avaliação da qualidade higiênico-sanitária de charque - CRMV
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avaliação da qualidade higiênico-sanitária de charque - CRMV
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE HIGIÊNICO-SANITÁRIA DE CHARQUE COMERCIALIZADO NA CIDADE DE SALVADOR - BAHIA EVALUATION OF HIGIENIC AND SANITARY QUALITY OF JERKED BEEF COMMERCIALIZED IN SALVADOR CITY – BAHIA – BRAZIL Luana Pereira¹; Nívea Barreto Carneiro¹; Vanessa Pereira Macedo¹; Ana Amélia Nunes Santos¹; Wellington Luis Reis Costa²; Maurício Costa Alves da Silva3. ¹Acadêmica da Escola de Medicina Veterinária, Universidade Federal da Bahia. ²Médico Veterinário, Mestrando em Ciência de Alimentos, Universidade Federal da Bahia. 3 Docente da Escola de Medicina Veterinária, Universidade Federal da Bahia. Palavras-chave: Charque; Qualidade microbiológica; Saúde pública. Introdução Charque é o produto cárneo obtido por desidratação da carne bovina, através de salga e exposição ao sol, preservando-se por longo tempo, mesmo sem refrigeração. Porém, mesmo com seu alto teor de sal, pode ocorrer a multiplicação de microrganismos halofílicos que podem causar problemas de deterioração (TODOROV; DICKS, 2004). Ainda que a tecnologia de processamento do charque se enquadre na denominação moderna de “hurdle technology”, que compreende a aplicação de um conjunto de técnicas e condições, atuando de forma aditiva ou sinérgica, constituindo-se em obstáculos (“hurdles”) para o crescimento e o desenvolvimento de microrganismos com a finalidade de obter um produto estável e seguro ao consumo das populações, alguns microrganismos conseguem sobreviver e se desenvolver durante o seu processamento (SINIGALIA et al., 1998). Assim, considerando a possibilidade de desenvolvimento microbiano neste produto cárneo bastante consumido, sobretudo na região Nordeste do Brasil, objetivou-se com o presente estudo verificar a qualidade sanitária do charque comercializado na cidade de Salvador, Bahia. Material e Métodos Foram coletadas 30 amostras de charque em mercados varejistas localizados em diferentes bairros da cidade de Salvador, Bahia. Estas amostras foram coletadas com a forma de apresentação disponível para os consumidores, em suas embalagens primárias originais de fábrica, observando-se a integridade física das mesmas, quanto a rasgos ou perfurações, bem como o prazo de validade descrito no rótulo dos produtos. No Laboratório de Inspeção e Tecnologia de Carnes e Derivados (LABCARNE), da Escola de Medicina Veterinária da UFBA, após o exame externo, cada amostra foi submetida a processamento e então semeadas em meios líquidos e sólidos específicos, para pesquisa de bactérias heterotróficas aeróbias mesófilas, Staphylococcus coagulase positiva, bolores e leveduras. As placas destinadas à pesquisa de bactérias heterotróficas aeróbias mesófilas e de Staphylococcus coagulase positiva foram incubadas em estufa a temperatura de 35ºC por 48 horas, enquanto as placas destinadas à pesquisa de bolores e leveduras foram incubadas a temperatura de 28°C por 5 dias. Em segu ida foram realizadas as leituras e contagens de colônias, além das provas complementares (coloração de esfregaço pelo método de Gram, prova da catalase e prova da coagulase), conforme descrito (BRASIL, 2003). Resultados e Discussão Embora a Resolução RDC nº12 do Ministério da Saúde (BRASIL, 2001) não estabeleça qualquer padrão microbiológico para este tipo de alimento, observou-se que 100% das amostras analisadas apresentaram contagens de microrganismos aeróbios mesófilos variando de 1,2 x 106 a 9,3 x 106 UFC/g, índices superiores aos aceitáveis para outros produtos cárneos constantes na mesma Resolução RDC nº12 (BRASIL, 2001). Embora as contagens de bolores e leveduras encontradas tenham sido menores, variando de 2 x 102 a 8,3 x 102 UFC/g, ao correlacionar esses resultados com os anteriormente descritos, é possível verificar que as amostras de charque analisadas no presente estudo apresentavam baixa qualidade higiênico-sanitária. Finalmente, a presença de Staphylococcus coagulase positiva em 100% das amostras, indica que além de ter havido manipulação inadequada do produto alimentar, o charque comercializado na cidade de Salvador, Bahia, pode apresentar sérios riscos à saúde do consumidor, uma vez que muitas cepas de Staphylococcus coagulase positiva são igualmente capazes de produzirem uma ou mais enterotoxinas, normalmente envolvidas em surtos humanos de intoxicação de origem alimentar. Conclusões Considerando-se a baixa qualidade higiênico-sanitária das amostras de charque analisadas no presente estudo, é imprescindível que se estabeleçam padrões mais abrangentes e rigorosos para a qualidade microbiológica do charque no sentido de determinar a qualidade destes produtos destinados ao consumo humano, com o intuito principal de oferecer produtos alimentares de boa qualidade higiênico-sanitária, aumentando o tempo de vida de prateleira, evitando perdas econômicas e prevenindo riscos à saúde da população. Referências BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução nº 12, de 02 de janeiro de 2001. Aprova o Regulamento Técnico sobre padrões microbiológicos pra alimentos. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 10 jan. 2001. Seção 1, p. 46-53. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria Nacional de Defesa Agropecuária. Métodos Analíticos Oficiais para Análises Microbiológicas para Controle de Produtos de Origem Animal e Água. Instrução Normativa nº 62 de 26 de Agosto de 2003. SINIGALIA, S.W.B.; OLIVEIRA, T.C.R.M.; POPPER, L. O. P.; SHOMOKOMAKI, M. Implementação do HACCP no Processamento do Charque. Revista Nacional da Carne. n. 251. São Paulo. 1998. p. 30-36. TODOROV, S.D.; DICKS, L.M.T. Screening of lactic-acid bacteria from South African barley beer for the production of bacteriocin-like compounds. Folia Microbiologica, v.49, p.406-410, 2004. Autor a ser contactado: Luana Pereira, Universidade Federal da Bahia Salvador - BA – e-mail: [email protected]