXLQVWLWXLo}HV&RQ¿JXUDomRTXHFRQVWLWXLRFDPSRHpVLPXOWDQHDPHQWHFRQVWLWXtGDSRUHOH
Sendo um conceito de caracter descritivo ou heurístico, o “campo” tem também um valor normativo: faz com que as modalidades de consagração dependam das relações estabelecidas no próprio campo e não da imposição exterior. Foi o próprio autor que sublinhou (1997) o “desanjarro” que os media, em particular a TV, vieram introduzir, colonizando os outros campos intelectuais.
10 Declarações proferidas numa conferência efectuada em Pamplona a 25 de Abril de 2002
11 Diríamos que subjacente a esta perspectiva, quase parece estar a atribuição de uma função maiêutica às colunas (no sentido em que con-­
tribuem para fazer nascer a verdade do outro, através do estimulo que representa a perspectiva que realçam, os novos pontos de vista que o leitor, SRUVLVyQmRKDYLDFRQVFLHQFLDOL]DGRLJQRUDQGRVHDVFDUDFWHUtVWLFDVDVPDUFDVVRFLDLVRSUHVWtJLRRUHFRQKHFLPHQWRVRFLDODFDGpPLFRSUR¿V-­
sional...) de quem emite a opinião e o lugar donde o faz. Por outro lado, também não deixa de nos remeter para a teoria da comparação social de Festinger, na medida em que se reporta a um processo de validação social das nossas opiniões, o que em si mesmo (e não exclusivamente no âmbito inter-­grupal) pode abrir portas para territórios teóricos pertinentes.
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por um lado, não deixar de entender o colunista, também, como portador de um capital simbólico e, por outro, procurar o “valor” da sua opinião no interior do campo onde é proferida. Ora, quanto mais os campos se cruzam, interpenetram, mais pertinente se torna continuar a pensar estes “no-­
YRVOXJDUHV´RQGHGHFRUUHPHVWHVSRUYH]HV³KtEULGRV´GLVFXUVRVHVWDVTXDVH³QRYDVSUR¿VV}HV´
H³LGHQWLGDGHV´VyFLRSUR¿VVLRQDLV num HVSDoRS~EOLFRPHGLDWL]DGRHPFRQVWDQWHUHFRQ¿JXUDomR
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GT2 - Mediação, mediatização e prática jornalística
La croisée des voix dans l’espace du journal
métamorphoses de la polyphonie dans les textes d’information
Emmanuël SouchierAdeline Wrona
GRIPIC, Celsa — Université Paris-Sorbonne
Resumo
(VWDUHÀH[mRDQDOLVDDHYROXomRGRVHVSDoRVHGLWRULDLVUHVHUYDGRVQDLPSUHQVDFRWLGLDQDGHLQIRU-­
mação, à representação das vozes dos destinatários do jornal. Trabalhando com o caso do jornal Pa-­
risien, tomaremos como exemplo as voix express (“vozes expressas”), que transpõem para a impren-­
sa escrita a prática audiovisual do micro-­trottoir. A abordagem proposta é semio-­histórica: trata-­se de se perguntar em que medida o formato editorial permite – mesmo que se transformando – o de-­
senho democrático da enunciação informativa. O dispositivo editorial praticado pelo Parisien é bas-­
WDQWHLPLWDGRSRURXWURVYHtFXORVGDLPSUHQVDHVFULWD6RIUHXLQÀXrQFLDSRUVXDYH]GDVPtGLDVGL-­
gitais e de uma vulgata sociológica. As voix express desenham um quadro representativo do público na sociedade, substituindo a produção de notícias, pela publicação de textos redigidos pelos leitor.
Le développement des médias informatisés et des sites d’information en ligne s’accompagne d’une promesse : celle d’une participation du citoyen à la fabrication du journalisme, qui ferait du professionnel un simple « collaborateur » d’une pratique informationnelle partagée. Différentes études récentes ont montré les limites de cette nouvelle répartition des rôles, qui repose davantage sur une idéologie de la fonction médiatrice du journaliste, que sur le fonctionnement réel des dispo-­
sitifs d’information. Dans le cadre d’une interrogation sur les « changements structurels dans le journalisme », QRWUHUpÀH[LRQVRXKDLWHSUHQGUHDXVpULHX[FHWWHSURPHVVHSDUWLFLSDWLYHHQ\YR\DQWO¶H[SUHVVLRQ
d’un imaginaire professionnel qui s’incarne dans des formes éditoriales. L’approche combine une analyse sémiologique des textes d’information, et un regard sur le temps long. /DTXHVWLRQTXHQRXVSRVRQVFRQFHUQHOHVUHFRQ¿JXUDWLRQVVXELHVSDUOHVHVSDFHVUpVHUYpV
dans le journal, à la représentation des voix des lecteurs et des destinataires de l’information. En d’autres termes, il s’agit d’analyser le travail mené par les journalistes comme professionnels de la représentation, dans la mise en œuvre de ce que l’on pourrait appeler une « mimésis de voix ». Aussi nous inscrivons-­nous dans la continuité des travaux initiés par Maurice Mouillaud et Jean-­François 7pWXTXLGpFULYHQWOHMRXUQDOTXRWLGLHQFRPPH©XQHFKDPEUHG¶pFKRVRUpVRQQHOHFRQFHUWGHV
voix qui, sans lui, n’auraient pas d’échos »1. Le texte journalistique déploie, par des dispositifs à la fois discursifs et formels, une stratégie de la citation, qui entre en relation étroite, mais complexe, avec les visées du discours d’information. L’information, comme discours et comme processus de mise en texte, repose sur la mise en œu-­
vre d’une énonciation polyphonique ;; les premiers journaux revendiquant le travail de l’information promettent, dès les années 1880, l’ouverture la plus large aux voix du social. « Ce qui se passe sur OHERXOHYDUGFHTXLVHGLWjO¶2SpUDFHTXLVHFRQWHWRXWEDVGDQVOHVVDORQVVHUDLFL¿GqOHPHQWUH
produit », annonce Le Matin dans son premier numéro, en 1884. « Chambre des voix perdues », ou presse-­miroir, pour reprendre les formules de Tétu et Mouillaud, le journal d’information, et plus encore le quotidien populaire, associe le développement de l’enquête et des protocoles profession-­
QDOLVpVGXUHSRUWDJHjODUHFKHUFKHG¶XQHpQRQFLDWLRQGpPRFUDWLTXH/DPDVVL¿FDWLRQGHODSUHVVH
UHGp¿QLWGRQFODUpSDUWLWLRQGHVSDUROHVGDQVOHVGLVSRVLWLIVG¶LQIRUPDWLRQ
Qu’en est-­il quand, sous l’effet du développement des médias électroniques, et des sites de PLVHHQUHODWLRQV¶LPSRVHQWGHQRXYHDX[PRGHVGH¿JXUDWLRQGHVOHFWHXUVGHVWLQDWDLUHVRXFRQWUL-­
1 Maurice Mouillaud, Jean-­François Tétu, Le Journal quotidien, Presses universitaires de Lyon, 1989, p. 129.
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buteurs de l’information ? Les formes propres à cette croisée des voix dans le journal enregistrent-­
elles des mutations liées à ces innovations médiatiques ?
L’analyse portera sur une petite forme périodique proposée par un quotidien français régio-­
nal, disposant d’une édition nationale, Le Parisien. Nous montrerons comment le dessein démocra-­
WLTXHGXMRXUQDOG¶LQIRUPDWLRQSDVVHSDUO¶LQYHQWLRQGH¿JXUHVGXOHFWHXUTXLSUHQQHQWFRUSVGDQV
le journal. La parole donnée des êtres de papier.
Dans Le Parisien, quotidien régional de l’Île-­de-­France englobant la « ville capitale », un en-­
semble de dispositifs sémiologiques permet l’émergence de voies multiples, comme autant de sour-­
FHVG¶pQRQFLDWLRQFRQ¿JXUpHVHWGRQQpHVjOLUHjWUDYHUVOHVFDGUHVSUpFLVGHODPLVHHQSDJH&HV
dispositifs d’énonciation éditoriale ont pour fonction essentielle de “donner à voir” la parole vive des citoyens. La rubrique « Voix express » sur laquelle nous avons choisi de focaliser notre regard en est le plus bel exemple, au point d’être devenue, selon une des journalistes du titre, la « marque de fabrique » du quotidien. Quelle est donc cette fonction consistant à donner la parole aux citoyens ? Comment le journal s’y prend-­il, selon quelles valeurs et quelles modalités expressives2 ? Quelle sig-­
QL¿FDWLRQSROLWLTXHGRLWRQDFFRUGHUjODUHSUpVHQWDWLRQGHFHWWHSDUROHFROOHFWLYHG¶LQGLYLGXVGDQV
OHVPpGLDV"4XHVLJQL¿HODSUR[LPLWpTXHOHWH[WHG¶LQIRUPDWLRQWHQWHG¶pWDEOLUDYHFOHOHFWHXU"$X-­
tant d’interrogations que Le Parisien interroge et illustre au quotidien.
Les conditions de possibilité techniques et culturelles
Les moyens numériques devenus économiquement rentables permettent désormais une re-­
marquable souplesse dans la mise en forme de l’image dans la presse quotidienne, tant au nive-­
au de la prise de vue photographique, de la maquette et de la mise en page, que des techniques d’impression. Ces conditions de possibilité techniques sont également doublées d’un volet culturel, c’est-­à-­dire d’un savoir numérique et audiovisuel lié à la culture médiatique aussi bien qu’à la pra-­
tique professionnelle. Le « savoir moyen » des consommateurs occidentaux a profondément évolué au cours des dernières décennies. La littératie3, ce savoir « lire et écrire » minimal que l’on appelait la lettrure et qui fait la base de l’apprentissage du journaliste comme du citoyen, s’est vu étoffé d’un savoir numérique indispensable à l’usage des médias informatisés — que Milad Doueihi a fort jus-­
tement appelé la numératie5 — et d’un savoir audiovisuel requis par l’évolution médiatique de notre société — l’audiovitie, pour reprendre l’expression de Thierry Devars6. Les dispositifs d’énonciation éditoriale présentés dans Le Parisien s’inscrivent donc dans ce contexte culturel, renvoyant à tous ces savoirs que nous n’avons pas encore nécessairement appris à reconnaître non plus qu’à repérer.
La présence de la photographie mise en page dans les « petites formes » du journal7 et la très haute fréquence des portraits que l’on relève dans la presse populaire, notamment « gratuite », montrent que la numérisation de la chaîne de production de l’image et de l’information a radicale-­
PHQWPRGL¿pO¶pFULWXUHMRXUQDOLVWLTXHGRQWODSKRWRJUDSKLHGHSRUWUDLWIDLWGpVRUPDLVSDUWLHLQWp-­
grante8. La pratique du micro-­trottoir en est un exemple patent. Elle se traduit, dans Le Parisien, 2 Valérie Croissant et Annelise Touboul (dossier coordonné par), “Journalistes et citoyens : qui parle ?”, Communication & langages, n° 165, décembre 2010, p. 15-­86.
3 Jack Goody, Pouvoirs et savoirs de l’écrit, La Dispute, coordonné par Jean-­Marie Privat, trad. Claire Maniez, 2007. Mohamed Kara et Jean-­Marie Privat (sous la dir. de), « La littératie. Autour de Jack Goody », Pratiques, n° 131-­132, 2006.
4 Emmanuël Souchier, “De la lettrure à l’écran. Vers une lecture sans mémoire ?”, “Mnémotechnologies – texte et mémoire”, Texte, n° 25-­
26 (coordonné par F. Schuerewegen), Trinity College, Université de Toronto, Canada, 2000, p. 47-­68
5 Milad Doueihi, La grande conversion numérique, « La Librairie du XXIe siècle », Seuil, 2008.
6 Thierry Devars : « Pour une poétique de l’audiovitie : l’impensé de la culture audiovisuelle. Le cas des vidéos politiques », Communication & langages, n° 167, 2011, p. 123-­139.
7 Marie-­Ève Thérenty et Guillaume Pinson, « Présentation : le minuscule, trait de civilisation médiatique », Microrécits médiatiques, Les IRUPHVEUqYHVGXMRXUQDOHQWUHPpGLDWLRQVHW¿FWLRQVeWXGHVIUDQoDLVHV/HV3UHVVHVGHO¶8QLYHUVLWpGH0RQWUpDOYRO±S
8 Adeline Wrona, “L’ordinaire en portrait : une forme impossible ?”, Communication & langages, n° 158, décembre 2008, p. 3-­12.
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SDUO¶H[KLELWLRQG¶XQMHXGH©¿FKHVVLJQDOpWLTXHVªVXUOHVTXHOOHV¿JXUHXQHVpULHGHSKRWRJUDSKLHV
d’identité accompagnées d’un ensemble de données signalétiques qui précèdent la citation de la parole de la personne interrogée (cf¿J2UF¶HVWjSDUWLUGHFHVSKRWRJUDSKLHVGHSRUWUDLWVTXH
s’élabore la délégation symbolique d’énonciation entre le citoyen, le journaliste et le quotidien. Donner à voir la voix
La voix du citoyen est mise en scène par un ensemble de procédés linguistiques et visuels. Sous la rubrique « Voix express », le journal présente régulièrement cinq portraits de personnes à qui l’on a posé une seule et même question. La rubrique vient s’inscrire, selon les opportunités de l’actualité, dans les méta-­rubriques « Sport », « Société », « L’air du temps », lesquelles sont elles-­
PrPHVVSpFL¿pHVHQIRQFWLRQGHODWKpPDWLTXHWUDLWpH©0RGHGHYLHª©)DPLOOHª©,QWHUQHWª
etc. (cf¿J&/DTXHVWLRQSRVpHDX[SHUVRQQHVLQWHUURJpHVHVW¿JXUpHDXGHVVXVGHODJDOHULHGH
portraits9. Transversale, elle relie ces acteurs hétéroclites et leur donne une apparence d’unité sur la VFqQHGXTXRWLGLHQ*UDSKLTXHPHQWHOOHYLHQWVRXVOHEDQGHDXGHFRXOHXUGDQVOHTXHO¿JXUHQWGHX[
informations : le titre de la rubrique (« Voix express ») et le nom du journaliste précédé de la men-­
tion testimoniale : « Propos recueillis par… ». Le titre de la rubrique « Voix express » est quant à lui suivi d’un signe dessiné à partir de guillemets fermants inversés (cf¿J&HVLJQHV¶LQYHVWLWG¶XQHIRQFWLRQPpWRQ\PLTXHLQGLFLHOOH
renvoyant aux modalités d’énonciation de la parole retransmise. Par une sorte de mise en abîme, il évoque le procédé graphique habituel de la citation effectuée dans un texte : la mise entre guillemets, précisément100DLVLOOHIDLWGHPDQLqUHRVWHQWDWRLUHO¶H[KLEDQWD¿QGHVRXOLJQHUOHVPRGDOLWpVGH
présentation de la voix des citoyens. Il attire ainsi l’attention du lecteur sur sa propre présence dont ODIRQFWLRQHVWGRXEOH'¶XQHSDUWLODI¿FKHXQHPDUTXHYLVXHOOHGHO¶RUDOLWp11 et de l’autre, il souligne le fait qu’il s’agit bien d’une citation. Il nous dit : « Voyez, lecteurs : la parole que j’introduis est une parole citée. » Ajoutant aussitôt : « Je vous donne à lire une voix authentique qui vous est scru-­
puleusement retransmise. » Ce qui, bien entendu, ne peut pas correspondre au travail de récriture que suppose une telle rubrique : décidée lors de la conférence de rédaction quotidienne, la « voix ex-­
press » intervient en aval de l’enquête qu’elle doit illustrer : les personnes interrogées réagissent cer-­
tes à vif, mais sur un donné – l’enquête – qui, lui, résulte déjà d’une élaboration discursive. Une fois capturées, ces paroles sont soumises à un travail de synthèse, de lissage, et d’éditorialisation pris en charge pour une part par le journaliste délégué à sa réalisation, et pour une autre part par le secré-­
taire de rédaction du journal. La représentation journalistique fonctionne en somme selon le double processus décrit par Louis Marin – une « opération de transitivité » (ici, la saisie des voix, comme en pFKRHWXQH©RSpUDWLRQGHUpÀH[LYLWpªLFLOHVJXLOOHPHWVHWDXWUHVLJQHVGpQRWDQWOHWUDYDLOGHOD
FLWDWLRQ©HQG¶DXWUHVWHUPHVUHSUpVHQWHUVLJQL¿HVHSUpVHQWHUUHSUpVHQWDQWTXHOTXHFKRVHHWWRXWH
représentation, tout signe ou procès représentationnel comprend [cette] double dimension »12.
Les guillemets sont encore employés dans les colonnes de textes (cf¿JFROGHGURLWH
Ils sont alors suivis d’une citation en italiques. Cet autre marqueur typographique a pour fonction G¶DQQRQFHUXQHUXSWXUHpQRQFLDWLYHGDQVOH¿OGXWH[WHHWG¶LQGLTXHUTXHODSDUROHTXLQRXVHVWGRQQpH
à lire est, elle aussi, authentiquement retransmise. Il s’agit d’un effet de démarcation, « partition » assurant « l’effet de source », selon la formule de Tétu et Mouillaud13.
Authentique, la voix est directe. L’ensemble du dispositif visuel joue sur un leurre de dialogue RUDO&HWWH¿JXUHYLVXHOOHGHGLDORJXHFHdiatexte, pour reprendre l’expression d’Olivier Fournout14, se 9 Adeline Wrona, Face au portrait, Mémoire d’Habilitation à diriger les recherches, Université Paris-­Sorbonne, 2010.
10 Antoine Compagnon, La seconde main ou le travail de la citation, Éditions du Seuil, 1979.
11 On notera également que le signe est passé dans le code kinésique, pour signaler une citation à l’oral, on la marque parfois d’un mouve-­
ment des doigts mimant les guillemets écrits. La reprise ostentatoire de ce signe de guillemets inversés dans le cadre du journal connote en retour une situation d’interaction orale.
12 Louis Marin, « Mimésis et description », dans De la représentation, « Hautes études », Gallimard/Le Seuil, 1994, p. 255.
13 Maurice Mouillaud, Jean-­François Tétu, op. cit., p. 132.
14 2OLYLHU)RXUQRXW©/DIRUPHpURWLTXHGHVGLDORJXHVSDUPpGLDVLQIRUPDWLVpVª&RPPXQLFDWLRQODQJDJHVQŃVHSWHPEUHS
¤©/DPDWULFHUHODWLRQQHOOH'XGLDWH[WHjO¶DQWKURSRORJLHGHODFRPPXQLFDWLRQª&RPPXQLFDWLRQODQJDJHVQŃGpFHPEUHS
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donne à lire comme l’expression d’une situation de communication orale mise en scène visuellement par la mise en page et les marqueurs d’oralité que sont les guillemets15DLQVLTXHOHVSRUWUDLWV¿JXUDQW
l’interaction orale. La mise en page de la rubrique « Voix express », qui s’est instituée comme une « petite forme » du quotidien propre au Parisien16, a pour fonction première de donner à voir la voix des citoyens, de sémiotiser l’oralité.
Cette solution sémiotique, qui transpose en régime écrit le genre radiophonique du « micro-­
trottoir », s’est imposée dans de nombreux titres de la presse quotidienne populaire – la presse gratuite HQIDLWJUDQGXVDJH&¶HVWTX¶LOH[LVWHXQOLHQHQWUHOD¿JXUDWLRQGXGHVWLQDWDLUHGHO¶LQIRUPDWLRQHW
cette démocratisation de l’énonciation dont nous parlions plus haut. Au XIXe siècle, et jusqu’à la première Guerre mondiale, l’ancêtre du Parisien, Le Petit Parisien, fondé en 1876, poursuit le même objectif : dépassant le million d’exemplaires en 1902 (3 millions en 1917), le journal entend donner une voix à cette immense communauté de lecteurs, présents chaque jour au rendez-­vous institué par leur titre. Si l’on traque les espaces éditoriaux réservés alors à ces voix vives du témoin, ou du lecteur ordinaire, on trouve d’autres formes de diatexte : dans les récits de faits divers, les acteurs de l’actualité se trivialisent. La parole leur est donnée, selon des protocoles toutefois encore largement inspirés par le modèle littéraire. Ainsi de ce « Drame de la rue de la Grande Chaumière », paru le 28 novembre 1876 en page 2 du quotidien : LE DRAME DE LA RUE DE LA GRANDE CHAUMIÈRE Voilà, certes, une aventure au tragique de laquelle il ne manque rien, pas même cet irritant mystère qui donne un si violent intérêt à tous les drames humains. Au rez-­de-­chaussée d’une petite maison, basse, proprette, d’aspect bourgeois, portant le numéro 8, rue de la Grande Chaumière, à Montparnasse, demeuraient deux petits rentiers, les époux Lemaître. Le mari, qui portait très gaillardement ses 79 ans, avait dans le quartier la réputation parfaitement établie d’un avare à rendre des points à Harpagon. La femme passait pour une victime patiente, mais non résignée, de ce parcimonieux mari.
(La femme se démet la cuisse lors d’un voyage ;; il refuse de la faire soigner ailleurs qu’à l’Hospice de OD&KDULWpRHOOHUHVWHSOXVGHWURLVPRLV(OOHUHQWUHXQSHXSOXVW{WTXHSUpYX
Son mari, qu’elle n’avait pas prévenu, entra dans une grande fureur contre elle.
-­ Pourquoi n’as-­tu pas fait tout ton temps ? lui demanda-­t-­il.
-­ C’est qu’il est arrivé beaucoup de malades à l’hospice, et comme je me sentais mieux, je suis revenue.
(ils se querellent. Le lendemain matin, la concierge frappe, inquiète de ne pas les avoir vus).
-­ Voilà, voilà ! répondit sa locataire qui, toutefois, n’ouvrit pas.
-­ Êtes-­vous malade ! lui demanda-­t-­on.
-­ Pas plus que d’habitude.
(la femme a tué le mari, puis est morte de faim, retrouvée au bout de 4 jours).
On le voit, les protocoles de représentation des voix ont connu des métamorphoses spec-­
WDFXODLUHV/¶REVHUYDWLRQGHFHVUHFRQ¿JXUDWLRQVPpULWHUDLWXQHDSSURFKHV\VWpPDWLTXHTXHQRXV
n’avons pas encore eu le temps de mener sur l’ensemble de la période séparant le Petit Parisien du Parisien, titre émanant du journal résistant, Le Parisien libéré, créé en 1944 après l’épuration de la presse. L’évolution des diatextes donne à lire les mutations sémiotiques d’un imaginaire journalisti-­
que qui nous paraît, quant à lui, présenter des traits de grande continuité.
Un imaginaire journalistique
/HVSKRWRJUDSKLHVDI¿FKpHVGDQVODJDOHULHGHSRUWUDLWVGXParisien d’aujourd’hui présentent deux caractéristiques essentielles. D’une part, ce sont des archétypes photographiques qui relèvent d’un genre culturellement codé : la photo d’identité, à ceci près qu’elles sont affables. De l’autre, elles 48.
15 Lesquels guillemets sont repris à l’initiale de la citation du texte des personnes interrogées.
16 Étienne Candel, Valérie Jeanne-­Perrier, Emmanuël Souchier, « Petites formes, grands desseins. D’une grammaire des énoncés éditoriaux à la standardisation des écritures », L’économie des écritures sur le web, sous la dir. de Jean Davallon, Hermes Lavoisier, 2011 à paraître.
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sont toutes situées dans un environnement qui correspond à la culture urbaine et à la sphère de di-­
ffusion du journal. La parole qui nous est donnée à voir n’est donc pas anodine. Géographiquement située, elle est clairement LGHQWL¿pH, attendu qu’elle émane d’un dispositif énonciatif singulier, celui de la carte d’identité.
Une parole signalétique identifiée
Les portraits photographiques de la rubrique « Voix express » présentent des caractéristiques analogues aux photographies d’identité. L’effet est produit par le cadrage resserré autour du visage ainsi que par le format de 30 mm x 40 mm ;; le format d’une photo d’identité destinée à un document RI¿FLHOpWDQWGHPP[PP/DSRVWXUHGHV¿JXUHVHQVXLWHGHIDFHRXODWrWHWUqVOpJqUHPHQW
WRXUQpHOHUHJDUGHVW¿[pVXUO¶RSWLTXHGXSKRWRJUDSKH$XWUHPHQWGLWXQHIRLVTXHODSKRWRJUDSKLH
est reproduite dans le quotidien, tous ces visages focalisent leurs regards sur les yeux du lecteur. Le lecteur a donc pris la place du photographe, celle du journaliste. Ces portraits nous regardent, ils s’adressent à nous. Mais ils le font à partir d’un format uniforme, selon des préceptes normés rele-­
vant de la photo d’identité, voire, selon une mémoire sociale peut-­être inconsciente, de la photo an-­
thropométrique (cf¿J7RXWHIRLVLOVV¶HQGLVWLQJXHQWHQFHTX¶LOVVRQWWRXVVRXULDQWV/HVRXULUH
en effet, n’est pas administrativement autorisé sur une photographie d’identité17.
Tous ces personnages aux visages avenants regardent donc le lecteur ;; ils entrent en empathie DYHFOXL,OVOXLSDUOHQW(WVLFKDTXHSKRWRJUDSKLHGp¿QLWXQHLGHQWLWpVLQJXOLqUHO¶HQVHPEOHUHSUR-­
GXLWXQHJDOHULHGHSRUWUDLWV¿JXUHPpWRQ\PLTXHG¶XQHKXPDQLWpGLVSDUDWHIRUPHOOHPHQWQRUPpH
par le dispositif d’énonciation éditoriale mis en place par le journal. Se joue ici le rôle communicatio-­
nnel de cet espace polyphonique : il s’agit bien, comme le suggéraient Tétu et Mouillaud, de garantir le bon fonctionnement de la relation périodique, par l’invention d’un « journal-­miroir ». Les voix express déplacent en effet les rôles, du lecteur au journaliste, en renversant les regar-­
GVQRXVUHJDUGRQVFHVUHJDUGVTXLQRXV¿[HQWSDUFHTXHO¶LQIRUPDWLRQQRXVregarde. Ce faisant, le journal accueille comme énonciateurs du discours d’information, ceux qui ne sont, à proprement parler, que ses récepteurs. À entendre les journalistes du Parisien, les individus rencontrés pour la fabrication de ces verbatim sont tour à tour désignés, dans les conversations entre salariés du ti-­
tre, comme des « témoins », ou comme des « lecteurs ». À la faveur d’une petite forme médiatique, le lecteur traverse donc le miroir, et se voit élu par ce titre dont on postule qu’il est potentiellement OHVLHQ'HIDLWOHVSUR¿OVGHV©YRL[H[SUHVVªpYROXHQWHQIRQFWLRQGHOD]RQHGHGLIIXVLRQGXWLWUH
depuis que Le Parisien dispose d’une édition nationale, Aujourd’hui en FranceOHV©OHFWHXUVª¿JX-­
rés dans les pages du quotidien doivent représenter non plus seulement les habitants de la capitale, mais les Français dans leur ensemble. Aussi la rubrique s’est-­elle déplacée dans l’espace urbain : les journalistes délégués à sa fabri-­
cation, contraints de faire vite, ne sont plus en mesure d’élire le lieu de leur choix, ou le plus adapté à la thématique du jour. C’est principalement à proximité des gares que se capturent désormais les voix du quotidien : lieu de circulation intensive des individus comme des journaux, espace de croi-­
sement entre Parisiens et non Parisiens, ces carrefours de la mobilité s’imposent comme les plus DGDSWpVjO¶pGL¿FDWLRQGHFHVSRUWUDLWVSDUOpVGHODVRFLpWpXUEDLQH
Une vulgate sociologique
Dans la continuité structurelle du dessein démocratique propre au texte d’information, la croisée des voix proposée par Le Parisien dans les « voix express » nous paraissent enregistrer une évolution notable, liée à l’évolution de ce que l’on pourrait appeler la « culture des individus ». Le dispositif éditorial se calque en effet sur une saisie du social fortement imprégnée par les protocoles de la sociologie, ou en tout cas d’une vulgate sociologique largement diffusée dans les médias con-­
17
/HVSRLQWVHWGHVUHFRPPDQGDWLRQVRI¿FLHOOHVVWLSXOHQWQRWDPPHQWTXH©/HVXMHWGRLW¿[HUO¶REMHFWLI,OGRLWDGRSWHUXQHH[SUHVVLRQ
neutre et avoir la bouche fermée. / Le visage doit être dégagé. Les yeux doivent être parfaitement visibles et ouverts. » | http://www.interieur.gouv.
fr/sections/a_votre_service/vos_demarches/carte-­nationale-­d-­identite/photo-­identite |
18 Entretien avec une journaliste du Parisien, mené le 28 février 2011 à Paris.
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temporains. En somme, alors que les journalistes, au XIXe siècle, mettent en voix la société par le recours aux médiations du récit littéraire, c’est aujourd’hui le discours sociologique qui fournit les cadres généraux de la représentation. 1RWUH LQWHUORFXWULFH QRXV OH FRQ¿UPH LO V¶DJLW SRXU OH MRXUQDOLVWH HQ FKDUJH GHV © YRL[ ª
de choisir des citoyens « représentatifs ». Cette « représentativité » des individus mis en portrait s’entend en deux sens différents : en termes socio-­professionnel d’une part, et d’autre part, en ter-­
mes d’opinion. Les « voix express » ont pour mission d’incarner les possibles dominants d’une so-­
ciété radiographiée à grands traits, selon des typologies issues des enquêtes statistiques. Ainsi les cinq portraits quotidiens mentionnent-­ils toujours la profession des individus ren-­
contrés, et leur lieu d’habitation, fonctionnant comme des cartels qui dressent la liste d’une société impérativement disparate : voici un « agent SNCF », une « retraitée », une « responsable informati-­
que », un « stagiaire », un « responsable de vente », un « étudiant », un « avocat », une « gestionnai-­
UHGHSDLHª«-RXUDSUqVMRXUOHV©YRL[H[SUHVVªpGL¿HQWGRQFGHSHWLWHVSK\VLRORJLHVGHODVRFLpWp
FRQWHPSRUDLQH6HFRQGHUHSUpVHQWDWLYLWpFHOOHGHVRSLQLRQV,OLPSRUWHTXHOHV©YRL[ª¿JXUHQWGHV
réactions complémentaires, selon une logique de répartition très proche de celle qui organise les ré-­
ponses aux sondages d’opinion. Quel que soit le sujet traité, et sauf exception, le journaliste se doit de rapporter de sa cueillette urbaine un mélange relativement équilibré de « pour », de « contre », et d’opinions intermédiaires. En d’autres termes, la rencontre avec les « témoins » lecteurs s’avère d’emblée guidée par une représentation préconçue des opinions qui composent l’espace public. Re-­
présentation elle-­même conditionnée par l’espace éditorial réservé à la rubrique : restreint à un tiers de la page, et organisé sur un chiffre impair, le format de la « voix express » programme une con-­
frontation des réactions qui tolère, mais de très peu, le dépassement du simple « pour/contre ». La parole rapportée des personnes interrogées vient après le portrait, et elle est très forte-­
ment cadrée. D’abord par tout ce qui la surplombe : photo d’identité, nom de la personne, âge, pro-­
IHVVLRQYLOOHRHOOHHVWGRPLFLOLpH(QVXLWHSDUOHVPDUTXHVG¶pQRQFLDWLRQpGLWRULDOHVGpOpJXpHVGX
journal : le cadrage de la rubrique renvoie sémiotiquement à l’identité du journal et les propos sont recueillis par un journaliste de la rédaction qui signe de son nom.
Tel est le prix de la polyphonie : la présence des voix plurielles du lecteur suppose un lourd SURWRFROHGHSUpVHQWDWLRQWDQWIRUPHOTXHGLVFXUVLITXLDXWRULVHHWUHQGHI¿FLHQWHODPLVHHQ°XYUH
de la représentation. Pour conclure : textualisation de la réception et journalisme de communication
La « voix express » organise une curieuse délégation de la parole journalistique, qui pourrait rWUHLQWHUSUpWpHFRPPHXQHGpUHVSRQVDELOLVDWLRQDXSUR¿WGHO¶pQRQFLDWLRQpGLWRULDOHGXMRXUQDO
ce sont en effet tous les dispositifs de cadre qui assurent la mise en scène de la parole du citoyen, ou de ceux que le journal institue en citoyen.
¬ELHQ\UpÀpFKLUFHIRUPDWpGLWRULDOSUpVHQWHVXUWRXWODSDUWLFXODULWpGHWH[WXDOLVHUHQOLHXHW
place du discours d’information, un discours qui est celui de la réception de l’information. En don-­
nant la parole au lecteur, Le Parisien représente son destinataire ;; processus d’autant plus sophis-­
tiqué que le journaliste délégué à la réalisation des « voix express » intervient en aval de l’enquête qui en est le support informatif. Finalement, les témoins sont invités à réagir à un texte déjà écrit : ce sont bien les récepteurs de l’information qui se trouvent déplacés du côté de la production du dis-­
cours.
En écrivant la lecture, Le ParisienGpWRXUQHDXSUR¿WGXMRXUQDOSDSLHUGHVSURWRFROHVH[-­
périmentés massivement dans le domaine des médias informatisés : lire/écrire, on le sait, ne font plus qu’un, en régime numérique. La plus value de ces paroles vives textualisées dans le quotidien s’apparente donc à un habile déplacement communicationnel : participant à la fabrication du jour-­
nal, dans un espace qui leur est réservé, les lecteurs du quotidien se voient offrir un miroir qui feint, VXUXQPRGHPpWDSKRULTXHG¶REpLUjODORJLTXHGXSUR¿OVLUpSDQGXHGDQVOHVVLWHVGHPLVHHQUHOD-­
tion. L’enjeu, pour le journal, réside bien sûr dans la recherche de proximité avec le lecteur, et de ¿GpOLVDWLRQ-RXUQDOLVPHGHFRPPXQLFDWLRQSHXWrWUHHQWHQGXDXVHQVSURSRVpSDU-HDQGH%RQ-­
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ville, Jean Charron et Colette Brin : on serait tenté de le penser, quand on confronte, comme nous l’avons fait, ces « voix express » avec leurs ancêtres éditoriaux, qui sont tous issus des espaces publi-­
FLWDLUHVGXMRXUQDO¿JHW¿J
Images
Fig. 1.
Fig. 2.
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Fig. 3.
Fig. 4.
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GT2 - Mediação, mediatização e prática jornalística
Uma via alternativa de reflexão sobre as práticas jornalísticas
Beatriz Marocco
Unisinos
Resumo
Trata-­se de um modo alternativo de exploração das práticas jornalísticas. No nível do saber, articu-­
ODPVHDPHPyULDGRSHVTXLVDGRUFRPRMRUQDOLVWDSUR¿VVLRQDORSDUHQWHVFRLGHQWL¿FDGRFRPXP
conjunto de conceitos sobre procedimentos de controle discursivo, dados de uma enquete com 130 repórteres brasileiros. Nesta conjunção entre conceitual e empírico, pretende-­se produzir “ação de WHRULD´HPTXHVHGH¿QHPFRPEDVHQDVLGHLDVGRVUHSyUWHUHVDOJXQVWUDoRVGDPHFkQLFDMRUQDOtVWL-­
ca que subjaz ao funcionamento do jornal.
Gostaria de expor neste texto uma via de entrada alternativa para pensar sobre as práticas jornalísticas. Uma imersão no regime das práticas, desde o campo acadêmico, nos sugere uma liga-­
omRFRPRGLVFXUVRTXH¿FRXQDPHPyULDGRQRVVRSUySULRH[HUFtFLRGRMRUQDOLVPRQLQJXpPGL]QR
jornal o que quer, sobre quem quer, quando quer, do modo que quer e porque quer. O que se diz é controlado, selecionado, adequado a um modo de objetivação jornalística.
Tomando esta indicação, o estudo das práticas e do regime de racionalidade, i.e., o saber em que adquirem consistência e autonomia, para viabilizar a produção e a circulação das mídias em períodos tremendamente rígidos, pode ser realizado em dois tempos: o primeiro se refere à experi-­
rQFLDDUFDQDGRSHVTXLVDGRUHPDLVFRQFUHWDPHQWHDVXDPHPyULDSUR¿VVLRQDOTXHDFLRQDSDUHQ-­
tesco com os conceitos;; posteriormente, em um segundo tempo, é o pesquisador que, desde fora da SUR¿VVmRSURMHWDHHPSUHHQGHXPDHVFXWDH[WHUQDSDUDRGHVHQYROYLPHQWRGDSHVTXLVDHPStULFD
8PDUHÀH[mRFRPRHVWDVREUHDVSUiWLFDVSUHWHQGHGDUYR]DRXWURVLQGLYtGXRVGHL[iORV
falar para que desta rede se produza não mais um conceito, mas “ação de teoria”, que explora o jogo entre um código, que regula maneiras de fazer, que prescreve os modos de selecionar as notícias, HQWUHYLVWDUUHGLJLUHXPDSURGXomRGHGLVFXUVRVYHUGDGHLURVTXHIXQGDPHQWDPMXVWL¿FDPUHSUR-­
duzem e são igualmente o princípio de transformações dessas mesmas maneiras de fazer (Deleuze, 2006, p. 38;; Foucault, 2006, p. 335-­351).
A hipótese que sustenta este modo experimental de aproximação é de que, em funcionamen-­
to, as práticas jornalísticas não são somente comandadas pela instituição, prescritas pela ideologia ou guiadas pelas circunstâncias, certos acontecimentos e alguns indivíduos;; elas têm, até certo pon-­
to, procedimentos regulares que evidenciam um “regime de práticas”, como o lugar de encadeamen-­
to do que se diz e do que se faz, das regras que se impõem e das razões que se dão, dos projetos e das evidências (Foucault, 2006, p. 337-­338). Neste mesmo sentido, mas voltando-­se concretamente para a exploração da “prática de aprisionamento” e para descrevê-­la em sua diferença de uma “his-­
tória da instituição prisão”, Foucault fez um movimento de escuta em relação aos presidiários e seu entorno nas “enquetes do intolerável”. Na época, o objetivo era transferir aos presidiários o direito e a possibilidade de falar sobre si e as prisões e pedir informações a quem, por um motivo ou outro, WLQKDRXKDYLDWLGRXPDH[SHULrQFLDQDSULVmRWUDWDYDVHGHXPDPXGDQoDQRIRFRGRVUHODWyULRVR¿-­
ciais e nas estatísticas para instalar nas prisões um observatório de escuta dos prisioneiros, instau-­
rar condições para que eles pudessem falar por si e produzir um saber coletivo que desse lugar não mais a palavra capturada e objetivada pelo discurso de diferentes instituições (P. Lascoumes, 2004, p. 154-­155).
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Saber jornalístico
O conceito de saber jornalístico é de onde se parte para nomear de maneira mais precisa o ní-­
vel em que este texto se situa. Foucault forja o conceito de saber para empreender um deslocamen-­
WRGRFRQKHFLPHQWRFLHQWt¿FRHH[SORUDUXPFRQMXQWRGHHOHPHQWRVIRUPDGRVGHPDQHLUDUHJXODU
por uma prática discursiva e que são indispensáveis à constituição de uma ciência, apesar de não se destinarem necessariamente a lhe dar lugar (1995, p. 207). Evitar palavras demasiado carregadas de condições e conseqüências, como ciência, ideologia ou domínio de objetividade, era a intenção de Foucault subjacente ao conceito de formação discursiva. Para Foucault, formação discursiva designa um sistema de dispersão que se caracteriza por uma regularidade entre certo número de enuncia-­
dos, objetos, tipos de enunciação, conceitos, escolhas temáticas. Desde uma perspectiva foucaultia-­
na, o exercício do poder implica mecanismos sutis que formam, organizam e põem em circulação aparelhos de saber (universidades, exército, escritura, media), que produzem e transmitem, graças a múltiplas coações, um regime de verdade, isto é, os tipos de discurso que cada sociedade acolhe como verdadeiros ou falsos, o modo como se sanciona uns e outros, as técnicas e os procedimentos que estão valorizados para obtenção da verdade;; o estatuto dos que estão encarregados de dizer o que funciona como verdadeiro.
Recentemente, o pesquisador canadense Chris Dent fez uma aplicação detalhada das idéias de Foucault à compreensão dos jornalistas sobre os controles discursivos que afetam as práticas de produção de notícias. Utilizando como base uma perspectiva discursiva, Dent forneceu um novo in-­
sight sobre os tipos de controle que foram originalmente relacionados por Foucault em A ordem do discurso. Dent realizou entrevistas com 27 jornalistas (editores e produtores australianos) para che-­
gar a conclusões que reconheceram no âmbito das práticas a idéia que circula na sociedade e chegou DVHUH[SUHVVDSHORH[SUHVLGHQWH*HRUJH%XVKGHTXHRVMRUQDOLVWDV³YHQHUDPRDOWDUGDFRQ¿VVmR
pública” (Dent, 2008, p. 215). Dent, igualmente, reconheceu os procedimentos de controle discursi-­
vo em sua aparição e particularidade no âmbito do jornalismo.
As práticas jornalísticas podem ser associadas às três formas de controle propostas por Fou-­
cault em A ordem do discurso: procedimentos externos, procedimentos internos e procedimentos TXHQmRVmRWRWDOPHQWHLQWHUQRVRXH[WHUQRV2VSURFHGLPHQWRVH[WHUQRVIRUDPLGHQWL¿FDGRVSRU
Foucault nos três “grandes sistemas de exclusão” que atingem o discurso desde o exterior: a pala-­
vra proibida, a segregação da loucura e a vontade de verdade (1996, p. 19). Segundo Dent (2008), as técnicas externas de gestão giram em torno da capacidade dos jornalistas de negar aos outsiders a oportunidade de serem ouvidos. Em outras palavras, elas se referem à habilidade de segregar as pessoas em função do que elas dizem ser proibido ou em função de sua falta de conhecimento sobre o discurso verdadeiro que domina a formação.
A vontade de verdade apóia-­se em um suporte institucional e é reconduzida pelo modo como o saber é valorizado, distribuído, repartido e, de certo modo, atribuído em uma época. Há séculos, o jornalismo buscou o apoio da ciência para ganhar o reconhecimento da sociedade, não mais como um discurso de impressões e opiniões do jornalista sobre o cotidiano, mas como um discurso “obje-­
tivo”, “neutro”. Nos limites da informação, a palavra do jornalista não poderia mais ser autorizada a não ser com sua entrada em uma ordem do discurso jornalístico fundamentada pela presença da fonte de informação como testemunho da realidade e por uma “prodigiosa maquinaria destinada a excluir todos aqueles que, ponto por ponto, em nossa história, procuraram contornar essa vontade de verdade” (Foucault, 1996, p. 19-­20).
Os procedimentos internos de controle discursivo são exercidos pelo próprio discurso (Fou-­
FDXOWSLQFOXHPRVSULQFtSLRVGHFODVVL¿FDomRRUGHPHGLVWULEXLomRGRVHQXQFLDGRVHVmR
relacionadas ao autor, às disciplinas e ao comentário. A função do autor, um controle relevante no jornalismo, interfere nos textos como uma forma de ordem (Foucault, 1996, p. 26). O autor é pres-­
sionado a levar em conta a unidade dos textos assinados por ele. É pressionado a revelar ou ao me-­
nos dar indícios de autoria para passar ao texto a sua autoridade. Em seu sentido foucaultiano, essa autoridade, segundo a leitura de Dent, pode ser percebida, principalmente, na linha editorial de um YHtFXORTXHVHUHÀHWHSRUH[HPSORQRVHXWLSRGHOHLWRU$VVLPVHUXPOHLWRUGHMRUQDOVXS}HXPD
FODVVL¿FDomRSRUH[HPSORVHUOHLWRUGHWDOMRUQDOVLJQL¿FDLGHQWL¿FDUVHFRPYDORUHVPRUDLVEXUJXH-­
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ses, ou com a concentração da propriedade da terra, ou com os aspectos mais levianos da informa-­
ção.
2TXHpFHQWUDOQDSUiWLFDGDGLVFLSOLQDpTXHHPXPDIRUPDomRGLVFXUVLYDDGLVFLSOLQDGH¿QH
o terreno da verdade que exclui tudo o que não o seja. Foucault diz: “A verdade está ligada circular-­
mente aos sistemas de poder que a produzem e a mantêm, e aos efeitos de poder que induz e que a acompanham, ao regime de verdade” (2005, p. 156). A disciplina regula, portanto, as proposições mais gerais, que não estão ligadas a textos ou autores, e pode ser vista, no jornalismo, como requisito de autonomia em relação a saberes como a literatura, e como uma regulação com vistas a produzir efeitos de poder sobre a recepção. “A disciplina é um princípio de controle da produção do discurso. (ODOKH¿[DRVOLPLWHVSHORMRJRGHXPDLGHQWLGDGHTXHWHPDIRUPDGHXPDUHDWXDOL]DomRSHUPDQHQ-­
te das regras” (Foucault, 1996, p. 36).
O saber jornalístico, segundo Dent, não se caracteriza pela produção de comentários sobre os VHXVWH[WRVSULPHLURVFRPRRFRUUHSRUH[HPSORFRPRVDEHUMXUtGLFR,VVRVLJQL¿FDVHH[DPLQDU-­
mos o saber jurídico, que na norma, ou no texto jurídico, há um sentido que não está explicitamente demonstrado. A norma é algo que, para ser conhecido, necessita de outro texto, no caso o comentá-­
rio, elaborado não como um exercício de mera apreensão da dogmática jurídica, mas de interpreta-­
ção criativa, crítica, que, ao operar sobre os textos primeiros, fornece repetição e desvendamento de VLJQL¿FDGRVRFXOWRVDWULEXtGRVDRVWH[WRVRULJLQDLVHPRSHUDo}HVKHUPHQrXWLFDVHPTXHRVXMHLWR
dará conta da interpretação/hermenêutica como processo de compreensão do Direito. Foucault am-­
pliou a ocorrência do “comentário” a múltiplas e variadas formas, inclusive que se referem a textos OLWHUiULRVRTXHQRVOHYRXDUHÀHWLUVREUHDSRVVLELOLGDGHGHVXDRFRUUrQFLDQRkPELWRGRVDEHUMRU-­
nalístico, em livros que elaboram uma exegese do jornalismo (1996, p. 24-­26).
Escuta das práticas
A nossa escuta, direcionada não a editores e produtores, mas a repórteres, foi feita através um questionário de 49 perguntas, sendo 40 derivadas de conceitos de controle discursivo que se articu-­
laram à experiência prévia do pesquisador. O questionário foi enviado por e-­mail a 269 repórteres do interior do RS e a 477 de Zero Hora, Folha de S. Paulo e O Estado de São Paulo, de 18 de maio a 17 de agosto de 2010. Entre os primeiros, obtivemos uma taxa de resposta de 21,18% (57 respostas para 269 e-­mails). A taxa de resposta do segundo grupo foi de 15,30% (73 respostas para 477 e-­mails). No total da pesquisa, a taxa de resposta atingiu 17,42% (130 respostas para 746 emails).
A escolha dos repórteres de 51 jornais gaúchos, com exceção da capital, deu-­se por meio de dois movimentos: o primeiro, de atualização da lista de jornais apresentadas por Dornelles (2004);; a segunda, de atualização da base de dados da Associação Riograndense de Imprensa – ARI, ano de 2004. Da relação de jornais apresentada por Dornelles (2004), optamos por alterar os jornais das regiões Planalto e Serra. Na primeira, porque o jornal A Notícia Ilustrada, de Panambi, não exis-­
te mais. Nesta região, optamos pelos jornais O Nacional, de Passo Fundo, e Jornal da Manhã, de Ijuí. Na região serrana, acrescentamos o jornal O Pioneiro, de Caxias do Sul. Como o propósito era abranger um número expressivo de jornais e, conseqüentemente, de jornalistas do interior gaúcho, optamos por ampliar nossa base de dados a partir do Anuário de Mídia, de 2004, da ARI. Nesta fase, buscamos atualizar a relação de jornais de 170 municípios gaúchos, independente da região, tiragem ou circulação. Após contatos por telefone ou e-­mail, 51 jornais, de 49 municípios gaúchos, responde-­
ram positivamente quanto à participação de suas equipes na pesquisa, indicando-­nos os respectivos endereços eletrônicos.
A formação do segundo grupo de repórteres foi baseado na leitura diária de Zero Hora e dos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo considerados referência na esfera estadual (ZH) e Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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nacional (Folha e OESP)1GR¿QDOGHPDUoRDPDLRDPHDGRVGHPDLRGH2. Os endereços eletrô-­
nicos dos repórteres da Folha de S. Paulo foram fornecidos pelos jornais após um contato preliminar com a ombudsman da FSP e um período de negociação em que foram enviados os detalhamentos da pesquisa e as questões referentes ao questionário, para análise da direção. Os endereços dos repór-­
teres de OESP não foram fornecidos pelo veículo, o que nos levou, após várias tentativas, a seguir uma sugestão informal de um jornalista conhecido para acionar os repórteres diretamente por seu e-­mail institucional que corresponde à identidade (primeiro nome.sobrenome) seguida do comple-­
mento [@grupoestado.com.BR]. ZH geralmente disponibiliza os endereços dos repórteres nas ma-­
térias assinadas;; os que não foram encontrados deste modo foram localizados no site do grupo RBS. Os contatos com os repórteres foram feitos exclusivamente por e-­mail.
Discussão
Tendo como ponto de partida a associação dos achados de Chris Dent ao que foi dito pelos dois grupos de repórteres, que participaram da enquete descrita anteriormente, foi possível localizar uma série de procedimentos de controle interno que evidenciaram a existência da formação discur-­
VLYDHYHUL¿FDUDRFRQWUiULRGRTXHD¿UPD'HQWTXHKiFRPHQWiULRQRMRUQDOLVPRRFRPHQWiULR
decifra e afeta as práticas e pode ser localizado em “livros de repórteres3”.
A prática disciplinar, ou a prática regulada por um regime de verdade, que dá lugar à existên-­
FLDGDIRUPDomRGLVFXUVLYDSRGHVHUYHUL¿FDGDQRHVSDoRGHDSUHQGL]DJHPGRMRUQDOLVPRDUHGDomR
HPIRQWHVGHWUDQVPLVVmRGLUHWDGRVDEHUMRUQDOtVWLFRQDVQRUPDVSDUDRH[HUFtFLRGDSUR¿VVmRHQR
compromisso do jornalismo com a sociedade.
Sobre onde e como se aprende jornalismo, houve unanimidade entre os repórteres dos dois grupos: a competência jornalística se adquire na prática do jornalismo, em que a orientação se dilui em várias situações. Na transmissão da “pauta”, a orientação é imprescindível. Nos outros processos de produção, a orientação foi vinculada, por ordem de importância, à coleta de dados, organização e hierarquização dos dados. Cerca de 30% dos repórteres pertencentes aos dois grupos consideram que a cultura pessoal, adquirida previamente, substitui a orientação no trabalho e menos de 10% entre eles acreditam que a orientação na redação pode ser substituída pelo conhecimento adquirido na universidade.
(QWUHWUrV¿JXUDVGRVDEHUMRUQDOtVWLFRRVH[SRHQWHVGDSUR¿VVmRRFKHIHGHUHGDomRHRVUH-­
pórteres mais experientes, quem mais auxilia na incorporação do saber jornalístico são os últimos. A opção foi compartilhada por cerca de 30% dos repórteres da amostra;; os veteranos foram seguidos SHORVH[SRHQWHVGDSUR¿VVmRPHQFLRQDGRVSULQFLSDOPHQWHSHORVUHSyUWHUHVGRSULPHLURJUXSR
1 Considera-­se de referência o jornal que cumpre total ou parcialmente três funções básicas estabelecidas por Vidal Beneyto:”a) la de ser referencia imprescindible para los otros medios de comunicación, tanto escritos corno audiovisuales, que no producirían sus propias opinio-­
nes o juicios sobre el tema sin tenHUDQWHVFRQRFLPLHQWRGHODVGHHVWRVGLDULRVUH¿ULpQGRVHRQRGHPRGRH[SOtFLWRDHOODVEODGHVHUSODWDIRUPD
privilegiada para la presencia y expresión de los grandes líderes políticos, las grandes instituciones sociales, las asociaciones de carácter nacional, etc., cuando quieren dirigirse a los grupos rectores del país;; c) la de servir a las cancillerías extranjeras de referencia prevalente sobre la realidad y problemas del propio” (1986, p. 19-­20;; 1991, p. 201-­212).
2 Participaram desta fase da pesquisa: Ângela Zamin, doutoranda da Unisinos, bolsista CNPq;; Thais Furtado, professora da Unisinos, dou-­
toranda UFRGS;; Júlia Capovilla, mestranda da Unisinos, bolsista Capes;; Giovanni Guizzo da Rocha, mestrando da Unisinos, bolsista Capes;; Camila &DEUHUDEROVLVWD81,%,&GHLQLFLDomRFLHQWt¿FD&DPLOD$UyFKDFRPRDSRLRWpFQLFR
3 Os “livros de repórteres”, mais do que um suporte privilegiado para a reportagem entendida como o resultado de um trabalho de investi-­
gação, irradiado sob a forma de “livro-­reportagem”, podem ser considerados uma manifestação da existência no âmbito da formação discursiva de um procedimento de controle interno: o comentário. Trata-­se de um tipo de texto que se ocupa do jornalismo, para dele elaborar outros textos que oferecem o desvendamento de certos processos jornalísticos, ou a crítica dos mesmos, em operações de produção de sentidos, em que o jornalista, naturalmente, fará um exercício de interpretação criativa daquilo que é considerado jornalismo, quer seja em suas práticas, quer seja no âmbito DFDGrPLFR(VVDSURGXomRVHGLIHUHQFLDGRVOLYURVHVFULWRVSRU³HVWUHODVGDSUR¿VVmR´TXHFRQWULEXHPSDUDXPDYLVmRHQFDQWDGDGRMRUQDOLVPRGH
suas funções democráticas e de seus poderes (Neveu, 2006, p. 14).
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contra 9% do segundo grupo), e do chefe de redação, apontado por cerca de 6% dos repórteres dos dois grupos. 2FKHIHGHUHGDomRQRHQWDQWRVHVREUHVVDLXHPWHUPRVGHLQÀXrQFLDQDFDUUHLUDFRPSDUDGR
DRGLUHWRUGHUHGDomR2VHGLWRUHVIRUDPFRQVLGHUDGRVPDLVLQÀXHQWHVTXHDPERVH¿FDUDPSUy[L-­
PRVHPWHUPRVGHLQÀXrQFLDDRVUHSyUWHUHVGHRXWURVYHtFXORV2VIDPLOLDUHVH[HUFHPPDLRULQÀX-­
ência que os chefes de redação, sendo que no primeiro grupo, 5% dos repórteres do interior reco-­
QKHFHUDPDLQÀXrQFLDGDIDPtOLDQDFDUUHLUDHGRVUHSyUWHUHVGRVMRUQDLVGHUHIHUrQFLD¿]HUDP
RPHVPRRXVHMDRVUHSyUWHUHVGRVMRUQDLVGHUHIHUrQFLDFRQVLGHUDPPDLVGRTXHRVRXWURVDLQÀX-­
ência da família na carreira. (PUHODomRDRH[HUFtFLRFRQWtQXRFRPRIRUPDGHDSUHQGL]DGRGDSUR¿VVmRDPDLRULDFRQFRU-­
dou: é com a prática que se aprende a fazer jornalismo (77% do primeiro grupo e 79,5% do segundo responderam positivamente à assertiva);; no entanto isto não depende somente do que circula na redação – o sentido de “notícia”, por exemplo, é apreendido no exercício diário (75% e 84%, respec-­
tivamente do primeiro e segundo grupo), embora se reconheça que o curso de jornalismo colabore de algum modo com isso. A redação é o lugar onde se ensina, por ordem de adesão, as técnicas se-­
guintes: 1. A buscar o ângulo mais atraente da estória;; 2. A considerar sempre o que é mais relevante para a sociedade;; e 3. A ter “faro” para a notícia.
$D¿UPDomRGHTXHXPERPUHSyUWHUGHYHDFHLWDUDVQRUPDVMRUQDOtVWLFDVIRLFRUURERUDGDSRU
mais de 70% dos repórteres, enquanto cerca de 20% dos dois grupos não concordam com isso. Entre RVUHSyUWHUHVGHMRUQDLVGRLQWHULRUJD~FKRD¿UPDUDPTXHXVDPPDQXDOGHUHGDomRGRSUySULR
MRUQDOGHRXWURMRUQDOHD¿UPDUDPTXHQmRXVDPDIHUUDPHQWD1RVHJXQGRJUXSR
D¿UPDUDPTXHXVDPPDQXDOGRSUySULRMRUQDOTXHXVDPPDQXDOGHRXWURMRUQDOHD¿U-­
maram que não usam a ferramenta. Quanto às funções dos manuais de redação ambos os grupos concordaram que a principal delas é a de orientação relativa a normas e estilo (80%). Para encami-­
nhar questões éticas, uma minoria costuma recorrer aos tradicionais livros de estilo, enquanto um número um pouco mais alto relaciona a ferramenta à linha editorial.
Apenas um repórter não respondeu à questão “O fundamental é ter ética?”;; os outros con-­
FRUGDUDPFRPDD¿UPDomR1RHQWDQWRQmRpQDUHGDomRTXHVHDSUHQGHpWLFD3DUDTXDVHGRV
respondentes, os limites de um comportamento ético são ensinados pela família;; o restante dividiu a função entre os códigos de ética (19% e 14%, respectivamente do primeiro e segundo grupo), pro-­
fessores (16% e 12%, respectivamente do primeiro e segundo grupo) e colegas de redação (5% no primeiro e 14% no segundo). O comportamento em relação às fontes, que pode ser atribuído à esfera da ética, e está estreitamente ligado à imparcialidade jornalística, foi considerado como “de respei-­
to mútuo” pela maioria dos respondentes do primeiro grupo (61%) e por 39% do segundo grupo. O UHVWDQWHD¿UPRXTXHVHWUDWDGHXPDUHODomRGHFRQ¿DQoDGRSULPHLURJUXSRHGRVHJXQ-­
do) e de independência (5% do primeiro grupo e 19% do segundo grupo). Para a maioria dos respon-­
dentes, o repórter é um confessor público à medida que ele ouve a verdade que emana do público e facilita a divulgação deste discurso para a sociedade. No entanto, mais da metade dos repórteres FRQFRUGDUDPFRPDD¿UPDomRGHTXH³QXQFDpSRVVtYHOVDEHUVHXPDLQIRUPDomRpYHUGDGH´
Para 20% dos repórteres, no caso de dúvida sobre o que pode ou não ser dito no texto, há ne-­
cessidade de consultar o chefe, o colega (3%), ambos (38% do primeiro grupo e 27% do segundo) ou o manual de redação (3% e 7%). O restante dos repórteres, (30% do primeiro grupo e 47% do se-­
gundo) não consulta ninguém porque acredita saber o que pode ser dito. Para a maioria dos repór-­
WHUHVDWRPDGDGHGHFLV}HVQDUHGDomRHVWiEHPGLVWULEXtGD,VVRQmRVLJQL¿FDTXHRSRGHUGHYHWR
a uma matéria esteja diluído: mais de 90% dos repórteres que participaram da enquete reconheceu QD¿JXUDGR³FKHIH´RSRGHUSDUDYHWDUXPDPDWpULDHQTXDQWRDPHWDGHGRVUHSyUWHUHVGHDPERVRV
JUXSRVD¿UPDUDPMiWHUHPVLGRFHQVXUDGRVHPVHXWUDEDOKR8PQ~PHUROHYHPHQWHLQIHULRU
GRVUHSyUWHUHVGRSULPHLURJUXSRHGRVHJXQGRD¿UPRXRFRQWUiULR0DLVGHGRVUHSyU-­
teres dos dois grupos reconheceram que relatam os acontecimentos da realidade que gostariam de UHODWDUHQTXDQWRRVGHPDLVD¿UPDUDPTXHQmRID]HPLVVR
1DHVWHLUDGHVWDVLQWHUURJDo}HVDFHUFDGRSRGHUGRVUHSyUWHUHVD¿UPDUDPORFDOL]iOR
“nas palavras”, enquanto 27% localizaram o poder no conjunto formado por jornalistas, jornais e palavras. Se analisado de maneira isolada, o primeiro grupo concentra o maior o percentual de re-­
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pórteres que relacionam o poder à palavra (40% sobre 33% do segundo grupo);; enquanto há uma inversão na associação do poder com o jornal (14% dos repórteres do primeiro grupo contra 29% do segundo). Por outro lado, em ambos os grupos, uma minoria de repórteres liga o poder ao jornalista (4%).
A idéia de que os repórteres tenham certa sintonia com o jornalismo como instrumento para LQIRUPDURS~EOLFR¿FRXPXLWRFODUDQDTXHVWmRHPTXHVHSHGLXSDUDRVSDUWLFLSDQWHVGHVFUHYHUHP
o jornalista. O item “um defensor do interesse publico” foi escolhido por 38% do total de responden-­
tes, com pequena margem de diferença entre um e outro grupo, enquanto 30% optaram pela asser-­
tiva “um prestador de serviços”. Já 14% (19% do primeiro grupo e 11% do segundo) consideram que o jornalista é alguém em busca da verdade;; 8% (9% do primeiro grupo e 8% do segundo), que é um questionador do status quo social;; e 8% (5% do primeiro grupo e 10% do segundo) que é alguém que produz palavras, sabe escrever sobre a realidade do mundo. Em relação a um conceito sobre si, 37% (32% do primeiro grupo e 42% do segundo) dos jornalistas optaram pela assertiva “um trabalhador assalariado”. O restante divergiu: no primeiro grupo, 30% dos repórteres se consideram “um escri-­
tor”, 23% “um intelectual mal remunerado” e apenas 12% “um vigia do poder público”;; enquanto no segundo conjunto de repórteres 14% se consideram “um escritor”, 10% “um intelectual mal remu-­
nerado” e 29% “um vigia do poder público”. Em relação à sociedade, 49% (50% do primeiro grupo e 47% do segundo grupo) acreditam que o jornalismo seja um instrumento para informar o público;; 28% (34% do primeiro grupo e 24% do segundo), que seja meio de expressão de grupos e pessoas;; 20% (11% do primeiro grupo e 26% do segundo), que seja um instrumento para vigiar o governo.
Outro procedimento interno de controle é o comentário. O saber jornalístico, segundo Dent, não se caracteriza pela produção de comentários sobre os seus textos primeiros, como ocorre, por H[HPSORFRPRVDEHUMXUtGLFR,VVRVLJQL¿FDVHH[DPLQDUPRVRVDEHUMXUtGLFRTXHQDQRUPDRXQR
texto jurídico, há um sentido que não está explicitamente demonstrado. A norma é algo que, para ser conhecido, necessita de outro texto, no caso o comentário, elaborado não como um exercício de mera apreensão da dogmática jurídica, mas de interpretação criativa, crítica, que, ao operar sobre RVWH[WRVSULPHLURVIRUQHFHUHSHWLomRHGHVYHQGDPHQWRGHVLJQL¿FDGRVRFXOWRVDWULEXtGRVDRVWH[WRV
originais em operações hermenêuticas, em que o sujeito dará conta da interpretação/hermenêutica como processo de compreensão do Direito. Foucault, em A ordem do discurso ampliou a ocorrência do “comentário” a múltiplas e variadas formas, inclusive que se referem a textos literários, o que nos OHYRXDUHÀHWLUVREUHDSRVVLELOLGDGHGHVXDRFRUUrQFLDQRkPELWRGRVDEHUMRUQDOtVWLFRHPOLYURVTXH
elaboram uma exegese do saber jornalístico. A despeito do que pensa Dent (2008) sobre a não ocorrência do comentário no jornalismo, nossa hipótese é que, além dos comentários que conhecemos em nosso sistema de cultura – os tex-­
tos religiosos ou jurídicos –, outro tipo de texto, como os literários, os textos que têm pretensão de FLHQWL¿FLGDGHHDOJXQVPDWHULDLVMRUQDOtVWLFRVSRGHPVHUHQTXDGUDGRVFRPRWDO3DUDWHVWDUDSHUWL-­
nência da hipótese de que os “livros de repórteres” formalizam a existência do comentário à medida que cumprem um duplo papel: a) Atualizam os textos que regulam o jornalismo (quer estejam nas teorias, quer nos manuais de redação);; b) Auxiliam a compreensão da FD e do que “estava articula-­
do silenciosamente no texto primeiro´¿]HPRVDSHUJXQWD³2VµOLYURVGHUHSyUWHUHV¶DX[LOLDPYRFrD
compreender as práticas. Em termos percentuais, 37% da amostra respondeu que os livros auxiliam nas práticas;; 47% que auxiliam às vezes;; 14% que não auxiliam;; e 1% deixou a questão em branco. O desdobramento dado para a questão na pergunta “Neste tipo de literatura qual o primeiro título ou autor que vem a sua cabeça?”, foi respondido por 90 repórteres. Os repórteres brasileiros mais citados foram Caco Barcellos (21 menções), Eliane Brum (6) e José Hamilton Ribeiro (4). Outros au-­
tores citados: Truman Capote (15 menções), Gay Talese (5), Gabriel Garcia Marquez (4). Dos 90 re-­
pórteres que indicaram autores, 48 deram títulos de obra. Caco Barcellos foi o autor dos dois “livros reportagem” mais mencionados pelos repórteres: 5RWD (10 menções) e Abusado (4 menções). O olho da rua e A vida que ninguém vê, de Eliane Brum, receberam respectivamente 3 e 4 menções. Outros livros citados: A sangue frio, de Truman Capote (6 menções) e A arte de fazer um jornal di-­
ário, de Ricardo Noblat (3 menções).
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Considerações finais
A construção desta via de entrada alternativa para o estudo das práticas possibilitou quatro tipos de evidências. 1. No âmbito das práticas jornalísticas, seguindo o caminho aberto por Dent, constatamos TXHDUHGDomRVHFRQ¿JXUDFRPRXPHVSDoRGLVFLSOLQDURXVHMDpQRVHXGRPtQLRHQRH[HUFtFLRGD
SUR¿VVmRTXHRVUHSyUWHUHVDGTXLUHPFRPSHWrQFLDTXHHVWiGLUHWDPHQWHUHODFLRQDGDjRULHQWDomR
nas diferentes etapas do processo produtivo, às fontes diretas de produção, reprodução e transmis-­
VmRGRVDEHUMRUQDOtVWLFRHjVQRUPDVTXHFLUFXODPQRVPDQXDLVHQRH[HUFtFLRGDSUR¿VVmR1HVWH
VHQWLGRSRGHUVHLDD¿UPDUTXHDVSUiWLFDVHPVHXIXQFLRQDPHQWRH[SORUDGDVSHOD³DomRWHyULFD´
que foi empreendida com base na conjunção da memória do pesquisador, dos conceitos foucaultia-­
nos e das ideias dos repórteres capturadas em seu lugar de pertença, a redação, se insinuam como uma instância para a compreensão do jornalismo que se diferencia de outras linhas já percorridas SHODSHVTXLVDGDSUR¿VVmRHGDVURWLQDVSUR¿VVLRQDLV1RTXHIRLGLWRSHORVUHSyUWHUHVVRPHQWHD
questão ética não pode ser circunscrita ao saber que circula nas redações: para todos os responden-­
tes em jornalismo é fundamental ter ética, mas é na esfera da família que a maioria localiza a sua transmissão. Outra instância de produção de saber, a universidade, é um dado desprezível na for-­
mulação do saber que circula nas redações e da ética que o sustenta, segundo avaliação dos dois gru-­
pos de repórteres.
(PSRQWDVGHVXSHUItFLHTXHVHGmRDYHUQDVUHVSRVWDVGRVUHSyUWHUHV¿FRXHYLGHQFLDGDD
VROLGH]GDIRUPDomRGLVFXUVLYDHPWRUQRGHSURFHGLPHQWRVLQWHUQRVGHFRQWUROHTXHGH¿QHPXPUH-­
gime de verdade e que permitem ao jornalismo ser como ele é, independentemente das teorias, da academia e das particularidades institucionais. Assim, embora os repórteres ouvidos não tenham sido capazes de fechar o seu território de trabalho (recentemente o instrumento do diploma como REULJDWRULHGDGHSDUDRH[HUFtFLRGDSUR¿VVmRIRLGHUUXEDGRSHODMXVWLoDEUDVLOHLUDIRUDPFDSD]HVGH
forjar e cristalizar um saber jornalístico que aproxima diferentes redações num processo ininterrup-­
WRGHFLUFXODomRHSDUWLOKDGHSURFHGLPHQWRVGLVFLSOLQDUHVTXHWrPVLGRD¿UPDGRVKiTXDVHGRLVVp-­
culos para dar os contornos da formação discursiva e que poderá ser posto à prova em outras ações de escuta anunciados anteriormente.
3. Três elementos podem ser considerados centrais para a existência da formação discursiva, à medida que foram reconhecidos pela totalidade dos repórteres: o exercício contínuo como forma de adquirir disciplina, i.e., competência jornalística, o poder do “chefe” de vetar uma matéria e a éti-­
ca. Somente um repórter deixou a questão “É fundamental ter ética” em branco. Todos responderam positivamente. Outros elementos foram reconhecidos pela maioria. A redação é o lugar de aprendizado. O sentido de notícia se produz nas práticas e não na academia. A obediência às normas jornalísticas teve um alto índice de concordância, mas não unanimidade. O uso de manual de redação aproximou a maioria dos repórteres – que costumam recorrer ao manual em função de normas e estilo – e afas-­
tou-­os. Os repórteres de ZH, FSP e OESP que utilizam a ferramenta recorrem ao manual próprio da empresa jornalística, enquanto o grupo de repórteres dos jornais do interior do RS evidenciou que utiliza manuais de outros jornais, o que corrobora o conceito de jornais de referência que adotamos na pesquisa (nota 1). Há elementos que estão rarefeitos no âmbito das práticas. O poder é um deles. Os jornalistas têm poder, as palavras idem, mas o poder foi localizado, principalmente, em ambos. Já o poder de YHWDUXPDPDWpULDFRPRYLPRVDQWHULRUPHQWHSHUWHQFHj¿JXUDGR³FKHIH´(PUHODomRjLPSRUWkQ-­
cia social do jornalismo, os repórteres se dividiram entre a defesa do interesse público ou prestação de serviços e desprezaram a concepção de instrumento de reprodução das ideias dominantes na so-­
ciedade. 3RURXWURODGRpLPSRUWDQWHIULVDUQHVWHPRPHQWR¿QDOTXHSDUDFKHJDUDHVWDFRPSUHHQ-­
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são do jornalismo como formação discursiva, realizamos um conjunto de movimentos metodológi-­
cos sintonizados com a intenção de explorar as práticas desde uma postura de intimidade com elas, distanciando-­nos de elementos como a ideologia, a observação calculada de rotinas ou de elementos H[WHUQRVDHODVTXHSRGHULDPFRQ¿UPDUDH[LVWrQFLDGHXPD³FRPXQLGDGHLQWHUSUHWDWLYD´GHMRUQD-­
listas. A experiência do pesquisador foi posta em jogo, articulando-­se a uma enquete, e aos conceitos foucaultianos apropriados por C. Dent para o jornalismo. Trata-­se, portanto, de uma tentativa de capturar essa espécie de discurso que se manifesta nas redações em seu estado nu, espaço em que não esconde uma moral que enquadra o seu exercício e o projeto de demonstrar o seu poder para a sociedade, nem o controle interno que lhe possibilita ser tão singular. Nosso próximo movimento de pesquisa prevê a ampliação da escuta a um conjunto de jornalistas que vem produzindo e reprodu-­
zindo o saber que circula ininterruptamente nas redações de jornal. Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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GT2 - Mediação, mediatização e prática jornalística
Efeitos do processo de mediatização (em curso) sobre o jornalismo impresso
Carlos Alberto de Carvalho
Leandro Rodrigues Lage
Universidade Federal de Minas Gerais
Resumo
O artigo investiga o processo de mediatização enquanto dinâmica interacional de referência em es-­
tágio avançado (BRAGA, 2007;; FAUSTO NETO, 2008a, 2008b, 2009) e seus efeitos sobre a ativi-­
dade jornalística, em especial sobre o jornalismo impresso. São abordadas diferentes perspectivas WHyULFDVDFHUFDGRIHQ{PHQRQDWHQWDWLYDGHEXVFDUXPHL[RFRPXPHQWUHDVIRUPXODo}HV3RU¿P
indica-­se e se discute três efeitos da mediatização sobre o jornalismo impresso: a) a fundação de no-­
vas formas de interação entre instâncias de produção e recepção do jornal, orientada pelas estraté-­
JLDVPLGLiWLFDVGHDSUR[LPDomRGRS~EOLFROHLWRUEDFUHVFHQWHDUWLFXODomRHQWUHRVMRUQDLVHÀX[RV
informacionais de outros dispositivos e plataformas;; c) a adoção de estratégias de autorreferenciali-­
dade, transformando a enunciação em acontecimento.
Introdução
Estudos recentes do campo da comunicação (SODRÉ, 2002;; BRAGA, 2007;; FAUSTO NETO, 2008a, 2008b, 2009) têm se preocupado em investigar e compreender a complexa transição pela qual estaríamos passando, a saber, a passagem da “sociedade dos meios” para uma “sociedade me-­
diatizada” ou “em mediatização”. Desse modo, se tomarmos a mídia como elemento constituidor e constitutivo da vida social (FRANÇA, 2003), cumpre questionarmos quais transformações essa tra-­
vessia provoca no próprio ambiente midiático enquanto instância social.
A mediatização da sociedade é depositária do desenvolvimento sociotecnológico ocorrido ao longo do século XX nos países capitalistas. É inegável, portanto, sua base tecnológica. Braga (2007) GH¿QHPHGLDWL]DomRHPGRLV³kPELWRVVRFLDLV´QXPUHFRUWHHVSHFt¿FRVmRFRQVLGHUDGRVRVSURFHV-­
sos sociais que passam a se desenvolver segundo as lógicas da mídia. Num nível mais amplo, trata-­
se da “mediatização da própria sociedade”, em que os processos de interação mediatizada passam a servir como referência aos demais processos sociais subsumidos.
&RPEDVHQDDERUGDJHPVRFLROyJLFDGH%HUJHUH/XFNPDQQ%UDJDSGH¿QHRV
processos interacionais de referência como “os principais direcionadores na construção da realida-­
de social”, a partir do pressuposto de que a realidade social é construída coletivamente, através das interações, isto é, das relações estabelecidas por indivíduos, grupos e instituições. Para o autor, não se deve pensar esse processo como completo e consolidado, mas como um fenômeno em marcha, em estágio (avançado) de implantação:
A mediatização social já é dominante em múltiplos processos transmissivos e interacionais (pela diversidade e pela abrangência de sua penetração social) – mas ainda não conseguiu atender a vários requisitos de articulação e plausibilidade que são cobrados por sua própria lógica enquanto processo interacional (BRAGA, 2007, p.157).
Noutra perspectiva, adotada por Sodré (2002), a mediatização é mais do que um processo em fase avançada de instalação. É, sim, uma “nova forma de vida”. O desenvolvimento das tecnologias de interação incide sobre as formas de sociabilidade contemporânea demarcando o surgimento de um novo “bios”, no qual imperam a lógica mercadológica da mídia e as formas tecnológicas de inte-­
ração.
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A diferença entre essas duas formas de compreensão da mediatização reside essencialmente nas próprias concepções de comunicação das quais partem os autores. Enquanto na primeira pers-­
pectiva a comunicação é concebida pelo viés interacional, na segunda os fenômenos comunicativos são compreendidos como processos informacionais caracterizados por uma “prótese tecnológica e mercadológica da realidade sensível” (SODRÉ, 2002, p.21).
Apesar das distinções conceituais, essas duas formas de se conceber a mediatização pactuam sobre pelo menos um elemento: o papel da tecnologia no processo. Não apenas em sua dimensão material, tecnicista, mas em sua dimensão social, na qual tecnologias e demandas sociais se relacio-­
nam de forma complexa, abrindo, com isso, novas possibilidades comunicativas. Ou seja, a tecnolo-­
gia tanto se apoia nos avanços tecnológicos quanto os desencadeia.
Se o processo de mediatização passa, necessariamente, pela tecnologização dos processos sociais e das formas de interação, então podemos assumir que a mídia, enquanto instância social ordenadora de processos de interação (ANTUNES;; VAZ, 2006, p.47), também é afetada por essas operações. A nova ordem comunicacional tem, portanto, provocado transformações tanto nas tradi-­
cionais instituições sociais quanto nas práticas midiáticas.
Por “tecnologização” nos referimos, como Braga (2007) e Sodré (2002), ao aperfeiçoamento da informática, das telecomunicações e das técnicas de produção audiovisual, de forma que a vida social e os acontecimentos, agora, possam ser “mostrados” pela representação da imagem e do som de formas diferidas e difusas (FAUSTO NETO, 2008a;; BRAGA, 2007). Além de não haver mais a dependência da palavra escrita enquanto processo interacional de referência anterior à mediatiza-­
ção de base tecnológica, transformaram-­se também os regimes de temporalidade e espacialidade da mídia.
Se a mediatização está associada ao avanço tecnológico, e se esse processo ao mesmo tempo em que confere à lógica mediática um patamar de referência incide sobre o funcionamento da mídia, TXDLVVHULDPVHXVHIHLWRVQRkPELWRGRMRUQDOLVPRLPSUHVVRTXH¿JXUDQXPRXWURSDWDPDUWHFQR-­
lógico, cuja escritura se dá na materialidade do papel, não nas audiovisualidades, e cujas estratégias discursivas são essencialmente escritas?
O objetivo do trabalho é, assim, pontuar algumas das transformações pelas quais o jornalis-­
mo impresso vem passando, tomando-­as como efeitos do processo de mediatização da sociedade.
Processualidade de referência e/ou nova forma de vida?
&RPRLQGLFD)DXVWR1HWRDKiXPHL[RTXHSHUSDVVDDVIRUPXODo}HVGH¿QLGRUDVGD
mediatização, segundo o qual, na “sociedade dos meios”, a mídia estaria sujeita às organizações e operações do processo de interação dos demais campos sociais, enquanto que, na “sociedade media-­
tizada”, emerge uma realidade ou ambiência mais complexa, na qual a mídia passa a referenciar a organização da vida social em seus diversos âmbitos, inclusive o próprio sistema midiático. Media-­
tização seria, assim, a crescente articulação das instituições sociais com as lógicas dos media.
Na esteira de Niklas Luhmann (2005), Fausto Neto (2008b, p.95) parte das teorias dos sis-­
temas para apontar uma “autonomia operacional de natureza tecno-­simbólica” da mídia em relação DRVGHPDLVVLVWHPDV&RPLVVRSURS}HRFRQFHLWRGH³DQDOtWLFDGDPLGLDWL]DomR´TXHVHGH¿QLULD
GHIRUPDVLPSOL¿FDGDFRPRRSURFHVVRLQWHUSUHWDWLYRVHJXQGRRTXDODVPtGLDVHQTXDQWRLQVWLWXL-­
ções observadoras dos demais processos sociais, ofertam essas “leituras”, feitas sob sua lógica, aos demais sistemas como condição de inteligibilidade da sociedade pela própria sociedade. Trata-­se, segundo Luhmann (2005, p.142), “da observação de que uma sociedade, que deixa sua auto-­obser-­
vação ao encargo do sistema de função dos meios de comunicação, aceita essa mesma forma de ob-­
servação à maneira da observação de observadores”.
O conceito de “analítica da midiatização” nos serve para examinar as transformações da mí-­
dia pela mediatização à medida que pode, também, referir-­se aos processos interpretativos situados no âmbito do sistema midiático. Fausto Neto (2008a, 2008b, 2009) apresenta algumas evidências GHVVDDQDOtWLFDQRkPELWRGDPtGLDHPHVSHFLDOGRMRUQDOLVPRDPXGDQoDVQD³WRSRJUD¿DMRUQDOtV-­
WLFD´EDXWRUUHIHUHQFLDOLGDGHGRSURFHVVRSURGXWLYRFDXWRUUHÀH[LYLGDGHVREUHVHXVIXQGDPHQ-­
tos;; d) transformação do status do leitor;; e) a busca pela “completude da enunciação”;; f) a conversão Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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da enunciação em acontecimento;; g) a reformulação do status da notícia.
2FRQMXQWRGHVVDVPRGL¿FDo}HVSUHVVXS}HRVXUJLPHQWRGHXPQRYRUHJLPHGLVFXUVLYRGD
mídia, o que sugere profundas transformações no trabalho enunciativo dos discursos jornalísticos e, também, na própria natureza da relação entre fontes, leitores, jornalistas e empresas jornalísticas, que se torna mais complexa, afetando, assim, a chamada cultura jornalística, o modo de ser dessa comunidade e de suas práticas.
