FORMAÇÃO HUMANA: REFLEXÕES SOBRE USO DAS

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FORMAÇÃO HUMANA: REFLEXÕES SOBRE USO DAS
DIÁLOGO E INTERAÇÃO
volume 2 (2009) - ISSN 2175-3687
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FORMAÇÃO HUMANA: REFLEXÕES SOBRE USO DAS TECNOLOGIAS PARA
ENSINAR E APRENDER
Dra. Margareth de Fátima Maciel (UNICENTRO)
RESUMO: A formação de professores vem sendo temática de fóruns e seminários nacionais e
internacionais nos últimos anos devido a certa fragilidade existente nesse área no sentido de
atualizar conhecimentos, metodologias e propostas que estejam adequadas às necessidades da
comunidade escolar e à estrutura e organização da escola. Na atualidade em que, com a
inserção das novas tecnologias no ambiente escolar, os processos de formação buscam
acompanhar as mudanças geradas no comportamento, na linguagem e no modo de aprender
do aluno, inserimos aqui, a importância de uma formação humana como geradora de ações e
reflexões sobre o comportamento e atitudes dos indivíduos no ambiente social e virtual.
PALAVRAS-CHAVE: Formação humana. Tecnologia educacional. Prática pedagógica.
Formação de professores.
ABSTRACT: Teacher training summary has been thematic forums and national and
international seminars in recent years due to certain existing weakness in this area to update
knowledge, methodologies and proposals that are appropriate to the school community needs
and the structure and organization of the school. Today, with the inclusion of new
technologies in classrooms, seek to monitor training generated in behavior changes in
language and in student learning mode, insert here the importance of training human
generator of actions and thoughts about the behaviour and attitudes of individuals with social
and virtual environment.
KEY-WORDS: Human training. Educational technology. Pedagogical practice. Teacher
training.
1. INTRODUÇÃO
O professor, hoje, tem encontrado situações bastante diversificadas em relação a
outros tempos da história da educação. Em decorrência das mudanças ocorridas em diversos
setores da sociedade, principalmente no mundo econômico, o papel da escola parece ter se
modificado um pouco.
O fato de se exigir profissionais para um mercado competitivo trouxe para a escola a
responsabilidade de formar pessoas capazes de suprir a mão-de-obra do mercado de trabalho e
prepará-las para o exercício das novas profissões que estão surgindo devido aos sistemas de
informação e comunicação e suas conseqüências.
Ao se falar em formação de professores, nesse contexto, é preciso primeiro repensar a
estrutura escolar. De nada adianta promover uma formação transformadora, crítica e criativa
se a organização escolar limita sua prática.
As competências destinadas ao professor acabam ficando sujeitas a uma adequação ao
rigor dessa organização e, talvez por isso, os resultados sejam quase imperceptíveis, embora
já esteja evidente que as mudanças que estão fluindo na sociedade começam a atingir a escola
no sentido de mobilizar o professor na busca de um conhecimento mais atual e contínuo.
Muito se tem discutido sobre a formação do professor com o intuito de acompanhar as
mudanças, porém o ambiente da sala de aula, pela complexidade e dinamismo das ações
envolvidas, acaba exigindo respostas para as quais muitos professores não estão devidamente
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preparados.
Nesse ponto destacamos a importância de discutir aqui a formação humana de
professores. Com a utilização das novas tecnologias no ensino houve mudanças nos
comportamentos dos alunos, mas não dos professores, mudou a forma de aprender, mas não a
de ensinar. Isso ocorreu pelo fato de que, com a internet as pessoas passaram a se comunicar
mais intensa e afetivamente, o que, de certo modo, atrai mais os alunos, pois têm a
oportunidade de revelar suas alegrias e tristezas, encantos e decepções. A linguagem é mais
pessoal e, sentem-se valorizados por isso.
O professor reconhecendo a importância de se trabalhar pedagogicamente esse recurso
poderá criar espaços relacionais dentro da sala de aula ou dentro da escola que torne o ensino
mais efetivo e a aprendizagem mais significativa.
2. FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE PROFESSORES: APRESENTANDO
CONCEITOS
Atualmente um dos aspectos mais discutidos em nível nacional e internacional na
educação se refere à formação de professores. As mudanças sócio-econômicas e políticas vem
provocando modificações nas concepções teórico-metodológicas do processo educativo as
quais o professor necessita acompanhar.
Porém, vemos em sua formação certa fragilidade no sentido de atualizar
conhecimentos, metodologias e propostas que estejam adequadas às necessidades da
comunidade escolar e à estrutura e organização da escola.
Para entendermos melhor como ocorre o processo de formação de professores,
podemos verificar, inicialmente, o que vem a ser o conceito de formação, formação inicial,
formação continuada e sua relação com o processo educativo.
A formação pode ser entendida de diversas formas. De acordo com o dicionário do
Aurélio, a formação significa:
1. Ato, efeito ou modo de formar. 2. Constituição, caráter. 3. Maneira porque se
constitui uma mentalidade, um caráter, ou um conhecimento profissional. Embora esteja a par
dos novos métodos adotados, custa-lhe muito ir contra a sua formação historicista.
(BUARQUE DE HOLANDA, 2004: 923).
Para alguns autores da área educacional, a formação “(...) é geralmente associado a
alguma actividade, sempre que se trata de formação para algo” (HONORÉ, 1980).
Assim, a formação como função social pode ser a transmissão de saberes, de saberfazer ou do saber-ser que se exerce em benefício do sistema socioeconómico, ou da cultura
dominante. A formação pode também ser entendida como um processo de desenvolvimento e
de estruturação da pessoa que se realiza com o duplo efeito de uma maturação interna e de
possibilidades de aprendizagem, de experiências do sujeito. Por último, é possível falar-se da
formação como instituição, quando nos referimos à estrutura organizacional que planifica e
desenvolve as actividades de formação (FERRY, 1991:19). A formação pode adoptar
diferentes aspectos conforme se considera o ponto de vista do obecto ( a formação que se
oferece, organiza, exteriormente ao sujeito), ou o do sujeito ( a formação que se activa como
iniciativa pessoal).
“(...) um processo de desenvolvimento individual destinado a adquirir ou aperfeiçoar
capacidades" (FERRY,1983, p.36 ap. PERRENOUD, 1992: 22)
Para Rodríguez Diéguez, (1980, p.22-38) a formação de professores nada mais é do
que “o ensino profissionalizante para o ensino. Desse modo, não representa senão outra
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dimensão do ensino como actividade intencional, que se desenvolve para contribuir para a
profissionalização dos sujeitos encarregados de educar as novas gerações.”
Medina e Domínguez, (1989, p.87 ap. PERRENOUD, 1992:23). que dizem o seguinte:
“consideramos a formação de professores como a preparação e emancipação profissional do
docente para realizar crítica, reflexiva e eficazmente um estilo de ensino que promova uma
aprendizagem significativa nos alunos e consiga um pensamento-ação inovador, trabalhando
em equipa com os colegas para desenvolver um projecto educativo comum.”
Após citarem e analisarem vários autores e suas concepções, os autores do referido
livro, no começo desse capítulo, explicitam o conceito deles a respeito da formação de
professores:
A Formação de Professores é a área de conhecimentos, investigação e de propostas teóricas e
práticas que, no âmbito da Didáctica e da Organização Escolar, estuda os processos através dos
quais os professores – em formação ou em exercício – se implicam individualmente ou em
equipa, em experiências de aprendizagem através das quais adquirem ou melhoram os seus
conhecimentos, competências e disposições, e que lhes permite intervir profissionalmente no
desenvolvimento do seu ensino, do currículo e da escola, com o objectivo de melhorar a
qualidade da educação que os alunos recebem. (p. 26)
Essa concepção, apesar de ser aceita e exercida por muitos, vai totalmente contra a
realidade e as necessidades atuais. É uma forma mecânica de pensar a formação, pois não
leva em conta a reflexão, a análise da prática em sala de aula e fora dela. Não se busca
compreender o ensino, aproximar-se dele, pesquisá-lo, para então buscar soluções para as
mudanças tão necessárias. É preciso conscientizar os professores que têm como alicerce a
formação baseada apenas na profissionalização, que essa prática não resistirá por muito
tempo, e logo eles estarão fora do campo educativo.
