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RECUPERAÇÃO E RESTAURO DA IGREJINHA DA PAMPULHA
RESTORING AND RESTORATION OF PAMPULHA CHURCH
Jose Eduardo de Aguiar(1), Ana Carolina Lamego Moraes(1), Abdias M. Gomes(2), Antônio
Neves C. Júnior(2)
(1) Recuperação Serviços Especiais de Engenharia.
Rua Paulo Afonso 225 Belo Horizonte - [email protected]
(2) Professor Doutor, Departamento de Materiais de Construção da Escola de Engenharia da UFMG Rua Espirito Santo 12, Belo Horizonte – MG. [email protected]
Rua Paulo Afonso,225 - 30.350-060 Belo Horizonte. [email protected]
Resumo
A Igreja de São Francisco de Assis é um monumento histórico projetado pelo arquiteto Oscar Niemayer,
sendo um dos mais importantes exemplares da arquitetura moderna no Brasil, integrando o Complexo
Arquitetônico da Pampulha.
Conhecida como Igrejinha da Pampulha, a casca em concreto armado apresenta problemas estruturais
desde sua inauguração em 1945. Diversas intervenções já tinham sido realizadas, mas não obtiveram o
sucesso esperado.
A Prefeitura de Belo Horizonte, em conjunto com os órgãos responsáveis pela preservação de monumentos
históricos, IEPHA e o IPHAN, resolveram estudar profundamente o assunto, realizando monitoramentos e
uma avaliação estrutural com vistas a elaborar um diagnóstico dos problemas, de forma a resolvê-los
definitivamente.
Foram realizados diversos ensaios como extração de corpos de prova, análise por microscopia eletrônica,
ultra-sonografia, estudos de permeabilidade, além de um levantamento geotécnico.
Através da fixação de “Gages” na casca foi realizado um monitoramento por extensometria eletrônica, para
avaliação do comportamento da estrutura, sempre submetida a variações térmicas elevadas.
A partir das plantas originais, dos resultados obtidos na extensometria eletrônica, da avaliação da incidência
de insolação e dos ensaios de caracterização dos materiais utilizados, estudou-se matematicamente o
comportamento da estrutura, utilizando a parametrização através de elementos finitos. Com os resultados
obtidos foi possível elaborar um diagnóstico estrutural e projetar a solução de um problema que perdura há
mais de meio século.
Este trabalho apresenta a metodologia utilizada nas obras de recuperação deste monumento histórico de
Belo Horizonte, mostra os materiais utilizados, as dificuldades encontradas, além dos ensaios não
destrutivos e dos monitoramentos que foram realizados para a elaboração do diagnóstico estrutural e do
projeto de restauro.
Palavra-chave: Recuperação; concreto; diagnósticos.
Abstract
Since its inauguration in 1945 the shell of the Pampulha church has been showing structural problems. This
presentation shows the methodology used in the restoring works of this historical monument placed in Belo
Horizonte and created by Oscar Niemayer. It presents the applied materials, and all the troubles along the
work, besides non destructive tests and the research with strain gages that were accomplished for the
elaboration of the structural diagnosis and the restoration project.
Keyswords: Recovery; concrete; diagnoses.
ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0123
1 – Introdução
Conhecer a Igrejinha da Pampulha é desfrutar do encontro da arquitetura com as artes
plásticas, em perfeita combinação de formas e cores. Observar as curvas arrojadas e
esbeltas das cúpulas em concreto armado de Niemeyer, os traços de Cândido Portinari no
mural do altar, na Via Sacra e nos azulejos, perceber as nuances dos baixos relevos de
bronze de Alfredo Ceschiatti, reconhecer os tons das pastilhas dos mosaicos de Paulo
Werneck que nos lembra o azul do céu e apreciar os jardins de Burle Max, nos remete a
um conto de fadas em concreto armado.
