Anais Enlece 2013 - do Laboratorio de Pesquisa Multimeios
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Anais Enlece 2013 - do Laboratorio de Pesquisa Multimeios
ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC SABERES DA DOCÊNCIA, CURRÍCULO E ENSINO 2 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Bibliotecária: Regina Célia Paiva da Silva CRB – 1051 E 56 Encontro da Linha de Educação Currículo, e Ensino da Universidade Federal do Ceará, I; Anais, Saberes da docência, currículo e ensino. Santos, Alice Nayara; Gomes, Sabrina Linhares; Gabriel Neto, José Antônio (orgs). – Fortaleza: Imprece, 2013. 350p 16,2x22,9. Livro Digital ISBN: 978-85-8126-044-0 Vários autores. 1. Ensino – Encontro. 2. Currículo – Estudo e Ensino. 3. Educação. 4.Caldas Filho, Odmir Fortes Menezes I. Título. 3 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC SABERES DA DOCÊNCIA, CURRÍCULO E ENSINO Organização: Alice Nayara dos Santos Sabrina Linhares Gomes José Antônio Gabriel Neto Odmir Fortes Menezes Caldas Filho Editora: IMPRECE – Ceará - 2013 4 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO EDITORIAL EDITORA: Imprece ORGANIZAÇÃO: Alice Nayara dos Santos José Antônio Gabriel Neto Sabrina Linhares Gomes Odmir Fortes Menezes Caldas Filho COORDENAÇÃO Profa. Dra. Ana Maria Iório Dias Prof. Dr. Pedro Rogério. REVISÃO DE TEXTOS: Alice Nayara dos Santos Sabrina Linhares Gomes CAPA, DIAGRAMAÇÃO E ARTE INTERNA. Odmir Fortes Menezes Caldas Filho 5 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC SUMÁRIO PREFÁCIO – AJUSTANDO AS LENTES DE LEITURA ...................................................................... 9 PARTE I: EIXO DE ENSINO DE CIÊNCIAS 12 A QUÍMICA NO COTIDIANO DAS FÉRIAS ESCOLARES .............................................................. 13 ORIENTAÇÃO SEXUAL: PERCEPÇÃO DE PROFESSORES DO 9° ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL II DE UMA ESCOLA MUNICIPAL EM ITAPIPOCA-CE ....................................................................................................... 19 FORMAÇÃO INICIAL DOCENTE: SOB O OLHAR DE LICENCIANDOS EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DA FACEDI/UECE 23 UTILIZAÇÃO DO TANGRAM NO ENSINO DE CIÊNCIAS ............................................................. 28 LIBRAS E O ENSINO DE CIÊNCIAS: CONTRIBUIÇÕES PARA O APRENDIZADO DE ALUNOS SURDOS 33 A PRÁTICA DOCENTE NA SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS: IMPLICAÇÕES PARA O ENSINO REGULAR DAS CIÊNCIAS DA NATUREZA ................................................................................................................ 38 PARTE II: EIXO DE ENSINO DE MATEMÁTICA 43 CONTRIBUIÇÕES DO PIBID NA FORMAÇÃO DOCENTE: EXPERIÊNCIAS EM UMA ESCOLA PÚBLICA NA REGIÃO NORTE DO CEARÁ ........................................................................................................................................... 44 A INSERÇÃO DE PRÁTICAS LÚDICAS NO ENSINO DE MATEMÁTICA: EXPERIÊNCIAS DE ATIVIDADES REALIZADAS NUMA TURMA DE ENSINO FUNDAMENTAL ................................................................................ 48 R: UMA FERRAMENTA PARA EXPLORAR A INTERDISCIPLINARIDADE ENTRE A MATEMÁTICA E A GEOGRAFIA 53 ÁLGEBRA MATRICIAL: EXPERIÊNCIA DE ENSINO EM UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA NO INTERIOR DO CEARÁ 58 O JOGO DAS QUADRÁTICAS ........................................................................................................... 63 REFLEXÕES E EXPERIÊNCIAS ACERCA DA PRÁTICA DOCENTE: EXPERIÊNCIAS DO PIBID-MATEMÁTICA-UVA 68 TECNOLOGIAS INFORMÁTICAS NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E A MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA: APLICAÇÃO DE RECURSO GRÁFICO NO ENSINO-APRENDIZAGEM DO CONCEITO DE FUNÇÃO................... 72 PROJETO OBAMA: LEVANTAMENTO E CLASSIFICAÇÃO DE OBJETOS DE APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA 78 PARTE III: EIXO DE ENSINO DE MÚSICA 84 A GÊNESE DO CAMPO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO MUSICAL NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 85 REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA FORMAÇÃO MUSICAL DOS ADOLESCENTES DE UMA ESCOLA REGULAR EM FORTALEZA .............................................................................................................. 92 ENTRE ADORNO E MÁRIO DE ANDRADE: PASSOS E DESCOMPASSOS NO ESTABELECIMENTO DE UM REPERTÓRIO MUSICAL DE REFERÊNCIA .............................................................................................................. 99 PROJETO ARTE-EDUCAÇÃO E O ENSINO DE MÚSICA NO INSTUTUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO CEARÁ (IFCE) ................................................................................................... 105 CASA CAIADA: FORMAÇÃO HUMANA E MUSICAL EM PRÁTICAS PERCUSSIVAS COLABORATIVAS. PARTE IV: EIXO DE CURRÍCULO 112 117 CURRÍCULO E CULTURA: COMO SE DÁ ESTA RELAÇÃO? ...................................................... 118 PERCEPÇÃO DOCENTE QUANTO AOS DESAFIOS ENCONTRADOS NA IMPLANTAÇÃO DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DO CURSO DE MEDICINA DE UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA BRASILEIRA124 COMO OS GESTORES DE CURRÍCULO NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ DEFINEM PROJETO PEDAGÓGICO? ............................................................................................................................................................. 128 6 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO CONCEPÇÕES ACERCA DO CURRÍCULO NO SISTEMA COLÉGIO MILITAR DO BRASIL (SCMB) 133 DIÁLOGO DE EXPERIÊNCIAS DE PESQUISA: INTERFACES ENTRE A GASTRONOMIA, A EDUCAÇÃO, O CURRÍCULO E O ENSINO............................................................................................................................................... 139 O ENSINO DE HISTÓRIA E AS NECESSIDADES DE ADAPTAÇÕES CURRICULARES PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL .............................................................................................................................................. 146 CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: CONTRADIÇÕES, DESAFIOS E IMPLICAÇÕES NA CONTEMPORANEIDADE ................................................................................................................. 151 PARTE V: EIXO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES 156 A CAPACIDADE DE RESILIÊNCIA DO DOCENTE NO FAVORECIMENTO DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM DO EDUCANDO ....................................................................................................................................... 157 A DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM E SUA RELAÇÃO COM A FORMAÇÃO DE PROFESSORES 162 O PAPEL DO PLANEJAMENTO COMO ELEMENTO INTEGRANTE NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM ............................................................................................................................................................. 167 OS DESAFIOS DE SER PROFESSOR: DIÁLOGOS PRODUZIDOS NO 1º COLÓQUIO DE FORMAÇÃO DOCENTE REALIZADO NA URCA ........................................................................................................................................... 171 AS ATIVIDADES LÚDICAS E PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM ........................... 176 O ESTÁGIO NA FORMAÇÃO DOCENTE: UM ESTUDO DA PROPOSTA PEDAGÓGICA DO CURSO DE HISTÓRIA DA UFC. ............................................................................................................................................................. 181 ESTRATÉGIAS DE INTRODUÇÃO À FORMAÇÃO CONTINUADA EM CURRICULO E PLANEJAMENTO: EXPERIÊNCIA FÍLMICA ............................................................................................................................................. 186 A FORMAÇÃO INICIAL DO PROFESSOR PEDAGOGO PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO ............................................................................................................................................................. 191 SABERES DOCENTES: DIÁLOGOS COM A FORMAÇÃO E O TRABALHO DE PROFESSORES197 FORMAÇÃO DOCENTE SOB A PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO DIALÓGICA FREIREANA .. 202 O COORDENADOR PEDAGÓGICO E A FORMAÇÃO DOCENTE: CONCEITOS E PRESSUPOSTOS 207 LEITURA DE IMAGENS: UMA POSSIBILIDADE NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES 212 O ESTÁGIO SUPERVISIONADO COMO PAPEL FUNDAMENTAL NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES. 217 CONCEPÇÃO DE LICENCIANDOS EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DA FACED-UECE ACERCA DA INTERDISCIPLINARIDADE EM SUA FORMAÇÃO INICIAL. ....................................................................................................... 220 INICIAÇÃO A DOCÊNCIA EM UMA ESCOLA NO INTERIOR DO CEARÁ: EXPERIÊNCIAS DO PIBID-MATEMÁTICA-UVA ............................................................................................................................................................. 223 CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA NO CURRÍCULO ESCOLAR: DESAFIOS E POSSIBILIDADES NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES A PARTIR DA LEI 10.639/03 ........................................................................... 227 AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO - TIC'S COMO FONTES PARA A FORMAÇÃO DOCENTE ............................................................................................................................................................. 232 RELAÇÃO ENTRE PESQUISA E TRABALHO DOCENTE NA INTEGRAÇÃO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA 236 FORMAÇÃO CONTINUADA DO PROFESSOR COORDENADOR PEDAGÓGICO NUMA ABORDAGEM REFLEXIVA ............................................................................................................................................................. 240 CONTRIBUIÇÕES DO PIBID NA FORMAÇÃO DOCENTE ........................................................... 245 CONDIÇÕES DE TRABALHO X DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA .................................................. 250 FORMAÇÃO PEDAGÓGICA UNIVERSITÁRIA, LIMITES E POSSIBILIDADES ......................... 255 (IN)FORMAÇÃO PROFISSIONAL NO ENSINO SUPERIOR: ESTUDO SOBRE A REALIDADE DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ(UESPI) ......................................................................................................... 260 DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR: PROFISSÃO COM CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS ESPECÍFICOS 265 7 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC O MATERIAL DIDÁTICO DE CÁLCULO II NA OPINIÃO DO ALUNO: FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA DO CURSO SEMIPRESENCIAL DO IFCE ....................................................................................... 269 PARTE VI: EIXO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS NA EDUCAÇÃO 273 UMA ANÁLISE DA METODOLOGIA DO LABORATÓRIO DE PESQUISA MULTIMEIOS/FACED/UFC, UTILIZADA NA DISCIPLINA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DO CURSO DE PEDAGOGIA. ............................. 274 QUALIDADE NA OFERTA DE ENSINO SUPERIOR A DISTÂNCIA NO BRASIL: UMA ANÁLISE DOS CURSOS A DISTÂNCIA DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR DE FORTALEZA ............................................. 279 O USO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS NA FORMAÇÃO INICIAL DE TUTORES ..................... 282 EAD - EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E O PARADIGMA DA INTERAÇÃO E INTERATIVIDADE NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM .............................................................................................................................. 285 APRENDIZAGEM COLABORATIVA COM SUPORTE COMPUTACIONAL: UMA PROPOSTA PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES .................................................................................................................................. 289 A IMPORTÂNCIA DA INFORMÁTICA EDUCATIVA NAS SÉRIES INICIAIS ............................ 295 AVALIAÇÃO DA ACESSIBILIDADE DOS SOFTWARES EDUCATIVOS DO SISTEMA OPERACIONAL UBUNTUCA A PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL.......................................................................................... 301 EXPERIENCIANDO PRÁTICAS EDUCATIVAS NO LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA ........ 307 A WEB 2.0 COMO AUXILIAR DA AÇÃO DOCENTE E DA APRENDIZAGEM ........................... 312 PROJETO UCA: DESAFIOS A FORMAÇÃO DOCENTE EM UMA ESCOLA ESTADUAL DE FORTALEZA 316 AS TECNOLOGIAS NA FORMAÇÃO DOCENTE NA EDUCAÇÃO SUPERIOR PRESENCIAL . 320 O USO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS NO ENSINO SUPERIOR ................................................. 325 TÉCNOLOGIAS DIGITAIS E O CURRÍCULO: UMA PESPECTIVA ETINOGRÀFICA DA FACED COM O USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS ................................................................................................................ 329 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS UTILIZADAS PELO PROFESSOR TUTOR EM CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO À DISTÂNCIA ............................................................................................................................................................. 334 FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES PARA UTILIZAÇÃO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TDIC) NO ENSINO: ALGUNS DESAFIOS DA CONTEMPORANEIDADE .... 339 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO CONTEXTO DAS FORÇAS ARMADAS E DAS INSTITUIÇÕES DE SEGURANÇA PÚBLICA ............................................................................................................................................................. 344 8 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO PREFÁCIO AJUSTANTO AS LENTES DE LEITURA PEDRO ROGÉRIO Coordenador da Linha de Pesquisa Educação, Currículo e Ensino – LECE Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira – PPGED Faculdade de Educação – FACED Universidade Federal do Ceará – UFC ANA MARIA IORIO DIAS Professora da Linha de Pesquisa Educação, Currículo e Esnino – LECE, Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira – PPGEd Faculdade de Educação – FACED Universidade Federal do Ceará – UFC Este texto prefacia os ANAIS do I ENLECE – Encontro da Linha Educação, Currículo e Ensino: Saberes da Docência, Currículo e Ensino. Este encontro resultou de um grande esforço coletivo e compartilhado e da indiscutível competência dos estudantes da disciplina “Educação, Currículo e Ensino” em 2013.1, sob a coordenação dos professores Ana Maria Iório Dias e Pedro Rogério. A disciplina Educação, Currículo e Ensino é obrigatória para estudantes de mestrado e doutorado matriculados na Linha de Pesquisa Educação, Currículo e Ensino – LECE, do Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira (PPGEd), da Faculdade de Educação (FACED), da Universidade Federal do Ceará (UFC), atualmente sob a coordenação do professor Pedro Rogério. A Linha de Pesquisa Educação, Currículo e Ensino tem seis eixos temáticos: Currículo; Ensino de Ciências; Ensino de Matemática; Ensino de Música; Formação de Professores; Tecnologias Digitais na Educação. Em cada um deles, muitos estudos, muitas pesquisas, muitos pesquisadores, procurando dar um maior e mais significativo aporte teório-prático à Educação (Básica e Superior). Educação formal, não formal, informal. No caso da LECE, com seus eixos temáticos, um leque multifocal nos é oferecido, e é possível encontrar muitas contribuições que são caras e centrais. 9 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Além da LECE, o PPGEd/FACED/UFC inclui as linhas de pesquisa: Avaliação Educacional; Desenvolvimento, Linguagem e Educação da Criança; História da Educação Comparada; Filosofia e Sociologia da Educação; História, Memória da Educação; Trabalho e Educação; Marxismo, Educação e Luta de Classes; Movimentos Sociais, Educação Popular e Escola. Um ponto importante, que merece nosso destaque e reflexão: não existe apenas um centro e sim centros. Podemos ainda pensar que são pontos centrais que orbitam em tornos de outros centros. Os seis eixos apresentados, orbitam a linha de pesquisa LECE. Esta linha de pesquisa ao lado das demais compõem um grande centro de produção do conhecimento da área: o Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira. O que é interessante é que, dependendo do ajuste da lente, podemos ter várias possibilidades de leitura da realidade. Escrever estas notas introdutórias aos ANAIS do I ENLECE foi uma grande alegria e ao mesmo tempo uma grande responsabilidade. Alegria e responsabilidade, neste caso, não são excludentes e sim duas faces de tantas outras que podem ser percebidas em um evento que traz em seu nome palavras-chave de grande abrangência: Educação, Currículo, Ensino e Saberes da Docência. Estas palavras foram e continuam sendo dignas de reflexões, de publicações que, ao que tudo indica, apresentam-se como um processo que não tem fim, pois todos os dias, em todos os momentos estamos em formação, aprendendo, ensinando, compartilhando saberes, construindo e transformando conhecimentos, ressignificando valores e ações. Desse ponto de vista, Educação e Vida são sinônimos. Mas, existe ainda outra variável muitíssimo importante para que o leitor possa compreender os textos que compõem estes ANAIS; trata-se do lugar de onde cada um fala/escreve. Este é um dado que traz ao leitor uma chave de acesso a uma compreensão contextualizada e, portanto, relacional, o que nos salvaguarda de ingenuidades políticas. Sim, a ciência ocupa um lugar político no espaço social, exerce poder, induz verdades, e quando utilizada de má fé, induz a inverdades. Saber disso não torna menor o papel dos pesquisadores, mas põe em questão o campo de pesquisa e seus agentes. Colocamos em relevo esta maneira de perceber a ciência neste prefácio com dois objetivos: 1 – Manter acordadas as mentes humanas, retirando ingenuidades e acrescentando uma boa dose de realidade relacional que, de forma objetiva, nos inculca formas de perceber o mundo e influencia nossas escolhas, logo, afeta nossas ações; 10 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO 2 – Utilizar de boa fé esta produção acadêmica para desfazer as armadilhas dos interesses ocultos e principalmente fazer avançar com clareza de entendimento os conhecimentos da área colocando-os a serviço da construção de um mundo mais justo e mais belo. Nossas ações se tornam mais consistentes e, quanto mais próximas estiverem desses objetivos, corresponderam às demandas educacionais demandadas da realidade na qual nos inserimos. O I ENLECE nasce com as marcas de um esforço coletivo em contribuir para diversificar a formação qualificada para a Educação Brasileira. Do contato direto com estudos, pesquisas e relatos sobre aspectos vitais da Educação (Básica ou Superior), cresce a universidade, crescem os estudantes, os professores, os profissionais - crescemos todos nós. E, assim, a LECE e o PPGEd se consolidam, para o aperfeiçoamento de nossa práxis pedagógica, política e inovadora. Portanto, ajustem suas lentes de leitura e desfrutem da produção de conhecimento de uma área que de tão rica e sedutora se confunde com a vida – a Educação! Fortaleza, setembro de 2013. 11 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC PARTE I: EIXO DE ENSINO DE CIÊNCIAS 12 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO A QUÍMICA NO COTIDIANO DAS FÉRIAS ESCOLARES Débora Cristina Lima Ferreira1 Gabrielly Ferreira Mota2 Maria Cleide da Silva Barroso3 RESUMO O presente trabalho foi realizado durante o período de férias escolares de uma escola estadual no município de Maracanaú- CE, em defluência de um minicurso de férias promovido pelos bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID. Com o desígnio de oportunizar aos alunos do ensino médio, com baixo rendimento escolar em química, a criação deste minicurso surgiu da problemática relatada pelos alunos aos bolsistas durante o período regular de ensino, que no período de férias escolares ficavam sozinhos e ociosos. Esse problema aliado ao inferior rendimento escolar em química, fez com que fosse viabilizado o minicurso, com o tema: a Química no cotidiano das férias, proporcionando conhecimento, investigação e experimentação. O estudo de caso foi desenvolvido com dezessete alunos que participaram do minicurso com objetivo de avaliar os impactos do curso de férias e sua relação com a química através de um instrumento de pesquisa: um questionário versando questões abertas e entrevistas com os alunos. Para superar as dificuldades os facilitadores trabalharam com recursos didáticos e prática laboratoriais aguçando a reflexão dos alunos a cada situação proposta. Assim, esperase que no retorno das aulas, estes alunos apresentem um maior rendimento escolar na disciplina de química. Uma vez que cresceu o interesse pela disciplina, acredita-se que será mais fácil para aluno estudar e tentar compreender os fenômenos químicos e suas implicações no cotidiano. Somado a essas conclusões defende-se oferecer o minicurso nas férias escolares verificando o prazer dos alunos em vivenciar a ciência. PALAVRAS CHAVES: Química. Férias. Cotidiano. Minicurso. Aprendizagem. INTRODUÇÃO O ensino de química é um dos maiores desafios para o processo de ensino-aprendizagem no sistema educacional. Visto que, pelo simples fato de muitos professores encontrarem-se submetidos a um método tradicional, os alunos costumam ter aversão aos conteúdos desta disciplina, por considerá-los de difícil assimilação. Isso nos mostra a busca por novos recursos didáticos com objetivo de reverter ou modificar essa realidade constante dentro da sala de aula. Uma das maiores dificuldades no aprendizado de Química é a correlação com os conceitos vistos em sala de aula com o cotidiano. Diante do contexto utilizado requerer mudanças nas 1 Graduanda do Curso de Licenciatura em Química, Campus de Maracanaú. Instituto Federal do Ceará, IFCE. E-mail: [email protected]; 2 Graduanda do Curso de Licenciatura em Química, Campus de Maracanaú – Instituto Federal do Ceará, IFCE. E-mail: [email protected]; 3 Orientadora: Doutoranda em Educação Brasileira (UFC) e Professora do IFCE – Campus Maracanaú; Email: [email protected]. 13 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC metodologias aplicadas pelos docentes, em razão de que, são específicas como o principal motivo do desinteresse e baixo rendimento escolar. Porquanto, as propostas sejam mais específicas no ensino de Química, possui um dos desígnos a necessidade da relação ativa dos estudantes nas aulas, construindo um processo interativo entre professor/ aluno, em que as opiniões dos alunos sejam consideradas para um melhor desenvolvimento na disciplina. Por conseguinte, é essencial que todos estejam empenhados em obter resultados significativos, promovendo participações ativas no processo de ensinoaprendizagem, mesmo com dificuldades e desmotivação, buscando melhora na didática do ensino. A aquisição do conhecimento de Química depende das mais variáveis maneiras de como é aplicada, tais como: professor, estudantes, gestão escolar, o ambiente sócio-cutural e de como a química é abordada dentro da sala de aula correlacionada com o cotidiano. Os fatores que influenciam no ensino de forma que é parte do docente ser mediador na produção do conhecimento, porém, sabe-se que as ações dos profissionais são extremamente limitadas por não disporem de recursos didáticos pedagógicos, a falta de planejamento escolar e carga horária insuficiente. Segundo LIBÂNEO, 2004: o processo educacional a considerar, existe uma relação entre as políticas educacionais, a organização e a gestão escolar e as práticas pedagógicas, todos que participam direta ou indiretamente serão beneficiados e o fruto deste processo é a melhoria na qualidade de ensino. Visto que, muitos professores utilizam-se dos mesmos métodos e técnicas de ensino, nos quais transmitem o conteúdo de forma desinteressante, promovendo assim, um baixo rendimento escolar. A disciplina de Química exige uma metodologia diferencial, para despertar o interesse dos alunos, além de motivar o conhecimento, procura desenvolver no aluno a interatividade, interrelacionando as práticas laboratoriais estimula-os à aplicação dos conceitos propostos em sala direcionados ao cotidiano. Conforme BROWN, 2005: a Química é uma ciência extremamente prática que tem impacto no dia a dia. A prática evidenciou uma ferramenta que utilizamos para despertar tal interesse e motivação, buscando a troca de informações e experiências já vivenciadas. Através da aplicação é possível diversificar e tornar mais eficiente o método de ensino, estabelecendo novos parâmetros na formação de um indivíduo crítico e participativo. Esta pesquisa propõe uma alternativa de busca do conhecimento, tornando mais necessário a aquisição do aprendizado e assim aproximar o aluno da química, de forma prazerosa e educativa. O minicurso foi criado com propósito de oportunizar aos alunos do ensino médio, com baixo rendimento escolar, o desenvolvimento no processo de ensino-aprendizagem da disciplina de Química correlacionado com o cotidiano. A partir da problemática relatada pelos alunos aos bolsistas durante o período regular de ensino, que no período de férias escolares ficavam sozinhos e ociosos. Esse problema aliado ao inferior rendimento escolar em química, fez com que fosse viabilizado o minicurso, com o tema: a Química no cotidiano das férias, proporcionando conhecimento, investigação e experimentação. A metodologia aplicada, o estudo de caso foi desenvolvido com dezessete alunos que participaram do minicurso com objetivo de avaliar os impactos do curso de férias e sua relação com a química através de um instrumento de pesquisa: um questionário versando questões abertas e entrevistas com os alunos. Com intuito de superar as 14 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO dificuldades os facilitadores trabalharam com recursos didáticos e práticas laboratoriais aguçando a reflexão dos alunos a cada situação proposta. Assim, ao retornar as aulas espera-se que esses alunos apresentem um melhor rendimento escolar na disciplina de química. Portanto, cresceu o interesse pela disciplina, acredita-se que será mais fácil para aluno estudar e tentar compreender os fenômenos químicos e suas implicações no cotidiano. OBJETIVO GERAL Oportunizar os estudantes do ensino médio, com baixo rendimento escolar, o desenvolvimento no processo de ensino-aprendizagem da disciplina de Química através de um minicurso de férias correlacionado com o cotidiano. METODOLOGIA A fim de estimular o processo de desenvolvimento na disciplina de química durante as férias, realizou-se o minicurso em duas etapas, a teoria e prática com o tema: a Química no cotidiano das férias. A partir da metodologia utilizada no processo de investigação evidenciou um estudo de caso onde foi elaborado um questionário versando os principais aspectos das questões abertas e fechadas, com a participação de 17 alunos inscritos de uma Escola Estadual de Maracanaú. Na primeira etapa foram desenvolvidas aulas expositivas, dialogadas, apostilha elaborada pelos aplicadores do minicurso e com recursos didáticos pedagógicos diferencial para correlacionar com o cotidiano. Na segunda etapa foram desenvolvidas as práticas laboratoriais com produtos encontrados no cotidiano, onde acompanharam a expansão do conhecimento da disciplina de química. DISCURSÃO DOS RESULTADOS A partir dos dados obtidos pela pesquisa referente as respostas do questionário, a base teórica foi ministrada em sala de aula associando a química ao cotidiano de maneira diferenciada, dos 17 alunos 100% responderam que o minicurso foi proveitoso e que atendeu as expectativas despertando o interesse pela disciplina, como é demostrada na FIGURA 1. EXPECTATIVAS DO MINICURSO 100 % Alunos Figura 1 Expectativas do Minicurso Durante o desenvolvimento do minicurso os recursos didáticos foram imprescindíveis na aplicação do conteúdo, facilitando o ensino-aprendizagem na construção um processo interativo 15 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC entre professor/aluno. Diante dos dados 100% dos alunos responderam que os materiais didáticos atenderam as suas necessidades no geral, porém especificamente, 94,12% disseram que atendeu as suas necessidades devido a fácil linguagem e 5,88% respondeu que o material didático não atendeu as suas necessidades, por ter sido distribuído por equipe e não forma individual, desta maneira eles não poderiam realizar o estudo desse material em casa (FIGURA 2). MATERIAL DIDÁTICOS 5,88% Atendeu as necessidades 94,12 % Figura 2 Material Didático Os conteúdos ministrados no minicurso de férias despertaram a dedicação dos alunos na aplicação dos conceitos propostos direcionados ao cotidiano, 5,88% disseram que todas as aulas preencheram as suas expectativas. Visto que, 5,88% dos alunos responderam que a aula de segurança no laboratório foi de grande importância, incentivando a curiosidade de manusear os equipamentos. Na aula de misturas e substancias 5,88% dos estudantes destacaram que os materiais utilizados são, com frequência, encontrados no cotidiano. No conteúdo tabela periódica utilizou-se um metodologia diferencial, onde 11,76% dos alunos afirmaram que os jogos lúdicos introduziu grande aprendizado devido à maneira diferenciada de ter sido aplicada. A temática da aula: ácidos e bases estabeleceu um novo parâmetro no conhecimento, onde 58,84% dos alunos relataram que as experiências utilizadas no laboratório aproximaram da disciplina de química de forma prazerosa e educativa. APLICAÇÃO DOS CONTEÚDOS 100% Alunos Figura 3 Aplicação dos Conteúdos As práticas laboratoriais evidenciou uma nova ferramenta buscando a troca de informações e experiências. Através da aplicação é possível diversificar e tornar mais eficiente o método de 16 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO ensino, dos 17 alunos 100% responderam que todas as práticas estavam relacionadas com os assuntos abordados, fazendo a junção da teoria com a pratica estabelecendo novos conceitos ligando ao cotidiano. PRÁTICAS LABORATORIAIS 100% Alunos Figura 4 Práticas Laboratoriais Com propósito de superar as dificuldades no desenvolvimento do minicurso de férias, 29,40% dos estudantes especificaram que o minicurso foi ótimo, porém, 64,72% responderam que o minicurso deveria ter um tempo de duração maior e 5,88% disseram que o minicurso deveria abrir vagas para um numero maior de pessoas. SUPERAÇÃO DE DIFICULDADES 5,88% 29,40% Alunos Alunos Alunos 64,72% Figura 5 Superação de Dificuldades Com criação do minicurso de férias cresceu o interesse pela disciplina de química, além de oportunizar os estudantes do ensino médio que obtiveram um rendimento baixo durante o período regular de ensino. No processo de ensino-aprendizagem 100% dos estudantes responderam que se houvesse outros minicursos com certeza participariam, além de contribuir no processo de esclarecimento de dúvidas, estabeleceu novos parâmetros na formação de um indivíduo crítico e participativo. 17 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC MINICURSO DE FÉRIAS 100% Alunos Figura 6 Minicurso de Férias CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa buscou investigar o processo de ensino/aprendizagem através da criação de um minicurso de férias para alunos com baixo rendimento escolar na disciplina de Química. Podemos destacar que, com aplicação deste minicurso, estimulou o desenvolvimento do conhecimento, proporcionando um momento de investigação e experimentação. Portanto, cresceu o interesse pela disciplina e uma melhor compreensão dos fenômenos químicos e suas implicações no cotidiano, superando as dificuldades expostas através de recursos didáticos diferenciais e práticas laboratoriais. Contudo, ao retornarem ao período regular de ensino esses alunos apresentem um melhor rendimento escolar na disciplina de química. REFERÊNCIAS Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB 9394/96). LIBÂNEO, José Carlos. Organização e Gestão da Escola: Teoria e Prática. Goiânia: Editora Alternativa, 2004. BROWN, LEMAY, BURSTEN. Química: A ciência central. Editora Pearson, Tradução da 9° edição, São Paulo. COSTA. João Batista Sousa. BARROS. Maria Luciene Urbano. Quando o ensino da ciência se torna algo natural no cotidiano escolar. Natal/RN. NARDIN. Inês Cristina Biazon. Brincando aprende-se Química. UNOPAR Arapongas. FERREIRA. Maria Onaira Gonçalves. DIAS. Iara Campos. Química Encantada: aplicação de uma metodologia alternativa no ensino de Química. PIBIC/UESPI 18 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO ORIENTAÇÃO SEXUAL: PERCEPÇÃO DE PROFESSORES DO 9° ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL II DE UMA ESCOLA MUNICIPAL EM ITAPIPOCA-CE Kátia Pinto de Sousa4 Maria Danielle Araújo Mota 5 Raquel Crosara Maia leite6 RESUMO A sexualidade é própria ao ser humano, manifestando-se de um modo particular nas diferentes fases da vida humana, desde a infância até a velhice. Sua abordagem nas escolas é proposta pelos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN – a partir sua transversalização designada como Orientação Sexual. Por tratar-se de um assunto de importância social, educacional e familiar surgiu a preocupação em investigar como os professores do 9° ano do Ensino Fundamental II da E. E. B. Francisca de Morais Pontes abordam a temática Sexualidade através de transversalização proposta pelos PCN. Sendo está pesquisa de cunho quantiqualitativo, os dados serão recolhidos por meio de questionário com perguntas abertas e fechadas aplicado para o quadro de professores do 9° ano. Seguida da análise dos dados, especificando, interpretando, descrevendo e discutindo as informações obtidas. O percentual obtido foi discriminado por meio de tabelas. Seguida dos comentários, discutidos e comparados com os principais autores. Dessa forma, foi feita a constatação de que a orientação acontece na escola, pela maioria dos professores, embora alguns tenham relatado dificuldades. Pode-se perceber, através da fala dos e professores que a abordagem da orientação sexual realizada pela referida escola pode ser aprimorado. PALAVRAS-CHAVE: Orientação Sexual. Escola. Professores. INTRODUÇÃO A sexualidade faz parte da vida do ser humano, ela se faz presente em toda sua trajetória de vida, manifestando-se de um modo particular nas diferentes fases da vida humana. O homem não pode desfazer-se dela ou anula-la, pelo contrário, ela deve ser compreendida como natural, saudável e necessária. As primeiras noções de sexualidade do indivíduo provêm inicialmente da família, de modo direto ou indireto, inicialmente através da observação ao comportamento dos seus pais, que lhe 4 Licencianda em Ciências Biológicas, pela Universidade Estadual do Ceará (UCE). E-mail: [email protected] Mestranda em Educação Brasileira, pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Coordenadora Pedagógica- SEDUC- Ce. Email: [email protected] 6 Professora da Pós graduação-Universidade Federal do Ceará (UFC)- [email protected] 5 19 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC indicará inicialmente o seu papel social. No entanto, na adolescência as manifestações da sexualidade se tornam mais intensas, podendo ser notada por todos ao redor. Belisse (2009) ressalta que é bastante comum ouvir frases relacionando o adolescente com sexualidade ou mesmo sexo, passando a impressão que a sexualidade desponta somente nesse período. A abordagem da sexualidade é um tema propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN – através da transversalização designada como Orientação Sexual. Dessa maneira, em sua prática docente além dos componentes curriculares, que o professor deve ministrar, ele terá que abordar os temas transversais, propostos pelos PCN, entre eles a Orientação Sexual. A escola é um lugar favorável para a sistematização de conhecimento dos mais diversos contextos da sexualidade, tendo como mediador o professor nesse processo. Souza (2010) salienta que a sexualidade não se reduz somente ao conhecimento das funções dos órgãos genitais ou somente a reprodução. Dessa forma, o professor poderá discutir variadas questões, como: virgindade, aborto, afetividade, autoestima, Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida (AIDS), prevenção, namoro, prazer, enfim, muitas questões emocionais, sociais e até mesmo políticas que envolvem a sexualidade. Não esquecendo também que esse é um tema permeado por diversos tabus e preconceitos, os quais também deverão ser tratados no âmbito escolar. Sendo indispensável que o professor consiga abordar esse assunto utilizando-se de linguagem científica ao referir-se às todas as partes do corpo, de métodos atrativos. OBJETIVO GERAL Investigar como os professores do 9° ano do Ensino Fundamental II da E. E. B. Francisca de Morais Pontes trabalham esse tema com seus alunos durante as aulas. METODOLOGIA A pesquisa de natureza qualiquantitativa foi realizada em uma escola de ensino fundamental II, Escola Municipal de Francisca de Morais Pontes. Foi aplicado aos 8 professores que lecionam em todas as disciplinas do 9° ano, sujeitos da pesquisa (P1 a P8), um questionário com 04, sendo 03 questões discursivas e 01 pergunta de múltipla escolha Foi realizada a análise baseada nas respostas dos professores aos questionários e confeccionadas tabelas com a porcentagem de respostas obtidas e transcrição das falas consideradas mais relevantes dos sujeitos. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Os dados coletados e analisados mostraram que dentre os professores pesquisados quando indagados se realizam abordagem sobre o tema sexualidade, 63% responderam sim, enquanto 37,5% responderam não. Entre as justificativas obtidas, o professor P2 expõe não tratar sobre sexualidade em suas aulas por não sentir-se conhecedor do assunto, enquanto que o professor P8 reconhece que a temática em questão é muito importante e necessária para promover a informação dos jovens, porém não fala sobre o mesmo nas aulas porque não encontrar na disciplina em que leciona espaço ou meio de encaixar a temática. Percebeu-se a importância da interdisciplinaridade na prática pedagógica, que conforme Fortes (2009), constitui-se em um elo entre as diversas áreas 20 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO de conhecimento e possibilita a superação da fragmentação do ensino. A interdisciplinaridade auxilia no processo de transversalização. Nos PCN (BRASIL 1998) destaca a importância da interdisciplinaridade para a promoção da transversalidade, visto que ambas simultaneamente se complementam. Foi questionado se os professores sentiam dificuldade em tratar sobre assuntos relativos à sexualidade. 87,5% dos docentes afirmam não sentir nenhum tipo de problema quanto a esse tema, enquanto que 12,5% relatam sentir dificuldade em tratar sobre o tema em sala de aula. A pergunta indagou que caso houvesse dificuldades, quais seriam elas e por quê. O educador P8 afirmou que em seu entender a escola deveria dispor de alguém especializado no assunto para orientar os alunos ou senão, que houvesse uma capacitação para os professores, a fim de que pudessem orientar os discentes. Notou-se na fala desse professor a indigência de formação voltada especificamente para o trabalho de orientação sexual. Souza (2010) declara que um dos obstáculos enfrentados pelos professores são as classes heterogêneas e que o profissional do ensino deve estar apto para habituar-se essa realidade, desempenhando seu papel. Essa é uma das causas pelas quais os professores sentem-se incapazes. Outro aspecto são os próprios bloqueios pessoais, visto que a sexualidade é um tema permeado por tabus e preconceitos. Foi averiguado se os professores possuem algum tipo de formação em orientação sexual, sendo que 87,5% responderam não, e 12,5% responderam sim. Compreendeu-se que uma parcela maior dos educadores não possui nenhum curso ou especialização no sentido de orientar sexualmente os estudantes. “É necessário que o educador tenha acesso à formação específica para tratar de sexualidade com crianças e jovens na escola, possibilitando a construção de uma postura profissional e consciente no trato desse tema.” (BRASIL 1998, p. 303). Um curso específico sobre sexualidade é de suma importância, pois, os professores necessitam entrar em contato com questões teóricas, leituras direcionadas, discutir assuntos relacionados de forma a compreender a temática e enfrentar as próprias dificuldades e empecilhos pessoais. Os PCN (BRASIL 1998) afirma que a formação docente deve ser contínua e sistematizada, permitindo a reflexão da própria prática. Os educadores ao serem indagados se conhecessem ou não os PCN para Orientação Sexual, 50% deles disseram sim, entre eles sobressaiu-se o professor P5 que disse que conhecer os Parâmetros Curriculares Nacionais é uma obrigação de todos os professores. 12,5% afirmaram não ter nenhum conhecimento, assim não têm nenhuma propriedade do documento em questão e 25% falaram conhecer superficialmente. Respectivamente os professores P2 e P3 informaram ter realizado apenas leitura uma rápida sem aprofundamento ou reflexão, isso quer dizer eles não conhecem a fundo as orientações para auxiliar os docentes em sala de aula prevista nesses documentos e desse modo não podem realizar um trabalho de orientação sexual em conformidade com os PCN para orientação sexual. E outros 12,5% deixam essa questão em branco. Os PCN são um documento de grande valia, pois, trazem orientações direcionadas para todos os professores de acordo com as áreas de ensino e de cada disciplina, salientam sobre a postura profissional do professor, os conteúdos que devem ser ministrados, entre outros. Os PCN voltados para os temas transversais, por sua vez, trazem indicações específicas para o tratamento 21 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC desses temas dentro ou fora da sala de aula e constituem uma ferramenta de orientação pedagógica muito importante e válida. CONSIDERAÇÕES FINAIS Mediante a metodologia utilizada neste trabalho, foi possível concluir que a orientação sexual é trabalhada na escola de modo transversal por uma parcela significativa dos educadores estudados. No entanto, existem professores que por insegurança e /ou falta de domínio do tema optam por não trabalhar esse assunto. Outra dificuldade apontada pelos docentes é trabalhar de modo interdisciplinar e transversalizado. Um dos docentes pesquisados (professor P8) alegou que a escola necessitaria dispor de profissional especializado na área para realizar de modo eficaz esse trabalho de orientação acerca da sexualidade, essa afirmação se deve possivelmente a sentimentos de insegurança e incapacidade, oriundos da falta de formação especifica sobre sexualidade, visto que, a maioria dos docentes pesquisados disse não ter nenhum tipo de curso específico sobre sexualidade. O conhecimento dos PCN sobre Orientação Sexual é sobremaneira necessário para a realização efetiva da transversalidade e a orientação sexual na escola. Percebeu-se que o estudo e aplicação das orientações previstas nos PCN para orientação sexual constitui-se um forte elemento para a realização de um bom trabalho, mas que nem todos os docentes conhecem essas orientações. Seria interessante a promoção de momentos fora da sala de aula, como oficinas de colagem, confecção de histórias em quadrinhos, construção de jogos e modelos anatômicos, entre outros, pelos próprios alunos sob o direcionamento dos professores. Uma alternativa para sanar inicialmente as dificuldades dos professores em trabalhar sexualidade, é o incentivo a conhecer plenamente os PCN sobre Orientação Sexual. REFERÊNCIAS BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: Apresentação dos temas transversais/Orientação Sexual. Brasília: MEC/SEF, 1998. p. 303. FORTES, Clarissa Corrêa. Interdisciplinaridade: origem, conceito e valor. Revista acadêmica Senac on-line. 6a ed. setembro-novembro, 2009. SOUZA, Valdinéia Aniceto de. Educação Sexual na Escola: desafios e realidade. 2010. Monografia (Graduação: Licenciatura em Pedagogia). UNEMAT e Campus Universitário de SINOP. 22 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO FORMAÇÃO INICIAL DOCENTE: SOB O OLHAR DE LICENCIANDOS EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DA FACEDI/UECE Maria Luciete dos Santos7 Maria Zenilda Costa8 Francisco Mirtiel Frankson de Moura Castro9 RESUMO A formação inicial de professores é motivo de muitos debates e reflexões na contemporaneidade por ser a etapa formativa em que o docente constitui a sua identidade e aprende vários conhecimentos importantes para a sua profissão. Assim, este trabalho objetivou analisar as perspectivas de licenciandos do 9° período de Ciências Biológicas da Faculdade de Educação de Itapipoca (FACEDI), unidade da Universidade Estadual do Ceará (UECE), quanto à formação inicial docente. O trabalho foi fundamentado em Lima, Maldaner, Pimenta e Pereira, com destaque nos estudos sobre formação docente e saberes profissionais, pautado na abordagem qualitativa e utilizou a entrevista semiestruturada como procedimento de coleta de dados. A entrevista foi desenvolvida com cinco alunos do curso de Ciências Biológicas, abordando nas indagações aspectos referentes à formação inicial dos entrevistados. Com base nos dados coletados, percebeu-se que os licenciandos consideram a docência como uma profissão muito complexa e que embora estes estejam concluindo um curso de licenciatura, nem todos aspiram exercê-la. Os resultados revelam que estes professores em formação se encontram em processo de constituição da identidade docente, agregando diferentes conhecimentos ao longo do curso. A problematização da formação docente enquanto campo investigativo confere identidade à licenciatura, o que resulta em um dos aspectos que favorece a valorização da profissão docente nas áreas específicas. PALAVRAS-CHAVE: Formação Inicial de Professores. Perspectivas Discentes. Ciências Biológicas. INTRODUÇÃO A formação para a docência tem sido nos últimos anos motivo de muitos debates e reflexões em âmbito nacional e internacional, gerando uma mobilização de todos os seus envolvidos para compreender e melhor formar os profissionais que desenvolvem o processo de ensino. No momento atual, em que se busca uma valorização da educação, a formação de professores é posta como um dos principais elementos que pode interferir diretamente na qualidade educacional. 7 Graduada em Ciências Biológicas, pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). E-mail: [email protected] 8 Doutora em Educação Brasileira, pela Universidade Federal do Ceará (UFC); Professora da Universidade Estadual do Ceará (UECE). E-mail: [email protected] 9 Mestrando em Educação Brasileira, pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Email: [email protected] 23 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC O professor ocupa um importante papel na sociedade que ultrapassa os muros das escolas. Em virtude disso, faz-se necessário repensar e refletir sobre a formação do educador, na perspectiva da emancipação de um profissional que seja realmente capacitado a desenvolver tamanha função que é a de formar cidadãos em meio a tantas outras funções que lhes são concedidas. Para tanto, mudanças necessitam serem realizadas no campo educacional, o que torna imprescindível que a formação de professores, especialmente, a formação inicial seja alvo de constantes preocupações. A decisão profissional deve ser constituída gradualmente, não deve ser movida por situações de impulsos ou por obrigações. Muitas vezes, porém, o que se percebe é uma decisão precipitada, impulsionada pela necessidade de se ter uma profissão. É isso que se observa em muitos cursos que formam professores. Os jovens se sentem exigidos a se inserirem no mercado de trabalho e para isso precisam de uma formação acadêmica que lhes ofereça suporte para isso. Em razão disso, muitos assumem a docência, inicialmente, como campo de trabalho para se inserir no mercado de trabalho e ao longo dos anos constituem sua identidade docente, agregando diferentes conhecimentos teóricos e práticos à práxis educativa. Existem, contudo, aqueles que realmente anseiam em se tornarem professores, os quais representam uma parcela mínima da sociedade que têm a docência como a profissão almejada. Lima (2012) ressalta que no decorrer do trabalho docente o profissional vai se identificando com a docência. A partir das orientações apresentadas nas Diretrizes curriculares nacionais para a formação do professor da Educação Básica, os cursos de licenciatura vêm agregando propostas formativas ao curso no sentido de conferir identidade à licenciatura como espaço para problematizar a prática docente como campo de pesquisa. Além dos estágios, o PIBID tem contribuído para promover a prática não apenas como lugar da exposição de conteúdos ou modelos didáticos, mas também como campo investigativo, o que configura um dos aspectos de valorização da profissão docente. Essa ação, entretanto, não representa o impacto necessário no cenário social para fomentar mudanças na valorização da profissão docente. Em continuidade, há que ser considerado também, que em meio a atual desvalorização enfrentada pelos profissionais da educação, sobretudo pelo professor, a docência não seja apreciada como uma das profissões mais atrativas a ser exercida por quem sonha em construir um futuro promissor. Pereira (1999) reflete que o desestímulo dos jovens pelo magistério é consequência, sobretudo, das más condições de trabalho, dos salários pouco atraentes, de uma jornada de trabalho excessiva, dentre outros fatores que comprometem a formação de novos profissionais para docência. É importante considerar também nesta discussão a função social que os docentes são chamados a assumirem no seio da sociedade, que se relaciona diretamente com a propagação dos conhecimentos sistematizados ao longo dos anos pela humanidade. Então, compreende-se que esse profissional deve assumir com compromisso tal função e ao mesmo tempo deve receber formação que a possibilite desenvolver com êxito. Sendo assim, considera-se relevante a realização de estudos sobre as perspectivas e implicações da formação inicial com base nas percepções dos alunos em formação. Da situação exposta emergiu o objetivo do presente estudo: 24 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO OBJETIVO GERAL Analisar as perspectivas de licenciandos do 9° período de Ciências Biológicas da Faculdade de Educação de Itapipoca (FACEDI), unidade da Universidade Estadual do Ceará (UECE), quanto à profissão docente. METODOLOGIA O trabalho realizado apresenta caráter qualitativo, e teve como sujeitos cinco alunos do 9° período de Licenciatura em Ciências Biológicas da Faculdade de educação de Itapipoca (FACEDI), unidade da Universidade Estadual do Ceará. Como procedimento de coleta de dados foi elaborada uma entrevista semiestruturada e aplicou-se aos cinco licenciandos (identificados pelo seguinte código L1, L2, L3, L4 e L5). A entrevista foi norteada por um roteiro constando quatro perguntas, sendo gravada por meio de áudio e vídeo, no intuito de colher informações dos sujeitos sobre as suas perspectivas quanto à profissão docente. Marconi e Lakatos (2003) consideram que o principal objetivo da entrevista é a obtenção de informações do entrevistado, sobre determinado assunto ou problema. Após a aplicação das entrevistas, estas foram transcritas e analisadas. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Os dados coletados e analisados mostraram que nem todos os licenciandos se sentem motivados em exercer a profissão docente, sendo que o participante da pesquisa L1 ressaltou que a sua desmotivação parte do contexto dos alunos da Educação Básica que não demonstram um real interesse pelos estudos, fato observado, segundo o participante, durante as suas atividades realizadas no Estágio Supervisionado. Em muitos casos, considera-se que todos os alunos inseridos em cursos de licenciatura realmente querem ser professores, entretanto isso não pode ser generalizado, como é caso deste licenciando citado. Concorda-se com Lima (2012) quando expressa que é comum achar que todos os estudantes de licenciatura estejam prontos para assumir a sala de aula. Diante disso, é confirmado que nem todos os alunos que cursaram ou estão cursando licenciatura realmente desejam se tornarem professores. Entretanto, os demais participantes afirmaram sentirem-se motivados em exercer a profissão de professor, embora percebam que o ofício docente seja cheio de dilemas a serem vividos e enfrentados e que a profissão não é valorizada. Como o Projeto Político Pedagógico (PPP, BIO/FACEDI, 2007) do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da FACEDI expõe que o profissional que sairá formado da intuição é essencialmente o profissional docente, ou seja, o biólogo licenciado, a entrevista buscou saber se os licenciandos já tinham conhecimentos sobre isso ao iniciarem o curso. Apenas o participante L3 afirmou já ter conhecimento do objetivo do curso, o qual é formar professores, enquanto que os outros participantes alegaram não terem conhecimento no início, sobre qual a modalidade de profissional que o curso forma, chegando a acreditarem que formava o profissional biólogo. Acredita-se que estes alunos que consideravam que o curso formava o biólogo não tiveram durante a sua fase pré-universitária conhecimento do verdadeiro sentido de um curso de licenciatura, em especial o da FACEDI. 25 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Outro assunto discutido na entrevista foi com relação à formação docente que é exigida atualmente, onde os licenciandos envolvidos na pesquisa tiveram que expressar opiniões sobre a formação que estão tendo no curso, se esta é eficiente e capaz de atender a exigências da profissão. Portanto, todos os sujeitos afirmaram que o curso apresenta muitas limitações, tanto na parte física do prédio da faculdade como na pedagógica, referindo à prática docente dos professores, que não contribuem significativamente com os alunos para que se identifiquem com a docência, o curso ainda se apresenta de forma bastante teórica. Pimenta e Lima (2008) confirmam que muitos alunos que concluem seus cursos conferem a formação como algo bastante teórico. O Participante L5 destacou que alguns de seus professores não deixam nítido em suas aulas que o os conteúdos apreendidos devem ser disseminados na futura docência dos alunos, o que ocorre é um direcionamento para quem vai trabalhar na área da saúde, como, por exemplo, formação para enfermeiros ou médicos. Percebe-se, então, que os licenciandos entrevistados sentem falta de um maior direcionamento por parte de alguns professores universitários para a profissão para qual estão sendo formados. A docência não é identificada, por parte de alguns professores universitários, como campo de trabalho por excelência dos professores em formação. Assim, Maldaner (2000) discute que muitos professores universitários realmente se comprometem pouco com a questão da formação de professores. Quando se procurou saber sobre as expectativas dos estudantes de Licenciatura em Ciências Biológicas sobre a profissão docente, a maioria afirmou não terem muito aspiração para o exercício da docência. O participante L1 ressaltou que não apresenta boas expectativas sobre a profissão de professor, destacando que a docência é um trabalho bastante sofrido e não é valorizado principalmente no que diz respeito a bons salários. Infelizmente, a docência é vista como uma das profissões mais desvalorizadas do Brasil, sobretudo, essa desvalorização vem dos próprios governantes que não se comprometem com a formação, ofertando verbas públicas insuficientes para suprir o mínimo dessas necessidades. Dessa forma, observa-se que alguns licenciandos representam certa resistência em exercer a profissão para a qual estão sendo formado, conservando a imagem de um profissional frágil, debilitado, sem perspectivas futuras de reconhecimento pelo seu trabalho. Acredita-se que se os licenciandos que até então não demonstram anseio em se tornarem professores, caso se sintam exigidos a exercer a profissão, à medida que estiverem vivenciando-a podem mudar o modo de pensar a respeito da mesma, pois como observa Lima (2012), ao longo do exercício o profissional pode se identificar com a docência. Farias et al (2008) refletem que a formação é um dos contextos de socialização que permite ao professor reconhecer-se como profissional a partir de suas relações com os saberes e o trabalho docente. Para tanto, alguns dos entrevistados afirmaram ter boas expectativas sobre a docência, visualizando-a como uma profissão desafiadora, mas, porém, muito gratificante. Acordamos com esses licenciandos. A profissão de professor realmente é desafiadora e cheia de dilemas a serem superados, mas, por outro lado, é um exercício prazeroso, no sentido de que tal profissional contribui com a formação cidadã e com o aprendizado dos alunos, e isso deve ser motivo de muito contentamento. 26 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base na metodologia utilizada neste trabalho, foi possível concluir que a parte dos alunos entrevistados, do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Faculdade de Educação de Itapipoca, reconhece a importância da profissão docente. Eles têm boas perspectivas e entendem que para exercer tal profissão é necessário dispor de uma boa formação durante o período da graduação. Todavia, percebeu-se de acordo com os relatos dos sujeitos que ainda ocorre problemas quanto ao não direcionamento de professores universitários para o verdadeiro objetivo de um curso de licenciatura, o qual é de formar professores. A pesquisa também permitiu evidenciar que nem todos os alunos que estão inseridos em um curso de licenciatura têm interesse em exercer a profissão de professor, alegando na maioria das vezes, que esta é uma profissão difícil e não é valorizada o quanto deveria ser. A partir da pesquisa realizada, foi possível perceber que a profissão docente não é bem vista pelos próprios “aprendizes da docência”, os licenciandos, que a consideram como algo desafiador e desvalorizado pela sociedade, principalmente no que diz respeito ao salário. A formação inicial no contexto da licenciatura, portanto, requer a constituição da profissão docente enquanto campo afirmativo que aborde os conhecimentos de modo interdisciplinar que articule ensino, pesquisa e extensão e sintonia com as principais problemáticas da prática docente. REFERÊNCIAS BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CP Nº. 009, aprovado em 08 de Maio de 2001. Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores da Educação Básica, em nível superior, cursos de licenciatura, de graduação plena. Não homologado por ter sido retificado em Parecer CNE/CP 28/2001. MEC, 2001. FARIAS, Isabel Maria Sabino de. [et al]. Didática e Docência: aprendendo a profissão. Fortaleza: Realce Editora e Indústria Ltda, 2008. 55-79p LIMA, Maria socorro Lucena. Estágio e Aprendizagem da Profissão Docente. Brasília: Liber livro, 2012. MALDANER, Otavio Aloiso. A Formação Inicial e Continuada de Professores de Química: Professores/Pesquisadores. RS: Ed. UNIJUÍ, 2000. MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de Metodologia Cientifica. São Paulo: Atlas, 2003. PEREIRA, Júlio Emílio Diniz. As licenciaturas e as novas políticas educacionais para a formação docente. 1999. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/es/v20n68/a06v2068.pdf. Acesso em 10/11/2012. PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e Docência. São Paulo: Cortez, 2008. PPP. Projeto Político Pedagógico. Curso de Ciências Biológicas. Modalidade Licenciatura V.1. Itapipoca CE, 2007. 27 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC UTILIZAÇÃO DO TANGRAM NO ENSINO DE CIÊNCIAS Raquel Crosara Maia Leite10 Rivanildo Barbosa da Silva11 RESUMO Os processos de ensino e aprendizagem exigem recursos didáticos que os tornem mais eficientes. Dentre tais recursos o tangram é bastante citado para ser utilizado no contexto educacional. Esta pesquisa buscou averiguar as abordagens metodológicas que utilizam o tangram na educação formal, buscando verificar o uso deste no ensino de ciências. Através do levantamento bibliográfico de artigos científicos que tratam da utilização do tangram na educação formal constatou-se que o tangram está sendo utilizado principalmente na disciplina de matemática, mas pode ser usado de diversas formas em outras disciplinas tais como Ciências, História e Informática. PALAVRAS-CHAVE: Tangram. Ensino de Ciências. Educação Formal. INTRODUÇÃO O processo educativo requer à utilização de recursos metodológicos que auxiliem no processo de aprendizagem significativa. Dentre os diversos tipos de recursos existentes, os jogos didáticos são destacados como ferramentas que possibilitam o vínculo entre os aspectos teóricos e as características que estimulam a aprendizagem, uma vez que os estudantes são motivados pelo espírito competitivo do jogo, bem como pela sua dinamicidade e interatividade. Nessa perspectiva, Moratori (2003) afirma que o jogo pode ser utilizado para estimular o desenvolvimento de determinada área, com a finalidade de promover aprendizagens específicas. Nesse contexto, a escola necessita de estratégias que possam permitir que seus educandos reelaborem conhecimentos de maneira a incorporar valores, habilidades e práticas favoráveis à saúde. Sendo assim, é necessária a adoção de abordagens metodológicas que permitam ao aluno identificar problemas, levantar hipóteses, reunir dados, refletir sobre situações, descobrir e desenvolver soluções comprometidas com a promoção e a proteção da saúde pessoal e coletiva, e, principalmente, aplicar os conhecimentos adquiridos (BRASIL, 1998). Nesse contexto, os educadores necessitam de alternativas pedagógicas que auxiliem os processos de ensino e aprendizagem de forma mais eficiente (ALMEIDA; MARTINS, 2001). 10 11 Professora Adjunta da UFC. E-mail: [email protected] Mestrando em Educação Brasileira (UFC). E-mail: [email protected] 28 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO Sendo assim, esta pesquisa pretende averiguar as abordagens metodológicas que utilizam o tangram na educação formal, buscando verificar o uso deste no ensino de ciências. Para isso, inicialmente caracterizamos esse recurso didático e em seguida descrevemos algumas pesquisas científicas que relataram a abordagem do tangram na educação formal. Utilização de Tangrans no processo de ensino-aprendizagem O tangram é um jogo milenar que exige astúcia e reflexão. Através do corte de um quadrado, sete peças criam juntas, formas humanas, abstratas e objetos de diversos formatos. Originário da China, pouco se sabe da verdadeira origem do tangram (MOTTA, 2006). O tangram é um quebra-cabeça formado de sete peças geométricas oriundas de um quadrado. As peças que compõem esse jogo são as seguintes: dois triângulos isósceles congruentes grandes, dois triângulos isósceles congruentes pequenos, um triângulo médio, um quadrado e um paralelogramo, conforme está apresentado na Figura 7 (FLORA, 2008). Figura 7 Representação do Tangram Tradicional. Fonte: http://portalcrescer.blogspot.com/2011_02_01_archive.html Segundo Motta (2006), através das peças do tangram tradicional é possível formar aproximadamente 1700 configurações, atendendo duas condições: a primeira é que as peças devem ficar justapostas, e nunca sobrepostas, e a segunda é que todas as peças devem ser utilizadas. A Figura 2 mostra algumas configurações que podem ser formadas com o tangram tradicional. A mais antiga publicação com exercícios de Tangram data do início do século XIX. Esse jogo foi disseminado rapidamente para os Estados Unidos e à Europa e ficou conhecido como o puzzle chinês. Desde então, são criados Tangrans em todos os tipos de materiais, desde cartão até pedra, plástico ou metal. Uma Enciclopédia de Tangram foi escrita por uma mulher, na China, há 130 anos. Essa publicação foi composta por seis volumes e contêm mais de 1700 problemas para resolver (ALVES, 2010). 29 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Figura 8 Representação de configurações formadas através do tangram tradicional. Fonte: SILVA, 2011 METODOLOGIA CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA Este estudo possui natureza qualitativa. De acordo com Minayo (1995) na pesquisa qualitativa não é feito o uso de dados estatísticos na análise do problema, não existindo, portanto, pretensão de numerar ou medir unidades ou categorias homogêneas. A pesquisa apresenta, ainda, caráter exploratório e descritivo, conforme Severino (2007), o qual afirma que a tipologia exploratória caracteriza-se apenas por levantar informações sobre um determinado objeto, delimitando assim um campo de trabalho e mapeando as condições de manifestação desse objeto. Por sua vez, de acordo com Barros e Lehfeld (2000) essa pesquisa é descritiva, pois não existe interferência do pesquisador, isto significa que este se limita a descrever o objeto de pesquisa. PROCEDIMENTO METODOLÓGICO Através do site de busca “Google acadêmico” foram pesquisados os artigos científicos que tratam da utilização do tangram na educação formal. O objetivo principal desta busca era identificar a existência de trabalhos científicos que abordassem a utilização do tangram no ensino de Ciências. Além disso, mesmo o artigo retratando o uso do tangram em outra área da educação formal, este foi lido com a finalidade de identificar em quais disciplinas está sendo utilizado este recurso didático e quais os temas que estão sendo contemplados associados à sua utilização no contexto educacional. O critério utilizado para realizar a busca dos artigos através do “Google acadêmico” consistiu neste site ser uma ferramenta acessível e de fácil manuseio, no qual os docentes podem também buscar esses trabalhos para utilizar (suas orientações) em sala de aula. A palavra-chave utilizada no site foi “tangram” justamente para propiciar uma busca com grande amplitude. Dentre os 120 primeiros links propostos para a pesquisa, apenas treze artigos científicos com acesso livre e direto foram encontrados, isso significa que o link permitia abrir diretamente o artigo. Existiam links que exigiam cadastro no site para permitir o acesso aos artigos científicos, estes não foram consultados. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A UTILIZAÇÃO DO TANGRAM NO ENSINO DE CIÊNCIAS Apenas o artigo “Explorando o tangram numa proposta didática: uma atividade interdisciplinar entre Ciências, Matemática e História” relacionava à utilização do tangram ao ensino de Ciências. Nesse trabalho os autores relacionaram as disciplinas de História e Ciências ao 30 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO uso do tangram através da elaboração e contação de uma história, fazendo analogia a fatos marcantes da evolução do homem no planeta, desde sua origem até a modernidade. As histórias eram elaboradas a partir de representações montadas através do tangram. Segundo os autores o objetivo da atividade era fazer observador (espectador da história) viajar no tempo, conhecer sua origem e conduzi-lo a reviver a sua própria história. Figura 9 Representação da evolução humana, através do tangram. Fonte: Silva, Rêgo (2012) Os alunos fizeram a opção de contar a história da evolução do homem partindo da imagem do Tangram (Figura 9) utilizando ao lado das imagens um texto de fácil leitura e recorrendo algumas vezes ao uso de mensagens com tom humorístico. Conforme os autores essas atividades mostraram-se satisfatórias e o projeto possibilitou o despertar de ações inovadoras, criativas e de exploração artísticas desses alunos. Vale ressaltar que paralelamente a essas atividades o tangram também foi usado na disciplina de matemática para abordar assuntos no qual ele pudesse contribuir para a aprendizagem. A UTILIZAÇÃO DO TANGRAM EM OUTRAS DISCIPLINAS Todos os 13 artigos encontrados associam o uso do tangram ao ensino de matemática principalmente para trabalhar os conteúdos ligados à geometria (área, perímetro, figuras planas). Vale ressaltar que alguns trabalhos destacam que o uso do tangram pode contemplar outros assuntos além daqueles discutidos na geometria, tais como raciocínio lógico, frações, porcentagem, grandezas diretamente proporcionais entre outros. Por fim, o trabalho intitulado “Linguagem orientada por formas geométricas, voltada ao ensino de programação” descreve a concepção e implementação de um ambiente de programação visual, com o intuito de facilitar o ensino de programação de computadores, mostrando que o tangram pode ser utilizado também para facilitar a aprendizagem na área de informática. CONSIDERAÇÕES FINAIS O tangram é um recurso que pode auxiliar nos processo de ensino e aprendizagem de diversas disciplinas na educação formal. Esse recurso didático está sendo utilizado principalmente na disciplina de matemática, mas pode ser usado de diversas formas em outras disciplinas. A utilização do tangram em outras disciplinas mostra-se possível, pois dois trabalhos relatam a experiência de aplicação do tangram para proporcionar a aprendizagem nas áreas de Ciências, História e Informática (programação). 31 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Propomos, portanto, o desafio de educadores buscarem abordagens metodológicas que contemplem a utilização do tangram com a finalidade de motivar e atingir a aprendizagem significativa em diversas áreas, inclusive na disciplina de Ciências Naturais. REFERÊNCIAS ALMEIDA, L. M. W; MARTINS, N. Modelagem Matemática: uma aplicação usando a merenda escolar. Anais eletrônicos do VII ENEM – Encontro Nacional de Educação Matemática. Rio de Janeiro, 2001. ALVES, Edmar José. Tangram: Guardado a sete chaves. 2010. Disponível em: <http://www.sbmac.org.br/eventos/cnmac/xxxiii_cnmac/pdf/545.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2011. BARROS, Aidil Jesus Paes de; LEHFELD, Neide Aparecida de. Fundamentos de Metodologia Científica: um guia para a iniciação científica. 2. ed. ampl. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2000. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: ciências naturais / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998b. FLORA, Sandra Di. Tangram. 2008. Disponível em: http://matematicamania.wordpress.com/category/curiosidades/tangram/>. Acesso em: 27 set. 2011. MINAYO, Maria Cecília de Souza. (org.). et al. Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade. 4. Ed. Petrópolis: Vozes, 1995 MORATORI, Patrick Barbosa. Por que utilizar jogos educativos no processo de ensino aprendizagem?. 2003. Disponível em: <http://www.nce.ufrj.br/ginape/publicacoes/trabalhos/PatrickMaterial/TrabfinalPatrick2003.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2011. MOTTA, Ivony Aparecida Rodrigues da. Tangram. Guaratinguetá. 2006. SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 2007. 23 ed. 3ª reimpressão. Ed Cortez. 32 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO LIBRAS E O ENSINO DE CIÊNCIAS: CONTRIBUIÇÕES PARA O APRENDIZADO DE ALUNOS SURDOS Carmen Virgínie Sampaio Avelino12 Francisco Mirtiel Frankson Moura Castro13 Maria Luciete dos Santos14 Bruna Kércia Sousa Lima15 RESUMO Este estudo teve como OBJETIVO GERAL analisar a importância da LIBRAS para o processo de aprendizagem dos alunos surdos, quanto à apropriação dos conhecimentos de Ciências. A pesquisa foi desenvolvida com base na abordagem qualitativa, apresentando como procedimento de coleta de dados um questionário, constando cinco perguntas abertas, as quais tiveram como intuito compreender o nível de aprendizado dos participantes da investigação sobre a disciplina de ciências por intermédio da LIBRAS. Com amparo nas análises e discussões dos dados coletados em relação ao tema abordado foi evidenciado que é de grande importância o uso da Libras como auxílio na mediação da aprendizagem dos alunos na disciplina de Ciências. Isso faz com que o professor traga para as salas de aula propostas pedagógicas adequadas à realidade dos alunos, que atualmente se fazem necessárias e urgentes, pois os alunos ainda são estigmatizados, por trazerem sequelas de uma história de lutas pelos seus direitos. Assim, pode-se concluir com base no estudo realizado que os alunos surdos, sujeitos da pesquisa, possuem dificuldades na compreensão dos conteúdos de Ciências por não dispor do pleno conhecimento da língua dos sinais. PALAVRAS-CHAVE: Alunos Surdos. Libras. Ensino de Ciências. Aprendizagem. INTRODUÇÃO Por muitos anos as pessoas com deficiência foram tratadas com desprezo e desrespeito quanto aos seus direitos na sociedade, o que os motivou a se organizarem e promoverem grandes movimentos de participação política em todo o mundo. Com o passar do tempo essas pessoas são denominadas “diferentes ou deficientes”. Segundo Magalhães (2002, p.25) “diferente é aquilo que desvia das normas a partir de determinados critérios. Já a deficiência pode-se ser dita como um déficit, como uma falta.” Frente a isso, desenvolve-se a Educação Especial, que se apresenta com uma proposta de inserção de pessoas que apresentem necessidades especiais em escolas. Tal 12 Licencianda em Ciências Biológicas, pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). E-mail: [email protected] 13 Mestrando em Educação Brasileira, pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: [email protected] 14 Graduada em Ciências Biológicas, pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). E-mail: [email protected] 15 Licencianda em Ciências Biológicas, pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). E-mail: [email protected] 33 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC inserção passa a ser o principal elemento que poderá propiciar a formação desses indivíduos perante a sociedade, acreditando que através da inclusão essas pessoas possam apreender os conhecimentos historicamente sistematizados ao longo dos anos pela humanidade. Com isso, a educação passa a ser o principal campo que poderá propiciar a qualidade de vida desses indivíduos. No Brasil a história da Educação Especial iniciou-se a partir de acontecimentos que se expandiam por todo o mundo, tais acontecimentos se basearam na busca pela conquista da permissão para o uso da Língua Brasileira de Sinais-LIBRAS, sendo esta oficializada no somente no de 2002. Caracterizando-se primeiramente a atender a uma sociedade que apresentasse valores financeiramente maiores, deixando as classes populares sem oportunidades de acesso à educação. Todo esse processo foi realizado de forma lenta, até se chegar as grandes lutas por conquistas dos direitos dos deficientes. No contexto histórico da educação dos surdos apresentam-se as lutas por novas práticas pedagógicas, sendo adotadas diferentes metodologias que se se tornaram em habilidades a serem desenvolvidas por educadores para com os deficientes auditivos. Fato que ocorreu para que os deficientes auditivos pudessem desenvolver uma linguagem e uma melhor aprendizagem, pois por muito tempo pensava-se que estas pessoas fossem incapazes de uma socialização ou até mesmo dignos de adquirir qualquer conhecimento. Mas, no decorrer dos anos, com as lutas de seus direitos conquistados foram elaborados elementos que sistematizaram uma melhor qualidade na educação dos surdos. Considerado correntes pedagógicas para o ensino de surdos o: Oralismo, Comunicação Total e Bilinguismo. Ao ser aplicar o Bilinguismo, o educando será exposto, no primeiro momento na Língua de Sinais e posteriormente na Língua Portuguesa, havendo todo um preparativo para sua aplicação. Já no âmbito escolar de acordo com (MENEZES; FEITOSA, 2010, p.15) A Educação Inclusiva ganha espaço a partir da LDB n° 9394/96, que vem oferecer ao sistema de ensino formas de atendimento assistencialista para que os alunos em seu ambiente escolar desenvolvam competências para que estas lhes garantam uma melhor inserção dentro da sociedade. A participação das Ciências no processo de aprendizagem implica na em primeiro lugar em uma conscientização cientifica dos alunos, a fim de possibilitar a compreensão dos conteúdos, auxiliados por metodologias capazes de facilitar a interpretação dos conteúdos. Assim, trabalhar o ensino de ciências com os alunos consiste em desenvolver novas habilidades pedagógicas, proporcionando nessas, capacidades para uma melhor transformação no contexto social em que o aluno se insere, permitindo-lhes um melhor desenvolvimento cognitivo. O conteúdo das ciências deve ser ensinado de modo mais contextualizado, para que o aluno analise criticamente os conceitos científicos assimilados durante a aula. Para isso, o uso da língua natural do educando surdo faz-se necessário, para que este possa aprender o conteúdo oferecido. Partindo do exposto surge a seguinte inquietação, que é desdobrada no OBJETIVO GERAL desta pesquisa, citados a segui: qual é a importância da LIBRAS para o processo de aprendizagem dos alunos surdos, quanto à apropriação dos conhecimentos de Ciências? OBJETIVO GERAL 34 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO Analisar a importância da LIBRAS para o processo de aprendizagem dos alunos surdos, quanto à apropriação dos conhecimentos de Ciências. METODOLOGIA Esta pesquisa é de cunho qualitativo, foi desenvolvida no primeiro semestre de 2013. Em uma escola da rede municipal de Ensino, localizada em Itapipoca-CE. Segundo Ludke e André (1986) a pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados que são predominantemente descritivos. O procedimento escolhido para a coleta de dados desta pesquisa foi o questionário, aplicado com 15 alunos surdos, que fazem parte de uma turma multiseriada (tendo alunos do 6° ao 9° Ano). Abordaram-se cinco perguntas abertas, que buscaram saber dos envolvidos na investigação as suas compreensões referentes à temática em estudo. Para tanto, os alunos responderam ao questionário de forma individual, onde alguns participantes apresentaram dificuldades na leitura do instrumento, contando com o auxílio da professora e da interprete da sala. O questionário permite o sujeito responder de forma explicativa e com clareza cada pergunta sugerida, para que possam levar os participantes a manifestarem suas opiniões. O questionário, segundo Severino (2007, p. 125), “é o conjunto de questões, sistematicamente articuladas, que se destinam a levantar informações escritas por parte dos sujeitos pesquisados, com vistas a conhecer a opinião dos mesmos sobre os assuntos em estudo.” Além disso, a análise dos dados é pautada na contribuição de diferentes autores que discutem a temática pesquisada e contribuem com a revisão da literatura desta investigação, como: Feltrini, Magalhães, Menezes, Feitosa e Prince. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS O procedimento desenvolvido para a análise dos dados fundamentou-se na revisão da literatura e na interpretação das respostas dos participantes da investigação. Ao serem questionados se gostam da disciplina de ciências, a maioria disse que sim, desatando: “Eu gostar aula importante”; “Eu gostar aprender importante”. Diante das respostas dadas ao questionamento, compreende-se que os alunos colaboradores da pesquisa, demonstraram interesse pelo aprendizado, sobretudo, pela disciplina de ciências. Fato este, que de certo modo, revela que apesar da área das Ciências Naturais ser considerada como uma das mais complexas, desperta o interesse de alunos que apresentam necessidades especiais. Brasil (1998) reflete que a compreensão da ciência, deve ser buscada a partir da realidade, fazendo com que o aluno construa conceitos científicos sobre tudo o que o cerca, como também está atento às mudanças e descobertas. Em relação à importância das ciências para o cotidiano dos discentes, eles relataram que esta é relevante para a existência da vida: “Precisar aprender vida”; “Importante aprender vida animais plantas”. Ao discutir esse enfoque, os respondentes entendem a importância da disciplina de Ciências no cotidiano, ressaltando a relevância da aprendizagem sobre o estudo da vida de 35 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC plantas e animais. Assim, pode-se perceber que os alunos entendem os conteúdos básicos e, portanto, fundamentais das Ciências da Natureza. Questionados sobre o nível de assimilação dos alunos referente aos conteúdos de ciências, estes, relatam que pelo fato do não conhecimento necessário de todos os sinais acaba interferindo em uma boa leitura dos conteúdos das disciplinas. Por isso não compreendem o conteúdo de ciências: “Eu aprender muito pouco porque palavras poucos nomes diferentes”. Observa-se neste trecho que os alunos sentem dificuldades na disciplina de ciências, advindas de uma não compreensão de alguns sinais, o que sugere que os professores passem mais tempo trabalhando o mesmo conteúdo. Assim, verifica-se também a complexidade do trabalho do professor, tendo que se habituar a situações diversas, fato que indica que esse profissional necessita de uma contínua e sólida formação. Prince,( 2011 p. 29) relata que “ a escassez de sinais para termos científicos é decorrente do histórico da educação de surdos”. Quando foram perguntados sobre qual a relação da LIBRAS com o conhecimento na disciplina de ciências, os alunos afirmam não aprendem todos os sinais, prejudicando-se com os conteúdos oferecidos. Apesar de afirmarem que a é sua língua natural, porém os alunos não consegue assimilar os conteúdos: “Libras aprender pouco mais menos”; “Aprender libras pouco”. As respostas aqui coletadas comprovam a resposta dada ao questionamento anterior, onde os participantes também falaram das dificuldades em entender alguns certos sinais em que interferem diretamente no aprendizado da disciplina de ciências. De acordo com Feltrini, (2006, p.25): O professor de Biologia deve ter em mente que a LIBRAS não estabelece a comunicação entre ele e seus alunos, mas é por meio dela que eles irão atribuir significados ao conteúdo, uma vez que a compreensão de conceitos científicos depende da comunicação em sala de aula. Os alunos foram questionados a respeito se a LIBRAS diminui sua concepção dos conteúdos nas aulas de ciências, os participantes afirmam que os sinais não os deixam compreender o conteúdo, ou seja, pelo fato dos alunos não aprenderem é decorrente do uso da língua natural que os alunos utilizam: “[...] aprender nada precisar falar nós gostar”; “[...] deixa não aprender entender não sinais, sinais ensinar nada”; “Libras deixa aprender não ensinar não”. Diante do exposto as limitações que os alunos relatam trazem um histórico muito comum entre a vida pessoal de cada aluno surdo. Devido à maioria dos surdos ser filhos de pais ouvintes acaba não sendo exposta a sua língua natural, que é a de sinais, esse contato acontece tardiamente. Isso acontece devido à falta de informação dos pais que de início até rejeitam o fato do filho ser surdo e não aceitam a surdez do filho, dificultando ainda mais a aprendizagem desses alunos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os alunos surdos pesquisados demonstram conhecimentos básicos dos conteúdos de ciências, mas, sentem dificuldades na compreensão de muitos assuntos referentes a tal disciplina, devido à falta de uma maior contextualização da Linguagem dos Sinais com a disciplina em destaque. Assim, é fundamental que o professor da área de Educação Especial receba uma melhor formação, que implique, por exemplo, na utilização de metodologias de ensino que aproxime mais os alunos com necessidades especiais do conteúdo exposto. Vê- se, portanto a urgência de 36 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO iniciativas que isole modelos metodológicos já existentes onde se resumem no conservadorismo, e sim em constituir práticas que reconheçam e valorize as diferenças como um todo a ponto de excluir por total todos os estereótipos existentes nesses alunos e na sociedade como um todo. Faz-se necessário o uso da língua natural como mediadora para auxiliar na assimilação do conhecimento. Os participantes da pesquisa apresentaram certa dificuldade para a assimilação e compreensão dos conteúdos, por não terem um maior conhecimento da sua própria língua natural, no caso a LIBRAS. Compreende-se que os seus conhecimento e desenvolvimento cognitivo são prejudicados, dificultando ainda mais a aprendizagem dos alunos surdos. Com amparo nas respostas das questões apresentadas nesta pesquisa, compreende-se a relevância de valorizar a busca por outras propostas pedagógicas que possam transformar de modo positiva a educação para todos os alunos, respeitando a aprendizagem e qualidade que o discente tem por direito a aprender. REFERÊNCIAS BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências Naturais/ Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. FELTRINI, G. M. Aplicação de modelos qualitativos `educação científica de Surdos. 2009. Dissertação (Pós- Graduação em Ensino de Ciências- Universidade de Brasília, Brasília, 2009. LUDKE, M.; ANDRÉ, M. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária- EPU, 1986. MAGALHÃES, R de. C. B.(Org). Reflexões sobre a diferença: uma INTRODUÇÃO à educação especial. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2002. MENEZES, J. E. S.A de. ; FEITOSA, C. R de S. Libras. Fortaleza: Demócrito Rocha, 2010. PRINCE, F. M. C. G. Ensino de Biologia para Surdos: conquistas e desafios da atualidade. 2011. 67f. Monografia (Licenciatura em Ciências Biológicas) – Universidade Presbiteriana Marcenziek, São Paulo, 2011. SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23. ed. rev. E atualizada. São Paulo: Cortez, 2007. 37 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC A PRÁTICA DOCENTE NA SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS: IMPLICAÇÕES PARA O ENSINO REGULAR DAS CIÊNCIAS DA NATUREZA Larissa Menezes Farias da Costa16 Gerciane Maria da Costa Oliveira17 Francisco Mirtiel Frankson Moura Castro18 RESUMO Este estudo objetivou investigar a prática de ensino da professora da Sala de Recursos Multifuncionais (SRM) do Ensino Médio, espaço destinado ao Atendimento Educacional Especializado (AEE), a fim de perceber como este ambiente favorece o acesso ao currículo da área das Ciências da Natureza. O estudo foi fundamentado nos seguintes autores: Alves, Ropoli et al., Mendes, entre outros. Trata-se de um estudo qualitativo, realizado por intermédio de pesquisa de campo, realizada com professores do Ensino Médio da área das Ciências da Natureza. Para a realização da coleta dos dados foram desenvolvidas observações do contexto da SRM e entrevista com a profissional que atua neste espaço e professores das salas regulares. As análises proporcionaram constatar que o apoio conferido pela SRM é de fundamental importância para o desenvolvimento dos ANEE no ensino regular. Entretanto, é notório que o professor deste ambiente ainda encontra-se despreparado pedagogicamente para desenvolver esse trabalho, comprometendo em determinados aspectos o processo educativo, tendo em vista as diversas limitações que possui. Há que ser considerado, também, que a existência dessa sala representa avanços no processo de inclusão que revela ainda muitos desafios e entraves educacionais a serem superados. PALAVRAS–CHAVE: Inclusão. Sala de Recursos Multifuncionais. Prática Docente. Ciências da Natureza. INTRODUÇÃO O sistema educacional tem diante de si o desafio de encontrar alternativas para que haja o completo acesso e a permanência dos educandos nas instituições de ensino. Dessa forma, as escolas precisam se estruturar a fim de responder à diversidade com a qual terá que lidar durante o processo de educação, valorizando a riqueza da convivência e do aprendizado mediante as diferenças. A escola que deve adequar-se ao aluno e não vice-versa, de modo a romper com atitudes discriminatórias, dando visibilidade ao sujeito com deficiência, configurando, assim, um ambiente educativo favorável a todos. 16 Graduada em Ciências Biológicas, pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). E-mail: [email protected] 17 Doutoranda em Sociologia, pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Email: [email protected] 18 Mestrando em Educação Brasileira, pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Email: [email protected] 38 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO Esta concepção de inclusão esta assegurada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), nº 9394/96, quando define que a oferta da Educação Especial deve acontecer preferencialmente na rede de ensino regular, de forma que a escola deve organizar-se para assistir os Alunos com Necessidades Educacionais Especiais (ANEE), possibilitando aos mesmos uma educação de qualidade (BRASIL, 1996). Nessa perspectiva, que considera a classe comum como ambiente de aprendizagem do aluno, surge a proposta da Sala de Recursos Multifuncionais (SRM), espaço destinado ao Atendimento Educacional Especializado (AEE), proporcionado aqueles que, em algum momento do seu processo educativo, venha a apresentar necessidades educacionais especiais, tendo como principal objetivo apoiar o ensino comum, complementando e/ou suplementando o aprendizado destes educandos, na busca de superar obstáculos que impedem o acesso destes sujeitos às classes comuns do ensino regular. A SRM, portanto, deve articular-se com o ensino regular, visto que ambos, apesar de apresentarem funções distintas no processo de aprendizagem, participam da educação do ANEE e precisam estabelecer uma comunicação ativa, a fim de proporcionar o suporte necessário para o desenvolvimento e inclusão deste educando. Sendo necessário, também, que se ofereça uma melhor formação aos professores, sejam eles do contexto comum ou do AEE, haja vista que estes ainda consideram um grande desafio lidar com alunos que apresentem algum tipo de deficiência. Para tanto, este estudo teve como objetivo investigar a prática de ensino da professora da SRM, a fim de perceber como este ambiente favorece o acesso ao currículo da área das Ciências da Natureza. Diante disto, surgem os questionamentos que estimularam e nortearam a execução desta pesquisa: Como se dá a prática docente na SRM? Como o atendimento nesta sala contribui para o ensino regular, mais especificamente para o acesso ao currículo das Ciências da Natureza? De que forma ocorre a articulação entre a SRM e a classe comum? Tais inquietações subsidiaram o desenvolvimento deste estudo. OBJETIVO GERAL Investigar a prática de ensino da professora da Sala de Recursos Multifuncionais (SRM), espaço destinado ao Atendimento Educacional Especializado (AEE), a fim de perceber como este ambiente favorece o acesso ao currículo da área das Ciências da Natureza. METODOLOGIA Esta pesquisa é baseada em uma abordagem qualitativa, considerada como uma pesquisa de campo, a qual permite ao pesquisador estar inserido no universo dos sujeitos investigados e, com isso, como expõe Farias et al. (2010), confirmar ou refutar os pressupostos adquiridos durante a investigação. Como fonte de informações foram escolhidos a docente atuante na SRM e três professores do ensino médio que lecionam em classes comuns as disciplinas de Física, Química e Biologia e que, por sua vez, possuem em suas turmas alunos com necessidades educativas especiais que recebem atendimento na SRM. A coleta dos dados se deu através de observações sistemáticas do contexto da SRM e entrevistas com a docente da SRM, que foi orientada por um roteiro semiestruturado com 15 questões e com os professores do ensino regular, os quais se 39 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC encontram denominados como P1, P2 e P3, e que, também, foi norteada por um roteiro semiestruturado e composta por 10 questões. Após a coleta dos dados foram feitas as análises e as respectivas interpretações. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Segundo os dados coletados, ao ser questionado a docente da SRM sobre a sua escolha por atuar no AEE, a mesma destaca em sua resposta que tem interesse por esta área e por atuar na SRM, mesmo que a opção tenha sido influenciada também por sua aposentadoria. No entanto, percebe-se que, muitas vezes, os profissionais procuram lecionar nestes ambientes escolares, a fim de atender suas próprias necessidades, sem pensar que tal atitude poderá influenciar no aprendizado dos alunos, prejudicando o processo de ensino e aprendizagem. É necessário, portanto, que o professor compreenda seu papel na AEE, a fim de desempenhar sua função da melhor maneira possível. Neste sentido, percebe-se que o educador da SRM deve favorecer a aprendizagem do aluno no ensino regular, no intuito, também, de realizar o diálogo constante com o professor da classe regular. Sobre a função deste profissional, Alves (2006) considera como o de atuar visando à complementação ou suplementação curricular específica dos ANEE, colaborando com o professor da classe comum, a fim de definir estratégias pedagógicas que favoreçam o acesso ao currículo e promovendo a sua inclusão. Neste sentido, os professores das Ciências da Natureza colocaram que observam a contribuição da SRM ao ensino regular como um subsídio oferecido ao aluno no que condiz a sua comunicação, facilitando sua articulação nas atividades escolares, bem como a acessibilidade das disciplinas trabalhadas no contexto comum, salientando que anteriormente o apoio conferido era bem mais efetivo, devido a formação da professora e, além disso, vale destacar, também, que um dos professores discute que não observa nenhuma contribuição, por parte da SRM. Diante dessas concepções, torna-se evidente a necessidade de se realizar um trabalho mais eficaz nesse espaço, de modo a favorecer a atuação do ANEE na classe comum, já que essa é um das principais atribuições deste ambiente. Portanto, visando uma melhor compreensão sobre esse contexto, indagou-se a respeito das atividades desenvolvidas na SRM e como são selecionadas. De acordo com a resposta da professora, pode-se concluir que as atividades realizadas são estabelecidas mediante a deficiência do aluno, a qual é indicada em um diagnóstico médico. Deste modo, é elaborado um plano de trabalho para cada educando e a partir disso são planejadas as atividades e os recursos didáticos utilizados no seu processo de aprendizagem. Fato percebido durante os momentos de observação do contexto da SRM, em que as atividades realizadas com os alunos foram selecionadas pela professora tendo em vista um estudo de caso dos ANEE, considerando suas principais dificuldades e suas facilidades. A SRM frente ao ensino regular apresenta-se como uma forma de impulsionar e contribuir para o desenvolvimento do ANEE, tornando acessíveis os currículos das diversas áreas do conhecimento. Dessa forma, buscou-se verificar como os assuntos trabalhados nesta sala se 40 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO adéquam ao currículo, em específico ao das Ciências da Natureza. A professora da SRM colocou que essa articulação ocorre por meio de um auxílio que é oferecido ao aluno quando este vai realizar uma avaliação que envolva estas áreas, traduzindo o material para o educando para o Braille e para a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e, assim, tornando-o acessível ao discente. Vale concordar com Alves (2006), quando articula que as ações desenvolvidas nesse espaço de apoio ao aluno com dificuldades de aprendizagem não podem ser confundidas com aulas de reforço ou atividades de repetições dos conteúdos trabalhados em sala de aula, mas deve constituir um conjunto de procedimentos que permitam ao aluno apropriar-se do conhecimento. É mencionado pela professora da SRM, também, o uso de jogos e fórmulas em alto relevo quando esta vai trabalhar com os alunos assuntos relacionados às Ciências da Natureza. Esses instrumentais, portanto, têm como objetivo proporcionar determinadas aprendizagens, de forma a melhorar o desempenho dos discentes. Ainda neste sentido, os professores da área das Ciências da Natureza, afirmaram que o atendimento na SRM vai além de uma constituição que visa a promoção do conhecimento, proporciona ao alunado sentir-se mais seguro, já que prepara o estudante com subsídios fundamentais para que este possa experienciar ativamente todo o cotidiano escolar. Entretanto, um dos professores apresenta uma abordagem diferente, afirmando não observar nenhuma contribuição da SRM a sua disciplina, fato que se dá, segundo ele, devido a formação da professora. No que tange as dificuldades encontradas pela docente da SRM, pode-se perceber que um dos maiores problemas se dá pelo fato desta profissional não conhecer o Braille e a LIBRAS, o que torna difícil uma articulação efetiva entre ela e os alunos com deficiência visual e auditiva, uma vez que, como aponta Alves (2006), das atividades curriculares específicas realizadas no AEE na SRM destacam-se o ensino da LIBRAS, do sistema Braille e do Soroban, da comunicação alternativa, do enriquecimento curricular, entre outros. Tais dificuldades de comunicação prejudica de forma expressiva desenvolvimento destes alunos no ensino regular. Conforme coloca Ropoli et al. (2010) a aproximação do ensino comum com a Educação Especial se constitui a partir do momento que as necessidades de alguns alunos exigem o encontro, a troca de experiências e a busca de condições favoráveis para que haja um melhor desempenho destes no domínio escolar. Com o intuito de verificar a interação entre os profissionais do contexto especial e do ensino regular, foi questionado sobre a relação estabelecida entre a docente da SRM e os professores das disciplinas da área das Ciências da Natureza. A professora da SRM expressou em sua resposta que a interação ocorre por meio de diálogos, nos quais o professor do AEE procura verificar o desempenho do ANEE no contexto comum. Os docentes do ensino regular apresentam concepções distintas, onde dois destes professores, P1 e P2, colocam que há, sim, uma relação entre eles e a professora da SRM, mesmo que em suas respostas tenha ficado evidente que trata-se de uma relação que chega a ser um pouco superficial. Já o P3 se expressa, dizendo que até agora não houve nenhum contato com esta profissional. 41 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC No entanto, Bueno (1999), acorda que para se estabelecer um ensino de qualidade oferecido às pessoas com necessidades educacionais especiais, partindo de uma perspectiva inclusiva, um dos fatores a serem considerados, é os dois tipos de professores que atuam nesse contexto, os ‘generalistas’, do ensino regular e os professores ‘especialistas’ nas diferentes necessidades educativas especiais, seja para trabalhar diretamente com os alunos, seja para apoiar o trabalho realizado pelos professores de classes regulares que integrem esses alunos. Dessa forma, compreende-se que a inclusão escolar se constitui de forma coletiva com a participação de todos aqueles que favorecem a educação dos indivíduos com necessidades educacionais especiais. CONSIDERAÇÕES FINAIS Por meio deste estudo foi possível perceber que o atendimento oferecido na SRM tem contribuído para que os ANEE tenham acesso ao currículo das Ciências da Natureza, porém, o profissional atuante neste contexto ainda tem se mostrado bastante despreparado para desenvolver práticas de ensino nestas áreas, haja vista que este professor da SRM precisa considerar, não somente as necessidades educacionais especiais que os alunos possuem, mas as diversas áreas do conhecimento, a fim de promover os diversos tipos de acessibilidade ao currículo. Porém percebese a necessidade de se compreender o verdadeiro significado da SRM na escola regular e de se estabelecer uma relação mais íntima entre este espaço e a classe comum, pois, como analisado, há uma relação entre estes dois ambientes, mas, nota-se que esta ainda acontece de forma superficial. Partindo desse pressuposto, é que se verifica quão importante a valorização das diferenças no âmbito escolar, preparando os docentes para atuar mediante a heterogeneidade de uma sala de aula, para que, assim, se desenvolva uma prática de ensino mais significativa a todos os sujeitos, transformando a instituição de ensino em um local que de fato assiste a todos os alunos, independente de suas particularidades. REFERÊNCIAS ALVES, D. O. Salas de Recursos Multifuncionais: espaço para atendimento educação especializado. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2006. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. BUENO, J. G. da S. Crianças com necessidades educativas especiais, políticas públicas e a formação de professores: generalistas ou especialistas? In: Revista Brasileira da Educação Especial. Nº 5,1999. FARIAS, I. M. S.; SILVA, S. P.; THERRIEN, S. M. N.; SALES, J. A. M. Trilhas do labirinto na pesquisa educacional qualitativa: dos procedimentos de coletas de dados ao trabalho de campo. In: Pesquisa científica para iniciantes: caminhando no labirinto. Fortaleza: EdUECE, 2010. ROPOLI, E. A.; MANTOAN, M. T.E.; SANTOS, M. T. C. T., MACHADO, Rosângela. A educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar: a escola comum inclusiva. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial; Universidade Federal do Ceará, 2010. THERRIEN, S. M. N.; FARIAS, I. M. S.; SALES, J. A. M. Abordagens quantitativas e qualitativas na pesquisa em educação: velhas e novas mediações e compreensões. In: Pesquisa científica para iniciantes: caminhando no labirinto. Fortaleza: EdUECE, 2010. 42 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO PARTE II: EIXO DE ENSINO DE MATEMÁTICA 43 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC CONTRIBUIÇÕES DO PIBID NA FORMAÇÃO DOCENTE: EXPERIÊNCIAS EM UMA ESCOLA PÚBLICA NA REGIÃO NORTE DO CEARÁ Antônio Jonas Farias19 RESUMO: O presente trabalho visa relatar as vivências do autor como bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência – PIBID – no subprojeto de Matemática da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. A observação, regência, contato com os alunos e realização de oficina em uma escola pública parceira do programa, foram importantes experiências no processo de formação do professor que se inicia ainda na graduação e deve perdurar mesmo depois dos cursos de formação. Analisar o comportamento de professores já em ação também ajudam a moldar o futuro docente não apenas no aspecto didático e pedagógico, mas também na formação de um espírito crítico e na construção do relacionamento com os estudantes. PALAVRAS-CHAVE: PIBID. Inovação. Formação. Professor de Matemática. INTRODUÇÃO Vivemos numa sociedade em que as mudanças têm ocorrido numa celeridade nunca vista anteriormente, tanto devido aos avanços tecnológicos, mudanças culturais e antropológicas, etc. O professor como partícipe deste processo de transformação e construção deve estar aberto para incorporar novos hábitos, comportamentos, percepções e demandas do paradigma da complexidade, permeado por uma nova concepção de ciência, conhecimento e educação. Hoje a educação passa por profundas transformações, tendo em vista as mudanças constantes que vêm ocorrendo no mundo. As novas tecnologias evoluem num ritmo cada vez mais acelerado, e o mundo científico também avança constantemente, com novas descobertas e estudos, apontando diferentes competências para atuar na sociedade e no campo educacional. Diante disso, os novos desafios vêm, instigando os profissionais da educação a buscarem novo saberes, conhecimentos, metodologias e estratégias de ensino. As mudanças no contexto escolar e social requerem profissionais atualizados e competentes, que estejam preparados para atuar com diferentes problemas. (LACERDA, pg. 01, 2009). Nesse contexto, a formação contínua de professores, ou de qualquer outro profissional, ganha muita importância, sobretudo como alternativa para acompanhar esse ritmo. 19 Graduando. Discente do curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. Bolsista Pibid/Capes. [email protected]. 44 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO Aprender a ser professor é um processo que vai muito além dos conhecimentos ditos técnicos e específicos com os quais entramos em contato na universidade, estando relacionado, também, com uma diversidade de outros conhecimentos que só se aprende quando nos inserimos em uma cultura profissional através da entrada em um ambiente de trabalho e através da interação com nossos colegas profissionais. Embora reconhecendo essa especificidade do processo de aprender a ser professor, consideramos que os docentes devem, sim, possuir uma boa base teórica que lhes permita desconstruir e reconstruir suas representações, recombinar seus saberes a todo instante, refletindo sobre as ações que desenvolve e vendo-se também como protagonista de seu processo de formação e (trans)formação. OBJETIVOS GERAIS Através de observações realizadas em sala de aula em uma das escolas parceiras do subprojeto de Matemática do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência – PIBID – em desenvolvimento da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA, visou-se analisar o comportamento do professor em sala de aula do ponto de vista didático, metodológico e na relação com os estudantes. Também, buscou-se identificar as dificuldades dos alunos no processo de aprendizado para, a partir daí, planejar melhor as intervenções – aulas ministradas pelo bolsista – e projetos desenvolvidos na escola. METODOLOGIA Como parte das atividades desenvolvidas no subprojeto de Matemática do PIBID/UVA, com a ajuda do professor supervisor – também bolsista do PIBID – e sob orientação da coordenação de área do subprojeto, foram realizadas atividades de observações/intervenções em sala de aula. O autor deste trabalho e outro bolsita acompanhavam um professor regente da escola em todas as suas aulas em uma turma pré-determinada durante o turno da tarde. Nas observações eram feitas anotações sobre o comportamento dos alunos, da relação professor-aluno, assim como sobre a metodologia utilizada em sala pelo docente e como este lidava com algumas situações fora do padrão. Mensalmente também havia a participação no planejamento dos professores da escola. No primeiro semestre de 2013, o autor deste trabalho acompanhou uma turma do 3o ano do Ensino Médio na Escola Elza Goersch, localizada em Forquilha, interior do Ceará. No total, foram participações em 64 aulas sendo que em 12 ocorreram regência. Paralelamente às atividades de sala de aula, foram realizados durante o primeiro semestre de 2013, uma oficina e o plantão matemático – horários para tira-dúvidas aberto aos alunos da escola. A oficina aplicada teve como finalidade trabalhar com os alunos atividades de matemática financeira a partir de situações do cotidiano. Isso por que foi observado que os alunos tinham dificuldades em lidar com números decimais e frações e decidiu-se que com esta motivação 45 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC poderia haver uma contribuição para um melhor aprendizado dos alunos. Desta atividade, participaram alunos do 3o ano do ensino médio. Figura 10 Alunos da escola Elza Goersch na oficina sobre matemática financeira DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Ao longo das aulas notou-se que os alunos apresentavam muitas dificuldades em certos conteúdos. A falta de interesse era constante por parte de alguns, que até diziam odiar a matemática. Já outros, ficavam com receio de participar quando surgiam dúvidas e acabavam por recorrer aos colegas que se destacavam na turma, que eram poucos. Nas oficinas foram adquiridas grandes experiências metodológicas de ensino através de práticas experimentais. As atividades pesquisadas e aplicadas realmente despertavam a curiosidade dos alunos, mas as oficinas fugiam um pouco da realidade do verdadeiro ambiente da sala de aula, pois eram com poucos alunos, o que melhorava muito o trabalho, diferente das salas de aula com um grande número de alunos (algumas com mais de 40 por sala), uma das maiores dificuldades encontrada pelos professores da escola. Isso porque, como observado pelo autor deste trabalho, essa super lotação não permitia se adequar uma melhor metodologia para suprir a necessidade de aprendizagem da turma, pois cada um aprende de maneira diferente. Sentiu-se um pouco da responsabilidade do que é ser um professor quando ocorriam as intervenções em algumas aulas; muitas eram as dificuldades para tentar manter a atenção da maioria dos alunos. Para alguns professores, as maiores dificuldades estão justamente em saber lidar com os alunos e ter domínio da sala, de modo a obter a atenção de todos. Sacristán (2008, apud ANDRADE; DE SOUSA; FALCONIER, 2013, pg. 02) diz: Grande parte dos problemas e dos temas educativos conduz a uma implicação dos professores, exigindo-lhes determinadas atuações, desenhando ou projetando sobre sua figura uma serie de aspirações que se assumem como uma condição para a melhoria da qualidade educacional. O debate em torno do professorado é um dos polos de referencia do pensamento sobre a educação, objeto obrigatório da investigação educativa e pedra angular dos processos de reforma dos sistemas educativos. CONSIDERAÇÕES FINAIS 46 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO A aprendizagem profissional da docência está relacionada com as experiências vividas e como elas são organizadas. Para Zabalza (2004, p. 222), “o sentido da aprendizagem não está na simples acumulação de informações, por mais especializada que ela seja, mas no desenvolvimento da capacidade para organizar essa informação e tirar proveito dela”. O início da carreira no magistério é bastante impactante, e se antes não houver oportunidade de se vivenciar o contexto escolar, então quando do início das atividades em sala, pode ocorrer decepção e um repensar da profissão. É fato que muitos licenciados ao ingressarem no magistério sentem grandes dificuldades e às vezes até desistem da profissão, e o porquê disso pode está relacionado à inexistência de práticas docente durante a graduação. Com tudo isso fica evidente a contribuição do PIBID para melhoria da prática pedagógica do docente. Todas as atividades complementam a formação do acadêmico, e esta deve se desenvolver de maneira contínua e exploratória se tornando uma ferramenta indispensável para se conhecer os vários problemas existentes na rede de ensino, assim como as consequências que acarretam para a aprendizagem dos alunos e na melhoria da educação. REFERÊNCIAS ANDRADE, Fernanda Gabriely; DE SOUSA, Lindeberg Ventura; FALCONIER, Antônio Gautier. Principais Dificuldades Enfrentadas pelos Professores de Química do CEIPEV e Contribuição do PIBID para Superá-las. 2013. 09 f. Dissertação (Graduação em Química), Universidade Estadual do Rio Grande do Norte, Natal. Disponível em: < http://annq.org/eventos/upload/1330465494.pdf >. Acesso em: 25 jun. 2013. LACERDA, Caroline Côrtes. Problemas de Aprendizagem no Contexto Escolar: Dúvidas ou Desafios? Disponível em: <http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=1157> Acesso em: 25 jun. 2013. ZABALZA, M. A. O Ensino Universitário: seus Cenários e seus Protagonistas. Porto Alegre: ARTMED, 2004. 47 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC A INSERÇÃO DE PRÁTICAS LÚDICAS NO ENSINO DE MATEMÁTICA: EXPERIÊNCIAS DE ATIVIDADES REALIZADAS NUMA TURMA DE ENSINO FUNDAMENTAL Camila Sousa Vasconcelos20 Márcio Nascimento da Silva21 RESUMO: Ser professor exige muito mais do que conhecimento; exige bastante planejamento e pesquisa. No ensino de matemática as dificuldades são inúmeras, mas, muitas são frutos do mal preparo dos professores que adotam, na maioria das vezes, metodologias inadequadas. Assim, o presente trabalho busca, através de uma experiência do subprojeto de Matemática do PIBID/CAPES da UVA, analisar as metodologias adotadas pelos professores de matemática da turma e pelos bolsistas do subprojeto. As observações e intervenções se deram numa turma da Escola de Ensino Fundamental Maria do Carmo Carneiro (Massapê, Ceará) e através dessas percebeu-se o quanto a inserção de práticas lúdicas, vinculadas ao ensino convencional pode ser garantia de bons resultados no processo de ensino-aprendizagem da matemática. PALAVRAS-CHAVE: Matemática. Lúdico. Inovação. INTRODUÇÃO As dificuldades enfrentadas pelo ensino e aprendizagem de matemática há muito tempo preocupam pesquisadores e educadores. Com isso muitas experiências tomaram conta das salas de aula buscando tornar a matemática mais próxima dos alunos e desmistificar o ensino dessa ciência caracterizado por seus altos índices de reprovação. Focado nessa experimentação foram desenvolvidas atividades numa escola parceira do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID - subprojeto de matemática da Universidade Estadual vale do Acaraú – UVA. O projeto orienta que os bolsistas incorporem o ambiente da sala de aula e neste desenvolvam suas atividades. Essa liberdade para realizar atividades inovadoras que muitos professores não têm no dia a dia possibilitou aos bolsistas do projeto experiências únicas, relatadas neste trabalho, com a utilização de materiais manipuláveis voltados para a realidade dos alunos em questão. Aqui serão discutidas, a partir destas experiências, as contribuições de práticas lúdicas em sala de aula e em que pontos as metodologias convencionais deixam a desejar com relação a estas. 20 Graduanda. Estudante do Curso de Licenciatura em Matemática da Univerisdade Estadual Vale do Acaraú – UVA. Bolsista PIBID/CAPES. [email protected]. 21 Mestre. Professor do Curso de Licenciatura em Matemática da UVA. Bolsista PIBID/CAPES. [email protected]. 48 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO OBJETIVOS GERAIS Além de buscar a aprendizagem dos alunos através de práticas lúdicas e utilização de materiais manipuláveis, e também desenvolver a capacidade dos bolsistas enquanto futuros professores de realizar atividades desse tipo, buscou-se observar as falhas das metodologias convencionais aplicadas na turma objeto de estudo. Através da observação das aulas do professor de matemática buscou-se constatar em que ponto elas deixam a desejar com relação à métodos inovadores e/ou satisfatórios de ensino. A partir daí objetivou-se desenvolver práticas experimentais a fim de estabelecer metodologias que possam ser utilizadas em sala de aula, minimizando os problemas enfrentados pelas atuais metodologias dominantes no ensino e aprendizagem da matemática. Através da pesquisa busca-se saber o impacto destas práticas quando inseridas em sala de aula, o quanto elas podem contribuir na aprendizagem dos alunos e se elas se tornam mais vantajosas que os modelos de aulas convencionais. METODOLOGIA Focados no ensino de matemática direcionado para práticas lúdicas mesmo em séries mais avançadas, é que foram realizadas as atividades vinculadas ao subprojeto de Matemática do PIBID/UVA numa turma da Escola de Ensino Fundamental Maria do Carmo Carneiro (Massapê, Ceará) que foi acompanhada no período de agosto de 2012 (oitavo ano) a junho de 2013 (nono ano). Através de diagnósticos de conhecimento matemático e relatos dos próprios professores da turma, notou-se que os estudantes apresentavam deficiências ainda em conteúdos básicos como operações aritméticas e equações do primeiro grau. A partir de então, foram planejadas aulas que trabalhassem esses conteúdos de uma forma diferente do modelo que vinha sendo utilizado pelos professores da turma. Um dos materiais levados para sala de aula foi a “balança de equações”, artesanalmente fabricada e que utiliza bolas de gude como unidades, trabalhando equações do primeiro grau. Seu uso consistia em equilibrar a balança e descobrir a quantidade de unidades (bolinhas de gude) ocultas numa caixa que representa o valor da incógnita Para esta atividade os estudantes foram divididos em equipes e foi realizada uma dinâmica na qual eles montavam equações utilizando a balança e desafiavam os colegas a resolvê-las. Ao final da atividade foram coletados depoimentos de alguns alunos e do professor da turma que relataram suas impressões com relação à aula. Outra atividade que buscou relacionar a matemática a elementos do cotidiano dos estudantes foi realizada com os códigos de barras presentes nos materiais escolares deles. Com esta atividade foi feito um estudo sobre as quatro operações, múltiplos e equações. Inicialmente foi aplicado um questionário que continha questões envolvendo cálculos semelhantes aos necessários no estudo dos códigos de barras. Depois foi apresentada a utilidade da matemática na segurança de nossas compras. Ao final da atividade, que se deu em dois encontros, 49 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC foi aplicado um novo questionário que continha questões do mesmo nível de dificuldade do primeiro teste, entretanto, desta vez, contextualizadas. Ainda, buscou-se mostrar aos estudantes formas diferentes de se trabalhar conteúdos matemáticos que supostamente eles já conheciam pelo método convencional. Assim, fazendo uso de papel quadriculado, réguas e lápis, trabalhou-se uma forma geométrica para calcular m.m.c. e m.d.c.; aqui, vale ressaltar a importância de se mostrar aos estudantes o porquê do método funcionar, pois, muitas vezes a aprendizagem se dá na construção dos métodos e não na sua utilização, que pode, muitas vezes, se caracterizar por memorização e mecanização, o que não é válido na busca de uma aprendizagem duradoura. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Os professores de matemática que assumiram a turma no período da realização das observações e atividades tinham um bom domínio de sala, poucas vezes perdiam o controle e também demonstravam ter uma boa relação com os estudantes. Entretanto, isso não foi suficiente para construir um aprendizado mais significativo. Os professores utilizaram metodologias que faziam uso apenas do quadro branco, pincel e livro didático e poucas vezes realizaram atividades em duplas ou em equipes. Nas aulas não se fazia a relação com a realidade dos estudantes, mas sim um ensino mecanizado, onde mesmo no oitavo ano, uma das avaliações dos estudantes se dava numa prova oral na qual era exigido destes a memorização da tabuada. No nono ano as questões apresentadas aos estudantes não eram contextualizadas, seguindo o mesmo modelo que exigia dos estudantes apenas a memorização de fórmulas e sua aplicação. Apesar do nível das questões ser de baixa dificuldade a maioria dos estudantes não conseguia compreendê-las. O que se percebe é que muitas vezes o professor assumia determinados conteúdos prévios como já compreendidos, sem constatar se de fato estes foram absorvidos pelos estudantes quando deveriam ter sido, assim, o professor cumpre seu programa de aula, enquanto os estudantes seguem com suas dificuldades. Para Sergio Lorenzato “com o objetivo de proporcionar um ensino partindo do momento em que o aluno está, precisamos considerar os pré-requisitos cognitivos matemáticos referentes ao assunto a ser aprendido pelo aluno.” (2006, p. 27). Com base nisso as atividades foram realizadas voltadas para amenizar as dificuldades dos estudantes. As atividades desenvolvidas na experimentação conseguiram, a princípio, chamar a atenção dos alunos, despertando neles a curiosidade pelo assunto. Quando fora usada a balança de equações, mostrou-se de uma forma concreta o conceito de igualdade e como se dá a resolução de equações do primeiro grau. A maioria dos estudantes não sabia solucionar equações e, até mesmo os que conseguiam resolvê-las não compreendiam sua essência, o que os levava muitas vezes ao erro. Ainda atividades como esta promovem o trabalho em equipe, possibilitando a interação entre os estudantes, o que não era permitido em aulas convencionais, embora praticado contra a vontade do professor em forma de conversas paralelas e brincadeiras inapropriadas que atrapalham as aulas. 50 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO A gestão da sala de aula corresponde a capacidade do professor para orquestrar a interação entre os alunos em situação de aprendizagem, organizando os espaços os tempos e os agrupamentos pertinentes às suas propostas didáticas, se constituindo ele mesmo em mediador entre os conteúdos escolares e aqueles trazidos pelos alunos. (FIGUEIREDO, 2010, p.8) Através da coleta de depoimentos em audiovisual do professor da turma e de parte dos estudantes, percebeu-se que estes aprovaram o modelo de aula e aprenderam ao passo que se divertiam. Isso demonstra que permitir a interação e concretizar assuntos caracterizados por sua abstração, mesmo em séries mais avançadas pode ser garantia de maior rendimento. Segundo Lorenzato “para se alcançar a abstração é preciso começar pelo concreto. Este é o caminho para a formação de conceitos.” (2006, p.20). A atividade na qual se trabalhou com os códigos de barras mostrou na aplicação do primeiro questionário, que os estudantes apresentaram sérias dificuldades para solucionar expressões matemáticas e equações do primeiro grau que envolviam parênteses, colchetes e chaves. E ainda, para determinar múltiplos, eles não sabiam qual o significado desta palavra. Na realização da atividade os estudantes se mostraram atentos e participaram bem. A todo momento eram instigados a participar e levados a pensar. Ao final foi aplicado o segundo questionário, que continha questões embutidas nos códigos de barras e a maioria dos estudantes conseguiu solucioná-las, diferentemente do primeiro teste. Com isso pode-se notar que não se deve subestimar a capacidade intelectual dos alunos; estes tem a capacidade de criar e descobrir fórmulas e esta capacidade não pode ser atrofiada através de atividades mecânicas que trabalhem tão somente a memorização. Na aula em que se realizou um estudo de m.d.c. e m.m.c. esperava-se apenas mostrar aos estudantes uma forma diferente para um cálculo que supostamente eles já tinham domínio, afinal, ao observar as aulas destes estudantes, viu-se o professor utilizar-se destes dispositivos na resolução de questões. Entretanto, quando questionados sobre o assunto, poucos se arriscaram a responder o que significa, muito menos como calculá-los. Devido às dificuldades apresentadas pelos estudantes, antes de se realizar a atividade foi feita uma explicação dos conteúdos, onde foram explorados conceitos de divisores e múltiplos comuns, para depois definir-se m.m.c. (mínimo múltiplo comum) e m.d.c. (máximo divisor comum). A partir de então, mostrou-se aos estudantes como calculá-los usando papel quadriculado. Eles participaram bem da atividade e mostraram boa vontade em aprender, o que garantiu bom resultados. O professor da turma já havia relatado as dificuldades que ele, seus colegas professores e direção tinham para lidar com determinados estudantes que apresentavam envolvimento com drogas – lícitas e ilícitas – e o que se via era estes estudantes serem ignorados mesmo quando não estavam sob o efeito delas. Porém, na atividade com papel quadriculado, viu-se que tais estudantes participaram tanto quanto os outros. A principio demonstraram certa resistência, mas ao passo que lhes foi dado atenção, estes se sentiram motivados e realizaram a atividade, até interagindo com os bolsistas. 51 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC As práticas aqui descritas evidenciaram que mesmo o professor sendo um bom profissional, tendo bom domínio do conteúdo e da turma, suas metodologias determinam a aprendizagem dos estudantes. Porém, trabalhar com novas metodologias requer bastante planejamento a fim de que a prática proporcione conhecimento e não apenas diversão. CONSIDERAÇÕES FINAIS Trabalhar com o ensino de uma disciplina tão complexa quanto a matemática requer bastante preparo e conhecimento, entretanto, as exigências vão além disso, pois uma turma de alunos “perfeitos” que vão para a escola com o único objetivo de serem obedientes, atentos e participativos as aulas, não existe. O professor precisa tomar conhecimento das diversidades de sentimentos e interesses que estão em uma sala de aula e, só a partir disso, planejá-las. Faz-se necessário entender que um modelo de aula não é o melhor para todos os alunos. Para Lorenzato “As diferenças individuais precisam ser consideradas pelos professores, mesmo reconhecendo que elas são complicadores para a prática pedagógica, pois seria mais fácil se todos os alunos fossem iguais.” (2006, p. 33). A diversidade é tamanha que o professor não pode se dar ao luxo de adotar uma única metodologia e trabalhar sempre com esta. O que funciona numa turma pode não ser bom para outra, o que agrada a um aluno pode desfavorecer a outro e é preciso estar atento a isso para que se possa conseguir levar de fato o conhecimento a qualquer um. É preciso sempre inovar, trabalhar com o lúdico, mas também atrelado ao convencional. Não existe receita pronta para se trabalhar determinado conteúdo; o professor deve buscar conhecer sua turma e a partir disso planejar suas atividades, mostrando aos estudantes que a função que a matemática exerce na vida deles vai muito além de tirar notas boas em avaliações que apenas medem a capacidade de memorização dos estudantes. Não se pode tirar o direito dos estudantes de aprender. Uma criança passa no mínimo 11 (onze) anos de sua vida frequentando uma escola; como pode esta se eximir do papel de educadora e formadora de cidadãos? É preciso, enquanto professores e educadores despertar nos estudantes a sede de conhecimento natural do ser-humano, a curiosidade, a vontade de realizar descobertas e, com isso, tudo ficará mais interessante, até mesmo uma disciplina detestada por muitos. REFERÊNCIAS LORENZATO, S.(2006). Para aprender matemática. 3.ed.rev. – Campinas, SP: Autores Associados, 2010. Coleção formação de professores. FIGUEIREDO, R. V. A escola de atenção às diferenças. Salto para o futuro – TV Escola. 2010. < http://www.tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/19131803-Escoladiferencas.pdf>. Acesso em 12 de julho de 2013. 52 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO R: UMA FERRAMENTA PARA EXPLORAR A INTERDISCIPLINARIDADE ENTRE A MATEMÁTICA E A GEOGRAFIA Luana de Sousa Sales22 Marcílio Dadson dos Santos23 Márcio Nascimento da Silva24 Nilton José Neves Cordeiro25 RESUMO: O presente trabalho procura mostrar a possibilidade de ensinar alguns tópicos de matemática, mais precisamente trigonometria esférica de maneira interdisciplinar com geografia apoiados com suporte computacional. Após uma revisão bibliográfica de conteúdos de trigonometria esférica, de uma busca e utilização de um software de qualidade e que pudesse dar assistência à resolução de questões, o qual foi o R, e da criação de um banco de dados de questões, concluiu-se que é viável e que pode ser muito atraente e proveitoso ensinar alguns temas de matemática de maneira interdisciplinar com a geografia, com um suporte tecnológico adequado. PALAVRAS-CHAVE: Ensino de matemática. Interdisciplinaridade. Software R. Geografia. Trigonometria Esférica. INTRODUÇÃO Mesmo nos dias de hoje não é difícil encontrar alunos cursando Matemática no ensino superior que se questionem e/ou indaguem seus professores sobre a utilidade de alguns conteúdos, ou ainda, para quê servem e aonde se aplicam. Um fator que pode ser relevante para este tipo de situação é a falta de habilidade por parte de alguns professores em articular a Matemática com outras áreas do conhecimento, como a Geografia, por exemplo. Partindo dessas premissas, deve-se fazer com que o ensino esteja diretamente ligado, também, ao interesse e a necessidade dos alunos. Assim, a reflexão e a busca por estratégias para 22 Graduanda. Licenciatura em Matemática da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. [email protected] 23 Graduando. Licenciatura em Matemática da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. [email protected] 24 Mestre. Professor do curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. [email protected] 25 Mestre. Professor do curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. [email protected] 53 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC que o professor consiga trabalhar bem em sala de aula, articulando o conteúdo que deve ser repassado com ferramentas e temáticas diversas, inclusive as do cotidiano, podem ser de grande valia, tornando o ensino/aprendizagem mais atraente. Desta forma, esse trabalho pretende apontar meios para integrar Matemática e Geografia de uma maneira que seja atraente para professores e alunos. Como o uso de computadores já é algo comum na vida das pessoas e os softwares em sala de aula são uma realidade, o que está posto aqui é uma proposta interdisciplinar com o uso do software R. OBJETIVOS GERAIS Este trabalho objetiva mostrar que é possível ensinar Matemática de maneira interdisciplinar com a Geografia através de um suporte tecnológico para tornar esta tarefa mais prazerosa e eficiente. Ainda, fazer com que o professor repense sua prática docente, de tal sorte, se possível, não somente ensinar matemática por ela mesma, mas, segundo Silva (2010), trabalhar várias áreas num mesmo assunto, bem como ultrapassar o escopo de lousa e pincel e utilizar novas tecnologias no seu exercício como professor. METODOLOGIA O projeto teve sua motivação inicial a partir da experiência obtida na elaboração, por um dos autores deste trabalho, de um material introdutório sobre Trigonometria Esférica em 2010. Esta espécie de apostila tinha como objetivo complementar a formação acadêmica dos estudantes da Licenciatura em Matemática da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA, em Sobral, onde os assuntos que ali constavam seriam repassados por meio de seminários. Havia tópicos como História da Trigonometria, Geodésicas, conceitos basilares de trigonometria esférica, Teorema de Girard, Lei dos Cossenos, Triângulo Esférico Reto, Triângulo Polar, etc.. Na feitura dos seminários percebeu-se que estudantes tiveram algumas dificuldades/resistências na abordagem de alguns dos conteúdos apresentados. A partir daí, juntaram os esforços do Laboratório de Ensino de Matemática da UVA (LEMA) e do Laboratório de Estatística e Matemática Aplicada da UVA (LEMAP), para se pensar numa estratégia de como ensinar tópicos de Trigonometria Esférica de maneira mais prazerosa e produtiva. O primeiro passo consistiu em a equipe reexaminar tópicos de trigonométrica esférica que foram necessários para a composição do material elaborado pelo professor, e, em seguida, revisar a própria apostila na busca de aperfeiçoá-la. A segunda etapa foi buscar um software que pudesse auxiliar no ensino de matemática, especificamente tópicos de trigonometria esférica. Contudo, características de alta qualidade, gratuidade e o fato de ser open source também foram buscadas. A terceira etapa consistiu em buscar situações explícitas onde a Matemática e Geografia se entrelaçassem no que tange à trigonometria esférica. Fora feita uma busca exaustiva em questões de vestibulares, exames nacionais oficiais como ENEM e ENADE de forma a coletar um portfólio 54 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO razoável de quesitos que potencialmente proporcionariam uma abordagem matemática mais palpável e agradável, implicando numa aprendizagem melhor. Por fim, procurou-se aplicar a potencialidade do software na resolução dessas questões, de modo a concretizar a interdisciplinaridade entre Matemática e Geografia apoiada pelo ferramental tecnológico. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Na revisão dos conteúdos de trigonometria esférica, bem como na análise da apostila elaborada pelo professor, fora percebido que não haveria necessidade de alterações, no que tange aos conteúdos propostos. Assim, acreditou-se que o elenco de temas previamente selecionado seria adequado para uma INTRODUÇÃO à trigonometria esférica. Quanto ao software, encontrou-se como útil e adequado o R, onde CORDEIRO et. al. (2011) afirmam que o mesmo aborda uma diversidade grande de áreas tais como Estatística, Matemática, Química, Ecologia, ainda acrescentado a Geografia, pois, por exemplo, disponibiliza um pacote, chamado Geosphere, que implementa funções de trigonometria esférica para aplicações geográficas. Aliado a tudo isso, este software apresenta qualidades como: é um software absolutamente gratuito e de livre distribuição; é usado nas plataformas Windows, Linux e Macintosh; a sua implementação pode ser estendida através de pacotes adicionais que são continuamente disponibilizados por colaboradores; é permitida a criação e modificação de funções; constantemente surgem versões mais atuais e completas; há um vasto conteúdo em manuais oficias e gratuitos. Assim, a equipe trabalhou arduamente neste software/pacote para extrair o máximo de aplicações que ele poderia fornecer para o ensino de matemática. Quanto ao banco de dados das questões, fora feita uma busca intensa na internet no intuito de encontrar a maior quantidade de material possível que se encaixasse na temática proposta: ensinar Matemática juntamente com a Geografia. Encontrou-se uma boa quantidade de quesitos onde se pensou incialmente: em vestibulares de diversas universidades e faculdades do país, bem como em itens do ENEM e ENADE. Todo item que era encontrado por alguém da equipe, era bastante debatido e investigado se e em qual tópico da trigonometria esférica poderia se encaixar. Vale ressaltar que este banco de dados foi fortalecido com questões que sofreram pequenas alterações dos autores deste trabalho para que a partir dessas modificações elas pudessem ficar contextualizadas na abordagem da trigonometria esférica, além de quesitos integralmente criados. Por fim, aliando a revisão da literatura, com o estudo do software e o levantamento/construção de itens, pode-se chegar a resultados excelentes tais como o exposto a seguir: 55 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Exemplo: esta é uma adaptação de uma questão do vestibular de 2004-Verão da PUCRS. A única alteração é que foram substituídos os valores de longitude 150 por 70. Nota-se, sem dificuldades, que a mesma tem o objetivo de perceber conhecimentos acerca de Latitude e Longitude, bem como de localização geográfica no Globo. Entretanto, o viés da matemática superior pode ser empregado aqui para passar conhecimentos além da Geometria Euclidiana, por exemplo, o comprimento de um segmento de curva que une dois pontos numa esfera (Geometria Esférica): Se duas cidades, A e B, estiverem sobre a Linha do Equador, nas longitudes 70 Oeste e 70 Leste, elas terão, em relação a outras duas cidades, C e D, localizadas nas mesmas longitudes, porém sobre o Círculo Polar Ártico, A) a mesma distância em metros, pois as latitudes são iguais. B) a distância, em metros, maior, pois os meridianos convergem para os pólos. C) a distância, em graus, diferente, pois nos pólos não há paralelos. D) a distância, em metros, menor, pois a Terra é achatada ao longo da linha do Equador. E) a distância, em graus, diferente, pois as longitudes são as mesmas Através de recursos disponíveis no R através do pacote Geosphere, pôde-se criar o gráfico exposto na Figura 1. Vale salientar que o apelo visual na construção da resposta do que é solicitado é de grande valia para uma melhor assimilação e aceitação do conteúdo. Figura 11 Esboço da situação descrita no Exemplo. O Mapa Mundi é utilizado para ilustrar a situação, mostrando o posicionamento das quatro cidades, A, B, C e D. Além disso, a menor distância entre as cidades A e B é indicada pela linha contínua, uma vez que ambas estão situadas no equador (círculo máximo de latitude 0). Já a menor distância entre as cidades C e D é indicada através da parte superior da linha tracejada que as une, 56 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO que é a forma planificada sobre o Mapa Mundi de um grande círculo do globo terrestre contendo as cidades C e D. Utilizando o comando distCosine no R, que calcula a menor distância entre dois pontos num Grande Círculo, tem-se, em metros: > distCosine(a,b) [1] 15584729 > distCosine(c,d) [1] 4886948 Aqui, os parâmetros a, b são inseridos em graus e é usada a Lei dos Cossenos na sua versão esférica, pois é assumindo que a Terra é uma esfera. Desta forma, vê-se que a distância entre as cidades A e B (15.584,73 km) que estão no Equador é maior que a distância entre as cidades C e D (4.886,95km) que estão no Círculo Polar Ártico, mesmo sendo as “distâncias” em graus as mesmas, sendo, portanto o item “b” o correto. Assim, buscou-se ilustrar com essa qualidade e clareza, vários dos tópicos de trigonometria esférica. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ainda encontramos, sem grandes dificuldades, na docência de Matemática no ensino superior, a pura tecnicidade muito presente e a falta de preocupação do professor em aprimorar sua prática docente para que ela fique mais acessível para o estudante. Em relação ao ensino básico, Brasil (2000) diz que a interdisciplinaridade do aprendizado científico e matemático não dissolve nem cancela a indiscutível disciplinaridade do conhecimento. Contudo, é percebido que isto também se aplica à matemática superior, pois fora visto aqui que se há um pouco de dedicação e interesse é possível construir metodologias de ensino, independente de ser de nível escolar ou superior, que prendam e despertem a atenção e o prazer de aprender. Assim, a seleção adequada de temas de trigonometria esférica, imersos em situações práticas e vivenciadas em geografia, apoiados pelo suporte do software R, criam um ambiente favorável para o ensino de matemática. REFERÊNCIAS BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, Brasília: MEC, 2000. CORDEIRO, N. J. N.; SOUSA, R. T. de; SILVA, M. N. da. R: um recurso para o ensino de matemática. In:Encontro Sergipano de Educação Básica, 5., 2011, Aracajú. Anais...Aracajú: UFS, 2011. 1 CD-ROM. SILVA, F. S. da. O ENEM e a Interdisciplinaridade no Ensino da Matemática. Revista Episteme Transversalis – V.1, N. 1, 2010. 57 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC ÁLGEBRA MATRICIAL: EXPERIÊNCIA DE ENSINO EM UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA NO INTERIOR DO CEARÁ Márcio Nascimento da Silva26 RESUMO: O presente trabalho relata uma experiência de ensino vivenciada no curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Estadual Vale do Acaraú, localizada em Sobral, interior do Ceará. Álgebra Matricial é uma das novas disciplinas implantadas no mais recente projeto pedagógico do curso cujo objetivo principal é o de preparar melhor os futuros docentes que estarão em ação nas escolas da Região Norte do estado. Para o caso específico da disciplina em questão, buscouse como referência as Orientações Curriculares para o Ensino Médio em detrimento do que é feito pela grande maioria dos livros didáticos em uso nas escolas da região, isto é, a sequência adotada foi sistemas lineares, matrizes e determinantes para os conteúdos relacionados à álgebra matricial. Apesar de recém-chegados à universidade os estudantes se desenvolveram bem e foram não somente abastecidos com a teoria, mas também levados à reflexão sobre o ensino destes conteúdos na educação básica e convidados a um rompimento do que é apregoado pela maioria dos livros didáticos em uso. PALAVRAS-CHAVE: Ensino. Matrizes. Sistemas Lineares. Determinantes. INTRODUÇÃO Por Álgebra Matricial, entenda-se o estudo de sistemas lineares, matrizes e determinantes. Embora as Orientações curriculares para o ensino médio (BRASIL, 2006) sugiram que primeiro seja feito o estudo de sistemas lineares para só depois ser realizado o estudo de matrizes, a maioria dos livros didáticos ainda trata esses conteúdos na seguinte ordem: matrizes, determinantes e sistemas. Tomar como ponto de partida a apresentação de números dispostos em forma de tabela e, depois, definir operações e constatar certas propriedades com esses objetos é a forma como as matrizes são abordadas com os estudantes no ensino médio. Isso torna o aprendizado bastante mecânico, uma vez que num primeiro momento, não se sabe a utilidade desses elementos. O estudo de determinantes é feito logo em seguida ao de matrizes e antes de sistemas lineares, podendo causar a – falsa – impressão de que são imprescindíveis para a resolução de sistemas. Mais ainda, o uso de técnicas para a resolução que não se aplicam a todos os tipos de sistemas lineares, é muitas vezes realizado em detrimento a outras ferramentas que são mais práticas e abrangentes. 26 Mestre. Professor do curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. [email protected] 58 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO Considerando as Orientações curriculares para o ensino médio e a experiência realizada na disciplina de Álgebra Matricial do primeiro semestre do curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA, localizada em Sobral, interior do Ceará, viu-se que tomar como ponto de partida os aspectos históricos que cercam estes conteúdos, pode ser um importante fator para que o estudante no ensino médio tenha um aprendizado menos traumático. OBJETIVOS GERAIS O presente trabalho visa relatar uma experiência vivida num curso de licenciatura em Matemática e levar a uma reflexão sobre como os conteúdos sistemas lineares, matrizes e determinantes devem ser trabalhados no ensino médio. Um pensar sobre como tais assuntos foram desenvolvidos ao longo da historia é o ponto de partida para uma forma mais eficaz de se trabalhar tais tópicos em sala de aula. Espera-se, também, que de alguma forma o professor possa pensar na possibilidade de romper com modelo pré-existente, pois “apesar do considerável aumento no número de “componentes curriculares” do ensino médio nos últimos anos, mantém-se nas novas diretrizes o discurso da necessidade de um currículo mais flexível, menos engessado.” (Moehlecke, p. 54, 2012) METODOLOGIA Em meados de 2010, o corpo docente do curso de Licenciatura em Matemática da UVA iniciou os trabalhos para a implantação de um novo projeto pedagógico. A principal preocupação era a de se encontrar uma forma para que os estudantes fossem realmente preparados para a docência, aliando conhecimento teórico, reflexão e prática. Nesta perspectiva, a nova matriz curricular foi pensada de maneira que os primeiros quatro semestres pudessem servir de base para o restante do curso e, ao mesmo tempo, a passagem do ensino médio para o ensino superior fosse mais suave; procurou-se fazer uma seleção de disciplinas que realmente atendessem aos anseios dos que futuramente serão professores, levando em conta, também, as deficiências herdadas de um ensino básico ainda cheio de lacunas. Uma das disciplinas pensadas para este bloco foi a de Álgebra Matricial, vista no primeiro período e que se destina ao estudo de sistemas lineares, matrizes e determinantes. No primeiro semestre de 2013, o autor deste trabalho foi o responsável por ministrar tal disciplina no curso de Licenciatura em Matemática da UVA. Nos encontros, os estudantes eram convidados não somente ao estudo dos conteúdos, mas também a uma reflexão frequente sobre a sequência proposta nas Orientações curriculares para o ensino médio e a viabilidade e consequências de se implantar tal método nas escolas. Embora alguns professores tenham consciência e busquem deliberadamente desenvolver uma prática que reproduza ou cultive suas crenças e valores, outros – e provavelmente em maior número – não percebem que, além Matemática, ensinam também um jeito de ser pessoa e professor, isto é, um modo de conceber e estabelecer relação com o mundo e com a Matemática e seu ensino. (FIORENTINI, p. 110, 2005) 59 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Obviamente, nesta disciplina, os conteúdos foram vistos na sequência indicada em Brasil (2006), isto é, iniciando com os sistemas lineares e depois matrizes. Em verdade, iniciou-se com uma abordagem histórica, partindo dos primeiros indícios dos sistemas lineares com os chineses. Vale ressaltar que as Orientações curriculares para o ensino médio recomendam a dispensa do conteúdo determinantes no ensino médio, mas este assunto foi abordado via permutações, com o intuito de se ter uma “definição única” para o determinante de matrizes quadradas de qualquer ordem. O texto tomado como base para a disciplina foi Matrix Analysis and Applied Linear Algebra de Carl Dean Meyer. Além dos encontros semanais, foram disponibilizadas vídeo aulas com resumos do conteúdos vistos em sala, listas de exercícios na página da disciplina – que é abrigada na página do curso – bem como de monitoria em horários alternativos. Também foi criado um grupo dentro de uma famosa rede social para que os estudantes pudessem tirar dúvidas ou discutir assuntos ligados à disciplina. Já a forma de avaliação, consistiu de provas individuais em datas divulgadas no início do semestre letivo, exercícios que deveriam ser entregues por e-mail e também de uma bonificação proporcional à frequência em sala de aula. Ao final da disciplina, os estudantes realizaram uma avaliação acerca da metodologia empregada, dos pontos positivos e negativos, desempenho individual, como também críticas e sugestões. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Como já mencionado anteriormente, a disciplina de Álgebra Matricial é ministrada no primeiro semestre do curso de Licenciatura em Matemática da UVA. Desta forma, os estudantes são em sua maioria jovens que ainda trazem consigo muitas características e costumes típicos do ensino médio. Posto isso, foi preciso considerar que o processo de reflexão a ser praticado na disciplina poderia levar algum tempo até ser assimilado pela turma, uma vez que discutir a forma de ensinar um conteúdo matemático em uma disciplina não propriamente pedagógica é algo novo até mesmo no curso de Licenciatura em Matemática da UVA. Iniciando com fatos históricos sobre o surgimento dos sistemas lineares, viu-se que os primeiros indícios remontam cerca de 200 a.C., mas especificamente de um registro feito numa antiga obra chinesa – Nove capítulos sobre aritmética – na qual é apresentado um problema que, na linguagem atual, é representado por um sistema linear de três equações e três variáveis. Usando este fato como motivação, foram definidas as equações lineares e posteriormente os sistemas de equações lineares – ou simplesmente sistemas lineares. Em seguida passou-se à busca por existência de soluções e, havendo, a determinação destas. O método utilizado foi basicamente o da eliminação gaussiana. Também foi usado o método de Gauss-Jordan, que nada mais é do que uma variação do primeiro. Nesse momento, os estudantes perceberam que as variáveis eram escritas, mas não necessárias, uma vez que a manipulação se dava exclusivamente com os coeficientes; daí passouse a resolver os sistemas apenas com os números e para que a disposição dos coeficientes ficasse mais organizada, definiu-se matriz. 60 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO Aqui, enveredou-se pelo caminho da manipulação com matrizes e ficou evidente que a eliminação gaussiana e/ou método de Gauss-Jordan poderia resolver muitos problemas como inversão de matrizes, por exemplo. Alguns estudantes relataram que no ensino médio usaram apenas um método trabalhoso e que não poderia ser usado para a resolução de um sistema qualquer. No entanto, a turma, como um todo, reconheceu o poder da eliminação gaussiana para tratar de dois assuntos, a princípio, distintos: sistemas lineares e inversão de matrizes. Também, a turma atentou para o fato de que até então, não havia necessidade de se aplicar o conceito de determinantes. A Regra de Cramer e a determinação de uma matriz adjunta transposta eram dispensáveis; um único método, o de Gauss-Jordan, poderia ser usado, acarretando menos carga ao estudante no ensino médio e otimizando o tempo do professor para que ele possa trabalhar melhor tais conteúdos. Como o objetivo da disciplina não se limita à resolução de sistemas lineares, mas se destina, também, ao que virá dentro do próprio curso de licenciatura em Matemática, o conteúdo determinantes foi abordado. Para tal assunto, usou-se a definição via permutações, que possibilita uma definição única – sem usar recorrência – independente da ordem da matriz quadrada. A partir da definição, os próprios estudantes puderam construir as regras para os casos particulares, especialmente o de matrizes 2x2 e 3x3. Assim, mesmo sabendo que dificilmente usarão este conceito na sala de aula do ensino médio, os discentes tiveram a oportunidade de saber como chegar aos resultados e fórmulas tão usadas. Paralelamente ao que vinha se desenvolvendo nos encontros em sala de aula, foram disponibilizadas 14 vídeo aulas com resumos dos conteúdos vistos (exceto sobre determinantes). Os audiovisuais foram produzidos pelo próprio professor da disciplina, em parceria com o LAVID27 e mantendo-se, assim, a mesma linguagem de sala de aula. Com isso o estudante teria a sua disposição um material didático que poderia ser revisto tantas vezes quanto necessário. Esse material, disponível na internet, ajudou não somente na disciplina em questão como também tem chegado a diversos estudantes em vários locais do Brasil, que têm entrado em contato tirando dúvidas. Também estavam à disposição da turma, dois monitores – estudantes de semestres mais avançados do curso – que em horários alternativos e pré-determinados estavam à espera dos alunos da disciplina para resolução de questões e esclarecimento de dúvidas. Apesar de, em média, apenas cerca de 10% da turma ter comparecido aos encontros, estes o fizeram de uma maneira razoavelmente regular. No que tange a forma de avaliação, pode-se considerar que a experiência foi positiva, levando-se em conta o choque que é para a maioria dos ingressantes o novo – para eles – sistema de avaliação. De um universo de 43 matriculados, 18% desistiram em algum momento antes do final da disciplina e dentre os que permaneceram, houve uma aprovação de mais de 83%. 27 Laboratório de Vídeos Didáticos do curso de Licenciatura em Matemática da UVA– www.matematicauva.org/lavid 61 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Na avaliação da disciplina, que foi realizada ao final do semestre por cada estudante individualmente e sem identificação, também aparecem indícios de que o método usado foi satisfatório. Vinte e três alunos participaram desta avaliação e 95% afirmam que o conteúdo visto auxiliará quando do exercício da docência no futuro. Quando questionados se a sequência adotada na disciplina poderia ser aplicada na escola, mais de 78% disseram que sim, enquanto os demais apresentaram dúvidas, principalmente devido a possíveis entraves vindo do núcleo gestor da escola. Já quando perguntados quanto às condições de se continuar estudando sobre o assunto, 13% afirmam que não se sentem preparados, pois o conteúdo ou a forma como foi apresentada, se constituiu com algo completamente novo e seria necessário rever o assunto antes de continuar os estudos a cerca do tema. CONSIDERAÇÕES FINAIS Assim como em muitos outros conteúdos, a parte relacionada às matrizes e sistemas lineares geralmente se apresenta como problema para muitos estudantes devido a forma como são trabalhados em sala de aula tais assuntos. Geralmente o professor opta por uma abordagem puramente técnica, valorizando as fórmulas em demasia. A experiência na disciplina de Álgebra Matricial do curso de Licenciatura em Matemática da UVA mostra que o professor pode escolher outro caminho, no qual o estudante com menos informação tem maior autonomia. Além disso, foi possível refletir e discutir vários aspectos que foram além do conteúdo a ser ministrado em sala de aula pelos futuros professores. Pode-se dizer que a turma encerrou o semestre convicta de que o melhor caminho para abordar Álgebra Matricial na escola é abordando primeiramente os sistemas lineares; e usando apenas os métodos de eliminação gaussiana. Também vale ressaltar a importância dada aos que contribuíram para o desenvolvimento dessas áreas ao longo do tempo, pois como afirma Meyer (2000), tratar a matemática sem uma contextualização histórica tende a desumanizá-la. REFERÊNCIAS BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Ciências da Natureza, matemática e suas tecnologias: Orientações curriculares para o ensino médio, v. 2. Brasília: MEC, 2006. FIORENTINI, Dario. A formação matemática e didático-pedagógica nas disciplinas da licenciatura em matemática. Revista de Educação PUC-Campinas, n. 18, 2012. MEYER, Carl Dean. Matrix Analysis and Applied Linear Algebra Book and Solutions Manual. SIAM, 2000. MOEHLECKE, Sabrina. O ensino médio e as novas diretrizes curriculares nacionais: entre recorrências e novas inquietações. Revista Brasileira de Educação, v. 17, n. 49, p. 39-58, 2012. 62 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO O JOGO DAS QUADRÁTICAS Maria de Lourdes Estevão da Silva28 Márcio Nascimento Silva29 RESUMO: Trata-se de uma experiência desenvolvida pelos bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência (PIBID) do Curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), localizada na Cidade de Sobral, no Estado do Ceará. Foi trabalhado com alunos de Ensino Médio, precisamente com alunos de 2º ano da Escola de Ensino Fundamental e Médio Ministro Jarbas Passarinho, executado no mês de Setembro em dois encontros. Nesse projeto foi trabalhado com um jogo de cálculo mental, com o nome de JOGO DAS QUADRÁTICAS, cuja finalidade foi trabalhar as equações quadráticas juntamente com as quatro operações fundamentais da matemática (adição, subtração, multiplicação e divisão) desenvolvendo o raciocínio, calculo mental e estratégia. Os alunos trabalharam a construção do jogo, estudaram os assuntos que foram abordados com o jogo, no caso as equações quadráticas acompanhadas das quatro operações, e por último, jogaram utilizando a matemática. A execução do projeto foi registrada em forma de audiovisual que posteriormente será publicado no canal Youtube do Curso de Matemática da UVA. PALAVRAS-CHAVE: Recurso didático; Equações quadráticas; Quatro operações; Raciocínio lógico. INTRODUÇÃO Este trabalho trata-se de um projeto chamado, criação de recursos didáticos PIBIDMATEMÁTICA-UVA, motivado pela coordenação do subprojeto de Matemática do PIBID-UVA2009 e aplicado por bolsistas que desenvolvem atividades na escola Ministro Jarbas Passarinho nos dias 11 e 21 de setembro de 2012. O objeto didático que será descrito a seguir foi criado para facilitar a aprendizagem do aluno em matemática e para facilitar a aula de muitos professores que não conseguem repassar a disciplina de uma maneira mais compreensível. Tal objeto refere-se a um jogo de cálculo mental, denominado Jogo das Quadráticas, que requer um bom entendimento sobre as equações quadráticas e um raciocínio rápido para a utilização das quatro operações. 28 BOLSISTA PIBID/CAPES e discente do curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA ([email protected]) 29 BOLSISTA PIBID/CAPES e coordenador de área do PIBID/Matemática/UVA (má[email protected]) 63 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Os jogos constituem uma forma interessante de propor problemas, pois permitem que estes sejam apresentados de modo atrativo e favorecem a criatividade na elaboração de estratégias de resolução e busca de soluções. Propiciam a simulação de situações problema que exigem soluções vivas e imediatas, o que estimula o planejamento das ações; possibilitam a construção de uma atitude positiva perante os erros, uma vez que as situações sucedem-se rapidamente e podem ser corrigidas de forma natural, no decorrer da ação, sem deixar marcas negativas. (PCN, 1998, p.46) A finalidade deste projeto está ligada a mais uma etapa da capacitação dos alunos bolsistas, já que ultimamente estes passaram por formações (palestras, minicursos, oficinas) e observações/intervenções em sala de aulas nas escolas participantes do projeto. Daí foi a proposta a construção de recursos didáticos aptos a trabalhar com a matemática. O jogo em sala de aula é uma ótima proposta pedagógica porque propicia a relação entre parceiros e grupos, e, nestas relações, podemos observar a diversidade de comportamento dos educandos para construir estratégias para a vitória, como também as relações diante da derrota. (PETRY & QUEVEDO, 1993, p.34-35). A execução do projeto foi registrada em fotos e vídeos que serão transformados em um audiovisual para ser divulgado no canal Youtube do LAVID (Laboratório de Vídeos Didáticos do Curso de Matemática da UVA), para servir como mostra dos trabalhos do PIBID e como contribuição para ajudar futuros bolsistas e docentes que se interessam pela disciplina. OBJETIVOS GERAIS O presente recurso didático visa trabalhar com as equações quadráticas juntamente com as quatro operações, desenvolvimento do raciocínio e criação de estratégias. METODOLOGIA O projeto em si foi dividido em três momentos: o da seleção dos alunos, da construção do jogo das quadráticas junto com um teste envolvendo as equações quadráticas e o da aplicação dos conceitos das equações quadráticas e as quatro operações fundamentais da matemática que seriam exploradas no jogo. Para a execução do projeto foi feito, de inicio, os convites aos alunos do segundo ano do ensino médio e os interessados fizeram logo sua inscrição para participar dos encontros. Do total dos inscritos, compareceram 70% dos alunos. Os encontros ocorreram em dois dias, no mês de Setembro, cada um deles com duração média de três horas. No primeiro encontro foi apresentado o projeto aos alunos e em seguida foi feito um teste onde foram abordadas questões relacionadas às equações quadráticas, sendo que os alunos resolveram e entregaram aos bolsistas. Após a resolução do teste os estudantes foram divididos em duas equipes, onde cada equipe orientada por um bolsista construiu o jogo. Para a confecção dos jogos, necessitaram dos seguintes materiais: papelão, isopor, papel emborrachado, folhas brancas ou coloridas, tinta, plástico adesivo, fita adesiva, pincéis, régua, cola e tesoura. 64 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO O jogo das quadráticas é constituído de: um tabuleiro (Figura 1), 25 fichas de uma cor, 25 fichas de outra cor e 3 dados. Figura 12 Jogo das quadráticas O tabuleiro é formado com os possíveis resultados das sentenças formadas com os números dos dados utilizando as quatro operações. As faces dos dados contem equações quadráticas como mostra a Figura 13. Figura 13 Equações quadráticas Cada equação equivale a uma das raízes de 1 à 6, sendo só válidas os valores positivos. O jogo em si é composto pelas seguintes regras: Dois participantes que jogam alternadamente; Define-se o número de pontos mínimo para se conhecer o vencedor; Os dados são arremessados e o jogador deve resolver a equação estampada na face que ficar para cima de cada um dos dados; Com as respostas obtidas no passo anterior, o jogador deve compor tais números com as quatro operações com o objetivo de obter um dos números do tabuleiro. Um ponto é obtido ao se colocar uma ficha num espaço desocupado que seja adjacente a um espaço com uma ficha já colocada (horizontalmente, verticalmente ou diagonalmente); 65 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Se um participante achar que não é possível formar uma sentença com suas respostas obtidas a partir do lançamento do dado, ele pode passar a vez. Se o seu adversário conseguir formar a sentença, ganha o dobro do número de pontos. Caso contrário, lança o dado para realizar a sua própria jogada. O jogo termina quando o jogador conseguir atingir o número de pontos definidos no início do jogo ou ao colocar 5 fichas de mesma cor em linha reta [horizontal, vertical ou diagonal] sem nenhuma ficha do adversário intervindo. Figura 15 Marca ponto Figura 14 Não marca ponto A construção do jogo foi bem prática. Com o isopor eles construíram o tabuleiro e com os pincéis escreveram os números. Já o papel emborrachado foi usado para confeccionar as 50 fichas em duas cores diferentes. Os dados foram feitos com o papelão, sendo estes revestidos com as folhas de papel para que em seguida fossem estampadas as equações em suas faces. Finalizaram cobrindo com plástico adesivo os dados para uma melhor conservação. No segundo encontro, com o jogo das quadráticas, já construído, foram apresentadas as regras, e para dar início ao jogo, foi feito uma revisão sobre as equações quadráticas e sua relação com o jogo. Depois de revisadas as equações quadráticas e as regras do jogo, foi escolhido um integrante de cada equipe para representá-los no jogo, sendo que os demais integrantes podiam ajudar. A equipe vencedora ganhou um premio surpresa como gratificação. Para o encerramento do projeto foi coletado em forma de vídeo depoimento de um dos alunos sobre o que ele achou do desenvolvimento do projeto, que proveito ele teve ao participar e sobre a contribuição dos bolsistas na escola. DISCURSÃO DOS RESULTADOS No decorrer da aplicação do projeto os alunos se depararam com algumas dificuldades, mas nada desestimulador. Na construção do jogo todos se mostraram bastante entusiasmados e interessados em confeccioná-lo, seguindo a orientação dos bolsistas e a partir de um jogo já construído pelos bolsistas que serviu de modelo. As maiores dificuldades encontradas foram no conteúdo revisado, pois a maioria não lembrava mais como resolver uma equação do segundo grau, não lembravam como identificar os 66 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO coeficientes das equações e nem da fórmula mais conhecida para resolver tais equações, que é a fórmula de Báskara. Mas após a revisão com as explicações e exemplos resolvidos eles mostraram que esse esquecimento era apenas falta de prática, o que não deveria ocorrer, já que se trata de uma ferramenta utilizada com frequência no decorrer do ensino médio. Quanto ao entendimento do jogo, enquanto alguns alunos conseguiram compreender rapidamente a partir das primeiras instruções, outros necessitaram de mais detalhes e demonstrações. Quando começaram a jogar tiraram algumas dúvidas e o jogo seguiu normalmente até que se chegasse ao fim. A participação em jogos de grupo também representa uma conquista cognitiva, emocional, moral e social para o estudante e um estímulo para o desenvolvimento de sua competência matemática. (PCN, 1998, pag. 47). A partir do desafio de vencer o jogo, os alunos tem uma maior motivação fazendo, assim, com que tenham maior interesse em aprender os conteúdos pois o resultado satisfatório no jogo dependerá do aprendizado no conteúdo aplicado. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao se concluir o projeto, viu-se que todos os objetivos foram alcançados de forma satisfatória. A proposta de se criar um novo recurso didático a fim de que os bolsistas tenham uma capacitação ampliada é muito importante para a formação do docente. Podem se destacar muitos pontos positivos, como a participação dos estudantes em todas as atividades realizadas, o que promoveu encontros bem dinâmicos e descontraídos, pois os estudantes sabiam que após o estudo do conteúdo iriam jogar um jogo onde necessitariam do aprendizado conquistado ou reconquistado através do projeto. Com relação a prática docente, o aprendizado foi crescente, pois foi uma experiência nova onde foi necessário usar criatividade para criar algo novo, que seria utilizado como recurso didático aplicado junto aos estudantes e que de fato promovesse a aprendizagem. Entretanto, espera-se que o “Jogo das Quadráticas” possa ajudar de uma forma mais fácil a todos os estudantes de matemática que desejam aprender de uma forma mais interessante e diferente da monotonia muitas vezes encontrada em sala de aula. Que sirva de inspiração para professores que desejam lecioná-la de forma mais compreensível e clara, e que o trabalho como um todo sirva de canal para outros pesquisadores que buscam novas formas de trabalhar a matemática. REFERÊNCIAS PETRY, Mary Rose; QUEVEDO, Zelia Rodrigues. A magia dos jogos na alfabetização. Porto Alegre: Kuruap, 1993. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental. Matemática. Brasília: Ministério da Educação, 1998. 67 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC REFLEXÕES E EXPERIÊNCIAS ACERCA DA PRÁTICA DOCENTE: EXPERIÊNCIAS DO PIBID-MATEMÁTICA-UVA Renata Moura da Silva30 RESUMO Este trabalho relata experiências vivenciadas no âmbito escolar por uma bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência – PIBID – mais precisamente do subprojeto de Matemática da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. Entre os meses de fevereiro e junho de 2013 a estudante acompanhou turmas de 2º e 3º ano de uma escola pública de ensino médio na cidade de Sobral, interior do Ceará. Este acompanhamento consistia de participação nas aulas com observações e intervenções e tinha por finalidade melhor entender a realidade de professores e alunos em sala de aula. Paralelamente, mas a partir do que era observado em sala, fora realizada uma oficina usando cartões da Mega Sena para o estudo de análise combinatória e probabilidade. Em ambas as atividades, notou-se a dificuldade e falta de interesse dos alunos. Isso tudo promoveu além da inserção em sala de aula, reflexões sobre o funcionamento do que ocorre no ambiente escolar, contribuindo, assim, para uma melhor formação da autora como futura professora. PALAVRAS-CHAVE: PIBID. Formação. Reflexões. Oficina. Observação. INTRODUÇÃO O presente artigo apresenta as experiências adquiridas por meio do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência (PIBID) do curso de licenciatura em Matemática da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), localizada em Sobral, Interior do Ceará. A educação é sem dúvida um dos mais importantes caminhos para a formação de um cidadão. Não se pode pensar em uma sociedade com princípios morais se a mesma não estiver pautada nos princípios educacionais. A fragilidade da educação em nosso país é visível, onde muitos críticos educacionais discutem sobre o que fazer para que se tenha uma educação de qualidade. Um dos temas que mais se debate está no despreparo de professores para exercer essa prática. “A preparação do professor torna-se então um pilar fundamental na construção de um sistema de ensino eficaz. E assim como a educação do aluno deve ser cuidadosamente estudada e planejada para ser eficaz, a formação do educador também pressupõe uma análise das contingências que atuam sobre o 30 Graduada. Egressa do Curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Estadual Vale do Acaraú e do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência (PIBID)-CAPES. [email protected]. 68 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO seu comportamento e o planejamento para sua mudança”( GIOIA e FONAI, 2007, p.180) O PIBID é um projeto que oferece bolsas de iniciação a docência aos alunos de licenciatura e o objetivo é antecipar o futuro professor para um maior vínculo com a de sala de aula, e melhor capacitá-lo para posteriormente exercer sua profissão com melhor qualidade. De janeiro a junho de 2013, parte destas atividades desenvolvidas pela autora deste trabalho se deram no âmbito acadêmico e parte no Colégio Estadual Dom José Tupinambá da Frota, situado em Sobral, que atende estudantes do ensino fundamental e médio. Lá foram realizadas observações a fim de obter conhecimento acerca da realidade escolar em que se atuará, tornando-se possível ter uma visão mais clara das dificuldades enfrentadas pelo corpo docente e alunos. Já no ambiente da Universidade, se discutiu sobre a atuação na área. OBJETIVOS GERAIS Refletir sobre a importância da observação no processo de formação do docente, especialmente o que está cursando uma licenciatura. O estágio supervisionado, embora tenha também esta finalidade, não dá ao licenciando a mesma flexibilidade para planejar o agir – através de intervenções em sala de aula e realização de projetos nas escolas – como é dado pelo PIBID. Desta forma, se por um lado há um ganho para aqueles universitários que participam de projetos como esse, por outro lado há de se ter uma preocupação com a formação daqueles que não têm praticado de forma qualitativa a docência antes da primeira oportunidade profissional. METODOLOGIA O trabalho realizado pelo subprojeto de Matemática do PIBID/UVA nas escolas parceiras do programa é basicamente dividido em duas partes: o trabalho em sala de aula – observações e intervenções – e o desenvolvimento de projetos que visam a capacitação do universitário já no seu futuro ambiente de trabalho. Foram realizadas observações no período de fevereiro a junho de 2013, em turmas de 2º e 3º Ano do ensino médio do Colégio Estadual Dom José Tupinambá da Frota pela autora deste trabalho. Estas observações tiveram o objetivo de verificar a realidade escolar e o comportamento dos que participam desse ambiente, tanto estudantes, como professores. A visita à escola se deu em aproximadamente 20 encontros, onde parte desses tinha o foco de analisar o comportamento dos estudantes e a postura do professor. Também houve participações nos planejamentos semanais da área de matemática, onde geralmente se debatia que assunto se iria abordar quando eram programadas intervenções em que a bolsista atuaria e, com o auxílio do professor, se discutia que metodologias eram mais adequadas para a turma em que a aula estaria agendada. Dados os problemas observados em sala e em conjunto com outros bolsistas do PIBID/Matemática/UVA que também atuam nesta escola, fora desenvolvido um projeto com o objetivo de se estudar algum conteúdo matemático utilizando-se de ferramentas concretas do cotidiano do aluno. O bilhete da Mega Sena foi utilizado pelas bolsistas como instrumento que 69 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC facilitasse o aprendizado em probabilidade. Esta oficina fora desenvolvida em dois encontros por três estudantes bolsistas do PIBID do curso de licenciatura em Matemática com estudantes do 2º e 3º Ano do Ensino Médio. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A chegada à escola e o intervalo são horários adequados para se conhecer o comportamento dos estudantes. É possível se observar a agitação da chegada, o trabalho que alguns dão até para entrarem nas salas de aula, e que esse comportamento continua no restante do período em que permanecem na escola. Partindo do princípio que a escola é uma pequena amostra da realidade das escolas brasileiras, realidade esta que será enfrentada pelos graduandos em um futuro bem próximo, o que surge de início é a pergunta: De quem é a culpa por tamanha desmotivação? O certo é que não se encontrará um e somente um culpado, mas existem vários fatores que influenciarão no mau comportamento e no desinteresse do estudante em aprender. “[...] a motivação para a aprendizagem exige considerar as características pessoais dos alunos, tendo em vista que a motivação se mostra diferente para cada indivíduo, à medida que possuem perspectivas de vida distintas; como também, o conjunto de fatores que se inter-relacionam no contexto escolar, ao passo que estes influenciam de forma significativa na motivação de cada aluno para aprendizagem”. (CARVALHO, PEREIRA e FERREIRA, p.24) Já com relação ao docente, no período de observações foi possível identificar dois perfis bastante diferentes de professores de matemática. O primeiro apesar de dominar bem o conteúdo que queria expor, não conseguia instigar os estudantes e isso deixa o ambiente dentro de sala constrangedor; os alunos definitivamente não ouviam o professor, a maioria passava o tempo todo brincando, conversando, dormindo, alguns até cantavam; outros usavam celulares e por mais que o docente tentasse atraí-los, o retorno era demasiadamente pequeno. Por algumas questões particulares este professor teve que se ausentar, com outro professor assumindo a turma. O segundo professor usava de metodologias totalmente diferentes, sendo que em um breve espaço de tempo havia ganhado seu espaço diante dos alunos, fazendo com que estes mostrassem algum interesse pela matemática. Foram usados jogos, competições e, quando possível, as belezas da matemática foram mostradas através da arte. Nas intervenções realizadas, poucos demonstravam interesse, à maioria por sua vez se distraiam facilmente o que dificultava na absorção dos conteúdos expostos, percebia-se também que eles tinham dificuldades em assuntos que eram pré-requisitos para o conteúdo exposto e isso contribuía para que perdessem o foco do assunto que se trabalhava, enquanto que outros conseguiam acompanhar com uma maior facilidade o estudo em pauta. Diante destes fatos percebeu-se a importância que o professor tem no processo ensinoaprendizagem, e a consciência do quão indispensável é para que essa aprendizagem ocorra. Mas para tanto, é necessário que esse professor esteja bem preparado para enfrentar esses problemas e, enfim, exerça sua prática de forma a ser um participante ativo na formação destes estudantes. 70 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO Com relação ao projeto realizado, já na divulgação ficara evidente a desmotivação e o desinteresse dos estudantes em participar de atividades extra-sala de aula. Dos poucos que se inscreveram apenas sete compareceram. No entanto os estudantes que se propuseram a participar do projeto se mostravam empolgados, já que seria algo diferente daquilo que geralmente se costumava ver na sala de aula. E, de certa a forma, o título do projeto despertou alguma curiosidade em descobrir se a Mega Sena era sorte, ou existia uma “fórmula” que os levaria a ser um ganhador do prêmio. Utilizou-se desses artifícios para que os estudantes envolvidos no projeto se mostrassem atraídos a aprender probabilidade, uma vez que esse assunto é enxergado por muitos alunos como difícil de assimilar, já que lhe convida pra um raciocínio mais “intenso” - como foi o comentário um dos estudantes presentes. Todavia, com o auxílio dos bilhetes da Mega Sena, o estudo de probabilidade se tornara bem mais acessível se comparado ao conhecimento que eles já possuíam acerca de probabilidade, mas que ainda não estava bem trabalhado. O trabalho com material concreto é um aliado fortíssimo para a aprendizagem do aluno, isso ficou evidente tanto pelo projeto realizado, assim como pelas observações em sala de aula, onde os estudantes se mostraram curiosos em saber como utilizar determinado material e aliá-lo ao aprendizado. Os estudantes estão abertos às novidades e as mesmas os atraem; isso fará com que sejam instigados a aprender matemática com prazer. CONSIDERAÇÕES FINAIS Todo indivíduo tem sua individualidade e personalidade própria e traz consigo vários problemas. Cada pessoa responde diferente a determinada ação, o que justifica o comportamento tanto do aluno quanto do professor em sala de aula. Diante disto, faz-se necessário que o futuro educador esteja preparado para lidar com essas situações da melhor forma possível, sabendo que o mesmo é o mediador para que a aprendizagem aconteça. Esses trabalhos promoveram várias reflexões sobre a diversidade de cada indivíduo e que é preciso que como mediadores da aprendizagem, que se tenha uma maior maturidade diante das adversidades que estão no ambiente escolar, o que não seria possível entender esta realidade, se pelo contrário não estivéssemos integrados nela. REFERÊNCIAS GIOIA, Paula Suzana e FONAI, Ana Carolina Vieira. A preparação do professor em análise do comportamento. Psicol. Educ. 2007, n.25, pp. 179-190. Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psie/n25/v25a10.pdf> Acesso em: 29.06.2013. CARVALHO, M.F.N, PEREIRA, V.C e FERREIRA, S.P.A. A (Des) motivação da aprendizagem de alunos de escola pública do ensino fundamental I: Quais os fatores envolvidos?. Universidade Federal do Pernambuco, UFPE, Pernambuco. Disponível em <http://www.ufpe.br/ce/images/Graduacao_pedagogia/pdf/2007.2/a%20desmotivao%20da%20apr endizagem%20de%20alunos%20de%20escola.pdf> Acesso em 17.07. 2013 71 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC TECNOLOGIAS INFORMÁTICAS NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E A MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA: APLICAÇÃO DE RECURSO GRÁFICO NO ENSINO-APRENDIZAGEM DO CONCEITO DE FUNÇÃO Ana Cláudia Mendonça Pinheiro31 Hermínio Borges Neto32 RESUMO Esse estudo objetivou discutir o uso do software educativo como recurso didático para o ensino do conceito de função linear. Foi desenvolvido numa escola da rede pública de ensino no período de 2011 a 2012, como resultado da avaliação do rendimento escolar e da utilização do laboratório de informática. A fundamentação teórica apóia-se nos estudos de Vigotsky. A metodologia utilizada foi a pesquisa-ação subsidiada pela proposta metodológica da Seqüência Fedathi e da Engenharia Didática. A ferramenta utilizada foi o software Graphmatica for Windows e o recurso do Blog como suporte as atividades. Os resultados mostram que o uso do ambiente computacional para simulação e experimentação colabora na construção dos conceitos e melhoram a compreensão do aluno para a resolução de exercícios. PALAVRAS-CHAVE: Ensino de função linear. Graphmatica. Tecnologias informáticas. INTRODUÇÃO As tecnologias têm acrescentado valores históricos na educação de relevância na atualização do currículo escolar e acadêmico, na discussão e implementação das dinâmicas de sala de aula e no uso educativo do computador. O uso do computador na escola passa a ser uma realidade de imposição dos PCN (1998) quando se especifica sobre uma educação básica, ensino fundamental e médio, para atender a uma necessidade de atualização da educação brasileira e de ampliação da parcela de jovens com capacidade para responder a desafios impostos por processos globais que reclamam por trabalhadores mais qualificados para serem inseridos no sistema de produção e serviço. No que diz respeito mais propriamente ao uso do computador no ensino de matemática, os PCN elegem essa tecnologia como favorável ao ensino e aprendizagem (PCN, 1998b, p.43). Afirmam que: 31 Cursando Doutorado em Educação Brasileira pela Faculdade de Educação-FACED da Universidade Federal do Ceará-UFC. 32 Doutorado em Matemática pela Associação Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, Brasil(1979). Professor Associado da Universidade Federal do Ceará , Brasil 72 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO O fato de, neste final de século, estar emergindo um conhecimento por simulação, típico da cultura informática, faz com que o computador seja também visto como um recurso didático cada dia mais indispensável. Ele é apontado como um instrumento que traz versáteis possibilidades ao processo de ensino e aprendizagem de Matemática, seja pela sua destacada presença na sociedade moderna, seja pelas possibilidades de sua aplicação nesse processo. Tudo indica que seu caráter lógico-matemático pode ser um grande aliado do desenvolvimento cognitivo dos alunos, principalmente na medida em que ele permite um trabalho que obedece a distintos ritmos de aprendizagem. (PCN, 1998b) A quantidade de informação que se produz por hora em todo o mundo é muito grande, não podendo permitir no sistema educacional processos que valorizem a memorização de dados, mas que promovam o desenvolvimento de solução e análise de resultados e do raciocínio lógicoformal. Dessa forma, não só o computador, mas a TIC's33 devem ser inseridas na prática pedagógica para contribuir com a melhoria dos resultados no ensino de matemática. Nas atividades em sala de aula com os conteúdos matemáticos, presenciamos constantemente dificuldade dos alunos em organizar o pensamento para responder questionamentos sobre o desenvolvimento de uma conjectura, na leitura do livro texto e na representação do pensamento com a linguagem matemática. Como inserir o computador nas aulas de matemática para favorecer a compreensão de conceitos matemáticos sobre funções nos conteúdos do primeiro ano do ensino médio? Há um baixo uso do laboratório de informática por professores de matemática. Os alunos comparam as aulas da disciplina de matemática com outras disciplinas e reclamam por “melhorias” no sentido de terem aulas mais prazerosas. Entendemos que os alunos não se sentem motivados por não serem desafiados, mas receptores de uma metodologia em que são passivos na aprendizagem. Trocar a metodologia é desafiante, mas também tem aspectos motivacionais do ponto de vista de quem ensina. Conhecer as dificuldades dos alunos, mas também buscar por movimentos mais direcionados as aprendizagens pode fazer o professor buscar por atualizações sobre o ensino e melhorias nos resultados da aprendizagem dos alunos. OBJETIVO GERAL Esse estudo objetivou discutir o uso do software educativo como recurso didático para o ensino do conceito de função linear. Apresentamos resultados significativos do ponto de vista de aprendizagem obtidos com a utilização de recurso gráfico no ambiente computacional, das TIC's e da mediação pedagógica no ensino do conceito de função linear. Nosso enfoque encontra-se na mediação com o uso dessas tecnologias com um público alvo da escola pública da rede estadual de ensino. Não tivemos a intenção de formular uma metodologia, mas de realizar uma proposta pedagógica junto à coordenação pedagógica e corpo docente da escola. 33 Tecnologias de Informação e Comunicação 73 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC METODOLOGIA Como recurso gráfico foi utilizado o Software Graphmatica for Windows na versão freeware disponível na internet. A escolha desse software deu-se pela adaptação ao Sistema Operacional Windows que se encontra instalado nas máquinas do Laboratório de Informática, pela versão gratuita, por ser de fácil manuseio pelo aluno e, principalmente, por atender, na íntegra, aos objetivos dessa pesquisa experimental. Novas Tecnologias complementando Velhos Conteúdos Introduzir uma tecnologia no conteúdo disciplinar é apropriar-se de um recurso técnico ou ferramenta tecnológica para colaborar no ensino-aprendizagem objetivando adquirir melhores resultados na construção do conhecimento. Pensar essa tecnologia como recurso didático modifica o ensino aprendizagem do conteúdo: do ponto de vista do professor, metodologicamente será necessário pensar a sala de aula como outro ambiente, nova organização do plano de ensino e ritmo de elaboração do conceito; do ponto de vista do aluno, modifica sua atuação diante a condução de sua aprendizagem e na interação com os colegas. O computador como ferramenta tecnológica para o ensino de matemática proporciona um ambiente favorável a simulação e experimentação, tanto para o aluno como para o professor. Para Carraher (1982), “... a contribuição mais importante do computador para a educação corresponde a de ... possibilitar ou sustentar atividades especiais que seriam difíceis ou até impossíveis de serem realizadas sem o computador, atividades que constituem oportunidades especiais para aprender.” (CARRAHER, 1982) Assim, só se justifica a utilização deste recurso em casos que a tecnologia (computador, máquina de calcular com visor gráfico, tablets) possa obter resultados melhores ou impossíveis que tecnologias tradicionais – não digitais – já obtenham e com contribuições mais significativas (BORGES NETO, 2001). A escola quando se apropria e incorpora os avanços das tecnologias na prática educativa, visando obter resultados de forma adequada, eficaz e com qualidade deve preocupar-se com a utilização pedagógica correta dessas ferramentas de modo a articular conteúdos, planejamentos e tecnologia para que colaborem para complementar, apoiar ou reforçar aulas teóricas. Esse trabalho é originado de resultados de observações realizadas com turmas de primeiro ano do ensino médio por dois anos no ensino do conceito de função linear. A dificuldade maior foi verificada na compreensão do significado do coeficiente linear e coeficiente angular na equação. A melhor estratégia de trabalhar essas dificuldades é através da construção gráfica da função com abordagem diversa de casos. Porém, essa estratégia desprende muito tempo e trabalho braçal se realizada no quadro de giz. Nos últimos dois anos, trabalhado o conceito de função linear, percebemos que a utilização do raciocínio abstrato e a linguagem excessivamente formal necessitam de auxílio gráfico para estimular o aluno na criação e resolução de problemas. Durante a aplicação de uma atividade pedagógica com uma turma de 40 alunos foi percebido que a análise gráfica na resolução de 74 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO problemas é relevante no aprendizado do conceito de função. A manipulação do software possibilita ao aluno exercitar um maior número de atividades. A aplicação dessa atividade tencionou colaborar com o ensino de matemática junto a alunos da rede estadual de ensino através do uso educativo do laboratório de informática. Através de pesquisa, análise, criação e aperfeiçoamento de atividades matemáticas relacionadas ao conteúdo de função linear e equação da reta do ensino médio que pudessem ser realizadas com o uso do Software Graphmatica for Windows. Buscamos a integração do conteúdo, computador e TIC's com a utilização de atividades disponíveis em um Blog para desenvolvimento com o software. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Informática Matemática x Mediação Pedagógica As competências as serem seguidas durante o ensino médio, como complemento aos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, na Área de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias de acordo com os PCN (2002) diz respeito à representação e comunicação, investigação e compreensão, e contextualização sócio-cultural. Para possibilitar o desenvolvimento dessas competências em Matemática, com relevância científica e cultural e com uma articulação lógica das ideias, os conteúdos foram sistematizados em três eixos temáticos: 1) Álgebra; 2) Geometria; e 3) Análise de Dados. Esses temas devem ser desenvolvidos de forma concomitante nas três séries. Pensando em contemplar o tema de Álgebra e trabalhar as tecnologias digitais, foi elaborado situações didáticas que favorecessem a experimentação, o trabalho em grupo e a discussão com os pares em turmas de primeiro e terceiro ano do ensino médio para trabalhar o significado gráfico dos coeficientes linear e angular de uma função linear e da equação de reta. Como sabemos, matemática não pode ser ensinada como receita de bolo e nem o aluno é capaz de absorver tal conhecimento sem entender o processo de construção, com exercícios repetitivos objetivando assimilação de fórmulas. Para Freire (1996), “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção.” As atividades foram estruturadas em dez proposições para possibilitar ao aluno desenvolver representações mentais do significado desses coeficientes na representação algébrica da função e da equação linear da reta. Desde proposições simples como “identifique na função y = x o coeficiente angular e linear”, até proposições como “varie o coeficiente angular com valores entre -1 e 1 para produzir gráficos da função y = x”, o aluno foi solicitado na ação de produzir gráficos, discutir a CONCLUSÃO de cada proposição com o colega, e sobretudo, revisar a teoria como apoio as dúvidas, sem contudo repetí-las mecanicamente e exaustivamente. O desenvolvimento de habilidade para operar mentalmente sobre o mundo, inerente ao ser humano, de maneira a fazer relações, planejar, comparar ou até mesmo lembrar, requer ações que se organizam a partir de um processo de representação mental. Operar mentalmente não constitui uma relação direta com o mundo real fisicamente presente, mas uma relação mediada por ações internalizadas que representam os elementos do mundo, dispensando a interação concreta com os 75 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC objetos de seu pensamento. Vygotsky (2001) definiu mediação como o “processo de intervenção de um elemento intermediário numa relação”, daí, essa “relação deixa de ser direta e passa a ser mediada por esse elemento”. Para compreender esse processo é necessário compreender questão sobre a internalização. Em seus estudos, Vygotsky (2001) considerou a interação do ser humano com a realidade física, como resultado de internalização de esquemas que representam as regularidades das ações físicas individuais generalizadas, abstraídas e internalizadas. Nesse sentido, a internalização é compreendida como a transformação do fenômeno sócio cultural em processos intrapsicológico (VYGOTSKY, 2001). Para a educação, precisamente para a matemática, as ações generalizadas, são esquemas mentais particularizados em cada ser humano, pois cada indivíduo elaborou sua maneira de construção de determinado conceito. Seria ingênuo pensar que num grupo de alunos prontos para estudar o algoritmo da multiplicação, todos utilizassem da mesma estratégia para o cálculo da adição, que é pré-requisito para esse estudo. Levando em conta esses limites para operar mentalmente e as possibilidades intelectuais, Vygotsky (2001) relacionou a aprendizagem com o desenvolvimento de um campo denominado de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP): “... a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes.” (Vygotsky, 2001). Dessa forma, através da identificação da ZDP do aluno, pode-se diagnosticar o que ele já produziu sozinho, mas principalmente o que poderá produzir em seu processo de desenvolvimento. Nas atividades com o software o aluno imprimiu seu ritmo de ação, escolheu seu par para trabalhar como respeito a sua facilidade de dialogar para discutir os resultados. A interação foi realizada no sentido de orientar o desenvolvimento do aluno para que ele pudesse se apropriar dos instrumentos de mediação ou dos esquemas mentais necessários para avançar nos resultados. CONSIDERAÇÕES FINAIS A "ideia de função" e a visualização de alguns resultados desse conceito são pré-requisitos importantes para aprendizagem de outros conceitos que o aluno do ensino médio necessita para ampliar seus conhecimentos. Dentre esses resultados podemos destacar os intervalos de crescimento e decrescimento de uma função, e os zeros de uma função. Apesar das contribuições que a utilização de recursos gráficos oferece ao ensino de matemática, percebe-se que não há uma utilização sistemática desse recurso por parte dos professores devido a fatores que variam desde a falta de domínio das ferramentas computacionais, até a resistência de adaptar o planejamento aos recursos tecnológicos disponíveis na escola. Por outro lado, percebe-se certa motivação e interesse por parte dos alunos em ambientes virtuais, facilitando, sobremaneira, a compreensão e apreensão de conceitos matemáticos. Pensando nessas questões e na possibilidade de usar uma ferramenta mais simples e específica ao estudo de funções 76 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO utilizamos o software Graphmatica for Windows. Esse recurso apresentou contribuição significativa no processo de ensino-aprendizagem, bem como de ordem prática e econômica. Conseguirmos sensibilizar coordenadores e professores na busca de elaboração de propostas para o uso do computador, com a manipulação e visualização dos conceitos matemáticos, para atingir uma maior aceitação por parte dos nossos alunos num processo dinâmico de aprendizagem matemática. REFERÊNCIAS BORGES NETO, Hermínio; SANTANA, José Rogério. Fundamentos Epistemológicos da Teoria de Fedathi no Ensino de Matemática Anais do XV EPENN - Encontro de Pesquisa Educacional do Nordeste: Educação, Desenvolvimento Humano e Cidadania, vol. único, São Luís (MA), 2001, p594. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. Ensino de 5ª a 8ª Série, Brasília, MEC /SEF, 1998b. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais + (PCN+) - Ciências da Natureza e suas Tecnologias. Brasília: MEC, 2002. CARRAHER, David Willian. Na vida dez, na escola zero: os contextos culturais da aprendizagem da matemática. Cadernos de pesquisa, São Paulo, 1982. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários da prática educativa. Editora Paz e Terra S.A., São Paulo, SP, 1996, 165p. VYGOTSKY, Lev S. Aprendizagem e desenvolvimento, um processo sócio-histórico. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2001. Tradução Marta Koll 77 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC PROJETO OBAMA: LEVANTAMENTO E CLASSIFICAÇÃO DE OBJETOS DE APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA Dennys Leite Maia34 Francisca Wellingda Leal da Silva35 Joserlene Lima Pinheiro36 Marcilia Chagas Barreto37 Nassara Maia Cabral Cardoso38 Paulo César da Silva Batista39 Rayssa Melo de Oliveira40 RESUMO A chegada das Tecnologias Digitais (re)significam os processos de ensino e aprendizagem. Pensar em novas formas de ensinar usando o computador, seja ele desktop, laptop, tablet ou mesmo smartphones, torna-se crescentemente necessário. O OBJETIVO GERAL deste trabalho é apresentar a pesquisa inserida nas atividades em andamento do Grupo de Pesquisa Matemática e Ensino (MAES) denominada: Projeto Objetos de Aprendizagem (OA) para a Matemática (OBAMA). Nossos objetivos específicos, são descrever os repositórios visitados e divulgar a catalogação dos OA, apresentando o quantitativo identificado e sua adequação quanto o trabalho com os quatro blocos de conteúdos de Matemática e os níveis de ensino para os quais estes recursos são voltados. O levantamento fundamenta-se na metodologia de pesquisa qualiquantitativa. A escassez de recursos dessa natureza para a educação infantil e a predominância de recursos voltados para conteúdos do bloco Números e operações, nos repositórios analisados, sinalizam aos grupos de desenvolvimento de OA. Faz-se necessária uma maior atenção à equalização dos recursos oferecidos para o trabalho de conteúdos matemáticos, tomando por referência os blocos de conteúdos explicitados nos PCN, bem como o atendimento às especificidades dos níveis de ensino da educação nacional. PALAVRAS-CHAVE: Educação Matemática; Objetos de Aprendizagem; OBAMA; INTRODUÇÃO Com o advento da tecnologia digital (TD) na sociedade atual, o computador torna-se, cada vez mais, uma ferramenta comum nos ambientes e cotidiano das pessoas. Tratando-se da área da Educação, a chegada das TD (re)significa os processos de ensino e de aprendizagem. Pensar em novas formas de ensinar usando o computador, seja ele desktop, laptop, tablet ou mesmo smartphones, torna-se crescentemente necessário. 34 Mestre em Educação; Aluno do doutorado em Educação brasileira da Universidade Federal do Ceará (UFC) e professor substituto da Universidade Estadual do Ceará (UECE); [email protected]; 35 Graduanda em Pedagogia; Bolsista de Iniciação Científica da UECE (IC/UECE); [email protected]; 36 Pedagogo; Bolsista do mestrado no Programa de Pós-Graduação em Educação (CAPES/PPGE-UECE); [email protected]; 37 Pós-doutora em Educação; Professora adjunta da UECE e líder do grupo de pesquisa Matemática e Ensino (MAES); [email protected]; 38 Graduanda em Pedagogia; Bolsista de IC/UECE; [email protected]; 39 Graduando em Pedagogia; Bolsista de IC/FUNCAP; [email protected] 40 Graduanda em Pedagogia; Bolsista de IC/FUNCAP; [email protected]; 78 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO Concordamos com Miskulin (1999, p. 2) quando explica que “educar em uma Sociedade da Informação é muito mais do que ‘treinar’ pessoas no uso das novas tecnologias; trata-se em formar os indivíduos para aprender a aprender”. Nessa perspectiva as TD contribuem para a aprendizagem matemática dos alunos da Educação Básica em diferentes dimensões. De acordo com Mendes (2009) o uso de computadores contribui para que professores e alunos superem alguns obstáculos no processo de ensino e aprendizagem da Matemática. Para além do hardware, faz-se necessário compreender e utilizar softwares que permitam o trabalho pedagógico. Este é o caso dos recursos digitais utilizados para apoiar situações de aprendizagem (WILEY, 2001) conhecidos como Objetos de Aprendizagem (OA). Os OA catalogados são aqueles que exploram conteúdos disciplinares de forma interativa e multimidiática. OBJETIVOS GERAIS Pinheiro, Maia e Barreto (2013), atestam que os repositórios de OA ainda são desconhecidos por muitos professores que ensinam Matemática. Frente este fato, o OBJETIVO GERAL deste trabalho é apresentar a pesquisa inserida nas atividades em andamento do Grupo de Pesquisa Matemática e Ensino (MAES) denominada: Projeto Objetos de Aprendizagem para a Matemática (OBAMA). Para este trabalho, nossos objetivos específicos, são descrever os repositórios visitados e divulgar a catalogação dos OA, conforme o quantitativo identificado e sua adequação para o trabalho com os quatro blocos de conteúdos de Matemática, e os níveis de ensino para os quais estes recursos são voltados. METODOLOGIA A presente pesquisa possui cunho quali-quantitativo. Ao realizarmos o levantamento quantitativo, preocupamo-nos, também, com a descrição de seus repositórios e com a classificação dos OA, conforme os quatro blocos de conteúdos do PCN de Matemática, quais sejam: Números e operações; Espaço e forma; Grandezas e medidas e Tratamento da informação. Definidos os repositórios que constam neste levantamento, convém registrar que, como ferramenta de coleta de dados, utilizamos uma ferramenta colaborativa que permite a elaboração de formulários online. Este tipo de ferramenta permite a avaliação do desenvolvimento da investigação, a adequação e o redirecionamento dos procedimentos inicialmente travados, durante o levantamento. Apesar de alguns repositórios eventualmente apresentarem duplicidade de OA, consideramos relevante contabilizá-los nesta catalogação. Esta opção prevê a possibilidade da existência de links que não ofereçam acesso ao recurso em um dos repositórios, sendo o registro do mesmo em diferentes locais, uma maneira de recuperação do link. Ademais, destacamos o fato que um mesmo OA, potencialmente, pode ser trabalhado em mais de um nível de ensino e contemplar conteúdos de mais de um bloco de conteúdo, o que implica sua (re)contagem, de acordo com os critérios de agrupamento. Expomos, inicialmente, uma breve descrição dos repositórios analisados e alguns dos dados obtidos e, ao final desta seção, os quantitativos absoluto e relativo dos OA analisados em cada 79 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC repositório (figura 01). Esclarecidos os objetivos e metodologia, apresentamos alguns achados da pesquisa. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Um levantamento prévio a partir do Banco Internacional de Objetos de Aprendizagem (BIOE) (http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/) apresentou 40 (quarenta) OA. No entanto, destes, apenas 02 (dois) eram diretamente acessíveis. Considerando pesquisas que indicam a limitada formação inicial de professores para o uso de TD, além da falta de articulação e continuidade das formações continuadas para tal (BORBA, 2011; MAIA; BARRETO, 2012; SALLES; BAIRRAL, 2012), a divulgação de repositórios que não disponibilizem de forma direta os OA é algo crítico. Por esta ocorrência optamos por investigar outras fontes. Esta pesquisa permitiu elencarmos 9 (nove) repositórios entre iniciativas do Governo Federal (a-h) e de instituições privadas (i) engajadas na produção de OA. Convém registrar que todos os OA disponíveis nesses repositórios estão sob licença Creative Commons41. Do exposto, passamos à apresentação dos repositórios analisados, quais sejam: a) O repositório RIVED – MEC (http://rived.mec.gov.br) alberga OA divididos entre as áreas de: Artes, Biologia, Ciências, Engenharia, Filosofia, Física, Geografia, História, Matemática, Português e Química. Aqui dispomos de 21 (vinte e um) OA para o ensino de Matemática. Constatamos o foco nos conteúdos dos blocos Números e operações e Grandezas e medidas e a predominância de recursos para o Ensino médio. b) No repositório Fábrica Virtual do Centro Universitário Franciscano (RIVED – UNIFRA) (http://sites.unifra.br), os OA estão divididos nas seguintes áreas: Biologia, Filosofia, Física, Geografia, História, Letras, Química, Matemática e Pedagogia. Os 11 (onze) OA voltados para o ensino de Matemática, dão maior ênfase ao bloco de conteúdos Números e operações. O RIVED - UNIFRA disponibiliza estes recursos, principalmente para os anos finais do Ensino Fundamental; c) O Repositório Fábrica Virtual da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (RIVED UNIJUÍ) (http://www.projetos.unijui.edu.br/matematica/fabrica_virtual) alberga OA predominantemente para a Matemática. Além desta, a única disciplina abordada é a Física. Neste repositório, são 28 (vinte e oito) OA para o ensino de Matemática, em que predomina o ensino de conteúdos dos anos finais do Ensino Fundamental e o bloco Números e operações. d) O repositório Fábrica Virtual da Universidade Federal de Uberlândia (RIVED - UFU) (http://www.rived.ufu.br ) disponibiliza OA para o ensino de Matemática e Química. Para o ensino de Matemática são 04 (quatro) OA, todos voltados para o ensino dos conteúdos do bloco Grandezas e medidas e com foco no Ensino Médio. e) Analisando o repositório Laboratório Virtual (LabVirt USP) (http://www2.fe.usp.br/~mef-pietro/rived/fabrica_virtual.html), constatamos a produção de 41 Licenças Creative Commons são normas criadas pela organização homônima, sem fins lucrativos, que permitem o compartilhamento e reutilização de artefatos culturais através da disponibilização de ferramentas jurídicas gratuitas. 80 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO OA, em sua totalidade, voltados para ensino de Física no Ensino Médio. Embora o foco do repositório seja o trabalho com conteúdos desta disciplina, 3 (três) OA são considerados neste levantamento por trabalharem conteúdos dos blocos Espaço e forma e Números e operações. f) O repositório do Grupo de Pesquisa e Produção de Ambientes Interativos e Objetos de Aprendizagem da Universidade Federal do Ceará (PROATIVA - UFC) (http://www.proativa.vdl.ufc.br) alberga OA para as disciplinas de Linguagens, Ciências, Química, Biologia, Física e Matemática. Para esta disciplina, são 12 (doze) OA. Destes, a ênfase são os anos finais do Ensino Fundamental e os blocos de conteúdo Números e operações e Grandezas e Medidas. g) O repositório Matemática Multimídia da Universidade Estadual de Campinas (M3 UNICAMP) (http://m3.ime.unicamp.br ) é voltado exclusivamente para o ensino da Matemática no Ensino Médio. São 34 (trinta e quatro) OA que dão enfase semelhante aos conteúdos dos blocos Números e operações, Grandezas e Medidas e Tratamento da Informação. h) O grupo Mídias Digitais para a Matemática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (MDMat - URFGS) (http://mdmat.mat.ufrgs.br/anos_iniciais) disponibiliza um repositório exclusivamente voltado para a Matemática com foco nos anos iniciais do Ensino Fundamental. São 56 OA, e a predominância são recursos para dos blocos Números e operações e Espaço e forma. i) O Núcleo de Desenvolvimento de Objetos de Aprendizagem Significativa do Sistema de Ensino CNEC (NOAS) (http://www.noas.com.br) disponibiliza OA para o ensino de História, Geografia, Português, Inglês, Espanhol, Física, Química, Biologia, Ciências, Filosofia e Matemática. São 50 OA para o ensino de Matemática, predominantemente para os anos iniciais do Ensino Fundamental. Ademais, constatamos que a produção deste repositório enfatiza o bloco Números e operações. Este primeiro levantamento, ressalta a importância do acesso direto ao OA, com informações que deixem claro para o professor as possibilidades de uso dos recursos. Portanto, ainda são necessários maiores esforços para que, ao realizar a catalogação de OA, os repositórios valorizem não apenas o recurso per se mas, de modo complementar, o fornecimento de manuais de uso, técnicos e opção para download do recurso, elementos nem sempre presentes nos repositórios analisados. 81 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Figura 16 Quantitativos de OA por repositórios, blocos de conteúdo e níveis de educação. Fonte: Autor Conforme a figura 16, verificamos a predominância de conteúdos do bloco Números e operações entre os OA analisados. Portanto, podemos sinalizar aos grupos de desenvolvimento, uma necessária dedicação de maiores esforços para equalizar a produção dos recursos oferecidos para o trabalho de conteúdos matemáticos, tomando por referência os blocos de conteúdos explicitados nos PCN. O mesmo pode ser dito quanto à elaboração que contemple as etapas de ensino ao longo da educação Básica. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir dos resultados dessa pesquisa, esperamos contribuir para a formação professores e a aprendizagem dos alunos quanto ao uso dos repositórios. Oferecendo essas ferramentas para auxiliar no planejamento de aulas, esperamos auxiliar no Ensino da Matemática. Apesar de encontrarmos algumas dificuldades quanto ao funcionamento dos repositórios, existem possibilidades de encontrar OA que vão contribuir para o ensino e aprendizagem dos discentes. Visto que as Tecnologias Digitais são uma tendência na educação Matemática espera-se que, com a criação do OBAMA, venhamos a contribuir com a formação e atuação profissional dos professores de Matemática da Educação Básica. Compreendemos este como um primeiro passo fundamental para a promoção de futuras capacitações que contribuíam com uma mudança efetiva sobre a percepção do uso da tecnologia na educação matemática. 82 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO REFERÊNCIAS BORBA, M. C. Educação Matemática a Distância Online: Balanço e Perspectivas. In: XIII Conferência Interamericana de Educação Matemática. Anais... , 2011. Disponível em: <http://www.cimm.ucr.ac.cr/ocs/files/conferences/1/schedConfs/1/papers/2853/public/285310906-1-PB.pdf>. Acesso em: 22 jan. 2013. MAIA, D. L.; BARRETO, M. C. Tecnologias digitais na educação: uma análise das políticas públicas brasileiras. Educação, Formação & Tecnologias. v. 5, n. 1, 2012. MENDES, I. A. Matemática e investigação em sala de aula: tecendo redes cognitivas na aprendizagem. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2009. MISKULIN, R. G. S. Concepções Teórico-Metodológicas sobre a INTRODUÇÃO e a Utilização de Computadores no Processo Ensino/Aprendizagem da Geometria. Campinas: Faculdade de Educação da UNICAMP (Tese de Doutorado em Educação Matemática), 1999. PINHEIRO, J. L; MAIA, D. L.; BARRETO, M. C. Recursos didáticos digitais para o ensino da matemática: elementos necessários para formação de professores. In: XVI CONFERÊNCIA GPIMEM: 20 ANOS. Anais... Rio Claro, SP: UNESP, 2013. SALLES, A. T.; BAIRRAL, M. A. Interações docentes e aprendizagem matemática em um ambiente virtual. Investigações em Ensino de Ciências, v. 17, n. 2, p. 453–466, 2012. WILEY, D. A. Connecting learning objects to instructional design theory: A definition a metaphor, and a taxonomy. 2001. Disponível em: <http://reusability.org/read/chapters/wiley.doc>. Acesso em 15 jul.2013 83 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC PARTE III: EIXO DE ENSINO DE MÚSICA 84 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO A GÊNESE DO CAMPO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO MUSICAL NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ Luiz Botelho Albuquerque42 Matheus Santiago Moreira43 Pedro Rogério44 Sarita Cristina Saito45 Yure Pereira de Abreu46 RESUMO: Este trabalho traz análises da pesquisa “Campo Epistemológico da Música” que busca compreender o fomento do campo de pesquisa em Educação Musical na Universidade Federal do Ceará - UFC. A partir das primeiras dissertações desenvolvidas no Eixo de Pesquisa “Ensino de Música” foi possível verificar a gênese do campo de pesquisa que surge da intersecção entre as áreas de Educação e Música. Analisamos os títulos e as PALAVRAS-CHAVE das dissertações orientadas pelo primeiro pesquisador do Eixo. Este artigo também analisa a trajetória do agente de maneira a compreender a relevância que a Educação Musical tem em sua formação. A praxiologia de Pierre Bourdieu forneceu o suporte teórico para a compreensão dos dados analisados através dos conceitos habitus e campo. Através do conceito de habitus foi possível perceber que a trajetória do orientador vincula, desde o início de sua atuação profissional, os campos da Educação e da Música; dado este que se reproduz nas opções acadêmicas desenvolvidas e que aponta para o início do campo de pesquisa em Educação Musical na UFC. PALAVRAS-CHAVE: Campo Epistemológico da Música. Habitus. Campo. Educação Musical. INTRODUÇÃO Este artigo apresenta a pesquisa intitulada “Campo Epistemológico da Música”, que analisa o campo de Educação Musical no Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira – PPGED 42 Graduado em Música (Composição e Regência) pela Universidade de Brasília (1971), Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1980) e Doutor em Sociologia da Educação - University of Iowa (1990). Atualmente é Professor Associado 2 lotado no Departamento de Teoria e Prática do Ensino da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará. E-mail: [email protected] 43 Graduando em Música – Licenciatura pela Universidade Federal do Ceará. E-mail: [email protected]. 44 Graduado em Música – Licenciatura – pela UECE, Mestre e Doutor em Educação pela FACED / UFC. Professor Adjunto lotado no Curso de Música ICA / UFC. E-mail: [email protected]. 45 Graduanda em Música – Licenciatura pela Universidade Federal do Ceará. E-mail: [email protected]. 46 Graduando em Música – Licenciatura pela UFC. Integrante do Laboratório de Epistemologia da Música e Grupo de pesquisa Ensino de Música. E-mail: [email protected]. 85 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC – da UFC e este texto, mais especificamente, analisa os trabalhos orientados pelo professor Luiz Botelho Albuquerque. O professor Albuquerque foi escolhido por ser o primeiro orientador no Eixo Temático Ensino de Música, que está ligado à Linha de Pesquisa Educação, Currículo e Ensino – LECE – do PPGED da UFC e por este mesmo motivo acompanha um maior número de trabalhos de mestrado e doutorado. Importante se faz conhecer um pouco da trajetória do professor Albuquerque para que tenhamos uma visão de sua formação e a relevância do campo de Educação Musical em sua produção acadêmica, como nos enfatiza Elias: “O esclarecimento das conexões de um artista e sua obra também é importante para a compreensão de nós mesmos [...]”. (ELIAS, 1995, p.57) O professor Luiz Botelho Albuquerque47 é graduado em Música (Composição e Regência) pela Universidade de Brasília – UnB – (1971), Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1980) e Doutor em Sociologia da Educação - University of Iowa (1990). Atualmente é Professor Adjunto IV da Universidade Federal do Ceará. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Fundamentos da Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: Educação, Música, Educação Artística, Currículo cultural e Educação Ambiental. OBJETIVO GERAL O objetivo é compreender o início do fomento do campo de pesquisa em Educação Musical no PPGED da UFC. O trabalho também olha para a trajetória do pesquisador-orientador no sentido de identificar os capitais acumulados e compreender sua posição no campo. METODOLOGIA Habitus O conceito de habitus é central para a compreensão do desenvolvimento do agente pesquisado e as suas escolhas de orientações no mestrado permitindo identificar um conjunto de disposições incorporadas que se exteriorizam no percurso individual e estabelece opções estratégicas em busca da legitimação das suas opções acadêmicas. O habitus opera como uma “estrutura estruturante que organiza as práticas e a percepção das práticas” (BOURDIEU, 2007, p.57). Nós nascemos em um mundo estruturado socialmente, em meio a forças que agem sobre todos, nas instituições hierárquicas e mergulhados em valores simbólicos diversos48. Conforme o espaço social em que nos interagimos, interiorizamos estruturas que passam a constituir nossa lente de leitura da realidade, e as exteriorizamos em nossas escolhas, julgamentos, gostos, atitudes; ou seja, o habitus nos fornece um “senso prático” (BOURDIEU, 2009, p.25) que funciona como uma senha de acesso ao mundo, uma chave de decodificação que é tanto mais eficaz quanto mais sua formação se der em espaços diversos, plurais, de forma a oferecer uma variedade de possibilidades de leitura da realidade. 47 Texto informado pelo professor Albuquerque, disponível na Plataforma Lates no endereço eletrônico: <http://lattes.cnpq.br/1238913601532185>. Acessado em 25 de junho de 2013 48 A questão do poder simbólico, para este artigo, ainda que não tratada especificamente, pode ser percebida por um trânsito constante indireto por ser inerente a composição da correlações de forças dentro da noção de campo 86 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO O habitus na qualidade de um sistema de disposições não é formado de uma hora para outra. A incorporação das REFERÊNCIAS de leitura da realidade é um processo que se realiza na prática, no contato entre os indivíduos, logo, em um ambiente datado historicamente. As estruturas das instituições sociais, que se modificam com o passar do tempo, conforme mudanças políticas, ideológicas, tecnológicas, enfim, culturais, se conformam nos indivíduos constituindo suas disposições e os indivíduos, por sua vez, tendem a se adequar a este ambiente no qual se socializaram. Campo Os capitais e a constituição do habitus somente fazem sentido em um contexto e para isso é necessário a visualização do espaço social. A análise deste espaço é trazida por Bourdieu através do conceito de campo, que nos ajuda a compreender o espaço onde se desenham as trajetórias dos agentes. O autor assim define espaço: (...) é de fato diferença, separação, traço distintivo, resumindo, propriedade relacional que só existe em relação a outras propriedades. Essa idéia de diferença, de separação, está no fundamento da própria noção de espaço, conjunto de posições distintas e coexistentes, exteriores umas às outras, definidas umas em relação às outras por sua exterioridade mútua e por relações de proximidade, de vizinhança ou de distanciamento e, também, por relações de ordem, como acima, abaixo e entre (...) (Bourdieu, 2001:18). A noção de campo pode ser entendida como um espaço estruturado onde os agentes orbitam. A força de atração entre os agentes decorre de habitus semelhantes que geram interesses próximos e formas de compreensão da realidade similares. Com a chegada de novos agentes interessados em seus projetos de pesquisa que passam a desenvolver suas dissertações e teses, traz para esse espaço um maior volume de capital acadêmico que torna possível visualizar e compreender como foi o início da constituição de um campo de pesquisa em Educação Musical na UFC. É importante percebermos que cada campo tem suas regras próprias, que dependendo da posição de cada agente as estratégias serão diversas. Trazemos as reflexões de Bourdieu: [...] descrevo o espaço social global como um “campo”, isto é, ao mesmo tempo, como um campo de forças, cuja necessidade se impõe aos agentes que nele se encontram envolvidos e como um campo de lutas, no interior do qual os agentes se enfrentam, com meios e fins diferenciados conforme sua posição na estrutura do campo de forças, contribuindo assim para a conservação ou transformação de sua estrutura. (BOURDIEU, 2001, p. 50). Aqui apresentamos os conceitos trazendo como exemplo algumas escolhas do agente na qualidade de pesquisador e orientador de mestrado e doutorado, pois, desta forma, a praxiologia ganha sentido. DISCUSSÃO DE RESULTADOS Luiz Botelho Albuquerque - O Pesquisador Na Pesquisa Conhecer a trajetória do agente no âmbito acadêmico é importante porque este se torna um dos detentores do poder simbólico que indica os elementos estruturados nos quais o habitus é 87 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC construído. Através dos dados empíricos identificamos que a história dos agentes traz a incorporação do habitus que será exteriorizado e, assim, exercerá influência sobre os demais indivíduos. O professor Albuquerque orientou 23 dissertações e tem 3 em andamento; no doutorado orientou 11 teses e tem 5 em andamento. Contudo, este agente também atua na área de Educação de forma mais ampla. Destas encontramos registradas no currículo lattes, ligadas à Educação Musical, 7 dissertações concluídas, 1 em andamento; no doutorado 3 teses concluídas e 4 em andamento. As demais dissertações e teses são vinculadas ao campo da Educação. Para este trabalho nos detemos às dissertações orientadas no PPGED e vinculadas ao campo da Educação Musical. Albuquerque iniciou suas atividades na Fundação Educacional do Distrito Federal no período de 1973 a 1975. Aqui percebemos que Albuquerque já vincula sua trajetória ao campo da Educação, ainda que sua formação inicial tenha sido em composição e regência pela UnB. Entre 1975 e 1998 assume o cargo de professor na Universidade Federal do Piauí – UPFI sendo que de 1977 a 1980 já se vinculou ao Centro de Ciências da Educação na qualidade de pesquisador do Departamento de Educação Artística. Este dado nos informa o fortalecimento do seu vínculo com o campo de pesquisa em Educação. Percebemos uma semelhança entre dois períodos na trajetória de Albuquerque, a saber: a arte vinculada ao campo da Educação na UFPI, mantendo a ligação entre Arte e Educação; e da mesma forma a Música surge na UFC no seio da Faculdade de Educação e em seguida a pesquisa em Música se mantém ligada ao PPGED da UFC. Entre 1983 e 1986 foi Pró-Reitor e de 1996 a 1998 foi Assessor Especial ligado à reitoria da UFPI. Manteve suas atividades docentes na graduação e pesquisas na pós-graduação lecionando disciplinas ligadas aos campos da Arte, Cultura e Educação49. Uma Pesquisa Sobre As Pesquisas A posição de orientador nos apresenta o agente como detentor de um volume de capital acadêmico reconhecido pela comunidade de pesquisadores. Este processo de legitimação acadêmico investe Albuquerque de um poder simbólico que o torna “reconhecido como instância legítima de legitimação” (Bourdieu, 1997, p.37). Desta forma, este poder ao ser direcionado ao campo, fortalece e amplia o próprio espaço social aqui pesquisado. Dissertações A seguir analisamos as dissertações orientadas por Albuquerque no PPGED da UFC. 1 – “O ARTISTA, O EDUCADOR, A ARTE E A EDUCAÇÃO. UM MERGULHO NAS ÁGUAS DA PEDAGOGIA WALDORF EM BUSCA DE UM SENTIDO POÉTICO PARA A FORMAÇÃO DOCENTE, OU ARTIFÍCIOS ÀS ARTIMANHAS”. Defendida por Elvis de Azevedo Matos na UFC em 2002. PALAVRAS-CHAVE: Arte; Educação; Waldorf; Docência. 49 Dados coletados no currículo lattes disponível no endereço eletrônico <http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=P11246>. Acessado em 25 de junho de 2013. 88 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO O título que traz as palavras “artista, “arte”, “sentido poético” ainda não apontou diretamente para a formação em Educação Musical e sim para a área da arte de forma mais ampla. E as palavras “educador”, “educação”, “pedagogia”, “formação docente” nos informam, do compromisso deste agente com a Educação. O mesmo encontramos em três PALAVRAS-CHAVE ligadas à Educação: “Educação” que não nos deixa dúvida sobre o que estamos afirmando; “Waldorf” que se refere a uma abordagem pedagógica; e “Docência” que também se liga ao centro dos interesses da pesquisa em Educação. Já a palavra “Arte” mantém a perspectiva aberta para uma abordagem livre e ampla. 2 – “PESSOAL DO CEARÁ: FORMAÇÃO DE UM CAMPO E DE UM HABITUS MUSICAL NA DÉCADA DE 1970”. Defendida por Pedro Rogério na UFC em 2006. Palavras chave: Música do Ceará nos anos 1960 e 1970; Habitus; Campo Artístico; Pessoal do Ceará. Analisando o título da segunda dissertação encontramos as palavras “Formação” e “Habitus” o que aponta para a área da Educação; já a expressão “Pessoal do Ceará”, que indica um movimento musical do estado do Ceará e o termo “Musical”, revelam que esta pesquisa se direciona ao campo de pesquisa em Educação Musical. Não obstante, nas PALAVRAS-CHAVE não aparece nenhuma palavra ou expressão que indique de forma mais explícita esta vinculação. Aqui a estratégia foi de ampliar de “Pessoal do Ceará” para “Música do Ceará” e de “Musical” para “Artístico”. Logo, esta pesquisa demonstra que o campo ainda está em fase de amadurecimento. Sendo este o segundo trabalho de dissertação orientado por Albuquerque no PPGED, é possível verificar que os agentes estão próximos de desvelar suas intenções – mais ou menos conscientes - de fomento do campo de pesquisa em Educação Musical na UFC. Mas, a configuração social ainda está em andamento. 3 – “A INFLUÊNCIA DA INDÚSTRIA CULTURAL NAS PREFERÊNCIAS MUSICAIS DE ADOLESCENTES DO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO: ESTUDO DE CASO. Defendida por Jaques Luis Casagrande na UFC em 2007. Palavras chave: Educação; Formação Cultural, Massificação, Esclarecimento; Formação musical, Indústria Cultural, Mídias. O título deste terceiro trabalho é direto quanto à filiação teórica, que está ligada aos estudos de Theodor Adorno da Escola de Frankfurt quando utiliza o termo “Indústria Cultural” e informa que o pesquisador direciona seu interesse à música na escola ao registrar as expressões “PREFERÊNCIAS Musicais” e “Ensino Fundamental e Médio”. Nas palavras chave o pesquisador manteve a clareza de sua vinculação ao campo da Educação utilizando os termos “Educação” e “Formação” por duas vezes. Especifica ainda mais e se vincula mais fortemente aos estudos de Theodor Adorno quando utiliza os vocábulos “Massificação”, “Esclarecimento” e “Indústria Cultural”. E, por fim, como é recorrente em trabalhos orientados por Albuquerque existe a possibilidade de ampliação com as expressões “Formação Cultural” e “Mídias”. 4 – “REPENSANDO A PERCEPÇÃO MUSICAL BRASILEIRA: O SUBJETIVO, O TEÓRICO E O SOCIOLÓGICO EM FUNÇÃO DO PEDAGÓGICO”. Defendida por Jaderson Aguiar Teixeira na UFC em 2011. Palavras chave: percepção musical, educação musical. 89 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Nesta quarta investigação a expressão “percepção musical” contida no título remete o leitor a uma área específica e que recorrentemente é objeto de discussão nos cursos de graduação e é para esse campo específico que o pesquisador se dirige, ou seja, para uma área relevante e historicamente em pauta na formação de músicos e educadores musicais. A expressão “em função do pedagógico” vincula à área da Educação e não deixa dúvidas sobre as intenções ou sobre o que o leitor irá encontrar no texto. As PALAVRAS-CHAVE guardam completa coerência e reforçam a clareza de para onde se dirige o olhar investigativo; mais uma vez as expressões “percepção musical” e “educação musical” refletem o campo que estamos buscando demonstrar estar em fomento na UFC: “o campo de pesquisa em Educação Musical”. 5 – “ESTÁGIO CURRICULAR E FORMAÇÃO DO HABITUS DOCENTE EM EDUCAÇÃO MUSICAL”. Defendida por João Emanoel Ancelmo Benvenuto, na UFC em 2012. PALAVRAS-CHAVE: Educação musical; Estágio Supervisionado; ensino de música; Habitus Docente. Aqui é possível verificar, mais uma vez, o fomento do campo específico de pesquisa em “Educação Musical”, pois esta expressão é utilizada no título e nas palavras chave. O início do título com os termos “Estágio curricular” e “formação do habitus docente” revela que o trabalho está na área da Educação. A nitidez do pesquisador sobre a escolha do campo de pesquisa em Educação é reafirmada com os vocábulos “Educação”, “Estágio Supervisionado”, “Ensino” e “Habitus Docente” e a mesma clareza sobre o a área da Música com os termos “Musical”, e “Música”, nos permitem a afirmação de que estamos acompanhando um novo campo de pesquisa sendo forjado a partir da intersecção de outros dois campos, o da Educação e o da Música. Continuando a pesquisa passaremos, agora, às orientações concluídas de teses sob a orientação do Professor Luiz Botelho Albuquerque. CONSIDERAÇÕES FINAIS Através da pesquisa constatamos que um novo campo de pesquisa vem se configurando à medida que novos agentes da área de Música se aproximaram deste orientador. Verificamos através dos títulos e das PALAVRAS-CHAVE que o início da definição do campo fica cada vez mais claro em cada nova pesquisa. É importante registrar que a primeira dissertação aqui apresentada, sob orientação de Albuquerque, que no ano de 2013 deve receber mais dois estudantes no doutorado e um no mestrado, foi a do Prof. Dr. Elvis de Azevedo Matos que hoje é também um dos orientadores do Eixo Ensino de Música do PPGED da UFC com 3 dissertações concluídas e com 5 em andamento; no doutorado orienta 2 pesquisas e no ano de 2013 deve recepcionar mais 1 doutorando e 2 mestrandos. Registre-se ainda que o Prof. Dr. Gerardo Silveira Viana Jr. do Curso de Música da UFC integra, também, o quadro docente do PPGED e está com uma orientação de mestrado defendida e uma em andamento; no ano de 2013 deve receber mais dois orientandos de mestrado; e o Prof. Dr. Pedro Rogério também é orientador da linha com duas orientações de mestrado concluídas e que nesse ano deverá receber mais 4 estudantes no mestrado e um no doutorado. Atualmente a linha conta com um total de 6 orientadores, onde o prof. Dr. Marco Antônio Toledo 90 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO é o mais novo credenciado do PPGED e deverá receber um orientando de mestrado e a Profa. Dra. Carmen María Saenz Coopat oriunda de Cuba, através do Programa de Bolsas “Professor Visitante Estrangeiro – PVE” do CNPq e está como visitante no PPGED onde abriu duas vagas de mestrado. As dissertações orientadas por Albuquerque no PPGED da UFC, aqui analisadas a partir dos títulos e das PALAVRAS-CHAVE, possibilitaram perceber a diversidade de temas e objetos de investigação, assim como o início do fomento do campo de pesquisa em Educação Musical na UFC, que está em processo de legitimação, se fortalecendo, se ampliando e se consolidando a cada novo agente que ingressa no Eixo Temático Ensino de Música da Linha de Pesquisa Educação, Currículo e Ensino do Programa de Pós Graduação em Educação Brasileira da Universidade Federal do Ceará. REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, Luiz Botelho, ROGÉRIO, Pedro (organizadores). Educação musical em todos os sentidos. Fortaleza: Edições UFC, 2012. ______________. Educação musical: campos de pesquisa, formação e experiências. Fortaleza: Edições UFC, 2012 BOURDIEU, Pierre. O senso prático. Tradução de Maria Ferreira. Petrópolis; RJ: Editora Vozes, 2009. _____________. Esboço de auto-análise. Tradução de Sergio Miceli. São Paulo: Companhia da Letras, 2005. _____________. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp; Porto Alegre, RS: Zouk, 2007. _____________. Razões Práticas: sobre a teoria da ação. Tradução de Mariza Corrêa. Campinas-SP: Papirus, 2001. _____________. Sobre a televisão. Tradução de Maria Lúcia Machado. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997. ELIAS, Nobert. Mozart, sociologia de um gênio. Organizado por Michael Schröter. Tradução Sérgio Goes de Paula. Rio de Janeiro: Zahar, 1995. ROGÉRIO, Pedro. Pessoal do Ceará: habitus e campo musical na década de 1970. Fortaleza, CE: Edições UFC, 2008. 91 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA FORMAÇÃO MUSICAL DOS ADOLESCENTES DE UMA ESCOLA REGULAR EM FORTALEZA Luiz Botelho Albuquerque50 Pedro Rogério51 Yure Pereira de Abreu52 RESUMO: O presente artigo é relato de uma pesquisa exploratória que encontra-se em andamento e tem por objetivo identificar, compreender e refletir como está se estruturando a formação musical, formal e informal, dos adolescentes de Fortaleza - CE na contemporaneidade a partir de uma escola conveniada a disciplina de Estágio Supervisionado do Curso de Música – Licenciatura – da Universidade Federal do Ceará. Entender a formação musical destes adolescentes é de certa forma, compreender os contextos socioculturais em que estão inseridos e seus habitus. Deste modo foi realizado um estudo de caso sobre o impacto que as mídias e grupamentos jovens exercem sobre a formação musical dos adolescentes de Fortaleza, vislumbrando apontar um panorama acerca da formação musical, em caráter formal e informal, de modo a auxiliar a repensar estratégias para o acesso a educação musical formal de forma gratuita e igualitária em Fortaleza. PALAVRAS-CHAVE: Adolescentes. Mídia. Grupamentos Jovens. Formação Musical. INTRODUÇÃO Compreender o processo de construção da formação musical é de certa forma está atento aos contextos socioculturais na qual nossa juventude está inserida. É em meio à sociedade moderna com o advento da cultura de massas, vinculada às mídias, que a educação musical se torna mais dinâmica e interativa. No entanto a educação passa a operar tanto na formalidade quanto e principalmente em uma mescla entre a formalidade e a informalidade. É neste cenário que a educação musical informal cresce, sendo acentuada pelas mídias e grupamentos jovens. Porém na contemporaneidade a cidade de Fortaleza não oferta educação musical em caráter formal de modo acessível a toda a população, o que é bastante notório ao passo que a cidade não possui nenhuma escola de música e/ou conservatório de música público; tampouco se ofertam disciplinas ou conteúdo de música nas matrizes curriculares das escolas de educação básica, 50 Graduado em Música (Composição e Regência) pela UnB, Mestre em Educação pela UFRGS e Doutor em Sociologia da Educação - University of Iowa. Atualmente é Professor Associado 2 lotado no Departamento de Teoria e Prática do Ensino da FACED / UFC. E-mail: [email protected]. 51 Graduado em Música – Licenciatura – pela UECE, Mestre e Doutor em Educação pela FACED / UFC. Professor Adjunto lotado no Curso de Música ICA / UFC. E-mail: [email protected]. 52 Graduando em Música – Licenciatura pela UFC. Integrante do Laboratório de Epistemologia da Música e Grupo de pesquisa Ensino de Música. E-mail: [email protected]. 92 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO deixando o acesso à educação musical (Formal) limitada a instituições privadas de ensino e as universidades, que ofertam cursos de licenciatura, bacharelado e técnico. No entanto chamamos a atenção para a atuação dos estudantes/estagiários do Curso de Música - Licenciatura - da Universidade Federal do Ceará (UFC), pois os mesmos proporcionam um contato formal com a educação musical a uma pequena parcela dos estudantes das escolas que possuem convenio com a disciplina de Estágio Supervisionado. Tendo em vista que nem todos os alunos destas escolas possuem acesso ao conhecimento musical em caráter formal é que se faz necessário refletir sobre a formação musical dos mesmos. No entanto o aprendizado de música não se interrompe por conta desta carência de educação musical formal, ela prossegue por diversos caminhos, trilhada em sua maior parte na informalidade. OBJETIVOS GERAIS A pergunta que este trabalho visa responder é: Como está ocorrendo à formação musical dos adolescentes de Fortaleza na contemporaneidade, tendo como cenário uma cidade carente de educação musical em caráter formal de modo acessível, de uma juventude organizada em grupamentos jovens e com uma relação intensa e ativa com as mídias? Este artigo visa contribuir com a comunidade científica na área de educação musical, bem como com a comunidade educacional ao apresentar uma amostragem de como estrutura-se a formação musical, formal e informal dos adolescentes acima citados, repensando estratégias e fazendo reflexões no que diz respeito à implementação do ensino de música na educação básica, o que já está previsto na Lei 11.769 de 18 de agosto de 2008. METODOLOGIA O presente trabalho é fruto de um projeto de pesquisa que tem por interesse compreender e refletir como está ocorrendo a formação musical dos adolescentes de Fortaleza na contemporaneidade. Desta forma, iniciamos um estudo bibliográfico e documental de autores que subsidiem a presente pesquisa de modo a auxiliar na compreensão da temática. Após essas leituras e as respectivas reflexões sobre o tema e partindo também de nossas observações sobre o cotidiano educacional na cidade, elaboramos um questionário - para ser utilizado como instrumento de coleta de dados - contendo treze perguntas, entre abertas e fechadas, direcionadas a temática. Uma pesquisa exploratória está sendo realizada com a colaboração de vinte e seis adolescentes de uma turma de primeiro ano do ensino médio de uma escola regular da capital que possui convenio com a disciplina de Estágio Supervisionado do Curso de Música da UFC53. Segundo Antônio Carlos Gil, a principal finalidade das pesquisas exploratórias é: [...] desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. (...) Habitualmente envolvem levantamento bibliográfico e documental, entrevistas não padronizadas e estudos de caso. (GIL, 2009, p.27) 53 Meu interesse pela pesquisa tem convergência para a minha inserção no âmbito escolar através da disciplina de Estágio Supervisionado onde sou estudante e monitor. 93 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC O Estudo de Caso foi realizado com o intuito de compreender certos aspectos acerca da vivência musical dos jovens e o modo como os grupamentos jovens e a mídia tendem a influenciar suas concepções referentes ao estilo, gosto musical, e consequentemente à formação musical, colaborando para uma padronização. Dessas fontes empíricas extraíram-se dados importantes sobre o assunto, da observação do cotidiano e do entendimento que esses jovens possuem sobre sua formação musical, relacionando-as com as suas próprias experiências. Segundo Gil (2009, p.57 – 58), “O estudo de caso é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um dos poucos objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado[...]”. A Influência Midiática, Grupamentos Jovens e os impactos no processo de formação musical No decorrer do século XX, as sociedades ocidentais modernas passaram por significativas mudanças estruturais que influenciaram os campos social, ideológico e científico-tecnológico, colaborando para o surgimento de uma nova cultura, posteriormente definida como “massculture” ou cultura de massas, que para Morin (2011, p.04) é a “[...] Terceira Cultura, oriunda da imprensa, do cinema, do rádio, da televisão, que surge, se desenvolve, se projeta ao lado das culturas clássicas – religiosas ou humanistas – e nacionais”. Esta nova cultura, a cultura de massas, torna-se determinante por seu caráter industrial, ferramenta ultraligeira, para a propagação do ideal capitalista – o consumo – visando atingir o maior público possível com o propósito da geração de lucro. Nesse cenário a cultura torna-se uma arma forte para a divulgação desses parâmetros. O conceito de cultura para Morin (2011, p.05) constitui-se em “[...] um corpo complexo de normas, símbolos, mitos e imagens, que penetram o indivíduo em sua intimidade, estruturam os instintos, orientam as emoções”. Tendo em vista que uma cultura interfere, desenvolve, modifica, orienta e domesticam as virtualidades humanas, a cultura de massas realiza um extraordinário e bem feito papel para a construção de uma cultura tida como “universal”, proporcionando estímulos de massificação social para a consumação. Daí o fruto da relação produção e consumo ser a Cultura de Massas. Morin (2011, p.38) é muito enfático ao dizer que “A Cultura de Massas é, portanto, o produto de uma dialética produção-consumo, no centro de uma dialética global que é a sociedade em sua totalidade”. Portanto, em princípio a Cultura de Massas é a cultura do denominador comum entre as idades, os sexos, as classes e os povos. Os elementos constituintes e fortemente presentes nessa cultura é acentuada - de certo modo – pelos grupamentos jovens, que fazem seleções e interiorizam elementos dessa cultura supracitada constituindo o habitus, que Bourdieu (2007, p.57) define como uma “estrutura estruturante que organiza as práticas e a percepção das práticas”, dos grupamentos, onde muitas vezes, está intimamente relacionado ao modo como os jovens se organizam nesses grupamentos. Segundo Jannoti Jr. os grupamentos jovens constituem-se de: Agremiações de indivíduos que partilham interesses comuns, vivenciam valores, gostos, afetos, privilegiam determinadas produções de sentido em espaços desterritorializados, através de processos midiáticos que se utilizam de REFERÊNCIAS globais. (Jannoti Jr., 2003) Desta maneira, a educação passa a operar não mais em sua maior parte na formalidade e sim em uma mescla entre a formalidade e a informalidade. É neste contexto que a educação 94 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO musical informal tem um crescimento acentuado, tanto pelas mídias, quanto pelos grupamentos jovens. Segundo Arroyo (2000) “ao utilizarmos o termo formal para qualificarmos a educação musical diferentes significados poderão ser destacados, pois esse termo pode ter significação como escolar, oficial, ou dotado de uma organização” (apud: Wille 2005). Mas, enxergando a formação musical como um processo em construção contínua e viva, é que se faz necessário incorporar ao conceito de adolescência, uma compreensão mais profunda dos anseios, problemas e ações que permeiam a vida dos mesmos na confecção de seu habitus, sua identidade, envolvendo uma gama de significados as suas práticas sociais, gostos e, sobretudo, seus vínculos afetivos, o que corroboram para a sua formação. Portanto a adolescência é um período instável e conturbado que Pfromm Netto (1976, p.02) define como “inquietação”, tornando esta etapa da vida um pilar fundamental, pois é nesta fase que se constrói os valores e habitus, a sua própria identidade, estando deste modo vulneráveis e suscetíveis a sofrerem influências. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A grande maioria dos jovens entrevistados admitiu estudar e/ou terem estudado música, o que já era esperado, pois, a pergunta formulada carregava consigo uma resposta “implícita” para a turma entrevistada, visto que essa é contemplada com a presença de estagiários da área de música, estudantes do curso de Música da UFC, logo, é fato que esses jovens possuem aulas de música. No entanto, chamou-nos a atenção o fato de haver ocorrido casos de negativa, ainda que em pequeno número, no qual dos vinte e seis respondentes três afirmam não ter estudado música. As respostas negativas anteriormente citadas podem ocorrer por inúmeros motivos, contudo, acreditamos que estejam intimamente ligadas a ausência de uma mínima sistematização curricular na área de música na rede pública de ensino, apesar de existir a obrigatoriedade garantida por lei, mas que ainda não vigora em Fortaleza / CE; de não ser um conteúdo na disciplina de artes e nem possuir uma disciplina especifica; de não existir profissional licenciado da área presente na escola. Esses são fatores que contribuem para a não compreensão dos estudantes com relação às aulas de música posto que as atividades com música ocorrem em um horário, que para eles, é denominado “Horário de Estudos¹”. Também, outro fator que contribui para isso é o não entendimento do que é uma aula de música e a falsa impressão de que aprender música está ligado intimamente com a prática instrumental. Dentre os jovens entrevistados que afirmam estudar e/ou terem estudado música, a maioria significativa indica ter tido acesso ao conhecimento musical na escola. Também foram citadas outras formas de aquisição musical, a saber: Conservatório, Igreja e Projeto Social/ONG. Um dos respondentes nos forneceu uma resposta que merece uma atenção especial, ele indicou além da escola regular estudar em casa, porém, ele não forneceu mais detalhes. Podemos, a partir disso, fazer algumas considerações a essa resposta, tais como: ele pode ter aulas particulares; ele pode ter parente e/ou amigos que compartilham os conhecimentos de música; bem como ele também pode realizar seus estudos de forma “autodidata”, utilizando-se de materiais impressos e conteúdos 95 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC virtuais. Como esta pesquisa ainda está em andamento a ainda haverá outras etapas, teremos a possibilidade de retornar a esse aluno para maiores esclarecimentos. A maioria dos respondentes afirma possuir habilidades como cantar e/ou tocar instrumento musical. Entre os instrumentos mais citados estão o Violão, Flauta, Guitarra e a Bateria. Qual o porquê da escolha destes instrumentos? Dos entrevistados, apenas sete dizem cantar, o que nos leva a seguinte pergunta: As atividades que eles realizam em sala é o canto coral, então como pode apenas sete realizar atividades de canto? O que nos chama a atenção nessa questão é a quantidade, quase metade dos respondentes, não terem assinalado nada. Das pessoas que não responderam a esta questão, apenas três disseram nunca ter estudado música. Acredito que essa ideia de não tocar nenhum instrumento e nem cantar está, em parte, relacionado com a mítica de que música é um “dom”, e que poucos são escolhidos, o que se contrapõe a ideia de Paynter que considera que todos podem apreender música (Mateiro, p. 264). A grande maioria disse não participar de nenhum grupo musical e/ou banda, sendo que a própria classe, de certa maneira, pode ser considerada um grupo musical. Seis pessoas responderam a pergunta de forma afirmativa, onde a grande maioria (cinco) respondeu serem membros de grupos musicais da igreja que frequentam e um disse ser membro da banda que a escola possui que é uma iniciativa dos próprios alunos da escola, o que nos mostra o interesse dos alunos pela música. O que mais chama a atenção é a resposta de um dos entrevistados que disse ser regente do grupo de adolescentes da igreja que frequenta, mas ele não detalhou sobre qual tipo de atividade musical eles realizam e nem forneceu mais detalhes sobre a sua formação musical, o máximo que se pode relatar é que ele disse adquirir toda sua experiência musical na Igreja. Dentre os meios de comunicação mais utilizados pelos jovens entrevistados, podemos observar a presença forte da internet, sendo este o meio mais acessado por eles; provavelmente possibilitado por Lan House, programas do Governo Federal de Acessibilidade Eletrônica, bem como a utilização dentro dos laboratórios de informática da escola e os celulares com acesso à internet como facilitadores a esse acesso. A televisão e o rádio aparecem em papel secundário no cotidiano dos mesmos, apesar de ser muito notória, ainda, a grande influência que exercem sobre os jovens, como afirma Bourdieu (1997, p.23) “A televisão tem uma espécie de monopólio de fato sobre a formação das cabeças de uma parcela muito importante da população”. Esses equipamentos agem fabricando e programando conteúdos fundamentados nas concepções do mercado, seguindo a lógica capitalista e atendendo aos interesses mercadológicos, dissipando fortes estímulos aos jovens através da veiculação massificada da dialética produção-consumo, apresentando artistas e gêneros “do momento”, com o interesse de alavancar o consumo de determinados artistas/músicas/produtos, pois, como Bourdieu (1997, p.38) ressalta “é a lógica do comercial que se impõe ás produções culturais”. Assim, passam a estimular nossa juventude a se adequar à padrões determinados. Desta forma, concordo com Bourdieu (1997, p.29) quando ele diz que “a televisão se torna o árbitro de acesso a existência social e política”, o que se reflete diretamente e visivelmente na formação musical dos mesmos. 96 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO Podemos observar que os artistas preferidos dos jovens entrevistados circulam diariamente na mídia, em inúmeros canais, e também é possível constatar que os gostos musicais dos jovens entrevistados são semelhantes, podendo inferir uma padronização na construção do gosto musical e consequente formação musical. Com base nos questionários aplicados, foi possível mapear os gêneros musicais dos jovens daquela turma. Dentre os gêneros preferidos encontram-se o Rock, Pop, Forró, Gospel e MPB sendo estes os mais citados. Porém não há em principio uma unidade quanto ao gênero musical, visto que ainda foram citados inúmeros outros gêneros (apresentados a seguir sobre a perspectiva de número de citações, dos mais citados para os menos citados), a saber: Sertanejo, Funk, Axé, Rap, Eletrônica, Pagode, Reggae e Hip-Hop. No entanto, se levarmos em consideração os números relativos a esses gêneros notaremos uma unidade, pondo os gêneros que estão em alta na mídia como os preferidos pelos mesmos, o que é enfatizado por Bourdieu (1997, p.68) quando este fala que a televisão serve-se de seu monopólio para impor a todo mundo produtos com pretensão cultural e formar o gosto do grande público. Dentre os artistas ou bandas mais citados pelos entrevistados estão Garota Safada; Legião Urbana; Sorriso Maroto; Luan Santana; Jorge e Mateus; Beyoncé; Aviões do Forró; e Link Park. Foi possível desta forma confirmar que os artistas/bandas prediletos dos jovens podem ser denominados como os do “momento”, artistas e bandas que estão em alta, com circulação assídua e frequente na mídia, demonstrando o poder de influência que esta exerce sobre a formação musical e sobre o gosto dos entrevistados. Após a coleta de dados foi possível identificar os veículos culturais com os quais os jovens entrevistados possuem mais ligação, frequentam/tem acesso. O cinema aparece como o principal meio utilizado por estes jovens, seguidos de shows de música e bibliotecas/livrarias. Deste modo, podemos compreender que o cinema contribui ativamente para a formação musical, pela presença relevante da trilha sonora. Por sua vez os shows de música vêm mais para reforçar o gosto musical já existente. Foi perguntado aos entrevistados qual o nível de interesse deles pela música, e constatou-se ao final que o interesse dos mesmos é grande, observando que só foram dadas respostas “muito” ou “regular”. Quanto à presença de música na escola, dos 26 entrevistados, 25 disseram querer que ela fosse de fato uma realidade, que é importante. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir da presente pesquisa pude obter, ainda que de formal parcial, uma amostragem de como está se estruturando a formação musical dos adolescentes de Fortaleza na contemporaneidade, e que tal formação está bastante implicada na informalidade ao passo que os grupamentos jovens e as mídias vêm intensificando suas influências sobre o processo de formação musical dos jovens que ali frequentam e que apesar de algumas ações isoladas estejam sendo realizadas no município, na tentativa de promover um acesso mais igualitário ao ensino de música, analiso que estão sendo insuficientes e deficitárias, já que a maioria dos jovens ainda não possui acesso ao conhecimento musical formalmente. 97 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Também foi possível constatar como está ocorrendo à formação musical informal, sendo realizada através de amigos, livros, métodos diversos, vídeos-aula, revistas, dentre outros. Vale também ressaltar que esta pesquisa encontra-se em andamento, e que as conclusões aqui apresentadas ainda são parciais. Esta pesquisa ainda irá entrevistar uma outra turma da mesma escola e de mesma série de ensino, porém, desta vez com uma turma que não é contemplada com a presença de estagiários do Curso de Música da UFC. Após essa nova entrevista os dados dos dois questionários aplicados (um com a turma que tem a presença de estagiários de música e outra que não recebe) serão confrontados com o intuito de perceber as semelhanças e diferenças de modo a conseguir um panorama geral daquela escola. Por fim posso concluir que a mídia, os grupamentos jovens e a carência de educação musical em caráter formal na cidade de Fortaleza colaboram para a disseminação da cultura educacional informal. REFERÊNCIAS BOURDIEU, Pierre. Sobre a televisão. Tradução de Maria Lúcia Machado. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 1997. ________________. A distinção: a crítica social do julgamento. 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O objetivo é tentar induzir que mesmo a capacidade autônoma de reflexão subjetiva não seria capaz de amenizar o status referencial do repertório musical a que se teve acesso, tampouco arrefeceria a leitura hierarquizante que o indivíduo constrói dos repertórios musicais a partir do seu mundo cultural. Por este caminho, observa-se que a força e a crença no gosto musical incorporado são preponderantes a despeito de qualquer valor étnico-musical específico que lhe seja estranho e reforço a necessidade de que o ensino teórico-prático de música para adultos iniciantes seja subsidiado fundamentalmente pelas preferências musicais dos estudantes e que os conhecimentos sejam construídos sob a luz dos seus contextos práticos de atuação formal/informal sob o pretexto constante de ampliar os recursos técnicos de suas produções. PALAVRAS-CHAVE: Mário de Andrade. Adorno. Estética musical. Repertório de referência. INTRODUÇÃO Na presente comunicação, proponho expor uma parte do subsídio teórico que tenho desenvolvido a partir do estudo comparativo entre os gostos e as predisposições musicais manifestas nos escritos de dois críticos musicais: Adorno e Mário de Andrade. Andrade (1972) e Adorno (2004) estão empenhados em pensar suas respectivas artes nacionais embora igualmente não apreciassem a denominação ‘nacionalista’. Adorno interessa-se em uma estética alternativa em relação ao tonalismo, apesar de considerar pessoalmente que as contribuições mais promissoras davam-se exatamente na Alemanha. Andrade, entende que uma arte nacional não alcança poder de projeção para além de suas fronteiras senão mostrando-se conhecedora dos paradigmas e técnicas que o ocidente consagrara, sendo este o melhor estratagema para subverter a ideia estrangeira da música brasileira como sendo saborosamente exótica e no sentido de providenciá-la particular, mas diluída em fluidos universais cuja patente não pudesse ser protestada por nenhuma nação; daí não 54 55 Mestre em Educação Brasileira. Professor da Licenciatura em Música (UFC). [email protected] Especialista em Arte Educação. Professora do IFCE. [email protected] 99 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC música ‘nacionalista’, condimentada de elementos pitorescos, mas ‘nacional’, ciente de suas particularidades e informada dos encaminhamentos da música ocidental. OBJETIVOS GERAIS Procurar induzir que mesmo a capacidade autônoma de reflexão subjetiva não seria capaz de amenizar o status referencial do repertório musical a que se teve acesso, tampouco arrefeceria a leitura hierarquizante que o indivíduo constrói dos repertórios musicais a partir do seu mundo cultural. METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa bibliográfica exploratória (FARIA et al., 2008) ligada à leitura crítica das preocupações que Mário de Andrade e Adorno nutrem em relação a uma pretensa arte desinteressada, à repercussão educativa da música veiculada pela indústria cultural, à política na arte e às concepções estéticas de ambos os autores numa expectativa “universal”. Ao caracterizar a pesquisa qualitativa em educação musical, Bresler (2007) identificaria, neste caso, uma aproximação com a etnomusicologia devido à ênfase em questões amplas sobre os usos e funções da música, o papel e o status do músico, os conceitos que sustentam o comportamento musical, de modo que o investigador estaria, por estas vias, procurando compreender de que forma a música se ajusta e é usada dentro de um contexto mais amplo. Na presente comunicação, proponho expor uma parte do subsídio teórico que tenho desenvolvido a partir do estudo comparativo entre os gostos e as predisposições musicais manifestas nos escritos de dois críticos musicais: Adorno e Mário de Andrade DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Adorno apoia sua crítica tendo como referência de belo a tradição secular germânica interpretada por ele como a espinha dorsal do progresso da música ocidental, mas sustenta este discurso a despeito das assimilações alemãs patentes de avanços idiomáticos que dependeram de um diálogo permanente com contribuições musicais importadas de vários países da Europa como Itália, França, Inglaterra e Espanha. Como demonstração da tendência ariana de Adorno, dos três grandes movimentos da primeira metade do século XX identificados pelo autor – o neoclassicismo russo de Stravinsky, o impressionismo de Debussy e o dodecafonismo de Schoenberg – o autor defende vigorosamente a segunda escola de Viena explicitando o demérito das outras. A música de Stravinsky “tem [para ele] um comportamento que se parece ao de certos doentes mentais” (ADORNO, 2004, p. 132). Quando se reporta ao que chama de “infantilismo” da primeira fase de Stravinsky, evita compará-lo a Mozart provavelmente porque o conceito de infantil no clássico alemão representou uma virtude e não uma deficiência. Adorno pensa em Stravinsky como uma regressão cultural visto que “o motivo temático ainda não está aí”, não se importando em se contradizer ao considerar progressista outra escola em que “já não existem temas, tampouco desenvolvimento”: a de Schoenberg, Berg e Webern. Esforçando-me para compreender melhor a posição de Adorno tanto a respeito de seu germanocentrismo quanto de sua calorosa apologia ao dodecafonismo, lembro que, para o autor, 100 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO foram os alemães que exploraram os limites gnosiológicos das duas principais tecnologias composicionais européias: o contraponto pela apoteose de Bach e a homofonia pela apoteose de Beethoven. Nessa perspectiva persuasiva, Adorno nota quão atraente é ver na segunda escola de Viena, mediante uma leitura do próprio Webern, uma “vontade de superar a oposição dominante da música ocidental, a oposição que há entre a natureza polifônica da fuga e a natureza homofônica da sonata”. Ora, esta circunstância representaria não só um ideal diferencial plausível no controle do material sonoro quanto seria enfim, um primeiro sucesso empírico de toda a aventura dialética alemã, uma demonstração científica, finalmente só obtida por ironia através da arte, da utilidade metafísica alemã: finalmente uma síntese (dodecafônica) experimentadamente superior às respectivas tese (polifônica) e antítese (homofônica)! A quem quer que seja formado na música alemã e austríaca é familiar já em Debussy uma sensação de decepcionada expectativa [...] O ouvido deve orientar-se diferente para compreender exatamente Debussy, para entendê-lo não como um processo [tonal] de tensões e resoluções, mas como uma justaposição de cores e superfícies, como a de um quadro. [Porém], já em Wagner o decurso musical é, mais de uma vez, um mero deslocamento. E dali deriva a técnica temática de Debussy, que repete sem desenvolvimento sucessões sonoras muito simples. [Já] os melismos, calculadamente avaros, de Stravinski [...] deveriam encarnar a ‘natureza’ como muitos dos motivos wagnerianos (ADORNO, 2004, p. 144-145, grifos nossos). Conclusão: o que há de aproveitável na música dos franceses e russos é, na opinião de Adorno, germânico! Neste respeito, a visão de Andrade é mais sóbria e consigo melhor avistá-la como útil em termos educacionais. Para Mário de Andrade (1972, p. 16-7) é nosso aquilo que a gente conseguir incorporar. “Música Brasileira deve de significar toda música nacional como criação quer tenha quer não tenha carácter étnico. O padre Maurício, I Salduni, Schumaniana são músicas brasileiras.” Portanto, embora Mário de Andrade preocupe-se com uma arte que “reflete as características musicais da raça”, ele mostra-se mais consciente (ainda que seja pela dificuldade que encontra em fundar uma epistemologia própria) da problemática de circunscrever o pioneirismo de uma tradição, sugerindo que se utilize, por direito humano amplamente adquirido, do aprendizado de outras culturas para ajudar a constituir uma produção posterior. Andrade (1942) teria para contra-argumentar Adorno o próprio exemplo de Bach: aglutinador de seiscentos anos de soluções culturais estrangeiras cuja maestria lhe patenteou a propriedade da sua obra. Neste sentido, Andrade (1972, p. 16) acrescenta: Se fosse nacional só o que é ameríndio, também os italianos não podiam empregar o órgão que é egípcio, o violino que é árabe, o cantochão que é greco-hebraico, a polifonia que é nórdica, anglo-saxônica flamenga e o diabo. Os franceses não podiam usar a ópera que é italiana e muito menos a forma-de-sonata que é alemã. E como todos os povos da Europa são produto de migrações pré-históricas se conclui que não existe arte europeia. 101 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Contudo, o interesse numa identidade nacional universalmente identificável é ponto comum no pensamento desses autores. E assim como Andrade adverte da polifonia, alegando o perigo deste procedimento na descaracterização da música brasileira, Adorno sugere cautela em se deixar inebriar com os acordes sedutores de Debussy: “A orgia sonora impressionista se manifesta aqui como um corrosivo em que se submerge a vítima e em que esta perde todo seu sabor” (ADORNO, 2004, p. 121). “Quanto aos processos já europeus de polifonização eles são muito perigosos e na maioria das feitas descaracterizam a melodia brasileira” (ANDRADE, 1972, p. 53). Numa perspectiva pedagógica, preciso discordar de ambos, porque usar uma diversidade de influências é uma forma de aprender, de ganhar técnica ou vocabulário. Mas o fato é que processo formativo escolar em música praticamente não é componente presente em seus trabalhos: o mais importante é a originalidade artística e uma cultura que se deixa descaracterizar, não é capaz de produzir uma música com valor propriamente estético. Tampouco se demoram em seus escritos a refletir sobre um tipo de educação que pudesse favorecer esse ideal estético de evolução cultural. No máximo denunciam as políticas ou modelos praticados e emergentes em seus tempos, como a educação deformadora do rádio e da televisão (ADORNO, 2002), um ensino “pessimamente orientado por toda a parte” (ANDRADE, 1972, p. 73) e os virtuoses a manter programas desgastados e aparências sociais extra-musicais (ANDRADE, 1942, p. 170). Portanto, o elemento filosófico chave, e não diretamente pedagógico, que entendo aproximar os autores é o apreço por uma “cultura superior”, incluindo a hierarquização tradicional da música erudita em detrimento da popular. Em Adorno (2004), mediante a preocupação com a manutenção da hegemonia cultural alemã, em Andrade (1972, p. 15-6, 49; 1942, p. 77), através da busca por constituir uma música erudita nacional e apesar de seu profundo empenho como etnomusicólogo. Uma arte nacional não se faz com escolha discricionária e diletante de elementos: uma arte nacional já está feita na inconsciência do povo. O artista tem só que dar para os elementos já existentes uma transposição erudita que faça da música popular, música artística, isto é: imediatamente desinteressada [...] a música artística não pode se restringir aos processos harmônicos populares, pobres por demais. Tem que ser um desenvolvimento erudito. [Por exemplo, na história da música] a harmonia em relação à polifonia [representou] uma facilidade [...] um convite constante para a confusão da música artística com a precariedade modulatória da música popular. A respeito desta preocupação harmônica observo uma divergência entre a busca adorniana de superação dos materiais solidificados em direção a uma estética nova e a necessidade “interessada” de Andrade (1972) nas possibilidades de rearmonizações e ambientações de materiais folclóricos, consideradas por este autor como harmonizações artísticas e por Adorno (2004) como caprichos afetados. Inseridos em contextos diferentes, Adorno busca alternativas para o diferencial musical dentro da autonomia histórica que a cultura alemã teria conquistado. Andrade, uma primeira solidificação da identidade nacional na qual uma leitura estilisticamente “sofisticada” dos temas populares seria de grande utilidade, dignificando, mas tornando nossa 102 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO cultura internacionalmente menos exótica. Mas ambos tendem ao estruturalismo; a procurar racionalizar e estabelecer certa unidade na realização estética local. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir da manifestação crítica de Adorno e Mário de Andrade é possível induzir que mesmo a capacidade autônoma de reflexão subjetiva não seria capaz de amenizar o status referencial do repertório musical a que se teve acesso, tampouco arrefecer a leitura hierarquizante que o indivíduo constrói dos repertórios musicais a partir do seu mundo cultural. A crítica de Adorno, embora metodologicamente dialética e o pensamento de Mário de Andrade, apesar deste haver colido um amplo acervo de registros de manifestações musicais populares, pendem igualmente para afirmar a concepção de que não existe música artística que não seja erudita. Por este caminho, observo que a força e a crença no gosto musical incorporado são preponderantes a despeito de qualquer valor étnico-musical específico que lhe seja estranho e reforço que para amenizar esse processo de glorificação de repertório haja abertura para que o ensino teóricoprático de música para adultos iniciantes – que praticamente ou nunca freqüentaram escola, mas já viveram o suficiente para realizar as próprias seleções musicais – seja subsidiado fundamentalmente pelas preferências musicais dos estudantes e que os conhecimentos sejam construídos sob a luz dos seus contextos práticos de atuação formal/informal sob o pretexto constante de ampliar os recursos técnicos de suas produções. Neste ponto chego a uma zona de conflito epistemológico. O intuito de minhas pesquisas atuais tem sido o de procurar defender a canção brasileira como conhecimento cultural compatível com a educação formal de adultos iniciantes e como repertório favorável a apresentação de percursos didáticos que prezem pela incorporação de critérios de estruturação e linguagem musical mediante a experimentação solfejada de arranjos musicais (TEIXEIRA, 2012). O problema que encontro consiste na semelhança em relação à forma de uso do repertório popular como promotor de aberturas pedagógicas que proponham a união da canção popular brasileira ao reconhecimento das técnicas homofônicas e contrapontísticas que constituíram boa parte da história da música ocidental em que Mário de Andrade (1972) sugeria buscar elementos de identidade a fim de diluir matérias-primas musicais populares em técnicas de composição pretensamente universais e consagradas. Vista pelo prisma de Mário de Andrade a música popular aparece como um ingrediente capaz de atribuir originalidade, embora o valor artístico se deva buscar alhures. Penso que este valor pode acabar sutilmente contagiando a esfera pedagógica que preza pelo “discurso dos alunos” (SWANWICK, 2003) apenas como procedimento preparatório para que se lhes possa em seguida ampliar o que estou batizando agora de ‘discurso estreito’ mediante ‘novos repertórios de referência’. Por outro lado, tanto do ponto de vista artístico quanto do formativo é muito sedutor aderir à afirmação de que “o exclusivista brasileiro só mostra que é ignorante do fato nacional”, que “o que carece é afeiçoar os elementos estranhos” e que “a reação contra o que é estrangeiro deve ser feita espertalhonamente pela deformação e adaptação dele. Não pela repulsa” (ANDRADE, 1977, p. 26, 27, 28). 103 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Ao mesmo tempo, considero importante destacar, porém, que é por causa dos seus interesses mais “artísticos” de vanguarda do que pedagógicos que Andrade (1972) recomenda, por exemplo, aquela cautela em lidar com critérios europeus de polifonização e que Adorno (1982) rejeita qualquer técnica musical que produzisse em seu espírito uma concepção retrógrada; por mais que lhe soasse nova! REFERÊNCIAS ADORNO, T. W. Berg: o mestre da transição mínima. São Paulo: Unesp, 2010. ADORNO, T. W. Filosofia da Música Nova. São Paulo: Perspectiva, 2004. ADORNO, T. W. Essays on Music. Berkeley: University of Califórnia Press, 2002. ADORNO, T. W. Teoria Estética. Lisboa: Edições 70, 1982. ANDRADE, Mário de. Ensaio sobre a música brasileira. 3ª ed. São Paulo: Vila Rica; Brasília: INL, 1972. ANDRADE, Mário de. O Banquete. São Paulo: Duas Cidades, 1977. ANDRADE, Mário de. Pequena história da música. São Paulo: Martins, 1942. BOURDIEU, P. Distinction: a social critique of the judgment of Taste. Londres: Routledge, 1984. HEGEL, G. F. Curso de estética: o belo na arte. São Paulo: Martins Fontes, 1996. KATER, Carlos Elias. Música Viva e H. J. Koellreutter: movimentos em direção à modernidade. São Paulo: Musa Editora: Através, 2001. SWANWICK, Keith. Ensinando Música Musicalmente. Trad. Alda Oliveira e Cristina Tourinho. São Paulo: Moderna, 2003. TEIXEIRA, Jáderson Aguiar. Veredas e desafios para o ensino musical de adultos sem extensa formação especializada anterior: alternativas pedagógicas pertinentes à realidade cearense. In: ALBUQUERQUE, Luiz Botelho; ROGÉRIO, Pedro (Org). Educação Musical: campos de pesquisa, formação e experiências. Fortaleza: Edições UFC, 2012. 104 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO PROJETO ARTE-EDUCAÇÃO E O ENSINO DE MÚSICA NO INSTUTUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO CEARÁ (IFCE) Sabrina Linhares Gomes56 Jáderson Aguiar Teixeira57 RESUMO Este trabalho apresenta o Projeto Arte-Educação, criado na então Escola Técnica Federal do Ceará, explicando a importância do Ensino de Arte na instituição, representando o mapeamento do referido projeto e destacando o Ensino de Música no mesmo. Tal projeto tinha como objetivo principal contribuir para o desenvolvimento estético e crítico dos alunos, propiciando uma formação cultural diferenciada. Era organizado pela Coordenação de Atividades Artísticas da ETFCE – CCA. Dentre as atividades e oficinas do projeto, merecem destaque as que compreendiam a área da Educação Musical, as quais se perpetuaram através de projetos de extensão. Após o período de excelência do Projeto Arte-Educação, foram criados e implantados os seguintes cursos: Curso Técnico em Música (atual Curso Técnico em Instrumento Musical), Curso Superior de Tecnólogo em Artes Plásticas (atual Licenciatura em Artes Visuais), Curso Superior de Tecnólogo em Artes Cênicas (atual Licenciatura em Teatro). Com a criação dos referidos cursos técnicos e tecnólogos, o projeto Arte- Educação passou a não mais estar sob uma coordenação própria, durante o período de 10 anos. Com a criação do Departamento de Arte, em 2013, o Projeto Arte-Educação começa a ser reformulado, adaptando-se a nova realidade da instituição em estudo, sendo iniciada sua reformulação pela área da Educação Musical. PALAVRAS-CHAVE: Ensino; Arte; Música; Projeto; ETFCE. INTRODUÇÃO A importância do ensino de Arte para a formação dos alunos nas escolas é aparentemente reconhecida através da Legislação Educacional Brasileira e incentivada através de Leis que regem a educação de nosso país. As duas mais recentes leis que norteiam a Educação Brasileira são: a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 11 de agosto de 1971 (LDB 5.692/71), que torna 56 Professora de Artes Sonoras e Cênicas do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). Mestranda do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Ceará (UFC). ( [email protected]) 57 Professor de Solfejo, Teoria Musical e Flauta Doce do Curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal do Ceará (UFC). Mestre e Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da UFC. 105 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC obrigatório a Educação Artística nas escolas, e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 20 de dezembro de 1996 (LDB 9.394/96), que torna obrigatório o Ensino de Arte nas escolas. Dez anos após a implantação da primeira lei citada, a então Escola Técnica Federal do Ceará (ETFCE), atual Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), no ano de 1981, resolve ampliar seu quadro de Educadores Artísticos, quadro este até então formado apenas pelos professores: Antônio Silveira Bastos58 e Maria Angélica Rodrigues Ellery59, ambos contratados na década de 1970. Em 1981 foram criadas duas novas vagas, que, por meio de seleção pública, possibilitaram a contratação de dois novos professores de Educação Artística. Com tal quadro de docentes, o Ensino de Arte se fortalece na instituição e gera o Projeto Arte-Educação, um projeto inovador que garantiu lugar de destaque destro da ETFCE. Durante aproximadamente duas décadas o Projeto Arte-Educação possibilitou a formação artística de centenas de alunos da instituição, além disso interagiu com a comunidade externa e contribuiu com a formação dos professores de Educação Artística do município de Fortaleza durantes as décadas de 1980 e 1990. Com a criação de cursos técnicos e superiores de Arte na instituição apresentada: Curso Técnico em Música, Curso Superior de Tecnológico em Artes Cênicas e Curso Superior de Tecnólogo em Artes Plásticas; o Projeto Arte-Educação sofreu uma crise, que durou exatamente 10 anos, justamente o período referente a primeira década de existência de tais cursos. O IFCE agora amadurece questões pedagógicas após a transformação de seus cursos de Arte. Os dois cursos superiores em Artes passaram de Curso Superior de Tecnológico em Artes Cênicas e Curso Superior de Tecnólogo em Artes Plásticas, para Curso de Licenciatura em Teatro e Curso de Licenciatura em Artes Visuais, respectivamente. Também sofreu alteração seu curso de nível técnico que passou de Curso Técnico em Música para Curso Técnico em Instrumento Musical, passando a ofertar as modalidades: violão, teclado e flauta doce. No ano de 2013, com a criação do Departamento de Artes do IFCE, o Projeto Arte-Educação está sendo reformulado para atender as novas necessidades educacionais da instituição em questão, sendo sua reformulação iniciada pela área da Educação Musical. OBJETIVOS GERAIS Os objetivos desse trabalho são: explicar o Projeto Arte- Educação criado na década de 1980 na então Escola Técnica Federal do Ceará, identificar as ações de Ensino de Música no contexto do Projeto Arte-Educação e apresentar novas perspectivas do Projeto Arte- Educação em sua fase de reestruturação. METODOLOGIA Partiremos do princípio levantado por Minayo (2012, p.12) “O objeto das Ciências Sociais é histórico. Isso significa que cada sociedade humana existe e se constrói num determinado espaço e se organiza de forma particular e diferente de outras”. 58 Informações fornecidas pelos funcionários técnicos administrativos do setor de Gestão de Pessoas do IFCE, com base nos arquivos da instituição. 59 Idem nota 63. 106 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO Será então desenvolvida uma pesquisa qualitativa por meio do método dedutivo, ao utilizarmos da pesquisa bibliográfica e etnográfica analisaremos um estudo de caso.(RICHARDSON, 2011) A pesquisa qualitativa pode ser caracterizada como tentativa de uma compreensão detalhada dos significados e características situacionais apresentadas pelos entrevistados, em lugar da produção de medidas quantitativas de características ou comportamentos. (RICHARDSON, 2011 ,p.90) Para o desenvolvimento dessa pesquisa, serão utilizadas fontes diversas, que envolvem o levantamento de documentos oficiais referentes ao Projeto Arte-Educação e ao ensino de música da instituição e entrevistas. Destacamos que tais entrevistas serão fundamentais em nosso processo pois servirão para “ sondar além das respostas e, assim, estabelecer um diálogo com o entrevistado”, as quais serão “ semi-estruturadas por meio de um guia temático com sondagens e convites a estender as questões levantadas”. (MAY, 2004, p. 148) DISCURSSÃO DOS RESULTADOS No ano de 1981, foram criadas duas novas vagas destinadas à contratação de professores de Educação Artística na então Escola Técnica Federal do Ceará (ETFCE). De acordo com a criadora do projeto Arte-Educação, Professora Maria de Lourdes Macena Filha, a proposta inicial era aumentar a quantidade de projetos de extensão em Artes na instituição, que até então contava apenas com dois projetos: Canto Coral e Grupo de Flautas Doces. Na época eles pediram ao MEC (gestores da ETFCE sob a consultoria do Maestro Orlando Leite Vieira) a organização da banda de música porque todas os atuais Institutos Federais do Brasil tem banda e coro. Foi sempre assim. As Escolas Técnicas, todas elas tinham uma banda e um coral. Hoje tem outras coisas, mas então eles pediram isso. Isso eu soube posteriormente. A pessoa que veio aqui enviada pelo MEC, quando veio para essa reunião que fizeram esse pedido, perguntou: “O que é que a Escola Técnica tem com trabalhos que se relacionam a cultura local?” (…) Soube que ela fez um trato, de ver as solicitações que estavam sendo feitas da banda, mas disse “Eu preciso que vocês implantem um trabalho que tenham relação com as questões de valorização das coisas do Ceará.” (…) O que talvez referendava esse meu concurso (seleção pública) foi a necessidade que o instituto tinha de implantar trabalhos voltados para Cultura Popular. (…) O Costa Holanda entrou seis meses depois de mim. Na época eu não sabia nada disso, que de certa forma eu ter entrado fazia parte de um interesse para efetivar o que eles queriam com a banda de música. Esse interesse veio de fora para dentro. 60 A partir de 1982, os professores de Educação Musical da Escola Técnica Federal do Ceará (ETFCE) passaram a ser contratados mediante seleção pública. Iniciando o processo de consolidação do Campo de Educação Musical da instituição. Através de planejamentos da gestão para o Ensino de Arte na instituição, foram contratados dois novos professores, após seleção para o cargo de Professor de Educação Artística: Maria de Lourdes Macena Filha, admitida em 01/02/1982, e Francisco José Costa Holanda, admitido em 11/08/1982, ambos ainda mediante contrato regido pela Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT, posteriormente sendo 60Entrevista concedida por Maria de Lourdes Marcena Filha para esta pesquisa, em janeiro de 2013. 107 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC enquadrados no Quadro Permanente da ETFCE pela Portaria nº494/MEC, de 16 de junho de 1991.61 Após as devidas contratações, os professores assumiram distintos projetos de extensão em Arte: Grupo de Tradições Parafolclóricas, criado e coordenado pela professora Maria de Lourdes Macena Filha e Banda de Música, criada e regida pelo professor e maestro Frnacisco José Costa Holanda. Em 1985, foi oficialmente criado o Projeto Arte-Educação62, pela professora Maria de Lourdes Macena Filha, com a colaboração dos demais docentes de Educação Artística, na antiga Escola Técnica Federal do Ceará (ETFCE). O Projeto Arte-Educação tinha como objetivo principal contribuir para o desenvolvimento estético e crítico dos alunos, propiciando uma formação cultural diferenciada. Formação esta indispensável à uma instituição de caráter profissionalizante que fazia os alunos ingressarem cedo no mercado de trabalho, com poucas oportunidades para desenvolver sua capacidade criativa pessoal. Tal projeto era organizado pela Coordenação de Atividades Artísticas da ETFCE - CCA, que tinha como coordenadora a professora Maria de Lourdes Macena Filha. O mesmo recebeu em 1985 as instalações da Casa de Artes para que o mesmo pudesse ocorrer em um espaço próprio.63 De acordo com a entrevista concedida pela professora Maria de Lourdes Macena Filha64, durante aproximadamente dezoito anos o projeto fez-se marcante no desenvolvimento criativo e no desenvolvimento pessoal dos alunos, tornando-se ainda referência nacional por apresentar um ensino de Artes inovador, que antecipava na prática as teorias presentes hoje nos PCN e em outras diversas diretrizes educacionais. O projeto foi pensado para os alunos de nível médio e técnico, em parceria com diversos professores, artistas e membros da comunidade. Era composto por ciclos de palestras, estudos dirigidos, oficinas artísticas (Flauta doce, Violão, Teclado, Banda de Música, Canto, Colagem, Ilustração, Pintura, Escultura, Desenho Artístico, Teatro, Dança Contemporânea, Sapateado, Expressão Corporal e Dança Popular), audições didáticas, interação com os grupos permanentes de Arte da instituição (Grupo Teatral Aprendizes de Dionisyos, Grupo de Projeção Folclórica, Coral da ETFCE, Banda de Música da ETFCE, Grupo de Flautas Doces, Grupo de Violão El Cabongue, Grupo de Dança Contemporânea metade inteira, Grupo Taco de Sapateado), encontros culturais anuais ( Exposição Plástica, Projeto Jangada, Encontro de Corais, Encontro de Bandas, Encontro de Grupos Parafolclóricos, Dia da Música, Dia do Teatro, Dia do Folclore, Confraternização 61 Informação cedida pelos funcionário do Departamento de Gestão de Pessoas do IFCE, com base nos documentos contidos na pasta de funcionário de Maria de Loudes Marcena Filha e de Francisco José Costa Holanda. 62 Projeto criado pelo grupo de professores de Artes atuantes na instituição na década de 1980. (anexo VI) 63 Informações contidas na placa de fundação da Casa de Artes da então Escola Técnica Federal do Ceará. Tal placa permanece na entrada da Casa de Artes do IFCE. 64 Entrevista concedida pela professora Maria de Lourdes Macena Filha em 16/01/2013. 108 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO Natalina), Cursos de Vivência Didática (destinados à formação dos professores de Artes de outras instituições). 65 Em 2002, a instituição, que já havia tornado-se Centro Federal de Educação Profissional e Tecnológica do Ceará (CEFET-CE), passou por mudanças determinantes nos rumos do projeto Arte-Educação e no ensino de Artes. Em tal ano foram criados e implantados os seguintes cursos: Curso Técnico em Música (atual Curso Técnico em Instrumento Musical), Curso Superior de Tecnólogo em Artes Plásticas (atual Licenciatura em Artes Visuais), Curso Superior de Tecnólogo em Artes Cênicas (atual Licenciatura em Teatro). Com a criação dos referidos cursos técnicos e tecnólogos, o projeto Arte- Educação passou a não mais estar sob uma coordenação própria, passando a ser de responsabilidade da Coordenação do Ensino Médio, atual Departamento do Ensino Médio e das Licenciaturas e do atual Departamento de Artes, Turismo e Lazer. Com a extinção da Coordenação de Atividades Artísticas da ETFCE -CCA, a formação cultural de todos os alunos dos cursos técnicos integrados ficou seriamente comprometida, assim como os projetos de extensão de Artes. Apenas em 2013, com a criação do Departamento de Artes, foi contemplado a reformulação do Projeto Arte-Educação, que está sendo retomado com as devidas características condizentes com o o atual cenário de Ensino de Arte da instituição, bem como está sendo elaborada com base na Legislação Educacional Brasileira em vigor e com base nos documentos legais que devem direcionar o Ensino de Artes no nível médio da Educação Básica de nosso país: Parâmetros Curriculares Nacionais (1996), Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (1998), Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio – PCNEM (2000) e Parâmetros Curriculares Nacionais Mais – PCN + (2002). Em sua reformulação, o Projeto Arte-Educação prevê o incentivo à parceria com as duas universidades públicas do município de Fortaleza: Universidade Federal do Ceará (UFC) e Universidade Estadual do Ceará (UECE); a criação de um programa de bolsas direcionadas para os licenciandos da instituição em questão e para de outras instituições parceiras; a retomada de cursos e palestras visando a formação dos professores de Arte; uma reformulação na oferta das oficinas destinadas ao Ensino Médio, representados na instituição através dos Cursos Técnico Integrados; o fortalecimento dos projetos de extensão de Artes, bem como uma maior aproximação dos mesmos com os Cursos do Departamento de Arte, sejam eles Técnicos ou Licenciaturas; a criação de um grupo de pesquisas destinado ao Ensino de Arte. A primeira fase da reformulação do Projeto Arte-Educação tem se dado com a organização da área de Educação Musical, através da organização pedagógica de suporte para o Curso Técnico em Instrumento Musical, da criação do programa de bolsas na área de música que contemplam o ensino e a pesquisa, além da reorganização dos projetos de extensão musical junto à coordenação de Música do IFCE. CONSIDERAÇÕES FINAIS 65 Informações contidas na cópia original do Projeto Arte-Educação, cedido pela professora Maria de Lourdes Marcen Filha, em janeiro de 2013. 109 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Fazendo um levantamento de dados a cerca do Ensino de Arte na instituição a partir da contratação de professores de Educação Artística na década de 1980, pudemos representar o contexto que possibilitou a criação do Projeto Arte-Educação na então ETFCE. Mapeamos o Projeto Arte-Educação verificando o seu grau de afinidade com propostas levantadas posteriormente pelo atuais documentos legais que regem o ensino de Arte no Brasil, bem como ressaltamos os projetos na área musical. Ao final, explicitamos a expansão do Projeto Arte-Educação, que se deu após a década de 1990, e de crise, a partir de 2002, com a criação dos cursos técnicos e superiores; seguido dos novos direcionamentos com a reformulação de tal projeto no ano de 2013. REFERÊNCIAS Brasil. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Superior. Nomeação dos aprovados em Concurso Público - Canto Orfeônico. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 08 nov. 1955. ________. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Superior. Decreto Presidencial de 16 de abril de 1956. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 abr. 1956. ________. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Superior. Portaria Nº 23 de 391 de outubro de 1974. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 31 out. 1974. ________. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Superior. Portaria n°91 de 2 de fevereiro de 1978. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 13 fev. 1978. ________. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte. Brasília: MEC/SEF, 1997. BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Conselho Nacional de Educação. Parecer CEB nº. 15/98. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio-DCNEM, 1998. ________. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais (Ensino Médio). Brasília: MEC, 2000. ________. PCN+ Ensino Médio: Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias (MEC-SEMTEC, Brasília, 2002). ________. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Leis Ordinárias de 1971. Lei nº 5.692/1971. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, 1996. Disponível em<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5692.html>. Acesso em: 14 jan. 2012. ________. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Leis Ordinárias de 1996. Lei nº 9.394/1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, 1996. Disponível em<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.html>. Acesso em: 14 jan. 2012. ________. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Leis Ordinárias de 2008. Lei nº 11.769/2008. Altera a lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996, 110 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO Lei de Diretrizes e Bases da Educação para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino de música na educação básica. Brasília, 2008. Disponível em<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11769.htm>. Acesso em: 14 jan. 2012. MADEIRA, Maria das Graças de Loiola. Uma Incursão na Memória da Educação Cearense: a experiência da Escola de Aprendizes Artífices do Ceará (1910-1918). Fortaleza, 1998. Dissertação ( Mestrado em Educação) Universidade Estadual do Ceará. MATOS, Elvis de Azevedo. Paulo Abel. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2003. SANTOS, Deribaldo. Os Cem Anos do CEFET/CE. Fortaleza: EDUECE, 2007. VALE, Cecília do.(org) O Grupo de Flautas Doces do IFCE Toca o Nordeste. Fortaleza: IFCE, 2009. <www.ifce.edu.br> Acesso em 12 dez. 2012. 111 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC CASA CAIADA: FORMAÇÃO HUMANA E MUSICAL EM PRÁTICAS PERCUSSIVAS COLABORATIVAS. Catherine Furtado dos Santos66 Pedro Rogério67 Elvis de Azevedo Matos68 RESUMO O presente artigo apresenta os resultados da pesquisa de mestrado sobre o tema central: processo contínuo de formação humana e musical dos integrantes do Grupo de Música Percussiva Acadêmicos da Casa Caiada (GMPACC) da Universidade Federal do Ceará (UFC). O grupo possui como proposta oferecer uma formação humana e musical através das práticas percussivas em contexto colaborativo, principalmente, para jovens das escolas públicas do bairro de Messejana. Desta forma, pude indagar sobre o que caracteriza e como acontece o processo contínuo de formação humana e musical dos integrantes permanentes no GMPACC (UFC) sob uma perspectiva de Educação Musical no período dos anos de 2009 a 2012. Para realização desta pesquisa têm-se como suporte teórico autores como Prass (2004) e Schrader (2011), com pesquisas sobre percussão e educação musical, trazendo uma perspectiva sobre processos formativos educacionais. A metodologia abordada foi qualitativa e com o delineamento de estudo de caso. Assim, este artigo apresenta os resultados da pesquisa que analisou o processo contínuo de formação humana e musical dos integrantes permanentes no GMPACC (UFC). PALAVRAS – CHAVE: Educação Musical. Percussão. Processo de formação. INTRODUÇÃO O presente artigo trata sobre os resultados da pesquisa de mestrado defendida na área de Educação Brasileira, especificamente, no eixo de Ensino, Currículo e Ensino na linha de Ensino de Música pela Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará em maio de 2013. A pesquisa teve como tema central o processo contínuo de formação humana e musical dos integrantes do Grupo de Música Percussiva Acadêmicos da Casa Caiada (GMPACC) da Universidade Federal do Ceará (UFC) no período de 2009 a 2012. Na UFC, fui estudante da segunda turma do ano de 2007 do curso de Licenciatura em Educação Musical69 e, durante o período da graduação fui monitora da disciplina de percussão e participei de um projeto de extensão – o Grupo de Música Percussiva Acadêmicos da Casa Caiada – a partir daqui designado pela sigla GMPACC, do qual, atualmente, sou regente. 66 Autora. Mestre em Educação Brasileira. Universidade Federal do Ceará. [email protected] Orientador. Doutor em Educação Brasileira. Universidade Federal do Ceará. [email protected] 68 Co-orientador. Doutor em Educação Brasileira. Universidade Federal do Ceará. [email protected] 69 Em 2010, o nome do curso Educação Musical, do Campus de Fortaleza, foi alterado por Música, devido a uma padronização do MEC. 67 112 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO Por isso, o objeto da pesquisa foi sobre o processo contínuo de formação humana e musical dos integrantes permanentes no GMPACC (UFC). Este é um projeto de extensão do curso de música da UFC que foi criado em 2008 e que ainda realiza suas atividades com a participação de 25 integrantes. Como regente do grupo, desde 2009, constatei que, atualmente, alguns participantes são permanentes desde o início do projeto e devido a essa permanência, busco investigar melhor o processo contínuo de formação humana e musical dos integrantes do GMPACC (UFC) sob uma perspectiva de educação musical. A partir observações práticas do cotidiano na cidade de Fortaleza, passei a refletir sobre a seguinte questão norteadora: O que caracteriza e como acontece o processo contínuo de formação humana e musical dos integrantes permanentes no GMPACC (UFC) sob uma perspectiva de Educação Musical no período dos anos de 2009 a 2012? OBJETIVOS GERAIS Assim o trabalho defendido teve como objetivo geral analisar o processo contínuo de formação humana e musical dos integrantes permanentes no GMPACC (UFC) sob uma perspectiva de Educação Musical no período dos anos de 2009 a 2012. E para esse alcance os objetivos específicos foram: caracterizar a proposta de Educação Musical que conduz as atividades do GMPACC (UFC), descrever a realização das atividades percussivas no GMPACC (UFC), explicitar o sentido formativo do trabalho do GMPACC (UFC) na perspectiva dos integrantes / ritmistas. Metodologia Por ser perceptível a riqueza de detalhes que se encontram nos agrupamentos percussivos – música e contexto social –, a percussão amplia espaço para discussões dos processos de ensino e aprendizagem. Nessa perspectiva acadêmica, o trabalho de Luciana Prass (2004), intitulado por “Saberes musicais em uma bateria de Escola de Samba: uma etnografia entre os Bambas da Orgia” apresenta uma reflexão sobre a abordagem dos saberes musicais em uma escola de samba, esclarecendo, assim, uma discussão sobre o ensino e aprendizagem da música popular de tradição oral. A partir dessa investigação o trabalho ressaltou aspectos importantes que configuram o contexto das práticas percussivas imersos na vida cotidiana dos sujeitos e suas atuações, assumindo funções de lideranças, organizadores, ritmistas e artistas. Tais fatores foram necessários para nossa compreensão no que se apresentou como dinâmica do GMPACC como as atividades de musicalização, criatividade e habilidade, não se detendo apenas em exercícios técnicos, como é mais comum encontrar nos métodos de ensino. Em convergência com esse trabalho, há também um estudo sobre expressões musicais através da percussão em contextos coletivos na UFC, de Erwin Schrader (2011). Ao longo de nosso percurso, tornou-se importante o estudo dos caminhos de construção do movimento percussivo na Universidade Federal do Ceará e o seu alcance pedagógico-musical de maneira a tornar possível o incentivo de pesquisas no campo metodológico e social da percussão, construindo em um futuro próximo, 113 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC fóruns de discussão entre a universidade, a comunidade e os mestres e ritmistas de baterias e batuques. (SCHRADER, 2011, p. 5) Esta pesquisa buscou narrar o desenvolvimento de práticas percussivas em busca de saberes e estratégias de ensino e aprendizagem dos sujeitos envolvidos numa trajetória do contexto percussivo em coletivo na universidade. A metodologia utilizada para a pesquisa teve uma abordagem qualitativa, pois as observações buscaram analisar o processo formativo humano e musical dos integrantes em um grupo de percussão a partir do discurso destes. Como delineamento desta abordagem qualitativa, utilizou-se o estudo de caso. Os encontros continuam a ocorrer na Casa de José de Alencar, todos os sábados pela manhã de 09 às 12h, sendo formado por 25 jovens e adultos, mas, agora, com a participação de alguns jovens moradores da comunidade do entorno e de outros locais. O período investigado foi o do ano de 2009 até junho de 2012, pois cada ano deste período retratou momentos fundamentais para auxiliar na análise dos processos formativos dos integrantes no grupo desde o início. E, quanto à escolha do término do período da investigação, no mês de junho de 2012, foi devido ao momento em que o grupo apresentou o espetáculo percussivo Sons da Casa. Utilizamos para coleta de dados os seguintes instrumentos: documentos, levantamento bibliográfico e entrevistas. Esse material registrado também auxiliou na identificação de quais foram os primeiros participantes do projeto, sendo possível perceber seus comportamentos, expectativas e desenvolvimentos no grupo ao longo do período estudado. E, por isso, foram escolhidos para aplicação das entrevistas 5 (cinco) sujeitos que tenham permanecido no grupo ao logo de todo o período. O tipo de entrevista utilizada foi o Grupo Focal (Focus Group) elaborada por questões semiestruturadas, seguindo um modelo de roteiro. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Como recorte da pesquisa para este artigo apresentamos o ano de 2012 e seus resultados. Este ano foi marcado pelo processo de construção do espetáculo “Sons da Casa”. O intuito de realizar esse tipo de apresentação aconteceu pelo desenvolvimento musical do próprio grupo e que teve nesse ano um conjunto de músicas ensaiada e executadas em sequencia em diversas apresentações. Desta forma, o ano de 2012 foi, na verdade, a organização desses ensaios musicais trabalhados com base em uma proposta cênica e que prevalecesse o rodízio de instrumentos dentro da própria apresentação do trabalho. Por tanto, os integrantes do grupo possuem a oportunidade de aprender e a tocar uma grande gama dos instrumentos de percussão como: atabaques, congas, surdos, caixas, repiques, tamborins, zabumbas, triângulo, agogô, pandeiros e outros. Os ensaios de sábado seguiam a seguinte sequencia: 114 Alongamento e aquecimento corporal; Canto das músicas; Estimulação rítmica; Aquecimento técnico com baquetas e mãos; SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO Ensaio da estrutura musical; Preparo cênico; Ensaio de marcação musical/cênico; A elaboração desse trabalho reuniu as principais composições e arranjos criados pelo grupo, que abrangeram ritmos como de carimbó, maracatu cearense, baião, “carimbaião70”, marchinha carnavalesca e samba-enredo. Para a execução de cada ritmo foi feito um estudo de técnica instrumental, ensaios e apreciação musical, privilegiando, principalmente, o fazer musical criativo através dos elementos musicais e culturais da percussão. Com isso, a dinâmica do espetáculo apresentou evoluções com música percussiva e atuações cênicas, sendo realizadas por ritmistas que tocam e atuam como, por exemplo, o rei, a rainha e a calunga do maracatu cearense, propiciando, assim, um empolgante e energético desfecho musical ao som dos “tamborins envenenados” no samba – enredo, “Casinha Caiada”. Figura 17 Espetáculo Sons da Casa Fonte: Catherine Furtado dos Santos “O espetáculo depois que a gente começou a montar pra mim o sábado não era de aprendizagem e sim de vivência. Todo sábado era de vivência cada sábado vinha a gente vivia uma coisa e outra muito show mesmo e o que eu aprendi nisso tudo foi a união mesmo do grupo mesmo da gente de tá sempre unido colaborando para o espetáculo da certo e isso me ajudou pessoalmente eu consigo me expressar melhor”. (Geovane, 24, 10/01/2013) “Bem no começo a percepção da gente como eu falei é que cada instrumento fosse estudado até então chegou a questão de montar o espetáculo e eu sempre fiquei me perguntando que espetáculo era esse porque a gente só ensaiava a música e eu me perguntava: O espetáculo é só ensaiar música? Até porque depois foi montando e ficou bem bacana e eu fiquei impressionada conosco mesmo a gente no grupo em si tudo ficou muito extenso e tudo era magia no momento então essa montagem até logo depois ser apresentado foi muito bom em si foi crescendo muito e no dia foram vários aplausos”. (Juliana, 16, 10/01/2013) CONSIDERAÇÕES FINAIS 70 Carimbaião: denominação dada a um ritmo que foi criado pelo próprio grupo. A execução mescla células rítmicas do carimbó e do baião. 115 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC É possível compreendermos que quando os participantes falam do espetáculo eles começam a citar os fatores que favoreceram sua própria formação pessoal. Conforme: O campo das condutas musicais, já por si tão amplo e diversificado, como se vê pelas apreciações anteriores, torna-se mais complexo quando entram em jogo as qualidades míticas ancestrais que caracterizam a música. A participação ativa do sujeito no ato da musicalização não mobiliza apenas os aspectos mentais conscientes que conduzem a uma apreciação objetiva da música, mas também uma gama ampla e difusa de sentimentos e tendências pessoais. (GAINZA, 1988, p.34) A partir da construção do espetáculo os participantes também perceberam que a construção musical passou a ser feita através de uma proposta artística e que a música não era feita sem um propósito, sem uma estrutura e sem uma criação de arranjos. “A cirurgia era mais delicada: fazer de um espetáculo uma escola; montar em um espetáculo de formação uma ópera nordestina, pois nordestinos artistas somos”. (MATOS, 2008, p. 159). Assim, apresentamos como resultado da pesquisa processos formativos que através das reflexões em grupo expressou significados mais presentes e vivos na vida musical de cada um dos participantes. Foram e são as dinâmicas que movimentam até hoje o circuito musical do GMPACC e que fez com que escolas, comunidades e, por fim, seres humanos construíssem em uma trama cênica e musical com os vários “Sons da Casa”. E, depois, revigora-se pela dialogicidade das reflexões com um senso mais crítico, poético e ético. REFERÊNCIAS FONTERRADA, Marisa. De tramas e fios: um ensaio sobre música e educação. São Paulo: Editora UNESP, 2008. GAINZA, Violeta Hemsy. Estudos de psicopedagogia musical. São Paulo: Summus, 1988. GIL, Antonio Carlos. Estudo de Caso. São Paulo: Atlas, 2009. MATOS, Elvis de Azevedo. Um inventário luminoso ou um alumiário inventdado: uma trajetória de musical formação. Fortaleza: Diz Editor(a)ação, 2008. PRASS, Luciana. Saberes Musicais em uma Bateria de Escola de Samba: uma etnografia entre os Bambas da Orgia. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004. SCHRADER, Erwin. Expressão musical e musicalização através de práticas percussivas coletivas na Universidade Federal do Ceará. 2011. 397f. Tese (Doutorado em Educação). Programa de Pós- Graduação em Educação Brasileira. Universidade Federal do Ceará, Fortaleza. 116 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO PARTE IV: EIXO DE CURRÍCULO 117 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC CURRÍCULO E CULTURA: COMO SE DÁ ESTA RELAÇÃO? Francione Charapa Alves71 Alice Nayara dos Santos72 RESUMO O presente texto tem como objetivo compreender qual a percepção de alunos da disciplina educação, currículo e ensino sobre a relação currículo e cultura. Trata-se de uma investigação que se insere numa abordagem qualitativa. Para obter percepção dos sujeitos, realizamos um questionário com alunos matriculados na disciplina Educação, Currículo e Ensino, semestre 2013.1, do Curso de Pós-Graduação em Educação Brasileira da Universidade Federal do CearáUFC. Realizamos também estudos bibliográficos fundamentados em textos de Moreira (2002), Moreira e Candau (2007), Silva (2011), dentre outros. As leituras nos permitem concluir que é imbricada a relação entre currículo e cultura construindo assim dessa forma pilares importantes para a compreensão da educação contemporânea. PALAVRAS-CHAVE: Currículo. Cultura. Teorias de Currículo. INTRODUÇÃO Os termos currículo e cultura vêm sendo discutido por muitos estudiosos de diversas áreas: antropologia, filosofia, sociologia, educação, dentre outras. Todos imbuídos na busca de estreitar essas relações e alavancar novas perspectivas para a ciência e para a vida. Por serem termos tão polissêmicos, estudar a relação entre eles, torna-se uma atividade complexa. OBJETIVO GERAL Esse texto tem como objetivo compreender qual a percepção de alunos da disciplina educação, currículo e ensino sobre a relação currículo e cultura. METODOLOGIA Assim, esta investigação se insere numa abordagem qualitativa. Para obter a percepção dos sujeitos73, realizamos um questionário via e-mail com duas questões: o que é currículo? Qual a relação entre currículo e cultura? Realizamos estudos bibliográficos fundamentados em textos de Moreira (2002), Moreira e Candau (2007), Silva (2011), dentre outros. O texto traz uma discussão 71 Doutoranda em Educação Brasileira na Universidade Federal do Ceará- UFC. CAPES. Email: [email protected] 72 Doutoranda em Educação Brasileira na Universidade Federal do Ceará- UFC. Email: [email protected] 73 Alunos matriculados na disciplina Educação, Currículo e Ensino, semestre 2013.1, do Curso de Pós-Graduação em Educação Brasileira da Universidade Federal do Ceará- UFC. 118 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO sobre currículo e cultura baseada na literatura proposta, em seguida a percepção dos sujeitos, elencando as principais categorias que emergiram nas falas, por fim, as conclusões. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS CURRÍCULO E CULTURA As questões sobre currículo têm sido alvo de debates por parte de teóricos, professores, gestores, estudantes, comunidade, enfim, ele está presente na vida de todos nós, entretanto, ainda não há uma compreensão clara por parte da comunidade escolar no que diz respeito ao que vem a ser realmente o currículo. O termo currículo vem do vocábulo latino currere, que significa correr em um determinado trajeto, caminho. Nesse sentido, durante muito tempo foi interpretado como percurso a ser trilhado pelo aluno durante o período em que se encontra na escola, o que nos remete à visão tradicional e técnica de currículo que o compreende como o conteúdo apresentado para estudo, prescrito para ser ensinado de forma sequenciada a um grupo de alunos. Saindo da etimologia, percebemos que ao vocábulo currículo estão associadas muitas concepções que variam de acordo com as concepções históricas de educação e também de acordo com as influências teóricas vigentes neste dado momento histórico. Barbosa e Candau (2007) nos mostram que diferentes fatores sociais, econômicos, políticos e culturais contribuem para que o currículo seja compreendido como: (a) Os conteúdos a serem ensinados e aprendidos; (b) As experiências de aprendizagem escolares a serem vividas pelos alunos; (c) Os planos pedagógicos elaborados por professores, escolas e sistemas educacionais; (d) Os objetivos a serem alcançados por meio do processo de ensino; (e) Os processos de avaliação que terminam por influir nos conteúdos e nos procedimentos selecionados nos diferentes graus da escolarização. (BARBOSA E CANDAU, 2007, p.18) Percebemos que há uma ênfase nos conhecimentos escolares, nas experiências que os educandos têm na escola, aos programas ou planos pedagógicos, ao ensino e à avaliação. Isto nos faz refletir sobre o papel entre a escola e o conhecimento, entre a escola e a sociedade. Durante muito tempo a escola foi vista como instituição transmissora de conhecimentos prontos e acabados que estavam expressos em currículos engessados, entretanto, de acordo com Barbosa (2005) o currículo vem deixando de ser uma área vista apenas como técnica, principalmente após a década de 1960, quando as teorias críticas do currículo “efetuam uma completa inversão nos fundamentos das teorias tradicionais” (SILVA, 2011, p.29) que se restringiam apenas à atividade técnica do “como” fazer o currículo. Barbosa (2005) ressalta que embora as questões relacionadas ao “como” tenham a sua importância, só adquirem significado se forem vistas numa perspectiva que levante questionamentos sobre o “por quê” das estrutura de 119 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC como o conhecimento escolar encontra-se organizado. As teorias críticas74 questionam de forma radical os arranjos educacionais existentes, as formas de conhecimento, pois, são teorias que nos fazem perguntar, desconfiar, desejar uma transformação. Nesse quadro as teorias pós-críticas75 ampliam as discussões das teorias críticas introduzindo novos conceitos como o de multiculturalismo que representa um importante instrumento de luta política, pois ele remete à seguinte questão: o que conta como conhecimento oficial? O multiculturalismo e a diversidade faz perceber que a igualdade não se obtém simplesmente através da igualdade de acesso ao currículo hegemônico, sendo preciso mudanças substanciais do currículo existente (SILVA, 2011). Assim, estas teorias trazem à tona a discussão sobre poder, ideologia, resistência, questões não discutidas pela teoria tradicional. Silva (2011) ressalta que com as teorias pós-críticas outros elementos passaram a ser preocupação dos estudos curriculares como: identidade, alteridade, diferença, subjetividade, significação e discurso, saber-poder, representação, raça, gênero, etnia, sexualidade, cultura e multiculturalismo. Assim, Moreira(2007) afirma que o currículo é considerado um artefato social e cultural. Nesta mesma perspectiva, Sacristán (1999) nos diz que o currículo seria esta ligação entre a “cultura e a sociedade exterior à escola e à educação; entre o conhecimento e cultura herdados e a aprendizagem dos alunos; entre a teoria (idéias, suposições e aspirações) e a prática possível, dadas determinadas condições”. (SACRISTÁN, 1999, p. 61) Nos últimos anos estudiosos da educação vem apresentando preocupações sobre as relações entre currículo e cultura (MOREIRA, 2002). Isto se deve à preponderância da esfera cultural na organização social contemporânea, bem como na teoria social. Stuart Hall (1997) confirma este fato dizendo que “a cultura é agora um dos elementos mais dinâmicos – e mais imprevisíveis – da mudança histórica no novo milênio.” (STUART HALL, 1997, p.97) Outro fator importante de ser ressaltado é a manifestação da pluralidade cultural em todos os espaços sociais, dentre eles, a escola. Os textos de orientações legais também destacam a pluralidade, a exemplo disso temos a Lei nº 10.639/03 (Congresso Nacional, 2003), que determina a inclusão do ensino da História e Cultura Afro-brasileira no ensino básico e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (CNE, 2004). Entretanto, de acordo com Moreira (2002), essa pluralidade frequentemente acarreta confrontos e conflitos, tornando cada vez mais agudos os desafios a serem enfrentados pelos profissionais da educação”.(MOREIRA, 2002, p.20) Estes conflitos se devem a outro elemento forte que não podemos deixar de destacar quando falamos em cultura que é a relação entre cultura e poder, o que nos permitem perceber que as estruturas curriculares são dispositivos de saber-poder eficientes na constituição de sujeitos 74 Teorias que trazem à tona discussão sobre poder, ideologia, resistência, questões não discutidas pela teoria tradicional. Destacamos teóricos como: Althusser, Bourdieu e Passeron, Baudelot e Establet, Berstein, Michael Young, Bowles e Gintis, Pinar, Apple e Giroux (Cf.: Silva, 2011). 75 Referimo-nos às teorias que abordam dentro do currículo as discussões étnicas, raciais, de gênero, culturais e discursivas (Cf.: Silva, 2011). 120 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO sociais, de novas identidades, de reconhecimento desta pluralidade cultural. E como o próprio autor sugere, é uma oportunidade que a escola tem de enriquecer a sua proposta pedagógica, bem como a prática docente. ANÁLISE DOS DADOS: Percepção dos pós-graduandos sobre a relação currículo e cultura Para responder ao objetivo proposto nesta investigação que foi compreender qual a percepção de alunos da disciplina Educação, currículo e ensino sobre a relação currículo e cultura. Solicitamos que eles nos respondessem duas questões e realizamos uma análise interpretativa a fim de extrair as principais categorias expressas nestes questionamentos. Os sujeitos foram dez alunos da referida disciplina do Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da Universidade Federal do Ceará- UFC. Quando os sujeitos foram interrogados sobre o que compreendiam pelo termo currículo, as respostas foram muito diversificadas. Destacamos alguns elementos como: projeto de formação, construção que norteia o processo de ensino e aprendizagem, conjunto de objetivos de aprendizagem, experiências, conhecimentos, práticas, conjunto de unidades temáticas, conteúdos, caminho, etc.Vejamos algumas falas: [...] creio que currículo é um projeto de formação dotado de intenções. Seja formal ou informal - ora constituído institucionalmente, ora oculto -, o currículo é a manifestação de decisões sobre a gama de conhecimento necessária para instruir a construção e a ação dos atores sociais. [...] PG 01 [...] este é um termo de sentido muito amplo. Na educação, currículo é uma construção que norteia o processo de ensino e aprendizagem. Diz respeito ao conjunto de todas as experiências que devem ser desdobradas na escola, com a finalidade de desenvolver nos educandos conhecimentos, habilidades e competências para viverem, conviverem e atuarem no mundo em constante transformação. Assim, está longe de ser apenas uma listagem de conteúdos que devem ser ensinados e aprendidos em determinado período da vida escolar. PG 02 Para a área de Educação, entendo como os conteúdos e práticas sociais a serem desenvolvidos durante a vida escolar/estudantil, visando a aquisição de competências e a cidadania. Estes conteúdos são pré-selecionados, por um grupo (detentor desse poder) que define que experiências os sujeitos terão acesso. PG 08 Currículo é um conjunto de todos os conteúdos que aprendemos na vida escolar, estes conteúdos são dotados de intencionalidade, daí que alguns conteúdos são ocultados e estão relacionados à todo o contexto histórico da sociedade. A partir da escolha desses conteúdos é que vão ser direcionados os métodos, o material didático, a prática pedagógica do professor, etc. PG 10 Percebemos que a maioria das respostas se referem aos conteúdos, conhecimentos escolares adquiridos, fica claro que eles têm uma centralidade quando se discute currículo. Entretanto, não 121 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC deixam de se referir da intencionalidade que o currículo apresenta e do seu caráter político, em que aparecem as relações de poder. Assim o trecho abaixo de um dos sujeitos nos trouxe um elemento muito importante quando retoma a definição de Sacristán, que sugere avaliação do currículo, que é o fato de revisar constantemente o currículo. É o conjunto de objetivos de aprendizagem selecionados que devem dá lugar à criação de experiências apropriadas que tenham efeitos cumulativos avaliáveis, de modo que se possa manter o sistema numa revisão constante, para que nele se operem as oportunas reacomodações." PG 03 Quando os sujeitos foram interrogados sobre a relação currículo e cultura, surgem vários elementos como identidade, contextualidade, cultura como currículo extra-oficial, etc. […] creio que cultura é expressão curricular inicial e predominante em nossas vidas. No seio de uma sociedade, inscrita sob signos identitários, a cultura divulga as características que formam o conjunto do que somos, isto é, manifesta um plano de formação complexo.[...]PG 01 A relação entre currículo e cultura encontra-se no elo de identidade e contextualidade que as manifestações locais e regionais fazem para desenvolvimento de um projeto educativo, ou seja, de acordo com a cultura de um determinado local [...] PG 04 [...] Currículo como conteúdos e práticas sociais é uma forma de cultura, portanto de classificar um grupo social. PG 08 Também percebemos que o currículo escolar é concebido pelos sujeitos como uma via de transmissão cultural, de tradução da cultura para as gerações futuras... O currículo pode ser considerado como um instrumento de transmissão cultural, o qual determina quais valores o aluno deve aprender e praticar. PG 09 Se a gente pensar na cultura como esse conjunto de atividades e modos de agir, costumes e instruções de um povo, então o currículo é essa tradução para as gerações futuras de forma organizada para serem trabalhadas dentro do espaço da escola. PG 03 E ainda, o currículo funciona como aquele que vai influenciar na cultura, pois de acordo com este sujeito “ a principal relação é que o que é contemplado no currículo escolar vai influenciar na cultura adquirida formalmente e informalmente para mim. [...] (PG 06). Diríamos que mais que influenciar, ele também é influenciado pela cultura, traduzindo-se assim numa relação “dialética, constrói, desconstrói e reconstrói” (PG 07). E sendo uma relação dialética carrega consigo todas as contradições sociais, uma vez que se constitui em “um território contestado, como diria Silva, em que se concretizam as relações de poder, percebemos o quanto ele está relacionado à cultura que também expressa essas relações. PG 10). Carrega ainda todas as “determinações” ou “influências” econômicas, políticas, sociais, que não se separam da cultura e muito menos do currículo. 122 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO CONSIDERAÇÕES FINAIS As análises aqui realizadas permitem-nos perceber que a relação entre cultura e currículo é intrínseca, não podemos conceber um sem o outro, principalmente se considerarmos os elementos culturais de uma sociedade determinada, sua língua, seus ritos e mitos, suas crenças, seu jeito de ser e estar no mundo, e ainda mais de perceber, compreender as nuances no currículo oculto. Trata-se do aspecto político do currículo, das relações de poder que também estão imbricados na cultura, as ideologias, que fazem com que as pessoas pensem e se comportem da forma como os detentores do poder querem que seja feito. Entretanto, as estruturas curriculares como dispositivos de saber e de poder também permitem que na escola surjam novas relações, novos sujeitos que pensem um mundo diferente. A pluralidade cultural que durante muito tempo foi velada, hoje é percebida e pode propiciar o enriquecimento e a renovação das possibilidades de atuação pedagógica. REFERÊNCIAS HALL, Stuart. Identidades Culturais na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 1997. MOREIRA, A. F. B. O campo do currículo no Brasil: construção no contexto da ANPEd. Cadernos de Pesquisa, n.117, p.81-101, 2002a. ________. Currículo, diferença cultural e diálogo. Educação e Sociedade, n. 79, p.15-38, 2002b. MOREIRA, A. F. B. e CANDAU, Vera Maria. Indagações sobre currículo : currículo, conhecimento e cultura. Organização do documento Jeanete Beauchamp, Sandra Denise Pagel, Aricélia Ribeiro do Nascimento. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007. MOREIRA, Antônio Flávio B. e SILVA, Tomaz Tadeu (org.). Currículo, cultura e sociedade. São Paulo: Cortez Editora, 2005. SACRISTÁN, J. Gimeno. Poderes instáveis em educação. Tradução de Beatriz Affonso Neves. Porto Alegre: Artmed, 1999. SILVA, Tomaz Tadeu. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. 3 ed. 2 reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2011. 123 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC PERCEPÇÃO DOCENTE QUANTO AOS DESAFIOS ENCONTRADOS NA IMPLANTAÇÃO DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DO CURSO DE MEDICINA DE UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA BRASILEIRA Dominik Garcia Araujo Fontes 76 Maria do Socorro Sousa77 Maria Vaudelice Mota78 Sarah Maria Fraxe Pessoa79 RESUMO As Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de Medicina, publicadas em 2001, propõem um curriculum que prepare o profissional para atender as necessidades da população, antecipando a discussão internacional de qualidade de formação com compromisso social. No entanto, tem deixado em segundo plano a preparação que o corpo docente deve ter para formar o novo médico proposto. Esse estudo teve como objetivo identificar as dificuldades enfrentadas pelos docentes na implantação do currículo no curso de medicina de uma universidade pública, após uma década de sua aprovação e conhecer suas sugestões para melhorar a qualidade do ensino médico. Trata-se de um estudo descritivo qualitativo utilizando entrevistas semiestruturadas como técnica de investigação e a análise temática para avaliação do material coletado. No decorrer dos dez anos de implantação do currículo foram enfatizadas práticas significativas através da inserção do professor de forma efetiva e contínua no Sistema Único de Saúde, entretanto em número incipiente. A falta de integração entre instituição de ensino e a assistência básica de saúde em todos os níveis: físico, pessoal e político-educacional foi apontada como um dos grandes obstáculos para o sucesso da efetivação do ensino na prática, aliada a resistência da docência a mudanças na utilização de novas metodologias de ensino. Foi sugerida, dentre outras coisas, a realização de uma semana dedicada à atualização de ensino do professor fora do período de férias e a integração interdisciplinar entre os módulos. Concluímos que, apesar dos avanços, a maioria dos docentes ainda encontra-se resistente às mudanças sinalizadas pela última reforma curricular. PALAVRAS-CHAVES: Currículo. Educação médica. Reforma curricular. INTRODUÇÃO O modelo de formação universitária prevalente na imensa maioria dos países ocidentais durante o século XX está se esgotando. Dentre as razões, o ritmo e a intensidade das mudanças no universo do trabalho, a evolução do conhecimento em todas as áreas, a transformação da ciência e do saber em força produtiva, o surgimento contínuo de novas especialidades e a demanda permanente de novos tipos de profissionais, diferenciados pela flexibilidade nas habilidades 76 Mestre em Políticas Públicas e Gestão da Educação Superior, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva/UFC, [email protected]; 77 Doutoranda em Saúde Coletiva, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva/UFC, [email protected]; 78 Professora, Doutora em Saúde Coletiva, Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva/DSC/UFC, [email protected]; 79 Doutora em Enfermagem, Maternidade Escola Assis Chateaubriand/UFC, [email protected]. 124 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO formadoras e pela capacidade de trabalho com interdisciplinaridade em níveis até pouco tempo inimagináveis (MACEDO, 2005). A Reforma universitária implantada no Brasil em 1968 mostrou-se inadequada para as condições e necessidades brasileiras. Ao longo dos anos 70 um vasto conjunto de normas e regulamentos, como decisões do Conselho Federal de Educação, viabilizaram a expansão do sistema nacional de educação superior que a partir de 1995, consagrou os princípios da autonomia universitária e da indissociabilidade do ensino – pesquisa - extensão e da Lei nº 9394 (BRASIL, 1996), que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional (MACEDO, 2005). Em 1995, na perspectiva de implantar uma reforma curricular, iniciou-se, na Faculdade de Medicina, de uma universidade pública brasileira, um processo de discussão sobre o ensino médico em consonância com o projeto que vinha sendo desenvolvido, desde 1991, que culminou com a implantação de um novo currículo em 2001 (PROJETO PEDAGÓGICO, 2001). A demanda por mudanças na Educação médica tem no currículo uma expressão central, exigindo dos pesquisadores o desenvolvimento de investigações que demonstram a efetividade dos currículos médicos onde as mudanças incidem. Vincula-se a investigação à díade emancipação/regulação em Educação médica, adepta de uma pedagogia inovadora para uma Medicina renovada, com interesse investigativo prioritário para as mudanças de currículos médicos, particularmente no que tange à avaliação de sua efetividade (LIRA, 2010). No currículo aprovado em 2001 da Faculdade de Medicina da universidade em questão, os assuntos passariam a ser organizados por sistemas, dispostos em módulos interdisciplinares consecutivos nos quais várias disciplinas contribuiriam de forma harmônica para que os objetivos propostos fossem alcançados (PROJETO PEDAGÓGICO, 2001). A organização modular por sistemas visava à integração entre as disciplinas e desta forma, se pressupõe um planejamento participativo para que os objetivos, horários, temas e avaliações fossem compartilhados e os professores tivessem uma visão geral do currículo (PROJETO PEDAGÓGICO, 2001). Preconizou-se também na referida reforma curricular, a utilização de metodologias ativas de aprendizagem. Ao estruturar os módulos, procurava-se ainda facilitar a relação professor/aluno, com atividades em pequenos grupos (PROJETO PEDAGÓGICO, 2001). De acordo com a reforma curricular aprovada em 2001, no currículo médico desta universidade passou a existir dois módulos longitudinais: o de Desenvolvimento Pessoal que aborda aspectos da ética, psicologia, antropologia e ciências sociais; e um outro, o de Assistência Básica à Saúde, cujo objetivo maior é o de integrar o curso à comunidade e ao serviço público de saúde, nos níveis primário e secundário de Atenção à Saúde. A integração destes módulos deveria ocorrer vertical e horizontalmente (PROJETO PEDAGÓGICO, 2001). As Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Medicina, publicadas em 2001, propuseram um currículo que preparasse o profissional para atender as necessidades da população, antecipando a discussão internacional de qualidade de formação com compromisso social. No entanto, a reforma curricular deixou em segundo plano a preparação que os atores atuantes nesse 125 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC processo de formação do novo médico deveriam ter. A experiência vivenciada como docente da Faculdade de Medicina de uma universidade pública brasileira, e colaboradora no processo de reforma curricular de 2001 despertou para a investigação da temática e delineamento do problema do estudo: O perfil dos docentes da Faculdade de Medicina não está adequado ao Projeto Político Pedagógico do Curso de Medicina e as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN’S) que serviram de alicerce para o atual currículo, há doze anos em execução. Dessa forma, a atual investigação, pretende identificar as dificuldades enfrentadas pelos docentes na implantação do currículo no curso de medicina de uma universidade pública ao longo dos últimos dez anos bem como conhecer as sugestões dos docentes para melhorar a qualidade do ensino médico. OBJETIVO GERAL Identificar as dificuldades enfrentadas pelos docentes na implantação do currículo no curso de medicina de uma universidade pública brasileira, dez anos após sua aprovação e conhecer suas sugestões para melhorar a qualidade do ensino médico. METODOLOGIA Estudo exploratório descritivo, de abordagem qualitativa, realizado na Faculdade de Medicina de uma universidade pública brasileira, durante os anos de 2011 e 2012, através de entrevistas semiestruturadas com informantes privilegiados: um diretor e três professores/coordenadores do curso de medicina, selecionados por saturação dos significados, após aprovação do Projeto no Comitê de Ética em Pesquisa da universidade estudada e contato para convite e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. As entrevistas seguiram roteiro com identificação dos participantes e 6 perguntas chaves: Como avalia o novo currículo?; Quais os principais obstáculos para adoção de novas metodologias de ensino e integração dos professores aos novos cenários de prática?; Quais as dificuldades enfrentadas para o cumprimento do conteúdo a ser ministrado?; Quais os pontos positivos/facilidades do novo currículo para compreensão do tema pelos alunos?; E a opinião sobre modificações para melhorar a qualidade do ensino pelo Diretor/coordenadores/professores. As entrevistas foram gravadas e transcritas com organização dos significados e Análise Temática do conteúdo de fala. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Os resultados apontam que o currículo está atualizado em relação à visão atual de como ensinar medicina e o que ensinar, entretanto a metodologia sugerida, PBL, ainda que considerada interessante, foi avaliada como complementar e não substitutiva. Aliada a esse fator encontramos a resistência da docência a mudanças na utilização de novas metodologias de ensino, a falta de conhecimento de novas didáticas e a inexistência de treinamentos ou cursos de didática de forma continuada. Em contraponto, a utilização das metodologias ativas desde que bem compreendidas e utilizadas pelos docentes e pelos alunos emergiu como positivo e como um facilitador para compreensão dos temas pelos discentes. A mudança do papel do professor de detentor do conhecimento para facilitador deste foi também apontado como uma mudança positiva. No decorrer dos dez anos de implantação do currículo foram enfatizadas práticas significativas através da inserção do professor de forma efetiva e continua em cenários diversificados do Sistema Único 126 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO de Saúde, entretanto ainda em número insuficiente. Motivo pelo qual foi também apontado pelos entrevistados como um dos grandes obstáculos para o sucesso da efetivação do ensino na prática. A falta de integração entre instituição de ensino e a assistência básica de saúde em todos os níveis: físico, pessoal e político-educacional foi considerada como um dos grandes obstáculos para o sucesso da reforma proposta há mais de uma década. Uma melhor integração entre a comunidade acadêmica e a comunidade assistencial da rede bem como a realização de um trabalho de conscientização da importância da atenção básica, da assistência primária da saúde, para professores e alunos foram apontados como mudanças necessárias para melhorar a qualidade do ensino médico. Como sugestões dadas esta a realização de treinamentos continuados acerca das novas metodologias e didáticas de ensino; realização de uma semana voltada para atualização de ensino do docente desde que realizada fora de seu período de férias; integração interdisciplinar entre os módulos para avançar na complexidade da disciplina; criação de ambulatórios com a inserção da universidade e com a presença contínua do professor no posto e a realização de um movimento de conscientização dos alunos, professores, e profissionais da rede básica de que os alunos devem ter acesso facilitado à atenção básica para que consiga cumprir o estipulado em seu currículo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Observamos uma conscientização dos entrevistados quanto às dificuldades em concretizar os objetivos propostos pela última reforma curricular, em 2001, e um movimento por parte deles, ainda que inexpressivo, para uma maior adequação do professor em efetivar as Diretrizes estabelecidas. Entretanto, uma década após a reforma, percebemos, que além da falta de preparo pedagógico e didático da maioria dos docentes para lidar com as mudanças propostas pela reforma, muitos ainda encontram-se resistentes às mudanças sinalizadas pela mesma sejam elas pedagógicas, físicas ou políticas. REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto nº 2.207, de 15 de abril de 1997. Regulamenta para o Sistema Federal de Ensino, as disposições contidas nos arts. 19, 20, 45, e $ 1º, 52, parágrafo único, 54 e 88 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 16 abr. 1997. Disponível em: < http//: www.planalto.gov.br/>. Acesso em: 9 set. 2011 LIRA, G. V. Epistemologia, metodologia e prática de um modelo cartográfico de avaliação curricular em educação médica. 2010. 529 f. Tese (Doutorado) – Programa de pós-graduação em Educação Brasileira, Faculdade de Educação, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2010. MACEDO, A. R. et al. Educação superior no século XXI e a reforma universitária brasileira. Ensaio: aval. Pol. Públ. Educ., Rio de Janeiro, v. 13, n. 47, p. 127-148, abr./jun. 2005. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, Comissão de Reforma Curricular. Projeto Pedagógico: Currículo do Curso de medicina. Fortaleza: Imprensa Universitária, 2001. 127 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC COMO OS GESTORES DE CURRÍCULO NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ DEFINEM PROJETO PEDAGÓGICO? Yangla Kelly Oliveira Rodrigues80 RESUMO Apoiando-nos em algumas concepções sobre projeto pedagógico vigentes na literatura, sobretudo, em algumas publicações de Passos (1996, 2003) e Gadotti (1997), neste trabalho, investigamos como os gestores de currículo na Universidade Federal do Ceará (UFC) definem projeto pedagógico. Para tal, aplicamos um questionário junto aos coordenadores dos cursos de graduação e procuramos compreender o sentido das suas respostas através da análise de conteúdo, relacionando-as com os conceitos sobre projeto pedagógico dos teóricos. A partir dos resultados obtidos, podemos afirmar que a maior parte dos gestores participantes da pesquisa, define projeto pedagógico como um plano a ser seguido, cujo principal objetivo é formar um profissional com determinado perfil e algumas competências e habilidades. Refletimos que o entendimento do projeto pedagógico como plano e não como um processo, o limita ao cumprimento de objetivos préestabelecidos e o atendimento das exigências legais, comprometendo seu potencial emancipador e perpetuando o que instituído. PALAVRAS-CHAVE: Projeto Pedagógico. Plano. Processo. Currículo. INTRODUÇÃO Este artigo procura relacionar as concepções sobre projeto pedagógico existentes na literatura, elaboradas por alguns estudiosos do assunto, e aquelas que encontramos no seio da universidade, entre os gestores curriculares, nomeadamente os coordenadores de cursos de graduação. A consulta a algumas publicações de estudiosos que têm se dedicado com afinco sobre o tema aqui em debate, nos traz que, etimologicamente, o termo projeto tem origem no latim projectu, particípio passado do verbo projicere, o qual significa lançar para diante. Neste sentido, ao construir projetos planeja-se o que se tem intenção de fazer, lança-se para frente, partindo daquilo que se tem, procurando antever um futuro diferente do presente (VEIGA, 1996). No fundo, projeta-se para tentar construir um futuro melhor, “trata-se de fazer advir para si um futuro desejado” (BOUTINET, 1990, p. 90). Portanto, subjacente à ideia de projeto existe uma expectativa de mudança, pensada a partir da ruptura com o presente. Destacando o sentido de ruptura inerente ao conceito de projeto, Gadotti (1997, p. 37) considera que: 80 Mestre em Ciências da Educação, com especialidade em Desenvolvimento Curricular pela Universidade do Minho, em Portugal. Diretora de Planejamento e Avaliação de Projetos Pedagógicos da Pró-Reitoria de Graduação da Universidade Federal do Ceará. E-mail: [email protected]. 128 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado confortável para arriscar-se, atravessar um período de instabilidade e buscar uma nova estabilidade em função da promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o presente. Gadotti (1997, p.34-35) também refere que apesar do termo projeto ser frequentemente confundido com um plano, um conjunto de objetivos, metas e/ou procedimentos, ele não se reduz a isto, pois, em geral,o plano fica no campo do instituído ou melhor, no cumprimento mais eficaz do instituído, como defende hoje todo o discurso oficial em torno da “qualidade” e, em particular, da “qualidade total”. Um projeto necessita sempre rever o instituído para, a partir dele, instituir outra coisa. Tornar -se instituinte. Um projeto políticopedagógico não nega o instituído da escola que é a sua história, que é o conjunto dos seus currículos, dos seus métodos, o conjunto dos seus atores internos e externos e o seu modo de vida. Um projeto sempre confronta esse instituído com o instituinte. A compreensão do projeto como um plano dimensiona-o como uma inovação de caráter regulatório ou técnico, “como um conjunto de atividades que vão gerar um produto: o documento, pronto e acabado” (VEIGA, 2003, p. 267). Nesse caso, a construção do projeto: (i) dá-se pela via normativa, centralizadora e autoritária; (ii) de fora para dentro; (iii) configura-se como um processo de mudança fragmentado, em que a introdução do novo se dá pela mudança das partes; (iv) separam-se fins e meios, pois parte-se do pressuposto que os fins já se acham dados, são naturalizados, inquestionáveis, devendo a inovação incidir apenas sobre os meios; (v) e não produz rupturas. Nesse processo, o desenvolvimento do projeto é pautado pelas ideias de ordem, controle e eficácia, a partir de ações de natureza político-administrativa ou empírico-racionais, pelas quais a inovação é instituída. O agente inovador lança as ideias e trabalha para a sua aceitação e implementação. Disto resulta, a perpetuação do instituído, pois “essa mudança não produz um projeto pedagógico novo, produz o mesmo sistem a, modificado” (VEIGA, 2003, p. 270). Como conceitua Veiga (2003, p. 271): A inovação de cunho regulatório ou técnico nega a diversidade de interesses e de atores que estão presentes, porque não é uma ação da qual todos participam e na qual compartilham uma mesma concepção de homem, de sociedade, de educação e de instituição educativa. Trata-se de um conjunto de ferramentas (diretrizes, formulários, fichas, parâmetros, critérios etc.) proposto em nível nacional. Como medidas e ferramentas instituídas legalmente, devem ser incorporadas pelas instituições educativas nos projetos pedagógicos a serem, muitas vezes, financiados, autorizados, reconhecidos e credenciados. Por outro lado, ainda de acordo com Veiga (2003), a compreensão do projeto como processo inscreve-o numa inovação emancipatória ou edificante, que enfatiza o desenrolar da construção do projeto, pautada pelo debate entre os atores envolvidos sobre a realidade interna da instituição e o contexto social mais amplo. Nesse caso, o desenvolvimento do projeto dá-se: (i) pela via democrática; (ii) de dentro para fora; (iii) numa perspectiva globalizante e sistêmica; (iv) sem separação entre fins e meios, uma vez que a ação incide sobre ambos; (v) e pressupõe uma ruptura que, acima de tudo, predisponha as pessoas e a instituição para a indagação e para a emancipação. Nesse processo, a construção do projeto realiza-se através 129 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC da colaboração, a partir de ações de natureza coletiva, pelas quais a inovação é instituinte. Da reflexão-ação conjunta nasce um projeto comum que reflete os interesses de seus agentes. Portanto, supera-se a reprodução acrítica das prescrições legais e amplia-se a autonomia da instituição educativa. Disso resulta a ruptura com o instituído. Conforme refere Veiga (2003, p. 275): Sob esta ótica, o projeto é um meio de engajamento coletivo para integrar ações dispersas, criar sinergias no sentido de buscar soluções alternativas para diferentes momentos do trabalho pedagógico -administrativo, desenvolver o sentimento de pertença, mobilizar os protagonistas para a explicitação de objetivos comuns definindo o norte das ações a serem desencadeadas, fortalecer a construção de uma coerência comum, mas indispensável, para que a ação coletiva produza seus efeitos. Apoiando-nos no referencial exposto acima e situando-nos no âmbito do ensino superior, confrontamos as definições de PPP encontradas na literatura com o que os docentesgestores curriculares entendem sobre este assunto. OBJETIVO GERAL O objetivo deste trabalho foi descrever e refletir como os coordenadores dos cursos de graduação da UFC definem projeto pedagógico. METODOLOGIA Esta investigação fez uso de um questionário, que faz parte de um estudo mais amplo, desenvolvido pela Divisão de Planejamento e Avaliação de Projetos Pedagógicos da PróReitoria de Graduação. O referido instrumento denominou-se Diagnóstico Curricular e foi construído numa plataforma eletrônica, o survey monkey. Esse instrumento abrangeu 20 questões e teve como objetivo geral construir um diagnóstico dos currículos a partir da visão dos coordenadores dos cursos. O envio do questionário foi realizado por e-mail. Enviamos um link através do qual os participantes tiveram acesso e puderam responder as perguntas. Neste texto, nos voltamos exclusivamente a uma das questões compreendidas por esse questionário, a que se refere à compreensão que os coordenadores de cursos de graduação possuem acerca de projeto pedagógico. A mencionada questão foi respondida por 82 coordenadores. Para o tratamento dessas respostas nos valemos da análise de conteúdo. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Procurando descrever e refletir sobre como os professores, encarregados de alguma coordenação de curso de graduação definem projeto pedagógico, fizemos a seguinte pergunta: Para você, o que é projeto pedagógico? As respostas dos docentes nos permitiram identificar duas categorias que correspondem às concepções sobre projeto pedagógico apresentadas na literatura: o projeto como plano e o projeto como processo; com uma forte prevalência da primeira concepção, 59 das 82 respostas à questão referida acima, cerca de 72% do total. A seguir, citamos algumas delas: É o planejamento do que se espera que o curso seja em todos os seus aspectos. É um guia a ser seguido para atingir os objetivos desejados e para formar o tipo de aluno que se deseja formar. 130 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO São ações concretas a executar durante determinado período de tempo, com definição de atividades necessárias ao processo de ensino e aprendizagem. É um documento que deve servir de parâmetro para discutir referências, experiências e ações de curto, médio e longo prazos. É um b alizador da formação dos educandos. Plano que o curso deve seguir e que foi aprovado para criação do curso Documento que contém as ações, atividades necessárias ao processo de ensino e aprendizagem. o conjunto de metas a cumprir e os meios para concretizá-las é um texto construído por alguns docentes e profissionais de educação, no qual são delineados os aspectos didáticos, metodológicos e estruturais a serem contemplados na formação de recursos humanos em qualquer nível de instrução. Planejamento de um curso pautado em metas para uma formação sólida dos profissionais É um documento/projeto que organiza as diretivas a serem seguidas por um curso específico. É um documento que orienta o desenvolvimento de um Curso e baseado no profissional que se quer formar, estabelece as metas e os caminhos para atingir o objetivo que é a formação desse profissional. É um "plano de voo" que indica, detalhadamente, os procedimentos a serem realizados para chegar ao(s) objetivo(s) proposto(s), refletindo o grau de conhecimento dos diversos recursos (teóricos, matérias, institucionais, políticos etc) disponíveis e as estratégias metodológicas para a execução exitosa desse plano. De forma sucinta, um plano de trabalho pedagógico a ser realizado em um Curso. É o estatuto do Curso. As regras gerais de operacionalização de um curso de gradução conforme as diretrizes curriculares do MEC. É o manual para orientação do curso dentro da política na formação do indivíduo para exercer as atividades dentro do contexto proposto para o curso. Ferramenta que deve ser consultada por gestores, técnicos e alunos para esclarecimento do que a instituição propõe a ensinar no curso. É um plano estratégico negociado entre os grupos de interessados que visa a melhor formação possível para o profissional a que se propõe formar. Documento que norteia as ações do curso de graduação. É o documento que norteia todo o curso, tanto no que concerne sua dimensão legal quanto os perfis de formação ofertados e desejados. Estas afirmações permitem-nos concluir que os professores concebem o PPP como um conjunto de medidas a ser tomadas para concretizar as finalidades que norteiam cada curso e para que os alunos desenvolvam um perfil de profissional pré-determinado. Isto é, idealizam o projeto como um plano a ser seguido, numa perspectiva técnica e prescritiva. Prevalece a preocupação com as formas de organização, isto é, sobre como organizar o projeto e concretizá-lo de modo a alcançar os objetivos pré-definidos. 131 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC CONSIDERAÇÕES FINAIS A concepção de PPP predominante entre os gestores curriculares da UFC é do projeto como um plano, um documento. Acreditamos que somente a concepção de PPP como processo é coerente e adequada à construção de projetos emancipadores e comprometidos com a formação integral, que não é apenas técnico -científica, mas também compreende aspectos éticos, humanísticos e de conscientização para o exercício da cidadania. Enquanto que a compreensão do PPP como plano reduz a formação a uma preparação profissional, conforme uma tipificação previamente pensada, mais nos termos de como este profissional deverá ser a priori, do que em termos de uma atualização constante e que também considere outras dimensões, além das técnico científicas. O entendimento do PPP como processo implica que este não se restringe a um programa de estudos, a um agrupamento de planos de ensino ou a um conjunto de atividades ordenadas; implica ainda reconhecer que o PPP não é algo estático, um documento, que uma vez construído deve ser arquivado ou enviado para as instâncias competentes como prova do cumprimento de formalidades burocráticas (VEIGA, 1996). Contrariamente, a construção de um projeto educativo decorre continuamente ao longo de um processo, pois o projeto não é um produto fechado. O seu processo de construção traduz-se nas tarefas de pensar/elaborar o projeto, pensar/realizar o projeto, pensar/avaliar o projeto e pensar/reformular o projeto, pois o que se pretende vai além da reorganização da educação, aquilo que se busca é a melhoria da qualidade de todo o processo vivenciado. A concepção do PPP como plano contribui para a perpetuação do instituído, para reprodução do mesmo sistema educacional apenas com algumas modificações, em contraposição aquilo que se pode desenvolver se o PPP é visto como processo. Neste segundo caso, entende-se que o PPP não deve ser feito para cumprir exigências legais, mas para atender aos anseios de alunos e professores. Esta compreensão, por sua vez, é potencialmente propusora de mudanças, rupturas e, portanto, emancipadora e edificante. REFERÊNCIAS BOUTINET, J. P. Antropologia do projecto. Lisboa: Instituto Piaget, 1990. GADOTTI, M. Projeto político pedagógico da escola: fundamentos para sua realização. In: GADOTTI, M.; ROMÃO, J. E. (Orgs.). Autonomia da escola princípios e propostas. São Paulo: Cortez, 1997. VEIGA, I. P. A. Projeto político pedagógico da escola: uma construção coletiva. In: Projeto político pedagógico da escola: uma construção possível. Campinas: Papirus, 1996, p. 1135. VEIGA, I. P. A. Inovações e projeto político-pedagógico: uma relação regulatória ou emancipatória? Caderno Cedes, São Paulo, v. 23, n. 61, p. 267-281, 2003. 132 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO CONCEPÇÕES ACERCA DO CURRÍCULO NO SISTEMA COLÉGIO MILITAR DO BRASIL (SCMB) Renata Rovaris Diorio81 RESUMO A reconstrução do currículo do SCMB deu-se em virtude do momento histórico, no qual os Colégios Militares encontram-se desde 2011. Essa inovação curricular é oriunda de um projeto maior que o Exército brasileiro iniciou a fim de modernizar todo seu sistema de ensino, inclusive nas academias militares, desde 2009. Um novo Exército localizado no mundo globalizado deparou-se com novas exigências que se descortinavam, como novas formas de atuar em missões de paz, por exemplo. Nesse sentido, uma nova racionalidade, conectada com as novas tendências, diante da complexidade da sociedade tecnológica tornou essencial a inclusão de novas categorias, na formação integral desse combatente, isto é, novas competências, tais como: a multicultural, tornou-se vital a esse cidadão global. Tal cenário tem provocado inúmeras transformações no ensino militar, assim como, no Sistema Colégio Militar. Nesse contexto, esse estudo foi motivado pela seguinte indagação: o quê pensam os professores do Ensino Médio sobre Currículo? Sob essa perspectiva, o objetivo geral desse estudo é: analisar as concepções dos participantes dessa pesquisa, inseridos na reforma curricular, sobre a categoria Currículo. Os dados vêm sendo coletados por meio da técnica de análise denominada circulo dialético hermenêutico (Guba & Lincoln, Fourth Generation Evaluation, 1989). Conclusão: os professores estão num processo de transição epistemológica, num contexto de continuidades e rupturas de paradigmas, em direção às novas metodologias e práticas docentes de um currículo integrado. PALAVRAS CHAVE: Currículo. Multiculturalismo. Interdisciplinaridade. INTRODUÇÃO O Sistema Colégio Militar do Brasil (SCMB) está nesse momento, num período de transição, perfazendo um novo caminhar, visto que o seu currículo escolar encontra-se em reconstrução, buscando novos rumos, preparando-se para às novas demandas do século XXI. Nesse caminhar, o principal objetivo do Ensino Médio deve ser possibilitar ao aluno tornarse cidadão do mundo, comunicando-se com o meio globalizado, apoderando-se de diversos saberes, a fim de transformar a realidade em que vive. Diante desse cenário, novos significados acerca do currículo poderiam ser reconstruídos, na tentativa de emergir outros sentidos para tal categoria. E por esses motivos, resolvi investigar as representações sociais dos professores do Ensino Médio sobre Currículo, nesse período de reforma 81 Renata Rovaris Diorio, graduada em Letras pela UFMS e em Direito pelas Faculdades Católicas de Mato Grosso, Mestre e Doutoranda em Educação pela Universidade Federal do Ceará, professora de Língua Inglesa pelo Colégio Militar de Fortaleza, e-mail:[email protected] 133 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC curricular. Então, entrevistei 15 professores do Ensino Médio, das diversas áreas do conhecimento, entre eles, militares e civis. A pesquisa é de cunho qualitativo e etnográfico e a metodologia utilizada para coleta e análise de dados é construtivista, ou seja, adotei o Círculo Dialético Hermenêutico, de Guba & Lincoln (1989). Essa técnica de análise de dados é construtivista porque a partir de uma construção de um participante da pesquisa, recolho outras concepções das entrevistas, dos bate papos informais, das observações participantes realizadas, das análises documentais e outros insumos revisitados, construindo novas inferências acerca do objeto alvo. Nesse percurso, vou refazendo também minha construção como pesquisadora, montando um círculo que perpassa pelos sujeitos participantes inúmeras vezes, tentando construir um consenso sob a categoria elencada. Portanto, a pergunta geradora dessa investigação foi: o quê pensam os professores do Ensino Médio, do SCMB, acerca da categoria Currículo, no contexto de reforma curricular vigente? OBJETIVO GERAL Analisar as concepções docentes acerca da categoria currículo, no contexto do processo de reforma curricular no SCMB. METODOLOGIA Utilizo como técnica de análise de dados, o estudo de Egon G. Guba e Yvonna S. Lincoln (1989), que consiste no circulo dialético hermenêutico, onde um participante da pesquisa inicia o círculo com suas representações sociais, acerca do tema e os demais continuam o diálogo, por meio de outros comentários e articulações. Desse modo, uma voz inicia o circulo, dando oportunidades para outras vozes complementarem o que já foi dito, acrescentando sempre algo mais à construção coletiva. Embora Guba & Lincoln (1989) tenham sugerido a metodologia dialética hermenêutica, principalmente para a área de avaliação institucional, ela também pode ser utilizada para esse trabalho, alvo desse estudo, visto que essa técnica de análise de dados parte do pressuposto que a realidade é fruto de diversas construções dos protagonistas nela envolvidos. Em virtude desse modo de analisar, dialeticamente e de forma contínua as representações sociais dos participantes da pesquisa, me identifiquei com essa técnica de análise de dados, além do que, a verdade é também relativa nesse paradigma construtivista, uma vez que ela é sempre consensual. Segue a seguir, figura ilustrativa da referida técnica de análise de dados: 134 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO R 1 Rn C TEMPO Cn 7 maior C1 escopo ESTRUTURA R7 C6 < < R 6 menor R2 SELEÇÃO Articulação C5 C4 Insumos do círculo outros círculos C2 R3 C3 documentos literatura observações construção do pesquisador R4 R5 Figura 18 (Tradução do Círculo Dialético Hermenêutico de GUBA & LINCOLN, 1989, p.152 apud MORAES, 1995, p.90). DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Transcrevi as falas dos sujeitos participantes da pesquisa, buscando a essência das suas concepções, tentando desvelar as entrelinhas dos seus enunciados, as reticências dos seus discursos, nos vários contextos analisados. Entrevistei 15 professores do SCMB, que denominei de P1, P2, sucessivamente, acerca de suas crenças, concepções e expectativas sobre o novo Currículo do Ensino Médio que se vislumbra nesse processo. Então, agrupei suas falas por semelhanças e os professores, participantes desse estudo revelaram o que se segue sobre a categoria currículo: P2: “currículo são as diretrizes pelos quais a escola segue, estamos bem, não sei porque temos que mudar, time que está ganhando, não se mexe”; P3: “currículo é passagem estreita porque revela a escola como realmente é; isso é possível somente pela grade escolar e seus documentos; P6: “é a grade, a ementa das disciplinas e seus conteúdos programados apenas e estamos saindo de um currículo de objetivos para um currículo centrado em competências”; P9: “são as normas de avaliação e outras regras também que estamos modificando para depois atuar”.; P10: “ainda é cedo para dizer se esse processo de reforma será um avanço ou não, mas espero que mude mesmo, porque currículo para mim são as regras oficiais da instituição, dizendo como devemos agir com os alunos”. Essas falas revelam a ótica tradicional clássica, inserida numa perspectiva positivista da educação, já que seu significado consiste no “currículo oficial” apenas: compreendem que as diretrizes, as normas traduzem o significado de currículo. Nesse sentido, podemos inferir que para esses participantes da pesquisa, mudar o currículo significa mudar as regras do jogo tão somente. 135 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Já o seguinte professor participante revela outro significado para o currículo: P1: “o currículo é um grande sinalizador porque é a escolha de tantas possíveis nessa sociedade, onde o conhecimento hoje ficou fragmentado. Então o professor deve escolher o que é prioritário para o seu aluno, visto que o conhece bem e vive com ele em sala de aula”; Essa fala revela a concepção do professor inserida numa perspectiva pós crítica contemporânea, uma vez que percebe o currículo como a escolha de atividades na sala de aula, indo mais além, inclusive, pois revela também que o professor deve escolher o “core” para o seu aluno, visto que há muito conhecimento fragmentado nessa sociedade tecnológica. Além do que, o professor conhece as limitações e as possibilidades discentes, podendo promover e escolher atividades e estratégias de ensino que desenvolvam a “zona proximal” dos seus aprendizes. Já as falas a seguir revelam o currículo como uma parte do projeto educativo escolar, que essa escola ainda está por construir. Isso revela a compreensão de uma totalidade no que diz respeito à concepção do significado dessa categoria. Tal sentido está concebido à luz de teorias da educação contemporâneas que percebem o currículo como um caminho a ser seguido, mas, articulado com um projeto maior de ensino da instituição em que se encontra. P5: “é uma palavra que nos engana porque nos leva acreditar numa grade de disciplinas, mas ele é muito mais que isso: ele está inerente ao projeto político pedagógico, que ainda estamos por fazer”; P7: “é um caminho a ser seguido e estamos fazendo isso, mas não se fala em projeto mais amplo da escola”; P8: “faz parte do projeto educativo que estamos pretendendo construir, mas não sei quando isso começará de verdade a fluir...”; P12: “é a transformação do ensino no exército, estamos tentando fazer isso, pena que não se iniciou pelo projeto educativo como um todo e sim pelas suas partes: o currículo é uma de suas partes”. Já essas concepções, a seguir, revelam que os professores se sentem despreparados para poder participar na construção de um novo currículo. Eles acreditam que é necessário mudar, porém não se sentem à vontade para expressar suas crenças. Muitas variantes entram nesse cenário, a indiferença, por exemplo, pode retratar receio de se manifestar, como também, certa resistência às transformações oriundas desse novo currículo: P4: “é um conjunto de todas as atividades que a instituição escola desenvolve e os conteúdos das disciplinas, mas me sinto despreparado para a mudança, porque parece que falta fundamentação teórica para isso”; P11: “não tenho tido tempo de participar, só os coordenadores estão participando, prefiro não me posicionar sobre isso...”; P13: “não tenho acompanhado muito o processo de revisão, mas a gestão também terá que mudar, tudo tem de mudar, mas não me sinto à vontade para falar muito sobre isso, prefiro ouvir...”. 136 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO Há também a concepção de que essa fase de reforma curricular é tempo de refletir sobre o quê o professor está fazendo, como faz e o porquê que toma determinadas atitudes em sala de aula. Nesse sentido, o professor participante afirma que: P14: “a revisão é uma oportunidade para repensarmos o quê estamos fazendo e o porquê de nossas atitudes, mas, não porque não estamos tendo bons resultados, mas sim, para melhorar cada vez mais”. E o seguinte professor revelou na sua fala, outros significados e sentidos, à categoria objeto alvo desse estudo: P15: “a reforma curricular possibilita uma nova identidade para o sistema colégio militar de ensino, isso porque nos professores teremos de ensinar diferente, teremos que ter a humildade de também aprender com nossos alunos, aproveitando o conhecimento prévio deles para que novas práticas possam surgir em sala de aula. Currículo é trajetória, é caminho a seguir e os rumos em sala de aula precisam ser revisitados por uma nova proposta pedagógica, isto é, por um projeto novo educativo, visto que sem esse projeto não há currículo. E a inter/transdisciplinaridade, o multiculturalismo, e a contextualização dos conhecimentos podem vir também à tona”. Temos acima a crença de que o currículo revela uma nova identidade da escola, porque demonstra como os professores ensinam e como os alunos aprendem as diversas áreas do conhecimento. Essa fala desvela há necessidade da humildade docente para que se possa trabalhar de forma integrada as diversas áreas do saber. Isso possibilita a interdisciplinaridade e a contextualização, entre outros elementos no currículo escolar. Tal concepção revela ainda um sentido para o termo currículo que consiste na transformação didática na sala de aula. Esse entendimento trás consigo palavras chave que diretrizes oficiais, como os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) e a proposta pedagógica do próprio Sistema Colégio Militar de Ensino (SCMB) nos norteiam. CONSIDERAÇÕES FINAIS Estamos em pleno processo de reforma curricular e isso implica em transformações desde o modo de pensar e o agir na sala de aula. Contudo, há entraves, resistências, inseguranças, lutas de interesses e relações de poder que permeiam esse percurso. E isso pressupõe novos significados e sentidos para o currículo. Isso não constitui simplesmente mudar a posição das cadeiras, ou adquirir novos recursos didáticos e/ou equipamentos eletrônicos, ou fazer novos planos de aulas, ou adicionar/retirar alguns conteúdos, mas implica, sobretudo, na percepção de novas camadas dessa “realidade”, em novas formas de ensinar, de agir, de atuar e de avaliar na sala de aula, visto que o paradigma tradicional não se adéqua mais às novas demandas dessa sociedade tão complexa que o século XXI metamorfoseou. Nesse sentido, os participantes da pesquisa ora se sentem coautores, ora se sentem despreparados para tal empreendimento. No entanto, o percurso é promissor e acreditamos que 137 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC apesar dos obstáculos, um novo currículo em ação está sendo reconstruído, uma vez que já é possível registrar novos elementos nas falas e concepções docentes, oriundos da contemporaneidade. Isso possibilita a integração dos saberes, por meio da inter/transdisciplinaridade, do multiculturalismo e da contextualização, entre as diversas áreas do conhecimento, na sala de aula. REFERÊNCIAS BOURDIEU, P. O Poder Simbólico. 