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RECUPERAÇÃO E RESTAURO DA IGREJINHA DA PAMPULHA RESTORING AND RESTORATION OF PAMPULHA CHURCH Jose Eduardo de Aguiar(1), Ana Carolina Lamego Moraes(1), Abdias M. Gomes(2), Antônio Neves C. Júnior(2) (1) Recuperação Serviços Especiais de Engenharia. Rua Paulo Afonso 225 Belo Horizonte - [email protected] (2) Professor Doutor, Departamento de Materiais de Construção da Escola de Engenharia da UFMG Rua Espirito Santo 12, Belo Horizonte – MG. [email protected] Rua Paulo Afonso,225 - 30.350-060 Belo Horizonte. [email protected] Resumo A Igreja de São Francisco de Assis é um monumento histórico projetado pelo arquiteto Oscar Niemayer, sendo um dos mais importantes exemplares da arquitetura moderna no Brasil, integrando o Complexo Arquitetônico da Pampulha. Conhecida como Igrejinha da Pampulha, a casca em concreto armado apresenta problemas estruturais desde sua inauguração em 1945. Diversas intervenções já tinham sido realizadas, mas não obtiveram o sucesso esperado. A Prefeitura de Belo Horizonte, em conjunto com os órgãos responsáveis pela preservação de monumentos históricos, IEPHA e o IPHAN, resolveram estudar profundamente o assunto, realizando monitoramentos e uma avaliação estrutural com vistas a elaborar um diagnóstico dos problemas, de forma a resolvê-los definitivamente. Foram realizados diversos ensaios como extração de corpos de prova, análise por microscopia eletrônica, ultra-sonografia, estudos de permeabilidade, além de um levantamento geotécnico. Através da fixação de “Gages” na casca foi realizado um monitoramento por extensometria eletrônica, para avaliação do comportamento da estrutura, sempre submetida a variações térmicas elevadas. A partir das plantas originais, dos resultados obtidos na extensometria eletrônica, da avaliação da incidência de insolação e dos ensaios de caracterização dos materiais utilizados, estudou-se matematicamente o comportamento da estrutura, utilizando a parametrização através de elementos finitos. Com os resultados obtidos foi possível elaborar um diagnóstico estrutural e projetar a solução de um problema que perdura há mais de meio século. Este trabalho apresenta a metodologia utilizada nas obras de recuperação deste monumento histórico de Belo Horizonte, mostra os materiais utilizados, as dificuldades encontradas, além dos ensaios não destrutivos e dos monitoramentos que foram realizados para a elaboração do diagnóstico estrutural e do projeto de restauro. Palavra-chave: Recuperação; concreto; diagnósticos. Abstract Since its inauguration in 1945 the shell of the Pampulha church has been showing structural problems. This presentation shows the methodology used in the restoring works of this historical monument placed in Belo Horizonte and created by Oscar Niemayer. It presents the applied materials, and all the troubles along the work, besides non destructive tests and the research with strain gages that were accomplished for the elaboration of the structural diagnosis and the restoration project. Keyswords: Recovery; concrete; diagnoses. ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0123 1 – Introdução Conhecer a Igrejinha da Pampulha é desfrutar do encontro da arquitetura com as artes plásticas, em perfeita combinação de formas e cores. Observar as curvas arrojadas e esbeltas das cúpulas em concreto armado de Niemeyer, os traços de Cândido Portinari no mural do altar, na Via Sacra e nos azulejos, perceber as nuances dos baixos relevos de bronze de Alfredo Ceschiatti, reconhecer os tons das pastilhas dos mosaicos de Paulo Werneck que nos lembra o azul do céu e apreciar os jardins de Burle Max, nos remete a um conto de fadas em concreto armado. Obra extremamente polêmica na ocasião, a Igreja de São Francisco de Assis, construída em 1943 e 1944, teve como arquiteto chefe Oscar Niemayer em conjunto com Cândido Portinari, Alfredo Ceschiatti, Paulo Werneck e Burle Marx, que contribuíram substancialmente