Um ombro para os t - Mesa – Corporate Governance
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Um ombro para os t - Mesa – Corporate Governance
CARREIRA Um ombro para os o aconselhamento profissional é uma ferramenta cada vez mais usada por presidentes para apnmorar competências de liderança e atingir mel hores resu Itados ROBERTA LIPPI* DE SÃO PAULO "Ser presidente de empresa é viver como um alpinista em grandes altitudes: é solitário, frio e o ar fica cada vez mais rarefeito." A frase de Carlos Trostli, ex-presidente da Reckitt Benckiser e Executivo de Valor no setor Higiene e Limpeza, resume um incômodo sentimento para nove de cada dez lideres do mundo corporativo: a solidão do poder. Chegar ao topo da carreira representa para esses executivos a ausência cada vez maior de uma pessoa neutra com quem possam dividir idéias e compartilhar angústias profissionais em momentos de tomada de decisão. Não é difícil imaginar o labirinto num tipo de composição de interesses nada incomum hoje em dia. De um lado está o acionista familiar, aprendendo com a nova gestão profissional. Na outra ponta, o acionista estrangeiro, de perfil agressivo, que acaba de adquirir parte da companhia com o objetivo de torná-Ia mais enxuta e eficiente. O conselho de administração, por sua vez, é integrado por uma diversidade qua,se explosiva de perfis e interesses, com representantes da família, profissionais que fizeram carreira na organização e executivos estrangeiros que acabaram 681 EXECUTIVO de Valor I Março 2008 t •• momentos cruclals de chegar ao país com a nova aquisição. Ao presidente cabe a nada fácil missão de administrar essas diferenças e conduzir a empresa a grandes resultados. Em situações como essa tem entrado em ação uma figura recente no cenário corporativo brasileiro: o coach. Ele éjustamente aquela pessoa isenta - e qualificada - capaz de ajudar o executivo a organizar suas idéias e testar suas habilidades como gestor com o objetivo de melhorar o resultado da companhia. O coaching é um processo de consultoria estruturado que tem foco na atividade do profissional, visando aprimorar sua capacidade de liderança, tanto em relação a competências de gestão como à atuação em momentos específicos de mudança estratégica na empresa. O serviço deu os primeiros passos na década de 1980 nos Estados Unidos. No Brasil, começou a ganhar corpo nos últimos cinco anos. Se antes existia um certo preconceito em relação a essa ferramenta - "não preciso de terapia ou de alguém que me ensine a liderar" -, agora o panorama é outro. A complexidade dos negócios, as práticas de governança corporativa e a velocidade das mudanças tornaram as relações muito mais diretas e transparentes. E as respostas ficaram infinitamente mais rápidas. Afinal, uma empresa relaciona-se hoje não apenas com seus funcionários e clientes, mas também com um outro grande número de partes interessadas, os chamados "stakeholders" - como acionistas, fornecedores, parceiros, funcionários e até mesmo a comunidade. Decisões de compra e venda de empresas, conflito entre acionistas, demissão de profissionais, sucessão, relações com o chefe e questões de governança corporativa são em geral os assuntos mais discutidos pelos presidentes nas sessões de coaching. "Estamos falando de cargos altos com muita responsabilidade e pressão. Não há espaço para fraqueza. Os presidentes são os maestros das orquestras", diz a consultora Vicky Bloch, ex-presidenMarço 20081 EXECUTIVO de Valor 169 CARREIRA te da consultoria DBM que montou sua própria "boutique" para atender grandes executivos. Um levantamento realizado por ela com 14 presidentes de empresas brasileiras e multinacionais a respeito da opinião deles sobre o coaching mostrou que boa parte ainda não sabe exatamente como funciona essa atividade, tem apenas vago conhecimento dela. "Ainda assim, há mais presidentes buscando esse tipo de aconselhamento hoje em dia do que se imagina", garante ela, cujo maior desafio é ajudar os seus clientes a perceber seus limites, enxergar os recursos ao seu alcance e aplicá-Ios a situações inéditas. O coach - termo em inglês para