Visualizar - acadepol - Governo do Estado de Santa Catarina
Transcrição
Visualizar - acadepol - Governo do Estado de Santa Catarina
Signature Not Verified Acadepol Digitally signed by Acadepol Location: Florianopolis - SC UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO - ESAG FUNDAÇÃO ESAG / SECRETARIA DO ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO ADMINISTRAÇÃO E GERENCIAMENTO DA POLÍCIA JUDICIÁRIA PROGRAMA 5S O caso da 7ª Delegacia de Polícia da Capital do Estado de Santa Catarina. Veronice Schreiner Silva Florianópolis, dezembro de 1998 Agradeço a todos os profissionais que trabalham na 7a DPCAP pelo apoio e estímulo concedidos realização deste estudo durante a SUMÁRIO Agradecimentos ............................................................................................ 02 Lista de Quadros e Figuras .......................................................................... 04 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 05 1.1 Objetivos ................................................................................................. 07 1.2 Delineamento do estudo ......................................................................... 08 1.3 Organização dos Capítulos ..................................................................... 08 2 PROGRAMA DE QUALIDADE NO SETOR PÚBLICO .............................. 10 2.1 Proposta de implantação de um programa de qualidade para o setor público 19 2.2. O programa “5S” como ferramenta da qualidade................................... 23 3 METODOLOGIA ........................................................................................ 30 3.1 Perguntas de pesquisa ........................................................................... 30 3.2 Escolha da Instituição ............................................................................. 31 3.3 População e Amostra .............................................................................. 31 3.4 Instrumentos para coleta de dados ......................................................... 32 3.5 Técnicas de análise e estruturação dos dados ...................................... 36 4 A SECRETARIA DO ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA DE SANTA CATARINA E A 7ª DELEGACIA DA CAPITAL .............................. 38 4.1 Breve Histórico ........................................................................................ 38 4.2 Estrutura Organizacional ........................................................................ 42 5 APRESENTAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS ................. 45 5.1 Idéias Formuladas para o Programa 5S na 7ª DPCAP ........................... 45 5.2 Grau de alcance das etapas realizadas pelo programa 5S .................... 61 5.3 Importância atribuída ao Programa 5S ................................................... 63 5.4 Aspectos positivos do programa 5S ........................................................ 64 5.5 Aspectos negativos do programa 5S ...................................................... 65 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 68 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 70 8 ANEXOS ......................................... .......................................................... 72 LISTA DE QUADRO E FIGURAS Quadro 01 - Organização temática da Pesquisa Figura 01 - Organograma da Secretaria de Estado da Segurança Pública de Santa Catarina Figura 02 - Organograma da 7ª Delegacia de Polícia da Capital de Santa Catarina. 5 1 INTRODUÇÃO O mundo está passando por fases de mudanças muito rápidas em conseqüência, principalmente, das evoluções tecnológicas e sociais. A velocidade dessas mudanças tem ameaçado a sobrevivência das organizações, particularmente àquelas que não conseguem adaptar-se em tempo hábil e com competência aos novos padrões de tecnologia, produtividade e qualidade daí decorrentes. Este cenário, portanto, fez com que a cúpula das organizações públicas e privadas decidisse investir na pesquisa, no desenvolvimento e na aplicação de métodos e técnicas administrativas que minimizassem e/ou absorvessem o impacto dessas mudanças, garantindo, desse modo, a manutenção e sucesso de seus empreendimentos. Para enfrentar essas mudanças, as organizações estão buscando, dentre outras alternativas, o desenvolvimento e o gerenciamento de programas para a qualidade. Segundo Longo (1995) a gestão voltada para a qualidade total é uma opção de reorganização gerencial das organizações tendo como fundamentos básicos o foco no cliente, o trabalho em equipe envolvendo toda a organização, decisões baseadas em fatos e dados e na busca constante para a solução de problemas. Constata-se, porém, que os programas destinados a qualidade floresceram, em maior número, nas organizações industriais, cujo produto é de fácil mensuração, podendo ser enquadrado, com rigor, em padrões técnicos 6 preestabelecidos, propiciando agilidade no desenvolvimento e controle dos referidos programas. Em se tratando da qualidade nas empresas de serviços, dada a dificuldade em precisar o produto/serviço, os programas de implantação da qualidade não foram executados do mesmo modo, haja visto os estudos e a bibliografia disponível nesta área, que ainda se mostram reduzidos quando comparados com o volume de trabalhos e publicações que abordam a questão qualidade no setor industrial (Paladini, 1990; Monteiro, 1991). Salienta-se, ainda, as peculiaridades presentes nas organizações públicas nacionais tais como o corporativismo a descontinuidade administrativa o nepotismo e o jeitinho brasileiro (Barbosa, 1992), que dificultam a execução de quaisquer programas de reforma e modernização administrativa Contudo, nos últimos anos, vem ocorrendo por parte da sociedade e do próprio governo, uma grande demanda pela melhoria dos serviços públicos em geral. Com essa preocupação, em 1996, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de Santa Catarina (SSP/SC) começou a implantar um programa para a qualidade. Ressalta-se que para a implantação do citado programa, a SSP/SC optou por iniciá-lo a partir de cursos de sensibilização e educação para a qualidade dos dirigentes da instituição e para as carreiras operacionais (delegados, comissários e investigadores). Dando continuidade a este programa, em 1997 começou a ser desenvolvida uma das ferramentas da 7 qualidade - O PROGRAMA “5S” - tendo sua experiência piloto realizada na 7ª Delegacia de Polícia da Capital - 7ª DPCAP. Considerando-se que a 7ª DPCAP é um órgão de direito público e prestador de serviços de alta relevância para a comunidade, onde o programa da qualidade, ora em implantação, encontra-se na fase inicial, surgiu o interesse em investigar a seguinte questão: de que forma vem sendo implantado o Programa “5S” na 7ª DPCAP? 1.1 Objetivos Para conduzir a execução deste estudo foram estabelecidos objetivos de natureza geral e específicos apresentados a seguir: • Objetivo Geral: Verificar a implantação do Programa “5S” na 7ª Delegacia da Capital do Estado de Santa Catarina. • Objetivos Específicos: • Descrever os fundamentos básicos do programa “5S” discutido pelos estudiosos da área; • Levantar as etapas do Programa “5S” já efetivadas na 7ª DPCAP; • Identificar os aspectos positivos e negativos do Programa “5S” na 7ª DPCAP; 8 • Analisar a importância atribuída pelos funcionários da 7ª DPCAP ao Programa “5S”. 1.2 Delineamento do Estudo O presente trabalho caracteriza-se como um estudo de caso realizado na 7ª DPCAP, tendo como objeto de investigação o Programa “5S” ora em implantação. Nesta perspectiva, o “caso” funciona como “ponto de partida para uma análise que busque o estabelecimento de relações sociais mais amplas de um determinado objeto de estudo” (Franco, 1986: 37). Para tanto, utilizou-se uma abordagem qualitativa, onde o nível de pesquisa foi exploratório, uma vez que ainda é pequeno o acervo de conhecimento sobre programas da qualidade em serviço público. Caracteriza-se, também, como um estudo descritivo, já que o pesquisador procura descrever a realidade como ela é. 1.3 Organização dos capítulos No primeiro capítulo apresenta-se uma breve introdução, contendo uma visão geral sobre o problema de pesquisa, os objetivos pretendidos e as características da metodologia adotada. O segundo capítulo contempla os aspectos da qualidade no setor público, proposta de implantação de programa de qualidade e o Programa “5S” como ferramenta da qualidade. 9 O terceiro capítulo contém os procedimentos metodológicos adotados para a realização do estudo quais sejam: as perguntas de pesquisa que auxiliam no alcance dos objetivos desejados; a escolha da instituição e dos participantes; os instrumentos utilizados para a coleta de dados; e a estruturação dos conteúdos para descrição e análise do material coletado. No quarto capítulo descrevem-se alguns aspectos sobre o histórico e estrutura da Secretaria de Estado de Segurança Pública de Santa Catarina e da 7ª Delegacia de Polícia da Capital. O quinto capítulo apresenta e analisa de forma sistematizada os dados coletados pelos instrumentos e técnicas utilizadas. No sexto capítulo são apresentadas as considerações finais sobre o presente estudo. 