Numa perspectiva mais ampla, Braga (2007) aponta como uma das principais transforma-­
ções decorrentes da mediatização o crescimento de “processos diferidos e difusos”. Assim, se am-­
pliam as possibilidades de experiência vicária, principalmente a partir das representações audiovi-­
suais e das diversas possibilidades de compartilhamento. Para o autor,
eSRVVtYHOFRQVWUXLUXPDSHUVSHFWLYDVHJXQGRDTXDOVHYHUL¿FDXPDFUHVFHQWHEXVFDGHPDLRU
abrangência/alcance/duração [das interações] – que leva a processos diferidos e difusos – e representam mediatização crescente, com inclusão sempre adicionada de novos elementos e de processos, assim como um maior atingimento e ampliação em termos de participantes e de participação (2007, p.148-­149).
Tal tendência, marcada pelas formas avançadas de difusão e compartilhamento da imagem H SHOD SUHVHQoD FRQVWDQWH GRV DSDUDWRV WHFQRLQWHUDFLRQDLV VHULD WUDoR GH¿QLGRU GD PHGLDWL]DomR
na contemporaneidade, enquanto que processos da escrita, como o jornal impresso, seriam formas preliminares e especializadas de mediatização da sociedade. Embora seja mais ampla, a perspecti-­
va tem validade para a compreensão das implicações desse processo, que, apesar de lacunar, incide fortemente sobre a constituição do tecido social na contemporaneidade.
Há, contudo, um forte dissenso teórico no âmbito dos estudos que se ocupam da mediatiza-­
ção. Na direção inversa dos que a compreendem como processo interacional de referência, alguns autores (SODRÉ, 2002;; TRIVINHO, 2007) adotam posturas mais deterministas e tendem a crer não apenas na lógica mediática como ordenadora da vida social, mas na total dependência da sociedade em relação às formas tecnológicas de interação.
A partir dos investimentos teóricos para se compreender o ciberespaço e a cibercultura, Trivi-­
nho (2007, p.3) sugere que, com o rearranjo de papéis, funções e práticas dos meios de comunicação na sociedade e entre si provocado pelo “processo civilizatório atual”, os media estariam “estrutural-­
mente dependentes das tecnologias e redes digitais”. Tratar-­se-­ia não apenas da submissão da mídia às lógicas sociotecnológicas da cibercultura, mas sim de uma conversão mediática do real em unida-­
des eletrônicas. Essas e também a inserção das redes digitais no cotidiano seriam as características precípuas de uma “civilização mediática avançada” hodierna.
O ciberespaço, segundo Trivinho (2007, p.3), passou a absorver e equalizar todas as formas de cultura disponíveis, inclusive a cultura mediática, num movimento em que a totalidade dos pro-­
cessos/fenômenos comunicativos passam, necessariamente e quase que obrigatoriamente, pelo ci-­
berespaço. Estaríamos testemunhando a “absorção” e “equalização” da lógica mediática pelas for-­
mas tecnológicas de interação:
3URJUDPDVUDGLRI{QLFRVHWHOHYLVLYRVHSURGXWRVGDLQG~VFWULDELEOLRJUi¿FDFLQHPDWRJUi¿FDH
musical sobrevivem agora, ostensivamente, pelo écran do objeto infotecnológico [...]. A produção GRQRWLFLiULR±HPVHMDTXDODVSHFWRIRUGHVGHDPHUDFDSWDomRGDLQIRUPDomRjVR¿VWLFDomRYLUWXDO
GDDSUHVHQWDomR±VHDOLPHQWDGLXWXUQDPHQWHGRVÀX[RVGRF\EHUVSDFH2SURFHVVRFRPSUHHQGHD
totalidade do ciclo social da comunicação: recepção, tratamento, armazenamento e retransmissão da informação (TRIVINHO, 2007, p.3).
As convergências tecnológicas teriam, assim, “limpado o terreno” para o desenvolvimento da PHGLDWL]DomRLVWRpGHUDPFRQGLo}HVSDUDTXHDVLQWHUDo}HVHRVSURFHVVRVVRFLDLVVHPRGL¿FDVVHP
em função das possibilidades trazidas pelos avanços tecnointeracionais.
Procuramos nos desvencilhar, porém, de uma visão tecnicista dessa processualidade. Nesse aspecto, FRQFRUGDPRVFRP-HQNLQVSTXHGH¿QHDFRQYHUJrQFLDFRPRWUDQVIRUPDo}HVWHFQROyJL-­
cas, mercadológicas, culturais e sociais, nas quais a circulação de materiais expressivos em diferen-­
tes sistemas midiáticos depende fortemente dos sujeitos consumidores, leitores, espectadores.
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A relação entre os dispositivos midiáticos, desse modo, não estaria propensa a um lado só – o do ciberespaço, como argumenta Trivinho (2007) –, mas a uma interrelação, a uma interdependên-­
cia no que diz respeito aos conteúdos em circulação. Como aponta Jenkins (2008, p.27), “a conver-­
gência apresenta uma transformação cultural, à medida que consumidores são incentivados a pro-­
curar novas informações e fazer conexões em meio a conteúdos midiáticos dispersos”.
1RYDPHQWHVHID]QHFHVViULRUHVVDOWDUTXHDGLVFXVVmRVREUHDFRQYHUJrQFLDHDVPRGL¿FD-­
ções provocadas na sociedade enfocam, no âmbito tecnológico desse processo, o surgimento/de-­
senvolvimento/aperfeiçoamento de tecnologias de interação. Tanto que, para tratar do conceito de convergência, Jenkins (2008) recorda o quanto os celulares, as câmeras, a internet, o mp3 player e até mesmo os games transformaram as relações da vida cotidiana na contemporaneidade.
Indagamos, assim, sobre os demais dispositivos, tanto os de natureza eletrônica, como a tele-­
visão e o rádio, quanto os da cultura escrita, como o jornal: num contexto de convergência, ou seja, de embaralhamento de conteúdos, práticas, públicos, tais dispositivos passam a se estruturar e atu-­
ar discursivamente de que maneira?
Como sabemos, ao longo do século XX, o jornal impresso precisou lidar com a simultaneida-­
GHGRUiGLRHDUHSUHVHQWDomRLPDJpWLFDGDWHOHYLVmRVHUHFRQ¿JXUDQGRHPRGL¿FDQGRVXDVHVWUDWp-­
gias discursivas, sua estética, suas práticas. A questão que se coloca agora diz respeito às transfor-­
mações pelas quais o dispositivo tem passado num contexto sociohistórico de intensa mediatização, HPTXHDVSRVVLELOLGDGHVWpFQLFDVHLQWHUDFLRQDLVDXPHQWDPGHIRUPDVLJQL¿FDWLYDHFRPSOH[D
1RHVFRSRGHVWHWUDEDOKRQRV¿[DUHPRVHPYHVWtJLRVGHVVDVPRGL¿FDo}HVFRPIRFRQDVQR-­
vas posições ocupadas pelos indivíduos e pelo jornal impresso como dispositivo midiático no âmbito interacional. Num segundo movimento, relacionaremos tal tendência à dinâmica da convergência PLGLiWLFD(SRU¿PGLVFXWLUHPRVFRPRWDLVPXWDo}HVQRXQLYHUVRPLGLiWLFRHPDLVSUHFLVDPHQWH
QRMRUQDOLVPRLPSUHVVRWrPPRGL¿FDGRRHVWDWXWRGRDFRQWHFLPHQWRMRUQDOtVWLFRHPIDYRUGDVHV-­
tratégias de autorreferencialidade.
Indícios da mediatização
Os efeitos das transformações nas instituições sociais e nas práticas midiáticas sobre o jornal impresso não constituem problema recente. Duas décadas atrás, Maurice Mouillaud já havia inda-­
gado sobre o futuro do jornal naquele contexto de mudanças estruturais no sistema produtivo midi-­
ático:
Em um período em que os equilíbrios são frágeis e os aparelhos da mídia se fazem e desfazem-­se, em que os homens de comunicação circulam com os capitais em um jogo de permutas cada vez mais rápidas, em que um barulho de correntes apaga, por vezes, a música das esferas, quem saberia dizer em que se transformará a página impressa? (2002a, p.28).
Nossa hipótese é a de que estaríamos assistindo novamente, como propunha Mouillaud (2002d) em artigo no qual analisa parte da evolução do jornal francês Libération, ao nascimento de novas identidades e práticas, cuja relevância seria o rompimento com a tradicional rigidez do jornal impresso e a imposição de “mobilidades”.
3DUWLPRVGHDOJXPDVGH¿QLo}HVTXHDQRVVRYHUVmREiVLFDVHPUHODomRDRMRUQDOLPSUHV-­
so: a) o jornal é um dispositivo e, portanto, mais do que uma simples entidade técnica, estranha ao VHQWLGRESHUWHQFHjUHGHGHLQIRUPDo}HV±DRVLVWHPDGRVPHGLD±HHVWiHQYROYLGRQRÀX[RQD
dinâmica dessa rede;; c) atua no mundo trazendo a sombra dos acontecimentos em unidades, frag-­
mentos, objetivados numa forma, o “padrão do fato” (MOUILLAUD, 2002a, 2002b).
Jean-­François Tétu (2002) pontua outras características do jornal impresso, especialmente no que diz respeito à disposição da informação. Na página impressa, diz o autor, há três maneiras de orga-­
nização: a) a materialidade do jornal, na qual a diagramação exerce papel fundamental no condicio-­
namento do olhar do leitor;; b) a transferência da enunciação em direção ao que chama de “agentes da atualidade”, o que seriam as fontes do jornal, as testemunhas;; c) a organização narrativa em bus-­
ca da produção simbólica do real.
O jornal não pode ser tomado apenas pela sua condição impressa, individual, na qual haveria Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. 100
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um formato e um conteúdo, papel e tinta de um lado, notícias e imagens do outro. Ele é a imbricação desses elementos, sem se limitar ao dizer, mas investindo na busca do “fazer ver” e, principalmente, do fazer compreender – o que corresponderia à sua tradição analítica. Está atrelado, sim, ao que se GH¿QHFRPRDWXDOLGDGH±TXDOTXHUTXHVHMDDFRPSUHHQVmRGHVWHWHUPR±DSDUWLUGDDSUHHQVmRGRV
acontecimentos do mundo e da transformação em fatos narráveis.
Em torno e dentro dessa organização residem as estratégias discursivas, as quais se ancoram QDUHSURGXomRGDIDODGRRXWURQDFRQÀXrQFLDGHGLVFXUVRVQDWHQWDWLYDGHSURGXomRGLVFXUVLYDGR
real – de um outro real –, e, para França (2002), no relato dos acontecimentos a partir da constru-­
ção dos fatos, de sua distribuição em rubricas, do “imbricamento entre a palavra social e a palavra do jornal”.
3DUWLQGR GHVVDV GH¿QLo}HV H FRQVLGHUDQGR DV PRELOLGDGHV FRQFHLWXDLV QHFHVViULDV SDUD VH
debruçar sobre o jornal impresso e, assim, examinar as transformações pelas quais esse dispositivo vem passando numa época em que há “um jogo de permutas cada vez mais rápidas”, nosso enfo-­
que, daqui em diante, recairá sobre o que consideramos, em consonância com Fausto Neto (2008a, 2008b, 2009), indícios das mutações provocadas pela mediatização no jornalismo impresso.
a) “Protagonismo do leitor”
No âmbito das práticas jornalísticas hodiernas, observa-­se certo embaralhamento de papéis no que diz respeito aos atores envolvidos no processo de produção da notícia. A este aspecto, acres-­
centa-­se o que Fausto Neto (2008b) chama de “protagonismo do leitor”, decorrente de uma aber-­
tura das operações jornalísticas à participação do público, ainda que esta forma de interação seja regulada pela empresa.
Como parte de uma estratégia de aproximação, leitores são cada vez mais chamados pelos jornais a colaborar, a participar do processo de produção das notícias. Assim, são postos na condi-­
ção de coprodutores. Investidos no papel do “eu-­repórter”, leitores não apenas denunciam, como também produzem e reproduzem o próprio material jornalístico (fotos, notícias...), direta ou indire-­
tamente, corrigem e atualizam informações. São, inclusive, orientados, “educados” para exercer tal função.
Tal reposicionamento do público leitor sugere indícios de um novo “contrato comunicacio-­
nal”, em que o papel de “fazer saber” e “fazer sentir”, antes detido pelo dispositivo midiático, é com-­
partilhado com o antigo leitor-­receptor. Por contrato, nos referimos àquele reconhecimento recí-­
proco do que Charaudeau (2007, p.68) chama de “condições de realização da troca linguageira” por parte dos sujeitos em comunicação, dos parceiros da troca.
Sabe-­se, contudo, que a participação dos leitores como fontes de informação, como denun-­
ciantes ou mesmo como opinantes em relação aos temas e abordagens noticiosos dos jornais não é exatamente novidade. A seção “Carta de leitor”, presente na maior parte dos jornais diários, é um exemplo clássico da interatividade entre o dispositivo e seu público, na qual os leitores “falam com o jornal, no jornal e eventualmente sobre o jornal” (BRAGA, 2006, p.133, grifo do autor).
Por outro lado, há que se ressaltar que tais atores não se encontram mais no início ou à mar-­
gem da cadeia produtiva da notícia, mas ocupam seu centro. Tornam-­se agentes do processo produ-­
tivo, o que promove uma rearticulação da cultura jornalística. Como ressalta Fausto Neto (2009), o “jornalista já não é mais soberano no trabalho de produção da notícia”, pois perdeu parte da autono-­
mia e exclusividade do trabalho de construção noticiosa, tanto por ser confrontado com informações difusas no ambiente midiático quanto pela relativa autonomia dos leitores-­fontes enquanto difuso-­
res de informações.
A entrada de um novo agente no centro da produção jornalística implica menos a perda, por parte dos jornalistas, de seu papel de mediação, interpretação dos acontecimentos e construção de uma realidade, do que o rearranjo de papéis no âmbito da atividade. Nas palavras de Fausto Neto:
A lógica dominante prevê uma espécie de diluição entre as fronteiras que os reúne [produtores e receptores], e mesmo de “zonas de pregnância” que os aproximaria, na medida em que os receptores são crescentemente instalados no interior do sistema produtivo, enquanto co-­operadores de enunciação (FAUSTO NETO, 2008b, p.100).
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Ressalte-­se que a instauração dessas “zonas de pregnância” decorre de estratégias midiáticas SUHYLDPHQWHGH¿QLGDVTXHDFDEDPSRUIXQGDUQRYDVIRUPDVGHLQWHUDomRHQWUHSURGXomRHUHFHS-­
ção, orientadas principalmente pela ideia de aproximação, isto é, de supressão do afastamento e da impessoalidade característicos do contrato comunicacional que por um longo período demarcou as condições de interação entre indivíduos-­leitores e o dispositivo-­jornal.
Leitores são promovidos a enunciadores, o que, de algum modo, impõe limites à sua auto-­
nomia ante a produção jornalística, uma vez que são, como os jornalistas, submetidos aos procedi-­
mentos de adequação às normas técnicas, discursivas e editoriais. Embora desfrutem da condição de coprodutores, é certo que os leitores não precisam se “mudar do ambiente institucional em que VHHQFRQWUDPLQVWLWXtGRV´FRPRD¿UPD)DXVWR1HWRS
Porém, mesmo que com novos participantes, a produção jornalística ainda é submetida a parâmetros e constrangimentos organizacionais. Daí porque nos parece equivocado superestimar o “protagonismo do leitor”, colocando-­o no mesmo patamar que os jornalistas gozam dentro do processo produtivo ou mesmo crendo na substituição de um ator pelo outro. A mediatização parece inaugurar, no âmbito do sistema da informação, um ambiente de articulação entre novos atores, e não de substituição de um pelo outro.
b) Ambientes de convergência
Há certa correspondência entre a instauração dessas “zonas de pregnância” com o que Trivi-­
nho (2007) aponta como a “equalização” da lógica mediática pelas formas tecnológicas de interação. A condição de coprodutores da informação jornalística dada aos leitores e fontes de jornal é permiti-­
da em grande parte pelas novas plataformas de contato entre dispositivos e públicos. Nesse sentido, observa-­se um reordenamento não apenas de papéis, mas também de práticas e conteúdos, fazendo com que dispositivos se interrelacionem estabelecendo redes sólidas de compartilhamento de infor-­
mação.
Os dispositivos estão, segundo Mouillaud (2002b, p.34-­35), sempre encaixados em outros dispositivos. Eles possuem relativa autonomia entre si e com as demais instituições sociais. E o jor-­
nal, enquanto dispositivo midiático, pertence a uma rede de informações que comporta diversos ou-­
tros dispositivos. A mediatização não inaugura um ambiente de convergência, mas garante a entra-­
da de novos dispositivos, novos agentes, instaurando novas formas de articulação. O encaixe entre MRUQDOHGHPDLVGLVSRVLWLYRVpTXHSDUHFHWHUVHWUDQVIRUPDGRHVHVROLGL¿FDGR
Os jornais, na tela e no papel, encontram-­se cada vez mais fundidos. Um remete ao outro constantemente, pois estão juntos no jogo da autorreferencialidade como estratégia midiática. Por isso não se deve observar o tema da convergência com as lentes do tecnodeterminismo. Pois, como explica Miège (2009, p.37), convergência não é um fenômeno puramente técnico, embora costume ser abordada sob esse viés.
Ela comporta dimensões econômicas, sociais, jurídicas e políticas tão importantes e decisivas quanto seu componente tecnológico. Mesmo sendo tecnicamente possível, a convergência dos sistemas de comunicação não se realizará sem vontade política e econômica, sem quadro jurídico e regulamentar apropriado e sem uma certa aceitação dos usuários (MIÈGE, 2009, p.37).
Há, portanto, um ambiente propício à convergência. O estabelecimento das redes informa-­
cionais e a constante remissão entre dispositivos constituem estratégias políticas e econômicas das empresas. Assim como os consumidores-­leitores percorrem diferentes dispositivos em busca de FRQWH~GRV PLGLiWLFRVGLIXVRVMRUQDLVWDPEpPVH HQFRQWUDPQRÀX[RGH XPDPHVPD³FXOWXUDGD
convergência”, em que fontes e informações estão dispersas no universo dos media.
Contudo, Fausto Neto (2009, p.25) atenta para o fato de que plataformas digitais são mais do que espaços de circulação e compartilhamento de bens simbólicos. Tais ambientes possuem estra-­
tégias produtivas próprias. O processo jornalístico de construção da realidade é, assim, afetado por essas estratégias, abrindo-­se a novos atores, conteúdos e formatos. Os jornais se encontram profun-­
GDPHQWHFRQWDPLQDGRVSHORV³ÀX[RVGRFLEHUHVSDoR´LVWRpHPFRQVWDQWHDUWLFXODomRTXHSRUYH]HV
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supõe certa dependência.
'HVVHPRGRD³FXOWXUDMRUQDOtVWLFD´VHPRGL¿FDWDPEpPJUDoDVjLQFRUSRUDomRGDVUHGHVGL-­
gitais, com suas estratégias, atores e conteúdos próprios, à rotina produtiva. Mais uma vez, nem de ORQJHWDOWHQGrQFLDPLQLPL]DRWUDEDOKRGRMRUQDOLVWDSRLVRVGHVD¿RVTXHVHLPS}HPVmRMXVWDPHQ-­
te o de “ordenar toda esta avalanche de informação”, segundo Pavlik, citado por Fausto Neto (2009, p.28), e o de lidar com um ambiente de visibilidade que foge ao controle dos media convencionais.
Portanto, o contexto de mediatização sugere a ascensão de leitores e fontes, bem como a in-­
FRUSRUDomRGRVÀX[RVLQIRUPDFLRQDLVGHRXWURVGLVSRVLWLYRVSRUSDUWHGRVMRUQDLVLQVWDXUDQGRQR-­
vas articulações no processo de produção da notícia e novas formas de interação entre jornais e lei-­
tores e jornais e jornais, em diferentes plataformas.
c) O acontecimento e a autorreferencialidade
A diluição das fronteiras entre jornalistas, jornais e leitores, o ingresso destes no sistema pro-­
dutivo jornalístico e a interrelação entre dispositivos num contexto de convergência sugerem o re-­
ordenamento do processo jornalístico de construção da realidade, mas, por consequência, também colocam em questão a própria noção de acontecimento. Isso porque o processo jornalístico passa a obedecer a uma lógica produtiva mais complexa, que advém dessa nova articulação de diferentes dispositivos.
O jogo da autorreferencialidade enquanto estratégia midiática não parece incidir somente sobre a articulação entre dispositivos, sugerindo uma crescente remissão e compartilhamento de conteúdos. De acordo com Fausto Neto (2008a, p.128), as estratégias de produção de referência que fazem com que o dispositivo jornalístico se volte cada vez mais para sua própria produção geram transformações discursivas profundas, transformando a enunciação no próprio acontecimento.
Se, para Mouillaud (2002c, p.51), acontecimento é a sombra projetada do “fato” enquanto conceito criado pelo sistema da informação, sendo assim um construto jornalístico, a crescente me-­
diatização faz com que o acontecimento seja um anteparo sobre o qual é projetado o trabalho enun-­
ciativo. A própria atuação jornalística toma para si o lugar do fato como elemento central da cons-­
trução do acontecimento midiático.
Para Fausto Neto,
Se as enunciações de auto-­referência visam a descrever operações voltadas para a realidade da construção que é convertida na própria “realidade do acontecimento”, vem de uma operação de co-­
referência enunciativa a lembrança, ou registro, de que algo da incompletude resiste a esse trabalho enunciativo (FAUSTO NETO, 2008a, p.142).
Os mecanismos autorreferentes são, para o autor, uma das reações à perda da autonomia de jornais e jornalistas decorrente da ascensão de leitores e fontes à condição de participantes do processo de produção da notícia. A instauração das zonas de pregnância e o ingresso de novos mediadores no trabalho jornalístico implicariam o enfraquecimento da força do jornalista. E tais estratégias seriam usadas pela comunidade interpretativa para “falar da sua existência, e dos nichos produtivos alusi-­
vos à realidade construída por seu trabalho” (FAUSTO NETO, 2009, p.21).
Acreditamos que as estratégias de autorreferencialidade sejam adotadas pelos jornalistas, mas, principalmente, pelas empresas de comunicação em busca de legitimação diante do quadro de FRQFRUUrQFLDDFHQWXDGDHGD¿UPDomRGDTXHOHQRYRFRQWUDWRFRPXQLFDFLRQDOFRPVHXS~EOLFR
Desse modo, a celebração da enunciação como acontecimento e a explicitação da rotina produtiva constituem estratégias midiáticas de aproximação e estruturação de relações mais sólidas entre jor-­
nais e leitores.
3DUD UHIRUoDU QRVVD DUJXPHQWDomR HPSUHVWDPRV GH /DQGRZVNL SDUWH GD UHÀH[mR VREUH DV
imbricações entre o discurso do jornal e seu público. Por um lado, o jornal narra os acontecimentos, contando assim a “história do presente”, por outro:
Também constrói, pela simples recorrência da sua enunciação, identidades sociais. Ao tempo contado, “enunciado”, o da narrativa dos acontecimentos noticiados, se superpõe, assim, um Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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tempo “vivido”, tempo da enunciação (e da recepção) do discurso que serve como suporte para a constituição da imagem própria do jornal como sujeito coletivo enunciante, e, correlativamente, à formação de um certo hábito próprio da clientela da qual se alimenta e, sem dúvida, satisfaz a expectativa diariamente (LANDOWSKI, 1992, p.119, grifos nossos).
Desse modo, para o autor, o jornal se estabelece diante do leitor tanto como narrador dos acontecimentos, atendendo ao que chama de expectativa sintagmática, isto é, a uma espera induzida pela distribuição dos relatos em sequência, quanto como “sujeito coletivo enunciante”, respondendo à expectativa paradigmática, ligada à sua atividade regular e ordenada. Portanto, as estratégias au-­
torreferentes viriam justamente reforçar a segunda expectativa sugerida por Landowski, ressaltan-­
do suas particularidades enquanto dispositivo e estruturando relações mais sólidas com seu público habitual.
Considerações finais
A despeito das divergências teóricas a respeito da compreensão do processo de mediatização, e considerando o eixo que atravessa as diferentes conceituações desse fenômeno, concordamos com 6RGUpSTXDQGRD¿UPDTXH³DPLGLDWL]DomRQmRQRVGL]RTXHpDFRPXQLFDomRHQRHQ-­
tanto, ela é o objeto por excelência de um pensamento da comunicação social na contemporaneida-­
de”.
7RPDQGRFRPRSUHVVXSRVWRTXHDQRYDRUGHPFRPXQLFDFLRQDOWHPPRGL¿FDGRWDQWRDVLQV-­
WLWXLo}HVVRFLDLVTXDQWRDVSUiWLFDVPLGLiWLFDVUHÀHWLPRVVREUHDOJXQVLQGLFDWLYRVGDPHGLDWL]DomR
do processo jornalístico, em especial do jornalismo impresso, entre os quais estão: a) a fundação de novas formas de interação entre instâncias de produção e recepção do jornal, orientada pelas estra-­
WpJLDVPLGLiWLFDVGHDSUR[LPDomRGRS~EOLFROHLWRUEDFUHVFHQWHDUWLFXODomRHQWUHRVMRUQDLVHÀX-­
xos informacionais de outros dispositivos e plataformas;; c) a adoção de estratégias de autorreferen-­
cialidade, inclusive transformando a enunciação em acontecimento.
2SURFHVVRGHPHGLDWL]DomRQmRVHOLPLWDjUHFRQ¿JXUDomRGRVSURFHVVRVVRFLDLVGHPRGRD
WRUQiORVGHSHQGHQWHVGDOyJLFDPHGLiWLFDRXGRVÀX[RVLQIRUPDFLRQDLV$PHGLDWL]DomRLQDXJXUD
no âmbito do sistema da informação, um ambiente de complexas articulações – e não de simples de-­
SHQGrQFLD±HQWUHQRYRVDWRUHVHGLVSRVLWLYRVHDDGRomRGHHVWUDWpJLDVEHPGH¿QLGDVGHLQWHUDomR
FRPS~EOLFRVLQFOXVLYHFRPD¿UPDomRGHQRYRVFRQWUDWRVFRPXQLFDFLRQDLV
De todo modo, embora a mediatização renove os processos tecnológicos e as formas de inte-­
ração, é a sociedade que “realiza, escolhe e direciona” as novas possibilidades no sentido de assina-­
lar os processos comunicacionais que nos permitem construir a “realidade” (BRAGA, 2007, p.147). 1RkPELWRGHVVHGLUHFLRQDPHQWRGHSRVVLELOLGDGHVpTXHVHUHFRQ¿JXUDPLQGLYLGXDOPHQWHHPX-­
tuamente, os dispositivos de interação mediática – dos tradicionais aos avançados –, os processos sociais e os processos comunicacionais.
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GT2 - Mediação, mediatização e prática jornalística
A permanência da opacidade no acontecimento jornalístico:
Uma reflexão em torno de três casos
Luiz Martins da Silva
Dione Oliveira Moura
Universidade de Brasília
Resumo
O jornalismo busca trazer os fatos à luz, torná-­los visíveis, conhecidos, compreendidos, contextua-­
lizados. Contudo, mesmo com todos os avanços propiciados por mudanças que vão desde alteração na rotina produtiva até a maior participação do público na produção da notícia, um dado permane-­
ce: alguns fatos resistem a tornarem-­se conhecidos e permanecem na opacidade. Os autores, a título de exemplo, relatam três casos cobertos pela imprensa brasileira há cinco décadas e que ainda conti-­
QXDPQDRSDFLGDGH([DPLQDUHPRVQHVWHHVSDoRWUrVVLWXDo}HVSUREOHPDUDWL¿FDGRUDVGDKLSyWHVH
de trabalho aqui formulada de que determinados fatos de grande impacto social e correspondente noticiabilidade tão logo acontecem são cercados de constrangimentos que impedem a sua visibilida-­
de pública, permanecendo espessos à publicidade midiática, por vezes, ao longo de décadas: o “Mas-­
sacre da Pacheco Fernandes”;; o “Caso Ana Lídia”;; e o “Assassinato de João Goulart”.
Apresentação
Iniciamos apresentando o contexto da pesquisa e nossas duas hipóteses de trabalho. Para VLWXDUDUHÀH[mRSDUWLPRVGDSHUFHSomRGHTXHKiXPDVpULHGHIDWRVTXHTXDQGRGRVHXDFRQWHFL-­
mento é envolvida por uma opacidade que impede o seu esclarecimento sincrônico, vindo o esclare-­
cimento a ocorrer, quando ocorre, em um tempo diacrônico. Estudo de três casos que resistem cinco décadas: o “massacre da GEB”;; o “caso Ana Lídia”;; e o “assassinato de João Goulart”. As camadas de opacidade só darão espaço à clareira de uma forma diacrônica. A opacidade resiste. Resiste mesmo diante de mudanças estruturais em curso no Jornalismo. Mesmo diante dos novos processos e es-­
tratégias de comunicação possíveis, via redes eletrônicas. A segunda hipótese a ser trabalhada é a de que as lacunas abertas pela falta de esclarecimento dos fatos por parte dos jornalistas serão preenchidas pela via das representações sociais, à base da UHSRVLomRGDYHUGDGHIDFWXDOSHODPHLDYHUGDGHPtWLFDTXHDFDEDSRUVHD¿UPDUFRPRXPDVREUH-­
determinada “verdade virtual”, agora, com muito mais espaço para os seus registros, não limitados ao boca-­a-­boca e aos relatos orais de geração para geração, mas, presente, literalmente, no mundo virtual, em sites pessoais e colaborativos, daí as citações que faremos, neste trabalho, de verbetes da Wikipedia.
Um olhar sobre três casos exemplares de opacidade
a) O “Massacre da GEB”.
Verdade ou meia-­verdade-­mito, possivelmente jamais se venha a ter um relato documental VREUHRHSLVyGLRTXHQDKLVWyULDGH%UDVtOLD¿FRXFRQKHFLGRFRPR³2PDVVDFUHGD*(%´SDUDRTXDO
os registros jornalísticos foram escassos, resumidos e datados de dias posteriores ao acontecimen-­
to. Negado peremptoriamente por autoridades, personalidades (Oscar Niemeyer e Lúcio Costa) e KLVWRULDGRUHV(UQHVWR6LOYDR³IDWR´MDPDLVGHL[RXGHVHUFRQVLGHUDGRQDVUHIHUrQFLDVQmRR¿FLDLV
estando fartamente presente em sítios da internet. Foi objeto de literatura, cinema (Conterrâneos Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. 106
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velhos de guerra – Vladimir Carvalho) e de muitas revisitações quando das comemorações do cin-­
qüentenário de Brasília e mesmo em reportagens especiais, como a que foi publicada pelo Correio %UD]LOLHQVH, no dia 10/02/2011, sob a retranca Memórias da construção;; matéria intitulada 2
$QRHPTXH%UDVtOLDQmR3DURX
Vejamos o que informa o referido texto, após o intertítulo Mito ou massacre?: ³2PDLVLQÀDPDGRGRVPLWRVGDFRQVWUXomRGH%UDVtOLDGL]UHVSHLWRDRTXHRFRUUHXQRDFDPSDPHQWR
da construtora Pacheco Fernandes, no carnaval de 1959. Há quem já tenha escrito que caminhões GHRSHUiULRVPRUWRVSHOD*(%IRUDPUHWLUDGRVGRDFDPSDPHQWR1DYHUVmRR¿FLDOKRXYHXPD
morte e alguns feridos. O que se convencionou chamar de ‘‘massacre da Pacheco Fernandes’’ continua a ser tratado no campo das versões.
No contexto do mencionado cinqüentenário, a 5HYLVWDGH+LVWyULDGD%LEOLRWHFD1DFLRQDO (consulta em 11/02/2011 -­ http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=3566) publicou em 27/01/2011 o artigo “Brasília 50 anos -­ Brasília por seus autores”, de autoria de Vivi Fernandes de Lima e Adriano Belisário, do qual destacamos os seguintes trechos:
2MRUQDOLVWD9ODGLPLU&DUYDOKR¿FRXDQRVSURGX]LQGRRGRFXPHQWiULR³&RQWHUUkQHRV±9HOKRV
GH*XHUUD´VREUHRVFDQGDQJRVSLRQHLURVODQoDGRHP$GHPRUDGRWHPSRGH¿OPDJHP
não foi falta de tempo nem de dinheiro. O problema era que o assunto que ele pretendia abordar ninguém queria falar: o assassinato de operários, o chamado Massacre da Pacheco Fernandes 'DQWDV9ODGLPLU¿FRXVDEHQGRGRLQFLGHQWHSRUDFDVRHQTXDQWRFRUWDYDFDEHORQXPDEDUEHDULD
“Fui colhendo informações aqui e ali, mas as pessoas tinham receio de tocar nesse assunto porque vivíamos na ditadura. Diziam, ‘não, doutor, isso é muito perigoso’”.
1R¿QDOGDGLWDGXUDHPPXLWRVRSHUiULRVTXHWLQKDPVHQHJDGRDIDODUFRP9ODGLPLU
IRUDPjVXDSURFXUDSDUD¿QDOPHQWHGDUVHXVGHSRLPHQWRV&RPLVVRRGRFXPHQWDULVWDSRGH
ter mais detalhes. O crime foi o desfecho de um atrito entre operários da Construtora Pacheco Fernandes Dantas e a Guarda Especial de Brasília (GEB), uma polícia contratada pelo governo. Os trabalhadores se revoltaram contra o serviço da cantina. Segundo eles, às vezes a comida vinha com insetos e até estragada. Na segunda-­feira de carnaval de 1959, além das condições ruins de DOLPHQWDomRRVRSHUiULRVWLYHUDPDiJXDGRDFDPSDPHQWRFRUWDGD³3URYDYHOPHQWH¿]HUDPLVVR
para que ninguém fosse às cidades do entrono para as festas de carnaval”, conta Vladimir.
Resultado: os trabalhadores jogaram os pratos de comida no pátio, em protesto. A GEB tentou contê-­los, mas não conseguiu porque os trabalhadores eram muitos, mais de mil. “Foi uma confusão, mas a GEB perdeu esse round e correu para o quartel. À noite, os guardas voltaram e metralharam o acampamento. Muita gente morreu, mas não se sabe quantos porque o caso foi abafado”, conta Vladimir.
No documentário, um dos entrevistados pelo jornalista descreve como os corpos “desapareciam”: “O caminhão levava, estes caminhões de caçamba, levavam e viravam assim os corpos, alguns ainda vivos, se mexendo. E um tratorzinho da Novacap (empresa criada para gerenciar a construção) aterrava, jogava terra em cima. O trator já ia tampando pra não deixar exposto. Na torre da televisão. Em outros lugares também, mas ali eu vi de perto”.
Em “Conterrâneos”, o arquiteto Lúcio Costa foi questionado sobre o assunto: “Que importância o senhor daria a isto se tivesse sabido na época da construção de Brasília?”. Costa responde: “Não teria dado a menor importância. Do ponto de vista da construção da cidade, isto é apenas um episódio. Não tem a menor importância”.
Dentre os numerosos sítios da internet que tratam do “Massacre da GEB”, destacamos (pelo interesse com que procura ilustrar o fato com “dados”, o Brasília.jor.br [http://doc.brazilia.jor.br/
Construcao/geb.shtml?q=Construcao/geb.htm], que teve o cuidado de referenciar, num boxe, uma série de notas, matérias e reportagens que compõem o clipping sobre o assunto. Por meio do artigo intitulado “GEB -­ A Guarda Especial de Brasília -­ O massacre da Pacheco Fernandes”, sabe-­se que “a Construtora Pacheco Fernandes Dantas tinha 1.300 operários” e que
A primeira versão, publicada dois dias mais tarde pelo jornal O Popular, dava conta de um massacre praticado por 60 policiais armados de metralhadoras e que teria resultado em 9 mortos e mais de 60 feridos.
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Eram os mesmos números do telegrama da Associação dos Trabalhadores da Construção de Brasília, enviado de Goiânia — após burlar as medidas para abafar o caso em Brasília —, para o presidente Juscelino Kubitschek, o Congresso Nacional e outras autoridades no Rio de Janeiro.
6HJXLUDPVHRVGHVPHQWLGRVR¿FLDLVUHGX]LQGRDLPSRUWkQFLDGRHSLVyGLRHFLWDQGRDSHQDVXP
morto e três feridos. A presidência da República negou até que Juscelino tivesse recebido algum telegrama.
Apenas um jornal — o %LQ{PLR, de Belo Horizonte — enviou dois repórteres para investigar o episódio, conseguindo inclusive entrevistar os feridos, após burlar a vigilância em torno deles no hospital.
A reportagem do %LQ{PLR foi publicada 8 dias após o massacre e — apesar da descrição detalhada dos acontecimentos — pouco pôde apurar quanto ao número exato de mortos: “Fechou-­se um cerco de mistério sobre a ocorrência”.
b) O “Caso Ana Lídia”
Sobre este caso, preferencialmente nos reportamos a uma “fonte livre”, ou seja, um relato que FODVVL¿FDPRVFRPRmeia-­verdade-­mito, cujo registro foi encontrado na Wikipédia, que teve o cui-­
GDGRGHLQIRUPDUTXHRVDXWRUHVGRPHVPRQmRVmRFLWDGRVRTXHFRPSURPHWHDYHUL¿FDELOLGDGH
Seguem-­se trechos:
O caso Ana Lídia refere-­se ao assassinato de Ana Lídia Braga, um crime acontecido no Brasil na década de 1970, em plena ditadura militar.
A família de Ana Lídia morava na SQN 405, Bloco O, da Asa Norte do Plano Piloto de Brasilia, no Distrito Federal. Ela tinha sete anos de idade quando a sequestraram do Colégio Madre Carmen Salles, escola onde foi deixada pelos pais às 13:30 horas do dia 11 de setembro de 1973. A menina IRLSRVWHULRUPHQWHWRUWXUDGDHVWXSUDGDHPRUWDSRUDV¿[LDPRUWHTXHVHJXQGRRVSHULWRVTXH
analisaram seu corpo, teria acontecido na madrugada do dia seguinte. Seu corpo foi encontrado por policiais, em um terreno da UnB, às 13 horas do dia 12 de setembro. Estava semi-­enterrado em uma vala, próxima da qual havia marcas de pneus de moto e duas camisinhas, provas que com facilidade poderiam levar os investigadores até os culpados da atrocidade. A menina estava nua, com marcas de cigarro e com os cabelos mal cortados.
Os suspeitos do crime foram o seu próprio irmão Álvaro Henrique Braga (que, juntamente com a QDPRUDGD*LOPD9DUHODGH$OEXTXHUTXHWHULDYHQGLGRDPHQLQDSDUDWUD¿FDQWHVHDOJXQV¿OKRVGH
políticos e importantes membros da sociedade brasiliense. Mas os culpados nunca foram apontados e o caso Ana Lídia se tornou mais um símbolo da impunidade em Brasília.
As investigações apontaram que Ana Lídia foi levada ao sítio do então Vice-­Líder da Arena no Senado, Eurico Resende, situado em Sobradinho, uma cidade-­satélite de Brasília. Testemunhas disseram que à noite, Álvaro e a namorada saíram e deixaram a menina com Alfredo Buzaid Júnior, (GXDUGR5LEHLUR5HVHQGH¿OKRGRVHQDGRUGRQRGRVtWLRH5DLPXQGR/DFHUGD'XTXHFRQKHFLGR
WUD¿FDQWHGHGURJDVGH%UDVtOLD4XDQGRYROWDUDPDRVtWLRHQFRQWUDUDP$QD/tGLDPRUWD&RPRR
SULQFLSDOVXVSHLWRHUDR¿OKRGRHQWmR0LQLVWURGD-XVWLoD$OIUHGR%X]DLGXPDJUDQGHSROrPLFDVH
formou em torno do caso.
Entre os suspeitos estava também o futuro Presidente da República Fernando Collor de Mello, que, na época, tinha 24 anos de idade. Não há evidência que Collor esteja envolvido no crime, mas mesmo assim durante a campanha eleitoral de 1989 Collor foi acusado de ter participado do crime.
Em um momento da história nacional em que a ditadura militar controlava as investigações que lhe diziam respeito, como era de se esperar, não houve muito rigor nas investigações. Digitais não foram procuradas no corpo da menina, as marcas de pneus foram esquecidas e sequer se efetuou análises comparativas do esperma encontrado nas camisinhas com o dos suspeitos. E o que era mais estranho: houve uma grande passividade por parte dos próprios familiares de Ana Lídia.
A força do poder dominante para sufocar a divulgação do assunto pode ser medida por um episódio Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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citado por Jávier Godinho em sua obra “A Imprensa Amordaçada”. No dia 20 de maio de 1974 jornais, rádios e estações de televisão do país receberam o seguinte comunicado do Departamento de Polícia Federal: ³'HRUGHPVXSHULRU¿FDWHUPLQDQWHPHQWHSURLELGDDGLYXOJDomR
através dos meios de comunicação social escrito, falado, televisado, comentários, transcrição, referências e outras matérias sobre caso Ana Lídia e Rosana.” Rosana Pandim se tratava de outra garota desaparecida com 11 anos de idade em Goiânia, no mesmo ano da morte de Ana Lídia. Mas, ao contrário do que aconteceu com a menina de Brasília, o corpo de Rosana jamais foi encontrado.
Depois que se passaram treze anos da execução do crime o processo foi reaberto porque surgiram novidades sobre o assassinato. A repórter Mônica Teixeira, da Vídeo Abril, garantiu ter testemunhas TXHSRGHULDPSURYDUTXHRDXWRUGRFULPHHUDPHVPRR¿OKRGRH[0LQLVWURGD-XVWLoD$OIUHGR
Buzaid, e que, apesar de a imprensa ter noticiado que ele havia morrido em um acidente, dois anos depois do crime, Mônica garantiu que ele ainda estava bem vivo no ano de 1985. Mais uma vez fatos estranhos aconteceram: algumas das testemunhas simplesmente morreram após serem intimadas para depor e não foi permitida a exumação do corpo, sendo o processo novamente fechado por suposta falta de provas.
Até hoje não houve um desfecho para o caso e ninguém foi punido pelos crimes cometidos. Em homenagem à menina, uma região do chamado Parque da Cidade, próximo à entrada do Setor Hoteleiro Sul, em que estão instalados diversos brinquedos para crianças, passou a ser denominado Parque Ana Lídia. Pela circunstâncias de seu martírio, seu túmulo é um dos mais visitados no cemitério da cidade, sendo cultuada por devotos que acreditam em milagres feitos pela menina, agora considerada uma santa.
c) O “Assassinato de João Goulart”
Em relação à suposta operação para matar o ex-­presidente do Brasil João Goulart, recorre-­
PRVLJXDOPHQWHjVXDELRJUD¿D>WUHFKRV@SXEOLFDGDSHOD³HQFLFORSpGLDOLYUH´:LNLSpGLD
Morte
-RmR*RXODUWPRUUHXR¿FLDOPHQWHYtWLPDGHXPDWDTXHFDUGtDFRQRPXQLFtSLRDUJHQWLQRGH
Mercedes, Corrientes em 6 de dezembro de 1976.
Existem, contudo, suspeitas por parte de familiares, colegas de política e outras personalidades de que João Goulart tenha sido assassinado por agentes da Operação Condor. Não foi realizada autópsia alguma em seu corpo antes de seu sepultamento. Supõe-­se que tenha sido envenenado.
No dia 27 de janeiro de 2008, o jornal Folha de S. Paulo, publicou uma matéria com o depoimento do ex-­agente do serviço de inteligência uruguaio Mario Neira Barreiro, que declarou que João Goulart foi envenenado por ordem de Sérgio Fleury, delegado do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). A autorização teria vindo do presidente da época, Ernesto Geisel (1908-­1996).
Em julho do mesmo ano, uma comissão especial da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul GLYXOJRXXPUHODWyULRD¿UPDQGRTXH³VmRIRUWHVRVLQGtFLRVGHTXH-DQJRIRLDVVDVVLQDGRGHIRUPD
premeditada, com o conhecimento do governo Geisel”.
Em março de 2009, a revista CartaCapital publicou documentos inéditos do Serviço Nacional de ,QIRUPDo}HV61,SURGX]LGRVSRUXPDJHQWHLQ¿OWUDGRQDVSURSULHGDGHVGH-DQJRQR8UXJXDLTXH
reforçam a tese de envenenamento. Posteriormente, na mesma revista, Maria Teresa [esposa de Jango] mostra documentos do governo uruguaio que reforçam suas denúncias do monitoramento a Jango. Os militares uruguaios seguiam RVSDVVRVGH-DQJRVHXVQHJyFLRVHWF1HVWDV¿FKDVGHXPDQRDSyVGRJROSHQR%UDVLOFRP
dados sobre Jango naquele país e tudo mais sobre ele, consta que ele poderia ser vítima de atentado. Em documento requisitado ao Uruguai pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos e pelo Instituto Presidente João Goulart, o Ministério do Interior uruguaio informou que “fontes sérias e responsáveis brasileiras” falavam de um “presumível complô contra o ex-­presidente brasileiro”.
Em maio de 2010, após investigar por dois anos as circunstâncias da morte de Jango, o KLVWRULDGRU/XL]$OEHUWR0RQL]%DQGHLUDD¿UPRXHPHQWUHYLVWDj)ROKDGH63DXORTXHDWHRULDGR
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envenenamento não condiz com a verdade, acusando a família Goulart de endossar a suspeita na tentativa de obter indenizações do governo. A tese sobre o suposto assassinato do ex-­presidente é analisada num apêndice inédito a seu livro O Governo João Goulart. Segundo o historiador, companheiro do ex-­presidente no exílio, as denúncias carecem de provas, e a autópsia do corpo não IRLIHLWDQmRSRUYHWRGDGLWDGXUDPDVSRUGHFLVmRGDIDPtOLD(OHD¿UPDDLQGDQmRWHUG~YLGDVGH
que Goulart morreu de infarto, dado seu histórico de problemas cardíacos e falta de cuidados com a própria saúde.
Problematização
Cabe, inicialmente, ponderar que o agendamento de um fato na esfera pública não é respon-­
sabilidade única da imprensa, embora a imprensa tenha papel preponderante na dinâmica da esfera pública, como observa Barthelemy (1992). O autor chama a atenção para a mesma direção que apon-­
tamos na abordagem de nosso estudo – um cenário mais amplo do que o circuito fato-­cobertura jor-­
nalística, ou seja, um conjunto de atores e interesses que intervêm na construção do acontecimento.
Entretanto, a despeito da possibilidade de que os mais variados atores sociais possam tomar a iniciativa de agendar um fato na pauta dos assuntos correntes, a expectativa, no entanto, é que a imprensa aja como instituição nessa tarefa, não somente tendo a primazia de notiticá-­los como se desempenhando em ser por excelência o dispositivo competente e legítimo para enquadrá-­los. Im-­
prensa e atores sociais se complementam, suprindo um ao outro nas suas limitações, contigencia-­
mentos e contrangimentos. Não se espera que a imprensa trabalhe como boatos. Vale-­se, no entan-­
WRGRVLJLORGDIRQWHHHVWiDEHUWDDGHQ~QFLDVFRQIHVVLRQDLVOLWHUDOPHQWHH[WUDR¿FLDLV4XDQGRD
imprensa, porém, não logra se desempenhar de forma competente na apuração sincrônica dos fatos, principalmente, por força da atuação de redutos de poder (político, econômico, policial etc), os boa-­
tos e mesmo o chamado “imaginário social”se encarrega de uma construção coletiva de sentido para os fatos recalcitrantes à publicidade.
Partimos desse pano de fundo que considera a existência de um complexo de atores sociais que vão além da rotina de produção jornalística mais imediata (fato, pauta, apuração, edição,publicação) e que tais atores e circunstâncias históricas interferem na maior visibilidade ou, no pólo contrário, maior opacidade de um acontecimento.
Desde já tornaremos presente a advertência de que tudo o que iremos referir sobre os três ca-­
sos tem a salvaguarda da suposição. Todas as ações criminosas referentes aos três casos serão trata-­
GDVFRPRVXSRVWDVSRLVQHPPHLRVpFXORIRLVX¿FLHQWHSDUDTXHDOX]GRHVFODUHFLPHQWRYLHVVHDEULU
uma clareira de visibilidade sobre os mesmos. É dedutível que todo autor de um crime irá envolvê-­lo de álibis e artifícios inocentadores, a não ser nas exceções honrosas, quando os autores dos crimes fazem questão de assumi-­los publicamente, a exemplo dos justiceiros e dos lavadores de honras.
Trataremos de entender, por meio das três situações-­problema referidas, o embate que se trava entre forças obscurantistas e iluministas quando um fato de amplo interesse jornalístico ame-­
aça a reputação e a perda de poder de autoridades públicas, capazes de criar constrangimentos para que os seus atos não sejam esclarecidos.
A contribuição teórica pretendida consiste na tentativa de demonstração de que há fatos jor-­
nalísticos que resistem ao esclarecimento quando de sua ocorrência, por interveniência de “atores poderosos”, nessas circunstâncias, saindo vitoriosos sobre duas outras categorias de atores que esta-­
mos levando em conta, os “atores jornalísticos” e os “atores sociais”. Os derrotados, todavia, tendem a encontrar saídas para o espessamento imposto. Os jornalistas e populares acabarão por circular HPPHLRVH[WUDR¿FLDLVDVYHUV}HVQmRDXWRUL]DGDV1DIDOWDGHUHODWRVSUR¿VVLRQDLVURWLQHLUDPHQWH
destinados ao espaço público e à esfera pública, prevalecerão as versões e, como tal, sujeitas a con-­
tornos incontroláveis.
Os atores sociais se encarregarão de fazer um “uso social” das informações e, como é próprio desse tipo de circunstância, produzir um fenômeno próprio do “imaginário”, que é a “transforma-­
ção”, conceito advindo de Vladimir Propp, em suas análises acerca do “conto maravilhoso” e que, por tranposição para as situações-­problema que analisamos equivaleria ao dito de que “quem conta Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. 110
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um conto aumenta um ponto”. Percebe-­se que quanto maiores os valores-­notícia de um fato, maior o esforço dos atores ‘obscurantistas’ envolvidos em manter a opacidade desse fato e maior o desejo dos ‘iluministas’ em ‘esclarecer’ os mesmos.
Contrapomos a permanência da opacidade, nos três casos citados, com situações emblemá-­
ticas do papel “emancipatório” do jornalismo (SILVA, 2008). O jornalismo, pensado desde a pers-­
pectiva de um caráter libertador nos leva a encará-­lo desde o prisma de uma teoria do mesmo como XPDFDWHJRULDVRFLDOHHVSHFL¿FDPHQWHGDGHPRFUDFLD&RPRµFDWHJRULDVRFLDO¶WDOFRPRDDUWHR
IROFORUHRWHDWURDOLWHUDWXUDHWFRMRUQDOLVPRHVWDULDQD¿OHLUDGDVIRUoDVHPDQFLSDWyULDVGHXPD
sociedade e, consequentemente, em permanente embate com as forças da reação. Cada uma, com as suas estratégias, de um lado, a missão ‘esclarecedora’ do jornalismo e os seus métodos e rotinas pro-­
GXWLYDV'HRXWURXPDOHJLmRLQGH¿QLGDGHSHUVRQDJHQVFRQVWDQWHPHQWHLQWHUHVVDGDHPPDQWHURV
seus atos na penumbra, nos subterrâneos e sob a proteção de subterfúgios.
Na disputa entre o encoberto e o a descobrir, entre o não-­esclarecido e o a esclarecer, entre o não-­visível e a tarefa de dar visibilidade, o jornalismo e o jornalista precisam enfrentar a opacidade dos fatos que resistem à visibilidade. Quando dizemos fatos, dizemos atores envolvidos, responsá-­
YHLVSHORVIDWRVRXGHDOJXPDIRUPDEHQH¿FLDGRVSHORQmRHVFODUHFLPHQWRSHORQmRLQJUHVVRGHVVHV
fatos no plano da visibilidade, próprio da esfera pública.
De acordo com Charadeau (2006), o acontecimento é aquilo sobre o que se fala e o que pode ser dito também como aquilo que reclama sentido (MOURA, 2001). Podemos, em consonância, per-­
ceber que os três casos sucintamente descritos neste trabalho, permanecem como fatos que clamam por encontrar a completude do seu sentido. Permanecem como algo sobre o que se fala. Portanto, são acontecimentos, com o particular de prosseguirem clamando sentido, por não estarem satisfei-­
tos com o sentido que lhes foi atribuído até agora. Equiparam-­se aos insepultos, por não estarem de todo mortos. São semimortos ou semivivos, situação precária e incômoda. Não gozam do conforto dos fatos elucidados e, portanto, encaminhados para um reino de paz.
Uma série de estudos, a exemplo de Antunes (2008) têm-­se detido sobre a questão da tem-­
poralidade no discurso jornalístico. Também já realizamos tais estudos do ponto de vista da análise do discurso (MOURA, 2001).
Naquela ocasião, destacamos o encontro do sincrônico (dizer atual e simultâneo) com o dia-­
crônico (dizer já dito em momentos diferentes) como instauradores do espaço do acontecimento. Para aquele movimento de leitura do acontecimento, defendemos a necessidade do arquivo/memó-­
rias, no sentido arqueológico de Michel Foucault (1971). Estudos como o de Isabelle Garcin-­Marrou (1996), que analisou o acontecimento na cobertu-­
UDGRVFRQÀLWRVQD,UODQGDGR1RUWHHRGH-RFHO\QH$UFTXHPERXUJTXHH[DPLQRXDFREHUWX-­
ra do Guerra do Golfo, apontam para o fato de que a composição da compreensão do acontecimento envolve diversas contingências e, também, não ocorre exatamente no momento do surgimento do fato. Também Roselyne Ringoot (2006), com a compreensão de dispersão de vozes no discurso jor-­
nalístico, aponta para um quadro no qual quando falamos em jornalismo teremos que entender que aí (no jornalismo) há algo mais além da voz do jornalista, há uma dispersão de vozes. Estas concep-­
ções, pela similaridade com a presença da opacidade, contribuem para o desenho de um cenário am-­
plo no qual os fatos escapam ao esclarecimento, o que aconteceu, também, nos três casos relatados. Considerações finais
É preciso ainda considerar que descrição sincrônica dos fatos, no exato momento de sua in-­
VXUJrQFLDQmRVLJQL¿FDTXHQmRSRVVDPVHUUHDEHUWRV1mRHVWmRYHGDGRVDUHYLVLWDo}HV2SUREOH-­
ma é com os fatos, digamos, traumatizados por transtornos que se lhes foram interpostos, para que não prosseguissem no seu destino natural da visibilidade. Por outro lado, os olhares diacrônicos, por mais que insistentes em sua demanda por visibilidade, nem sempre têm o poder de remissão do pas-­
sado. Mas, por vezes, é surpreendente como opacidades impostas se revertem em severas exigências de visibilidade e até visibilidade punitiva, como aconteceu aos todo-­poderosos de outrora na Argen-­
tina, agora, na prisão, respondendo pelos seus crimes.
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Acrescemos, a partir dos três casos descritos, que algumas situações particulares, e alguns FDVRVFRPGHWHUPLQDGDVFDUDFWHUtVLWFDVSRGHPWHUDLQGDXPPDLRUTXLoiLQ¿QLWRUHWDUGRHPVXD
compreensão. Ou seja, fatos como os três aqui descritos, que envolvem interesses de atores direta-­
mente favorecidos pela opacidade, pelo não-­esclarecimento, obtém ainda uma maior resistência. É como se mesmo o olhar diacrônico, deslocado no tempo, continuasse contigenciado pela opacidade que se deu no momento do acontecer do fato. Poderíamos até arriscar uma hipótese: quanto mais se reprime um fato em sua demanda por visibilidade, mais permanecerá essa demanda, clamando para chegar ao estuário, como as águas de um rio.
A primeira hipótese de trabalho aqui formulada foi a de que determinados fatos de grande impacto social e correspondente noticiabilidade tão logo acontecem são cercados de constrangimen-­
tos que impedem a sua visibilidade pública, permanecendo espessos à publicidade midiática, por vezes, ao longo de décadas. Para tal discussão, trouxemos os três casos aqui apresentados.
A segunda hipótese foi a de que as lacunas abertas pela falta de esclarecimento dos fatos por parte dos jornalistas são preenchidas pela via das representações sociais, à base da reposição da ver-­
dade factual pela meia-­verdade mítica.
1mRVHWUDWDDTXLGHUHIXWDURXFRQ¿UPDUDVKLSyWHVHVPDVGHWUD]rODVSDUDXPSODQRGH
maior inquietação. E a inquietação que trazemos é a de que estes quadros de opacidade dos aconte-­
cimentos são perturbadores do pleno exercício da função emancipatória do jornalismo. Ocorre que WDLVIRUoDVFRQVHUYDGRUDVHPRSRVLomRjVIRUoDVHPDQFLSDWyULDVDFDEDPSRUVHUXPGHVD¿RFRQWtQXR
à ampliação das visibilidades necessárias na esfera pública. É o enigma da prática e produção jorna-­
lística. É o limite, também do olhar da produção jornalística no enlace sincronia (simultaneidade do relato e do acontecido) e diacronia (não simultaneidade entre o relato e o acontecido). Avizinha-­se, ainda, dessa tensão visibilidade-­opacidade, a interveniência de diversos outros atores, da memória coletiva, que é uma eterna reconstrução. Ainda, na atualidade das mídias eletrô-­
nicas, a presença dos mecanismos abertos, colaborativos, para a produção e construção por múlti-­
plos olhares. Diversos atores sociais conservam tais casos como não esclarecidos no imaginário e os representam nas mídias sociais, a exemplo da Wikipedia, que trouxemos como ilustração. Buscam preencher uma lacuna que o jornalismo não preencheu ao longo do tempo.
Nesse passo, os acontecimentos permanecem na opacidade, permanecem clamando por sen-­
WLGRVDSUHVHQWDPVHFRPRHQLJPDVHGHVD¿DPDXWRSLDHPDQFLSDWyULDGRMRUQDOLVPR0DVMDPDLV
se rendem de todo enquanto houver uma memória dos mesmos.
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GT3 - Economia das empresas de comunicação
Utilisation discursive et réalité de la « convergence » au service d’un repositionnement du médiatique
Arnaud Anciaux
Université de Rennes 1
Resumo «Convergência» é um conceito amplamente utilizado pelos atores de gestão da indústrias da cultu-­
UDHFRPXQLFDomRSDUDMXVWL¿FDUFHUWDVHVWUDWpJLDVUHODFLRQDGDVFRPDHFRQRPLDGLJLWDO(VWHHVWX-­
do aponta a demonstrar como articulado o uso discursivo deste conceito e as mudanças no modelo econômico de um grupo nacional envolvido na mídia e comunicação. Seus interesses depois para as consequências destes movimentos sobre a posição eo papel da mídia e produção jornalística.
/¶DFWLYLWpMRXUQDOLVWLTXHDWRXMRXUVIDLWO¶REMHWG¶XQ¿QDQFHPHQWSDUWLFXOLHU(FRQRPLTXHPHQW
SDUODQWHOOHQHVHPEOHSDVSRXYRLUrWUHXQHDFWLYLWpUpHOOHPHQWDXWRQRPHHWDXWRVXI¿VDQWH6DQV
entrer dans les caractéristiques précises du bien d’information (voir par exemple à ce sujet l’ouvrage de Jean GABSZEWICZ et Nathalie SONNAC (2010, p. 16 et s.)), il est marqué par la quasi-­impossibilité de faire reposer le coût de production aux seuls consommateurs de l’information. Aussi, de nombreux mécanismes de subvention ont été mis en place pour permettre la production de ce bien. En France par exemple, au soutien du Roi a succédé la mise en place par la République d’importantes aides di-­
rectes et indirectes, représentant une part importante des revenus des médias privés. Plus générale-­
ment, le recours aux petites annonces et à la publicité à partir du début du XIXème siècle s’est imposé comme une importante source de revenus, faisant payer aux annonceurs le prix que ne veut – et ne peux – s’acquitter le lecteur. Jean de BONVILLE et Jean CHARRONDSRQWDLQVLLGHQWL¿p
TXDWUHW\SHVG¶LQVWDQFHVGH¿QDQFHPHQWGHODSUDWLTXHMRXUQDOLVWLTXHOHVOHFWHXUVOHVDQQRQFHXUV
les mécènes et les auteurs. La pratique discursive qu’est le journalisme s’est ainsi toujours insérée dans un cadre ou support, le média, dont l’un des objets était de lui trouver les moyens de subvenir à sa production et – si possible – à sa diffusion. &HWWH W\SRORJLH GX ¿QDQFHPHQW GH O¶DFWLYLWp MRXUQDOLVWLTXH SHXW WRXWHIRLV PDQTXHU j FRP-­
prendre l’émergence dans certains lieux organisationnels d’un transfert économique, que nous qua-­
OL¿HURQVSRXUOHPRPHQWGHVXEYHQWLRQ5HFRXYUDQWGDQVXQHFHUWDLQHPHVXUHOHVU{OHVGHVPpFq-­
nes et annonceurs, nous faisons l’hypothèse d’un mécanisme plus ou moins formel de soutien à la production discursive journalistique insérée dans le support médiatique, et qui prend sa source à SUR[LPLWpLQGXVWULHOOHGHFHGHUQLHU$LQVLG¶XQJURXSHGH¿UPHVTXLSHXWPDLQWHQLUHQVRQVHLQXQ
S{OHPpGLDWLTXHSOXVRXPRLQVLQWpUHVVDQW¿QDQFLqUHPHQWSDUODQWHWTX¶LOSHXWPHWWUHDXVHUYLFHGH
O¶HQVHPEOHGHVDFWLYLWpVGXJURXSH3DVWRXWjIDLWDQQRQFHXUFHVRXWLHQRX¿QDQFHPHQWQHSUHQG
SDVQpFHVVDLUHPHQWRXVHXOHPHQWODIRUPHG¶XQpFKDQJHGHÀX[PRQpWDLUHFRQWUHXQHVSDFHGHSUR-­
motion ;; pas tout à fait mécène, ce soutien n’intervenant pas directement en lien avec le rôle ou le contenu du discours journalistique (comme l’Etat qui soutient la circulation de l’information, ou comme un groupe social, politique, religieux – voire industriel dans le cas de l’armement ou de la construction – qui veut soutenir un discours concordant avec ses visions). &HWWHFRPSUpKHQVLRQGX¿QDQFHPHQWGXPpGLDHWSDULQFLGHQFHGHO¶DFWLYLWpGLVFXUVLYHTX¶LO
transmet peut s’appliquer principalement dans le cadre d’une économie de réseaux et plus particu-­
OLqUHPHQWHQOLHQDYHFLQWHUQHW(OOHVHUYLUDjHQYLVDJHUODUHGp¿QLWLRQSRWHQWLHOOHDXVHLQGHFHUWDL-­
nes organisations, du rôle économique et du positionnement assignés aux médias, supports venant GRQQHUXQHDXGLHQFHHWXQ¿QDQFHPHQWDXGLVFRXUVMRXUQDOLVWLTXHGDQVOHGpSORLHPHQWJOREDOGHV
activités des groupes industriels intervenant dans la communication et la culture. Elle peut égale-­
ment permettre de comprendre l’activité discursive exercée par les dirigeants et le cadre managérial Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. 114
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de ces mêmes groupes.
$¿QG¶DQDO\VHUFHVFKDQJHPHQWVQRXVQRXVVRPPHVLQWpUHVVpVjXQJURXSHLQGXVWULHOFDQD-­
dien, intervenant dans le domaine de la culture et de la communication, le groupe Quebecor. Créé autour de l’édition de quotidiens papiers, il s’est développé au sein de la province du Québec, notam-­
ment en construisant un pôle important d’imprimeries commerciales jusqu’au tournant des années 1RWUHUHJDUGV¶HVWSRUWpVXUOHVFRPPXQLFDWLRQVRI¿FLHOOHVGXJURXSHHWSOXVSUpFLVpPHQWVXU
les Rapports annuels couvrant les exercices de 1998 à 2009. Nous visions par ce moyen deux ob-­
jectifs simultanés. En premier lieu, il s’agit de comprendre l’utilisation de la thématique discursive du changement et plus précisément de la « convergence ». Cette notion, on ne saurait plus polysé-­
mique, fut largement utilisée par de nombreux acteurs (GEORGE, 2010). Nous nous concentrerons ici VXUVRQUHFRXUVSDUODGLUHFWLRQPDQDJpULDOHGXJURXSHGDQVVRQDFFHSWLRQpFRQRPLTXHD¿QGHYRLU
FRPPHQWHOOHHVWFRQYRTXpHSRXUMXVWL¿HUGHVVWUDWpJLHVGHIXVLRQVDFTXLVLWLRQVSXLVSRXUDFFRP-­
pagner leur évolution au sein du groupe industriel. En second lieu, nous chercherons à comprendre les positionnements changeants du journalisme et du médiatique (ce dernier pouvant alors trouver son sens d’intermédiation entre deux instances, par exemple entre le journalisme et le public, mais potentiellement aussi entre le public et certains intérêts économiques), observés par une partie de la littérature, au travers de l’évolution du modèle d’affaires global du groupe Quebecor, se transfor-­
mant parallèlement à l’utilisation discursive de la « convergence ».
La crise et la « convergence »
Le groupe Quebecor ici à l’étude est intervenu traditionnellement dans la presse écrite sur le territoire québécois. Dans les années 90, il est déjà constitué comme un groupe industriel impor-­
tant, avec de nombreuses publications en son sein, et surtout un pôle d’imprimerie très fort (qui au gré de différents achats et fusions-­acquisitions deviendra l’un, si ce n’est le plus important au mon-­
de en termes de chiffre d’affaires, à l’aube des années 2000). Des processus à l’œuvre dans le groupe VRQWDORUVLGHQWL¿pVFRPPHSURFpGDQWG¶XQHFRQYHUJHQFH$LQVL0DUF)UDQoRLVBERNIER (2008, p. 50) LGHQWL¿HDXVHLQGHVGHX[SXEOLFDWLRQVSKDUHVGXJURXSHODSUpVHQFHGDQVO¶XQHLe Journal de QuébecG¶XQHSDUWVLJQL¿FDWLYHGHFRQWHQXVSURGXLWVSDUO¶DXWUHLe Journal de Montréal), qui ira d’ailleurs croissante dans les années suivantes. La « convergence » s’établit dans ce cadre comme un corolaire – négatif, en termes de diversité des contenus, de sentiment d’indépendance éditoriale chez les travailleurs, etc. – des phénomènes de concentration.
$¿QGHGpYHORSSHUFHWWHFRPSUpKHQVLRQQRXVHVVD\RQVGHFRPSUHQGUHFRPPHQWFHWWHQR-­
tion est utilisée dans le champ discursif économique et managérial. Ce « thème de la convergence » se retrouve dès le tournant des années 70-­80 et appelle tout d’abord le rapprochement de la té-­
OpFRPPXQLFDWLRQHWGHO¶LQIRUPDWLTXHSXLVDYHFODWpOpYLVLRQHWODFkEORGLVWULEXWLRQHWHQ¿QDYHFOD
majorité des industries de la culture parmi lesquelles la presse (BOUQUILLION, 2008, p. 151). Jean-­Guy LACROIX et Gaétan TREMBLAY (1994, p. 242) estimaient déjà qu’il constitue pour un « grand projet » en « réponse à la crise structurelle » issue des années 70.
Le cas du groupe Quebecor est particulier dans cette perspective, rejoignant plus l’idéal porté GDQVOHVGLVFRXUVTXHODVHXOHUHFKHUFKHG¶DYDQWDJHV¿QDQFLHUVWHPSRUDLUHV&RPPHQRXVOHYHUURQV
plus loin, il s’agit véritablement d’une volonté mise en œuvre « GHFUpHUGHYpULWDEOHV¿OLqUHVLQWp-­
grées capables de maintenir une certaine cohérence industrielle et de contrôler à la fois l’amont et l’aval de la production de biens informationnels et culturels » (CARBASSE, 2010, p. 587). Ainsi, avant le développement de l’économie numérique, Quebecor avait déjà recherché une intégration vertica-­
le de la production de papier, de l’encre, l’impression des supports jusqu’aux activités d’édition et diffusion de journaux. A la suite de cette stratégie, le recours annoncé à la « convergence » dans les discours du groupe vise plusieurs transformations, qui sont autant de changements possibles pour le travail journalistique ou son rôle.
Sur la période couverte par notre analyse, l’idée énoncée en tant que telle de « convergence » n’apparaît qu’à partir de l’exercice 2000. Les fusions-­acquisitions et l’intervention du numérique ne sont pourtant pas absentes auparavant, avec notamment l’intégration importante de Sun Media Corporation en 1999, faisant entrer le groupe Quebecor sur le marché de la presse anglophone de Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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plusieurs provinces canadiennes, ainsi que de World Color Press Inc. (secteur de l’imprimerie) la même année. Ce même exercice permet d’illustrer a contrario la non-­neutralité du recours discursif à la « convergence ». Ainsi le rapport annuel donne des explications assez précises sur la stratégie du groupe dans le cadre des marchés numériques, posant l’idée de synergies fortes entre les différents pôles d’activités. Le processus est ainsi décrit sans être nommé :
La stratégie d’action de Quebecor Nouveaux Médias repose sur l’utilisation de l’expertise dé-­
veloppée par Quebecor dans les médias imprimés. Nos deux portails Internet, CANOE et son pen-­
dant francophone Canoë, visent à prolonger, sur les nouveaux supports de communication électro-­
QLTXHODSUROL¿TXHVRXUFHG¶LQIRUPDWLRQTXHUHQIHUPH&RUSRUDWLRQ6XQ0HGLDDYHFVRQUpVHDXGH
grands quotidiens et ses très nombreux journaux locaux et régionaux. Les publications du secteur Magazines occupent également un emplacement de choix dans nos portails. C’est notamment le cas de la section « Art de vivre » de Canoë, qui vise la clientèle féminine et qui puise abondamment son information dans les magazines de Publicor, une division de Communications Quebecor. Quebecor Nouveaux Médias peut donc compter sur les actifs de Quebecor dans l’imprimé pour développer ses assises dans le secteur des nouveaux médias. Il s’agit d’un puissant avantage concurrentiel que pos-­
sèdent peu de portails d’envergure au Canada.
[…] La stratégie de Quebecor à cet égard consiste à offrir des contenus et des services de qualité (ensemble A) par le truchement des actifs de Sun Media. Nous sommes désormais en mesure d’acheminer ce contenu vers une clientèle la plus segmentée possible selon des critères FRPPHOHOLHXGHUpVLGHQFHOHSUR¿OVRFLRpFRQRPLTXHOHVFHQWUHVG¶LQWpUrWHWFHQVHPEOH%
Cette information est très précieuse pour les annonceurs et détaillants, car elle permet de proposer des publicités, des produits et des services beaucoup plus susceptibles de capter l’intérêt des consommateurs (ensemble C). C’est à la jonction des trois ensembles que se trouvent ce que tous les annonceurs et détaillants recherchent : des clients qui désirent consommer !
(QUEBECOR INC., 2000, p. 7 et s.)
L’utilisation de la « convergence » pour désigner processus et stratégie du groupe apparaît à compter de l’exercice 2000, qui constitue une année charnière pour l’organisation et ses activités. Le JURXSHHVWDORUVVpSDUpHQGHX[¿OLDOHVS{OHVG¶DFWLYLWpV4XHEHFRU:RUOGUHJURXSDQWOHVDFWLYLWpV
d’imprimerie avec la revente de Donohue, société spécialisée dans l’exploitation forestière et la pro-­
duction de papier) et Quebecor Media (qui regroupe l’édition de journaux – Corporation Sun Media –, l’édition et la distribution de musique, livre et de divertissement – Archambault Inc. et Publicor principalement –, des activités de communication et de publication en ligne à destination des entre-­
SULVHV±1XUXQ±O¶pGLWLRQGHVLWHVLQWHUQHW±&DQRHHW1HWJUDSKH,QF±HWHQ¿QODFkEORGLVWULEXWLRQ
et la télédiffusion – Vidéotron Ltée et Groupe TVA Inc.). Les deux derniers sont des acquisitions de OD¿QGHO¶H[HUFLFHHWTXLPDUTXHQWOHGpEXWGXUHFRXUVDXWKqPHGLVFXUVLIGHOD©FRQYHUJHQ-­
FHª±SDUDLOOHXUVDVVRFLpGqVORUVjODSHUVRQQDOLWpGXGLULJHDQWDI¿UPpGXJURXSH3LHUUH.DUOPÉ-­
LADEAU.
La « convergence » est alors présentée sous plusieurs traits. Elle apparaît comme une néces-­
sité dépassant la seule situation du groupe, faisant des processus et choix stratégiques une obliga-­
tion pour le groupe. Vidéotron possède l’infrastructure technologique dont nous avions besoin pour compléter notre intégration et permettre à Quebecor de se positionner favorablement dans le mouvement de convergence des médias à l’échelle mondiale.
[…] L’univers des médias est marqué par la création de groupes puissants aux États-­Unis et en Europe. À moyen et à long termes, un producteur de contenus ne contrôlant pas la distribution de ses produits risque d’être marginalisé face à des géants beaucoup mieux intégrés.
>/H@Gp¿UpVLGHGDQVODFRQTXrWHG¶XQHGLPHQVLRQLQWHUQDWLRQDOHGDQVXQHpFRQRPLH,QWHUQHW
que nous savons sans frontières. Notre performance historique à ce chapitre est assez éloquente, QRWDPPHQWGDQVOHVHFWHXUGHO¶LPSULPHULHFRPPHUFLDOHRQRXVDYRQVEkWLHQXQHGpFHQQLHOH
premier joueur mondial de son industrie, Quebecor World.
(QUEBECOR INC., 2001, p. 8 et 9)
Par ailleurs, l’apparition de ce thème au cours de cette année repose principalement sur la question des réseaux et de l’accès à internet, de la synergie attendue entre les activités de câblodis-­
tribution nouvellement acquises et la production de contenus, dans la presse et la télévision :
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Tous les projets de convergence qui ont vu le jour dans l’univers des télécoms ou des médias au cours des dernières années ont un point en commun : jumeler le contenu à l’accès. L’acquisition de Vidéotron par Quebecor s’inscrit dans cette tendance. Le principal attrait de la convergence pour une compagnie comme Quebecor réside dans la possibilité d’offrir à nos clients des stratégies publicitaires sur une vaste déclinaison de supports de communication.
[…] La convergence des médias doit prouver qu’elle peut générer de la valeur pour les clients HWOHVDFWLRQQDLUHVGH4XHEHFRU/HSUHPLHUGp¿FRQVLVWHjSDUYHQLUjIDLUHWUDYDLOOHUHQVHPEOHGHV
entités différentes telles que des producteurs de contenus d’information et un fournisseur d’accès Internet. À cet égard, Quebecor s’emploie depuis plusieurs années à maximiser le potentiel de synergie à l’intérieur de ses diverses entreprises et connaît, dans ce processus, sa juste part de succès.
(QUEBECOR INC., 2001, p. 8 et 9)
Le groupe se situe alors dans la droite ligne des fusions-­acquisitions (par exemple le rap-­
prochement d’AOL et Time Warner) ayant lieu au tournant des années 2000, avant l’éclatement de la bulle internet, et rejoint les observations faites par Philippe BOUQUILLION (2008). Néanmoins, O¶pFODWHPHQWGHODEXOOHLQWHUQHWDDXVVLHQWUDvQpXQUHFXODVVH]IRUWGHFHWWHYRORQWpDI¿FKpHGHVH
lancer dans la « convergence » chez les acteurs des industries de la culture et de la communication, et le groupe Quebecor n’y échappe pas. L’idée mise en avant est alors de favoriser certaines restruc-­
turations internes, et de limiter les pertes et dépenses.
Depuis le début de 2000, entraînées par l’exaltation de la bulle techno, [les entreprises actives sur internet] avaient subi des pertes élevées, ce que Quebecor ne pouvait tolérer plus longtemps. L’accent a donc été mis sur la rentabilité, sans discriminer entre ces nouveaux secteurs en phase d’expérimentation et les autres propriétés médias plus traditionnelles de Quebecor. Nous avons rétabli le credo de Quebecor en vertu duquel chaque entreprise doit être rentable ou disparaître. Et les résultats n’ont pas tardé à se manifester.
>«@/jRWDQWGHFRQFXUUHQWVRQWGLVSDUX1XUXQHW1HWJUDSKHGHPHXUHQWHQERQQHVDQWp
¿QDQFLqUHHWHQH[FHOOHQWHSRVLWLRQSRXUEpQp¿FLHUGHODFRQVROLGDWLRQGHO¶pFRQRPLH,QWHUQHW
Ces entreprises seront appelées à contribuer de façon encore plus constructive à la croissance et à la rentabilité de Quebecor Média dans le futur, ainsi qu’aux effets de synergie et aux offres commerciales croisées.
(QUEBECOR INC., 2003, p. 8)
Aussi, le thème de la « convergence » sera peu à peu transformé dans le discours du grou-­
SHSDVVDQWG¶XQHMXVWL¿FDWLRQG¶DFTXLVLWLRQjODSUHXYHG¶XQHUHQWDELOLWpGHVVWUDWpJLHVSDUODSUp-­
sentation de nombreux exemples « concrets » renvoyant la présentation de l’activité et du rapport G¶H[SORLWDWLRQjODSDUWLH¿QDQFLqUH4XHEHFRU,QFHWODMXVWL¿FDWLRQGHSURFHVVXVGHUDWLR-­
nalisation de la production et des rapports entres les différentes activités.
Chez Quebecor, la convergence est une stratégie créative qui met à contribution nos différentes FRPSRVDQWHVSRXUDWWHLQGUHDYHFOHSOXVG¶HI¿FDFLWpSRVVLEOHOHVREMHFWLIVGHQRVFOLHQWVJUkFHjOD
IRUFHG¶LPSDFWGHFKDFXQHGHQRV¿OLDOHV(OOHUpVXOWHGXWUDYDLOHQFROOpJLDOLWpGHQRVHQWUHSULVHV
qui multiplient les sources de synergies et de promotions croiséesD¿QG¶REWHQLUOHPD[LPXPGH
visibilité pour notre clientèle.
[…] La convergence chez Quebecor n’est donc plus simplement un concept prometteur. C’est maintenant une réalité, en constante évolution, qui génère d’importantes retombées commercialesSRXUOHVFOLHQWVTXLRQWOD¿QHVVHHWO¶DXGDFHGHV¶HQSUpYDORLU
(QUEBECOR INC., 2002, p. 9)1
Le groupe utilisera également fortement cette notion pour expliquer la stratégie déployée autour de l’émission télévisée Star Académie considérée comme une « une preuve irréfutable de O¶HI¿FDFLWpGHODFRQYHUJHQFH » (QUEBECOR INCS(OOH¿WO¶REMHWGHQRPEUHXVHVSURPRWLRQV
sur les différents supports du groupe (DEMERS, 2006), et connut de nombreuses recettes dues aux YHQWHVGH'9'OLYUHVHW&'SDUO¶HQWUHPLVHGHVGLIIpUHQWHV¿OLqUHVGXJURXSH/DQRWLRQGLVFXUVLYH
HVWDLQVLELHQSDVVpHGHYLVpHH[WHUQHG¶DFTXLVLWLRQVjODGpPRQVWUDWLRQG¶XQHHI¿FDFLWpHWUDWLRQDOL-­
sation des activités internes au groupe.
1 Les passages soulignés sont le fait du rapport
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/¶XWLOLVDWLRQGHFHWKqPHGDQVOHVFRPPXQLFDWLRQVRI¿FLHOOHVpWXGLpHVFRQQDvWGDQVODVHFRQ-­
de partie des années 2000 un relatif recul. Annoncée et promue, la « convergence » ne remplit plus son rôle discursif favorisant le développement de l’envergure du groupe. Cela rejoint également les GLI¿FXOWpVG¶HQGHWWHPHQWTXHFHGHUQLHUWUDYHUVHFRQGXLVDQWHQWUHDXWUHVjODVpSDUDWLRQG¶DYHFOH
pôle Quebecor World placé sous les régimes légaux de protection des créanciers en Amérique du Nord.
