mapeamento do fundo marinho na região da depressão de
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mapeamento do fundo marinho na região da depressão de
0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS DEPARTAMENTO DE OCEANOGRAFIA CURSO DE GRADUAÇÃO EM OCEANOGRAFIA LEONARDO PARTELLI BERTOLDI MAPEAMENTO DO FUNDO MARINHO NA REGIÃO DA DEPRESSÃO DE ABROLHOS, LOCALIZADA AO SUL DO BANCO DOS ABROLHOSBAHIA/BRASIL VITÓRIA 2013 1 LEONARDO PARTELLI BERTOLDI MAPEAMENTO DO FUNDO MARINHO NA REGIÃO DA DEPRESSÃO DE ABROLHOS, LOCALIZADA AO SUL DO BANCO DOS ABROLHOSBAHIA/BRASIL Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso apresentado Graduação em Departamento de ao Curso de Oceanografia, do Oceanografia e Ecologia da Universidade Federal do Espírito Santo, aprovação Trabalho da de como requisito disciplina Conclusão para Projeto de de Curso. Orientador: Prof. Dr. Alex Cardoso Bastos VITÓRIA 2013 3 Aos meus pais, que durante toda minha vida me deram suporte para continuar minha caminhada. 4 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a DEUS, por sempre me conceder saúde, sabedoria inteligência e humildade, para que eu conseguisse conquistar meus objetivos. Aos meus maravilhosos pais, que sempre me apoiaram e me deram força em toda minha caminhada, ao Henrique meu querido irmão, por sempre alegrar meus dias e nunca me deixar desanimar, à Célia, namorada querida que sempre me ajudou com seu apoio, carinho e sempre me passando tranqüilidade. A toda minha família, Tios, Tias, Primos, Primas, Avós, que sempre tiveram fé e muito carinho por mim. Principalmente ao meu primo Jilian, que passou boa parte da faculdade morando comigo, tendo muitos momentos inesquecíveis. Aos meus amigos, Baiano (Pedro), Baiana (Bianca), Lucas Cabral, Lucas Jones Elisa, Gabiroba, Breninho, Suéti, Serginho (André), Fernando, Ph (Raphael), Rafael Almeida, Joédes, Md (Marcos Daniel), Florença, Jacqueline, João... Principalmente aos meus amigos Smith (Pedro), Silvia, Alex Evaristo, esses sendo de fundamental importância para a produção da minha monografia, sempre me ajudando com seus conhecimentos técnico científicos. Ao meu orientador Alex Cardoso Bastos, pela sua orientação, amizade, conselhos e ajuda em todos os momentos que foram necessários. À prof. Dra. Valéria Quaresma, por sempre estar disposta a ajudar nos momentos em que meu orientador se encontrava ausente por algum motivo. Ao Nélio, que me ajudou passando diversos dados importantes para essa monografia. Aos professores e alunos participantes dos levantamentos dos dados mostrados nesse trabalho. E a ANP, PRH-29 e demais pessoas que não foram citadas, que contribuíram de alguma forma para que esse trabalho pudesse ser realizado. 5 Resumo A plataforma continental brasileira é constituída por uma variedade de tipos de fundo, esse sendo usados como habitats para diversos tipos de organismos. A Geofísica vem sendo uma ferramenta muito importante para o mapeamento do fundo marinho, esse mapeamento é de fundamental importância para o gerenciamento dos recursos marinho e para a engenharia. A Plataforma de Abrolhos é uma das áreas mais ricas e importante do Atlântico Sul, essa não possui muitos estudos. O presente estudo tem como objetivo o mapeamento do fundo marinho na região da Depressão de Abrolhos ao sul do Banco dos Abrolhos, para a caracterização dos diferentes tipos de fundo marinho. Para tal, foram utilizados dados diretos e indiretos de investigação geológica, com uma combinação metodológica englobando levantamentos de sonar de varredura lateral SVL, sísmica StrataBox e ROV. A faixa investigada englobou uma área de 126.41 km2, sendo identificados 4 tipos de fundo: fundo dominado por rodolito (75%), fundos de sedimentos inconsolidados (13%), fundo com domínio recifal (6%) e fundos com domínio misto de rodolito com sedimento inconsolidado (6%), todos esses possuindo uma variação em sua distribuição. Além disso, pode ser verificado a morfologia atribuída a cada um desses tipos de fundo encontrados, tendo desde morfologias suaves (rodolito e sedimento inconsolidado) à rugosas (recifes), também pode-se verificar características sísmicas distintas para cada um dos tipos de fundo encontrados. 6 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Mapa de localização de Abrolhos e da área onde foi realizado o presente estudo................................................................................................ 14 Figura 2: Distribuição de Domínios para a Plataforma de Abrolhos (Secchin, 2011). ............................................................................................................... 16 Figura 3: Padrões correlacionados com verdades de campo. Fonte: (Secchin, 2011). ............................................................................................................... 17 Figura 4: Mapa batimétrico da Plataforma de Abrolhos. Fonte: (Modificado de Secchin, 2011) ................................................................................................. 19 Figura 5: Esquema representando os chaperões. Fonte: Leão et al., 2003. .... 20 Figura 6: Imagem mostrando um rodolito Fonte: (Halfar. Et al, 2000). ............. 21 Figura 7: Localização das linhas de sonar e dos pontos de ROV . .................. 23 Figura 8: A – Esquema de Sonar de varredura lateral rebocado por um barco; B - representação da transmissão e reflexão do sinal acústico (backscattered wave) de um sonar (A – modificado de Ayres, 2000; B – modificado de Ferns e Hough, 2002).................................................................................................... 24 Figura 9: Esquema representativo do funcionamento do Strata Box. Fonte: (Ayres Neto,2000). ........................................................................................... 25 Figura 10: Localização das linhas de levantamento com o Strata Box. ........... 25 Figura 11: Imagens coletadas com os mergulhos do ROV. Fonte: (Secchin, 2011). ............................................................................................................... 26 Figura 12: Padrão homogêneo de baixa intensidade de retorno do sinal acústico mapeado com a verdade de campo correspondente. ........................ 29 Figura 13: Padrão homogêneo de alta intensidade de retorno do sinal acústico mapeado com a verdade de campo correspondente. ...................................... 