presídio tiradentes - Memorial da Resistência de São Paulo

Transcrição

presídio tiradentes - Memorial da Resistência de São Paulo
Memorial da Resistência de São Paulo
PROGRAMA
LUGARES DA MEMÓRIA
PRESÍDIO TIRADENTES
Endereço: Avenida Tiradentes, 451,
Tiradentes, São Paulo, SP.
Classificação: Aparato Repressivo.
Identificação numérica: 192-01.020.
O Presídio Tiradentes foi sonho e pesadelo de uma geração. Os que lá passaram
pelos anos 60 e 70 carregarão uma marca para o resto das suas vidas, nem
sempre ruim, é bom que se diga, pois a prisão política – como se depreenderá da
maioria dos textos contidos nesse livro – não é o inferno na terra. Ali se cultivaram
também valores que não se perdem da noite para o dia, mais perenes, e que se
colaram ao caráter dos inúmeros “hospedes” que teve o presídio,
independentemente dos caminhos políticos que eles seguiram. (GRANVILLE,
1997,41).
Os principais conceitos em torno do espaço carcerário são: disciplina e repressão. A partir do
século XIX com a consolidação do sistema capitalista, as sociedades passam por profundas
transformações quanto a sua organicidade gerando, portanto uma sociedade disciplinar que abarca
todas as esferas da vida, seja na produção material, seja no padrão comportamental. Portanto, quem
não se adequa a esse modus operandi passa a ser punido.
A constituição do sistema prisional visava disciplinar os cidadãos pertencentes às camadas
empobrecidas, pois muitos dos que eram presos se enquadravam no estigma de vadios e arruaceiros.
Com o início dos regimes ditatoriais a ideia de disciplina vem atrelada a repressão política, pois as
ideologias contrárias as politicas de estado não tinham espaço e já não cabia apenas uma
disciplinarização do modo de pensar e agir no mundo, mas uma repressão efetiva para que fossem
extintas.
1
PRESÍDIO TIRADENTES – histórico e sistema prisional
Na província de São Paulo, a época Imperial, a concepção do espaço carcerário foi se
estabelecendo lentamente e locais paliativos foram utilizados para o aprisionamento dos infratores. A
falta de um sistema carcerário estava diretamente relacionada à escassez de verbas e de profissionais
que pudessem realizar tal projeto. Nesse sentido, a Casa de Correção de São Paulo, após um longo
percurso quanto a sua construção, surge em resposta a crescente demanda de infratores viabilizando,
assim, a aplicação do código criminal a todos aqueles que ousavam descumpri-lo. Portanto, pode-se
sugerir que a correção e a repressão são conceitos inerentes à constituição do Presídio Tiradentes.
Conhecida inicialmente como a Cadeia da Luz, a Casa de Correção de São Paulo, foi criada em
1825, sendo inaugurada somente em 6 de maio de 1852. Sua estrutura foi pensada para atender duas
demandas específicas, a saber: como depósito de escravos os quais eram postos no calabouço, e a
casa de correção, propriamente dita, para onde iam todos aqueles que em certa medida não se
adequavam as regras dessa sociedade, seja pela prática de delitos, seja por sua condição social, e
deste modo as penas eram cumpridas através do trabalho.
Localizava-se no largo do Seminário (atual Avenida Tiradentes), que começava na Rua do
Comércio da Luz e no baixo muro do Jardim do mesmo nome, prolongando-se até as porteiras da
Inglesa desembocando nas Ruas Alegre e Constituição (atual Brigadeiro Tobias e Florêncio de Abreu)1.
De acordo com Gonçalves (2010, 160), durante a sua construção o presídio passou por inúmeras
depredações e reformas permanecendo a Penitenciária e a Cadeia no estado improvisado de 1877 até
o final da monarquia e, pelo menos, por mais trinta anos durante todo o período republicano2. As
condições de encarceramento eram as piores possíveis apontando todo descaso com a vida, tanto do
ponto de vista arquitetônico, com celas em tamanho reduzido e insalubres, quanto às insuficientes
condições de higiene e alimentação proporcionadas aos presos. A precariedade da construção e as
más condições de encarceramento eram uma marca que o Presídio carregaria até a sua extinção em
1973, quando da sua demolição para o andamento das obras do metrô.