Obra extremamente polêmica na ocasião, a Igreja de São Francisco de Assis, construída
em 1943 e 1944, teve como arquiteto chefe Oscar Niemayer em conjunto com Cândido
Portinari, Alfredo Ceschiatti, Paulo Werneck e Burle Marx, que contribuíram
substancialmente no projeto e execução da construção. Coube ao engenheiro Joaquim
Cardoso os cálculos da estrutura da Igreja, que possuía uma concepção inovadora para a
época.
Era tão inovadora que os construtores modificaram o projeto estrutural original,
acreditando que o concreto e o aço, em suas formas curvas, poderiam ser simplificados,
eliminando-se as juntas de dilatação da nave principal idealizadas por Joaquim Cardoso,
que projetou três nervuras que funcionariam como articulação da estrutura, mas que não
foram construídas.
Esta alteração na concepção estrutural, com o passar dos anos, provocou sérios danos
em sua cúpula. A partir da análise de plantas antigas, observa-se que em 1959 a casca já
apresentava duas rachaduras, localizadas onde deveriam ter sido construídas duas das
nervuras que serviriam como articulação. Algumas intervenções foram realizadas na
Igreja desde a sua construção, sendo que a impermeabilização destas duas rachaduras
ocorreu somente na década de 1970.
A reforma de maior proporção aconteceu em 1990. Infiltrações causavam uma forte
degradação interna, particularmente no mural do altar principal. Naquela oportunidade
todo o revestimento externo da nave foi retirado, preservando-se somente os mosaicos
laterais, existentes na faixa inferior da casca.
A reconstituição foi feita com a aplicação de diversos materiais, sendo utilizado blocos
leves (Sical) para a conformação da casca, argamassa de cimento para regularização,
manta asfáltica para impermeabilização, reboco e telas galvanizadas como proteção
mecânica da manta, argamassa de cimento para assentamento do revestimento e
pastilhas cerâmicas. Apesar do sistema de impermeabilização que foi adotado funcionar
adequadamente, a casca apresentou forte deterioração precoce em pouco tempo.
Para a correção efetiva dos problemas da casca da Igreja, foi realizado um estudo
denominado “Monitoramento, Instrumentação, Avaliação Estrutural e Projeto de
Recuperação e Restauro da Igreja de São Francisco de Assis” com duração de nove
meses, sob responsabilidade da Recuperação Serviços Especiais de Engenharia. Após
esta avaliação estrutural profunda, chegaram-se aos diagnósticos e às soluções,
elaborando-se um projeto para a recuperação e restauro da obra.
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Foto 1 - Situação em 1990, época da primeira grande
reforma.
Foto 2 – Situação em 2000, com inúmeros
problemas 10 anos após a reforma.
2 – Estudos, monitoramentos e diagnósticos
2.1. Estudos e monitoramentos realizados
O primeiro estudo realizado foi o estudo geotécnico, através de um poço de inspeção para
pesquisar as fundações existentes, quando se constatou que a estrutura estava
assentada sobre uma íntegra laje de concreto armado, em forma de radier, executada
sobre estacas de madeiras em perfeito estado.
Para avaliar a qualidade e resistência do concreto da casca e do radier, foram extraídos
corpos de prova e feitas medições de pulsos ultra-sônicos. Foram retiradas lâminas dos
corpos de provas e as amostras foram avaliadas por Microscopia Eletrônica de Varredura
(MEV), que mostraram uma microestrutura típica compacta, sem anomalias ou presença
de materiais deletérios.
Os resultados apurados mostraram que a qualidade e compacidade do concreto eram
adequadas para a estrutura. A espessura da camada de cobrimento das armaduras
também era satisfatória, protegendo-as adequadamente contra a corrosão.
Outro estudo realizado foi o monitoramento das temperaturas que incidem sobre o
revestimento da casca da Igreja, que mostrou a superfície sendo submetida a gradientes
térmicos elevados, superiores a 50°C, sendo esta diferença observada entre os meses
mais quentes e os mais frios do ano. Mas se constatou que o concreto da casca não
estava sendo muito afetado, indicando que o revestimento existente, apesar de
extremamente fissurado, ainda assim, estava garantindo uma proteção térmica à
estrutura. Para monitoramento das temperaturas externas na casca foi utilizado o
aparelho Pirômetro e para as internas o Termopar.
