além das fronteiras e mistérios do desconhecido

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além das fronteiras e mistérios do desconhecido
ALÉM DAS
FRONTEIRAS E
MISTÉRIOS DO
DESCONHECIDO
Foto Debate
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dernod01a.htm
-REALISMO FANTÁSTICO DESTE E DO OUTRO MUNDO-
CELSO PRADO: – SANTA CRUZ DO RIO PARDO-SP
DOS DIREITOS AUTORAIS
"Aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou
reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a
lei fixar." (CF/1988, ART 5º INCISO XXVII)
CELSO PRADO - ALÉM DAS FRONTEIRAS E DOS MISTÉRIOS DO
DESCONHECIDO
EDIÇÕES ELETRÔNICAS
1.
1998 / 2000
http://www.argon.com.br/usuarios/celsoprado
2.
EDIÇÃO 2006
http://www.celsoprado.com
3.
EDIÇÃO 2008 – REVISTA, ACRESCIDA E CORRIGIDA
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ÍNDICE CAPITULAR REMISSIVO
1. ADVERTÊNCIA E APRESENTAÇÃO
2. DOS ATRIBUTOS DA ALMA E DA EXISTÊNCIA DE DEUS
3. DAS TEOGONIAS E ENFOQUES HISTÓRICO-TEOLOGAIS
4. EXEGESE BIBLIOHISTÓRICA
5. DA TEOLOGIA DA RENCARNAÇÃO E DAS MANIFESTAÇÕES DOS...
6. ANGEOLOGIA
7. DEMONOLOGIA E SATANISMO
8. PERFÍDIAS APOSTÓLICAS
9. ASSUNTOS SURDINADOS
10. DAS FRATERNIDADES SECRETAS NO ANTIGO ISRAEL
1.
ADVERTÊNCIA E APRESENTAÇÃO
PARA ALÉM DAS FRONTEIRAS E MISTÉRIOS DO DESCONHECIDO
-REALISMO FANTÁSTICO DESTE E DO OUTRO MUNDODOS MITOS, MAGIAS, PARAPSICOLOGIA, RELIGIÕES E TODOS OS GRANDES MISTÉRIOS QUE ACOMPANHAM A HUMANIDADE DESDE TEMPOS
IMEMORIAIS
1.1.
ADVERTÊNCIAS
Apesar do sugestivo título e ser uma página inteiramente aberta a discussões – por
isso mesmo em permanente construção de acréscimos – cumpre-me, como responsável pelas matérias abordadas, alguns esclarecimentos tidos como de interesses
gerais:
• Alguns dos assuntos abordados e certos ensinamentos ou sugestões como magias, mancias, etc, são práticas condenáveis pela grande maioria das Seitas Cristãs,
assim como condenam contraceptivos (camisinha, pílulas anticoncepcionais,
DIU ‘dispositivo intra-uterino’), o sexo antes e fora do casamento, abortos, etc.
Se você tem problemas da ordem, prevenções a respeito ou situações de consciência, não prossiga leituras ou então escolha um tema com bastante atenção –
seu ponto de vista é e será sempre muito bem respeitado, sem crítica alguma,
pois em tudo você está certo desde que em paz e satisfeito consigo mesmo;
• Se você é religioso convicto ou tem opinião formada quanto à própria existencialidade, talvez estas páginas sirvam apenas como acréscimo cultural ou simples
curiosidade; quem sabe você até mude de opinião, mas não é essa a intenção
proposta;
• Se sua fé acha-se circunstancialmente abalada, ou que você esteja à procura de
uma religião ou fé salvacionista, não lhe é nada recomendável esta leitura; não
prego e não vivo religião, não tenho seguidores – também não levanto ofertas,
não cobro dízimos e muito menos aceito doações.
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Não leia as matérias inseridas, caso você tenha certos temores de atrapalhos à
sua religiosidade; com certeza atrapalharão sim a sua vida espiritual, com as novas possíveis descobertas;
Aos menores de idade, recomendo que não prossigam leituras sem anuência dos
pais ou responsáveis; não é bom um curioso, sem as devidas e necessárias estruturas psicológicas, intelectuais ou de convicções religiosas definidas, aventurarse no desconhecido para assustar-se ou trazer preocupações aqueles que o amam;
Aos fiéis evangélicos pentecostais e neopentecostais, aos católicos carismáticos
e aqueles que têm crença em Deus e procuram viver de conformidade com os
preceitos bíblicos, é recomendável que se discuta primeiramente com seus líderes espirituais a viabilidade de tais leituras, para que depois não venha ser censurado ou mesmo excluído de sua denominação, por exibir novas idéias ou questionar valores;
Se você espera ensinamentos de práticas de feitiçarias, talvez perca seu tempo,
pois que esses estudos são dedicados às Magias (Ciências Ocultas) e demais temas encimados; assim mesmo é interessante que você avance páginas, quem sabe possa encontrar assuntos de seu interesse;
Todas as críticas, desde que construtivas, são bem vindas, e para isto utilize o
correio eletrônico, onde você poderá se assim o desejar, emitir seu parecer, tirar
dúvidas (dentro do possível); será mantido sigilo absoluto do nome, desde que
você assim o deseje, e suas mensagens, se autorizadas, poderão ser publicadas
desde que julgadas de interesse;
Os textos não estão revistos e nem corrigidos, podendo haver erros de digitação
e de construções gramaticais; corrija-os sempre que necessário ou faça advertências para correções devidas;
2.
DA 1ª EDIÇÃO ELETRÔNICA 1998
Este trabalho, apesar do sugestivo título e totalmente aberto a discussões, não se trata de
TRATADO TEOLÓGICO, até por não ser obra extraordinária e muito menos com pretensões de ineditismo; é um simples apanhado de assuntos mais ou menos freqüentes no
dia a dia, em conversas e discussões acerca dos mistérios e fronteiras do incognoscível,
e dele querer saber.
Óbvio que para se chegar a esta apresentação diversos livros foram procurados além das
pesquisas pela Internet, em busca de respostas aos temas propostos para melhor formar
opiniões e, assim, ordenar assuntos dentro das desordens encontradas, a ponto da oportunidade deste ensaio e tópicos nele inseridos e postos estimuladores para o título presente.
Mas de quais assuntos tratam esta publicação?
Sem dúvidas dos grandes mistérios que, desde a antiguidade, interessam ao homem independentemente de suas crenças ou o não crer, das classes sociais ou níveis de intelectualidade, porque verdades inerentes a um ser essencialmente religioso obrigado a se
relacionar com a natureza e suas forças interativas.
Exatamente nestes aspectos a religiosidade, ou mesmo o ateísmo, age como interação
homem/natureza a satisfazer não apenas as necessidades básicas da sobrevivência, mas
a própria razão da existencialidade, porque é pela natureza, integrada ao Cosmo, que o
homem se faz presente e dominador no planeta.
No princípio a terra era morada do homem, dos animais, vegetais e minerais, ou seja, de
tudo aquilo que se podia ver a apalpar. Já o universo visível, porém inatingível, teria de
ser obra dos deuses e moradas deles, enquanto o caos era a casa dos demônios que, furiosos, intervinham na natureza pelas catástrofes, quando estas não fossem castigos dos
deuses, entenda-se nisto, as ações promovidas pelos demônios sob consentimento dos
deuses para algum efeito punitivo.
Tudo isto, no entanto, tinha de ter história, pois que a dualidade deuses / demônios não
podia coexistir dentro do belo e do bom com o feio e o mal. Nestes aspectos nada impossíveis a compreensão que, antes de todas as coisas visivas existira um céu invisível,
um mundo belo e bom pela vontade dos deuses, onde não se comensuravam o tempo
nem o espaço, até que, surgiu a agitação, a tremenda explosão expansionista [prefiguração do big-bang] que deu cor e materialidade a um universo nervoso com formações e
choques contínuos para o surgimento de incontáveis mundos.
Os primeiros acontecimentos, assim, somente poderiam ser explicados como uma rebelião entre os deuses, em que os revoltosos e maus foram projetados nos abismos do incomensurável, de cujo cataclismo resultante a terra abrigou vida e, nela, se fez surgir o
homem para dominação após longo período evolutivo. Se em outros mundos tal vida
igualmente acontecera, isto ficava além do saber.
No princípio, comumente se sabe, o homem temia a natureza exatamente por não compreendê-la, conferindo aquilo de bom aos deuses, enquanto aos demônios atribuíam-se
os acontecimentos nefastos, com isso a mística de agradar os deuses e apaziguar os demônios, valendo-se dos intermediários espíritos protetores, a quem as preces, e os humanos capazes de comunicações com aqueles mundos [invisíveis], levando os pedidos,
trazendo as mensagens e oferecendo os agrados, através das magias imitativas, representativas e sacrificais.
O pensar as dualidades, deuses e demônios, e nelas compor os motivos de sucessos e
fracassos, nos mais variados aspectos e setores da existência humana terrena e expectativas pós-morte, desenvolveram-se as místicas e as religiões com as quais o homem
convive ainda hoje, se crente, com dependência incompreendida de tantos cultos e ritos,
se agnóstico numa ansiedade entre o não saber nem compreender, enquanto aos ateus a
certeza do nada sem, no entanto, se livrar do universo ao qual sempre esteve integrado e
do qual jamais se separará, por toda eternidade, um átomo sequer.
Todavia, as pretensões neste trabalho não se acham apenas invocadas para soluções de
mistérios do desconhecido, até porque o autor acredita difícil, senão impossível, suas
revelações integrais, pois que tudo reside em questão de crer ou não crer, de qualquer
maneira todos crendo, nisto ou naquilo que pode ou não existir.
Igualmente o trabalho não se prende apenas no existir ou não vida além-túmulo, ou nas
pretensas manifestações espirituais, pois que o instituidor adentra desde a existência da
alma e seus atributos, comparando-os com poderes da mente, até outras tantas inquirições, como a historicidade de Jesus, ou se ele e João Batista foram ou não foram mem-
bros da Comunidade dos Essênios, uma das Seitas ou Fraternidades também descritas
neste estudo.
Também, não foram esquecidos os doze apóstolos de Jesus nem o objetivo de cada um
deles, naquilo que realmente esperavam do Rabino, inclusive o questionamento que
muitos evitam: Porque Judas cometeu o ato da traição?
Outros assuntos surgem não menos intrigantes e polêmicos, como o mito do deus solar;
Jesus filho de hierogamia; dos anjos e demônios bíblicos; o livre arbítrio ao lado da predestinação e da eleição; o Sudário de Turim; e da inerrância e infalibilidade bíblica.
Por conseguinte, são considerados destaques maiores e de fortes impressionismos, as
matérias “Vida Além Túmulo, com ou sem consciência?” e a “Teologia da Reencarnação e das manifestações dos espíritos”, trabalhos inteiramente desenvolvidos dentro
da Bíblia, ou a partir dela A primeira menção coloca em xeque os dogmas cristãos que
apontam as existências do Céu para os bons e o Inferno para os maus, com um Purgatório de entremeio, enquanto a segunda busca comprovar biblicamente a reencarnação e
as manifestações de espíritos, bons e maus, com a permissão divina através de médiuns.
Estudos desta grandeza não podem e nem devem aspirar verdade absoluta, nem desrespeitar a crença de cada um.
Do autor.
Santa Cruz do Rio Pardo, maio de l.998.
O autor, Celso Prado
DOS ATRIBUTOS DA ALMA E DA EXISTÊNCIA DE DEUS
-Consulta referendada: CHALLAYE Félicien, Pequena História das Grandes Religiões, Instituição Brasileira de Radio Difusão Cultural S/A, 2ª Edição, 1967 – São
Paulo Brasil.
O MISTÉRIO DA MORTE E O ENIGMA DOS SONHOS
Cedo ou tarde o homem defronta-se com a grande realidade de sua existência: a morte.
O que é a morte?
Inevitavelmente, diante desta sentença inapelável e irreversível, o questionamento a
respeito do pós-túmulo se faz presente: é a morte um aniquilamento total?
E aí surgem os motivos temíveis, envoltos em grandes mistérios e dúvidas que nortearam e norteiam reflexões íntimas ou compartilhadas, ao longo de uma vida que é, apenas, aquele lapso de tempo entre o chegar e o partir, acabando quem sabe num rápido
instante meditativo: teria valido a pena? O que virá depois?
Mas é esse espaço de tempo de algumas décadas, quando tanto, que faz o homem e sua
história. Não, não cabem aqui julgamentos se o indivíduo foi o primor das virtuosidades, em pró a coletividade e/ou a si próprio, se foi o maior dos devassos de tristes memórias, ou se foi apenas uma neutralidade; a morte não os distinguirá em suas ações,
ficando apenas para os vivos as lembranças e opiniões sobre aqueles que se destacaram
num ou outro campo, enquanto para os anônimos, talvez duas ou três gerações de familiares e amigos, a manterem recordações.
Seria a morte algo assim tão terrível ao igualar todos os homens nas sombras do seu
silêncio profundo?
Falar da morte e seus mistérios seriam evocar todo o passado da historicidade humana e
entender como o homem primevo, tão insipiente ainda, convivia com a razão e a arte de
pensar, ou de se descobrir capaz de raciocinar e entender suas visões, alucinações e sonhos, onde seus mortos surgiam sempre, tão vivos.
Não entendia e, pelos conhecimentos da época, a única lógica seria que o homem sobrevivia a morte. Mas como, se lá estavam, apodrecidos seus restos mortais? Como, se suas
carnes foram devoradas pelas bestas feras e seus ossos carregados?
Eliminando-se a sobrevivência física, o natural seria uma sobrevida não palpável, espiritual – extrafísica; não admiti-la seria o mesmo que duvidar de si, pois, afinal, não seriam reais as aparições vivas de seus mortos?
O grande pai, a bondosa mãe, o poderoso líder, povoam sonhos de seus descendentes:
estão vivos, e toda uma mística desenvolve-se para agradá-los; não são matérias, porém
mostram-se integralmente.
Num momento difícil qualquer, suas forças, poderes ou conhecimentos, podem ser evocados para soluções e, ao sensível, é possível tê-los manifestos, fazendo-se ouvidos nos
conselhos e admoestações, durante evocações tribais.
A árvore onde o velho chefe recostava-se ou cujas madeiras utilizava, a pedra em que se
assentava; o seu animal preferido, a montanha que mais admirava; os seus fetiches e os
comensais passam a ter valores representativos familiares, como seres, objetos e coisas
sagradas, bem como carregadas de manas.
O simples domínio de uma família sobre outras, ou naturais agregações, aumentavam os
protetores particulares, sendo que da tribo mais poderosa, faziam-se mais fortes seus
ancestrais, com direitos de serem cultuados.
As experiências de vida, as epopéias realizadas, as vontades, desejos e ações do falecido, quando forte, ganhavam conotações doutrinárias, instituindo-se com naturalidade o
Totemismo, com as primeiras regras das proibições, dos sagrados e dos profanos, sempre na ordem dos princípios do chefe espiritual, em terra e representado, quase sempre,
por algum dos membros da família.
Seus objetos, então sagrados, não podem ser tocados por qualquer um, seu animal predileto não pode ser morto, sua árvore é venerada e sua montanha não pode ser profanada:
são os tabus.
Iniciam-se datas comemorativas, em geral um período de festas, onde se busca o chefe
nos simbolismos, porque precisam e desejam agradá-lo, dando surgimento aos cultos e
ritualismos onde, os de maiores sensibilidades promovem contatos diretos com os deuses e a eles oferecem sacrifícios.
Para os primeiros homens era terrível defrontar-se com a morte como o fim de tudo. A
dor da separação, sabidamente definitiva, a saudade e a tristeza do inaceitável nunca
mais, o remorso e a angústia de algo não feito, favoreciam e até exigiam condições dos
mortos reaparecerem nos sonhos, nas visões de êxtases e nas incorporações; o homem
necessitava disto, porque era esta a única maneira de manter vivos seus antepassados e
lhes dar paz de consciência.
Então a morte física não era fim e nem poderia sê-lo, por significar glórias e vidas num
outro mundo, onde não se era mais atingido tão facilmente; um mundo que mortais po-
dem visitá-lo, contatá-lo e até descortinar mistérios, mas nele somente residir após a
morte, ou seja, o despertar para a verdadeira vida.
A MATERIALIDADE DA CRENÇA NA IMORTALIDADE
Questionamentos milenares que parecem, até o momento, nenhuma resposta satisfatória
haver, a despeito das muitas hipóteses pregadas como regras de fé, pelas religiões e seitas.
Lançar-se neste campo é se perder nos emaranhados labirintos dos dogmas e postulados; mas, aos vivos, um dia será chegada a morte, onde as interrogações tidas no decorrer da existência, cessarão, continuando as dúvidas apenas para aqueles que ainda não
desceram ao profundo silêncio da sepultura, a única certeza da vida.
Não, não existem as verdades científicas, satisfatórias, de uma vida além-túmulo por
religião nenhuma; mas muito menos o materialismo ateu é suficiente, tanto aos doutos
quanto indoutos, para comprovar o acabou-se para sempre.
É exatamente neste campo, onde tudo é possível, pois que nada há de definido, que se
podem ousar opiniões, mais uma entre tantas, como as que aqui são feitas, sem pretensões de originalidades, porem imbuídas de sérios propósitos para a materialidade na
crença da imortalidade.
Principia-se então, naquilo que é o homem, buscando, para tanto, fundamentação físicoquímica da matéria: H C N O ou combinações moleculares agregando-se a novos elementos, indo do simples (molécula albuminóide) ao complexo (homem) (SANTOS Dr.
Jorge Andréa dos, Enfoques Científicos na Doutrina Espírita – 2ª edição, 1.99l,
pela Sociedade Editora Espírita F.V. Lorenz).
Todavia, na concepção do homem feito: um ser orgânico, portanto vivente, que move
por si guiado por sensações, percepções, instinto e racionalidade. Neste aspecto, o homem é e vive a sua tridimensionalidade (medidas: altura, largura e cumprimento; tempo; e espaço) na mecanicidade universal, e que disto tem consciência.
Para esta consciência, isto é, compreensão de si e do mundo ao derredor, o homem guiase pelas sensações, interiores e exteriores, e percepções que constituem sua realidade
pensante, do instinto à racionalidade: sente, percebe, age, reage e concebe, servindo-se
da atividade cerebral.
Para alguns cientistas o cérebro tem suas operações físico-químicas racionais de comando orgânico, mas que por si só não pensa, não tem sentimentos e não raciocina, necessitando de um elemento acionador para tais atividades, isto é, a Vontade, que distingue o ser humano – eu quero, eu faço, eu posso ou o contrário.
Outros cientistas, voltados à materialidade, atribuem aos neurônios as capacidades dos
processos mentais – descargas eletromagnéticas dos neurônios, com relação aos sentimentos, pensamentos e raciocínios; porém encontram dificuldades de sustentação da
tese, considerando que determinadas condições mentais, não são e nem podem ser resultantes físico-neurológicos, a exemplos das manifestações denominadas psíquicas ou
fenômenos PES que transcendem os campos da tridimensionalidade.
Em razão disto, observa-se no meio científico atual como um todo, sensível predomínio
da teoria dualista do homem, que sustenta as existências física e mental – espiritual,
independentes entre si, porém interligadas pelo cérebro, sendo que esta existência men-
tal acha-se representada pela Vontade Inteligente – ou inteligência e vontade, cujas ações independem da matéria e para quem o cérebro é apenas mero instrumento.
Da individualidade do espírito, sem a presença das propriedades cerebrais, teríamos os
sen-timentos de coisas desconhecidas, atuações mentais sobre a matéria [orgânica e inorgânica] e a pré-cognição, como meros exemplos entre tantos outros.
No primeiro caso, Camile Flammarion (A Morte e o seu Mistério – Volume I, publicação pela Federação Espírita Brasileira, l.982 – 3ª edição), relata o caso de uma
senhora que, doente, recusou-se ao uso interno de um medicamento, dizendo que tal serlhe-ia fatal, contrapondo-se às argumentações do médico presente e receitante; a receita
médica determinava um medicamento para uso interno e outro para aplicação externa,
sendo que aconteceu uma troca involuntária dos rótulos, pelo farmacêutico manipulador
das fórmulas, um fato comprovado, sendo a paciente salva pelo pressentimento, num
episódio onde não ocorreu raciocínio e nem telepatia.
A atuação mental sobre a matéria, orgânica ou inorgânica, dá-se em razão do pensamento atingir determinado objeto e nele exercer ação, numa comprovação teórica do quarto
estado da matéria, com seus espaços intereletrônicos, por onde caminha o pensamento
ou a força mental.
Para o conhecimento futuro parte-se para a hipótese de uma quarta ou outra dimensão,
anulando-se as leis da física.
São fenômenos alem do alcance científico, porque a individualidade espiritual ainda não
pode ser comensurada, pois que suas radiações comprovadas mostram-se invisíveis aos
processos conhecidos de experimentações, salvo exceções.
Para as ciências, dentro do concebido, a energia possui peso, intensidade, dimensão e
duração, de natureza eletromagnética enquadrada na tridimensionalidade, podendo ser
visível ou não, e detectada ou não por aparelhos conhecidos hoje. A energia emitida
pelo cérebro, ou através dele, além das propriedades conhecidas, pode também extrapolá-las, caminhando no espaço e comunicando-se à distância, independente dos limites
impostos pelas leis da física, imperceptíveis aos órgãos dos sentidos comuns – tato, olfato, gustação, visão, audição, labirinto e termal.
Esclareça-se: o fenômeno dessa exteriorização não se sujeita às leis físicas conhecidas
anulando-as na totalidade, o que tem levado pesquisadores a admitir também uma quarta dimensão do espaço, onde o vazio é nada mais nada menos que o hiperespaço ou o
espaço intereletrônico – entre os elétrons de moléculas, ou interestelar, considerando
que, se o vazio não existe, ele é ou está preenchido pelo plasma – fluído invisível / éter
que permite a condutibilidade eletromagnética emitida.
O Espiritismo Científico, condignamente representado por grandes nomes dos mais variados segmentos das ciências, tem o éter como fluído psíquico, a determinar a origem
da própria existência universal, tida como o verdadeiro estado da matéria, onde os líquidos, sólidos e gasosos são exceções e/ou derivações do estado plasmático original.
-O éter seria o “meio elástico hipotético em que se propagariam as ondas eletromagnéticas, e cuja existência contradiz os resultados de inúmeras experiências, já não
sendo, por isso, admitida pelas teorias físicas” (AURÉLIO - Dicionário eletrônico),
sem nenhuma unanimidade a respeito.
Assim considerado, a energia psíquica do homem, princípio inteligente e independente
da matéria, é extraída do todo universal e biologicamente interligada à matéria, desde o
ato conceptivo, relação do finito com o infinito, como princípio universalista; o ato de
existir, como um todo, é produto da vida universal.
Aprofunda-se: a mente possui atributos intuitivos, revelados através dos fenômenos de
telepatia, criptestesia e da metagonomia, em todas suas extensões, assim como os ativos
caracterizados nos fenômenos físicos à distância. As classificações, divisões e subdivisões são de variadas ordens, como podem ser verificadas na ‘Enciclopédia de Parapsicologia, Metapsíquica e Espiritismo’ (PAULA João Teixeira de, 2ª edição revista e
aumentada, 3 volumes, Culytural Brasil Editora Ltda, São Paulo – Brasil).
Estudando a mente e destacando o homem, pela sua racionalidade, dos demais animais,
depara-se com duas teorias: a Tricotômica, que admite o espírito como elemento intelectual e, por vezes, independente do elemento efetivo; a alma, que é o princípio vital a
dirigir a vida; e o corpo, que é o abrigo daqueles dois elementos. A teoria Dicotômica
admite apenas a alma e o corpo, mantendo respectivas funções.
A Teologia vê a primeira teoria, como exclusiva ao homem, enquanto que a segunda
engloba demais animais; porém, há divergências entre os próprios estudiosos, sendo que
alguns reúnem alma e espírito numa só verdade.
Avançando, pode-se estabelecer o reino mineral como uma unidade na qual se pode
distinguir partes dotadas de princípio ativo formador, pois de alguma coisa se formou e
seus elementos são compostos, crescendo por justaposições.
A HISTÓRIA SOBRE AS ORIGENS DA HISTÓRIA
Tudo teve origem, um princípio; não necessariamente uma história, porque esta somente surgiu com a escrita, depois de um longo período de representatividades em rabiscos cujas interpretações, às vezes, vagas, pela impossibilidade de se saber precisamente o que o homem da época pretendia expressar, senão sua interação total com natureza e os deuses, o mundo dos espíritos, os bons e os maus.
Com o advento da exposição de idéias por sinais gráficos, ao escriba coube historiar o
princípio do ser antes da vida, conforme crença e entendimento sumer que, “Da Imensidade Primeva vem à luz os Céus e a Terra”, a compreender tal imensidade como
existência incriada e ainda hoje não denominada – já foi o éter ou fluído universal, que
deu surgimento ao Cosmo, do qual a matéria se fez exceção no incomensurável da invisibilidade.
São, portanto, três seqüências cosmogônicas decorrentes, o Evo, o Cosmo e a Terra, o
primeiro como engendrador de todo o Universo turbulento, enquanto os dois últimos
separados pelo espaço vazio ocupado pela poeira cósmica, pelos ventos, pelas nuvens e
tudo o que mais existe necessário para o surgimento e a sustentação da vida planetária
ou aonde mais for possível estabelecê-la.
No contexto teogônico se tem Nammu, força pré-existente, a dobrar-se sobre si e dar
nascimento ao Deus do Céu [An] e a deusa da Terra [Ky – que se chamou, também,
Ninmath – A Grande Dama; Ninhursag – A Dama da Montanha Cósmica; e Nintu – A
Dama que Cria].
A Terra e o Céu complementavam-se; do amor de Nammu com Ky nasceram os tantos
deuses – os Anunaki do panteão sumério, masculinos e femininos, responsáveis pelo
surgimento da vida em suas múltiplas formas, estando estes deuses representados nos
astros, outros corpos celestes, nos elementos e nas forças benéficas e hostis da natureza,
nos meses e nas estações do ano, nas semeações e colheitas, centradas nos amores, incestos e traições dos deuses, de cujas conjunções também geraram como conseqüência,
semideuses patronos das guerras, da paz, da saúde, da vingança entre os diversos que
povoaram a terra.
Aos Sumérios sucederam os Acadianos, a estes os Babilônios substituídos pelos Assírios secundados pelos Caldeus, cada qual em seu tempo ou, às vezes, coexistindo rivais em regiões específicas dentro do mesmo crescente fértil. De maneira geral estes
povos mantiveram o mesmo panteão sumer, às vezes com outros nomes e sexos, contudo sem perdas dos atributos originais.
Pela própria evolução dos acontecimentos, no decorrer de décadas e séculos, novas realidades surgentes, ulteriores semideuses se apresentam ao lado de divindades menores,
uns destituídos outros elevados, porém inalterados os relatos do surgimento cósmico, na
sua essência, ainda que sob nova roupagem literária quanto ao ato da formação – visão
acadiana, quando já presentes os deuses da criação do Céu e da Terra, epopéia denominada Enuma Elish: “Quando no alto não se nomeava o céu, e em baixo solo firme
não tinha nome, do Oceano Primordial o seu Criador (...) quando nenhum dos
deuses [corpos celestes] tinha aparecido, nem eram chamados pelo seu nome, nem
tinham qualquer destino fixo, foram criados os deuses no seio das águas [do Oceano Primordial]”.
Mais adiante os hebreus compilam os diversos textos para ditar sua cosmogonia mística
onde já aparecem os deuses na formação do mundo: “No princípio o conjunto dos
deuses criou os céus, e a terra” – Gênesis Bíblica l:l.
Complementa a presente citação, Sabedoria 11: 17 “(...) que [Deus] criou o mundo de
matéria informe”, alusão humana ao surgimento da terra como conseqüência de um
princípio, ou seja, um período iniciado pelos deuses – Elohim, tempos astronômico e
evolutivo, oriundo de uma agitação, aglomeração de matéria cósmica, condensada sobre
si mesma e que deu origem ao big-bang, quiçá advinda de um big-crunch, como um
universo então em expansões explosivas, dando nascimento às galáxias, nestas as estrelas entre a quais, o sol com seus planetas e corpos outros dentro do seu sistema, da
mesma maneira que em todo este Cosmos ainda turbulento que o homem, hoje, principia melhor conhecer.
“Onde não havia nem céus e nem terra, soou a primeira palavra dos deuses, e toda
a vastidão da eternidade estremeceu” – [Mitologia Maia: Mistério do Desconhecido, Tempo e Espaço, publicado por Abril Livros, 1.993]. De um manuscrito chinês –
citação mesma obra, “Antes que o céu e a terra tomassem forma, tudo era vago e
amorfo” – [Citação mesma obra], referente a um manuscrito chinês. Observa-se inquestionável paralelo com a Gênesis Bíblica l: 2, “Ora, a terra mostrava ser sem
forma e vazia”.
“O Caos dominava em toda a parte, e o grande espírito planava por cima de tudo”
– [O Princípio dos Quíchuas, Peru, citado por Alexandre Braghine: O Enigma de
Atlântida, 1959].
Povos antigos, geograficamente separados, civilizações sem aparentes intercâmbios e
com desenvolvimentos culturais específicos, possuem entre si proximidades religiosas
tão evidentes que até possível fundi-las umas com as outras, sem perdas das essências.
As tradições quanto às origens do universo são encontradas entre todos os povos, de
qualquer continente, arquipélagos ou isoladas ilhas.
Os paralelismos e analogias não ficam apenas nos mitos das formações, encontrando-se,
também, no surgimento – criação – do homem e animais, no jardim paradisíaco, na rebelião dos deuses (anjos ou, filhos dos deuses) e conseqüentes expulsões, na tentação e
queda do gênero humano, na perda da graça, a expulsão do paraíso, a promessa redentora com a vinda, senão do próprio deus, do filho. Possuem os mesmos elementos o dilúvio, a separação dos povos – confusão das línguas e outros pormenores, de maneiras
hoje não mais aceitáveis como simples coincidências ou meras similitudes.
Hoje, a evolução linear da teoria de Darwin, acha-se ultrapassada, com seus ramos em
becos sem saída da evolução, recorrendo-se então à evolução ramificada – policêntrica
ou difusa; e esta é uma questão ainda mais complicadora para explicações de tantas coincidências de ordens religiosas, que parecem todas originárias de tronco comum, da
mesma maneira que a filologia aponta etmo único para as classes de linguagem.
É importante verificar que, desde tempos remotos, a tendência do homem – inclusive o
atual, em fazer-se animal tropical, claramente observável nos seus trajes, habitações,
alimentações, parecendo sempre procurar atmosferas e temperaturas dos trópicos, promovendo calor artificial ou o frio necessário para seu bem estar corpóreo, independente
dos milhares ou milhões de anos transcorridos, seja nos gelos, seja nas tórridas regiões;
adaptou-se, mas não evoluiu termicamente.
Tem-se, então, que o homem é animal tropical e africano, até nova ordem, para espalhar-se por todos os continentes, arquipélagos e ilhas.
Mas, porque o atavismo religioso único? Iniciou-se com algum antepassado humano,
advindo de uma única família, ou teve ele um elemento civilizador?
Necessita o homem de origem única para ter história semelhante?
Na verdade, a religião está tão intrinsecamente ligada à história humana e desenvolvimento das civilizações, que se torna praticamente impossível separá-las nas origens.
Se a etimologia aponta para uma única origem todas as classes lingüísticas existen-tes,
se o homem é um tropical africano de um único ramo racional, sobrevivente para diversidades posteriores, é notório que as primeiras formas religiosas têm, obrigatoriamente,
de possuir traços e elementos comuns; todavia, o espalhamento da espécie humana para
diversos e distantes pontos da terra trouxe experiências regionais diferentes, e nenhuma
antiga lembrança histórico-religiosa unificada aponta para a África e nem remonta antiguidade superior aos 12 mil anos.
Desta forma, para transmissões de usos, costumes e crenças era preciso continuísmo
histórico único, um estágio humano inexistente segundo as Ciências, portanto, apenas o
princípio das observações inteligentes e sensações das primeiras experiências humanas
em relação a natureza seriam iguais e transmitidas pelo atavismo, jamais aquelas diferentemente adquiridas por uns e não outros em regiões distintas que viriam povoar.
É aceito cientificamente que grupos humanos da antiguidade, separadamente, foram
testemunhas, ao longo dos tempos, de muitos acontecimentos catastróficos regionais,
vividos por uns e não necessariamente por outros, desde as agitações naturais – maremotos, terremotos, dilúvios e atividades vulcânicas entre outros cataclismos, até os ataques inesperados e provocadores de fugas, guerras e expulsões de algum lugar ideal –
paraíso perdido.
Óbvias as possibilidades de assimilações culturais através de encontros intergrupais e
este ou aquele grupo predominar sobre outros, para assim o fenômeno históricoreligioso análogo, todavia este fenômeno não poderia ocorrer se desligado da cultura
formadora ou que tenha propiciado tais identificações, ou seja, não haveria nenhuma
tradição teo-cosmogônica desacompanhada da cultura original, pois tais parecenças,
ainda que adapta-das, são iguais em diferentes culturas.
Como um todo, o homem viu e sentiu o crescimento desproporcional de suas famí-lias –
tribos, e os primeiros desentendimentos (engodos, homicídios e guerras fratricidas) e
divisões tribais para viver, a partir de então, experiências diferentes.
Com as separações tribais e avanços ou regressos históricos, cada povo fez sua cultura
sempre interagindo com seu meio e os acontecimentos naturais, todavia num período
relativamente recente da história da humanidade, aos tempos das navegações fenícias –
1200-500 AEC, o sistema histórico-religioso se fez comum a todos os povos, para a
seguir ser adaptado, com retóricas, de acordo com circunstâncias regionais, por exemplo: “Ora a terra era solidão e caos, e as trevas cobriam o abismo, mas sobre as
águas adejava o sopro dos deuses” – [Gênesis Bíblica l:2], que demonstra uma nítida
influência mesopotâmica – fartura de águas, contrastante com a aridez descrita em Gênesis 2:5, ou seja, a criação de Yavé opondo-se a Elohim, seguramente sob influência
palestínica. São textos próximos, notoriamente justapostos, sem a ousadia de fusão.
Também são religiosos os textos que cantam epopéias gloriosas de um povo, dos vitoriosos antepassados elevados à condição de deuses ou semideuses - divinização humana; que lamuriam derrotas, quase sempre amenizadas; que choram mortes e doenças;
ou que se referem à perda de um paraíso glorioso. Nestes textos sagrados estão criados
os mitos, os bons deuses e os maus, todos poderosos e responsáveis pelos acontecimentos. À incompre-ensão das coisas ou mistérios naturais, era atribuída responsabilidade
às forças sobrenaturais.
Dentro destes aspectos coube ao homem deduzir, como ser intelectivo, os princípios
criacionistas e de destruições, dentro das figuras de retóricas e imaginativas do bem e do
mal, onde a um deus ou deuses benfazejos e criadores, cabiam opositores às obras.
O mundo era, sempre foi e o será, a concepção subjetiva dos aspectos do aquilo que não
é bom, certamente é mau – adágio popular, encarnando-se aí deuses e demônios. A natureza tinha seus elementos de graças e desgraças, e era justo que o homem, desconhecedor dos mistérios, evocasse tais forças sobrenaturais para executar ou cumprir determinações, com óbvios resultados de erros e acertos, com as condicionais dentro dos
ritos miméticos.
SIMILITUDES RELIGIOSAS ANTIGAS E ATUAIS
O mundo religioso cristão tem a Bíblia como conjunto de livros inspirados por Deus,
portanto inerrôneos, embora tal opinião não seja mais unanimidade.
Alguns entendem os textos bíblicos como uma linguagem de retóricas e literatas, impróprias à compreensão atual. Outros os consideram lendários e até mesmo cópias adaptadas de outras culturas.
-Ultimamente ressurgem pseudo-exegetas que apontam erros bíblicos e certas contradições, mesmo aquelas não afetam as obras como um todo, apenas para fazê-la desacreditada. Geralmente não sabem o que lêem nem o que escrevem a respeito; são plagiadores de autores que não citam.
Estudiosos sérios e com certa independência em relação às seitas cristãs e judaicas, atestam que o denominado Antigo Testamento não é original, que Moisés não foi o autor do
Pentateuco, e que outros livros não foram escritos pelos autores apontados. Refere-se a
Yavé como um dos Elohim – deuses – bíblico que, suplantando os demais deuses – panteísmo, fez-se deus dos deuses – monolatria, para somente depois tornar-se deus único –
monoteísmo.
É observável que a criação Elohista, lenda sumero-babilônica, dá-se dentro de um processo evolutivo coerente com as ciências atuais, eliminando-se os floreios, como um
princípio gerador indefinido nos tempos, porem numa circunstância natural do meio e
da época, como um ser abstrato, fruto de lendas apologéticas às crenças difundidas desde os começos das civilizações, quando o homem se viu capaz de pensar e explicar seu
universo.
Elohim cria o homem à sua imagem e semelhança, homem e mulher conjuntamente;
aqui é o homem buscando historicidade divina e identificar-se com o criador – deuses –,
assumindo a inteligência que o distingue dos outros animais, a consciência do eu, e do
seu domínio, ainda titubeante, sobre a terra.
No texto Elohista não existe um paraíso, não aconteceu o pecado original e suas conseqüências; existe e isto sim, a idéia progressiva de que a terra e todas as coisas que nela
há, está para o homem e sujeitas a ele.
A Elohim contrapõe-se Yavé, invertendo a ordem criacionista, fazendo o homem só
para depois lhe dar uma companheira. Yavé, um deus de origem fenícia e com fortes
influências palestínicas, tem o homem como primícia que, decaído, necessitou de pronta
ação sua, com os contrastes de uma condenação hereditária e uma promessa redentorista, formando assim uma instituição religiosa para um povo eleito, provável ascendência
e descendência do autor, com Yavé colocando, desde o início, exclusividade de cultos,
fazendo-se antropomorfo, beirando às vezes as raias da inocência e do ridículo, buscando elevar o homem à própria condição de deus, enquanto ele próprio procura se igualar
ao homem.
São textos de autores distintos, interpolados e de diferentes culturas, que copistas do
século IV Antes da Era Comum (AEC) colocaram na história judaica, sem ousadias de
fundi-los.
Uma característica percebida na Gênesis Bíblica é a individualização do coletivo, dando
aos patriarcas a denominação de povos, atribuindo-lhes longevidades etárias, que corresponde ao período de seus domínios, em que mantiveram independentes.
A não originalidade bíblica – Antigo Testamento prossegue naquilo que se observa
quando a civilização judaica, no seu desenvolvimento, toma sempre emprestada de outras culturas, variados símbolos, aspectos e personagens, por exemplo, o Decálogo, dos
povos mesopotâmicos, somente inseridos na cultura judaica entre os séculos X e VII
AEC, que fornecem também as lendas referentes aos seis dias da criação, o sábado do
descanso, a figura do Moisés, a torre de Babel, o paraíso terrestre, alguns demônios e
outras assimilações; do Egito os judeus valeram-se da arca da aliança, páscoa, circuncisão, oblações, vestimentas sacerdotais e sacrifícios; dos gregos, absorveram o pensamento filosófico e o caráter personalístico do deus Yavé, inspirado em Zeus; nos romanos buscou o universalismo e, do oriente, o seu misticismo.
Nenhum manuscrito bíblico original, em hebraico, foi conservado, salvo alguns poucos
fragmentos de duvidosa fidelidade. Os que hoje existem, em hebraico, foram transcritos
do grego, no século X EC – Era Comum.
O judeu jamais desenvolveu cultura própria, mas foi nessa ausência de ori-ginalidades e
independências de civilização material, que pôs em maior relevo o valor das instituições
religiosas e morais, como elementos básicos de sua união e sobrevivência como nação,
que um dia afastou-se das lendas para fazer história.
As analogias religiosas não se atem apenas ao Antigo Testamento Bíblico, vista que o
Novo também as possui e em números impressionantemente consideráveis.
“Bendita és tu (...) entre todas as mulheres fostes escolhida para a obra da salvação; ele virá com uma coroa de luz (...) Virgem Mãe, pois que darás a luz a Nosso
Salvador, a quem porás o nome de (...)”.
Esta mensagem foi anunciada a uma virgem sobre o nascimento do prometido salvador,
filho do deus altíssimo, através de um anjo mensageiro, para cumprimento às escrituras.
E a virgem foi engravidada pelo santo espírito – virtude de deus; mas o esposo intentou
deixá-la, tão logo a soube grávida, quando nem haviam se relacionado sexualmente, não
a abandonando porque, em sonhos, lhe foi esclarecido por um anjo que, o que nela estava, era fruto do divino espírito de deus.
Avisados por um anjo, reis pastores desejaram prestar homenagens ao salvador nascido, mas perdendo-se pelos caminhos, chegaram até ao palácio de um rei que, depois
de despedida dos visitantes que seguem uma estrela guia, determina matança de todos
os infantes de uma região, no desejo de exterminar o filho de deus, mas fracassa em
seus intentos porque um anjo do senhor avisa a família, antecipadamente, para fugir do
local e se colocar a salvo no estrangeiro.
O jovem predestinado tem, em sua história, um silêncio que vai dos seus doze aos trinta
anos de idade, para então iniciar sua obra redentora, em constantes peregrinações com
seus discípulos.
Mas o anjo anunciador não foi Gabriel, o deus não é Yavé, a Virgem não é Maria, e o
salvador não é Jesus.
Esta é a história de Krishna quando de sua peregrinação pela terra, 575 anos antes do
nascimento de Jesus, que tem como fontes informativas Elsie Dubugras, nas publicações da revista Planeta de números l4l-C e l62: Bíblia Sagrada – Um Texto de Linhas Turvas e Carente de Originalidade, e Deuses Filhos de Virgens, respectivamente;
Pequena História das Grandes Religiões, de Félicien Challaye (IBRASA, 1.967); e Jesus Viveu na Índia, de Holger Kersten (Best Seller, 1.986).
Entre Jesus e Krishna, existem quase quatrocentos incidentes semelhantes, inclusive a
imagem do pregador crucificado, tal qual Cristo, com uma coroa de espinhos, bem como a ressurreição dentre os mortos e a elevação aos céus.
“Disse-lhe o anunciador: Exulta-te oh! Virtuosa e sê feliz, pois o filho ao qual darás
a luz é Santo”.
Este nascimento fora prenunciado por um mensageiro – anjo, com concepção divina; a
criança quando apresentada no Templo foi tomada nos braços por um velho religioso
que, exultante tal qual Simeão com Cristo profetizou-lhe a missão terrena.
Quando na puberdade, com doze anos, o santo desgarrou-se de seus pais, durante uma
viagem, para ser encontrado depois, num templo, debatendo com velhos sábios acerca
das coisas sagradas.
Inicia sua missão em idade próxima aos trinta anos dirigindo-se, inicialmente, a um deserto onde esteve por quarenta dias e quarenta noites, em jejum e meditação, ocasião em
que é tentado pelo demônio. É um pregador pobre que escolheu doze seguidores, sendo
que os primeiros a serem chamados estão assentados à sombra de uma figueira; dos doze, dois são irmãos; tem predileção por um, e dentre eles, existe um traidor que, no entanto, não consegue realização de seus intentos.
O pregador é Buda e sua história também tem outras analogias com a de Jesus, conforme descreve Holger, e com algumas práticas bem próximas a uma das principais seitas
do Cristianismo, o Catolicismo Romano.
Existem relatos, de que pelo menos quatorze dos redentores que se sacrificaram pela
humanidade, tiveram história semelhante a de Jesus, desde a anunciação e nascimento
virgíneo, até à morte sacrifical, com ressurreição e ascensão aos céus.
Destas citações compreendem-se paralelismos religiosos, justificando a tese de um único tronco formador religioso, mais ou menos comum a todas as civilizações – povos e
raças, entendendo ser lógico que, diante de tantas coincidências, é provado a não originalidade das religiões cristã e judaica, ficando até mesmo a verdade de que Jesus, longe
de ser histórico, foi apenas o símbolo do Cristo ideal.
Um estudioso de religiões, independente e sem sectarismo, pode perceber as notáveis
semelhanças entre católicos e budistas, quanto aos cerimoniais com uso de velas, incensos, rosários, água benta, imagens de santos, sinal da cruz, instituições próprias para
formações de iniciados, indumentárias sacerdotais, determinação celibatária, os dias
especiais de santos, jejuns, penitências entre outros detalhes não menos importantes.
São também impressionantes as semelhanças vistas entre o Mitraísmo e o Cristianismo,
em especial a seita Católica Apostólica Romana, que vão desde o batismo à santa ceia,
passando por tantas outras coincidências, que tais não podem ser vistas como meros
pontos acidentais.
O Mitraísmo, considerado uma religião salvacionista e de mistérios, empolgava as massas entre os séculos I a III, e não fosse o Cristianismo ser adotado, em seu lugar, como
religião oficial do Estado pelo Império Romano, o mundo seria Mitraísta conforme bem
colocado por Félicien Challaye,
O fanatismo católico dos primeiros tempos arrasou os seguidores de Mitra, no século V,
não sem antes absorver deles doutrinas e ritos. Eram duas religiões extremamente iguais, para conviverem juntas [F. Challaye].
Para justificar tantas coincidências de mitos – lendas e panteões religiosos entre povos
diversos e distantes, alguns estudiosos determinam que, em algum lugar do passado
histórico humano, houve alguma civilização adiantadíssima, em relação às demais, a
ponto de influenciar de maneira significativa àquelas outras culturas.
Mas, alguns requisitos básicos tornam-se necessários para tais acontecimentos: a civilização dominante deveria estar num estágio evolutivo desproporcional, em relação às
demais; ter-se desenvolvido com elementos mais próprios possíveis; apresentar avanços
tecnológicos; ter estabelecido contatos ou domínios mais ou menos longos com os influenciados; e sua obra ter sido de caráter quase que universal – estabelecimento de colônias distantes, mas sempre assistidas, em partes distintas do globo, alem de fazer de
seus primeiros discípulos, pregoeiros das boas-novas ensejadas.
Especialistas há que exigem que a própria derrocada do império dominador tenha sido,
senão catastrófica, pelo menos violenta, para que os relatos dos sobreviventes ou testemunhas tivessem deixado marcas profundas nas mitologias e lendas, bem como nas
consciências dos povos submetidos ou aliados.
Estabelecidos os pontos, voltamos às grandes civilizações do passado, das quais sem
dúvidas destacou-se a sumeriana como a primeira e mais importante delas.
ELEMENTO CIVILIZADOR GLOBAL
O primeiro humano, até segunda ordem, é africano – já o dissemos, enquanto a Suméria
foi a primeira grande civilização, do 5º ao 2º milênio AEC na Mesopotâmia, território
em forma de lua entremeio ao Tigre e Eufrates, por isso a denominação Crescente Fértil.
Não se sabe, com exatidão, a origem do povo sumeriano, pressupondo-o descendente de
grupo Nilota [África Oriental] que, após longa peregrinação pela região do Kuzesquitão,
sudoeste do atual Irã, aonde se misturou com o Elamita [predominante] antes de instalar-se ao sul da Índia [7500 AEC], entre os rios Narmada e Mahanadi, para dominar
tribos Munda que vivia o neolítico, ainda nômade sazonal como coletor e caçador, que
se tornou então sedentário, aprendeu o pastoreio e evoluiu até a condição de agricultor,
já como povo proto-dravidiano, conforme atesta vocabulário e gramática do antigo elamita cognado com o munda para o drávida.
A presença Nilota/Elamita em subcontinente indiano é comprovada, também, nas tribos
Brahuis e Gondis – grupos isolados de ancestralidade proto-dravídica. O povo Munda é
originário do nordeste da Índia.
Por analogia, quanto às formas lingüísticas locais aplicadas para acontecimentos históricos ou lendários, podemos identificar os invasores Nilota/Elamita denominados Adima,
ou seja, o primeiro em chegar – aquele veio ou chegou de determinado lugar, enquanto
o Munda subjugado na região entre rios [Narmada e Mahanadi] se uniu ao Adima na
condição de Hevakin, vocábulo sânscrito com significado de povo unido [devotado a]
do radical Hava / Heva [devoção / oferenda sacrifical]. Adima, mais tarde transformado
em Adapa na mesopotâmia, se tornou o Adão bíblico, enquanto Heva hebraizada se
chamou Eva [Vida].
Dentre os lavradores e pastores do sul da Índia destacou-se um segmento social que a si
mesmo denominava Sag-gi-ga – “Povo de Cabeças Negras”, o que nos faz presumir
uma Classe que se fazia cobrir a cabeça com mantos negros [capuz]. Essa sociedade
designava sua habitação [posteriormente sua terra] de Ki-en-gir com o significado de
“Lugar dos Senhores Civilizados”, ou seja, daqueles que detem conhecimentos e domínios das técnicas para desenvolvimentos ou aprimoramentos por diferenciação social,
divisão do trabalho, urbanização e concentração de poder político, econômico e eclesial.
Apesar do relativo isolamento geográfico do sul da Índia, para a época, as sociedades ali
fixadas apresentaram progressos e desenvolvimentos maiores que as populações das
demais regiões indianas, em causa das influências dos Sag-gi-ga, uma questão ainda não
totalmente fechada.
De princípio não se pode apontar o Sag-gi-ga como Classe Sacerdotal ou alguma Fraternidade; quando muito um grupo de observadores das fases da lua, o comportamento
do mar, as cheias e baixas dos rios; o decorrer do dia através das posições do sol, as
movimentações dos corpos celestes, as estações que se repetiam de tempo em tempo, o
reconhecimento das alternâncias metrológicas, os tipos de vidas animal e vegetal em
diferentes ambientes, as variedades de solo e suas propriedades, o valor da água e a fertilização da terra, melhores tempos de cada tipo de semeaduras e respectivas colheitas..
Com o decorrer dos tempos, ou, à medida que se constataram as regularidades cíclicas
por métodos associativos, tornou-se mais eficiente prever acontecimentos naturais para
o período seguinte, sabendo a melhor época para o plantio de qual espécie, ou qual melhor tipo de terreno para as variedades vegetais, além do aproveitamento das águas dos
rios e da chuva, portanto uma combinação de dados para melhor interação com a natureza.
Igualmente através de observações entendiam o ciclo da vida humana e muitas de suas
doenças, bem como as reações aos experimentos curativos e a morte; também a compreensão, melhor possível, da natureza humana, o emocional, o sentimental, o raciocínio, a inteligência, a memória, e as deparações inevitáveis com subconsciente e o espiritual.
Os Sag-gi-ga foram homens que saíram do povo para se tornarem dominantes, sabendo
explorar o medo natural humano do incognoscível e o pavor diante da natureza, além
daquela curiosidade inata ou tentação em experimentar situações, favoráveis ou adversas.
O homem primitivo realmente temia a natureza quando esta lhe era hostil, ao mesmo
tempo em que a admirava nos momentos favoráveis; outro grande temor era a morte.
Talvez a maior incompreensão do homem primitivo estivesse no enigma dos sonhos,
desconexos por vezes, mas quase sempre a lhe reavivar pesadelos, celebrar alegrias e,
inclusive, trazer de volta os mortos, mesmo que por instantes.
Portanto, o saber melhor da natureza e do homem dava, aos observadores Sag-gi-ga,
destaques perante as demais gentes, porque sem dúvidas se mostravam diferentes e eram vistos assim, desiguais ao comum, por isso mestres, bruxos, místicos, visionários,
necromantes, encantadores, profetas, videntes e outras denominações que se encaixam
perfeitamente naqueles que sabiam explorar os medos e ansiedades do homem, que sabiam explicar a existência pós-morte e conseguiam contatos com aquele universo invisível, fossem os desencarnados, os deuses, espíritos protetores ou mesmo os malfeitores
[malignos], traziam-nos à terra para as mensagens, consultas e realizações.
Os Sag-gi-ga faziam o povo acreditar nas extensões dos poderes que os invocados possuíam, com visão muito mais abrangente das verdades deste mundo, passado, presente e
futuro, vez que libertos dos liames da carne, suas limitações e estreitezas. Como excelentes intérpretes, sabiam causar impressionismos e, cada qual à sua maneira, desenvolvia regras e doutrinas mantidas no mais absoluto segredo, para que não perdessem aquela aura de mistérios e encantos, transmitindo seus conhecimentos apenas a algum escolhido.
Esses observadores, individuais ou em grupos, se atraíram para formar uma Classe distinguida nas ciências do conhecer e saber, e bem logo compreenderam a arte de governar e manter o povo unido sob dominação, através das imposições, depois pelas regras,
leis e tratados, com punições ao descumprimento. Pode-se dizer que, em algum momento, os Sag-gi-ga se uniram como membros de uma Confraria, na qualidade de Sacerdotes ou Mestres, sob a liderança provável de quem os contatou para aquela formação,
certamente posto por Sumo Sacerdote ou Grão-Mestre; não se sabe.
Das suposições para a realidade, a primeira grande conquista dos Sag-gi-ga foi transformar tribos nômades em sedentárias, fixá-las em regiões determinadas para as práticas
agrícolas e de pastoreio, com a conseqüente elevação de povoados que, depois, se transformam em cidades. Outra importante realização foi canalizar águas dos rios para irrigar
a terra, quando, em que quantidade e para onde queriam; sabiam armazenar água para os
tempos de estiagem.
Os Sag-gi-ga sem dúvidas foram os Sacerdotes ou Mestres primeiros dos dravidia-nos,
afinal eles detinham os segredos dos deuses, uma longa lista de conhecimentos, do ciclo
do plantio ao movimento dos corpos celestes, passando pela cura do corpo humano e o
desvendar segredos da alma, através de um conjunto de princípios elaborados por base
de um sistema político, social e, sobretudo, religioso. Essa maneira de entender os tantos deuses, interpretar suas vontades e realizar o bem estar humano através de melhor
interação com a natureza, faz pensar ter sido suas doutrinas as raízes do antigo hinduísmo.
Aparentemente os Sag-gi-ga não transformaram as prósperas comunidades em cidadesestado, com capacidade de defesa própria ou de união para defesas de interesses territoriais e outros em comum. Também não militarizaram a região ocupada, senão algumas
tribos aliadas ou confederadas postas em regiões estratégicas para anunciar chegadas de
inimigos, a tempo de preparo para o combate.
Num certo tempo aproximou-se o inimigo, para cooptar uma das tribos guardiãs e adentrar o vale, quase sem resistências, antes de espalhar-se por toda a região, enquanto os
Sag-gi-ga coordenavam a retirada de grupos humanos, para uma longa peregrinação
pelas costas índicas e do golfo, até a Mesopotâmia, por volta de 5 mil anos AEC.
-A retirada ou expulsão dos Adima e Heva [do paraíso entre rios] se fez lembranças
tribais na região mesopotâmica, posteriormente acrescidas dos mitos Caim e Abel, lendas ainda hoje integrantes da cultura religiosa do judaísmo e cristianismo, além das presenças marcantes em todas as culturas e tradições espalhadas por todos continentes.
Nem todos proto-dravídicos acompanharam a saga Sag-gi-ga, antes se espalharam por
outras regiões indianas e em partes da insular Sri Lanka atual [Ceilão, Taprobana], onde
ainda hoje identificados na etnia Tamil. Bem mais tarde no tempo, por volta de 1500
AEC, quando os arianos invadiram e conquistaram o Vale do Indo – rio que corta o atual Paquistão, por lá florescia a cultura dravídica, com notável progresso tido por herança
de seus ancestrais do sul da Índia.
A região mesopotâmica em forma de lua crescente deu causa do nome Shinar [a bíblica
Sinar] aos novos chegadores, ou seja, habitantes da lua entre os rios, não por coincidência Shinar ter raiz em Sinnu – deus lunar ou deus da lua, divindade maior cultuada pelos
conquistadores. O designativo Sumério [do acadiano Shumer], pelo qual posteriormente
conhecido aquele povo, diz respeito tão somente à língua aglutinativa de composição e
ergativa, diferente de qualquer outra falada na região e circunvizinhança.
-Para efeitos práticos adotamos sumérios, sumer ou sumerianos aqueles habitantes da
Mesopotâmia, entre o 5º e 2º milênio AEC, originários do sul da Índia.
A experiência agrícola e de pastoreio, ao sul da Índia, correspondeu para que a região
mesopotâmica, sob domínio sumeriano, igualmente experimentasse a revolução neolítica, ou seja, a sedentarizarão dos povos regionais que, deixando de ser dependentes dos
recursos naturais, se tornaram produtores e pastores, residentes em povoados para a
formação dos primeiros centros urbanos.
A agricultura foi bastante eficaz ao sul porque em solo fertilizado pelas inundações periódicas, ou regimes, do Tigre, Eufrates e tributários, além do uso da canalização das
águas dos rios, o que obrigou o desenvolvimento de técnicas de engenharia para um
complexo sistema hidráulico para melhor utilização dos pântanos, através de drenagens;
construções de canais para condução e melhor distribuição das águas em áreas mais
distantes e carentes; armazenamento das águas, em açudes, para épocas de estiagem;
aterramentos de terrenos, construções de pontes e caminhos de ligações entre as cidades
que se desenvolviam.
A região norte, montanhosa, apresentava condições de boas pastagens, situação diferente dos dias atuais, onde a desertificação transformou em muito o panorama, especialmente nos últimos 2.500 anos. Desta região descem os afluentes do Tigre e Eufrates,
estes vindos das montanhas da Armênia para o deságües no Golfo Pérsico, depois de
banharem o rico platô entre eles.
O progresso agro-pastoril com a conseqüente melhoria de vida da população atraiu gentes de outras regiões, o que fez aumentar em muito a população e o número de cidades,
surgindo outras categorias de trabalhadores, os artesãos, mineradores e, em especial os
mercadores que, pelos desertos ou pelo mar, promoviam ativo comércio de excedentes,
inicialmente à base de troca, desde à Ásia Menor [extremo ocidental do continente asiático, entre o Mediterrâneo, Mar Egeu, o Mar Negro e os Montes Taurus], Egito e a Ín-
dia, onde se estabeleciam colônias – feitorias de caráter estritamente comercial, em tono
das quais se desenvolviam núcleos urbanos.
A formação de colônias e feitorias foi a melhor forma de espalhamento sumeriano. Para
coordenar sua realização surgiu a organização gentílica com ativo comércio à base de
trocas, que se estendia à Ásia menor, ao Egito e à Índia.
Todo este avanço exigiu a formação de um governo organizado, central e forte, sob comandos eclesiais, apoiados em cidades-estado com algum Sacerdote no comando geral,
religioso e judiciário, enquanto ao nomeado Lugal [Homem Grande] competia fazer
cumprir as leis e regras estabelecidas, controles de produtividades, as arrecadações de
impostos, obras públicas e outras atividades administrativas delegadas, além da defesa
territorial através de uma estrutura militar eficiente.
Com o tempo o poder civil tornou-se hereditário, quando o Lugal se fez Rei, e em alguns momentos da história de cidades-estado, os poderes se rivalizaram, sem jamais
ocorrência de desrespeito do Lugal ou o Rei ao exercício espiritual do Sacerdote, mas
quando da chegada dos acadianos, no fim da era sumer, os Sacerdotes estavam alijados
do poder e a grande nação à deriva.
O poder organizado e a paz entre cidades-estado facultaram, ainda mais, o progresso
interno sumeriano, com surgimento dos ricos comerciantes e proprietários, para encabeçar a sociedade sumeriana junto à população livre, conquanto os escravos, geralmente
estrangeiros obtidos em pilhagens, guerras e saques, podiam se tornar livres após determinado tempo de servidão, ou por atos de bravura a favor do estado ou de seu senhor.
O relacionamento exterior, através de suas colônias e feitorias, foi bastante significativo
para o desenvolvimento de outros povos, cabendo nisto a visão mercantilista já além das
simples base de trocas, fatores importantes para o surgimento da escrita – os primeiros
registros de mercados, a matemática para a ordem e estabelecimento de valores, os padrões monetários de pesos e medidas, a aplicação do calendário eficiente para o controle
de safras e entressafras locais e estrangeiras, além do estabelecimento e aperfeiçoamento de leis internas e de relações exteriores.
Todo o sistema sumeriano parecia voltado ao sistema econômico que compreendia
construções de casas, fabrico de ferramentas para eficiência agrícola e melhor aproveitamento da força animal – montaria, aragem de terra e transportes, a abertura de estradas
para trânsito seguro e escoamento de mercadorias, a roda – para agilização do meio de
transporte, e demais situações que exigiam novas classes trabalhadoras, como oleiros,
marceneiros, fiandeiros, tecelões, condutores [transportadores] de mercadorias, preparadores de conservas [doces, carnes, couros, laticínios, vinhos e azeites], ourives e outros
trabalhadores diversos, muitos na arte de equipar exércitos, especializando-se nos fabricos de armas e proteções, tudo enfim de grande importância no processo de urbanização.
Por trás de toda essa estrutura ainda estavam os Sag-gi-ga em seus Ki-en-gir, onde concentrados os Mestres que, entre outros atributos, formavam escribas, literatos, matemáticos, médicos, engenheiros, astrônomos, professores, líderes de governo e, entre outros
formandos, em algum tempo também os demiurgos.
-A história não dá saltos, segundo o decodificador do Espiritismo, Allan Kardec, mas
parece ter havido uma exceção, com referência ao povo sumeriano segundo Amar
Hamdani em sua obra “Suméria, a Primeira Grande Civilização, edição Otto Pierre,
1.978”, que ele considera de origem desconhecida e de língua enigmática, ao que Ourssel Masson – La Philosophie en Orient diz assemelhar-se apenas ao dravídico indiano e
do antigo Ceilão, numa séria suposição que a civilização sumeriana relacionou-se ou era
ramo dos dravidianos, conforme menção de Félicien Challaye.
Alguns ficcionistas, e mesmo autoridades sérias, apostam em civilizadores extraterrestres para justificar a evolução sumeriana, contudo tais hipóteses ficam em meras especulações, exceto quando se trata do enigmático e desconhecido planeta X, do nosso sistema solar, que tem merecido atenções de cientistas, como John Anderson, pesquisador da
NASA no Projeto Pionner, do Centro de Pesquisas Ames, numa citação de entrevista
publicada pela Planeta l27, com o escritor norte americano Zechariah Sitchin: As Pistas
do l0º Planeta – matéria de Philippe Piet von Putten.
Alienígenas desse Planeta X, em retorno de uma das viagens à Terra, teriam caído no
Oceano Índico e, assim, chegado à Suméria onde reverenciados como deuses e chamados Anunnak – Anunaki; a partir deste contato a Suméria teria se desenvolvido de repente, progresso ímpar e de forma espantosa.
Referido Planeta X tem aproximação maior com a Terra e se torna visível a cada três
mil e seiscentos anos, por um período que se denomina “janela aberta”, quando se realizam possíveis viagens ou contatos com a Terra.
Aliás, tem sido o próprio Sitchin defensor maior dessa tese, ele que, além de renomado
escritor, é um dos apenas quase duzentos homens no mundo que lê e decifra a escrita
sumeriana, portanto merecedor de interessante e elucidativa matéria na coleção Mistérios do Desconhecido – Contatos Alienígenas, por Abril Livros, 1993.
Para Sitchin, o planeta X não é outro senão Nibiru, cujas possibilidades de existência
foram encontradas nas descobertas arqueológicas sumerianas, em antigas inscrições
traduzidas.
Já de há muito, exegetas bíblicos mais avançados têm aventado indícios de que extraterrestres tenham mantido contato com humanos, destacando alguns textos bíblicos como
Gênesis 6: 2-4: ”Viram os filhos dos deuses que as filhas dos homens (...) [e] os filhos dos deuses se uniram às filhas dos homens (...)”.
Porém foi Sitchin quem, com sua autoridade de lingüista e estudioso bíblico, estabeleceu neste contexto o surgimento do homem desperto para a civilização, portanto a Suméria, e a origem de sua religiosidade, explicando-se aí o livro Gênesis – cópias e adaptações de antigos textos sumerianos, já com roupagem babilônica, na identificação com
os filhos dos deuses, ou sejam, os extraterrestres.
Sitchin não é levado a sério por outros estudiosos, que consideram mitológicas as sagas
sumerianas, mas a tese é notória, preenchendo os requisitos exigidos para um elemento
civilizador universal, embora sua comprovação, se mito ou realidade, somente quando
Nibiru, se existente, aproximar-se novamente da terra e possibilitar contatos.
-Ainda hoje nenhum telescópio detectou Nibiru, embora especialistas astrônomos atuais
confirmem, através do estudo das órbitas de Urano e Netuno, a possível materialidade
de um outro planeta, ainda desconhecido, em nosso sis-tema solar, o tal Planeta X conforme Sitchin à von Putten naquela entrevista informada.
Excluída por ora a influencia civilizatória extraterrena, o povo sumer, com ou sem paralelos lingüísticos com os drávidas, surgiu na região da Mesopotâmia entre o 5º a meado
do 4º milênio AEC, encontrando povos nômades e seminômades vagantes pela região,
com pouco cultivo, vida pastoril insipiente, valendo-se dos artefatos em pedras e alguns
poucos utensílios talhados.
A fixação sumeriana não encontrou resistências e, de forma tão súbita quanto seu aparecimento na região, determinou uma vida sedentária, instalando cidades, irrigando campos, criando uma vida social sem precedentes e regrada pelo direito, incremento às artes
– em belas esculturas, aplicando um sistema inteligível de escrita – primeiro no mundo,
as regras numéricas e matemáticas, estudos e tratados de astronomia, práticas e avanços
das ciências médicas, desenvolvimento da ciência militar, e uma engenharia arquitetônica revolucionária, princípio dos arcos nas construções.
Apesar dos tantos avanços comprovados, os especialistas consideram a literatura sumeriana bastante pobre, a despeito dos seus personagens e contos, posteriormente plagiados e adaptados, dar vida aos deuses formadores do mundo, da terra e tudo que nela há,
inclusive o homem com suas religiões e histórias de origens observáveis em todas as
culturas, com influências nos usos e costumes, na moral e regras sociais, além dos avanços técnicos e de estudos.
Se a literatura sumeriana não foi das mais ricas, dela, no entanto, se destacam as Mitologias da Criação, do Dilúvio e de seus Deuses, juntamente com outras narrativas épicas, todas emersas sob manto babilônico e assim postadas na Bíblia Judaica, nos Livros
Sagrados e/ou nas tradições orais de toda a humanidade.
Os sumerianos não tiveram literatura sagrada propriamente dita, nem ao menos legou à
humanidade o seu sistema religioso definido de crença, porque não o tinha; contudo sua
visão metafísica penetrou tão profundamente nos povos circunvizinhos, que é impossível não identificá-la nas civilizações que lhe sucederam e naquelas que posteriormente
se formaram.
Apesar de todos os avanços da Civilização Sumeriana, não foi ela aquilo que se pode
denominar de elemento civilizador universal cultural-religioso, quando muito reconhecida a sua importância na formação dos povos regionais, a partir dos seus sucessores
imediatos no Crescente Fértil, os acadianos e babilônios, além dos circunvizinhos egípcios, fenícios, palestinos e semitas em geral.
-A influência sumeriana regional é inquestionável, suas lendas de cunhos religiosos
estão entre aqueles povos que adotaram os mesmos deuses, posteriormente com adaptações locais, com as mesmas representatividades antropomórficas, à exceção do Egito
[e sua extensão africana] cujos deuses tinham, quase sempre, representações antropozoomórficas.
A Suméria, apesar de não ser ela a nação civilizadora universal, sem dúvidas foi o berço
cultural da humanidade e, assim, a responsável primária pelas tantas similitudes originais histórico-religiosas encontradas em todas as tradições extintas e atuais
Porque a Suméria o berço civilizacional e religioso da humanidade?
Pela razão única que eles inventaram a escrita e souberam colocar como suas as visões
metafísicas dos povos com quem manteve contatos, ou daqueles que ouviram falar dela.
Se a Suméria sabidamente não se lançou aos mares com tanta ousadia, nem se meteu em
viagens transoceânicas, como fez chegar seus elementos religiosos aos outros povos tão
distantes?
Pelos fenícios, povo de origem semita, originário das costas setentrionais do Mar Vermelho, com presença certa na mesopotâmia onde fortemente influenciado pela cultura
sumeriana, antes de migrar para uma estreita faixa de terra onde atual Líbano e pequenas porções da Síria e Israel, num território apertado entre o Mediterrâneo e as montanhas, estando no litoral suas principais cidades, Ugarit, Arad, Biblos, Sidon e Tiro.
A partir do sistema de escrita sumeriana os fenícios inventaram o alfabeto consonantal,
com vinte e dois sinais gráficos para representar os sons das palavras, já com novo e
moderno sistema gráfico. O alfabeto fenício, complementado por vogais, deu originou
ao grego, cuja variante seria o egípcio.
Dos sumerianos os fenícios adotaram igualmente o sistema de cidades-estado, com poder político quase sempre exercido por reis locais assessorados pelos conselhos dos Anciãos e dos Magistrados. Do mesmo modo estabeleceram contatos de comércios com
povos circunvizinhos e ilhéus, através de concessões, feitorias e colônias.
As proximidades com o mar e a dificuldade de terras agricultáveis levaram os fenícios,
desde logo, se aventurarem ao mar, desenvolvendo a arte de construir navios e das técnicas de navegações, atingindo portos cada vez mais distantes e ultramarinos, levando
aos diferentes povos os seus instrumentos agrícolas – aprimorados dos sumérios e dos
cretenses, e objetos de metais [ouro, prata, bronze e cobre] para usos diversos, inclusive
em armas de guerras e adornos, além dos utensílios cerâmicos..
Os fenícios foram tão grandes navegadores, comerciantes e feitores, quanto prestadores
de serviços para outras nações, por vezes dispondo seus navios para conduzir estrangeiros para comercialização em distantes locais, quando não em missões de trabalhos ou de
reconhecimentos de novas terras.
A religião fenícia era politeísta, com destaques para as antigas divindades terrestres e
celestes advindas do panteão sumeriano, talvez em causa dos registros escritos. Praticamente os fenícios não se deram ao trabalho de acrescer nenhum deus ao rol sumer,
por exemplo, nenhuma divindade protetora para os navegantes lhe foi designada.
Cada cidade-estado tinha seu deus maior – tipo Baal [Senhor] com o nome próprio representativo de sua função, a exemplos Eshumun – deus da saúde, protetor de Sidon,
enquanto Adônis – deus de Biblos era divindade da vegetação, com correspondente sumer em Ashtart – depois a divindade caldéia Ihstar, a mesma grega Astartéia. .
-Os fenícios sacrificavam animais para as divindades, além das oferendas com frutos
da terra ou das primícias dos seus trabalhos; em algum tempo os deuses teriam exigido
sacrifício humano, procedimento não incomum no antigo Oriente Médio, como consta
pela aceitação de Abraão imolar o filho Isaac, ato não consumado como aquele por
Jefté, que sacrificou sua própria filha a Yavé em conseqüência de ato votivo [Juízes
11:29-39]. A Bíblia [II Crônicas 28:1-3 e referências] atesta e condena a prática de
sacrifício humano por alguns dos reis hebreus e, em outros livros, determina as proibições de tais práticas – [Levíticos 18:21, Deuteronômio 18:10 e referências].
Inserido nestas linhas de pensamentos surge como elemento colonizador o povo fenício,
conhecido como a civilização dos navegantes comerciários, que se lançou aos ma-res e
oceanos, fundando colônias e feitorias, ou adquirindo concessões para postos e entrepostos comerciais, estabelecendo suas principais rotas marítimas.
A Fenícia mantinha estreita relações com o Egito, a tal ponto que o Faraó Nekaó (609 –
594 AEC), financiou uma expedição marítima realizada pelo navegador fenício Ha-ram,
que saindo pelo Mar Vermelho ganhou o Índico, contornou a África, singrou águas do
Atlântico para chegar ao Egito, pelo Mediterrâneo – [Descrição Livro 3 – História
Geral I, de Cláudio Vicentino e Gilberto Marone – 2ª edição Anglo Vestibulares
1.990/l.99l]. O Egito se ergueu culturalmente sob fortes influências sumerianas.
Salomão (97l – 932 AEC), rei hebreu cuja nação era fortemente influenciada, cultural e
religiosamente, pelos povos mesopotâmicos, utilizou-se dos navegantes fenícios e, às
vezes, frotas de seus navios, para viagens comerciais com a Espanha, que duravam três
anos, partindo do Mar Vermelho [Bíblia, II Crônicas 9:21 e I Reis 10:22, mais as referências].
No livro bíblico I Reis 9:26–28, Salomão determina construção de uma frota equipada
pelos fenícios e por eles conduzida, e que chegaram até Ofir. Em II Crônicas 8:18, o rei
fenício mandou a Salomão navios e gente prática do mar que foram a Ofir.
Dos textos referidos, cabem atenções quando das colocações chegaram até Ofir, distinto
de foram a Ofir. Salvo se por problemas de antigas traduções / versões, tem-se a impressão que Ofir não era situada na rota comum das navegações de Asion-Geber, no Mar
Vermelho, até a Espanha, sendo que o texto bíblico deixa transparecer que a chegada da
frota de Salomão até Ofir, embora comum para os fenícios fora uma grande proeza,
muito mais que ir à Espanha.
Contudo, onde localizar Ofir?
A Bíblia narra viagens fenícias à Espanha a serviço do rei Salomão, e cita outras em
que, para o mesmo rei, se dirigiram até Ofir, em busca de ouro, madeira e pedras e outros metais preciosos.
Ofir, um lugar ignoto, não poderia ser assim tão perto, nas cercanias do Mar Verme-lho
ou Oceano Índico, como ensejam os principais exegetas que a apontam na Etiópia, Arábia Feliz, Índia. Assim, nem tanto especulativa, como veremos, a localidade de Ofir foi
posta até na América do Sul e, nesta, o Brasil e Peru.
Antes do bíblico Salomão os fenícios já faziam navegações transoceânicas desde o Mar
Vermelho até o Mediterrâneo, contornando o continente africano. Outras navegações
apontam os fenícios no extremo oriente, pelo sudeste asiático, e nada segredos que eles
chegaram aos países baixos da Europa, conheceram a Groenlândia, a Islândia e estiveram em terras americanas do norte e do sul, pelo Atlântico e Pacífico.
Ora, se a Escritura não define onde localizar a Terra de Ofir deixa-nos, entretanto, algumas pistas históricas e de filologia, conforme temos:
• I Reis 10:11, em cópia transliterada, Apir está para Ofir, enquanto em I Crônicas
29:4 encontra-se Apira para a mesma Ofir, e Aypira também traduzida por Ofir
[I Reis 9:28].
• II Crônicas 3:6 diz que o ouro era das águas dos Parvaim.
Referidos lugares ou denominações não foram encontrados no Oriente Médio, Sudeste
Asiático e África Oriental.
Henrique Onffroy de Thoron em sua Antiguidade, monografia histórico-filológica a
partir dos relatos bíblicos, I Reis 9:26, II Crônicas 9:2, 20:36 e referências, ao narrar
viagens fenícias a serviço do rei hebreu Salomão, a partir de Asion-Geber, no Mar Vermelho, à Espanha [Tarsis], menciona algumas empreitadas até Ofir e Parvaim, locais
que não hesita colocá-los em continente sul-americano.
-Sua obra original: Voyages dês Vaisseaus de Salomon au Fleuve dês Amazones, foi
publicada em Genova [Itália 1869] e Manaus [Brasil 1876].
Pelas considerações de Thoron, Parvaim significa águas, no sentido de rios que se encontram, e a palavra transliterada deve ser posta Parva-im, mais propriamente Paru-im,
apontando dois rios, Paru e Apu-Parim [Paru e outro Paru], que unem suas águas para
for-mação do Ucayale, afluente do Solimões.
Ao tratar das viagens do fenício Hiran ao Peru, a serviço de Salomão, pelo rio Amazonas [sua foz no Atlântico], entre 993-960 AEC, tais descrições permite-nos juízo no
bíblico I Reis 10: 11, cujo texto transliterado Apir [Aypir – versão samaritana] estaria
para Ofir, com significado de água.
Assim, em I Crônicas 29: 4, Apira [aquele que trabalha na água ou minerador], igual
Aypira, I Reis 9: 28, traduzida por Ofir, enquanto II Crônicas 3: 6 informa que o ouro
[de Ofir] era das águas de Parvaim ou Farvaim, no sentido de rios que se encontram,
com a transliteração Parva-im obliterada do hebraico Paru-im – rios auríferos, considerando plural a terminação hebraica ‘im’.
Desta forma, diante do mesmo silêncio bíblico a Ofir, Paru-im tão somente remete-nos
ao Peru, onde os rios Paru e Apu-Paru [Paru e rico Paru] unem suas águas [Apurimac]
para formar o Ucayale, nome pelo qual se conhecia o rio Amazonas por volta de 1000
AEC. Da mesma maneira, desde aproximadamente mil anos AEC se conhece o rio Solimões, denominação tida por obliteração de Salomão, para a população nativa incapaz
de pronunciar o hebraico Salomão [paz, pacífico] – Shalom / Sholomom.
Porque os israelitas utilizavam-se, pelos fenícios, a rota contornando a África para se
chegar à Espanha? Não seria mais econômico e viável pelo Mediterrâneo?
Osvaldo Ronis [Geografia Bíblica edição 1.975], traz a explicação de que o Mediterrâneo é de pouca profundidade na costa palestínica, assim impedindo a aproximação de
navios de maior calado, mesmo dos tempos antigos; razão pela qual o Mediterrâneo não
funcionava, para Israel, como caminho marítimo, antes o isolava do mundo. Nesta obra,
onde o autor descreve sobre a Geografia Palestínica e não sobre aquelas viagens, destaca-se que os israelitas valiam-se dos portos fenícios no Mediterrâneo e poucas vezes do
porto de Jope, sob seu domínio, dado os recifes e bancos de areia.
Logicamente cabem discordâncias das explicações de Ronis e, longe de discussões e
pressupostos, a realidade era que os fenícios atingiam, pelos mares e oceanos, as mais
distantes terras, inclusive atingindo as Américas, onde as marcas de suas passagens,
sobretudo na América do Sul, não são meros indícios, e das quais ainda não perderam
lembranças.
Matéria inserida na publicação Planeta, de numero l4, 1973, de Antônio Carlos Dumortout Werneck, A Esfinge da Gávea, cita estudiosos e autores diversos que descrevem e afirmam as passagens dos fenícios pelas Américas, no caso, o Brasil. Na revista
mensal Planeta de numero 198, de março de 1.989, matéria Pedra da Gávea – O Mito e
a Realidade, Aurélio M.G. de Abreu, também faz citações de especialistas que atestam
presença fenícia no Brasil. Se as matérias não trazem a profundidade desejada para o
assunto, também não eram esses os objetivos, por outro lado citam excelentes fontes de
pesquisas.
Mas como os fenícios chegavam à América?
Se o contorno do continente africano não lhes era desconhecido, nada poderia obstá-los
no avanço à América do Sul. Poderiam, também, chegar pela rota dos escandinavos, aos
atuais territórios Canadá e Estados Unidos, caminhos que os celtas e viquingues utilizaram, comprovadamente, tempos depois. Outra rota seria pela China – que também efetivamente manteve algum contato com a América, ou pelas ilhas do Pacífico em direção
às costas americanas, pelos prováveis caminhos dos melanésios.
Efetivamente os fenícios fizeram isto?
Primeiro há de se considerar que os fenícios não somente faziam rotas comerciais conhecidas, como também se aventuravam por águas desconhecidas, em busca de novos
postos avançados para estabelecimento de colônias; não bastasse isto, também prestavam serviços a outros povos, a exemplos citados de Israel, Egito e Arábia.
Neste aspecto, de prestações de serviços ou de viagens financiadas, ressaltem-se os egípcios: não eram navegadores ao nível dos fenícios e, não obstante, estiveram nas Américas, não por indícios ou provas esparsas, mas comprovadamente por pesquisas e
levantamentos de ordem, desde os estudos comparativos de hieróglifos egípcios e maias, que não apenas coincidem em pelo menos treze caracteres, como possuem os mesmos significados, conforme o estudioso Auguste de Le Plangeon, ou das escritas dos
guaranis também semelhantes às dos egípcios, demonstradas pelo estudioso Doutor Bertoni, como ainda as comprovações arqueológicas das hipóteses de Braghine, todos estes
mencionados na obra de Philippe Azis, Atlântida – a Civilização Desaparecida, publicação de Otto Pierre Editores, 1.978, que, aparentemente não se trata de um atlantólogo,
uma vez que sua obra é uma coletânea de teses audaciosas, quase sempre recorrentes a
especialistas renomados, sem deixar de citar os ficcionistas e especuladores.
Ainda por Azis, outros paralelos são destacados, como as proximidades das divinda-des
egípcias com as dos maias e incas, cujos números ultrapassam as barreiras das simples
coincidências; também, as provas incontestes de realizações que saltam aos olhos de
tantas igualdades, como as esculturas, estatuetas, obras de engenharias – construções
civis e obras de irrigações, murais com os mesmos motivos, e as famosas pirâmides,
alem das ciências médicas e astronômicas.
Segundo entendimento do historiador Abdhullah Quick há fortes evidências de presença mulçumana na América pré-colombiana, reconhecida pelas expedições espanholas.
-“Os primeiros exploradores [da América] eram, em muitos casos, soldados que haviam lutado na Espanha ou na África e navegado os mares para destruir o poder do
Islam. Eles reconheciam a influência islâmica por onde quer que passassem e tinham
ordem de converter ao catolicismo aqueles povos. Abdullah Hakim Quick, historiador
muçulmano que investiga a presença de muçulmanos na América pré-colombiana,
escreveu em seu livro ‘Deeper Roots’, que quando Hernan Cortés (o conquistador do
México) chegou a Yucatán, chamou aquela região de ‘El Cairo’. Os homens de Cor-
tés e de Juan Pizarro (o conquistador do Peru), alguns dos quais haviam tomado parte diretamente na luta contra os muçulmanos, chamaram os templos indígenas de
‘Masjid’ (mesquita). Ainda segundo o historiador, várias leis foram baixadas com o
objetivo de interromper o fluxo de muçulmanos, libertos ou escravos, para as Américas e trazer de volta os indígenas muçulmanos convertidos” [HistoriaNet].
Se os egípcios estiveram na América, os hebreus não deixaram por menos; da mesma
maneira que aqueles não eram notáveis navegadores, utilizando-se quase sempre dos
fenícios, em suas viagens mais longas, por exemplo, à América, vistas presenças de seus
elementos em culturas americanas, objetos de atenções por parte dos especialistas, sejam pelos traços fisionômicos característicos identificados em esculturas de tribos de
México e Peru; ou pelas identidades lingüísticas de referidas tribos com o semítico,
quanto pela exagerada semelhança da Gênesis Bíblica com o Codex Maia.
-Braghine menciona crenças de praticamente todos os povos americanos, com as mesmas inspirações e personagens bíblicos e em rituais como a circuncisão [que pode ser
de origem egípcia], além das regras de cultos. Eram semelhantes também as ordens
sacerdotais, e as classes dos profetas e dos escribas.
Em suas viagens à Europa e América, com navios de grande porte, os fenícios utilizavam a rota pelo contorno do continente africano, sem desprezar viagens mediterrâneas
com embarcações menores até a Espanha, onde tinham a colônia de Tarsis, chegando
até os Açores e, países baixos.
Por Braghine sabe-se que em Açores foram encontradas moedas fenícias – cartaginesas,
e lá existiam estátuas, inscrições e um marco eqüestre cujo cavaleiro apontava em direção ao continente americano, certamente indicativo de rota para embarcações de grande
calado.
Viagem pela rota dos nórdicos pode parecer vaga, num primeiro momento, porem consideramos que os nórdicos não eram estranhos aos povos do Oriente Médio, em cuja
região manteve, por longo período, uma Federação; citam-nos a Bíblia, como sendo os
filisteus, pelos traços fisionômicos, cultura, divindades e língua, alem dos tratados entre
eles com o povo egípcio, onde hoje não restam dúvidas de identificação..
-Descrevem as presenças nórdicas no Oriente Médio, além de outros autores, Olivier
Launay – A Civilização dos Celtas; Patrick Louth – A Civilização dos Germanos e
Vikings; e Jean-Claude Valla – A Civilização dos Incas, obras que fazem partes da
coleção Grandes Civilizações Desaparecidas, da Otto Pierre Editores (Destaques do
autor)
Considerando a presença nórdica no Oriente Médio, e que muito tinham a oferecer em
termos comerciais e tecnológicos, como armas, navios e artefatos, além de produtos
alimentícios do mar, seria impossível que mercadores fenícios não se dirigissem até às
terras de origens daqueles povos, para transações, e de lá não prosseguissem à Islândia,
Groenlândia e Vinlândia – América.
Uma rota para a China se sustenta pelas razões: a civilização chinesa, de 1890 à 1100
AEC plantava trigo, produzia seda, lavrava o jade, fazia artefatos de bronze, fundia o
ferro, utilizava a roda e tinha carros de guerra e de transportes que, sem dúvidas, eram
produtos e avanços que interessavam às civilizações com as quais mantinha comércios,
como a Índia, Pérsia e povos circunvizinhos.
O comércio terrestre utilizado internamente era dificultado quando se tratava daquelas
outras nações, em razão do Himalaia, que o inviabilizava em termos econômicos; todavia, pelos caminhos dos mares, apenas a Fenícia tinha condições para realizações, dado
conhecimentos das rotas marítimas e infra-estruturas para empreendimentos de tal magnitude.
Alguns entendem a China como nação também capaz de realizar viagens transoceânicas, que inclusive teria conhecido o Estreito de Magalhães – então chamado Rabo do
Dragão. Sabemos, no entanto, que aquela nação somente aventurou-se ao mar em 1403
da era atual, atingindo o Sudeste Asiático, Índia, Ormuz, Pérsia, África Oriental, regiões
do Mar Vermelho e Arábia. Inexplicável e repentinamente em 1443 as navegações chinesas foram cessadas – Nações do Mundo / China, Editora Cidade Cultural, 1.989.
Para o autor Gavin Menzies, “1421 – O ano que a China descobriu o mundo”, a China teria feito viagem ao redor do mundo em 31 meses [1421 – 1423], comprovado numa
série de documentos náuticos, mapas e cartografias, parece-nos fundamentados no Mapa
Zheng, de 1418, versão chinesa de mapas europeus dos primeiros anos do século XV,
provavelmente adquirido na Índia.
Henriette Mertz, autor Deuses do Extremo Oriente: Como os Chineses Descobriram a
América, a Planeta l39-D narra uma possível expedição chinesa em 2.250 AEC e uma
outra no século V EC, sendo esta a responsável pelas fortes influências chinesas vistas
nas artes, ciências e religião dos autóctones do México e sul dos Estados Unidos, onde
mais se encontram pontos em comum entre as culturas, chinesa e as do novo mundo,
inclusive nos sistemas de calendários e astronomia.
Não se trata de por em dúvida a capacidade de navegação dos chineses em direção à
América, até porque sua estadia no continente americano é inegável, sob e sobre todos
os aspectos e pontos de vistas dos especialistas, porém, trazê-los como cultura influenciadora no novo mundo, na era atual, seria no mínimo rejeitar a história daquela civilização. A saga de 2.250 AEC nos parece lendária.
Mas os chineses chegaram à América e os traços de suas influências são fortíssimos,
tanto na cultura Olmeca, 1200-900 AEC no México [do Golfo litoral Pacífico], El Salvador e Costa Rica, quanto na Chavin [por volta de 900 a 200 AEC] no Peru, conforme
se refere Jean-Claude Valla, fundamentando-se nos estudos do alemão Robert Heine
Goldern, que tinha como fonte do Professor Pedro Bosch-Gimpera, da Universidade do
México, e nas narrativas colhidas do estudioso Juan de Torquemada.
Existem, do lado dos chineses, relatos que comprovam suas viagens à América ou vínculos com a Fenícia, em grandes expedições?
Salvo alguns fragmentos raros, mais próximos a lendas, parece que nada mais existe,
cabendo apenas a lembrança de que, entre 22l a 206 AEC, foram queimados todos os
livros e documentos pela dinastia Qin, apagando-se todos os traços de possíveis vínculos ou dependências da China, em relação a outros povos, por serem considerados subvertedores e diminuidores do poder chinês; em troca de tamanha estupidez, a humanidade recebeu como legado, a Grande Muralha, daquela dinastia – Nações do Mundo /
China.
Entendemos a presença chinesa na América pelos fenícios, sem nenhum registro histórico ou evidências anteriores e posteriores entre os anos 1200 e 200 AEC.
O período de formação de base dos povos americanos é pré às grandes civilizações encontradas pelos conquistadores espanhóis, como a Inca, a Asteca e a Maia, pois que
nestas ocorreram como elementos reformadores culturais, os celtas e os viquingues [entre 900 – 1300 da EC], com traços e roupagens cristãs, quando iniciado o período de
aquisições dos novos valores, sem omissões dos anteriores, então somente apagadas
com a chegada dos europeus invasores, no final do século XV e início do XVI, conjuntamente com o Clero Católico.
A América também foi visitada pelos negróides, africanos e melanésios, e eles acham-se
representados nas esculturas, em partes distintas do continente segundo atestam alguns
estudiosos, embora não vejam tais como elementos modificadores ou influenciadores de
culturas, segundo Jean-Claude Valla.
-Braghine admite que os negróides, principalmente os da África, possam ter chegado à
América, como escravos, pelos fenícios.
Também os contatos dos fenícios com os polinésios e australóides (estes chegaram ao
continente americano, extremo sul, entre os quinze mil anos, num período de regressão
glaciária, pela Antártida), parece bem possível, principalmente com os primeiros que
chegaram à América, pelo Pacífico.
Excluir as possibilidades expostas seria admitir então Atlântida com dominação global,
ou outras grandes civilizações que povoam o imaginário de muitos, como Lemúria, Mu,
alguma civilização extraterrestre ou os habitantes do interior da terra, mas nos faltam
evidências materiais de suas existências, sendo tudo especulações e hipóteses que apenas atestam influências de um civilizador no mundo, nada alem do que algum povo, a
nível dos fenícios, não pudesse realizar.
Portanto, o povo fenício pode ser considerado, senão um elemento civilizador mundial,
pelo menos o grande interador entre os povos da antiguidade, para tornar tão igual às
cosmogonia e teogonia como realizações fenomênicas do misticismo religioso.
REALIZAÇÕES FENOMÊNICAS DO MISTICISMO RELIGIOSO
-Estudos firmados em “MAURER JR Teodoro Henrique, 1906-1979, citação Curso
de Teologia: Cultos Estranhos, cópia de apostila cedida pelo Reverendo Abel Amaral Camargo - Igreja Presbiteriana Renovada, Assis - SP, 1974.”
INTRODUÇÃO:
O Animismo foi forma primeira de se cultuar os elementos cósmicos, os fenômenos da
natureza, os objetos inanimados, os seres vivos consagrados, a memória dos antepassados, dos valorosos homens de guerra e dos conselheiros, sempre por ritos miméticos
através de seus sensitivos, a interferência do sobrenatural no dia a dia do grupo social,
familiar ou mesmo de atuação individual.
Por Animismo se entende a primeira religião universal surgida entre grupos e subgrupos humanos, na qual se colocou “em toda a natureza espíritos mais ou menos
análogos ao espírito do homem” – Félicien Challaye.
A Bíblia não deixa dúvidas que na antiguidade os homens cultuavam a natureza pe-los
bens visíveis, pois que “(...) foi o fogo, o vento, o ar sutil, o círculo dos astros, a onda
impetuosa ou os luzeiros do céu que tomaram como deuses e senhores do mundo”
– Sabedorias 13:2.
O Totemismo e o Fetichismo são variantes do Animismo, quase sem distinções entre
uma forma e outra, sendo correto que tanto o Fetichismo quanto o Totemismo se valem
de práticas animistas para seus cultos.
No Totemismo a origem [dos princípios] determinou a seleção dos seres para cada tipo
de alma, a inteligente [racional] no homem; a vital, nos seres animais e vegetais; e coletiva nos inanimados, a compreender que a alma é quem move e faz desenvolver o ser
vivo, e que cresce por justaposição nos minerais. Uma discutível cosmologia até porque
os conceitos totêmicos jamais foram unanimidades.
Por essência totêmica [do Totemismo] se entende a espécie animal, vegetal ou qualquer
entidade, ou objeto, que os membros de um clã [grupo ou subgrupo social] consideram
sagrado. A isto se denomina Totem, ou seja, a representação desse animal, vegetal ou
objeto.
Para certos grupos, as almas coletivas e vitais estão postas ao homem, para prestação de
serviços, consumo alimentar ou que necessite de seus cuidados, até que um dia a ele se
associem como forma de evolução e integração ao estágio humano.
Uma alma humana sem o corpo físico para abrigá-la, ou que esteja desencarnada, é um
espírito que vai habitar o mundo dos deuses, podendo ser contatado em ritos especiais e
com direitos de escolha, por opção, onde permanecer na crosta terrestre [caverna, abismo alguma furna, etc] até uma nova encarnação. Neste período o espírito pode servir de
gênio tutelar para os humanos, espírito auxiliar na condução e evolução da alma coletiva
presente na natureza, ou, ainda, possuir um corpo animal [irracional] ou nele reencarnar
– o princípio da metempsicose.
No Totemismo concentram-se, além do próprio Totem, as regras e os tabus – separações
do sagrado e do profano, do certo e do errado, das permissões e daquilo que é proibido.
O divino está presente em tudo e os símbolos e imagens são respeitados pelo clã, tanto
quanto o Totem, por se colocar numa relação que envolve crenças e práticas específicas,
variáveis conforme a sociedade ou cultura considerada.
As práticas totêmicas, para a união mística entre o homem e a natureza ou a integração,
quase nada diferentes de uma cultura para outra; apresentam em comum uma relação
especial entre o grupo social com a entidade maior reverenciada, através do objeto que
lhe seja dado por identificação ou ponto de chamada, como emblema ou brasão adotado
por todo aquele clã e sobre o qual se desenvolve toda a mística, sem prejuízos de manifestações dos deuses menores – espíritos ancestrais, ou seres protetores individuais, respeitadas as regras e tabus.
Portanto, para a cosmovisão totêmica o culto não se fundamenta nos elementos, pois
que estes são desdobramentos e propagações, e sim na força vital, ou seja, a sopro da
vida ou hálito divino.
Já o Fetichismo, de maneira geral, seria o objeto inanimado visto na natureza e ao qual
se venera como manifestação de algum deus, porque entendiam nele a presença divina –
ou carregado de mana, assim, possuidor de virtudes mágicas, por exemplo, a pedra de
Caaba. Algumas culturas tinham por sagrado – objeto de fetiche, os locais escolhidos
pelas divindades para suas manifestações, sendo o Monte Sinai o mais famoso deles.
Também eram fetiches as imagens consagradas com propósitos de adorações, os objetos oraculares, os artefatos representativos [arcas, altares e propiciatórios], os instru-
mentos de cultos e mesmo os santuários e templos que se tornaram sagrados, tanto por
oferecer melhores condições para os relacionamentos, humano/divino, quanto para abrigar todos os conjuntos inerentes aos cultos.
Tudo era fetiche, desde a limpeza do local sagrado aos instrumentos e demais peças
cultuais, situação ainda vista na lavagem anual da escada da Igreja do Senhor do Bonfim na Bahia, entre outros lugares honrados em todo o mundo.
O mesmo livro bíblico Sabedorias 13:10-19, obviamente por condenação e desprezo,
narra interessante passagem quanto aos propósitos fetichistas e seus cultuadores:
-“Mas, desgraçados, e alimentados de esperanças em seres sem vida, aqueles que
invocaram como deuses objetos fabricados pelo homem, ouro e prata, trabalhados
com arte, e representações de animais, ou pedra inútil, obra de mão antiga. Vai um
hábil lenhador e corta um tronco fácil de trabalhar, tira-lhe habilmente toda a casca e, fazendo uso de sua destreza e arte, prepara uma peça útil para as necessidades [da vida]; e as sobras de seu trabalho, empregam-as para preparar a comida e
satisfazer suas necessidades; o ultimo resto, que para nada serve, um lenho torto e
cheio de nós, ele o toma e o esculpe, para encher as suas horas de lazer, e ensaiando
a sua perícia, para distrair-se, dá-lhe aspecto de homem, ou a semelhança de algum animal desprezível, depois emplasta-o com mínio, enverniza-lhe a pele com
vermelhão, recobrindo-lhe com gesso toas as manchas. Fabrica-lhe então um nicho
dele, coloca-o na parede, prendendo-o com ferro. Assim tomou precaução com ele
para que não caísse, sabendo que é incapaz de cuidar de si próprio, porque não
passa de uma estátua e precisa de ajuda. No entanto, não se envergonha de dirigirlhe a palavra a um objeto inanimado, e suplica-lo para seus bens, pelos seus casamentos e pelos filhos; e implora a saúde a um enfermo, pede vida a um morto, invoca em seu socorro o ser mais inibido, pede feliz viagem a quem não pode dar um
passo sequer, e, para obter lucros e êxito nos trabalhos e empresas, pede habilidade a um ser, cujas mãos são s menos hábeis”,
Abraão trouxe de Ur [Caldéia] uma gama de valores e tradições fetichistas, com fortes
influências na formação étnica, cultural e religiosa, bem mais tarde herdadas pelo judaísmo, por exemplo, o sacrifício de um animal a Deus – Gênesis 22: 13.
Ratifica-nos o livro Josué 24: 2 que Abraão tinha crenças fetichistas, comuns à sua parentela, “servindo outros deuses”.
Jacó – o neto de Abrão, numa estadia forçada na Mesopotâmia junto aos parentes, uniuse a uma mulher araméia que, ao acompanhá-lo de volta à Palestina, carregou consigo
os ídolos do pai, os terafins [teraphim] – espécie de gênios protetores ou deuses tutelares, em nada se admirar porque o próprio deus de Jacó era cognominado o Temido de
Isaac, a quem o patriarca erigiu a Coluna de Betel [Gênesis 28: 18], uma prática votiva
fetichista mesopotâmica.
Gênesis 31: 42 mostra-nos clara distinção entre o Deus de Isaac e o Temido de Isaac,
conforme esclareceu o próprio Jacó ao sogro Labão: “Se os deuses do meu pai [Isaac],
os deuses de Abraão [seu avô] e o Temido de Isaac [pai]...”, evidencia-nos este Temido [Pavor segundo versão bíblica Novo Mundo das Escrituras] distinto dos demais
deuses, estando, assim, por primeira identificação do Sló Yavé [um dos Elohim – deuses].
Juízes 17: 5 e Oséias 3: 4 informam que os terafins eram objetos sagrados de cultos judaicos, ao lado dos efodes [espécie de antigos ídolos, também o nome de avental com
bolsas onde traziam objetos oraculares utilizados pelos sacerdotes].
Ezequiel 21: 23 e seguintes, versão Pontifício Instituto Bíblico de Roma, ou 21: 18 e
seqüências [Novo Mundo das Escrituras e Almeida], dá-nos uma idéia dos cultos de
passa-gens e consultas, pelo profeta, através dos terafins:
-“E continuou a vir e haver para mim a palavra de Jeová dizendo: e quanto a ti, ó
filho do homem, estabelece para ti dois caminhos para a entrada da espada do rei
de Babilônia. Ambos devem proceder do mesmo país e deve-se recortar uma mão
[indicadora]; deve ser recortada a cabeceira do caminho para a cidade. Deves estabelecer um caminho para a espada entrar contra Rabá dos filhos de Amon e [o
outro] contra Judá, contra a fortificada Jerusalém. Porque o rei da Babilônia parou na encruzilhada, na cabeceira dos dois caminhos para recorrer à adivinhação.
Sacudiu as flechas. Indagou por meio dos terafins, examinou o fígado. Na sua direita mostrou-se haver a adivinhação referente a Jerusalém (...)”.
Não eram práticas originais do judaísmo e sim influências fetichistas herdadas, que Abraão trouxe da Mesopotâmia, a exemplos dos Urim e Tumim – pedras para consultas
oraculares, cujas consultas se davam através de perguntas e respostas, maneiras diretas
do indivíduo [consulente] dirigir-se a uma divindade através de pessoas consagradas
para aquelas funções.
Diz-se, ainda, pelo mesmo patriarca, a entrada daquelas tradições culturais porque Abraão era caldeu, que além do sistema inicial religioso também trazia o uso de nome
individual para designação coletiva, como Abrão que lá na Caldéia tinha o significado
de pai chefe de família ou clã, hebraizado Abraão – pai de multidão, tribos ou raça.
Entre todos os povos as práticas fetichistas eram quase sempre oraculares, como respostas de um deus ao consulente, através de pessoa iniciada naquelas artes. Da mesma forma era quase universal, para as defesas ou proteções solicitadas e dadas, o protegido
portar o uso de talismãs – figas, búzios, falos, pequenas pedras, sementes vegetais, partes animais [olho de lobo, pé de coelho, etc] e, mais tardiamente, símbolos cristãos como cruzes e bentinhos.
Ao Iniciado chamava-se Magista, ou seja, praticante de Magias.
A Magia, como religião, esteve presente em todas as culturas e civilizações, ainda hoje
ativa em todos os credos e seitas. A religião sem magia perde a mística atrativa do relacionamento humano/divino, e tende a desaparecer..
As venerações católicas aos santos – através da imagem, e a Bíblia para os cristãos em
geral são formas mágicas [individuais] de se obter resultados dos deuses, tanto quanto
os votos, promessas e empenhamentos da palavra dada. Os passes espíritas, os jogos de
búzios, cartas, o Urim/Tumim dos judeus e outros meios para os favores divinos, através de intermediários humanos, são práticas igualmente fetichistas ou mágicas, estas e
aquelas práticas ainda vistas, portanto uma magia, ou seja, arte mágica.
As relações humanas com as divindades nem sempre ocorrem de forma indireta, através
de jogos oraculares, sendo desde o princípio também observáveis certas manifestações,
hoje chamadas mediúnicas, de pretensas entidades espirituais para a produção de fenô-
menos psicológicos e físicos. Os espíritos falam, pelo médium, diretamente com o consultante, nas práticas cultuais denominadas Magias.
Estas manifestações, precedidas por rituais evocativos e esconjuros, cuidavam quase
sempre trazer bênçãos do além, através de aconselhamentos, votos de esperanças, alívio
das aflições e curas dos males do corpo e da alma, com mensagens geralmente condicionais ou de dupla interpretação, positivas ou não, às perguntas formuladas.
Podiam os espíritos à mesma forma ditar ameaças, regras de comportamento e transmitir seus desejos, invariavelmente a exigir oferendas sacrificais para si e mantimentos
[pagas] para os interlocutores, indivíduos que não raramente intermediavam contatos
diretos – cara a cara, entre os deuses [entidades ou espíritos] incorporados e os consultantes.
O mundo das Magias sempre interessou ao homem, desde a antiguidade, pois que este
sempre buscou interações com espíritos benéficos e maléficos, com intenções evidentes
de dominá-los e torná-los inofensivos a si, porém estupidamente dispostos a ataques e
defesas em favor daqueles que os conquistaram, através de práticas secretas e cabalísticas.
A Magia, ainda hoje, apesar de tantas correntes, distingue-se por dois métodos, quais
sejam, a Magia Branca ou Teúrgica, e a Magia Negra ou Goêcia.
Classifica-se Magia Branca aquela que trata da vida espiritual do homem, das entidades
celestiais e suas influências no mundo da materialidade, também sobre o próprio ser
humano em sua pisque, bem como a maneira de contatá-las, sempre por motivos e sentimentos elevados. Os que estudam ou vivem a Magia Branca, são denominados de Magos.
Por Magia Negra se entende toda prática de ações opostas à Teurgia. Alguns autores
denominam seus praticantes de Feiticeiros ou Bruxos.
No entanto o universo das magias é mais bem esclarecido destacando:
A)
MAGIA BRANCA E SUAS SITUAÇÕES:
A magia branca deve ser entendida dentro das seguintes formas:
1. Direta: o atendimento às necessidades, próprias ou de terceiros, levando-se
em conta a índole do espírito solicitado, e que o indivíduo esteja em condições
(merecimentos, por exemplo) de receber aquela Magia;
2. Indireta: quando determinados espíritos luz são solicitados, isto é, recebem
ordens para ações específicas de benefícios ou defensivas, em favor do solicitante ou para quem este almeje serviços.
Todas as rezas, orações, e promessas a santos protetores, em interesse próprio ou a favor
de terceiros, são práticas mágicas e delas se esperam sempre resultados favoráveis e
rápidos. É Magia Simpática, onde existe o predomínio do amor, das regras de moral e
espírito de fraternidade.
Na antiguidade Magia confundia-se com Religião e realmente esta nasceu das práticas
mágicas, das evocações, invocações e esconjuros aos espíritos da natureza; a Magia
estava presente quando das práticas animistas, dos cultos totêmicos, e acompanhou o
fetichismo, como alicerce para as primeiras grandes religiões, eivadas daquelas praticas
mágicas, destinadas ao agrado dos deuses.
Ainda assim permanecem até os dias atuais, embora as proliferações de tantas seitas, as
tantas dissensões e escândalos em nome de Cristo, a Teologia da Prosperidade e o mercado salvacionista fizeram perder a essência mágica religiosa. Também as mesmices
ritualísticas das tantas seitas conservadoras, e/ou ortodoxas, fizeram perder o interesse
de muitos.
