Pelé Dá Lá, Toma Cá! E Você, Resistiria

Transcrição

Pelé Dá Lá, Toma Cá! E Você, Resistiria
>E T E X T O ,
FOTO,
QUAPRIN
Pelé
Dá Lá,
Toma Cá!
E Você,
Resistiria?
P A G I N A 21
* Ttf-U
hOWKM.
E COKTKA U M A FAMli/i
1 R E P O R T E R
fcASTÍElR©
EM CUBA!
PAGINAM
(.JEDirANO.
O renascimento
Fazer parte da reedição do j o r n a l ex- é motivo de
orgulho para o Instituto Vladimir Herzog. Não
apenas pelo jornalismo de vanguarda, de qualidade e
c o m aquele viés satírico que o fez ser uma referência
nacional, mas principalmente pela coragem de
seus colaboradores. No auge da ditadura militar
quando todos os outros se sentiram obrigados a
ficar e m silêncio, a edição ex- 16 estampou na capa a
Mataram o Vlado,
mataram o ex-,
e não é que os
dois estão vivinhos
da silva?
centralizou a vida cultural de esquerda e m São Paulo. O
irmão dele, Delfim, era editor da revista de quadrinhos
Grilo. Nos criamos no m e s m o bairro, região do Mercado
da Cantareira.
Eram quatro saletas apertadas n u m conjunto do
terceiro andar. Numa estavam Sérgio de Souza
e Narciso Kalili, frente a frente, perto da janela.
Noutra, Ari Normanha encurvado sobre a prancheta,
desenhando a capa do gibi. D o lado oposto, Amancio
Dácio
Nitrini
C h i o d i no laboratório de fotografia.
manchete liberdade abre as asas sobre nós - a morte
do jornalista Vladimir Herzog.
Do andar de cima, vinha o som do maestro Rogério
Fui rever a coleção para ativar a memória. Descobri
Duarte, u m clássico do Tropicalismo, gênio,
Infelizmente a morte de Vlado também custou a vida
ser o único daqueles moicanos que está em todos os
sobrevivendo de jingles. E na portaria o zelador ranzinza,
do ex-. Naquele m o m e n t o o jornalismo brasileiro
expedientes de todas as fases da publicação. Coisa rara.
sempre de boina, veterano da FEB. Nesse espaço, ao
também viu morrer aos poucos o seu lado jocoso
É que e m tempos de ditadura e sobrevivência difícil,
m e s m o tempo, era editado o JORNALIVRO que, como está
e picante. Salvo u m ou outro colunista, hoje nosso
parte da equipe ia e vinha. Principalmente quem tinha
óbvio no nome, era a publicação de clássicos e m u m
jornalismo é sempre muito sério. Não que isso seja
família para sustentar. Viver só de imprensa alternativa
livro produzido como jornal, fórmula que barateava o
errado ou u m problema. Obviamente não é. Mas
não pagava contas e expunha a maior risco de prisão.
custo e se autoexplicava no slogan O Povo Lendo. Cada
será que combina c o m o jeito expansivo e piadista
Sérgio de Souza e Narciso Kalili, depois de presos no
exemplar custava apenas 2 cruzeiros, a metade do preço
do brasileiro?
DOPS da Federal por causa de uma capa gozando Nixon
de capa do Grilo.
pelo Watergate, caso que conto mais adiante, aceitaram
propostas de trabalho fora de São Paulo.
O Grilo fazia sucesso ao trazer
viagem na máquina do tempo. Os que viveram
Sérgio e eu, u m aprendiz admirador de feiticeiros,
desenhistas consagrados no
Por isso, a reedição do ex-, e por que não dizer
o renascimento do ex-, oferece aos leitores uma
ao Brasil quadrinhos dos
aqueles anos terríveis poderão relembrar suas
havíamos emprestado nossos nomes para abrir
underground americano e
capas memoráveis e seus textos transbordando
a ex-editora, numa casinha térrea com portão
europeu. Robert C r u m b e seu
inteligência. Os mais jovens poderão imaginar u m
de ferro, corredor lateral, sala, quarto, cozinha
Fritz, The Cat, Guido Crepax
pouco o que era ser jornalista sendo constantemente
e garagem, na rua Santo Antonio, coração
c o m sua Valentina e a dupla
perseguido. A ditadura não poupava sequer os
do Bexiga. Afinal, sem pessoa jurídica seria
Wolinski&Pichard c o m Paulette
patrocinadores da chamada mídia alternativa
impossível imprimir o jornal, alugar sede, etc.
puxavam o trem. Rebeldes,
ameaçando com represálias ou m e s m o c o m corte de
contestadoras, sensualíssimas, as
verbas governamentais, se esse fosse o caso.
Mas quem "administrava" a papelada era o
historinhas nada inocentes logo
Armindo Machado, que havia trabalhado com
atraíram repressão.
O Instituto Vladimir Herzog não poderia estar fora
u m irmão do Narciso. Era u m quarentão loiro,
deste empreendimento. Criado oficialmente em 25
olhos azuis, turfista que encantou a cantora- -atriz de O
de j u n h o de 2009, o Instituto tem o objetivo de não
Cangaceiro, Vanja Orico, que passou a freqüentar a redação
de plantão. Estava mortalmente baleado na edição
apenas preservar a memória da vida e do trabalho de
falando sobre seu filme de estréia, Mulheres e Luzes, dirigido
número 48, que trazia na capa uma foto do cartunista j á
Vlado, mas também manter atenção sobre os graves
por Fellini. Sergio e eu, dois anos depois, passaríamos a
famoso Henfil sorrindo, atrás das grades, chamando a
problemas sociais, políticos e econômicos que ainda
"propriedade" para o nome do Paulo Patarra, recém-saído
da Editora Abril, que se integrava a equipe trazendo algum
hoje afetam o Brasil.
O Grilo foi cercado e espremido pelas autoridades
atenção dos leitores para sua última entrevista, em tom
desacorçoado, antes de ir embora do país...
dinheiro e o sonho de fazer o projeto crescer.
O terceiro ponto fundamental de sucesso deste
No rodapé das páginas 4 a 14, u m texto alertava aos
projeto é o apoio da Imprensa Oficial. Esta obra é
O ex-
resultado do trabalho impecável de recuperação
O Bondinho
e f i l h o do g i b i
de todos os exemplares do ex- feita por seus
Grilo.
Realidade,
m o m e n t o tivemos total suporte por parte de seu
jornalistas
presidente, professor Hubert Alquéres, parceiro do
de q u a l i d a d e e d i t o r i a l em v á r i o s
Instituto Vladimir Herzog neste e - esperamos - , em
i n c l u s i v e r á d i o e t e v ê . S e r g i o de
futuros projetos.