no projeto e execução da construção. Coube ao engenheiro Joaquim Cardoso os cálculos da estrutura da Igreja, que possuía uma concepção inovadora para a época. Era tão inovadora que os construtores modificaram o projeto estrutural original, acreditando que o concreto e o aço, em suas formas curvas, poderiam ser simplificados, eliminando-se as juntas de dilatação da nave principal idealizadas por Joaquim Cardoso, que projetou três nervuras que funcionariam como articulação da estrutura, mas que não foram construídas. Esta alteração na concepção estrutural, com o passar dos anos, provocou sérios danos em sua cúpula. A partir da análise de plantas antigas, observa-se que em 1959 a casca já apresentava duas rachaduras, localizadas onde deveriam ter sido construídas duas das nervuras que serviriam como articulação. Algumas intervenções foram realizadas na Igreja desde a sua construção, sendo que a impermeabilização destas duas rachaduras ocorreu somente na década de 1970. A reforma de maior proporção aconteceu em 1990. Infiltrações causavam uma forte degradação interna, particularmente no mural do altar principal. Naquela oportunidade todo o revestimento externo da nave foi retirado, preservando-se somente os mosaicos laterais, existentes na faixa inferior da casca. A reconstituição foi feita com a aplicação de diversos materiais, sendo utilizado blocos leves (Sical) para a conformação da casca, argamassa de cimento para regularização, manta asfáltica para impermeabilização, reboco e telas galvanizadas como proteção mecânica da manta, argamassa de cimento para assentamento do revestimento e pastilhas cerâmicas. Apesar do sistema de impermeabilização que foi adotado funcionar adequadamente, a casca apresentou forte deterioração precoce em pouco tempo. Para a correção efetiva dos problemas da casca da Igreja, foi realizado um estudo denominado “Monitoramento, Instrumentação, Avaliação Estrutural e Projeto de Recuperação e Restauro da Igreja de São Francisco de Assis” com duração de nove meses, sob responsabilidade da Recuperação Serviços Especiais de Engenharia. Após esta avaliação estrutural profunda, chegaram-se aos diagnósticos e às soluções, elaborando-se um projeto para a recuperação e restauro da obra. ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0123 Foto 1 - Situação em 1990, época da primeira grande reforma. Foto 2 – Situação em 2000, com inúmeros problemas 10 anos após a reforma. 2 – Estudos, monitoramentos e diagnósticos 2.1. Estudos e monitoramentos realizados O primeiro estudo realizado foi o estudo geotécnico, através de um poço de inspeção para pesquisar as fundações existentes, quando se constatou que a estrutura estava assentada sobre uma íntegra laje de concreto armado, em forma de radier, executada sobre estacas de madeiras em perfeito estado. Para avaliar a qualidade e resistência do concreto da casca e do radier, foram extraídos corpos de prova e feitas medições de pulsos ultra-sônicos. Foram retiradas lâminas dos corpos de provas e as amostras foram avaliadas por Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV), que mostraram uma microestrutura típica compacta, sem anomalias ou presença de materiais deletérios. Os resultados apurados mostraram que a qualidade e compacidade do concreto eram adequadas para a estrutura. A espessura da camada de cobrimento das armaduras também era satisfatória, protegendo-as adequadamente contra a corrosão. Outro estudo realizado foi o monitoramento das temperaturas que incidem sobre o revestimento da casca da Igreja, que mostrou a superfície sendo submetida a gradientes térmicos elevados, superiores a 50°C, sendo esta diferença observada entre os meses mais quentes e os mais frios do ano. Mas se constatou que o concreto da casca não estava sendo muito afetado, indicando que o revestimento existente, apesar de extremamente fissurado, ainda assim, estava garantindo uma proteção térmica à estrutura. Para monitoramento das temperaturas externas