Néanmoins, la « convergence » n’est pas qu’un épisode temporaire, un essai stratégique au tournant du millénaire. Nous avons vu qu’elle était revêtue d’une utilité particulière par la direction PDQDJpULDOHHW¿QDQFLqUHGXJURXSHSHQGDQWXQWHPSVGRQQp&HSHQGDQWOHVFKRL[HIIHFWXpVRQW
PRGL¿pSURIRQGpPHQWODUpSDUWLWLRQGHVU{OHVHWLQWpUrWVDXWRXUGXPpGLDWLTXHGDQVOHJURXSHIRXU-­
nissant un exemple – à l’échelle de Quebecor – des recompositions touchant les médias et la fonc-­
tion journalistique. Le déplacement du médiatique
/¶DQDO\VHGHVGRFXPHQWV¿QDQFLHUVGXJURXSH4XHEHFRUQHSHUPHWSDVVHXOHPHQWGHIDLUH
DSSDUDvWUHO¶XWLOLVDWLRQGLVFXUVLYHÀXFWXDQWHGHOD©FRQYHUJHQFH ªPDLVPHW pJDOHPHQW HQDYDQW
dans une certaine mesure sa réalité économique. Le modèle économique du groupe a ainsi été pro-­
fondément transformé, et avec lui, le rôle de l’information et du journalisme. En effet, sans donner un poids trop important au numérique ou verser dans une vision déterministe et techniciste, le poi-­
ds des activités liées aux réseaux va grandissant dans le groupe Quebecor et impose à l’ensemble des S{OHVXQHUHGp¿QLWLRQGHOHXUVU{OHVUHVSHFWLIV
Figure 1 Chiffre d’Affaires sectoriel de Quebecor Inc.2
A cet égard, il convient de rappeler que l’édition médiatique est dans le cas à l’étude une ac-­
tivité depuis longtemps moins importante sur le plan économique que le pôle d’impression qui s’est FRQVROLGpMXVTX¶DXFRXUVGHVDQQpHV6RXUFH¿QDQFLqUHLPSRUWDQWHSRXUO¶HQVHPEOHGXJURXSH
il a été remplacé en cela par les activités de télécommunication réalisées par Vidéotron.
Le modèle d’affaires qui sous-­tend la construction économique du groupe est profondément changé au cours de la décennie des années 2000. Il s’agit du passage d’un modèle média/impression FRQWU{OHGHOD¿OLqUHPpGLDWLTXHjXQPRGqOHLQWHUQHWPpGLDFRQWU{OHGHV¿OLqUHVGHVUpVHDX[±
internet et téléphonie). Les rapports au sein du groupe entre les différentes activités ne sont pas les 2 Les regroupements catégoriels ne sont pas directement ceux proposés au travers des différentes publications du groupe Quebecor, ceux-­ci pWDQWODUJHPHQWFKDQJHDQWVDX¿OGHVDQQpHVLOVFRUUHVSRQGHQWQpDQPRLQVDXGpWDLOGHVDFWLYLWpVTXLOHVFRPSRVH
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mêmes.
'DQVOHSUHPLHUPRGqOHO¶DFWLYLWpPpGLDWLTXHFRUUHVSRQGjO¶DYDOGHOD¿OLqUHWHOOHTXHJpUpH
par le groupe industriel. Elle est appuyée par les revenus tirés de l’amont (exploitation forestière, fa-­
EULFDWLRQGHSDSLHULPSUHVVLRQFRPPHHQWpPRLJQHQWOHVUHWUDLWHPHQWVGHPRXYHPHQWV¿QDQFLHUV
internes au groupe (c’est-­à-­dire le recours aux imprimeries du groupe pour fabriquer les supports édités, journaux, magazines, etcSDUOHS{OHPpGLD1pDQPRLQVFHVÀX[LQWHUQHVVRQWIRQGpVHQ
grande partie sur la vente de biens et services, certes à l’interne du groupe, mais sans que les activi-­
tés ne puissent trouver de véritables effets de résonnance particuliers entre elles. Une hausse du ti-­
rage des journaux en aval ne fait simplement qu’augmenter les lignes de commandes pour l’amont, comme le feraient tous les autres clients du pôle impression -­ papier. ,Q¿QH, si le groupe peut béné-­
¿FLHUGHFHUWDLQHVpFRQRPLHVSDUO¶LQWpJUDWLRQYHUWLFDOHSURGXFWLRQpGLWLRQPpGLDWLTXHFHVS{OHV
conservent une certaine autonomie. Il en va différemment dans le nouveau modèle économique du groupe.
Figure 2 Répartition sectorielle du Chiffre d’Affaires (hors activité d’impression et production de papier) de Quebecor Inc. – Les activités internet et portails web sont intégrées à compter de l’exercice 2008 dans le pôle journaux formant un ensemble « Médias d’information » (QUEBECOR INC., 2009)
Le poids des activités de communication va grandissant dans le groupe et ses revenus, à comp-­
WHUGHHWGHO¶DFTXLVLWLRQGH9LGpRWURQMXVTX¶jHQUHSUpVHQWHUODPRLWLpjOD¿QGHODGpFHQQLH
Les activités d’édition de journaux sont quant à elles dans un recul certain, compensé seulement par l’acquisition de nouveaux groupes à l’extérieur (comme Osprey Media en 2008) ou l’augmentation de l’offre (lancement journaux gratuits urbains +RXUV/ +HXUHV) et l’intégration des revenus ti-­
rés des portails et sites web. Cet écart est encore plus important lorsque l’on s’intéresse non plus aux revenus, mais aux résultats tirés de l’exploitation de chacun des secteurs d’activités.
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FigXUH5pSDUWLWLRQVHFWRULHOOHGXEpQp¿FHG¶H[SORLWDWLRQDYDQWLQWpJUDWLRQGHVpOpPHQWVQRQUpFXUUHQWVGH4XHEHFor ,QF±/HVHVSDFHVYLGHVVRQWFDXVpVSDUOHVGp¿FLWVWHPSRUDLUHVGHVDFWLYLWpV,QWHUQHWHW7pOpGLIIX-­
sion
'DQVFHVHFRQGPRGqOHG¶DIIDLUHVO¶DFWLYLWpPpGLDWLTXHFRUUHVSRQGjO¶DPRQWGHOD¿OLqUHWHOOH
que gérée par le groupe industriel. L’essentiel des revenus provient des activités de diffusion et dis-­
tribution exercées par Quebecor, à savoir la fourniture d’accès à internet, à la télévision par câble, HWjODWpOpSKRQLH&HVGHUQLqUHVVRQWFRQVWLWXWLYHVHWEpQp¿FLHQWG¶HIIHWVGHUpVHDX[LPSRUWDQWVTXL
touchent l’activité médiatique. Le déploiement des offres médiatiques sur internet, et donc du contenu journalistique, s’est par exemple faite de manière gratuite pour l’ensemble des produits édités par le groupe. Il est tou-­
MRXUVVXEYHQWLRQQpSDUOHVDQQRQFHXUVFRPPHGDQVOHPRGqOHKDELWXHOGHVPpGLDV¿QDQFpVSDUOD
publicité. Mais plusieurs particularités entrent en jeu du fait des rapports entre activités du groupe, HWPRGL¿HQWSURIRQGpPHQWOHU{OHGXPpGLDWLTXH(WDQWGRQQpO¶pFDUWGHUHQWDELOLWpHQWUHOHVS{OHV
(voir ci-­dessous, Figure 4), il devient nécessaire d’entretenir celle des activités de communication. Olivier BOMSEL (2007, p. 8) souligne que certaines offres au sein des groupes participent à favoriser OHVEpQp¿FHVGHFHUWDLQHVDFWLYLWpVRXSURGXLWVHQOHXUVHLQ©Ces transferts et subventions ne sont jamais neutres. Ils induisent des signaux de prix qui orientent les investissements en priorité vers FHUWDLQVXVDJHV,OVUHQIRUFHQWGHVJURXSHVGH¿UPHVDXGpWULPHQWGHFHUWDLQVDXWUHV ». Ainsi du recours à la promotion croisée, comme dans le « cas » Star Académie. A ceci près qu’il ne s’agit plus désormais d’améliorer seulement l’audience d’un programme ou les ventes de biens dérivés, mais de pousser les consommateurs potentiels vers une offre payante, à savoir les offres d’accès au rése-­
au proposées par Vidéotron. On retrouve l’idée posée par Olivier BOMSEL dans son analyse des phé-­
nomènes de transferts entre offres gratuites et services payants :
La recherche d’effets de réseau inverse le rapport des coûts et des prix car l’accroissement d’utilité élève la valeur des biens indépendamment de leurs coûts unitaires, lesquels peuvent, par ailleurs, baisser avec les quantités. Le gratuit va donc apparaître non pas comme un effet de l’abolition des coûts, mais comme l’outil indispensable d’initiation et d’appropriation de ces dynamiques d’utilité – les effets de réseau – dans la concurrence entre industries de biens et services complémentaires. On FRQFHYUDDORUVTXHOHVEpQp¿FLDLUHVGXJUDWXLWQHVRQWSDVWDQWOHVFRQVRPPDWHXUVTXLO¶DFFHSWHQW
TXHOHV¿UPHVTXLJUkFHjOXLFDSWXUHQWGHQRXYHDX[PDUFKpV
(BOMSEL, 2007, p. 29)
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Figure 4 Marge d’exploitation sectorielle de Quebecor Inc.
De cette répartition découle un nouveau rôle assigné pour l’activité médiatique. Sa rentabilité est relativement limitée, et n’est soutenue ces dernières années qu’à raison d’opérations de rationa-­
lisation de la production (création d’une centralisation de l’information avec l’agence QMI, mise à pied d’un grand nombre de travailleurs du Journal de Montréal). Aussi, les objectifs économiques vont dans le sens d’une accélération du passage vers le journalisme de communication et surtout l’accentuation de sa fonction phatique (BONVILLE & CHARRON, 2004b). Il s’agit de plus en plus de favo-­
riser le maintien des consommateurs dans un univers le plus clos possible, et dans lequel le médiati-­
que sert à conserver une position avantageuse pour promouvoir les offres payantes du groupe, dont OHVEpQp¿FHVLPSRUWDQWVVHUYHQWHQVXLWHjPDLQWHQLUO¶DFWLYLWpGHO¶HQVHPEOHGHVS{OHVGXJURXSH
,Q¿QH s’impose une offre la plus étendue possible de production journalistique la moins coûteuse. Dans un deuxième temps néanmoins, c’est bien le consommateur des offres payantes les plus renta-­
EOHVTXLYLHQW¿QDQFHUO¶HQVHPEOHDSUqVDYRLUpWpDWWUDLWSDUOHPpGLDWLTXH
Dans le cas particulier du groupe Quebecor, l’activité médiatique connaît des transformations importantes. A la suite de discours managériaux nombreux sur le thème de la « convergence », sa SODFH GDQV O¶HQVHPEOH LQGXVWULHO D pWp SURIRQGpPHQW PRGL¿pH SRXU GHYHQLU XQ RXWLO YLVDQW j DF-­
croître la rentabilité du groupe et du pôle de communication en son sein. Les conséquences de ces changements sur les pratiques professionnelles des journalistes et les contenus discursifs produits SDUFHVGHUQLHUVVRQWHQFRUHGLI¿FLOHVjDQDO\VHURXRQWXQHSRUWpHHQFRUHLQFHUWDLQH,OVHPEOHHQ
revanche bien que l’évolution économique et industrielle ait déjà pris le pas de favoriser un reposi-­
WLRQQHPHQWGXPpGLDWLTXHHWGHVRQU{OHDXSUR¿WGHVDFWLYLWpVGHFRPPXQLFDWLRQHWGHUpVHDX[SOXV
rentables. Le paysage québécois, à l’instar de nombreux espaces médiatiques occidentaux, connaît ces dernières décennies des changements importants dans les pratiques professionnelles et organisa-­
tions, dans les contenus et, plus encore, dans les discours. Nombreux sont les constats plus ou moins REMHFWLIVG¶XQHFULVHWUDYHUVDQWOHMRXUQDOLVPHHWOHVPpGLDVDERXWLVVDQWSDUIRLVVXUGHVUpÀH[LRQV
HVFKDWRORJLTXHVFRQVWDWDQWGHVGLI¿FXOWpVjpYROXHUGDQVXQHQYLURQQHPHQWQXPpULTXHFOGEL & PATINO, 2005), et remettant en question les rôles mêmes de la presse (POULET, 2009), de la télévision (MISSIKA, 2006), ou à l’inverse célébrant une révolution salutaire pour les citoyens (ROSNAY, 2006).
Au-­delà de ces interpellations, il demeure que le journalisme semble bien connaître des évolutions, liées notamment à l’intervention de la technologie numérique, mais aussi de certains changements économiques extrinsèques à l’activité médiatique proprement dite. Dans ce cadre, nous estimons que les transformations qui peuvent être observées possèdent une réalité importante et structurelle. Loin de n’être que des phénomènes localisés dans le temps ou l’espace, elles sont liées – entre autres Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. 121
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– à des transformations de l’environnement socio-­économique entourant la fonction journalistique et le médiatique, à la fois dans la société, auprès des publics, mais aussi au sein des organisations de production, édition ou diffusion de l’information. Aussi, nous pensons pouvoir comprendre ces transformations non pas comme un bouleversement structurel du journalisme en soi mais comme ODUpSRQVHjGHVFKDQJHPHQWVH[WpULHXUVLQÀXDQWVXUOHVYDULDEOHVGHVPRGqOHVpFRQRPLTXHVHWOHV
contenus proposés par les positionnements médiatiques.
Il nous semble impossible et bien imprudent de conclure ou prédire une potentielle dispari-­
tion du journalisme ou du médiatique comme le font certains acteurs. Il s’agit bien ici d’en voir les changements et déplacements au sein des structures économiques qui les entourent, qui semblent, eux, plus certains et d’ors et déjà bien visibles, au moins dans le cas Quebecor objet de cette étude.
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GT3 - Economia das empresas de comunicação
Hibridações entre o jornalismo e a publicidade
Na região central mexicana
Salvador De León Vázquez
Universidad Autónoma de Aguascalientes
Resumo
$SDUWLUGHGDGRVREWLGRVSRUPHLRGDLQYHVWLJDomRHPStULFDID]VHXPDUHÀH[mRVREUHDVWUDQVIRU-­
PDo}HVGRMRUQDOLVPRSROtWLFRQDUHJLmRFHQWUDOPH[LFDQDHVSHFL¿FDPHQWHQDFLGDGHGH$JXDVFD-­
OLHQWHV2LQYHVWLPHQWRR¿FLDOQRTXHGL]UHVSHLWRjGLIXVmRIHLWDSHORVJRYHUQRVGDDOWHUQDQFLDSDU-­
tidaria local marca uma clara transformação na relação entre o jornalismo e o poder político, em comparação àquela que vem sendo praticada durante a maior parte do século XX, quando um único SDUWLGRGRPLQRXWRGRVRVQtYHLVGRSRGHUSROtWLFR7DOWUDQVIRUPDomRWHPLQWHQVL¿FDGRDSUHQVHQoD
governamental através das publireportagens. Isso se apresenta num contexto de transição política no qual os mecanismos democráticos se demonstram frágeis, ao mesmo tempo em que os discursos próprios do mercado são reforçados. Os dados mostram a vunerabilidade das fontes em que os ci-­
dadãos se informam dos fatos, neste caso, as notícias de orientação política, publicadas pelos meios de comunicação.
Introducción
La alternancia partidista en el poder político en México, apenas ha comenzado en la última década del siglo XX. El Partido Revolucionario Institucional (PRI) que ejerció una dictadura de par-­
tido por 70 años en mi país, comenzó a ser derrotado en las municipalidades y estados de la repúbli-­
ca, antes de perder la presidencia en el año 2000 con la candidatura de Vicente Fox por el Partido Acción Nacional (PAN), con orientación de democracia cristiana.
Esta situación es sintómatica de la transición que está viviendo México. Representa el aspec-­
to más visible de cambios políticos, económicos y sociales, tales como el empoderamiento de la so-­
ciedad civil organizada, la concurrencia de fuerzas políticas más equilibradas como un aspecto rela-­
FLRQDGRFRQODGHPRFUDFLDOLEHUDOODLQÀXHQFLDGHODJOREDOL]DFLyQHFRQyPLFDODH[DFHUEDFLyQGHOD
violencia que muestra la falta de gobernabilidad, entre otras cosas.
La sociedad mexicana está en transición y, obviamente, su periodismo. Dos rasgos funda-­
PHQWDOHVSXHGHQLGHQWL¿FDUVHHQ0p[LFRDHVHUHVSHFWRHOSULPHURHVODFRQFXUUHQFLDGHIXHU]DVSR-­
líticas que motivan la comercialización del espacio periodístico con el objetivo de mantener el poder o ganarlo. El segundo consiste en las agresiones que los periodistas sufren, convirtiendo a mi país en el más peligroso para ejercer esa profesión según las organizaciones Reporteros sin Fronteras y Federación Latinoamericana de Periodistas.
En este texto, abordo el primero de esos rasgos.
Problema de investigación
El periodismo es un espacio estratégico para colocar algunas preguntas sobre el conjunto de ODFRPXQLFDFLyQS~EOLFD\DTXHFRQWULEX\HDFRQ¿JXUDUHOHVFHQDULRGHORS~EOLFRPHGLDQWHODYLVL-­
bilización de ciertos temas y actores y el ocultamiento de otros.
La investigación en la que se fundamenta este trabajo está desarrollada a partir de la si-­
JXLHQWHSUHJXQWD¢&yPRVHPDQL¿HVWDQORVFDPELRVSURYRFDGRVSRUHOSURFHVRGHGHPRFUDWL]DFLyQ
\DSHUWXUDFRPHUFLDOHQHOiPELWRGHODFRQ¿JXUDFLyQGHODFRPXQLFDFLyQS~EOLFDHQ$JXDVFDOLHQWHV
México?
El diseño metodológico se basa en entrevistas en profundidad y observación participante. Se Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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enfocaron las relaciones entre cuatro tipos de actores: los periodistas, los empresarios de los medios de comunicación, los gobernantes y los responsables de la comunicación institucional de las instan-­
cias políticas. Los signos del cambio
Durante casi todo el siglo XX el periodismo mexicano tuvo un comportamiento que ha sido considerado de “subordinación” respecto al poder político. Los medios mexicanos, principalmente la televisión, fueron sometidos por el gobierno a partir de efectivos mecanismos de control en los SODQRVOHJDOHFRQyPLFR\GLVFUHFLRQDO&DUUHxRJHQHUiQGRVHXQSHULRGLVPRR¿FLDOLVWDHV
decir, “pasivo y autocensurado, con la mayoría de la cobertura política basada en comunicados de SUHQVDR¿FLDOHV´+DOOLQS
Para los medios impresos el Estado se reservó el derecho de señalar los términos del conteni-­
do periodístico al boletinar las notas diarias desde todas las instancias estatales. La distribución ex-­
clusiva del papel periódico, según el acuerdo emitido en 1935 por Lázaro Cárdenas, generó una de-­
pendencia del Estado para publicar diarios que perduró hasta la década de 1990 (Fernández, 1993). Paralelamente, se desarrolló una política de subvención de publicaciones a través del presupuesto JXEHUQDPHQWDOPHGLDQWHODFRQWUDWDFLyQGHHVSDFLRVHQORVPHGLRVSDUDSXEOLFDULQIRUPDFLyQR¿FLDO
relevante, tanto en forma de anuncios, como de noticias (Bohmann, 1994).
Respecto a radio y televisión, el mandato constitucional coloca al Estado como el administra-­
dor del espacio radioeléctrico con facultades para otorgar permisos y concesiones para operar fre-­
cuencias de transmisión. La opacidad y discrecionalidad en su otorgamiento fue un mecanismo im-­
portante para el control de las emisiones. Al mismo tiempo se tejió una red de intereses económicos \OD]RVIDPLOLDUHVHQWUHODVHOLWHVJREHUQDQWHV\ODVGHORVLQGXVWULDOHVGHORVPHGLRVHVSHFt¿FDPHQWH
en el caso de la televisión (Páramo, 2002). La forma de relación entre el gobierno y los medios de comunicación en México durante el siglo XX se constituyó a partir de un marco jurídico limitado y un modelo económico proteccionista. Además de estas condiciones estructurales, había también prácticas personales corruptas por me-­
dio de las cuales las instancias gubernamentales, en tanto fuentes informativas, ejercían un control directo sobre los periodistas mediante los sobornos.
+DFLDHO¿QDOGHOVLJOR;;ODVFRQGLFLRQHVSROtWLFDVGHODWUDQVLFLyQGHPRFUiWLFDKLFLHURQSR-­
sible un nuevo contexto para el ejercicio del periodismo mexicano que “en la primera mitad de los años noventa experimentó una nueva libertad. Por parte del gobierno dejó de existir (sin desapare-­
cer del todo) la intransigente censura que se había conocido en épocas anteriores” (Trejo (1995-­96, p. 36). En ese contexto de transformaciones ¿cuál es el destino de las viejas inercias cuando la es-­
tructura sociopolítica del país parece consolidarse con prácticas democráticas?
La evidencia de Aguascalientes
El sexenio de 1992-­1998 fue el último en el que el PRI gobernó el estado de Aguascalientes. En ese periodo el principal rasgo de las relaciones entre periodismo y gobierno era el de la subordi-­
nación de los medios informativos ante el poder político. La cobertura de la fuente gubernamental VHEDVDEDHQODLGHDGHXQDMHUDUTXtDVRFLDOTXHUHÀHMDODVDVLPHWUtDVHVWDEOHFLGDVHQWUHJREHUQDQWHV
y gobernados.
Tradicionalmente los reporteros actuaban como agentes de publicidad, y dado que el gobier-­
no era el anunciante mayoritario de los medios mexicanos (Fernández, 1993;; Bohmann, 1994), la gran cantidad de publicidad contratada por las fuentes gubernamentales permitía que los ingresos por comisiones de publicidad otorgados a los reporteros fueran bastante altos. Esto ocasionaba la asignación de bajos salarios a los periodistas en el entendido de que serían las fuentes informativas, principalmente las gubernamentales, las que engrosarían sus ingresos.
A nivel institucional, el control se manifestaba a través de la compra de espacios publicita-­
ULRVSDUDODGLIXVLyQGHLQIRUPDFLyQR¿FLDOFRQORFXDOVHJDUDQWL]DEDODSHUPDQHQFLDGHORVSUR\HF-­
tos periodísticos, en concordancia con el esquema estructural de relación entre medios y gobierno Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. 125
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establecido durante el régimen priísta en todo el país (Fernández, 1993;; Bohmann, 1994;; Carreño, /DGLVWLQFLyQHQWUHSXEOLFLGDGR¿FLDO\SHULRGLVPRHUDLQH[LVWHQWHHQWpUPLQRVGHVXSUHVHQ-­
tación al público, pues los espacios pagados por el gobierno recibían un tratamiento similar al de las noticias.
/DHODERUDFLyQGHEROHWLQHVR¿FLDOHVTXHHQODDFWXDOLGDGVLJXHFRQVWLWX\HQGRODSULQFLSDO
actividad de las secciones de comunicación institucional de las dependencias del gobierno, permitía presentar a los periodistas la orientación interpretativa de los actos gubernamentales bajo la apa-­
riencia de provisión inocua de información para facilitar la labor del periodista.
Existía un mecanismo de sujeción personal con los periodistas a partir de sobornos, así como una relación institucional de subvención de los medios periodísticos por medio del ejercicio del gas-­
WRS~EOLFRHQPDWHULDGHGLIXVLyQHVTXHPDV¿VFDOHVEHQp¿FRV\RWURWLSRGHSURWHFFLRQHVHFRQyPL-­
cas. Los medios solían publicar los boletines sin cuestionar la información a riesgo de perder la pu-­
EOLFLGDGR¿FLDO\SRQHUHQSHOLJURVXSUR\HFWRHPSUHVDULDO
Por otro lado, la conformación del sector mediático local es de empresas familiares pequeñas. Esa situación se manifestaba en proyectos periodísticos moderados y dóciles, constituidos alrededor de la idea de la subsistencia por medio de la publicidad gubernamental como objetivo primordial, la conformación de una elite empresarial mediática cercana a la elite política y la generación de una comunidad periodística poco profesionalizada, poco analítica y nada inquisidora.
Nuevo contexto político
(OFRPLHQ]RGHODDOWHUQDQFLDSDUWLGLVWDORFDOVHPDQLIHVWyHQWUHRWUDVFRVDVHQODPRGL¿FD-­
ción de las relaciones entre los actores gubernamentales y los mediáticos.
El esquema de sobornos personales se redujo considerablemente, de acuerdo con los testimonios UHFXSHUDGRV(OSURFHVRQRIXHSDXODWLQR)XHDEUXSWR\UDGLFDO(OFDPELRSDUWLGLVWDVLJQL¿FyWDP-­
ELpQODPRGL¿FDFLyQGHWDMRGHODVOyJLFDVFRQRFLGDVSRUORVDFWRUHVSHULRGtVWLFRVHQVXUHODFLyQFRQ
los actores gubernamentales. Esto generó sentimientos de temor e incertidumbre en los actores pe-­
riodísticos.
8QDGHODVSULPHUDVFRQVHFXHQFLDVUHVXOWyHQXQFRQÀLFWRHQWUHODHOLWHJREHUQDQWH\HOVHF-­
tor mediático, cuando el gobierno redujo considerablemente su gasto en difusión. Para los medios SHULRGtVWLFRVORFDOHVVLJQL¿FyXQDGREOHWUDQVIRUPDFLyQ(QSULPHUOXJDUVHHQFRQWUDURQGHSURQ-­
to desamparados del gasto gubernamental. En segundo lugar, al estar en ese desamparo, se vieron también independientes del poder político. Contrario a la costumbre, tomaron una postura inquisi-­
tiva respecto a las labores del gobierno, generando información con tratamiento desfavorable a las DFFLRQHVJXEHUQDPHQWDOHV\VXV¿JXUDV
Lo anterior tiene al menos dos lecturas necesarias: una relacionada con la dimensión política y la otra con la dimensión económica. Respecto a la dimensión política, la decisión gubernamental de eliminar el área de prensa y el gasto de difusión cuando la oposición arribó al poder, no hizo sino acelerar el proceso de distanciamiento entre la clase gobernante y el sector mediático. Evidentemen-­
te la medida generó resistencia pero también un nuevo marco para las relaciones entre el poder po-­
lítico y los actores mediáticos, principalmente los empresarios.
(QORTXHVHUH¿HUHDODGLPHQVLyQHFRQyPLFDSXGRREVHUYDUVHODDSDULFLyQGHOULHVJRGHIUD-­
caso de los medios locales como proyecto empresarial, por primera vez en su historia. Puesto que en $JXDVFDOLHQWHVQRH[LVWHQHPSUHVDVSULYDGDVVX¿FLHQWHVGHODPDJQLWXGQHFHVDULDSDUDVRVWHQHUD
los negocios mediáticos1, y dado que ningún actor comercial local tiene la capacidad económica para igualar el nivel de inversión en materia de difusión que realiza el gobierno, la medida asumida por la nueva administración estatal puso a los medios locales de cara a la lógica del mercado comercial, fuera del tradicional paternalismo gubernamental que funcionaba, asimismo, como medida de con-­
trol.
En ambos casos se mostró algo nuevo en la relación entre medios y gobernantes que no había sido evidente en el caso mexicano: un debilitamiento relativo del poder gubernamental y del poder 1 Si bien el territorio de Aguascalientes alberga instalaciones de grandes empresas trasnacionales, sus estrategias de difusión SXEOLFLWDULDWLHQGHQDVHUQDFLRQDOHVRJOREDOHV\SRFRVHPDQL¿HVWDQHQORVPHGLRVORFDOHV
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mediático simultáneamente. El poder gubernamental perdió su control casi absoluto sobre la repre-­
sentación periodística, al tiempo que el poder mediático mostró su fragilidad como sector económi-­
co autónomo. La salida del problema fue la negociación que se estableció durante el periodo de go-­
bierno 1998-­2004.
Esta negociación establecida sobre la celebración de convenios de publicidad gubernamental se encuentra en el centro de un nuevo marco de relaciones entre los actores mediáticos y guberna-­
PHQWDOHV\IRUPDSDUWHIXQGDPHQWDOGHODQXHYDFRQ¿JXUDFLyQGHODFRPXQLFDFLyQS~EOLFD
Las nuevas reglas del juego: adaptación de un esquema liberal
El debilitamiento relativo del poder político y del poder mediático culminó en la negociación efectuada a través de los convenios de publicidad gubernamental. Esta acción representa una adap-­
WDFLyQDORVFDPELRVJHQHUDGRVHQODFRQ¿JXUDFLyQGHODFRPXQLFDFLyQS~EOLFDHQ$JXDVFDOLHQWHV
como un esfuerzo doble de resistencia a los cambios ocurridos: por parte de la elite política, resis-­
tirse a la pérdida del control de las representaciones periodísticas;; por parte de la elite empresarial mediática, evitar la pérdida económica derivada de la suspensión del gasto gubernamental en difu-­
sión. Esta adaptación fue necesaria debido a que, primordialmente, cambiaron las reglas del juego, FRQORTXHVHPRGL¿FDURQODVPDQHUDVGHSDUWLFLSDUHQHOHVSDFLRS~EOLFRPHGLiWLFR
(OFDPELRGHUHJODVLPSOLFDXQDPRGL¿FDFLyQUDGLFDOUHVSHFWRDODRSHUDFLyQ¿QDQFLHUDGHORV
medios de comunicación: de la subvención estatal a la participación en el mercado. A pesar de que la IXHQWHGH¿QDQFLDPLHQWRQRFDPELySXHVODEDVHGHOVRVWHQLPLHQWRHFRQyPLFRVLJXHVLHQGRHOSUH-­
supuesto gubernamental, sí lo hicieron las lógicas a través de las cuales ese presupuesto se invierte HQODGLIXVLyQPHGLiWLFDDVtFRPRVXVLJQL¿FDGR'HODFRDFFLyQHVWDWDOVHWUDQVLWyDODQHJRFLDFLyQ
comercial. El control pasó de manos de los actores gubernamentales a manos de los empresarios de los medios. Simultáneamente, se introdujeron nuevos actores que ampliaron el escenario de las re-­
laciones hacia fuera de lo local, como la participación en el mercado publicitario de Aguascalientes de los medios capitalinos de cobertura nacional.
Con los convenios de publicidad, los actores gubernamentales buscaban mantener bajo con-­
trol la difusión del acontecer y de su imagen pública, mientras que los empresarios de los medios SUHWHQGLHURQHYLWDUODSpUGLGDGHVXIXHQWHGH¿QDQFLDPLHQWR\DFXPXODFLyQGHFDSLWDO/RVFRQYH-­
nios de publicidad permitieron restaurar el estado de la relación entre políticos y medios. Esa res-­
tauración, evidentemente, no es total ni puede igualarse a épocas anteriores. En el proceso se han PRGL¿FDGRHOHPHQWRVVLJQL¿FDWLYRVFRPRODGLUHFFLyQGHOÀXMRGHOSRGHUHOVLJQL¿FDGRGHODFRPHU-­
cialización del espacio periodístico y las relaciones entre los actores.
Dicha dinámica puede ser vista en tres dimensiones: 1) la mercantilización del espacio perio-­
dístico se ha conformado como la manera central de la participación política a través de los medios, 2) existe una gran disponibilidad de los actores gubernamentales para celebrar convenios de publi-­
cidad con la intención de no perder el control de las representaciones periodísticas de su imagen y del entorno en el que operan, 3) se evidencia la emergencia de nuevos actores que amplían el espacio público-­mediático local.
Los convenios de publicidad gubernamental se han convertido en la base de la relación entre los medios noticiosos y el poder político institucional. Este modelo permea hacia las relaciones que los medios mantienen con otros actores políticos generando expectativas de visibilidad y legitimaci-­
ón política para los clientes gubernamentales y expectativas económicas para los dueños de los me-­
dios.
El nuevo marco de relaciones entre los medios y el poder político a partir de los convenios de publicidad tiene sus propias formas y prácticas. Con ello se establecen nuevas ritualidades y modos de interacción. Discuto esta idea desde dos situaciones: primera, la legalidad y legitimidad de la ce-­
lebración de los acuerdos de publicidad;; segunda, el control de los contenidos noticiosos por parte del poder político.
Respecto a la legalidad y legitimidad los convenios de publicidad, a pesar de constituir un nuevo tipo de contrato entre el gobierno y los empresarios de los medios, su operación no se encuen-­
WUDGH¿QLGDH[SOtFLWDPHQWHHQHO3UHVXSXHVWRGH(JUHVRVGHO(VWDGRHOGRFXPHQWRR¿FLDOSRUHOTXH
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el Congreso local autoriza al gobierno sus gastos. Un rasgo de los convenios es que se realizan de ma-­
nera secreta. En esta investigación ha sido posible acceder a su conocimiento por la vía testimonial en las entrevistas, pero no de manera documental, pues no se exhiben pruebas documentales de su práctica. En consecuencia, se desconocen los montos exactos de las inversiones correspondientes.
De lo anterior se puede inferir que los acuerdos constituyen una práctica no regulada y no democrática. Sin embargo, es posible acercarse a las cantidades que el gobierno estatal destina para HVWRVFRQYHQLRVPHGLDQWHODUHYLVLyQGHOLQIRUPHGHOJDVWRS~EOLFRHVSHFt¿FDPHQWHHQHOUXEURGH
“Servicios de difusión e información”, publicado por la Secretaría de Finanzas (Gobierno del Estado de Aguascalientes, 2005, 2006, 2007, 2009).
Tabla No. 1
Gasto anual en Servicios de Difusión e Información del Gobierno
del Estado de Aguascalientes. Administración 2004-­2010.
Ejercicios 2005 al 2008.
Ejercicio ¿VFDO
2005
2006
Desglose
(miles de pesos)
Difusión, Impresión Servicios de información y de papelería telecomunica-­
publicaciones R¿FLDO
ciones
R¿FLDOHV
No No No HVSHFL¿FDGR HVSHFL¿FDGR
HVSHFL¿FDGR
54,266
1,199
706
Espectáculos culturales
Total
(miles de pesos)
No HVSHFL¿FDGR
266
53,572
56,436
2007
59,452
1,092
643
825
62,013
2008
160,815
1,249
1,252
704
164,020
2009
110,482
1,350
792
443
113,067
Fuente: elaboración propia a partir de datos otorgados por la Secretaría de Finanzas del Estado de Aguascalientes.
Puede observarse que la cuenta 'LIXVLyQLQIRUPDFLyQ\SXEOLFDFLRQHVR¿FLDOHV concentra la mayor cantidad de la inversión y presenta incrementos paulatinos, por encima de los 50 millones de pesos, hasta el año 2008, cuando el gasto ejercido aumenta de modo abrupto hasta rebasar el doble de la cantidad del año anterior para alcanzar 160 millones de pesos. Aunque para el primer ejercicio ¿VFDOQRH[LVWHGHVJORVHGHOJDVWRWRWDOHOFRPSRUWDPLHQWRGHORVDxRVVLJXLHQWHVQRVSHUPLWH
suponer similitudes.
Por otro lado, desde la perspectiva de la lógica empresarial, que por corresponder a intereses privados no tiene la obligación de someterse a la rendición de cuentas de manera pública, la celebra-­
ción de los acuerdos aparece como una relación legítima de índole comercial que permite el cobro por la prestación de un servicio. Este ambiente de comercialización a partir de los convenios de pu-­
blicidad permite la construcción de un discurso supuestamente ético de distinción entre publicidad y periodismo.
La separación de lo empresarial y lo político, y con ello, aparentemente, de las noticias y la publicidad, permite construir el discurso de la legitimidad de la comercialización del espacio perio-­
dístico en función de tres premisas: a) los medios de comunicación son empresas privadas con dere-­
cho a capitalizar su actividad;; b) la facturación legitima esa capitalización, puesto que con ello el uso de recursos públicos en los medios ya no constituye un subsidio gubernamental discrecional sino un intercambio comercial sujeto a facturación y, por lo tanto, transparente, y c) el hecho de que el pe-­
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riodista deje de ser agente de ventas de la empresa a la que está adscrito (aunque esta práctica sigue manifestándose principalmente —aunque no exclusivamente— en la prensa escrita) y por lo tanto GHMHGHSHUFLELUEHQH¿FLRVTXHORFRPSURPHWHQFRQODVIXHQWHVDODVTXHRWRUJDFREHUWXUD
A pesar de este discurso, en la práctica se puede observar que se mantiene la confusión entre los dos términos, pues los convenios de publicidad determinan el tratamiento favorable dado a la in-­
formación, aún la que no entra en el convenio, por lo que en la realidad no quedan claros los límites de los alcances de los convenios de publicidad en la cobertura periodística.
El contenido publicitario resultante de los convenios podría designarse con el término de pu-­
blirreportajes,HQWDQWRTXHFRQVWLWX\HQXQKtEULGRGHFRQWHQLGRQRWLFLRVRSHURFRQ¿QHVSURPR-­
cionales. Los publirreportajes se presentan como si fueran noticias, con el valor simbólico que ese género periodístico representa (veracidad, oportunidad, relevancia) aunque sean construidos sobre una base de la exageración, la persuasión o la falsedad. La no distinción entre noticias y publirre-­
portajes forma parte de una serie de vacíos en la legislación mexicana para regular las inversiones publicitarias de los gobiernos.
La presentación a las audiencias de los publirreportajes como si se tratara de noticias verídi-­
cas, alude a la discusión entre la veracidad del periodismo y la falsedad y exageración de la publici-­
dad (Gauthier, 1992), muestra la hibridación entre los dos y, en un escenario más amplio, revela las inconsistencias y contradicciones de la transición democrática mexicana, que ha tenido avances en su dimensión procedimental, pero hablando de la dimensión sustancial —en la medida en la que los datos de este trabajo permiten abordarla— los sistemas para nutrir de información a la sociedad ca-­
UHFHQGHFRQ¿DELOLGDGSRUHODOWRQLYHOGHFRQWUROGHSDUWHGHODVHOLWHV(VHFRQWUROSHUPLWHHOXVRGH
ORVFRQYHQLRVGHSXEOLFLGDGFRPRXQDKHUUDPLHQWD~WLOQRVyORSDUD¿MDUODDJHQGDagenda setting), sino para construirla de manera programática
La garantía de publicación otorgada por los acuerdos de publicidad permite la emergencia de un centro organizador del acontecer público fuera de los medios de comunicación, que establece el eje de la producción de comunicación mediática en las estrategias de comunicación gubernamental y no en las prácticas periodísticas de las empresas privadas de medios, ni en las de la sociedad civil. Comentarios finales
Durante 70 años, bajo un régimen de partido único en México, el periodismo se mantuvo su-­
ERUGLQDGRDOJRELHUQRORFXDOVHPDQLIHVWyHQXQDDFWLWXGR¿FLDOLVWDHQHOWUDWDPLHQWRGHODLQIRUPD-­
FLyQ$¿QDOHVGHOVLJOR;;0p[LFRFRPHQ]yXQSURFHVRGHFDPELR\DSHUWXUDDSDUWLUGHXQSURFHVR
de liberalización económica y de transición a la democracia. Los análisis de varios investigadores PXHVWUDQTXHHVHSURFHVRWDPELpQLQÀX\yVREUHHOSHULRGLVPRTXHVHGLVWDQFLyGHOJRELHUQRFRQ-­
FOX\HQGRDVtHOPRGHORGHODVXERUGLQDFLyQ6LQHPEDUJRHVRVFDPELRVQRKDQVLGRVX¿FLHQWHPHQWH
analizados en el contexto de las regiones al interior del país, fuera de las tres grandes ciudades Mé-­
xico, Guadalajara y Monterrey.
(QHOFDVRGHODFLXGDGGH$JXDVFDOLHQWHVVHPXHVWUDXQUHWRUQRDOR¿FLDOLVPR\DQRSRUOD
vía de la subordinación, sino de la comercialización. Para los medios, el gobierno pasa de ser el amo que ordena cómo interpretar la realidad, al cliente al que hay que tratar con amabilidad debido a la inversión estatal en los medios privados. Para el gobierno, la alta inversión en el tratamiento infor-­
mativo constituye una estrategia (entre otras) de control sobre su imagen pública.
En un contexto contemporáneo de globalización, la tendencia de la práctica del periodismo en México es la imitación del modelo liberal impuesto por Estados Unidos que a grandes rasgos consiste en empresas privadas capitalistas que producen mensajes en los cuáles se separa la infor-­
mación de los comentarios. El hecho de ser empresas privadas supone capacidad de independencia respecto al Estado (Hallin & Mancini, 2004).
6LQHPEDUJRHQODFLXGDGGH$JXDVFDOLHQWHVODVHPSUHVDVSHULRGtVWLFDVSULYDGDVVH¿QDQFLDQ
principalmente por recursos públicos, por lo que su condición capitalista no garantiza su indepen-­
GHQFLDHGLWRULDO0RQWDGRVREUHODHVWUXFWXUDGHOPHUFDGRHOJRELHUQRVLJXHHMHUFLHQGRLQÀXHQFLD
sobre la actividad periodística.
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GT3 - Economia das empresas de comunicação
Entre bits e dólares: desafios para o financiamento da produção fotojornalística
contemporânea.
José Afonso da Silva Junior
João Guilherme De Melo Peixoto
PPGCOM-Universidade Federal de Pernambuco
Resumo
A atividade fotojornalística atravessa atualmente o maior conjunto de alterações na sua cadeia pro-­
dutiva desde que foi agregada aos processos digitais e em rede. Esse conjunto de mudanças atinge os PHLRVGHSURGXomRHGLomRHFLUFXODomRGHFRQWH~GRHHVWDEHOHFHPSDUDDDWLYLGDGHQRYRVGHVD¿RVH
propostas. Neste trabalho observamos que, para além das questões de ordem ontológica, os aspec-­
WRVUHODFLRQDGRVjHFRQRPLDHDR¿QDQFLDPHQWRGDSURGXomRIRWRMRUQDOtVWLFDVHPRVWUDPLJXDOPHQ-­
te em transformação. Como método de análise busca-­se comparar as possibilidades em tela, com o tradicional modelo usado por jornais e revistas ilustradas, em um momento em que podemos cha-­
mar de fotojornalismo pré-­convergente. De modo complementar, objetiva-­se indicar as principais alternativas dessas novas tendências.
Apresentação
,WLVDEVROXWHO\ULGLFXORXVWRVD\WKDWSKRWRMRXUQDOLVPLVGHDG,W¶VGH¿QLWHO\FKDQJLQJEXWLWKLQN
that’s exciting. The modes of delivery and consumption are changing, but there’s a lot of great work being done.
David Walter Banks
Interatividade. Hipertextualidade. Convergência. São conceitos e práticas postos no cenário GDVFRPXQLFDo}HVQRV~OWLPRVDQRV(PSHUFXUVRGHPXGDQoDVDSULQFLSDOGHODVSRGHVHULGHQWL¿-­
cada na própria relação com os meios de comunicação. Passou de uma lógica analógica, não-­inte-­
rativa e não-­participativa, para um quadro justaposto, digital, interativo, participativo, de acesso e multiplicidade de fontes e audiências. 2EVHUYDQGRPDLVHVSHFL¿FDPHQWHRFDPSRGRIRWRMRUQDOLVPRHVVDVDOWHUDo}HVHVWmRWUDQV-­
formando as esferas de produção, edição e circulação da atividade. Novas tecnologias de captação de LPDJHQVDWUHODGDVDXPQRYRSHU¿OGHFRQVXPRPRVWUDPTXHSDUDREWHUDVXVWHQWDELOLGDGHGHXP
PRGHORGHSURGXomRQRIRWRMRUQDOLVPRpSUHFLVRLUDOpPGRFOLTXH$IRWRJUD¿DDJRUDDWXDFRPR
porta de entrada para informações sonoras e textuais, as quais podem estar ligadas a características cada vez mais subjetivas de produção de conteúdo. Tudo isso de forma interativa, não-­linear, hiper-­
textual, convergida... (...) o fotojornalismo atual se constitui como um conjunto de práticas expandido, onde não só o estatuto da singularidade do fotógrafo como agregador de um certo conjunto de competências é posto em questão, como o mesmo passa a ser não somente um fotógrafo, mas um analista e FRQVWUXWRUGHVLVWHPDVTXHLQWHJUDDVWHFQRORJLDVIRWRJUi¿FDVFRPDVGLJLWDLVHPXPPXQGRTXH
é totalmente binário no que diz respeito à produção, tratamento e circulação de imagens. (SILVA JUNIOR, 2008) Para além de uma mudança de dispositivos, incorpora-­se uma cultura no modo de uso e pro-­
GXomRGDFDGHLDGDIRWRJUD¿DGHQRWtFLD0DVDOpPGRVFDPSRVMiFLWDGRVRSUREOHPDTXHVHFROR-­
ca é como se criam modelos sustentáveis para a produção fotojornalística. Em que pese o ajuste à nova realidade de rotinas estabelecidas historicamente, as profundas alterações se entrelaçam a no-­
YDVSHUVSHFWLYDVTXHHQYROYHPR¿QDQFLDPHQWRGHSURMHWRVPDLVDXGDFLRVRVHRXVDGRVTXHVXUJHP
como externalidades à cadeia estabelecida. Isso ocorre não somente a questões tecnológicas de su-­
porte (câmeras mais modernas, softwares de edição tecnologicamente mais avançados), mas tam-­
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EpPDTXHVW}HVDUWLFXODGDVFRPDSUySULDPHWRGRORJLDGHWUDEDOKRKRGLHUQDjDWLYLGDGH'H¿QLUDV
formas emergentes de obter recursos sincroniza-­se ao horizonte contemporâneo do fotojornalismo. $RDQDOLVDUDVPXGDQoDVWUD]LGDVSHORGHVHQYROYLPHQWRGHQRYDVIRUPDVGH¿QDQFLDPHQWRGDSUR-­
dução fotojornalística contemporânea, desdobramos a interpenetração dos campos da produção e GR¿QDQFLDPHQWRQRPHVPRSyORGHXPDFRPSOH[DHTXDomR1RFHQiULRDWXDORVQRYRVPRGHORVGH
participação da audiência (que já se mostra expressivamente seletiva e atuante), atrelados à diversi-­
¿FDomRGHPRGHORVGHPtGLDHPPXOWLSODWDIRUPDVUHVXOWDPHPH[SHULrQFLDVDVTXDLVMiDVVLPLODP
DOWHUQDWLYDVGH¿QDQFLDPHQWRHFLUFXODomRGRIRWRMRUQDOLVPR
Buscando assinalar algumas dessas mudanças, este artigo aborda dois casos os quais se apre-­
VHQWDPFRPRH[SHULrQFLDVDOWHUQDWLYDVDRVPRGHORVGH¿QDQFLDPHQWRGDSURGXomRIRWRMRUQDOtVWLFD
2SULPHLURGHOHV)ODWWUSRGHVHUGH¿QLGRFRPRXPDPLFURSODWDIRUPDGHSDJDPHQWRVDTXDOEXVFD
aproximar o conteúdo de seus respectivos consumidores. Já o site Emphas.is (uma plataforma dedi-­
FDGDDEXVFDU¿QDQFLDPHQWRDSHQDVSDUDSURMHWRVIRWRMRUQDOtVWLFRVSURSRUFLRQDSRUPHLRGHXPD
íntima ligação entre audiência e produtores de conteúdo, uma abordagem que oferece produção de FRQWH~GRH[FOXVLYRSDUDRXVXiULRGHL[DQGRDVVLPPDLVHYLGHQWHRSDSHOGRV¿QDQFLDGRUHVQDFD-­
deia da produção fotojornalística. Entre o ontem e o agora: do modelo de anunciantes à participação da audiência.
2PRGHORGHJHUHQFLDPHQWRH¿QDQFLDPHQWRGDSURGXomRMRUQDOtVWLFDWHPXPDFRQVWUXomR
KLVWRULFDPHQWHLQWHUSHQHWUDGDFRPDSXEOLFLGDGH&ODVVL¿FDGRSHORVHFRQRPLVWDVGH³PHUFDGREL-­
lateral”, a equação para compreender essas relações de câmbio se baseia num binômio onde dois grupos distintos de usuários sustentam um ao outro de forma sinérgica. Os anunciantes pagam pela PtGLDSDUDWHUDFHVVRDRVFRQVXPLGRUHVRVTXDLVSRUVXDYH]VXVWHQWDPRVDQXQFLDQWHV1R¿QDO
os consumidores pagam, mas apenas indiretamente, por meio de preços superiores pagos pelos pro-­
dutores devido a seus custos de marketing (ANDERSON, 2009). 3ULPHLURSRQWRGHLQÀH[mRSURGXomRGHFRQWH~GRHR¿QDQFLDPHQWRGRPHVPRHVWDULDP
necessariamente, conectados ao mesmo polo da equação. O desenvolvimento da atividade jornalís-­
tica mostra-­se, portanto, intermediado por anunciantes, que sustentam a relação de consumo jun-­
tamente com os acionistas, os quais detêm o capital da empresa. Durante mais de um século, esse tradicional modelo de gestão usado por empresas de comunicação proporcionou lucros os quais al-­
cançavam a margem dos vinte a trinta por cento sobre o investimento bruto (CAMPBELL, 2009). Contudo, algumas questões sempre se faziam presentes: a) Em que espaço nessa equação estariam os leitores?
b) Qual o papel desempenhado pelos mesmos?
c) Quem decide o que é publicado: os anunciantes? Os acionistas? O público?
G
([LVWHPRXWUDVIRUPDVGH¿QDQFLDPHQWRSDUDDSURGXomRMRUQDOtVWLFD"
Algumas dessas questões ampliaram-­se durante boa parte do século XX, quando, em decor-­
rência da popularização de outras mídias, como o rádio e a televisão, a circulação dos periódicos so-­
freu uma forte queda, principalmente nos Estados Unidos. Consequentemente, isso também reper-­
cutiu no investimento em propaganda realizado por anunciantes. Print advertising, which still accounts for the lion‘s share of newspaper revenue, declined gently as a percentage of all ad spending from 1950 to 90, as television grew in importance. Starting in 1990, well before the rise of the web as a competitor for ad dollars, newspaper ad revenues went into a sharp decline, from 26 percent of all media advertising that year to what will likely be around 10 percent this year (2008)1. (CAMPBELL, 2010)
Observa-­se que este cenário agrava-­se ainda mais quando analisamos as estatísticas contem-­
porâneas. Entre os anos de 2001 e 2008, a circulação de jornais caiu mais de 13% (treze por cen-­
1 [Tradução Livre] Publicidade impressa, que ainda representa uma fatia para o “leão” nas receitas dos jornais, decaiu relativamente na porcentagem total dos gastos com publicidade desde 1950 à 1990, quando a televisão cresceu em importância. A partir de 1990, antes da ascensão da web como uma concorrente para os dólares investidos em anúncios, a receita destes em jornais entrou em queda acentuada, de 26 por cento de toda a publicidade naquele ano para alguma coisa em torno de dez por cento neste ano (2008)
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to) em relação à circulação diária e 17% (dezessete por cento) para as edições dominicais (GITLIN, 2010). FLJXUD*Ui¿FRPRVWUDRGHFOtQLRQDFLUFXODomRGHMRUQDLVQRPHUFDGRDPHULFDQR
Na origem dessas mudanças, coloca-­se a rede mundial de computadores que revolucionou DVHVWUXWXUDVGHSURGXomRHFLUFXODomRGHLQIRUPDomR$UXSWXUDPDLVIRUWHFHUWDPHQWHpR¿PGR
dualismo entre produtores e consumidores. Hoje isso não mais corresponde a lados antagônicos de uma relação baseada numa unilateralidade entre produção e consumo. A web proporcionou aos usuários a oportunidade não somente de selecionar aquilo que desejam ouvir, ver ou ler, mas tam-­
EpPGHFULDUHGLVWULEXLUHVVHFRQWH~GRVHPQHFHVVDULDPHQWHUHFRUUHUjVIRQWHVWUDGLFLRQDLVGH¿-­
nanciamento e circulação da produção. 6HJXQGRSRQWRGHLQÀH[mR6HHVVDSHUVSHFWLYDDSRQWDSDUDXPYLpVGHFULVHGRVPHLRVWUDGL-­
FLRQDLVDSRLDGRVQRPRGHORGHDXGLrQFLDWDPEpPVHDEUHRXWURYLpVRGRFRQWUDSHVRGHXP¿QDQ-­
FLDPHQWRHPDEHUWXUDSDUDDGLYHUVL¿FDomRGHPRGHORVGHPtGLDHPPXOWLSODWDIRUPDV3URVVHJXLQ-­
do, perceber a posição onde situar a unidade nuclear da informação, parece ser mais importante que SHQVDUHPYHtFXORVHVSHFt¿FRVRXVHSUHIHULUFDGHLDVGHSURGXomRHVSHFt¿FDVTXHYLQFXODPQHFHV-­
sariamente conteúdo, plataforma, e circulação. É uma transformação onde as dinâmicas de partici-­
pação, interação, estão no jogo por onde passa a informação para ser espalhada, distribuída. Com-­
preender o jornalismo por esse prisma é encará-­lo muito mais como um processo que simplesmente como um produto. (RIRWRMRUQDOLVPRFRPRSRGHVHUGH¿QLGRGLDQWHGHWRGDVHVVDVPXGDQoDV"
,QWHUOLJDGDDRVFDPSRVGDIRWRJUD¿DHGRMRUQDOLVPRDDWLYLGDGHIRWRMRUQDOtVWLFDFDUDFWHUL]DVHSRU
buscar no campo da notícia e da informação a sua essência. Segundo Jorge Pedro Souza, o fotojor-­
nalismo “pode visar informar, contextualizar, oferecer conhecimento, formar, estabelecer ou mar-­
FDUSRQWRVGHYLVWDRSLQDUDWUDYpVGDIRWRJUD¿DGHDFRQWHFLPHQWRHGDFREHUWXUDGHDVVXQWRVGH
interesse jornalístico” (SOUZA, 2004). Ou seja: desde seu surgimento, valores como noticiabilidade, clareza e integração com os temas apresentados fazem parte da gramática e, por que não dizer, da própria ontologia fotojornalística.
Contudo, com o desenvolvimento das tecnologias da informação atrelado a expansão da rede mundial de computadores (a Internet), atestam-­se alterações na cadeia fotojornalística. Gera-­se uma tensão entre a relação de quem produz e quem consome as imagens. Em relações de mercado balanceadas crescentemente pela probabilidade em relação à autoridade, a cultura digital propõe níveis de participação onde o usuário/leitor/receptor, agora, registra, não mais unicamente trans-­
FRGL¿FDLQIRUPDo}HV5,7&+,1
Nesse cenário de fundo, o registro fotojornalístico amplia os horizontes a serem captados não somente no perfeccionismo das imagens que transcrevam o imperceptível a olho nu;; mas a amplia-­
omRWDPEpPSDUDQRYDVHVIHUDVGHVLJQL¿FkQFLDGHGLODWDomRGRFDPSRGHFREHUWXUDGRVWHPDVH
abordagens (MUNHOZ, 2005).
0DVFRPRGH¿QLURIHQ{PHQRGDFRQYHUJrQFLDGLJLWDOQRFDPSRGRMRUQDOLVPR"0HVPRPRV-­
trando-­se ainda bastante heteromorfo, podemos buscar em Salaverría, García Avilés y Masip (2007) uma fundamentação para orientar nossa pesquisa:
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La convergencia periodística és un proceso multidimensional que, facilitado por la implantación generalizada de las tecnologías digitales de telecomunicación, afecta al ámbito tecnológico, empresarial, profesional y editorial de los medios de comunicación, propiciando una integración de herramientas, espacios, métodos de trabajo y lenguajes anteriormente disgregados, de forma que los periodistas elaboran contenidos que se distribuyen a través de múltiples plataformas, mediante los lenguajes propios de cada uma. Embora, neste mesmo movimento o fotojornalismo também enfrente mudanças, sejam elas de ordem tecnológica e/ou metodológicas, apontadas genericamente como crise no setor, gera-­se de fato, alterações na essência da atividade. This is the beginning of the end of a long decline. The traditional model of print distribution and direct editorial funding has been unravelling from the 1970s onwards, ever since weekly pictorial magazines like Life folded. This demonstrates photojournalism that required an editorial paymaster was in trouble long before the Internet was an issue or the global recession added to its woes2 . (CAMPBELL, 2010) 7HUFHLURSRQWRGHLQÀH[mRQDGLUHWDSURSRUomRHPTXHKiXPYLpVGHHVJRWDPHQWRGDVIRQ-­
WHVGH¿QDQFLDPHQWREDVHDGDVQRPRGHORGHXPDDXGLrQFLDPDVVLYDRFRUUHXPDFRPSHQVDomRSDUD
modelos que incorporam uma audiência seletiva, direta e envolvida no interesse de determinado projeto posto em marcha. Nesse sentido, é importante perceber que o fotojornalismo aproxima-­se de realizar uma síntese entre duas dinâmicas e/ ou variações já existentes: O Jornalismo de proxi-­
midade e de comunidade.
A Proximidade pode ser entendida aqui como relativa base de formação de um campo co-­
mum de interesses dentro da audiência. A comunidade, no sentido já classicamente trabalhado por Rheingold (1994) na formação de elos de pertencimento simbólico mútuos e canalizados para de-­
terminado intersse. Iniciativas semelhantes ocorrem na cadeia produtiva da música, principalmen-­
te na última década, no brutal rearranjo que esse setor produtivo atravessou. Contudo, pensar a WUDQVSRVLomRHDGDSWDomRGHVVDDUWLFXODomRFRPRIRUPDGH¿QDQFLDPHQWRSDUDDiUHDGRMRUQDOLVPR
YLVXDOVHDSUHVHQWDFRPRQRYLGDGH$RPHQRVSDUDDiUHDGDLQIRUPDomRGHQRWtFLD2GHVD¿RGHVVDV
iniciativas vem, justamente, da possibilidade de arranjar dentro da circunstancialidade que tem de um lado, a multiplicidade de oferta e, do outro, a capacidade organizativa da rede de congregar de DFRUGRFRPLGHQWL¿FDo}HVP~OWLSODVGHXVXiULRVGHDFRUGRFRPLQWHUHVVHVHVSHFt¿FRV
(TXDLVDVDOWHUQDWLYDVGH¿QDQFLDPHQWRjSURGXomRIRWRMRUQDOtVWLFDFRQWHPSRUkQHD"$OJX-­
mas propostas têm por base a audiência. Buscar posicionar o leitor (ou seria usuário?) no topo da cadeia;; procurar integrá-­lo ao cerne do processo de construção, de produção de conteúdo. Um mo-­
delo que busca esse objetivo tem como base o Crowdfunding, uma ação coletiva em rede que, através GHFRRSHUDomRDWHQomRHFRQ¿DQoDSURFXUDDUUHFDGDUUHFXUVRVJHUDOPHQWHSRUPHLRGDLQWHUQHW
para apoiar esforços iniciados por outras pessoas, instituições ou organizações. Teve sua origem na própria idéia de caridade, mas hoje está recebendo atenção renovada, visto que as redes sociais, as comunidades online e os sistemas de micropagamentos facilitam o recebimento e a gestão dos re-­
cursos, além de estreitarem ainda mais os laços entre os participantes e os doadores. Analisaremos a seguir as propostas de dois sites (“Flattr” e “Emphas.is”) que se propõem a DERUGDUDSUiWLFDVMRUQDOtVWLFDSRUHVVHSHU¿O3RGHPRVHQFDUiORVFRPRERDVDOWHUQDWLYDVjVXSRV-­
ta e atual crise no fotojornalismo?
Flattr: “Many small streams will form a large river”
$LQGDHPSHUtRGRGHH[SHULPHQWDomRHVVD³PLFURSODWDIRUPDGH¿QDQFLDPHQWRGHFRQWH~-­
do” apresenta a seguinte proposta: através de depósitos em uma conta gerenciada no próprio site do projeto (o mínimo que se pode investir equivale a dois euros), os usuários cadastrados poderão >7UDGXomR/LYUH@(VWHpRFRPHoRGR¿PGHXPORQJRGHFOtQLR2PRGHORWUDGLFLRQDOGHGLVWULEXLomRGHLPSUHVVRVHGH¿QDQFLDPHQWR
editorial foi desmoronando a partir da década de 1970, desde as revistas semanais ilustradas, como a Life. Isso demonstra que o fotojornalismo que precisava de um tesoureiro estava com problemas muito antes da internet ou da crise de recessão econômica global.
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¿QDQFLDUWUDEDOKRVGHGLYHUVDViUHDVFRPRIRWRJUD¿DFLQHPDSXEOLFLGDGHLQYHVWLJDo}HVMRUQDOtV-­
WLFDVHQWUHRXWURV7HQGRFRPRVXVWHQWiFXORXPDSURSRVWDRXVDGDDLGpLDGHTXHDD¿QLGDGHGRV
usuários com os produtos selecionados movimenta um novo nicho de mercado na Web), o “Flattr” aproxima ainda mais a produção de conteúdo de seus consumidores. Segundo os criadores do site: Every month, the Flattr user pays a small fee. Let’s compare it with birthday cake. When you have a cake, you want to give slices to the people you like. Flattr helps you you do that. If you’ve created VRPHWKLQJ\RXFDQDGGD)ODWWUWR\RXUFRQWHQW2ULI\RX¿QGVRPHWKLQJ\RXOLNHDQGWKHUH¶VD
Flattr button besides the content, you click it. Each button has a counter showing how many people are willing to give cake for the content. At the end of the month, your cake is sliced in as many pieces, as you click Flattr buttons. Each slice is then given to the correct content creator. If you click ten buttons, the ten creators will get a tenth of the cake each. If you click a hundred buttons, the hundred creators will get a hundredth of the cake. The slices might be small, but everyone’s will all add up3 . Figura 02: Página Inicial do “FlatWU´ZZZÀDWWUFRP
'LIHUHQWHPHQWHGDVSURSRVWDVWUDGLFLRQDLVGH¿QDQFLDPHQWRDVTXDLVDUWLFXODPFRQWH~GRjSUR-­
SDJDQGDDSODWDIRUPD)ODWWUQmREXVFDXWLOL]DU¿QDQFLDPHQWRH[WHUQRSDUDSURGXomRGRFRQWH~GR
É pela da capacidade de espalhar-­se, de se dispersar na rede mundial de computadores que os pro-­
jetos que aderem à proposta do site buscam os recursos necessários para a execução. Quanto mais o usuário do Flattr divulga seu projeto em redes sociais, sites e mecanismos de busca, mais poderá re-­
FHEHULQGLFDo}HVRTXHJHUDPDLVUHFXUVRVSDUD¿QDQFLDUVXDLGpLD1RYDPHQWH¿FDFODUDDGHVYLQ-­
FXODomRHQWUHIRQWHVGHSURGXomRHGH¿QDQFLDPHQWRPRGHORFRQVDJUDGRSRUH[HPSORQDVJUDQGHV
empresas de jornalismo/comunicação.
A grande circulação de conteúdo multimídia por meio da ação consciente de diferentes redes de con-­
sumidores/participantes tende a criar uma maior visibilidade e notoriedade, que o conteúdo desloca em direções imprescindíveis para o encontro de pessoas que estejam potencialmente interessadas HPPDLVFRPSURPLVVRVFRPTXHPDSURGX]LX3HQVHPRVHVSHFL¿FDPHQWHHPXPGLVSRVLWLYRVGH
mídia portáteis, telefonia móvel multimídia (smart phones) ou nos tablets multimídia. Não são sim-­
plesmente as tecnologias ou os recursos e aplicativos que ali se amontoam os quais farão com que a informação circule, que as interfaces tenham “vida”, mas a própria dinâmica social (JENKINS, 2010).
No que diz respeito ao campo do fotojornalismo, alguns exemplos já apontam para caminhos interessantes. Dentre eles, um ensaio realizado na Coreia do Norte (Secrets and lies) pelo fotojor-­
3 [Tradução Livre] Todo mês, o usuário Flattr paga uma pequena taxa. Vamos compará-­lo com o bolo de aniversário. Quando você tem um bolo, você quer dar fatias para as pessoas que você gosta. Flattr ajuda você a fazer isso. Se você criou alguma coisa, você pode adicionar um Flattr ao seu conteúdo. Ou se você encontrar algo que goste, e há um botão Flattr além do conteúdo, você clica nele. Cada botão tem um contador que mostra TXDQWDVSHVVRDVHVWmRGLVSRVWDVDGDURERORSDUDRFRQWH~GR1R¿QDOGRPrVRERORpFRUWDGRHPYiULRVSHGDoRVFRPRYRFrFOLFRXHPERW}HV)ODW-­
tr. Cada fatia é então entregue ao criador do conteúdo correto. Se você clicar em dez botões, os dez criadores receberão um décimo do bolo cada um. Se você clicar em uma centena de botões, uma centena de criadores terá um centésimo do bolo. Os cortes podem ser pequenos, mas todos recebem QR¿QDO
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nalista belga Tomas van Houtryve, que utilizou a plataforma Flattr para arrecadar recursos. Como proposta, Tomas disponibilizou as imagens do ensaio na web e associou a elas uma ferramenta que permitia aos usuários fazerem doações pelo Flattr. Resultado: durante um mês, Tomas recebeu 33 (trinta e três) indicações, o que totalizou uma soma de 17,26 euros. From Aug. 6 to Sept. 6 2010, I received 33 Flattrs on the North Korea photo essay that I initially posted for testing. That turned into 17.26 Euros, for an average of 0.52 Euros per Flattr. Over the same period, the NK photo essay had 1175 page views. If I am doing the math correctly, that means that I had one Flattr for every 36 page views4 . )LJXUD3iJLQDLQLFLDOGRHQVDLRIRWRJUi¿FRVREUHD&RUpLDGR1RUWH
Emphas.is: novas fronteiras para o fotojornalismo?
9ROWDGDSDUDR¿QDQFLDPHQWRGHSURMHWRVQRFDPSRIRWRMRUQDOtVWLFRHVWDSODWDIRUPDEXVFD
estabelecer uma íntima ligação entre audiência e produtores de conteúdo, tendo por base, assim FRPRRVLWHGHPLFURSDJDPHQWRV)ODWWURVLVWHPDGH¿QDQFLDPHQWRSHORS~EOLFR&URZGIXQGLQJ
2FRQFHLWRSRGHVHUGH¿QLGRDVHJXLUSURSRVWDVGHSURGXomRGHFRQWH~GRVmRGLVSRQLELOL]DGDVQR
site para o público, que pode investir naquela pela qual se mostrar interessado. A idéia aqui é buscar UHFXUVRVSDUDFXVWHDURSURFHVVRQmRVLPSOHVPHQWHRSURGXWR¿QDO
Contudo, diferente de outras propostas, que não oferecem um retorno direto para o investi-­
PHQWRGRXVXiULRRXVHMDRSUySULRSURGXWR¿QDOL]DGRDSODWDIRUPD(PSKDVLVGLVSRQLELOL]DSDUD
o usuário acesso exclusivo à imagens, vídeos, material de trabalho e outros benefícios. Ademais, conteúdo em tempo real e utilização das redes sociais para acompanhamento do processo de cria-­
ção também se apresentam como serviços ofertados. Mas é importante ressaltar que a escolha pela GLVSRQLELOL]DomRGHVVHPDWHULDO¿FDDFDUJRGRIRWRMRUQDOLVWDQmRGDSODWDIRUPD(PSKDVLV2ODQ-­
oDPHQWRR¿FLDOGRSURMHWRHVWiSUHYLVWRSDUDRSULPHLURVHPHVWUHGH
O leitor não quer mais receber essa informação formatada que é parte de um modelo de comunicação de mão única. A maioria dos leitores procura pela informação que lhe interesse;; TXHUHPSDUWLFLSDUHWURFDULGHLDVVREUHRFRQWH~GRRIHUHFLGRHPDLVGRTXHWXGRFRQ¿DHPVXDV
UHGHVVRFLDLVSDUDVHPDQWHULQIRUPDGR&DGDYH]PDLVROHLWRUFRQ¿DPDLVQRUHODWRSHVVRDOGR
que na reportagem objetiva;; quer recomendações de pessoas próximas, quer decidir em qual nível de profundidade vai se inserir em uma história, quer discuti-­la e moldá-­la. Com Emphas.is, nós tentamos levar em conta todas essas tendências e fazer o leitor/espectador um parceiro no processo de produção, mais do que um mero consumidor. (GARAPA, 2010)
>7UDGXomR/LYUH@'HDJRVWRjVHWHPEURGHHXUHFHEL)ODWWUVVREUHRHQVDLRIRWRJUi¿FRGD&RUHLDGR1RUWHTXHHXLQLFLDOPHQWH
disponibilizei para teste. Esses 33 Flattrs se transformaram em 17,26 euros, para uma média de 0,52 Euros por Flattr. No mesmo período, a página FRPRHQVDLRIRWRJUi¿FRGD&RUpLDGR1RUWHWLQKDYLVLWDV6HHXHVWRXID]HQGRDVFRQWDVFRUUHWDPHQWHLVVRVLJQL¿FDTXHHXWLQKDXP)ODWWUSDUD
cada 36 visualizações de página.
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Figura 04: Página inicial do site Emphas.is
Para Michael Kamber, fotografo do Jornal Norte Americano New York Times com traba-­
lhos no Iraque, Afeganistão, Sudão, dentre outros países, a plataforma Emphas.is representa novos horizontes para a atividade fotojornalística. Entusiasmado com as novas abordagens referentes ao ¿QDQFLDPHQWRGDSURGXomRGDVLPDJHQVSDUDLPSUHQVD.DPEHUVHPRVWUDHQWXVLDVPDGRFRPDV
oportunidades. Para o fotojornalista, entre as características mais importantes da plataforma está a possibilidade de alcançar pessoas que realmente se interessam por causas que, muitas vezes, não conseguiam espaço na cobertura da mídia tradicional. Como exemplo dessa perspectiva, ele cita uma jovem fotógrafa do Iêmen, Amira Al Sharif, que desejava documentar a situação das mulheres na América. No início, Kamber confessa que se mostrou cético em relação a tentativa de arrecada-­
ção de fundos pela web. Contudo, mostrou-­se bastante impressionado com os resultados: os cinco mil dólares dos quais precisava Amira foram arrecadados em menos de uma semana. A surpresa foi tanto que o próprio fotojornalista decidiu investir em um projeto pessoal para o site assim que este VHPRVWUDUR¿FLDOPHQWHODQoDGR
,I\RXDVNPHZKDWLVKDSSHQLQJLQWKHPHGLDWRGD\LVQRWHYHQDUHVXOWRIWKHJOREDO¿QDQFLDOFULVLV
The crisis has only accelerated an existing trend. Newspapers have become part of huge media FRQJORPHUDWHVWKDWDUHQRORQJHUDERXWPDNLQJDSUR¿WEXWDERXWPD[LPL]LQJSUR¿WDQGHYHU\WKLQJ
WKDWVWDQGVLQWKHZD\RISUR¿WPD[LPL]DWLRQLVVLPSO\EHLQJWRVVHGRXW5 . (EMPHAS.IS, 2011)
Considerações finais
5HGH¿QLUPRGHORVUHSHQVDUSURGXWRVSDUFHLURVHFOLHQWHVHLVRGHVD¿RSDUDRIRWRMRUQDOLV-­
mo em tempo de convergência digital. Paralelo ao cenário de avaliação que lê a situação como uma FULVHRTXHVHDSUHVHQWDpXPDDWLYDSURSRVLomRGHDOWHUQDWLYDVHPRGHORVGH¿QDQFLDPHQWRGDDWL-­
YLGDGH(PEUHYHVWHUPRVRTXHSDUHFHHVWDUGH¿QLWLYDPHQWHPDOVmRDVDOWHUQDWLYDVFRQVHUYDGRUDV
TXHUHPRQWDPDRVpFXOR;;GHPDQXWHQomRGRPRGHORGH¿QDQFLDPHQWRGRIRWRMRUQDOLVPR
Na outra ponta do processo, o fotojornalismo permanece criativo, inovador, e cumprindo seu traço deontológico de testemunhar visualmente uma história e/ou notícia. No ponto fulcral destes ques-­
5 [Tradução Livre] Se você me perguntar, o que está acontecendo nos meios de comunicação hoje não é sequer uma consequência da crise ¿QDQFHLUDJOREDO$FULVHVyDFHOHURXXPDWHQGrQFLDMiH[LVWHQWH2VMRUQDLVWRUQDUDPVHSDUWHGHJUDQGHVFRQJORPHUDGRVGHPtGLDTXHQmRVmRPDLV
VREUHFRPRID]HUXPOXFURPDVVREUHDPD[LPL]DomRGROXFURHWXGRTXH¿FDQRFDPLQKRGDPD[LPL]DomRGROXFURHVWiVLPSOHVPHQWHVHQGRMRJDGR
fora.
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WLRQDPHQWRVTXHFRPHoDPDGH¿QLUDSUySULDUHFRQ¿JXUDomRGDDWLYLGDGHIRWRMRUQDOtVWLFDRGHEDWH
FKHJD¿QDOPHQWHDPDWXULGDGHGHVHSHQVDUQmRVRPHQWHDVDUWLFXODo}HVWHFQROyJLFDVFRJQLWLYDVH
LQIUDHVWUXWXUDLV3HQVDURPRGHORGH¿QDQFLDPHQWRDJRUDDVVRFLDGRDRVFRQFHLWRVGHFRQYHUJrQ-­
cia digital, interatividade e participação e direcionar a prática para uma base de sustentabilidade no novo cenário.
Como podemos observar nos exemplos analisados, mudanças na cadeia de circulação da pro-­
GXomRIRWRMRUQDOtVWLFDMiSRGHPVHUHYLGHQFLDGDV2WUDGLFLRQDOPRGHORGH¿QDQFLDPHQWRGHFRQWH-­
~GRQRTXDODSURSDJDQGDUHSUHVHQWDYDRFHQWURGHWRGRJHUHQFLDPHQWR¿QDQFHLURGRVPHLRVGH
comunicação, está se remodelando. Hoje, leitores não mais se saciam com o simples fato de consu-­
mirem informação: eles querem tomar parte no processo. Agem como produtores ou, como vimos QRVFDVRVDQDOLVDGRVSURFXUDPSURSRVWDVLQWHUHVVDQWHVHDV¿QDQFLDP(LVXPQRYRSHU¿OGHFRQ-­
sumidor para o campo do fotojornalismo.
0DVDLQGDHVWDPRVIDODQGRGHWHQGrQFLDV2XWURVH[HPSORVMiVHFRQ¿JXUDPPDWHULDOPHQ-­
te. Vale mencionar o projeto Latitude, que consiste num aplicativo que roda na plataforma móvel GR,SDG1HVVHPLVWRGHDSOLFDWLYRUHYLVWDGHIRWRJUD¿DHSODWDIRUPDGHDFHVVRVHLQFRUSRUDPWDQ-­
to uma janela de visibilidade para o coletivo latitude, como um modelo de negócios. O interessante nesse modelo é perceber também o rompimento com a web como local de visibilidade. Ao se forma-­
WDUSDUDDSODWDIRUPD,SDGVHFRQ¿JXUDFRPRXPPRGHORGHQHJyFLRVRIIZHEHPERUDDLQGDHVWHMD
QDLQWHUQHW$VVLPGLUHFLRQDHFDQDOL]DRÀX[RQRVHQWLGRXVXiULRSURGXWRSODWDIRUPD7UDWDVH
de uma alternativa que, dentro das ambigüidades dos modelos de mídia convergente parece-­nos na-­
WXUDOWHQWDUFRQFLOLDUDFDSDFLGDGHGHWHUXP¿QDQFLDPHQWRLQGHSHQGHQWHSDUDDSURGXomRFRPD
idéia de uma revista, paga, advinda do modelo tradicional, porém sem as amarrações do mercado editorial.
O sistema opera através da descarga grátis através do sistema de gestão do Ipad, o Itunes, do aplicativo Latitude. A partir daí o usuário tem acesso a uma apresentação do coletivo e de amostras do material produzido, como, por exemplo, o ensaio 41 fotógrafos, 36 países, 1 dia. Os demais en-­
saios são disponibilizados para descarga através do sistema de micropagamentos ao preço de 1,99 dólares cada edição. É uma estratégia de negócios que aposta em um baixo custo de acesso ao mate-­
rial numa perspectiva de um largo horizonte de consumo. Figura 05: Telas da apresentação do projeto latitude na plataforma Ipad.
Retomando as hipóteses gerais deste texto, temos alguns elementos a analisar. A distensão HQWUHDSURGXomRGHFRQWH~GRHR¿QDQFLDPHQWRGRPHVPRSDUHFHGDURVSULPHLURVSDVVRVSDUDVH
consolidar fora de um mesmo polo da equação. Uma leitura ingênua pode detectar nesse aspecto o estabelecimento de uma independência editorial para o fotojornalismo. O mesmo ponto de vista foi FRPXPQRVXUJLPHQWRGDLQWHUQHWDQRVDWUiVQRVHQWLGRGHD¿UPDUTXHSRWHQFLDOPHQWHTXDO-­
quer usuário poderia ter seu meio de comunicação, publicar o que quisesse. Se isso fosse verdade, seria verdade também que os modelos seriam por si só sustentáveis. Na verdade, há uma confusão QHVVHSRQWRTXHVREUHS}HDFRQGLomRWHFQROyJLFDQHFHVViULDFRPRVHVX¿FLHQWHSDUDRHVWDEHOHFL-­
mento de modelos sustentáveis. A sustentação advém, justamente, de diversos fatores conjuntu-­
rais, conceituais e também tecnológicos. A outra questão que se sobrepõe é que mesmo pensando o PRGHORGH¿QDQFLDPHQWRGHQWURGHVVDVQRYDVEDVHVLVVRQmRHOLPLQDDWURFDVLPEyOLFDHQWUHTXHP
SDJDH¿QDQFLDHTXHPIRUQHFHDVLPDJHQV4XHPFRQWUDWDDRUTXHVWUDFRQWLQXDHVFROKHQGRDP~-­
VLFDTXHYDLWRFDU2FRQWUDWRFLYLOGDIRWRJUD¿DFRPRPRGRGHFRPXQLFDomRQmRHVWiLVRODGRGHVVH
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HL[R'HVWDUWHDVFRQWUDSDUWLGDVHQWUH¿QDQFLDPHQWRHSURGXomRSRGHPRFRUUHUQRVHQWLGRGHSUR-­
dução de novos conteúdos, agendas temáticas, etc. mas em absoluto não desaparecem. No desdobramento direto, seria precipitado alegar que essas experiências se incorporem à cadeia regular de complexos midiáticos tradicionais. Vale ponderar que o êxito dessas alternativas ainda é delimitado a modelos situados de modo centrífugo a organização em moldes da indústria de conteúdos. Pensar uma transposição direta não é o caminho mais aplicável de interpretação, pos-­
to que a própria história do fotojornalismo aponta para assimilações graduais e sistemáticas. Desse PRGRRYLpVDEHUWRSRUPRGHORVGH¿QDQFLDPHQWRGLDORJDFRPPRGHORVSUHFHQGHQWHVVHPDQXOi
ORVPDVDEULQGRYiOYXODVTXHSRGHPR[LJHQDUDFDGHLDSURGXWLYDGDIRWRJUD¿DGHLPSUHQVD
(PDGLomRDRVHEXVFDUVXVWHQWDomRIRUDGRVPRGHORVGHDXGLrQFLDPDVVLYDGLYHUVL¿FDQGR
em multiplataformas, busca-­se nitidamente uma desintermediação dos veículos da indústria cultu-­
ral nas dinâmicas entre conteúdo e público. Prosseguindo, perceber o fotojornalismo e sua cadeia de circulação como predominantemente um arranjo circunstancial que pode ser ativado a qualquer momento, ou um processo ao invés de um produto é de certo modo engolir o caramelo envenena-­
do que ignora a periodicidade, a universalidade das informações, a circulação coletiva e em massa FRPRHOHPHQWRVHVVHQFLDLVSDUDRHQWHQGLPHQWRGDIRWRJUD¿DGHQRWtFLDFRPRSDUWLFLSDQWHGDFRQV-­
trução visual e social da realidade. O tiro no pé pode ser justamente acreditar que a total dissociação entre conteúdo, plataforma, e circulação oferece garantias a sustentabilidade. Em breves termos: FRQWLQXDPRVDWHUDFHVVRDIRWRJUD¿DVHUHSRUWDJHQVIHLWDVKiDQRVHTXHHVWmRLPSUHVVDVDR
passo que, o que garante que os novos experimentos disponibilizados para o Ipad, por exemplo, po-­
derão continuar a ser acessados daqui a 20 ou 30 anos?