A Magia é tida como a mãe de todas as Ciências, pois dela nasceram a Alquimia, as
Ciências Médicas, a Astrologia e todos os conhecimentos que se acham à disposição do
ser humano. Ninguém ignora que da Alquimia surgiram a Farmácia, a Química, a Botânica, a Medicina com seu empirismo inicial e posterior evolução; que da astrologia ergueu-se a Astronomia, e assim por diante.
Para se conquistas do saber teúrgico, deve o postulante dedicar-se aos estudos das divindades (teogonias), ou seja, saber delas e como invocá-las, com uma série de rituais e
indumentárias, que vão desde a higiene pessoal, abstinência (alimento, sexo e bebida),
orações e súplicas, às vestimentas de conformidade com a entidade pretendida ou em
razão do culto estabelecido (de jubileu, ação de graça, luto, gala, etc).
A Magia não admite ausência de fé em suas práticas e feitos, seus rituais são severos,
para que se possam conquistar as virtudes mágicas cósmicas, sem as quais é pura perda
de tempo do postulante.
Para cada exercício teúrgico existe um preceito correspondente, e este, embora com
variantes de um culto para outro, é sempre fator preponderante para resultados positivos.
O bom Mago tem o Universo como o seu deus, na compreensão de que ele, como ser
humano, não existe apenas pela ancestralidade, pois que sem a Terra, Sol, Via Láctea,
enfim todo o Cosmos, jamais existiria; desta forma, o Mago se interage com todas as
forças da natureza e a respeita.
O Universo é a Energia Vitalidade como Princípio Ativo Gerador, e a Consciência
Cósmica é a Energia Mãe é aquela que procria Energias Filhas e Filhos, que são todos
os elementos da natureza e necessários à vida, seja ela animada ou inanimada, e o Mago
que sabe disto é sempre capaz de poderosas realizações.
De tradição inicialmente oral, depois na forma escrita, desde a antiguidade a Magia reveste-se de um secretismo somente dado a conhecer aos seus Iniciados. O homem revestido de poderes mágicos, sem dúvidas é capaz de prodigiosas operações, pois que conhece e bem sabe das relações metafísicas.
Existem tantas Escolas Iniciáticas, todas evocando alguma espécie de misticismo, outras
essencialmente Esotéricas (fechadas) cujos conhecimentos são repassados apenas aos
seus filiados e, ainda assim, numa elaborada – às vezes complexa escala de graus, onde
o Iniciado evolui conforme o saber, tempo e fidelidade às regras.
Também são conhecidas as tais Escolas Exotéricas, inicialmente abertas ao público,
onde o indivíduo encontra todas as condições de aprendizado e evolução, cada vez mais
crescentes, até ingressar junto ao restrito círculo dos Iniciados, onde a partir de então, o
esoterismo torna-se fundamental.
Outros tipos de Escolas são comumente citados, como certas Ordens Místicas, Sociedades Fraternas, Seitas Secretas, Movimentos Gnósticos e Irmandade Cósmica Universal,
entre tantas existentes, que se torna quase impossível que algum pretendente ao Mundo
das Magias, não venha encontrar de pronto uma Ordem que lhe satisfaça necessidades,
pois que o difícil é escolher.
O pretendente pode, todavia, desenvolver seus talentos sem filiar-se a algum grupo, algo
um tanto difícil, cansativo, às vezes oneroso, mas plenamente possível; uma pessoa religiosa, de firmes convicções, dificilmente não pertence a alguma seita qualquer, todavia
existem aqueles que sozinhos desenvolvem suas crenças, embora lhes falte o convívio
com outros iguais, assim como as trocas de experiências.
Para o candidato particular à Magia, é preciso desenvolvimento adequado de certas práticas projeciológicas, para que possa penetrar no Universo da Consciência Cósmica,
onde adquirirá conhecimentos necessários à sua formação; também é extremamente
necessário a aquisição ou o despertar das faculdades paranormais, por exemplo, a Criptestesia, ou seja, o conhecimento extra-sensorial daquilo que não se acha sensível aos
sentidos comuns ou de seus duplos, e de outros fenômenos que se enquadram ou são
estudados pela Parapsicologia; as demais coisas certamente virão por si.
B)
MAGIA NEGRA SEM MISTÉRIOS
A Goétia ou Goêcia – Magia Negra, sempre despertou encantos sobre o homem, seja
pela sua eficiência, rapidez e aparente facilidade para atingir propósitos. Ela é o lado
mal, numa visão simplista, que todos nós temos e, por tememos tanto soltar de maneira
direta contra nossos oponentes, preferimos escudar-nos no manto diáfano de uma entidade qualquer, de esquerda.
Na verdade, a ação dessa entidade poderosa, nada mais é que a própria projeção do mal
que existe em nós, onde a força expressa do desejo, o ódio sentido do momento, sem
dúvidas a Magia Negra pode causar danos irreparáveis na pessoa que pretendemos atingir. A Magia Negra nos dá a sensação do poder que às vezes a sociedade insiste em negar-nos.
É opinião dos Magistas, que a Magia Negra é apenas Magia, pois que fundamentalmente não existem a Negra e Branca, sendo tudo uma simples designação de circunstâncias; o que é bom para um pode não ser necessariamente, tão bom para outro, pois
quase sempre, quando pedimos algo em nosso favor, também quase sempre alguém sofre os prejuízos. Vejamos algumas situações corriqueiras:
• O indivíduo solicita aprovação num concurso público, não importa por qual tipo
de Magia, mas pede e é aprovado, às vezes em detrimento de uma pessoa que
não fez pedido algum – apenas estudou e bem mais; sem ser aprovado; para o
solicitante um bem, mesmo que não precise tanto daquele serviço, enquanto para
outro um mal tremendo.
• Ao desejar uma pessoa – ligação sentimental, alguém faz trabalho de amarração
e consegue seu intento, trazendo para si aquela pessoa que não lhe queria antes,
mas de repente sentiu-se impulsionada para estar ao seu lado, ainda que para viver sem paz depois de determinado período, impotente para reações, anulada em
seu íntimo, reprimida e arrependida. Para o pedinte uma conquista para satisfação do próprio ego, como aquisição de um brinquedo que depois enjoa e deixa
do lado, enquanto para a pessoa forçada àquilo que não desejava, sem dúvidas
algo nada bom.
Se num trabalho pedido e feito, alguém prejudica, aleija ou mata outrem indefeso, alguém simplesmente eliminou um inimigo e isto por certo lhe é bom, enquanto para o prejudicado, familiares e seus próximos, pode ter sido algo ruim.
• Um concorrente [ou sócio] num ramo de atividade qualquer, quando anulado
plenamente é bom para quem requereu o trabalho, porém muito ruim para o alvejado.
Nestes aspectos, todos os conceitos de bem e mal são subjetivos, muito particulares de
indivíduo para indivíduo, portanto nenhuma distinção entre as Magias Branca e Negra,
pois que tudo é Magia.
Alguns estudiosos dizem que estes atos não são Magias, todavia não conseguem explicar o que é Magia, senão uma maneira para se conquistar realizações, ou atingirem objetivos.
Ora, não devemos ser hipócritas e fingir ignorância, pois sabemos que desde o princípio
o homem sempre procurou subjugar e eliminar seus oponentes, ou conquistá-los para
escravização, mental ou mesmo tê-los sob inteiro domínio e dispor, necessários até para
a própria sobrevivência daqueles, subservientes assim às satisfações do amor solicitado,
nos e pelos mais torpes desejos.
Outros entendidos em Magias, que se dizem Magos Teúrgicos, na verdade Magos de
Plantão ou de páginas de livros – nem todos naturalmente, definem por Magos apenas
os que praticam a Magia Branca e de Feiticeiros os que promovem a Magia Negra, o
que sem dúvidas é um absurdo.
•
C)
GOÉCIA E TEURGIA, UMA SÓ MAGIA
Posto assuntos tratados e considerados, Mago é todo aquele que sabe das forças realizadoras e delas se valem para seus propósitos, enquanto o Feiticeiro igualmente sabendo
do existir daquelas forças, no entanto deixa-se usar por elas, portanto assim duas classificações bastante distintas.
Desta forma, todo e qualquer teurgo tem que necessariamente conhecer a Goétia, pois
que sem isso seus trabalhos perdem eficácias, igualmente a valer recíproca. É bom, no
entanto, compreender que Magia não como Religião, nem o que se vê por aí, certas misturanças infundadas, embora qualquer Religião tenha o seu lado mágico, através de práticas reservadas aos Iniciados ou Sacerdotes.
Religião sem Magia é religião morta; coexistindo, todavia, Magia e Religião no entendimento popular, não se pode fugir desta realidade e ignorar que a fé ou crença, não
venha realizar-se em favor de quem solicita, vez que para a Magia são fundamentais fé e
crença naquilo que se propõe.
Todos podem ser atingidos pelo favor da Magia Negra?
Pergunta que muitos insistem e as respostas são as mais desencontradas possíveis. A ela
respondemos que sim, desde que os alvos estejam ou se façam desguarnecidos, incrédulos ou incapazes de um bom e eficiente combate.
Muitos confundem Cultos Satânicos com Magia Negra, e outros até mesmo acreditam
que em rituais da Goêcia praticam-se sacrifícios humanos, o que é um tremendo absurdo. Sacrifícios humanos foram mais ou menos comuns na antiguidade, tanto para os
deuses como aos demônios, substituídos posteriormente por animais, depois pelas sim-
ples oferendas – sendo algumas práticas vistas ainda hoje como forma de agrado às entidades.
Culto a Satanás é Religião a uma divindade e não Magia, ainda que a se valer de práticas mágicas por ser uma religião.
Trabalho lançado na porta de uma casa, aqueles outros postos em encruzilhadas e cemitérios com nomes, de desafetos ou não, na verdade não passam de impressionismos ou
ignorância de quem o faz, pois que um trabalho é feito em local próprio e adequado, e
jamais um bom Mago deixa evidências ou identificações, ainda que venha fazer oferendas exteriorizadas, porque para certos clientes o trabalho somente tem eficácia com entrega em lugares especiais como encruzas, cemitérios, pedreiras, matas, rios e mar.
Compreende-se que a Magia é segredo, portanto uma vez uma vez revelados nomes
e/ou procedências, por si mesma já perdeu efeitos, excetos aqueles denominados casqueiros para impressionismos, aí evidentemente um rito mágico. Porém, nada contra as
tais entregas ou despachos, as entidades aceitam e agem, ou não, porque podem ser rebatidos, os adversários podem ter força maior, mais fé, crença superior e melhor disposição para o embate [demanda].
A Magia Negra pode ser conquistada da mesma maneira que a Magia Branca, porque
ambas são unificadas e os seus fenômenos vistos, estudados e catalogados pela Metapsíquica, a partir das ocorrências dos fenômenos mentais, provocados ou espontâneos,
regrados ou não. Para os mesmos fenômenos o Espiritismo Científico tem pensamento
próximo dos metapsiquistas, apenas atribuindo aos espíritos as mesmas ações produzidas.
-Os fenômenos espíritas sugerem sempre a participação de segundo elemento, no caso
um espírito desencarnado ou não, a atuar num intermediário – médium – que, pelas
suas faculdades proporcionaria a manifestação daquele agente.
Hoje, mais modernamente, a Parapsicologia é a Ciência encarregada de estudar e dar a
palavra final sobre estados mentais [do gênero] capazes de produzir estados paranormais, ou sejam, aqueles que a Psicologia acha-se imprópria para explicá-los, mas que
efetivamente acontecem com o indivíduo, e tudo se passam dentro dele.
A Parapsicologia adapta-se ao cristianismo, ao afirmar assuntos de Teologia os milagres
religiosos de Cristo e dos primeiros santos, postos os atuais enquadrados em situações
mentais, embora segmentos do Cristianismo atual, os pentecostais, neopentecostais,
carismáticos e assemelhados, determinem que estados fenomênicos em seu meio são
manifestos do Espírito Santo, onde os dons (manifestos) são diversos, porém um só o
espírito, no caso o Espírito Santo.
Para a Parapsicologia, a colocação de uma entidade como agente de fenômenos manifestos, é apenas muleta psicológica, ou seja, um escudo do sensitivo motivado pelo fator
crença, humildade, às vezes temores infundados ou mesmo fuga de responsabilidades
diante de possíveis fracassos.
Alguns especialistas espíritas firmam que a Parapsicologia surgiu para conter o avanço
da doutrina espírita, também como fenômeno religioso, fazendo com que se desacreditassem seus fenômenos, assim como as provas de vida além túmulo, bem ao contrário
das posições firmadas pelas demais seitas do cristianismo e outras religiões (postulados
de fé, regras e dogmas).
Considerando a existência da alma no homem, com vontade e ação independente da
matéria e até mesmo do cérebro, mas a esse vinculado, numa teoria cientificamente
comprovada, em algum lugar essa energia ou alma há de estar após a morte física, e
absolutamente nada pode impedi-la de manifestações no mundo da materialidade, desde
que haja veículo propiciador para tais condições, e neste caso, o médium ou o sensitivo.
A partir do momento de atuação dessa alma no mundo físico, tão somente o teor da
mensagem, em cima de algum fenômeno, poderá com segurança caracterizá-lo espírita
ou parapsicológico, mas isso sempre dentro do ponto de discussão em se considerar a fé
ou a crença, nisto ou naquilo.
De qualquer maneira, é entendimento que todos os fenômenos, parapsicológicos ou espíritas, partem de um espírito, ainda que do próprio sensitivo ou que seja de uma entidade qualquer do além.
O misticismo oriental, em suas diversas tendências, enquadra situações análogas, e é sua
crença que fenômenos em seu meio tanto ocorrem pelo homem, sua alma (espírito) ou
diretamente de espíritos, através do homem e, em certos casos, também pela animalidade, a exemplo daquela passagem bíblica onde uma jumenta teria sido instrumento usado
para repreender o profeta.
-Apenas esclarecimentos, certas seitas orientais aceitam reencarnação humana não
somente num sentido evolucionista, como também passível de regredir, mesmo que à
animalidade, sem perdas de conhecimentos adquiridos que serão recuperados oportunamente numa nova existência. Igualmente algumas seitas orientais, admitem que toda
forma de vida terrestre se sujeita à reencarnação, neste caso, evolutiva para espécies
superiores.
A Parapsicologia, diante de tantos fenômenos que até sugerem manifestações de espíritos desencarnados, dividiu-se em correntes distintas: Materialista, Espiritualista e Eclética ou Mista, ainda que em sua origem apenas trata dos poderes da mente e os acre-dita.
PODERES DA MENTE: MITO OU REALIDADE?
Quando se diz dos poderes da mente, assunto em evidência desde que o homem descobriu-se capaz de pensar, duas situações distintas nos vêm rápidas à memória:
-Fenômeno Paranormal, e com este todo imenso universo fantástico a extravasar limites
do comensurável, das leis físicas que regem o Cosmos e o próprio homem, o mundo da
tridimensionalidade, aos exemplos das capacidades de telepatia, cognições (pré, simultâneas e pós), psico e telecinesias, poltergeist, telestesias, etc;
Poder do Pensamento Positivo, voltado para o indivíduo em si e das suas potencialidades para valorizar e transformar-se diante daquilo que a vida lhe oferece, através das
superações do medo, bem como se fazer forte diante das adversidades, em suas múltiplas formas, de se dar bem nos negócios propostos, do encontro da felicidade e paz de
espírito, do alívio das aflições e males psicossomáticos, de como enfrentar doença incurável e ganhar sobrevida, da satisfação pessoal do poder e status, enfim, de como fazer
com que o universo conspire a seu favor, para tudo aquilo a que se proponha fazer, com
uma realização plena e de triunfos nesta existência.
Alia-se a estas duas situações, dentro do realismo fantástico, a Hipnose, Ciências Ocultas (ocultismo e seus mistérios), a Projeciologia (viagens astrais, projeções do duplo
etéreo, etc), os fenômenos espíritas, a precocidade surpreendente dos grandes gênios
mirins para especialidades, matemática e música entre outras citações, sem nos esquecermos dos idiots savant – os julgados deficientes mentais, hoje os cógnitos especiais,
com seus rasgos de genialidade estonteante para certas aptidões como cálculos, idiomas,
arte, entre outras fenomenologias apresentadas.
No presente capítulo interessam-nos tão somente os ditos Poderes do Pensamento Positivo, como real sentido de vida, o que são eles e como desenvolvê-los em toda sua plenitude, sem nos importarmos tanto com certos aprofundamentos científicos ou rol de
termos e nomes bastante complicados, que tão somente aos especialistas interessam.
Os poderes da mente acompanham o homem desde os tempos primórdios da história, ou
quando o homem fez-se homem, pois que sempre alguém escravizou mentes, manipulou
massas, conseguiu intento, e isto apenas uma minoria – às vezes um só indivíduo a fazer
dobrar diante de si multidões dispostas a tudo renunciar, inclusive a própria vontade,
para apenas obedecer a ordens, mesmo absurdas, como a prática de suicídios coletivos.
Apesar da antiguidade desses valores, tão bem e desde sempre explorados por líderes
religiosos, políticos, místicos carismáticos, chefes, os grandes amantes sedutores ou as
mulheres fatais, somente a partir do século passado o assunto tem recebido as devidas
atenções dos especialistas, ao lado de estudos mais sérios quanto aos poderes da mente e
seu uso possível pelo homem, mesmo o comum, isto é, aquele que não se julga dotado
de capacidades paranormais.
O tema ganhou notoriedade através do Movimento da Ciência Cristã, a partir de 1876,
com grandes feitos pela fé em Deus e si mesmo, e assim o público recebeu efusivamente o livro O PODER DO PENSAMENTO POSITIVO, de Norman Vincent Peale,
depois as obras de Prentice Mulford, Dale Carnegie, e hoje centenas ou milhares de outros autores.
No mundo científico atual, há unanimidade quanto aos poderes da mente – o poder do
pensamento positivo e suas influências no homem, todavia abundam teorias, muitas
delas controversas, algumas revestidas de seriedade maior, outras nem tanto, e hoje a
mais comumente aceita pelos experimentadores: "cada estado mental corresponde a
um padrão particular de atividade física" (Para Além da Realidade, Mistérios do
Desconhecido, Abril Livros, página 17, edição 1993 – Teoria da Identidade), e com
isto, as realizações.
Evidente que surgem certos questionamentos e a teoria não é absolutamente completa,
pois que no homem existe a Vontade e, com esta, o Livre Arbítrio, onde parece residir
alguma razão contrária às pretensões científicas dos “efeitos do cérebro sobre a mente”
– mesma fonte citada, pois que tanto a vontade quanto o livre arbítrio, em si demonstram muito mais seus “impactos sobre o cérebro” (ibidem) para ações e reações, que o
contrário, isto sem nos referirmos às estranhas percepções extra-sensoriais, que se mostram independentes de atuações cerebrais, da própria vontade e do livre arbítrio, pois
que não há escolha para isso, todavia suas origens ainda são de fontes desconhecidas.
Muitas correntes científicas alinham-se ao lado daqueles que atestam como reais os poderes e atributos da mente, independente das atividades cerebrais, onde o cérebro apenas
facultaria, pelas suas funções, a decodificação racional, quando o caso, das ocorrências
mentais, isto é, o cérebro parece aceitar ordens dadas pelo indivíduo, como também
receber impactos emanados de outras fontes, ao traduzir em realidades certas sensações
desconhecidas, não desejadas e muitas vezes nem pensadas.
Todo ser humano, portanto, tem capacidades mentais inatas, que podem ser ou não desenvolvidas, mas que todo homem, pelo menos uma vez na vida, já experimentou algumas de suas ocorrências; aquelas que permanecem latentes enquanto outras afloram
circunstancialmente, e as tais que se tornam efetivas. Certas potencialidades podem ser
adquiridas e, uma vez nestas condições, igualmente às inatas, podem ser desenvolvidas.
Como desenvolver poderes e adquiri-los ou mesmo saber quais os inatos?
Primeiro, para identificarmos os tais inatos ou pertinentes à natureza do indivíduo, basta-nos observações de ocorrências particulares que transcendem a normalidade, valorizá-las e aplicá-las no cotidiano, com estudos e atenções devidas quanto aos propósitos
disto. Já para adquirirmos poderes mentais, é preciso compreensão e estudos sobre eles,
certos graus de afinidades, objetivos e tremenda força de vontade, além de estabelecer
regras – que muitas vezes variam de pessoa para pessoa.
Parece-nos mais importante, para aquisições pretendidas, a identificação consciente
além da afinidade individual com determinados poderes, saber deles e neles acreditar.
Inúmeras obras, alguns mais ou menos sérios, ensinam técnicas para o desenvolvimento
dos poderes mentais, bem como utilizá-los em benefícios próprio ou de outrem, partindo desde simples concentração ou relaxamento até aquelas que ensinam como fazer a
conspiração universal a favor dos que pensam e desejam positividades.
Todos os autores do gênero pregam otimismo nas bases do pode, consegue e/ou merece.
A Bíblia e outros livros sagrados e apócrifos, nas apologias à fé nada mais determina o
homem para a crença em si mesmo, nas suas potencialidades, para plenas realizações de
intentos.
A Teologia da Prosperidade, dentre os chamados neopentecostais talvez seja o exemplo
mais recente de se preparar o indivíduo para o recebimento das dádivas divinas para o
sucesso terreno.
-Não questionamos validades quanto aos métodos empregados ou ensinados, mesmo as
fórmulas mágicas de sucessos, até porque estas não existem, a não ser, claro, para os
mestres que as editam e vendem. Também não contraditamos as regras de fé, porque
situações de foro íntimo, lamentando apenas e isto sim, o oportunismo de certos pregadores exploradores da boa fé, muitos dos quais chamados Corretores da Imobiliária do
Céu.
Contudo não se negam para o homem as disponibilidades da força e da vontade, co-mo
realidades impulsionadoras de desejos e para as realizações; porém, há que se objetivar
nisto efetivo estabelecimento de prioridades, sem as quais tudo se perde, levando o indivíduo a uma situação ainda pior àquela quando iniciou jornada.
Também, existindo uma acomodação e aceitação de situações não se chegará, jamais, a
ponto algum, por mais que nisto se pense positivo havendo, todavia, as determinações
de desejos devidamente planificadas, progressivas e lógicas, além de mentalmente aceitas por ideais. Tais realizações certamente ocorrerão, independentemente das tão miraculosas fórmulas coletivas.
De certa forma é muito bom ler e ouvir exemplos dos bem sucedidos; livros sobre o
assunto acham-se recheados de páginas e páginas de vencedores, e os programas de
televi-são ou rádio (em especial alguns religiosos) não deixam por menos, com apresentações de testemunhos daqueles que se fizeram na vida. São elementos interessantes e
que até animam-nos, mas que por outro lado traz certas amargas decepções a quem àquilo se propõe e não se realiza; os belos testemunhos nem sempre expressam realidades e sim desejos, como também não são aplicáveis a todos.
A pessoa imbuída de propósitos firmes do desenvolvimento mental tem na maioria das
vezes e até mesmo por acessos mais disponíveis, muitos mestres que ensinam os melhores caminhos e os mais fáceis métodos para uma rápida auto-realização, a exemplo das
fórmulas mágicas:
Existem inúmeros títulos correlatos, geralmente iniciados com o velho refrão de que o
homem utiliza sua capacidade cerebral, apenas de l a l0 % e o resto fica ali, ocioso, à
espera para ser ativado.
Como fazer isto ou qual a regra? E tome uma série de exercícios de relaxamento, técnicas de respirações, profundas concentrações, métodos de repetições positivas, e tantas
variantes infundadas ao lado de tantos exemplos dos bem sucedidos, que até hoje não se
compreende porque aqueles mestres não ultrapassaram, ainda, a média humana quanto
ao uso do cérebro em porcentagem maior.
Justificam-se informando que tais métodos são processos lentos e gradativos; porém, a
pessoa que enseja ultrapassar aqueles limites, seguindo as regras dos mestres, nada conseguirá pessoalmente senão alguma possível transferência genética daquelas possibilidades aos seus descendentes, embora jamais alguém ouvisse falar de tais ocorrências, e
até hoje não se têm notícias de que algum gênio de capacidade de utilização cerebral –
seguindo métodos ensinados, tenha número percentual superior aos considerados, em
média, normais.
A aplicabilidade mais comum do desenvolvimento mental consiste na descoberta de
quem e o que foi uma pessoa em encarnações anteriores, para desbloqueios mentais e
liberações de energias objetivando sucessos e novos rumos; um método que, saindo das
páginas dos livros, ganhou consultórios especializados e, com isso, a causar furor. Em
síntese é o indivíduo descobrir quem ele foi numa vida anterior, para entender e descomplicar-se no tempo presente, eliminar seus problemas e bloqueios assoladores, darlhes pronta solução, para assim fazer-se vencedor.
Daí os profissionais em Terapias de Vidas Passadas – TVP para mencionados propósitos.
Admitindo possibilidade de regressão a vidas passadas, às vezes distantes, para tais propósitos, mas sabendo de antemão que pela pré-cognição se pode saber de fatos vindouros, com certeza é possível ao indivíduo também se identificar neste futuro, não necessariamente noutra vida, então porque não fazer Terapias de Vidas Futuras ou dos Dias
Futuros? Porque não fazer progressão hipnótica em vez da hipnose regressiva?
Realizações de Terapias de Vidas Futuras promoveriam maior otimismo no indivíduo,
para fazê-lo um vencedor, podendo inclusive corrigir antecipadamente certos caminhos.
Todavia, contra-argumentam os defensores das Terapias de Vidas Passadas, que o futuro não aconteceu e dele nada se sabe, portanto corretamente válidas apenas as TVP como métodos auxiliares válidos, apenas, se conduzidos por especialistas, o que se pode
traduzir seguramente como ausência de responsabilidades para o profissional, afinal,
quem pode comprovar absolutamente um real passado pessoal?
A nosso entendimento, o método mais válido para se atingir objetivos pretendidos pela
TVP ou pela hipnose regressiva – já que a progressiva apenas especulação, é a autohipnose porque consiste em o indivíduo se programar para ser um vencedor, com uma
série de exercícios para aprimoramento dos órgãos do sentido, desbloqueios mentais,
eliminações de problemas de todas as ordens, e pensar sempre e mais positivamente,
defender-se das adversidades, inclusive mentais negativas projetadas por terceiros, e dar
ordens ao cérebro.
Sem dúvidas trata-se de método científico com aplicabilidades comprovadas, não fosse,
contudo, de difícil realização, por exigir pelo menos um estado mental de transe médio,
onde apenas 25 % das pessoas conseguem atingir e, ainda assim com auxílio de hipnotizador pelo menos nas primeiras tentativas – sessões.
Existem outras técnicas, algumas esotéricas, outras místicas, até as exóticas ou aquelas
movidas a drogas alucinógenas. Todas parecem mais ou menos fundamentadas no fator
acreditar em si mesmo e deixar acontecer.
Salvo exceções para alguns, quase todas as técnicas ensinadas são impraticáveis no dia a
dia, ora por mascarar a verdade individual, ora por trazer ao indivíduo certo isolamento
de seu meio, ou, ainda, pelas próprias condições adversas em que se vive.
Dizem os defensores do desenvolvimento mental para a prosperidade e bem estar do
indivíduo, que as técnicas ensinadas sejam elas quais forem, estão exatamente para superações daqueles obstáculos, esquecendo-se que o homem não é ou está sempre sozinho, que vive cercado e cerceado de múltiplos fatores, desfavoráveis ou não, ao seu bem
estar psíquico e de vida em geral.
Com referência à entrega espiritual, se têm por fundamento os princípios da fé e a determinação em confiar que os céus lhe proverão em todas as necessidades, o que traz em
si certo conformismo e adaptação. Correntes progressistas, ou a Teologia da Prosperidade, aos quais também se podem denominar, também, Mercadores da Fé, apostam que
o homem deve e merece progredir no mundo material, somente a não fazer se assim não
o desejar ou não tiver fé condizente, isto é, entrega total.
Tanto um quanto outro ponto de vista, na verdade promove apenas a anulação do indivíduo, por mais que o próprio e líderes insistam negar. Ser rico ou milionário é uma
questão de dom e bastante trabalho ao longo de décadas, ou mesmo gerações.
Acreditamos muitos homens honestos e trabalhadores que se tornaram bem sucedidos
na vida, à custa de esforços pessoais e familiares, contenções [às vezes até privações],
sorte nos investimentos e realizações, o produto certo na hora que mercado dele necessita.
No entanto, o que se tem observado no decorrer dos séculos, são homens vencedores
aqueles que nascem de famílias abastadas e progridem; os que usurpam direitos e espoliam o próximo; os praticantes de crimes do colarinho branco; alguns que vivem sovinices e triunfam por uma série de contenções; os tais que se fazem bem sucedidos em
crimes organizados; outros que possuem tino comercial, fator sorte em negócios, realizadores de bons empreendimentos, investidores e ganhos em loterias.
São raríssimos os que vencem acreditando e desenvolvendo o poder da mente, ou aqueles que descobrem seus porquês negativos e transformam situações pelo ato de fé, constituindo-se casos isolados, pois o grosso da humanidade não atinge as realizações pessoais desejadas.
Não se é rico apenas porque se tem dinheiro – consolo de pobre, e muito menos se é
poderoso pelo simples exercício transitório de um mando qualquer; nas sepulturas, igualam-se os grandes do poder, os detentores das maiores fortunas, os maiores sábios e
aqueles que nunca foram nada disto.
As realizações são ilusões e não trazem nenhuma paz de espírito, assim como ser pobre
também não; porém aqueles que se envolvem em tresloucadas buscas de conquistas, ou
de bons posicionamentos sociais, quase sempre hão de querer mais e, para isto também
quase sempre, defrontam-se com percalços que, para superá-los, não hesitam os meios
mais sórdidos e, com isso, ferir a própria consciência.
É fato que as desconfianças, os medos, o acreditar impossíveis objetivos desejados, são
fatores essenciais para os fracassos; portanto há que se ter determinados conhecimentos
e consciência plena daquilo que se deseja, pôr-se em condições para recebimento em
toda plenitude, gradativamente e de conformidade com prioridades pré-estabelecidas.
O homem necessita, para que o universo conspire a seu favor, eliminar o conformismo,
expulsar de si as dúvidas, adquirir autoconfiança, organizar energias e vencer as preocupações para, aí sim, estabelecer metas com uma lúcida organização, inclusive previsões de obstáculos, danos e perdas, uma a uma delas e, conforme dito, por prioridades.
Se alguém almeja ser médico, sabe de antemão da necessidade de um curso básico, depois o secundário, para então postular sua vaga propriamente dita, mas, muito mais que
isso é preciso que a pessoa vá se abastecendo de conhecimentos e informações acerca da
profissão, mais e mais se alimentar dos desejos e objetivos, sem os quais nada se faz ou
consegue, senão decepções.
-Nesta profissão não são raras as pessoas que se formam pelo desejo de status, exigência familiar ou conveniências outras, para depois experimentar as mais terríveis frustrações e desgostos, por simplesmente descobrir que não era aquilo o que realmente
pretendia.
O importante no indivíduo proposto a uma realização é ter, antes de tudo, pleno conhecimento de si mesmo, para não se atirar às aventuras e venturas que nem sempre terminam bem.
Conhecimento de si mesmo é antes de tudo, o saber suas aptidões e limitações, quando
as houver, assim como o desejo de transpô-las ou não. Quase sempre é mais fácil realizar-se dentro de um quadro que se tem como possível, com parâmetros visualizados, do
que se iludir. Não adianta querer ser grande para um dia descobrir-se pequeno.
Mas, querendo alguém ser alem do ponto em que se encontra como o primeiro passo a
ser dado é o encontro da paz.
O que é paz?
Em poucas palavras, é a satisfação consigo próprio, condição básica para se fazer feliz,
porque somente se é ou está feliz quem tem paz.
Como ser feliz, estar satisfeito e ter paz, se ainda desejar alguma coisa além?
Aí se evoca o teólogo Thomaz Moldero, em A Libertação: “enquanto desejar o homem alguma coisa, em si próprio possuirá motivos para não ser feliz”, voltando
assim à baila, como moto-contínuo, e somente será feliz quem tiver paz, e esta é a satisfação consigo próprio.
Temas para se pensar e promover auto-análise: existe o verdadeiro desejo de alguma
coisa, conscientemente pensada, para auto-realização?
Existindo, então deve a pessoa, movida pela vontade e objetivos, procurar como se orientar para a busca do interior e ser quem deseja ser, através dos poderes da mente e esforços físicos também, assim a conquistar seu espaço.
Como fazê-lo?
São muitas as técnicas existentes, conforme esclarecido, para que o indivíduo traba-lhe
mentalmente para si ou terceiros, conseguindo paz interior e sucesso na vida.
Concentrar-se e obter relaxamento total, sem perturbação para, nestas condições imaginar sempre, inteligentemente, possibilidades de realizações, a adquirir assim uma autoconfiança que surgirá forte, anulando temores do fracasso, eliminando preocupações
negativistas. Uma vez tudo já previamente determinado, com metas devidamente colocadas por prioridades e vistas todas as condições, contrárias e a favor, com margem de
segurança calculada, assim como as devidas previsões suportáveis de riscos.
Estando mentalmente assim, o indivíduo deve se preparar, também materialmente, e se
pôr em condições para não se fazer incapaz tão logo a oportunidade chegar.
Métodos?
Não se deve preocupar com eles, pois cada um encontra o seu, aquele a que melhor se
adapte se assim o desejar, ter persistência e acreditar naquilo que quer, despojado dos
medos, das fantasias e utopias, preparado assim para a oportunidade quando esta surgir,
que o próprio interessado se encarregará de fazer acontecer.
O homem consciente descobre o seu próprio e melhor caminho, não temendo repensarlho, sempre que e quando necessário.
Outros ensejam o desenvolvimento dos poderes mentais não para realizações materiais,
e sim objetivando desdobramentos ou projeções mentais para fora do corpo físico, onde
o indivíduo, através de uma viagem psíquica, transporta-se para qualquer lugar, do passado, presente ou futuro, liberto da tridimensionalidade, ou seja, das leis da física.
Não importam as razões ou justificativas para o que se pretende com a projeciologia,
pois que ela não se acha sujeita às regras de moral nem de religiosidades. Para conseguila, os princípios são os mesmos do desenvolvimento mental para materialidades pessoais, bastando para o indivíduo o querer, vontade, desejo e determinação, com devidos
endereçamentos às pretensões, assuntos já descritos.
Diferentemente dos desejos da materialidade, o desdobramento ou viagem astral não
exige cuidados de riscos quanto à sua realização ou não, bastando apenas querer e praticar. Temos um estudo, mais adiante, de como o pensamento anda e atua sobre a matéria,
como se liga ao corpo humano, através do cérebro, e como mantém o seu individualismo.
É preciso, porém, deixar claro que a mente aceita absurdos e extravagâncias, principalmente quando desligada da matéria, fazendo com que toda imagem mental recebida ou
pensada, concretize-se como real, ainda que bizarras, e às vezes até a materializar-se. A
mente não é sujeita à tridimensionalidade, e seus poderes excedem em muito os do
mundo físico.
Por conseguinte deve-se considerar que no Cosmos existem todos os ingredientes para
se fazer qualquer coisa, que se pense ou deseje. Tudo o que aqui se encontra é fruto do
Universo, vez que tudo e por dele foi formado.
Então, é preciso inteligência para aventurar-se pelos fenômenos das viagens astrais, não
porque elas venham oferecer perigos, algum dano físico, a morte, ou que o indivíduo se
perca para sempre e não consiga mais retornar à materialidade, e sim porque coisas vistas nem sempre lhe serão agradáveis, especialmente nas primeiras experiências, ou se o
indivíduo não estiver preparado, emocional e psicologicamente para tais estados fenomênicos.
Uma viagem astral mal sucedida ou que venha carregada de fortes impressionismos
indesejáveis, certamente servirá de bloqueios para a realização de alguma outra próxima.
Não se tratam de prevenção ou negação ao desenvolvimento dos poderes mentais e para
as ações projeciológicas, menos ainda descrenças na energia psíquica e suas atuações;
porém, como advertência, pois é preciso que o indivíduo tenha sempre prudência quanto
àquilo que busca ou se propõe, vez que excluindo desdobramentos materializados, tudo
o mais se passa apenas na cabeça do indivíduo, onde somente um clarividente, em situações especiais, será capaz de captar a presença de algum ser vivente desdobrado, portanto algo revestido de subjetividades e certos perigos iminentes por si mesmo gerados.
Sempre houve alertas quanto ao engano possível de si mesmo; é necessário, portanto,
que o empreendedor tenha sempre rigor absoluto, responsabilidades e objetividades
reais quanto aos propósitos extracorpóreos.
Ernesto Bozzano, dos mais destacados nomes sobre Desdobramentos com experimentos
científicos a respeito, e outros estudiosos sérios, trazem-nos inúmeros exemplos comprovados do funcionamento da consciência, de maneira independente da atividade cerebral.
Fatos comprovados não se discutem, aceitam-se. Então a Projeciologia é real, assim
como os poderes mentais, da qual ela própria faz parte.
Em geral, as experiências mentais extracorpóreas acontecem de maneira inconsciente,
algo mais ou menos comum a todos os humanos; são experiências nem sempre desejadas ou programadas, surgidas durante o sono através de alguns tipos de so-nhos, em
momentos especiais de perigos, proximidades da morte, estados de choques e situações
provocadas, neste caso, geralmente através da hipnose ou do querer acontecimentos.
Nestas situações todas, que não raras vezes confundem o próprio vivenciador das cenas,
há sempre uma transposição para além do mundo físico, onde praticamente não existem
barreiras para o ato extrafísico, e este nem sempre depende de vontade pessoal.
Se conhecidamente o pensamento, por ondas, viaja pelos espaços intereletrônicos ou
interestelares, com possibilidades de atuação à distância sobre um corpo, animado ou
inanimado, nada o impede que tais viagens astrais não sejam personificadas e possíveis
de serem captadas, e/ou detalhadas, por sensitivos. Por outro lado, sendo a mente uma
força atuante independente da matéria, com individualidade exclusiva, nada obsta para
que ela liberte-se do corpo físico, mesmo que este não esteja danificado ou morto, para
assim atingir o mundo da espiritualidade ou outros mundos, físicos ou não.
Existindo a realidade involuntária ou não programada destas viagens, através dos sonhos ou de alguma outra forma, aonde o indivíduo vaga ou vai para algum lugar, é obvio que referidas viagens podem ocorrer também pela vontade consciente, condução
adequada ou desejo expresso da pessoa, bastando-lhe apenas o querer e treino para tais
realizações.
Neste ponto é preciso certo entendimento, às vezes não do indivíduo que adquire a capacidade de ação para fazê-la (através das concentrações que ele nem sempre sabe como
atinge e age, pois que simplesmente para ele acontece), e sim para aqueles que ensejam
a experiência de um modo consciente e agradável, é sempre necessário para tal realização que o cérebro esteja, pelo menos, em nível alfa, isto é, numa atividade de 7 a l4 ciclos por segundo, e que para tanto é preciso relaxamento físico e concentração para projetar-se, mentalmente, fora de si mesmo e assim conquistar realizações.
A pessoa ao conquistar a Projeciologia torna-se capaz de atingir qualquer ser, animado
ou inanimado, e neles exercer influências benéficas ou não, desde que não haja alguma
defesa à altura para combatê-las, sendo possíveis inclusive realizações de fenômenos
físicos, pois que basta tão somente ao indivíduo, ele próprio promover ações mentais,
como se estivesse fisicamente a agir.
Mais importante que isso, todavia, é a possibilidade real de se desejar o bem para si ou
então reverter situações que lhe são desfavoráveis, para assim fazer dessa ciência um
sentido de vida.
Num lugar calmo ou previamente preparado se uma pessoa concentrar-se e sentir a saída do próprio corpo, sem as limitações impostas pelas leis físicas, certamente parte em
busca daquilo que efetivamente deseja para seu próprio bem estar.
Uma pergunta às vezes bastante impertinente: – "É possível ganhar na loteria?".
Pela Projeciologia, teoricamente sim, embora nem sempre a prática se revista de tamanha facilidade, pois que torna necessário o indivíduo projetar-se para o futuro, anotar
resultados e trazê-los para a consciência, o que implica conhecer regras, confiar na realização e, sobretudo, encontrar-se liberto plenamente de negatividades, próprias ou impostas por terceiros. Muitos desejam isto, ordenam seqüências de números desejados e
neles se projetam e se chocam, sem realização alguma.
Outra dificuldade não menos importante é que a pessoa, quase sempre, avança para o
lado dos jogos quando por necessidade aflitiva, desta maneira sem se encontrar psicologicamente preparado para ações e resultados decorrentes, ou então aqueles viciados em
jogos, na ânsia de ganhar, onde sem dúvidas essa ansiedade é também situação negativa,
portanto impeditiva para acontecimentos favoráveis.
Quem está preparado com certeza não precisa disto.
A experiência nos diz que a dúvida é sempre grande mal para realizações projeciológicas, uma vez que pessoa estaria a duvidar de si mesma e assim já derrotada na empreitada proposta, antes mesmo de iniciá-la.
Duas técnicas bastante fáceis para que se possa desenvolver o Poder do Pensamento
Positivo são: a AUTO-HIPNOSE e a PROJECIOLOGIA.
MENTALISMO – O PODER DA MENTE OU PRESTIDIGITAÇÃO?
Um espetáculo de artes mágicas de salão ou a Ciência do Poder da Mente?
Thiago Neves – ou Kronos [Khronnus] o Mago, autoproclamado em sítio eletrônico
como “Grande pesquisador das ciências ocultas, por motivos pessoais decidiu desvendar os segredos dos paranormais, místicos, feiticeiros, bruxas e videntes. Esses
estudos acabaram lhe encaminhando para a área mais obscura da magia: o Mentalismo. Nesta área da magia, os mágicos profissionais se aprofundam no estudo dos
efeitos tidos como paranormais, chegando à conclusão de que o poder da mente
humana não é místico, mas técnico. Muitas dessas técnicas são até desconhecidas
por especialistas e parapsicólogos e isso o levou a ser um exímio conhecedor das
artes mágicas” - http://www.omago.com.br.
A briga não é de agora. Harry Houdini, um dos maiores ilusionistas da história, já caçava médiuns e sensitivos no final do século XIX e em parte dos anos de 1900. Mais recente o mágico James Randi, que Khronnus diz representar, ofereceu ótima premiação
[1 milhão de dólares], em dinheiro, caso algum sensitivo, médium ou paranormal pudesse comprovar autenticidade de qualquer fenômeno catalogado pela Parapsicologia..
-Ainda não gastou o dinheiro e, dizem, nem apareceu candidato, pois o ofertante apenas
daria o dinheiro se ele próprio, através de mágica e truques, não conseguisse reproduzir
o fenômeno dentro de suas regras e tempo.
Para os Mágicos, o Mentalista [paracientífico ou o religioso] é aquele simula e manipula
as artes mágicas, de maneira quase perfeita, atribuindo-as a operações do além ou às
faculdades paranormais – fenômenos da mente. Tais tipos Mentalistas seriam portanto,
indivíduos com habilidades mágicas e recorrentes a truques de ilusionismo, prestidigitação e impressionismo.
Os Mentalistas classificam o Mágico como o profissional versado em truques, desde os
mais simples, aos impressionismos, prestidigitações e ilusionismos, com ou sem o uso
eletrônico. Entendem que os Mágicos são capazes de reproduções perfeitas de manifestos mentalistas, espirituais ou mentais, “com tal habilidade que, se possível, enganaria
até os adeptos do Mentalismo” – numa paráfrase bíblica a 2º Coríntios 11:14.
Uma terceira opinião entende os resultados obtidos por Mágicos e Mentalistas, nada
mais que manifestações exteriorizadas sob influências exclusivas do subconsciente, espécie de automatismo, com possibilidades de manipulações sob certas condições. Não
se enquadram nestas condições os truques com uso de meios eletrônicos.
Entendendo as Artes Mágicas classificadas a níveis de diversões, onde o mágico lida
com a capacidade de enganar os sentidos dos espectadores, interessa-nos aqui apenas o
Mentalismo como Ciência ou Pseudociência do Poder da Mente, independente se de
caráter religionário ou não.
Nestes considerandos temos, num primeiro plano, o Mentalismo por objeto da origem e
do fim de tudo que chega à vivência do ser, cujo princípio determina que tudo é mental
e possível sua manipulação, nas inter-relações do homem quanto aos conhecimentos e
vivências.
Este princípio explicaria o Todo [Deus] como Ser Vivificante, Incriado, Incognoscível e
Indefinível em si mesmo, no qual todo o Universo e aquilo que nele há são volições
emanadas desse TODO, em cuja vibração o homem vive, move e tem sua consciência.
No Universo todas as coisas são geradas e fora dele não existe vida, ou seja, tudo o que
existe está nele e jamais deixa de existir, integrado ou não, nesta ou naquela forma.
A natureza do Universo é, portanto, originariamente mental, que se faz encarnada onde
possível a Vida como a conhecemos, o que explicaria todos os fenômenos mentais e
psíquicos de natureza humana.
Assim se aplica o Mentalismo, dentro desta corrente, como um sentido de vida e de realizações plenas e equilibradas, cuja verdade está dentro de cada ser humano, como uma
força capaz de despertar potencialidades que nem se sabiam e o descortinar do universo
psíquico, mental e emocional, de forma inteligente e consciente até para melhor e mais
cômoda materialidade.
Chama-se Mentalista o adepto do Mentalismo, indivíduo preparado – pela iniciação e
conclusão de ritos, para produzir fenômenos capazes de influenciar e mudar a realidade
de cada um, estando assim como atributos práticos do Mentalismo a auto-ajuda e o desenvolvimento do pensamento positivo.
Disto, evidentemente surgem debates interessantes, por exemplo, os fenômenos parapsicológicos e as ocorrências espirituais, todos dentro das paranormalidades, e que não
seriam nem místicos nem mentais, mas simplesmente técnicos, isto é, não existem fenômenos paranormais e nem ocorrências psi.
São muitas as Escolas Mentalistas, as materialistas, as psíquicas e as religiosas além das
intermediárias, quase todas trabalhando com o fator da individualidade para se alcançar
poder mental, ou sobrepor-se à massa através do desenvolvimento daquele poder ou de
reforço à própria personalidade.
As doutrinas são diversas, mas a essência em nada avança além dos assuntos tratados
em os PODERES DA MENTE: MITO OU REALIDADE?
ENFOQUES CIENTÍFICOS DOS ATRIBUTOS DA MENTE
Desde muito que os fenômenos extraordinários da mente têm merecido atenções do
mundo científico, não para desacreditá-los, mas sim para dimensioná-los dentro de uma
ordem metodológica de comprovações, pelos experimentos.
A primeira lógica estabelecida, cientificamente, foi promover estudos do cérebro humano, de onde, pressupostamente, partiriam as capacidades fenomênicas. O cérebro, exaustivamente estudado pela neurologia, ainda é um mistério, sabendo que, alem de
suas funções químico-orgânicas, a exemplo de outros órgãos, atua também em níveis
distintos porem interligados entre si, comumente denominados Mente Superior e Inferior.
O funcionamento cerebral ocorre quando existe o estímulo dos neurônios, específicos
ou não, fazendo com que receba ou transmita conhecimentos. Dentro do nível superior
cerebral acontecem os estímulos específicos, através dos órgãos do sentido e da inteligência; neste nível assenta-se o intelecto manifesto pela atuação inteligente, e as emissões de juízos pelos conhecimentos adquiridos que, quase sempre, se processam por
intermédio de receptores próprios.
O nível inferior detém os campos primitivo e sensorial, abrangendo percepções e reações intuitivas, alem das instintivas, pelos estímulos não específicos que, geralmente,
são captados pelo sistema nervoso periférico.
É fato que o cérebro, funcionando por estímulos, induz o homem a quatro estágios –
níveis – mentais, classificados por ciclos rítmicos por segundo, sendo eles o Alfa, Beta,
Teta e Delta.
• Alfa: está para a consciência interior, com 7 a 14 ciclos por segundo, com impulsos brandos, responsáveis pelo domínio do autocontrole e alívio das tensões;
é o estágio de maior importância para o ser humano.
• Beta: Estabelece-se que o Beta é o estágio comum para pessoas normais, com
oscilações de l4 a 28 ciclos por segundo, sendo então o nível das consciências
interior e exterior; é um estado normal para as atividades do dia a dia, sobrecarregando-se de tensões conseqüentes.
• Teta: com oscilações de 4 a 7 ciclos por segundo, responsabiliza-se pela inconsciência e pelo sono, sem o desligamento do subconsciente que mantém, assim,
ativados os neurônios; é um estágio recuperador das energias.
• Delta: com 1 a 4 ciclos por segundo, é o denominado estado de coma, de inconsciência total, sem reflexão alguma.
Existem no cérebro duas grandes capacidades, uma denominada mente objetiva, ou seja,
o nível superior, onde se aloja a intelectualidade regrada pelas leis de aprendizado e
adaptada ao meio, enquanto a outra força, a mente subjetiva, livre de censuras e barreiras, é vista como a energia criadora e organizadora, que se manifesta não somente no
indivíduo, mas que pode ser projetada à distância, transmitindo e adquirindo, de formas
múltiplas, conhecimentos. Ambas são interligadas e trabalham conjuntamente, podendo
contudo atuarem de maneira independente, dentro de um determinado estágio, sem prejuízos de ordens maiores.
Se a faculdade intelectiva recebe conhecimentos através de estudos no decorrer dos
tempos, a mente subjetiva é uma energia e não apenas pensamento, com atividade plasmadora sobre a matéria, conforme opiniões de abalizados pesquisadores, entre os quais
o Maurer Junior [Teodoro Henrique Maurer Junior, 1906-1979, citação Curso de
Teologia: Cultos Estranhos].
Nestas nuanças, existe ainda o cerebelo, talvez o cérebro original – a outra parte, o superior, seria fruto de evolução recente – responsável pela coordenação muscular do organismo; algumas correntes científicas, não ortodoxas, acreditam estar no cerebelo a fonte
da paranormalidade e aqueles temores inatos do homem. Outras teorias têm que tudo
não passa de capacidades resultantes das atividades dos neurônios, advindas das interações químico-elétricas micro-celulares.
E as teorias avançam num crescente, às vezes bem ao gosto de especuladores metafísicos, como por exemplo, a respeito da glândula pineal, o ponto de contato entre a mente
e o corpo.
Nestes enfoques busca-se, também, a Psicologia, a quem cabe o estudo do comportamento humano, variedades individuais e classificações mentais, inter-relacionado às
biologia, Sociologia e Pedagogia, entre outras ciências, objetivando a integração ou reintegração do homem dentro de si mesmo, agregação personal, tornando-o adaptável e
aceitável à sociedade. A Psicologia é uma ciência de difícil definição, sem contestações,
dado sua diversidade de correntes e subjetividades quanto ao próprio exercício profissional.
Para que se possam compreender os fenômenos denominados supranormais, de uma
certa maneira e ainda que superficialmente, há que se considerar os acima expostos,
para argumentações e contra-argumentações, quanto ao funcionamento cerebral, tido
como influenciável ou suscetível a diversos fatores, inibidores ou desbloqueadores, provocadores ou não, de estados extrafísicos, a exemplos da Ética, da Moral, da Razão,
alem dos fatores Educacional, Cultural e da Lógica, daquilo que é ou não normal, dentro
dos padrões aceitos para comportamentos e ações.
Quanto aos atributos da mente, propriamente ditos, a Metapsíquica tem que a mente
subjetiva, é um repertório psíquico e, como tal, de ordem espiritual, com capacidade de
ações à distância, não se limitando ao tempo e espaço, podendo mesmo transpô-los sem
dificuldade alguma, irradiando ondas energéticas e abrindo canais receptivos, de atuações sobre o cérebro.
Para Maurer Junior, tem-se que a Metapsíquica é “(...) uma ciência que estuda os fenômenos extraordinários, através de estudos experimentais, todos aparentemente
supranormais da mente humana, isto é, alem dos fenômenos psicológicos normais”.
Considera-se que a melhor definição sobre a Metapsíquica cabe ao pesquisador e psicólogo francês, Richet, que diz ser ela a “(...) ciência que tem por objeto, fenômenos
mecânicos ou psicológicos, devido a forças que parecem inteligentes ou poderes
desconhecidos, latentes na inteligência humana”, posto que a paranormalidade, consciente ou inconscientemente, física ou mental, é sempre determinada pela mente, acionando o cérebro.
De princípio, pode-se dizer que a Metapsíquica apenas estuda os fenômenos, como um
todo ou isoladamente, não ensinando, porem, como desenvolver ou atua-los, ficando
tais feitos para os místicos, especuladores e pseudo-sábios da matéria. Somente a partir
dos fenômenos ocorridos é que a Metapsíquica emite seu parecer.
Esta Ciência perdeu muito da validade de seu termo ou mesmo significada, com o advento da Parapsicologia, esta tida como a ciência que melhor rotula e ajusta conceitos
fenomênicos. Na visão de alguns modernos parapsicólogos, a Metapsíquica é considerada pré-científica.
Dr. Jorge Andréa (Enfoques Científicos na Doutrina Espírita, 2ª. edição, 1991, publicado pela Sociedade Espírita F.V. Lorenz), diz que as significações são as mesmas
nas posições de enquadramentos da fenomenologia paranormal.
Ousa-se parecer que a Metapsíquica, como ciência, foi abominada por achar-se vinculada ao Espiritismo, alem do que, alguns viam nela explicações dos milagres de Cristo,
diminuindo-o em graça e magnificência. Com a Parapsicologia, os fenômenos paranormais passaram ser visto como naturais ou próprios do homem, e não como sobrenaturais, sendo estes então lançados à Teologia como milagres que, como tais, acham-se
isentos de classificações e definições de campos pela Ciência, assim, portanto, sem confrontações com aquilo que diz respeito às religiosidades.
Adota-se então a Parapsicologia, com seus seguintes principais enquadramentos fenomênicos:
• P.E.S. – Percepção extra-sensorial, que segundo o Professor João Teixeira de
Paula, (Enciclopédia de Parapsicologia, Metapsíquica e Espiritismo – Cultu-
ral Brasil Editora Ltda, 1972), é a “faculdade com a qual Joseph Banks
Rhine designa os fenômenos, que ele arrola entre os da clarividência, PósCognição, Pré-Cognição e Telepatia”.
-Para o Frei, Professor Doutor Albino Aresi (Fundamentos Científicos da Para-psicologia, Associação Mens Sana – INPAR, 1978) tem-se a “percepção
extra-sensorial como faculdade humana de captar informações do mundo
físico, sem a aparente interveniência dos sentidos”.
-Professor Sidney de Moraes (Como se Orientar pela Parapsicologia – Um Sentido de Vida, publicação da ESPA – Escola de Parapsicologia de São Paulo),
P.E.S. são os “fenômenos cognitivos de Parapsicologia”.
• P.E.S.G. – Percepção extrasensorial Geral, que João T. de Paula traz como a
“faculdade para testar a manifestação E.S.P. (P.E.S), permitindo o fenômeno da Telepatia ou da Clarividência ou ambos conjuntamente”.
-Sidney de Moraes a vê como “o estudo que permite às pessoas, melhor desenvolvimento de seus sentidos; é uma classificação hoje em desuso”.
• PSI-KAPA – entende o Professor Sidney ser a “influência paranormal, isto é,
acima do normal, da mente sobre o corpo”.
• Frei Albino considera como “a faculdade humana que consiste na influência
da mente sobre a matéria ou sobre sistema de energia já dada pela natureza, sendo que a influência feita à distância, é chamada de Telecinese”.
-Dr. Jorge Andréa entende que Psi-Kapa esteja “ligada às ações psicocinéticas
que se referem, principalmente, ao deslocamento de objetos sem interferência da força física”.
-Professor João T. de Paula resume o fenômeno como “influência paranormal
di-reta do indivíduo sobre a matéria”.
• PSI-GAMA – “conhecimento paranormal” – e Prof. J. Teixeira; “faculdade
hu-mana de conhecer algo através da clarividência, da précognição, da retrocogni-ção, da simulcognição ou da telepatia (PES)” - entendimento de Frei
Albino; enquanto para Dr. Andréa tal faculdade “estaria ligada aos chamados
fenômenos inteligentes relacionados com a clarividência, audiência, telepatia, leitura de cartas, psicografia, psicofonia, psicometria, etc.”.
-Prof. Sidney Moraes expõe Psi-Gama como “o conhecimento dos fenômenos
ca-talogados como acima do normal, isto é, paranormal”.
• PSI – Frei A. Aresi diz que isto “é a capacidade humana de produzir fenômenos que escapam dos limites físicos”, classificação compartilhada pelos
demais estudiosos.
• PSI-THETA – classificada pelo Dr. Andrea como a “fenomenologia ligada a
es-píritos desencarnados, isto é, com a interferência dos mortos”.
Das exposições são fáceis as seguintes observações que o Professor João Teixeira de
Paula é pesquisador e enciclopedista, de tendência para o Espiritismo Científico ou
mesmo o Religioso; Professor Sidney de Moraes é Parapsicólogo profissional, Conferencista e Ministrador de cursos, cuidadoso em não se opor às religiões; Dr. Frei Albino
Aresi, na sua própria condição de religioso, defende os fenômenos como todos de “ca-
pacidades da mente humana”, em oposição ao Espiritismo. Dr. Jorge Andrea Santos,
médico de profissão, é Pesquisador Científico da paranormalidade e estudioso do Espiritismo Científico e Religioso, segundo se pode observar.
-São escolas diferentes no que há de se respeitar opiniões de cada um.
Portanto, sem questionamentos aos tão ilustres estudiosos, sem dúvidas todos eles grandes pesquisadores, busca-se aqui, em primeira linha, os fenômenos psicológicos dentro
da Parapsicologia, ou seja, os estritamente mentais – categoria em que se situam os duplos sentidos – a saber:
I - FENÔMENOS PSICOLÓGICOS:
1. Telepatia: Transmissões de pensamentos ou sensações, a longa distância ou
não, sem o intermédio dos órgãos sensoriais, envolvendo duas ou mais pessoas;
é um fenômeno comprovado em laboratório, sem objeções científicas, classificadas com as seguintes divisões:
1.1. Espontânea: sem prévia combinação entre as partes, mais ou menos comum a todos os seres humanos, nas famosas coincidências, quase sempre
carregadas de fortes emoções ou estranhas sensações.
1.2. Simpática: onde um sente o que o outro experimenta, cuja característica
maior é o experimento de sensações definidas, boas ou ruins.
1.3. Experimental: produzida com prévia combinação entre as partes e também a que se produz em laboratórios, em razão do que é a única das telepatias classificadas como fenômeno de paranormalidade.
-Nos últimos anos, pesquisadores têm levantado hipóteses acerca da possibilidade telepática entre homem e animais, ou destes ao homem, fenômeno denominado de Telepatia Animal; os estudos e relatos assentam-se
em evidências, mas ainda longe de comprovação científica.
2. Criptestesia:
Faculdade perceptiva supranormal daquilo que, aparentemente, não está,
nem se acha sensível aos sentidos comuns e de seus duplos, ou seja, conhecimento de fatos e coisas, por estímulos psíquicos e não pelos órgãos
sensoriais.
-Ao lado das Telepatias, é fenômeno dos mais comuns ao homem e a despertar interesses científicos, por ser passível de experimentos e comprovação em laboratórios.
Alguns estudiosos colocam que as Criptestesias ocorrem em canais ocultos
da mente, pois que elas não dependem de um agente transmissor, como nas
demais percepções.
Divide-se em:
2.1. Cognição extrasensorial: conhecimento paranormal de fatos e coisas ignorados pelos presentes, participantes ou de pessoas conhecidas, mesmo
que distantes; temos entre os exemplos cognitivos corriqueiros:
a) por engano uma pessoa recebe uma carta e sem abrir o envelope, descreve todo o conteúdo – a carta não é para ela, ela não conhece o remetente e nem este a pessoa, que por engano, recebeu a carta, que tam-
bém não conhece o destinatário que igualmente não sabe quem ela é –
Richet citações em obras diversas e Curso Teológico.
b) Uma pessoa encontra na rua uma porta-retrato sem a foto, mas com
exatidão descreve quem ali estava representado, em todos os detalhes –
Richet (idem);
c) A mulher recusa um medicamento, porque este poderia matá-la, sendo
posteriormente comprovado que os rótulos, por engano foram trocados
por um farmacêutico, quando da manipulação de duas fórmulas diferentes, acontecimento este atestado pelas pessoas envolvidas, inclusive
o médico assistente - Flammarion (A Morte e seu Mistério, Volume I
- FEB, 1982)
d) Um indivíduo sente – vê cenas e o envolvido, que não conhece – alguém prestes ao suicídio, e tomado de misteriosa força, dirige-se exatamente à residência da pessoa; não conhece o bairro, nem a rua e menos a casa, mas para lá se dirige e evita o ato fatídico; o pretendente ao
suicídio nega e reage com certa indignação, mas o sensitivo vai até determinado local da casa e encontra a carta de despedida que tenta justificar o ato (já provável ato telepático) e, indo mais alem, o sensitivo
descreve diante do pretendente ao suicídio - seqüência telepática - o
local exato escolhido para o suicídio e o método que seria utilizado
Celso Prado (Dos Atributos da Alma e da Existência de Deus - 1998).
2.2. Autoscopia: percepção, por parte do indivíduo, sobre seus órgãos internos,
localizando com precisão um tumor ainda não identificado, ou um corpo
estranho no organismo e sua trajetória.
2.3. Telestesia: capacidade para ver ou sentir, à distância, sem o concurso de
um agente transmissor. Por certo o exemplo particularmente citado, emprega-se melhor aqui.
Alguns estudiosos sustentam que, em algum ato cometido ou pensado por
alguém, ainda que difuso e não endereçado a ninguém, pode este ser captado por um sensitivo, pelos ocultos canais da mente. Outros determinam
que os mensageiros, anjos ou espíritos desen-carnados, no zelo pela pessoa, socorrem-se a algum sensitivo.
Semelhante a Autoscopia tem ainda o fenômeno da Aloscopia, ou seja, do
sensitivo em relação a um terceiro; alguns estudiosos consideram Telepatia
onde esse terceiro após, Autoscopia inconsciente, passaria informações ao
sensitivo, enquanto outros consideram fenômeno de clarividência. Sem
desconsiderar aquelas, acredito também possibilidade de ação idêntica através de ato projeciológico - o sensitivo transporta-se para dentro da pessoa e detecta o mal existente, numa espécie de Transposição de Sentidos aonde o sensitivo vê, sente, indica e descreve o mal de uma pessoa como
se fosse seu.
2.4. Auto-Percepção Intuitiva: conhecimento de fatos ou acontecimentos distantes; desconsiderado pelos especialistas, por nada oferecer de palpável
no campo das ciências, mas é um fenômeno comumente visto e ouvido,
contudo facilmente confundido com Telepatias.
2.5. Premonição: percepção paranormal de fatos ainda não acontecidos; é um
assunto muito estudado por especialistas, sendo o mais bem documentado
e comprovado dentre os fenômenos da paranormalidade.
Henrique Maurer Jr., quanto a condução destes estudos, propõe-nos os seguintes caracteres quanto aos denominados fenômenos premonitórios:
• Previsão de fatos pessoais, o mais simples, onde o indivíduo prevê,
com assombrosa exatidão, aquilo que lhe irá acontecer, a exemplos
de doenças, acidentes, morte ou fatos banais;
• Previsão de fatos com terceiros, e isto mesmo sem a participação,
presença ou interesse desses terceiros;
• Acontecimentos ao meio físico, sem conhecimentos antecipados ou
acessos às fontes de informações;
• Fatos relevantes da história, os acontecimentos políticos, militares
e outros;
• Coletivos: fatos, grupos sociais e demais do gênero.
• Premonições tutelares, que prevêem o que poderia acontecer caso
não evitado a tempo, como tipo de mensagem salvadora.
Os fenômenos acontecem ou se realizam de múltiplas maneiras que vão
desde o englobamento das atuações dos duplos dos sentidos nos casos futurísticos, às psicografias e psicofonias.
A Premonição pode ser nítida ou disfarçada - truncada ou não muito clara ou ainda minimizada, existindo aí o elemento censor procurando diminuir
o caráter trágico da realidade. Pode também ocorrer em sonhos, hipnoses
ou através do sexto sentido, que todos já experimentaram pelo menos uma
vez na vida.
Os pesquisadores, para admissão do fenômeno premonitivo, seguem as antigas regras estabelecidas por Richet:
• A realização do fenômeno deve ser independente do sensitivo;
• Exclusão total de possibilidades de acesso às informações;
• Registros fidedignos antes dos acontecimentos.
3. Metagonomia: Inteligência supranormal, intuitiva ou intelectiva abrangendo os
múltiplos campos como a matemática, música, ciências gerais, entre outras, com
estonteantes exemplos envolvendo crianças, às vezes de tenra idade ou sem aprendizados regulares; enquadram-se também, e igualmente surpreendentes, os
casos dos idiots savants e suas aptidões.
A Metagonomia comprova que a capacidade do subconsciente é infinitamente
superior à consciência, e que de alguma maneira, conhecimentos adquiridos, não
se sabe de onde e nem de que maneira, pelo subconsciente, passam para a consciência, com efeitos que beiram as raias do milagre ou da indignação.
Nisto debatem-se cientistas, alguns acreditando que o subconsciente capta, ora
através dos duplos dos sentidos, ora através de uma sintonia telepática interfe-
rente ou imposta; outros creditam os fenômenos a uma memória – genética – da
ancestralidade, com o homem guardando em si todo o passado, conhecimento e
experiências de seus antecessores, projetando-os em momentos especiais, provocados, ou sempre. O Espiritismo Científico julga que espíritos evoluídos, não
tão necessariamente, transmitem os grandes acontecimentos a determinadas pessoas, ou que se reencarnam em benefício da humanidade.
Alguns estudiosos mais avançados ou liberais aventam hipótese de um Repositório de Conhecimentos Cósmicos, onde alguns indivíduos adentram, pelos espaços intereletrônicos; outros, voltados ao Espiritualismo, acreditam em avatares,
isto é, espíritos de grandes saberes que entram ou vibram num indivíduo, por um
tempo mais ou menos deter-minado, com todos seus conhecimentos Cósmicos
ou adquiridos em vidas passadas; e, ainda, os que crêem que aqueles superdotados são pessoas que já tiveram diversas encarnações e retornam à terra, apresentando depois ou em determinado tempo, seus conhecimentos assombrosos, a exemplo da xenoglossia ou glossolalia, que é a faculdade de falar línguas estrangeiras ou estranhas, sem nunca tê-las aprendido ou ouvido alguém falar.
4. Catalisação: Facilitação de fenômeno a partir de um objeto ou outro instrumento qualquer, utilizado sempre para este fim, como as bolas de cristal, baralhos,
espelhos, conchas, co-pos, pedras e uma infinidade de outros que surgem a cada
dia ou época.
São fenômenos ou causas de fenômenos corriqueiros, utilizados por videntes ou
sensitivos que, através destes objetos, entram numa espécie de transe – concentração, contato – onde qualquer fenômeno parapsicológico pode ocorrer independendo, às vezes, da consciência ou não do sensitivo, bem como de sua vontade.
Comumente são chamados de fenômenos advinhatórios, largamente usados nos
meios diversos da sociedade – independente de classes sociais ou intelectuais –,
muito passível de mistificações.
Talvez pela facilidade de seu uso ou aprendizado, é algo que acompanha o homem desde a antiguidade, tanto que na Bíblia – Antigo e Novo Testamento – são
encontradas diversas passagens que atestam usos de catalisadores: Gênesis 44. 5
e l5, I Samuel l4: 42, Êxodo 28:30, Jonas 1: 7, Marcos l5: 24 e Atos l: 26.
Em geral o uso de objetos catalisadores são feitos por místicos, revestidos de um
caráter mais religioso, em que os objetos são ou parecem revestidos de manas.
Alguns desses fenômenos ocorridos no próprio local de atendimento do sensitivo, supervisionado por cientistas e descartadas possibilidades de fraudes, mostraram-se reais. Em laboratórios, alguns sensitivos realizaram seus trabalhos,
munidos de seus catalisadores, com surpreendentes resultados, enquanto outros
conseguiram feitos somente em seu próprio ambiente.
Existem relatos de casos de sensitivos que, cientes de uma observação científica,
nada puderam realizar, mas que não sabendo da presença de observadores infiltrados como clientes, produziram fenômenos, sendo registrados casos de alguns
que até adivinharam quem seriam os pesquisadores.
5. Mancia: São os diversos meios de se descobrir alguma coisa, através de objetos
materiais, comumente confundidos com os fenômenos de Catalisação, as Mancias são artes com indicações aproximativas, não levando, necessariamente, a fenômenos paranormais.
Os praticadores de mancias, na maioria dos casos, usam de psicologia, sagacidade, perspicácia, acesso às informações, métodos indutivos, deduções e até mesmo a telepatia; em geral os consulentes das mancias já têm suas respostas préelaboradas, cabendo ao sensitivo apenas decodificá-las, dando-lhes ordenação
lógica e seqüencial.
Das mancias, a única a apresentar resultados satisfatórios em laboratórios, foi a
Rabdomancia, antiga adivinhação por meio de varas, hoje com a denominação –
cientificamente adotada e aceita – de Radiestesia, isto é, radiações e/ou vibrações eletromagnéticas captadas por meio de objetos materiais.
Vistos os fenômenos psicológicos dentro da Parapsicologia, sujeitos sempre a
controvérsias, novas teorias, diferentes nomenclaturas, estuda-se agora, os fenômenos físicos, ou seja, aqueles que produzem efeitos materiais.
II - FENÔMENOS FÍSICOS
1. Telecinese: Movimento de objeto à distância, perto ou longe, sem contatos físicos que, pela sua natureza, podem ser:
1.1. Espontâneo: que por vezes o próprio sensitivo ignora-o, quase sempre são
descontrolados, não raras vezes violento; assemelha-se, confunde-se e talvez seja a mesma coisa – aqui em defesa da teoria espírita – do poltergeist
que, por razões desconhecidas são provocadas na maioria das vezes por
pessoas do sexo feminino, na puberdade.
Espíritas – científicos e religiosos admitem o concurso de espíritos atrasados (desencarnados) de mentalidade / individualidade infantil e pueril, com
demonstrações gratuitas.
São comuns, em casos de telecineses espontâneas – poltergeist propriamente dito –, materialização e rematerialização de objetos: pesados objetos
(pedras, rodas de tratores entre outras) atravessam telhados e forros sem
danificá-los, mas que espatifam mobílias; em outras ocorrências, dá-se teleplastia – materialização de imagens; algumas como fogo espontâneo.
1.2. Provocado: fenômenos telecinéticos promovidos e analisados em laboratórios, devidamente comprovados e com alvos determinados.
1.3. Conduzido: aqueles em que o sensitivo, exercendo absoluto controle de
suas faculdades paranormais, endereça suas forças para alvos predeterminados – quando sob rigoroso controle científico – ou a seu bel prazer, para
o bem ou para o mal –, com efeitos imediatos ou seqüenciais, podendo
formar fantasmas intervencionistas, fenômenos acústicos (ruídos), fotóticos (clarões de luzes) e de poltergeist em todas suas extensões.
Valem-se teorias que:
a) O indivíduo, num esforço desgastante, emite energia psíquica – neutrons, conduzida por espaços intereletrônicos, com finalidades de exci-
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6.
tar ou desagregar células de um ser vivente, ou sobre estruturas moleculares de objetos ou seres inanimados;
b) Deixa-se usar por forças sabidamente – por ele – sobrenaturais (espíritos desencarnados) boas ou ruins, as quais se utilizam faculdades para
determinados fins (muitos sensitivos de fenômenos à distancia, conscientes ou não, têm observado aquelas causas primarias);
c) Conhece as forças, sabe como buscá-las e delas se utilizam para seus
intentos, como muitos magos afirmam proceder.
Os fenômenos conduzidos, também podem ser reativos - assim como
os fenômenos espontâneos, com o sensitivo a reagir em momentos especiais ou quando provocados.
Acústico: Sons ou ruídos provocados; tem merecido especiais atenções dos estudiosos porque, em geral, associam-se a prenúncios de morte ou de algum acidente, com vários exemplos registrados e comprovados.
Fótico ou Fotótico: Manifestos como luzes radiantes, clarões ou auras; estes fenômenos tem sido motivo de sérios estudos científicos, com grandes préstimos à
Medicina, para auxílios diagnósticos, uma vez que as preocupações psíquicas e
males orgânicos desconhecidos, são revelados pela aura.
Os fenômenos fóticos não são exclusividades do homem, sendo que animais e
vegetais – alguns ensejam até o reino mineral – também manifestam em sua totalidade, revelações de estados de momentos, existindo hoje aparelhos e máquinas – a exemplo da Kirlian (kirliangrafia) – que medem e fotografam aquelas
luminosidades.
Levitação: Anulação da lei da gravidade, cujos efeitos são a suspensão de objetos, de pessoas e até do próprio sensitivo; alguns especialistas têm a levitação
como ação telecinética.
Ideoplástico Interno: Em geral definidos como influência da mente sobre o
corpo, como fenômenos de anestesias (sem recorrência à hipnose), alterações biológicas – estigmas manifestos, no geral em religiosos e místicos –, curas, combustibilidade do corpo, catalepsias – provocadas ou não, e as parestesias não
hipnótica entre outros.
Teleplastia: Denominada também de Ideoplastia Externa, ou ainda, de Fenômenos Ectoplasmáticos – Materializações –; a Escotografia – imagem produzida no
escuro – também é considerada como fenômeno de Teleplastia.
Os estudos mais considerados das Teleplastias, são de caráter espírita – religioso
ou científico –, porque é neste meio que se produzem a maioria das manifestações comprovadas e tidas como científicas.
Alguns estudiosos vêem nestas manifestações, provas irrefutáveis de uma vida
além-túmulo; enquanto outros as têm como manifestos anímicos, apontando a
quase semelhança entre o fantasma e o sensitivo que lhe dá, conscientemente ou
não, as formas. Céticos afirmam que as realizações não passam de fraudes
Nas ultimas décadas, a ciência tem desenvolvido aparelhos, à base de televisor
comum, que captam imagens teleplásticas; o mesmo se faz, usando gravadores,
com os fenômenos acústicos. Porém tais captações ocorrem somente com a pre-
sença de, pelo menos, um sensitivo, quando não o é o próprio pesquisador. Já
algumas experiências são realizadas via Internet e Rádio, com resultados a confirmar.
Registram-se casos de sensitivos que influem em filmes fotográficos, expressando seu pensamento ou alguma outra coisa não planejada.
Encaixam-se na Teleplastia, o fenômeno do duplo – como capacidade de um indiví-duo estar em dois lugares ao mesmo tempo – existindo relatos comprovados
sobre tal fenômeno, inclusive estando a pessoa física – sensitivo –, em continente diferente do seu duplo; são acontecimentos mais ou menos comuns, entre religiosos e místicos.
Da mesma forma a Projeciologia, quando projeção visível, consciente ou não do
duplo etéreo, pode ser considerada Teleplastia, muito embora os estados projeciológicos ocorram mais dentro de um nível mental, propriamente dito, isto é,
subjetivamente, portanto invisível aos não sensitivos.
Discute-se, se Teleplastia ou não, os casos de desmaterializações e rematerializações de objetos, que parecem seguir determinadas situações de passagens da
matéria através da matéria.
Na Teleplastia, encontram-se alguns dos mais conhecidos e envolventes fenômenos parapsicológicos, pelo menos de se ouvir falar, julgados como suficientes
para comprovações, na exata concepção científica da palavra, da existência da
individualidade da mente humana, com ações independentes em relação ao homem.
A ação do espírito pessoal e independente da matéria física, é evidente e com
provas científicas irrefutáveis; e se, essa individualidade tem capacidades de ações sobre o corpo, de comunicar-se com semelhantes – via Telepatia –, nada
lhe haveria obstar possibilidades de comunicações interativas com outras individualidades, encarnadas ou desencarnadas, na terra ou em qualquer outro ponto
do universo.
O QUE É A PARANORMALIDADE?
Fenômenos conhecidos como paranormais, objeto de estudos da Parapsicologia, sempre
exerceram e ainda exercem especial fascínio sobre o homem. Quem não se queda pasmo
diante dos fenômenos da mente?
Apesar de vivermos o período científico-tecnológico, onde tudo se analisa à luz da ciência e da razão, a paranormalidade, em suas múltiplas formas de manifestos e de realizações, deixa-nos sempre aquele que de mistério envolvente, além das dúvidas quanto às
origens: espiritual ou de natureza própria do homem?
Nisto há toda uma conturbação de teses, esclarecimentos e discussões, em torno às vezes de um único fenômeno, rotulado por nomes diversos, complicados em sua maioria,
quase sempre em defesa de determinados pontos de vista, a juízo de credos religiosos, a
envolver a própria ciência que, nestes aspectos de tantas incertezas, pronuncia-se também de maneira ambígua, assim a gerar ou suscitar dúvidas maiores.
E o que seria e como atuaria um indivíduo paranormal? A parafrasear Rodrigues e Wladimir (João Manuel Costa Rodrigues e Wladimir Teobaldo de Morais, na obra Bi-
ociências – Genética, Evolução, Ecologia – Cia. Editora nacional, 1978, página 38,
quanto a Origem do Homem Moderno), com a devida adaptação para a presente
questão: "Uma pergunta intrigante. Não sabemos o bastante nem para dar uma
resposta parcial, e esse problema complexo e enganador é ainda mais obscurecido
pela sua formulação imprecisa".
Comumente entende-se por paranormal o indivíduo classificado como médium ou sensitivo não raramente confundido um com o outro, e que, no entanto, se devem fazer distinções (João Teixeira de Paula), onde o médium seria aquele que serve de intermediário entre encarnados e desencarnados – fenômeno Psi-Theta – para efeitos físicos ou
intelectuais, mais voltados – não necessariamente – à religiosidade; enquanto o sensitivo é o indivíduo que produz fenômenos inteligentes – Psi-Gama – e psicocinéticos –
Psi-Kappa – sem a força ou atuação de desencarnados, ou seja, os fenômenos seriam
pro-dutos de sua própria psique ou capacidade mental.
De modo geral, coloca-se o médium sempre como sendo um sensitivo, e este não necessariamente um médium, mas no meio espírita não há distinções entre aqueles dois, enquanto para alguns segmentos da Parapsicologia, o médium nada mais seria que um
sensitivo, cuja excitação própria manifesta-se como entidade projetada; na obra A Entidade, de Frank de Felitta, vê-se semelhante exposição para sua personagem central.
O paranormal seria o indivíduo, médium ou sensitivo, capaz de produzir fenômenos
psicológicos e físicos, através de energias mentais que atuam sobre a matéria orgânica
ou inorgânica, podendo influenciá-la mesmo à distância.
Em geral o fenômeno paranormal ocorre quando há um emissor, que não precisa ser
paranormal, e um receptor, obrigatoriamente paranormal, que se comunicam – intervivos ou desencarnados com vivos –, existindo ainda fenômenos que independem de emissores, somente um receptor, paranormal, que capta determinados conhecimentos de
fontes desconhecidas, ao lado daqueles outros fenômenos adquiridos por estados projeciológicos de um indivíduo.
Para o caso primeiro, as Telepatias seriam exemplos mais bem representativos, para o
segundo, as Criptestesias, e por último a capacidade consciente individual de se deixar o
corpo e atingir buscas (passado, presente ou futuro) ou receber informações (cósmicas,
telepáticas, consciência coletiva ou de fontes desconhecidas); a projeciologia inconsciente nem sempre se enquadra nas características da consciente e aquela por isso sem
valor científico, às vezes até mesmo pela falta de consistência.
A paranormalidade, embora exaustivamente estudada, ainda não tem origem determinada quanto a sua natureza, se psíquica, física, espiritual, psico-fisiológica, psicoespiritual, físico-espiritual ou psico-físico-espiritual. As ciências, diante das dificuldades de comensurar ou dimensionar os fenômenos, estuda-os tão somente a partir das
ocorrências.
São exceções as Telepatias, Criptestesias, Mancias e as Catalizações, que podem ser
produzidas em laboratórios. Atualmente a Telecinese (movimento de objetos sem uso
das mãos ou outros meios que não a mente), também é considerada uma verdade científica, uma vez que pode ser produzida através de experimentos. Quanto às Cinesias, alguns estudiosos as denominam de Psicocinesia e outros de Telecinesia, todavia na opinião de J. Teixeira de Paula, obra citada, Telecinese seria atuação mental à distância e a
Psicocinese a atuação do espírito desencarnado sobre a matéria, ainda que a valer-se de
uma capacidade humana, no caso do médium; as duas denominações existem para um
mesmo fenômeno, por isso a citação Cinesia.
A Ciência acredita que a paranormalidade se de através do cérebro ou por ele, para que
a paranormalidade possa ser adquirida e desenvolvida através de estudos, treinamentos e
vontade. Os Parapsicólogos concordam que as faculdades inatas, vez ou outra com possíveis ocorrências, igualmente podem ser desenvolvidas e exercidas com controle e
consciência.
Experiências em laboratórios efetivamente confirmam as faculdades paranormais, porém inatas. Mesmo o indivíduo considerado normal, quando em experimentos venha
apresentar fenômenos, na realidade apenas apresenta aquilo que já possuíam, ainda que
não ciente antes da existência deles.
Quase unanimidade entre os cientistas, todo ser humano possui paranormalidades, em
maiores ou menores graus, que podem ou não ser despertas para uma atividade consciente; quase todas as pessoas, ou todas, já experimentaram alguma ocorrência paranormal em suas vidas.
Um indivíduo sob hipnose tem facilidades amplas de apresentar fenômenos, onde parece haver algum desbloqueio para as paranormalidades, antes reprimido por fatores diversos, como a educação, religião ou cultura entre outras possibilidades.
No meio místico e religioso, onde se estimulam estados de êxtases, a ocorrência de fenômenos é sensivelmente maior, como a vidência (clarividência), as locuções internas
(o ouvir vozes ou sons, que alguns denominam clariaudiência, mesmo que não seguida
de visões ou conjuntamente a estas), xenoglossia (glossolalia – de falar idiomas não
estudados ou línguas estranhas), premonições (profecias e revelações), e as cognições
(conhecimento além dos estudos e sentidos, podendo ser pré, pós ou simultâneo aos
fatos).
Entre os espíritas e espiritualistas, o fator crença na existência de espíritos que se manifestam através do homem, são bastante comuns além dos fenômenos acima, as psicografias (escritas automáticas, com belas mensagens de otimismo, obras literárias, etc), as
pinturas de obras de arte, canto, cirurgias (com ou sem cortes); com certa raridade nos
dias atuais, ocorrem cinesias, poltergeist e ectoplasmias (materializações de formas humanas, objetos, animais e figuras bizarras) que inclusive, em alguns casos, podem ser
examinadas, tocadas e que até conversam, quando formas humanas evidentemente; ainda mais raramente podemos deparar também com materializações (desmaterialização e
rematerialização) de objetos, às vezes transportados (aporte ou transporte) de outros
ambientes ou de longas distâncias, e mesmo que trancados num cofre – existem relatos
de humanos que desmaterializam aqui para se rematerializarem num outro local.
Nos cultos afros mediúnicos também imperam certos fenômenos, como aqueles, sendo
notórias as telepatias, empatia e certas premonições protetoras.
Em todos os credos citados, percebem-se ainda fenômenos à distância, como curas, visitações, etc; há em todos eles o uso comprovado de telepatias, pelo fator corrente – todos
pensam e desejam determinada coisa ou ocorrência – além do império da fé, de quem
pede e de quem faz – desejos expressos ou mentais. Quase todos estes fenômenos exigem sempre a presença da parte interessada solicitante, além do sensitivo, ou pelo me-
nos de alguém que conheça aquela, podendo às vezes ser um simples bilhete; são poucos os casos aonde o sensitivo não venha sofrer influências de conhecidos de uma das
partes, presentes na platéia.
Quanto aos credos existe unanimidade, que são facultadores de fenômenos paranormais
em seus respectivos meios, não importando se espirituais (questão de crença), anímicos
(do próprio indivíduo ou da matéria como costumam dizer). As ocorrências existem,
podem ser comprovadas grande parte delas, e isto é indiscutível.
Certas drogas também agem como propiciadoras de êxtases e, com estes, toda uma gama de fenômenos paranormais, pelo provável desbloqueio mental.
Existem registros que certas pessoas acidentadas (pancadas na cabeça, lesões de coluna), com problemas psicológicos e mesmo advindas de alguma doença orgânica grave,
ou de algum estado febril convulsivo, às vezes tem despertado faculdades paranormais
de forma transitória ou efetiva; muitos psicogênicos e epiléticos mostram-se sensitivos
para fenômenos de paranormalidade.
Os redivivos, aqueles famosos casos em que pessoas voltam da [quase] morte, denominadas de Experiências à Beira da Morte, ou Experiência de Quase Morte [EQM] relatam, na maioria das vezes, estados típicos fenomênicos, contudo mais voltados à espiritualidade.
Quanto a essa experiência, médicos e estudiosos não são unânimes a respeito, muitos
acreditando tratar-se de ausência de oxigenação do cérebro, quando os sinais enviados
tornam-se extremamente rápidos e com isto afetando o campo da visão, criando situações alucinatórias.
Outros dizem que, pela mesma falta de oxigenação, há a queima (morte) de neurônios e
células que se concentram entre os campos da visão, daí o quase sempre relato de um
grande túnel escuro e uma luz em seu fundo. Pessoas relatam cercadas de luz muito forte ou que se sentem flutuando no espaço, olhando para si próprias lá embaixo, quase
sempre deitadas em leito hospitalar numa sala de emergência.
As visões relatadas daquilo que se vê, presenças de pessoas já falecidas, assim como o
temor inicial e depois a entrada num paraíso ou local de tranqüilidade, residiriam no
fator crença, o medo da morte e necessidade do amparo. Um fato notório: quase todos
que retornam fazem-se altruístas e bastante espiritualizados, com uma nova visão de
vida, e muito propensos aos fenômenos psicológicos.
Hoje muitos cientistas entendem que as EQM têm explicação biológica, e não espiritual,
vista como ocorrência episódica onde há perigo de morte. Seria uma forma de compensação do estado de alerta, pavor e medo refletidos numa luz intensa que, após segundos,
transmite e sensação de paz profunda. Sensações iguais podem ocorrer em estágio de
sono profundo conhecido como estado de REM – Rápido Movimento do Olho [Rapid
Eyes Movement], onde certas intrusões podem não ser tão incomum. A Ciência, todavia, aborda as experiências e suas origens, não o porquê delas.
Independente de credos religiosos, ou qualquer outro vínculo que possa ou venha implicar dependências, o indivíduo também pode desenvolver paranormalidade através de
estudos e treinamentos, ainda que um tanto difícil para aquilo que não lhe é inato e para
os fenômenos físicos.
A facilidade torna-se bem maior para o desenvolvimento dos Poderes do Pensamento
Positivo e, nesta área, às vezes ocorrem verdadeiros milagres, a darmos fé no que dizem
certos autores da matéria, pois que basta a pessoa crer, estudar, treinar, desejar e estabelecer metas elegendo prioridades, para que se possam atingir realidades propostas.
Sabendo da mente, de sua força atuadora e organizacional, independente da matéria, e
que a antecede sob e sobre todos os níveis, sobrevive a esta por ser energia e não se encontrar sujeita às leis físicas; logo, não podendo dissipar-se, tem de continuar sua existência de alguma forma, até mesmo baseando-se em Einstein: a energia pode ser transformada em outras formas de energia ou massa, mas nunca pode se dissipar por completo.
DA SOBREVIDA CONSCIENCIAL
Trata-se, sem dúvidas, da mais enigmática das questões, onde toda e qualquer opinião,
seja ela científica ou religiosa, está e estará sempre sujeita às controvérsias.
Existe sobrevida consciente do homem em algum lugar além-túmulo?
Para muitos a morte física não significa aniquilamento total do homem, pois que a energia mental sobrevive à matéria, e até mesmo esta, ainda que decomposta, de uma maneira ou de outra, sobreviverá em alguma coisa, em algum lugar dentro do universo, do
qual nada pode escapar.
Nesta compreensão, impossível qualquer materialista refutar cientificamente tal posição; senão uns e outros, mais sustentados nas convicções ateístas, que não discutem o
assunto porque simplesmente não acreditam, religiosamente, na sobrevivência da personalidade metafísica do homem após a morte terrena. Para uns e outros incrédulos até se
pode conceber um corpo sem pensamento, mas jamais um pensamento sem corpo, uma
teoria expressa em A Morte, de Maurício Maeterlink.
Com razões e de fato, manifestações exteriorizadas da mente ocorrem mediante acionamento de um órgão, no caso o cérebro. Destarte, como poderiam tais manifestações
ocorrer, estando decomposto o cérebro, sua fonte original?
Numa primeira análise percebe-se, ainda que distintos o corpo e a mente, que todas as
evidências de paranormalidades comprovadas ocorrem a partir de organismo vivo,
mesmo nos casos de redivivos, onde a existência física ainda se encontra presente, ou
seja, sem a higidez cadavérica.
As manifestações de possíveis desencarnados, dentro dos mais variados estados fenomênicos, dão-se aos vivos, com as presenças ou sempre através dos vivos, pelos sensitivos / médiuns. Tais ocorrências, por mais verossímeis que possam parecer, não trazem a
verdade científica necessária para comprovação do eu, daquele outro possível lado ou
dimensão. O fenômeno apresenta-se sempre de uma maneira unilateral, pois o daqui é
possível provar enquanto que o de lá, apenas conjecturas.
Sobreviverá em algum lugar ou dimensão, a consciência desprovida de um corpo físico
ou de um cérebro?
Firma-se que os fenômenos paranormais unicamente em si, não atestam a consciência
do eu pós-morte. Também a reencarnação, apesar dos inúmeros casos que demonstram
possibilidades de um mundo espiritual, ainda traz mistérios não resolvidos como a abo-
lição da memória no momento reencarnatório, como se ocorrida uma espécie de morte
para o lado de lá.
Existem casos, e muitos, em que encarnados passam a ter, espontaneamente ou provocados, reminiscências de uma outra existência anterior aqui na terra, como fenômenos
duradouros ou não. São relatos interessantes, muitos até resistentes às contraargumentações, mas que tão somente provam, cientificamente, a capacidade independente do homem aqui na terra e na presente encarnação.
Porque alguns lembram de encarnações anteriores aqui na terra, com espantosas precisões, sejam elas naturais ou provocadas – a exemplos das hipnoterapias regressivas,
enquanto quase nada de consistente dizem do lado de lá?
Alguns cientistas demonstram que a kirliangrafia não é apenas um efeito corona – escapes de freqüências e voltagens em torno de um organismo vivo, verificando que as oscilações da aura (nos seres viventes) ultrapassam as diminutas variações do efeito corona;
e muito menos que seriam elementos oriundos e matizados como forças químico-físicas
e mentais, modeladoras e organizadoras do ser.
Não contestamos nada disto, apenas informamos que tais comprovações científicas,
entendendo que isto em quase nada contribui para uma prova definitiva sobre a sobrevivência do da consciência. Contudo cientistas espíritas trazem interessantes refutações
aos materialistas, afirmando que à inteligência individual e independente da matéria
física, ainda que interligadas e capazes de acionar e moldar elementos físicos e psíquicos, não se pode negar atributos de conservação de memórias.
Considere-se: tudo o que há no ser humano ou que envolve sua formação psicossomática, vem e encontra-se no universo, na natureza (fatos cientificamente aceitos), pois que
espírito é espírito e matéria é matéria – Evangelho segundo João 3:6.
Afirmam, ainda, os defensores espíritas que a natureza é suficientemente capaz, pe-las
“características do Modelo Organizador Biológico, MOB, e do Campo Bio-Magnético
de ter e produzir os elementos, agregando-os e dando-lhes formas, onde quer que haja
condições, necessidade e, porque não, vontade”, colocações de conformidade com definições do Dr. Hernani Guimarães Andrade em sua obra A Matéria Psi.
Já os dualistas, como contestadores do materialismo, demonstram que para a ligação
mente e corpo, a homificação ou fusão psicossomática, faz-se preciso um elo de união,
elo este extraído do fluído universal e denominado, sobretudo no meio espírita, de perispírito ou psicossoma, pelas ciências.
Este fluído tomado para revestimento do espírito ou alma, faz-se dos elementos constitutivos do mundo onde o espírito irá encarnar ou habitar; apenas o espírito traz atributos
e os princípios para a vivência terrestre.
Nestes choques de posições, observa-se que os princípios e atributos espirituais, co-mo
a inteligência, o livre arbítrio e a vontade, adentram no ser humano ainda embrionário e
nele se manifestam, independentemente da matéria física; uma vez finda esta matéria,
pela morte, o espírito retira-se com o seu invólucro, indo para outra dimensão, mantendo-o enquanto perdurar seu vínculo ao planeta.
O espírito desencarnado conserva seus atributos, princípios e faculdades, somados às
experiências adquiridas quando encarnado, porém livre das limitações que a matéria lhe
impõe, porque se tal não ocorresse – aqui um contorno científico e religioso, não have-
ria evolução e muito menos necessidade da encarnação. O não recordar de vidas passadas, justifica-se que se tal ocorresse, o indivíduo estaria tolhido de seu livre arbítrio,
alem de danos personalísticos que poderia vir a sofrer – uma quebra das regras da espiritualidade.
Admitindo, portanto, uma personalidade extrafísica no homem, e que o torna tão diferente das demais animalidades e outros seres, é inadmissível que aquelas qualidades não
se conservem inteligentes após a morte física.
A consciência, portanto, sobrevive do outro lado, esteja este lado onde estiver.
E assim vamos a Deus, sua existência ou não, mas primeiro há que se estabelecer qual
esse Deus, onde para entendermos, há que se promover um retorno ao princípio dos
tempos, quando o homem fez nascer e cultuar suas divindades.
YAVÉ, UM DEUS À IMAGEM E SEMELHANÇA DO HOMEM
Não se trata de revelar novas verdades e ainda menos demonstrar onde, positivamente,
ela não se acha. Desejamos, e isto se sobrepõe a todas as pretensões, tão somente mostrar estas verdades onde, efetivamente as possamos encontrar. (Paráfrase a Maeterlink –
obra citada).
O homem, conforme entendimento, desde seus primórdios na terra, por necessidade ou
alguma outra razão, explicável ou não, sempre sentiu o desejo da imortalidade, a crença
na sobrevida após a morte física. Não sabia explicá-la nem situá-la, mas acreditava nela
como necessidade crescente, um apanágio quiçá por recompensa à sua árdua luta na
terra, ou a não compreensão ou aceitação quanto à realidade da morte.
Esta busca levou o homem a criar divindades e a buscá-las com fervor, um deus que lhe
desse as expectativas para se chegar a igualdade de condições, um lugar de paz, concórdia e prosperidade, uma morada onde o infortúnio não lhe batesse às portas, onde não
houvesse nem choro e nem ranger de dentes (do Cristo, pelos Evangelhos). Deus único,
supremo e abstrato, mas não inatingível e que se preocupasse com o homem aqui na
terra, que o compreendesse nas suas dificuldades, que o consolasse nas suas tristezas,
que lhe dessem esperanças de um futuro melhor; enfim um deus que mantivesse contatos com o humano, que aceitasse ofertas e sacrifícios e, mais que isso, expressasse seus
sentimentos e se revestisse do antropomorfismo.
Em qualquer religião que se procure, ou nas tradições, mitos, sagas e lendas, mesmo
que entre gentes geograficamente separadas e com desenvolvimentos independentes, lá
se encontrará o homem a querer deus e a imortalidade.
Realmente impressionam que povos distantes, com todas as dificuldades de comunicações da época, tenham mantido origem comum das crenças, fazendo tão próximas suas
lendas e sagas mitológicas. Para isto concluímos já a existência de um elemento civilizador mundial, com a Suméria por berço civilizacional e aquela que antecedeu todas as
demais nas descrições dos mitos e os fez espalharem-se por todo o Oriente Médio e,
depois, através dos fenícios e outros povos influenciados encarregados da propagação
de sua visão metafísica – das tradições das origens e dos mitos, emergidos da civilização babilônica para todos os confins da terra.
Dentro destas colocações e às igualdades mais ou menos comuns entre todos os povos,
no tocante à metafísica, que tanto faz tomar a historicidade de um povo ou outro, inde-
pendente do grau de evolução, que os caminhos mitológicos são sempre os mesmos,
com conclusões fazendo-se praticamente idênticas.
Discute-se de que não há, historicamente, necessidade de um tronco comum para povos
fazerem-se iguais, mas as possibilidades de tais ocorrências seriam mínimas, sem algum
elemento civilizador mundial.
Diante disto, para aquilo que se propõe o título deste capítulo, busca-se a Gênesis Bíblica como fonte de informações, pesquisas e tratados, primeiro por se constituir um dos
livros mais lidos e estudados no mundo, segundo por ser uma coletânea de lendas que
representam o universo mitológico e metafísico de praticamente todos os povos.
Para estes estudos valemo-nos das versões bíblicas em português para o Brasil, como a
de João Ferreira de Almeida, edição revista e corrigida; Vulgata Latina [do Padre Matos]; Novo Mundo das Escrituras – da International Bible Students Association / USA; e
a versão do Pontifício Instituto Bíblico de Roma [PIBR], todas em edições vertidas para
a língua portuguesa [Brasil].
A título de esclarecimentos, apenas entre os séculos VII e X da era atual foi elaborado o
Cânon do Antigo Testamento Bíblico, consonantal, conhecido como Massorético –
Massorá, com o significado de Tradição. Para tal objeto estudaram-se os Códices oriundos de fragmentos hebraicos do século I EC, e da Versão Grega Septuaginta – escrita
por volta do ano 150, pois, exceto alguns religiosos, ninguém mais entendia a língua
hebraica, em desuso desde o século IV AEC.
Dos textos bíblicos do século I existem ainda as versões Pechita (Siríaca) do século II; o
Targum Aramaico, século IV; e a Vulgata (Latina), terminada no ano 400. Atestado por
fragmentos existe a versão Samaritana, provavelmente escrita no século II AEC, ou no
segundo século da era atual, para alguns uma cópia da antecedente.
Certos exegetas determinam que a versão Grega [Septuaginta] tenha sido redigida entre
os séculos III e II AEC, mas a maioria dos Teólogos, divergentes ou não quanto ao período, concorda ser ela a mais importante e fidedigna de todas as versões, posto que
nenhum dos originais, senão raros manuscritos recentemente descobertos (1947) que
chegaram até os dias atuais e, ainda assim, quase desinteressantes.
As versões bíblicas apresentam muitas divergências entre si, e os poucos ditos originais
existentes, são postos em dúvidas quanto à autenticidade dos tempos.
Para o trabalho proposto, todo fundamentado no livro bíblico Gênesis, há que se desconsiderarem as pequenas variantes ou divergências que não influam nas essências;
discordâncias maiores serão determinadas e esclarecidas.
Então, dentro destas considerações, surge Elohim – deuses, o conjunto de espíritos, pela
filologia hebraica, como a síntese totêmica, ou seja, conjuntos ou espécies de seres divinizados, características culturais comuns entre os povos do Oriente Médio. Deus, o Senhor Deus descrito na tradução bíblica portuguesa, como tradução de Yavé, com o significado de Aquele que é; Yavé é um Sló, espírito análogo ao homem, evolutivo no decorrer de gerações.
Estas divindades, não absolutas nem exclusividades de povos ou religiões, são figuras
centrais da Gênesis Bíblica, divindades cultuadas por alguns dos escritores daquele primeiro livro, com fortes influências de povos mais antigos, com os quais os judeus mantiveram contatos.
A diversidade de autores na Gênesis é facilmente observável pela duplicidade de alguns
textos, outros triplicados [um deles cinco vezes], e até os contraditórios. Os deuses Elohim e o deus Yavé são distintos, unificando-se por vezes para, em outras, oporem-se.
Numa visão geral, Elohim são deuses móveis, enquanto Yavé mostra-se uma divindade
fixa sobre outros deuses, a monolatria, que aos poucos se transforma em figura monoteísta, deus único, como nacional evoluído do tribal, para posteriormente firmar-se como
deus de todas as nações.
Em Gênesis l:l-4, Elohim movia-se sobre as águas, quando o caos, a solidão e as trevas
eram reinantes no planeta; em Gênesis 2: 4-6, Yavé tem o elemento árido em sua criação.
Ambos geram a terra, Elohim em seis períodos, dias sempre tarde e manhã, evolutivos,
sem notórias contradições com as ciências, senão pelo fator criacionista; Elohim fez o
homem e a mulher num só tempo, sem referência alguma ao Jardim do Éden, proibições
ou atos punitivos. Já Yavé, invertendo a ordem natural das coisas, cria o homem antes
de tudo, e o chama Adão, para então formar um jardim denominado de Éden, impor
proibições, fazer animais e aves para, em seguida, do homem formar a mulher sem lhe
dar nome imediato.
A criação Elohista está para o homem como que para justificar ou explicar seu universo,
configurado em lendas e mitos conforme as crenças difundidas, desde os princípios da
civilização. Tão ao contrário Yavé tem o homem como sua primícia que, decaído, necessita de uma pronta ação, com os contrastes da condenação hereditária e a promessa
salvacionista, a ordenar, assim, a instituição ou exigência religiosa para um povo elegido, conforme dito, prováveis ascendentes ou descendentes do transcritor.
Yavé, desde o início, colocou a necessidade e exclusividade de culto, não importando
em igualar-se ao homem – um deus antropomorfo, ao mesmo tempo em que eleva o
homem à condição de deus: vós sois deuses.
O livro Gênesis é, antes de tudo, uma coletânea de lendas, onde se procura à exaustão
adaptá-las à formação de um povo necessitado de deus exclusivo. O excesso de zelo, em
demonstrar a superioridade de um deus próprio, é tão notória que os copistas perderamse nas exposições, contradizendo-se; em Yavé se vê o criador e a criatura num primeiro
ensaio, com os judeus procurando tornar mais humanas as divindades abstratas; não
podendo chegar a deus, trazem-no até si, sem hesitações de diminuir o homem, para que
se tenha lugar a presença ou a ação divina.
Assim é a queda do homem e conseqüente expulsão do Éden paradisíaco, cujas narrativas, além da hebraica, são citadas em todas as lendas e tradições da antiguidade, com
uma proximidade tal, que é possível justapô-las e até fundi-las, sem prejuízos de entendimentos. O relato bíblico é apenas versão recente e adaptada.
Após a queda, na citação Yaveísta, foi que Adão denominou a mulher pelo nome Eva.
Nisto é necessário destacar que Elohim criou o homem e a mulher, conjuntamente, sem
denominá-los individualmente (Gênesis l: 27), senão por homem (Adão) – gênero humano (Gênesis 5: 2); Yavé criou o homem sem um nome próprio (Gênesis 2. 7) e sem
a mulher que somente veio a ser criada no versículo 22 do capítulo 2 do mesmo livro,
que traz no verso 25, pela primeira vez, o nome de Adão – quando o designativo homem, quando Adão tornou-se nome próprio. No verso 23 do mesmo capítulo 2, Adão
denominou sua companheira de mulher – is’sa – enquanto seu próprio nome seria – is’
com significados de distinção sexual, do macho e fêmea.
A palavra adão em hebraico designa a natureza, origem, no caso a terra (barro) vermelha (o). No capítulo 5: 2 da Gênesis, conforme vista, Elohim cria-os, macho e fêmea (is’
e is’a - respectivamente) denominando-os de homem – gênero humano [Adão – Adima].
Nestas exposições são identificados mais de dois autores bíblicos distintos, alguns apontam para quatro, com os textos sacerdotais e aqueles entremeados pelos copistas não
identificados.
O que significam Adão e Eva dentro do contexto bíblico?
Adam (Adima) – terra vermelha ou barro – como designativo de origem, unindo a is’
(Adamís) para determina o homem da terra vermelha ou que veio (local de origem) de
um lugar onde a terra é vermelha.
À primeira vista, considerando que os gregos denominavam os fenícios de vermelho –
phoinos, de pronto se poderia concluir que Adão [tribo] fosse originário daquele povo
ou o próprio. Para alguns estudiosos, Adão já entra num contexto histórico formado que
antecede aos fenícios, e que foi colocado numa terra preparada para ele, isto é, que tomou, conquistou, pela vontade dos deuses, determinada região, numa linguagem bíblica
igual quando os hebreus em terras palestinas [Gênesis l2 e Êxodo 3].
No Adão bíblico identifica-se Adapa – o herói acadiano adaptado de lenda sumer, personagens demais semelhantes. Adão ou Adapa seria, desta forma, a representação do
povo sumeriano que chegou à região da Mesopotâmia, com uma língua incomum aos
demais povos da região, mas muito próxima ao drávido, na Índia, então seu local étnico
onde conhecido por Adima.
-Adapa seria colocado, também, em lenda babilônica análoga a Gênesis.