11ª Ed. Rio de Janeiro, Ed. Bertrand Brasil, 2007. GEERTZ, C. O saber local. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. GUBA, E. and LINCOLN, Y. Fourth Generation Evaluation. Sage Publications, Inc, California, USA, 1989. LUDKE, M. ANDRE, M. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. MINAYO, M. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petropólis:Vozes, 1994. MORIN, E. Ciência com Consciência. Rio de Janeiro:Ed.Betrand Brasil,2005 MORAES, S. E. O Currículo do Diálogo: Em busca da situação ideal de fala no currículo escolar internacional. Tese de Doutoramento. São Paulo: São Carlos, 1995. SACRISTÁN, G. O Currículo: Uma reflexão sobre a Prática. Porto Alegre: Ed ARTMED, 1998. SZYMANSKI, H. A entrevista na pesquisa em educação: a prática reflexiva. Brasília: Plano Ed.,2002. 138 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO DIÁLOGO DE EXPERIÊNCIAS DE PESQUISA: INTERFACES ENTRE A GASTRONOMIA, A EDUCAÇÃO, O CURRÍCULO E O ENSINO. Beatriz Helena Peixoto Brandão82 RESUMO O presente trabalho tem o condão de sintetizar a troca de saberes entre os discentes da disciplina Educação, Currículo e Ensino. A proposta curricular inscrita no âmbito dessa disciplina traduz, ainda que não intencionalmente, uma postura dialógica (FREIRE, 1996), onde os docentes e discentes compreendem-se mutuamente como fontes abertas de conhecimento, atores curiosos e dinâmicos, indagadores, aptos a escutar e a falar sobre suas próprias experiências e impressões. Ademais, parte-se para uma postura de uma hermenêutica diatópica (SANTOS, 2001), onde se busca a interpretação dessas experiências a partir dos lugares de onde elas partem – dos diferentes eixos de pesquisas -, de forma a consolidar uma conversa entre a universalidade e a relatividade das práticas, amparada em um anseio comum, qual seja o de investigar para realizar uma educação plena, bem como para entender a complexidade dos conflitos que permeiam essas dimensões. Dentro dessa dança lógica global e particular, expõe-se, portanto, o relato de experiência com a missão de contemplar as interfaces entre a Gastronomia – situada no eixo de currículo – e as demais contribuições dos demais eixos: ensino de música, ensino de ciências, ensino de matemática, formação de professores e tecnologias digitais. PALAVRAS-CHAVE: Gastronomia; Interfaces; Educação; Currículo; Ensino. INTRODUÇÃO Recebe-se a missão de conhecer a atuação dos eixos da Linha de Educação, Currículo e Ensino. Propõe-se, assim, uma apreciação dos tópicos levantados em sala de aula pelos membros desses grupos respectivos a partir do referencial de objetos e projetos de pesquisa particulares. Dentro dessa dança lógica global e particular, expõe-se, portanto, as interfaces entre a Gastronomia – situada no eixo de currículo – e as demais contribuições dos demais eixos: ensino de música, ensino de ciências, ensino de matemática, formação de professores e tecnologias digitais. OBJETIVOS GERAIS Situar a temática da Gastronomia, inscrita no âmbito do eixo de currículo, a partir das revelações e apresentações das pesquisas dos docentes e discentes dos demais eixos da Linha Educação Currículo e Ensino. 82 Graduada em Direito pela Universidade Federal do Ceará - UFC (2008). Advogada inscrita na Ordem dos Advogados do Brasil - seção Ceará. Aluna da primeira turma do Bacharelado em Gastronomia da UFC. Mestranda em Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da Faculdade de Educação – UFC. [email protected] 139 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC METOLOGOGIA DE PESQUISA A metodologia, pautada nos referenciais teóricos da dialógica de Paulo Freire (1997) e na hermenêutica diatópica de Boaventura de Sousa Santos (2001), busca um partido interpretativo acerca das realidades de pesquisas apresentadas pelos membros da disciplina de Educação, Currículo e Ensino – na perspectiva do diálogo, portanto -, situando a realidade de seus próprios eixos – na perspectiva diatópica, finalmente. Assim, interpreta-se a realidade dos estudos apresentados, aproximando-as da temática da Gastronomia em seu contingente científico e educativo. A pergunta orientadora é: dentro do discurso dos colegas e de seus pontos de partida, quais elementos dentro dos referenciais plurais podem ser mantidos em seu caráter universal, servindo para a reflexão de áreas do conhecimento aparentemente desconexas com o contexto apresentado? Eis o desafio proposto. Prescreve-se, fundamentalmente, a noção de um relato de experiência. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 1.Eixo de Formação de Professores: educador profissional ou profissional educador? Os desafios da docência no ensino superior no Bacharelado em Gastronomia da UFC. O bacharelado em Gastronomia da UFC inicia suas atividades no ano de 2010. Inscrito no âmbito do Instituto de Cultura de Arte, o Curso assume uma dimensão essencialmente transdisciplinar, de forma a contemplar a alimentação dentro de uma visão holística. Diante dessas eleições curriculares, a demanda docente tem sido sanada pela contribuição de professores advindos de outros centros da Universidade, tais como o curso de Engenharia de Alimentos, Química, Sociologia, História, Educação, Economia Doméstica etc. Resta-nos falar que muitos desses docentes, então bem acolhidos e eleitos para atender a demanda transdisciplinar do curso, sofrem, inevitavelmente, de uma fragmentação causada por um espontâneo estranhamento inicial. Como traduzir o espírito de um curso tão novo, de um bacharelado quase inédito no país, para a prática docente ainda apegada à área de sua formação inicial? Na ausência de gastrônomos de formação, como fazer com que um químico, um historiador ou um biólogo deem aulas de gastronomia, desconhecendo uma linguagem específica, muitas vezes devendo eles próprios inaugurá-la? Essa quase requalificação faz elevar-se a necessidade de reconstruir a identidade docente. A gênese de cursos novos e suas exigências docentes, a meu ver, revelam-se desafiadoras para as análises e práticas de Formação de Professores. Outra questão é aquela concernente à admissão de novos professores ao quadro docente do curso de gastronomia. Indispensáveis à prática gastronômica, as experiências prévias e uma larga prática profissional pregressa são elementos motivadores. As aulas práticas, destarte, exigem a abordagem de um bom profissional ambientado à cozinha. Essa concepção positiva, todavia, não deve suplantar jamais o também necessário rigor acadêmico, bem como o constante incentivo científico. Assim, a partir da conformação da ação docente como ato profissional (o professor como profissional e não somente como o vocacionado, como bem considerou a docente), como adequar esse nível de exigência àqueles docentes com larga experiência em suas áreas de atuação, 140 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO mas com pouca aproximação em relação à linguagem científica/acadêmica? Como harmonizar a lógica do educador profissional com aquela do profissional educador? Renasce, portanto, o debate importante sobre os cursos de formação docente do Ensino Superior, tendo em vista a admissão desses profissionais que, embora competentíssimos em seus ofícios, afastaram-se da academia e de suas práticas por muitos anos, tendo sua experiência de discente como único espelho orientador. A Universidade, dessa forma, preocupada com a formação de seus professores, deve proporcionar um cenário para que os docentes de sintam valorizados e instigados a perseguir um engrandecimento individual e profissional, reconhecendo suas limitações e alimentando suas potencialidades. 2.Eixo de Ensino de Ciências: o lúdico como estratégia de sedução pedagógica para as ciências e para abordagem de tópicos sensíveis. Parte-se do lúdico para realizar abordagem interdisciplinar acerca de tópicos sensíveis, tais como as drogas psicotrópicas. Compreende, assim, tanto um amadurecimento na formação, ao incluir a dimensão desse jovem, buscando compreender como ele se comporta e como ele é capaz de aprender. Da mesma forma, acredito, poderia ser trabalhada a Educação Alimentar e Nutricional nas escolas. Deixando de lado aquela crença nutricional prescritiva, onde alimentos são manifestações de vitaminas, minerais, carboidratos, proteínas, lipídios etc., deve-se passar a vislumbrar uma abordagem holística sobre alimentos. Dentro de uma concepção interdisciplinar, os alimentos não podem ser traduzidos como objetos restritos ao domínio das ciências biológicas ou da química. A comida também é cotidiana, fruto de vivências e práticas já consolidadas, manifestação da cultura, além de conter em si manifestações de estruturas sociais, distintivas e estéticas. Deveria ser preocupação tão relevante para a escola e para a família, do ponto de vista da saúde pública e da saúde social, quanto a própria questão das drogas psicotrópicas. A obesidade ou a desnutrição infantil, em seus extremos, são fenômenos inegáveis e alarmantes dentro das escolas. A fome oculta, essa carência disfarçada, é consequência de uma relação viciosa e desarmônica com a comida. Outras considerações constroem o quadro sensível: quem come o quê (rico, pobre, pescador, agricultor, trabalhador urbano), a relação da comida da escola versus a comida de casa versus a comida da cantina, comida como status, o bullying contra as crianças obesas ou com sobrepeso, o sofrimento da criança desnutrida, a questão estética, os transtornos alimentares, a força da mídia na manutenção de hábitos e a exposição de como as grandes cadeias de alimentação fazem uso dessas práticas lúdicas (com a oferta de brinquedos e jogos) para atingir um público tão vulnerável como o infantil e o adolescente. Nesse rápido diagnóstico, a obesidade e a desnutrição – fomes distintas – são tópicos igualmente pesados, também estigmatizados, que podem ser absorvidos pela tática do lúdico. A escola deve se preparar para apresentar essas questões a seus alunos, posto que urgentes. O jogo, assim, pode ser uma boa estratégia para começar a enfrentá-las. 3 Eixo de Ensino de Matemática: a linguagem como veículo do saber. As reflexões apresentadas transpassam os desafios do ensino da matemática, ciência esta que, ironicamente, sempre se propôs como linguagem universal. Entre essa linguagem universal e 141 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC sua respectiva tradução, todavia, existe uma dificuldade concreta. Assim, uma tradução – qualquer que seja, ainda que cumpra determinadas regras - será sempre particular, pois é mediada por pessoas, às quais imputamos a denominação de mestres, com estilos variados, léxicos distintos e inseridos em realidades particulares, marcadas por informações e entornos diferentes. Não se pode negar a importância de se colocar a questão da linguagem em foco, uma vez em que ela é o veículo pelo qual as relações e as interpretações em torno do conhecimento vão se consolidando em sala de aula e fora dela. Comunicar-se às vezes encontra limites na dimensão da fala, encarando óbices reais, nascidos da incompatibilidade entre o léxico discente e o docente, ensejando um quadro de incompreensão. Fazer-se entender e seduzir com as palavras, isto é, cativar o público escolar para o conhecimento que está sendo compartilhado, é crucial para uma missão educadora. Da mesma forma, no nível superior, em todas as áreas de formação, a linguagem técnica própria é causa primeira de estranhamento. Em cursos onde a expressão é marca do ofício, como o Direito, por exemplo, é possível verificar logo no primeiro semestre, em face de um público jovem e recém-egresso do Ensino Médio, professores ministrando suas aulas a partir de um vocabulário extremamente técnico, quando não demasiadamente rebuscado. Da mesma forma, existem cursos nos quais a linguagem técnica abriga termos estrangeiros, como a Gastronomia, trazendo também, para além do contingente estranhamento inicial, essas explícitas barreiras idiomáticas. A forma como essa comunicação deve ser realizada, de maneira que os alunos se envolvam e compreendam o sentido da mediação, é a questão pertinente. Acredito que, às vezes, não é questão meramente de linguagem, mas também de escolhas que o docente faz. O professor detém de recursos hábeis – as novas tecnologias da educação estão aí pra provar – para aplicar soluções adequadas às necessidades de cada turma. Como, então, devem se apropriar desses instrumentos de comunicação, enriquecendo e efetivando os processos de ensino e de aprendizagem? Aqui se expõe a missão da academia: contemplar esses silêncios para buscar soluções e compartilhá-las. Mais uma vez – e percebo que essa associação será recorrente – a formação de professores parece ser o plano para o desenvolvimento dessas estratégias. Essa incompatibilidade de capitais linguísticos deve ser percebida e amenizada, proporcionado uma apresentação prazerosa da ciência. 4 Eixo de Ensino de Música: reflexões sobre a trajetória e a conquista do ensino de música nas escolas. Compartilhando da angústia da música, em decorrência de minha formação na gastronomia (e quantas semelhanças encontro nesses dois mundos!), existem inúmeras dificuldades em se reconhecer a necessidade da formação para esse professor. A glamourização da música, ou melhor, a constante redução do músico à ideologia do dom, são materializações de dúvidas correntes, as quais atrapalham a ação desse licenciado: afinal – questionam os desavisados - precisa ser formado/licenciado para dar aula de música? Da mesma forma, com a mesma inquietação, precisa ser gastrônomo/ter formação em gastronomia para dar aulas, para agir no mercado, para cozinhar? Mais uma vez, o dom salta como valor ainda muito forte, tornando-se até um problema. A 142 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO formação não é suplantadora de ofícios ou de vocações; pelo contrário, ela é uma agregadora desse conhecimento, um espaço de troca e de vivências, uma integradora de lacunas formativas, algo que nos abre para um mundo muito mais dinâmico e para uma reflexão muito mais profunda acerca do que a sua arte/ciência significa nessa sociedade em que vivemos. Não basta tocar o piano. A dificuldade habita na tradução desse mundo intenso que a música comunica em linguagem própria. Então questiono – ora devidamente avisados -, como não ser licenciado para ser professor de música? A análise da colega e do professor apresenta, inicialmente, a evolução do ensino em música no Brasil. Assim como a gastronomia, paira um misticismo em torno da música enquanto prática humana - 1ª arte, representante do som -, a qual tem dificultado a sua apreensão como ciência em sua expressão pedagógica. As origens do Ensino de Música, desde a campanha de nosso grande Heitor Villa-Lobos em torno do Canto Orfeônico, nas décadas de 1930 e 1940, como bem assinalara os colegas, refere-se intrinsecamente à mitologia grega e à tradição distante fundada sobre aquilo que é erudito, o que tornara o ensino música, embora universal (para todos), um espectro de manifestações musicais extremamente selecionadas (de poucos). Apesar desse partido (talvez o único possível àquele tempo), a proposta de Villa-Lobos consolidara, felizmente, a música como parte necessária de um currículo para a formação humana, para a formação do brasileiro. Depois de um hiato de ausência da música nas escolas – o qual explica muito bem o declínio qualitativo da própria indústria musical nas décadas de 1990 e de 2000 -, passa-se, posteriormente, para uma fase de Educação Artística e de Educação em Artes, situando a música nesse rol de artes empilhadas e negligenciadas, todavia. Essa negligência, nesse caso, consequência do pouco investimento do Estado em relação aos docentes, é denunciada por um cotidiano no qual se verificava professores de música a lutar, constantemente, para conseguir ministrar aulas de teatro ou de dança, como se a sua formação fosse capaz de sintetizar todas as outras dimensões artísticas. Esse “aproveitamento” exacerbado comprovara uma urgente necessidade de revisão dessa realidade. Era necessário iniciar uma luta de afirmação dessas artes como esferas distintas e particulares. Dessa forma, a afirmação de um ensino específico em música não era questão de uma introversão ou privilégio científico ou artístico, mas uma necessidade de valorização de seus profissionais e de seus beneficiários. Ademais, apesar dos absurdos do cotidiano, a qualidade de Ensino ainda é meta e princípio orientador da educação em nosso país. É enorme a luta investida para que hoje as escolas possam realizar sua Educação Musical, sempre ciente de que novos desafios aparecerão. A própria questão da formação do professor em música é um ponto delicado. Outro ponto interessante de comunhão entre a Gastronomia e a Música é que ambos os cursos atraem profissionais já com muita vivência. Essas pessoas buscam a universidade para fundamentar sua atuação com teoria e com essa base científica de qual carece o seu saber de experiência. Vemos muitos padeiros, confeiteiros, gerentes, diferentes pessoas que já trabalham no ramo, querendo retornar à universidade para ampliar e para ressignificar o universo do seu ofício, revisando o seu objeto de trabalho, reconhecendo-o em outras expressões. É fenômeno corrente e mais uma coincidência entre as formações. 143 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Por fim, fica a minha solidariedade com os coordenadores desses cursos, aqui na UFC, reconhecendo o quão dura é a luta dentro da própria luta. Em recente Congresso Internacional de Gastronomia aqui no Estado, assistimos à reunião de coordenadores de cursos de gastronomia no Brasil em seus diversos níveis (técnico, tecnólogo e bacharelado). Fica muito claro que há muito a ser feito, muito a ser debatido, muito caminho até que se chegue a um consenso sobre o que essa ciência - que também é arte - representa nas nossas vidas. A luta da música tem sido uma inspiração. Talvez um dia a Gastronomia saia da cozinha, caminhe pela vida e também chegue às escolas. 5 Eixo Tecnologia Digitais na Educação: em busca de uma escola do século XXI. Finalmente, chega-se à reflexão sobre o impacto das novas tecnologias digitais no âmbito da educação, em pleno século XXI. Parece-nos, mais do que nunca, relevante e, ainda que não se faça uma intermediação direta com o cenário da gastronomia, a temática da tecnologia invade a preocupação de todas as áreas do conhecimento, nomeadamente da educação, tendo em vista a mobilização do exercício da própria vida, das próprias mutações sociais decorrentes desse fenômeno inevitável. Acredito que a missão desse eixo é de relevância imensa. Identificar esses processos e perceber como são importantes para a realização do ensino e da aprendizagem como processos humanos por natureza não deveria ser matéria restrita ao estudo de “novas formas de educar”. Aqui, o foco - muito mais profundo - conduz-nos ao entendimento de novas formas de viver, que demandam aptidões e estratégias diferentes daquelas de que participamos há 20 anos. Não se tratam friamente de inovações, mas de adequações a uma realidade que já está posta. Ademais, não se trata ainda de propor o uso de novos instrumentos dentro de uma velha forma de fazer educação. Só faz sentido o uso desses veículos avistando as potencialidades; quando se tenta, ao menos, compreender como e quão intensamente esses domínios repercutem na vida do estudante do século XXI. É necessário refletir acerca dessas tecnologias não como meros elementos de sedução pedagógica, mas como uma potencial e legítima via para a efetivação de uma educação reflexiva, capaz de entender novos códigos e novas formas de expressão, as quais já não cabem em folhas de papel e em quadros alvinegros. Ademais, essas crianças, produtos desse “admirável mundo novo”, uma vez reconhecidas como porta-vozes de um mundo para elas desde sempre ‘digital’, podem nos ajudar a reconhecer essa gritante necessidade de pressa, essa impaciência e urgência nos processos, fazendo-nos olhar para o passado com essa mesma reflexão: qual era a nossa velocidade? O que isso quer dizer? O que se perdeu e o que se ganhou no caminho? O que quer dizer ser criança em 2013? Ainda é possível realizar o nosso próprio ideal de infância, aquele vivido em um mundo sem telefonia por satélite, internet e redes sociais digitais? Essas ressignificações podem nos ajudar não só na efetivação na educação de crianças e jovens, mas também na nossa própria leitura do mundo. Reconhecidas como processos, as tecnologias devem ser constantemente reinterpretadas. Como feitos humanos, contêm em si inúmeros significados. Para este efeito, o estudo das tecnologias digitais na educação conta com um auxílio inevitável: a formação de professores. Parece óbvio, mas como há de se proporcionar essas conexões sem que os professores estejam 144 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO preparados para o uso dessas tecnologias também? Em uma nação de incluídos e de excluídos, que muro contém a legião de docentes? Destarte, avaliar essas condições e o que se pode fazer pela educação dessa juventude passa, primeiramente, por uma formação de um docente que percebe a evolução digital como fato. O velho medo de ser substituído pela máquina tem sido substituído pelo medo de não a compreender. É um novo idioma a ser decifrado, um novo “capital” a ser apreendido. Ao conquistá-lo, talvez o professor consiga também – como imigrante que é – chegar ao século XXI com a mínima convicção de que os horizontes da educação não se encerram nas paredes da sala de aula. CONSIDERAÇÕES FINAIS Tendo em vista a constituição multifacetada de nossa grande e inclusiva linha de pesquisa, foi um desafio congregar diferentes percepções de eixos para dentro de um mesmo referencial de estudo. Apesar dessa dificuldade inicial, a proposta foi promissora e nos possibilitou refletir e conectar com o interesse de estudo dos outros colegas, tão dedicados em suas áreas de atuação, além de contar com um novo olhar para nossa própria formação, ampliando as dimensões de nosso saber em educação. REFERÊNCIAS FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. SANTOS, Boaventura de Sousa. Para uma concepção multicultural dos Direitos Humanos. Contexto Internacional. Rio de Janeiro, v. 23, nº1, janeiro/julho 2001, pp.7-34. 145 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC O ENSINO DE HISTÓRIA E AS NECESSIDADES DE ADAPTAÇÕES CURRICULARES PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL Ana Maria do Nascimento83 Elinalva Alves de Oliveira84 RESUMO O presente estudo tem como objetivo central conhecer a concepção do professor da disciplina de História tendo em vista a ocorrência das adaptações curriculares para o atendimento ao aluno com deficiência visual na educação fundamental, em uma unidade escolar da rede pública em Fortaleza. Inicialmente realizou-se um estudo bibliográfico tomando por base os estudos de Cardoso (2009), Oliveira (2008), Rodrigues (2006), Gallo (2004), Magalhães (2002), Santos (2002), Miranda (1996). Em seguida, realizou-se uma pesquisa de campo, de natureza descritiva utilizando para coleta de dados, o questionário, dirigido a 04 professores de uma instituição escolar na modalidade da EJA, em Fortaleza, cuja análise evidenciou-se como vem sendo elaborados as adaptações curriculares na disciplina de História para alunos com deficiência visual. Verifica-se ainda conforme a fala dos professores a adaptação curricular tem sua importância para compreensão do contexto da disciplina de História na sala de aula, entretanto, realizam somente quando detectada a necessidade de algum aluno, não sendo, pois uma prática facilitadora do processo ensino aprendizagem. É uma prática que concorre com as normas postas nos Parâmetros Curriculares Nacionais. PALAVRAS–CHAVE: Ensino de História. Adaptações Curriculares. Aluno com deficiência visual. INTRODUÇÃO A primeira Constituição brasileira, promulgada no início do século XIX (1824), foi o primeiro documento oficial a manifestar o interesse do País pela educação de todos os cidadãos ao estabelecer a gratuidade da instrução primária. Entretanto, ela não explicitou de quem seria a responsabilidade pelo sistema e pelo processo educacional, eximindo o poder público desse compromisso. É importante também lembrar que, como bem o aponta Kassar (1999), quando o texto dizia “todos os cidadãos”, certamente não incluía a massa de trabalhadores, constituída, em sua maioria, de escravos. Assim, o texto constitucional que aparentemente se comprometia com os brasileiros, 83 Co-autora. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação- PPGE da Universidade Estadual do Ceará- UECE. Email: [email protected] 84 Autora. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação- PPGE da Universidade Estadual do CearáUECE. Email: [email protected] 146 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO na verdade se referia somente a uma pequena minoria, representada pela elite sociopolítica no País. Relatos históricos apontam o período de 1961, momento em que os textos legislativos passaram gradativamente a melhor explicitar a conceituação sobre a educação das pessoas com deficiência. De maneira que, os dispositivos legais referentes à educação desse segmento populacional, aponta a educação como um direito a ser usufruído, quando possível, no sistema regular de ensino. Apesar dessas ponderações, entretanto, a prática releva haver uma tentativa de conciliação entre as forças antagônicas pelo debate social sobre esse assunto ao garantir apoio financeiro também às entidades privadas, assim livravam-se da tarefa em promover a prestação de serviços educacionais técnicos, especializados, com o objetivo de promover a adaptação da pessoa ao seu meio social e educacional. Sabedores de quanto nossos alunos são diferentes uns dos outros, que cada um traz os conhecimentos já apreendidos, e que tipo de estratégia pedagógica cada um reage melhor, se aprendem melhor quando trabalham em grupo, ou em dupla, ou em atividades individualizadas, como é possível alcançar os objetivos da educação brasileira na prática educacional cotidiana, num contexto de respeito às peculiaridades de cada aluno, na perspectiva da proposta inclusiva? A abordagem sobre a educação especial vem de longos tempos sendo posta em mesas de discussões, entretanto, ainda permeia dúvidas e incertezas no cenário escolar, cuja trajetória aponta para essas pessoas com deficiência atitudes sociais de extermínio, sendo entregue à própria sorte, ocorrendo ai o abandono explicito, socorridos tempos depois pela concepção do cristianismo, passam a ser consideradas pessoas com almas, dignas, portanto da piedade e da caridade de alguns, atendidos em asilos, numa ação meramente caritativa, vivendo, porém à margem da sociedade. Nos tempos modernos, as leis divinas saem do cenário, baseados pelas ideias iluministas, com foco nas leis da natureza são alvos do interesse da ciência médica vistos, porém, sob a óptica da patologia, iniciando ai a premissa do atendimento educacional em ambientes especializados. Nos dias atuais, o interesse muda o foco e essas pessoas são reconhecidas como cidadãs tendo, pois, direitos e deveres, fruto da luta iniciada pelo próprio segmento, seus familiares e os organismos internacionais. Nessa ruptura de concepções, atitudes e, ideias dar se inicio a novo pensar sobre o homem e as relações na convivência com seu semelhante. Sobre as transformações, Magalhães (2003), ressalta que: Estas transformações nas atitudes sociais sobre deficiência obviamente acompanham as profundas mudanças nos modos de produção econômica e a supremacia da ciência frente a outras formas de conhecimento, que alcança o seu apogeu no século XX (MAGALHÃES, 2002, p.31). Nessa luta para lograr a igualdade de oportunidades para as pessoas com deficiência, os diversos países reunidos em Salamanca (Espanha) firmam acordo internacional ditando rumos para que as escolas e a sociedade em geral possam acolher a todos os alunos excluídos, entre eles, os com deficiência. A partir de então, esse pressuposto alcança repercussão social considerável aderida por outros países e segmentos em prol dos direitos das pessoas com deficiência 147 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC propiciando assim, novos rumos e novas atitudes, encaminhando-os a autonomia plena, sendo, estes sujeitos, construtor de sua história. É a inclusão que lhes vem possibilitando dar inicio ao sonho dessa emancipação social, pelo ingresso e permanência em diversos ambientes, inclusive, o escolar. Oliveira (2008) ressalta que a educação da pessoa com deficiência visual encontra-se em processo de adaptação por força da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, nº 9.394/96), que traz em seu bojo a proposta da educação inclusiva. Nesse contexto, para melhor sanar as dificuldades dos alunos incluídos sobre as diretrizes inclusivas, surgem as Adaptações Curriculares e de Acesso ao Currículo definidos como sendo ajustes graduais ocorridos por ocasião do planejamento escolar e pedagógico, bem como nas ações educacionais, diante da constatada necessidades educacionais dos alunos. Sobre o assunto, currículo, segundo Macedo (2012) na cultura francesa, essa temática tardou a se configurar. Registros apontam que somente no século XX a palavra curriculum mira da Europa para os Estados Unidos. Berticelli (1999, p.163) em suas considerações formula que, “a partir da era industrial se faz a produção de sentido atua do currículo, fenômeno que se estabelece definitivamente no pós-Segunda Guerra Mundial”. Nessas formulações, Silva (1999, p.21), nos diz que a emergência do currículo como campo de estudo está estreitamente ligada a diversos processos tais como a formação de um corpo de especialistas sobre currículo, formação de disciplinas e de departamentos universitários, e a consequente institucionalização de setores especializados. Sobre esse tema, a literatura estadunidense vem esclarecer que o termo currículo é um campo especializado de estudos. Silva (1999, p. 22) nos fala que “foram talvez às condições associadas com a institucionalização da educação de massas que permitiram que o campo de estudos do currículo surgisse nos Estados Unidos, como um campo profissional especializado” Confirmando as ideologias, Kemmis (1998, p. 14) contra argumenta que o currículo é, “um terreno prático, socialmente construído, historicamente formado que não se reduz a problemas de aplicação de saberes especializado desenvolvido por outras disciplinas, mas que possui um corpo disciplinar própria”. Diante das opiniões e compreensões diversas que configuram o tema, considerando-se concepção e prática sistematizada, configura-se o currículo. De modo que levada por essa compreensão, somos instados a empreender nesse estudo que se estrutura inicialmente mediante abordagem sobre educação brasileira ao longo dos tempos, o currículo e a Educação Especial entre desafios e conquistas advindas pela proposta inclusiva que aponta o currículo como um dos aspectos primordiais no processo de ajuste permitindo a interação contínua diante das necessidades do aluno para alcançar resultados efetivos nos meios educacionais. OBJETIVO GERAL Desta feita o objetivo geral do texto é conhecer a concepção do professor da disciplina de História tendo em vista a ocorrência das adaptações curriculares para o atendimento ao aluno com deficiência visual na educação fundamental, em uma unidade escolar da rede pública em Fortaleza. METODOLOGIA 148 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO É um estudo que se apoia na abordagem qualitativa. A pesquisa qualitativa, no entender de Oliveira (2007, p. 37) “é um processo de reflexão e analise da realidade através da utilização de métodos e técnicas para compreensão detalhada do objeto de estudo em seu contexto histórico e ou segundo sua estruturação”. O estudo ocorreu em Fortaleza, em uma escola da rede pública municipal que oferece atendimento educacional especializado. Para coleta de dados foi utilizado um questionário com perguntas abertas e fechada com três docentes da educação fundamental na modalidade de EJA, além de observação do contexto escolar. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A análise contou com a descrição qualitativa, apurando-se a predominância do sexo feminino em sala de aula, faixa etária variando entre 30 a 50 anos, a formação acadêmica revela que apenas duas das participantes concluíram licenciatura em História, portanto, habilitadas para lecionar na disciplina em apreço. Em se tratando da concepção sobre o tema, destacam a importância dessa disciplina para que os alunos possam tornar-se reflexivos. Apurou-se ainda que nenhum dos docentes desse estudo até a data da pesquisa não havia participado de nenhuma capacitação, contando apenas, com a vivência já adquirida no decorrer do exercício na sala de aula. Sobre o ensino de História, até o final do século XIX havia ideologias de currículo com ênfase nas disciplinas literárias, voltadas para formar o espírito enquanto a outra trazia um caráter cientifico, técnico e funcional tendo interesse pela formação da identidade nacional tomando forma pelo ensino de História. Gasperazzi (2008) salienta que, Nas primeiras décadas do século XX surgem propostas alternativas ao modelo oficial com as escolas anarquistas que se propõem um ensino de História voltado para os principais momentos de lutas sociais como a Comuna de Paris, a Abolição, etc. Estes modelos são imediatamente reprimidos pelo governo republicano (GASPERAZZI, 2008, p. 1). Para justificar essa não capacitação, alega não dispor de tempo ou horários, tendo em vista a jornada de trabalho, já exaustiva. Quanto ao item comunicação estabelecida com seu aluno, afirmam manter uma boa comunicação, se apoiam em recursos como o uso do Sistema Braille e a oralidade, não havendo empecilhos na interação entre docente e alunos. Em se tratando da temática de adaptação curricular os participantes respondentes afirmam saber da necessidade de promover adaptações, entretanto, não estão habituados a essa prática que segundo eles, exige um planejamento especifico, sendo necessário melhor conhecimento do aluno. A avaliação para os participantes, é processo continuo, dinâmico, diagnóstico, entretanto, não inovam nos instrumentos, fazendo desse momento apenas avaliação de aferição de conhecimento, o que não garante sucesso no processo ensino e aprendizagem. A educação inclusiva é vista como meio de crescimento para todos, desde que o acesso e a permanência na escola sejam propiciados a todos os alunos que dela carecem. CONSIDERAÇÕES FINAIS 149 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC O currículo, em sua estrutura didática, rodeado de muitas concepções ainda suscita discussões, debates e no caso do Brasil que o assunto sobre o pensamento curricular remonta os anos vinte, conforme base de teorias americanas, sustentados segundo acordos firmados no programa de ajuda á América Latina. Superadas essas ideias, surgem novos aportes e, assim este estudo possibilitou iniciar uma reflexão voltada para as adaptações de currículo na disciplina de História capaz de melhor explicitar esse conteúdo programático ao aluno com deficiência visual. Apesar de os alunos se encontrarem em um contexto diferenciado em que os professores contam com aportes de materiais acessíveis, estes não aproveitam o potencial da escola, reconhecem a importância do ensino da História nesse contexto de implementação da democracia no país, favorecendo a formação de um cidadão consciente, crítico e participativo no meio em que vivem. Essas exigências na elaboração de um currículo eficaz leva a reflexão uma vez que esse exige do professor conhecimento, assim como limitações e potencialidades dos alunos para traçar planos, dispor de material didático em formatos acessíveis, devendo, pois, ir buscando meios e ações pedagógicas que possa vir a garantir o sucesso da aprendizagem, fim maior da escola. Aos professores, por sua vez, cabe atuar, em cooperação, compartilhando o conhecimento de que dispõem, para responder e atender às necessidades educacionais de todos os alunos, inclusive às dos alunos com deficiência, garantindo-lhes o acesso e permanência nos sistemas de ensino. O ensino de História para esse alunado requer habilitação na área e compromisso com a educação dessas pessoas que apresentam limitações visuais, cabe ao professor ir em busca do conhecimento e dos recursos que possam alargar seu raio de ação. REFERÊNCIAS BERTICELLI, I. currículo: tendências e filosofia. In: COSTA, M.V. O Currículo nos limites do contemporâneo. Rio de Janeiro: DP&A, 1999. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais – Adaptações Curriculares. Brasília: MEC/SEF/SEESP, 1999. GASPERAZZOI, Maria Estolimar. Os desafios do ensino de História no ensino fundamental. Disponível em http:// www.Anglelfire.com.be/ planet. em 11de Outubro de 2009. KASSAR, M.C.M. (1999). Deficiência Múltipla e Educação no Brasil: discurso e silêncio na história de sujeitos. Campinas: Editora Autores Associados. KEMMIS, S. El curriculum: más allá de la teoria de la reproducción. Madri: Morato, 1988. MACEDO, Roberto Sidnei, Curriculo: campo, conceito e pesquisa. 5.ed. revista e atualizada . Petropólis, RJ: Vozes, 2012. MAGALHÃES, Rita de Cássia Barbosa Paiva (Org). Reflexões sobre a diferença: uma introdução à educação especial. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2002. OLIVEIRA. Elinalva Alves de. A educação da criança com deficiência visual. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2008.138 p- (Coleção rede de saberes). OLIVEIRA, M. M. Como fazer pesquisa qualitativa. Petrópolis, Vozes, 2007. SILVA, T.T. Documentos de identidade – Uma introdução à teoria do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 1999. 150 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: CONTRADIÇÕES, DESAFIOS E IMPLICAÇÕES NA CONTEMPORANEIDADE Roselene Moura de Sá85 Francisco Mirtiel Frankson Moura Castro86 RESUMO Este texto teve como objetivo investigar os desafios e as contradições no currículo da Educação de Jovens e Adultos frente à perspectiva e implicações da educação contemporânea. O qual é firmado no seguinte questionamento: quais são os desafios e as contradições no currículo da Educação de Jovens e Adultos frente à perspectiva e implicações da educação contemporânea? A metodologia deste trabalho é pautada na abordagem qualitativa, orientada na pesquisa bibliográfica, tendo como suporte as contribuições de diferentes autores, dentre os quais: Freire, Moreira, Oliveira, Silva e Telles. Este estudo é fruto de uma pesquisa de Especialização em Coordenação Pedagógica desenvolvido pela Universidade Federal do Ceará (UFC), entre os anos de 2011 e 2013. Evidencia-se que as práticas docentes carecem de formação no que tange ao trabalho com a Educação de Jovens e Adultos no sentido de adequar o currículo com a realidade dos educandos. Constata-se, no entanto, percebem-se iniciativas no intuito de valorizar o conhecimento dos alunos na prática de ensino. PALAVRAS-CHAVE: Educação de Jovens e Adultos. Currículo. Desafios. Contradições. INTRODUÇÃO São múltiplos os desafios da educação de jovens e adultos. Diversos pesquisadores, educadores, organizadores de políticas públicas e equipes pedagógicas, dentre outros profissionais, planejam ações para essa modalidade, no sentido de superar as distorções de acesso a escolarização na idade adequada. Tal realidade constituída ao longo do tempo, pelo pouco investimento e atenção às necessidades daqueles que de alguma maneira tiveram seus direitos negados e excluídos historicamente. Diante disso, ao longo da história da educação brasileira, constitui-se o dever das iniciativas públicas a responsabilidade em promover um terreno fértil de acesso ao conhecimento para aqueles que foram excluídos das condições de permanência na escola, fruto de uma série de problemas sociais. Entretanto, a viabilidade desse acesso precisa desenvolver-se na perspectiva de um trabalho educativo que disponha ao sujeito um saber de transformação de sua própria realidade e de sua história. Diante dessa perspectiva analítica de mudança, compreendemos que “os homens que a criam são os mesmos que podem prosseguir transformando-a.” (FREIRE, 2011, p. 21). 85 Mestranda em Educação Brasileira, [email protected] 86 Mestrando em Educação Brasileira, [email protected] pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: 151 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Para trabalhar na modalidade de EJA, o mínimo que se exige dos profissionais que atendem a essa demanda é a curiosidade instigante do mundo a ser desvelado em sua pluralidade. É preciso que estes disponham de formação acadêmica para esse fim, pois entendemos que é indispensável que os professores sejam profissionais. Obter uma fundamentação teórica acerca dessa temática constitui-se pressuposto essencial e necessário para a sistematização de uma prática ético-política coerente e compreensível dentro de um currículo que redimensione a realidade do trabalho em sala de aula. Tal prática deverá traduzir-se em saberes críticos aliados ao significado de uma visão de mundo, proporcionando ao educando o entusiasmo pelo alcance de um pensamento dialético, no entanto, [...] observa-se que as disciplinas são tratadas de modo reificado, como conteúdos estanques, com pouca ou nenhuma interconexão, tanto entre si, quanto em relação ao mundo concreto e à experiência vivida; quando muito, aborda as práticas de trabalho de forma mecânica, vazia de reflexão. Isto não só dificulta ao aluno uma compreensão mais abrangente do saber historicamente produzido pela humanidade, como também contribui para reforçar [uma] visão quase que puramente tecnicista e instrumental que tem caracterizado o ensino [...]. (FAGUNDES; BUMHAM, 2001, p.39). Segundo Oliveira (2007), o adulto no âmbito da educação de jovens e adultos é geralmente migrante que chega às grandes metrópoles, provenientes de áreas rurais empobrecidas. Dessa forma, esse aluno busca a escola tardiamente, com o objetivo de superar o atraso na escolarização, numa perspectiva de melhoria para sua vida pessoal e profissional. Assim, “[...] os professores precisam encontrar meios de criar espaço para um mútuo engajamento das diferenças vividas, que não exija o silenciar de uma multiplicidade de vozes por um único discurso dominante [...].” (MOREIRA; SILVA, 1994, p.106). É totalmente possível associar a aprendizagem para os educandos da EJA como uma forma de ruptura da exclusão que estes sofreram em alguma fase de suas vidas. De acordo com Oliveira (2007), é necessário historicizar esses sujeitos, do contrário poderemos desencadear, involuntariamente um julgamento de valor da descrição do jovem e do adulto em questão, comportamento este que deverá ser discutido criticamente. A escola possui a responsabilidade de instigar o crescimento desses jovens, respaldada num currículo que desenvolva aspecto de caráter intelectual e pessoal, tornando-se atrativa aos olhos dos sujeitos dessa realidade. Partindo do exposto, foi traçado o objetivo geral desta pesquisa, que visou: investigar os desafios e as contradições no currículo da Educação de Jovens e Adultos frente à perspectiva e implicações da educação contemporânea. Em continuidade, percebemos que a escola não se encontra preparada para os desafios frente a esse público, transcorrendo de forma monótona ou enfadonha para atender as necessidades interpostas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9394, publicada em 1996, atendendo as especificações da Constituição Federal do Brasil, de 1988. Para isso, colocou seus educandos em condições desconfortáveis e inseguras, inclusive com relação à convivência afetiva no espaço escolar e precariamente potencializando a aquisição de novos conhecimentos, apresentando-se com pouca ou nenhuma atratividade aos olhares desse novo público que ora se configura na EJA. 152 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO OBJETIVO GERAL Investigar os desafios e as contradições no currículo da Educação de Jovens e Adultos frente à perspectiva e implicações da educação contemporânea. METODOLOGIA Escolhemos fazer uma análise do tipo qualitativa, pois esse tipo de abordagem viabiliza explicar o objeto investigado, obtendo uma riqueza de detalhes no recolhimento dos dados com base na realidade observada, compreendendo o fenômeno e como ele se comporta. Para André (1986), esse tipo de estudo permite a possibilidade de análise em que o pesquisador poderá investir com tempo e recursos para ampliar o foco da pesquisa à medida que vai definindo seus instrumentos de interpretação dos dados coletados. Este estudo está pautado em uma revisão da literatura, sendo integrante de uma pesquisa de Especialização em Coordenação Pedagógica pela Universidade Federal do Ceará (UFC), desenvolvida entre os anos de 2011 a 2013. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Entender a educação como ato político, consiste em transpor a aprendizagem para além dos muros da escola, numa perspectiva de transformação e compreensão das contradições da sociedade, efetivando o seu caráter político; evidentemente com atos para a mudança dessas incoerências. Sobre esses aspectos levantados, torna-se bastante relevante a as ações pedagógicas dentro da escola que viabilize a construção do conhecimento dentro de um currículo que transponha a neutralidade das ideias e das ações básicas que extremamente contribuam para fomentar as mudanças na sociedade. “[...] o que estamos aqui a abordar é uma concepção de currículo que procura relações em todas as direções, e que devido a esse tipo de união especial, é dado o nome integração curricular. [...]” (BEANE, 2003, p.94). Desse modo, indagamos se nesse modelo de trabalho, o que educando da EJA aprende na sua escolarização dentro do seu currículo, contribui para o seu processo de conscientização e inserção, no sentido de desenvolver mudanças de atitudes e saberes transformadores enquanto sujeitos de direitos frente à vida. Essa conjugação de trabalho nos possibilita pensar que “é pela ação que cada homem confirma sua singularidade, pois na sua ‘capacidade de realizar o infinitamente improvável’, a ação significa antes de tudo, dar inicio a um novo começo.” (TELLES, 1999, p. 51). Nessa perspectiva, na capacidade do homem pela ação, o cruzamento dos saberes e práticas curriculares permeiam o contexto da sala de aula, possibilitando uma aprendizagem a partir da ação-reflexão. Nessa perspectiva, “[...] os professores precisam encontrar meios de criar espaço para um mútuo engajamento das diferenças vividas, que não exija o silenciar de uma multiplicidade de vozes por um único discurso dominante [...]”. (MOREIRA; SILVA, 1994, p.106). A conscientização convida o docente a reconhecer-se humildemente inacabado, compreendendo que a busca pelo conhecimento torna-o inquieto dentro de si; pois a falta de aprofundamento do educador o desqualifica como profissional, deixando-o sensivelmente vulnerável diante de seus educandos. Segundo o autor, “A conscientização não pode existir fora da práxis, ou melhor, sem o ato ação-reflexão. Esta unidade dialética constitui, de maneira 153 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC permanente, o modo de ser ou de transformar o mundo que caracteriza os homens.” (FREIRE, 2001 p. 30). Sobre essa realidade Brunel nos diz: “o papel do educador nesta modalidade de ensino é extremamente importante, pois estes jovens possuem um histórico escolar permeado por problemas, não só no campo cognitivo, mas no campo social, econômico e emocional.” (BRUNEL 2010, p. 34). A escola poderia assumir o contorno da convivência e permanência desses sujeitos da EJA de forma mais atrativa, caso contrário resguardará a incumbência de ater-se ao desempenho de acúmulo de frágeis conteúdos, desvinculados da realidade dos educandos. Contudo, a escola apresenta limites na superação de tal tarefa, observando comumente sua restrição em promover situações que despertem a curiosidade de seus aprendizes na busca do saber, dificultando-lhes a criatividade, desrespeitando-os em sua autonomia e identidade. Analisando esses novos sujeitos que compõem no tocante a essa realidade, percebe-se a grande falta de interesse e apatia desses educandos pelos processos de ensino e de aprendizagem. Alia-se a esta problemática um fator extremamente preocupante, a ausência e a pouca atratividade dos alunos pelo espaço da sala de aula, embora expressem gostar da escola, contudo não se pode deixar que essa realidade torne-se determinista. Percebendo esse dualismo, a contribuição de Freire nos permite “reconhecer que a História é tempo de possibilidade e não de determinismo, que o futuro, permita-se reiterar, é problemático e não inexorável.” (FREIRE, 1996, p. 19). “A dúvida é pois, um ato de liberdade e de responsabilidade pelo o qual o homem impunha, retoma a situação na qual vive, colocando-se com sujeito dela.” (GADOTTI, 2010, p.41). Essa suspeita de que não pode se acomodar frente a realidade e se vê como sujeito transformador revela que os educandos confiam que a escola lhes ofereça oportunidades de transformações e de melhorias, pois apesar da pouca idade esses jovens anseiam por recuperar o tempo que fora perdido. Essa percepção nos foi possível a partir do olhar otimista e responsável dos jovens frente aos estudos como possibilidade de mudanças, contudo percebe-se o distanciamento dos significados do currículo da escola em relação às expectativas que os jovens desejam adquirir para um ingresso no mundo do trabalho. CONSIDERAÇÕES FINAIS Na efetivação do estudo, ainda se observou que existe uma enorme fragilidade na formação dos professores quanto ao trabalho com a educação de jovens e adultos que se refletem através das más condições de trabalho na escola pública. Tais fatores evidenciaram a necessidade de um olhar mais atento para essa temática, merecendo uma minuciosa investigação acerca desses fenômenos. Uma vez que nos deparamos com uma sociedade permeada de pobreza e de conflitos sociais, onde sua população jovem encontra-se destituída de seus direitos universalmente assegurados e enquadram-se numa condição de pobreza que inquieta e responsabiliza a atuação do poder público no sentido de estabelecer estratégias de mudanças no currículo. REFERÊNCIAS ANDRÉ, Marli Elisa D. de, Pesquisa em Educação. Abordagens Qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. 154 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO BEANE, James A. Integração curricular: a essência de uma escola democrática. Currículo sem Fronteiras, v.e, n.2. Jul/Dez.2003. p.91-110. BRUNEL, Carmen. Jovens cada vez mais jovens na educação de jovens e adultos. Porto Alegre: Mediação, 2004. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil – 1988. ________. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Naciona. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. FAGUNDES, Norma Caraplá; BUMHAM, Teresinha Fróes. Transdisciplinaridade, Multirreferencialidade e Currículo. Revista da FACED, nº 5, 2001. p.39-55. FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 34 ed. rev. e atual., São Paulo: Paz e Terra, 2011. _______ Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996 (Coleção leitura). ________ Conscientização: Teoria e Prática da Libertação: Uma Introdução ao Pensamento de Paulo Freire. 3. ed. 2 reimp., São Paulo: Centauro, 2008. GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Práxis. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2010. MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa; SILVA, Tomaz Tadeu da. (Orgs). Currículo, Cultura e Sociedade. São Paulo: Cortez, 1994. 154p. OLIVEIRA. Marta Kohl. Jovens e Adultos como Sujeitos de Conhecimento e Aprendizagem. Brasília: MEC, ANPED, 2007. TELLES, Vera da Silva. Direitos Sociais: Afinal do que se trata. Belo Horizonte: Ed.UFMG, 1999. 155 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC PARTE V: EIXO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES 156 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO A CAPACIDADE DE RESILIÊNCIA DO DOCENTE NO FAVORECIMENTO DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM DO EDUCANDO Sâmia Citó Madeira87 Francione Charapa Alves88 RESUMO Este texto é resultado de um estudo acerca de como a capacidade resiliente do docente pode favorecer a aprendizagem do discente. A resiliência sempre esteve presente em nosso cotidiano, porém não tínhamos observado que este tema vem sendo cada vez mais abordado por especialistas das mais diversas áreas. Entretanto, o termo resiliência causa uma reação de espanto nos profissionais da educação, sendo mais populares palavras como superação, dificuldades, adversidades dentre outras. Portanto, o presente trabalho teve como objetivo geral compreender como a capacidade de resiliência do docente influencia no processo de aprendizagem do educando. E como objetivos específicos: mapear o referencial teórico que traga a definição de resiliência; investigar a concepção dos docentes sobre o tema; analisar a resiliência no processo de aprendizagem do aluno; e entender como a atuação do psicopedagogo pode favorecer a capacidade resiliente na escola. Para atingir tais objetivos, realizamos uma investigação qualitativa, tendo como ponto de partida um estudo da literatura acerca do tema. Em seguida, fizemos a pesquisa de campo, cujo método se aproximou do estudo de caso. Como instrumentos de coleta de dados, aplicamos as entrevistas estruturadas, alternando entre perguntas abertas e fechadas. O lócus da investigação foi uma escola da rede municipal de Maracanaú, com quatro docentes que lecionam no ensino fundamental I e II. Diante disso, consideramos fundamental uma reflexão sobre o tema, para compreendermos como o ser humano consegue superar grandes adversidades e continuar suas atividades diárias. PALAVRAS CHAVES: Resiliência. Aprendizagem. Adversidades. Superação. INTRODUÇÃO Encarar desafios, superar limites, desenvolver capacidade autônoma, vencer adversidades e ser protagonista são expressões muito conhecidas em nosso cotidiano. Normalmente, utilizamos esses termos em diversas situações de nossas vidas. Porém, quando nos referimos ao termo resiliência ocorre uma reação de estranheza nas pessoas e poucas sabem a que se refere. As ideias sobre resiliência começaram a surgir nas ciências exatas, principalmente na Física e Engenharia, áreas em que o termo foi colocado como a força de alteração máxima que um objeto suporta sem passar por modificações constantes. (ASSIS et al, 2006). 87 Psicopedagoga Clínica e Institucional pela Universidade Estadual do Ceará. Professora da Educação Básica da Prefeitura Municipal de Maracanaú. Email: [email protected] 88 Doutoranda em Educação Brasileira na Universidade Federal do Ceará- UFC. Professora substituta no Curso de Filosofia da Universidade Estadual do Ceará. CAPES. Email: [email protected] 157 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC No final dos anos de 1970, o termo resiliência passou a ser analisado com mais consistência e recebeu diversas definições nas diferentes áreas do conhecimento, destacando-se na psicologia como a capacidade de superar uma situação difícil, ou seja, “a força necessária para a saúde mental estabelecer-se durante a vida, mesmo após a exposição a riscos. Passou a significar a habilidade de se acomodar e de se reequilibrar constantemente frente às adversidades.” (ASSIS et al, 2006, p.18). Na educação, a resiliência significa a capacidade que as pessoas têm, tanto individualmente quanto em grupo de resistir a situações difíceis sem perder seu equilíbrio inicial, isto é, a capacidade de ajustar-se constantemente de maneira positiva. Isso quer dizer resistir às pressões do cotidiano escolar, mantendo o foco nos objetivos principais do trabalho e da escola. (SALLES; SALLES FILHO, 2012, p.3) Nesse sentido, consideramos que a resiliência é uma temática que merece destaque no campo educacional, especificamente no que concerne à relação professor e aluno, podendo ser usada como uma ferramenta para favorecer a aprendizagem. A partir da nossa experiência no exercício da docência89 percebemos que alguns alunos apresentam uma carência afetiva e psicossocial e a escola se torna, normalmente, um refúgio dos problemas enfrentados em casa. Este fator reflete na sua aprendizagem, visto que em muitos casos, “a dificuldade do aluno em aprender não está apenas no problema cognitivo, mas sim na tentativa de processar emoções traumáticas vividas, ou que vive, o que impedirá de prosseguir na aprendizagem, ocasionando o déficit.” (SILVA et al, 2012). Partindo desse pressuposto, o objeto de estudo desta investigação é a capacidade de resiliência do docente e a sua influência nos processos de ensino e aprendizagem de alunos do fundamental, que convivem com fatores de riscos. Assim, a pesquisa tem como grande questão: De que forma a capacidade resiliente do professor pode favorecer a aprendizagem de seu educando? A partir desta pergunta, outras específicas foram surgindo: O que é resiliência? Qual a visão do docente sobre resiliência? Como alguns indivíduos, apesar de todo um contexto de adversidade, conseguem continuar sua rotina de modo saudável? De que forma o psicopedagogo pode beneficiar a capacidade de resiliência nos processos de ensino e aprendizagem? Quando uma pessoa está passando por um momento de aflição muito forte, mesmo que tenha seu nível resiliente desenvolvido, procura ajuda interior e exterior para conseguir suportar tal sofrimento. Nessa situação, ter um tutor ou promovedor de resiliência para apoiar e compartilhar tão grande dor é de suma importância. Nesse contexto, o tema merece destaque na educação no sentido de favorecer os processos de ensino e aprendizagem do aluno. 89 Professora do 3º ano do ensino fundamental I da rede municipal de Maracanaú, desde 2012. 158 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO OBJETIVO GERAL Traçamos como objetivo geral desta investigação: compreender como a capacidade resiliente do docente influencia no processo de aprendizagem do educando. Em decorrência do objetivo geral, delineamos os específicos que foram: mapear o referencial teórico que traga a definição de resiliência; investigar a concepção dos docentes sobre o tema; analisar a resiliência no processo de aprendizagem do aluno; e entender como a atuação do psicopedagogo pode favorecer a capacidade resiliente na escola. METODOLOGIA Esta investigação se inseriu na abordagem qualitativa, pois, na compreensão procurou valorizar a interpretação e a descoberta dos fatos e as interações e influências mútuas entre os sujeitos em questão. Utilizamos como método de pesquisa elementos do Estudo de caso, que consistiu na investigação de um contexto particular, isto é, de uma escola da rede pública de Maracanaú. Esse tipo de método possibilitou obter uma série de informações relevantes, examinando minuciosamente certos aspectos da realidade da pesquisa. Assim, a investigação se organizou em três etapas: a fase exploratória; o trabalho de campo; e a análise dos dados obtidos. (FARIAS; SILVA, 2009). Além disso, pudemos encontrar alguns dados para realizar as análises por meio das observações do contexto e das conversas informais com os professores, consideramos que, o não dito que aparece nos gestos, nas práticas cotidianas e nas conversas não intencionais e não sistematizadas dos investigados tem muito a nos revelar. DISCURSÃO DOS RESULTADOS Apesar de a literatura trazer diversas definições, conforme cada área do conhecimento, para o termo resiliência, é comum a todas que o seu significado está ligado a uma maneira de suportar e superar uma forte pressão e apesar disso conseguir voltar ao seu ritmo. Porém o que acontece é que há um desconhecimento dos docentes sobre o assunto, sendo também frequentemente esquecido na formação de professores e nas discussões do dia a dia da escola. Nas entrevistas e em conversas informais com diferentes professores, a maioria demonstrava uma reação de espanto ao ouvir o termo resiliência, confirmando assim o que foi estudado na literatura, ou seja, que essa palavra é desconhecida no ambiente escolar, sendo conhecida através da associação de expressões como superar dificuldades, suportar adversidades e vencer desafios. Não sei. (Professora A) Maneira como você consegue superar. (Professora B) Já ouvi falar, mas não sei o que é. (Professora C) 159 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Diante disso, percebemos que existem muitas pessoas com um bom nível resiliente, mas desconhecem essa capacidade dentro de si. Enquanto outras precisam que a resiliência seja trabalhada. Os profissionais do magistério passam por uma fase de crise, pelas contínuas mudanças sociais, políticas e econômicas do país e sabem muito bem o que é lidar com a incerteza e imprevisto, já que a sala de aula é composta por pessoas heterogêneas com hábitos e condutas diferentes, podendo a cada dia serem surpreendidos por uma situação inesperada. Devido à falta de laços afetivos na família, cabe à escola a função de cobrir essa carência emocional e afetiva dos educandos, que chegam à escola sem nenhuma base de orientação social positiva dos familiares, ou seja, o professor acaba sendo o protagonista para atuar com forças resilientes nesse cenário educacional. Isso torna ainda mais árdua a prática pedagógica do docente, podendo levá-lo a frustração, desmotivação pessoal, aumento de evasão, indisposição e até mesmo abandono, bem como falta de confiança no resultado do seu trabalho. Nesse sentido, faz-se necessário que o docente tenha condições emocionais para trabalhar a valorização humana com os discentes. Para isso, é preciso que o professor tenha um ambiente de trabalho que lhe proporcione segurança e bem-estar, pois, assim, ele poderá exercer a sua função de modo criativo, tratando seus alunos com afetividade e compreensão, mesmo diante de grandes adversidades. Desde o primeiro dia de aula, é importante, que o professor crie vínculos com seus alunos, pois se estes não se sentirem acolhidos por seu professor podem desenvolver antipatia por este e criar um bloqueio em suas aulas. Consequentemente, o estudante terá dificuldades para aprender em seu convívio no ambiente escolar, porque não terá suporte da figura principal, o professor, por tal feita, muitos acabam desistindo no meio da caminhada. As educadoras dessa investigação afirmaram que usam de estratégias para estimular a curiosidade e promover a autonomia, autoconfiança e automotivação de seus alunos, por meio de textos reflexivos, dentro da realidade deles, que tragam parábolas para que eles façam analogias e tirem lições de vida. Além de socializar os acertos deles, parabenizando-os e valorizando seus trabalhos e nunca usando palavras negativas. Para que o docente possa atuar de maneira positiva seria necessário dar uma atenção especial às suas próprias necessidades. Porém, há uma falta de estudos a respeito das necessidades dos professores, o foco sempre é no aluno, mas vale lembrar que uma boa educação depende também de um bom desempenho docente, assim o docente também precisa de atenção e cuidados. Nesse sentido, seria importante proporcionar por meio de cursos, uma formação continuada que visasse a qualidade de vida dos educadores, sua saúde física, emocional e psicossocial. E a própria escola poderia ser um centro de formação continuada, oferecendo um apoio e assistência técnico-pedagógica no desenvolvimento do trabalho docente. Outra contribuição fundamental é o apoio psicopedagógico, pois esse profissional, que tem como foco as dificuldades de aprendizagem e também toda a arte que abrange o aprender, pode 160 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO contribuir para favorecer a capacidade resiliente do indivíduo, promovendo nele habilidades e competências para encontrar novas escolhas para solução de situações difíceis. CONSIDERAÇÕES FINAIS Apreendemos que o educador que procura conhecer a si mesmo tem maior abertura para conhecer seus alunos. O professor que conhece seus alunos auxilia-os na prevenção de dificuldades de adaptação escolar, tem melhores características de favorecer um clima agradável em sala de aula, para que a aprendizagem ocorra sem comprometer o desempenho escolar do educando. O professor e o aluno constituem uma interação ao se encontram perante a condição de ensinar e aprender, tanto no aspecto cognitivo quanto nos aspectos afetivo e de relacionamento. Desse modo, no cognitivo compete ao docente a função de orientação e apoio com a finalidade de permitir aos estudantes a aprendizagem de certos conteúdos, através de elaboração de atividades e de situações que promovam a estes meios de aprendizagem de modo significativo. Já no aspecto afetivo, o docente representa para o educando: confiança, poder social, intelectual e um exemplo a seguir, além de ser estímulo para o anseio do conhecimento. Por isso, a importância do vínculo afetivo entre o professor e seus alunos cumpre tamanha influência sobre o relacionamento que crianças e jovens formam entre si. Assim, a resiliência na atuação docente se concretiza com a valorização, pelo próprio educador, da importância de consolidar a articulação dos vários interesses de forma ética, maleável, participativa e colaborativa, permitindo reflexões acerca das decisões e durante a construção do saber. E também, criando um ambiente de apoio afetivo e emocional favorável e adequado para se trabalhar com os educandos. Tendo em vista o que foi discutido, finalizamos destacando que a presente pesquisa constitui em uma contribuição para o estudo acerca da importância da capacidade resiliente do docente no processo de aprendizagem. REFERÊNCIAS ASSIS, Simone Gonçalves de; PESCE, Renata Pires; AVANCI, Joviana Quintes. Resiliência: enfatizando a proteção dos adolescentes. Porto Alegre: Artmed, 2006. FARIAS, Isabel Maria Sabino de; SILVA, Silvina Pimentel. Métodos de pesquisa – caminho de acesso para conhecer. In: _________;_________. Pesquisa e Prática Pedagógica II. Fortaleza: RSD, 2009, p. 25-33 (Unidade III). SALLES, Gilsani Dalzoto; SALLES FILHO, Nei Alberto. Resiliência e educação: examinando conceitos e possibilidades. Disponível em: <http://www.uepg.br/paz/docs/Resili%C3%AAncia%20e%20Educa%C3%A7%C3%A3o.pdf>. Acesso em: 24/12/2012. SILVA, Alessandra Nívea da; ARAÚJO, Juliana Oliveira Guilherme Dias; FIDÊNCIO, Raquel Gonçalves. A resiliência na atuação docente. Disponível em: <http://www.webartigos.com/artigos/a-resiliencia-na-atuacao-docente/70120/>. Acesso em: 11/06/2012. 161 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC A DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM E SUA RELAÇÃO COM A FORMAÇÃO DE PROFESSORES Gracikelly Ribeiro Dutra de Sousa90 Maria Rosineide Saraiva Sombra91 RESUMO Esse texto é resultado de um estudo a cerca de como o docente está apto para lidar com as Dificuldades de Aprendizagem em sala de aula. A escola é o principal local em que crianças e adolescentes manifestam as queixas de não aprender e a não aprendizagem na escola é uma das causas do fracasso escolar. O tema aborda uma realidade de muitos professores quando se deparam com alunos que apresentam dificuldades em relação a aprendizagem e não sabem o que fazer. Portanto, o presente trabalho tem como objetivo geral analisar qual o grau de conhecimento docente a cerca das Dificuldades de Aprendizagem. E como objetivos específicos: identificar quais recursos facilitadores que os sujeitos da pesquisa obtiveram em sua formação de base para trabalhar com alunos que apresentam alguma dificuldade de aprendizagem e investigar se tais dificuldades estão sendo abordadas nos cursos de formação continuadas realizadas pelos docentes. Em seguida, foi feita a pesquisa de campo desenvolvida junto aos professores que compõem o quadro docente de uma escola em Fortaleza atuantes nas áreas de Ciências Humanas, Ciências da Natureza e Linguagens e Códigos somados com professores especialistas em psicopedagogia e o núcleo gestor da escola. Com a finalidade de atingir os objetivos deste trabalho, buscou-se desenvolver a pesquisa na perspectiva e a técnica utilizada na coleta de dados foi o questionário semi - estruturado composto por seis questões. PALAVRAS–CHAVES: Aprendizagem. Dificuldades de Aprendizagem. Formação de Professores. INTRODUÇÃO A escola é o principal local em que crianças e adolescentes manifestam as queixas de não aprender e a não aprendizagem na escola é uma das causas do fracasso escolar. O fracasso escolar atinge todos os níveis educacionais incidindo em quase todas as etapas de escolarização. Muitos alunos são rotulados como “burros” pelos colegas e por professores fazendo com que seja excluído na escola e em sua vida como um todo. As dificuldades de aprendizagem do aluno podem advir de uma gama de problemas que podem ser de ordem neurológica, emocionais, intelectuais ou cognitivas, educacionais e entre 90 Psicopedagoga Clínica e Institucional pela Universidade Estadual do Ceará. Professora da Educação Básica do Estado do Ceará. Email: [email protected] 91 Doutoranda em Ciências da Educação na Universidade Americana. Psicopedagoga Clínica e Institucional pela Universidade Estadual do Ceará. Email: [email protected] 162 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO outros fatores. Podem afetam qualquer área do conhecimento escolar. As dificuldades de aprendizagem englobam: [...] um grupo heterogêneo de transtornos, manifestando-se por meio de atrasos ou dificuldades em leitura, escrita, soletração e cálculo, em pessoas com inteligência potencialmente normal ou superior e sem deficiências visuais, auditivas, motoras ou desvantagens culturais. Geralmente não ocorre em todas essas áreas de uma só vez e pode esta relacionada a problemas de comunicação, atenção, memória, raciocínio, coordenação, adaptação social e problemas emocionais (Sisto 2001, p.193). Nesse sentido, o conceito citado afirma que a dificuldade de aprendizagem se manifesta de forma significativa no processo de aprendizagem escolar do aluno. Segundo Fonseca (1995, p.2) existem comportamentos característicos em sujeitos com problemas de aprendizagem. Entre eles podem ser citados os problemas emocionais, desordens na atenção, memória e raciocínio, hiperatividade e dificuldades específicas de aprendizagem: dislexia, discalculia, disortografia e disgrafia. Os professores podem ser os mais importantes no processo de identificação dessas dificuldades em seus alunos. Partindo desse pressuposto, o objeto de estudo dessa investigação é analisar qual o grau de conhecimento que os professores têm em relação às dificuldades de aprendizagem. OBJETIVOS GERAIS O presente estudo tem como objetivos gerais analisar qual o grau de conhecimento docente a cerca das Dificuldades de Aprendizagem (DA); identificar quais recursos facilitadores que os sujeitos da pesquisa obtiveram em sua formação de base para trabalhar com alunos que apresentam alguma DA, bem como investigar se as DAs estão sendo abordadas nos cursos de formação continuadas realizadas pelos docentes. METODOLOGIA Com a finalidade de atingir os objetivos deste trabalho, buscou-se desenvolver a pesquisa na perspectiva qualitativa que está cada vez mais presente nas pesquisas voltadas à educação. A técnica utilizada na coleta de dados foi o questionário semi-estruturado onde o entrevistado tem a possibilidade de discorrer o tema proposto, sem respostas pré – fixadas pelo pesquisador. O questionário é um instrumento de coleta de dados constituído por uma série de perguntas, que devem ser respondidas por escrito. (Marconi & Lakatos, 1999). DISCURSÃO DOS RESULTADOS Os dados coletados foram apresentados em forma de texto e interpretados à luz de alguns teóricos. Inicialmente serão mostrados os relatos da primeira questão e na sequencia, as demais, seguindo a ordem das perguntas. Questão 01: Qual a diferença entre dificuldade de aprendizagem e na aprendizagem? 163 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Numa perspectiva orgânica as DA são desordens neurológicas caracterizando-se numa discrepância entre o potencial estimado do aluno e sua realização escolar. Numa perspectiva educacional as DA refletem em um impedimento para a aprendizagem da leitura, da escrita, do cálculo e aptidões sociais. Já as dificuldades na aprendizagem refletem sobre práticas pedagógicas e metodologias de ensino utilizadas pelo professor em sala de aula que interferem em como os alunos estão aprendendo o conteúdo transmitido. Verificou-se nas respostas dos entrevistados que os mesmos possuem algum tipo de conhecimento a respeito do que seja dificuldade de aprendizagem, mesmo que de forma bem superficial. Para exemplificar essa colocação selecionou-se algumas respostas dos sujeitos participantes da pesquisa: “A dificuldade de aprendizagem está no aluno. A dificuldade na aprendizagem está no processo e nos meios (falta de material, poucas aulas...)”. (CF) “Na dificuldade de aprendizagem o déficit está no próprio aprendiz. A dificuldade na aprendizagem está relacionada a fatores externos ao aprendiz”. (PF) Questão 02. Você quanto professor na sua formação de base quais recursos facilitadores você teve para trabalhar com dificuldade de aprendizagem? Não existem disciplinas nos cursos de licenciaturas que abordem as DA. Essa afirmação pode ser observada nos seguintes relatos: “Não tive nenhum aprendizado durante minha formação acadêmica que fosse direcionado especificamente às dificuldades de aprendizagem. Tudo que aprendi referente ao tema adquiri ao longo da minha prática pedagógica”. (PB) “Os cursos que são oferecidos são faz de conta, são apenas leitura de papeis, eu sei que estes elementos abaixo são importantes, pois aprendi na psicopedagogia. O trabalho com o lúdico e pesquisa in locus que são as pesquisas de campo são elementos facilitadores da aprendizagem, os laboratórios, a informática. Cabe aos professores serem criativos e aproveitar os recursos”. (PG) “Nenhum. O autodidatismo sempre foi o norte da minha formação, tudo o mais foi fruto das convenções escolares”. (PE) Os sujeitos da pesquisa não receberam nenhum recurso na graduação que os auxiliassem para trabalharem com alunos que apresentam DA e somente aqueles que têm formação psicopedagógica, ou seja, as professoras PF e PG e a Coordenadora do ensino fundamental CF, afirmaram que todo o conhecimento referente ao assunto é graças a Psicopedagogia. A não existência de disciplinas, nos cursos de licenciaturas, que ofereçam suporte teórico e pedagógico para que os professores possam aplicar em sala de aula demonstra que os mesmos estão saindo das universidades sem entenderem o que e quais são as dificuldades de aprendizagem que os alunos possam apresentar em sala de aula. 164 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO Questão 03. Na formação continuada são abordadas as dificuldades de aprendizagem? Em caso positivo, quais? A formação continuada é necessária não apenas para tentar minimizar as lacunas da formação inicial, mas também visando as reais necessidades que os docentes sentem na sua prática pedagógica diariamente. Sobre esta orientação, Imbernón (2001 p.49) afirma: A formação terá como base uma reflexão dos sujeitos sobre sua prática docente, de modo a permitir que examinem suas teorias implícitas, seus esquemas de funcionamento, suas atitudes etc., realizando um processo constante de auto-avaliação que oriente seu trabalho. A orientação para esse processo de reflexão exige uma proposta crítica da intervenção educativa, uma análise da pratica do ponto de vista dos pressupostos ideológicos e comportamentais subjacentes. A maior parte dos docentes usa discurso de similaridade ao afirmarem nunca terem participado de cursos de formação ou capacitação direcionados às dificuldades de aprendizagem, exceto as coordenadoras pedagógicas CF e CM conforme pode ser verificado nos relatos: “Não participei de formações continuadas que abordassem o tema em questão”. (PC) “Formação continuada? O que é isso? é grego pra mim”. (PD) “As dificuldades de aprendizagem sempre são temas tratados nas discussões, mas o grande desafio ainda não foi superado”. (CM) “Os cursos que são oferecidos são faz de conta, são apenas leitura de papeis, eu sei que estes elementos abaixo são importantes, pois aprendi na psicopedagogia. O trabalho com o lúdico e pesquisa in locus que são as pesquisas de campo são elementos facilitadores da aprendizagem, os laboratórios, a informática. Cabe aos professores serem criativos e aproveitar os recursos”. (PG) O relato da professora PG foi o mais abrangente. Ela ressalta que tudo o que sabe sobre as DA aprendeu no curso de especialização em psicopedagogia. O Lúdico e a informática são alguns recursos citados como facilitadores para ajudar o aluno que apresenta dificuldades na aprendizagem. Os relatos foram superficiais e apenas a professora PG, que é psicopedagoga, se aprofundou nas duas respostas. Embora a professora PF e a coordenadora CM tenham especialização em psicopedagogia, ambas, foram também superficiais em seus relatos. Isso demonstra que apesar de muitos profissionais se especializarem em alguma área se não estiverem em contato com a mesma, se aprofundando e se dedicando não fará diferença alguma. Os docentes não estão sendo capacitados para lidarem com alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem em sala de aula. Ressalta-se o discurso da coordenadora CM que relata que embora receba cursos de capacitação reconhece que os mesmos não estão fazendo efeito nas salas de aulas. 165 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir dos dados coletados na pesquisa foi possível perceber que os professores pouco sabem sobre as dificuldades de aprendizagem, pois demonstraram superficialidade sobre o tema em seus relatos. Os problemas de aprendizagem constituem uma situação real nas instituições de ensino, principalmente nas públicas, sendo necessária a atuação de profissionais capacitados para realizarem um trabalho de excelência e qualidade frente a esses problemas. A formação do professor é muito importante nesse contexto, uma vez que bem preparados favorecem o ensino e a aprendizagem dos seus alunos em sala de aula. O docente deve conhecer seu aluno de forma global, ou seja, o seu cognitivo, afetivo, emocional e social respeitando suas necessidades e ritmos e a escola deve se preparar para lidar com as dificuldades de aprendizagem e o professor com formação psicopedagógica é um profissional apto a auxiliar a instituição escolar nesse sentido, uma vez o curso de psicopedagogia tem como objeto de estudo as dificuldades no aprender. Nessa perspectiva, a formação de professores se constitui como uma oportunidade para que os profissionais da educação reflitam sobre sua prática pedagógica. Dessa forma, valoriza-se o conhecimento prático do professor, colocando-o na condição de investigador da sua própria prática. REFERÊNCIAS FONSECA, V. Dificuldades de aprendizagem. Porto Alegre: Artes médicas, 1995. IMBERNÓN, F. Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e a incerteza. São Paulo: Cortez, 2001. MARCONI, M. D. A. & LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de pesquisa, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração, análise e interpretação de dados. Atlas Editora. 4ª Edição. São Paulo, 1999. SISTO, F.F.; DOBRANSKY, E. A.; MONTEIRO, A (Orgs). Cotidiano escolar: questões de leitura, matemática e aprendizagem. Bragança Paulista: Vozes, 2001. 166 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO O PAPEL DO PLANEJAMENTO COMO ELEMENTO INTEGRANTE NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM Bernadete de Souza Porto92 Maria Geanne Moreira da Silva93 Samantha Maria Monteiro da Silva94 RESUMO O ato de planejar permeia o trabalho docente, sua existência se deve ao fato de que é necessário organizar e sistematizar as aprendizagens necessárias para o desenvolvimento intelectual e cultural dos alunos e para programação da ação educativa do professor. É uma atividade constante que deve estar sendo reformulada, em decorrência da dinâmica da sala de aula, bem como das necessidades e demandas advindas dos alunos, em que o professor tem de aliar essas questões adequando-as aos conteúdos a serem lecionados. Desta forma, o presente trabalho tem como objetivo analisar a importância do planejamento pedagógico, bem como a sua influência no processo de ensino-aprendizagem por parte dos alunos. Para a realização deste trabalho foi realizada uma pesquisa de cunho bibliográfica baseada nos estudos de Libâneo (1991), Luckesi (1993) e outros autores da área. A partir do estudo, verificou-se que planejar significa realizar uma previsão de ações, ou seja, uma organização sistemática do que será abordado, a fim de alcançar os objetivos previamente definidos, caracterizando-se ainda como momento de tomada de decisão e de reflexão da prática, visando contribuir para a aprendizagem dos discentes, adaptando-se a realidade dos seus alunos. Tal prática está intimamente ligada à avaliação, visto que a partir desta, o docente reorganiza o curso do processo. Sendo o professor o mediador das aprendizagens discentes, planejar é indispensável, uma vez que funciona como um guia de orientação à prática docente que conduz todo o processo de ensino-aprendizagem não caracterizando-se como algo finito, mas flexível. PALAVRAS-CHAVE: Trabalho docente. Planejamento. Aprendizagem. INTRODUÇÃO O trabalho docente é composto de algumas atribuições. Libâneo (1991) discorre que o papel do professor é planejar, regular o processo de ensino-aprendizagem, além de avaliar o andamento do mesmo. No presente trabalho destacaremos com ênfase uma das tarefas do professor: o planejamento. Para adentrarmos na discussão, inicialmente é necessário abordar os conceitos de ensino e aprendizagem, tendo por base os estudos de Libâneo (1991). Ensino é um processo dotado de intencionalidade, cujo objetivo é contribuir para o desenvolvimento das habilidades cognitivas dos alunos. Entende-se por aprendizagem algo inerente à condição humana, que ocorre a todo instante, de forma sistemática ou não. Neste sentido, ensino e aprendizagem são etapas complementares do processo educacional. O autor destaca que “não há assimilação se não houver um sistema de 92 Orientadora. Professora Doutora na Universidade Federal do Ceará (UFC). Email: [email protected] Graduanda em Pedagogia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: [email protected]. 94 Graduanda em Pedagogia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail:[email protected] 93 167 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC conhecimentos a serem assimilados” (p.81). Para a construção de uma aprendizagem significativa por parte do aluno, decorre a necessidade de efetuar o planejamento pedagógico do ensino. O planejamento pedagógico procura compreender as aprendizagens que o professor considera importante para seus alunos, bem como a forma que será conduzido o processo de ensino. De acordo com Libâneo (1991) o plano consiste em “um guia de orientação, pois nele são estabelecidas as diretrizes e os meios de realização do trabalho docente” (p. 223). Planejar significa antecipar ações, sendo o plano “[...] algo que dá continuidade à atividade enlaçando aspectos parciais do currículo, temas dispersos, atividades concretas.” (SACRISTÁN, 1998, p. 279). Demanda reflexão por parte do professor, este que tem o papel de articular os conteúdos relacionando-os com o contexto social dos alunos. No que se refere ao ensinoaprendizagem não pode ser diferente, pois para proporcionar um ensino de qualidade, o docente precisa definir o caminho a ser percorrido, prezando pela sistematização do processo em detrimento de uma prática improvisada. (LIBÂNEO, 1991) Desta forma, faz-se necessário que o docente realize a seleção de conteúdos e metodologias que correspondam às necessidades dos alunos. Realizar esta seleção significa retirar fragmentos de um todo, destacando o que é considerado relevante para o aluno aprender. Portanto, implica também em uma decisão política, fruto de uma tomada de decisão. Para Luckesi (1993), o planejamento é [...] o filtro por onde devem passar todos os elementos pedagógicos que admitimos criticamente. No caso da educação escolar, para planejar torna-se necessário ter presentes todos os princípios pedagógicos a serem operacionalizados, de tal forma que sejam dimensionados para que se efetivem na realidade educativa. Os princípios devem ser mediados para se tornarem realidade. O planejamento é uma prática necessária dessa mediação. [...] não se pode encarar o planejamento como ação puramente formal. Ele deve ser uma ação viva e decisiva, pois é um ato político decisório. (p. 168) Neste sentido o planejamento é também a interação entre educador e educando, possibilitando esta relação, a construção do planejamento que procura articular os conhecimentos que os alunos já possuem com os que o professor pretende ensinar. Nesta concepção, o ensino para Libâneo (1991) deve proporcionar a assimilação dos conteúdos delimitados pelo currículo escolar, sendo o aluno um sujeito ativo neste processo para a construção de sua aprendizagem. OBJETIVO GERAL Nesta perspectiva o presente trabalho tem por objetivo analisar a importância do planejamento pedagógico, destacando a sua influência sobre o processo de ensino-aprendizagem. METODOLOGIA Para o desenvolvimento deste trabalho foi realizada uma pesquisa de cunho bibliográfico baseado nos estudos de Libâneo (1991), Luckesi (1993), bem como outros autores desta área. A finalidade da pesquisa bibliográfica, conforme Marconi e Lakatos (2001) é proporcionar o contato com os materiais publicados sobre a temática abordada, contribuindo assim para a apropriação do 168 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO assunto para melhor análise por parte do pesquisador, visando ainda complementar o acervo de pesquisas nesta área. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS O professor, em sua prática pedagógica precisa traçar os objetivos de seu trabalho, definir seu plano de curso e sua intencionalidade, isto significa planejar. Após a definição do que esperase que os alunos aprendam, o docente precisará dispor de meios que o façam conhecer os níveis de aprendizagem dos discentes. É de suma importância identificar os conhecimentos prévios dos alunos em relação ao assunto a ser abordado, pois esse será o ponto de partida para a execução do plano do professor. Segundo Libâneo (1991), Saber em que pé estão os alunos (suas experiências, conhecimentos anteriores, habilidades e hábitos de estudo, nível de desenvolvimento) é medida indispensável para a introdução de conhecimentos novos e, portanto, para o êxito de ação que se planeja. (p. 228) Conhecer o nível dos alunos permite que o professor contemple em seu planejamento aspectos que possibilitem aos estudantes superar as possíveis dificuldades previamente diagnosticadas. Em decorrência deste momento, as atividades que serão planejadas pelo docente refletirão diretamente na aprendizagem dos alunos. Se o professor não reflete no momento do planejamento, fica impossibilitado de contribuir significativamente para aprendizagem de seus alunos. O planejamento deve ser flexível, não é algo que é realizado e não pode ser revisto, sendo na realidade passivo de constantes modificações em virtude do dinamismo presente na sala de aula. Este dinamismo se refere às necessidades apresentadas pelos alunos, de modo que o professor deve ter consciência de que o importante não é apenas a execução do plano, mas proporcionar situações que favoreçam a construção do conhecimento de forma crítica por parte do aluno. Tal concepção encontra-se presente em Ostetto (2000), para ela o planejamento “[...] é atitude crítica do educador diante de seu trabalho docente. Por isso não é uma fôrma! Ao contrário, é flexível e, como tal, permite ao educador repensar, revisando, buscando novos significados para sua prática pedagógica.” (p. 177) Desta forma, o professor precisa ter um olhar sensível em sala de aula capaz de perceber as necessidades de modo que as contemple em seu planejamento, para que haja assim, de acordo com Libâneo (1991), a democratização dos conhecimentos. Planejar implica em articular os conhecimentos prévios dos alunos aos que precisam ser consolidados. Consiste ainda em elaborar estratégias para alcançar os objetivos, avaliando constantemente o processo. Desta forma, Lucksei (1993) destaca que o mecanismo ação-reflexãoação faz-se necessário a fim de contribuir para a qualidade do percurso. A partir da definição dos objetivos, o professor pode pensar nas estratégias de execução do seu plano, pois eles são os responsáveis por impulsionar todo o processo. É de suma importância que os alunos conheçam os objetivos, o que precisam aprender, para que assim a aprendizagem 169 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC seja mais significativa, e que suas sugestões sejam consideradas no processo de elaboração dos objetivos. É importante ressaltar que, quando o professor constrói uma relação afetiva com seu grupo de alunos, facilita na elaboração do planejamento, pois ao conhecer a turma ele tem propriedade para sugerir atividades e redirecionar sua prática a partir das propostas dos discentes. Em uma perspectiva construtivista, em que o aluno é sujeito ativo na construção do seu conhecimento, o planejamento está assim intimamente relacionado ao processo de ensinoaprendizagem dos alunos, pois através da ação de planejar, o professor reflete sobre sua prática docente (o ensino) para mediar a aprendizagem de seus alunos. De acordo com Sacristán (1998, p.271) o professor “[...] Em sua atividade prática pode aproveitar ideias e teorias científicas, mas trata-se sempre de uma elaboração pessoal diante de situações complexas.” O docente deve considerar os aspectos das teorias da psicologia do desenvolvimento no que se refere à aprendizagem, bem como as características de seus alunos, para a elaboração de um planejamento que atenda significativamente as especificidades dos sujeitos. Tal atitude configura-se então, em uma prática científico-pessoal, caracterizada pela necessidade de articular o conhecimento científico ao pedagógico de acordo com sua sala de aula, sendo coerente com o contexto social em que atua. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir da realização do estudo, evidenciou-se que para oferecer um ensino de qualidade aos alunos, é necessário que o professor defina o percurso a ser traçado, refletindo constantemente sobre sua prática pedagógica, verificando se esta se encontra em conformidade com a demanda determinada pelo contexto social e pela turma. Planejar é algo indispensável ao processo de ensino-aprendizagem, visto que o docente se baseará nele para conduzir todo o processo. Vale destacar que uma das características do planejamento é a flexibilidade, de modo que este sofre constantes ajustes de acordo com as necessidades que emergem no decorrer das aulas. Em síntese, o planejamento é o elemento que prevê as ações docentes, mas não atende a complexidade das relações que ocorrem na sala de aula, por isto a importância da flexibilidade em sua realização para contemplar os imprevistos apresentados na prática. REFERÊNCIAS LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1991. LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1993. MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E.M. Metodologia do trabalho científico. 5.ed. rev. ampl. São Paulo: Atlas, 2001. p. 43-44 OSTETTO, Luciana Esmeralda. Planejamento na educação infantil: mais que a atividade, a criança em foco. In: OSTETTO, Luciana E. Encontros e encantamentos na educação infantil: partilhando experiências de estágios. São Paulo: Papirus, 2000. GIMENO SACRISTÁN, José; GOMES, A. I. Perez. Compreender e transformar o ensino. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. 170 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO OS DESAFIOS DE SER PROFESSOR: DIÁLOGOS PRODUZIDOS NO 1º COLÓQUIO DE FORMAÇÃO DOCENTE REALIZADO NA URCA Ana Maria do Nascimento95 Katyanna de Brito Anselmo 96 Maria Socorro Lucena Lima 97 RESUMO Discutir acerca da formação docente no contexto atual nos parece uma tarefa urgente e inalienável. O texto que apresentamos tem como objetivo central compreender quais os desafios que assolam a formação docente no Curso de Pedagogia da Universidade Regional do CaririURCA, considerando a voz dos atores da escola de Educação Básica e atores da universidade. Esse trabalho resulta do I Colóquio de Formação Docente realizado na URCA, pelo Curso de Pedagogia, se insere em uma pesquisa de cunho qualitativa, cuja abordagem se inscreve na formação de professor na perspectiva freireana. Para análise de dados nos apropriamos das falas de três professoras uma docente da Universidade e duas docentes da Escola de Educação Básica, sendo uma da rede Municipal de ensino e outra da rede Estadual. Para coletar os dados utilizamos a gravação que depois foi transcrita e compreendida com base na analise interpretativa. Como resultados, percebemos que há um distanciamento entre escola e universidade, notamos ainda que há uma dificuldade em compreender qual é realmente o papel do professor na sociedade atual. É uma discussão relevante, pois apresenta reflexões pertinentes a formação docente por diferentes olhares. Conclui-se que é difícil definir qual é realmente o papel do docente no contexto atual e que pensar a formação docente na universidade é considerar no Projeto Pedagógico as exigências postas nos discursos oficiais para a formação dos futuros professores e professoras. PALAVRAS- CHAVE: Formação Docente. Relação escola universidade. Papel do Docente. INTRODUÇÃO Discutir acerca dos desafios e limites que impõem a formação docente no contexto atual nos parece uma tarefa importante e inalienável. Apesar de ser um tema que tem ganhado campo significativo a partir da década de 1990, ainda se apresentam muitas dificuldades no contexto formativo, portanto, é uma temática que vem produzindo diálogos nos mais diferentes campos principalmente na Universidade. O texto que se segue é uma problematização dos diálogos produzidos por diferentes atores que atuam na Universidade e nas escolas de Educação Básica no Município de Crato- Ceará o texto resulta do I Colóquio de Formação Docente, realizado em 2011, na Universidade Regional do Cariri- URCA. O objetivo central é compreender quais os desafios que assolam a formação 95 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação- PPGE da Universidade Estadual do CearáUECE. Email: [email protected] 96 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação- PPGE da Universidade Estadual do CearáUECE. Bolsista da CAPES. Email: [email protected] 97 Profa. Dra. do Programa de Pós-Graduação em Educação- PPGE da Universidade Estadual do CearáUECE. Email: [email protected] 171 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC docente no curso de Pedagogia da URCA, tendo em vista o olhar da Universidade na voz de docentes da URCA e o olhar da Escola a partir de representes da Secretaria Estadual e Municipal de Ensino do referido município. Vale ressaltar que o debate produzido neste encontro trouxe questões importantes no que se refere à formação docente considerando principalmente as disciplinas de Estágio Curricular Supervisionado. METODOLOGIA Esse trabalho se insere em uma pesquisa de cunho qualitativa, cuja abordagem se inscreve na formação de professor na perspectiva freireana. Para análise de dados nos apropriamos das falas das professoras docentes da Universidade e da Escola de Educação Básica, para coletar os dados utilizamos a gravação que depois de transcrita foi feita uma análise interpretativa considerando as ideias postas. Severino (2007) ressalta que a análise interpretativa procura superar a estrita mensagem do texto. O texto é constituído a partir dos elementos do que é ser professor atualmente e de como a universidade e a escola tem se aproximado para formar o professor (a) do futuro. Dessa feita trazemos algumas falas e apontamos algumas considerações. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS FORMAÇÃO DE PROFESSORES: PRODUZINDO DIÁLOGOS Após muitas lutas de profissionais que atuam na Educação Brasileira e compreendem a importância da formação docente para uma boa qualidade educacional, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação- LDB 9394/96 traz em seu texto a necessidade da formação docente e a necessária vinculação entre teoria e prática. Esse ainda tem sido um desafio que tem se apresentado nos cursos de pedagogia, pois o que vemos de real é um distanciamento entre escola e universidade, portanto, entre teoria prática. É como se a universidade fosse responsável pela teoria e a escola campo pela prática. O que defendemos neste texto é que ambas são responsáveis pela formação dos alunos e alunas estágios e estagiárias, por tal razão, não podem pensar e agir separadamente. No contexto da formação docente muitos são os saberes necessários à prática educativa, Freire já nos alertava para essa temática na década de 1990, sistematizando esse debate em seu livro Pedagogia da autonomia datada de 1996, onde são expressos os saberes que deve ter os professores no cotidiano escolar. Essa carga de conhecimentos e habilidades que devem adquirir o professor também foi colocada na LDB, no artigo 13º ao colocar as incumbências do docente. Senão vejamos quais as obrigações que tem o professor: I. II. III. IV. 172 Participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; Elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento; Zelar pelas aprendizagens dos alunos; Estabelecer estratégias de recuperação para alunos de menor rendimento; SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO V. Ministrar os dias letivos e hora- aula estabelecida, além de participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional; VI. Colaborar com as atividades de articulação da escola às famílias e à comunidade. Acreditamos que são exigidos dos professores muitas tarefas e estes são obrigados a assumir questões que não são especificamente suas e acabam por ter que dar respostas a todas as “mazelas” da sociedade, deixando de lado a atividade que é própria da docência. O colóquio de Formação Docente se constituiu em um momento oportuno para discutir a prática docente no contexto da universidade considerando os atores da universidade e da escola onde esses alunos realizam os Estágios e também são formados tendo em vista o inacabamento como bem nos aponta Freire (1996). Muitos autores trazem a preocupação com o ser professor e os saberes necessários ao seu campo de atuação, dentre eles podemos citar Freire (2006) Tardif (2010) e Pimenta (2010). A tarefa de ensinar encontra desafios que vão desde a formação sistematizada na Universidade até a construção de saberes práticos que também vão se dando no interior das escolas publicas. A preocupação com a formação docente de forma organizada e sistematizada deve está expressa no Projeto Político Pedagógico da Universidade de modo que atenda a construção de uma formação de qualidade, o que nos parece ainda estar distante da realidade. Isso foi evidenciado na fala da professora das escolas que recebem alunos (as) estagiários (as), ao revelar o distanciamento entre escola e Universidade um dos desafios vistos na Formação Docente. Vejamos: “agente vive dizendo que a universidade precisa se aproximar da escola básica, agente vive puxando alguns debates, agente convida a universidade pra isso, porque nós sentimos uma distância imensa” (P1 Rede Estadual de Ensino em Crato (grifo nosso)). A dificuldade apontada pela professora nos convida a pensar sobre a relação escola e universidade na realização dos estágios supervisionados e ainda como esses alunos sujeitos em formação tem construído os saberes da docência em espaços tão estranhados. Freire (2006) nos coloca a necessidade de estabelecer intimidade entre os saberes curriculares e os conhecimentos sociais dos indivíduos. Acreditamos que se fazer professor é também, saber estabelecer essas relações e isso não será possível enquanto separarmos os conhecimentos da universidade e os conhecimentos da escola. A professora ressalta a importância do Estágio na Formação do aluno (a) estagiário (a) como identificação ou não com a docência, neste sentido, assim se expressa: “O estágio dentro da escola pública deve ser um momento de aprendizado muito grande, para que ninguém fique na licenciatura por falta de opção. Ninguém fica tanto tempo em alguma coisa se não gostar.” (P1Rede Estadual de Ensino). Desse modo, o momento do Estágio deve constitui-se em momento significativo para o sujeito aprendiz de professor é um momento em que se lida com dois momentos do ciclo gnosiológico: “o em que se ensina e se aprende o conhecimento já existente, e o que se trabalha a produção do conhecimento ainda não existente” (FREIRE, 2006, p, 28). 173 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC A questão da relação escola e universidade parece ter inquietado os participantes do Colóquio, vejamos a fala da professora da rede Municipal de Ensino. A professora (...) falou sobre o fato das escolas não quererem às vezes os estagiários, mas na verdade é preciso ouvir também as reivindicações das escolas que são justa, como são as de vocês, a escola é vista muitas vezes pela universidade e não é só como característica da URCA, mas como também outras como uma relação utilitária, eu levo lá meus acadêmicos, eles vão lá fazem o estágio, voltam para universidade e a escola não tem o menor controle entre aspas do que esse aluno fez. E mais ainda não tem nenhum retorno, então é uma relação onde a escola só dá, dá o prédio entre aspas, da porque é uma relação de pertence, mas é público, mas tá lá. E aí o que é que este universitário está trazendo para a escola? Eu acho que essa relação precisa ser melhor compreendida, e você tem razão essa relação vai se dá nos estágios. (P- II- Rede Municipal de Ensino (grifo nosso)) Tendo em vista essas dificuldades de relação entre escola e universidade, percebemos que estas dificultam as aprendizagens docentes. Pois como o aluno (a) estagiário (a) irá se sentir em um espaço em que não é bem visto? Que espaços teriam para construir conhecimentos? A professora relata que a relação entre as instituições não podem e não devem ser de utilitarismo, mas de parceria, não deve a universidade impor sua “vontade” nem a escola impor a sua, o que se deseja é que haja um diálogo entre ambas de forma que os sujeitos em formação saiam ganhando em conhecimentos. O fato é que muitas vezes não há um diálogo e a universidade acaba por invadir um espaço que também tem as suas especificidades. [...] quando você diz que o aluno prepara todo o projeto e chega lá tem essa dificuldade, eu acho que esta questão está relacionada a construção deste projeto conjunto com a educação básica, nós temos dificuldades com alguns estagiários e isso é colocado por alguns professores, porque com a escola pública, por mais que esse pertencimento que você tenha a escola não é sua[...]! (P.II Rede Estadual de Ensino) Na fala da professora acima, temos a evidencia de como os alunos são colocados nos espaços das escolas, eles pensam os projetos no interior da universidade e levam para ser aplicados na escola, sem pensar nas necessidades e anseios dessas escolas. O que muitas vezes acaba não dando certo, pois as escolas têm suas especificidades, objetivos, metas e projetos que precisam ser considerados. Neste caso, o futuro professor ou professora é visto como estorvo que atrapalha rotina da escola. Outro desafio que foi evidenciado nas discussões postas no Colóquio foi sobre o que é ser professor no contexto atual? Que conhecimentos estão sendo elaborados para formar esse professor ou essa professora? Na voz da professora essa preocupação é evidente: O ser professor é algo que não está dado, ele não é algo pronto ele não é uma receita de bolo, a cada dia na sala de aula, a cada dia nos espaços de atuação docente, sejam formais ou informais vocês estarão convidados a responder e a resolver problemas, a trabalhar com conflitos, a lidar com diferenças, a lidar com saberes e conhecimentos novos que os alunos trazem para a sala de aula, e nesta prática cotidiana tem que ter que se reinventar como professor. (P.VI Universidade Regional do Cariri- URCA) Na verdade, ser professor é uma construção que se dá no inacabamento como já nos evidencia Freire. Ser professor é uma reinvenção cotidiana, e isto também é um desafio da 174 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO formação. Pois o professor precisa dar conta de muitas questões que se juntam ao ato de ensinar. A professora ainda revela: E muita coisa você tem que ser pesquisador, intelectual, reflexivo, da conta das turmas, dos conteúdos, fora a brincadeira, e na verdade tem que ser tudo isso. O professor ele tem que ser um agente de transformação do seu ambiente. Ele não pode passar impune, ele tem que assumir o papel de intelectual, aquele que pensa que discute, que critica que está interessado em saber o que é o projeto político pedagógico da escola, que tá participando, que se interessa em discutir os rumos que a escola tá tomando, e que está sempre atento a sua formação, a formação de vocês não termina quando vocês concluem o curso de Pedagogia, sinto muito, eu tenho até uma má notícia pra dá pra vocês, só começou.( P VI URCA) Desta feita, ser professor no contexto atual é tomar novos caminhos, é assumir o compromisso de cotidianamente refletir a sua prática, ser intelectual, ser pesquisador, e isso é difícil se consideramos as condições precarizadas de tempo e de trabalho docente. CONSIDERAÇÕES FINAIS Trabalhar o currículo de fora articulada e conjunta tem sido um desafio apontado pelos profissionais que atuam na escolas e universidades, embora saibamos da necessária articulação teoria prática e da necessidade dialógica entre escola e universidade. Percebemos nas falas dos sujeitos que ainda há uma precarização em relação à teoria prática, quanto à relação entre escola e universidade. Portanto, o nosso trabalho contribui no sentido de filtrar essas informações que soam de diferentes vozes, vozes que representam tanto a escola quanto a universidade. Os resultados dessa discussão apontam a necessidade de pensar em uma relação sistematizada entre escola e universidade, a partir do estágio curricular supervisionado. Outro ponto de impasse foi saber qual é realmente o papel do professor, tendo em vista às incumbências que a este tem sido dada, desde os discursos oficiais as discussões de pesquisadores que colocam o professor como, um ser de múltiplas responsabilidades. As reflexões nos levaram a pensar sobre como os alunos (as) tem sido formados para dar conta da multiplicidade de saberes que destes têm sido cobrados, será se a universidade tem contemplado essas questões no Projeto político Pedagógico? Acreditamos que as dificuldades evidenciadas nas falas das professoras da Urca e da Rede Municipal e Estadual necessitam ser consideradas no PPP do Curso de Pedagogia. Tendo em vista que as professores que ali se formam, logo serão inseridos nas escolas publicas. Portanto, refletir sobre a formação docente é no mínimo organizar um PPP que contemple as necessidades formativas dos futuros e futuras professores e professoras. REFERÊNCIAS BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Lei nº 9.394/96: estabelece as diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1996. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessário a prática educativa. 13ª. São Paulo, Paz e Terra, 1996. SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo: Cortez, 2007. TARDIF, Maurice. Saberes docentes e Formação Profissional 11 ed. Petrópolis. Rio de Janeiro. Vozes, 2010. 175 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC AS ATIVIDADES LÚDICAS E PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM Maria Luciete dos Santos98 Francisco Mirtiel Frankson de Moura Castro 99 RESUMO Este trabalho teve por objetivo analisar a importância da inserção das atividades lúdicas como fator articulador do ensino com a aprendizagem na perspectiva de licenciandos dos cursos de Pedagogia e Biologia da Faculdade de Educação de Itapipoca (Ceará). Para elaboração desse estudo, dentre os autores estudados, citam-se: Brenelli, Santos e Cruz. O trabalho é de cunho qualitativo e foi desenvolvido com licenciandos dos cursos de Biologia e Pedagogia, participantes de um minicurso com a temática “Ludicidade e o Ensino”, onde foi aplicado aos sujeitos um questionário como procedimento de coleta dos dados, enfatizando a relação entre o lúdico e o ensino. A pesquisa revelou que os alunos identificam que a utilização de atividades lúdicas em sala contribui com o êxito do trabalho do professor e proporcionará melhores condições de aprendizagem. Percebeu-se a importância de trabalhar tais aspectos na formação do professor, no sentido de buscar metodologias de ensino que impliquem na apropriação do conhecimento por parte do aluno e facilite o trabalho docente. PALAVRAS-CHAVE: Atividades Lúdicas. Ensino. Aprendizagem. Formação Docente INTRODUÇÃO O ensino é uma atividade complexa que eleva o processo do conhecimento dos docentes e discentes, que não pode se restringir ao repasse de informações ou apontar um caminho, o qual o professor considera o mais correto. Freire (2000) critica essa prática transmissora, considerando-a como educação bancária, onde tende a apassivar ou domesticar o aluno. Educar é auxiliar o aluno na tomada de consciência de si próprio, dos outros e da sociedade, dispondo de ferramentas necessárias à prática de ensino, a fim de que o educando possa escolher entre vários caminhos, aquele que for ajustável a seus valores, sua visão de mundo e com as situações adversas. Educar é preparar o aluno para a vida. Os entraves encontrados no ensino precisam ser superados, no sentido de que a educação possa desenvolver o seu verdadeiro papel na sociedade, como formar cidadoas críticos. Brenelli (2008) ressalta que o fracasso escolar, os problemas na aprendizagem, a ineficácia do ensino e a 98 Graduada em Ciências Biológicas, pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). E-mail: [email protected] 99 Mestrando em Educação Brasileira, pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Email: [email protected] 176 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO formação precária dos professores constituem uma realidade desafiadora para os educadores. Esta autora ainda destaca que quando os resultados escolares se mostram insuficientes, é devido à existência de algumas carências no desenrolar do processo pedagógico. Percebe-se a grande responsabilidade do professor perante o processo de ensino e aprendizagem. O ensino é configurado como um dos trabalhos mais complexos e responsável pela formação cidadã, fato que exige de seu promotor, o professor, formação adequada do ponto de vista teórico e prático, enquanto facilitador do conhecimento. Dessa forma, o educador deve estar em constante busca de inovação de suas práticas pedagógicas, as quais despertem e estimulem o interesse dos alunos pelo aprendizado. Neste sentido, a inserção de atividades lúdicas pode ser visualizada como um importante recurso que contribuirá com o trabalho do professor para enriquecer suas metodologias de ensino. Assim, o lúdico poderá facilitar também a assimilação e reconstrução do conteúdo por parte do aluno, auxiliando significativamente no processo de ensino e aprendizagem. Para Santos e Cruz (1997) a ludicidade tem conquistado espaço, principalmente na educação infantil, por ser o brinquedo a essência da infância e seu uso possibilitar um trabalho pedagógico que proporciona a produção do conhecimento. Nessa perspectiva, torna-se necessário inserir nos currículos dos cursos de formação de professores, disciplinas que valorizem o lúdico, já que essa pode ser uma maneira dinâmica de despertar o interesse dos alunos pelo aprendizado. Caracterizadas como atividades lúdicas, existem vários tipos de recursos de ensino, como jogos didáticos, brinquedos educativos, entre outros. Supõe-se que com o uso dessa modalidade, o aluno aprenderá de forma mais prazerosa, haja vista, que se aprende brincando e acabará descobrindo valores que muitas vezes ele próprio desconhece, bem como, ser criativo, ousado e dinâmico, aprimorando, assim, a sua vida na sociedade. Partindo do exposto, este trabalho teve por objetivo analisar a importância da inserção das atividades lúdicas como fator articulador do ensino com a aprendizagem na perspectiva de licenciandos dos cursos de Pedagogia e Biologia da Faculdade de Educação de Itapipoca (Ceará). O interesse por este estudo nasceu da seguinte inquietação: qual é a importância da inserção das atividades lúdicas como fator articulador do ensino com a aprendizagem na perspectiva de licenciandos dos cursos de Pedagogia e Biologia da Faculdade de Educação de Itapipoca (Ceará)? A formação docente deve considerar diversos aspectos a serem experienciandos vividos pelo futuro professor no exercício do magistério, para que este não venha a sentir tantas dificuldades em sua vindoura prática docente. Observa-se que em muitos ambientes acadêmicos os professores em formação inicial relacionam com reduzida amplitude formação profissional e a ludicidade, não tendo um embasamento teórico que permita compreender o lúdico como um fator de desenvolvimento humano. Isso ocorre devido a ludicidade ainda não ser entendida como uma dimensão formativa importante, necessitando se encontrar articulada ao ensino. De acordo com Campos (1986), o lúdico poderia ser a parte facilitadora da aprendizagem se o professor pudesse pensar e questionar-se sobre a forma de ensinar relacionando a utilização do lúdico como fator motivador de suas aulas. OBJETIVO GERAL 177 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Analisar a importância da inserção das atividades lúdicas como fator articulador do ensino com a aprendizagem na perspectiva de licenciandos dos cursos de Pedagogia e Biologia da Faculdade de Educação de Itapipoca (Ceará). METODOLOGIA O trabalho apresenta caráter qualitativo e teve como procedimento metodológico a elaboração e aplicação de um questionário a um grupo de 20 alunos, envolvendo licenciandos do curso de Pedagogia e Biologia da Faculdade de Educação de Itapipoca (FACEDI), unidade da Universidade Estadual do Ceará (UECE). O procedimento de coleta de dados foi aplicado após a participação dos sujeitos em um minicurso que focava as atividades lúdicas no ensino, ministrado por estudantes do curso de Biologia. O questionário contemplou apenas três questões subjetivas, as quais buscaram saber dos licenciandos as suas concepções acerca da modalidade didática, atividades lúdicas no ensino e se esta prática contribuiu para a sua formação inicial docente. Marconi e Lakatos (1999) apontam o questionário como sendo um instrumento desenvolvido cientificamente, estruturado por perguntas ordenadas de acordo com um critério predeterminado, o qual deve ser respondido sem a presença do entrevistador. Pereira (2008) ressalta que o questionário busca os fatos observados, opiniões sobre os acontecimentos, sobre os outros e a própria pessoa. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS O procedimento realizado para a análise dos dados teve como base as respostas ao questionário dos participantes que estiveram presentes no minicurso. As questões trouxeram como foco a contribuição que as atividades lúdicas podem trazer para o processo de ensino e aprendizagem. Em relação aos dados obtidos sobre a importância das atividades lúdicas para o ensino e para o aprendizado no âmbito escolar observou-se que os participantes avistam na atividade lúdica uma forma divertida de aprender, fazendo com que professores e alunos se desvinculem de práticas tradicionais de ensino e vivenciem atividades que visem à criatividade, à cooperação, o movimento, a comunicação e o trabalho em equipe. Dessa forma, os licenciandos estão de acordo com Cunha (2007), quando o autor expõe que o estímulo aos processos criativos e a manutenção do prazer na criatividade são princípios importantes no processo educacional. Na pergunta foi abordado se os licenciandos já utilizaram essa metodologia de ensino ou se demonstram interesse em utilizá-la, isto é, se consideram a modalidade lúdica viável como recurso necessário em sua prática pedagógica, a maior parte dos respondentes afirmou que ainda não foi possível utilizar pelo fato de ainda não estarem exercendo a docência em sala de aula. Mas, entretanto, consideram de suma importância, pois poderá contribuir para a constituição do conhecimento, enfatizando que as atividades lúdicas não substituem outros métodos de ensino, e sim, são suportes metodológicos para o professor, além de motivarem os alunos. Rizzi e Haydt (1994) consideram que através do lúdico o professor reconhece que o aluno tem uma postura ativa em sala de aula, onde a espontaneidade e criatividade são bastante estimuladas. 