10 2. PROGRAMA DE QUALIDADE NO SETOR PÚBLICO A preocupação com a qualidade tem existido desde o século XIII, onde as corporações formadas por negociantes e artesãos, denominadas de guildas, desenvolveram a formação profissional baseada no ensino aos aprendizes de ofícios. Os artesãos desempenhavam dupla função: tanto eram treinadores como inspetores e incorporavam qualidade em tudo aquilo que produziam. Por conhecerem bem seus negócios, produtos e clientes, sentiam orgulho do seu trabalho, como também, em treinar outros, imprimindo um trabalho de qualidade. Ressalva-se que todo esse cuidado com a qualidade estava amparado pelo governo que definia e estabelecia um padrão único de pesos e medidas para a sua concretização, e, na maior parte dos casos, uma só pessoa poderia inspecionar toda esta atividade, já que este padrão de qualidade somente poderia prosperar em um mundo pequeno e localizado, conforme Larousse (1992) e Salm (1996). Como a população mundial encontrava-se em ritmo crescente, requeria maior número de produtos. Surgia, então, com a Revolução Industrial, a produção em massa de bens manufaturados. Isto só se tornou possível, através da divisão do trabalho e da criação de peças intercambiáveis. A adoção de novas técnicas no trabalho criou problemas para aqueles que haviam se acostumado a desenvolver produtos sob medida. O novo sistema industrial emerge no final do século XIX e traz, no seu bojo, a Teoria da Administração Científica centrada nas idéias de Taylor, em 11 que a racionalização do trabalho proposta por este engenheiro, constituía-se, no início do século, no estudo de tempos, movimentos e cronometragem no trabalho, sendo o homem comparado a uma máquina. Com o objetivo de reduzir o máximo possível os movimentos desnecessários, economizando tempo e energia, este estudo desassociava a capacidade de elaboração da execução, ou seja, cabia ao trabalhador (operário) única e exclusivamente a responsabilidade pela execução do trabalho. Neste contexto, o operário era controlado exaustivamente pelas chefias, já que a ele competia somente a execução de uma atividade fragmentada. O produto final era resultado da soma de várias tarefas, exigindo do trabalhador a super especialização, tornando assim o trabalho mecânico e repetitivo. O filme “Tempos Modernos” de Charles Chaplin constituiu-se numa crítica à teoria da racionalização do trabalho, pelo seu excesso de rigidez, de especialização e de mecanização, segundo Chiavenato (1988). De acordo com Garvin, apud Vieira (1996) a qualidade enquanto conceito só foi reconhecida como uma “função gerencial” recentemente. O autor entende “que as abordagens da qualidade surgiram através de uma evolução regular compreendida em quatro “eras”: inspeção, controle estatístico da qualidade, garantia da qualidade e gestão estratégica da qualidade” (Garvin apud Vieira, 1996:21). A inspeção, que compreende a primeira era da qualidade, surge nos séculos XVIII e XIX, período da manufatura, onde quase tudo era produzido por artesãos, artífices e aprendizes e em pequenas quantidades. Esta 12 inspeção era feita após os produtos prontos e de maneira informal. A partir do século XX, a função dos supervisores ganhou legitimidade e a qualidade passou a ser percebida como responsabilidade gerencial. Entre 1920 e 1940, a Bell Systems e a Western Eletric, ambas empresas americanas, instituíram um departamento de engenharia de inspeção para tratar de problemas criados por defeitos em seus produtos e criar mecanismos de entrosamento entre seus departamentos. Gitlow (1993) cita a expressão garantia da qualidade, fazendo referências ao controle da qualidade como parte integrante da responsabilidade gerencial: “Esta abordagem reconhece que a boa qualidade não é acidental e que não resulta de mero desejo, mas sim de atividades planejadas e entrelaçadas de todas as áreas organizacionais da campanhia, que ela entra no projeto, engenharia, planejamento técnico e da qualidade, especificações, layouts de produção, normas ... e até em treinamento ... de pessoal administrativo, de supervisão e de produção. Esta abordagem propõe colocar um dos funcionários da companhia como responsável pelo programa de controle da qualidade em uma posição no mesmo nível do controller ou dos outros gerentes na operação. Seu objetivo seria a eliminação dos fatores intuitivos que no presente determinam tão intensamente a qualidade dos produtos de tantas companhias. Esta abordagem coloca um homem à testa do programa de controle da qualidade em posição para estabelecer e tornar efetiva uma política para toda a companhia com respeito à qualidade, para dirigir as ações a serem 13 executadas onde necessárias e para atribuir responsabilidades, onde convenientes, em cada caso.” (Gitlow, 1993:3) Campos (1992) aborda que o controle da Qualidade Total é um sistema administrativo aperfeiçoado no Japão, a partir de idéias americanas ali introduzidas logo após a Segunda Guerra Mundial. Segundo o autor acima citado, este controle é baseado em elementos de várias fontes: emprega o método cartesiano; aproveita muito o trabalho de Taylor; utiliza o controle estatístico de processos, cujos fundamentos foram lançados por Shewart; adota os conceitos sobre o comportamento humano lançados por Maslow e aproveita todo o conhecimento ocidental sobre qualidade, principalmente o trabalho de Juran. Em suma, o controle da Qualidade Total é um modelo administrativo montado pelo Grupo de Pesquisa do Controle da Qualidade da JUSE (Union of Japonese Scientist and Enginners). Gitlow (1993) comenta que Shewart proporcionou um método que controlava economicamente a qualidade num ambiente de produção em massa. Sua preocupação estava centrada nos vários aspectos do controle de qualidade. Em suas conferências, enfatizava sobre a importância de serem observadas as variações dos produtos que ocorriam em um processo, permitindo aos próprios funcionários controlarem os altos e baixos de sua produção. Na década de 30, Edwards Deming era funcionário público do Ministério da Agricultura dos Estados Unidos e, já formado em Matemática e Física, conheceu, nesta época, Shewart que trabalhava na Bell Systems. Desta 14 amizade resultaram as bases do Controle Estatístico da Qualidade e de toda a Metodologia Demming de Administração, (Monteiro 1991). Durante a guerra, Deming teve oportunidade de aplicar, ensinar e desenvolver suas teorias em algumas indústrias ligadas à produção em épocas de guerra. Sua intervenção foi de extrema importância para que ocorressem mudanças significativas na organização do trabalho. Na terceira era, a garantia da qualidade deixa de ser uma disciplina restrita à produção fabril, para tornar-se uma disciplina mais abrangente, adotando novos instrumentos, como: quantificação de custos da qualidade e controle total da qualidade. É na década de 60 que a qualidade passa a ter amplas implicações para o gerenciamento. A ênfase é dada a partir da prevenção de problemas. Uma das atribuições partiu de Joseph Juran, com o estudo dos reais custos dos defeitos. Até então, era preocupação de poucas empresas totalizar as despesas com produtos que apresentavam defeitos. Esta contribuição permitiu aos gerentes realizar uma programação de quanto seria destinado a investir na melhoria da qualidade. Monteiro (1991) ainda comenta que outra contribuição veio através do trabalho de Armand Feigenbaum sobre o “Controle da Qualidade Total”, expandindo o conceito de qualidade e incluindo a Qualidade do Projeto (desenvolvimento do produto), até a satisfação do consumidor. A qualidade seria obtida através do controle de processos (controle de novos projetos, de material recebido e de produtos) requerendo um trabalho organizado, em que todos os funcionários participassem das atividades da melhoria da qualidade. 15 Portanto, exigia envolvimento desde a alta gerência até funcionários, agindo cooperativamente. A última fase, a era da gestão estratégica da qualidade, surgiu a partir do momento em que uma nova visão dos principais executivos das empresas incorporaram novas perspectivas e passaram a se interessar pela qualidade como um fator de mercados mais avançados, visando à sobrevivência das organizações. Apesar das mudanças ocorridas nas fases anteriores, a “qualidade ainda era buscada através da prevenção de defeitos” (Vieira, 1996:22). Com a introdução da gestão estratégica da qualidade, esta visão foi modificada: “Quando as gerências de alto nível hierárquico passaram a envolver-se com a qualidade, não apenas buscando a produção sem defeitos, como ocorria nas fases anteriores, mas definindo a qualidade do ponto de vista do cliente. Assim, os clientes, e não mais os departamentos internos, passaram a definir se um produto é aceitável ou não.” (Garvin apud Vieira, 1996:22). A segunda Guerra Mundial acelerou a investigação da tecnologia da qualidade. A necessidade de melhorar a qualidade dos produtos, teve início no Japão, quando seus produtos eram conhecidos, principalmente, por sua qualidade inferior. Vieira (1996) relata que com o término da guerra em 1945, o Japão estava derrotado, com sua economia completamente comprometida. As indústrias pesadas foram destruídas, a moeda encontrava-se em total declínio, 16 o povo humilhado e sob o comando de um exército de ocupação. O país contava seus mortos, que somavam setecentos mil e somente a cidade de Kioto tinha sido poupada da total devastação. As redes de comunicações eram de baixa confiabilidade e o controle de qualidade foi utilizado para aperfeiçoar seus equipamentos de comunicação. Nesta fase, os conceitos de Deming, Juran e Feingenbaum foram largamente utilizados, pois os japoneses precisavam reconstruir seu país, duramente devastado pela guerra, necessitando aperfeiçoar métodos de produção que viessem reverter o quadro caótico a que estava submetido. Até o final de 1945, sua qualidade limitava-se à inspeção. Vieira (1996), diz que a partir deste momento as mudanças começaram a ocorrer, estimuladas pelos norte-americanos, que ocupavam o país num movimento pela sua “reconstrução”. Vieira (1996) salienta que o sistema de Gestão do Controle da Qualidade Total como inovação tecnológica, apesar de sua origem não ter sido gerada no Japão, foi neste país onde encontrou as condições propícias para o seu desenvolvimento e aperfeiçoamento. Deming esteve no Japão em 1947, após ser recrutado pelas forças de ocupação para planejar o Censo Japonês, que iria acontecer em 1951. Retornou em 1950, quando foi convidado pela JUSE (União Japonesa dos Cientistas e Engenheiros) a introduzir a estatística no controle de qualidade aos líderes industriais do Japão, empenhados em reconstruir o país no pósguerra. 