Visões e conceitos históricos da Educação Comparada

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Visões e conceitos históricos da Educação Comparada
Periodização •  Pedagogia do estrangeiro: –  caracterizado pelo produto das viagens de estudo ao estrangeiro realizadas por pedagogos e polí7cos, que observavam a organização educa7va dos países vizinhos e eventualmente a comparavam com a do próprio país; •  Pedagogia comparada propriamente dita: –  desenvolve-­‐se ao longo do século XX e busca a explicação dos factos pedagógicos, ou seja, as suas forças determinantes ou factores configurados. •  Emprés7mo: –  que cobre o século XIX, onde se buscava a apresentação de dados descri7vos que deviam fazer a comparação com o objec7vo de avaliar as melhores prá7cas educa7vas para as transpor para outros países. •  Predição: –  ocupou a primeira metade do século XX, e iniciou-­‐se com Michael Sadler que introduziu a ideia de que o sistema educa7vo não é parte separável da sociedade que lhe serve de base. Os seus con7nuadores (Friedrich Schneider, Franz Hilker, Isaac Kandel, etc) passaram a dar especial atenção aos alicerces da educação. Assim, já se poderia predizer o provável sucesso de um sistema educa7vo num país com base em experiências similares de outros países. •  Análise: –  a ênfase é colocada na classificação dos factos educa7vos e nos sociais que lhe estão associados. Assim, havia uma preocupação em desenvolver teorias e métodos e estabelecer uma clara formulação das etapas, dos processos e dos mecanismos compara7vos para que se fizesse uma análise menos baseada em valores é7co-­‐emocionais. •  Etapa estrutural: –  representada pela obra Esquisse, de Marc-­‐Antoine Jullien de Paris, publicada em 1817, considerada o marco inicial da Educação Comparada, onde se encontram os princípios “arquitecturais” e os princípios metodológicos dos estudos comparados em educação. •  “inquiridores”: –  aproximadamente de 1830 a 1914, quando os governos mandavam os inquiridores percorrerem a Europa e os Estados Unidos para estudar os sistemas de ensino em vigor nesses países. •  Sistema7zações teóricas: –  ocorre por volta de 1920-­‐1940, que é marcado pelos trabalhos de Kandel, Schneider, Hans, entre outros. Este período foi dominado por preocupações históricas. •  Período Prospec7vo: –  ocorre após a segunda guerra mundial e, sobretudo depois de 1955, quando os estudos comparados em educação passaram a estar voltados para o futuro. • 
Período dos viajantes: –  caracterizado por trabalhos assistemá7cos, mo7vados pela curiosidade e marcados por interpretações subjec7vas, não havendo planeamento para os relatos, que se baseavam em factos que se destacavam pelo pitoresco ou pela diferença em relação ao que se passava no país do observador. • 
“Inquiridores”: –  durou boa parte do século XIX, e é aquele no qual os observadores se deslocavam a países estrangeiros com o fim de recolher dados que pudessem servir para melhorar o sistema educa7vo do seu país. • 
Colaboração internacional: –  o intercâmbio cultural entre os povos é es7mulado e a educação é vista como um instrumento de harmonia e entendimento entre nações. (con7nuação) •  Quarto período, denominado de “forças e factores”: –  acontece entre as duas grandes guerras, realçam a dinâmica das relações entre a educação e a cultura e procuram explicações para a variedade de fenómenos educa7vos observados em cada país, buscando a compreensão das relações escola-­‐sociedade através da análise histórico-­‐culturalista, que procurava explicar o presente a par7r das dinâmicas legadas pelo passado. •  No quinto e úl7mo período, busca-­‐se a explicação pelas ciências sociais, e os trabalhos recorrem fundamentalmente aos métodos empírico-­‐quan7ta7vos, na busca de esclarecer cien7ficamente as relações entre a educação e a sociedade, num plano mundial. Ferran Ferrer  4 períodos •  Jullien de Paris. •  Etapa descri7va. •  Etapa interpreta7va. •  Etapa compara7va. •  Pai da Educação Comparada –  Esquisse et vues préliminaires d’un ouvrage sur l’éduca6on comparée, entrepris d’abord pour les vingt-­‐deux cantons de la Suisse, et pour quelques par6es de l’Allemagne et de l’Italie, et qui doit comprendre successivement, d’aprés le méme plan, tous les Etats de l’Europe –  1817 –  introduzindo a comparação na abordagem da educação. Esboço