A discussão na esfera pública quanto à deficiência do sistema prisional datam do início do século
XX. O senador da República Paulo Egídio (1890 a 1896), em seu ensaio “Estudos de Sociologia
Criminal” analisa o problema da criminalidade e o associa a questões de ordem social. Tendo assumido
um papel importante no senado de São Paulo, propôs alterações no Código Penal, bem como a criação
de novas instituições relacionadas à prisão, já que o sistema vigente encarcerava tanto os criminosos
como os menores abandonados e os excluídos socialmente. Para ele a reforma penitenciária
compreendia o estabelecimento de uma rede de instituições ‘racional e praticante’ concebida para
prevenção de delitos, para a sua supressão, para a correção dos delinquentes e para a prevenção da
1
MENEZEZ, Raimundo de. “Espetacular evasão da Cadeia da Luz em 1884”. In: Investigações, n. 37, ano IV, São Paulo, janeiro de
1952, p. 29.
2
GONÇALVES, Flávia Maíra de Araújo. Cadeia e Correção: Sistema prisional e população carcerária na cidade de São Paulo.
2010, página 160.
2
reincidência3. Para tanto, seria necessário uma reforma na instituição vigente. Propôs então a criação
de uma comissão que se encarregaria de verificar as condições e necessidades da então principal
penitenciária de São Paulo, o Tiradentes.
O parecer desta comissão, mediante as condições de higiene e da constituição da construção,
apontou que uma condenação ali cumprida era uma pena de morte atenuada. Frente os dados
levantados pela comissão o Tiradentes estava integralmente condenado, e nesse sentido a proposta de
Paulo Egídio para uma nova Penitenciaria do Estado, viria se concretizar em 1911 quando se inicia as
obras da nova Penitenciária do Estado “Instituto de Regeneração – Carandiru”, e sua inauguração se dá
em abril de 1920, visando atender as exigências do código penal republicano de 1890. O Instituto de
Regeneração cumpriu o seu papel, sendo considerado modelo nas Américas, recebia visitas de
inúmeros estudantes de direito, personalidades das mais diversas nacionalidades, chegando a ser
considerado um dos cartões postais da cidade de São Paulo. Ainda assim, o presídio Tiradentes
continuou a funcionar encarcerando novos infratores.
Na década de 30, com o Estado Novo as feições do Presídio Tiradentes se reconfiguraram, os que
lutaram contra os regimes ditatoriais que se instalaram no país acabavam por cumprir suas sentenças
naquele espaço. Assumindo, portanto a vocação de presídio político, o qual recebeu em um pavilhão
especial todos os indiciados na Lei de Segurança Nacional. Esta característica se seguiria até a queda
do Regime em 1945. Segundo Camargo e Sacchetta (1997,491), neste período passaram por lá José
Maria Crispim e Monteiro Lobato homenageados posteriormente por outros presos políticos que lá
estiveram desde 1968, nomeando a cela em que passaram em décadas anteriores4.
Perseguição Política
O século XX é marcadamente um período de grandes mudanças e transformações no interior de
suas estruturas, seja no campo da política e ideologias, seja no âmbito das relações internacionais;
algumas dessas transformações culminaram em experiências catastróficas como as duas grandes
guerras e os regimes ditatoriais, os quais se instalaram tanto na Europa quanto nos países periféricos.
Deste modo, não poderia ter sido diferente o caso do Brasil, no qual as conjunturas internacionais
influiriam diretamente na nossa política e sociedade. Sendo assim, buscou-se a defesa da “democracia”
sob a égide da perseguição ao comunismo.
O Partido Comunista Brasileiro (PCB) surge em 1922 e com ele a Aliança Nacional Libertadora
(ALN), que combatia a influência do fascismo no Brasil e reivindicava a suspensão da dívida externa do
3
ALVAREZ, Marcos César; SALLA, Fernando. Paulo Egídio e a Sociologia Criminal em São Paulo. In: Revista Sociologia – Tempo
Social, maio 2010, p. 9.
