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CENÁRIOS POLÍTICOS BRASIL 2016 Produzido por Murilo de Aragão Cristiano Noronha José Negreiros Marcelo Camargo/ Agência Brasil Nº 203 > Brasília > DF MAIO TEMER NO COMANDO Reforma da Previdência, desvinculação de gastos da União e controle da dívida pública são as três prioridades da gestão do presidente interino 2 CENÁRIOS POLÍTICOS BRASIL 2016 Exclusivo para clientes Arko N° 203 O que esperar do novo governo O ponto central da análise sobre o governo Michel Temer é reconhecer que sua Presidência não é fruto do acaso. Por quê? Pelo simples fato de que Dilma Rousseff foi diligente em destruir a viabilidade de sua gestão. Pelo menos desde 2012, ela cometeu graves erros que resultaram no naufrágio de seu governo. Desde que foi eleito vicepresidente, em 2010, Temer acompanhou de camarote todo o volume absurdo de equívocos e besteiras que desfilou à sua frente. Como observador privilegiado, sabia que não ia terminar bem. Desde a campanha de 2010, foi deixado de lado por Dilma. Nunca era consultado. Nenhuma decisão estratégica foi seriamente submetida ao vice. Em 2015, após ser emparedada por Eduardo Cunha na Câmara e por Renan Calheiros no Senado, Dilma pediu socorro a Temer. Foram pouco mais de três meses (abril, maio e junho) de cooperação mútua que resultou na aprovação do pacote inicial de medidas 1 propostas pelo ministro Fazenda, Joaquim Levy. No entanto, Aloizio Mercadante, então chefe da Casa Civil, sabotou de todas as maneiras o relacionamento de Dilma com Temer. O que levou o vice-presidente a renunciar à função de coordenador político e desarranjar politicamente um governo confuso e frágil. Ao perder Temer, Dilma determinou o fim de seu mandato. Não por sabotagem do vice. E sim pelo agravamento dos disparates políticos, como, por exemplo, nomear dois ministros do PMDB1 que não ajudaram em nada na questão do impeachment. Michel Temer chega ao poder sabendo que Dilma cometeu dois graves tropeços: ausência de diálogo político com a base parlamentar e perda da credibilidade fiscal. A esses dois somam-se outros tantos, como negar um ambiente sadio aos investimentos. Abrir mão da simplificação da carga tributária. Deixar de lado acordos trabalhistas entre patrões e empregados. Seu diagnóstico é o de que o Brasil precisa de um choque de credibilidade por meio da adoção de medidas que restaurem a credibilidade fiscal do país e melhorem o ambiente para o investimento privado. Michel Temer sabe que a questão dos preços administrados, dos juros e do câmbio está razoavelmente bem encaminhada e que o cerne do problema, no momento, é dar credibilidade à política econômica e fiscal. Esta será a prioridade do novo governo, visando criar condições de retomada do desenvolvimento econômico. Para tal, como presidente, deve trabalhar com o seguinte roteiro: Adotar medidas de impacto fiscal e econômico com baixo custo político; e propor medidas de impacto fiscal e econômico com elevado custo político. As medidas de impacto fiscal e econômico com baixo custo político seriam as que podem ser tomadas no âmbito da administração pública sem a necessidade de aprovação no Congresso Nacional. Por Após entendimento entre a presidente Dilma Rousseff e Leonardo Picciani, líder do PMDB na Câmara, os deputados Marcelo Castro (PI) e Celso Pansera (RJ) foram nomeados para Saúde e Ciência e Tecnologia, respectivamente. 