30 7 Figura 14: Padrão heterogêneo de alta intensidade de retorno do sinal acústico mapeado com a verdade de campo correspondente. ...................................... 31 Figura 15: Padrão homogêneo de alta intensidade de retorno do sinal acústico e o padrão homogêneo de baixa intensidade de retorno do sinal acústico mapeado com a verdade de campo correspondente. ...................................... 32 Figura 16: Mapa de distribuição dos Domínios ................................................ 35 Figura 17: Mapa de detalhamento da parte com maior variação de Domínios (parte interna da linha norte). ........................................................................... 36 Figura 18: Morfologia do fundo da linha que se encontra mais ao sul do estudo. ......................................................................................................................... 38 Figura 19: Morfologia do fundo da linha que se encontra paralela a costa. ..... 39 Figura 20: Morfologia do fundo da linha que se encontra mais ao norte do estudo. ............................................................................................................. 39 Figura 21: Morfologias do fundo e seus correspondentes padrões sonográficos, 1-domínio recifal, 2-domínio de rodolito, 3-domínio de sedimento inconsolidado, 4-domínio de misto de sedimento inconsolidado com rodolito. ........................ 40 8 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Posição dos pontos de ROV..............................................................26 Tabela 2: Relação entre tipo de fundo, padrões sonográficos, dados de ROV e localização.........................................................................................................37 9 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................... 10 2. OBJETIVOS ............................................................................................... 12 2.1 OBJETIVO GERAL ..................................................................................... 12 2.2 METAS ....................................................................................................... 12 3. ÁREA DE ESTUDO ................................................................................... 13 3.1 LOCALIZAÇÃO .......................................................................................... 13 3.2 PARÂMETROS CLIMÁTICOS E OCEANOGRÁFICOS ............................. 14 3.3 CARACTERIZAÇÃO DO FUNDO MARINHO............................................. 15 3.4 RECIFES .................................................................................................... 19 3.5 RODOLITOS .............................................................................................. 21 4. METODOLOGIA ........................................................................................ 23 4.1 AQUISIÇÃO DOS DADOS ......................................................................... 23 4.2 PROCESSAMENTO DOS DADOS ............................................................ 27 5. RESULTADOS ........................................................................................... 28 6. DISCUSSÃO .............................................................................................. 41 7. CONCLUSÃO ............................................................................................ 44 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 45 10 1. INTRODUÇÃO Inicialmente a classificação do fundo marinho foi utilizada como ferramenta de guerra, logo após com a evolução dos softwares de classificação esse uso foi ampliado, tornando-se importante para a pesca, indústria de recursos, entre outros, sendo uma dessas novas aplicações o conhecimento detalhado do fundo para a instalação de dutos rígidos, tornando-se assim uma importante ferramenta científica (OHI, 2010). Já há algum tempo tem-se ocorrido uma intensificação do interesse de diversas ciências no estudo de áreas submersas, principalmente as localizadas próximo à costa, devido a grande ocupação dessas regiões. Sendo inúmeros os estudos realizados para colocação de dutos submarinos, portos, plataformas de extração de material de construção, barragens, túneis, pontes, ilhas artificiais, etc (AYRES, 2000). Essa caracterização do substratos de áreas submersas é fundamental, pois tem uma grande contribuição para o planejamento de atividades humanas, que estão sendo observadas cada vez mais intensas nessas áreas, as quais contribuem com diversos recursos naturais demandados pelo desenvolvimento econômico da sociedade moderna (SOUZA , 2006). Além dessa visão comercial, o conhecimento do fundo marinho também se consolidou como uma importante ferramenta para a gestão marinha (DURAND et al., 2006; SOUZA K. G. & MARTINS L. R., 2008). A área de estudo desse trabalho está inserida na Depressão de Abrolhos. Este trabalho faz parte do projeto de mapeamento de áreas marinhas, inseridos no contexto da Rede Abrolhos – A plataforma de Abrolhos possui morfologia distinta e abrangência da mais extensa área de recifes de coral do Atlântico Sul – e que já vem sendo objeto de estudos científicos e projetos de cunho conservacionista. Algumas espécies encontradas em Abrolhos são exclusivas da área (endêmicas), o que demonstra a grande importância dessa região não somente para o Brasil, mas para o mundo (LEÃO, 2002). O presente trabalho visa, com base em imagens de sonar de varredura lateral 11 da superfície da região submersa, correlacionadas com dados de batimetria e ROV (Remotely Operated Vehicle), adotados aqui como verdades de campo, a produção de um mapeamento das feições do fundo marinho de uma determinada área da Depressão de Abrolhos através das características morfológicas e da intensidade de retorno do sinal. 12 2. OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Mapear o fundo marinho em uma porção da Depressão de Abrolhos, ao sul do Banco dos Abrolhos, para a caracterização dos diferentes tipos de fundo marinho. 2.2 METAS • Classificar o fundo através da intensidade de retorno do sinal acústico; • Confeccionar mapas com os diferentes tipos de fundo e feições encontradas na região de estudo; • Correlacionar os resultados obtidos com dados de batimetria e ROV; • Associar a morfologia aos domínios. 