4
CAMARGOS, Márcia M. de R. & SACCHETTA, Vladimir. A história do presídio Tiradentes: um mergulho na iniquidade. IN: FREIRE,
Alípio; ALMADA, Izaías; PONCE, J. A. de Granville (orgs.). Tiradentes, um Presídio da Ditadura: Memórias de Presos Políticos. São
Paulo: Scipione Cultural, 1997, p. 491 – 493.
3
país, a nacionalização das empresas estrangeiras, a reforma agrária e a proteção aos pequenos e
médios proprietários, a garantia de amplas liberdades democráticas e a constituição de um governo
popular5 Frente ao teor revolucionário destas reivindicações tanto o PCB como a ALN foram postos na
ilegalidade na Era Vargas com base na Lei de Segurança Nacional promulgada em abril de 1935, que
definia e punia os crimes contra o Estado e a ideologia vigente. Esta lei surge como medida de controle
popular e suporte para a repressão e perseguição a todos aqueles que se enquadravam em atividades
supostamente subversivas, como por exemplo, o caso Monteiro Lobato.
Lei de Segurança Nacional
A ditadura Vargas foi seguida por um golpe militar que em março de 1964 tomou o país. Portanto,
a menor discordância ou questionamento quanto à política adotada pelo governo seria motivo para o
enquadramento na Lei de Segurança Nacional. Deste modo, a perseguição política, o encarceramento,
as torturas e punições tornaram-se prática recorrente. Elevando-se significativamente a população
carcerária, tal efeito se deu, sobretudo frente à especialização da polícia política que objetivava conter e
reprimir as mobilizações populares e organizações políticas. Como consequência “as prisões ficaram
ainda mais precárias devido ‘’’à quantidade de novos presos. O cárcere tornou-se o local de exclusão,
por excelência, dos inimigos políticos e sociais do regime” (PEDROSO, 2003,151)6
Com o golpe militar em 1964 a Lei de Segurança Nacional juntamente com o Serviço Nacional de
Informações, criado em junho do mesmo ano, forneciam e produziam informações que atendiam aos
interesses da ditadura e de seus aliados, elevando o grau de recrudescimento da repressão política. O
inimigo a ser combatido encontrava-se no meio do povo. Estudantes, intelectuais, artistas e militantes
políticos foram o principal foco de perseguição e para tanto foi implantado em escala nacional o
Destacamento de Operações e Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) o
qual visou não só a perseguição, mas o aprisionamento e a eliminação de todos os opositores do
regime.
Quando os presos já haviam passado pelas seções de interrogatórios, torturas, e quando
finalmente eram registrados junto a Auditoria Militar alguns eram transferidos para o Presidio Tiradentes
para aguardar o julgamento, cumprir a pena e ficar a disposição dos militares.
5
http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos30-37/RadicalizacaoPolitica/ANL
PEDROSO, Regina Célia. Os signos da pressão: História e Violência nas Prisões Brasileiras. São Paulo: Arquivo Oficial do Estado;
Imprensa Oficial do estado, 2003. (Coleção Teses e Monografia vol. 5), p.151.
6
4
PURGATÓRIO? Entre os Limites do Céu e do inferno.
“O Tiradentes era um purgatório, este limbo situado entre o inferno e o paraíso” diz um. Diz outro: “É um
paradoxo pensar que um presídio possa ser um alivio salvo se for o pensamento de um masoquista –
mas o Presídio Tiradentes, nos anos negros da ditadura, foi para mim, e para muitos que lá estiveram,
uma espécie de alívio” (...) Um pouco tem a ver com o fato de que, na trajetória obrigatória da prisão
política, ao chegar ao Tiradentes significava um alívio, quase uma vitória por ter sobrevivido às torturas,
ao desaparecimento, à morte” (CANDIDO, 1997, 15).