Narciso Kalili, Hamilton Almeida
S e n d o a s s i m , é b i s n e t o da
mitológica
o r i g e m de um g r u p o f o r m a d o
brilhantes que provocaram
à moral e aos bons costumes.O Grilo então recorreu à
por
própria censura, retirando desta edição as histórias que
saltos
o censor j u l g o u inapropriadas para nossos leitores. Caso
veículos,
Souza,
Filho,
M y l t o n S e v e r i a n o da S i l v a , A m â n c i o
Paulo Patarra entre
Grilo, por considerar o conteúdo da revista atentatório
underground
profissionais, sendo que desde o primeiro
Nossa missão é contribuir para a reflexão e produção
leitores: Stop-press: a censura negou o registro do
é c o m o se f o s s e n e t o da r e v i s t a
Chiodi,
outros.
a resposta seja negativa, o Grilo passará a ser impresso
em formato tablóide, ou seja, deixará de ser revista para
ser j o r n a l (os jornais estão dispensados de registro
da censura) e j á a partir do próximo número - o 49 circulará c o m o novo nome: "ex-". Não deu outra. O exestava parido.
de informações voltadas ao direito à vida e à justiça.
O legado de Vladimir
Mas quando o ex- nasceu, estávamos e m 1973, ditadura
Herzog será levado adiante
militar dura. Época de prisões, tempos de exílio,
Novembro de 73, Médici no poder. O ex- é lançado
pelo Instituto que tem como
guerrilhas. No quarto andar do velho prédio da Rua
c o m uma capa metafórica para "enganar" a repressão:
uma de suas metas a busca
Major Quedinho, 346, esquina c o m Santo Antônio, sede
Hitler, nu, tomando sol e m uma praia tropical. Foram
incansável pelo jornalismo
da Editora Espaço&Tempo, entrei pela primeira vez
impressos 10 m i l exemplares, que mal e mal chegavam
de qualidade. E o ex- é u m
acompanhado de Serginho Fujiwara, m e u amigo desde o
às bancas. No expediente, aviso de que a distribuição era
exemplo único disso.
primeiro ano no Grupo Escolar Prudente de Moraes, no
própria, c o m a expressão "garantida" entre parêntesis.
Jardim da Luz. Eu trabalhava no setor de propaganda e o
E o aviso " N e n h u m Direito Reservado". Boa parte era
Serginho na gráfica do Equipe Vestibulares, cursinho que
m e s m o vendida de mão em mão pela própria equipe
outras fotos nas páginas internas. Nessa edição, a
contracapa traz a i m a g e m de Raimundo Pereira e m bico-de-pena de Elifas Andreato.
Outro desenho memorável é de Jaime Leão na capa do
ex- 13. Fidel Castro fazendo a barba, j á c o m meio rosto
sem pelos, idéia do Mylton. Era a chamada para uma
reportagem inacreditável. Fernando Morais revelava
nada mais nada menos o cotidiano em Cuba, proibida
para a imprensa brasileira, origem de seu famoso livro,
best-seller até hoje, A Ilha.
Esses são apenas alguns tópicos de uma publicação
alternativa, grandemente nanica, que tem e m cada
página u m olhar que permanece brilhante, atento,
contemporâneo.
Mataram o ex- porque não escondeu o assassinato do
Vlado. E não é que ambos estão vivinhos da silva?
Como foi que o exvirou Mais um
Mylton
Severiano
e por estudantes amigos meus, do Equipe, como Luiz
de estado de país amigo por palavras, atos ou atitudes..."
Em meados de novembro de 1975, manhã ensolarada,
Carlos Guerrero Ruivo,Carlos Alberto Caetano, Cláudio
Passaram dias na carceragem da rua Piauí.
começamos a fechar o ex- número 17, que jamais
Faviere, Suzana Regazzini, Lucia Reggiani e Luiz
circularia. Contávamos, como prato forte, c o m a matéria
Fernando Câmara Vitral. Eu, além de vendedor de espaço
E eu me dividia entre agradecer aos dois pela minha
sobre o Esquadrão da Morte carioca, a cargo de Octávio
para publicidade, produtor gráfico e repórter, saia com
liberdade e ficar indignado por dizerem que eu não tive
Ribeiro, o Pena Branca, que havia descoberto u m local -
Narciso Kalili, numa velha perua Caravan, colocando
responsabilidade pela confecção da charge. Afinal, era
espécie de charco, dizia ele - onde policiais afundavam
jornais para vender nas bancas da cidade.
u m coletivo!
carros c o m pessoas dentro, mortas ou possivelmente
A segunda edição seguiu a mesma linha do Hitler. Dessa
Mas O ex- tinha lastro para seguir adiante e apoio
repercussão do caso Vlado, c o m base e m cartas que j á
vez era Henry Kissinger pelado, semi-deitado e m u m
e m todos os setores anti-ditadura. Havia u m a equipe
chegavam às pencas - nosso jornal, mais ou m e n o s
divã. Até ali tudo bem. Mas a terceira capa, que ainda
de editores-colaboradores de r e c o n h e c i d o talento
mensal, tinha sido o único a publicar reportagem
nada tinha a ver diretamente c o m a ditadura militar,
e criatividade, entre eles Fernando Morais, Marcos
completa sobre o assassinato do colega Vladimir Herzog
trouxe a polícia. Era janeiro de 1974, o caso Watergate
Faerman, José H a m i l t o n Ribeiro, Palmério D ó r i a e o
n u m aparelho de torturas do II Exército. Texto c o m uns
estava quentíssimo. Sergio e Narciso decidiram fazer
jornalista-escritor-psicanalista Roberto Freire. Todos
100 m i l caracteres, mais de 70 laudas, o suficiente para
uma fotocharge mostrando Nixon em pose presidencial,
devidamente creditados no expediente publicado n o
compor u m livro de 100 páginas.
olhando para o horizonte como se fosse estadista, mas
ex- 3, o da capa c o m o Nixon. E foi e m frente. C o m
ainda vivas. E preparávamos u m material sobre a
vestindo uniforme de presidiário.
a saída do Sergio para Ribeirão Preto, ao lado do
O ex-16 foi obra-prima de trabalho e m equipe. Trinta
José H a m i l t o n Ribeiro para fazer u m j o r n a l diário
anos mais tarde, e m 2005, a Associação Brasileira
A m o n t a g e m artesanal, feita pelo artista gráfico
e a transferência temporária de Narciso, H a m i l t o n
de Jornalismo Investigativo incluiria "A Morte de
Hamilton de Souza, irmão do Sérgio, ficou perfeita e o
Almeida, M y l t o n Severiano para Londrina (PR), o
V l a d i m i r H e r z o g " no livro 10 Reportagens que Abalaram
ex- foi para as bancas em plena transição de ditadores.
ex- seguiu sob forte i n f l u ê n c i a de Marcos Faerman,
a Ditadura. Narciso Kalili f o i o pauteiro e orientador;
Já era começo de 74 e Geisel, ungido pela cúpula militar,
talentoso repórter-especial do Jornal da Tarde e m SP,
HAF, repórter e chefe de reportagem; eu, responsável
tomaria posse em grande estilo, c o m a presença em
gaúcho apaixonado pela cultura latino-americana. O
pelo texto final - resultado do trabalho de todos do
Brasília de vários chefes-de-estado. Nixon não podia
j o r n a l m u d o u a linha editorial, que f i c o u mais literária,
ex- e de colegas que, corajosamente, nos p r o c u r a r a m
comparecer mas enviou sua mulher, Patty.
psicanalítica, revelando ao país a antipsiquiatria e
p o n d o - s e à disposição.
escritores dos países vizinhos que t a m b é m estavam sob
Uma equipe de batedores foi designada para a detectar
botas e tacões.
possíveis reações à chegada da comitiva americana.