As lendas se misturam: lá na Índia o povo Adima foi unido ao Heva [Hevakin] antes de
chegar à Mesopotâmia, onde Adima se transforma em Adapa, ou seja, o povo que chegou para conquistar o Crescente Fértil, dominando grupos nômades da tribo egípcia Xex
[Exa – depois Eva] que por lá perambulavam, assim a originar uma segunda versão para
o mito bíblico Adão e Eva.
Com referência ao Éden (campo fértil ou planície, na língua sumer), alguns estudiosos
tentam localizá-lo geograficamente na Armênia ou em atual Iraque, entre os rios Tigre e
Eufrates, existindo, contudo, opiniões divergentes, em razão das citações dos rios Gion
da terra de Cush e Fison em Hevilá, para os quais a Bíblia menciona duas localidades
distin-tas, sendo uma africana e outra asiática, conforme Gênesis 10:7-8 e 29. A isto,
leva-se a crer que a região conquistada fora batizada pelo nome Éden, com certeza em
memória referente a um outro lugar, de onde vieram os de Adão e Heva, que os sumerianos fizeram incorporar em lendas locais.
Desconsiderando estudos que trazem o Éden apenas como algo espiritual (Paraíso Celeste), cabem referências ao local como possessão fenícia, por citação bíblica em Ezequiel 28, porem sem precisá-lo quanto sua localização.
Realmente, naquele capítulo de Ezequiel, versos 13 e 14, se pode identificar o fenício
como o criado e colocado no Jardim do Éden, e que de lá foi expulso – perda do Paraíso, o que vem corroborar lendas fenícias, que tem em seu herói mitológico, Cadmo
(Hadamo), tribo que habitou uma possessão semita que lhe foi prometida [dada] – do
hebraico Sheva [juramento, jurada], com isso uma outra versão do casal Adão e Eva,
provavelmente antes de incorporar outras diversas culturas e tradições, inclusive na hebréia de acordo com o livro de Gênesis.
-Particular interpretação bíblica, conforme entendimento dos versos 11 ao 19, justaposta às lendas fenícias, se pode salientar que estudiosos bíblicos não têm, ainda hoje,
entendimento textual do capítulo 28 de Ezequiel, exceto sua divisão em três profecias
para Tiro e uma para Sidon, por diferentes autores.
Das tantas lendas a respeito de Adão e Eva tomamos Adapa – o Adão sumero-acadiobabilônico, porque mais próximo com outras lendas inseridas na Gênesis bíblica, já a
partir da dominação dos grupos nômades da tribo egípcia Xex, na região da Mesopotâmia. Historicamente Xex seria esposa do primeiro faraó egípcio Menés, isto é, que o
faraó tomou – desposou uma mulher, para esposa, da tribo Xex.
A nosso juízo, as palavras bíblicas em Gênesis 2:2l-22 quanto a Eva tirada da costela de
Adão durante sono profundo, outro significado não têm a não ser que um povo coadjutor a outro (tirado da costela) com ganho de relativa autonomia; enquanto que o sono
profundo refere-se a certo desleixo ou excesso de confiança do povo dominador em
relação ao dominado.
Realmente os domínios, cultural, político, social e religioso dos dominadores em relação a Xex, não foram suficientemente fortes para evitar aproximação inimiga através de
alguma tribo Xex guardiã de fronteiras, com isso a facilitação invasora, situação observável no quadro em que a serpente tenta a mulher, onde os tradutores ou os copistas
com certeza enganaram-se quanto a palavra nâhâsch em vez de nâhàsch, a primeira com
significado de o que cultua ou quem faz encantamentos usando cultos ofilátricos, enquanto a outra palavra traduz-se por serpente conforme está na Bíblia.
-Há similitude nesta lenda com aquela vista na Índia.
Diversos povos da antiguidade eram dados aos cultos zoolátricos, em especial às serpentes – ofiolatria, a exemplos dos povos egípcios, acadianos e amoritas.
O culto à Grande Deusa Serpente, com seus atributos de proteção, de cura e de morte foi
introduzido na Mesopotâmia pelos acadianos – grupos nômades do sul da Síria que tiveram entrada facilitada ao norte do território sumeriano para, aos poucos, dominar as
cidades-estado até assumir controle total da região em substituição aos sumérios.
Os acadianos vencedores assimilaram a cultura dos vencidos e, quanto à forma religiosa
principal, associaram a sua Deusa Serpente à divindade lunar [Shinar – Sinnu] sumeriana para, assim, associar a serpente ao caráter lunar – símbolo da regeneração. Shinar
tornou-se deidade feminina.
Os acadianos foram os tentadores de Eva, com as conseqüentes expulsões dos dominadores daquelas paragens, cujas fronteiras passaram a ser guardadas pelos querubins (hebraico: Keroub ou Cheroub, com significado de boi), ou seja, soldados que usavam capacetes com cornos.
-Mais tarde os amoritas – chamados velhos babilônios, venceram os acadianos para a
instauração de um novo governo mesopotâmico, que ganhou notoriedade com Gilgamesh, o herói épico babilônio.
Dentre as lendas babilônicas destaca-se a divindade assíria Lilu [o lado escuro da lua] –
com sua serpente instalada na árvore tabu do Paraíso, a significar invasão dos assírios
aos babilônios, o que levou a deusa Shinar pedir a Gilgamesh a expulsão de Lilu, aparentemente com êxito pelo recuo dos invasores. Os assírios retornaram e destronaram os
babilônios e Lilu se torna Lilith.
Os sumerianos subjugados e escravizados pelos acadianos foram habitar o território de
Canit [adquirido], região sob a vigilância caimita que Gênesis 4:17 informa povo sedentário, pois Caim era: vâiêhi boné, ou seja, construtor de cidades.
Numa determinada época surgiu o invasor ária – tribos de Abel [Bel – Bal, nomes líbios
correspondentes a Abel] detido pelos acadianos das tribos de Caim, originando a lenda
Caim matou Abel. O sentimento favorável a Abel, pelos relatos bíblicos, mostra as dificuldades dos remanescentes sumerianos em regime de escravidão, que viam os de Abel
como seus libertadores.
Mais ou menos no mesmo período os Acadianos conquistaram tribos pré-semitas que
foram postas subjugadas em terras caimitas. Aos novos aprisionados se denominou Set
– o que [aquele que] foi dado.
-Historicamente os principais dos acadianos se relacionaram com setistas, tanto que
nos últimos tempos de Acádia os governantes era chamados Acadianos Semitas.
A despeito da variante colocada tardiamente na Gênesis, de que Caim fugiu da presença de Deus após o primeiro homicídio, a ocorrência parece ter sido outra, pois que as
genealogias bíblicas de Caim e Set têm nomes comuns entre si, o que bem evidencia
miscigenações. A saída (fuga) de Caim teria ocorrido com a invasão dos Guti que venceram os acadianos para formar assim formar um novo governo
A dinastia Setista perdurou até os dias de Noé e, através de Sem deu origem certa ao
povo semita do qual saiu do qual saíram as tribos de Abraão e Ló. Evidentemente os
primeiros escritores bíblicos, semitas por Set, denominaram seus antepassados como
Filhos dos Deuses que se enamoraram das filhas dos homens [de Caim] e com elas geraram filhos, que foram os gigantes e os heróis da antiguidade.
No capítulo 6 da Gênesis, os Setistas sobrevivem à guerras diluvianas [abundantíssimas] na Mesopotâmia, pondo-se a salvo nas montanhas armênias através de Noé [designativo tribal].
Os épicos não são originariamente hebreus, apenas adaptações das extraordinárias lendas sumero-acadiana-babilônicas e depois as assírias – aqui cognominados elementos
mesopotâmicos, sempre com alguma figura mítica a salvo, independentemente das origens, com seus pertences, diante de catástrofes de guerras ou de fenômenos naturais,
tanto uma como a outra identificada por inundações (vagas – chegadas de conquistadores, em larga escala), enquanto os sobreviventes, fugitivos, saem com suas arcas, isto é,
com os seus, pondo-se a salvos.
Nos relatos sobre o dilúvio e seus efeitos, capítulos de 6 a 9 de Gênesis, percebem-se
entrelaçamentos de lendas distintas, com repetições e contradições, avançando-se até o
capítulo 11:9 com literaturas compostas de elementos mesopotâmicos, com alternâncias
entre as divindades Elohim e Yavé, sendo que este se faz prevalecer junto ao povo denomi-nado de Tera, com domínio sobre Arã – arameus; sobre Nabor – os naobitas que
nos versos 22 do mesmo capítulo, era de Serug, no verso 23 dominou Tera e por este foi
dominado no versículo 26; e a Abrão do qual os hebreus se formaram.
-Quanto ao dilúvio bíblico segundo Gênesis, não se tem comprovação científica para a
época – 3852 AEC, embora a Ciência admita ocorrência similar regional por volta de
7500 AEC.
A terra, em seu todo, segundo estudiosos, sofreu diversos dilúvios, de grandes montas,
porém regionalizados, especialmente no período de 15 a 9 mil anos passados; alguns
biblistas e atlantólogos trazem este período até por volta de 3500 AEC destacando que o
homem antigo testemunhou alguns destes acontecimentos, dos quais fizeram-se registros e a humanidade guardou em suas lembranças, originando-se, então, as lendas dos
sobreviventes.
Noé [alívio – consolo] é uma figura [personagem] com paralelismos em diferentes culturas em muitas regiões da terra. Onde existiram comunidades, aconteceram as lendas,
determinando o pressuposto de que algum povo anterior, em algum lugar, tenha realmente participado de possível acontecimento diluviano.
Porem, muito maior que a participação ou não de Noé num dilúvio, é a descrição bíblica de seus descendentes identificada com os povos da antiguidade, praticamente todos descritos no capítulo 10 da Gênesis, a caber destaques para o versículo 21, onde
aparece a tribo de Heber, filho de Salá e neto de Arfaxad, que é filho de Sem, o primogênito de Noé.
Foi desta tribo de Heber que surgiu Abrão, depois Abraão, o patriarca do povo israe-lita
(judeu). Do antigo hebraico, aramaico e hebraico helenizado, têm-se os designativos
Ibris, Habiru e Haber, respectivamente, com a corruptela Habaran, com significados de
um povo além do rio.
Como denominativos raciais, Heber e Heberons, a tender para as corruptelas hebraicas
de Hebreus e Abrãos, destacam os descendentes do personagem bíblico Heber.
Seja qual for a origem correta de Hebreu, o mesmo é nominativo de um povo (tribo),
cujas origens bíblicas apontam para as planícies da Mesopotâmia, conhecidos como
Semitas de Acádia, pelos setistas e miscigenados, sedentário na região.
Por volta do ano 2000 AEC [datação incerta entre 2200 e 1728], a tribo semítica dos
Ibrim, onde Abrão um nome ou apelido coletivo, deixa a Mesopotâmia durante crise de
domínios dos Caldeus, Sumérios e Babilônios, numa migração até às margens do Mar
Vermelho e às divisas com o Egito, numa região denominada Palestina.
Antes da fixação na Palestina, os hebreus, como nômades pelas regiões, tiveram contatos com outros povos, com influências mútuas, cabendo atenções a certa tribo egípcia,
Agar (Agarab ou Arab); desta mestiçagem surgiram os árabes atuais – Ismaelitas – Gênesis 25: 11 e referências, inclusive as duplicadas, que ganhou independência dos hebreus, quando da ascensão de Isac – filho de Abrão com Sara –, na realidade um chefe
tribal.
Fixos na Palestina, os hebreus tiveram uma cisão, separando-se em duas tribos: os Edomitas (Idumeus) descendentes bíblicos de Esaú – Gênesis 36 – que se estabeleceram
nas montanhas de Seir (região sul de Moabe e Mar Morto e, ainda Golfo de Ácaba); e a
tribo de Israel, fixada nos limites ao Norte com a Síria e Fenícia, com partes da Síria e
deserto Arábico ao leste, ao sul com a Arábia, e ao oeste com o Mar Mediterrâneo, não
sem antes, porem, um retorno à Mesopotâmia – Gênesis 27: 46 ao capítulo 32. As fron-
teiras identificadas, sofriam modificações variáveis, resultantes de conquistas ou perdas
territoriais.
Sob o governo de Jacó (depois Israel), uma de suas tribos, José, foi aprisionada / conquistada pelos Árabes (Ismaelitas) e levada cativa ao Egito; pelo texto bíblico, José foi
vendido por seus irmãos a uns mercadores Ismaelitas, que o entregou como escravo aos
egípcios. A descrição pressupõe uma guerra entre tribos irmãs.
Com o domínio do povo Hicso – de provável origem semita, José (tribo escravizada)
passou a gozar de certas regalias, possivelmente pelos possíveis laços parentescos. Como nação próspera, o Egito sob governo dos hicsos, acolheu os hebreus (do patriarca
Jacó), massacrados pelas guerras regionais e fome generalizada na Palestina, passando a
viver no Egito com relativa liberdade por quase quinhentos anos.
Expulsos os hicsos, os egípcios voltaram-se contra os hebreus [israelitas] que deixa-ram
o país, retornando à Palestina, numa saga bíblica de quarenta anos, eivada de epopéias,
até a tomada e fixação no território.
Em toda historicidade e lendas sobre o povo hebreu, a religiosidade Unicista destaca-se,
onde Yavé (YHWH), o tonante Sló guerreiro, ao suplanta definitivamente Elohim, tende para um sistema político Teocrático. Yavé fez-se progressivamente humanizado, com
características e atributos aquisicionados e trabalhados para os desejos de uma justiça
universal, ou seja, uma idéia expansionista do povo hebreu.
Nestes aspectos, sempre na mesma linha de pensamento de Félicien, a evolução de Yavé dissocia-se das considerações estritamente nacionais para, em aproximadamente 700
a.C., sustentar a justiça divina como superior às práticas de cultos. No século VI a.C.
Yavé começa a conclamar, pelos profetas e vasos (pessoas levantadas ou escolhidas por
Deus para alguma obra), sua universalidade, o deus da humanidade e não apenas dos
hebreus, idéias essas das qual o Cristianismo viria, no futuro, tirar grandes proveitos.
Ainda que distante do judaísmo pós-mosaico, a religiosidade hebréia já se distanciava
de politeísmo da época de Abrão e, após estadia no Egito, onde deixaram de ser imigrantes para tornarem-se minoria perseguida e escravizada, a trajetória dos hebreus afasta-se das lendas para tornar-se história (citação Nações do Mundo / Israel).
As tribos que compunham os hebreus compreendiam a união como vantagem, tornandose nação monárquica, avançando fronteiras em nome de Yavé; Israel deixa de ser os
hebreus pastores nômades, para uma efetiva fixação territorial, dedicando-se à terra e à
guerra.
Gradativamente, depois da saída do Egito, o povo unificando costumes por Leis [Decálogo], em rejeição às coisas antigas, retorna à Canaã para lá, então, edificar uma nação
santificada. É nesta fase que se separam as fases pré e pós-mosáica.
A progressividade de Yavé se faz surpreendente junto ao povo hebreu, nas considerações de que Jacó, quando de sua estadia na Mesopotâmia, vinha carregado de deuses,
alguns modificados ao longo da peregrinação. Sente-se que foi na Cananéia, neste retorno, que o culto a Elohim (deuses) passou para Há-Elohim (soberano dos deuses), depois
para Há-Adon (Adonai – senhor, deus maior), indo para Há-Elim (criadores ou da natureza, caindo para o singular Há-El – criador).
A efetiva supremacia de Yavé é colocada em Deuteronômio 10: 17, excluindo os deuses
menores, absorvendo-lhes os títulos, sendo então o Adonai, Abba (Pai), Eloá (Deus -
singular), a exemplos. O livro mencionado é Sacerdotal, escrito entre os séculos IV e II,
não havendo registros anteriores ao período.
É deste Yavé, devidamente universalizado, que se serve o cristianismo para suas pregações.Yavé não é mais aquele dentre os deuses violentos e cheios de contrastes, que incitavam o homem às práticas erradas: roubos, adultérios, assassinatos, guerras e penas de
morte. Ele torna-se um deus santo, porém complacente, preocupado com a moralidade e
o bem viver, um deus redentorista e misericordioso que não temeu humanizar-se, através do Cristo.
DA REAL EXISTÊNCIA DE DEUS
Não se trata de algum deus, figura religiosa comum a todas as culturas, com mitos e
lendas. A esse deus religioso poder-se-ia, sem dúvidas afirmar que ele foi criado à imagem e semelhança do homem, por certo um clã poderoso humanamente divinizado, com
seus espíritos sagrados, com suas forças sobrenaturais.
Importa no presente estudo a força geradora de todo o incomensurável universo conforme conhecido, eterno desde sempre e que para sempre o será. É um universo de princípios inteligentes – o homem assim o concebe regido por leis de causas e efeitos, em
inumeráveis combinações, destruindo e criando sempre, sem cessar.
Tudo nele é fluído energético invisível, a preencher o espaço cósmico, de plasma, o
quarto estado da matéria, onde a materialidade existente é apenas uma pequena exceção
que muito recentemente vem se formando, há algumas dezenas de bilhões de anos, talvez não mais que 15, da forma que o homem o conhece.
Se desse estado plasmático a materialidade está se formando, ou do qual se formou, é
porque houve uma ocorrência da energia transformar-se em massa, e isto não é teoricamente anticientífico, fundamentando-se em Einstein e sua teoria da relatividade.
Também se a energia psíquica existe, ou ela é uma derivação energética advinda da força universal ou é a própria, esta energia existe no homem, comprovadamente, e se sobrepõe à matéria, formada no universo, com elementos dele, ouse, emanações de um
princípio inteligente.
Entenda-se: se esta energia – princípio inteligente age sobre a matéria, caminha através
dela e a ela se sobrepõe em todos os efeitos, ou ela é tomada de uma força maior geradora ou então volições daquela. Ainda que essa energia fosse produzida única e exclusivamente pela química cerebral ou dos disparos dos neurônios, nem por isso deixaria de
pertencer ao universo e dele fazer parte.
Sabidamente, essa energia é uma força que se integra ao homem, tornando-o dife-rente
e especial, com elemento homificador, trazendo personalidade distinta e inde-pendente,
com respectivos atributos, princípios e faculdades, evolutivas no homem, por excelência, que não perece com a morte física determinada; antes sim, retorna ao ponto de onde
saiu, mantendo – plena consciência de seu todo, acrescida das experiências adquiridas
na existência carnal.
Ora, o corpo físico é descendente de antepassados e geneticamente determinado, porem
não existe apenas por eles e sim em função do universo que lhe deu a galáxia, o sol e a
terra com todos os seus componentes ideais ao surgimento da vida, pois que sem essas
somatórias nada existiria (Félicien Challaye); então, existe uma energia-consciência
como força geradora.
Essa Energia-Consciência é, com certeza científica, uma fonte de energia ilimitada em
força e grandeza, a trazer em si todos os componentes de matérias primas como substância cósmica e, portanto, universal; algo existente por si, desde sempre, a quem não se
pode determinar origem, até nova ordem.
Ela, energia-consciência, simplesmente existe e em tudo determina um ciclo de vida:
surgimento, criação, amadurecimento, morte e renascimento, como processos dinâmicos, contínuos e evolutivos.
Na equação de Einstein: E = m c2, tanto a energia pode produzir a matéria quanto esta
se fazer energia; e estudiosos indicam que a exceção física, materializada do todo universal, composta com as mais elementares partículas da condensação da energia. E essa
primariedade materializada, traz em si algo de aproximadamente cem bilhões de galáxias, até novas descobertas ou efetivação de números, agrupadas em pelo menos vinte
aglomerados, possuindo cada uma delas, bilhões e dezenas de bilhões de estrelas, umas
e outras estimadas em torno de quatrocentos bilhões; estas galáxias acham-se separadas
uma das outras a uma distância média de um milhão de anos luz.
A Via Láctea, demonstrada por Bart J Bok (A Via Láctea, na obra A Nova Astronomia – A Nossa Galáxia I, publicação pela IBRASA, 1959), tem cem bilhões de estrelas, sendo necessários cem mil anos luz para atravessá-la, na velocidade da luz, um modesto diâmetro calculado em novecentos e cinqüenta quatrilhões de Km.
Não é necessário, para este trabalho, avançar em tão astronômicas observações, em razão dos objetivos propostos, pois que as grandezas aí estão incontestáveis, longe de uma
estabilidade.
Nisso tudo o universo não se acha uniformemente distribuído, e muito menos se constitui num reino de calmaria, antes sim, apresenta-se tremendamente turbulento, com terríveis perturbações magnéticas, vibrações eletromagnéticas, revoluções de corpos, constantes nascimentos e mortes sem fim, hoje expansionista, mas talvez amanhã, daqui há
bilhões de anos, entre num processo de comprimir-se, para depois novamente, dilatarse.
O nascido russo George Gamov, catedrático de física teórica na Universidade de Washington – DC / EUA, afirma que sem a turbulência cósmica nada do que se conhece no
universo, seria como é, e nada haveria do que existe (Turbulência no Espaço, na obra
A Nova Astronomia / Forma Dinâmica do Espaço II).
Para o universo ser como está, são necessários ordenamentos interativos de todas as
agitações, atrações e repulsas para organizações dos mundos, onde os mais simples átomos de materialidades têm que obedecer a direções inequívocas de percurso, e não
tender para estabilidades senão das precisões matemáticas que se ajustam inteligentemente, para que seja regida a ordem no caos; se não fosse assim, nada seria assim –
provérbio simplista ao mesmo tempo em que profundo.
Existem coerências nas disposições cósmicas estabelecidas, nas precisões matemáticas,
nas leis físicas definidas, nos trajetos astronômicos e nas forças operacionais contínuas,
com destruições e formações, além dos muitos outros e mais. Pode ser tudo isto e os
quantos mais conseqüências de uma explosão big-bang?
Se tudo fosse assim simples, ter-se-ia de questionar o antes do big-bang; mesmo partindo dele, pois que haveria um único caminho, na e após desordens e caos iniciais, que é a
estabilização mais ou menos imediata, numa situação em que as leis não se estabeleceriam e muito menos as precisões e turbulências, onde tudo se faria estático, inanimado e
com tendências à decomposição.
Mas não é isso o que se verifica: explosões continuam e para sempre continuarão, com
mundos que se caçam e outros que se formam complexos vibratórios, interativos e interreativos, da matéria na antimatéria, ou desta naquela, em dinâmicas e contínuas transformações de energias em massas e massas em energias, de onde, nascendo matéria de
energia por condensação, evoluem-se condições em revivências, tantas quantas necessárias, porem jamais idênticas, para o abrigo da vida, como o homem a concebe, embora
não necessariamente porque, a própria razão de acontecer é, por si, vida em cujo vértice
manifesta-se a consciência energia.
Estas existências no universo, estabelecidas em leis cujos valores são precisos, nos ciclos bilenares ou eternos, em que o universo sempre caminha, a Via Láctea fazendo seu
percurso, o sol sempre no seu curso e, neste, a terra em seu destino, voando espaço afora
numa velocidade média de cento e sete mil quilômetros por hora, com todos seus movimentos, oscilatórios, rotatórios, translatórios e ondulatórios entre outros, estritamente
dentro dos ordenamentos matemáticos, princípio da Lei de Bode, sem jamais passar
pelo mesmo lugar uma única vez, mas sempre a seguir seu caminho.
Concebe-se, então: No princípio era a Energia-consciente, pois, que de outra maneira
seria?
Dessa Energia-Consciência, partículas luminosas são geradas, com uma energia de tremenda grandeza que por si mesmo se capturam em gravitação, princípios determinados,
ordenados e inteligentemente direcionados no cosmos, no éter, no plasma, ou no grande
abismo, para surgir luz.
Haja luz. E houve luz – Gênesis Bíblica – e a foto-química se fez presente. Fótons no
espaço vazio, reações químicas de luz, onde os prótons e elétrons, como subpartículas
atômicas a se atraírem, originando átomos de hidrogênio que formam nuvens flutuantes
de átomos que, em se reunindo, tornam-se coesas como nuvens de gazes e pó.
As gigantescas nuvens se encontram e as nebulosas acontecem: a força da gravidade
comprime os átomos, provocando um super aquecimento.
São violentas colisões atômicas, as primeiras explosões dos átomos de hidrogênio, surgindo o plasma das partes positivas e negativas, cujos fluxos dessas reações, quando
amortecidos evidenciam, dois gazes distintos: um de prótons e outro de elétrons, ressaltados ente si. A compressão gravitacional traz como conseqüência o aumento considerável da temperatura que, ao entrar no ponto crítico, provoca esmagamento dos prótons,
fundindo-os em combinações diversas, formando novos gases, as estrelas.
O equilíbrio das forças, centrífugas e centrípetas, dentro de uma explosão termonuclear, estabelece uma força gravitacional que atrai para o centro dos resíduos da explosão; as dimensões estabilizam-se quando a gravidade se torna superior à pressão da
luz.
Formam-se as galáxias, umas com quantidades maiores de gazes e poeiras, enquanto
outras se fazem em proporções menores, denominadas de espirais e elípticas, respecti-
vamente. No interior das primeiras, dado incríveis movimentos, colapsos, outras estrelas
se formam.
Este big-bang inicial, quem sabe advindo de um big-crunch, hipótese já admitida por
alguns especialistas, ou ainda no seu primeiro princípio como querem outros, continua
até os dias atuais e para sempre continuará, expandindo-se ou não, encolhendo-se ou
também não, ele continuará sua marcha por toda a eternidade.
Dos seus corpos produzidos, forma-se a separação entre os fótons e a matéria propriamente dita, estabelecendo-se campos energéticos que atuam como núcleo de condensação, separando as grandes galáxias.
Cada galáxia é uma história e cada estrela terá a sua, um princípio e um fim na eternidade dos tempos, sendo o fim a origem de outros começos. Do colapso de uma estrela e
sua conseqüente explosão, criam-se ou formam detritos.
Compreende-se, então, o princípio: a energia-consciente a gerar luz, desta surge partículas atômicas, de onde advêm os gases e as poeiras cósmicas que formam as estrelas, de
cujos aglomerados acontecem galáxias. Das grandes explosões estelares formam-se os
planetas e outros corpos.
Assim foi com a Via Láctea, a formação do sol e o surgimento de seus planetas com as
demais extensões; compreendem-se aqui os dizeres de Allan Kardec na sua Gênese: a
matéria cósmica primitiva encerra os elementos materiais, fluídicos e vitais a todos os
universos.
Depois, no decorrer de centenas de milhões de anos o universo vai definindo suas formas, sempre em ritmo expansionista, com novos mundos que surgem e aqueles que desaparecem, condições necessárias para a sobrevivência dos que ficam ou nas formações
de outros, por rotina e eternidade dos tempos. Do universo nada se perde, tudo se transforma, ou um buraco negro a massacrar e engolir mundos – matéria para, quem sabe, de
seu outro lado, gerar um universo diferente, de antimatéria.
Contempla-se o sol, razoavelmente jovem se comparado a outros sóis, irradiante como
uma estrela que é, com temperatura suficiente para reações nucleares entre os gases,
gerando planetas, em seus tempos de infância, entre os quais a terra.
É uma visão mágica, presenciar o nascimento da terra e esta buscando sua identidade na
imensidão do universo, formada de detritos deste mesmo universo, e que a ele se reverterá, um dia, na mesma forma de detritos.
A terra recém surgida, tal como criança cambaleante a procura do braço materno, rodeia
o sol em ritmos descompassados, buscando afirmação, totalmente dependente de seu
gerador e mantenedor.
Há quase cinco bilhões de anos, e a terra estava em formação, com os evidentes traços
de origem, uma matéria ígnea e disforme, com um núcleo central revestido de matéria
condensada, enfrentando terríveis turbilhões, choques inevitáveis de outros corpos celestes, girando em torno do sol e de sua geratriz, como um imenso esferóide,
Das grandes convulsões experimentadas pela terra, originada pelas suas próprias energias aliadas às recebidas do, então, jovem sol, que provocam combinações químicas dos
elementos simples, formando os compostos.
Enfrentando processo de resfriamento, a terra foi obtendo solidificação de sua crosta.
Com a irradiação de seu calor, aos poucos, foi se esfriando em sua superfície, formando
rochas de granito e outras como o protogênio, dos aglomerados de quartzo, feldspato,
schorl preto, talco e a mica – Teoria de Couvier, por Césare Cantú, História Universal.
Densos vapores encobriam a face da terra, dando a ela uma espécie de total escuridão,
com uma crosta ainda não totalmente solidificada, deixando escorrer o magma por entre
as fendas..
Das múltiplas combinações, da matéria incandescente, do esfriamento gradual, surgia a
água em forma de vapor, quando não trazida por cometas primitivos em choques com a
terra, onde o ar ou atmosfera ainda impróprio à vida; todas as matérias hoje conhecidas
e aquelas a descobrir certamente achavam-se nela, em estado volátil.
Dos corpos compostos forma-se a atmosfera: vapor de água como combinação de hidrogênio com oxigênio; do carbono com o hidrogênio surge o metano; nitrogênio e hidrogênio trazem amônia; enquanto oxigênio e carbono produzem o dióxido de carbono.
Da atmosfera primitiva, via-se uma abóbada d’água de imensas proporções, a circundar
a terra, como que a protegê-la dos raios solares.
O resfriamento da terra dura quinhentos milhões de anos, e ali já estão os escudos, as
placas rochosas, unidos em toda extensão o globo, marcados por imensas fossas / fendas, em constantes choques e soerguimentos múltiplos com uma atmosfera ainda primitiva e o cinturão de águas condensadas como escudo protetor.
Corpos celestes avariados chegando à superfície, os raios cósmicos vencendo as trevas e
incidindo na abóbada, rompe-se então o grande cinturão e as águas inundam a terra,
preenchendo as fendas, arrastando de sobre a superfície elementos compostos, sais minerais, formando rios, lagos e oceanos.
Com a incidência maior das radiações solares, em sua projeção então total, denominadas
de eletromagnéticas, das descargas atmosféricas agindo sobre elementos compostos,
provocam combinações variadas, originando os aminoácidos, ou seja, as primeiras moléculas orgânicas que, com as chuvas, eram arrastadas aos oceanos ainda quentes, onde
eram protegidas dos raios ultravioletas mas, seguidamente bombardeadas por aquelas
energias eletromagnéticas e da própria terra.
As moléculas acumuladas nos oceanos agrupam-se com as múltiplas combinações, ora
se a se repelirem, se subdividindo e por outras se unindo novamente e agregadas por
outros novos componentes; deste jogo surgem capacidades de reproduções variadas,
estando ou entrando em ação os ácidos desoxirribonucléicos, surgindo nas águas os pólipos, trilóbitos, moluscos, mandríporas, algas, liquens, musgos e fetos, alimentando-se
dos raios solares e sais minerais.
Vêm a fotossíntese, os carboidratos, a liberação de oxigênio pelos primeiros vegetais,
que servem de alimentos aos animais marinhos, que assimilam o carbono dos carboidratos, liberando dióxido de carbono para os vegetais.
O oxigênio excedente, pelas condições amplamente favoráveis, transforma-se em ozona,
formando uma camada em torno da terra, impedindo a penetração violenta dos mortíferos raios ultravioletas.
De processos de balanceamentos da terra, levantamentos e rebaixamentos de rochas em
choques com corpos celestes, tremores de terra e maremotos gigantescos, projetam na
superfície terrestre algumas formas de vida, que sofrem adaptações, sob pena de morte;
alguns dos primeiros animais e vegetais marinhos adequam-se à superfície onde, sob
uma nova dinâmica estrutural, em diversidades de situações climáticas, atmosféricas e
cósmicas, evoluem para espécies diferentes.
A terra transforma-se num imenso laboratório de seres vivos, como origens das espécies, até mesmo dando boas vindas às que chegavam oriundas de outros locais do universo, trazidas pelos corpos celestes. O planeta ainda é jovem, suas variações são sucessivas, os agitamentos constantes, mutações climáticas, chuvas abundantes, superfície
sempre bombardeada pelas coisas que vinham dos céus; combinações moleculares ainda
acontecem, onde algumas se associam às complexas já existentes, numa época em que
as proteções quanto aos raios solares e cósmicos ainda não eram tão estáveis e seguras.
Tudo isto favorece ao gigantismo das espécies, surgindo os grandes monstros marinhos,
os grandes anfíbios, e as enormes florestas, contudo sempre dentro de uns ciclos mais
ou menos rápidos, dados às instabilidades então reinantes, mas que transmitem aos descendentes futuros, capacidades de adaptações ao meio. A crosta terrestre avoluma-se
com restos de vida, ganhando novas consistências, propiciando novas condições de vida
em evolução.
Na Era Mesozóica, durante os períodos do Jurássico e Triássico, os continentes eram
um só bloco, por isso o nome Pangéia, ou seja, Pan – único e Geia – bloco de terra, homenagem mitológica grega à união de Pan – o alegre deus da fertilidade, com a jovial
deusa Geia [Gaia] – a personificação da terra.
-Estudos vistos em Razias (...) – A América muito antes da própria história, de Celso
Prado, http://www.satoprado.com.
Quase nada se sabe da Pangéia, senão que a vida era lá uma estupenda realidade, o
mundo opaco deixara de existir, as trevas alternavam-se com a luz, noite e dia, embora a
estabilidade ainda longe das definições que hoje conhecemos. Em seus valos corriam os
rios, os lagos fixavam-se, e as grandes transformações prosseguiam em condições precárias e instáveis que levavam às extinções grandes levas de seres viventes, animais e
vegetais, ineptos às céleres transformações naturais e desastres, quando não provocavam
mutações em outras formas de vida ou espécies; como os grandes répteis voadores, terrestres e aquáticos, evoluídos dos anfíbios, dominantes depois de milhares de anos até o
surgimento de alguns primeiros mamíferos lacustres, tipos que internamente eclodiam
seus ovos, alimentavam e protegiam suas crias.
Por volta de 200 milhões de anos passados a Pangéia iniciou sua partilha, lenta e gradual, a carregar diferentes formas de vidas, que ainda prossegue nos dias atuais, conhecidos por Deriva Continental, fenômeno responsável pelas atuais disposições dos continentes.
Os milhões de anos se passaram e aquelas formas de vida, algumas evoluíram para as
diferentes e iguais espécies – outras intermediárias ou aparentadas, em lugares diversos
conforme nos atestam as classificações ora arranjadas pela Ciência.
As catástrofes imperantes e as causas e conseqüências das separações continentais, favoreciam melhor a sobrevivência dos animais pequenos, ora para esconderem-se ora
para saírem de lugares alagados ou esconderijos soterrados. O gigantismo lentamente
caminhava para uma extinção: seus ovos eram devorados por predadores menores e
mais ágeis, os continentes os levavam para lugares climaticamente inadequados.
Os grandes répteis não suportam a queda de um asteróide sobre a terra, no México atual
(oceano), há aproximadamente sessenta e cinco milhões de anos passados, que deixou
toda a terra sufocada por uma espécie de resíduos, por longo tempo, provocando extermínio total das grandes espécies, sobrevivendo as de portes menores.
Livre dos grandes répteis, em seus últimos milhões de anos, a terra se tornou mais segura, para se destacar tipos lemurídeos, dentre outros pequenos mamíferos, grupos que
abandonando a vida lacustre, tornam-se, graças às garras, excelentes trepadores, adquirindo características e habilidades diferentes de seus parentes. Vivendo em florestas,
alimentam-se exclusivamente de frutos, vermes, ovos e outros vegetais; aumentam de
tamanho e desenvolvem as patas dianteiras.
Os grupos trepadores se distinguem para evoluções diferentes, mutações e adapta-ções
ao meio; em regiões de florestas dizimadas, ou de escassez de alimentos, alguns daqueles animais voltam ao solo, tornando-se predadores de espécies menores e carniceiros,
desenvolvendo músculos faciais móveis, já andando semi-ereto; parece que já eram capazes de manuseio de artefatos grosseiros, batendo com paus, jogando pedras e atacando em bandos.
Eram múltiplos os cruzamentos entre os trepadores, os lacustres, terrestres e respectivos
descendentes, formando espécies, no decorrer de gerações sucessivas, com perceptíveis
modificações para definir espécies ancestrais, os protossímios, dos muito símios de hoje.
Os primatas, até segunda ordem, surgiram há 50 milhões de anos e os primeiros hominídeos não ultrapassam os 5 milhões, para uma seqüência evolucionista mais conhecida somente a partir do Australopitecus, com cerca de 2,5 milhões de anos, Homo Habilis 1,8 milhões [tido por ancestral direto dos humanos], Homo Erectus de 1 milhão,
passando por espécies paralelas, substituindo-as ou a elas não evolver para assim terminar no beco sem saída da evolução, por exemplo, o Homo Sapiens que chegou ao Neandertal – Homo Sapiens Neanderthalensis há 240 mil anos e extinto por volta de 30 mil
anos.
Cientistas australianos encontram em 2003, numa das cavernas de Ilha das Flores, Indonésia, restos de uma nova espécie humana batizada Homo Floresiensis, extinguida há
aproximadamente entre os 13 e 12 mil anos dizimados pelos australóides ou, pelas erupções vulcânicas – hipótese mais considerada. O Floresiense adulto, acredita-se, pouco ultrapassa 1 metro de altura, com o cérebro do tamanho do de um chimpanzé, e tinha
habilidades para fabricação de armas de caça e utilitários domésticos.
-Aparentemente o Florisiensis viveu naquela ilha entre os períodos de 95 e 12 mil anos,
eram coletores e caçadores de pequenos animais e do elefante anão. Não há parentesco
nem qualquer ligação genética com os pigmeus.
Pelas situações e características variadas do globo terrestre, para muitos estudiosos a
evolução daqueles animais aos ancestrais dos símios, e mesmo do homem, foi diversificada, isto é, não ocorreu apenas num lugar [África], e assim na Índia surge o Ramapithecus, na África o Propliopithecus, entre outros em variados e distantes meios, muitos
partindo para os becos sem saídas da evolução, outros absorvidos em miscigenações,
uns firmando espécies.
No entanto, a Ciência não aceita o difusionismo e, os primatas, até segunda ordem, surgiram há 50 milhões de anos e os primeiros hominídeos não ultrapassam os 5 milhões,
para uma seqüência evolucionista mais conhecida somente a partir do Australopitecus,
com cerca de 2,5 milhões de anos, Homo Habilis 1,8 milhões [tido por ancestral direto
dos humanos], Homo Erectus de 1 milhão, passando por espécies paralelas – Homo
Sapiens também 1 milhão de anos, substituindo-as ou a elas não evolver para assim
terminar no beco sem saída da evolução, por exemplo, o Homo Sapiens que chegou ao
Neanderthal – Homo Sapiens Neanderthalensis há 240 mil anos e extinto por volta de
30 mil anos.
-Paleontólogos referem que as definições e distinções de grupos, apontando para os
hominídeos, principiaram-se há mais ou menos cinquenta milhões de anos, e a vinte e
cinco os hominídeos – hominianos – eram, se inferiores aos homens atuais, consideravelmente superiores aos macacos, usando múltiplos artefatos manufaturados ou adaptados.
O Homo Sapiens, então, surgiu na África à cerca de 1 milhão de anos e lá iniciado sua
lenta migração rumo norte, quando uma brusca mutação genética em algumas de suas
hordas propiciou o surgimento do Sapiens-Sapiens, ainda na África, por diferentes padrões genéticos na humanidade atual, enquanto seus parentes já deixavam o continente
original e chegavam à Eurásia.
-Não havendo consenso algum a respeito dessa brusca mutação genética, ousamos pretender que o elemento causador tenha sido o encontro entre grupos Sapiens com o Habilis, para a formação Sapiens-sapiens, por volta de 150 mil anos.
Portanto, muito antes da era histórica civilizacional – 12 mil anos AEC, consonância
ainda distante, diversas linhagens hominianas e seus descendentes presumíveis ocupavam a África, Europa e Ásia, como o Pitecantropo, Atlantropo, Sinantropo e outros além do Neandertal. Nesta época, há 120 mil anos, a espécie humana Sapiens-sapiens
principiava em hordas ausentar-se do habitat primário para, gradativamente, vir ocupar
cada espaço da terra em diferentes continentes e distantes arquipélagos ou isoladas ilhas.
Compreende-se que a espécie humana dispersou-se mais efetivamente a partir do Mediterrâneo rumo ao sudeste asiático, pela península arábica, ao norte e centro europeu, às
regiões do Cáucaso e Mongólia para se chegar ao extremo oriente, com certas interações
posteriores comprovadas pela filologia e outras Ciências responsáveis.
Antes que a Europa estivesse densamente povoada, o homem já chegava à Indonésia e
Austrália quando, por esta época, elementos fortemente enegrecidos vindos das regiões
savanas passaram pela Europa e Ásia, para entrar no continente americano, pelo Estreito
de Bering, por volta de 70 mil anos (1), fugindo dos rigores climáticos que então cobriam de gelos toda a Escandinávia, norte da Inglaterra, norte da Alemanha e centro-sul da
Rússia (2).
-Os períodos glaciários acontecem quando as geleiras avançam, ou seja, maior quantidade de água se converte em gelo e o nível do mar rebaixa-se, em média 80-110 metros, o suficiente para formar passagens como as de Bering; da Austrália, pela Nova
Guiné – em Estreito de Torres; ou Tasmânia – pelo Estreito Bass à franja de gelo da
Antártida e, desta ao extremo da América do Sul, de maneira a permitir migrações hu-
manas de um continente para outro. Findo o período, sempre seguido de grandes inundações, ocorrem retrações das geleiras nos denominados períodos interglaciais, dos
quais vivemos o último.
Ainda ignoramos muito acerca desta primeira migração humana, mas lhe foi permitida a
passagem pelo Bering durante todo o período de glaciação, entre os 70 de 50 mil anos
quando, “com mais água na forma de gelo, o nível do mar desceu, criando uma rota
terrestre, a Beríngia, para a colonização das Américas” (3), sem nenhuma pista quantas
entradas aconteceram, se os bandos foram em grande número ou não, se todos da mesma origem.
Alguns cientistas consideram que a expansão pioneira na América [pré-histórica] não
ultrapassava os 16 ou 20 quilômetros por geração (4), mais ou menos cada 25 anos (5),
todavia outras sugestões assinalam 1 km/ano; desta forma acertadas as opiniões que os
vestígios humanos de 40 a 50 mil anos, como restos de [carvões] de fogueira e artefatos
de rocha lascada como peças de multiuso [talhadores], em São Raimundo Nonato – Piauí (6), possam mesmo atestar presença de descendentes negróides na região.
Outras amostragens arqueológicas de fragmentos ósseos, a exemplo do crânio do denominado Homem Californiano, cuja datação mais precisa “indica que o homem vivia
nessas regiões [Norte América] há 48.000 anos” (7), difere das características de outros ancestrais surgidos milênios depois, como o siberiano primitivo, o asiático, o melanésio, o polinésio ou quaisquer outras contribuições étnicas mais recentes [10 – 7 mil
anos] para a formação do homem americano.
Para o antropólogo Albert Goodyear, do Instituto de Arqueologia e Antropologia da
Universidade da Carolina do Sul, “os primeiros assentamentos humanos na América
do Norte surgiram há 50 mil anos”, pela Beríngia.
Entretanto, tudo muito discutível, para uns a teoria deveria ser repensada, melhor explicada, pois que as provas seriam frágeis diante de apenas um exemplar, acontecidas talvez por acomodações indevidas do achado em comparação com o solo. Para outros, a
datação não é exata, as variações podem ser de milênios, em especial quando nos diz da
retração das geleiras, entre os 50 e 30 mil anos, com o Bering então submerso pelas águas do mar, a impedir passagem natural entre Ásia e América.
Estando presente o homem, bem se podem questionar a vida, qual sua origem e evolução dentro das probabilidades de uma simples molécula de proteínas formarem-se por
acaso, uma estupenda ocorrência na casa de uma em l0113; sabendo que, matematicamente, rejeita-se impossível acontecimento qualquer (quaisquer) ocorrência (s) em torno
de uma em 1050. O número anterior estima-se como maior do que todos os átomos do
universo, segundo a fonte Sociedade Torre de Vigia de Bíblias de Tratados, A Vida –
Qual sua Origem? A Evolução ou a Criação?
Dentre as grandes maravilhas, por certo a de maior alcance seja o milagre do D.N.A., o
código genético, com sabedoria programada antes do surgir ou nascer; é ele o iniciante
reprodutivo, e sem ele, nada sois acontecer. A mesma Torre de Vigia, obra mencionada,
transcreve o estudioso Francis Hitching: “as proteínas dependem do D.N.A. para se
formarem, mas o D.N.A. não pode se formar sem proteína preexistente”.
Nesta mesma linha de entendimento, [obra referida], porque o desenvolvimento complexo dos órgãos sexuais, masculino e feminino, incompletos um sem o outro, se a reprodução assexuada, muito mais simples e eficiente era, para alguns ainda é, possível?
A formação do universo em todo seu esplendor, dimensões e violências, a Via Láctea, o
Sol e a Terra, com todas as exigências precisas e necessárias, destacam uma inteligência
Universal – Consciência Cósmicas – a ordenar substâncias, gradativamente formadoras
de todas as maravilhas, visíveis ou não, simples e complexas.
Jamais alguém conceberia um universo senão da maneira que este aconteceu, com todos
os componentes inteligentemente colocados. Talvez não ver nisto um elemento originador, organizador e legislador, seria esperar um milagre muito maior que a origem existente, e milagres sabidamente não existem, pois que todas as substâncias necessárias
para suas realizações, já preexistem.
Não se trata de rejeição à evolução, pois que esta existe e é extremamente necessário
também como um produto operacional inteligente e pré-determinante.
Assim, chega-se a Deus, o princípio ativo e gerador de todas as coisas e causas, criacionistas e evolutivas; como tal, todos direitos lhe são dados, porque de tudo supre as necessidades universais, onde nada é desperdiçado, onde tudo se faz equilíbrios, onde tudo
já existe desde antes da fundação dos séculos. Se ele está, porque sempre foi e será; então a matéria orgânica ou tudo o que existe e em qualquer lugar, tem os seus princípios
ativos, vitais e inteligentes; e se por ele torna-se necessário que um deus, também consciência-cósmica, mova a matéria ou que nela esteja, isto é apenas um princípio elementar para que assim seja, e nisto ele também está onímodo, onisciente, onipresente e onipotente.
NOTAS E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. BRISSAUD Jean-Marc, As Civilizações Pré-Históricas – O Homo Sapiens no
Resto do Mundo, Otto Pierre Editores, Rio de Janeiro, 1978, páginas 157.
2. RODRIGUES José Manuel Costa e MORAIS Wladimir Teobaldo de – Rodrigues & Wladimir, Biociência – Genética, Evolução, Ecologia, Companhia Editora
Nacional, São Paulo, 1978, páginas 137/138.
3. NETO Ricardo Bonalume, EUA: Geólogos debatem qual teria sido a porta de
entrada dos primeiros homens no continente; publicação de 05/janeiro/2004 pelo
Jornal da Ciência, Órgão da Sociedade para pó Progresso da Ciência – SBPC..
http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=15267. O autor escreve para a
Folha de SP
4. VE\JA Arquivos:: Os Paleobrasileiros - Reportagens, edição de 14 de abril de
1996.
5. DICIONÁRIO AURÉLIO, Século XXI.
6. GUINDON Niède, defende que a ocupação humana da região tem cerca de 50
mil anos,, conforme página
http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=10723
7. BRISSAUD Jean-Marc, As Civilizações Pré-Históricas – O Homo Sapiens no
Resto do Mundo, Otto Pierre Editores, Rio de Janeiro, 1978, páginas 157.
DAS ORIGENS DAS GRANDES RELIGIÕES
Começamos pelo questionamento cristão, qual seita a melhor?
Sem dúvidas aquela que faz o bem, permite a individualidade, e nela o fiel pode desenvolver suas potencialidades, sem dúvidas ela é uma Igreja excelente.
Se ela exigir a renúncia pessoal em pró da comunidade, isto é, voltada a Cristo para o
bem estar geral do mundo, em todos os sentidos, e não for exclusiva como a única salvacionista, e a pessoa se inserir nela de modo consciente quanto às doutrinas, com isto
fazendo-se feliz, trata-se de uma ótima Igreja.
Se o adepto compreende a Bíblia e sua crnça se enquadre nisto, no absoluto cumprimento da Palavra, conforme vista, desejada e entendida, é uma boa Igreja.
Se tal Igreja faz uso do Amor e da Caridade como regra maior e apenas nisto se fundamente, é uma Igreja, e é bem melhor estar nela que perdido nesse mundo devasso, ou
dentro de si mesmo.
Agora caso a Igreja desejada centralize-se na Justiça Divina e se diz cristã, onde Deus
sabe o que faz, mas o seguidor não alcança esse senso de justiça ao ver triunfar os corruptos; as guerras fratricidas ou entre as nações em que tantos inocentes morrem sem
saber nada da causa; natimortos que vão para o céu sem igualdades de competições na
vida; os especiais e os tais simplórios dos quais é o reino dos céus – isto está na Bíblia e
são mistérios, ou que nenhuma explicação consiga quanto aos deficientes físicos que
não têm culpas de ser assim, e outros tantos absurdos que ferem a razão em se admitindo um Deus ao molde do pensamento cristão, certamente, com todo respeito, ninguém
deveria estar numa Igreja assim, ou então o adepto não tem a menor compreensão da
consciência divina ou do que ela seja. Positivamente uma Igreja assim não é nada boa.
A grande verdade, no entanto, é que existem Igrejas para todos os gostos, tipos e necessidades, e se o indivíduo não encontrar alguma que o satisfaça, ele deve fundar a sua,
conquistar adeptos, pois que é mais fácil isto que abrir um comércio, além de ser algo
bastante rendoso sem muitos esforços, conforme se pode ver por aí, onde cada vez mais
seitas surgem, numa proliferação sempre maior, uma a combater a outra em busca de
fiéis, em junho de 2007, em torno de 56 mil denominações no mundo, de maioria cristã,
num fenômeno curioso onde à medida que cresce o número de Igrejas Cristãs no Brasil
e no mundo, por outro diminui, ainda que em menor proporção, o número real de cristãos, sendo cada vez maior a quantidade daqueles que se dizem ateus e agnósticos.
-O cristianismo também perde adeptos para o Islã, cultos orientais e de raízes, todavia
espera-se a abertura na China com toda sua imensa população.
Saber efetivamente qual Igreja é a melhor, não é das tarefas mais fáceis, pois que depende sempre do ponto de vista de cada um.
Nos últimos anos temos verificado que o homem começa a não só questionar valores e
crenças da sua própria Igreja, como também a Deus e sua justiça. Muitos fiéis católicos
não acreditam mais no Diabo e no Inferno, nem consideram certas proibições da Igreja,
como o uso de anticoncepcionais e práticas de abortos.
Muitos líderes religiosos insistem num Deus que destina ao fogo eterno uma criatura
sua, eles não sabem o que dizem ou são iludidos e também iludem; pessoas assim são
mercenários da fé, corretores da imobiliária dos céus de onde os clientes não voltam
para alguma reclamação ou confirmação das pregações. Outros pregadores apontam a
Teologia da Prosperidade como dom divino à disposição de todos os fiéis.
Ainda assim, para uns tantos, existe a doutrina reconfortante do Espiritismo que explica
razões dos sofrimentos terrenos, e os faz compreender melhor a justiça [divina] que não
os endereçam a um inferno e nem a um céu, antes sim, que tudo tem razão de ser e o seu
espaço é adquirido à custa de merecimentos por aquilo de bom que vier a fazer, não
importando tantas e quantas reencarnações na Terra fizerem-se necessárias; lastimável,
porém segundo eles, que os adversários cristãos tenham dizimado na antiguidade uma
doutrina tão bela e, que à força a tenha tornado anátema, herética e perigosa.
Outros tantos, da mesma forma reencarnacionistas, lamentam que o Espiritismo Cristão
centre-se unicamente na figura do Cristo ao lado do deus hebreu. A esses sobram as
Filosofias e os Misticismos Orientais, a Nova Era e umas tantas Sociedades ou Ordens
Secretas, além do materialismo selvagem.
Realmente torna-nos incompreensível uma Religião firmar-se no Deus bíblico, senão
vejamos alguns contra sensos:
• Honrar pai e mãe, enquanto Jesus afirma quem não deixar seu pai e sua mãe, por
amor a ele, não é digno dele;
• Não matarás, porém o próprio povo punido por Jeová porque deixou gente estranha viver ou não cumpriu integralmente a ordem de matar;
• Não roubarás, embora tenha determinado que as mulheres hebréias roubassem
pertences egípcios;
• Não adulterarás, contudo manda seu profeta tomar a mulher do amigo e com ela
adulterar, e uma outra vez com uma mulher de prostituições.
• No caso adultério, os defensores biblistas argumentam tais escritos em sentido
figurativo, para mostrar a terrível situação do povo de Deus. Ora, o texto ficaria
figurativo mesmo sem aquelas determinações, e isto sem levarmos em conta,
que Maria era casada e teve um filho que não era do seu marido.
Não vamos continuar apenas firmados no decálogo bíblico (leis maiores), e assim analisaremos algumas outras situações:
• Deus criou o Universo e tudo que nela há, regido com paz e harmonia, no entanto o que se vê são conturbações gigantescas, com mundos engolindo mundos e
uma tremenda agitação em tudo, longe de um Universo harmônico, o que, digase de passagem, até nos deu favorecimento à vida, exatamente por ser assim. As
próprias tragédias terrestres naturais apontam para um planeta instável e violento, e se Deus é a Natureza isto não é nada pacífico.
• Deus criou os anjos e demais membros da hierarquia celeste, perfeitos e, no entanto, alguém se rebelou o que caracteriza imperfeição na obra proposta. A considerar Deus, um ser perfeito, incriado, com atributos de onipotente, onipresente,
onisciente, onímodo e uma série de qualidades outras maiores como a Justiça,
por exemplo, pelas suas qualidades, sabia que alguém iria se rebelar e mesmo
assim insistiu na criação, e destinou os rebeldes ao fogo do inferno, por toda a
eternidade;
Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, isto é, perfeito, ainda que ciente e isto é um atributo seu, que tal acontecimento não daria certo, como de fato
não deu, e o homem foi penalizado para todo sempre: “assim como por um
homem o pecado no mundo, todos pecaram e destituídos estão da glória de
Deus”, e num outro versículo, “o salário do pecado é a morte”; bem, não sabemos se alguém sente culpa pelo pecado de Adão e Eva, agora um Deus lançar
o preço da morte por erros de duas criações sua sobre toda a humanidade, isto é
algo impensável, além do que, a pena foi severa demais, pois nem Adão, muito
menos Eva, tinha compreensão daquilo que era a morte, e para evitar isso, que
não colocasse Deus a tal da arvore no Jardim, já que sabedor que o homem não
resistiria a tentação, ou então que mandasse o tentador para outras bandas e não
aqui na Terra. Aliás, o que fazia o Diabo dentro do Jardim do Éden ou o Paraíso?
• Arrependeu de haver criado o homem, algo estranho para um Deus, e por isso, à
exceção de uma família e até que bem complicada, deu por destruir a raça humana e com ela toda forma de vida na Terra;
• Elegeu um povo com a promessa de uma terra abençoada, porém conquistada a
preço de sangue de outros povos, que nela já estavam tempos antes. Nessa terra
prometida o próprio povo eleito veio a sofrer, ao longo de sua história, o horror
da Segunda Guerra Mundial. Atitudes assim nada incentivam alguém se entregar
a esse Deus, de maneira integral, como ensejam credos religiosos.
Temos mais, todavia basta-nos para saber razões; temos também que considerar que
nem só de horrores é feito o Deus bíblico, pois que ele também tem sentimentos nobres
para com seus, um Deus de amor e piedade para todos os que O aceitam, com senso de
justiça que ao culpado não se tem por inocente, ou que a culpa dos pais não recairá sobre os filhos (embora a falta de Adão tenha permanecido e Ele ainda tenha jurado que
visitaria, com ira e rigor, as famílias até ou na – depende das versões – terceira e quarta
geração, que lhe tenham sido contrárias). Evidente tratar-se de um Deus criado pelos
homens, ao sabor das circunstâncias, um ser antropomorfo, de características bem humanas e que não deve ser levado muito a sério.
Do ponto de vista maior quanto às Religiões, certamente Félicien Challaye seja quem
melhor expressou o sentido de Religião Ideal, conforme transcrito:
“Desde logo, a única religião que poderia, atualmente, satisfazer, de modo
completo, a consciência, seria uma Religião Universal, à qual todas as religiões particulares levariam sua contribuição.”
“A esta Religião Universal corresponderia uma moral planetária, reunindo
o melhor das tradições de todos os povos e vindo terminar em regras válidas
para todas as consciências humanas.”
“Não poderíamos considerar como ideal aquele que realizasse em sua vida
as mais altas aspirações das religiões precedentemente estudadas; que fosse
higiênico segundo a regra xinto, sóbrio como um adepto do Islame, polido
segundo o rito confuciano, sincero e devotado segundo a concepção masdeísta, bravo de acordo com a fórmula druídica, que guardasse uma recordação
agradecida dos antepassados, praticasse a piedade filial e os outros deveres
•
familiares, como o exigem as morais chinesas, japonesas e romanas; que,
como o adepto de Osiris, procurasse não tornar infeliz nenhum dos homens
que dele se aproximassem; que amasse seu próximo como a si mesmo, segundo a palavra de Jesus; que tivesse, pela paz a manter entre os homens e
entre os povos, o amor dos sábios chineses e, pela justiça a realizar sobre a
terra, a paixão dos profetas judeus; que não fizesse mal a nenhum ser, de
acordo com o ideal budista; que amasse a beleza do Universo à maneira dos
helenos; que sentisse, segundo o pensamento bramânico, a fraternidade profunda, a identidade fundamental de todos os vivos, de todas as coisas, as realidades?”
“Por intermédio de tais aproximações entre as mais altas aspirações humanas, a humanidade poderia realizar maravilhosos progressos.”
“(...).”
“A religião Universal, a que parece conduzir-nos o estudo histórico das religiões particulares, já existe em algumas consciências, mais obscuramente
sentida que claramente formulada.”
“Talvez um dia encontrará ela o meio de expressão que a tornará mais fácil
de ser transmitida de coração para coração.”
“Ela verificará a imensidade do Universo; descobrirá, no homem, o desejo
de ampliar infinitamente a sua personalidade finita pelo conhecimento desinteressado, pela ação generosa e pelo amor. Ela unirá o homem pelo Universo pela Ciência, compreensão de todo o real; pela arte, alegria libertadora ao contato de todas as belezas; pelo amor, sobretudo amor por todos os
homens, por todos os seres, por todas as coisas. Ela unirá os homens entre
si, através de uma justiça caridosa, acordo pacífico das liberdades. Ela colocará no alto da vida humana, na cúpula da Vida Universal, a ação generosa
e alegre pela qual o indivíduo exprime seu amor e sua compreensão pelo universo, nele trabalhando para realizar a justiça e a paz entre os homens.”
“Talvez esta Religião Universal se organize algum dia em uma instituição
destinada a satisfazer a eterna necessidade religiosa dos corações. Os que
outrora amaram sua Igreja e que nela beberam uma força duplicada para
sua vida moral, sentem, às vezes, certa nostalgia quando não podem mais
nem crer, nem participar de um culto. Sentir-se-iam felizes em ser acolhidos
por uma Nova Igreja que unisse todos os adeptos da Religião Universal.”
“Reunir-se-iam nos belos templos do passado, se estes se tornassem livres
pelo abandono por parte dos fiéis, ou nos edifícios novos criados pelos modernos artistas, os Templos da Humanidade. O culto poderia tomar uma
força análoga à dos que se vêem em certas igrejas protestantes liberais –
mas com mais obras de arte –, ou nas igrejas positivistas. Entoar-se-iam
cânticos parecidos com os cânticos cristãos mas sem tolice, ou cantos socialistas, menos o ódio. O canto supremo seria o mais nobre das obras musicais
brotadas de uma alma humana: o Final da Nona Sinfonia de Beethoven.”
“O pregador tomaria por tema esta ou aquela palavra de Buda, de Confúcio, de Zoroastro ou de Jesus, esta ou aquela idéia de um moralista japonês,
de um profeta de Israel, de um filósofo grego, de um santo muçulmano.”
“Que belos sermões poderiam ser feitos sobre esta passagem do Livro dos
Mortos egípcio: ‘Nunca fiz chorar’; sobre o ‘Tu és isto’, dos brâmanes; sobre a frase de Buda: ‘Se o ódio responde ao ódio, como o ódio acabará?’ sobre o texto do primeiro Isaías: ‘As nações não aprenderão mais a guerra’;
sobre aquele do segundo Isaías, anunciando ‘um novo céu e uma nova terra’; sobre o perdão concedido por Jesus à adúltera; sobre a fórmula bahaísta: ‘Todos os homens são gotas d’água de um mesmo mar, folhas de uma
mesma árvore’; ou, muito simplesmente, sobre este conselho de resignação e
este melancólico apelo à alegria de um drama lírico japonês: ‘Mesmo para
um mendigo cego permanece o perfume das flores (...)’.”
“Nem se deve abandonar uma religião a não ser por uma religião mais alta.
Não se deve renunciar ao consolo e à exaltação proporcionados por uma
crença, senão para adotar uma fé ainda mais encorajante e mais enobrecedora.”
“A Religião Universal, cujos elementos seriam emprestados de todas as religiões particulares, poderia ser mais uma fé superior a cada uma delas; superior em relação à verdade; em dilatada inteligência; em espírito de Justiça e de paz; em amplo amor.”
“(...).”
“Eu sou. Participo do ser. Ora, eu não existo absolutamente por mim mesmo. Não existo somente por causa dos meus pais, por causa de meus avós,
nem por causa de todos meus antepassados, nem mesmo por causa de toda a
humanidade, nem mesmo por causa de toda animalidade. Todas as forças
de vida, todos os poderes de matéria reúnem-se a mim. Eu não existiria se
não houvesse um sol, uma via láctea, um Universo. Sou um produto da Vida
Universal. No fundo do meu ser descubro o Ser; o Ser que envolve por todos
os lados a minha personalidade apoucada e que a ultrapassa prodigiosamente; o Ser que, desde sempre, me precedeu e que me seguirá no curso ilimitado dos séculos; o Ser Infinito.”
O UNIVERSO DAS PROJECIOLOGIAS
Talvez tenha sido Ernesto Bozzano, no final do século XIX e início do XX, o primeiro
cientista de renome internacional, a preocupar-se com os fenômenos da bilocação ou
desdobramentos, fundamentados em fatos exaustivamente estudados. Bozzano cita outros notáveis estudiosos da matéria, como Gabriel Delanne, Henry Durville, Coronel de
Rochas, César Lombroso e Mattiesen.
Para aquele cientista, a bilocação mostrou-se fundamental para demonstrações experimentais como provas conclusivas da existência do corpo etéreo – perispírito [in-vólucro
que abriga o espírito ou alma] – a habitar provisoriamente um corpo somático [físico],
princípio da homificação, durante o período da existência terrena, interligando-se àquele, porém com certas ações independentes. Bozzano prova, pelos sonos ordinários, hip-
nóticos, mediúnico, êxtase, desmaio, efeitos narcóticos, coma, que o corpo etéreo consegue afastar-se, também temporariamente, do corpo somático, e não somente e de maneira efetiva por ocasião da morte; ainda, pelo ilustre cientista e outros pesquisadores, o
corpo etéreo consegue não somente a saída transitória, como é capaz de reter lembranças dessas viagens e repassá-las à consciência.
Diz Bozzano, às páginas 17 de sua obra Fenômenos de Bilocação (Desdobramento) –
Edições Correio Fraterno – 1983:
“Do ponto de vista psicológico, convém notar que os fenômenos de bilocação
apresentam esta característica altamente sugestiva de sua perfeita uniformidade substancial de exteriorização a despeito das modalidades diversas e
numerosas que assumem segundo as circunstâncias, uniformidade substancial que persiste, invariável, em todos os tempos, em todos os lugares, em
todas as raças (inclusive os povos selvagens), de modo a tornar-se como o
centro de convergência da demonstração de sua existência positivamente
objetiva. Ainda se pode observar que eles são tão numerosos que não bastaria um grande volume para conter todos os fenômenos que colecionei. Em
parte isto provém do fato – ele mesmo altamente sugestivo – que, de um lado, o seu campo se estende até formar o substrato necessário de quase toda
a fenomelogia mediúnica de efeitos físicos, inclusive os fenômenos de materialização, pelos quais a existência dos fatos deveria ser reconhecida, também pelos adversários da hipótese espírita e que, de outro lado, eles vão até
se infiltrarem, em grande número, nos casos até aqui considerados de origem telepática.”
A partir de meado da década de 1960 os espíritas científicos, dando-se a conhecer para o
público iniciam um contra ataque à Parapsicologia Materialista e à Espiritualista (pelos
padres parapsicólogos católicos apostólicos romanos), exatamente no ponto mais sensível destas disciplinas, ou seja, atribuir fenômenos paranormais como capacidade humana, mesmo que extrapolando limites da física, pois que, se o duplo etéreo demonstrava a
existência da alma [e os católicos acreditam nela], sua capacidade de ação estaria independente da matéria [os materialistas admitem], inclusive das saídas transitórias e manifestações, por isso também esse mesmo duplo, uma vez desencarnado, teria amplas
condições de intervir no mundo físico.
Os fenômenos da mente, ou, espirituais desde milênios tem acompanhado o homem em
suas religiosidades, ressurgindo de época em época como grande impulso às discussões,
que o duplo etéreo existe, atua no mundo físico independe da matéria, pode ser visto por
sensitivos, é capaz de materializar-se e, nestas condições, percebidos por pessoas comuns.
Os orientalistas avançam mais além do cientismo e religiões ocidentais: o duplo etéreo
pode ser disciplinado para ações fenomênicas predeterminadas, como as viagens astrais,
contatos com o universo extrafísico, e isso tudo com absoluta consciência dos fatos.
Pelas viagens astrais torna-se, portanto, possível saber antecipadamente de acontecimentos futuros, bem como a volta ao passado distante, ou ter conhecimento do presente
desconhecido, bem como saber de pessoas – conhecidas ou não, visitá-las e mesmo
prestar-lhes auxílios ou daná-las, ainda que à distância e mentalmente.
Em 1972 a Projeciologia já era sugerida como ciência explicativa para todos os fenômenos classificados e estudados pela Psicologia e mesmo aqueles vividos pelas Religiões. Antônio Jorge Rocha, experimentador [na época] de fenomenologias, juntamente
com o autor provocavam sérias discussões entre os estudiosos mais identificados com o
Espiritismo Científico.
Também por outros grandes especialistas hoje a Projeciologia engloba, com segurança,
toda a fenomenologia espírita além das classificadas pelas Metapsíquica e Parapsicologia, na qualidade de para-ciência psicobiofísica que trabalha, a partir do indivíduo, com
a autoconsciência, as bioenergias e experiências fora do corpo físico. A Projeciologia
estuda e investiga o fenômeno das projeções [conscientes e inconscientes], suas interações, realizações fenomênicas, procurando ao indivíduo um sentido de vida.
-Os meios acadêmicos e religiosos buscam uma nominação mais adequada, cientificamente, para a Ciência das realidades projeciológicas.
Para alguns estudiosos a Projeciologia, tal qual a Psicologia, opera dentro do campo das
subjetividades e do inconsciente; outros a entendem como processo neurofisiológico,
em contraposição àqueles para quem as projeções não se justificam como causas fisiológicas e nem psicológicas, a exemplos dos casos redivivos com suas Experiências Quase Morte, onde a consciência funcionaria independente da atividade cerebral, conforme
matéria inserida em sítio eletrônico http://pt.wikipedia.org/wiki/Projeciologia#_note4.
As EQM eram vistas, até bem pouco, como fenômeno espiritual, prova incontestável do
outro lado da vida. Já não se pensam mais assim;
Hoje muitos cientistas entendem que as EQM têm explicação biológica e não espiritual, vistas como ocorrências episódicas onde há perigo de morte. Uma EQM seria a
forma de compensação do estado de alerta, pavor e medo refletidos numa luz intensa
que, após segundos, transmite e sensação de paz profunda.
Sensações iguais podem ocorrer em estágio de sono profundo conhecido como estado
de REM – Rápido Movimento do Olho [Rapid Eyes Movement], onde certas intrusões
podem não ser tão incomum. A Ciência, todavia, aborda as experiências e suas origens,
não o porquê delas.
Independentemente das teorias, o cérebro apresenta reações anormais durante operações
projeciológicas, conforme registros em aparelhos. A projeção, ou o desdobramento, não
tem nenhum significado de despersonalização, pois o indivíduo pode estar consciente
em todo o desenrolar fenomênico.
Sem intenções de religiosidades quanto as projeciologias, nem discuti-las a nível científico, apenas aqui a demonstração prática para o desdobramento em si, seja com qual
denominação for, bilocação, duplicação corpórea, projeção do duplo astral e outras.
O desdobramento ocorre de algumas maneiras, a saber:
1. Espontâneo: aquele que não é provocado ou que possa ocorrer independentemente da vontade do indivíduo, por exemplos, em sonhos, estados comatosos,
perda de consciência e situações de quase morte. Esta espécie de desdobramento
é a de maior interesse à Ciência.
2. Medianímico: ocorrência condicionada a ação de uma vontade que não a do individuo, ocorrida em momentos especiais, em formas de sensações, avisos ou de
orientações e esclarecimentos, a si ou para terceiros. O desdobramento medianímico é bastante comum em sensitivos, médiuns, místicos e esquizofrênicos,
entre outros, como espécie de transe, levando o indivíduo a uma dissociação e
assintonia psíquica, ou sejam, a fragmentação da personalidade e a ausência de
contato com a realidade, para assumir outra personalidade distinta da sua ou entremeada. Tem interesses religiosos e policiais [situações de certos crimes bárbaros].
3. Induzido: é o fenômeno do desdobramento resultante de ação específica ou suge-rida para desencadear o processo. O indutor pode determinar a ocorrência
magnética ou hipnoticamente, senão conjugados numa mesma operação. Admite-se a indução magnética através de uma entidade ou força não visível que dita
os procedimentos e conduz o indivíduo ao desdobramento. A hipnótica quando o
indivíduo se submete às sugestões de uma outra pessoa [física] para desdobrarse, por exemplo, para uma regressão supervisionada. Para a conjugada geralmente o hipnólogo faz o indivíduo desprender-se da matéria e aos espíritos cabem a condução das ações. O desdobramento induzido é bastante utilizado para
casos de regressões, revelações de talentos e mediunidades, além das ações fenomênicas psíquicas ou espirituais.
4. Auto-induzido: ação sugerida pelo indivíduo a si mesmo, para se conseguir, inicialmente estado mental semelhante ao sono e então desdobrar-se [sair do corpo], com objetivos predeterminados para ações extracorpóreas. Esta seria a técnica mais comum para o desdobramento consciente e programado, nada a impedir auxílio de entidade condutora [espiritual], que muitos entendem como muleta
psicológica necessária para se desfazer do medo..
Das muitas técnicas projetivas, esta talvez seja a que melhor se adapte a qualquer pessoa, pela sua simplicidade:
“Colocar-se numa posição cômoda [tipo a pessoa deitada, cabeça ao lado
sem travesseiro, pés e pernas ligeiramente levantados sobre uma almofada],
num mo-mento de maior silêncio possível – de preferência pela madrugada,
e relaxar-se por instantes, deixando a mente vagar, sem preocupação alguma, respiração tranqüila e compassada; trazendo o máximo de ar possível
para dentro dos pulmões, contando de 1 a 7 – não há rigor nisso, é o quanto
se consegue para a seqüência, pausadamente, e depois, pulmões cheios, segurar a respiração (o alento), contando de 1 a 5, também devagar, e a seguir
soltar o ar, bem lentamente, contando de 1 a 15, ou um número para cada
três batimentos cardíacos [que ficam bastante perceptíveis], e forçar toda a
saída do ar, com auxílio do diafragma; depois contar, sem respirar, de 1 a 5,
um número para cada batida cardial”.
Este método deve ser repetido por três vezes, com bastante atenção às reações,
sendo comum certo atordoamento; caso o aspirante sinta fadiga exagerada, deve
parar por aí, não insistir, deixar para a vez seguinte.
Estando tudo em acordo, apenas perturbação leve, deve-se então repetir a mesma
prática de respiração, só que a se concentrar para o adormecimento de seu corpo,
parte exterior, iniciando pelos dedos do pé (primeiro o hálux de um deles, depois
os pododáctilos em seqüência, antes de idêntica operação o com os do outro pé).
A seguir, sugerir que todo um pé fique adormecido, depois o outro, continuando
a mentalização que todo o organismo interno esteja em perfeito funcionamento,
sem incomodo algum, o coração, pulmão, rins, fígado, intestino, circulação sangüínea e que, psicologicamente, nada há que perturbe o iniciante.
Adormecidos os pés, o corpo em harmonia interior, ordenar adormecimento das
duas pernas ao mesmo tempo, depois as coxas, o ventre, o peito, sempre com a
sugestão que internamente tudo está bem, somente o corpo exterior em adormecimento. Daí avançar e ordenar para que os braços fiquem amortecidos, insensíveis, assim como as costas, pescoço e cabeça.
É natural, de princípio, coceiras aqui e ali no corpo físico, às vezes quase insuportável e em lugares complicados. Deve a pessoa se controlar, vencer os incômodos, concentrar-se nela e determinar cessação imediato. Alguns, nessa fase ou
pouco antes, sentem necessidade de engolir seco, devendo a pessoa lutar contra
isto; outros experimentam salivação abundante, por isso a cabeça ao lado, para
evitar engasgos.
Vencidos esses primeiros obstáculos, respiração sob controle, o corpo adormecido, internamente tudo certo e a cabeça funcionando bem, o interessado deve imaginar-se saindo do corpo, alguns se sentindo qual mola na vertical, num ritmo
vai e vem, parecendo que o corpo cresce a partir dos pés, retorna e aumenta pela
cabeça, com o corpo também a acompanhar esses movimentos, espécie de afundamento e agigantamento, o peito um tanto arfante através de uma respiração
lenta.
Outros experimentam acelerações dos batimentos cardíacos, respiração rápida,
espécie de abertura no alto da cabeça, o peito como se estivesse sendo forçado
para abrir; e têm aqueles que relatam um vazio no estômago, o diafragma subindo e o ventre forçado para dentro, como se o indivíduo estivesse fazendo força
para empurrar alguma coisa para fora de si, sendo nestes relatos comum a pessoa
sentir força na cabeça com a respiração semi-suspensa, arrepios em todo o corpo
e que alguma força sai pelo abdômen.
A pessoa não deve se preocupar com tais sensações, ou alguma outra reação diferente que possa sentir, pois que são normais; o mais importante é o acreditar
naquilo que se está fazendo, jamais o indivíduo mentir para si.
Também é mais ou menos comum, nos primeiros experimentos, que a pessoa
adormeça. Em caso de não superar o sono, ela não deve se preocupar e então
dormir, pois após algumas sessões, com força de vontade e perseverança, é possível superar esse obstáculo. Entre os que dormem não é incomum referencias a
sonhos com a saída extracorpórea e viagens interessantes.
Vencida a etapa do sono, o indivíduo deve continue insistir na saída de seu duplo [alma, espírito, mente, nominações que não importam aqui] do corpo carnal,
todavia que a consciência seja mantida, senão a experiência poderá não ser válida.
Tudo deve ser anotado tão logo aconteça o retorno. Tem praticante que grava a
sessão, com registros de vozes diferentes e certos ruídos; outros filmam o perío-
do, com apare-cimentos de fantasmas – às de pessoas conhecidas, além de sons
produzidos.
Geralmente entre a quarta e a décima terceira tentativa [dados sem precisão científica, apenas citações por experiências], a projeção inicia-se, tímida de princípio, meio abobalhada para, logo depois, firmar-se, e isso tudo pode acontecer em
seqüência numa única sessão.
A partir do momento, em que se tem o domínio natural da projeção, fazem-se interessantes algumas observações quanto à maneira de apresentação desse duplo projetado:
1. Saber em qual dos corpos está mantida a consciência, a bastar apenas atenções
se o indivíduo deitado vê o duplo ou se é este quem vê o corpo em repouso; isto
tem importância porque, se a consciência estiver no duplo, o iniciante poderá
não ter conhecimento ou participação total das experiências, ou, às vezes, não ter
condições para alguma coordenada necessária ou que venha determinar as ações.
2. Verificar, ainda, onde o duplo coloca-se inicialmente e de que maneira, se de pé
ao alto da cabeça, se horizontal de frente para o corpo físico, se flutuante ao lado, de pé ou de cócoras, se próximo das plantas dos pés, se bastante solto ou
mais tímido.
3. Tais observações são interessantes para que se possa detectar o ponto sensível de
saída, cujo local pode se denominar sagrado, devendo o praticante cuidar bem
dele, com massagens, unção com óleos, e uma higiene mais demorada, além de
evitar que pessoa desavisada, bem ou mal intencionada, toque nesse lugar. Alguns relatam, com isso, liberação muito mais rápida de seu duplo, às vezes até
mesmo sem aqueles exercícios preliminares, tão somente a partir de uma concentração neste ponto de saída e entrada.
4. Se o experimentador é médium ou sensitivo, quase certo que alguma entidade
queira se utilizar dele para incorporações durante a projeciologia. Ás vezes a
pessoa vê seu corpo carnal possuído por alguma entidade, o que nenhum mal parece oferecer, salvo casos de obsessões ou entrada de espíritos inferiores.
5. É interessante verificar se nas primeiras projeções aparecem outras pessoas no
ambiente, espíritos ou duplos que tanto podem ser de vivos ou de mortos, ao lado do corpo astral do pretendente, o que é normal; certos praticantes às vezes se
vêem frente a frente com uma pessoa de idade, bondosa e predisposta a conduzir
o experimento inicial, sendo que alguns permanecem para sempre, enquanto outros não. Em situações assim, observar se possíveis conversações são mentais ou
através de movimentos da fala, isto tanto para o próprio corpo astral quanto para
aqueles [fantasmas] que surgem.
6. É muito difícil surgimento de quadros ruins ou pessoas agressivas, caso isso acontecer, não temer em expulsar o indesejado e, se não obtiver êxitos, simplesmente retornar ao corpo físico e tentar resultados numa próxima sessão.
7. Quanto a esses aparecimentos, certos estudiosos entendem que são muletas psicológicas quando de uma pessoa bondosa ou quadro favorável, e que as mais difíceis não passam de temores infundados de religiosidades arraigadas, por estar
o indivíduo praticando algo que julgue ou possa ser proibido, quando não temor
de si mesmo, o medo de não retornar mais ao corpo físico. Portanto se deve su-
perar isso, pois que não há perigo algum e até se pode perceber facilmente que,
entre o corpo físico e o astral naquele ponto de saída, existe um elemento que os
une – o tal cordão de prata.
8. Dominado o medo a pessoa pode flutuar e atravessar paredes, forro e telhado,
pois que nada a deterá; conquistada a autoconfiança, deve-se ordenar ao corpo
etéreo se dirigir a um dos cômodos de sua casa, onde ninguém possa estar naquele momento, e catalogar objetos e suas respectivas posições; anotar isto depois, para que no outro dia possa verificá-los, sem se incomodar com falhas iniciais, pois que a mente objetiva tem por costume colocar dúvidas, afinal, ela não
foi treinada para isso. Se possível pedir a alguém que modifique colocações de
objetos naquele cômodo, tirando uns e acrescentando outros, para repetições experimentais.
Quando acontecer o pleno domínio das verificações, o indivíduo deve determinar a ida
astral a uma esquina ou local qualquer, nas proximidades, onde o duplo pode ir andando
como pessoa normal, flutuando, ou simplesmente estar lá, ciente que apenas sensitivos
clarividentes têm condições de vê-lo como real, mesmo que essa pessoa não saiba ser
possuidora daquele dom, não sendo difícil no dia seguinte aquela inquirir o experimentador o que estava a fazer em tal lugar àquela hora. Deve-se anotar tudo, inclusive a
hora, e, se onde estava observou algum conhecido, para confirmação posterior.
Sabemos de pessoa que em projeção viu um amigo em determinada rua e horário, sentado à porta de uma loja; no outro dia querendo confirmação dos fatos, descobriu que
seu amigo não se encontrava na cidade desde três dias antes e o vidente ficou desanimado com o ocorrido, mas qual não foi sua surpresa quando o amigo chegou, e se referiu a
um estranho sonho que tivera, onde se via sentado à porta de uma loja, na esquina da
rua tal, e que o tinha visto em pé, do outro lado da rua, como que observando alguma
coisa ou à procura de algo, e que tal sonho se dera na madrugada de tanto para tanto, ou
seja, na mesma data (e provavelmente no mesmo horário) em que lhe ocorrera a experiência projeciológica.
Quando algum iniciante atingir eficiência desejada nos treinamentos, pode dirigir-se ao
quarto de qualquer pessoa conhecida – desde que saiba detalhes da casa e dos hábitos de
quem deseja visitar [isto pelo menos inicialmente, neste exercício], tocar na pessoa levemente e dizer em voz baixa, que deseja conversar com ela (o duplo dela) e depois
falar o que desejar. No dia seguinte é quase certo que, ao encontrar a pessoa contatada
esta dirá que sonhou muito com o amigo, não sendo nada estranho que se refira ao assunto que lhe foi sugerido ou mesmo da conversa com o seu duplo. Se o contatado tiver
sensibilidade aguçada, verá tudo, ciente que não foi apenas um sonho.
Aquele que mentalmente visita um amigo ou parente que esteja enfermo, preocupado ou
aflito, pode ministrar-lhe um passe ou oração – transferência de bioenergias transmitindo-lhe tranqüilidade e palavras de conforto, ou lhe sugerir soluções para os problemas,
etc. A pessoa poderá ser curada, ou receber condições para superações de seus problemas, nova esperança de vida entre outros equilíbrios recebidos.
Por outro lado, também é possível atingir alguém, importuná-lo, adoecê-lo ou lhe causar
prejuízos e danos, pois que a fórmula é a mesma, bastando tão somente sugerir o que
deseja e vencer resistências para que o mal esteja feito; todavia há de se cuidar nisso,
uma vez quem se projeta pode receber retorno ou estar a descoberto e, igualmente, ser
atingido, afinal trata-se, aí, de uma demanda. Somente se deve aventurar em tais quizilas quem realmente preparado ou por motivos extremamente graves, e ainda assim se o
remetente souber defender-se de possíveis contra-ataques e isto não se ensina, devendo
o interessado por si mesmo descobrir algum método eficiente, embora não exista defesa
perfeita e alguém poderá um dia ou sempre descobrir o ponto fraco de outrem.
Através da Projeciologia se podem visitar lugares e conhecer momentos, sejam eles do
passado, presente ou futuro; escutar conversa reservada, ler documentos sigilosos, entrar
e sair de qualquer lugar, e mais um cabedal de fenômenos parapsicológicos, isto é, catalogados e explicados pela Parapsicologia.
Evidente que nada é tão fácil sendo preciso muito estudo, treinamento, entendimento do
que se propõe a realizar, além de compreender que o mesmo direito que se tem no caso,
de atacar, outra pessoa também tem, inclusive até a obrigação de defender-se com vigor.
Mas, por conseguinte, nada é tão difícil que não se consiga superar.
Uns descobrem talentos (escrita, música, desenho, artes, etc), numa lista enorme de possibilidades, não sendo sem razões que especialistas dizem que, para as Projeciologias, a
vontade é o limite. Uma pessoa pode incorporar determinada personalidade – viva ou
morta, num Terreiro, Centro Espírita ou, ainda que em qualquer outro lugar, e estabelecer contatos mediúnicos, ver auras sendo preciso estudá-las para interpretar os significados, ou fazer psicofotografias [fotografia do pensamento, ou seja, transferir imagens
pensadas para um filme fotográfico].
A Projeciologia também pode ser usada em benefício próprio, como a memorização de
textos ou lições escolares, superações de doenças ou problemas psicológicos. São situações possíveis, todavia é preciso estudá-las uma a uma, analisar utilidades, buscar aquelas com as quais se possam ter afinidades maiores, e acreditar sempre.
Não se devem desejar entidades ou despertar talentos para que se possa tocar um piano,
aqueles cujos dedos são curtos e grossos ou mãos impróprias; não pode ser um cirurgião
médico ou odontólogo sem habilitação legal, pois que o sensitivo se complicará com a
lei.
Nada obsta um cirurgião ou curador mediunizado ou que se projete no incomensurável e
trazer para si a capacidade para aquelas operações, contudo recomenda-se que a pes-soa
interessada adquira conhecimentos terrenos adequados da profissão, que procure saber
dos efeitos colaterais ou mesmo da necessidade de uma cirurgia, sendo melhor aconselhável fazer um curso de Medicina ou Odontologia. Igualmente o interessado não deve
se meter a fazer obras de arte se lhe faltam recursos financeiros para aquisições de materiais.
Com a Projeciologia é possível inverter situações adversas, domar inimigos renitentes,
convencer alguém para que possa favorecer determinadas situações, como um bom emprego, porém se deve compreender melhor o significado e a responsabilidade disso tudo, pois que nem sempre o iniciante tem o perfil ideal para determinado tipo de serviço,
e assim até não corresponder naquilo que tanto ensejou, podendo inclusive prejudicar
terceiros inocentes.
Praticamente todos os fenômenos produzidos por sensitivos, médiuns ou espíritos, trabalham via projeciologias; é bastante comum, por exemplo, pedidos de orações por es-
crito, onde se coloca o endereço, nome do necessitado e o que lhe aflige, e nisto o médium [o espírito ou o sensitivo] consegue leitura mental daquilo, capta energia e é capaz
de dirigir-se até o local para ações necessárias, isto porque o solicitante puxa ou abre
caminho para o sensitivo; com atenções se pode observar que num Terreiro, Centro ou
Igrejas denominais, de um modo geral, o líder, espíritos ou sensitivos presentes, adivinham [sabem] problemas da platéia, porque mentalmente [às vezes por palavras indutivas] fazem com que as pessoas lhes contem mentalmente os dramas ou dificuldades,
lógico a caber nos casos certas intuições psicológicas do sensitivo, além da necessária
decodificação daquilo que lhe é passado, alem de somente falar aquilo que a pessoa
deseja ouvir, caso contrário o sensitivo está fadado a fiasco total.
É preciso saber que o indagador, para qualquer pergunta formulada, já tem sua própria
resposta certa ou errada, mas a tem com certeza. Quando se procura cartomante ou algum espírito para determinada situação, o sujeito já possui alguma proposta de solução
que é exatamente aquela que deseja ouvir ou ver confirmado, e onde lhe falar o contrário é risco certo de não satisfação, daí o guia não presta, o médium é fajuto, etc, a não
ser que receba primeiro a sua idéia concebida, que o sensitivo ou espírito que seja, saiba
depois modificar de maneira compreensível e aceitável.
Com a Projeciologia se pode ver tudo da pessoa, passado, presente, futuro [previsão],
desde que mentalmente o interessado repasse informações, isto é, abra a tela mental
voluntária ou involuntariamente. Muitas pessoas chegam trancadas em si para ver se o
sensitivo sabe mesmo das coisas, bastando a este apenas uma revelação bombástica, que
na verdade não o é, ou a bastar uma citação apenas que ela, de forma bastante natural, se
abrirá mentalmente e, a partir daí, não existirá erro algum, porque ela confiará no sensitivo.
Algumas situações podem ser vistas:
1. Se alguém procura uma consulta – leitura de cartas por exemplo, basta o leitor
lançar as cartas aleatoriamente e não deixar a pessoa dizer nada – para que esta
não diga depois que se falou pelas suas palavras, e assim surpreendê-la através
do fenômeno dé-jà-vu, e dizer aquilo que a pessoa em algum momento teve a
impressão de já ter visto, presenciado ou vivido, ou sejam, situações denominadas pré ou simulcognições, o quanto basta para se acreditar o cartomante sabedor dos fatos e acontecimentos.
2. Outro sistema, igualmente eficaz, é o tabuleiro de trinta e seis caselas do tamanho de uma carta de baralho comum, onde em cada uma delas tenha escrito [no
superior e inferior] uma situação tomada entre inveja, ciúme, casamento, rival,
saúde, viagem, negócios, etc, de maneira que consulente e cartomante, mesmo
em sentidos opostos, possam ler o enunciado. Nesta técnica a própria pessoa retira do baralho sete cartas aleatórias e as coloca, uma a uma, na casa que desejar,
para de pronto o leitor ditar o que se passa com aquela pessoa, sem erro algum,
vez que a própria pessoa colocou cada carta exatamente onde o próprio problema ou aspiração, exemplo, se pôs uma carta sobre o casamento e usa aliança, ou
que se possa identificá-la comprometida, este é ou aí está um dos problemas; se
alem do casamento colocou a outra carta na casa rival, é porque acredita que o
parceiro tem outro alguém ou, ao menos, suspeita-se; se na inveja, com certeza
acredita que está sendo prejudicada por trabalhos ou mau olhado, tudo uma
questão seqüencial onde se predomina a argúcia e o jogo de palavras.
3. Numa conversa informal entre conhecidos, se alguém se referir que viu uma
pessoa desconhecida na rua, com a nítida impressão de conhecê-la de algum lugar, isto já será o suficiente para que todos abram a tela mental sobre aquele assunto, com isso a facultar não só condução de conversa, como revelar situações
de cada um dos presentes.
4. Entre amigos, basta alguém rapidamente olhar cada um deles na base do nariz e,
diante de um deles qualquer menear a cabeça como gesto rápido de dúvida ou
incompreensão, para de imediato o observado desejar saber o que foi, e a seqüência até poderá ser assim, – "Ah! não foi nada não, apenas a impressão que
você num tempo desses se olhou no espelho e questionou a própria identidade,
quem era, por qual a razão este seu nome, porque está aqui – de onde veio e para
onde vai, coisa assim, deixa pra lá". A abertura mental de todos será imediata e o
assunto poderá ser explorado e conduzido para outras situações.
5. A abertura mental também pode ocorrer revelando certas sensações do indivíduo, como sentir presenças no escuro, especialmente quando interrupção de energia elétrica, ou que algum dia ele previu um acidente com uma pessoa que
comprou uma moto (e quem que não pensa nisto?) e o acidente aconteceu, nada
a importar suas iguais sensações com todos os motoqueiros, pois que vale apenas o revelado sucedido. A mesma regra para quem pensou muito em alguém e
este faz contato, ou aquela música que chega, de repente, um pouco antes que
alguém a cante ou o rádio seja ligado em seu início.
6. Aparentemente são acontecimentos naturais, mas que surpreendem quando revelados, mesmo que tardiamente ou apenas para estimular abertura mental desejada. Vez ou outra alguém diz que nunca teve qualquer experiência do gênero, por
exemplo, a tal crise de identidade diante do espelho, a lhe caber então a advertência que isto vai acontecer, com certeza, e na realidade já passa acontecer a
partir do momento da revelação.
Dominadas tais situações, todas as artes adivinhatórias são possíveis, seja através de
leituras de cartas de baralho, tarô, bola de cristal, copo com água, chamas de velas, búzios, dados, i’ching, runas, leitura de mãos ou da sola dos pés, enxergar o problema nos
olhos [íris] da pessoa ou nas rugas faciais, identificar auras e interpretá-las, prever futuro na borra do pó de café escorrido numa xícara, e um mundo de coisas, tão somente
bastando que a pessoa se abra mentalmente. Na verdade nem há necessidade de objeto
algum, a bastar palavras.
Se numa Igreja o pregador disser que alguém da platéia tem um determinado problema
– [de início se deve usar um corriqueiro], com certeza achará mais de um, e a pessoa
sendo tocada por essa revelação, por si própria fornecerá todas as condições para pronta
solução daquilo que a aflige. Se o mesmo pregador ditar que vai buscar na platéia uma
pessoa que está com tremenda doença, preocupação ou qualquer coisa que lhe venha à
cabeça, e ele [pregador] sair do seu lugar e se dirigir rumo a porta de saída, rápido e
sempre falando que vai identificar a pessoa, olhando para os lados, para frente e para
trás, voltar em seguida, retornar e outra vez voltar, com certeza estará com a pessoa i-
dentificada, sem milagre algum, pois que a pessoa indicada terá mesmo um problema e
fornecerá todos ingredientes para pronta solução, até por medo de não ter fé.
Como fazer isso? Simples. Primeiro o pregador se diz ungido por Deus e que Deus lhe
está a revelar a pessoa que tem o problema, momento em que alguns dos presentes sentem o impacto da revelação, se retesam no banco, não se voltarão para trás para acompanhar a caminhada do pregador, até por receio de demonstrada ansiedade, mas aque-les
que não têm problemas ou não se sentiram tocados, sim, eles acompanharão o milagreiro com os olhos e cabeça virada por onde ele for, dada a curiosidade e para não perder a
oportunidade de ver o milagre.
O ir e vir do pregador decorre da necessidade de se eliminar dúvidas, vez que as pessoas
menos problemáticas entre os retesados, ou que não resistem a curiosidade de saber
quem, abandonarão a postura inicial e acompanharão os movimentos, e se mais de um
ficar preso em seu lugar, o pregador pela prática escolherá o melhor, de preferência aquele que está de cabeça baixa, mãos separadas porém fechadas à altura do peito, como
que fazendo uma torcida tremenda que seja revelado.
Assim, abrir a tela mental de alguém não é nada difícil, agora dar o andamento correto e
atingir objetivos, isto sim exige estudo, compreensão do assunto e fé naquilo que faz e
acredita capaz de realizar.
Com o domínio da Projeciologia tornam-se possíveis também os fenômenos físicos, não
apenas os psicológicos. Para as realizações físicas, inicialmente recomendam-se objetos
leves, tipos agulhas ou abrir compassos, quase nunca, porém, a superar aquilo que o
praticante seja incapaz materialmente de realizar. Para as realizações físicas ou psicológicas, a técnica é a mesma, ou seja, o indivíduo projetar o seu duplo e ele realizar, situações em que o kardecista dirá realização de um espírito, os cristãos – de maneira geral,
atribuirão os feitos aos anjos [se ocorridos em sua denominação] ou demônios [se em
outra], enquanto os parapsicólogos informarão os feitos pelo poder da mente, para tudo
aquilo que na verdade o próprio indivíduo fez acontecer, pelo seu duplo, e se isto for
mente, espírito, anjo ou demônio, que sejam todos eles e, então, todos têm razões.
AUTO-HIPNOSE
Consegue-se auto-hipnose com maiores facilidades quando se tem auxílio prelimi-nar
de um bom profissional, especialmente nas primeiras sessões.
Na opinião de Karl Weismann, (O Hipnotismo – Psicologia, Técnica e Aplicação, Editora Prado Ltda. 1958), a maneira prática, rápida e eficiente para se adquirir e desenvolver auto-hipnose é a heterosugestão pós-hipnótica, na qual o hipnotizador, após colocar
o pretendente em transe profundo, determina-lhe um pós signo e, a partir então a bastar
tão somente que o candidato recorra ao que lhe foi determinado, para entrar no estado
pretendido..
Para técnica do gênero, o hipnólogo pode usar uma figura (medalhão por exemplo) que
se empresta ao interessado para que este o coloque na parede do quarto (ou cômodo
especialmente preparado para as sessões), com a ordem que ele, toda vez que desejar
auto-hipnose deve acomodar-se de maneira confortável, relaxar-se, fixar o objeto de
dizer: – "estou pronto para o momento", em seguida fechar os olhos e respirar de manei-
ra pausada e profunda, para prontamente adormecer quando chegar a determinado número inspirar / expirar, sete por exemplo, conforme ordens prefixadas.
Não existe perigo algum quanto ao uso de semelhante técnica, na qual o indivíduo estará sempre vigil e em condições de ordenar ou induzir a si mesmo, naquilo que deseja,
inclusive quanto ao acordar (despertar) – "um, dois e três, pronto, estou desperto", de
antemão já firmado que o voltar a si será sempre imediato diante de situações de imprevistos (uma visita que chega, etc.), embora o bom pretendente a auto-hipnose deve ao
máximo evitar interrupções ou ser incomodado quando em atividade, pois que aquele é
o seu momento, a sua hora.
Para segurança adicional, o hipnotizador deve manter no candidato permissão para a
entrada em seu universo, em caso de extrema necessidade ou, ainda, que aspirante entre
em sono comum depois de determinada hora de atividade; se o candidato desejar, basta
apenas estabelecer três pancadas suaves na porta do quarto, para um despertar tranqüilo.
Então não há realmente motivos para temor algum.
A auto-hipnose tem um sem número de aplicabilidade no dia a dia do indivíduo, desde
curas de traumas e complexos psicológicos, doenças psicossomáticas, moléstias orgânicas com sobrevida àquelas incuráveis, até o adquirir capacidades paranormais e desenvolvimento das inatas, assim como produzir fenômenos de escrita automática, indução
de sonhos, capacidades de curas, utilização de mancias e catalisadores, entender línguas
estrangeiras, fazer desenhos artísticos mesmo que em estado normal não possua ou venha possuir aqueles dons.
O uso da auto-hipnose, desde que estruturado adequadamente, sem dúvidas transformase numa hipnoanálise ou hipnoterapia, e com isso o indivíduo se ver livre dos problemas
de causas psicológicas como alguns tipos de obesidade, gagueira, medo da morte, dificuldades de memória e concentração, bem como superação da dor física, libertação de
vícios prejudiciais como drogas proibidas, bebida e cigarro.
É possível, com a auto-hipnose, provocar regressão de memória até a vida uterina –
momento do ato conceptivo; àqueles que crêem na existência de vidas passadas, poderão facilmente encontrar a sua, enquanto que o não acreditar em processos reencarnatórios traz evidentemente algumas dificuldades de êxitos, daí a necessidade de um hipnotizador. O não crer não significa o não existir.
Para os que acreditam – lembre-se sempre que o fator crença é um forte bloqueador de
resultados, agindo como espécie de censor no próprio indivíduo – não é difícil consultar
o Registro Akáshico ou à Consciência Cósmica, e assim adquirir o saber sua vida e dos
compromissos assumidos, bem como de outros conhecimentos.
Para a auto-hipnose, nem sempre é preciso um especialista que ajude a pessoa conquistá-la; o pretendente pode também se aventurar só, desde que através de um princípio
firmado, ou propósito estabelecido para o que se pretende, além de razoável conhecimento da matéria.
Existe uma técnica bastante simples para auto-hipnose regressiva, já testada com êxito
por pessoas que não se submeteram a nenhum hipnotizador, mas que receberam informações a respeito. O método consiste, em primeiro lugar o indivíduo estabelecer o que
efetivamente deseja da auto-hipnose, depois se retirar para um lugar tranqüilo, sentar ou
deitar-se comodamente, fixar seu olhar num ponto qualquer – vale o uso de uma meda-
lha presa à parede, e, através de respirações pausadas porém profundas, dar ordens ao
cérebro para que este faça pesar os olhos e de vez fechá-los quando a contagem mental
chegar a dez – uma contagem regressiva, com ordens ao cérebro entre um número e
outro.
-O candidato à auto-hipnose deve estabelecer pontos intermediários quanto às pretensões, por exemplo, se desejar idade da primeira infância, vida uterina ou vida passada,
recorra a faixas etárias graduais antes de se chegar lá.
O método é o mesmo ensinado para a projeção do duplo etéreo, apenas com objetivos
diferentes, pois que não se pretende aqui o corpo astral, embora o fenômeno regressão
possa assim ser caracterizado.
Atingido o objetivo, isto é, reviver mentalmente determinada faixa etária, por exemplo a
adolescência ou os quinze anos de idade, algo tremendamente fácil e possível mesmo
sem hipnose alguma, o indivíduo buscar detalhes daquela sua idade, mesmo que sem
importância aparente, futilidades, broncas de família, amor, brigas, brincadeiras, etc;
para então continuar ou não a experiência, sendo recomendável nenhuma pressa, e assim analisar item por item de cada escala estabelecida.
Numa outra sessão é possível reiniciar regressão a contar de onde parou, desde que devidamente analisada e compreendida referida faixa etária, onde algum possível problema refletivo no presente e nisto trabalhar para pronta solução. Nesta prática gradativa,
em determinado momento o experimentador cairá na primeira infância, e nesta as recordações conscientes são quase nulas; se a pessoa não encontrou motivos ainda para seus
problemas em idades superiores, ou simplesmente esteja a desejar continuidade, que
prossiga então, idade de três anos, dois, um, nove meses, depois sete, três, um, dias, dia,
horas e eis o mo-mento do nascimento - olha já aí uma boa causa para se ter problemas-,
como foi esse seu nascer, a reação dos pais, avós, parentes, se foi parto complicado ou
não, etc.
A regressão pode continuar em todo o período de gestação que antecedeu seu nascimento: nove meses, oitavo, sétimo, (...), três meses de concebido; e neste momento muitos
já estão numa espécie de limbo, algum lugar que não a Terra, enquanto a outros isto
somente acontece na quarta semana, e tem aqueles que revivem inclusive o momento do
ato conceptivo, no exato momento da fecundação, para somente então se situar num
outro lugar.
Existem relatos de pessoas que não atingem esse lugar, com fortes indícios de fator
crença - um ateu por exemplo, um agnóstico (aquele que não tem conhecimento racional
ou concepção de uma outra vida), ou alguém que simplesmente não se aceita do lado de
lá.
A descrição desse lugar além Terra é variável de indivíduo para indivíduo, poucos o
descrevem idêntico, e não importa a maneira como se possa vê-lo, mas uma vez lá é
interessante perceber os mínimos detalhes, adquirir o máximo de informações que puder, se lá estavam amigos atuais, parentes ou conhecidos, se coube direito de escolher a
família, o sexo, se foi quem pediu para vir à Terra ou se isto foi uma ordem, se esta vinda estava ou não predestinada a alguma missão diferenciada, etc. e sobretudo, porque se
encontra lá e desde quando. Alguns param nesse lugar, como se ali fosse o seu momento
de criação, todavia são poucos aqueles que, atingindo este ponto, não tenham condições
de recuar mais além.
E antes desse lugar, onde esteve? Porque chegou ali?
A primeira hipótese é que alguém, se chegou naquele local, certamente veio de algum
outro lugar, e este lugar na quase absoluta totalidade seria a Terra (poucos a se referir a
um outro planeta, num outro sistema solar, etc.), da qual saiu pela morte física.
Se o experimentador esteve antes na Terra, deve procurar saber onde, quando, quem foi
e quem eram seus pais, irmãos e todo parenteiro, detalhes de extrema importância, as
particularidades daquela vida tanto quanto desta; se foi pessoa de boa ou má índole, se
teve esposa e filhos, qual o círculo de amizades, a atividade profissional exercida, posição social, doenças, inclusive qual a causa morte que o tirou de lá.
Alguns indivíduos regressam ainda mais a outras vidas que teve, sempre pelo mesmo
processo.
Suponhamos que o buscador, em todas essas suas andanças regressivas, descobriu motivos de possíveis causas de sofrimentos para esta existência; bem, daí é necessário dar
tratos aos problemas, e certamente um profissional psicólogo, talvez um teólogo ou um
psicopedagogo, seja a melhor pessoa para a cura, embora sabemos de indivíduos que,
uma vez detectadas as causas, conseguiram por si o alívio dos males ou mesmo a cura,
por certo movidos pelas compreensões. alguma reprogramação de vida.
É mais ou menos comum a pessoa que, uma vez atingido aqueles níveis pela autohipnose (e outros pela hipnose sob crivo profissional), transformar-se em altruísta, religioso e com uma nova compreensão da sua própria existencialidade.
Óbvio que a auto-hipnose não se presta tão somente para regressões, e a pessoa em vez
de fazer isso, pode usá-la para uma nova dinâmica de vida, transformação pessoal, exclusões de problemas, reencontro pessoal, superações de dificuldades, descoberta de
talentos, desenvolvimento das paranormalidades, e um leque de outras tantas possibilidades, facultadas todas sem dúvidas pela liberação e desbloqueio mental.
DAS TEOGONIAS E ENFOQUES HISTÓRICO-TEOLOGAIS:
DA HISTORICIDADE CRÍSTICA
-Recorrência maior à obra de “NUNES Danillo, Judas Traidor ou Traído, Gráfica
Record Editora, 1968, Rio de Janeiro – Brasil.
1. À PROCURA DE UM HOMEM CHAMADO JESUS
Jesus Cristo, ou nele se crê como rezam os evangelhos, as tradições, postulados e dogmas, e aí não há discussão, ou então se questiona até mesmo sua própria historicidade.
Teria existido na Judéia, sobretudo na Galiléia, um homem chamado Jesus Cristo, hoje
pregado e venerado pelos cristãos?
Não há registro histórico algum de tal probabilidade; para se encontrar o Jesus dos cristãos, há de se recorrer sempre aos evangelhos e textos bíblicos neotestamentários, ao
lado de coletâneas de escritos da denominada literatura cristã.
Justus de Tiberíades, contemporâneo de Jesus que residia na vizinha cidade de Cafarnaum (Mateus 4:13), não escreveu sequer uma linha a respeito dele em sua obra, uma
extensa crônica desde os tempos de Moisés à época; é de se admirar que um homem
com os feitos de Jesus, ainda que judeu dissidente religioso, não tenha merecido uma
nota qualquer de tão detalhista historiador [Félicien Challaye, 1967: 218].