Foram instalados extensômetros elétricos (Strain Gages), filamentos plásticos flexíveis de
fina espessura dotados de fios de resistência na superfície do concreto, para avaliar a
deformação da estrutura frente às fortes variações térmicas encontradas.
O monitoramento das deformações foi feito utilizando um sistema de aquisição de dados,
onde os filamentos foram ligados através de cabos elétricos e interligados a um
computador, que fazia a visualização e impressão dos gráficos gerados pelas
movimentações. Os resultados apontaram para uma grande estabilidade termodinâmica
da estrutura, registrando baixas tensões e deformações.
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Com as informações obtidas estudou-se matematicamente o comportamento da estrutura
da nave central, utilizando a parametrização através de elementos finitos.
Foram realizadas diversas simulações, procurando-se avaliar o comportamento da casca
frente as mais diversas solicitações de temperatura e com a estrutura tendo duas, três ou
nenhuma junta de dilatação.
Um dos modelos mais interessantes foi o que considerava somente as duas juntas radiais
já existentes, e temperatura variando entre 30º e 55º C, o que seria a temperatura mais
freqüente. Nesta simulação observa-se claramente a existência de uma concentração de
tensões radiais no primeiro módulo, indicando a necessidade de abertura de uma junta
naquele local, ou seja, faltava a 3ª junta projetada e não executada.
2.2 Diagnósticos Estruturais
O interior da igreja apresentava-se estanque, sem a presença de infiltrações. As fissuras
existentes na casca eram superficiais, restringindo-se somente aos materiais utilizados no
revestimento, que por terem módulos de elasticidade diferentes, e submetidos a
gradientes térmicos de até 50°C, fissuraram-se em função das movimentações
termodinâmicas diferenciadas e por não apresentarem ligação forte entre as camadas.
As fissuras não estavam relacionadas com o comportamento das fundações da estrutura.
Todo os materiais aplicados na reforma anterior (1990) deveriam ser retirados, incluindo
os utilizados para conformação da superfície do concreto da casca e nas juntas de
dilatação, preservando-se os mosaicos originais.
Os modelos matemáticos apontaram para uma concentração de tensões na região onde
deveria ter sido construída a terceira junta de dilatação, ou seja, na região onde
originalmente foi projetada uma nervura, e não executada, mostrando a clarividência e
competência do calculista da obra. Devia ser projetada a abertura da terceira junta de
dilatação.
A nova junta de dilatação (a terceira) e as duas existentes deveriam ter movimentação
livre, sem restrições. Para evitar que ficassem aparentes, prejudicando o aspecto visual
do monumento, deveriam ser projetadas pastilhas “flutuantes” sobre as juntas, procurando
disfarçar seu alinhamento.
A reconstituição do revestimento da casca e a execução das juntas de dilatação deveriam
utilizar materiais com comportamento termodinâmico semelhantes, de base cimentícia,
com forte ligação entre si, e que garantiriam a impermeabilidade e proteção térmica ao
concreto.
O projeto executivo deveria contemplar a menor quantidade possível de materiais para o
revestimento, procurando manter semelhança com o revestimento do mosaico existente,
ou seja, a concepção original do projeto.
3 – Projeto de Recuperação e Restauro
De acordo com “Projeto de Recuperação e Restauro da Igreja de São Francisco de
Assis”, os principais procedimentos recomendados eram:
3.1 – Proteções e andaimes
A primeira recomendação do projeto era montar um andaime metálico constituído de
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tubos e braçadeiras, instalado sobre a casca, sem apoio na estrutura, a fim de não
interferir na execução dos trabalhos.
A estrutura flutuante devia ser totalmente coberta por lonas plásticas para manter a
estanqüeidade da parte interna da Igreja durante os trabalhos de recuperação,
particularmente as juntas de dilatação abertas.
