o léxico românico de religião em traduções medievais Prof. Dr
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o léxico românico de religião em traduções medievais Prof. Dr
Unidade lexical e unidade cultural: o léxico românico de religião em traduções medievais Prof. Dr. César Nardelli Cambraia Universidade Federal de Minas Gerais [email protected] Dra. Cynthia Elias de Leles Vilaça Universidade Federal de Minas Gerais [email protected] Dra. Teresa Cristina Alves de Melo Universidade Federal de Minas Gerais [email protected] Recebido em: 26/09/2013 Aceito em: 15/12/2013 Resumo: Analisa-se neste estudo o campo lexical da religião nas traduções medievais em latim, italiano, francês e português do tratado ascético “Livro de Isaac”, a fim de se testar a hipótese de que haveria grande convergência lexical nesse âmbito. Os resultados confirmaram a hipótese, tendo sido constatada convergência em 75% do “corpus”. Os padrões encontrados sugerem que as convergências no campo estudado seriam mais devidas a um contato intenso diretamente com a tradição latina culta do que à influência do principal centro cultural de referência na Idade Média: a França. Palavras-chave: Linguística Românica; Lexicologia; Idade Média. Lexical unity and cultural unity: the Romance lexicon of religion in medieval translations Abstract: This study analyzes the lexical field of religion in translations of the ascetic treatise The Book of Isaac into Medieval Latin, Italian, French and Portuguese in order to test for significant convergence. The results confirm a 75% convergence in the corpus; the observed patterns suggest that the convergence was due more to intense, direct contact with the Latin learned tradition than to the influence of France, the main cultural hub of the Middle Ages. Keywords: Romance linguistics; Lexicology; Middle Ages. In-Traduções, ISSN 2176-7904, Florianópolis, v. 5, n. 9, p. 22-39, jul./dez. 2013. 1. Introdução Estudiosos do léxico sempre insistiram no fato de ele constituir uma espécie de mapeamento do mundo: Na realidade, as palavras não exprimem as coisas, mas a consciência que os homens têm delas. Para a lexicologia, os fatos sociais têm, com efeito, o aspecto de coisas, mas das coisas vistas, sentidas, compreendidas pelos homens; nossa disciplina deverá então visar às realidades sociológicas das quais o vocabulário é a “tradução”, ao mesmo tempo objetivamente, como realidades independentes do indivíduo, e subjetivamente, em função dos seres que vivem em um meio concreto, em certas condições sociais, econômicas, estéticas,etc.(MATORÉ, 1973, p. 42-43, tradução nossa) Justamente por isso, são de especial interesse as análises comparativas do léxico de diferentes línguas: as semelhanças lexicais seriam sinal de visão convergente do mundo e as diferenças lexicais seriam marca de divergência na percepção do mundo. Tomando esse pressuposto como ponto de partida, apresenta-se neste trabalho uma análise comparativa do léxico de religião nas traduções medievais latina, italiana, francesa e portuguesa do tratado ascético Livro de Isaac, com o objetivo de identificar semelhanças e diferenças nesse âmbito. 2. A questão da unidade da România ocidental Romanistas já se detiveram repetidamente no tema da divisão da România em grupos, com o objetivo de dar conta de suas semelhanças e particularidades. Como exemplo, pode-se citar a conhecida proposta de Warburg (1991 [1950]) de divisão entre România ocidental e oriental, tendo a linha La Spezia-Rimini como divisória. Embora Maurer Jr. (1951) também tenha defendido uma divisão entre România ocidental e oriental, segundo sua proposta apenas o romeno faria parte da oriental, enquanto as demais pertenceriam à ocidental. Assim, por exemplo, enquanto na divisão de Wartburg o italiano se situa na România oriental, já para Maurer Jr. (1951) este estaria na ocidental. Tal diferença se deve aos critérios de classificação: aquele adota critérios como a marcação de In-Traduções, ISSN 2176-7904, Florianópolis, v. 5, n. 9, p. 22-39, jul./dez. 2013. 