e visões exploratórias do trabalho de uma educação comparada, uma primeira abordagem entre os vinte e dois cantões da Suíça, e em seguida para qualquer parte da Alemanha e Itália, e isso se deve muito para compreender sucessivamente os planos de ensino de todos os Estados de Europa. (tradução livre, Pariz, 2004) •  O objec7vo –  não era o de criar uma ciência nova –  mas de lançar um projecto •  recolher informações para a elaboração de um quadro compara7vo dos principais estabelecimentos de educação europeus; •  funcionamento e métodos; •  colaboração de pessoas influentes e dos poderes públicos, para que se pudesse proceder da melhor forma à desejada reforma da educação. O livro •  Cons7tuído de duas partes: –  na primeira são apresentados a •  jus7fica7va do projecto; •  objec7vos; •  noções gerais. –  na segunda, é apresentado um •  instrumento para que a recolha de dados se desse com maior eficácia. Jullien dava muita importância aos ques7onários, considerando-­‐
os verdadeiros instrumentos de trabalho para a análise educa7va. Na sua perspec7va, através deles poder-­‐se-­‐iam obter “colecções de factos e de observações, agrupadas em quadros analí7cos que permi7am relacioná-­‐las e compará-­‐las, para delas deduzir princípios certos” e deste modo, transformar-­‐se a educação numa “ciência mais ou menos posi7va”. Do esquecimento à projecção mundial 1822 e 1826 – Tradução polonesa e inglesa (parcial) Esquecimento Projecção por Pedro Rosselló, a par7r de 1943, e em 1967 ganhou uma tradução portuguesa, in7tulada Esboço de uma obra sobre a Pedagogia Comparada, de Joaquim Ferreira Gomes. Contributos de Jullien para a EC •  Segundo Ferran Ferrer: –  importância que tem o manusear uma metodologia empírica e cienpfica; –  necessidade de elaborar instrumentos que servem tal finalidade; –  importância de factores externos sobre a educação; –  as vantagens que tem o conhecimento da educação noutros países; –  a contribuição da Educação Comparada no progresso da educação no mundo. •  Por ser muito ambicioso para a época, o projecto de Jullien não foi compreendido. •  O objec7vo (nesta fase) –  conhecer como se organizava o ensino em países 7dos como desenvolvidos, para importar os aspectos que poderiam trazer melhorias aos próprios sistemas escolares. •  Muitas das obras publicadas neste período tratavam-­‐se de meras descrições dos sistemas educa7vos estrangeiros. •  Salientou-­‐se a importância de uma análise um pouco mais ampla sobre a realidade dos países estrangeiros. •  Mathew Arnold (1861, 1882) –  adver7u sobre o perigo da imitação de aspectos isolados, sem se levar em conta os contextos que os tornam possíveis •  Ferreira (1999) defende esta afirmação: –  De facto, um dos contributos mais importantes consis7u na delimitação de factores determinantes para a configuração dos sistemas educa7vos nacionais: •  tradições históricas •  o carácter e as diferenças nacionais; •  as condições geográficas; •  a economia e a configuração da sociedade. •  descrição dos sistemas nacionais de ensino  insuficiente para a compreensão do fenómeno da educação. •  Michael Sadler “protagoniza uma alteração na forma de abordar a Educação Comparada. –  Ferreira (1999), considera-­‐o como o precursor do período seguinte. •  1900 – o início desta etapa. •  Acontecimentos significa7vos: –  organização de um curso universitário de Educação Comparada na Universidade de Columbia; –  publicação de um texto de Michael Sadler no qual se pronunciava sobre a u7lidade da Educação Comparada para a compreensão do sistema educa7vo nacional. •  Estes dois acontecimentos levaram à sistema7zação de conhecimentos e deram uma espécie de autodeterminação à Educação Comparada. •  Michael Sadler  cons7tui uma concepção teórica em Educação Comparada. –  How far can we learn anything of prac6cal value from the study of foreignsystems of educa6on?