3.2 – Levantamento topográfico da casca
Logo após a instalação dos andaimes devia ser executado um rigoroso cadastro
topográfico da superfície externa da casca, de forma a possibilitar sua reconstituição nas
cotas originais, devendo a topografia fixar pinos referenciais na casca.
3.3 – Remoções dos revestimentos existentes
Foi recomendado remover todos os revestimentos existentes na abóbada localizados
acima do mosaico original, inclusive os tijolos leves.
Os materiais existentes no interior das duas juntas também deviam ser removidos e ser
executada a abertura de uma terceira junta. As calhas metálicas horizontais para coleta
de águas pluviais, que foram instaladas em 1990 sobre a região do mosaico, também
deviam ser removidas.
A remoção das camadas deveria iniciar pelas partes superiores da Igreja, com uso calhas,
evitando que o material de demolição danificasse as partes inferiores. As partes a serem
removidas deveriam ser previamente molhadas para evitar poeira em excesso durante o
processo de remoção.
Deveria se evitar o acúmulo de entulho em quantidade que provocasse sobrecarga
excessiva sobre os pisos ou pressão lateral sobre as paredes.
As remoções deveriam ser manuais e executadas de forma lenta e progressiva, utilizando
ferramentas leves. Poderia ser utilizado equipamento dotado de disco de corte
diamantado (makita) como ferramenta auxiliar.
3.3.1 – Remoção das pastilhas na área do mosaico
Todos os trabalhos a serem feitos na área do mosaico, deveriam ser realizados por
profissional especializado em obras de restauração, com cadastrado minucioso de todas
as peças e faceamento através de colagem nas pastilhas.
As pastilhas existentes no mosaico que apresentassem o rejuntamento com desgaste
natural pelo tempo, deveriam ter o rejunte complementado após a limpeza.
3.4 – Abertura da nova junta
A terceira junta de dilatação deveria ser aberta de acordo com a indicação dos modelos
matemáticos, mas a posição da junta deveria ser confirmada no local, pois poderia já
existir alguma abertura espontânea, ainda não conhecida.
3.5 – Reconstituição do concreto da casca
A casca deveria ser reconstituída e regularizada com micro-concreto, com características
similares ao concreto original, sendo este trabalho feito após limpeza das superfícies,
depois de tomadas às providências para evitar a entrada de água e partículas soltas no
interior da Igreja pela abertura das juntas.
Caso ocorresse o surgimento de armaduras expostas com evidências de corrosão, foi
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recomendado proceder aos reparos de acordo com as especificações particulares.
3.6 – Instalação dos perfis metálicos das juntas de dilatação
As três juntas de dilatação seriam vedadas com perfil metálico que deveriam ser em
alumínio seladas com borracha de neoprene, sendo fixadas diretamente no concreto
através de parafusos galvanizados. Os perfis deviam ser adequados ao formato
parabólico da casca, sendo para isto necessário fazer incisões no metal, de forma garantir
uma estrutura contínua e sem infiltração.
O neoprene devia ser instalado nos perfis sem emendas em toda a sua extensão, ou seja,
a borracha deveria ser colocada de forma inteiriça.
3.7 - Aplicação da camada de impermeabilização
A casca reconstituída deveria ser impermeabilizada por uma camada de revestimento
polimérico flexível, de base cimentícia, capaz de suportar fissuras dinâmicas de pouca
movimentação, e com textura áspera.
O revestimento deveria ser aplicado também sobre as abas metálicas das juntas de
dilatação.
3.8 – Argamassa colante para assentamento das pastilhas
As pastilhas deveriam ser assentadas e rejuntadas com argamassas colantes
industrializadas do tipo AC III, de acordo com a Norma Brasileira para assentamento de
argamassa NBR14081 – “Argamassa colante industrializada para assentamento de
placas cerâmicas”. Sobre as juntas de dilatação deveriam ser projetadas pastilhas
“flutuantes”, procurando disfarçar seu alinhamento.