O purgatório é popularmente conhecido como o lugar onde as pessoas depois de mortas expiam
seus pecados para estarem aptas a entrar no céu, ou seja, o limite entre o céu e o inferno. Percebido
como purgatório, o Presídio Tiradentes era assim conhecido por ser o lugar onde os presos políticos
eram enviados quando saíam das delegacias como o DOI-Codi, o DOPS e outros centros de detenção e
tortura. “Com a ida para o Tiradentes, a sensação era de que assumíamos de fato o status de
prisioneiros reais, vivos, com nome e endereço conhecidos. Aí terminava a peregrinação de muitas
famílias à procura de seus parentes” (GRANVILEE, 1997,27). Muitos dos presos ficavam meses sem
nenhum tipo de registro que comprovasse a detenção, o que poderia favorecer as possibilidades de que
fossem mortos, sem nenhum tipo de implicância penal aos assassinos, uma vez que não existia
documentação sobre a detenção.
O DOI-Codi foi um dos lugares onde mais se torturou e matou durante a ditadura em São Paulo,
conhecida entre os presos políticos como a “Sucursal do Inferno”. Assim, para os presos políticos que
eram registrados e transferidos do DOI-Codi para o Presídio Tiradentes, constituía-se uma espécie de
“ascensão” ao purgatório, já que a repressão e o encarceramento permaneciam, mas com níveis de
crueldade em menor proporção. Na analogia apresentada, o céu seria a liberdade, palavra cara aos que
lutaram pela democracia no Brasil e que foram barbaramente reprimidos.
Não se pode ocultar que o Presídio Tiradentes representa em si um lugar de memórias de dor e de
violações aos direitos humanos. No entanto, é preciso atentar para as condições físicas e psicológicas
em que os presos políticos chegavam. Seus corpos e mentes já estavam consideravelmente debilitados,
na grande maioria dos casos, pelas torturas sofridas em outros centros de repressão. O Presídio
Tiradentes não foi palco de seções de torturas físicas para presos políticos, entre outros motivos, porque
os que lá chegavam já haviam sido “interrogados” com todas as “metodologias” possíveis. No entanto,
torturou psicologicamente e fisicamente os presos, ao negar qualquer tipo de assistência médica aos
intensos problemas de saúde que tinham os presos políticos devido às torturas sofridas. Sem esquecer,
é claro, que estamos falando de uma unidade prisional, com todas as restrições e deficiências que são
os presídios no Brasil. Percepção que pode ser confirmada no depoimento de Dulce Maia (1997,100)
sobre sua estadia no Tiradentes. “No princípio, senti um alívio. Cheguei a acreditar que tudo ali seria
5
diferente, ilusão que durou pouco. Logo percebi que toda cadeia é essencialmente igual, ainda que
tenha métodos diferentes”.
OS ESPAÇOS DO TIRADENTES E A TORRE DAS DONZELAS
Para além dos presos políticos, o Presídio Tiradentes abrigava presos comuns, conhecidos como
“corrós” 7. Os primeiros presos políticos, da ditadura civil-militar, que foram encarcerados no Tiradentes
ficavam em celas comuns, não havia uma separação inicial entre presos comuns e políticos. Silvio Rego
Rangel (1997, 154) ao relatar sua chegada ao Tiradentes, descreve:
“Eram dois prédios, um cinza e um amarelo, um mais novo e o outro muito velho,
ambos cheios de janelas gradeadas. (...) Existia um cheiro de creolina por todos os
lugares e alguns presos comuns trabalhavam fazendo limpeza. As celas do
pavilhão I eram fechadas com grandes chaves. Imagino que cada uma delas
pesava quase um quilo e os carcereiros as carregavam balançando-as, fazendo
um barulho que lembrava o de sinos. Cela 3, pavilhão I ou X3-P1 – meu novo
endereço. (...) Além dos presos políticos, moravam também na cela um tira
umbandista acusado de assassinato, (...), um indiano, um cafetão belga e um
americano.”
Os estudantes presos no encontro da UNE em 1968 ficaram detidos no Presídio Tiradentes, sendo
alguns posteriormente liberados. Com o aumento exponencial da chegada de presos políticos, de
ambos os sexos, os presos políticos passaram a ficar em um pavilhão específico.