na casca foi utilizado o aparelho Pirômetro e para as internas o Termopar. Foram instalados extensômetros elétricos (Strain Gages), filamentos plásticos flexíveis de fina espessura dotados de fios de resistência na superfície do concreto, para avaliar a deformação da estrutura frente às fortes variações térmicas encontradas. O monitoramento das deformações foi feito utilizando um sistema de aquisição de dados, onde os filamentos foram ligados através de cabos elétricos e interligados a um computador, que fazia a visualização e impressão dos gráficos gerados pelas movimentações. Os resultados apontaram para uma grande estabilidade termodinâmica da estrutura, registrando baixas tensões e deformações. ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0123 Com as informações obtidas estudou-se matematicamente o comportamento da estrutura da nave central, utilizando a parametrização através de elementos finitos. Foram realizadas diversas simulações, procurando-se avaliar o comportamento da casca frente as mais diversas solicitações de temperatura e com a estrutura tendo duas, três ou nenhuma junta de dilatação. Um dos modelos mais interessantes foi o que considerava somente as duas juntas radiais já existentes, e temperatura variando entre 30º e 55º C, o que seria a temperatura mais freqüente. Nesta simulação observa-se claramente a existência de uma concentração de tensões radiais no primeiro módulo, indicando a necessidade de abertura de uma junta naquele local, ou seja, faltava a 3ª junta projetada e não executada. 2.2 Diagnósticos Estruturais O interior da igreja apresentava-se estanque, sem a presença de infiltrações. As fissuras existentes na casca eram superficiais, restringindo-se somente aos materiais utilizados no revestimento, que por terem módulos de elasticidade diferentes, e submetidos a gradientes térmicos de até 50°C, fissuraram-se em função das movimentações termodinâmicas diferenciadas e por não apresentarem ligação forte entre as camadas. As fissuras não estavam relacionadas com o comportamento das fundações da estrutura. Todo os materiais aplicados na reforma anterior (1990) deveriam ser retirados, incluindo os utilizados para conformação da superfície do concreto da casca e nas juntas de dilatação, preservando-se os mosaicos originais. Os modelos matemáticos apontaram para uma concentração de tensões na região onde deveria ter sido construída a terceira junta de dilatação, ou seja, na região onde originalmente foi projetada uma nervura, e não executada, mostrando a clarividência e competência do calculista da obra. Devia ser projetada a abertura da terceira junta de dilatação. A nova junta de dilatação (a terceira) e as duas existentes deveriam ter movimentação livre, sem restrições. Para evitar que ficassem aparentes, prejudicando o aspecto visual do monumento, deveriam ser projetadas pastilhas “flutuantes” sobre as juntas, procurando disfarçar seu alinhamento. A reconstituição do revestimento da casca e a execução das juntas de dilatação deveriam utilizar materiais com comportamento termodinâmico semelhantes, de base cimentícia, com forte ligação entre si, e que garantiriam a impermeabilidade e proteção térmica ao concreto. O projeto executivo deveria contemplar a menor quantidade possível de materiais para o revestimento, procurando manter semelhança com o revestimento do mosaico existente, ou seja, a concepção original do projeto. 3 – Projeto de Recuperação e Restauro De acordo com “Projeto de Recuperação e Restauro da Igreja de São Francisco de Assis”, os principais procedimentos recomendados eram: 3.1 – Proteções e andaimes A primeira recomendação do projeto era montar um andaime metálico constituído de ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0123 tubos e braçadeiras, instalado sobre a casca, sem apoio na estrutura, a fim de não interferir na execução dos trabalhos. A estrutura flutuante devia ser totalmente coberta por lonas plásticas para manter a estanqüeidade da parte interna da Igreja durante os trabalhos de recuperação, particularmente as juntas de dilatação abertas. 