* •  apresenta algumas das suas principais ideias sobre a forma de abordar os estudos compara7vos e a sua u7lidade. * Até aonde podemos apreender algo prá7co dos estudos de sistemas educacionais estrangeiros? (tradução livre) •  afirma que as coisas que estão fora da escola, são mais importantes que aquelas que se encontram dentro dela; •  realçou a importância de se compreender o espírito e a tradição dos sistemas educa7vos; •  salientou a conveniência de se estudar os sistemas educa7vos estrangeiros para uma melhor compreensão do seu próprio; •  perspec7vou uma dimensão sociológica, ao buscar entender os aspectos educa7vos num contexto social e cultural mais amplo; •  adver7u para o inconveniente de a EC se tornar refém da estaps7ca, uma vez que esta tende a iden7ficar a educação com a escola. Abordagens Causas e interpretações •  Neste período os compara7stas preocuparam-­‐se não só em descrever a educação dos outros países, mas também em indagar as causas e tentar interpretá-­‐las: –  abordagens ou tendências: •  interpreta7vo-­‐histórica; •  interpreta7vo-­‐antropológica; •  interpreta7vo-­‐filosófica. Abordagem interpreta(vo-­‐histórica •  Destacam-­‐se Isaac L. Kandel e Nicholas Hans. •  Kandel interessou-­‐se pelos factos, mas, sobretudo pelas causas que os possibilitam, dando especial atenção aos factores históricos. –  Acredita que a história dos povos permite descobrir as par7cularidades nacionais dos sistemas educa7vos: •  Tendo em conta as forças polí7cas, sociais, culturais e o carácter nacional. •  As maiores contribuições de Kandel para a EC são as seguintes: insistência na recolha de dados fiáveis, na necessidade de analisar o contexto histórico de cada sistema educa7vo e na necessidade da explicação. •  Hans u7liza-­‐se tanto da História quanto da Sociologia na interpretação dos dados. •  Acredita que os factores determinantes dos sistemas educa7vos dividem-­‐se em três grupos: –  factores naturais (raça, língua, meio ambiente) –  factores religiosos (Catolicismo, Anglicanismo, Puritanismo) –  factores seculares (Humanismo, Socialismo, Nacionalismo, Democracia). •  Afirma que a compreensão do carácter nacional é absolutamente fundamental para interpretar os sistemas nacionais de educação. O carácter nacional era entendido como um resultado complexo de –  misturas raciais; –  de adaptações linguís7cas; –  de movimentos religiosos; –  de situações históricas e geográficas em geral. Abordagem interpreta(vo-­‐antropológica • 
Duas posições importantes: a de Schneider e a de Moehlman. • 
Friedrich Schneider considerava que o estudo compara7vo só 7nha sen7do se fossem analisados os diversos factores que configuravam um sistema educa7vo: – 
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o carácter nacional o espaço geográfico a cultura a ciência a filosofia a estrutura social e polí7ca a economia a religião a história as influências estrangeiras e as influências decorrentes da evolução da pedagogia. •  O mais original de seu pensamento é a importância dada ao factor endógeno (imanente, interno ou potencial) na estruturação dos sistemas educa7vos nacionais. •  Sugeriu que, ao se encontrar concordância na educação de dis7ntos povos, se pergunte sobre a possibilidade de se atribuírem tais concordâncias às coincidências existentes entre as respec7vas culturas. •  o perfil da educação de cada sociedade é determinado pelo complexo jogo de interferências e interacções entre catorze factores (agrupados por afinidades): –  1) população, espaço, tempo; –  2) linguagem, arte, filosofia, religião; –  3) estrutura social, governo, economia; –  4) tecnologia, ciência, saúde, educação. Abordagem interpreta(vo-­‐filosófica •  J. A. Lauweris e Sergius Hessen. •  A importância de Hessen deve-­‐se à sua busca das bases teórico-­‐ideológicas dos sistemas educa7vos. (conjunto de ideias, crenças e doutrinas, próprias de uma sociedade, de uma época ou de uma classe, e que são produto de uma situação histórica e das aspirações dos grupos que as apresentam como impera6vos da razão) •  Lauweris afirmava que a Educação Comparada deveria atender a es7los nacionais de filosofia, pois, apesar de a filosofia ter um alcance universal, os diversos povos apresentam uma inclinação por um determinado 7po de pensamento filosófico. –  Não excluía as outras abordagens (histórica, sociológica, antropológica, etc.), desde que confiassem a síntese crí7ca à abordagem filosófica. •  Os anos seguintes à II Guerra Mundial resultaram em abordagens bastante diversificadas, na tenta7va de renovação da Educação Comparada: –  abordagem posi7vista; –  abordagem de resolução de problemas; –  abordagem crí7ca; –  abordagem sócio-­‐histórica. Abordagem posi7vista •  Do final da Grande Guerra até cerca do final dos anos sessenta, era o funcionalismo que