“A composição das celas se dava a partir de muitas artimanhas junto à
carceragem, que, pouco afeitas a lidar com presos políticos, não conseguia
perceber que as várias organizações e tendências políticas iam se dividindo e
agrupando pelas sete celas do pavilhão. (...) As celas, sem exceção, tinham uma
composição heterogênea quanto à origem social, política, intelectual e faixa
etária.” (ROIG, 1997,128).
As mulheres, presas políticas, ficavam em outro pavilhão, separado da ala masculina. Situado na
parte traseira do Tiradentes, havia um prédio com uma torre. “Do saguão saía uma ampla escada que
conduzia às celas que se encontravam no andar superior” (LOBO, 1997,220).
“O local que habitávamos no presídio Tiradentes era uma velha torre circular, de
paredes maciças, rodeada de guaritas, isolada do resto do presídio pelo pátio
feminino, e tendo como única entrada uma porta de ferro. Dentro, o acesso às
celas se dava por uma escada dupla, majestosa, em forma de ferradura. Sua
amurada na parte superior, como um mezanino, permitia a visão do que acontecia
na parte de baixo. A porta de entrada e de saída rangia sempre, e seu cadeado
tinha uma batida inconfundível” (SIPAHI, 1997, 183).
7
Carlos Roberto Pittoli (1997, pg. 115), ex-preso político do Presídio Tiradentes, explica que o termo é uma abreviação de
Correcionais, presos correcionais.
6
Rose Nogueira (1997,143) afirma que muitas histórias eram contadas em torno da torre, por ter
sido prisão de escravos no século passado (onde ficavam acorrentados antes de ir a leilão) e por ter
sido cárcere de presos políticos de outras épocas, como Monteiro Lobato em 1953 por defesa da
campanha “O petróleo é nosso”.
O contato entre presos políticos homens e mulheres não era permitido. “Não era possível vê-las
dos pavilhões masculinos, a não ser através de um minúsculo orifício existente no portão de ferro que
separava os pátios das alas masculinas e feminina, e ainda assim somente nos dias de visita, que eram
as únicas ocasiões em que esses pátios comunicantes eram utilizados”. (ROIG, 1997,129).
Os casais que eram civilmente casados, podiam se encontrar sob vigilância dos carcereiros. Na
ocasião, eram trocadas “balinhas” de correspondência com informações, textos políticos e cartas.
Segundo Vicente Roig (1997,129), era escritos bilhetes com letras muito pequenas em um papel seda,
“dobrava-se o papel de tal forma que ficasse de tamanho ínfimo, embrulhava-se em outro papel de seda
e depois revestia-se com durex, de tal forma que ficasse do tamanho de uma balinha. As balinhas eram
levadas pelos casados, na boca, à prova de qualquer revista”
Outro modo de troca de informações entre os presos era realizada através de mensagens numa
corda artesanal, que foi chamada entre os presos de “Teresa”. “Uma corda feita de barbantes trançados,
com um peso na ponta – um companheiro girava o peso e arremessava a “teresa”, que se enroscava no
braço estendido do destinatário, algumas celas adiante. Esse preso recebia algo que vinha amarrado na
outra ponta” (PITTOLI, 1997,116). E assim, os presos políticos trocavam informações e solidariedade
entre eles.
COTIDIANO PRISIONAL – repressão e resistência atrás das grades
A descrição das celas e do cotidiano dos presos políticos é muito variante, por vários motivos,
entre eles podem ser destacados: a divergência dos relatos de ex-presos, que varia de acordo com o
período histórico que viveram no lugar, e por disputas e conflitos em torno dessas memórias. No
entanto, o cruzamento de fontes nos permitiu apresentar algumas peculiaridades em torno do tema.
A comida que os presos recebiam, vinha do Presídio Carandiru em condições bastante precárias
em termos de cozimento e higiene. José Machado (1997,120), afirma que era preciso “fazer a
reciclagem da comida, que consistia em aproveitar o que era aproveitável na comida do caldeirão e
depois retemperar tudo e voltar ao fogo”. Com o tempo, os presos políticos improvisaram uma cozinha
na cela com um pequeno fogareiro de duas bocas, e os familiares passaram a levar alimentos que eram
preparados diariamente pelos presos.