3 CENÁRIOS POLÍTICOS Exclusivo para clientes Arko BRASIL 2016 Marcelo Camargo/ Agência Brasil N° 203 exemplo: demissão de 1/3 dos cargos de confiança da administração pública; redução no número de ministérios; liberalização de regulamentos do pré-sal; revisões de atos normativos de diversos ministérios que aumentam o custo para o setor produtivo e restringem investimentos externos. As medidas de impacto fiscal e econômico de elevado custo político são as que dependem de aprovação no Congresso Nacional. Tais como: emenda da DRU (Desvinculação de Receitas da União), reforma previdenciária, teto de despesas para a administração pública, mudança do regime do pré-sal, entre outras. Para avançar com a agenda, Michel Temer deverá contar com amplo apoio político inicial. Potencialmente, poderá contar com 373 deputados e 60 senadores que darão respaldo inicial à agenda do governo. Em especial, medidas provisórias e temas já em curso no Congresso. Para o avanço da reforma previdenciária, Temer terá de enfrentar alguns desafios. O primeiro é construir uma proposta que seja consistente em termos fiscais. Ela deve atingir, inicialmente, apenas o funcionalismo público e com regras claras de transição. O segundo desafio é comunicar bem os objetivos da reforma para a opinião pública e a base política. Caso Temer consiga estabilizar um pouco as expectativas políticas e econômicas, poderá ter sucesso no avanço de sua agenda. As chances de conseguir avanços são positivas. Simplesmente pelo fato de que ele terá mais apoio do que Dilma Rousseff teve. E, no limite, é isso o que importa. 4 CENÁRIOS POLÍTICOS BRASIL 2016 Exclusivo para clientes Arko N° 203 Três prioridades: previdência, desvinculação e dívida O novo governo está consciente de que emendas constitucionais não serão aprovadas no curtíssimo prazo. Depois de enviadas ao Congresso, levarão cerca de quatro meses até que sua votação esteja concluída. Além de serem temas complexos, que têm tramitação especial e necessitam de quórum elevado, encontrarão forte resistência do PT e de movimentos sociais organizados. Temas regulatórios, que melhorem a qualidade da gestão da máquina pública e reduzam aspectos ideológicos, serão atacados por meio de projetos de lei em regime de urgência constitucional e medidas provisórias. preta da administração econômica, com dados subestimados por parte da Secretaria do Tesouro e superdimensionados sobre programas sociais, como o Minha Casa, Minha Vida As propostas só serão enviadas ao Congresso depois de negociadas, sistemática diferente da adotada pela presidente Dilma Rousseff, que, muitas vezes, surpreendeu o Parlamento com projetos sem consulta prévia. Reforma da previdência, desvinculação de gastos da União com saúde e educação e retomada do controle da dívida pública, com estabelecimento de teto para seu crescimento, são três prioridades da gestão de Michel Temer. As duas primeiras dependem de mudança constitucional. A terceira pode ser feita por legislação infraconstitucional. A avaliação é que os parlamentares torcem para que o governo Temer dê certo. Prova disso é que a iniciativa de convocação de novas eleições não encontrou apoio consistente na Casa. Se não houvesse interesse em colaborar, a adesão à ideia seria uma alternativa ao alcance dos parlamentares. 3 4 A seguir, as grandes linhas de atuação do novo governo: 1 2 O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, atuará como um primeiro-ministro, com ascendência sobre os demais integrantes do ministério, que estão conscientes de que a situação excepcional exige a colaboração de todos Há um grande receio de surpresas na abertura da caixa- 5 Apesar de não se tratar de um governo recém-saído das urnas, portanto com apenas cerca de 80% da bateria carregada, será possível queimar gorduras e apostar na percepção positiva da população Nessas circunstâncias, estima-se que haverá margem para pedir à população um aumento da receita tributária, via criação de impostos, em torno de 5%, desde que sejam feitos cortes na folha de detentores de cargos comissionados e em gastos de custeio A primeira demonstração de que a equipe que entra está disposta a fazer sacrifícios será a redução do número de ministérios de 31 para 21, a partir da pesquisa que constatou a frustração da população com a notícia de que Temer desistira dos cortes. 