13 3. ÁREA DE ESTUDO 3.1 LOCALIZAÇÃO A Plataforma dos Abrolhos consiste em um alargamento da plataforma leste brasileira (Figura 1), essa sendo uma plataforma com uma morfologia irregular e possuindo como largura máxima aproximadamente 200 Km. A região possui profundidades geralmente menores que 60 metros, apesar de que em algumas áreas essa profundidade é excedida, como na maior parte da quebra de plataforma, onde a profundidade está em torno de 70 metros (LEÃO, 1999; MELO et al., 1975). Abrolhos encontra-se na região entre a foz do Rio Doce (coordenada 19°40’ de latitude sul) e a foz do Rio Jequitinhonha (coordenada 15°50’ de latitude sul), contabilizando-se uma linha de costa de aproximadamente 409Km, abrangendo os estados da Bahia (257Km) e do Espírito Santo (152Km). A área que compreende o Banco dos Abrolhos corresponde cerca de 46.000 Km2, observando-se nessa região as maiores formações recifais do Brasil (Marchioro et al., 2005), e ainda os maiores recifes de corais de toda costa do Oceano Atlântico Sul Ocidental, correspondendo a cerca de 1% dos recifes de corais de todo o mundo (LEÃO et al. 2008). O presente estudo, terá sua base de dados obtidos em uma porção da região definida como Depressão de Abrolhos (referida a seguir como DA) (VICALVI et al., 1978), a qual está contida na Plataforma de Abrolhos (Figura 1), que será revisada mais adiante. 14 Figura 1: Mapa de localização de Abrolhos e da área onde foi realizado o presente estudo. 3.2 PARÂMETROS CLIMÁTICOS E OCEANOGRÁFICOS O clima da região da Plataforma de Abrolhos é caracterizado como úmido, com média de temperaturas que podem variar de 24°C durante o inverno e 27°C no verão (Marchioro et al., 2005), sendo julho o mês mais frio e março o mais quente. Outro fator climático muito importante é a precipitação média anual, a qual é de 1.750mm para a região , sendo os meses de março, abril e maio os mais chuvosos, compreendendo cerca de 35% do total da precipitação anual, essas sendo características de uma região tropical (Nimer, 1989). Outra característica oceanográfica importante da região é a maré, caracterizada como semi-diurna, com altura máxima de 2,3 m durante o período de sizígia e mínima de 0,5 m durante o período de quadratura. (Leão, 1999). 15 3.3 CARACTERIZAÇÃO DO FUNDO MARINHO Para analisar e interpretar os dados coletados é fundamental levantar informações disponíveis sobre a caracterização do fundo nessa área. Uma parte importante para o trabalho nessa região em estudo é o conhecimento da distribuição sedimentar. Segundo Melo et al. (1975) na plataforma de Abrolhos o sedimento do tipo terrígeno (aquele que contém menos de 50% de carbonato) é em sua grande maioria classificado como relíquia e observa-se em grande parte dele a impregnação de ferro. Encontram-se principalmente confinados na plataforma interna, porém também são observados na plataforma intermediária, sendo a principal fonte o Delta do Rio Doce. Já o sedimento tipo biogênico (mais de 50% de carbonato em sua composição) está distribuído pela plataforma intermediária, em toda a plataforma externa e em partes da plataforma interna. Vale destacar que a comparação entre a plataforma interna e externa mostra que os componentes carbonáticos do sedimento terrígeno (interna) são diferentes dos encontrados no sedimento biogênico (externa), ainda segundo Melo et al. (1975), a maior parte da plataforma interna de Abrolhos é coberta por um sedimento arenoso com alguma porcentagem de lama, já nas maiores profundidades (plataforma intermediaria e externa) o sedimento mais comum é o lamoso, podendo ser encontrado também na plataforma externa um sedimento cascalho lamoso, ainda segundo esse autor, verificou-se que o sedimento predominante na Depressão de Abrolhos é o de lama arenosa (sandy mud). Outro importante estudo no âmbito da caracterização de fundo da Plataforma dos Abrolhos foi realizado por Secchin (2011), que utilizou imagens sonográficas do fundo marinho da região para definir e mapear três domínios de tipo de fundo: Domínio de Megahabitat Recifal, Domínio de Megahabitat Rodolito e Domínio de Megahabitat Inconsolidado. O Domínio de Megahabitat Recifal foi designado para caracterizar regiões de pináculos e chaperões isolados, bancos recifais, além de recifes associados a paleovales e a processos erosivos de antigos recifes. Tal domínio é verificado predominantemente na região dita como Arco Externo e na porção sul do Banco de Abrolhos, esse domínio tendo uma forte associação aos recortes 16 batimétricos do antigo sistema de drenagem que existia na plataforma. O Domínio de Megahabitat Rodolitos caracterizou regiões onde foi identificada a presença de rodolitos, o que infere uma batimetria de fundo plano, esse domínio é observado desde a plataforma interna de Abrolhos até a quebra de plataforma. Já o Domínio de Megahabitat Inconsolidado foi utilizado para a caracterização de regiões onde há predomínio de sedimentos siliciclásticos (proveniente das bacias de drenagem continental) e precipitados de carbonato (Secchin, 2011). A distribuição desses domínios para a Plataforma de Abrolhos pode ser vista abaixo (Figura 2). Figura 2: Distribuição de Domínios para a Plataforma de Abrolhos (Secchin, 2011). Além dos domínios descritos por Secchin (2011), o autor também verificou para a região três padrões sonográficos dominantes, sendo estes: a) fundo possuindo relevo tridimensional marcado por estruturas recifais sendo essas agrupadas e/ou isoladas de alto relevo, agrupadas de baixo relevo, estruturas 17 em paleocanais e depressões circulares (buracas); b) fundos homogêneos de alta intensidade de retorno do sinal acústico, sendo esses associados aos rodolitos, e por último c) fundo homogêneo de baixa intensidade de retorno do sinal, padrão relacionado a fundos de sedimentos não consolidados. A seguir são mostrados os padrões descritos (Figura 3). Figura 3: Padrões correlacionados com verdades de campo. Fonte: (Secchin, 2011). Partindo mais especificamente para a área de estudo desse trabalho (Depressão de Abrolhos), que pode ser verificada na área marcada por um quadrado vermelho no mapa batimétrico a seguir (Figura 4). Os trabalhos realizados por Vicalvi et al.