23 plural (em –s na ocidental e em –i/-e na oriental), enquanto este leva em conta justamente a influência da tradição latina culta. Para Maurer Jr. (1951), a unidade da România Ocidental estaria relacionada ao permanente contato entre as línguas desse domínio, bem como em função da influência da tradição latina culta na constituição e no desenvolvimento delas. Papel de especial importância nesse processo teve, segundo ele, o cristianismo: [...] é especialmente com o triunfo do cristianismo (século 4), que este, herdeiro e portador de uma rica cultura espiritual e teológica [...] se põe em contato muito mais direto com o povo do que a velha cultura pagã, e, mantendo-se vivo e criador durante todo este tempo, nutre e enriquece continuamente o pensamento e a língua popular. Toda a cultura eclesiástica (...) é latina e nesta fonte bebem constantemente todos os romances medievais em contato com a Igreja. (MAURER JR., 1951, p. 5) Assinala ainda Maurer Jr. (1951, p. 5) que essa situação se refere às línguas ocidentais, mas não ao romeno, que teria ficado fiel à “herança latina vulgar”. A presente análise tem como objetivo testar a hipótese, fundamentada em Maurer Jr. (1951), de que no âmbito da religião haveria na Idade Média alto grau de convergência no léxico românico. 3. Metodologia 3.1. Corpus Em fins do séc. VII d.C. um monge asceta, chamado pela tradição de Isaac de Nínive, redigiu em siríaco tratados religiosos, dos quais a dita “Primeira Parte” teve especial difusão pelo mundo, sobretudo ocidental. O ramo siríaco ocidental dessa tradição foi traduzido para o grego por volta dos sécs. VIII-IX e uma parte deste foi traduzida para o latim por volta do séc. XIII. Ao longo da Idade Média, apareceram as traduções para diferentes línguas românicas: português, espanhol (em duas traduções independentes), catalão, francês e italiano. Segundo apuraram Cambraia (2009b), Melo (2010) e Vilaça (2012), a tradução portuguesa deriva da espanhola (que teve versão impressa em Sevilha em 1497); esta espanhola derivaria da catalã; já a segunda espanhola (impressa em Zaragoza em 1489), a catalã, a francesa e a italiana derivariam diretamente da latina. In-Traduções, ISSN 2176-7904, Florianópolis, v. 5, n. 9, p. 22-39, jul./dez. 2013. 24 A riqueza de traduções dessa obra no mundo românico favorece o estudo comparado de léxico medieval, já que, por se tratar da mesma obra, o vocabulário abarca um mesmo tema: a religião. Encontram-se já editadas as traduções para o português (CAMBRAIA, 2000, 2009b), o francês (MELO, 2010) e o italiano(VILAÇA, 2012). Por essas edições incluírem o vocabulário integral da respectiva tradução, organizado em forma de glossário, tem-se uma situação especialmente interessante para o estudo do léxico românico medieval. 3.2. Coleta de dados Para testar essa hipótese, tomam-se como corpus as traduções latina, italiana, francesa e portuguesa do já referido Livro de Isaac. Como ainda não há edição confiável da tradução latina, adota-se o texto presente no cód. A 49 sup. da Biblioteca Pinacoteca Accademia Ambrosiana de Milão, datável do séc. XIII. Para a tradução italiana, toma-se a edição crítica de Vilaça (2012), que tomou como textobase o do cód. Ricc. 1384, da Biblioteca Riccardiana de Florença, datável da 1ª metade do séc. XIV; para a francesa, a edição paleográfica de Melo (2010), baseada no cód. lat. 14891 da Biblioteca Nacional da França, datável da 1ª metade do séc. XV; e, por fim, para a portuguesa, a edição crítica de Cambraia (2009b),que elegeu como texto-base o do cód. 50-2-15 da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, datável da 2ª metade do séc. XV. Para a delimitação do léxico a ser estudado, tomou-se inicialmente como referência a lista presente na proposta de Hallig e Wartburg (1952, p.79-82) para o campo lexical de religião. Nessa proposta constam 201 itens lexicais, tendo sido descontadas as repetições mas computadas as formas complexas como unidades autônomas (como no caso de CRENÇA e CRENÇA POPULAR). Após uma primeira aplicação desse critério, identificaram-se apenas 61 itens com presença no corpus estudado. Para que a pesquisa pudesse abranger um conjunto maior de itens, ampliou-se o número investigado para 148, acrescentando-se itens que, apesar de cognatos de itens presentes na lista de Hallig e Wartburg (1952), não constavam dela (p. ex.: constava MONGE mas não MONJA nem MONÁSTICO), bem como itens relevantes especificamente para a doutrina religiosa de Isaac de Nínive (p. ex.: PRANTO, JEJUM, etc.). Deve-se salientar, primeiramente, que a própria lista de In-Traduções, ISSN 2176-7904, Florianópolis, v. 5, n. 9, p. 22-39, jul./dez. 2013. 