4 - Obras de Recuperação e Restauro da Casca
Os trabalhos iniciaram em julho de 2004, com duração de um ano, período em que, além
da recuperação estrutural, foram feitos outros trabalhos complementares para
preservação do patrimônio, como recuperação das esquadrias de ferro, brise solei,
paisagismo, iluminação, calçada portuguesa, marquise, campanário, cruzeiro, calotas
posteriores, sala do Santíssimo, infra-estrutura administrativa, revitalização dos azulejos,
limpeza dos pisos em mármore e granito (interno e externo) e dos quadros da Via Sacra.
Abaixo são descritas as principais etapas do trabalho de recuperação e restauro da Igreja
da Pampulha, sendo apresentadas também as alterações mais significativas que foram
introduzidas no projeto. As obras foram realizadas pela Fundação Roberto Marinho, com
patrocínio da Petrobrás, com acompanhamento da Prefeitura de Belo Horizonte, IEPHA e
IPHAN. A construtora responsável pelo trabalho foi a Biapó.
4.1 - Fechamento da Obra e Montagem dos Andaimes
Toda a obra foi cercada em painéis madeira, pintados na cor azul, com desenhos e textos
de Oscar Niemeyer, fornecendo aos visitantes um pouco da história da Igrejinha da
Pampulha e de seu arquiteto, uma vez que o acesso ao monumento foi fechado ao
público.
A proteção da calota foi feita com a instalação dos andaimes tubulares metálicos
conforme previsto no projeto, ou seja, estruturados de tal forma que nenhuma peça
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tivesse contato com a superfície do concreto, para não interferir nos trabalhos.
Após a montagem dos andaimes, foram instaladas as lonas de proteção, também na cor
azul, que cobriram a estrutura durante todo o período da obra. Para aumentar a claridade
e ventilação, foram construídos lanternins na parte superior.
Foto 3 - Montagem dos andaimes e vista dos
tapumes com alusão aos trabalhos de Oscar
Niemayer
Foto 4 - Vista dos andaimes já cobertos pela lona de
proteção contra chuvas
4.2 - Execução de um protótipo
Foi construído um protótipo para executar testes preliminares, em modelo reduzido,
antecipando e facilitando diversas tomadas de decisão. Nele foi instalado um segmento
do perfil metálico da junta de dilatação, fixado por graute, simulando a futura casca de
concreto. A curvatura adotada foi a mesma da parte superior da calota.
Durante todo o período da obra o protótipo foi muito utilizado, tornando-se uma peça de
fundamental importância nas discussões, não somente sobre as juntas, mas também na
escolha do produto para impermeabilização, posicionamento e montagem das pastilhas.
Foto 5 - Protótipo da junta de dilatação simulando a curvatura da casca.
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4.3 - Levantamento topográfico
Foi realizado topograficamente o cadastro rigoroso da superfície externa casca da nave
central com aparelhagem de estação total. A partir deste estudo, foram instalados fios
metálicos a cada 10 cm, fixados por pinos na casca, que se tornaram a referência
topográfica para a futura reconstituição.
4.4 - Mapeamento e Faceamento do Mosaico
O mapeamento do mosaico foi realizado antes dos serviços de demolição dos
revestimentos da calota central, na escala 1/1, em papel fosco (papel manteiga) e giz de
cera.
Após o mapeamento as pastilhas receberam limpeza e faceamento com TNT (tecido-nãotecido) utilizando cola polivinílica diluída em água, para impedir que impactos durante a
remoção das camadas de revestimento danificassem o mosaico.
Durante a retirada das pastilhas e demolições foram feitos reparos no faceamento dos
mosaicos com adesivo CMC Induscol 2000.