Viram o ex- e acionaram o DOPS da Polícia Federal
que saiu em busca dos responsáveis. Formalmente, os
U m episódio nos embatucou no dia do fechamento.
Uma comissão de colegas chega pedindo para a gente
Quase u m ano depois, Narciso, Hamilton e Mylton
não publicar nada. Alegavam que queriam inclusive nos
que não haviam se desligado totalmente do ex-,
proteger; que a reportagem ia provocar a "linha-dura";
"proprietários" da ex-editora eram Sergio de Souza e eu.
retornam à SP. Marcos Faerman diverge do caminho
que mais jornalistas seriam assassinados -
Apenas porque nossos nomes estavam limpos na praça.
que os ex-fundadores apontavam e se desliga do
Tudo funcionava de forma coletiva e o pouco dinheiro
grupo. Intelectual persistente, lança o seu Versus,
no e n t e r r o , f o t o g r a f a d o
que entrava mal dava para pagar as contas e fazer uma
outra publicação alternativa que deixa marca na
a p e n a s p e l a E l v i r a A l e g r e , d o ex-,
nova edição. Acabei levado para o prédio da PF que
história do país. O ex-, portanto, frutificava.
funcionava na rua Xavier de Toledo. Lá j á estavam Sergio
jornalisticamente
um d o s
q u e e s t a v a m p r e s o s com V l a d o e h a v i a m
sido
liberados para assistir à cerimônia
fúnebre
Djacarta,
e Narciso. Cheguei tenso, sem saber o motivo. Narciso e
Nesse m e s m o período,Raimundo Pereira, que
m e d i s s e q u e se t r a t a v a da O p e r a ç ã o
Sergio j á estavam dentro da sala do delegado explicando
havia passado pela Realidade, sai do j o r n a l Opinião,
menção ao m o r t i c í n i o de 500 mil
que eu não era o responsável por nada, u m j o v e m
propriedade do empresário nacionalista Fernando
na I n d o n é s i a , a p ó s um g o l p e m i l i t a r c o m o o
iniciante que tinha emprestado o nome, etc. E que eles
Gasparian, para fazer o Movimento. E dá uma longa
nosso patrocinado pelos Estados
sim é que tinham tomado as decisões editoriais. Narciso
entrevista para lançar seu j o r n a l exatamente para o
O u v i m o s os c o l e g a s da c o m i s s ã o e N a r c i s o
e Sérgio ficaram presos. Incursos na famigerada Lei de
ex- 12, cuja capa é outro marco: Pelé pelado, fotografado
em n o m e de t o d o s d o ex-:
Segurança Nacional, autuados "por atentar contra chefe
no vestiário da Vila Belmiro por Amancio Chiodi - há
c u i d a d o , mas v a m o s
esquerdistas
Unidos.
"Agradecemos
publicar."
falou
pelo
receberíamos aviso para comparecer na Polícia
Serjão foi dar u m tempo e trabalhar em Ribeirão Preto;
Federal da Rua Xavier de T o l e d o , centro de São
Narciso, em Londrina, onde passaríamos brevíssima
Paulo, a fim de prestar "esclarecimentos" a
temporada, mas aí é outra história. E foi assim que os
certo coronel B a r r e t o .
mais novos, HAF e eu, passamos a tocar o ex-, c o m a
parceria de dois mais velhos: Narciso Kalili, que vinha
O armário negro olhava as gravuras nas paredes e, de
de Londrina regularmente, e Paulo Patarra, criador da
repente, vociferou: "Vocês não vão publicar isto, vão?!"
revista Realidade, recém-demitido da Abril, que generoso
Apontava - e a arma saltou à vista - o recorte de u m
jornais que produzimos.
nos ajudou pagando a impressão dos dois últimos
jornal de ativistas negros dos Estados Unidos, com
reportagem sobre moda. O modelo era Eldridge Cleaver
Vivíamos n o limite das possibilidades financeiras.
(1935-1998), u m dos fundadores do grupo radical Panteras
Muitas vezes no Pássaro Preto a gente almoçava
Negras. Cleaver posava com uma calça que tinha na
sanduíche de mortadela "enriquecido" c o m fatias a
frente u m porta-sexo, e o dele era avantajado, enchia
de tomate.
o bimbolover duns 20 centímetros de comprimento - e
em repouso! Uma provocação contra brancos racistas,
O telefone da redação era o orelhão da esquina. Armindo
brincadeira que iríamos encaixar na Salada, seção de
Machado, nosso incrível administrador, u m português
abertura do ex-. E o que responder ao truculento?
muito safo, distribuía u m punhado de fichas telefônicas
para cada repórter - o Armindo que me surpreendeu
"Não, não vamos publicar, é só u m enfeite", disse
certa manhã chegando b e m acompanhado, c o m nada
candidamente u m de nós, creio que o Palmério.
menos que Vanja Orico, estrela do filme O Cangaceiro que
A memória registra que ali vinha feriadão, devia ser dia
havia embevecido a adolescência da minha geração.
14, sexta-feira, véspera do 15 de novembro, Proclamação
da República. O número extra, que dávamos como
Era consenso entre nós jamais nos submeter à censura
distribuído naquela semana, acabou apreendido ainda
prévia. Preferíamos fechar as portas e começar de novo.
nos depósitos da Distribuidora Abril. Enorme prejuízo.
C o m o ex- sob censura, surgiu a ideia de lançar o Mais
Nem era preciso deixar fluir a
Era m e s m o preciso c o r a g e m naqueles dias. Publicada
paranoia latente no ar para imaginar
a reportagem, os raros anunciantes cancelaram
que havia u m conluio entre forças
anúncios, u m deles alegou ameaças telefônicas;
contrárias a f i m de asfixiar o ex-.
leitores cancelaram assinaturas; u m pai de família
enviou d o c u m e n t o registrado e m cartório anulando
O ex- havia sido criado em 1973
o p e d i d o de assinatura feito pela filha estudante.
por Sérgio de Souza, Narciso
Contudo, esgotou-se a tiragem de 30 m i l exemplares,
fundadores da Arte & Comunicação,
Kalili e Eduardo Barreto, mesmos
e evaporaram os 20 m i l de uma 2 a edição, números
que lançou a revista "cult" O
alentadores para o j o r n a l que até ali tinha vendido no
Bondinho. C o m problemas de
máximo 18 mil exemplares.
ordem financeira na praça depois
que O Bondinho faliu, puseram a nova
Não vieram nos matar fisicamente. Mas na semana
empresa, Espaço Tempo, no n o m e do
seguinte, fechando o próximo número, não
fotógrafo Amancio Chiodi, que editava
imaginávamos o que "eles" arquitetavam.
ali a revista FotoChoque. O grupo que
tocaria a nova publicação era ex-
Éramos poucos na redação àquela hora, não passava
Realidade, ex- Bondinho, ex- Revista de
das nove e meia, me lembro do Palmério Dória ao lado,
Fotografia... - daí o nome criado pelo
Hamilton Almeida Filho, o HAF, à minha direita; ficávamos
Serjão, ex-.
e x - e d i t o r e s na r e d a ç ã o d o B i x i g a . P r i m e i r a f i l a , e s q . p/
na terceira das três salas da casa. Nem pressentimos os
dir.:José T r a j a n o , Luiz Fernando V i t r a l e Palmério
passos de dois mensageiros da morte do ex-.