25 Hallig e Wartburg (1952) não era considerada como exaustiva pelos autores, pois em muitas categorias a seção termina com “etc.”, indicando que a lista ainda admitia outros itens; além disso, também na referida obra deixou-se claro que um mesmo item lexical pode participar de mais de um campo, razão pela qual se fazia referência, na lista de religião, a outros campos em que os itens poderiam aparecer (p. ex.: VIRGEM consta tanto do campo de religião quanto do de moral). Outra restrição aplicada na coleta de dados foi a necessidade de que houvesse correspondência de categoria, ou seja, se o item considerado fosse substantivo no texto latino, seria necessário que aparecesse como tal nos demais textos do corpus: esse critério levou à eliminação de dados em que a correspondência fosse rompida em uma ou mais línguas consideradas (cf., p. ex., substantivo em lat. ABSTINENTE, fr. ASTENAN e port. ABSTINENTE, mas verbo no it. ASTENERE). Para facilitar a comparação dos dados, procedeu-se a uma lematização parcial. Substantivos e adjetivos foram registrados no singular de forma geral, mas os substantivos femininos foram registrados como lemas independentes; verbos foram registrados no infinitivo. Especificamente para o latim, os substantivos e adjetivos foram registrados no acusativo singular, sem a marca de caso, que cairia no processo de diferenciação para as línguas românicas, sendo a supressão marcada com hífen. Fez-se leve regularização gráfica na transcrição dos dados (uniformização de U/V, I/J/Y, diacríticos e representação de nasalidade), mas mantiveram-se os demais casos de variação de gráfica e/ou fonológica presentes nas edições consultadas (como as edições do texto italiano e do português são críticas, as variações gráficas aparecem em menor número em função dos critérios adotados pelos editores). As variações gráficas e/ou fonológicas foram separadas pelo sinal de til (~) e as variações lexicais foram separadas por barra inclinada. Os dados considerados na análise são apresentados no anexo, ao final deste texto. Aqueles que constam da lista de Hallig e Wartburg (1952, p.79-82) foram marcados com um asterisco ao final na coluna dos dados do francês (língua em que a lista de Hallig e Wartburg (1952) é apresentada). 4. Resultados In-Traduções, ISSN 2176-7904, Florianópolis, v. 5, n. 9, p. 22-39, jul./dez. 2013. 26 Para testar a hipótese de trabalho deste estudo (convergência lexical no âmbito da religião), fez-se uma primeira classificação dos dados, levando-se em conta a correspondência etimológica dos itens entre as diferentes línguas românicas, tomando-se como referência a forma que consta da tradução latina. Para dados como lat. ALTARE-, ital. ALTAR, fr. AUTEL e port. ALTAR, considerou-se que houve correspondência entre as quatro línguas (L=I=F=P), mas, para dados como lat. JEJUNANTE-, ital. DIGIUNATORE, fr. JUNANT e port. JAJŨADOR, considerou-se haver apenas entre latim e francês (L=F), pois as formas do português e do italiano, embora partilhem a raiz com as demais, têm formação morfológica diferente (com a continuação histórica do morfema latino -TORE, e não de -NTE). Nos casos em que houvesse mais de uma forma lexical em uma língua, considerou-se apenas se alguma delas apresentava correspondência com a forma de referência (mais adiante se comentarão separadamente esses casos). TABELA 1 Padrões de correspondência Padrões de correspondência Frequência L=I=F=P 111/148 (75%) L=I=F 10/148 (6,8%) L=I=P 7/148 (4,7%) L=F=P 1/148 (0,7%) L=I 6/148 (4%) L=F 4/148 (2,7%) L=P 1/148 (0,7%) L≠I,F,P 8/148 (5,4%) Os dados da tabela 1 confirmam claramente a hipótese de trabalho: há um alto grau de convergência lexical (75%) no âmbito da religião entre a forma latina e as formas românicas como um todo. Os resultados mostram também que, entre as línguas românicas, a que apresenta maior convergência em relação ao latim é o italiano (L=I=F=P + L=I=F + L=I=P + L=I = 134/148 = 91%), seguido pelo francês (126/148 = 85%) e, por fim, pelo português (120/148 = 81%). A especificidade do campo lexical da religião tornaIn-Traduções, ISSN 2176-7904, Florianópolis, v. 5, n. 9, p. 22-39, jul./dez. 2013. 