2TXHSDUHFHUD]RiYHOFRPRVtQWHVHSRVVtYHOpDVREUHSRVLomRGRVQRYRVPRGHORVGH¿QDQ-­
ciamento, como o crowdfunding aos modelos vigentes, o que não descarta absolutamente dois pos-­
VtYHLVUHVXOWDGRV3ULPHLURDSUySULDUHHVWUXWXUDomRHÀH[LELOL]DomRGDSURGXomRHPPROGHVPDLV
tradicionais, como já ocorre com a contratação de coletivos para a realização de materiais especiais SDUDMRUQDLV6,/9$-5H48(,52*$6HJXQGRTXHQRVQRYRVPRGHORVGH¿QDQFLDPHQWR
QmRRFRUUDDIRUPDomRHFRQ¿JXUDomRGHWHQGrQFLDVKHJHP{QLFDVGHQWURGHVVDSHUVSHFWLYD
3RU¿PQmRGHL[DGHVHULPSRUWDQWHPHQFLRQDURVXUJLPHQWRGHVVHFRQMXQWRGHDOWHUQDWLYDVGH¿-­
QDQFLDPHQWRFRPRXPDDEHUWXUDSDUDXPYLpVLQRYDGRUQRPRGRGH¿QDQFLDURIRWRMRUQDOLVPR'Dt
SRUTXHMXVWDPHQWHDVDPELJXLGDGHVVHDÀRUDP,VVRGHWHFWDXPDMXVWHQDWXUDOHQWUHWDQWRVRXWURV
presentes na história do fotojornalismo. Não ignorar as pressões e tensões do mercado e de modelos concorrenciais ao modo de sustentação do modelo de produção é justamente o que permite iluminar essas ambiguidades.
7HUFODURHPPHQWHHVVDVDPELJXLGDGHVDMXGDDFRPSUHHQGHUFRPRDVLQÀXrQFLDVGRFHQiULR
da convergência dispõem esse nível da articulação da produção. Não podemos perder de vista, que RVHOHPHQWRVHSUREOHPDVDTXLFRORFDGRVGHFHUWRPRGRRULHQWDPR¿QDQFLDPHQWRGRIRWRMRUQDOLV-­
mo, na mesma medida que, muito provavelmente, em futuros casos, outros modelos surgirão, assi-­
milando e reajustando-­se. 1HVVHVHQWLGRWDOYH]RVPRGHORVGH¿QDQFLDPHQWRSDUDRMRUQDOLVPRFRQWHPSRUkQHRFRQYHUJHQWH
não garantam, nem sejam por si só, uma tentativa de subversão das rotinas de produção do foto-­
jornalismo. Ao contrário, é certamente uma inserção de novos pontos de negociação na sua cadeia produtiva. Mais um capítulo na história de sínteses ocorridas entre notícias, tecnologia, sociedade e imagens. E como isso se paga. Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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GT3 - Economia das empresas de comunicação
Mudanças estruturais no jornalismo: convergir é preciso.
Reflexões sobre as empresas, a convergência de redações e o perfil dos profissionais
Thais de Mendonça Jorge
Zelia Leal Adghirni
Universidade de Brasília
Resumo
A economia das empresas jornalísticas e as relações entre os atores envolvidos estão em processo de mudança. O panorama é de aceleração do tempo de produção, circulação e consumo de informação, precariedade nas condições de trabalho, transformação nas rotinas produtivas e mutação nas em-­
presas, nos critérios e produtos. O jornalista é um personagem cuja identidade parece menos estrati-­
¿FDGDHHVWiYHOTXHQRSDVVDGRDWXDQGRHPSURGXWRVFXMRVFyGLJRVHVWmRPDLVWXUYRVHPDLVPRYH-­
diços que antes. Neste artigo examinamos as mudanças estruturais do jornalismo sob três aspectos: PRGL¿FDo}HVQRFHQiULRGDVHPSUHVDVFRQYHUJrQFLDGHUHGDo}HVHDOWHUDo}HVQRVSUySULRV
MRUQDOLVWDV([DPLQDPRVFRPRDSUR¿VVmRHVWiPXGDQGRHPIXQomRGDVUHIRUPDVQDLQG~VWULDLQ-­
formativa provocadas pela internet, pela crise econômica e de paradigmas.
A proposta deste artigo é examinar e interpretar um conjunto de mudanças estruturais que têm afetado a prática jornalística nos últimos anos. As transformações às quais nos referimos resul-­
tam na multiplicação dos espaços de produção noticiosa ou informativa, ocupados parcialmente por jornalistas. São versões on-­line de jornais tradicionais, sítios, portais, blogs e redes sociais mediadas pela internet, mídias públicas e corporativas, empresas de consultoria e assessoria de comunicação, estruturas de comunicação organizacional e de jornalismo empresarial.
Essa multiplicidade implica, por um lado, uma dispersão do pólo de emissão de informações, baseado no modelo jornalistas/empresas jornalísticas tradicionais. O público da mídia impressa se retrai. Em alguns países, a internet superou os outros meios como suporte regular de informações1. Esse mesmo público, em muitos casos, participa do processo de produção noticiosa, na apuração de IDWRVHQYLRGHiXGLRVYtGHRVIRWRJUD¿DVHVXJHVW}HVGHSDXWDRXSHODJHVWmRGHYHtFXORVSUySULRV
criados a partir de iniciativas individuais, de grupos ou ligados a organizações, instituições políticas, PRYLPHQWRVVRFLDLVHWF2FRUUHSRUWDQWRDUHGH¿QLomRGRFRQFHLWRGHS~EOLFROHLWRUHXPDXPHQWR
do número de amadores no processo e no espaço público midiático.
Ao mesmo tempo em que se alteram a economia das empresas de comunicação e as relações entre os atores envolvidos no cenário midiático, mudam também as práticas jornalísticas. Os estu-­
dos mostram um cenário de aceleração do tempo de produção, circulação e consumo da informação;; precarização das relações de trabalho;; transformação nas rotinas produtivas e na relação com as fontes;; mutação dos critérios de noticiabilidade;; revisão ou mesmo relativização dos valores éticos;; PXGDQoDQDIRUPDomRRIHUHFLGDDRVMRUQDOLVWDVWUDQVIRUPDomRQRSHU¿OQDLGHQWLGDGHSUR¿VVLRQDO
e nos mecanismos de legitimação e atribuição de notoriedade no jornalismo. E, para completar, a mutação incide sobre o produto jornalístico, que já é outro. Poderíamos chamar ao jornal digital, aquele conjunto de textos, fotos, imagens e sons que se exibe na tela do computador, mais propria-­
mente, boletim de informação e entretenimento virtual interativo, por exemplo.
Trata-­se, portanto, de mudanças estruturais nas convenções relativamente estáveis do jorna-­
OLVPRHXPDUHFRQ¿JXUDomRGRVPRGRVGHSURGXomRMRUQDOtVWLFRV1HVWHDUWLJRDQDOLVDUHPRVWUrVGRV
SULQFLSDLVDVSHFWRVGDTXHVWmRDVPXGDQoDVQDVHPSUHVDVQRDPELHQWHGHWUDEDOKRHQRSHU¿OGRV
1 Uma pesquisa anual realizada pelo Center for the Digital Future da Anneberg School for Communication, publicada em 2008, mostra que 80% dos americanos consideram a internet como uma importante fonte de informação (contra 66% em 2006) e mais importante que a televisão (68%), o rádio e os jornais (63%).
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jornalistas. Sob o marco teórico do construcionismo, eles guardam forte ligação entre si, pois dizem UHVSHLWRjHVWUXWXUDGRQHJyFLRMRUQDOtVWLFRjFXOWXUDGRVMRUQDOLVWDVHVXDLGHQWLGDGHSUR¿VVLRQDO
Permeando toda a escala de mutações no jornalismo, sujeitando-­se às transformações, aplicando-­as e adaptando-­as, a indústria informativa é um elemento do cenário de globalização e da sociedade em rede (Castells).
Mudanças nas empresas: desafios
Os jornais, entendidos como publicações periódicas de notícias, entretenimento e publici-­
dade, enfrentam a maior crise de sua história (ESPADA & HERNANDEZ, 2009;; McCHESNEY & NICHOLS, 2010;; PAVLIC, 2005;; LÓPEZ, 2004). Essa crise tem sido associada à emergência das chamadas mídias digitais, o que não é inteiramente correto. Em diversas ocasiões a mídia jornal HQIUHQWRXGHVD¿RVHRVVXSHURXH[SORUDQGRVXDVYDQWDJHQVFRPSHWLWLYDVHLQWURGX]LQGRLQRYDo}HV
tanto no aspecto industrial (tecnológico e de processos) quanto na produção jornalística, nas esferas administrativa e comercial. Isso possibilitou aos jornais manter os aspectos essenciais da atividade, compensando perdas de audiência para as mídias surgidas no século XX, com ganhos de produtivi-­
dade e melhorias na qualidade do produto impresso, sem alteração substancial na estrutura do ne-­
gócio. No lado empresarial, os jornais enfrentaram ao longo do século XX uma crescente transfor-­
mação: de início, houve a formação de cadeias locais controlados por grupos, em função de interes-­
ses políticos e econômicos. Era o caso dos grupos de Pulitzer e Hearst, nos Estados Unidos. Durante décadas, houve uma gradual alteração na estrutura de capital das empresas, com aumento da parti-­
FLSDomRGRFDSLWDO¿[RGHYLGRDRVLQYHVWLPHQWRVQHFHVViULRVjLQFRUSRUDomRGDVQRYDVWHFQRORJLDV
ao mesmo tempo em que individualmente mantinham margens de lucro superiores à maioria dos setores industriais. Em conseqüência, ocorreu um duplo movimento de aproximação entre empresas jornalís-­
WLFDVHPHUFDGRVGHFDSLWDODVHPSUHVDVMRUQDOtVWLFDVSDVVDUDPDEXVFDURPHUFDGR¿QDQFHLUR
FRPRIRUPDGHREWHUUHFXUVRVQHFHVViULRVDRVLQYHVWLPHQWRVH[LJLGRVRVHWRU¿QDQFHLURSDVVRX
DEXVFDUDVHPSUHVDVMRUQDOtVWLFDVD¿PGHDGTXLULUSDUWLFLSDo}HVTXHOKHVSURSRUFLRQDVVHPUHQGL-­
mentos acima da média. Ambos os movimentos levaram à abertura de capital das empresas jornalís-­
ticas, tradicionalmente familiares, a um aumento de seu valor em termos de capitalização de merca-­
do e a um processo de concentração, com a formação de grupos de novo tipo, do qual a Gannett, com mais de 80 jornais se tornaria o melhor exemplo. Esses grupos tinham objetivos diferentes, buscan-­
do economias de escala e sinergias, inclusive mediante redução de custos na produção jornalística, que lhes permitisse aumentar a lucratividade conjunta (MEYER, 2009).
Na virada do século XX para o XXI, quando a internet já era uma realidade, proliferavam os sites de informação, telefones celulares e dispositivos ainda primitivos, os jornais eram empresas altamente rentáveis, embora a circulação e participação no investimento publicitário global esti-­
vessem em retração. Em pouco tempo, a era de ouro se transformou numa marcha em direção ao pior dos mundos. Os investidores começaram a exigir a manutenção da lucratividade das empresas jornalísticas, sob pena de se desfazer da participação. As empresas, por sua vez, perderam valor de mercado. O esforço para manter a rentabilidade levou a sucessivos cortes de despesas com o conse-­
THQWHLPSDFWRVREUHDTXDOLGDGHHGLWRULDOGRVMRUQDLVHVREUHD¿GHOLGDGHGDDXGLrQFLD
$TXHGDGHFLUFXODomRHRDXPHQWRGDFRQFRUUrQFLDGDVPtGLDVHOHWU{QLFDVFRPRGHVD¿RGD
radiodifusão recebendo o reforço das TVs por assinatura e pela então incipiente mídia on-­line, le-­
vou à perda de receita publicitária, particularmente no tradicional e altamente rentável mercado de DQ~QFLRVFODVVL¿FDGRV$HVSLUDOGHVFHQGHQWHGRVFXVWRVGRSDSHOVHHVJRWRXHDLQG~VWULDLQIRUPDWL-­
YDSDVVRXDHQIUHQWDUGL¿FXOGDGHV,QFDSD]HVGHVHPDQWHUFRPRVEDL[RVSUHoRVGHWHUPLQDGRVSHOR
excesso de oferta, os fabricantes de papel deixaram de investir (sintomaticamente a maioria das em-­
presas lançava em seus balanços valores maiores na conta de depreciação, do que na pesquisa e de-­
senvolvimento), buscando a sustentação dos preços pela via da redução da oferta, o que resultou no fechamento de inúmeras fábricas. Assim, no plano industrial e da produção jornalística, o cenário da passagem de século não Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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era animador para as empresas jornalísticas. O ciclo de inovações que havia permitido, em ambos os setores, obter ganhos de produtividade e de qualidade havia se esgotado ou perdido o ritmo. Depois de substituir a linotipia pela fotocomposição e esta pela gravação direta de chapas de impressão, as expectativas atuais dos fabricantes de equipamentos não vão além da obtenção de chapas reutilizá-­
veis, por exemplo. Nas redações, os ganhos obtidos com eliminação de funções e agilização de pro-­
cessos decorrentes da informatização não passam de pequenos ganhos incrementais decorrentes da LQFRUSRUDomRGHVLVWHPDVPDLVH¿FLHQWHVHGHUHRUJDQL]DomRGRSURFHVVRGHWUDEDOKRFRPRDLQWHJUD-­
ção de redações de vários veículos da mesma empresa.
Mudanças no ambiente: convergir é aproximar
A indústria informativa não tem ainda um modelo para enfrentar essa atmosfera cambiante. Enquanto algumas experiências vêm sendo tentadas, individualmente ou com a ajuda de assesso-­
rias, resultados positivos e negativos dos últimos 20 anos de jornalismo na internet trouxeram algu-­
mas certezas, mas muitas indagações. Sem dúvida, entre as mudanças no jornalismo, a que melhor pode ser vislumbrada a olho nu – e também a mais recente entre as transformações que estão atin-­
JLQGRDSUR¿VVmR±HVWiDFKDPDGDFRQYHUJrQFLDGDVUHGDo}HV,QWHJUDUDVHVWUXWXUDVGHSURGXomR
GHVXSRUWHVFRPR79UiGLRMRUQDOLPSUHVVRHRQOLQHDWpSRXFRWHPSRPHQWDOH¿VLFDPHQWHGLV-­
WDQFLDGRVVLJQL¿FDPH[HUQRVKRUiULRVURWLQDVIXQo}HVGLPHQV}HVFXOWXUDH¿ORVR¿DGHWRGRXP
FRQWLQJHQWHGHSUR¿VVLRQDLVTXHHPPXLWRVFDVRVVHTXHUVHIDODYD
&RQYHUJLU7HQGHUGLULJLUVHRXFRQÀXLUSDUDRPHVPRSRQWR1D0DWHPiWLFDGHDFRUGR
com o dicionário (Ferreira, 2004), convergir quer dizer aproximar-­se (do objetivo). Na Biologia, HQFRQWUDPRVXPVLJQL¿FDGRTXHIDODGD³IRUPDomRHYROXWLYDGHFDUDFWHUHVVHPHOKDQWHVHPJUXSRV
distintos”, o que parece referir-­se à maneira de as empresas jornalísticas progredirem, por fusões e aglutinações entre organismos do mesmo grupo ou empresas externas. O termo convergência, que dá nome ao ato de convergir, também aponta a qualidade, caráter ou estado daquilo que é conver-­
JHQWHRXVHMDTXHPDQWpPDVFDUDFWHUtVWLFDVPHVPRHPRXWURVDPELHQWHVFRQÀXLQGRSDUDXPD
única estrutura. Cross-­media, multimidialização das plataformas, globalização de estruturas, integração de redações – muitos são os conceitos associados ao fenômeno. Numa acepção genérica, convergência de mídia é a fusão dos mercados impresso, televisivo, radiofônico e eletrônico, utilizando tecnolo-­
gias portáteis e interativas, por meio de plataformas de apresentação digital. Começou-­se a falar de convergência nos anos 1980 com referência à produção jornalística. (P1LFKRODV1HJURSRQWHFRQVHJXLXFRQYHQFHURVLQYHVWLGRUHVQRUWHDPHULFDQRVD¿-­
nanciar o laboratório de mídia (Media Lab) no Massachussets Institute of Technology com o ar-­
gumento de que as áreas de TV e cinema, a indústria informática e o setor de publicações iriam se unir no futuro próximo, fenômeno a que chamou “convergência”. Quase 10 anos depois, a expressão Media Convergence era empregada para explicar a edição on-­line do jornal vanguardista San Jose Mercury News, cuja preocupação foi usar as formas de mídia existentes para apresentar as notícias na página eletrônica (GORDON, 2003).
Incluída no processo de busca de novas estruturas para a atividade informativa, a convergên-­
FLDMRUQDOtVWLFDSDUD$YLOpVVHGH¿QHFRPR
Um processo multidimensional que, facilitado pela implantação generalizada das tecnologias GLJLWDLVGHWHOHFRPXQLFDomRDIHWDRkPELWRWHFQROyJLFRHPSUHVDULDOSUR¿VVLRQDOHHGLWRULDOGRV
meios de comunicação, propiciando uma integração de ferramentas, espaços, métodos de trabalho e linguagens anteriormente segregados, de forma que os jornalistas elaboram conteúdos que se distribuem através de múltiplas plataformas, mediante as linguagens próprias de cada uma (AVILÉS ET AL., 2009: 173-­198).
A integração completa está longe de efetivar-­se na maior parte dos veículos. “Eu sustento que a plena integração sem um bom modelo de negócio e uma maneira de convencer os trabalhadores poderia não ser a solução ideal e poderia dar lugar a custos maiores, um processo de tomada de de-­
cisões mais lento, jornalistas infelizes e perda de valores”, avisa o professor Piet Bakker, da Hoges-­
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chool Utrecht de Amsterdam (apud SALAVERRÍA & NEGREDO, 2008). Ele diz que a convergência não deve ser considerada uma religião, com regras rígidas que devem necessariamente ser seguidas. Se isso acontece, o processo tende a se reverter e gerar, ao contrário, muita divergência.
a) Modelos de convergência
Neste início do século XXI é difícil acompanhar os desenvolvimentos em tecnologia, negócios ou jornalismo sem deparar com a palavra convergência. O termo vem sendo aplicado para denomi-­
nar ações de marketing (publicidade com jornalismo), estratégias corporativas (a junção da AOL com a Time Warner), inventos tecnológicos (vídeo sob demanda, TV interativa), funções (backpack journalist ou jornalista multitarefa), técnicas narrativas (mescla de texto e multimídia nos sites no-­
ticiosos) (GORDON, 2003: 57). “Há o perigo de a palavra Convergência se deturpar, jogada ao acaso nas discussões sobre mídia, tecnologia e jornalismo, com diferentes participantes usando a mesma palavra para diversos VLJQL¿FDGRV´DOHUWD5LFK*RUGRQTXHFRQYLGDDUHÀHWLUVREUHRIXWXURHRSUHVHQWHGR
jornalismo, procurando entender seus diferentes ângulos e implicações. Segundo Salaverría e Negredo (2008: 127), as modalidades de convergência vão da conver-­
gência a dois (papel e on-­line) até a convergência a quatro (papel+on-­line+TV+rádio), embora as fórmulas para juntá-­las variem: da integração por sessões temáticas ou editorias à integração por rit-­
PRVSURGXWLYRVLQFOXLQGR¿QDOPHQWHRFDVDPHQWRHQWUHGHSDUWDPHQWRFRPHUFLDOHHGLWRULDO&DGD
empresa pode adotar um modelo, a depender de metas e objetivos a curto e longo prazos. O sistema sabe que as mudanças incidirão sobre os variados eixos do processo produtivo, sobre o trabalho dos MRUQDOLVWDVHVREUHRSURGXWR¿QDO(QWUHWDQWRVHULDDFRQYHUJrQFLDGHUHGDo}HVHHTXLSHVDSDQDFpLD
para todos os males do jornalismo atual? O que representa o ato de agregar, reunir a produção para a qualidade, a distribuição e a apresentação de notícias ao público usuário? Que mudanças o cená-­
rio globalizado de fusões, aglomerados e convergência pode levar, agora e mais à frente, ao produto ¿QDO±RMRUQDOLPSUHVVRHGLJLWDODWHOHYLVmRHRUiGLR"1mRVHWUDWDDSHQDVGHWHQWDUSUHYHUFRP
uma bola de cristal, o que acontecerá com as mídias tradicionais e, sim, como o jornalismo pode ser afetado pelo furacão da convergência.
Apresentamos a seguir formas de convergência e de mudanças estruturais adotadas em três países – Reino Unido, Brasil e Espanha:
-­ Desde 2007, o Guardian Media GroupXQL¿FRXDVRSHUDo}HVGRGLiULRLPSUHVVRThe Guar-­
dian, do dominical The Observer e do digital guardian.co.uk em um mesmo prédio. Os três meios dividem uma redação polifacética – em três andares visualmente conectados – e o pluralismo chega ao nível temático: o prédio abriga ainda a sede da principal orquestra de Londres. O editor Roy Gre-­
enslade (apud SALAVERRÍA E NEGREDO, 2008) defende que a convergência consiste na criação de uma nova cultura jornalística. Até 2010, a convergência era apenas a dois, ou seja, papel e on-­
line;;
-­ O jornal brasileiro O Globo, terceiro em circulação impressa no país, foi um dos primeiros a unir as redações, antes divididas em edifícios de um lado e do outro da mesma rua. “Já houve um tempo em que a internet era um inimigo. Hoje a postura mudou porque somos uma marca de jor-­
nalismo multiplataforma e a internet só fez ampliar o canal para captação e retenção de clientes”, D¿UPD5LFDUGR9H]RTXHpGLUHWRUGHQHJyFLRV1HVVHWHPSRHPTXHDVLQHUJLDHQWUHDVHTXLSHVGR
Globo Online e O Globo impresso se dava por meio da agência de notícias do grupo, que distribuía a LQIRUPDomRRVMRUQDOLVWDVPDLVMRYHQVGRGLJLWDOHUDPYLVWRVFRPR³FDEHoDVGHDO¿QHWH´FODUDPHQ-­
ção às cabeças raspadas e a sua alegada incapacidade diante dos veteranos (JORGE, 2008). Hoje, os VLWHVGD*ORERHVWmRXQL¿FDGRVQRJORERFRPSURSRUFLRQDQGRDVVLPPDLVTXHXPDconvergência a quatro, pois reúne, além do jornal O Globo, a TV e a rádio, todos os outros periódicos (Extra, revista Época e outras da editora Globo), num mesmo ambiente on-­line);;
-­ O grupo O Estado de S. Paulo foi o primeiro brasileiro a buscar consultoria fora para pro-­
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mover reformas internas na empresa. Assim chegou à Innovations in Newspapers (Inovações em jornais), que contava com a liderança do espanhol Carlos Soria, de Juan Giner e outros professo-­
res da Universidade de Navarra (Espanha), e assumiu o conceito de “turbina informativa”. A idéia de convergência, para esse grupo de pesquisadores, é de que a indústria informativa precisa de um “motor” para gerar produtos comercializáveis. A informação processada correria dentro de dutos (os infodutos) e irrigaria o sistema social, gerando novos subprodutos. Hoje, as redações on-­line e im-­
SUHVVDHVWmRLQWHUOLJDGDVDSHVDUGHPDQWHUOLGHUDQoDVHVSHFt¿FDV³7HPRVLQLFLDWLYDVQDVPHVPDV
GLUHo}HVSDUDRVGRLVPRGHORVGHMRUQDOGHVGHFRQWH~GRFRPRFODVVL¿FDGRVSXEOLFLGDGHJXLDVFR-­
EHUWXUDGHHFRQRPLDHQHJyFLRVUiGLR´GH¿QHRGLULJHQWH6LOYLR*HQHVLQLSUHYHQGRTXH³VHUiFDGD
vez mais comum que as empresas criem projetos voltados para outras mídias” (JORGE, 2010). O estadao.com realiza a convergência a dois (impressos e on-­line), integrando também a revista Piauí, a agência Estado e o Jornal da Tarde, mas existe também uma central de produção de vídeos cha-­
mada TV Estadão;;
-­ Antes de a redação do jornal mais tradicional da Espanha, El País, integrar as redações do on-­line com o papel, em 2010, os redatores passaram por cursos de ferramentas, de redes sociais, além de participar de reuniões que às vezes duravam quatro horas. Foi a fórmula que o periódico encontrou para manter o prestígio e a credibilidade da marca e aproveitar os talentos das duas equi-­
pes, nesse tipo de convergência a dois. “Trata-­se de produzir informação de qualidade, que aporte valor e seja feita com rigor”, defende o diretor adjunto Gumersindo Lafuente (2010). Ele admite que no início houve divergência entre as equipes, com o tempo as rusgas estão sendo substituídas por uma “compreensão do novo” e a idéia de “vasos comunicantes”, em que as duas redações funcionem como complementares. Lafuente não vê a crise no jornalismo como “conjuntural”, porém como “es-­
trutural”: “Não estamos em uma transição, e sim em uma autêntica revolução. Temos que trabalhar com o conceito de ruptura, de coisas que se rompem”. Já na redação do La Vanguardia, de Barcelo-­
na, e no El Mundo (2010), concorrente do El PaísDFRQYHUJrQFLDHQJOREDSURGXWRVGLYHUVL¿FDGRV
como os audiovisuais. Esses dois últimos veículos colocaram equipes de TV dentro da redação. Te-­
mos dúvidas se essa atitude caracteriza, de verdade, uma convergência a quatro, na conceituação de Salaverría e Negredo, porque não se trata de colocar toda a TV dentro de um website, mas apenas produzir material audiovisual (como especiais, shows curtos e entrevistas gravadas em estúdio) para veicular no ambiente virtual.
Mudanças no perfil do jornalista: um ator no paredão
3DVVDPRVHPVHJXLGDDLGHQWL¿FDURVSRQWRVGHWHQVmRTXHQRVSDUHFHPPDLVVLJQL¿FDWLYRV
para interpretar as mudanças estruturais que vêm ocorrendo com envolvimento dos jornalistas: (1) GHVUHJXODPHQWDomRSUR¿VVLRQDODOWHUDomRGDVURWLQDVSURGXWLYDVWUDQVIRUPDo}HVQRGHVH-­
QKRGDSUR¿VVmRHFULVHGHLGHQWLGDGH1RPHLRGHWRGRRWLURWHLR±LQWHUQRFRPDVWUDQVIRUPDo}HV
WHFQROyJLFDVHH[WHUQRFRPDGLVFXVVmRVREUHDXWRULDHSURSULHGDGHGDQRWtFLD±HVWiRSUR¿VVLRQDO
do jornalismo, ator de um espetáculo em que ele mesmo corre perigo, exposto ao paredão da socie-­
dade. D'HVUHJXODPHQWDomRSUR¿VVLRQDO
A declaração de inconstitucionalidade do decreto-­lei 972 de 1969, pelo Supremo Tribunal Fe-­
GHUDO67)TXHLQVWLWXLXR¿PGDREULJDWRULHGDGHGRGLSORPDSDUDRH[HUFtFLRGRMRUQDOLVPRSUR-­
YRFRXXPLPSDFWRGHSURSRUo}HVDLQGDQmRDYDOLDGDVSHORVSUR¿VVLRQDLVQHPSHORVSHVTXLVDGRUHV
da área de comunicação no Brasil. O fato é muito recente. Mas os signos da crise estão presentes na sociedade: desemprego nas redações, fechamento dos cursos de jornalismo nas instituições priva-­
das, queda de inscrições nos últimos vestibulares, substituição de pessoas físicas por pessoas jurí-­
GLFDVQDVHPSUHVDVGHFRPXQLFDomRSXOYHUL]DomRGRSHU¿OGRMRUQDOLVWDSUR¿VVLRQDOHPMRUQDOLVWD
multimídia.
Se a decisão dos juízes do STF foi uma espécie de morte anunciada do modelo de regulamen-­
Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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tação jornalística que funcionava há 40 anos, as conseqüências ainda são imprevisíveis para o futu-­
URGRMRUQDOLVPRFRPRSUR¿VVmRHSDUDDVRFLHGDGHFRPRHVSDoRS~EOLFRGHGLVFXVVmR1RV~OWLPRV
anos, por uma série de razões, o campo do jornalismo propriamente dito vem encolhendo, em de-­
trimento do campo da comunicação (leiam-­se assessorias de comunicação de empresas públicas ou privadas), que emprega hoje mais da metade dos jornalistas ativos do país. Segundo os pesquisado-­
res canadenses Charron e Bonville (2004), estamos diante da emergência de uma nova geração de “jornalistas de comunicação”. Eles surgem das lógicas comerciais e de uma hiperconcorrência entre publicações, suportes e mensagens.
7DPEpPREVHUYDPRVRMRUQDOLVWDFRPRDWRUSUR¿VVLRQDOFXMDLGHQWLGDGHSDUHFHPHQRVHV-­
WUDWL¿FDGDHHVWiYHOTXHQRSDVVDGRHPSURGXWRVFXMRVFyGLJRVHVWmRPDLVWXUYRVPRYHGLoRVHVHP
FRQWRUQRVGH¿QLGRV1RFDVREUDVLOHLURRFDPSRGRMRUQDOLVPRHUDDWpD~OWLPDGHFLVmRGR67)
institucionalizado e legitimado por enquadramentos jurídicos (legislação trabalhista sobre o exercí-­
cio do jornalismo, diploma universitário, lutas sindicais) e regras pragmáticas, fruto das convenções estabelecidas. Capital da República, Brasília é a capital do jornalismo, pois tem a maior concentração de jor-­
nalistas per capita: 6.500 jornalistas para uma população de 2 milhões de habitantes, ou seja, um jornalista para cada 350 habitantes2. Desses, 60% estão empregados em assessorias de comunica-­
ção de órgãos públicos ou empresas privadas. Dados da Federação Nacional de Jornalistas (2004) LQGLFDPTXHFHUFDGHPLOMRUQDOLVWDVEUDVLOHLURVWrPUHJLVWURSUR¿VVLRQDOFRQWXGRQmRpSRVVtYHO
precisar quantos estão em atividade. Também é difícil descobrir quantos estão empregados nos 673 jornais diários e 400 periódicos em circulação (Associação Nacional dos Jornais – ANJ, 2010).
1R %UDVLOR MRUQDOLVPR pXPD SUR¿VVmR PDMRULWDULDPHQWHIHPLQLQDVmR PXOKHUHV
e 47,51% são homens (RAIS, 2004). Estimativas sindicais indicam que o poder público emprega cerca de 20 mil jornalistas, mas esse número subiria para 39 mil se considerarmos as pessoas que atuam na produção de informes e subsídios para a imprensa tradicional e para as mídias das fontes (SANT’ANNA, 2009: 264). A revoada de jornalistas para as assessorias teria sido provocada pela crise econômica a partir de 2000, que reduziu em 40% o volume de postos de trabalho no impresso. Fora das redações o setor ampliou-­se em 16% (SANT’ANNA, 2005). As fontes são, em grande parte, verdadeiras organizações políticas. Agem de forma semelhante aos grupos de interesse que digla-­
diam na esfera pública, desempenhando papel de atores políticos. b) Alteração das rotinas produtivas
A pressão do tempo sobre a produção das notícias é uma das marcas indeléveis do jornalismo ao longo da história (MATTELART, 1977;; SOUSA, 2002;; NEVEU, 2004). O desenvolvimento das tecnologias digitais acelerou o processo nos últimos 20 anos. A velocidade da mídia que altera as relações do homem com o tempo (VIRILIO, 1993;; WOLTON, 2004) pode ser considerada uma das mudanças estruturais mais fortes dessa travessia. $FRQYHUJrQFLDGHFRQWH~GRVHPWH[WRViXGLRHYtGHRGHVFRQ¿JXUDRPRGRWUDGLFLRQDOGH
produção e impõe uma carga de trabalho ininterrupta aos jornalistas. Situação que, no Brasil, as empresas vendem com orgulho, levando o jornalista a assumir o slogan de “jornalista 24 horas”. De nada adiantaram as tentativas dos sindicatos, relatadas em inúmeros dossiês, de conscientizar os SUR¿VVLRQDLVHOHYiORVDUHDJLU&RPUHFHLRGRGHVHPSUHJRDPDLRULDDVVXPHHVVHGLVFXUVRHPDQ-­
tém distância das reivindicações sindicais, inclusive quanto à demanda de “múltiplo salário” para o jornalista multimídia.
Diante de jornadas produtivas que se estendem até 12 horas, da redução dos salários, da falta de contratos estáveis com carteira assinada (as empresas estão preferindo contratar pessoas jurídi-­
FDVHPYH]GHSHVVRDVItVLFDVHQmRSDJDUGLUHLWRVWUDEDOKLVWDVRVMRUQDOLVWDVSUR¿VVLRQDLVGRVMR-­
3HORVQ~PHURVGR6LQGLFDWRGRV-RUQDOLVWDV3UR¿VVLRQDLVGR'LVWULWR)HGHUDOUHJLVWURVKDYLDPVLGRHPLWLGRVHP%UDVtOLD
6RPDQGRVHDFHUFDGHPLOSUR¿VVLRQDLVFRPUHJLVWURVGHRXWURVHVWDGRVGiXPWRWDOGHPDLVGHMRUQDOLVWDVeDLQGDHOHYDGRRQ~PHURGRV
que atuam no mercado sem vínculo com o sindicato: free-­lancers, cooperativas, pessoas jurídicas. Metade da categoria trabalha para o setor extra-­
redação. Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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vens recém-­formados aos veteranos cansados, todos correm para as funções públicas. F0XGDQoDGHSHU¿OHFULVHGHLGHQWLGDGH
1RYRVSHU¿VSUR¿VVLRQDLVWrPVXUJLGRQRMRUQDOLVPREUDVLOHLURFRQWHPSRUkQHR-RUQDOLVWDV
multimídia, jornalistas ligados a mídias institucionais, jornalistas-­celebridades, jornalistas-­precá-­
rios. Todos esses grupos sugerem a necessidade de se investigar as mudanças que afetam a identida-­
GHSUR¿VVLRQDOGRVMRUQDOLVWDVRVQRYRVSHU¿VTXHVXUJHPHPGHFRUUrQFLDGHVVHSURFHVVRHRPRGR
FRPRRJUXSRSUR¿VVLRQDOJHUHQFLDVXDLGHQWLGDGHQHVVHFRQWH[WR
2VXUJLPHQWRGHXPDQRYDSUR¿VVmRHVHXUHFRQKHFLPHQWRSHODFROHWLYLGDGHGHYHPVHIXQ-­
GDPHQWDOPHQWHjVXDFDSDFLGDGHGHGH¿QLUXPWHUULWyULR58(//$11R%UDVLORUHFR-­
nhecimento dos assessores de imprensa como jornalistas plenos, com direito à carteira de trabalho DFRQWHFHXVHPFRQÀLWRV3RUQHJRFLDomRHFRQVHQWLPHQWRGRVyUJmRVVLQGLFDLVEUDVLOHLURVRVSUR¿V-­
VLRQDLVTXHDWXDYDPQDVDVVHVVRULDVDQWHVRFXSDGDVSRUSUR¿VVLRQDLVGDiUHDGHUHODo}HVS~EOLFDV
IRUDPDEVRUYLGRVQDPHVPDFDWHJRULDGRVMRUQDOLVWDV2TXHGH¿QLDDSUR¿VVmRHUDDDWLYLGDGHDSX-­
ração, redação, edição, difusão de notícias. Já a cultura identitária do jornalista foi historicamente forjada entre a realidade e o mito: super-­homem (poderes para salvar a sociedade dos perigos);; defensor da liberdade e da democracia (caso Watergate nos Estados Unidos, caso Collor no Brasil);; espírito escoteiro (sempre alerta);; pro-­
¿VVLRQDODEQHJDGRVHPKRUiULR¿[RMRUQDGDVLQWHUPLQiYHLVDVHUYLoRGRLQWHUHVVHS~EOLFRURXED
documentos se necessário para denunciar os corruptos, usa câmera secreta).
Na verdade, o jornalista hoje atravessa uma zona turbulenta no que concerne à sua credibili-­
dade. De denunciante ele passa a denunciado. Periodicamente, a mídia traz notícias de escândalos envolvendo jornalistas, como na criação de dossiês contra políticos e candidatos às eleições. A ver-­
dade é que a roupa de Super Homem não serve mais ao jornalista de hoje. Ele prefere vestir a fanta-­
VLDGDFLUFXQVWkQFLDTXHOKHSHUPLWHVXELUQDYLGDSUR¿VVLRQDORXVLPSOHVPHQWHVREUHYLYHUGLDQWH
GRGHVD¿RGDV³URWLQDVSURGXWLYDVLQIHUQDLV´3 às quais está submetido dentro de um mercado trans-­
¿JXUDGRSHODVWHFQRORJLDVHSHODOHJLVODomRWUDEDOKLVWD(PUHVXPRFRPRRVJXHUULOKHLURVGH)HU-­
nando Gabeira, os jornalistas estão cansados.
Considerações finais
)DODU HP PXGDQoDV HVWUXWXUDLV QR MRUQDOLVPR VLJQL¿FD DQWHV GH WXGR VLWXiOR FRPR SUi-­
tica social marcada por um processo de reinvenção permanente (RINGOOT & UTARD, 2005). O jornalismo é parte da sociedade. Ele é (re)construído pela participação contínua de diferentes ato-­
res sociais (indivíduos, instituições, conceitos e abstrações) que interagem a partir de um conjun-­
to de normas e convenções, as quais permitem a coordenação de suas atividades (BECKER, 1982;; 2002;; PEREIRA, 2010). Tais interações possuem diferentes graus de formalização/normatividade. Elas podem ou não levar a mudanças, que vão de microinovações a transformações de grande porte (CHARRON & BONVILLE, 2004). A prática jornalística pode ser vista como um espaço múltiplo, heterogêneo (BOURDIEU, 1997;; RUELLAN, 1993), sob tensão permanente entre ordem e disper-­
são, estabilidade e mudança. 3DUDTXHXPDPXGDQoDVHMDFRQVLGHUDGDFRPRHVWUXWXUDOpSUHFLVRTXHHODVHMDVX¿FLHQWH-­
mente abrangente e profunda para alterar o modo como determinada atividade é exercida e sim-­
EROLFDPHQWH GH¿QLGD SHORV DWRUHV e SUHFLVR GLVWLQJXLOD GDV PXGDQoDV FRQMXQWXUDLV H LQRYDo}HV
menores que afetam a prática social. Por exemplo, o lançamento de um jornal ou a introdução de um novo software de diagramação certamente alteram o modo como o jornalismo é praticado, mas GL¿FLOPHQWHUHVXOWDPHPPXGDQoDVHVWUXWXUDLV3RURXWURODGRRDSDUHFLPHQWRGHXPDQRYDPtGLD
– como a internet – e uma crise econômica generalizada nas empresas de comunicação possuem po-­
tencial para cambiar, numa dimensão mais profunda, a práxis jornalística.
Seguindo esse raciocínio, Becker (1982), Charron & Bonville (2004) convergem ao atribuir duas ordens de mudança à prática social. Para ambos, haveria distinção entre as alterações gradati-­
3 Expressão usada por vários jornalistas ao se referir à cobertura do jornalismo em Brasília, ouvidos para esta pesquisa.
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vas – nem sempre perceptíveis – de uma atividade, no momento em que os diferentes atores sociais vivenciam verdadeiras “revoluções paradigmáticas”. Para Charron e Bonville (2004), o paradigma jornalístico está em constante evolução, mas conserva certa coerência interna que o torna reconhe-­
FtYHOSHORVGLVFXUVRVHSUiWLFDVSUR¿VVLRQDLV
Trabalhando diretamente com as transformações do jornalismo, os pesquisadores canaden-­
ses conceituam tais revoluções como momentos em que valores e técnicas tidas como essenciais à DWLYLGDGHMRUQDOtVWLFDSDVVDPSRUXPSURFHVVRGHFULVH$RPHVPRWHPSRYHUL¿FDVHIRUWHWHQVmR
cognitiva de um grupo considerável de jornalistas em torno dos elementos que estão em vias de se transformar. 3URFXUDPRVLGHQWL¿FDUQHVWHWUDEDOKRRVSRQWRVGHWHQVmRRQGHRFRUUHPDVSULQFLSDLVWUDQV-­
formações na atividade jornalística e que podem ser interpretados como sinais desta crise nos últi-­
mos anos, sobretudo a partir da introdução da internet na produção e distribuição de notícias. Neste momento de transição e migração, torna-­se necessária uma investigação no campo acadêmico acer-­
FDGRVFRQWLQJHQFLDPHQWRVVREUHRMRUQDOLVPRHQTXDQWRSUR¿VVmRKLVWRULFDPHQWHFRQVWUXtGDHP
conseqüência das transformações que vêm se produzindo e que afetam o status e a identidade do jornalista. O trabalho dos pesquisadores poderá oferecer luzes que clareiem as inquietações da área. As-­
sim como a convergência de redações e equipes parece ser apenas mais um ponto da atual crise de paradigmas do jornalismo, o mero ato de juntar e agregar não quer dizer que sinergias ocorreram porque, para que isso aconteça, muitos outros condicionantes precisam ser considerados. Infeliz-­
mente, tampouco a convergência e o esforço das empresas são garantia de qualidade no jornalismo. Temos que assumir que, de momento, é também impossível responder à pergunta sobre a sobrevi-­
vência do jornalista e do jornalismo. Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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GT3 - Economia das empresas de comunicação
Nouvelle mode : convergence et hiérarchie journalistique Chantal Francoeur
Université de Concordia
Resumo
Este artigo sustenta que uma adaptação possível à convergência, para jornalistas e grupos de mídia, pLQWHQVL¿FDUDXWLOL]DomRGRPDWHULDOGHUHODo}HVS~EOLFDV2VFOLSHV³SURQWRVSDUDSXEOLFDURXWUDQV-­
mitir”, vindo de relações públicas, podem ser usados como conteúdo light por um grupo de repórte-­
res que o distribui por múltiplas plataformas, enquanto um outro grupo de jornalista pode praticar o jornalismo real com tempo e espaço para investigar.
Convergence à la mode
La proposition «Nouvelle mode : convergence et hiérarchie journalistique » se base sur une étude menée à l’hiver 2010 (février à mai 2010) au sein de du radiodiffuseur public canadien1. Les journalistes de Radio-­Canada se préparaient alors à vivre l’intégration des équipes d’information ra-­
GLRWpOpHWZHE&HWWHLQWpJUDWLRQRXYUHODYRLHDXWUDYDLOPXOWLSODWHIRUPHRXQVHXOMRXUQDOLVWHDOL-­
mente les nouvelles télé, radio et web avec un même reportage. C’est un changement de culture ma-­
jeur pour des journalistes habitués à travailler pour un seul média. L’intégration leur impose de nou-­
velles méthodes journalistiques pour alimenter toutes les plateformes au rythme de l’information continue.
L’étude se penche sur les premières expériences de journalisme multiplateforme radio-­ca-­
nadien et sur les discours entourant l’intégration. Les méthodologies utilisées sont la revue des au-­
teurs ayant étudié la convergence dans d’autres entreprises de presse, l’ethnographie et l’étude des discours. Les réunions entre gestionnaires, les rencontres avec les différents groupes d’employés, OHVDQQRQFHVRI¿FLHOOHVOHVUpXQLRQVV\QGLFDOHVHWOHVUpXQLRQVSDWURQVV\QGLFDWVRQWpWpHQUHJLV-­
trées et analysées. Les premières expériences terrain des reportages multiplateformes ont aussi été pWXGLpHV TXL IDLW TXRL FRPPHQW TXHOOHV VRQW OHV SULRULWpV GHV MRXUQDOLVWHV j TXHOOHV GLI¿FXOWpV
sont-­ils confrontés ? Des interviews ont ensuite été réalisées pour mieux comprendre les discours et les pratiques : des interviews avec des journalistes et des gestionnaires, de façon formelle avec une enregistreuse et de façon informelle sans enregistrer. Les personnes interviewées ont été choisies DLQVLGHVFDGUHVD\DQWSODQL¿pO¶LQWpJUDWLRQGHVJHVWLRQQDLUHVGRQWOHVWkFKHVYRQWFKDQJHUDYHF
l’intégration ;; des journalistes venant de la radio, de la télé et du web ayant commencé à produire PXOWLSODWHIRUPH$X¿QDOUpXQLRQVRQWpWpGRFXPHQWpHVHQWUHYXHVUpDOLVpHV'HVFHQWDLQHV
de pages de documents internes et publics lues. Trois cahiers de notes remplis. Il en ressort plusieurs constats. D’abord l’intégration2 –ou la convergence-­ n’a pas pour but premier de faire du meilleur journalisme. C’est principalement une adaptation à un courant glo-­
bal : plus de plateformes à alimenter en contenu et moins de journalistes pour le faire. Face à cet-­
te réalité, Radio-­Canada et presque toutes les entreprises de presse optent pour la convergence. Ce choix inquiète les journalistes radio-­canadiens et leurs collègues dans d’autres entreprises média. Ils constatent que la convergence mène à un appauvrissement des reportages. Le manque de temps et le journalisme multiplateforme ne créent pas de bons produits journalistiques. Une adaptation pos-­
sible serait d’instaurer deux types de journalisme. Un journalisme routinier, reposant sur la vitesse, le volume et les clips « formatés » ;; et un journalisme d’enquête. Le journalisme routinier multipla-­
teforme permettra de libérer des ressources pouvant se consacrer au journalisme d’enquête multi-­
1 L’étude a été réalisée dans le cadre d’une recherche doctorale.
2 5DGLR&DQDGDFKRLVLWOHPRW©LQWpJUDWLRQªSOXW{WTXHFRQYHUJHQFHSRXUVHGLVWLQJXHUGHVHVFRQFXUUHQWVHWDI¿UPHUVDSHUVRQQDOLWp
distincte de radiodiffuseur public. Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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plateforme. Cette hypothèse intéressera toutes les grandes entreprises de presse qui pratiquent la convergence. Mode économique, digitale et agnostique
La convergence est le mot d’ordre dans l’industrie des médias, le buzzword, le mot à la mode, pour reprendre l’expression de Brooks et Pinson, ou le mot sacré (Vincent Mosco, dans la préface de Winseck). Selon Singer, la majorité des entreprises de presse pratique aujourd’hui une forme de convergence entre au moins un média traditionnel et un site web (Singer 2008). Pourquoi? Quelles VRQWOHVMXVWL¿FDWLRQVG¶XQWHOPRXYHPHQW"Selon Bernier, l’objectif de ce mouvement est clair, c’est de générer davantage de revenus en exploitant de façon intensive la même information sur diffé-­
rentes plateformes, pour rejoindre des publics de plus en plus fragmentés (43). Skinner et Gasher décrivent la force de la convergence : en regroupant tous les auditoires de tous les médias elle per-­
met d’accroître les parts de marchés, de réutiliser les contenus sur toutes les plateformes pour aug-­
PHQWHUO¶HI¿FLHQFHHWHQ¿QG¶HPSrFKHUGHQRXYHDX[FRPSpWLWHXUVGHIDLUHOHXUHQWUpHVXUOHPDUFKp
(53). En effet le modèle économique de la convergence est attrayant parce qu’il permet de produire SOXVGHQRXYHOOHVSRXUOHPrPHFR€WdDVLJQL¿HXQHKDXVVHGHODSURGXFWLYLWpSRXUOHVHQWUHSULVHV
de presse (Lawson-­Borders;; McKercher;; Ursell). À la réalité économique se greffe la réalité technologique : l’ordinateur, la télévision et les télécommunications convergent, suite à la digitalisation. Les moyens d’expression, de communi-­
cation et d’expérience peuvent tous avoir lieu sur le web. Les textes écrits, les photos, les contenus audios, les contenus vidéo, ont tous le même langage digital maintenant. Une photo n’est plus di-­
fférente d’un paragraphe de texte écrit. Ils peuvent tous les deux être édités avec les mêmes outils, l’ordinateur et la souris, et storés en un même format sur un disque dur (McKercher 3). La déréglementation dans le secteur des médias explique aussi pourquoi le mouvement de convergence se généralise (Singer 2004;; Sparks & Young;; Bernier). Pour certains auteurs cela sig-­
Bernier). Pour certains auteurs cela sig-­
QL¿HTXHOHELHQSXEOLFODOLEHUWpG¶H[SUHVVLRQODSOXUDOLWpGHVYRL[GDQVXQV\VWqPHSXEOLFGHFRP-­
munication devient plutôt la liberté d’expression commerciale de corporations dans un système de FRPPXQLFDWLRQSULYpROHSXEOLFHVWXQDJUpJDWGHFRQVRPPDWHXUVGRQWODOLEHUWpHVWFHOOHGHFKRL-­
sir dans les contenus offerts (Skinner & Gasher;; Sparks &
& Young;; ;; Winseck). Les pro-­convergence in-­
sistent plutôt sur le travail d’équipe, le partage, la synergie. Selon eux l’intérêt public est mieux servi par l’équipe de journalistes travaillant en convergence grâce au partage d’information et à une vision commune (Quinn 2006 : 14). Rob Curley, directeur des nouveaux médias à The World Company au Kansas, parle aussi d’entraide et de partage d’information : « it’s how everyone is helping everybody else. Convergence is about information sharing » (cité dans Quinn 2006 : 66).
(Q¿QODUpDOLWpGHVQRXYHOOHVKDELWXGHVGHVFLWR\HQVFRQVRPPDWHXUVGHPpGLDVSRXVVHYHUV
ODFRQYHUJHQFH/¶DXGLWRLUHVHIUDJPHQWH/HVFLWR\HQVFRQVRPPDWHXUVQHVRQWSOXV¿GqOHVjXQVHXO
média. Ils sont devenus « agnostiques », selon l’expression du président du Tampa Tribune Gil The-­
OHQFLWpGDQV/DZVRQ%RUGHUV©SRXUOHVFULWLTXHVFRQYHUJHQFHVLJQL¿HKRPRJpQpLVDWLRQHWRE-­
VHVVLRQGXSUR¿WDORUVTXHOHVSURFRQYHUJHQFHFURLHQWTXHF¶HVWODUpSRQVHORJLTXHjO¶XWLOLVDWLRQGH
plus en plus agnostique des médias par les consommateurs » (100). Jennifer McGuire, de la CBC, dit que les gens choisissent maintenant o, quand et comment ils s’informent. Il faut s’y adapter : « The audience leads, we adapt. » Elle parle d’un changement de paradigme pour le radiodiffuseur SXEOLF&%&HVWPDLQWHQDQWXQH©HQWUHSULVHGHFRQWHQXªROHFKRL[ODFXHLOOHWWHHWODSUpVHQWD-­
tion des nouvelles changent. Le but est que la nouvelle apparaisse immédiatement, sur toutes les SODWHIRUPHVOHSOXVUDSLGHPHQWSRVVLEOH&HVPrPHVMXVWL¿FDWLRQVVRQWUHSULVHVj5DGLR&DQDGD
/HVJHVWLRQQDLUHVHWSDWURQVSDUOHQWG¶HI¿FLHQFHGHFRPSpWLWLRQGHERXOHYHUVHPHQWVWHFKQRORJL
compétition, de bouleversements technologi-­
ques, d’impact sur l’auditoire et de travail d’équipe SRXUMXVWL¿HUO¶LQWpJUDWLRQ Radio-­Canada suit la mode de la convergence. À quel prix?
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Identité et pratiques démodées
L’impact de cette convergence à la mode sur le journalisme est important. À Radio-­Canada les journalistes vivent un changement de culture majeur avec l’intégration. En effet, les méthodes journalistiques télé, les méthodes journalistiques web et les méthodes journalistiques radio sont dif-­
IpUHQWHV/HVMRXUQDOLVWHVRQWGpYHORSSpGHVUpÀH[HVDSSURSULpVjOHXUPpGLDXQHSHUVRQQDOLWpOLpHj
OHXUPpGLD,OVYRLHQWGLI¿FLOHPHQWFRPPHQWMXPHOHUOHVWURLVFXOWXUHVGHWUDYDLO/¶LQWLPLWpHWODOp-­
gèreté de la radio, caractérisée par un travail solo et rapide, est différente de la culture d’équipe télé o les images dictent la narration et o la lourdeur de production est compensée par la puissance des images. Ces deux cultures sont aussi différentes du web, ocomme en témoigne un artisan, « tu ne peux pas développer de trucs, parce que ça change tout le temps. Les outils changent, les façons de produire aussi. Ça devient un état d’esprit, s’adapter tout le temps. C’est une autre culture. » Face à ces trois cultures uniques et très différentes, comment envisager l’intégration radio-­
FDQDGLHQQH" /HV MRXUQDOLVWHV GRLYHQW PRGL¿HU OHXUV UHSqUHV LGHQWLWDLUHV HW OHXUV PpWKRGHV MRXU-­
nalistiques. Cette transformation imposée les inquiète. Ils émettent des craintes sur l’impact de l’intégration sur les reportages. Ils entrevoient une uniformisation et un appauvrissement des to-­
pos. Ils craignent aussi qu’en multipliant les plateformes et les fonctions, ils aient moins de temps SRXUYpUL¿HUFRQWUHYpUL¿HU8QMRXUQDOLVWHV¶LQTXLqWH©(QSUDWLTXHVLXQHMRXUQpHW¶DVXQHJURVVH
nouvelle, c’est suicidaire de faire les deux médias (radio et télé) en une journée. » Un autre jour-­
naliste ajoute : « J’ai encore de la misère à comprendre ce qu’on attend d’un journaliste radio-­té-­
lé-­web. Penser pour trois médias… faut penser comme trois journalistes?! C’est assez! Les journées ont vingt-­quatre heures, dans notre tête il y a des limites. » Un journaliste originalement de la télé constate : « L’envers de la médaille du journalisme multiplateforme est une charge de travail plus lourde. C’est beaucoup de travail. Parce que ‘faut quand même que tu l’écrives l’histoire radio, ‘faut quand même que tu l’écrives l’histoire web! » Écrire une histoire journalistique exige l’exactitude HWSOXVLHXUVYpUL¿FDWLRQVdDGHPDQGHGXWHPSV8QHJHVWLRQQDLUHO¶DGPHW©7XSHX[HQYR\HUXQ
breaking news pour le web, faire une converse radio et faire un topo télé. Mais pas les trois toute la journée. L’intégration a ses limites. » Elle suit de près les premières expériences multiplateformes et discute régulièrement avec les journalistes. Elle dit que « c’est pas souhaitable le multiplateforme SDUXQPrPHMRXUQDOLVWHWRXWHODMRXUQpHF¶HVWGpPHVXUp/HWHPSVGHWURXYHUGHVLQYLWpVGH¿OPHU
d’écrire le texte, de faire le montage… On n’a pas le temps de faire deux médias. On peut le faire des fois mais c’est un exploit. On peut le faire quand on a du temps. Sinon, ce n’est pas faisable. »
Les premières expériences le montrent, une cueillette multiplateforme, qui oblige à penser à trois médias différents, empêche de se concentrer sur le contenu. L’attention du journaliste est mo-­
bilisée par le contenant. Un exemple de question que se pose le journaliste pendant une entrevue : « est-­ce que ce clip passera aussi bien à la radio qu’à la télé? » Un journaliste donne un exemple : Quand on fait une entrevue qui va servir à la radio et à la télé, on est attentif aux deux médias. En GpEXWGHVHPDLQHoDP¶HVWDUULYpMHSRVHXQHTXHVWLRQ/HPRQVLHXUUpSRQGSDUGHVVXVOD¿QGH
ma question. À la radio, on se dit « s’pas grave, je peux couper. » Là, je me suis dit « je peux couper pour la radio, ça va fonctionner quand même » mais pour la télé, je me suis dit « il me faut le début du clip, ça marchera pas. » Alors je dis à l’invité, « faut recommencer. » Mais pendant que tu penses à tout ça, t’écoutes plus ton interviewé, t’as trop de choses à penser. T’oublies d’écouter la réponse de ton interlocuteur! Trop concentré sur le contenant, il en oublie le contenu. Un journaliste vidéaste raconte la même chose : « Quand on travaille seul, on est moins attentif à ce que la personne dit. La technique prend le dessus. L’iris, tout ce à quoi il faut accorder mon attention … Des fois je réécoutais une en-­
trevue, je me disais ‘merde, merde, j’aurais dû poser cette question’! ». Mais dans le feu de l’action, la technique avait accaparé l’attention du journaliste, au détriment du contenu. Un autre journaliste, qui a discuté de ce phénomène à des collègues nouvellement vidéastes, raconte : « Ils me disaient : ‘je faisais l’entrevue, mais je n’étais pas là parce que je me demandais constamment si l’image allait être bonne.’ Donc la qualité de l’entrevue, qui pourtant est le fond de toute l’affaire, était compromise pour des motifs techniques! » Et si l’image était bonne l’entrevue était bonne. Le critère esthétique prend le dessus sur les préoccupations de contenu. Une autre jour-­
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naliste, originalement de la radio, a trouvé éprouvantes ses premières expériences de journalisme multiplateforme. Habituée à travailler seule, composer avec un caméraman plus préoccupé par les images que par le son lui a fait perdre ses repères journalistiques : « Pendant que je réglais les pro-­
EOqPHVORJLVWLTXHVMHQHUpÀpFKLVVDLVSDVjPRQFRQWHQXª
Les journalistes perdent leur identité de journaliste radio, journaliste télé, journaliste web. Ils deviennent des journalistes multiplateformes radio-­canadiens. À cette nouvelle identité se greffent de nouvelles méthodes journalistiques. Des méthodes journalistiques qui mènent à des contenus ap-­
pauvris. Les journalistes résistent, parce que la qualité de leur travail est en jeu. Un examen de ce qui se passe dans d’autres entreprises de presse laisse entrevoir un arrangement réaliste : les journalis-­
tes doivent faire un compromis sur la qualité d’une partie de leur travail. Accepter qu’une portion de ce qui est offert aux auditeurs, téléspectateurs et internautes soit du contenu journalistique à faible valeur ajoutée. Cottle et Asthon ont étudié ce qui s’est passé à Bristol, choisie par la BBC pour évaluer des te-­
ont étudié ce qui s’est passé à Bristol, choisie par la BBC pour évaluer des te-­
chnologies multimédias et le journalisme multiplateforme. Les journalistes trouvent que la qualité de leur travail diminue parce qu’ils ont moins de temps pour réaliser des montages et des synthèses. Les journalistes optent davantage pour la diffusion d’entrevues en direct. Ils se désolent du fait que les sources d’information –relationnistes, lobbyistes-­ ont plus de contrôle sur leur travail. Mitchels-­
tein, dans son étude sur cinq entreprises de presse en Allemagne, note quant à lui l’émergence d’un type de journalisme de seconde zône, « secondhand journalism » (569). Dans ce journalisme de seconde zône, ce qui compte est la vitesse et l’immédiat, au détriment du journalisme traditionnel. Cela crée une dépendance accrue à l’information provenant d’agences de presse ou de relationnistes. Bernier raconte que Maguire, qui a observé des journaux indépendants vendus à des conglomérats PXOWLPpGLDVDFRQVWDWpOXLDXVVLXQHGLPLQXWLRQGHODSURSRUWLRQGHVRXUFHVQRQRI¿FLHOOHVSUpVHQ-­
tes dans les articles, ce qui suggère que moins d’efforts sont consacrés à approfondir l’information DXGHOjGHV©VRXUFHVRI¿FLHOOHVª%HUQLHU'HSOXV©LODFRQVWDWpXQHGLPLQXWLRQGXQRPEUHGH
nouvelles résultant de l’initiative des journalistes, ce qui favorise la couverture d’événements organi-­
VpVSDUOHVVRXUFHVªVRXUFHVLQÀXHQFpHVSDUGHVUHODWLRQQLVWHVRXGHVOREE\LVWHV%HUQLHU8UVHOO
dit de son côté que les journalistes accusent la « culture du clip » pour dénoncer l’appauvrissement des contenus journalistiques suite à la convergence. Ils dénoncent cette culture du « soundbite » : « soundbite styles of news coverage » (193)
Cette culture du clip ou du soundbite s’explique. Pour travailler vite et en ayant en tête plu-­
sieurs plateformes, les journalistes et les entreprises de presse doivent développer des « recettes. » Par exemple, au Washington Post, qui combine presse écrite et web, la recette trouvée est de sépa-­
rer les tâches entre les créateurs de contenu et les créateurs de contenant : « Content creators have been separated from content packagers. The universal newsdesk handles all the content and decides what’s going where » (Heald). On peut supposer que la recette la plus simple et la plus abordable pour du travail journalistique multiplateforme est de choisir la clip qui voyage le mieux d’une pla-­
la clip qui voyage le mieux d’une pla-­
WHIRUPHjO¶DXWUHXQHFOLSVXSHUIRUPDWpHjODOLPLWHYLGHPDLVELHQGLWH&DUOHVQXDQFHVHWOHÀRX
ne s’exportent pas bien d’une plateforme à l’autre. Les extraits d’entrevue qui ont besoin d’être net-­
toyés, ou qui ont besoin d’être encadrées par des narrations serrées quand ils sont incomplets, ha-­
churés ou pas assez concis, ces extraits ne sont pas faciles à distribuer sur toutes les plateformes. D’o l’idée de se rabattre sur les clips formatés. Une perspective douloureuse pour les journalistes parce que ces clips formatés viennent en grande partie de l’industrie des relations publiques. Une industrie de messages construits, formatés, prêts à être dits et diffusés simultanément sur toutes les plateformes. Une industrie d’informations unilatérales et tendancieuses qui n’ont rien à voir avec l’information journalistique. Miège décrit bien la différence entre l’information journalistique et les relations publiques: « La légitimité socio-­politique des premières s’est construite en référence à quelques-­unes des valeurs fondatrices et centrales des régimes politiques démocratiques;; quand aux VHFRQGHVHOOHVVRQWWRXMRXUVDWWDFKpHVDX[SKpQRPqQHVG¶LQÀXHQFHHWGHPDQLSXODWLRQVRFLDOHVª
(2007 : 158). Les journalistes admettent que les relations publiques sont un mal nécessaire –et parfois une aide concrète à leur travail, selon les cas. Mais depuis les années 80, les budgets des relations publiques ont explosé. Franklin et al donnent l’exemple du gouvernement britannique : en dix ans, Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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le nombre de personnes affectées à « l’information » a cru de presque 500% à la santé, de 77% à l’agriculture, pêche et alimentation et de 185% au transport (13-­37). Aucune entreprise médiatique n’a vu le nombre de ses journalistes augmenter autant. De plus, les tâches des journalistes se sont DFFUXHVOHQRPEUHGHSODWHIRUPHVjDOLPHQWHUVHVRQWDGGLWLRQQpHV'¶RODUHPDUTXHG¶XQMRXUQD-­
liste radio-­canadien : « Faut pas se faire d’illusion. On vit dans un univers o on est en infériorité numérique grandissante. Le ratio relationnistes-­journalistes est de plus en plus désavantageux pour le journaliste. »
Mode d’emploi de la convergence
Des journalistes radio-­canadiens souhaitent pourtant que l’intégration permette de les libé-­
rer de cette culture de relations publiques. Une affectatrice dit: « On ne veut plus être dépendants des lobbys, des agences de marketing, de la société organisée. On veut développer nos propres his-­
toires. » Les cadres et les gestionnaires radio-­canadiens partagent ce désir. On le voit dans leur jus-­
WL¿FDWLRQ GH O¶LQWpJUDWLRQ ,OV IRQW MXVWHPHQW UpIpUHQFH j OD FXOWXUH GH UHODWLRQV SXEOLTXHV DX IDLW
qu’elle est incontournable et qu’ils cherchent des façons de la contenir ou de la dominer. Un cadre donne un exemple :
Imaginons une conférence de presse à l’hôtel de ville. La radio veut le sujet, la télé se dit ‘je veux juste un clip.’ Pourquoi envoyer deux journalistes? Pour une clip de quinze secondes?! C’est une perte de temps et d’énergie folle. On peut dire au journaliste radio, ‘un caméraman t’accompagne, pour un extrait d’entrevue pour la télé.’ C’est ça que ça veut dire l’intégration. Cet exemple de la conférence de presse à l’hôtel de ville est repris, mot pour mot, par deux autres cadres et un journaliste lors d’entrevues individuelles subséquentes. Cela illustre de façon éloquente l’importance de la culture des relations publiques, de la clip formatée, et le désir de s’en défaire. Mais ce désir est confronté à la réalité : il faut du temps pour aller au-­delà des messages formatés des diverses organisations. Ou pour carrément refuser ces messages et se concentrer sur d’autres sujets d’intérêt public. Le temps est un luxe en journalisme. Or il faut l’admettre, la façon la plus simple de se payer ce luxe est d’utiliser du matériel de lobbyistes ou de relationnistes pour com-­
bler les besoins de l’information continue. Une fois ces besoins comblés, du temps peut être libéré pour faire de la recherche, de l’enquête, pour produire des reportages exclusifs. Puisque les mes-­
sages construits, tout faits, sont prêts à être multiplateformes, nul besoin d’y consacrer beaucoup d’efforts. Un seul journaliste peut s’en occuper. Parallèlement, un autre journaliste peut faire… du MRXUQDOLVPH&HODQHVLJQL¿HSDVDFFHSWHUDYHXJOpPHQWOHVFRQWHQXVIRXUQLVSDUGHVUHODWLRQQLVWHVRX
des lobbyistes. Les journalistes peuvent continuer de jouer leur rôle de chien de garde en exerçant un choix judicieux dans ces clips formatés. Mais les efforts journalistiques substantiels devraient être investis en enquête.
Il semble que c’est seulement ainsi que l’intégration des équipes journalistiques pourrait per-­
mettre de libérer des ressources pour faire plus d’enquêtes. Un journaliste télé évoque l’idée. Selon lui il n’est plus question de devenir indépendant de la culture des relations publiques. Il faut plutôt la voir comme une source de contenu assuré qui va permettre de produire de véritables reportages journalistiques : « Si on a une conférence de presse un peu boboche o on sait ce qui va se raconter, pourquoi on enverrait deux journalistes quand un micro peut faire la job avec un caméraman? On prend le son pour la radio, pour la télé, pour le web et allez hop on y va comme ça. » Continuons de couvrir les conférences de presse. Consacrons-­y un minimum de ressources. N’envoyons qu’un seul journaliste. Pendant ce temps son collègue pourra se consacrer à une recherche journalistique plus ambitieuse. Autrement dit : « Si c’est le maire Tremblay qui annonce qu’on va avoir des bacs bleus au lieu des bacs verts pour la collecte dans Ahuntsic, j’vois pas pourquoi on s’déplacerait à deux journalistes. Moi j’pense que le mot d’ordre c’est de mettre des ressources en enquête. » Mais pour « mettre des ressources en enquête » il faut s’assurer d’avoir des clips formatés faciles à capter et à distribuer sur toutes les plateformes.
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Nouvelle mode
&HODVLJQL¿HODFUpDWLRQRXODFRQ¿UPDWLRQGHGHX[W\SHVGHMRXUQDOLVPH8QMRXUQDOLVPHRE-­
sédé par la clip, l’information continue, la course pour être le premier à diffuser une nouvelle. En parallèle, un journalisme obsédé par l’enquête, la recherche, la course pour offrir du contenu origi-­
QDOHWH[FOXVLI&HODVLJQL¿HDXVVLGHX[W\SHVGHMRXUQDOLVWHVXQHKLpUDUFKLHHQWUHOHV©PXOWLSODWH-­
formeurs de clips » et les « multiplateformeurs d’enquête. » Ou alors une alternance entre les divers types de journalisme et de journalistes : à certains moments les journalistes seront des « bons sol-­
dats fournissant du contenu pour toutes les plateformes » et à d’autres moments ils seront des « re-­
porters dénicheurs de scandales. » C’est ce que voit Bromley qui parle de travail journalistique multiplateforme : certains de-­
viennent des « entrepreneurs de contenu » pendant que d’autres deviennent simplement des ex-­
tensions de l’ordinateur ou des distributeurs de contenu (cité dans Ursell 177). Klinenberg constate aussi cette hiérarchie dans une entreprise intégrée qu’il a étudiée. Il parle de reporters élite ayant du temps à consacrer à des projets spéciaux, travaillant en parallèle avec des journalistes responsables du quotidien (56). Les reporters du quotidien font plus de journalisme « institutionnel » et se tour-­
nent plus vers des porte-­parole, constate Klinenberg (57). Cela se passe aussi du côté du contenu culturel selon Bouquillon. Il a étudié l’impact des mouvements de concentration et de convergence. Il voit effectivement deux types de contenus produits, à l’opposé un de l’autre : « un pôle de conte-­
un pôle de conte-­
nus premium et un pôle de contenus produits à faibles coûts. … Il est donc vrai que jamais autant de contenus n’ont été produits, mais il s’agit de contenus extrêmement différents quant à leurs modes et coûts de production » (62).
Radio-­Canada ouvre la même voie. En effet des reporters d’enquête, qui ont du temps pour réaliser leurs reportages multiplateformes, applaudissent l’intégration en parlant de « l’âge d’or de l’information à Radio-­Canada. » Ils aiment pouvoir distribuer leur reportage sur trois plateformes et constater l’impact fort de cette diffusion multimédia. À leurs côtés, leurs collègues du quotidien se désolent du manque de temps et des contenus à faible valeur ajoutée qu’ils produisent. Le journa-­
lisme à deux vitesses est déjà présent. En prendre conscience, voir sur quoi repose ce journalisme à deux vitesses, mènerait à une organisation du travail différente. Des discussions sur l’impact de ce journalisme à deux vitesses sur l’espace public pourraient aussi être lancées.
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GT4 - Jornalismo Digital
Des sources aux contenus :
La construction des nouvelles en ligne
Benoît Grevisse
Amandine Degand
Université catholique de Louvain e Observatoire du Récit Médiatique
Resumo
Das fontes aos conteúdos : construção de informação na rede
Este artigo propõe abordar a temática da construção de notícias na rede, baseando-­se numa centena de entrevistas que foram realizadas por jornalistas. Estes dados empíricos foram recolhidos durante 60 dias em 11 redações na Bélgica. Dois pontos principais são abordados: as fontes de informação dos jornalistas web e a selecção da mesma informação. Este artigo insere-­se na perspectiva de ava-­
liar qual é o impacto das fontes emergentes (Blogs, Twitter, Facebook). Demonstra igualmente os QRYRVPHFDQLVPRVGHVHOHomRGHLQIRUPDomRFRPRDDSRVWDµSDVFDOLDQD¶VREUHD¿DELOLGDGHGDPHV-­
ma. Veremos igualmente como os jornalistas web se distanciam das suas próprias práticas, quando as consideram pouco valoráveis. Tendo em conta os contextos de produção, trata-­se assim de iniciar a questão da qualidade da informação em rede, num momento em que alguns media colocam a hi-­
pótese de entrar em modelos online não gratuitos.
Comment les journalistes de l’Internet se représentent-­ils leur métier en perpétuelle mu-­
tation ? Comment décrivent-­ils leurs pratiques quotidiennes de recherche, sélection et traitement GHO¶LQIRUPDWLRQ"¬O¶KHXUHRQRPEUHGHWLWUHVGHSUHVVHHQYLVDJHQWGHVHODQFHUGDQVODGLIIXVLRQ
payante sur le net, cet article propose de revenir sur les questions de la qualité de l’information en ligne et de la production journalistique comme pratique collective impliquant les sources et les jour-­
nalistes. Methodologie
Dans une approche compréhensive, cet article propose d’analyser les pratiques journalis-­
tiques à partir de données empiriques issues de 11 rédactions de Belgique francophone : -­ Le Soir (Quotidien généraliste) -­ La Libre Belgique/La Dernière Heure (Quotidien généraliste/ Quotidien spécialisé dans le sport et les faits divers. Groupe IPM) -­ Les Editions de l’Avenir (Groupe de quoti-­
dien locaux) -­ Sudpresse (Groupe de quotidiens locaux) -­ Le Vif/L’Express (Hebdomadaire) -­ 7 sur 7 (Site pure player) -­ L’Echo (Quotidien économique) -­ RTBF (Entreprise audiovisuelle publique) -­ RTL (Entreprise audiovisuelle privée) -­ Belga (Agence de presse) -­ BFM Today (Radio économique reconvertie en pure player, aujourd’hui disparue). (QWUHOD¿QHWOHGpEXWQRXVDYRQVSUDWLTXpGHVREVHUYDWLRQVVHPLSDUWLFLSDQWHV
dans ces rédactions durant près de 60 jours et mené une centaine d’entretiens semi-­directifs avec des acteurs de terrain : des journalistes (web, radio, télévision et presse écrite) et des responsables (éditoriaux, multimédia, marketing et animateurs de communautés). Les citations reproduites dans cet article renseignent pour la plupart le poste du journaliste interrogé, sa rédaction et le mois du-­
rant lequel il a été interrogé. Néanmoins, ces repères comparatifs peuvent être masqués si les don-­
nées exprimées sont jugées délicates. Contexte de production
En 2010, la plupart des rédactions belges disent avoir « intégré » les équipes web dans leur rédaction historique ou « traditionnelle ». Différents degrés d’intégration cohabitent néanmoins et, la plupart du temps, les différents segments sont juxtaposés, sans pour autant travailler en étroite Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. 160
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collaboration. Selon les rédactions, il existe plus ou moins d’incitation (voire d’obligation) aux colla-­
borations entre segments professionnels (Bucher et Strauss, 1992) journalistiques. Mais on peut en-­
core constater une certaine résistance culturelle au changement de la part des journalistes traditio-­
nnels. À ce jour, une seule rédaction belge a véritablement aboli la séparation entre journalistes web et traditionnels : il s’agit de l’Écho. Ailleurs, une structure en silos persiste, bien que des passerelles et tendent à se multiplier.
