Trilobites de Arouca

Transcrição

Trilobites de Arouca
Os fósseis das maiores trilobites do mundo
foram encontrados em Arouca por equipa
internacional
09.05.2009, Nicolau Ferreira
A culpa é dos pólos. Há 465
milhões de anos, a zona da
Arouca, perto de Aveiro,
estava submersa e ficava
pertíssimo do pólo sul, junto
da costa do continente
chamado Gondwana. O frio
e as águas, com uma baixa
concentração de oxigénio,
permitiram às trilobites
crescerem mais, num
ambiente protegido em que
seres maiores, com um
metabolismo mais lento,
estariam bem adaptados.
"São as maiores trilobites do
mundo", disse logo Artur Sá
ao PÚBLICO, co-autor com
uma equipa espanhola do
artigo publicado este mês na
revista Geology. Segundo o
paleontólogo, este
"gigantismo polar" é uma
característica que acontece
hoje em muitos artrópodes
que vivem em condições
parecidas.
Em Canelas, no Geoparque
Arouca, estão descritas 20
espécies de trilobites - um
dos fósseis mais
representado da era do
Paleozóico. As trilobites
viveram durante mais de
280 milhões de anos até
desaparecerem há 250
milhões de anos, quando se
deu a grande extinção do
final do período Pérmico,
antes da era dos
dinossauros.
Na pedreira de Arouca, só
cinco ou seis espécies é que
apresentaram um tamanho
fenomenal. Habitualmente,
as espécies não ultrapassam
os 10 centímetros, aqui a
maioria ultrapassava os 30
centímetros e o maior fóssil
tem 86 centímetros de
comprimento.
Mas esta descoberta também
lança luzes sobre o
comportamento social destes
animais. "Até agora, o que se
conhecia eram indivíduos
solitários. Aqui temos uma
grande quantidade de
trilobites todas juntas e
metros e metros sem
trilobites", explicou Artur
Sá, que é professor do
Departamento de Geologia
da UTAD.
O investigador aponta duas
razões que podem explicar o
fenómeno: no mar, as
trilobites juntavam-se para
as mudas das carapaças,
ficando agregadas para se
protegerem enquanto as
novas estruturas enrijeciam.
Parte dos fósseis são das
mudas e não de trilobites, o
que dá força a esta teoria.
Por outro lado, o objectivo
do ajuntamento poderia ser
a reprodução, como acontece
em artrópodes actuais. O
maior grupo de trilobites
encontrado em Arouca
pertencia à espécie
Ectillaenus giganteus, e
contava com mais de mil
indivíduos com 15 a 20
centímetros que preenchiam
uma área de 15 metros
quadrados.
Muitos fósseis mostram
trilobites encolhidas,
provavelmente pela falta de
oxigénio. Por questões
paleoambientais, o mar
nesta região teria baixas
concentrações do gás.
Graças ao seu tamanho e ao
baixo metabolismo, teorizase que as trilobites poderiam
descer até profundidades de
150 metros para se
alimentar de partículas
orgânicas. A falta de
oxigénio matou-as mas
ajudou à fossilização.
"Trata-se aqui de uma
preservação excepcional, que
só ocorre quando temos
sedimentos muito finos e
ausência de oxigénio", frisa o
investigador.
Os fósseis da região de
Aveiro são especiais pelo
tamanho e por revelarem
comportamentos sociais.

Documentos relacionados