orientava as análises sociológicas. –  Abordagem: •  claramente descri7va; •  não tem uma dimensão histórica. •  No entanto, fica parecendo ar7ficial a descrição e a verificação de partes de um todo, sem que se aborde o sen7do da organização, seu desenvolvimento, sua história. •  A par7r da década de 60, surge a perspec7va estrutural-­‐funcionalista: –  busca estabelecer um relacionamento entre: •  estrutura e a (s) função (s) das ins7tuições educacionais, e entre elas e as outras ins7tuições sociais. •  A. M. Kazamias e C. A. Anderson. Kazamias: •  Educação Comparada precisava adoptar uma base cienpfica. •  O seu objec7vo deveria ser o de descobrir as funções que as escolas, como estruturas sociais, desempenham em cada país. Anderson •  Sugere que a inves7gação compara7va deve atender a duas dimensões: Situação educa7va em si Relação dos aspectos educa7vos com o seu contexto Análise intra-­‐educa7va, para que se estabeleçam as relações entre os dis7ntos aspectos dos sistemas educa7vos. Análise social-­‐educa7va, para se estabelecer as inter-­‐
relações entre as caracterís7cas educa7vas e as variáveis sociais. •  O maior objec7vo com a u7lização desta abordagem foi o de fornecer um quadro interpreta7vo mais fiável, ao não dissociar a estrutura da função, trabalhando aspectos mais manejáveis da realidade e ao formular generalizações passíveis de confirmação empírica. •  Como já sublinhou Nóvoa (1988) a retórica da ‘cien7ficidade’ é a melhor maneira de dissimular as dimensões ideológicas deste enquadramento teórico que nega os conflitos sociais no seio da educação. Abordagem de resolução de problemas •  Desde meados dos anos 60, a par7r da publicação do livro in7tulado Problems in Educa6on: a Compara6ve Approach, Brian Holmes tornou-­‐se o compara7sta mais conhecido desta abordagem. É preciso par7r dos problemas específicos que existem nas diversas sociedades e procurar encontrar as soluções mais convenientes. •  Principais fases desta abordagem: –  análise dos problemas; –  formulação da hipótese; –  especificação das condições iniciais nas quais o problema foi localizado; –  predição lógica dos resultados prováveis a par7r das hipóteses adoptadas; –  comparação dos resultados logicamente preditos com os acontecimentos verdadeiros. Abordagem crí7ca •  Anos 70, a ins7tuição escolar passa a ser vista como um dos mais importantes aparelhos ideológicos do Estado, considerada como um instrumento de dominação e reprodução da ideologia dominante. •  Mar7n Carnoy -­‐ procurou explicitar as bases estruturais da desigualdade educacional. •  Baudelot e Establet, 1970 – A escola capitalista em França. –  Dois canais de escolarização: SS e PP –  Classes dominantes e classes dominadas. •  A par7r das abordagens crí7cas assiste-­‐se a uma renovação do objecto da comparação. •  As crí7cas dos anos 70 deram origem a uma literatura que se debruça não somente sobre os que vão à escola mas também sobre: –  a diferença de oportunidades e de experiências; –  os resultados das mulheres; –  os resultados das minorias étnicas e raciais e dos diferentes estratos sociais. •  Ferreira afirma que: –  não se trata, muitas vezes, de inves7gações que impliquem uma comparação entre países: trata-­‐se de comparar a experiência das mulheres, das minorias e dos diferentes estratos sociais nas suas relações com a educação Abordagem sócio-­‐histórica •  Ao longo da úl7ma década do século XX acentuou-­‐se a ideia de que a complexidade da realidade não poderia ser tratada com abordagens que buscavam uma explicação única, objec7va e neutra. •  A abordagem sócio-­‐histórica como nos sinte7za Nóvoa procura reformular o projecto de comparação passando da análise dos factos à análise do sen7do histórico dos factos. •  Torna-­‐se necessário: –  compreender a natureza subjec7va da realidade e o sen7do que lhe é atribuído pelos diferentes actores; –  a inves7gação compara7va deve par7r para a compreensão interpretando, indagando e construindo os factos e não somente descrevendo-­‐os. ... uma mudança paradigmá7ca que se caracteriza por uma maior atenção à história e à teoria em detrimento da pura descrição e interpretação, aos conteúdos da educação e não somente aos resultados, aos métodos qualita7vos e etnográficos em vez do uso exclusivo da estaps7ca. 

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