Aux sources de l’information en ligne
De précédentes recherches ont mis en lumière les trois principales sources des journalistes en ligne, soit les dépêches d’agences, les informations produites par les journalistes traditionnels, et les informations glanées sur le net (Le cam, 2005, p. 297). Attachons-­nous à préciser la relation qu’entretiennent les journalistes par rapport à ces sources. a) Les dépêches d’agence Si les sources d’information se sont multipliées sur le net, les journalistes dépendent, plus TXHMDPDLVGHVDJHQFHVGHSUHVVH3DUUDSSRUWjFHWWHVRXUFHHVVHQWLHOOHOHVMRXUQDOLVWHVDI¿FKHQW
une certaine réserve, les agences Belga et AFP ayant diffusé des inexactitudes au cours de l’année /DFRQ¿DQFHQ¶HVWGRQFSDVDYHXJOHPDLVHOOHHVWWRXWGHPrPHQpFHVVDLUH3RXUXQMRXUQD-­
liste, « quand il y a un attentat au Pakistan, tu ne peux pas aller sur place [...] donc tu dois bien à XQPRPHQWGRQQpIDLUHFRQ¿DQFHDX[GpSrFKHVTXHWXHVVDLHVGHUHFRXSHUª(Journaliste web, Le Soir, Juin 2009). /HVMRXUQDOLVWHVDI¿FKHQWGRQFXQHµFRQ¿DQFHREOLJpH¶SDUUDSSRUWDX[GpSrFKHV
Notons qu’en France, plusieurs pure players ont fait le choix de ne pas s’abonner aux dépêches des grandes agences de presse. C’était aussi le cas en Belgique du site d’investigation BFM Today, aujourd’hui disparu. b) Les journalistes traditionnels
La seconde grande source d’information des journalistes web, ce sont les journalistes ‘tradi-­
tionnels’ de la marque. Dans certains groupes médias, comme IPM, les journalistes web débutent leur journée par la mise en ligne pure et simple d’une partie des productions du papier. Cette ten-­
dance, longtemps critiquée pour sa potentielle cannibalisation du papier, est aujourd’hui en net re-­
cul dans la plupart des rédactions analysées. Celles-­là prônent désormais des collaborations entre web et papier à diffuser avant la sortie du journal, notamment pour appâter le lecteur. Dans la phase actuelle, les journalistes web font donc régulièrement appel à l’expertise et au réseau de leurs collègues. Ils pourraient en outre s’appuyer sur leur propre capacité d’analyse. Mais, la plupart du temps, ils n’ont pas développé de spécialité puisqu’ils doivent « tout couvrir ». Ils sont donc dans une position d’infériorité et de demande par rapport à leurs collègues spécialisés. Ceci accentue encore le fait que les journalistes web sont souvent déconsidérés par leurs collègues tradi-­
tionnels (Erdal, 2009), bien que, d’après nos observations, cette tendance diminue à mesure que les interactions entre les segments journalistiques se multiplient. c) La recherche d’informations en ligne Après les dépêches et les spécialistes ‘maison’, vient une recherche d’informations en lig-­
ne. © dD FRQVWLWXH MH GLUDLV GH QRWUH WUDYDLO >@ ,O HVW j QRWHU TX¶LFL DXFXQ MRXUQDOLVWH
n’a jamais vraiment fait de terrain, à part dans ses études. Et après, le terrain, ben c’est Internet » (Resp. web, RTL, Septembre 2009). Les journalistes du web emploient dès lors de plus en plus G¶DJUpJDWHXUVGHFRQWHQXVWHOVTXH1HWYLEHVSRXUUDVVHPEOHUOHVÀX[566GHODP\ULDGHGHVLWHV
qu’ils consultent quotidiennement. Parmi ces sites sous surveillance, il y a bien entendu ceux de la concurrence. On retrouve donc ici un mode de recherche d’informations qui a toujours existé dans la sphère journalistique : Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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la reprise. Dagiral et Parasie indiquent que « ce journalisme de reprise aurait pour effet d’accélérer les cycles de production de l’information » (2010, p. 20). Jacques Le Bohec (1998, p. 388) en parle quant à lui comme un mode de production moins couteux, qu’il oppose à l’investigation et à la quête du scoop. Si le travail de revue de presse a toujours existé, il prend une importance particulière sur le net. Florence Le cam avait remarqué l’importance du suivisme, en regard du peu de « démarches GHYpUL¿FDWLRQH[WpULHXUHF¶HVWjGLUHG¶DSSHOWpOpSKRQLTXHRXGHUHQFRQWUHV>«@/DYpUL¿FDWLRQ
de l’information se réalise à partir du caractère vraisemblable de celle-­ci, mais surtout et avant tout par sa reprise dans d’autres médias, notamment par les concurrents en ligne » (2005, p. 301). Ajoutons que cette forme de suivisme est paradoxale, puisque les webjournalistes cernent très bien la façon dont leurs concurrents travaillent. Un journaliste web nous dira : « Ils travaillent au pire de la même manière que nous ! ». Sur les sites concurrents, les journalistes web repèrent donc illi-­
co la valeur ajoutée par rapport aux dépêches, mais ils ignorent si elle provient d’un journaliste tra-­
ditionnel ou d’une reprise d’un site quelconque. Les journalistes web accordent donc une forme de FRQ¿DQFHDPELJHjOHXUVKRPRORJXHVLOVUHFRQQDLVVHQWOHVpULHX[GHVPDUTXHVGDQVOHVTXHOOHVLOV
travaillent, mais supputent quelques dérives dans leur pratique. À côté de cette information en ligne relayée par des sites de journalisme professionnels, il y a aussi toute la masse de contenus mis en ligne par des institutions, des associations, ou encore des anonymes. « On a accès à plein de documents auxquels on n’avait pas accès aupara-­
vant, les documents parlementaires, les web TV dans les parlements, dans les commissions... » (J. presse écrite, Sudpresse, Décembre 2009). La multiplication des sources n’a cependant pas que des avantages. « ,QWHUQHWQRXVGRQQHDFFqVjGHVVRXUFHVG¶LQIRUPDWLRQVTXDVLPHQWLQ¿QLHVPDLVSDV
WRXMRXUVYpUL¿DEOHV>@'RQFRQGRLWDOOHUSOXVYLWHWRXWHQpWDQWSOXVSRLQWXVSXLVTX¶RQDSOXVGH
sources d’informations » (J. radio, 57%), Août 2009). $XUDQJGHVLQIRUPDWLRQVGLI¿FLOHVjYpUL¿HU¿JXUHQWQRWDPPHQWOHVLQIRUPDWLRQVDPDWHXUV
HWDXWUHVEX]]/¶LPSRVVLELOLWpGHYpUL¿FDWLRQQ¶HPSrFKHFHSHQGDQWSDVWRXMRXUVOHVMRXUQDOLVWHVGH
traiter la nouvelle, s’ils n’ont « pas l’impression qu’on trompe dans l’information », avec certai-­
QHVSUpFDXWLRQVWHOOHVTXHO¶XVDJHGXFRQGLWLRQQHO/HGHJUpGHYpUL¿FDWLRQGpSHQGGRQFDXVVLGH
O¶LPSRUWDQFHGHO¶LQIRUPDWLRQ&HFRQVWDWQXDQFHOHVDI¿UPDWLRQVDODUPLVWHVDGPHWWDQWSDUH[HP-­
ple que « GHVMRXUQDOLVWHVVHGLVHQWSUrWVjUDSSRUWHUFHTX¶LOVRQWOXVXUOHZHEVDQVHQYpUL¿HU
l’exactitude, et ce, même s’ils doutent de la crédibilité de la source » (Enquête Middelberg et Ross, FLWpSDU%HUQLHU&HUWHVOHVMRXUQDOLVWHVQHYpUL¿HQWSDVWRXMRXUVOHXUVVRXUFHVV¶LOVUHODLHQW
des informations insolites de faible importance. Mais ils intègrent néanmoins ces pratiques dans un FDGUHJpQpUDOGHPp¿DQFHSDUUDSSRUWDX[LQIRUPDWLRQVGXZHEQRQLGHQWL¿pHV
d) Blogs Les journalistes apportent tous la même réponse quant aux blogs : ils les consultent très rare-­
ment. Pour certains, les blogs sont trop « personnels » pour servir de source. D’autres ne leur accor-­
dent pas de crédibilité « parce qu’on est à l’aire du copié collé et dès qu’il y a une information, elle est tout de suite reprise sur plein de blogs. Mais si un journal référent la reprend, là oui » (J. web, Sudpresse'pFHPEUH7RXVOHVEORJVQHVRQWSRXUWDQWSDVFRQVLGpUpVDYHFODPrPHPp¿DQ-­
ce. C’est davantage l’auteur qui est considéré, que le médium. Les journalistes disent ainsi consulter principalement les blogs de personnalités politiques et de journalistes professionnels. Comme pour OHVPpGLDVFRQFXUUHQWVOHPpFDQLVPHGHFRQ¿DQFHHQYHUVOHVEORJVFRQVLGqUHGRQFODUpSXWDWLRQHW
le respect présumé des règles déontologiques. e) Réseaux sociaux
Certains acteurs, tels que l’agence de presse Belga, tentent actuellement de créer des systè-­
mes permettant de récupérer certains contenus issus des réseaux sociaux. Mais paradoxalement, les journalistes de Belga se sont par ailleurs vu interdire leur accès à Facebook. Seuls deux pos-­
tes informatiques permettent aujourd’hui d’y accéder, ce que certains journalistes de l’agence dé-­
Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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plorent puisque quelques actualités belges ont émergé via Facebook. Néanmoins, quand ils en dis-­
posent librement, les journalistes interrogés ne font que très peu usage de Facebook en tant que source. Le réseau est davantage utilisé pour l’autopromotion et la diffusion que pour la recherche d’informations. Twitter est par contre considéré comme plus « sérieux » que le « gadget » Facebook. Dé-­
but 2010, nous avons pu constater que plusieurs journalistes, même s’ils restent une minorité, uti-­
lisent Twitter au quotidien pour s’informer. Une enquête (Middleberg/ SNCR 2009) menée sur 341 journalistes (dont 54 % travaillent aux États-­Unis) a révélé que 48 % des journalistes utilisent le microblogging, ce qui correspond à une augmentation de 28 % par rapport à 2008. On peut donc V¶DWWHQGUHjFHTXHODIUDQJHGHMRXUQDOLVWHVEUDQFKpVVXU7ZLWWHUDXJPHQWHHQFRUHVLJQL¿FDWLYHPHQW
dans les mois à venir. Nous avons également noté que les journalistes web interrogés parlent beau-­
coup plus de Twitter que leurs collègues issus des médias traditionnels. Ce constat renforce celui d’une autre étude (Cision, 2009) qui a établi que les journalistes web sont beaucoup plus nombreux à gazouiller que leurs collègues issus de la presse écrite et magazine. L’enthousiasme des journalistes web pour Twitter est toutefois teinté de prudence. Pour un ZHEMRXUQDOLVWHO¶DOHUWHHVWOHVHXODWRXWGHVFRQWHQXVLVVXVGH7ZLWWHUSDUDLOOHXUVGLI¿FLOHVjYpUL¿HU
Un autre qui, lui, affectionne ce mode d’information, craint de dispenser une information fausse à cause de Twitter. Il nuance directement : « Mais bon, Twitter l’avantage c’est que c’est avant tout GHVLQIRVjO¶LQWHUQDWLRQDOUHODWLYHPHQWIDFLOHVjYpUL¿HU7XYDVVXU&11)R[QHZV'DLO\PDLO
Times... si c’est remonté jusqu’à Twitter, c’est qu’il y a quelqu’un, une source qui a donné l’info... a priori, c’est jouable de ne pas se planter » (J. web, 2009). Cette citation met en avant deux éléments LPSRUWDQWV7RXWG¶DERUGODYpUL¿FDWLRQVXUOHZHESDVVHDYDQWWRXWSDUXQFRQWU{OHGHVDXWUHVVLWHV
d’information. Les médias jouent désormais un rôle de crédibilisateurs de tweets. Néanmoins, ULHQQHSHUPHWGHYpUL¿HUTX¶LOVDLHQWHXOHPRLQGUHFRQWDFWDYHFXQHVRXUFHGHSUHPLqUHPDLQ'HX-­
xièmement, l’expression ‘c’est jouable’ amorce une intuition : les journalistes web sont souvent con-­
traints de faire un SDULVXUOD¿DELOLWp des sites qu’ils consultent, sur la véracité des faits qu’ils re-­
laient. I'HODUHFKHUFKHGXVFRRSHWGHVD¿DELOLWp
Une autre journaliste avait déjà utilisé un vocable issu du monde du jeu par rapport à une information puisée sur le site d’un média d’information people : “Par exemple, lors de la mort de Michaël Jackson, il y avait un site qui l’annonçait, c’était TMZ. [...] ben, c’était quitte ou double : j’annonce qu’il est mort ou bien j’annonce qu’il n’est pas bien ? ” (J. web, 2010). Encore une fois, l’expression ‘quitte ou double’ fait référence au monde du jeu et trahit le fait que la journaliste esti-­
me avoir beaucoup à gagner (et à perdre) dans la divulgation d’une telle information. La journaliste FKRLVLUD¿QDOHPHQWG¶DQQRQFHUOHGpFqVFRPPHODSOXSDUWGHVMRXUQDOLVWHVGXPRQGHHQWLHU
On peut alors se demander ce qui pousse les journalistes à prendre le risque de diffuser une information incertaine ? Un journaliste web nous fournit une piste de réponse : dispenser un scoop octroierait une certaine crédibilité. Mais ce n’est pas tout. Il semble qu’à ce stade qu’une catégorie FRQFHSWXDOLVDQWHV¶LQVFULYHHQ¿OLJUDQHODQRWLRQGHSDULVXUOD¿DELOLWp
,FL RQ WRXFKH j O¶HVVHQFH PrPH GH OD QRWLRQ GH ¿DELOLWp GH O¶LQIRUPDWLRQ WHOOH TXH Gp¿QLH
dans le sens commun : “8QV\VWqPHHVW¿DEOHORUVTXHODSUREDELOLWpGHUHPSOLUVDPLVVLRQVXUXQH
GXUpH GRQQpH FRUUHVSRQG j FHOOH VSpFL¿pH GDQV OH FDKLHU GHV FKDUJHV´ &HWWH Gp¿QLWLRQ LPSOLTXH
deux dimensions, à commencer par celle du cahier des charges. Celui-­ci est souvent implicite. Mais un coup d’œil sur la charte de Munich rappelle que le premier devoir d’un journaliste est de dire la YpULWp'HX[LqPHPHQWODQRWLRQGHSUREDELOLWpLQGLTXHTXHOD¿DELOLWpG¶XQHVRXUFHHVWFRQVWDP-­
PHQWUppYDOXpH/HSDULVXUOD¿DELOLWpQ¶HVWGRQFSDVXQVLPSOHFRXSGHSRNHUPDLVXQHYpULWDEOH
procédure d’estimation de la véracité. Jacques Le Bohec estime que, pour les journalistes, la divulgation de l’information prime sur ODYpUL¿FDWLRQ©quitte à faire amende honorable ou à tenter de se dédouaner par la suite au cas où O¶HUUHXU¿QLUDLWSDUVHVDYRLUªS(WGHQRWHUTXHOHVUHFWL¿FDWLIVQHVRQWSDVOpJLRQSDU-­
ce qu’ils entravent la crédibilité du média. Or, sur le web, les journalistes seraient encore plus tentés Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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GHSXEOLHUGHVLQIRUPDWLRQVH[FOXVLYHVVDQVDYRLUUpDOLVpWRXWHVOHVSKDVHVGHYpUL¿FDWLRQSUpDODEOHV
En effet, ils auraient tendance, selon Arant et Anderson (2000, in Bernier, 2004) à effacer leurs er-­
reurs plutôt que de les corriger. Sur le web, il y a plus à gagner qu’à perdre face à un potentiel scoop. Un autre élément semble faire pencher la balance en faveur de la diffusion d’une informa-­
tion, même incertaine. Cet élément est à chercher dans les réactions de la hiérarchie face aux er-­
reurs potentielles. Nous avons pu observer que les erreurs d’imprécision se multipliaient sur le web. Par exemple, lors de l’affaire De Gelder1, sombre fait divers belge, plusieurs médias ont annoncé un nombre erroné de victimes. Or, aux yeux de journalistes interrogés, l’information prime sur sa pré-­
cision. “Je ne pense pas qu’on soit dans l’erreur parce qu’on n’annonce pas le bon nombre de victi-­
mes. L’important c’est qu’il s’est passé quelque chose´-ZHE0DUV'¶DXWUHVDI¿UPHQWTX¶LOV
n’ont pas été réprimandés par leur hiérarchie, parce que le suivisme avait été “général au niveau belge”. &HFLQHVLJQL¿HSDVTXHOHVMRXUQDOLVWHVZHEGLIIXVHQWjWRUWHWjWUDYHUVVDQVDXFXQHYpUL¿-­
cation. Le phénomène mis en avant ici est avant tout théorique. Il permet de comprendre pourquoi OHVMRXUQDOLVWHVZHERQWWHQGDQFHjHIIHFWXHUGHVSDULVULVTXpVVXUOD¿DELOLWpG¶XQHLQIRUPDWLRQOHV
éventuelles retombées négatives d’un tel pari, si elles ne sont pas nulles, sont perçues comme infé-­
rieures aux avantages potentiels. Le pari prend des airs pascaliens. Blaise Pascal déduisait logiquement que l’individu a tout à gagner à croire en l’existence de Dieu, que celui-­ci existe effectivement ou non. De la même manière, le journaliste web a tout à gag-­
ner s’il diffuse une information en primeur, même si celle-­ci devait s’avérer fausse. Certains journa-­
listes ont d’ailleurs exprimé explicitement cette idée en interview : « Par exemple, si on balance une LQIRIDXVVHTXLJpQqUHFOLFVHWTX¶RQO¶LQ¿UPHDSUqVEHQF¶HVWPLHX[TXHGHQHSDVO¶DYRLU
balancée » (J. web, 2009). Il s’agit d’une logique de rentabilité directe, calculée en pages vues. Il existe néanmoins une exception. En effet, nous avons constaté que les journalistes se mon-­
trent bien plus critiques lorsque les erreurs sont dues à une manipulation. Durant l’année 2009, un média a ainsi annoncé à tort le décès de Laurent Nkunda. “dDDpWpO¶pFODWGHULUHJpQpUDOLFL>«@
&¶HVWJUDYHoDQ¶DSDVpWpYpUL¿pLOVQ¶RQWPrPHSDVHVVD\pGHMRLQGUH1NXQGDTXHQRXVRQDYDLW
LQWHUYLHZpOHPDWLQPrPH«,OVVHVRQWODLVVpVDEXVHU«´(J. web, 2009). Dès lors, nous émettons l’hypothèse que, plus les journalistes du web s’écarteront d’une position d’humilité par rapport à leurs sources, plus ils risqueront d’être décrédibilisés en cas d’erreur. 3
Kim De Gelder est un jeune Belge qui, le 23 janvier 2009, s’en est pris à une crèche du centre-­ville de Termonde, tuant deux bébés de moins d’un an, une puéricultrice, et blessant une dizaine d’autres enfants avec un couteau. Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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Cette distinction des types d’erreurs va ici de pair avec une typologie implicite des scoops. Si un journaliste se trompe alors qu’il relaie un « petit scoop », il ne sera pas blâmé. Ainsi, dans les exemples de suivisme précités (Michaël Jackson, De Gelder), les scoops n’ont pas été dénichés par les journalistes interrogés. Et nous avons vu qu’une forme de tolérance prédominait face aux éven-­
tuelles erreurs et imprécisions. Si par contre, si un journaliste prétend à la diffusion d’un « grand scoop », son audace sera condamnée en cas d’erreur. Les contenus du web
a) Sélection de l’information
Un critère distingue particulièrement la sélection de l’information pour le média Internet de celle effectuée pour la presse écrite : le temps. L’information service (embouteillages, etc.) sera ainsi privilégiée pour le web. La multiplication des deadlines oblige les journalistes à opérer, cons-­
tamment, « un arbitrage pertinent entre les informations qui méritent d’être rapidement mises en ligne sur le site et celles qui pourront attendre le bouclage du journal » (Cabriolé, 2009, p. 135-­136). Cet arbitrage est souvent déterminé par un seul critère : la possibilité de conserver l’exclusivité de O¶LQIRUPDWLRQMXVTX¶jODGLIIXVLRQGXMRXUQDORXVXSSRUWKLVWRULTXH&HWWHSUDWLTXHVHMXVWL¿HSDUOD
volonté de réserver les scoops, et toute valeur ajoutée, pour le support payant. Mais, puisque nom-­
bre de médias planchent sur des formules payantes ou ‘freemium’ en ligne, l’actuelle répartition de la valeur ajoutée selon les supports devrait évoluer vers une répartition plus complexe. b) Tout avoir
À force de toiser sa concurrence, le journaliste web est arrivé à penser que sa sélection de contenus se devait d’être exhaustive. “Dans tous les cas, il faut publier au moins tout ce que les au-­
tres ont fait, et si possible des choses que les autres n’ont pas fait” (J. web, 57%), Août 2009). Mais alors, quand la sélection prend (presque) tout, on peut se demander si sélection il y a ? 1RXV SRXYRQV UpSRQGUH SDU O¶DI¿UPDWLYH /¶DPELWLRQ G¶H[KDXVWLYLWp TXL DX GHPHXUDQW HVW
limitée à la quantité d’articles que les éditeurs peuvent traiter en une journée) est, en réalité, un sa-­
vant mélange d’incontournables, d’articles propres à la ligne éditoriale du média et de sensibilités SURSUHVDX[pGLWHXUVGXMRXU&HVSDUWLFXODULWpVQHVXI¿VHQWSDVjFHMRXUjH[WUDLUHO¶,QWHUQHWLQIRU-­
mationnel d’une certaine uniformité. En France pourtant, les sites d’information alternative se mul-­
tiplient (5XH%DNFKLFK2ZQL etc.). Mais sur le petit marché belge, seuls quelques journalistes relativement isolés se sont détachés des agences pour couvrir une actualité décalée. Ce fut le cas des journalistes de %)07RGD\ qui ont aujourd’hui mis clef sous porte. Alors qu’ils étaient encore actifs, ils critiquaient la surcharge informationnelle de leur concurrence : « Ça n’a pas de sens... [...] vous avez des rédactions où les gens font de la quantité, et je ne suis pas sûre qu’il y ait de la qualité » (J. web, %)07RGD\, Janvier 2010). Ce faisant, notre interlocuteur met le doigt sur une tension entre quantité et qualité. On retrouve ici l’expression d’antagonismes qui peuvent être synthétisés sous le dichotome commercial/éditorial. Nous interprétons ce dernier à la lumière des théories de Boltanski et Théve-­
QRWFRPPHXQFRQÀLWHQWUHGHX[PRQGHVPDUFKDQGHWFLYLTXHRXV\VWqPHVGHSHQVpHTXL
s’affrontent dans l’esprit de chaque journaliste (Degand, 2011). c) Perception de la ligne éditoriale
Le pôle commercial semble largement guider les pratiques de sélection de l’information en ligne. Plusieurs webjournalistes évoquent à ce titre la rubrique ‘people’ de leur site ou d’autres sujets légers ou trash qu’ils n’oseraient jamais proposer en réunion de rédaction des médias traditionnels. De leur côté, les journalistes issus des supports traditionnels ne considèrent pas cette tendance à la légèreté comme un acquis irrémédiable. En effet, dans certaines rédactions, aucune ligne éditoriale n’a été rédigée pour le web. La Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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sélection des articles et des photographies est donc laissée à la libre interprétation des journalistes formés au web, qui se voient parfois recadrés par leurs supérieurs ou par des journalistes tradition-­
QHOV$LQVLSOXVLHXUVMRXUQDOLVWHVQRXVRQWSDUOpG¶XQpSLVRGHFRQÀLFWXHOTXLDYDLWRSSRVpOHVMRXU-­
QDOLVWHVGXZHEjFHX[GXTXRWLGLHQSDSLHUDVVRFLp8QHGpSrFKHWUDLWDQWGHVGpERLUHVGHOD¿OOHG¶XQ
personnage politique belge avec la police avait ainsi été mise sur le site du quotidien en question, ce qui avait provoqué une vive réaction de la part des journalistes du papier : « Et donc, c’est de là TXHYLHQQHQWOHVFRQÀLWVHVWFHTX¶RQDHQYLHGHIDLUHPDUFKHUQRWUHVLWHHWjTXHOSUL["2XHVWFH
qu’on a envie de respecter notre ligne rédactionnelle et de ne pas faire d’écart, et à quel prix ? Parce TXHG¶XQF{WpFHODWHFR€WHGHO¶DXGLHQFHVXUQRWUHVLWHHWGHO¶DXWUHF{WpFHODWHFR€WHGHVOHFWHXUV¿-­
dèles et puis des questions d’éthique » (Journaliste web, Novembre 2009). On retrouve ici une belle illustration de la tension évoquée ci-­avant entre les logiques éditoriales et commerciales. d) Le diktat des outils audimétriques
La logique commerciale obligerait donc les journalistes, bon gré mal gré, à traiter des infor-­
mations qui vont générer un maximum de clics. Et la recette du succès est désormais bien connue grâce aux outils de mesure d’audience : “Tout ce qui est insolite” ou “des faits divers ‘crado’ et des ¿OOHVHQELNLQL´. En résumé, faire du clic se résout par une équation simple : “OHV6GXVDQJGX
sexe, du sport”. 2I¿FLHOOHPHQWGRQFFHWWHWHQGDQFHHVWMXVWL¿pHSDUOHVPRGHVGHFRQVRPPDWLRQGHVLQWHU-­
nautes. Mais nous pourrions ajouter une hypothèse interprétative : le journaliste web accepte de traiter pour le site certaines informations plus légères justement parce qu’il est dans l’ombre. Tout comme il a été démontré que l’anonymat entraîne des réactions plus extrêmes parmi les internau-­
tes d’un forum de discussion (Lefebvre, 2002), l’absence de signature des journalistes du web leur permet de répondre à certaines contraintes commerciales sans que leur image n’en soit pour autant écornée. Néanmoins, certains journalistes semblent craindre qu’une image négative de leur site se UpSHUFXWHVXUOHXULPDJHSHUVRQQHOOH'¶DXWUHVFRQ¿HQWXQVHQWLPHQWGHFXOSDELOLWp³Je suis en-­
tre les ordres qu’on me donne et l’éthique que je pense être mienne. C’est comme pour tout c’est une question d’équilibre. Au début j’avais des états d’âme. Je me disais ‘ça, ça ne peut pas être sur le site’. Tu vois, j’essayais d’avoir une espèce de ligne de conduite morale, journalistique derrière, mais.... pfff, j’ai arrêté de faire ça. Maintenant, je travaille comme un robot. Je fais ce qu’on me dit .” (J. web, 2009)
Ce n’est donc pas tant que les journalistes aient envie de mettre en ligne de l’information ra-­
coleuse, mais ils en perçoivent une certaine nécessité. « Il ne faut pas faire les hypocrites, les pages les plus vues ce sont des pin-­up déshabillées [...] J’analyse souvent les chiffres de fréquentation, je sais qu’on a besoin de ça. Mais voilà, ça me dérange » (J. web, 2010).
e) Humour et résistance C’est ainsi que dans les médias plus populaires, les journalistes ont admis qu’ils devaient pro-­
duire de l’information légère. Mais nous avons remarqué différentes formes de distanciation à cet égard. Dans une rédaction, les journalistes web pratiquent par exemple l’autodérision, en moquant à haute voix, les articles que leurs collègues ou qu’eux-­mêmes mettent en ligne. Dans d’autres rédactions, les journalistes tentent de prouver qu’ils évitent le racolage, qu’ils ne choisissent pas forcément les photographies les plus choquantes, ni les plus osées. D’aucuns vont jusqu’à tenir tête à leurs supérieurs dont ils jugent les consignes trop axées sur la consommation du public. Si les web journalistes sont conscients de certaines nécessités de leur métier, comme celle d’inciter au clic dans un but purement commercial, ils veulent néanmoins préserver un certain rôle social, en dispensant une information d’intérêt public. On retrouve ici l’expression de la valeur jour-­
nalistique du service public (Deuze, 2005).
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f) Hiérarchisation
Sur le web, la hiérarchisation de l’information peut être comparée à celle d’un quotidien pa-­
pier, avec sa une (la homepage du site) et ses différentes rubriques (les pages internes du site). La SULQFLSDOHGLIIpUHQFHUpVLGHGDQVO¶pYROXWLRQGHFHWWHKLpUDUFKLVDWLRQDX¿OGHODMRXUQpH/HFDP
TXHOHVMRXUQDOLVWHVMXVWL¿HQWSDUOHVPRGHVGHFRQVRPPDWLRQGHO¶LQWHUQDXWHVXVFHSWLEOHGH
revenir sur le site plusieurs fois dans une journée. Une autre différence notable est que la mise en page et son évolution permanente ne sont pas réalisées par les chefs de service, mais par un éditeur. Les journalistes apprécient majoritairement cette tâche, symboliquement valorisante. “Le fait de mettre tel sujet en manchette plutôt qu’un au-­
tre, c’est une prise de position [...] C’est clair que ce n’est pas une prise de position aussi forte qu’un édito, hein. Mais c’est en soi une prise de position également” (J. web, Le Soir, Juin 2009). Il s’agit là du principal privilège que les journalistes web possèdent par rapport à leurs collègues traditionnels. Ce privilège peut prendre une importance fondamentale pour les plus pessimistes : “Je fais quand même un travail de journaliste dans la mesure où je suis chargé de sélectionner l’information, de la hiérarchiser” (J. web, Le Vif L’Express, Janvier 2010). La possibilité de sélectionner et de hiérar-­
chiser serait donc vécue comme le dernier bastion véritablement journalistique dans un métier qui se rapproche souvent plus de la sphère de la diffusion que de celle de la production. Néanmoins, la hiérarchisation doit se conformer à la ligne éditoriale de la marque, ainsi qu’à celle du support. “Je ne suis pas spécialement d’accord avec ça, mais quand un article marche, on le met plus haut [sur la page]” (J. web, 2009). Et le mécanisme est doublement avantageux pour les informations à succès : une nouvelle va aller plus haut sur la page parce qu’elle remporte beaucoup de clics, et le fait qu’elle soit en haut de page va lui rapporter encore plus de clics. Les journalistes conditionneraient donc partiellement le succès d’une information en fonction de la place qu’ils lui DWWULEXHQW$ORUVRQSHXWSDUOHUGHGpPDVVL¿FDWLRQGHVPpGLDV&DVWHOOVRXGHOHFWXUHLQGLYL-­
dualisée de l’information en ligne, mais derrière les choix des consommateurs se cachent en vérité des conventions journalistiques qui sont de nature à orienter lesdits choix. Perspectives : la construction des nouvelles comme pratique collective entre journalistes et sources ?
Au terme de cette observation empirique et relative, la construction des nouvelles en ligne apparaît comme une pratique collective complexe. Elle ne se déploie pas dans la seule interactivité entre monde journalistique et public, mais dans un ensemble de tensions au travers desquelles se GHVVLQHQWGHVGp¿QLWLRQVHQGRJqQHVHWH[RJqQHVGHVDFWHXUV
On l’a vu, les rédactions sont clairement traversées par un mouvement de recentration de l’organisation et de l’identité. Avec des degrés divers, on constate une incitation à l’intégration or-­
ganisationnelle des segments traditionnels et web. Cette incitation ne va pas sans raidissements identitaires, les journalistes traditionnels faisant parfois preuve de résistance au changement. Cette résistance se déploie sur le plan organisationnel, mais également symbolique ;; le journalisme tra-­
GLWLRQQHOFRQWLQXDQWjDI¿UPHUXQHSRVWXUHVXUSORPEDQWHHQV¶LQVWLWXDQWGpSRVLWDLUHHWJDUDQWGX
µYUDL¶MRXUQDOLVPH6LOHVFROODERUDWLRQVV¶LQWHQVL¿HQWHQWUHVHJPHQWVOHPDLQWLHQGXSULYLOqJHGHOD
spécialisation aux journalistes traditionnels alimente fortement cette distance identitaire entre web et non-­web. L’expertise reconnue des journalistes web demeure limitée, dans le cadre du terrain obser-­
vé, au regard de ce que permet le data journalism. La recherche d’informations en ligne est encore marginale dans l’ensemble des tâches de production d’information. Par contre, si l’on a dit le recul symbolique des agences de presse, on observe l’arrivée de nouveaux acteurs. La concurrence — ac-­
teur traditionnel et involontaire de la production collective d’information — semble passer du statut de coopérateur accidentel, dont on se ‘démarquait’ auparavant lorsqu’il s’agissait de rattraper une information ‘loupée’, à celui de source permanente. L’observation des sites concurrents devient une activité explicite, ayant acquis sa légitimité. Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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a) Une coopération peu ouverte au public
Si l’on étend l’observation aux acteurs non-­professionnels et plus largement au public, on constate que deux concepts guident les interprétations des acteurs journalistiques. '¶XQHSDUWO¶DFFqVDX[VRXUFHVVDIDFLOLWDWLRQVDGpPXOWLSOLFDWLRQPRGL¿HQWO¶DLUHGHFRRSp-­
ration admise et reconnue dans la production d’information. Si les producteurs traditionnels de-­
meurent les sources privilégiées, de nouveaux acteurs jouissent d’une reconnaissance élargie : agré-­
gateurs, blogs ou amateurs… La notion de sources admissibles est étendue.
D’autre part, cet élargissement ne peut se comprendre sans envisager le concept de vrai-­
semblance. L’observation, dont nous avons pu rendre compte, montre que les journalistes profes-­
sionnels continuent à argumenter leurs identités (variables) en se référant au registre déontologi-­
que et éthique de la vérité. Sans doute, la recomposition identitaire est-­elle plus stratégique que ne le laisse parfois entendre le discours d’un certain déterminisme technologique. La multiplication des sources et l’accélération du temps de traitement des informations amènent les professionnels GH O¶LQIRUPDWLRQ j IDLUH OH SDUL VXU OD YUDLVHPEODQFH GH O¶LQIRUPDWLRQ VXU VD ¿DELOLWp PR\HQQDQW
quelques précautions relevant à la fois du recoupement et de la rhétorique de l’objectivité. En cas G¶HUUHXUODUHFWL¿FDWLRQV¶HIIHFWXHGDQVXQFRQWLQXXPWHPSRUHOHQÀX[WHQGXRO¶LQIRUPDWLRQHVW
toujours ‘en train de se faire’, collectivement.
Cette construction collective n’est pourtant pas égalitaire. Chaque acteur semble avoir, aux yeux des professionnels, son rôle et ses compétences. Ainsi, les confrères et concurrents jouent un rôle remodelé d’alerte et de crédibilisation d’une information. Twitter est désigné comme un mode de sourçage rapide. Par contre, Facebook ou les blogs d’anonymes apparaissent comme des jalons OLPLQDLUHV&RQVLGpUpVFRPPHWURSSHX¿DEOHVLOVWUDFHQWXQHOLJQHHQWUHOHVPRQGHVMRXUQDOLVWLTXHV
crédibles et un univers plus incertain. On retrouve ainsi une ancienne hiérarchie des sources au sein d’une nouvelle pratique collective de l’information : “Plus visibles socialement, plus proches géographiquement, souvent plus expertes en FRPPXQLFDWLRQOHVVRXUFHVRI¿FLHOOHVRQWDXVVLSRXUOHMRXUQDOLVWHO¶DYDQWDJHGHOXLIDLUHJDJQHU
GXWHPSVHWGHO¶pQHUJLHVXUODYpUL¿FDWLRQGHO¶LQIRUPDWLRQTX¶HOOHVGLIIXVHQWHWFHSRXUSOXVLHXUV
UDLVRQVLOOHVFRQQDvWLOVDLWFRPPHQWHOOHVIRQFWLRQQHQWHWV¶LOSHXWOHXUIDLUHFRQ¿DQFHOHXUVWDWXW
rend plus crédible la “rhétorique de l’objectivité” qu’elles développent, elles représentent le point de vue des autorités qu’il faut relayer de toute façon, leur discours est fondé sur des statistiques RI¿FLHOOHVHWF$XWDQWGHUDLVRQVTXLDXWRULVHQWjrWUHPRLQVH[LJHDQWDYHFHOOHVTX¶DYHFG¶DXWUHV´
(Derville, 1999, p. 164).
Est-­ce à dire que le rôle du public demeure inchangé ? Tenant compte de toutes les limites d’une étude de cas, l’affaire De Gelder précitée permet d’avancer une hypothèse interprétative. Il semble que ce soit davantage dans le cadre de sa tolérance vis-­à-­vis de l’erreur journalistique que le public est pris en compte, plutôt que comme coopérateur de construction de l’information. Cette (in)
tolérance du public à l’erreur journalistique semble très présente parmi les référents implicites qui guident les choix journalistiques sur le web. Le public intervient ainsi dans une double posture. Il est avant tout un référent audimétrique essentiel à la sélection de l’information. En cela les compor-­
tements de consommation dominants reconstituent une approche très massive et passive du public. ¬O¶LQYHUVHOHSXEOLFUHWURXYHXQHIRQFWLRQG¶DXGLHQFHDFWLYHHWGLYHUVL¿pHORUVTXHOHVMRXUQDOLVWHV
évaluent comment ne pas perdre leur crédibilité. (QGp¿QLWLYHELHQTXHQRXVQ¶D\RQVSDVDERUGpGHVPpGLDVH[SOLFLWHPHQWD[pVVXUOHSDUWLFL-­
patif (le français 5XH par exemple), cette observation laisse penser que, si la pratique du journa-­
lisme sur le web oblige les professionnels de l’information à recomposer leur identité, et à moins que l’internaute ne se transforme exceptionnellement en témoin privilégié d’un évènement hautement médiatique, la place laissée au public dans une démarche coopérative serait, LQ¿QH, extrêmement réduite. Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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GT4 - Jornalismo Digital
Mudanças no fazer jornalístico online? Aspectos das reportagens do portal
de notícias G1
Liana Vidigal Rocha
Universidade Federal do Tocantins
Resumo
A internet possui peculiaridades que a diferenciam como instrumento de informação, sendo a no-­
WtFLDHPWHPSRUHDOXPDGDVVXDVSULQFLSDLVHVSHFLDOLGDGHV$SDUWLUGLVVRpSRVVtYHOD¿UPDUTXHR
jornalismo online passou por estágios que contribuíram para o seu desenvolvimento. Na primeira geração, chamada de reprodução, o conteúdo das publicações impressas era transposto para o meio online sem qualquer alteração. A segunda geração refere-­se à introdução do hipertexto, a utilização do e-­mail e a incorporação de elementos audiovisuais, como arquivos de áudio e vídeo. A terceira geração pode ser entendida como a de incrementação dos conteúdos multimídia e o desenvolvimen-­
to de conteúdo exclusivo para a web. Finalmente, a quarta geração do jornalismo online está ligada à fase da colaboração, na qual um cidadão pode participar do processo de produção e disseminação GHQRWtFLDV3RUWDQWRRREMHWLYRGRDUWLJRpLGHQWL¿FDUQDHGLWRULDGH(FRQRPLDGR*DVSHFWRVGR
fazer jornalístico online, destacando a convergência das mídias e as fases em que se encontra o jor-­
nalismo do portal.
Introdução
2MRUQDOLVPRpXPDSUR¿VVmRHPFRQVWDQWHWUDQVIRUPDomRVREUHWXGRSRUFDXVDGRVDYDQoRV
tecnológicos que têm acontecido nos últimos tempos. O jornalista deve coletar as informações, veri-­
¿FDUVXDYHUDFLGDGHHUHOHYkQFLDHSXEOLFiODVSDUDROHLWRU+iVpFXORVDDWLYLGDGHYLQKDVHQGRH[H-­
FXWDGDFRPRSHTXHQDVHGHWHUPLQDGDVPRGL¿FDo}HVSRUpPKiSRXFRPDLVGHGXDVGpFDGDVFRPD
FRQVROLGDomRGDLQWHUQHWRSURFHVVRJDQKRXQRYRVGHVD¿RV
3URYHQLHQWHGHSURMHWRVGHSHVTXLVDGR3HQWiJRQRQRVDQRVGHDLQWHUQHWSRGHVHUGH¿QLGD
como um elemento das tecnologias digitais, um agrupamento de redes de computadores “interliga-­
dos de forma transcontinental e que compartilham o mesmo conjunto de protocolos” (VOLLTATH, 2000). Ao permitir a comunicação de muitos com muitos (CASTELLS, 2003, p. 8), a internet aca-­
bou se transformando, num curto espaço de tempo, em um dos principais emissores de informações em nível global. Segundo Pinto (2008), a internet “interfere transversalmente todos os territórios, subverten-­
do velhos hábitos e cânones, curto-­circuitando e aproximando o que antes era distante, questionan-­
GRDLQWHUPHGLDomRWUDGLFLRQDOGRVMRUQDOLVWDV´2SHVTXLVDGRUD¿UPDDLQGDTXHDLQWHUQHWSRVVLEL-­
litou “novas práticas do jornalismo” e a presença “de novos atores (plataformas colaborativas)”.
-iRSHVTXLVDGRU-RmR&DQDYLOKDVD¿UPDTXH³RMRUQDOLVPRQDZHESRGHVHUPXLWRPDLVGR
que o atual jornalismo online. Com base na convergência (texto, som e imagem), o webjornalismo pode explorar todas as potencialidades que a internet oferece, produzindo algo novo: a webnotícia”.
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Dos primórdios à fase atual
De acordo com Moherdaui (2002, p. 21), o primeiro jornal de grande porte a disponibilizar serviços online ao público foi o 1HZ<RUN7LPHV, ainda na década de 1970, oferecendo “resumos e textos completos de artigos atuais e artigos de suas edições diárias passadas” aos assinantes que dis-­
punham de computadores. Contudo, é preciso ressaltar que a internet ainda não havia sido liberada para uso comercial, o que impedia a sua expansão. Esse processo só aconteceria efetivamente na dé-­
cada de 1990, época em que os jornais impressos dão início à “migração” para o novo veículo. Um dos primeiros jornais diários a ter uma versão online foi o norte-­americano San Jose Mercury News (BARBOSA, 2002). Naquele momento, o meio era pouco conhecido, tanto por parte do público quanto por parte de quem já estava trabalhando nele, e, por esse motivo, suas potencia-­
lidades não eram totalmente exploradas. Para se ter uma ideia, os jornais não publicavam material exclusivo. As informações eram copiadas da versão impressa e postadas no meio online sem qual-­
quer alteração.
eSRVVtYHOD¿UPDUHQWmRTXHRMRUQDOLVPRRQOLQHSDVVRXSRUHVWiJLRVTXHFRQWULEXtUDPSDUD
o seu desenvolvimento. A primeira geração, chamada de reprodução, tinha o conteúdo copiado da publicação impressa para o meio online. As redações jornalísticas não dispunham de recursos dedi-­
cados exclusivamente à edição digital do material e a diagramação das páginas digitais se asseme-­
lhavam as dos jornais de papel.
(...) a metáfora do jornal impresso passa a ser adotada no jornalismo online, seja na linguagem, na divisão por editorias, na forma de apresentação das telas principais dos sites (como se fosse a primeira página de um jornal) e na própria utilização da palavra ‘jornal’ (BARBOSA, 2002).
-iQDVHJXQGDJHUDomRGRMRUQDOLVPRRQOLQH%DUERVDD¿UPDTXHDVHPSUHVDVMRUQD-­
lísticas perceberam que, para ter visibilidade na internet, era necessário fazer com que o usuário acessasse o site. Em contrapartida, seria indispensável oferecer material exclusivo, ou seja, elabo-­
rado especialmente para o meio online. A autora diz ainda que, naquele momento, era importante também implementar “canais de notícias em “tempo real” para despertar e criar o hábito da leitura da versão online”.
Vale a pena ressaltar ainda que essa segunda geração do jornalismo online refere-­se à intro-­
dução do hipertexto, a utilização do e-­mail e a incorporação de elementos audiovisuais, como arqui-­
YRVGHiXGLRHYtGHR(VVDHWDSDpPDUFDGDWDPEpPSHORGLVWDQFLDPHQWRGDFRQ¿JXUDomRItVLFDGRV
jornais impresso.
A terceira geração pode ser entendida como a de incrementação dos conteúdos multimídia (imagem, texto, som e vídeo). É nesse momento que aumenta a oferta de serviços voltados ao en-­
tretenimento, surgem as comunidades virtuais e o comércio eletrônico tem um considerável cres-­
cimento. Essa vai ser a fase do desenvolvimento de conteúdo exclusivo para a web. As empresas jornalísticas, exclusivas ou não da web, incorporam elementos interativos aos sites (chats, fóruns, HQTXHWHVFRPHQWiULRVHWFHFRQWUDWDPSUR¿VVLRQDLVHVSHFLDOL]DGRVQRWUDEDOKRGDHGLomRGLJLWDO
Um novo momento de diferenciação para o jornalismo online vai acontecer com a ascensão dos portais -­ páginas que centralizam informações gerais e especializadas, serviços de e-­mail, canais de chat e relacionamento, shoppings virtuais, mecanismos de busca na Web, entre outros, e cuja intenção é ser a porta principal de acesso a orientar a navegação do usuário pela WWW (BARBOSA, 2002).
3RU¿PRMRUQDOLVPRRQOLQHFKHJDjTXDUWDJHUDomRTXHHVWiOLJDGDjIDVHGRMRUQDOLVPRSDU-­
ticipativo. Segundo Gillmor (2004), o jornalismo participativo (também conhecido como colabora-­
tivo, open source e cidadão) pode ser entendido como “o ato de um cidadão ou grupo participar ati-­
vamente no processo de busca, análise, produção e disseminação de notícias e informações”.
O jornalismo participativo surge junto com a web 2.0, que se refere às páginas da web cuja importância se deve, sobretudo, à colaboração do usuário. Na web 2.0, os editores criam as platafor-­
PDVHQTXDQWRRFRQWH~GR¿FDDFDUJRGRVLQWHUQDXWDV8PH[HPSORGHVLWHFRODERUDWLYRpR<RXWX-­
be, conhecido por seu poder de armazenamento de vídeos. Portanto, com a web 2.0, o cidadão vira Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. 171
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mídia: ele consome, produz e distribui o conteúdo como e quando quer.
Para Ferrari (2004, p. 47), “a web introduziu aos jornalistas novas formas de escrever”, so-­
bretudo em virtude das características que a diferenciam como instrumento de informação. É possí-­
YHOD¿UPDUTXHRMRUQDOLVPRRQOLQHVHGLVWLQJXHGRVGHPDLVYHtFXORVGHFRPXQLFDomRSULQFLSDOPHQ-­
te por oferecer diferentes recursos técnicos, “pela forma de tratamento dos dados e pelas relações que são articuladas com os usuários” (PINHO, 2003, p. 58).
(...) sendo a internet uma mídia bastante distinta dos demais meios de comunicação tradicionais – televisão, rádio, cinema, jornal e revista -­, o jornalismo digital deve considerar e explorar a seu favor cada uma das características que diferenciam a rede mundial dos demais veículos. (PINHO, 2003, p. 58).
No decorrer dos anos, os pesquisadores elaboraram um conjunto de características que sinte-­
WL]DPDVHVSHFL¿FLGDGHVGDSUiWLFDMRUQDOtVWLFDQDVUHGHVGLJLWDLV3$/$&,26H5,%$6S
sendo as principais propriedades: interatividade;; personalização de conteúdo;; hipertextualidade;; memória;; atualização contínua e multimidialidade.
Segundo Toldo e Gonçalves (2008), a interatividade oferece ao internauta a possibilidade de participar, no caso, do processo jornalístico, seja por meio de enquetes, e-­mail, discussão em fóruns e chats ou escrevendo comentários. Além disso, a própria navegação pelos hipertextos também pode ser considerada uma circunstância interativa. Com a interatividade, o internauta abandona sua con-­
dição de mero receptor (comportamento passivo) e assume um papel de emissor (colaborador/pro-­
dutor da notícia), buscando e, ao mesmo tempo, fornecendo informações.
Outra característica importante do jornalismo online é a personalização de conteúdo. Agora, RXVXiULRWHPDRSRUWXQLGDGHGHFRQ¿JXUDURVSURGXWRVMRUQDOtVWLFRVTXHDFHVVDHPFRQVRQkQFLD
com seus interesses. E mais, é possível também descartar o material que achar desnecessário ou in-­
conveniente. Um exemplo de personalização de conteúdo é a newsletter, espécie de boletim informativo cujo conteúdo é enviado por e-­mail para usuários cadastrados. Outra forma de personalização é o RSS (Really Simple Syndication – distribuição realmente simples), também chamado de Feed (ali-­
mentador de notícias). É um sistema cujas notícias chegam automaticamente até o leitor em curtos intervalos de tempo. As principais vantagens do serviço são poder selecionar os assuntos de interes-­
se e não precisar navegar nos sites que as notícias foram publicadas.
Já a hipertextualidade pode ser considerada a maior revolução do jornalismo online, sobre-­
tudo por possuir uma forma de estruturação peculiar no tipo de produção de conteúdo. De acordo com Ferrari (2003, p. 42), o hipertexto permite “que o leitor decida e avance sua leitura do modo que quiser, sem ser obrigado a seguir uma ordem linear”. A hipertextualidade é a possibilidade de interconectar textos, sites, arquivos, etc. por meio de links. Por meio dela o internauta pode acessar informações contextualizadas e mais aprofundadas, visto que os links podem ser compostos por conteúdo multimídia ou, até mesmo, dados resgatados de material anterior. Por outro lado, é necessário frisar que os hiperlinks devem ser utilizados com cautela, pois podem dispersar a atenção do internauta, interrompendo a sua leitura. Sem dúvidas a internet possui uma capacidade própria de acumular um grande número de informações que são disponibilizadas ao internauta com maior facilidade se comparado a qualquer outro veículo de comunicação. Essa capacidade extraordinária de armazenamento deu origem à ou-­
tra característica do jornalismo online: a memória. “Também chamada de banco de dados, a memó-­
ria pode ser considerada coletiva na medida em que está conectada (ou interconectada) com outras diferentes informações e/ou usuários” (ROCHA, 2010).
Para Palacios et al (2002, p. 3), é na internet que o jornalismo vai ter “a sua primeira forma de memória múltipla, instantânea e cumulativa”, uma vez que o jornalismo online não possui limi-­
tes de tempo e muito menos de espaço. Finalmente, o usuário terá a possibilidade de “acessar com maior facilidade material antigo” publicado pelos veículos de comunicação disponíveis na rede.
A atualização contínua (instantaneidade) caracteriza-­se pela facilidade de produção, pela dis-­
ponibilização do conteúdo e, claro, pelo acesso rápido. A principal vantagem é que, no jornalismo SURGX]LGRQDSDUDLQWHUQHWRFRQWH~GRSRGHVHUPRGL¿FDGRDWXDOL]DGRYiULDVYH]HVDRGLD3RU
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outro lado, essa atualização sucessiva pode oferecer ao usuário mais informação do que ele é capaz de absorver. $LQVWDQWDQHLGDGHS}HHPGHVWDTXHRHVWUHLWDUGDVGHDGOLQHVRTXHUHSUHVHQWDGL¿FXOGDGHV
DFUHVFLGDVSDUDRMRUQDOLVWDHPWHUPRVGHYHUL¿FDomRGDLQIRUPDomRFRQWUDVWDomRGHIRQWHVUHFXR
contexto e vitória sobre o tempo. A interactividade pode gerar pressões sobre os jornalistas e pode deixar o leitor frustrado quando não vê satisfeitas as suas eventuais solicitações de comunicação. Mas se as características dos jornais-­online levantam problemas, também oferecem novos horizontes ao jornalismo. A interactividade, por exemplo, permite ao jornalista buscar a informação de várias maneiras, em mais locais e junto de mais pessoas, em todo o mundo (SOUSA, 2003).
No que diz respeito à multimidialidade, também conhecida como convergência das mídias, é possível dizer que se trata da reunião das mídias convencionais (texto, imagem e som) na narração do fato jornalístico. Baldessar, Antunes e Rosa (2009)D¿UPDPque “no jornalismo, a multimidiali-­
dade é vista em reportagens especiais onde são utilizados vários tipos de mídias: vídeos, imagens, LQIRJUi¿FRVVRQVLOXVWUDo}HVKLSHUOLQNVKLSHUPtGLDVHWH[WR´
E por falar em convergência
Como citado anteriormente, ao contrário das outras mídias, a internet não é linear, ou seja, não segue obrigatoriamente um encadeamento lógico. Com exceção da home page, a página inicial dos sites, o internauta pode visitar apenas a página que desejar, na ordem que quiser, no momento que tiver disposição e como preferir (no navegador e na resolução que escolher).
Além disso, a internet é um ambiente de comunicação diferenciado, que abriga as demais mídias, oferecendo ao usuário a oportunidade de ter acesso a diferentes informações em formatos WDPEpPGLYHUVL¿FDGRViXGLRYtGHRWH[WRIRWRJUD¿DHDQLPDo}HVFXMRSURFHVVRUHFHEHXRQRPH
de convergência multimídia.
De acordo com Castilho (2007), a convergência é “o processo de integração, coordenação e combinação de mídias impressas, visuais, auditivas e interativas, num sistema chamado multimí-­
GLD´2DXWRUD¿UPDTXHDFRQYHUJrQFLDGLJLWDOHQFRQWUDDSRLRVREUHWXGRQDXWLOL]DomRGRKLSHU-­
texto, visto que é o principal elemento que diferencia a internet dos demais veículos, combinando informações e conhecimentos por meio dos links.
Ramon Salaverría (2001) explica que, em 1994, Tony Feldman descreveu o conceito de mul-­
timídia, como uma “integração contínua dos dados, textos, imagens e áudios em um único ambiente informacional”1. Já para o pesquisador espanhol, o conceito de multimídia pode ser entendido como aquele que se expressa, que transmite ou percebe por meio de várias mídias.
Henry Jenkins (2008, p. 27) DSUHVHQWDXPDGH¿QLomRPDLVDEUDQJHQWHSDUDFRQYHUJrQFLD
D¿UPDQGRTXHp³RÀX[RGHFRQWH~GRVDWUDYpVGHP~OWLSORVVXSRUWHVPLGLiWLFRVDFRRSHUDomRHQWUH
múltiplos mercados midiáticos e o comportamento migratório dos públicos dos meios de comunica-­
ção” que procuram por diferentes experiências de divertimento.
,QGHSHQGHQWHPHQWHGRVLJQL¿FDGRRIDWRpTXHDFRQYHUJrQFLDHVWiSUHVHQWHQRMRUQDOLVPR
RQOLQHPHVPRTXHGHIRUPDGLVFUHWD)HUUDULSD¿UPDTXHQDZHE³DOpPGRWH[WRp
SRVVtYHOXWLOL]DUiXGLRJUi¿FRVYtGHROLQNVHWF(DWpXPDFRPELQDomRGHWRGRVRVUHFXUVRV´$DX-­
WRUDUHYHODTXHRVSUR¿VVLRQDLVTXHDWXDPQRPHLRRQOLQH³SUHFLVDPVHPSUHSHQVDUHPHOHPHQWRV
diferentes e em como eles podem ser complementados”.
Portanto, vale ressaltar que elaborar notícias para o meio online é mais complicado do que possa parecer. Dube (apud SCHMITT, s/d) diz que os jornalistas do online “são obrigados a pensar nos múltiplos níveis de uma só vez: palavras, ideias, estrutura da notícia, design, interatividade, áu-­
dio, vídeo, fotos e fóruns”.
Já Tompkins (apud GRADIM, 2002) alerta para o risco dos jornalistas se preocuparem, so-­
bretudo, com a produção de material para os suportes multimidiáticos e não dedicarem tempo à SHVTXLVDjDSXUDomRHjYHUL¿FDomRGRVIDWRVRTXHOHYDULDj³SHUGDGHFUHGLELOLGDGHHVXEVHTXHQ-­
1 Tradução nossa.
Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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te rejeição por parte do público”. Por esse motivo, recursos como vídeos, fotos, arquivos de áudio e animações podem e devem ser utilizados de forma complementar e não necessariamente como fonte principal e isolada da informação.
(...) o apelo a recursos multimídia (fotos, vídeos, ilustrações) como uma forma de complementar as informações e a ligação de páginas através de hiperlinks faria com que a leitura de uma notícia na web não se limitasse ao sistema linear de um jornal impresso (ZAGO;; CONSONI, 2006, p. 6).
Apesar dos pesquisadores recomendarem a utilização dos recursos multimídia para auxiliar na complementação da informação jornalística, é possível observar que, na prática, os veículos onli-­
QHDLQGDQmRDGHULUDPWRWDOPHQWHDHVVDLQGLFDomR6DODYHUUtDDSXG/21*+,SD¿UPD
que a maior parte dos veículos que se apresenta como ‘multimídia’, na verdade, disponibiliza para o usuário somente imagem, texto e arquivos de áudio que podem ser acessados de maneira individu-­
alizada ou em sequência. O autor salienta que os cibermeios utilizam a multimídia em dois aspectos diferentes: por justaposição, quando os elementos – textos, imagens e sons estão colocados lado a lado, desagregadamente (2005: 58), e por integração, quando tais elementos são reunidos no mesmo suporte e possuem unidade comunicativa. São articulados em um discurso único e coerente (LONGHI;; 2010, p. 151).
&DUORV&DVWLOKRMRUQDOLVWDHSURIHVVRUGHMRUQDOLVPRRQOLQHGL]TXHRJUDQGHGHVD¿R
da convergência multimídia “é a dosagem das informações e a ênfase noticiosa típica de cada veículo e como se fará a migração de uma mídia para outra em forma contínua”. Ele acredita que o processo WHPVLGRPDUFDGRSRU³DOWRVHEDL[RV´HTXHDVHPSUHVDVMRUQDOtVWLFDVDLQGDQmRLQYHVWLUDPRVX¿-­
ciente (tanto em tecnologia quanto em pessoal) para que a integração dos meios se concretize.
1DWHQWDWLYDGHFRPSUHHQGHUDSUHVHQoDHFRQ¿JXUDomRGDFRQYHUJrQFLDPLGLiWLFDQRMRUQD-­
lismo online brasileiro, foi escolhido para esta análise o portal de notícias G1, mantido pela Globo.
com e considerado, hoje, um dos maiores representantes do seu segmento.
G1: o portal de notícias da Globo.com
De acordo com Castilho (2007), as primeiras referências em relação à expressão convergên-­
cia das mídias surgiram no ano de 1990. Porém, foi em 1994 que o Tampa Bay, da Flórida, investiu na formação de redações integradas, operando jornal, televisão e noticiário online em uma única plataforma. Em 2001, em visita ao Brasil, o então vice-­presidente do Grupo, Dan Bradley, disse ao Meio&Mensagem (MOROSINI, 2001): “os jornalistas do News Center tiveram de aprender a falar a linguagem uns dos outros”.
No Brasil, segundo Carlos Castilho (2007), as Organizações Globo, representado pelo portal Globo.com, é o veículo mais avançado no que diz respeito à convergência2. Responsável pela distri-­
buição do conteúdo da empresa na web, o portal foi lançado em março de 2000. O Globo.com sem-­
pre teve como principal característica a divisão do seu conteúdo em três segmentos distintos: Notí-­
cias, Esportes e Entretenimento. Em 2006, o portal inovou ao acrescentar cores para distinguir os WHPDVHDRODQoDUR*TXHVHULDRSRUWDOGHQRWtFLDVGRVLWH2REMHWLYRHUDXQL¿FDURFRQWH~GRGH
jornalismo da TV Globo, da GloboNews, das rádios CBN e Globo, além dos jornais impressos Diário de S. Paulo e O Globo e das revistas da editora Globo. A orientação editorial seguiria as recomenda-­
ções da Central Globo de Jornalismo.
A ideia é agregar em um único portal o conteúdo das diversas empresas das Organizações Globo, garantindo ao usuário credibilidade e velocidade na apuração da informação, tanto do noticiário internacional como nos âmbitos nacional e local (IDG NOW!, 2006, online).
Em junho de 2010, o portal ganhou versões em inglês e espanhol, apresentando, inclusive, 2 Vale lembrar que este artigo não trata da questão das redações integradas, apenas da reunião de diferentes mídias em uma mesma notí-­
cia.
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os vídeos legendados nos dois idiomas. Recentemente, em janeiro de 2011, a página inicial foi, mais XPDYH]PRGL¿FDGD$OpPGHIRWRVHWtWXORVGDVQRWtFLDVHPWDPDQKRVGLYHUVL¿FDGRVRVWHPDVWHF-­
nologia e vídeos ganharam destaque na barra de navegação no alto da página.
Para ter acesso às notícias e, consequentemente, ao G1, o usuário precisa clicar nas informa-­
ções marcadas na cor vermelha. Se o internauta se interessar por esportes, deve clicar na cor verde e caso deseje ver informações sobre entretenimento, a cor a ser clicada é laranja. Já o tema tecnologia vem marcado em cinza e os vídeos podem ser acessados na cor azul. Para Radfahrer (1998, p. 46), a FRUpXPDLPSRUWDQWHRSomRQDGH¿QLomRGROD\RXWGHXPVLWHSRLVDMXGDDGHVWDFDULQIRUPDo}HVH
ou situar o leitor dentro da página. Apesar de o portal ter passado por diversas atualizações ao longo dos anos, principalmente no que tange ao layout, esse estudo trata de analisar como as notícias são estruturadas no site, ou seja, se são compostas apenas por texto e foto (elementos básicos do jornalismo online) ou se procuram DJUHJDUGLIHUHQWHVIRUPDWRVYtGHRVDUTXLYRVGHiXGLRDQLPDo}HVLQIRJUi¿FRVHWF
&RQIRUPH$VVXPSomRH$PDUDO³DUHGDomRGR*¿FDHP6mR3DXORPDVRVLWHPDQ-­
tém também sucursais no Rio de Janeiro e em Brasília”. Na ocasião, as pesquisadoras entrevistaram Márcia Menezes, então editora-­chefe do G1, que falou sobre a estrutura e o esquema de trabalho do portal: A relação do *com o jornalismo da TV Globo e da Globo News é estreita. O *aproveita o conteúdo gerado pelas emissoras, complementando matérias de autoria de sua equipe com vídeos produzidos pela TV. As equipes compartilham ainda o acesso a um mesmo servidor que reúne informações como matérias, agenda de contatos, espelhos e pautas de jornais da emissora. Além disso, as três empresas jornalísticas têm acesso comum a plantões de agências internacionais e ao trabalho do setor de apuração (escuta) da TV Globo (ASSUMPÇÃO E AMARAL, 2009).
Com base nessas informações, é possível pressupor que o G1 possui fácil acesso a materiais jornalísticos produzidos e/ou publicados em diferentes mídias, visto que conta com a ampla e privi-­
legiada estrutura das Organizações Globo.
Para essa análise foi selecionada a página da editoria de Economia, cujo objetivo é informar os leitores sobre os principais acontecimentos de ordem econômica e, até mesmo, política e social. A escolha por essa editoria aconteceu em virtude do trabalho fazer parte de um projeto de pesquisa desenvolvido na Universidade Federal do Tocantins.3
Fonte: ŚƩƉ͗ͬͬŐϭ͘ŐůŽďŽ͘ĐŽŵ$FHVVRHPIHY
Figura 1 – Página da editoria de Economia fev/2011
O jornalismo econômico passou a ter mais destaque no jornalismo brasileiro a partir dos anos GHFRPDSXEOLFDomRGHLQIRUPDo}HVOLJDGDVDRVSUREOHPDVHFRQ{PLFRVPHUFDGR¿QDQFHLUR
e economia internacional. Até aquele momento, a principal fonte era o poder público representado principalmente pelos políticos e seus partidos. Com o crescimento econômico do país, o setor privado (banqueiros, economistas, documen-­
tos e projetos) ganhou força e voz no segmento. “A prática da cobertura dessa área se fortalece no %UDVLOSULQFLSDOPHQWHDSDUWLUGR¿QDOGDGpFDGDGHVHLGHQWL¿FDQGRFRPRPRGHORGHGHVHQ
3 O jornalismo econômico no Brasil: entre a economia e a política, projeto coordenado pelo prof. Dr. Antonio José Pedroso Neto, da Uni-­
YHUVLGDGH)HGHUDOGR7RFDQWLQVH¿QDQFLDGRSHOR&13T
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volvimento econômico do país” (QUINTÃO apud LENE, 2005).
Afinal, que jornalismo é esse?
O G1 é o portal de notícias do Globo.com e tem como principal função reunir todo o material jornalístico produzido pelos veículos de comunicação das Organizações Globo. A editoria de Eco-­
nomia do G1 é composta por seis seções: Mercados, Negócios, Agronegócios, PME, Seu Dinheiro e Imposto de Renda. Para tanto, foram selecionadas matérias das seções Negócios, Agronegócios e Seu Dinheiro referentes aos meses de dezembro de 2010 e fevereiro de 2011 por apresentarem ca-­
racterísticas distintas do jornalismo online. A primeira matéria selecionada foi da seção Negócios, intitulada “Concorrência chinesa se enfrenta com marcas, diz Alpargatas”4, assinada pelo jornalista Darlan Alvarenga, do G1. Apesar de, na página inicial da seção, o site divulgar uma entrevista com Márcio Utsch, presidente da empresa, DPDWpULDOLPLWRXVHDDSUHVHQWDURVHOHPHQWRVEiVLFRVGRMRUQDOLVPRRQOLQHWH[WRIRWRJUD¿DHXP
JUi¿FRVROLWiULRFRPR³5DLR[GRVHWRU´
Publicada em 30 de janeiro, o texto faz parte da série de reportagens sobre “as perspectivas para a economia brasileira em 2011 em diversos setores”.Por tratar-­se de uma série especial, é pos-­
VtYHOD¿UPDUTXHDSDXWDGDUHSRUWDJHPIRLFRQFHELGDFRPDQWHFHGrQFLDHSRUHVVHPRWLYRSRGHULD
ter explorado melhor as características da web, apresentando arquivos de áudio, de vídeo e, até mes-­
PRLQIRJUi¿FRVPDLVHODERUDGRVRTXHQmRDFRQWHFHX
Foram apresentadas somente duas fotos, sendo que a primeira já havia sido utilizada na pági-­
na inicial. Os únicos links oferecidos ao leitor foram referentes às demais reportagens da série -­ tri-­
EXWRVVHWRUKRWHOHLURPLFURIUDQTXLDVDYLDomRFLYLOHWDQROHFRQVWUXomRFLYLO1R¿QDOGDPDWpULDD
palavra Alpargatas está em destaque como tópico a ser pesquisado, mas, ao clicá-­la, o leitor é envia-­
do a outra página cujo conteúdo é sobre a reportagem em questão.
Fonte: http://g1.globo.com/economia/negocios/
Figura 2 – Matéria da seção Negócios do G1
É possível perceber que a estruturação da reportagem seguiu as recomendações convencio-­
nais, assemelhando-­se, inclusive, ao material de jornal impresso. A não presença de outros formatos VREUHWXGRiXGLRHYtGHRUHD¿UPDDLGHLDGH6DODYHUUtDGHTXHRVYHtFXORVRQOLQHDLQGDQmR
aderiram totalmente à convergência. 1RFDVRHVSHFt¿FRGHVVDUHSRUWDJHPRVLWHSRGHULDWHURIHUHFLGRDROHLWRUOLQNVFXMRFRQWH~GR
versasse sobre o setor de calçados no Brasil ou ainda a situação do mercado internacional. Além dis-­
so, poderia ter agregado à reportagem, matérias jornalísticas da TV Globo e GloboNews ou mesmo da rádio CBN, visto que a relação com os demais veículos é “estreita”.
A segunda matéria analisada foi selecionada da seção Agronegócios, cujo conteúdo é com-­
posto, em sua maioria, por matérias que foram veiculadas no Globo Rural, programa dominical da 4 Disponível em http://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/2011/01/concorrencia-­chinesa-­se-­enfrenta-­com-­marcas-­diz-­alpargatas.
html. Acesso em 13 fev 2011.
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TV Globo. Com o título “Empreendedor rural transforma produtores em empresários”5, a reporta-­
gem fala sobre o programa oferecido pelo Senar – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – que auxilia e orienta produtores rurais a transformar o seu trabalho em atividade mais lucrativa e orga-­
nizada.
Assinada pelos jornalistas Ana Dalla Pria e Jorge dos Santos, respectivamente repórter e ci-­
QHJUD¿VWDGD79*ORERDUHSRUWDJHPpDSUHVHQWDGDHPVHXIRUPDWRRULJLQDOYtGHR(QWUHWDQWRDR
lado, todo o texto da reportagem da TV é transposto para a página da web com mínimas alterações. O único link disponibilizado na matéria encontra-­se no último parágrafo e faz referência ao site do Senar. Um detalhe que chamou a atenção foi o fato do link externo (que leva o internauta para fora GRSRUWDOFRORFDGRQRWH[WRGR*DEULUDSiJLQDDQWLJDGDRUJDQL]DomR¿JXUDVH
Fonte: http://www.senar.org.br/index Figura 3 – Site antigo do Senar Fonte: http://www.senar.org.br/novo/index.html Figura 4 – Nova página da organização
eSRVVtYHOD¿UPDUTXHDRWUDQVSRURFRQWH~GRGR*ORER5XUDOSDUDDSiJLQDGR*RVLWHUH-­
WRPDRVSULPyUGLRVGRMRUQDOLVPRRQOLQHTXDQGRDVLQIRUPDo}HVHUDPSXEOLFDGDVVHPPRGL¿FDomR
e com apenas alguns poucos arquivos de áudio e vídeo disponibilizados ao usuário. De acordo com Pinho (2003), o jornalismo da web deve explorar a seu favor as características que o diferenciam dos demais veículos. Nesse caso, não é possível considerar que o site realizou convergência, porque o vídeo era o formato principal da notícia, tendo o texto apenas como suporte (transcrição).
A terceira reportagem selecionada para a análise foi da seção Seu Dinheiro, intitulada “Juro do crédito pessoal e para compra de veículos tem alta”6. Assinada por Alexandre Martello, do G1, em Brasília, a matéria traz informações sobre o aumento nas taxas cobradas pelos bancos após o Banco Central divulgar novas medidas para o segmento. A matéria mostra ainda a principal consequência da decisão: queda nas operações de crédito pessoal.
2TXH¿FDHYLGHQWHQHVVDUHSRUWDJHPpDSUHVHQoDGRVKLSHUOLQNV¿JXUD1RSaiba Mais, IRLGLVSRQLELOL]DGRXPOLQNVREUH¿QDQFLDPHQWRGHYHtFXORVPDWpULDSXEOLFDGDQRGLDGHIHYHUHL-­
ro pela revista Auto Esporte (Editora Globo). Já em outros dois parágrafos, foram utilizados cinco hipertextos: (1) “medida que tirou R$ 61 bilhões da economia”;; (2) “exigir mais capital para os ban-­
FRVHPVHXV¿QDQFLDPHQWRVGHYHtFXORVFRPSUD]RPDLVORQJR´³PLQLVWURGD)D]HQGD*XLGR
Mantega, avaliou que encarecimento do crédito seria ‘oportuno’”;; (4) “BC também subiu os juros para 11,25% ao ano em janeiro”;; (5) “corte de R$ 50 bilhões no orçamento deste ano”. Caso o leitor quisesse obter mais informações, bastava clicar em um deles. Nesse caso, foi escolhido o primeiro link (“medida que tirou R$ 61bilhões da economia”) para ilustrar o processo.
5 Matéria disponível em http://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2011/02/empreendedor-­rural-­transforma-­produtores-­em-­
empresarios.html Acesso em 13 fev 2011.
6 Matéria disponível em: http://g1.globo.com/economia/seu-­dinheiro/noticia/2011/02/juro-­do-­credito-­pessoal-­e-­para-­compra-­de-­veicu-­
los-­sobe-­nos-­ultimos-­meses.html Acesso em 13 fev 2011.
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Fonte: ŚƩƉ͗ͬͬŐϭ͘ŐůŽďŽ͘ĐŽŵͬĞĐŽŶŽŵŝĂ Figura 5 -­ Matéria destaca hipertextos
Ao acessar o link (1), o internauta é levado à reportagem que foi publicada no dia 03 de de-­
zembro de 2010 no G1: “Banco Central sobe compulsório e retira R$ 61 bilhões da economia”7. Nes-­
se material, o site apresentou um formato próximo da convergência. Ao contrário da reportagem do Globo Rural que foi publicada com a transcrição do vídeo, essa matéria ofereceu ao internauta texto inédito agregado a um boletim da GloboNews sobre o tema. Foram colocadas ainda quatro opções de link no Saiba Mais ¿JXUD, cujo conteúdo estava diretamente ligado ao tema principal, além GHXPKLSHUWH[WR³H[SHFWDWLYDGRPHUFDGR¿QDQFHLUR´¿JXUD
É possível perceber também que uma fala de Henrique Meirelles, então presidente do BC, foi GHVWDFDGD¿JXUDRTXHSRGHULDWHUVLGRH[SORUDGRQRIRUPDWRGHiXGLR(PFRQWUDSDUWLGDQmR
IRUDPDGLFLRQDGRVLQIRJUi¿FRVRXIRWRJUD¿DVSRLVD~QLFDLPDJHPFRORFDGDDRODGRGRWH[WRpXP
UHFRUWHGDUHSRUWDJHPGD79$R¿QDOGRWH[WRIRLGLVSRQLELOL]DGDXPDtag, Banco Central do Brasil, TXHOHYDYDROHLWRUjVQRWtFLDVPDLVUHFHQWHVVREUHDLQVWLWXLomR¿QDQFHLUD
Fonte: http://g1.globo.com/economia Fonte: http://g1.globo.com/economia
Figura 6 – Opções de links para o usuário Figura 7 – Destaques da matéria
Considerações Finais
&RPDDQiOLVHGHVVDVTXDWURUHSRUWDJHQVIRLSRVVtYHOGHVWDFDUWUrVDVSHFWRVHVSHFt¿FRVVREUH
o fazer jornalístico online da editoria de Economia do G1: a) não investe em convergência das mí-­
dias;; b) retrocesso à segunda fase do jornalismo online e c) oferta desproporcional de links. Apesar de anunciar que há uma “relação estreita” com os demais veículos jornalísticos das Organizações Globo, é perceptível a falta de aproveitamento do material das demais mídias por SDUWHGDHGLWRULDGH(FRQRPLDGR*$SDUWLUGHVVDREVHUYDomRpSRVVtYHOD¿UPDUTXH6DODYHUUtD
(2001) está certo quando diz que a maior parte dos veículos que se apresenta como ‘multimídia’ disponibiliza apenas textos, imagens e arquivos soltos de áudio e vídeo. Faltaram opções ao leitor, 7 Matéria disponível em: http://g1.globo.com/economia-­e-­negocios/noticia/2010/12/banco-­central-­sobe-­compulsorio-­e-­retira-­r-­61-­bilho-­
es-­da-­economia.html
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FRPRDQLPDo}HVJDOHULDGHIRWRVDUTXLYRVGHiXGLRLQIRJUi¿FRVHWF
Outro ponto que foi observado na análise foi o fato da editoria praticar transposição de con-­
teúdo em suas páginas. A seção Agronegócios praticamente reproduz todas as matérias veiculadas QRSURJUDPDGRPLQLFDO*ORER5XUDOVHPPRGL¿FDURXDFUHVFHQWDULQIRUPDo}HVDRFRQWH~GR,VVR
demonstra certo retrocesso, uma vez que esse tipo de atividade era praticado na primeira fase do jornalismo online.
O terceiro aspecto diz respeito aos links oferecidos ao leitor. Ao fazer uma comparação das matérias selecionadas, foi possível observar que a inserção dos hiperlinks não segue uma regra. En-­
quanto na primeira reportagem havia a opção de acessar as outras reportagens da série especial, a VHJXQGDUHSRUWDJHPWUD]LDDSHQDVXPKLSHUWH[WRLVRODGRQR¿QDOGRWH[WR-iDWHUFHLUDUHSRUWDJHP
apresentou seis opções distintas de informação (hiperlink e hipertextos) quase o mesmo número mostrado na quarta e última reportagem: cinco.
3RUWDQWRpSRVVtYHOD¿UPDUTXHRMRUQDOLVPRRQOLQHSUDWLFDGRSHODHGLWRULDGH(FRQRPLDGR
G1 atende parcialmente às características do segmento, deixando de explorar adequadamente as es-­
SHFL¿FLGDGHVGRPHLRGLJLWDOFRPRDFRQYHUJrQFLDGDVPtGLDV$OpPGLVVRRIRUPDWRHDHVWUXWXUD
das reportagens apresentam variações, oscilando entre os primórdios do jornalismo online e a fase atual.
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GT4 - Jornalismo Digital
A convergência digital na produção da notícia:
Dois modelos de integração entre meio impresso e digital
Kenia Beatriz Ferreira Maia
Luciane Fassarella Agnez
Resumo
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Esse trabalho trata das mudanças que ocorrem no jornalismo na sociedade contemporânea, em de-­
FRUUrQFLDGDSUySULDFRQMXQWXUDVRFLRFXOWXUDOLQWHQVL¿FDGDSHODVWHFQRORJLDVGDFRPXQLFDomRHGD
informação. O enfoque se dará em torno do processo de produção da notícia no jornalismo impresso HPVXDFRQYHUJrQFLDWHFQROyJLFDHSUR¿VVLRQDOFRPDLQWHUQHW$SURSRVWDpLQYHVWLJDUDH[SHULrQFLD
de dois jornais brasileiros, de distintas regiões, na implantação de modelos de integração entre as produções do jornalismo impresso e do webjornalismo.
Introdução
A internet foi introduzida pelo jornalismo primeiramente nos processos de produção e apura-­
ção da notícia, como ferramenta de pesquisa, de texto, de contato com fontes e de transporte de da-­
GRVHQWUHRSUR¿VVLRQDOHPUHSRUWDJHPGHFDPSRHDUHGDomR0DVUDSLGDPHQWHHODVHWRUQRXWDP-­
bém mídia, plataforma de veiculação e distribuição de notícias, levando ao surgimento do chamado webjornalismo – o jornalismo publicado na web. O conceito de “convergência” é bastante difuso e QmRVHUHVWULQJHDWHFQRORJLD-HQNLQVD¿UPDTXHRIHQ{PHQRFRUUHVSRQGHDFLQFRP~OWLSORV
SURFHVVRVWHFQROyJLFRHFRQ{PLFRVRFLDOJOREDOHFXOWXUDO7UDEDOKDQGRHVSHFL¿FDPHQWHFRPRWHU-­
mo aplicado ao jornalismo, adotamos o conceito de García Avilés, Salaverría e Massip:
A convergência jornalística é um processo multidimensional que, facilitado pela implantação generalizada das tecnologias digitais de telecomunicação, afeta os âmbitos tecnológicos, HPSUHVDULDOSUR¿VVLRQDOHHGLWRULDOGRVPHLRVGHFRPXQLFDomRSURSLFLDQGRXPDLQWHJUDomRGH
ferramentas, espaços, métodos de trabalho e linguagens anteriormente desagregados, de forma que os jornalistas elaboram conteúdos que sejam distribuídos através de múltiplas plataformas, por meio das linguagens próprias a cada uma delas (GARCÍA AVILÉS;; SALAVERRÍA;; MASSIP, 2008, apud BARBOSA, 2009).
Ramon Salaverría e Samuel Negredo (2008) destacam que a integração das redações é ape-­
nas o elemento mais tangível do processo de convergência no jornalismo, mas que esse é mais com-­
plexo. O modelo vai além da reestruturação de cargos e redução de equipe: a rotina e o fazer jorna-­
lístico é que se tornam a questão central. Aventurarse en un proceso de convergencia exige una reconversión integral de toda la empresa. (…) Limitarse a fusionar redacciones sin haber acometido previamente otros cambios estructurales se antoja, por tanto, un craso error estratégico. Cuando eso ocurre, la integración suele atender únicamente a un propósito cortoplacista de reducción de costes y aumento de la productividad, por mucho que pretenda presentarse de otro modo. (SALAVERRÍA;; NEGREDO, 2008, p. 16). Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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Salaverría (2003) sintetiza as quatro dimensões centrais da convergência jornalística: a em-­
SUHVDULDODWHFQROyJLFDDSUR¿VVLRQDOHDFRPXQLFDWLYD$VUHFRQ¿JXUDo}HVHPUHGDo}HVGHHPSUH-­
sas jornalísticas, a partir da noção de integração entre essas duas produções, iniciaram em países QyUGLFRVHFRPH[SHULrQFLDVSRQWXDLVQRV(VWDGRV8QLGRV0DVIRUDPDVXQL¿FDo}HVGDVUHGDo}HV
implementadas pelo jornal americano 7KH1HZ<RUN7LPHV (2005) e pelo inglês Daily Telegraph (2006) que deram impulso à onda de reestruturações que se viram em jornais de todo o mundo, in-­
clusive no Brasil, mais recentemente. No país, experiências vêm se desenvolvendo desde 2007, em jornais como O Globo e Zero Hora (BARBOSA, 2009). A Folha de S. Paulo em 2010 anunciou uma reestruturação, pretensiosamente intitulada como o “jornal do futuro”. Os desafios da convergência jornalística
A evolução das tecnologias digitais e a profusão de ferramentas multimídia introduzidas no MRUQDOLVPR LPSUHVVR HVWmR LQÀXLQGR GLUHWDPHQWH QD URWLQD H QD RUJDQL]DomR GR WHPSR SRU SDUWH
GDVHPSUHVDVMRUQDOtVWLFDV$SUHVHQoDItVLFDGRSUR¿VVLRQDOQDUHGDomRQmRpPDLVQHFHVViULDSRU
exemplo, levando à constituição de uma espécie de “redação móvel”, com jornalistas capazes de LGHQWL¿FDUXPIDWRDSXUDUFROHWDUGDGRVHLPDJHQVSURGX]LUHHGLWDUHGLVWULEXLURFRQWH~GRGH
onde quer que estejam. Por outro lado, a aceleração do tempo e a multiplicação das funções levaram a um esvaziamento da parte analítica, formatando um jornalismo essencialmente de relato, com base em declarações de fontes. Também houve uma precarização do jornalismo em consequência do processo de informatização. “O trabalho aumentou, o contingente foi reduzido, as responsabilidades se tornaram individuais” (MARCONDES FILHO, 2009, p. 61). No que se refere à rotina jornalística, um dos maiores impactos foi relativo ao ritmo imposto pelo “tempo real” e à submissão cada vez maior à necessidade de agilidade. Com a internet o “furo” se tornou quase uma obsessão e, com a mobilidade, os jornalistas são levados a encurtar o processo de produção, passando a distribuir informações até mesmo antes de concluir a apuração. Moretzso-­
KQD¿UPDTXHDYHORFLGDGHSDVVDDVHUVLQ{QLPRGDSUySULDLQIRUPDomR6HJXQGRDDXWRUD
“chegar na frente” passa ser tão ou mais importante do que “dizer a verdade”. Com introdução da multimídia, as empresas começaram a exigir dos jornalistas a produção de conteúdos para diferentes plataformas e formatos. Kischinhevsky (2009) analisa que as empresas de comunicação no Brasil e no exterior estão mais preocupadas em constituir jornalistas travestidos de “banda-­de-­um-­homem-­só” ou em “malabaristas das ferramentas digitais” do que em questionar e atender a sua função social na contemporaneidade. Como vítima desse processo de convergência, o jornalista também enfrenta questões relativas à precarização do trabalho, ameaças de demissões, além da queda da qualidade do seu produto. Neveu também destaca que, com a convergência, os MRUQDOLVWDVQmRWUDEDOKDPPDLVSDUDXPYHtFXORRXXPWLSRHVSHFt¿FRGHPtGLDSDVVDQGRDSURGX]LU
conteúdos jornalísticos para os canais ou empresas de seus empregadores. “A convergência piora as condições de trabalho e questiona a autoestima, que é um dos pilares da satisfação com o emprego” 1(9(8S3DUDHOHJUDQGHSDUWHGDGHVPRWLYDomRGHVVHSUR¿VVLRQDOYHPMXVWDPHQWH
da frustração de não ter sido treinado e nem estar sendo remunerado para se tornar um malabarista das ferramentas digitais. As mutações sofridas pelo jornalismo impresso em sua rotina não são uma exclusividade das tecnologias digitais, pois os procedimentos e o cenário externo representam o momento histórico vivenciado. A interação dos fatores que caracterizam o surgimento de uma nova “regra do jogo”, WHQFLRQDQGRVDEHUHVWUDGLFLRQDLVHRSUySULRFDPSRSUR¿VVLRQDO7UDTXLQDH[SOLFDTXHSDUD
dar conta do “dia noticioso” e seus limites de tempo e recursos, os jornalistas desenvolveram três ti-­
SRVGHFRPSHWrQFLDVSUR¿VVLRQDLVR³VDEHUGHUHFRQKHFLPHQWR´pDTXHOHTXHSURSLFLDDRMRUQDOLVWD
LGHQWL¿FDUTXDLVIDWRVWrPSRWHQFLDOSDUDVHUFRQWH[WXDOL]DGRQRIRUPDWRGHQRWtFLDFRPRDX[tOLRGH
YDORUHVFRPRRLQHGLWLVPRDORFDOL]DomRJHRJUi¿FDRXDKLHUDUTXLDGRVSHUVRQDJHQVHQYROYLGRVQR
acontecimento, entre outros;; o “saber de procedimento”, por meio de técnicas de investigação, apu-­
ração e recolhimento dos dados, e relativas à seleção das fontes;; e o “saber de narração”, que con-­
siste reunir e empacotar as informações numa narrativa noticiosa, em tempo hábil e que desperte o Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. 183
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interesse do público. Partimos da hipótese que a convergência com as tecnologias digitais tem imposto ao jorna-­
lismo impresso, nesse início de século, transformações em seus “saberes” fundamentais. Para con-­
tribuir nesta análise, foram selecionados dois jornais de distintas regiões do país, com o intuito de acompanhar internamente o funcionamento da redação desses veículos em suas versões impressa e RQOLQHGLDQWHGDDGRomRGDVIHUUDPHQWDVGLJLWDLVHDYDOLDUGHTXHPRGRDVFRPSHWrQFLDVGDSUR¿V-­
são e seus processos rotineiros estão sendo impactados. O primeiro é a Tribuna do Norte, o jornal diário de maior circulação no Rio Grande do Norte. O segundo é Extra, líder do segmento popular no estado do Rio de Janeiro. As informações foram coletadas por meio de entrevistas em profundi-­
GDGHFRPSUR¿VVLRQDLVGRVGRLVYHtFXORVHGHREVHUYDomRSDUWLFLSDQWH8PDGDVDXWRUDVSDUWLFLSRX
da rotina dos dois jornais por um período de 20 horas em cada, realizando a pesquisa no jornal po-­
WLJXDUQRSHUtRGRGHDGHPDLRGHHQRÀXPLQHQVHHQWUHRVGLDVHGHVHWHPEURGH
2010. Dois modelos: história e contextualização
A Tribuna do NorteFRPSOHWRXDQRVHPPDLRGH'DGRVGR,QVWLWXWR9HUL¿FDGRUGH
Circulação (IVC) de outubro de 2010 mostravam que a média diária do jornal era de 7,9 mil. O por-­
tal do veículo na internet, o TN Online (www.tribunadonorte.com.br), estreou em janeiro de 1999, acompanhando o boom dos veículos tradicionais brasileiros no meio digital. A Tribuna do Norte re-­
petiu a estratégia de ocupar o novo espaço em ascensão, seguindo o formato de transposição do con-­
teúdo impresso para o meio digital. Somente em 2005 o jornal montou uma pequena equipe para dar suporte ao TN Online e produzir algum conteúdo.
