Jogadas pão-com-manteiga

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Jogadas pão-com-manteiga
HEAD COACH BRASIL – FUTEBOL AMERICANO INTELIGENTE
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HEAD COACH BRASIL – FUTEBOL AMERICANO INTELIGENTE
APRESENTAÇÃO DO AUTOR
Coach John McKay escreveu esse artigo em 1973. A época, ele era head coach do USC
Trojans, um dos programas mais tradicionais do futebol americano universitário. Foi
o principal treinador do time entre 1960 e 1975, antes de seguir para único time da
NFL que comandou, o Tampa Bay Buccaneers, entre 1976 e 1984.
Coach McKay terminou sua carreira com 4 títulos nacionais no College, 2 prêmios de
Treinador do Ano pela AFCA além de ter sido indicado ao Hall da Fama do College
Football em 1988, fora uma enorme quantidade de premiações.
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“Jogadas pão-com-manteiga”
JOHN MCKAY
Em todas as clínicas que eu participei ao longo dos anos, quando um treinador ganha alguma coisa, todo
mundo vem, pega os diagramas que ele mostrou e diz: “É isso”. Nos últimos anos tem sido a formação Wishbone.
Nós não usamos a Wishbone, mas apenas para entrar no “clima” das coisas, mudamos o nome do nosso
ataque de I para I-bone. O ataque é o mesmo, só o nome que mudou.
Por anos, nós quisemos correr na sua direção com nossa jogada Blast, descobrir onde você estava e
estabelecer o fato de que nós éramos tão fortes e físicos quanto você era. Após estabelecermos a Blast, nós
íamos para nossa jogada Pitch ou, como era também chamada, “Student body left or right”1. Esse ano nós
começamos com a Pitch e executávamos até você pará-la e então partíamos para a Blast. Nós fazíamos a Pitch
por um tempo, íamos para a Blast e depois voltávamos a Pitch.
Nós somos realmente muito simples. Ao longo dos anos, nós descobrimos que jogadores vencem, não
jogadas. Nosso ataque é baseado em múltiplos sets, usando motion e shifts. Nós começamos com 16 diferentes
sets e adicionando motion e shift podemos ampliar o número de coisas que fazemos. É bem complicado para
oponente, mas é simples para nós e, fora disso, vem nossas duas jogadas básicas: a Pitch e a Blast.
A PITCH
Nós começamos executando a Pitch até que o adversário coloque tantas pessoas do lado de fora
(perímetro) que nós possamos fazer nosso ataque interno (por dentro dos OTs) entrar em jogo. Nós iniciamos
cada set ofensivo com o objetivo de correr a bola por fora (dos OTs). Se nós vamos fazer uma jogada de perímetro
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Student body é um jargão criado na época de McKay para dizer que todos os jogadores estavam envolvidos diretamente
naquela jogada. Popularmente, acredita-se que o nome na verdade diga respeito ao fato de que a jogada começava na
direção da seção estudantil do Los Angeles Memorial Coliseum, onde USC manda seus jogos, para depois cortar
verticalmente na direção da endzone.
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do lado do TE, nos pedimos a ele que bloqueie o primeiro defensor “fora” da linha. Não nos importamos onde o
defensor esteja alinhado, nós sentimos que podemos bloqueá-lo. Nós pedimos que ele bloqueie alto o defensor e
seu principal trabalho é mantê-lo na linha e, se possível, jogá-lo para dentro de campo. Se o defensor luta para
chegar rapidamente no perímetro, então nós pedimos que o tight end o bloqueie para a sideline, mas que fique
em cima dele e o mantenha na linha.