Flávio Josefo, autor da obra Antiguidades Judaicas (cerca de 93 EC.), uma grandio-sa
obra que narra a saga e história do povo judeu desde tempos imemoriais até a época de
Nero, nada dedicou sobre Jesus Cristo e seguidores, ignorando-os por completo, e no
entanto descreve sobre os contemporâneos daqueles, como Herodes, Pilatos e João Batista, narrando minuciosamente todos fatos políticos, religiosos e sociais da nação judia;
existe entretanto no Livro XVIII – capítulo III – Antiguidades, uma certa passagem denominada pelos clérigos e estudiosos cristãos como Testimonium Flavianum, que diz:
"Viveu também naquele tempo Jesus, homem sábio, [se é que pode ser
chamado de homem], porque fez coisas admiráveis, ensinando aos que almejavam inspirar-se na verdade. Não só foi seguido de muitos hebreus, mas
também por gregos. [Era o Cristo]. E, acusado pelos principais da nossa nação perante Pilatos, este O mandou crucificar. Seus partidários não O abandonaram nem depois de morto. [Vivo e ressuscitado, apareceu-lhes ao
terceiro dia, como os santos profetas o haviam predito, para efetuar mil outras obras milagrosas]. E mesmo hoje a raça daqueles que por causa Dele se
chamam ‘messianistas’ ainda não se extinguiu”.
Estudos fundamentados na obra O Homem em busca de Deus, Sociedade Torre de Vigias de Bíblia e Tratados, 1990, página 67, afirma "segundo texto tradicional de Josefo,
nota de rodapé, página 48 da edição da Harvard University Press, volume IX"; também,
no livro O Super Homem na História, Daniel Hammerly Dupuy, 7ª. Edição, Casa Publicadora Brasileira, 1945, páginas 33 e 34 em notas de rodapé informativo, “Antiguidades Judaicas, Livro XVIII, capítulo III. As partes entre colchetes são consideradas
por alguns críticos modernos como intercalações apócrifas”.
Os primeiros doutores da Igreja não mencionam estas palavras de Josefo nos séculos
iniciais do cristianismo, embora sejam constantes referências outras às obras do historiador. Daniel H. Dupuy [mesma citação página 34] menciona Josefo, capítulo XVI, onde
tal mencionaria, incidentalmente, “Jesus que se diz o Cristo”. O historiador Josefo, na
qualidade de judeu convicto não escreveria jamais, ainda que incidentalmente, alguma
referência assim a respeito de Jesus; os textos citados, opinião unânime de estudiosos de
Flávio Josefo, não merecem créditos, sendo considerados documentos forjados e introduzidos em sua obra no século III, por algum cristão anônimo, entre duas passagens que
se completam naturalmente, sem a necessidade de referidos textos, que apenas destoam
assuntos.
Suetônio (c. 69 – 140 ou 65 – 135), historiador romano, descreve em sua obra intitulada Os Doze Césares, sobre uma conturbação de ordem social acontecida em Roma,
por volta do ano 52, provocada por certo Chrestos: "Visto que os judeus em Roma causavam contínua perturbação à instigação de Cresto, ele os expulsou da cidade", conforme Sociedade Torre de Vigias de Bíblia e Tratados – obra citada, página 237.
Os cristãos vêem neste Chrestos a figura de Jesus, contudo verifica-se que o texto não
diz “por causa do nome de...” ou alguma outra indicação na qual se possa identificar o
Cristo (Jesus); parece-nos, e isto é o mais correto, que em Roma tenha existido um homem por nome de Chrestos, agitador líder daquele episódio. O mesmo Suetônio men-
ciona a seita dos Cristãos, em sua outra obra Os Três Tiranos: Vida de Nero, mas nada
diz sobre Jesus: “(Nero) enfureceu-se contra os cristãos, homens que se entregavam
a uma superstição e aos sortilégios.” – Daniel H. Dupuy, página 30
Dando considerações a La Sagesse [Jesus Cristo Nunca Existiu], dentre os documentos
de Qurâm destaca-se um como de autoria de Habacuc, que se refere a um Crestus traído
por Judas, sacerdote dissidente, numa história bastante próxima da de Jesus Cristo, todavia antecedendo-a pelo menos em cem anos; que esse Crestus, também citado por
Ganeval, seria personagem divina cultuada em Alexandria, e que fora em torno deste
nome que judeus e egípcios tumultuaram Roma, segundo Ganeval.
Temos, evidentemente, algumas resistências às pretensões de La Sagesse quanto a esse
Crestus – faltam-nos detalhes e maiores historicidades a respeito; não achamos possibilidades de que Suetônio tenha se referido aos seguidores de Crestus como os perseguidos por Nero, e sim aos cristãos de Jesus, cujo nome já se encontrava em ascensão por
ocasião daqueles escritos; acreditamos todavia, tratar-se apenas de textos apócrifos posteriormente atribuídos e acrescentados à obra que, de mais a mais, nada diz respeito a
um Jesus Cristo histórico.
Plínio, o Moço, no ano 105 ou 111 (por fontes diferentes de informações), teria escrito a
seguinte carta ao Imperador Trajano:
“Senhor, tenho por costume recorrer a ti para que desfaças todas as minhas
dúvidas; por que, quem poderá orientar melhor meu vagaroso modo de
proceder, ou instruir minha ignorância? Nunca assisti ao interrogatório dos
cristãos [por causa dos outros], razão porque ignoro os costumes que devem
ser observados e quais deles e em que medida devem ser castigados: nem
são pequenas minhas dúvidas no tocante à questão de se fazer ou não diferença com as idades [dos acusados], e se os jovens delicados devem receber
o mesmo castigo que os homens fortes, si se deve perdoar aos que se arrependem, ou se nada aproveita ao que tenha sido cristão abandonar o cristianismo; se o adotar o nome, sem nenhum outro crime, ou crime implicado
pelo nome, deve ser castigado. Tenho procedido da seguinte maneira com os
que me foram trazidos como cristãos: perguntava-lhes se eram cristãos ou
não. Se confessavam o serem, tornava a lhes perguntar, e uma terceira vez,
intercalando ameaças com perguntas: se perseveravam em sua confissão,
ordenava que fossem executados; porque não duvidava de que, qualquer
que fosse a natureza da confissão, esta porfia e inflexível obstinação mereciam ser castigadas. Houve alguns dessa seita, dos quais cheguei a saber que
eram cidadãos romanos, que poderiam ser enviados a Roma. Depois de algum tempo, como sói acontecer em tais julgamentos, o crime se estendeu, e
se me apresentaram muitos casos mais. Foi-me enviado um libelo, ainda que
anônimo, o qual continha muitos nomes [de pessoas acusadas]. Negaram ser
cristãs agora, ou que alguma vez o tivessem sido. Invocaram os deuses; e
suplicaram à tua imagem, a qual fiz trazer com este propósito, com incenso
e vinho; também amaldiçoaram a Cristo: nenhuma destas coisas, segundo
fui informado, qualquer pessoa que seja verdadeiramente cristã fará; achei
portanto que devia absolve-los. Outros dos mencionados no libelo, disseram
ter sido cristãos, mas negaram que fos-sem então; que realmente o haviam
sido, mas que tinham deixado de ser, al-guns já havia três anos, outros ainda muito mais tempo; e um deles disse que abandonara a religião havia vinte anos. Todos estes adoraram tua imagem, e as imagens de teus deuses:
também amaldiçoaram a Cristo. Não obstante a-firmaram que sua principal falta ou erro era este: costumavam, em determinado dia, reunir-se antes
do amanhecer, e cantar em coro um hino a Cristo, como a um Deus; e comprometer-se por um sacramento [ou juramento], a não fazer nada de mau, a
não cometer roubo, nem furto, nem adultério; a não quebrar suas promessas, nem negar o que se lhes houvesse confiado, quando se lhes requeresse a
devolução; depois disto costumavam separar-se, e reunir-se de novo para
participar de um alimento comum e inocente, o que haviam deixado em obediência ao edito que publiquei sob tua ordem, no qual eu lhes proibia tais
conciliábulos. Esses interrogatórios me levaram a pensar que era necessário
inquirir a verdade por meio de tormentos, coisas que fiz com duas serventes, que eram chamadas diaconisas; mas com tudo isso, descobri apenas que
pertenciam a uma ruim e extravagante superstição. Fiz todas as investigações possíveis, e recorro a ti, porque o assunto me parece bem digno de consulta, especialmente por causa dos que estão em perigo; porquanto são muitos e de todas as idades, de todas as classes sociais, e de ambos os sexos, os
que agora e daqui por diante provavelmente hão de ser chamados a juízo, e
hão de estar em perigo, porque essa superstição se estende como um contágio, não só nas cidades e vilas, mas também nas aldeias, coisa que não é de
se duvidar possa ser detida e corrigida.” (Transcrição da obra de Dupuy,
páginas 30 e 31).
Plínio refere-se nesta carta a respeito das atividades cristãs e seus problemas jurídi-cos
ou de julgamento, já mencionando o Cristo como um Deus, numa época que o cristianismo mostrava-se, sem dúvidas, crescente em todos os segmentos da sociedade. O Imperador responde a esta carta de Plínio:
“Meu Plínio, seguiste o método correto no julgamento dos casos dos que haviam sido acusados de ser cristãos, porque realmente não se pode estabelecer uma forma precisa e geral de julgar esses casos. Esta gente não deve ser
buscada; mas se é acusada e confessa, deve ser castigada; mas com esta precaução: o que negue ser cristão, e torne claro que não o é, suplicando a nossos deuses, embora o tenha sido anteriormente, seja perdoado em virtude de
seu arrependimento. Quanto aos libelos anônimos, não deviam ser tomados
em conta em nenhuma acusação, porque seria precedente muito mau, e nada agradável para meu reino.” – Dupuy, páginas 31 e 32.
A despeito que tais documentos não sejam considerados autênticos, entende-se que Plínio não se limita apenas a relatar fatos – caso fosse real autor da carta, forçando um tanto para a existência de uma divindade em Cristo o que em absoluto seria a sua fé, fato
que por si já demonstraria certa fragilidade do texto como histórico, se tal não fosse uma
farsa.
Dupuy [páginas 29] faz uma citação a Luciano (125 – 192), orador, panfletista e satírico
da literatura grega, identificando-o como autor do trabalho A Morte do Peregrino, que
“expõe a história de um taumaturgo, cuja morte presenciou, do qual diz, entre outras coisas de seu passado, que aprendeu a admirável ciência dos cristãos, tratando
na Palestina com seus escribas e sacerdotes (...). Consideravam-no Legislador e lhe
chamavam seu pontífice, como àquele grande Homem crucificado na Palestina por
haver pregado uma nova religião aos mortais (...). Quando mudam de religião, rejeitam os deuses gregos, e adoram o sofista crucificado, vivendo conforme às suas
leis". Vejamos: Luciano descreve sobre um homem que diz e "do qual diz entre
outras coisas de seu passado”, sem contudo demonstrar evidência histórica. Sabe-se
hoje que, das oitenta e duas obras atribuídas a Luciano, pelo menos trinta delas são consideradas apócrifas, de acordo com o Dicionário Enciclopédico Brasileiro.
Lamprídio, possivelmente o filho (Dupuy não o identifica) do grande escritor grego do
mesmo nome, em seus trabalhos históricos sobre Heliogabulus (Imperador de Roma,
nascido em 204 e morto em 222) e Alexandre Severo (Imperador romano a partir de
235), menciona os cristãos e o nome de Jesus Cristo e sua doutrina, segundo Depuy às
páginas 29, todavia numa época já muito distante dos tempos de Jesus, quando o nome
deste já se achava consagrado.
O notável historiador latino Tácito (55 – 120), ao descrever sobre a vida de Nero, em
115, reportando-se a fatos de noventa anos antes, faz referências a um homem chamado
Jesus – citação de Helger Kersten, Jesus Viveu na Índia, Editora Best Seller, 1986.
De Dupuy colhemos a seguinte alusão ao incêndio de Roma, por Nero – texto transcrito da Obra Anais de Caio Cornélio Tácito, Livro XV, capítulo XLIV:
“Mas nem com favores, donativos e liberalidades do príncipe, nem com as
medidas que se tomavam para aplacar a ira dos deuses era possível suprimir a infâmia da opinião corrente de que o incêndio tinha sido voluntário. E
assim Nero, para silenciar essa voz e eximir-se da culpa, apontou como responsáveis por ele, e começou a castigar com estranhos gêneros de tormento,
a uns homens aborrecidos pelo vulgo por causa de seu fanatismo, comumente chamados cristãos. Esse nome proveio de Cristo que, sob o governo de
Tibério, tinha sido justiçado por ordem de Pôncio Pilatos, procurador da
Judéia: e, embora por aquele tempo se reprimisse até certo ponto a perniciosa superstição, tornava a ganhar terreno não só na Judéia, origem desse
mal, mas também em Roma, onde chegam e se praticam todas as coisas cruéis e vergonhosas que há nas demais partes. A princípio foram castigados os
que professavam publicamente essa religião, e depois, por indicações destes,
uma multidão infinita (...). Despertavam, todavia, a compaixão e grande lástima, como pessoas a que se tirava tão impiedosamente a vida, não para
proveito público, mas sim para satisfazer a crueldade de um único indivíduo.”
Na visão de Challaye “este texto, de 115-117, prova somente que a lenda que aproxima esses nomes começa a fixar-se.”
Filon de Alexandria, judeu contemporâneo de Jesus Cristo, especialista em assuntos
religiosos e seitas judaicas, em nenhum de seus cinco textos menciona o nome de Jesus.
Existe, todavia, um relato, ao gosto dos cristãos (que inclusive distribuem panfletos,
reproduzidos aos milhares e entregues aos fiéis e interessados, como prova inconteste da
historicidade de Jesus), uma carta atribuída a Públius Lêntulus, procônsul da Judéia e na
qualidade de testemunha ocular de Jesus e acontecimentos, ao então Imperador Tibério
César; o documento informa a respeito da figura de Jesus, numa visão bastante apologética e de mínimos detalhes, como magnífico tratado a respeito de Jesus; diz um desses
panfletos intitulado “RETRATO DE JESUS”, com uma introdução explicativa:
‘Em Roma, no arquivo do Duque de Cesadini, foi encontrada uma carta de
Públio Lêntulus, pró-cônsul da Galiléia, dirigida ao Imperador Romano,
Tibério César, em virtude de este ter interpelado ao Senado Romano acerca
do Cristo, de quem tanto lhe falavam’. “Eis a carta que é um retrato fiel de
Jesus”:
“Sabendo que desejais conhecer quanto vou narrar: existindo nos nossos
tempos um homem, o qual vive atualmente de grandes virtudes, chamado
Jesus, que pelo povo é inculcado profeta da verdade, e os seus discípulos dizem que é filho de Deus, criador do Céu e da Terra e todas as coisas que nela se acham e que nela tenham estado; em verdade oh! César, cada dia se
ouvem coisas maravilhosas desse Jesus; ressuscita os mortos, cura os enfermos, em uma só palavra: é um homem de justa estatura e é muito belo no
aspecto. Há tanta majestade no rosto, que aqueles que o vêem são forçados
a ama-lo ou teme-lo. Tem os cabelos da cor da amêndoa bem madura, são
distendidos até às orelhas, e das orelhas até às espáduas, são da cor da terra,
porém mais reluzentes. Tem no meio da sua fronte uma linha separando os
cabelos, na forma em uso nos Nazarenos; o seu rosto é cheio, o aspecto é
muito sereno, nenhuma ruga ou mancha se vê em sua face de uma cor moderada; o nariz e a boca são irrepreensíveis. A barba é espessa, mas semelhante aos cabelos, não muito longa, mas separada pelo meio; seu olhar é
muito especioso e grave; tem os olhos graciosos e claros; o que surpreende é
que resplandecem no seu rosto como os raios do sol, porém ninguém pode
olhar fixo o seu semblante, porque quando resplende apavora e quando ameniza faz chorar; faz-se amar e é alegre com gravidade. Diz-se que nunca
ninguém o viu rir, mas, antes, chorar. Tem os braços e as mãos muito belos;
na palestra contenta muito, mas o faz raramente e, quando dele alguém se
aproxima, verifica que é muito modesto na presença e na pessoa. É o mais
belo homem que se possa imaginar, muito semelhante a sua Mãe, a qual é
de uma rara beleza, não se tendo jamais visto, por estas partes, uma donzela
tão bela.”
“(...).”
“De letras, faz-se admirar de toda a cidade de Jerusalém; ele sabe todas as ciências e nunca estudou nada. Ele caminha descalço e sem coisa alguma na cabeça.
Muitos se riem, vendo-o assim, porém em sua presença, falando com ele, tremem e admiram. Dizem que um tal homem nunca vira ouvido por estas partes.
Em verdade, segundo me dizem os hebreus não se ouviram, jamais, tais conselhos, de grande doutrina, com ensina este Jesus; muitos judeus o têm como Divi-
no e muitos me querelam afirmando que é contra lei de tua Majestade.”
“(. . .).”
“Diz-se que este Jesus nunca fez mal a quem quer que seja, mas ao contrário, aqueles que o conhecem e com ele têm praticado, afirmam Ter dele recebido grandes benefícios e saúde, porém à tua obediência estou prontíssimo – aquilo que Tua Majestade ordenar será cumprido.”
“Vale da Majestade Tua, Fidelíssimo e Obrigadíssimo.”
“L’indizione setima, luna seconda.”
“Públio Lêntulus"
Diversos autores e historiadores citam e descrevem partes desse documento; a presente
é uma reprodução contida num folhetim distribuído gratuitamente pela Gráfica São João
– Bauru, S.P. Referido texto não resiste nenhuma análise científica séria, tratando-se de
publicação feita circular por cristãos, no século XIV, tratando-se portanto de documento
comprovadamente falso.
Estranhamente Pilatos, Procurador da Judéia entre os anos 26 e 36, diz Hayyim ben Yehoshua que Pilatos esteve no cargo até 46, nada escreve ao Imperador Tibério César, de
que tenha condenado e morto na Judéia um homem chamado Jesus, o Cristo, pretendente a rei dos judeus e agitador das massas; Pilatos, por dever de ofício como o fizera a
respeito de outros crucificados, não negligenciaria a ponto de manter silêncio sobre um
condenado ao nível pretendido de Jesus.
Atribuiu-se-lhe, todavia, uma Carta [ou Atos] dirigida ao Imperador Romano, a respeito
de Jesus, mencionada por Justino por volta do ano 150 e confirmada por Tertuliano (160
– 245), como existente nos arquivos imperiais de Roma; no século IV quando a Igreja
apoderara-se do Império Romano, apresentou-se então uma desastrada possível Carta de
Pilatos, endereçada ao Imperador Cláudio, um grasso erro de cronologia histórica, sem
se dar conta que Pilatos deixara de ser autoridade na Judéia no ano 36, pelos próprios
anais da Igreja Católica, portanto cinco anos antes de Cláudio assumir o poder no ano
41, em substituição a Tibério. Hoje esta carta não é mais levada em consideração, como
alguma prova autêntica sobre a existência histórica de Jesus, tanto que nem a Igreja o
menciona mais.
Anás, Caifás, e nem outra autoridade judia da presumível época de Jesus, fizeram-lhe
qualquer menção de existencialidade; nenhum documento eclesiástico daquele tempo
refere-se ao Jesus dos cristãos; todos e quaisquer documentos a respeito de Jesus, sejam
os livros neotestamentários (do cânon ou apócrifos), sejam os que a estes se referem, ou
mesmo os históricos, não têm antiguidades comprovadas antes do ano 140.
O Talmude somente nos coloca Jesus, efetivamente, a partir do século IV (alguns o apontam para final do século III).
Com relação à citação talmúdica, duas versões chegaram até nossos dias, a de Babilônia
e a de Jerusalém, ambas preciosas, todavia, para estudos entende-se a versão babilônica
como a mais completa e importante, observa-se no entanto que em vez do Jesus Cristo
dos cristãos, conforme nos é dado conhecê-lo, vem citado Yeishu ha-Notzri ou seja, um
certo Yeishu – Jesus, como diminuição de Yeishua e não de Yehoshua, de Nazaré ou
Nazareno, uma seita religiosa judaica pré-cristã, à qual pertenceria esse Yeishu, em es-
tudos de Hayyim ben Yehshua/ O Mito do Jesus Histórico, tradução portuguesa do original em inglês.
Prosseguindo, pela mesma fonte, entende-se que o texto talmúdico não diz ser Yei-shu
ha-Natzrati, que no caso identificaria essa personagem como da cidade de Nazaré (Natzrat); Hayyim deixa bastante clara a diferença entre Notzri (seita religiosa dos Nazarenos) e Natzrat, cidade judaica que somente viria surgir no século III, cujos habitantes
eram chamados de Natzrati, quando o Jesus dos cristãos já era nome consagrado.
Afirma Hayym que Yeishu ha-Notzri fora um místico, considerado feiticeiro pelos próprios judeus, que vivera no período asmoneu (c. de 140 – 37/34 a C.), morto por apedrejamento e que teve seu corpo exposto numa árvore; há registros de que no ano 75 a C.
Yei-shu já seria adulto, pregador e batizador, posto em fuga para o Egito, pela classe
dirigente do judaísmo, de onde retornaria um dia, com a morte de seu principal perseguidor.
Estudiosos cristãos, no entanto, rejeitam Yeishu ha-Notzri como sendo Jesus Cristo;
sabe-se, no entanto, que a edição judaica do Talmude em Basiléia (cerca de 1578/1580)
trazia referências a respeito daquele Jesus, todas no entanto devidamente censuradas e
proibidas pelas autoridades cristãs, que doravante para seus estudos e ensinamentos vale-se de versões próprias do Talmude, a partir da edição dita de Amsterdã (1644/1648),
sem tais referências e outras consideradas danosas ao cristianismo.
Dupuy, obra citada, faz citações atribuídas a Anibal Fiori, de que no século IV o Talmude (mais precisamente as Guemaras) falava dos debates judeus sobre a vida e obras
de Jesus, todavia sem informar se esse Jesus é Yeishu ha-Notzri ou se algum outro que
possa, realmente, ser identificado como o Nazareno dos cristãos.
Ainda que a recorrer fontes cristãs, excetuando-se livros bíblicos, não existe, até o momento, nenhuma documentação séria que possa provar a existência física de Jesus. Para
as tais referências históricas de Josefo e outros já citados, La Sagesse afirma que certas
interpolações e outras citações sobre Jesus atribuídas a historiadores ou autoridades antes do século II, são apócrifas quando não falsificações grosseiras e que não resistem às
provas científicas dos “métodos comparativos de Hegel, a grafotécnica, o uso de isótopos radioativos e radiocarbonicos que denunciam a má fé daqueles que implantaram o cristianismo".
A Epístola aos Tessalonicenses é considerado o documento mais antigo a respeito de
Jesus, que antecede em pelo menos 25 anos o primeiro dos evangelhos, o de Marcos que
foi escrito por volta do ano 135.
O Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Bíblia Sagrada – Tradução dos textos originais,
com notas, Edições Paulinas, 1967, página 1.416 B, admite a Carta como “possivelmente” o primeiro escrito inspirado do Novo Testamento. Todavia o autor daquela carta não
se refere a nenhum Jesus histórico e sim a um nome já em íntima relação com Deus,
mostrando um Jesus consagrado pelo cristianismo pregado por Paulo, que se fazia na
época, uma importante seita grega do judaísmo, chamada de messianista.
Assim, para encontrarmos um Jesus genuinamente histórico, temos de buscá-lo nos evangelhos, e o primeiro deles, citado pelos historiadores e especialistas, trata-se do Evangelho de Marcion, por volta de 130 a 134, o qual nos apresenta um Jesus já adulto na
terra, não material nem nascido de mulher e sim um ser espiritual descido dos céus, ex-
perimentando, contudo, a crucificação. Muitos vêem Marcion como um gnóstico, em
sua teoria ou concepção dualista – existência de dois deuses, um bom (autor das coisas
invisíveis) e outro mau (criador do mundo visível e responsável pela queda de Adão e
Eva), o deus dos judeus.
-Félicien Challaye em sua Pequena História das Grandes Religiões, páginas 209, cita
Marcion como cristão herético, no começo do segundo século, filho de um bispo cristão, que teria sido o autor do evangelho que leva seu nome, por volta de 134, do qual
não foi conservado nenhum manuscrito, mas quase que inteiramente citado por Tertuliano, seu mais ferrenho adversário.
Não nos oferecendo Marcion nenhum Jesus, humano, vamos ao evangelho atribuído a
Marcos, surgido entre os anos 135 – 136, inspirado ou que teve como fonte o Evangelho
de Marcion, distinguindo-se, no entanto, ao identificar o deus do Antigo Testamento
como pai de Jesus, mas não nos informa a infância de Jesus.
Dos evangelhos de Marcion e Marcos surgiu o de Mateus em 137, de visão oposta a
Marcion. Depois surgiria o evangelho de João, ultramarciônico, composto por volta de
140, e, por fim, o atribuído a Lucas – em se tratando dos canônicos, aproximadamente
no ano 150 em Roma, mais dirigido aos romanos objetivando para o cristianismo os
mesmos privilégios do judaísmo.
Mateus e Lucas são as duas fontes mais imediatas que trazem referências históricas de
Jesus Cristo, desde seu nascimento, porquanto João se cala a respeito.
O Evangelho segundo Mateus, escrito por algum discípulo de possível testemunha de
Jesus, inicia-se com uma genealogia descendente do Cristo Jesus, ligando-o ao rei Davi,
por José no ramo de Salomão, enquanto Lucas, escrito certamente por adepto de um dos
colaboradores de testemunhas, apresenta-nos uma genealogia ascendente, bem diferente
daquela de Mateus, contudo colocando Jesus também na linhagem davídica, mas por
Natã e não Salomão.
Mateus diz, em seu capítulo 1: 16: “(...) E Jacó gerou a José, marido de Maria, da
qual nasceu Jesus, que se chama o Cristo". Para Lucas 3: 23, "E o mesmo Jesus
começava a ser de quase trinta anos, sendo (como se cuidava) filho de José, e José
de Eli (...).”
De Jesus a Davi, não existem nomes comuns nestas duas genealogias, contudo são mais
ou menos concordes de Davi a Abraão, onde para a narração de Mateus, prosseguindo a
de Lucas até Adão; a genealogia de Mateus aponta 43 gerações de Abraão a Jesus, enquanto Lucas descreve 42.
Diversos estudiosos, especialmente cristãos, têm procurado justificar ou esclarecer tais
divergências entre os dois narradores, situações que parecem ter sido motivos de sérias
preocupações para o autor da Primeira Epístola a Timóteo 1: 4, ao recomendar: “não se
dêem a fábulas ou a genealogias intermináveis, que mais produzem questões do
que edificação de Deus.”
Daniel H. Dupuy para harmonizar os dois textos, coloca a genealogia de Lucas co-mo
sendo de Maria e não de José: “S. Mateus, pois, registra a genealogia legal de Jesus,
que é a de seu pai putativo, enquanto S. Lucas apresenta a filiação sangüínea de
Jesus, isto é, a materna, ou genealogia natural”; esforçando-se, prossegue o autor:
“Nos escritos apócrifos do primeiro século, Maria aparece, efetivamente, como
filha de Eli”. Infelizmente Dupuy não nos dá referência alguma a respeito de quais apócrifos, e os transcritos que temos em mãos, não são datados do primeiro século, nem
antecedem os canônicos e os que mencionam Maria e sua natividade, trazem-na como
filha de Joaquim e Ana, conforme rezam as tradições cristãs e citações no Evangelho de
Tiago, às vezes chamado de Livro de Tiago ou Proto-Evangelho de Tiago.
O Pontifício Instituto Bíblico de Roma – Notas Explicativas referentes a Lucas 3:23 a
38, página 1.289 A/B, defende posição de harmonia entre os dois evangelhos, evocando
a Lei do Levirato (Deuteronômio 25:5-10, em especial o verso 6), para colocar José
como filho natural de Jacó, tendo Eli por seu pai legal; Mateus recorrera-se portanto aos
documentos dos registros de Jacó, pela visão daqueles tradutores, enquanto Lucas informara-se pela genealogia de Eli. A diferença dos números de gerações entre os dois
evangelhos, possa também ser esclarecida por esta mesma Lei.
Entendemos que a argumentação do PIBR é suficiente para saneamento de dúvidas,
uma explicação que satisfaz, embora não seja lícito deduzir ou interpretar aquilo que o
autor não ousa distinguir ou a fonte em informar.
Outra divergência perturbadora entre Lucas e Mateus, diz respeito à época em que Jesus
nascera: Para Mateus (2:1) o evento fora em Belém da Judéia, no tempo do rei Herodes; Lucas (2:1-2) aponta o nascimento por ocasião de um decreto, da parte de César
Augusto, obrigando o povo judeu a um alistamento, recenseamento, quando Cirênio
(Quirino) estava governador (presidente) da Síria., de acordo com H. Spencer Lews,
F.R.C., PhD, A VIDA MÍSTICA DE JESUS, Biblioteca Rosa-Cruz Volume I, Editora
Renes, pág. 99
Se Jesus nasceu no tempo de Herodes como enseja Mateus, o acontecimento não poderia ter ocorrido antes de 4 a C., ano em que Herodes morrera; sabendo, ainda por Mateus e somente por ele, que este rei ordenara matança de todas as crianças de Belém,
com idades de 2 anos para baixo, entende-se que Jesus teria nascido nesta época (entre
os anos 6 a 4 a C.) ou, até mesmo antes, pois que o autor não define quanto tempo se
passara do infanticídio à morte do rei, que adoecera no ano 5 a C; deixa-nos Mateus,
porém, uma outra pista, a ocorrência de um fenômeno celeste, por ocasião da chegada
do menino Jesus, que levam estudiosos determinarem o ano 7 a C., quando ocorrera a
conjunção dos planetas Saturno e Júpiter, acontecimento raro que, porém, naquele ano
acontecera três vezes (meses de maio, setembro e dezembro), segundo Spencer sem
outros maiores detalhes.
Para Gerald Messadiê, citação de João Magalhães em Uma Nova História de Jesus de
Nazaré, o fenômeno era tão raro, que somente veio a acontecer em 1.961, com o próximo previsto para o ano 2.100.
-Não temos conhecimento, por fontes científicas, de que algum fenômeno celeste tenha
efetivamente ocorrido na época do suposto nascimento de Jesus.
Alguns estudiosos (cristãos) estimam a data no ano 5 a C., certos pesquisadores remontam a ocorrência em 9 a C. e outros a colocam no ano 6 a C; dentre tantas datas a
mais comumente aceitas seria mesmo a de 7 a C.
Já em relação a Lucas, pelos dados informados, Jesus teria nascido no ano 6 d C., época
que Cirênio (Quirino) assumira o governo da Síria; esta data, contudo, gera outras polêmicas, sabendo-se que César Augusto determinara recenseamentos nos anos 28 e 8 a
C. e depois no ano 8 d C., menção IBPR, notas explicativas (Lucas 3 – 23), página
1.289 A/B , o que não significa que Cirênio não tenha resolvido realizar um no ano 6,
com aval de César, considerando para isto as palavras de Lucas (2: 2) “(este primeiro
alistamento foi feito sendo Cirênio presidente (governador) da Síria).”
Percebe-se então uma diferença considerável de anos, um mínimo de pelo menos dez,
acreditamos treze, entre Lucas e Mateus para um mesmo acontecimento.
Spencer em sua mesma obra informa que Cirênio também fora governador da Síria, uma
primeira vez, entre os anos 4 e 1 a. C, e depois a partir do ano 6 d. C; ainda assim não
dá para conciliarmos datas sem algum esforço de adaptação entre as mesmas, uma vez
que o próprio autor faz apenas vagas citações, parecendo não dar muita importância
para o caso, a preocupar-se mais com possível mês e data do nascimento de Cristo, do
que com o ano em si. Não sabemos qual a fonte referencial de Spencer que coloca Cirênio, como governante da Síria, entre 4 e 1 a.C.
Uma outra divergência entre os livros Lucas e Mateus, poderia estar onde Mateus coloca o fenômeno da estrela que seria vista única e tão somente pelos magos do Oriente,
que a entenderam como anunciação do nascimento de algum Salvador e, quando chegam a Belém – depois de uma desastrada procura em Jerusalém, encontram Jesus numa
casa; enquanto Lucas aponta um anjo mensageiro anunciando o nascimento de Jesus a
uns pastores da comarca de Belém, sendo que estes, após uma revoada de anjos em cânticos e glórias, dirigem-se à cidade e lá encontram o menino Jesus numa estrebaria, juntamente com seus pais, deitado numa manjedoura que lhe servia de berço.
Evidente que possa tratar-se de episódios diferentes ou mesmo ocorrências em dias distintos; ambos, porém, carecendo de seriedade, pois é incrível que uma estrela parada
sobre determinado lugar de Belém, tenha sido observada apenas pelos magos, uma vez
que da maneira como se acha colocado o fenômeno da estrela, acreditamos impossível
que apenas os magos a tenham visto, assim como estranhamos a ausência de relatos
fidedignos a respeito de tal evento e de tamanha magnitude. Por outro lado é difícil
compreendermos Lucas, ao colocar pastores nos arredores de Belém num mês atípico,
se é que Jesus tenha realmente nascido em dezembro conforme, tradição cristã, o que
veremos mais adiante. Observam-se, portanto, que tais citações são fenômenos exclusivos de apenas alguns poucos, sem registros históricos competentes.
Ainda outro ponto nos chama atenção: Mateus cala-se a respeito da união de José e Maria, embora aponte irmãos e irmãs de Jesus que tanto poderiam ser filhos do casal, quanto apenas de José, vindo de um outro casamento, conforme vêem alguns cristãos, para
escaparem da embaraçosa questão da permanência virginal de Maria; Lucas, no entanto,
diz taxativamente que Jesus era o primeiro (primogênito) de Maria; a título de informação complementar, vemos em João, no evangelho que leva este nome, que Jesus seria
filho único (unigênito) de Deus, em nada se referindo Jesus como o único de Maria.
No entanto, entre Lucas e Mateus, parece enfim haver algumas concordâncias – neste
início da historicidade de Jesus, quanto ao local de nascimento da criança e onde residia
a família.
Mateus informa que Jesus nasceu em Belém, quando seus pais por lá circulavam vindos
de Nazaré, sem esclarecer os motivos senão que para cumprimento de determinada profecia. Lucas também esclarece que Maria e José saíram de Nazaré, para cadastrarem-se
na cidade de Belém, conforme determinação legal, quando Maria já prestes dar à luz, o
que de fato veio ocorrer nesta localidade.
Ainda que em épocas e por motivos diferentes, temos enfim pelos dois evangelistas, a
família de Jesus como então residentes em Nazaré e que este veio nascer em Belém, e
assim, entre tantas divergências, Jesus chega ao mundo, permanecendo ainda algumas
dúvidas intrigantes, das quais destacamos primeiramente três delas:
• Como poderia uma virgem dar à luz um menino, sem haver conhecido o varão?
• Onde estaria localizada a mencionada cidade de Nazaré que até hoje nenhum estudioso ou pesquisador conseguiu encontrá-la?
• Onde efetivamente nasceu e viveu Jesus?
DE UM LUGAR CHAMADO NAZARÉ
Há muito se deseja colocar Nazaré como alguma cidade ou aldeia dos confins da Galiléia, todavia jamais se encontrou ao menos um lugarejo residencial com tal nome, em
toda Palestina; não existem referências a Nazaré no Velho Testamento, Talmude, Crônicas ou em documentos históricos de Israel.
Portanto, fazer uma Nazaré no mapa antigo da Palestina, como cidade, não foi das tarefas mais fáceis para os primeiros cristãos, pois que nada indica a existência de alguma
localidade com este nome, antes e nos tempos de Jesus.
Exceto nos livros do Novo Testamento, a primeira citação quanto a uma Nazaré co-mo
aldeia ocorre na colocação de Eusébio referindo-se a uma possível indicação de Júlio, o
Africano, que vivera entre os anos 170 e 240 d. C., para um local bastante próximo da
atual cidade, segundo Danillo Nunes – Judas Traidor ou Traído.
Efetivamente apenas no século IV é que Nazaré aparece como cidade, quando a religião
de Cristo já se destacava dentre as demais, contudo tal localidade mostra-se mais como
alteração do nome de algum povoado, com nítidos interesses eclesiásticos, instado por
pesquisadores propagandistas da nova fé religiosa, sob interesses de Roma. Não eram
incomuns modificações de nomes de lugares, sempre que havia interesses comerciais e
religiosos para determinadas circunstâncias.
O que seria então a Nazaré dos tempos pré-cristãos e do próprio Jesus?
Histórica e comprovadamente não seria cidade ou aldeia, não havendo quaisquer evidências disto, cabendo tão somente a lógica como verdade única, quer queiram ou não
os especialistas religiosos, de que Nazaré seria denominação de uma Organização Mística Religiosa, ou que seja apenas alguma pequena seita messiânica que não professava,
contudo, o judaísmo tradicional, e que a Igreja, por algum motivo que veremos adiante,
desejou apagá-la da história.
Mesmo entre os estudiosos especialistas, não é fácil alguma distinção unânime para as
origens da palavra Nazaré, seu modo de escrita e significado; em quase todas as referências há sempre de se colocar o nome de Jesus para alguma compreensão; certas colocações parecem creditar tendenciosidades de tradutores bíblicos, pelo que se entende de
H. Spencer Lews, da F.R.C., Phd - A Vida Mística de Jesus, 2ª. Edicção, Biblioteca Rosacruz Volume I, quanto às referências bíblicas a Jesus como Jesus de Nazaré (Nazaré
como cidade), contrapondo-se aos textos sagrados que na realidade apenas informam
Jesus o Nazareno (en Nazira ou seja, dos Nazarenos ou dos Naziras, língua aramaica
para identificar a seita dos Nazarenos como Nazireus, na visão de Spencer).
Para Messadié em O Homem que virou Deus, revista Destino Especial, Mundo Mágico, ano 1 número 1, Editora Globo, Jesus era chamado de Nazarí, que em aramaico
teria o significado de observador ou aquele que é separado; no entanto já vimos antes,
por ben Yehoshua, que o Talmude babilônico apresenta-nos um certo Yeishu (Jesus)
como sendo de Nazaré ou Nazareno, mas não de alguma cidade e sim de uma seita religiosa, tanto que a Nazaré, povoado ou cidade, ainda nem existia.
A Messadié contrapõe-se ben Yeoshua a afirmar que: “Os primeiros Cristãos de língua Grega não sabiam o que a palavra Nazareno significava. A forma primitiva
Grega desta palavra é ‘Nazoraios’, que deriva de ‘Natzoriya’, o equivalente aramaico do hebreu ‘Notzri’ (lembre-se que ‘Yeishu ha-Notzri’ é o original hebreu
para Jesus, o Nazareno). Os primeiros cristãos conjeturaram que Nazareno significava uma pessoa de Nazaré, e assim assumiu-se que Jesus tinha vivido em Nazaré. Ainda hoje, os Cristãos alegremente confundem as palavras hebráicas ‘Notzri’
(Nazareno, Cristão), ‘Natzrati (Nazareno, natural de Nazaré) e ‘Nazir’ (Nazarite).”
Nazir (Nazrite) seria termo designativo para os nazireus, aqueles que fazem votos perpétuos ou temporários a Deus, prescritos em Números 6, mas não necessariamente que
pertençam a essa ou aquela seita, a exemplos de Samuel, Paulo e outras referências bíblicas encontradas.
O Novo Testamento, ao colocar Nazaré pela primeira vez na história como cidade, num
texto do Evangelho segundo Mateus, dá-nos bom exemplo da confusão em torno desse
designativo: “E lá [no Egito] ficou [Jesus, juntamente com Maria e José] até o falecimento de Herodes, para que se cumprisse o que fora falado por Jeová por intermédio de seu pro-feta dizendo: Do Egito chamei meu filho” (Novo Mundo das Escrituras, Mateus 2:15, com mesmo sentido nas traduções João Ferreira de Almeida
e Pontifício Instituto Bíblico de Roma); já o Evangelho dos Nazarenos, apresentado
por Burton (Burton H. Throckmorton Jr. - página Internet ISBNO – 8407-5150-8, do
original inglês Gospel of the Nazareans vertido para a língua portuguesa através de
Translator) “Fora do Egito eu chamei meu filho e porque ele será chamado um Nazarean [Nazareno]”; segundo Burton, Jerome [Jerônimo] tradutor bíblico para o latim
entre os anos 390 - 404, faz omissão revelada das palavras “porque ele será chamado
um Nazareno”, disso porém vindo fazer menção posterior em seus próprios trabalhos.
Porque Jerônimo fizera isso?
Algumas possibilidades exigem-nos reflexões a respeito, pelo menos três delas:
• Consideramos que ‘fora do Egito chamei meu filho’ ou ‘do Egito chamei meu
filho’, é um texto do profeta Oséias (11:1) que literalmente refere-se ao povo
hebreu, mais precisamente a Manassés e Efraim – filhos de José que nasceram
no Egito, e não propriamente a um futuro Jesus como Messias, o que nada tem a
ver com o tradutor, que tão simplesmente se limitou às colocações;
• Alguns especialistas informam e Burton ratifica que Jerônimo não seria nenhum
grande especialista no idioma grego antigo, conforme achavam-se registradas as
escrituras na época, dando-nos assim motivos para acreditar que ele não sabia
bem exatamente o significado correto de Nazareno (‘Nazoraio’ no grego, ou
‘Natzoriya’ em aramaico ou, ainda, ‘Notzri’ no hebreu); disto valer-se-iam
posterior-mente outros tradutores bíblicos, agora para idiomas diferentes e modernos, que igualmente a Jerônimo ainda omitem a seqüência verdadeira, todavia colocando-a no versículo 23 do mesmo capítulo de Mateus, após certa descrição interpolada nos versos 16 a 22 a respeito do infanticídio herodiano, “E
chegou, e habitou numa cidade chamada Nazaré para que se cumprisse o
que fora dito pelos profetas: Ele será chamado Nazareno.”
-É justo, porém, deduzirmos que Jerônimo sabia o significado de Nazareno, o
suficiente para entender que se metera numa enrascada: o texto referia-se a
Yeishu ha-Notzri, o Messias da Seita dos Nazarenos e não o Jesus dos cristãos
que a Igreja tanto desejava ou, no mínimo, esperava. É improvável que os primeiros pais da Igreja, e com eles Jerônimo e todos demais da época, ignorassem que cristãos do 1º século, início e até meados do 2º, julgavam-se seguidores
da Seita dos Notzrim, isto é, dos Nazarenos, como também difícil acreditar que
não soubessem da inexistência de alguma localidade chamada Nazaré, nos
pressupostos tempos de Cristo.
Esta colocação última é opinião formada e a justificamos: os pais da Igreja, desde meados do século II e mais notoriamente no III, já buscavam o perfil de um Cristo Ideal
diante da impossibilidade de um histórico, e foi somente no século IV que encontraram
a autenticidade histórica que tanto necessitavam, para o mito que representava dividendos certos e cuja presença estava plenamente aceita e até desejada pelos povos de então;
depois, conforme entendimento, as coisas se ajustaram como boa finalização e bem ao
gosto de todos.
Vejamos, porém, algumas outras situações bastante complicadas que esta tradução de
Jerônimo ainda provoca nos dias atuais:
-A tradução bíblica de J. Ferreira de Almeida para língua portuguesa, no Brasil,
edição de 1958, revista e corrigida em grafia simplificada, para a presente discussão remete-nos, pelas referências de rodapé, a Juízes 13: 5 e 1º Samuel 1: 11,
ambas referindo-se a consagrações dos infantes Sansão e Samuel, respectivamente, pelos sagrados votos do Nazireado preconizados em Números 6:1; ora, se
Nazareno colocado em Mateus estivesse para o hebraico Nazïr com significado
correto de consagrado ou separado, em nada justificaria a necessidade, mostrada
e forçada naquele Evangelho, para que a sagrada família viesse residir numa cidade, que ainda nem sequer existia, apenas para que Jesus fosse chamado Nazareno, pois que se assim fosse a palavra jamais seria Nazïr e sim Natzrati. O
PIBR, edição 1967, diz em nota de rodapé a respeito do verso 23 de Mateus 3:
“A profecia que parece querer aludir o evangelista é a de Isaias 11:1 ‘Um
rebento despontará do tronco de Jessé e de suas raízes crescerá uma vergôntea’, que em hebreu significa Nezer”; informa ainda o PIBR que Nazaré
deriva etimologicamente do mesmo radical Nezer [Neitzer] que significa vergôntea, sem discussões um evidente símbolo messiânico. Excluindo a realidade
de que não existia ainda nenhuma cidade chamada Nazaré, entendemos que para
a atual localidade com aquela denominação, o correto seria Natzrat (Natzarat) ou
Natzrati para identificação de seu natural ou de algum residente, não se achando
nestas nenhuma evidência do significado de vergôntea (Neitzer).
Não pairam de que a tradução de Jerônimo fora devidamente encomendada, e ele a fez
de maneira bastante satisfatória para a Igreja, tanto que Eusébio e outros doutores eclesiásticos admitem isto, diante das evidências.
Não poderíamos jamais omitir neste estudo, referências e citações de certas seitas gnósticas antigas (ou que se dizem) e atuais, assim como de certas Fraternidades que não
apenas admitem existência de uma antiga cidade de Nazaré, como também apontam sua
localização, seu significado e importância para todo o mundo conhecido daqueles tempos, às vezes e a bem da verdade, não como uma cidade da maneira qual concebemos
seja uma cidade, e sim algumas construções que serviam de abrigos (moradias, escolas e
um templo) para adeptos de uma comunidade chamada Seita dos Nazarenos. A propósito disso, cita-nos Haran Gawaitha (Gnoses: Arquivos), que Nazareth – Nisrat (?) situava-se numa região denominada Qum onde se mantinha a Seita, uma Organização Mística Esotérica entre seus membros iniciados, pregando o exoterismo àqueles que desejavam ouvi-los em seus cultos públicos; pelo número revelado de adeptos que o autor
refere, tratava-se de uma Comunidade extremamente próspera, possuindo em torno de
60 mil membros homens, e que se relacionavam comercialmente com seus vizinhos.
Na obra de Spencer, entende-se que os crentes Nazarenos mantinham-se nos arredores
de uma fonte termal, explorando-a às custas de um hospital albergue e casas de socorros, ao lado de uma construção, escola, onde ministravam cursos aos Iniciados, e local
de reunião dos líderes da Seita e adeptos mais destacados.
Pela Bíblia, essa fonte termal a que Spencer se refere como a principal dentre as atividades exploradas pelos Nazarenos, que inclusive recebiam clientes de outras regiões ou
nações (uma espécie de spa dos dias modernos), estaria realmente situada estrategicamente numa estrada principal da Galiléia, próxima ao lago Tiberíades. A própria Bíblia,
no entanto, destaca-nos todo o território de Hamat (Josué 19:35) ou Hamat-Dor (Josué
21:32), na Galiléia, como região de Fontes Termais (significado assírio da palavra
Hammati da qual derivou-se a Hamat dos hebreus), e não a uma localidade específica
ou para alguma possível localidade Nazaré, antes sim, toda Galiléia era conhecida como
tal, dada influência da cidade-estado Hamat. Em nosso compreender, se essa Hamat
nada tem a ver com alguma localidade chamada Nazaré, em nada, porém, exclui possibilidades que não fosse local adequado e explorado, comercialmente ou utilizado para
finalidades religiosas, por alguma seita mesmo que a dos próprios Nazarenos.
Se admitirmos essa possibilidade última, evidente que para o local onde se reuniam
membros da seita Nazarenos (Notzrim), caberia a denominação de Nazaré (de Notzriti
ou Natzoriya), da qual a Igreja valer-se-ia um dia para implantação da cidade por nome
Nazaré (Natzrat), com intenções comerciais claras de exploração religiosa.
O MITO DO DEUS SOLAR: ONDE AS LENDAS E A HISTÓRIA SE FUNDEM
Para entendimento quanto a mitologia solar é preciso compreender, primeiramente, as
origens de algumas histórias ou lendas, que sejam mais ou menos comuns para diferentes culturas; é sabido que homens da antiguidade não se identificavam inteiramente com
os fenômenos da natureza, e por isso mesmo divinizavam seus elementos e forças então
desconhecidas.
O sol, por exemplo, seria para os antigos a representação mais visível de uma divindade
maior, do deus invisível conhecido como Dyaus Pitar (Deus Ptah, Pater ou Pai); nesta
qualidade o sol estaria, portanto, como filho visível desse grande deus, símbolo da luz e
vida sobre a terra, através de suas emanações e radiações, um símbolo entendido do
Espírito Santo - a dimanação do grande invisível, através do filho para assim formar a
triunidade – três em um, ou a mais comumente conhecida trindade.
Pelas constantes observações celestes, os homens sabiam pela ótica geocêntrica da região mesopotâmica e circunvizinhanças, no caso, que o sol nascia sempre no dia 25 de
dezembro, quando a constelação de Virgem fazia-se à noite, na época, resplandecer com
força maior nos céus, ou seja, no denominado solstício de inverno. Esclarecemos: no dia
22 de dezembro o sol cessava sua marcha rumo ao sul, por exatos três dias, para então
reiniciar jornada em direção ao norte. Estes conhecimentos não eram restritos unicamente à Classe Sacerdotal ou a uma Ordem Iniciática formada pelos sábios da época;
quase todos tinham conhecimentos a respeito, todavia a explicação metafísica e exploração religiosa estariam sempre a cargo daqueles, num período em que a religião faziase predominante sobre as demais culturas, e então se estabeleceram os cultos ao deus
sol, o filho do deus criador.
Quando para as primeiras organizações sociais em forma de cidades-estado, a comunidade como um todo sentia a necessidade natural de um chefe condutor, guerreiro libertador se necessário, restaurador ou mesmo formador da nação, e foi aí, que a Classe
Sacerdotal soube fazer seus mitos, dando ao povo o homem ideal de que tanto necessitava, saído este de suas próprias lides ou alguém encontrado, em lugares remotos, para
que dele se pudesse fazer o líder, um elemento desconhecido, sem genealogia ou família
– esta geralmente morta numa cilada pelos próprios sacerdotes, sendo o indivíduo escolhido, ainda infante, salvo de uma maneira providencial e entregue aos cuidados de alguma das Virgens da Ordem, sacerdotisa ou iniciada. Talhava-se o perfil deste líder
vinculando-o às antigas profecias, nem sempre tão antigas, escritas e acrescentadas aos
textos anteriores.
Anunciava-se então sua vinda, o próprio filho de deus, para a organização da pátria,
unificação ou condução dos homens, de conformidade com as necessidades, ou seja, de
acordo com a vontade do deus maior, em atenção aos clamores de seu povo eleito. Às
vezes, e com o tempo isto se tornou regra maior, os próprios pais (geralmente pessoas
humildes – gentes do povo e piedosos) entregavam o próprio filho, ainda criança, para
os serviços dos deuses, sendo este então devidamente preparado e doutrinado para missões necessárias.
Assim, numa época determinada este homem especial seria apresentado a todos, co-mo
o esperado e anunciado filho de deus, miraculosamente vindo ao mundo, para uma obra
grandiosa junto ao seu povo; como o sol encarnado e luz do mundo o prometido tinha
como data de nascimento sempre o dia 25 de dezembro e, para trazê-lo ainda mais próximo dos homens, como símbolo ou elo de ligação entre deus e a humanidade, se lhe
ditava por mãe uma das mulheres virgens do templo; para a vinda deste Redentor, os
líderes religiosos determinavam seu perfil que aos poucos era incutido na mente e cren-
ça do povo, usando de místicas, prognósticos e referências escriturísticas que eles próprios lavravam..
Nestas condições, Jesus a exemplo de outros tantos redentores, seria um mito – o sol
filho de deus, ou então uma criança entregue aos cuidados de alguma Ordem, vindo
destacar-se dentre os demais para a grande e estranha obra de redenção.
Algumas tendências unificam estas situações: Jesus seria um humano, revestido de um
caráter mitológico de acordo com as tradições.
1. NASCIMENTOS VIRGÍNEOS, CERTAS ANUNCIAÇÕES E AS
DIVINAS CONCEPÇÕES
• “Eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um filho, e será o seu
nome Emanuel (que é Deus conosco)” Bíblia, Antigo Testamento, Livro de Isaías 7:14; e Novo Testamento, Mateus 1:23.
• “Bendita és tu ...entre todas as mulheres fostes escolhida para a obra
da salvação; ele virá com uma coroa de luz ...Virgem Mãe, pois que
darás à luz a nosso Salvador, a quem porás o nome de ...”, transcrição
da obra de Holger Kersten – Jesus Viveu na Índia, edição Best Seller,
1986, anunciação do nascimento de Krishna.
• “Disse-lhe: Exulta-te ó Virtuosa e sê feliz, pois o filho ao qual darás a
luz, é Santo”, Holger referente à anunciação do nascimento de Sidartha
Gautama (Buda).
• “E dará à luz um filho e chamarás o seu nome (...); porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.” Bíblia, Novo Testamento, Evangelho
Segundo Mateus, 1: 21, da anunciação sobre o nascimento de Jesus.
Nascimentos de filhos de deuses com mulheres virgens são fatos, assim, não tão isolados na história da humanidade; todas grandes civilizações do passado tiveram seus redentores, heróis e reis, nascidos de mulheres que ainda não haviam se relacionado sexualmente com homem, concebendo, portanto, por obra e graça do divino espírito santo de
deus. De maneira geral estas mulheres eram recém casadas ou prometidas, todavia ainda
sem conjunções carnais.
As divinas concepções quase sempre vieram precedidas de anunciações, enquanto que o
ato gerador em si era a palavra, simbolizada por alguma forma de representatividade
desse mesmo deus, um animal sagrado, uma ave ou simplesmente um raio de luz; grande parte desses nascimentos virgíneos, fazia parte do cumprimento de profecias contidas
em textos sagrados. Curiosamente todas as religiões aguardavam um filho de deus, e os
teve em seu meio, para certas missões especiais.
Histórias sagradas, profanas e muito mais as mitológicas, mostram-se bastante ricas em
relatos desses fenômenos, próximos uns dos outros: as mulheres são virtuosas, que ainda não haviam conhecido homem, embora comprometidas, que se faziam escolhidas de
um deus com propósito de vir ao mundo, para alguma obra redentora junto ao povo; o
grande mistério dos cristãos não foi, portanto, um caso tão atípico ou original assim.
Zaratustra (Zoroastro), que viveu cerca de mil anos a.C, profeta persa e reformador do
Masdeísmo para o Zoroastrismo, era filho de deus gerado numa virgem. Sabe-se que o
judaísmo foi profundamente influenciado pelo Masdeísmo, quando os judeus estiveram
subjugados pelos persas, dele absorvendo muito de seus mitos.
-Masdeísmo – antiga religião dos povos medos-persas [iranianos] representada pela
divinização das forças naturais e pela concepção dual do universo, Aúra-masda e Arimã, em constante duelo.
Kristna (Krishna), na Índia por volta de 575 anos a C., fora concebido por obra de um
deus altíssimo numa virgem. Muitos dos acontecimentos com esse homem deus, foram
repetidos em Cristo, sendo impossível não perceber similitudes. Também não podemos
ignorar certas interações entre religiões da Índia com as do Irã (Pérsia).
Sidartha Gautama (Budha), nascido em 568 anos a.C. na Índia, teve por mãe uma virgem e filho direto de deus. O Budismo tem paralelismos incontestes com o cristianismo.
Mitra, fundador do Mitraísmo na Pérsia; K’ung-fu-Tzu (Confúcio) do Confucionismo
chinês, Hórus no Egito, Tammuz na Babilônia, Hésus dos druidas, Bedhru (Beddru) e
Mikado no Japão, Crite (Crito) da Caldéia, são alguns dos exemplos de um rol de redentores messiânicos, que vieram ao mundo como filhos de deuses e de virgens – concepções sagradas.
Júlio César, imperador romano (100 – 44 a C.), Platão (437 – 347 a C.), filósofo grego,
e mais uma lista de faraós do Egito, também são frutos de concepções virginais por parte dos deuses. A América pré-colombiana teve seus homens deuses, assim como todas
as demais civilizações conhecidas e desaparecidas, mesmo dentre os povos mais simples.
Até quase meado do século (XX), o Imperador do Japão era considerado divindade, ou
seja, de ascendência divina.
Ainda hoje, alguns governantes [imperadores] orientais ou místicos que se levantam,
afirmam ser filhos de deus ou de extraterrestres, nascidos de mulheres virgens; destes
alguns até dizem que já chegaram à Terra enviada na forma adulta, para missões especiais.
Muitos dos filhos de deuses que antecederam Jesus foram, sem dúvidas, elementos influenciadores para a formação do caráter daquele, conforme nos é apresentado.
Um bom número deles não somente nasceram de virgens por uma divina concepção,
como também apresentam outras semelhanças surpreendentes com a vida de Jesus: nasceram de famílias humildes porém piedosas, em grutas (cavernas) ou estrebarias, visitados por magos e pastores que lhe ofertaram presentes – em geral ouro, incenso e mirra :
estrelas ou anjos indicavam-lhes o local de nascimento; muitos deles foram apresentados num Templo onde foram tomados nos braços por algum idoso (santo) visionário;
suas chegadas ao mundo trouxeram mortes aos infantes; foram perseguidos e obrigados
a fugir para outras nações, de onde retornaram, posteriormente, quando das mortes dos
déspotas; perderam-se de seus pais, quando na puberdade, sendo encontrados posteriormente entre alguns velhos sábios, discutindo acerca das escrituras sagradas; iniciaram
seus ministérios numa idade próxima aos trinta anos, logo em seguida a uma estadia no
deserto, onde jejuaram por quarenta dias e noites, resistindo a tentações e, por fim, assistidos por anjos celestiais.
Os meninos-deus sempre tiveram homens no lugar de pais, como esposos de suas mães,
que intentaram abandoná-las tão logo as souberam grávidas, sem que com elas houvessem mantido conjunções carnais, somente não o fazendo porque foram avisados por
anjos, em sonhos, para que assim não procedessem, pois os que nelas estavam gerados
eram obras do espírito santo de deus; aliás, anjos também sempre foram uma constante
para ações das famílias sagradas, no sentido de proteções aos filhos divinos; os homens,
pais adotivos, saem de cena quando os jovens sagrados mostram condições de subsistência própria.
-Os anjos do judaísmo, adotados pelos cristãos, são elementos de outras culturas como
a dos babilônios e dos persas.
As similitudes entre os redentores não cessam: escolheram discípulos, um dos quais mal
caráter e traidor, fizeram milagres inclusive de ressurreições de mortos, pregaram o reino dos céus e a libertação social do povo, com lindas mensagens de amor, perdão e resignação; antes de serem traídos promoveram uma ultima ceia e, de uma maneira ou de
outra, morreram de forma sacrifical para a salvação dos seus – alguns até mesmo na
cruz, para ressuscitarem ao terceiro dia, apresentando-se aos seus, por um certo período,
antes de subirem aos céus para junto do pai celestial, prometendo contudo o envio do
espírito da sabedora (espírito santo), que assim os conduziria até o fim dos tempos,
quando então eles próprios retornariam à terra para pronto estabelecimento de um reino
espiritual eterno.
O que seria a união de um deus com alguma virgem, para trazê-lo ao mundo, e o porque
de tantas coincidências?
2. HIEROGAMIAS: PRÁTICAS SAGRADAS DOS DEUSES
Para determinadas culturas, já devidamente organizadas e hierarquizadas, a figura do
Sumo Sacerdote tornara-se sagrada e identificada como o filho de deus, posteriormente
elevada à condição do próprio deus encarnado. o deus vivo entre os homens.
Nesta situação, o Sumo Sacerdote na qualidade de um dos deuses sobre a face da terra,
tinha entre suas obrigações, “certos deveres conjugais” com algumas das deusas, no
ato representado por suas sacerdotisas ou iniciadas, chamadas de virgens – mais propriamente mulher jovem, vista tradução em texto bíblico Isaias 7:14.
Conforme Amar Handami: “No início do III milênio [a C.], o Ensi [Sacerdote Rei ou
Supremo (Sumo) Sacerdote] era submetido a ritos por vezes surpreendentes. Assim o templo tinha uma câmara especial no alto do edifício: era ali que o Sacerdote
Rei vinha regularmente ‘consumar a hierogamia’, prática do rei para com a deusa
Innana, representada por uma de suas sacerdotisas. Da sua união dependia a
prosperidade da nação (...).” [Suméria, a Primeira Grande Civilização – da Coleção: Grandes Civilizações Desaparecidas, publicada por Otto Pierre Editores,
1978, páginas 87 e 88].
Com estes relacionamentos e práticas a Ordem visava manutenção da tradição de origem divina para o Supremo Sacerdote, e que divino seria o seu substituto quando aquele, um dia, resolvesse voltar para a morada celestial. Os filhos destes relacionamentos
produziam os chamados filhos dos deuses ou filho de deus com uma virgem, então preparados, doutrinados e sempre destinados às missões especiais ou necessárias.
-Gênesis, 6:2-4 diz que os filhos dos deuses uniam-se às filhas dos homens e que destas
uniões nasceram os gigantes, isto é, homens de saber e de grandes preparos, os heróis
da antiguidade.
Pelo Livro de Tiago, apócrifo conhecido por Proto-Evangelho de Tiago, Maria mãe de
Jesus fora entregue pelos pais, aos cuidados do templo, onde permanecera dos três aos
doze anos de idade, quando então prometida em casamento a certo José. Segundo tradições da época, Maria continuaria no templo ainda por mais um ou dois anos, até a festa
do noivado – primeiro ato legal do casamento, embora a vida conjugal somente viesse
se consumar após as núpcias, um ano depois (no caso de mulher virgem, com tempo
reduzido para até um mês no caso de viúva), quando então o noivo recebia a noiva em
sua casa.
Durante o período de espera, a noiva, já chamada de esposa, ainda permaneceria na casa
dos pais ou de seus preceptores, e somente em casos muito especiais, como adultério da
mulher ou morte do noivo, poderiam efetivamente ser rompidos os compromissos assumidos – [Osvaldo Ronis, Geografia Bíblica, obra referenciada].
Pelos costumes e lendas da antiguidade acredita-se que Maria, por volta dos doze a-nos,
fora oferecida a José que somente veio recebê-la esposa uns dois anos depois, estando a
jovem já grávida de deus, ou seja, de um Sumo Sacerdote. José a aceitou como esposa
depois de certa relutância, convencido em sonhos – indução hipnótica ou negociações
(?) – que o que nela estava era obra divina.
Em certas culturas, consta, seria grande honra algum varão ser pai adotivo de um menino-deus. Também não eram incomuns certas negociações para que algum varão viesse
aceitar uma virgem grávida em sua companhia.
3. JESUS: UM FILHO ADULTERINO?
Evangelho de Nicodemos, 2:4, Jesus era chamado, pelos opositores, de filho da fornicação [Apócrifos os Proscritos da Bíblia – I, compilados por Maria helena de Oliveira
Tricca, publicação da Editora Mercuryo, 1989 página 230].
Segundo Orígenes, Celso teria sabido, em 178, por certo judeu, que Maria fora repudiada por seu marido, um carpinteiro, por adultério, sendo Jesus filho do soldado [romano]
Pan-tera. Danilo Nunes em sua obra Judas, Traidor ou Traído, página 77, refere-se ao
assunto.
O ano 178 está muito distante dos tempos do nascimento de Jesus; todavia existem relatos judaicos nas Tosefta e Baraíta, mencionados no Talmud, sobre Yeishu bnei Yoseph
Panteiri ou bar Yoseph Panteiri, isto é, Jesus filho de José Pandeira ou Panteiri [a forma
hebraico/aramaica do grego Pantheras], daí a que Maria concebera seu filho de um soldado (legionário) romano por nome Pantheras, com quem se relacionara [Hayyn ben
Yehoshua, O Mito do Jesus Histórico]. A aceitação relutante de José permitira, contudo,
que Jesus viesse ao mundo.
A este respeito, alguns estudiosos acreditam que Maria fora repudiada pelo marido, em
razão de adultério com o legionário, assim a justifica Jesus mais identificado como o
filho de Maria.
Estudiosos cristãos, no entanto, não concordam nem que Jesus seja filho de Maria com
algum soldado legionário chamado Pantera, nem que Panteiri seja designativo de algum
José pai de Jesus. Para eles Panteiri seria forma hebraico-aramaica de se pronunciar a
palavra grega Parthenos que significa Virgem e, então, Jesus seria filho de uma virgem
e não fruto de algum caso amoroso de Maria, sua mãe, com algum soldado Pandeira, ou
José Panteiri.
Especialistas em línguas antigas (hebraico, aramaico e grego) não compreendem alguma possível confusão entre os nomes, destacando-se que os judeus não eram censurados quanto a forma de escrita, e que Pandeira em sua forma grega Pantheras é muito
diferente de como se escreve, naquela língua, a palavra Virgem (Parthenos), conforme
estudos [O Mito do Jesus Histórico] de Hayyn ben Yehoshua.
Por conseguinte sabemos pela História Judaica, que soldados sob ordens romanas em
represálias às insurreições populares na Palestina, às vezes invadiam regiões, cidades,
vilas e povoados, dizimando pessoas e praticando crueldades e violências contra mulheres, dando-nos a certeza que crianças nasceram destas uniões forçadas (de estupros), daí
José, resignado ou mesmo compartilhando o drama e vergonha de Maria ou, ainda, aconselhado, assumir a paternidade de Jesus.
Difícil acreditar Jesus, o Cristo, filho de fornicação; sem dúvidas trata-se de referências
proferidas pelos adversários de Jesus. Se Jesus gerado de estupro, preferimos não desmerecer Maria, tanto em respeito a sua dor, quanto injusto deduzirmos onde exatamente se cala a história; outros homens-deuses e suas mães também passaram por tais
difamações, sempre por parte dos inimigos.
4. JESUS NÃO NASCERA DE MULHER, APENAS ATRIBUIU-SE-LHE UMA
MÃE
Natural de Sinope [Ásia Menor], filho de um bispo cristão, Marcion foi importante evangelista pregador do século II, que rejeitava o Antigo Testamento e não acreditava
num Jesus nascido de mulher. Para ele, o deus bom descera à terra, já na forma adulta,
assu-mindo um corpo apenas aparentemente humano.
Conforme mencionado, Marcion foi o autor do Evangelho de Marcion, por volta de 134,
do qual teria surgido o de Marcos, em 136 ou 137, dos quais produzido a seguir o de
Mateus, de uma visão oposta a Marcion. O Evangelho de João seria ultramarciônico,
composto por volta de 140, enquanto o de Lucas, aproximadamente em 150, era mais
dirigido aos romanos.
Esta personagem considerada herética pelos cristãos, por volta do ano 140, foi dos maiores nomes do gnosticismo antigo, que já vivenciava com certa originalidade, desenvolvendo algumas das principais idéias do docetismo – o corpo de Jesus não era real, apenas aparente.
A tese marcionica, o não nascer de mulher ou já se apresentar em forma adulta, não era
assim tão incomum nas mitologias e textos sagrados, a exemplos das teofanias – presenças de seres angelicais na Terra, muitas vezes representando o próprio Deus, lembrando que o autor da Epístola aos Hebreus [13:2] adverte quanto a possibilidade de
humanos receber ou mesmo hospedar algum ser não terrestre [anjo].
Algumas correntes evoluídas deste pensamento acreditam, no entanto, que Jesus fora
sim um homem, nascido de mulher e homem, altamente inteligente e religioso, que tivera, por ocasião de seu batismo, a incorporação de um Avatar ou Entrante, chamado Cristo, para realização de uma obra de expiação para a humanidade; a partir daquele momento Jesus deixara de ser ele para ser e vivenciar o Cristo. Para defensores da teoria,
apenas Jesus era humano mas não o Cristo, este o verdadeiro iluminado e executor da
obra redentorista.
Avatares são entidades comumente aceitas, nas formas e possibilidades, observáveis em
diversas culturas e formas de religiosidades, como a indianas e correntes espiritualistas.
5. JESUS NASCIDO DE HOMEM E MULHER
Muitas correntes acreditam nesta hipótese, considerando muito forte a personalidade de
Jesus, para que este fosse apenas um mito. Ressaltam, todavia, que Jesus fora apenas
um homem religioso, ao extremo de evocar, para si, cumprimento das profecias bíblicas
referentes ao Messias Libertador, realmente acreditando ser este, até o momento da sua
morte quando se descobriu sozinho; as últimas palavras de Jesus na cruz seriam claras
referências a este abandono por parte do deus em quem tanto acreditara.
-De acordo com Mateus 27:46 e referências, Jesus teria clamado “Eloí Eloí, lamá sabactani”, palavras desconhecidas, pelos que lhe estavam próximos, traduzidas contudo
como “Deus meu Deus meu, porque me abandonaste?”. Até o ultimo instante de sua
vida, Jesus certamente esperava por um milagre dos céus em seu socorro.
Entendem, os defensores, que Jesus, após sua morte, transformara-se, pela piedade humana e religiosa, no Messias Sofredor e que esta mensagem cativOu corações. Para eles
Jesus não fora nenhum deus humanizado e sim um homem progressivamente elevado à
condição de deus.
6. JESUS NÃO EXISTIU EFETIVAMENTE
Opinião geralmente aceita por aqueles que não encontraram a historicidade de Jesus,
cabendo-lhes entendimento que Jesus foi apenas um mito que a religião soube desenvolver com maestria, tomando-o de empréstimo lendas de outros homens-deus, de culturas diversas, unificando relatos com roupagens de originalidades para, enfim, formar a
história.
Argumentam que Paulo – o Apóstolo tardio, jamais se referiu a um Jesus histórico, voltando-se única e exclusivamente para um Cristo Ideal. Também crêem que textos bíblicos – Antigo Testamento e outros que não fazem parte do Cânon cristão tenham sido
transcritos muito depois, para formatar uma existencialidade humana de Jesus como o
Cristo Prometido, considerando assim que os primeiros tradutores do cristianismo promoveram, por determinações ou regras de fé, alguns certos arranjos com acréscimos de
textos, transposições de outros, deturpando originalidades de documentos antigos.
Outro forte argumento destes contrários estaria na ausência histórica de uma cidade
chamada Nazaré.
Estudiosos não cristãos ou mesmo alguns destes que não se colocam numa fé cega diante das razões e lógicas, entendem que o Jesus dos cristãos jamais tenha existido historicamente, quando muito apenas admitindo um Cristo ideal, forjado à imagem e semelhança de outros Messias de culturas diversas.
Estudando civilizações do passado e formas de religiosidades de povos da antiguidade,
vemos realmente e sempre, a figura emblemática de algum Messias para cada gente ao
seu tempo. É impossível a um exegeta não montar a figura ideal para Jesus Cristo, sob
todos os ângulos e aspectos ideológicos, ao colher dados positivos dos muitos redentores que teve a humanidade.
7. CONCLUSÃO INCONCLUSA
Sem as pretensões de contestador e menos ainda ensejar confrontos com uma estrutura
milenar, sedimentada em torno de um nome consagrado nas cabeças, tem-se que o Jesus
Cristo dos cristãos jamais tenha existido, em termos históricos, todavia inegável sua
realidade como o Cristo Ideal.
Jesus Cristo é, portanto, mera figura à imagem e semelhança de outros tantos redentores
de civilizações distintas; sempre cada povo teve seu Messias à sua época. Não há um
Jesus dos cristãos, homem-deus ou deus-homem, que tenha efetivamente existido, e o
mais próximo dele, Yeishu ha-Notzri, antecedeu-o em décadas, conforme tradições antigas do povo judeu e transcrições do Talmude.
A aceitação do Cristo nas cabeças, não há estudioso que negue, e aqui não interessa qual
a seita responsável, foi imposta à força, a preço de vidas aos milhões, tanto pela inquisição quanto pela dizimação de povos e civilizações inteiras, a exemplo das gentes americanas pré-colombianas, sem apontar matanças outras ordenadas sempre contra os infiéis
ou àqueles que ousavam contrariar o credo.
Hoje temos de reconhecer a grande contribuição do Cristianismo nos destinos da humanidade de agora, sobre todos os aspectos legais, sociais e de moralidade entre tantas
participações ativas e dignas dos mais altos valores, o que, porém, não apagam erros do
passado, onde se cometeu tanta atrocidade, que o holocausto hediondo e reprovável da
Segunda Grande Guerra Mundial, surge apenas como pálida imagem daquilo que se fez
em nome de Cristo, com tantos sacrifícios e horrores piores; e o mais dramático nisso
tudo, é que com as vidas ceifadas se foram também as civilizações e suas culturas.
O Cristo histórico ou ideal nada tem a ver com tamanha estupidez dos homens, ain-da
que em torno de seu nome, como também nada de responsabilidades quanto àqueles que
em seu nome se tornam exploradores da fé, vendedores de ilusões e os corretores da
imobiliária celeste, cujos impérios econômicos se agigantam nos dias atuais, fundamentados nos milagres da fé, que até se pode dizer que neste mundo de tantos milagreiros
em nome de Cristo, ele é quem menos faz e fez milagres, até porque milagres não existem como Jesus nunca existiu.
EXEGESE BIBLIO-HISTÓRICA
VIDA ALÉM TÚMULO, COM OU SEM CONSCIÊNCIA?
Deus existe e o espírito, no homem, também. Volta-se então, novamente, no pós-morte
física do homem; haveria a ressurreição dos mortos para julgamento ou juízo final?
Existiria um céu, inferno ou nova terra após o grande juízo? Levantar-se-iam os mortos
para ouvirem o pronunciamento final? O homem recobraria, naquele momento, sua
consciência?
Os homens se debatem nestes pontos, defendendo teses, dogmas e postulados; porém,
como referiu Maeterlink, a qualidade de uma crença não é documento da verdade – livro A Morte – onde o autor prossegue que não seria diminuindo nossos pensamentos
pela estreiteza religiosa, que diminuiremos a distância que nos separa das verdades.
Oras, porque haveria uma ressurreição dos mortos, de todos os mortos, para ouvirem
uma sentença divina endereçando-os, inapelavelmente, aos céus ou ao inferno? Não
seria algo horripilante conquistar um céu e saber seu próximo, tão querido, destinado ao
inferno?
Pensar assim seria suprimir a consciência e aí nada então existiria como razão de ser.
Também, uma consciência modificada seria desinteressante, do ponto de vista da vivência terrestre; de que valeria a terra, se num inferno ou num céu torna-se outra vivência?
Uma ressurreição somente para os bons – uma questão de valores subjetivos – chegaria
ao mesmo ponto: não havendo consciência, isto será de todo ruim; e em se existindo,
uma estupidez sem limites.
Um julgamento final também é absurdo, por diminuir a grandeza de Deus, senão anulála. Se o humano já tem ressalvas quanto à aplicação de penas de morte, para responsáveis por crimes hediondos, não poderia se esperar algo melhor de Deus?
E de todo, isto também não seria justo: uma criança morta desde logo, não teve chances
de competições, e jamais alguém poderá saber se ela seria boa ou má, e o céu lhe está
por prêmio eterno. E os tidos como deficientes mentais, como lhes imputar responsabilidades? E isto tudo sem referir-se às desigualdades humanas, ao meio ambiente e a uma
série de outros fatores, que fazem do homem um ser bom ou ruim, com exceções, evidentemente.
Assim todo mundo iria para o céu ou habitar uma nova terra, sem dores e sofrimentos;
com consciência ou sem? Com consciência esta morada seria injusta; sem ela, um tempo perdido. O mesmo se dá em relação ao inferno.
De certa maneira, à primeira lógica, a sobrevida sem consciência pareceria a mais próxima da verdade; porem, negar este atributo de consciência pós morte, seria negar a
consciência cósmica da qual adveio a consciência humana, o que equivaleria negar a
própria razão de ser e existir.
Surge a teoria da reencarnação, e a razão a isto obriga para uma pronta solução e or-dem
nas dúvidas: um dia todos estarão evoluídos e com plena consciência, e aí encontra-se a
justiça divina, sem dúvida alguma.
Seria algo até maravilhoso, não fossem perguntas embaraçosas que fatalmente sur-gem:
após plena evolução, o que viria? Chegaria o homem à condição de Deus? Porque Deus
resolveu fazer assim, o lado espiritual do homem? Que valor a reencarnação sem as
lembranças de existências anteriores?
A alma não é criada no ato do nascimento do homem, ou no momento da fecundação e
menos durante a gestação, pois que nem todos vingam, e sim pré-existente a ele; caso
contrário seria um ato sem fim criacionista, algo inconcebível ao destino final do homem.
Também não pode ter acontecido no mesmo momento que Deus, pois que se assim fosse, ele seria finito com um princípio e nunca o princípio. O espírito humano não pode
ser Deus e muito menos ter saído diretamente dele, posto nele não haver imperfeição.
Somente se pode voltar de onde saiu e então o homem não volta para Deus, mas pode
estar nele, porque saiu de uma criação sua, isto é, de sua vontade, como conseqüência
da universalidade.
Deus é a Energia-Consciência, a força geradora de todo o incomensurável, eterno, sem
princípio e sem fim.
Os espíritos são volições de Deus, para a evolução, participando como princípio ativo
nos minerais, vital nos vegetais e animais, com uma culminância espiritual, inteligente,
no homem, tanto aqui na terra como em outros mundos.
De sua origem para o progresso, usufrui os atributos de suas faculdades, a partir de uma
infância intelectual para organismos complexos e adequados ao seu desenvolvimento,
até a espiritualidade propriamente dita.
O espírito, como substância fluídica, com identidade própria de individualidade, energia
vibratória com freqüências e sintonias particulares, adapta-se a um organismo complexo
e de inteligência embrionária, para a soma de progressos. Na terra, como elemento de
uma outra dimensão, adentra ao corpo físico humano, interligando-se – via cérebro – e
estabelecido como canal receptador e transmissor de energias psíquicas.
Dentro do livre arbítrio, e não poderia ser diferente, porém predestinado a um objetivo,
o espírito tem seus erros e acertos, sempre em busca de progressos e aperfeiçoamentos.
Poderia aqui ser evocada a Doutrina Kardecista, sem medos de injustiças ou prejuízos a
outras crenças, que espíritos rebeldes de outros mundos foram exilados para a terra,
onde já se evidenciava no homem os rudimentos para o desenvolvimento do princípio
inteligente, diferenciando-o dos demais animais. Aqueles rebeldes revestidos do perispírito adequado à terra, isto é, tomado de seus elementos, encarna-se no homem embrionário, auxiliando-o no crescer e desenvolver-se como intelecto-racional, para performance espiritual.
Ligados à matéria, o progresso espiritual não se dá uniformemente, pois que eles também não chegaram iguais, sujeitos aos erros e acertos, não isentos das vicissitudes e
prazeres terrenos, sempre dentro do livre arbítrio. Não há regresso de formação, pois
tudo o que foi adquirido ou aprendido, não será relegado ao esquecimento – ele pode ser
punido pelos seus atos, jamais ser subtraído quantos aos direitos adquiridos; e o espírito,
pela determinante da predestinação, aperfeiçoar-se-á neste e em outros mundos, sempre
através da matéria, aqui na terra.
Os espíritos são, portanto, almas do universo que é o princípio ativo e vital para sua
formação. Um dia, no fim dos tempos do ciclo humano e similar, os espíritos tomarão
parte noutro universo de forças, sempre com plena consciência formada e plasmada ao
longo de bilenios.
Talvez nisso uma visão agnóstica, pois que não podemos penetrar a essência da razão
das coisas, uma vez que não se concebe a razão de ser à maneira das convenções e ensinamentos de credos religiosos, a exemplo do Cristianismo, isto é, apenas com atitudes
de racionalidade, pois que o conhecimento ou saber verológico somente se faz possível
por meios extra-racionais, quais sejam: a fé, o sentimento, a tradição que transmite, segundo Dicionário Enciclopédico Brasileiro, uma revelação superior, a visão mística, o
êxtase.
Encerra-se com Maeterlink em sua mesma obra A Morte: “Ou nós entendemos que a
nossa evolução se deterá um dia, e isso é um fim incompreensível e uma espécie de
morte inconcebível, ou admitimos que a mesma evolução não terá termo e, desde então,
sendo infinita, toma todos os caracteres do infinito e deve perder-se nele, confundir-se
nele. É isto no que redunda a Teosofia, o Espiritismo e todas as Religiões, em que o
homem, na sua felicidade suprema, é absorvido por Deus – Universo –. . .é um fim incompreensível, mas pelo menos é vida.”
LIVRE ARBÍTRIO, ELEIÇÃO OU PREDESTINAÇÃO?
1. INTRODUÇÃO
Não se tratam trazer à baila, mais uma vez, grandes verdades da Teologia Cristã as
quais, ainda que conflitantes, igualmente referem à salvação ou perdição eterna do homem.
Temas de acaloradas discussões, predestinação, eleição e livre arbítrio, tal qual nos primeiros tempos do cristianismo e depois na reforma, ainda suscitam tremendos embates,
sem uma verdade estabelecida. Óbvio que o livre arbítrio, muito mais coerente com a
razão humana, ante o ato da liberdade de escolha, ou o direito soberano de se optar dentre diferentes situações, venha possuir maior número de adeptos e defensores, especialmente entre os menos esclarecidos.
A salvação neotestamentária, e não há cristão que possa negar, dá-se através de Jesus
Cristo, pela graça. Oras, para que o homem seja salvo, para que adquira o céu como
morada eterna pós-morte, é preciso tão somente que se aceite Jesus Cristo como único e
legítimo salvador; claro que depois surgem alguns acréscimos necessários, como certas
regras de procedimentos (individual, familiar, social, etc), manutenção da fé, vivências
doutrinárias, o ato do batismo e outros pormenores que, se não menos importantes, no
momento sem interesses.
Como aceitar Jesus como Salvador? Simples, apenas decidindo-se por Ele, como único
caminho para a salvação uma vez que, segundo a Bíblia, ninguém vai a Deus senão por
Ele. É aí que entra o livre arbítrio, o ato da escolha que pode levar o indivíduo ao céu ou
ao inferno para todo o sempre. Lógico que para uma tomada de decisão desta monta, é
preciso, que o pretendente tenha plena consciência e arrependimento dos pecados, além
de conhecer Cristo e suas místicas, este um item não inteiramente obrigatório.
Mas se alguém, compreendendo Cristo e sua obra redentora, mesmo assim vir a desprezar voluntária e obstinadamente a salvação, isto é blasfêmia contra o Espírito Santo
(Mateus 12: 1 e 32), pecado para o qual não há perdão, com o primeiro contra-senso do
livre arbítrio, como ato obrigatório do tipo “se você conheceu Jesus, tem que aceita-lo
como salvador”, sem objeções. Bem, nisto há uma série de interpretações, em especial
quanto o real papel do Espírito Santo no contexto salvacionista, mas a verdade é que
nenhum teólogo ou pregador que seja conseguiu, até o momento, determinar efetivamente o que seja blasfêmia contra o Espírito Santo, sempre a permanecer a velha máxima que o maior dom de Deus é perdoar sempre, sendo qualquer mudança de opinião de
um blasfemador, desde que para o bem, pode reverter aquele quadro tão desastroso, sob
pena de se rasgar fundamentos do próprio livre arbítrio e da graça que traz a salvação.
Acontece que Deus, em tese, sabe todas as coisas antecipadamente, até porque este é um
de seus atributos, a onisciência ao lado onipotência e onipresença, sem os quais não
seria Deus. Sabedor e também na qualidade de onímodo, certamente que Ele tem préciência do destino final de qualquer indivíduo, ou seja, sabe se determinada pessoa irá
para o céu ou para o inferno, independente daquilo que o homem [a tal pessoa] possa ou
venha fazer. Assim, aos olhos de Deus que tudo sabe, todos estão com destino final selado; em outras palavras, estamos todos predestinados.
Epístola Aos Romanos 8:29-30, Efésios 1:5 e Evangelho Segundo João 6: 44 e 65, além
de referências outras, evidenciam realidades da predestinação, e qualquer cristão, mesmo que defensor do livre arbítrio, reconhece isto, além do entendimento que Deus, por
Sua soberania, escolhe uns para a salvação e outros para a perdição; negar isto seria o
mesmo que subtrair a presciência de Deus. O Livro Provérbios 16: 4 parece estabelecer
definitivamente a predestinação.
Alguns buscam teoria conciliatória que o homem é predestinado à graça, assertiva evidentemente não satisfatória; enquanto tem aqueles que afirmam ser o homem unicamente predestinado à morte física, verdade inconteste, embora um autor bíblico nos assegure
que até a morte, um dia, será vencida [I Coríntios 15: 26], o que alguns cientistas pretendem e a maioria dos homens.
Estando o homem predestinado apenas à morte física, o resto ficaria com o livre arbítrio, isto é, o homem seria responsável único por sua salvação ou danação eterna, mas
nisto não parece residir nenhuma justiça divina.
2. PREDESTINAÇÃO: O QUE DIZ A BÍBLIA?
Deus é o que vive desde sempre, incriado, perfeito, único, aquele que tudo pode tudo
sabe, tudo conhece e nada lhe é oculto; Ele é o criador de todo o universo e detentor das
qualidades de onipotente, onipresente e onisciente. A Bíblia assim diz e os cristãos assim crêem.
Se a onisciência de Deus, ou sua presciência estabelece conhecimento prévio de to-das
as coisas, que foram, há e haverão de ser, lógico que o destino final de cada ser humano
não lhe escapa do saber. Daí toda a dificuldade, pois se a Bíblia assevera tal certeza, tal
fato por si exclui toda possibilidade daquilo que o homem possa fazer por si mesmo,
não só em termos da salvação de sua alma, como da sua responsabilidade pessoal por
cada ato cometido.
Claro, nisto não residiria justiça divina, a nossos olhos, nem a sociedade organizada
conviveria com tais ordenamentos. Mas quem é o homem para determinar aquilo que
seria ou não justiça divina? Não estaria o caos social e os próprios questionamentos
humanos já incluídos na tal presciência de Deus?
Algumas correntes [atuais] argumentam que a presciência não é e nem pode ser posta
como pré-ordenação de Deus a destinar esta ou aquela alma para o fogo eterno, ou esta
ou aquela vida para tais e tais passagens na terra.
Contra-argumentam outros, que mesmo a existência ou não de algum pré-ordenamento
eliminaria a presciência.
A discussão parece nula, posto que o texto de Atos 2:23 equipara presciência com préordenação, senão vejamos: “Ele mesmo, segundo o desígnio determinado e a presciência de Deus. . .”.
Assim voltamos à predestinação ou pré-determinismo dos quais as escrituras atestam
em pelo menos os seguintes textos:
• Atos 4: 28 – “(...) tinham anteriormente determinado (...)”.
Romanos 8:29 – “(...) porque o que dantes conheceu também os predestinou
(...)”.
• Romanos 8:30 – “(...) aos que predestinou a estes também chamou (...)”.
• I Coríntios 2:7 – “(...) a qual Deus ordenou antes dos séculos (...)”.
• Efésios 1:4 – “(...) nos elegeu nele antes da fundação do mundo (...)”.
• Efésios 1:5 – “(...) e nos predestinou (...)”.
• Efésios 1:11 – “(...) havendo sido predestinados (...)”.
Outros livros, capítulos e versículos citam a predestinação, bastando para isso simples
consultas às referencias dos textos acima citados. Mais de quarenta versículos bíblicos
expressam a predestinação.
Assim, a predestinação está posta biblicamente, certa ou errada, coerente ou não, fundamentada na soberania de Deus, e conforme Romanos 9:14, num texto que desde o
verso 11 fala-nos de predestinação, só nos resta argumentarmos conforme o autor: “Que
diremos, pois? Que há [nisto] injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma”.
•
3. LIVRE ARBÍTRIO: A BÍBLIA APOIA ESTA TESE?
O homem é um ser livre, com todos direitos de desejar ou não alguma coisa, praticar ou
não qualquer ato, decidir soberanamente sobre seus próprios rumos. Claro, que isto implica em uma série de fenômenos desencadeantes e de conseqüências às vezes desastrosas, considerando implicações legais daquilo que é certo ou não, o lícito do ilícito, as
conveniências ou inconveniências e tantos outros pontos e contrapontos.
Diz o pensador que o homem é um ser livre, não obstante acorrentado, enquanto a Bíblia afirma lícitas todas s coisas, nem todas convenientes.
Também na questão da espiritualidade, o homem tem o livre arbítrio de decisão, tanto
quanto a vivência terrena, quanto à pós-morte. A oferta salvacionista é divina, aceita-la
ou não, seria uma atitude humana, sem constrangimentos e até com possibilidades de
reconsiderações.
“O salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por
Jesus Cristo nosso Senhor” – Romanos 6:23, cabendo ao homem decidir-se ou não por
isso.
Nestes termos, o livre arbítrio consiste na adesão ou não ao salvacionismo, ou na escolha libertária com isenção de vínculos de coações externas:
• Romanos 2: 7 – “(...) aos que, com perseverança em fazer o bem, procuram
(...)”.
• João 7: 17 – “Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina
conhecerá (...)”.
• Deuteronômio 30: 15 – “Vês aqui, hoje te tenho proposto, a vida e o bem, e a
morte e o mal”.
• Jeremias 29: 12 – “Então me invocareis e ireis, e orareis (...)”.
• Jeremias 29: 13 – “E buscar-me-eis e me achareis, quando me buscardes de
todo o vosso coração”.
• Tiago 1: 25 – “Aquele, porém, que atenta (...) e nisso persevera (...)”.
Tiago 2: 12 – “Assim falai, e assim procedei, como devendo ser julgados pela
lei da liberdade”.
Referências diversas conduzem a outros livros, capítulos e versículos referentes ao livre
arbítrio.
É verdade que a Bíblia mostra exemplos de homens que, desejando uma realização,
foram forçados a outra por Deus, a exemplo de Jonas 1:1-2, o que causaria certas dificuldades aos defensores do livre-arbítrio, mas quase sempre em casos assim, como de
Jonas, se tratam de pessoas comprometidas com certas missões [serviços] dadas por
Deus e por eles aceitas.
O livre-arbítrio, como num contrato estabelecido entre as partes, é de tremenda responsabilidade e não exime o homem das conseqüências decorrentes de possível quebra de
pacto.
Mas, e a presciência divina a respeito disto?
Ao homem e só a ele cabe a decisão final sobre seu destino eterno, ou seja, até a vontade de Deus, em termos de salvação, está limitada pela vontade do homem, e assim a
predestinação tão somente está para a salvação ou perdição eterna, cabendo ao homem a
opção e nisto Deus não pode interferir porque é lei sua, claramente implícita em Gênesis
3: 5-6.
Deus não obriga o homem a pecar para em seguida lhe oferecer um duvidoso perdão,
nem é o autor dos pecados para assim fazer perecer a humanidade. A reprovação aos
atos pecaminosos, por parte de Deus, e o seu alerta às conseqüências da continuidade do
homem pelos maus caminhos, inclusive sua doação redentorista, é um ato de amor e
zelo pelo livre-arbítrio. Errado seria Deus, ciente do futuro reservado, simplesmente
abandonar o homem à própria sorte, como objeto de sua santa ira, sem dar uma mínima
chance possível de salvação.
•
4. ELEIÇÃO: EXISTE NISTO ALGUMA VERDADE BÍBLICA?
E disse Deus, entre outras palavras, em Êxodo 33: 19: “usarei de misericórdia com
quem quero usar de misericórdia”.
As Escrituras ensinam que a eleição é um ato soberano de Deus, senhor absoluto de
seus dons e vontade, que não tem obrigação nenhuma com criatura alguma, e ele determina essa eleição pelo chamamento, pela graça e não pelas obras, um bom assunto que
os defensores da teoria ilustram, com as passagens referentes aos gêmeos Jacó e Esaú,
dos quais Jacó foi escolhido antes mesmo do nascimento e de terem praticado bem ou o
mal [Romanos 9. 11].
Israel [nação judaica] é um povo eleito de Deus, a Bíblia assim assegura, e não há exegeta nem seita cristã que possa afirmar o contrário. E Deus escolheu este povo para três
importantes propósitos:
1. Testemunho vivo de Deus perante todas as nações.
2. Repositório da palavra divina.
3. O advento do Messias.
Dentre as tribos hebréias, Deus escolheu uma para introdução do Cristo, e desta tribo,
uma pessoa através da qual ele próprio veio a mundo, para salvação daqueles que nele
crêem, mais precisamente aqueles que Deus escolheu desde o princípio para a salvação
[II Tessalonicenses 2: 13], ou seja, “antes da fundação do mundo” [Efésios 1: 4].
Para os discordantes, em Romanos 8:34, está escrito “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus?”, que I Pedro 1:2 acrescenta, “eleitos segundo a presciência
de Deus Pai”.
A eleição centra-se na figura do Cristo, o primeiro dos eleitos [Mateus 12:18 e referencias], por isto chamada cristocêntrica, e parece ser inalterável, todavia, a depender da
condição pessoal de fé e perseverança em Cristo.
Óbvio que a doutrina da eleição não é pacificamente aceita pelos estudiosos, no que
concordam os defensores, lembrando que a eleição trata-se de ato da soberania de Deus,
contrapondo-se a quaisquer dogmas, filosofias humanas ou regras de fé, e que tem por
testemunho único as Sagradas Escrituras. E aí, uma série de livros bíblicos [capítulos e
versículos] em apoio para tão controversa doutrina.
Os livros bíblicos abaixo apóiam a doutrina:
• Romanos 11: 5 – “(...) segundo a eleição da graça”.
• Efésios 1: 4 – "(...) antes da fundação do mundo (...)".
• I Tessalonicenses 1: 4 – “(...) que a vossa eleição é de Deus”.
• II Tessalonicenses 2:13 – “(...) .elegido desde o princípio (...)”.
• Tito 1:1 – “(...) segundo a fé dos eleitos (...)”.
Outros livros, capítulos e versículos podem ser obtidos através das referencias dos acima citados.
À primeira vista, eleição parece realmente confundir-se com a predestinação. Defensores da doutrina, não pensam assim; a eleição fundamenta-se na decisão divina de salvar
apenas alguns em detrimento do restante da humanidade pecadora, enquanto a predestinação se refere a tudo àquilo que foi decretado por Deus, antes da fundação dos séculos,
ou seja, o céu [paraíso] ou inferno por destino final, e o estabelecimento das circunstâncias necessárias para este ou aquele cumprimento.
Para alguns que censuram a eleição como algo injusto da parte de Deus, a resposta é
pronta, que salvação é ato de misericórdia divina e não de justiça, pois que a justiça
simplesmente é cada um receber o que merece.
“Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: por que me fizeste assim? Ou, não tem o oleiro
poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?" (Romanos, 9: 20-21).
Algumas correntes neo-elegista, entendendo certas discrepâncias entre a eleição e predestinação, ou para que a eleição não se dissipasse na doutrina determinista, nem se
contrapusesse tão ostensivamente ao livre arbítrio, defendem que a eleição é oferecida a
todos, e não a alguns poucos privilegiados, para a salvação em Cristo mediante o ato
pessoal do arrependimento pelos pecados, declaração de fé e aceitação da obra redentorista do Cristo, numa situação que pode ser alterada, mediante vontade unilateral do
homem.
E assim tudo fica de conformidade com II Pedro 1: 10-11: “Portanto, irmãos, procurem fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque fazendo isto, nun-
ca jamais tropeçareis, porque assim vos será amplamente concedida a entrada no
reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.”
4. CONCLUSÃO INDISCUTÍVEL
Não entramos nas polemicas da soteriologia, nem defendemos teses pró ou contra calvinistas, arminianistas ou que corrente for, posto que o objetivo era tão somente descrever
doutrinas da salvação, promover discussões e suscitar opiniões pessoais.
Este trabalho poderia resumir-se da seguinte maneira, sem perda de características:
• Predestinação: Céu ou Inferno por destino final à humanidade pecadora.
• Eleição: Oferecida por Deus a todos os homens, para a salvação em Cristo.
• Livre-Arbítrio: Decisão pessoal de cada um.
Assim, de livre e espontânea vontade, alguém pode ou não aceitar a Cristo como seu
único e legítimo salvador, e ter o destino final conforme soberana escolha.
DA TEOLOGIA DA REENCARNAÇÃO E DAS MANIFESTAÇÕES DOS
ESPÍRITOS*
1. TRATADO DOS TEXTOS SAGRADOS, DOS DOGMAS, DAS TRADIÇÕES
E POSTULADOS CRISTÃOS
Nenhum exegeta bíblico pode mostrar o espiritismo ou o mediunismo na Bíblia, como
se palavras traduzidas do grego, simplesmente porque elas não constam em nenhum
texto sagrado do judaísmo nem do cristianismo, argumentos que muitos estudiosos cristãos usam para condenação dos dogmas e doutrinas espíritas e de outros cultos mediúnicos, quase todos na erronia denominados espiritistas.
Equivocadamente algumas traduções bíblicas, mais ou menos atuais, empregam aqueles
vocábulos como traduções e cópias fiéis dos originais bíblicos, a exemplo de Levítico
9:31 “Não vos vireis para médiuns espíritas” – Novo Mundo das Escrituras, Edição
Brasileira 1967. Até o momento, nenhum dos originais bíblicos chegou aos nossos dias,
senão antigas cópias gregas, e nelas não constam espírita, médium, mediunidade ou
incorporação, nem nenhum dos outros neologismos próprios do espiritismo religioso
que, senão todos criados por Allan Kardec [Leon-Hippolyte Denizard Rivail], Codificador do Espiritismo, ao menos por ele dados a conhecer em suas diversas obras, e que em
nada parece anteceder ao próprio codificador [século XIX].
Embalados que certos termos usuais do espiritismo não podem constar das traduções
bíblicas, os ‘estudiosos’ determinam, arbitrariamente, que a Bíblia não traz a reencarnação em nenhuma de suas páginas, obviamente com isso a contraditar dogmas assumidos
por certos credos religiosos. Bradam os biblistas calam os espíritas, um e outro pela
mesma razão de não saber o que dizem.
O primeiro andamento para compreender a reencarnação e vê-la nas páginas da Bíblia, é
saber-lhe o significado ou aquilo que significa o ato de reencarnar.
Recorrendo aos dicionários logo se compreende reencarnar como sendo re + encarnar
onde re significa repetição, repetir, tornar a, e encarnar [do latim incarnare] é o que se
entende por tomar corpo carnal, o que nos dá a tradução literal de tornar a tomar corpo
carnal.
Tornar a tomar corpo carnal ou de novo nascer, indiscutivelmente é um ato de reencarnar, que consta dos textos sagrados dos judeus e cristãos, conforme primeiramente vista
em Mateus 19: 28, quando Jesus esclarecia os discípulos quanto à sua missão e objetivos terrenos: “(...) E Jesus disse-lhes: na reencarnação final, quando o filho do homem se assentar no seu glorioso trono, vós o que me seguistes, também estareis
sentados (...)” – N.M.E, ou, “(...) vós que me tendes seguido, quando, na reencarnação final (...)” – Tradução João Ferreira de Almeida.
As traduções bíblicas autorizadas omitem propositadamente a reencarnação, substituindo-a por regeneração ou recriação. Embora tanto regenerar quanto recriar tenham significados de dar nova vida a, estão elas distantes daquilo que se enseja por reencarnação
em termos de doutrina.
A tradução do Pontifício Instituto Bíblico de Roma, em nota referente àquele texto de
Mateus 19:28 diz: “na palingenesia final”, grego transliterado “(...) en té paliggenesia
(...)”, onde palin [de novo] + gênesis [nascer] vem precedida do artigo grego “té“, para
se referir a um retorno singular do espírito, típico de máxima [e ultima] evolução terrena, daí a tradução fiel “na reencarnação final”.
Pela profundidade das palavras, o Rabino revela ser espírito evoluído e ciente de seus
propósitos, encarnado quando outros espíritos que lhe seriam auxiliares diretos também
se faziam presentes, fisicamente, para aquela jornada, tanto que Jesus está a lhes falar
exatamente da reencarnação final.
Epístola Tito 3:1 a 5: “Admoesta-os a que se sujeitem aos principados e potestades
[hierarquias celestes], que lhes obedeçam e estejam preparados para toda a boa
obra; que a ninguém infamem, nem sejam contenciosos, mas modestos, mostrando
toda a mansidão para com todos os homens. Porque também nós éramos noutro
tempo insensatos, desobedientes, extraviados, servindo a várias concupiscências e
deleites, vivendo em malícia e inveja, odiosos, odiando-nos uns aos outros. Mas
quando apareceu a benignidade e amor de Deus, nosso Salvador, para com os homens, não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia nos salvou pelo lavatório da reencarnação e da renovação do Espírito Santo
(...)”.
O autor de Tito relata uma série de desqualificações de caráter e de procedimentos dos
seus professos, advindos de outros tempos, que tanto pode ser daquela mesma geração
como de existências anteriores; todavia, posto que diz agora salvos pelos procedimentos
da reencarnação, obviamente se trata de erros cometidos em vidas passadas.
Os tradutores e copistas bíblicos, mais uma vez [e sempre farão isto], vertem o grego
paliggenesias como regeneração ou recriação em português. Vejamos:
•
“Ouk ex ergôn tôn en dikaiosunê a epoiêsamen êmeis alla kata to autou eleos esôsen êmas dia loutrou paliggenesias kai anakainôseôs pneumatos agiou". Texto grego transliterado, assim traduzido para o português: "... não por
obras da justiça que tivéssemos feito, mas segundo sua misericórdia nos salvou pelo lavatório [loutrou no grego] da reencarnação [paliggenesias], e pelo renascimento de um espírito santo" – (SILVA Dr. Severino Celestino da,
autor da obra ‘ANALISANDO AS TRADUÇÕES BÍBLICAS’ – Editora
Idéia.
Talvez por descuido intencional, as traduções portuguesas da bíblia dizem ‘lavagem’
em vez de “lavatório”, pois que o grego loutrou tem por significado lugar ou local em
que se lava e não lavagem, conforme consta.
Outros textos bíblicos determinam a pré-existência do espírito [alma], como ratificação
do fenômeno reencarnatório, posto que a reencarnação seja a comprovação da préexistência do espírito, em outras vidas terrenas, com somatórias de experiências.
No Livro Isaias 49: 1-5, por exemplo, a pré-existência da alma é bastante destacada,
como experiente comprovada, para certas missões presentes. “O Senhor me chamou
desde o ventre, desde as entranhas de minha mãe ... E agora diz o Senhor, que me
formou desde o ventre para seu servo, que lhe torne trazer Jacó ...”
Moisés também trazia em si um espírito pré-existente, bastante conhecido conforme
Êxodo 33: 12 e 17 – “Conheço-te por teu nome, também achaste graça aos meus
olhos. (...). Farei isto que me tens dito [a entidade após ouvir Moisés], porquanto
achaste graça aos meus olhos e te conheço por nome”. Conhecer por nome tem significado bíblico de anterioridade ao nascimento, e este diálogo ocorre entre Moisés e um
Sló [Elohi / Eloha o mesmo que espírito], já divinizado pelos hebreus como o ser manifestante mais elevado entre todos, denominado “o deus dos deuses”.
Abraão trazia em si um espírito de outra época, Gênesis 18: 19 – “Porque eu o tenho
conhecido”.
Isaias 48:8, traz passagem em que se conhecia determinado espírito como infiel e desleal desde antes do nascimento: “(...) porque eu sabia que obrarias muito perfidamente, e que eras prevaricador desde o ventre”.
A pré-existência da alma [espírito] e seus feitos anteriores a uma presente encarna-ção,
era de aceitação plena no Novo Testamento, conforme se pode ver em João 9, 1-3:
“Quando Jesus ia passando, viu um homem que era cego de nascença, e os discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, para este homem nascer cego, foi ele ou
seus pais.”
Lucas 1: 15 estabelece, também, a pré-existência do espírito: “(...) cheio do espírito
santo, já desde o ventre materno”. Cheio do espírito santo significa, espírito evoluído
ou santificado que, na citação, já o era antes do nascer.
Epistola Gálatas 1: 15 “(...) que desde o ventre de minha mãe me separou, e me chamou ...”, relato provável sobre o apóstolo Paulo, que num dado momento, depois de
tanto fazer padecer os cristãos, declara-se predestinado para Cristo, desde antes o nascimento, tanto que em Romanos 1: 1 se declara “separado para o evangelho de
Deus”, e na Carta aos Efésios 1: 11, “Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as
coisas, segundo o conselho da sua vontade”.
Se as citações acima se mostram passíveis de polêmicas, afinal nenhuma delas é anterior
à fecundação, Jeremias 1: 5 é esclarecedor inconteste da pré-existência do espírito que o
habitou: – “Antes que te formasse no ventre, e antes que saísses da madre, te santifiquei; às nações, te dei por profeta”.
Alguns outros textos que atestam pluralidade de vidas:
• Atos 4: 26-28;
• Romanos 8: 29-30;
• I Corintios 2: 7;
• Efésios 1: 4-5 e 11.
Sob a óptica cristã, analisada as ocorrências, a reencarnação não somente está mencionado em tantos textos bíblicos, como também plenamente aceita pelos judeus e primeiros cristãos, daí a faculdade e crença que espíritos desencarnados podiam também desencadear certos fenômenos de manifestações, positivas ou negativas, diretas ou indiretas, bastando para tanto apenas um veículo intermediário racional entre os mundos físico e extrafísico.