17 A preocupação dos líderes estava em conquistar mercados estrangeiros e reverter a reputação que o Japão tinha de fabricar produtos de má qualidade. Deming, com seus ensinamentos, convenceu-os de que através da adoção de seus métodos, a qualidade dos produtos japoneses poderia tornar-se a melhor do mundo. Para a época suas teorias e métodos soavam de maneira estranha, indicando uma ruptura com as formas tradicionais de administração. Ao expor suas idéias, Deming demonstrou, aos empresários, um fluxo que ligava fornecedor ao consumidor, convencendo-os que sua responsabilidade era agregar qualidade à matéria-prima e sobretudo pensar no cliente, como parte mais importante do processo de produção, Monteiro (1991). Vieira (1996), retrata que em 1954, Joseph Juram esteve no Japão para expor seu conhecimento, conduzindo inúmeros seminários para a alta e média gerência, enfatizando a importância do planejamento, o fluxo organizacional, a responsabilidade gerencial para a qualidade e a necessidade de estabelecer metas e objetivos para o melhoramento. Juran introduziu novos conceitos sobre as atividades de controle de qualidade, modificando a visão dos industriais no que tange as atividades relativas à qualidade baseados nos aspectos tecnológicos, ultrapassando-os e incorporando uma nova fase onde a preocupação com a “qualidade é global e holística em todos os aspectos do gerenciamento e em toda a organização”, de acordo com Gitlow, (1993). Hoje, parece que não existe mais dúvidas sobre se a implantação de um programa de qualidade é bom ou não. Pelo menos, em termos de mercado americano, boa parte das empresas, nos mais variados setores, já adotaram 18 alguma forma de círculos de qualidade, qualidade total, gestão baseada em equipes, ou alguma combinação entre estes modelos. Prova disto, está na febre de certificação das normas ISO 9.000, o que poderia indicar que as organizações estão cada vez mais “qualificadas”, ou seja, trabalham com melhor qualidade. No Brasil a bandeira nacional da qualidade foi reiniciado com muita força em 1996, com o Programa de Qualidade no Setor Público - processo que havia sido iniciado no Governo Collor e interrompido pelo impeachment. Para este Programa houve uma mudança do Conselho Nacional de Qualidade, que visou estender os conceitos de qualidade para todo o setor público. Ao reintroduzir a qualidade total na área federal, o ministro da Administração e Reforma do Estado, Bresser Pereira, proporcionou, quem sabe, um salto expressivo naquele que está sendo considerado um importante movimento de mudança de padrão cultural em vigor no país. Vale ressaltar que a implantação de programas de qualidade no setor público do país, tem sido coordenada pelo “guru da qualidade no Brasil”, o professor Vicente Falconi Campos, da Fundação Cristiano Ottoni (ligada à Escola de Engenharia da UFMG). A partir da metodologia utilizada por Falconi, gradativamente, o setor público começou a ocupar espaços, cada vez maiores, nos seminários desenvolvidos pela Fundação Crstiano Ottoni. Para Campos (1992) a qualidade não acontece por acaso. É um contínuo envolvimento de pessoas que, no início parece inócuo, mas no decorrer do tempo, e se o processo for continuamente estimulado, apresenta resultados crescentes e cada vez mais surpreendentes. 19 Antes da implantação de um programa de qualidade, é fundamental que os dirigentes entendam que estes programas tratam do comportamento das pessoas e, portanto, levam tempo. O planejamento para programas de qualidade deve incluir metas, treinamento, metodologia a ser aplicada, velocidade de implantação, áreas a serem abordadas e pessoas a serem envolvidas. 2.1 Proposta de implantação de um programa da qualidade Campos (1992) diz que a implantação de um programa da qualidade é um processo de aprendizado e, portanto, não deve ter regras muito rígidas, mas estar adaptadas às necessidades, usos e costumes da instituição. Um programa da qualidade deve ser visto como o aperfeiçoamento do gerenciamento já existente. Segundo Campos (1992) alguns pontos básicos devem ser observados: a) TQC é implantado pela linha de cima para baixo (top-down). Esta implantação é assistida pelo “Escritório de TQC”; b) A implantação do TQC é de responsabilidade indelegável do Presidente da Instituição. Se ele não perceber a necessidade do TQC, a sua implantação é impossível; c) A implantação do TQC é um processo de mudança comportamental e cultural e, portanto, é baseada num treinamento; grande esforço de educação e 20 d) Nunca implante o TQC sem a orientação contínua de instituição qualificada e credenciada. Um plano de implantação de programa da qualidade deve conter as seguintes grandes linhas: a) Preparação para implantação: a fase de preparação para implantação do programa da qualidade pode envolver várias fases: • Conceituação e definição do princípio da qualidade para a instituição; • Criação do grupo de trabalho responsável pela concepção do plano preliminar e a elaboração do plano definitivo, contendo sua estratégia de implantação e a definição dos recursos necessários; • Enunciado das políticas institucionais fundamentais e essenciais para o programa, em consonância com o planejamento estratégico dos setores envolvidos; • Escolha e adequação da metodologia. b) Divulgação do programa: o objetivo principal desta etapa é o estabelecimento de um sub-projeto que oriente as estratégias de divulgação e disseminação da cultura da qualidade junto ao público interno e externo à instituição; c) Educação e Treinamento para a Qualidade: Compreende o processo de sensibilização conscientização e capacitação dos empregados para a internalização e adoção da política da qualidade nos procedimentos e processos; 21 d) Gerenciamento humano: esta etapa, fundamental para o êxito do programa, compreende o desenvolvimento de projetos específicos que atendam às necessidades dos empregados e, consequentemente, a promoção da melhoria de sua qualidade de vida; e) Gerenciamento da Rotina: Compreende o reexame das funções, dos métodos e dos instrumentos de trabalhos rotineiros, no sentido de identificar, com mais precisão, as necessidades dos usuários, buscando a melhoria contínua dos serviços e do ambiente de trabalho mediante a avaliação dos processos e padronização das rotinas; f) Gerenciamento pelas diretrizes: trata-se da adequação do gerenciamento funcional ao planejamento estratégico com o objetivo de compatibilizá-lo com as diretrizes estabelecidas; g) Gerenciamento do programa de implantação: compreende a monitoração, através de indicadores preestabelecidos, observando-se os resultados obtidos na implantação e adotando possíveis ações corretivas. O gerenciamento da rotina é o momento da implantação do programa da qualidade que as pessoas envolvidas, após sensibilizadas e treinadas, partem para execução. Esta fase da implantação do programa é também descrita, pelas pessoas envolvidas, como a mais difícil, já que após sensibilizadas e treinadas em longos seminários, elas retornam para seus departamentos e buscam a melhor forma de iniciar o programa em seus setores. 22 Alguns grupos optam por começar a fase do gerenciamento da rotina a partir da definição da função e missão da instituição, bem como a identificação de clientes, fornecedores, serviços e produtos. Entretanto, observam-se também instituições que ao implantarem um programa da qualidade, antes de passarem pela fase do gerenciamento da rotina, optam pela utilização de umas das ferramentas da qualidade: o programa “5S”. 2.2 O Programa “5S” como ferramenta da Qualidade. O “5S” é uma ferramenta da qualidade que atinge todas as pessoas de uma instituição, do presidente aos operadores, para as áreas administrativas, de serviço, de manutenção e de manufatura. Segundo Campos (1992), este programa deve ser liderado pela alta administração da empresa e é baseado na educação, treinamento e prática em grupo. O Programa “5S”, desenvolvido no Japão, é um método prático e simples que visa obter um local de trabalho ordenado, limpo e saudável constituindo alicerce ideal para a implantação da qualidade total. Logo após a Segunda Guerra Mundial, na reconstrução do Japão, onde a sujeira tomava conta das fábricas, os empresários precisavam de um plano de educação em que os próprios operários organizassem o seu local de trabalho, sendo que a prática do “5S” foi um excelente meio de conseguir a reestruturação do país devastado pela guerra. 