5 CENÁRIOS POLÍTICOS N° 203 Exclusivo para clientes Arko BRASIL 2016 AGENDA Legislativa O presidente Michel Temer terá o desafio de negociar com o Congresso Nacional uma série de medidas de natureza fiscal e regulatória. Algumas delas já estão em tramitação, outras deverão ser encaminhadas em breve MEDIDAS QUE JÁ SE ENCONTRAM NO CONGRESSO CONGRESSO MUDANÇA NA META FISCAL LDO O Congresso Nacional analisa proposta (PLN nº 1/2016) que altera a meta fiscal de 2016 para prever a possibilidade de a União fechar este ano com déficit primário (receitas menores que as despesas, sem contar os juros da dívida pública) de até R$ 96,7 bilhões. O projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias fixa os parâmetros do Orçamento da União, a ser encaminhado ao Congresso no final de agosto. Para 2017, prevê superávit primário de 0,1% do PIB e salário mínimo de R$ 946,00. O projeto também contempla a possibilidade de déficit fiscal de até R$ 65 bilhões, sendo R$ 42 bilhões para fazer frente à queda na arrecadação tributária e R$ 23 bilhões para financiar gastos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). CÂMARA DRU PRÉ-SAL FLEXIBILIZAÇÃO DA CLT DÍVIDAS DOS ESTADOS A Desvinculação das Receitas da União é o mecanismo que permitia ao Executivo gastar livremente 20% do Orçamento da União. Perdeu a validade no fim do ano passado. Uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC nº 4/15) prorroga a DRU até 2019. Como se trata de alteração constitucional, o quórum de aprovação é de 3/5 da composição da Casa (308 votos) em dois turnos de votação. Projeto de lei que retira da Petrobras a obrigatoriedade de participar da extração de petróleo da camada pré-sal (PL nº 4.567/16). O documento já foi aprovado pelo Senado. O objetivo é permitir que as convenções coletivas prevaleçam sobre as normas legais, salvo quanto aos direitos básicos. Vários projetos em tramitação na Casa tratam do assunto, que deve ser regulado por lei ordinária, aprovada por maioria simples. Encontra grande resistência dos sindicatos. Projeto em regime de urgência visa alongar o prazo de pagamento das dívidas de estados e municípios com a União (PLP nº 257/16). Além disso, impõe medidas que restringem aumento de remuneração e contratação de servidores públicos, razão pela qual foi gerado um impasse. Como se trata de matéria de lei complementar, necessita de maioria absoluta (257 votos). 6 CENÁRIOS POLÍTICOS BRASIL 2016 Exclusivo para clientes Arko MEDIDAS QUE JÁ SE ENCONTRAM NO CONGRESSO SENADO INDEPENDÊNCIA DO BC Trata-se de lei complementar. Prevê mandatos fixos para presidente e diretores do Banco Central. Para ser aprovada, são necessários 257 votos na Câmara e 41 no Senado. No caso de aprovação, segue para a Câmara. TERCEIRIZAÇÃO Projeto de lei ordinária já aprovado pela Câmara. Se sofrer mudanças, retorna à Câmara. Aprovado sem alterações, vai à sanção. Entre outros pontos, prevê a responsabilidade solidária da empresa contratante e da contratada nas obrigações trabalhistas. LIMITES PARA A DÍVIDA PÚBLICA Fixa tetos para o endividamento líquido e bruto da União. Durante os primeiros cinco anos da nova regra, a dívida