“E o planejamento consistia em que se organizava uma lista de acordo com as
posses das famílias e racionalizado, porque as famílias, cada uma trazia pro seu
ente querido uma sacola e quando chegava vinha um monte de coisa repetida e
um monte de coisa que faltava. Então chegava quatro, cinco quilos de sal... E aí
7
todas as celas adotaram o planejamento. Então, eu, por exemplo, escolhi para
minha família que trouxesse cigarros. E a minha mãe ficava desesperada porque
eu não fumava, né. Eu falava: “Mãe tranquila e calma. Eu escolhi cigarros porque
tem o problema dos valores, dos preços, quem pode comprar o quê e é mais fácil
pra trazer, tá certo? ”. E aí, famílias que tinham carro, por exemplo, arcavam com
arroz, feijão, açúcar, traziam coisas de mais volume. A minha mãe ia me visitar de
ônibus, não tinha carro, e meu pai trabalhava, então, cigarro era muito confortável
e ficava dentro do preço das famílias que tinham. Tinha gente que não tinha nem
família e não podia levar nada e não levava nada.” (ROIG, 2014, 2:20:00 –
02:21:30).
Os presos se revezavam em duplas para o preparo da comida e a limpeza dos pratos e panelas.
Vários depoimentos, transcritos no livro “Tiradentes, um presídio da ditadura”, como o de Luiz Raul
Machado (pg. 68), destaca que apenas o leite e o pão da manhã distribuídos no presídio eram
recebidos entre os presos políticos, o café também era preparado por eles.
Nas celas havia rádio, televisão, jornais, revistas, livros. Mas existiam regras para usufruir desses
bens de consumo. “Nada de TV o tempo todo ligada. A TV era para o Jornal Nacional, filmes e futebol.”
(PRADO JUNIOR, 1997,133). Quanto aos jornais, revistas e, sobretudo, livros, eram severamente
revistados e passavam por aprovações dos funcionários do presídio para entrarem. No livro “Tiradentes,
um presídio da ditadura” existem vários relatos de ex-presos sobre como driblavam o rigor da censura e
conseguiam receber e ler livros considerados “subversivos”. Entre os relatos, a principal prática era
dividir o livro em capítulos, e separar os capítulos em livros com outra capa, com intervalos entre o livro
original e os capítulos do livro que se queria ler. Paralelo às leituras, eram promovidos intensos debates
sobre temas políticos entre os presos.
Considerando que ali também era um lugar de resistência, os presos tratavam de ocupar seu
tempo ministrando aulas. Eram oferecidas aulas de história, geografia, português, matemática, física,
filosofia, capacitação política, educação física, e outras disciplinas. Entre os que lecionavam, Pitolli
(1997,114) cita Jacob Gorender, Diógenes de Arruda Câmara, Espinosa, e o próprio depoente. O tempo
também era ocupado em oficinas e produção de artesanatos e desenho. As mulheres faziam tricô,
crochê e costura.
“A produção semanal de artesanato nos obrigava a uma rígida disciplina que
estimulava a nossa criatividade. Conseguíamos dos nossos familiares e amigos
uma rede externa de apoio e venda de nossos produtos, que revertiam para as
necessidades das companheiras trabalhadoras do campo e da cidade”. (LOBO,
1997,219).
Os homens também produziam artesanato, sobretudo peças em couro, tapetes de lã e
pirogravuras em madeira. Sobre essa produção, um caso muito peculiar sobre a confecção de peças em
couro por presos políticos no Tiradentes, foi à fabricação de um colar de couro por Manoel Cyrilo que
escondia uma peça especial no interior do colar. Tratava-se de um carimbo da Auditoria Militar, que o
mesmo havia furtado por ocasião de uma visita feita em decorrência de seu processo que estava sendo
julgado. Mesmo algemado, Manoel Cyrilo conseguiu separar o carimbo do suporte e escondê-lo. Mais
8
tarde, de volta ao Presídio Tiradentes, o carimbo foi utilizado em vários livros considerados
“subversivos” em poder dos presos. O carimbo representava que o livro havia sido submetido e
aprovado pela censura, portanto livre de ser recolhido quando das revistas periódicas nas celas.