3.2 – Levantamento topográfico da casca Logo após a instalação dos andaimes devia ser executado um rigoroso cadastro topográfico da superfície externa da casca, de forma a possibilitar sua reconstituição nas cotas originais, devendo a topografia fixar pinos referenciais na casca. 3.3 – Remoções dos revestimentos existentes Foi recomendado remover todos os revestimentos existentes na abóbada localizados acima do mosaico original, inclusive os tijolos leves. Os materiais existentes no interior das duas juntas também deviam ser removidos e ser executada a abertura de uma terceira junta. As calhas metálicas horizontais para coleta de águas pluviais, que foram instaladas em 1990 sobre a região do mosaico, também deviam ser removidas. A remoção das camadas deveria iniciar pelas partes superiores da Igreja, com uso calhas, evitando que o material de demolição danificasse as partes inferiores. As partes a serem removidas deveriam ser previamente molhadas para evitar poeira em excesso durante o processo de remoção. Deveria se evitar o acúmulo de entulho em quantidade que provocasse sobrecarga excessiva sobre os pisos ou pressão lateral sobre as paredes. As remoções deveriam ser manuais e executadas de forma lenta e progressiva, utilizando ferramentas leves. Poderia ser utilizado equipamento dotado de disco de corte diamantado (makita) como ferramenta auxiliar. 3.3.1 – Remoção das pastilhas na área do mosaico Todos os trabalhos a serem feitos na área do mosaico, deveriam ser realizados por profissional especializado em obras de restauração, com cadastrado minucioso de todas as peças e faceamento através de colagem nas pastilhas. As pastilhas existentes no mosaico que apresentassem o rejuntamento com desgaste natural pelo tempo, deveriam ter o rejunte complementado após a limpeza. 3.4 – Abertura da nova junta A terceira junta de dilatação deveria ser aberta de acordo com a indicação dos modelos matemáticos, mas a posição da junta deveria ser confirmada no local, pois poderia já existir alguma abertura espontânea, ainda não conhecida. 3.5 – Reconstituição do concreto da casca A casca deveria ser reconstituída e regularizada com micro-concreto, com características similares ao concreto original, sendo este trabalho feito após limpeza das superfícies, depois de tomadas às providências para evitar a entrada de água e partículas soltas no interior da Igreja pela abertura das juntas. Caso ocorresse o surgimento de armaduras expostas com evidências de corrosão, foi ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0123 recomendado proceder aos reparos de acordo com as especificações particulares. 3.6 – Instalação dos perfis metálicos das juntas de dilatação As três juntas de dilatação seriam vedadas com perfil metálico que deveriam ser em alumínio seladas com borracha de neoprene, sendo fixadas diretamente no concreto através de parafusos galvanizados. Os perfis deviam ser adequados ao formato parabólico da casca, sendo para isto necessário fazer incisões no metal, de forma garantir uma estrutura contínua e sem infiltração. O neoprene devia ser instalado nos perfis sem emendas em toda a sua extensão, ou seja, a borracha deveria ser colocada de forma inteiriça. 3.7 - Aplicação da camada de impermeabilização A casca reconstituída deveria ser impermeabilizada por uma camada de revestimento polimérico flexível, de base cimentícia, capaz de suportar fissuras dinâmicas de pouca movimentação, e com textura áspera. O revestimento deveria ser aplicado também sobre as abas metálicas das juntas de dilatação. 3.8 – Argamassa colante para assentamento das pastilhas As pastilhas deveriam ser assentadas e rejuntadas com argamassas colantes industrializadas do tipo AC III, de acordo com a Norma Brasileira para assentamento de argamassa NBR14081 – “Argamassa colante industrializada para assentamento de placas cerâmicas”. Sobre as juntas de dilatação deveriam ser projetadas pastilhas “flutuantes”, procurando disfarçar seu alinhamento. 