Essa citação nos faz pensar na formação continuada, que é essencial para a qualidade
do ensino e da educação, além de contribuir para o aperfeiçoamento profissional e pessoal.
3. FORMAÇÃO HUMANA – POR ONDE COMEÇAR?
O início do século XXI apontou algumas mudanças que parecem estar ligadas à forma
como entendemos nossa finalidade no planeta e as condições em que este se encontra. Estas
mudanças evidenciam o modo como temos contribuído para promover a vida, o
desenvolvimento e o bem-estar de todos os seres ou, ao contrário, a nossa omissão no
processo.
Os seres humanos, neste contexto, têm atitudes e comportamentos gerados por
pensamentos e idéias que se articulam entre si, estão em constante movimento com a
realidade, com a complexidade, com a incerteza, num mundo em que a tecnologia e o
conhecimento vêm avançando simultânea e rapidamente.
Historicamente a realidade que vivemos e que é aceita, se objetiva no plano científico
separando o plano subjetivo e os saberes como fruto da imaginação. De certo modo, rejeita as
características idiossincráticas de cada ser humano, fazendo surgir uma espécie de dicotomia
entre o humano e o natural.
O processo evolutivo do universo e a transcendentalidade da natureza possibilitaram
as inovações, reorganizações, absorção do aprendido, técnicas se desenvolvem, crenças e
mitos mudam, as sociedades arcaicas se transformaram em cidades, nações e impérios.
(MORIN, 2002)
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Diante disso se localiza a educação como a busca de um sentido para a vida, algo que
conduza à humanização e a uma consciência que favoreça a solidariedade, a autonomia, a
crítica e a ética em todos os setores da sociedade.
A educação parece ter como parte de seus objetivos despertar em cada indivíduo a
capacidade de perceber a multidimensionalidade implícita nas relações humanas, no ambiente
natural e no Universo e, especialmente na relação entre ambos. A escola se constitui em um
espaço para o desenvolvimento de aprenderes que visem à ampliação de uma visão de mundo
baseada na preservação e continuidade da vida permitindo a implementação de processos que
viabilizem o despertar de uma consciência que valorize o ser humano na sua essência. E,
ainda, provocar o fomento da consciência humana no que se refere a rever sua escala de
valores, na medida em que o ser humano, na maioria das vezes, inibe seu potencial e a
ampliação de sua mente em prol das idéias espalhadas pela mídia que incentivam o consumo,
o ter, o fazer, o descartável.
Para isso é preciso assumir a responsabilidade sobre a própria vida e transcender os
obstáculos e a dor.
Segundo Maturana (2000:11), “a formação humana, como tarefa educacional, consiste
na criação das condições que guiam e apóiam o indivíduo em seu crescimento como um ser
capaz de viver no auto-respeito e no respeito pelo outro o que lhe proporciona aprender
qualquer coisa e adquirir qualquer habilidade”. Isso significa que a escolha deve ser feita a
partir de si mesmo e não movido por pressões externas.
A finalidade da formação humana é o fundamento de todo processo educativo. É por
meio dela que se pretende desenvolver a prática do autoconhecimento em cujas pessoas
passem a ver que possuem a capacidade de encarar a adversidade sendo holísticas e
independentes e reconhecerem a interdependência entre os seres. Pessoas que estejam sempre
dispostas a responder por que e porque não, que encontrem possibilidades de colocar sua
visão de mundo e suas idéias num contexto mais amplo, com espontaneidade, compaixão e a
consciência de seguir as próprias idéias além de questionar as convenções, não com o sentido
ingênuo de fomentar a discórdia e a rebeldia, mas consciente de seus propósitos. É assim que
podemos pôr nossos atos e nossa vida em um contexto mais amplo e com a qual avaliamos se
uma ação faz mais sentido do que outra. É esse poder transformador que diferencia os
indivíduos.
Quanto mais nos conhecemos, mais desenvolvemos nossas capacidades de viver e
conviver no mundo com toda a sua complexidade, enfrentando as dificuldades com
inteligência e coerência. Este é um processo que poderá evitar grandes desentendimentos,
crises e desequilíbrios destrutivos provenientes de um nível de inteligência inferior, baseado
apenas nas emoções negativas.