O carimbo ficava escondido no interior do colar, que foi preparado para que ao tato, em caso de
revistas, não pudesse ser identificado que existia alguma coisa em seu interior. E sempre pendurado
junto aos outros produtos recém-produzidos pelos presos, que seriam vendidos. Assim, o carimbo
ajudou a formar uma livraria no interior do espaço prisional.
Manoel Cyrilo concedeu duas entrevistas ao projeto Coleta
Regular de Testemunhos do Memorial da Resistência no
ano de 2013, nas quais falou sobre militância e resistência
política. No dia 16/08/2013 trouxe o colar ao Memorial da
Resistência, que mediou sua abertura, tratamento e
melhor acondicionamento junto à equipe de Conservação
e Restauro da Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Imagem 01: Colar de couro fechado, antes da
intervenção de retirada do carimbo. Foto:
Sarah Piasentin/ Memorial da Resistência.
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Imagem 02, 03 e 04: Intervenção da equipe de restauro da Pinacoteca de São Paulo da retirada do
carimbo no interior do colar. Foto: Sarah Piasentin/ Memorial da Resistência.
Questionado sobre a permissão do uso de materiais de trabalho nas celas como tesouras, cola
para couro e outros materiais, que não são comumente permitidos dentro de unidades prisionais, Cyrilo
destacou que a censura aos presos políticos era, sobretudo política. A grande represália era com
revistas e livros, com materiais “subversivos”. Além do fato de que a produção dos artesanatos tinha um
cunho social, os produtos eram vendidos por seus familiares, e a renda destinada a famílias de presos
em situação de carência.
As visitas familiares no Tiradentes aconteciam aos sábados, e “a noite de sábado era sempre
nostálgica. Depois da visita, o sábado ficava denso. Um silêncio especial em cada “mocó”. Quem sabe,
uma lágrima escondida. Uma desesperança a mais”. (PRADO JUNIOR, 1997,133). O domingo era dia
de limpeza nas celas entre os presos e futebol. Sim, futebol. Os presos políticos utilizavam a cela 05 do
Tiradentes para jogar futebol. Prado Júnior (1997,132), relata que retiravam os beliches da cela (que
servia de arquibancada do lado de fora por outros presos) e improvisavam os gols com caixotes de
madeira e a bola com meias velhas enroladas umas sobre as outras. Cinco minutos por partida, estava
feito o futebol de cela.
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Mas como diria o ditado popular, nem tudo são flores. E nos dias em que ocorriam os repercutidos
sequestros a embaixadores, que posteriormente seriam trocados por presos políticos, o clima de tensão
e terror se instaurava no Tiradentes.
“Enquanto durava cada sequestro, o presídio ficava isolado, interditado, e as
visitas, suspensas. Mas, fosse através dos guardinhas da muralha, fosse através
de outros esquemas, acabávamos tendo informações sobre o que se passava no
mundão. As ameaças de revistas nas celas se tornavam mais constantes, do
mesmo modo que outros tipos de provocações e ameaças por parte de PMs ou da
direção do presídio. Entre nós, presos e presas, criava-se um clima de expectativa
em relação ao êxito da ação e da aceitação ou não pelo governo das exigências
feitas por parte do comando da organização que conduzia as negociações”.
(MAIA, 1997,105).
Com o êxito dos sequestros, muitos presos políticos do Presídio Tiradentes e de outros centros de
detenção e tortura foram “libertos” e enviados para o exílio. Suas saídas eram sempre acompanhadas
de canções, que naquele espaço representava a solidariedade aos que estavam saindo do Purgatório.
As principais músicas cantadas pelos presos eram: “A Internacional” e “Suíte dos Pescadores” de
Dorival Caymmi.
