Arquivo da publicação - Indicadores de Qualidade do Ensino

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Arquivo da publicação - Indicadores de Qualidade do Ensino
PERCEPÇÃO DE PROFESSORES SOBRE OS INDICADORES DE
DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA – IDEB
OLIVEIRA, Ariane Angelita de1
COMPARIN, Dirciane Lucia Secco2
Unoesc
Resumo: O trabalho faz parte de um estudo ampliado, que compõe o Programa “Observatório
da Educação”, cujo objetivo é avaliar a pontencialidade e o alcance das estratégias e ações
deflagradas pelas redes públicas municipais, no que se refere aos indicadores de qualidade do
ensino fundamental. Tratou-se de uma abordagem qualitativa; o instrumento de pesquisa
aconteceu mediante entrevista com os professores de 5º ano do ensino fundamental e de
Língua Portuguesa e Matemática do 9ºano/8ªsérie no ensino fundamental nas escolas
municipais de Dionísio Cerqueira, Itapiranga, Palmito, Santa Terezinha do Progresso e São
Miguel do Oeste. As entrevistas semiestruturadas dividiram-se em dois momentos: durante a
aplicação da Prova Brasil, em 2011 e durante o primeiro semestre de 2012, no aguardo dos
resultados obtidos do IDEB. Durante as narrativas dos docentes, foi capaz de analisar e
refletir sobre a busca em captar as funções e atribuições de suas ações sob os Indicadores de
Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB. A partir dos resultados da pesquisa ressalta-se
que a relação entre os princípios e as ações pensadas no âmbito educacional revela-se
fragilizada diante das expectativas do IDEB, principalmente pela ausência de critérios claros,
aos docentes, dos parâmetros de qualidade educacional.
Palavras-chave: Narrativas de Professores. IDEB. Qualidade educacional. Sistemas
municipais de ensino.
1
Graduada em Matemática – ênfase em computação pela UNOESC, Especialista em Matemática e Física pela
FACISA e em Mídias na Educação pela FURG. Bolsista do Programa Observatório da Educação/Capes. E-mail
[email protected].
2
Graduada em Pedagogia Séries Iniciais pela UDESC e Complementação em Educação Infantil pela FACVEST
e Especialista em Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental pela FACINTER. Bolsista do
Programa Observatório da Educação/Capes. E-mail [email protected].
1 INTRODUÇÃO
O conhecimento tem presença garantida em qualquer projeção que se faça do futuro.
Por isso há um consenso de que o desenvolvimento de um país está condicionado à qualidade
da sua educação. Proporcionar uma reflexão a respeito do tema qualidade educacional os
permite melhorar os processos de ensino e apontar possibilidades para remodelar a educação e
ampliar a compreensão e a concepção de escola.
Não há dúvidas de que um dos maiores desafios da prática pedagógica é o relativo à
avaliação: de elemento de referência do andamento do processo para a cooperação com o
aluno, torna-se muitas vezes fator de controle e dominação. O professor, preocupado em
mobilizar o aluno para o trabalho, passa a usar a nota como instrumento de pressão para obter
disciplina e comprometimento.
Foram realizados muitos estudos sobre avaliação e segundo Luckesi (2002, p. 90), há
uma diferenciação fundamental a considerar entre os termos avaliar e verificar.
Frequentemente estes termos são usados como sinônimos, mas “verificar provém
etimologicamente do latim – verum facere – e significa fazer verdadeiro”. A verificação tem
caráter de controle e determinação, enquanto que o termo avaliar, diz Luckesi (2002, p. 90):
“tem sua origem no latim, provindo da composição a-valere, que quer dizer ‘dar valor a... ’”, e
infelizmente “A escola brasileira opera com a verificação e não com a avaliação da
aprendizagem” (p. 93).
Para tanto, a avaliação deve ser inserida no processo de ensino, como um instrumento
que viabilize maior busca pelo conhecimento e como instrumento de questionamento,
buscando assim a socialização do conhecimento à formação para a cidadania. Procura-se
dessa forma salientar a importância da avaliação, na educação hoje, em que a função da escola
será, cada vez mais, a de ensinar a pensar criticamente. Para isso é preciso entender o sentido
amplo de avaliar e avaliar-se.
2 AVALIAÇÃO
2.1 AVALIAR É UM ATO DE AMOR
Feitas as considerações iniciais e a problematização sobre a temática da avaliação, é
necessário que se compreenda as concepções (compreensões, entendimentos) mais presentes
na avaliação.