O culto de consultas aos mortos foi bastante popular em detrimento aos sacerdotismo,
que os governos ditadores em nome de Deus, proibiram-no aos judeus. Num futuro mais
distante, meados do século VI, alguns nomes do cristianismo viriam não somente proibi-lo aos cristãos, como também declarar banida a doutrina da reencarnação.
A criação da escola de profetas [I Samuel 10: 5 e referencias] para formação de iniciados junto ao povo hebreu, foi uma maneira legal de se institucionalizar consultas aos
elohim, às vezes denominados deuses, outras demônios, mas sempre a significar espíritos desencarnados ou divindades prestas a algum objetivo junto aos homens.
As manifestações espirituais são comprovadas não somente pelas evocações de espíritos
de mortos conhecidos, para alguns favores, como ainda certas manifestações espontâneas ou provocadas de entes espirituais para proteções, tormentos físicos e psíquicos,
cumprimento de sentenças ou resgates de vidas anteriores, permissões divinas ou não de
possessões de corpos, todas como situações que, se condenadas antes para os judeus e
depois aos cristãos, todavia, são encontradas na Bíblia.
Certos textos foram adulterados, outros suprimidos ou substituídos, alguns ainda bastante fáceis de serem localizados e esclarecidos à luz das próprias Escrituras.
2. COMUNICAÇÃO ESPIRITUAL NARRADA NA BÍBLIA
A passagem que se encontra em Gênesis 3:1 e seguintes, relata que determinado espírito
do mal, serviu-se de uma serpente para atrair e enganar o primeiro casal bíblico, a tratarse da primeira relação, registrada na Bíblia, entre o humano e o espiritual para determinado fim, através de intermediação de um ser vivente.
Alguns especialistas cristãos atestam que um espírito do mal fez uso de ventriloquia à
distância, aparentando ser a serpente a falar, enquanto outros afirmam que o próprio
demônio se apossou dela, para seduzir o casal a transgredir as leis.
A despeito de ofídio não ter a capacidade de fala nem inteligência, e toda ocorrência
estar montada numa lenda que diz do paraíso terrestre e do destino do homem, entendese ali alguma espécie de relacionamento espiritual / humano, com efeitos produzidos,
através de um intermediário vivente.
Pretendem alguns estudiosos, que tradutores e copistas traduziram o hebraico nâhâsch
[aquele que faz encantamento, ou feiticeiro quase sempre associado à idéia de praticante
de culto ofilátrico] como sendo ‘nâhàsch’ [serpente], sutis diferenças que dariam, no
entanto, ao quadro da tentação, uma história muito mais compreensível.
Evidente que é mais complexo explicar o que fazia Satanás [demônio ou espírito do
mal] no Paraíso, do que a manifestação dele em si, como difícil seria Adão e Eva, criados para a vida física eterna, compreenderem a morte corpórea como castigo, além do
desastre espiritual. Mais absurdo, porém, é a extensão da pena para toda a humanidade.
Manifestação de espíritos [bons ou maus] em animais não parece fato isolado, sendo
encontrado, também no livro Números 22:’24 e 25, ratificado em II Pedro 2:’16, que
narra certo espírito [da parte de Deus], fazer uso de um muar para repreender um vidente [profeta] não hebreu.
Mateus 8:’28 ao 34 e referências narram espíritos num fenômeno incorporador em animais.
Isaias 13:’21 fala dos ‘se’irim’, em hebraico, como espécie de caprinos hirsutos dos
desertos possuídos por espíritos do mal. Conforme traduções bíblicas, aqueles caprinos
são denominados sátiros, demônios caprinos ou simplesmente hirsutos, sempre com
significado de seres espirituais maléficos.
Levítico 17:7 traz referências sobre os ‘se’irim’, na qualidade de espíritos ou gênios
habitantes dos lugares ermos e malditos, que invariavelmente assumiam formas animalescas de longas pelagens, ou que adentravam nos corpos de outras feras, enlouquecendo-as contra humanos.
3. CONSULTAS AOS MORTOS [OU AOS ESPÍRITOS] INTERMEDIAÇÕES E
PRÁTICAS ADVINHATÓRIAS, NA MESMA CATEGORIA DO
PROFETISMO
“(...) a ti, porém, nada de semelhante o Senhor, teu Deus, te permite” – Deuteronômio 18: 14.
Para Israel não eram permitidas consultas aos nigromantes, feiticeiros, adivinhos, encantadores, videntes, evocadores de espíritos e outros intermediários e intérpretes entre
o mundo terreno e o espiritual, que não da própria nação, conforme estabelecido pela
teocracia judaica.
Ao povo hebreu somente eram permitidas consultas espirituais e afins, aos seus vasos
consagrados, ou seja, aos homens levantados e autorizados para receber, transmitir e
veicular a vontade de Deus.
Levítico 20: 27 determina morte por apedrejamento, a qualquer homem ou mulher, de
Israel ou estrangeiro que resida em seu território, que em si tiver manifesto, ou for capaz
de reproduzir aqueles dons, sem autorizações. De igual forma, declara morte ao homem
ou mulher da nação hebréia, ou residente, que procurar aqueles praticantes em outras
nações, ou, ainda, aos praticantes estrangeiros que possam morar no território hebreu, e
neste ultimo caso, também morte a quem procurar praticar tais espécies de cultos.
Qualquer hebreu que, sabidamente, consultava pessoas com os dons ou aquelas capacidades, entre gentes estranhas, os sacerdotes determinavam-lhe impureza legal por abominação ao Senhor, e declaravam-no interdito [Êxodo 22: 19], para assim impedi-lo de
participar dos atos religiosos judeus. O interditado comum era, quase sempre, morto
exemplarmente, por apedrejamento, para não contaminar os demais membros da nação
hebréia, com aqueles cultos impróprios. O interdito seria a pena máxima para os hebreus transgressores das leis mosaicas.
Doenças não manifestas exteriormente eram atribuídas às freqüências naqueles cultos; a
sentença de morte era por assim dizer, a extirpação do mal que podia propagar-se no
seio da coletividade, e o indivíduo nem precisava ter a enfermidade manifesta, a bastar
denuncia [comprovada] de sua participação nalgum daqueles cultos proibidos.
Mesmo sob risco de interdição e morte, a Bíblia não oculta a sempre crescente procura
dos hebreus por indivíduos possuidores de dons, inclusive até autoridades do povo, como o Rei Salomão, que cultuou deuses estranhos e a eles levantou altares.
Evidente que a contaminação de fato temida pelos dirigentes dos hebreus, era a espiritual, que poderia evidentemente quebrar sua unidade nacional, e a teocracia, sob mando
ditatorial dos sacerdotes que perderiam os domínios e as benesses do poder.
Também não parecia isto concorrência saudável com as práticas dos iniciados hebreus,
donos de um culto excessivamente formal e ritualizado, além impopular e incompreendido pelo povo. Os manifestos estrangeiros pareciam mais diretos, de melhor entendimento e mais fácil assimilação.
Javé, o deus hebreu, em nenhum momento, através de seus mensageiros, afirma a impossibilidade das comunicações entre mortos e vivos, bem como respectivas ações, porque isto seria negar sua própria existência e origem; apenas proíbe tais práticas ao povo
hebreu, em se tratando de procuras deste entre outros povos, pelos motivos expostos.
Porventura não tinha Israel homens com aquelas mesmas capacidades, devidamente
autorizados, para os mesmos determinados fins? Porque o povo hebreu e mesmo os destaques de sua sociedade buscavam cultos estranhos e de estranhas gentes?
Entenderam a complexidade do sacerdotismo, praticamente inacessível às massas, e
então buscaram uma forma mais popular de religiosidade para o povo, através dos profetas, conforme visão extraordinária de Samuel, através de profunda reforma religiosa
aos hebreus [I Samuel 7: 2-6 e referencias], bastante aos moldes dos cultos de gentes
circunvizinhas.
Com o profetismo, não haveria razões para o povo hebreu buscar deuses de outros povos, posto que Javé com eles se comunicasse diretamente, e assim o rito lhes foi dado
para facilitar consultas espirituais diretas, sem as formalidades e os rigores dos cultos
sacerdotais.
O povo preferia mensagens diretas e imediatas, através de contatos mais próximos com
os intermediários entre o espiritual e o humano.
Nos tempos bíblicos da antiguidade, profeta seria interprete das vontades espirituais,
espécie de intermediário consagrado [preparado] entre os homens e os celestiais. O profetismo seria uma instituição legal outorgada por Javé [Deuteronômio 18: 9-22, com
destaques para o verso 15 que implica profeta no sentido coletivo-distributivo].
Mas, para entendermos mais profundamente o profetismo ou o profeta, temos a necessidade das observações e exposições bíblicas, que adivinho [estrangeiro ou não ao povo
hebreu], conforme Gênesis 41: 8, era denominação igualmente dada a algum intérprete
das mensagens e vontades dos espíritos aos homens. Então, um homem adivinho [por
profissão] seria da mesma categoria que o profeta, senão de idênticas funções ou, mesmo, sinônimas.
No Livro Isaias 8: 19, os adivinhos são colocados igualmente aos nigromantes, ou seja,
aqueles que evocam espíritos dos mortos, que mantêm contatos com espíritos em geral,
se deixam possuir por eles, trazendo suas mensagens aos homens.
Em Isaias, 47: 12, o adivinho, quanto aos atributos e capacidades, é o mesmo que, mago, encantador e feiticeiro, isto é, o que recorre, invoca e recebe [ou tem] em si, poderes
do oculto e agem de conformidade com desejos de tais forças.
Os versículos 10 e 11 de Deuteronômio 18 trazem rol de nomes dados aos [hoje] ocultistas, mas tudo parece resumir em certos indivíduos que, de uma maneira ou outra se
põe em contato com espíritos e deles se valem para suas práticas.
Jeremias 27: 9-10 iguala adivinho e feiticeiro [agoureiro em algumas versões] ao profeta.
Profeta, de conformidade com I Samuel 9:9, também tem o mesmo significado de vidente, embora a palavra profeta, posteriormente tornou-se termo biblicamente mais aceito para identificar homens de Deus, enquanto vidente e outras classificações viria ser
utilizado, quase sempre, para identificar homens usados por forças do mal, embora durante algum tempo todas denominações fossem sinônimas de profeta, ou seja, quase
todas com as mesmas grafias em hebraico / aramaico ou no grego antigos, vertidos para
o português.
Isto reafirma que quaisquer daqueles designativos, estão sempre a significar algum elemento intermediário entre o mundo espiritual e o humano, todos igualados a uma mesma categoria, divinos ou não.
4. INCORPORAÇÕES DE ESPÍRITOS
Alguns biblistas e pregadores procuram minimizar o fato, outros parecem não entender
o acontecimento, enquanto a maioria dos cristãos dentre os poucos que entendem referida passagem, acredita que o Espírito Santo foi o único manifestante.
O texto encontra-se em Números 11, a partir do verso 11 até o 30, quando Javé solicita
de Moisés setenta anciãos e seus oficiais, para ajudarem o Libertador, que achava demasiado pesado o seu cargo. O cansaço alegado por Moisés é físico e, provavelmente,
mental, haja vista ser ele praticamente único líder para atendimento direto a seiscentos
mil homens judeus, homens a pé, isto é, somente contados os machos adultos e vigorosos, de conformidade com o verso 21.
Efetivamente, para toda aquela multidão, sessenta e oito pessoas, fora do arraial, receberam do espírito que estava sobre Moisés, pelo versículo 25, e puseram a profetizar e
praticar atos próprios do dom [vidência, revelações, instruções, consultas, etc]; dois
outros escolhidos receberam manifestos idênticos dentro do acampamento, verso 26,
para aqueles e aquelas que não puderam sair.
Receber do espírito que estava sobre Moisés, significa receber em si ou se deixar possuir por espíritos de um conjunto de entidades denominado falange, que a Bíblia diz posto
[infundido, insuflado ou penetrado] sobre aqueles setenta anciãos. Não é possível qualquer esclarecimento, inteligente, que possa ou venha diferir das hoje denominadas incorporações espirituais.
É compreendido pelo texto que Josué, ministro de Moisés e posteriormente seu sucessor, não entendeu o que se passava, ciente que dois deles profetizavam no acampamento, pediu a Moisés que os proibisse, por alguma possível inveja ou ciúmes, senão, simplesmente por não compreender aquilo que ocorria. O verso 29 demonstra Moisés também alheio aos acontecimentos, com referencia aos dois que ficaram no acampamento,
tanto que se encaminha para o local, acompanhado de alguns dos anciãos [conselheiros]
do povo, não manifestos por espíritos, para alguma possível constatação e esclarecimentos dos fatos, numa interessante passagem, infelizmente truncada nas traduções atuais,
por motivos não esclarecidos.
Setenta pessoas obviamente não prestariam atendimento a todo aquele povo, em questão
de horas, como enseja o texto, mesmo se considerado o verso 16 que aponta pessoas
auxiliares dos anciãos. É correto tratar-se de intermediários, os anciãos, colocados em
lugares estratégicos com seus assistentes, para as consultas e orientações devidas ao
povo, missão que pode ter durado um período mais ou menos longo.
Na Bíblia tanto a reunião daquele contingente e os manifestos dos profetas, encerraram
repentinamente, sem mostra das reais objetividades, com brusca interrupção e mudança
de assunto, considerando os versos 30 e 31.
Atribuir os tais manifestos ao Espírito Santo é desconhecer o assunto, e não ter noção
mínima dos mais antigos manuscritos e cópias referentes.
O texto bíblico, ora em estudo, é obscuro e desconexo, corrompido e com descaracterizações propositais, além de interrupções arbitrárias. As versões bíblicas diferem os significados quanto ao cumprimento daquele ofício, naquilo que diz algumas traduções
“nunca mais voltaram a fazê-lo [profetizar]”, enquanto outras “[profetizaram] como
nunca tinham feito” ou, ainda, “e não cessaram mais [de profetizar]”.
Se o relato está de fato mutilado e nem esclarece propósitos, todavia, deixa entender
bastante claro que certos homens dentre os hebreus, receberam [incorporaram] espíritos
e prestaram serviços espirituais à comunidade.
5. DEUS ORDENA E RESPONDE ATRAVÉS DOS ORÁCULOS E
LANÇAMENTOS DE SORTES
Êxodo 28: 30 relata-nos as denominações Urim e Tumim, Luz e Integridade ou Perfeição, como duas pedras consagradas, para interessante prática de consultas a Javé, que
os iniciados hebreus utilizavam, em favor do povo.
Outras pedras seriam utilizadas para se consultar Javé, não se sabendo exatamente quantas, embora alguns apontem, pelo menos, doze delas representativas das tribos, tomando
por base Êxodo 28: 17-20. Ao contrário de Urim [Aleph] e Tumim [Tau], não se pode
identificar com certeza o nome das demais pedras.
Originalmente, Urim e Tumim designam espécie de técnica divinatória que consistia em
“lançar a sorte”, ou seja, consultar espíritos ou o senhor [Deus] dos espíritos, segundo
o livro Números 27: 16, todavia, são desconhecidos os métodos como eram efetivamente feitos os lançamentos, e quais os critérios de interpretação, sendo certo, porém que,
uma vez lançadas e, devidamente interpretadas, delas se retiravam respostas e vontades
[Números 27: 21-23].
As interpretações eram sempre tidas como inspiradas, portanto infalíveis e o livro de
Esdras, 2: 63, nos revela a seriedade como era tal prática.
As pedras consagradas eram colocadas num adicional do efode [bolsa ou peitoral –
Levíticos 8: 8], veste sagrada cuja confecção acha-se detalhada em Êxodo 28 a partir do
verso 4 e referências; o efode era parte essencial do ato de consultas, porque neles ficavam as pedras oraculares, e quando alguém de importância solicitava o jogo, pedia ao
sacerdote iniciado que trouxesse o efode e daí iniciava-se a operação [I Samuel 14:18].
Certo que tal prática era determinada por Javé, os religiosos hebreus não tinham dúvidas
ser o próprio Senhor ou algum espírito de sua parte quem respondia através do Urim e
Tumim.
O jogo, aparentemente, consistia em lançar pedras e interpretar vontades ou mensagens
espirituais, quando não algum espírito permissionário, a inspirar um sacerdote ou profeta, para fazer o jogo e anunciar ao povo: “Assim falou Deus.”
I Samuel 13: 41-42, demonstra uma sessão de consultas através do Urim e Tumim, parecendo tratar-se de perguntas objetivas com respostas sim ou não, uma a uma, de forma
progressiva, secundada por previsões sucessivas, demonstradas em I Samuel 23: 9 ao
13. No capítulo 30 do mesmo livro, versos 7 a 9, relatam-se outra rodada de consultas.
Mas como saber quando não era Deus ou algum enviado quem respondia através do
oráculo?
Êxodo 18: 22 dá a resposta, num sentido assim, quando alguém falar em nome de Javé e
tal palavra não se cumprir, essa é a palavra que Javé não pronunciou.
Balaão não era profeta hebreu [Deuteronômio 23: 4], portanto não era profeta de Javé,
mas foi usado por Ele [Números 22: 5], inclusive numa célebre antevisão do Cristo
[Números 24:16-17], embora a situação pela qual ele se fez mais conhecido, sem dúvidas foi da jumenta que o anjo usou para lhe dar uma mensagem falada. De Balaão diria
a Epístola II Pedro 2: 16 – “mas teve a repreensão da sua transgressão; o mudo jumento,
falando com voz humana, impediu a loucura do profeta”, de uma passagem firmada em
Números 22: 24-35.
Apesar de algumas experiências com Javé, Balaão [Números 31: 16, II Pedro 2: 15 e
Judas 1: 11] foi morto pelo fio da espada [Josué 13:22], porque fez transgredir o povo
hebreu.
Os profetas estrangeiros consultavam seus deuses pelo mesmo método dos hebreus; a
atividade de Balaão indica que ele se valia de idêntico sistema oracular de consultar
divindades, inclusive ao próprio Javé que lhe respondia, diretamente ou por algum enviado, também pelo mesmo sistema.
O espiritismo kardecista não utiliza lançamentos de pedras para suas comunicações,
nenhuma seita cristã atual [daquelas que tem apenas a Bíblia como única regra de fé] se
vale de jogos similares para seus contatos com Deus, e todos que usam tais práticas, são
considerados adivinhos [prognosticadores], lançadores de sortes, interpretes, magos,
feiticeiros, esotéricos, gnósticos, hereges ou, em outras palavras, tais usuários praticam
abominações ao Senhor, quando assim procedem.
Alguns cultos mediúnicos e esotéricos, no entanto, praticam jogos daquela natureza,
sendo o mais conhecido no Brasil, o jogo de búzios [pequenas conchas do mar] pelo
Candomblé, Umbanda, Quimbanda e cultos assemelhados. As runas [pedras ou varetas]
e o i’ching [duas pedras losangos que se complementam, harmonicamente] também são
bastante divulgados.
Todos os tipos de consultas do gênero denominam-se lançamento de sortes, ou consultas aos oráculos. A Bíblia diz, textualmente em I Samuel 14:42, “lançai a sorte”, num
momento em que se necessitava perguntar e ouvir respostas espirituais.
No livro de Jonas [1: 7], homens que “não eram de Deus”, lançaram sortes, isto é, consultaram seus deuses, para saber quem lhes traziam desgraças, e a sorte recaiu sobre
Jonas, a razão certa dos infortúnios que os levaram à consulta.
Entre soldados, aos pés da cruz, foi lançada sorte para qual deles seriam destinadas as
vestes de Jesus [Mateus 27: 35, referência especial vista como cumprimento profético
de Salmos 22:18].
Saul, rei dos hebreus, consultou Javé [I Samuel 14: 26-45], e partes da situação foram
definidas através de lançamentos de sortes [“lançai a sorte” – verso 42].
José, filho de Jacó, mais conhecido como José do Egito, se confessou adivinho [Gênesis 44: 15], através de uma taça, pela qual certamente também interpretava as vontades dos espíritos do Senhor.
Os primeiros cristãos valeram-se da prática oracular [lançamento de sortes], a exemplo
da escolha do substituto de Judas [Atos 1: 26], pelos apóstolos remanescentes, foi definida pelo lançamento de sortes, e esta recaiu sobre um certo Matias. Tal passagem é tão
constrangedora aos cristãos, que nem a colocação tardia da confirmação do Espírito
Santo sobre aquela escolha, em algumas versões, minimizou os efeitos, ao contrário,
serviu apenas para reafirmar práticas que hoje são condenadas pelas doutrinas cristãs.
Alguns outros textos bíblicos mostram homens de Deus lançando sortes, com o próprio
Javé ou espíritos a lhes determinar o destino, através dos oráculos, a exemplos de Provérbios 16: 33, Levíticos 16: 8 e I Samuel 10:2 0-21.
A culpabilidade dada a certo Acan e a punição de morte extensiva a toda sua família, foi
apontada através do oráculo, assim entendido no Livro Josué capítulo 7:14.
6. EVOCAÇÃO DE UM ESPÍRITO DESENCARNADO QUE SE FAZ MANIFESTO
I Samuel 28 é a maior dor de cabeça “espiritista” para os cristãos, porque traz com
detalhes a evocação, aparição e mensagem de um morto, através de pessoa intermediária
[hoje denominada médium], isto tudo, sem deixar nenhuma dúvida aos presentes de ser
ele mesmo, o espírito do profeta Samuel, então recentemente morto.
Dizem os cristãos, no entanto, que foi o Diabo, Satanás ou qualquer Demônio, pai da
mentira e do engano, quem se fez passar por Samuel, considerando algumas falhas
[mentiras] na mensagem dada.
A principal evidência de erro estaria que o recado dado pelo pretenso espírito do profeta
não se cumpriu integralmente, exato em I Samuel 28- 19 onde diz “amanhã tu e teus
filhos estareis comigo”, isto é, todos mortos no dia seguinte, pois Saul teria vivido alguns dias a mais, até o suicídio narrado no capítulo 31: 4-6, além que somente três de
seus filhos, e não todos, morreram nas mãos dos filisteus.
Tal argumento, porém, não resiste a uma análise séria, bastando ler I Samuel 28: 1 e 2
para entender que o texto tem como figuras principais Aquis e Davi, advindos do capí-
tulo anterior, num assunto que cessa sem conclusão no verso 2, para retorno somente no
capítulo 29 e todo o 30, evidentemente a tratar-se de interpolação de textos.
Assim, a partir de I Samuel 28: 3 até o verso 25, o tema deixa de ser o Davi e Aquis,
naquilo que intentavam para a narrativa de certas ocorrências vividas pelo rei Saul e
alguns de seus próximos, no decorrer de uma única noite [versículos 8 e 25]; tal descrição finda em I Samuel 28: 25, para ser retomada, em seqüência, somente no capítulo 31
do mesmo livro I Samuel.
Então no dia seguinte, ou seja, no capítulo 31 a partir do verso primeiro, os relatos informam das mortes dos soldados hebreus e o cumprimento da profecia, dada no capítulo
28: 3 a 25, com o suicídio de Saul e a morte de seus filhos, todos diante do avanço inexorável e destrutivo das forças filistéias.
Outra questão levantada pelos cristãos, é que apenas três dos filhos de Saul, e não todos
como a profecia deixa entender, pereceram diante dos filisteus.
Não parece ter ocorrido nenhuma falha profética, por não haver determinação de quantos deles seriam mortos, nem a afirmação que todos seriam entregues aos filisteus e
mortos, assim como nada diz, também, dos demais membros da família real.
Óbvio a necessária compreensão da linguagem bíblica, que seriam mortos em combate
apenas os filhos envolvidos no conflito direto com os filisteus.
Embasa e justifica este argumento, um outro texto em I Samuel 15:’2 8, onde diz “O
Senhor tem tomado de ti hoje o reino de Israel, e o tem dado ao teu próximo [Davi], melhor do que tu”, para entender que tal não ocorreu assim tão imediato como se
faz supor, posto que Isbosete, filho sobrevivente de Saul, foi rei de Israel ainda por dois
anos, antes que Davi finalmente viesse ocupar aquele trono.
Ainda, na vã tentativa de descaracterizar a manifestação como sendo do próprio Samuel e atribuí-la a um demônio, os biblistas argumentam que a pitonisa fez ‘subir’ o
espírito, conforme atestado no verso 13, e o que sobe ou vem de baixo são demônios ou
espíritos do mal [Isaias 29: 4 e Apocalipse 13:’11], pois aquele que vem de Deus, vem
do alto, conforme Tiago 1:’17 e referências.
O significado daquela passagem, porém, é mais próximo com Gênesis 37:’35,
I Samuel 2:6, Jó 7:’9 e referências outras, considerando ser crença hebréia que todos as
almas [espíritos desencarnados] eram recolhidas, ou se recolhiam, num subterrâneo [conhecido como seol ou cheol], tido como morada de todos falecidos.
Uma outra argumentação cristã que não fora Samuel quem conversara com Saul, é que
teria sido somente a necromante quem viu o espírito do profeta subir da terra, e que assim declarou, dando entendimento de subjetividade e contaminação coletiva mental
indutiva, de algo não verdadeiro, senão apenas para a intermediária.
A verdade, porém, foi Saul quem pediu a “chamada” de Samuel do mundo dos mortos,
e a mulher declarou, inicialmente, ver espíritos e deles destacar um, cuja descrição fez
Saul compreender estar diante do profeta [verso 14]. O rei, dado entendimentos em I
Samuel 10: 10 e 11:6 e, especialmente, no capítulo 16, versos 14 ao 23, não era nenhum
inexperiente no assunto, inclusive tendo em si diversas vezes manifestos de espíritos
bons e ruins, todos tidos e ditos da parte de Deus.
A intermediária também não nos parece nenhuma falsária, ao contrário, demonstra ser
notória sensitiva, pelos versos 12 e 13, ao descobrir a identidade de seu consulente.
Aos sectários é compreensível desconhecer, mas não os especialistas, que o pronunciado pelo espírito de Samuel [I Samuel 28:17], na verdade é apenas menção repetida daquilo que o velho profeta já dissera, em vida, ao rei [I Samuel 15:28].
Mais importante que os acontecimentos junto à pitonisa e desdobramentos seqüentes, a
nosso ver, são os motivos dos reais fatos e situações antecedentes, que levaram o rei
Saul àquela consulta, a seguirem destacados.
O verso 6 do capítulo 28 declara que Javé se recusou terminantemente responder a uma
consulta do rei Saul, porque o rei deixara de cumprir uma ordem divina, e assim perdera
a graça de Deus [I Samuel 15: 19 a 23], ou por Ele rejeitado.
A ordem divina que Saul não cumpriu integralmente o aniquilamento total dos amalequitas da face da terra, ou seja, extermínio de todos os homens, mulheres, crianças de
colos, velhos e animais domésticos, além da destruição geral dos demais pertences – I
Samuel 15: de 1 a 9. Saul atendeu partes da ordem, matando todo o povo mas, por algum motivo poupando o rei Agague, os melhores animais e, certamente, as riquezas
daquele infortunado povo.
Este ato parcial de Saul foi o motivo de Deus rejeitá-lo e determinar-lhe a morte, algo
terrível da parte de Deus, muito mais pela estúpida ordem dada, que sua própria rejeição
a Saul.
E porque Deus quis a destruição total dos amalequitas? Porque séculos antes, um rei
amalequita e seu exército resolveram dificultar a passagem dos hebreus por seu território, quando do êxodo do Egito. Claro que o não matarás, o amar seu inimigo e o perdoar
tantas vezes quantas necessárias, foram balelas legais, também pouco a importar que o
correto seria Saul não ter praticado nenhum ato de violência gratuita contra os amalequitas, tantas gerações depois de uma ocorrência onde já ninguém da época vivia mais.
O arrependimento de Saul, quando exortado de sua ‘transgressão’ pelo profeta Sa-muel
[I Samuel 15: 30], não foi considerado por Javé, o terrível vingador.
Deus ao se recusar falar com Saul pelo Urim e Tumim, por sonhos e pelos profetas [I
Samuel 28:6], deixou-o sem opções de consultas senão através de algum proscrito especialista na área, mas, conforme parte do verso 3 daquele capítulo, o próprio Saul havia
desterrado todos os adivinhos, feiticeiros, necromantes e congêneres de seu reino, no
mais absoluto e estrito cumprimento do dever legal, religioso e moral para com Javé,
porque esta era Sua determinação legal.
O mesmo verso 3 informa que já era morto o profeta Samuel, e deixa entender o quanto
Saul necessitava urgente do conselho ou ordem de Javé, porque os inimigos filisteus
estavam prestes a invadir o reino, e o bom senso e costumes lhe recomendavam buscar
tais aconselhamentos, antes de quaisquer outras atitudes.
Argumentam os cristãos que Saul deveria insistir em buscar orientação divina, arrepender-se e esperar, pacientemente, a misericórdia de Deus, tudo conforme diz a Bíblia,
porém, ele foi logo procurar uma necromante, para assim obter resultados que Javé insistia em lhe negar, pouco importando, os argumentadores, se os filisteus iriam ou não
matar hebreus inocentes. Aliás, a punição de Deus não se limitou apenas em atingir Saul, seus familiares e exército, mas a muitos civis inocentes de seu próprio povo.
Todavia, conforme diz a Bíblia em textos já citados, antes de recorrer à necromante,
Saul buscou o Urim e Tumim que lhe recusou respostas [I Samuel 28: 6], algo não in-
comum, a exemplo de certa negativa de pronunciamento da parte de Deus para determinado assunto [I Samuel 14: 37], para quase em seguida o mesmo Deus responder um
outro tema [versos 41 e 42 do mesmo capítulo 14]. Desta vez, por Samuel 28:6, a recusa
de Javé lhe foi determinante para a morte.
Portanto, segundo nos é dado entender pela Bíblia, Saul somente se dirigiu àquela necromante, depois de esgotados todos os meios legais disponíveis entre seu povo, ou seja, quando já não tinha mais nenhum intermediário que lhe conseguisse contato com
Javé.
Saul quando resoluto para o ato sabia com que espírito deveria conversar, e o que significa crença naquela possibilidade de contato.
Também não ignorava o rei que, recorrendo a uma feiticeira ou afim, certamente estava
a transgredir severa lei mosaica, cuja punição para tal delito era a morte por apedrejamento.
Posto todas as rejeições aos argumentos contrários e pelas considerações bíblicas, é impossível negar não ter sido mesmo o profeta Samuel, então morto recente [I Samuel
28:3], quem teve seu espírito evocado por uma necromante, e quem efetivamente apareceu aos presentes, foi por eles reconhecido e deu seu recado antes de retornar ao mundo
dos mortos ou dos espíritos, de onde viera.
O livro bíblico Eclesiástico, aceito pelo credo católico, diz em seu capítulo 46 verso 23,
haver sido de fato o espírito de Samuel quem, evocado, se fez presente na sessão de
Endor. Daí, o conflito já fica entre os próprios cristãos, que aceitam ou rejeitam o Eclesiástico.
7. A BÍBLIA ADMITE CONSULTAS AOS ESPÍRITOS, ATRAVÉS DE
INTERMEDIÁRIOS
“Quando disserem a vocês: Consultem os espíritos e adivinhos, que sussurram e
murmuram fórmulas; por acaso, um povo não deve consultar seus deuses e consultar os mortos em favor dos vivos?; comparem com a instrução e o atestado: se o
que disserem não estiver de acordo com o que aí está, então não haverá aurora
para eles” – [Bíblia, Isaias 8: 19-20, Edição Pastoral].
O livro de Isaias, capítulo 8 e versículos 19 e 20, tem sido usado por críticos cristãos,
como advertência proibitiva às práticas de consultas aos espíritos. Cristãos espíritas se
calam muitas vezes, talvez por ignorar aquilo que realmente diz o texto, que não somente comprova a possibilidade de contatos com espíritos do além, como admite tal prática.
As diversas traduções bíblicas, para o texto em questão, são bastante diferentes entre si,
sem sentidos lógicos mesmo aos olhos dos analistas mais atentos. Vejamos algumas
delas, de mais fáceis acessos:
• A Ferreira de Almeida [1958, edição revista e corrigida] traz: “Quando vos disserem: consultai os que têm espíritos familiares e os adivinhos, que chilreiam e murmuram entre os dentes; – não recorrerá um povo ao seu Deus? A
favor dos vivos interrogar-se-ão os mortos? À Lei e ao Testemunho! Se eles
não falarem segundo esta palavra, nunca verão a alva”.
Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, edição de 1967: “E caso vos
di-gam: ‘recorrei aos médiuns espíritas, ou aos que tem espírito de predição, que chilreiam e fazem pronunciações em voz baixa’, não é a Deus que
qualquer povo devia recorrer? [Acaso se deve recorrer] a pessoas mortas a
favor de pessoas vivas? À lei e à Atestação!”.
• Bíblia On-Line / Jesus Site: “Quando vos disserem: Consultai os que têm espíritos familiares e os feiticeiros, que chilreiam e murmuram, respondei:
Acaso não consultará um povo a seu Deus? acaso a favor dos vivos consultará os mortos? A Lei e ao Testemunho! se eles não falarem segundo esta
palavra, nunca lhes raiará a alva” www.jesussite.com.br.
• A tradução pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma - PIBR, edição 1967, muito mais próxima de antigos textos e tradições, diz: “E quando vos disserem: –
Consultai os nigromantes e os adivinhos, que murmuram e segredam; porventura um povo não deve consultar o seu deus, e os mortos pelos vivos? –,
segui a instrução e a advertência. Certamente vos hão de dizer tais coisas,
que não prometem aurora”.
Estudiosos e tradutores bíblicos do Pontifício Instituto Bíblico de Roma, diante das inconveniências e diferentes traduções daquilo que está escrito, apontam o texto como
obscuro e corrompido, por erros de tradutores e copistas, e até pela ausência de algum
original, como se da Bíblia algum único manuscrito, original de fato, tenha chegado
integral até nossos dias. Para os versículos 19 a 23 de Isaias 8 qualquer transposição é
arbitrária.
Também se pode observar que algumas traduções não dão ao hebraico elohim, o significado de espíritos, conforme os mais antigos documentos sobre o texto. Tal prática aliada
a certas adaptações gramaticais, tendenciosas, quase que modificam por completo o
sentido original bíblico, ou aquilo que está posto no mais antigo manuscrito do Livro
Isaias.
Para estudos e compreensões mais acuradas, vemos que os versos antecedentes, 11 ao
18 daquele capítulo, apontam o povo hebreu em oposição a Javé, repelindo seu profeta e
se fazendo recorrente [versículo 19] às certas práticas de consultas aos espíritos, através
de intermediários não autorizados, exatamente porque o profeta lhe traz advertências e
maus presságios.
Então o profeta brada o alerta que, mesmo o povo hebreu indo a busca de lenitivos junto
aos adivinhos e evocadores de espíritos, como outras nações o fazem e recomendam,
estes [os espíritos] certamente lhe darão a mesma mensagem de advertências e os mesmos maus presságios enunciados por Javé, ou seja, não vão prometer dias melhores, por
isso a recomendação “segui a instrução e advertência [deles]”.
O mensageiro de Javé até questiona legitimamente: “porventura não pode um povo
consultar espíritos?”.
Evidente que a Bíblia não recomenda aos hebreus, em Deuteronômio 18: 10-16 até proíbe e condena, mas admite consultas aos espíritos, pelos necromantes e adivinhos, que
chilreiam e murmuram entre os dentes, cujas mensagens até podem ser corretas, se de
conformidade com os dizeres do próprio Javé. Um exemplo claro seria o profeta Balaão,
não hebreu, em contatos diretos com um espírito [mensageiro] da parte de Javé.
•
Nos versos 21 e 22 do capítulo 8 de Isaias, está escrito que: “se os espíritos [consultados] não falarem de conformidade com as regras [até do próprio Javé], tais espíritos estão ainda na escuridão”, isto é, não suficientemente desenvolvidos ou evoluídos
para aconselhamentos, e assim eles passarão pela terra “duramente oprimidos e famintos ... até que lhes seja dissipada a escuridão”, tantas vezes quantas necessárias
forem, para seu aperfeiçoamento e evolução espiritual. O versículo 23 que consta apenas na versão PIBR, mais fiel aos manuscritos, dá seqüência ao verso anterior: “porque
não será imerso na escuridão, quem se achava em angústias. Num primeiro tempo
tratou com desprezo as terras de Zabulon e de Neftali, e num segundo, nobilizou a
rota do mar a outra banda do Jordão, a Galiléia dos gentios”.
As traduções bíblicas mais utilizadas pelos denominados crentes evangélicos, ignoram o
verso 23, mas num sentido geral, pelo que está escrito numa e outras versões, a mutilação não está suficiente para negar práticas espíritas explícitas, não traz censuras nem
proibições quanto ao ato de se recorrer aos mortos em favor dos vivos, apenas recomenda a coerência necessária dos comunicantes, e se tal não houver, são evidentemente espíritos ainda não evoluídos.
8. O HOMEM QUE LIA PRESSÁGIOS E INTERPRETAVA SONHOS
O já citado José, filho de Jacó [patriarca bíblico], foi um homem bastante conhecido
como o sonhador e interprete de sonhos, dons que os cristãos consideram dados por
Deus.
O que os cristãos não comentam, é que José lia presságios numa taça, bem aos moldes
de modernos adivinhos e leitores de sortes, através de objetos da mesma natureza.
O assunto referente encontra-se em Gênesis 44:5, quando guardas sob as ordens de José
declaram-no adivinho: “Não é esta a taça por que bebe meu senhor? e em que ele
bem adivinha? (....)”.
A declaração não é de José e, com certeza, foi artimanha desnecessária, usada pela
guarda, para flagrar delitos dos irmãos do senhor ministro do Egito, e assim prende-los.
Mas o ato declaratório é desnecessário, por simplesmente bastar o encontro da taça, que
deveria ser especial, para declarar presos os irmãos de José, inocentes posto não terem
eles furtado nada e o produto encontrado fora, furtivamente, colocado entre seus pertences.
Mas, em Gênesis 44: 15 é o próprio José quem declara, também sem necessidade, ser
um adivinho e leitor de presságios, através daquela taça.
Argumentam que o episódio constitui numa pequena mentira do servo de Deus, mas, a
mentira e não importa o grau, é um pecado ao mesmo nível que feitiçaria e outras abominações, conforme Apocalipse 21:8, enquanto I Samuel 15: 26 coloca a adivinhação
como pecado do mesmo quilate da rebeldia a Deus, ato que selou a rejeição de Javé a
Saul e que lhe trouxe a morte, por conseqüência.
José não se declararia pressagiador numa taça, se de fato ele não o fosse, sobretudo considerando, repetimos, a desnecessidade daquela confissão.
Evidente que José não podia ser enquadrado aos rigores legais de Deuteronômio 18: 10,
posto ser o pressagiador anterior às leis mosaicas, mas, estudando o livro Gênesis com-
preende-se que a adivinhação não era boa norma de ação, nem bem vista aos olhos de
Deus, tanto que a proíbe ao povo hebreu em geral, somente permitido aos iniciados.
9. UM ESPÍRITO BOM, DA PARTE DE DEUS, SE APOSSA DE CORPO
FÍSICO E USA-O; DEPOIS UM ESPÍRITO DO MAL, TAMBÉM DA PARTE DE
DEUS, FAZ SUA INCORPORAÇÃO
A Bíblia cita alguns exemplos de espíritos [da parte] de Deus, elohim, apossando-se de
seres humanos, como em Juízes 3: 10 e referencias.
Em I Samuel 10:10 está escrito: “(...) e o espírito do Senhor se apossou dele [Saul], e
profetizou no meio deles”. I Samuel 11:6, numa outra passagem : “Então o espírito
[da parte] de Deus se apoderou de Saul (...)”.
I Samuel 16: 14-23, está escrito que após certa manifestação, o espírito da parte de
Deus, retira-se de Saul e, em seguida, dele se apossa um outro espírito, maligno, também da parte de Deus, que só com certas práticas rituais deixava Saul em paz. Qualquer
tradução bíblica, traz sempre escrito ou entendido, um espírito maligno da parte de
Deus, sem deixar margens para dúvidas.
Outras citações trazem Saul em outros manifestos semelhantes, ora com um espírito
bom, ora com algum [ou o mesmo] espírito perturbador, todos da parte de Deus.
Em tempos atuais, o assunto seria entendido que certamente algum obsessor passou a
perturbar Saul, quando dele se apossava. Interessante observar a permissão divina para
possessões tanto de espíritos bons quantos dos ruins e, mais que isso, todos indistintamente da parte de Deus.
A vivência de Saul no universo dos espíritos é, portanto, bastante singular, o que significa que no episódio da necromante de Endor, quando lhe surgiu o espírito de Samuel [I
Samuel 28: 3-25], Saul sabia muito bem o que fazia e naquilo que estava a se envolver.
A título de compreensão quanto ao uso de espíritos da parte de Deus, em I Reis 22: 1923 está escrito sobre a necessidade do Criador em promover uma situação contra determinado rei, e assim à procura de alguém para induzi-lo ao erro, quando se apresenta um
espírito diante do Senhor e lhe propõe um plano para aqueles maus propósitos: “eu sairei , e serei um espírito de mentira na boca de todos os seus profetas”. Deus não se
fez de rogado: “sai e faze assim” – verso 22; “Agora pois, eis que o Senhor pôs um
espírito de mentira na boca de todos os teus profetas (...)” – versículo 23.
No livro Jó 1:6, se percebe certa intimidade [de diálogo pelo menos] entre Satanás e
Deus, e algumas permissões dadas pelo Senhor.
9. MENSAGEM ESCRITA VINDA DO ALÉM
Bem ao gosto dos cristãos, está escrito: “Então lhe veio um escrito da parte de Elias o
profeta, que dizia: ‘Assim diz o Senhor Deus de Davi teu pai: Porquanto não andaste nos caminhos de Jeosafá, teu pai, e nos caminhos de Asa, rei de Judá’ ...” – II
Crônicas 22:12.
Trata-se de um texto aparentemente sem maiores dificuldades de compreensão: um alguém [o rei Jorão], da descendência [dinastia] de Davi, recebeu uma carta, ou bilhete
que seja da parte do profeta Elias, para um determinado fim repreensivo.
Tudo estaria certo não fosse um pequeno detalhe: Elias não mais se achava no mundo
dos viventes terrenos, desde bem antes da ascensão do próprio Jorão ao trono. Como
poderia, então, chegar ao rei Jorão um escrito atual da parte do profeta Elias?
As argumentações cristãs, depois da surpresa diante do texto e compreensão dos fatos,
têm sido invariavelmente:
• Elias não morreu, foi arrebatado aos céus, portanto não psicografou nada.
• O arrebatamento de Elias foi algo duvidoso, já na época do acontecido, e só Eliseu, por alguma razão, acreditou naquilo [II Reis 2:15-18].
• O arrebatamento de Elias para os céus [morada celestial, paraíso ou para onde
Deus o tenha levado vivo], não tem base bíblica, considerando I Corintios 15: 50
“que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus”.
Por conseguinte, II Reis 2: 11 se compreendido como arrebatamento de Elias para junto
de Deus, é totalmente contraditório com João 3:13.
Argumentam, todavia, que Elias teria sido transformado, de corpo corruptível em incorruptível, embora a Bíblia não diz isso, e ainda que assim fosse, mais uma vez a Bíblia
não dá seu aval, porque o episódio ocorreu antes do juízo final ou da ultima trombeta,
fenômenos portanto ainda hoje não acontecidos.
Cientificados os biblistas que não apenas espírito de mortos psicografa, mas, também de
vivos [comunicações intervivos], não é rara outra argumentação:
• Elias, na qualidade de profeta, sabia que tal rei em tal época estaria em delito,
contra Deus, e por isso providenciou meios que uma recomendação sua, escrita
quando ele ainda na Terra fosse entregue ao destinatário na época devida.
Evidente que se trata de uma resposta bastante forçada, totalmente despropositada em
razão que outros profetas de Javé, bem poderiam levar advertências ao rei, sem nenhuma necessidade de citação a algum escrito da parte de Elias.
Raríssimos os reis de Israel ou Judá que não merecessem advertências iguais. Porque
somente Jorão o premiado?
Do arrebatamento de Elias, temos estudo amplo na matéria João Batista, a reencarnação
de Elias.
10. MATERIALIZAÇÃO, ESCRITA ESTRANHA SEM INTERFERÊNCIA
HUMANA E SUA INTERPRETAÇÃO, TODOS OS FENÔMENOS QUASE
SIMULTÂNEOS
Daniel 5:5 e seguintes, relata o surgimento inesperado, no espaço de certo ambiente, de
dedos duma mão tipo humana [conforme antigo texto em aramaico], que escreveu indecifráveis palavras [sinais gráficos, silábicos ou figuras simbólicas, não se sabe com certeza], numa das paredes, sob olhares atônitos de muitas pessoas, todas partícipes de um
festim oferecido pelo rei babilônico Belsassar.
A Bíblia esclarece que a aparição se deu num salão, sob a luz de candelabros, ou seja,
mesmo que à noite, com boa iluminação, dando inclusive detalhes dos sobressaltos do
rei e seus convivas. Escrita posterior aos acontecimentos, em momento algum a Escritura faz alusões a alguma espécie de histeria coletiva.
Cumpre destacar que, os acontecimentos até então, materialização dos dedos e a es-crita
automática [sem interferência humana] em caracteres estranhos, que alguns estudiosos
apontam como antigo alfabeto semítico, por si já revelam magnitude de feitos fenomênicos, extrafísicos e simultâneos.
A explicação dada pelo profeta Daniel, antes da interpretação reveladora, afirma que da
parte dos elohim [espíritos ou deuses, às vezes traduzido como o próprio Deus bíblico]
foi enviada aquela forma de mão para tal escrita, ou seja, uma interferência direta dos
espíritos.
Daniel primeiramente identificou [traduziu], aquilo que estava escrito ou simbolizado,
como ‘mane, tékel, fares’ [algumas traduções trazem ‘parsim ou uparsim em vez de
fares’], conhecida denominação de pesos e medidas da época, com significados de: uma
mina, um siclo, e uma e meia mina, que podem ser postas com ou como os verbos, contar [contou], pesar [pesou], dividir [dividiu], pelos costumes semíticos, que o profeta
finalmente assim concluiu por alguma inspiração:
• Mane – Deus computou o teu reino e lhe pôs fim
• Tékel – foste pesado na balança e achado em falta
• Parsim [Fares] – teu reino é findo e dividido.
O vocábulo ‘fares’, além dos sentidos dados, pesos/medidas e verbos, pode ainda, na opinião de alguns estudiosos, significar certa alusão à Pérsia [Paras / Parsas - parsim],
nação que viria em seguida dominar aquele império, acontecimento que algumas versões bíblicas antecipam [como se escrito com anterioridade aos fatos], após a tradução
de Parsim.
Não nos interessam nada estudos filológicos, históricos e outros, que não a identificação
comprovada de ocorrências espirituais, no mundo terreno, além da intermediação do
profeta [interprete / médium] entre os dois universos.
11. O INTERMEDIÁRIO ENTRE OS MUNDOS TERRENO E ESPIRITUAL,
AQUELE QUE HOJE DENOMINADO MÉDIUM, É QUEM DECIDE SE
DEVE OU NÃO PERMITIR ALGUM ESPÍRITO DELE SE APOSSAR
[INCORPORAR] PARA TRANSMITIR MENSAGENS?
I Corintios 14: 32, traz: “os espíritos [manifestantes ou que se fazem manifestos]
estão sujeitos aos videntes” [profetas ou, conforme estamos colocando, intermediários
entre os homens e os espirituais].
Comumente as traduções bíblicas para o português trazem mais ou menos idênticas colocações que, “os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas”, obviamente sem
muitas possibilidades de esclarecimentos, porque assim o texto não esclarece se estão
eles, os espíritos, sujeitos ao próprio profeta ou se aos outros profetas porventura presentes.
Tidas as manifestações como possíveis de acontecimentos, conforme aquilo que está
escrito, algumas outras indagações atormentam os cristãos não adeptos de cultos mediúnicos:
O profeta [vidente ou intermediário] pode ou não, de livre e espontânea vontade, receber o espírito comunicante da parte de Deus?
Pode deixar de transmitir ou interromper uma mensagem espiritual já em andamento
através dele, caso lhe seja desagradável ou que lhe venha ocasionar riscos?
O intermediário entre os homens e os espíritos, pode não se deixar possuir pelo espírito
comunicante ou frustrar-lhe a mensagem, simplesmente por assim desejar?
Se for o próprio Deus o comunicante [que seja lá através do Espírito Santo, por algum
dom especial], tem o homem autoridade suficiente sobre tal espírito?
O texto, reconhecidamente, é bastante complexo para autoridades religiosas, e de difícil
entendimento aos fiéis, tem pelo menos três situações são perceptíveis:
1. O assunto indica claramente manifestações de espíritos em seres humanos, tipo
incorporação, possessão ou indução, para determinadas finalidades.
2. Dá clareza suficiente para entendimento, que de fato cabe ao intermediário [entre os mundos terreno e o espiritual], a decisão de ter em si ou não determinado
espírito para comunicações, ou seja, se deve ou não deixar algum espírito dele se
apossar [incorporar], para a transmissão da mensagem.
3. O texto sugere, pelo entendimento atual, possível mediunidade consciente.
Com tais indicações inegáveis, há que se concluir que a Bíblia, também pelo Novo Testamento, admite manifestações de espíritos entre os homens, além de incentivar buscas
[mesmo livro e capítulo I Coríntios 14, versos 37 ao 39.
13. JESUS COMUNICA-SE COM OS MORTOS
Mateus 17:1 a 9 nos traz uma sessão de comunicação com os mortos, materializando-se
os espíritos, sendo Jesus encarnado o partícipe principal do evento. O verso 3 é bastante
claro: “e lhes apareceu [a Pedro, a Tiago, a João e a Jesus] Moisés e Elias”, reconhecidos de pronto por eles.
Porque Moisés e Elias apareceram a eles e falaram com Jesus?
Para os cristãos, Moisés representaria a Lei, Elias os Profetas, e ali se fizeram presentes
para testemunharem que Jesus era o Messias, e a Ele se subjugarem, uma justificação
apenas, sem nenhuma explicativa para o fenômeno do surgimento de dois espíritos que
já não habitavam mais a Terra, desde séculos e séculos.
É inegável que o fenômeno trata-se de manifestação espírita, uma realidade tremendamente difícil para aqueles que condenam o espiritismo, até pela presença física de Jesus
naquela comunicação entre mortos e vivos.
Mesmo admitindo [o absurdo] que Elias não tenha experimentado a morte física, como
ensejam os cristãos não espíritas, sua forma na aparição era nitidamente espiritual, tal
qual a de Moisés, e da qual também se revestira ou fora envolvido o próprio Jesus.
14. ESPÍRITO MATERIALIZADO DIANTE DE MUITOS
Depois de ressuscitado, Jesus apareceu a muitos dos seus, em espírito. Numa das vezes,
os discípulos estavam reunidos onde falavam acerca dos últimos acontecimentos [morte
de Jesus], quando o Mestre repentinamente apareceu no meio deles, e os sobressaltou,
conforme descrito em Lucas 24:37 – “E eles [os discípulos] espantados e atemorizados, pensavam que viam algum espírito” – Lucas 24:37.
Interessante que nenhum dos seguidores de Jesus, o reconheceu de pronto, após a ressurreição, mesmo a morte de Jesus sendo tão recente. Não o reconheceram as mulheres
que primeiro o avistaram; não foi reconhecido pelos dois de Emaús que com Ele caminharam; não souberam que era Ele, Jesus, aqueles que pescavam.
Também aqueles que, reunidos, viram a aparição relatada em Lucas [24:37], não sabiam
que era Jesus. Mesmo Pedro, Tiago e João, tão próximos do Mestre, e que tiveram oportunidades íntimas de presenciá-lo transfigurado quando do contato com Moisés e Elias,
não O reconheceram.
Mas o espírito de Jesus lhes apareceu, com quinhentas ou mais testemunhas ao longo de
um período, pós-ressurreição; embora não reconhecido de pronto, todos sabiam tratar-se
de algum espírito, isto é, aparição de um ser desencarnado [morto] ou entidade espiritual, numa evidencia de crendice, dos seguidores de Jesus, nos seres espirituais, nas aparições e nas comunicações.
Os cristãos argumentam que era Jesus ressuscitado, no que concordamos plenamente,
mas isto é algo que não exclui a verdade que, ressuscitado ou não, não era físico o Jesus
surgido naquelas aparições pós-morte. Se não era Jesus físico mas a aparição ocorrera,
natural tratar-se de um espírito manifestante, senão o próprio Jesus espiritual, ainda que
não reconhecido de imediato pelos seus.
Se Jesus se mostrou em espírito, comunicou-se e promoveu fenômenos diante de muitos
conforme relata a Bíblia, e assim acreditam os cristãos, é porque tais manifestações e
feitos são possíveis e não proibidos, pois se assim fossem [proibidos] certamente Jesus
não os exerceria.
Que também haja entendimento: Jesus, em espírito, não ficou seguidamente com os
discípulos como o fazia em vida, e sim por momentos mais ou menos prolongados, em
tipos de sessões ocorridas e algumas outras manifestações esporádicas.
15. O FENÔMENO DA REENCARNAÇÃO: A BÍBLIA NÃO DEIXA DÚVIDAS
Quando o assunto é espiritismo, o cristão não adepto ao culto, de pronto e inadvertidamente lança ataque à reencarnação, argumentando biblicamente, a seu entender, que ao
homem está destinado morrer uma vez só, depois disso vem o juízo, conforme Hebreus
9:27, na mais conhecida passagem bíblica, utilizada contra a teoria reencarnacionista.
De fato, lá está escrito: – “Aos homens está ordenado morrerem uma vez vindo depois disso o juízo”, enquanto Jó 7: 9 atesta que: “Aquele que desce à sepultura, jamais tornará a subir”, da mesma maneira que no mesmo livro Jó 14:14 – “Morrendo
o homem, porventura tornará a viver?” numa evidente colocação que a morte é única
e irreversível, em diversas outras citações referenciadas.
Em II Samuel 12:23 encontramos, ainda, os dizeres do rei Davi quando perdeu uma
criança: “Porém, agora que é morta [a criança], porque jejuaria eu agora? Poderei
eu faze-la de novo viver? Eu irei a ela, porém ela não voltará para mim”.
Também somos de parecer que ao homem [por nome fulano, cicrano ou beltrano], encarnado num espaço de tempo, está ele destinado morrer uma única vez naquela exis-
tência, depois disso o juízo [de seus feitos], e daí as máximas de Jesus a Nicodemos:
“Necessário vos é [será] nascer de novo” – João 3: 7.
Os não reencarnacionistas se defendem que Jesus falava a Nicodemos, da necessidade
do batismo, conforme verso 5 do mesmo João 3 : “(...) quem não nascer da água e do
Espírito, não pode entrar no reino de Deus”. Bem, aqui ensejam o nascer da água
como figurativo do batismo, mas no capítulo 4 do mesmo João, a água dita e prometida
por Jesus à mulher de Samaria, tem o significado de vida [no caso, espiritual], conforme
Jesus mesmo o afirma.
Mas, Jesus não disse a Nicodemos que o nascer da água é a necessidade de se batizar,
porque senão ele diria: é preciso que seja batizado aquele que deseja entrar no reino de
Deus. Marcos 16:16 declara: “quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer
será condenado”; o texto não diz quem não for batizado será condenado e nem poderia
dizê-lo, porque para ser batizado alguém precisa antes crer, sob pena de nulidade do ato,
mas nem todos têm condições ou tempo de ser batizado, sem anulações de crenças ou
impeditivos para a salvação.
A água tem na Bíblia muitos significados mas, o principal deles e até a ciência o comprova, é ser o símbolo da existência da vida no planeta, ou seja, da materialidade, tanto
que Jesus disse: “O que é nascido de carne é carne, e o que nascido do Espírito é
espírito” – João 3: 6, referindo-se à vida carnal e espiritual do homem.
De fato, a condição essencial para o homem se fazer integrante do reino de Deus, não há
estudioso bíblico que a isto possa contestar, é o nascer carnal cujo corpo material serve
de habitação provisória para o espírito habitar a terra, e nela cumprir os desígnios de
Deus num determinado tempo, e depois disto, a morte física e o juízo dos feitos, para
depois novos renascimentos na carne, em outras épocas e noutros corpos a serem gerados, tantas vezes quanto necessário para evolução espiritual efetiva.
Por isso no verso 7 de João 3, Jesus reafirma: “Não te admires de eu te haver dito: é
necessário que vós sejais gerado de novo”. Cabe a observação que Jesus dirige-se a
Nicode-mos, na segunda pessoa do singular, mas, quando se refere à necessidade de
nascer de novo, o diz no plural referindo-se a todos os homens.
Em João 3:8, Jesus explica seu pensamento a Nicodemos, numa comparação bastante
simples e óbvia: “O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de
onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito”, significando percepções dos efeitos de um fenômeno natural, que se sabe existir, sem lhe
ver a origem e direção, comparando tal ilustração com o espírito, que agora está encarnado aqui, mas num futuro não se pode determinar onde, assim como não se sabe ao
certo onde esteve no passado.
O diálogo de Jesus e Nicodemos não para por aí, Nicodemos indaga no verso 9 como
poderão acontecer tais coisas ditas por Jesus [versículo 8], e Jesus chama-lhe atenções:
“tu és mestre em Israel e não sabes tais coisas?” [verso 10].
No versículo 11 está posto por Jesus: “Na verdade te digo [ele, Jesus, diz a Nicodemos], que nós dizemos e testificamos o que vimos; e vós [os homens] não aceitais
nosso testemunho”. Jesus usa a primeira pessoa do singular para si, quando conversa
com Nicodemos, mas se coloca no plural quando diz das coisas espirituais, a significar
com isso sua inspiração e/ou comunhão extrafísica com o universo espiritual, ali, no
colóquio.
“Se vos falei de coisas terrestres, e não crestes, como crereis, se vos falar das celestiais?” – João 3:12.
Óbvio não se tratar de batismo nas águas, o que Nicodemos entendia e muito bem, pois
sendo mestre em Israel e estudioso dos fenômenos e acontecimentos sociais e religiosos
de seu povo, não lhe passaria despercebido o levantar de João Batista, dos essênios e
tantos outros indivíduos e seitas que se valiam do batismo, como forma de iniciação ou
ingresso num determinado culto; o próprio Jesus, também por seus discípulos, era um
batizador [João 3: 22 e 4:2].
O que Nicodemos não compreendera, ali, era a reencarnação do homem, da mesma maneira que também não compreenderia a geração espiritual humana, nem os desígnios de
Deus para a necessária evolução espiritual, razão pela qual Jesus lhe foi determinante
quanto a certas especulações pós-morte e celestiais: “Ninguém subiu ao céu [reino celesti-al], a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do homem” – João 3:13, palavras
de Jesus ao se colocar na condição de espírito evoluído.
E a partir daí o Mestre passou a comentar apenas sobre seu ministério.
16. CRENÇA NA REENCARNAÇÃO DA ALMA E A RESSURREIÇÃO DO
CORPO
Entre os judeus, havia a crença na reencarnação, inclusive o grupo de Jesus, conforme
vista em Mateus 16: 13-14, quando Jesus interroga seus seguidores mais próximos:
“Quem dizem os homens ser o Filho do homem”?, e a resposta vem de pronto: “Uns,
João Batista, outros Elias, e outros Jeremias ou um dos profetas”.
Lucas 9:19 traz resposta mais ou menos igual, porém acrescida do verbo ressuscitar::
“E respondendo eles, disseram: João Batista; outros Elias, e outros que um dos
antigos profetas ressuscitou”.
Ressurreição vem do latim resuscitare, ou seja, voltar a vida, traduzida do grego anastasis, que significa se por em pé, regressar.
Ressuscitou, à primeira vista e como se encontra em Lucas, quer dizer que algum dos
antigos profetas, se levantou da sepultura e se apresentou dali em diante, como o Jesus
profeticamente anunciado, para cumprimento de determinada tarefa entre os homens.
Se à ressurreição, de um profeta em Jesus, fosse dada significação idêntica ou pretendida às outras ressurreições vistas na Bíblia, como as promovidas por Elias, Eliseu e Jesus, os discípulos estariam tremendamente enganados, pois que assim Jesus não teria
nascido de mulher, eles não teriam conhecido sua mãe, Maria, nem seus irmãos e irmãs
Também a idade do Rabino provavelmente não seria a mesma, se ele fosse um dos profetas vindos diretamente da sepultura, e sua identificação pessoal não seria Jesus e sim o
nome do profeta ressurgido, como fizeram os ressuscitados descritos em Mateus 27:5253.
Seguramente os discípulos de Jesus sabiam que ele não fora nenhum ressuscitado de tal
maneira, mas, aparentemente, podia não ser este o pensamento do povo.
Mirabolância à parte, ressurreição sempre teve dois significados para os judeus e primeiros cristãos, a ressurreição do espírito ao sobreviver à matéria finda, e a ressurreição
final também espiritual.
Uma terceira significação, tardiamente posta, é a ressurreição da carne, embora crença
firmada na maioria dos atuais segmentos da cristandade, não é bíblica nem científica,
sendo inconcebível de se juntar restos mortais de toda humanidade feita pó e novamente
lhe dar vida.
Consta que Santo Atanásio tenha sido autor do credo católico que diz “creio na ressurreição da carne”. Reencarnacionista convicto, Atanásio não se pronunciaria assim, e
sua posição [pessoal] ideava apenas que, vindo o espírito habitar um novo corpo físico,
neste estaria, portanto a promover também sua ressurreição, isto é, seu retorno à vida
terrena.
Mas Coríntios 15:44 afirma efetivamente: “Semeia-se o corpo animal, ressuscitará o
corpo espiritual. Se há corpo animal, há também corpo espiritual”. Numa outra
versão: "Há dois corpos, um natural e outro espiritual, e ressuscita o corpo espiritual".
Então, existem dois corpos distintos, um material [animal] e outro espiritual; com a
morte do corpo carnal, o espiritual ressuscita, isto é, sobrevive à morte e encaminha-se
para algum lugar para o juízo de suas ações na Terra.
Ressuscitado, julgado seus atos, o espírito retorna a Terra depois de determinado tempo,
se o caso, para a reencarnação, ou seja, vir habitar um novo corpo para um certo período
de vida que lhe é dado cumprir, até que lhe venha a ultima encarnação e assim a ressurreição final do espírito..
Nestes considerandos, ressurreição é ressurreição, reencarnação é reencarnação. Quem
crê na reencarnação não nega a ressurreição, e crer em ambas nada há de contraditório
como poderiam afirmar os contraditores do reencarnacionismo.
Verdadeiramente há que se firmar a ressurreição do espírito após a morte do corpo físico, e a ultima ressurreição espiritual conforme descrição bíblica, quando da libertação
final do espírito dos liames que o vinculam a terra, quando ao planeta retornaria tão somente por vontade própria, para alguma grande obra à humanidade.
Os discípulos de Jesus sabiam ser ele encarnado, conheciam sua parentela, e então o
significado certo para ressurreição pretendida em Lucas 19, seria de um Jesus reencarnado e que outrora fora um profeta.
As ressurreições corpóreas bíblicas são todas imediatas e podem constar como condições de redivivos, inclusive as de Lázaro e de Jesus, posto que estavam em cavernas
arejadas e não se descartam catalepsias. A compreensão dos judeus para as ressurreições
carnais decorridos longos anos pós-morte, se diz tratar de espíritos manifestos numa
nova existência física, ou seja, reencarnados.
Entre os judeus, na época de Jesus, havia não somente as crenças na reencarnação, como admitiam possibilidades de algum espírito evoluído, mesmo que recémdesencarnado, se fazer entrante num determinado indivíduo, para certas missiologias ou
obras redentoristas efetivas ou transitórias.
Mateus 14 comprova tal convicção dos judeus, além das possibilidades de entrantes em
algum corpo físico, também abandoná-lo para ocupar uma outra matéria, uma teoria
bastante próxima da transmigração de almas, isto é, de uma alma ou espírito deixar determinado corpo ou nele ser substituído, para ocupar outra matéria, sem necessidade da
experiência repetitiva do nascimento, dada urgência das missões. Tais eventos somente
ocorreriam com espíritos evoluídos.
Na citação de Mateus, João Batista quando aprisionado, teria interrompido determinada
missão, posto sem condições de continuidade, e assim o entrante ou transmigrador [espírito ou mentor que estivera em João] teria optado por Jesus, para continuidade da obra, conforme estabelecem os versos 1 a 3, quando João Batista ainda não havia sido
decapitado. Cabe observar que as primeiras pregações de Jesus eram assemelhadas às de
João.
Alguns estudiosos acreditam, porém, que Cristo somente assumiu o corpo de Jesus a
partir do batismo, para exercício de um ministério, vindo deixá-lo no momento da crucificação.
Também o espírito de Elias esteve sobre Eliseu ou em Eliseu, para nova obra profética,
diferente tanto para Eliseu, a partir dali, quanto para o espírito de Elias. Trata-se de filosofia indo/persa absorvida pelos judeus das religiões da Pérsia, com as quais conviveram durante tempos.
Então em Jesus poderia também estar apenas no espírito e virtude de um dos mencionados? Poderia, e isto implicaria que o Cristo seria um daqueles em Jesus, a partir do batismo, e isto também é doutrina de crenças reencarnacionistas e de evoluções espirituais.
No Antigo Testamento, a mais formidável prova da reencarnação encontra-se em Jó
1:21 – “Nu saí do ventre de minha mãe, e nu voltarei a ela”. Um texto singelo que não
admite particular interpretação.
17. JOÃO BATISTA ERA REENCARNAÇÃO DE ELIAS
Malaquias 4: 5, Antigo Testamento, informa o envio do profeta Elias a terra, como precursor de Jesus: “Eis que vos envio o profeta Elias, antes que venha o terrível e grande
dia do Senhor”. Em algumas traduções, o mesmo texto se encontra como Malaquias 3:
23.
O anúncio da vinda de Elias, está secundado pelo verso 6, ou o 24 [conforme a tradução], informando da missão do profeta, para que o povo pudesse reconhecê-lo e saber
estar próxima a vinda do filho de Deus. Elias era de fato esperado pelos judeus, desde a
promessa em Malaquias, como precursor do Cristo.
Mas os hebreus não esperavam que Elias viesse, na forma de um homem adulto, diretamente do reino de Deus, mas sim em alguém renascido n’algum ser humano, tanto
que o procuravam, incessantemente, neste ou naquele líder religioso nascido e levantado
dentre o povo.
Julgaram encontrá-lo em João Batista, mas o batizador respondeu que não era ele o Elias que havia de vir, nem mesmo um profeta. Alguns estudiosos espíritas acreditam que
João Batista não se lembrava de sua encarnação anterior, outros que ele ainda não tinha
consciência de sua missão, e aqueles em defesa que a modéstia fez João responder daquela forma. Infelizmente a Bíblia não tem nenhuma informação a respeito.
No livro Mateus 11: 14 e referencias, Jesus reconhece o cumprimento profético de Malaquias em João Batista, ao informar: “Oras, se quereis admitir, ele [João Batista] é o
Elias que há de vir”. Mais adiante, Mateus 17: 12-13, Jesus acrescenta: “Digo-vos que
Elias já veio, e não o reconheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim
farão eles tam-bém padecer o Filho do homem. Então entenderam os discípulos
que lhes falara de João Batista [morto recentemente a mando de Herodes]”.
Jesus disse que João Batista, um homem nascido de mulher, é o Elias aguardado, e não
alguém semelhante a ele ou com ministério idêntico.
Os espíritas se apegam a estes textos em Malaquias e Mateus, para a comprovação da
doutrina da reencarnação, como reconhecimentos pronunciados pelo próprio Jesus, que
significam Elias renascido em João Batista.
Porém, os cristãos que condenam a doutrina espírita como antibíblica, apresentam uma
série de argumentos com intenções de descaracterizar aqueles textos e, conseqüentemente, dar significados diferentes às palavras de Jesus. Eis o que dizem:
A) NÃO EXISTE NA BÍBLIA A PALAVRA REENCARNAÇÃO, JESUS NÃO A
PRONUNCIOU
Reencarnação é uma palavra moderna, do século XIX, portanto não poderia figurar como tal nas páginas da Bíblia, e Jesus não a disse mesmo em momento algum. O que
Jesus pronunciou foi renascimento, ser gerado de novo, João 3:7, exatamente com o
mesmo significado de reencarnação, ou seja, nascer novamente.
‘Palingenesia’ é a palavra grega para reencarnação em português, e ela consta de alguns textos bíblicos no antigo e novo testamento, embora sempre posta nas traduções ou
versões, como recriação ou regeneração [Mateus 19: 28, Tito 3: 1-5 e referências].
Deve-se atentar que os cristãos não reencarnacionistas não admitem a pré-existência da
alma, ou seja, que a alma é criada no exato momento da concepção. Jeremias 1:5, no
entanto, diz textualmente ser conhecido antes mesmo do ato da sua fecundação, o que só
pode significar pluralidade de vidas.
O que Jesus quis realmente dizer foi que João Batista tinha apenas o mesmo ministério
profético de Elias.
Jesus não disse que João Batista era apenas semelhante a Elias quanto ao ministério
profético, ou de caráter igual, nem que tivesse a mesma aparência física.
Os hebreus esperavam a volta de Elias, como ser humano renascido, ou seja, o seu espírito n’um novo corpo material.
B) QUE ELIAS NÃO MORREU, ENTÃO, NÃO PODERIA REENCARNAR-SE
Quando se diz que Elias não morreu, os não reencarnacionistas fundamentam-se em II
Reis 2:1 e seguintes, com atenções ao versículo 11, entendendo ter sido Elias arrebatado
aos céus, de corpo e alma, ou seja, uma pretensão que referido profeta não tenha experimentado a morte.
Tal pensamento não tem respaldo bíblico, já no próprio texto, II Reis 2, que em momento algum fala no arrebatamento do profeta, em corpo e alma, da terra diretamente para o
reino de Deus, menos ainda que não tenha morrido.
O que está efetivamente escrito, é que “indo eles [Elias e Eliseu], andando e falando,
eis que, um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro e Elias subiu aos céus num redemoinho”, ou, conforme outras traduções, “Elias foi levado por
um turbilhão”, ou ainda, “foi elevado aos ares num vendaval”. Não importam aqui
as palavras, cujos significados não deturpam o sentido pretendido, vez que Elias foi
apanhado e carregado por fortíssimo vento e “Eliseu nunca mais o viu”, conforme o
versículo 12.
As expressões sugeridas por Eliseu diante dos acontecimentos, “meu pai, meu pai, carros e a cavalaria de Israel”, partes do verso 12, bem realçam a força e poder do remoinho, comparado à força e poder da nação hebréia, aos olhos de seus naturais.
O quadro do arrebatamento sugere, portanto, mais a descrição figurativa de um fenômeno natural conhecido como ciclone, do grego ‘kycloma’, um turbilhão que se manifesta
pela formação de grande nuvem escura, com prolongamento em forma de cone invertido, que torneando em si em altas velocidades, desce à superfície como remoinho a provocar, primeiramente, tremendo levantamento de pó, que lhe dá cor avermelhada dependendo o solo e cria figuras aleatórias imaginativas, para em seguida partir como espiral, elevando aos ares e a arrastar praticamente tudo em seu caminho, até, muito além,
a perder suas forças e aos poucos a deitar tudo espalhado ao chão.
Elias foi tomado e levado às alturas por tal remoinho, não se sabendo para onde conduzido e nem arremessado, situação que também pode ser vista e bem esclarecida em Eclesiástico [48: 2 ao 12], tratando-se de um livro bíblico aceito apenas por uma parte da
cristandade, os católicos.
A Bíblia diz que Eliseu não mais viu Elias, demonstrando certo período de procuras,
ainda que curto, entre os acontecimentos e a volta de Eliseu, com o manto de Elias
[símbolo do poder], para junto dos profetas, que não mais estavam próximos do rio Jordão [versículo 7], quando Eliseu e Elias transpuseram-no, e sim em Jericó [verso 15],
cidade situada mais distante, a oeste e não às margens do rio.
Os profetas [o mesmo que videntes – I Samuel 9:9] viram o espírito de Elias sobre Eliseu [II Reis 2:15], entendendo assim que Elias já não mais estava fisicamente entre os
viventes, e então se apressaram em reconhecer Eliseu como novo líder.
Os mesmos profetas, ouvindo a narrativa do que acontecera a Elias, se prontificaram em
procurar pelo corpo do profeta desaparecido, segundo registro bíblico: “pode ser que o
elevando a força do Senhor [o vendaval, turbilhão ou tornado], o tenha lançado
nalgum dos montes, ou nalgum dos vales” – II Reis 2:16.
A despeito dos esforços de todos, o corpo de Elias não foi encontrado, o que não significa que ele tenha sido arrebatado em carne e espírito para o reino de Deus, ou que não
tenha morrido.
Outras citações bíblicas provam ser impossível Elias não haver morrido, a exemplo de
Romanos 5: 12, onde consta que a morte passou a todos os homens, sem exceções, como meta obrigatória a todos, não somente pelo estabelecimento físico, como também a
necessidade espiritual de tal processo.
Gênesis 3:19, afirma que o homem carnal é pó e ao pó voltará, enquanto que o livro I
Corintios 15:50 esclarece que a carne e sangue não podem, jamais, herdar o reino de
Deus.
Não bastassem tais argumentos, cabe lembrar que Jesus afirmou, categoricamente, que
ninguém subiu ao céu [reino de Deus] – João 3: 13.
C) ELIAS NÃO PODERIA SER JOÃO BATISTA, POIS, SE ASSIM O FOSSE,
SERIA JOÃO [E NÃO ELIAS] QUEM SE APRESENTARIA AO LADO DE
MOISÉS JUNTO A JESUS, NO EPISÓDIO DA TRANSFIGURAÇÃO
O texto que embasa a argumentação encontra-se em Mateus 17 e referencias.
Os não reencarnacionistas acreditam que um espírito desencarnado, tem obrigação de se
fazer manifestar em sua ultima fase terrena, e assim, deveria ser João Batista a se apresentar com Moisés ao lado de Jesus e não Elias. João fora morto então recente.
Somos de opinião que um espírito escolhe a melhor forma que lhe aprouver, para manifestação, e não obrigatoriamente sua ultima forma terrena.
Alguns estudiosos apontam que sendo Elias o nome máximo do antigo Profetismo hebreu, assim como Moisés o é da Lei, justo então serem eles a se fazer presentes no episódio da transfiguração, como símbolos para os objetivos pretendidos.
Outros analistas, indo mais a fundo, apontam em João 3: 25-26 certas animosidades
entre os seguidores de Jesus e os discípulos de João, e não seria inteligente, nem benéfico um espírito evoluído apresentar-se como alguém que poderia gerar algum conflito.
Na realidade os que condenam o espiritismo, tendo como argumento presente justificativa, óbvio que desconhecem a doutrina espírita. Para o episódio da transfiguração, João
era morto recente e o espírito optou pela melhor forma de sua apresentação, ou seja, na
figura
de
Elias.
18. TEXTOS QUE ‘PARECEM’ CONTRADITAR A REENCARNAÇÃO E
PODEM, ATÉ MESMO, CONFUNDIR
Jó 7: 1-10, com destaques para os versos 9 e 10, é bastante utilizado pelos não reencarnacionistas que o homem, ao morrer, jamais volta à vida terrena. Está escrito naqueles versículos: “Tal como a nuvem que se desfaz e passa, aquele que desce à sepultura nunca tornará a subir. Nunca mais tornará à sua casa, nem o seu lugar jamais
o conhecerá”.
O texto se refere, sem dúvidas, ao corpo da natureza, o humano, o qual descendo à sepultura, jamais dela retornará, considerando que o ser humano possui um corpo da materialidade e outro espiritual, que naquele se abriga. Morto o homem ressuscita-lhe o
corpo espiritual, conforme posto em I Coríntios 15: 44 “Semeia-se o corpo animal,
ressuscitará o corpo espiritual. Se há corpo animal, há também corpo espiritual”.
O homem morre uma única vez [Hebreus 9: 27], e isto está de acordo com o referido
texto de Jó, mas não anulam algum novo renascimento ou nova reencarnação.
Eclesiastes 12:7 informa que o corpo material volta a terra, que antes era, e o espírito
volta a Deus.
E assim, a Bíblia informa [Eclesiastes 3: 15], “o que é já foi; e o que há de ser, também já foi; e Deus pede conta do que passou”, ordenança declaratória da continuidade das ações humanas, progressivas à perfeição, ante da grandeza de Deus do tudo saber, antecipadamente, e das leis postas.
Deus pede conta do que passou numa encarnação com o indivíduo [ser espiritual], lhe
dá oportunidades outras para correções, sempre que vê a impiedade no lugar do juízo,
impiedade no lugar da justiça, conforme o verso 16 do mesmo Eclesiastes 3.
A continuidade daquele capítulo 3 estabelece que “Deus julgará o justo e o iníquo,
porque está determinado o tempo para cada tarefa e sobre cada ação, no além”.
Tal ação divina [Eclesiastes 3: 17 ao 22] somente pode ser compreendida como o final
de cada existência terrena, para provar os espíritos e mostrar-lhes que, inicialmente,
foram brutos como bruta a matéria primeira a abrigá-los, hoje evoluída [homo sapienssapiens], todavia, ainda a manter, na condição de homem [físico], uma vida terrena similar a do animal, necessitando das mesmas condições básicas que aqueles, presos ao
fôlego de vida e à alimentação além de ser vivente apenas por um tempo estabelecido,
ou seja, situação que é a mesma para todos, pois, como morre o animal irracional, assim
morre o homem físico racional, posto que “tudo [humano e animal] vai acabar num
mesmo paradeiro, pois que tudo procede da terra e para a terra retorna” – verso
20.
“Quem sabe se o espírito do homem subirá e o do animal descerá, para baixo da
terra?” – Eclesiastes 3: 21.
Há uma indagação em Jó 14: 14 – “Morrendo o homem, porventura poderá viver
novamente?” A resposta encontra-se no mesmo verso: “esperarei todos os dias do
meu serviço compulsório, para vir a minha substituição”, deixando claro que Deus
não limita o renascimento humano, ratificado em II Macabeus 7:23 – “Portanto, o Criador do Universo, que formou o homem no seu nascimento e deu origem a todos os
seres, devolver-vos-á misericordiamente o espírito e a vida, assim como agora sacrificais a vós mesmos pelas suas leis”.
19. ERROS E ACERTOS ADVINDOS DE OUTRAS EXISTÊNCIAS
“(...) porque eu [Senhor Deus] sabia que obrarias muito perfidamente, e que eras
prevaricador desde o ventre” – Isaias 48: 8.
Referida citação discorre sobre a nação hebréia, com antigas e novas predições à casa de
Jacó, onde se faz uma alusão ao velho patriarca, chamado de transgressor desde o ventre
materno, porque o Senhor o sabia assim.
Como poderia uma pessoa ser má antes do nascer, senão dada uma existência anterior?
Ou seria Deus injusto a tal ponto em determinar-lhe o destino.
Evidente que os não espíritas firmam embasamento que esta é uma passagem meramente ilustrativa, portanto sem validade alguma para se firmar doutrina ou mesmo apoio a alguma tese reencarnacionista.
Gênesis 25: 22 e 23 – “(...) e foi consultar o Senhor, e o Senhor lhe respondeu dois
povos estão no seu seio, e dois povos se separarão de suas entranhas; um será mais
forte que o outro e o mais velho servirá ao mais novo”.
Se não evocarmos a pré-existência do espírito [alma], onde a justeza divina a determinar a um a servidão e a outro a grandiosidade superior?
Não considerar, portanto, a necessidade reencarnatória, seria algo bastante desastroso
em termos de justiça divina, por parte do Todo Poderoso.
20. DOS JUÍZOS REENCARNATÓRIOS
João 9: 1-3: “Quando Jesus ia passando, viu um homem que era cego de nascença, e
os discípulos perguntaram: ‘Mestre, quem pecou, para este homem nascer cego, foi
ele ou seus pais?’ Jesus respondeu: Nem ele nem seus pais, mas isso aconteceu para
que as obras de Deus se manifestem nele.”
A pergunta reflete que a deformidade física era vista, pelos discípulos, como conseqüência e culpa, quer do indivíduo quer de algum dos antepassados, de vidas passadas.
Como poderia um cego de nascença ter pecado e assim nascer, sem a crença em existências anteriores?
De que maneira identificar o erro presente dos pais, se a maldição contida no decálogo
[Êxodo 20: 5] somente recairia na terceira e quarta geração? “(...) sou um Deus zeloso,
que visito a maldade dos pais nos filhos, na terceira e quarta geração daqueles que
me aborrecem”.
Os reencarnacionistas dizem que os discípulos acreditavam em existências anteriores,
diante do princípio: “(...) e então dará a cada um segundo suas obras" – (Mateus 16:
27), pelo que ninguém paga pelo erro do outro, destinando-se a cada um responsabilidade dos atos praticados.
A anti-reencarnação, todavia, aponta que os discípulos tinham dúvidas e, portanto, sem
opinião firmada quanto às causas das deformidades físicas. Também, a resposta de Jesus parece corroborar com a argumentação, diante do exposto: “Nem ele nem seus pais
pecaram, mas é assim para se manifestarem nele as obras de Deus”.
Outra argumentação contra a reencarnação, estaria na própria Gênesis 20: 5 mencionada, posto que o texto conforme traduções bíblicas oficiais, seria: “(...) visito a maldade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração (...)”.
Realmente pairam dúvidas se a tradução correta seria “na terceira e quarta geração”
ou “até a terceira e quarta geração”, e isto é de fundamental importância para a tese
da reencarnação, posto que se fiel o texto “até a”, Deus puniria de imediato os filhos,
netos, bisnetos e tataranetos daqueles que viessem pecar contra seu nome, ainda que isto
pudesse implicar numa tremenda injustiça do Criador.
Por outro lado, se a realidade tradutória for “na”, isto vem a favor do reencarnacionismo, posto que o erro cometido por um indivíduo, seria dele mesmo cobrado numa outra
encarnação, na terceira ou quarta geração futura, tempo suficiente para desencarne e
reencarne.
Para evitar polemica desnecessária quanto a tradução correta, deixamos que a própria
Bíblia possa dirimir as dúvidas: “Os pais não morrerão pelos filhos, nem os filhos
pelos pais; cada qual morrerá pelos seus pecados” – Deuteronômio 24:16, reafirmado, entre outras referências, em II Reis 14: 6 – “Porém o filho dos matadores não matou, como está escrito no Livro de Moisés, no qual o Senhor deu ordem dizendo:
Não matarão os pais por causa dos filhos, e os filhos não matarão por causa dos
pais; mas cada um será morto pelo seu pecado”.
Algumas dentre as muitas citações bíblicas corroboram quanto à individualidade do erro
e sua punição: Jó 10:14 – “Se eu pecar, tu me observas, e da minha iniqüidade não
me escusarás”. Naum 1:3 – “(...) e ao culpado, Deus não tem por inocente”. Ezequiel
18:4 – “Eis que todas as almas são minhas; como a alma do pai, também a alma do
filho é minha: a alma que pecar, essa morrerá”.
Posto citações quanto ao princípio da responsabilidade individual, notório está que Êxodo 20:5 somente estaria correto se traduzido: “(...) sou um Deus zeloso, que visito a
maldade dos pais nos filhos, na terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem”. Voltamos a João 9:1-3, quanto à resposta de Jesus: “(...) Jesus respondeu: Nem
ele nem seus pais [pecaram], mas isso aconteceu para que as obras de Deus se manifestem nele".
Não é difícil compreender, que a resposta de Jesus foi muito mais diante do entendimento dos seus seguidores quanto à reencarnação e a lei da causa e efeito, que das pretendidas duvidas da ignorância e atraso espiritual deles, sem a necessidade do milagre
do rabino no sentido de despertar as criaturas para as verdades de Deus.
Jesus promoveu o milagre, eliminação do efeito [cegueira], simplesmente porque naquele momento podia fazê-lo, no instante que se encerrava a causa desencadeante da enfermidade, e assim naquele homem se manifestasse a obra de Deus.
Outra situação bíblica que diz dos juízos de Deus, encontra-se em Isaias 26: 14 – “Os
mortos não reviverão, os trespassados não ressurgirão, porque os destruístes, e
deles apagastes toda lembrança”.
Invariavelmente os anti-reencarnacionistas usam referida passagem contra aqueles que
defendem o renascimento do espírito, num outro físico, sem muito se importar que com
isso também venham excluir a doutrina da ressurreição da carne.
Evidente que o autor do capítulo 26 de Isaias se valeu de uma linguagem simbólica,
para depreciar gentes dominadoras dos hebreus, condenando-os não usufruir os beneplácitos divinos numa outra vida, porque ela lhes será negada.
Para os hebreus, a promessa é bastante diferente: “Reviverão os vossos mortos, ressurgirão os cadáveres, despertarão e cantarão os que jazem no pó, porque orvalho
restaura-dor é o vosso orvalho, e o fareis cair sobre a terra dos trespassados” –
Isaias 26: 19.
Identificados os dois versos, lado a lado, dentro do texto e contexto, claro tratar-se de
uma parábola comparativa com finalidade pedagógica de alerta aos não dispostos, vez
que ao primeiro está determinado a necessidade da reencarnação, ainda, enquanto ao
segundo, já cumpridas as exigências de ultima roupagem terrena, a glória para a ressurreição final.
21. USO DE ENTIDADE PARA ENGANAR E MATAR
“(...) Deveras vejo a Jeová sentado no seu trono e todo exército do dos céus em pé
junto a ele, à sua direita e à sua esquerda. E Jeová passou a dizer: Quem logrará
[seduzirá /induzirá] a Acabe, para que suba e caia [pereça] em Ramote-Gileade
[Ramot de Galaad]? E este começou a dizer uma coisa ao passo que aquele dizia
outra coisa. Por fim saiu um espírito e ficou de pé perante Jeová e disse eu mesmo
o lograrei. Então lhe disse Jeová: Por meio de que? A isto ele disse: Sairei e certamente me tornarei um espírito enganoso na boca de todos os seus profetas. De modo que ele disse: Tu o lograrás, e ainda mais, sairás vencedor. Saia e faça assim. E
agora eis que Jeová pos um espírito enganoso na boca de todos estes profetas teus,
mas o próprio Jeová falou da calamidade a respeito (...)” – (I Reis 22:19-23).
O texto diz de um espírito autorizado, não apenas para enganar Acab e leva-lo à morte,
mas valer-se da mentira e do engodo através de homens consagrados e íntegros – ou
seja, incorporar neles para ditar falsa mensagem a um homem, por acaso um rei instituído que acreditava naqueles profetas e os tinha por ungidos.
O assunto traz certo constrangimento aos cristãos, por se tratar de ato permissivo de
Deus, por isso a explicação tratar-se de um drama de cena celeste, vista pelo autor bíblico como positivo-divino através de recurso literário, sem esclarecimentos que o alvo,
em atenção ao que foi dito se dirigiu ao local onde lhe esperava a traição.
22. NA BÍBLIA: UM TRABALHO NA ‘ENCRUZILHADA’
Ezequiel 21: 23 e seguintes, versão Pontifício Instituto Bíblico de Roma, ou 21: 18 e
seqüências [Novo Mundo das Escrituras e Almeida], dá-nos uma idéia dos cultos de
passagens e consultas, pelo profeta, através dos terafins: “E continuou a vir e haver
para mim a palavra de Jeová dizendo: e quanto a ti, ó filho do homem, estabelece
para ti dois caminhos para a entrada da espada do rei de Babilônia. Ambos devem,
proceder do mesmo país e deve-se recortar uma mão [indicadora]; deve ser recortada a cabeceira do caminho para a cidade. Deves estabelecer um caminho para a
espada entrar contra Rabá dos filhos de Amon e [o outro] contra Judá, contra a
fortificada Jerusalém. Porque o rei da Babilônia parou na encruzilhada, na cabeceira dos dois caminhos para recorrer à adivinhação. Sacudiu as flechas. Indagou
por meio dos terafins, examinou o fígado. Na sua direita mostrou-se haver a adivinhação referente a Jerusalém (...)”.
Os cristãos entendem esta passagem bíblica como algum feito simbólico, sem levar em
consideração os terafins – imagens de deuses ou espíritos tutelares, utilizados em trabalhos de consultas, de endereçamentos espirituais a quem se deseja atingir. Igualmente
desconsideram o fato de se “examinar o fígado”, ordinariamente de aves, uma maneira
para se realizar trabalhos espirituais tanto para pressagiar acontecimentos quanto para
descobrir situações, atingir alvos, adoentar [física e mentalmente] algum indivíduo e
garantias de resultados das pretensões, entre outros intentos.
23. DAS CONCLUSÕES
Não vamos concluir presente trabalho com citações nominais dos vultos da humanidade, que professavam ou professam a favor ou contra a reencarnação. Também não citaremos as grandes civilizações e a reencarnação, ou a reencarnação ao longo da história,
nem que o cristianismo inicial professava efetivamente ou não aquela doutrina, até que
no Concílio...etc.
Nosso objetivo foi tão somente destacar se a reencarnação e a pluralidade de vidas,
constam ou não de textos bíblicos e de que maneira, assim como certas manifestações
de espíritos do bem e do mal, além das crenças e aceitações daqueles que se intitulavam
eleitos de Deus.
Conforme claro ao longo deste estudo, os hebreus não tinham uma idéia bem defini-da
do que efetivamente viria lhes acontecer pós-morte. Ao menos é isso que nos tentam
passar os autores dos livros, através dos tradutores e copistas, deixando certas lacunas
aparentemente propositais, que suscitam dúvidas, lançam pressupostos, mas excluem
fundamentos para doutrinas a favor ou contra a reencarnação.
Da mesma forma o cristianismo, pela Bíblia, não apresenta nenhuma doutrina sobre a
reencarnação, de forma transparente que não venha deixar dúvidas quanto às exigências
e acontecimentos de fato.
Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento, todavia, falam sim de reencarnações, manifestações de espíritos, consultas aos mortos, com clareza suficiente que torna impossível
não entender que tais fenômenos eram objetos de aceitações, ou que aconteciam ou que
eram crenças estabelecidas.
Óbvio que para isto há de se seguir a lógica do existir espíritos e um Deus que lhes deu
forma, vida e destino, sem entrarmos em questionamentos do porque disso tudo ou dessa estranha realização do Criador que, entre tantas obras mal acabadas, fez criaturas
viventes imperfeitas para a perfeição, através de um longo processo depurativo evolucionista.
A reencarnação é bíblica, embora não doutrinária.
24. CRÉDITOS / ESCLARECIMENTOS
• *O presente trabalho (capítulo) acha-se inteiramente fundamentado nas Sagradas
Escrituras Judaicas e Cristãs, de domínio público, contando com transliterações
e traduções do especialista “Dr. Severino Celestino da Silva, em ‘Analisando
as Traduções Bíblicas – Editora Idéia, recorrente ao estudioso judeu Avaraham Avdam.
• As acentuações das palavras transliteradas do hebraico estão incorretas, por inabilidade do autor em colocá-las pelo computador, e tão somente servem para
demonstrar as sutis diferenças onde os sinais são invertidos.
• Os ‘se’irim’, embora mencionados na Bíblia como espíritos existentes [reais] e
danosos ao homem, são tidos como personagens do antigo folclore judaico.
• O autor compreende Yavé [Javé ou Jeová] um ‘sló’ [espírito] protetor tribal, que
veio suplantar os demais ‘s’loim’ [eloim ou elohim] – deuses – da cultura hebraica assimilada dos povos mesopotâmicos. Javé faz sua estréia bíblica a partir
de Gênesis 2:4 com uma criação universal notoriamente palestínica, contrapondo-se ao Elohim – assembléia dos deuses – citado de Gênesis 1: 1 a 2: 3. A partir do capítulo 3 de Gênesis, há uma alternância de Elohim e Javé, até a prevalência total deste ultimo, às vezes adotando outros nomes, conforme atributos
que lhe são acrescidos. Tanto um quanto outro são, em verdade, espíritos ou entidades elevados na categoria de deuses.
ANGEOLOGIA
I. ANJOS BÍBLICOS, UMA IDÉIA NADA ORIGINAL
Falar de anjos bíblicos é o envolver-se em mistérios, surpresas e polêmicas, conforme se
pode ver e discutir em páginas da Internet [nas Igrejas Cristãs é tabu], a exemplo do
texto de Gálatas 3: 19 que relata o Decálogo [a Lei] entregue a Israel por meio de anjos,
feito não mencionado na narrativa do livro Êxodo.
Outra passagem de difícil entendimento, I Coríntios 11: 10: “por isso a mulher deve
trazer na cabeça o sinal de sua dependência, por causa dos anjos”, a nos sugerir os
tempos que os anjos enamoraram-se pelas filhas dos homens, Gênesis 6: 2 e 4, única
indicação cabida na visão de certos exegetas bíblicos.
Também não é de fácil compreensão quais os mistérios dos Evangelhos [I Pedro 1: 12]
que os anjos anelam tanto saber e porque.
Mais um texto enigmático, referente às ações de anjos, está na contenda entre o arcanjo
Miguel com Satanás, a disputarem o corpo de Moisés [Judas 1:9], num interessante incidente não descrito no Antigo Testamento. Oras, tal episódio, no entanto, encontra-se
no apócrifo “A Ascensão de Moisés”, a indicar com isso que aquele incidente deve ter
mesmo ocorrido, tanto que através de Judas, alcançou o cânon neotestamentário; aliás,
citações de apócrifos parecem especialidade de Judas [no verso 14], quando diz d’uma
profecia de Enoque, também não relatada no Velho Testamento, mas, descrita no conhecidíssimo apócrifo, “Livro de Henoc”: “eis que é vindo o Senhor, com suas santas miríades” ou “milhares de seus santos anjos”.
Anjos, na qualidade de mensageiros ou mesmo intermediários entre divindades e os
homens, sempre fizeram parte do contexto histórico de todos os povos, culturas e tradições.
Anjos guardiões, protetores, vingadores ou executores de terríveis sentenças, bem como
muitos demônios, são bastante comuns entre os hebreus, e quase todos, historicamente,
absorvidos de outras gentes, com as quais manteve contatos mais ou menos prolongados.
Algumas divindades estrangeiras, a exemplo do deus cananeu Baalzebul – Baalzebud ou
simplesmente Belzebu, I Reis 16: 31 e referências –, [alguns estudos recentes apontamno de origem fenícia], também cultuado pelos Filisteus e outros povos, foi transformado
em príncipe dos demônios para os hebreus, e assim assimilado pelos cristãos [Mateus
10: 25, Marcos 3: 22 e Lucas 11: 15-18 e 19.
O Anjo do Senhor, quase sempre Teofania de Jeová ou do Senhor Deus, muitas vezes
não foi menos danoso aos inimigos de Israel [II Reis 19: 35] que os piores demônios de
nações estrangeiras; tanto que é denominado de Anjo Exterminador em Êxodo 12:23 –
Destruidor [omitida a palavra anjo] na versão Almeida.
À exceção única dos Saduceus [Atos 23: 8] a crença nos anjos era generalizada entre os
judeus do primeiro século; alguns estudiosos acreditam que tal disseminação foi em
parte pelas dominações estrangeiras, mais ou menos seguidas, com seus deuses, anjos e
demônios, em outra pela vacância de profetas por praticamente quatrocentos anos, com
isso a necessidade de outros mediadores.
A Bíblia contém muitos indicativos de anjos intermediando Deus e os Homens, os tais
anjos anunciadores ou, literalmente, mensageiros. Interessantes as tais anunciações de
nascimentos como o de João e do próprio Jesus, no Novo Testamento [Lucas 1:1 9 e
26], e também de Isaac [Gênesis 18:10] e Sansão [Juízes 13:3] como alguns exemplos
do Velho Testamento. Isto gerou o culto primitivo aos Anjos da Anunciação, parecendo
nada surpreendente a presença física de alguns deles aos seus contatados e, aparentemente, também sem nenhuma dificuldade de serem reconhecidos; de alguma maneira,
quase sempre a pessoa sabia quando se tratar de anjo.
Efetivamente Colossenses 2:18 sinaliza adeptos de angiolatrias [diversas formas de cultos aos anjos] entre os primeiros cristãos, todos evidentemente perniciosos à nova fé,
tanto que na Carta aos Hebreus [1: 4-7 e 13; 2: 2, 15 e 16], o autor procura estabelecer a
superioridade de Jesus sobre os Anjos, como necessidade de diferenciar a mensagem de
Cristo daquelas tidas como dos anjos, das crendices judaicas que infestavam as Igrejas
do primeiro século.
A exortação contida em Tito 1: 14 parece claramente, também, referência a angiolatria,
como fenômeno religioso que provocou intempéries até entre os gálatas [Gálatas 1: 69]; oportuna, ainda, mensagem posta em II Coríntios 11: 12 a 15, a ratificar as preocupações postas.
Nos Cultos aos Anjos, nos primeiros séculos da Igreja, destacam-se singular posição
para o “Anjo da Guarda”, que, segundo se acreditava, tomava mesma aparência de seu
protegido, situação relatada em Atos 12: 15.
O Anjo da Guarda advém de crença assiro-babilônica, portanto bastante anterior a Cristo, onde o deus Marduk determina à divindade [menor] Kerub [Cheroub, querubim, com
significado original touro], ser anjo tutelar de um herói filho de rei, empenhado numa
determinada missão. Gênesis 28: 29 traz anjos executores das sentenças de ira divina,
também no papel de protetores; da mesma maneira Deus ordena anjo protetor para Israel [Êxodo 32: 34] e para guarda de seus servos, como em Salmos 91: 11 e referências.
Para análise dos assuntos, mesmo que superficialmente e apenas tendo a Bíblia como
fonte única de consulta ou referências, faz-se necessário primeiro o entendimento do
que são os anjos e analisá-los, sem dogmatismos, como seres espirituais.
II - ANJOS DA GUARDA
SERES ESPIRITUAIS
A doutrina dos seres espirituais bíblicos segue logicamente a doutrina de Deus, pois são
eles fundamentalmente os ministros da providência divina. Essa doutrina permite-nos
conhecer a origem, existência, natureza, queda, hierarquia, obra e destino dessas entidades espirituais.
Quase sempre sob rígidas ordens divinas, alguns desses seres se interessam pelo bem
estar dos homens, outros, porém, estão empenhados em promover o mal, ainda que sob
o manto e aparato de boas ações. Muitas pessoas questionam se existem realmente tais
espíritos ou anjos, quem são eles, onde se encontram e o que fazem.
Uns são denominados filhos de Deus, os quais estão sujeitos ao governo celestial, com
relevantes serviços na história da humanidade e do homem como indivíduo, o que os
tornam merecedores de especial deferência.
Existem também aqueles pertencentes à mesma classe de seres, que anteriormente estiveram a serviço de Deus, que agora se encontram em atitude de rebelião contra o Criador, conseqüentemente em prejuízos ao homem.
Os que estudam os espirituais acham-se divididos quanto às doutrinas e teorias a respeito deles; igualmente não há consenso sobre seus atributos protecionistas, pessoais, aos
homens. Existem guardiões ou protetores pessoais?
De antemão sabe-se que não são eles elementos de exclusividades judaico-cristãs, posto
todas culturas, povos e religiões os possuírem em suas tradições, com os mesmos atributos.
A Bíblia, no entanto, é a única fonte de informação que merece maior confiança ao nível de pesquisa, para o universo cristão, posto possuir respostas para estas e outras questões sobre eles.
É o que vamos estudar, com citações apenas de alguns capítulos e versículos bíblicos,
de livros diversos, para exemplificações e/ou embasamentos.
EM VERDADE, O QUE SERIA UM ANJO?
‘Mala’k’ – no hebraico, com significado ‘mensageiro meu’. O grego ‘Aggelous’ tem o
mesmo significado de mensageiro, sendo deste as traduções bíblicas, daí advindo o ângelus latino que nos deu a palavra anjo.
Mensageiros [ou anjos] são seres espirituais enviados, em se tratando dos divinos, a
serviço e favor à salvação [livramento] dos homens [Atos 5: 19] e de anunciações [Atos
7: 53; Lucas 1: 11 a 20 e 26 a 38].
O termo grego ‘Pneuma’ – alma / espírito, é utilizado algumas vezes no Novo Testamento, também para a tradução de anjo, na qualidade de espírito, mais como identificação de anjo(s) mau(s) [Efésios 6: 12], espírito(s) imundo(s) [Mateus 12: 43-44, Marcos 1: 23-28].
Algumas vezes mensageiros [anjos] são postos para homens, assim como em certas citações, os anjos são conhecidos como filhos de Deus ou santos, ao lado de outros designativos.
SERES CRIADOS
Foram criados por Deus, conforme Hebreus 1: 4-6 e 7 e Colossenses 1: 15-16. Jó 1. 6
diz deles, filhos de Deus, ou seja, criados por Deus.
Do texto deuterocanônico de Daniel 3, versos 57 a 59, também se refere a criação dos
mensageiros. Tal texto inexiste na Bíblia normalmente aceita pelos evangélicos.
Não há precisão quanto à época de tal criação, mas considerando Jó 38: 4-7, em que
todos os filhos de Deus rejubilavam quando Ele lançava os fundamentos da Terra, certamente antecedem a origem da terra em Gênesis 1: 1; se, conforme ensejam alguns
exegetas, os céus precedem a terra na mesma Gênesis, não é errado que tenham sido
criados imediatamente após a origem dos céus, todavia antes da criação da terra.
Mas eles não existem desde a eternidade, conforme Neemias 9: 6 que fala das criações
divinas, por escalas ou tempos.
ESPIRITUAIS E INCORPÓREOS
São diferentes dos homens apesar de assumirem, às vezes, formas humanas a fim de
tornar visível sua presença aos sentidos humanos [Gênesis 19: 1-3], todavia, sem as
limitações da tridimensionalidade, aparecem e desaparecem, e movimenta-se com rapidez imperceptível, como a desafiarem as leis da física.
São incorpóreos [Efésios 6: 12] e invisíveis [Colossenses 1: 16]. Excepcionalmente um
animal viu um anjo [Números 22: 27], mas parece não ser regra geral que animais enxergam os espirituais.
Suas representatividades são concebidas, simbolicamente, como seres alados [Isaias 6:
2-6]; Ezequiel [nos versos do capítulo 1 do livro do mesmo nome] os retrata também
assim.
Daniel 9: 21 diz que o mensageiro Gabriel [o mesmo das anunciações neotestamentárias] “veio voando rapidamente”, mas tal citação pode não ter significado literal, podendo ser apenas a compreensão do contatado diante de um fenômeno extrafísico.
FEITOS SUPERIORES AOS HUMANOS
Esses seres são superiores em relação aos homens, segundo Salmos 8: 4-5. Ainda assim,
estão postos a serviço e favor dos eleitos [Daniel 3: 28].
INFERIORES A CRISTO
Por Hebreus, 1: 4, os anjos são inferiores a Cristo [posição sem méritos de discussões
quanto à triunidade divina].
Estão subordinados a Cristo [I Pedro 3: 22].
NÃO SÃO PERFEITOS
Diante de Deus, são imperfeitos, vistos em citações como Jó 4: 18, 15:15 e Salmos 89:
5-8.
Não sendo perfeitos, são limitados e podem ser finitos. I Coríntios 6: 3, num texto surpreendente e não de todo entendido, estabelece que eles sejam julgados, inclusive com a
participação dos homens [dos santos ou salvos, evidentemente].
NÃO CONSTITUEM RAÇAS
Ponto deveras polêmico: Mateus 22: 30 estabelece que o casamento [relação sexual] não
é da ordem ou plano de Deus para com os mensageiros, ou seja, não podem propagar
sua espécie nem formar raça. Embora descritos como varões em todas as aparições, e
denominados sempre filhos [e não filhas] de Deus, são tidos por assexuados [Lucas 20:
34-36].
Gênesis 6:2 e 4, no entanto, relata sexo procriador entre aqueles e humanos – filhos de
Deus [anjos] com as filhas dos homens. Alguns estudiosos apontam filhos de Deus como filhos de Sete, enamorados pelas filhas de Caim; evidentemente não há sustentação
bíblica para referida posição. Os deles gerados sãos denominados ‘nefelin’, os mesmos
mencionados no livro Números, 13: 33, óbvio que sobreviventes do dilúvio.
Os textos [Mateus e Gênesis], aparentemente conflitantes, não o são, pois se seres incorpóreos manifestam-se como homem, em tal forma podem, perfeitamente, relacionarse com mulheres, com possibilidades de procriações, porque assim o fizeram, com descendentes híbridos ou não, embora não seja tal prática estabelecida nem do agrado de
Deus.
SÃO SERES RACIONAIS E MORAIS
Os seres espirituais têm características de pessoalidades, como inteligência, vontade,
atividade, e predestinados à salvação ou danação eterna, com o livre arbítrio para opções devidas, caso diferente não haveria razões para I Coríntios 6: 3.