treinador, ou técnico - tem um papel diferente do consultor de gestão, responsável por apontar as soluções. Também está longe de ser o terapeuta para problemas pessoais. Sua missão é fazer as perguntas certas para o profissional encontrar por si mesmo as respostas. Funciona como uma caixa de ressonãncia, que ouve o executivo, dá feedback a ele e o estimula a refletir sobre decisões que impactam no seu desenvolvimento profissional ou na obtenção dos resultados esperados. Décio da Silva,presidente do conselho de administração da WEG, afirma que buscou aconselhamento profissional recentemente para projetos específicos, como a sucessão da empresa. O presidente do grupo Fiat, Cledorvino Belini, contou com a ajuda de um coach em 1999, decisão tomada dentro de um processo de desenvolvimento de liderança no grupo italiano. O programa durou seis meses, contratado pela empresa. A parte inusitada é que o coach ficava em Milão, na Itália. Belini, na época, era responsável por uma divisão mundial da Magneti Marelli, fabricante de autopeças do próprio grupo Fiat. Como ele passava muito tempo na Europa, o contato era fácil. "Aexperiência foi benéfica", diz ele, acrescentando ter passado a entender melhor questões ligadas à liderança de pessoas e mudanças. Ruy Hirschheimer, presidente da Electrolux na América Latina, dedica parte de seu tempo a aconselhar outros executivos. "Gosto bastante de ser coach. É algo de que me orgulho muito. Alguns dos profissionais que aconselhei fizeram uma carreira maravilhosa", diz. A seu ver, o executivo não pode se isolar e, como todo mundo, precisa de ajuda. "Pela falta de tempo e pela pressão, os executivos 70 I.EXECUTIVO de Valor I Março 2008 correm o risco de se afastar demais do mundo a seu redor." Ainda se contam nos dedos os coaches no país com experiência, formação e capacidade de atuar junto a um profissional do nível de um Executivo de Valor. O processo funciona em geral da seguinte forma: no primeiro encontro, mais extenso, é traçado um mapa com o perfil do executivo, em que são identificados possíveis pontos comportamentais a serem trabalhados. Depois, ambos desenham em conjunto um plano de ação por tempo determinado, de acordo com os pontos que o presidente escolha discutir. A partir daí, são realizadas reuniões periódicas, geralmente quinzenais, para debater os temas definidos anteriormente. O período varia em média entre seis meses e um ano. O telefone também é recurso utilizado para questões urgentes. Antes de tudo, é preciso que o líder empresarial queira realmente fazer esse trabalho e tenha afinidade com o coach - afinal, é dele a responsabilidade pela mudança. Se for decisão "empurrada" pelos acionistas, dificilmente dá certo. "Aescolha do coach de um presidente envolve muita confiança e credibilidade, senão ele não vai perder tempo", diz Luiz Femando Giorgi, ex-presidente da consultoria Hay Group no Brasil e ex-vice-presidente da Suzano, onde hoje atua como coach. As necessidades dos executivos no coaching são semelhantes, segundo Luciana Sarkozy, sócia da consultoria Career Center. "O que muda é o tamanho da empresa, o momento que ela vive, a estrutura societária, a nacionalidade", diz. "Há busca por questões de curto prazo, mas os executivos também estão bastante preocupados com aquelas que impactam a sustentabilidade do negócio." Femando Temi, presidente da Schincariol, afirma nunca ter feito coach, mas é entusiasta da prática. Há pouco tempo, a cervejaria contratou um consultor para atuar na diretoria e no primeiro nível de gerência. "Acredito muito na ferramenta desde que não seja apenas do ponto de vista profissional. Tem que ser uma visão holística, que inclui a parte emocional, social e até espiritual", diz. "É uma forma de evoluir na cultura da companhia." O presidente da Vale, Roger Agnelli, também conta que, apesar de não ter um coach pessoal, a empresa adota a prática de aconselhamento profissional para a diretoria executiva. No fim de 2007, os diretores da Vale foram enviados para um treinamento no IMD, na Suíça, considerado uma das melhores escolas de administração do mundo. "Usamos