27 se ainda mais evidente quando se consideram estatísticas mais gerais como a apresentada por Rîpeanu (2001, p. 30-31), em que as palavras de origem latina (pela tradição popular) e os empréstimos latinos (pela tradição culta) compreendem, respectivamente, 44,06% e 27,7% do léxico do italiano, 36,13 e 26,55% do francês, e 45,28 e 25,12% do português. Dada a dificuldade de se diferenciar com clareza o que, no vocabulário da religião, é da corrente popular e o que é da culta, podem-se levar em conta os totais das cifras acima, o que daria 71,76% para o italiano, 62,68% para o francês e 70,4% para o português. Por um lado, vê-se que o grau de convergência com a forma latina é, de fato, maior no âmbito da religião nas três línguas românicas consideradas (cf., p. ex., 91% do italiano no campo da religião contra 71,76% no léxico geral dessa língua); por outro, nota-se que a hierarquia da convergência em relação ao latim no campo da religião (italiano > francês > português) é diferente em relação ao léxico geral (italiano > português > francês), apesar de o italiano estar em ambos os casos no topo. Segundo Maurer Jr (1951), a convergência no léxico românico derivou sobretudo da influência de centros culturais de referência na Europa, como a França durante a Idade Média e a Itália na época da Renascença: [...] a seleção do que foi aproveitado do latim medieval nas línguas românicas não pode ser o resultado de uma apropriação independente por parte de cada língua. [...] Os latinismos começaram a ser empregados, com frequência pelo menos, por um dos dialetos romances passando a outros não só por imitação do latim, mas por influência destes grandes centros de cultura da România. (MAURER JR., 1951, p. 218) Entretanto, os dados aqui analisados, que se referem à situação das línguas românicas ainda na Idade Média (a documentação é dos sécs. XIII a XV), mostram que, pelo menos no campo lexical da religião, deve-se considerar efetivamente um vínculo mais direto com o latim. Tal se deve porque as traduções do italiano e do francês foram feitas diretamente do latim e a do português, embora tenha sido feita a partir de uma tradução do espanhol, foi fortemente contaminada pela tradução latina, que os copistas teriam consultado repetidamente, como já se mostrou na análise da transmissão da tradução portuguesa (CAMBRAIA, 2009b), fato claramente evidenciado pela presença de formas populares coocorrendo com cultas em pares In-Traduções, ISSN 2176-7904, Florianópolis, v. 5, n. 9, p. 22-39, jul./dez. 2013. 28 sinônimos como MANEIRA e MODO ou DULÇURA e DULCIDOM (CAMBRAIA 2009a, 2010). Dos 148 itens considerados, apenas 3 no português parecem ter marca que sugere empréstimo do francês: HEREGE (lat. HAERETICU-), MILAGRE (lat. MIRACULU-) e MONGE (lat. MONACHU-). A marca que sugere origem francesa é a presença de um –E final, em lugar do esperado –O, próprio da fonologia histórica do português. Para o primeiro e o terceiro, Houaiss, Villar e Franco (2001) propõem como origem o occitânico antigo; mas para o segundo consideram simplesmente o latim. Vê-se, portanto, que nos dois casos referidos de empréstimo românico a influência não seria propriamente do francês, mas sim do domínio galo-românico, em que se insere também o occitânico. A influência do francês terá se dado possivelmente através de um modelo de formação (através de decalques), e não necessariamente através de empréstimo direto do item lexical. Há casos em que o português se diferencia da forma latina de referência, mas apresenta estrutura morfológica semelhante ao francês, como nos seguintes casos: port. AMOESTAR e fr. AMONNESTER mas lat. ADMONERE; port. CRUCIFICAMENTO e fr. CRUCEFIEMENT mas lat. CRUCIFIXIONE-; port. RESCUCITAR e fr. RESUSCITER mas lat. SUSCITARE. No entanto, a grande parcela do vocabulário religioso do português aqui analisado certamente não terá vindo do francês, pois a forma (morfofonológica) daquele é incompatível com a deste nessa parcela, como é o caso de palavras como port. APÓSTOLO x fr. APOSTRE, port. LOUVOR x. fr. LOENGE, fr. PRESTRE x port. SACERDOTE, dentre outras. Dos 148 itens considerados, há 111 (75%) com convergência entre o latim e as línguas românicas como um todo e apenas 37 (25%) com divergência entre uma ou mais línguas românicas. Um primeiro tipo de divergência de interesse é quando, apesar de haver divergência em relação ao latim, há convergência entre todas as línguas românicas, o que acontece em 5 casos: lat. COELESTE- x it. CELESTIALE / fr. CELESTIEL / port. CELESTIAL; lat. DOMINU- x it. SEGNOR(E) ~ SI(N)GNOR(E) / fr. SEIGNEUR ~SEIGNOUR; port. SENHOR; lat. GEHENNA- x it. INFERNO ~ NINFERNO / fr. ENFÈR / port. INFERNO; lat. SPIRITUALITER x it. SPIRITUALMENTE / fr. ESPERITUELMENT / port. SPIRITUALMENTE; e lat. THYMIAMA- x it. INCENSO / In-Traduções, ISSN 2176-7904, Florianópolis, v. 5, n. 9, p. 22-39, jul./dez. 2013. 