A criação de um canal multimídia, entretanto, é ainda mais recente. As primeiras ações ocor-­
reram experimentalmente em 2008, e culminou com uma reestruturação do portal em julho de 2009. Nesse momento, o TN Online não somente ganhou um novo layout e mais interatividade, como alterou o processo produtivo e a rotina diária do jornal impresso. A direção do veículo reuniu WRGRVRVSUR¿VVLRQDLVGDUHGDomRSDUDDSUHVHQWDURFDQDOUHFRQ¿JXUDGRHWDPEpPDOWHUDUDVVXDV
condições de trabalho. Todas as equipes de reportagem, incluindo chefes e secretários de redação, editores, repórteres e fotógrafos passaram ter em suas atividades a produção de conteúdos para o portal na internet.
O outro jornal investigado é mais jovem. O Extra, que circula em todo o estado do Rio de Ja-­
neiro, foi lançado em 1998 e rapidamente se tornou um dos mais vendidos no país (segundo o IVC de outubro de 2010, é o quinto maior jornal em circulação, com média diária de mais de 232 mil exemplares). O veículo é editado pela Infoglobo , que também mantém os jornais O Globo e Expres-­
so, além da Agência O Globo. O Extra chegou ao mercado com a proposta de ser um jornal popular, para concorrer numa fatia de mercado que estava sendo ocupada pela concorrência, no caso, o jor-­
nal O Dia. A entrada do Extra na internet, contudo, aconteceu somente em 2007. Segundo relatos de SUR¿VVLRQDLVHQWUHYLVWDGRVQHVWDSHVTXLVDDGHPRUDVHGHYHXDRIDWRGDGLUHomRGRMRUQDOQmRVDEHU
como entrar nesse novo ambiente para oferecer algo relevante e que não ameaçasse a versão impres-­
sa por causa da disponibilização gratuita de conteúdos pela web. O próprio mercado forçou uma ini-­
ciativa: em 2005 surgiu um novo segmento no Rio de Janeiro, o dos jornais compactos populares. Ocupar a internet passou a ser uma necessidade e também um diferencial competitivo. A direção do jornal observou que furos jornalísticos dados pela edição impressa do Extra estavam repercutindo em outros sites de notícia, sem ser explorado na internet pelo próprio veículo.
O modelo adotado foi o da redação integrada, com as editorias do jornal impresso encarrega-­
GDVGHSURGX]LUPDWHULDOSDUDDYHUVmRLPSUHQVDHGLJLWDO1RLQtFLRVHJXQGRUHODWRVGRVSUR¿VVLR-­
nais, o trabalho para o site se resumia à transposição de notícias do papel para a web, mas aos pou-­
cos cada editoria foi aprendendo a lidar com as novas ferramentas e a desenvolver espaços próprios. A produção para o online focou na multimídia, principalmente na parte de vídeos produzidos pelos próprios repórteres, com o slogan publicitário “O Extra que você nunca viu”, pela possibilidade de Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. 184
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fornecer aquilo que o impresso não comportava: a multimídia.
O “saber de reconhecimento”
Na dinâmica dos dois jornais, não há a prática de estabelecimento de pauta para as versões na internet. Parte do conteúdo jornalístico que está sendo trabalhado paras as edições impressas, nos dois casos, também repercutem na web, ou antecipando por meio de ÀDVKHV, ou transpondo in-­
tegralmente depois de veiculados no papel. Os dados coletados por meio de entrevistas e de análise de material dos dois jornais indicam que o principal valor-­notícia é a agilidade. Com um ritmo de atualizações que estimula o “minuto a minuto”, a busca é sempre por mais e mais notícias, rompen-­
GRFRPDQWLJRVFULWpULRVGHQRWLFLDELOLGDGHFRPRSRUH[HPSORDSUR[LPLGDGHJHRJUi¿FDXPDFRQ-­
WHFLPHQWRTXHWHQKDRFRUULGRHPRXWURHVWDGRHTXH¿FDULDGHIRUDGDYHUVmRHPSDSHOQDLQWHUQHW
poderá ser divulgado, por não haver tais limites.
2XWURIDWRULGHQWL¿FDGRUHODFLRQDVHDFDVRVEHPVXFHGLGRVQRXVRGDIHUUDPHQWDGLJLWDOQD
SURGXomRGDQRWtFLD(PXPUHSyUWHUDYLVWRXXPERQHFRDUWHVDQDOJURWHVFRHQ¿DGRHPXP
buraco no meio da rua com a placa “João Buracão”. Ele havia sido confeccionado e colocado lá por um morador da região. Por estar equipado com os dispositivos móveis (smartphone, neste caso), o repórter vislumbrou uma notícia, com forte apelo visual. O assunto foi para a primeira página do jornal. Os leitores passaram a pedir a presença do “João Buracão” em seus bairros, pois a divulga-­
ção forçou a prefeitura da cidade a fechar buracos, ao menos momentaneamente. O personagem foi tema de reportagem no FantásticoGD5HGH*ORERHRXWUDVFLGDGHVGRSDtV¿]HUDPRPHVPRWLSR
de manifestação. Sem a companhia de um fotógrafo, no momento, o assunto no máximo poderia ter sido transformado em uma nota na versão impressa. O diretor de redação chamou isso de “sensibi-­
lidade ampliada” pela tecnologia.
Esse repórter só se sensibilizou com essa imagem do boneco porque ele era 3G, ou seja, ele já sabia que não tinha somente o recurso de texto, mas também de outras mídias. (…) As ferramentas tecnológicas ampliaram a sensibilidade desse repórter, ele se percebeu visual também, não só WH[WXDO2SUySULRSUR¿VVLRQDO¿FRXPXLWRPDLVDWHQWR«$SHUFHSomRGHOHIRLDXPHQWDGDHOH
passou a desenvolver também um olhar de pauteiro, de buscar o que pode se tornar uma boa notícia, não mais se prendendo somente à história narrada textualmente. Estou convencido que não é bom separar: ter alguém que é só “impresso” e alguém que é só “Online”. Assim o cara só pensa dentro da caixinha, desobriga-­o a pensar na outra plataforma. E é desestimulante hoje para qualquer repórter não pensar na internet (DE1).
$SHUVSHFWLYDGHPRQVWUDTXHRSUR¿VVLRQDOHVWDULDGHL[DQGRUHDOPHQWHGHVHUXPSUR¿VVLR-­
nal de um veículo impresso para atingir o tal ideal de um “jornalista multimídia”. Mais do que se tor-­
nar um “canivete suíço”, repleto de aparatos tecnológicos, a concepção da notícia está em processo de mutação. Trata-­se de olhar para um fato não somente buscando responder o lead, mas pensar a QDUUDWLYDGHPDQHLUDGLYHUVL¿FDGDFRPP~OWLSODVOLQJXDJHQVRTXHSRGHJHUDUGLIHUHQWHVHQIRTXHV
e até mesmo novas pautas. Na prática, o processo não é tão simples. O “saber de procedimento”
Com a integração das produções para os meios impresso e digital, novos procedimentos fo-­
ram introduzidos na rotina da Tribuna do Norte. Durante todo o dia, a equipe do TN Online (um editor, um reporte e três estagiários, que se revezam em turnos) faz as atualizações, com base em material de agências de notícias, de assessorias de imprensa e/ou compilam informações de outros 3DUDSUHVHUYDUDLGHQWLGDGHGRVSUR¿VVLRQDLVTXHFRODERUDUDPFRPHVVDSHVTXLVDHOHVIRUDPLGHQWL¿FDGRVSRUVLJODV³37´VHUHIHUHDRV
jornalistas da Tribuna do Norte e “PE” aos do Extra. A única distinção é feita em relação ao cargo de diretor de redação: “DT” (diretor do jornal SRWLJXDUH³'(´GLUHWRUGRGLiULRÀXPLQHQVH
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VLWHVSULQFLSDOPHQWHHPWHPDVUHODWLYRVjHGLWRULDGH³%UDVLO´(PSDUDOHORSXEOLFDPÀDVKHVGRTXH
HVWiVHQGRDSXUDGRSHODVHGLWRULDVGRMRUQDO2ÀX[RQmRpFRQWtQXRSRLVQmRKiFREHUWXUDMRUQDOtV-­
tica no período da noite/madrugada. Essa mesma equipe da internet é que publica na internet ima-­
JHQVDGTXLULGDMXQWRjHGLWRULDGHIRWRJUD¿DGRMRUQDOpodcasts de entrevistas e vídeos, que são produzidos por eles próprios, em um estúdio improvisado dentro da redação, ou pelos repórteres da versão impressa durante a reportagem de campo. A publicação no site não passa por revisão de edi-­
WRURXTXDOTXHU¿OWURHQmRKiQRFDVRGDLQWHUQHWXPDSDXWDVDOYRGHPDQGDVGHWHPDVHVSHFt¿FRV
que representem desdobramentos de fatos que já tenham ocorrido. Os chefes de reportagem realizam a distribuição das pautas, coordenam a saída dos repórte-­
res da redação e distribuem os equipamentos multimídia de acordo com a necessidade de produção da notícia (laptops para acesso a internet e produção de textos, ou smartphones para captura de imagens – fotos e vídeos). Os repórteres que atuam na versão impressa, após a convergência passa-­
ram a ter que fornecer informações que estão trabalhando para que a equipe da internet as publique. $VVLPRXHOHVUHSDVVDPÀDVKHVSRUWHOHIRQHSDUDHVVDHTXLSHDQWHFLSDQGRGDGRVTXHHVWmRDSX-­
rando para a edição impressa do dia seguinte ou, assim que terminam de escrever suas reportagens, repassam para a equipe do online, que as edita e veicula no portal. No ExtraRÀX[RGHSURGXomR
também não é contínuo, pois não há cobertura no período da noite/madrugada. Uma diferença é SULPRUGLDOHQWUHRVGRLVFDVRVQRMRUQDOÀXPLQHQVHWRGRVRVSUR¿VVLRQDLVUHSyUWHUHVHHGLWRUHV
têm autonomia para acessar o site e publicar informações. A publicação não passa por revisão de HGLWRURXTXDOTXHU¿OWURQRPi[LPRXPDFRQVXOWDDRVFKHIHVGHUHSRUWDJHP
Os repórteres do Extra, em sua maioria utilizam equipamentos móveis nas reportagens de campo (laptops e smartphonesFRPDFHVVRjLQWHUQHW2VSUR¿VVLRQDLVTXHDWXDPQR³5HSyUWHU*´
(projeto de reportagem de campo com mobilidade) têm uma rotina ainda mais diferenciada. Havia QRSHUtRGRGDSHVTXLVDGRLVMRUQDOLVWDVHVSHFt¿FRVSDUDHVWDIXQomRTXHDWHQGLDPD=RQD2HVWHHD
%DL[DGD)OXPLQHQVH2VPRWRULVWDVGRYHtFXORRVEXVFDPHPVXDVUHVLGrQFLDVHHVVHVSUR¿VVLRQDLV
não vão rotineiramente à redação do jornal. Todo o trabalho é feito dentro do carro da empresa. Eles não costumam receber pautas: fazem diariamente a ronda policial em suas regiões, contatam IRQWHVHDGH¿QLomRGRTXHVHWRUQDUiQRWtFLDpIHLWDSRUWHOHIRQHHPPRYLPHQWRMXQWRFRPRFKHIH
de reportagem. O tratamento de imagens e publicação de conteúdo no site é feito diretamente pelo repórter, que envia as fotos produzidas por ele para a equipe de arte da versão impressa. É o editor junto com o chefe de reportagem que decidem se o material também será divulgado no papel.
As mudanças nos procedimentos necessitam de um tempo para serem naturalizados, pela re-­
SHWLomRURWLQHLUDHJHUDPXPDUHVLVWrQFLDFXOWXUDOHQWUHRVSUR¿VVLRQDLV (QWUHRVFDVRVUHODWDGRV
na Tribuna do Norte há desde o editor que na correria diária “esquece” que tem um portal para abastecer com conteúdo e o repórter que não gosta de passar ÀDVKHV da rua, pelo telefone e prefere retornar à redação para redigir sua matéria. A comodidade do ambiente da redação, o tempo neces-­
sário para se compor a narrativa e a propriedade intelectual sobre o texto foram alguns dos fatores DSRQWDGRV+RXYHXPFDVRGHXPUHSyUWHUTXHVDLXSDUDFREULUXPHYHQWRHTXLSDGRSHODFKH¿DGH
reportagem com um laptop. Contudo, a repórter retornou do evento sem a matéria escrita e apre-­
VHQWRXDMXVWL¿FDWLYDGRGHVFRQIRUWRHPUHGLJLUGHQWURGRFDUURQiXVHDVRXQRVDJXmRGRHYHQWR
preferindo voltar para a redação para “trabalhar melhor o texto”. Outro exemplo remete aos vídeos e podcasts. Repórteres que saíram para suas reportagens de campo com a missão de produzir algum YtGHRFRPVHXVHQWUHYLVWDGRVUHWRUQDUDPjUHGDomRVHPRPDWHULDOMXVWL¿FDQGRTXHWLYHUDPYHUJR-­
nha de solicitar à fonte que gravasse, tomando mais tempo dela, ou mesmo pelo constrangimento de ter que aparecer no vídeo. Alguns dos jornalistas não se adaptaram ainda ao audiovisual, pela falta GHH[SHULrQFLDFRPRXWURVPHLRVFRPRRUiGLRHD796mRSUR¿VVLRQDLVTXHVHGHGLFDYDPDRMRUQD-­
lismo impresso que estão sendo exigidos em outras habilidades. Hoje, a “menina dos olhos” ainda é o impresso, o jornalista ainda quer ver a sua matéria no papel, nas bancas. Isso é parte da resistência que vemos em não querer adiantar o conteúdo no site. Mesmo os mais jovens são resistentes a esse processo de integração entre online e impresso. Mas acho que estamos no caminho certo, o grande problema é mesmo o hábito. Só que quem não aceitar, não se adaptar, será expulso do mercado. (PT1)
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No Extra um fator parece ter feito a diferença na aceitação das novas competências. Como o jornal não tinha um site na internet até 2007, a própria redação cobrava isso. Muitos relataram que TXHULDPWHUDH[SHULrQFLDPXOWLPtGLDHHUDDWpGLItFLOH[SOLFDUDRXWURVFROHJDVGHSUR¿VVmRSRUTXH
o veículo do porte do Extra ainda não tinha um site. Quando a direção decidiu então lançar o Extra OnlineRVSUR¿VVLRQDLVFRPHPRUDUDP$OpPGLVVRYHLRGDGLUHomRDGHFLVmRGHFULDomRGRSRUWDO
e de que o modelo seria o de convergência de redação (os próprios jornalistas da versão impressa SURGX]LULDPFRQWH~GRVSDUDRRQOLQHPDVWRGRRGHVHQYROYLPHQWRGRÀX[RGRVQRYRVIRUPDWRV
da dinâmica de produção (como a “redação móvel” e o “Repórter 3G) contou com a participação de repórteres e editores. A experiência multimídia começou com testes isolados, que partiram volunta-­
riamente da editoria de “Cidades e Polícia”, com um repórter que foi para as ruas com uma câmera digital amadora e produziu os primeiros vídeos. Os próprios jornalistas testaram vários formatos de arquivos, formas de transmissão pela web, programas mais fáceis de edição de imagens etc. O bom resultado dessas iniciativas motivou a direção a investir em novos equipamentos e a estender o pro-­
jeto multimídia para as demais editorias. Toda a equipe comprou a ideia logo de cara, não houve uma grande resistência. É natural: no primeiro momento as pessoas pensam – “Caraca, é mais trabalho” – apesar de falarem tanto. Mas daí percebem que aquilo é incorporar outro trabalho, que traz audiência, reconhecimento do seu WUDEDOKRPDLVYLVLELOLGDGH2SUR¿VVLRQDOTXHVyVDELDGLJLWDUDSUHQGHDHGLWDUGHVHQYROYHXPD
nova linguagem, ele cria um portfólio digital. Todo mundo tem a mesma pegada? Não, e não vai ter. Cada um tem mais habilidade para essa ou aquela função. (PE1)
Esse envolvimento maior parece ter faltado na Tribuna do Norte. Há relatos de jornalistas TXHD¿UPDUDPTXHVHTXHUWLYHUDPVXDRSLQLmRFRQVLGHUDGDHPUHODomRjHVWUXWXUDRXOD\RXWGRV
próprios blogs que escrevem no TN Online. Ficou evidente que as iniciativas de formatos ou testes multimídia partem quase que isoladamente do editor responsável pelo site e falta um envolvimento dos editores e repórteres da versão impressa em se pensar a proposta digital. No ExtraKiWDPEpPRFDVL}HVGHFRQÀLWRHQWUHDGLQkPLFDPXOWLPtGLDHDVXDLQWURGXomRQR
cotidiano das pessoas. Existe, por exemplo, uma meta para que cada jornalista produza ao menos XPYtGHRSRUGLD2VUHSyUWHUHVHPRSRVLomRD¿UPDUDPTXHQHPVHPSUHpSRVVtYHODWLQJLODGHYL-­
do à falta de tempo na rotina diária ou porque muitas vezes o assunto realmente não rende imagens que complementem a informação. A resistência foi observada também em momentos mais delica-­
dos, do repórter não se sentir a vontade de fazer imagens em uma situação que fosse desconfortante para o entrevistado. Mas grande parte das reclamações no caso do ExtraIRLIHLWDSRUSUR¿VVLRQDLV
que atuam no “Repórter 3G” e trabalham com total mobilidade, sem frequentar a redação. As dis-­
WkQFLDVSHUFRUULGDVGHFDUURVmRORQJDVHDVHQVDomRDR¿QDOpTXHVHSDVVRXRGLDYLDMDQGR(VFUHYHU
QRFDUURFDXVDQiXVHDVHKiRXWUDVGL¿FXOGDGHVFRPRQmRWHUXPEDQKHLUROLPSRRXXPOXJDUSDUD
beber água, além do desconforto físico de se escrever com um computador no colo, resultando em dores na coluna e no pescoço. Há ainda a questão da segurança. Esses repórteres percorrem, com os motoristas, áreas de periferia do Rio de Janeiro e não se sentem tranquilos em usar os equipamentos digitais, de alto va-­
lor, em qualquer lugar. Além disso, ressentem a falta de convivência com os colegas de trabalho, pois costumam ir à redação apenas uma vez na semana. Nessa função, como “Repórter 3G”, eles se de-­
dicam muito mais ao site, às atualizações “minuto a minuto” dos fatos que ocorrem nas ruas, e não participam da dinâmica do jornal impresso, desconhecendo as pautas que são fechadas e até mesmo se o material que coletaram será aproveitado na edição de papel. São jornalistas jovens, entre 20 e 30 anos, e um deles comentou a frustração de não ver muitos de seus textos serem publicados na versão impressa:
$³PHQLQDGRVROKRV´pPHVPRRLPSUHVVR2RQOLQHpPDLVVXSHU¿FLDOFRPWH[WRVPDLVFXUWRV
Não dá para trabalhar um texto melhor como no papel, mais elaborado e consistente. Além disso, penso na reação do próprio leitor. Ninguém entra na internet só para consumir a notícia. No jornal impresso sim, a pessoa compra e o interesse é só esse. (PE2)
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O aparente apego ao papel, como “menina dos olhos”, faz parte dos diversos mitos que per-­
PHLDPDSUR¿VVmRMRUQDOtVWLFD75$48,1$1HVVHSHUtRGRGHLQWURGXomRGHWHFQRORJLDVH
com o surgimento da plataforma web observamos que culturas e saberes da atividade estão em tran-­
sição. Nos dois jornais, foi citada certa preocupação com o futuro: negar-­se a executar uma atividade ligada à multimídia ou exceder nas reclamações quanto ao desconforto da produção com mobilida-­
GHQDYLVmRGHVVHVSUR¿VVLRQDLVQmRVLJQL¿FDULDDWpRPRPHQWRXPDGHPLVVmRLPHGLDWDPDVUH-­
ceiam pela sua carreira dentro da empresa ou por tornarem alvo numa redução de quadro de pesso-­
DO$TXHVWmRGDH¿FLrQFLDFRPRVLQ{QLPRGH³ERPMRUQDOLVPR´VREUHVVDLXQDSHVTXLVDHpQLVVRTXH
RVSUR¿VVLRQDLVHVWmRIRFDQGR
,VVRVLJQL¿FDTXHRERPMRUQDOLVPRKRMHpDTXHOHFDSD]GHGDUFRQWDGDVH[LJrQFLDVGHWHPSR
produzindo textos jornalísticos razoáveis e com uma grande maleabilidade redacional ou editorial. Ele deve ser uma peça que funcione bem, acoplável a qualquer seguimento do sistema de produção GHLQIRUPDo}HV$H¿FLrQFLDVREUHS}HVHjTXHVWmRGDTXDOLGDGHRULJLQDOLGDGHSHUVRQDOLGDGHGR
texto (MARCONDES FILHO, 2009, p. 164). O “saber de narração”
Nos dois casos estudados, os jornalistas muitas vezes precisam escrever sobre o mesmo as-­
VXQWRSDUDPHLRVGLVWLQWRV&RPRHQWmRHVVHSUR¿VVLRQDOTXHDWXDYDQXPDPtGLDLPSUHVVDSDVVDD
conceber a construção da notícia a partir da integração com a internet? A noção generalizada entre RVSUR¿VVLRQDLVGDTribuna do Norte e do Extra é de que o principal diferencial do conteúdo digital e do jornal impresso está no tamanho do texto e sua profundidade. A visão é que a notícia do meio RQOLQHGHYHVHUFXUWDVXSHU¿FLDOHQTXDQWRRMRUQDOLPSUHVVRVHULDRHVSDoRSDUDDDQiOLVH
Não adianta colocar um texto grande na internet que o cara não vai ler! Tem muita informação, a PDWpULD¿FRXORQJD"(QWmRGLYLGHHPQRWDVHID]YiULDVDWXDOL]Do}HV3(
O texto na internet deve ser objetivo, curto e direto. Basicamente o lead da matéria que irá para o impresso. Não devemos deixar para o dia seguinte a informação central. (PT4)
1RFDVRSRWLJXDURVMRUQDOLVWDVD¿UPDUDPTXHRREMHWLYRGHGLIHUHQFLDURVFRQWH~GRVHOHYDU
para o papel a “análise” e a maior “profundidade” acaba não sendo alcançado. Alguns repórteres ar-­
gumentam a falta de tempo, que impediria uma reportagem mais analítica, com fontes diversas, re-­
ÀH[mRHFRQWH[WRGRWHPD1DURWLQDGDTribuna do NorteRVSUR¿VVLRQDLVUHFHEHPGHXPDDGXDV
SDXWDVSRUGLDGHWUDEDOKRPDLVXPDUHSRUWDJHPVHPDQDOSDUDDVHGLo}HVGR¿QDOGHVHPDQD0DVD
dinâmica de incluir ferramentas multimídia não está sendo encaixada com naturalidade na constru-­
ção da notícia. Há um fator muito importante nesse sentido: não houve nenhum treinamento volta-­
do para o texto ou a linguagem na web. Segundo relatos, foram dadas algumas orientações gerais e os jornalistas receberam também uma apostila sobre webjornalismo do Knight Center for Journa-­
lism in the Americas, para um autodidatismo. O que acaba acontecendo, muitas vezes, é a reprodu-­
ção do texto impresso.
Há sim uma diferenciação no texto do online e do impresso. No primeiro, o mais importante é publicar antes o novo. (…) No impresso, pelo menos a Tribuna do Norte, prima pelo diferencial da matéria. Como as TVs e os sites já vão ter veiculado a informação, temos que produzir um material que traga algo que ainda não foi mostrado. Ou seja, aprofundamos mais a notícia. (…) Mas na prática, às vezes é complicado pensar a mesma notícia e escrever de formas diferentes. Dependendo do assunto, a matéria acaba sendo uma cópia, acrescentada outras informações, é claro, daquilo que foi publicado no site. (PT4)
Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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No jornal Extra, em um dos dias da observação participante, houve uma ação policial no Morro da Mangueirinha, na Baixada Fluminense. O saldo foi cinco bandidos mortos, um policial fe-­
riado e a apreensão de armas e uma grande quantidade de entorpecentes. Delegado e policiais foram entrevistados, o material apreendido foi fotografado e o repórter do Extra saiu para redigir o texto no carro, enquanto retornava para a redação. No decorrer do processo, ele admitiu ter simplesmente “esquecido” da possibilidade de fazer um vídeo. Entretanto, havia vários personagens e informações RX kQJXORV TXH GL¿FLOPHQWH HQWUDULDP QR WH[WR HVFULWR 1mR ¿FRX FDUDFWHUL]DGR ³LQFRPSHWrQFLD´
desse jornalista. Pelo contrário, demonstrou que a “naturalização” do processo que ainda não havia RFRUULGR(DMXVWL¿FDWLYDIRLFODUD
Trabalhei alguns anos em rádio, antes de ir para o jornal. A minha rotina era de narração sonora da QRWtFLD&KHJDUDRLPSUHVVRDOpPGHXPDQRYDH[SHULrQFLDSUR¿VVLRQDOPHDMXGRXDGHVHQYROYHU
QRYDVFRPSHWrQFLDVHDWUDEDOKDUPHOKRURPHXWH[WR,QWURGX]LUDIRWRJUD¿DQRPHXGLDDGLD
foi um avanço, porque no rádio não nos preocupamos com imagem. Mas o vídeo ainda está em processo, não consegui naturalizar totalmente na minha maneira de narrar um acontecimento. Mesmo porque, tirando as aulas da faculdade, não tive nenhuma orientação sobre telejornalismo onde trabalhei até agora. (PE3)
'HDFRUGRFRP7UDTXLQDD³PDQHLUDGHIDODU´LVWRpGHQDUUDUXPIDWRFRQ¿JXUDXPD
GDVFRPSHWrQFLDVTXHFDUDFWHUL]DDSUR¿VVmRMRUQDOtVWLFD+iXPVDEHUFRPSDUWLOKDGRTXHQmRVH
aprende somente nas universidades, mas que também é desenvolvido na prática cotidiana. O “jorna-­
lês”, segundo o autor, abrange desde formatos textuais, como a “pirâmide invertida”, até princípios GHFODUH]DVLPSOL¿FDomRFRQFLVmRHDXWLOL]DomRGHPHWiIRUDVSDUDDX[LOLDUQDFRPSUHHQVmRGROHL-­
tor. Nessa transição do jornalismo impresso para a internet, alguns desses mecanismos de alteram HDWHQVmRREVHUYDGDHQWUHRVSUR¿VVLRQDLVpXPDFRQVHTXrQFLD
Entretanto, além da questão do uso de novas técnicas e tecnologias, surge outro fator que al-­
tera o que se entendia por texto jornalístico. Nessa sociedade contemporânea, a compressão espaço-­
temporal interfere na própria construção da notícia. Não apenas na pressão imposta ao jornalista, de produzir mais em menos tempo, mas também na lógica de que o leitor tem menos tempo para ler. Mesmo no papel, os longos textos jornalísticos estão sendo suprimidos e as notícias são oferecidas em “pequenos drops informativos” (MARCONDES FILHO, 2009, 156). A precedência da imagem é o que caracteriza uma situação das culturas contemporâneas como um processo de “dislexia”, segundo a qual está se reduzindo nas pessoas a capacidade de ler textos, principalmente textos longos ou que envolvam certas abstrações. Esses textos tornam-­se ilegíveis já TXHDRFLRVLGDGHYLVXDOFRPGHFRGL¿FDomRH[FOXVLYDGHFHQDVRFXSDROXJDUGHVVDLQIRUPDomR
O jornal, ao contrário, não investindo mais no seu próprio texto, este pulverizando-­se entre as páginas, passa a funcionar como mais um componente visual de todo o processo comunicativo (MARCONDES FILHO, 2009, p. 159).
,VVRH[SOLFDDLGHDOL]DomRTXHWRGRVRVSUR¿VVLRQDLVPDQLIHVWDUDPQDVHQWUHYLVWDV³RSDSHO
é o espaço na análise e da profundidade”, pois remete à identidade tradicional do jornal. Porém, o SUySULRPHLRLPSUHVVRFRPDVUHIRUPDVJUi¿FDVHPDLVDSHORGDVLPDJHQVYHPGLOXLQGRDSDUWH
WH[WXDODOpPGRIDWRGRVSUR¿VVLRQDLVWHUHPFDGDYH]PHQRVWHPSRSDUDDDQiOLVHSDUDEXVFDUGL-­
versas fontes e trabalhar na contextualização e análise dos fatos. A webSRU¿PDVVXPHDEHUWDPHQ-­
WHDFRQGLomRGD³VXSHU¿FLDOLGDGH´H³LQVWDQWDQHLGDGH´FRPRYDORUPi[LPR
Considerações finais
2SURFHVVRGHFRQYHUJrQFLDpFRPSOH[RHHQIUHQWDGL¿FXOGDGHVWDQWRQRMRUQDOSRWLJXDUTXDQ-­
WRQRÀXPLQHQVH+iXPDUHVLVWrQFLDFXOWXUDOSRUSDUWHGHSUR¿VVLRQDLVHXPDLQVDWLVIDomRFRPDV
FRQGLo}HVGHWUDEDOKR)RLLGHQWL¿FDGRQRVGRLVYHtFXORVSRUH[HPSORRDSHJRDRREMHWRMRUQDOj
concretude do papel e ao desejo que ainda existe de ver seu texto publicado no meio impresso. Por Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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outro, as condições de trabalho se mostram estafantes: mais atribuições, mesma remuneração e jor-­
nada de trabalho, pressão por agilidade, pressão para se pensar e produzir a notícia em diferentes formatos e linguagens, falta de treinamento, desconforto físico no uso das tecnologias (principal-­
mente as que oferecem mobilidade) e perda da convivência no ambiente de redação são apenas al-­
gumas das características observadas neste trabalho que comprovam uma precarização da atividade SUR¿VVLRQDOHDFKDPDGD³LPDWHULDOLGDGH´DVVXPLGDSHORMRUQDOLVPRQDDWXDOLGDGHFRPRDUJXPHQWD
Marcondes Filho (2009). $SDUWLUGDH[SHULrQFLDGRVGRLVMRUQDLVFRQ¿UPDPRVTXHDTXHVWmRFHQWUDOGDFRQYHUJrQFLD
para o jornalismo impresso não se concentra na questão do suporte, questionando uma possível in-­
terrupção da utilização do papel. As mutações são mais complexas e estão sendo desencadeadas a partir, sobretudo, da introdução das tecnologias digitais e a integração com a internet em sua prá-­
tica cotidiana. A web se caracteriza não apenas como um novo suporte, uma nova mídia, mas está LQÀXHQFLDQGRGLUHWDPHQWHQRPRGRGHSURGXomRGDQRWtFLDeRMRUQDOLVPRHRMRUQDOLVWDTXHHVWmR
sendo levados a transformações, cuja motivação não é somente as tecnologias da comunicação e da informação, mas a associação delas a um modelo capitalista de empresa midiática. 4XHPTXHUVHUPXOWLPtGLD"9LPRVTXHKiXPDTXHVWmRYROWDGDSDUDRSHU¿OGRSUR¿VVLRQDO
que não advém somente de características pessoais, como conseguir fazer várias atividades ao mes-­
PRWHPSRHVLPGRIDWRGHVVHSUR¿VVLRQDOHVWiGLDQWHGDSRVVLELOLGDGHGHGHVHQYROYHUQRYDVKDELOL-­
dades e se ele está motivado para isso. O risco de perder o emprego pode forçá-­lo a cumprir algumas atividades, mas ele deve estar convencido a ser multimídia, parte de um processo em construção, FDSD]HLQWHUHVVDGRHPDWXDUQHVVDUHFRQ¿JXUDomRGRSUySULRMRUQDOLVPR
E ser multimídia para quê? A pergunta se refere ao jornalismo: por que fazer um jornalismo multimídia? As respostas encontradas na prática, nos casos estudos, foram quase todas mercadoló-­
gicas, de cunho comercial. As motivações são as mais diversas: 1. A empresa jornalística se posicio-­
nar na internet como um fornecedor de conteúdo;; 2. Concorrer com outros veículos;; 3. Atrair au-­
diência (números de acessos);; 4. Desenvolver uma alternativa a um jornalismo impresso em crise;; 5. Ou simplesmente porque não há alternativa à sociedade da comunicação, com frases do tipo “as pessoas estão conectadas” ou “o futuro é esse”. Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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GT4 - Jornalismo Digital
Quand le journalisme se saisit du Web : l’exemple du datajournalism
Olivier Trédan
CRAPE – Université de Rennes 1 / IUT de Lannion / M@rsouin / REJ
Resumo
Apresentamos o exemplo de uma prática emergente no espaço jornalístico: o datajournalism, fun-­
damentado na coleta, tratamento estatístico e visualização de dados na Internet. O datajournalism nos parece revelador de três dinâmicas. Primeiro, o fato de o jornalismo se alimentar de evoluções prévias, ocorridas em mundos sociais conexos – neste caso, o mundo da Web. Segundo, os recursos GHOHJLWLPDomRGRGDWDMRXUQDOLVPQRkPELWRGRHVSDoRMRUQDOtVWLFR(VWHVFRPELQDPRPLWRSUR¿V-­
sional e a ideologia da Web, o crowdsourcing. O datajournalism, que se caracteriza pela cooperação HVWUHLWDHQWUHZHEMRUQDOLVWDVHSUR¿VVLRQDLVGD:HEpDRFDVLmRHPTXHRFRUUHPFRQWURYpUVLDVVREUH
os contornos da formação de jornalistas para a Web. Além disso, por meio da ideia de cooperação no âmbito de mundo sociais que se entrecruzam, entrevemos a pertinência dos conceitos interacionis-­
tas no estudo das inovações no jornalismo. Le journalisme se trouve confronté à un paradoxe. « Jamais dans l’histoire autant de don-­
nées n’ont été disponibles pour la masse des audiences. Jamais les responsables de la produc-­
tion et de l’analyse des informations – le journalisme – n’avaient été aussi fortement affaiblis par O¶HIIRQGUHPHQWGHOHXUVVRXUFHVGH¿QDQFHPHQW » (Neveu, 2010 : 39). Ce paradoxe semble partielle-­
PHQWVHUpVRUEHUGDQVODFDSDFLWpGXMRXUQDOLVPHjLQFRUSRUHUGHVLQQRYDWLRQVHWGDQVODUpDI¿UPD-­
WLRQGHVHVVSpFL¿FLWpVYpUL¿FDWLRQHWDQDO\VHGHVLQIRUPDWLRQVSRXYRLUGHVP\WKHVSURIHVVLRQQHOV
'DQVFHWWHSHUVSHFWLYHFHWWHFRPELQDLVRQHQWUHDSSURSULDWLRQG¶LQQRYDWLRQVHWUpDI¿UPDWLRQ
du pré carré journalistique a donné naissance à de nouveaux acteurs professionnels, soit chargés de la gestion de la relation à l’audience – les « community managers1 » ont fait leur apparition dans les salles de rédaction françaises en 2009 –, soit de la production de nouveau support de narration – le webreportage et le webdocumentaire combinent techniques du reportage, narration hypertextuelle et maîtrise des langages informatiques, en particulier le Flash. Ces activités émergentes n’ont pas pour le moment été saisies par la sociologie des médias. Dans cette perspective, nous avons choisi d’analyser le datajournalism, Cette pratique journalistique est fondée sur le recueil, le traitement VWDWLVWLTXHHWODYLVXDOLVDWLRQGHGRQQpHVVXU,QWHUQHW&HFKRL[HVWMXVWL¿pSRXUVDGLPHQVLRQUpYp-­
latrice des enjeux liés aux transformations structurelles du journalisme. D’une part, elle se nourrit et se légitime en tant qu’activité professionnelle par la mobilisation de mythes, le rôle démocrati-­
que du journalisme ou la nature intrinsèquement participative du Web. D’autre part, elle nécessite d’observer les dynamiques d’acteurs et de saisir les nouvelles coopérations à l’œuvre entre journa-­
listes et acteurs professionnels issus du Web, développeurs logiciels, infographistes et webdesig-­
ners, dans la production des réalisations datajournalistiques. Elle vient alors questionner des en-­
jeux identitaires et de formation professionnelle.
Pratique émergente, il est pour l’heure impossible d’en mesurer l’impact. Elle demeure une pratique marginale, autant par la faiblesse numérique de ses promoteurs que celle de leurs réalisa-­
tions. Elle nous intéresse toutefois parce qu’elle symbolise les passerelles jetées entre mondes du 1 Notons ici qu’il ne s’agit que de la reprise d’une activité issue du monde du marketing. « 'qV1HWJDLQOHOLYUHSKDUHGH-RKQ+DJHO
HW$UWKXU*$UPVWURQJ¿[HOHVUqJOHVGX©FRPPXQLW\PDQDJHPHQWª>«@/HV©FRPPXQLW\PDQDJHUVªRQWIRUWHPHQWMRXpVXUOHEHVRLQGH
UHFRQQDLVVDQFHFRPPHG¶XQOHYLHUD¿QGHGpYHORSSHUOHVHQWLPHQWG¶DSSDUWHQDQFHGHVXVDJHUV » (Galibert, 2010 : 97-­99)
2 Méthodologiquement, pour ce travail de défrichage du datajournalism et de ses enjeux, nous avons procédé à la lecture systématique des articles liés à cette pratique journalistique et à l’ouverture des données de deux principaux sites : InternetActu, la lettre d’information de la FING, Owni.fr, sorte d’agrégateurs des articles plus pertinents sur ces questions. Ces deux sites, par les liens proposés, ont constitué une porte d’entrée pour une investigation plus large.
192
journalisme et du Web, et parce qu’elle interroge le rôle de l’innovation dans l’évolution de la prati-­
que journalistique.
1. Une pratique collective associant journalisme et technologie
(OpPHQWVGHGp¿QLWLRQ
Le datajournalism, appelé également « database journalism » et francisé par « journalisme de données » est une pratique fondée sur le recueil, l’analyse statistique, la visualisation de données sur Internet et leur traitement journalistique. « Le datajournalism consiste à rechercher dans les bases de données des éléments statistiques, quantitatifs, chronologiques qui, en eux-­mêmes, ne sont pas des informations mais dont les relations peuvent faire apparaître des informations latentes. » (Joannès, 2010a : 146). Autrement dit, le datajournalism se décompose en une chaîne d’opérations qui va du recueil de données à leur mise en visualisation via une interface Web, en passant par leur exploitation, au centre de laquelle se trouverait le journaliste chargé du croisement des données sus-­
ceptible de faire émerger un éclairage nouveau sur un événement donné. Cette chaîne d’opérations implique des pratiques coopératives entre journalistes et non-­journalistes (développeurs Web, sta-­
tisticiens, etc.).
L’originalité de la démarche repose sur le recours à l’informatique autant pour le traitement algorithmique des données que pour la visualisation de l’information. Anna Daniel et alii regrou-­
pent ces évolutions sous le terme de « computational journalismªSRXUVLJQL¿HU©l’application de logiciels et de technologies aux activités journalistiques, [l’appui sur] l’informatique, les sciences sociales et de la communication. » (Daniel, Flew, Spurgeon, 2009 : 1) Si le datajournalism s’inscrit dans une logique ancienne de recours à l’informatique chez les journalistes, il se singularise avant tout par la médiation d’une interface Web3(OOHSHUPHWGHYLVXDOLVHUGHPDQLqUHVLPSOL¿pHXQJUDQG
nombre de données éparses. L’interface étant manipulable par le lecteur, elle permet une person-­
nalisation de la lecture. Ce recours aux interfaces de visualisation de données suggère de manière implicite les dynamiques de coopération qui se jouent entre les mondes du Web et du journalisme, et, à travers elles, de nouvelles coopérations à l’œuvre entre journalistes, développeurs Web, webde-­
signers, infographistes, statisticiens, qu’Alain Joannès désigne de manière métaphorique dans le cas du rich média comme un « travail en essaims ».
En cela, le datajournalism apparaît comme une activité reposant sur la constitution d’un tra-­
vail de coopération entre acteurs professionnels issus de mondes différents. Celle-­ci se traduit par la mise en place de partenariats entre industriels de l’informatique et entreprises de presse. Le New <RUN7LPHV a travaillé avec ,%0 autour de sa plateforme de traitement et de visualisation de don-­
nées ManyEyes, destinée aux lecteurs5. À l’interne, sous l’impulsion de deux salariés, un Départe-­
ment des Technologies interactives a été créé. En 2010, il regroupait onze salariés, dont neuf infor-­
maticiens. Toutefois, les associations au sein des rédactions entre journalistes et développeurs Web UHVWHQWXQHFRQ¿JXUDWLRQPDUJLQDOHHWQHYDOHQWTXHSRXUTXHOTXHVJUDQGVWLWUHVGHSUHVVHQRUG
américains et anglo-­saxons. Ailleurs, et en France notamment, le travail de conception d’interface de visualisation est externalisée auprès de petites sociétés innovantes. La conception de l’interface de visualisation du Monde.fr6 des mémos diplomatiques fournis par WikileaksDpWpFRQ¿pHjXQH
3 Caroline Goulard, « Quatre voies du datajournalism », Le blog d’ActuVisu, http://blog.actuvisu.fr/quatre-­voies-­du-­datajourna-­
lism/, mis en ligne le 7 avril 2010, consulté le 3 février 2011.
4 http://manyeyes.alphaworks.ibm.com
5 Selon cette logique, le New York Times ajoute une nouvelle brique à la rhétorique de la participation des lecteurs-­contributeurs. « The Times estime que les utilisateurs peuvent contribuer à l’interprétation de données et découvrir de façons innovantes de les présenter. Tout comme les commentaires des lecteurs renforcent notre journalisme, ces visualisations peuvent ajouter une nouvelle valeur et devenir un catalyseur pour les discussions. » « The New York Times Data Visualization Lab », http://open.blogs.nytimes.com/2008/10/27/the-­new-­york-­times-­data-­vi-­
sualization-­lab/, mis en ligne le 27 octobre 2008, consulté le 4 février 2011.
6 « WikiLeaks : naviguez dans les mémos diplomatiques », Lemonde.fr, http://www.lemonde.fr/documents-­wikileaks/vi-­
suel/2010/12/06/wikileaks-­lire-­les-­memos-­diplomatiques_1449709_1446239.html, mis en ligne le 6 décembre 2010, consulté le 5 février 2011.
193
start-­up spécialisée dans l’« analyse sociale du Web », /LQNÀXHQFH. La Gazette des communes, men-­
suel spécialisé à destination des cadres de la fonction publique territoriale, a mené une expérimen-­
tation de datajournalismGRQWODUpDOLVDWLRQDpWpFRQ¿pHjXQHVWDUWXS0DUVpGLWULFHGXVLWH
Owni.fr, espace de discussion consacré au « digital journalism ». 1.2 Le datajournalism dans la lignée du Web 2.0
Le datajournalism s’inscrit à l’articulation de plusieurs mondes, entre journalisme et Web. ,OV¶LQVFULWGDQVOD¿OLDWLRQGHVpYROXWLRQVWHFKQRORJLTXHVUHJURXSpHVVRXVOHWHUPHGH:HE, puis de Web Squared, notions idéologiquement connotées. Sans rentrer dans le détail de cette vision, elle est décrite sous la forme d’un point de bascule dans l’histoire de l’Internet, caractérisée par un internaute dont la nature aurait changé sous l’effet de la technique, passant d’un état de passivité à une (sur)activité en ligne, et par une ouverture progressive de la programmation. La perception du « Public » comme producteur de contenu a ainsi fait miroiter la possibilité G¶XQHpPHUJHQFHG¶XQMRXUQDOLVPHVDQVMRXUQDOLVWHRO¶LQWHUQDXWHVHUDLWOHQRXYHDXSURGXFWHXUGH
contenu, logique popularisée par les 8VHU*HQHUDWHG&RQWHQWV. Une nouvelle rhétorique de la parti-­
cipation a vu le jour à partir de 2006, le Crowdsourcing, désignant le recours à un grand nombre de personnes pour externaliser la réalisation de certaines tâches. Dans le cas du datajournalism, il ne s’agit plus d’une remise en cause du journaliste. Au contraire, il se trouve renforcé par la délégation de tâches à la foule – la lecture et le classement de documents bruts.
Par ailleurs, les promoteurs du Web 2.0 ont cherché à mettre en exergue de nouvelles mo-­
dalités de production de services Web. À un modèle privé et corporatiste, s’opposerait une nou-­
velle « culture » de l’innovation issue du monde du logiciel libre, caractérisée par l’ouverture et l’interopérabilité. Il s’agit là à notre sens une innovation dont le datajournalism tire pour partie son origine. Ce terme technique désigne une pratique d’ouverture partielle du code informatique des services en ligne permettant la coopération des acteurs de l’informatique et de l’Internet pour déve-­
lopper des passerelles entre services, voire proposer de nouveaux services. Ces derniers sont bapti-­
sés « mashups » et reposent sur des interfaces de programmation (API). Parmi ceux-­ci, un site Web revient sans cesse dans les écrits des technophiles et observateurs du Web : housingmaps, service de géolocalisation de petites annonces immobilières sur Internet. Il est né de la fusion entre deux services préexistants. Le premier est un site de petites annonces en ligne, Craiglist ;; Le second est le service de cartographie Google Maps. Craiglist forme ainsi une base de données de petites annonces que Google Maps permet de visualiser. Le datajournalismV¶LQVFULWGDQVFHWWH¿OLDWLRQWHFKQRORJL-­
que, entre contribution des internautes et programmation ouverte.
2. La réactivation des mythes par les données
Le datajournalism repose sur deux ressorts principaux : d’un côté, un savoir-­faire techno-­
logique qui permet le développement des interfaces de visualisation des données ;; de l’autre, un VDYRLUIDLUHGDQVO¶LGHQWL¿FDWLRQHWO¶H[SORLWDWLRQGHGRQQpHVGLVSRQLEOHV/¶DFFqVjFHVGRQQpHVHW
de son traitement est devenu un enjeu autour duquel s’est cristallisé le datajournalism : actions de lobbying destinées à la libération des données publiques, investigation dans les données réactivant des mythes professionnels, mobilisation des internautes dans l’exploitation de volumes de données 7 À l’origine des deux termes se trouve Tim O’Reilly, gourou de l’Internet et fondateur d’O’Reilly Media, une maison d’édition VSpFLDOLVpHGDQVO¶LQIRUPDWLTXH(QLOGp¿QLVVDLWOH:HE7LP2¶UHLOO\©:KDWLV:HE"ª2¶UHLOO\http://oreilly.com/web2/archive/
what-­is-­web-­20.html, mis en ligne le 30 septembre 2005). En 2009, il arrive à la conclusion que « O¶qUHGX:HE>HVW@XQHFRXUVHjO¶DFTXLVLWLRQ
et au contrôle de fonds de donnéesªVDQVWRXWHIRLVGp¿QLUGHTXHOOHVGRQQpHVLOHVWTXHVWLRQQLVHSUpRFFXSHUGHVHQMHX[pFRQRPLTXHVSROLWLTXHV
ou sociaux sous-­jacents (Tim O’reilly, John Battelle, « Web Squared: Web 2.0 Five Years On », :HE6XPPLW, http://www.web2summit.com/
web2009/public/schedule/detail/10194, mis en ligne ).
8 Le terme a été proposé pour la première fois par la revue Wired, en 2006, sur une variation de l’outsourcing (externalisation), SRXUVLJQL¿HUODFROODERUDWLRQGHVPDVVHVH[WpULHXUHVDX[RUJDQLVDWLRQVjEXWOXFUDWLIGDQVODFRSURGXFWLRQGHYDOHXUDMRXWpH+RZH-HII©7KHULVH
of crowdsourcing », Wired, http://www.wired.com/wired/archive/14.06/crowds.html, mis en ligne le 14 juin 2006, consulté le 11 juin 2009. 194
importants.
2.1 Vers la libéralisation des données publiques?
En janvier 2009, l’administration de Barack Obama a décidé l’ouverture des données admi-­
nistratives. Cette démarche s’inscrit dans le contexte d’un mouvement visant à la libération des don-­
nées publiques, l’« Open Data ». Ce mouvement a pris naissance en Angleterre, en 2006. Le Guar-­
dian a accompagné une campagne « Free Our Data » visant à libéraliser les données publiques. À l’origine, se trouve la publication d’une tribune9 de deux journalistes britanniques, Charles Arthur et Michael Cross. Ceux-­ci y dénonçaient le double coût porté par le contribuable : la vente des données produites à partir des fonds publics. En guise de réponse, le gouvernement britannique a mis en place en 2008 une commission chargée d’organiser un concours sur la meilleure manière d’utiliser les données publiques, « Show us the better way10 », doté de 20 000 £, pour récompenser les cinq meilleures réalisations parmi les 450 proposées. En juin 2009, le gouvernement britannique a fait appel à l’inventeur du Web, Tim Berners-­Lee11SRXUUpÀpFKLUjO¶RXYHUWXUHGHVGRQQpHVSXEOLTXHV
gouvernementales. Le portail data.gov.uk a été ouvert au public en janvier 2010, soit quelques mois après celui de l’administration Obama12.
En France, le mouvement de l’« Open Data » n’est pas porté par les médias, mais par que-­
lques think tanks. Un portail de base de données Data.gouv.fr a été annoncé, mais demeure tou-­
jours à l’état de projet. Une des pierres d’achoppement repose sur le format des licences des don-­
nées publiques et leur possible commercialisation. L’administration et les collectivités locales sont incitées à participer à ce mouvement. Un think tank spécialisé dans l’Internet, la FING (Fédération Internet Nouvelle Génération), a publié en janvier 2011 un livre blanc concernant l’ouverture des données publiques territoriales13/HVDXWHXUV\YDQWHQWOHVEpQp¿FHVG¶XQHWHOOHOLEpUDWLRQDXWDQWHQ
WHUPHVGHGpYHORSSHPHQWpFRQRPLTXHTX¶HQWHUPHVG¶HI¿FDFLWpDGPLQLVWUDWLYHHWGHWUDQVSDUHQFH
politique. Pour le moment, seules quelques municipalités se sont lancées dans l’« Open data ». Face à cette ouverture tâtonnante, les rares datajournalistesVHKHXUWHQWjODGLI¿FXOWpGHO¶H[SORLWDWLRQ
des données publiques. « Force est de constater que les administrations ont du mal à passer à O¶LQIRUPDWLTXH>«@/DSDOPHGHO¶LQHI¿FDFLWpUHYLHQWjFHOOHVTXLRQWSULVOHWHPSVGHVFDQQHUGHV
GRFXPHQWV:RUGLPSULPpV>«@/HQRXYHDXGpEDWFRQFHUQH>OH@IRUPDWHW>OD@IDFLOLWpG¶DFFqV>GHV
données]. »
2.2 Du journalisme d’investigation au crowdsourcing
Le datajournalism eVWGRQFpPHUJHQWQRWDPPHQWHQ)UDQFHRODTXHVWLRQGHO¶RXYHUWXUHGHV
données n’est pas effective. Pratique en devenir, elle est toutefois âprement discutée, ayant réussi à se constituer une légitimité à partir de quelques faits d’armes notoires, au carrefour des mythes jour-­
nalistiques et de l’Internet.
L’une des premières enquêtes de datajournalistes (et non pas de computer-­assisted repor-­
9 Charles Arthur, Michael Cross, « Give us back our crown jewels », Guardian, http://www.guardian.co.uk/technology/2006/
mar/09/education.epublic, mis en ligne le 9 mars 2006, consulté le 2 février 2011.
10 http://webarchive.nationalarchives.gov.uk/20100807004350/http://showusabetterway.co.uk 11 Charles Arthur, « Web inventor to help Downing Street open up government data », Guardian, http://www.guardian.co.uk/
technology/2009/jun/10/berners-­lee-­downing-­street-­web-­open, mis en ligne le 10 juin 2010, consulté le 10 février 2011.
12 L’initiative du portail data.gov de l’administration américaine a été suivie d’autres démarches similaires : Grande-­Bretagne, qui propose 5 600 bases de données au 1er février 2011, la Nouvelle-­Zélande (data.govt.nz), l’Australie (data.australia.gov.au), le Brésil (ipeadata.gov.
br).
13 Amandine Brugière, Charles Népote, « Guide pratique de l’ouverture des données publiques territoriales », FING, http://doc.
RSHQ¿QJRUJ5'38*XLGH3UDWLTXH'RQQHHV3XEOLTXHVYEHWDSGI, mis en ligne le 19 janvier 2011, consulté le 5 février 2011.
14 Nicolas Kayser-­Bril, « On l’a pas en format ordinateur », Database Journalism, http://databasejournalism.wordpress.
com/2009/12/15/%C2%AB-­on-­l%E2%80%99a-­pas-­en-­format-­ordinateur-­%C2%BB/, mis en ligne le 15 décembre 2009, consulté le 31 janvier 2011.
195
ters) a été menée par Charles Ornstein et Tracy Weber entre 2008 et 2009, pour le compte du Los-­
Angeles Times et de Propulica, un pure-­player californien, dont le titre « Journalism in the interest public » résume le positionnement. L’enquête des deux journalistes s’est concentrée sur l’absence de VDQFWLRQjO¶pJDUGG¶LQ¿UPLqUHVFRXSDEOHVGHIDXWHVSURIHVVLRQQHOOHV,OVVHVRQWSURFXUpXQHOLVWHGH
LQ¿UPLqUHVD\DQWIDLWO¶REMHWG¶XQHSURFpGXUHGLVFLSOLQDLUHGHSXLV/¶HQTXrWHDQpFHVVLWp
dix-­huit mois d’investigation16. Les deux enquêteurs, après construction et exploitation d’une base GHGRQQpHVRQWGpPRQWUpTXHSOXVGHLQ¿UPLqUHV¿FKpHVDYHFODPHQWLRQ©ULVTXHVSRXUODVDQ-­
té publique » avaient continué à exercer. Ils ont pointé ainsi les dysfonctionnements du California nursing board, organisme chargé de la régulation de la profession, dont le président a démission-­
né après publication de l’enquête. L’originalité de la démarche des deux journalistes est par ailleurs d’avoir proposé à leurs lecteurs les recettes utilisées pour mener leur enquête, allant jusqu’à organi-­
ser une conférence téléphonique avec leurs lecteurs17. Les deux reporters ont été nominés pour leur enquête au prix Pulitzer de 2010.
Dans le même temps, le Guardian a proposé une enquête datajournalistiqueTXLDEpQp¿-­
cié d’un large écho médiatique. Début mai 2009, le quotidien Daily Telegraph révèle le scandale des notes de frais des parlementaires britanniques à partir de documents achetés, recueillis par des employés du 6WDWLRQHU\2I¿FH. L’ensemble des données fournies regroupant plus de 700 000 do-­
cuments, le « coup de génie18 » du Guardian a été de proposer une application permettant de visua-­
liser les notes de frais et autres documents récupérés, soit 458 000 documents. 223 000 ont été ob-­
servés par quelque 23 000 lecteurs du quotidien. Si la méthode peut être saluée comme permettant de découvrir « plus de cas de corruption que tout un tas de journalistes d’investigation n’aurait pu OHIDLUH>«@GRQQDQWQDLVVDQFHjGHVDQDO\VHVIRXLOOpHVHWFULWLTXHVPHQpHVSDUGHVMRXUQDOLVWHV » (Neveu, 2010 : 46), elle s’inscrit dans le renouvellement d’un discours sur les formes de participation des internautes de manière périphérique à la production de l’information, qui légitime un savoir-­
faire dans la relation au « Public », désignée sous le terme de Crowdsourcing. Investigation dans les données, publiques ou volées, et appel à la contribution des lecteurs constituent deux ressorts de légitimation de cette nouvelle pratique, dont un des enjeux peut être lu comme une volonté de ne pas réduire le datajournalism au seul développement d’interfaces de visualisation de GRQQpHVHWSDUOjUpDI¿UPHUODGLPHQVLRQSOXVMRXUQDOLVWLTXHTX¶LQIRJUDSKLTXHGHO¶DFWLYLWp
3. Une pratique d’avenir?
Telle que présentée jusqu’à maintenant, l’ampleur du datajournalism GHPHXUH GLI¿FLOH j
FHUQHU,OVHOpJLWLPHDXWRXUGHTXHOTXHVH[SpULHQFHVPLVHVHQDYDQWSRXUDI¿UPHUOHVSRWHQWLDOL-­
tés d’une nouvelle pratique journalistique. Nous voulons maintenant souligner, à travers l’exemple français, les enjeux d’une pratique portée par quelques jeunes journalistes.
15 Sylvain Parasie et Eric Dagiral soulignent que « GHSXLVOD¿QGHVDQQpHVGHVMRXUQDOLVWHVG¶LQYHVWLJDWLRQQRUGDPpULFDLQV
XWLOLVHQWGHVRUGLQDWHXUV&HODV¶HVWGpYHORSSpVRXVO¶LPSXOVLRQGH3KLOLS0H\HUDXWRXUGHO¶H[SUHVVLRQ&RPSXWHU$VVLVWHG5HSRUWHU%LHQDYDQW
l’informatisation des rédactions, il s’agissait d’appliquer des méthodes statistiques, issues des sciences sociales, et d’utiliser l’outil informatique dans le cadre de l’enquête journalistique. » (Parasie, Dagiral, 2011 : 3-­4)
16 Il est nécessaire de souligner l’originalité du modèle économique de Pro Publica, « lancé par Paul Steiger, ancien directeur du :DOO6WUHHW-RXUQDOJUkFHDX[IRQGVG¶XQFRXSOHGHPLOOLDUGDLUHVGHOD¿QDQFHà la retraite, les Sandler. » (Couve et alii, 2010 : 79)
17 Charles Ornstein et Tracy Web, « Track Your State Nursing Board », http://projects.propublica.org/state-­boards/subjects/
nursing#recipe, mis en ligne le 30 juin 2010, consulté le 2 février 2011.
18 Eric Mettout, « Les renforts du Guardian », Nouvelle formule, http://blogs.lexpress.fr/nouvelleformule/2009/06/19/atten-­
tion_sujet_complexe_sensi/, mis en ligne le 19 juin 2009, consulté le 3 février 2011. 196
3.1 Des jeunes et des start-­ups
La pratique et la promotion du datajournalism est limitée pour le moment en France à trois espaces. Le premier est formé par un couple journaliste/développeur Web, David Castello-­Lopes et Pierre Bance, auteurs de la « carte interactive19 » du chômage en France depuis 1982, publié par Le-­
monde.fr, vendue pour moins de 3 000 euros. Le premier, âgé de 29 ans, est diplômé de l’Institut )UDQoDLVGH3UHVVHHWV¶HVWVSpFLDOLVpHQMRXUQDOLVPHPXOWLPpGLDjO¶8QLYHUVLWpGH%HUNHOH\RLO
a « appris à construire un sujet multimédia, depuis sa conception graphique jusqu’à l’animation en Flash en passant par la prise de vue et le montage. » Quant à Pierre Bance, après des études d’agronomie, il s’est reconverti dans le développement Web. La formation de ce duo est liée à une amitié, tous deux scolarisés dans un même lycée parisien.
Un autre espace de développement de la pratique du datajournalism a pris corps dans un projet étudiant, autour d’une étudiante diplômée de l’IEP de Rennes de 24 ans, Caroline Goulard, achevant un cycle de formation par un Master de Management et Nouvelles Technologies à HEC. Dans ce cadre, elle pilote le site de datajournalism Actuvisu.fr, lancé le 2 juillet 2010. Ce dernier présente la particularité de regrouper trois étudiants d’un Master Management des médias écrits de l’IEP de Rennes et sept étudiants en quatrième année à l’HETIC, école supérieure spécialisée dans l’Internet. ActuVisu propose pour le moment trois réalisations de datajournalism, dont une est consacrée à la mise en corrélation des performances des coureurs du Tour de France et des cas de dopages. D’autres réalisations ont été effectuées dans le cadre d’un stage au sein de la rédaction de L’Express. Le projet étudiant DataVisuDpYROXp¿QYHUVXQHVWDUWXSDataveyes, fondée par quatre des participants au projet initial, comprenant une journaliste, un statisticien, un développeur Web et un gestionnaire.
(Q¿QWURLVLqPHHVSDFHLGHQWL¿pOHVLWHOwni.fr se démarque tant pour ses réalisations que comme un espace de discussion autour des enjeux du datajournalism et comme le suggère, le sous-­
titre du site, du « digital journalism ». Le site est un espace de ressources en ligne, reprenant les pu-­
blications jugées intéressantes de quelques 900 blogueurs. Il revendique 250 000 visiteurs uniques par mois. Owni.fr s’adosse à une jeune start-­up lancée en février 2008, baptisée 0DUV. Elle est l’oeuvre d’un « entrepreneur, pas un journaliste » de 32 ans, Nicolas Voisin, qui s’est fait connaître à partir de 2006 dans le monde des blogs politiques, en lançant le PoliTIC’show, blog consacré à l’interview des hommes politiques durant la campagne de 2007 à l’élection présidentielle. L’équipe de 0DUV est composée d’une vingtaine de membres, repartie entre journalistes, développeurs Web et infographistes.
Owni.fr est devenu en l’espace de quelques mois la référence en termes d’innovations journa-­
listiques, mobilisée par quelques sociologues de l’Internet22. Il a tiré son épingle du jeu dans l’affaire Wikileaks. Owni.fr est intervenue en développant une application permettant de visualiser les don-­
19 David Castello-­Lopes, Pierre Bance, « Le chômage en France depuis 1982 », Lemonde.fr, http://www.lemonde.fr/societe/vi-­
suel/2010/03/03/le-­chomage-­en-­france-­depuis-­1982_1310908_3224.html, mis en ligne le 3 mars 2010, consulté le 5 février 2011.
20 Patrick Sarradeil, « Comment devenir journaliste plurimédias en 480 heures de cours », Communiqués de Presse, http://www.
communique-­de-­presse.info/devenir-­journaliste-­plurimedias/, mis en ligne le 15 juin 2010, consulté le 15 février 2011.
21 Frédérique Roussel, « Owni secoue la galaxie de l’info », Liberation.fr, http://www.liberation.fr/medias/01012300945-­owni-­
secoue-­la-­galaxie-­de-­l-­info, mis en ligne le 8 novembre 2010, consulté le 25 janvier 2011.
22 Nous pensons ici à Dominique Cardon (Cardon, 2010) et Patrice Flichy (Flichy, 2010) qui mentionne Owni.fr dans la promo-­
WLRQGHOHXUVHVVDLVUHVSHFWLIVHWQRQGDQVFHVGHUQLHUV$LQVLOHSUHPLHUDI¿UPHTXH©OHPRQGHGXMRXUQDOLVPHDYHF0pGLDSDUW5XH2:1,RX
l’univers émergent du data journalism sont en train de montrer que de ce mélange peut naître des formes éditoriales, des contenus et des ressorts critiques nouveaux. » (Hubert Guillaud, « Dominique Cardon : Pourquoi l’internet n’a-­t-­il pas changé la politique? » InternetActu, http://www.
internetactu.net/2010/10/07/dominique-­cardon-­pourquoi-­linternet-­na-­t-­il-­pas-­change-­la-­politique/, mis en ligne le 7 octobre 2010, consulté le 25 janvier 2011) Patrice Flichy évoque « le journalisme de données, qui se spécialise dans le traitement journalistique de grosses bases de données, comme le fait, en France le site Owni.fr, offre des sources brutes à l’amateur d’informations » (Patrice Flichy, « La réhabilition du journalisme d’expertise », Lemonde.fr, http://www.lemonde.fr/idees/article/2010/12/03/la-­rehabilition-­du-­journalisme-­d-­expertise_1448556_3232.html, mis en ligne le 3 décembre 2010, consulté le 25 janvier 2011).
197
nées récupérés, et en s’associant au pure-­player Slate.fr et au mensuel Le Monde Diplomatique. Permettant à tout internaute de consulter les données fournies, la démarche est présentée sous le titre d’une « enquête participative européenne ». Sur les 75 000 documents fournis, 1 200 ont été lus. Toutefois, la mise en ligne de cHWWHDSSOLFDWLRQDFRQWULEXpjODFRQVpFUDWLRQG¶2ZQLIU(QRFWREUH
LODpWpSULPpSDUODOnline News Association/HPrPHPRLVO¶pTXLSHDpWpFRQWDFWpHSDU-XOLDQ$VVDQJHSRXUXQH
QRXYHOOHYHUVLRQGHO¶DSSOLFDWLRQSHUPHWWDQWGHYLVXDOLVHUOHVPpPRVGLSORPDWLTXHV25
3.2 Vers un « journaliste hacker »?
Les expérimentations de datajournalism sont si peu nombreuses que les quelques conclu-­
sions énoncées le sont sans doute trop rapidement. La première concerne « une espèce hybride est en train d’apparaître sur un marché de l’emploi déjà sous tension », un journaliste jouissant de savoir-­faire, voire maîtrisant le codage informatique. C’est une récurrence que l’on peut trouver GDQVOHVGLIIpUHQWVSUR¿OVFURLVpVGDQVOHVWURLVHVSDFHVG¶H[SpULPHQWDWLRQIUDQoDLVLOV¶DJLWGHMHX-­
nes journalistes caractérisés par leur goût pour l’informatique et le Web. 'HUULqUHFHVTXHOTXHVSLRQQLHUVVHSUR¿OHXQHQMHXHQWHUPHVGHIRUPDWLRQSURIHVVLRQQHOOH
Les quelques datajournalistes évoqués ont également comme caractéristique, à l’image des autodi-­
dactes du 1HZ<RUN7LPHV (Joannès, 2010b : 149) ou de Nicolas Kayzer-­Bril, responsable du pôle datajournalism à Owni.fr, d’avoir « en autodidacte appris à faire un site Web, puis à coder. Je me VXLVDSHUoXTXHFHODSRXYDLWrWUHXQHFRPSpWHQFHXWLOHTXDQGRQYHXWGHYHQLUMRXUQDOLVWH>«@-¶DL
fait Science Politique et je n’ai jamais eu de cours d’informatique. » Quelques écoles de journalis-­
me commencent à se saisir de la question. Aux avant-­postes se trouvent la &ROXPELD8QLYHUVLW\ qui enseigne de concert le journalisme et l’informatique et la Medill Scholl of Journalism qui se propo-­
se de former des développeurs Web au journalisme. Cette dernière formation est proche d’un think tank « Hacks-­Hacker », qui oeuvre à la mise en place de coopération entre développeurs et journa-­
listes. Cette question, dans les écoles de journalisme françaises (Le Cam, Trédan, 2008), demeure encore peu soulevée. La voie empruntée diffère toutefois sensiblement du modèle du « journalis-­
te hacker », jouissant à la fois de la double casquette de journaliste et de programmeur. Elle passe moins par l’acquisition de compétences que par une sensibilisation à la technique, pour que puisse s’engager « un dialogue avec les gens de la technique pour voir comment on peut faire. Et le dialo-­
gue est intéressant quand il est équilibré. » (Le Cam, Trédan, 2008 : 106) C’est en particulier cette capacité qui caractérise le datajournalism, une aptitude à jouer sur les frontières par des dynami-­
ques de coopération entre des acteurs professionnels issus de mondes distincts.
23 Slate.fr, « Une application pour enquêter sur les documents Wikileaks », http://www.slate.fr/story/25467/wikileaks-­afghanis-­
tan-­application-­enquete-­participative, mis en ligne le 27 juillet 2010, consulté le 25 janvier 2010.
24 Philippe Rivère, « Rapports explosifs sur la guerre en Afghanistan », Le Monde Diplomatique, http://www.monde-­diploma-­
tique.fr/carnet/2010-­07-­26-­Rapports-­explosifs-­sur-­la-­guerre, mis en ligne le 26 juillet 2010, consulté le 25 janvier 2011.
25 Nicolas Kayser-­Bril, « Allô, c’est Julian Assange », Owni.fr, http://owni.fr/2010/10/22/julian-­assange-­wikileaks-­irak/, mis en ligne le 22 octobre 2010, consulté le 25 janvier 2011.
26 Sabien Blanc, « Journaliste programmeur, le mutant parfait? », Owni.fr, http://owni.fr/2010/02/23/journaliste-­program-­
meur-­le-­mutant-­parfait/, mis en ligne le 23 février 2010, consulté le 25 janvier 2011.
27 Tatiana Kalouguine, « Nicolas Kayser-­Bril, data-­journaliste », La voix du Dodo, http://www.lavoixdudodo.info/2009/11/05/
interview-­nicolas-­kayser-­bril-­datajournaliste/, mis en ligne le 5 novembre 2009, consulté le 21 janvier 2011.
198
Conclusion
Nous avons choisi le datajournalism pour illustrer certaines dynamiques de changement à l’œuvre dans l’espace des pratiques journalistiques, lorsque l’on regarde le journalisme au prisme GHVHVIURQWLqUHVDYHFOH:HE3UDWLTXHWUqVUpFHQWHHWV¶DI¿FKDQWFRPPHO¶DYHQLUGXMRXUQDOLVPH28, QRXVDYRQVFKHUFKpjHQGpOLPLWHUVHVFRQWRXUVVDQVSURSKpWLH8QHGLI¿FXOWpHWQRQGHVPRLQGUHV
demeure l’accès aux sources, aux données publiques.
L’enjeu, à notre sens, se situe du côté des dynamiques d’innovation. Saisir les changements qui affectent le journalisme, dans la dynamique d’expansion qui semble le caractériser, nous parait intelligible au prisme des outils conceptuels fournis par l’interactionnisme symbolique et par une sociologie de l’innovation qui s’inspire de ce courant. Le datajournalism apparaît comme un « ob-­
jet frontière » (Flichy, 1995), c’est-­à-­dire placé à l’intersection de plusieurs mondes sociaux, celui GXMRXUQDOLVPHHWGHODSURJUDPPDWLRQQRWDPPHQW/HGDWDMRXUQDOLVPHVWVXI¿VDPPHQWÀH[LEOH
SDUFHTXHPDOGp¿QLHWVXI¿VDPPHQWUREXVWHSDUFHTX¶LOVHUpFODPHGXMRXUQDOLVPHYRLUHHQWHQG
incarner son avenir -­, il facilite la coopération entre acteurs aux vues et aux savoir-­faire différents, sans que chacun ne renonce à ses compétences propres, tout en adoptant une approche commune. Le datajournaliste s’allie ainsi au statisticien chargé d’extraire les données pertinentes, au dévelo-­
ppeur Web chargé de la production d’une interface ergonomique, voire cherche à faire coopérer le OHFWHXUGDQVO¶DQDO\VHGHVGRFXPHQWVEUXWV/HMRXUQDOLVPHDSSDUDvWFRPPHVXI¿VDPPHQWÀH[LEOH
pour parvenir à s’augmenter en captant de nouvelles médiations, de nouveaux outils, de nouveaux DFWHXUV°XYUDQWjOHXUPDQLqUHjODFROOHFWHHWODPLVHHQVFqQHGHO¶LQIRUPDWLRQHWDLQVLjUHGp¿QLU
HQSHUPDQHQFHVHVFRQWRXUV&HWWHUHGp¿QLWLRQQ¶HVWSDVOHVHXOIDLWGHQRXYHOOHVIRUPHVGHFRRSp-­
ration au sein des rédactions. Pour se légitimer dans l’espace journalistique, ces nouvelles pratiques doivent être discutées, faire l’objet de controverse. L’essor du datajournalism s’accompagne aussi GHQRXYHDX[OLHX[GHGpEDWGHUpÀH[LRQHWGHQRXYHDX[SRUWHSDUROH&HX[FLUpDFWLYHQWOHVP\WKHV
professionnels autour de l’investigation, tout en y juxtaposant des revendications et des potentia-­
lités portées par les acteurs d’autres mondes. Les promoteurs du datajournalism s’appuient sur le mouvement de l’Open Data, militant en faveur de la libéralisation des données publiques et de la transparence politique. Face aux masses de données ouvertes, ils réinvestissent le thème de la par-­
ticipation des lecteurs au tri de l’information, déjà largement débattu sur le Web29. (QpODUJLVVDQWODIRFDOHQRXVYR\RQVVHSUR¿OHUXQPRXYHPHQWGHOpJLWLPDWLRQGHVHVSDFHV
de production de l’information en ligne, mouvement auquel participe le datajournalism. Pour saisir les changements structurels du journalisme au prisme de la légitimation de ces nouvelles pratiques, il est nécessaire d’observer conjointement les différentes coopérations à l’oeuvre entre journalistes et non-­journalistes aux frontières du Web et du journalisme et les controverses qui accompagnent leur développement. Incidemment, une telle approche appelle à se saisir des acquis de la sociologie de l’innovation pour l’étuGHGXMRXUQDOLVPH
28 Eric Mettout, « Pourquoi le data-­journalisme, c’est l’avenir en marche », Nouvelle formule, http://blogs.lexpress.fr/nouvelle-­
formule/2010/04/07/elle_sappelle_caroline_goulard/, mis en ligne le 7 avril 2010, consulté le 3 février 2011.
29 Nous pensons ici, parmi la littérature technophile abondante sur le thème de l’intelligence des foules, à l’essai de Don Tapscott and Anthony D. Williams, consacré à « l’art et la science de la collaboration » sur Internet (Tapscott, Williams, 2006 : 18). Les premières pages de l’ouvrage sont dédiées à la démarche de Rob Mc Ewen, PDG de Goldcorp, société d’extraction minière gérant une mine d’or au Canada, qui a solli-­
cité l’aide des internautes pour mener des prospections en ouvrant ses données géologiques (Tapscott, Williams, 2006 : 6-­10).
199
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Tapscott Don, Williams Anthony D., Wikinomics, how mass collaboration changes everything, New York, Portfolio, 2006, 324 p.
200
GT4 - Jornalismo Digital
Infografia interativa na América Latina:
Uma contribuição teórico-metodológica para o ensino da disciplina de Teoria do Jornalismo através da visualização da informação nos jornais O Estado de S. Paulo, El Nacional (Venezuela) e El Universal (México)
Marcilia Luzia Gomes da Costa Mendes
William Robson Cordeiro da Silva
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Resumo
eFDGDYH]PDLVSUHVHQWHDXWLOL]DomRGRUHFXUVRGDLQIRJUD¿DQRPHLRMRUQDOtVWLFRLPSUHVVRHon lineeXPPHLRDGHTXDGRSDUDGHFRGL¿FDUFRPPDLRUYHORFLGDGHWHPDVTXHVmRFRQVLGHUDGRVFRP-­
SOH[RVSDUDRS~EOLFROHLWRU2VLQIRJUi¿FRVEDVHLDPVHQDUHSUHVHQWDomRGDQRWtFLDDSDUWLUGHXQL-­
dades icônicas, ou seja, referentes a imagens, constituindo-­se do hibridismo de outros ingredientes GDSUiWLFDGRMRUQDOLVPRWDLVFRPRDIRWRJUD¿DRGHVHQKRHRWH[WR7UDWDVHGHXPDQRYDOLQJXD-­
gem, uma ferramenta pertinente para a transmissão de informação e para a prática jornalística no VXSRUWHLPSUHVVR,QVWLWXLo}HVVHUYHPVHGHVHXSRWHQFLDOFRPD¿QDOLGDGHGHDQJDULDUOHLWRUHVRIH-­
recer recursos capazes de manter esta audiência em um modelo monomídia e experimentar a rela-­
ção sinérgica em seus elementos constitutivos.
Conceituando Infografia
$GH¿QLomRGHLQIRJUD¿DpGDGDSRU6DQFKRapud CAIRO, 2008, p.21) como “uma con-­
WULEXLomRMRUQDOtVWLFDUHDOL]DGDFRPHOHPHQWRVLF{QLFRVHWLSRJUi¿FRVTXHSHUPLWHRXIDFLOLWDDFRP-­
preensão dos acontecimentos e acompanha ou substitui o texto informativo”. Assim, a informação QRMRUQDOLVPRWRPDQRYDIRUPDXPDUHSUHVHQWDomRJUi¿FDGDQRWtFLD1mRREVWDQWHFRQVLGHUDQ-­
do que “qualquer informação apresentada em forma de diagrama, isto é desenho no qual se mostra DVUHODo}HVHQWUHDVGLIHUHQWHVSDUWHVGHXPFRQMXQWRRXVLVWHPDpXPDLQIRJUD¿D´&$,52
SDLQVHUomRGRVLQIRJUi¿FRVWUDQVFHQGHHVVHPHLR6HXFDUiWHUQmRpGHWHUPLQDQWHGHXPDPt-­
dia periódica.
2UHFXUVRGDLQIRJUD¿DpPDVVLYDPHQWHXWLOL]DGRSRUMRUQDLVHUHYLVWDVHPWRGRRPXQGRH
torna-­se mais comum também no cotidiano da vida social, o que instigou esta investigação. Os in-­
IRJUi¿FRVDSUHVHQWDPVHFRPRPpWRGRH¿FLHQWHGHWUDQVPLVVmRGDLQIRUPDomRGHYLGRDRSRGHUGH
sua linguagem: a visual, a analógica. O objetivo deste trabalho é apontar as potencialidades da info-­
JUD¿DQRMRUQDOLVPRLPSUHVVRDVUHODo}HVHVWpWLFDVHDFDSDFLGDGHGHGHFRGL¿FDUDOLQJXDJHPYHUEDO
HPYLVXDO3DUDLVVRDSHVTXLVDDSRQWDFRPRDLQIRJUD¿DPDQLIHVWDVHQRMRUQDOLPSUHVVRFRPR
FRPSRUWDVHQDFRQ¿JXUDomRGHVWHPHLRGHFRPXQLFDomRFRQVLGHUDQGRXPDHVWUXWXUDGHOLQJXD-­
gem pertinente na práxis jornalística.
2XVHMDLQIRJUD¿DpXPDOLQJXDJHPQmRYHUEDODQDOyJLFDKDELOLWDGDDRIHUHFHUWD[DVLQIRU-­
macionais elevadas a partir da constituição de seus elementos. Transcende a observação tão-­somen-­
WHGREHORGHVSURSRVLWDGRPDVUHD¿UPDVXDFDSDFLGDGHFRPXQLFDFLRQDOLPSUHVFLQGtYHOQRSURFHVVR
de produção jornalística.
$HYROXomRGDLQIRJUD¿DpGHVHQKDGDHPWUrVHVWiJLRVGHQRPLQDGDGH³JHUDo}HV´HVSHFt¿FDV
A primeira geração não se caracteriza por sua incipiência (ou ausência de maturação), mas pela vin-­
culação direta ao suporte impresso. Assim, atributos como a narrativa sequencial e linear e o forma-­
WRHVWiWLFRHVWmRGLUHWDPHQWHDVVRFLDGRVDHVWDSULPHLUDIDVHHYROXWLYDGDLQIRJUD¿D$VGHPDLVIDVHV
SHUSDVVDGDVSHODLQIRJUD¿DPRGHUQDFXOPLQDQGRFRPRHVWiJLRQRVXSRUWHweb, base para esse ar-­
tigo, são: Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. 201
Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
Disponível em: www.mejor.com.br
‡Segunda fase: envolvida no suporte da internet, baseia-­se na multimidialidade dos ele-­
PHQWRVFRQVWLWXWLYRVGRVLQIRJUi¿FRVDVDEHU³LPDJHQVHPPRYLPHQWRJUDYDomRVRQRUDLOXVWUD-­
omRIRWRJUD¿DYtGHRVHRXWURVUHFXUVRVLQWHUDWLYRV´52'5,*8(6S$IRUPDGHOHLWX-­
UDWDPEpPVHDOWHUDHPUHODomRDRVLQIRJUi¿FRVHVWiWLFRVFRPYDULDo}HVPXOWLOLQHDUHVOLQHDUHVRX
não-­lineares. ‡Terceira fase: tem como propriedade, segundo Rodrigues (2009), a introdução de base de GDGRVQDIRUPDWDomRGRVLQIRJUi¿FRVQDSODWDIRUPDweb. Com o avanço tecnológico, acesso dos indivíduos aos computadores, banda larga, migração de leitores para a web, os tradicionais jornais impressos iniciam processo de produção de conteúdo GLJLWDODJUHJDQGRRVUHFXUVRVGRWUDGLFLRQDOMRUQDOLVPRIHLWRQRSDSHO$LQIRJUD¿DpXPDGDVIHUUD-­
mentas que, progressivamente, recorre aos elementos de multimidialidade e promove o surgimento GH³SUR¿VVLRQDLVUHODFLRQDGRVFRPHVWDIRUPDSDUDTXHRVXVXiULRVLQWHUDWXHPFRPDVQRYDVWHFQR-­
logias” (CAIRO, 2008, p.63). A transição buscava a interatividade do indivíduo com o computador, DRUHFRUUHUjLQIRUPDomRTXHQHFHVVLWDDWUDYpVGDPDQLSXODomRGRLQIRJUi¿FR(VWHVHULDRIXQGD-­
mento da “visualização da informação”, termo que, segundo Cardy, Mackinlay e Shneiderman (1999 apud CAIRO, 2008, p.68), traduz-­se “no uso de apresentações visuais e interativas de dados abstra-­
WRVDVVLVWLGRVSRUFRPSXWDGRUSDUDDPSOLDUDFRJQLomR´$LQIRJUD¿DSDVVDGHXPHOHPHQWRHVWiWLFR
para ofertar uma possibilidade de investigação para os leitores/audiência.
eRTXH6DQFKRGHQRPLQDGHLQIRJUD¿DLQWHUDWLYD1, conceituando como:
Uma aportación informativa, en la mayoria de los casos sucesiva, que se elabora en las publicaciones digitales, basicamente visuales, pero también audiovisuales, realizada mediante unidades elementales icônicas (estáticas o dinâmicas), com el apoyo de diversas unidades WLSRJUi¿FDV\RVRQRUDVQRUPDOPHQWHYHUEDOHV6DQFKRSapud TEIXEIRA, 2007, p.6).