23 O “5S” é, na realidade, a base do gerenciamento da rotina no treinamento da qualidade total, pois é um passo fundamental para “lubrificar” as interfaces entre os subsistemas máquina/procedimento/homem, sendo que, não existe Qualidade Total em um ambiente sujo, com baixo moral, desordenado, onde o desperdício é culturalmente aceito, de acordo com Campos (1992). O termo “5S” provém de cinco palavras que em japonês começam com a letra “S”. Na tradução destes termos do japonês para o inglês, conseguiu-se encontrar palavras que iniciassem com “S” e que tinham o significado aproximado da palavra original. Porém, o mesmo não ocorreu com a tradução para o português. A melhor forma encontrada para expressar a profundidade do significado destes termos foi acrescentar o termo “Senso de” antes de cada palavra em português que mais se aproximasse do termo original, abaixo descrito: S 1º JAPONÊS Seiri INGLÊS Sorting 2º Seiton Systematyzing 3º Seisou Sweeping 4º Seiketsu Sanitizing PORTUGUÊS Utilização Senso de Arrumação Organização Seleção Ordenação Senso de Sistematização Classificação Limpeza Senso de Zelo Asseio Senso de 24 5º Shitsuke Self-disciplining Senso de Higiene Saúde Integridade Autodisciplina Educação Compromisso (Lapa, 1998: 2) 25 1º “S” - SENSO DE UTILIZAÇÃO - Ter Senso de Utilização, é identificar materiais, equipamentos, ferramentas, utensílios, informação e dados necessários e desnecessários, descartando ou dando a devida destinação àquilo considerado desnecessário ao exercício das atividades, à eliminação de tarefas que não agregam valor ao trabalho, conforme define Silva (1994:15). No sentido mais amplo, o Senso de Utilização abrange ainda outras dimensões. Por exemplo, ter senso de utilização “é preservar consigo apenas os sentimentos valiosos como amor, amizade, sinceridade, companheirismo, compreensão, descartando aqueles sentimentos negativos e criando atitudes positivas para fortalecer e ampliar a convivência apenas com sentimentos valiosos”, (Lapa, 1998: 4). 2º “S” - SENSO DE ORDENAÇÃO - Ter Senso de Ordenação é definir locais apropriados e critérios para estocar, guardar e dispor materiais, equipamentos, ferramentas e utensílios, informações e dados de modo a facilitar o seu uso e manuseio, facilitar a procura, localização e guarda de qualquer item. As vantagens de uma boa ordenação e comunicação visual são, principalmente: diminuição do cansaço físico por excessiva movimentação; economia de tempo e facilidade de tomada de medidas emergenciais de segurança sob pressão. Na dimensão mais ampla, ter Senso de Ordenação “é distribuir adequadamente o seu tempo dedicado ao trabalho, ao lazer, à família, aos amigos. É ainda não misturar suas preferências profissionais com as pessoais, 26 ter postura coerente, serenidade nas suas decisões, valorizar e elogiar os atos bons, incentivar as pessoas e não somente criticá-las”, (Lapa, 1998: 5). 3º “S” - SENSO DE LIMPEZA - Ter Senso de Limpeza é eliminar a sujeira ou objetos estranhos para manter limpo o ambiente (parede, armários, o teto, gaveta, estante, piso) bem como manter dados e informações atualizados para garantir a correta tomada de decisões. “O mais importante neste conceito não é o ato de limpar mas estar consciente para as vantagens de não sujar. Visa, principalmente, à criação e manutenção de um ambiente físico mais agradável”, (Silva, 1994:15). No sentido japonês do termo, o conceito estende-se à limpeza das falhas humanas que são laváveis, isto é, aquelas não muito graves. 4º “S” - SENSO DE SAÚDE - refere-se à preocupação com a própria saúde nos níveis físico, mental e emocional. Portanto, além de exercer os três primeiros sensos como forma de melhorar continuamente o ambiente físico de trabalho, a pessoa deverá ter plena consciência dos outros aspectos que afetam a própria saúde e agir sobre eles, ou seja, garantir um ambiente não agressivo e livre de agentes poluentes, segundo Silva (1994) Significa, ainda, ter comportamento ético, promover um ambiente saudável nas relações interpessoais, sejam sociais, familiares ou profissionais, cultivando um clima de respeito mútuo nas diversas relações. 5º “S” - SENSO DE AUTODISCIPLINA - Lapa (1988) diz que: “Ter Senso de Autodisciplina é desenvolver o hábito de observar e seguir normas, regras, procedimentos, atender especificações, sejam elas escritas ou 27 informais. Este hábito é resultado de força mental, moral e física. Poderia ainda ser traduzido como desenvolver o “querer de fato”, “ter vontade de”, “se predispor a”, (Lapa, 1998: 6). Não se trata pura e simplesmente de uma obediência cega, submissa, como pode parecer. É importante que seu desenvolvimento seja resultante do exercício da disciplina inteligente demonstrando respeito a si próprio e aos outros. Ter Senso de Autodisciplina significa ainda, segundo o mesmo autor, “desenvolver autocontrole (contar sempre até dez), ter paciência, ser persistente na busca de seus sonhos, anseios e aspirações, respeitar o espaço e a vontade alheios”, (Lapa, 1988: 6). A implantação do Programa 5S em uma organização deve seguir um lema: “NÃO COMPRE 5S FEITO. FAÇA-O”. Essa frase foi extraída da obra “As sete chaves para o sucesso do 5S” (Umeda, 1997: 2) onde o autor deixa claro que existe uma linha (metodologia) a ser seguida no momento de se elaborar um bom plano de implantação do 5S, mas ela deve servir apenas de referencial, uma vez que cada organização deverá elaborar o seu próprio plano, respeitando as suas características e peculiaridades. Segundo o autor todo plano deve conter: “A fase compreendida entre a decisão da introdução do 5S e o pontapé inicial, estrutura organizacional para a introdução, preparação de materiais didáticos a serem utilizados no treinamento, execução do treinamento, atividades concretas a serem desenvolvidas, avaliação dos 28 resultados e estudos quanto ao modo de dar prosseguimento ao programa 5S”, (Umeda, 1997: 5). Acrescenta ainda, que todo plano deve ser sintetizado em forma de um cronograma geral e outro cronograma mais detalhado que deverá ser elaborado posteriormente em função da necessidade. Para Silva (1994) o importante é montar um plano que não entre em choque com a cultura local e que, ao contrário, permita que a mudança ocorra a partir da base preexistente, sem rupturas desestabilizadoras. A primeira orientação desse autor é que a decisão de implantar o “5S” por toda organização cabe somente a alta administração, que deve seguir ações de ordem bem práticas, do tipo: • “emitir documento reforçando a visão, crenças, estratégias, diretrizes e metas da organização e solicitando a cada empregado o seu comprometimento com o 5S; • demonstrar o seu próprio comprometimento com o programa, aplicando o 5S no seu escritório e solicitando que os demais níveis hierárquicos acima dos supervisores façam o mesmo; • permitir que o Comitê de Implantação do 5S documente a situação antes e depois para divulgação do exemplo; • ....” (Silva, 1994: 60). 29 Como segundo passo, viria o registro da situação atual da organização, antes mesmo da elaboração do plano de implantação, visando a criação de material para a sensibilização do corpo gerencial e dos funcionários. Em seqüência, viria a sensibilização, educação e treinamento dos gerentes e funcionários. O autor sugere que na elaboração do plano de implantação, seja utilizada a ferramenta 5W1h (what, who, how, where, why e when) ou seja, sintetizando o planejamento com formulário de perguntas e respostas (o que fazer? Quem ? Como fazer? Onde fazer? Porque fazer? E quando fazer? ). Feito o plano, parte-se para a ação, implantando o programa, que deverá ser seguido , obrigatoriamente, da fase de avaliação do programa, pelos diversos níveis hierárquicos, sendo aconselhado também a auto- avaliação. Ribeiro (1994) alega que a própria cúpula deverá ser muito bem sensibilizada, uma vez que geralmente não parte dela a idéia da implantação do programa. As demais fases seguem os autores anteriormente citados, o que Ribeiro (1994) trás de novidade é que após a fase de avaliação deve-se elaborar um plano de manutenção, que deverá ser executado, monitorado e revisado constantemente, seguindo o princípio da melhoria contínua. 30 3 METODOLOGIA Tendo em vista que esta pesquisa foi delineada como um estudo de caso do tipo descritivo-exploratório, numa abordagem qualitativa, tornou-se necessário a execução de certos procedimentos e a utilização de técnicas para coleta e análise dos dados obtidos, apresentados no decorrer deste capítulo. 3.1 Perguntas de Pesquisa Para facilitar o alcance dos objetivos pretendidos pelo estudo, os cientistas sociais sugerem a elaboração de perguntas que orientem o pesquisador durante o trabalho de investigação. Assim sendo, foram elaboradas as seguintes perguntas norteadoras da pesquisa: • Como ocorreu a implantação do Programa “5S” na 7ª DPCAP? • Quais os aspectos positivos que facilitaram a implantação do Programa “5S” na 7ª DPCAP? • Quais os aspectos negativos que limitaram a implantação do programa “5S” na 7ª DPCAP? • Qual a percepção dos funcionários da 7ª DPCAP em relação ao programa “5S”? 31 3.2 Escolha da Instituição Face ao interesse da pesquisadora em investigar programas direcionados para a qualidade em organização públicas e prestadoras de serviços, decidiu-se por estudar a 7ª DPCAP, por atender aos seguintes requisitos considerados necessários: • Ser um órgão público de prestação de serviços; • Desenvolver uma experiência piloto do Programa “5S”; • Ter contado com a participação da pesquisadora no desenvolvimento do Programa “5S”; • Facilitar o acesso a dados e informações sobre a implantação do programa “5S”. 