29 fr. ENCENS / port. ENCENÇO. Especificamente no caso de SPIRITUALITER, o desaparecimento do sufixo –ITER como formador de advérbios e a gramaticalização do ablativo MENTE como sufixo justificam a convergência, ou seja, não havia nas línguas românicas consideradas outra opção para a formação do advérbio: trata-se, portanto, seguramente de uma convergência independente no corpus. No caso de THYMIAMA, parece ter havido uma convergência tradutória, porque a palavra latina em questão se refere um tipo específico de planta (do gênero Thymus) para a qual os tradutores teriam, independentemente, escolhido um hiperônimo, já que ENCENÇO (< lat. INCENSU-) se refere a qualquer planta que se queima para perfumar ambiente. No caso de GEHENNA- e DOMINU-, tem-se de fato uma convergência fortemente vinculada à unidade cultural em torno da religião, pois, referindo-se as formas românicas correspondentes nesses casos tipicamente a conceitos cristãos, a unidade só poderia derivar de um ponto de origem comum, possivelmente latino, já que sua origem remonta a formas latinas (INFERNU- e SENIORE-). Por fim, no caso de COELESTE-, parece ter havido, nas línguas românicas, uma inovação comum ou ainda uma formação tendo o francês como referência. Um segundo tipo de divergência diz respeito à preferência por certos sufixos derivacionais no processo de inovação. No caso do português, vê-se uma clara preferência por -AL (< lat. -ALE), como em DEVINAL ~ DIVINAL, MUNDANAL, SEGRAL ~ SAGRAL e TERREAL, casos em que o italiano e o francês ficaram geralmente fiéis à forma latina (DIVINU-, MUNDANU-, SAECULARE- e TERRENU). Maurer Jr. (1951, p. 96) assinala que esse sufixo “foi transmitido pelos escritores eclesiásticos, tendo vitalidade no latim de Igreja e no medieval [...] e é, portanto, outra contribuição do latim literário às línguas românicas”. Embora o sufixo apareça em inovações nas outras línguas (cf. o já citado caso de it. CELESTIALE, fr. CELESTIEL e port. CELESTIAL), nos dados do corpus analisado aqui é no português que ele é mais adotado. O processo de divergência, entretanto, não leva sempre a forma única: em alguns casos se nota o desenvolvimento de formas concorrentes. Em certos casos, a concorrência se dá entre uma forma conservadora em relação à tradição latina e uma inovação por derivação sufixal: cf., p. ex., lat. SAECULARE- e it. SECOLARE / SECOLARESCO e port. SECULAR / SEGRAL ~ SAGRAL. Em outros casos, a In-Traduções, ISSN 2176-7904, Florianópolis, v. 5, n. 9, p. 22-39, jul./dez. 2013. 30 concorrência é apenas entre inovações sufixais: cf., p. ex., lat. COELESTE- e fr. CELESTIEL / CELESTIEN. Esses dois casos de concorrência sufixal, no entanto, foram poucos: 6 no italiano, 4 no francês e 3 no português. Caso interessante de divergência são as chamadas formas alotrópicas, frutos da reintrodução de formas latinas pela via semierudita e/ou erudita (MAURER JR, 1951, p. 62). Exemplo evidente dessa dupla entrada é o port. PEENDENÇA ~ PENITÊNCIA (< lat. POENITENTIA-), em que a primeira apresenta traços típicos da transmissão popular (atingida pela síncope de –N- intervocálico e pela sonorização de -T- intervocálico), enquanto a segunda os mantém à moda latina. Para finalizar esta análise, é importante salientar o fato de que a influência latina culta se deu também no processo de relatinização formal dos vocábulos. Em casos como do it. ABSTINENÇA ~ ABSTINENTIA ~ ASTINENÇA ~ ASTINENTIA, verifica-se claramente duas força contrárias: uma tendência vernacularizante (expressa pela supressão do -B- e pela assibilização do -TI-) e uma tendência latinizante (expressa pela retenção do -B- e do -TI-). Essas forças contrárias relevam uma tensão que, na Idade Média, quando ainda não haviam se constituído os instrumentos de normatização formal (dicionários e gramáticas sancionados por instituições específicas, como as ditas Academias), tinha especial vitalidade, refletindo-se claramente na escrita e, possivelmente, na pronúncia. 