O fato de que são seres inteligentes parece inferir-se imediatamente do fato de que são
espíritos [II Samuel 14: 20; Mateus 24: 36; Efésios 3: 10; I Pedro 1: 12 e II Pedro 2:
11], superiores aos homens em conhecimento [Mateus 24:36] e, por ter natureza moral,
se acham sujeitos à obrigação moral; são recompensados pela obediência e punidos pela
desobediência.
Da grande rebelião celestial, a Bíblia fala dos que permaneceram leais a Deus, como
seus santos [Mateus 25:31 e referências], e dos rebelados, se refere como homicidas,
mentirosos e pecadores [João 8: 44 corroborado em I João 3: 8-10].
SÃO MIRÍADES
Deuteronômio 33: 2, Jó 25: 3, Mateus 26: 53 Lucas 2: 13 e Hebreus 12: 22 dentre outras
passagens, atestam o imenso contingente de anjos celestiais, muitas vezes denominados
de exércitos de Deus.
SÃO DENOMINADOS MINISTROS DE DEUS
Salmos 103: 20-21, por exemplo, nos dá idéia do domínio universal de Deus, assistido
por seus anjos ministros, ou seja, côo-participes do governo celestial.
POSSUEM HIERARQUIA
Embora não constituam uma ordem ou organismo propriamente dito, são organizados
de algum modo, evidenciado diante dos fatos de que ao lado do nome genérico "anjos",
a Bíblia emprega denominações específicas para indicar as diferentes pressupostas classes de anjos, de aceitação em todas as seitas cristãs, ainda que sem um entendimento
preciso a respeito.
São cinco as classes de seres espirituais, que designam distinções ou funções [postos de
autoridade] que ocupam como autoridades celestiais:
• Principado – Efésios 3: 10 e Colossenses 2: 0, do grego ‘archai’ indica domínio e influencia exercida em nível de grandes regiões.
• Potestade – Efésios 3: 10 e Colossenses 2: 10, significa poder para determinações jurisdicionais, conforme textos figurativos em Mateus 8:9 e Lucas 23:7.
Vem do grego ‘exousiai’.
• Trono – Colossenses 1: 16, ‘troinoi’ em grego ou seja, assento majestático ou
de honra.
• Domínio – Efésios 1: 21 e Colossenses 1: 16. A palavra grega ‘kuriótetes’ significa poder dominial ou senhorio.
• Poder – Efésio 1: 21 e I Pedro 3: 22, é a tradução do grego ‘dunameos’, para
grande força para se fazer cumprir desígnios.
Nisto não há uma ordem rígida determinada, Colossenses 1: 16 traz: ‘Trono, Dominação, Principado e Potestade’; como divisões dos quadros angelicais, enquanto Efésios
1: 21 aponta: ‘Principado, Poder [Virtude], Potestade e Domínio’; e assim, Colos-
senses 1: 16 não informa do ‘Poder [Virtude]’ e Efésio 1:21 nada diz do ‘Trono’, que
então poderiam ter o mesmo significado não fosse o posicionamento visto em I Pedro.
Em nenhum dos textos parece haver preocupações e enumerações completas, podendo
haver outras classes.
Encontra-se em Efésios 6: 12, I Coríntios 15: 24 e Colossenses 2: 15, classes com as
mesmas denominações, ocupadas pelos anjos maus. Efésios 1: 21 parece incluí-las em
conjunto, e sem diferenciações aparentes em Romanos 8: 38.
Não há suporte bíblico para compreensão de cada uma das classes, nem como defini-las,
e se realmente são classes ou categorias; tudo que disso se faz uso são conjecturas.
Vistas as classes, são as seguintes espécies de seres espirituais, numa aparente ordem de
elevação:
• Querubim (ns) – etimologia hebraica Karoub [charoub] com significado de
poderoso ou Keroub [cheroub] designativo de touro, ambas nos dá a tradução
portuguesa querubim.
Vistos em Gênesis 3:24 com a responsabilidade da guarda do Paraíso, e representados em imagens como observantes do propiciatório [Êxodo 25: 18-20].
Em Salmos 80: 1, 99:1 e Isaias 37: 6, se revelam Trono de Deus, assim como
em Hebreus 9:5 são chamados querubins do trono glorioso, fatos que possibilitam indicá-los protetores do trono.
Constituem, também, meio do qual Deus se serve para descer à terra a “cavalgar num querubim, a voar” [II Samuel 22: 11 e Salmos 18: 10].
Como demonstração do poder de Deus, os querubins são representados, simbolicamente, qual seres materializados, em várias formas de conformidade com Ezequiel 1 – que o vidente identifica como querubim somente no capítulo 10: 20
do mesmo livro, e em Apocalipse 4.
São eles, os querubins, destinados mais que outras criaturas celestes, a revelar o
poder, a majestade e a glória de Deus, assim como defender a santidade divina
no Paraíso, no Tabernáculo, no templo e nas Teofanias, quando das vindas de
Deus para a terra.
Ezequiel 28: 14, num dos mais belos poemas bíblicos comparativos, menciona
queda daquele que fora um dia, querubim ungido, o qual querendo igualar-se a
Deus, em ambições desmedidas, de orgulho, egoísmo, descontentamento, e vicissitudes outras vistas em citações diversas, veio a liderar grande rebelião nos
céus, e de lá foi lançado com os seus aos infernos que Deus lhes preparou.
O mesmo livro Ezequiel, 1: 5-14 e em todo capítulo 10, descreve querubins semelhantes a animais, com vários rostos e asas.
• Serafim (ins) – Isaias 6: 2, numa citação única, mas suficiente para entendermos
Serafim como espécie de anjo muito próxima do querubim, simbolicamente representado em forma humana com seis asas, sendo duas delas para cobrir o rosto, duas os pés, e outras duas prontas para execução das ordens do Senhor. Permanecem em torno do trono do Deus poderoso, como servidores, cantam louvores a Ele e são considerados nobres entre os seres espirituais.
Tem o significado de ardente, ‘srf’ [hebraico massorético] ou ‘saraph’, para os
estudiosos, purificadores pelo fogo.
Certos especialistas colocam-no superior aos querubins, e os esotéricos de plantão assim procedem, contudo sem embasamento justificado.
• Arcanjo (s) – Com apenas duas citações bíblicas, em I Tessalonicenses 4: 16 e
em Judas 1:’9, onde inclusive identifica um deles pelo nome Miguel, a palavra
arcanjo significa ‘superior aos anjos’. Alguns indicam que arca teria o significado de chefe, portanto anjo chefe.
Miguel realmente aparece no comando de anjos [Apocalipse 12.7], mas não está
acompanhado da qualidade arcanjo, assim como surge príncipe [sem o designativo arcanjo] em Daniel 10: 13-21 e 12: 1.
Especialistas deduzem que os arcanjos seriam os principais príncipes em comando dos exércitos divinos; não há nisto nada alem de pressupostos.
• Anjo (s) – São os seres celestiais mais citados na Bíblia [dependendo a versão,
ao menos trezentas vezes, quinze delas somente por Jesus], às vezes como designativo para outros seres celestiais; anjo, no entanto e na concepção exata do
termo, trata de uma categoria especial de entidade espiritual.
O anjo Gabriel é citado nominalmente nos Velho e Novo Testamento [Daniel 8:
16 e 9: 21 e Lucas 1:1 9 e 26].
Um anjo por nome Rafael tem grande destaque no apócrifo Tobias. Outros apócrifos mencionam nominalmente diversos seres angelicais.
Anjos podem, anonimamente, se hospedarem em lares cristãos [Hebreus 13: 2];
alguns estudiosos entendem que a passagem refere-se a homens mensageiros e
não anjos propriamente.
A prática de culto aos anjos é perniciosa [Colossenses 2: 18] e parece ter figurada largamente entre os primeiros cristãos.
A atividade sublime do anjo é a adoração a Deus [Neemias 9: 6, Filipenses 2: 911, Hebreus 1: 6 e referencias], mas, também, são prestos ao serviço e livramento dos homens [Atos 10: 4 e 12:7], regozijando-se com a conversão de um pecador [Lucas 15: 10].
Estão presentes na igreja [I Timóteo 5: 21], sempre presto a favorecer vigilância
protetora sobre os crentes, aliás, postos como exército de seres alados para favorecimentos aos protegidos [Daniel 9: 1 e Apocalipse 14:6].
A vigilância protetora, dos anjos sobre os crentes, conforme Salmos 34:7 e, em
especial, Salmos 91: 11, e o protecionismo às crianças visto em Mateus 18: 10
têm servido de base para a crença em anjos da guarda, mesmo entre os discípulos [Atos 12: 5].
Para estudiosos bíblicos não católicos, não se sustentam as idéias de anjo da
guarda individual para os crentes, por não terem apoio nas Escrituras. Dizem que
a declaração de Mateus 18: 10 é geral demais, e que Atos 12: 15 mostra apenas
haver alguns, mesmo dentre discípulos, que acreditavam em anjos da guarda.
Há de se concordar, no entanto, que o texto de Atos 12 é mesmo bastante vago,
realmente a apontar crendice despropositada, mas o descrito em Mateus é claro,
o suficiente, em indicar que há sim, pelas palavras de Jesus, um grupo de anjos
particularmente encarregado em cuidar das crianças.
Não há como contestar méritos de anjos protetores expressos nos Salmos 34 e 91
citados.
Outrossim, também evidente que o respeito divino devido aos crentes, ao menos
aqueles que pertencem a Ele, é o seu valor maior diante Dele, assim como o zelo
que lhes dedica, de tal sorte que Ele, Deus, confia-os à guarda de seus anjos ordenados para tais propósitos [Êxodo 14: 19], porque também o Criador se serve
dos seres espirituais criados para aqueles e outros devidos fins.
A isto, portanto, o correto biblicamente determina Anjos para a Guarda [aqueles
designados para tais fins] ou o Anjo que Guarda [em geral os executores da ira
divina que, paralelamente, guardam pessoas eleitas de algum mal ou dano], mas
jamais Anjos da Guarda.
Temos assim, Anjos que Guardam Ló [Gênesis 19]; Anjo para a Guarda de Israel [Êxodo 32: 34], Anjos protetores pessoais [Salmos 34: 7], auxiliares para as
nações [Daniel 10: 13] ou que cuidam de regiões em particular.
Tem anjos enviados para servir os tementes a Deus [Hebreus 1: 13]; Deus enviou um Anjo para a Guarda [livramento] de Daniel [Daniel 6: 22].
Numa parábola, um anjo é posto por guardião condutor de alma/espírito [Lucas
16: 22].
Sem dúvidas Deus enviou um Anjo para a Guarda de Agar [Gênesis 16: 7].
A mais espetacular citação de Anjo para a Guarda encontra-se em Êxodo 23: 2022.
Biblicamente seriam estas as principais citações referentes aos anjos.
III - DAS TEOFANIAS
Gênesis 18: 2 aponta para a Teofania onde o próprio Deus, na qualidade de anjo
em forma humana, visita Abraão e dele recebe culto. Abraão que não sabia tratar-se do próprio Deus [a nós, identificado no verso 13], cultuou aqueles anjos.
Êxodo 23: 20 a 32, já mencionado em partes, traz disposições para a pureza religiosa requisitada, com destaques quanto aos valores do anjo tutelar na monolatria judaica, precursora imediata do monoteísmo.
Entende-se, portanto, que os anjos estavam como intermediários entre Deus e os
homens, na cultura judaica, sempre atentos para executarem ordens divinas, bem
como intercederem pelos homens junto ao Supremo Criador, vez que o próprio
Deus em sua provida misericórdia, dispôs inclusive no Novo Testamento, que à
salvação espiritual dos homens concorram também os anjos [Hebreus 1: 14].
DEMONOLOGIA E SATANISMO
I - DEMÔNIOS BÍBLICOS
Os hebreus em suas origens históricas, vencidas as etapas animistas e totêmicas, cultuavam deuses [elohim] – espíritos – que, em toda Gênesis 1 até o capítulo 2 verso 3, são
os responsáveis pelas criações dos céus, da terra e de tudo que neles há, numa síntese
criacionista sumero-babilônica. A partir de Gênesis 2:4 um daqueles deuses, o ‘sló’ Javé, ganha destaques e aos poucos, ao curso da evolução religiosa dos hebreus, suplanta
os demais ‘elohim’, para se transformar no deus dos deuses [Deuteronômio 10: 17],
sistema monolátrico [Josué 22: 22] que, num futuro viria ser o monoteísmo judaico adotado pelos cristãos, o Deus único das nações [Isaias 45: 22].
A partir do momento que Javé se fez [ou foi feito] deus dos deuses, os demais deuses
foram excluídos oficialmente dentre os hebreus, e a partir de então demônios passam
designar quase que exclusivamente divindades de outros povos, portanto divindades
pagãs ou gentias.
Aparentemente fácil identificar demônios na Bíblia, na verdade não os são. Copistas e
tradutores bíblicos determinam indistintamente por demônios os anjos decaídos, os espíritos imundos e os diabos, ao lado de outras tantas identificações, dando o mesmo sentido às palavras gregas: ‘pneuma, aggelous, diáblos e daimon’, por exemplos, e isto traz
confusões até mesmo a muitos dos entendidos.
Demônios não são Diabos, aliás, Diabos não existem na Bíblia o que existe é o Diabo
[do grego ‘diáblos’], no singular, como tradução do hebraico ‘Satan [Xatan]’ que nos
deu Satanás ou simplesmente Satã, este sim, por sinal, único e também nenhum demônio.
Os Demônios nada têm a ver, inicialmente, com espíritos imundos, estes comumente
identificados biblicamente pelo grego ‘pneuma’, ou os hebraicos ‘eloim’ e ‘se’irim’.
Anjos, do grego ‘aggelous’, significa mensageiro - ‘mala’k – hebraico’, tanto para os
bons quanto para os maus enviados, sem nenhum laço etimológico ou de atributos com
os demônios.
O que seria então os demônios bíblicos? Como surgiram?
Comumente, se entende por demônios, aquelas entidades espirituais dotadas de poderes
especiais, que se situam entre os humanos e as divindades, com objetivos de zelar lugares ou castigar pessoas. Sua origem provável encontra-se nas lendas e crenças dos povos
da Mesopotâmia.
O grego ‘daimon ou daimonium’, em Deuteronômio 32: 17 é usado para identificação
das divindades pagãs, ou seja, aquelas proibidas de serem cultuadas pelos hebreus. Assim, todos os deuses estrangeiros ao povo de Deus, são denominados demônios. No
Salmo 91: 6-7, o termo é designativo de praga.
Isaias 13: 21, 34: 14 e referências, trazem demônios como personagens folclóricos ou
quase míticos dos lugares ermos, como os denominados os ‘sátiros’ [hirsutos], que algumas traduções descrevem-nos seres que se apresentam como horríveis animais peludos. No apócrifo Baruc, 4: 35 como espíritos imundos estão postos por habitantes dos
desertos.
A tradução portuguesa mais exata para ‘daimon’ é ‘gênio’, aplicado no sentido de inteligência superior, capacidade incomum.
Bíblica e etimologicamente, a princípio, Demônio não teria conotação pejorativa alguma com anjos decaídos, espíritos imundos ou diabos. A sua identificação com espíritos
impuros [imundos], ocorreu pela necessidade teocrática dos hebreus manterem-se separados dos demais povos, para evitar contaminações de cultos e com isso a desagregação
nacional.
Aos demônios, nas qualidades de espíritos impuros, se devem as doenças internas desconhecidas, como se por eles causadas e que nem precisava estar manifesta no individuo, bastando alguma denuncia de sua participação em cultos estranhos, para os sacerdotes
determinarem sua impureza legal, e assim impedir tal enfermo [endemoniado] de participar dos atos religiosos; o interditado era, quase sempre, morto exemplarmente, por
apedrejamento, para não contaminar os demais membros da nação hebréia.
Não se pode dizer, todavia, que tais divindades seriam todas maléficas; o próprio Javéquando irado não é nada bom e se faz tremendamente exterminador em favor de seu
povo [II Reis 19: 35, Êxodo 33: 2]; incrivelmente, também se volta contra os seus próprios, com a mesma fúria avassaladora, às vezes por simples desleixo [Êxodo 32: 34].
A Bíblia menciona algumas divindades estrangeiras transformadas em demônios para os
hebreus, dentre os quais se destacam:
• Abaddón: originariamente se tratava de um mensageiro de Deus, como ministro da vingança ou executor da ira divina, conhecido como Anjo Exterminador ou Destruidor [Êxodo 12: 23], que muitos estudiosos identificam o
Anjo do Senhor, ou mesmo, Teofania do próprio Deus. Ganha status de demônio no Novo Testamento como “pai da perdição” ou simplesmente
“perdição”, também conhecido pelo nome grego Apollyon, isto é, “remoção
completa” ou “desaparição”, conforme citado no Livro Apocalipse 9: 11.
Alguns especialistas identificam-no demônio [na qualidade de anjo decaído]
desde a rebelião celestial, todavia, permitido por Javé para aqueles atos em
Êxodo 12: 23.
• Adramelec e Amelec: divindade dual, dos Serfavaim [região da Assíria],
citadas em II Reis 17: 31, que estudiosos entendem como Adar e Ana, divindades nacionais históricas daquelas gentes [transferidas para Samaria pelos assírios], que os hebreus cultuaram inicialmente com o próprio Javé,
embora sem unicidade de culto, conforme II Reis 17:41, sendo que os samaritanos continuaram posteriormente a reverenciá-los, enquanto os judeus de
pura origem transformaram-nos em demônios.
• Asera: deusa da Cananéia, citada em Êxodo 34: 13, Juízes 3: 7 e referencias, asimilada e cultuada pelos hebreus, na forma de um tronco sagrado em
forma de coluna ou poste, tratando-se de uma deusa protetora dos bosques e
tudo que neles há, em préstimos aos homens. É comumente confundida com
a deusa fenícia Astarte e na bíblia é citada no plural [aseras].
• Asima: conhecida biblicamente como a deusa Sima, dos arameus de Hamat,
mencionada em II Reis 17: 30; muito conhecida pelas inscrições helênicas.
Na literatura religiosa hebraica, Sima é posta pelos assírios como divindade
[demônio protetor] local, inoperante, assim como Javé dos hebreus [II Reis
18: 33-34]. Trata-se de divindade protetora dos vales e caminhos de Hamat
e Reob, locais citados em Números 13: 21.
• Asmodeu: ‘AsmaDaeva’, divindade citada no ‘Avesta’ [livro sagrado dos
persas], como executora do mal [necessário] dentro do principio do dualismo da doutrina de Zoroastro, o bem e o mal. No apócrifo Tobias 3: 8 e referências, Asmodeu transforma-se num espírito maligno, denominado destruidor [‘samad’ – hebraico].
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Astaroth - Astarte: deusa fenícia que representa a fecundidade da natureza;
alguns estudiosos a associam como deusa da lua [Juízes 2: 13], de grande
popularidade entre os povos do médio oriente e os próprios hebreus. Salomão prestou-lhe honras [I Reis 11: 5].
Azazel: citado no livro Levítico 16:8 como “a perdição”, tratando-se de divindade provavelmente da Caldéia, que os hebreus tomaram de empréstimo
para torná-lo um demônio, na forma animal de um bode, tido na Bíblia como bode expiatório para os pecados do povo de Deus. O apócrifo Livro de
Henoc menciona referida criatura como um dos anjos que se enamorou pelas mulheres da terra. É comumente confundido ou associado com ‘Abaddón’, alguns acreditando tratar-se de uma mesma entidade.
Baal: Senhor, principal deus fenício, o naturista ‘Melcart’ foi absorvido pelos cananeus, como o trovejante Baal [I Reis 16: 31], conforme mais conhecido biblicamente, e que se tornou representatividade do mal para os hebreus [II Reis 23: 5]; no entanto, Javé toma características do próprio Baal,
ao se fazer o tonante Sló do Sinai. Para os cartagineses que também o adotaram, era excelente deus.
Baalim: os ‘baalins’ citados em Juízes 2: 11, deuses menores do panteão
fenício, muito próximo dos bíblicos ‘elohim’ [Gênesis 1: 1 e referencias],
depois identificados como espíritos protetores, bastante populares e cultuados inclusive pelos hebreus [Juízes 2:12-13].
Baal-Meon: o terrível [aos hebreus] Beon, divindade protetora da Palestina,
cujo nome era proibido de ser pronunciado pelo povo de Javé, e por isso
mudados os nomes de locais a ele consagrados [Números 32:3 e 38]. Alguns
entendem esta divindade adotada dos babilônios, provavelmente o deus Sucot-Benot, mudando-se o primeiro designativo Sucot [tendas] para Baal e
que Benot transformou-se em Beon, o poderoso.
Baalzebul [Baalzabud ou simplesmente Belzebu]: cultuado pelos filisteus
[II Reis 1:2 e referências], e outros povos do médio oriente, foi transformado em príncipe dos demônios para os hebreus, e assim assimilado pelos cristãos [Mateus 10: 25, Marcos 3: 22 e Lucas 11:1 5-18 e 19]. Estudos recentes
apontam referida divindade como de origem fenícia, muitos lhe dando significado de ‘Senhor das Moscas’, todavia tradução mais apropriada a Baalzabud, seria Dádivas do Senhor, e que se valia daqueles insetos, como vetores de pestilências, para castigar inimigos.
Baltesassar: mais propriamente ‘Beltesassar’, trata-se de ‘Balat-su-usur’,
[Deus Protetor da Vida], divindade acadiana citada em Daniel 1: 7, cujo
nome foi dado ao próprio Daniel. Baltesassar é visto como o deus Bel, principal divindade babilônica, que Isaias 46: 1 já coloca numa posição inferior
a um deus, e nas condições de gênio ou agente do mal em Jeremias 50:2.
Belial: aquele que serve para nada, inútil e sem valor, tornou-se sinônimo
de ser abjeto, como homens perversos, em Deuteronômio 13: 14. I Samuel
10:27, onde se lê os perversos, algumas traduções como Almeida diz os fi-
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lhos de Belial, já a tipificar o demônio que o cristianismo viria adotar como
o Poderoso Demônio, ou o próprio Diabo [Satanás], vista em II Coríntios
6:15. Alguns identificam Belial também nos livros Daniel e Apocalipse,
como o Anticristo, a Besta, o Assolador ou o Dragão, quando não apenas
um anjo do mal designado para a desordem mundial.
Besta: O grego ‘ther tem significado de animal selvático, ou besta, e para
muitos não se trata verdadeiramente de um demônio, apenas a identificação
bíblica [Daniel e Apocalipse] profética do próprio Diabo ou Satanás, nos
tempos do fim. Na primeira epístola universal de João, alguns estudiosos entendem a Besta como o Anti-Cristo [I João 2: 18 e referencias].
Camos: principal divindade moabita [Números 21: 29] de grande prestígio
entre os hebreus, tanto que o próprio Salomão lhe edificou um altar [I Reis
11: 7]. Esta deidade, como todas demais estrangeiras ao povo hebreu, quando se trata de cultos, sacrifícios ou adorações, recebem conotações de consumações aos demônios ou aos ídolos, indistintamente.
Leviatã: dragão ou animal mítico, descrito nos poemas de Ugar [em Ras
Shamra ao norte da Fenícia] por volta do século XV a.C, às vezes para indicar algum cetáceo [Salmos 104: 26], por outras refere-se a um crocodilo [Jó
40: 25]. Em Jó 3: 8 é a pré-figuração de poderoso demônio evocado pelos
feiticeiros.
Lilith: divindade notívaga babilônica é demônio feminino bastante comum
na cultura religiosa judaica, e comumente citada pelos cristãos; embora não
mencionada diretamente na Bíblia, alguns estudiosos, entretanto, demonstram-na figuradamente, como o espanto noturno, a seta que voa de dia, a
peste que serpeia nas trevas e a morte que grassa à luz meridiana [Salmos
91: 5-6], enquanto para outros, trata aquele Salmos e versículos citados,
como linguagem figurada, onde o protegido de Deus não temerá assaltos
abertos, tramas ocultas, doenças [pestilências da noite, tidas como doenças
sexualmente transmissíveis] e mortes de encomenda. Isaias 34: 14 traz essa
denominação [no singular] com algumas traduções postas como corujas,
mais propriamente, criaturas noturnas, que os hebreus posteriormente deram
significado de ‘diaba notívaga’ [PIBR].
Lúcifer: o demônio que os cristãos mais temem, o maioral de todos eles, curiosamente, não está na Bíblia. Alguns biblistas, no entanto, apontam em Isaias 14:12-14, partes d’uma canção hebraica contra o rei babilônico, como
alusão a Lúcifer; trata-se na verdade de um comparativo das glórias do
grande monarca babilônico, que chegou a reivindicar honras divinas, com o
esplendor de uma fulgurante estrela [vista por muitos como a Estrela d’Alva
ou planeta Vênus]. Referida canção remete-nos, por analogia, a Ezequiel 28,
profecia contra Tiro, onde a ascendência régia é tida como querubim ungido
no Éden, depois expulso face sua soberba e outros pecados, inclusive da
pretensão de igualar-se ao Criador. Daí seria dizer que Satanás, ou que seja
Lúcifer, tenha sido um querubim ungido, de rara beleza, etc, ou que os de
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Tiro [pelo monarca], que são os fenícios [grego phoinos com tradução de
vermelho ou homens vindos terra vermelha], tenham sido o Adão bíblico
[Adam’is, is=homem, adam do barro vermelho] que Deus um dia colocara no Éden, etc. Já a tal Eva seria. . .
Mamon: mais propriamente Mamona, significa riqueza, que Mateus 6: 24
[e referências] personifica como o demônio que põe a perder os filhos de
Deus, pela materialidade e luxo que o mundo oferece.
Melkart: II Macabeus 4: 18-20, trata-se do mitológico Hércules, muito
mais na categoria de semi-deus que de demônio propriamente dito.
Moloc: deus amonita [Levíticos 18: 21, 20: 2-5, II Reis 23: 10 e Ezequiel
20: 31], também conhecido como ‘Melcom’ [I Reis 11: 57e 33, II Reis 23:
13 e Jeremias 40: 1], bastante apreciado pelos hebreus, e que recebeu distinções religiosas até do sábio rei Salomão [I Reis 11: 7].
Nergal: deus assírio [II Reis 17: 30], maioral do mundo subterrâneo que ganhou conotações cristãs com o Diabo e o Inferno, advindas das assimilações
e crenças hebraicas.
Nicaz: divindade de Ava, uma das regiões conquistadas pelos assírios, cuja
população foi instalada na ocupada Samaria, e esse deus assimilado pelos
hebreus de Samaria. Não há referencias históricas sobre Ava, e, conseqüentemente, sobre seu deus, também conhecido como ‘Nichas’. Alguns estudiosos vêem aqueles como ‘árabes remotos’, enquanto outros acreditam ser
os bíblicos heveus [Gênesis 10:’15-17] mencionados ainda em Josué [11:’3]
e Juízes [3:’3], mas a citação maior se vê no capítulo 34 de Gênesis, quando
um heveu ultrajou a hebréia Diná, filha de Jacó. De qualquer forma, em
Samaria, pelo menos, o deus Nichas foi cultuado pelos heveus [II Reis
17:’31] e samaritanos, e assim proibido e posto sob a pecha de demônio.
Nesroc: citado em II Reis 19:37, divindade assíria, de significado desconhecido.
Sátiros: do hebraico ‘se’irim’ [peludos como bodes] entendidos como encarnações de espíritos maléficos [Levíticos 17: 7] ou gênios que habitavam
desertos ou lugares ermos, às vezes em formas animalescas desconhecidas
como os citados hirsutos [Isaias 13: 21, 34: 14 e Baruc 4: 35] – animais desconhecidos, peludos, de aparências indefinidas, cultuados [II Crônicas 11:
15] o que constituía impiedade [II Reis 23: 8].
Sucot-Benot: deus babilônico [II Reis 17: 30], também conhecido como
‘Secote’ [Tendas – Josué 13: 27] ou Beon [Senhor Protetor], assimilado
pelos palestinos como ‘Baal-Meon’.
Tamuz: Ezequiel 8: 14 traz citação desse deus dos babilônios que foi adotado pelos fenícios e também cultuado pelos hebreus, entre outros povos. A
tradição mostra-nos Tamuz como um dos muitos Cristos vindo ao mundo
para uma obra redentorista, com morte sacrifical. É um poderoso demônio
no cristianismo popular.
Tartak: outro deus heveu, também citado em II Reis 17:31, cultuado pelos
samaritanos e exacrado pelos hebreus de pura origem. Entendem-se vínculos de ‘Tartak com Tártaro’ [II Pedro 2: 4], tratando-se portanto de um
demônio chefe dos infernos, banido das hostes celestiais conforme aquela
epístola, num inequívoco texto referente às citações de Gênesis 6: 8.
Embora Demônios tenham significação bíblica para divindades pagãs que se tornaram
espíritos impuros para os hebreus, a citação II Pedro 2:4 numa passagem obscura e não
respaldada diretamente pelo Antigo Testamento, no ato subentendido, trata dos demônios como sendo os bíblicos anjos rebeldes. Também Judas 1:6, se refere aos demônios
como anjos que foram indignos, deixaram os céus e que para eles foram reservadas escuridão e cadeias eternas, até o juízo do grande dia, num texto interpolado e confuso,
com correspondente apenas em Apocalipse 20: 10.
Ainda assim, para os cristãos e certos exegetas, não perdem, contudo, aqueles significados de espíritos impuros ou entidades do mal.
Claro está que para o cristianismo já distinto do credo judaico, os demônios ganham
status de anjos decaídos, inferiores aos anjos de Deus, conforme fazem entender o apócrifo Tobias 8: 3 [recorrência] e Apocalipse 12: 7-10.
Para os cristãos, os Demônios como seres malignos, são incorpóreos, portanto espirituais, deixando, contudo, antever incapacidade da plenitude de seus atos se não estiverem
de posse de algum corpo humano, por isso, continuamente procurando apossar-se dos
homens, conforme Mateus 12: 43-44, através de incorporações diretas ou por inspirações, a fim do empregá-los para seus próprios fins.
Suas possessões podem ser momentâneas [Lucas 9: 39], mais ou menos prolongadas [I
Samuel 16: 4] ou prolongadas [Marcos 5: 2], quase sempre caracterizadas por enfermidades internas, idiotias, deformidades físicas e perturbações mentais. Exorcismos e curas, praticados por Jesus, tem sentido messiânico bastante claro, quando vistos sob o
ângulo das possessões demoníacas, ou, das doenças psicossomáticas.
Os Demônios podem estar numa pessoa ou num intermediário e causarem transtornos, a
pedido ou mando, em terceiros, como traumas psicológicos, ruínas sociais, problemas
financeiros, ruína familiar e mais as citações anteriores e outras não mencionadas. São
exemplos os famosos e ditos ‘trabalhos de macumbaria’. Na Bíblia, muitas vezes, são
os espíritos maléficos que se apossam de alguém com a permissão divina [I Samuel 16:
14] ou um bom espírito [???] que Deus permitia incorporar no homem [I Samuel 11: 6 e
18: 10] ou causar dissensões [Juízes 9: 23, Isaias 19: 14]. Além de indutor ao erro [I
Reis 22: 22].
-Passagens como estas constrangem os cristãos.
Alguns dos maus espíritos têm diferentes missões e métodos, com possessões mais duradouras [tecnicamente imperceptíveis] ou mesmo fazendo-se entrantes, para altas realizações mundiais através de líderes políticos, cientistas e homens de notório saber, como
aquelas que apontam para indivíduos praticamente nulos e que de repente se transformam numa outra personalidade, às vezes até animal, a exemplo do rei Nabucodonozor,
conforme Daniel 4: 23 ao 28 e 33 – versão Almeida.
•
Os demônios, como espíritos perturbadores, promovem, em suas ações [mas não necessariamente], fenômenos psicológicos e de efeitos físicos, alguns aterradores, muito dos
quais vistos e estudados pela Metapsíquica, Parapsicologia e Espiritismo Científico.
Para o Cristianismo, independente de confusões de copistas ou enganos de tradutores
bíblicos, os demônios têm sua existência reconhecida pelo próprio Jesus, conforme Mateus 12: 27-28, e Lhe são inferiores.
Os setenta discípulos que Jesus enviou para certa missiologia reconhecem que os demônios a eles se submetiam, em nome d’Ele, Jesus.
Todos os apóstolos reconhecem a existência dos demônios, os expulsam e fazem advertência aos crentes a respeito das ações e intenções demoníacas; os demônios são uma
constante preocupação aos pais da Igreja dos primeiros séculos.
Muitos convertidos certamente não desprezaram de todo suas antigas crenças, não abominaram totalmente os seus deuses, daí a necessidade dos apóstolos e responsáveis fazerem sempre o alerta contra o demonismo. A insistência dos pais da Igreja em colocar
para os fiéis, o nome de Jesus sempre superior sobre demais divindades ou demônios,
demonstra claramente isso.
I Coríntios 10: 14 ao 21, traz sérias advertências a idolatria e demonologia entre os coríntios. Os demônios ali estão postos como divindades dos gentios, portanto, de culto
proibido entre os cristãos, posto Cristo ser superior aos demônios.
Por tais razões, tantos textos bíblicos e referências dizem das repreensões e expulsões de
demônios dos corpos de pessoas, de curas de doenças provocadas por aqueles seres,
além das diversas citações em que os próprios crêem [Tiago 2: 19] temem e tremem
diante de Jesus ou apenas do ouvir falar Seu nome, a exemplo de conhecida passagem
em Marcos 5:1 ao 20.
Para aqueles que se fundamentam no Novo Testamento, os demônios são seres espirituais reputados idênticos aos espíritos imundos e aos anjos decaídos, com características e
ações próprias de personalidade e racionalidade. Mateus 8: 29 ao 31 mostra até uma
certa sagacidade dos demônios, que questionam a ação de Jesus importuná-los antes do
tempo ou acordo previsto e assim, para não se verem desalojados de algum corpo físico,
rogam e lhes são permitidos, entrar em animais irracionais.
Dos feitos demoníacos, o maior sem dúvidas é o sempre despertar de milhões e milhões
de pessoas para lhes dar sustentações através de possessões, além de alimentar suas existências, também pela negação a Deus.
II - SATANÁS OU O GRANDE SATÃ
Num texto bíblico confuso, em I Crônicas 21: 1 Satanás surge na Bíblia, pela primeira
vez com essa denominação, conforme disposição canônica dos livros, ao se levantar
contra Israel e incitar o rei Davi a recensear Israel. Referido texto é de difícil entendimento por ser o mesmo assunto visto em II Samuel 24: 1 que, todavia, diz ser a ira do
Senhor a acender contra Israel e incitar Davi a numerar Israel, e não Satanás.
Pela cronologia dos livros bíblicos, Satanás surge realmente pela primeira vez, em Jó 1:
6, na qualidade de mensageiro, igualmente aos anjos, cuja identificação significa Acusador, mais como qualificação, ou seja, posto de autoridade. O livro Jó, que certos estudiosos apontam como escrito por volta de 1473 a.C, assim a anteceder em mais mil anos
o livro II Crônicas [surgido por volta de 460 a.C]. Outros especialistas, não menos credenciados, atestam que o livro Jó, na cultura hebraica, remonta ao ano de 1653 a.C, anterior a própria Gênesis [esta escrita provavelmente em 1512 a.C], tratando-se Jó de
uma ficção literária oriental, de mais ou menos seis mil anos, compilada pelos hebreus,
interpolada, adaptada e acrescida de valores culturais próprios.
Gênesis 3, no quadro da tentação, menciona a Serpente como Demônio, na visão de
alguns estudiosos. O verso 5 daquele capítulo subentende o tentador [serpente] a acusar
o Criador, e nisto se apegam diversos especialistas em evidenciar a presença de Satanás
como o caluniador. O hebraico ‘nâhâsch’ significa feiticeiro ou praticante de culto ofilátrico, poderia ter sido erroneamente traduzido, como se fosse ‘nâhàsch ou naha^s’,
serpente. Infelizmente nenhum manuscrito original do episódio chegou até os dias atuais, e assim prevalece o estabelecido, ou seja, a serpente.
Sendo Satanás filho de Deus igualmente aos anjos, sem dúvidas trata-se de um ser criado, para aquele determinado objetivo que o próprio nome identifica.
A tradução grega do hebraico Xatan [Satan] é Diáblos [palavra no singular], com idêntico significado e que somente muito mais tarde, por volta dos Séculos II e III AD, ambos
se tornariam entidades distintas na tradição religiosa cristã, Satanás e Diabo, inclusive
com acréscimos de outras conotações como Caluniador e Inimigo, depois, Serpente e
Dragão.
Tendo por base as Escrituras, pode-se dizer seguramente que Satã é um anjo, criado por
Deus, como os anjos o foram, e que no princípio foi bom.
Mas Apocalipse 12: 9 identifica Satanás [Diabo] como sedutor de todo o orbe habitado
[céus – paraíso celeste –, terra e sabe-se lá onde mais], e que foi precipitado sobre a
terra e seus anjos juntamente com ele. O versículo 4 do mesmo capítulo 12, diz que a
terça parte das estrelas dos céus veio com ele [Satanás] que as atirou sobre a terra; Jó
38: 7 e Apocalipse 1: 20 são bastante claros que estrelas dos céus, biblicamente, podem
se referir a anjos.
Então, biblicamente, Satanás é o principal [maioral / chefe] dos anjos decaídos, porque
foi ele o causador da rebelião celestial, e que se fez Chefe dos demônios quando estes se
tornaram criaturas do mal para os hebreus e, posteriormente, também dos espíritos maléficos encarnados [os sátiros].
Satã como filho de Deus, traz evidentemente certo constrangimento à cristandade; se ele
é o pai da mentira [João 8:44], Deus seria. . .
Satanás, a considerar modernas concepções teológicas, a exemplo dos anjos divinos
[afinal ele também seria um anjo, inclusive Jó identifica-o igualmente como filho de
Deus], atua através de contínuas e delicadas operações nas esferas da metafísica e da
psique humana, cujas atuações e eficácias apontam para determinados acontecimentos
importantes na vida espiritual ou física, pessoal ou coletiva de todos nós.
Antítese de Deus, Satanás é, portanto, o centro único de todos os problemas da humanidade: corrupção, discórdia, crimes hediondos, banditismo, abominações, apostasia,
prostituição, ateísmo, heretismo e tantas outras conseqüências ou causas primárias, de
tudo aquilo quanto a Bíblia venha considerar ruim ou os cristãos assim possam acreditar
como nocivo e pernicioso.
Satanás às vezes confunde-se com Javé, em algumas características, e os cristãos, sem o
saber, acrescentam-lhes outras:
• O Anjo de Yahweh é a própria personificação do Deus hebreu, conseqüentemente, o Deus cristão. Em seus contatos terrenos, das teofanias, Deus sempre
surgiu em forma de anjo, às vezes Anjo Vingador ou Ira Divina [II Samuel 24:
1] que I Crônicas designa Satanás.
• O Anjo de Javé ou o próprio é chamado Destruidor / Exterminador, em Êxodo
12: 23, o que não o faz Hebreus 11: 28. Satanás é o Destruidor identificado em I
Coríntios 10:10.
Algumas ações de Javé, além de contraditórias são bastante pertinentes a um deus ruim,
tendo paralelo com AsmaDaeva, o pior dos demônios persas, chamado igualmente de
Destruidor, que a cultura hebraica absorveu como Asmodeu, com igual significado de
destruidor [Apócrifo Tobias 3: 8].
Satanás, conforme vista, é uma palavra vinda do hebraico (Satan) que significa acusador, como função diante de Deus, pelo Livro de Jó, enquanto para os biblistas Satã é
aquele cuja ação produz adversidade e acusação infundada; logicamente que infundada
é esta posição.
Diabo (do grego diábolos) é a tradução de Satã, mas na visão de alguns entendidos bíblicos, ele é outro agente do mal que, juntamente com Satanás, provoca dúvida e divisão.
Demônios que na Bíblia se refere [originalmente] às divindades pagãs, para os cristãos
são anjos decaídos, espíritos malignos, diabos, incumbidos de fazer pecar o ser humano,
com objetivos de levá-los ao inferno.
Teologicamente Deus e Satanás, ou as forças do bem e do mal, não se tratam de nenhum
drama de caráter subjetivo, ou de ficção, mas sim de um histórico processo de expansão
e revelação de forças espirituais antagônicas que, pela visão humana, não tem paralelos
na história do universo, algo, portanto, concreto e bastante vívido, a anteceder as origens do homem, ou até mesmo o surgimento do próprio planeta.
Para os cristãos, Satanás seria, assim, o condutor das forças do mal, com poder e astúcia, e que de forma sedutora atacou o reino de Deus e nele semeou a discórdia, com isso
a exigir pronta ação divina para expulsa-lo juntamente com os seus e precipita-los sobre
a terra.
No planeta, Satanás mostrou-se adversário à altura do Criador, ao destruir sua obra máxima criativa, ou seja, fazer-se perder o homem do sentido original para o qual foi criado: amor, adoração e vida eterna, situações estas invertidas e modificadas pelo Adversário, numa dramática altercação de tal magnitude que, ninguém menos que o próprio
Deus, se fez enviado necessário para resgatar a humanidade das garras do maligno.
A Bíblia diz que Satanás não apenas será vencido, como já se encontra derrotado e ciente de seu triste destino; os cristãos exultam esta verdade e ninguém nem ao menos cogita como serão as coisas se Satanás vencer.
PERFÍDIAS APOSTÓLICAS
-Embasamento: consultas interpretativas e descritivas na obra ‘Judas Traidor ou Traido?’, de Danillo Nunes, conforme citação.
O PERFIL DE CADA UM DOS DOZE APÓSTOLOS
1. PEDRO
“Tu és Pedro [Cefas] e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do
in-ferno não prevalecerão contra ela” (Mateus 16: 17).
Simão, que se tornou Simão Pedro a partir do versículo acima, é o primeiro citado dentre os apóstolos, talvez o maior deles em importância ao lado do ‘tardio’ Paulo, sem
dúvidas também o primeiro a se decidir pelo Mestre, embora não necessariamente o
primeiro a conhecer Jesus, segundo as Escrituras neotestamentárias.
Quem era tal homem que, uma vez diante de Jesus este não hesitou em chamá-lo ‘barjona’?
A Bíblia nos diz Pedro filho de certo João (Evangelho de João 1: 42), todavia alguns
copistas e tradutores bíblicos apontam-no, para acerto de situações e não constranger os
primeiros cristãos, como ‘filho de Jonas’ – ‘bar-Yonhah’, pouco a interessar textos
mais antigos que o ditam ‘bar-Yohanan’, isto é, ‘filho de João’.
O que isto importa-nos? Que diferença nos faz se era Pedro filho de João ou de Jonas?
Acontece que Barjona, conforme grafia aramaica utilizada nos livros sagrados, como
identificação complementar a Simão Pedro, significa ‘o fora da lei’ ou, mais propriamente para a época, militante do partido político nacionalista, proscrito, chamado Barjonin. Há séculos a língua hebraica deixara de ser falada pelos judeus, nos tempos de
Cristo ninguém mais se valia desse idioma, “portanto barjona [no aramaico] deve ser
entendido como alguém militante político e não filho de ...”, fundamentando-nos nos
estudos de Danillo Nunes em Judas Traidor ou Traído?
Há tendência geral, para as próximas edições [ou versão] bíblicas, que a citação filho de
Jonas venha prevalecer sobre o correto, contudo é impossível não reconhecer em Pedro
certas características impulsivas, cujos atos são próprios dum extremista político bastante acostumado a liderar, exigir e fazer-se respeitar dentro duma oligarquia informal que
ele próprio criara.
Mas porque Jesus escolheu e manteve ao seu lado um líder revolucionário, e ainda o
destacara dentre os demais companheiros?
Porque a mensagem de Jesus era política, tanto de libertação quanto de governo para
Israel, tão bem identificada por Simão Pedro cujos interesses estavam para o materialismo formal.
2. ANDRÉ
“Novamente, no dia seguinte, João [Batista] estava com dois de seus discípulos”.
“(...) e um deles era André, irmão de Simão Pedro” (Evangelho segundo João, 1:35
e 40). O ‘outro’ chamava João, filho de Zebedeu, cujo nome lhe foi omitido, pela modéstia daqueles que o homenageariam um dia, com o evangelho que leva seu nome; de
João Zabedeu, nos ocupa-remos mais adiante.
André parece-nos menos militante político que seu irmão Pedro, pois nenhuma vez é
mencionado ‘barjona’, seja por filiação paterna ou política, no entanto visto naquilo tão
pouco que a Bíblia lhe diz respeito, como um dos primeiros dentre os apóstolos a apro-
ximar-se de Jesus, conhecê-lo na intimidade e impressionar-se, todavia sem tomar posição de segui-lo ou a ele dedicar-se integralmente, o que somente viria fazer após decisão de Pedro (João 1: 35-42).
Esta atitude de André coloca-o assim submisso a Pedro, liderado e a ele solidário, posto
senão militante ou ativista político de primeira ordem, ao menos simpatizante dos Barjonins, não lhe sendo impróprio afirmar que jamais seguiria Jesus, sem a presença forte
de Pedro.
André, entretanto, tinha seu alto valor naquela comunidade, como homem da mais absoluta confiança do apóstolo Pedro, em especial ao fazer-se presença do irmão quando
este se ausentava do grupo, juntamente com Tiago e João, às vezes por longos dias, em
companhia do sempre imprevisível Jesus.
3. FELIPE
“E [Jesus] achou a Felipe, e disse-lhe: segue-me” (João 1: 43).
De Felipe (João 1: 43-44), diz-se dum liderado por Pedro, empregado deste conforme o
texto – verso 44 – que o apresenta como de Betsaida, mais propriamente ‘beth-saidan’,
ou seja, da casa dos pescadores, [local de trabalho em preparo de peixes para comercialização], onde Pedro e Zebedeu (ou os filhos deste) eram sócios numa empresa de pesca
(Lucas 5: 10), e tinham empregados (Marcos 1: 16-20). Alguns especialistas colocam
Beth-Saidan como aldeia ou pequena vila de pescadores, todos, porém concordes que ali
Pedro e Zebedeu eram estabelecidos.
Felipe está sempre abaixo dos irmãos Pedro e André, e João e Tiago, por isso muitas
vezes denominado pelos estudiosos como o quinto apóstolo. Numa passagem, João 12:
20-22, vemos Felipe submisso a André, consequentemente a Pedro, para aproximar-se
de Jesus, o que lhe evidencia dedicação, respeito e subordinação a Pedro.
4. SIMÃO
“E, quando já era dia, [Jesus] chamou a si os seus discípulos, e escolheu doze deles,
a quem deu o nome de apóstolos”; “e, [entre eles], Simão, chamado Zelote” (Lucas
6: 13 e 15).
Então, entre os apóstolos existia este Simão, identificado em Lucas 6: 15 e Atos 1: 13,
como Zelota, ou seja, membro do partido político de libertação conhecido como Zelote.
Certos estudiosos consideram o designativo ‘zelote’, oriundo do aramaico ‘qua-naan’,
para concluir que Simão era ‘cananeu’ e não membro integrante do zelotismo. Todavia,
nos textos mais antigos, “a letra inicial é diferente da do topônimo qan’ana e da do
etnônimo can’ana”; can’ana é traduzido por cananeu e qan’ana significa zelote
[zeloso] – trabalhos e referências de Danillo Nunes [Judas, Traidor ou Traído?] e
[PIBR, Bíblia Sagrada, notas de rodapé].
Também os zelotas, a título de esclarecimentos, são notoriamente conhecidos, na história
de Israel, como membros atuantes de um partido político de profunda inspiração religiosa. Conforme Danillo Nunes “foi o que levou Morrison [W.D.] a afirmar que a
‘grande fé dos zelotas’ de que os judeus seriam resgatados dos romanos, derivava
da convicção que tinham de ser ‘a raça escolhida por Deus’; de que ‘o fim estava
próximo’; o ‘invasor seria esmagado’ e o ‘Reino de Deus, com sede em Jerusalem,
em breve aconteceria sobre o mundo”.
A história registra os zelotas liderando levantes contra dominadores de Israel, em diversas ocasiões, bem lembradas a revolução de 66 AEC, a guerra de 70 onde morreram em
torno de um milhão e trezentos mil judeus, e a ultima das grandes guerras antes da Diáspora, a revolta rabínica nacionalista de 132 - EC, lidera por bar-Kochba [filho da estrela],
o único Messias reconhecido por verdadeiro pelos judeus da antiguidade.
5. TIAGO
“E [Jesus] subiu ao monte, e chamou para si os que ele quis, e vieram a ele”; “e
[chamou] a Tiago, filho de Zebedeu, e João seu irmão” (Marcos 3: 13 e 17).
Tendo já dois extremistas dentre os seguidores de Jesus, e dois pelo menos simpatizantes
devotados a Pedro, vamos aos irmãos Tiago e João, conhecidos como Boanerges (Marcos 3: 13), com significado por filhos do fogo ou do trovão, como ensejam certos tradutores das Escrituras, de qualquer maneira um apelativo referente a fogosos, dado quanto
ao caráter e ação política terrorista daqueles dois irmãos, observadas em Lucas 9: 54: –
“Senhor, queres que mandemos que ateiem fogo e os destrua?”
O versículo não deixa dúvidas tratar-se de ação humana, mesmo que algumas traduções
queiram substituir ‘atear fogo [incendiar]’ por ‘descer’. A versão Almeida acrescenta
ao verso referido: “[assim] como Elias também fez”, para justificar pretensões daqueles
violentos companheiros de Jesus. Tiago quanto João sabiam, não eram ignorantes para
tanto, que jamais fariam simplesmente descer fogo dos céus, como algo miraculoso.
Tiago [Atos 12: 2] viria ser o primeiro mártir dentre os seguidores diretos de Jesus, sem
esclarecimentos maiores do porque sua morte e não também a de Pedro, permanecendo
este encarcerado (Atos 12: 3), enquanto alguns dos demais companheiros colocavam-se
a salvo nalgum esconderijo, nos arredores da cidade (Atos 12: 12-17).
Confrontando textos bíblicos isolados, compreende-se que por volta do ano 43-44, conforme nos é dado entender, os judeus ortodoxos de Jerusalém irritaram-se com certas
concessões dadas a Paulo [o apóstolo tardio], pelos judeus messianistas, o que lhes desencadeou perseguições, exigidas pelos ortodoxos junto aos maiorais judeus e representantes do governo de Roma. Naquela época ainda não se aplicava o designativo cristão
para os seguidores de Jesus.
Não é improvável que alem de Pedro e Tiago tenham sido capturados juntos, ao lado de
outros fiéis menos famosos, porém apenas Pedro mantinha certos acessos junto a políticos situacionistas, senão conhecedor de policiais [soldados e carcereiros] subornáveis,
daí a narrativa de sua libertação estonteante, da qual somente não se pode atribuir ato de
milagre porque, uma vez liberto, Pedro fez apenas rápido contato com os companheiros
[escondidos], antes de pôr-se em fuga para nunca mais voltar a Jerusalém – Atos 12:117.
Tiago, a quem Herodes matou à espada, não teve a mesma sorte de auxílio angelical
acontecida a Pedro.
6. JOÃO
“Ora, um dos discípulos [João], a quem Jesus amava, estava reclinado no seio de
Je-sus” (João 13: 23).
Sem dúvidas João é o mais pretensioso dos apóstolos, com uma aparência toda especial
de humildade, todavia negando a eficácia dela – paráfrase bíblica.
João esteve ao lado do Mestre com nítidos interesses políticos e materiais, almejando
para si, assim como Tiago seu irmão, posição de destaque junto ao Rabino, quando da
instalação do reino terreno, a partir de Jerusalém (Marcos 10: 35-37).
Mateus 20: 20 coloca que teria sido a mãe de João e Tiago, quem fizera tal pedido a
Jesus, como expediente para acertar situações embaraçosas, de interesses políticos e
materiais, entre os apóstolos e primeiros cristãos.
Antes de fazer parte do grupo de Jesus, João foi discípulo do Batista (João 1: 35-39),
também amado [especial] posto como um dos dois que privaram dum momento particularmente extático do Batizador.
João não foi nenhum exemplo de passividade e amor, que seus seguidores tentam nos
passar através dos livros bíblicos, honrados com seu nome como de sua autoria: evangelho, duas epístolas e a Revelação, também chamada Apocalipse.
João era, como seu irmão Tiago, um Boanerges – terrorista incendiário – e dos ensinamentos dele, após o Pentecostes, se estruturaram os gnósticos – já pré-existentes – para
infiltrações na comunidade dos messianistas, com isso a causar o primeiro cisma entre
aqueles que um dia seriam chamados cristãos, conforme se vê em Atos 8:9 e seguintes.
De fato Félicien Challaye, em sua Pequena História das Grandes Religiões, às páginas
209, considera ultramarciônico o evangelho segundo João que, “escrito para místicos e
platônicos, absorve o Deus do Antigo Testamento no Pai”. Marcion foi um cristão
herético, fervoroso discípulo de Paulo, considerado “um dos maiores gênios religiosos
da humanidade” – da mesma obra de Challaye, páginas 220.
O Pontifício Instituto Bíblico de Roma, a título de posicionamento cristão, em Notas
Explicativas referente Atos 8: 10 entende que a referência “esse homem é a potência
de Deus, chamada a grande”; “é ao certo um termo esotérico da seita de Simão” ...
“Como quer que seja, temos aqui a primeira alusão ao movimento gnóstico, já préexistente àquele tempo, com suas teorias de potências, ‘eões’ intermediários entre
Deus e o homem e suas genealogias, a cujas infiltrações no ambiente cristão primitivo aludem também [as cartas segundo] Pedro, Paulo e Judas, e que depois recebeu o desenvolvimento máximo nas heresias gnósticas do século II”.
Mas o que nos interessa isso de João Zebedeu?
Com certeza não é desmistificá-lo da aura que lhe emprestam os cristãos, e nem despojá-lo do título ‘o apóstolo do amor’, mas tão somente classificá-lo como igual aos demais seus companheiros, isto é, imbuído dos mesmos interesses, material e político,
para suas aspirações, não hesitando recorrer a expedientes que possam promover contendas e discórdias, com isso minar grupos concorrentes, contrários aos seus interesses.
7. JUDAS TADEU
“Ora o nome dos doze apóstolos são estes (...) e Labéu, apelidado Teudas” (Mateus
10: 2-3).
Outro apóstolo de poucas referências bíblicas é Lebeu cognominado Teudas, identidade
que estudiosos pretendem como variante de Judas e Tadeu, daí a tradição Judas Tadeu.
De onde veio ou porque lhe foi dado o apelido que tem por significados ‘peito forte’ e
‘ardoroso defensor’?
Evidente que para designativo assim, Lebeu ou seria alvo de gozação ou merecedor do
título, fosse por algum gesto ou ato pelo qual se fez conhecido, ou, por haver participado de um grupo político-religioso, ainda antes da sua estadia com o Batista.
Não há razão para considerar o cognome Teudas como mero apelativo, se esse nem de
longe pudesse ser referência de possível passagem sua por algum grupo político messiânico. E foram muitos os Teudas, Tadeu e Judas, nomes comuns na região, que marcaram presenças revolucionárias em terras da Galiléia, Samaria, Judéia e circunvizinhanças, num período mais ou menos recente, em relação ao surgimento de Jesus ou João
Batista.
A aventura messiânica não foi exclusividade de Jesus, e nem algo tão incomum quanto
se pensa, a exemplo do que nos relata Marcos 9: 38-41 a respeito dum Messias surgido
na mesma época de Jesus, com realizações de obras e pregações tão semelhantes a ponto de confundir seguidores de um e outro. Também o próprio Jesus exerceu, ao tempo
de João Batista, durante algum tempo, ministério bastante próximo e com a mesma
mensagem inicial.
Atos 5: 36-39 menciona um homem conhecido por Teudas, líder messiânico fracassado
ou cabecilha de um bando de proscritos, como desejam algumas Igrejas. Josefo refere-se
a um líder revolucionário, também chamado Teudas, atuante entre 44-46, que no entanto não parece ser o mesmo do livro de Atos, vez que nesse a referência é dum fato já
consumado, por volta de 33-36, tratando-se de provável homônimo e apenas mais um
líder, dentre os tantos chefes de revoltas, em épocas diversas, na Judéia, Galiléia ou Samaria.
Se o autor bíblico ou o copista não cometeu justaposições, temos uma pista de quando
se levantou um outro cabecilha: “Depois dele [Teudas] surgiu, nos dias do recenseamento [que a história nos diz ser o ano 6], Judas, o galileu, que arrastou uma multidão atrás de si ...” – Atos 5:37.
Mais a título de curiosidade, esse levante político religioso liderado por Judas, foi o
mais sangrento dos enfrentamentos, até então, entre romanos e judeanos, onde praticamente engajaram-se todos os homens de Israel, em idade de luta, fossem eles ati-vistas
políticos ou não. Admite-se que José, esposo de Maria [mãe de Jesus], tenha morrido
num dos confrontos, no ano 6, quando o futuro Messias teria doze ou treze anos de idade, pela versão de Mateus.
Retornando ao apóstolo Lebeu, entendemos que ele tenha sido de fato um dos seguidores de Teudas [ou de Judas], provavelmente ainda bastante jovem, a manter, porém –
quando seguidor de Jesus – o mesmo ideal que lhe valeu o apelido de ‘ardoroso’, que
em aramaico lê-se, exatamente, Teudas.
Flávio Josefo, Antiguidades Judaicas, admite essas possibilidades, isto sem levar em
conta que Teudas, Judas, Tadeu, etc, são nomes bastante comuns entre os judeus da época. (7) - Trata-se da Revolta dos Gaulonites – em Gamala na Gaulonítide, além do
lago Tiberíades. Consta que os inícios dos acontecimentos davam-se através de táticas
de guerrilhas organizadas dos galileus, judeus, samariatanos e demais povos habitantes
da região, também subjugados por Roma.
8. TOMÉ
“Ora Tomé, um dos doze, chamado o Gêmeo (...)” (João 20: 24).
Tomé é um o apóstolo conhecido muito mais pelo seu gesto de incredulidade quanto à
ressurreição de Jesus, que por quaisquer outras obras pessoais.
De Tomé, algo nos chama atenção quanto ao seu cognome: Dídimo (João 11:16) com
significação de Gêmeo. A Bíblia não nos dá nenhum esclarecimento do porque ser Tomé chamado de Gêmeo, e alguns estudiosos – nada sérios evidentemente – referem-se
até que ele seria irmão idêntico de Jesus.
Para entendermos o significado daquele chamamento, encontramos resposta apenas no
apócrifo conhecido como ‘O Evangelho Segundo Tomé, o Dídimo’, cujo intróito informa “São estas as palavras secretas que Jesus, o Vivo, proferiu e que Tomé, Gêmeo de
Judas, escreveu:”.
-O apócrifo de Tomé era conhecido no século III, nos papiros de Oxyrhynchus, faltando-nos fontes ou referências anteriores. A transcrição de referido evangelho tem a assinatura de Maria Helena de Oliveira Tricca em Apócrifos – Os Proscritos da Bíblia –
Editora Mercuryo – 1989, às páginas 317 e seguintes.
A lógica nos indica que esse tal Judas, gêmeo de Tomé, devia ser alguém bastante conhecido e importante para simplesmente ser citado nominal, sem necessidade de nenhuma outra referência para época, o que nos permite concluí-lo uma das personagens,
Judas ou Teudas, certamente o mesmo que servira de inspiração a Lebeu.
Citações acima poderiam parecer vagas, não fosse uma referência bíblica quanto ao
caráter revolucionário e coragem de Tomé: “Vamos nós também e, [se preciso], morramos com ele” (João 11:16). As palavras de Tomé ocorrem num momento de discussão entre os apóstolos e Jesus, quanto a viabilidade ou não de se caminhar até Betânia,
onde Lázaro, amigo pessoal do Rabino, estava enfermo, e as discussões davam-se porque os judeus pretendiam matar o Mestre, ou fazê-lo prisioneiro. O ‘vai não vai’ acalorado provocou adiamento, de dois dias, para viagem do grupo em direção a Betânia.
Uns ‘entendidos’ referem-se a ocorrência gramatical, que permitiria duas interpretações
de referido versículo, tanto com significado de ‘morrer assim como morto estaria
Lázaro’, ou ‘morrer com Jesus, se necessário, nas mãos dos inimigos’. O texto é de
fato demonstração da coragem de Tomé, mesmo diante às perseguições e ‘aos perigos
por parte dos judeus’ em relação a Jesus e os seus [PIBR (Bíblia) – Notas Explicativas, página 1346/A], atestados em antigas cópias manuscritas, posto que nenhum original bíblico [Antigo e Novo Testamentos] chegou até os dias atuais.
Então Tomé tinha consciência daquilo que o esperava dentro do grupo de Jesus, onde
possíveis confrontos armados ou ataques de guerrilhas, não seriam novidades ou coisa
para se temer diante de inimigos, tanto os entreguistas quanto os dominadores, afinal já
fora treinado e certamente veterano em enfrentamentos da ordem, quando militante nos
campos de batalha, junto a seu irmão gêmeo.
Também, Tomé não acreditar no Mestre ressuscitado seria bastante compreensivo e
justificável, afinal seu gêmeo fora também um Messias que, uma vez morto, jamais retornara ao mundo dos vivos.
9. MATEUS
“E Jesus passando adiante dali, viu um homem que se chamava Mateus, assentado
na alfândega” (Mateus 9: 9).
Mateus Levi era publicano em Israel, o que equivale dizer cobrador de impostos e responsável pelos serviços aduaneiros, entre outras atividades próprias da função, a favor
dos romanos, portanto nada que fazer em companhia dum bando inexpressivo de galileus, políticos exaltados, sempre em caminhadas incertas de um lugar para outro, como
se em fugas constantes ou para despistar e fugir de perseguidores.
Senão por interesses políticos, e seu ato de seguir Jesus bem o demonstra, Mateus não
foi nenhum bom convertido religioso, vista quando, em vez do arrependimento pela
vida de exploração ao próximo que levara até então, promove grande festa de despedida, com outros publicanos e autoridades (Lucas 5: 29), como a apostar no êxito da missão libertadora à qual se engajara, por deferência especial de Pedro, embora já conhecesse Jesus desde tempos do Batista.
O que levaria o empresário [pescador] Pedro relacionar-se com o odiado Mateus cobrador de impostos, a ponto de ambos participarem duma mesma tão arriscada jornada?
Embora detestado pela população produtiva de Israel, especialmente de Cafarnaum onde era autoridade fazendária, Mateus sem dúvidas tinha todo aquele prestígio que o dinheiro pode ofertar posto ser rico, além de contatos com gentes mais poderosas e autoridades diversas, enfim um homem estudado e bem relacionado, o que fazia dele espécie
de embaixador do Nazareno e seu grupo.
Foi certamente pelo prestígio de Mateus e os recursos financeiros, investidos por ele e
seus amigos, para o sucesso da campanha de Jesus, que Pedro deferiu seu ingresso junto
ao seleto círculo do Rabino, evidenciando a materialidade consubstanciada da ambição
de ambos.
Tanto Pedro quanto Mateus, evidente Mateus muito mais, apostaram num grande negócio, optando pelo incerto triunfo da empreitada, desde que deixaram a segurança de seus
empregos.
Pedro, empresário da pesca, decepcionado com o destino final do Mestre, retornaria
àquilo que era seu (João 21), para novamente abandonar, aí sim definitivamente, a profissão de pescador. Por seu lado, Mateus perderia toda a segurança que o emprego lhe
dera, provavelmente conquistado pelo dinheiro ou pelo prestígio, senão ambos.
10. TIAGO – O FILHO DE ALFEU
“E [Jesus] nomeou doze para que estivessem com ele e os mandasse pregar” e
“[dos chamados], Tiago filho de Alfeu” (Marcos 3: 14 e 18).
Tiago, filho de Alfeu (Mateus 10: 3 e referências), não teve a fama e prestígio de seu
homônimo, filho de Zebedeu, e sua participação junto ao grupo de Jesus, talvez nunca
tenha passado como mera citação numérica.
Talvez a única razão para sua contagem como um dos doze apóstolos, se deva unicamente a seu irmão Mateus, considerando o evangelho segundo Marcos 2: 14, que cita
um certo Alfeu como pai de Mateus, com certeza tratando-se desse Alfeu a mesma pessoa vista em Mateus 10:3. Mateus, pelos que escreveram o evangelho que leva seu nome, parece-nos um tanto reservado em relação aos seus, pois não se refere uma única
vez, diretamente, ao pai, irmão ou qualquer outro membro de sua família.
Ainda assim entendemos que Tiago tenha exercido, dentro do grupo de Jesus, o mesmo
papel que André irmão de Pedro, ou seja, da absoluta confiança do irmão famoso, informante preciso e representante leal dentro das discussões e decisões menores do grupo.
Acreditamos que Mateus, pela sua cultura, conhecimento social e influência nos meios
judeu e estrangeiro, era dado a muitas e prolongadas ausências do grupo, numa espécie
de embaixador daquela comunidade junto às autoridades estabelecidas, que tão bem as
conhecia, além do relevante papel de negociar financiamentos ou recursos para a campanha do Rabino, junto aos ricos e influentes; daí a grande importância de seu irmão
que certamente fazia-se senão representante ao menos informante ao irmão famoso.
11. NATANAEL
“Jesus viu Natanael vir ter com ele” (João 1: 47).
A figura de Natanael é quase um mistério na Bíblia, mencionado apenas no evangelho
de João (1: 45-51 e 21: 2), talvez o único dentre os escolhidos a criticar, abertamente, a
seita religiosa dos nazarenos, da qual Jesus fazia (ou havia feito) parte.
O mesmo escritor de João menciona encontro anterior de Jesus e Natanael (versos 48,
49 e 50 do capítulo 1), antes que Filipe os apresentasse com certeza ainda nos tempos
que Jesus e aqueles que seriam os seus acompanhavam João Batista.
Quem foi Natanael?
Provavelmente tenha sido Bartolomeu, que faz parte do rol de apóstolos descritos nos
três evangelhos sinóticos (Mateus 10:3 mais as referências) e em Atos (1:13), sem uma
prova efetiva além da citação nominal: onde surge Natanael não aparece Bartolomeu e
vice-versa.
Quem é e porque fez parte do grupo de Jesus?
Ele foi comunicado por Felipe a respeito de Jesus e seu ministério, o mesmo Felipe que
antes de ser apóstolo [seguidor do Mestre] fora pescador, possivelmente empregado de
Pedro e sócios (família Zebedeu). Só com essa informação, já poderíamos pressupor
Natanael também pescador, uma vez ‘achado’ em Betsaida, o que bem pode identificálo provável companheiro de serviço de Filipe.
No evangelho de João 21: 2, Natanael é identificado como natural de Cana, na Galiléia,
e encontrava-se com Pedro, Tomé, João Zebedeu, Tiago Zebedeu e mais dois dos apóstolos (André e Felipe?), junto ao lago Tiberíades, onde Pedro e os irmãos Zebedeu mantinham a empresa de pesca, através de familiares.
Destes, à exceção quem sabe de Tomé, a tradição aponta os demais como pescadores,
que retornaram à profissão após o fim inesperado de Jesus; estudiosos compartilham
que aqueles ‘apóstolos haviam de fato voltado para a Galiléia, retomando sua costumeira profissão’ - Bíblia, PIBR notas explicativas às páginas 1362/A
A identificação dada que Natanael era de Caná, na Galiléia, não o identifica “qan’ana” –
militante zelote, e sim alguém [oriundo] da localidade de “Kefr-Kenna”.
12. JUDAS ISCARIOTES
“Depois de convocar os doze deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios
e para curarem doenças”; “e também Judas Iscariotes” (Lucas 9: 1 e 6: 16).
A Bíblia, e por razões óbvias, fala-nos tão pouco de Judas Iscariotes, que é extremamente difícil descrever sobre ele e, mais que isso, analisá-lo quanto às condutas ou razões que o levaram a trair o Mestre Jesus, após algum tempo de estreita convivência e
confiança mútuas.
Danillo Nunes [Judas Traidor ou Traído?], igualmente relata esta dificuldade, apesar do
seu vastíssimo conhecimento a respeito e pesquisas realizadas.
Pela Bíblia sabemos que Judas tomou parte no ministério de Jesus (Atos 1: 16-17 e os
evangelhos), o que significa não haver sido apenas admirador ou companheiro circunstancial de jornada, situação geralmente colocada em se tratando dos discípulos e não
apóstolos.
Consta ainda que Judas conhecesse Jesus, como todos demais apóstolos e muitos dos
discípulos, desde os tempos de João Batista, ou seja, ‘a partir do batismo de João’
(Atos 1: 21 e 22).
As Escrituras atestam que Judas em nada foi menor que qualquer um dos apóstolos;
como eles foi designado para missões de evangelização, expulsou demônios e curou os
enfermos (Mateus 10:5 e seguintes; Lucas 9:1 a 6).
Judas foi, no mínimo, o quinto homem de maior importância dentre aqueles que cercavam Jesus; os outros seriam João, Pedro, Tiago e o próprio Mestre. A sua condição de
responsável pelas finanças do grupo (João 12:6; 13:29), dava-lhe destaques e confiança
absoluta, não só de Jesus mas também de seus companheiros, dos quais recebera apoio
para exercício do cargo, portanto bastante hábil em matéria financeira e gerenciamento
[cuidados materiais e de bem estar] do grupo.
Os evangelhos sinóticos não deformam o caráter de Judas antes da ultima ceia, ape-nas
citam-no como ‘aquele que havia de trair o Mestre’; João, no entanto, o faz, julga-o,
antecipadamente. Vejamos:
1. Mateus 26: 6 a 13 diz sobre um jantar em Betânia, na casa de um certo Simão, acometido de lepra, e quando Jesus estava à mesa, uma mulher veio e derramoulhe [precioso] ungüento sobre a cabeça; o texto, versos 8 e 9, referem que os discípulos – aqueles mais próximos do Mestre – se indignaram com tremendo desperdício, pois que o ungüento poderia ser vendido por um bom preço e dar-se o
dinheiro aos pobres. Dar aos pobres significava evidentemente ser entregue a Jesus e, conseqüentemente, ao grupo.
2. Marcos (14: 3-9) descreve o mesmo assunto, informando que a mulher trazia ungüento de puro nardo num vaso de alabastro, e igualmente seus mais próximos
se indignaram com aquele desperdício que poderia render ‘mais de trezentos dinheiros que bem poderia ser dado aos pobres’.
3. Apesar de Marcos e Mateus concordes com os relatos, João (12:1-6) apresentanos história próxima porém com outros detalhes: não era mais na casa de Simão,
o leproso, que a cena desenrolara-se, mas na de Lázaro a quem Jesus ressuscitara
dentre os mortos; a mulher ungiu os pés do Mestre com o ungüento, não mais
sua cabeça, e a mais significativa das diferenças ou revelações: não são mais os
discípulos de Jesus quem indignam-se com o desperdício do ungüento, de cuja
venda se poderia render muito para os pobres, e sim unicamente Judas, e não
porque tivesse cuidado com os pobres, mas porque era ladrão e roubava tudo o
que se lançava no caixa [bolsa] do grupo.
Evidente que se João não esteve a mentir, certamente o fizeram Mateus e Marcos, havendo razões suficientes para admitir João como o falto com a verdade.
Das citações de João a incriminar Judas como ladrão dos cofres da comunidade (capítulos 12: 6 e 13: 29), qualquer especialista compreende os textos postos tardiamente [no
terceiro ou quarto século], com intenções de se forjar uma personalidade deformada,
para aquele que haveria de trair Jesus.
Porque resolvera Judas Iscariotes seguir Jesus, ser um dos mais fiéis dentre os discípulos, para depois simplesmente entregá-lo aos inimigos?
Certamente o grande segredo para entendermos Judas, e os motivos que o levaram em
busca dos dois grandes pregadores, João Batista e Jesus, encontra-se na seqüência de
seu nome, ou seja, Iscariotes, como também era conhecido Simão, seu pai (João 13: 26
– tradução PIBR).
Tal designativo, segundo especialistas, derivaria do hebraico ‘isch-kerioth’, homem de
Kerioth, hipótese que prevaleceu durante séculos, ainda hoje adotada por muitos teólogos vinculados a certos credos religiosos.
A dificuldade para se localizar uma aldeia ou cidade de nome Kerioth, na Bíblia ou em
qualquer geografia da antiga Palestina, tem suscitado dúvidas entre os especialistas se
realmente Iscariotes seja referência ao local de origem de Judas.
O livro de Josué 9: 17, menciona a cidade de Cariat-Jearim cujo nome traz certa proximidade com Kerioth; ainda no mesmo livro Josué 15: 15 e 15: 25, encontramos Cariat-Sefer e Cariot-Hasrom, mas nenhuma destas localidades apresentam-se, pelo próprio
significado de nomes, como a cidade natal de Judas. Cariat significa cidade de alguém
ou de alguma coisa, por exemplo, Cariat-sefer é cidade do livro ou da sabedoria.
Também Jericó, tão bem conhecida na Bíblia, não é certamente a localidade pretendida,
pois a nominação Jericote como corruptela donde derivaria Iscariote, é mera especulação daqueles que pretendem acertos ou justificativas bíblicas para citações incertas.
Josefo, em suas Antiguidades Judaicas menciona certa localidade de nome Koreae, citada por Danillo Nunes, autor que pretende Judas como de origem judia.
Muitos exegetas atuais, acreditam que Isacariotes seja originário de Sychar, um povoado samaritano mencionado em João 4: 5, com referências bíblicas no Livro de Gênesis 33: 18-19 como a cidade de Siquém (nome próprio do fundador); na mesma Gênesis
48: 22 diz-se da localidade como ‘extensão de terra’, em hebraico ‘sëchem’, uma paranomásia com Siquém. Informa-nos o Pontifício Instituto Bíblico de Roma [PIBR] nas
notas explicativas sobre João 4: 5, que Sychar seria uma aldeola de Siquém.
Judas pode ser posto, portanto, is’sychar ou isch’sycar, o homem de Sychar, que faculta toponímia ‘ischarioth’, nesse caso Judas seria samaritano e não judeu de pura
origem.
Os judeus, desdenhando galileus e samaritanos, pelas condições de gente rude, hu-milde
e mestiça, não desperdiçavam oportunidades para demonstrações de intolerância àquelas
gentes, como exemplo a Galiléia – Galil-há-goim (círculo dos gentios) em João 7: 52.
Da mesma maneira, poderiam eles [os judeus] denominarem de Sicária a facção terrorista dos Zelotas [partido político], seja pela origem ou sede da organização em Sychar [na Samaria], seja em função do nome do líder Abba Sykara [possível fundador ou
organizador da facção], ou, ainda, apenas mais uma demonstração depreciativa dos judeus aos samaritanos de Sychar, posto que sicário teria o mesmo significado pejorativo
que assassino.
Assim, Judas ser um sicário, o temos na qualidade de idealista político, ainda que extremista, em luta pela libertação de sua pátria [de resto toda Palestina] do jugo romano,
além da destituição e pena capital para os ‘vendilhões e entreguistas’ vistos nas classes
sacerdotais e elite, desde sempre à disposição e serviços dos dominadores.
Assim, visando interesses políticos de libertação pátria de mãos opressoras, mesmo que
para isso se necessário a guerra, ou de desejar para si – a Bíblia não diz isso dele – bem
estar próprio e participação política num novo governo, porventura formado, em nada
disso Judas Iscariotes foi diferente dos demais apóstolos.
Discutível a morte de Judas, a história hoje parece inclinada a reabilitá-lo numa visão
que ele apenas cumprira desígnio divino e não se furtou às responsabilidades. Colabora
para esta reabilitação o recém descoberto apócrifo Evangelho de Judas, um texto copta
manuscrito com vinte e seis páginas, do século IV, onde Judas pede perdão e Jesus o
perdoa.
O texto copta seria uma copia de um documento cainita do primeiro século; para os cainitas a traição fazia parte do desígnio divino para redenção da humanidade, e sem o ato
toda humanidade estaria perdida em termos de salvação. Irineu, um santo católico da
Igreja Primitiva, em seu Contra as Heresias – ano 180, condena a existência de um texto
atribuído a Judas, mais propriamente aos Cainistas.
Entendemos que referido apócrifo é de origem gnóstica, da seita dos Cainitas, que tinham por ato de fé contestar valores cristãos ou messianistas, no costumeiro positivismo
às negatividades judaico-cristãs. – valor positivo às figuras negativas.
MINISTÉRIO DE JESUS: ANÁLISE BÍBLICO-HISTÓRICA
A história do ministério de Jesus inicia-se em Mateus 3:13 e seguintes, quando ele, a
exemplo de outras gentes de toda Israel, apresenta-se a João Batista para ser batizado,
um encontro que bem poderia ser tão rápido quanto o ato da imersão ou aspersão, no
entanto bem mais duradouro e marcante, pois Jesus permaneceria junto ao Batista ainda,
tempo suficiente para vir conhecer todos aqueles que, um dia, fariam parte de seu seleto
grupo de colaboradores.
Se bem conhecemos Jesus pelos evangelhos, quem seria aqueles pelos quais o Mestre
viria tanto se interessar, a ponto de subtraí-los do grupo do Batista?
Resposta nada fácil, já passados quase dois mil anos e apenas vinte e sete livros, cópias
de cópias de originais que ninguém viu e ninguém sabe se existiu.
Apesar de quaisquer objeções temos de fato a história de um deus que se fez homem e
habitou entre nós, para realização de uma obra tal, nada mais nada menos que a instauração do reino dos céus na face da terra, evidentemente a partir de Israel. E esse ‘deus
conosco’ [Emanuel] achou por bem, porque assim previa as Escrituras, principiar seu
ministério redentorista exato quando ainda discípulo do batizador, o que lhe confere
elevado grau de distinção e honra entre os homens.
Mas não nos interessam, no momento, as predisposições escriturísticas judaicas para
advento de tremenda magnitude, pois que nossa história inicia-se a partir do instante
que toda nação Israel voltava-se atraída pelos discursos de João Batista, e não apenas o
homem deus e seus discípulos.
O que pregava o Batista para despertar tantas atenções e trazer uma multidão, através do
deserto, às margens do Jordão?
Para a [mesma] mensagem anunciada há séculos, o Messias Libertador prestes a chegar,
boa nova essa de tremenda importância para aquele povo, desde sempre oprimido por
mãos estrangeiras, que nem lhe importavam mais os tantos fracassos recentes para a
época, entre os anos 6 e 28, das dezenas de redentores com aquela promessa que equivaleria ao povo judeu, a restauração de tudo que se havia perdido: a pátria, a dignidade, a
moral, a religião dos ancestrais e até o próprio Deus [Yavé], que há quatro séculos os
havia abandonado, ainda a se recusar terminantemente produzir os grandes milagres
salvacionistas de outrora.
Apesar dos textos deformados pelos tempos e interesses de credos dominantes, para a
divinização do Cristo em detrimento a João, ainda assim encontramos a presença forte
do batizador sobre o ministério de Jesus, como a desafiar os séculos numa intrigante e
constrangedora situação aos cristãos: o que faziam realmente Jesus e os apóstolos juntos
do Batista?
Não vamos nos arrastar à ingenuidade que a concepção redentorista, prometida para o
povo eleito de Yavé, aconteceria no plano espiritual, com João Batista o predecessor do
Cristo para instauração de um reino a nível celestial pós-morte.
Ora, o assunto estava para o povo judeu onde sempre deveria estar, ou seja, no plano
das materialidades, pois há que se considerar o desejo de Israel estabelecer-se como
nação livre, sem opressões e dominações estrangeiras, com liberdade para a efetiva implantação, em glória e paz dum governo teocrático, conforme cultura e tradição, aqui
mesmo na terra, cujo rei fosse representante direto de Deus, senão o próprio Yavé encarnado.
Desde a identidade nacional o povo judeu quase não conheceu soberania territorial, governo livre e povo capaz de decidir os próprios rumos a seguir, portanto para essa libertação nacional pretendida, o povo esperava pela vinda do Messias Libertador que, uma
vez vitorioso, restabeleceria o reino em Israel.
Lucas 3: 15 mostra que o povo judeu buscava em João Batista, exatamente a figura do
Messias [Cristo] prometido. Também o discurso de João Batista correspondia a essa
ansiedade do povo, cuja mensagem político-nacionalista, não há estudioso que possa
negá-la, estava a ensejar não só a libertação de Israel de mãos estrangeiras, mas também
fornecer nova idéia revolucionária calcada no profetismo: - “Eis que se aproxima o
reino dos céus ... preparem o caminho e aplainem as veredas” (Mateus 3:2-3 e refe-
rências).
Que outros significados teriam tais palavras para os judeus senão a exortação ‘mudai os
pensamentos, sentimentos e procedimentos, que em breve Deus estará a reinar diretamente sobre Israel, pela teocracia, através do Messias prometido?’
A pregação do Batista tinha, portanto, fortes conotações políticas, pró-libertação de Israel, praticamente bem-vindas a todos partidos políticos da época, os tolerados e os
clandestinos, alguns disfarçados às vezes num manto aparentemente religioso.
O discurso de João não era messiânico, a critério de ser ele o Messias – sempre negou
sê-lo assim como jamais admitiu ser um profeta – o que não o exclui das pretensões, em
tempo oportuno como qualquer político, mesmo de nossa época, pela aclamação ou exigência popular.
João Batista colocava-se estrategicamente predecessor do Messias, para a preparação,
isto é, a conscientização do povo quanto à exigência dum levante em Israel, prólibertação, tão logo o surgimento do esperado líder, que certamente seria ele mesmo.
Jesus valer-se-ia também dessa estratégia, num futuro mais ou menos próximo.
Admitir alguém ser o Messias era o mesmo que colocar-se rei pretendido, o que significaria primeiro obter antes o respaldo popular, através dos discursos, obras, evocações ao
profetismo ou a simpatia dos sacerdotes (estes últimos desgastados junto ao povo), o
que justifica da parte do Batista, o excesso de precaução em não se declara o Messias ou
Profeta como tática para não despertar, prematuramente, a ira dos situacionistas.
Por alguma razão ou outra, todas ou nenhuma delas, muitos chegavam ao Batista e por
ele eram doutrinados, na expectativa de ser um deles possivelmente revelado, ou desperto, para a situação de Messias, atributo que o batizador procurava identificar em cada
indivíduo que dele se aproximava; isto também uma tática de extraordinário efeito, pois
assim João mantinha unido em torno de si os mais diversos líderes políticos e religiosos
distintos.
Por ora admitamos que Jesus foi ter com o Batista, apenas para que se cumprissem as
Escrituras, acerca daquilo que foi dito da parte do Senhor, conforme o evangelho segundo Mateus induz-nos acreditar, mas com relação a Pedro, André, Judas Iscariotes e
todos aqueles que um dia fariam parte do grupo de Jesus, inclusive Matias que num futuro ainda mais longo viria substituir Iscariotes (Atos 1: 21 a 23), não podemos afirmálos que foram em busca do batizador, somente com intenções espirituais.
Exatamente das reais intenções que levaram aqueles homens ao Batista, depois a Jesus,
que vamos identificá-los materialistas, já nas condições postas de apóstolos do Nazareno, conforme exposições abaixo.
POR QUAL MOTIVO A TRAIÇÃO?
1. JUDAS TRAIU JESUS POR AMBIÇÃO E FORTE APEGO ÀS
MATERIALIDADES
Argumentação: É bastante comum entendimento cristão que a ambição de Judas ao
dinheiro, fê-lo a trair Jesus, de livre e espontânea vontade. De fato Mateus 26: 14 e 15,
diz que Judas foi ter com os principais dos sacerdotes, e com eles acertou, por uma
quantia em dinheiro (30 moedas de prata), entregar-lhes Jesus.
Que a prisão e morte de Jesus já estariam acertadas pelas autoridades constituídas em
Israel, bastando apenas saber quando e como o fariam, sem causar alvoroços e reações
populares daqueles que seguia o Mestre; então a oferta de Judas em entregar-lhes Jesus,
alegrou aqueles que já haviam decidido por isso, e convieram em dar dinheiro àquele
que lhes prestava tão grande favor, segundo Lucas 22: 5.
Judas, que era de má índole, portanto traiu Jesus de livre e espontânea vontade; poderia
não fazer, mas o fez movido pela ambição ao dinheiro.
Contra argumentação: Se a ambição estivesse em Judas, mais interessante seria manter-se ao lado de Jesus, uma garantia certa de entrada de recursos cada vez maiores nos
últimos tempos, do ministério de Jesus, com adesões de pessoas bem situacionadas;
havia ainda a possibilidade de triunfo do movimento e certamente Judas faria parte do
governo a ser instaurado.
2. PREFIGURAÇÃO: SALMOS 41:9 OU 10, CONFORME TRADUÇÃO / VERSÃO:
“Até meu íntimo, que gozava da minha confiança, que partilhava o meu pão, levantou-se contra mim à traição” (Salmos 41: 9 ou 10, conforme versão).
Argumentação: Judas predispôs-se para cumprimento integral das profecias, acerca do
Messias Sofredor, vistas, por exemplo, em Isaias 52: 13-15 e 53: 1-12, ratificada em
Atos 1: 16, “irmãos, era necessário se cumprisse o que na Escritura o Espírito Santo predisse pela boca de Davi, acerca de Judas, que se tornou guia dos que prenderam a Jesus”.
Desde que Jesus admitiu ser o Messias, Judas procurou por seu lado enquadrar-se também nas Escrituras e assim cumprir seu iníquo papel. Lucas 22: 3 relata que “entrou,
porém, Satanás em Judas”, e a partir desse instante Judas buscava oportunidade para
entregar Jesus às autoridades, o que implica vacilação do ex-apóstolo que deu lugar ao
Demônio, motivado pela ambição pessoal, além de colocar-se ao dispor das forças infernais, para que Jesus tornasse um fracassado.
Judas não era predestinado àquilo, poderia ser outra pessoa, mas sua ambição pelo dinheiro e entrega pessoal a Satanás, o levaram a cometer tão estúpida ação.
Contra argumentação: Judas, conforme nos é dado entender, e as Escrituras apóiam
semelhante tese, tinha interesses materiais em seguir Jesus, conforme todos demais seguidores do Mestre, a-pectos em que nada tendo de espiritual jamais Judas iria predispor-se ao cumprimento de qualquer profecia que fosse. Jesus enquadrava-se no papel de
Messias Redentor, sendo isso o que dele esperavam os apóstolos, pois que nunca Jesus
posicionou-se como Messias Sofredor. Nos conciliábulos, Marcos 10: 29-30, a promessa de Jesus era a instauração dum reino terrestre, a partir de Israel, e era isso que desejavam os apóstolos. A eventualidade de Judas ser possuído por Satanás, para cumprimento da traição, leva-nos absolvê-lo de qualquer má ação referente.
3. JUDAS SERIA MAU CARÁTER:
“Ora, ele disse isto, não pelo cuidado que tivesse dos pobres, mas porque era ladrão, e tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava” (João 12:6).
Argumentação: Judas seria mau caráter desde que se aproximara de Jesus, e há muito
vinha roubando os próprios companheiros.
O ato da traição foi apenas seqüência de um desajustado social, que não soube resistir a
oferta em dinheiro oferecida, para entregar Jesus às autoridades numa melhor oportunidade, de modo que não viesse causar problemas com aqueles que seguiam o Mestre.
Judas já era do Diabo, porém Jesus o manteve no grupo porque era necessário cumprir
as Escrituras.
Contra argumentação: Se Judas esteve no grupo de Jesus durante todo o ministério, à
exceção dos dois últimos dias, e ainda assim era mau, difícil compreender sua sorte na
campanha mencionada em Mateus 10, salvo se Jesus nada tinha de profeta, era ingênuo
ou estava assim determinado ao cumprimento das profecias. Por outro lado, manter Judas no grupo, sabendo-o do diabo e não o curando conforme agia com outras pessoas,
apenas para que se cumprissem as Escrituras, Jesus era muito mais terrível que Judas e
seu messianismo apenas parcial.
4. AMBOS PREDESTINADOS?
“Estamos a falar da sabedoria de Deus, envolta em arcanos [mistérios], sabedoria
entendia, que, antes dos séculos, Deus já havia destinado para a nossa glória. Nenhum dos príncipes deste mundo conheceu, porque de fato a tivessem conhecido,
não teriam, ao certo crucificado o Senhor da Glória (I Coríntios, 2: 7-8).
Argumentação: Havia disposição e necessidade divina de se fazer oculta e impenetrável às forças infernais, de como se daria realmente o plano da redenção da humanidade,
por Cristo Jesus.
Se a tríade LSD (Lúcifer, Satanás e Demônio) tivesse conhecimento antecipado dos
planos de Deus, certamente teria evitado os impulsos das autoridades de Israel em aprisionar e matar Jesus, inclusive também o ato de Judas em trair e entregar o Mestre àqueles que o buscavam para a crucificação.
O plano espiritual da redenção exigia o sacrifício do filho de Deus, tal qual da maneira
ocorrida, com um traidor predestinado.
Ato cruel de Deus para com Judas? Não, se ele não poupou nem seu próprio filho, antes
o entregou à morte por todos nós, o que significaria Judas, no contexto das coisas?
Deus em sua presciência predestinou, uns para salvação, outros para perdição, por aquilo que se pode entender de Romanos 8: 29 e seguintes, nisso a Jesus o destino final de
sua missão, enquanto a Judas o seu quinhão participativo.
Contra argumentação: Prevalecendo tese da predestinação, nada se tem por discutir,
até porque não se pode e nem há como nos referirmos à justiça divina. Se a traição tenha
sido livre-arbítrio, a anulação salvacionista é de pronto, pois que Jesus para redimir a
humanidade não precisava em absoluto da morte, e morte de cruz; mas isso em si já
seria admitir contradições quanto ao messianismo prático de Jesus e as argumentações
escriturísticas.
5. O QUE REALMENTE SE PASSOU ENTRE JESUS E JUDAS, SEGUNDO OS
EVANGELHOS?
Argumentação: João 13:26 [u.p] ao 30 – “O que tens de fazer, faça-o logo. E ne-
nhum dos que estavam assentados à mesa, compreendeu a que propósito [Jesus]
lhe dissera isto [a Judas]; porque como Judas tinha a bolsa, pensavam alguns que
Jesus lhe teria dito: compra o que nos é necessário para a festa; ou que desse alguma coisa aos pobres. E, tendo Judas tomado o bocado, saiu logo. E era já noite”.
O texto bastante conhecido, pouco compreendido, é aquele em que Jesus prediz, pela
vontade dos biblistas, que Judas o há de trair.
Contra argumentação: Ora o texto é bastante claro, que ninguém dos próximos de
Jesus o que Jesus confabulara com Judas, e o fato de que Judas viria trair o Mestre somente mais tarde poderia ser colocado.
Efetivamente Jesus não se pronunciou a respeito diante dos demais apóstolos, Judas
também não, então todo acrescido foi apenas mera especulação.
O que se sabe é que os apóstolos nada sabiam, onde acréscimos ou acertos posteriores
não ajustam situações, pois se era noite não era hora de comprar nada [e ainda estavam
ceando], e se ninguém ouviu ou entendeu o que Jesus e Judas conversaram isto pode ser
tudo ou nada do que imaginavam.
Se o que se tem a respeito não nos permite deduzir nada além daquilo que está escrito,
então nada se deve pressupor para ajustes de situações.
6. DAS OUTRAS ESPECULAÇÕES PRETENDIDAS E AS RESPOSTAS EM SI
MESMAS
Era mesmo preciso o ato da traição para se prender Jesus?
Ora, os sacerdotes e autoridades sabiam quem era Jesus e não lhes seria difícil prendêlo, com isso a desnecessidade do ato da traição.
Mas, se Judas realmente entregou Jesus, alguma razão deve ter tido para isso, e considerações bíblicas possíveis são mencionadas por alguns biblistas, como justificativas para
tal acontecimento, conforme algumas transcritas.
• Judas optara por um ministério próprio, tal qual Jesus fizera em relação a João
Batista, e nisto estaria o ato da traição.
• Pedro teria seguidores, liderados ou companheiros políticos [barjonas extremistas, infiltrados ou não] entre os discípulos de Jesus, os quais em algumas situações o haviam livrado de certos perigos, conforme se pode concluir das citações
bíblicas. Posto isto, seria bastante arriscada a prisão de Jesus, sem algum elemento infiltrado para a escolha do momento de se prender Jesus ou mesmo identificá-lo entre outros tão iguais (vestimentas e capuz).
• Uma multidão sempre estaria junto de Jesus, e somente em raras ocasiões o
Mestre recolhia-se para meditações, às vezes acompanhado por apenas três apóstolos (Pedro, Tiago e João) – Mateus 24. 30 –. Era preciso alguém que soubesse
detalhadamente dos passos de Jesus com certa antecipação, e isto coube a Judas.
• Jesus e Judas simbolizavam, desde o princípio, o bem e o mal. Ambos predestinados aos acontecimentos antes da fundação dos séculos, atos sem os quais não
haveria redenção da humanidade. Judas seria o mal necessário para que o projeto
divino de reintegração do homem se realizasse plenamente.
Deus encarnou-se homem para a realização de sua obra redentorista. Satanás
fundiu-se em Judas para que o plano de salvação não viesse se realizar.
• Não existiu nada disso, o que houve foi apenas transposição da história dos samaritanos para os judeus, pela Igreja Primitiva, quando da necessidade de se dar
historicidade a Jesus e sua obra de redenção. Os samaritanos – filhos de José –
eram os elegidos de Deus, isto é, deles é que sairia o Messias, enquanto Judá
[Yuda, o irmão que traiu e vendeu José] era o símbolo do mal, da traição. Fundamentalmente, tomando-se versão bíblica samaritana, este é o verdadeiro sentido das ocorrências.
• Judas traiu Jesus porque esperava deste um grande e verdadeiro milagre não acontecido ou realizado. Entregando o Mestre nas mãos do inimigo, obrigaria Jesus a decidir-se e mostrar para o que viera e se era ou não Deus encarnado homem.
De tudo valem argumentações, embora estas somente fundamentadas em dados bíblicos, jamais históricos. Todavia ainda assim é possível traçar motivos que levaram Judas
a trair o seu Mestre, entre as quais podemos destacar:
•
A) ALGUÉM QUE REALMENTE SABIA QUEM ERA JESUS
Pressupondo existência histórica, Jesus era pessoa bastante popular [pelo menos deveria
ser], sempre cercado de multidão pronta a defendê-lo, além de políticos extremistas,
representados pelos apóstolos, capazes de atentados e atos suicidas, portanto arriscado
prende-lo sem causar tumultos e sacrifícios inúteis de vidas humanas.
Nisto seria preciso um infiltrado ou alguém que intentasse entregar o Mestre, que viria
facilitar capturá-lo nalgum lugar ermo, numa hora em que estivesse o mínimo de pessoas ao redor do Mestre.
Conhecedor dos hábitos de Jesus, onde encontrá-lo e a melhor hora, inclusive para identificá-lo entre os seguidores todos assemelhados pelas vestes [e capuz], Judas seria de
extrema importância aos perseguidores, embora no ato da prisão Jesus tenha se apresentado antecipadamente, tornando desnecessária referida identificação. Acreditamos ainda
assim não termos os motivos reais da traição, embora especialistas sustente que trinta
moedas significassem soldo de três anos de um soldado romano, conforme Danillo Nunes expõe em sua obra citada neste trabalho. Justificamos: adeptos e financiadores da
campanha de Jesus aumentavam dia a dia e com isso os rendimentos, onde Judas se ganancioso e ladrão, não abandonaria a possibilidade de rendimentos maiores, pois vivo e
em liberdade Jesus significaria lucros bem maiores que as trinta moedas.
B) DA NECESSIDADE DE SE OPERAR UM MILAGRE GENUÍNO
Muitos estudiosos independentes entendem que Judas quis realmente comprovar se Jesus era mesmo o Messias, entregando-o para com isso forçá-lo a realizar o milagre de
anjos acorrerem para sua libertação.
Algo assim teria duas possibilidades de realizações, nenhuma delas favorável a Judas,
quais sejam: ‘se o milagre não ocorresse [e Judas esperava por isso], cessariam seus
lucros; no entanto, se os anjos socorressem Jesus, Judas não seria nada bem visto
por aquele a quem entregou e nem por ninguém’.
Ele, Judas, conhecedor de todas as potencialidades do Mestre, não se arriscaria assim.
C) DE ALGUM ATO DESONROSO E MERECEDOR DE TRAIÇÃO
Sustentam alguns críticos que Judas identificara em Jesus algum ato desonroso e/ou de
covardia, sentindo-se traído pelo Mestre, por isso resolveu entregá-lo às autoridades.
Mas que ato seria este assim tão terrível, para que se possa justificar a atitude de Judas?
A Bíblia nos dá elementos possíveis para referida e necessária identificação, de pelo
menos um bom motivo para Judas delatar Jesus. Para isso, todavia, é necessário ter em
mente aquilo que os apóstolos e seguidores realmente esperavam de Jesus, ou seja, de
sua liderança fundamentada na promessa de se restaurar o reino [político e religioso] de
Israel.
Mateus [21: 1-17 e referências] traz a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, aclamado
rei libertador de Israel: “Bendito o Rei que vem em nome do Senhor” (Lucas 19: 38).
Mateus avança com a afirmação que referido acontecimento dava-se para cumprimento
das antigas profecias vistas em Zacarias 9: 9-10 e 14:4 a 16, além de Isaías 62: 11.
Citadas passagens bíblicas são fundamentalmente políticas e de libertação nacional,
como a restauração do reino e o retorno às antigas formas de religiosidades. Jesus encarnara exatamente isto quando se predispôs entrar em Jerusalém, conduzido pela multidão cuja intenção era, sem dúvidas, a tomada do poder; pensar o contrário, que a motivação de Jesus seria outra, é o mesmo que lhe atribuir inocência diante daquilo que ele
próprio representava diante do povo.
Destarte, a entrada do Mestre em Jerusalém, mesmo conforme narrado pelos evangelistas, foi ato político pensado com bastante antecedência, programado e enfim posto em
execução exatamente numa data cívica religiosa, onde acorreria grande multidão, presenças certas não só de religiosos oficiais e excluídos, como dos marginalizados sociais,
frustrados, perseguidos, promotores de atentados terroristas, e mais um contingente de
revoltados facilmente manobráveis e prontos às ações numa primeira provocação ou
ordem, posto Israel num período de intensa agitação política pró-libertação pátria.
Não se pode ignorar que Jesus seguiu, portanto, um plano traçado indo diretamente ao
Templo, para dar início à rebelião posta em prática, através de seu ato de agredir comerciantes estabelecidos nas proximidades (Lucas 19:45-48), como o sinal para a revolta,
um expressivo gesto do qual valeram-se os zelotas, barjonins e nacionalistas outros de
primeira ordem, para estabelecimento de violenta insurreição popular cujo tumultuo
ganhou ruas e praças, numa crescente desordem e violências, num contagiante conflito
de proporções, até o momento do confronto final com os defensores romanos.
É impensável que o gesto agressivo de Jesus, diante dos comerciantes, não viria desencadear aquela revolta popular.
A ausência de historicidade de Jesus, em especial quanto à época, não nos permite identificação exata de algum motim conforme narrado pelos evangelistas, no qual viria dentre os presos destacar-se certo Barrabás. Todavia a despeito da deficiência histórica e
das divergências entre os narradores bíblicos, ainda assim é possível reconstituir um
quadro completo daquela revolta popular, sem dúvida iniciada por Jesus junto daqueles
que o aclamou rei.
Identificação maior de algum acontecimento próximo cita-nos Lucas 13:1-5, sobre galileus massacrados, num episódio conhecido por “queda da Torre de Siloé”, sabendo-se
que aqueles insurretos postaram-se em referida fortaleza, tomada pelos romanos depois
de intensos combates, a culminar com a morte de dezoito rebeldes e prisão de muitos. O
mesmo autor do evangelho segundo Lucas informa, capítulo 23: 18-19, que dentre os
presos pelos romanos estava Barrabás, “um tal que fora posto na cadeia por causa de
uma insurreição que tinha havido na cidade [Jerusalém] e por um homicídio”;
Marcos 15: 7 corrobora com a assertiva ao dizer Barrabás um dentre os amotinadores
presos e que num motim co-metera uma morte.
O relato de Lucas 13, pelos analistas, é considerado nebuloso nos primeiros versos, em
relação ao que se segue, ou seja, extemporâneo dentro do contexto daquele capítulo,
embora não se possa objetar que fatos descritos remetem-nos, sem dúvidas, ao episódio
da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém.
Posto isto, entende-se conforme exposto e aqui repetido para maior compreensão, que
seguido ao gesto de Jesus contra os mercadores, ocorrera violenta manifestação popular
com sérios confrontos entre soldados e multidão, a culminar com combatentes do povo
sitiados na torre de Siloé, esta posta abaixo pelos romanos numa resultante de dezoito
mortos dentre rebelados, prisão de muitos, entre os quais o tal Barrabás que, em breve,
seria imortalizado como pivô de uma história que há dois mil anos acompanha a humanidade, o que não nos interessa no momento.
Jesus diante da irrupção popular e da violenta reação dos soldados a serviço dos governantes de Roma, segundo narram os evangelhos, retirou-se ligeiro do local, deixando os
revoltosos à deriva, a ignorar inclusive os sitiados junto da Torre de Siloé.
O ato do Nazareno foi, sem dúvidas, covarde, pois que deixar conduzir-se pela multidão, que o aclama rei, e dar início a uma revolta popular para depois refugiar, sem dúvidas não foi das suas melhores ações. É impossível não imaginar a decepção daqueles
que nele depositavam crenças, esperanças e bens materiais; para aqueles mais próximos
de Jesus, os apóstolos e alguns discípulos, a decepção talvez tenha sido ainda maior, um
ato de traição às causas propostas.
Mais outra decepção ocorreria, pela narrativa de Marcos 11: 27-28 quando Jesus, interpelado pelos principais dos judeus acerca dos acontecimentos, do dia anterior [acima
narrados], mostrou-se omisso das responsabilidades. Se não bastasse esta infâmia, Jesus
em seguida [Marcos 12: 13-17] revelou-se colaboracionista dos romanos.
Era exatamente o que bastava para qualquer dos seguidores abandonarem ou mesmo
trair Jesus, vez que se sentiram primeiro abandonados e traídos pelo Mestre, exatamente
na causa mais nobre que os levara a tudo abandonar para seguir o Nazareno, ou seja, a
causa ideológica [política] de libertação de Israel e restauração do reino. Não somente a
Judas, mas a todos demais seguidores, Jesus evidenciara enfim seu caráter tíbio e reais
intenções de aceitação e submissão ao governo romano, nas quais em absoluto eles esperavam ou apostavam; entenda-se: nenhum judeu, galileu ou samaritano que fosse,
imaginava exclusivamente espiritual a mensagem de Jesus, sentido este que somente no
século IV seria dado às palavras e missão do Mestre.
Daí ao ato de entregar oficialmente Jesus aos sacerdotes judeus e representantes romanos, muito mais que gesto heróico, era devido a obrigação de quem se sentira traído em
seus propósitos; e Judas o fez sem titubear e nem ao menos imaginar que, três séculos
depois, sua memória seria conspurcada como o mais vil nome da história ocidental. Se o
assunto devidamente conduzido aos planos da espiritualidade, ninguém ao menos também deu conta que sem o ato de Judas, seja heróico ou de traição, jamais haveria a redenção da humanidade.
E SE JUDAS NÃO TRAÍSSE JESUS?
Certamente as escrituras [profecias] não se cumpririam, e todos nós estaríamos perdidos
em termos de salvação eterna.
O salvacionismo cristão decorre em razão da morte sacrifical de Jesus Cristo. Não seria
possível a redenção pretendida, caso Jesus não se predispusesse ao martírio do calvário.
O Antigo Testamento prefigura os acontecimentos com justificações devidas, enquanto
o Novo narra razões e fatos que todas as igrejas cristãs pregam.
Sendo predito e necessário o martírio de Jesus para salvação de toda humanidade, também é certo que para fiel cumprimento das Escrituras, ou dessa obra redentorista, alguém haveria de trair o Mestre, conforme evangelho segundo João 13: 18, com préfiguração no livro dos Salmos 41:9. Não se pode pensar aqui numa ação isolada [uma
sem a outra], caso assim tudo aquilo que foi e é para a salvação eterna, simplesmente
não mais seria.
Se a grande missão de Jesus foi ter o Cristo em si, isto é, o espírito predestinado para a
maior de todas as ações divinas expressa no Evangelho de João 3: 16, o drama maior de
Judas foi entregar seu Mestre à morte, ato do qual não poderia furtar-se sob pena do não
cumprimento das Escrituras, pondo a fracassar toda pretensão divina de salvar a humanidade de seus pecados.
Jesus, por Mateus 26: 36 ao 46, angustia-se e clama a Deus para que este o libere de tão
dolorida missão, numa oração insistente que evidencia sua natureza humana, temerosa e
frágil, diante das circunstâncias que, na qualidade de homem-deus, sabia ser necessário
suportar. Mas enquanto Jesus titubeava lá com suas razões, Judas (João 13: 30) partia
resoluto para aquela terrível missão que, até instantes antes não sabia ser ele o executor,
ou o determinado a cumprir tão importante profecia.
Judas, como os demais apóstolos, quando Jesus predisse que alguém o haveria de trair
[para que se cumprissem as Escrituras], também perguntou igualmente ao Mestre:
“porventura sou eu Senhor?”; o veredicto caiu-lhe como uma bomba: “Tu o disseste” (Mateus 26: 20-25).