4 - Obras de Recuperação e Restauro da Casca Os trabalhos iniciaram em julho de 2004, com duração de um ano, período em que, além da recuperação estrutural, foram feitos outros trabalhos complementares para preservação do patrimônio, como recuperação das esquadrias de ferro, brise solei, paisagismo, iluminação, calçada portuguesa, marquise, campanário, cruzeiro, calotas posteriores, sala do Santíssimo, infra-estrutura administrativa, revitalização dos azulejos, limpeza dos pisos em mármore e granito (interno e externo) e dos quadros da Via Sacra. Abaixo são descritas as principais etapas do trabalho de recuperação e restauro da Igreja da Pampulha, sendo apresentadas também as alterações mais significativas que foram introduzidas no projeto. As obras foram realizadas pela Fundação Roberto Marinho, com patrocínio da Petrobrás, com acompanhamento da Prefeitura de Belo Horizonte, IEPHA e IPHAN. A construtora responsável pelo trabalho foi a Biapó. 4.1 - Fechamento da Obra e Montagem dos Andaimes Toda a obra foi cercada em painéis madeira, pintados na cor azul, com desenhos e textos de Oscar Niemeyer, fornecendo aos visitantes um pouco da história da Igrejinha da Pampulha e de seu arquiteto, uma vez que o acesso ao monumento foi fechado ao público. A proteção da calota foi feita com a instalação dos andaimes tubulares metálicos conforme previsto no projeto, ou seja, estruturados de tal forma que nenhuma peça ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0123 tivesse contato com a superfície do concreto, para não interferir nos trabalhos. Após a montagem dos andaimes, foram instaladas as lonas de proteção, também na cor azul, que cobriram a estrutura durante todo o período da obra. Para aumentar a claridade e ventilação, foram construídos lanternins na parte superior. Foto 3 - Montagem dos andaimes e vista dos tapumes com alusão aos trabalhos de Oscar Niemayer Foto 4 - Vista dos andaimes já cobertos pela lona de proteção contra chuvas 4.2 - Execução de um protótipo Foi construído um protótipo para executar testes preliminares, em modelo reduzido, antecipando e facilitando diversas tomadas de decisão. Nele foi instalado um segmento do perfil metálico da junta de dilatação, fixado por graute, simulando a futura casca de concreto. A curvatura adotada foi a mesma da parte superior da calota. Durante todo o período da obra o protótipo foi muito utilizado, tornando-se uma peça de fundamental importância nas discussões, não somente sobre as juntas, mas também na escolha do produto para impermeabilização, posicionamento e montagem das pastilhas. Foto 5 - Protótipo da junta de dilatação simulando a curvatura da casca. ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0123 4.3 - Levantamento topográfico Foi realizado topograficamente o cadastro rigoroso da superfície externa casca da nave central com aparelhagem de estação total. A partir deste estudo, foram instalados fios metálicos a cada 10 cm, fixados por pinos na casca, que se tornaram a referência topográfica para a futura reconstituição. 4.4 - Mapeamento e Faceamento do Mosaico O mapeamento do mosaico foi realizado antes dos serviços de demolição dos revestimentos da calota central, na escala 1/1, em papel fosco (papel manteiga) e giz de cera. Após o mapeamento as pastilhas receberam limpeza e faceamento com TNT (tecido-nãotecido) utilizando cola polivinílica diluída em água, para impedir que impactos durante a remoção das camadas de revestimento danificassem o mosaico. Durante a retirada das pastilhas e demolições foram feitos reparos no faceamento dos mosaicos com adesivo CMC Induscol 2000. Foto 6 - Execução do mapeamento do mosaico Foto 7 - Faceamento do mosaico com TNT 4.5 - Remoção dos revestimentos da casca 4.5.1 - Remoção dos revestimentos Os serviços de remoção das pastilhas do revestimento da nave na parte superior iniciaram-se