3.3 População e amostra A população deste estudo compõe-se dos sujeitos que fazem parte do corpo administrativo da 7ª DPCAP, que totaliza 27 funcionários. Richardson (1989) define população como um conjunto de elementos que possue determinadas características condizentes com o que se quer estudar. Neste caso, todos os sujeitos são funcionários da instituição selecionada e participaram do programa “5S”. Considerando-se o tipo de abordagem adotada pela pesquisa optou-se, também, por utilizar uma amostra intencional, para fins de entrevista, cujos critérios adotados foram: 32 • Pertencer a uma das cinco equipes (direção, cartório, investigação, plantão e expediente) de trabalho que compõe a organização funcional de todas as unidades da polícia civil no Estado de Santa Catarina; • Atuar há mais de dois anos na 7ª DPCAP, sendo o tempo de serviço considerado um indicador relevante de vivência e experiência funcional dentro da unidade observada. Dessa forma oito sujeitos fizeram parte da amostra selecionada. Convém destacar que nos estudos qualitativos a quantidade da amostra não é relevante e sim a qualidade que a amostra representa para o desenvolvimento da pesquisa, assinala Franco (1986). 3.4 Instrumentos para a coleta de dados Considerando-se os objetivos do presente estudo e o tipo de abordagem empregada, foram utilizados os seguintes instrumentos para a coleta de dados, descritos a seguir: entrevista, observação direta, questionário, pesquisa bibliográfica e análise documental • Entrevista A entrevista é um instrumento de grande importância para pesquisadores qualitativistas. Segundo Triviños (1987) a entrevista, além de valorizar a presença do investigador, oferece as perspectivas necessárias para 33 que o pesquisado tenha liberdade e espontaneidade, o que enriquece o estudo num enfoque qualitativo. A técnica de entrevista utilizada foi a semi-estruturada, tendo por base um roteiro previamente elaborado (anexo 1) conforme os objetivos do trabalho, as leituras sobre o tema e os contatos mantidos com os entrevistados. Foram realizadas oito entrevistas com duração média de 30 minutos cada, gravadas na íntegra com a permissão dos respondentes. O local de realização destas ocorreu nas dependências da 7ª DPCAP durante a primeira semana do mês de dezembro de 1998. • Observação direta Durante o desenvolvimento das entrevistas foram observados e anotados diversos aspectos considerados significativos sobre o ambiente físico e o comportamento dos pesquisados. Alguns autores como Thiollent (1986), Triviños (1987) e Luna (1997) afirmam que a observação direta é a forma mais simples de observação e envolve o reconhecimento e o registro de comportamento e fatos do contexto em investigação. A observação, portanto, tornou-se relevante a partir do momento em que incentivou a pesquisadora a verificar a realidade com muita cautela, buscando constatar se os dados e informações coletados representavam a realidade da 7a DPCAP. • Pesquisa Bibliográfica 34 A leitura e análise do material bibliográfico sobre o tema em estudo propiciou a pesquisadora o aprofundamento teórico necessário a elaboração da fundamentação teórica, considerada essencial para todo o processo da pesquisa aqui relatada. Foram consultados e referenciados livros, relatórios de pesquisa e artigos publicados em periódicos especializados que enfatizassem a qualidade em serviços públicos. • Análise documental A análise documental consiste em uma série de operações que visa estudar e analisar um ou vários documentos para identificar as circunstâncias históricas, sociais, políticas e econômicas que envolvem o objeto em estudo. Assim sendo, foram consultados arquivos históricos, documentos internos e externos referentes a 7ª DPCAP, diário de ocorrência e atas de reuniões possibilitando maior conhecimento sobre a unidade pesquisada e a implantação de seu programa “5S”. • Questionário Tendo em vista a necessidade de analisar as etapas realizadas do programa “5S” desenvolvido pela 7º DPCAP, decidiu-se acrescentar, também, o uso do questionário. Convém lembrar que os questionários e as entrevistas são instrumentos constituídos por perguntas (ou indagações) cujas respostas forneçam os 35 dados e/ou informações necessárias para alcançar os objetivos que se pretendam alcançar com a pesquisa. A diferença básica entre ambos, assinala Rudio (1998), é que o questionário contém perguntas por escrito e o pesquisado (ou informante) também responde por escrito, enquanto que nas entrevistas, as perguntas são feitas oralmente e as respostas, em geral, são registradas pelo entrevistador. Neste estudo, foi aplicado um questionário aos 27 funcionários da 7º DPCAP para verificar o grau de alcance das cinco etapas constantes do programa “5S”. Para cada uma das etapas (senso de utilização, senso de ordenação, senso de limpeza, senso de saúde e senso de auto-disciplina) elaborou-se cinco questões fechadas em que o respondente foi solicitado a assinalar com um X o grau de alcance resultante do programa “5S”, numa escala de falso até verdadeiro (anexo 2). Para explicar a importância e a forma de preenchimento do questionário, a pesquisadora realizou reuniões com todos os funcionários da 7ª DPCAP, o que garantiu a devolução corretamente preenchida de todos os questionários. A aplicação deste instrumental ocorreu na 2ª semana do mês de novembro de 1998. 3.5 Técnicas de análise e estruturação dos dados. 36 Tendo em vista os objetivos do estudo e as características delineadas para seu desenvolvimento a entrevista foi considerada o instrumento de maior importância. Para organizar e interpretar os conteúdos obtidos pelas entrevistas, utilizou-se o método de análise de conteúdo, que consiste em um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando compreender melhor um discurso, aprofundar suas características e extrair os momentos mais significativos, mediante procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens e de indicadores que permitam inferir conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (Bardin, 1977; Richardson, 1985; Triviños, 1987; Vieira 1986). Segundo Grawitz (1975), a análise de conteúdo consiste em substituir o impressionismo, dependente das qualidades pessoais do pesquisador, por procedimentos padronizados. Trata-se, portanto, de converter os registros coletados em informações que possam ser tratados cientificamente. Nesta direção, os relatos coletados foram transcritos na íntegra sem identificar os respondentes, conforme desejo manifestado pelos mesmos. Assim, para fins de registro e citação, atribuiu-se uma letra do alfabeto para cada um dos sujeitos pesquisados. Em seguida, foi realizada uma leitura mais aprofundada do material e destacado os trechos comuns e mais expressivos das falas dos entrevistados. Neste caso, optou-se pela estruturação dos conteúdos a partir do tema central, dividido em subtemas, definidos a partir das consultas bibliográficas e 37 dos objetivos pretendidos pela pesquisa. Esta etapa permitiu destacar e classificar os subtemas possibilitando ordená-los conforme o quadro 01 que se segue. Quadro 01: Organização temática da pesquisa TEMA • Programa “5S” na 7ª DPCAP SUBTEMA • Idéias formuladas • Grau de alcance das etapas realizadas • Importância atribuída • Aspectos positivos e negativos Ressalta-se que a classificação temática elaborada permitiu não só organizar os resultados dos conteúdos das entrevistas, como também, os resultados obtidos pelos questionários e pela análise documental. Quanto ao questionário, aplicado neste estudo, a técnica utilizada para registro dos resultados foi a tabulação simples (anexo 3). A análise dos dados foi realizada de forma descritiva em torno da percepção dos respondentes em relação ao grau de alcance das etapas do programa “5S” na 7ª DPCAP. Finalmente, para conduzir o processo de análise e discussão do conjunto de dados obtidos nas fontes consultadas, utilizou-se a técnica de triangulação, que segundo Triviños (1987) possibilita ao pesquisador abranger a máxima amplitude na descrição, explicação e compreensão do problema em estudo. Sua operacionalização decorre da confrontação e interpretação das diversas informações coletadas pelo investigador. 4 A SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA DE SANTA CATARINA E A 7ª DELEGACIA DA CAPITAL. 38 Neste Capítulo, apresentar-se-ão, de forma sintetizada, o histórico e algumas características da Secretaria de Estado da Segurança Pública de Santa Catarina (SSP-SC), a criação da 7ª Delegacia Policial da Capital (7ª DPCAP), destacando-se, ainda, a estrutura organizacional destas instituições. 4.1 Breve Histórico A edição histórica do Estatuto da Polícia Civil do Estado de Santa Catarina, elaborada pelo Delegado Felipe Genovez (1998), apresenta sete fases descritas a seguir: A primeira corresponde a fase dos Intendentes Gerais de Polícia da Capitania de Santa Catarina, onde o Alvará de 10 de maio de 1808, de D. João VI, criou, na sede do Reino e nas Capitanias, as Intendências Gerais de Polícia. A Intendência Geral de Polícia de Santa Catarina viria a funcionar mais tarde, durante o Governo de D. Luiz Maurício da Silveira (1805-1817), quando D. João VI nomeou o 1º Juiz de Fora da Capitania de Santa Catarina. De 1825 a 1834, Santa Catarina não possuía mais Intendentes de Polícia. Esta função ficou a cargo dos Presidentes da Província que comandavam diretamente as autoridades policiais, isto é, os Juizes de Paz. “A investidura de funções policiais aos juizes de paz, logo de início mostrou-se vulnerável (...). Os juizes de paz (cargo eletivo) envolviam-se em conflitos eleitorais e muitas vezes mostravam-se comprometidos e parciais nas suas decisões, demonstrando que não estavam preparados para assumir misteres policiais (...)