178 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO O questionário também buscou saber dos participantes se o minicurso ministrado lhes proporcionou algum aprendizado para sua formação docente. Portanto, todos afirmaram que essa vivência funcionou como um momento de formação bastante enriquecedor, permitindo novos conhecimentos acerca da prática docente, ainda promoveu uma interação entre todos os licenciandos participantes dos cursos de Pedagogia e Biologia que buscam objetivos comuns, tornarem-se professores bem formados e informados. Dada à complexidade do trabalho do professor, torna-se necessário que este ainda em fase de formação inicial desfrute de uma diversidade de momentos formativos que lhes auxiliem na instituição da profissão. “É preciso, portanto, que as agências formadoras de professores percebam a complexidade da formação e da atuação desse profissional” GHEDIN; ALMEIDA; LEITE, 2008, p. 24). É importante que o licenciando vivencie esses momentos formativos, pois quanto vivenciar a sua ludicidade maior será a chance deste profissional trabalhar com a criança de forma prazerosa e consciente, manifestando aberturas à práticas inovadoras. Tal formação permite ao educador conhecer suas possibilidades e limitações, tendo visão clara sobre a necessidade da inserção do lúdico nas aulas como forma de facilitar aprendizados. Nessa perspectiva, Borba (2007, p. 34) trás um questionamento “nossas práticas pedagógicas tem conseguido incorporar o brincar como dimensão cultural do processo de constituição do conhecimento e da formação humana?”. Com base na leitura e análise dos dados foi possível se ter uma melhor compreensão a respeito das ideias dos licenciandos quanto à utilização de atividades lúdicas em sala de aula, revelando que o lúdico deve sim ser inserido no ensino como forma de estimular os alunos a aquisição do aprendizado. CONSIDERAÇÕES FINAIS Por meio da metodologia desenvolvida neste trabalho, tornou-se possível concluir que os licenciandos dos cursos de Biologia e Pedagogia entendem a importância da utilização de atividades lúdicas em sala de aula, na visão de que tal utilização poderá subsidiar no trabalho do professor, além de proporcionar interesse no aluno para a aprendizagem. Os sujeitos participantes demonstraram-se incitados a trabalhar com o lúdico quando estiverem exercendo a profissão docente, percebendo que essa metodologia de aula estimula o aluno e desenvolve sua criatividade. Diante dessas observações, percebeu-se que o minicurso realizado contribuiu de forma satisfatória com a formação dos licenciandos participantes. Os licenciandos trazem consigo conhecimentos acerca das atividades lúdicas e eles reconhecem a relevância dessas práticas em suas vivências profissionais. Conhecer o lúdico significa ousar na criatividade, imaginação, no trabalho em grupo, e principalmente trazer para a sala de aula outras metodologias de ensino, fugindo do tradicionalismo. Por intermédio da pesquisa evidencia-se também a necessidade de se trabalhar a formação do professor, instigando-o a buscar metodologias de ensino que possibilitem uma maior apropriação do conhecimento por parte do aluno, o que também facilita o trabalho do professor. Assim, a formação do educador, ganharia em qualidade se fosse sustentada pela formação teórica, pedagógica e com inovação 179 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC lúdica, onde o formando pudesse articular a ludicidade ao ensino, a fim de que no futuro possa utilizá-la em suas metodologias de aulas, implicando diretamente na promoção do conhecimento. REFERÊNCIAS BORBA, A. M. O brincar como modelo de ser e estar no mundo. In: Ensino Fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade. Brasília: Leograf-Gráfica e Editora Ltda, 2007. 33-44p. BRENELLI, R. P. O jogo como espaço para pensar: a construção de noções lógicas e aritméticas. 8. ed. Campinas, SP: Papirus, 2008. CAMPOS, D. M. S. Psicologia da Aprendizagem. 19. ed. Petrópolis: Vozes, 1986. CUNHA, N. H. S. Criar para Brincar. São Paulo: Aquariana. 2007. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo, Ed. Paz e Terra, 2000. GHEDIN, E. ; LEITE, Y. U. F.; ALMEIDA, M. I. de. Formação de Professores: caminhos e descaminhos da prática. 1ed. Brasília. Liber Livro, 2008. MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1999. PEREIRA, P. A. O que é pesquisa em educação? São Paulo: Editora Paulus, 2008. RIZZI, L.; HAYDT, R. C. Atividades Lúdicas na Educação da Criança. São Paulo: Ática, 1994. SANTOS, M. P.; CRUZ, D. R. M. O lúdico na formação de educador. Petrópoles, RJ: Editora Vozes Ltda, 1997. 180 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO O ESTÁGIO NA FORMAÇÃO DOCENTE: UM ESTUDO DA PROPOSTA PEDAGÓGICA DO CURSO DE HISTÓRIA DA UFC. José Antonio Gabriel Neto100 Luís Távora Furtado Ribeiro101 RESUMO O Estágio é a parte prática central dos cursos de formação de professores. O presente trabalho visa compreender como a legislação nacional e o currículo do curso de História da Universidade Federal do Ceará (UFC) enxergam o Estágio Supervisionado. Utilizamos, como fonte, a nova legislação do Estágio, as Diretrizes Curriculares Nacionais para formação do profissional de História, o Projeto Político Pedagógico do curso de História (modalidade licenciatura) O local do estudo foi a Pró-Reitoria de Graduação e o Departamento de História da UFC. Encontramos que a legislação versa claramente sobre a questão do Estágio, porém, embora a UFC e o currículo da licenciatura em História fazem uma relação teoria-prática nos estágios é necessário que o currículo seja reelaborado no sentido de pensar na articulação teoria-prática, fundamental para a prática do futuro professor. PALAVRAS-CHAVE: Estágio. Currículo. Formação Docente. Ensino de História. INTRODUÇÃO O Estágio sempre foi identificado como a parte prática dos cursos de formação de profissionais (PIMENTA; LIMA, 2007). Todavia, na formação de professores, essa prática nem sempre esteve aliada à teoria. Principalmente quando do modelo “3 + 1”, onde os três primeiros anos eram dedicados ao estudo da teoria e, apenas no último ano, o futuro professor ia para a chamada prática de ensino. Durante as décadas de 1980 e 1990, os currículos dos cursos de graduação foram duramente criticados, principalmente por sua rigidez, o que impossibilitava uma flexibilidade na construção da prática docente. . (COELHO, 1999). Ficou evidente, assim, para o Governo Federal, através do Ministério da Educação (MEC) a necessidade de renovação curricular e mudança da cultura escolar. Assim, as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), documentos que traziam orientações para as construções curriculares dos cursos de graduação, deveriam possibilitar que as próprias instituições 100 Licenciado e Bacharel em História pela Universidade Federal do Ceará. Mestrando em Educação pela UFC na linha Educação, Currículo e Ensino. E-mail: [email protected] 101 Doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará. Professor Associado da Faculdade de Educação da UFC. Email: [email protected] 181 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC reformulassem seus currículos, permitindo, assim, que os cursos de formação possuíssem autonomia curricular. Atendendo às demandas de formação de professores surgidas na década de 1990, em virtude da relação do governo Fernando Henrique Cardoso com o Fundo Monetário Internacional (FMI), foram promulgadas, em 2001, as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de História e, em 2002, as Diretrizes Curriculares Nacionais para formação de professores para a Educação Básica. A legislação para estágio também foi modificada. A sua carga horária aumentou para 400 (quatrocentas) horas de estágio curricular supervisionado a partir do início da segunda metade do curso. (BRASIL, 2002). Um elemento da mudança no estágio são as DCN dos cursos de História. De acordo com o documento: “O graduado deverá estar capacitado ao exercício do trabalho de Historiador, em todas as suas dimensões, o que supõe pleno domínio da natureza do conhecimento histórico e das práticas essenciais de sua produção e difusão. Atendidas estas exigências básicas e conforme as possibilidades, necessidades e interesses das IES, com formação complementar e interdisciplinar, o profissional estará em condições de suprir demandas sociais específicas relativas ao seu campo de conhecimento (magistério em todos os graus, preservação do patrimônio, assessorias a entidades públicas e privadas nos setores culturais, artísticos,turísticos etc)”.(BRASIL, 2001). O texto contempla o exercício profissional do historiador, que deve estar preparado para os desafios que o mundo globalizado lhe impõe. Trabalhar com novas tecnologias, estar preparado para o exercício do magistério em todos os graus, pesquisa e atuação em instituições diversas. Para Fonseca (2003), no entanto, os historiadores, de maneira geral, se preocupam com uma sólida formação para a pesquisa em detrimento de uma formação voltada para o exercício da profissão docente. Segundo a autora, o documento silencia quanto à formação do professor de história, não se preocupando com o ensino de história no Brasil. Porém, o documento deixa bastante claro em várias passagens quais devem ser os parâmetros de formação para o licenciado: “Competências e Habilidades B) Específicas para licenciatura a. Domínio dos conteúdos básicos que são objeto de ensino – aprendizagem no ensino fundamental e médio; b. domínio dos métodos e técnicas pedagógicos que permitem a transmissão do conhecimento para os diferentes níveis de ensino.” (BRASIL, 2001). Assim, podemos afirmar que o documento não apenas demonstra preocupação com a formação do professor de história, mas também explicita de que maneira os cursos de graduação devem preparar o historiador para a função docente e, também, os estágios. O documento deixa claro quais são os saberes necessários à formação do professor. No entanto, as colocações são vagas, permitindo uma variada gama de interpretações. 182 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO OBJETIVO GERAL Identificar, a partir da proposta pedagógica do curso de História da Universidade Federal do Ceará, se a proposta de estágio mostra articulação com a formação plena do professor de história. METODOLOGIA Como metodologia, utilizamos, principalmente, a pesquisa documental, revisão bibliográfica e subsequente análise das DCN de história e do PPP do curso de História da UFC. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Atendendo às novas demandas legais promulgadas pelo MEC em 2001, o curso de História da UFC, juntamente com todos os cursos de licenciatura da Universidade, começam uma discussão para que as estruturas curriculares possam atender as exigências propostas. Passos (2007) dispõe sobre como essa discussão foi estruturada: “Depois da promulgação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena, em 2002, os cursos de licenciatura da UFC começaram a se articular a fim de conhecer o seu conteúdo. A Coordenação das Disciplinas Pedagógicas das Licenciaturas, na gestão anterior, promoveu reuniões e seminários para esclarecimentos sobre o teor daquele documento legal. A maioria dos cursos de licenciatura já tinha iniciado de alguma forma debates sobre a revisão em suas estruturas curriculares, movida por diagnósticos que apontavam seus problemas e limitações.” Em 2006 entrava em vigor o novo currículo do curso de História da UFC. A matriz curricular da licenciatura contava com quatro grandes unidades curricluares: História do Brasil, História Geral, Teoria e Metodologia da História e Prática de Ensino de História O currículo está organizado, em termos de carga horária, da seguinte maneira: Total de 2800 (duas mil e oitocentas) horas distribuídas em 8 (oito) semestres, sendo 1800 (mil e oitocentas) horas de conteúdo científico cultural, 400 (quatrocentas) horas de prática como componente curricular, 400 (quatrocentas) horas de estágio supervisionado e 200 (duzentas) horas de atividades complementares. Pimenta e Lima (2007) alertam para o fato de que a distribuição das 2800 horas em estágios, prática como componente curricular, conteúdo científico-cultural e atividades complementares acabam por fragmentar o currículo e perpetuar a separação teoria-prática, desvalorizando o fazer-pensar. Assim, mantém-se o tradicional desprestígio à área de formação de professores. O Projeto Político Pedagógico apresenta uma discussão específica sobre o Estágio, versando sobre a sua importância na formação do professor de história e, também, tecendo reflexões sobre como a prática docente é importante na vida do futuro professor. O projeto dispõe: “Integrando a proposta pedagógica dos cursos de licenciatura e de caráter obrigatório o estágio supervisionado de ensino deve ocorrer a partir do quinto semestre do curso. 183 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Regulamentado pelo Parecer CNE/CP 28/2001 o estágio supervisionado, que deve perfazer um total de 400 horas, é um importante momento da formação profissional do aluno por proporcionar a ele o exercício de regência de sala e outras atividades no espaço da escola fundamentais para a construção de seu saber docente.” (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, 2006). Assim, o Estágio Curricular Supervisionado obedece ao parecer CNE 28/2001, que determina a carga horária dos cursos de licenciatura em todo o Brasil. Segundo o documento, a carga horária de Estágio deverá ser de 400 horas. O curso de História da UFC obedece a esse dispositivo legal. Portanto, podemos entender que o Estágio cumpre suas funções formativas de maneira plena e satisfatória se levarmos em conta o PPP do curso de História. Analisando as ementas, percebemos que os dois primeiros estágios se dedicam ao Ensino de História no Ensino Fundamental. Os dois últimos, ao Ensino de História no Ensino Médio. Segundo o Projeto, o profissional licenciado em História deve estar habilitado a analisar o Projeto Pedagógico da escola, confecção e execução de planejamento didático-pedagógico e de outros aspectos como currículo, livros didáticos, bibliotecas, hemerotecas, entre outros. As vivências descritas devem ser feitas preferencialmente em instituições públicas de ensino. Os alunos tem o auxílio do Departamento de História e do Laboratório de Ensino de História (LEH). O Laboratório dispõe de mapas, livros e documentos que auxiliam na montagem e execução dos planos de ensino propostos pelos licenciandos. No primeiro Estágio, o estudante deverá acompanhar o Projeto Pedagógico da escola, acompanhar os diversos meios didáticos como livros, tecnologias na educação, entre outros. Em um segundo momento, além do acompanhamento na escola, o estudante deve elaborar um projeto sobre ensino de história e desenvolvê-lo nos estágios seguintes. Na terceira disciplina de estágio, o educando deve desenvolver uma pesquisa baseada no tema escolhido na disciplina anterior. Em todas existe a exigência de um relatório sobre as experiências vividas. No quarto e último o estudante deverá elaborar um trabalho de conclusão de curso (TCC) que tem natureza monográfica e tem de ser apresentado perante uma banca examinadora composta por um orientador, dois avaliadores e um suplente. CONSIDERAÇÕES FINAIS Podemos concluir então que o Estágio é um ponto importante na formação do professor de história que concluí a sua graduação na Universidade Federal do Ceará. Os Estágios tem a preocupação com a docência e pesquisa, observando formar um professor que seja, ao mesmo tempo, pesquisador. Além disso, o Estágio possibilita o desenvolvimento de atividades de gestão, pesquisa e ensino, permitindo uma gama maior de experiências ao futuro professor. A prática de ensino é, assim, elemento fundamental na construção da identidade do professor. Destacamos, ainda, a ligação que o estágio trás com os outros setores de estudo do curso, possibilitando, em teoria, uma formação integradora, o que, na prática, não acontece. As 184 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO disciplinas de conteúdo histórico (história do Brasil e geral) estão desconexas às teóricometodológicas. Assim, uma reforma curricular visando boa formação para ensino e pesquisa é necessária. REFERÊNCIAS BRASIL, Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para cursos de História. Brasília: MEC, 2001. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES0492.pdf >. Acesso em: 16 de junho 2013. _________. Resolução CNE /CP número 1. Brasília: MEC, 2002. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_02.pdf >. Acesso em: 16 de junho 2013. < COÊLHO, Ildeu Moreira. Do Currículo mínimo às Diretrizes Curriculares: A mudança necessária. Estudos, Brasília: v. 17, n. 25, p. 7-16, ago.1999. FONSECA, Selva Guimarães. Como nos tornamos professores de História: A formação inicial e continuada. In: FONSECA, Selva Guimarães. Didática e Prática de Ensino de História. Campinas: Papirus, 2009. PASSOS, Carmensita. Novos Projetos Pedagógicos para formação de professores: Registros de um percurso. Tese (Doutorado em Educação), Universidade Federal do Ceará, 2007. PIMENTA, Selma; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e Docência. São Paulo: Cortez, 2007. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, Departamento de História. Projeto Político Pedagógico do curso de História da UFC: Modalidade licenciatura. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2006. 185 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC ESTRATÉGIAS DE INTRODUÇÃO À FORMAÇÃO CONTINUADA EM CURRICULO E PLANEJAMENTO: EXPERIÊNCIA FÍLMICA Katyuska Melo Silva102 RESUMO Neste artigo são relatados os momentos iniciais de uma formação continuada para professores da rede pública de ensino de uma cidade localizada no Vale do Jaguaribe – CE. O tema principal era currículo e o objetivo era capacitar os participantes possibilitando-lhes uma compreensão mais abrangente do tema, bem como as aplicabilidades dessa teoria no seu cotidiano de trabalho. Como referencial teórico, foram utilizadas a teoria crítica do currículo e a conceituação de currículo como uma construção social, como espaço de contestação, como campo de possibilidades de resistência ao que está posto na sociedade na qual ele está inserido. Para introduzir a temática e levantar dados sobre o grau de conhecimento dos alunos acerca do do tema, além de estimular uma discussão inicial, optamos por utilizar um filme chamado “Aprovados” que tem como plano de fundo o currículo e as diferentes concepções de quem o vivencia. Através das discussões incitadas pela exibição do filme observamos que apesar das diferentes formações e níveis de conhecimento sobre currículo o mesmo é pouco refletido e trabalhado enquanto instância teórica e campo de possibilidades de mudança no contexto do município atendido. Apesar desse atrofiamento da vivência do currículo, foi possível observar que era do interesse dos professores alunos romper com essas práticas descontextualizadas e utilizar os conhecimentos que viriam a ser adquiridos na construção de uma proposta curricular mais coerente com o contexto sócio-econômico-cultural, no qual as escolas dos mesmos estão inseridas. PALAVRAS-CHAVE: Currículo. Formação de professores. Vale do Jaguaribe. INTRODUÇÃO No presente artigo relataremos a experiência vivenciada num curso de formação continuada para professores de um município do Vale do Jaguaribe – CE. Além de relatar o que foi vivenciado, explicitaremos os caminhos teóricos percorridos para a execução da formação e a resposta dos alunos ao que foi exposto. Em meados de 2011, fui convidada por uma empresa de assessoria pedagógica, localizada em Fortaleza, para compor uma equipe multidisciplinar constituída com o objetivo de realizar cursos de formação continuada para os professores da rede pública de uma cidade localizada no Vale do Jaguaribe. A empresa em questão já trabalha com essas formações há mais de dez anos e 102 Mestranda em Educação, Currículo e Ensino pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará. Bolsista CAPES/PROPAG. Graduada em Pedagogia também pela Universidade Federal do Ceará. Email: [email protected] 186 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO tem sido constantemente contratada para formar equipes e fornecer essas formações nos municípios do interior do estado. Fui procurada para integrar a equipe da formação acima citada através da indicação de uma colega formada em Letras que também presta serviços a essa empresa. Como sou formada em Pedagogia e desenvolvi meus estudos durante e após a graduação especialmente nas temáticas relacionadas a currículo, ela me indicou e fui aceita. As formações foram realizadas mensalmente durante o período de 12 meses e deveriam participar dos encontros os professores atuantes desde a educação infantil até o ensino fundamental. Cada disciplina/temática possuía um grupo próprio formado por 3 a 5 profissionais, dependendo da extensão de conteúdo que deveria ser trabalhado. A dinâmica dos encontros consistia em aulas expositivas ministradas para grupos de professores da cidade divididos por séries ou disciplinas de atuação. A ideia é que houvesse um rodízio entre professores formadores e professores alunos103. Integrei a equipe denominada como equipe pedagógica com mais duas colegas pedagogas de formação como eu. Dentre os temas que nos couberam, fiquei responsável pelos conteúdos relacionados a currículo, focando nos conceitos de currículo e no planejamento escolar. Os encontros ocorreram de julho de 2011 a maio de 2012, durante um final de semana de cada mês, aos sábados e domingos, nos turnos manhã e tarde. OBJETIVO GERAL Exposição dos pormenores da experiência de formação acima citada, observação da interação dos professores alunos com a temática e análise das discussões geradas através da metodologia escolhida. METODOLOGIA Após o primeiro momento, no qual foi definido o recorte do tema currículo que seria trabalhado, partimos para o como trabalhá-lo junto aos professores alunos, refletindo sobre quais seriam os métodos de ensino utilizados, focando no método e meio de ensino adotados para a aula inicial da formação. No caso da formação aqui explicitada, o conteúdo era currículo e os objetivos eram ampliar os conhecimentos dos professores alunos sobre o tema e auxiliá-los na utilização do que fosse aprendido no seu cotidiano na escola. A temática a ser trabalhada não era estranha aos participantes da formação. Mesmo que não conhecessem as vicissitudes que iríamos abordar, eles as vivenciavam em seu cotidiano. Pensando nisso, decidimos que antes de qualquer introdução direta ao conteúdo iríamos sondar os conhecimentos teóricos e práticos que os professores alunos já possuíam. De posse dessas considerações, optamos por utilizar um filme como pontapé inicial da discussão. O objetivo era que através da discussão dos temas exibidos no filme pudéssemos 103 Durante a formação adotamos o termo “professores alunos” como forma de deixar bem claro que os participantes estavam ali como alunos, mas sem esquecer que eles também eram professores. 187 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC estimular os professores alunos a refletirem sobre suas impressões, considerações e reflexões sobre currículo, bem como sondar o nível de conhecimento acerca do tema. A utilização do filme, uma forma mais lúdica de meio de ensino, nos pareceu a melhor escolha porque abordaríamos de forma mais leve o tema nesse momento inicial. Mas qual filme seria escolhido? O objetivo era instigar os professores alunos a discutirem, mas para isso seria preciso chamar a atenção deles. Reduzimos as possibilidades e optamos por um filme que fugia ao lugar comum dos filmes considerados “didáticos”. O filme escolhido, um besteirol americano típico, foi “Aprovados”, que possui uma premissa simples: um grupo de jovens americanos que por diferentes motivos não consegue ingressar nas sonhadas universidades e para evitar o constrangimento e reprovação dos pais decidem “criar” sua própria universidade, na qual qualquer pessoa poderia se matricular. Num primeiro momento, o plano funciona e eles conseguem enganar seus pais, mas o que eles não esperavam é que outras pessoas, acreditando na veracidade da universidade, resolvessem se matricular gerando uma situação totalmente inesperada pelo mentor da ideia, Bartleby Gaines. Para evitar que a farsa fosse descoberta, ele decide colocar em funcionamento a universidade de fachada. Todos fazem o que querem e escolhem os cursos que desejam frequentar. Cada disciplina é anotada em um grande mural no centro da universidade e com o dinheiro das inscrições Bartleby financia os elementos necessários para a realização das aulas. Os cursos vão de estilismo a meditação, de coqueteleria a como explodir coisas com a mente. Mas nem tudo são rosas. Quando a farsa é descoberta e o ministério da educação resolve fechar a universidade, inicia-se uma batalha dos alunos com as autoridades para manter a escola funcionando. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Para a formação inicial foram necessários 3 fins de semana para trabalharmos o filme e as primeiras noções de currículo com todos os grupos de professores. Cada grupo recebeu a formação inicial durante um dia, pela manhã houve as apresentações iniciais, explicitação de um quadro geral do que iríamos trabalhar ao longo da formação e a exibição do filme; durante a tarde realizamos a discussão sobre o filme e sobre o currículo. Essa disposição das ações foi bastante válida porque no período da tarde o calor nas salas e a sonolência pós-almoço foi aplacada pelo caráter mais dinâmico da programação estipulada para esse período. Após a exibição do filme e a volta do almoço as discussões foram iniciadas. De modo geral, num primeiro momento, os professores fizeram comentários sobre o filme em si e seus detalhes, apontando o que haviam achado interessante. Provavelmente pelo contexto de formação no qual estavam inseridos, esse momento de generalidades deu lugar a discussões mais voltadas para a temática da formação e foram apontados os elementos já esperados quando optamos por esse filme: a liberdade dos alunos para escolher as aulas, o currículo livre das obrigações legais, a batalha para permitir a execução desse tipo de formação, entre outros. Além desses pontos, também foram destacados a falta de flexibilidade das autoridades, os processos seletivos para ingresso nas universidades, o ENEM, o endurecimento das disciplinas, por exemplo. 188 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO Nesse momento de discussão mais embasada teoricamente, ficou claro que os professores com formação em pedagogia utilizavam termos que iam além do senso comum, citando autores e denominações conceituais. Os licenciados, apesar da falta de conhecimentos mais abrangentes, conseguiram acompanhar o nível da discussão e fizeram apontamentos interessantes. Em todos os grupos houveram comparações com a realidade na qual eles estão inseridos e ficou claro que currículo na prática era apenas o conjunto de regras e conteúdos que cabia a eles praticar e ensinar em sala de aula, não haviam momentos de discussão e melhoria do currículo. Muitos afirmaram que acreditavam que essa formação era justamente para auxiliá-los na compreensão do currículo e para apreensão de ferramentas teóricas com o intuito de elaborar propostas curriculares para as escolas do município. Optamos por não interromper em demasia as falas e por não introduzir imediatamente muito conteúdo teórico. O objetivo era observar o que eles sabiam, nossas intervenções se resumiram a colocações para estimular a discussão, complementos teóricos das falas dos professores e direcionamentos para não fugir do escopo da atividade. Diante da reação dos professores alunos ao filme e os comentários gerados, ficou claro que ao optarmos por um filme foi possível abordar as questões relacionadas ao currículo de forma mais ampla, permitindo que eles apresentassem diversas opiniões e experiências através das situações presentes nesse filme em específico. Ou seja, o filme nos proporcionou o que esperávamos: sondar os conhecimentos dos participantes sobre currículo e conhecer um pouco, mesmo que de forma indireta, a realidade na qual eles trabalham em seu dia-a-dia nas escolas do município. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesse primeiro momento de formação, acima explicitado, nos ficou claro que os professores possuíam pouca autonomia no seu trabalho docente, pois as aulas são organizadas de acordo com o que está presente no livro didático adotado, livro esse que, na maioria das vezes, não é escolhido pelos professores que irão com ele trabalhar diariamente. Apesar dos conhecimentos prévios sobre a temática trabalhada, era perceptível a falta de ligação entre teoria e prática. Os professores não enxergavam como poderiam aplicar esses conhecimentos em seu cotidiano e essa aplicabilidade não era estimulada pela administração escolar de cada escola e do município como um todo, fato que nos foi explicado pelos próprios professores. Segundo eles, boa parte das formações era apenas para cumprir as determinações do governo, mas o que era ali aprendido dificilmente era aplicado no cotidiano escolar, pois não havia autonomia deles para mudar as determinações da prefeitura. Mas era notável que os professores presentes compareceram não só por ser obrigatório, mas porque acreditavam que com a formação eles poderiam melhorar o seu trabalho em sala de aula e tornar o processo de ensino-aprendizagem bem mais acessível e interessante para seus alunos. Esse primeiro momento foi importante para que estabelecêssemos o nível dos professores alunos sobre a temática, o grau de envolvimento deles com a formação e as características gerais do contexto no qual eles estão inseridos, elementos necessários para as nossas futuras intervenções. 189 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Toda a experiência foi extremamente enriquecedora. Trabalhar o currículo e suas teorias é de extrema valia para a formação de qualquer educador. Em especial para educadores como os participantes da formação, que muitas vezes sentem-se acorrentados ao livro didático e ao que a prefeitura da cidade permite ou não. A eles não é permitido exercer na prática sua autonomia. Mas é admirável notar que mesmo não tendo certeza de que poderão utilizar empiricamente o que lhes é apresentado nas formações, eles não deixam de comparecer, há neles uma vontade de aprender que nem mesmo os grilhões do burocratismo podem acabar. Concluímos que, além da importância da própria formação no quesito ampliação dos conhecimentos, também é importante analisar o público para quem ela está sendo aplicada e como podemos auxiliá-los a efetivamente utilizar o que está sendo ensinado. REFERÊNCIAS APPLE, M. W. Ideologia e Currículo. Porto Alegre: Artmed, 2006. GOODSON, I. F. Currículo: Teoria e História. Petropólis, RJ: Vozes editora, 1998. LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez Editora, 2008. MOREIRA, A. F. e SILVA, T. T. da. Sociologia e Teoria Crítica do Currículo: uma introdução. In. MOREIRA, A. F. e SILVA, T. T. da. et al. Currículo, Cultura e Sociedade. São Paulo: Cortez, 1995. PASSOS, C. M. B. Currículo como Construção Social. Nota de aula, s/d. PASSOS, C. M. B. Novos projetos pedagógicos para formação de professores: registros de um percurso.Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Educação, FortalezaCE, 2007. SACRISTÁN, J. C. O Currículo: uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre: Artmed, 2008. SILVA, T. T. da. Documentos de Identidade: Uma Introdução às Teorias do Currículo. Belo Horizonte, MG: Autêntica editora, 2011. Filme: Aprovados (Accepted). Dirigido por Steve Pink, escrito por Adam Cooper. Estrelado por Justin Long. Ano de lançamento: 2006. Link: http://www.imdb.com/title/tt0384793/ 190 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO A FORMAÇÃO INICIAL DO PROFESSOR PEDAGOGO PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO Ana Larisse do Nascimento Maranhão104 Milene Kinlliane Silva Oliveira105 RESUMO A proposta da escola numa perspectiva inclusiva tem enfrentado inúmeros desafios. A par desta realidade, a formação inicial do professor pedagogo, que atuará neste contexto, é um tema pertinente; portanto, objetivamos refletir sobre a formação inicial destes profissionais para atuar em um ensino que se propõe inclusivo. Para tanto, nosso estudo insere-se numa abordagem qualitativa e caracteriza-se por ser um estudo bibliográfico. Em nossa pesquisa, reconhecemos a relevância da formação inicial para a futura atuação profissional do pedagogo, pois esta primeira formação acadêmica, apesar de não ser a salvadora de todos os futuros problemas a serem enfrentados por estes educadores, tem um papel fundamental no que se refere, por exemplo, ao esclarecimento, compreensão de conceitos, preconceitos, apreensão de conhecimentos imprescindíveis para atuar em um contexto escolar inclusivo, baseada em uma formação crítica, reflexiva, respaldada pela e na práxis. Assim, o professor pedagogo pode não ter todas as respostas, o caminho a ser seguido, pode, ainda, continuar com suas inseguranças, mas terá condições, subsídios para prosseguir em sua prática docente a partir do que apreendeu teórica e praticamente na graduação e terá como pressupostos essenciais o diálogo e a pesquisa como suportes para que possam auxiliá-lo na dinâmica escolar, que por não ser estática requer toda este investimento em formação docente, o qual deve ser contínuo. PALAVRAS-CHAVE: Educação Inclusiva. Formação inicial de professores. Prática docente. INTRODUÇÃO Há muito se fala de inclusão como uma nova perspectiva educacional, que visa possibilitar a inclusão de sujeitos com necessidades educacionais especiais em turmas do ensino regular. Embora esta nova visão esteja sendo proposta como padrão para o ensino público e privado brasileiro, ainda há uma série de discussões que envolvem o tema. Entre estas, destacamos a formação inicial do profissional docente, o qual irá desenvolver um papel de suma importância neste contexto de escola inclusiva, posto que ele tenha o papel primeiro de levar uma educação formal ao indivíduo com necessidades educacionais especiais. 104 Pedagoga. Acadêmica do curso de especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional – UVA. E-mail: [email protected] 105 Pedagoga. Mestranda em Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual do Ceará PGE/UECE. E-mail: [email protected] 191 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC OBJETIVO GERAL No presente estudo, temos como objetivos refletir sobre a formação inicial de pedagogos para atuar em um ensino que se propõe inclusivo e a sua relevância para a futura atuação profissional do pedagogo em sala de aula. METODOLOGIA O presente estudo tem como objetivo principal refletir sobre a formação inicial de pedagogos para atuar em um ensino que se propõe inclusivo, para tanto indicamos como aspectos metodológicos norteadores desta, a abordagem qualitativa e o estudo bibliográfico. A pesquisa qualitativa, segundo Minayo (1994, p. 21), responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que podem ser reduzidos à operacionalização de varáveis. Assim, a pesquisa qualitativa nos dá, por isso, subsídios para envolver nossa temática em um contexto que busque refletir sobre os achados bibliográficos pertinentes a temática em questão – a formação inicial de professores no âmbito da perspectiva inclusiva. Neste sentido, ratificamos que a presente proposta sustenta-se num estudo bibliográfico, o qual envolve os seguintes temas: Educação Inclusiva, Formação Inicial de Professores e Prática Docente. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS O processo histórico que envolve a perspectiva da Educação Inclusiva permeia a luta de vários movimentos sociais pela igualdade de direitos promovidos por "setores" da sociedade considerados minorias. As últimas quatro décadas do século XX foram marcantes para o processo de construção e disseminação do ideal de educação inclusiva, principalmente, no período da década de 1990, quando movimentos iniciados na Europa como a Liga Mundial pela Inclusão, a Liga Internacional pela Inclusão do Deficiente Mental (atualmente Inclusion Internacional) e a Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais, realizada em Salamanca no ano de 1994, deram impulso à formulação de políticas governamentais de caráter internacional e nacional que dessem destaque ao ensino regular de caráter inclusivo, incentivando a não exclusão de crianças com necessidades educativas especiais (NEEs), em ambientes especializados (MASINI apud VOIVODIC, 2004). Deste modo, é importante destacarmos a diferença entre inclusão e integração, visto que a caracterização de uma escola que seja realmente inclusiva gira em torno de uma série de posições que a instituição e seus profissionais devem seguir. Alguns colocam estes termos como sinônimos, contudo, ao nos depararmos com uma visão pedagógica, nota-se uma diferença básica, a qual é caracterizada, como cita Voivodic (2004), por diversos autores, como Dens, Mantoan, Bueno e Mrech, que concebem a integração como um modelo mais restritivo de inserção educacional e 192 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO social e cujo enfoque recai sobre as dificuldades do portador de deficiência. Ao contrário desta perspectiva, a abordagem inclusiva objetiva a total inclusão da pessoa com deficiência tanto no meio social, quanto no educacional, procurando voltar seu foco para as potencialidades de cada indivíduo. Ou seja, na concepção integracionista, o aluno é quem tem de se adaptar à escola, enquanto na abordagem inclusiva a escola é quem deve atender e suprir as necessidades dos alunos. A partir da definição dos reais significados dos termos inclusão e integração, percebemos que embora ainda se faça uma constante confusão entre estes, há de se deixar claro que nossa postura investigativa encontra respaldo nos paradigmas da inclusão e não da integração; posto que para nós, como educadores, é de crucial relevância a adaptação de nossas práticas e ações educativas para a real e efetiva aprendizagem de todos os indivíduos que estejam em sala de aula, tenham estes ou não necessidades educativas especiais (NEEs). Tendo em vista a perspectiva inclusiva, cabe a nós refletir sobre a questão da formação inicial do professor: Será que os cursos de graduação em Pedagogia têm preparado seus discentes para uma educação inclusiva? Como se forma o profissional docente para atuar na escola inclusiva? Será que o aluno, futuro educador, se sente preparado para atuar em uma escola inclusiva? Precisamos evidenciar e ressaltar que O estudante de Pedagogia trabalhará com um repertório de informações e habilidades composto por pluralidade de conhecimentos teóricos e práticos, cuja consolidação será proporcionada no exercício da profissão, fundamentando-se em princípios de interdisciplinaridade, contextualização, democratização, pertinência e relevância social, ética e sensibilidade afetiva e estética. (BRASIL, 2006, p. 01). Podemos perceber que, já no período de sua formação inicial, o professor pedagogo deverá adquirir conhecimentos teóricos e práticos, os quais devem ser vivenciados ao longo dos anos relativos à graduação e consolidados no exercício de sua profissão. Partindo deste aspecto, supomos que, durante seu percurso formativo, o futuro educador deverá apreender as bases que sustentarão seu fazer docente. Contudo, Freire e Therrien (2008) apontam que muitos professores, em início de carreira, não têm clareza de seu fazer docente. Em consonância com tal colocação, Paganini (2012, p. 02) afirma que “[é] comum profissional em início de carreira apresentar certa insegurança, mas no caso do professor esta insegurança traz consequências que muitas vezes são irreversíveis”. Dessa forma, como destacam os autores supracitados e corroborando com os mesmos, devemos reconhecer esse universo de incertezas, insegurança e amadurecimento referente à epistemologia do conhecimento educacional, pedagógico e científico que perpassa a formação inicial dos licenciandos, os quais, muitas vezes, baseiam-se somente nos discursos dos outros colegas, ou em suas próprias práticas escolares. No entanto, este reconhecimento deve ser propiciador e fomentador de discussões, reflexões e vivências que estimulem a apropriação significativa dos conhecimentos apreendidos no âmbito acadêmico, a curiosidade epistemológica, como destaca Freire (1996), por exemplo. É imprescindível que a relação estabelecida, na 193 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC universidade, entre educadores e educandos seja dialógica e que estes sujeitos se “assumam epistemologicamente curiosos”. (FREIRE, 1996, p. 96). Neste sentido, Freitas (2008) coloca que [...] a formação inicial dos professores precisa ser repensada, em seus diferentes níveis, para que possam ser formuladas e encontradas soluções compatíveis com a urgente necessidade de melhoria das propostas educativas de nossas escolas, para então podermos falar de uma Educação para Todos. [...]. (FREITAS, 2008, p. 20). Assim, o repensar, avaliar, refletir sobre os sentimentos, concepções e experiências dos discentes serão significativas práticas em sua futura prática profissional, os quais terão que atuar em um ambiente escolar de inclusão que não prescinde de receitas, mas de sujeitos comprometidos com uma prática docente de qualidade, inclusão, pesquisa e comprometimento. Para Cardoso (2004, p. 24) “o processo inclusivo pode significar uma verdadeira revolução educacional e envolve o descortinar de uma escola eficiente, aberta, comunitária, solidária e democrática” onde a diversidade nos induz a ir além da integração para alcançar a efetiva inclusão. Para nós, esta revolução educacional apontada por Cardoso (2004) começa antes de tudo nas mudanças políticas iniciadas na década de 1990 e vem tomando fôlego com outras iniciativas de cunho social, como é o caso de movimentos sociais em defesa de uma escola de qualidade que atenda a toda população sem distinção de credo, cor, religião, ou deficiência. A educação, que almejamos, perpassa às mudanças sociais, atitudinais, ideológicas e também políticas, as quais se caracterizam e vem se caracterizando pela promoção da igualdade de condições de acesso e permanência na escola regular. Mas, indo além, a inclusão precisa também de compromisso, um compromisso que é de todos, do professor, como agente direto de promoção de educação; da família, como instituição social primeira da qual o indivíduo participa; social, em consonância com o advento de uma sociedade, que não seja só idealizada, mas sim uma realidade concreta, melhor organizada política, social e economicamente, mais justa e equânime, pela busca de uma real educação de todos, para todos. Neste sentido, “a formação dos professores e seu desenvolvimento profissional são condições necessárias para que se produzam práticas integradoras positivas nas escolas.” (MARCHESI, 2004, p. 44). Indo além, Articular as temáticas formação docente, diversidade e inclusão torna-se uma tarefa desafiadora quando a sociedade e o sistema escolar buscam meios de garantir a todos o cumprimento dos direitos e deveres previstos constitucionalmente. (FREITAS, 2008, p. 19). A formação do educador é, por isso, de vital importância, pois este irá interferir diretamente no ambiente escolar, “devendo promover e facilitar relações de cooperação entre a instituição educativa, a família e a comunidade” (BRASIL, 2006, p. 2). É necessário ainda “que professores e técnicos detenham um sólido embasamento teórico que permita ponderar a heterogeneidade da clientela”. (DESPROPPER & VAYER; ROSA apud ALENCAR, 2002). 194 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO Duas questões que aparecem como primordiais para que ocorra a promoção de uma política para a educação inclusiva: a primeira seria a adoção de atitudes sistemáticas e de serviços; e a outra, a formação mais adequada de nossos educadores (MENDES, 2002). No que trata da formação de educadores, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica define que as instituições de ensino superior devem prever, em sua organização curricular, formação docente voltada para a atenção à diversidade e que contemple conhecimentos sobre as especificidades sobre as necessidades dos alunos com necessidades educacionais especiais. (MEC/SECADI, 2008, p. 11). Assim, é de responsabilidade das instituições de ensino superior a promoção da formação inicial do professor, garantindo uma formação de qualidade, contextualizada, baseada também na perspectiva inclusiva, considerando todo o movimento dinâmico de práxis que perpassa a formação docente. CONSIDERAÇÕES FINAIS Formar profissionais docentes para atuar em um contexto de educação inclusiva é uma realidade premente, a qual é permeada por debates intensos e inúmeros desafios. O educador não nasce pronto, mas se forma em um processo contínuo de formação, atuação profissional e construção de uma identidade profissional. E a formação inicial tem um papel fundamental e o dever de contribuir com a formação dos futuros educadores, os quais deverão lidar com a inclusão. Por isso, a necessidade de romper com as concepções equivocadas, românticas, salvíficas, ou demasiadamente pessimistas, por exemplo, acerca do que é inclusão e de como devemos atuar. Na verdade, devemos reconhecer que a formação inicial não será a salvadora dos desafios inerentes à formação docente e que esta, apesar de fundamental, não é a única responsável pelos males educacionais, ademais pelas práticas inclusivas. No entanto, ela é imprescindível para a formação do professor para que seja um eterno aprendiz, pesquisador de sua prática e comprometido com a qualidade educacional. REFERÊNCIAS ALENCAR, M. L. Alunos com necessidades educacionais especiais: análise conceitual e implicações pedagógicas. In: MAGALHÃES, R. C. B. P. (Org.). Reflexões sobre a diferença: uma introdução à educação especial. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2002. BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura. Resolução CNE/ CP 1/2006. Diário Oficial da União, Brasília. 15 de maio de 2006. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_06.pdf >. Acesso em: 15. set. 2012. CARDOSO, M. S. Aspectos históricos da educação especial: da exclusão à inclusão – uma longa caminha. In: STOBÄUS, C. D.; MOSQUERA, J. J. M. (Org.). Educação especial: em direção à educação inclusiva. 2. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004. p. 15-26 FREIRE, L. A.; THERRIEN, J. Elementos para a análise do trabalho docente do profissional de ensino superior com formação de bacharelado. In: I Colóquio Internacional sobre Ensino Superior, 2008, Feira de Santana. I Colóquio Internacional sobre Ensino Superior. Feira de Santana: UEFS, 2008. v. 1. p. 1-10. 195 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 13ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. FREITAS, S. N. Sob a ótica da diversidade e da inclusão: discutindo a prática educativa com alunos com necessidades educacionais especiais e a formação docente. In: FREITAS, S. N. (Org.). Tendências contemporâneas de inclusão. Santa Maria: Editora da UFSM, 2008. v. 1. p. 19-30. MARCHESI, Á. A prática das escolas inclusivas. In: COLL, C.; MARCHESI, Á.; PALACIOS, J. Desenvolvimento psicológico e educação: transtornos de desenvolvimento e necessidades educativas especiais. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. v. 3 MENDES, E. G. Alunos com necessidades educacionais especiais nas classes comuns do ensino regular. In: MAGALHÃES, R. C. B. P. (Org.). Reflexões sobre a diferença: uma introdução à educação especial. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2002. MINAYO, M. C. S. Ciência, técnica e arte: o desafio da pesquisa social. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 24. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993. (Coleção Temas Sociais) PAGANINI, E. L. Superando (in)seguranças no início de carreira docente. In: IX ANPED Sul. Seminário de Pesquisa em Educação da Região Sul. 2012. Disponível em: < http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/viewFile/208/487 >. Acesso em: 15. set. 2012. VOIVODIC, Maria Antonieta M. A. Inclusão escolar de crianças com síndrome de Down. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. 196 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO SABERES DOCENTES: DIÁLOGOS COM A FORMAÇÃO E O TRABALHO DE PROFESSORES Francisco Mirtiel Frankson Moura Castro106 Bernadete de Souza Porto 107 RESUMO Este texto tem o objetivo analisar os saberes docentes importantes para a formação e o trabalho dos professores. Ressalta-se que não há o intuito de esgotar as discussões sobre esta temática. Este estudo partiu da seguinte inquietação: que saberes docentes são importantes para a formação e o trabalho dos professores? Este estudo é fruto de um recorte da fundamentação teórica da pesquisa de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira, da Universidade Federal do Ceará, que analisa que saberes da experiência explicitados na interação professor-aluno possibilitam a formação contínua docente. Dentre os referenciais teóricos, são utilizadas as reflexões de Farias, Freire, Pimenta, Tardif, Therrien, Mamede, Loiola e Veiga. Esta investigação adota como método de estudo o materialismo histórico-dialético, orientada pela abordagem qualitativa e tem como suporte a revisão bibliográfica. Evidencia-se que os saberes docentes são importantes para a formação e para a prática de ensino dos professores. Ao longo de sua formação o professor tem a possibilidade de apreender e constituir vários saberes relevantes para a práxis educativa. PALAVRAS-CHAVE: Saberes Docentes. Formação de Professores. Trabalho Docente. INTRODUÇÃO Em virtude do papel que o professor desempenha na sociedade, defende-se a necessidade de que ele disponha de formação de qualidade e permanente, pois isso é imprescindível para que ele venha a cumprir com êxito o seu trabalho, que consiste, dentre outras dimensões, na transmissão, reestruturação e construção de conhecimentos com os educandos. Conforme expõe Tardif (2002, p.31), “[...] parece banal, mas um professor é, antes de tudo, alguém que sabe alguma coisa e cuja função consiste em transmitir esse saber a outros. [...].” Para que ele possa alcançar a perspectiva exposta, é fundamental ainda que a sua formação seja pautada no domínio de diferentes conhecimentos de seu campo profissional, os quais são entrelaçados e associados aos saberes constituídos em sua prática de ensino. Frente a isso, defende-se que “a docência é, portanto, uma atividade profissional complexa, pois requer saberes diversificados. Isso significa que os saberes que dão sustentação à docência exigem uma formação profissional numa perspectiva teórica e prática.” (VEIGA, 2009, p.20). 106 Mestrando em Educação Brasileira, pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: [email protected] 107 Doutora em Educação Brasileira, Professora do Departamento de Teoria e Prática de Ensino da Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: [email protected] 197 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Em adição ao exposto, Passos (2004, p.80) revela que “pelas características aqui apresentadas, percebemos que o exercício da profissão docente se caracteriza pela pluralidade de saberes e experiências para seu desempenho. [...].” Sendo assim, a formação do professor é cercada de diferentes saberes, que provêm de contextos diversos, tanto do âmbito acadêmico quanto das experiências equalizadas no exercício do magistério, os quais contribuem indubitavelmente com o seu desempenho profissional. O domínio destes é vital para a constituição de sua identidade e profissionalização, dada a complexidade e natureza de suas atividades profissionais, porque “a docência é um trabalho de humano e com humano na mediação de saberes: ou seja, é essencialmente um processo de interação entre 3 pólos: o docente, os alunos e a matéria de ensino.” (THERRIEN; MAMEDE; LOIOLA, 2007, p.123). Partindo do exposto, expõe-se que este texto tem o propósito de discutir a temática “saberes docentes”, a fim de analisar os saberes docentes importantes para a formação e o trabalho dos professores, dando conta de caracterizá-los e categorizá-los, sem o intuito de esgotar as discussões sobre esta temática, em virtude do que pode vir a ser analisado neste campo de conhecimento que é bastante amplo e necessita aprofundamento posteriores. Este estudo almejou responder a seguinte inquietação: que saberes docentes são importantes para a formação e o trabalho dos professores? Esta produção se constitui em recorte da fundamentação teórica de uma pesquisa de mestrado, que objetiva analisar que saberes da experiência explicitados na interação professoraluno possibilitam a formação contínua docente, realizada no Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira, da Universidade Federal do Ceará (UFC), entre os anos de 2011 e 2013. Em continuidade, destaca-se que o saber do professor é plural, porque “[...] é formado de diversos saberes provenientes das instituições de formação, da formação profissional, dos currículos e da prática cotidiana, o saber docente é, portanto, essencialmente heterogêneo.” (TARDIF, 2002, p.33). Por outro lado, Pimenta (2009, p.30) argumenta que “a formação passa sempre pela mobilização de vários tipos de saberes: saberes de uma prática reflexiva, saberes de uma teoria especializada, saberes de uma militância pedagógica. [...].” Então, o ensino exige o domínio de diferentes saberes, os quais são relevantes para a constituição da práxis educativa. Todos os saberes são importantes para a constituição da identidade e prática docentes, por isso, nenhum deles precisa ser supervalorizado ou marginalizado no campo educacional e, especificamente, no exercício do magistério. OBJETIVO GERAL Identificar a importância dos saberes docentes para a formação e o trabalho dos professores. METODOLOGIA A revisão bibliográfica deste estudo foi desenvolvida com base em diversos autores contemporâneos da educação, no intuito de se conseguir não só uma aproximação com aquilo que se intentava analisar, mas também de elaborar um conhecimento, mediante a realidade presente no campo (MINAYO, 1994). Escolheu-se o materialismo histórico-dialético como método de pesquisa, pois ele é “[...] capaz de aprofundar a análise da realidade do fenômeno social, com todas as suas contradições, dinamismo e relações [...].” (TRIVIÑOS, 1987, p.151). Este método defende 198 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO que o “[...] fenômeno observado, sendo parte de um todo, mantém ligações com outros fatos. A totalidade não é cristalizada; é dinâmica e histórica. O saber é cumulativo e revisto, e o conhecimento, uma construção social.” (MATOS; VIEIRA, 2001, p.31). Esta investigação está apoiada na abordagem qualitativa, pois ela lida com dados subjetivos, que não são quantificáveis e simplesmente objetivos. Este tipo de abordagem se refere a elementos que não são dimensíveis em números, porque “[...] muitas informações sobre a vida dos povos não podem ser quantificadas e precisam ser interpretadas de forma muito mais ampla que circunscrita ao dado objetivo. [...].” (TRIVIÑOS, 1987, p.120). DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Inúmeros debates e pesquisas científicas, dentre outras ações, são voltados à formação docente, em decorrência de determinados fatores, como a necessidade de melhorar a qualidade da educação, em razão das exigências dos organismos internacionais e da própria sociedade. Além disso, como lembram Tardif (2002) e Pimenta (2009), a formação do professor é constituída por diversos tipos de saberes. Para Tardif (2002, p.36), “pode-se chamar de saberes profissionais o conjunto de saberes transmitidos pelas instituições de formação de professores (escolas normais ou faculdades de ciências da educação). [...].” Outro tipo de saber identificado por Tardif (IBIDEM, p.38) é denominado disciplinar, que são “[...] aqueles que correspondem aos diversos campos do conhecimento, aos saberes de que dispõe a nossa sociedade, tais como se encontram hoje integrados nas universidades, sob a forma de disciplinas, no interior de faculdades e de cursos distintos. [...].” Os saberes disciplinares são aqueles constituídos e que integram as disciplinas ou áreas de conhecimentos, ou seja, são componentes curriculares dos diferentes cursos de formação universitária. Tais saberes não “[...] são produzidos pelo docente, mas este retira daí o saber necessário ao ensino. [...].” (FARIAS, 1997, p.39). Estes saberes nutrem a ação educativa, mediante o processo de ensino, porque dão a este a razão de sua existência. Além dos saberes já expostos, Tardif (2002, p.38) apresenta nesta disposição os saberes de caráter curriculares, que “[...] correspondem aos discursos, objetivos, conteúdos e métodos a partir dos quais a instituição escolar categoriza e apresenta os saberes sociais por ela definidos e selecionados como modelo da cultura erudita e da formação para a cultura erudita. [...].” As escolas sistematizam curricularmente os diferentes conhecimentos e estes, por sua vez, quando pensados e elencados desta forma, seguem alguns parâmetros, práticas e objetivos. Outro aspecto a ser considerado em relação aos saberes discutidos é que eles “[...] são incorporados ou produzidos e difundidos nas universidades e instituições similares de ensino superior.” (COSTA, 1995, p.249). Eles não são constituídos e pensados pelos professores, porque já são elaborados historicamente, sendo disseminados por estas instituições. Pimenta (2009) apresenta outras categorizações para os saberes, divergentes em determinados aspectos dos já elencados anteriormente. Para ela, os professores possuem três saberes docentes: o conhecimento, os pedagógicos e os experienciais. Em relação ao primeiro, que ele passa pelo conhecer que consiste em “[...] estar consciente do poder do conhecimento para a produção da vida material, social e existencial da humanidade.” (IBIDEM, p.22). 199 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Existem os saberes pedagógicos que “[...] podem colaborar com a prática. Sobretudo se forem mobilizados a partir de problemas que a prática coloca, entendendo, pois, a dependência da teoria em relação à prática, pois lhe é anterior. [...].” (IBIDEM, p.27-28). Eles são relacionados com as necessidades dos processos didáticos e respondem a inquietações e problemas do âmbito da prática de ensino. Eles podem ser articulados com os saberes profissionais já discutidos, os quais também existem para atender necessidades do campo profissional e não são estanques; ao contrário, são mutáveis. Isso demonstra que “a prática e os saberes que podem ser observados no professor é o resultado da apropriação que ele faz da prática e dos saberes histórico-sociais. A apropriação é uma ação recíproca entre os sujeitos e os diversos âmbitos ou integrações sociais. [...].” (VEIGA, 1991, p.153). Em adição, ressalta-se que Pimenta (2009, p.20) também categoriza e discute os saberes da experiência, que são “[...] aqueles que os professores produzem no seu cotidiano docente [...].” Esses saberes são constituídos no campo da prática de ensino dos docentes e são bastante relevantes para o seu exercício profissional. Do mesmo modo que Pimenta (2009), além dos saberes já apresentados anteriormente, Tardif (2002, p.38-39) apresenta esta mesma tipologia de saberes, os quais são próprios dos professores, uma vez que estes “[...] no exercício de suas funções e na prática de sua profissão, desenvolvem saberes específicos, baseados em seu trabalho cotidiano e no conhecimento do seu meio [...]”, eles são constituídos nas experiências dos professores, considerando como locus a prática de ensino. Os saberes experienciais exercem papel relevante no desenvolvimento e constituição do trabalho deste profissional, uma vez que ele permanentemente está aprendendo com a realização de suas próprias atividades, pois os saberes estão “[...] em constante reconstrução a partir da experiência vivenciada pelo profissional.” (THERRIEN; MAMEDE; LOIOLA, 2007, p.130). Contudo, é preciso explicitar, de acordo com Tardif e Lessard, que “[...] também se pode compreender a experiência, não como um processo fundado na repetição de situações e sobre o controle progressivo dos fatos, mas sobre a intencionalidade e a significação de uma situação vivida por um indivíduo. [...].” (2007, p.51). Freire (1999, p.26) complementa que “[...] ensinar inexiste sem aprender e vice-versa e foi aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e homens descobriram que era possível ensinar. [...].” Par desenvolver o ensino o professor necessita de formação, porque a decência é um trabalho que “[...] requer saberes especializados [...]” (FARIAS, 2008, p.73), os quais, por sua vez, são denominados de um modo geral de saberes docentes, por integrarem a formação e prática dos professores, e são provenientes de diferentes contextos e espaços, mas que em seu conjunto contribuem para desenhar a profissionalização docente. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os saberes docentes exercem papel de destaque na formação de professores, pois contribuem para o exercício da profissão e possibilitam a integração de vários conhecimentos ao seu desenvolvimento profissional. Tais saberes são apreendidos no âmbito acadêmico e no 200 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO exercício da profissão, eles, em geral, constituem a identidade desse profissional, contribuindo de forma significativa para a estruturação do seu trabalho. Em razão disso, eles necessitam de ser valorizados cotidianamente no exercício do magistério, por serem fundamentais para a profissionalização do professor, que tem ao longo deste feito a oportunidade de apreender e constituir criticamente a sua práxis educativa. Sendo assim, evidencia-se que os saberes docentes tecem a formação docente e a prática de ensino de forma dinâmica e dialógica, com suporte na unidade teoria-prática. Para tanto, ao longo de sua vida, o professor apreende diferentes conhecimentos relevantes à constituição da docência. REFERÊNCIAS COSTA, Marisa C. Varraber. Trabalho docente e profissionalismo. Porto Alegre: Sulina, 1995. 280p. FARIAS, Isabel Maria Sabino de. [et al]. Didática e Docência: aprendendo a profissão. Fortaleza: Realce Editora e Indústria Ltda, 2008. 154p. ________. A atividade docente no teleensino – um estudo acerca dos saberes pedagógicos do orientador de aprendizagem. 1997. 205p. Dissertação (Mestrado em Educação Brasileira) – Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira. Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2005. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários a prática educativa. 10ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999. 165 p. MATOS, Kelma Socorro Lopes de; VIEIRA, Sofia Lerche. Pesquisa Educacional: o prazer de conhecer. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2001. 143p. MINAYO, Maria Cecília de Sousa. Petrópolis: Vozes, 1994. 80 p. Pesquisa social: teoria método e criatividade. 8ª ed. PASSOS, Carmensita Matos Braga. Docência no ensino superior: exigências e carências. In: ALBUQUERQUE, Luiz Botelho. Culturas, Currículos e Identidades. Fortaleza: Editora UFC, 2004. 224p. p.79-92. PIMENTA, Selma Garrido. Saberes pedagógicos e atividades docentes. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2009. 246p. TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. TARDIF, Maurice; LESSARD, Claude. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência como uma profissão de interações humanas. 3ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. Tradução de João Batista Kreuch. 312p. THERRIEN, Jacques; MAMEDE, Maíra; LOIOLA, Francisco. Trabalho docente e transformação pedagógica da matéria. In: MAGALHÃES, Rita de Cássia Barbosa Paiva. et al. Formação e Práticas Docente. Fortaleza: EdUECE, 2007. 336p. (p.121-138). TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: uma pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. 175p. VEIGA, Ilma Passos Veiga Alencastro. A aventura de formar professores. Campinas, SP: Papirus, 2009. 95.p (Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico). ________. (Org). Repensando a didática. 5ª ed. São Paulo: Papirus, 1991. 159 p. 201 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC FORMAÇÃO DOCENTE SOB A PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO DIALÓGICA FREIREANA Camilla Rocha da Silva108 RESUMO O presente trabalho busca registrar algumas reflexões acerca dos estudos sobre a formação docente, sob a perspectiva da Educação Dialógica Freirena (EDF). A partir do legado e das obras de Paulo Freire, buscamos contribuições que ampliem com a perspectiva da formação inicial de professores(as). Para tanto, apoiamo-nos em algumas obras de Paulo Freire, como também no trabalho de alguns(mas) estudiosos que vêm buscando ampliar a práxis reflexiva iniciada por Freire. Para alcançar o objetivo acima explicitado, foi realizada uma revisão bibliográfica sobre o tema da formação docente nas obras Pedagogia do Oprimido (2005) e Pedagogia da Autonomia (1996). Diante do reconhecimento da situação de opressão instaurada no mundo, Paulo Freire nos propõe um novo paradigma educativo, que amplia a dimensão da educação e abrange as dimensões política, social e transformadora desta. Acreditamos que nos cursos de formação de professores devem estar presentes o diálogo, a contextualização, a escolha do conteúdo com e pelos educandos, a afetividade/amorosidade, a humildade, o respeito aos saberes que estes carregam, o estimula à criticidade, ou seja, princípios essenciais apontados por Freire para uma educação transformadora, que possibilite o “ser mais”. Considera-se indispensável que a Educação Dialógica Freireana estejam presentes durante a formação dos educadores. PALAVRAS-CHAVE: formação docente; formação inicial; Paulo Freire; dialogicidade. INTRODUÇÃO O presente trabalho busca registrar algumas reflexões acerca dos estudos sobre a formação docente, sob a perspectiva da Educação Dialógica Freirena (EDF). A partir do legado e das obras de Paulo Freire, educador pernambucano que alcançou reconhecimento mundial, buscamos contribuições que ampliem com a perspectiva da formação de professor@s109, que, para além da formação técnica e instrumental, reconheça a necessidade do diálogo verdadeiro, libertador e da dimensão política e transformadora da educação. Para tanto, apoiamo-nos em algumas obras de Paulo Freire (2005; 1996), como também no trabalho de alguns(mas) estudiosos que vêm buscando ampliar a práxis reflexiva iniciada por 108 Doutoranda em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Mestre em Educação Brasileira pela UFC (2011). Licenciada em Pedagogia pela UFC (2009). Endereço eletrônico: [email protected]. 109 Com o símbolo @, estamos indicando simultaneamente os gêneros feminino e masculino. Ao invés do uso gramaticalmente correto, utilizamos esta forma gráfica, para levantar a questão – política e cultural – do sexismo de nossa linguagem. 202 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO Freire, como Figueiredo (2006); Figueiredo e Silva (2011), Camargo (2001), Conceição (2006), Machado (2001), dentre outros. OBJETIVO GERAL Este trabalho objetiva realizar um breve estudo bibliográfico acerca da formação inicial de professoras sob a perspectiva da formação humana, com base na proposta de educação de Paulo Freire. METODOLOGIA Para alcançar o objetivo acima explicitado, foi realizada uma revisão bibliográfica sobre o tema da formação docente nas obras Pedagogia do Oprimido (2005) e Pedagogia da Autonomia (1996), como também no trabalho de outros autores que trabalhando e pesquisando a partir da proposta de Paulo Freire. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS REFLEXÕES SOBRE A FORMAÇÃO DOCENTE SOB A PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO DIALÓGICA FREIREANA Diante do reconhecimento da situação de opressão instaurada no mundo, Paulo Freire nos propõe um novo paradigma educativo, que amplia a dimensão da educação e abrange as dimensões política, social e transformadora desta. A Educação Dialógica Freireana (EDF) destaca o diálogo, que não é mera conversa ou troca de ideias entre os permutantes, nem muito menos ação de depositar ideias em outr@. Os fundamentos do diálogo, ou princípios dialogais, são apresentados por Freire em seu livro Pedagogia do Oprimido (2005), quando afirma que o diálogo não pode existir sem que haja: amor; humildade; fé nos seres humanos; esperança; pensar crítico. Inicialmente, Freire (op. cit.) assegura que só é possível o diálogo se existe um profundo amor à vida, ao mundo e aos seres humanos. Somente com amor, que é um ato de coragem, de compromisso com os homens e as mulheres, pode se valorizar os seres humanos e contribuir para o processo de reflexão sobre sua realidade e consequente transformação desta, possibilitando-@s tornarem-se autor@s de sua história. A pedagogia freireana apresenta-se encharcada de afetividade, o que não exclui a cognoscibilidade nem tampouco interfere no cumprimento ético do dever de professor. O amor e a afetividade levam também ao respeito pelos saberes d@s educand@s e é necessário, do mesmo modo, que se tenha humildade, que representa a aceitação d@ outr@, a capacidade de ouvi-l@ afetivamente, o que leva ao respeito por suas ideias, pois só assim é possível reconhecer a possibilidade de aprender com @ outr@, com @ diferente, não @ enxergando como inferior por ser diferente. É preciso que @ professor@ reconheça-se também ignorante, pois assim é possível o compartilhamento de saberes. Sobre essa questão, Freire (1996, p. 67) reflete: Como posso respeitar a curiosidade do educando se, carente de humildade e da real compreensão do papel da ignorância na busca do saber, temo revelar o meu 203 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC desconhecimento? Como ser educador, sobretudo numa perspectiva progressista, sem aprender, com maior ou menor esforço, a conviver com os diferentes? Como ser educador, se não desenvolvo em mim a indispensável amorosidade aos educandos com quem me comprometo e ao próprio processo formador de que sou parte? Além do amor e da humildade, é imprescindível para EDF que haja fé nos seres humanos, “fé no seu poder de fazer e de refazer. De criar e recriar. Fé na sua vocação de ser mais, que não é privilégio de alguns eleitos, mas direito dos [seres humanos]” (FREIRE, 2005, p. 93). Outro alicerce dessa educação é a esperança, que “está na própria essência da imperfeição dos homens, levando-os a uma eterna busca” (op. cit., p. 94). É essa esperança ativa que leva à luta por humanização, esperança que incita a ação e impede uma postura de estagnação. Por fim, Freire defende o pensar crítico, através do qual se pode perceber a realidade como processo e não como algo estático. Reafirmando, assim, que o diálogo é o caminho que torna possível a construção do ser mais, pois “Somente o diálogo, que implica um pensar crítico é capaz também de gerá-lo” (op. cit., p. 96). Reconhecemos que outro importante fundamento da EDF é a contextualização. O termo contextualização não aparece de forma explícita na obra de Paulo Freire, porém podemos reconhecer sua manifestação de diversas maneiras, das quais destacamos sua ênfase na premência de se ter uma leitura de mundo como pressuposto essencial à leitura da palavra, um levantamento de temas geradores que potencializariam o ensinar e aprender mútuos, com base nos ‘saberes de experiência feitos’. Ainda a respeito da contextualização do processo de ensino-aprendizagem, Paulo Freire (1996, p. 30) reflete: Por que não discutir com os alunos a realidade concreta a que se deva associar a disciplina cujo conteúdo se ensina [...]? Por que não estabelecer uma ‘intimidade’ entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos? Contextualizar o ensino é mais uma forma de valorizar @ educand@ e inseri-l@ de forma ativa no processo educativo, na medida em que se reconhece a importância do cotidiano del@ e mostra que os conhecimentos gerados no processo de ensino-aprendizagem podem ter aplicação em sua vida prática. Sobre isso, Figueiredo (2006, p. 97) ainda esclarece: Contextualizar o ensino é incorporá-lo ao cotidiano, em outras palavras, é a integração dos saberes acadêmicos ao entorno da escola, aos saberes do aluno, ao ambiente imediato ao ensino-aprendizagem; ou simplesmente, contextualização se traduz pelo processo de produzir um saber parceiro a partir do saber inerente ao mundo vivido dos educandos, sendo ele próprio, este mundo, o contexto de aprendizagem. [...] contextualizar o conteúdo é reconhecer a importância do cotidiano d@ alun@, mostrar que os conhecimentos gerados dentro de um processo de ensinoaprendizagem podem ter aplicação na vida prática das pessoas [...]. Reconhecemos que a contextualização é imprescindível também na formação inicial de professores, visto que muit@s estudantes iniciam sua prática docente antes mesmo de ingressarem na universidade, ou nos primeiros semestres do curso. Est@s estudantes trazem consigo 204 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO experiências de vida e da prática docente que poderiam contribuir efetivamente com a sua própria formação, bem como com a de seus(suas) parceir@s de aprendizagem. É preciso, sobretudo, e aí já vai um destes saberes indispensáveis, que o formando, desde o princípio mesmo de sua experiência formadora, assumindo-se como sujeito também da produção do saber, se convença definitivamente de que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção. (FREIRE, 1996, p. 22). Infelizmente, a educação bancária, tradicional ainda está presente de forma hegemônica nos cursos de formação inicial de educador@s, pois: [...] ainda vemos uma predominância de projetos de formação de professor@s que se apoiam na lógica colonializante, conteudística, bancária, de transferência de conhecimentos, tendo o professor como único detentor e depositário dos saberes. Modelo este, ainda hegemônico, que se respalda numa perspectiva técnicoinstrumental, com ênfase na formação de professor(a) para adaptar-se e manter as demandas do mercado e as regras de mercantilização, com toda a carga de exclusão que a acompanha e a produz (FIGUEIREDO e SILVA, 2011, p. 118). Cremos que o ideal seria que @s professor@s em formação inicial pudessem conhecer a Educação Dialógica Freireana não somente através do contato com a sua teoria, mas também através da prática, pois, ambas, teoria e prática, são indissociáveis, pois, segundo Machado (2001, p. 226), “dependendo de sua formação, ele ou ela podem reproduzir o sistema ou transgredi-lo, conscientemente, por meio de sua ação”. Este autor afirma ainda que: Um processo que tenha como objetivo a formação de um profissional do ensino não poderia mais estar ancorado exclusivamente na transmissão do conhecimento, nem estar inserido em uma relação verticalizada professor-aluno. Tal formação efetivaria um profissional fadado à incapacidade de agir, de se locomover e de se adaptar às necessidades do mundo educacional atual. (op. cit., p. 219). Sem essa práxis vivenciada durante o processo formador, torna-se difícil, embora de maneira nenhuma impossível, refletir e romper com os processos opressores da educação tradicional. Com este pensamento, colabora Machado (op. cit., p. 224): Como compreender, participar e atuar na sociedade, mais precisamente no espaçopedagógico, se ambos os contextos não se encontram presentes na organização curricular como tema-gerador, visto que ao longo do projeto curricular vislumbramos somente disciplinas (obrigatórias e optativas), sem nenhum vínculo com a realidade social? Conceição (2006, p. 86) destaca que a “necessidade de se trabalhar o currículo numa perspectiva dialógica apresenta-se como uma possibilidade de superação de problemas crônicos que se têm enfrentado nos sistemas de ensino tradicionais”. Camargo (2001, p. 68) concorda com essa compreensão, quando afirma que há a “[...] necessidade da formação de profissionais comprometidos com a conscientização, com a humanização e com a emancipação humana, necessidades essas que são bases do pensamento freireano”. Este autor ainda assevera que “Os cursos de Pedagogia merecem e precisam de Freire e de sua conscientização autêntica como compromisso, como transformação real da realidade” (op. cit., p. 68). Continua e reafirma que: 205 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Os cursos de Pedagogia não podem prescindir da criação de profissionais que entendam a educação como um projeto político e que, ao mesmo tempo, rompam as múltiplas formas de dominação e ampliem os princípios e práticas de dignidade humana, liberdade e justiça social (op. cit., p. 69). Essas reflexões reforçam a nossa compreensão da necessidade de verdadeira práxis dialógica freireana nos cursos de formação inicial de professoras. CONSIDERAÇÕES FINAIS Acreditamos que nos cursos de formação de professoras devem estar presentes o diálogo, a contextualização, a escolha do conteúdo com e pelas educandas, a afetividade/amorosidade, a humildade, o respeito aos saberes que estas carregam, o estimula à criticidade, ou seja, princípios essenciais apontados por Freire para uma educação transformadora, que possibilite o “ser mais”. E isto só pode ser acontecer se as graduandas vivenciarem, em sua formação, uma práxis dialógica na qual estejam inseridas efetivamente, como autoras dos processos de ensinar-pesquisar-aprender. Do contrário, sua atuação pedagógica tenderá a ser reprodutora da educação dos processos de transferência de conhecimento, de reprodução de conteúdos, ou seja, desumanizante, acrítica, “bancária”. Diante das contribuições trazidas por Paulo Freire e da necessidade de superação dos paradigmas educativos desumanizantes que ainda prevalecem, considera-se indispensável que a Educação Dialógica Freireana estejam presentes durante a formação das educadoras. Como já o afirmamos anteriormente, para que seja possível optar pela EDF, é necessário que os educandas e educadoras conheçam-na, estudem-na, e a experienciem em sua trajetória, desde a formação inicial. REFERÊNCIAS CAMARGO, Fábio Manzini. A atualidade de Freire nos cursos de Pedagogia. In: FREIRE, Ana Maria Araújo (org.). A Pedagogia da libertação em Paulo Freire. São Paulo: UNESP, 2001. CONCEIÇÃO, Francisca Maria da. O diálogo como elemento fundante na construção de saberes. In: CONCEIÇÃO, Francisca Maria da. e MELO NETO, José Francisco de. Aprimorando-se com Paulo Freire em Dialogicidade. Recife: Edições Bagaço, 2006. Coleção Paulo Rosas, volume V. FIGUEIREDO, J. B. A. Educação Ambiental Dialógica: a contextualização do ensino numa leitura de Paulo Freire. In: Olinda, Ercília Maria Braga de (Org.). Formação humana e dialogicidade em Paulo Freire. Ercília Maria Braga de Olinda e João Batista de A. Figueiredo (Orgs.) et al. Fortaleza: Editora UFC, 2006. ______; SILVA. M. E. H. Formação d@ educador(a) ambiental numa perspectiva eco-relacional. In: MATOS. K. S. A. L. Educação ambiental e sustentabilidade III. Fortaleza: UFC, 2011. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 49ª reimpressão. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. ______. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à pratica educativa. 34ª Edição. São Paulo: Paz e Terra, 1996. MACHADO, Roberto Luiz. Um olhar freireano sobre a universidade, a licenciatura e o currículo. In: FREIRE, Ana Maria Araújo (org.). A Pedagogia da libertação em Paulo Freire. São Paulo: UNESP, 2001. 206 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO O COORDENADOR PEDAGÓGICO E A FORMAÇÃO DOCENTE: CONCEITOS E PRESSUPOSTOS Ana Paula de Araújo Ribeiro Cavalcante110 Camila Almada Nunes111 Emanuelle Oliveira da Fonseca112 RESUMO A qualificação de professores é uma exigência que vem sendo enfatizada pela legislação, pois uma formação adequada garante uma melhor aprendizagem por parte dos alunos. Quando o professor assume a postura de um agente transformador consegue satisfazer as necessidades dos alunos de forma critica e consciente. Dessa forma, o objetivo principal dessa pesquisa é compreender como se dá a relação da coordenação pedagógica e dos professores no tocante à gestão escolar. A relação entre gestor e professor viabilizou o processo de formação contínua. Adotamos como referencial teórico metodológico a abordagem qualitativa, por acreditar que ela age de forma critica e reflexiva no presente trabalho. O estudo contou com os fundamentos das concepções de Schön (1997), Freire (1999), Vieira (2001), Tardif (2002), Therrien e Loila (2003), Zabalza (2004), dentre outros que discutem, a reflexividade, os saberes, a dialogicidade, a autonomia e a emancipação docente. É preciso que se estabeleça um elo entre professores e a coordenação pedagógica na busca de um processo reflexivo, voltado para a realidade da escola. PALAVRAS-CHAVE: Coordenação pedagógica. Formação de professor. Gestão escolar. INTRODUÇÃO O papel do coordenador pedagógico na gestão escolar está ligado aos vários elementos que determinam a dinâmica do contexto escolar, dentre eles a formação dos professores numa perspectiva contínua. Daí surgiu nossa problemática: Qual o papel desempenhado pelo coordenador pedagógico na formação dos professores? Como forma de compreendermos a concepção sobre formação de professores e gestão escolar será feito um estudo teórico com os seguintes autores: Libâneo (2006), Pimenta e Lima (2011) que centram suas ideias na gestão. Para ampliar o estudo, inserimos também os pensamentos de Tardif (2000), Therrien (2006), Schön (1997), Therrien e Loiola (2003) e Zabalza (2004). OBJETIVO GERAL 110 Graduada em Pedagogia pela Universidade de Fortaleza. Mestranda em Educação pela Universidade Estadual do Ceará. 111 Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará. Mestranda em Educação pela Universidade Estadual do Ceará. 112 Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará. Mestranda em Educação pela Universidade Estadual do Ceará. 207 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC O objetivo da presente pesquisa é compreender o papel do coordenador pedagógico na gestão escolar, tendo como foco a formação de professores. Já que segundo Libâneo et.at (2006) é o coordenador pedagógico ou professor-coordenador que coordena, acompanha, assessora, apoiando e avaliando as atividades pedagógico-curriculares. Quando o coordenador assume uma postura de agente de transformação ele adquire um posicionamento consciente e crítico que lhe permitirá encaminhar questões e incorporar conhecimentos necessários na construção de um processo participativo que vai prevalecer a discussão das ideias e um diálogo aberto e verdadeiro, fortalecido pelo espírito de cooperação. METODOLOGIA Nosso estudo se adapta à abordagem qualitativa, cujo referencial vai apontar as concepções de autores que estudam sobre formação de professores, coordenador pedagógico e saberes docentes. O levantamento bibliográfico buscará compreender como o coordenador pedagógico contribui para a formação continuada de professores, já que esse é uma das suas atribuições na gestão escolar. Dessa forma iremos buscar elementos necessários à compreensão da centralidade do trabalho. Esse levantamento servirá como ponto de articulação entre a questão investigada e os eixos norteadores da pesquisa, buscando contribuir para o debate sobre a formação de professores. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Coordenador pedagógico: seu papel na gestão escolar O impacto das mudanças no campo educacional influencia na dinâmica escolar. Já que a crise na educação também é percebida pelos protagonistas dentro da escola. Assim, nosso estudo voltou-se para um dos atores, no caso, o coordenador pedagógico. Uma vez que este faz parte da gestão e desempenha o papel de liderança que influencia cotidianamente na formação docente. A gestão escolar determina a organização institucional, assim está ligada às normas e diretrizes externas e internas, bem como ações e procedimentos provenientes de uma racionalidade própria. Entendemos como racionalidade a forma de pensar dos sujeitos, implicando em ações que advêm a gestão escola. É papel do diretor possibilitar os encaminhamentos para o uso dos recursos disponíveis na escola, sejam humanos, materiais, financeiros e/ou intelectuais. Quanto à coordenação, compreendemos que esta seja um agente que desempenha uma função de acompanhamento do trabalho das pessoas e de formador da equipe docente. Para um melhor entendimento desses aspectos recorremos a Zabalza (2004, p.92) quando ele afirma que “A liderança resulta sempre da união entre o poder e a autoridade e, na maior parte das vezes, da capacidade de influenciar o desenrolar dos acontecimentos na organização”. As ideias do referido autor se assemelham com o pensamento de Libâneo (2006, p.293) quando este afirma que “coordenação e acompanhamento compreendem as ações e os procedimentos destinados a reunir, a articular e a integrar as atividades das pessoas que atuam na escola, para alcançar objetivos comuns”. 208 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO Portanto, coordenar significa assumir perante o grupo a responsabilidade de fazer a escola funcionar por meio de um trabalho conjunto. Para tanto, se faz necessário que os coordenadores reflitam sobre sua prática. Assim, a prática reflexiva (SCHÖN, 1997) da coordenadora pedagógica permite aos professores um avanço no processo de transformação na ação docente, tornando-os sujeitos críticos e participativos. Podemos compreender os fatos ocorridos no decorrer da pesquisa nos remetendo novamente a Zabalza (2004) quando ele se refere à aprendizagem institucional. Conforme esse autor, o “aprender” nesse momento não se reduz à mera adaptação às circunstâncias, mas quando o grupo reconhece seus problemas iniciais, e em seguida decide intervir, gerando mudanças no cotidiano e a partir daí, vão-se “consolidando novas práticas”, ou seja, há transformação na identidade e cultura escolar. Isso implica em mudanças que respondem via gestão institucional por meio da consciência dos valores e significados que estão implícitos na prática docente e na instituição. Os aportes teóricos de Pimenta e Lima (2011) se assemelham com as ideias de Libâneo (2006) e Zabalza (2004) quando afirmam que o principal objetivo da coordenação pedagógica se constitui por meio da relação entre elementos da prática educativa, isto é, entre o educando, o educador, o saber e os contextos em que ocorre essa interação. Assim a “aprendizagem institucional” (ZABALZA, 2004) refere-se ao desaprender, desconstruir se despindo de conceitos rígidos próprios da racionalidade técnica e a transformação para um novo paradigma que contemple a intersubjetidade, a interação, o diálogo e a leitura de mundo dos sujeitos (FREIRE, 1999). Portanto, o coordenador pedagógico exerce o papel de catalizador porque faz a articulação com os professores, alunos, pais, funcionários, enfim, com a comunidade escolar, procurando incluí-los no processo de organização pedagógica, didática e curricular da escola. O Projeto Político-Pedagógico (PPP) representa isso, já que é o instrumento norteador das ações da escola na busca de uma aprendizagem de qualidade. Segundo Vieira e Albuquerque (2001), o PPP pode ser visto como um instrumento de ajuste, no sentido da “aprendizagem institucional”. Para (ZABALZA, 2004) isso é delineado pelo processo de avaliação da escola que foi constituído pela nova cultura escolar face às mudanças por meio da nova forma de pensar e de agir da coordenação pedagógica e dos docentes. Isso implicou na elaboração de um documento, o PPP, o qual representou a forma de pensar a educação como um espaço de construção coletiva que objetiva a socialização do conhecimento e da aprendizagem. Entendemos que seja necessário que a coordenação escolar articule o trabalho educativo para as finalidades sociais e políticas almejadas pelo grupo de educadores e o diretor proporcione um espaço democrático em que todos possam expressar suas opiniões a fim de que as mudanças de que falamos de fato ocorram na escola. Reflexões acerca da formação de professores: contribuições da gestão Para formar professores críticos e autônomos, a gestão precisa levar em consideração a pluralidade de saberes. Dentre estes saberes está o que Tardif (2002) chama de “saber ensinar”, levando em consideração os pedagógicos e da experiência do docente. Quando o grupo discute 209 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC acerca das próprias práticas, surgem conflitos de ideias que levaram a uma analise coletiva e tomada de decisões democráticas. Dessa forma o grupo pode trilhar pela emancipação e a autonomia do próprio trabalho valendo-se dos saberes e dos conhecimentos adquiridos em sua trajetória de vida. Partindo dessa concepção Pimenta e Lima (2011, p.77) acreditam que “na formação de professor é preciso enfocar que sua aprendizagem de ensinar será boa se esta se basear em seu aprender a profissão, na construção de sua identidade, na valorização social de sua profissão e na formação contínua”. Formação esta que contribuirá para uma construção de saberes mais sólidos, permitindo ultrapassar os muros da mera reprodução das informações e dos conhecimentos produzidos por outros, sem, contudo, deixar de considerar as opiniões dos sujeitos. Cabe a gestão escolar proporcionar essa formação continuada, pois isso fortalecerá a formação inicial dos mesmo, além de gerar um ambiente favorável a mobilização de motivos, certezas, modelos, argumentos dos próprios saberes individuais. É preciso que se estabeleça um elo entre professores e a coordenação pedagógica formando um processo de reflexão e de compreensão voltado para a realidade da sala de aula. Assim a autonomia e a emancipação do grupo passam a fazer parte da concepção de ensino docente, bem como da gestão que assume uma forma participativa de administrar. Isso implica que tanto o coordenador pedagógico como o professor acionam saberes e conhecimentos adquiridos em sua trajetória para tomar decisões, argumentar e mediar o seu trabalho, o que vai interferir diretamente na sua prática. Os impactos das práticas docentes se revelaram em ações reflexivas (SCHÖN 1997), assim, se dará uma formação, cujos sujeitos envolvidos dividem responsabilidades e pensam no bem coletivo, construindo consensos. A prática do diálogo rompe com o descompromisso, egoísmo e isolamento dos sujeitos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Podemos perceber a importância da participação dos indivíduos e de formação que propicie a construção de profissionais críticos e reflexivos, capazes de controlar o próprio trabalho, quando os sujeitos passam a sentirem-se autores e responsáveis pelos resultados de suas ações, construindo, portanto, a emancipação e a autonomia. Acreditamos que a formação docente pressupõe um processo contínuo de aprendizagens, e não uma forma fragmentada e desarticulada entre teoria e prática. Assim, salientamos que é preciso uma formação que contemple a dimensão pessoal e profissional, ou seja, contribui significativamente no trabalho da escola e na efetivação das propostas pelos gestores e professores. Quando a escola assume uma postura democrática passa a cultivar a prática do diálogo. Com isso, os assuntos passaram a ser debatidos, analisados e negociados a partir da multiplicidade de pensamentos, colocando-se na mesa os dissensos, que muitas vezes transformavam-se em consensos. Isso favorece a formação de profissionais mais comprometidos com seu papel de educador, seja numa função administrativa ou de sala de aula. 210 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO REFERÊNCIAS FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. LIBÂNEO, Carlos José, OLIVEIRA, João Ferreira, TOSCHI, Mirza Seabra. Educação escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo, Cortez Editora, 2006. PIMENTA, S. G; LIMA, M. S. Estágio e Docência. 6. Ed. São Paulo: Cortez, 2011. TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. THERRIEN, Jacques. Os saberes da racionalidade pedagógica na sociedade contemporânea. Revista Educativa. Goiânia: UCG, V. 9, no 1, 2006, p.67-81. SCHÖN, D. Formar professores como profissionais reflexivos. In: NÓVOA (org.). Os professores e sua formação. Lisboa. Dom Quixote. 1997. ______; LOIOLA, F.A Considerações em torno da relação entre autonomia, saber de experiência e competência docente no contexto da ética profissional. Trabalho completo. XVI EPENN. Aracaju, Se. CD-Rom. 2003. VIEIRA, S. L.; ALBUQUERQUE, M.G. Política e Planejamento Educacional. Fortaleza. Edições Demócrito Rocha, 2001 ZABALZA, Miguel A. O ensino universitário : seu cenário e seus protagonistas. Trad.Ernani Rosa. Porto Alegre : Artmed, 2004. 211 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC LEITURA DE IMAGENS: UMA POSSIBILIDADE NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES Elcimar Simão Martins113 RESUMO A arte literária é considerada uma ferramenta para o favorecimento da troca de experiências, de reflexão, da liberdade criativa e de comunicação entre os professores. Nesse contexto, a formação docente não é apenas um espaço de aquisição de técnica e conhecimentos, mas, sobretudo, é o momento da socialização e da configuração profissional. Este trabalho trata de uma pesquisa ação realizada com professores de uma rede municipal de ensino, no Ceará, e teve como questão principal: em que medida o texto literário é capaz de mediar o diálogo de professores acerca de sua profissão? Utilizamos a leitura de livros imagéticos que mediaram a discussão acerca de diversas questões enfrentadas pelos educadores em seu trabalho pedagógico. Este trabalho objetiva, portanto, investigar a capacidade do texto imagético de mediar o diálogo de professores acerca de sua profissão. Foram utilizados como aportes teóricos os estudos de Araújo (2001), Manguel (2001), Freire (1989), Barthes (1997), Lajolo (1994), Imbernón (2010), Nóvoa (1995), Pimenta (2009), dentre outros. A investigação evidencia uma grande inquietação dos professores relacionada à transposição didática, ou seja, à articulação entre a teoria estudada nos encontros de formação e o desenvolvimento de práticas de leitura no contexto da sala de aula. O estudo considera, ainda, que a leitura de livros imagéticos na formação de professores mostra-se viável, pois favorece o enriquecimento cultural dos docentes e assinala a necessidade de se perceber a arte literária como mediação do diálogo, proporcionando uma participação crítica e um posicionamento reflexivo frente à realidade da sociedade atual. PALAVRAS-CHAVE: Arte Literária. Leitura. Diálogo. Formação de Professores. INTRODUÇÃO As três últimas décadas são marcadas mundialmente pelo movimento de valorização da formação e da profissionalização de professor. A formação docente não é apenas um espaço de aquisição de técnica e conhecimentos, mas, sobretudo, é o momento da socialização e da configuração profissional. Nesse sentido, é importante que o professor atue como mediador da sua formação a partir das trocas de experiências com os pares, refletindo as práticas e a (re)construção permanente de sua própria identidade docente. A leitura é um dos pontos cruciais da prática pedagógica dos docentes e, portanto, fundamental nas investigações de formação de professores. Assim, torna-se necessária a apreensão de que uma das funções importantes da leitura, entre outras, é intermediar a aprendizagem. Este estudo é resultado de nosso trabalho como formador de professores dos anos finais do ensino fundamental. A convivência com os professores em processo de formação provocaram algumas indagações entre as quais destacamos: Como os professores compreendem, articulam e desenvolvem práticas de leitura na dinâmica da sala de aula? Em que medida o texto literário é 113 Doutorando em Educação (UFC). Bolsista FUNCAP. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Formação do Educador (GEPEFE-UECE). 212 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO capaz de mediar o diálogo de professores acerca de sua profissão? Quais os desafios e limites de utilizar o livro imagético como instrumento de formação? Este trabalho tem como objetivo principal investigar a capacidade do texto imagético de mediar o diálogo de professores acerca de sua profissão. Em virtude da complexidade do objeto de estudo, optamos pela pesquisa qualitativa, buscando compreender os fenômenos a partir dos próprios sujeitos envolvidos na pesquisa. Assim, trabalhamos com a pesquisa ação e desenvolvemos uma cultura de análise das práticas em conjunto com os docentes (BOGDAN & BIKLEN, 1994). OBJETIVO GERAL Investigar a capacidade do texto imagético de mediar o diálogo de professores acerca de sua profissão. METODOLOGIA Na dinâmica do processo de formação continuada, participamos de uma pesquisa ação, quando desenvolvemos uma oficina com professores dos anos finais do ensino fundamental de uma rede municipal de ensino. Na oportunidade, trabalhamos com a leitura de livros imagéticos. Para este artigo, relataremos as leituras do livro Catarina e Josefina, de Eva Furnari. Escaneamos o livro Catarina e Josefina e o apresentamos aos professores utilizando um projetor de mídia. A atividade é iniciada com uma predição do título da obra Catarina e Josefina. O mediador pergunta: “Vocês conhecem alguma pessoa chamada Catarina?”. Prontamente, uma das professoras responde: “Conheço”. Logo, o mediador pergunta: ‘Como é, Niza114, a Catarina que você conhece?”. A professora relata e, em seguida, o mediador pergunta: “Alguém conhece alguma Josefina? Josefa?”. Logo, Susana responde. O mediador agradece e pergunta a outra professora: “Meire, como que você imagina Catarina e Josefina? O que nós vamos encontrar? Você já leu esse livro?” A professora responde: “Não. Eu acho que devem ser pessoas que residam no campo, pode ser [...] Eu observei a gravura e dá a impressão de ser do campo, como uma coisa do campo” (Meire). Com a atividade de predição, as professoras a partir de suas vivências pessoais, começaram a envolver-se com a temática da obra, ou seja, anteciparam possíveis fatos que poderiam ser encontrados na narrativa. Dando continuidade, o mediador explicou que se tratava de um livro de imagens e que possivelmente cada leitor teria uma interpretação diferente. Pediu que prestassem atenção e fizessem uma atenta leitura. Ao passar as páginas, rapidamente Meire falou: “É aquilo que eu falei. Catarina trabalha no campo. Aí agora lá vem a Josefina”. Outra professora perguntou: “A gente já pode ir dizendo?”. O mediador pediu que nesse primeiro momento cada um fizesse uma leitura silenciosa. Percebemos que a arte literária encanta não apenas aos leitores mirins. As professoras, já adultas, envolveram-se com o prazer que a literatura proporciona e não atentaram para o comando 114 Os nomes das professoras foram substituídos por pseudônimos. 213 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC dado pelo mediador. Assim, as leitoras à medida que as imagens apareciam na tela já faziam sua interpretação oral. As páginas foram sendo passadas e observamos que as professoras estavam atentas às imagens apresentadas. Em seguida, o mediador pediu que as educadoras escrevessem, em duplas, as compreensões que tiveram de Catarina e Josefina. Essa tarefa foi muito bem acolhida pelas docentes. Posteriormente, as professoras fizeram as leituras de suas produções. Algumas enfatizavam a questão da inveja que Josefina sentia de Catarina, outras a aproximação que se transformava em amizade ou que é preciso fazer o bem, independente das circunstâncias. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Toda leitura evoca outras experiências de leitura, propiciando o desenvolvimento da capacidade criativa e um melhor desempenho não apenas na escola, mas na vida, haja vista que o aluno leitor experimenta novas ideias, desenvolve o raciocínio lógico, a capacidade de argumentação além de ampliar o conhecimento de sua cultura e da de outros povos. O interessante foi perceber que cada texto construído pelas professoras tinha suas particularidades, seu estilo. A partir disso, foi lançado um desafio: relacionar a leitura de Catarina e Josefina ao trabalho desenvolvido pelas educadoras em suas escolas. Vejamos o que pensam as educadoras: Assim, de Josefina tem muitas, mas também tem Catarinas. Mas no trabalho pedagógico, da escola, a gente sabe que tem aquelas meninas que são uma pedra no sapato [...] Eu sempre procuro fazer as coisas de maneira correta, saber onde estou pisando, pra pisar com firmeza e procuro sempre dialogar [...] E a gente procura dialogar e conversar e a pessoa às vezes está disposta a ouvir ou não, às vezes aceita, às vezes não aceita, mas a gente vai tentando, vai remando (Niza). É comum assim, a gente sabe que a parábola da Josefina existe muito no dia-a-dia, na escola, principalmente. Mas isso é importante pra gente se elevar. É bom essa história da Catarina, que é essa questão de ser invejosa, mas de forma criativa[...]. Eu tava até vendo ontem uma passagem que dizia assim: “o que não faz a diferença é que muitos copiam o que os outros fazem”. Que copiem, mas que copiem com criatividade, que dêem uma moldura diferente ao negócio e se é bom, que continuem copiando. E às vezes a gente sabe que tem aquele compromisso, tem aquela responsabilidade, mas é bom de vez em quando ter alguém pra questionar a gente, que a gente já sabe que tem que entrar naquela linha mesmo, que não pode fraquejar um pouquinho, que a gente está sempre sendo policiada mesmo, de forma direta ou indireta, e é aí onde a gente deve sempre ficar atenta, e isso é bom pra ficar fazendo o nosso trabalho direitinho (Meire). Eu acho que de vez em quando a gente fica torcendo pra que seja tudo perfeito e nós vamos nos angustiar sempre, que a gente fica nessa espera que nunca vai ser. Eu acho que a individualidade de cada um, a diferença de cada um só traz vantagens ao trabalho enquanto escola porque se eu tenho professores e funcionários que dizem amém, tudo bem em tudo, aí é que eu preciso me preocupar porque tá errado, não tá bem, não pode estar tudo ok e essas pedrinhas no sapato servem pra gente ficar sempre alertas pra como vai ficar, pra não se machucar, pra não machucar, mas também não deixar de fazer isso porque vai ferir alguém, vai machucar alguém, claro que eu não posso ser desumano, mas não vou me descompromissar porque tenho medo[...] (Lia). 214 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO No cotidiano escolar, muitos são os desafios que o docente enfrenta, exigindo uma nova identidade profissional para conviver com o diferente. Assim, sem uma adequada formação de professores, não há ensino de qualidade (NÓVOA, 1995). O professor reflexivo preocupado com o bom desenvolvimento de sua prática precisa de uma comunhão de saberes, de experiência e de reflexão que o oriente nas tomadas de decisão em classe. Vejamos mais excertos que trazem a relação da leitura de Catarina e Josefina com o trabalho docente: Eu vi que a gente tem que fazer o seguinte, o melhor remédio pra gente é seguir em frente[...] Quem quiser se incomodar que se incomode; o que disserem de você não vai mudar, você tem que preservar... Você tem que levantar a sua cabeça e seguir em frente. Porque o que fica é o profissional da gente, o que realmente conta é o profissional, quem realmente é você (Eva) Existem sim as Catarinas[...] A gente vê alguns professores disputando[...] A gente escuta de vez em quando, quando a gente vai discutir algumas questões com o professor e ele: “não, eu já sei, eu já sei” e na verdade nem fez e nem sabe. Mas é bom que tenha gente desse jeito, que faça a gente ser uma pedagoga muito preparada, ter sempre as respostas, que sempre pede reforço... E que isso faça crescer. Lógico que tem a questão da inveja, do individualismo... Mas tem também a questão da hombridade. Eu tenho muito cuidado nas minhas palavras quando me dirijo a uma pessoa e se eu achar que uma palavra não foi conveniente eu peço desculpas (Susana). É interessante verificar que a leitura do livro Catarina e Josefina aflorou vários sentimentos que as educadoras guardavam. As imagens oportunizaram às professoras uma imersão em sua vida profissional e elas compartilharam sentimentos e reflexões sobre seu trabalho, sobre sua vida. Os excertos evidenciam, em grande medida, que nem sempre há nas escolas o respeito entre os pares. A competição faz com que a inveja aflore e prejudique o bom relacionamento entre os profissionais, conforme detalha uma das professoras: Tem também uma coisa que a gente precisa entender: uma das piores características da globalização é a competição. Então a gente vê a competição o tempo todo[...] Eu vejo muito isso, que as pessoas estão competindo e se destruindo, elas estão ficando profundamente sós porque a competição vira fuxico, vira puxação de tapete, puxação de saco e vem o que há de pior das pessoas, tira toda a sua autoestima. O próprio fato de você fazer um pouco mais, de você estar fazendo o seu trabalho bem feito, só o fato de você existir e existir bem, ser reconhecido como profissional, já agride alguém (Susana). Cabe ao docente ser sujeito de sua formação e estar apto a atender aos mais diversos públicos, respeitando e acolhendo as diferenças, não apenas de seus pares, mas, sobretudo, dos estudantes. Também não precisamos ficar desconfiados de tudo ou de todos. Às vezes uma ação inesperada de outro serve para que analisemos a maneira como estamos conduzindo as nossas atividades. Por outro lado, as professoras também ressaltam a importância de ser um bom profissional, de estar preparado para atender às demandas do cotidiano. Há aqueles estudantes que requerem maior atenção por parte do professor, seja porque tem dificuldade em compreender determinada matéria ou porque fazem de tudo simplesmente para chamar a atenção. 215 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC O diálogo se mostra como fundamental para a resolução de questões próprias da sala de aula ou da escola. É preciso fazer um exercício de escutar o outro e buscar – muitas vezes de maneira imediata – uma resposta para aquele determinado problema. O educador, segundo alguns relatos, não deve ter medo de enfrentar determinadas situações. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nas práticas de formação, é interessante que se utilizem técnicas participativas para que estas gerem um processo de ensino-aprendizagem libertador, de natureza coletiva, permeado pela discussão e pela reflexão, possibilitando a ampliação do conhecimento individual e coletivo. O trabalho com a arte literária favoreceu a troca de experiências entre os professores, desvelando várias possibilidades de compreensão do texto lido, bem como os deixando livres para manifestarem suas opiniões, o que configurou um momento de socialização profissional. A pesquisa evidencia que os professores sentiram-se motivados pela leitura de livros imagéticos, relacionando-a com sua vida, com seu trabalho. A leitura aguçou a curiosidade dos docentes e oportunizou uma imersão em seu eu interior, levando-os a exteriorizarem suas reflexões, seus sentimentos, seus anseios. O encantamento que os docentes mostraram pela arte literária não deve ficar apenas com eles ou restrito aos momentos de formação. Pelo contrário, deve chegar às salas de aula para que os estudantes desfrutem da magia que a literatura proporciona. Para tanto, a criatividade precisa ser aguçada, por meio de atividades que despertem no docente e no estudante o gosto pela leitura. REFERÊNCIAS ARAÚJO, M. A. L. Os sentidos da arte: coexistência entre arte e educação. Cadernos de Educação, Feira de Santana, v. 1, n. 4, 2001. BARTHES, Roland. Aula. São Paulo: Cultrix, 1997. BOGDAN R. & BIKLEN, S. Investigação Qualitativa em Educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Portugal: Porto Editora, 1994. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Autores Associados, 1989. FURNARI, Eva. Catarina e Josefina. Belo Horizonte: Formato Editorial, 1990. GHEDIN, E; ALMEIDA, M. I; LEITE, Y. U. F. Formação de professores: caminhos e descaminhos da prática. Brasília: Liber Livro, 2008. LAJOLO, Marisa. O que é literatura. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1994. LIMA, M. S. L & SALES, J. O. C. B. Aprendiz da prática docente: a didática no exercício do magistério. Fortaleza: EdUECE, Demócrito Rocha, 2003. MANGUEL, Alberto. Lendo imagens: uma história de amor e ódio. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. NÓVOA, Antonio. Os professores e sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1995. PIMENTA, S. G; LIMA, M. S. L. Estágio e docência. São Paulo: Cortez, 2009. 216 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO O ESTÁGIO SUPERVISIONADO COMO PAPEL FUNDAMENTAL NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES. Edvar Ferreira Basílio115 Marilha da Silva Bastos116 RESUMO Sendo o estágio supervisionado uma atividade prática onde reflete toda a teoria estudada e pesquisada, torna-se essencial apresentar a sua grande relevância nos currículos dos cursos de formação de professores, pois é a partir dessa prática que há uma formação integral dos alunos. O presente estudo tem como objetivos: analisar o conceito de estágio a partir de autores estudados e pesquisados, verificar como a disciplina de estágio vem sendo trabalhada no currículo do curso de Pedagogia e observar o papel que o estágio supervisionado vem desempenhando nos cursos de formação de professores. A pesquisa foi realizada através de um estudo de caso onde as informações necessárias foram obtidas através de pesquisas bibliográfica e de campo. Na pesquisa bibliográfica, foram feitos pesquisas e estudos a partir dos autores: Barreiro, Lima, Pimenta, entre outros. Por meio da pesquisa de campo, foi utilizado como instrumento de investigação a aplicação de questionários com dez alunos já formados do curso de Pedagogia de uma Universidade pública do Ceará. O objetivo da disciplina de estágio supervisionado no currículo do curso de Pedagogia é proporcionar ao aluno a oportunidade de aplicar seus conhecimentos acadêmicos em situações da prática, criando a possibilidade do exercício de suas habilidades. O estágio supervisionado é uma disciplina insubstituível nos currículos dos cursos de formação de professores. É a partir dela que os alunos vão adquirir um melhor conhecimento e experiência profissional da área que futuramente irão atuar. PALAVRAS-CHAVE: Estágio supervisionado. Currículo. Formação de professores. INTRODUÇÃO Sendo o estágio supervisionado uma atividade prática onde reflete toda a teoria estudada e pesquisada, torna-se essencial apresentar a sua grande relevância nos currículos dos cursos de formação de professores, pois é a partir dessa prática que há uma formação integral dos alunos. O estágio é a prática onde o futuro professor terá o seu primeiro contato com o seu futuro campo de atuação. A partir disso, ele pode ser considerado como o meio em que acontece um elo entre o conhecimento construído e a experiência real que os discentes terão em sala de aula quando profissionais. De acordo com Pimenta e Lima (2012), o estágio como campo de conhecimentos e eixo curricular central nos cursos de formação de professores possibilita que sejam trabalhados aspectos indispensáveis à construção da identidade, dos saberes e das posturas específicas ao exercício profissional, ou seja, aspectos da formação docente como um todo. 115 116 Especialista em Geografia: Educação ambiental- UECE e-mail: [email protected] Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Ceará –UFC e-mail: [email protected] 217 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC OBJETIVOS O presente estudo tem como objetivos: Analisar o conceito de estágio a partir de autores estudados e pesquisados; Verificar como a disciplina de estágio vem sendo trabalhada no currículo do curso de Pedagogia; Observar o papel que o estágio supervisionado vem desempenhando nos cursos de formação de professores. METODOLOGIA A pesquisa foi realizada através de um estudo de caso onde as informações necessárias foram obtidas através de pesquisas bibliográfica e de campo. No que se refere à pesquisa bibliográfica, foram feitos pesquisas e estudos a partir dos autores: Barreiro, Lima, Pimenta, entre outros. Por meio da pesquisa de campo, foi utilizado como instrumento de investigação a aplicação de questionários com dez alunos já formados do curso de Pedagogia de uma Universidade pública do Ceará. A análise e a interpretação dos resultados foram feitas de acordo com os objetivos pretendidos na pesquisa. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Segundo Bianchi et al. (2005), o Estágio Supervisionado é uma experiência em que o aluno mostra sua criatividade, independência e caráter. Essa etapa lhe proporciona uma oportunidade para perceber se a escolha profissional corresponde com sua aptidão técnica. De acordo com Oliveira e Cunha (2006), o estágio supervisionado é uma atividade que propicia ao aluno adquirir a experiência profissional que é relativamente importante para a sua inserção no mercado de trabalho. Nas pesquisas e entrevistas realizadas vimos que: a disciplina de estágio é uma disciplina e ao mesmo tempo atividade obrigatória que deve ser realizada pelos alunos de cursos de graduação em licenciatura. A mesma está inserida nos currículos já nos últimos semestres, com o intuito de o aluno obter a prática da sua profissão já na finalização do curso. De acordo com as ementas da disciplina, nos primeiros encontros da disciplina de estágio supervisionado, são realizados estudos teóricos onde definem o que é o estágio e qual o seu sentido e significado. Mais adiante é que os alunos vão para a prática do estágio, cumprindo toda a carga horária exigida no currículo do curso. O objetivo da disciplina de estágio supervisionado no currículo do curso de Pedagogia é proporcionar ao aluno a oportunidade de aplicar seus conhecimentos acadêmicos em situações da prática, criando a possibilidade do exercício de suas habilidades . Podemos observar que o estágio supervisionado vem desempenhando um papel fundamental nos cursos de formação de professores em geral, pois ele realiza-se como um ensaio 218 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO de sua futura prática profissional. Para Mafuani (2011), o estágio supervisionado baseia-se em um treinamento que possibilita aos estudantes vivenciarem o que aprenderam durante a graduação. Durante o estágio, por meio da observação, da participação e da regência, o aluno poderá construir futuras ações pedagógicas, por isso ele é considerado um preparo para uma prática docente de qualidade. De acordo com os alunos que responderam os questionários, quando termina a disciplina (prática) de estágio supervisionado, eles sentem-se um pouco mais seguros para enfrentarem o campo de trabalho, para realizarem suas atividades, pois é a partir dessa prática do estágio que eles conhecem a realidade do que vão encontrar em sua futura área de atuação. CONSIDERAÇÕES FINAIS O estágio supervisionado é uma disciplina insubstituível nos currículos dos cursos de formação de professores. É a partir dela que os alunos vão adquirir um melhor conhecimento e experiência profissional da área que futuramente irão atuar. É de grande importância o estágio supervisionado para a aquisição da prática profissional, pois durante esse período o aluno pode colocar em prática todos os conhecimentos teóricos que adquiriu durante a graduação. O estágio supervisionado é visto como uma oportunidade de crescimento profissional, tendo em vista que: quanto maior a experiência do profissional, melhor será desenvolvido o seu trabalho. O aluno que passa por uma completa e boa prática de estágio supervisionado, tem a sua formação bem mais rica e uma prática eficiente. REFERÊNCIAS BARREIRO, Iraíde Marques de Freitas; GEBRAN, Raimunda Abou. Prática de ensino e Estágio Supervisionado na formação de professores. São Paulo: Editora Avercamp, 2012. BIANCH, A. C. M; et al. Orientações para o estágio em licenciatura. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. MAFUANI, F. Estágio e sua importância para a formação do universitário. Instituto de Ensino Superior de Bauru. 2011. Disponível em: http: //www. iesbpreve.com.br/base.asp? pagnoticiaintegra. asp e IDN Notícia- 1259. Acesso em: 10 mai. 2013. OLIVEIRA, E. S. G; CUNHA, V. L. O estágio supervisionado na formação continuada docente à distância: desafios a vencer e construção de novas subjetividades. Revista de Educación a distancia. Ano V, n. 14, 2006. Disponível em http: //WWW.um.es/ead/red/14/. Acesso em 11 mai. 2013. PICONEZ, Stela C. B. A prática de ensino e o estágio supervisionado. Campinas, SP: Papirus, 2012. PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e docência. São Paulo: Cortez, 2012- ( Coleção Docência em formação- Série saberes pedagógicos). 