Foto 6 - Execução do mapeamento do mosaico
Foto 7 - Faceamento do mosaico com TNT
4.5 - Remoção dos revestimentos da casca
4.5.1 - Remoção dos revestimentos
Os serviços de remoção das pastilhas do revestimento da nave na parte superior
iniciaram-se após a proteção do mosaico com TNT e colocação de calhas de madeira
acima do mosaico, utilizando-se ferramentas manuais. Foram mantidas as pastilhas azul
claro da parte inferior e interna aos mosaicos. Todo o material demolido foi transportado
horizontalmente por carrinho de mão e armazenado em caçambas
Houve um cuidado na retirada das pastilhas, pois elas seriam reaproveitadas. Porém, em
função da diversidade da tonalidade das cores, foi decidido que essas pastilhas não
seriam aproveitadas, sendo substituídas por pastilhas novas, feitas pelo mesmo fabricante
das pastilhas originais.
Depois foi feita a remoção da argamassa de assentamento das pastilhas, da tela e da
manta asfáltica, e conforme previsto no diagnóstico, a remoção foi fácil, em função da
absoluta falta de aderência entre as camadas.
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Fotos 8 e 9 - Remoção manual dos revestimentos feita com facilidade devido à falta de aderência das
camadas.
Grande parte da superfície da camada de regularização da casca, abaixo da manta
asfáltica, estava em bom estado. Mas verificaram-se fissuras de pequena abertura e som
cavo em algumas áreas, particularmente trecho entre a junta de dilatação mais baixa e
casca do altar-mor, região onde estavam concentrados os blocos Sical, utilizados para
regularizar a casca em 1990.
As duas juntas de dilatação estavam seladas com mastiques, porém desalinhadas e
desaprumadas, sendo este um fato inesperado. A reforma de 1990 não corrigiu o
alinhamento das rachaduras, tratando somente de impermeabilizá-las. Como o novo
projeto previa que as juntas de dilatação ficariam aparentes, foi necessário refazer a
locação das juntas, realinhando-as, trabalho não previsto inicialmente.
Foto 10 - Selagem existente em uma das juntas de
dilatação.
Foto 11 - Junta de dilatação desalinhada
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Na região onde seria instalada a 3ª junta de dilatação não foi encontrada nenhuma fissura
que pudesse indicar a existência de uma abertura espontânea. Em função disto ela foi
instalada de acordo com a indicação do projeto, ou seja, na região anterior à laje do coro
da Igreja.
A pintura de ligação para aderência da manta asfáltica foi removida através de lixamento
mecânico. As juntas existentes foram limpas, removendo os materiais utilizados para seu
preenchimento e vedação.
Todos os revestimentos acima dos mosaicos foram retirados, conforme previsto no
projeto (argamassa de assentamento e regularização, reboco, tela, manta asfáltica,
calhas metálicas e blocos Sical), permanecendo na estrutura somente superfícies
íntegras, confirmadas com testes de percussão auscultativa.
As áreas com som cavo, denotando deficiência de aderência com o substrato, e com
fissuras foram removidas, principalmente onde havia blocos Sical e tijolos cerâmicos. A
região mais afetada foi o módulo mais baixo, próximo do altar-mor.
Foto 12 - Remoção da pintura de ligação da
manta asfáltica por lixamento
Foto 13 - Áreas comprometidas na calota superior por
movidas por causa da falta de aderência foram
removidas.
4.5.2 - Remoção das pastilhas no entorno do mosaico
As pastilhas azuis claro próximas aos mosaicos foram retiradas com o uso de Maquita até
o limite destes. As argamassas de assentamento e regularização foram mantidas num
contorno de aproximadamente 3 centímetros.
No alinhamento das juntas de dilatação, foi necessária a retirada das pastilhas nas áreas
sobre o mosaico. Este trabalho realizado por pessoal especializado em restauração,
utilizando equipamento especial, sendo as pastilhas recolhidas, higienizadas e arquivadas
de acordo como mapeamento em papel fosco. Posteriormente o mosaico foi protegido
novamente.
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Foto 14 - Remoção das pastilhas do mosaico sobre
um junta de dilatação existente
Foto 15 - Resultado da remoção das pastilhas azul
claro até limite do mosaico
4.6 - Realinhamento das juntas de dilatação existentes
As duas juntas existentes estavam com desalinhamentos maiores que 1 metro na parte
superior da casca. Para deixá-las verticais, exigiria um trabalho de demolição muito
grande, o que não seria recomendável tecnicamente. Em função disto chegou-se a um
consenso de manter a inclinação espontânea das juntas, mas corrigir os alinhamentos, de
forma que as três juntas ficassem paralelas.