Não se pode afirmar pela teologia e nem há fundamento bíblico para isso, que Judas
fosse o predestinado – e nem lhe coube direito de escolha [livre arbítrio] – àquele ato de
traição, todavia pode-se afirmar com toda segurança bíblica, que o ato da traição esse
sim era predestinado e caberia alguém executá-lo, logo e bem.
Nenhum dos apóstolos sabia quem seria o traidor, já o dissemos, poderia ser qualquer
um deles, preocupação muito bem descrita no evangelho segundo Lucas (22: 23): “E
começaram a perguntar entre si qual deles seria o que havia de fazer isto”, o que
significa dizer fosse quem fosse dentre eles que Jesus viesse indicar, sem dúvidas essa
pessoa cumpriria a ordem inquestionavelmente, pois que em tal designação, tão somente
nela, centrava-se todo o messianismo descrito em Isaías 53.
Os versículos que informam sobre o preço da traição, não antecedem o quadro exposto,
conforme se vê nas versões bíblicas atuais, tratando-se, portanto, de justaposições e acréscimos posteriores, para justificar a humilhante morte de Jesus, e fazer hediondo o
ato atribuído a Judas.
Na cruz, no alto do Gólgota, Jesus ainda se lastimava aos gritos: “Deus meu, Deus
meu, porque me desamparaste?” (Mateus 27:46 e referências), enquanto no galho
forte de uma figueira à beira de um abismo, Judas enforcava-se, certamente atônito e
tomado de remorsos com o papel que o ingrato destino lhe reservara na história da humanidade. Os escritos acham-se conforme descrições bíblicas, lendas e tradições, unificadas pelo autor com Atos 1:18, que descreve Judas a despencar-se ribanceira abaixo e
arrebentadas suas entranhas.
De uma maneira ou outra tanto Jesus quanto Judas, morreram conscientes do dever
cumprido, naquilo que se propuseram sabedores que um sem o outro nada poderia fazer
para o fiel cumprimento das Escrituras.
AFINAL, QUEM FOI JESUS, CHAMADO O CRISTO?
Marcos, o primeiro dos evangelhos, engrandece a presença de Jesus perante o Batis-ta,
numa afirmação que o batizador aguardava sem dúvidas o início do ministério de Jesus:
“Após mim vem aquele que é mais forte do que eu, ao qual não sou digno de, abaixando-me, desatar a correia de suas alparcas” – Marcos 1: 7.
No evangelho João 1:29-30 e seguintes, diz que João Batista reconhece o Cristo em
Jesus, e o aponta a dois dos seus discípulos, André e João, como o esperado para a libertação de Israel; os condiscípulos tornam-se apóstolos de Jesus (João 1: 35-41).
Mateus 11 e referências atestam que o batizador não estava nada convicto disso: “És tu
aquele que haveria de vir, ou esperamos outro?“.
Os demais evangelistas igualmente diminuem a importância de João Batista diante de
Jesus. João, todavia, não abandona seu ministério, João 3: 23, como seria de se esperar;
ao reconhecer a superioridade do ministério de Jesus, de imediato deveria cessar o seu,
o que evidentemente não veio a fazer.
Apesar de todas tentativas dos copistas e tradutores evangelistas em contrário, Jesus foi
seguidor do Batista por um bom período de tempo, João 3:26, a ponto de receber influências daquele em seus primeiros discursos.
O discurso de João (Mateus 3:2): “E dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o
reino dos céus”, é igual ao de Jesus no início de seu ministério: “Desde então começou
Jesus a pregar, e a dizer: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus” conforme Mateus 4: 17.
Jesus herdou de João Batista também a prática do batismo (João 3: 22 e 26). O mesmo
evangelho de João (4:2), no entanto diz que Jesus não batizava e sim seus discípulos, o
que parece não ter importância alguma, mesmo que uma situação venha contraditar outra; o texto referido evidencia que Jesus e Batista concorreram entre si (versos 22 e 23
de João 3).
Entre os discípulos de Jesus e João as disputas parecem constantes, sobre quem fazia
mais seguidores, celeuma que viria prolongar-se por todo primeiro século.
Há indícios bíblicos que Jesus separou-se de João por questões doutrinárias, acerca da
purificação (João 3:25) e do jejum (Mateus 9:14). Também a omissão do Batista em
identificarem-se como Messias, ou mesmo um dos profetas, trouxe-lhe queda de popularidade agravada sobremaneira com a prisão, o que facultou a ascensão de Jesus, sem
dúvidas carismático e bom pregador, dono de um magnetismo bastante influidor junto
às massas.
As curas de Jesus são sobre necessitados psicossomáticos e de outras doenças psicológicas – histeria, esquizofrenia, etc. Parece ser isto o mínimo que se esperava de um pega-dor (Mateus 15: 27), embora o Batista jamais tenha curado alguém, segundo narrações.
Se João Batista não renunciou seu ministério em favor de Jesus, isto implica em não
reconhecê-lo Messias; mesmo preso e apesar da fama crescente de Jesus, João Batista
não o aceita como Messias, nem libera seus discípulos para segui-lo.
O Batista encontrou a morte sem jamais haver reconhecido messianismo algum em Jesus, mas certamente a entender que seu antigo discípulo, fora bem mais longe que imaginara, com aquela de exercer ministério ambulante, indo às pessoas onde estas se encontrassem, enquanto o dele, João, era fixo, o povo interessado tinha que deslocar-se até
ele, algo muito mais complicador.
As andanças do grupo de Jesus tiveram início a partir da prisão de João Batista, o que
implica dizer que o medo [da prisão e morte] foi a razão maior para aquela opção que
resultou num tremendo êxito.
Outra razão do sucesso de Jesus sem dúvidas foram os milagres, que João jamais soubera ou não quis fazer.
Jesus tentou ganhar adeptos do Batista com a morte deste, além dos que conquistara
quando o batizador em vida, louvando suas qualidades de profeta, e que dos nascidos de
mulher não havia nenhum maior que ele, João Batista [Mateus 11: 11]. Tão próximos
eram os ministérios de Jesus e João, que para muitos, inclusive Herodes, Jesus era o
João Batista ressuscitado (Marcos 3: 14-16 e referências).
Também Jesus ofereceu aos seus seguidores iniciais, compensações terrenas (Marcos
10: 29 e 30). O sentido espiritual atribuído à sua obra somente viria ocorrer nos séculos
III e IV, com Orígenes, Jerônimo e outros grandes nomes da Igreja, quando lhe foi dado
o papel de Messias sofredor e seus milagres enquadrados em Isaias 35 e citações, por
referências, nos evangelhos.
Os apóstolos e discípulos também esperavam compensações terrenas mais a liberta-ção
pátria. A passagem bíblica dos dois discípulos no caminho de Emaús, reflete o pensamento dos messianistas [seguidores de Jesus]: “E nós esperávamos que fosse ele o que
remisse Israel” – Lucas 24: 21.
Atos 1: 6 não deixa dúvida daquilo que pretendiam os discípulos: “És tu que restaurarás
o trono em Israel?”, da mesma maneira que Jesus deixa bastante claro (Marcos 10: 29 e
30) que estaria ainda a oferecer-lhes compensações materiais.
O messianismo encarnado por Jesus, não só caracterizava-se de libertação quanto terreno, com a restauração do trono de Israel. É impossível acreditar que qualquer judeano
ou estrangeiro que fosse, em Israel na época de Jesus, concebesse a libertação de Israel,
expulsão dos inimigos e instalação do reino de Yavé, como algo espiritual, inteiramente
ou apenas em parte; também era impossível a admissão de um Messias Libertador, que
viesse agir apenas com intervenção de Deus.
Jesus não ignorava nada disso, assim como seus seguidores, todos envolvidos numa
campanha político-religiosa, que não poderia ser diferente, em se tratando de Israel.
Nos seus últimos dias, ainda no auge do sucesso quando a campanha mostrava-se possivelmente vitoriosa, com adesão totalitária das massas populares, Jesus começou ter conflitos com seus seguidores mais íntimos.
A razão da discórdia era simples: Jesus havia se sustentado durante quase um ano de
ministério ambulante (Mateus, Marcos e Lucas, enquanto por João, três anos), à custa
dos pobres e colaborações secretas de pessoas de posses, pelas suas mulheres e alforriados (Lucas 8: 1-3), pois que era rejeitado em público pelos ricos; todavia quando a
campanha estava prestes sair-se vitoriosa, Jesus foi procurado e voltou-se justamente
para aqueles ricos, aceitando-os agora em sua companhia, numa descarada negociação
político-financeira [ou aceitação de colaboradores adesistas de ultima hora].
Historicamente é impossível comprovar a existência de algum homem deus, deus humanizado ou situações do gênero, na face da terra. Jesus Cristo a exemplo de outros
tantos divinizados, também não tem historicidade comprovada, sem dúvidas tratando-se
de personagem mítica.
O estudo em pauta [e subdivisões] fundamenta-se tão somente nas escrituras cristãs, em
torno de uma figura materializada que os credos insistem torna-la espiritual. Apenas
pelas Escrituras fundamentamos historicidade de Cristo e seus seguidores mais próximos.
Nenhum dos apóstolos de Jesus teve melhores condutas que Judas; todos que se aproximaram do mestre, aqueles de primeira linha e chamados, o fizeram tão somente por
interesses materiais e de poder político.
ASSUNTOS SURDINADOS
-Autor consultado, Dr. Celestino Severino da Silva, obra citada, outros autores referenciados e assuntos dispostos na web, sem autoria original.
DA INERRÂNCIA E INFALIBILIDADE BÍBLICA
Os livros bíblicos canônicos são tidos sagrados pelos cristãos, porque foram escritos
pela inspiração do Espírito Santo, ou que o próprio Deus os escreveu através de homens
consagrados, embora nunca suficientemente esclarecidos como ocorridos os fenômenos,
se alguma espécie de psicografia, direta ou indireta [a clariaudiência], a restar apenas a
interpretação em não se tratar de pneumografia [escrita sem intermediário].
O Papa Leão XIII foi categórico quanto ao princípio da inerrância bíblica: “de que as
divinas escrituras, quais saíram da pena dos autores sagrados, são inteiramente
isentas de qualquer erro” – Encíclica Providentíssimus.
O fundamentalismo bíblico determina crer nenhum erro em toda a bíblia toda, com exatidão detalhada, genuinamente inspirada [ditada] por Deus.
Ainda em 1978 a ‘Declaração de Chicago sobre a Inerrância Bíblica’, quando da
realização do Concílio Internacional sobre o assunto, assinada pelos principais líderes
evangélicos do mundo. São dezenove artigos de afirmação e negação, abaixo reproduzi-
dos, onde se reconhece tão somente a Bíblia como realidade teológica de inspiração
divina e, por conseguinte, infalível e inerrante, a se tratar de uma resposta contra os
conceitos bíblicos interpretativos de tendência liberal e neo-ortodoxa.
ARTIGOS DE AFIRMAÇÃO E NEGAÇÃO
http://www.monergismo.com/textos/credos/declaracao_chicago.htm
• Artigo 1º. Afirmamos que as Sagradas Escrituras devem ser recebidas como a
Palavra oficial de Deus.
Negamos que a autoridade das Escrituras provenha da Igreja, da tradição ou de
qualquer outra fonte humana.
Artigo 2º. Afirmamos que as Sagradas Escrituras são a suprema norma escrita,
pela qual Deus compele a consciência, e que a autoridade da Igreja está subordinada à das Escrituras.
Negamos que os credos, concílios ou declarações doutrinárias da Igreja tenham
uma autoridade igual ou maior do que a autoridade da Bíblia.
• Artigo 3º. Afirmamos que a Palavra escrita é, em sua totalidade, revelação dada
por Deus.
Negamos que a Bíblia seja um mero testemunho a respeito da revelação, ou que
somente se torne revelação mediante encontro, ou que dependa das reações dos
homens para ter validade.
• Artigo 4º. Afirmamos que Deus, que fez a humanidade à Sua imagem, utilizou a
linguagem como um meio de revelação.
Negamos que a linguagem humana seja limitada pela condição de sermos criaturas, a tal ponto que se apresente imprópria como veículo de revelação divina.
Negamos ainda mais que a corrupção, através do pecado, da cultura e linguagem
humanas tenha impedido a obra divina de inspiração.
• Artigo 5º. Afirmamos que a revelação de Deus dentro das Sagradas Escrituras
foi progressiva.
Negamos que revelações posteriores, que podem completar revelações mais antigas, tenham alguma vez corrigido ou contrariado tais revelações. Negamos, ainda mais, que qualquer revelação normativa tenha sido dada desde o término
dos escritos do Novo Testamento.
• Artigo 6º. Afirmamos que a totalidade das Escrituras e todas as suas partes,
chegando às próprias palavras do original, foram por inspiração divina.
Negamos que se possa corretamente falar de inspiração das Escrituras, alcançando-se o todo mas não as partes, ou algumas partes mas não o todo.
• Artigo 7º. Afirmamos que a inspiração foi a obra em que Deus, por Seu Espírito, através de escritores humanos, nos deus Sua palavra. A origem das Escrituras
é divina. O modo como se deu a inspiração permanece em grande parte um mistério para nós.
Negamos que se possa reduzir a inspiração à capacidade intuitiva do homem, ou
a qualquer tipo de níveis superiores de consciência.
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Artigo 8º. Afirmamos que Deus, em Sua obra de inspiração, empregou as diferentes personalidades e estilos literários dos escritores que Ele escolheu e preparou.
Negamos que Deus, ao fazer esses escritores usarem as próprias palavras que
Ele escolheu, tenha passado por cima de suas personalidades.
Artigo 9º. Afirmamos que a inspiração, embora não outorgando onisciência, garantiu uma expressão verdadeira e fidedigna em todas as questões sobre as quais
os autores bíblicos foram levados a falar e a escrever.
Negamos que a finitude ou a condição caída desses escritores tenha, direta ou
indiretamente, introduzido distorção ou falsidade na Palavra de Deus.
Artigo 10º. Afirmamos que, estritamente falando, a inspiração diz respeito somente ao texto autográfico das Escrituras, o qual, pela providência de Deus, pode-se determinar com grande exatidão a partir de manuscritos disponíveis. Afirmamos ainda mais que as cópias e traduções das Escrituras são a Palavra de
Deus na medida em que fielmente representam o original.
Negamos que qualquer aspecto essencial da fé cristã seja afetado pela falta dos
autógrafos. Negamos ainda mais que essa falta torne inválida ou irrele-vante a
afirmação da inerrância da Bíblia.
Artigo 11º. Afirmamos que as Escrituras, tendo sido dadas por inspiração divina, são in-falíveis, de modo que, longe de nos desorientar, são verdadeiras e confiáveis em todas as questões de que tratam.
Negamos que seja possível a Bíblia ser, ao mesmo tempo infalível e errônea em
suas afirmações. Infalibilidade e inerrância podem ser distinguidas, mas não separadas.
Artigo 12º. Afirmamos que, em sua totalidade, as Escrituras são inerrantes, estando isentas de toda falsidade, fraude ou engano.
Negamos que a infalibilidade e a inerrância da Bíblia estejam limitadas a assuntos espirituais, religiosos ou redentores, não alcançando informações de natureza
histórica e científica. Negamos ainda mais que hipóteses científicas acerca da
história da terra possam ser corretamente empregadas para desmentir o ensino
das Escrituras a respeito da criação e do dilúvio.
Artigo 13º. Afirmamos a propriedade do uso de inerrância como um termo teológico referente à total veracidade das Escrituras.
Negamos que seja correto avaliar as Escrituras de acordo com padrões de verdade e erro estranhos ao uso ou propósito da Bíblia. Negamos ainda mais que a inerrância seja contestada por fenômenos bíblicos, tais como uma falta de precisão técnica contemporânea, irregularidades de gramática ou ortografia, descrições da natureza feitas com base em observação, referência a falsidades, uso de
hipérbole e números arredondados, disposição tópica do material, diferentes seleções de material em relatos paralelos ou uso de citações livres.
Artigo 14º. Afirmamos a unidade e a coerência interna das Escrituras.
Negamos que alegados erros e discrepâncias que ainda não tenham sido solucionados invalidem as declarações da Bíblia quanto à verdade.
Artigo 15º. Afirmamos que a doutrina da inerrância está alicerçada no ensino da
Bíblia acerca da inspiração.
Negamos que o ensino de Jesus acerca das Escrituras possa ser desconhecido
sob o argumento de adaptação ou de qualquer limitação natural decorrente de
Sua humanidade.
• Artigo 16º. Afirmamos que a doutrina da inerrância tem sido parte integrante da
fé da Igreja ao longo de sua história.
Negamos que a inerrância seja uma doutrina inventada pelo protestantismo escolástico ou que seja uma posição defendida como reação contra a alta crítica negativa.
• Artigo 17º. Afirmamos que o Espírito Santo dá testemunho acerca das Escrituras, assegurando aos crentes a veracidade da Palavra de Deus escrita.
Negamos que esse testemunho do Espírito Santo opere isoladamente das escrituras ou em oposição a elas.
• Artigo 18º. Afirmamos que o texto das Escrituras deve ser interpretado mediante exegese histórico-gramatical, levando em conta suas formas e recursos literários, e que as Escrituras devem interpretar as Escrituras.
Negamos a legitimidade de qualquer abordagem do texto ou de busca de fontes
por trás do texto que conduzam a um revigoramento, desistorização ou minimização de seu ensino, ou a uma rejeição de suas afirmações quanto à autoria.
• Artigo 19º. Afirmamos que uma confissão da autoridade, infalibilidade e inerrância plenas das Escrituras são vitais para uma correta compreensão da totalidade da fé cristã. Afirmamos ainda mais que tal confissão deve conduzir a uma
conformidade cada vez maior à imagem de Cristo.
Negamos que tal confissão seja necessária para a salvação. Contudo, nega-mos
ainda mais que se possa rejeitar a inerrância sem graves conseqüências, quer para o indivíduo quer para a Igreja.
A inerrância atesta a infalibilidade bíblica, distinções inseparáveis, por ser a Bíblia a
verdade assegurada em livro de Salmos 119: 160, Colossenses 1: 5 e referências. Os
fundamentalistas entendem que Deus incita o pensamento original na mente dos seus
ungidos e guia as palavras exatas para expressá-lo – Jeremias 1: 7-9, Amós 3: 7-8, Êxodo 4: 12 e 15, referências atestatórias que pensamento e linguagem [escrita e falada] são
divinamente inspirados.
Para os cristãos, em geral, mesmo as traduções bíblicas são isentas de erros e contradições, todavia o Pontifício Instituto Bíblico de Roma admite, em Textos e Versões [Bíblia Sagrada - Edições Paulinas 1967], que copistas e tradutores bíblicos não tiveram
aquela mesma inspiração original, uma idéia de Santo Agostinho em Carta 82 número 3
a São Jerônimo.
Nestes considerandos a Bíblia não tem contradições nem erros, vez que Deus não pode
enganar-se, ser enganado nem enganar, pois que ele até ilumina a mente do receptor de
suas palavras, naturalmente os salvos ou os escolhidos, para compreender potencialmente a mesma verdade como estava originalmente na mente do autor inspirado, pois que
•
outra razão não se pode depreender de I Coríntios 2: 12 e referencias, com destaques
para Efésios 1:17-18.
O fundamentalismo bíblico já não é mais unanimidade entre os intérpretes biblistas, por
isso a prevalecer entendimentos de correntes liberais ou neo-ortodoxas. Mesmo entre os
fiéis comuns da nova geração são aceitas as inerrâncias e infalibilidades bíblicas sem
questionamento, aceitando a Bíblia mais como revelação de fé do que algum tratado
científico.
Para a atual maioria dos estudiosos cristãos, das certas alterações, contradições, mutilações e dos erros observáveis, devem-se conservar inalteradas tão somente “a substância do depósito da fé contido nos livros sagrados” – PIBR, em Textos e Versões –
Bíblia Sagrada, Edições Paulinas, 1967.
De nossa parte entendemos, a exemplo de alguns outros estudiosos, que a Bíblia é originada de fontes diversas, das lendas tomadas e adaptadas de outros povos para a cultura hebréia e as crônicas de seus reis, registros de documentos e atos religiosos, transcrições de tradições escritas ou orais, adequadas conforme circunstâncias, vindas através
dos tempos e editadas por escribas independentes e de ideologias próprias, ou no cumprimento de ordens, algumas vezes sob coações político-religiosas.
-Se o escritor de II Timóteo 3: 16 assegura-nos que toda a escritura “é inspirada por
Deus”, em I Corintios 7: 6 e II Corintios 11: 17 o autor ou os autores confessa [m] o
uso de palavras próprias e não de inspiração divina.
Desde as primeiras traduções bíblicas que se tem notícia – cânon judaico, e isto não
incluem os livros do Novo Testamento, no decorrer dos tempos suas cópias foram significativamente adaptadas para melhores entendimentos daquilo que lhes pareciam ilógicas ou vocábulos em desuso, além de correções ou acréscimos arbitrários, e aí se perdeu
a originalidade. Não raramente copistas colocavam comentários como se fossem textos
originais, ou então suprimiam palavras ou frases inteiras para se distinguir das religiões
estrangeiras.
Alguns trechos foram retirados ou modificados em causa da evolução do Sló Yavé, que
deixa de ser deus tribal para, aos poucos, tornar-se deus dos deuses – monolatria e, enfim, chegar à condição monoteísta e universal – deus único. Então se excluem ídolos,
alguns deuses se tornam demônios, escritos servem ou são acrescidos enquanto outros
não mais se encaixam dentro da ética monoteísta.
1. ESCRITURAS NADA ORIGINAIS
“Ora o Senhor disse a Abraão: sai da tua terra, da tua pátria e da tua casa paterna
e vai para a região que eu te mostrarei. Farei de ti uma grande nação e te abençoarei, engran-decerei o teu nome, e serás uma benção. Abençoarei a quem te abençoar e amaldiçoarei a quem te amaldiçoar, e por ti serão benditas todas as nações da
terra” [Gênesis 12: 1-3].
Estas palavras de um deus à Abraão não mais soam uma promessa, antes sim a necessidade urgente do patriarca colocar-se à salvo juntamente com sua tribo, para os lados da
Palestina.
Não sabemos como referida divindade falou a Abraão, no entanto sabemos que Abraão
era da cidade de Ur, na Caldéia, e que tal manifestação teria ocorrido por volta de 1825
AEC [antes da era comum], posto Abraão nascido setenta e cinco anos antes, seguindo
ordem cronológica bíblica a remontar acontecimentos ao longo dos séculos, a partir do
êxodo promovido por Moisés, ou seja, a saída dos hebreus da terra do Egito, então sob
reinado de Menefta, em 1200 AEC.
Para a história o povo hebreu surgiu daquele Abrão [depois Abraão], originário de Ur da
Caldéia, situada na antiga Suméria, região sul da Mesopotâmia. A nação judaica ocorreu
tão somente após a revelação divina a Moisés no Monte Sinai, quando as doze tribos
unidas por um código de leis morais e espirituais, embora o judaísmo religioso somente
assim conhecido após o retorno do exílio babilônico [538 AEC].
Mas nada é consenso. Por volta de 1900 AEC teria chegado o povo Amorita, do deserto da Arábia, para dominar a Mesopotâmia e fundar a cidade de Babilônia; em geral
os historiadores apontam Abraão ainda na Mesopotâmia quando da chegada do povo
Amorita – chamado de velhos babilônios, para sangrenta conquista e o efetivo domínio
somente com o reinado de Hamurabi, a partir de 1728 AEC, época da invasão e tomada
final de Ur, razão que levou as tribos de Abraão e Ló rumo à Palestina.
Para outros a tribo semítica dos Ibr’im [Ibr’is], de onde Abrão [Abraão], deixa Ur em
causa da dominação bárbara dos Guti que, no final de 2200, invadiram e destruíram o
então Império Acádio, o sucessor imediato da Civilização Sumeriana. É conhecido que
os semitas acadianos jamais conquistaram todo o Império Sumer, com dificuldades de
governo sobre antigas cidades-estado constantemente revoltosas, evidentes causas de
enfraquecimentos e queda diante dos Guti.
Nestas situações certas tribos semitas deixaram a região mesopotâmica, ou expulsas
pelos Guti, ou para não envolvimento nas graves guerras civis. Tal migração pode ser
vista como a primeira libertação do hebreu.
Se dos tempos dos Guti ou do povo Amorita, pois nada se sabe dos quase trezentos anos
entre uma dominação e outra, a verdade é que pelo menos duas tribos semitas deixaram
Ur, com destino à Palestina, para se defrontarem com povos lá anteriormente estabelecidos e, cem anos depois, radicar-se efetivamente, após passagens pelas terras do Egito
segundo historiadores e textos bíblicos.
Por essa época, antes da fixação na Palestina, os hebreus como nômades pelas regiões,
tiveram contatos com outros povos, mútuas influências, em especial atenção à tribo egípcia Agar [Agarab - Arab] para surgimento dos árabes ismaelita [Gênesis 25: 11] que
ganhou independência dos hebreus para construir sua própria história.
Somente a partir da radicação na Palestina começa a nos interessar a história dos hebreus, um povo formado por conflitos e com os quais convive até os dias atuais.
Por Gênesis 14:13 temos a primeira identificação de Abraão como “Ibris - o He-breu”,
com possibilidades interpretativas que seja ‘Ibris’ povo de além do rio [Eufrates], conhecido como Hebreu, para uns porque descendentes de Heber.
Certas correntes interpretativas apontam em Heber as corruptelas Haber e Habiro que se
transformariam em Abirão e, finalmente Abrão antes de Abraão. No entanto, numa consulta mais acurada, em Gênesis 10: 21-[25 temos Heber – Eber], filho de Sala, neto de
Arfaxad que era filho de Sem o primogênito de Noé. Gênesis 11: 10-27 identifica Abraão descendente direto de Heber, portanto semita.
-O verso 31 de Gênesis 11 informa-nos que foi Taré, pai de Abraão, quem deixou a Ur
dos Caldeus, com toda sua parentela, inclusive Abraão [ainda Abrão] e Ló – posto sobrinho de Taré quando na verdade seria neto, pois que era filho de Aram [falecido]. O
outro filho de Taré foi Nakor.
Ainda por Gênesis a tribo de Taré fixou-se por uns tempos em Haram, na Mesopotâmia
aonde veio a falecer o patriarca. Foi então que Abraão, o primogênito, saiu com Ló para
migração às margens do Mar Vermelho e às fronteiras do Egito.
Abraão trouxe de Ur uma gama de valores, tradições e formas de crenças com fortes
influências na formação étnica, cultural e religiosa de seus descendentes, muitas dessas
crendices mais tarde ainda presentes no judaísmo, por exemplo, o sacrifício de um animal a Deus [Gênesis 22: 13]. Outro exemplo mesopotâmico foi a tradição formadora do
universo Eloísta, com a terra e tudo que nela há, numa admirável e ordenada seqüência
lógica dos surgimentos, bastante aos moldes da Ciência.
Excluída a saga abraânica e seus vínculos familiares, entendemos por Josué 24:2 que
Abraão realmente tinha a crença idólatra comum à sua parentela, “servindo outros
deuses”. Mais tarde o neto Jacó, numa estadia forçada na Mesopotâmia junto aos parentes, uniu-se a uma mulher araméia que, ao acompanhá-lo de volta à Palestina, carregou
consigo os ídolos do pai, os terafins [teraphim] – espécie de gênios protetores ou deuses
tutelares.. O próprio deus de Jacó era cognominado o Temido de Isaac, a quem Jacó
erigiu a Coluna de Betel [Gênesis 28: 18], uma prática votiva mesopotâmica.
-Gênesis 31 :42 mostra-nos clara distinção entre o Deus de Isaac e o Temido de Isaac,
conforme o próprio Jacó confabulou ao sogro Labão: “Se os deuses do meu pai [Isaac],
os deuses de Abraão [seu avô] e o Temido de Isaac [pai]...”, ocorrência que evidencia
este Temido distinto dos demais deuses.
A popularização dos terafins fez com que rei Josias, em sua reforma religiosa, viesse
exterminar não só os nigromantes e adivinhos, bem como por abaixo todos os ídolos,
inclusive os terafins, venerados pelos hebreus - II Reis 23: 24. A continuidade dos terafins em ritos e cultos evidencia que, em verdade, Josias apenas os tirou da banalização
para uso exclusivo dos iniciados – sacerdotes, profetas ou ungidos.
Juízes 17: 5 e Oséias 3: 4 esclarecem que os terafins eram objetos sagrados de cultos
judaicos, ao lado dos efodes [espécie de antigos ídolos, também o nome de avental com
bolsas, de sacerdotal nos cultos]. Assim postos, os terafins não mais seriam de uso popular.
Ezequiel 21: 23 e seguintes, versão Pontifício Instituto Bíblico de Roma , ou 21:18 e
seqüências [Novo Mundo das Escrituras e Almeida], dá-nos uma idéia dos cultos de
passagens e consultas, pelo profeta, através dos terafins:
“E continuou a vir e haver para mim a palavra de Jeová dizendo: e quanto
a ti, ó filho do homem, estabelece para ti dois caminhos para a entrada da
espada do rei de Babilônia. Ambos devem, proceder do mesmo país e devese recortar uma mão [indicadora]; deve ser recortada a cabeceira do caminho para a cidade. Deves estabelecer um caminho para a espada entrar contra Rabá dos filhos de Amon e [o outro] contra Judá, contra a fortificada
Jerusalém. Porque o rei da Babilônia parou na encruzilhada, na cabeceira
dos dois caminhos para recorrer à adivinhação. Sacudiu as flechas. Indagou
por meio dos terafins, examinou o fígado. Na sua direita mostrou-se haver a
adivinhação referente a Jerusalém (...)”.
Não eram práticas originais do judaísmo e sim influências herdadas e trazidas por Abraão da Mesopotâmia, a exemplos, também, dos Urim e Tumim – pedras para consultas
oraculares, cujos diálogos eram através de perguntas e respostas, maneira direta do indivíduo [consulente] dirigir-se a Deus através de uma pessoa consagrada para aquelas
funções.
As andanças dos hebreus pelas terras da Palestina e do Egito forneceram acréscimos
adaptativos, de outras lendas que foram assimiladas e interpoladas para a história futura
de Israel. Dos palestinos absorveram os costumes, os deuses locais – ‘baal’s’ e as formas naturistas de cultos; do Egito emprestou o sistema literário, a exemplos da música e
poesia, as crenças no além-túmulo, a ordem religiosa [casta sacerdotal], as práticas curativas ou médicas, as iniciações, os ritos de passagens e as artes mágicas.
A historicidade do povo hebreu, a partir de Abraão até o século VII AEC, indiscutivelmente fundamenta-se em lendas adquiridas de outras culturas, das terras por onde passou, ganhando características próprias somadas às novas experiências. O desordenado
Gênesis Yaveísta, onde o aparecimento do homem antecede os vegetais, foi influenciado pelas tradições palestínicas; enquanto a circuncisão é egípcia, assim como o sistema
de higiene e saneamento, além das proibições de comer a carne de suínos e outros animais e aves.
As duas criações bíblicas são discordantes entre si, a primeira politeíta [Elohim], a segunda de prosa mais simples é monolátrica – Yavé, que é o deus dos deuses, uma divindade evoluída do tribalismo nômade hebreu.
-Outras regiões influenciadas pelas culturas mesopotâmicas, cujas lendas sobre as origens foram tomadas de empréstimo, futuramente seriam insertas na história dos hebreus; consoante exemplo já dado, no primeiro capitulo de Gênesis ao 2:3, a criação
desenvolve-se sob a fartura de águas mesopotâmicas, enquanto a criação seguinte [Yaveísta], a partir do versículo 4 do mesmo capítulo, Gênesis 2, se desenvolve na aridez
palestínica.
O primeiro casal num jardim paradisíaco, criação Yaveísta, sugere a formação de uma
nação, pretensamente escolhida por uma divindade, advinda de dois povos que conviviam numa região determinada. A formação do homem, aos moldes bíblicos, tem similar
na cultura sumero-acadiana, a caber lembranças que os acádios eram semitas.
Adam (Adima) – terra vermelha ou barro – como designativo de origem, unindo a is’
(Adamis) determina o homem da terra vermelha ou que veio (local de origem) de um
lugar onde a terra é vermelha.
À primeira vista, considerando que os gregos denominavam os fenícios de vermelho
(phoinos), poderia se concluir que Adão [tribo] fosse originário daquele povo ou o próprio. No entanto se pode entender Adão já dentro de um contexto histórico formado,
que antecede aos fenícios, e que foi colocado numa terra preparada para ele, isto é, que
tomou, conquistou, pela vontade dos deuses, uma região. Posteriormente os hebreus
viriam fazer o mesmo com invasões às terras palestinas – Gênesis l2 e Êxodo 3, exemplificando linguagem bíblica.
Nestas circunstâncias, identifica-se Adão como Adapa, o herói sumero-babilônico –
personagens por demais semelhantes, e, assim sendo, Adão seria a representação do
povo sumeriano na região da Mesopotâmia, com uma língua incomum aos demais povos da região, mas muito próxima ao drávido, na Índia, então seu local étnico. A palavra
dravídica Adimá tem o mesmo significado que seus correspondentes sumero-babilônico
e hebraico, sendo um nome genérico regional.
Este povo chegou para conquistar uma região habitada por uma tribo, ramo egípcio,
denominada ‘Exa [Xex]’ que, conquistada, tornou-se ‘Heva-Kin [Hevakin]’ – conforme atesta vocabulário e gramática do antigo drávida, inseridos no sânscrito para significar união ou que veio a unir-se, termo depois simplificado para Heva, como oferenda
sacrifical ou dação, quando Deus passou a tomar o homem [tribo adâmica] e a estabelecê-lo na terra conquistada, [Jardim do Éden] para que cultivasse e tomasse conta dele –
Gênesis 2: 15 subjugando Heva [Eva], ou a ela se unindo. .
Com referência ao Éden (campo fértil ou planície, na língua sumer), jamais foi aceito
qualquer referência que pudesse localizá-lo geograficamente na Armênia, entre os rios
Tigre e Eufrates, talvez em razão das citações também dos rios Gion, da terra de Cush, e
Fison em Hevilá, para os quais a Bíblia menciona duas localidades distintas, sendo uma
africana e outra asiática, conforme progênie em Gênesis 10: 7-8 e 29.
É possível, a isto, que a região conquistada fora cognominada Éden em memória a um
outro lugar, de onde vieram aqueles de Adão, e que os sumerianos incorporaram em
suas lendas.
Desconsiderando estudos que trazem o Éden apenas como algo espiritual (Paraíso), cabem referências ao local como possessão fenícia, por citação bíblica em Ezequiel 28:l3l4, versos seguintes e anteriores, porem sem precisar onde de fato localizar o local paradisíaco.
A história Caim e Abel tem correspondentes em duas lendas representativas:
1. Tradição semita acadiana informa o antigo povo hebreu autóctone das planícies
da Mesopotâmia, nômades entre os rios Eufrates e Tigre, a partir das montanhas
da Armênia às águas do Golfo Pérsico, fértil território conquistado posteriormente pelos sumerianos que os obrigou ao sedentarismo escravo, até que beneficiários da Cultura dos Árias invasores, povos nômades das estepes asiáticas, que
deu surgimento à lenda de Caim que matou [o que significa que deteve] Abel, o
nômade ária invasor. Realmente nos relatos bíblicos a simpatia por Abel é evidente, pois que os semitas da época eram dominados pelos sumérios,
2. Uma lenda babilônica, mais recente que a sumer, diz dos irmãos Emesh e Enten,
símbolos das estações verão e primavera – respectivamente, que se desentenderam em causa de Emesh sentir rejeitada sua oferta [sacrifício de animais] ao
deus Enlil enquanto apreciada as frutas depositadas pelo irmão Enten; e a lenda
termina em assassinato.
Mas, as histórias e lendas se misturam com outras culturas, e a vida do homem no paraíso, a queda, a condenação e a expulsão, de acordo com Gênesis 3: 14-24, tem similar
assírio e faz parte de antigas tradições egípcias. A decadência do gênero humano, o dilúvio e a salvação pela arca – Gênesis, capítulos 6 aos 9, são transcrições sumerobabilônicas e já evidenciam a necessidade de um intermediário, ou redentor, entre o
homem pecador a divindade absoluta. Noé foi esse redentor em sua época; também Abraão encarnou esta figura, depois Moisés e, entre outros, finalmente o Cristo.
-A esperança da vinda deste redentor, numa expectativa messiânica libertadora, é de
origem sumeriana e já adaptada por Hamurabi – quando do Império Babilônico, sobre
a qual, sem dúvidas, fundamentou-se o autor da Gênesis Eloísta.
A Torre de Babel e todas suas ocorrências são cópias ajustadas de elementos cultu-rais
babilônicos – Gênesis 11, porém, a partir do capítulo 12 predomina a influência egípcia,
inclusive a história de José a abranger desde o capítulo 37 aos 50 de Gênesis, com representatividades paralelas em monumentos egípcios. O paraíso terrestre, bem depois
acrescido, tem um conjunto de padrões históricos fundamentados nos fenícios e suas
ligações com os egípcios.
Outros traços comuns identificam o Gênesis com tradições sumero-babilônicas, ainda
no tocante a história primitiva cujos onze primeiros capítulos, com algumas interpolações deliberadas, se podem dizer diferentes, porém similares, tanto que impossível não
remetê-la para uma origem comum, no caso a Bíblia uma transcrição pouco modificada
daqueles escritos muito mais antigos..
Notória citação o caso dos dez reis da tradição babilônica, representados pelos dez patriarcas bíblicos [Gênesis 5], todos antediluvianos em suas respectivas culturas, e igualmente de existência longeva. Outra notória relação, o dilúvio bíblico tem muito em comum com a narrativa babilônica do mesmo fenômeno, cujas coincidências comprovam
a origem mitológica comum e a presença dos arquétipos coletivos, nas passagens supostamente históricas da Bíblia, sem dúvidas extraídas das aventuras de Gilgamesh.
A longevidade dos antigos nomes bíblicos indica coletividade tribal pelo período de
domínio ou hegemonia, somente vindo desaparecer quando conquistado ou que se lhe
apaguem os vestígios do patriarca. Luiz Thayer Ojeda – renomado estudioso chileno
citado por Alexandre Braghine em o Enigma de Atlântida, esclarece: “(...) os nomes
dos patriarcas bíblicos ou quaisquer outras lendas, em sua maioria, significam
nomes de nações [povos] em que a duração de suas vidas indicam o tempo / duração que mantiveram sua independência”.
Por Ojeda igualmente se entende ‘que vindo de algum lugar’ significa tornar-se independente; “desposando” o mesmo que conquistando; ‘gerando filhos’ o avanço de
províncias com governos autônomos quando nominados; e finalmente ‘filhas’ como
possessões menores obtidas através de conquistas, acordos ou concessões, algumas vezes como região tutelada. A tese de Ojeda corrobora Gênesis 5: 10-11; 11:10-32; e referências.
-São entradas culturais trazidas pelos semitas que deixaram a Caldéia para desenvolver suas próprias tradições, destacados como tribo de Abraão, nominação individual
para designação coletiva, por Abrão que lá na Caldéia tinha o significado de pai, chefe
de família ou clã, hebraizado Abraão – pai de multidão, tribos ou raça.
Abraão também importou deuses maiores da sua antiga pátria. Os deuses Yavé [dos
judeus] e Marduk [dos babilônios] são semelhantes, não sendo a princípio divindades
absolutas, todavia evoluindo para suplantação sobre os demais deuses – o deus dos deuses. Ambos são antropomórficos, animados e totêmicos em suas origens, sempre metidos em duelos com o deus mal, e fazem exigências ao seu povo, são vingativos, pedem
sacrifícios e perdoam através de expiações impostas; da Mesopotâmia, também foi o
rito da expiação.
As evoluções dos cultos hebraicos aconteceram, sempre, no rastro das evoluções de
outros povos com quem mantiveram contatos de alguma maneira. O deus Yavé se fortaleceu com acréscimos culturais de povos diversos, sendo forte contribuição a estadia de
Jacó à Mesopotâmia, por uns tempos, e de lá retornou com sua prole, carregado de novidades de cultos daquela região.
Também a estadia das tribos de Israel no Egito, por mais ou menos quatrocentos anos,
foi altamente significativa para a efetivação do sistema religioso hebraico / judeu nas
formas que conhecemos. A presença de hebreus subjugados em terras egípcias é verdade histórica, mas nada dizem os egípcios a respeito ao libertador Moisés, uma figura
muito mais próxima das tradições assírias.
-A própria perambulação dos hebreus por tanto tempo no deserto, seiscentos mil homens a pé ou algo em torno a três milhões de pessoas que saíram do Egito, é posta em
dúvidas, afinal tantas décadas passadas em regiões descritas com tanta precisão e nenhum resto arqueológico a lhes atestar presenças.
Moisés tem analogias com Sargon I o rei da Assíria, por exemplos, ambos são colocados em cesto sobre as águas, são igualmente resgatados e criados, tem missões correspondentes, embora Sargon seja consagrado rei enquanto Moisés líder do seu povo. São
situações por demais próximas que, para muitos, não é impossível Moisés ser apenas
figura lendária,, uma cópia que Israel formou quando sob domínio assírio.
Mas é com os babilônios que melhor se entendem o hebreu quanto a Yavé, o seu deus
maior que, à maneira e semelhança de Marduk, traz a proposta redentora para o seu povo através do próprio deus encarnado [nascido] homem, mística da qual mais tarde se
valeriam os cristãos para trazer Jesus à terra, fruto das relações de Yavé com uma virgem hebréia, sendo esse Jesus uma versão moderna de Tamuz [Dummuzi], o redentor
babilônico, filho de Marduk [um deus único] com uma virgem chamada de Estrela Matutina, posteriormente feita deusa venerada e assunta aos céus, tal qual Maria mãe de
Jesus.
-A mãe de Tamuz, semelhante à mãe de Jesus – por apócrifos, foi entregue ao templo,
ainda jovem.
São muitos os paralelos entre Jesus e Tamuz; eles entram triunfalmente numa cidade
santa, seus seguidores participam de uma conturbação à ordem, principiada por eles que
então se refugiam e são traídos por um dos seus, sendo presos e flagelados, julgados
culpados e condenados a morrer ao lado de dois condenados, enquanto um quarto elemento foi solto em lugar dels, a pedido do povo. Ambos têm morte sacrifical depois de
prometer a morada celeste a um dos condenados, onde estariam juntos.
Tamuz, igual a Cristo, também ressuscita, seu sepulcro é encontrado vazio, ele desce
aos infernos, peregrina na terra por uns tempos, surge aos seus e depois é elevado aos
céus, deixando um espírito orientador e consolador aos seus seguidores, com a promessa de retorno e a efetiva instauração de um novo reino.
As similitudes entre Tamuz e Jesus são inegáveis, inclusive no quadro da paixão, naquilo que nos descreve Félicien Challaye, Pequena História das Grandes Religiões, às páginas 133 onde cita e transcreve Denis Saurat sobre a divina paixão de Tamuz.
Antes do surgimento cristão a figura de Tamuz fora incorporada às tradições hebrai-cas,
durante o cativeiro na Babilônia, mais tardiamente adaptado e revestido de caráter messiânico libertador para o povo, a consumar-se em Jesus pelas tradições cristãs. Jesus e
Tamuz são chamados filho do homem, pastor e senhor.
Ezequiel 8: 14 mostra-nos a popularidade de Tamuz no judaísmo, tanto que, na porta do
templo [mês de julho de cada ano] as mulheres judias choravam Tamuz, num rito alusivo a sua descida ao Hades [Inferno] para libertar os cativos, muito semelhante ao Cristo
que desceu às regiões inferiores da terra para pregar aos espíritos em prisão [I Pedro
3:18-19], vez que “(...) foi pregado o Evangelho também aos mortos; para que, na
verdade, fossem julgados segundo os homens na carne, mas vivessem segundo Deus
em espírito” – [I Pedro 4: 6], certamente as únicas justificativas para o incrível relato
em Mateus 27: 52-53, por ocasião [momento] da morte de Jesus, quando se abriram os
túmulos e muitos dos santos, que estavam mortos, ressuscitaram.
Mas, tal qual Jesus, Tamuz não é nada original, senão um messias acrescido de outras
necessidades de sua época, e que se fundamenta em heróis anteriores. Parece um tanto
na Mesopotâmia, num reino então subjugado – o mesmo que castigado pelos deuses ou
por deus, que impõe castigos ao povo infiel, para criar uma figura libertadora saída das
classes religiosas, sendo o povo mantido unido em torno desta figura, ou diante da promessa do ungido, que seria o próprio deus encarnado homem.
Nada, portanto, original; mas o que elevou o judaísmo a uma posição religiosa tão especial foram suas andanças por terras estrangeiras, com a alta capacidade de absorções dos
cultos e lendas para dar-lhes manto aparente de originalidade histórica, sabendo evoluir
seus deuses, mitos e crendices, talvez pela razão de ser povo adaptável ao meio e costumes.
Sendo realidade que por tantos séculos os hebreus viveram em zonas de influências sumeriana, acadiana, egípcia, palestínica, babilônica, persa e medo-persa, além das mais
recentes, grega e romana, justo a compreensão que os hebreus jamais desenvolveram
culturas próprias, ficando devedor aos estrangeiros nas artes e na indústria, na escrita, na
língua e literatura.
Portanto, foi nesta ausência de originalidade e independência de civilização material,
que se sobrepôs em maior relevo o valor das instituições religiosas e morais dos hebreus, como elementos básicos de sua união por só um código de leis morais e espirituais.
2. DOS CÂNONES DISTINTOS
No século IX ou X se iniciou entre os hebreus um sistema de escrita consonantal, isto é,
ausente de vogais, conforme o Calendário de Geser, a inscrição hebraica mais antiga já
encontrada. Depois disto se pode dizer, por citações mais recentes, de antigos textos
isolados de confusas lendas e ações heróicas dos antepassados, que foram dando cunho
às primeiras passagens bíblicas, prevalecendo os textos Elohísta e Yaveísta do princípio
dos tempos e a formação do mundo com a criação do homem e da natureza. As vogais,
somente inseridas ao alfabeto hebraico no século VIII EC.
Já no século VIII AEC surgiram textos deuteronomistas, ou seja, uma segunda lei em
complemento à primeira, qual seja, a união de códigos de tradição oral e depois escrito,
os quais regravam as tribos hebréias.
No século VI AEC os Sacerdotes redigiram os Levíticos e deram contornos aos demais
livros existentes, para texto religioso único, com justaposições das variadas tradições
orais.
Somente no século V e início do IV AEC, pode se agrupar rol de livros em língua hebraica que iriam nortear o monoteísmo, num clássico momento que os hebreus deixam
as lendas para fazer sua história. No ano 150 AEC todos os livros religiosos em hebraico foram traduzidos para o grego, pelos setenta colaboradores – por isso Versão Septuaginta, inicialmente para os judeus do Egito e logo adotado por todos judeanos, porque
raras eram as pessoas que ainda entendiam o idioma original.
Com as traduções se foram os originais bíblicos, excetos fragmentos de cópias isolados,
descobertos mais recentemente, entre os famosos Manuscritos do Mar Morto. “Nenhum
manuscrito original da Bíblia hebraica foi conservado”, conforme Félicien Challaye às
páginas 141 de Pequena História das Grandes Religiões.
Yavé fez-se a síntese de um deus maior formado de outras divindades, um deus protetor
que jamais abandona seu povo, vinga os inimigos, ganha as guerras, exigindo para isto a
fidelidade e sacrifício de seu povo, através de rígidas regras. Yavé, no entanto, abandona e pune seu povo, por uma falta simples que seja, deixando-o inclusive à mercê do
inimigo, para então lhe oferecer libertação.
Toda a mística judaica se encerra nessa submissão integral à vontade de Yavé e, em
vista disso, uma religião de esperança e confiança no livramento final, porque sempre
nação dominada por estrangeiros.
Natural que os hebreus, diante de tantas andanças por terras estranhas, ou dominações
estrangeiras, tenham adotado diferentes formas religiosas para fundi-las, naquilo que de
melhor, para apresentá-la como originalmente sua, igualmente por tais motivos as tantas
contradições entre autores diversos, razões de tantos textos transformados por interpolações divergentes. Escreveram o fundamento de sua religião como normas diretivas, regras de condutas e elementos de fé, como ação investida com autoridade divina, documento essencial sobre o Judaísmo a partir da união das tribos numa só nação e um só
Deus..
A Bíblia atual é formada por livros considerados, por judeus e cristãos, sagrados e inspirados. Apesar de judeus e cristãos admitirem o mesmo Deus e ter sido ele a inspiração
única dos textos sacros, existem, no entanto, três cânones distintos, o judaico, o católico
e o cristão protestante.
Em tempos antigos o cânon judaico não era fixo, até em razão de sua formação, com
acréscimo de novos textos ou subtração de outros conforme situação política dominante.
Disto, no entanto, já era assegurada a tríade canônica composta pelos livros: ‘A Torah
[Tora – Lei], os Nevi’im [Nebilim – [Profetas] e os Kethuv’im [Ketubim – Hagiógrafos – Escritos Sagrados], de cujas iniciais se obtinha o consonantal TNK – [pronúncia aproximada a TaNaKh], conforme conhecido o primitivo cânon judaico
(Destaques do autor).
1. Torá: composta de cinco livros [Pentateuco]: Gênesis, Êxodo Levítico, Números e
Deuteronômio.
2. Nebilim: com oito livros em duas partes de quatro, assim definidos:
• Antigos [Anteriores] – Josué, Juízes, Samuel e Reis;
• Posteriores – Isaias, Jeremias, Ezequiel e os doze profetas menores, de Oséias a
Malaquias, num só livro.
3. Ketubim: em onze livros divididos em três partes, abrangendo:
• Poéticos [3]: Salmos, Provérbios e Jó, com validação histórica variável para o
livro Eclesiástico.
• Megilotes [Rolos] – 5: Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes e
Ester.
• Históricos [3]: Crônicas, Daniel e Esdras-Neemias quando estes então um só livro.
Desta maneira a formação canônica judaica já estava no século II AEC, embora não
plenamente aceita para todos os judeanos, então divididos entre os fixados na Palestina,
os puristas, e aqueles dispersos no mundo greco-romano. Nesta época os livros já estavam todos vertidos para o grego, em razão do hebraico em desuso oficial desde os
430/420 AEC.
-O hebraico foi primeiramente substituído pelo aramaico, trazido para a Palestina pelos assírios depois de terem vencido o reino [as dez tribos do norte] de Israel em
721/719 AEC, trocando pessoas e as espalhando por todo o seu império, por isso posto
o aramaico como a língua de entendimento. O reino de Judá [as duas tribos do sul],
somente cativa em 614 AEC, nas mãos dos babilônios, retornou em 537 AEC falando
aramaico, com dificuldades para entender o hebraico, como inferido de Neemias 8: 1-3
e 8, então reservado para os cultos religiosos.
Partes dos judeus separados de suas origens, com continuidade histórica diferente dos
palestínicos, aceitavam tanto os livros traduzidos do hebraico para o grego quanto os
escritos originalmente em língua grega, como Tobias, Judite, Macabeus [I e II], Sabedoria, Eclesiástico [ou parte dele], Baruc, Carta de Jeremias, além de alguns suplementos a
Ester e Daniel; um sacrilégio para os puristas. Estes livros foram designados Deuterocanônicos, ou seja, um segundo Cânon, porque não constam do Cânon Hebraico de Jerusalém.
Outra dificuldade em se fechar o cânon judaico, mesmo entre os puristas, ocorria por
motivos opiniáticos, por exemplos, o livro Ester era vetado por não constar nele o nome
de Deus, Cantares pela pornografia poética, o Eclesiastes pelo exagerado pessimismo e
Provérbios porque trazia textos apócrifos e outros de autores desconhecidos.
Nos anos 50 AEC estas condenações seriam abraçadas pela escola rabínica Shammai
[50 AEC a +/- 30 EC], chamada rigorista, em oposição à outra escola rabínica Hillel
[cerca de 60 AEC a 9 EC], de tendência liberal.
A definição canônica hebraica viria ocorrer apenas no ano 90 EC, conforme o conhecemos hoje, definido pelo Concílio de Jânia, quando o Antigo Testamento já estava novamente vertido para o hebraico, versão massorética – consonantal, com a compilação
oficial em Jerusalém, por isso a denominação Cânon Judaico de Jerusalém.
Nenhum autógrafo [original] bíblico chegou até nossos dias, senão códices ou fragmentos de antigos manuscritos. O Antigo Testamento ou os textos sagrados dos judeus, sem
dúvidas partiram da Versão Septuaginta, o mencionado trabalho dos setenta que traduziram os livros religiosos do hebraico para o grego. Se indiscutíveis os valores da Septuaginta, no entanto ela perdeu sua vocação judaizante, quando enriquecida com os elementos gregos dominantes, ou sejam, o pensamento platônico, a lógica aristotélica e a
ciência euclidiana.
Quando os judeus resgataram o hebraico para suas escrituras, vindas da Septuaginta sem
os deuterocanônicos, já não se sabiam mais das místicas dos primeiros tempos, sem a
consideração que um novo elemento agora era o dominador, e muito mais cruel, os romanos, a quem os sábios judeus deviam uma nova expressão religiosa por questão de
sobrevivência nacional, ainda que sem pátria.
A Igreja Cristã [primitiva], evoluída da Seita greco-judaica Messianista, aceitou co-mo
inspirado o Cânon Judaico acrescido dos livros Deuterocanônicos, portanto a Septuaginta integral, até como forma de se destacar do judaísmo e se vincular à seita dos Nazarenos para, assim, fazer uma doutrina recente tornar-se antiga, uma versão sobre a qual se
fundamentou o credo Católico Apostólico Romano, que se tornou seita predominante do
Cristianismo.
-Emergido do manto cultural greco-romano e síntese do misticismo judeu, os Messianistas eram os membros de uma seita greco-judaica, de certa forma sequência dos Nazarenos, centrados na figura de um Cristo ideal. Somente mais tarde seriam denominados cristãos os seguidores de Jesus, um designativo antes reservado aos sectários de
João Batista, absorvidos pelos Messianistas ao longo da história e que até o nome lhes
subtraiu. Mas isto não importa aqui.
No princípio o Cânon Neotestamentário também não foi unanimidade em suas origens,
alguns livros não eram admitidos em todas as Igrejas, por exemplos, Carta aos hebreus,
Tiago, II Pedro, II e III de João, Judas e o Apocalipse; aos quais se aplicou da mesma
forma, a designação de deuterocanônicos antes de inseridos no cânon oficial, conforme
menções vistas em Línguas Originais e Cânones Diversos, Introdução Bíblia Sagrada,
edições Paulinas, 1967, pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma.
-Num futuro, os reformistas Protestantes viriam excluir os Deuterocanônicos apenas do
Antigo Testamento, por não considerá-los partes do Cânon Judaico de Jerusalém; livros que os Católicos mantém ainda hoje em suas versões bíblicas.
Não se conhecem escritos originais da Igreja Cristã primitiva, sendo correta que sua
literatura sagrada se formou, apenas, entre os séculos II e IV EC. Nem suas regras [cânones] obedeceram a um rigor divino único para sua oficialização, da forma que hoje a
conhecemos, bem distinguida em capítulos e versículos, que muitos acreditam, também
determinados por Deus.
As divisões bíblicas não estavam presentes no cânon judaico, quando os livros bíblicos
eram dispostos apenas por autores, posteriormente por assuntos – os Sedarins.. A primeira divisão neotestamentária por seções aconteceu no Códice Vaticano escrito em
grego entre 325 a 350 EC, um Uncial [escrita maiúscula latina] vertido da septuaginta –
exceto a Oração de Manasses e Macabeus. A tradução Vulgata surgiu deste Códice.
-No Códice Vaticano, Mateus tem 170 seções, Marcos 62, Lucas 152, João 50 e Atos
36. Encontrado apenas no ano de 1475, quando da primeira catalogação dos livros da
Biblioteca do Vaticano, sua originalidade para a época é posta em dúvida.
O Códice Efraimita, originário de Alexandria – Egito, de estilo bizantino datado de 345
[EC], foi encontrado num palimpsesto do século XII onde obras do sírio Efraim. Recuperado a cópia original por Tischendorf, surgiram os dois testamentos bíblicos, apenas
porções de livros bíblicos, em 209 ‘folhas’, em seções, sendo 145 do NT, e assim publicados em 1845.
O Uncial Códice Sinaítico – também chamado Alef, encontrado em 1859 no mosteiro
Santa Catarina, no Monte Sinai, escrito em grego, datado do Século IV, dividido em
assuntos. Entre os Sinaítico e Código Vaticano existem notáveis diferenças, por exemplo, o Sinaítico não apresenta a parte, hoje versículo 25 do capítulo 21 do Evangelho de
João. Outra famosa diferença é o encerramento do evangelho de Marcos, onde o Sinaítico se finda no verso 8, e Códice Latino no versículo 20.
-O Código Sinaítico, apesar da originalidade, não teve copistas fiéis, tanto que Tischendorf, o seu ‘descobridor’, teria contado posteriormente 14.800 alterações diferentes dos originais, feitas por nove tradutores. Um copista do Códice Sinaítico, Ebernard
Nestlé, admitiu haver mudado o estilo aristotélico platônico para o grego koinê.
O Códice Alexandrino [Uncial], do século V, tem suas divisões em grandes e pequenas
seções, colocadas 68 para Mateus, 48 para Marcos, 83 para Lucas e 18 destinadas a João. Este Códice é chamado o Códice da Cultura Cristã, exceto para o Catolicismo, porque dele se originam as principais traduções bíblicas. Apontam-no fidelíssimo a um
arquétipo do século II EC, conforme fragmentos encontrados, e não traz o Tetragrama
Divino, substituído pelo grego Kýrios – Senhor.
-As divisões dos textos neste Códice se assemelham ao sistema encontrado no Cânone
de Eusébio.
São muitos os Códices bíblicos, por exemplo, o Beza, um Uncial do século V, escrito
em grego e latim, o mais antigo fragmento bilíngüe do Novo Testamento. No total já
foram encontrados 267 Unciais, 2764 Cursivos [escritos de pequenas letras manuscritas,
rápidas e correntes], 2143 Lecionários [textos selecionados e utilizados em locais de
cultos e ensinamentos], 88 Papiros e 47 Rolos encontrados mais recentemente.
Da mesma forma interessante os denominados Códices Minúsculos, datados entre os
séculos IX e XV, mais de 4 mil exemplares, objetos de família ou mesmo pessoal, quase
todos divididos em seções, por assuntos.
De tantos documentos fragmentários encontrados, nenhum original, é de se supor as
tantas divergências entre eles, segundo o Pontifício Bíblico de Roma, “(...) pretende-se
que no Novo Testamento inteiro, em 150 mil palavras, haja 20 mil variantes”, a
grande parte destas alterações não compromete o conteúdo. Hoje se pode destacar que o
Novo Testamento possui, conforme a tradução, 181.253 palavras, para algo em torno de
30 para 40 mil diferenças.
Outro grande contribuinte para deturpação de textos bíblicos foi o sistema de pontuação,
variável às vezes de um tradutor para outro, por exemplo, Mateus onde consta “(...) antes que o galo cante três vezes me negarás”, a depender da vírgula se pode entender o
galo a cantar três vezes para uma negativa, ou mesmo não cantar até a ocorrência de
tripla negação. Hoje, apesar das tantas edições revistas e corrigidas, ainda permanecem
as divergências se o galo cantou duas conforme Marcos, uma vez de acordo com Lucas,
ou, consoante em João, nem cantou enquanto Pedro não negou (...).
Quanto à promessa de Jesus, a um companheiro de suplício, “em verdade te afirmo hoje
estarás comigo no Paraíso” contém duas diferentes interpretações, conforme colocação
da vírgula.
Esta situação é de complicado acerto porque Jesus não teria partido de imediata pósmorte para o Paraíso, pois teve antes uma incursão pelo Inferno e, a seguir, uma estadia
terrena de quarenta dias, enquanto não elevado aos céus. Também não teve aquela escapada para o Paraíso, num momento entre o Inferno e a Terra, porque o próprio Jesus
disse a Maria Madalena, “Não me toques [Não me detenhas] porque ainda não subi para
o meu Pai” – João 20:17, pouco a importar se depois ele, mesmo sem subir aos céus, até
se alimentou em companhia dos caminheiros para Emaús.
-O hoje posto no texto seria desnecessário, caso Jesus tivesse referido aquele estadia
celeste num tempo futuro.
Sempre alguém procurou facilitar as leituras dos textos sagrados, estando entre os famosos Eusébio de Cesaréia, que século IV idealizou um sistema de divisão dos Evangelhos
em dez tabelas, que servia de orientação para localizar assuntos e referencias entre si, a
primeira com as passagens comuns nos quatro livros, depois e sucessivamente de cada
um deles com os outros três, ficando uma ultima tabela para referências comuns entre
eles.
-O trabalho de Eusébio, na verdade entrelaçamento dos evangelhos, reuniu 1162 grandes e pequenas seções distribuídas: Mateus – 355 , Marcos – 233 , Lucas – 342 e João
– 232.
Outro citado divisor foi o diácono alexandrino Eutálio que, no ano 459 tornou público
suas traduções das cartas paulinas, acentuadas e divididas em linhas – Stkoi, com divisões em resumos – Tiltloi e capítulos – Kefália. O mesmo Eutálio, em 490, viria fazer o
mesmo com Atos e as Epístolas de Tiago, Pedro [I e II], João [I, II e II] e Judas, chamadas Epístolas Católicas. Atualmente estes trabalhos creditados a Eutálio são postos em
dúvidas, acreditando-se colocados no início do século XIV num palimpsesto e depois
encontrados por Tischendorf em 1865, quando da descoberta do Códice de Porfírio
[232-303 EC].
-Eutálio, o primeiro a separar e acentuar palavras na Bíblia, teria sido o precursor em
utilizar pontuações, mas disto não se tem certeza.
A divisão bíblica capitular somente surgiu no século XIII, de autoria do Arcebispo de
Cantuária [Conterbury], Stephen Langton, numa versão latina. As divisões de cada capítulo em versículos tiveram dois autores principais, Santes Pagnino de Lucca – conhecido como Santo Pagnini, para o Antigo Testamento em 1528, e o tipógrafo francês Robert Estienne foi o versífero do Novo Testamento em Viena, em 1550/1551.
-São lembrados divisores bíblicos o Hugo de Saint-Cheir que em 1240 dividiu os capítulos [de Langton] em sete partes destacadas por letras. Leffevre já em 1509 havia enumerado em versículos o livro Salmos, cujo sistema Pagnini adotou em todo Velho
Testamento latino.
Consta ter sido o mesmo Estienne quem, em 1555, publicou o sistema de concordância
bíblica, para conduzir determinado assunto a outras referências ou assuntos próximos.
CONTRADIÇÕES BÍBLICAS
Os estudos apresentados nesta seção estão consonantes, em parte, no trabalho ‘Contradições da Bíblia’, sem identificação do autor original. Solicitada qualquer informação a
respeito, via internet, Tatiene Sales - São Paulo afirmou-nos a autoria de José Edson de
Alencar, Juazeiro do Norte - Ceará.
1. TEXTOS DO VELHO TESTAMENTO QUE SE CONFLITAM
Apesar da posição oficial das seitas judaicas e cristãs quanto à infalibilidade bíblica,
certas passagens não deixam dúvidas de erros e contradições, não apenas variantes ou
deformações de tantas traduções ou de algum descuido copista; daí apenas a máxima
que nenhum texto do original bíblico chegou até nossos dias, portanto impossível alguma palavra final.
Com os textos que temos, a partir do grego, entendemos uma série de incoerências bíblicas, das quais citaremos algumas delas, do Velho Testamento, pouco ou demais conhecidas.
A partir do livro Gênesis percebemos Jeová [capítulo 2 verso 4 e seguintes] em contraposição a Elohim – capítulo 1 e 2 até o versículo 3, assunto já estudado, onde lendas
superpostas correspondentes às tradições sumero-babilônicas, palestinas e de outros
povos com os quais os hebreus tiveram contatos mais ou menos prolongados, absorvendo-lhes culturas para, fundidas, apresentá-las por original.
Acreditamos o dilúvio bíblico adaptação de lenda sumero-babilônica, porém se considerado real acontecimento, conforme Gênesis 7:23, todos os animais e humanos – à
exceção da família de Noé, foram mortos, inclusive a raça de gigantes narrada em Gênesis 6:4, a qual, no entanto, é vista depois em Deuteronômio 2: 10-11, Josué 11: 21 e
Números 13: 33.
Yavé que passeava pelo Éden e mantinha diálogo com o casal humano que ali habitava
[Gênesis 3: 10], na questão do homicídio questionou diretamente Caim [Gênesis 4: 616] – e a queda já acontecera, esteve face a face com Jacó – Gênesis 32: 30, e falou com
Moisés também cara a cara [Êxodo 33: 11], além de ser visto pelos anciãos de Israel
numa citação em Êxodo 24: 9-11; Ezequiel também viu Deus, ainda que numa visão
[Ezequiel 1:27:28]. Apesar destes testemunhos, em João 1:18 o autor afirma categoricamente que ninguém jamais viu Deus.
O deus bíblico Yavé, em seu princípio, é contraditório por aqueles que o descrevem ou
foram seus inspirados, por exemplo, “Não apresentarás falso testemunho contra o
teu próximo” em Êxodo 28: 16, ou seja, Deus condena a mentira embora ele mesmo
induza o homem ao erro, através da mentira por Ele perpetrada, conforme em I Reis 22:
23: “Agora, pois, eis que o Senhor pôs um espírito mentiroso na boca de todos esses
teus profetas, por-que o Senhor decretou a tua ruína”. No Novo Testamento – II
Tessalonicenses 2: 11-12, Deus permite força sedutora de modo o homem acreditar na
mentira.
A contradição divina também se observa naquilo que diz o Senhor ser bom para todos,
homens e animais – Salmo 145: 9, em desacordo a Isaias 45: 7 onde Deus se diz autor
da prosperidade e gerador [criador] das desditas.
Nem é necessário aprofundamento para compreendermos Êxodo 20: 13 onde claramente
está a proibição legal de matar – “não matarás”, quando o próprio Deus em situações
outras exige matança em mesmo livro 32: 27 “Ponde cada um de vós a sua espada ao
seu lado. Percorrei o acampamento e voltai, de portão a portão, e matai cada um o
seu irmão e cada um o seu próximo, e cada um o seu conhecido íntimo”, missão
levada a efeito pelos filhos de Levi.
-Juízes 11: 29-39: diz do comprometimento votivo de Jefté a Yavé: “Se entregares os
amonitas em meu poder, então, quando eu voltar vitorioso da guerra contra eles, a
primeira pessoa que sair para me receber na porta de casa, pertencerá a Javé, e eu a
oferecerei em holocausto”, e a pessoa que lhe veio ao encontro era sua única descente,
e o sacrifício ocorreu. Jefté ao fazer a promessa, a fez na intenção de imolar uma vida
humana, na certeza que alguma pessoa serviçal lhe saísse ao encontro, jamais sua filha. Abraão imolaria Isaac se não a intervenção divina em contrário. Na antiguidade
bíblica sacrifícios humanos eram práticas comuns – II Reis, 3: 27.
Deuteronômio 21: 18-21: “Se alguém tiver um filho rebelde e incorrigível, que não
obedece ao pai e à mãe e não os ouve, nem quando o corrigem, o pai e a mãe o pegarão e o levarão aos anciãos da cidade para ser julgado. E dirão aos anciãos da
cidade: 'Este nosso filho é rebelde e incorrigível: não nos obedece, é devasso e beberrão'. E todos os homens da cidade o apedrejarão até que morra. Desse modo,
você eliminará o mal do seu meio, e todo o Israel ouvirá e ficará com medo”.
Yavé demonstra paixões humanas ao sentir ciúmes de seu povo [Êxodo 20: 5] e os atuais cristãos se sentem maravilhados disto, mesmo com a instrução em contrário vista em
Gálatas 5: 19-20.
Na condição de deus ciumento Yavé castiga e pune a iniqüidade dos pais nos filhos, até
as terceira e quarta gerações, pelo que está escrito em Êxodo 34:7, ainda que lá em Ezequiel 18:20 seja dito que o filho não expiará a iniqüidade do pai. Texto em Êxodo pelas
versões bíblicas tradicionais.
Em Gênesis 10:5 são diversas as nações e respectivas línguas, portanto a desmerecer
todo o indicativo de Gênesis 11: 1-9, quando a terra era uma só língua até a grande confusão de idiomas, na célebre construção da Torre de Babel.
O homem pode se alimentar de toda vegetação e de todo ser vivente desde que deste
esvaído o sangue – Gênesis 9:3-4, em desacordo com as proibições em Deuteronômio
14:7-20. Ainda, quanto se alimentar ou não de espécies viventes, Levíticos 11:13-19 diz
das proibições em comer carnes de certas aves, entre elas, estranhamente, o morcego.
Mais de uma vez Yavé arrepende-se e muda opiniões, em Malaquias 3: 6 disse “Porque
eu, o Senhor, não mudo (...)”, ou consoante Números 23:19, “Deus não é homem,
para que possa mentir; nem filho do homem, para que se arrependa”. Em Gênesis
6:6 ele se arrependeu de ter criado o homem, e em Êxodo 32: 14 ele se arrepende do
mal que intentara contra seu povo eleito.
Numa situação iniciada em Êxodo 3: 10 Moisés recebe ordens divinas para resgatar os
filhos de Israel, que então inicia jornada à terra do Egito, com certa clareza narrativa a
partir de Êxodo 4: 18, para se tornar texto obscuro entre os versos 24 e 26 quando, numa
pousada pelos caminhos, Deus intentou matá-lo sem qualquer razão aparente.
Outro contraste em Deus é visto em Êxodo 4:11, quando admite ser a causa da sur-dez,
mudez e cegueira, em desacordo com Lamentações 3:33 na afirmação que não aflige os
homens por vontade própria, e sim pela justiça, conforme explicação posta pelo PIBR
sobre referido texto, em nota de rodapé Deus [Êxodo 20: 4] proibiu imagens e esculturas a qual pretexto fosse, ainda que determinasse confecção de dois querubins – espíritos celestes, colocados junto ao propiciatório [Êxodo 25: 8].
Os hebreus roubaram os egípcios por uma ordem divina, Êxodo 3: 22, algo bastante
conflitante com as determinações “Não furtará” [Êxodo 30:15].
Ordens conflitantes podem ser vistas em “Não adulterarás” – [Êxodo 20: 14], porém
ao profeta Oséias [3: 1 – livro Oséias] foi ordenado por Deus: “(...) vai mais uma vez,
ama uma mulher amada por um companheiro e comete adultério (...)”. Ao mesmo
profeta já fora disposto: “Vai toma para ti uma mulher dissoluta (...)” – [Oséias 1:23].
-Ensejam especialistas que conjunções carnais e conúbio foram figurativas ou imaginárias, ações simbólicas, porém nada desdiz que os atos não tenham efetivamente acontecido; Outrossim, a despeito dos esclarecimentos, os descendentes têm seus nomes lançados no rol das genealogias.
São divergências bíblicas que não refletem a esperada sabedoria divina nem atestam
inspirações, algumas situações absurdas a exemplo de quando o sol e a lua são detidos –
Josué 10: 12-15, que vá lá o homem da época assim pensar, mas o Criador!!!.
Certas absurdidades ocorrem pela pluralidade de autores, às vezes para uma mesma
situação, conforme vistas diante de textos duplicados, por exemplo, assim a ocorrer duas vezes a expulsão de Agar por Abraão [Gênesis capítulos 16 e 21]. Igualmente outras
narrações, duas vezes a honestidade de Sara é posta à prova – Gênesis 12: 10-20 e 20:118, situações postas análogas, e uma vez sua nora Rebeca em idêntica aventura, Gênesis
26: 5-16, já aí um texto triplicado.
As genealogias de Caim – Gênesis 4: 16 e seguintes, têm nomes em comum os descendentes de Set [Gênesis capítulo 5], sem dúvidas adaptação de um duplicado.
Da narrativa diluviana são duas versões, Gênesis capítulos 6 e 7, com repetições e divergências, dando-nos por certeza textos entrelaçados de diferentes autores.
A vocação de Moisés [Êxodo 3] repete-se no mesmo Êxodo capítulo 6, por fonte diferente. Também são duplicados os episódios maná e as codornizes [Êxodo 16 e Números
11], embora quase quatro décadas possam separar as narrações de Êxodo e Números
assim como as provas junto às águas de Meribá [Êxodo 17 e Números 20].
Das duplicações entrelaçadas e de diferentes autores, o PIBR considera a mais grave
delas a modificação quanto ao lugar de culto - altar e sacrifício, que em Êxodo 20: 24 é
permitido em qualquer lugar memorável de algum feito divino, enquanto Levíticos 17:
3-9 não permite tais práticas senão em altar único, com ratificação em Deuteronômio
12: 1-28 ao proibir as realizações foram do local estabelecido, ou seja, fora do templo e
altar.
-A despeito das exigências e proibições, altares eram levantados e sacrifícios feitos fora
do templo e do altar, de forma generalizada – I Samuel 6: 9-17 e 9:12; Juízes 6: 24-28
e referências, até que o rei, no livro de II Reis capítulos 22 e 23, numa ampla reforma
religiosa, determina por regras Deuteronômio 12: 1-28.
O preceito das solenidades anuais é repetido por cinco vezes: Êxodo 23: 14-19; 34: 2326, Levíticos 12, Números 28 e Deuteronômio 16, notoriamente escritos por diferentes
pessoas, com níveis distintos de educação e capacidades literárias.
Na Bíblia encontramos dois tipos de duplicados, um deles denominado duplicado literário para as narrações distintas de um mesmo fato, por diferentes autores e estilos,
uns e outros mais ou menos contrastantes.
Um segundo tipo de duplicado é o integral, ou seja, quando um mesmo texto repete-se
integralmente em algum outro lugar, por exemplo, em Salmos 14 é o mesmo que Salmos 53, com poucas variantes, provavelmente de um único autor.
O livro Salmos 40: 13-17 é reproduzido no capítulo 70. O verso 5, Salmos 57, repete-se
no verso 5 do capítulo 108, enquanto o Salmos 60 versos 5 ao 12 ajustam-se aos versículos de Salmos 108: 6-13.
Os escritos em II Samuel 22 estão reproduzidos em Salmos 18 com variantes melhoradas por copistas, porém a tratar-se de um só [provável] autor.
O capítulo 19 de II Reis está em 37 de Isaias. O texto contido em Isaias 2 é igual Miquéias 4, embora perceptível a intenção de algum copista diferenciá-los.
Também são identificados na Bíblia certos estrangeirismos, assim como certos traços
comuns que identificam o Gênesis bíblico com tradições sumero-babilônicos, no tocante
a história primitiva, cujos onze primeiros capítulos, com algumas interpolações deliberadas, se podem dizer diferentes, porém similares, que é impossível não remetê-la para
uma origem comum, no caso a Bíblia uma versão adaptada daquela muito mais antiga.
As duas criações bíblicas são discordantes entre si, a primeira politeísta [Elohim], a segunda de prosa mais simples é monolátrica – deus dos deuses, uma divindade naturista
evoluída do tribalismo nômade hebreu.
-Outras regiões influenciadas pelas culturas mesopotâmicas, cujas lendas sobre as origens foram tomadas de empréstimo, futuramente seriam insertas na história dos hebreus, exemplo já dado, o primeiro capitulo de Gênesis ao 2: 3 são desenvolvidas sob a
fartura de águas mesopotâmicas, enquanto a criação seguinte, a partir do versículo 4
do capítulo mesmo Gênesis 2, se desenvolve na aridez palestínica.
Os dez reis da tradição babilônica são representados pelos dez patriarcas bíblicos [Gênesis 5], todos antediluvianos em suas respectivas culturas, igualmente de existência
longeva. O dilúvio bíblico tem muito em comum com a narrativa babilônica do mesmo
fenômeno, cujas coincidências comprovam a origem mitológica comum e a presença
dos arquétipos coletivos nas passagens supostamente históricas da Bíblia, sem dúvidas
cópias das aventuras de Gilgamesh.
A Torre de Babel e todas suas ocorrências são cópias adaptadas de elementos cultu-rais
babilônicos.
A partir do capítulo 12 de Gênesis a influência egípcia é notória, inclusive a história de
José a abranger desde o capítulo 37 aos 50, com representatividades em monumentos
egípcios. O paraíso terrestre, bem depois acrescido, tem um conjunto de padrões históricos fundamentados nos fenícios e suas ligações com os egípcios.
Acerca do Jardim do Éden, ou o Paraíso, com suas árvores proibidas, tem uma pri-meira
versão na antiga Caldéia, lá de onde veio Abraão, com idênticas representações ao Gênesis 2:8-17.
Hoje não se têm dúvidas que muitos usos e costumes judeus inseridos na Bíblia – Cânon
Judaico vieram de outros povos. Félicien Challaye, às páginas 151 de sua Pequena História das Grandes Religiões, entende que “Tal era a religião dos Hebreus quando entraram nas terras de Canaã, que se assemelhava, em muitos pontos, com às dos palestinos”,
já com uma cultura mais antiga, a seu modo, igualmente influenciada por aspectos sumero-babilônicos.
Situações assim nos levam entender de certas disposições bíblicas divergentes e não
revogadas no decorrer dos tempos.
A Bíblia foi escrita sob influências associadas a outras culturas, sumero-babilônica, palestínica, egípcia, assíria, persa, grega e romana, com as quais os hebreus tiveram contatos mais ou menos prolongados, forçados ou não.
Por isso os tantos nomes de Deus e suas alterações de comportamento seriam provas
correspondentes às tais afirmativas. Assim, tendo o PIBR por consulta, o Gênesis bíblico inicia-se com texto Eloísta – uma assembléia de deuses [Elohim], cujo autor revelase sucinto e um tanto descuidoso, enquanto outro escritor relata Yavé chocante e contrastante em seu antropomorfismo, às vezes violento ou condescendente, sempre bastante popular.
Também é perceptível o estilo Sacerdotal através dos textos moralistas, humanitários e
insinuantes, sabidamente escritos por diversos autores de uma mesma Ordem. Outros
escritos permitem indicações individuais, de autores vinculados à Escola de Profetas –
Profetismo, além dos deuterocanônicos. Todas as tendências sofreram influências de
seus tempos, quando escritos os textos que um dia comporiam o cânon. Judaico e cristão.
Alguns endereços eletrônicos [web] trazem outros interessantes escritos referentes divergências bíblicas, não raramente repetidas sob diferentes autorias ou desconhecidas;
algumas reproduzidas incertas, como os exemplos a seguir e outros mais adiante:
• Números, 33: 38, diz que Aarão, irmão de Moisés, morreu no monte Hor, e o
povo seguiu para Zalmona e acamparam em Punom. Já Deuteronômio 10: 6-7,
indica a morte de Aarão em Mosera, de onde os hebreus seguiram para Gadgad e
Jetebatá, a tratar-se de texto notoriamente de outro autor e inserido no contexto
bíblico, juntamente com os versos 8 e 9. Deuteronômio, 32;50, traz a palavra de
Deus a Moisés, que Aarão morreu mesmo no monte Hor.
• Deuteronômio 6:5, “amarás o Senhor teu Deus (...)” o que contrasta com Deuteronômio 6: 13 “Temerás o Senhor teu Deus (...)”, discrepâncias ratificadas
em Mateus 22: 37 “(...) amarás o senhor teu Deus (...)”, e I Pedro 2:17 “Honrai a todos. Amai a fraternidade. Temei a Deus. Honrai o rei [governo]”.
• Deus escreveu [diretamente] nas tábuas as dez palavras da aliança, de acordo
com Deuteronômio 10:1-4., embora em Êxodo 34:27-28 esteja que Deus as ditou e Moisés escreveu.
• Josué e os seus comandados mataram todos os habitantes de Hai, incendiaramna e a reduziram a um monte de ruínas, para sempre [Josué 8: 28], embora a
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mesma Hai apareça habitada nas descrições de Neemias 7: 32. Josué fez o mesmo com os habitantes e a localidade de Dabir – Josué 10: 38-39, para dize-los
ainda existentes no mesmo livro 15: 15..
Por I Samuel 15: 7-8 e 20, Saul destruiu completamente os amalecitas; depois
David fez o mesmo [I Samuel 27: 8-9], e todos amalecitas são mortos, e mais
uma vez exterminados pela tribo de Simeão – I Crônicas 4: 42-43.
Saul tentou sem sucessos consultar Deus, através de Samuel conforme preceitos
– I Samuel 28-6, porém conseguiu intento, ainda que negativo às pretensões, através do espírito de Samuel.
A darmos crédito no espírito de Samuel [I Samuel 28: 18], Saul caíra em desgraça diante de Deus porque, ao dizimar os amalecitas, deixou vivo o rei, uns animais e trouxe despojos de guerra.
I Crônicas 10: 13-14, “Assim morreu Saul por causa de sua transgressão
com que transgrediu contra o Senhor, por causa da palavra do Senhor, a
qual não havia guardado; e também porque buscou a adivinhadora para a
consultar, e não buscou ao Senhor, pelo que o matou, e transferiu o reino a
Davi, filho de Jessé”. Porém, Crônicas 10:4 afirma que Saul, cercado por inimigos numa batalha, cometeu suicídio, uma situação bastante diferente de ter sido morto por Deus [o Senhor].
Saul, além das suas mortes expostas, consta ter sido morto por um amalecita [II
Samuel 1: 8-10], e, ainda, pelos figadais inimigos filisteus – II Samuel 21:1 2.
É dito em I Samuel 16: 10-11 que Isaí teve sete filhos, além do caçula David,
mas I Crônicas 2: 15 assevera-nos David por sétimo filho de Isaí. Nestas citações são evidentes fontes diferentes, porque Samuel já não existia quando escrito o 1º livro Crônicas; aliás Samuel não existia mais desde o capítulo 28 de I
Samuel. Isaí, na Septuaginta, foi transcrito Jessai, daí Jessé como conhecido o
pai do rei David.
Davi, conforme II Samuel 8:4 , tomou de Adadezer 1700 cavaleiros e 20 mil
homens de pé, embora I Crônicas 18: mencione 1 mil carros [de guerra], 7 mil
cavaleiros e 20 mil soldados de infantaria, além de desjarretar cavalos de novecentos carros.
Num outro ato de guerra – II Samuel 10: 18, contra os arameus, Davi matou 700
parelhas de cavalos e 40 mil cavaleiros, um mesmo episódio narrado em I Crônicas 19: 18 onde Davi matou 7 mil cavalos e 40 mil infantes dos arameus – I
Crônicas 19: 18.
II Samuel 24:9 aponta-nos Israel com contingente de 800 mil homens aptos para
manejar espadas, enquanto Judá outros 500 mil homens. Números diferentes do
recenseamento [I Crônicas 21: 5] que informava Israel com 1 milhão e 100 mil
homens aptos para manejar espadas, enquanto que Judá 470 mil homens.
Os autores de I Crônicas e II Samuel realmente não se entendiam, pois enquanto
afirma II Samuel 24: 1 que foi Deus quem sugeriu Davi fazer um censo de Israel, para I Crônicas 21: 1 foi Satã quem provocou Davi a fazer esse mesmo censo
israelita.
Numa outra divergência, Davi – II Samuel 24:24, pagou 50 siclos de prata por
gados e certo terreno, sendo que em I Crônicas 21:25 apenas o terreno custou
600 siclos em ouro.
São repetições e tantas divergências de textos inconciliáveis que, muito mais que a inspiração divina está a contribuição pessoal de cada autor bíblico a nos revelar, a seu modo, a crença num deus que se mostra ao homem, para auxiliá-lo na construção históricoreligiosa. Foi o mexer nesta ordem que se fez perder a originalidade do sagrado.
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3. VERSOS NEOTESTAMENTÁRIOS QUE NÃO SE AJUSTAM
Jesus herdou a natureza controversa de Yavé, em causa, na beleza de suas palavras
“deixo-vos a paz, a minha paz vos dou” – João 14: 27, mas em Mateus 10: 34 “Não
julgueis que vim trazer paz a terra; não vim trazer a paz e sim a espada”.
Se Yavé mandou honrar pai e mãe [Êxodo 20: 12], Jesus, tal qual, foi exclusivista em
relação aos seus: “Quem ama seu pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de
mim (...)” – Mateus 10: 37.
O mandamento do Nazareno, em João 13:34-35 é “que vos ameis uns aos outros (...)
pois todos conhecerão se vos amardes uns aos outros”, algo bastante diferente daquilo expressado em Lucas 14:26, “Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e
mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não
pode ser meu discípulo”.
Jesus filho ou enteado de José, que nasceu de Jacob – Mateus 1: 16, ou Jesus nascido de
José, que o foi de Heli – Lucas 3: 23, não batem as genealogias descritas em Mateus
com a de Lucas, mas ambas mencionam os nomes dos filhos de Zorobabel, às exceções
de Resa e Abiud [I Crônicas 3: 19-20]. Aliás, a genealogia de Jesus deveria ser apenas
Jesus filho de Yavé, nascido de Maria, daí os ascendentes dela e não do consorte.
Mateus 2: 11 informa que os magos do oriente visitaram Jesus numa casa. Lucas [2: 9116] numa brilhante narrativa informa que os pastores de Belém encontraram Jesus numa manjedoura, em companhia da mãe.
O Rabi ordenou subtração indevida, ou seja, sem autorização do proprietário quanto
àquilo que se pretendia: “Ide à aldeia que está defronte, e aí, ao entrar, achareis preso um jumentinho (...), soltai-o e trazei-o” – Lucas 19: 30. Deste episódio Mateus, 21:
2-7, informa que os cumpridores da ordem levaram o jumentinho e a jumenta para Jesus, em desacordo com Marcos 11: 2-7 que menciona apenas jumentinho.
Jesus também se mostrou contraditório, quanto sua confiabilidade “Se eu dou testemunho de mim mesmo, o meu testemunho não passa por verídico” – João 5:31, ainda
que em João 8:14 seja peremptório: “Ainda que eu dê testemunho de mim mesmo, é
válido o meu testemunho”.
Em Mateus 8: 8 está escrito “(...) saíram-lhe ao encontro [de Jesus] dois endemoninhados, vindo dos sepulcros”. Para Marcos 5: 1 “(...) lhe saiu logo ao seu encontro,
dos sepulcros, um homem com espírito imundo”, a concordar com Lucas que era um
só homem possesso de demônios que morava nos sepulcros, quem veio ao encontro do
Mestre.
Jesus errou ao identificar Zacarias como filho de Baraquias [Mateus 23: 35], quando se
sabe Zacarias filho de Joiada, escrito em II Crônicas 24: 20-22, a figurar Baraquias por
avô.
Outro erro de Jesus, pouco observado: “Pois, como Jonas esteve três dias e três noites
no ventre do grande peixe, assim estará o filho do homem três dias e três noites no
seio da terra”. Sepultado na sexta à tardinha e ressuscitado no domingo pela manhã,
Jesus não cumpriu as suas palavras.
-Lucas 24:46 confirma Jesus ressuscitado no terceiro dia, embasado não apenas nos
acontecimentos como em causa de uma profecia: “Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressuscitasse dentre os mortos”. I Coríntios 15: 4 corrobora Lucas, que Jesus ressuscitou mesmo ao terceiro dia, “segundo as
escrituras”, ou seja, conforme já profetizado anteriormente, e certamente o autor de
Coríntios não se referia ao escritos de Lucas. Não se sabe dessa profecia em algum canônico bíblico.
Da crucificação de Jesus não se sabe se à hora terceira de acordo com Mateus 15: 25 ou,
por volta da hora sexta pelas informações em João 19: 14-115.
Os seguidores de Jesus também não se entendiam quanto a questão da salvação, se pela
graça ou pelas obras, a bastar comparações entre Efésios 2: 8-9 e Tiago 2: 24. Igualmente as questões de boas ações, se às claras ou às ocultas, uma evidente contradição vista
em Mateus 5: 16 em comparação com o próprio Mateus 6: 1-4.
O autor de I Pedro 2: 13 conclama o homem submeter-se ao governo instituído, em confronto ao escrito em Atos 5:29, que mais importa servir a Deus que aos homens.
Carta aos Romanos 3 23 caracteriza todo o homem pecador, portanto destituído da glória de Deus, talvez por esquecer Jó, um homem perfeito e honesto segundo em livro do
mesmo nome, 1: 1.
Atos 9: 7 “E os varões que iam com ele [Paulo – ainda Saulo] pararam espantados, ouvindo a voz, mas não vendo ninguém”, uma situação que o próprio Paulo contraditou
quando testemunhou: “E os que estavam comigo viram, em verdade, a luz, e se atemorizaram muito, mas não ouviram a voz daquele que falava comigo” – Atos 22:9.
Defensores biblistas apontam que ditos e tidos erros bíblicos são versículos extraídos
fora do contexto, por exemplo, fora do contexto o tal “em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo” que somente se apresenta em Mateus 28: 19, mas tido fundamento para
o conceito da trindade divina.
As contradições bíblicas são postas, às vezes, como variantes e não erros, segundo o
Pontifício Instituto Bíblico de Roma [Bíblia Sagrada – Textos e Versões] “(...) apenas
são minúcias que não atingem absolutamente o sentido”.
Existem textos bíblicos que são enigmáticos, a exemplos da contenda entre o arcanjo
Miguel com Satanás, acerca do corpo de Moisés [Judas 1: 9], incidente não descrito nos
canônicos do Antigo Testamento, todavia posta no apócrifo “A Ascensão de Moisés”,
com isso a indicar aquele incidente ter ocorrido, tanto que em Judas alcançou o cânon
neotestamentário.
Judas [verso 14] cita outro texto apócrifo “eis que é vindo o Senhor, com suas santas
miríades” ou “milhares de seus santos anjos”, não relatado no Velho Testamento,
mas descrita no conhecidíssimo apócrifo “Livro de Henoc”.
João Batista reconhece a superioridade de Jesus, aquele que haveria de vir [João 3: 27],
mas continuou seu ministério até as vésperas de sua morte e sem saber se Jesus era
mesmo o Messias prometido [Mateus 11: 1-3].
Quando se trata de discutir divergências entre textos bíblicos, geralmente quem os aponta são desqualificados pelos chefes religiosos que, de pronto, avocam estudiosos intitulados doutos exegetas que sabem do hebraico, grego e aramaico, portanto autoridades
suficientes para atestarem a inerrância e a infalibilidade bíblica.
Não se trata de questionar nenhuma capacidade biblista, até porque a mesma autoridade
de Teólogo nos é dada, e aí as discussões se tornariam complexas para o grande público.
Também não vamos à máxima que as variantes encontradas em textos bíblicos comprometam toda a essência do sagrado. Não, não se trata disto, e sim que os escritos ditos
inspirados por Deus, inerrantes e infalíveis, sejam de quaisquer códices apresentados,
cópias, versões e traduções, sempre há de se concordar com as existências de textos
obscuros, aqueles inseridos indevidamente, outros tantos mutilados, alguns duplicados
[tri e quintuplicados], os tais contraditórios, os risíveis, os errados, além dos incompreensíveis e os que se negam.
Textos desta maneira não podem ser inspirados por Deus, nem se podem avocar épocas
ou graus de cultura e intelectualidades dos escritores bíblicos, porque qualquer divina
inspiração é suficiente para torná-los iguais, sem erros presumíveis, sem contradições
ou divergências, por simples que se possam parecer.
Assim, devemos entender que Jesus ou curou um leproso após visita à casa de Pedro
[Marcos 1: 29 e 40-42], ou a cura ocorreu antes da visita conforme nos diz Mateus 8: 24 e 14. Óbvio entendermos que o foco dos escritores foi o fenômeno da cura, sem se
importar se antes ou depois de alguma visita, todavia o antes e o depois podem ser frutos de inspiração de uma mesma fonte, inerrante, diga-se de passagem.
Mateus, segundo o livro que leva seu nome, 9: 9 relata-nos sua conversão depois que
Jesus acalmou uma tempestade [Mateus 8: 26], enquanto Marcos nos informa que a
conversão acontecera antes do apaziguamento do temporal – Marcos 2: 14 e 4: 39.
Da tentação de Cristo, um deus ainda que humanizado, o Diabo como criatura jamais
iria derrubar quem era o mesmo Deus, portanto apenas uma ilustração sem ajustes entre
Mateus 4:5-8 com Lucas 4:5-9, sem nos dar o veredicto se Tentador primeiro conduziu
o Redentor ao pináculo do templo, ou a um lugar alto o suficiente para enxergar todos
os reinos do mundo.
No sermão da montanha Jesus pronuncia nove bem-aventuranças e uma exultação curta
– Mateus 5: 3-12, que Lucas [6: 20-29] resume em apenas quatro e uma longa exultação.
Um centurião se achegou a Jesus para interceder por seu criado enfermo [Mateus 8: 57], contudo em Lucas 7: 1-7 o ilustre personagem enviou intermediário.
Jesus promoveu o fenômeno da transfiguração seis dias [Mateus 17: 1-2] após a profecia de sua agonia redentorista, que Lucas 9: 28-29 retratou acontecida não sete ou quase
sete dias depois, e sim quase oito dias daquele evento profético. E naquele vaticínio o
mestre foi peremptório que “Em verdade vos digo que alguns há, dos que aqui estão,
que não provarão a morte até que vejam vir o Filho do Homem no seu reino” –
Mateus 16:28, um paralelo com Marcos 9: 1 e Lucas 9: 27, enganoso, quando sabemos
nenhum daqueles ainda vivos.
A ambição de Tiago e João, por Marcos 110:35-37, os levou requerer do Mestre posições de destaques quando da instauração do reino, que eles esperavam material, com
isso a causar constrangimentos tal entre os seguidores de Jesus que, em Mateus 20: 2021, o autor coloca que o pedido se fez pela mãe dos dois apóstolos.
Nas andanças do Mestre, certa feita, ao deixar Jericó, teve um encontro com dois homens cegos, na emocionante narrativa de Mateus 20: 29-30, em contraposição com
Marcos 10: 46-47 que viu tão somente um homem cego.
A figueira foi amaldiçoada por Jesus após este ter deixado o templo, e secou imediatamente – Mateus 21: 17-19, enquanto para Marcos 11: 14-15 e 20, a maldição foi lançada antes de Jesus entrar no Templo, e somente no dia seguinte os discípulos observaram-na seca.
3. ESTAS, CERTAMENTE, SÃO PALAVRAS QUE O SENHOR NÃO FALOU
“Como saberemos a palavra que o Senhor falou? Quando tal profeta falar em nome do Senhor e tal palavra se não cumprir, nem suceder assim, esta é palavra que
o Senhor não falou (...)” – [Deuteronômio 18:21-22].
A realidade do profeta estava no cumprimento de suas predições, um critério quase nada
seguro, mas o único, para sabê-lo verdadeiro ou falso.
Desde o princípio bíblico as relações humano-divinas se fundamentaram nos projetos do
criador para com a criatura, assim, por exemplo, o homem habitar o Paraíso para sempre, um objetivo frustrado em causa da não resistência humana ao Tentador, sem nenhum douto até hoje esclarecer porque ordem o Inimigo estava lá no Éden, ou porque
lhe foi permitido induzir Eva ao pecado.
Aliás, nisto se pode questionar a perfeição divina, primeiramente ao fazer os anjos não
prevendo a Grande Rebelião, depois criar o humano à sua imagem e semelhança para a
eternidade paradisíaca, sem os cuidados de impedir a entrada daquele que derruiria seu
projeto terrestre. Impossível imaginar Deus, onipotente, onipresente, onisciente e onímodo, não conhecer antecipadamente os acontecimentos desastrosos, não só para a humanidade quanto para o seu próprio caráter.
“E viu Deus tudo quanto tinha feito e eis que era muito bom (...)” – Gênesis 1: 3.
Mas, não foram apenas nas ações projetadas que o Criador se equivocou; também suas
promessas futuras, ditadas diretamente ao homem ou através de seus ungidos, muitas
delas não se concretizaram, conforme algumas citadas.
Afora os imprevistos com os despejados do Éden, Deus falhou em sua palavra dada a
Noé, Gênesis 6: 13, quando ao arrepender-se com a criação humana decidiu exterminar
todo ser vivente da face da terra, exceto a família de seu escolhido e um casal de cada
animal posto na arca da salvação. Certamente essa ira não atingiu os peixes nem os Nefelin, os gigantes e heróis da antiguidade, vistos em Gênesis 6: 4 e, igualmente, após do
dilúvio – Números 13: 33 e referências.
Mais adiante Deus se revelou ao Abraão, Gênesis 12:1-3, para lhe determinar o seu propósito e natureza formar o povo escolhido e em qual região. A formação pré-tribal dos
semitas de Ló e de Abraão foi forjada, durante os cem anos de peregrinações na Palesti-
na e terras do Egito, à custa de tantas guerras com os povos que muito antes já habitavam a região.
Numa estratégia militar bastante eficiente o povo de Ló partiu para a conquista de trecho do rio Jordão ao sul e norte do Mar Morto e até Segor, a parte mais meridional ao
mesmo Mar Morto, além de Sodoma e Gomorra, enquanto Abraão, e é ele quem nos
interessa, foi à conquista de parte de Canaã [Gênesis 13: 15], como prêmio pela sua fé
desde a saída de Ur, através de pacto selado com predição divina futurista, sem nenhuma condicional, “À tua descendência dou esta terra, desde o rio do Egito [Nilo] até
o grande rio, o Eufrates (...)” – [Gênesis 15: 18].
Avançando estrategicamente sobre a região prometida, Abraão não sentiu resistência
significativa aos seus avanços dominiais, com vigor tal a ponto de uma nova aliança
com Deus, agora a lhe outorgar todo o território entre o Mediterrâneo e o rio Jordão,
para os descendentes para nela habitar para sempre, condicionada à ablação do prepúcio
dos seus descendentes varões – Gênesis 17: 1-10.
Os inimigos se uniram primeiro para deter Ló, cuja tribo logo se agregou a outras da
região para perder sua identidade; depois para forçar Abraão recuar para o planalto
montanhoso, a oeste do Jordão, sem chegar ao esperado Eufrates, nem ao menos até o
Nilo bem mais próximo. Aliás, Abraão jamais se fixou em lugar nenhum, em andanças
por cem anos na Terra prometida, entre Siquem, Betel, Hebrom e Berseba, ou seja, percorrendo a parte mais central e a do sul – vizinho ao Egito.
-Hebreus, 11: 8-22, em relato histórico sobre os patriarcas, observa em verso 13 que a
descendência de Abraão, Isaac e Jacó – antes do êxodo, não receberam a promessa
divina de possuir a Terra de Canaã.
Talvez pela primeira vez ocorreu a Abraão a compreensão que a promessa divina não
era para ele, e sim para a sua descendência, o que levou Josué, séculos mais tarde, reivindicar o direito hebreu à Terra Prometida até o Eufrates, Livro de Josué 1:3-4, já esquecendo o Nilo dentro do território de um inimigo muito mais forte e guerreiro, o Egito. A promessa jamais se concretizou até os dias atuais, embora biblistas ainda mantenham esperanças para tais acontecimentos, no fim dos tempos, quem sabe alguma grande guerra que leve Israel aniquilar todos atuais ocupantes das terras prometidas.
Os hebreus descendentes de Abraão, primeiro Isaac, depois Jacó, igualmente perambularam pela região, por mais ou menos 215 anos quando da entrada no Egito, onde estava
o filho José, já primeiro ministro do Faraó.
A estadia no Egito teria durado igual 215 anos, pela Septuaginta e a Versão Samaritana,
ou 430 anos pela tradição cristã, conforme Gálatas 3: 17, pela somatória de peregrinação de 215 anos a partir de Abraão, e outros 215 anos em terra egípcia. Pela tradição
hebraica os dois tempos atingem quase 645 anos, ou seja, 430 anos em Êxodo 12: 40, e
mais aqueles 215 anos peregrinos.
O profético adeus de Jacó, em terras do Egito, ao dividir a família em tribos, lança para
Judá o cetro de Israel, “Não se afastará o cetro de Judá nem o bastão do comando
entre os teus pés, até que venha aquele [pré-figuração de Jesus] ao qual pertence, a
quem devem os povos a obediência” – [Gênesis 49: 10[.
Os exegetas entendem que o velho patriarca prediz o poder político para a tribo de Judá,
a partir do Rei Davi até a vinda de Jesus, de geração em geração conforme estabelecido
uma promessa a Davi, em Salmos 89:4-5, “Estreitei um pacto com o meu escolhido,
jurei a Davi meu servo: conservarei a tua linhagem para sempre, e por todas as
gerações fundarei o teu trono”, com ratificação no mesmo Salmos 89, versos 31-38
ainda que os descendentes possam se desvirtuar “(...) eu juro pela minha santidade,
não faltarei à palavra a Davi" – [versículo 36].
A profecia falhou quando da vacância do trono, com deposição do jovem rei Joia-quim
[569 AEC], também chamado Jeconias ficando o trono por um período em mãos de
Matanias [chamado Sedecias pelos babilônicos] – tirado do trono quando da deportação
dos restantes judeus. O trono voltou a Joiaquim, na condição de rei vassalo sobre os
judeus cativos, uma benevolência do rei Evilmerodac – filho sucessor de Nabucodonozor [561 AEC].
Com o fim da guerra contra os gregos dominantes, restabeleceu-se o trono judeu com a
Dinastia Hasmoneana [140 – 36 AEC], apenas figurativa até a conquista de Jerusalém,
pelos romanos, no ano 63 AEC, mas sobre a ocupação do trono davídico, por algum
descendente, ainda existe a promessa neotestamentária – Lucas 1: 32-33, que Jesus restaurará o trono para sempre, a velha predição de Jacó lá em Gênesis 49: 10.
-O levante contra Antíoco inicia-se em 165 AEC, por Judas Macabeu, até o restabelecimento da independência, sob a dinastia Hasmoneana.
Tecnicamente todas as profecias bíblicas do Velho Testamento são carentes de cumprimento sem adaptações e justificativas do porque falharam. De todas as ordens divinas
para extermínio de vidas humanas e animais, além do arrasamento total do lugar para
sempre, se pode ver mais adiante sobreviventes ou descendentes, o lugar novamente
povoado, e sempre porque os ordenados por Deus nau cumpriram à risca as determinações, e castigados então, obviamente a tratar-se de textos justificativos para se livrar
responsabilidades às deficiências das previsões de Yavé.
-São exemplos notoriamente conhecidos e não acontecidos os textos em Isaías 17: 1, na
célebre profecia contra Damasco ser transformada num montão de ruínas, e em Jeremias 9: 11 quando diz de Jerusalém e as demais cidades de Judá e Israel inabitadas
senão por bestas feras.
Nenhuma das profecias, chamadas Oráculos Contra as Nações Circunvizinhas a Israel –
Ezequiel capítulos 25 aos 29, se cumpriu, a exemplo da dispersão egípcia, num período
de quarenta anos período que a nação seria desolação e ruína, conforme Ezequiel 29:112.
As célebres presciências a respeito de Babilônia, até hoje celebrizadas “Caiu Caiu a
Grande Babilônia” com tantos sentidos figurativos, não têm consistência histórica.
Babilônia chamada de Martelo de Deus para punição dos culpados e impenitentes, teria
seu fim de violenta destruição pelo predito em Jeremias 51 e referências.
Referido texto profético de Jeremias é corrompido e obscuro, cujos escritos são de épocas diferentes para um contexto histórico, além da linguagem de retóricas – metáforas
acrescentadas provavelmente no século II da era atual, após a desabitação de Babilônia.
Por conseguinte se sabe que o local não teve nenhum desaparecimento violento à maneira de inopinada destruição posta por Jeremias, nem acontecida as resultantes descritas no livro Isaías capítulo 14 versos 4-23, aí uma composição mordaz.
-Babilônia tornou-se decadente quando do reino de Seleuco, 312-280 AEC, ao perder
sua importância em relação a Ópis, nova capital rebatizada Seleucia, para onde se
mudaram os principais babilônicos e construtores. Ainda, por uns duzentos anos se tem
Babilônia como grande cidade, ainda que decadente, com registros que no ano 20 AEC
já era desabitada em grande parte e suas construções principais desmoronadas, vindo
seu desaparecimento total nos tempos do reinado de Trajano [98-117 EC], quando os
últimos habitantes deixaram o local, com a conseqüente ruína de suas ultimas construções.
Outros célebres exemplos de vaticínios estão em Isaias, postos pelo primeiro autor [capítulos 1-39] desde a sua escolha como Profeta, a traduzir o pensamento judaico da época, diante de abundantes acontecimentos políticos, às desgraças conseqüentes das condições morais e religiosas, o ungido a predizer-lhe os horrores dos castigos divinos pelo
desvio de comportamento do povo, abrandado com perspectivas de uma vida nova.
Tem-se que a primeira parte do livro Isaias foi concluída em 732 AEC [Caiu a Grande
Babilônia (...) - Publicação Torre de Vigia, edição 1972, páginas 277].