os consultores do IMD para saber sobre o comportamento de cada um, escutar críticas, descobrir em que cada profissional tem de melhorar e como conduzir determinados assuntos nas discussões. Isso permite a todos saber o que um pensa do outro", explica Agnelli. "É uma espécie de coaching que fazemos regularmente, utilizando os consultores do IMD. Isso nos dá um sentido de equipe, de união de expectativas e visões. Um fala mal do outro, e sai todo mundo amigo." e a d 1 S o e d der às difíceis agendas dos executivos: "Antes havia muitos presidentes, restaurantes, na própria especialmente donos de empresas, que aeroportos, casa do executivo e até mesmo em outros agiam com arrogância, se achavam deuses que não precisavam de ajuda de estados. "Nunca na empresa." Steinberg traz um novo conceito para ninguém para melhorar competências. Diziam que o coaching não era para eles. seu tipo de trabalho: o papel de "sparHoje a coisa mudou muito", diz Herbert ring". No boxe, trata-se 'do pugilista de Steinberg, sócio da Mesa Corporate alto nível que entra no ringue de igual para igual e ajuda o outro a treinar, a Governance e coach profissional desde 1997. O formato de trabalho aplicado por desenvolver seu potencial de golpes. No Steinberg, porém, difere um pouco do de mundo corporativo, é aquele que entenoutros coaches especializados em altos de de negócios e de poder tanto quanto executivos. No seu caso, em cerca de 90% . o presidente, domina assuntos de gestão e relacionamentos com stakeholders e das situações, quem o procura - e paga acaba virando um elemento propiciador por seus serviços - é o próprio presidente, e não a empresa. Seus encontros ocorrem de decisão para o CEO."Ele não entra em em locais dos mais inusitados para atencampo para jogar. O 'sparring' discute Herbert Steinberg, da Mesa: busca de negócios e arbitra junto com o executivo. É como se fosse umjogador ativo, só que do lado de fora." Uma alternativa encontrada por altos executivos par~ compartilhar idéias e experiências é a participação em fóruns de discussão. O presidente da Perdigão, Nildemar Secches, conta que troca informações, impressões e análises sobre o panorama macroeconômico internacional e brasileiro com um grupo de executivos de variados setores que se encontra com regularidade. Apartir desses encontros, ele burila seus cenários e corrige o rumo dos negócios. Hélio Rotenberg, presidente da Positivo Informática, e Mauro Silvério Figueiredo, do grupo Fleury, fazem parte do Young Presidents Organization (YPO), um grupo formado por presidentes e donos de empresas que se reúne uma vez por mês para discutir assuntos diversos, como fanúlia, relações com a imprensa, abertura de capital e investimentos. Figueiredo dá apoio à utilização do coaching em momentos específicos. "Acho um serviç0 muito interessante e que pode auxiliar bastante, especialmente em fases de transição, de término ou início de um ciclo", diz. De seu lado, Ruy Hirschheimer, presidente da Electrolux, integra o Worldwide Presidents Organization (WPO), uma entidade internacional de CEOs.Ele, além disso, participa de um grupo de 11 presidentes que se reúne uma vez por mês por quatro horas. "Falamos sobre tudo, até sobre questões pessoais." De uma forma ou outra, os presidentes descobrem saídas para dividir com gente de confiança suas questões profissionais. Arri Coser, da rede de churrascarias Fogo de Chão, diz que seus coaches são seus clientes. "Fiz amizade com presidentes de grandes empresas e altos executivos. Consigo discutir meus negócios com eles, que não sei por que me escutam", brinca. Carlos Trostli, expresidente da Reckitt Benckiser, diz dividir suas "angústias" com amigos, com a fanúlia e com consultores de extrema confiança que o ajudam a equacionar escolhas e posicioná-Ias da melhor maneira. "Compartilhar com pessoas verdadeiras e do bem faz toda a diferença." ajuda qualificada no *Colaboraram: Cesar Valente, Claudia Facchini, Daniela D'Ambrosio, Daniele Madureira, Fernando lugar da arrogância Lopes, Marli Lima, Raquel Landim, Roberta Campassi e Vera Saavedra Durão Março 2008 1EXECUTIVO de Valor 171