219 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC CONCEPÇÃO DE LICENCIANDOS EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DA FACED-UECE ACERCA DA INTERDISCIPLINARIDADE EM SUA FORMAÇÃO INICIAL. José Ivo Pereira Júnior117 Maria Elismar da Silva Sousa118 RESUMO O presente trabalho apresenta a CONCEPÇÃO DE LICENCIANDOS EM CIENCIAS BIOLÓGICAS DA FACEDI-UECE ACERCA DA INTERDISCIPLINARIDADE EM SUA FORMAÇÃO INICIAL. O mesmo tem o objetivo de compreender e analisar a concepção desses licenciandos acerca da interdisciplinaridade. O presente trabalho foi realizado através de pesquisa qualitativa com alunos do curso de Ciências Biológicas, foram selecionados aleatoriamente dez licenciandos do curso de ciências biológicas da FACEDI-UECE. Os sujeitos da pesquisa responderam a um questionário composto com quatro perguntas abertas. Os resultados obtidos com a análise das similaridades das respostas indicaram que a interdisciplinaridade é muito importante para na formação inicial de professores, pois leva o mesmo a compreender e futuramente trabalhar a mesma em sala de aula. Concluímos que o assunto abordado na pesquisa deve ter maior atenção nos cursos de licenciatura, isso devido sua complexidade e amplitude no que diz respeito as práticas educacionais onde a mesma deve ser tratada com maior rigor no âmbito de ensino, pois os licenciandos necessitam desse contato com a interdisciplinaridade, uma vez que a mesma faz com que estes saiam da faculdade preparados para trabalhar diversas disciplinas interligadas a da sua área de formação atingindo o que é tanto cobrado no regimento educacional da escola. INTRODUÇÃO Na atualidade um dos assuntos que tem grandes discussões é sobre a interdisciplinaridade. Assim, pode-se dizer que a interdisciplinaridade é a interligação entre diversas áreas do conhecimento. Embora esse assunto seja muito discutido, é notório que muitos profissionais sentem a necessidade de um melhor esclarecimento, para que os mesmos sintam-se capazes de trabalhar em sala de aula a interdisciplinaridade. A utilização da interdisciplinaridade em sala de aula pode possibilitar o aluno a ter uma visão mais ampla do mundo ao seu redor e também identificar eixos de ligação entre diversas áreas/disciplinas, como por exemplo, Biologia e Matemática, ou Química e Português. Tanto que segundo (Thiesen, 2008) “A discussão sobre a temática da interdisciplinaridade tem sido tratada por dois grandes enfoques: o epistemológico e o pedagógico, ambos abarcando conceitos diversos e muitas vezes complementares. No campo da epistemologia, toma-se como categorias para seu estudo o conhecimento em seus aspectos de produção, reconstrução e socialização; a ciência e seus paradigmas; e o método como mediação entre o sujeito e a realidade”. 117 118 Graduando em Ciências Biológicas(FACEDI-UECE). [email protected] Graduanda em Ciências Biológicas(FACEDI-UECE). [email protected] 220 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO OBJETIVOS GERAIS O trabalho tem os seguintes objetivos: Analisar a concepção dos alunos que cursam o semestre vigente no período 2013.1 do curso de ciências biológicas da FACEDI- UECE acerca da interdisciplinaridade em sua formação inicial; Identificar se os alunos do curso de ciências biológicas da FACEDI – UECE entendem o assunto interdisciplinaridade; Analisar a importância da interdisciplinaridade em sua formação inicial e seu uso em sala de aula dentro da instituição que estudam e Verificar se estes alunos se sentem aptos a trabalhar a interdisciplinaridade em sala de aula seu futuro campo de atuação. METODOLOGIA A presente pesquisa baseou-se em uma abordagem qualitativa, onde foi aplicado um questionário estruturado com quatro questões abertas para dez licenciandos do semestre vigente 2013.1. Metodologia esta que segundo Cervo e Bervian (1983), o questionário é a forma mais usada para coletar dados, pois possibilita medir com melhor exatidão o que se deseja. Para a realização desse trabalho, apenas cinco dos dez licenciandos que receberam o questionário responderam e nos entregaram para análise. E estes mesmo são alunos do curso de ciências biológicas da FACEDI - UECE. Então para se obter os resultados, analisamos as similaridades entre as respostas dos sujeitos da pesquisa. Ressaltando que os sujeitos dessa pesquisa foram escolhidos aleatoriamente, obedecendo a regra de abranger um ou dois alunos de cada semestre vigente em 2013.1. Isso com o intuito de a partir da análise destes dados, conseguirmos compreender a concepção desses licenciandos sobre o que eles entendem e da importância da interdisciplinaridade em sua formação inicial. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Para analisar os dados, foi questionado o conhecimento dos licenciandos a respeito do tema em foco na pesquisa. E nas respostas desta questão verificou-se que todos tem um conhecimento prévio sobre o assunto. Todos do grupo amostral deste estudo concordam que sua formação inicial coloca em contato com a interdisciplinaridade e enfocaram que o assunto é de melhor compreensão quando o professor faz a interligação de várias disciplina e cada uma com sua particularidade influencia no aprendizado da outra. Desse modo percebemos a grande relevância de se trabalhar com esse assunto, visto que esses estão sendo formados para serem professores e cada dia é cobrado a interdisciplinaridade em sala de aula. Quando questionados acerca da importância da interdisciplinaridade em sala de aula, todos responderam que é importante, pois o assunto pode ser tratado com maior abrangência facilitando o processo de ensino-aprendizagem dos alunos. Na concepção de três sujeitos da pesquisa, mesmo com o conhecimento e com o contato com a interdisciplinaridade no seu processo de formação inicial, não estão aptos a trabalha-la em sala de aula. Significando assim que os demais enfocam a interdisciplinaridade como a aproximação dos mesmos com uma realidade mais ampla, auxiliando assim seus aprendizados na compreensão das complexas redes conceituais, possibilitando ao 221 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC mesmos um maior significado e sentido dos conteúdo aprendidos permitindo uma formação mais consistente e responsável destes. CONSIDERAÇÕES FINAIS Desse modo concluímos que o assunto abordado na pesquisa deve ter maior atenção nos cursos de licenciatura, isso devido sua complexidade e amplitude no que diz respeito as práticas educacionais onde a mesma deve ser tratada com maior rigor no âmbito de ensino, pois os licenciandos necessitam desse contato com a interdisciplinaridade, uma vez que a mesma faz com que estes saiam da faculdade preparados para trabalhar diversas disciplinas interligadas a da sua área de formação atingindo o que é tanto cobrado no regimento educacional da escola. Visando assim melhores resultados no ensino-aprendizagem de seus alunos. Enfim, muitas são as limitações relacionada ao assunto abordado na pesquisa e todo esses problemas iniciam desde a formação e em muitas vezes continuam durante o processo de ensino. Portanto a interdisciplinaridade é necessária e imprescindível para o ensino, visto que com a interdisciplinaridade os licenciandos poderão romper com algumas limitações das técnicas de ensino que influenciam na aprendizagem destes de forma negativa, não permitindo que estes visualizem as disciplinas como um todo, mantendo uma aprendizagem de forma fragmentada e descontextualizada com o meio que os cercam. REFERÊNCIAS CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia Científica: para uso dos estudantes universitários. 3. ed. São Paulo, McGraw-hill do Brasil, 1983. THIESEN, Juares da Silva. A interdisciplinaridade como um movimento articulador no processo ensino-aprendizagem. Revista Brasileira de Educação v. 13 n. 39 set./dez. 2008. 222 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO INICIAÇÃO A DOCÊNCIA EM UMA ESCOLA NO INTERIOR DO CEARÁ: EXPERIÊNCIAS DO PIBID-MATEMÁTICA-UVA Márcio Nascimento da Silva119 Suiane Virginia Pereira Loiola120 RESUMO Este artigo tem a finalidade de relatar as experiências adquiridas através das atividades desenvolvidas durante o semestre 2013.1 pelo PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência), subprojeto de Matemática, da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. Este programa propõe articular o estudante de licenciatura com a educação básica, promovendo a inserção do acadêmico na realidade das escolas públicas ainda no período da graduação. Neste texto são apresentadas algumas reflexões sobre as vivências em sala de aula em uma escola pública municipal da Região Norte do estado do Ceará. Através da análise das diversas situações ocorridas na turma, constata-se que o PIBID tem se apresentado como um elemento importante para a formação docente, uma vez que ele proporciona aos estudantes bolsistas – futuros professores – uma dimensão do exercício da profissão no contexto educacional atual. PALAVRAS-CHAVE: Docência. PIBID. Formação. Matemática. INTRODUÇÃO O PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência) propõe articular o estudante de licenciatura com a educação básica, promovendo a inserção do acadêmico na realidade das escolas públicas. O subprojeto de Matemática do PIBID da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA promove a realização de atividades em busca de uma melhor formação para os bolsistas participantes. Pienta (2006, p.106) afirma que “a iniciação docente é uma fase crítica em relação às experiências anteriores e aos reajustes a serem feitos em função da realidade do trabalho e do confronto inicial com a dura e complexa realidade do exercício da profissão”. Para que essa fase ocorra com uma menor dificuldade é importante que a prática em sala de aula ocorra ainda durante a graduação. 119 Mestre. Docente do Curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Estadual Vale do Acaraú e Coordenador de Área do PIBIDMatemática-UVA. Bolsista PIBID/CAPES. [email protected] 120 Graduanda. Discente do Curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Estadual Vale do Acaraú. Bolsista PIBID/CAPES. [email protected] 223 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC São várias as atividades realizadas pelos bolsistas deste subprojeto: seminários, observações em sala de aula, intervenções, elaboração e aplicação de projetos, formações, reuniões, dentre outros. Os trabalhos são direcionados pelo coordenador de área e os bolsistas são divididos em equipes que atuam em escolas parceiras, sob a supervisão de professores das próprias escolas. Durante o primeiro semestre de 2013 foram realizadas diversas atividades, tanto no âmbito escolar como no acadêmico, de grande importância e que certamente contribuíram para uma formação mais adequada dos estudantes bolsistas. São para atividades no âmbito escolar que os estudantes bolsistas usam a maior parte do tempo destinado ao projeto, em especial, o acompanhamento semanal em sala de aula. OBJETIVOS GERAIS Este trabalho tem a finalidade de fazer uma breve análise dos resultados obtidos através das observações e intervenções realizadas pelas bolsistas do PIBID do curso de Licenciatura em Matemática da UVA nas turmas de 9º ano, do turno matutino, da Escola Maria do Carmo Carneiro, Massapê – Ceará. As observações são realizadas com o intuito de verificar as dificuldades dos alunos em relação aos conteúdos estudados e a partir disto planejar as intervenções com base nesses conteúdos, a fim de contribuir para a melhoria da aprendizagem dos estudantes. Além disso, as observações e intervenções destinam-se também para contribuir na formação do aluno bolsista, uma vez que ele passa a vivenciar mais intensamente as situações em sala de aula, mantendo um contato mais próximo com a realidade, muitas vezes não vista em período apenas de estágio supervisionado. Esse contato obtido contribui na formação do professor pesquisador, como expõe Garrido e Brzezinski: A “pesquisa na prática” ou “reflexão sobre a reflexão na ação” em que os professores envolvidos ressignificam suas práticas e propõem novas estratégias de ação, torna o próprio processo de intervenção objeto de pesquisa. A natureza processual marca a investigação reflexiva. O professor-pesquisador, ao intervir, muda a realidade que estuda. E ele próprio também se modifica: passa a ter outra compreensão da situação. (GARRIDO e BRZEZINSKI, 2006, p.619) METODOLOGIA No primeiro semestre de 2013, o subgrupo de bolsistas do PIBID-Matemática-UVA desenvolveu seu trabalho na Escola de Ensino Fundamental Maria do Carmo Carneiro, localizada em Massapê – Ceará. Dentre as várias atividades, observações e intervenções foram realizadas nas salas de aula dos 9º ano “A” e 9º ano “B”, ambos manhã. Semanalmente, as bolsistas devem acompanhar as aulas ministradas por um determinado professor – observações – e auxiliar os alunos nas atividades e exercícios propostos, buscando tirar as dúvidas sobre o conteúdo estudado. Além disso, em alguns dias previamente combinados com o professor regente, as bolsistas devem assumir a aula – intervenções – como forma de iniciação a docência. 224 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO O primeiro contato com a escola em questão foi na turma do 9º ano “A” e ocorreu logo no primeiro dia letivo. Devido à falta de professor de matemática, houve a oportunidade de uma boa conversa com os alunos, expor os objetivos do PIBID, descrever as atividades que seriam realizadas com a turma, além de aplicar atividades diagnósticas com o Tangram. A falta de professor ainda perdurou por duas semanas, o que adiou o trabalho de observação a ser realizado. Assim que as aulas de matemática tiveram início, começou-se a fase de observações das aulas do professor regente. Os conteúdos ministrados por ele foram potenciação e introdução à estatística. Suas aulas seguiam sempre a mesma ordem: explicação com resolução de exemplos e exercícios para fixar o conteúdo estudado. Esse professor dominava o conteúdo e conseguia transmití-lo claramente para os alunos. Porém o mesmo havia assumido as aulas apenas temporariamente e mais uma vez as turmas do 9º ano ficaram sem professor de matemática. Outro professor assumiu as aulas de matemática das turmas em questão e o período de observação foi retomado. Os conteúdos de estatística e potências foram revistos e, posteriormente, passou-se a radiciação e equação do segundo grau. Percebeu-se uma certa semelhança entre as didáticas dos dois professores. Já com relação à turma, percebeu-se que alguns alunos apresentam dificuldades e demonstram ter carência em relação a conteúdos anteriores. Muitos perdem tempo copiando do quadro por não terem recebido o livro didático, que é insuficiente em quantidade e, além disso, não é o mesmo livro que o professor utiliza. Ainda, alguns apresentam desinteresse ou rotulam a matemática como complicada e por isso não se empenham em aprendê-la. No trabalho escolar é importante que o professor seja capaz de envolver os alunos em um leque de situações didáticas adequadas, isto é, situações que se colocam como problema e que, de algum modo, desafiam seus saberes anteriores, conduzindo a reflexão sobre novos significados e novos domínios de uso desses saberes. (MOREIRA, 2005, p.56) Diante desta situação, as intervenções foram planejadas com o objetivo de se minimizar as dificuldades enfrentadas e reforçar o conteúdo estudado. Procurou-se utilizar alguns métodos e recursos diferentes dos quais o professor regente utilizava. Para cada intervenção, um TD – trabalho dirigido – era elaborado e acompanhado de uma explicação resumida mas objetiva, além de exercícios para reforçar os conteúdos. A resolução individual e às vezes em grupos era bastante incentivada e as bolsistas estavam sempre dispostas a tirar as dúvidas enquanto os alunos praticavam as resoluções. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS As observações e intervenções são uma excelente forma das bolsistas adquirirem experiência e conhecer a realidade de sala de aula. Para as turmas nas quais o PIBID está presente, ter bolsistas presentes mostrou-se vantajoso, pois os alunos podem ter um acompanhamento melhor, o que não seria possível para o professor regente sozinho. Também ficou evidente que muitos alunos tem receio de tirar dúvidas com o professor e sentem-se mais seguros em pedir ajuda às bolsistas. 225 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Já para os estudantes bolsistas, as observações permitiram reconhecer as dificuldades enfrentadas pelos alunos e através das intervenções buscar desenvolver atividades que proporcionassem uma melhor compreensão dos assuntos estudados. Além disso, o fato das bolsistas planejarem as intervenções auxiliou na formação docente, aumentando sua bagagem de conhecimento e gerando experiência. Também é notório que a observação da figura do professor regente, de como ele se posiciona em determinadas situações no cotidiano de sala de aula e de como ele transmite seu conhecimento para os alunos contribui para a formação docente do estudante bolsista, pois “a função de ensinar, caracterizadora do profissional que somos, ou queríamos ser, na minha perspectiva, consiste, diferentemente, em fazer com que outros adquiram saber, aprendam e se apropriem de alguma coisa.” Roldão (2007, p.36) CONSIDERAÇÕES FINAIS Um dos grandes desafios do ensino da matemática é tornar a matéria mais acessível para os alunos que apresentam dificuldades. Para que isso aconteça o professor deve fazer o uso de técnicas inovadoras e/ou eficazes além de estar em formação permanente. Essas características são proporcionadas aos futuros professores através do PIBID. O curso de Licenciatura em Matemática da UVA já oferece disciplinas de Estágio Supervisionado, que ajudam a ter olhar crítico sobre a postura do professor, observando suas metodologias e sua prática em sala de aula. Porém, os que participam do PIBID podem refletir sobre essas questões ao mesmo tempo em que colocam em prática o que aprendem no decorrer da graduação; tem-se a possibilidade de manter contato com a realidade do ambiente escolar e de se desenvolver atividades que visam promover o ensino-aprendizagem. As demais atividades das quais os bolsistas do PIBID participam também são de grande importância para a formação docente. Elas proporcionam aos estudantes bolsitas, como futuros professores, uma maior dimensão do exercício da profissão no contexto educacional atual. REFERÊNCIAS GARRIDO, E.; BRZEZINSKI, I. A pesquisa na formação de professores. In: BARBOSA, R. L. L. (org). Formação de Educadores: artes e técnicas, ciências e políticas. São Paulo: Editora UNESP, 2006. p.619. MOREIRA, P. C.; DAVID. M. M. M. S. A Formação Matemática do Professor: Licenciatura e prática docente escolar. Belo Horizonte: Autêntica. 2005. p.56. PIENTA, Ana Cristina G. Aprendendo a ser professor: dilemas e dificuldades na construção da práxis pedagógica do professor iniciante. PUCPR, Curitiba, 2006. p.106. ROLDÃO, M. do C. Formar para a excelência profissional – pressupostos e rupturas nos níveis iniciais da docência. São Paulo: Educação e linguagem. 2007. p.36. 226 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA NO CURRÍCULO ESCOLAR: DESAFIOS E POSSIBILIDADES NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES A PARTIR DA LEI 10.639/03 Fernanda Lícia de Santana Barros121 Henrique Cunha Júnior122 RESUMO O texto propõe uma discussão e análise dos efeitos da Lei 10.639/03, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional-LDB e seus reflexos nos últimos dez anos, 2003-2013, com o intuito de discutir os dilemas enfrentados com a obrigatoriedade do ensino da cultura africana e afro-brasileira, como também os desafios e possibilidades que a implantação da lei trouxe no cenário educacional brasileiro e no currículo escolar, principalmente na formação continuada de professores. Da análise feita a partir da formação continuada de professores e obrigatoriedade da aplicabilidade da cultura africana e afro-brasileira, concluímos que existe muito a ser superado e que a base para uma aplicabilidade efetiva da lei no currículo escolar está na formação continuada de professores, para que os mesmos tenham elementos para intervir e contribuir na educação para as relações étnico-raciais de crianças, jovens e adultos para que estes se reconheçam sujeitos históricos, afirmando suas raízes e identidade. A formação de professores na temática das relações étnico-raciais ainda é uma lacuna histórica no cenário educacional brasileiro, havendo a necessidade de formações que fomente um ensino colaborativo para aplicabilidade e conhecimento da diversidade. Foi verificado que a formação continuada de agentes sociais e professores da rede pública de Fortaleza e Caucaia no curso de extensão Afro Arte Matemática, trouxeram grandes contribuições nas suas práticas-pedagógicas, aprendizado de leituras e linguagens da arte africana, das contribuições africana e afrodescendente no ensino da matemática, superando os desafios, ampliando as possibilidades de discussões e intervenções no campo da memória cultural afro-brasileira. Palavras-Chave: Cultura africana, afro-brasileira, formação continuada. INTRODUÇÃO Há dez anos a Lei n.º 9394/96 de Diretrizes a Bases da Educação Nacional – LDB, foi alterada pela Lei de nº 10.639/03, que estabelece o ensino da cultura africana e afro-brasileira nas escolas públicas e privada no país. Muitos desafios foram impostos aos professores que no seu processo formativo não tiveram disciplinas que contemplasse a referida temática, mesmo porque, uma série fatores contribuía para o desconhecimento da cultura africana, um desses desconhecimentos era justamente em ver um continente rico em diversidade como um país, 121 Mestranda em Educação Brasileira da Universidade Federal do Ceará – UFC – e-mail: [email protected] Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira na Universidade Federal do Ceará – UFC [email protected] 122 227 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC marcado por guerras, fome, doenças e sem civilização. O que para Cunha Júnior (2008), é uma estratégia para que não sejam destacadas as riquezas culturais e conhecimento existente no continente africano. Existe omissão da historiografia e esse fator é inegável, mas por outro lado, o preconceito e a ignorância fizeram e fazem com que um continente seja reduzido as ideias de como se fosse um país. Isso ocorre por quê? Essa é uma pergunta que gera muitas reflexões, pois sabemos que a mídia durante muito tempo reforçou essa visão distorcida sobre a África, fazer essa temática chegar os bancos escolares é um desafio no qual o professor terá que superar e rever seu papel enquanto profissional da educação, refazendo seu repertório de informação e formação . As dificuldades são as barreiras mentais e não o conhecimento em si. Não é, e nem será uma tarefa fácil superar com rapidez uma omissão histórica, mas a formação continuada de professores tem possibilitado grandes avanços para a aplicabilidade da cada vez mais da Lei de nº10. 639/03 e sua complementação Lei de nº11. 645/08. “As leis estabeleceram novas diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial a obrigatoriedade da temática” (MATHIAS, 2008, p. 108). Por esse motivo as formações continuadas se fazem necessária porque dez anos depois de sancionada a obrigatoriedade do ensino da cultura africana e afro-brasileira nos deparamos com visões desfocadas do continente africano, principalmente reforçado pela mídia e que infelizmente reflete na sala de aula e nos livros didáticos. O Egito, por exemplo, deve ser reconhecido como país pertencente do continente africano, ser ressaltado em sala de aula. Salientando suas diversidades culturais como parte da cultura africana. Egito, Núbia e Etiópia foram um conjunto cultural importante para a história africana e da humanidade. Esconderam que o Egito é africano, porque faz parte de uma ideologia reforçar que a África era um país sem civilização e cultura, ao invés de afirmar sua beleza e pioneirismo nas tecnologias e principalmente nos avanços na área da saúde. “A identidade negra, africana e afro-brasileira, se fortifica, se tonifica, é vista e revista na África, a partir e através da Lei 10.639/03” (FONSECA, 2011. p. 56). É coma intenção de trazer questionamentos e reflexões que neste texto estão sendo discutidos os desafios e possibilidades a partir da Lei de nº 10.639/03, que completa dez anos de sancionada, possibilitando uma nova visão de educação para as relações étnico-raciais, principalmente buscando por uma interpretação da história sob uma ótica plural, estabelecendo um diálogo que preza pela diversidade brasileira, como exemplo, ressaltando as contribuições dos povos africanos para a formação da população brasileira, destacando algumas iniciativas desenvolvidas no Ceará, no município de Fortaleza e Região Metropolitana com projetos que visam à formação continuada de professores, para que estes possam intervir na omissão histórica, elencando no currículo escolar práticas que visem a promoção da diversidade no ensino da cultura africana e afro-brasileira. OBJETIVOS GERAIS O objetivo geral é discutir a formação continuada de professores a partir da aplicabilidade de Lei 10.639.03, como também analisar os efeitos da alteração da Lei de Diretrizes a Bases da 228 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO Educação Nacional - LDB há dez anos com o sancionamento da lei para a aplicabilidade da cultura africana e afro-brasileira no currículo escolar. METODOLOGIA A pesquisa é qualitativa, bibliográfica e documental, analisando os desafios e possibilidades da obrigatoriedade da aplicabilidade da cultura africana e afro-brasileira no currículo escolar, como também na formação de professores a partir Lei 10.639/03, onde as discussões apresentadas visam propiciar uma analise e reflexão dos mecanismos que tem possibilitado a formação de professores para atuar no ensino da temática étnico-racial e sua trajetória nos últimos dez anos (2003-2013), período em que a lei foi sancionada alterando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional-LDB. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Essas iniciativas de formação continuada de professores foram realizadas em nível de extensão em um curso denominado Afro Arte Matemática, que contou com o apoio da Secretaria de Educação Continuada – SECAD, em que o curso tinha como um dos objetivos principais a formação continuada de professores de Fortaleza e do município de Caucaia. A educação permanente é uma necessidade, o que para Freire (2002), a educação é permanente na razão da necessidade do ser humano sempre saber mais. E sobre essa questão Freire também destaca que “ensinar exige o reconhecimento e a assunção da identidade cultural” (FREIRE, 2002. p. 41). Essas ações foi em cumprimento da determinação da obrigatoriedade da Lei 10.639, foi possível nesses trabalhos motivar e estimular novos conhecimentos e possibilidades de aplicabilidade da cultura africana e afro-brasileira, nas realizações de aulas práticas e teóricas, nas realizações de oficinas com professores com formação em relações étnico-raciais. Foi possível perceber a contribuição do referido curso para a aplicabilidade da afrodescendência nas escolas de Fortaleza e Caucaia e principalmente por fomentar um trabalho de aprendizado colaborativo que priorizou por dar ênfase aos conhecimentos não explorado pelo segmento formal de educação o que tornou a iniciativa de grande importância e relevância. O principal ponto de partida foi fazer os professores repensar seu papel enquanto educador e investir na sua prática pedagógica e curricular. O que para Candau (2002), a inclusão da temática na formação de professores é uma necessidade e promoção do tema no espaço escolar é uma tarefa de todos. “A inclusão do tema pluralidade cultural no processo educacional procura favorecer a mudança de mentalidades, superar o preconceito e combater atitudes discriminatórias” (CANDAU, 2002, p. 138). A arte e a matemática são dois componentes importantes da cultura africana. No entanto não são tratadas com tal importância, assim a formação buscou pela mudança de mentalidades como, e também se configurou em uma iniciativa que visou a formação de professores, existindo a necessidade de mais cursos com os mesmos propósitos de modo a ampliar o número de professores com formação na temática das relações étnico-raciais para que seja possível uma diminuir o desconhecimento sobre a temática, como também é uma necessidade a difusão do assunto em pauta. 229 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC CONSIDERAÇÕES FINAIS É importante que a partir da obrigatoriedade da Lei de nº10. 639/03 se faça valer de fato a sua aplicabilidade, que sejam criados mecanismos de incentivos que vise formações continuada de professores e que tragam a educação e diversidade cultural como pauta e temas cada vez mais frequentes nos centros de discussões, sejam eles os movimentos sociais, acadêmicos ou escolares, e que a sociedade civil passe a cobrar seus direitos aos setores públicos com promoções e incentivos de politicas que fomentem a educação igualitária e de plenos direitos para todos os cidadãos e cidadãs brasileiros. A escola deve ser vista como um espaço sociocultural, marcada por uma pluralidade significativa, em que a comunidade esteja presente, contribuindo na formação de seu alunado, contribuindo e tornando-os sujeitos históricos, ativos e críticos, principalmente reconhecendo sua identidade. Para Munanga (2000), a identidade é um fator de extrema importância para que os indivíduos possa ter um alicerce e sobre tudo fonte de sentidos e experiências individuais e coletivas. Anterior a Lei de nº 10.639/03, essas questões eram dadas por iniciativas isoladas de professores, que preocupados em atender a diversidade, faziam suas ações individuais, sem apoio dos demais, por conta do desconhecimento. Considerando esse desconhecimento, que hoje em pleno século XXI predomina, temos que pensar em formas de atenuar essas divergências e diferenças, buscando por uma educação igualitária. E a formação continuada de professores tem possibilitado avanços significativos para a educação para as relações étnico-raciais. Da análise, concluímos que a Lei 10.639/03 sancionada há dez anos tem criado novos mecanismos para reparar uma omissão histórica, verificamos que existe a necessidade de projetos que vise à formação continuada de professores, que as iniciativas atuais têm sortido efeitos trazendo novas possibilidades curriculares e informações não tratadas. Os desafios estão em superar as desinformações, os preconceitos e o desconhecimento sobre a temática das relações étnico-raciais que ainda persiste e precisam ser superados com novas iniciativas de formações de professores. REFERÊNCIAS BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. LEI n.º 9394. Publicada em 20 de dezembro de 1996. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Lei n.o 10.639. Publicada em 09 de janeiro de 2003. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Lei n.o 11.645. Publicada em 10 de março de 2008. CANDAU, Vera Maria. Sociedade, educação e culturas. Petrópolis: Rio de Janeiro: vozes, 2002. CUNHA JÚNIOR, Henrique. Metodologia Afrodescendente de Pesquisa. Ethnos Brasil. Cultura e Sociedade, Ano VI, nº 1, Junho de 2008. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2002. 230 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO FONSECA, Dagoberto José. Os africanos e os afro-brasileiros: um novo reencontro-a importância e o imaginário em torno da Lei 10.639.03. In: LAIA, Maria Aparecida de. SILVEIRA, Maria Lúcia da. SZMYHIEL, Adriana (Orgs). A universidade e a formação para o ensino de história e cultura africana e indígena: desafios e reflexões. Série Cadernos CONE, São Paulo, 2011. MATHIAS, José Ronaldo Alonso. Ensino da história da cultura afro e indígena uma experiência contra o preconceito. In: LAIA, Maria Aparecida de. SILVEIRA, Maria Lúcia da. SZMYHIEL, Adriana (Orgs). A universidade e a formação para o ensino de história e cultura africana e indígena: desafios e reflexões. Série Cadernos CONE, São Paulo, 2011. MUNANGA, Kabengele. O preconceito racial no sistema educativo brasileiro e seu impacto no processo de aprendizagem do alunado negro. In: Utopia e democracia na Escola Cidadã. Porto Alegre: Editora da Universidade Federal do RGS, 2000. 231 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO - TIC'S COMO FONTES PARA A FORMAÇÃO DOCENTE Denyse Maria Borges Paes¹ José Borges da Silva Neto² Maria Naires Alves de Souza³ RESUMO Na sociedade contemporânea evidenciam-se avanços tecnologicos e aumento no fluxo informacional, esta realidade gera deficiencias na qualidade do ensino e mudanças na formação docente são necessárias. Verificasse alterações no perfil dos alunos e nos paradigmas de ensino e aprendizagem. Com isso, os professores passam a preocupar-se mais em utilizar-se das inovações tecnológicas. Assim esta pesquisa busca rretratar que na sociedade atual, os docentes precisam estar em constante processo de aprendizado e aperfeiçoamento. Apresenta como metodologia, uma revisão bibliográfica, com aportes teóricos de autores da área, para melhor entender a temática ora abordada. Objetiva apresentar a importância da qualificação profissional, bem como a necessidade de se conhecer e utilizar as ferramentas disponíveis para tal qualificação, a fim de que haja o aprimoramento do professor e melhoria em sua atuação profissional. Finaliza, apresentando essas ferramentas, elencando sua importância. PALAVRAS-CHAVE: Formação Docente. Qualificação. Tecnologias da Informação e da Comunicação. INTRODUÇÃO No contexto de transformações tecnológicas, é perceptível que as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC’s), de maneira inevitável, estão presentes em todos os segmentos da sociedade, seja no meio político, econômico ou social, e por sua vez, influi significativamente no cotidiano dos indivíduos, seja de forma direta ou indireta. Desta maneira, dentre as formas atuais de progresso tecnológico, salienta-se a rede mundial de computadores - Internet -, que interliga computadores, possibilitando a construção de ambientes de interação, produção de conhecimentos e que porventura possibilita novos mecanismos de ensino e aprendizagem. Segundo Lévy (1999, p. 92), este conjunto de redes digitais é configurado como ciberespaço “(...) espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores”. Nessa perspectiva o ciberespaço conforme afirma Araújo (2004), “configura hoje uma nova era, a Era da Informática, das múltiplas janelas, da hipertextualidade, do ‘diário digital’, de uma 232 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO nova sociabilidade”. Tornando-se, portanto inerente a todos os espaços da sociedade, inclusive para disseminação e preservação de documentos. Assim, a internet é utilizada por milhões de pessoas diariamente, para os mais diversos fins, seja para o comércio, o lazer, a pesquisa, a socialização de informações, dentre outros. Sob o aspecto do ciberespaço, compreendemos que com o advento das TIC’s, os setores da sociedade como um todo, foram “afetados”, o avanço desta, resultou em grandes mudanças como, por exemplo, a telemedicina, o ensino à distância, o comércio eletrônico, a digitalização, a preservação digital, as interações mediadas por uma tela de computador, enfim, não se pode ignorar que, essas ferramentas tecnológicas possibilitaram alterações significativas na forma de ver e perceber o meio a nossa volta. Com isso surgi à necessidade de repensar a questão do ensino, como mecanismo propulsor de atualização e engajamento do indivíduo no contexto atual. A partir do que foi exposto, ressaltamos a relevância de haverem estudos/pesquisas em torno desta temática, visto que as ferramentas utilizadas na disponibilização da informação e consequente aprimoramento do conhecimento, estão interligadas as TIC’s, por isso merecem um lugar de destaque nas discussões e estudos nas diversas áreas do conhecimento. Na sociedade atual, as tecnologias da informação e da comunicação (TIC's), vem provocando constantes avanços que trazem mudanças ao universo informacional. Os docentes se veem desafiados a atuarem no mercado de trabalho em constante mutação, tendo que lidar com as TIC's e com o excesso de informação. Nesse contexto, se destaca a educação continuada, ferramenta capaz de possibilitar a atualização, aprimoramento e desenvolvimento dos profissionais que dela se utilizam. Este trabalho apresenta-se com cunho bibliográfico, que consiste numa investigação através do levantamento de produções científicas publicadas sobre a temática abordada, para tomarmos embasamento sobre o que se pesquisa a respeito. OBJETIVO GERAL Refletir sobre a importância da educação a distância para os professores e apresentar algumas ferramentas utilizadas para o aperfeiçoamento do mesmo nos dias atuais. METODOLOGIA Nossa metodologia baseia-se em uma pesquisa de cunho exploratório, que segundo Gil (2007. p.43) objetiva “proporcionar uma visão geral, do tipo aproximativo de um determinado fato”. De natureza bibliográfica, alavancando uma discussão teórico-conceitual sobre a temática, utilizando-se como recursos, artigos, livros etc. Teve uma abordagem quantitativa que para Rodrigues (2006, p. 89), “está relacionada à quantificação, análise e interpretação dos dados obtidos mediante pesquisa”, ou seja, formular generalizações a partir da análise objetiva dos dados. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A educação continuada é de fundamental importância para qualquer profissional que intencione atuar de forma produtiva no mercado de trabalho, uma vez que vivemos em uma 233 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC sociedade, conhecida como sociedade da informação, que vem exigir cada vez mais, um maior comprometimento dos indivíduos, afinal, ela trouxe mudanças significativas ao mundo do trabalho, ao disponibilizar uma vasta e diversificada gama informacional. Dentro deste contexto nota-se que a disposição de instrumentos capazes de possibilitar a continuidade educacional, que permita ao profissional a eliminação de deficiências existentes, de forma que aprimore os seus conhecimentos, conheça as novas exigências e se atualize, devem ser do conhecimento de todos. É pensando desta forma, que iremos apresentar algumas ferramentas de qualificação, das quais podemos aqui citar: a leitura de livros e periódicos, a participação em palestras, reuniões, cursos, seminários, oficinas, treinamentos, cursos de pós-graduação, dentre outros. Sabe-se que a leitura proporciona ao leitor uma experiência rica ao facilitar o seu posicionamento na sociedade onde vive e atua, fazendo com que o mesmo conheça e se aproprie da informação, e utilize-a para se colocar diante de questões, a partir de suas leituras e experiências de vida. O indivíduo assume uma postura crítica em relação à realidade em que se situa (SANTOS, 2007, p. 20). A leitura de periódicos permite ao profissional o conhecimento e atualização de temáticas tratadas na atualidade, podendo desta forma compreender o novo e aprimorar a realização de atividades, melhorando assim a sua atuação. Outro instrumento significante para a educação continuada de qualquer profissional são os eventos, onde o profissional poderá ter acesso a palestras, vídeo conferencia, mesas redondas, discussões mediadas por pesquisadores. Ao participar de tais eventos o profissional poderá ainda, divulgar pesquisas que vem realizando, através da exposição de trabalhos orais ou em formato de pôster. Entendemos que a participação em congressos, cursos, palestras, seminários e encontros são formas de educação continuada que poderão ser utilizadas para o aperfeiçoamento profissional, uma vez que o mesmo se interesse pela sua qualificação e busque tais instrumentos para dar continuidade a sua formação, se aprimorando e se tornando consciente das exigências e necessidades, e assim possa atuar de forma produtiva no mercado de trabalho. Guimarães (1997 apud PROSDÓCIMO; OHIRA, 1999, p. 9) alerta para a necessidade da educação continuada referindo-se a participação em cursos, seminários, workshops e estágios que proporcionem novas experiências, de modo altamente interativo e que possa estimular e facilitar a criatividade entre os participantes. Portanto, a educação continuada é necessária para o aperfeiçoamento profissional, ela vem possibilitar a interação entre os profissionais, estingando uma demanda na preparação, formação e aperfeiçoamento profissional, evidenciando questões a serem dialogadas e discutidas através de encontros entre pesquisadores, e profissionais, formados em uma mesma área, mas que, entretanto atuem em ambientes diferentes. Permitindo a divulgação de idéias já formuladas, e incentivando a 234 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO produção de novas concepções que venham a acrescentar valor aos pensamentos já existentes, ou que sejam contrários e vislumbrem novos horizontes. Algumas organizações na tentativa de incentivar o aperfeiçoamento educacional do funcionário vem implementando incentivos como: o aumento salarial, que é estabelecido com base na pós-graduação concluída. É importante salientar que os incentivos dados pela instituição e os demais instrumentos disponibilizados, por si só, não possibilitarão o aprimoramento do profissional, é preciso uma conscientização por parte dos indivíduos para continuidade educacional, é necessário que os mesmos vislumbrem a importância da continua formação como meio de seu autodesenvolvimento. É importante ainda, chamar a atenção para as instituições educacionais, associações e conselhos para que proporcionem a educação continuada, oferecendo eventos e cursos aos profissionais. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os profissionais estão convictos de que as tecnologias da informação e comunicação têm contribuído com grandes mudanças e inovações em suas áreas de conhecimentos, provocando um esforço por atualização, capacitação, adaptação e aperfeiçoamentos contínuos, como também têm exigido novas habilidades e atitudes comportamentais, imprescindíveis aos profissionais que anseiem por qualidade e competitividade em seu desempenho profissional. No panorama atual impulsionado pela “explosão da informação”, os profissionais precisam buscar alternativas para ampliar suas qualificações e competências, sendo ele o principal responsável e provocador pela demanda por educação continuada. Contudo, o que foi exposto aqui, é que existem diferentes mecanismos para a qualificação profissional, e esperamos que este trabalho possa contribuir como referência para aqueles que procuram por formações além de sua graduação. REFERÊNCIAS ARAÚJO, J.C. A conversa na Web: o estudo da transmutação em um gênero textual. In. MARCUSCHI, L.A. & XAVIER, A.C. (ORGS.) Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de construção de sentido. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004. p. 91-109. RODRIGUES, Auro de Jesus. Metodologia científica. São Paulo: Avercamp, 2006. GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2007. LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. OLIVEIRA, Marlene de (Coord.). Ciencia da informação e biblioteconomia: novos conteúdos e espaços de atuação. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2005. SANTOS, Jussara Pereira. O Perfil do profissional bibliotecário. In: VALENTIM, Marta Pomim (org.) Profissionais da informação: formação, perfil e atuação profissional. São Paulo: Polis, 2000. p. 107-117. SANTOS, Jussara Pereira (org.). A leitura como prática pedagógica na formação do profissional da informação. 22. ed. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2007. 235 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC RELAÇÃO ENTRE PESQUISA E TRABALHO DOCENTE NA INTEGRAÇÃO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA Bruna Kércia Sousa Lima123 Maria Luciete dos Santos 124 Carmen Virgínie Sampaio Avelino3 RESUMO Este trabalho apresenta como objetivo discutir a relação entre a pesquisa e o ensino, tendo como base a literatura referente a temática em estudo. Para tanto, o estudo se concretizou a partir de um procedimento investigativo bibliográfico de caráter qualitativo. Assim, foram analisadas e discutidas escritas de alguns autores que abordam a relação entre pesquisa e o ensino, dentre essas escritas foram selecionadas obras literárias que são favoráveis à pesquisa do professor e outros que divergem desta ideia. Assim, percebeu-se, norteado por estudos anteriores que é possível afirmar que há muitas divergências entre o ensino e atividade de pesquisa, onde apesar de muitos acreditarem que pesquisa e ensino devem caminhar juntos para que o processo de ensino e aprendizagem tenha êxito, muitos também defendem que a pesquisa não deve nortear o trabalho docente. Portanto, o trabalho realizado deixa claro que nem todos os teóricos da área educação são adeptos 100% da ligação entre ensino e pesquisa na prática do educador. PALAVRAS-CHAVE: Pesquisa. Ensino. Reflexão INTRODUÇÃO Desde muitos anos se discute a respeito da relevância da pesquisa no trabalho docente, sobretudo no ensino, destacando a ideia de que a pesquisa deve ser posta como uma fonte que articula este trabalho e incita o professor a desenvolver atividades investigativas que consequentemente implicam em novas descobertas métodos que possa auxiliar o seu trabalho. O trabalho docente constitui-se de mudanças contínuas, imprevisíveis, e muitas vezes imprescindíveis, necessitando que tal profissional esteja aberto a essas possíveis mudanças em sua prática. Diante do pressuposto que as metodologias e práticas estão em constante transformação, assim como o próprio ambiente social em que o aluno está inserido, a formação contínua e o aperfeiçoamento do professor tornam-se indispensável. 123 Licencianda em Ciências Biológicas, pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). E-mail: [email protected] Graduada em Ciências Biológicas, pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). E-mail; lucieteramos61gmail.com Licencianda em Ciências Biológicas, pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). E-mail: [email protected] 124 3 236 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO A pesquisa tem uma perspectiva investigativa, que tem por intuito apresentar respostas a um determinado questionamento. Dessa forma, o docente precisa se envolver na prática da pesquisa realizando indagações e procurando as possíveis respostas, assim ele poderá refletir sobre sua própria prática de ensino á medida que encontra alterações a serem postas. Severino (2008) reflete que alguns dos motivos pelos quais o professor precisa se inteirar a pesquisa: primeiro, para acompanhar o desenvolvimento histórico do conhecimento, segundo, porque o conhecimento só se realiza como construção de objetos. O autor ressalta ainda, que a prática da pesquisa deve ser o caminho do processo de ensino e aprendizagem. Assim sendo, a pesquisa precisa ser fixada na prática pedagógica, para que possa proporcionar uma consistente instituição do conhecimento, tanto por parte do professor que desperta seu próprio estimulo de pesquisador, bem como favorecer os alunos, aproximando-os da produção científica, estreitando a relação entre teoria e prática. Considerando-se a realidade da execução da pesquisa no cotidiano escolar, pode ser observado que alguns professores ainda desenvolvem suas atividades de ensino desconectadas das atividades de pesquisa, desvinculando a pesquisa dos conteúdos que lecionam, limitando a apropriação dos conhecimentos, interferindo de forma negativa no processo de ensino e aprendizagem. Nessa perspectiva, não apresenta um espírito investigativo com inquietudes quanto algumas situações não satisfatórias no ensino. Azevedo (2010) considera a pesquisa como instrumento de aprendizagem docente, quando objetiva uma maior apropriação do conhecimento através de reflexão, crítica, investigação e intervenção, processos estes que deverão ser integrados na docência. Portanto, é possível que o professor aprenda por meio da pesquisa, mas desde que esta aprendizagem seja acompanhada da reflexão, fator este, muito importante no exercício da docência. Estudos realizados por Pérez (1995) sobre a relação entre a atividade de pesquisa e o trabalho docente, advertem que a atividade do professor, assim como a sua preparação, são tarefas de extraordinária complexidade e riqueza, o que exige do profissional docente uma associação de maneira indissolúvel da docência e pesquisa. Desta maneira, percebe-se que os processos investigativos podem ser entendidos como importantes meios que fortalecem trabalho do educador. OBJETIVO GERAL Discutir a relação entre a pesquisa e ensino com base na literatura. METODOLOGIA O trabalho teve como procedimento de investigação bibliográfica, apresentando caráter qualitativo com base em textos de autores que abordam a relação entre pesquisa e o trabalho docente. O levantamento levou em consideração autores que advogam a eficácia da pesquisa no ensino, como também autores que afirmam impossibilidade do professor fazer pesquisa, onde foram analisadas e discutidas essas diferentes concepções, procurando desvendar possíveis distinções conceituosas a esse respeito, com o intuito de obter dados para o trabalho desenvolvido. Tornou-se necessário para a excussão da investigação estudos aprofundados com base na literatura, os quais permitissem uma visualização clara ao ponto de se estabelecer relações com o objetivo do trabalho. 237 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Os procedimentos utilizados para a obtenção dos dados se concretizaram a partir da análise crítica das leituras realizadas de algumas obras de autores que constituem maior familiaridade com o objeto da pesquisa. Com a finalidade de instigar o objetivo do trabalho, buscaram-se, pela análise de algumas bibliografias já construídas fundamentações acerca do tema em estudo que permitissem dar partida para esse processo de investigação. A atividade de pesquisa se enquadra como importante meio que permite a construção do conhecimento, possibilitando respostas a diversos questionamentos. Pérez (1995) enfatiza que “todo conhecimento é a resposta a uma questão” e não se pode conceber uma pesquisa que não esteja ligada a problemas que interessem ou preocupem, isto é, problemas que despertem uma inquietação. Pérez (1995) ressalta ainda que a atividade do professor precisa se fundamentar além do ato de ministrar aulas, exige um trabalho coletivo de inovação e pesquisa e orientar a aprendizagem como uma pesquisa insere mudanças intensas no papel do professor e novas cobranças formativas. Assim sendo, a atividade do professor pode ser entendida como uma imprescindível associação docência e pesquisa, vinculando-se desse modo em constante construção do conhecimento. Cabe ressaltar que através da atividade de pesquisa o profissional docente troca o caráter de reprodutor do ensino onde apenas repassa o que já aprendeu anteriormente pelo caráter de produtor do ensino, onde se coloca como pesquisador e fornecedor de conhecimentos buscados por si mesmo. Boavida (2004) diz que a pesquisa contribui para a própria prática e para o aperfeiçoamento da mesma, e consequentemente com a da docência como um todo. Deste modo, o professor se torna capaz de examinar com sabedoria crítica e sistemática a própria prática. Não se trata de desvalorizar a profissão docente, nem tão pouco valorizar a de pesquisar, mas sim instigar atitudes reflexivas por parte do professor. Assim a educação ganha com o resultado da pesquisa e a pesquisa é contemplada com os saberes práticos dos professores. Há grupos que afirmam que a proposta da atividade de pesquisa exige saberes específicos, distintos da atividade de ensinar. Foster (1999) considera que a pesquisa dos professores da educação básica não tem relevância para a prática docente, bem como os métodos empregados na pesquisa não apresenta fontes acreditáveis de resultados. Torna-se provocante essa ideia que insiste em separar ensino e pesquisa, motivo que pode despertar certa inquietude por parte de quem consegue estabelecer essa relação e obter bons resultados com a mesma. Cabe concordar com Silva (2007) quando diz que as discussões em torno da formação do professor- pesquisador vem prosseguindo, permeados de polêmicas e críticas e, ao que tudo indica, hão de continuar não se sabe até quando. Os trabalhos de Donald Schön (1983, 1987) advogam que o profissional reflexivo atua de forma tão rígida quanto o profissional da pesquisa, uma vez que continuamente estão envolvidos na identificação de problemas e implementação de alternativas de solução, para que seja registrado e analisado os dados que faz com que a atividade profissional deixe de ser distinta da atividade de 238 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO pesquisa. O autor destaca a relevância da atividade reflexiva a fim de se efetivar a relação entre a atividade do professor e a pesquisa. Considera-se normal que no desenvolvimento de atividades profissionais o profissional faça uma reflexão sobre sua ação e baseada nela proponha mudança em sua prática. É nesse sentido que se defende a proposta de que o professor seja um agente de pesquisa, a fim de identificar problemas ligados ao ensino e nessas atividades de ensino e pesquisa a apreensão do conhecimento é direção perseguida. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao final do trabalho realizado conclui-se que há muitas divergências entre o ensino e a atividade de pesquisa. Embora haja uma série de indagações contrária à pesquisa do professor da educação básica, o mesmo não deve limitar-se a receber formulas prontas proposta por indivíduos externos ao estabelecimento de ensino, muitas vezes fora do contexto social em que a escola está inserida. Entende-se atividade de pesquisa e o trabalho docente só estarão em uma mesma perspectiva quando o ensino for colocado como prioridade ao lado da pesquisa, dispensando ações criteriosas extremas, que dificultam a possibilidade do professor apresentar trabalhos à comunidade científica, limitando produções de conhecimentos na área do ensino. REFERÊNCIAS AZEVEDO, Maria Raquel de Carvalho. A docência universitária face ao desafio de integrar ensino e pesquisa: reflexões sobre o “aprender na prática”. Vozes da FACEDI: reflexões, experiências e perspectivas em educação. Fortaleza: EdUECE, 2010. FOSTER, Peter. “Never mind the quality, feel the impact: A methodological assessment of teacher research sponsored by the Teacher Training Agency”. British Journal of Educatinal Studies, n. 4, vol. 47, 1999, pp.380-398 GIL- PÉREZ, Daniel. Formação de professores Paulo:Cortez,1995.(Coleção questões da nossa época: v.26). de ciências. 2.ed. São PONTE, J.P.; BOAVIDA, A. Investigar a nossa prática profissional: o percurso de um grupo de trabalho colaborativo. Educação e Matemática, Lisboa, v. 77, p. 17-20, 2004. SEVERINO, Antônio J. Ensino e pesquisa na docência universitária: caminhos para a integração. Caderno de Pedagogia Universitária. São Paulo, Abril, 2008. SILVA, Silvina Pimentel. Ensino e formação docente no ensino superior. Formação e Práticas Docentes. Fortaleza: EdUECE, 2007. SCHÖN, Donald. The reflective practitioner: How professional think in action. Nova York: Basic Books, 1983. ________. Educating the practitioner. Londres: Jossey Bass Publishers, 1987. 239 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC FORMAÇÃO CONTINUADA DO PROFESSOR COORDENADOR PEDAGÓGICO NUMA ABORDAGEM REFLEXIVA Emanuelle Oliveira da Fonseca125 RESUMO A figura do coordenador pedagógico é fundamental na condução de uma gestão eficaz, voltada para uma aprendizagem que busca suprir as necessidades dos alunos. Para tanto, esse gestor deve possuir conhecimentos que lhe proporcione condições de exercer a função. Baseada nessa perspectiva, a pesquisa tem como objetivo analisar a formação do coordenador pedagógico e qual a sua concepção sobre gestão escolar. Para tanto, será realizada uma pesquisa bibliográfica baseada em autores que estudam sobre gestão pedagógica e formação docente, assim como uma pesquisa de campo em que irá apresentar uma entrevista com um coordenador pedagógico de uma escola estadual de Fortaleza. Os resultados apontam que a formação docente não deve estar limitada a formação inicial, mas deve ser uma formação continuada e que possibilite uma reflexão sobre a prática. O entrevistado também apontou a importância da formação proporcionada pelo governo como uma forma de capacitar os professores na dimensão pedagógica e acadêmica. É preciso considerar a ideia de que o professor seja um profissional ativo, que esteja em processo contínuo de formação e consciente de sua prática educativa transformadora. Ao assumir a função de coordenador pedagógico cabe ao professor buscar na natureza própria da escola e dos objetivos que ela persegue os princípios, métodos e técnicas adequadas ao desenvolvimento de sua razão, com isso, haverá uma constante reflexão sobre sua prática. Palavras-chave: Coordenador Pedagógico. Formação docente. Práxis. INTRODUÇÃO O desafio da qualidade e de uma postura crítico-reflexiva diante das demandas da instituição e das políticas de educação sugere a necessidade de profissionais capazes de compreender a escola em seu contexto mais amplo na sociedade. Dentre essas atividades está a de coordenar a escola, tendo como prioridade proporcionar um ensino de qualidade, cujo foco principal é a aprendizagem dos alunos. Nessa perspectiva, examinaremos a formação do coordenador escolar e o papel que desempenham no processo de aprendizagem dos alunos através de uma perspectiva critica e reflexiva. Partindo desse contexto foi que surgiu a nossa problemática: qual a formação do coordenador pedagógico de uma escola estadual? E qual a concepção do mesmo sobre gestão escolar? 125 Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará. Mestranda em Educação pela Universidade Estadual do Ceará. Email: [email protected] 240 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO Em busca de responder nosso questionamento, temos como objetivo analisar a formação do coordenador pedagógico e como ela contribui para o desenvolvimento uma gestão comprometida em proporcionar um ensino-aprendizagem de qualidade. O objetivo da pesquisa é compreender a concepção de gestão escolar e a formação continuada do coordenador como membro dessa gestão. Cabe a coordenação pedagógica trabalhar as questões didáticas, devendo compartilhar os resultados, problemas e dúvidas com a direção. Ela precisa ter a capacidade de analisar e discutir criticamente os contextos em que atua, bem como criar situações de observação, investigação e reflexão, adquirindo a capacidade de movimentar e transformar os conhecimentos do coletivo. METODOLOGIA Para alcançarmos nossos objetivos iremos realizar uma pesquisa bibliografia através da concepção de teóricos que estudam sobre gestão escolar e formação docente. Para tanto, usaremos uma de pesquisa se encaminha para a vertente qualitativa, pois acreditamos que esse enfoque retrata o pensamento reflexivo-investigativo do pesquisador durante todo o processo de pesquisa. Assim como um estudo de caso numa escola Estadual de Fortaleza, cujo sujeito da pesquisa foi um coordenador pedagógico, pois acreditamos que ele como membro da gestão pode contribuir significativamente para entendermos qual a concepção de gestão e que formação o mesmo possui para gerir uma escola. Como instrumento de colotas de dados realizamos uma entrevista semiestruturada com questionamentos relevantes ao nosso tema. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A formação do coordenador e suas contribuições para a gestão pedagógica Conforme Pimenta e Lima (2011, p.155) “o objetivo do pedagógico se configura na relação entre elementos da prática educativa: o sujeito que se educa, o educador, o saber e os contextos em que ocorre”. A gestão que se compromete com a aprendizagem de seus alunos precisa valoriza o diagnóstico dos desafios e das prioridades do ambiente escolar. Segundo Libâneo et.al (2006, p.293) a organização e a gestão diz respeito ao conjunto de normas e diretrizes, assim como de ações e procedimentos que asseguram uma racionalização do uso dos recursos disponíveis na escola, seja humanos, materiais, financeiros e intelectuais, compreendendo a coordenação e o acompanhamento do trabalho das pessoas. Já por “coordenação e acompanhamento compreendem-se as ações e os procedimentos destinados a reunir, a articular e a integrar as atividades das pessoas que atuam na escola, para alcançar objetivos comuns”. Dessa forma, coordenar significa assumir perante o grupo a responsabilidade de fazer a escola funcionar através de um trabalho conjunto. Esse profissional passa a promover e estimular a consciência critica e reflexiva dos professores, readequando e aperfeiçoando as medidas que foram tomadas através da participação dos docentes, tornando-os autores de sua própria prática. Para tanto, é preciso saber organizar o tempo e a rotina de reflexão, desenvolvendo metodologias e habilidades que garanta uma maior comunicação entre os professores como forma de solucionar problemas e dificuldades. 241 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Conforme Libâneo et.at (2006) é o coordenador pedagógico ou professor-coordenador que coordena, acompanha, assessora, apoiando e avaliando as atividades pedagógico-curriculares. Uma das suas principais atribuições é o relacionamento com os pais e com a comunidade, procurando incluí-los no processo de funcionamento pedagógico-curricular e didático da escola, assim como nos métodos de avaliações dos alunos e á interpretação que lhe são dadas. Formação continuada: conceito e pressupostos Conforme Lima (2001, p.30) “a formação contínua é a articulação entre o trabalho docente, o conhecimento e o desenvolvimento profissional do professor, como possibilidade de postura reflexiva dinamizada pela práxis”, ou seja, alicerçada na reflexão crítico-teórica. A autora parte do pressuposto do trabalho como categoria fundante da vida humana e da práxis baseada num conhecimento em um determinado momento histórico de uma dada realidade. Muitas vezes as necessidades de formação dos professores não estão relacionadas ao desconhecimento sobre algo, mas da falta de informação que os profissionais têm a respeito de novas exigências do trabalho profissional. Por isso, a necessidade de uma reflexão sobre a prática como forma de questionar e aperfeiçoar a atividade docente. De acordo com Vásquez (1977) ao compreendermos a práxis devemos entender que a prática não fala por si mesma, e por isso, deve sempre está ligada a uma teoria. Para que ele possa desempenhar seu papel de agente critico é preciso que o docente reflita sobre seu trabalho de uma forma mais ampla, com isso ele estará agindo sobre a ação pedagógica que desenvolve. Esse espaço de reflexividade deve ser dotado de uma autonomia, cabendo a gestão escolar subsidiar os meios necessários para que o professor possa exercer sua práxis de forma transformadora e autônoma. O docente como agente de transformação, deve ter um posicionamento pessoal consciente e crítico que lhe permita encaminhar questões e incorporar conhecimentos necessários na construção de um processo participativo que vai prevalecer a discussão das ideias, a aceitação de experiências vivenciadas pelos outros, baseado em um diálogo aberto e verdadeiro, fortalecido pelo espírito de cooperação. Conforme Vásquez (1977, p.248): As exigências da prática contemporânea (...) constituem uma poderosa fonte de desenvolvimento da teoria. A prática em seu mais amplo sentido, e, particularmente, a produção, manifesta seu caráter de fundamento da teoria na medida em que esta se encontra vinculada às necessidades práticas do homem social. O desenvolvimento da teoria se dá com base na prática. A atividade teórica só pode acontecer se estiver condizente com a realidade, sendo, portanto um objeto de interpretação e transformação que tem na sua própria atividade prática um fundamento inesgotável. É a prática que vai servir de critério de verdade e enriquecimento da teoria. É preciso que o professor tenha clareza da sua função social tanto na escola como na sociedade. Partindo desse pressuposto, podemos afirma que a forma de agir do homem no mundo exige um pensamento teórico, ou seja, a prática se torna fundamental para a teoria. 242 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO Uma análise da fala do sujeito Quando indagamos sobre o que seria gerir uma escola o coordenador afirmou que seria “gerir interesses múltiplos e as vezes conflitantes”, para tanto cabe aos professor ter paciência e ser compreensivo, sabendo lhe dar com os conflitos. Ele caracterizou a gerencia de escola como sendo uma gerencia de pessoas. Essa concepção vai de acordo com o que Luck (2001, p.15) a credita quando afirma que “o entendimento de gestão já pressupõe, em si, a ideia de participação, isto é, do trabalho associado de pessoas analisando situações, decidindo sobre o encaminhamento e agindo sobre elas em conjunto”. Cabe à gestão promover a redistribuição das responsabilidades como forma de aumentar a legitimidade do sistema escolar. Acreditamos que não é precisa apenas lhe dar com os conflitos da comunidade escolar, mas também saber ouvir e compartilhar as decisões, levando em consideração a opinião da mesma. Ao perguntarmos se acredita que sua formação é suficiente para enfrentar as dificuldades encontradas em sua profissão, o mesmo afirmou que: “é suficiente, mas não significa uma acomodação”, já que é preciso estar sempre melhorando, seja por meio de cursos ou atém mesmo se atualizando através de revistas. Essa afirmação nos faz pensar a necessidade de uma formação continuada que possibilite os professores se atualizarem sobre os assuntos de sua área de atuação e os tornem mais qualificados teoricamente para refletir sobre sua prática. Ao indagarmos sobre a qualidade da formação oferecida pelo governo e quais suas contribuições para o exercício da função de gestor. O mesmo relatou que acredita que a escola pública tem uma formação continuada mais eficiente do que na escola privada, já que o governo proporciona cursos dirigidos que permite uma capacitação pedagógica e acadêmica eficaz, assim “essa formação consegue proporcionar o conhecimento necessário para o gestor”. Com isso podemos perceber que os cursos de formação proporcionados pelas políticas públicas exerce um papel fundamental na formação dos professores, seja no aspecto pedagógico ou na esfera administrativa. Todavia, o docente precisa buscar outros meios de qualificação, não devendo se limitar a uma formação aligeirada, ou que sirva pra cumpra apenas uma exigência do governo. CONSIDERAÇÕES FINAIS A formação docente não pode se limitar a formação inicial tida na graduação, mas deve contemplar uma formação continuada, que possibilite os docentes estarem sempre se atualizando e adquirindo conhecimentos mais consistentes que irão auxiliar durante sua prática, seja em sala de aula ou na gestão escolar. Como podemos perceber o sujeito entrevistado mostrou claramente a preocupação em se qualificar como forma de se manter atualizado e superar as dificuldades que a sua função apresenta. 243 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Ao tomar consciência da importância de seu papel como agente formador o coordenador consegue desenvolver nos professores uma consciência critica e reflexiva, estimulando o corpo docente a se qualificar de forma continua, não se limitando ao pragmatismo. Para tanto, é preciso que o professor seja dotado de conhecimentos múltiplos, tornando-se um cidadão de ideias críticas e comprometido com seus ideais de transformação. No entanto, a sua prática não pode ser concebida de uma forma pragmática, mas numa ação fundada em uma teoria através do processo ação-reflexão-ação, ou seja, na práxis. REFERÊNCIAS LIBÂNEO, J. C. OLIVEIRA, João Ferreira, TOSCHI, Mirza Seabra. Educação escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo, Cortez Editora , 2006. LIMA, Maria Socorro Lucena. A formação contínua do professor nos caminhos e descaminhos do desenvolvimento profissional. (Tese de doutorado) São Paulo: Faculdade de Educação, USP, 2001. LÜCK, Heloísa. et.al. A escola participativa: o trabalho do gestor escolar. 5º Ed. São Paulo, 2001. PIMENTA, Selma G. LIMA, M. S. Estágio e Docência. 6. Ed. São Paulo: Cortez, 2011. VÁSQUEZ, Adolfo Sánchez (1977). Filosofia da Práxis. 2ª ed. Rio e Janeiro, Paz e Terra, 1977. 244 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO CONTRIBUIÇÕES DO PIBID NA FORMAÇÃO DOCENTE Fábio Gomes de Lima126 RESUMO O presente trabalho apresenta um relato das contribuições que o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência – PIBID, da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA, curso de Matemática trazem aos acadêmicos e futuros professores, baseado nas atividades realizadas ao longo do semestre 2013.1, levando-se em consideração as atividades desenvolvidas na Escola parceira, como também na Universidade. PALAVRAS-CHAVE: Contribuições. Atividades. Formação. INTRODUÇÂO Os cursos de licenciatura em geral, são baseados em uma longa e extensa carga horária teórica, com a parte prática ficando basicamente com os estágios, que nem sempre permitem uma fiel visão da profissão docente. Juntando-se a isso o desconhecimento da realidade do seio das escolas, bem como, das dificuldades e obstáculos que o professor da contemporaneidade está submetido, esse somatório pode ser fator determinante para o fracasso na docência ou até mesmo para o abandono da profissão. Diante dessa realidade, o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência – PIBID vem proporcionando a um grande numero de universitários dos cursos de licenciatura uma formação diferenciada e que tem como um dos objetivos aproximar os futuros professores da realidade e dos desafios das escolas, para que assim, possam refletir sobre todos os obstáculos que encontrarão no futuro e que ao invés de se chocarem com a realidade desafiadora ou até mesmo desistirem da profissão, possam iniciar suas atividades já contribuindo para a mudança e melhoria do atual quadro educacional. Se os professores em geral já enfrentam enormes dificuldades, o que dizer dos professores de matemática que, sobetudo, enfrentam uma mitificação da disciplina. Aqui serão apresentadas e discutidas as atividades desenvolvidas pelo subprojeto de matemática do PIBID/UVA ao longo do semestre 2013.1, com uma reflexão acerca das contribuições do programa para uma boa formação docente, bem como as contribuições alcançadas pelos bolsistas, para se tornarem bons professores de matemática e saberem se comportar diante dos inúmeros desafios que cercam a carreira docente. 126 Graduando. Estudando do curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. Bolsista PIBID/CAPES. [email protected] 245 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC OBJETIVO GERAL Esse trabalho tem como objetivo apresentar as Contribuições do PIBID na formação docente, a partir das atividades desenvolvidas pelo subprojeto de Matemática da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. METODOLOGIA No decorrer do semestre 2013.1 os bolsistas do subprojeto de matemática do PIBID/UVA, desenvolveram várias atividades, sob a tutela e orientação da coordenação de área. Algumas dessas são tradicionais e se repetem a cada período, como as observações de aula semanalmente e as eventuais intervenções. A contribuição do PIBID na formação docente se dá de vários modos; a partir das múltiplas e diversificadas atividades, os bolsistas se deparam com os desafios e o mais importante: como superá-los. As observações em sala de aula levam a uma reflexão não apenas sobre o modo e a postura do ensinar e conduzir uma turma, mas também sobre o porquê do desinteresse dos alunos, que mal conseguem se concentrar ou apresentar interesse pelo conteúdo abordado. A escola parceira na qual o autor desse trabalho desenvolve suas atividades, é a escola de ensino médio Elza Goersch, está localizada na cidade de Forquilha, interior do Ceará. Como antes mencionado, a falta de interesse dos alunos chama muito a atenção. A escola citada atende um grande número de alunos e assim as turmas são geralmente bem numerosas, o que pode ser um fator para tal problemática. O desinteresse pelas as aulas de matemática, para muitos, está relacionada à abordagem que o professor faz a metodologia que utiliza e a pouca, ou nenhuma relação que os alunos fazem da matemática com o seu dia a dia, pois geralmente os professores se atem muito aos livros didáticos e não empregam aulas práticas e diversificadas. Afirma D’ Ambrósio (1989, p. 15), que na Educação Matemática é necessário recorrer a metodologias diversificadas para a melhoria do ensino, pois hoje em dia, os alunos necessitam de estratégias que os façam quererem se engajar no movimento de aprender, pois muitos se tornam desinteressados ao ficar, na sala de aula, somente a ouvir o professor falar em aulas expositivas. Diante dessa discussão e da busca pela justificativa de tal desinteresse, o PIBID Matemática – UVA desenvolveu pela segunda vez um Projeto denominado Matemática Concreta, que aborda o ensino de matemática a partir de projetos de oficinas práticas. Nesse período, desenvolveu-se na escola acima citada um projeto de estudos de estatística, intitulado: Variação de Custos da Cesta Básica na Cidade de Forquilha. Uma percepção que pode ser retirada da aplicação de tal projeto é a carência que os alunos têm de aulas diferenciadas. O grande interesse dos alunos pela oficina deixa claro, que a forma da abordagem matemática é crucial para uma boa aprendizagem. Conforme sugere Tardif (2006), “os saberes experienciais não são saberes como os demais; são, ao contrário, formados de todos os demais, mas retraduzidos, ‘polidos’ e submetidos às certezas construídas na prática e na experiência.” (p.54). 246 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO Os bolsistas do subprojeto de Matemática estão tendo a oportunidade de testar na prática o que muitos teóricos da educação relatam sobre o ensino, principalmente de matemática. O êxito das oficinas pode estar relacionado com a quantidade de alunos participantes e também ao modo prático da abordagem dos conteúdos. O que leva a pensar como futuros professores, na inserção de tais práticas nas aulas. Destacam Lorenzato (2006) e Moura (1999, 2007), que para a aquisição de conhecimentos matemáticos por parte dos educandos. A utilização de estratégias diversificadas (resolução de problemas, modelagem matemática, jogos, tecnologias informáticas, o lúdico, história da matemática, entre outras) pode favorecer significativamente a melhoria da prática docente e o aprendizado dos alunos. A partir das experiências proporcionadas nas oficinas, à coordenação de área do PIBID – Matemática – UVA, propõe sempre a produção de artigos, relatando as experiências e contribuições à docência retiradas de tais oficinas, com isso, vem o aprendizado com relação à escrita e o enriquecimento cultural com a leitura. Tem-se ainda, a oportunidade de participação em eventos para a divulgação do trabalho realizado. A apresentação de trabalhos produzidos pelos bolsistas, não se dá apenas em eventos fora da UVA. Em janeiro desse ano, fora realizada uma semana de seminários onde cada um dos bolsistas desenvolveu um artigo e o apresentou ao grupo, sobre temáticas, antes selecionadas pela coordenação de área. Foi um momento que possibilitou a condução da apresentação de uma temática explorada, dando a possibilidade de se ensaiar o “falar em público”, sendo que a apresentação de cada um foi filmada e depois repassada aos bolsistas para que eles mesmos pudessem se avaliar, principalmente com relação à postura e os gestos corporais. É sabido que a gesticulação corporal se bem empregada pelo professor, pode reforçar a compreensão dos conteúdos. Pease (2005, p. 270) diz que as mais recentes pesquisas nos mostram e nos convence de que a linguagem corporal pode aumentar muitas coisas em nossas vidas. Podemos nos sentir mais confiantes no trabalho, convincentes e persuasivos. Outro evento, que foi parte significante das atividades desenvolvidas no programa em 2013.1, foi o primeiro ciclo de reflexões PIBID/UVA. Tal evento foi divido em quatro momentos, sendo cada um delegado a cada uma das equipes de bolsistas que atuam nas quatro escolas parceiras. Os temas selecionados pelo coordenador de área formam temas polêmicos e importantes, que proporcionaram discussões produtivas e que levou o grupo de bolsistas a refletir e trocar experiências com os graduandos que já estão exercendo a docência e com professores do curso de Matemática. Outro aspecto positivo do ciclo de reflexões foi o fato de ser aberto a todos os estudantes do curso e não apenas restrito aos bolsistas do PIBID/UVA. Como são perceptíveis, as colaborações do PIBID são muitas para uma formação docente mais completa. Um fator de grande aprendizado nesse evento acima citado, foi o desenvolvimento da capacidade de trabalho em equipe e de organização de eventos, sendo que, o trabalho na escola exige essa capacidade. Para TARDIF (2011) o professor raramente atua sozinho. Ele se encontra em interações com outras pessoas, a começar pelos alunos. De acordo com Giordan (1999), a formação de um espírito colaborativo de equipe contribui em um processo de contextualização socialmente relevante. 247 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Com relação à organização de eventos, o PIBID nesse período em questão, nos proporcionou outro momento de grande aprendizado, onde fomos submetidos a organizarmos um evento em comemoração ao dia nacional da matemática. Na escola do qual sou bolsista, encaramos o desafio de fazermos uma abordagem da história da matemática, tendo em vista ser um assunto pouco abordado em sala de aula. Daí novamente vem a gama de aprendizados que retiramos desse evento, pois tivemos que estudar bastante o conteúdo a ser tratado, nos programarmos com relação à distribuição do tempo e também a mobilização da comunidade escolar a participar do evento. Além das atividades propostas pela coordenação de área, no semestre 2013.1, fomos levados a planejarmos um grande projeto interdisciplinar, proposto pela coordenação institucional, que será executado na escola Elza Goersch no semestre posterior, esse projeto vem um grande planejamento encapado pelo grupo de estudos e pesquisas do curso de pedagogia – GEPCJU/ UVA, em conjunto com todos os bolsistas da escola independentemente da área de estudo. Com toda a visão que passamos a ter da educação matemática, graças às oportunidades criadas pelo PIBID, passamos a questionar alguns fatores relacionados ao próprio curso de matemática, que por ser o elemento primordial nessa formação inicial do docente, deixa algumas lacunas, que felizmente só vem a ser preenchidas a aqueles que têm a oportunidade de participar do PIBID, isso é claro, para aqueles que realmente desejam seguir docência. O problema maior em um curso de licenciatura como acima mencionado é pouca pratica, o que pode ser determinante até mesmo no seguir ou não a profissão pós-formado e ao ter o primeiro contato com a sala de aula. CONSIDERAÇÕES FINAIS De certo modo os estudantes de licenciatura, principalmente de matemática que tem a oportunidade de passar pelo PIBID ao chegarem à sala de aula definitivamente para exercer a profissão, terá uma capacidade mais aguçada e terá mais facilidade de lidar com os problemas desafiadores do universo escolar, bem como da sala de aula. O contato com a realidade escolar proporcionado pelo PIBID possibilita a reflexão sobre as praticas docentes e a realidade da nossa educação básica, nos permite testar antecipadamente técnicas docentes e nos formar baseado nessas experiências com uma capacidade de percepção das necessidades dos alunos, principalmente no que tange prender a atenção dos alunos e contribuir com seu aprendizado. Masetto (2011), em uma perspectiva mais ampla, assevera que é necessário colocar o aprendiz em contato com situações reais, em locais próprios das atividades profissionais, pois além de ser um agente motivador da aprendizagem, esse contato com a realidade é capaz de dar significado às teorias estudadas. A partir das palavras de Masseto e das experiências proporcionadas pelo programa financiado pela CAPES no semestre 2013.1, como um todo, fica obvio a necessidade dessa relação direta entre teoria obtida na Universidade e a aplicação pratica executada nas escolas parceiras. O que nos torna futuros professores com uma visão mais ampla do conceito do profissional docente necessário à escola da atualidade, com toda a sua complexidade. 248 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO REFERÊNCIAS D’AMBROSIO, Beatriz S. Como ensinar matemática hoje? Temas e Debates. SBEM. Ano II. n. 2. Brasília. p. 15-19, 1989. GIORDAN, M. O papel da experimentação no Ensino de Ciências. Química nova na escola, n10, 1999, p. 43-49. LORENZATO, Sergio. Laboratório de Ensino de Matemática e Materiais Didáticos Manipuláveis. In: LORENZATO, Sergio (org.). O Laboratório de ensino de Matemática na formação de professores. Campinas, SP: Autores associados, 2006, p. 3 – 38. MASETTO, M. T.; BEHRENS, M. A. Novas tecnologias e mediação pedagógica. 19ª. ed. Campinas, SP: Papirus, 2011.p.133-172. MOURA, Manoel Oriosvaldo de. et al.(org.) O estágio na formação compartilhada do professor: retratos de uma experiência. São Paulo, SP: Feusp, 1999, 140p. PEASE, Allan. Desvendando os segredos da linguagem corporal. Rio de Janeiro: editor sextante. (p.270, 2005). TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 6ª.ed. Petrópolis: editora vozes, 2006. TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 12. ed.- Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. 249 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC CONDIÇÕES DE TRABALHO X DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA Raquel Figueiredo Barretto127 RESUMO Introdução: Nos últimos anos, o número de pesquisas que relacionam atividade docente e sofrimento profissional vem crescendo bastante. O docente do ensino superior se vê diante de duas realizadas bem distintas: ora está em plena capacidade produtiva ora se vê impossibilitado de trabalhar. Essa impossibilidade de trabalhar, por sua vez, se dá por motivos de doença ou acidente de trabalho. Nos dois casos, certamente, a questão no ambiente de trabalho desse profissional deve ser investigada como uma possível causa dessa impossibilidade. Objetivo: Este estudo teve como objetivo investigar as publicações em torno das condições de trabalho dos docentes do ensino superior e os efeitos dessas condições sobre sua prática profissional. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa bibliográfica do tipo exploratória com abordagem qualitativa. A pesquisa foi realizada no primeiro semestre de 2013. A busca pelo material deu-se em bases eletrônicas de dados. Resultados: Pesquisas revelam que as condições precárias de trabalho têm gerado um processo de desgaste físico e mental à categoria dos docentes. Nosso estudo identificou que as publicações em torno das condições de trabalho dos professores centram-se em aspectos pontuais como condições do ambiente ou aspectos mais subjetivos como estresse. Conclusão: Conclui-se com este estudo que muito já fora pesquisado sobre o tema, mas, dada à importância do trabalho docente e suas atuais circunstancias, há necessidade de acompanhamento das condições de trabalho docente e os reflexos dessas condições sobre a prática pedagógica. PALAVRAS-CHAVES: Ambiente de trabalho. Ensino Superior. Trabalho docente INTRODUÇÃO A atividade de ensino já foi considerada função de alto valor social, interpretada como um dom, um sacerdócio, valorizada por todos os cidadãos e assumida pela sociedade como uma atividade pública. Como observamos em Esteve (1997, p. 7), “Já houve um tempo em que se considerava o magistério, ou mais especificamente, o trabalho docente, um sacerdócio a que os abnegados profissionais da educação deviam se dedicar quase estoicamente”. Hoje em dia, com as sociedades voltadas, cada vez mais, para ampliação dos modos de produção e acesso à informação, a atividade docente perdeu este sentido. As modificações capitalistas promovidas nos setores primários e secundários da economia foram semelhantes na prática de ensino e os profissionais do magistério foram equiparados, do ponto de vista do mercado, aos trabalhadores de outros setores: controle da produtividade, do ritmo do trabalho, do tipo de tarefa a ser executado, do tempo para sua execução, da jornada e carga de trabalho a ser executada. Ou seja, a educação passou a ser 127 Mestre em Saúde Coletiva. Faculdades Nordeste (FANOR) – [email protected] 250 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO vista como uma mercadoria lucrativa e os profissionais do magistério como mão-de-obra qualquer. Conforme Sampaio e Maranhão (2003, p.335), o trabalho docente é “produtivo, pois permite a acumulação indireta de capital, embora não ao trabalhador, e útil, pois resulta em satisfação de necessidades humanas materiais e espirituais, do trabalhador e da sociedade”. Vale ressaltar, entretanto, que a docência, entendida, nas palavras de Libâneo (1998) como o ensinar e o aprender, está presente em todas as práticas sociais em geral e não apenas nos espaços institucionalizados, como a escola e a universidade. Mas, sob a perspectiva da sociedade ocidental, temos uma sociedade pedagógica institucionalizada (BEILLEROT, 1985). Independente do lugar, em qualquer que seja a esfera, se o pesquisador/professor/profissional atuar, ele exercerá uma ação eminentemente docente. Há algum tempo o mundo globalizado provoca transformações nos diversos segmentos sociais. No setor educacional, mais especificamente no ensino superior, essas transformações são sentidas mais rapidamente: o numero de matriculas nos cursos superiores, o numero de cursos superiores, a condição de trabalho do professor do ensino superior. É este cenário que nos leva aos seguintes questionamentos: Quais as condições de trabalho dos professores do ensino superior Quais os efeitos dessas condições de trabalho na prática pedagógica? Nossos questionamentos juntam-se aos de outros pesquisadores que também se preocupam com a docência no ensino superior. Antes os estudos sobre o tema versavam sobre aspectos, meramente, técnico-disciplinar, conforme Pimenta, Anastasiou e Cavallet (2003). A demanda hoje recai também, e principalmente sobre os campos dos saberes pedagógicos e políticos, ou seja, essa amplitude e aumento dos estudos indicam a importância desses temas para o ensinar bem. Junta-se a isso, o fato de que a investigação sobre o ensino superior era quase centralizada no eixo centro-sul do Brasil, agora desloca-se também para a periferia do Brasil, uma vez que se percebeu, ao longo da ultima década, a descentralização da oferta de educação superior brasileira. Segundo Pimenta (1999), o processo identitário se constrói a partir dos significados sociais da profissão, da revisão das tradições, pelo significado que cada professor como autor e ator confere à atividade docente em seu cotidiano, pela discussão da questão do conhecimento como ciência e da construção dos saberes pedagógicos. Como bem nos lembra Oliveira e Freitas (2008), os professores continuam sem possuir, enquanto grupo ocupacional, autonomia, ”especialmente quando comparados com outras categorias profissionais que se autodeterminam, se autocontrolam e se autoforma” (p. 53). OBJETIVO GERAL Este estudo teve como objetivo investigar as publicações em torno das condições de trabalho dos docentes do ensino superior e os efeitos dessas condições sobre sua prática profissional 251 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa bibliográfica do tipo exploratória com abordagem qualitativa. A pesquisa foi realizada no primeiro semestre de 2013. A busca pelo material deu-se em bases eletrônicas de dados. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A concepção de docência superior vem sofrendo fortes transformações. Essas transformações se devem a dois grandes fatores: processo de globalização e panorama nacional. As exigências que o docente universitário tem que atender são de ordem da capacitação e da didática. Em termos de capacitação, os parâmetros nacionais são bem definidos. Em termos de didática, a exigência é por um profissional capacitado que tenha noções de mercado de trabalho, que atenda as exigências da academia, que domine as tecnologias educativas, que realize seu trabalho de forma integrada, que domine a linguagem corporal/gestual, que busque a participação ativa do seu alunado e que inspire os seus alunos. Ou seja, ensinar da Universidade, no ensino superior de um modo geral, exige do docente uma ação diferenciada. Nas palavras de Pimenta, Anastasiou e Cavallet (2003) “o professor universitário precisa atuar como profissional reflexivo, crítico e competente no âmbito de sua disciplina, além de capacitado a exercer a docência e realizar atividades de investigação” A partir da década de 90, o país apresentou uma rápida expansão de matriculas no ensino superior Esse aumento crescente de ingressantes no 30 grau representa, necessariamente, um aumento no numero de cursos de ensino superior e o numero de docentes para neles atuar. O processo de trabalho docente. Para Marx (1987) o trabalho é definido como ação transformadora e intencional do homem sobre a natureza para satisfação de suas necessidades. Mas a atividade laboral está diretamente ligada ao contexto social e econômico que circunda o trabalho. O trabalho docente, especificamente, tem, atualmente, sua organização e administração delimitadas pelo modo de produção capitalista. Oliveira (2004), em seu estudo sobre o trabalho dos professores das escolas públicas brasileiras, apresenta “a intensificação do labor docente, exigência de polivalência, desgaste e insatisfação, assim como flexibilização e precarização da profissão, como fatores relacionados a esse reflexo da profissão docente”. Nesta perspectiva, as concepções de ambiente de trabalho, de contexto econômico-social e de saúde não podem ser analisadas de forma dissociada da prática docente. Legislações da educação superior no Brasil A principal legislação brasileira acerca do ensino superior é a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), lei nº 9.394, sancionada pelo Presidente da República em 20 de dezembro de 1996. De acordo com a LDB/96, temos dois tipos de Instituição de Ensino Superior, conforme a organização acadêmica: Universidades e Não-Universidades. As não-universidades compreendem 252 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO os Centros Universitários, Faculdades Integradas e Institutos ou Escolas Superiores. Conforme Morosini (2000, p. 14), dos 973 estabelecimentos de ensino superior, 153 são universidades e 820 não-universidades. De acordo com o Decreto 5.773/06, a instituições são credenciadas originalmente como faculdades. As universidades, por sua vez se caracterizam por três pilares indissolutos: ensino, pesquisa e extensão e se caracterizam, conforme INEP (2010) por “ I - produção intelectual institucionalizada (...); II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação acadêmica de mestrado ou doutorado; III - um terço do corpo docente em regime de tempo integral.” A criação de Universidades Federais é uma pregorrativa do Poder Executivo através de projeto de lei encaminhado do Congresso Nacional. A criação de universidades particulares, por sua vez, se dará a partir da transformação de IES já existentes. Como as missões institucionais, as funções e as mantenedoras mudam, o exercícios da docência, o tipo de atividade do professor, bem como as condições de trabalho, são também diferentes. Para a legislação educacional brasileira, a questão da formação do professor quase sempre remete ao professor da educação básica, ou seja, a formação do professor do ensino superior é tratada de forma pontual e superficial. Além da LDB/96, há outras legislações que evidenciam a qualidade e as condições de trabalho docente, como o Decreto nº 2.026, de 20 de outubro de 1996, que define o Sistema de Avaliação do Sistema de Educação Brasileiro, SINAES. Este sistema se propõe a avaliar as instituições, os cursos de graduação e os alunos no começo e no final do curso Uma variável avaliada pelo SINAES que apresenta reflexos sobre o desempenho do professor é a avaliação institucional (análise do conjunto de atividades desempenhadas pela instituição). O Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE), instituído em 2007, através da Portaria normativa nº 40, integra o (SINAES) e tem como objetivo aferir o rendimento dos alunos dos cursos de graduação em relação aos conteúdos programáticos, suas habilidades e competências. De alguma forma, o ENADE também avalia o papel do docente uma vez que uma parte do desempenho do aluno pode ser atribuída ao desempenho do professor e da IES em que ele estuda. Avaliações como as acima citadas sustentam-se na necessidade de comparações e rankings buscando o controle da qualidade dos serviços educacionais, de maneira semelhante ao que é feito no mundo empresarial. Não nos espanta, dessa maneira, que além desse hábito mercantilista de rankear a educação, vocábulos do mesmo ambiente estejam impregnados nos discursos educacionais: produtividade, desempenho, metas. 253 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC CONSIDERAÇÕES FINAIS Conclui-se com este estudo que muito já fora pesquisado sobre o tema, mas, dada à importância do trabalho docente e suas atuais circunstancias, há necessidade de acompanhamento das condições de trabalho docente e de estudo sobre os impactos dessas condições laborais sobre a prática pedagógica. REFERÊNCIAS BESSA, Denise. Trabalho docente no ensino superior sob o contexto das relações sociais capitalistas. Disponível em: http://www.anped.org.br/reunioes/29ra/trabalhos/trabalho/GT11-1979-Int.pdf. Acesso em: 01 de maio de 2012-05-01 BOSI, Antonio de Pádua. A precarização do trabalho docente nas instituições de ensino superior do Brasil nesses últimos 25 anos. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/es/v28n101/a1228101.pdf. Acesso em: 23 de Março de 2012 BRASIL. Decreto 2026 de 10 de Outubro de 1996. Estabelece procedimentos para o processo de avaliação dos cursos e instituições de ensino superior. Disponível em: http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/d2026_96.htm. Acesso em: 27 de Abril de 2012 ______. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Sancionada em 12 de dezembro de 1996, pelo Presidente da República Federativa do Brasil. ESTEVE, José Manoel. O mal-estar docente: a sala de aula e a saúde dos professores. Tradução Durley de Carvalho Cavicchia. Bauru, SP: EDUSC, 1999. MARX, K. O Capital: a crítica da economia política. 11 ed. São Paulo: Difel, 1987. MOROSINI, Marilia Costa (org.). Professor do ensino superior: identidade, docência e formação. Brasília : Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, 2000. OLIVEIRA, Dalila Andrade . 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Formação de educadores: desafios e perspectivas São Paulo: Editora UNESP, 2003. 254 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO FORMAÇÃO PEDAGÓGICA UNIVERSITÁRIA, LIMITES E POSSIBILIDADES Ana Paula Vasconcelos de Oliveira Tahim128 Gabrielle Silva Marinho129 Marcos Antonio Martins Lima130 RESUMO O presente estudo tem por objetivo apresentar e dialogar sobre questões relativas à formação pedagógica universitária na realidade brasileira, com foco nos saberes necessários à docência no ensino superior. Mediante as críticas dirigidas aos cursos superiores que dizem respeito à didática dos professores universitários, emergentes na literatura especifica e no dialogo estabelecido no colegiado de professores, em diferentes tipos de instituições de ensino superior. Pode-se observar que a expansão do acesso ao ensino superior promove o aumento da demanda por professores para atuam neste nível de ensino, e, por conseguinte emerge a preocupação com a formação para docência em concomitância com a prática no ensino superior, proporcionado aumento das discussões e estudos a cerca do tema da formação e desenvolvimento profissional dos docentes universitários, para além de um saber simplesmente teórico-disciplinar. Então frente esta realidade, emerge os seguintes questionamentos: Em que consiste a pratica docente universitária? Quais os saberes pedagógicos necessários? Qual a formação inicial e continuada adequada ao professor universitário? Assim, mediante a problemática destacada, o presente estudo, aborda-se a formação pedagógica universitária, contexto, e exigências para atuação do professor no ensino superior. Palavras-chave: Formação Pedagógica. Atuação Docente. Ensino Superior. INTRODUÇÃO Comumente as críticas dirigidas aos cursos superiores dizem respeito à didática dos professores universitários, tal fato pode ser constatado através da literatura específica da área, bem como, no dialogo com alunos de diversos cursos, em diferentes tipos de instituições de ensino superior. Em contra partida, a expansão do acesso ao ensino superior promove o aumento da demanda por professores para atuar neste nível de ensino, e, por conseguinte emerge a 128 Pedagoga - UFC. Especialista em Coordenação Pedagógica - FA7. Mestre em Educação Brasileira - UFC. Professora e Assessora Pedagógica – FCRS. [email protected]. 129 Mestre em Educação Brasileira pela UFC. Doutoranda Educação Brasileira pela UFC. Bolsista CAPES/DS. [email protected] 130 Graduado em Economia – UFC. Mestre em Administração – UECE. Doutor em Educação Brasileira – UFC. Professor Adjunto – FACED/UFC. [email protected] 255 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC preocupação com a formação para docência no ensino superior, proporcionado aumento das discussões e estudos a cerca do tema da formação e desenvolvimento profissional dos professores universitário, para além de um saber simplesmente teórico-disciplinar. Então frente esta realidade, emerge os seguintes questionamentos: Em que consiste a pratica docente universitária? Quais os saberes pedagógicos necessários? Qual a formação inicial e continuada adequada ao professor universitário? Assim, mediante a problemática destacada, o presente estudo, tem por objetivo apresentar e dialogar sobre questões relativas à formação pedagógica universitária na realidade brasileira, com foco nos saberes necessários à docência no ensino superior. Aborda-se a formação pedagógica universitária, contexto, e exigências para atuação do professor no ensino superior. OBJETIVO GERAL Apresentar e dialogar sobre questões relativas à formação pedagógica universitária na realidade brasileira, com foco nos saberes necessários à docência no ensino superior. METODOLOGIA Para a elaboração deste estudo optou-se por uma pesquisa bibliográfica como forma de trabalho inicial com fins de aprofundamento sobre os assuntos a serem debatidos. Desta forma, como segundo momento foi explicitado os saberes pedagógicos necessários para o professor universitário, por fim organizou-se coletivamente, pelos professores participantes, o perfil de competências do Professor de uma Instituição de Ensino Superior do Sertão Central Cearense. Assim, partindo da observação das discussões elaboradas foram realizadas as analises deste trabalho. DISCUSSÃO DE RESULTADOS Historicamente o ensino superior brasileiro passou por mudanças desde sua implantação. Nesse processo, destaca-se a década de 1960, pois, neste período o Brasil vivenciava a industrialização, e por esta razão, o modelo de ensino universitário centrou-se no modelo tecnicista, ou seja, a ênfase estava no aprender a técnica, para o saber fazer, o aprender para por a técnica em prática (LIBÂNEO,1985), com o objetivo de formar profissionais que acompanhassem o desenvolvimento do país. Nesta prática de ensino, o professor universitário se porta como detentor do saber, por esta razão, considerava o estudante como receptor e reprodutor do conhecimento (BEHRENS, 2003). Ainda na referida década houve a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases LDB/1961, que em seu Art. 59, passou a exigir que o professor para o ensino médio fosse formado em cursos de nível superior, emerge a valorização da formação universitária para os professores. Posteriormente, a Reforma Universitária, realizada em 1968 durante o Regime Militar, promoveu transformações para o ensino superior, tendo como um dos objetivos explícitos a 256 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO modernização e a expansão das instituições públicas, sobretudo no âmbito das universidades federais. No entanto, tal reforma instituiu o vestibular classificatório, para acabar com os “excedentes”; deu à universidade um modelo empresarial; organizou a universidade em unidades praticamente isoladas; multiplicou as vagas em escolas superiores particulares. Assim evidenciando sua motivação implícita, ou seja, impedir a organização estudantil, o objetivo foi alçado, mas alem disso é importante reconhecer que essa reforma produziu efeitos dicotômicos (CUNHA, 2000). Essa dicotomia, por um lado, promoveu a modernização de parte significativa das instituições de ensino superior (IES) tanto as instituições federais, bem como, algumas estaduais e confessionais, criando, assim, condições favoráveis para que estas instituições passassem a articular as atividades de ensino e de pesquisa. Em contra partida, ocasionou um aumento significativo de instituições privadas de ensino superior, o que pautavam suas atividades na mera transmissão de conhecimentos, voltadas para a profissionalização, o que acredita-se, sem a preocupação de contribuir para a formação de profissionais críticos e reflexivos e, portanto, autônomos. No entanto a educação no século XXI, frente à intitulada “a era do conhecimento” exige dos profissionais múltiplas habilidades, o que acarreta em uma nova demanda dentro da área de ensino superior. Também, Demo (2008) afirma que diante da sociedade intensiva de conhecimento, o ensino e extensão ainda pautados no instrucionismo, precisam atentar para a necessidade de construção e não reprodução no ensino. Por sua vez o ensino deve oportunizar o treinamento profissional. Sendo a pesquisa a única dimensão que oportuniza o crescimento da aprendizagem integral aliado a conhecimento inovador e a “cidadania”, que nesta nova demanda emerge como obrigatoriedade do ensino (currículo) e não somente na extensão. Ante o exposto insurge a busca por profissionais com formação no campo dos saberes pedagógicos e políticos, o que indica um reconhecimento da importância desses aspectos para a qualidade do ensino. Por essa razão professores e postulantes a docência em cursos universitários vem realizando cursos de Didática do Ensino Superior, que são oferecidos com uma frequência cada vez maior, em nível de pós-graduação por instituições de Ensino Superior. Neste contexto, emerge os debates a cerca da formação de professores para a docência do ensino superior. Evidencia-se que a formação exigida do professor universitário tem sido limitada ao conhecimento aprofundado da disciplina a ser ensinada, sendo decorrente do exercício e/ou pratica profissional, ou mesmo, mero conhecimento teórico-disciplinar, resultante da vivência acadêmica. Em suma, a exigência relacionada aos aspectos pedagógicos da formação para o exercício da docência universitária acontece de forma emblemática. Na atualidade existe o entendimento de o professor universitário, assim como de seus colegas professores atuantes na educação básica, necessita não apenas de vasto conhecimento na área em que pretende lecionar, como também, formação inicial e continuada que subsidie a competência pedagógica suficiente para tornar o aprendizado mais eficaz. 257 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Importa compreender o sentido da docência, assim é fundamental conhecer o significado do termo que etimologicamente, a palavra docência tem suas raízes no termo em latim docere que significa “ensinar, instruir, mostrar, indicar, dar a entender” (ARAÚJO, 2004). Assim, ao considerar o significado do termo, evidencia-se que o exercício da docência etimologicamente ultrapassa a mera tarefa de regência, instruir ou ministrar aulas. Tendo em vista a resignificação do ensino superior, então entendido no sentido essencial da responsabilidade social, portanto com finalidade de produzir e socializar conhecimentos que tenham além do mérito científico, valor formativo e social, em suma, conhecimentos importantes para o desenvolvimento econômico. Além disso, concebe-se que o professor universitário precisa necessariamente ter ampla visão de mundo, bem como, do ser humano, de ciência e de educação. Importa considerar também que o ensino universitário consiste em uma estratégia adotada pela sociedade para formar os indivíduos no sentido de transformá-los em consumidores inteligentes e responsáveis, motivados para a vida profissional, conscientes nas ações que realizam, mas principalmente, preparados para tomar decisões e enfrentar situações novas. Diante do exposto ampliam-se as implicações para docência no ensino superior. O estudioso Zabalza (2004) atribui três funções aos professores universitários, ou seja: o ensino, a pesquisa, e administração em diversos ambitos na instituição de ensino superior. Sendo que o ensino aqui resultante da função de regência; a pesquisa no sentido da produção de conhecimentos, e; a administração consistindo no exercício de funções de direção, coordenação, assessoria no diversos setores da instituição de ensino superior. Em consonância, a autora Veiga (2000) acrescenta ainda, a função de orientação acadêmica, presente no desenvolvimento de Trabalhos de Termino de Curso (TCC), monografias, dissertações e teses. Assim, fica nítida a ampliação do campo da docência universitária, o que desemboca em implicações tanto no âmbito da responsabilidade do professor, como também no âmbito da instituição de ensino superior. Portanto ao professor universitário exigi-se uma ampliação de sua formação para o magistério superior, não somente centrada na preparação para a condução de pesquisas, mas também na formação pedagógica, que valorize a atividade de regência e produção de conhecimento junto ao aluno de graduação, com vistas à almejada “indissociabilidade do ensinopesquisa-extensão” (PIMENTA, 2002, p. 89). Assim, emergem as exigências para atuação positiva do professor: condições de trabalho adequadas; salário digno pelo bom desempenho; capacidade de autoanálise e feedback; atualização constante (conteúdos e contextos); relacionamento somado a formação pedagógica; capacidade de pesquisar e produzir; capacidade de atuar com base na teoria e na prática, bem como, gerar reflexões em sala de aula. No tangente a formação pedagógica, entende-se como fundamental o conhecimento básico dos saberes das ciências da educação, em destaque a Filosofia, a Didática, a Sociologia, Psicologia e Política da Educação, posto que fundamentam as teorias e os processos de aprendizagem, bem 258 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO como, contexto e a complexidade dos conhecimentos que oferecem subsídios ao planejamento e atuação no exercício efetivo do ensino. REFERÊNCIAS ARAÚJO, J.C.S. Docência e ética: da dimensão interativa entre sujeitos ao envolvimento sócio institucional. In: ROMANOWISKI, J.P.; MARTINS, R.D.O.; JUNQUEIRA, S.R. (Orgs.). Conhecimento local e conhecimento universal: práticas sociais, aulas, saberes e políticas. Curitiba: Champagnat, 2004. CUNHA, L. A. Ensino Superior e a universidade no Brasil. In: LOPES, Eliana Marta Teixeira, FARIA FILHO, Luciano Mendes VEIGA, Cynthia Greive.(orgs.) 500 anos de educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. DEMO, P. Universidade, aprendizagem e avaliação: horizontes reconstrutivos. 2.ed. Porto Alegre: Mediação, 2008. LIBÂNEO, J. C. Democratização da escola pública. A pedagogia crítico social dos conteúdos. São Paulo: Loyola, 1985. PIMENTA, S. G.; ANASTASIOU, Léa das Graças Camargos. Docência no Ensino Superior. São Paulo: Cortez, 2002. (coleção Docência em Formação v. 1). VEIGA, I. P., CASTANHO, Maria Eugênia (org.). Pedagogia Universitária: a aula em foco. Campinas, SP: Papirus, 2000. ZABALZA, M.A. O ensino universitário: seu cenário e seus protagonistas. Porto Alegre: Artmed, 2004. 259 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC (IN)FORMAÇÃO PROFISSIONAL NO ENSINO SUPERIOR: ESTUDO SOBRE A REALIDADE DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ(UESPI) Valdeney Lima da Costa131 RESUMO A formação profissional continuada de professores tem sido objeto de atenção de diversas pesquisas. No entanto, estas tem focalizado a formação para a docência na educação básica. Sendo assim, poucos estudos tem se debruçado sobre o desenvolvimento profissional dos docentes para a educação superior. O presente estudo tem por finalidade discutir sobre ações da Universidade Estadual do Piauí visando a formação continuada de seus professores em efetivo exercício nos diversos campi da instituição espalhados por todo o estado do Piauí. Para nortear o presente trabalho, defini como questão de estudo: Que ações são encaminhadas pela Universidade para o fortalecimento/desenvolvimento da formação continuada de seus professores? Para responder essas questões assim como para alcançar os objetivo traçado, optei por uma pesquisa bibliográfica e um estudo documental baseado na proposta de formação oferecida aos professores "novatos" na instituição. Os resultados desse estudo revelam a carência de políticas e/ou ações efetivas por parte da UESPI no apoio ao desenvolvimento profissional de seus professores. Assim como acontece em outras Instituição de Ensino Superior(IES), a formação continuada dos professores universitários se limita a um curso introdutório ,preferencialmente, realizado nos primeiros meses de exercício profissional dos professores recém -concursados. PALAVRAS-CHAVE: docência. universidade. formação continuada. INTRODUÇÃO A formação profissional continuada de professores tem sido objeto de atenção de diversas pesquisas. No entanto, estas tem focalizado a formação para a docência na educação básica. Sendo assim, poucos estudos tem se debruçado sobre o desenvolvimento profissional dos docentes para a educação superior Muitos professores universitários reconhecem a necessidade da formação pedagógica. Também autoridades educacionais. Tanto é que os cursos de especialização, conhecidos como pós-graduação lato sensu, incluem obrigatoriamente disciplinas de formação pedagógica. E em algumas instituições de ensino universitário já se nota a presença de assessores pedagógicos para auxiliar os professores em relação ao planejamento e condução das atividades docentes.( GIL, 2009, p.16, grifos do autor). Como se sabe, a formação dos professores universitários inicia-se nos programas de mestrado e doutorado, que por sua vez, oferecem a titulação exigida para o exercício da profissão, conforme recomenda a Lei 9.394/96132. 131 Mestre em Educação. Professor da Universidade Estadual do Piauí. [email protected] A lei define que as universidades, entre outras recomendações, se caracterizam por possuir " um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação acadêmica de mestrado ou doutorado" (BRASIL, Inciso II, Art.52). 132 260 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO É na perspectiva de contribuir com reflexões acerca do tema formação docente no ensino superior que este propus desenvolver o presente trabalho acadêmico. No entanto, dada a amplitude do assunto, tornou-se necessária sua delimitação. O recorte do estudo além de atender a perspectiva da viabilidade e do aprofundamento teórico-metodológico, busca corresponder a experiência vivida pelo presente pesquisador, que exerce a função de professor e coordenador do Curso de Pedagogia no campus Dom José Vásquez Diaz, na Universidade Estadual do Piauí(UESPI). Assim, baseado nas leituras e na experiência vivida, questiono: Que ações são encaminhadas pela Universidade para o fortalecimento/desenvolvimento da formação continuada de seus professores? Com base nesse questionamento central, estabeleci os seguintes objetivos deste estudo: OBJETIVO GERAL Discutir sobre formação do professor universitário, tendo como recorte de estudo a realidade da Universidade Estadual do Piauí. Analisar a proposta do seminário de educação superior promovida pela instituição destinada aos professores recém-concursados. Compreender a importância da formação pedagógica para o professorado da UESPI. METODOLOGIA O estudo ora proposto é de natureza exploratória. Sua realização foi ancorada numa pesquisa teórico-bibliográfica e em pesquisa documental. Na pesquisa bibliográfica, feita ao longo da investigação, analisei livros e artigos que discutem de maneira direta, ou não, o tema aqui pesquisado com a finalidade de saber o que já foi produzido pelos autores e o que vem sendo discutido na atualidade. Este exercício foi relevante porque permitiu o conhecimento do movimento das reflexões sobre o tema durante certo espaço-temporal, o que possibilitará, também, a identificação das lacunas existentes na produção acadêmica acerca do presente tema. O referencial teórico que subsidiou a escrita deste artigo pauta-se nos estudos de Pimenta e Anastasiou(2002), Gil(2009), Imbernón(2010), Veiga(2012) , enquanto a investigação documental baseou-se em material impresso que destaca a proposta de formação dos professores recémconcursados da UESPI. Concluídas essas duas pesquisas, em momento seguinte, realizei inferências sobre os dados coletados à luz do referencial teórico utilizado. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Como se sabe, a formação inicial dos professores universitários inicia-se a nível de pósgraduação, preferencialmente, nos cursos de mestrado e doutorado. Estando ciente de que em vários cantões desse país, existam professores da academia apenas com título de graduado ou especialista, a perspectiva adotada nesse estudo defende a importância da realização de estudos a 261 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC nível stricto sensu como requisito inicial para se exercer a docência no espaço da universidade, embora reconheça a limitação de alguns destes cursos. Acontece que a forma como são organizados os programas de pós-graduação no Brasil não oferece condições para formar pedagogicamente o profissional que vai exercer a docência no magistério superior. Quase sempre é a formação para a pesquisa que obtém primazia na formação stricto sensu, relativizando a preparação para docência universitária. Exemplo disso é o chamado estágio-docência, que em diversos programas assume caráter não obrigatório para mestrados e/ou doutorandos. Quando realizado, se restringe a uma disciplina de 60 horas em determinado semestre, preferencialmente, vivenciado na metade do curso acadêmico e mesmo na área de pesquisa de interesse do professor orientador do orientadoestagiário. Concluído o Curso de Mestrado, por exemplo, alguns mestres, quando não estão exercendo a profissão docente, mesmo com vínculo temporário, buscam inserção profissional em concursos para o magistério superior em instituições públicas ou privadas. Os que conseguem entrar na academia, por vezes se deparam com muitos obstáculos que afrontam sua profissionalização: carga horária intensiva, condições precárias de trabalho, isolamento relacional, inexistência de espaços de formação e discussão no ambiente de trabalho, falta de apoio da instituição de ensino para a valorização do trabalho docente, entre outros. Tais empecilhos na atividade profissional do professor universitário põe em risco não apenas a qualidade do seu trabalho pedagógico, como também afeta seu desenvolvimento profissional. Sem desconsiderar o prejuízo causado a própria instituição. A intensa carga horária de atividades de ensino , por exemplo, suga o tempo do professor, que ocupado com quatro e mesmo cinco disciplinas, em alguns casos, em diferentes cursos de graduação, não dispõe de momento para o estudo, planejamento e a avaliação de seu próprio trabalho. Em relação as precárias condições de trabalho, além da jornada intensiva em sala de aula, com sobrecarga de disciplinas a ministrar, a infraestrutura de algumas unidades universitárias situadas em cidades interioranas, compromete o trabalho docente no magistério superior. É possível pensar, embora pareça difícil de acreditar, na existência de campis no interior de vários estados, que não dispõem de um sinal satisfatório de internet ou mesmo que não dispõe de uma biblioteca com acervo atualizado. Ademais, sem incentivo à pesquisa e apoio a projetos de extensão, fica o professor universitário de alguns unidades interioranas reduzido a um simples ministrador de aulas. Sobre essas adversidades, Imbernón( 2010) afirma que (...) o professor e as condições de trabalho em que exerce sua profissão são o núcleo fundamental na inovação nas instituições educativas; mas talvez o problema não esteja apenas nos sujeitos docentes, e sim nos processos políticos, sociais e políticos (p.21, grifos do autor). Esses dados acerca da precariedade das condições de trabalho de muitos professores da educação superior atuantes em várias partes desse país, parece revelar que o processo de 262 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO interiorização da universidade pública, em especial, a de caráter estadual, não resultou na oferta de uma infraestrutura mínima e satisfatória para a população acadêmica. Outro aspecto consiste na insuficiência de espaços de formação e/ou discussão para o desenvolvimento profissional dos docentes. Quase sempre são nas reuniões de colegiado de curso, conselho ou em semanas universitárias (quando essas existem ) que se visualizam oportunidades para a troca de experiências formativas. No entanto, a maioria desses encontros toca mais nas questões administrativas do que em assuntos relativos a formação pedagógica dos professores da instituição universitária. Sabe-se que "a docência, é portanto, uma atividade profissional complexa, pois requer saberes diversificados. Isso significa reconhecer que os saberes que dão sustentação à docência exigem uma formação profissional numa perspectiva teórica e prática. (VEIGA, 2012, p.20). Falando em formação profissional, cabe ressaltar uma iniciativa concreta proposta pela UESPI destinada a professores iniciantes no quadro efetivo da instituição. Assim como ocorre em outras Instituição de Educação Superior(IES), foi ofertado o curso de docência no ensino superior, com finalidade instrumental, ou seja, repassar informações sobre a organização e dinâmica da própria universidade. Denominado I Seminário Docência no Ensino Superior, a formação encaminhada pela UESPI tinha por objetivo oportunizar aos novos docentes efetivos, atualização e discussão acerca da organização didático-pedagógica do ensinar e aprender, da organização administrativa e a acadêmica da UESPI, visando o aprimoramento do fazer pedagógico e da gestão do ensino superior.(UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ, 2012) Organizada para acontecer em dois seguidos em cinco campus da instituição ( as unidades sede deste evento localizaram-se nas cidades de Teresina, Oeiras, Floriano, Bom Jesus e Parnaíba), o referido seminário focalizou os professores efetivos aprovados no concurso público para magistério superior realizado pela instituição no ano de 2011. Interessante saber que uma quantidade significativa desses professores já trabalhavam na própria UESPI , em regime de contratação provisória. Por outro lado, há que se reconhecer o egresso de profissionais do magistério superior vindos de outros estados brasileiros, iniciando portanto, a carreira nesta IES. De acordo com a programação expressa em folder, o primeiro dia do seminário era dedicado a explanações do reitor/ou vice reitor e dos representantes das Pró-Reitorias de Ensino e Graduação(PREG), de Pesquisa e Pós-Graduação (PROP), de Administração(PRAD) e de Planejamento e Finanças(PROPLAN). Também estava prevista na abertura a palestra intitulada "A formação Docente e os desafios atuais para o Ensino Superior", proferida por uma professora " da casa". O tema da palestra de abertura , a meu ver, não poderia fugir do atual contexto vivido pela Universidade Estadual do Piauí, que para continuar existindo legalmente enquanto tal, carecia de professores efetivos. Ademais, docentes estes, comprometidos fidedignamente à instituição, daí a 263 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC contratação significativa de profissionais com regime de dedicação exclusiva em várias áreas de conhecimento. Já o segundo dia, considerado de caráter "mais pedagógico", envolveu os participantes em três oficinas temáticas, com temas a saber: 1) Organização do Trabalho pedagógico na Educação Superior; 2) Avaliação Institucional e dos cursos da graduação; 3)Uso das TIC'S nos Cursos de Graduação na modalidade regular. A primeira oficina abordaria os subtemas: a)Identidade do professor da Educação Superior( saberes da docência); b) O planejamento didático na Educação Superior; c)Elaboração do Plano de Curso; d)A sala de aula como espaço de formação. À segunda tinha como subtema: a) Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior; b) Experiência de avaliação da UESPI; c)Sistema de avaliação dos cursos de graduação –ENADE CONSIDERAÇÕES FINAIS Aqui cabe fazer uma reflexão: Se nas escolas de educação básica costumeiramente acontecem as chamadas semanas pedagógicas, realizadas prioritariamente ao início de um período letivo, por que não acontece o mesmo nas unidades universitárias? Conforme visto, o seminário sobre docência superior oferecida , em geral, ao professores iniciantes, muita das vezes, representa uma atividade isolada acabada, que não possui continuidade em outros momentos. Em verdade, o papel agora é repassado para o professor, que com esforços próprios é levado a buscar sua formação profissional continuada, seja em congressos, atividades de pesquisa e extensão, dentre outras iniciativas. A UESPI, enquanto instituição fundada em 1986, em que o curso de Pedagogia foi um dos cursos primeiros, a meu ver, carece de políticas e/ou ações efetivas promotoras do desenvolvimento profissional de seus professores, muitos destes com o diploma de bacharel. Compreendo a docência universitária como atividade complexa, que requer a entrelaçamento de vários saberes, não mais unicamente os acadêmicos. (PIMENTA & ANASTASCIOU). Nesse sentido, faz-se oportuna a formulação de uma política interna de formação e não de informação profissional dos docentes efetivos da instituição em estudo. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei 9.394/96. Estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional. Brasília, 1996. IMBERNÓN. Formação Docente e Profissional: formar-se para a mudança e a incerteza. 8ª edição. São Paulo: Cortez Editora, 2010. (Coleção Questões da nossa época, v.14). GIL, Antônio Carlos. Metodologia do Ensino Superior. São Paulo: Editora Atlas, 2009. PIMENTA, Selma Garrido; ANASTASIOU, Léa das Graças Camargos. Docência no Ensino Superior. 4ª. Edição. São Paulo: Cortez, 2010. (Coleção Docência em Formação). VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Docência como atividade profissional. In: VEIGA, Ilma Passos Alencastro; D'ÁVILA, Cristina(orgs.) Profissão Docente: novos sentidos, novas perspectivas. 2ª edição. Campinas, SP: Papirus, 2012. (Coleção Magistério: Magistério e Trabalho Pedagógico. 264 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR: PROFISSÃO COM CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS ESPECÍFICOS Charmênia Freitas de Sátiro 133 Carmensita Matos Braga Passos 134 RESUMO Algumas pesquisas em âmbito nacional revelam que no Brasil na maioria das instituições de ensino superior, públicas e privadas, os professores são despreparados para lidar com os processos de ensino, seja por desconhecerem cientificamente os conhecimentos pedagógicos implicados na docência ou por considerarem esses conhecimentos comuns a qualquer formação acadêmica, inclusive são incluídos nessa amostra os docentes dos cursos de lic enciatura. Nesse estudo defendemos a necessidade de compreendermos a formação pedagógica e a Didática como campo específico da Pedagogia e indispensável para a preparação para a docência no Ensino Superior. Indagamos nesse estudo: Que conhecimentos específicos devem possuir os profissionais que atuam na docência do Ensino Superior? Para responder esse questionamento aplicamos questionários com cinco alunos do curso de especialização em educação de uma universidade pública do Ceará. Desses questionamentos, surgiu o interesse em dar continuidade o estudo sobre a formação do professor universitário e para prosseguir iniciamos um estudo bibliográfico ancorado nos seguintes autores: Almeida (2012), Freire (2011), Lima (2011), Imbernón (2006), entre outros. Da coleta de dados, juntamente com esse estudo chegamos até o momento a conclusão de que a formação pedagógica dos professores do Ensino Superior é indispensável para que superem o reducionismo técnico da profissão, e atuem no processo de ensino considerando todas as dimensões e saberes da docência. PALAVRAS-CHAVE: Docência. Ensino Superior. Conhecimentos Pedagógicos. INTRODUÇÃO A Lei de Diretrizes e Bases da Educação - 9394/96 em seu artigo 66 estipula a preparação para o exercício do magistério superior em nível de pós-graduação, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado. Essa exigência, no entanto, não determina que o docente nessa modalidade de ensino tenha acesso a algum conhecimento pedagógico. As pesquisas em âmbito nacional na área da educação, como por exemplo, o de Almeida (2012), revelam que no Brasil na maioria das instituições de ensino superior os professores são despreparados para lidar com os processos ensino e aprendizagem, ou seja, desconhecem cientificamente os conhecimentos pedagógicos. 133 Mestranda em Educação Brasileira da Universidade Federal do Ceará. E-mail: [email protected] 134 Doutora em Educação e professora da Universidade Federal do Ceará. E-mail: [email protected] 265 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Frente a essa realidade Almeida (2012) afirma que o ensino superior brasileiro tem vivenciado um crescimento considerável, o Censo da Educação Superior de 2007 revelou que foram criadas 1.387 novas escolas de nível superior, porém esse crescimento é ressaltado pela autora como sendo majoritariamente na Educação Superior Privada. Sabemos que a demanda intensa por qualificação, respeitando artigos estipulados em lei, faz com que ocorra o surgimento de cursos de diferentes níveis qualitativos, deixando vazios na formação desses profissionais, que chegarão à prática com limitações que atingiram consideravelmente o processo ensino, já que a deficiência de muitos é exatamente na formação pedagógica. Nesse contexto de formação dos docentes do Ensino Superior indagamos: Que conhecimentos específicos devem possuir os profissionais que atuam na docência do Ensino Superior? Dessa indagação surge o objetivo geral desse estudo. OBJETIVO GERAL Compreender a visão dos discentes dos cursos de especialização em Educação sobre a importância da formação pedagógica e da Didática na preparação para a docência no Ensino Superior. METODOLOGIA Para alcançarmos tal objetivo, aplicamos inicialmente questionários com cinco alunos do curso de especialização em educação de uma universidade pública do Ceará. Desses questionários, surgiu o interesse em dar continuidade o estudo sobre a formação do professor universitário e para prosseguir iniciamos um estudo bibliográfico ancorado nos seguintes autores: Freire (2011), Almeida (2012), Lima (2011), Imbernón (2006), entre outros. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS OS DOCENTES DO ENSINO SUPERIOR E SUA FORMAÇÃO PEDAGÓGICA ESPECÍFICA Nesse artigo defendemos a docência como uma profissão, que possui saberes específicos, dentre eles o conhecimento pedagógico, dessa forma, exige de seus profissionais uma formação adequada para ser exercida de forma qualitativa. Por isso concordamos com Lima (2011, p. 98): Não é fácil falar docência como trabalho, como profissão. Essa é uma atividade complexa que envolve o contexto social e político onde estamos inseridos. Nesse espaço, também se situam a vida, a formação e a profissão do professor com suas relações de trabalho e as conexões que se fazem nas contradições e possibilidades dessas interações. A discussão sobre a profissionalidade da docência passa por esferas da vida pessoal e profissional do professor, suas interações e as conexões que fazem politicamente. De acordo com Imbernón (2006) para enxergar o docente como um profissional é necessário dominar uma série de capacidades e habilidades especializadas que o fazem ser competente em determinado trabalho, e que, além disso, o ligam a um grupo profissional organizado e sujeito a controle. A docência a nosso entender exige saberes que só através da Pedagogia é possível a sua construção. A maioria dos docentes do Ensino Superior não possuem conhecimentos pedagógicos 266 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO necessários ao exercício da docência, em sua formação inicial não tiveram nenhuma disciplina que os aproximasse das dimensões do processo de ensino. Outros, mesmo com acesso a disciplina de Didática no curso de licenciatura de sua formação inicial, supervalorizam ou reduzem a docência a saberes técnicos. Entendemos, nessa pesquisa, que a Didática é um campo de conhecimento que investiga o processo de ensino, uma área de pesquisa que investiga as práticas educativas. No currículo dos cursos de licenciatura, é um dos componentes curriculares, ou uma das disciplinas, que tem a preocupação de formar os futuros professores para a prática pedagógica crítica, emancipatória e autônoma de ensino, com seus afazeres diários, contemplando o “que fazer” ou “ensinar”, como fazer isso (dimensão técnica), “para quem ensinar” e “porque” o fazer (dimensão política e social), considerando a diversidade do processo de ensino e aprendizagem (dimensão humana) e os contextos sociais e culturais em que o ensino está inserido. Um dos problemas que encontramos em nossa análise é que alguns cursos de PósGraduação possuem uma disciplina denominada, Docência no Ensino Superior, mas muitas vezes, mesmo nos programas em Educação, não é uma disciplina obrigatória. Ou seja, são formados professores para atuarem na docência do Ensino Superior sem conhecimentos pedagógicos. Acreditamos nessa pesquisa que esses conhecimentos deveriam ser indispensáveis para a docência, e devem ser considerados insubstituíveis em todos os níveis, principalmente nas licenciaturas da Educação Superior em que são formados novos professores. O QUE DIZEM AS ENTREVISTAS? Os alunos foram indagados nos questionários com a seguinte pergunta: Que conhecimentos específicos devem possuir os profissionais que atuam na docência do Ensino Superior? E todos revelaram que acreditam na indispensável formação pedagógica dessa profissão. “Para realizar com eficácia a docência o conhecimento pedagógico é imprescindível, conhecimento esse que é exercido em sala de aula, isto é, na prática. A questão não é somente saber, mas saber repassar. O conhecimento pedagógico nada mais é que a sabedoria em saber transmitir claramente o conhecimento intelectual do professor e atrelá-lo ao conhecimento prévio do aluno e seus conhecimentos de mundo. Para atingir com êxito os objetivos docentes é importante que o professor seja competente, isto é, seja comprometido, interessado em elevar seu nível e de seus alunos, além de ser humilde para compartilhar suas experiências, ensinar e aprender no meio docente, em contato com seus colegas de profissão”. Sobre isso Almeida (2012) diferencia a expressão ser professor e saber ser professor, reafirmando sua concepção de que os professores são profissionais que possuem saberes específicos, e um dele é exatamente o conhecimento pedagógico, ou “o saber ensinar”. Duas alunas fazem uma crítica ao reducionismo da docência ao saber técnico, reafirmando a importância e imprescindível presença dos outros saberes da docência. Dos cinco alunos, três citaram a dimensão social da docência. Compreendendo-a como profissão, e reconhecendo sua função na sociedade para além da sala de aula. 267 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC “O professor é um profissional, não é somente um transmissor de conhecimento intelectual, mas sim um filtrador do próprio conhecimento e da realidade na qual interage, é um formador de opinião, fornece as ferramentas para que o aluno construa seu conhecimento”. Essa última aluna trouxe ainda em sua fala, a necessidade de reflexão dos professores do Ensino Superior, quanto à utilização da metodologia dialética em suas práticas, sendo essa tão bem nos ensinada por Paulo Freire através do diálogo entre educando e educador. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo revelou que na compreensão dos sujeitos pesquisados os conhecimentos pedagógicos são indispensáveis na formação dos professores do Ensino Superior para que superem a visão reducionista da técnica nas suas atividades docentes. A docência do professor universitário precisa cuidar da sua prática educativa que de acordo com Freire (1978), corresponde, além de saber o conteúdo a ser trabalhado a uma concepção dos seres humanos e do mundo, o que exige ações teóricas e identidade com a profissão, o que inclui a existência de um referencial de valores e de concepção de mundo. Quando o professor entra na realidade institucional tem que ser capaz de aliar a teoria trazida de sua formação com o chão da sala de aula, com ética e competência, buscando caminhos de compreensão do universo educacional, na realidade dos educandos, por isso é necessária uma reflexão permanente sobre sua prática. Envolvendo todos os saberes implicados em sua formação, contemplando o “que fazer” ou “ensinar”, como fazer isso (dimensão técnica), “para quem ensinar” e “porque” o fazer (dimensão política e social), considerando a diversidade do processo de ensino e aprendizagem (dimensão humana) e os contextos sociais e culturais em que o ensino está inserido. Para que isso seja possível na docência do Ensino Superior é imprescindível à formação pedagógica desses profissionais para atuarem nos processos de ensino da universidade, superando o reducionismo técnico da profissão. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Maria Isabel. Formação do professor do Ensino Superior: desafios e políticas institucionais. São Paulo: Cortez, 2012. (Coleção docência em formação: Ensino Superior/ Coordenação Selma Garrido Pimenta) BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 23 dez. 1996, p.27894. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes implicados na formação docente. Paz e Terra: 2011. IMBERNÓN, Francisco. Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e a incerteza. 6 ed – São Paulo: Cortez, 2006. (Coleção Questões da Nossa época, v. 77) LIMA, Maria Socorro Lucena. Qual o lugar da Didática no trabalho do professor. Revista Eletrônica Pesquiseduca - v.3, n.5, jan.- jun. 2011. 268 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO O MATERIAL DIDÁTICO DE CÁLCULO II NA OPINIÃO DO ALUNO: FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA DO CURSO SEMIPRESENCIAL DO IFCE Marília Maia Moreira135 Cassandra Ribeiro Joye136 RESUMO No Brasil, atualmente, há alguns programas e leis que apóiam a formação de professores. E a Universidade Aberta do Brasil é um programa do governo que através das universidades públicas oferece ensino superior a distância para a população. Diante disso, sabe-se que o conhecimento, atualmente, é difundido de diversas formas. Sejam na forma de livros, cadernos, apostilas, revistas, ou em material didático. Assim, como também, atualmente, com a o advento da internet e com a propagação das Tecnologias de Informação e Comunicação, o conhecimento é disseminado em “folhas” digitais, ou melhor, em material didático online e impresso. Pretende-se, neste artigo, apresentar os resultados advindos da aplicação de um questionário aplicado com alunos do curso de Licenciatura em Matemática semipresencial do IFCE sobre o material didático da disciplina de Cálculo Diferencial e Integral II. Este trabalho é pautado em uma pesquisa de campo, onde extraímos dados advindos desse questionário aplicado junto a esses alunos. Como resultados, os dados apontaram que o material didático não trazia exercícios resolvidos e exemplos o suficiente para a prática do conceito que estava sendo estudado em certa aula, e que o mesmo poderia ser melhorado. Como conclusão, percebe-se que os pontos e críticas levantados pelos alunos oriundos do curso, pode-se ter um norte que aponta para uma preparação de material didático com mais qualidade em que se perpetue a ideia de que o material tem que está centrado na aprendizagem do aluno. PALAVRAS CHAVE: Opinião do Aluno. Produto Final. Material Didático de Cálculo II. Formação de Professores de Matemática. INTRODUÇÃO Políticas de Formação de Docente no Brasil No Brasil, atualmente, há alguns programas e leis que apóiam a formação de professores, aos quais podemos listar: Plano Nacional de Formação dos Professores para a Educação Básica – PARFOR; Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid; Observatório da Educação – Obeduc; Programa de Consolidação das Licenciaturas – Prodocência; Programa de Licenciaturas Internacionais – PLI; Universidade Aberta do Brasil – UAB. Deter-nos-emos neste último, ao qual se fará uma pequena discussão. A Universidade Aberta do Brasil é um programa do governo que através das universidades públicas, que foi instituído pelo o Decreto 5.800, de 8 de junho de 2006, cujo objetivo principal é 135 Marília Maia Moreira é graduada em Licenciatura em Matemática (IFCE), Especialista em Ensino de Matemática (UECE), e aluna do Mestrado da pós-graduação em Educação Brasileira da UFC. Email: [email protected] 136 Cassandra Ribeiro Joye é graduada em Pedagogia Licenciatura Plena (UFPE), Mestre em Engenharia de Produção (UFSC), e doutora em Engenharia de Produção (UFSC). Email: [email protected] 269 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC oferecer a população ensino de nível superior para que têm dificuldade de acesso à formação universitária, por meio da Educação a Distância (EaD). Em geral, o público atendido, são professores que já atuam na educação básica da rede de ensino público137. Diante disso, sabe-se que o conhecimento, atualmente, é difundido de diversas formas. Sejam na forma de livros, cadernos, apostilas, revistas, ou em material didático. Assim, como também, atualmente, com a o advento da internet e com a propagação das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), o conhecimento é disseminado em “folhas” digitais, ou melhor, em material didático online e impresso. Com isso, pode-se falar sobre o material didático para cursos online, o qual pode vim em formato digital e impresso. OBJETIVO GERAL Sendo assim, pretende-se apresentar neste artigo os resultados advindos da aplicação de um questionário aplicado com alunos do curso de Licenciatura em Matemática semipresencial do Instituto Federal do Ceará (IFCE) sobre aspectos do material didático (digital e impresso) da disciplina de Cálculo Diferencial e Integral II. A metodologia é pautada em uma pesquisa de campo, onde extraímos dados advindos desse questionário aplicado junto a esses alunos. METODOLOGIA Produção de material didático para cursos online Na produção de Material Didático para Educação a Distância (EaD), uma característica peculiar é a forma como a equipe é composta. Segundo Moreira (2012) e Guedes (2011), essa equipe é chamada de multidisciplinar, pois há diversos tipos de profissionais que trabalham juntos para produzir o Material Didático para dar suporte a aprendizagem do aluno que estuda a distância. Os principais profissionais envolvidos são: o professor conteudista, o designer instrucional, e o revisor gramatical. O professor conteudista, nesse cenário, é quem lida com a elaboração do conteúdo a que deve ser destinado a um curso a distância ou semipresencial. Sua formação é essencialmente importante, pois ele precisa ser especialista no conteúdo ao qual está produzindo (MOREIRA, 2012). Já o Designer Instrucional (DI) é o profissional que planeja e acompanha a produção do material didático que foi produzido pelo professor conteudista. Segundo Ramal (2003), (...) [o] designer instrucional é a pessoa ou grupo de profissionais que fará o desenho didático-pedagógico e o planejamento do processo de ensino aprendizagem, desde sua concepção, programação do curso às atividades e avaliação. (RAMAL, 2003, p. 188). Na perspectiva de Guedes (2011, p. 50), o DI “é quem evidenciará a didática e a pedagogia do material desenvolvido pelo conteudista.”. Mas, para evitar que o material tenha erros textuais e gramaticais, o revisor gramatical entra nesse cenário para examinar possíveis erros ou, também, sugerir que ao professor conteudista, a construção inteligível de alguma parte do texto que foi construído (MOREIRA, 2012). 137 Para mais informações ver o site: http://www.uab.capes.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=6&Itemid=18 270 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO Diante do foi exposto, a equipe multidisciplinar de produção de Material Didático tem uma tarefa primordial. No entanto, observa-se que, dependo do curso, o Material Didático tem suas peculiaridades, como é o caso de um material didático de Matemática para uma graduação semipresencial de formação de professor de Matemática. O material didático, segundo Guedes (2011) pode ser considerado como “todo dado e toda informação convertida em documento acessível, sob o formato impresso ou digital, que pode servir de material pedagógico para o trabalho intelectual. Sendo assim, o material didático impresso, costuma ser caracterizado por manter um padrão característico estático, uma vez que os meios de comunicação que veiculam esse tipo de material se dão através de folhas impressas, seguindo padrões de formatação e de identidade visual (MOREIRA, 2012). Já o material didático digital é caracterizado por ser mais dinâmico, pois se utiliza de recursos que o material impresso não dispõe. Esses recursos muitas vezes facilitam e dinamizam a aprendizagem do aluno. A interatividade, a navegação, o tratamento da informação, vídeos e áudios ajudam a compor o cenário de recursos que uma aula online tem. Sendo assim, nessa perspectiva, fica o questionamento sobre o grau de satisfação que um aluno que estuda a distância tem com relação ao material didático que é produzido por curso semipresencial. A seguir, se verá os resultados colhidos de um questionário realizado com alunos dos cursos de Licenciatura em Matemática semipresencial do IFCE, com relação a satisfação com o material didático produzido pela Universidade Aberta do Brasil ligado a Diretoria de Educação a Distância do IFCE. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Diante do que foi exposto até aqui, pode-se analisar os resultados advindos de um questionário que foi aplicado junto aos alunos, ao quais foram escolhidos através do seu desempenho da realização das atividades no ambiente virtual de aprendizagem Moodle do IFCE pelos participantes na época em que eles cursaram essa disciplina. Foram escolhidos quatro alunos de cada polo que ofertava essa disciplina. Outro fator para escolha dos alunos foi o semestre recente da época da aplicação do questionário: o semestre 2011.2, por ser o mais recente. No início, tinha-se mente aplicar o questionário para quarenta e oitos alunos. No entanto, somente trinta seis foram selecionados para participar dessa amostra, pois alguns polos não estavam ofertando essa disciplina nesse período citado. Desses trinta e seis alunos que estavam ativos, somente dez responderam e nos retornaram com suas perspectivas advindas através das perguntas do questionário. De um questionário de quinze perguntas, foram extraídas algumas sobre os quais se desejava saber sobre o nível de satisfação do Material Didático para o aluno. Como se pode perceber na Tabela 1, dos alunos que responderam sobre a perspectiva geral do Material Didático da disciplina de Cálculo Diferencial e Integral II, se esse material estava atendendo a suas expectativas de aprendizagem, quarenta por cento disseram que não, se igualando à aqueles que disseram parcialmente. Pois, segundo eles, no material fornecido, haviam-se poucos exercícios 271 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC resolvidos, exemplos das definições e conceitos estudados, assim como esses poucos exercícios resolvidos e exemplos não estavam claros para seu entendimento. Tabela 1 – Perspectiva geral do material didático de Cálculo II pelos alunos Sim 20% Não Parcialmente 40% 40% Fonte: Moreira (2012, p. 52) Analisando a Tabela 2 que apresenta o resultado da pesquisa sobre as dificuldades de aprendizagem com o Material Didático de Cálculo II fornecido pela instituição, setenta por cento dos entrevistados afirmaram que tiveram dificuldades, pois o assunto abordado não estava claro, ora por ter definições ou teoremas que estavam com uma linguagem rebuscada ou formal com um nível alto, ou, como já foi abordado, o material didático não trazia exercícios resolvidos e exemplos o suficiente para a prática do conceito que estava sendo estudado em certa aula. Mas, eles enfatizavam que o material poderia ser melhorado com base nos aspectos apontados por eles. Tabela 2 – Dificuldade na aprendizagem de Cálculo II com o material didático fornecido Sim Não Parcialmente 70% 30% 0% Fonte: Moreira (2012, p. 53) CONSIDERAÇÕES FINAIS Como foi visto o presente artigo tentou mostrar em quais aspectos do Material Didático de Cálculo II os alunos do curso de Licenciatura em Matemática semipresencial do IFCE enfatizaram para que a qualidade de suas formações fosse garantida. O material didático de Cálculo II ainda não está de acordo com o que se espera para um curso semipresencial de formação de professores de Matemática. No entanto, com os pontos e críticas levantados pelos alunos oriundos do curso, pode-se ter um norte que aponta para uma preparação de material didático com mais qualidade em que se perpetue a ideia de que o material tem que está centrado na aprendizagem do aluno. REFERÊNCIAS GUEDES, J.F. Produção de material didático para EaD no curso de licenciatura em matemática: o caso da UAB/IFCE. Dissertação (Mestrado Acadêmico em Educação) – Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, 2011. MOREIRA, Marília Maia. A visão dos materiais didáticos na perspectiva do aluno: o caso da licenciatura em matemática a distância do IFCE. Monografia de especialização em Ensino de Matemática, Universidade Estadual do Ceará - UECE, 2012. RAMAL, Andrea Cecília. Educação com tecnologias digitais: uma revolução epistemológica em mãos do desenho instrucional. In: SILVA, Marco (org.). Educação online: teorias, práticas, legislação e formação corporativa. Edições Loyola: São Paulo, 2003. SILVA, Marco (org.). Educação online: teorias, práticas, legislação e formação corporativa. Edições Loyola: São Paulo, 2003. 272 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO PARTE VI: EIXO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS NA EDUCAÇÃO 273 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC UMA ANÁLISE DA METODOLOGIA DO LABORATÓRIO DE PESQUISA MULTIMEIOS/FACED/UFC, UTILIZADA NA DISCIPLINA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DO CURSO DE PEDAGOGIA. Fernanda Cíntia Costa Matos138 RESUMO O presente trabalho objetiva analisar a contribuição da abordagem metodológica da disciplina de educação à distância do Curso de Pedagogia da Faculdade de Educação (FACED/UFC) para o desenvolvimento do aprendizado discente. A disciplina faz parte da matriz curricular de disciplinas obrigatórias da Faculdade de Educação/UFC. Sua metodologia conta com quase 100% de aulas à distância, assistida por Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Como objetivo principal, procuro identificar pontos positivos e negativos que essa metodologia pode contribuir para a formação dos alunos que cursam a disciplina. Como metodologia foi realizada questionário com perguntas qualitativas e quantitativas com os alunos da disciplina, dos quais obtivemos 20 questionários, o que significa quase 50% da turma. A partir dessas análises, podemos perceber que os alunos reconhecem que a metodologia utilizada é sim favorável para o desenvolvimento de suas aprendizagens, e percebem ser um ponto positivo para a formação profissional. Porém, através dos relatos percebe-se que boa parte dos alunos, ainda têm dificuldades de utilizarem as TIC em uma perspectiva didático-pedagógica. PALAVRAS-CHAVES: Educação à distância; Metodologia; História da EaD. INTRODUÇÃO A educação faz parte da vida, estando presente no cotidiano das pessoas, em seus atos e no modo como estes são vivenciados. Brandão (1996, p. 7) reconhece que a “educação se mistura com a vida”. Portanto, não se pode definir um modelo único, nem mesmo lugar e a forma onde existe educação. Brandão ressalta: “não há forma única nem um único modelo de educação; a escola não é o único lugar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino escolar não é a única prática e o professor profissional não é o seu único praticante” (BRANDÃO, 1993, p. 9). Nesse sentido, o presente trabalho tem por objetivo analisar a contribuição da abordagem metodológica da disciplina Educação a Distância da Faculdade de Educação (FACED/UFC) para o desenvolvimento do aprendizado discente. 138 Fernanda Cíntia Costa Matos. Graduada em Pedagogia, pela Universidade Federal do Ceará (UFC). [email protected] 274 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO A disciplina tem oitenta por cento da sua carga horária a distância e para sua realização são usados os Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), que são esses o Teleduc e o Moodle. É formada por uma equipe formada por um professor e alguns formadores que acompanhar e dão suporte aos alunos nas atividades. OBJETIVO GERAL Identificar pontos positivos e negativos que essa metodologia pode contribuir para a formação dos alunos que cursam a disciplina. METODOLOGIA O estudo realizado é descritivo e exploratório, de natureza quantitativa e qualitativa no qual se descreve toda a metodologia da disciplina de Educação a Distância desenvolvida pelo Laboratório de Pesquisa Multimeios (FACED/UFC). No primeiro momento, realizamos leituras de obras de diferentes autores que tratam do tema em questão, a partir das quais foram realizados fichamentos e anotações acerca da temática. O segundo momento constituiu-se no trabalho de campo, onde foram aplicados 20 questionários com o fito de analisar em que medida a abordagem metodológica da disciplina Educação a Distância do Curso de Pedagogia da Faculdade de Educação (FACED/UFC) contribui para o desenvolvimento do aprendizado discente. A coleta de dados ocorreu através da aplicação um questionário contendo 10 perguntas, dentre elas objetivas e subjetivas. A turma era composta de 40 alunos, sendo que destes, 20 alunos responderam o questionário, obtendo uma amostra de 50%. Para a estatística e análise dos dados foi utilizado o programa SPSS (StatisticalPackage for the Social Sciences) for Windows versão 15.0, que é uma aplicação de tratamento estatístico de dados. Este programa permitiu apresentar uma análise descritiva, contendo freqüência absoluta e relativa. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A partir desse momento, mostraremos o resultado desta pesquisa, com relatos descrito pelos alunos. Sobre o primeiro contato com ensino a distância, por parte dos alunos, Percebeu-se que um número considerável já possuía alguma experiência relacionada ao ensino a distância. Entendemos que esse percentual ocorre em razão da grande oferta desses cursos atualmente. Como nos mostra o relato de (NOVA E ALVES, 2003. P. 5-27) “São inúmeros os cursos a distância que é criada e difundida diariamente, no mundo inteiro, utilizando a internet ou sistemas de rede similares como suporte da comunicação”. Com relação a metodologia, 60% dos alunos responderam ser boa, por contribuir para autonomia discente. Já 20% responderam não gostar, por não se identificarem com aulas a distância. Percebemos nas respostas o quanto a autonomia é importante para o aluno da EaD. Em relação à questão da autonomia, Lopes ressalta: ”Quando se fala em autonomia, deve-se pensar em 275 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC uma formação contínua, uma formação que exija do ser humano a capacidade de governar por si mesmo o seu desenvolvimento pessoal e profissional” (2003). Seguimos com o questionamento sobre as dificuldades encontradas pelos alunos dentro da disciplina. Percebe-se que um número considerável não utiliza com facilidade os ambientes virtuais e não consegue compreender uma metodologia de estudo a distância. Isso nos direciona a compreendermos que os estudantes atuais, fazem uso das TICs, porém na verdade não sabem fazer uso pedagógico. Com relação ao acompanhamento discente a turma dividiu sua opinião onde 60% responderam que esse acompanhamento dos tutores e professor é sim um diferencial. Já 40% não afirmam ter diferença. Isso nos leva a compreender que o “estar junto” do aluno, acompanhando tirando dúvidas, faz com que esse aluno, não venha a compreender a EaD como uma educação solitária. E que o acompanhamento direciona o aluno, a não abandonar o curso e ajudar a ter bons resultados. No processo de avaliação 55% responderam que diferencia das demais disciplinas, já 45% responderam que não diferencia das demais disciplinas. Nesse caso constatamos que as opiniões se dividiram e isso significa que a disciplina faz uso de uma avaliação que é sim aceita por muitos, porém algumas posições sobre a exigência na avaliação devem ser revistas, como podemos constatar no relatado de um aluno que diz “a avaliação é criteriosa, muito exigente e precisa melhorar”. Na metodologia, abordamos acercas das diferenças entre a presencial e a distância se ela se diferencia das demais, a opinião dos alunos apresentou-se equilibrada, pois, 55% afirmam perceber essa diferença e já 45% não percebem a diferença. Compreendemos que algo deverá ser repensado e estudado para que os alunos conheçam melhor a metodologia aplicada à disciplina, pois quase metade da turma não está fazendo tal compreensão. Percebemos que o acompanhamento dos discentes na disciplina é um diferencial, constatada pela maioria dos alunos tendo em vista que 75% responderam que o acompanhamento diferencia das demais disciplinas e 25% que não deferência. Sobre o material didático em formato digital não se torna um diferencial na metodologia com relação às demais disciplinas, tendo um percentual de 60% que não acham que diferencia e 40% acham que diferencia. Com relação ao acesso a rede 55% afirma que não se diferencia das demais e 45% reconhecem que o acesso é um diferencial. Apesar da disciplina, possuir um formato diferente, por ser realizada a distancia, utiliza ambientes virtuais de aprendizagem e outros, a maioria dos alunos afirma que a metodologia não é diferenciada (ou percebida). Pois 95% dos alunos não perceberam diferença das demais metodologias utilizadas nas disciplinas e 5% afirmam ter sim diferença. Sobre a metodologia relataram ser favorável para a formação do educador tendo em vista que, dos vinte questionados, dez responderam que a metodologia é favorável para a formação para 276 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO o trabalho com tecnologia. Dez afirmaram ser favorável para a autonomia em seus estudos. Três responderam outros pontos diversos. Entre a relação professor – aluno, cinco responderam que avaliam a relação professoraluno dentro da disciplina é positiva para a autonomia do aluno. Oito compreendem ser positivo o acompanhamento e a disponibilidade de comunicação. Um aluno respondeu ter pontos positivos na disciplina. Seis responderam outros pontos diversos. Esses dados vão muito ao encontro do que foi dito no ponto Q4, que fala da relevância do acompanhamento, e o acesso ao professor na disciplina de EaD se mostra bem aberto, já que o aluno pode utilizar os ambientes para se comunicar, fazer alguma pergunta, intervenção ou até mesmo tirar dúvidas com o professor. Sobre a avaliação, seis avaliam como injusta a avaliação, pois os critérios não condizem com a prática (pessoas que não participaram passaram), e que também a relatam que a avaliação compromete o processo de aprendizagem. Três avaliam como muito criteriosa e exigente e que precisa melhorar. Oito avaliam como boa e aberta e que também é clara e interessante. Três responderam aleatoriamente. O processo avaliativo da disciplina está presente em todas as atividades propostas por ela, isso quer dizer que o aluno é avaliado desde o momento que inicia até o final da disciplina. Porém diante dos dados expostos podemos constatar que boas partes dos alunos da disciplina são oriundas de processos avaliativos com poucos critérios e exigências. Sendo que processo avaliativo da disciplina se dá tanto pelos ambientes como pela prova presencial, entendido por Campos (2003) “como processo de múltiplas facetas”. E mesmo os que relatam ser boa, aberta e interessante, não citaram acerca do processo de aprendizagem que deve está relacionado com a avaliação. Para entendermos melhor seguimos o raciocínio de Campos, (2003, p. 124): A avaliação é um processo de múltiplas facetas, incluindo os aspectos afetivos e sociais envolvidos na aprendizagem. Logo, acreditamos que a avaliação não pode ser conduzida somente de forma eletrônica. Independentemente do ambiente de aprendizagem adotado, ou seja, sala de aula ou ambiente computacional, a avaliação do estudante é uma tarefa do professor (CAMPOS et al, 2003, p.124). De uma forma geral esta pesquisa nos chama atenção para a importância da metodologia escolhida dentro de uma disciplina, pois ela é compreendida por todos os passos que são realizados durante o processo. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho buscou identificar como a metodologia utilizada na disciplina de Educação a Distância contribui para a formação dos discentes enquanto futuros educadores, verificando se a metodologia é compreendida pelos mesmos como um diferencial em seu processo de ensino e aprendizagem. Entretanto, a partir da realização desse trabalho, podemos observar que para muitos alunos a disciplina não se trata de nenhuma novidade. Muitos afirmaram que já haviam passado por experiências com ensino a distância. 277 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Percebe-se também que a metodologia utilizada na disciplina não está bem compreendida pelos alunos, pois grande número revela que a metodologia é boa, porém desnecessária. Já alguns relatam ser boa por exigir do aluno autonomia nos estudos, mais admitem ser muito cansativa. Verificamos que poucos alunos percebem a importância do ensino a distância para sua formação, relatam exigir muita dedicação e disciplina, mais que compreendem ser assim que se forma um bom profissional. Em geral concluímos que os alunos entendem que a metodologia da disciplina é diferente das demais, por utilizar tecnologias e ser isso uma exigência do mercado de trabalho para os futuros profissionais da educação. Por outro lado não compreendem sua didática pedagógica. Isso se remete ao fato dos alunos ainda ser muito dependente da sala de aula presencial, a presença contínua com o professor. REFERÊNCIAS CHAGAS, A, T. R. O questionário na pesquisa científica. Disponível em; <http: /www.fecap.br/adm_online/art11/anival.htm>Acesso em:10 de fevereiro de 2013. BARROS, Veronica Altef. O trabalho do docente virtual: análise jurídica das condições de trabalho decorrentes do sistema de educação a distância. Belo Horizonte: UBC, 2008. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação. Ed. Brasiliense. São Paulo. 1993. CAMPOS, F. C. A. et al. Cooperação e aprendizagem on-line. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. Disponível em: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=559499>. Acesso em: 26 de janeiro de 2013. 278 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO QUALIDADE NA OFERTA DE ENSINO SUPERIOR A DISTÂNCIA NO BRASIL: UMA ANÁLISE DOS CURSOS A DISTÂNCIA DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR DE FORTALEZA Ana Cleide da Silva139 Gabriela de Aguiar Carvalho140 RESUMO Esta pesquisa foi desenvolvida durante a disciplina de Educação a Distância ministrada na Universidade Federal do Ceará, e tem como objetivos visitar uma Instituição de Ensino Superior de Fortaleza que oferte cursos a distância e identificar se a Instituição está de acordo com os 8 critérios definidos pelo documento de referencias de qualidade para a Educação Superior a distância, disponibilizado pela SEED/MEC. Como referencial teórico utilizamos os conceitos de Alonso (2012) sobre as características da Educação a Distância e o documento de referencias de qualidade para a Educação Superior a distância (2007). Como metodologia, entrevistamos a secretária da informação da Instituição. Como resultados da pesquisa identificamos que a Instituição de Ensino Superior visitada está de acordo com os critérios propostos pelo documento de referencias de qualidade para a Educação Superior a distância, favorecendo assim, em um Ensino Superior a distância de qualidade. PALAVRAS-CHAVE: Educação a distância. Autonomia. Qualitativa. INTRODUÇÃO Nos últimos anos a Educação Superior a Distância no Brasil tem aumentado de forma significativa. Isso se deve a alguns fatores, como por exemplo: a falta de oportunidade de ingressar no ensino superior presencial (alta concorrência); Muitas pessoas trabalham e acabam não tendo tempo de frequentar uma Instituição de Ensino Superior presencial, já na Educação a Distância, o educando faz o seu horário, tem autonomia de organizar seus horários de estudos. De acordo com Alonso (2010, p. 1326), a principal característica da Educação a Distância é o fato de “professores e alunos não estarem face a face durante todo o tempo da formação. Tal especificidade implicaria organizar o trabalho pedagógico diferentemente do ensino presencial”. Desta forma, faz-se necessário a elaboração de políticas públicas que possam oferecer um Ensino Superior a Distância de qualidade, buscando a formação de alunos de maneira qualitativa. Diante desta especificidade que o Ensino a Distância apresenta (que é o fato do curso ser ministrado a distância), a SEED/ MEC (2007), apresentou um documento com os Referenciais de Qualidade para ofertar cursos de Ensino Superior à distância de forma qualitativa. Este documento delimita pontos em que todas as Instituições de Ensino Superior a Distância deveriam seguir, com o objetivo de propiciar aos educandos um ensino de qualidade. Os oito critérios propostos no documento de Referenciais de Qualidade para Educação Superior a Distância são: Concepção de Educação e currículo no processo de ensino e 139 140 Graduanda em Pedagogia pela UFC [email protected] Graduanda em Pedagogia pela UFC. [email protected] 279 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC aprendizagem; Sistemas de Comunicação; Material Didático; Avaliação; Equipe Multidisciplinar; Infra-estrutura de apoio; Gestão Acadêmico-Administrativa; Sustentabilidade Financeira. OBJETIVOS GERAIS Este trabalho tem como objetivo visitar uma Instituição de Ensino Superior de Fortaleza que oferte cursos à distância e questionar se o Projeto Político Pedagógico da Instituição está de acordo com os critérios propostos no documento de referencias de qualidade para a Educação Superior a distância, disponibilizado pela SEED/MEC. METODOLOGIA A pesquisa de campo foi realizada no ano de 2012, no período da tarde, em que visitamos uma Instituição de Ensino Superior de Fortaleza que oferta cursos a distância. O instrumento utilizado na pesquisa foi a entrevista, contendo dezenove questões, baseada nos oito critérios propostos no documento dos Referenciais de Qualidade para Educação Superior a Distância. Após a finalização da entrevista, foi feito uma análise sobre as respostas obtidas na pesquisa de campo, em seguida foi realizada uma comparação com os resultados obtidos e os propostos no documento dos Referenciais de Qualidade para Educação Superior a Distância. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Atualmente a Instituição visitada, oferece diversos cursos de Graduação e Especialização à distância, como por exemplo: Química, Matemática, Informática, Artes, Física, Biologia e Pedagogia (nas Licenciaturas) e em nível de pós-graduação (Especialização) oferta os seguintes cursos: Gestão pública, Gestão Pública Municipal, Gestão Pública em Saúde e Administração Pública. A entrevista foi realizada com a Secretária da Informação, que segundo algumas informações obtidas no local, ela estaria mais apta a responder as perguntas, devido a sua grande experiência com educação à distância. Incialmente, perguntamos sobre o Projeto Pedagógico dos cursos a distância da Instituição. Segundo a secretária ele é mais voltado para as licenciaturas. Percebemos que ela não tinha muito conhecimento em relação ao Projeto Pedagógico da Instituição. Em relação aos Sistemas de Comunicação, ela informou que o sistema utilizando é o Moodle um ambiente virtual de aprendizagem. Os alunos têm uma disciplina específica para manusear o sistema Moodle, ao iniciar o curso e que são disponibilizados os e-mails dos professores, tutores, coordenadores e responsáveis pelo sistema, com o objetivo de se ter uma maior interação entre eles. Outra forma de comunicação entre eles é através dos fóruns realizados no ambiente virtual, onde eles também mantêm um contato direto. O terceiro ponto abordado na entrevista foi com em relação ao Material Didático. Segundo a entrevistada, as apostilas são elaboradas pela própria Instituição, por professores conteudistas. As apostilas são elaboradas por disciplinas. O material é disponibilizado para os alunos em pdf e impresso. Os materiais didáticos utilizados nos cursos a distância são: livros-texto, leituras complementares, vídeos e Webs-sites. No próprio material didático os alunos obtêm informações sobre o currículo, ementas e etc. No ambiente (sistema) são disponibilizados os locais e datas de 280 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO provas e a Avaliação final. Eles possuem um calendário semestral, onde contêm todas essas informações. Por semestre os alunos é ofertado cinco disciplinas. O quarto ponto questionado foi a Avaliação da Aprendizagem, onde são realizadas de forma presencial. Outra avaliação que a Instituição faz é na forma de ouvidoria, é feito um questionário em que alunos e professores participam. Alguns pontos abordados nesta avaliação são em relação ao desempenho dos professores e se o aluno tem alguma crítica em relação ao curso e etc. O quinto ponto analisado foi em relação à Equipe Multidisciplinar, em que nos cursos a distância da Instituição visitada, é composta por: professores, tutores, secretários, coordenadores, técnicos do sistema, técnicos de diagramação e suporte. O sexto ponto abordado na entrevista diz respeito à Infra-estrutura de Apoio dos pólos. A secretária da informática respondeu que eles possuem: bibliotecas, laboratório de informática com acesso a internet banda larga, sala para secretaria, laboratórios de ensino, salas para exames presenciais e salas de tutoria. No que diz respeito à Gestão-Acadêmico Administrativa, os alunos de cursos à distância têm os mesmos direitos de alunos de cursos presenciais, como por exemplo: matrícula, inscrições, acesso às informações institucionais, secretarias e tesouraria. O último ponto abordado foi em relação à Sustentabilidade Financeira, tendo em vista que para manter um curso de educação superior de qualidade, envolve uma série de investimentos, que vai desde a produção de materiais didáticos à capacitação da equipe de trabalho. Desta forma a Instituição deve apresentar uma planilha com os investimentos e custos com o Ensino a distância, como também apresentar a evolução da oferta de vagas ao longo do tempo. Frente a essa questão a secretária respondeu que essa planilha é feita mensalmente, onde são contabilizadas as diárias dos professores, as bolsas ofertadas, a diminuição ou aumento do número de alunos e etc. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base na pesquisa realizada, podemos concluir que os cursos de Educação a Distância oferecidos pela Instituição, estão de acordo com o que está sendo cobrado no documento dos Referenciais de Qualidade para Educação Superior a Distância SEED/MEC. Dessa forma, os objetivos propostos neste trabalho foram realizados. Assim, consideramos que este trabalho foi de suma importância para o nosso aprendizado, pois tive a oportunidade de conhecer uma Instituição de Ensino Superior que oferta essa modalidade de ensino e ao mesmo tempo podemos analisar se suas propostas estão de acordo com os Referenciais de Qualidade para Educação Superior à distância de forma qualitativa, garantindo assim, a qualidade no aprendizado dos alunos. REFERÊNCIAS ALONSO, Kátia Morosov. A Expansão do Ensino Superior no Brasil e a EaD: Dinâmicas e Lugares. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/es/v31n113/14.pdf. Acesso em: 22 de Abril de 2012. BRASIL. Ministério da Educação – Secretaria de Educação a Distância. Referenciais de Qualidade para Educação Superior a Distância Versão Preliminar. Brasília – DF, 2007. 281 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC O USO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS NA FORMAÇÃO INICIAL DE TUTORES Msc. Andrea Moura da Costa Souza141 Dr. Marcos Antonio Martins Lima142 RESUMO Este trabalho objetiva apresentar o uso das tecnologias digitais na formação inicial de tutores, com o intuito de colocar o futuro tutor em uma situação parecida com a que ele irá vivenciar no dia a dia no AVA (ambiente virtual de aprendizagem). A formação de tutores parte de conhecimentos imediatos dos formandos, a fim de distinguir no fim da formação os modos de intervenção essenciais. A formação oferece meios para que o tutor procure conceitos e modelos próprios para dar conta das diferentes abordagens e ferramentas sobre esse tema. A partir de uma pesquisa documental e bibliográfica, concluímos que a evasão dos tutores em formação inicial é significativa e que existe lacunas entre o discurso e a pratica sobre a integração das tecnologias digitais na educação, desse modo um referencial de competências foi proposto com o intuito de avaliar e buscar amenizar a evasão dos docentes em formação inicial de tutores. PALAVRAS-CHAVE: Tecnologias digitais, tutor, formação inicial, pratica. INTRODUÇÃO Há algumas décadas, a literatura em educação defende a ligação entre a educação e a distância. Alguns autores de varias nacionalidades contribuíram na pesquisa sobre esse tema, assim que contribuíram para o movimento de mudança da educação. Esta mudança ocorre no meio educativo e representativamente no ensino superior devido à insistência e crescimento dos atores sociais, como as empresas, o Ministério da Educação e a ANDIFES que propuseram a Universidade Aberta à distância com o intuito de melhorar o acesso à educação superior para a população que concluiu o ensino médio. Dando ênfase a dimensão que à educação à distância tomou, vemos nos trabalhos de Charlier B., J.Bonamy e M.Saunders (2002) que discutem os obstáculos, papel e competências do tutor. Outros autores como: Karsenti Thierry, Larose François, (2001), Thibault (2007), Glickman V.(2000), Jacquinot (1993) contribuíram com seus estudos a traçar as novas tendências, estratégias, mediação e avaliação do ensino superior à distância. 141 142 Universidade Federal do Ceara/Faced Universidade Federal do Ceara/Faced 282 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO A contribuição desses autores levantam alguns questionamentos sobre a educação e a distância, pois para Karsenti T., Larose.F. (2001) existe uma lacuna entre o discurso e a realidade do ensino a distância, no que concerne a relação do tutor, do aluno e do espaço, ou ainda, a relação do tempo síncrona e assíncrona e a mudança do conceito de sala de aula. Todavia, a vontade de associar o ensino à distância e a estrutura educacional existente permanecem impulsionada pela necessidade que se manifesta a todos os níveis escolares de integrar as tecnologias digitais na educação, na vontade de tornar o conhecimento acessível. Mas para que a educação à distância ocorra, a instituição, representativamente, UAB- Universidade Aberta do Brasil-Universidade Federal do Ceara (foco da nossa pesquisa) precisa de tutores e que esses participem da formação inicial e estejam aptos a mediar, avaliar e valorizar o aprendizado dos alunos durante a disciplina. O contexto Desde 2005 foi implantada a Universidade Aberta do Brasil, sendo a UFC uma das pioneiras a oferecer os cursos de graduação na modalidade semipresencial, desde então formações iniciais são oferecidas aos tutores das disciplinas ou através de chamada publica, ou seja, editais. Ao lançar um edital a instituição recruta novos tutores, tendo como critérios a graduação na área do curso, a experiência como docente ou ainda que sejam alunos de pós-graduação Stricto Sensu. A formação inicial de tutores permite que os formandos estejam em contato direto com a plataforma SOLAR e com os instrumentos de avaliação e somente depois de alcançarem o nível de competência requerido para a obtenção do diploma é que podem atuar efetivamente no programa. A formação nas atividades profissionais de ensino implicadas no AVA permite definir as competências necessárias e estabelecer um recrutamento de referência (docente e/ou aluno de pósgraduação) como comentamos anteriormente. Mas mesmo com esse cuidado no recrutamento, percebemos a evasão de tutores dos cursos de formação inicial em 2010.2, 28 entrantes e 22 concludentes e em 2012.2, 29 entrantes e 15 concludentes em Administração de Empresas. Então, dentro desse contexto propomos o uso de um modelo de avaliação de competências com base no modelo sugerido por Guittet (1995,73). OBJETIVOS GERAIS demostrar o tipo de recrutamento é feito pela UAB-UFC levantar as competências para o ensino à distancia Propor um modelo para avaliação A hipótese inicial foi a seguinte: se os tutores foram recrutados para assegurar a responsabilidade do ensino semipresencial ou para intervir como mediador, quais competências lhe seriam necessárias? METODOLOGIA Estudo bibliográfico, documental e intervenções presenciais-virtuais na formação inicial de tutores em Administração em 2012.2 na Universidade Federal do Ceara, onde 29 se inscreveram 283 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC na formação e somente 15 concluíram a formação. Buscou-se propor um modelo de competência e aumentar a discussão sobre a evasão dos docentes. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A competência segundo Guittet (1995) é “implementação efetiva do saber e saber fazer para a realização de uma tarefa. A competência derivada da experiência profissional é objetivamente observada a partir do local de trabalho e validada pelo desempenho profissional”. Assim a competência pode ser considerada como conhecimento declarativo cognitivo, conhecimento processual e atitudes ou ainda, comportamentos potenciais, às vezes afetivo, cognitivo e/ou psicomotor. Outros autores falam de saber, saber fazer, saber ser distinguindo o saber fazer o método, saber fazer atitudes, saber fazer em relação ao relacionamento, este ultimo repartido em quatro níveis, são eles: reprodução, adaptação, maestria e expertise. Notamos que o preenchimento dessa avaliação de competências na formação de tutores iniciais é possível para aqueles que estão acompanhando a formação, pois a presença de uma competência somente pode ser observada quando o tutor em formação tem o seu comportamento observado efetivamente, sendo assim, o modelo é consistente somente se a observação do cumprimento das tarefas for verificada para em seguida avaliar se o tutor tem ou não uma determinada competência. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este artigo fornece um exemplo de modelo de competência, mas aumenta a discussão em torno da integração das tecnologias digitais para a educação que implica uma reflexão da didática e dos modos de recrutamento como meio de diminuir a continua evasão dos docentes. Sugerindo um melhor gerenciamento da divisão das tarefas, cursos, aulas e alunos, assim que a união dos docentes dessa modalidade de ensino. REFERÊNCIAS Charlier B., J.Bonamy et M.Saunders (2002,) ; Apprivoiser l‘innovation. In Charlier B.et Peraya D.(orgs.). Technologieset innovation en pedagogie : dispositifs innovants de formation pour l’enseignement superieur. Bruxelles : De Boeck. Glickman V.(2000) Fonction tuteur ? du vocabulaire aux modeles de mise en œuvre. In Chantiers publics et métiers de enseignement à distance au seuil de l’an 2000. Poitiers, CNED. Guittet, A. (1995). Développer les compétences par une ingénierie de la formation. Paris : ESF. Jacquinot (1993) Apprivoiser la distance et supprimer l‘absence ? ou les défis de la formation à distance. Paris : Revue Française de Pédagogie. Karsenti T., Larose F., (2001) Tic…Au cœur des pédagogies Universitaires : Diversité des enjeux pédagogiques et administratifs. Quebec : Presses de l’université du Quebec. Thibault (2007) Enjeux de l’enseignement à distance pour l’université française 1947-2004. Tese de doutorado en ciencias da informação e comunicação. Université Paris XIII- Paris Nord (471 p). 284 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO EAD - EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E O PARADIGMA DA INTERAÇÃO E INTERATIVIDADE NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM Neidimar Lopes Matias de Paula143 RESUMO A Educação a Distância caracteriza-se como uma modalidade de ensino diferente pelo fato de sua mediação didático-pedagógica acontecer não no espaço da sala de aula, mas por meio do uso das tecnologias da informação e comunicação – TIC – através das quais, professores e alunos desenvolvem suas atividades em lugares e tempos diversos. O uso dessa modalidade educativa, cada vez mais em expansão, tem gerado diferentes opiniões entre os pesquisadores da educação. O presente trabalho intitulado: EAD – Educação a Distância e o Paradigma da Interação e Interatividade no Processo de Ensino e Aprendizagem tem como objetivos principais refletir, a partir do pensamento de alguns autores, sobre o processo de ensino e aprendizagem na EaD e analisar o paradigma da interação e interatividade na educação online, ambos vistos como possibilidades condizentes com as exigências educativas do mundo contemporâneo. É fruto de uma pesquisa de cunho exploratório e bibliográfico, cuja metodologia de trabalho envolveu basicamente a leitura em livros, artigos, periódicos e dissertações de vários pesquisadores. A escolha dos autores se deu pela convergência e/ou proximidade de abordagem entre eles. Dentre os teóricos consultados, tivemos uma aproximação maior com Lévy (1999 e2004), Belloni (2002) apud Dias e Leite (2007), R. Amorim, D. Amorim & Gomes in: Pesce & Oliveira (org) (2012), (NUNES & SILVEIRA, 2008), Capareli & Barros (2008), Dias (2006), Almeida (2000 e 2003). O estudo permitiu entender o desenvolvimento desse paradigma na educação contribui positivamente para a formação do sujeito que se deseja para o mundo contemporâneo. PALAVRAS-CHAVE: Educação a Distância. Interação e interatividade. Aprendizagem. INTRODUÇÃO A Educação a Distância, modelo de ensino presente, hoje, no mundo inteiro, tem como característica essencial a mediação professor-aluno-conteúdo por meio de alguma tecnologia e, por essa razão, distingue-se do ensino presencial clássico. Embora exista há mais de cem anos no Brasil, as opiniões sobre esse modelo de ensino ainda são bastante divergentes, talvez por força de duas razões: A primeira diz respeito à cultura escolar construída ao longo da história, na qual a aprendizagem formal deve ocorrer necessariamente no espaço da sala de aula. A segunda, refere-se ao fato de ter sido pensada para garantir a expansão dos meios de produção do sistema capitalista a partir da formação técnica do trabalhador e ter adquirido desde então a sua marca principal de ser uma mera formação técnica e, ainda mais agravante, uma formação considerada de qualidade inferior que aquela obtida no ensino presencial. No entanto, diante das rápidas mudanças, do mundo midiático e globalizado, urge a necessidade de uma pedagogia que atenda não só aos anseios de mercado, mas, sobretudo, aos 143 Mestranda em Educação pela Universidade Federal do Ceará. 285 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC anseios humanos por uma sociedade mais justa e mais democrática e, diante desse contexto, já não mais é suficiente apenas o treinamento técnico do trabalhador. São necessárias novas habilidades que a educação formal deverá dar conta além da preparação para o trabalho. O processo de ensino e aprendizagem na contemporaneidade, exige muito além da memorização de conteúdos acumulados. Entram em cena novas atividades, novas relações sociais, novas estratégias de comunicação, mediadas pelas Tecnologias digitais enfim, novos modos de viver e conviver. Tal realidade incita a reflexão sobre os mecanismos adotados pela educação dos nossos dias para garantir a construção de um conhecimento capaz de promover o desenvolvimento integral dos indivíduos a partir de suas aprendizagens nos diferentes espaços. e, nesse contexto de um mundo midiático e globalizado muitos pesquisadores apontam a EAD como uma possibilidade de novos caminhos na educação, embora reconhecendo que esta também apresenta desafios tanto quanto a educação presencial que parece não ter conseguido cumprir seu papel social. Assim, o presente texto visa responder algumas perguntas que vem permeando o nosso pensamento sobre a educação atual. Vejamos: A EAD pode contribuir para a construção de um conhecimento voltado para o atendimento das demandas sociais contemporâneas? O paradigma da interação e interatividade pode realmente assegurar uma aprendizagem efetiva, independente de professores e alunos ocuparem os mesmos espaços de estudo? É possível pensar na formação de um aluno autônomo por meio da EAD? Assim o presente artigo trata de uma revisão de literatura sobre a Educação a Distância e o Paradigma da Interação e interatividade no processo de ensino e aprendizagem, buscando refletir, à luz do que apontam os teóricos consultados, sobre a efetividade dessa modalidade de ensino, analisando o par interação/interatividade como uma possibilidade condizente com as exigências educacionais do mundo contemporâneo. OBJETIVO GERAL Refletir, a partir do referencial teórico estudado, sobre o processo de ensino e aprendizagem na EaD e analisar o paradigma da interação e interatividade na educação online, como uma possibilidade condizente com as exigências educacionais do mundo contemporâneo. METODOLOGIA O trabalho é fruto de uma pesquisa de cunho exploratório e bibliográfico. E partiu do interesse próprio em construir um pensamento mais consistente sobre o processo de ensino e aprendizagem na EAD. Após algumas leituras em livros, artigos, periódicos e dissertações de vários pesquisadores, escolhemos aqueles que nos pareceram mais alinhados com as questões pedagógicas que, a nosso ver, permeiam o processo de ensino e aprendizagem na educação contemporânea. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Tomando como referência o pensamento de Dias (2006), quando afirma que a “sala de aula tradicional é o lócus da homogeneização: alunos enfileirados, assistindo à mesma aula, realizando 286 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO a mesma prova num mesmo tempo e espaço” e contrapondo ao que diz Lèvy (2004) em uma crítica a esse modelo e, referindo à escola tradicional como “uma instituição que há cinco mil anos se baseia sobremaneira no falar/ditar do mestre” (grifo nosso), necessito conceber a escola com estas características como algo que não atende as demandas formativas da atualidade. O exigível no contexto atual é um repensar a educação numa perspectiva dinâmica e criativa, substituindo a ideia de ‘transmissão’ para ‘construção’ do conhecimento, pois assim estão configuradas as sociedades do mundo contemporâneo e globalizado. No que se refere ao paradigma da interação e interatividade, Nunes & Silveira, 2008 lembram a utilização do termo interação desde alguns anos atrás por Vygostsky, que compreende o desenvolvimento do sujeito a partir de um processo de apropriação dos significados culturais que o cercam. Nesse sentido, para as referidas autoras, o advento da internet e o desenvolvimento das tecnologias digitais encaminham a humanidade para o uso de novos espaços de aprendizagem, condicionando-a a novas formas de comunicação a partir de uma interconexão mundial que ocorre por meio do ciberespaço. Então, se estamos diante desta interconexão, as palavras de Nunes & Silveira (2008) quanto ao termo interação e interatividade, dando a este último o tom de quase imperativo na educação dos nossos dias, uma vez que, “através do uso da rede de computadores – a Internet – e de canais de comunicação cada vez mais interativos, o ensino-aprendizagem está se transformando”. Tal fato nos leva a entender que faz-se necessária a emergência de educadores que “reinventem” sua prática docente, pois os espaços para uma prática pedagógica que enfatize a transmissão do conhecimento já não devem existir mais. Discutindo sobre essa necessidade educacional emergente, concordamos com Capareli & Barros (2008) quando afirmam que todo professor precisa apropriar-se das tecnologias como um auxílio ao ensino, “já que elas possibilitam criar as mais diversificadas situações de aprendizagem”. Essa afirmação nos leva a compreender que o uso pedagógico das TIC na educação pode de fato possibilitar a dinamização do processo de ensino e aprendizagem e permitir que o aluno construa seu conhecimento de modo muito mais significativo, pois ele (o aluno) diferencia-se do professor nesse aspecto por ser considerado um “nativo”, a maioria dos professores são “imigrantes digitais” (DEMO, 2009). Assim, quando alunos e professores se encontram em espaços e tempos diferentes, como é o caso da EAD, a interação e interatividade, proporcionada a partir do uso das ferramentas tecnológicas, pode fazer grande diferença na construção do conhecimento. Sobre a formação de um aluno autônomo, conforme aponta Dias (2006), há ainda grande lacuna na oferta de professores competentemente habilitados para desenvolver um trabalho dessa natureza. Cremos que independente de ser educação a distância ou presencial o professor não pode ser formado apenas numa dimensão pedagógica, nem tampouco buscar a acumulação de teorias e técnicas. “Trata-se de uma formação que articula a prática, a reflexão, a investigação e os conhecimentos teóricos requeridos para promover uma transformação na ação pedagógica” (ALMEIDA, 2000, p. 111). Diante dessas reflexões é possível perceber que pela especificidade própria da EAD, esse desenvolvimento da autonomia do aluno, de que falam vários autores, pode ocorrer a partir da 287 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC mediação feita pelos demais agentes do processo: tutores, professores conteudistas, colegas de curso, material didático, etc. Esta mediação é, por conseguinte, a ponte entre o aluno e o conhecimento a ser construído. Como na EAD, não há a figura do professor ocupando os mesmos espaços geográficos e temporais do aluno, como ocorre no ensino presencial, essa autonomia vai sendo percebida, a princípio, na realização dos trabalhos pelo aluno no momento em que considera adequado, respeitando, para tanto, “as limitações de tempo impostas pelo andamento das atividades do curso”. Além disso, “o diálogo que constroi com os pares para a troca de informações e o desenvolvimento de produções em colaboração” (ALMEIDA, 2003, p.331) é outro recurso importante que também possibilita desenvolver essa autonomia. CONSIDERAÇÕES FINAIS A abordagem teórica de diversos autores acerca do processo de ensino e aprendizagem na EAD nos leva a pensar que, apesar das dificuldades144 que caracterizam essa modalidade educativa, ela apresenta algumas perspectivas favoráveis à construção do conhecimento na/para a contemporaneidade. O fato de exigir do educando mais compromisso com o conteúdo trabalhado e de estimular a criação e a colaboração no espaço virtual pode contribuir para o desenvolvimento da autonomia, da autorresponsabilidade e da sociabilidade do aluno. A relação que precisa ser estabelecida com as ferramentas tecnológicas contribui para uma apropriação das TIC por todos os envolvidos no processo, possibilitando assim, o desenvolvimento de habilidades exigidas na formação do sujeito dos dias atuais, como exemplo: aprender a conhecer e aprender a fazer. Neste ponto, entendemos que ocorre efetivamente, o que vimos chamando no decorrer desse texto de interação e interatividade, pois utilizando a ferramenta tecnológica para se conectar à internet, o aluno não só lê e analisa conteúdos, mas discute com os colegas, colabora, cria, e reflete sobre o que está embasando sua formação. Importante lembrar também uma questão que consideramos essencial nessa discussão: A formação profissional dos sujeitos mediadores do conhecimento na Educação a Distância. Nesse sentido, estabelecemos a seguinte relação: Se na educação presencial vista pela maioria das pessoas como o modelo ideal existem grandes lacunas na formação do professor, imaginemos então na EAD, que ainda é fortemente marcada por um grande preconceito no que se refere à qualidade do ensino. Portanto, negar a carência evidente de formação adequada para os profissionais que fazem a mediação do conhecimento nessa modalidade seria incoerência de nossa parte. Porém, entendemos que, diante das condições mínimas desejadas para o funcionamento da educação a distância, o paradigma da interação e interatividade defendido nesse trabalho constitui-se uma possibilidade pedagógica condizente com a formação do aluno consciente, autônomo e competente, sendo este parte do perfil necessário ao homem contemporâneo. 144 Sobre essas dificuldades ver MERCADO, Luís Paulo Leopoldo. Dificuldades na educação a distância online. Universidade Federal de Alagoas, 2007. Disponível em: http://www.abed.org.br/congresso2007/tc/55200761718PM.pdf Acesso em : 10 de junho de 2013. 288 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO APRENDIZAGEM COLABORATIVA COM SUPORTE COMPUTACIONAL: UMA PROPOSTA PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES Dennys Leite Maia 145 José Aires de Castro Filho 146 RESUMO Várias políticas de informatização das escolas foram criadas visando o desenvolvimento de uma nova cultura de integração das tecnologias digitais na educação. Dentre essas políticas estão os Projeto Um Computador por Aluno (UCA) e Um tablet para cada professor, do Ministério da Educação (MEC) e Um computador para cada professor da Secretaria Municipal de Educação (SME) de Fortaleza. Nos três projetos as vantagens não são restritas aos alunos, mas para os professores. Estes projetos no modelo de informática educativa 1:1 (um para um) abre possibilidades de interação com outras pessoas. Diante desse quadro, propomos a seguinte questão: A perspectiva de rede de aprendizagem pode ser pensada e desenvolvida, para que professores construam conhecimentos de forma colaborativa acerca da docência? Desta feita, o objetivo geral deste trabalho é apresentar uma elaboração teórica acerca de práticas colaborativas formativas com suporte de TDIC entre professores da Educação Básica. Para tanto procedemos a uma pesquisa bibliográfica acerca de Formação de Professores; Aprendizagem Colaborativa com Suporte Computacional e Cibercultura. Concluímos que as tecnologias digitais podem se constituírem em ferramentas favoráveis a práticas colaborativas de professores. Para tanto, estes devem explorar as tecnologias digitais que dispõem como fazem no contexto extraescola. PALAVRAS-CHAVE: Formação Computacional, Cibercultura. Docente, Aprendizagem Colaborativa com Suporte INTRODUÇÃO Desde sua implementação em 1997 o Programa Nacional de Tecnologia Educacional (PROINFO) tem traçado ações e metas para implantar e inserir tecnologias nas escolas públicas brasileiras. A motivação desses projetos é criar uma nova cultura na escola que integre as tecnologias na dinâmica das ações pedagógicas. Nesse sentido, em 2007, foi lançado o Projeto Um Computador por Aluno (UCA) que previa, em sua fase piloto, a distribuição para cada aluno, professor e gestor de escolas públicas, de um laptop educacional. Dentre as características dessa proposta estão a conectividade e a 145 Mestre em Educação; Aluno do doutorado em Educação brasileira da Universidade Federal do Ceará (UFC) e professor substituto da Universidade Estadual do Ceará (UECE); [email protected]; 146 Doutor em Educação Matemática pela University of Austin at Texas; Professor associado I da UFC; Coordenador do Projeto UCA – Ceará; [email protected]. 289 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC mobilidade desses equipamentos, que podem proporcionar novas experiências pedagógicas e desvelar novas possibilidades para a educação. Com o Projeto UCA pode-se dizer que se iniciou, oficialmente, no Brasil o modelo de informática educativa na situação um para um (1:1), que prevê um computador para cada usuário (WARSCHAUER, 2006). Nesse novo paradigma, os computadores fixos (desktops) são substituídos por dispositivos móveis (laptops, tablets, smartphones etc), com conexão à internet, para serem utilizados em práticas educativas. Dessa maneira, o uso das tecnologias digitais deixa de ser um momento pontual, por vezes, raros nos laboratórios de informática e previamente planejados, para tornar-se uma prática corrente de sala de aula, nos diversos espaços da escola e, inclusive, fora dela. Com ideia similar à proposta do Projeto UCA estão os projetos que preveem a disponibilização de tablets a professores do Ensino Médio, pelo Ministério da Educação (MEC) e o programa Um computador para cada Professor, da Secretaria de Educação do Município (SME) de Fortaleza. Em ambos os projetos a intenção é que esses novos equipamentos possam proporcionar a inclusão digital dos professores, além de propiciar aos docentes outras fontes e materiais para planejar suas aulas. Tanto os tablets quanto os notebooks foram formatados visando o uso educacional, desde o sistema operacional que fornece links para acesso rápido a portais e objetos de aprendizagem mantidos pelo MEC.No modelo de informática educativa 1:1, as vantagens para o processo de ensino e aprendizagem podem ser vislumbradas a partir do momento que os sujeitos passem a utilizar os equipamentos visando a aquisição de informações e a construção de conhecimentos. Para tanto é necessário que professores e alunos percebam que tais equipamentos podem “ampliar seu acesso à informação, desenvolver habilidades de produção, adquirir novos saberes, expandir a sua inteligência e participar da construção coletiva do conhecimento” (BRASIL, 2007, p. 12). Via de regra, essas vantagens das tecnologias digitais em educação, são relacionadas com os alunos. Todavia, os docentes devem ser vistos como sujeitos que também têm muito a aprender com esses novos recursos, pela possibilidade de acesso a diferentes fontes de informação e interação com diversas pessoas, inclusive, colegas de profissão. Esta é uma característica das redes de aprendizagem (VALENTE, 2008). A perspectiva de rede de aprendizagem pode ser pensada e desenvolvida, para que professores construam conhecimentos de forma colaborativa acerca da docência. Equipamentos com potencial de conectividade proporcionam aos docentes interação com outros colegas, nos mais diversos lugares, para trocarem informações e experiências podendo levar a superação de lacunas conceituais de conteúdos curriculares e didáticos de algumas áreas. Portanto, no que se refere ao professor, esses projetos de disponibilização de tecnologias digitais podem ressignificar a cultura de formação docente. É relevante conhecer se os professores têm utilizado tais equipamentos para o desenvolvimento de sua profissão. Como alerta Kenski (2013, p. 9) mesmo com a presença das tecnologias digitais nos espaços escolares à disposição dos professores existe o “problema do desencontro entre a formação do docente – centrada na sua 290 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO atuação em espaços presenciais formais de escolarização – e as necessidades de habilidades, atitudes, valores e, sobretudo, conhecimentos que os novos espaços profissionais demandam”. Considerando estes aspectos, o objetivo desse trabalho é apresentar uma elaboração teórica acerca de práticas colaborativas formativas com suporte de tecnologias digitais entre professores da Educação Básica. Este trabalho de natureza qualitativa, é classificado como pesquisa bibliográfica. Tomou-se como referência teorias ligadas à formação de professores (LIMA, 2009; PIMENTA, 2011), à aprendizagem colaborativa com suporte computacional (STAHL, KOSCHAMANN, SUTHERS, 2006) e ao fenômeno da cibercultura (LÉVY, 1999; LEMOS, 2010). Professores, Tecnologias Digitais e Colaboração: A formação de professores é um tema de destaque no campo das pesquisas em Educação. Seja a formação inicial, os cursos de licenciatura ou a continuada, a que ocorre ao longo de toda a carreira docente, são elementos importantes e fundamentais à Educação. Estes cursos instrumentalizam os professores com subsídios teóricos e práticos para a docência. A formação contínua possui destaque em função da forma em que é concebida e vinculada com a prática do professor. Para Lima (2009, p. 2) a referida formação “é a articulação entre o trabalho docente, conhecimento e o desenvolvimento profissional do professor, como possibilidade de postura reflexiva dinamizada pela práxis”. Portanto, para a autora o processo de formação continuada tem como referência o próprio trabalho docente. Como o ponto de partida e de chegada é a própria ação e reflexão sobre a prática docente, evidencia-se um contínuo processo formativo. Na perspectiva que entende a formação docente como um processo continuum (PIMENTA, 2009), as tecnologias digitais podem favorecer a criação e ampliação de espaços de formação, pois possibilita essa reflexão compartilhada (NÓVOA, 1995). O processo de reflexão da prática não deve mais ficar limitado ao professor solitário, como é a prática da cultura escolar tradicional (KENSKI, 2013). Com o suporte das tecnologias digitais agora o professor pode compartilhar e discutir com seus colegas sua prática, numa perspectiva formativa. Tais características – colaboração e interação – são marcas da cibercultura. Através do acesso à internet, os professores podem buscar diversas fontes de informação, tais como sites, enciclopédias, bibliotecas e museus virtuais; além de interagir com diversas pessoas, inclusive outros professores, dentro e fora da escola, com auxílio de redes sociais e comunidades virtuais de aprendizagem. O acesso e a apropriação de diversos bens culturais de forma livre por professores pode criar uma atmosfera favorável a uma nova cultura docente, apoiada nas características da cibercultura (LÈVY, 1999). A internet, seus sites e redes sociais, já utilizados com muita frequência pelos professores fora da escola, devem ser vistos e apropriados como ferramentas úteis à sua profissão. Lemos (2010, p. 239), observa que: A apropriação tem sempre uma dimensão técnica (o treinamento técnico, a destreza na utilização do objeto) e uma outra simbólica (uma descarga 291 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC subjetiva, o imaginário). A apropriação é assim, ao mesmo tempo, forma de utilização, aprendizagem e domínio técnico, mas também forma de desvio (desviance) em relação às instruções de uso, um espaço completado pelo usuário na lacuna não programada pelo produtor/inventor, ou mesmo pelas finalidades previstas inicialmente pelas instituições. Nessa perspectiva, do desviance apontada por Lemos (2010), devem ser utilizadas as tecnologias digitais pelos professores. Estes devem entender tais equipamentos para além do que está posto: a inclusão digital dos alunos. A partir de usos que já fazem desses equipamentos para o seu dia a dia, atividades laborais ou mesmo de entretenimento, os docentes devem se apropriar de outras possibilidades que podem se servir desses artefatos, que talvez mesmo as instâncias macros e superiores a eles não tenham clareza. É compartilhar fatos de sua prática nas redes sociais, em espaços onde seus pares poderão ver, comentar e contribuir para uma discussão e reflexão. Essas experiências demandam, além de dispositivos portáteis como os laptops educacionais com conexão a internet, ambientes virtuais em que os sujeitos possam se comunicar e partilhar informações e produções. A utilização de ambientes colaborativos de aprendizagem favorece a criação das redes de aprendizagem. Além das ferramentas da web 2.0, como blogs e wikis, existem ambientes criados especificamente para essa finalidade, como os ambientes virtuais de aprendizagem (VALENTE, 2008). Tais ferramentas têm desvelado a criação de ambientes colaborativos de aprendizagem, significativos para a constituição de práticas colaborativas (STAHL; KOSCHMAN; SUTHERS, 2006). Com o advento da internet, o que se desloca é a informação, tanto no aspecto dos espaços físicos, quanto pela velocidade de sua transformação. O espaço físico tem dado lugar ao desenvolvimento do ciberespaço e à constituição de redes de aprendizagem, onde as pessoas interagem, colaboram e aprendem juntos. (VALENTE, 2008). Esta perspectiva está alinhada ao conceito de aprendizagem colaborativa com suporte computacional (STAHL, KOSCHMANN, SUTHERS, 2006), apoiada no uso da web. Numa rede de aprendizagem colaborativa: (…) os indivíduos estão envolvidos como membros do grupo, mas as atividades nas quais eles estão engajados não são atividades de aprendizagem individual, mas sim nas interações do grupo, como negociação e compartilhamento (STAHL, KOSCHMANN, SUTHERS, 2006, p. 3) No documento que contém os princípios orientadores para o uso do laptop educacional do Projeto UCA (BRASIL, 2007, p. 10), um dos objetivos dessa tecnologia nas escolas é o de possibilitar “aprender pela interação em redes sociais e desenvolver novas competências e habilidades exigidas pela sociedade atual, descortinando novos e promissores horizontes nas escolas”. Acesso amplo a equipamentos como os laptops oportunizam ao professor a participação em ambientes colaborativos de aprendizagem. É possível que muitos professores já se sirvam disso, mas ainda são experiências isoladas e pouco difundidas. Estudos como os de Chagas (2002) apontam que, mesmo com disponibilidade dessas tecnologias, ainda há a dificuldade para a efetivação de redes de aprendizagem colaborativa, que vão além de problemas técnicos e operacionais, ao interesse, ou mesmo conhecimento, dos participantes em práticas dessa natureza. 292 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO Segundo Kenski (2013) há uma forte cultura entre os professores, mesmo entre aqueles que atuam com ensino on-line para o trabalho de forma solitária. Como fatores preponderantes para o desenvolvimento dessa nova cultura de uso das tecnologias digitais a favor de experiências de aprendizagem colaborativa estão a maneira como os professores têm feito uso dos dispositivos móveis para aprender sobre a docência; e as reais condições de trabalho e de formação desse grupo de professores para a criação de ambientes de aprendizagem colaborativa. A escola deve manter uma cultura de desenvolvimento desse trabalho colaborativo junto aos professores sem e com o uso das tecnologias digitais. Para que ocorra aprendizagem colaborativa todos os sujeitos devem se sentir motivados para construir o conhecimento juntos. A ideia de coletividade é bastante evidente pois um indivíduo ajuda o outro para que alcance um objetivo. Nas palavras de Stahl, Koschman e Suthers (2006, p. 3), na colaboração: “os participantes não se isolam para realizar atividades individualmente, mas mantêm-se engajados em uma tarefa compartilhada que é construída e mantida pelo e para o grupo”. Pesquisas no sentido de conhecer como efetivar tais práticas podem contribuir para efetivação dessas redes de aprendizagem colaborativa de professores, com suporte de tecnologias digitais. CONSIDERAÇÕES FINAIS: As tecnologias digitais podem constituir-se em ferramentas favoráveis à práticas colaborativas de professores desde que estes estejam aptos a viver essa possibilidade. Em favor disso, a escola deve oportunizar a socialização de conhecimentos e experiências entre os participantes numa relação sem hierarquias, mas com responsabilidades partilhadas. Para a vivência de colaboração com tecnologias digitais os professores devem explorá-las como fazem no contexto extra-escola. Trazer para sua profissão o uso que fazem em seu dia a dia e compartilhar com seus colegas favorece a constituição de redes de aprendizagem colaborativa. Explorar a conectividade dos laptops na escola, por exemplo, acessando outras fontes de informação e estabelecendo comunicação com outras pessoas dentro e fora da escola fomentará diferentes usos do recurso e influenciará o desenvolvimento de uma nova cultura docente. Cultura essa que prevê uma formação num continuum e com seus próprios pares a partir de uma visão colaborativa. Com isto, a presença de equipamentos tecnológicos no modelo 1:1 influenciará na forma como os professores constroem e reconstroem os conceitos necessários à sua prática docente. REFERÊNCIAS BRASIL. Princípios orientadores para o uso pedagógico do laptop na educação escolar. Brasília: MEC, 2007. CHAGAS, I. Trabalho Colaborativo Condição Necessária para a Sustentabilidade das Redes de Aprendizagem. In: M. M. (Dir.). Redes de aprendizagem. Redes de conhecimento (p. 71-82). Lisboa: Conselho Nacional de Educação, 2002. KENSKI, V. M. Tecnologias e tempo docente. Campinas, SP: Papirus, 2013. - (Coleção Papirus Educação) 293 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC LEMOS, A. Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contemporânea. 5. Ed. 2010. LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. LIMA, M. S. L. A formação contínua como possibilidade de desenvolvimento profissional docente. Fortaleza: EdUECE, 2009. PIMENTA, S. G. Formação de professores: identidade e saberes da docência. In: PIMENTA, S. G. (Org.). Saberes pedagógicos e atividade docente. 7a ed. São Paulo: Cortez, 2009. – (Saberes da docência). STAHL, G.; KOSCHMANN, T.; SUTHERS, D. Computer-supported collaborative learning: an historical perspective. In: R. K. Sawyer (Ed.), Cambridge handbook of the learning sciences (p. 409-426). Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2006. VALENTE, J. A. 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A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, por meio do qual se buscou informações em livros, artigos de periódicos e sites da internet. Sendo assim, verifica-se que a Informática Educativa, vai muito além de ensinar o aluno sobre competências necessárias para utilizar o computador. Ele utiliza o computador como um recurso transformador no ambiente de aprendizagem, fazendo com que os alunos explorem caminhos de resolução de forma rápida, integrada e motivante, rompendo barreiras entre os diferentes conteúdos do currículo escolar. Por sua vez, se faz necessário que os educadores estejam preparados para interagir com as novas tecnologias no ambiente de trabalho. Para isto, a formação do professor deve prover condições para que ele construa conhecimento sobre as técnicas computacionais, entenda por que e como integrar o computador na sua prática pedagógica e seja capaz de superar barreiras de ordem administrativa e pedagógica. PALAVRAS-CHAVE: Informática educativa. Formação do professor. Educação. INTRODUÇÃO Atualmente é quase certo, quando falamos em educação citar o uso das novas tecnologias de informação e comunicação na valorização e na melhoria do ensino e aprendizagem, considerando que estas têm tido sua inserção demandada pelas práticas pedagógicas tornando-se cada vez mais necessárias as discussões e reflexões acerca dessa inclusão. Em nosso tempo de globalização, vivemos constantes mudanças tecnológicas devido ao seu rápido avanço, e com consequência, cada vez mais cedo as crianças estão em contato com as tecnologias, fazendo com que os profissionais da educação se posicionem mais rapidamente a respeito de seu uso. Já que a inclusão digital tem se colocado como um recurso a serviço do sistema educacional e, consequentemente, como parte do processo de ensino e aprendizagem uma vez que faz constantemente a mediação entre indivíduo e conhecimento. 147 Mestre em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará – UFC – e-mail : [email protected] 295 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Lévy (1996) definiu a atual era das tecnologias das informações e comunicação como uma era posterior à da tecnologia da oralidade e da escrita. A era digital impõe uma nova visão de existir no mundo, gerando outras formas culturais, que vêm substituindo princípios, valores, processos, produtos e instrumentos tecnológicos que medeiam à ação do ser humano com o meio. Faz-se necessário que o sistema educacional ofereça a seus alunos os recursos tecnológicos existentes na sociedade digital, a fim de que esses tenham a oportunidade de inseri-los em sua rotina de forma adequada e significativa a seu favor agregando essa experiência ao seu universo; universo em constante formação e dependente da instituição escolar para ser fomentada. Cabe a escola repensar suas práticas e adaptar-se para uma possível inserção nesse processo de construção do conhecimento por meios visuais, que vai além do que a oralidade e a escrita, como também, de recursos tecnológicos já utilizados como: giz/marcador para quadro branco, lousa e cartilha ou livro didático. É preciso desenvolver o conhecimento tecnológico mediante a utilização de novas tecnologias, como lousa digital, computadores (hardware e software), redes de computadores (internet), aplicativos (usuais e educacionais), dentre uma infinidade de opções capazes de favorecer a educação para hipermídias. O computador tem que ser visto como uma ferramenta de ensino e deve ser facilitador da aprendizagem, buscando fascinar o aluno para as novas descobertas. Segundo Tajra (2001): A tecnologia é um instrumento capaz de aumentar a motivação dos alunos, se a sua utilização estiver inserida num ambiente de aprendizagem desafiador. Não é por si só um elemento motivador. Se a proposta de trabalho não for interessante, os alunos rapidamente perdem motivação. Daí a importância do desenvolvimento de softwares educacionais de qualidade técnica e pedagógica. É preciso que os profissionais da área educacional imponham uma pedagogia adequada, interessante, mais de acordo com a realidade do aluno e com o novo paradigma que está surgindo. Os educadores não devem deixar a responsabilidade da criação de material didático ás empresas. Para que o material instrucional seja efetivamente um aliado didático é preciso que o professor o use calcado em uma prática pedagógica motivadora. A Informática na Educação subsidia o diálogo entre os profissionais da área técnica, da Psicologia e da Educação o que possibilita a criação de materiais instrucionais de qualidade. Contudo, a introdução do computador na educação não está sedimentada num ponto de vista comum. Ao contrário, embora se tratando de uma tendência praticamente irreversível, não existe consenso geral sobre esse assunto, identificado como "Informática na Educação". Basta observar a variedade de formas como a informática é interpretada nos meios educacionais. Diante desse fato justificam-se a realização desta pesquisa na área de informática na educação, visando à utilização do computador como ferramenta pedagógica e a iniciação dos alunos das séries iniciais do ensino fundamental no mundo da informática. buscou 296 Este trabalho foi realizado com respaldo em pesquisa bibliográfica, por meio da qual se informações em livros, artigos de periódicos e sites da internet. SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO Segundo Chizzotti (1991, p. 127), a investigação que requer utilizar “a bibliografia quer indicar que o pesquisador pode encontrar uma farta documentação para desenvolver a própria pesquisa e resolver os problemas teóricos e práticos que esse exigir”. 1 CONCEITUANDO INFORMÁTICA EDUCATIVA Existe uma discussão muito grande sobre o que seria Informática Educativa, e qual o papel que o computador deveria exercer nas escolas. O objetivo da Informática Educativa1 é utilizar o computador como recurso didático para as práticas pedagógicas nos diversos componentes curriculares, incentivando a descoberta tanto do aluno quanto do professor e preocupando-se com “quando”, “por quê” e “como” usar a informática para que a mesma contribua efetivamente para a construção do conhecimento. Segundo Tajra (2001), utilizar a informática na área educacional é bem mais complexo que a utilização de qualquer outro recurso didático até então conhecido. Ela se torna muito diferente em função da diversidade dos recursos disponíveis. Com ela é possível comunicar, pesquisar, criar desenhos, efetuar cálculos, simular fenômenos, dentre muitas outras ações. Nenhum outro recurso didático possui tantas oportunidades de utilização e, além do mais, é a tecnologia que mais vem sendo utilizada no mercado de trabalho. Assim, a Informática Educativa, vai muito além de ensinar o aluno sobre competências necessárias para utilizar o computador. Ela utiliza o computador como um recurso transformador no ambiente de aprendizagem, fazendo com que os alunos explorem caminhos de resolução de forma rápida, integrada e motivante, rompendo barreiras entre os diferentes conteúdos do currículo escolar. A utilização da Informática Educativa em uma escola significa desenvolver o conteúdo das disciplinas curriculares por intermédio do computador, de uma forma interdisciplinar. Este processo não depende somente dos recursos físicos, mas sim da conscientização por parte de toda a escola, principalmente do professor, para que obtenha uma aprendizagem significativa e com qualidade. Deve agregar, portanto, a aprendizagem, a filosofia do conhecimento, domínio das técnicas computacionais, prática pedagógica, dentre outros, desenvolvendo a criatividade, acrítica, a autonomia e a cooperação entre seus alunos, tornando cada vez mais o aprendizado significativo. Segundo Valente (1996), na Informática educativa, podemos utilizar o computador na escola, de quatro formas universalizadas: Instrução programada – caracteriza-se por colocar a máquina como que ensinando o aluno; Simulações – é uma atividade que coloca o aluno diante do computador como manipulador de situações; Aprendizagem por Descoberta – A Linguagem Logo - esta é a forma que mais se tem disseminado nas escolas, não só por ter sido desenvolvida com objetivos educacionais, mas por trazer uma proposta filosófico-educacional; Pacotes Integrados – não tem uma finalidade educacional, mas segundo os defensores da Informática educativa, são de grande vantagens se forem utilizados no processo de ensino: Processadores de Textos, Planilhas Eletrônicas e Banco de Dados. 297 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Portanto, no ambiente escolar os profissionais devem refletir sobre sua prática, entre o fazer e o pensar, buscar novas soluções a partir de uma proposta pedagógica coerente e inovadora que contemplem todos os seus alunos e tracem alternativas no interior da escola para integrar a tecnologia à sua prática. Pois é de suma importância o uso da informática na educação, principalmente nas primeiras séries do ensino fundamental permitindo o desenvolvimento de sua autonomia e ampliando sua capacidade. 2 UTILIZAÇÃO DA INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO Os PCNs para o Ensino Fundamental, adotados hoje nas escolas brasileiras, dão destaque às tecnologias da informação serem inclusas nos currículos das matérias. Os Parâmetros salientam que aprender a utilizar a tecnologia diz respeito a compreender e usar o conhecimento científicotecnológico. Além disso, ressaltam que o uso da tecnologia na educação não deve ser encarado apenas como uma inovação pedagógica para o uso de novos meios e instrumentos. É necessário saber que os diferentes recursos tecnológicos podem contribuir para a educação, identificando quando, por que e como a tecnologia pode mediar e auxiliar o ensino. Segundo os PCNs (BRASIL, 1997a, p. 67), destacam que: É necessária e suficiente a utilização da informática como disciplina na Educação Básica por que necessitam de conhecimentos em softwares para a vida no dia a dia. Com tanta modernidade tecnológica, sentimos a grande necessidade de inserir a informática no contexto educacional. O computador tem provocado uma revolução na educação por causa de sua capacidade de "ensinar". Existem várias possibilidades de implantação de novas técnicas de ensino e contamos, hoje, com o custo financeiro relativamente baixo para implantar e manter laboratórios de computadores, cada vez mais exigido tanto por pais quanto por alunos. Desta forma, o computador mediante os softwares educativos utilizados como ferramentas auxiliares podem se tornar um instrumento de estímulo aos discentes e um desafio aos educadores, pois viabiliza a prática docente. Valente (1998, p. 90) destaca a ideia da necessidade de uma educação para a compreensão, de qualidade e interativa, assim se expressa: [...] a solução para uma educação que prioriza a compreensão é o uso de objetos e atividades estimulantes para que o aluno possa estar envolvido com o que faz. Tais alunos e objetos devem ser ricos em oportunidades, que permitam ao aluno explorálas e, ainda, possibilitar aberturas para o professor desafiar o aluno e, com isso, incrementar a qualidade da interação com o que está sendo feito. No ambiente computacional que está sendo proposto, o computador assume o papel de ferramenta e não de máquina de ensinar. É a ferramenta que permite ao aluno realizar uma série de tarefas, das mais simples, como produzir uma carta, até as mais complexas, como a resolução de problemas sofisticados em matemática e ciências. Nesse sentido, o computador passa a ter uma função maior do que simplesmente passar informação. Ele é uma ferramenta que o aluno usa para realizar uma tarefa. Nessa situação o aluno descreve as suas ideias para a máquina (na forma de um programa), a máquina executa "essa ideia" e o resultado pode ser analisado. Se o resultado não é o esperado, certamente o aluno será instigado a refletir sobre o seu trabalho. Do mesmo modo, o 298 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO professor, através do trabalho do aluno, terá mais recursos para entender o que o aluno sabe e o que não sabe sobre um determinado assunto, conhecer o estilo de trabalho do aluno, bem como seus interesses, frustrações. (Valente, 1996) No construcionismo o computador requer certas ações efetivas no processamento da construção do conhecimento. Para "ensinar" o computador, o aluno deve utilizar conteúdos e estratégias (Valente, 1999) no caso do computador o aluno tem que combinar este conteúdo e estratégia a um programa que resolva este problema, como a linguagem Logo. CONSIDERAÇÕES FINAIS O trabalho realizado nesta pesquisa bibliográfica procurou mostrar a importância da informática nas práticas pedagógicas nos anos iniciais do ensino fundamental, que é a base da educação. Assim no decorrer deste estudo foi possível adquirir alguns conhecimentos no que tange a utilização de novas tecnologias no contexto educacional, visando a capacidade do computador como instrumento pedagógico para elaboração de atividades, que permite o aluno passar por um processo de “construção do conhecimento”. No entanto, isto não significa que o computador por si só basta para revolucionar a educação. Em se tratando da utilização de novas tecnologias no contexto educacional, o que se percebe é que o educador encontra-se inserido num emaranhado de conexões cujo centro é móvel, pois a mudança é frequente, esperada e, por vezes, extraordinária. Não há uma tecnologia específica a ser utilizada, nem uma forma única de utilização dos recursos tecnológicos, mas um leque de oportunidades educativas que as diferentes tecnologias revelam, cabendo ao professor adequá-las às necessidades e especificidades da escola e do alunado com que atua. Entretanto, para que tais adaptações possam se efetivar, é necessário domínio do professor quanto às possibilidades de uso da tecnologia na educação. A formação do professor deve prover condições para que ele construa conhecimento sobre as técnicas computacionais, entenda por que e como integrar o computador na sua prática pedagógica e seja capaz de superar barreiras de ordem administrativa e pedagógica. Finalmente, devem-se criar condições para que o professor saiba re-contextualizar tanto o aprendizado como as experiências vividas durante a sua formação para a sua realidade de sala de aula compatibilizando as necessidades de seus alunos aos objetivos pedagógicos a que se propõe atingir. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Terceiro e Quarto ciclos de Ensino Fundamental. Brasília: MEC, SEF, 1997/1998. CHIZZOTTI, A. A pesquisa em ciências humanas e sociais. São Paulo: Cortez, 1991. LÉVY, Pierre (1996). O Que é Virtual? Rio: Editora 34. ______. As tecnologias da inteligência. Editora 34, Nova Fronteira, RJ,1994 OLIVEIRA, R. Informática Educativa. 7ed. Campinas: Papirus, 2002. 299 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC VALENTE, José Armando (org). O computador na Sociedade do Conhecimento. Campinas: UNICAMP/NIED, 1999. _______. Informática na educação: a prática e a formação do professor. In: Anais do IX ENDIPE (Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino), Águas de Lindóia,1998p. 1-1 _______. O Professor no Ambiente Logo: formação e atuação. Campinas: UNICAMP/NIED, 1996. TAJRA, S. F. (2001): Informática na educação: novas ferramentas pedagógicas para o professor da atualidade, 3ª ed. Rev.atual. e ampl. São Paulo: Érica. 300 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO AVALIAÇÃO DA ACESSIBILIDADE DOS SOFTWARES EDUCATIVOS DO SISTEMA OPERACIONAL UBUNTUCA A PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL João Bosco de Farias148 Dennys Leite Maia149 RESUMO As Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) proporcionam benefícios às Pessoas com Deficiência Visual (PcDV), que possibilitam equiparar as potencialidades destas às pessoas sem deficiência. O Projeto Um Computador por Aluno (UCA) que visa promover a inclusão digital por meio do modelo 1:1 (um para um), é uma oportunidade de se efetivar esses benefícios, contribuindo assim para a real inclusão dessas pessoas. Este trabalho é um recorte da Monografia de conclusão de curso de Licenciatura em Pedagogia, da Universidade Estadual do Ceará (UECE), que avaliou a acessibilidade do hardware e software do laptop educacional utilizado pelo Projeto UCA, para o uso por PcDV. Este recorte apresenta a avaliação de acessibilidade para os softwares educativos presentes no sistema UbuntUCA, utilizado pela maioria das escolas participantes do projeto. A avaliação foi realizada com base no conhecimento e experiência de um destes autores, que é PcDV, faz uso de computador com leitores de tela e atuam como professor de informática educativa acessível. Ressalta-se aqui a inacessibilidade de softwares educativos e a necessidade de desenvolvimento destes com acessibilidade para que possam ser ferramentas que promovam a inclusão. PALAVRAS-CHAVE: Deficiencia visual, Acessibilidade, Projeto UCA, Computador. INTRODUÇÃO O computador é uma ferramenta utilizada para viabilizar atividades rotineiras de locais de trabalho, escolas e lares, por meio de seus diversos aplicativos. O equipamento possibilita, através da conexão à internet, acesso a um mundo digital - ciberespaço - onde é possível encontrar informações sobre assuntos variados, se comunicar com outras pessoas, publicar conteúdos, fazer compras, transações bancárias, dentre outras ações. Tudo isso é feito de forma interativa, por meio de informações em diversas mídias, tais como: texto, imagem, áudio e vídeo que fazem do computador, uma ferramenta multimidiática, e útil para as atividades do mundo contemporâneo. Dentre os beneficiados pelo uso do computador, também estão as pessoas com deficiência visual (PcDV), que com auxilio de tecnologias assistivas (TA) minimizam algumas das limitações a que são submetidas. Estes recursos e serviços contribuem para proporcionar ou ampliar 148 149 Pedagogo, Universidade Estadual do Ceará (UECE), [email protected] Mestre em educação, Universidade Estadual do Ceará (UECE), [email protected] 301 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC habilidades funcionais de pessoas com deficiência e, consequentemente, promover a elas vida independente e inclusão. As TA são também definidas como “uma ampla gama de equipamentos, serviços, estratégias e práticas concebidas e aplicadas para minorar os problemas encontrados pelos indivíduos com deficiências” (COOK; HUSSEY, 1995, p. ). As PcDV podem utilizar o computador para fazer suas atividades com o apoio de aplicativos ampliadores de tela (screen magnifiers) ou leitores de tela (screen readers). Estes recursos, respectivamente, ampliam o tamanho da fonte ou convertem o texto exibido na tela para voz sintetizada. Estas TA viabilizam a vida laboral, educacional e social das PcDV, pois tornam possível e mais rápido o acesso à informação em relação a outros recursos utilizados por essas pessoas para tal atividade. Além disso, servem como uma ferramenta que auxilia no processo de ensino e aprendizagem, contribuindo de uma forma prática e reflexiva, na compreensão de conceitos multidisciplinares que venham a enriquecer o conhecimento dos educandos com deficiência visual. Neste sentido, Sá, Campos e Silva (2007, p. 34) destacam que: Os laboratórios de informática, os telecentros e os programas de inclusão digital devem contar com meios informáticos acessíveis para pessoas cegas e com baixa visão, porque o uso de computadores e de outros recursos tecnológicos são tão fundamentais para elas quanto os olhos são para quem enxerga. A partir desse documento percebemos a atenção dada às tecnologias digitais da informação e comunicação (TDIC) como ferramentas úteis ao desenvolvimento social e cognitivo de alunos com deficiência visual. Na perspectiva de tornar o uso do computador na escola uma prática pedagógica, integrada ao currículo e de uso de intensivo (ALMEIDA; VALENTE, 2011), o Governo Federal, por meio do Ministério da Educação (MEC), implanta o Projeto Um Aluno por Computador (UCA). Esta ação visa disponibilizar, em etapas posteriores, computadores portáteis de custo reduzido com aplicativos de código-fonte aberto, a todos alunos, professores e gestores das escolas da Educação Básica, das redes públicas municipais e estaduais para que se promova a inclusão digital escolar. De acordo com o documento que regulamenta o projeto este também deve atentar para o atendimento a instituições de ensino que atendam alunos com deficiência (BRASIL, 2010). Na escola regular, o uso do computador, em especial no modelo 1:1 (um para um) (VALENTE, 2011), permitirá a um aluno com deficiência visual algumas facilidades, dentre elas: I) amplo acesso ao material de estudo e complementar em formato digital; II) realização de provas e atividades em diversos locais, dentro ou fora da escola, e em menor tempo, pois dispensa um “ledor150”; e III) acesso a outras fontes de informação disponibilizadas na internet. Portanto, o uso do computador por uma PcDV pode trazer-lhe ainda mais benefícios e vantagens, se 150 visão. 302 Pessoa que presta assistência à PcDV para atividades de leitura e escrita que requeiram o uso da SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO comparado a uma pessoa sem deficiência. Tais ferramentas não só oportunizam, mas viabilizam diversas atividades, em especial, no contexto escolar (FARIAS, PINHEIRO, MAIA, no prelo). É necessário, portanto, incentivar a políticas como a do Projeto UCA que visa a inserção de TDIC no ensino regular, através de escolas inclusivas, ou mesmo em instituições de atendimento especializado. Entretanto, pesquisa efetuada por Farias (2012) não identificou nenhuma iniciativa oficial de promoção da utilização das TDIC pelas PcDV em espaços educativos. Isso justificou a necessidade de avaliar a acessibilidade do laptop educacional do Projeto UCA. OBJETIVO GERAL Considerando que uma PcDV tem a possibilidade de utilizar um computador com o apoio de leitores ou ampliadores de tela, a criação do Projeto UCA e a importância do uso do computador para o processo educacional, o objetivo deste trabalho é avaliar a acessibilidade do laptop educacional disponibilizado pelo Projeto UCA para a utilização de PcDV, a partir dos softwares educativos. Este trabalho é um recorte da Monografia de conclusão de curso de Licenciatura em Pedagogia, da Universidade Estadual do Ceará (UECE), que avaliou todos os recursos do equipamento do referido Projeto (FARIAS, 2012). METODOLOGIA A metodologia aplicada neste trabalho foi a pesquisa qualitativa. A execução se deu por meio de uma avaliação de acessibilidade realizada por este autor, que é cego desde 2002, fazendo uso de TA em seu dia a dia. Além disso, o autor trabalha como professor de informática educativa acessível à PcDV na Associação de Cegos do Estado do Ceará (ACEC). Tais experiências lhe proporcionaram saberes que auxiliaram nessa avaliação. A referida avaliação do laptop educacional foi possível devido a disponibilização de uma máquina pela equipe de formação UCA Ceará, em maio de 2012. Os testes foram feitos durante o período de maio à dezembro de 2012, por meio de contato direto e frequente deste autor com o equipamento, chegando a utilizá-lo nas suas rotinas de trabalho, estudo e lazer, inclusive nos momentos de produção deste texto. Foi avaliada a acessibilidade do hardware do Laptop Educacional Classmate PC CM52C, CCE Info, SEED\MEC - FNDE\MEC – Projeto UCA, que apresenta processador Intel Atom, memória 512 megabytes (Mb) e armazenamento 4 gigabytes (Gb). No que diz respeito ao software, analisou-se o sistema operacional mais utilizado nas escolas UCA, a distribuição GNU/Linux UbuntUCA 3.2 e seus aplicativos. O UbuntUCA é uma remasterização da distribuição GNU/Linux Ubuntu, que vem preparado para ser instalado, especificamente, nos Laptops Educacionais do Projeto UCA. Foi desenvolvido pelo professor Gedimar Pereira, coordenador do Programa UCA na Escola de Ensino Fundamental Padre Theodoro Becker, Brusque (SC)151. Os programas do referido sistema operacional foram acessados conforme a ordem das seções de menu, quais sejam: I) Educativos, II) Escritório, III) Internet, IV) Mídia e V) Jogos. A interação com o laptop e seus aplicativos foi mediada pelo leitor de telas Orca, versão 2.30.2. O 151 Página para download do sistema: http://sites.unifebe.edu.br/~ubuntuca/ 303 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC referido software, livre e gratuito, é o ampliador e leitor de tela padrão de sistemas GNU/Linux, que utilizam como ambiente gráfico o GNOME (BRASIL, 2009), como é o caso do sistema UbuntUCA. Nesses testes foram utilizadas as teclas de atalho do ambiente gráfico GNOME e do Orca. As teclas de atalho do GNOME são combinações que permitem movimentar o foco do sistema, alternar entre controles, janelas, ativar e desativar menus. Enquanto as teclas de atalho do Orca são comandos de leitura e de movimento do seu cursor de revisão plana. Esse cursor de revisão plana é um cursor exclusivo do Orca que permite navegar pela tela, onde o foco do sistema não consegue chegar, permitindo a leitura desse conteúdo e a ativação de elementos. Nos testes foi verificado a existência de elementos que possibilitavam a interação do utilizador com os aplicativos, a possibilidade de navegação por seus controles utilizando o teclado, APLICATIVO ACESSO VIA TECLADO EM TODASAS FUNÇÕES LEITURA DO ORCA EM TODAS AS SUAS FUNÇÕES ACESSÍVEL Gcompris Não Não Não J Fraction Lab Não Não Não Tux Math Sim Não Não Tux Paint Não Não Quadro 01: Avaliação de acessibilidade para a seção educativos Não se o Orca era capaz de ler seu conteúdo e se o objetivo da utilização do aplicativo era alcançado. Quando era possível fazer uso do aplicativo, alcançando seu objetivo proposto, este era considerado acessível. Quando isso não era possível, o aplicativo era considerado inacessível. A seguir, apresenta-se a avaliação da acessibilidade tomando como referência a seção educativos. Optou-se por esta seção por ser aquela que, a priori, possui caráter pedagógico mais destacado. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A avaliação da acessibilidade a partir da seção Educativos Nesta seção estão reunidos os programas educativos presentes no sistema operacional UbuntUCA. Estes recursos são softwares que consistem em aplicar os conhecimentos escolares em atividades lúdicas, objetivando a aprendizagem desses conhecimentos. Os aplicativos presentes nessa seção são: I) Gcompris, II) JFractionLab, III) TuxMath e IV) TuxPaint. O GCompris é um pacote de aplicações educacionais que aborda atividades 124 para crianças de 2 à 10 anos. Algumas das atividades são de orientação lúdica, mas sempre com um caráter educacional. O JFraction Lab é um software livre para a prática de cálculos envolvendo frações, mostrando cada passo do cálculo facilitando a compreensão. O TuxMath é um jogo 304 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO educativo, em que o pinguim Tux, mascote do Linux, tem que destruir os meteoros com sua arma de raios laser, que é disparada pelas respostas certas de cada operação matemática, assim, o objetivo do jogo é ensinar Matemática de uma forma criativa e divertida. O TuxPaint é um editor de imagens de código aberto para crianças. Este software explora a produção artística dos educandos desde os primeiros anos escolares. A seguir, é apresentado o Quadro 01 que resume os resultados da avaliação dos aplicativos da seção, bem como considerações acerca destes. Os aplicativos GCompris, JFraction Lab e TuxPaint foram considerados totalmente inacessíveis. São aplicativos predominantemente visuais, apresentando poucos sons, os quais são insuficientes para que uma PcDV possa compreender o que acontece. Tais softwares não permitem utilização do teclado para a realização de suas atividades, apenas o mouse é que pode operar os aplicativos. Registra-se ainda que o Orca não foi capaz de ler as informações exibidas na tela dos três recursos, nem mesmo com seu cursor de revisão plana. Destaca-se a situação do Tux Math: Todas as suas funções são acessíveis por meio do teclado. Todavia, o Orca não é capaz de ler o conteúdo exibido e, portanto, permitir à PcDV interação com este software educativo. Apesar disso, sua utilização e possível, desde que uma pessoa vidente verbalize os menus e as operações exibidas no programa. Por se tratar de um software livre, é possível fazer alterações para que o Orca possa realizar essas funções, ou que estes sejam verbalizados por gravações inseridas no próprio aplicativo. Essas características de inacessibilidade são decorrentes da forma de exibição gráfica dos aplicativos, o que em algumas ocasiões dificulta o processamento dos Leitores de Tela. Para que o software possa executar a leitura, os desenvolvedores de leitores de tela utilizam duas principais técnicas: Off-Screen Model (modelo fora da tela,) e Accessibility API (API de acessibilidade) (BALANSIN apud RAJ, 2011). O primeiro é a criação de um modelo na memória, que representa o sistema e a interface gráfica, monitorando as mensagens trocadas entre aplicativos e sistema. Por exemplo, ao interceptar uma mensagem para a exibição de um botão, o leitor consegue representá-lo na memória e quando necessário ler o seu conteúdo. Esta técnica desperdiça muita memória, pois abriga a representação do conteúdo da tela, além de monitorar os sistemas e suas aplicações, a fim de fazer o mapeamento em memória das alterações ocorridas (BALANSIN apud RAJ, 2011). Essa é a função do cursor de revisão do Orca, o qual não foi capaz de obter as informações da tela para estes programas. O segundo, API de acessibilidade, é a melhor solução para o Leitor de Tela interagir com o sistema, a fim de obter as informações em texto em relação a interface gráfica. A API funciona como uma ponte entre o Leitor e o sistema e suas aplicações. As informações que o leitor necessita dos componentes gráficos (menus, ícones, botões e outros) estão disponíveis na própria API (BALANSIN apud RAJ, 2011). A questão é que alguns desenvolvedores de softwares não pensam a acessibilidade ao criarem seus programas. Produzindo softwares que priorizam a informação visual, deixando a informação sonora em segundo plano, que não possuem API de acessibilidade, têm o mouse como periférico preferencial para a inserção de comandos, não permitindo a 305 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC utilização e nem implementam atalhos de teclado. Características essas que impossibilitam a utilização desses aplicativos por PcDV. CONSIDERAÇÕES FINAIS Quanto a seção educativos do sistema UbuntUCA, conclui-se que embora seja um sistema voltado para o meio educacional, não apresenta programas educativos que permitam que uma PcDV possa utilizá-los. O computador é uma ferramenta que potencializa as capacidades das PcDV, desta forma, é necessário que sejam desenvolvidos aplicativos educativos acessíveis, bem como jogos, suítes de escritório, navegadores de internet, aplicativos em geral, que permitam sua ampla utilização, indiscriminadamente, para que as PcDV possam fazer ainda um melhor aproveitamento do computador. Espera-se que com este trabalho possam surgir iniciativas por parte dos desenvolvedores de software de se criar aplicativos acessíveis, e por parte dos governantes de se incluir PcDV por meio da utilização de Laptops Educacionais. Pois se para as pessoas com visão o computador traz benefícios, para as PcDV esses benefícios são multiplicados. REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. E. B. de.; VALENTE, J. A. Tecnologias e currículo: trajetórias convergentes ou divergentes? São Paulo: Paulus, 2011. BALANSIN, Cleiton Fiatkoski. Especificação e Implementação de um Leitor de Tela. Universidade Estadual do Oeste do Paraná Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas Colegiado de Ciência da Computação Curso de Bacharelado em Ciência da Computação. Cascavel, SC: 2011. BRASIL. Leitores de tela: descrição e comparativo. Brasília: MP/MEC, 2009. _______. LEI Nº 12.249, de 11 de junho de 2010. 