4. Considerações finais Neste breve estudo, testou-se a hipótese de que haveria convergência no campo lexical de religião nas traduções medievais românicas do tratado Livro de Isaac: a hipótese foi confirmada diante da constatação de 75% de convergência. Segundo Maurer Jr. (1951) a unidade da România ocidental se deveria sobretudo à influência que o centro cultural de cada época (na Idade Média, a França) exerceu sobre os demais domínios românicos (excluído o do romeno). Os dados aqui analisados sugerem que, no campo lexical da religião, a referida unidade se deveria mais à pressão da influência da língua latina em si (língua da Igreja e de seus textos e ofícios) do que da difusão de centros específicos. Esta breve análise apresenta ainda dados até então inéditos (já que foram coletados de textos apenas recentemente disponibilizados em edições) que abrem In-Traduções, ISSN 2176-7904, Florianópolis, v. 5, n. 9, p. 22-39, jul./dez. 2013. 31 espaço para novas discussões, tais como a da obsolescência de certos termos em domínios específicos (cf. lat. DAEMONE-, ital. DEMONIO e port. DEMÕĨOS ~ DEMÕES, mas fr. ANEMI / DIABLE; ou ainda lat. SATANA-, it. SATANASSO e fr. SATHENAS ~ SATHAN, mas port. DIABOO) ou ainda das estratégias dos tradutores para representar conceitos para os quais não haveria palavra específica no seu léxico, já que em certos casos houve a substituição de um item lexical por uma perífrase, como já se assinalou no caso de substantivo em lat. ABSTINENTE, fr. ASTENAN e port. ABSTINENTE, mas verbo no it. ASTENERE, casos que não formaram parte do corpus desta análise. Não se pode deixar de mencionar, no entanto, que o tipo de análise aqui desenvolvida, para ser ampliada, deve levar em conta a questão das opções tradutórias, já que o corpus adotado é constituído basicamente de traduções. A ausência de convergência poderia derivar de o tradutor ter optado por uma forma específica (distante da latina do modelo, no caso do italiano e do francês), tendo em seu léxico mais de uma disponível (por exemplo, tanto uma conservadora quanto uma inovadora). Nesse caso, este corpus deveria ser comparado com outros corpora da época para se avaliar a existência de todas as opções lexicais para cada caso. Uma comparação como a sugerida, porém, não invalidaria os resultados aqui apresentados, pois não seria capaz de certificar que um tradutor específico dominasse ou tivesse em seu léxico todas as formas constatadas na documentação da época. Por isso, os resultados aqui obtidos devem sim ser considerados como representativos, apesar de se referirem a um contexto específico (o dos tradutores da obra em questão, em um dado momento e em um dado ponto geográfico do vasto domínio linguístico da România). Para finalizar, convém chamar atenção para um aspecto que se refere ao que Matoré (1973, p. 42) defendia ao dizer que “as palavras não exprimem as coisas, mas a consciência que os homens têm delas”: a unidade cultural ou de visão de mundo. A constatada convergência no campo lexical da religião certamente estaria motivada pelo fato de toda a comunidade afetada partilhar de uma mesma visão de mundo, no caso, a visão da Igreja Católica Apostólica Romana. A unidade lexical no âmbito da religião deve decorrer de as palavras representarem conceitos específicos e fundamentais para a corrente religiosa em questão, razão pela qual haveria uma tendência de resistência à diferenciação, pois novas formas lexicais poderiam levar In-Traduções, ISSN 2176-7904, Florianópolis, v. 5, n. 9, p. 22-39, jul./dez. 2013. 32 os falantes à constituição de percepções divergentes da doutrina, o que, naturalmente, não seria interessante para preservação do vínculo dos fiéis a uma corrente específica. Para provar esse vínculo entre unidade lexical e cultural, seria interessante avaliar o impacto da reforma protestante a partir do século XV sobre esse vocabulário: é bem provável essa nova orientação religiosa tenha rompido com a referida unidade nas comunidades que a adotaram. In-Traduções, ISSN 2176-7904, Florianópolis, v. 5, n. 9, p. 22-39, jul./dez. 2013. 33 Referências CAMBRAIA, César Nardelli. Livro de Isaac: edição e glossário (cód. ALC. 461). 2000. 