Segunda fila: Mylton Severiano e Hamilton Almeida
"Polícia Federal", anunciou o armário branco de cabelos
loiros, mostrando a carteira funcional.
O número 1 foi às bancas levando
na capa u m A d o l f Hitler nu,
Terceira fila: Cláudio
tomando sol numa praia tropical,
A l e x S o l n i k , M á r c i a G u e d e s , L u i z G u e r r e r o e Ivo
Doria;
Filho;
Faviere, Armindo Machado, Hilton
Libos,
Patarra
completamente à vontade. A
maneira sutil e b e m humorada
Atrás vinha u m armário negro, de mãos enormes. Seus
de dizer tudo sem dizer nada a gente desenvolveria
dedos pareciam cassetetes, e imaginei que ele, caso
também nos textos, que falavam mais nas entrelinhas
da Coca-Cola. N u m canto da capa do primeiro número,
incitado, poderia destruir a redação a patadas e nos
que nas linhas.
pusemos u m selinho, "Qualidade ex-", na ilusão de
HAF e eu estávamos fora de São Paulo. De volta, fui
recado de que o ex- seguia vivo: aquele "era" o ex- 17.
destroncar u m por um. Nem precisaria sacar a pistola que
fazia questão de exibir no insistente gesto de apontar fotos,
Um. Jayme Leão criou o logotipo, imitando a marca
enganar a polícia da ditadura e passar aos leitores o
gravuras e recortes pregados nas paredes - seu paletó
trabalhar na TV Cultura, onde conheci o Vlado (não
levantava e a gente via a reluzente arma enfiada na cintura.
houve t e m p o de ficarmos amigos, mas havia empatia
Mal Mais Um vai às bancas, o tal coronel Barreto nos
e simpatia mútuas). Assim, só soube depois: a capa
intima a comparecer na Xavier de Toledo às duas horas
Típico: u m bonzinho, o outro mauzinho. O loiro, cuja
seguinte que trazia o presidente americano Richard
de uma tarde no início de 1976, tarde que se fez nublada
arma na cintura divisei apenas uma vez, perguntou
Nixon c o m roupa de presidiário havia levado Sérgio
e mormacenta. HAF tinha 30 anos, eu 35. Éramos, além
quem era o responsável. HAF e eu nos apresentamos. Era
e Narciso a u m a detenção na Polícia Federal. A
de baixinhos, franzinos.
tácito que nós dois e Narciso Kalili, os três primeiros
m o n t a g e m aludia ao caso Watergate, espionagem
O coronel devia dar o
nomes no expediente, respondíamos pelos pepinos, mas
de adversários patrocinada por Nixon, que acabaria
dobro de nós, pensamos.
Narciso tinha viajado para Londrina.
renunciando.
Rachamos uma cerveja
Narciso e Serjão foram presos por "ofensa a presidente
Mutambo, na Major
de país amigo". Jamais comentaram detalhes. Talvez
Quedinho, e subimos ao
encorajadora no Bar
O armário branco declarou que: o número especial
Extra
- O melhor
do ex-,
anunciado no número
1 6 , estava apreendido; o ex- passava a sofrer
censura prévia; os responsáveis, HAF e e u ,
tenha havido ameaça grave, como HAF e eu sofreríamos
andar da Polícia Federal
dois anos depois.
indicado na intimação.
Hamiltinho, Dácio e eu fizemos matéria c o m Pelé e m
Três Corações, usando o carro do Myltainho. Vimos, nós
e a cidade inteira, u m objeto não-identificado, bola de
fogo que foi sumindo até desaparecer por completo.
Em 25 de o u t u b r o de 1975, m a t a r a m V l a d i m i r Herzog.
M o n t a m o s u m QG n a casa do Paulo Patarra, n o s
arredores da Rua Cerro Corá. F i z e m o s vigília e
f e c h a m o s o ex-16, o ú l t i m o n ú m e r o contra n o s s a
vontade. A matéria da capa, claro, f o i a m o r t e de Vlado.
E "Liberdade, liberdade, abre as asas sobre n ó s " foi a
manchete.
Incrível, a ditadura nazista tinha vencido.
Temporariamente.
Narciso preso
Ele veio quieto, sem
cordões nos sapatos,
e nos abraçamos
Ethel
Kosminsky
"Olhem: ou vocês param c o m isso, ou eu não respondo
D e f i n i ç a o da capa da e d i ç ã o extra
e n t r e v i s t a d e D . P a u l o . Esq p/
Dácio Nitrini
(meio c o r p o )
(semi-sentado),
"Polé" Orlando
Codato,
Estávamos e m 1974. De manhã tocaram a campainha
morte. Assentimos, levantamos, foi pano rápido, nos
do apartamento, na Luis Coelho, travessa da Augusta.
despedimos e caímos fora.
Narciso j á desconfiava. Disse-me que telefonasse para o
advogado Marco Tulio Bottino, amigo dele e do Sérgio. A
Paulo
Lafer e Hamilton
F i l h o , s e n t a d o , ao
No script que a gente esperava não constava ameaça de
Amancio
Chiodi, José Trajano, Vanira
Paulo Patarra
mais pela integridade física de vocês."
com
dir:
Almeida
centro
Passamos semanas deprimidos. Perdemos nosso j o r n a l -
empregada havia aberto a porta para dois homens. Eram
pobre ganha-pão mas rica realização pessoal de cada um.
da Oban - Operação Bandeirantes. Da varanda vi os três
Vieram outros trabalhos, fundamos novas publicações,
entrar n u m carro comum.
que "eles" fecharam, e abríamos outras. Volta e meia
Não havia processo n e m direitos civis. Liguei para
O roliço coronel nos aponta o sofá, a uns quatro metros
a gente sonhava no f i m da ditadura lançar u m j o r n a l
professores de Ciências Sociais da Universidade de São
dele. Apanhando o Mais Um que tem sobre a mesa, ele o
chamado ex- 17.
Paulo, curso que eu tinha concluído. Alguns ficaram
agita em nossa direção c o m tamanha força, que parece
c o m medo, as conversas poderiam estar sendo escutadas.
querer esfarelar nosso jornal.
Maria Isaura Pereira de Queiroz disse:
" D o q u e se t r a t a i s t o ? " , p e r g u n t a
apontando
a p r i m e i r a p á g i n a , com v o z r a i v o s a mas
enquanto
por
contida.
"É n o s s o n o v o j o r n a l " ,
A ditadura
ganhou uma
respondemos.