(1978), mostram em uma abordagem evolutiva, que a fase lagunar da Depressão de Abrolhos se encerrou há aproximadamente 8200 anos; assim, pode se contextualizar essa no cenário da transgressão Flandriana. Entre 19000 e 11000 anos A.P., a plataforma externa e média de Abrolhos encontravam-se emersas (Milliman; Emery, 1968 apud Vicalvi et al.,1978); neste intervalo foi criada uma rede de drenagem encaixada na topografia do local preexistente, composta por calcários construídos. Tais canais esculpidos na região ainda possuem expressão na atual batimetria local. Um exemplo bem significativo é o Canal Besnard, que supostamente escoava para o talude a maior parte do sedimento terrígeno. Já com o início da 18 transgressão Flandriana, há cerca de 16000 anos A.P., observou-se o afogamento da região de Abrolhos e por volta de 13000 anos A.P. verificou-se a invasão marinha no Canal Besnard. Entre 13000 e 10000 anos A.P. (Holoceno), houve estagnação da subida do nível do mar, fazendo com que a laguna (atual Depressão de Abrolhos) ficasse com características mixoalinas, isto é, a água fluvial que desaguava no local misturada com a água salina que chegava proveniente do Canal Besnard. Após o término da estagnação o nível do mar voltou a subir, afogando assim os vales fluviais; com isso terminou a fase lagunar, fato que ocorreu ao mesmo tempo do início da sedimentação calcária no local (iniciada quando o mar alcançou a isóbata de 30 metros há aproximadamente 8000 anos - estimativa pelo cálculo da taxa de sedimentação). A continuidade da transgressão deu características peculiares de regiões mais profundas à Depressão de Abrolhos (Vicalvi et al.,1978). Ainda pelos estudos de Vicalvi et al.(1978), a DA possui como contorno a isóbata de 40 metros, com uma área de 5.000 quilômetros quadrados, onde podem ser encontradas profundidades de cerca de 100 metros. Segundo esse autor, a região da DA apresenta boa parte recoberta por sedimento inconsolidado sendo esse representado na parte superficial por lamas calcárias. Melo et al (1975) encontrou resultados similares ao descrever, para a DA, um sedimento predominantemente composto por silte biogênico e um pouco de argila, sendo esta última proveniente de alterações de materiais vulcanogênicos da região de Caravelas (Ilha de Abrolhos). 19 Figura 4: Mapa batimétrico da Plataforma de Abrolhos. Fonte: (Modificado de Secchin, 2011) De acordo com Vicalvi et al. (1978) a região que bordeja a Depressão de Abrolhos possui características acústicas de alta refletividade devido a recifes de algas calcárias encontrados no local (que proporcionam esse tipo de reflexão para o sinal acústico). Já nas regiões mais profundas essas estruturas encontram-se cobertas por sedimento inconsolidado (verificando-se pacotes que podem chegar a aproximadamente 4 metros). 3.4 RECIFES Os recifes são estruturas caracterizadas por possuírem uma fina camada viva e uma espessa construção calcária. Eles se formam mais facilmente em regiões tropicais, onde os organismos formadores conseguem depositar carbonato de 20 cálcio de maneira mais eficiente do que a capacidade de dissolução desse precipitado pelos parâmetros físicos, químicos e biológicos (Villaça, 2002). Estudos sobre os recifes modernos que se encontram em Abrolhos, constataram que tais só começaram a crescer há 7000 anos AP, isso quando o nível do mar alcançou os níveis atuais e a plataforma continental foi totalmente submersa (Castro, 1997). Os recifes da região de Abrolhos, principalmente os da região ao norte do Banco dos Abrolhos, possuem uma particularidade que é o formato, que dá um nome característico para eles de “chapeirões”. São estruturas isoladas que crescem sobre o substrato marinho com uma forma particular de cogumelo (base estreita e o topo expandido lateralmente) – (Figura 5), possuindo tamanho e dimensões laterais muito variados (Leão et al. 2008). Além dessa feição recifal característica do local, também são encontrados pináculos, bancos recifais, parceis, paleocanais com bioconstruções associadas e buracas (Secchin, 2011). Figura 5: Esquema representando os chaperões. Fonte: Leão et al., 2003. Tais citadas estruturas recifais tem a característica de fornecer tridimensionalidade ao fundo marinho associado, resultando em aumento da área de instalação de organismos bentônicos, além de oferecer um substrato local com características mais duras. Já no entorno dessas pode-se verificar um sedimento inconsolidado com varias texturas, composições, desde lama à rodolitos (Secchin, 2011). granulometrias e 21 3.5 RODOLITOS Esse é o nome dado às estruturas de vida livre compostas normalmente por mais de 50% (em alguns casos chega a 100%) de algas calcárias não geniculadas como, por exemplo, Corallinales e Rhodophyta, que formam agregados nodulares (Figura 6), densos e ramificados, de vários tamanhos e formas (Foster, 2001). Podem-se observar essas estruturas cobrindo fundos de areia calcária em todos os períodos do ano e em praticamente todas as regiões marinhas do mundo (Figueiredo et al., 2007; Adey, 1986 apud Gherardi, 2004; Foster, 2001). Figura 6: Imagem mostrando um rodolito Fonte: (Halfar. Et al, 2000). Tais organismos podem ser compostos unicamente por algas calcárias não geniculadas (por uma ou mais espécies), como já descrito anteriormente, mas também podem possuir um núcleo de algum outro material (pedaços de recifes próximos ou materiais transportados até o local), mostrando assim que esses organismos podem crescer a partir de algum fragmento ou serem provenientes de soluções de esporos (Foster, 2001). 22 A vida desses indivíduos geralmente é longa (maior que 100 anos) e com um crescimento lento. Estudos mostram que em profundidades menores que 20 metros, pode-se observar um incremento de até 4 mm por ano em seu diâmetro, sendo variável durante o ano, com maior crescimento durante inverno/primavera e menor no verão/outono, o que sugere uma resposta adaptativa às variações e aos distúrbios ambientais (Foster, 2001). O crescimento dos rodolitos ocorre em bandas por eles estarem constantemente sendo rolados (devido movimento da água e bioturbação), evitando assim que esses sejam soterrados por sedimento. Por esse crescimento ser em bandas, esses organismos são ótimos arquivos de variações ambientais na escala de anos a décadas (Foster, 2001). A temperatura pode afetar a sua distribuição, contudo este não é um fator controlador, pois podem ser encontrados tanto vivos quanto mortos (pois sua estrutura persiste muito tempo após sua morte) do Ártico aos Trópicos (Figueiredo et al., 2007; Adey, 1986 apud Gherardi, 2004; Foster, 2001). Os rodolitos não são somente cascalhos carbonáticos que crescem capturando carbonato das águas, são também grandes responsáveis pela diversidade das comunidades, servindo como refúgio para grupos da infauna (Figueiredo et al., 2007). Além de possuírem grande importância ambiental, eles têm também importância econômica, pois o material que pode ser extraído deles, é usado na correção de solo, na substituição de calcário moído, na produção de filtros de água, na alimentação animal entre outros (Foster, 2001). 