após a proteção do mosaico com TNT e colocação de calhas de madeira acima do mosaico, utilizando-se ferramentas manuais. Foram mantidas as pastilhas azul claro da parte inferior e interna aos mosaicos. Todo o material demolido foi transportado horizontalmente por carrinho de mão e armazenado em caçambas Houve um cuidado na retirada das pastilhas, pois elas seriam reaproveitadas. Porém, em função da diversidade da tonalidade das cores, foi decidido que essas pastilhas não seriam aproveitadas, sendo substituídas por pastilhas novas, feitas pelo mesmo fabricante das pastilhas originais. Depois foi feita a remoção da argamassa de assentamento das pastilhas, da tela e da manta asfáltica, e conforme previsto no diagnóstico, a remoção foi fácil, em função da absoluta falta de aderência entre as camadas. ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0123 Fotos 8 e 9 - Remoção manual dos revestimentos feita com facilidade devido à falta de aderência das camadas. Grande parte da superfície da camada de regularização da casca, abaixo da manta asfáltica, estava em bom estado. Mas verificaram-se fissuras de pequena abertura e som cavo em algumas áreas, particularmente trecho entre a junta de dilatação mais baixa e casca do altar-mor, região onde estavam concentrados os blocos Sical, utilizados para regularizar a casca em 1990. As duas juntas de dilatação estavam seladas com mastiques, porém desalinhadas e desaprumadas, sendo este um fato inesperado. A reforma de 1990 não corrigiu o alinhamento das rachaduras, tratando somente de impermeabilizá-las. Como o novo projeto previa que as juntas de dilatação ficariam aparentes, foi necessário refazer a locação das juntas, realinhando-as, trabalho não previsto inicialmente. Foto 10 - Selagem existente em uma das juntas de dilatação. Foto 11 - Junta de dilatação desalinhada ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0123 Na região onde seria instalada a 3ª junta de dilatação não foi encontrada nenhuma fissura que pudesse indicar a existência de uma abertura espontânea. Em função disto ela foi instalada de acordo com a indicação do projeto, ou seja, na região anterior à laje do coro da Igreja. A pintura de ligação para aderência da manta asfáltica foi removida através de lixamento mecânico. As juntas existentes foram limpas, removendo os materiais utilizados para seu preenchimento e vedação. Todos os revestimentos acima dos mosaicos foram retirados, conforme previsto no projeto (argamassa de assentamento e regularização, reboco, tela, manta asfáltica, calhas metálicas e blocos Sical), permanecendo na estrutura somente superfícies íntegras, confirmadas com testes de percussão auscultativa. As áreas com som cavo, denotando deficiência de aderência com o substrato, e com fissuras foram removidas, principalmente onde havia blocos Sical e tijolos cerâmicos. A região mais afetada foi o módulo mais baixo, próximo do altar-mor. Foto 12 - Remoção da pintura de ligação da manta asfáltica por lixamento Foto 13 - Áreas comprometidas na calota superior por movidas por causa da falta de aderência foram removidas. 4.5.2 - Remoção das pastilhas no entorno do mosaico As pastilhas azuis claro próximas aos mosaicos foram retiradas com o uso de Maquita até o limite destes. As argamassas de assentamento e regularização foram mantidas num contorno de aproximadamente 3 centímetros. No alinhamento das juntas de dilatação, foi necessária a retirada das pastilhas nas áreas sobre o mosaico. Este trabalho realizado por pessoal especializado em restauração, utilizando equipamento especial, sendo as pastilhas recolhidas, higienizadas e arquivadas de acordo como mapeamento em papel fosco. Posteriormente o mosaico foi protegido novamente. ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0123 Foto 14 - Remoção das pastilhas do mosaico sobre um junta de dilatação existente Foto 15 - Resultado da remoção das pastilhas azul claro até limite do mosaico 4.6 - Realinhamento das juntas de dilatação existentes As duas juntas existentes estavam com desalinhamentos maiores que 1 metro na parte superior da casca. Para deixá-las verticais, exigiria um trabalho de demolição muito grande, o que não seria recomendável tecnicamente. Em função disto chegou-se a um consenso de manter a inclinação espontânea das juntas, mas corrigir os alinhamentos, de forma que as três juntas ficassem paralelas. Para a correção dos alinhamentos das duas juntas existentes foi necessário realizar aberturas de pelo menos 20 cm para cada lado das juntas, sendo a reconstituição das aberturas feita com graute de cimento Portland. 4.6.1 - Abertura para realinhamento das juntas existentes Com objetivo de alinhar as duas existentes, deixando-as paralelas, mas respeitando a inclinação espontânea, foram feitas aberturas com uma largura aproximadamente de 20 cm para cada lado das juntas, abrangendo toda a casca, inclusive a área dos mosaicos. Para agilizar os serviços foi autorizado o uso do martelo rompedor para abertura das juntas, tendo o martelo no máximo 5Kg e a demolição sendo feita em escamas, evitando maiores vibrações na estrutura. Todo material existente nesta faixa foi removido, inclusive as armaduras, que foram cortadas. A terceira junta de dilatação foi aberta na posição indicada e não atingiu toda a espessura da casca, sendo do tipo induzida, através de corte parcial. O corte da nova junta atingiu 1/3 da espessura do concreto e recebeu tratamento igual a das existentes, com corte das armaduras encontradas. ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0123 Foto 16 - Corte das armaduras existentes ao longo de uma das juntas de dilatação. Foto 17 - Detalhe da abertura total para alinhamento da 2ª junta. Observa-se a inclinação para o lado direito da junta 4.7 - Concretagem dos berços das juntas de dilatação Depois de concluída a abertura das três juntas de dilatação, foram construídos os berços para instalação dos perfis metálicos. A primeira etapa deste trabalho foi instalar um conjunto constituído por duas fôrmas de madeirite, separados por uma folha de isopor. Esta fôrma mista, com 2 cm de espessura (largura da junta de dilatação), foi construída acompanhando o desenvolvimento da casca, e nivelada de forma que a parte superior deste sistema construtivo ficasse exatamente na cota de assentamento dos perfis metálicos. O preenchimento dos berços foi feito utilizando-se graute cimentício. A colocação da argamassa foi feita de baixo para cima. Para garantir a aderência com o concreto velho, as faces das juntas foram apicoadas, limpas e feita uma ponte de aderência com calda de cimento. ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0123 Foto 18 – Detalhe do sistema construtivo instalado no alinhamento da nova junta de dilatação. Observa-se no fundo da cavidade as placas de Estiroform, existentes sobre o forro de madeira da Igreja. Foto 19 – Concretagem dos berços de uma das juntas de dilatação feita com graute. As formas laterais indicam que nesta área os berços ficaram mais altos que o substrato. 4.8 - Fixação dos perfis metálicos Após o grauteamento dos berços das juntas, foi feita a fixação dos perfis de alumínio que impermeabilizarão as juntas. Com os perfis devidamente fixados nos berços, foi feita a instalação da borracha de vedação em Neoprene nas juntas de dilatação, sem emendas. Para evitar a entrada de partículas estranhas no interior das juntas, foi instalada uma espuma de proteção (Tarussel) o interior das mesmas. Os perfis de alumínio, com secção de 3m, foras fixados diretamente no concreto através de parafusos galvanizados em ambas as abas. Foto 20 - Processo de instalação dos perfis de alumínio na juntas de dilatação Foto 21 - Solda de alumínio na emenda dos perfis ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0123 Foto 22 - Fixação dos perfis de alumínio na juntas de dilatação com parafusos galvanizados. Foto 23 - No final do processo os perfis estão fixados na casca com parafusos