“, (Genovez, 1998: 58). 39 Na segunda fase, aparece a figura dos Chefes de Polícia da Província de Santa Catarina, com origem no Código de Processo Criminal do Império, datado de 1832, que registrava o cargo de Chefe de Polícia diretamente subordinado ao Presidente da Província, sendo ocupado, obrigatoriamente, por uma comissão composta por magistrados, doutores e bacharéis em Direito, com a função de vigiar e providenciar tudo relacionado com a prevenção dos delitos, manutenção da segurança e da tranqüilidade pública. O Decreto 120, de 31 de janeiro de 1842, que regulamentou o Código de Processo Penal do Império, cria o art. 10, a Delegacia de Polícia como hoje se conhece, determinando que “Na Corte e nas capitais das Províncias, mencionadas no art. 5º, haverá uma casa privativamente destinada para o expediente ordinário da polícia”. (Thomé, 1997: 16) A terceira fase surge com a Lei n. 105, de 19 de agosto de 1891, no Governo de Gustavo Richard, que extinguiu a Chefia de Polícia e em seu lugar criou a Prefeitura de Polícia. Na primeira década do século XX, no Governo de Vidal Ramos, é extinta a Prefeitura de Polícia e em seu lugar é criada a Chefatura de Polícia. Esta quarta fase dura até 1935. A quinta fase iniciou quando o interventor Federal Nereu Ramos, instituiu a Secretaria dos Negócios da Segurança Pública, através da Lei n. 12, de 12 de novembro de 1935, sendo o primeiro Secretário de Segurança Pública, o Juiz de Direito de Laguna, Claribalte Vilarim de Vasconcelos Galvão. 40 As origens da Pasta da Segurança Pública surgiram nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo e foram trazidas para o Estado pelo então Governador Nereu Ramos. A sexta fase, acontece durante o regime militar, no início da década de setenta, quando o Governador Ivo Silveira alterou a denominação da Secretaria dos Negócios da Segurança Publica para Secretaria de Segurança e Informações. Essa alteração ocorreu em razão da Lei n. 4.547/70, que em seu art. 38, inciso IX, dispõe que a esta nova Secretaria competia desenvolver atividades de manutenção da ordem, segurança interna e informações no âmbito do Estado. Com a edição do Decreto n.º 19.378/83, surge a sétima fase, onde a Secretaria de Segurança e Informações passou a denominar-se Secretaria de Segurança Pública - SSP. Heitor Sché, ex-Deputado Estadual e Delegado de Polícia, declarou para a imprensa, que quando nomeado Titular da SSP (início do Governo Esperidião Amin, 1982), quis mudar a doutrina que norteava as polícias, procurando superar o período da ditadura militar, conforme registra Genovez (1998). Para tanto, afirmou que alterou a denominação da carreira de Analista de Informações para Inspetor de Polícia. A tentativa do ex-Secretário em mudar a doutrina que norteava as polícias, no período de exceção, foi louvável, porém, não se muda a cultura de uma organização alterando-se somente denominações de órgãos e cargos, e sim com ações voltadas para a educação, o que só veio a acontecer treze anos depois, quando a Academia da Polícia Civil introduziu em seu curriculum as disciplinas de Direitos Humanos e Qualidade no Serviço Policial. 41 Hoje a referida Secretaria denomina-se Secretaria de Estado da Segurança Pública, conforme disposição constante no art. 12, da Lei n. 8.240/91. A Unidade policial pesquisada, 7ª Delegacia de Polícia da Capital, foi criada pelo Decreto n.º 19.273, de 11 de abril de 1983, mas implantada e inaugurada no dia 08 de setembro de 1984, com o efetivo de dez policiais civis, sendo um delegado de polícia (Delegado Artur José Regis Neto), oito comissários de polícia e um escrivão policial. A jurisdição do 7º Distrito Policial da Capital foi estabelecida pela Portaria n. 392/SSP, situando-o em Canasvieiras, mas beneficiando também as localidades de Praia do Forte, Daniela, Jurerê, Ponta das Canas, Cachoeira do Bom Jesus, Ingleses, São João do Rio Vermelho, Santinho, Vargem Pequena, Vargem Grande e Ratones. Os jornais da época noticiaram com bastante destaque a implantação da nova delegacia, demonstrando que esta era uma reivindicação da comunidade: “Considerada até então uma das regiões mais assoladas pela criminalidade na capital - registrando freqüentes assaltos aos turistas durante o verão e, fora de temporada, com saques diários contra as residências desocupadas - as praias do Norte da Ilha passarão a contar com policiamento permanente, ...” (Jornal O Estado, 07.09.84). “ (...) O DP foi instalado para atender todas as ocorrências registradas nas praias do norte da ilha e, durante a temporada de veraneio, controlar a 42 incidência criminal que aumenta assustadoramente. (...)” (Jornal de Santa Catarina, 09 e 10.09.84). 4.2 Estrutura Organizacional A lei n.º 9.831/95 estipulou a estrutura administrativa do Governo do Estado de Santa Catarina e manteve a Secretaria de Estado de Segurança Pública (SSP/SC) como órgão executor de polícia voltado para a segurança da comunidade. Dentro do cronograma da SSP/SC encontra-se a Polícia Civil configurada como uma instituição descentralizada e regida por Estatuto e Regimentos próprios (figura 1). 43 44 A 7ª DPCAP é uma unidade policial subordinada a Delegacia Geral da Polícia Civil e a Secretaria de Estado da Segurança Pública. Atualmente, 27 policiais civis prestam serviço na 7ª DPCAP distribuídos nos seguintes cargos: delegado de polícia - 2; inspetor de polícia - 1; Escrivão de polícia - 3; comissário de polícia - 7; investigador de polícia - 13; escrevente policial - 1, conforme organograma apresentado na figura 2. Figura 02 - Organograma da 7ª Delegacia da Capital de Santa Catarina Delegado Titular Delegado Adjunto Inspetor de Polícia 7 Comissários de Polícia 3 Escrivães de Polícia 13 Investigadores Policiais 1 Escrevente Policial A estrutura apresentada reflete o conjunto de atividades que caracterizam o funcionamento das unidades policiais de todo estado e que se compõe das seguintes funções: direção, cartório, investigação, plantão e expediente. 45 5 APRESENTAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS Este Capítulo descreve as idéias formuladas para o programa “5S” e seu grau de alcance a partir dos dados obtidos pelos questionários. Apresenta, ainda, os resultados da análise da importância do referido programa e de seus aspectos positivos e negativos com base nas informações das entrevistas realizadas. 5.1. Idéias formuladas para o Programa “5S” na 7ª DPCAP. O programa “5S” na 7ª DPCAP pode ser caracterizado como uma das etapas que compõe o Programa de Qualidade Total implantado pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de Santa Catarina, (SSP-SC). A idéia de implantação de um programa de qualidade na SSP/SC está vinculada à necessidade de promover a transformação da administração pública, de forma a viabilizar a prestação de mais e melhores serviços à sociedade. A metodologia concebida propõe diversas etapas para viabilizar o plano geral de implantação, a saber: 1. Mobilizar para implantar o Programa da Qualidade Total; 2. Capacitar para a qualidade; 2.1. Curso básico conceitual; 2.2. Curso de indicadores e itens de controle; 2.3. Curso sobre ferramentas da qualidade; 2.4. Curso sobre método e solução de problemas; 46 2.5. Curso sobre padronização; 2.6. Curso sobre qualidade no atendimento; 3. Realizar diagnóstico interno; 4. Realizar pesquisa de clientes; 5. Implementar melhoria na rotina; 5.1. Definir missão; 5.2. Definir todos os serviços e produtos; 5.3. Identificar todos os clientes; 5.4. Identificar todos os fornecedores e insumos; 5.5. Definir todos os macro-processos; 5.6. Traduzir as necessidades dos clientes; 5.7. Definir os itens de controle; 5.8. Medir os itens de controle; 5.9. Estabelecer metas de melhoria; 5.10. Realizar as metas de melhoria; 5.11. Definir os itens de verificação. 5.12. Medir os itens de verificação; 5.13. Definir os padrões; 5.14. Avaliar e auditar processos padronizados; 6. Implementar o programa “5S”; 6.1. Realizar os 3 sensos (utilização, ordem e limpeza); 6.2. Realizar os sensos de saúde e auto-disciplina; 6.3. Auditar o programa; 7. Realizar planejamento estratégico; 47 7.1. Definir negócio e missão; 7.2. Definir a visão estratégica; 7.3. Elaborar planos estratégicos; 7.4. Acompanhar a implantação dos planos estratégicos. 