Por isso, um dos primeiros aspectos a ser levado em consideração na formação
humana do professor, é compreender a origem do processo de aprendizagem. De como
aprendemos e de como, por esse processo, desenvolvemos a auto-aprendizagem, ou seja, o
conhecimento sobre quem somos, o que queremos e o que fazer para atingir nossos objetivos.
No dizer de Charlot (2000:72) “aprender faz sentido por referência à história do
sujeito, às suas expectativas, às suas referências, à sua concepção de vida, às suas relações
com os outros, à imagem que tem de si e à que quer dar aos outros.”
A aprendizagem nesse enfoque se dirige aos sentidos/sentimentos como algo que está
presente em cada momento desse processo. Não sabemos exatamente em que ordem, mas
poderia classificá-los como sociais – os que se configuram como pessoais - e cerebrais –
aqueles que se reportam às emoções.
No contato diário com os grupos sociais que convivemos, percebemos, pelos sentidos,
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o novo e o velho, o diferente e o igual. Podemos dizer que essa relação constitui a nossa
experiência que é um dos pontos que mais interferem na aprendizagem, porque influi em que
coisas e pessoas vemos como importantes, sérias, belas, boas, apropriadas, ou o contrário. Na
experiência concreta do dia-a-dia, a atenção da maioria das pessoas parece estar ligada
diretamente àquilo que é decisivo para sua sobrevivência como, por exemplo, a alimentação,
o vestuário, habitação, recursos eletrônicos, etc..
Dessa maneira, vamos desenvolvendo certos órgãos dos sentidos (ouvido, mãos, olhar,
etc.) e algumas capacidades cognitivas (dirigir um carro, escrever à máquina, ler, resolver
conflitos, etc.) que servem, entre outras coisas, para conhecer a realidade concreta e, assim,
poder intervir nela. Aprendemos através dos sentidos, (res)sentindo-os buscando sentido ao
aprender, por exemplo, aprendemos quando estamos em contacto com situações reais dos
problemas e desafios e apelamos ao máximo nossas capacidades e interesses. O conhecimento
infiltra-se através da maximização dos sentidos e inteligências que possuímos em determinado
momento. Nessa situação, a aprendizagem se realiza menos por meio do ouvir e do ler à
procura das “respostas certas”, e mais através do investigar, do experimentar e do aplicar, para
encontrar as respostas possíveis.
Quando realizamos uma ação significativa entendemos que este processo nos leva
também a aprender. Aprender por meio de uma ação é mais abrangente, pois exige um esforço
que envolve todo o ser na elaboração dos seus questionamentos. O material acumulado na
memória pode seguir essencialmente dois destinos: ser apenas acoplado e passar com sucesso
em testes ou exames ou, então, provocar questões internamente de modo que exijam uma
reflexão e a busca de respostas aproximadas às inquietações. No primeiro caso, o destino é o
esquecimento; no segundo, é a aprendizagem permanente. O que temos em nosso interior
quando confrontado com a informação, encontramos ou construímos sentido e, por isso,
aprendamos.
Quanto ao cérebro, parece ser mais complexo. Não podemos mais descartar o fato de
que está estritamente ligado as emoções. Por isso a aprendizagem que envolve as emoções é
mais significativa, aprendemos sentindo por que a falta das emoções não estimula o processo
de querer aprender. Quem não sente ou se ressente com o que aprende na realidade não
aprende. Não falamos aqui das emoções que acompanham os resultados de testes, aprovações
ou retenções. Mas de todos os sentimentos e emoções que fazem parte integrante do percurso
da aprendizagem, ou seja, a tensão de uma perspectiva nova, de uma dúvida ou de um
desacordo, a frustração de um passo em falso ou de um insucesso, a felicidade gratificante de
uma descoberta. Numa aprendizagem real e envolvente é tudo muito mais a sério: os acertos
trazem mais felicidade e os erros doem mais. Embora uns e outros sejam momentos e fonte de
aprendizagem, a aprendizagem que envolve a emoção é mais eficaz para evitar os erros.