753 p. Tese (Doutorado em Filologia e Língua Portuguesa) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000. CAMBRAIA, César Nardelli. Variantes textuais nas versões portuguesas medievais do Livro de Isaac: o caso dos pares sinônimos. In: LARA, Gláucia Muniz Proença; COHEN, Maria Antonieta. (Org.). Linguística, tradução, discurso. Belo Horizonte: Editora d UFMG, 2009a, p. 27-40. CAMBRAIA, César Nardelli. Tradição latino-românica do Livro de Isaac: edição crítica da tradução medieval portuguesa. Belo Horizonte: Núcleo de Estudos de Crítica Textual da Faculdade de Letras da UFMG, 2009b. (Relatório final de pesquisa apresentado à Fundação Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro). CAMBRAIA, César Nardelli. Dulceça, dulçor, dulçura e dulcidom: um estudo de caso de variantes derivacionais no português medieval. Estudos de Lingüística Galega, Santiago de Compostela, v. 2, 2010, p. 37-56. HALLIG, Rudolf; WARTBURG, Walther von. Begriffssystemals Grundlagefür die Lexikographie: Versucheines Ordnungsschemas. Berlin: AkademieVerlag, 1952. HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Fracisco Manoel de Mello. (Dirs.) Dicionário eletrônico houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. MATORÉ, Georges. La méthode em lexicologie: domaine français. Paris: Didier, 1953. [2. ed. ampl., 1973] MAURER JR., Theodoro Henrique. A unidade da România ocidental. 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ADORARE ALTAREANACHORETA- ABATE ABSTINENÇA ~ ABSTINENTIA ~ ASTINENÇA ~ ASTINENTIA ASTENERE ~ ABSTENERE ACCIDIA ADMONIRE ~ AMMONIRE ADORARE ALTAR ROMITO 9. ANGELU- ANGELO ANGRE* 10. ANIMA11. APOSTOLU- ANIMA APOSTOLO ÂME APOSTRE* 12. ARBITRIU- ARBITRIO ARBITRE 13. BACULU14. BAPTISMU15. BEATU- BASTONE BATTESIMO BEATO 16. BENEDICTIONE- BENEDICTIONE BASTON BAPTESME* BÉNEOIT ~ BÉNOI BENEICHON ~ BENEISON 17. BLASPHEMIA- BESTEMMIA 18. CAELU- 22. CASTU23. CHERUBIM 24. CHRISTIANU- CIELO KALICE / VASSELL[O] / VASO KANTIC[O] / CANTO CASTITÀ ~ CASTITADE CASTO CHERUBINO CHRISTIANO 25. COELESTE- CELESTIALE 26. COMMUNICARE COMUNICARE 27. COMMUNIONE- COMUNIONE 28. CONFESSARE CONFESSARE 29. CONTEMPLARE CONTEMPLARE 30. CONTEMPLATIONE CONTEMPLATIONE 31. CONVERSATIONE- CONVERSATIONE / CONVERSIONE 19. CALICE20. CANTICU21. CASTITATE- Italiano Francês ABÉ ~ ABBÉ* ABSTINENCE ~ ASTIMENCE ~ ASTINANCE ~ ASTINENCE Português ABBADE ASTENIR ABSTEER ~ ASTEER ACCIDE ACÍDIA ~ AUCÍDIA AMONNESTER AMOESTAR AOURER* AUTEL* ANACORINTIEN ADORAR ALTAR ANACORITA ANJO ~ ÂNGIO ~ ÂNGEO ALMA APÓSTOLO ALVIDRO ~ ARBRÍTIO BÁCULO BAPTISMO BEM-AVENTUIRADO ABSTINÊNCIA ~ AUSTINÊNCIA BEENÇOM CIEL* BALPHÊMIA ~ BLASPHÊMIA ~ BLAFÊMIA CÉÉO CALICE* VASO CANTIQUE* CANTO CHASTETÉ CASTIDADE CHASTE CHERUBIN CRESTIEN* CELESTIEL / CELESTIEN / CELESTIEUS COMMUNIER COMMUMION ~ COMMUNION ~ COUMUNION* CONFESSER*~ CONFESER CONTAMPLER ~ CONTEMPLER CONTAMPLACION ~ CONTEMPLACION CONVERSACION*~ CONVERSSACION ~ CASTO CHERUBIM CHRISTÃÃO BLAPHEME ~ BLASPHEME* In-Traduções, ISSN 2176-7904, Florianópolis, v. 5, n. 9, p. 22-39, jul./dez. 2013. CELESTIAL COMUNGAR AJUNTAMENTO ~ JUNTAMENTO CONFFESSAR CONTEMPLAR CONTEMPLAÇOM CONVERSAÇOM 35 32. CONVERTERE 33. CREATIONE34. CREATORE35. CREATURA36. 37. 38. 39. 40. CREDERE CREDULITATECRUCECRUCIFIXIONEDAEMONE- CONVERTIRE CREATIONE CREATORE ~ CRIATORE CREATURA ~ CRIATURA CREDERE FEDE CROCE CROCIFIXIONE DEMONIO CONVERSSACIO ~ CONVERSASSION CONVERTIR CRÉACION CONVERTER CRIAÇOM CRÉATEUR* CRIADOR CRÉATURE CREATURA CROIRRE* CREDULITÉ* CROIS* CRUCEFIEMENT ANEMI / DIABLE CREER CREENÇA CRUZ CRUCIFICAMENTO DEMÕĨOS ~ DEMÕES DEUS DIABÓLICO DIABOO DIVINO / DEVINAL ~ DIVINAL DOCTRINA ~ DOUCTRINA ~ DOUTRINA 41. DEU42. DIABOLICU43. DIABOLU- DIO ~ IDDIO~ IDIO DIABOLICO DIAVOLO DIEU*~ DEEU DIABOLIQUE DIABLE* 44. DIVINU- DIVINO DIVIN ~ DEVIN 45. DOCTRINA- DOCTRINA DOCTRINE ~ DOCTRINNE 47. DONU48. ECCLESIA- DOMENEDIO / SEGNOR(E) ~ SI(N)GNOR(E) DONO CHIESA 49. ELEEMOSYNA- LIMOSINA 50. EPISCOPATU51. EREMITICO- VESCOVADO EREMITICO DON ÉGLISE* ASMOSNE ~ AUMOSNE ~ AMOSNE ~ AUMOSME ~ OMOSNE ~ OSMONE EVESCHIE* ERMIT 52. EVANGELIU- VANGELIO EVANGILE 53. EVANGELISTA54. FIDE55. FIDELE- EVANGELISTA FEDE FEDELE EVANGELISTRE FOIS* FIEL BISPADO EREMÍTICO EVANGELHO ~ EUVANGELHO EVANGELLISTA FÉ FIEL 56. FRATRE- FRATE / FRATELLO INFERNO ~ NINFERNO FRÈRE IRMAAO ~ ERMAAO ENFER* INFERNO 46. DOMINU- 57. GEHENNA58. GENUFLEXIONE- GENUFLEXIONE 59. GLORIA- GLORIA 60. GLORIARE GLORIARE 61. GLORIFICARE GLORIFICARE 62. GLORIOSU63. GRATIA GLORIOSO GRAÇIA ~ GRATIA SEIGNEUR ~ SEIGNOUR GENUFLICION ~ GENUFLISCION ~ GEMIFLICION / GENOUFLICHAN GLOIRE ~ GLORE GLOREFIER ~ GLORIFIER ~ GLOIREFIER GLOREFIER ~ GLORIFIER ~ GLOIREFIER GLORIEUS GRÂCE*~ GRÂSE In-Traduções, ISSN 2176-7904, Florianópolis, v. 5, n. 9, p. 22-39, jul./dez. 2013. SENHOR DOM EGREJA ~ IGREJA ESMOLA GÊNOA ~ GÊNUA GLÓRIA GLORIAR GLORIFICAR GLORIOSO GRAÇA 36 64. HAERETICU65. HYMNU66. IDOLATRIA ERETICO INNI IDOLATRIA HERITE HYMNE* IDOLÂTRIE HEREGE HINNO IDOLATRIA 67. 68. 69. 