7.5. Realizar as metas. O Programa de Qualidade Total da SSP/SC teve início no primeiro semestre de 1996, com a sensibilização e educação para a qualidade. No segundo semestre foi desenvolvido o planejamento estratégico que, na época estabeleceu a seguinte missão da instituição: “Promover a segurança Pública e o estabelecimento de suas políticas, dentro do território catarinense, de acordo com a legislação vigente, através de ações educativas, assistenciais, preventivas e repressivas, voltadas ao combate à criminalidade diretamente ou através de parcerias, viabilizando condições capazes de garantir os direitos do cidadão” (Planejamento Estratégico, SSP/SC, 1996: 6). Percebe-se, então, que na sua concepção e adoção, o programa de qualidade da SSP/SC está articulado com outros programas e/ou projetos desenvolvidos ou em desenvolvimento, na instituição, conforme sugerem alguns autores pesquisados, como por exemplo, Campos (1992). Após a mobilização, capacitação e realização do planejamento estratégico, optou-se pela implantação do programa “5S”. Nesta etapa, como 48 experiência piloto, está sendo implantado o programa “5S” na 7ª Delegacia de Polícia da Capital. A implantação do Programa “5S” na 7ª DPCAP teve início no segundo semestre de 1997, Com a seguinte metodologia: Antes: 1. Capacitação dos Servidores - Todos os policiais da unidade, inclusive os dirigentes, participaram da palestra (duração de três horas) ministrada pelo Coordenador do Programa de Qualidade da CELESC, que além de repassar noções básicas sobre qualidade em serviços, sobre conceitos e método de aplicação do programa, falou sobre a experiência da sua empresa e passou um vídeo com depoimentos de funcionários que haviam participado do programa. Nesta ocasião, foi entregue, como material de apoio, a apostila e a programação do dia “D” (dia em que os funcionários da 7a DPCAP se organizaram para melhorar o ambiente de trabalho); 2. Registro da situação atual das instalações - foi realizado o levantamento fotográfico das áreas consideradas críticas; 3. Elaboração de cartazes do Programa - foram confeccionados cartazes sobre o programa a fim de reforçar os conhecimentos repassados através da palestra e da apostila; 4. Organização da área de descarte (marcação e cartazes); 5. Montagem dos kits de limpeza (sacos plásticos, caixa, álcool, etiquetas, fitas adesivas, etc.); 49 6. Repasse das orientações à população sobre o Dia “5S” (com cartazes esclarecedores); 7. Definição do destino dos materiais descartados; 8. Orientação dos funcionários para usar roupas leves no dia “5S”, inclusive com cartazes; 9. Distribuição dos kits de limpezas; 10.Programação da área de circulação, para os visitantes acompanharem as atividades; 11.Definição do sistema de atendimento ao público, no dia “D”; 12.Organização de um almoço (churrasco) no local. Através de registros fotográficos, realizados antes do dia “D”, apresentase, a seguir, a situação em que se encontravam as instalações da 7a DPCAP. 50 Foto do banheiro feminino utilizado pelas funcionárias e pelo público, deixando claro que o local servia de depósito de equipamentos e materiais de limpeza. 51 Foto do armário do comissariado, demonstrando o mau funcionamento e organização precária. 52 Foto da sala de investigação. 53 Durante 1. Reunião de abertura das atividades - nesta oportunidade todos os policiais ficaram incumbidos de alguma área, ou atividade, foi lida a programação do dia, chamado dia “D”(em anexo); 2. Registro fotográfico das atividades; 3. Visita dos dirigentes da Polícia Civil (Secretaria de Segurança Pública, Delegado Geral da Polícia Civil, alguns diretores); 4. Acompanhamento da Coordenadoria da Qualidade em todas as salas; 5. Estimado peso e a quantidade de material descartado. Apresenta-se, a seguir, fotos registradas durante o dia “D”. 54 Registro da equipe descartando materiais e equipamentos do comissariado. 55 Policiais consertando o chuveiro. 56 Móveis que foram descartados. 57 Depois 1. Retirada dos materiais; 2. Registro fotográfico da nova situação das instalações; 3. Reunião de avaliação do Dia “D”(com todos os integrantes); 4. Divulgação do programa de acompanhamento e campanha de manutenção. Em seguida, serão apresentados registros fotográficos das instalações da 7a DPCAP após o dia “D”. 58 Foto do banheiro feminino. 59 Foto do armário do cartório 1. 60 Foto da gaveta da sala de investigação. 61 5.2. Grau de alcance das etapas realizadas pelo programa “5S” Em termos conceituais, conforme o material elaborado em forma de apostila e distribuído ao pessoal da 7ª DPCAP, o programa “5S” é um programa de educação que dá ênfase à prática imediata de hábitos saudáveis que permitem a integração do pensar, do sentir e do agir. O “5S” é considerado na 7ª DPCAP a base do seu programa de qualidade. Após análise do questionário de avaliação do programa “5S” (anexo 2), pode-se identificar o grau de alcance para cada senso. Para o senso de utilização, registra-se que houve a necessidade de eliminação de objetos desnecessários. Após a realização desta etapa do programa, os funcionários verificaram que os materiais de escritórios existentes estão na quantidade certa sendo que, para a maioria, hoje não há estoque de formulários e papéis em suas salas; o lay-out do ambiente é seguro; não existem equipamentos de escritório sem uso e o arquivamento do material está sendo feito dentro do tempo de sua conservação (vide anexo 3) Entretanto, ao buscar-se na fundamentação teórica subsídios para a operacionalização do senso de utilização, vê-se que é necessário uma rigorosa classificação dos objetos (seiri) em necessários e desnecessários sendo que nenhum dos entrevistados abordou isto em seus comentários. Esta rigorosa classificação não foi observada nas respostas. Com relação ao senso de ordenação na 7ª DPCAP, percebe-se que o ambiente de trabalho está organizado e limpo. Porém, para que tudo estivesse 62 perfeito deveria haver um sistema de arquivo central de documentos que facilitasse a utilização deste por qualquer pessoa. Quanto ao senso limpeza, vale ressaltar que os funcionários da 7ª DPCAP responderam que o ambiente interno desta delegacia ficou limpo. Porém, o mesmo não vale para a área externa, apontando os entrevistados à quantidade de lixo em volta do prédio. O senso de saúde para o efetivo da 7ª DPCAP tem sua evidência maior no que diz respeito à higiene pessoal, aos banheiros que estão sempre limpos no final do dia e na agradabilidade do ambiente de trabalho. Entretanto, os funcionários apontam que não existe muita harmonia e companheirismo entre as pessoas e também assinalam a presença de fumaça de cigarro no ambiente. Analisando-se o quinto e último senso, o de auto-disciplina, nota-se que os registros demonstram percepções muito divergentes, constatando-se que, nem todos na 7ª DPCAP estão cumprindo bem suas normas de trabalho, ou seja, não há cumprimento de horário e existe ausências durante o horário de expediente. Este último senso, parece ser o que mais envolve a questão do comportamento pessoal dentro da instituição e sendo assim, é o mais difícil de ser executado, pois requer uma mudança de atitude, diferente de uma limpeza ou ordenação do espaço físico. 63 5.3. A importância do Programa “5S” na 7ª DPCAP Todos os entrevistados ressaltaram, de forma acentuada, a grande importância que representou o Programa “5S” naquela unidade policial. Os fatores considerados mais significativos do referido programa foram: a organização e mudança do aspecto físico-funcional da delegacia; o envolvimento e a união de todos os funcionários em torno de um objetivo comum, a motivação gerada e a satisfação interna e externa que propiciou. “Ser vítima e ter que procurar a polícia já é triste. Chegar aqui e ser vítima da polícia é a coisa mais triste que existe e acontece”, (Entrevistado F). Outro fator destacado foi a metodologia adotada pela coordenação do programa. Segundo os respondentes a mesma foi considerada clara e objetiva. Constata-se, assim, que os fatores atribuídos à importância do programa “5S” referem-se aos sensos de ordenação (organização); utilização (mudança); limpeza (aspecto físico) e saúde (união e motivação) conforme aponta Silva (1994). “O “5S” organizou a delegacia, aproximou mais os policiais (...) todos tiveram que se unir e trabalhar juntos na arrumação da delegacia (...)”, (Entrevistado D). Observa-se, ainda, pela fala dos entrevistados, que a metodologia adotada permitiu executar o aludido programa de forma flexível garantindo sua adaptação naquele contexto. Conforme sugere Campos (1992), a metodologia de qualquer programa da qualidade não deve ser uma camisa de força. 64 5.4 Aspectos Positivos do Programa “5S” na 7ª DPCAP A maioria dos pesquisados informou que um dos aspectos mais positivos do programa foi o descarte de materiais sem utilização nas dependências da delegacia. Esta medida criou um ambiente limpo e agradável permitindo, deste modo, que as pessoas localizassem facilmente todos os equipamentos e utensílios necessários ao exercício de suas tarefas. Como decorrência, houve mudança no lay-out da 7ª DPCAP. Alguns dos entrevistados destacaram a mudança de hábitos de higiene e limpeza como aspecto relevante gerado pelo programa “5S”. Outros respondentes afirmaram que o programa gerou melhorias para o atendimento ao público. Registrou-se, também, conforme dois entrevistados, um estímulo maior dos funcionários em relação ao trabalho em grupo proporcionado pelo programa. “O programa foi bem implantado, bem coordenado, os funcionários apoiaram, havia motivação para realizar o 5S”, (Entrevistado B). Por fim, um dos sujeitos pesquisados destacou como positiva a visita da cúpula da organização nas dependências da 7ª DPCAP ao término do referido programa. De acordo com o relato dos respondentes verifica-se que os sensos de utilização (descarte) ordenação (lay-out) e limpeza (ambiente limpo e agradável) foram bastante assimilados e colocados em prática durante a 65 execução do programa “5S”. Segundo Silva (1994) estes três sensos retratam apenas os aspectos da melhoria do ambiente físico organizacional. Observa-se, ainda, elementos relativos ao senso de saúde, quando os entrevistados destacaram como positiva a motivação instalada e o reconhecimento do trabalho quando da visita dos dirigentes da instituição. 