Só é p o s s í v e l r i r h o j e , p a s s a d o s t a n t o s
anos.
Amancio
Chiodi
O coronel arfou e disparou:
"É o m e s m o j o r n a l ! O t a l d e e x ! "
"O que posso fazer?"
M i n h a idéia era que, se saísse no jornal, nada
aconteceria a Narciso. Essas notícias não eram
publicadas. O Estado de S. Paulo e o Jornal da Tarde
substituíam matérias censuradas
por versos de C a m õ e s e receitas
g
culinárias.
£
o
|
Maria Isaura m e apresentou a u m
E s t a v a c l a r o , e c o m e n t a r í a m o s d e p o i s , não
Lembro quando fizemos o número 1. Era como
Mesquita, Júlio ou Ruy, donos
nos m a t a r a m p o r c a u s a da r e p o r t a g e m s o b r e o
se vivêssemos n u m m u n d o diferente do restante,
daqueles jornais. O Mesquita
C a s o V l a d o , mas q u e r i a m m a t a r o e x - . HAF e e u ,
submetido à repressão. Tínhamos a informação e
p e r g u n t o u se Narciso estava
nos r e v e z a n d o e t i r a n d o c a l m a s e i lá d e o n d e ,
não nos reprimíamos, acreditávamos que podíamos e
m e t i d o em g r u p o político.
t e n t a m o s a r g u m e n t a r com f r a s e s q u e o c o r o n e l
devíamos dizer tudo. A repressão era velada e forte: cada
ia c o r t a n d o r e n t e , r o s n a n d o ou n e g a n d o com
número que colocamos nas ruas exigiu u m trabalho de
tinha ouvido dele, naquela época
g e s t o s da
Hércules. Não tínhamos dinheiro, cada vez íamos a uma
trabalhando na TV Cultura: u m
gráfica diferente, a repressão nos calcanhares. Isso, na
jornalista chamado Claudio
verdade, nos dava força.
Marques denunciava todo colega
O número u m foi contra o nazismo, que tomava conta
que parecesse "suspeito".
do planeta. A gente achou e publicou u m conto de
Pedi que publicasse a prisão do
Ele p o r um i n s t a n t e t i t u b e o u , o l h o u a c a p a ,
h u m o r do Marx, Escorpião Félix, que ele escreveu aos 18
Narciso. E assim foi feito, no Jornal
a í t e v e um c h i l i q u e ao d a r com o t i t u l o z i n h o
anos. Fiz uma fotomontagem do Karl Marx sorrindo.
da Tarde. Fui à porta do quartel
Comicus.
O fotógrafo Man Ray, cujo trabalho pesquisei, usava
onde funcionava a Oban, c o m a
fotomontagem justamente contra o nazismo.
mãe de Narciso, pedir para vê-lo, levar comida e cigarros.
Tempos imprevisíveis, conturbados. E o ex- provocava.
Não permitiram. C o m uma semana, foi transferido para
cabeça.
"Mas, coronel, é outro
logotipo..."
"... o senhor veja, a diagramação
é
diferente... "
"... outro estilo... "
" C o m i - c u s ? V o c ê s n ã o têm c o m p o s t u r a ! " ,
já p e r d e n d o as
bradou,
estribeiras.
"Não", respondi, e contei o que
Narciso
Kalili
T í n h a m o s de nos metamorfosear para conseguir nosso
o DOPS, e poderia receber visita. Comprei u m livro de
"Não, coronel..."
objetivo - a defesa da liberdade.
Hemingway, que Narciso admirava, escrevi:
"... é cômicus..."
D o n ú m e r o 1 até o 16, o último, passamos dois anos
Para Narciso com amor, Ethel e filhos.
" . . . é uma s e ç ã o . . . "
intensos. Não parávamos u m minuto. Foi c o m o u m
Numa sala do DOPS, ele veio quieto, sem cordões nos
" . . . de
r e s u m o do que eu havia vivido até aquele m o m e n t o .
sapatos. Nos abraçamos. Dias depois Marco Tulio
Falamos de Kissinger, Nixon, TFP. L e m b r a m o s a
telefonou, "vão soltá-lo". Chegou quieto e nunca quis
Aquele teatro do absurdo não durou mais que dez
tragédia de Minamata, cidade japonesa cuja população
falar do que viu e ouviu na Oban e no DOPS, muito
minutos. Ele encerrou a cena brandindo o Mais Um
sofreu barbaramente nos anos 1950, devido à
menos se foi torturado.
como se o quisesse rasgar a dentadas, ameaçador:
contaminação de mercúrio.
Perdeu o emprego na Cultura. Seus pais ajudaram c o m
E n ó s , em j o g r a l , t e n t a n d o
contestar:
quadrinhos."
dinheiro e mantimentos. Várias pessoas estavam saindo
Em u m quadro geral de intolerância ditada pela Lei
Voltou acusado de "ofender presidente de país amigo".
Richard Nixon. Por causa do escândalo Watergate,
do Brasil. Narciso não queria. U m amigo, Ruy Fernando
de Segurança Nacional, intervenções violentas para o
Barboza, intermediou o contato c o m u m político
controle da informação, prisões e perseguições policiais,
apareceu vestido de presidiário n u m a das capas mais
paranaense, Paulo Pimentel, para que Narciso fosse
esse positivismo revolucionário franco-brasileiro,
inspiradas do ex-.
montar u m j o r n a l diário, o Panorama, em Londrina.
obviamente, era apenas uma ironia dirigida à caserna,
O projeto gorou, Narciso então lançou com Ruy u m
porque se u m rótulo poderia dar uma pálida idéia da
jornalzinho de serviços, Viver Londrina. E preparava
ideologia daquela redação pode-se dizer que se tratava
a volta a São Paulo, para retomar o ex-, que ele havia
de u m grupo de jornalistas hetero-anarco-comuno-
fundado c o m o Sérgio de Souza.
sindicalistas, perseguidos ferozmente pela direita e
Então chegou a notícia da morte do Vlado.
aceitos c o m mil e uma restrições pela esquerda.
C o m a distensão lenta e gradual e a queda do regime
militar, as relações entre os jornalistas desse capítulo
Perseguidos
ferozmente pela
direita, aceitos com
restrições pela
esquerda
Hilton
Libos
No balcão do Pássaro Preto, e m frente da ex-redação
n o velho Bixiga, não estou s o z i n h o e m m e i o às levas
de n o r d e s t i n o s c h e g a n d o e savindo dos ô n i b u s pausde-arara que agora f a z e m p o n t o n o lugar. Era ali
que se c o m i a o arroz c o m feijão entre u m a edição e
Melhor jornal da rua
Santo Antônio, 1.043
Palmério
Dória
interessante nos 202 anos de história do jornalismo
brasileiro se atomizaram, como o princípio ético que os
regia ("ética é respeito à verdade, o resto é interpretação").