Para a correção dos alinhamentos das duas juntas existentes foi necessário realizar
aberturas de pelo menos 20 cm para cada lado das juntas, sendo a reconstituição das
aberturas feita com graute de cimento Portland.
4.6.1 - Abertura para realinhamento das juntas existentes
Com objetivo de alinhar as duas existentes, deixando-as paralelas, mas respeitando a
inclinação espontânea, foram feitas aberturas com uma largura aproximadamente de 20
cm para cada lado das juntas, abrangendo toda a casca, inclusive a área dos mosaicos.
Para agilizar os serviços foi autorizado o uso do martelo rompedor para abertura das
juntas, tendo o martelo no máximo 5Kg e a demolição sendo feita em escamas, evitando
maiores vibrações na estrutura.
Todo material existente nesta faixa foi removido, inclusive as armaduras, que foram
cortadas.
A terceira junta de dilatação foi aberta na posição indicada e não atingiu toda a espessura
da casca, sendo do tipo induzida, através de corte parcial. O corte da nova junta atingiu
1/3 da espessura do concreto e recebeu tratamento igual a das existentes, com corte das
armaduras encontradas.
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Foto 16 - Corte das armaduras existentes ao
longo de uma das juntas de dilatação.
Foto 17 - Detalhe da abertura total para alinhamento da
2ª junta. Observa-se a inclinação para o lado direito da
junta
4.7 - Concretagem dos berços das juntas de dilatação
Depois de concluída a abertura das três juntas de dilatação, foram construídos os berços
para instalação dos perfis metálicos.
A primeira etapa deste trabalho foi instalar um conjunto constituído por duas fôrmas de
madeirite, separados por uma folha de isopor. Esta fôrma mista, com 2 cm de espessura
(largura da junta de dilatação), foi construída acompanhando o desenvolvimento da
casca, e nivelada de forma que a parte superior deste sistema construtivo ficasse
exatamente na cota de assentamento dos perfis metálicos.
O preenchimento dos berços foi feito utilizando-se graute cimentício. A colocação da
argamassa foi feita de baixo para cima. Para garantir a aderência com o concreto velho,
as faces das juntas foram apicoadas, limpas e feita uma ponte de aderência com calda de
cimento.
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Foto 18 – Detalhe do sistema construtivo
instalado no alinhamento da nova junta de
dilatação. Observa-se no fundo da cavidade as
placas de Estiroform, existentes sobre o forro de
madeira da Igreja.
Foto 19 – Concretagem dos berços de uma das juntas
de dilatação feita com graute. As formas laterais indicam
que nesta área os berços ficaram mais altos que o
substrato.
4.8 - Fixação dos perfis metálicos
Após o grauteamento dos berços das juntas, foi feita a fixação dos perfis de alumínio que
impermeabilizarão as juntas. Com os perfis devidamente fixados nos berços, foi feita a
instalação da borracha de vedação em Neoprene nas juntas de dilatação, sem emendas.
Para evitar a entrada de partículas estranhas no interior das juntas, foi instalada uma
espuma de proteção (Tarussel) o interior das mesmas.
Os perfis de alumínio, com secção de 3m, foras fixados diretamente no concreto através
de parafusos galvanizados em ambas as abas.
Foto 20 - Processo de instalação dos perfis de
alumínio na juntas de dilatação
Foto 21 - Solda de alumínio na emenda dos perfis
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Foto 22 - Fixação dos perfis de alumínio na juntas
de dilatação com parafusos galvanizados.
Foto 23 - No final do processo os perfis estão fixados
na casca com parafusos galvanizados e a borracha de
neoprene instalada
4.9 - Concretagem para regularização da nova casca
A regularização da casca foi feita utilizando microconcreto com microcimento (Duracem
AD 300 – Holcim). Depois de apicoar o substrato, foi colocado uma de tela de aço soldada
3,4 mm (15x 15), para garantir a fixação da camada final e evitar fissuras por retração.