23 4. METODOLOGIA 4.1 AQUISIÇÃO DOS DADOS Os dados do presente trabalho foram coletados em uma campanha realizada no período de 19/11/2010 à 25/11/10, com o apoio do projeto “Depressões circulares (‘buracas’) do fundo marinho na Plataforma dos Abrolhos (ES-BA) – Formação, geologia e morfologia”. O levantamento foi realizado na Depressão de Abrolhos e em regiões adjacentes localizadas na região sul da Plataforma de Abrolhos (Figura 7). A região coberta por esse correspondeu a uma área de 128,41 km². Figura 7: Localização das linhas de sonar e dos pontos de ROV . Foram necessárias duas embarcações, sendo uma destas responsável pelos levantamentos sonográfico e sísmico (Strata Box), e pela indicação de pontos interessantes para a segunda embarcação captar imagens com o ROV e mergulho. Já a outra embarcação ficou responsável pelos mergulhos em 24 pontos pré-determinados e pontos indicados, além do trabalho de captação de imagens com o ROV. O levantamento sonográfico foi realizado com o Sonar de Varredura Lateral modelo EdgeTech 4100, sendo esse utilizado na freqüência de 100 kHz, que funciona através da transmissão de sinais acústicos por um transdutor e a posterior recepção dos sinais que foram refletidos pelo fundo marinho (Figura 8); isso produz como resultado uma imagem cujos tons mostram a intensidade de retorno do sinal acústico (Ayres Neto & Aguiar, 1993 apud Quaresma et al., 2000). Figura 8: A – Esquema de Sonar de varredura lateral rebocado por um barco; B representação da transmissão e reflexão do sinal acústico (backscattered wave) de um sonar (A – modificado de Ayres, 2000; B – modificado de Ferns e Hough, 2002). Juntamente com o levantamento realizado com o Sonar de Varredura Lateral, foi feita a coleta de dados com o equipamento de sísmica rasa Strata Box (10kHz) (área mapeada por esse equipamento é mostrada na Figura 10), que utiliza o método de emissão de pulsos acústicos, e registra as diferentes reflexões do som nas interfaces entre os meios que possuem características físicas distintas, isto é, diferentes impedâncias acústicas (Figura 9) (Souza, 2006). Tais dados serão interpretados para obtenção da batimetria local e verificação de diferentes características sísmicas atribuídas para cada domínio encontrado. 25 Figura 9: Esquema representativo do funcionamento do Strata Box. Fonte: (Ayres Neto,2000). Figura 10: Localização das linhas de levantamento com o Strata Box. 26 Além dos dois levantamentos citados acima, foram obtidas imagens de ROV (Remote Operated Vehicle) modelo Seabotix LBV150, feitas em 29 pontos (Tabela 1) determinados pela avaliação dos padrões sonográficos, sendo essas imagens verdades de campo (Figura 11), que serão dados importantes para associação com os resultados das coletas acima citadas. Figura 11: Imagens coletadas com os mergulhos do ROV. Fonte: (Secchin, 2011). Tabela 1: Posição dos pontos de ROV PONTOS DE ROV 19º22.140’S 19º28.240’S 19º29.120’S 19º31.200S 19º31.620’S 19º32.261’S 19º32.378’S 19º33.030’S 19º18.350’S 19º17.850’S 19º17.370’S 19º17.150’S 19º13.010’S 19º10.194’S 19º07.814’S 19º04.903’S 39º19.050’W 38 º57.070’W 38 º54.030’W 38 º46.080W 38º46.080’W 38º46.042’W 38º46.106’W 38º45.583’W 38º29.020’W 38º28.280’W 38º27.590’W 38º27.460’W 38º21.250’W 38º16.943’W 38º13.091’W 38º08.271’W 27 19º03.803’S 19º03.302’S 19º03.280’S 19º03.122’S 19º03.101’S 19º02.072’S 19º01.477’S 19º01.206’S 19º00.776’S 19º00.591’S 18º59.937’S 18º58.481’S 18º58.516’S 4.2 38º13.090’W 38º27.835’W 38º28.091’W 38º30.732’W 38º31.050’W 38º41.751’W 38º45.844’W 38º47.883’W 38º49.841’W 38º51.340’W 38º56.742’W 39º12.646’W 39º13.411’W PROCESSAMENTO DOS DADOS Os dados da sonografia foram previamente analisados com o auxílio do software EdgeTech Discover, para que se pude-se verificar as feições existentes nos registros. Após esse primeiro contato, passou-se para o processamento com o software SonarWiz.Map 4.0 para a produção de um polígono. O polígono foi trabalhado no software ArcGis9.3, separando os diferentes sinais de retorno e estruturas. Com isso foi possível a confecção de mapas, os quais são de fundamental importância na discussão do trabalho. Os resultados obtidos na produção dos mapas foram associados com as imagens de ROV e com a batimetria que foi obtida a partir da sísmica. Os dados do Strata Box também foram trabalhados no software SonarWiz.Map 4.0. O tratamento desses dados teve como objetivo traçar o fundo marinho no registro para que se consiga produzir perfis batimétricos de onde foram feitas as imagens de sonar, possibilitando assim a observação integrada dos dados. A análise integrada de todos os dados facilitará a validação dos resultados mostrados nos mapas, e como resultado final do trabalho terá o reconhecimento das estruturas encontradas nessa região. 