Aqui estão nossas atribuições para os jogadores entre os OTs. Nós dizemos ao nosso OT para “ganchear”
(levar para dentro) o DT, para se manter em cima e nunca ir nos joelhos dele. Ele deve estar alto e bloqueá-lo o
mais alto que puder, continuando a empurrá-lo. Se o defensor fizer um slant2, nosso tackle apenas vai para o
linebacker. O trabalho do Center é fazer um reach block3, a menos que ele esteja coberto (alguém alinhado na
frente dele); nesse caso, bloquear esse defensor vira a função dele. Nós dizemos ao guard para bloquear o
linebacker do playside4. Nós pedimos a ele para fazer um pull5 por trás do tight end para o linebacker. Se o
linebacker atacar, o guard não faz o pull e sim bloqueia ele. Então, é imperativo que o guard mantenha seus olhos
no LB todo o tempo (figura 1). Nós dizemos ao guard do backside6 para fazer o pull e passar através da primeira
brecha que ele puder encontrar. A tarefa do guard do playside nessa jogada é a mesma do backside guard.
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Tipo de stunt defensivo que consiste em atacar um gap ou zona do campo diagonalmente.
Tipo de bloqueio que consiste em “alcançar” um defensor posicionado mais externamente para facilitar uma corrida aberta.
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Playside é o lado por onde a jogada foi desenhada para acontecer.
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Tipo de movimento defensivo em que o jogador de linha ofensiva passa por detrás dos companheiros para bloquear mais a
frente.
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Backside é o lado oposto por onde a jogada foi desenhada para passar.
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Nosso quarterback, às vezes, lidera essa jogada. Se nós pedimos a ele para liderar, no caso da jogada ser
para a direita, ele deve dar a passada para a direita com o seu pé direito e, em seguida, fazer o pivô-reverso7, isto
é, girar para o lado oposto da jogada e lançar a bola para o lado da jogada. Ele não deve fazer o pivô-reverso
primeiro; se ele fizer, ele estará atrás da jogada. Se ele fizer certo, ele apenas lidera pelo lado do DE e olha para
dentro. Nós pedimos a ele para cair nos pés do defensor. Nós não queremos que ele bloqueie de pé ou seja físico
com outras pessoas. Dessa forma, nós conseguimos excelentes bloqueios por parte dos quarterbacks nessa
jogada.
Nós dizemos ao nosso fullback para dar um passo sutil à frente, e então ir paralelamente a linha de
scrimmage e aniquilar o CB adversário. Nós não queremos que ele bloqueie normalmente o defensor; apenas
queremos que ele passe por cima dele.
O trabalho do nosso flanker, o Z, muda dependendo de onde ele está alinhado. Se ele estiver aberto, nós
o pedimos para fazer um crack block8 no primeiro homem de dentro da defesa, normalmente o SS. Se ele estiver
posicionado na posição Power-I, então ele lidera por fora do TE e o ajuda contra o DE adversário. Se nosso TE
controlar seu defensor, então Z parte para o próximo alvo, que seria um Safety.
O trabalho do nosso tailback é dar uma passada aberta na direção da sideline, pegar a bola e correr o
mais rápido que ele conseguir para o lado de fora da formação, sempre mantendo seus olhos à frente. Se ele
conseguir chegar tranquilamente no perímetro, então nós queremos que ele use o bloqueio do FB no CB. Se
houver um funil ali, então nós dizemos ele para se virar de frente e ir (ver Figura 2).
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Movimento em que o QB faz o pitch para o running back do lado oposto de onde girou no início do movimento.
Bloqueio em que um jogador de ataque, geralmente um wide receiver, vem de fora para dentro para bloquear.
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Se o DE, ou Rover (R no diagrama) de alguma maneira chegar à frente ou no perímetro rapidamente,
então nosso TB vai cortar para dentro e aproveitar um dos bloqueios dos nossos OLs do backside que fizeram
pulls.
Se os adversários estiverem “overplaying” (tentando antecipar) essa jogada com uma defesa
desbalanceada para o lado que eles acham que ela vai, nós iremos usar shifts ou motions com nosso Z, para
equilibrar ou tirar vantagem da defesa. Esse ano, por exemplo, nós enfrentamos uma Rover Defense que coloca
dois na linha de scrimmage do lado externo do nosso TE ou Z (ver figura 4). Então, nós colocamos nosso Z em
motion pelo backfield e executamos a Pitch longe da Rover, como mostrado na Figura 5.