3DUD&DLURD¿JXUDGRMRUQDOLVWDYLVXDOWRUQDVHFRDGMXYDQWHQDLQWHUSUHWDomRGRVGDGRVSDUD
o leitor, quando da transposição do meio impresso para o meio digital. No entanto, o mesmo jorna-­
OLVWDYLVXDO¿JXUDVHFRPRSURWDJRQLVWDDRSURSRUFLRQDUIHUUDPHQWDVSDUDTXHRSUySULROHLWRUGHV-­
vende os dados por si mesmo.
2QRYRSDQRUDPDTXHVHIRUPDQRMRUQDOLVPRGLJLWDODSDUWLUGDWRPDGDGDLQIRJUD¿DLQWHUD-­
tiva, caminha lentamente nos jornais tradicionais, embora se notem avanços importantes em títulos de maior alcance popular na América Latina. Entre os quais estão: O Estado de São Paulo (www.
estadao.com.br), com uma tiragem na versão impressa de 217.414 exemplares (média de 2009, se-­
JXQGRR,QVWLWXWR9HUL¿FDGRUGH&LUFXODomR,9&TXH¿JXUDHQWUHRVTXDWURPDLVLPSRUWDQWHVGR
%UDVLOHPDQWpPXPDVHomRHVSHFt¿FDGHLQIRJUD¿DHPVHXVtWLREl Nacional, de Caracas (www.el-­
QDFLRQDOFRPTXHGHVHQYROYHLQIRJUi¿FRVPXOWLPtGLDVQDLQWHUQHWHHYLGHQFLDFRPRRGLiULRPDLV
importante da Venezuela, com tiragem de 150 mil exemplares;; e (O8QLYHUVDO, da Cidade do México (www.eluniversal.com.mx), fundado em 1º de outubro de 1916 e que, segundo o canal institucional do diário em sua página na internet, “é um dos sítios em espanhol de maior tráfego do mundo. Da-­
dos de 2007 apontam que o jornal obteve 3,2 milhões de usuários únicos, 105 milhões de páginas vistas e 1,6 milhão de downloads de vídeo”. Na versão impressa, a tiragem é de 300 mil exemplares diários. André Lemos (1997 apud PRIMO E CASSOL, 1999, p. 3) compreende por interatividade como uma nova forma de interação técnica, de caracte-­
1
rística eletrônico-­digital, uma ação dialógica entre homem e técnica. “Por outro lado, pensa que o que se vê hoje com as tecnologias digitais não é a criação da interatividade propriamente dita, mas sim os processos baseados em manipulações de informações binárias”.
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5HSURGXomRGHYtGHRGRLQIRJUi¿FRVREUHRVDQRVGRWHUUHPRWRQR0p[LFR(O8QLYHUVDO±VHWHPEURGH
Tais diários foram escolhidos baseados na questão de colonização diferente entre eles, ou seja, a relação de um jornal de língua portuguesa com dois de língua espanhola, sendo que um deles HVWiIRUDGRDPELHQWHJHRJUi¿FRGD$PpULFDGR6XO2VGRLVMRUQDLVGHOtQJXDKLVSkQLFDWDPEpPVmR
LPSRUWDQWHVSRU¿JXUDUHPQR*UXSRGRV'LiULRV$PpULFDHQWLGDGHTXHFRQJUHJDRVSULQFLSDLV
periódicos da América Latina (no Brasil, inclui-­se O Globo).
Os dinossauros brasileiros (O Estado de S. Paulo – agosto de 2010)
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Eleições parlamentares na Venezuela (El Nacional – setembro de 2010)
As três publicações mantêm identidades comuns quanto às noções de ética e prática jorna-­
lísticas latino-­americanas, no que concerne à independência do Estado e dos poderes, tendo o direi-­
to de reportar, comentar e criticar as atividades dos agentes do poder, inclusivamente dos agentes institucionais (SOUSA, 1999). Do mesmo modo, são comuns as rotinas produtivas, o uso das novas WHFQRORJLDVHGHUHFXUVRVFRPRDLQIRJUD¿DLQWHUDWLYD
É notável que existe uma presença comum nos três jornais on line (objeto da pesquisa) de um gênero jornalístico que, ao ser maturado nos jornais impressos, desdobra-­se como um novo produ-­
WR&RPSDUWLOKDPGHXPDLQWHQomRGHPHOKRUDURÀX[RGHLQIRUPDomRIDFLOLWDUHVWDWUDQVPLVVmRDR
LQGLYtGXRGHIRUPDGLQkPLFDHDWUDHQWH3HUFHSWtYHOTXHDLQIRJUD¿DSURJUHGLXSDVVDQGRSRUIDVHV
evolutivas, até alcançar um estágio em que a audiência também participa no manejo desta tecno-­
ORJLDHPERUDHVWHMDOLPLWDGDDRFRQWH~GRVLPEyOLFReXPSURFHVVRHPTXHDLQIRJUD¿DSRVVLELOLWD
TXH R OHLWRUXVXiULR YDJXH SHOD HVWUXWXUD GR LQIRJUi¿FR FDPLQKR SUpHODERUDGR SHOR MRUQDOLVWD
REWHQKDLQIRUPDo}HVVHPGLUHWDPHQWHDJLUVREUHHODV1RHQWDQWRD¿QDOLGDGHGDLQWHUDomRGDLQIR-­
JUD¿DRIHUWDGDSRUHVWHVMRUQDLVHVWiPDLVHPSURSRUFLRQDUXPDPHOKRUH[SHULrQFLDSDUDRXVXiULR
minimizando seu esforço e tempo na leitura da imagem. Diante da sua utilização recorrente, faz-­se necessário compreender como processa-­se a pro-­
GXomRGDLQIRJUD¿DQHVWHVYHtFXORVWDQWRVREDVSHFWRVIXQFLRQDLVTXDQWRMRUQDOtVWLFRV)XQFLRQDLV
no que concerne ao recurso de interatividade e de multimidialidade, na medida em que “es el género que mejor aprovecha las posibilidades hipertextuales y multimedia que ofrece la red” (SALAVER-­
RIA e CORES 2005, p.154-­155 apud TEIXEIRA, 2007, p.6). Jornalístico ao referir-­se aos critérios de relevância e noticiabilidade, que baseiam-­se na resposta da seguinte pergunta formulada por Wolf S³TXDLVFULWpULRVVmRFRQVLGHUDGRVVX¿FLHQWHPHQWHLQWHUHVVDQWHVVLJQL¿FDWLYRVUHOH-­
vantes, para serem transformados em notícias?” 3RULVVRDRREVHUYDUSURGXo}HVLQIRJUi¿FDVGRVWUrVSHULyGLFRVODWLQRDPHULFDQRVQRSHUt-­
RGRGHMXOKRDRXWXEURGHREMHWLYDVHFRPSUHHQGHUFRPRFRPSRUWDVHDLQIRJUD¿DLQWHUDWLYD
na região: com que ênfase seu recurso é utilizado (como, por exemplo, que editorias são mais privi-­
OHJLDGDVHFRPRFRQ¿JXUDVHQDLQWHUIDFHGHMRUQDLVWUDGLFLRQDLVQRVXSRUWHweb (ao fazer uso de ferramentas interacionais).
Sousa e Lima (2005, p.3) mencionam que o jornalismo é histórica e, essencialmente, uma representação “discursiva e selectiva da vida, que, como todos os discursos sobre a realidade, mos-­
WUDHYLGHQFLDHIRFDOL]DQDPHVPDPHGLGDTXHRFXOWD´$VVLPDLQIRJUD¿DWHPVLGRWHVWHPXQKDGD
acomodação dos diários impressos aos avanços da tecnologia e acompanhado as mudanças no jor-­
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nalismo, na medida em que a televisão conquistava uma parcela cada vez maior da audiência, com LPSDFWRGLUHWRQRVMRUQDLVLPSUHVVRV$rQIDVHGRXVRGRVLQIRJUi¿FRVSDVVRXDVHUPDLRU&RPR
exemplo no Ocidente, o 86$7RGD\dinamizou a transmissão de dados informativos com a utiliza-­
omRPDVVLYDGRVLQIRJUi¿FRVQDGpFDGDGH&DLURSGHIHQGHTXHRSHULyGLFRLQFOLQDYD
VHDRSHU¿OGROHLWRURFXSDGRFRPSHTXHQDGLVSRVLomRGHOHUMRUQDLVHTXH³HVWDYDPXLWRDFRVWXPD-­
dos a obter suas notícias pela televisão”. O paradigma de diário pós-­televisivo, apontado por Cairo (2008) e desenvolvido pelo 86$
Today, apoiava-­se na informação visual com propósito de apreender o leitor. Pablos (1999 apud SCHMITT, 2006, p.38) explica que o cenário marcava-­se por “perda continuada de leitores, a incor-­
poração nula de jovens e a presença de uma TV cada dia mais universal, em uma sociedade cada vez mais global”. Hoje, nota-­se a presença do diário na plataforma webUHFRUUHQGRDLQIRJUi¿FRVHP
um processo social que assemelha-­se ao enfrentamento com a TV.
$RREVHUYDUHVWDWUDMHWyULDHQWHQGHVHTXHRVXUJLPHQWRGDLQIRJUD¿DMRUQDOtVWLFDSRUVLVyp
sintomático no que se refere ao funcionamento dos diários impressos e, agora na internet, e torna-­se mais comum também no cotidiano da vida social, o que instiga a investigação acerca deste tema. Os LQIRJUi¿FRVDSUHVHQWDPVHFRPRPpWRGRH¿FLHQWHGHWUDQVPLVVmRGDLQIRUPDomRGHYLGRDRSRGHU
de sua linguagem, a visual. Outro aspecto que contribui para o desenvolvimento desta pesquisa baseia-­se na concepção GHTXHRVHVWXGRVVREUHLQIRJUD¿DHVWiWLFDHLQWHUDWLYDQRPXQGRVmRUHFHQWHVHQR%UDVLOQmRKi
DLQGDOLYURVHVSHFt¿FRVDFHUFDGHVWHWHPDFRQVLGHUDGRFRPSOH[RQRFDPSRGDFRPXQLFDomR6REUH-­
WXGRQRXQLYHUVRODWLQRDPHULFDQR3RUHVWDUD]mRID]VHQHFHVViULRUHFRUUHUjELEOLRJUD¿DGHDXWR-­
UHVHVWUDQJHLURVHPVXDPDLRUSDUWHRULXQGDGD(VSDQKDRQGHDSHVTXLVDGDLQIRJUD¿DHQFRQWUDVH
mais adiantada. A Escolha Do Objeto
$ HVFROKD GR REMHWR GHYHVH HP SDUWH jV QRVVDV D¿QLGDGHV FRP RV HVWXGRV GH LQIRJUD¿D
principalmente porque um dos autores do trabalho participou da implantação do departamento de LQIRJUD¿DQRGLiULRUHJLRQDOGDFLGDGHGH0RVVRUy51Jornal de Fato. Os três diários (2(VWDGRGH63DXOR(O1DFLRQDOH(O8QLYHUVDO) a serem pesquisados estão entre os principais em suas regiões e são detentores de prestígio na América Latina. Os referidos jor-­
QDLVIRUDPHVFROKLGRVWDPEpPSRUXWLOL]DUHPDIHUUDPHQWDLQIRJUi¿FDQDWUDQVPLVVmRGHQRWtFLDVQD
LQWHUQHWRTXHOHYDjKLSyWHVHGHXPSHU¿OGHOHLWRUPXLWRVHPHOKDQWHRXFRPLGHQWLGDGHVFRPXQV
na América do Sul e América Central (embora a recepção não seja a intenção proposta para a pes-­
quisa). &RPRDSURGXomRGHLQIRJUi¿FRVSHORVWUrVSHULyGLFRVpYDVWDHUHFRUUHQWHpLPSRUWDQWHGH-­
limitar um espaço temporal como fundamento para a investigação. Por esta razão, a proposta da pesquisa é estudar a produção destes jornais on line em três meses, entre julho e outubro de 2010, período que congrega peças necessárias para esta abordagem.
Para a execução desta pesquisa, serão observados aspectos históricos e teóricos da infogra-­
¿DSUDWLFDGDQRMRUQDOLVPR2PRGHORFRPRFRQKHFLGRKRMHXWLOL]DGRQRVYHtFXORVGHFRPXQLFD-­
ção impressos e, em seguida, nos jornais digitais, começou a ser praticado por jornais americanos e HXURSHXVQRVpFXOR;9,,52'5,*8(6S2VSULPHLURVUHJLVWURVLQIRJUi¿FRVWUDWDYDP
GHPDSDVSURGX]LGRVSRUDQ{QLPRVHTXHDSUHVHQWDYDPGH¿FLrQFLDVTXDQWRjVDSOLFDo}HVWpFQLFDV
HDRFRQKHFLPHQWRGHFDUWRJUD¿D&$,52S&DLURDSRQWDRH[HPSORGRPDSD
publicado em 1702 no jornal Daily Courant, tido como o primeiro periódico diário, que apresenta a estratégia de invasão da “baía de Cádiz por parte das tropas britânicas” (¿J). A publicação deste PDSDQmRVHFDUDFWHUL]DYDjpSRFDFRPRLQIRJUD¿DPDVDSUiWLFDUHFHEHXRQRPHGH“Pictorial Jour-­
nalism”, segundo o autor, denominado por Hodgson (1977, p.50) para designar “o uso do desenho para acompanhar e ilustrar notícias”. Por isso, é necessário remeter-­se a produções acadêmicas que investigaram esta ferramenta dentro do jornalismo, como os estudos do espanhol Alberto Cairo, que avançou na pesquisa da in-­
IRJUD¿DVREDSHUVSHFWLYDGDYLVXDOL]DomRLQWHUDWLYDGDLQIRUPDomR'HVHPHOKDQWHPRGR3HOW]HU
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9DOHUR6DQFKRH/HWXULDTXHGHGLFDUDPVHjDYDOLDURSRWHQFLDOIXQFLRQDOGRLQIRJUi¿FRQRVGLiULRV
tradicionais. (VWHVDXWRUHVDSRQWDPDLQIRJUD¿DFRPPXOWLSOLFLGDGHGHIXQo}HVHDSUHVHQWDo}HVQRMRUQD-­
lismo. De Pablos (1999 apud TEIXEIRA 2007, p.113) cita que os elementos constitutivos da infogra-­
¿DVmRWtWXORWH[WRGHHQWUDGDLQGLFDomRGDVIRQWHVHDVVLQDWXUD7HL[HLUDSREVHUYDDWp
PHVPRDDPSOLWXGHQDFRQVWLWXLomRGHVWHVHOHPHQWRVTXDQGRSRUH[HPSORDLQIRJUD¿DVHDSRGHUD
da linguagem das estórias em quadrinhos, como o uso das setas e balões. “Isto é possível porque se recorre a um repertório sociocultural de imagens que permeiam o nosso imaginário”. E tais elemen-­
WRVWHQGHUDPDH[SDQGLUVHFRPRXVRGDVQRYDVWHFQRORJLDVHDPLJUDomRGRLQIRJUi¿FRSDUDRMRU-­
nalismo digital.
Fotos, ilustrações, desenhos ou mapas manifestam-­se, do mesmo modo, como compostos GRVLQIRJUi¿FRVDVVLPFRPRYtGHRiXGLRHDQLPDo}HV2XWURVDLQGDSRGHPLQVHULUVHXPDYH]TXH
DWHQGDPjV¿QDOLGDGHVMRUQDOtVWLFDVGDLQIRJUD¿D³FRQVWUXLUXPDQDUUDWLYDVXVWHQWDGDQRELQ{PLR
imagem + texto e que seja capaz de evidenciar detalhes muitas vezes difíceis ou quase impossíveis de serem explicados através de uma narrativa jornalística textual convencional” (TEIXEIRA 2008, p.163). Por outro lado, Lima Júnior (2004, p.4) aponta “a forte atração visual” e os elementos que FRPELQDPVHQDIRUPDWDomRGRLQIRJUi¿FR,QIRJUi¿FRSDUDRDXWRUVmR³UHSRUWDJHQVYLVXDLV´-i
3HUHLUD-~QLRUSGH¿QHRVLQIRJUi¿FRVFRPR³XPDOLQJXDJHPJUi¿FDSOHQDHDXW{QR-­
ma”. Ante a tais apontamentos, é de deduzir-­se que um modelo “novo” na prática jornalística te-­
nha se expandindo por periódicos do mundo inteiro, sobretudo na América Latina. Relações Com A Disciplina De Teoria Do Jornalismo
Os autores mencionados dão sustentação à formulação da base teórica acerca dos estudos VREUHLQIRJUi¿FRVQRkPELWRGDGLVFLSOLQDGH7HRULDGR-RUQDOLVPRFRPRWDPEpPGDXWLOL]DomRGD
LQIRJUD¿DQDSUi[LVMRUQDOtVWLFD
$LQIRJUD¿DLQWHUDWLYDUHSUHVHQWDXPDQRYDSUiWLFDMRUQDOtVWLFDQDVRFLHGDGHFRQWHPSRUkQHD
necessitando de um amparo teórico que fundamenta o comportamento desta nova sociedade. É o FRQFHLWRGH³VRFLHGDGHPLGLDWL]DGD´GH6RGUpGH¿QLomRQDTXDORDXWRUH[S}HXPDDOWHUDomR
na mídia tradicional (ou “linear”, a exemplo da TV e do cinema) onde as imagens são representadas realisticamente (como a retórica da hipotipose -­ descrição pitoresca de um evento) para a audiência externa. Na nova mídia digital, o usuário pode inserir-­se nesta realidade, trocando a contemplação da representação pela participação direta. Uma relação constante de interatividade e também de atuação junto a quem produz a informação e outros que a consomem. Os estudos efetuados pelo espanhol Lorenzo Vilches (2001, p.13), observando o fenômeno da migração da audiência para os meios digitais, indicam uma nova ordem social. Esta nova ordem expressa-­se numa sociedade digital, que é, simultaneamente, território de desenvolvimento econômico e centro de comunicações. As enormes mudanças experimentadas com a transformação das empresas de informação em conglomerados multimidiáticos terão efeito no sistema de produção e nas audiências (VILCHES, 2001, p.13.). É essencial esclarecer que o nosso objeto de pesquisa, mais que um elemento novo no jorna-­
lismo é, de semelhante modo, híbrido que se apropria de diversas tradições e tendências do jorna-­
OLVPRUHFRQ¿JXUDQGRDVHPXPQRYRPHLR1HVVHVHQWLGRHFRPRIRUPDGHGDUVXVWHQWDomRWHyULFD
DRHVWXGRQRVVDVUHIHUrQFLDVELEOLRJUi¿FDVSDVVDPWDPEpPSHODVRFLRORJLDGDFRPXQLFDomRDSDU-­
tir de uma abordagem de Miguel de Moragas (1995), dos efeitos sociais do jornalismo com base em Jorge Pedro Sousa (1999) e da comunicação por Jesús Martin-­Barbero (1997), principalmente na América Latina (área de delimitação desta pesquisa) e as bases da Teoria do Jornalismo, especial-­
mente, as ideias defendidas por Mauro Wolf, Nelson Traquina e Marques de Melo terão um papel LPSRUWDQWHQDGH¿QLomRGRTXHFDUDFWHUL]DDSUiWLFDMRUQDOtVWLFDHRVFULWpULRVGHQRWLFLDELOLGDGH
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Sousa (2000) explica que os critérios de noticiabilidade foram inculcados na cultura jornalística a partir de uma matriz organizacional, social (englobando a expectativa do público e o mercado), ideológica, cultural e histórica, dependendo, igualmente, de factores pessoais, físicos e tecnológicos. Por isso, Sousa comunga da perspectiva de Ericson, Baranek e Chan (1987: 139-­ 140), segundo a qual os critérios de noticiabilidade contribuem para que o jornalista hierarquize os acontecimentos em função da sua importância, norteando o processo de selecção dos acontecimentos. No entanto, os critérios de noticiabilidade não são totalmente imperativos, pois há sempre um espaço para a acção pessoal do jornalista (SOUSA E LIMA, 2004, p.6).
&RPR FLWDGR DQWHULRUPHQWH VHOHFLRQDUHPRV LQIRJUi¿FRV SURGX]LGRV HQWUH MXOKR H RXWXEUR
GHTXHDWHQGDPDUHTXLVLWRVGDLQIRJUD¿DLQWHUDWLYDFRPRXVRGHUHFXUVRVTXHSRVVLELOLWHP
à audiência a manipulação e seu percurso nas informações ofertadas. Serão selecionadas, a partir dos três periódicos apontados para a análise, peças que representem acontecimentos domésticos, na hipótese de compreender a ação destes jornais na cobertura de eventos em seus países. Como por H[HPSORRLQIRJUi¿FRSXEOLFDGRQRMRUQDO(O8QLYHUVDO em setembro de 2010 sobre os 25 anos do terremoto no México, que utiliza vídeos, fotos, áudios, desenhos, reproduções do noticiário impres-­
so da época e até um fórum de discussão sobre o episódio, intitulado “Qué Recuerdas de Aquella Mañana”. A Opção Pela Análise De Conteúdo
Como método de análise, optamos pela Análise de Conteúdo, por fundamentar-­se na obser-­
YDomRGDVPHQVDJHQVFRPRRSomRSDUDDYDOLDUDVSRWHQFLDOLGDGHVGRVLQIRJUi¿FRVQHVWHVSHULyGLFRV
tanto sob aspectos funcionais quanto no campo da comunicação. Fonseca Júnior (2006, p.280) con-­
sidera que este método tem sido importante para compreender o âmbito comunicacional, citando a aplicação do método desde os trabalhos da mass comunication research até sua utilização e credi-­
bilidade nas pesquisas atuais. A história da comunicação não pode ser compreendida sem menção à Análise de Conteúdo, e, portanto, esta observação revela a força atemporal do método, ou seja, a FDSDFLGDGHGHVHUHLQYHQWDUGHDGDSWDUVHDRVGHVD¿RVHH[LJrQFLDVGHpSRFDVGLVWLQWDVHVXSHUDU
críticas através do aperfeiçoamento e criação de novas técnicas. A escolha da Análise de Conteúdo deve-­se também a alguns pontos vantajosos do método, como por exemplo, o fato de ser considerada, de acordo com Earl Barbie (1989 apud HERSCOVITZ, 2008, p. 124 apud )(51$1'(6S³XPGRVWUrVPpWRGRVOLYUHVGDLQÀXrQFLDGLUHWDGR
REMHWRGHHVWXGRLVVRVLJQL¿FDTXHDWUDYpVGD$&SRGHPRVDOFDQoDUUHVXOWDGRVPDLVSUy[LPRVGD
‘realidade’”. Fonseca Júnior (2008, p. 286) aponta outras vantagens comparadas com outros méto-­
dos: “As diferenças entre essas modalidades são que, apenas a análise de conteúdo cumpre com os requisitos de sistematicidade e FRQ¿DELOLGDGH´. Bardin (1988) aponta que a inferência é uma operação lógica da Análise de Conteúdo para extrair aspectos que sejam apresentados pelo elemento analisado. O analista trabalha com índices cuidadosamente postos em evidência, tirando partido do tratamento das mensagens que manipula para inferir (deduzir de maneira lógica) conhecimentos sobre o emissor ou sobre o destinatário da comunicação. Por meio da inferência procura-­se, por exemplo, adivinhar as intenções militares que estão por trás dos discursos de propaganda estrangeira ou por em evidência as avaliações (opiniões, tomadas de posições conscientes ou não) de um indivíduo, a partir de seus enunciados (BARDIN, 1988, p.40).
A pesquisa pretende, com este método considerado híbrido por Bauer (2002) não apenas limitar-­se a aspectos quantitativos, mas também qualitativos, fazendo uma ponte em relação à info-­
JUD¿DLQWHUDWLYDFRPDVQRYDVSUiWLFDVMRUQDOtVWLFDVQD$PpULFD/DWLQD2XVHMDRPpWRGRSRGHDWHV-­
tar mudanças nas organizações jornalísticas e as “mensagens da chamada nova mídia (internet, CD-­
ROM, livros eletrônicos, TV segmentada), que alteram algumas características centrais de massa WUDGLFLRQDODXQLGLUHFLRQDOLGDGHHDPDVVL¿FDomR´/,0$apud FONSECA JÚNIOR, 2008, p. $LQIRJUD¿DLQWHUDWLYDpXPDIRUPDGHOLQJXDJHPTXHFRQWHPSODXPDQRYDVRFLHGDGHDVVLP
como Lévi-­Strauss relacionou a cozinha, do ponto de vista culinário, como uma linguagem social. Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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&RPRIRUPDGHUHIHUrQFLDSDUDDDQiOLVHGRVLQIRJUi¿FRVLQWHUDWLYRVQD$PpULFD/DWLQDD
pesquisa vai considerar alguns pontos, como:
‡2VHOHPHQWRVEiVLFRVGDDQiOLVHDVHOHomRGHLQIRJUi¿FRVLQWHUDWLYRVSURGX]LGRVHQ-­
tre julho e outubro, nos jornais O Estado de S. Paulo, El Nacional e El Universal, considerando re-­
presentações de acontecimentos domésticos e funcionalidade multimídia proporcionada pelo am-­
biente web. ‡2FRQWH[WRRSHUtRGRGHOLPLWDGRPDQLIHVWDDSURGXomRPHOKRUPDWXUDGDGHLQIRJUi¿FRV
e marca acontecimentos importantes nos países onde os periódicos atuam, como eleições parlamen-­
tares (México e Venezuela), gerais (Brasil), Copa do Mundo e 25 anos do terremoto no México.
‡,PSRUWkQFLDGDGDSHORVYHtFXORVRVWUrVMRUQDLVRIHUHFHPFDQDLVHVSHFt¿FRVSDUDLQ-­
IRJUD¿DLQWHUDWLYDHPVHXVVtWLRVQDLQWHUQHW2(VWDGRGH63DXORGHQRPLQD³,QIRJUi¿FRV´RMRUQDO
(O8QLYHUVDO³*Ui¿FRV$QLPDGRV´HRMRUQDO(O1DFLRQDO³,QIRJUD¿D´
‡&ULWpULRVGHQRWLFLDELOLGDGH É importante citar que jornais analisados empreenderam critérios de noticiabilidade, fundamentados na Teoria do Jornalismo, para a execução, produção e YHLFXODomRGHVHXVLQIRJUi¿FRV7UDTXLQDGHVWDFDDH[LVWrQFLDGHYDORUHVQRWtFLDFRPRHOH-­
mentos dentro do acontecimento dignos de serem incluídos na elaboração da notícia. Os jornais po-­
GHPWHUHVWDEHOHFLGRQRVLQIRJUi¿FRVDOJXQVGHVVHVYDORUHVFRPRGUDPDWLFLGDGHRLPSDFWRTXHD
informação pode proporcionar na audiência), atualidade (o ingrediente factual da informação), en-­
volvimento (atingir o maior número de pessoas) e interesse (o que o público necessita saber). Considerações Finais
O desenvolvimento tecnológico tem propiciado mudanças notáveis no âmbito das institui-­
o}HVVRFLDLVPRGL¿FDQGRWDPEpPDVIRUPDVGHDWXDomRGRVPHLRVGHFRPXQLFDomRQDSURGXomRGH
conteúdo e sua relação com a sociedade. Estas mudanças perpassam por aspectos de amplitude de SODWDIRUPDVGHGLIXVmRDXGLrQFLDHVSHFLDOL]DGDLQÀXrQFLDQDVURWLQDVSURGXWLYDVFRPDLQVWDQWD-­
neidade das transmissões) e readaptação das linguagens. As práticas sociais, ante aos avanços da informática, caminham por explorar meios que ofereçam informações que cumpram a dicotomia dinamismo/aprofundamento. Este contexto social traduz-­se em mudanças nas práticas jornalísticas. Os diários impressos tradicionais, notadamente na América Latina, vêm convertendo-­se à necessidade de atender a uma DXGLrQFLDWHFQROyJLFD$OEDUQR]REVHUYDTXHDH[SHULPHQWDomRGDLPSUHQVDGHPRGL¿FDUVH
DQWHjVSUHVV}HVGDWHFQRORJLDVHGHVHQYROYHXFRPPDLRUrQIDVHGHVGHR¿QDOGRVDQRVGRVpFXOR
passado. São mudanças que afetaram diretamente o processo de produção, com o advento de im-­
pressoras rotativas off set, que reduziram tempo e custos econômicos no processo industrial, até a introdução de terminais de computadores nas redações. O quadro de progresso tecnológico afetou este meio, do mesmo modo, em relação à televisão HjLQWHUQHW$SyVWUrVGpFDGDVGHDYDQoRVGHVGHDPRGHUQL]DomRGRSDUTXHJUi¿FRGLiULRVLPSUHV-­
sos inserem-­se num novo panorama de produção jornalística, ao encontrarem “uma nova forma de chegar a seus leitores através de um produto informativo imaterial, alojado em um servidor, que se acessa ao conectar-­se à internet” (ALBARNOZ, 2009, p.47).
$LQIRJUD¿DDJUHJRXVHjSURGXomRMRUQDOtVWLFDQDPtGLDLPSUHVVDFRPRIHUUDPHQWDGHLQ-­
FUHPHQWRSDUDDWHQGHUDXPS~EOLFRFDGDYH]PDLVD¿QDGRFRPRVPHLRVHOHWU{QLFRVQHVWHFDVRD
televisão), alterando as práticas de feitura da notícia, potencializando sua informação estética. $JRUDFRPRUHFXUVRMRUQDOtVWLFRQRDPELHQWHGLJLWDODLQIRJUD¿DLQVHUHVHHPQRYDVSUiWLFDV
como instrumento da contemporaneidade, da sociedade tecnológica, que pressiona para uma cons-­
tante transformação das linguagens, das “formas de criação, geração, transmissão, conservação e percepção da informação”, como enuncia Plaza (1987, p.206 apud FERNANDES, 2001, p.98). Se-­
JXQGRDLQGDRDXWRURDSHORHVWpWLFRGRLQIRJUi¿FRLQWHUDWLYRWHPXPDIRUoDLQGLVSHQViYHOVREUHWX-­
do com a difusão das mídias eletrônicas. Por conta da abundância de informações nos mais variados meios exige-­se também uma maior postura de dinamismo da informação e até mesmo estética, caso RREMHWLYRVHMDDOFDQoDUPDLRUDXGLrQFLD$LQIRUPDomRRIHUWDGDQHFHVVLWDGHPDWXUDomRVX¿FLHQWH
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SDUDDSUHVHQWDUVHDGHTXDGDHH¿FLHQWHDXPOHLWRUVREUHFDUUHJDGRGHQRWtFLDV
2DWXDOFHQiULRUHÀHWHRFRPSRUWDPHQWRGHXPDVRFLHGDGHQRYDDVRFLHGDGHGLJLWDOHFRPR
apontado por Vilches (2001, p. 10), composta por emigrantes de uma nova economia criada pelas tecnologias do conhecimento. Esta sociedade em rede estabelece ocupação de novos campos, no âm-­
bito social, cada vez mais variados no ciberespaço. Comporta-­se como num movimento constante de produtores e consumidores “em direção de novas formas de comércio e de transações”. O autor menciona que, em todos os campos – do econômico ao do entretenimento –, a vida social de migra-­
ção digital é comparada a uma nova ordem social. E neste contexto inclui-­se o papel da mídia e dos meios de comunicação. Mais que investigar respostas para o conteúdo simbólico gerado pela mídia, é preciso enten-­
der a presença cotidiana da mídia na sociedade. Uma sociedade intrinsecamente ligada com os ins-­
trumentos midiáticos, de uma conexão para outra. Do rádio para a internet, da internet para a tele-­
visão, da televisão para o telefone, do telefone para o jornal. A mídia opera neste espaço, através destas conexões, no “mundo mundano” como citado por 6LOYHUVWRQH$PtGLDREVHUYDDUHDOLGDGHGDYLGDFRWLGLDQDD¿OWUDHVWDEHOHFHQGRFULWpULRV
UHIHUrQFLDV UHSUHVHQWDo}HV H VLJQL¿FDo}HV 2X VHMD D PtGLD EDVHLDVH QR FRWLGLDQR QR VHQVR FR-­
mum. Este panorama revela uma mídia dinâmica, adaptada às evoluções sociais (até porque não há FRPRGLVVRFLDUVHGLVVRRIHUHFHQGRUHFXUVRVHIHUUDPHQWDVFRPRQRFDVRHVSHFt¿FRGDLQIRJUD¿D
que facilitem a conexão do indivíduo com o conteúdo midiático. $LQIRJUD¿DURPSHFRPDRUWRGR[LDGDPHUDOLQJXDJHPQRWLFLRVDWH[WXDOREVHUYDGDHPMRU-­
nais impressos e transposta para o meio digital, convertendo o periódico a um padrão mais visual, claro, direto, o que evidencia novas práticas jornalísticas na sociedade na era tecnológica e na nova ordem social. E insere-­se no contexto das chamadas neotecnologias2, apropriadas pelo jornalismo, e de um mundo novo que expõe uma nova representação, como aponta Sodré (2002, p.17), de “coisas reapresentadas a partir de um tempo vivo ou real”. Esta representação domina a atual sociedade da LQIRUPDomRRQGHRVLQIRJUi¿FRVFDEHPFRPRHOHPHQWRLPDJpWLFRGHVLPEROL]DomRGHXPDUHDOLGDGH
dada, a partir da imagem, de elementos icônicos, numa sociedade de dominação digital. &RPDUHDOL]DomRGHVVDSHVTXLVDSUHWHQGHPRVFRQWULEXLUFRPDVUHÀH[}HVWHyULFRPHWRGROyJL-­
FDVDFHUFDGDXWLOL]DomRGDLQIRJUD¿DHVXDLQÀXrQFLDQRSURFHVVRGHSURGXomRMRUQDOtVWLFD 2 Termo utilizado por Sodré (2002, p.16) em que relaciona as neotecnologias da informação com a instantaneidade e com o espaço virtual, DDPELrQFLDDUWL¿FLDOHLQWHUDWLYD
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GT5 - Jornalismo Alternativo
Jornais plurais?
A identidade dos veículos jornalísticos em tempos desafiadores
Bruno Souza Leal1
Universidade Federal de Minas Gerais
Resumo
O artigo retoma a discussão do veículo jornalístico como “sujeito semiótico” a partir de dados ex-­
traídos das pesquisas “Mídia e homofobia” (2008) e “Jornalismo e Homofobia” (2009/2010) H GRV GHVD¿RV LPSRVWRV SHOD DJHQGD SROtWLFD FRQWHPSRUkQHD 7HQVLRQDGRV SRU HVVHV GHVD¿RV
o artigo examina a hipótese dos veículos jornalísticos terem sua identidade “fraturada”, para o que contribuem agentes jornalísticos diversos como as assessorias de imprensa e os colunistas. Introdução
A expressão “sujeito semiótico” foi cunhada por Eric Landowski (1992) ao observar que um veículo jornalístico é um agente social cuja existência se dá a partir de signos materializados num suporte – impresso, eletrônico, etc. Assim, a expressão designa tanto o fato dos veículos jornalísticos deterem identidade, serem atores no cotidiano, na relação com suas fontes e seus receptores e com outras instituições sociais, como também a natureza dessa existência e de sua ação. Ao contrário dos seres humanos, os veículos jornalísticos não tem outra realidade que não a da cultura e da lingua-­
gem.
É curioso observar, nesse sentido, que já em Landowski esse “sujeito semiótico” nasce cliva-­
do, na superposição de duas instâncias: o do tempo contado das narrativas e o tempo da enunciação e da recepção, ou seja, do seu discurso. Assim, diz Landowski, ao analisar jornais impressos, que es-­
sas duas “temporalidades”, a episodicidade das narrativas e a periodicidade do discurso, geram duas expectativas, uma de natureza sintagmática, relacionada a um “programa narrativo virtual” e outra, paradigmática, ligada ao seu advento regular e sistemático. $VUHÀH[}HVTXHVHVHJXHPWHQWDPDSUHHQGHUDVUHODo}HVTXHHQYROYHPHVVH³VXMHLWRVHPLy-­
tico”, desenvolvendo uma discussão acerca da “voz” e da identidade do veículo jornalístico. A par-­
tir do que diz Landowski, pode-­se perguntar: se um veículo jornalístico é sujeito, capaz de gerar, ou pelo menos modular discursos, como apreender sua voz? Certamente, isso não se dá apenas no âmbito restrito de um grupo de notícias acerca de um tema ou acontecimento, acompanhado por FHUWRSHUtRGRSRLVQHVVHFDVRUHJLVWUDUVHLDPSRVLo}HVHVSHFt¿FDVSRQWXDLVORFDOL]DGDV$TXHV-­
tão em torno da “voz” do veículo jornalístico remete, então, a uma instância de enunciação global, periódica, que se manifestaria para além das notícias. Assim, o problema da caracterização da “voz” GRYHtFXORSHUPDQHFH$¿QDO³VHYR]LPSOLFDXPOXJDUGLVFXUVLYRLQHYLWDYHOPHQWHVRFLDOHLGHRORJL-­
camente marcado, seria preciso, então, ver que lugar é esse que o veículo propõe a si, com quem ele fala e porque” (LEAL, 2009, p.121). $RUHÀHWLUVREUHRMRUQDOFRPRVXMHLWR0DULD%HWkQLD0RXUDREVHUYDTXHPHVPRRV
GRLVQtYHLVLGHQWL¿FDGRVSRU/DQGRZVNLFRPSRUWDPGLIHUHQoDVHDPELJLGDGHVQHPDVQRWtFLDVGH
uma edição qualquer, por exemplo, formam um conjunto homogêneo, nem esse discurso maior, en-­
globante, seria uniforme e sem contradições. Para a pesquisadora, todo veículo jornalístico é uma “forma” que se abre à experiência do receptor, ou seja, necessita ser posta em ato por um sujeito de carne-­e-­osso para que adquira vida e substância. Por um lado, essa “forma em ato” se desenvolve na articulação dos elementos verbo-­visuais, no caso exemplar de um jornal impresso, que compõem 1 &RODERUDUDPSDUDHVWHDUWLJRRVDOXQRVGRFXUVRGH&RPXQLFDomRGD8)0*HP,QLFLDomR&LHQWt¿FD%iUEDUD3DQVDUGL6DPXHO$QGUDGH
Felipe Borges, Prussiana Fernandes, Débora Amaral e Phellipy Jácome, além dos pesquisadores integrantes das pesquisas Mídia e Homofobia e Jornalismo e Homofobia
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“unidades informativas” distribuídas em e ao longo de páginas e cadernos. Essas unidades informa-­
tivas, como lugares de experiência, conjugam dimensões materiais, semânticas, pragmáticas e esté-­
ticas e não são estáveis, pois dependem dos processos interacionais que envolvem as predisposições, RVUHSHUWyULRVHRVFRQWH[WRVGHFDGDUHFHSWRU2XVHMDDTXLORTXHVHFRQ¿JXUDFRPR³XQLGDGHLQIRU-­
mativa”, QXPYHtFXORSDUDXPUHFHSWRUQmRQHFHVVDULDPHQWHVHUiRPHVPRSDUDRXWUR
Com isso, nem o “nível narrativo” nem o “nível discursivo”, para retomarmos os níveis de Landowski, se apresentam do mesmo modo para todos os leitores, na sua interação esporádica ou cotidiana com um veículo. A importância do conceito de “unidade informativa” para Moura advém da necessidade de se evitar determinismos e hierarquias na relação aberta entre o sujeito semiótico “jornal” e um indivíduo de carne-­e-­osso. Ainda que um veículo preveja posições de recepção, lugares de ancoragem para seus receptores, não há nenhuma garantia de que o receptor vá reconhecê-­los, REHGHFrORVUHVSHLWiORVRXDLQGDTXHQmRYiFULDUVHXVSUySULRVPDUFDGRUHV$DSDUHQWHÀXLGH]
da “unidade informativa”, portanto, busca responder conceitual e metodologicamente à natureza do processo comunicacional que envolve sujeitos (semiótico e de carne-­e-­osso) em ação e que contribui SDUDDGH¿QLomRGDLGHQWLGDGHGHFDGDXP
Por outro lado, a perspectiva adotada por Moura transfere, para os veículos jornalísticos, a complexidade das relações identitárias, conforme apreendidas pelas ciências humanas. Com isso, supera-­se tanto a tradição de se apreender a identidade dos veículos através da linha editorial quan-­
to uma suposta estabilidade das relações entre os veículos e os demais sujeitos sociais. Como sujeito semiótico, um veículo jornalístico tem sua complexidade reduzida quando apreendido apenas pelo GLVFXUVRTXHGHVHQYROYHVREUHVLDGH¿QLomRGHVXD³OLQKDHGLWRULDO´±RXTXDQGRVHGHVFRQVLGHUD
que ele emerge e reemerge periodicamente aos olhos e ouvidos dos receptores, num processo alta-­
PHQWHSHUIRUPDWLYRQRTXDOFDGDUHFHSWRUpGHFLVLYRSDUDDTXDOLGDGHHDH¿FiFLDGDLQWHUDomR1HV-­
sa perspectiva, todo veículo jornalístico é plural, pois comporta níveis e dimensões de experiência variados. O reconhecimento da complexidade e da performatividade da identidade de um veículo MRUQDOtVWLFRSRUpPQmRLPSHGHTXHVHYHUL¿TXHUHFRUUrQFLDVHWUDoRVUHODWLYDPHQWHSHUPDQHQWHV
que não constituem uma unicidade – uma identidade permanente, estável ou essencial -­ mas reve-­
lam posições, assumidas por certo período de tempo, em meio às redes discursivas que perpassam acontecimentos e campos problemáticos.
Se a “fala” jornalística é inevitavelmente social, de segunda mão (FRANÇA, 1999), que agen-­
tes seriam esses capazes de tornar possíveis essas posições? À resposta inicial, encontrada tradi-­
cionalmente nos manuais de jornalismo – ou seja, as fontes – contrapõem-­se os dados disponibi-­
lizados pelas pesquisas “Mídia e Homofobia” (Ministério da Saúde/Fapemig, 2008) e “Jornalismo H+RPRIRELD´&13T)DSHPLJHTXHSURSXVHUDPUHJLVWUDUHUHÀHWLUVREUHRVPRGRV
como alguns dos principais veículos jornalísticos brasileiros lidavam com o “campo problemático” (QUÉRÉ, 2005;; LEAL E CARVALHO, 2009) da homofobia2. Termo marcado por ambiguidades, a “homofobia” designa, num primeiro momento, o ódio ou a aversão à homossexualidade e às sexu-­
alidades não-­hegemônicas. Exatamente por isso, constitui um elemento fundamental nas relações de gênero típicas das sociedades ocidentais, atuando como elemento normativo, que estabelece e regula o limite entre o aceitável e o não-­aceitável e as performances dos indivíduos. Nesse nível, a homofobia não teria como alvo apenas os LGBTs (ainda que estes sejam os mais visíveis), mas tam-­
bém todos os indivíduos na vivência e construção de suas identidades de gênero (BORILLO, 2010). Não é de estranhar, portanto, que a homofobia, em ambos os níveis indicados acima, seja elemento importante e inevitável da agenda política contemporânea.
Uma das premissas que orientaram a pesquisa foi a de que campos problemáticos, marcados SRUWHQV}HVHFRPSOH[LGDGHVFRPRDKRPRIRELDGHVD¿DYDPRPRGRGHIDODUGRMRUQDOLVPRXPD
vez que exigiam seu posicionamento numa rede discursiva controversa, politicamente instável, em que não haveria posição confortável ou consensual. Por um período de seis meses, coincidente com as datas principais da agenda política de promoção da visibilidade dos LGBTs, como o dia mundial de combate à homofobia, e as principais paradas de orgulho, fez-­se o registro do que foi veiculado 2 A pesquisa Mídia e Homofobia analisou os jornais Folha de S.Paulo, O Globo e O Tempo, a revista Veja e os telejornais 0*79ž(G e Jornal Nacional. A pesquisa Jornalismo e Homofobia compreendeu a Folha..., O Globo e o Jornal Nacional e ainda as revistas Veja e Época e o telejornal Jornal Hoje.
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sobre o tema, em seis veículos. A partir de uma plataforma metodológica que combinava análise de conteúdo e análise narrativa, compôs-­se, então, um banco de dados com mais de 5 mil textos, entre artigos, notícias, charges, etc.
Nesse processo, deparou-­se com veículos jornalísticos se não “fraturados”, certamente plu-­
rais. Seus diferentes espaços – seções, editoriais, blocos, temas, etc – não produziram uma imagem convergente acerca da homofobia e das questões LGBT. Ao contrário. Tanto quando se considera um veículo ao longo do tempo ou mesmo quando ele é visto no âmbito restrito de uma única edi-­
ção, sua “voz” surgiu como diversa, se não contraditória. Um dos elementos fundamentais para essa “pluralidade” foi a ação de agentes internos aos veículos, capazes de, em diferentes momentos, ten-­
VLRQDUHPRXGLUHFLRQDUHPSRVLo}HVSHUVSHFWLYDVHROKDUHV1RFDVRHVSHFt¿FRGDKRPRIRELDYHUL¿-­
cou-­se, ao longo da pesquisa, que não se pode reduzir a posição dos veículos analisados a dicotomias como “contra/favorável” e com isso estabilizando sua posição na rede de discursos e agentes sociais. &RQ¿UPDVHDRFRQWUiULRRSUHVVXSRVWRLQLFLDOGHTXHDKRPRIRELDGHVD¿DRMRUQDOLVPREUDVLOHLUR
que não apenas não encontra uma posição confortável nas tensões que marcam esse campo proble-­
PiWLFRFRPRGHL[DYHUDSDUWLUGHVVDGL¿FXOGDGHFHUWRVDVSHFWRVLPSRUWDQWHVGRVYHtFXORVFRPR
atores sociais. Cada um dos “sujeitos semióticos” analisados assumiu posições cambiantes ao sabor GRVDFRQWHFLPHQWRVHGDVVXDV¿VVXUDVLQWHUQDV'HPRGRJHUDORVWUDoRVTXHPDLVUHVVDOWDUDPD
FRPSOH[DUHGHGHUHODo}HVTXHFRQ¿JXUDDVLGHQWLGDGHVGRVYHtFXORVMRUQDOtVWLFRVHQYROYHPGLPHQ-­
V}HVVLJQL¿FDWLYDVGHVVDSOXUDOLGDGHDUHODomRFRPDVIRQWHVHDFRQVWUXomRGDSROLIRQLDHRSDSHOGH
agentes jornalísticos, dotados de capacidade própria de ação, como os colunistas e as assessorias de imprensa.
a) As fontes e a polifonia
Nos manuais de jornalismo, a caracterização das fontes é frequentemente apresentada atra-­
YpVGHFODVVL¿FDo}HV$VVLPDVIRQWHVVXUJHPRUDFRPR³SULPiULDV´RX³VHFXQGiULDV´RUDGLVWULEX-­
tGDVHQWUH³LQVWLWXFLRQDLV´³HVSHFLDOL]DGDV´HWF$SHVDUGRFDUiWHUGLGiWLFRWDLVFODVVL¿FDo}HVED-­
seiam-­se, como observa Erik Neveu (2006), na imagem questionável produzida pelo próprio termo “fonte”, que sugere que a informação seria um produto “naturalmente disponível”. Além disso, toda “fonte” é “passiva” e aberta à ação do jornalista, que seria então o agente, o produtor, da notícia. Essa imagem ideal certamente não corresponde ao cenário das sociedades midiatizadas de hoje, em TXHDV³IRQWHV´VmRDOWDPHQWHSUR¿VVLRQDOL]DGDVHDWLYDVHPTXHXPVHPQ~PHURGHDVVHVVRUHVGH
imprensa, relações públicas, consultores, etc, atuam de modo a produzir informação de modo mais palatável ao “consumo” dos jornalistas. Como lembra Nevéu, diversos atores sociais desenvolvem diferentes estratégias de agenciamento de jornalistas, seja via construção de proximidade, promo-­
ção de acontecimentos, de modos peculiares de ocupação do espaço público mediático, etc.
2XWUDSHUFHSomRUHFRUUHQWHGL]UHVSHLWRjQRomRGH³GH¿QLGRUHVSULPiULRV´SRVWDHPFHQD
por Hall(2003) e que se refere ao peso que as “fontes” institucionais (governo, grandes empresas) WHULDPQDGH¿QLomRGRTXHpRXQmRQRWtFLDHQRPRGRFRPRHODpFRQ¿JXUDGD1HVVHFDVROHPEUH
1HYpXDSHVDUGDLPSRUWkQFLDGDVIRQWHVLQVWLWXFLRQDLVHPHVPRGDQRomRGH³GH¿QLGRUSULPiULR´p
SUHFLVRHYLWDUXPDFRQFHSomRLPyYHORXHVWiYHOGHVVDVUHODo}HV8PGH¿QLGRUSULPiULRPHQRVTXH
XPDIRQWHHVSHFt¿FDFRQVWLWXLUVHLDQXPDHVSpFLHGHSRVLomRQRSURFHVVRGHSURGXomRGDQRWtFLD
passível de ser ocupada por diferentes agentes, incluindo-­se aí os próprios jornalistas. Se, por um lado, portanto, a imagem de “fonte” precisa ser vista com cuidado, por outro isso implica na atenção aos diversos processos envolvidos na produção das narrativas e discursos jornalísticos, que se cons-­
tituem a partir de falas de outros agentes sociais. No jogo de interesses que envolve essa relação, tanto esses agentes pressionam e/ou buscam seduzir os veículos jornalísticos quanto esses julgam, hierarquizam, silenciam e/ou dão visibilidade a falas e ações, num processo de negociação bastante complexo.
1HVVH VHQWLGR FKDPD D DWHQomR R GDGR JHUDO REWLGR QDV SHVTXLVDV TXH YHUL¿FDUDP TXH D
maior parte das notícias sobre homofobia e/ou realidades LGBT apresentou como protagonistas agentes culturais ou personalidades públicas, ou seja, “celebridades”. Duas relações se impõem aqui: primeiro, a observação de que esses agentes detectados são personagens narrativos, ou seja, aque-­
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ODV¿JXUDVGDDomRFRQ¿JXUDGDVQDVQRWtFLDVVHJXQGRTXHHVVHVDJHQWHVQmRVmRQHFHVVDULDPHQWH
a imagem textual das fontes consultadas. Uma vez que boa parte do material coletado dizia respeito DWH[WRVVREUHDYLGDSULYDGDHGHFODUDo}HVGH³SHUVRQDOLGDGHV´RXD¿OPHVSHoDVGHWHDWURHVSH-­
táculos musicais, etc, é importante observar que tais informações geralmente chegam às redações através do trabalho de assessores de imprensa. Nesses casos, portanto, as fontes geralmente foram press-­releases ou entrevistas planejadas pelos divulgadores dos produtos ou eventos culturais. Os próprios jornalistas, aliás, constituem uma espécie de fonte “privilegiada” nessas situações, seja pe-­
ORV³ÀDJUDQWHV´DFHUFDGDYLGDSULYDGDGHXPDFHOHEULGDGHVHMDVXDSUHVHQoDQDVDODGHFLQHPDQR
evento cultural, etc. Já em outras seções, como aquelas destinadas às chamadas hard newsYHUL¿FDVHDSUHVHQoD
constante de agentes institucionais, como órgãos e membros do Executivo, do Judiciário e do Legis-­
lativo. Nesse caso, aparentemente, a importância dos assessores de imprensa seria minimizada. Po-­
rém, muito do que se cobriu acerca da homofobia e das realidades LGBT partiu da iniciativa – como campanhas, declarações e projetos institucionais – desses agentes sociais, sempre interessados na repercussão midiática de suas ações, ou seja, também tiveram suas relações com os jornalistas me-­
diadas pelos assessores. Nessa clivagem entre fonte e personagem, detectou-­se que dois agentes so-­
ciais tiveram alguma peculiaridade em sua presença nos veículos jornalísticos. Os “especialistas”, como pesquisadores, médicos e professores universitários, a não ser em matérias acerca do campo FLHQWt¿FRRXGDVD~GHUDUDPHQWHGHVHPSHQKDUDPRSDSHOGH³GH¿QLGRUSULPiULR´4XDVHVHPSUH
VXUJLUDPQRVWH[WRVFRPRFRPHQWDGRUHVFRPRVXMHLWRVDXWRUL]DGRVTXHUDWL¿FDPH[SOLFDPRXDP-­
pliam o tema tratado e sua abordagem. Por outro lado, os agentes sociais engajados na luta pelos di-­
reitos LGBT e no combate à homofobia que não eram diretamente ligados ao Estado – como ONGs -­ foram pouco freqüentes nos textos coletados. Pouquíssimas vezes – como na divulgação dos acer-­
ca do número de crimes homofóbicos no país, promovida pelo Grupo Gay da Bahia – puderam ser LGHQWL¿FDGRVFRPR³GH¿QLGRUHVSULPiULRV´VXUJLQGRTXDVHVHPSUHFRPR³DRXWUDYR]´FRPRou-­
tros comentadores dos assuntos tratados.
(PWRGRVRVFDVRVDSUHVHQoDGHVVHVGLYHUVRVSHUVRQDJHQVHGHVVDVGLIHUHQWHVIRQWHV±FRQ¿-­
guradas ou não pelas assessorias de imprensa – não fez gerar notícias polifônicas, em que as diversas vozes envolvidas no acontecimento ou tema estivessem presentes. “Voz”, segundo Mikhail Bakhtin (1998), incorpora a percepção da diversidade social da linguagem, que se manifesta, por exemplo, QRVIDODUHVSUR¿VVLRQDLVHQRVJrQHURVGLVFXUVLYRVHPFLUFXODomR1HVVHVHQWLGRXPD³YR]´pVHPSUH
ideológica e vinculada a um lugar social, não sendo possível, então, de ser “possuída” ou limitada a um indivíduo. O princípio dialógico que rege o funcionamento da linguagem, para Bakhtin, torna qualquer fala individual um espaço de encontro de vozes sociais, assim como faz ver que qualquer discurso se estrutura sobre outros discursos. Nos seus estudos sobre a obra de Dostoievski, Bakhtin GHPRQVWUDFRPGHVHQYROWXUDFRPRSHUVRQDJHQV¿FFLRQDLVVHUYLUDPSDUDRUHJLVWURGHYR]HVVRFLDLV
HVSHFt¿FDVHFRPRRQDUUDGRUDWXDQDVXDRUTXHVWUDomR&RPLVVRXPURPDQFHSRGHVHUSROLI{QLFR
quando essas vozes, essas diferentes consciências sociais, se fazem presentes em sua narrativa. No pólo oposto, um gesto autoritário implicaria o apagamento ou silenciamento das vozes em favor do ponto de vista defendido pelo narrador ou por um personagem. Uma vez que a voz é algo que não se confunde com uma fala individual, a presença de diversos personagens numa notícia não garante necessariamente sua polifonia. Ao contrário: pode constituir-­se como uma estratégia de autentica-­
ção, de legitimação do enquadramento adotado, que reverberaria em todas as falas individuais.
É exatamente essa a estratégia detectada na maioria dos textos recolhidos nas pesquisas. 'LDQWHGDFRPSOH[LGDGHTXHHQYROYHDKRPRIRELDRVYHtFXORVJHUDOPHQWHGH¿QLUDPXPSRQWRGH
vista geral para os acontecimentos narrados e que constituiu as linhas narrativas das notícias. Com isso, todas as personagens que surgiram nos textos, como celebridades, ministros de Estado, pes-­
quisadores ou pessoas anônimas, ocuparam posições previamente estabelecidas, sendo “orquestra-­
GRV´GHPRGRDFRQWULEXtUHPSDUDRHQTXDGUDPHQWRJHUDOD¿UPDGRQDQRWtFLD(PRXWUDVSDODYUDV
muito raramente esses diversos agentes sociais apareceram na tessitura narrativa das notícias em sua alteridade, como uma consciência social própria e distinta. Mesmo quando haveria posições po-­
larizadas, como na contraposição entre um deputado contrário à criminalização da homofobia e um membro da Secretaria de Direitos Humanos, suas falas respeitaram e foram adequadas ao ponto de Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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vista defendido pelo veículo, naquele texto.
6HQmRVHSRGHD¿UPDUTXHRVWH[WRVVREUHKRPRIRELDVmRSROLI{QLFRVLVVRQmRpGL]HUTXH
HVVHVHMDD~QLFDGLPHQVmRHPTXHHODSRGHULDVHPDQLIHVWDU$OLiVpH[DWDPHQWHHPIXQomRGDD¿U-­
mação forte do ponto de vista do narrador em cada notícia é que se vislumbra o veículo como uma entidade se não plenamente polifônica, ao menos involuntariamente aberta à contradição. Ao lon-­
go do tempo e por vezes no interior de uma mesma edição, os veículos jornalísticos trazem textos que, quando contrapostos, revelam distintas posições sobre a homofobia e as realidades LGBT. Por exemplo, uma mesma edição de um jornal como “O Globo” traz uma nota sobre a possibilidade do ³EHLMRJD\´³¿QDOPHQWH´DFRQWHFHUQXPDQRYHODHXPDQRWtFLDVREUHXPDDomRGHGHSXWDGRVFRQ-­
trários à criminalização da homofobia. Entre um texto e outro observa-­se uma radical mudança de perspectiva: num, o beijo gay é visto como algo desejado e sua exibição como um fato adiado sem razão consistente;; noutro, posições contrárias à legitimidade das relações homoafetivas surgem na-­
turalizadas e lastreadas socialmente. Em outras palavras, é na dimensão maior do sujeito semiótico jornal, para além das notícias, que a discursividade posta em cena acerca da homofobia e das reali-­
dades LGBT adquire diferença e contraposição. É quando diferentes “consciências sociais” podem ser vislumbradas, mesmo que não se apresentem claramente. Nesse sentido, os diferentes atores jornalísticos presentes nos veículos têm papel fundamental.
b) Os jornais e seus agentes internos: os colunistas
A imagem da identidade plural dos veículos jornalísticos ganha mais força, então, quando se depara com o papel fundamental e peculiar que desempenham não apenas as assessorias, mas espe-­
cialmente os agentes internos dos veículos. Na dinamicidade das interações dos editores, repórteres e dos demais jornalistas distribuídos na cadeia produtiva dos veículos, processos distintos e hete-­
URJrQHRVGHQHJRFLDomRVHFRQVWLWXHPUHQRYDPDOWHUQDPFRQÀLWDPVH1RFDVRHVSHFt¿FRGDKR-­
mofobia e das questões LGBT, impressiona o papel dos colunistas, particularmente dos jornais im-­
pressos. Atores jornalísticos como Ancelmo Góes, Joaquim Ferreira dos Santos e Patrícia Kogut, no caso de O Globo, e de José Simão, na Folha de S. Paulo, tiveram um papel de destaque no tratamen-­
to e na proposição de temas e acontecimentos. A ação desses colunistas se deu de modo constante, sendo diretamente responsável pelo volume total de textos recolhidos nesses dois veículos. No caso da Folha de S. PauloSRUH[HPSORRYROXPHVLJQL¿FDWLYRGHDUWLJRVFROHWDGRVHPTXDVH
num total de 813 textos, resulta menos da presença de diferentes articulistas no debate das questões LGBT e mais da freqüência com que o humorista José Simão fez referências à homossexualidade e ao homoerotismo, em sua coluna diária. Da mesma forma, os demais colunistas contribuíram para a presença das questões LGBT em VHXVYHtFXORVJXDUGDQGRHPUHODomRDHOHVXPDUHODomRSHFXOLDUGHLQGHSHQGrQFLDHLGHQWL¿FDomR
Cada coluna constitui uma seção que, sendo parte do jornal, contribui para o prestígio, o índice de OHLWXUDHSDUDDLGHQWL¿FDomRGLiULDGRVOHLWRUHVFRPDTXHOHYHtFXOR$RPHVPRWHPSRGDGDDLQGH-­
pendência editorial que preserva, constitui-­se como uma espécie de jornal à parte, encartado dentro do periódico, dotado de nome, temário e estilo próprios. Nesse sentido, em sua análise acerca do MRUQDOGLiULR0DXULFH0RXLOODXGUHÀHWHVREUHROXJDUDPEtJXRGRQRPHGRMRUQDOHGDVGH-­
mais assinaturas nele contidas, como aquelas das colunas. Para o pesquisador francês, o nome-­do-­
jornal “...se refere a um duplo paradigma: no espaço, remete aos jornais que são seus concorrentes;; no tempo, aos outros números da coleção.Ele preenche uma dupla função: aquela de designar, ao mesmo tempo, uma alteridade e uma identidade” (2002, p.88). O estatuto ambivalente do nome-­
do-­jornal repete-­se, assim, nas duas dimensões observadas por Mouillaud. No espaço, indica tanto DLGHQWLGDGHGHXPMRUQDOHVSHFt¿FRTXDQWRDVXDGLIHUHQoDHPUHODomRDRVGHPDLV1RWHPSRGH-­
signa tanto o que se repete, aquele mesmo jornal quanto o novo, aquela edição particular.
Essa ambigüidade do nome, indicadora da economia peculiar de identidade/alteridade que marca o sujeito semiótico jornal, é ampliada quando se observa a sua relação com os demais nomes que se inserem no veículo. Esses nomes, de editorias, seções, colunas, etc, mantém a mesma am-­
ELYDOrQFLDDPSODREVHUYDGDQRQRPHGRSHULyGLFRQRHVSDoRpXPOXJDUHVSHFt¿FRGLIHUHQWHGRV
demais;; no tempo, a renovação do mesmo. Porém, uma vez que se trata de nomes “encaixados” no Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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nome maior, englobante, essas “assinaturas” ao mesmo tempo ampliam a diversidade interna do veículo, circunscrevendo outro lugar ali dentro daquele universo informacional, e servem como ele-­
PHQWRVGHDXWHQWLFDomRHUHD¿UPDomRGDLGHQWLGDGHGRSHULyGLFRXPDYH]TXHVmRSDUWHVDUWLFXOD-­
GDVDXPWRGR$VFROXQDVSRURFXSDUHPVHo}HV¿[DVQRLQWHULRUGHFDGHUQRVHVSHFt¿FRVVHFRQVWL-­
tuem como mais um nível nessa sucessão de encaixes de função ambivalente. Dotados de autonomia frente aos cadernos e outras seções dos veículos, elaboradas por equipes próprias – no caso especial-­
mente colunas que tem preocupação informativa, como Mônica Bergamo e Ancelmo Góes – essas colunas desenvolvem temas, enquadramentos e modos de narrar peculiares, estabelecendo relações HVSHFt¿FDVFRPRVOHLWRUHVHRMRUQDO1mRpLQIUHTHQWHTXHDFROXQD³SDXWH´RYHtFXORDRWUD]HUID-­
tos e assuntos que serão, posteriormente, abordados em outras editoriais, da mesma forma que não é raro que um indivíduo restrinja sua leitura do jornal às colunas que mais lhe agradam.
Sendo uma assinatura, as colunas constituem lugares de prestígio dentro do veículo, sendo coordenadas a princípio por jornalistas experientes e de reputação reconhecida pelos pares. Assim, como observam Fontcubierta e Borrat (2006), as colunas, apesar de sua autoria “coletiva”, consti-­
tuem-­se como uma espécie de “jornalismo de autor”, que se baseia no mito de que “...a qualidade das assinaturas que publicam nas páginas de um jornal garantiria a qualidade de seus textos e – misté-­
ULRVGDLQWHUWH[WXDOLGDGH±VHUHÀHWHQRVGHPDLV´SQRRULJLQDOHPHVSDQKRO2XVHMD
a pressuposta qualidade do jornalista cujo nome “assina” a coluna ao mesmo tempo demarca um HVSDoRLQWHUQR±DEHUWRSHORSHULyGLFRHFRQWULEXLSDUDDTXDOL¿FDomRGRYHtFXOR(VVDLQWHUGHSHQ-­
dência, na qual o prestígio da assinatura advém do lugar dado a ela pelo veículo, que se alimenta das VXDVHQWmRSUHVVXSRVWDVTXDOLGDGHVGH¿QHDHFRQRPLDSHFXOLDUGRVQRPHVGRMRUQDOGRPDLRUDR
menor, como observa Mouillaud (2002).
&UHPLOGD0HGLQDFRQVLGHUDQGRRFDVRHVSHFt¿FRGRVFROXQLVWDVGHVHJXQGRFDGHUQR
tidos especializados, observa ainda uma relação importante. Para ela, “as assinaturas são vestígios expressos da pessoalidade na mensagem”, que por sua vez não está ligada tanto à individualidade do jornalista, mas sim a um grupo social. Medina observa que “...os críticos e colunistas estão muito li-­
gados a grupos (intelectuais, determinada classe social, grupos religiosos, etc) e exercem pouco uma individualidade de expressão. Na maior parte dos casos, são porta-­vozes” (1988, p.77). Com isso, os colunistas garantem certa liberdade noticiosa, uma vez que se oferecem como representantes, no LQWHULRUGRYHtFXORGHSHUVSHFWLYDVVRFLDOPHQWHUHFRQKHFLGDVDUWLFXODQGRGHPRGRHVSHFt¿FRLQIRU-­
mação e opinião. Novamente, a representatividade da coluna é reconhecida inicialmente pelo pró-­
SULRYHtFXORTXHDVVLPRIHUHFHDjIUXLomRHLGHQWL¿FDomRGRVOHLWRUHV(PO Globo, por exemplo, a jornalista Patrícia Kogut assina uma coluna diária sobre televisão, na qual ao mesmo tempo se apre-­
senta como uma repórter especializada, capaz de trazer informações únicas, e como uma espécie de porta-­voz dos telespectadores, avaliando, criticando e elogiando programas e atuações.
No caso do tratamento da homofobia e questões LGBT, as colunas constituíram espaços di-­
YHUVL¿FDGRVHPTXHGHQ~QFLDVHQRWtFLDVDFHUFDGHSHUVRQDOLGDGHVSURMHWRVGHOHLDo}HVGR(VWDGR
ou produtos culturais conviveram não raro com comentários jocosos e bem-­humorados marcados pela ambigüidade. Assim, as colunas, por um lado, surgiram como espaços importantes, que deram freqüente visibilidade às realidades LGBT, à luta pela cidadania e ao combate à homofobia. Por ou-­
tro, apresentaram-­se também como lugares ambíguos, em que o humor e o duplo sentido foram uti-­
lizados para borrar as fronteiras entre o conservador e o liberal, entre o politicamente comprometi-­
do com conquistas sociais e o reacionário.
c) Jornais plurais?
'LDQWHGHXPFDPSRSUREOHPiWLFRGHVD¿DGRUFRPRDKRPRIRELDSRUWDQWRRVYHtFXORVMRU-­
nalísticos “fraturaram-­se”, ao sabor dos acontecimentos e dos diversos agentes jornalísticos e não-­
jornalísticos envolvidos. Por um lado, essa fratura parece surgir exatamente como a resposta possí-­
vel diante de um cenário marcado pelas tensões e pela controvérsia, envolvendo um conjunto amplo GHUHODo}HVHGLPHQV}HVLQWHUOLJDGDV1HVVHFDVRDIUDWXUDDFRPSDQKDULDGHDOJXPPRGRDFRQ¿-­
guração da questão LGBT na sociedade brasileira, indicando uma articulação orgânica dos veículos jornalísticos com a vida social. No entanto, contrária a essa leitura, surge a ausência de polifonia e o Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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modo como as vozes sociais são “orquestradas” em artigos e notícias. Ao impor sua leitura do mun-­
GRQXPWH[WRHVSHFt¿FRXPYHtFXORMRUQDOtVWLFRQmRVHDSUHVHQWDFRPR³DEHUWR´jYLGDVRFLDOPDV
como uma espécie de agente autoritário, que busca controlar acontecimentos, fontes e personagens. A “fratura” seria, então, não indício de uma posição democrática, mas, ao contrário, como indicado-­
ra da falência desse gesto controlador, sempre surpreendido pela marcha das contradições e trans-­
formações sociais.
Quando se considera a identidade desses sujeitos semióticos, a quebra da sua “integridade” acentua o caráter performático de sua voz e de suas posições. Os veículos surgem como seres alheios DVLPHVPRVRUDHVTXHFLGRVGRTXHGLVVHUDPRUD³GLVWUDtGRV´GRTXHD¿UPDP$FRQGLomRGH³HV-­
WUDQJHLURSDUDVLPHVPR´ID]FRPTXHR³MRUQDO´FRQ¿JXUHVHFRPRXPDJHQWHVXEPHWLGRjVDo}HV
dos outros e ainda assim inevitavelmente impelido a agir. Esse outro, seja ele interno ou externo, exige que sua identidade não possa mesmo ser confundida com o discurso que faz de si, com o modo como vê a si mesmo, ou ainda com uma condição essencial, permanente, a-­histórica. Aliás, a con-­
dição de sujeito semiótico acentua ainda mais a dependência dos veículos jornalísticos dos modos FRPRRVGHPDLVDJHQWHVVRFLDLV±IRQWHVSUR¿VVLRQDLVLQVWLWXLo}HVUHFHSWRUHVHWF±FRPHOHVHUH-­
lacionam e de como ele busca se inserir na rede complexa de interações que o envolve. Resta saber, então, se a fragmentação desse sujeito semiótico responde ao desejo de ampliar posições ou diálo-­
JRVRXQDGLUHomRRSRVWDFRPRHVIRUoRGHD¿UPDomRHOHJLWLPDomRGHSUHVWtJLRHSRGHU6HDPEDV
respostas forem válidas, desenha-­se um sujeito semiótico jornal inexoravelmente tensionado e con-­
traditório. Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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GT5 - Jornalismo Alternativo
Mudança discursiva no jornal O Trecheiro
Viviane de Melo Resende
María del Pilar Tobar Acosta
Universidade de Brasília
Resumo
Este trabalho é parte do projeto em andamento “Publicações em língua portuguesa sobre população HPVLWXDomRGHUXDDQiOLVHGHGLVFXUVRFUtWLFD´FXMRREMHWLYRpUHDOL]DUXPDSHVTXLVDHWQRJUi¿FR
discursiva das cinco publicações em língua portuguesa voltadas para a situação de rua, entre jornais e revistas. Neste artigo, nosso objeto é uma edição do jornal O Trecheiro, e nosso foco é a mudança dis-­
cursiva empreendida pelo jornal. Com base na capa e na matéria de capa da edição de junho de 2009 de O Trecheiro, e tomando o referencial da Análise de Discurso Crítica, discutimos a manutenção de formas canônicas dos gêneros midiáticos, mas também o uso criativo dos gêneros, mudanças em re-­
lação aos produtos da mídia tradicional, assim constituindo-­se como uma forma de mídia alternativa.
Introdução
Neste artigo, apresentamos um recorte de uma pesquisa mais ampla, em que se investigam publicações voltadas para a situação de rua cujo principal objetivo é gerar renda e/ou abrir um canal de expressão para a população em situação de rua. Em língua portuguesa, localizamos cinco dessas publicações, entre revistas e jornais. Quatro delas são brasileiras: a Revista Ocas e o jornal O Tre-­
cheiro, de São Paulo, o jornal Boca de Rua, de Porto Alegre, e o jornal Aurora da Rua, de Salvador. A Revista Cais é publicada em Lisboa e distribuída em diversas cidades portuguesas. No projeto de pesquisa “Publicações em língua portuguesa sobre população em situação de rua: análise de discur-­
VRFUtWLFD´RREMHWLYRpHPSUHHQGHUXPDSHVTXLVDHWQRJUi¿FRGLVFXUVLYDGHVVDVFLQFRSXEOLFDo}HV
(Resende, 2010a).
Parte dessas publicações funciona nos moldes da revista pioneira no gênero, a britânica The Big Issue. Nesses casos, cada vendedor/a administra a quantidade de jornais que pretende comer-­
FLDOL]DUSDJDQGRXPYDORUHQWUHXPWHUoRHDPHWDGHGRSUHoRGHFDSDSHODXQLGDGHH¿FDQGRFRP
todo o dinheiro da venda – os primeiros exemplares de cada vendedor/a costumam ser fornecidos gratuitamente. Assim, ao mesmo tempo em que as temáticas abordadas nos textos publicados tra-­
tam de humanizar as pessoas em situação de rua – o que é relevante nas sociedades contemporâne-­
as, em que o problema tornou-­se invisível – esses jornais e revistas também têm o duplo mérito de possibilitar renda e de criar uma comunidade em torno de objetivos comuns. No caso do jornal O Trecheiro, objeto deste trabalho, a dinâmica é diferente, já que o jornal tem distribuição gratuita, ou seja, não se trata de uma alternativa para geração de renda. Entretanto, ao contrário das revistas comercializadas, que além de tratar temas associados à precariedade social também abordam outros conteúdos, no caso de O Trecheiro a publicação é totalmente voltada para a temática da situação de rua. Além disso, trata-­se de iniciativa associada à Rede Rua e ao Movimen-­
to Nacional da População de Rua (MNPR).
Do ponto de vista da Análise de Discurso Crítica (ADC), é relevante investigar a representa-­
ção midiática de uma realidade para a qual a sociedade quer fechar os olhos (Pardo Abril, 2007). Dessa maneira, selecionamos um corpus de um jornal, que não faz parte da grande mídia e que trata da situação da rua. Nossa proposta foi realizar um estudo documental no qual os dados foram anali-­
sados com base em métodos desenvolvidos na ADC (Fairclough, 2003;; Resende & Ramalho, 2006). Focalizamos a capa e a matéria de capa do volume de junho de 2009 do jornal O Trecheiro. O jornal O Trecheiro é uma publicação realizada a partir 1991, pela Rede Rua, que atua em Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. 220
Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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São Paulo desde a década de oitenta promovendo iniciativas para a “comunicação a partir dos exclu-­
ídos” (Rede Rua, 2010). A entidade pretende, como descrito em seu site, documentar e assessorar ³DFRPXQLFDomRGHPRYLPHQWRVHQWLGDGHVHJUXSRVVRFLDLVHSRSXODUHV´SRUPHLRGHIRWRJUD¿DV
vídeos e textos, tendo como objetivo reverter o processo de exclusão social.
Análise de Discurso Crítica
A Análise de Discurso Crítica (ADC) constitui modelo teórico-­metodológico capaz de mapear a conexão entre aspectos discursivos e não discursivos de práticas sociais. Essa interdisciplina se es-­
truturou no início da década de 1990 a partir da colaboração de pesquisadores como Teun van Dijk, Norman Fairclough, Gunter Kress, Theo van Leeuwen e Ruth Wodak (Resende & Ramalho, 2006, p. 21). Destes, reconhece-­se no linguista britânico Norman Fairclough o maior expoente da ADC: seus trabalhos, a partir da década de 1990, consolidaram um modelo teórico complexo, com base na Ci-­
ência Social Crítica (sobretudo em Chouliaraki & Fairclough, 1999), e um arcabouço metodológico para a investigação empírica de textos situados (especialmente em Fairclough, 2003).
1D$PpULFD/DWLQDWDPEpPVHLGHQWL¿FDPQRV~OWLPRVDQRVDYDQoRVTXHSUHFLVDPVHUFRQ-­
siderados quando se fala em ADC. Pesquisadores/as latinoamericanos/as têm contribuído muito para a difusão da ADC como teoria e método de investigação e, mais que isso, têm gerado aborda-­
gens próprias, inclusive questionando abordagens já legitimadas (por exemplo, Meurer, 2004;; Par-­
do Abril, 2008;; Pardo, 2010;; Resende, 2010b).
Em ADC, a atividade de produção de textos (em sentido amplo) é tanto um modo de repre-­
VHQWDomRGDH[SHULrQFLDQRPXQGRTXDQWRXPPRGRGHLGHQWL¿FDomRHGHDomRGRLQGLYtGXRHPUHOD-­
ção ao seu mundo e a outras pessoas. Para Fairclough (2001), a mudança social afeta dialeticamente a mudança na linguagem, e esta afeta aquela nas mesmas proporções. Isso porque o uso da lingua-­
gem é uma das facetas das práticas sociais – entendidas pela ADC como ações habituais da socie-­
dade institucionalizada, traduzida em ações materiais, em modos habituais de ação historicamente situados (Resende, 2009).
O discurso é entendido como palco de lutas pelo poder, pois no momento discursivo das prá-­
ticas os embates sociais se materializam. É por meio dos atos de linguagem, ou seja, dos textos, que emergem os discursos como formas particulares de representação da sociedade. Assim, os discursos se localizam no espaço das oposições, seguindo uma cadeia dialógica que põe em jogo atitudes res-­
ponsivas entre atores sociais. A versão de ADC com que trabalhamos entende as ideologias como formas simbólicas a servi-­
oRGDLQVWDXUDomRRXGDPDQXWHQomRGHUHODo}HVGHSRGHUVHJXLQGRDGH¿QLomRGH7KRPSVRQ
Assim, ideologias são “construções de práticas a partir de perspectivas particulares que suprimem contradições, antagonismos, dilemas em direção a interesses e projetos de dominação” (Chouliaraki & Fairclough, 1999, p.26). A ordem social, então, tem como cadinho de sua legitimidade ideologias cujo sucesso pode ser medido no quanto participam na formulação de representações de práticas e eventos em variados tipos de textos. Os diferentes discursos se forjam com base na sociedade e, lo-­
gicamente, com base em ideologias, seja para alinhar-­se com elas ou para refutá-­las. As práticas sociais criam estruturas para sua projeção discursiva, e é sobre essas estruturas – os gêneros – que repousam as formulações individuais – os textos. Os gêneros discursivos, dire-­
tamente relacionados a uma esfera de utilização da língua, são relativamente estáveis em função de sua estrutura temática, composicional e estilística (Bakhtin, 1992), sendo materializados (e possi-­
YHOPHQWHUHFRQ¿JXUDGRVQDVLQWHUDo}HVVRFLDLV1HVWHWUDEDOKRIRFDOL]DUHPRVJrQHURVPLGLiWLFRV
‘tradicionais’ em contraste com o que lemos na edição de junho de 2009 do jornal O Trecheiro, que podemos entender como exemplo de mídia ‘alternativa’. Ressalte-­se que todo jornal, ‘tradicional’ ou ‘alternativo’, é um suporte para vários textos que são estruturados sobre diversos gêneros. Sugeri-­
mos que, assim como os gêneros individuais, os suportes trazem esquemas de organização mais ou PHQRVHVWiYHLVHYHUHPRVFRPRDPtGLDDOWHUQDWLYDHPIRFRUHFRQ¿JXUDRSRWHQFLDOGRVXSRUWHµMRU-­
nal impresso’.