28 5. RESULTADOS Esse estudo buscou identificar os tipos de fundo existentes na região, tendo como principal critério para essa classificação os padrões de retorno do sinal acústico (provenientes do sonar de varredura lateral), e posteriormente associar os padrões com as imagens de ROV e com o relevo obtido dos dados do perfilador de subfundo (Strata Box). Seguindo a análise acústica das imagens sonográficas, a classificação dos padrões pode ser: i) homogêneo com baixa intensidade de retorno do sinal acústico, ii) homogêneo com alta intensidade de retorno do sinal acústico e iii) heterogêneo com alta intensidade de retorno do sinal acústico. A partir dessa primeira interpretação, os dados de ROV são observados com o intuito de corroborar visualmente os tipos de fundo classificados acusticamente. Foi feita a classificação em relação aos tipos de fundo encontrados no local, os quais foram divididos em quatro tipos, que são mostrados a seguir. O primeiro deles é referente ao padrão homogêneo de baixa intensidade de retorno do sinal acústico, onde foi verificado, com o auxilio de imagens de ROV (em vários pontos), que esse é característico de regiões com domínio de sedimento inconsolidado, tendo assim associado um substrato sedimentar (Figura 12) 29 Figura 12: Padrão homogêneo de baixa intensidade de retorno do sinal acústico mapeado com a verdade de campo correspondente. Outro tipo de fundo identificado foi o relacionado ao padrão homogêneo de alta intensidade de retorno do sinal acústico, cuja ocorrência está associada a locais com domínio de estruturas conhecidas como rodolitos de acordo com os dados de ROV (Figura 13). 30 Figura 13: Padrão homogêneo de alta intensidade de retorno do sinal acústico mapeado com a verdade de campo correspondente. O terceiro tipo de fundo encontrado na região é associado ao padrão sonográfico heterogêneo de alta intensidade de retorno do sinal acústico, e foi observado em locais onde o fundo é dominado por estruturas recifais - isoladas 31 ou agrupadas (Figura 14). Figura 14: Padrão heterogêneo de alta intensidade de retorno do sinal acústico mapeado com a verdade de campo correspondente. O último tipo de fundo observado foi definido pela intercalação de dois padrões sonográficos: o padrão homogêneo de alta intensidade de retorno do sinal acústico e o padrão homogêneo de baixa intensidade de retorno do sinal 32 acústico. Com as imagens de ROV foi possível visualizar a existência de um substrato misto, com presença de rodolito e de sedimento inconsolidado (Figura 15). Figura 15: Padrão homogêneo de alta intensidade de retorno do sinal acústico e o padrão homogêneo de baixa intensidade de retorno do sinal acústico mapeado com a verdade de campo correspondente. 33 Após a correlação dos padrões sonográficos com os dados de ROV, foi realizada uma análise da distribuição espacial dos padrões na área de estudo, essa sendo descrita a seguir. O padrão homogêneo de baixa intensidade de retorno do sinal acústico (sedimento inconsolidado) aparece predominantemente na região mais próxima à costa, totalizando 16,26 km2 de área, correspondendo a aproximadamente 13% da região em estudo. Porém, também foi verificado em duas regiões na linha ao norte, onde existem canais, os quais pertencem a Depressão de Abrolhos. Outro ponto onde se observa tal padrão é na região central da linha sonográfica paralela à costa, sendo essa também parte de uma região de canal (de acordo com a morfologia do fundo observada). Essa distribuição encontrada nesse estudo foi compatível com a encontrada por Secchin (2011) e Melo et al.(1975), os quais mostraram que o sedimento inconsolidado se encontra predominantemente na região da plataforma interna de Abrolhos. O padrão homogêneo de alta intensidade de retorno do sinal acústico (que corresponde aos rodolitos) é o mais abundante na interpretação, totalizando uma área de cobertura de 96,94 km2 que corresponde a aproximadamente 75% dessa, sendo verificado em todas as linhas do levantamento. No estudo de Secchin (2011) é mostrado que, não somente no Sul do Banco dos Abrolhos, mas sim em toda a Plataforma dos Abrolhos, o domínio de substrato com rodolito é predominante, sendo que cerca de 43% da plataforma é coberta por esse substrato. Já o padrão heterogêneo de alta intensidade de retorno do sinal acústico (recifes), se encontra em sua grande maioria na linha sonográfica que se encontra mais ao norte, além de aparecer em pequena quantidade no restante dos registros, contabilizando uma área de cobertura de 7,97 km² totalizando uma porcentagem aproximada de 6% da área. Como já foi dito anteriormente, os recifes presentes nessas áreas puderam ser verificados tanto agrupados como isolados. No estudo realizado por Secchin (2011) é verificada essa mesma dominância de tipo de fundo para o local indicado pelo presente estudo. 34 Finalmente, o padrão homogêneo de alta intensidade de retorno do sinal acústico, intercalado com homogêneo de baixa intensidade de retorno do sinal acústico (caracterizada como rodolito com sedimento inconsolidado), foi observado em todas as linhas de sondagem, aparecendo mais frequentemente na linha norte. A cobertura total desse tipo de fundo resultou em uma área de 7,24 km2 sendo essa correspondente a aproximadamente 6%. Para que essa distribuição descrita anteriormente, seja mais facilmente associada com as imagens obtidas, foi confeccionado um mapa (Figura 16) com a localização dos pontos de ROV (já classificados), e a distribuição dos tipos de fundo classificados (Domínios), mostrando que as imagens coletadas validam a interpretação feita através da análise dos padrões sonográficos. 35 Figura 16: Mapa de distribuição dos Domínios 36 Pode-se verificar, com o auxílio do mapa de Domínios, que a zona mais próxima à costa da linha norte é a que possui maior variação de tipos de fundo. Nessa região são encontrados todos os tipos de fundo classificados no estudo, aparecendo o domínio de sedimento inconsolidado, na extremidade próximo à costa, seguido logo após por rodolitos, e no trecho restante todos os outros tipos são encontrados, ocupando regiões consideráveis dessa faixa que encontrasse com maior detalhe na Figura 17 abaixo. Figura 17: Mapa de detalhamento da parte com maior variação de Domínios (parte interna da linha norte). Para uma melhor visualização dos dados mostrados anteriormente, estes são apresentados sintetizados na tabela a seguir. 37 Tabela 2: Relação entre tipo de fundo, padrões sonográficos, dados de ROV e localização. Tipo de fundo Padrão sonográfico Observações (de acordo Localização com o ROV) predominante Fundo dominado Para essas áreas foram por sedimento verificados visualmente um inconsolidado sedimento inconsolidado Região mais próxima a costa e em paleocanais com varias granulometrias. encontrados. Fundo dominado Verificou-se um fundo Praticamente por rodolito coberto por rodolitos. encontrado em todo o registro. Fundo dominado por estruturas recifais (agrupadas Nesse pode-se observar Predominantemente junto encontrado na linha ao fundo varias estruturas recifais. norte, porém, verificado e desagrupadas) é em pequenas quantidades nas outras linhas. Fundo dominado Visualizou-se por mistura de intercalação sedimento inconsolidado com rodolito com inconsolidado. uma de rodolito sedimento Assim como a anterior se encontra em maior concentração linha norte também encontrado na e é no restante das linhas. 