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A BLAST
Agora, nós chegamos a jogada Blast (ver figura 6). Um aspecto técnico nessa jogada é extremamente
importante: Nós queremos que nossos backs fiquem alinhados longe. O fullback deve estar a pelo menos 4 jardas
e meia à 5 jardas do QB e o tailback deve estar de 6 a 6 jardas e meia do QB, de modo que eles podem executar
uma corrida Option contra todos os potenciais stunts que possamos ver. Onde você alinha é quase tão
importante quanto onde você termina. Se você quiser se aglomerar, isso significa que você é muito lento para
jogar no backfield ofensivo.
É impossível para um OT ou OG impedir um defensor de ir para dentro, se ele estiver alinhado cabeça-acabeça com ele. Se você é teimoso o suficiente para dizer que vai correr com a bola por qualquer buraco, então
certos stunts vão destruir essa jogada.
Alguém fez um comentário para mim outro dia que ele estava encantado que nós mantivemos a distância
do nosso tailback em 7 jardas do QB durante todo o jogo contra Ohio St., no Rose Bowl. Eu disse, “Sim, é isso que
queremos quando a defesa usa stunts contra nós”. Nós queremos eles de volta onde possamos vê-los.
Nós pedimos a nossos backs para ler o primeiro DL do lado de dentro. Tão logo ele se aproxime do
buraco, eles irão para longe da direção da slant do defensor. Se o DL faz o slant pra dentro, é obvio que o
linebacker está vindo pelo lado de fora. Nosso OT vai apensar bloquear o DT pra onde ele (o DT) quiser ir e nosso
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FB vai fazer um kick-out block9 no linebacker, que está vindo. Se o tailback ficar longe do FB, há uma brecha entre
esses dois bloqueios que ele pode usar. O resto do bloqueio é bem simples.
O QB dá ao tailback a bola o mais longe da linha de scrimmage possível. Eu não acredito que você pode
correr tão duramente quando você recebe a bola perto da linha. A primeira coisa que qualquer back pensa é
posse, posse primeiro. “Eu preciso ter a bola”, ele diz “só então eu posso pensar sobre as outras coisas”. Então
nós pedimos a nosso QB que faça o pivô-reverso e dê ao tailback a bola longe da linha.
Essa jogada pode ser uma ótima jogada de goal-line, com back disposto a ir “por cima” de uma defesa
baseada em gaps. Se nós nos deparamos com uma defesa de goal-line ou um defesa baseada em gap, nós
dizemos ao nosso tailback para ficar pronto para mergulhar sobre a linha. Novamente, ele precisa alinha longe do
QB para ter tempo de segurar a bola e mergulhar por sobre a linha. Ele sai de cerca de uma jarda atrás. Agora, o
que você tem que fazer é convencer o “mergulhador”. Nós dizemos isto a ele: “Ele provavelmente irão pegar você
e essa é a melhor coisa que pode acontecer pra você. Agora, se nós bloquearmos bem, você irá cair no chão e
essa é a pior coisa que pode acontecer com você porque você vai bater provavelmente bem na sua cabeça”.
As pessoas perguntam “como vocês treinam essa jogada:”. Nós não treinamos. Mas, eu vou te dar alguns
dados. Nos primeiros seis jogos esse ano e nos últimos dois jogos, 37 vezes nós tivemos situações de shortyardage (poucas jardas para primeira descida) ou goal-line e nós convertermos a primeira descida ou o
touchdown em todas, exceto uma. Execução correta e a ameaça da Blast foi a maior razão disso.
Eu não acho que teoria vence; jogadores vencem. Durante os anos, nós não mudamos muito. As coisas
que nós fazemos melhor são as coisas que nós conhecemos melhor e as quais ensinamos por anos.
Coach John McKay
Você pode ver exemplos em vídeos dessa jogada nos links abaixo:
BLAST PLAY: https://www.youtube.com/watch?v=Q0EoIOsLAcY
PITCH PLAY: https://www.youtube.com/watch?v=GuPBLdiATYg
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Tipo de bloqueio que visa “chutar”, ou seja, bloquear para fora um defensor.
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