poderia subir. Assim, o endividamento bruto, que hoje equivale a 5,6 vezes a receita corrente líquida (RCL), teria autorização para chegar a 7,1 vezes. Já a dívida líquida poderia passar das atuais 2,2 vezes a RCL para 3,8 vezes. No entanto, a partir do sexto ano, haveria uma queda linear e os limites de 4,4 (dívida bruta) e 2,2 (dívida líquida) deveriam ser atingidos até o décimo quinto ano. UNIFICAÇÃO DO ICMS Projeto de resolução de competência exclusiva do Senado. O objetivo é acabar com a guerra fiscal entre os estados, fixando a alíquota em 4%. Atualmente elas variam de 7% a 12%. Para aprová-lo, os governadores exigem a criação de dois fundos: um de desenvolvimento regional, a ser aplicado nos estados mais pobres; e outro de compensação, para repor eventuais perdas dos entes federados. O quórum de aprovação é de maioria absoluta (41 votos). PROPOSTAS SOB ANÁLISE IDADE MÍNIMA No país, não há idade mínima para aposentadoria. Apenas tempo de contribuição. A ideia é enviar ao Congresso proposta estabelecendo uma idade mínima para homens e mulheres se aposentarem. Requer mudança na Constituição. DESINDEXAÇÃO DE BENEFÍCIOS Discute-se a desindexação do valor das aposentadorias do salário mínimo. O parágrafo 2º do artigo 201 da Constituição diz: “Nenhum benefício que substitua o salário de contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal inferior ao salário mínimo. Portanto, há necessidade de mudança na Constituição.” DESVINCULAÇÃO DE RECEITAS SOCIAIS A Constituição obriga o Executivo a aplicar percentuais mínimos do Orçamento da União em algumas áreas, como saúde e educação. Estuda-se alterar a Constituição para flexibilizar tal obrigação. N° 203 7 CENÁRIOS POLÍTICOS N° 203 Exclusivo para clientes Arko BRASIL 2016 A nova base parlamentar O vice-presidente Michel Temer tem condições de construir uma maioria sólida no Congresso. É o que mostra levantamento realizado pela Arko Advice. Na Câmara, a base seria composta por 12 partidos políticos: PMDB, PSDB, PP, PR, PSD, PSB, DEM, PRB, PTB, SD, PPS e PV. Juntos, eles somam 373 votos. A oposição seria formada por PT, PCdoB, PDT e PSOL, que somam 92 votos. No Senado, a base potencial poderia somar 60 votos de 12 partidos (PMDB, PSDB, PP, PR, PSD, PSB, DEM, Senado Por isso, o ritmo do Congresso deve cair drasticamente entre os meses de agosto e outubro. Sem falar que o processo de impeachment da presidente continuará na agenda do Senado até, pelo menos, fim de julho e início de agosto. PRB, PTB, PPS e PV). A oposição somaria 15 votos. Nas duas Casas há base suficiente para que se aprovem emendas constitucionais. O maior obstáculo do novo governo não será, portanto, a falta de apoio no Congresso. Assim, Temer terá metade do mês de maio, junho e julho para avançar em sua agenda de ajuste. A proximidade das eleições municipais pode interferir na motivação dos parlamentares para aprovar medidas altamente impopulares. Temer deve ocupar temporariamente a Presidência a partir de 12 de maio. Em agosto começam os Jogos Olímpicos e a campanha para as eleições municipais. Tradicionalmente, 20% dos deputados se candidatam. Câmara dos Deputados Independente 6 Independentes 48 Oposição 92 Oposição 15 Base aliada 60 Base aliada 373 8 CENÁRIOS POLÍTICOS BRASIL 2016 Exclusivo para clientes Arko N° 203 Troca de comando Após a decisão do Supremo Tribunal Federal de afastar o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) do seu mandato e da presidência da Câmara, discute-se intensamente na Casa a sua sucessão. A maioria dos líderes da Casa entende que o primeiro vicepresidente, Waldir Maranhão (PP-MA), não tem condições de