galvanizados e a borracha de neoprene instalada 4.9 - Concretagem para regularização da nova casca A regularização da casca foi feita utilizando microconcreto com microcimento (Duracem AD 300 – Holcim). Depois de apicoar o substrato, foi colocado uma de tela de aço soldada 3,4 mm (15x 15), para garantir a fixação da camada final e evitar fissuras por retração. As telas de aço foram fixadas na casca através de chumbadores. Nas regiões do berço das juntas, houve a preocupação de interromper a tela, pois o contato entre diferentes tipos de metais (aço e alumínio) poderia causar o processo de corrosão galvânica. Assim nessas regiões foi utilizada tela de fibra de vidro. Os pinos para fixação da tela de aço foram chumbados com resina epóxica. Foram instaladas galgas para definir a cota do concreto, sendo que nas áreas onde o substrato ficou muito profundo utilizou-se uma torre de tijolos cerâmicos, retirados durante a concretagem. Fotos 24 - Torres de tijolos cerâmicos definem a cota da casca na região onde a reconstituição é mais profunda. Foto 25 – Colocação de tela aço para evitar retração do concreto. ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0123 Antes de iniciar a concretagem foi feita uma limpeza da superfície do substrato utilizando jateamento de ar sob pressão e varredura manual. O substrato foi saturado e recebeu uma ponte de aderência com calda de cimento, para aumentar e garantir a fixação da nova camada. A concretagem da casca foi realizada com aplicação de microconcreto (fck=15MPa), reconstituindo a calota. Foi feita cura úmida rigorosa por três dias. Foto 26 - Substrato saturado e com ponte de aderência feita com calda de cimento. Foto 27 - Foi realizado cura úmida rigorosa por 3 dias utilizando manta. 4.10 - Impermeabilização da casca da nave Foram feitos diversos testes para a impermeabilização, em peças de concreto com a mesma inclinação da nave, ficando definido o produto Hemisfério 1144, que é uma película elastomérica de base cimentícia com polímeros. Diferente do projeto original, a impermeabilização foi feita em toda a superfície, passando inclusive sobre os perfis de alumínio e a borracha de neoprene. Fotos 28 e 29: Aplicação da 1ª e 2ª demão do impermeabilizante ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0123 4.11 - Assentamento das pastilhas Para a escolha da tonalidade das pastilhas a serem usadas na casca foram feitos diversos testes junto ao fabricante, procurando encontrar as tonalidades que mais se assemelhavam com as originais. As pastilhas utilizadas nas áreas acima do mosaico são cerâmicas azuis 2,0 x 2,0 cm, e foram assentadas com argamassa colante ACIII, cor branca. O mesmo produto foi utilizado para o rejuntamento. As placas com as pastilhas foram colocadas sobre toda a superfície, inclusive sobre as juntas de dilatação. Depois foi feito um corte com Maquita, abrindo a junta de dilatação em aproximadamente 6,0mm. Este corte foi meticuloso, cortando-se somente as pastilhas e a argamassa colante, sem ocasionar nenhum dano na borracha de vedação de neoprene. Devido ao método executivo, algumas pastilhas desprenderam-se pelo corte com Makita, sendo necessário reassentá-las. Após o rejuntamento foi realizada limpeza nas pastilhas, inclusive das calotas posteriores com jateamento d´água e xampu industrial. Foto 30 - Corte das pastilhas com Makita para abertura das juntas de dilatação. Foto 31 - Algumas pastilhas sofreram desprendimentos devido ao corte com Makita, e tiveram de ser reassentadas. As pastilhas cerâmicas azuis escuras no mosaico também foram assentadas com argamassa colante ACIII. 5 - Referências AGUIAR, José Eduardo et.al.. Monitoramento e Avaliação Estrutural da Igreja da Pampulha – Como Resolver um Problema de 50 Anos, 45º Congresso Brasileiro do Concreto. Vitória, IBRACON, 2003. CASTRO, Mariângela; FINGUERUT, Silvia. Igreja da Pampulha: restauro e reflexões. Rio de Janeiro, 2006. ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0123