No começo de n o v e m b r o de 1975, pelas oito da noite,
Distantes não apenas na linha do tempo, mas também
meia dúzia de jornalistas do primeiro time sobem os 16
em relação à função social do jornalista contemporâneo
degraus que levam à redação do ex-, n u m sobradinho
que, e m sua maioria, está apenas de olho no dinheiro
do Bixiga. Não era segredo que os editores, e m cima
que pode ganhar.
do lance, a sangue-quente, iam dedicar o n ú m e r o 16
ao assassinato do colega Vladimir Herzog no D o i - C o d i
do II Exército. Os colegas v ê m aconselhar a gente
a não fazer isso. preocupados c o m nossa segurança,
Sérgio preso
O aterrorizante
camburão parou na
nossa porta
Lana
achavam que íamos cutucar o d e m o c o m vara curta.
"Eles estavam c o m mais m e d o que nós, só que nós
estávamos c o m a macaca", lembra Mylton Severiano, o
Myltainho, u m dos ex-editores, sublinhando que havia
certo sofisma no ar: "Diziam que, se p e d i a m que não
publicássemos, era para nos proteger. Já nós achávamos
que proteger seria publicar."
Nowikow
O ex- 16 trouxe a reportagem que viria a ser
outra, bebia-se o cafezinho b a f e j a n d o cigarros s e m
classificada como uma das 10 que abalaram a
filtro e cerveja, o pássaro de penas e n g o r d u r a d a s
d i t a d u r a , apanhada de calças c u r t a s . Claro q u e ,
d o m e s t i c a d o p e l o seu Vicente b i c a n d o p o r ç õ e s de
Não lembro o mês, era 1974. Morávamos n u m sobrado
depois d e s s a , o ex- não passou do 16. Era o fim
a m e n d o i m entre garrafas.
na Vila Beatriz, zona oeste de São Paulo, vindos de uma
do melhor jornal da Rua Santo A n t ô n i o , 1.043.
experiência de vida comunitária que durou o tempo
que duram as relações humanas quando maridos se
Naquele sobradinho, sublocado de u m sargento
apaixonam pelas mulheres dos amigos e vice-versa.
aposentado da Aeronáutica que usava o porão para
Tínhamos seis filhos, vivíamos do salário do Sérgio
estofar móveis, o ex-, publicação sem patrono e sem
como professor de jornalismo na Faculdade Objetivo e
patrão, viveu seu momento mais espetacular. Semanas
das traduções de fotonovelas que eu fazia para Capricho.
depois, n u m encontro fortuito na rua Major Quedinho, o
O fracasso econômico do Bondinho estava fresco na
magnífico repórter Ricardo Kotscho, que estava no grupo
memória, mas a vontade de desafiar a mediocridade
de jornalistas que visitou o ex- naquela noite, me disse:
imposta pela ditadura militar era mais forte. E nasceu
"Vocês ampliaram os nossos limites."
o ex-. Sala, cozinha e garagem se transformaram em
A reportagem de u m nanico - termo cunhado pelo
animada redação, e nossa casa em outra comunidade.
escritor João Antônio - viria a disputar o Prêmio Esso
Repressão forte, grana pouca, mas o ex- surpreendia pela
pau a pau c o m O Estado de S. Paulo. O Estadão venceu
ousadia e criatividade.
c o m Assim Vivem os Nossos Superfuncionários, sobre o
U m dia, depois de entregar as crianças que transportava
Escândalo das Mordomias, coordenada pelo próprio
da escola para casa (com as nossas, eram treze), vi a
Kotscho. Mas o ex- teve os votos de Cláudio Abramo e
aterrorizante perua Chevrolet C-14 cinza na nossa porta.
Carlos Castelo Branco. Se há placar moral - criação de
Sérgio saiu acompanhado por três homens.
Otelo, o Caçador, nas páginas de esporte de O Globo - o ex-
"São da Polícia Federal, vou prestar esclarecimentos."
Perguntei se podia ir j u n t o -
foi o vencedor.
Cláudio e Castelinho entenderam: sem
sim, podia segui-los no meu
a reportagem do ex- não teria havido a
carro, também uma C-14
reportagem do Estadão.
azul-cheguei, velhíssima, a peça g
O sobradinho ainda existe e m 2010. Passou
Não estou só porque permaneceram porções vivas
que muda as marchas vivia
por u m a reforma que lhe roubou o b o r o g o d ó ,
deixadas pela coragem editorial do Paulo Patarra, a
travando. A certa altura da av.
c o m u m a brega fachada de tijolinhos. O
pauta criativa do HAF, o estilo de manchetar do Narciso,
Doutor Arnaldo travou, mas
portão que dá na escada está sempre fechado
a edição do Myltainho, a capacidade impressionista de
me esperaram abrir o capô
a cadeado. U m grupo de moças m o r a ali.
João Antônio e Octávio Ribeiro.
e destravar. Seguimos para a
O porão é alugado por José Tomás Filho,
sede da Polícia Federal.
cearense de Mombaça, terra de Paes de
As t é c n i c a s , artes e m a n h a s do o f í c i o
D e m o r o u até que
Andrade - o deputado que virou presidente
g e n e r o s a m e n t e t r o c a d a s com os v e t e r a n o s
chamassem o Sérgio. D e p o i s
por três dias e nesse í n t e r i m lotou o avião
eram i m p o r t a n t e s para g a r a n t i r a e f i c i ê n c i a
foi m i n h a vez. Fizeram
presidencial e levou uma comitiva para
e q u a l i d a d e do t r a b a l h o que se tinha
perguntas de praxe e m e
festejar lá. T o m á s freta ônibus e c a m i n h õ e s
como
m a n d a r a m pra casa, talvez
que levam e trazem conterrâneos e suas
c i v i s , l i b e r d a d e e i g u a l d a d e . A s s i m um
m e u m a r i d o demorasse.
mudanças. O Pássaro Preto e m frente, que
g r u p o de i n f a n t e s t e r r í v e i s foi a p r e n d e n d o
Foram dois dias angustiantes
era extensão do ex-, tem novo dono, cearense
a f i s c a l i z a r o p o d e r com e s p í r i t o
(quantos não voltavam depois
d e t e r m i n a ç ã o é t i c a : a r e s t a u r a ç ã o dos
b u s c a n d o o c r i s t a l da v e r d a d e .
diretos
crítico,
dos tais esclarecimentos).
Sergio de
Souza
também, que, c o m o Tomás, não faz a m e n o r ideia de
que ali houve u m jornal. O pedaço é u m consulado da
República do Ceará.
do Alto da Lapa, onde a turma morava,
Mas no ex- era outra coisa. Vivíamos n u m a casa da Vila
Sobrevive impávido, na esquina c o m
regados a vinho Sangue de Boi, comendo
Romana, era ex- de dia, de noite, de madrugada. E, n o s
a Luís Barreto, o orelhão em que
omelete de salsa e queijo. E a salsa devia
fins de semana, saíamos para vender o ex- e ficar c o m
apurávamos nossas matérias, o que nos
ser rasgada na mão, não podia picar na faca,
a l g u m porque não pintava grana. Q u e r dizer, havia,
obrigava a sempre ter fichas nos bolsos.
ensinamento da mãe do Myltainho.
Faço sinal para o táxi pensando:
H a v i a u m p i a n o que o M y l t a i n h o tocava.