Além disso, ainda deixamos de desenvolver outros órgãos e capacidades que não são
estimulados pelo ambiente social e natural e, que poderiam ser úteis para situações
inesperadas, pois é na vivência destas situações sem o devido preparo, que aprendemos mais.
O poder das emoções na aprendizagem e na memória parece funcionar como um filtro
nos sentidos. Quando fortes e bloqueadas, podem causar stress, doenças ou outro tipo de
intervenção patológica mais grave. Quando produtivamente expressas, favorecem um clima
para a aprendizagem. Nesse sentido, podemos dizer que somos mais seres emocionais do que
seres racionais ou cognitivos.
Porém, é bastante complexo entender como realmente aprendemos, em detalhes, um
aprofundamento maior sobre os estudos que estão sendo feitos sobre o cérebro podem auxiliar
a compreender melhor como todos aprendemos e, como podemos trabalhar com nossos alunos
no sentido de incentivá-los a aprender.
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Se o funcionamento do cérebro começa a avançar nesta direção não se pode descartar
o fato de que aprender está estritamente ligado as emoções.
Um destes estudos foi realizado pelo Dr. Eric Jensen, famoso escritor e conferencista
internacional, que apresenta o surgimento de um novo enfoque compreensivo e
multidisciplinar, baseado parcialmente em como as pesquisas recentes sugerem que nosso
cérebro aprende.
Uma sala de aula compatível com o cérebro tem algumas facetas diferenciadas. Emoções
positivas são ativadas e engajadas. Há surpresa, celebrações, música, artes, dança,
movimentação, exercícios e jogos. Estabelece-se um clima marcadamente positivo. Estimula-se
o desenvolvimento de relações humanas baseadas na confiança. As ameaças são eliminadas. Os
objetivos a atingir são explicitados claramente. Busca-se construir significado, definindo
razões válidas e propósitos visíveis. (JENSEN, 2003: on line).
Esse autor discute idéias sobre a lição do cérebro como um sistema modular, composto
de inúmeros subsistemas que colaboram entre si e permite visualizar uma sala de aula
cooperativa e democrática, onde há interdependência humana, altamente estimuladora para o
desenvolvimento do cérebro social.
O fato de estarmos na era do conhecimento leva-nos a perceber que os professores que
efetivamente compreendem que a aprendizagem envolve cérebro, corpo e sentimentos
começam a adotar uma gestão mais competente tanto das emoções como da aprendizagem de
seus estudantes.
Dessa forma, poderá haver uma compreensão maior e melhor da forma como
aprendemos e como podemos trabalhar com nossos alunos no sentido de incentivá-los a
aprender o mundo, a sociedade, e a si mesmos.
Sendo a mente importante componente da aprendizagem, esta última, dá a
possibilidade ao indivíduo de se expressar e interagir com o meio nas diferentes etapas da
vida alimentada por novos aprenderes continuamente, ou seja, uma mente aprendiz possui a
capacidade de resignificar conceitos e relações distinguindo o papel de sujeito transformador.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS – NOVOS PARÂMETROS
O laboratório de informática é um espaço privilegiado para a aplicação de uma prática
cuja perspectiva se apresenta como um corpo de idéias e propostas inovadoras que não estão
marcadas por certezas e um realismo ingênuo, mas centram-se em mudanças nos níveis
epistemológicos e também nas perspectivas sobre a aprendizagem cognitivo/emocional.
Por outro lado, há professores que não conseguem esconder seu descontentamento
com o magistério, passando a ser um completo obstáculo à aprendizagem. Desconhecem o
diálogo, não permitindo a manifestação curiosa dos alunos e sendo insensíveis às suas
carências e dificuldades. De conteúdos, exercícios, cópias, ditados e silêncio são, muitas
vezes, preenchidas as 4 (quatro) horas do dia que pouco significam e contribuem para o
conhecimento e o desenvolvimento cognitivo/emocional e político dos alunos.
Embora existam iniciativas comprometidas com a mudança, é ainda necessária uma
nova mentalidade, uma nova visão e postura frente ao mundo e um compromisso consciente
com a pessoa humana.