conduzir a aprovação da difícil pauta que Michel Temer terá pela frente. Articula-se a renúncia de Maranhão do cargo. Nesse caso, o PP, ao qual cabe a vaga, indicaria um novo nome. No momento, fala-se em Aguinaldo Ribeiro (PB), atual líder, Esperidião Amin (SC) e Júlio Lopes (RJ). Em poucas semanas, Maranhão anunciaria o entendimento de que o cargo de presidente da Câmara está vago. O argumento é que não há prazo para que o Supremo autorize o retorno de Eduardo Cunha. defender usando sua força no Legislativo, ou seja, colocará seus aliados para tentar impedir que essa solução seja posta em prática. Espera-se que haja uma batalha regimental em torno do assunto. Outra solução é nomear Maranhão para algum cargo. Licenciado do mandato, o 2º vice-presidente Giacobo (PRPR) assumiria o comando. Cunha também deve recorrer ao STF para tentar reverter a situação. A tendência, no entanto, é que, a julgar pelo placar dilatado que decidiu por seu afastamento (11 X 0), os ministros não acatem o seu pedido. Eles podem alegar que se trata de uma questão interna corporis. Mas ninguém espera que Eduardo Cunha assista a esse movimento de forma silenciosa. Ele tentará se Com o entendimento da vacância no cargo prevalecendo, haveria nova eleição. E este seria um dos primeiros testes da articulação política de Temer. É provável que o PMDB tenha que ceder para outros aliados o comando da Câmara. Afinal, o partido já comanda o Senado e a Presidência da República. Entre os cotados estão Rogério Rosso (PSD-DF), André Moura (PSC-SC), Antonio Imbassahy (PSDB-BA) e Jovair Arantes (PTB-GO). O risco dessa solução é Eduardo Cunha se considerar traído pelo PMDB e usar o prestígio que ainda lhe resta para criar dificuldades para Temer. Eis um problema que exigirá atuação cirúrgica da nova coordenação política. 9 CENÁRIOS POLÍTICOS N° 203 Exclusivo para clientes Arko BRASIL 2016 Os homens fortes do presidente HENRIQUE MEIRELLES Até ser convidado para comandar a economia (Ministério da Fazenda), o ex-presidente do Banco Central tinha relações formais com o futuro presidente, Michel Temer. Hoje, o entendimento entre ambos se fortalece com uma admiração recíproca. Meirelles será uma espécie de primeiro-ministro, com influência sobre vários setores. Dividirá com Temer a árdua missão de recuperar a confiança, por enquanto com medidas que demorarão a se tornarem concretas, mas capazes de apontar com clareza o rumo da estabilização. 2 ELISEU PADILHA Um dos mais competentes operadores políticos do partido, encarregado da formação de quadros e de treinamento de cabos eleitorais nas fases pré-campanha. Especialista na contabilização de apoios na véspera das grandes votações, é o braço-direito de Temer. Na Casa Civil será o responsável pelo principal filtro político do novo presidente. Ex-ministro dos Transportes e da Aviação, tem bons contatos no setor privado e domina o relacionamento com os parlamentares da base aliada de Temer. MOREIRA FRANCO Ex-prefeito de Niterói e ex-governador do Rio de Janeiro, vai coordenar as privatizações na área de infraestrutura, tema que passou a dominar ao ocupar o Ministério da Aviação. Foi o primeiro do grupo do Jaburu a confrontar a presidente Dilma Rousseff e dar contornos ao que os petistas etiquetaram inicialmente de conspiração e, mais tarde, de golpe. Moreira é dos maiores conhecedores do pensamento estratégico de Michel Temer, com quem se senta à mesa quase todos os dias no jantar para fazer planos para a economia. 