Aos poucos vamos desvendando este termo “avaliação”. E para continuar a reflexão é
fundamental analisar as diferentes concepções, as quais têm uma vinculação profunda com as
questões sociais. Nossas compreensões nunca se pautam em situações neutras.
A prática docente implica em processos, técnicas, fins, expectativas, desejos,
frustrações, e a tensão permanente entre teoria e prática, entre liberdade e
autoridade, cuja exacerbação, não importa de qual delas, não pode ser aceita numa
perspectiva democrática, avessa tanto ao autoritarismo quanto à licenciosidade
(Freire, 1996b, p. 109).
Um professor marca a história pela sua prática. E a capacidade de integrar
conhecimento, afetividade, criticidade, a vivência do outro e com respeito é fundamental. O
educador aprende e ensina, ensina e aprende. Por meio deste processo constrói as mudanças
necessárias para a consolidação de um mundo marcado pela justiça, onde todos tenham
espaço para viver com dignidade, ou então, por opção, reforça as práticas conservadoras já
determinadas. O trabalho do professor tem a capacidade de intervenção no mundo. A
educação, especificidade humana, não tem neutralidade, característica que carrega uma
importância imensurável. E, desta forma, a relevância de um trabalho pedagógico está na
virtude da coerência e na capacidade educativa dos sujeitos por si e entre si.
Segundo Luckesi (2002), a avaliação serve para auxiliar cada aluno no seu processo de
competência e crescimento para a autonomia e é indicadora de novos rumos. Serve também
para compreender o estágio de aprendizagem em que o aluno se encontra, objetivando o
avanço no processo.
Entendemos que a avaliação se constitui democrática quando propicia a aprendizagem,
ou não será avaliação. Quando se trata apenas de um ato burocrático deixa de ser processo e
assume uma forma que prejudica e marca de modo muito negativo a vida das pessoas, não
raro para toda a vida. Produz abandono escolar, repetência e cria muitas dificuldades. Como
processo de construção do conhecimento, promove e instaura processo formativo porque
permite o desvelar das potencialidades de quem aprende.
Muito se tem discutido e estudado sobre a temática, mas a avaliação sempre é
desafiadora e provocadora da nossa capacidade de gerenciar o fazer pedagógico. Avaliar
envolve justiça, discernimento, compreensão, rigor, sabedoria, entendimento, e mais uma
infinidade de qualidades e por isso mesmo é um processo complexo. Complexo porque
envolve a vida das pessoas (famílias, amigos).
Assim, ao organizarmos a avaliação numa dimensão participativa, com requisitos que
desenvolvam a autonomia, há maiores possibilidades de construção e de aprendizagem
significativa. Isso porque o processo avaliativo é marcado por relações de poder que quando
não democráticas, intimidam e inibem a expressão e a construção do conhecimento.
Muitas vezes o professor, não conseguindo motivar o aluno para o trabalho, apela para
o uso da nota como instrumento de pressão para obter respostas que autoritariamente deseja,
como disciplina, atenção, execução das atividades. A função da avaliação, entretanto, não é
essa.
Para que a avaliação cumpra sua função é imprescindível que seja entendida como
parte do PROCESSO educativo, não devendo receber uma ênfase desmedida, como se fosse o
elemento mais importante. Fazer isso é confirmar a distorção da avaliação como fim (e não
como meio).
2.2 AVALIAÇÃO: UM DIÁLOGO NA ESCOLA
Comulmente no Brasil, em suas esferas federais e estaduais, acontencem as avaliações
em larga escala. Em torno destas avaliações criou-se a ilusão de que estes tipos de avaliações
podem avaliar a escola e os professores.
A Prova Brasil é um instrumento de acompanhamento com o objetivo de avaliar a
qualidade do ensino oferecido pelo sistema educacional brasileiro a partir de testes
padronizados e questionários socioeconômicos. Está prova é aplicada de dois em dois anos
nas escolas urbanas e rurais nas turmas de 5º e 9º ano, onde é observado o conhecimento nas
áreas de Matemática e em Língua Portuguesa.
O programa Observatório da Educação básica desenvolveu como ação para avaliação
diagnóstica da prova Brasil e conscequentemente, os Índices de desenvolvimento da educação
básica – IDEB em cada escola pertecente a pesquisa.
Nos municípios de Dionísio Cerqueira, Itapiranga, Palmito, Santa Terezinha do
Progresso e São Miguel do Oeste realizou-se pesquisas com os professores envolvidos
diretamente com a prova Brasil e com a gestora da escola em dois momentos: durante a
aplicação da Prova Brasil em 2011, e em 2012 durante o período que precedeu a divulgação
dos índices do IDEB.