O professor é um dos principais condutores desse processo, pois, segundo Snyders
(1993: 15),
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Para progredir na cultura, o aluno necessita do filtro de uma personalidade; o acesso à
satisfação cultural escolar passa por uma pessoa que conhece a satisfação cultural, sabe fazê-la
partilhar e se esforça para viver a classe de maneira que ela seja partilhada. Um professor que
vive as idéias que enuncia; nele, por ele as idéias são encarnadas – e é frequentemente assim
que os alunos começam a levá-las em consideração.
Geralmente os professores são classificados de modo negativo, como se fossem eles
inimigos dos alunos, esquecendo que possivelmente são frutos de uma educação
massificadora e que, portanto, reproduzem o que lhes ensinaram.
Finalmente, destacamos que as mudanças na postura pedagógica precisam ocorrer no
conjunto das ações articuladas entre o indivíduo e o seu ambiente. Compreendendo o
ambiente com seus inúmeros fatores, além do professor e do aluno, como o currículo, o
sistema de ensino, o papel da comunidade, a política educacional pois ao se tratar da cultura
tecnológica nossa tendência é descontextualizar, levando em consideração apenas aspectos
de ordem técnica e desconsiderando o impacto que isso causa no indivíduo, na sociedade e no
meio ambiente.
O uso do computador, em ambientes que favoreçam as habilidades e potencialidades
dos alunos, parece estar submetido à compreensão que o professor tem da finalidade daquele
recurso na educação.
Muito ainda há por fazer, especialmente quando tratamos das novas tecnologias no
ensino, em que as incertezas e dúvidas são motivos para o cuidado e um novo olhar sobre a
formação docente.
Para a continuidade de uma formação docente nesse sentido pode-se colocar a
necessidade de fertilizar o cognitivo com o afetivo, a razão com a emoção, a lógica com
intuição; o desenvolvimento do ser como objetivo, ser individual, ser social e ser espiritual; as
relações afetivas como referência no processo de aprendizagem significativa; a felicidade, o
conhecimento e a responsabilidade como pontos de chegada.
Uma formação baseada nesses referenciais poderá trazer ao contexto real mudanças de
ordem pedagógica e social na escola, na sociedade e no mundo.
Para Puebla (1995), só sobreviveremos se aprendermos a elaborar um novo
paradigma, no qual cooperar seja mais importante que competir em que haja igualdade de
oportunidades, uma realidade e não um mero enunciado, e em que construamos pontes de
união entre os pensamentos e as ações, sem limitarmo-nos ao nosso relativo ponto de vista.
A grande crise que vivemos hoje é, ao mesmo tempo, uma grande oportunidade para
reencontrar a pureza da vida, com a autenticidade e a sinceridade daquelas consciências que
não se confundiram com o egoísmo e a competitividade de nossa época e que esperam o
reencontro do homem com seu ser interior.
Quando aprendemos a viver em nossa essência de valores humanos, amamos sem egoísmo,
compreendemos, toleramos e compartilhamos. Este novo homem, em permanente processo de
construção, ama. Ama a vida em todas as suas manifestações. Nutre-se da verdade e da retidão.
Busca a paz como manifestação autêntica do ser humano. Condena a violência e privilegia
atitudes, gestos, palavras e pensamentos que conduzem a não-violência. Afronta com valentia e
decisão o reencontro com a dimensão positiva do ser, construindo a partir daí um novo
paradigma para a humanidade. (PUEBLA, 1995: 56).
Portanto, ao se falar sobre a formação dos professores de ambientes de aprendizagem
informatizados, tem-se em mente uma formação voltada ao desenvolvimento da técnica,
porém os esforços devem estar dirigidos também a uma formação humana e aos valores
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essenciais para o desenvolvimento da vida.
Como parte de uma equipe universitária responsável pela formação de professores do
ensino básico, retomamos à continuidade de um trabalho que fortaleça as práticas com o uso
do computador, voltadas aos valores humanos, refletindo sobre as contradições existentes e
buscando novas formas de superá-las.
A reflexão realizada até aqui discutiu algums abordagens teóricas que proporcionaram
compreender as práticas existentes no ambiente escolar abordando a necessidade de uma
formação humana de professores; porém retornamos àquelas perguntas iniciais com a certeza
de que não estão esgotadas, mas que continuam fazendo parte de um constante caminho de
buscas.
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