38 Além dos dados já apresentados, foi obtida para esse estudo a morfologia do fundo através de dados de perfilador de subfundo de grande parte da área sondada. Os registros mostram a existência de alguns paleocanais e outras irregularidades do fundo marinho. A linha que se encontra ao sul (Figura 18), mostra um relevo bem suave com declive, que representa a passagem da plataforma interna em direção a Depressão de Abrolhos, conforme mostrado pelo trabalho de Vicalvi et al. (1978), o qual mostra essa mesma variação batimétrica. Esse relevo suave é relacionado à presença de um fundo dominado por rodolito e sedimento inconsolidado, e esse gradiente batimétrico atribuído a esses tipos de fundo já foram observados por várias bibliografias, entre elas Secchin (2011), Figueiredo et al., (2007) Figura 18: Morfologia do fundo da linha que se encontra mais ao sul do estudo. Já na linha paralela a costa pode ser encontrado um paleocanal, que é facilmente identificado na linha topográfica (Figura 19) por uma depressão. Nesse local foi encontrada a dominância de sedimento inconsolidado como tipo de fundo, já para o restante da linha a grande maioria é de rodolito, o que resulta na característica de uma topografia suave. Já nas partes que apresentam irregularidades, pode ser observada a presença de estruturas recifais as quais dão uma maior tridimensionalidade a batimetria do fundo marinho. Essa irregularidade do fundo atribuída a essas estruturas recifais também foi detectada por Leão et al. (2008). 39 Figura 19: Morfologia do fundo da linha que se encontra paralela a costa. Na maior linha topográfica coletada no estudo, que é a linha perpendicular à costa superior, podem ser identificados todos os tipos de fundo classificados no presente trabalho. Dessa forma, a linha apresenta tanto topografias irregulares que são relacionadas à presença de estruturas recifais, como pode ser verificado na Figura 20, quanto topografias suaves que estão relacionadas a outros tipos de fundo classificados por esse trabalho. Outro resultado que deve ser destacado é a existência de dois paleocanais, os quais, assim como o da linha paralela à costa, têm associados a eles a presença de sedimento inconsolidado. Figura 20: Morfologia do fundo da linha que se encontra mais ao norte do estudo. Para um melhor entendimento na Figura 21 abaixo, são mostradas imagens com o dado sonográfico obtido com sua respectiva morfologia. 40 Figura 21: Morfologias do fundo e seus correspondentes padrões sonográficos, 1domínio recifal, 2-domínio de rodolito, 3-domínio de sedimento inconsolidado, 4-domínio de misto de sedimento inconsolidado com rodolito. Ainda com o auxilio da Figura 21, foi verificado que para cada um dos domínios definidos nesse trabalho, podemos observar uma característica sísmica distinta. Para o registro sísmico referente ao domínio recifal (1), podemos verificar um refletor irregular com uma certa penetração do sinal acústico. No dado referente ao domínio de rodolito (2), observa-se um fundo suave e com características que dificultavam o sinal acústico penetrar no fundo. Já para o dado sísmico referente ao domínio de sedimento inconsolidado (3), foi verificado uma penetração do sinal, sendo essa a maior entre todos os domínios que foram observados no estudo. Por ultimo o dado referente ao domínio misto de rodolito com sedimento inconsolidado (4), pode ser verificado pontos onde o sinal penetrou (sedimento inconsolidado) e onde o sinal teve dificuldades de penetração (rodolito). 41 6. DISCUSSÃO O conhecimento científico do Banco dos Abrolhos está, de forma geral, concentrado na porção centro-norte, que é onde está localizado o complexo recifal de Abrolhos. Apenas recentemente, foi descrito para a porção Sul da plataforma de Abrolhos, que boa parte dessa região é dominada por algas calcária de vida livre, chamada de rodolitos. Recentemente foi estimado que essas estruturas (rodolitos), cobrem uma área total de 20.902 Km2, sendo esse o maior banco do mundo, o qual corresponde cerca de 45% da plataforma de Abrolhos. Os rodolitos foram encontrados na plataforma intermediária e externa, predominantemente entre as isóbatas de 20 e 110 m de profundidade. Esse ambiente é caracterizado, por possuir uma alta intensidade de retorno de sinal, com um ambiente plano, sem grandes gradientes de profundidade (Amado-Filho, 2012), como já foi descrito anteriormente no trabalho. Alguns trabalhos sedimentologicos do Banco dos Abrolhos consideram os rodolitos como sedimentos inconsolidado cascalhosos, não levando em conta a vitalidade do ecossistema (Dias, 2007). Os rodolitos não são somente cascalhos, são estruturas de grande importância ecológica e ambiental, sendo que em Abrolhos podem servir como importantes corredores ecológicos, conectando importantes bancos de corais (Amado-Filho, 2012), além de serem importantes refúgios para organismos da infauna (Figueiredo et al., 2007). Outro aspecto importante dessas estruturas é serem grandes capturadores de carbonato, devido a grande área que ocupam, esses sendo comparados às gigantescas biofábricas de CaCO3 que existe, correspondendo sozinhos a 5% do total de bancos de carbono do mundo (Amado-Filho, 2012). A plataforma de Abrolhos passou por diversas oscilações do nível do mar, essas juntamente com sua paleotopografia, modelaram a atual plataforma de Abrolhos. Vicalvi et al., (1978), através da análise de um testemunho na Depressão de Abrolhos pode mostrar como se realizou a evolução dessa, verificando períodos de subida e descida do nível do mar. Para isso ele 42 observou a microfauna que se encontrava contida no sedimento do testemunho analisado, isso juntamente com o processo de datação. Assim ele verificou que a base do seu testemunho caracterizava um ambiente com características mixoalinas, na sequência do testemunho ele verifica um período de transição entre a sedimentação terrígena para uma sedimentação calcária, a qual persistiu até o topo de seu testemunho. Posteriormente à essas primeiras verificações, foi