"E se tivéssemos entrado na trip de pavor
mas de f o r m a indireta. O Armindo, que cuidava da
"tesouraria", pagava o almoço n o Pássaro Preto, e soltava
R e c e b í a m o s visitas ilustres. A p a r e c e u
a l g u m caso acertasse n o s cavalinhos do Jóquei.
dos colegas?"
o P a u l o C a r u s o e os dois f i z e r a m u m
No ex-, fui soldado raso. Mas o pouco que convivi foi
Dentro do táxi, c o m ar condicionado
dueto. P a l m é r i o de cantor.
o bastante para me tornar u m sujeito mais consciente,
na esfuziante manhã de verão, o som
Inesquecível reunião no bar em frente,
mais ético, mais cético, mais humano. Foi a universidade
do motorista Luis Carlos despeja uma
quando decidimos fazer o Mais Um. Jayme
que jamais frequentei.
Dali e m diante, podia bater no peito e gritar "agora,
seleção c o m o melhor dos anos 60 e 70
Leão saiu com o leiaute do logotipo pronto.
do século 20: Paul Anka, Mamas and
Participei da feitura do Mais Um com
sim, sou u m jornalista de verdade". Devo isso aos
Papas, Johnny Rivers, Santana. C o m o
apreensão, mas com alegria.
inesquecíveis mestres Narciso, Paulinho Patarra e HAF, e
eram maravilhosos os anos 60! C o m o
toda a cambada. Só fui aprender mais com outro
eram maravilhosos os anos 70!
Dácio Nitrini,
Good morning, sunshine!
Fujiwara e Vanira Codato,
r e d a ç ã o d o ex-,
mestre, Sérgio de Souza, u m dos fundadores do ex-,
Sergio
en
na
1974
mas só convivi depois que o jornal foi fechado
pelos "homi".
O ex- m e trouxe para São Paulo, logo eu, carioca
Lições para um
aprendiz
Sérgio
renitente. Na Paulicéia nasceram m e u s três filhos. E
foi e m São Paulo, no ex-, que ganhei forma. Se hoje sou
capaz de tocar o barco na profissão é porque venho de
A gente se amava
Fujiwara
Suzana
longe. D o t e m p o e m que o ex- era o m a i o r orgulho de
nossas vidas. Era, não, continua sendo.
Regazzini
Tirei a sorte grande ao participar do ex-, após passar
pela arte da Espaço Tempo, que editava Grilo, semanal
Trabalhar no ex- foi uma grande escola. Trabalho e
de HQ; Jornalivro, livro "a preço de banana" como disse
paixão era o que nos movia.
o Serjão no editorial de lançamento; Fotochoq, de fotos
Nos últimos tempos uma presença constante era a
Fotos da coragem
de uma época
Elvira Alegre
chocantes, editado pelo Amancio Chiodi. Aprendi
do Geraldo Vandré, sentado na sala de entrada do
j o r n a l i s m o , estética revolucionária e ética do ser
sobradinho da Santo Antonio, 1.043. Vandré e o "quarto
independente.
poder" tinham "ocupado" a redação. Muitas vezes
No começo de 1973, Amancio e Suzana me falam que
chegava antes de todos nós na redação. Depois, n i n g u é m
que ia além da realização jornalística. Naquela p e q u e n a
Serjão, Narciso e Eduardo Barreto vão lançar nova
ligava mais.
redação, pobre de recursos, mas rica e m criatividade,
publicação. E me levam à casa do Sérgio. Fico sabendo
Outro fato memorável é da gente traçando rotas das
vivíamos de f o r m a intensa os c o m p o r t a m e n t o s mais
que não têm como pagar, mas somos b e m vindos e j á
bancas dos bairros, de norte a sul. Saía cedinho c o m
avançados da época. Era u m a vida comunitária sem
tinha um monte de trabalho.
uma Kombi cheia de jornais, u m bloquinho, e ia
n e n h u m a separação entre o trabalho e o dia-a-dia, c o m
A experiência de fazer o ex- era de u m a grandiosidade
A redação funcionava na garagem. Serjão sereno, claro e
deixando tudo e m consignação. Passado u m tempo, o
abertura total para a criatividade e u m respeito b e m
atencioso. Fiquei alguns dias até fecharmos a primeira
m e s m o trajeto, vendo quanto tinham vendido. Recolhia
b o n i t o da liberdade de cada um.
edição da publicação mais importante da imprensa
o dinheiro, levava pra redação e tudo era dividido
Este clima fora dos padrões rígidos daquele período de
ditadura é que havia me seduzido quando o grupo do
alternativa. Não queria mais me separar daquelas
igualmente entre todos. Os que tinham filhos ganhavam
pessoas, não havia dinheiro que pagasse o aprendizado.
um pouco mais.
No número 3, vestimos Nixon de presidiário.
Aprendi comprometimento, ideologia, paixão, união,
Produzimos u m pôster c o m a i m a g e m e vendíamos nas
verdade, amizade, dedicação, gastronomia, história,
Elvira Alegre
portas de cinema, bar, teatro. A l g u é m acabou detido por
geografia, honrar a palavra justiça.
fazer "propaganda subversiva".
Agradeço por fazer parte da história da imprensa
Veio o episódio do cometa Kohoutek, a imprensa
brasileira numa época turbulenta. Na nossa redação
ex- chegou em 1974 a
noticiava como grande espetáculo celeste por acontecer.
havia respeito e amizade e todos tínhamos valores.
Londrina, no Paraná,
Narciso, que a gente chamava de Turco, resolveu fazer
Acreditávamos no que fazíamos e, acima de tudo, nós nos
para fazer o jornal
o Jornal do Cometa, encartado no ex-. O Turco era
amávamos.
Panorama.
fantástico:
Foi então que
conheci Hamilton
" Ô , j a p o n ê s , você sabe
diagramar?"
S i m , só q u e eu era a s s i s t e n t e de a r t e , mas
e l e n ã o se a b a l o u :
" S a b e s i m , e se n ã o s a b e v a i a p r e n d e r
hoje!"
Foi a universidade
que jamais freqüentei
Ele me deu t e s o u r a , r é g u a , e s t i l e t e e b a s t õ e s
de c o l a , e c o r t a a q u i , c o l a a l i , t í t u l o com
José
Trajano
A l m e i d a Filho, o HAF,
u m dos p r i n c i p a i s editores deste j o r n a l , e c o m e c e i a
fotografar aos 18 anos para este projeto audacioso que
i n f e l i z m e n t e d u r o u m e n o s de seis meses.
C o m o f i m do Panorama, f o m o s todos para São Paulo
fazer o ex-. Eu j á estava casada c o m o HAF e m u i t o
t a l l e t r a , põe a f o t o . A m a n h e c e n d o , t í n h a m o s
apaixonada t a m b é m pelo j o r n a l i s m o .
as q u a t r o p á g i n a s
Em São Paulo, vivíamos no mais absoluto sistema
prontas.