4 3 GEDDEL VIEIRA LIMA Conhecido por seus métodos agressivos de fazer política, o baiano Geddel foi um dos primeiros políticos do PMDB a forçar o rompimento com o PT e a apoiar o impeachment. Exvice-presidente da Caixa Econômica, será o futuro secretário-geral da Presidência, por quem passam as decisões políticas mais importantes e parte da formulação do relacionamento com a base aliada. É um dos principais defensores do lançamento de candidatura própria à Presidência em 2018. ROMERO JUCÁ Líder do governo no Senado nos últimos 20 anos, domina os fundamentos da economia, é hábil negociador e tem uma enorme capacidade de aproximar interesses empresariais do Congresso. Homem de confiança de Temer, assumiu a presidência do partido quando o então vice-presidente teve de se afastar, no calor do embate com os petistas, para evitar maiores desgastes. Terá papel decisivo na formulação de medidas econômicas pró-ajuste e na estratégia de convencimento parlamentar para aprová-las. 6 1 5 HENRIQUE EDUARDO ALVES ex-presidente da Câmara e ex-deputado com o segundo maior número de mandatos consecutivos (11), foi o primeiro a desembarcar do governo Dilma – onde ocupava o cargo de ministro do Turismo – depois do rompimento do PMDB. Parceiro de primeira hora de Michel Temer, fez política ao lado do lendário Ulysses Guimarães, a quem seu pai, Aluízio Alves, exgovernador do Rio Grande do Norte, foi ligado. Em 2014 perdeu a eleição para comandar seu estado por falta de apoio do ex-presidente Lula. 10 CENÁRIOS POLÍTICOS BRASIL 2016 Exclusivo para clientes Arko N° 203 A agenda do PT O Partido dos Trabalhadores e os movimentos sociais na liderança da oposição de esquerda ao governo Michel Temer manterão o discurso de golpe. E tentarão colocar a população contra o novo governo, sob o argumento de que ele pretende atingir direitos sociais, cortar programas sociais e entregar o patrimônio nacional. ficará enfraquecido e não terá condições de, em razão da perda de filiados pelo desemprego, financiar as diversas frentes de lutas. Entre estas estão o combate às mudanças nas legislações trabalhista e previdenciária, além da luta geral dos movimentos dos sem terra, sem teto, atingidos por barragens, entre outros. Entretanto, colocar esse plano em prática não será uma tarefa fácil. Tanto por dificuldade de financiar a mobilização, já que a militância se acostumou a só atuar quando remunerada, quanto pelas contradições decorrentes das medidas propostas durante os governos do PT. Até conseguirem apoio internacional, como no período anterior aos governos do PT, as Organizações Não Governamentais e os movimentos sociais terão dificuldade de se manterem atuantes, conforme imaginam seus defensores e apoiadores. Vão utilizar muito o efeito demonstração, concentrando as ações em atos de grande repercussão, como o fechamento de ruas ou rodovias, ocupação de prédios para protestos, entre outros. No primeiro aspecto, é de conhecimento público que os governos petistas investiram muito dinheiro nos movimentos sociais, geralmente via convênio na prestação de serviços e formação profissional. E também regaram as contas dos blogs de esquerda que davam sustentação ao governo. Com a fonte secando, a tendência é que toda essa carga de custos e gastos recaia sobre o movimento sindical, que No segundo aspecto das contradições, a oposição do PT será envergonhada em relação a alguns temas, como reforma da previdência, privatizações e corte de direitos sociais, até porque na gestão Dilma Rousseff houve estudos e iniciativas tendo em vista esse propósito. Vale lembrar as Medidas Provisórias nº 664 e nº 665, que suprimiram direitos de pensionistas, reviram os critérios do segurodesemprego, do segurodefeso e também do abono salarial, além de o governo ter constituído um grupo