-Entre 721/719 AEC o reino de Israel [as dez tribos ao norte] foi levado cativo pelo rei
Sargão, da Assíria, que colocou outras pessoas de deferentes nacionalidades na região,
trocando estrangeiros com os israelitas por todo o seu império, levando-os ao desaparecimento nacional – as dez tribos perdidas de Israel. O reino de Judá [as duas tribos
do sul], somente foi cativa em 614/587 AEC, nas mãos dos babilônios, para retornar
em 537 AEC.
O autor do primeiro Isaias, ainda dentro do sistema monolátrico e de um deus nacional,
revela os estigmas de seu povo e lança os temas messiânicos desenvolvidos pelo segundo autor de Isaias, a partir do capítulo 40, já sob a égide de uma pretensão monoteísta
universal, sem dúvidas israelocêntrica.
O primeiro Isaias lança a célebre profecia “Eis que a virgem conceberá e dará a luz
um filho ao qual se dará o nome Emanuel” – Isaias 7: 14 que o escritor de Mateus
coloca por realizado no nascimento virgíneo de Jesus, quando na verdade tal predição
refere-se a um libertador [Emanuel] – Isaias 8:5-8, encarnado posteriormente na pessoa
do Imperador Ciro, Isaias 42:5-9, que restitui a liberdade para os judeus, isto é, promoveu o livramento do povo então cativo.
-O segundo Isaias, capítulo 40 aos 66, foi escrito depois que Ciro assumiu o poder medo-persa em 537 AEC, comprovados por estilo de linguagem e os textos alinhados aos
interesses do Imperador.
Não diferiam de Isaias os demais profetas, afinal Israel era o povo eleito de Deus, repositório da palavra divina e o responsável pela introdução do Messias para o estabelecimento do reino de Deus aqui na Terra, evidentemente Jerusalém por capital.
Dadas constantes falhas proféticas sobre o livramento da nação judaica, quase sempre
sob dominações estrangeiras, levaram os profetas, a exemplo de Miquéias 7: 13 [e referências] num acréscimo secundário, ainda a lançar expectativas de uma Jerusalém expandida – para onde viriam todos os seus exilados e dispersos para a reconstrução pátria, enquanto o restante da terra sofreria uma cessação de vida – de todo ser vivente, em
causa dos pecados de suas gentes. Não aconteceu, pelo menos a desolação profetizada
sobre as nações.
Segundo o mesmo texto em Miquéias, na Jerusalém haveria o renascimento religioso
onde se apagariam todas antigas infiltrações de estrangeirismos em seus cultos, ou seja,
sem influências do pensamento grego e do expansionismo romano que lhe foi impostado e adotado pelo cristianismo, tendo por base a mística do próprio judaísmo de quem
absorveu o seu Deus, os textos sagrados e o Messias em Jesus, que os próprios judeus
recusaram aceitar.
O Messias [Governante] transforma-se em Libertador Ideal, mas não real, nas vezes que
o povo eleito está sob dominação estrangeira. Com a não apresentação do Messias ou o
seu tardamento, todos os profetas lamentam a ocorrência, contudo ainda mantêm a esperança mística da instauração do Reino de Deus na Terra.
Falhando na introdução do Messias – geralmente mortos pelos dominadores ou fracassados por si mesmos, os judeus criaram a figura do Messias Sofredor, posto nos sagrados escritos após o fracasso de Bar Kochebas – a estrela de Davi, no ano 136. Bar Kochebas, enquanto vivo, foi reconhecido pelo rabinato como o Messias aguardado pelos
judeus; já não tinham mais a esperança de um reino universal a partir de Jerusalém.
Os cristãos apontam a certeza de um Jesus histórico fundamentado em narrativas simples – os evangelhos, como de fato ocorridas, mediante o recurso de transposições de
textos do Antigo Testamento cumpridos em Jesus, uma técnica acontecida no século II
para se justificar alguns dos mistérios da sua vida. Um fato bastante conhecido trata-se
da ocor-rência vista em Mateus 27: 35 e referências evangélicas “E havendo-o crucificado, repartiram os seus vestidos, lançando sortes, para que se cumprisse o que foi
dito pelo profeta: Repartiram entre si os meus vestidos, e sobre minha túnica lançaram sortes”, texto respaldado e cumprido à letra em Salmos 22: 18 [ou 19 a depender
da versão].
Embora queiram os cristãos hoje abranger todo aquele Salmo ao Messias sofredor, o
texto não é profético e sim uma melodia do Rei Davi, a tratar-se de transposição de textos quando se buscava a historicidade de Jesus em cumprimentos proféticos.
Em nota de rodapé, às páginas 220 da Pequena História das Grandes Religiões [Félicien
Challaye – IBRASA 1967, sobre o assunto, mostra outras transposições expositoras das
profecias do Velho Testamento cumpridas em Jesus:
• Nascimento Virginal: Isaias 7: 14 para Mateus 1: 20.
• Nascimento em Belém: Miquéias 5: 1 [PIBR] ou 5: 2 [Ferreira] para Mateus 5:
39.
• A qualidade do Nazareno: Juízes 13:5; e Números 6:1.
• A fuga para o Egito: Oséias 11:1 para Mateus 2: 15.
• Entrada de Jesus em Jerusalém sobre um jumentinho: Zacarias 9:9 para Mateus
21: 5.
• A expulsão dos vendilhões no Templo: Isaias 56: 7 para Mateus 21: 13.
• O preço da traição: Zacarias 11: 11-13 para Mateus 27: 9-10. Mateus cita Jeremias no oráculo, mas não encontramos referências.
• A Paixão de Cristo: Isaias 50 e 53, Salmos 22, em Mateus capítulos 26 e 28.
Nenhum dos textos mencionados [Velho Testamento] está diretamente relacionado com
Jesus, apenas o Novo Testamento faz citações isoladas “assim está escrito” ou para
“cumprir a escritura” e frases do gênero.
As profecias bíblicas neotestamentárias de maiores significados centram-se no fim dos
tempos, parusia e juízo final, conforme nos discursos escatológicos narrados em Mateus
capítulos 24 e 25, mais as referências, todos aqueles acontecimentos estavam previstos
para aquela geração, segundo Jesus: “Em verdade vos digo que alguns há, dos que
aqui estão, que não provarão a morte até que vejam vir o Filho do Homem no seu
reino” – [Mateus 16: 28]. O Mestre faz, ainda, uma alusão possível: “(...). Se eu quero
que ele [João] fique até que eu venha, que tens com isso” – [João 21: 22].
O primeiro livro bíblico neotestamentário, Tessalonicenses 4: 15-17 [posteriormente
denominado I Tessalonicenses], a Igreja Primitiva considerava em breve o retorno de
Cristo: “(...) depois nós, os vivos, os que ficarmos (...)”. Outras referências vinculadas
ao texto ratificam o pensamento que o retorno de Cristo era esperado para aqueles tempos, já identificados os anti-Cristos, dissidentes da Igreja, I João 2: 18-19, sinais prenunciadores da volta de Jesus.
Cada geração de cristãos buscou para si o cumprimento para o fim dos tempos. Interessante uma interpretação profética recente para o fim dos tempos.
Num aparte neste capítulo colocamos as profecias populares, aquilo que a Bíblia diz de
alguns feitos desconhecidos quando escritos e hoje presentes no dia a dia da humanidade. Nestes aspectos alguns textos [Tradução Ferreira de Almeida 1958] mostram-nos
certas curiosidades:
• Vácuo – Jó 6: 18 “(...) sobem ao vácuo e lá perecem” – tradução Ferreira de
Al-meida 1958.
• Energia – Jó 28: 11 “Os rios tapa, e nem uma gota sai deles, e tira para a luz
o que estava escondido” – tradução Ferreira de Almeida 1958.
• Impressões digitais ou identificação palmar – Jó 37: 7 “Ele sela as mãos de todo o homem para que conheçam todos os homens a sua obra”.
• Tanque de guerra – Jó 41, todo o capítulo versa sobre alguma coisa móvel de
aparência entre o hipopótamo e o crocodilo, e, pelas descrições desde o capítulo
40: 15 faz entender um moderno tanque de guerra.
• Televisão – Salmos 101: 3 “Não porei coisa má diante dos meus olhos (...)”.
• Globo terrestre – Isaias 40: 22 “Ele é o que está assentado sobre o globo da
terra (...)”.
• Helicóptero – Ezequiel capítulo 1, para alguns um OVNI, mais acertadamente
um helicóptero. O texto é confuso e não dá para fazer nenhuma descrição exata
daquilo que realmente viu Ezequiel.
• Viagem espacial – Obadias 1:4 “Se te elevares como águia, e puseres teu ninho entre as estrelas (...)”.
• Veículos [automotores] – Naum 2:4 “Os carros se enfurecerão nas praças,
chocar-se-ão nas ruas; o seu parecer é como o de tochas, correrão como relâmpagos”.
•
10. Míssil – Zacarias 5: 2-3 “(...) Vejo um rolo voante (...) Esta é a maldição
(...)”.
Internet / TV – Apocalipse 11: “E os homens de vários povos, e tribos e línguas, e nações verão seus corpos mortos por três dias e meio (...)”.
A HOMOSSEXUALIDADE SOB PONTO DE VISTA BÍBLIO-TEOLÓGICO
O homossexualismo está presente na história da humanidade desde o princípio, não
sendo diferente na cultura hebréia. A homossexualidade é tratada na Bíblia, tanto no
Novo quanto no Antigo Testamento,, sem se importar com conceitos e causas, condenando e penalizando sua prática como união abominável, à mesma maneira que coíbe as
zoofilias e incestos.
Não existe na Bíblia a palavra homossexual e derivações, a tratar-se de neologismo do
século XIX com a união do grego Homo [igual] e o latim Sexu [sexo], portanto igual
sexo, no sentido de comportamento sexual entre dois indivíduos do mesmo sexo.
-Para alguns estudiosos as traduções bíblicas com tais palavras estão postas arbitrárias e de conformidade com crenças e preconceitos.
A linguagem bíblica do Velho Testamento, em suas referências às práticas de homossexualidade determina ao homem: “Com varão não te deitarás como se fosse mulher.
Abominação é.” – [Levítico 18-22], sendo o pecado da abominação punido com a morte.
-Levítico 20:13 ratifica: “Quando também um homem se deitar com outro homem como
se fosse mulher, ambos fizeram abominação: certamente morrerão; o seu sangue é sobre eles”.
De fato em Levítico, capítulos citados, estão elencadas as interdições sexuais para o
povo de Israel, sob as formas literárias de “descobrir a nudez” ou “se deitar com”,
para os significados de relações sexuais passageiras ou duradouras, proibições mais tarde extensivas aos cristãos.
Grupos homo entendem que o Velho Testamento ao relacionar as proibições sexuais,
inclusive zoofilia para ambos os sexos, não “contemplou” as lésbicas, todavia não esquecidas no Novo Testamento - Carta aos Romanos 1.26 e 27, onde o autor recrimina as
práticas homossexuais de maneira mais abrangente “porque até as suas mulheres trocaram o modo natural de suas relações íntimas, por outro contrário à natureza;
semelhantemente, os homens também, deixando o contato natural da mulher, se
inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com
homens, e recebendo em si mesmos a merecida punição do seu erro.”
O artigo “Liberdade de expressão sexual: a última fronteira da espiritualidade
[versão completa]”, autoria de Paulo Stekel, Revista Horizonte, Cachoeirinha, RS, artigo de 09 de maio de 2007, citando fontes diz que “autoridades exegetas protestantes
e católicas, como Mcneill, Thevenot, Noth, Kosnik e outros” concluíram erradas as
interpretações neotestamentárias referentes aos homossexuais.
-http://revistahorizonte.blogspot.com/2007/05/liberdade-de-expresso-sexualltima.html
Realmente o autor ou autores de textos referentes não se valeram dos gregos “paiderastés” para o homossexualismo masculino, ou “lésbios” para designar mulher homos-
sexual – lésbica [lésbio + icos], e sim as expressões gregas malakoi, arsenokoitai e
pornoi, com traduções respectivas por “delicado referente a perversão de apetite para extravagâncias – no caso sexo”, “pervertidos” e “obcenos”, características de
doutrina misógena.
Paulo Stekel transcreve o ex-padre católico Daniel Helminiak: “As investigações científicas mais recentes demonstraram e denunciaram erros de tradução e de interpretação nas passagens que dizem respeito à homossexualidade. A maioria define
claramente, como por exemplo em Ezequiel 16:48-49 e no Livro da Sabedoria 9:1314, qual foi o pecado de Sodoma (Gênesis 19): orgulho, ódio, abuso, dureza de coração. Sexo nunca é mencionado. Também o termo "não natural", por exemplo,
que encontramos na Carta aos Romanos 1:28-29 devia ter sido traduzido pelos
termos "atípico" ou "não convencional". A Bíblia, se lida em coerência com os
seus próprios termos e contexto, não apresenta nenhuma condenação explícita dos
actos homossexuais.” [D. A. Helminiak, “What the Bible Really Says About Homossexuality”, Alamo Press, 1994.]
Biblicamente temos um primeiro caso de relação homossexual, em Gênesis 9: 22 quando Cão [Cam] “descobriu a nudez de seu pai” que se achava embriagado, aparentemente sem consentimento do passivo Noé, que ao acordar amaldiçoou toda a geração do
filho depravado e incestuoso. Ainda hoje não se entende porque Noé não amaldiçoou o
filho e sim sua descendência, não faltando opinião que foi em causa de Cão espalhar a
notícia “e fez saber aos irmãos” – mesmo verso 22.
São muitas as citações bíblicas condenatórias conseqüentes, sem méritos de justificativas ou esclarecimentos pró ou contra a homossexualidade, estando os clássicos exemplos na destruição de Sodoma e Gomorra – Gênesis 19:4-5, cujo episódio foi tão marcante que o termo sodomia tornou-se sinônimo de pederastia, embora comumente usado
para o ativo enquanto que efeminado para o passivo.
No livro de Juízes, capítulo 19, onde um grupo de homens, à maneira e semelhança dos
habitantes de Sodoma, pedem ao dono da casa que lhes entregue o visitante para os atos
sexuais pretendidos. O caso ganha contornos de causa nacional em Israel, a tribo Benjamim coloca-se ao lado de seus homossexuais e vinte e cinco mil soldados benjamitas
são mortos, além das mortes junto à população civil e, assim, quase a tribo foi extirpada
de Israel.
Outras três passagens bíblicas neotestamentárias sobre o homossexualismo são postas
em Romanos 1: 27, já citado, sobre os varões que “(...) deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, varão com varão
(...)”; I Coríntios 6:9-11 onde a afirmação que não herdarão o reino dos céus os “(...)
efeminados, nem os sodomitas (...)” – homossexuais masculinos passivos e ativos,
respectivamente; e I Timóteo 1:8-11, passagem quanto a aplicação da lei [punição], recomendada no verso 10 também “(...) para os fornicários, para os sodomitas (...)”.
A despeito das condenações bíblicas para as práticas homossexuais, uma estranha passagem bíblica, refere-se ao consórcio entre dois homens, inclusive a sugerir um se deitar
com o outro, assim colocado em Eclesiastes 4:9-11: “È melhor dois [homens] do que
um só, pois obtém melhor lucro de seu trabalho. Com efeito, se um cair, o outro
levanta-lo-á; mas ai do solitário que cai sem ter outro que o levante! Também, se
deitarem os dois juntos, aquecem-se; mas um só, como se aquecerá? (...)”.
Sem dúvidas que “o deitar junto” tem significado de relacionamento sexual, de acordo
com linguagem bíblica levítica.
Outra expressão utilizada para determinar união sexual encontra-se em Gênesis 2: 24:
“portanto deixa o homem o seu pai e a sua mãe, e apega-se a sua mulher e formam
uma só carne”. Nisto ensejam que Rute, a moabita, se apegou à sua sogra Noemi, ambas viúvas, para um entendido caso de ‘amor-homo’, que bem pode ser visto em O
Livro de Rute, capítulo 1 a partir do verso 14.
Apesar das juras e promessas à sogra, Rute regressou à vida hetero, com um parente
daquela que não lhe deu os prazeres do sexo.
O mesmo autor Paulo Stekel, com entendimento mais ou menos análogo ao nosso,
quanto ao caso acima, como subentendido romance entre Rute e Noemi, descreve outro
caso bíblico, que igualmente entendemos homossexual, a tratar-se dos amantes Baltesassar e Asfenez.
Baltesassar trata-se do bíblico Daniel, um nobre da família de Judá [reino], agregado
aos pagens da corte de Nabucodonosor. Alguns entendem que Daniel era eunuco, por
aquilo que está escrito em Daniel 1: 3-4.
Não concordamos. No versículo 9 do mesmo capítulo, no entanto, “Deus outorgou a
Daniel graça e benevolência aos olhos do mordomo [chefe dos eunucos] ...”, talvez
daí o pressuposto Daniel um eunuco, mas o fundamento encontra-se na “graça e benevolência” cujo significado direto do hebraico ‘hesedh u-le rahamiym’ seria o amor
carinhoso, no caso entre dois homens, um sabidamente eunuco.
Combinando estas observações, Daniel trata-se de um livro de exaltação profética cujo
autor, comprovadamente, não foi Daniel, e seus capítulos sofreram desconexões tantas
que necessitou de intermediações entre episódios colocados do capítulo 1 ao 6º, para
atenuar versões transmitidas nada morais e ou religiosas, por isso seu aspecto hoje messianista e abrandadas certas revelações, ainda que perceptíveis, em diferentes traduções,
as suspeitas sobre o romance entre personagens, platônico talvez, que ensejam, de qualquer forma, um “amor carinhoso”.
No entanto, não existe original hebraico de Daniel, senão versão posterior ao advento do
cristianismo e, mesmo assim o livro é menor que aquele posto nas traduções cristãs,
variáveis entre 12 e 14 capítulos.
-Os judeus puristas não aceitam suplementos a Ester e Daniel; inseridos todavia nos
Deuterocanônicos, ou seja, num segundo Cânon, porque não constam do Cânon Hebraico de Jerusalém.
Outra citação bíblica de relacionamento, entre homens, trata-se de um trágico romance
homo-afetivo entre Davi e Jônatas, o jovem cujo amor “se tornou um com Davi no espírito e que ele o amava como a si mesmo" – I Samuel 18: 1, consagrado no verso 3: “E
Jônatas e Davi fizeram aliança, porque Jônatas o amava como à sua própria alma”.
Poderia ser profunda amizade, mas o pai de Jônatas [o rei Saul] não pensou assim, a
atitude do filho lhe era desonrosa e tomou suas providências, porém os amantes se encontravam às escondidas, e quando Davi teve que fugir para se salvar da ira de Saul, ele
e Jônatas “se beijaram e choraram juntos, mas Davi chorou ainda mais” – [I Samuel 20: 41].
Em I Samuel 20:30 Saul estava deveras desconfortável com as relações do filho e com
Davi: “(...) filho ignominioso e contumaz, não sabia eu, porventura, que tu és favorecedor do filho de Isaí, para tua vergonha e de tua mãe?”. Saul também tinha planos para o filho, ambição desmoronada, acreditava, em causa do estranho amor entre
seu primogênito e Davi.
-O romance entre Davi e Jônatas foi bastante tumultuado, num grave momento políticoreligioso para a nação hebréia.
A morte de Jônatas provocou profunda tristeza em Davi: “Angustia me invade por ti,
meu irmão Jônatas, tão caro me eras! Admirável era teu amor por mim, mais do
que o amor feminino”, este final numa outra versão, “O seu amor por mim era maravilhoso, mais maravilhoso que o amor das mulheres” – II Samuel 1: 25-26.
Este relacionamento entre Davi e Jônatas incomoda os cristãos, principalmente os homofóbicos.
SUDÁRIO DE TURIM
Nas conclusões de Renato Sabbatini, O sudário e a Ciência, 1996, Jornal Correio Popular, Campinas - SP: http://www.sabbatini.com/renato/correio/ciencia/cp960815.htm
1. PORQUE UMA FARSA BEM ENGENDRADA?
No evangelho segundo João, 20: 6 e 7: “Entretanto chegou também Simão Pedro,
que vinha atrás e, entrando [na sepultura], viu as ligaduras [faixas] que estavam
no chão, e o sudário [lenço] que estivera sobre a cabeça de Jesus, mas à parte, enrolado num outro lugar”.
O texto de João traz pela primeira vez, referência correta a respeito do sudário de Jesus.
Sudário é a tradução do grego Sindón, com significado de lenço de tecido, com o qual
se enxugava suor da face, havendo ainda, em tempos antigos, modelo similar, porém de
linho fino, bastante transparente [tipo de véu ou o próprio], com o qual se cobria a cabeça [face] de um cadáver, acompanhando-o inclusive à sepultura.
Portanto o que se encontrava na sepultura de Jesus eram faixas [ataduras] e um lenço e
não lençol. Também não houve como seria de se esperar, nenhuma admiração dos visitantes ao túmulo vazio, quanto alguma imagem de Jesus gravada no lenço que recobrira
sua face; observou-se, no entanto, que o sindón estava dobrado e posto à parte das faixas que enrolaram o corpo de Jesus, o que significa cuidados de alguém que antecedera
Pedro e João, naquela sepultura, que provavelmente tenha sido – a Bíblia não diz – Maria Madalena, a primeira a ver o sepulcro vazio [João 20: 1].
Hoje algumas traduções trazem lençóis em vez de faixas, tendência geral futura para
todas as versões chamadas católicas, por razões óbvias.
Depois disto, a história bíblica se cala com respeito ao lenço e faixas mortuárias de Jesus, mas, com o decorrer dos tempos, no século VIII, os judeus já não mais envolviam
seus mortos em faixas, e sim o recobriam com um lençol próprio para tal fim.
O lençol, com a imagem pressuposta de Jesus, apresenta resíduos ou amostragens vegetais características exatamente daquele século VIII. O sudário – aceitamos denominação
assim, com a imagem de uma pessoa flagelada, segundo análises científicas, não vai
além de referida datação, então tida como época de sua fabricação.
A primeira representação sabida da figura de Jesus, data do século II, no quadro da ressurreição de Lázaro, na catacumba de Santa Priscila que pertencia, provavelmente, ao
jazigo da família Prudens, referências diversas e citação Danillo Nunes [Judas Traidor
ou Traído?, página 123].
Em tal representação Jesus aparece imberbe e sua fisionomia não lembra a de algum
semita, nem de um homem acostumado às rudezas do clima e andanças pelas regiões
palestínicas. Certamente aquela beleza de Jesus expressa em traços tão delicados, fundamentara-se em Salmos 45, numa pré-figuração do Messias.
Algum artista bizantino, no início do século IV, sob encomenda ou entendimento próprio, foi o primeiro a nos transmitir um Jesus barbado, de rudes feições semitas, sem
nenhuma aparência de formosura, conforme descrito em Isaias 53: 2. O rosto sobreposto
artisticamente numa espécie de toalha, é praticamente o mesmo da figura existente no
Sudário de Turim, ou seja, o retrato do Messias sofredor [flagelado]; todos os ícones
bizantinos de igual amostragem derivaram-se desta representação original de Jesus, conhecida como Mandylon de Edessa.
Somente no final do século IV, ainda pelos bizantinos, optou-se retratar um Jesus novamente aos moldes dos Salmos 45: 2, porém acrescido dum expressivo olhar descrito
em Lucas (6: 10 e 20, como exemplos), quadro bastante próximo daquilo que hoje aceitamos como representação ideal do Cristo.
Mas não podemos nos perder nas representações de Jesus, pois ao que nos parece, cada
artista da antiguidade ou dos primeiros séculos, desenhava-o conforme aquilo que encontrava e entendia na Bíblia [evangelhos] e tradições, como sendo Jesus, e assim temos, conforme Danillo, até a descrição [reprodução em traços] de um Jesus quase anão,
de não mais que 1,35 metros, numa provável compreensão de que Zaqueu subira na
arvore para enxergar Jesus na multidão, não porque ele Zaqueu fosse de pequena estatura, e sim Jesus. Absurdo? Sabe-se lá, mas quem se referiu àquela obra como retrato certo de Jesus homem pequeno, ou deu inspiração ao artista, foi ninguém mais nem menos
que santo Efrém (320-379). Além disto, uma carta do Sínodo dos Bispos Orientais, de
839, informa também Jesus com 1,35 metros de altura.
No entanto, o que nos interessa é a figura representada no Sudário. Seria ela realmente
de Jesus ou um bom desenho da Idade Média? Enquanto a fé persistir em cegar a razão,
jamais poderemos negar que o Sudário de Turim retrata mesmo Jesus, de nada valendo
a ciência comprovar o contrário. Entretanto, como nos é dado direito de expor idéias, e
naquilo que entendemos como verdade dos fatos:
• O lençol de linho, no qual se acha sobreposta imagem de um homem flagelado,
segundo a Ciência, não vai além do ano 1290, tudo não passando de realização
humana [quanto a figura], mesmo numa técnica realmente surpreendente para a
época.
• Restos de espécies [polens de gramíneas] – matéria prima utilizada na confecção do lençol, encontradas não tem anterioridade ao século VIII; ainda assim
uma considerável distância de quinhentos ou mais anos entre a feitura do lençol
[século VIII] e a elaboração do desenho [fins do século XIII]. Nada impede, po-
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rém, que um desenho do século XIII tenha sido realizado em um tecido do século VIII.
Consta que entre 1296 a 1304, ocorreram exposições particulares do Sudário em
diversas pequenas cidades da França, sendo que a peça em questão exposta foi
denunciada como fraude, por um bispo católico francês, que conheceu o falsário
e seus motivos claramente comerciais (cobrança de ingressos para aqueles que
desejassem venerar o sindón ou nele ver impresso o corpo de Jesus).
Sem contraditar crenças ou desmerecer tradições, o Sudário foi considerado pela
própria igreja, como obra humana, e não há como desacreditar a Ciência que o
Sudário é um lençol confeccionado no século VIII, de matéria prima originária
do Oriente Médio ou mesmo ali confeccionado, sendo a figura nele exposta, sem
anterioridade além do ano 1296.
A Igreja Católica Apostólica Romana jamais reconheceu, oficialmente, o Sudário como estampa legítima do corpo de Jesus, embora também nunca tenha
impedido que os fiéis a considerassem.
Falava-se, até os anos 1970, em dois “santos sudários”, um em poder dos católicos romanos, chamado Sudário (Sindón) de Turim, outro sob guarda dos ortodoxos, conhecido como Mandylon (Manto) de Edessa. O início dos estudos na
peça guardada em Turim, a partir de 1978, com autorização do Vaticano, como
que apagou da memória ocidental o sudário oriental, a partir de então considerado apenas réplica.
Realmente a figura estampada no sudário, é bastante semelhante aos ícones bizantinos de como seria Jesus; nestas circunstâncias, a representação no lençol de
Turim, no que diz respeito à face pressuposta de Jesus, às exceções das moedas
sobre as pálpebras, em nada se diferencia de um lenço conhecido como Mandylon (Manto) de Edessa, (cidade bizantina hoje denominada Urfa, na Turquia)
surgido no século IV, a partir do qual Jesus deixa de ser o imberbe belo e de
penteado romano, para adquirir características semíticas rudes e de barba.
A relíquia Mandylion de Edessa é considerada mais uma representação artística
de Jesus, mas durante muitos séculos acreditou-se que era sua face real estampada no lenço que Verônica enxugara o suor do Rabino, quando numa de suas pausas a caminho do Calvário.
Muitos pesquisadores, desvinculados de credos religiosos, têm como certa que o
Mandylon de Edessa tenha realmente servido de modelo para a confecção do
Sudário.
O Mandylon de Edessa é visto por muitos como o próprio sudário, roubado pelos templários (ficando uma réplica em Edessa ou em Bizâncio). Fundamenta-se
em lendas justapostas de que Jesus enviara ao soberano Abgar V de Edessa, um
retrato seu estampado, milagrosamente, numa toalha em que enxugara seu rosto,
que alguns colocam como a peça [lenço] que Verônica se valera para confortar o
Mestre, outros que na realidade tratava-se mesmo do lençol mortuário de Jesus,
que Teúdas [o apóstolo Judas Tadeu] levara para Edessa, onde os guardiões o
dobraram e expuseram-no num relicário, a ficar visível apenas o rosto.
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Pela tradição, o lençol saiu de Edessa em 1306, com destino a França, pelo templário Jacques de Molay, ficando uma réplica naquela cidade.
Do ano 30 até sua retirada de Edessa, a relíquia passou por uma série de acidentes: fogo, roubo, além de objeto de negociação de paz entre mulçumanos e cristãos ortodoxos. Não há registro digno de nota quanto a ocorrência de algum tipo
de milagre, estando o próprio sudário como verdadeiro e único milagre.
O sudário esteve nas mãos dos templários até 1314, quando estes foram praticamente exterminados, vindo o objeto ressurgir em 1356, nas mãos de Geoffrey de
Charny, religioso francês descendente de um militante templário. Doado à Igreja
de Lirey, o lençol é exposto em público, pela primeira vez como peça religiosa
autêntica, em 1357.
Para os estudiosos, tanto o Sudário de Turim quanto os “Cristos Pantocrator
[Todo Poderoso]”, do Egito (notável pintura do século VI, no mosteiro de Santa
Catarina) e o da Grécia (mosaico bizantino, do ano 1100, na cúpula do mosteiro
de Dafne) tiveram um mesmo e único modelo original de face, provável ícone
bizantino que muitos insistem ser o Mandylon de Edessa.
De fato consta que na utilização de técnicas de superposições de imagens, há entre os rostos do Pantocrator Egípcio e do Sudário de Turim, o impressionante
número de cento e setenta pontos de congruências entre eles, portanto não meras
coincidências conforme Alan Wanger da Universidade de Durham – Carolina do
Norte/EUA – citação revista Galileu de outubro de 1999. Impressionam também o Pantocrator de Dafne comparado com o Sudário de Turim, com mais de
duzentos e cinqüenta pontos harmônicos, conforme o mesmo Wanger em referida publicação.
Imagens tridimensionais das faces identificam correlações e proporções de traços fisionômicos, tendo o Mandylon de Edessa como provável modelo, por ser o
mais antigo deles todos, já conhecido [historicamente] desde o século IV.
Os especialistas não acreditam nalgum outro quadro semelhante, anterior ao
Mandylon, pois que somente a partir dele a arte bizantina passou a retratar Jesus
com as características semitas e rudezas de traços, num homem acostumado aos
rigores do clima palestínico.
2. O QUE NOS DIZ EXTAMANETE O SUDÁRIO DE TURIM?
Renato Sabbatini em O sudário e a Ciência nos traz conclusão científica a respeito do
Sudário.
Desde 1898, quando fotografado por Secondo Pia, o lençol mais conhecido como Sudário de Turim, tem sido o artefato mais estudado em todo o mundo, ainda distante de
conclusão, afinal a imagem nele retratada é ou não Jesus?
Com o sucesso da clonagem com ovelha Dolly, um outro motivo tem aumentado sobremaneira o interesse pelo Sudário: é possível um clone de Jesus a partir da amostragem do sangue que, segundo informam, acha-se impregnado no lençol?
Sabe-se de pelo menos uma seita religiosa que já se prepara para trazer Jesus de volta ao
mundo, inclusive com o preparo de uma virgem. Lógico que se a relíquia é pertence
católico, difícil será para alguma seita deitar-lhe mãos com aquelas intenções; se possível e de interesse, Jesus nasceria evidentemente no meio católico, isto é, desde que o
Sudário sema mesmo Jesus e favoreça possível a coleta de DNA.
Do ponto de vista investigativo, o Sudário é um lençol surrado, de 4,36 [altura] por 1,10
metros de largura, guardado em Turim [pela Igreja Católica], que apresenta dupla imagem, ventral e dorsal, de um homem em tamanho natural [1,80 metros], nu, de porte
atlético [pelo menos musculoso], com idade entre trinta e trinta e cinco anos, peso aproximado [calculado] de oitenta quilos. A imagem vista não deixa dúvidas, por qualquer
especialista, tratar-se de um homem semita, visto traços fisionômicos, barba e cabelos.
Depois dum sem número de testes, a maioria dos especialistas cristãos [vinculados à
Igreja Católica Apostólica Romana], descartaram a possibilidade de falsificação.
Segundo eles, tão somente o método de datação C-14 contestou a autenticidade da peça,
não sem razões, porém: o calor excessivo que a peça esteve submetida em algumas ocasiões como o fogo que lhe esteve próximo, o outro que lhe atingiu partes, e um terceiro
[em 1999] que somente não o consumiu por estar ele guardado num recipiente próprio;
além disso, também a contaminação de manuseio que o pano tenha sofrido, o que sem
dúvidas influenciaram resultados de datas.
A opinião cristã ocidental, mesmo entre os não católicos, abraça semelhante consideração. Detalhes outros, no entanto, saltam-nos à vista, evidenciando o Sudário como real
falsificação, grosseira por sinal, a despeito de inusitada técnica artística para a época
medieval.
O grupo internacional designado para estudar o Sudário, com autorização da Igreja [detentora da relíquia], a partir de 1978 concluiu pela fraude, ou seja, a peça não tinha anterioridade ao ano 1296, sendo realização artística humana. Partes coletadas do Sudário
são ainda estudas até hoje.
Vejamos algumas confrontações na figura vista na peça, tida como medida real de um
homem de 1,80 metros, onde se observam:
• A cabeça é menor em relação ao corpo, distante da proporção 1/8, o que seguramente determina que ela não pertença aquele corpo – caso não realizada por
mãos humanas – ou, se realmente dele e aí, mesmo que posta assim pela vontade
de algum artista, trata-se de uma pessoa com cabeça desproporcional ao restante
físico; é bastante provável que o artista tenha copiado a face de algum modelo
[pintura anterior], e depois tenha acrescido o corpo, com visível erro anatômico.
• Braços musculosos, tórax bastante largo assim como as costas, e cintura proporcional aos quadris, às coxas, pernas e pés, lembram bastante o vigoroso porte atlético de um gladiador bem treinado, e nada de algum semita ainda que acostumado às mais pesadas atividades braçais, que aliás também não era aquilo que
Jesus fazia.
• A postura do subentendido cadáver, não é própria para um judeano [judeu, galileu ou samaritano] e nem se acha posto num lenço de conformidade com o descrito em João 20:7. Tem-se ainda que, as mãos de um morto postas sobre a genitália, era costume próprio da idade média, mas não dos tempos de Jesus.
• Os braços da imagem, dos ombros às mãos, se colocados acompanhando o corpo, quase atingem os joelhos, detalhe anatômico inconcebível na espécie huma-
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na [normal], e que se tal viesse ocorrer em algum homem, certamente este seria
corcunda, o que não acontece com a figura do Sudário, quando observada pelas
costas.
Segundo especialistas a imagem vista no lençol, como cor mais escura, a tinta é
substância de moluscos do gênero siba, com misturas de ocre [vermelho e vermelhão] e pelo menos um pigmento de mercúrio, dissolvidas em colágeno – cola
de origem animal – em nada diferente daquilo utilizado pelos artistas da idade
média.
Não foi detectado sangue em nenhuma das partes do lençol, mas sim a presença
de óxido de ferro, hematita e sulfeto de mercúrio, nas partes indicativas de sangramento, ou seja, o artista valeu-se do uso de elementos inorgânicos na composição de sua tintura, para ilustrar sangue nas feridas.
Para aqueles que aceitam tese de originalidade do Sudário, pela pesquisa dos cientistas texanos, a não ser pela fé, aquela [pesquisa] foi descaracterizada pelo
próprio Cardeal de Turim [Dom Giovanni Saldarini], pois tais cientistas aventuraram-se nos campos daquilo que possibilitaria ser ou não ser, como por exemplo, o calor e o manuseio da peça de Turim poderiam ou não ser afetada para resultados de datação C-14; sem acesso direto ao objeto em questão, dizem que foi
sim afetado, da mesma maneira que a presença de ferro na tinta vermelha a faz
obrigatoriamente transformar-se em sangue.
Pesam ainda contra os pesquisadores texanos, que seus trabalhos firmam-se em
amostragens de segunda mão, além de intenções parciais de resultados firmados
na fé, onde se não dispostos a resultados pré-concebidos, fundamentados em
pontos polêmicos.
A imagem perceptível no lençol é bem mais própria das figurações da idade média, e em nada representa típicos do século I.
DAS FRATERNIDADES SECRETAS NO ANTIGO ISRAEL
I DA ORDEM DE MELQUISEDEC
O povo de Abrão (Abraão), saindo da Mesopotâmia iniciara uma peregrinação às terras
da Palestina e Egito, em busca de fixação territorial; promessa divina, dele sairia uma
grande nação para Deus, conforme Gênesis 12: 2.
Nestas expedições abraanicas, entre guerras de tantas vitoriosas, eis que lhe vem ao encontro um Sacerdote Rei (ou Rei Sacerdote) de Salém [forma contrata de Jerusalém],
devidamente identificado como Sacerdote do Deus Altíssimo (Gênesis 14, versos 18 e
seguintes e Epístola aos Hebreus 7: 1).
Ora, o povo de Abraão seria o exclusivo de Deus, enquanto os habitantes da Palestina
eram todos malditos, conforme Gênesis 9: 25-27, gente perversa (Levíticos 18: 25) e
por isto aquelas terras lhes seriam tomadas e dadas por herança, destino ou ordem de
Yavé, aos descendentes de Abraão – a terra prometida; ainda assim e no entanto surge
ali, bem junto do patriarca, a figura impoluta do Rei e Sumo Sacerdote Melquisedec,
não somente para abençoá-lo como também para receber dízimos das conquistas e despojos de guerras conquistados por Abraão.
Esta primeira referência à Melquisedec diz respeito ao seu encontro com Abraão, no
Vale do Rei (Sava), quando o patriarca avistava-se com o Rei de Sodoma; o Sacerdote,
Rei de Salém, trouxera-lhe então pão e vinho (símbolo eucarístico), abençoou Abraão –
Bendito seja o Deus Altíssimo que pôs os teus inimigos em tuas mãos, e Abraão lhe deu
o dízimo de tudo, cujo assunto o autor da Epístola aos Hebreus descreve com bastantes
pormenores no capítulo 7 a partir do versículo 4.
Porque Abraão dignou-se pagar dízimos à Ordem de Melquisedec? Por certo por algum
pacto proposto, alguma consulta prévia a respeito de sua empreitada; o que nos leva ao
entendimento que, então, a Ordem prestava serviços remunerados. Melquisedec qual
figura emblemática, surge novamente em citação Salmos 110: 4, “tu és Sacerdote eterno à ordem de Melquisedec”, designado Sacerdote do Deus Altíssimo, o que se
pode entender, uma Ordem monoteísta ou, no mínimo, monolátrica, com rígido exercício de poderes sacerdotal e régio.
Em Notas Explicativas o Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Tradução das Escrituras), às páginas 731 A e B, diz do Salmos 110: 1 no tocante – “Fala Deus ao meu senhor”, onde “fala” seria tradução do hebraico ‘ne’um’ como termo técnico e forma
solene de respeito quando do uso de oráculos sagrados, frequentemente anteposto ao
nome divino, denotando mensagens tidas como diretas, isto é, Deus falando através do
homem.
Se ‘ne’um’ antes do nome de um homem e importa isto como inspiração divina; entende-se então a conferência de exercícios temporal e secular numa única pessoa, com amplos poderes de sacramentar cargos, constituir governantes, no uso de seus atributos
diretos e de respeitos; valia-se o operador de oráculos, para as devidas consultas, respostas e decisões outras de caráter divino ou adivinhatório, do Urim e do Tumim – mais
adiante explicados, ou de algum outro sistema, plenamente cônscio de suas responsabilidades pessoais, sabendo impor-se diante das situações.
Analisando o verso 7 do citado Salmos 110 que diz: “bebendo da água / fonte do reto
caminho, conservará erguida sua cabeça”, evidencia-se que o “beber água da fonte”
significaria a Ordem, o reto caminho a iniciação, enquanto que “conservará erguida
sua cabeça” o exercício do poder [poderio], ou sejam, das necessidades de aprendizados ou uma iniciação para graduar-se e ser respeitado.
Conforme mencionado em referida ‘Notas Explicativas do Pontifício Instituto Bíblico
de Roma’, todo o Salmos 110 é texto obscuro e incompleto, todavia uma alusão óbvia à
Ordem Sacerdotal de Melquisedec, que os copistas e messianistas – dentre estes o autor
da Epístola aos Hebreus, valeram-se para nele a identificação do Messias Prometido.
Já no Novo Testamento, em Hebreus 5:6, existe uma repetição do Salmos 110 e, no verso 10, “proclamado por Deus Sumo Sacerdote, à ordem de Melquisedec”. No mesmo livro capítulo 7, há uma descrição apologética ao Sacerdócio de Melquisedec em
detrimen-to ao de Aarão; nos versos 2 do capítulo 7, o significado do nome Melquisedec como Justi-ça [Rei da Justiça], e para a cidade de Salém, PAZ, enquanto que o versículo 3 traz, surpreendentemente como se tratasse apenas de um personagem, “apresenta-se sem pai, sem mãe, sem genealogia, sem ter começo de dias nem fim de vida
(...) permanece Sacerdote para sempre”. Melquisedec conforme apresentação no texto bíblico, trata-se de uma Ordem e não de um indivíduo isoladamente.
O que então significaria isto?
O autor dos Hebreus nos dá uma pista: trata-se de uma Ordem Sacerdotal “Paz e Justiça”, altamente secreta quanto aos seus Mestres (sem genealogias), Iniciados e as suas
Doutrinas, sempre vista com muita reverência e modelo para ser seguido, um bom exemplo de Alta Magia.
Que Ordem seria esta?
Não era judaica, com certeza, mas era uma Ordem e em tudo superior à Ordem de Aarão (Sacerdócio), as Escrituras reconhecem isto pela sua natureza eviterna [Hebreus 7:
21-24] e não hereditária. O verso 23 do mesmo livro de Hebreus faz referência à Ordem
de Melquisedec, informando que tal tinha caráter irremovível.
Da Ordem de Melquisedec temos assim seu caráter devidamente exposto, daquilo que
seriam suas bases doutrinárias, efeitos práticos e superioridade às demais Ordens Iniciáticas, consoante vistas em todo livro Epístola aos Hebreus, quando se procurava por
uma nova ordem prenunciada em Isaías 66: 21, que a classificamos cristocêntrica para,
assim caracterizar seu distanciamento efetivo da doutrina pregada por João Batista, porta-voz de uma outra Seita Iniciática, à qual Jesus pertencera e que depois fizera-se dissidente.
Pelo que consta o Livro aos Hebreus, esta nova Ordem seria uma síntese da Ordem de
Melquisedec, com naturais avanços centrados na figura de um Cristo Ideal, ao lado de
pensamentos judaicos, tudo dentro de uma pedagogia inovadora de representatividades,
oportunamente expostas. Aos desertores desta nova ordem, as devidas recomendações e
ameaças contidas no capítulo 10 do mesmo livro, versículos de 26-39.
Extraído o cristocentrismo da Epístola aos Hebreus, verifica-se que a Ordem de Melquisedec valia-se dos ‘mal’akim’, ou seja, mensageiros espirituais [anjos] – força ativa e
sobrenatural disponível para um Iniciado. Tal livro [Hebreus] ao procurar diminuir o
Sacerdócio levítico de Aarão, traz a tona toda magnificência da Ordem de Melquisedec,
que acreditava na eternidade com o Deus Todo Poderoso, a admissão do espírito no
homem como emanação deste Divino e o conseqüente retorno a Ele.
É uma Ordem reencarnacionista: “muito teríamos a dizer a esse respeito, e nada fácil
de explicar” – Hebreus 5: 11-14, “enquanto deveríeis ser mestres em razão do tempo, tendes ainda necessidade de aprender os primeiros elementos dos oráculos divinos [da palavra de Deus]”; por conseguinte também evolucionista e iniciática, ao dar
ao homem a força motriz do conhecimento e do saber.
A Ordem determina normas de procedimentos para que se atinja tal conhecimento e a
realização plena do saber – capítulo 13 de Hebreus, constância (capítulo 12), a eficácia
de santificação quanto aos objetivos propostos (10:19 a 25) e vinculações ao pacto estabelecido – capítulo 8 correlacionado ao descrito em Jeremias 31:31 a 34.
As revelações e sua doutrina descrevem o Verbo Encarnado, a Palavra, como base precípua da Ordem – Hebreus 1: 3 com referências em II Coríntios 5: 4.
II DAS MAGIAS DO EGITO E DE MIDIÃ
Pela Bíblia, a vocação de Moisés para as artes secretas é vista em todas as descrições de
suas atitudes, como exemplo, o uso da mística naturista para identificar e contatar o seu
deus, Yavé, numa montanha – vulcão ativo [força divina], onde recebe [faz] as instruções para conduzir seu povo; os conhecimentos de alquimia para converter água em
sangue – veneno que arrasou cardumes no Egito – um fenômeno que os sacerdotes egípcios, chamados de Magos, reproduziram; de encantamentos, seu bordão se transformou em cobra e que os Magos também fizeram; o saber do comportamento animal e seu
ciclo, ao fazer as rãs saírem das águas do Nilo, em direção a terra firme [invadindo casas], com mesma reprodução fenomênica pelos Magos; entendimento quanto a ausência
de saneamento básico numa região onde peixes e rãs mortos e expostos a céu aberto,
com a conseqüente vinda de moscas, insetos inoportunos e roedores, das doenças diversas na população e animais domésticos.
Nos relatos bíblicos, Moisés e os Magos egípcios estariam travando uma verdadeira
batalha no campo das Magias, até o momento em que os Magos do Egito não mais se
interessaram reproduzir fenômenos, logo após a invasão das moscas, cientes dos resultados funestos dos espetáculos iniciais e da armadilha em que se meteram.
Moisés demonstrou bons conhecimentos metereológicos – chegada da chuva de granizo,
o vento primaveril do sul do Egito trazendo nuvens de areias e de pós do deserto, um
fenômeno que se repetia com certa constância, deixando a região como que às escuras e
o ar sufocante; dos ciclos de chegadas de insetos, a praga dos gafanhotos que, de tempos
em tempos, sempre dentro de lógica previsível, infestavam o Oriente Médio, trazidos e
conduzidos pelos ventos que propiciam aqueles insetos a vencerem grandes distâncias.
As pragas e as realizações citadas se encontram no Livro Êxodo capítulo 7, a partir do
verso 9 até o capítulo 11.
O Libertador Moisés parecia, também, conhecer o uso da pólvora – a região de seu sogro Raguel [Reuel], mostrava-se rica em salitre, enxofre e carvão, e Êxodo 34:29-35
sugere possível acidente com explosivos do tipo que feriu Moisés.
-Raguel era Sacerdote Midianita, cujo título honorífico seria Jetro, isto é, pai de todos
ou sabedoria iniciática.
Versado em rabdomância, Moisés também não teve dificuldades de encontrar água para
seu povo.
Moisés era um Iniciado nas Magias do Egito – fora criado dentro da corte do Faraó,
porém jamais viria ser um governante, sabia disto pela própria origem, todavia poderia
ser um Sacerdote – isto lhe era possível, e suas demonstrações de proezas em nada diferiam dos Iniciados daquele país.
Entende-se ainda que Moisés recebesse outra iniciação pelo seu sogro e Sacerdote Raguel, Êxodo 2: 16, nos quarenta anos de vivera fora do Egito, na Arábia junto a tribo de
Midiã, vistos pelos conhecimentos quanto à natureza e ciclos do vulcão do Sinai, Êxodo
19: 9 e mais os versos 16-25, assim como da geografia regional e saber os melhores
caminhos por onde conduzir o povo, de modo dificultar perseguição egípcia, por exemplo, atravessar um lago de águas rebaixadas e coberto de juncos [yam sûf] – cuja lama
de fundo não permitiria o trânsito dos pesados carros de guerra dos egípcios,
De acordo com Êxodo 14: 9-21 os filhos de Israel estiveram acampados certa feita em
Piahirot, defronte aos pântanos lago Baal Sefon – hoje drenada e atravessada pelo Canal
de Suez, numa noite em que terrível siroco [vento quente regional sueste – fenômeno
previsível] batera sobre o local e deixando um caminho de juncos tombados sobre as
águas, por onde avançou Moisés e os seus, tão logo avistado ao longe o exército do faraó.
-A expressão hebraica ‘yam sûf’ – Mar de Juncos foi traduzida por Mar Vermelho, pela
versão grega Septuaginta e a latina Vulgata, erro mantido nas diversas versões para o
português.
Sem dúvidas Moisés tinha conhecimentos secretos e sempre soube estar com seu povo
nos lugares certos para os acontecimentos, a exemplo das migrações das codornizes, que
saiam do interior do continente africano em direção às regiões temperadas do norte –
(Oriente Médio), pousando a noite, em bandos, junto a determinadas áreas (Êxodo 16:
18 e versos seguintes de referido capítulo).
O Libertador também sabia do fenômeno do maná – certas árvores frutíferas como algumas espécies de tâmaras do deserto, têm seus frutos feridos por insetos – no ato da
alimentação noturna, destilando assim uma substância açucarada que escorrer ao chão
formava uma bolota que, logo pela manhã com o nascer do sol secava-se rapidamente
em forma de bolotas, dando saboroso e nutritivo alimento – codornizes migratórias repousavam a noite junto destas árvores, assim fáceis de serem capturadas.
-Moisés jamais produziu milagre algum. Os seus grandes milagres seriam o estar sempre presente no momento dos acontecimentos.
Outros fatos apontam Moisés conhecedor de segredos para a época, por exemplo, a eletricidade estática que utilizou com grandes desempenhos – Êxodo 13: 21 e 22, vista em
tremendos efeitos óticos [Êxodo 40: 34 e seguintes]. A arca citada no Êxodo 25: 10 e
sequências, seria na verdade um grande acumulador de energia de alta tensão captada do
deserto.
-Tal arca construída de acordo com Êxodo 37:1-9, por ordem divina [Êxodo 25: 1137], ainda hoje estimula imaginações ainda hoje, um artefato de madeira em forma de
arca, revestido por proteções externa e interna de ouro [e possivelmente chumbo], com
medidas descritas, com condutores separados por isolantes, e somente podia ser transportada, com certos cuidados, por pessoas autorizadas através de bastões isolantes.
Aqueles que ousaram tocar a Arca sem a proteção devida, morreram fulminados. Ensejam, fundamentados em Êxodo, que a tal arca iluminava o arraial dos judeus durante a
noite.
Moisés transmitiu ao seu irmão Aarão, todos seus conhecimentos – há suspeitas de que
Aarão também tenha sido um iniciado na Escola egípcia, e por isto de sua linhagem é
que sairiam os Sacerdotes de Israel, como num segredo, oral e escrito, passado de pai
para filhos, ao longo das muitas gerações.
Pelas demonstrações bíblicas citadas, Moisés teria conhecimentos e realizações bem
acima dos Sacerdotes Egípcios, onde fizera seus estudos primeiros, dado seu aprendizado também em Midiã.
III SACERDÓCIO AARANÍTICO
O Sacerdócio Aaranatíco, notoriamente advindo da Escola Egípcia com elementos Midianitas, princípios observáveis pelo seu caráter místico, regras de iniciações, magias,
encantamentos, fórmulas mágicas, símbolos, ciências em suas diversas correntes, regras
morais e tabus ao lado dos esoterismos e exoterismos com respectivos cerimoniais, rituais de oblações e purificações, revelações de mistérios, o ocultismo – ciências secretas
de uma maneira geral.
Quando acontece o êxodo, já existe um povo com uma identidade nacional. Depois,
com a elaboração de suas leis – verdadeira constituição religiosa, Israel ganhou contornos de uma nação organizada; sobrevivera ao desastre de dominação estrangeira em
cativeiro por quatro séculos, então nada mais justo que atribuir a Yavé a sua integridade,
quando tantos povos já haviam desaparecido como nações, um sistema lógico de conseguir unido seu povo: Yavé estaria sempre com eles, condicionalmente ao se me obedecerdes [Êxodo 19:5], pelos Sacerdotes [herança egípcia e de outras nações], uma classe
especial mandatária a determinar rédeas de um governo tido Teocrático.
As terras conquistadas e divididas entre as diversas tribos, a Classe Sacerdotal [diri-gida
pelos intocáveis levitas] manteve-se centralizadora em seus poderes de decisões de ordem geral (civil e religiosa), ficando para os Juízes, por eles nomeados, o exercício pleno do poder militar, com atribuições de verdadeiros ditadores contra o povo, a cumprirem ordens emanadas dos sacerdotes: Yavé (entenda-se classe sacerdotal) assim determina, portanto tal não se discute, cumpra-se apenas.
Porque os sacerdotes instituíram os Juízes?
Sabe-se por Deuteronômio 17: 8-13, da existência de juízes de vários graus, com funções específicas, subordinados aos Sacerdotes – uma espécie de juizado de causas menores, todavia não tinham eles autoridade sobre o povo, limitando-se às atribuições de
pequenos julgamentos; o cargo era transitório e de confiança.
As muitas guerras com povos vizinhos, revoltas internas, estavam sempre a exigir atenções especiais dos Sacerdotes – os representantes de Yavé, com incômodas situações
posto que não treinados para o militarismo, nem eram estrategistas bélicos, com a agravante diante de batalhas perdidas: como poderia Yavé, todo poderoso, fracassar contra o
inimigo?
Melhor estaria a situação, se entregue nas mãos de um Juiz Único, com poderes de governo militar e de ordem pública, ficando com os sacerdotes, porém, todas as demais
decisões, além do exercício secular do poder absoluto.
O exercício do sacerdócio era devidamente regulamentado em Lei, instituída pelo próprio Deus (Êxodo 19: 5-6; 28: 1-41), destinado à tribo de Levi (Números 3: 6-9 – serviços sagrados gerais e auxiliares) cabendo à descendência de Arão, irmão de Moisés o
Libertador, a exclusividade do sacerdócio propriamente dito (Êxodo 40: 12-16); Arão
(Aarão) também era da tribo levítica. Pelo livro Levíticos, a partir 7: 14 e 32-34, são
conferidos direitos à classe; o capítulo 10: 1-7 impõe os deveres, enquanto o 21:16-24
informa das demais exigências para o cargo – algumas delas, a exemplo da probidade.
Com a efetiva fixação dos israelitas na Palestina, o Sacerdócio, hereditário por lei, aos
poucos se emancipando do conquistador Josué, vencendo um início de separatismo conforme se vê no Livro de Josué 12:11-12 e 30-34.
Se Deus falava a Josué (às vezes Yavé por outras Elohim) e este ao povo, o povo a Josué e ele a Deus; como ocorriam tais fenômenos?
Sem dúvidas através dos Sacerdotes, recorrendo e respeitando-se objetivos expostos
quando a construção de Arca da Aliança e no que diz a respeito: “Aí eu me encontrarei
contigo, e de cima do propiciatório, no meio dos dois querubins que estão sobre a
arca do testemunho, comunicar-te-ei todas as coisas que te ordenarei a respeito dos
filhos de Israel” (Êxodo 25: 22); Deus definitivamente abandonara aquela maneira
naturista de falar de sobre um monte trovejante.
Os Sacerdotes eram então proeminentes sobre todos os demais homens de Israel, centrados numa Teocracia, fazendo-se privilegiados porque era, apenas através deles, que
Deus dava ordens, transmitia mensagens e, por eles também, Deus ouvia o povo de acordo com atributos expressos em Êxodo 28: 30.
Embora o Sacerdócio fosse hereditário e exclusivo, vêem-se nos textos sagrados as necessidades dos preparos tantos e consagrações diversas, além dos afazeres e das muitas
complexidades inerentes a tão elevado cargo; Ser Sacerdote era, antes de tudo, sofrer
todo processo de rígida iniciação, onde se faziam aprendizados desde as atividades mais
elementares às maiores complexidades das ciências, afinal a Teocracia exigia sempre o
saber tudo, inclusive as Magias. Não foi, portanto, por mera distinção que Moisés colocara Aarão como sacerdote, pois que Aarão fora um Iniciado no Egito e aprendera os
altos segredos, tal qual Moisés, e estes não poderiam ser revelados, sob pena de perdas
da mística e assim a conseqüente desagregação do povo, unificado numa só fé.
Em Josué 5: 13-15, o valente conquistador que emprestou seu nome ao livro ou por ele
foi honrado, teve uma dessas experiências que veio colocá-lo no devido lugar de um
valoroso guerreiro, contudo submisso a Deus [aos sacerdotes]: Josué estivera face a face
com certo homem, ficando na dúvida se amigo ou inimigo (portanto não muito diferente
dos demais) – os dois achavam-se a sós, e aquele homem identificou-se como chefe e
príncipe do exército do Senhor. Teólogos cristãos vêem na passagem uma teofania do
próprio Deus, ou a presença de um anjo mensageiro, porém tais situações não mais aconteciam porque Deus tinha seu lugar certo de conversações; na realidade um dos sacerdotes foi quem aparecera a Josué, ciente dos segredos de como transfigurar-se e causar impressionismos.
Mas, por volta do ano 1120 anos antes de Cristo, um garoto foi entregue a Heli, Chefe
dos Sacerdotes e Juiz, para que fosse devidamente instruído [iniciado] acerca das coisas
sagradas; o pequeno “fez progressos tanto aos olhos de Deus como dos homens” (I
Samuel 2:26), fez votos perpétuos de Nazireado. Ainda criança, paramentava-se com
vestes sacerdotais – mesmo livro, versículos 18 e 19, o que bem identifica sua precocidade e dedicação integral vocacionada a alta iniciação; tinha contudo um problema: não
era da tribo de Levi e nem da descendência de Aarão, não podendo portanto ser Sacerdote, nem ao menos um serviçal auxiliar.
A Teologia para justificar Samuel, este era o nome da criança agora jovem, coloca-o
eframita, não da tribo de Efraim, e sim quanto sua cidade natal, porém levita por linhagem, mencionando para tanto genealogia vista em I Crônicas 6: 10-12. Evidentemente a coloação bíblica genealógica é forçada por não se tratar, originariamente, do
mesmo Samuel, a bastar observações quanto aos nomes de seus descendentes [filhos].
Para pronta solução do problema e assim não perder um dos mais valorosos dentre os
iniciados, Heli recorreu a um expediente facultado em Lei, Deuteronômio 18: 15-20,
instituindo o Profetismo, ou seja a Classe dos Profetas, para nela devidamente estabelecer Samuel.
-Registram-se casos de profetas eventuais nos livros antigos como Gênesis 20:7, Números 11: 25 e Deuteronômio 4: 10, contudo distantes de algum ministério constante e
regrado.
Samuel tão logo sagrado Profeta Oficial, assumiu também as funções de Juiz, vindo a
suplantar os Sacerdotes e assim promover uma reforma religiosa sem precedentes; já,
em I Reis 18: 16-20, observa-se o Profetismo independente dos demais poderes, civil,
religioso e militar.
IV DAS ORIGENS DO PROFETISMO
Samuel fez Escola Sacerdotal e foi um alto iniciado naquela classe, todavia dado impeditivos legais, ele não era levita – por mais que forcem os cristãos, jamais ele pode ou
veio assumir aquela função, antes sim lhe foi aberto um expediente inovador, ao ser
ungido como Profeta Oficial, Eclesiástico 46: 13.
Promovidas as reformas religiosas e civis para seu povo, Samuel diminuiu em quase
tudo a influência externa da Classe Sacerdotal, limitando-a tão somente aos trabalhos do
Tabernáculo – futuro Templo, fazendo-se assim além de Profeta também Juiz – Executivo e Legislador, acabando por estabelecer uma Escola de Profetas, I Samuel 10: 5 e
confirmada em II Reis 2: 3, mais as respectivas referências.
Numa hábil negociação política com os anciãos de Israel que estavam a exigir-lhe um
rei, I Samuel 8: 4-5, visível contra-ofensiva da Classe Sacerdotal com justificativas de
que o Profeta já estaria velho e decadente, este então deu-lhes um monarca, sem contudo perdas das forças do Profetismo – ungiu a Saul como rei, porém este fez-se um governante enfraquecido dentro do próprio poder, onde a ordem vinha sempre de Deus
através de Samuel, o profeta ungido.
Quando Saul mostrou garras contra os Profetas que interferiam demasiadamente em seu
governo, Samuel numa ousada estratégia ungiu um novo rei para Israel, desta vez Davi,
num sistema hereditário, sem a deposição ou morte do primeiro: não se podia tocar num
ungido do Senhor, todavia Saul já não era mais de sua confiança e, por conseguinte nem
de Deus. Com esta manobra Samuel confirmou sua simpatia e liderança junto ao povo,
que se voltou então contra Saul e a classe dos Sacerdotes, a nação mergulhar numa
guerra civil além dos conflitos com nações estrangeiras.
Sustentado através do apoio popular, Samuel colocou a Classe dos Profetas como a real
governante do país, mais uma vez em detrimento à Ordem dos Sacerdotes, com ações
independentes dos demais poderes constituídos; daí sim concretizada sua obra: Israel
teria sempre um rei, do ramo de Jessé e os Profetas estabelecidos como um Ministério
constante – podia morrer em paz.
A primeira Escola Iniciática de Profetas, que se encontra no Livro de Samuel, mostra
características de atos próprios e inerentes às funções de profetismo, com homens preparados e sagrados ao ofício, capazes de verdadeiros estados de êxtases e excitações
místicas envolventes, como representatividade real de Deus junto ao povo.
Nem sempre a convivência dos reis com os profetas foi pacífica, segundo se pode primeiro Livro dos Reis, 18:3-4, onde de iniciados, uma centena deles, são escondidos em
cavernas para escaparem da morte.
Mas o que era ser Profeta em Israel e Judá?
Nabi, com o significado de arauto ou mensageiro, seria o homem estudado e consagrado
a Deus, inteiramente dedicado à missão de levar ao povo mensagens, ordens e decisões
outras diretas de Deus, isto é, com a palavra sempre persuasiva de – o Senhor assim
fala, individuais ou comunitárias, visando manutenções da ordem social e vida religiosa,
com capacidades de desestabilizar governos ou de unir o povo, numa empreitada qualquer, independentemente da vontade do rei ou dos sacerdotes. Os Profetas também determinavam castigos, revelavam segredos, com uma força mística ora a valer-se de mímicas, palavras, danças, músicas diversas ou de escritos, quase sempre impregnados de
poderes, não raras vezes, recorrentes de dons variados de paranormalidades (fenômenos
parapsicológicos) – clarividências, prognósticos, pré e pós-cognições, vaticínios e curas
dentre outras tantas capacidades.
Com total isenção e independência dos demais poderes constituídos, o Profeta somente
prestava contas de seus atos à sua Ordem. Com a ascensão do Profetismo e o seu carisma junto ao povo, os Sacerdotes ficaram limitados a atribuições específicas nos Templos, raramente consultados, e assim os Profetas se tornaram guias espirituais, juízes
especiais, chefes políticos e militares, libertadores e atividades porventura designadas
pela Confraria.
Durante quase 600 anos, desde que Samuel estabeleceu a Ordem, por volta de 1050
AEC até Malaquias, no ano 443 AEC prevaleceu a força dos profetas em detrimento aos
sacerdotes. Com a dominação estrangeira sobre Israel o Profetismo foi extinto e substituído pela Classe Sacerdotal, muito mais dócil às manobras dos conquistadores.
Com o desaparecimento da Classe dos Profetas, o povo lastimava sua ausência e os conselheiros, diante do poder dos dominadores, aceitaram a volta do sacerdócio mediante
condições: “Aprouve, pois, aos judeus e aos Sacerdotes que Simão seja seu Chefe e
Sumo Sacerdote para sempre (etnarquia), até que surja um Profeta autorizado” –
[I Livro dos Macabeus 14:41]. No mesmo livro Macabeus 9:27, “Reinava tamanha
calamidade em Israel, qual não se tinha visto desde o dia em que não lhe fora dado
ver um Profeta”. Já o Salmos 74:9 lamenta: “Não vemos mais os nossos estandartes,
já não há nenhum profeta, nem entre nós quem saiba até quando”.
O povo reclamava assim a erradicação do Profetismo, Profetas Iniciados, e culpam os
acontecimentos contra a nação pela razão simples de já não terem mais nenhum profeta,
porquanto o Profetismo lhes era tão importante quanto a própria Lei, não sendo raras as
vezes que aparece o binômio bíblico “a Lei e os Profetas”.
Porque acabara assim o Profetismo, uma instituição conclamada e de ausência tão sentida pelo povo?
O livro Malaquias [2: 7-9] parece trazer a resposta: a corrupção dos Sacerdotes – que se
deixaram corromper, e “fizestes cair a muitos por via do vosso ensinamento. Rompestes o pacto de Leví (...) e fazeis acepções de pessoas perante a Lei”. O dito
“rompestes o pacto de Leví” significa uma alta traição, ocorrida durante a dominação
persa, destacando-se em Daniel 6: 2-3, um dos últimos Profetas a ocupar cargo de destaques naquele governo, a exemplos de Esdras e Neemias.
A literatura dos Sacerdotes cala-se a respeito dos Profetas, não existe vestígio algum
quanto a extinção do Profetismo. Contudo, à maneira como os Sacerdotes colocaram-se
ao dispor dos gregos, seus novos conquistadores pós-dominação persa, torna-se compreensível o entendimento quanto à extinção da Confraria dos Profetas, com os sacerdotes entregando-se aos novos senhores e a estes submetendo todo o povo, para sagraramse vencedores de uma guerra surda que jamais deixara de existir, em tempo algum, entre
as Classes Sacerdotal e dos Profetas.
Com Malaquias, talvez o último dos Profetas da Ordem ou o primeiro de uma nova Fraternidade, surgiu notável linha de pensamento religioso restaurador: o Profeta Elias retornaria à terra.
Para não fomentar a crescente teoria / hipótese da reencarnação, colocou-se posteriormente aos textos, que Elias não morrera, antes, vivia em algum lugar da terra. Mais tarde, dado o correr dos séculos e nada de Elias se apresentar, acrescentou-se que ele não
mor-rera e sim fora arrebatado ao céu, ocorrência que nem os contemporâneos acreditavam [II Reis 2:16-18].
Visando dirimir dúvidas para que não se ficasse no campo do risível, o assunto pas-sou
a ser que Elias voltaria sim, mas em espírito e virtude, isto é, o seu ministério, uma obra
semelhante e missões idênticas, todavia não existem paralelos entre Elias e de João Batista, o Elias reconhecido, quanto ao exercício ministerial ou o caráter das mensagens de
cada um.
Malaquias no livro que empresta seu nome traz de volta, por razões óbvias, o Yavé ameaçador e vingador, da mesma forma que os profetas predecessores imediatos, também os últimos de uma Classe outrora gloriosa. Malaquias, porém, investe mais contra a
Classe Sacerdotal que qualquer outro profeta, ditando o Sacerdotismo culpado pela ruína do povo, a prática de cultos estranhos, os elementos gregos na cultura e religião judaica, a miscigenação do povo – enfraquecimento nacional, divórcios indiscriminados –
ruína social, com todas as conseqüências de degradações tanto às moralidade quanto à
religião, evidencias do judaísmo decadente.
Querem alguns que a obra Malaquias seja de significação essênica, muito bem expressada naquilo que os essênios determinavam que a salvação viesse diretamente de
Yavé, isto é, sem nenhum intermediário humano; que então o anjo mensageiro (Malaquias) seria a Comunidade dos Essênios e o anjo da aliança o próprio Yavé [Malaquias
3: 1] com ações diretas, porque entendiam como filho de Deus não um homem divino
ou divinizado, e sim a nação de Israel – Êxodo 4: 22 e Oséias 11: 1, ou seja, o povo como um todo e não um Jesus conforme a tradição cristã.
Os versos 19 a 24 do capítulo 3 de Malaquias, na versão bíblica do PIBR – as demais
versões acrescentam um quarto capítulo a partir do verso 19 do capítulo precedente,
foram escritos por autor diferente, de uma outra Ordem ou Seita pré-cristã, textos devidamente acrescentados quando da elaboração efetiva do Cânon Bíblico, pois é ao Profeta Elias, reencarnado em João Batista, a quem estava destinado um Ministério Restaurador e não a Jesus.
A mensagem é clara: viria Elias [João Batista] e depois Yavé, num grande e terrível dia
[Juízo Final], não havendo portanto lugar para nenhum outro, Jesus ou quem quer que
fosse, pois que, positivamente, o Elias reencarnado não era e nunca fez parte do pensamento dos Essênios, de igual forma também de algum possível Messias Libertador.
V COMUNIDADE DOS ESSÊNIOS
Dentre as várias Comunidades que surgiram em Israel, sem dúvidas destaca-se a dos
Essênios, talvez não a mais importante delas, todavia a mais comentada, a mais estudada e, evidentemente, a mais conhecida, a ponto outras demais, como a do Grupo de Qurâm, serem classificadas também essênica.
O que seriam os Essênios?
Falar deles é quase impossível sem discordâncias, nem todos concordam e novas evidências estão sempre a surgir diante das novas e constantes descobertas, de tal forma
que a verdade ou mentira de hoje poderão não ser necessariamente aquelas de amanhã.
Dos Essênios ainda se está muito longe de restituir-lhe toda a verdade.
Leon Denis, em sua obra Depois da Morte, ao discorrer sobre crenças e negações às
religiões e doutrinas secretas, descreve os Essênios como grupo de iniciados que abertamente se entregam ao exercício da medicina, porém o seu fim real é mais elevado:
consiste em ensinar, a um pequeno número de adeptos, as leis superiores do universo e
da vida. O autor, comparando a doutrina dos Essênios com a de Pitágoras, informa que
os membros daquela comunidade admitem a preexistência e as vidas sucessivas da alma; faz também um paralelo dos Essênios com a Comunidade Sacerdotal de Mênfis: a
iniciação é graduada e requer vários anos de preparo.
Denis não hesita em colocar Jesus como iniciado essênio, durante anos e anos, em seu
período pré-apostólico, justificando por enxergar em atos de Jesus identidades com os
essênios: o auxílio que estes lhe prestaram em várias circunstâncias, a hospitalidade
gratuita que, a título de adepto ele recebia, e a fusão final da Ordem com os primeiros
cristãos, fusão da qual saiu o Cristianismo Esotérico.
Por seu lado, Geza Vermes, em Os Manuscritos do Mar Morto, pela Editora Mercuryo,
1991 – introdução às páginas 13, expõe seu ponto de vista a respeito dos Essênios: “Nas
próximas páginas admito a crença – juntamente com a maioria dos estudiosos do
assunto – de que a antiga Seita dos Essênios e a Comunidade de Qurâm provavelmente eram a mesma”; linhas abaixo diz: “Qualquer estudioso mais acurado da
Comunidade como um grupo religioso demanda um cuidadoso escrutínio, não só
de seus próprios textos, como também destas referências clássicas (...)”, citando
Philo de Alexandria – filósofo judeu do primeiro século, o historiador Flávio Josefo e o
naturalista Plínio, o Velho, todos conhecidíssimos e dispensando apresentações.
Para G. Vermes, mesma citação, páginas 14, “(...) o Essenismo está morto: a frágil
estrutura de sua Organização inflexível e restrita não foi capaz de resistir a catástrofe nacional que atingiu o judaísmo palestínico no ano 70 da Era Cristã”. Comparando o Mestre da retidão com Jesus, declara: “Ainda que seu Mestre da Retidão haja
percebido claramente as profundas obrigações implícitas da Lei Mosaica, ele não
tinha o gênio de Jesus que desvelou o núcleo da Verdade espiritual e expôs a essên-
cia da religião como um relacionamento essencial do homem com o homem e do
homem com Deus”.
Félicien Challaye (1967: 165) descreve que: “Os Essênios levaram às últimas conseqüências a idéia de absoluta justiça, características de Yavé; depois de uma descrição da vida simples e em comum dos Essênios, quanto ao mínimo necessário dedicado ao trabalho de subsistência (agricultura e pesca), que no mais nada faziam
que pudesse ou viesse ser utilizado em guerras”. O autor informa que a Comunidade
pregava a liberdade social do homem como um todo, e a espiritual ainda que esta regida
sob rigorosa lei.
Na obra ‘Judas Traidor ou Traído?’ o autor Nunes (1968: 241), referindo-se aos Essênios cita Millar Burrows – “Les Manuscites de la Mer Morte” (1962: 282), com
trasncrição em nota: “Os essênios e outros sectários como os de Qurâm, levaram ao
extremo a concepção rabínica de que a salvação viria exclusiva-mente de Deus.
Isolaram-se, retiraram-se do mundo, seguiram normas estritas de disciplina e pureza, e pelo estudo da Lei, reparavam-se para o Reino de Deus”.
Nunes interpreta referências aos Essênios pelos Philo (Filon) de Alexandria, Plínio – o
Velho (antigo), Dion Crisóstomo – Reitor Grego do primeiro século, e Flávio Josefo,
sobre onde e como viviam os Essênios: “Parece que de início viviam em aldeias ou
cidades, mantendo o mínimo de contato com os habitantes. Estremando-se, porém,
seu horror à contaminação, isolaram-se em comunidades no deserto, submetendose a rigoroso ritual de purificação e trabalhando para as próprias necessidades”
(1968: 53-54).
Para as clássicas perguntas se Jesus e João Batista foram Essênios, Nunes cita autores
como Conyebare, entendendo certas proximidades de ações de João Batista com os Essênios, descaracterizando contudo o ritual de batismo do Batista – rito de iniciação e de
arrependimento, com o ritual da Seita: “Constantes abluções para manter pureza.
Ainda por Conyebare, o Batista também seria avesso à vida monacal, estudos e
contemplações, pregava para multidões, era escatológico (pró juízo final) e ostensivamente agressivo a Herodes, em tudo contrastando os Essênios; João tinha um
ministério diferente, mais contundente porém de menores preceitos, denotando
que ele não fora nem ao menos um possível dissidente daquela Seita”.
Danilo Nunes não acredita que o Batista tenha pertencido à Seita de Qurâm (para ele
ambas são bem distintas uma da outra): “Não o cremos, e pelas mesmas razões que o
diferenciavam dos Essênios – e nisto funda-se em Barrows e Allegro (John Marco
Allegro: Os Manuscritos do Mar Morto, Publicações Europa – América, Lisboa,
1958, páginas 229). Já com referência às possibilidades de Jesus haver pertencido a
uma das Comunidades, esta acha-se colocada fora de cogitações, até mesmo pelo
liberalismo de Jesus quanto às Leis, totalmente incompatível com a rigidez essênica ou do sistema de Qurâm” (1968: 376).
Somos de entendimento que para os Essênios a salvação viria de Yavé, direta e exclusivamente Dele, uma manifestação à maneira e semelhança dos tempos antigos, quando
Deus pronunciava-se a Moisés; para isto estudavam exaustiva-mente as Leis, dandolhes uma interpretação muito própria e quase que sem as influências do pensamento
grego; esses Eleitos de Deus seriam, portanto, os restauradores dos textos sagrados
quanto à sua vivência e interpretação, com uma rígida doutrina de obras e de fé.
Os Essênios não acreditavam e muito menos esperavam um Messias homem, ou em um
deus encarnado; não eram crentes quanto à teoria da ressurreição corpórea – ensino presumido de Jesus.
VI HASSIDIN (HASÏDÏM) – OS ASSIDEUS
Uma seita ultra-ortodoxa, sendo seus membros conhecidos por pios ou devotos, mencionada pela primeira vez em I Macabeus 2: 42, como um grupo extremamente apegado
à Lei Mosaica e sua mais rígida interpretação, todavia com uma novidade – provavelmente face a extinção do Profetismo e falência da Ordem Sacerdotal: “(...) ninguém
conduz, ninguém segue, todos são iguais perante Deus” – [O Homem em Busca de
Deus, pela Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 1990]. De acordo com a
mesma fonte os membros hassidins seriam reencarnacionistas, assim como os atuais
Hassidins o são e se dizem fiéis aos antigos e longínquos preceitos de seus antepassados.
Apesar da aparente rigidez quanto às observâncias da Lei, opunham-se contra a violação do sabá, ainda que para ofícios religiosos, os Hassidins eram contrários ao pedantismo judaico, uma característica sempre marcante dos ortodoxos. Os membros da Seita
eram tenazes opositores ao helenismo na cultura hebraica, embora sejam nítidas as influências da cultura persa em suas interpretações à Torá e demais textos bíblicos,
Das raízes dos Hassidins valer-se-iam mais tarde os fariseus [na época de Cristo]; para
suas interpretações escriturísticas, e a Kaballa (Cabala) para sua linha própria de pensamento, com fortes traços e elementos dos pensamentos e fundamentos da Seita dos
Hassidins.
Como quase todos os documentos de Ordens ou Seitas Secretas, também dos antigos
Hassidins poucos chegaram até nós, na integridade, oras misturando-se às de outras Seitas, oras desaparecidos; todavia a Bíblia nos deixa pistas mais que suficientes para sabermos como e quem seriam os membros daquela liga.
No mencionado Livro I Macabeus capítulo 2: 42, citando “então uniram-se a eles (Sacerdote judeu macabeu e seus filhos – iniciados) os membros da liga dos assideus
(hassïdïm), homens valentes de Israel, todos cordialmente dedicados à lei”.
Parece pouco, contudo o necessário para traçarmos um perfil dos componentes de tal
grêmio. Matatias fora um Sacerdote Macabeu (Makkebyahu – designado por Yavé),
levantado em plena revolta dos judeus contra os dominadores gregos (por conta dos
Selêucidas), por volta do ano 167 AEC, exatamente no período de maior perseguição ao
povo, daqueles que se opunham à unificação do Império Selêucida, que não aceitavam
da helenização da Judéia e onde muitos Sacerdotes e gentes do povo já haviam aderido
à religião e costumes – cultura, dos gregos; o judaísmo (sistema religioso) fora oficialmente abolido e aqueles que nele insistiam, quando não perseguidos e presos, eram
mortos de assaltos.
Relatos em I Macabeus 1: 29 a 50, com interesses maiores a partir do verso 41, existe
toda uma narrativa quanto às dificuldades vividas por aqueles que se opunham às ordens
dos mandatários: “(...) no entanto, o rei escreveu a todo o seu reino, para que todos
formassem um só povo, e cada qual abandonasse os próprios costumes. Todas as
nações se conformaram com o edito do rei, e até mesmo muitos em Israel viram
com bons olhos a religião dele e sacrificaram aos ídolos e violaram o Sábado. O rei
enviou emissários a Jerusalém e a todas as cidades de Judá com ordens escritas
para que todos adotassem os costumes estranhos ao país; que abolissem os sacrifícios, os holocaustos e as libações no santuário; que violassem os sábados e as festas;
que profanassem os lugares e pessoas consagradas; que se construíssem aras, recintos e oratórios para os ídolos, e se imolassem porcos e animais impuros; que
deixassem incircuncisos os filhos; que se contaminassem com toda sorte de impurezas e profanações, ao ponto de esquecerem a lei e subverterem todas as instituições, sob pena de morte para quem não se conformasse com o edito real.”
No verso 53 do mesmo capítulo, uma triste constatação: “Muitos dentre o povo aderiram a ele; todos os desertores da lei; praticaram mal no país e reduziram Israel à
condição de ter que esconder-se onde quer que se encontrasse refúgio.”
Realmente alguns fugiram, na época, para locais seguros, outros – a maioria aderiram às
novas ordens, enquanto grande parte dos Sacerdotes negociaram com os dominadores,
prestando-lhes relevantes serviços em troca de imunidades e outras benesses, inclusive
forçando a população a render-se às exigências dos senhores, prestando-lhes honras e
tributos – os sacerdotes, visando interesses próprios, usaram de engodos para com o
povo judeu, dando-lhes uma religião mista que tanto agradava os governantes quanto a
população amedrontada.
Estaria assim selado o fim do judaísmo, uma religião já sem as originalidades, toda interpretada sob pontos culturais dos gregos de quem efetivamente adotaram usos e costumes, inclusive o idioma. I Macabeus 1: 11, corroborado por II Macabeus 4: 17, nos
dão uma ampla visão das disputas sacerdotais e de certos maiorais junto ao governo,
sempre em detrimento ao povo.
O levante de Matatias, portanto, surgira para a libertação do povo judeu daquela terrível
dominação estrangeira e, na medida do possível, trazer de volta a própria cultura e assim
restaurar sua religião, então já profanada de maneira quase irreversível. Neste lamentável período da história judaica – como ainda acontece em muitas sociedades modernas
tomadas de assaltos por ditadores, grandes nomes do povo, intelectuais, líderes e capacidades religiosas, puseram-se a salvos em esconderijos seguros nos desertos, montanhas e cavernas (era praticamente impossível exilar-se em nações vizinhas que não estivessem também sob o jugo dos gregos), de onde estabeleciam e faziam partir ordens de
resistências populares contra os opressores, incentivos às guerrilhas ou mesmo mensagens religiosas de esperanças, preparando o povo para o surgimento de um Libertador,
senão o próprio Yavé em vir acudi-lo.
Dentre estes muitos, evidentemente grupos isolados e por vezes divergentes entre si em
suas bases, destacam-se os religiosos – o povo judeu sempre fora carregado de místicas
e a religião era sem dúvidas o elemento conciliador e unificador daquela gente, que
sempre e ainda mantinham viva a esperança e fé em Deus, apesar dos pesares; assim
muitas Seitas secretas surgiram, algumas envolvidas também nos contextos políticos
(não bastava tão somente a libertação territorial de Israel e sim também a sua volta às
origens e formas de religiosidades), todavia mais voltadas às interpretações dos textos
sagrados, exaustivos estudos, como que procurando explicações para todo aquele terror
e inanição de Yavé – porque Deus abandonara seu povo?
Dentre estas seitas, a dos Hassidins fez-se presente de uma maneira muito atuante, inteiramente voltada para a lei – sua interpretação e rígida observação, tendo em sua história
um momento muito especial que fez com que seus líderes e mestres viessem unir-se a
um grupo político; tal motivo pode ser encontrado em I Macabeus 2: 29 a 38, quando
tiveram um de seus esconderijos a descoberto pelo inimigo, em pleno sábado, e eles
impossibilitados de fugirem ou mesmo de reagirem, por força de lei, foram impiedosamente mortos, mais de mil vidas entre homens e mulheres (velhos e crianças), assim
como todos seus animais – os Hassidins não violavam o dia de sábado nem mesmo para
ritos religiosos, ainda que às custas de sacrifícios de suas próprias vidas.
Nestes aspectos, com os assideus aderindo a Matatias, o objetivo maior seria a reprovação à impiedade pagã e, sobretudo, porque o seus Mestres não querendo violar o Sábado, colocavam-se ao dispor daquele líder que poderia, com os seus, dar-lhes as devidas
proteções: “Combateremos contra quem quer que nos assalte em dia de Sábado;
não devemos perecer todos, como pereceram nossos irmãos nos seus esconderijos”
– I Ma-cabeus 2 – 41 (palavras de Matatias e seguidores).
Desta maneira observamos que os assideus eram pios de votos à lei, rigidamente observadores do Sábado – não importando se com sacrifícios das próprias vidas, que viviam
em esconderijos; que seus líderes aderiram a Matatias por circunstâncias de sobrevivência, mortes poderiam ser evitadas, inclusive o desaparecimento do grupo, mesmo reprovando aquele chefe quanto às violações da lei. Eram uma liga ou agremiação de caráter
profundamente religioso a liderarem milhares de pessoas, todos apegados à lei, objetivando eles a lógica premissa de uma liderança futura num Israel liberto, onde por certo
fariam parte de algum conselho ou direção nacional.
Os Hassidins ao se unirem a um grupo guerreiro e tão contrário à sua fé, abertamente
desejavam sobrevivência e, secretamente aspiravam ao trono de Israel, para fazer desta
nação novamente um governo Teocrático; se os objetivos dos Macabeus estavam para a
libertação de Israel da dominação estrangeira, a dos Hassidins sem dúvidas era a restauração da Lei.
Se os fariseus tiveram suas interpretações de leis à maneira e semelhança dos Hassidins
– I Macabeus 2 – 42 (nota explicativa PIBR) e os fariseus acreditavam na ressurreição,
nos espíritos e nos anjos (espíritos iluminados – mentores), conforme Atos 23 – 7 e 8, é
de se entender que eram eles reencarnacionistas – a palavra reencarnação foi abolida
dos textos sagrados pelo Concílio de Constantinopla em 553, por contrapor-se aos dogmas e artigos de fé da então florescente Igreja Católica (concepção de encarnação única)
e, em algumas passagens bíblicas colocou-se indevidamente a palavra ressurreição em
vez de reencarnação, a exemplo neste texto de Atos.
No tocante à reencarnação, vê-se ainda o livro História dos Hassidins – Os Mestres Posteriores (citação na obra já mencionada O Homem em Busca de Deus, às páginas
223), que o autor Martin Buber faz uma exposição quanto à crença reencarnacionista
dos Hassidins.
Odiando os gregos, rejeitando sua cultura e costumes, a teoria da reencarnação ou
transmigração de almas não seriam de inspiração grega (embora esta civilização tivesse
pensadores favoráveis à hipótese e tal crença em seu meio era amplamente divulgada),
esta então poderia ser tomada da cultura egípcia ou persa ou, ainda, de alguns povos do
Oriente Médio / Mesopotâmia, adeptos ao reencarnacionismo.
Todavia, aprofundando nas Escrituras Judaicas, observa-se que os judeus acreditavam
na reencarnação da alma / espírito, como se pode verificar em Êxodo 34: 7, ultima parte
“que visita a iniquidade dos pais sobre os filhos, ‘na’ terceira e quarta geração” –
tradução Vulgata Latina. Quase que nas mesmas palavras, o texto repete-se em Números 14: 18.
As atuais traduções bíblicas (Católica - PIBR, Protestante – Ferreira de Almeida, e das
Testemunhas de Jeová – Novo Mundo das Escrituras), trazem em vez da palavra grifada
‘na’ a colocação ‘até à’, em desrespeito aos antigos manuscritos ou às originalidades,
numa visível defesa ou tentativa de harmonização daquela passagem com a teoria unicista encarnatória. Se as traduções modernas insistem que a mensagem seria ‘até à’, e
não na, esta seria totalmente confrontante com Deuteronômio 24: 16 que diz claramente: “os pais não morrerão pelos filhos, nem os filhos pelos pais; cada qual morrera
pelo seu pecado”; também haveria total distorção comparando aquele texto com João 9
– 2 (ultima parte) e 3 (primeira parte): “Rabi, quem pecou, estes ou seus pais, para
que nascesse cego? Jesus respondeu: nem ele pecou nem seus pais (...)”.
Evidentemente que os textos se harmonizam se em vez de até à ocorresse a palavra na;
Dr. Erly Bom Cosenday (Vacine-se Contra a Loucura – EDICEL LTDA, páginas 50
e 51), faz uma brilhante exposição a respeito dos textos acima, invocando a tradução
bíblica de São Jerônimo, a tradução de Lejzer Ludwik Zamanhof e a Edição Brasileira
da Bíblia, onde se diz ‘na’ e não ‘até à’; o mesmo autor invoca ainda Isaias 26: 19, um
texto nitidamente reencarnacionista : “Aqueles do vosso povo a quem a morte foi dada, viverão de novo (...)”, informando parecer de Allan Kardec “Se o profeta houvera
querido falar da vida espiritual, se houvera pretendido dizer que aqueles que tinham sido executados não estavam mortos em espírito, teria dito: ainda vivem e
não viverão de novo”. No sentido espiritual estas palavras seriam um contra-senso,
pois que implicariam numa interrupção da vida da alma.
Corretas a traduções mencionadas, fundamenta-se a crença na reencarnação; os Hassidins jamais embasariam sua fé se tais textos contidos no Antigo Testamento tivessem
interpretações diferentes.
Também se a Cabala tem similitudes com os pensamentos dos Hassidins, a ponto de se
confundirem, e estes a antecedeu em séculos (a Cabala somente surgiu no século XII),
têm-se que os Hassidins davam às Escrituras interpretações todas especiais. O homem
inteligente seria a multiplicidade da essência do Uno, causa principal da criação, num
processo primeiro, porém interativo e evolucionista, dado uso das faculdades mentais,
real função do espírito, com atividades combinadas – ser, existir, evoluir – em direção
ao Todo Unificado, pela mística e aspectos de racionalidade, onde o princípio da redenção estaria no evitar erros.
Entender as Escrituras significaria compreender o Bem e o Mal; Deus jamais criaria os
anjos, e toda sua hierarquia, como seres perfeitos, para que alguém simplesmente se
pronunciasse numa rebelião – evidências de uma não perfeição; não daria luz ao homem, antevendo sua queda, pois que para isto seria então um Deus Mal, talvez aí algum
princípio de Zoroastro (Pérsia) na “constante luta entre o Bem e o Mal, para evoluir
sempre”.
Os Hassidins de hoje, ressuscitados no século XVIII, sem perdas de suas bases e características milenares, desenvolveu-se no Leste Europeu e, como outrora, destacandose pelas músicas, danças e êxtases, ainda crédulos de que o Messias Prometido ainda
virá para restaurar Israel que então deixará de ser pisada pelos gentios; que o Messias
virá no exato momento em que Jerusalem deixar de ser piada por gentes estranhas ao
Judaísmo (Lucas 21: 24, Romanos 11: 25, com esclarecimentos e interpretações de Daniel 9: 27 e 11: 36), quando eles, os Hassidins estarão com referido Messias – Isaias 10:
22.
VII COMUNIDADE DE QURÂM
Destacado sobremaneira de 1947 até os dias atuais, são dados a este Grupo valores e
dimensões extraordinários, face ao Manuscritos do Mar Morto.
Muitos do estudiosos de Quarâm, assim como os esotéricos e místicos em geral, pretendem que naqueles manuscritos estejam todas as verdades religiosas judaico-cristãs.
Respeitando-se os estudiosos, muitos vêem na Comunidade de Qurâm a Seita dos Essênios, quando na verdade o que se tem de concreto as duas fraternidades eram bem distintas entre si, embora ambas tivessem pontos em comum : Comunidades Monásticas de
rígidos princípios e doutrinas, que um dia saíram do convívio social para entregarem-se
inteiramente aos estudos e interpretações dos textos sagrados, sob óticas particulares de
verdades, num crucial momento de falência do judaísmo como religião oficial, infestado
então de pensamentos gregos e de outras culturas (viriam adotar posteriormente o universalismo romano – atitude de um povo submisso e adaptável aos seus senhores).
Os membros de Qurâm eram participantes de uma Sociedade Comunitária – e isto a
vincularia aos primeiros Cristãos – Messianistas (Atos 4: 32), contudo era isto uma situação de sobrevivência para os de Qurâm, face aos perigos de mortes e perseguições
movidas pelos dominadores e sacerdotes de Isarel.
A Comunidade de Qurâm, inquestionavelmente nos legou importantíssimas grandes
verdades, recentemente descobertas nem todas ainda de domínio público, revelando-nos
sua realidade mística religiosa, de tão belas interpretações e idéias. Pelos manuscritos, a
Ordem era extremamente purista quanto às doutrinas, e severamente justa quanto aos
preceitos, vivendo em constantes ritualismos, orações e cânticos, às raias da fanatismo :
tudo lhes provinha de Deus e a Deus deveriam se consagrar, às custas de sacrifícios físicos (vigílias e jejuns prolongados), e mortificações outras para que assim estivessem
prontos quando das ações e ordens diretas de Deus.
Tinham eles uma economia de subsistência – todo seu destino estava nas mãos de Yavé
e eles acreditavam que, através da Comunidade é que haveria expiação para a Terra; um
tanto mais recente que os Essênios, os de Qurâm parecem ter surgido por volta do ano
100 A C., embora alguns de seus manuscritos pareçam indicar datas anteriores.
Allegro em sua obra, à página 207, citada por Danilo Nunes (obra e autor já mencionados), diz que para os de Qurâm o novo reino seria, essencialmente, uma instituição sacra, uma congregação de santos dedicados ao serviço de Deus e ao estudo da lei; informando que por isso os membros e mestres de Qurâm procuravam antecipá-lo em sua
comunidade no deserto. Pelo mesmo Allegro, por Danilo Nunes, “A seita de Qurâm
esperava a vinda de dois Messias : o Sacerdotal e o Guerreiro. O primeiro seria o
mediador perfeito entre Deus e o homem; o segundo, o Ungido, da família de Davi.
Parece-nos a visão correta do Grupo de Qurâm e que portanto o distanciava dos
Essênios”.
Obviamente que não seria despropositada uma interação – como ensejam alguns, entre
os dois grupos, quando já próximos de extinguirem-se, uma vez que ambos, sabidamente, envolveram-se como o Zelotismo (um partido político proscrito, resultante de
idéias comuns do povo judeu), com objetivos propostos de libertar Israel das mãos dos
dominadores romanos, sendo esta uma libertação não somente política, como também
social e religiosa., acabando quase todos dizimados – assim como povo de Israel, nos
acontecimentos de Massada em 73, e por fim extintos (o Partido e as Seitas) totalmente
em 132, quando sob a liderança de um Messias verdadeiramente reconhecido como a
Estrela de Davi, conhecido por Bar-Kochba; parece não ter havido sobreviventes de
membros da Comunidade de Qurâm (assim como dos Essênios também), todavia seus
pensamentos foram devidamente registrados e escondidos em cavernas, descobertos por
acaso em 1947.
VIII OS GNÓSTICOS
O pensamento Gnóstico pré-cristão era, sem dúvidas, fortemente influenciado pelo pensamento grego com as místicas orientais, baseados nas tradições do judaísmo. Percebese claramente o platonismo em suas interpretações quanto aos reais estados da matéria
(terra e carne) conhecidos e vivenciados pelos sentidos, ao lado da idéia do ser – o ideal
absoluto, através do conhecimento pela alma.
Incluía-se aí, além da imortalidade da alma – independente da matéria (corpo físico)
com todos seus elementos físicos, com a beleza da teologia judaica em suas exaltações
quanto a justiça divina a ser realizada sobre a terra, um ideal de vida através de um antropatismo inigualável – transferir em e apenas para Deus, os efeitos dos sentimentos
humanos.
Também era o Gnosticismo uma síntese de pensamentos diversos de intérpretes místicos, sem perdas ou descaracterizações de essências individuais; vê-se no movimento
Gnóstico traços e elementos gregos, persas, hindus (pelos persas), babilônicos e egípcios, com arquétipos judaicos; com a chegada dos romanos no Oriente Médio, o Gnosticismo veio a adotar deste todo seu universalismo, colhendo assim novas tradições de
outros e tão distantes povos; souberam eles elaborar muito bem tão diferentes doutrinas,
codificá-las e dar-lhes um códice todo especial – nestas circunstâncias, tinham mesmo o
conhecimento que viria justificar seu próprio nome.
A Gnose vivia entre seus iniciados a doutrina esotérica do dualismo universal – teoria
dualista, onde a materialidade seria o princípio do mal – criação de um deus mal, uma
vez que o deus bom seria apenas o criador das coisas invisíveis, teorias nas quais viria
se inspirar tempos depois o Teólogo Marcion, autor de um Evangelho conhecido como
“Segundo Marcion”, (citação de Félicen Challaye, obra referida, às páginas 208),
uma das principais e das mais antigas obras que bem expressam o pensamento gnóstico
(sabe-se que o Evangelho segundo São Marcos – o primeiro a ser escrito dentre os ca-
nônicos, teve sua inspiração em Marcion, como uma espécie de proto evangelho no qual
também viram se inspirar outros evangelistas).
O Dicionário Enciclopédico Brasileiro traz que “a Gnose constitui o fundo do Gnosticismo e, segundo o qual, a matéria, princípio do mal, existe fora de Deus – princípio do bem – mas sem dele proceder; as almas humanas são eons decaídos, isto é,
espíritos emanados da inteligência eterna, potências intermediárias que se encarnam em corpos materiais”.
O Pontifício Instituto Bíblico de Roma em sua Tradução das Sagradas Escrituras, identifica, às páginas 1379 B (notas explicativas), no livro de Atos 8: 9 e seguintes a primeira
alusão neotestamentária ao Movimento Gnóstico, como já pré-existente à época dos
apóstolos, “com suas teorias de ‘eons’ intermediários entre Deus e o homem e suas
genealogias”.
Para alguns estudiosos e certas facções do Gnosticismo, isto, no entanto, seria apenas o
lado exotérico e não o esoterismo da Ordem, para os quais a noção de que a essência
divi-na estaria presente, fundamentalmente, dentro da natureza humana, além de estar
também presente fora disto – Evangelho de Felipe (Philip); outra Escritura ‘Cavalo
Hammadi’ traz : “No princípio Deus criou os humanos, porém agora os humanos
estão criando Deus. Tal é o modo disto, os mundo-humanos inventam deuses e adoram criações deles / delas. Seria melhor para tais deuses adorar os humanos” –
tradução livre “O Fator da Gênese” [Stephan UM Hoeller].
Os Gnósticos de um modo geral, tem interpretações singulares dos livros bíblicos, em
especial a Gênesis, onde o Deus dos Hebreus, Yavé, é o deus mal e que as Escrituras
Hebraicas, num geral, são rudes e repelentes, citando tais palavras como pronuniciadas
por São Jerônimo (tradutor bíblico para o Latim).
Mistérios do Desconhecido – Seitas Secretas (Editores de Time-Life Livros – Abril
Livros 1992, página 20 B) assim se refere aos Gnósticos: “Acreditam ser entes espirituais a habitar um corpo e a viver em um mundo de pecados; uma vez porém,
recebida a Gnose, conhecimento revelado unicamente a eles por Cristo, a redenção
completa seria alcançada”; em seguida ao texto, uma citação de escritos de certo grupo Gnóstico, segundo os quais tal Gnose revelaria “quem éramos, e em que nos transformamos; onde estávamos e onde fizeram que caíssemos; para onde nos apressamos, e de que nos estamos redimindo; o que é o nascer, e o que é renascer”. Certos
pensadores gnósticos têm que o deus homem cristão é um insulto à razão, e o Cristo de
quem afirmam terem recebido ensinamentos não era um homem matéria, e sim um ser
fluídico.
A Gnose sempre pretendeu o conhecimento integral e, em razão disto, era uma Seita
Fechada, altamente iniciática para os iluminados (os demais estariam presos na matéria
– terra e carne); tinham vários caminhos para a libertação dos escolhidos, valendo-se
além dos elevados estudos, meditações, jejuns, interpretações reveladas quanto ao sagrado – uns numa forma mística mais elevada, acreditavam nas revelações por êxtases e
estados especiais de graça, para alcançarem iluminação; outros, mais próximos ao cristianismo, entendiam as mortificações como caminhos para os mesmos objetivos, entregando-se aos jejuns e meditações – de uma maneira ou de outra, todos envolviam-se em
êxtases contemplativos, talvez por isto e em se tratando de experiências subjetivas, por
vezes grupal ou notoriamente particulares, os entendimentos faziam-se contrastantes,
provocando assim sérias cisões nos mais diversos grupos que não se cansam de experimentar divisões.
Hoje muitos Grupos Gnósticos, arvoram-se como verdadeiros e únicos detentores das
verdades milenares, empenhando-se ampliar quadros conscientes dos fascínios que exercem sobre as pessoas, especialmente nos jovens, ansiados pelo saber e desfazer regras convencionais de religiosidades aprendidas nos lares e na sociedade.
A Gnose é um complexo corpo – ou organização (sempre o foi), que pretende para si
todas as fórmulas esotéricas, como a grande e universal SOPHIA (Sabedoria), perdendo-se nos emaranhados códigos, símbolos estranhos, senhas especiais, sinais identificadores específicos, objetos (alguns mesmo iniciáticos e ritualísticos) e mais uma série de
confusas citações de obras (crônicas e estudos secretos – um privilégio de quase todas
Doutrinas do gênero), obviamente não nominados e muito menos ao alcance do grande
público ou dos neófitos, um sistema claro de manter assim presos seus iniciados quanto
aos segredos das antigas iniciações e Ciências Secretas, somente reveladas aos poucos e
ao longo de muitos e muitos anos de dedicações à Seita.
Os adeptos da Gnose atribuem sempre a ela valores e dimensões maiores do que a própria seita ou doutrina exige de si mesma, e todas as correntes procuram para si, antiguidades e conhecimentos que remontam primórdios da humanidade ou que antecedem a
própria existência do homem no planeta terra.
IX CABALA (KABBALAH)
Do hebraico ‘Qabbalah’, latinizado ‘Caballa’ com o significado de ‘tradição’, para
muitos, antigas interpretações ocultas da bíblia judaica, cuja doutrina trata dos simbolismos místicos das letras e dos números, enquanto para outros, tratado filosóficoreligioso hebraico, com o qual se pretende resumir uma religião secreta, supostamente
coexistente com a religião popular dos hebreus.
Talvez a Cabala, como entidade secreta ou escola iniciática jamais tenha existido, embora se possam associar alguns elementos babilônicos nas escrituras sagradas dos judeus, com interpretações somente possíveis a uns poucos entendidos, quando a língua
hebraica entrava em desuso. Talvez daí a formação de algum grupo versado nas tradições babilônicas associadas às judaicas, cujos vestígios perderam-se na helenização
judaica, ou nunca existiram .
Professor Gershom Scholem, morto em 1982, aos 84 anos, “foi a pessoa que elevou o
tema esotérico da Cabala ao lugar que lhe competia nos estudos judaicos” – Dan
Miron (Herança Judaica, edição trimestral nº. 56, março de 1984, pela Editora
B’nai B’rith S.C. , páginas 19 – Gershom Scholem fala sobre Agnon, entrevista por
Dan Miron).
Segundo Miron, na introdução que antecede a entrevista com ilustrado professor, a Cabala “é um sistema secreto de Teologia, Metafísica e Magia, ininteligível para aquele que não é iniciado”, tida como “um sistema de interpretar as Escrituras, do qual
se diz ter sido entregue oralmente por Abraão”. Reconhece o entrevistador, no entanto, que a primeira formulação da Cabala, ocorrera no século XI na França, de onde se
espalhou para a Espanha e depois para o mundo.
Com o significado de recepção ou aquilo que é recebido, a Cabala é comumente confundida com as mais diversas e muitas vezes contraditórias doutrinas que levam seu
nome, resultantes de um conceito inteiramente estranho ao pensamento ocidental – Jorge Luiz Borges numa conferência realizada em Buenos Aires (Argentina), em 1977,
Seria ela uma Ciência, Ciência Oculta, com aplicações múltiplas para toda e qualquer
espécie de necessidade humana, inclusive religiosa. Seu estudo era altamente secreto e
iniciático, e poucos privilegiados poderiam participar de seus segredos. Assim, pretensiosamente diz-se uma Ciência Universal que engloba todas as demais (inclusive Ciências Médicas), também as Magias (Teurgia e Goétia) e tudo o mais que se possa imaginar : numerologias, astrologias, mancias diversas, cosmos (micro e macro), forças espirituais, capacidades mentais, paranormalidades, psiquismo, e por aí afora, inúmeras delas e aplicações também múltiplas.
O estudo da Cabala, excluindo-se pretensões, do tudo e do todo, enaltece sempre o místico e os grandes mistérios da vida, através de exaustivos estudos, meditações, contemplações e um profundo esoterismo quanto às interpretações dos textos sagrados de todas
e quaisquer culturas (todas com escritos exotéricos mas cuja exata compreensão é sempre esotérica ou iniciática). Parece realmente que a Cabala, como Ocultismo ou Segredos, tenha sido a grande alma de Iniciados (Sacerdotes e Líderes Espirituais) de antigas
civilizações desde os mais remotos tempos.
Alguns estudiosos apontam-na como uma pré-ciência de todas as demais hoje comumente conhecidas (médica, química, física, astronômica, das teogonias, etc); fanáticos e
adeptos, além dos doutos pseudos entendidos, é na Caba que se encontra a Verdadeira e
Única Ciência, cuja compreensão integral o homem ainda não atingiu, jamais atingirá,
senão os Iniciados, porque ela exige além dos conhecimentos acerca de tudo, também o
lado espiritual de todas as coisas.
Compreende-se hoje que os termos cabalístico ou cabala simplesmente, já não são mais
exclusividades de uma seita originária, e sim de todas as Ordens que se identificam com
o esoterismo, sejam elas secretas ou não, misturando-se muito com o gnosticismo, às
vezes quase que impossibilitando distinções.
A Origem da Cabala, no entanto, não vai além do século XII, na França e Espanha, surgida como síntese de misticismos e crenças anteriores, sobretudo do judaísmo mutilido
e outras formas de religiosidades do Médio Oriente, com claros pronunciamentos da
cultura helênica, evoluindo para agrupar outros elementos como do Cristianismo e demais grandes religiões, sempre sob a máxima de revelações divinas, sem descartar aquelas acontecidas através das teofanias, angeologias e cosmologias com suas mensagens
rreveladoreas.
Para os Cabalistas as dez emanções divinas formam um homem - o homem arquétipo e
este se encontra no céu; nós somos o seu reflexo. Dessas dez emanações que formaram
um homem, emanam quatro mundos. O terceiro deles é o nosso mundo material; o quarto mundo é o inferno. Todos estão incluídos no Adam Kadman, que abrange o homem e
seu micro cosmo, ou seja, todas as coisas (segundo Jorge Luiz Borges numa conferência em Buenos Aires (Argentina), publicada pela Revista Trimestral Herança
Judáica, nº. 56 de narço de 1984 – Editora B’nai B’rith S.C.).
FIM