O ex- m e m u d o u a vida. Me pôs de ponta-cabeça. Não
cooperativista, dividindo até a moradia, n u m sistema de
Foi minha primeira aula de diagramação. E que aula!
era n e n h u m bobalhão. Havia começado no Jornal do
vida que levava ao pé da letra o lema do "quem tem, põe,
Mais incrível foi o ex- sobre prostituição, o 5. Todo feito
Brasil em 1964, c o m 16 anos. V i m para São Paulo em
quem não tem, tira".
a mão. Não tínhamos grana alguma. Eu havia herdado
1975 rodado: Correio da Manhã, Jornal dos Sports, Última
O j o r n a l era tocado n o m a i o r aperto financeiro.
uma IBM elétrica de u m estúdio desmanchado. Era
Hora. Mas foi c o m o se j a m a i s tivesse entrado n u m a
A v e n d a de u m a edição pagava a p r ó x i m a , o que
daquelas máquinas c o m esferas, podia trocar dois ou três
redação. Estavam ali Hamiltinho, o HAF, que eu havia
exigia esforços c o m o a l o n g a v i a g e m que f i z e m o s
tipos de letras diferentes, trocando as esferas.
cruzado e m coberturas de futebol; Paulo Patarra;
até Maringá, n o Paraná, para lá i m p r i m i r o ex- 14 e
Myltainho digitou todas as matérias, as colunas certinhas,
Narciso Kalili; Myltainho; Alex Solnik; Palmério Dória.
baratear custos.
em papel couchê, para depois fotografar e montar as
C o m vários havia trabalhado n o Panorama, diário de
Antes do assassinato do Vlado j á havia u m a grande
páginas. Ficamos trancados dias e noites na sala da casa
Londrina, Norte do Paraná.
tensão no ar. A notícia de sua m o r t e chegou de
Amanhã,
quando a
gente acordar,
começa tudo
de novo
Vanira
Codato
Cheguei quando o pessoal estava
aqui em Londrina fazendo o diário
Panorama. Fui, acompanhando o Luís
Guerrero, então meu namorado, com a
cara e a coragem fazer algo que nunca
Governo do Estado de São Paulo
Governador
Alberto Goldman
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
Diretor-presidente
Hubert
Alquéres
Diretor Industrial
Teiji Tomioka
Diretor Financeiro
Clodoaldo Pelissioni
Diretora de Gestão de Negócios
Lucia Maria Dal Medico
Gerência de Produtos
Editoriais e Institucionais
Vera Lúcia Wey
tinha feito. Sempre gostei das artes, fui
entrando na editoria gráfica. Não tinha
a mínima idéia de como se diagramava,
Coordenação Editorial
Cecília Scharlach
montava e imprimia u m jornal. Mas,
quando a gente tem vinte e alguns
anos, costuma ser muito atrevida, e
havia a vontade de fazer algo que nos
afastasse daquela vidinha medíocre
que nos mostravam como caminho
Assistência
Bia Lopes
Editorial
Produção Gráfica
Laís Cerullo
Nanci Roberta da Silva Cheregatti
da felicidade. Quando vi, estava
participando da edição gráfica do ex-.
T e m p o s sem computador. Cada
En b u s c a d e a n ú n c i o s , t e x t o p e d i n d o
publicitários
apoiarem o
para
ex-
página era desenhada c o m lapiseira n u m diagrama;
o texto, datilografado em m á q u i n a de escrever, vinha
Tratamento de Imagens
Anderson Lima
Ailton Giopatto
Carlos Leandro Alves Branco
Leonídio Gomes
cheio de riscos e emendas a lápis ou caneta. Era
coisa de doido contar linhas
CTP, Impressão e Acabamento
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
madrugada à nossa casa,
e calcular a quantidade de
com o telefonema de u m
caracteres, para saber que
amigo.
tamanho de letra seria
Havia bastante medo,
necessário para ocupar o
mas também estava claro
espaço que cabia à matéria.
alguma
que era preciso reagir. E
E as eternas "brigas" c o m a
e n t r e 1973 e 1 9 7 5 , t e m p o s de
a forma de reação foi o
editoria de texto sobre o que
Foram
jornalismo corajoso que era
o pessoal chamava ditadura
u m a marca da turma do ex-.
da arte. E lá ia nossa resposta:
ditadores
Na ida para o velório e para
"Se não couber, corto a matéria
Um e n c a r t e d e a b e r t u r a
pelo pé!"
o enterro foi o HAF que falou
para eu fotografar tudo.
Depois, dias e noites na gráfica
Esta p u b l i c a ç ã o , editada
trata
contém
com
graça
produzidos
do e x - , n a n i c o c o r a j o s o q u e
usando
Foi editado
da
por Dácio Nitrini,
Chiodi,
de arte é de Kiko
fotografar enterro e naquela situação era até m u i t o
E s t ú d i o ) , l e i t o r do ex-
arriscado, mas fui fazendo m e u trabalho apesar do
Então saía da boca da rotativa aquele jornal, novinho em
clima de tensão que é visível nas fotos. Acabei tirando
folha, cheirando a tinta fresca, que borrava as mãos e que
as fotografias mais importantes da m i n h a carreira
a gente agarrava com alegria e, claro, j á criticando o que
e que estão entre as imagens mais significativas da
tinha saído errado.
de r e s i s t ê n c i a
E, atordoados de sono, mas felizes da vida, dávamos
foi realizado
No final, aquela audácia até temerária permitiu
aquela passadinha pelo boteco e íamos para casa
E s t a d o de São Paulo
fixar as imagens da coragem das pessoas frente ao terror
desmaiar porque amanhã, quando a gente acordasse,
da ditadura.
começaria tudo de novo.
do p r i m e i r o
picardia.
- e mostra
Mylton
ex-sobreviventes.
Farkas,(Máquina
desde
projeto
pequenino.
abraçado
Instituto Vladimir Herzog,presidido
H e r z o g , para
resgate
da m e m ó r i a
à ditadura
porque
da
concretizou
esta
Proibida a reprodução total ou parcial
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sem a autorização prévia dos editores
A v . Brigadeiro Faria Lima, 1853 conj. 2
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© Instituto Vladimir Herzog, 2010
Volumes acondicionados em caixa.
ISBN 978-85-7060-855-0 (Imprensa Oficial)
pelo
por
m i l i t a r . E só
a Imprensa
Contém encarte de abertura.
-
redação.
e Amancio
Trata-se
e
conta
Severiano
A direção
1. Jornalismo - Brasil - História 2. Jornalismo
panfletário 3. Jornalismo - Brasil - Humor, sátira etc
caixa
completa
enfrentou
criatividade
c o m o e r a m os b a s t i d o r e s
graça
escuridão.
e d i ç ã o f a c - s i m i l a r da c o l e ç ã o
acompanhando a composição, a montagem das páginas,
Edição fac-similar completa de novembro de 1973 a dezembro de 1975.
sem
ocorridos
1.500 exemplares. A
revisões. Sem contar cortes e inserções de última hora.
Foi feito o depósito legal na Biblioteca
Nacional
2010,
assuntos
e muito deselegantes,
Nunca é u m a tarefa fácil
nossa história recente.
no a n o d e
e elegância
do
publicação.

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