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Estrutura genérica e mudança discursiva em O Trecheiro
O jornal O Trecheiro é um produto de mídia impressa, de distribuição gratuita, que aborda um tema central – a situação de rua. A esse respeito, podemos observar que o jornal não constitui uma fonte para informação geral: ele trata questões que envolvem as pessoas em situação de rua e a causa em torno da qual a Rede Rua se organizou. A edição de junho de 2009 explora um tema ainda PDLVHVSHFt¿FR±WUDWDGDVFRQVHTXrQFLDVGRFOLPDIULRSDUDDFRPXQLGDGHGHSHVVRDVHPVLWXDomR
de rua, durante o inverno de São Paulo. O jornal aproxima-­se, desse modo, à organização formal de algumas revistas especializadas, trazendo para cada edição um tema ao redor do qual orbitarão to-­
GRVRVWH[WRVTXHQHOD¿JXUDUHP
O jornal se apresenta visualmente de forma semelhante a jornais da grande mídia: seus tex-­
tos são divididos em colunas, apresentam manchete e, em alguns casos, subtítulos que demarcam as seções de um mesmo texto. Os gêneros materializados no jornal são matéria de capa;; editorial;; transcrições de documentos;; e notícias, escritas no formato canônico de narrativa jornalística. As-­
sim, O Trecheiro atende a expectativa gerada pelo suporte jornal. As notícias são acompanhadas, na maioria dos casos, de imagens que ilustram a informação presente nos textos verbais, o que também é uma característica convencional para o suporte. O Trecheiro apresenta um “Editorial”, gênero previsto na prática jornalística, na mesma po-­
sição habitual nos suportes tradicionais, ou seja, na segunda página. De forma geral, é nesse espaço TXHDRSLQLmRGDHTXLSHTXHSURGX]XPMRUQDORXUHYLVWDRXGRVJUXSRVTXHR¿QDQFLDPDSDUH-­
ce explicitada, e isso se reproduz no jornal em foco. A leitura integral do jornal permite constatar, também, que a opinião dos/as autores/as aparece, de forma mais ou menos evidente, em todos os demais textos da publicação. Esse fenômeno é conhecido, quando se trata da grande mídia, como “editorialização” das notícias, pois, em princípio, a opinião dos/as autores/as não deveria ser expli-­
citada no corpo das notícias, para que se mantivesse a suposta ‘imparcialidade’ de que tanto se fala na práxis jornalística. Entretanto, como sabemos – e há muitas pesquisas em ADC sobre isso (veja, por exemplo, Pardo Abril, 2008) –, textos jornalísticos frequentemente apresentam notícias carre-­
gadas de pontos de vista parciais, dos/as jornalistas responsáveis e, principalmente, das empresas que veiculam informações. No que concerne a O Trecheiro, devemos ponderar que por se tratar de um jornal que pretende divulgar as “notícias do povo da rua” (subtítulo do jornal, p. 1), um veículo que tem como objetivo ser uma arma na “luta” (p. 3) dessa população, um posicionamento mais ou menos explícito nos textos é esperado.
Em relação aos suportes midiáticos tradicionais no jornalismo impresso, o jornal O Trechei-­
ro mantém algumas semelhanças, mas apresenta também várias diferenças. A extensão do jornal da Rede Rua é bastante reduzido – em termos do número de páginas, e não em termos de formato, como veremos – se comparado à extensão dos jornais da mídia tradicional. Isso possivelmente está relacionado ao fato de esse jornal ser fruto de uma iniciativa popular e, sobretudo, de não ter espa-­
oRVYHQGLGRVSDUDSURSDJDQGDRTXHVDELGDPHQWHpRPRWRU¿QDQFHLURTXHVXVWHQWDDGLWDµJUDQGH
mídia’), além de ser O Trecheiro um periódico de distribuição gratuita. Nesse espaço restrito, apare-­
FHPWH[WRVYHUEDLVTXHVH¿OLDPDRVJrQHURVMRUQDOtVWLFRVWUDGLFLRQDLVSHORIRUPDWRGHVXDDSUHVHQ-­
tação. Observa-­se, a esse respeito, uma estrutura de manchetes seguidas dos textos verbais acom-­
SDQKDGRVGHIRWRJUD¿DVTXHVHUHODFLRQDPGHIRUPDPHUDPHQWHLOXVWUDWLYDHQmRFRPSOHPHQWDQGR
o teor dos textos verbais. Essa estrutura genérica também se observa, de forma geral, na chamada ‘grande mídia’.
A primeira página do jornal também apresenta um formato bastante semelhante ao padrão desse tipo de suporte, contendo uma manchete seguida de matéria de capa, com notícia de grande relevância para a comunidade de pessoas em situação de rua. Na capa há, ainda, um espaço reserva-­
do para informações sobre eventos que possam interessar as pessoas em situação de rua, o que não costuma aparecer nas primeiras capas de jornais – pode-­se encontrar um possível equivalente nos FDGHUQRVGHFXOWXUDHQRVFODVVL¿FDGRVGRVMRUQDLVWUDGLFLRQDLV
O título do jornal é uma remissão direta a um modo de referência a pessoas em situação de rua em São Paulo. No estado, essas pessoas são referidas como “trecheiros” e “pardais” (Martinez, 2009). O mesmo modo de referência não se observa em outras localidades, como Brasília por exem-­
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plo. O título sendo o primeiro elemento verbal sobre o qual um/a leitor/a lança os olhos, é nele que está contido o conceito do jornal, transmitindo de forma imediata uma ideia acerca do objeto da pu-­
blicação. Desse modo, o título de O Trecheiro desempenha um papel fundamental como instrumen-­
to que permite que se coloque em pauta a vida de pessoas em situação de rua, além de ser um cha-­
mariz para que esse grupo social tenha interesse pela leitura e se veja representado na publicação.
A diagramação do nome do jornal apresenta uma novidade em relação aos jornais tradicionais: há XPVXEWtWXORH[SOLFDWLYRHXPDLPDJHPTXHFRPSOHWDRVHXVLJQL¿FDGR9HMDPRVD)LJXUD
Figura 1 – Título, com imagem e diagramação, tal como aparece na primeira página de O Trecheiro
O subtítulo “Notícias do Povo da Rua” complementa o (já direcionado) título, tornando ain-­
da mais explícita a temática central desse jornal e esclarecendo o público alvo da publicação. Assim, RMRUQDOWUD]ORJRGHLQtFLRXPDD¿UPDomRGDLGHQWLGDGHGRJUXSRGHSHVVRDVTXHYLYHPQDVUXDV
O uso do termo “povo” alude a um conjunto de pessoas organizadas ao redor de algo em comum. A UHSUHVHQWDomRGHVVHJUXSRVRFLDOFRPR³SRYR´FRQFODPDjXQLmRjFRQ¿JXUDomRGHXPJUXSRFRHVR
reunido em torno de objetivos comuns. A mesma lexia, “povo da rua”, é utilizada, por exemplo, pelo Movimento Nacional da População de Rua (MNPR, 2010). Na Figura 2, temos uma ampliação da imagem que aparece agregada ao título do jornal:
Figura 2 – Desenho de um andarilho, que podemos entender como a representação do “trecheiro”
2VHJXQGRHOHPHQWRGHFULDWLYLGDGHJHQpULFDQRWtWXORGRMRUQDOpDLPDJHP¿JXUDWLYDGHXP
andarilho que leva consigo bagagem composta por um saco ou sacola e um rolo, que pode ser um cobertor, um saco de dormir ou um colchonete. Ele está representado de costas, descalço, e seus membros estão desenhados dando a ideia de movimento, de caminhada. Esse caminhar se dá por XPDHVWUDGD±RTXHVHSHUFHEHSHODVOLQKDVWUDFHMDGDV±HPGLUHomRDXPKRUL]RQWHRQGH¿JXUDXP
VROQDVFHQWHRXSRHQWHUHSUHVHQWDGRJUD¿FDPHQWHFRPJUDQGHVUDLRV(VVDLPDJHPWUDEDOKDFRPD
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FRQGHQVDomRGHYiULRVQtYHLVGHVLJQL¿FDGRHODFRPSOHPHQWDRVHQWLGRGRWtWXORGRMRUQDOUHWUDWDQ-­
do iconicamente as pessoas em situação de rua e representando o movimento pretendido pela Rede Rua, que busca a conquista, para a comunidade em situação de rua, de igualdades de oportunidade, que podem ser traduzidas pela expressão “lugar ao sol”.
Na gramática do design visual, Kress & van Leeuwen (1996) distinguem, para a análise de imagens, as representações narrativas e as representações conceituais. Segundo os autores, uma imagem é narrativa quando os atores sociais representados envolvem-­se em ações ou eventos;; e é conceitual quando os atores são representados como membros de uma categoria ou com base em DWULEXWRVTXHVHUYHPDXPDFODVVL¿FDomR1RFDVRGDLPDJHPTXHWHPRVHPIRFRHQWUHWDQWRHVVD
distinção, parece pouco produtiva, já que deparamos com uma imagem que é, a um só tempo, nar-­
rativa e conceitual. É narrativa pelo movimento, pela representação do ator de costas, inclinado para DHVWUDGDWHQGRRVRODR¿PFRPRPHWDPDVQmRGHL[DGHVHUFRQFHLWXDOFRPSURFHVVRDQDOtWLFR
porque o indivíduo é representante de um grupo maior de pessoas na mesma situação e aparece se-­
gurando uma bagagem – o homem é um portador com seus poucos atributos possuídos. Assim, po-­
GHPRVGL]HUTXHDLPDJHPDJUHJDGDDRWtWXORGRMRUQDOFRQVWUyLXPDFODVVL¿FDomRSDUDSHVVRDVHP
VLWXDomRGHUXDFRPEDVHHPDWULEXWRVFRPSDUWLOKDGRVPDVRJUXSRUHSUHVHQWDGRQD¿JXUDGRLQ-­
divíduo é dinâmico, e segue em direção a uma meta.
Voltando à diagramação total do título do jornal, temos ainda, no canto direito, o número da edição e o período de publicação – elementos que também constam das primeiras páginas de jornais tradicionais – e, abaixo, os dados da organização responsável pela publicação: “Rede Rua de Comu-­
nicação -­ Rua Sampaio Moreira, 110 – Casa 9 – Brás – 03008-­010 São Paulo SP – Fone 3227-­8683 – 3311-­6642”. Estes últimos dados não são, em geral, disponibilizados de maneira tão explícita e acessível nos jornais da mídia tradicional. Temos, então, mais uma diferença na estrutura compo-­
sicional, pois os jornais impressos de grande circulação não apresentam essas informações acerca dos grupos que os produzem, sendo necessário ao/à leitor/a pesquisar em outras fontes caso dese-­
je informar-­se a esse respeito, o que pode representar um posicionamento avesso ao diálogo aberto com o público, por parte das instituições responsáveis pelas publicações da grande mídia. No caso de O Trecheiro, ao contrário, essas informações estão disponíveis na primeira página, junto ao títu-­
lo, já que a proposta da Rede Rua é travar contato com a sociedade. A presença dessas informações representa, portanto, mais uma faceta de mudança discursiva em relação à mídia impressa tradicio-­
nal. Como vimos, já no título do jornal aparece a expressão generalizante “O Povo da Rua”, que se refere a toda uma comunidade de pessoas que se relacionam de alguma forma com a realidade das ruas, seja por terem uma trajetória de situação de rua ou por integrarem grupos de apoio e organi-­
zações da sociedade civil. Há uma constituição simbólica de comunidade. O uso de termos generali-­
zantes – ‘moradores de rua’, por exemplo, comuns como modo de representação em textos midiáti-­
FRV±GHFHUWDPDQHLUDUHL¿FDPDVVLWXDo}HVTXHUHSUHVHQWDPUHGX]LQGRDVSHVVRDVUHSUHVHQWDGDV
a sua condição econômica ou a sua situação marginalizada. Já no jornal O Trecheiro utilizam-­se outros termos, igualmente generalizantes mas que operam de forma diferente, em termos simbóli-­
cos, por construírem um sentido de unidade ao grupo que se organiza em torno da situação de rua. Nesse sentido, a escolha de palavras agregadoras valoriza a identidade de todo o grupo, apontando dessa maneira outra orientação para a diferença, nos termos de Fairclough (2003). Assim, temos que mesmo pessoas que não vivem nas ruas posicionam-­se ao lado das que experimentam essa con-­
dição, prestando-­lhes um reforço na constituição do grupo articulado na ‘luta do povo da rua’.
Ao mesmo tempo em que os termos generalizantes, como vimos, aparecem, há um esforço, por parte dos/as autores/as do jornal, em mostrar quem são as pessoas em situação de rua: expon-­
do seus rostos, seus nomes, suas histórias individuais e seus relatos. Há, na matéria de capa, refe-­
rências individualizadas a pessoas em situação de rua não só por meio da nomeação, mas também SRULQIRUPDo}HVGHVXDELRJUD¿DHQIDWL]DQGRTXHDFRQGLomRHPTXHVHHQFRQWUDP±DVLWXDomRGH
UXD±pWUDQVLWyULDHQmRGH¿QHWRGDDVXDKLVWyULDGHYLGD(VVDVHVFROKDVQDPDWHULDOL]DomRGRWH[WR
opõem-­se à forma como tradicionalmente são representadas pessoas em situação de rua pela mídia tradicional, que em geral focaliza apenas a condição econômica que tem sua consequência no lugar onde vivem – as ruas.
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A individualização de homens e mulheres que se encontram em situação de rua é evidenciada tam-­
EpPQDPRQWDJHPFRPSRVWDSHODIRWRJUD¿DHSHORWH[WRTXH¿JXUDPORJRDEDL[RGDPDQFKHWHGD
matéria de capa:
)LJXUD±0RQWDJHPGHIRWRJUD¿DHWH[WRQDPDWpULDGHFDSDGDHGLomRGHMXQKRGHGHO Trecheiro (Charles Fernandes da Silva, fotografado por Alderón Costa)
1HVVDPRQWDJHPYHPRVDIRWRJUD¿DGHXPKRPHPMRYHPQHJURGHEDUEDFXMDFDEHoDHVWi
coberta com um cobertor. Com base nas categorias de Kress & van Leeuwen (1996), podemos di-­
zer que a imagem é conceitual de processo analítico – o participante é um portador associado a VHXVDWULEXWRVSRVVXtGRVpUHSUHVHQWDGRSRUPHLRGHFODVVL¿FDomRHQmRKiDomRHQYROYLGD&KDU-­
les Silva é representado em uma imagem de demanda, “aquela em que o participante representado (aquele presente na imagem) se coloca olhando diretamente para o leitor. Ao fazer isso, o produtor dessa imagem quer criar um vínculo direto com o leitor, endereçando-­lhe um ‘você’ visual” (Brito & Pimenta, 2009, p. 96). Para a criação desse vínculo entre o ator representado na imagem e o/a leitor/a, colabora também o enquadramento, já que a imagem de Charles aparece com alta proximi-­
dade, o que, somado à natureza de demanda da imagem, contribui para a criação de um vínculo, de um ‘nós’ que inclui o ator representado e o/a leitor/a da imagem (Kress & van Leeuwen, 1996).
Há, na imagem, a sobreposição do seguinte texto verbal: (1) Charles Fernandes da Silva nasceu em Santos e disse que veio a São Paulo ten-­
tar a sorte. Espera encontrar um trabalho.
O texto opera tanto como legenda, na medida em que traz o nome da pessoa que aparece na IRWRJUD¿DTXDQWRFRPRDFUpVFLPRQDPHGLGDHPTXHLQIRUPDVXDRULJHP±³QDVFHXHP6DQWRV´±
o motivo por que ele está nas ruas de São Paulo – “veio a São Paulo tentar a sorte” – e sua expecta-­
tiva em relação à cidade – “Espera encontrar um trabalho”. Até aqui, a articulação da voz de Charles se dá por discurso indireto, com o uso de verbo dicendi e as transformações discursivas utilizadas na formação desse tipo de relato de fala (Faiclough, 1995). Na sequência, há uma virada para o discurso direto, evidenciada pelo uso das aspas: “Neste frio está muito difícil, como senhor está vendo” (p.1). Na citação direta da voz de Charles da Silva, podemos ler a expressão “o senhor”, usada por Charles como pronome de tratamento para se referir a seu interlocutor direto – Alderón Costa, que assina a IRWRJUD¿DHDPDWpULD(QWUHWDQWRQDDSURSULDomRGDIDODGH&KDUOHVSHORDXWRUHPVXDPRQWDJHP
DPHVPDH[SUHVVmRSDVVDDVHUHIHULUWDPEpPDRjOHLWRUDGRMRUQDOTXHSRGHYHUQDIRWRJUD¿DD
situação em que Charles se encontra. Pela articulação entre texto e imagem, os/as leitores/as podem LQIHULUDGL¿FXOGDGHGHVXDVLWXDomRHRIULRPHQFLRQDGRQRWH[WRYHUEDOHVWiEHPUHSUHVHQWDGR
pelo cobertor que cobre a cabeça de Charles). Nesse jogo simbólico, a transitividade do termo “o senhor” é deslocada do interlocutor na in-­
teração face a face para o/a interlocutor/a na interação mediada. O efeito do uso do discurso direto para a articulação da voz de Charles no texto é, então, uma aproximação desses atores – a pessoa Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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em situação de rua representada e o conjunto de leitores/as que passam a ser diretamente interpe-­
lados/as, provocados/as a empreender um esforço de compreensão da situação representada. Esse processo, portanto, remete o/a leitor/a do texto midiático à situação de rua, aproximando-­o/a dessa realidade. Além disso, a articulação direta dessa voz no objeto impresso garante-­lhe legitimidade e maior duração no tempo, permitindo que atinja um maior número de pessoas. Assim, as escolhas para a construção do texto ilustram modos de inserção de atores sociais de forma explícita. Isso pode estar associado ao interesse da Rede Rua em constituir uma identidade que seja reconhecida e respeitada, o que se opõe à representação padronizada na mídia tradicional, que apaga o problema da situação de rua, objetivando pessoas nessa condição. A exclusão operada pela grande mídia (re)constitui, em textos, o processo de apartação social que sofrem as pessoas em situação de rua. Ao não representarem a individualidade de pessoas que se encontram em situações precárias, textos da grande mídia naturalizam a desigualdade social e o desrespeito a direitos sociais básicos. N’ O Trecheiro, ao contrário, a representação do grupo e dos indivíduos atua na busca de uma identidade alternativa à legitimadora (nos termos de Castells, 2001);; uma construção identitária e uma consciência comunitária que aglutinem projetos de mudança e, em última instância, que possi-­
bilitem (a luta por) acesso a direitos básicos e às almejadas oportunidades de transformação social. Desse modo, temos que a representação coletiva, em termos de luta e mobilização, pode favorecer a construção de identidade para o grupo;; e a representação individual, com ênfase em histórias de vida e trajetórias individuais, humaniza o problema e o delimita com contornos mais concretos (Re-­
sende, 2010c).
Um indício da representação de grupos em oposição, nos textos em foco, é a recorrência da palavra “luta” – que aparece em “Dia da luta”, “esperança na luta”, “lutas populares”, “luta do povo”, “luta de quem está na situação de rua” (p.4). Essas expressões são imbuídas de um conteúdo semân-­
WLFROLJDGRDHPEDWHUHFRUUHQGRDXPDPHWiIRUDGHJXHUUDQDUHSUHVHQWDomRGDVGL¿FXOGDGHVHQ-­
frentadas por quem tenta promover mudança. A mesma metáfora de oposição está na base da cons-­
tituição do seguinte trecho:
(2) É verdade, também, que esses espaços não estão sendo construídos VHPFRQÀLWRVVHPGLYHUJrQFLDVVHPGLVSXWDGHSRVLo}HV0DVpXPDHYLGrQFLDGDFDSDFLGDGHGH
organização das pessoas em situação de rua que vêm provar à sociedade uma outra realidade a seu respeito: eles se organizam, pensam e sabem traçar com clareza suas reivindicações e sabem onde querem chegar.
(VVHWUHFKRWDPEpPHYLGHQFLDOXFLGH]QRTXHFRQFHUQHjVHVWUXWXUDVVRFLDLV¿[DGDVHOHJL-­
WLPDGDVSHODLGHRORJLDGRPLQDQWHTXHQHJDHVSDoRDHVVHJUXSRGHSHVVRDVHTXHOKHVGH¿QHXPD
identidade degradada. A transformação dessas estruturas, de acordo com a metáfora empregada, só se dá mediante embate. Parte dessa “luta”, no caso da Rede Rua, é travada no e pelo discurso – com DFULDomRGHXPDSXEOLFDomRFRPHVVHREMHWLYRHVSHFt¿FRRTXHGHPRQVWUDDQHFHVVLGDGHGHDomR
pelo uso da linguagem, sendo a instância discursiva um dos instrumentos para a conquista das mu-­
danças almejadas pelas pessoas em situação de rua e pelas pessoas que ‘lutam’ ao seu lado.
A consciência sobre o ato de linguagem, por parte dos/as autores/as do jornal, é evidenciada também no excerto a seguir, em que há uma oposição explícita à grande mídia, quando se lança uma campanha no jornal:
(3) Tendo em vista posições assumidas pela mídia conservadora que LQVLVWHHPGHVTXDOL¿FDUDLQGDPDLVDVSHVVRDVTXHPRUDPQDVUXDVHQRVDOEHUJXHVFKDPDQGR
os de mendigos, pedintes ou desocupados, quando não de ladrões ou delinquentes lançamos uma campanha:
“Somos cidadãos, mendigo é a ... a grande imprensa, os que dependem de publicidade governamental, os que exploram os trabalhadores, os investidores da Bolsa de Valores, os que criam gado na Amazônia etc. Não queremos nem esmola nem futuro. Queremos justiça e dignidade agora. Somos cidadãos, mendigo é a...”
A campanha promovida pela Rede Rua tem como foco uma mudança na forma como são representadas as pessoas em situação de rua em textos;; e, com base nessa mudança discursiva, a Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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percepção dessas pessoas como sujeitos de direitos sistematicamente desrespeitados. Desse modo, a Rede Rua, por meio de O TrecheiroPRVWUDFRQVFLrQFLDGRSRGHUGDFODVVL¿FDomRQRGLVFXUVRD
XWLOL]DomRGHXPFDPSROH[LFDOFRPSRVWRSRUH[SUHVV}HVGHWHRUSHMRUDWLYRSDUDFODVVL¿FDUDVSHV-­
VRDVHPVLWXDomRGHUXDSRUSDUWHGDPtGLDWUDGLFLRQDOFRQ¿JXUDQDHVIHUDGRXVRGDOLQJXDJHPD
prática de exclusão, discriminação e apartação social.
Considerações finais
O espaço que O Trecheiro viabiliza para a discussão de questões relacionadas à situação de rua vai muito além do suporte físico: representa uma abertura na rígida estrutura social. Por meio dessa brecha, que rompe pressupostos da representação da pobreza extrema pela mídia tradicional, vozes que clamam por direitos assegurados em lei podem ecoar e ser ouvidas. Ainda que os textos de O Trecheiro apresentem apenas fragmentos de vozes de pessoas em situação de rua, articulados por seus/suas editores/as, em face de uma total surdez social essa iniciativa representa muito.
O jornal O Trecheiro apresenta manutenção de formas canônicas dos gêneros midiáticos, bem como do suporte jornal impresso, mas também apresenta, no uso criativo dos gêneros, mudan-­
ças em relação aos produtos da mídia tradicional, assim constituindo-­se como uma forma de mídia alternativa.
Entre as principais diferenças que constatamos estão o fato de o jornal ser inteiramente orien-­
tado para a divulgação de informações pertinentes ao contexto da rua, sendo explícito, em todos os textos, o posicionamento alinhado à causa das pessoas em situação de rua. Esse posicionamento do jornal já é esclarecido em seu título, que traz uma estrutura multimodal, caracterizada pelo uso ar-­
ticulado de diferentes semioses. No título do jornal estão representadas as pessoas em situação de rua, bem como a Rede Rua, que promove sua publicação, e principalmente o objetivo do jornal: a veiculação das “notícias do povo da rua”. $VVRFLDGDVDHVVDHVSHFL¿FLGDGHWHPiWLFDHQFRQWUDPVHQRVWH[WRVRXWUDVRSo}HVQDWH[WXUL-­
zação da informação, que têm efeitos na elaboração de identidades alternativas para as pessoas que se encontram em situação de rua. Exemplo disso é a seleção lexical – como a preferência por termos como “povo da rua”, “pessoas em situação de rua”, que não trazem o teor pejorativo dos termos com os quais são, via de regra, referidas as mulheres e os homens que se encontram no contexto da rua. As mudanças na estrutura genérica são, em certa medida, adequações do suporte e dos gêne-­
ros já consagrados pelo uso tradicional, operadas na formulação de um espaço discursivo alternati-­
vo. Dessa maneira, ao promover outra forma de retratar a realidade das ruas, na produção textual de informações em O Trecheiro, a Rede Rua busca a mudança social por meio da mudança discursiva.
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GT5 - Jornalismo Alternativo
Jornalismo “feito em casa”: a mídia informativa do terceiro setor
Elton Antunes
Ana Carolina Silveira Fonseca
Universidade Federal de Minas Gerais
Resumo
$VPtGLDVLQIRUPDWLYDVGRWHUFHLURVHWRUSHUPLWHPH[SORUDUUHÀH[}HVTXHWUDWDPGHPXGDQoDVVLJ-­
QL¿FDWLYDV QR FHQiULR MRUQDOtVWLFR UHYROXomR GDV IRQWHV &+$3$552 FRQWUDDJHQGDPHQ-­
to (ROSSY, 2007), dispositivos de interação sobre a mídia (BRAGA, 2006), “mídia das fontes” (SANTA’NNA, 2009), “advocay journalism” (WAISBORD, 2009). Na base desses fenômenos, ve-­
mos o esforço em constituir espaços próprios de visibilidade: trata-­se de um insurgir da face outro-­
ra vocacionada a ser o avesso da tessitura jornalística. Mas por ser “feito em casa”, em uma esfera de interesses declarados, essa tessitura suscita sérias dúvidas sobre sua credibilidade enquanto um produto jornalístico. Este artigo propõe o desentranhamento analítico dos “lugares de produção” – dentro ou fora das redações – para explorar o lugar que se funda pela inscrição dessas experiências em um circuito propriamente comunicativo. A nosso ver, o jornalismo “feito em casa” também se GH¿QHSRUPHLRGRGLiORJRTXHHPSUHHQGHFRPDVRFLHGDGHHFRPRVLVWHPDPLGLiWLFRHPWRUQRGD
escrita dos acontecimentos.
Introdução
A legitimidade de um produto jornalístico é sustentada em grande medida pela concepção de que o relato construído é o único possível. À semelhança de um bordado, o universo de possibili-­
dades em que se fazem as escolhas deve permanecer invisível, um eterno avesso, que é, entretanto, indissociável de sua outra face: “(...) produzir uma superfície visível induz um invisível como seu avesso (...)” (MOUILLAUD, 1997, p. 39). Estudos apontam para diversas mudanças nas relações FRPRVGLVSRVLWLYRVPLGLiWLFRVPDVXPFRQMXQWRGHUHÀH[}HVQRVLQWHUHVVDHPHVSHFLDODTXHODVTXH
tratam de uma organização “do avesso” para se mostrar como um lado direito ou para pressionar as “telas bordadas” dos grandes veículos de comunicação. Localizamos nessas iniciativas o esforço em constituir espaços próprios de visibilidade, dedicados a colocar em cena perspectivas muitas vezes negligenciadas. O jornalismo surge, assim, como uma atividade que também se constrói “em casa”.
1HVVHXQLYHUVRDPSORYROWDPRQRVHVSHFL¿FDPHQWHSDUDD³FDVD´GRVPRYLPHQWRVVRFLDLVH
para as relações de direito e avesso que estabelece com o texto jornalístico. Tomamos por referência RVWUDEDOKRVGHXPDRUJDQL]DomRGDVRFLHGDGHFLYLOGHQRPLQDGD2¿FLQDGH,PDJHQV&RPVHGHHP
%HOR+RUL]RQWH0LQDV*HUDLVD2¿FLQDpXPDGDVQRYHLQVWLWXLo}HVTXHLQWHJUDPKRMHD5HGH$1',
Brasil – Rede de Comunicadores pelos Direitos da Infância. A experiência dessa Rede se funda no objetivo declarado de contribuir para a agenda dos dispositivos midiáticos. E isso é feito dando cor-­
SRDRTXH)UDQFLVFR6DQW¶DQQDSHUPLWHLGHQWL¿FDUFRPR³PtGLDGDVIRQWHV´HPUHIHUrQFLDD
uma produção jornalística autônoma, que é realizada por aqueles que tradicionalmente seriam mo-­
bilizados como fontes dentro do processo jornalístico tradicional, ou aquilo que Waisbord (2009) nomeia como “advocay journalism”, tratando da maneira como organizações da sociedade civil bus-­
cam afetar a cobertura jornalística em favor de suas causas.
Muito se discute do impacto de tais mudanças na gestão do discurso jornalístico. Antônio Fausto Neto (2009, p. 19) aponta que esse cenário complexo “põe em discussão a essência da pe-­
dagogia mediadora do trabalho do jornalista (...). Além disso, atribui às fontes e aos leitores novas WDUHIDVGHµJHVWmRGLVFXUVLYD¶GDDWXDOLGDGHFRPSOH[L¿FDQGRRWUDEDOKRGHHQXQFLDomRGRDFRQWHFL-­
mento”. As denominações mobilizadas para dar conta desse fenômeno são indicativas da noção de TXHKiXPDPXGDQoDQRVÀX[RVWUDGLFLRQDLVUHYROXomRGDVIRQWHV³PtGLDGDVIRQWHV´FRQWUDDJHQ-­
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damento, são todas expressões que ilustram a ideia de que há um “avesso” que se quer “direito”.
0DVVHRFHQiULRVHFRPSOH[L¿FDGLDDGLDLPSXOVLRQDGRHPJUDQGHPHGLGDSHODVQRYDVWHF-­
nologias de informação, o trabalho de posicionar fontes e jornalistas de um lado ou de outro será uma tarefa cada vez mais difícil. Basta indicar, por exemplo, que, em grande parte dos casos, as “mí-­
dias das fontes” são geridas por jornalistas. Assim, a expressão do “feito em casa” não cumpre aqui o papel de reforçar a divisão dentro – fora das redações1. Nosso objetivo é ir além desse posiciona-­
mento espacial. Ao mobilizar a ideia de uma produção que se faz no âmbito do próprio movimento, DSURSRVWDpDVVLQDODURLQWHUHVVHSHODUHÀH[mRVREUHROXJDUGHVVDVH[SHULrQFLDV±TXHWrPSRUEDVH
um olhar perito – no sistema midiático. Explorar um lugar que se funda para além de uma dimensão física exige pensar a inscrição do “feito em casa” em uma dimensão propriamente comunicativa.
É com essa perspectiva que defendemos a fecundidade de se olhar para a escrita do aconteci-­
mento. Primeiramente, porque é nessa esfera que se inscreve o esforço da Rede ANDI Brasil. A par-­
tir de um amplo conhecimento sobre a cobertura midiática, propiciado pelo monitoramento e aná-­
lise de mídia, a Rede propõe novas perspectivas, fontes e, sobretudo, chama atenção para cenários negligenciados, quando o mais comum no movimento social da infância é uma atuação voltada para o atendimento direto de crianças e adolescentes. A segunda razão para a escolha dessa perspectiva está no fato de que a participação na escrita do acontecimento por meio de uma intervenção jornalís-­
tica inscreve tais iniciativas em uma grande prosa social e é reveladora dos possíveis lugares assumi-­
dos nessa conversação. Longe de buscar atestar o quão jornalísticos são tais produtos, interessa-­nos ver a contribuição do “feito em casa”, do olhar perito, para a imensa tessitura jornalística.
A “casa”
1RGLDGHQRYHPEURGHD2¿FLQDGH,PDJHQVHQYLRXDRVVHXVFHUFDGHFRQWDWRV
a edição de número 404 do boletim “Prioridade Absoluta”2. O envio foi feito por email sob a rubrica: “SUGESTÃO DE PAUTA | 18 de novembro: Dia Nacional do Conselho Tutelar”. No interior da men-­
sagem, três chamadas: “Seminário discute identidade dos conselhos tutelares em Belo Horizonte, nesta quinta-­feira”;; “Apesar de previstos há 20 anos, falta clareza sobre papel destes órgãos”;; “Es-­
WUXWXUDItVLFDHIRUPDomRVmRSULQFLSDLVGHVD¿RVHP0LQDV*HUDLV´2EROHWLP³3ULRULGDGH$EVROXWD´
pXPDGDVDo}HVGHVHQYROYLGDVSHOD2¿FLQDGH,PDJHQVQRkPELWRGHVXDDWXDomRFRPRLQWHJUDQWH
GD5HGH$1',%UDVLO³IRUPDGDSRURUJDQL]Do}HVGDVRFLHGDGHFLYLOVHP¿QVOXFUDWLYRVTXHWrPQD
comunicação uma ferramenta para a defesa dos direitos de crianças e adolescentes e a promoção do desenvolvimento humano” (AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DOS DIREITOS DA INFÂNCIA, 2005, p. 9).
As atuais nove organizações da Rede ANDI Brasil se intitulam agências de notícias, monito-­
UDPDFREHUWXUDGDLPSUHQVDHPVHXVHVWDGRVUHDOL]DPIRUPDo}HVGHSUR¿VVLRQDLVGDiUHDHSUR-­
duzem materiais diversos, dentre os quais o boletim “Prioridade Absoluta”. Em todas as agências, jornalistas atuam diretamente nessas ações. Importante destacar que o boletim é originalmente de-­
dicado a jornalistas, na forma de uma sugestão de pauta à imprensa, embora circule para um público mais amplo em vários dos estados. Em resumo, ainda que o boletim possa não corresponder ao que se espera de um “autêntico” produto jornalístico, entendido comumente como aquele concebido nas redações das empresas jornalísticas de forma desinteressada, objetiva e imparcial (ROSENSTIEL E KOVACH, 2003), é inegável a sua interface com o sistema de informação.
$RROKDUPRVSDUDDH[SHULrQFLDSDUWLFXODUGREROHWLP³3ULRULGDGH$EVROXWD´FRQ¿DPRVQR
seu potencial para indiciar um fenômeno comunicativo mais amplo, cujo estudo nos parece funda-­
mental à compreensão do jornalismo em nossa sociedade. Apoiamo-­nos em uma percepção empí-­
ULFDHHPXPFRQMXQWRGHUHÀH[}HVWHyULFDVGHTXHPRYLPHQWRVVRFLDLVyUJmRVS~EOLFRVHHPSUHVDV
privadas investem cada vez mais em empreendimentos jornalísticos. Sant’anna (2009, p. 52) desta-­
ca inclusive que no universo do que ele concebe como “mídia das fontes”, a maioria é mantida por entidades da sociedade civil. Importante destacar que não estamos tratando dos chamados house-­
1 O “feito em casa” não estaria, dessa maneira, no campo do jornalismo alternativo ou cidadão, que toma como premissa a organização de XPDSUiWLFDQmRSUR¿VVLRQDOL]DGD$7721DLQGDTXHSRVVDFRQWHUDVSHFWRVVLPLODUHVDWDOIHQ{PHQR
2 Boletim Prioridade Absoluta edição 404. 18 de novembro: Dia Nacional do Conselho Tutelar. Veiculado por correio eletrônico em 17 de novembro de 2010.
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organ, concebidos para divulgar fatos ou realizações relacionados à empresa ou entidade. Tratamos de materialidades que se propõem ao debate de temáticas públicas, entendidas como aquelas que se relacionam à vida coletiva em sociedade, como temas sociais e de cidadania.
O trabalho da Rede ANDI Brasil teve início no ano 2000, inspirado pela experiência da Agên-­
cia de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI), fundada em 1991, em Brasília, pelos jornalistas Gil-­
berto Dimenstein e Âmbar de Barros, dentre outros apoiadores. Essa iniciativa se localiza no con-­
texto de luta por legitimação do Estatuto da Criança e do Adolescente e da mudança de paradigma ali reivindicada, que tratava da proteção integral e da “Prioridade Absoluta” à população de 0 a 18 anos. Os fundadores entendiam que a grande imprensa tinha um papel estratégico no agendamento dos debates, mas, ao mesmo tempo, reconheciam uma falta de preparo dos colegas para lidar com as questões colocadas em pauta pelo Estatuto. Na perspectiva de contribuir para uma cobertura de “qualidade”, é que se estruturou tal iniciativa.
$2¿FLQDGH,PDJHQVFULDGDHPSDVVRXDLQWHJUDUD5HGH$1',HPMiQRSUL-­
PHLURDQRGHH[LVWrQFLDGDDUWLFXODomR2WUDEDOKRGD2¿FLQDWHYHLQtFLRDSDUWLUGD³H[SHULPHQWDomR
GHOLQJXDJHQVGDFRPXQLFDomRQRHVSDoRHVFRODUHGDUHÀH[mRVREUHDVUHODo}HVHVWDEHOHFLGDVHQWUH
mídia e sociedade”3. Com a entrada na Rede ANDI, a agenda de luta pelos direitos da criança e do adolescente foi incorporada como missão da organização. Além dos trabalhos relacionados à Rede, TXHLQFOXHPRPRQLWRUDPHQWRGRVMRUQDLVPLQHLURVHDSURGXomRGHVXJHVW}HVGHSDXWDD2¿FLQD
desenvolve a formação de atores do Sistema de Garantias dos Direitos da Criança e do Adolescente4, elabora conteúdos educativos sobre temas na área e empreende ações de educomunicação junto a HVFRODVHJUXSRVGHMRYHQVGHQWUHRXWUDVLQLFLDWLYDV$2¿FLQDWDPEpPLQWHJUDGLYHUVDVDUWLFXODo}HV
como o Fórum Estadual de Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Adolescente e a Rede CEP ±&RPXQLFDomR(GXFDomRH3DUWLFLSDomR$H[HPSORGD2¿FLQDGH,PDJHQVDVGHPDLVRUJDQL]Do}HV
da Rede ANDI também desenvolvem outras atividades para além das previstas no escopo de atua-­
ção como parte da Rede. E são essas ações que permitem às organizações o contato constante com os debates na área.
Nesse contexto, o boletim “Prioridade Absoluta” aparece como uma das estratégias dedica-­
das ao esforço de colocar em cena novas perspectivas para os debates em curso e apontar questões negligenciadas, tendo como base as garantias previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente. Interessa-­nos, em particular, a opção por construir um trabalho de mobilização tendo como base a DWXDomRQRXQLYHUVRGRMRUQDOLVPReLPSRUWDQWHREVHUYDUTXHD2¿FLQDGH,PDJHQVDVVLPFRPRDV
demais organizações da Rede, articula a expertise em duas frentes: um amplo conhecimento sobre a área da infância e sobre o jornalismo. Neste último caso, não apenas por ter uma equipe composta PDMRULWDULDPHQWHSRUSUR¿VVLRQDLVGDiUHDPDVWDPEpPSHODUHDOL]DomRDRORQJRGRVDQRVGHXP
trabalho sistemático de monitoramento da cobertura.
a) A “casa” por várias perspectivas
Algumas traços de nossa empiria apontam para mudanças que vêem sendo tratadas por uma VpULHGHDXWRUHV2EROHWLPpHQYLDGRFRPDLGHQWL¿FDomR³6XJHVWmRGH3DXWD´QRDVVXQWRGRHPDLO
$R¿QDOGHWRGRWH[WRSULQFLSDOGHVWDFDPVHDV³6XJHVW}HVGHIRQWHV´FRPLQGLFDomRGHQRPHVLQV-­
tituições e contatos. Por esses aspectos, dentre outros, parece-­nos que essa experiência dialoga com o que Chaparro (2001) denomina por “Revolução das fontes”. O autor apreende por revolução um FHQiULRHPTXHDVIRQWHVVHRUJDQL]DPHSUR¿VVLRQDOL]DPSDUDDWXDUHPHQTXDQWRWDORTXHHOHRE-­
serva ocorrer em diversos âmbitos: empresarial, governamental e na esfera dos movimentos sociais. Chaparro (2001, p. 43) destaca que “(...) quanto mais competente elas [fontes] se tornam, mais capazes são de determinar enfoques, relevâncias e até títulos, na narração jornalística”. Im-­
SRUWDQWHUHVVDOYDUXPDHVSHFL¿FLGDGHGHQRVVRREMHWRHPStULFR$5HGH$1',%UDVLOQmRSUHWHQGH
ser, ela mesma, fonte para os temas pautados, mas assume um lugar de intermediação, buscando SURPRYHUIRQWHVHVSHFLDOL]DGDVHVSHFt¿FDVTXHOLJDGDVjiUHDGDLQIkQFLDSRVVDPFRQWULEXLUSDUD
3 ZZZR¿FLQDGHLPDJHQVRUJEU. Acesso em 22 de março de 2011.
4 O Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente (SGD) consiste no conjunto de instituições e atores implicados na aten-­
ção aos direitos da população de 0 a 18 anos.
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novos enfoques da cobertura jornalística.
2XWUDGLPHQVmRDVHGHVWDFDUHTXHWDPEpPFLUFXQVFUHYHXPFDPSRGHUHÀH[}HVGL]UHVSHLWR
ao papel de contra-­agendamento. Elizena Rossy (2007) mostra que “o contra-­agendamento parte do pressuposto de que o agendamento também pode partir da sociedade para a mídia (...)” (ROSSY, 2007, p. 6). Para a autora, a atuação do terceiro setor nessa perspectiva “tem se mostrado decisiva para dar visibilidade e promover a discussão sobre temas de relevância pública”. (ROSSY, 2007, p. 5). O boletim “Prioridade Absoluta” busca instaurar um campo de visibilidade para questões que a Rede ANDI considera negligenciadas ou abordadas de forma inadequada. Leituras da empiria apon-­
WDPTXHQmRKiQHFHVVDULDPHQWHXPDFRUUHVSRQGrQFLDHQWUHRTXHVHWHQWDSDXWDUHRSHU¿OHGLWRULDO
dos veículos que recebem o material. Assim, a “revolução das fontes” se particulariza aqui por uma contribuição à imprensa na perspectiva de tensioná-­la.
O boletim “Prioridade Absoluta” também parece guardar uma dimensão de crítica de mídia. Nesse sentido, buscamos subsídios nas discussões de José Luiz Braga (2006), quando o autor dis-­
corre sobre a existência de um terceiro subsistema, ao lado dos da produção e recepção, em que a so-­
ciedade interage sobre a mídia. Como dito, as agências da Rede acompanham a cobertura dos prin-­
cipais veículos de informação em seus estados e já produziram diversas análises de mídia. Vislum-­
bramos uma dimensão de crítica que se realiza não apenas pelos materiais dedicados especialmente DHVVH¿P&RPRDo}HVDUWLFXODGDVQRERMRGHXPDPHVPDLQLFLDWLYDDFUHGLWDPRVTXHR³3ULRULGDGH
Absoluta” responde, em alguma medida, à leitura crítica desse cenário. Braga (2006) chama atenção para o fato de que os dispositivos que se organizam em torno de um trabalho crítico sobre a mídia frequentemente se valem da própria mídia para ganhar visibilidade, caso de nosso objeto. Um as-­
pecto interessante a destacar é que o boletim “Prioridade Absoluta” circula junto a jornalistas, que estão implicados na redação do que seria o texto jornalístico de referência, e também junto a diver-­
sas pessoas ligadas à promoção dos direitos de crianças e adolescentes. Parece-­nos que ele se realiza como crítica justamente por articular essas duas dimensões.
Como dito, embora “sugestão de pauta”, ele circula para muito além das redações. O envio é UHDOL]DGRSHOD2¿FLQDGH,PDJHQVSDUDFHUFDGHFRQWDWRVSRUPHLRGHXPVLVWHPDHOHWU{QLFR
Dentre os destinatários, há estudantes universitários, conselheiros de políticas públicas e tutelares, SHVVRDVOLJDGDVDRWHUFHLURVHWRUGHQWUHRXWURV(VVHPRGRGHFLUFXODUGREROHWLPpPRWLYRGHUHÀH-­
xão entre os que o produzem: pauta ou matéria? Sem entrar nessa seara, parece-­nos que o boletim circula potencialmente como um produto jornalístico, seja qual for sua natureza. Para localizá-­lo FRPRWDOPRELOL]DPRVRXWURXQLYHUVRGHUHÀH[}HVGHGLFDGRDSHQVDUQmRGLUHWDPHQWHHPXPDRU-­
JDQL]DomRGDVIRQWHVSDUDLQÀXLUQDDJHQGDPLGLiWLFDPDVHPXPDSURGXomRSUySULD
Francisco Santa’nna (2009, p. 17) oferece-­nos uma interessante sistematização nesse senti-­
GR³QRYRVYHtFXORVLQIRUPDWLYRVVmRRIHUWDGRVDRS~EOLFRSRURUJDQL]Do}HVSUR¿VVLRQDLVVRFLDLV
e inclusive por segmentos do Poder Público”. Conforme o autor, são mídias mantidas e administra-­
das por atores sociais tradicionalmente vistos como fontes de informação. Por isso, Santa’nna as denomina “mídia das fontes” e elenca os vários setores que se valem hoje desse investimento: em-­
presas, órgãos públicos, ONGs, Igrejas, Universidades, movimentos sociais. Sant’anna (2009, p. 21) destaca que essas iniciativas devem ser vistas “como uma busca de um lugar no espaço público ou mesmo a ampliação deste”. Para o autor, nesse processo, a imprensa começa a perder a totalidade do domínio da cena informativa. “A opinião pública (...) passa a contar com informações coletadas, VHOHFLRQDGDV¿OWUDGDVWUDWDGDVHGLWRULDOPHQWHHGLIXQGLGDVSRUHQWLGDGHVRXPRYLPHQWRVVRFLDLV
em outras palavras por corporações detentoras de interesses corporativos”. (SANTA’NNA, 2006, p. 18). E Santa’nna (2009, p.55) destaca que “a linguagem principal desta nova ferramenta de comuni-­
cação é a redação jornalística”.
2VFDPSRVGHUHÀH[}HVPRELOL]DGRV±³PtGLDGDVIRQWHV´GLVSRVLWLYRVGHLQWHUDomRVRFLDOVR-­
bre a mídia, contra-­agendamento, revolução das fontes – apontam para um cenário de mudanças, que não só motiva debates no campo da prática e da teoria, como também é motivo de certo alvoro-­
ço. E não à toa. Algumas das características do que se espera de um bom jornalismo, tais como busca GHVLQWHUHVVDGDGDYHUGDGHLVHQomRUHODWR¿GHGLJQRGDUHDOLGDGHHGHGLFDomRjVTXHVW}HVGHLQWH-­
resse público, aparecem em nova visada. Ressalvada a questão do interesse público, a produção da Rede ANDI Brasil, por seu próprio lugar interessado, não atende aos demais princípios. Sant’anna Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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(2009, p. 64) aponta que “a grande crítica à informação difundida pelas ferramentas do jornalismo das fontes se baseia assim no fato de que ele, ao contrário da imprensa, não estaria, em teoria, des-­
provido de segundo interesse (...)”.
Entretanto, o que permite a esse investimento jornalístico colocar em pauta questões ne-­
gligenciadas não é justamente o segundo interesse, ou o olhar perito? Visto por essa perspectiva, o fato de ser “feito em casa” aparece como a própria condição de realização desse jornalismo e não um fator desabonador. É o amplo conhecimento sobre uma determinada área ou, no caso, duas – MRUQDOLVPRHLQIkQFLDRTXHSRVVLELOLWDj2¿FLQDGH,PDJHQVSURSRUQRYRVVHQWLGRVDRSURFHVVRGH
VLJQL¿FDomRGRVDFRQWHFLPHQWRVVRFLDLVTXHWrPQDPtGLDXPHVSDoRSULYLOHJLDGR$TXHVWmRTXHVH
coloca deixa de ser, portanto, se estamos ainda falando de jornalismo e passa a ser qual o papel do “feito em casa” na tessitura do texto jornalístico.
A escrita do acontecimento
Uma vez explorada “a casa” de que tratamos, cumpre avançar no tipo de escrita do aconteci-­
mento que efetivamente se realiza por essa experiência, seja em uma mídia própria, como um lado direito, como aquilo que se dá a ver, seja no endereçamento feito ao jornalismo de referência, como a organização de um avesso, ou a “revolução das fontes”. Para isso, é importante destacar algumas das considerações que permitem abordar a relação da mídia com os acontecimentos sociais e tam-­
bém aquelas que fazem da escrita do acontecimento uma dimensão reveladora de um lugar de fala dos dispositivos de informação.
De acordo com Louis Quéré (2005), os acontecimentos são fenômenos que têm como carac-­
terística a ruptura com o esperado. Algo acontece no mundo e afeta a continuidade da experiência, PRELOL]DQGRSURFHVVRVGHVLJQL¿FDomR2DXWRUDSRQWDTXHDPtGLDpXPGRVDWRUHVTXHSDUWLFLSD
desse processo de restabelecimento de sentidos. O que vemos ocorrer especialmente nos dispositi-­
vos de informação. Quéré (2005) destaca o caráter distribuído que está na base da busca de enten-­
dimento para os acontecimentos. Todos os tipos de atores sociais participam desse processo, no que se incluem os media.
Por essa perspectiva, parece-­nos que os dispositivos de informação geram textos que têm muito a revelar de um dado contexto sócio-­histórico e do seu lugar nesse contexto. Primeiramente, por ser um dos lugares em que ressoa aquilo que “acontece” a uma sociedade, ou aquilo que a deses-­
tabiliza. Se o acontecimento rompe com as expectativas, é revelador das próprias expectativas. “(...) o verdadeiro acontecimento não é unicamente da ordem do que ocorre, do que se passa ou se pro-­
duz, mas também do que acontece a alguém” (QUÉRÉ, 2005, p. 61). Em segundo lugar, por também fazer ressoar o passado e o futuro mobilizados para dar conta do acontecimento e, ainda mais, por se inscrever nesse esforço coletivo de estabelecer uma causalidade.
Os movimentos sociais, assim como outros atores, estão implicados nesse processo, princi-­
palmente quando optam por uma intervenção jornalística. Ao fazê-­lo, demonstram reconhecer que há disputa de sentidos na busca de entendimento. Os acontecimentos não são dados no mundo, como muitas vezes pretendem os dispositivos de informação. Eles “são relativos ao que nós somos, às nossas capacidades e ao nosso sentido do possível, à maneira como somos afectados e ao nosso poder de resposta, aos nossos hábitos e à nossa sensibilidade” (QUÉRÉ, 2005, p. 68). E é nesse uni-­
verso de possíveis que uma ação como a Rede ANDI tenta intervir de maneira organizada.
Quando o envolvimento de um adolescente com um crime é tratado unicamente como um problema de segurança pública, isso diz de um entendimento das possibilidades de respostas. Um exemplo nesse sentido é relativo à redução da idade penal5, demanda que volta à tona sempre que um crime bárbaro envolvendo adolescentes ganha grande repercussão. A escrita jornalística da Rede ANDI Brasil tenta agregar outras perspectivas, apontando, por exemplo, a falta de políticas públicas para a juventude. É o olhar perito que permite à Rede trazer novas questões. E nesse esforço, a Rede $1',DVVLPFRPRWRGRVDTXHOHVTXHSDUWLFLSDPGRSURFHVVRGHVLJQL¿FDomRGiDYHUXPOXJDUGH
fala. Segundo Quéré, a singularidade do acontecimento e a identidade dos que o sentem são tecidas 5 De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, são penalmente inimputáveis os menores de 18 anos. Dos 12 aos 18, eles estão sujeitos a seis medidas socioeducativas, sendo a mais severa é a de internação, que pode durar até três anos. Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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em conjunto, uma vez que é através da apropriação dos indivíduos que o acontecimento adquire sig-­
QL¿FDomR³2DFRQWHFLPHQWRHDTXHOHDTXHPHOHDFRQWHFHVmRDPERVFRLVDVTXH©VHWRUQDPªQR
quadro de uma transacção (...)” (QUÉRÉ, 2005, p. 68).
Charaudeau (2005, p.103) aponta que os acontecimentos serão selecionados e construídos de acordo com o potencial de atualidade, de socialidade e de imprevisibilidade, em um jogo de produzir saliências e pregnâncias, “assegurando-­lhes assim uma visibilidade, uma publicização, e produzin-­
do um possível efeito de captação”. Por atualidade, Charaudeau compreende a distância que separa o acontecimento do momento da informação. A socialidade diz da inscrição desse acontecimento em um universo comum aos sujeitos – condição de pregnância – e a imprevisibilidade corresponde a uma descontinuidade, a saliência. Conforme Mouillaud (1997, p. 63), “(...) no tempo como no es-­
paço, o acontecimento parece repousar sobre decisões que, atribuindo-­lhe limites arbitrários, insti-­
tuem a cena do acontecimento como uma cena legítima”.
Por essa segunda visada, é possível apreender o esforço do movimento social ao optar pelo MRUQDOLVPR0XLWRDOpPGHVHLQVFUHYHUHPGHEDWHVHPFXUVRRXFRQWULEXLUSDUDDVLJQL¿FDomRGRV
acontecimentos que irrompem em uma sociedade, vê-­se também a tentativa de produzir saliências, de destacar questões para o debate por meio do jogo de que trata Charaudeau. Nesse caso, o gancho deixa de ser um fato que eclode e passa a ser aquilo que, na opinião do movimento, deveria ganhar repercussão. Uma estratégia comum a várias edições é a de se valer de datas comemorativas – que potencialmente atraem a imprensa, para destacar novos campos problemáticos.
O modo como o boletim lida com a dinâmica acontecimental parece-­nos indicar um gesto que localiza essa experiência no campo jornalístico, mas ao mesmo tempo reforma esse campo. Para além de colocar em debate novas perspectivas, essa experiência chama atenção para o fato de que as escolhas jornalísticas não são tão óbvias. É interessante considerar que embora a grande imprensa possa não agregar em suas páginas as questões que o movimento tenta colocar em cena, a convivên-­
cia dos vários dispositivos colocam restrições uns em relação os outros. Entre o direito e o avesso do bordado feito em casa
No esforço de colocar outras questões em cena, o jornalismo “feito em casa” não se deixa apreender apenas por posicionamentos em relação a determinados acontecimentos, funda também um modo de conceber os acontecimentos de uma maneira geral, seja quando pensados no âmbito GDVRFLHGDGHRXTXDQGRVLJQL¿FDGRVSHODLPSUHQVD,PSRUWDQWHREVHUYDUTXHFDGDGLVSRVLWLYRGHQ-­
tro do “feito em casa”, vai lidar diferenciadamente com a relação jornalismo/acontecimento, assim como também ocorre com os grandes veículos de informação, do que decorre a pouca precisão de expressões como “militante” ou “alternativo”. Assim, apontamos a importância de observar como a revolução das fontes se particulariza em cada caso.
Ora direito, ora avesso, o boletim “Prioridade Absoluta” permite explorar várias tessituras. Sabemos que o jornalismo trata do “novo” e a própria palavra acontecimento remete a uma atualida-­
de. Mas como indicado em Charaudeau, temos, em verdade, um jogo em que se produz pregnâncias e saliências. A leitura dos boletins indica a tentativa de destacar situações que não deveriam ser per-­
cebidas como “naturais”. Na maior parte das vezes, chama atenção para a falta de políticas públicas. Considerando que, embora sugestão de pauta, o boletim circula majoritariamente entre pessoas do Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente, parece-­nos que tais saliências se des-­
tacam em um contexto de pregnância que é o daqueles que atuam na área. Diz de problemas, carên-­
cias, alternativas que são mais facilmente percebidas como tal por aqueles que compartilham desse PHVPRXQLYHUVR3RUHVVDYLVDGDSDUHFHQRVTXHHOHPRVWUDVXDIDFHGLUHLWDGHXPSURGXWR¿P
Por dois aspectos, entretanto, esse modo de atuar o faz um avesso interessante. Primeiro, por ser uma sugestão de pauta. Na rotina de produção do jornalismo, pauta é um plano, é da ordem de uma promessa, é aquilo que se vai executar. O boletim se forja, portanto, como uma promessa de acontecimento? Está em questão uma expectativa de como deve ser o acontecimento? Em segundo lugar, porque ao circular junto às potenciais fontes também as posiciona para atuarem como tal jun-­
to ao sistema midiático como um todo. Diante de uma data, um evento ou mesmo uma discussão em Anais do I Colóquio Internacional Mudanças Estruturais no Jornalismo. Brasília: Programa de Pós-­Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília, 2011.
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FXUVRD2¿FLQDGH,PDJHQVSURS}HDQWHFLSDGDPHQWHXPWH[WRMRUQDOtVWLFRVREUHDOJR3UHSDUDDR
mesmo tempo, fontes e jornalistas para atuarem no debate.
Mas se, como destacado anteriormente, as questões tratadas como saliências parecem fazer mais sentido no contexto do próprio movimento, como pensar essa relação com a imprensa? Há um REMHWLYRGHFODUDGRQRWUDEDOKRGD5HGH$1',HSRUWDQWRGD2¿FLQDGH,PDJHQVGHFRQWULEXLUSDUD
a cobertura da imprensa de referência. A leitura dos materiais também indica a preocupação com o “gancho” jornalístico. Muitas vezes, alia-­se, como demonstrado, uma data de apelo mais geral com uma questão que interessa ao movimento divulgar. Entretanto, pensar no lugar dessa mídia na tes-­
situra do texto jornalístico exige descolar uma relação tão direta. Embora as sugestões de pauta pos-­
sam não despertar o interesse de grande parte da imprensa no momento em que são veiculadas, elas parecem lidar com questões que, de uma forma ou de outra, cedo ou tarde, mantêm relação com os acontecimentos que ganham as páginas de referência. Assim, propomos um olhar mais amplo. Quando uma sugestão de pauta destaca a falta de estrutura para atender adolescentes que cometem ato infracional, o que tem como uma de suas conseqüências a reincidência, de alguma forma não tenta criar um lastro de fontes e argumentos para os casos que aclodem, como o do menino João Hé-­
lio6, um crime bárbaro que contou com a participação de um adolescente? Importante destacar que um dos investimentos da Rede ANDI é justamente na sensibilização de pessoas da área da infância para atuarem como fontes.
E que lastro se cria? Outro aspecto que leituras preliminares da empiria permitem indicar se refere ao modo como a relação causal é construída nesses materiais. Enquanto no jornalismo diário YHUL¿FDVHXPDWHQGrQFLDjVLQJXODUL]DomRQREROHWLP³3ULRULGDGH$EVROXWD´SDUHFHKDYHURHVIRUoR
em transformar o contexto mais macro dos eventos no próprio acontecimento. Tema recorrente nos EROHWLQVDTXHVWmRGRVDGROHVFHQWHVHPFRQÀLWRFRPDOHLpWUDWDGDTXDVHVHPSUHFRPRXPSUREOH-­
ma de políticas sociais básicas, enquanto as pesquisas de mídia da própria Rede ANDI Brasil apon-­
tam o enfoque da abordagem dos veículos de massa na questão da segurança pública, com destaque para a trajetória de criminalidade do próprio jovem.
Ou seja, há uma interação distendida no tempo em que o boletim “Prioridade Absoluta” e a mídia de referência assumem papéis diferenciados na construção de sentidos para os acontecimen-­
tos, o que não implica dizer opostos ou contraditórios. O olhar perito da Rede para a questão da in-­
fância parece permitir chamar atenção a cenários que, à frente, podem, inclusive, ser mobilizados como contexto dos acontecimentos que a grande imprensa repercute.
As hipóteses indicadas apenas ilustram o potencial de considerar pela perspectiva do acon-­
tecimento o lugar das mídias informativas do terceiro setor. Diversas outras leituras podem ser ex-­
ploradas. Mas um último aspecto deve ser destacado. Há que se considerar que o boletim “Priori-­
dade Absoluta” guarda grande identidade com o modo de operar dos dispositivos da grande mídia, inclusive quando se observa aspectos relativos à recorrência de fontes, ao tom especialista e mesmo ao estilo do texto. Além disso, há evidentemente o privilégio a um ponto de vista sobre os assuntos, o da “Proteção Integral”, como preconizado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Nenhuma sugestão de pauta trará ao debate, por exemplo, aspectos favoráveis à redução da idade penal.
O dispositivo de informação se organiza, conforme Mouillaud, em torno do gesto de infor-­
mar, que implica estabelecer, em um mesmo movimento, um dentro e um fora de quadro, e de modo imperativo: “o que pode ser visto e o que deve ser” (MOUILLAUD, 1997, p. 38). Justamente em fun-­
omR GLVVR YHUGDGHLUDV EDWDOKDV VLPEyOLFDV VH HVWDEHOHFHP SDUD PRGL¿FDU DV ERUGDV GD FREHUWXUD
jornalística diária. Mas se assumimos esse mecanismo como válido para o modo de operar de todo e qualquer dispositivo de informação, podemos pensar em um sistema jornalístico que se constitui pelo bordejamento de diferentes campos de visibilidade, sendo todos, ao mesmo tempo, a face invi-­
sível do outro, ou o seu avesso. “Parece-­nos que toda e qualquer informação engendra o desconheci-­
do, no mesmo movimento pelo qual informa (...)” (MOUILLAUD, 1997, p. 39). E o que está fora de quadro permanece: “é testemunho de uma presença mais inquietante, a qual não se pode mais dizer 6 O menino João Hélio, de seis anos de idade, foi assassinado em fevereiro de 2007 após um assalto ao carro em que estava com sua mãe e VXDLUPm2JDURWR¿FRXSUHVRDRFLQWRGHVHJXUDQoDHIRLDUUDVWDGRGRODGRGHIRUDGRFDUUR8PDGROHVFHQWHIRLXPGRVFLQFRDFXVDGRVGHHQYROYL-­
mento no crime, o que motivou uma série de debates em torno da redução da idade penal.
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que existe, mas, preferencialmente, que ‘insiste’ ou ‘subsiste’ (...)” (MOUILLAUD, 1997, p. 41). A es-­
FULWDGRDFRQWHFLPHQWRQRVSDUHFHpXPGRVOXJDUHVHPTXHRVGLVSRVLWLYRVMRUQDOtVWLFRVGH¿QHP
seus quadros de visibilidade na relação com o que se mantém fora de quadro, o que também assu-­
mimos como válido para as mídias informativas do terceiro setor. Assim, sua face visível também representará sempre o apagamento de um avesso.
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GT5 - Jornalismo Alternativo
Quando o social entra em pauta
Hila Rodrigues
Universidade Federal de Ouro Preto
Marta Maia
Universidade Federal de Ouro Preto
Ana Paola de M. Amorim Valente
Universidade Fumec e Universidade Federal de Ouro Preto
Resumo
Este artigo pretende avaliar como o fazer jornalístico açambarca e/ou elimina a pauta social na mí-­
GLD6HDSDXWDVRFLDOGHSHQGHGRVJDELQHWHVR¿FLDLVSDUDUHVSRVWDVGDVPXLWDVGHPDQGDVGDVRFLH-­
dade, sua origem encontra-­se na rua e isso leva a repensar os esquemas já cristalizados de cobertura. Exige um olhar atencioso para dentro das redações, sendo uma pré-­condição para garantir, reforçar e, em alguns casos, restaurar, o espírito crítico aguçado da imprensa. Como metodologia de análise será feito um retrospecto conceitual sobre a produção da notícia, quem aparece e como aparece, sem GHL[DUGHUHÀHWLUVREUHTXHPSURGX]HFRPRSURGX]DLQIRUPDomRDSDUWLUGHXPGLDJQyVWLFRGDPt-­
dia impressa sob a ótica da pauta social e as possíveis rupturas neste sentido.
Até hoje, início do século XXI, é comum ouvir generalizações como “o mercado necessita de MRUQDOLVWDVHVSHFLDOL]DGRVHPHFRQRPLD´(VVDHTXDomRVLPSOHVTXHSURMHWDGHPDQGDVSUR¿VVLRQDLV
por meio de tendências de especialização, demonstra também que há uma hierarquia oculta nas re-­
GDo}HVHFRQRPLDHSROtWLFDMiVH¿UPDUDPFRPRHGLWRULDVQREUHV6HRVQRWLFLiULRVHFRQ{PLFRVH
políticos são as pupilas da redação, a alma está nas ruas e isso não é exatamente uma novidade: já na abertura do século XX João do Rio praticou um jornalismo mais próximo do cotidiano do que o até então jornalismo de gabinete praticado nos jornais brasileiros. Qualquer debate sobre possi-­
bilidades de especialização no jornalismo, portanto, envolve a questão do processo de produção da informação em sua complexidade e, paradoxalmente, em sua singularidade. No caso deste artigo, pretende-­se avaliar como o fazer jornalístico açambarca e/ou elimina a pauta social na mídia. Se a SDXWDVRFLDOGHSHQGHGRVJDELQHWHVR¿FLDLVSDUDUHVSRVWDVGDVPXLWDVGHPDQGDVGDVRFLHGDGHVXD
origem encontra-­se na rua e isso leva a repensar os esquemas já cristalizados de cobertura. Exige um olhar atencioso para dentro das redações, sendo uma pré-­condição para garantir, reforçar e, em alguns casos, restaurar, o espírito crítico aguçado da imprensa. Entender a realidade social sempre IRLRJUDQGHGHVD¿RGRMRUQDOLVPRHPERUDQHPVHPSUHWmRHYLGHQFLDGRFRPRGHYHULD
(PVHXSURFHVVRGHOHJLWLPDomRRMRUQDOLVPRVH¿UPDVREUHDVEDVHVGRJrQHURLQIRUPDWLYR
A separação entre notícia e opinião é o marco do jornalismo moderno e a primazia da primeira sobre a segunda não deixa de ser um avanço no sentido de enfatizar a qualidade informativa. Mas o pro-­
cesso de modernização e industrialização vai além e implica, também orientado pelo propósito de valorizar a informação, a organização em editorias como uma necessidade emergente de organizar os temas, notícias – uma necessidade inspirada na divisão do trabalho, no capitalismo, na indus-­
trialização que marca o início do século XX. Essa divisão faz parte das inovações na imprensa nesse período. Ela teria vindo com a tendência ao declínio do folhetim (substituído pelo colunismo e, em seguida, pela reportagem), com a emergência das entrevistas e o predomínio da chamada informa-­
ção objetiva sobre a doutrinação. O que leva à substituição de textos de colaboradores por notícias, HQWUHYLVWDVUHSRUWDJHQV-iQR¿QDOGDGpFDGDGH1pOVRQ:HUQHFN6RGUpGL]LDTXHHVVD³GLYLVmR
de matéria” está “intimamente ligada à tardia divisão do trabalho, que começa a impor as suas ine-­
xoráveis formas.” (1999, p. 296-­297). Nilson Lage (2001) recorre aos princípios (para a construção de um jornal) apregoados na década de 50 por Jack S. Sissors, professor de jornalismo da Northwes-­
tern University, que diz: “categorize as notícias por títulos permanentes colocados no topo de cada SiJLQD3RGHPVHUXVDGRVQRPHVGHDVVXQWRVRXGHiUHDVJHRJUi¿FDV´/$*(S7DP-­
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bém Samuel Wainer, quando aborda os avanços do jornal Última Hora, no início da década de 50, conta que agregou às “seções convencionais – política, economia, internacional, assuntos nacionais etc.” – o segundo caderno, com “esportes e divertimentos” (WAINER, 1988, p.145). Estes exemplos mostram que a discussão sobre a conotação visual e de organização por conteúdo é uma constante no campo jornalístico;; entretanto é preciso evidenciar o papel do setor mercadológico das empresas na cadernalização dos jornais, que associam público, consumo e vendas. Como argumenta Cremil-­
da Medina (1978) é preciso considerar a “informação jornalística como produto da comunicação de massa, comunicação de massa como indústria cultural e indústria cultural como fenômeno da socie-­
dade urbana e industrializada” (p. 20)
A especialização garante seu espaço então mais como estratégia de segmentação de públicos do que propriamente como aliado, por si, de qualidade do conteúdo. Assim, as especialidades se movimentam no mercado editorial mais ao sabor das marés econômicas do que propriamente infor-­
mativas. A sucessão de planos econômicos valorizou a editoria de economia. Avanços tecnológicos deram aos jornais seções e revistas especializadas em informática, entre outros. Sobretudo a partir dos anos 1980, o neoliberalismo tentou expurgar a questão social das agendas públicas em nome de XP(VWDGRPDLVHQ[XWRHiJLOYROWDGRSDUDH¿FLrQFLDGDVHVWUDWpJLDVGHGHVHQYROYLPHQWRHFRQ{PLFR
(SANTOS, 2004;; IPEA, 2005). Nos últimos anos, contudo, percebe-­se o caminho inverso e as políticas sociais conquistam um espaço importante. É objeto de fóruns internacionais, sendo incluído em encontros de cúpula VHVV}HVHVSHFt¿FDVSDUDGLVFXWLUTXHVW}HVUHODFLRQDGDVjSREUH]DDJULFXOWXUDIDPLOLDUGHVLJXDOGDGH
social, entre outras. Exemplo é a incorporação do tema no Mercosul, durante a 36ª Reunião Ordiná-­
ULDGRVHX&RQVHOKRGH(VWDGRV3DUWHVH$VVRFLDGRVUHDOL]DGDQR¿QDOGHHTXHSURGX]LXGRLV
documentos importantes para a área: o Plano Estratégico de Ação Social do Mercosul e a Declaração Sobre Medidas de Promoção e Proteção na Área Social em Resposta à Crise Financeira Mundial. No mesmo encontro, foi aprovado um orçamento de US$ 227 mil para criação do Instituto Social do Mercosul. No Brasil, desde o embrião plantado pelos movimentos sociais na Constituição de 1988, o tema ganha centralidade a partir de 2003 de maneira pioneira em nossa história, dando às políti-­
cas sociais um status que não tinham. Mas, ao contrário do que aconteceu em outras áreas, não se SHUFHEHQRVPHUFDGRVGDVUHGDo}HVXPHVIRUoRREMHWLYRGHSURPRYHUDHVSHFLDOL]DomRGRVSUR¿VVLR-­
QDLVSDUDFREHUWXUDGDVSROtWLFDVS~EOLFDVHPiUHDWmRHVSHFt¿FDDGHVSHLWRGDFHQWUDOLGDGHTXHR
WHPDFRPHoDDDVVXPLUQDVDJHQGDVJRYHUQDPHQWDLVHS~EOLFDV,VWRSRGHVHUPDLVXPDFRQ¿UPDomR
de que a segmentação se orienta mais por critérios mercadológicos do que jornalísticos. Ao mesmo tempo, sabe-­se que não é só o mercado que determina, mesmo porque nenhum jornal pode ignorar movimentações importantes na sociedade. O leitor sente a ausência de determinados assuntos. O que ocorre, entretanto, na maioria das vezes, é que a cobertura da pauta social até abarca certos as-­
suntos, mas este acaba sendo tratado sob o enfoque econômico, por exemplo, desconsiderando ou-­
tros possíveis olhares. Um exemplo disso é o fato de que o Brasil vive um período de crescente mobilização social, com aumento do número de conferências nacionais sobre políticas públicas de várias áreas – saúde, educação, assistência social, mulheres etc. – e esses eventos não encontram repercussão na mídia, ainda que reúnam em média mais de 1.500 pessoas1. É até possível, sob esse prisma, que a pauta social quase não apareça nas páginas noticiosas em função do desconhecimento daqueles que produzem a notícia – desconhecimento das nuances TXHSHUPHLDPRVFRQFHLWRVGHµSROtWLFDS~EOLFD¶HµSROtWLFDVRFLDO¶$¿QDO³YHQGHU´XPDSDXWDVRFLDO
em uma redação exigiria, em primeiro lugar, que esses produtores de notícia – do repórter ao editor da primeira página – vislumbrassem a política social como o que ela é: uma das modalidades das SROtWLFDVS~EOLFDVHTXHSRUWDQWRHQYROYHDo}HVGHJRYHUQRTXHHPDOJXPDPHGLGDLQÀXHQFLDUmRR
dia-­a-­dia do cidadão comum. Essa percepção é também o primeiro passo para o desenvolvimento da capacidade de diferenciar uma política governamental de cunho técnico e outra de cunho social. A reforma de uma estrada exige proposições e procedimentos muitíssimos diversos de uma política de FRPEDWHjSURVWLWXLomRLQIDQWLOSRUH[HPSOR$SULPHLUDLPS}HDLGHQWL¿FDomRGHSHULJRVHVSHFt¿FRV
1 Desde 1941 até 2009, foram realizadas no Brasil 104 conferências, nacionais e internacionais, sendo 68 entre 2003 e 2009. As informa-­
ções estão disponíveis na página da Secretaria-­Geral da Presidência da República: http://www.presidencia.gov.br/estrutura_presidencia/sec_geral/
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em determinados trechos rodoviários (o que vai gerar a demanda pelas obras de recuperação), o es-­
tabelecimento da extensão da reforma e os custos da intervenção, além de monitoramento e avalia-­
omRGDVREUDVLPSOHPHQWDGDV$VHJXQGDpXPDRXWUDKLVWyULDHPERUDWDPEpPH[LMDDLGHQWL¿FDomR
das causas do problema, o estabelecimento do universo a ser alterado (e como deve ser alterado), a estimativa de custos de uma intervenção, monitoramento e avaliação, é sabido que esse é um proble-­
ma irremediavelmente mais complexo. Primeiro porque a prostituição infantil costuma ser oca-­
sionada por mais de um fator e, portanto, tende a demandar mais de uma ação para ser eliminada. Além disso, envolve não só maior número de atores sociais (que precisam compreender a gravidade da situação para aderir a qualquer proposta destinada a revertê-­la), mas também um número maior GHLQVWLWXLo}HVVRFLHWiULDVHJRYHUQDPHQWDLV(Q¿PDiUHDVRFLDOHQYROYHVLWXDo}HVFRPSOH[DVTXH
abrigam conceitos muitas vezes subjetivos, além de interações intrincadas que marcam o cenário de disputa em torno das demandas colocadas para o poder público. É nesse sentido que autores como Sulbrandt e Rua ressaltam o fato de que, não raras vezes, os problemas sociais contemplados pelos mais diversos programas e projetos não podem ser “rigo-­
URVDPHQWHGH¿QLGRV´68/%5$1'7S(SRULVVRPHVPRIRUPXODUDOWHUQDWLYDVSDUD
a resolução dos problemas nessa área tende a ser tarefa árdua para os gestores públicos. Sem essa compreensão, portanto, é difícil encontrar, no campo das políticas sociais, a singularidade que dá FRQWRUQRVjQRWtFLD(PRXWUDVSDODYUDV¿FDGLItFLOHQ[HUJDUDSDXWDVRFLDO±HPDLVGLItFLODLQGDLQ-­
serir o cidadão comum nessa discussão. Ressalte-­se, aqui, que a importância da pauta social não mantém relação só com a relevância da democratização do debate em torno das mazelas sociais, mas, sobretudo, com a capacidade da mídia de perceber e acusar as razões pelas quais alguns pro-­
blemas entram na agenda governamental e outros, não.
Por isso mesmo, discutir se a pauta social está ausente ou não da mídia ou se tem espaço ade-­
quado ou não, é uma questão que extrapola o debate sobre especialização. A escassez de repórteres especializados na área ou interesse de estruturar essa especialidade na redação é um sintoma, mas QmRRIHUHFHWRGDVDVSHUJXQWDV$VLPSOHVGH¿QLomRGHPDLVXPDHGLWRULDVHPVHGHEUXoDUVREUH
TXHVW}HVPDLVDPSODVGRMRUQDOLVPRSRGHVLPSOHVPHQWHVLJQL¿FDUPDLVXPDVHJPHQWDomRGHS~EOL-­
co e fragmentação de conteúdo. O avanço das políticas sociais nos cenários nacional e internacional e o aumento da mobilização social trazem indagações importantes para as redações. Esse fenômeno apresenta atores até então excluídos da agenda pública e que ganham visibilidade. Com isso, reforça a fórmula inaugurada em terras nacionais por João do Rio, mas também integra um esforço de re-­
SHQVDURMRUQDOLVPR$¿QDODVPXGDQoDVGHSDUDGLJPDQmRDFRQWHFHPVR]LQKDV
Como metodologia de análise será feito um retrospecto conceitual sobre a produção da notí-­
FLDTXHPDSDUHFHHFRPRDSDUHFHVHPGHL[DUGHUHÀHWLUVREUHTXHPSURGX]HFRPRSURGX]DLQIRU-­
mação, a partir de um diagnóstico da mídia impressa sob a ótica da pauta social e as possíveis rup-­
turas neste sentido.
Seleção e hierarquia da notícia
Uma das primeiras questões é sobre como incorporar a temática de maneira adequada, já que, uma cobertura de política pública não se enquadra, a princípio, no modelo tradicional de jor-­
nalismo. O que é notícia? Uma pergunta (aparentemente) simples, mas com respostas tão variadas quanto se pode imaginar. Logo, na lógica do jornalismo informativo, surgem as máximas, sempre VLPSOL¿FDGRUDVFRPR³QRWtFLDQmRpTXDQGRRFDFKRUURPRUGHRKRPHPPDVTXDQGRRKRPHP
morde o cachorro. Ou no cinismo importado do “good news, bad news”. 6LPSOL¿FDGRUDVPDVHVFRQGHPXPSULQFtSLRFDURDRFRPpUFLRGHQRWtFLDVTXHpRGRLQXVLWD-­
do, principalmente se for bizarro. Mas esse princípio restringe o conceito de notícia e de jornalismo e, no máximo, fomenta a cultura cínica que alimenta o noticiário sensacionalista. Além do tradicio-­
nal “cão de guarda” do poder, largamente difundido pelos manuais de redação e evocado por muitos SDUDROLYUHH[HUFtFLRGDSUR¿VVmRKiXPDVSHFWRFLGDGmRTXHSRUPXLWDVYH]HVYHPVHQGRQHJOLJHQ-­
FLDGRPDVTXHSRGHVHUXPSRQWRQHYUiOJLFRQHVVHQHFHVViULRPRYLPHQWRGHLQÀH[mRSUR¿VVLRQDO
A discussão sobre os critérios que regem o processo de produção da notícia é tão antiga quan-­
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WRDSUR¿VVmRPDVDUHIHUrQFLDGHVWHDUWLJRUHVLGHSULQFLSDOPHQWHQDYDVWDOLWHUDWXUDSURGX]LGDSHOR
tema a partir de meados do século XX. Vasta, mas nem tão variada, considerando principalmente os enfoques técnicos desenvolvidos ao longo da tentativa de imprimir maior objetividade à ativida-­
de do jornalista. A discussão de valores se volta, desde o início, para discernir aspectos singulares que conferem aos fatos maior ou menor possibilidade de se tornarem notícias. Michael Kunckzik (2001) lembra que na Alemanha, a primeira dissertação sobre publicação de jornais, ainda de 1690, é de Tobias Peucer, que elabora uma extensa lista de tipos de assuntos que merecem publicação. “A quintessência do pensamento de Peucer é que o normal, o comum e o puramente privado carecem GHYDORUFRPRQRWtFLD´S(VWHDXWRULGHQWL¿FDHP:DOWHU/LSSPDQPublic Opinion, publicado em 1922) a referência da discussão contemporânea sobre o assunto. Ao trabalhar os valores infor-­
mativos, ele menciona, justamente, “a clareza do fato, seu elemento de surpresa, sua proximidade JHRJUi¿FDVHXLPSDFWRHFRQÀLWRSHVVRDO´LGHP$GLVFXVVmRVHQRWDELOL]DSRUWHQWDUHQFRQWUDU
critérios para distinguir o notável da trivialidade. Embora estimulado por uma necessidade de im-­
primir mais objetividade à atividade jornalística, não é feito sem um grau considerável de subjetivi-­
dade, porque “em última análise, os valores informativos nada mais são que as suposições intuitivas dos jornalistas com referência àquilo que se interessa a um público determinado, àquilo que chama a sua atenção”. (KUNCKZIK, 2001, p. 243).
Em 1950, David White desenvolveu a Teoria da Ação Pessoal, ou Teoria do Gatekeeper (Wolf, 1999). Em suas pesquisas, servindo-­se de técnicas de observação do trabalho de editores, percebeu que quanto mais próximo do horário de fechamento do noticiário, mais subjetivas e arbitrárias são as decisões sobre o que publicar no jornal. Isso não é um fato a ser ignorado, mesmo considerando que o trabalho de White é muito unilateral, porque não trabalha com outros fatores que interferem na produção da notícia. Trabalhar os valores notícia do ponto de vista de escolha individual do pro-­
¿VVLRQDOpGHVFRQKHFHUXPSURFHVVRPDLVFRPSOH[RTXHHQYROYHDXGLrQFLDDQXQFLDQWHVIRQWHVH
interesses da empresa jornalística. Há que se considerar, ainda, mecanismos nem sempre sutis de controle desenvolvidos na SUySULDHVWUXWXUDGRSURFHVVRGHSURGXomRGDQRWtFLDHWDPEpPQDGH¿QLomRGHSDGU}HVVRFLDLVH
FXOWXUDLVGDSUR¿VVmReRTXHPRVWUDSRUH[HPSORRWUDEDOKRGH+HUEHUW*DQVFLWDGRSRU.XQ-­
ckzik, 2001), feito em 1979 (Deciding What’s News), no qual constata que “os jornalistas (estadu-­
nidenses) exerciam a autocensura em grande escala: tinham que combinar a própria avaliação de uma matéria jornalíst

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