5.5 Aspectos Negativos do Programa “5S” na 7ª DPCAP Grande parte dos funcionários entrevistados ressaltou a falta de cobrança em relação a manutenção do programa como um fator negativo para assegurar a continuidade do mesmo. Alguns respondentes registraram que não houve mudança de mentalidade em relação a importância que representa a coisa pública como um bem comum a todos, idéia esta que deve ser continuamente plantada. “Deixa assim, não é meu mesmo”, (Entrevistado A). Um grupo mais reduzido apontou a falta de assistência psicológica aos policiais como um aspecto pouco reforçado pelo programa “5S” o que dificulta a melhoria das relações internas e externas necessárias ao bom desempenho de programas voltados para a qualidade, em especial, em organização que prestam serviços de segurança a comunidade. Houve, ainda, quem apontasse a descontinuidade administrativa como um fator limitante a manutenção e desenvolvimento do programa “5S” o que parece sugerir a ausência de uma filosofia institucionalizada em relação ao significado atribuído ao programa pelo órgão central (SSP/SC). 66 Ao analisar os aspectos negativos acima destacados, pode-se constatar, respectivamente, que: • Em relação a falta de cobrança, Gitlow (1993) sugere que seja destacado um responsável pelo programa dentro da própria unidade onde o mesmo se realiza. Isto não ocorre na 7ª DPCAP; • Quanto ao descaso em relação a coisa pública este é um fator presente nas organizações públicas brasileiras conforme assinala Barbosa (1992) e que deve ser mais contemplado quando da elaboração de programas para a qualidade como o do “5S”; • A questão psicológica levantada pelos respondentes, está contida no sentido amplo do senso de saúde, segundo Silva (1994) e Lapa (1998) e pelos registros apresentados, apenas alguns dos elementos deste senso foram abordados o que parece sugerir a ampliação do referido senso nos próximos programas “5S”; • Com relação a descontinuidade administrativa constata-se que no serviço público brasileiro a alternância de governo é um fator preponderante para a descontinuidade dos projetos e programas. Conforme Barbosa (1992) as ações desenvolvidas pelo setor público devem ter caráter altamente burocrático e institucional, não podendo estar vinculados a nomes de pessoas ou grupos de poder. 67 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS O programa “5S”, desenvolvido como experiência piloto dentro do programa de qualidade da SSP/SC, demonstra a preocupação do setor de segurança em empreender ações que busquem de forma efetiva a melhoria da qualidade dos serviços prestados à comunidade. Porém, constatou-se que o programa “5S” por si só, não é suficiente para introjetar uma cultura para a qualidade que possibilite a manutenção e o avanço de programas dessa natureza. Os aspectos mais relevantes do programa “5S” na 7a DPCAP foram os resultados alcançados com os sensos de utilização, ordenação e limpeza observados através dos relatos dos entrevistados e do material fotográfico apresentado. Com relação aos sensos de saúde e de autodisciplina, que requerem uma mudança nos padrões de comportamento, não registrou-se resultados tão expressivos quanto àqueles apontados pelos outros sensos (utilização, ordenação e limpeza). O comportamento e o grau de comprometimento dos trabalhadores do serviço público é condição determinante para o êxito de programas para a qualidade, adverte Monteiro (1991). Diante disto, apenas a implantação do programa “5S” não dá consistência ao programa de qualidade como um todo, sendo necessário que se adote, continuamente, outras medidas no sentido de impedir que os indivíduos passem a desacreditar no programa. 68 A mudança no governo do estado e, consequentemente da cúpula da SSP/SC também pode ser compreendida como fator restritivo ao programa “5S” na 7a DPCAP. Em suma, ao final deste estudo, verificou-se que o programa “5S” foi desenvolvido de acordo com o modelo teórico proposto, sendo que os funcionários da 7a DPCAP encontram-se motivados para dar continuidade ao mesmo. Logo, sugere-se a retomada das atividades do programa de qualidade da SSP/SC na 7a DPCAP, mediante um processo de avaliação que busque suplantar os aspectos negativos identificados. Considerando-se que o Programa “5S” da 7a DPCAP foi concebido como uma experiência piloto, verifica-se a necessidade de superar os aspectos negativos identificados, o que favorecerá a execução de programas similares em outras unidades da SSP/SC. 69 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBOSA, Lívia. O jeitinho brasileiro. Rio de janeiro: Campus, 1992. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Tradução de Luiz Antero e Augusto Pinheiro. Lisboa: Edição 70, 1979. CAMPOS, Vicente Falconi. TQC: Controle da qualidade total (estilo japonês). Belo Horizonte, UFMG, 1992. CHIAVENATO, Idalberto. Recursos humanos. 2 ed. São Paulo: Atlas, 1988. FRANCO, Maria Laura P.B. O “estudo de caso” no falso conflito que se estabelece entre análise quantitativa e análise qualitativa. São Paulo: PUC, 1986. GARVIN, D. A. Gerenciando a qualidade. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1992. GENOVEZ, Felipe. Estatuto da Polícia Civil Comentado: Lei n. 6.843, de 28 de julho de 1986. Florianóplis: SSP/SC, 1998. GITLOW, Harold S. Planejando a qualidade, a produtividade e a competitividade. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1993. GOVERNO DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Planejamento Estratégico/SSP. Florianópolis, 1996. GRANDE ENCICLOPÉDIA DELTA LAROUSSE, Rio de Janeiro: Delta, 1972. GRAWITZ, Madeleine. Métodos e técnicas de las ciencias sociales. Barcelona, Editorial Hispano Europa, v. 2, 1975. LAPA, Reginaldo Pereira. Praticando os 5 sensos. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1998. LONGO, Rose Mary Juliano. A qualidade total começa e termina com educação. Brasília: IPEA, jul, 1995. LUNA, Sérgio Vasconcelos de. Planejamento de pesquisa: uma introdução. São Paulo: EDUC, 1997. 70 MONTEIRO, José A. Qualidade total no serviço público. Brasília: QA&T Consultores Associados, 1991. PALADINI, E. Controle da Qualidade: uma abordagem abrangente. São Paulo: Atlas, 1990. RIBEIRO, Haroldo. 5S: A base para a qualidade total. Salvador: Casa da Qualidade, 1994. RICHARDSON, Roberto J. et ali. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1989. RUBIN, H.J. e RUBIN, I.S. Qualitative interviewing. the art of hearing data. Thousand Oaks: Sage, 1995. SALM, José Francisco; MENEGASSO, Maria Ester. Qualidade total: uma premissa para o desenvolvimento pessoal. Revista de Negócios, v. 1, n. 1, p. 11-21, jan./mar., Blumenau, 1996. SILVA, João Martins da. 5S: o ambiente da qualidade. Belo Horizonte: UFMG, 1994. THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa - ação. São Paulo: Cortez, 1986. THOMÉ, Ricardo Lemos. Contribuição à prática de polícia judiciária. Florianópolis: Ed. do Autor, 1997. TRIVIÑOS, Augusto N. Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. UMEDA, Masao. As sete chaves para o sucesso do 5S. Belo Horizonte: UFMG, 1997. VIEIRA, Adriane. A qualidade de vida no trabalho e o controle da qualidade total. Florianópolis: Insular, 1996. 71 8 ANEXOS ANEXO 01 ROTEIRO DE ENTREVISTA • Qual a importância do programa “5S” na 7ª DPCAP? • Quais os aspectos positivos do Programa? • Quais os aspectos negativos do programa? ANEXO 02 Questionário de avaliação Programa 5S da 7ª Delegacia de Polícia da Capital NÃO É NECESSÁRIO IDENTIFICAR-SE! Marque (1) se a afirmação é falsa. Marque (3) se a afirmação é parcialmente verdadeira. Marque (5) se a afirmação é verdadeira. 1º S SENSO DE UTILIZAÇÃO 2º S SENSO DE ORDENAÇÃO 3º S SENSO DE LIMPEZA 4º S SENSO DE SAÚDE 5º S SENSO DE AUTO DISCIPLINA Os materiais de escritório tais como canetas, lápis, borrachas, clips, grampos existem na quantidade necessária em nível individual. O seu local de trabalho não está estocando formulários e papéis em demasia. Não existem mesas, cadeiras, sofás e equipamentos de escritório sem uso. O lay-out é funcional e seguro. Não estão arquivados documentos além do tempo de sua conservação, incluindo cartazes e avisos afixados no quadro. SUBTOTAL As gavetas e armários estão organizadas. A disposição das mesas individuais, balcões e armários estão de tal forma a facilitar o trabalho. Não estão colocados objetos em cima dos armários O almoxarifado da unidade policial está bem organizado É adotado o sistema de arquivo central de documentos, facilitando a sua utilização por qualquer pessoa. SUBTOTAL Não há papéis, clips e percevejos caídos no piso. O piso não está sujo. As mesas, as cadeiras e outros equipamentos de escritório não estão sujos. As janelas, cortinas, venezianas, paredes e teto não estão sujos. Não há lixo em volta do prédio. SUBTOTAL Higiene pessoal em bom estado e as roupas estão limpas. Os banheiros estão limpos no final do dia. O ar do ambiente de trabalho não está contaminado. (fumo) O ambiente de trabalho está agradável. Existe harmonia e companheirismo entre as pessoas. SUBTOTAL Todos estão cumprindo bem as normas de trabalho. Os funcionários não fazem telefonemas prolongados nem particulares. Todos estão cumprindo os horários de trabalho. Todos comunicam sempre o seu destino ao se ausentarem do posto de trabalho. Existe sempre um substituto designado quando o titular se ausenta do posto de trabalho. SUBTOTAL 1 3 5 TOTAL.................