de trabalho para propor uma reforma da previdência. A maior contradição, porém, refere-se ao projeto de lei complementar nº 257, que, em nome da negociação da dívida dos estados, propõe uma série de exigências, como a privatização de empresas, a adoção de previdência complementar e a suspensão de reajuste dos servidores desses entes federativos. Propõe ainda mudanças na Lei de Responsabilidade Fiscal que poderiam inviabilizar até o aumento real do salário mínimo, tema aparentemente sagrado para o PT. Assim, embora o diálogo fique travado nos primeiros meses, a força do PT e dos movimentos sociais não será suficiente para constranger nem impedir a implementação da agenda proposta por Temer. A oposição numérica no Congresso não terá poder de veto em relação à PEC e nem tem número para formar, por exemplo, CPIs. 11 CENÁRIOS POLÍTICOS N° 203 Exclusivo para clientes Arko BRASIL 2016 55 a favor X 22 contra Com 55 votos favoráveis e 22 contra, o Senado aprovou a admissibilidade do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Três senadores não participaram: Jáder Barbalho (PA), Eduardo Braga (AM), que está de licença médica, do PMDB, e o suplente do senador cassado Delcídio do Amaral, Pedro Chaves (MS), do PSC, que ainda não tomou posse. Renan Calheiros (PMDB-AL) não votou. Michel Temer assumirá interinamente o cargo até que o Senado conclua o julgamento. SENADOR Acir Gurgacz Aécio Neves Aloysio Nunes Ferreira Alvaro Dias Ana Amélia Angela Portela Antonio Anastasia Antonio Carlos Valadares Armando Monteiro Ataídes Oliveira Benedito de Lira Blairo Maggi Cássio Cunha Lima Ciro Nogueira Cristovam Buarque Dalirio Beber Dário Berger Davi Alcolumbre Donizeti Nogueira Edison Lobão Eduardo Amorim Elmano Férrer Eunício Oliveira Fátima Bezerra Fernando Bezerra Coelho Fernando Collor Flexa Ribeiro Garibaldi Alves Filho Gladson Cameli Gleisi Hoffmann Hélio José Humberto Costa Ivo Cassol João Alberto Souza João Capiberibe Jorge Viana José Agripino José Maranhão José Medeiros PARTIDO PDT PSDB PSDB PV PP PT PSDB PSB PTB PSDB PP PR PSDB PP PPS PSDB PMDB DEM PT PMDB PSC PTB PMDB PT PSB PTC PSDB PMDB PP PT PMDB PT PP PMDB PSB PT DEM PMDB PSD Na estimativa da Arko Advice, a votação final pode acontecer entre a última semana de julho e a primeira de agosto. A presidente Dilma retornará ao cargo se o Senado rejeitar o impeachment ou se, ao final de 180 dias contados a partir da notificação, ainda não tiver concluído sua análise. O placar da votação de hoje – acima dos dois terços –, sinaliza que é muito pouco provável que o PT consiga evitar o impeachment de Dilma Rousseff. UF RO MG SP PR RS RR MG SE PE TO AL MT PB PI DF SC SC AP TO MA SE PI CE RN PE AL PA RN AC PR DF PE RO MA AP AC RN PB MT VOTO A favor A favor A favor A favor A favor Contra A favor A favor Contra A favor A favor A favor A favor A favor A favor A favor A favor A favor Contra A favor A favor Contra A Favor Contra A favor A favor A favor A favor A favor Contra A favor Contra A favor Contra Contra Contra A favor A favor A favor SENADOR José Pimentel José Serra Lasier Martins Lídice da Mata Lindbergh Farias Lúcia Vânia Magno Malta Marcelo Crivella Maria do Carmo Alves Marta Suplicy Omar Aziz Otto Alencar Paulo Bauer Paulo Paim Paulo Rocha Raimundo Lira Randolfe Rodrigues Regina Sousa Reguffe Ricardo Ferraço Roberto Requião Roberto Rocha Romário Romero Jucá Ronaldo Caiado Rose de Freitas Sérgio Petecão Simone Tebet Tasso Jereissati Telmário Mota Valdir Raupp Vanessa Grazziotin Vicentinho Alves Waldemir Moka Walter Pinheiro Wellington Fagundes Wilder Morais Zeze Perrella Todos os senadores do PT (11), PCdoB (1) e REDE (1) votaram a favor da presidente. No PMDB, dos 18, 13 votaram pelo afastamento. Apenas dois divergiram. As bancadas do PSDB (11), PP (6), PR (4), DEM (4), PSC (1), PPS (1), PTC (1) e PV (1) votaram integralmente contra Dilma. O senador e expresidente Fernando Collor de Mello, que também sofreu impeachment em 1992, fez um contundente discurso e votou contra o governo. PARTIDO PT PSDB PDT PSB PT PSB PR PRB DEM PMDB PSD PSD PSDB PT PT PMDB REDE PT s/ sigla PSDB PMDB PSB PSB PMDB DEM PMDB PSD PMDB PSDB PDT PMDB PC do B PR PMDB s/ sigla PR PP PTB UF CE SP RS BA RJ GO ES RJ SE SP AM BA SC RS PA PB AP PI DF ES PR MA RJ RR GO ES AC MS CE RR RO AM TO MS BA MT GO MG VOTO Contra A favor A favor Contra Contra A favor A favor A favor A favor A favor A favor Contra A favor Contra Contra A favor Contra Contra A favor A favor Contra A favor A favor A favor A favor A favor A favor A favor A favor Contra A favor Contra A favor A favor Contra A favor A favor A favor Quatro senadores não participaram da votação. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Jader Barbalho (PMDB-PA), Eduardo Braga (PMDB-AM), que está em licença médica, e o suplente do senador cassado Delcídio do Amaral, Pedro Chaves (PSC), que ainda não tomou posse. 12 CENÁRIOS POLÍTICOS BRASIL 2016 Exclusivo para clientes Arko N° 203 Mapa da votação CÂMARA SENADO PARTIDO BANCADA F C AB A BANCADA F C AB A PMDB 67 59 7 0 1 18 13 2 1 2 PT 60 0 60 0 0 11 0 11 0 0 PSDB 52 52 0 0 0 11 11 0 0 0 PP 45 38 4 3 0 6 6 0 0 0 PR 40 26 10 3 1 4 4 0 0 0 PSD 37 29 8 0 0 4 3 1 0 0 PSB 32 29 3 0 0 7 5 2 0 0 DEM 28 28 0 0 0 4 4 0 0 0 PRB 22 22 0 0 0 1 1 0 0 0 PTB 20 14 6 0 0 3 1 2 0 0 PDT 19 6 12 1 0 3 2 1 0 0 SD 14 14 0 0 0 - - - - - PTN 12 8 4 0 0 - - - - - PCdoB 10 0 10 0 0 1 0 1 0 0 PSC 10 10 0 0 0 1 1 0 0 0 PPS 8 8 0 0 0 1 1 0 0 0 PTC - - - - - 1 1 0 0 0 PHS 7 6 1 0 0 - - - - - PROS 6 4 2 0 0 - - - - - PSOL 6 0 6 0 0 - - - - - PV 6 6 0 0 0 1 1 0 0 0 REDE 4 2 2 0 0 1 0 1 0 0 PTdoB 3 2 1 0 0 - - - - - PEN 2 1 1 0 0 - - - - - PSL 2 2 0 0 0 - - - - - PMB 1 1 0 0 0 - - - - - Sem partido - - - - - 2 1 1 0 0 TOTAL 513 367 137 7 2 80 55 22 1 2 F = A favor C = Contra AB = Abstenção A = Ausente 13 CENÁRIOS POLÍTICOS N° 203 Exclusivo para clientes Arko BRASIL 2016 Os próximos passos 12 DE MAIO Notificação e afastamento da presidente por 180 dias. O vice assume Início do prazo de 20 dias para que a presidente apresente sua defesa na Comissão. Período de instrução do processo na Comissão 16 DE JUNHO 1º DE JUNHO Possibilidade de oferecimento de alegações finais escritas pelos denunciantes e pelo denunciado Apresentação da defesa, com interrogatório do denunciado 27 DE JUNHO 28 DE JUNHO 1º DE JULHO Parecer da Comissão Especial sobre a procedência ou não da acusação Votação do parecer na Comissão Especial Votação sobre a procedência ou não da acusação (maioria simples) 8 DE JULHO 6 DE JULHO 4 DE JULHO Abertura de vista ao denunciado ou ao seu defensor Intimação dos denunciantes da deliberação plenária do Senado Federal Notificação dos denunciados 21 DE JULHO* 11 DE JULHO Encaminhamento dos autos ao presidente do Supremo Tribunal Federal, que designará data para julgamento do denunciado Julgamento final no Senado (dois terços) * Dependerá do recesso parlamentar e de manobras regimentais e legais Aprovação da admissibilidade do processo contra a presidente Dilma Rousseff 13 DE MAIO ARKO ADVICE CENÁRIOS POLÍTICOS Nº 203 Publisher Murillo de Aragão Edição Cristiano Noronha José Negreiros Redação Carlos Bellini Borenstein Guilherme Otaviano Lucas de Aragão Marcos Augusto de Queiroz Michael Lopez Thiago de Aragão Diagramação Edimilson Alves Pereira