2010b. Disponível em: <http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=261443>. Acesso em: 06 de dezembro de 2012. COOK, A. M., HUSSEY, S. M. Assistive Technologies: Principles and Practices.” St Louis, Missouri, EUA. Mosby – Year Book, Inc. 1995. FARIAS, J. B. de. Avaliação da acessibilidade do laptop educacional do Projeto Um Computador por Aluno a pessoas com deficiência visual. 2012. 91p. Monografia (Licenciatura em Pedagogia) – Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2012. FARIAS, J. B.; PINHEIRO, J. L. MAIA, D. L. Navegar é preciso, ver não é preciso: O laptop educacional acessível a alunos com deficiência visual. In: CASTRO FILHO, J. A. Experiências do Projeto UCA-Ceará (provisório). Fortaleza, UFC, no prelo). SÁ, E. D. de; CAMPOS, I. M. de; SILVA, M. B. C. Atendimento educacional especializado: deficiência visual. Brasília: SEESP/SEED/MEC, 2007. VALENTE, J. A. Um laptop para cada aluno: promessas e resultados. In: ALMEIDA, M. E. B. de; VALENTE, J. A. O computador portátil na escola: mudanças e desafios nos processos de aprendizagem, São Paulo, Avercamp, 2011. 306 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO EXPERIENCIANDO PRÁTICAS EDUCATIVAS NO LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA Aparecida Maria Costa de Albuquerque152 Rosimeire Rebouças Rodrigues Costa153 RESUMO Constata-se cada vez mais a inserção das tecnologias de informação e comunicação (TIC) no contexto educacional. Diante dessa realidade, urge a necessidade de concentrar pesquisas que discutam as concepções pedagógicas que embasam uso destas tecnologias na escola pública e sua integração ao currículo escolar. Nesse sentido, a presente pesquisa investigou em uma escola pública a integração das TIC ao currículo escolar, a partir da utilização do laboratório de informática (LI), analisando as possibilidades e dificuldades encontradas nas práticas educativas implementadas. A metodologia adotada apoiou-se em uma abordagem qualitativa, por meio da observação participante, utilizando-se alguns elementos da etnografia. Para a coleta de dados utilizamos o diário de campo, checklist e entrevistas semi-estruturadas. Os sujeitos, um professor do laboratório e um da sala de aula, foram selecionados a partir de critérios previamente estabelecidos. Os resultados da pesquisa apontam que o laboratório vem sendo utilizado sistematicamente na escola, a partir de diferentes modalidades. Entretanto, ainda, são muitas as implicações encontradas que impedem práticas mais integradas ao currículo escolar. PALAVRAS-CHAVE: Laboratório de Informática. Práticas Educativas. Processo Educativo. Currículo Escolar. INTRODUÇÃO A inserção de tecnologias da informação e comunicação (TIC) na escola, seja por meio da implantação de laboratórios de informática (LI) ou tecnologias móveis, nos remete diferentes discussões, entre elas, o uso e a integração destas tecnologias ao currículo escolar e a possibilidade de mudanças significativas no processo educativo. Nesse sentido, com o intuito de revelarmos um pouco da realidade da escola pública e oferecermos contribuições teórico-metodológicas aos professores que subsidiem suas práticas, o relato de experiência, recorte de pesquisa de mestrado, discute o uso das TIC no espaço escolar, analisando suas possibilidades e implicações na forma de aprender e ensinar. Nessa perspectiva, introduzimos a temática apresentando o objetivo deste relato de experiência e descrevendo a metodologia adotada. Em seguida, apresentamos a análise e sistematização dos dados, pontuando o uso do LI na escola e sua relação com o currículo escolar. E, enfim, as considerações finais. 152 153 Mestre em Educação Brasileira, Secretaria Municipal de Educação, [email protected] Especialista em Mídias na Educação, Secretaria Municipal de Educação, [email protected] 307 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC OBJETIVO GERAL Investigar em uma escola pública o uso das TIC, por meio da implementação de atividades no LI, analisando, principalmente, suas implicações e possibilidades para o processo educativo. METODOLOGIA A metodologia adotada neste relato de experiência apoiou-se em uma abordagem qualitativa. A pesquisa qualitativa envolve obtenção de dados descritivos, analisados de forma indutiva, a partir do contato direto do pesquisador com a realidade investigada (BOGDAN & BIKLEN, 1994). Para uma maior compreensão da realidade utilizamos alguns elementos da etnografia, imersão na realidade, descrição de dados e fatos e compreensão do objeto investigado a partir do ponto de vista dos sujeitos e do contexto pesquisado (ANDRÉ, 2000). Na coleta de dados empregamos as técnicas da observação participante e da entrevista semi-estruturada. E utilizamos instrumentos auxiliares, como o diário de campo e check-list. Sujeitos pesquisados Selecionamos dois sujeitos: professor do laboratório de informática (PLI) e o professor da sala de aula (PSA) e, indiretamente, sua respectiva turma de estudantes. Os critérios de escolha dos sujeitos obedeceram à condição dos professores realizarem atividades curriculares com uso das TIC, participarem do planejamento pedagógico e terem disponibilidade e interesse em participarem da pesquisa. Para maior conhecimento apresentamos a caracterização dos sujeitos no quadro 3.1 abaixo: SUJEITOS PLI FORMAÇÃO ACADÊMICA FORMAÇÃO EM TECNOLOGIA EDUCACIONAL Cursos de extensão (totalizando uma carga horária de 420h) EXPERIÊNCIA EM DOCÊNCIA EXPERIÊNCIA EM TECNOLOGIA EDUCACIONAL 06 anos Licenciatura em 22 anos Letras Especialização em Literatura inglesa PSA Pedagogia 24 anos ---Quadro 3.1 – Caracterização dos sujeitos: formação acadêmica, formação em tecnologia educacional, experiência em docência e experiência em tecnologia educacional. O quadro apresenta que o PLI tem uma formação voltada para o uso de tecnologias na escola, o que pode contribuir muito com sua prática pedagógica. Entretanto, PSA não possui nenhuma experiência e não tem formação específica para prática podendo dificultar o desenvolvimento de atividades educativas com o uso das TIC, o que veremos a seguir. DISCUSSÕES DOS RESULTADOS Não podemos negar que, por meio de atividades desenvolvidas no LI, o uso das TIC foi incorporado por professores e estudantes na escola pesquisada, alterando assim suas práticas. No laboratório foram utilizados sistematicamente aplicativos, softwares e recursos disponíveis para explorar temáticas ou conteúdos curriculares estabelecidos. “O laboratório de informática firmou- 308 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO se como mais um espaço, onde a aprendizagem pode acontecer de uma forma mais dinâmica” (PLI, Entrevista, 2010). O “planejamento” das atividades do LI, na maioria das vezes, ocorria nos intervalos ou corredores ou a partir de planejamentos informativos, caracterizados para Fusari (1988) como funcionais. Levando-nos a compreender que apesar da incorporação do uso das TIC nesta escola, ainda não assume o caráter de “catalisador do processo de ensino e aprendizagem que perpassa todos os elementos do planejamento” (VOSGERAU, 2010, p. 28). A partir de iniciativas dos professores, os conteúdos explorados em sala de aula estabeleciam relação de complementaridade no LI. As atividades desenvolvidas apresentavam uma sequência didática, mostrando uma interrelação entre elas. Entretanto, em virtude da própria lógica do laboratório, presa a cronograma de atendimento, o intervalo de tempo entre estas atividades era considerável, e nem sempre elas eram exploradas na sua totalidade, tornando-as muitas vezes pontuais e desarticuladas. Em algumas atividades no LI, os aplicativos foram utilizados como recurso motivador, acessório para ilustrar as aulas. Não podemos desprezar o potencial desses aplicativos, tornando as atividades mais interessantes e atrativas para os estudantes. “As questões do apelo das imagens, da cor, da própria máquina, a capacidade que ela tem de seduzir, aumenta a capacidade de aprender, de memorizar” (PLI, ENTREVISTA, 2012). No entanto, precisamos explorar as TIC para ampliar a possibilidade de interação e autonomia do estudante. Em relação ao uso do impress, aplicativo utilizado como editor de texto, para PLI, facilita a aprendizagem dos estudantes, “digitou omenage, viu seu erro, perguntou, voltou a tecla e digitou corretamente a palavra homenagem” (ENTREVISTA, 2010). A oportunidade dos estudantes entrarem em contato com seu próprio erro e a facilidade de corrigi-lo, faz com que eles sintam-se mais autônomos e independentes para expressarem suas ideias. Valente (1999) considera que editor de texto não disponibiliza ferramentas que auxiliam no processo de construção do conhecimento e a compreensão das ideias. No entanto, na medida em que os alunos elaboram seus textos coletivamente, vêem e discutem seus erros, dão cores as letras e formatos as linhas, quebrando a lógica do caderno, estão construindo novos conhecimentos. As produções dos estudantes podem ser consideradas “registros digitais” (ALMEIDA, 2008). Os registros digitais facilitam o professor acompanhar, analisar e avaliar o processo de aprendizagem, porque oferecem elementos pedagógicos que o subsidiam em seus planejamentos, no sentido que apresentam o resultado da sua prática, a partir da lógica dos estudantes e dão indícios de readequá-la. Para a autora “os registros fornecem indícios do modo de pensar dos alunos, das expectativas, necessidades e potencial de aprender dos alunos e auxiliam a atuação docente voltada ao desenvolvimento de um currículo que parte do universo de significados dos alunos.” (p. 02). 309 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC As atividades com sites e software de simulação permite a aproximação dos estudantes com situações que se assemelham à realidade, possibilitando erros, acertos e elaborações de estratégias, estimulando-os a pensarem sobre suas respostas, desenvolvendo a capacidade crítica e de autoria, buscando uma abordagem mais crítica. Para a PSA, “é colocar as coisas na prática, dá para eu perceber como eles estão compreendendo as coisas” (ENTREVISTA, 2010). Na contextualização das aulas no LI, PLI assumia ativamente a condução das aulas, apresentando muito conhecimento técnico e uma abordagem mais interacionista. Apesar da atuação de PSA se destacar entre as outras professoras de sala, ainda assumia um papel coadjuvante, resultado da ausência de uma formação voltada para o uso pedagógico das TIC. Identificamos várias dificuldades que impediram ou dificultaram um possível processo de integração do LI ao currículo escolar, como: ausência de espaços de discussões das diferentes formas de utilização das TIC na escola; ausência do professor da sala de aula na contextualização da aula no LI, quantidade de equipamento existentes no LI menor que o nº de estudantes atendidos por sala, subordinando a necessidade pedagógica ao impedimento técnico; ausência de formação para os professores da sala de aula; lógica de atendimento do LI, com dias e horários marcados, implementada para atender todos os alunos da escola, independente da especificidade de cada conteúdo curricular trabalhado, o que nos fez perceber os grandes desafios que a escola tem pela frente. CONSIDERAÇÕES FINAIS O uso das TIC é uma prática que vem sendo implementada e incorporada à rotina da escola. Presenciamos diferentes formas de uso das TIC, por meio de utilização do LI. No entanto, apesar da tentativa dos professores inserirem práticas mais inovadoras, a escola ainda é presa a uma abordagem tradicional, resultado de um planejamento funcional e um currículo, que ainda organiza seus conteúdos por disciplinas, que, na maioria das vezes caminham isoladamente presa a tempos e espaços. A ausência de uma discussão maior sobre o próprio currículo (SILVA, 2010) colabora para os professores compreenderem as diferentes tecnologias apenas como recursos inovadores, “ferramentas mágicas” não contemplando sua dimensão como ferramenta de aprendizagem, como linguagem, como fundamento. Para PLI “Muitas vezes a prática tradicional se reflete nas atividades realizadas com o uso do computador tornando-o, como foi dito, uma ferramenta “modernosa”. Mas, felizmente, existem exceções” (ENTREVISTA, 2010). Há práticas mais inovadoras, partindo de uma concepção diferenciada de currículo, mas ainda são caracterizadas como exceção. O uso das TIC na escola sugere várias mudanças, que passa por uma reestruturação que vai desde a reorganização de estudantes até a reformulação do espaço físico (Kensky, 2003). Entretanto, defrontamos com uma estrutura rígida de concepção de escola, com um currículo preso a tempos e espaços e planejamento funcional que, na maioria das vezes, inviabilizava práticas mais inovadoras. 310 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO A experiência vivenciada nos fez entrar em contato com a escola pública e refletir sobre suas práticas. E, principalmente, nos fez compreender que professores e estudantes, protagonistas da escola, experienciam os mais diferentes desafios na busca pela resignificação do processo educativo, que ultrapassam os aspectos meramente pedagógicos, pressupõem uma discussão questão epistemológica, de concepção, de educação, escola e currículo. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Maria Elizabeth de. Tecnologias na educação: dos caminhos trilhados aos atuais desafios. Bolema, Rio Claro, São Paulo, ano 21, n.29, p. 99-129, 2008. ALMEIDA, Maria Elizabeth de Prado, M.E.B.B. A formação de educadores em serviço com foco nas práticas escolares com o uso do laptop educacional em uma escola pública. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO, 19., 2008, Fortaleza. Anais do SBIE: tecnologia e educação para todos. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2008. ANDRÉ, M. Etnografia da prática escolar. 4.ed. Campinas: Papirus, 2000. BOGDAN; BIKLEN, S. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto-Portugal: Editora Porto, 1994. FUSARI, José Cerchi. O papel do planejamento na formação do educador. São Paulo: SE/CENP, 1988. KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e ensino presencial e a distância. Campinas-SP: Papirus, 2003. (Série Prática Pedagógica). SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. 3.ed. 1. reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. p.77-152. VOSGERAU, Dilmeire. Orientações para a integração dos recursos tecnológicos à proposta de trabalho do professor. Disponível em: <http://wwww.diadia.pt.gov.br/ nre/ibaiti/arquivos/ File/Vosgerau.pdf>. Acesso em 05 ago. 2010. 311 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC A WEB 2.0 COMO AUXILIAR DA AÇÃO DOCENTE E DA APRENDIZAGEM Alberto Alexandre Alves Guerra154 Marly dos Santos Alves155 RESUMO O presente trabalho tem como tema a web 2.0 como auxiliar da ação docente e da aprendizagem. O objetivo do trabalho é fazer uma reflexão sobre o uso da ferramenta web 2.0 na escola e na sala de aula como instrumento auxiliar da ação docente no processo de aprendizagem dos alunos. Nesse sentido, questiona-se o porquê da dificuldade de inclusão das tecnologias na prática docente. A metodologia que embasou o presente trabalho foi a pesquisa bibliografia, onde utilizou-se a revisão de literatura de autores como: Almeida e Prado (2005), Dowbor (2001), Demo (2012), Shank (2008), Mason e Rennie (2008). Podemos ao final desse estudo concluir ser necessário que os docentes introduzam as tecnologias em suas aulas, aproveitando-os como recursos didáticos útil, rico e auxiliar de sua prática. Palavras Chave: Aprendizagem. Ação docente. Web 2.0. INTRODUÇÃO A relação entre a escola e a tecnologia começou com o uso de diferentes artefatos, tais como: lápis, papel, material impresso, rádio, telegrafo, gravador, televisão, vídeo e mais recentemente as novas tecnologias da informação e da comunicação. O uso de tecnologias na escola pública brasileira iniciou-se timidamente, com projetos pilotos em escolas no final de 1980. Nesses projetos, algumas experiências ocorriam com o uso do computador em atividades disciplinares e muitas outras eram extracurriculares e ocorriam em horários diferentes daqueles em que os alunos frequentavam a escola. Para Dowbor (2001) “as tecnologias são importantes, mas apenas se soubermos utilizá-las. E saber utiliza-las não é apenas um problema técnico”. Hoje, as tecnologias e as mídias ganham espaços no contexto educacional, as unidades escolares estão equipadas com bibliotecas, sala de DVD, equipamentos como vídeo, rádio, câmera digital, filmadora e computador. A escola lida o tempo todo com tecnologia, mas raramente se ocupa de produzi-la. O que as tecnologias digitais trazem de especial para a escola, é a ampliação das possibilidades de produzir conhecimento, divulgá-lo e compartilhá-lo. 154 Pedagogo; Pós em Geografia e Historia; Professor da Faculdade Ratio e Universidade Estadual Vale do Acaraú/Cetrede. E-mail: [email protected]. 155 Pedagoga; Mestra em Educação; Professora da Universidade Estadual do Ceará. E-mail: [email protected]. 312 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO O uso da tecnologia na educação requer um olhar mais abrangente, o envolvimento de novas formas de ensinar, aprender e de desenvolver um currículo condizente com a sociedade tecnológica, que deve se caracterizar pela integração, complexidade e convivência com a diversidade de linguagens e formas de representar o conhecimento. OBJETIVO GERAL Este trabalho tem como objetivo fazer uma reflexão sobre o uso da ferramenta web 2.0 na escola e na sala de aula, como instrumento auxiliar da ação docente no processo de aprendizagem dos alunos. Na organização desse estudo, busca-se apresentar algumas destas ferramentas que auxiliam o trabalho docente e a construção do conhecimento pelo aluno. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Nesse sentido, questiona-se o porquê da dificuldade de inclusão das tecnologias na prática docente. Tratar de tecnologias na escola engloba, na verdade, a compreensão dos processos de gestão de tecnologias, recursos, informações e conhecimentos que abarcam relações dinâmicas e complexas entre parte e todo, elaboração e organização, produção e manutenção (Almeida, 2005). O uso da tecnologia na escola, quando pautada em princípios que privilegiam a construção do conhecimento, o aprendizado significativo requer dos profissionais novas competências e atitudes para desenvolver uma pedagogia voltada para a criação de estratégias e situações de aprendizagem que possam tornar-se significativa para o aprendiz, sem perder de vista o foco da intencionalidade educacional (Almeida e Prado, 2005, p. 42). Criar ambientes de aprendizagem com a presença das tecnologias da informação e comunicação (TICs) pode indicar uma concepção da prática pedagógica com base na informatização do ensino e na transmissão de informações. O professor que associa as TICs aos métodos ativos de aprendizagem é aquele que também busca desenvolver habilidade técnica relacionada ao domínio da tecnologia e, sobretudo, esforçase para assumir uma atitude de reflexão frequente e sistemática sobre sua prática, sobre o que seus pares falam da própria prática e sobre as teorias tratadas por autores de referência. A introdução de ferramentas educacionais mediadas pelas tecnologias da web 2.0 nos remete ao enfrentamento de novos desafios sobre a educação e seus principais atores – professores, escolas e alunos – ocasionando profundas transformações na ação educativa, com mudanças rápidas, abrangentes e até fora do controle. As tecnologias da web 2.0 estão mudando velhas plataformas de aprendizagem e capacitando novas, entre elas estão à pesquisa, as transmissões em web, revisão de livros e curso e outros (Shank, 2008). Para que a utilização da web 2.0 tenha um cunho pedagógico, elas precisam envolver os estudantes no processo de aprendizagem, fomentar habilidades de aprendizagem autônoma, coletiva, desenvolver habilidade de construção de conhecimento, motivar aprendizagem sem fim (Demo, 2009). Sendo assim, o desafio formativo a razão de ser. 313 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC Muitas são as ferramentas da web 2.0, existentes que podem contribuir para a aprendizagem dos alunos, tornando-se recursos acessíveis a todos que buscam adquirir e ampliar conhecimentos. Mason e Rennie (2008) apresentam algumas ferramentas da web 2.0 que contribuem para a aprendizagem dos alunos, através do uso da Internet: Blogs; Wikis; Podcasting; E-Portfólios; Social Networking tais como MySpace e Facebbok; Photo Sharing, Flickr; On line Foruns; Video Messaging; E-Books; Jogos e Simulações; Mobile Learning (M-Learning); Video Clips e Youtube; Audiographics ou quadros brancos interativos/eletrônicos. Pedagogicamente a web 2.0 oferece modos de aprender em qualquer lugar e tempo, colocando o aprendiz como ponto de partida; possibilita o acesso a vasto leque de conteúdos, com estratégias seletivas e inteligentes; aumenta as oportunidades de interação professor aluno; possibilita estender aprendizagens aos portadores de necessidades especiais. Enfim, as tecnologias são hoje importantes e eficientes ferramentas de aprendizagem, que podem ser utilizadas na escola e nas comunidades sociais como um instrumento a serviço da educação. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os novos desafios requerem qualidade educacional dos autores, no entanto, as instituições educacionais, muitas vezes, são obstáculo às mudanças. É preciso que os educadores sejam os primeiros a incentivar e fazer uso das tecnologias em suas salas de aula. Espera-se que a qualidade e eficiência da aprendizagem mediada pelo uso de tecnologias, entre elas a web 2.0, seja um diferencial, já que ela exige maior intensidade de trabalho e mais recursos. Assim, esses novos recursos de aprendizagem podem e devem ser utilizados nas instituições educacionais pelos educadores e tende a contribuir significativamente para a melhoria da qualidade da educação ali praticada. Portanto, a internet pode ser bem e mal usada, como todos sabem, mas seria recomendável começarmos a ver criticamente seu bom uso, porque escodem-se aí oportunidades relevantes, tanto mais relevantes porque representam as habilidades do século XXI. O uso da tecnologia no design da aprendizagem deve superar distinções estanques como cursos presenciais e não presenciais, porque mantêm a expectativa instrucionista e disciplinar de professores. Conhecimento não se repassa, reproduz, mas se constrói, reconstrói, desconstrói, o que permite distinguir conhecimento e informação. Aprendizagem tecnologicamente correta significa aquela que estabelece com tecnologia a relação adequada no sentido de aprimorar a oportunidade de aprender bem. Assim, urge a necessidade de mais atenção por parte dos professores na introdução das tecnologias na sala de aula, aproveitando os recursos da web 2.0 como recurso didático útil, rico e auxiliar da pratica docente. 314 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. E. Bianconcini. Gestão de tecnologias na escola: possibilidades de uma prática democrática. Boletim - Salto para o Futuro: Série integração de tecnologias, linguagens e representações. Brasília: MEC, SEED, 2005. Disponível em: http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2005.htm> Acesso em: 15 ago. 2012. ALMEIDA, M.E. Bianconcini; PRADO, M. E. B. Brito Apresentação da série integração de tecnologias com as mídias digitais. In: Boletim - Salto para o Futuro. Brasília: MEC, SEED, 2005. Acesso em 15 ago. 2012.. DEMO, Pedro. Educação hoje: “novas tecnologias, pressões e oportunidades”. São Paulo: Atlas, 2009 DOWBOR, L. 2001. Artigo: Tecnologias do conhecimento: os desafios da educação. Disponível em: http://dowbor.org/tecnconhec.asp. Acesso em: 15 ago. 2012. MASON, R. & RENNIE, F. E-learning and social networking handbook. London, UK: Routledge, 2008. SHANK, P. Thinking critically to move e-learning forward. In: CARLINER, S.;SHANK, P. (Eds). The e-learning handbook: past promises, present challenges. New York: Pfeiffer, 2008. P.15-28. 315 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC PROJETO UCA: DESAFIOS A FORMAÇÃO DOCENTE EM UMA ESCOLA ESTADUAL DE FORTALEZA Inara da Silva Félix156 Scarlett O'hara Costa Carvalho157 RESUMO Este trabalho tem como escopo compreender a implementação do projeto UCA em uma escola de ensino fundamental e médio de Fortaleza com intuito de fomentar nossa formação docente, acerca das tecnologias digitais em educação, haja vista sua importância na atualidade. Palavras-Chave: Projeto UCA. Tecnologias Digitais. Formação docente. INTRODUÇÃO Este relato de experiência é fruto de um trabalho da disciplina Tecnologias Digitais em Educação, do curso de Licenciatura em Pedagogia, da Universidade Estadual do Ceará (UECE), através de uma visita a uma Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio em Fortaleza, que tinha como intuito a nota final da disciplina. A pesquisa foi desenvolvida em dois momentos. No primeiro, um estudo bibliográfico sobre tecnologias digitais em educação, em especial acerca do Projeto Um Computador por Aluno (UCA) e do modelo de informática educativa 1:1 (um para um). O UCA é “um programa de inclusão digital pedagógica nas escolas, com repercussão na família, baseado em um laptop de baixo custo, apto ao enlace de conectividade sem fio (em rede mesh ou wireless), objetivando o conhecimento e tecnologias que oportunizam a inovação pedagógica nas escolas públicas” (Proposta de Avaliação UCA, 2010). No segundo momento, realizou-se uma pesquisa de campo onde as pesquisadoras visitaram uma escola, no primeiro semestre do ano corrente, registraram alguns dados e fizeram uma entrevista semiestruturada com a gestão. Em 2010 o governo federal implantou o Projeto UCA, que distribuiu 150.000 laptops educacionais para escolas públicas brasileiras, com vistas a inclusão digital escolar e melhoria da educação. No Ceará, dez escolas foram contempladas, tendo sido a Escola visitada, uma delas. O 156 157 316 Sobre a autora: Bolsista do PIBID/CAPES (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência)-(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) do subprojeto de Pedagogia/UECE, graduanda do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade Estadual do Ceará (UECE) campus do Itaperi. Endereço para contato por e-mail: [email protected] Sobre a autora: Bolsista do PIBID/CAPES (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência)-(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) do subprojeto de Pedagogia/UECE, graduanda do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade Estadual do Ceará (UECE) campus do Itaperi. Endereço para contato por e-mail: [email protected] SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO critério para escolha da escola era ter cerca de 500 (quinhentos) alunos, possuir energia elétrica para carregamento dos laptops e armários para armazenamento dos equipamentos. A escola escolhida para realização da visita, conta com um contigente de 637 alunos no ano de 2013, que são distribuídos em três turnos. São 6 turmas de ensino fundamental, 7 de ensino médio e ainda 2 turmas de Educação de Jovens e Adultos - EJA. Hoje há em cada sala, uma média de 35 alunos. A coordenadora informou que a média até 2011 era de 25 alunos por sala e atribui esse aumento à implantação do referido projeto, onde muitos alunos de escola privada e de outras escolas se interessaram pelo novo recurso pedagógico, recurso este que se torna cada vez mais atrativo. A coordenação da escola ressalta que está atendendo a demanda da comunidade, e que a estrutura da mesma é considerada boa, apesar de não ser muito ampla. O projeto Um Computador por Aluno chegou a escola em 2011 e desde então vem trazendo capacitações mensais aos professores e gestores da escola. Sempre que contratam novos professores é proporcionada a capacitação. Isso é um grande diferencial, tendo em vista que essa formação docente é de suma importância. Faz-se necessário que os professores percebam a utilização desse novo recurso como um apoio, um diferencial e um complemento das suas aulas, visando uma maior aprendizagem dos educandos. OBJETIVO GERAL Compreender a ação docente em meio a inserção das tecnologias no ensino nesta escola de Fortaleza e os desafios da formação docente para desenvolver o trabalho, se apropriando das novas ferramentas de aprendizagem. METODOLOGIA No decorrer da disciplina de Tecnologias Digitais em Educação, tivemos acesso a vários textos acerca da temática, dentre os quais a temática do Projeto UCA. Para conclusão da disciplina nos foi solicitado que visitássemos uma escola cujo projeto foi implantado, visando compreender como esse processo está sendo efetivado. A escola possui como equipamentos disponíveis para o trabalho pedagógico o LEI Laboratório Escolar de Informática (que conta com 16 máquinas), os laptops educacionais do UCA (também chamado carinhosamente pelos funcionários de “Uquinha”), Sala de Recursos Multifuncionais (SRM), biblioteca com um centro de multimeios, tablets (para uso dos professores), laboratório de ciências (em fase de conclusão) e projetores. Há um projeto para a chegada da lousa digital na escola, mas ainda estão no aguardo. Iniciamos a visita à escola pelo LEI, acompanhadas pela professora responsável pelo laboratório, que é formada em história. Conversamos sobre a proposta da escola, que é sociointeracionista, e de como se dá organização do trabalho pedagógico com foco no uso das tecnologias digitais. No processo de implementação do LEI, foi relatado que logo no início houve muita resistência dos professores, por estes não serem, em sua grande maioria, nativos digitais, que são aqueles que nascem e crescem com as tecnologias digitais presentes em sua vivência, e segundo 317 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC eles tinham “medo de passar vergonha” na frente dos alunos. A ideia que eles tinham era de que seriam aulas de informática e que eles não saberiam explicar como mexer em um computador, tendo em vista que eles mesmos não dominavam ainda. Com as capacitações esse “medo” foi diminuindo e eles foram conhecendo como poderiam inserir os recursos nos seus planejamentos, de forma que o recurso viesse a complementar e facilitar o ensino-aprendizagem e não ser apenas algo atrativo para os alunos. Nesse sentido, percebe-se a importância das capacitações para uma quebra do preconceito de alguns professores para lidar com esse recurso pedagógico.A partir dessess momentos de formação, o corpo docente vai trabalhando com novas metodologias e como dito anteriormente, vai perdendo esse receio. O planejamento na escola acontece em um dia na semana e é dividido por área, mas o que a professora do LEI informou é que os professores acabam dividindo esse planejamento nos intervalos de suas aulas e assim somando a carga horária de um dia para o planejamento. Desse modo, muitos professores preferem fazer seus planejamentos do laboratório de informática, pois lá contam com a orientação sobre os objetos de aprendizagem, softwares e já podem fazer o agendamento de suas aulas, que é feito com a entrega do planejamento para a professora responsável pelo laboratório, que na medida do possível também faz o acompanhamento. Pudemos observar que o Projeto UCA é a “menina dos olhos da escola”, que trouxe muito benefícios e que os alunos são completamente fascinados e se interessam mais por aulas com o uso das tecnologias. Percebemos que há uma preocupação no planejamento e de como este será inserido como um determinado recurso em sala de aula, devido as capacitações que os professores participam constantemente. Embora tenha trazidos muitos benefícios, ainda tem algumas questões em que o projeto precisa melhorar, pois a internet da escola é de 2 Megabytes e que só é possível uma sala utilizar a internet por vez, por causa do sinal que fica fraco com a utilização. O sistema operacional dos computadores é o UbuntUCA, gratuito e desenvolvido especialmente para o projeto, mas a capacidade de armazenamento dos computadores é muito pequena e não permite trabalhar com mais de um software educativo, o que faz com que sejam utilizados em sala de aula apenas para o acesso a internet e alguns recursos de edição de texto bem simples. Ainda para a utilização dos laptops é necessário o agendamento, pois todos precisam estar com a bateria carregada e os professores questionam o porque da Secretaria de Educação (SEDUC) não investir em criar softwares educativos específicos. O projeto tinha como público alvo os alunos do 6º ano apenas, segundo a coordenação informou, mas hoje abrange até o ensino médio. DISCUSSÃO DOS RESULTADSOS A partir da visita compreendemos a relevância da interdisciplinariedade nesse processo educacional, bem como observamos que as Tecnologias Digitais vêm se fortalecendo no âmbito escolar. Com efeito, é imprescindível que os educadores se apropriem das novas 318 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO tecnologias, com o intuito de se prepararem para ajudar os estudantes a promoverem a sua aprendizagem de forma reflexiva. Ao mesmo tempo, o educador é um eterno aprendiz, que realiza uma “leitura” e uma reflexão sobre sua própria prática. O professor procura constantemente depurar a sua prática, o seu conhecimento. A sua atitude transforma-se em um modelo para o educando, uma vez que “vivencia e compartilha com os alunos a metodologia que está preconizando” (Valente, 1994: 19). CONSIDERAÇÕES FINAIS Concluímos que as tecnologias estão cada vez mais presentes nas nossa vidas e no fazer docente. A escola em questão recebe capacitação para trabalhar com o projeto UCA e desenvolvêlo de forma a obter o maior aprendizado possível dos alunos, apesar das limitações que o laptop traz, como pouco memória de armazenamento e da internet que hoje a escola possui. Há na escola uma preocupação em haver o planejamento efetivo dos professores por área. E o uso das ferramentas tecnológicas não é associado por ser meramente atrativa, a escolha é amparada em critérios pedagógicos. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini de.: Informática e Formação de Professores disponível em <http://www.proinfo.mec.gov.br>Promotor: MEC/ SEED/ Proinfo - Brasília, 1999 VALENTE, J. A. “Diferentes usos do computador na Educação”, in Computadores e conhecimento: repensando a educação. Campinas, Gráfica Central da Unicamp, 1993a. Blog da escola http://paranafortaleza.blogspot.com.br/ http://uca-ce.blogspot.com.br/ http://blogs.virtual.ufc.br/uca-ce2/?page_id=150 319 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC AS TECNOLOGIAS NA FORMAÇÃO DOCENTE NA EDUCAÇÃO SUPERIOR PRESENCIAL Naíola Paiva de Miranda158 RESUMO O paradigma emergente surgiu através da inovação tecnológica que promoveu profundas mudanças intersubjetivas na forma de ver, sentir, pensar e viver do homem. As tecnologias na formação docente na educação superior presencial, objetiva conhecer a utilização do blog. Especificamente compreender as suas funções, inserir no contexto da sala de aula presencial atividades pedagógicas com o seu uso e investigar o uso do blog na prática docente. O trabalho foi desenvolvido em três momentos. No primeiro momento criou-se o blog sob o endereço: http://fisica-sociedade.blogspot.com.br/. No segundo momento realizou-se o estudo das temáticas da disciplina ao longo do semestre com os alunos e efetuou-se as postagens no blog. No terceiro momento a pesquisa desenvolveu-se na forma de ordem participante. Utilizou-se para a coleta de informações com abordagem qualitativa um instrumento diagnóstico, com 10 perguntas abertas Foram aplicados 11 instrumentos dentre os quais 6 foram analisados neste trabalho. Na análise dos dados os sujeitos da pesquisa foram cognominados pela letra E. Após analisar os dados da pesquisa, observou-se a grande contribuição que o blog deu na experiência prática na formação docente dos licenciandos. Para o estágio do doutorado foi muito relevante, associar as tecnologias a formação docente, foi uma descoberta no sentido de poder ter uma nova visão da docência, em não pensar só no ensinar mas se preocupar com o aprender. PALAVRAS CHAVE: Blog. Formação docente. Educação superior presencial INTRODUÇÃO O paradigma emergente surgiu através da inovação tecnológica que promoveu profundas mudanças intersubjetivas na forma de ver, sentir, pensar e viver do homem, tanto no cenário político, social, econômico assim como na educação em todos os níveis. Essas crescentes transformações vieram como forma de desafios, ocasionadas pelo avanço da tecnologia no que tange ao crescimento de provedores de internet, acesso de usuários. Com efeito, as tecnologias da informação e comunicação (TIC’s), propiciam a conectividade de tal modo que o conhecimento passou a ser construído em rede em tempo real e virtual. De tal modo, que a colaboração substituiu a competição e o presencial foi acres Na educação essas mudanças aconteceram de fora para dentro em que como prática social permitiram ao educador construir a sua prática docente com novas formas de ensinar e aprender. Este estudo: As tecnologias na formação docente na educação superior presencial, é relevante uma vez que o uso das tecnologias na educação superior obteve um novo olhar no que concerne em o docente adotar novas estratégias e metodologias de ensino e aprendizagem em sua prática docente. 158 Doutoranda em Educação Brasileira – Universidade Federal do Ceará; email :[email protected] 320 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO A cada época da história as tecnologias tiveram o seu papel de auxiliar o homem, a usar ferramentas adequadas para as suas realizações que se ampliaram do lápis, livro, giz, apagador, máquina de escrever, telefone, telex ao computador. Esse desenvolvimento tecnológico trouxe novas ferramentas que com o planejamento e uso pedagógico adequado promovem aprendizagem colaborativa produzindo interação no ambiente virtual como fóruns, listas de discussão,chat, google docs e o blog. OBJETIVO GERAL Ademais, o presente estudo tem como questão norteadora como utilizar o blog na formação docente na educação superior presencial? Para tal, objetiva-se conhecer a utilização do blog. Especificamente compreender as funções do blog, inserir no contexto da sala de aula presencial atividades pedagógicas que utilizem o blog e investigar o uso do blog na prática docente. METODOLOGIA Concepções sobre o Blog O blog é uma abreviação da palavra Weblog: Web ( rede, teia) relacionada a página da internet e log (registro), portanto registro na web. Surgiu no final dos anos 1990, é considerado um diário virtual que as pessoas compartilham e registram suas escritas, por isso pode ser utilizado com o objetivo de registro familiar, pessoal, comunitário e educacional. Sua utilização gratuita a partir dos anos 1999, permite além da postagem de textos, atualmente, outros aplicativos são possíveis tais como postagens de áudios, fotos e vídeos, denominando-se de audioblog, fotolog e videoblog respectivamente. Nesse estudo se considera o blog educativo uma vez que suas características potencializam o uso da escrita e da leitura, promove a aprendizagem colaborativa, permite a construção de redes sociais com afinidades entre os usuários a construção de novos saberes, permitindo aos usuários serem ao mesmo tempo participantes, autores das produções escritas, editores e pesquisadores que possibilita a aprendizagem significativa em um contexto que os conhecimentos prévios contribuem para novas aprendizagens. O blog como ferramenta assíncrona, isto é, o seu uso não acontece em tempo real, mas favorece aos seus usuários a ser autor, editor pesquisador e explorar as suas potencialidades, através de seus comentários nas postagens, de forma em que professor e o aluno se inserem em um ciclo de interação, nos conteúdos que estão a disposição no blog. Nisto o uso do blog permite à prática docente a ação pedagógica ao se constituir de estratégias, metodologias que irão respaldar as intenções e realizações de ensino no conteúdo planejado através do currículo. Pacheco (2005, p.33) define currículo como “um projeto que resulta não só de um plano das intenções, bem como do plano da sua realização [...]”. É importante ressaltar essa dicotomia curricular, a intenção e a realização na formação docente, pois requer que as estratégias de ensino, ou estratégias didáticas se construam a partir dessa visão que se tem do que o aluno precisa aprender, não mais o que o professor precisa ensinar. Formação docente e a mediação no Blog 321 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC O uso do blog na formação docente na educação superior se realiza através da mediação. Segundo Tebar (2011, p.77) “A mediação é a ação intermediadora entre as pessoas e a realidade”. Dessa forma tanto os atores como os processos que são utilizados na mediação promovem interação entre pares de modo que a sincronia deve ser bem ajustada na construção do conhecimento para que haja aprendizagem . O autor destaca ainda três elementos que integra a mediação educativa : o aluno e o saber, o aluno e o meio, o aluno e os seus colegas de sala de aula. São três realidades que interferem na sua aprendizagem, e cabe ao educador mediar o conteúdo no que o aluno precisa aprender. O enfoque reside na aprendizagem. Na mediação no blog, o docente deve conhecer a fundamentação teórica da ferramenta, o uso da ferramenta no ambiente virtual, dessa forma o mediador permite ao educando descobrir o significado e os objetivos de sua atividade em uma perspectiva colaborativ a. Coll e Monoreo (2010, p.211) explicita a perspectiva sóciocultural de Vygotsky e conceitua que a aprendizagem colaborativa é “ um processo de interação no qual (os sujeitos – grifo nosso)se compartilham, negociam-se e constroem-se significados conjuntamente para solucionar, criar ou produzir algo.” Dessa forma neste estudo utilizou-se o blog, esta ferramenta tecnológica que está inserida na cultura, no cotidiano do homem e se apresenta com características que motivam o docente a criar em sua prática docente uma nova visão do ensinar e aprender. O Estudo Realizou-se na Universidade Federal do Ceará - Campus do Pici, com 14 alunos matriculados nos cursos de graduação em licenciatura plena, física, química, turno noturno, no semestre 2012.1, por ocasião do nosso Estágio em docência para cumprir exigência nessa disciplina do Programa de Pós-graduação no Doutorado em Educação. O estudo foi efetuado na disciplina Estudos sócio histórico culturais em Educação. Com 64 horas sendo que 50 horas em aulas presenciais e 14 horas foram realizadas em atividades no ambiente virtual de aprendizagem. A utilização dessa ferramenta vem atender a Portaria 4059/2004 que permite a inserção e o uso das tecnologias da informação em 20% da carga horária das disciplinas dos cursos de graduação. Convém observar que não se deve utilizar esse aporte legal a revelia, mas com planejamento adequado. O trabalho foi desenvolvido em três momentos. No primeiro momento criou-se o blog sob o endereço: http://fisica-sociedade.blogspot.com.br/. No segundo momento realizou-se o estudo das temáticas da disciplina ao longo do semestre com os alunos e efetuando as postagens no blog. No terceiro momento a pesquisa desenvolveu-se na forma de ordem participante. Utilizou-se para a coleta de informações com abordagem qualitativa um instrumento diagnóstico, com 10 perguntas abertas com intuito de conhecer a utilização do blog na formação docente na educação superior presencial. Foram aplicados 11 instrumentos Neste trabalho do foram analisados 6.Na pesquisa os sujeitos foram cognominados pela letra E, nesta análise dos dados participaram os sujeitos E1,E2,E3,E4,E5,E6. 322 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO DISCUSSÃO DOS RESULTADOS No estudo quando perguntados aos licenciandos se já tinham participado de algum Blog ou na sua vida social ou com atividades em sala de aula. 3 alunos responderam não, e outro já tinha participado de um blog na rede social.O quadro revela o desconhecimento dessa ferramenta tecnológica tanto em relação a vida social e muito mais ainda na utilização como ferramenta na prática educativa . Depois de se ter conversado sobre aprendizagem colaborativa no texto que foi abordado sobre blog, e, considerando que a aprendizagem colaborativa conduz o educando a fazer e a refletir o fazer e que o mesmo se torna responsável pela sua aprendizagem e também pela do seu grupo, parceiros de estudo na sala de aula, perguntou-se em que momento o blog promoveu aprendizagem colaborativa. Os educandos responderam o seguinte: E1 - a partir do momento em que alguém posta um arquivo ela está colaborando com a aprendizagem do outro. E3 - No momento que comentamos os textos dos outros e postamos nossos textos literalmente nessas ações, nós ensinamos e aprendemos com os nossos colegas. Ao observar essas declarações reporta-se a Vygotsky já citado neste trabalho sobre a aprendizagem colaborativa, o blog dá essa oportunidade em compartilhar saberes na construção do conhecimento de uns com os outros. O uso das tecnologias da informação e comunicação tem se apresentado como novo paradigma na educação, e o blog possibilita o acesso em ser usuário, autor e pesquisador, dada a experiência na disciplina cursada pediu-se aos educandos que explicassem o que aconteceu em cada momento E4 respondeu que: E4- Os usuários podem escolher apenas assistir, acompanhar o andamento de um blog. Assim como autor ele pode também postar textos, pensamentos em forma de textos, ele pode ali postar a sua criatividade suas obras, suas criações.E todo o mundo pode acessar seu trabalho, através da internet. Como pesquisador, podemos estudar os comportamentos de outros usuários e blogs, tais como os tipos de postagens, seus destinatários, a maneira que é escrita entre muitos outros aspectos que podem revelar coisas importantes sobre quem posta. A experiência dos educandos ratificou Tébar(2011), a respeito da mediação educativa que resulta a mediação entre pares, aluno versus aluno, interagindo entre si os seus saberes. Observando a experiência que os educandos tiveram com o acesso ao blog, pediu-se as funções do blog. E3- A função do blog é prover certo conhecimento para pessoas interessadas, em tais assuntos. Uma vez que a internet foca a informação, o blog se diferencia por oferecer conhecimento, algo mais concreto e melhor do que informação. E6- O blog serve como espaço livre para fluxos de ideias, onde se é possível publicar fotos, textos, resumos, dentre tantas outras coisas. O blog é de fato uma ferramenta interativa e dinâmica 323 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC As funções do blog foram bem delineadas nessas experiências dos alunos, como ferramenta interativa e dinâmica, oferece, compartilha e promove, conhecimento aos seus leitores e usuários. Com as declarações que os educandos têm feito acerca do blog, perguntou-se ainda quais os pontos positivos quanto ao uso do blog. E5- O blog promove interação, extensão e debates. E6- Além de ser uma ferramenta dinâmica e interativa, o blog se comporta como um ambiente de aprendizagem colaborativa e divertida, no sentido de promover o conhecimento. Aprofundando mais as discussões sobre o blog, solicitou-se aos educandos que comentassem a respeito dos pontos negativos do uso do blog. E1- Não vejo nenhum ponto negativo E2- dificuldade para os alunos que não têm acesso a internet Considerando que as licenciaturas na universidade outorga o direito a exercerem o magistério, perguntou-se aos educandos se utilizariam o blog em sua prática docente. E1- Sim, pois eu consegui usar o blog como ferramenta de aprendizagem com certeza aplicaria essa ferramenta para meus alunos. E2-Sim. Por ser uma ferramenta educativa de muita relevância na prática docente. serve como uma ferramenta de aproximação professor-aluno e como uma extensão da sala de aula. E4- Sim, seria bastante interessante para os meus alunos verem seus trabalhos ali, n e que outras pessoas de fora da escola, da cidade de todos os lugares, podem vê-los. E eu, como professor poder mostrar para companheiros o nosso trabalho, trabalho meu e dos meus alunos CONSIDERAÇÕES FINAIS Após analisar os dados da pesquisa, observou-se a grande contribuição que o blog deu na experiência prática na formação docente dos licenciandos. Para o estágio do doutorado foi muito relevante, associar as tecnologias a formação docente, foi uma descoberta no sentido de poder ter uma nova visão da docência, em não pensar só no ensinar mas se preocupar com o aprender. REFERÊNCIAS BRASIL, Ministério da Educação. Gabinete do Ministro. Portaria nº 4.059, de 10 de dezembro. Disponível em: <http://www.cmconsultoria.com.br/legislacao/portarias/2004/por_2004_4059_MEC.pdf> Acesso em: 28 mar. 2012. COLL, C. MONOREO,C. Psicologia da Educação Virtual: Aprender e ensinar com as tecnologias da informação e comunicação. Porto Alegre: Artmed,2010. PACHECO, José Augusto. Escritos Curriculares. São Paulo: Cortez, 2005. TÉBAR, Lorenzo. O Perfil do Professor Mediador. São Paulo:EditoraSenac,2011. 324 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO O USO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS NO ENSINO SUPERIOR Denyse Maria Borges Paes159 Maria Naires Alves de Souza160 RESUMO As novas tecnologias estão cada vez mais presentes no cotidiano educacional, isso porque o avanço tecnológico é cada vez mais imprescindível para o desenvolvimento da humanidade. A sociedade informacional é o espaço mais promissor por onde trafegam as ferramentas das tecnologias digitais. A atuação dos docentes é de suma importância para que aconteça a interface entre a informação e seus alunos na produção do conhecimento, visto que está envolvido em todos os seguimentos desse ciclo, desde a geração até o uso, sendo necessário que haja uma grande interlocução entre todos os sujeitos envolvidos no processo de geração, tratamento, disseminação, recuperação e uso das fontes informacionais, sejam elas analógicas (papel) ou digitais, eletrônicas. Em relação à qualidade do ensino e as mudanças esperadas, faz-se necessário que frente as alterações no perfil dos alunos e as mudanças de paradigmas no ensino e aprendizagem que os professores ocupem-se das inovações tecnológicas.Objetiva-se, aqui, investigar a respeito das tecnologias digitais e seu uso na educação. Para a construção dos argumentos ora apresentados foi empreendida pesquisa bibliográfica seguida de leituras e discussões em grupo. Evidenciou-se que pensar a educação na sociedade do conhecimento exige considerar um leque de aspectos relativos às tecnologias digitais, a começar pelo papel que elas desempenham na construção do ensinar e do aprender. PALAVRAS-CHAVE: Tecnologias Comunicação. Ensino Superior. Digitais. Educação. Tecnologia da Informação e INTRODUÇÃO Em todos os seguimentos da sociedade atual, a informação passou a ser elemento fundamental e flui em velocidade e quantidade inimagináveis. Do grande volume de informações disponíveis surgiu o paradoxo excesso de informação e dificuldade para acessá-la. A “explosão” da informação gerou barreiras ao seu acesso: o custo elevado pela sua busca, número ilimitado de fontes de informação, desconhecimento de novas ferramentas informacionais e a falta de habilidade em lidar com tais ferramentas. Frente a essa dificuldade Dudziak (2001) nos diz que Essas barreiras revelam a necessidade de preparar o ser humano para compreender: como definir suas necessidades informacionais; como buscar e acessar efetivamente a informação necessária, como avaliá-la, como organizá-la, como transformá-la em conhecimento, como aprender a aprender e como aprender continuamente. Nesse contexto a tecnologia da informação com suas ferramentas assinalam-se como um fator facilitador para que o indivíduo melhor transite no universo informacional. Trata-se de um 159 Professora Substituta do Curso de Biblioteconomia no Departamento de Ciências da Informação pela Universidade Federal do Ceará. Especialista em Tecnologias Aplicadas a gestão da Informação. Bacharel em Biblioteconomia. E-mail: [email protected] 160 Bibliotecária, Mestranda em Políticas Públicas e Gestão da Educação Superior pela Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Ceará. E-mail: [email protected] 325 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC instrumento capaz de proporcionar: saber agir, integrar saberes múltiplos, saber aprender e ter uma melhor visão estratégica. Portanto, é preciso que os indivíduos que fazem uso da informação e a transmitem adquiram competência para fazer uso eficiente dela e principalmente a transforme em conhecimentos. Nos tempos atuais vivenciamos uma revolução da tecnologia, da comunicação e da informação, essa revolução tem afetado, além de outras esferas da vida social, a educação, a prática docente, a formação do professor e consequentemente sua prática pedagógica em sala de aula bem como seu relacionamento com os alunos. Com esse estudo objetiva-se investigar a importância do uso das tecnologias digitais pelos docentes nas Instituições de Ensino Superior (IES).Com isso relacionamos com a problemática de descobrir o quanto as ferramentas de Tecnologia da informação e comunicação poderá ser um instrumental para a melhoria da qualidade da educação. OBJETIVO GERAL Objetiva-se, aqui, investigar a respeito das tecnologias digitais e seu uso na educação, notadamente na Educação superior. METODOLOGIA O delineamento da pesquisa, aqui tratada, tem caráter exploratório que, segundo Gil, tem como objetivo proporcionar uma maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. (2010, p. 27). Para a construção dos argumentos ora apresentados foi empreendida pesquisa bibliográfica seguida de leituras e discussões em grupo. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Educação e conhecimento são itens importantes para o desenvolvimento social e econômico das nações. A educação é o elemento-chave na edificação de uma sociedade baseada na informação, no conhecimento e no aprendizado. Pensar a educação na sociedade da informação exige considerar um leque de aspectos relativos às tecnologias de informação e comunicação, a começar pelo papel que elas desempenham na construção de uma sociedade que tenha a inclusão e a justiça social como uma das prioridades. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) traz em seu artigo 43 que uma das finalidades da Educação Superior é incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive. Sendo que a instituição universitária, ao associar ensino e pesquisa, contribui de maneira robusta e definitiva para a afirmação das identidades culturais, para a formação do capital humano e para o desenvolvimento de suas riquezas materiais. Segundo Dias Sobrinho (2004, p. 704), a educação superior tem sido considerada uma instituição que produz conhecimentos e forma cidadãos para as práticas da vida social e econômica, em benefício da construção de nações livres e desenvolvidas. 326 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) da Organização das Nações Unidas (ONU) em seu relatório de 2001 apresenta importantes dados sobre o desenvolvimento tecnológico no Brasil e nas IES brasileiras e já dizia que As tecnologias de informação e comunicação implicam inovações na microelectrónica, na informática(hardware e software), nas telecomunicações e na optoelectrónica microprocessadores, semicondutores e fibras ópticas. Estas inovações permitem o processamento e armazenamento de enormes quantidades de informação, juntamente com a rápida distribuição da informação através de redes de comunicação. Indivíduos famílias e organizações estão ligados através do processamento e execução de um enorme número de instruções, em períodos de tempo imperceptíveis. Isto altera radicalmente o acesso à informação e a estrutura da comunicação– estendendo o alcance da rede a todos os cantos do mundo. (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2001) A mudança de paradigma na educação está em andamento em que as tecnologias poderão ser usadas como facilitadores do processo educacional. A mídia interativa que requer uma aprendizagem com abordagens ativas , mas, antes de poder ser usada para facilitar a aprendizagem, exige primeiramente o domínio da própria ferramenta. IES precisam desenvolver habilidades em seus docentes no uso de aplicações eletrônicas que podem ser aplicada a empreendimentos educacionais (CURRAN, 2008). COSIDERAÇÕES FINAIS A sedimentação de uma educação de qualidade depende de mudanças profundas na sociedade, nos sistemas educacionais e na escola. Nesses dois últimos, exigem-se: condições adequadas ao trabalho pedagógico; conhecimentos e habilidades relevantes; estratégias e tecnologias que favoreçam o ensinar e o aprender e colaboração de diferentes grupos e indivíduos. Nesse sentido, as tecnologias de informação e comunicação podem proporcionar relevante contribuição para que os programas de educação ganhem maior eficácia. Para tanto, contudo, é indispensável que a capacitação pedagógica e tecnológica de educadores – elemento indispensável para a adequada utilização do potencial didático dos novos meios e fator de multiplicação das competências – seja empreendida e tenha paralelo ao desenvolvimento de conteúdo pedagógico utilizado em sala de aula. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, 1996. CURRAN, C. R. Faculty development initiatives for the integration of informatics competencies and point-of-care techonologies in undergraduate nursing education. Nurs Clin N Am, v. 43, p.523–533, 2008. DIAS SOBRINHO, José. Avaliação e transformações da educação superior brasileira (19952009): do provão ao Sinaes. Avaliação, Campinas, SP, v.15, n.1, p.195-224, mar. 2010. DUDZIAK, Elisabeth Adriana. A information Literacy e o papel educacional das bibliotecas. 2001. 187 f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Comunicação)-Escola de Comunicação e Artes da Universidade São Paulo, São Paulo, 2001. 327 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC GIL, A. C. Métodos e Técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES HUMANAS. Transformações tecnológicas actuais – criação da era das redes. In: Relatório do Desenvolvimento Humano 2001: fazendo as novas tecnologias trabalharem para o desenvolvimento humano. Disponível em: <http://www.pnud.org.br/HDR/Relatorios-Desenvolvimento-HumanoGlobais.aspx?indiceAccordion=2&li=li_RDHGlobais#2001>. Acesso em: jun. 2013. RODRIGUES, Auro de Jesus. Metodologia científica. São Paulo: Avercamp, 2006. 328 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO TÉCNOLOGIAS DIGITAIS E O CURRÍCULO: UMA PESPECTIVA ETINOGRÀFICA DA FACED COM O USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS Odmir Fortes Menezes Caldas Filho161 RESUMO Vivemos numa sociedade imersa em tecnologias digitais, e nessa perspectiva, torna-se interessante discutir os elementos das mesmas inseridas no contexto da educação. Esse trabalho, vem através do relato parcial de um trabalho etnográfico, trabalhar a perspectiva dessa tecnologias inseridas no currículo da educação, em especial, situando o trabalho no contexto da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará. Dentro desse contexto, essa pesquisa se justifica como elemento de motivação a discussões sobre como essas tecnologias afetam o currículo da educação. Dentro dela, contem-se um breve relato sobre as entrevistas realizadas com o professores Luis Botelho e Herminio Borges, acerca desse impacto das tecnologias no currículo, e como se deu os primeiros trabalhos envolvendo as tecnologias na UFC. PALAVRAS-CHAVE: Tecnologias. Currículo. Entrevistas. INTRODUÇÃO Nunca se viu em toda a história da humanidade um período de tamanha velocidade na comunicação e desenvolvimento em quase todos os aspectos da sociedade. Em pouco mais de duas décadas, houve uma massificação na produção e distribuição de artefatos tecnológicos que em diversos aspectos transformaram a visão de mundo do homem. Preceitos e tradições antigas em muitos lugares já foram substituídos ou adequados à nova realidade e conveniência, tudo isso decorrente da popularização dessas novas mídias digitais. Indústria, comercio e sociedade sofreram um forte impacto e vem mudando aos poucos para se adequar a essa nova realidade, a era da informação e interação. “As mudanças contemporâneas advindas do uso das redes transformaram as relações com o saber. As pessoas precisam atualizar seus conhecimentos e competências periodicamente, para que possam manter qualidade em seu desempenho profissional”. (KENSKI. 2007. P.47). E com a escola não tem sido diferente, se percebendo aos poucos, mudanças sutis na mesma. OBJETIVO GERAL A pesquisa realizada aqui tem por objetivo exibir resultados preliminares, de um estudo etnográfico realizado durante o período, e fomentar discussões sobre a utilização das tecnologias digitais de comunicação e informação (TDICS) no currículo dos cursos da Faculdade de Educação 161 Mestrando em Educação pela Universidade Federal do Ceará. Graduado em Sistemas de Informação pela Faculdade 7 de Setembro. Colaborador do laboratório Multimeios. [email protected] 329 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC (FACED) da Universidade Federal do Ceará(UFC). Nesta pesquisa, foi-se trabalhada a perspectiva etnográfica, utilizando levantamento bibliográfico para situar o mesmo, e seu contexto. Além de entrevistas, com os professores da linha de Pesquisa de Educação, Curriculo e Ensino: prof. Dr. Luís Botelho Albuquerque, sobre o impacto das tecnologias no currículo, e o prof. Dr. Herminio Borges Neto, em relação ao processo de entrada das TDICS na UFC. Originalmente, foi-se pensado em trabalhar com a perspectiva da Faculdade de Educação da UFC, em relação ao uso das tecnologias digitais na educação a distancia, contudo, devido as circunstancias e respostas dadas pela revisão textual e entrevistas, houve alguns ajustes na mesma. Sendo assim, o foco passou a ser como essas tecnologias se relacionam ao currículo e as praticas curriculares na educação. A Universidade Federal do Ceara, possui diversos projetos relacionados ao uso da tecnologia na educação, mas em especial, a FACED, a Faculdade de Educação, tem, dentro de si, um dos laboratórios pioneiros nesse trabalho, e onde parte importante dessa pesquisa se desenrola. O laboratório Multimeios, criado com recursos da CAPES e da própria UFC, trabalha com o uso de tecnologias digirais na educação, realizado através do Programa de Apoio à Integração Graduação/Pós-graducação (PROIN, apud HELENA, BORGES, MARIA, P.428), em 1997. Desde então, tem trabalhado com diversos programas, principalmente relativos a Educação a Distancia. Desde seus primórdios, “o laboratório associou pesquisa, formação, formação do professor a escola publica” e de “integras tecnologias digitais, educação e produção do conhecimento articulados a proposta e projetos formativos e as politicas públicas(...)”(HELENA, BORGES, MARIA, 2012, P.432). E, descobrir como foi realizado este processo, tornou-se uma dos principais objetivos desse estudo. METODOLOGIA Entrevista Professor Luís Botelho Pergunta Objetivo Como o senhor vê o uso das tecnologias na educação? Observar a visão do professor sobre o uso das tecnologias no processo educacional. Como na sua visão, se da a relação das novas tecnologias e o currículo? Descobrir a relação entre Educação, tecnologia, currículo, e praticas curriculares Você as utiliza de alguma forma em sala de aula? Perceber como o professor, que não é da área de tecnologias, utiliza-as em meio ao seu processo de trabalho. Para a realização deste trabalho foram necessários a utilizações de uma metodologia qualitativa e etnográfica, composta por entrevistas a profissionais de educação, envolvidos com o uso das tecnologias nas praticas curriculares. A pesquisa foi realizada através de um levantamento 330 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO bibliográfico da historia, e de como se deu o processo de adoção e construção do uso de tecnologias na educação na Faculdade de Educação da UFC Como esse trabalho pioneiro se desenrolou, e avançou. Inicialmente foram elaboradas cerca de três questões básicas para cada um dos entrevistados, abordando temas pertinentes ao foco da pesquisa. A relação das tecnologias com o ensino, o currículo e as praticas curriculares, com o professor Luís Botelho, e sobre o processo de entrada das tecnologias digitais na FACED para o professor Hermínio Borges. Abaixo seguem as perguntas, e em seguida, os objetivos que intencionalmente deveriam ser adquiridos com elas: Entrevista Professor Hermínio Borges Pergunta Objetivo Como surgiu o interesse pela área da tecnologia? Como pensou no seu uso na educação e formação? E como foi o processo de trazer isso para a Faculdade de Educação? E como foi criar o laboratório Multimeios Descobrir, os motivos que, levaram o professor, que originalmente era da área de matemática a interessar-se por esse outro nicho de conhecimento. Revelar os modelos utilizados na formação dos alunos Revelar a trajetória por traz do processo de trazer algo novo, como o uso das tecnologias na educação para a UFC. Descobrir o processo e motivações por traz da criação do MM. Devido a limitação de espaço, nós tópicos a seguir, será condensado os principais elementos deste trabalho. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Começamos a nossa entrevista com o professor Luis Botelho Albuquerque. Ao iniciarmos as mesmas, foi-se apresentado o contexto da pesquisa, e em especial, que a sua entrevista era principalmente envolvida com o a questão das tecnologias digitais e sua relação com o currículo e a educação especificamente. Num primeiro momento, pediu-se para que ele apresenta-se a sua pessoa e fala-se de sua trajetória como profissional, neste momento, ele acabou incluindo conteúdos que, dentro de sua participação, refletiram em vários aspectos das outras questões aqui abordadas, tornando-se desnecessário algumas das perguntas aqui propostas, já que a maioria foi contemplada por sua explanação inicial. Dessa sua entrevista, não foi possível transcrever em suas palavras, o que foi dito, pois, em cerca de quase 1 (uma) hora de relatos, algumas informações repetiram-se e outras ocupavam demasiado espaço para caberem neste resumo. Em sua explanação, o professor aponta para diversas vantagens e desvantagens em relação ao uso das tecnologias nas praticas curriculares e no currículo. Entre suas principais contribuições, para com o trabalho estão definições sobre o que é o currículo, sobre como é trabalhado e feito o recorte no leque de conhecimentos existentes afim de formá-lo (BOTELHO, 2013). Inclusive, ele aponta em direção a uma forte mudança no modo como vemos a escola em geral. Pois, a 331 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC tecnologia hoje garante o acesso rápido ao conhecimento, que a tempos atrás era impossível de obter-se sem o acesso através de uma instituição: a escola. Contudo, surge com isso uma preocupação sobre como o estudante é apresentado a essas informações, e que critérios ele usa em suas buscas e o principal, como ele utiliza essas informações. Pois, mesmo que tenha acesso a qualquer conteúdo, ele mesmo, por si só, raramente tem direcionamento para o que estudar, e principalmente, disposição a estudar aquilo, sem que alguém esteja mandando que o faça. Falta foco para que o aluno possa ser um estudante autônomo. No segundo momento deste trabalho, tivemos uma entrevista com o professor dr. Herminio Borges Nego. Que em suas palavras, falou sobre seu trabalho e interesse em unir a tecnologia com a educação. E dentro deste processo, o surgimento do laboratório de pesquisa Multimeios, e seu impacto para a Faculdade de Educação da UFC, com o trabalho pioneiro em utilizar as TDICs na educação. Nele, é relatada a dificuldade para mostrar que o uso de Tecnologias na Educação era eficaz e traria avanços para a universidade, e para os alunos. Dificuldades essas, que com um grande esforço, foram aos poucos sendo superadas, e substituídas pela solidez do trabalho de quem passou pelo laboratório Multimeios(BORGES, 2013). O professor também aponta para as enormes dificuldades dos profissionais em enxergarem e desenvolverem uma habilidade com as tecnologias digitais, de informação e comunicação. Essas dificuldades de utilização e validação fazem parte intrínseca da dificuldade se atrelar as tecnologias ao conhecimento de forma sustentável, e que para o seu bom funcionamento torna-se necessário adaptações fortes no modelo de ensino. Pois muitos professores tem dificuldades de adequar-se a tecnologias, que muitas vezes eles não conhecem ou não tem qualquer interesse em trabalhar. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho, tentou, dentro do presente corpo, retratar os principais elementos do trabalho etnográficos realizado. Contudo, devido ao limite de espaço, não tornou-se possível, retratar as respostas, tais quais foram captadas. Mas espera-se realizar um estudo futuro, onde possa publicar as mesmas em sua integra, e será possível um estudo aprofundado sobre as questões das TDICS no Currículo e Práticas Curriculares. Foi tentado realizar o melhor recorte possível das entrevistas, esperando fomentar discussões a cerca do uso de tecnologias na educação. Ainda existe uma resistência da Academia, que no geral, discute superficialmente esse tema. Devido a diversos fatores, como desconhecimento da área de trabalho, desinteresse como supracitado, e outros elementos administrativos e pedagógicos. Contudo, não podemos esquecer, que a própria Universidade Federal do Ceará, tem um papel de pioneirismo, com a utilização das TDICS na Educação. E, diversos estudos vem sendo realizados por vários membros de seu corpo Docente, e discente. REFERÊNCIAS 332 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO 1.CASTELLS, M. A era da informação: economia, sociedade e cultura. São Paulo: Paz e Terra, 1999 (Volume 1). Prólogo e Capítulo 1. 2.KENSKI, V. M. Educação e tecnologias: o novo ritmo da informática. Campinas: Papirus, 2007 3. TADEU da Silva, T. Documentos de identidade: uma introdução às teorias de currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. 4. BORGES Neto, H. Uma classificação sobre a utilização do Computador pela escola. Versão reelaborada a partir do trabalho apresentado no Simpósio "Novas abordagens da comunicação pela escola: a sala de ala adequada como processo comunicacional" ao XI ENDIPE. Disponível em: <http://www.multimeios.ufc.br/arquivos/pc/pre-print/Uma_classificacao.pdf>. Acesso em 24/01/2013. 5. BORGES Neto, H.; SANTOS Junqueira Rodrigues, E. O que é inclusão digital? Um novo referencial teórico. Linhas Críticas, vol. 15, núm. 29, pp. 345-362 Universidade de Brasília- Brasil. 2009. 6. ANTUNES, V. – A Cultura tecnológica e a escola. Site Farias Brito. 2012 Disponível em: http://www.fariabrito.com.br/artigos/a-cultura-tecnologica-e-a-escola. Acesso em: 17 de janeiro de 2013. 7. HELENA, B.O.M.M., BORGES, H.N., MARIA, S. C. B. – Uma breve historia do Laboratório Multimeios: Seu Percuso Formatico e Princípios Teóriocos-metodológicos. 427439. Coleção Historia da Educação. Fortaleza. Edições UFC. 2012. 8. ROMANELLI, G. org: Diálogos Metodológicos sobre pratica de pesquisa/ Org. Geraldo Romanelli Zélia M. Biasoli-Alves. Ribeirão Preto: 178p. il; 22cm 9. BORGES Neto, H. . Em entrevistas gravadas ao autor do trabalho.(2013) 10. BOTELHO Albuquerque, L. Em entrevistas gravadas ao autor do trabalho.(2013) 333 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC PRÁTICAS PEDAGÓGICAS UTILIZADAS PELO PROFESSOR TUTOR EM CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO À DISTÂNCIA Ana Paula Pinto Bastos 162 RESUMO Esta análise é fruto de uma pesquisa sobre o trabalho do professor tutor. Seu trabalho virtual realizado nos cursos de Graduação e Especialização é de fundamental importância para a mediação e interação, com o aluno que é chamado de cursista na Educação e Ensino à Distância. Sua participação é sempre próxima do Professor elaborador dos conteúdos da disciplina chamado em algumas instituições de Professor “Conteudista”. Devido à velocidade com que as informações acontecem, cada vez mais surge a necessidade da sociedade se adequar às necessidades da empregabilidade. E assim sendo, o ensino à distância veio para auxiliar o aluno que não teve maiores oportunidade de um curso presencial e ainda a superação da distância que às vezes torna-se empecilho para parte da população. A análise traz uma reflexão sobre a fundamental importância das práticas pedagógicas do professor tutor na realização da interação e mediação no curso de Especialização em Gestão Pública Municipal da UNILAB/ Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira em Redenção-Ceará. Palavras chaves: Ensino à Distância. Professor Tutor. Tecnologia. INTRODUÇÃO Com a nova LDB-Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 9.394/96, a EaD, Educação à Distância passou a ser mais conhecida, com um avanço no ensino e com novas modalidades, entre elas, cursos semipresenciais e à distância, de graduação e pós-graduação ofertados por diversas instituições públicas e privadas. A sociedade pode ser caracterizada pela rapidez e abrangência de informações, onde a realidade do mundo atual exige um novo perfil de profissional e de cidadão que coloca para a educação ou para a escola, novos desafios. Nesse contexto, a internet (rede mundial de comunicação via computadores), pode oferecer um grande número de possibilidades de uso, sobretudo no campo da educação à distância. Assim sendo, o objeto de estudo refere-se às práticas pedagógicas utilizadas pelo professor tutor em curso de Especialização à Distância. A análise tem como questão norteadora o seguinte questionamento: A prática pedagógica utilizada pelo professor envolve que tipo de saber? Surgindo a partir daí, outros questionamentos como: Será que o saber do professor tutor contribui para a aprendizagem do 162 Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente/UFC, Especialista em Gestão Escolar/UECE, Coordenadora de Tutoria no curso de Especialização em Gestão Pública Municipal/UNILAB e Professora da Rede Estadual na área de Ciências Humanas. E-mail: [email protected] 334 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO cursista da Educação à Distância? O trabalho justifica-se pela experiência própria vivenciada como tutora à distância na UFC-Universidade Federal do Ceará em dois cursos de Especialização: Gestão Escolar (Polo de Itapipoca) e Coordenação Pedagógica (Polo de Santa Quitéria). E também devido à importância fundamental da figura do professor tutor como mediador entre o aluno (cursista) e o professor “conteudista”, assim chamado por alguns autores. Apresentamos algumas categorias consideradas importantes relativas ao trabalho do tutor de um curso de Especialização à distância: ensino à distância; professor tutor e domínio da tecnologia. No que se refere ao ensino à distância, este possui particularidades que o diferencia do ensino presencial e envolve, além do professor, outros agentes que desempenham papel relevante no processo de ensino, tais como o tutor (SARMENTO e FOSTER, 2006). O papel do professor tutor é muito importante na educação à distância. Ele é um facilitador da aprendizagem, um elemento chave no acompanhamento do desenvolvimento do trabalho do professor, nas atividades 163 individuais e coletivas do curso. Sua principal tarefa é orientar e motivar cada aluno . Mediar, acompanhar, apoiar, manter, estabelecer, colaborar e participar são ações que devem fazer parte do trabalho desse profissional. Ainda podemos dizer que o trabalho do professor tutor viabiliza o diálogo fundamental entre as guias de estudos e seus alunos. Apesar dessas guias elaboradas pelos especialistas, para estabelecer uma ligação próxima e agradável entre conteúdos e professores, sobretudo perpassa pela mediação do tutor, que se dá uma interlocução capaz de desfazer uma 164 possível ideia de impessoalidade. A tecnologia é considerada por André Lemos (2002), fruto de incômodo pessoal que se traduz pela necessidade de se compreender o fenômeno técnico. Este incômodo vem da mistura de medo e fascinação que as novas tecnologias exercem sob as pessoas. O autor analisa os impactos desses processos na sociedade contemporânea através da descrição da nova cultura planetária que segundo o autor chama-se “cibercultura”. A internet já é hoje um fenômeno hegemônico que vem ganhando cada vez mais espaço no cotidiano e na noção das esferas sociopolíticas. Entrando na cibercultura, surge o ciberespaço... é, enquanto forma técnica, ao mesmo tempo, limite e potência dessa estrutura social de conexões tácteis que são as comunidades virtuais (chats, muds e outras agregações eletrônicas). Em um mundo saturado de objetos técnicos será nessa forma técnica que a vida social vai impor o seu vitalismo e reestruturá-la. As diversas manifestações contemporâneas da cibercultura podem ser vistas como a expressão quotidiana dessa vida "tecnicizada" que se rebela contra as formas instituídas e cristalizadas. (LEMOS, 1983) A temática da análise é importante, pois traz à realidade do ensino, reflexões sobre o papel do professor tutor como mediador do processo de ensino à distância. E ainda poderá proporcionar ao sujeito pesquisado a apropriação das mudanças que podem surgir como significação ou resignificações de mundo. 163 UNITINS – Fundação Universitária do Tocantins. Endereço: www.unitins.br/artigo visualizar aluno.aspx?id=NAAxADIANO=&cod=388 164 TVE – http://www.tvebrasil.com.br/SALTO/boletins2002/ead/eadtxt4c.htm 335 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC OBJETIVO GERAL Este artigo tem como objetivo geral, analisar as práticas utilizadas pelo professor tutor à distância no acompanhamento pedagógico no curso de Especialização em Gestão Pública Municipal da UNILAB-Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira em Redenção Ceará. De maneira específica procura identificar os saberes do professor tutor à distância em seu trabalho online e observar sua mediação com relação à disponibilidade e acompanhamento às atividades do aluno (cursista). METODOLOGIA A pesquisa faz uma investigação do perfil de desempenho da prática pedagógica do tutor que está inserido no curso de Especialização em Gestão Municipal da Unilab em Redenção-Ceará. Inicialmente buscou-se identificar a formação de cada tutor, onde encontramos uma diversificação entre elas: geografia, direito, professores, assistente social, administração e arquitetura. Os sujeitos investigados foram oito (08) do curso vigente de Especialização citado anteriormente. Assim sendo, foi realizado inicialmente um estudo bibliográfico e uma pesquisa de campo de cunho qualitativo para uma apreciação sobre ensino à distância, tutoria e tecnologia. Conforme destaca Lüdke e André (1986 p. 123), a pesquisa qualitativa abrange a aquisição de dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador e situação estudada, consequentemente ressalta mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos partícipes. Foram aplicados os questionários de forma online e depois impressos, levando em consideração que os tutores estão em plena atividade de tutoria no curso supracitado (podendo a pesquisa ser considerada como pesquisa-ação). Recorrendo às palavras de Ghedin (2002, pg 141), sobre pesquisa ação, “o que fazemos não se explica pelo como fazemos: possui sentido diante dos significados que lhe são atribuídos.” Por isso, podemos dizer que a pesquisa ação é um processo que procura transformações e ressignificações ao que fazemos. Esse trabalho de campo envolveu oito questionários aplicados a oito tutores, um do sexo masculino e sete do sexo feminino entre 30 e 57 anos de idade. Os sujeitos estão inseridos em polos diferentes como Redenção, Limoeiro do Norte, Aracoiaba e São Francisco do Conde no Estado da Bahia. O instrumental aplicado foi um questionário com seis perguntas quatro com opções de livre escolha e duas com sugestão de respostas subjetivas. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS No que se refere à formação dos sujeitos envolvidos, consideramos importante apresentar algumas características específicas como a formação de cada um. A tutora de número 1 é graduada em Serviço Social, Especialista em Organizações do Terceiro Setor (polo de Redenção-Ce), a de número 2, Mestre em Arquitetura e Urbanismo (polo de São Fcº do Conde-Ba), a de número3, Geógrafa e Especialista em Metodologia do Ensino (polo de Redenção-Ce), a de número 4, graduada em Secretariado Executivo (polo de Redenção-Ce), a de Número 5, Especialista em Gestão Educacional (polo de São Fcº do Conde-Ba), a de número... 6, graduada em Geografia (polo de Redenção-Ce), a de número 7, graduada em letras (polo Aracoiaba-Ce) e por último o de úmero 8, afirmou ser advogado (polo de Limoeiro do Norte-Ce). 336 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO Com relação às características de um bom professor tutor, segue a contribuição de alguns sujeitos envolvidos na pesquisa, onde podemos destacar as mais significativas. Vale ressaltar que a numeração apresentada abaixo é fidedigna à sequência de cada sujeito do questionário respondido, abordado na metodologia. O tutor 1- considera que Um bom tutor deve estar disponível para atender os estudantes nas suas necessidades, com agilidade, segurança e educação, utilizando uma linguagem apropriada e respeitando as diferenças de opiniões e os questionamentos dos alunos. É fundamental que o tutor seja ético, tenha compromisso com a instituição e com o curso, tenha facilidade de expressão e saiba se relacionar e se comunicar com todos os envolvidos. O tutor 2- afirma ser importante Disponibilidade de tempo para avaliar as atividades e o aprendizado; capacidade de entendimento das dificuldades de aprendizagem particulares a cada aluno; polidez no trato com o aluno e boa capacidade de comunicação utilizando-se dos maios próprios da EaD. O tutor 3- concorda em Assumir compromisso/ser comprometido com o trabalho”. A motivação permite que o tutor desempenhe melhor o papel ou seja, o tutor trabalha com mais entusiasmo. O tutor 4- lembra que é preciso ter Disposição para ajudar, pois a maioria dos alunos nunca estudou pela plataforma e necessita de muita ajuda. Manter-se motivado é de extrema importância, pois podemos envolver os alunos no processo de aprendizagem com maior fluidez. A contribuição do tutor 7- refere-se às práticas realizadas pelo professor tutor e afirma que é importante Ser comunicativo, estar atento às solicitações dos alunos, tentar ajudá-los nas suas dificuldades, ser justo na correção das tarefas e ter conhecimento mínimo das Disciplinas. Estar motivado é uma condição essencial, gostar do que faz, e passar segurança para os cursistas. No que concerne à qualidade na interação entre professor tutor e aluno, foi considerado pelos sujeitos em sua maioria, participar ativamente dos cursos de formação para o aprofundamento teórico relativo aos conteúdos trabalhados nas diferentes áreas, bem como participar também dos encontros presenciais. Isso denota o grau de preocupação por parte deles, com essa questão crucial no desenvolvimento do trabalho virtual. Percebemos que além do grande interesse pelo aprendizado do aluno, o tutor deve criar mecanismos ou subsídios de monitoramento do seu desempenho, principalmente para evitar negligenciamento por parte desse aluno no cumprimento das atividades. Confirmando-se a pressuposição de que um bom professor tutor consegue manter o interesse do aluno da educação á distância apresentando um número ínfimo de perdas e desistências. Dessa forma, criar meios de correspondências através de pequenos fóruns, chats, utilização de ferramenta wiks, informar aos alunos seu desempenho através de planilhas, gráficos, etc. Esses exemplos configuram um monitoramento adequado com avaliação do processo 337 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC que possibilitam ao tutor a confirmação ou tranquilidade de seu dever cumprido com esforço e empenho máximo nas tentativas de evasão e abandono por parte de alguns cursistas (alunos). CONSIDERAÇÕES FINAIS Com as mudanças culturais, científicas e tecnológicas não podemos prever quais serão os conhecimentos acumulados e necessários para viver em sociedade dentro do mundo do trabalho em tempos futuros. Percebe-se que com os estudos realizados, o trabalho do professor tutor no ambiente virtual de aprendizagem vai sendo cada vez mais utilizado nos cursos e a busca para a melhoria do trabalho de mediação procura uma maior qualidade através do enfoque nos saberes desse profissional. Numa reflexão permanente sobre a ação, podemos dizer que esse aspecto é um processo coletivo que envolve para o professor tutor e seus saberes: instrumentos de reflexão, de autoformação, potencializações do desempenho individual e coletivo. E após toda a discussão, análise, e reflexão, se caminha para a contextualização e construção dos saberes, num processo dialético com transformação dos agentes envolvidos. REFERÊNCIAS BARBIER, R. A pesquisa ação. Brasília; Plano, 2002. Educação e Pesquisa. São Paulo. V. 31, nº 3, p 483-502, set-dez, 2005. ELLIOT, J. Recolocando a pesquisa-ação em seu lugar original e próprio, In: Geraldi, C.M.G. & Fiorentini, D. & Pereira, E. M. A. (orgs). Cartografia do Trabalho docente. Campinas: Mercado das letras, 1998, p. 137 -152. GEDHIN, E. Professor reflexivo: da alienação, da técnica à autonomia da crítica. In: PIMENTA. S. G. e GHEDIN, E. (orgs). Professor Reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. São Paulo: Cortez, 2002, p 129 -149. LEMOs, A., La Culture Cyberpunk, Le Cauchemar de la Modernité., in Congrès International de Sociologie, Paris, Sorbonne, 1993. LUDKE, Menga & André, Marli. Pesquisa em Educação: Abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. SARMENTO, Vera L. P. & FOSTER, J. Diretrizes para a qualidade do desempenho em tutoria à distância. Manual do tutor, UFA, Janeiro/2006. TVE – http://www.tvebrasil.com.br/SALTO/boletins2002/ead/eadtxt4c.htm http://mail-attachment.googleusercontent.com/atta UNITINS – Fundação Universitária do aluno.aspx?id=NAAxADIANO=&cod=388 338 Tocantins. www.unitins.br/artigo visualizar SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES PARA UTILIZAÇÃO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TDIC) NO ENSINO: ALGUNS DESAFIOS DA CONTEMPORANEIDADE Jaiza Helena Moisés Fernandes 165 RESUMO Este artigo objetiva refletir sobre os desafios da formação inicial de professores para inserção das TDIC na educação diante das demandas educacionais emergentes à luz de teóricos da educação que advogam em favor do uso dessas tecnologias no ensino. A metodologia que norteou o estudo, a pesquisa exploratória bibliográfica. As políticas públicas de informatização das escolas não apresentaram os resultados esperados, sobretudo, por conta da falta de formação de professores. Levy (1999) advoga em favor do uso da internet, pois ela amplia os processos cognitivos, a percepção, a imaginação, a memória, o raciocínio e etc. Moraes (1997) e Valente (2005) pontuam que o uso das tecnologias e suas redes interativas rompem com práticas de ensino cartesianas, fragmentadas. Dias (2012) e Passos (2012) abordam projetos de incentivo a docência sem perderem de vista os saberes múltiplos necessários à construção da identidade e da autonomia do professor. Enfatiza-se a importância do Programa LIFE, como uma proposta inovadora que coaduna com as demandas de formação para uso das TDIC no ensino contemporâneo. Por fim, ressalta-se a relevância da ampliação das políticas de formação, visto que, as atuais atendem a um número reduzido de professores na formação inicial. PALAVRAS-CHAVE: Formação inicial, Tecnologias digitais, políticas de formação. INTRODUÇÃO O desenvolvimento tecnológico ampliou os avanços das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC), especialmente, o computador e a internet. A internet e sua rápida expansão a partir dos anos de 1995 revolucionou o mundo, criando novas formas de comunicação e interação. A sociedade transforma-se, torna-se cada vez mais digital, criando novas formas de gerar, produzir e distribuir informação e conhecimento. Para Canclini (2008), as tecnologias digitais, a internet, traz à baila a figura do internauta, agente multimídia que lê, ouve e combina recursos diversos e que essa integração de linguagens redefiniu o papel e a autonomia da escola no campo educacional. E mais, a escola vê reduzir-se sua influência, pois as mídias de massa, a comunicação digital e eletrônica ampliaram os espaços de acesso aos saberes e a formação cultural. “Os jovens adquirem nas telas extracurriculares uma 165 Mestranda em Educação Brasileira (LECE/UFC), graduada em Pedagogia (UECE) e Linguagens e Códigos (UFC/Português-Inglês), especialista em Planejamento Educacional (UNIVERSO) e Mídias na Educação (UFC Virtual), professora da rede estadual e municipal de ensino de Fortaleza. E-mail: [email protected] 339 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC formação mais ampla em que conhecimento e entretenimento se combinam. Também se aprende a ler e a ser espectador sendo telespectador e internauta.” (p. 24). Percebe-se que essas mudanças apontam na direção da escola, espaço de aquisição do conhecimento, exigindo dela e do professor mudanças no sentido de integrar as tecnologias da informação às atividades de sala de aula. Contudo, as políticas educacionais de informatização das escolas brasileiras, como o Programa Nacional de Tecnologia Educacional (PROINFO) implantado em 1997; reformulado em 2007, o PROINFO Integrado não deram conta de inserir as TDIC no ensino como esperado. O não sucesso desses programas está associado à falta de acompanhamento técnico e pedagógico dessas políticas e, sobretudo, a não formação dos professores. Essa afirmação se baseia em nosso acompanhamento cotidiano, enquanto professora da rede pública inserida nesse processo e em resultados de pesquisas apresentadas por pesquisadores do Brasil e do mundo, cujas práticas não são muito diferenciadas. Fantin e Rivoltella (2012) ao realizarem pesquisas com professores em Milão e Florianópolis sobre o uso das mídias no ensino, concluíram que os recursos digitais estavam nas escolas, mas os professores não os utilizavam no ensino de forma sistemática. Esses professores apontaram como dificuldades para o não uso, nos dois contextos, questões relacionadas à falta de conhecimentos específicos para trabalhar as mídias com os alunos. Em Fortaleza, Gomes (2007) ao realizar pesquisas com professores da educação básica que tinham laboratórios de informática instalados em suas escolas, com computadores conectados a internet, percebeu que esses recursos eram subutilizados na escola também pela falta de formação dos professores. Se um dos grandes problemas identificados no cenário escolar para inserção das tecnologias no ensino é a questão da formação de seus docentes entendemos que a formação para o uso das TDIC na escola deve ocorrer na formação inicial. A partir dessa problemática, elaboramos o seguinte questionamento: Quais são os desafios da formação inicial de professores para uso das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação no ensino contemporâneo? OBJETIVO GERAL Refletir sobre os desafios da formação inicial de professores para inserção das TDIC na educação diante das demandas sociais e educacionais emergentes à luz de teóricos da educação que pesquisam e advogam em favor do uso dessas tecnologias digitais no ensino. METODOLOGIA A metodologia que norteou este estudo, a pesquisa exploratória bibliográfica, subsidiada por livros e artigos publicados em Anais de eventos científicos. Também foi significativo, visitas ao portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação (ANPED) visando identificar estudos e pesquisas sobre a formação inicial de professores para utilização das TDIC no ensino. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Consideramos que as reflexões acerca da formação inicial de professores para o uso das TDIC no ensino para uma melhor compreensão da problemática por parte dos professores, alunos 340 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO e academia são relevantes, uma vez que, estudos científicos acerca dessa formação são necessários. Como vimos os projetos de informatização das escolas não corresponderam ao esperado por conta da má formação inicial dos professores e não investimentos na formação continuada. Os professores acabam reproduzindo em sala de aula a formação recebida, embora no discurso reconheçam a importância das TDIC no ensino. Levy (1999) é um grande pesquisador da relevância do uso da internet, o “ciberespaço”, no ensino e assim se posiciona: O ciberespaço suporta tecnologias intelectuais que amplificam, exteriorizam e modificam numerosas funções cognitivas humanas: memória (bancos de dados, hiperdocumentos, arquivos digitais de todo o tipo), imaginação (simulações), percepção (sensores digitais, telepresença, realidades virtuais), raciocínios (inteligência artificial, modelização de fenômenos complexos). (LEVY, p.157) Levy, portanto, nos apresenta uma multiplicidade de aspectos significativos da formação humana que podem ser desenvolvidos quando o professor utiliza a internet de forma interativa, desafiadora, integrativa, colaborativa e criativa. Estas são práticas que coadunam com a realidade emergente, na qual professores e alunos estão inseridos, exigindo-lhes novas formas de ser, conhecer, conviver, pensar, fazer e estar no mundo. Nessa perspectiva, Valente (2005) afirma que o uso do computador deve ser inserido de forma planejada, tanto no currículo de formação do professor, como na matriz curricular do aluno. Para o autor, o computador contribui para o processo de transição de um sistema de ensino fragmentado para uma abordagem integradora de conteúdo e voltada para a resolução de problemas. Da mesma forma, Moraes (1997) enfatiza que o grande desafio que se coloca para a formação do professor é a proposição de um ensino integrador, interdisciplinar em detrimento do ensino fragmentado e sem uma prática dialógica. Moraes, em consonância com os outros autores, aponta o conhecimento distribuído em rede como uma das características fundamentais do paradigma emergente. Para que a integração das TDIC aconteça na escola, conforme as demandas da sociedade, a escola precisa assimilar as mudanças culturais que a sociedade vivencia com o uso do computador e da internet. A escola, portanto, é desafiada a fazer uso de ferramentas de interação e produção que corroboram para a construção do conhecimento de forma autoral, uma vez, que os alunos já conhecem, utilizam e se identificam com os recursos digitais. Os professores precisam de uma formação que contemple, dentre muitos outros saberes, os conhecimentos didáticos, pedagógicos e tecnológicos. (Valente, 2005). Ampliando as discussões, Dias (2012) ao abordar a questão do ser professor e das políticas de formação docente no ensino superior, enfatiza a importância das contribuições do exercício da monitoria como uma prática de iniciação a docência a partir de sua estreita relação com o Projeto Político-Pedagógico. Para a autora, a “docência é uma atividade bem mais complexa porque envolve o conhecimento sobre a relação professor-aluno, sobre questões metodológicas, sobre planejamento (de aulas, de cursos), sobre a utilização de novas tecnologias no ensino, sobre avaliação.” (P. 9). E mais: “Ser professor exige saberes, conhecimentos, competências e habilidades que prescindem de uma formação específica.”. (p. 11). Passos (2012), por sua vez, apresenta a importância do Programa Institucional de Iniciação à Docência (PIBID) para a aproximação da universidade da realidade da escola, 341 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC permitindo aos bolsistas práticas que contribuem para a formação crítica e reflexiva dos professores em formação. Ressalta ainda, a relevância da prática reflexiva e crítica do professor de forma contextualizada para o desenvolvimento de sua identidade e autonomia. Dentre as políticas públicas de formação inicial de professores, tendo em vista a valorização do magistério, o fomento a projetos de estudos, pesquisas e extensão tem sido ampliados, a exemplo, a monitoria na docência do ensino superior foi abordada por Dias. Dentre outros programas de incentivo a docência, o governo federal por intermédio da CAPES está financiando 74 projetos em Universidades de todo país para implantação de Laboratórios Interdisciplinares de Formação de Educadores (LIFE). O Objetivo do projeto é promover a interação, colaboração, trabalho coletivo e interdisciplinar com alunos de diversas licenciaturas para o desenvolvimento de metodologias e recursos didáticos com o uso das TIC para serem implementados no ensino da educação básica de maneira inovadora. (CAPES, 2012). Percebe-se que os projetos de formação inicial abordados como forma de valorização do magistério e oferta de uma formação que coaduna com os desafios da complexidade da contemporaneidade são bastante relevantes e, certamente, rompem com o ensino cartesiano, linear, fragmentado, sem reflexão e sem exercício da criatividade e da autoria. Contudo, essas políticas de incentivo à docência são pontuais, contemplam um número reduzido de licenciandos. CONSIDERAÇÕES FINAIS As reflexões tecidas neste texto através da pesquisa e do diálogo com os autores em torno da formação inicial de professores para utilização das TDIC no processo de formação e de ensino apontam como desafios para essa formação, práticas que considerem o mundo em mudanças e as mudanças no paradigma educacional, que demandam uma formação aberta, flexível, interdisciplinar, interativa, crítica e criativa. Certamente, uma formação de professores com essas características reificarão na sala de aula práticas inovadoras e eficazes. Destarte, se torna indispensável à utilização das TDIC na formação inicial do professor e no ensino básico, visto que, o uso das TDIC é parte da cultura social. Avanços já estão acontecendo com programas de incentivo à docência no âmbito da formação inicial, como por exemplo, o Programa LIFE. Contudo, programas desse porte são políticas que demandam ampliação de forma que sejam extensivos a todos os professores no contexto da formação inicial. REFERÊNCIAS CANCLINI, N. G. Leitores, espectadores e internautas; tradução Ana Goldberger. São Paulo: Iluminuras, 2008. DIAS, A. M. I. Ser Professor (a) Universitário (a): monitoria, política e programas institucionais de formação docente. XVI ENDIPE, UNICAMP, Campinas, 2012. http://www2.unimep.br/endipe/2088b.pdf Acessado 13/07/2013 FANTIN, M; RIVOLTELLA, P.C. Cultura Digital e formação de professores: usos da mídia, práticas culturais e desafios educativos. In: FANTIN, M; RIVOLTELLA (Orgs.), Cultura Digital e escola: Pesquisa e formação de professores. Campinas, SP: papiros, 2012. 342 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO GOMES, R. O. A. Aprendizagem e ensino com software livre: pesquisa e intervenção na formação de professores. Dissertação. Fortaleza, UECE, 2007. http://www.uece.br/ppge/documentos/dissertacoes/turma2005/dissertacao_turma2005_olimpia.pdf Acesso 20/03/2013 LÉVY, Pierre. Cibercultura. 34ª ed. São Paulo, 1999. MORAES, M. C. O Paradigma Educacional Emergente. Campinas, SP: Papirus, 1997. PASSOS, C. M. B. Contribuições do PIDIB para a formação docente. XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino, UNICAMP, Campinas, 2012 http://www2.unimep.br/endipe/2088c.pdf Acesso 12/07/2013. VALENTE, A. Educação a distância via Internet. Campinas, São Paulo: AverCamp Editora, 2005. SITES: http://www.anped.org.br/ http://www.capes.gov.br/ 343 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO CONTEXTO DAS FORÇAS ARMADAS E DAS INSTITUIÇÕES DE SEGURANÇA PÚBLICA Cassandra Ribeiro Joye 166 167 Lourdes Losane Rocha de Sousa Marilia Maia Moreira 168 RESUMO O artigo pretende abordar as perspectivas atuais de formação do profissional das áreas militares no Brasil e mais especificamente da segurança pública a partir da modalidade de educação a distância notadamente no contexto da Polícia Militar do Piauí. A investigação permitiu identificar numa primeira etapa que há uma capilarização dessa modalidade de educação no âmbito das forças armadas e das instituições de segurança pública tanto a nível nacional, quanto através de inciativas formativas das instituições estaduais de segurança pública dos diversos estados da federação. Que os cursos oferecidos de forma regular totalmente online ou semi-presenciais direcionam-se mais especificamente para o processo de formação continuada e que a concentração dos conteúdos curriculares abrangem áreas teóricas que fundamentam as práticas desses profissionais. Palavras-chave: formação profissional, educação a distância, segurança pública, forças armadas. INTRODUÇÃO A modalidade de educação a distância tem sido amplamente discutida no âmbito das pesquisas nos diversos níveis e modalidades de ensino do sistema educacional brasileiro. Porém, no que diz respeito aos desmembramentos, abrangência, influência no contexto da formação profissional as lacunas são consideráveis. Há que se destacar que essa modalidade atualmente tem se ampliado para as mais diversas áreas: saúde, educação, corporativa, formação para prevenção às drogas, formação superior, justiça, entre outras. Essa ampliação se dá em especial pelos avanços em relação às tecnologias da informação e da comunicação principalmente com o advento da internet. Santomé (2013, p. 22) nos indica as possibilidades dessa modalidade de ensino ao afirmar que: 166 Doutora em Educação pela UFSC, Diretora de Educação a Distância do IFCE, Professora do Programa de pós-graduação em Educação Brasileira da Universidade Federal do Ceará. Email: [email protected]. 167 Doutoranda em Educação Brasileira pela UFC, Mestre em Educação pelo programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal e Ceará. Linha Educação, currículo e ensino. Eixo: Tecnologias digitais na Educação; Email: [email protected] 168 Graduada em Licenciatura em Matemática (IFCE), Especialista em Ensino de Matemática (UECE), e aluna do Mestrado da pós-graduação em Educação Brasileira da UFC. Email: [email protected] 344 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO As plataformas interativas possibilitam trabalhar com modelos de ensino e aprendizagem colaborativos, ao mesmo tempo em que permitem aos alunos o acesso a um ambiente mais rico e variado de materiais informativos e didáticos. Elas também contribuem para que cada estudante possa trabalhar no seu ritmo e nos momentos do dia que preferir; interagir com seus colegas e professores com maior flexibilidade horária, etc. A preocupação com o processo de formação profissional se estende as mais variadas áreas quer nas instituições públicas ou privadas, esse espectro de possibilidades que o modelo da EAD possibilita enquanto espaço formativo tem sido considerado também como caminho possível no âmbito dessas instituições. A imagem que comumente se forma no imaginário social da formação policial esta bem representada nas cenas do filme Tropa de elite, marcado pela verbalização com ações de pressão psicológica e com excessiva realização de exercícios físicos. Que outras possibilidades poderiam estar sendo desenvolvidas para além dessa sala ou dessa escola formativa que caracteriza de forma tão significativa a formação desses profissionais? Que modelos formativos vêm sendo desenhados e realizados nesse contexto já que é uma área que exige uma formação prática dadas as peculiaridades inerentes aos cargos que serão exercidos por seus agentes: tiro policial, abordagem policial, identificação veicular, entre outros? Como as instituições que integram as forças armadas: Marinha, Exército e Aeronáutica e a Segurança Pública (Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros) tem recorrido a essa modalidade de educação? Essas são algumas das questões preliminares que nortearam a pesquisa, ainda em curso e a elaboração dessa primeira etapa investigativa que se pretende ampliar na busca de construir um quadro analítico da modalidade de educação a distância no contexto das forças armadas e das instituições de segurança pública a fim de compreender suas possibilidades educativas para além do cenário da formação em outras áreas e das demais formações voltadas para o cenário corporativo. OBJETIVOS GERAIS O objetivo do estudo consistiu em identificar as perspectivas atuais de formação do profissional das áreas militares no Brasil e mais especificamente da segurança pública a partir da modalidade de educação a distância notadamente no contexto da Polícia Militar do Piauí a fim de compreender como tem se dado esse movimento de formação desses agentes com suporte na modalidade de EaD. METODOLOGIA DE PESQUISA Como percurso metodológico do estudo optou-se por desenvolver um estudo de natureza teórica. Como primeira etapa metodológica realizou-se uma investigação nos principais sites das Forças Armadas brasileiras e da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENAP) a fim de identificar nas páginas eletrônicas dessas instituições referências quanto a oferta de cursos, a existência de centros de EaD ou ainda de parcerias para sua oferta com instituições públicas ou privadas. Paralelamente foi realizada uma busca nos principais repositórios de periódicos, bancos 345 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC de teses e dissertações na busca de identificar produções acadêmicas e científicas (artigos científicos, teses e/ou dissertações) relacionadas ao tema. A partir dos resultados relativos a essas duas primeiras etapas nos foi possível desenvolver preliminarmente um análise dos resultados encontrados a partir das considerações dos teóricos da área. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS O levantamento nos sites da Marinha, Exército e Aeronáutica revelou que as três instituições ofertam formação continuada com auxílio da modalidade de educação a distância. No âmbito da Marinha do Brasil o atual Centro de Ensino a Distância, foi implantado em 1995 como Núcleo de Educação a Distância (NEaD) vinculado ao Departamento de Ensino Náutico ofertando à época seus cursos por correspondência. Atualmente houve uma ampliação de Núcleo para Centro, Centro de Ensino a Distância, no site constam 18 cursos ofertados dentre eles: Aperfeiçoamento para marítimos seção convés, Curso Expedito de atendimento ao público externo, Curso especial de segurança em operações de carga em navios Petroleiros. Os fundamentos apresentados por esta instituição para disporem da EaD como modalidade de ensino no processo de formação dos profissionais a Marinha o Brasil pode ser compreendida a partir do que consta no próprio site da Corporação: “o propósito de oferecer aos aquaviários a oportunidade de acesso ao conhecimento, sem prejuízo ou desnivelamento no aprendizado”. Percebe-se que esse movimento interno nos quadros de formação do efetivo que integra a instituição utilizando a EaD não é algo que surgiu recente segundo Carvalho (2013, p. 224) em quadro elaborado sobre a cronologia da EaD nas forças Armadas em 1939 a Marinha já havia criado um curso por correspondência como preparação ao Curso de Comando. O centro de Educação a distância da Marinha possui uma estrutura organizacional administrativa e técnica estruturada da seguinte maneira: Direção, Secretaria, Departamento de Cursos a Distância composto por três divisões: divisão de produção de cursos, divisão de aplicação de cursos e divisão multimídia) e um departamento de apoio a EaD estruturado em duas divisões, divisão de sistemas e divisão de manutenção e controle. A equipe de profissionais é formada por Analista e sistemas, pedagogos, administradores e web designers. No que pertine ao Exército Brasileiro, o mesmo autor afirma que em 1963 no Exército, é criado por correspondência o Curso Preparatório (C Prep) para o Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais. A Portaria nº 30/DEP, de 25 de setembro de 1995, aprova as normas para funcionamento do sistema de ensino a distância (Sead) no Exército brasileiro. Já as diretrizes gerais para o sistema de ensino a distância o Exército estão previstas na Portaria nº13-EME, de 27 de abril e 1999, na mesma ficam explícitos ainda entre outros objetivos o de “ ampliar a capacidade do Sistema de ensino do Exército, apoiando seus componentes, particularmente no que se refere à Linha de Ensino Militar Bélico, inclusive à instrução Militar, à Linha de Ensino Militar Cientifico e Técnológico, ao Ensino Preparatório e a Assistencial Social e Educação de Jovens e Adultos” (CARVALHO, 2012, p. 230) 346 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO Já em relação à Aeronaútica a EaD passa a integrar suas escolas de formação em 1989 quando Normatiza (Portaria DEPENS n.049/E-1 de 11 de julho de 1989) a implementação do EAD na Universidade na Universidade da Força Aérea (Unifa), na Escola de Comando e Estado Maior (Ecemar), na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EAOAR) e no Centro de Instrução Especializada da Aeronáutica (Ciear). No âmbito dessa força a Educação a distância ainda esta em processo de desenvolvimento, havendo segundo Cahoeira apud Carvalho (2012, p. 231) ainda há uma certa resistência em relação a essa modalidade de educação mas já existindo previsão em seu organograma da Subdivisão de Educação a distância (SEaD) e da realização de cursos para os profissionais da aeronáutica. Em relação a EaD no âmbitos dessas instituições Carvalho (2012, p. 224) aponta que: Desde os seus primórdios, as três forças – Marinha, Exército e Aeronáutica – têm suas academias militares baseadas no ensino presencial. O natural desenvolvimento da tecnologia propiciou a nova modalidade de educação a distância (EaD): o advento do correio – inicialmente por mensageiros e, depois, com o uso da tecnologia, por meio rodoviário, ferroviário, marítimo e aéreo e, mais recentemente, do microcomputador, das multimídias, do hipertexto, e da internet – foi o marco histórico gerador de todo o processo. Acompanhando essa mesma transformação do ensino nas forças armadas a Secretaria Nacional de Segurança Pública vai criar em 2005 a escola virtual de aprendizagem denominada Rede EaD/SENASP com abrangência de oferta de cursos aos policiais civis, militares e bombeiros militares dos vinte sete estados da nação. A rede foi criada através de uma parceria com a Agência Nacional e Polícia (ANP) com o objetivo de favorecer o processo de formação continuada dos profissionais de segurança pública nos diferentes estados da nação, através de cursos de capacitação oferecidos online, em três ciclos anuais para policiais civis, militares e bombeiros militares que direcionam-se para a realidade plural que integra a segurança pública, são cursos de abrangência das três áreas (por exemplo, investigação policial, abordagem policial, pronto socorrismo), e cursos afins às três instituições como é o caso do curso Direitos Humanos, Gerenciamento de Crise, Inglês. CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa realizada quanto à modalidade de educação a distância no âmbito das instituições que integram as forças armadas e as instituições de segurança pública através da rede EAD/SENASP nos permitiu identificar que semelhante ao que vem ocorrendo no âmbito das instituições públicas e privadas quanto ao movimento de expansão da oferta de cursos a distância para formação inicial e continuada de civis esse também vem se delineando no intramuros dos quartéis, das escolas de formação e nas academias dessas instituições na busca da formação de homens e mulheres para o exercício das atividades de segurança nacional, segurança pública e defesa social. Vale ressaltar que por outro lado, assim como identificado na segunda etapa da pesquisa ainda são tímidas as iniciativas de pesquisa científica quanto a essa modalidade de ensino nessas instituições, sendo, portanto, um campo de estudos a ser explorado no âmbito das pesquisas educacionais com vistas a indicar suas peculiaridades, resultados, convergências e divergências em 347 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC relação às inúmeras pesquisas que vem sendo desenvolvidas sobre EaD nas demais áreas e que as resistências a essa modalidade de ensino não se dão apenas nas instituições de ensino civis elas também permeiam as demais áreas, como as instituições de formação profissional. Assim, a partir desse breve estudo, que se pretende ampliar para investigar questões mais amplas quanto a modalidade de EaD no âmbito dessas instituições é possível, a partir da constatação de que não é tão recente o uso da modalidade para formação desses agentes estatais questionar: que modelo de educação a distância estrutura os cursos ofertados por essas instituições? Que material didático-pedagógico? Quais as representações que os discentes/docentes dessas corporações constroem em torno dessa modalidade de educação? Em que aspectos a modalidade se diferencia dos cursos oferecidos no âmbito civil? A formação ofertada tem dado conta de contribuir para a construção de conhecimentos e saberes necessários ao exercício das atividades inerentes aos cargos exercidos por seus integrantes? O trajeto investigativo percorrido até aqui nos conduz a esses e tantos outros questionamentos e revela que na direção do que vem ocorrendo no contexto social as forças armadas e as instituições de Segurança Pública também estão dispondo dos recursos da tecnologia da informação e da comunicação, principalmente através da internet para formação profissional do seu efetivo com vistas a execução das atribuições legais que lhe são delegadas constitucionalmente. Atribuições essas complexas, que envolvem tomadas de decisão em relação ao uso da força, a preservação da vida e que, portanto exige nos seus quadros profissionais com formação humana, técnica e ética que lhes dê condições de desenvolver ações profissionais qualitativas, eficazes, eficientes e efetivas. O processo de capilarização dessa modalidade não para por ai as escolas e academias de formação em âmbito estadual da Polícia militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros já vem delineando a formação dos seus efetivos. No estado o Piauí recentemente, 2013, a Polícia Militar criou seu próprio Núcleo de Educação a Distância e ofertou o Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos (CAS) na modalidade semi-presencial, outras instituições de Segurança pública das unidades da federação como a Polícia Militar do Maranhão e o Corpo de Bombeiros do mesmo estado já oferecem essa modalidade de ensino a nível estadual para formação do seu efetivo. Os desdobramentos futuros suscitam a nosso ver o desejo de investigar os modelos pedagógicos de EAD que norteiam as propostas pedagógicas de educação a distância dessas instituições, se há processos de avaliação dos docentes, discentes e equipe técnica e para onde sinalizam seus resultados, as limitações e dificuldades dessa modalidade formativa para seus profissionais, as tensões e conflitos inerentes a sala de aula virtual no contexto desse processo formativo, as diferenças e semelhanças entre elas. REFERENCIAS CARVALHO, Daniel Duarte de. As forças armadas e a EAD. In: Educação a distância o estado da arte. Volume 2. LITTO, Frederic Michael; FORMIGA, Marcos. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2012; 348 SABERES DA DOCENCIA CURRÍCULO E ENSINO CENTRO DE ENSINO A DISTÂNCIA DA MARINHA DO BRASIL. Disponível em: Disponível em: http://www.mar.mil.br/ciaga/ead/site/home.html. Acesso em: 16 de julho 2013. DEPARTAMENTO DE ENSINO DA AERONÁUTICA. Disponível http://www.fab.mil.br/portal/capa/index.php?page=depens. Acesso em: 14 de julho 2013. em: SANTOMÉ, Jurjo Torres. Século XXI: revoluções do presente e conhecimentos necessários paraentender a sociedade a partir dela. In: Curriculo escolar e justiça social: o cavalo de tróia da educação. Porto Alegre: Penso, 2013, p.; PORTAL DE ENSINO DO EXÉRCITO BRASILEIRO. Disponível http://www.ensino.eb.br/portaledu/quem_somos.htm. Acesso em: 12 de julho de 2013. em: 349 ENCONTRO DA LINHA DE EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E ENSINO – UFC 350