70. IDOLO DIGIUNATORE DIGIUNARE IDOLE JUNANT JÊUNER IDOLO JAJŨADOR JAJŨAR DIGIUNO JÊUN ~ JÊUNE JAJŨŨ~ JEJŨŨ GIUDEO LODARE LAUDE LUCIFERO JUI LOUIER LOENGE LUCIFER MANDEMEN ~ MANDEMENT MARTIR MARTIRE JUDEU LOUVAR LOUVOR LÚCIFER MILAGRE MONJA MORTIFICAR ~ AMORTIFICAR 71. 72. 73. 74. IDOLUJEJUNANTEJEJUNARE JEJUNIU/JEJUNATIONEJUDAEULAUDARE LAUDULUCIFER 75. MANDATU- COMANDAMENTO 76. MARTYRE77. MARTYRIU- MARTIRE MARTIRIO 78. MIRACULU- MIRACOLO 79. MISERICORDE- MISERICORDIOSO 80. MISERICORDIA- MISERICORDIA 81. MONACHU- MONACO 82. MONASTICU- MONASTICO MIRACLE* MISERICOR ~ MISERICORT MISERICORDE MOIGE ~ MOIGNE ~ MOINE ~ MOINNE ~ MOINGNE* MOINAL 83. MONIALE- MONACA NONNAIN 84. MORTIFICARE MORTIFICARE MORTEFIER* 85. MORTIFICATIONE- MORTIFICATIONE 86. MUNDANU- MONDANO 87. 88. 89. 90. 91. 92. MONDO MISTERIO NAVE NOVIÇO~ NOVITIO OFFICIO ORARE/PREGARE ORATIONE/PREGHI ERO/PRIEGO MUNDUMYSTERIUNAVENOVITIUOFFICIUORARE MORTIFICACION / MORTIFIEMENT MONDAIN 94. ORDINARE ORDINARE 95. ORDINATIONE- ORDINATIONE 96. ORDINE- ORDINE 97. PARADISU98. PASCUA- PARADISO PASTURE MONDE ~ MONT MISTÈRE* NEF* NOVICE OFFICE*~ OFICE PRIER* OROISON*~ OUROISON/PRIÈRE* ORDENNER ~ ORDENER ~ ORDAINNER ORDENEEMENT / ORDRENANCE ORDRE*~ ORDENE ~ ORDER PARADIS* PASTURE* 99. PASSIONE- PASSIONE PASCION ~ PASSION 100. PECCARE 101. PECCATORE- PECCARE PECCATORE PECHIER* PECHEUR 93. ORATIONE- In-Traduções, ISSN 2176-7904, Florianópolis, v. 5, n. 9, p. 22-39, jul./dez. 2013. MANDAMENTO MÁRTIR MARTEIRO MISERICORDIOSO MISERICÓRDIA MONGE MONACAL MORTIFICAÇOM MUNDANAL MUNDO MISTÉRIO NAVE NOVIÇO OFICIO ORAR/REZAR ORAÇOM ~ OROÇOM ORDENAR ORDENAÇOM/ ORDENANÇA ORDEM PARAISO PÁSCOA PAXOM ~ PAIXOM ~ PASSIOM PECAR PECADOR 37 102. PECCATU- PECCATO PECHIE 103. PEREGRINU- PELEGRINO PÈLERIN* 104. PHANTASMA105. PIETATE106. PIU107. PLANCTU- FANTASIA PIETADE PIO PIANTO PENITENÇA ~ PENITENTIA FANTOSME* PITIÉ* PIEU* PLEUR 108. POENITENTIA- PENITANCE* PREECHEUR* ~ PREESCHEUR PRELA 109. PREDICATORE- PREDICATORE 110. PRELATU- 114. PSALMU115. RELIGIONE- PRELATO PROFETA ~ PROPHETA / PROFETANTE PROFETIA PROVEDENÇA ~ PROVEDENTIA ~ PROVEDENZA PSALMO RELIGIONE 116. RELIGIOSU- RELIGIOSO 117. RESURRECTIONE- RESURRESSIONE 118. SACERDOTE119. SACRIFICIU- 130. SERMONE131. SORORE- SACERDOTE SACRIFICIO SECOLARE / SECOLARESCO SECOLO SAETTA SALVARE SALVATORE SANTIFICARE SANCTITADE ~ SANTITADE SANTO ~ SANCTO / SAN SATANASSO SCRICTURA ~ SCRIPTURA ~ SCRITTURA ~ ISCRIPTURA SERMONE SEROCCHIA 132. SPIRITU- ISPIRITO ~ SPIRITO 133. SPIRITUALE- SPIRITUALE ESPERITUEL 134. SPIRITUALITER 135. SUSCITARE SPIRITUALMENTE SUSCITARE / ESPERITUELMENT RESUSCITER 111. PROPHETA112. PROPHETIA113. PROVIDENTIA- 120. SAECULARE121. SAECULU122. SAGITTA123. SALVARE 124. SALVATOR 125. SANCTIFICARE 126. SANCTITATE127. SANCTU128. SATANA129. SCRIPTURA- PECADO PELIGRINO ~ PELEGRINO ~ PEREGRINO FANTASIA PIADADE ~ PIEDADE PIADOSO CHANTO PEENDENÇA ~ PENITÊNCIA PREGADOR PRELADO PROPHÈTE* PROPHETA PROPHESIE PROPHICIA POURVEANCE ~ POURVENANCE* PROVIDÊNCIA PSIAUME ~ SIAUME* RELEGION* RELEGIEUS ~ RELIGIEUS* RESURRECCION*~ RESURRECTION ~ RESURRESTION PRESTRE* SACREFICE* PSALMO ~ SALMO RELIGIOM RELIGIOSO RESURRECÇOM ~ RESURREIÇOM SACERDOTE SACRIFÍCIO SECULAR /SEGRAL ~ SECULIER SAGRAL SIÈCLE ~ CIÈCLE SEGRE ~ SOGRE SAIEITE* ~ SAIETE SEETA SAUVER SALVAR SAUEUR ~ SAUVEUR SALVADOR SAINTEFIER SANCTIFICAR SANCTIDADE ~ SAINTÉE ~ SAINTÉ SANTIDADE SANCTO ~ SANTO ~ SAINT*~ SAIN SAM SATHENAS ~ SATHAN DIABOO ESCRIPTURE SERMON* SEUR* ASPRIR ~ ESPERIT ~ ESPERI In-Traduções, ISSN 2176-7904, Florianópolis, v. 5, n. 9, p. 22-39, jul./dez. 2013. ESCRIPTURA ~ SCRIPTURA ~ ESCRETURA SERMOM IRMÃA ESPÍRITO ~ SPÍRITO ~ SPÍRITU ESPERITUAL ~ SPIRITUAL SPIRITUALMENTE RESCUCITAR 38 137. TEMPLU- RISUCITARE TABERNACOLO ~ TABERNACULO TEMPIO 138. TEMPORALE- TEMPORALE 139. TEMPORE- TEMPO 140. TENTATIONE- TENTATIONE ~ TEMPTATIONE ~ TENTAZIONE 141. TERRA142. TERRENU- TERRA TERRENO 143. THEOLOGIA144. THYMIAMA145. TRINITATE- THEOLOGIA INCENSO TRINITADE VESTIMENTO / VESTIMENTA VERGINE VIRGINITADE 136. TABERNACULU- 146. VESTE147. VIRGINE148. VIRGINITATE- TABERNACLE TABERNÁCULO TEMPLE* TAMPOREL ~ TEMPOREL TANS ~ TAMPS ~ TEMPS TANTACION ~ TAMPTACION ~ TEMPTACION ~ TENTACION TERRE TERRIEN TEMPLO TIOLOGIE ENCENS* TRINITÉ THEOLIGIA ENCENÇO TRINDADE VESTEMEN* VESTIDURA VIERGE* VIRGINITÉ VIRGEM VIRGIINDADE In-Traduções, ISSN 2176-7904, Florianópolis, v. 5, n. 9, p. 22-39, jul./dez. 2013. TEMPORAL TEMPO TENTAÇOM ~ TEMPTAÇOM TERRA TERREAL 39