As telas de aço foram fixadas na casca através de chumbadores. Nas regiões do berço
das juntas, houve a preocupação de interromper a tela, pois o contato entre diferentes
tipos de metais (aço e alumínio) poderia causar o processo de corrosão galvânica. Assim
nessas regiões foi utilizada tela de fibra de vidro. Os pinos para fixação da tela de aço
foram chumbados com resina epóxica.
Foram instaladas galgas para definir a cota do concreto, sendo que nas áreas onde o
substrato ficou muito profundo utilizou-se uma torre de tijolos cerâmicos, retirados durante
a concretagem.
Fotos 24 - Torres de tijolos cerâmicos definem a cota
da casca na região onde a reconstituição é mais
profunda.
Foto 25 – Colocação de tela aço para evitar
retração do concreto.
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Antes de iniciar a concretagem foi feita uma limpeza da superfície do substrato utilizando
jateamento de ar sob pressão e varredura manual. O substrato foi saturado e recebeu
uma ponte de aderência com calda de cimento, para aumentar e garantir a fixação da
nova camada.
A concretagem da casca foi realizada com aplicação de microconcreto (fck=15MPa),
reconstituindo a calota. Foi feita cura úmida rigorosa por três dias.
Foto 26 - Substrato saturado e com ponte de
aderência feita com calda de cimento.
Foto 27 - Foi realizado cura úmida rigorosa por 3
dias utilizando manta.
4.10 - Impermeabilização da casca da nave
Foram feitos diversos testes para a impermeabilização, em peças de concreto com a
mesma inclinação da nave, ficando definido o produto Hemisfério 1144, que é uma
película elastomérica de base cimentícia com polímeros. Diferente do projeto original, a
impermeabilização foi feita em toda a superfície, passando inclusive sobre os perfis de
alumínio e a borracha de neoprene.
Fotos 28 e 29: Aplicação da 1ª e 2ª demão do impermeabilizante
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4.11 - Assentamento das pastilhas
Para a escolha da tonalidade das pastilhas a serem usadas na casca foram feitos
diversos testes junto ao fabricante, procurando encontrar as tonalidades que mais se
assemelhavam com as originais. As pastilhas utilizadas nas áreas acima do mosaico são
cerâmicas azuis 2,0 x 2,0 cm, e foram assentadas com argamassa colante ACIII, cor
branca. O mesmo produto foi utilizado para o rejuntamento.
As placas com as pastilhas foram colocadas sobre toda a superfície, inclusive sobre as
juntas de dilatação. Depois foi feito um corte com Maquita, abrindo a junta de dilatação
em aproximadamente 6,0mm. Este corte foi meticuloso, cortando-se somente as pastilhas
e a argamassa colante, sem ocasionar nenhum dano na borracha de vedação de
neoprene.
Devido ao método executivo, algumas pastilhas desprenderam-se pelo corte com Makita,
sendo necessário reassentá-las. Após o rejuntamento foi realizada limpeza nas pastilhas,
inclusive das calotas posteriores com jateamento d´água e xampu industrial.
Foto 30 - Corte das pastilhas com Makita para
abertura das juntas de dilatação.
Foto 31 - Algumas pastilhas sofreram
desprendimentos devido ao corte com Makita, e
tiveram de ser reassentadas.
As pastilhas cerâmicas azuis escuras no mosaico também foram assentadas com
argamassa colante ACIII.
5 - Referências
AGUIAR, José Eduardo et.al.. Monitoramento e Avaliação Estrutural da Igreja da
Pampulha – Como Resolver um Problema de 50 Anos, 45º Congresso Brasileiro do
Concreto. Vitória, IBRACON, 2003.
CASTRO, Mariângela; FINGUERUT, Silvia. Igreja da Pampulha: restauro e reflexões.
Rio de Janeiro, 2006.
ANAIS DO 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2006 - 48CBC0123

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