Durante os diálogos com os professores pode-se perceber que havia uma tensão na
escola e nos comentários durante as entrevistas. No momento haviam questões de âmbito
municipal sendo envolvidas, como o processo eleitoral, no entanto, pecebeu-se que muitos
docentes tiveram medo de expor realmente como cada um interpreta a forma de avaliação da
Prova Brasil. Alguns se mostraram seguros para expor sua opinião em relação as expectativas
á prova daquele ano. Ao demostrarem suas expectativas pode-se observar que o aumento do
IDEB era o principal objetivo coletivo.
Quanto à prova cada professor explicou que se detém mais nas questões das provas
anteriores para que os alunos tenham noção de como é o teste e que consigam através da
prova obter uma nota adequada para que o IDEB aumente. Resaltaram também que as provas
não deveriam se padronizadas, pois deveria ser avaliado o conhecimento real de cada
educando, valorizando assim as capacidades de ser expressar e as reais habilidades de cada
educando. Outros professores relataram que a prova Brasil avalia o mínimo e que ela coloca
as escolas brasileiras em padrão, mesmo que mínimo.
De forma geral os professores estão preocupados, pois a prova Brasil é apenas uma
avaliação na qual não está atribuídas as condições sociais dos alunos, as condições de cada
criança no dia da realização da prova, entre tantos outros fatores que influenciam no
desempenho dos educandos. Apesar de todos os esforços contínuos das pessoas envolvidas na
escola, nos dias em que antecede a realização das provas, apesar de não serem divulgados
para os alunos, a tensão na escola está mais presente. A maior preocupação é que a prova
Brasil é só um momento e que não é avaliado o trabalho continuo que as escolas realizam
durante o ano letivo.
Segundo Freitas, “reivindicar do professor uma avaliação contínua e não
classificatória já não é mais suficiente, face ao que conhecemos dos mecanismos de avaliação
vigentes na escola.” Avaliação continua não garante o sucesso, pois o sucesso ou fracasso
depende das relações construídas na perspectiva de uma avaliação formal ou informal.
Segundo o explanado pelos professores, deveria existir outro método de avaliação que
acompanhasse o processo de ensino e aprendizagem dos alunos no decorrer do ano letivo, não
somente a cada dois anos e em turmas que estão concluindo o 5º e o 9º ano pois as turmas se
repetem e muitas vezes são as turma que mais problemas sociais e familiares tem e que a
escola sozinha não consegue sanar as necessidades de cada criança, precisando de
acompanhamentos o que na realidade das escolas, ainda está em desfalque, pois faltam
profissionais qualificados a disposição dos centro educacionais.
No entanto percebe-se que a educação não será melhor ou pior enquanto existir como
comprovação da qualidade de ensino, testes quantitativos que diferem das realidades de cada
escola, pois cada escola vive em níveis sociais diferentes, então para poder-se falar de
educação de qualidade, é preciso acima de tudo, conhecer realmente as condições de nossas
escolas e o quanto é investido para essa educação ser realmente de qualidade.
De qualquer forma é importante resaltar que toda ação educativa somente será valida
se precedida por reflexões sobre o ser humano, que se deseja educar, e seu ambiente de
inserção.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das colocações pode-se perceber que os professores mais verificam os
conhecimentos e do que procuram avaliar seus conhecimentos? Aliás, convém que
aprofundemos nosso pensar sobre “porquê” avaliamos. Para ter notas, pareceres, relatórios
sobre a aprendizagem dos alunos? Para analisar nossa atuação? Avaliar, para quê?
Assumindo uma postura realista, não cabe mais a escola reproduzir verdades
absolutas, ou como diz Moram (2012), “conhecer e pensar não significa chegar à verdade
absolutamente certa, mas sim dialogar com a incerteza”. No que diz respeito ao
conhecimento, a escola tem papel importante no fornecimento das tantas verdades parciais
que existem, possibilitando que o educando construa seu próprio ponto de vista.
Processo de desenvolvimento integral do homem através da educação inclui não só o
acesso a informação e formação de habilidades, mas também a aplicabilidade que o próprio
sujeito faz em todas as estâncias de sua vida.
Notou-se que as avaliações em larga escala no país não estão oportunizando o
desenvolvimento de novas práticas didáticas de trabalho no processo de ensino e
aprendizagem. Entretanto, a maior contribuição do IDEB como meio avaliativo advém do fato
de seu uso ter provocado o questionamento dos métodos e processos de ensino utilizados.
Dessa forma, percebe-se a inquietação dos professores a cerca da Prova Brasil e dos índices
de reprovação escolar, principais instrumentos de avaliação.
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