calculada a taxa de sedimentação para os dois períodos distintos, tendo como resultado, o encerramento da fase lagunar para a fase calcária ocorrendo há cerca de 8200 anos AP. Sendo assim os resultados obtidos por Vicalvi et al., (1978) corroboram essa cobertura carbonática com a presença de rodolitos no fundo atual. Vicalvi et al., (1978), também verificou que no intervalo de aproximadamente 19000 a 11000 anos AP, foi formada uma rede de drenagens que se encaixou na topografia preexistente na região, tal sistema fluvial acentuou a paleotopografia, deixando a marca desses canais na morfologia atual de Abrolhos. A marca deixada por esses canais pode ser verificada no presente estudo, através dos paleocanais que foram mostrados nas Figura 19 e Figura 20, verificando assim, que ainda é bem evidente esses canais de drenagem fluvial para a Depressão de Abrolhos. Outro estudo, o de D’Ágostinni (2012), verifica que essa evolução descrita por Vicalvi et al., (1978), ocorreu de maneira diferenciada no norte e no sul da plataforma de Abrolhos, isso devido a presença da depressão de Abrolhos, que fazia com que os antigos sistemas de drenagem escoassem para a porção sul de Abrolhos, mantendo a região norte livre da sedimentação terrígena e a porção sul fortemente influenciada por essa. Com isso houve desenvolvimento de grandes estruturas recifais ao norte, enquanto no sul, verificava-se sedimentos finos terrígeno (Vicalvi, at al.,1978). Como os recifes são ecossistemas mais sensíveis, houve o desenvolvimento de rodolitos, como pode ser verificado na interpretação do presente estudo. Outra possível justificativa seria as maiores profundidades encontradas na parte sul de Abrolhos, devido à presença da Depressão de Abrolhos. 43 Outro tipo de fundo que foi encontrado no estudo em discussão, e que já se discutiu sua menor evidencia na região da Depressão de Abrolhos, são os recifes, que nessa região podem ser classificados como recifes mesofóticos, os quais segundo Hinderstein, (2010) consiste nos recifes que ocorrem em regiões mais profundas, entre as isóbatas de 30 a 150 m nas regiões tropicais e subtropicais. Essa faixa de profundidade se mostrou compatível com as profundidades encontradas, como pode ser visto na morfologia mostrada na Figura 18, Figura 19e na Figura 20. Uma outra característica observada é que esses recifes do sul parecem ser menos vistosos que os encontrados no norte, isso comparando visualmente dados de ROV e sonogramas do presente trabalho com outros trabalhos realizados na região norte, como Secchin (2011), Leão et al.,(2008), entre outros. Isso pode ser devido a um possível desgaste que esses recifes ao sul sofreram mais que os do norte, provavelmente pela sua localização e uma evolução nos processos sedimentares um pouco diferentes nessas áreas. Porém, não existem estudos sobre os recifes localizados ao sul de Abrolhos, deixando tudo em apenas suposições. Por fim, o sedimento inconsolidado, que encontram-se próximo a plataforma interna, sendo esses provavelmente sedimento terrígeno o qual Melo et al., (1975) caracteriza como sendo um sedimento confinado na plataforma interna, esses sedimentos podendo ser compostos por detritos terrígenos modernos ou relíquias, tendo como maior contribuinte o Rio Doce e existindo outros depósitos não pertencentes a esse rio. Já para os sedimentos inconsolidados, encontrado nos paleocanais, esses provavelmente depositaram-se nesses locais pela menor hidrodinâmica, que esses canais fornecem. 44 7. CONCLUSÃO A região verificou-se dominada em sua grande maioria pelo fundo de rodolito (sistema de grande importância ecológica), porém, também foram encontrados associados a essa área outros tipos de fundo, como recifes (sendo esses isolados ou agrupados) e sedimento inconsolidado. Se distribuindo de diversas formas por toda essa região, as quais foram mostradas através de mapas de localização, que mostraram cada um desses tipos de fundo. Além disso, o trabalho nos mostrou a eficiência que a aplicação de dados acústicos validados com dados de ROV. Tal método permitiu o mapeamento dos tipos de fundo marinho encontrados nessa região de Abrolhos, que são muito importantes na influência da distribuição das comunidades marinhas e também para o mapeamento das riquezas que o fundo marinho nos oferece. Com isso a metodologia aqui usada, obteve grande sucesso na representação da distribuição dos tipos de fundo desse local ao sul do Banco dos Abrolhos, nos mostrando que essa é de fundamental importância e eficácia para delimitação, avaliação e gerenciamento de regiões marinhas. 45 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMADO-FILHO G. M.; MOURA R. L.; BASTOS A. C.; SALGADO L. T.; SUMIDA P. Y.; GUTH A. Z.; FRANCINI-FILHO R. B.; PEREIRA-FILHO G. H.; ABRANTES D. P.; BRASILEIRO P. S.; BAHIA R. G.; LEAL R. N.; KAUFMAN L.; KLEYPAS J. A.; FARINA M.; THOMPSON F. L. 2012. Rhodolith Beds Are Major CaCO3 Bio-Factories in the Tropical South West Atlatic. Plos One 7(4): e35171. Vol 7. AYRES N. A. 2000. Uso da sísmica de reflexão de alta resolução e da sonografia na exploração mineral submarina. Revista Brasileira de Geofísica. Vol. 18(3). p 241. BOSS S. K.; HOFFMAN C. W.; RIGGS S. R. 1999. 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High Resolution Marine Habitat Mapping of the Bunurong Coast (Victoria) – Including the Bunurong Marine and Coastal Park. Parks, Flora and Fauna Division, Department of Natural Resources and Environment, East Melbourne, Australia. 46 FIGUEIREDO, M.A.O.; MENEZES, K.S.; PAIVA, E.M.C.; PAIVA, P.C. & VENTURA, C.R.R. 2007. Evaluación experimental de rodolitos como sustratos vivos para la infauna en el Banco de Abrolhos, Brasil. Ciencias Marinas, 33: 427-440. FOSTER M. S. 2001. Rhodoliths: between rocks and soft places. Moss Landing Marine Laboratories. California. GHERARDI, D. F. M. 2004. Community structure and carbonate production of a temperate rhodoliths bank from arvoredo island, southern Brazil. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Programa HIDRO – DSR/OBT. HALFAR, J. ; ZACK, T.; KRONZ, A.; ZACHOS, J.C. 2000. Growth and highresolution paleoenvironmental signals of rhodoliths (coralline red algae): A new biogenic archive. Journal of Geophysical Research, Vol 105, NO. 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