A GREVE DE FOME DOS PRESOS POLÍTICOS
Alípio Freire (1985, 39) afirma que pelo Presídio Tiradentes entre 1969 e 1973 passou cerca de
trezentos presos políticos, das diversas “tendências de organizações políticas que militaram contar o
regime. Desde parlamentares, ativistas clandestinos e militares”. E entre eles a solidariedade era uma
prática cotidiana. Mas essa solidariedade também se estendia aos presos comuns, chamados de
“corrós”, que comumente eram torturados durante a noite. “Os carcereiros faziam um grupo desfilar nu
no frio do pátio, espancavam todos com uns pedaços de pau ou cassetetes e obrigavam a mergulhar
numa cisterna. A fúria se voltava em ameaças contra nós quando protestávamos da janela”
(MACHADO, 1997, 70).
Os relatos de Dulce Maia (1997,103), afirma que essas torturas aos presos comuns eram
constantes. “Esses presos comuns eram retirados durante a madrugada de suas celas a pauladas,
socos e pontapés e jogados num poço situado num dos pátios da ala masculina. Outras vezes era o
pelotão de choque que invadia, com jatos d’água, os cubículos onde se amontoavam dezenas de
“corrós”, e descia o cacete”. Aytans Miranda Sipahi (1997,233) afirma que os presos políticos muitas
vezes conseguiam
“interromper essa prática de violência macabra batendo e gritando através das
grades. A rotina de tortura e maus tratos contra os presos comuns no presídio
chegava ao ápice quando, durante a madrugada, vários detentos eram retirados
11
de suas celas e levados pelo Esquadrão da morte para serem fuzilados nas
periferias de São Paulo”.
O Esquadrão da Morte era composto por autoridades policiais do próprio Tiradentes, os envolvidos
eram: o diretor do presídio, o delegado e outros funcionários da instituição, tendo como seu principal
mentor o delegado Sérgio Fernando Paranhos Fleury, conhecido agente da repressão. O objetivo era
eliminar os indesejados e os excluídos, assim muitos dos presos comuns eram torturados dentro do
Tiradentes e retirados clandestinamente do presídio para serem executados em zonas de periferia da
cidade.
A partir da década de 70, o procurador de justiça Hélio Pereira Bicudo inicia um processo de
denúncias contra os delitos praticados por esse grupo. Visitou o presídio, ordenou o fechamento do
poço que era utilizado para práticas de tortura, e, sobretudo, apurou as denúncias sobre o esquadrão da
morte. Sua investigação foi consideravelmente auxiliada por Guilherme Simões Gomes (que á época
era preso político no Tiradentes e prestava atendimento odontológico a todos os presos)8. Guilherme
mantinha as fichas de atendimentos dos presos e os números destas nem sempre correspondiam com
os registros internos do presídio, o que viabilizou a instauração do processo contra o grupo. Politi
(2014,28) afirma que no final de abril de 1972 o juiz Mario Fernandes decretou a prisão de vários
policiais envolvidos em execuções de presos comuns e colocou em prisão preventiva por 30 dias o
delegado Olinto Denardi, diretor do presídio Tiradentes.
José Marconi Júnior, assistente de Denardi, assume o cargo da direção e inicia uma retaliação aos
presos políticos, principais denunciadores do Esquadrão da Morte, visando o “controle de denúncias e o
fim da agitação”. O objetivo era separar os presos políticos, transferindo-os para outras unidades
prisionais como o Carandiru, a OBAN, o DOPS, entre outros. Vale destacar que os presos eram
transferidos sem nenhum tipo de informação para onde iriam, com um intenso e ostensivo aparato
repressivo como escolta9.
Quando ocorrem as primeiras transferências de presos políticos do Tiradentes para o Presídio
Carandiru, os presos decidem promover uma greve de fome. Assim, em 12 de maio de 1972 se dá inicio
a greve no Presídio Tiradentes (nas alas masculina e feminina), logo após mais presos são transferidos.
Os presos então decidem enviar um abaixo-assinado dos presos políticos para a direção com um prazo
para que juntassem os presos transferidos. A represália veio com mais transferências, dessa vez para o
Presídio Presidente Venceslau, fora da cidade de São Paulo. Os presos transferidos foram: os
dominicanos Frei Fernando de Brito, Frei Yves do Amaral Lesbaupin, Frei Carlos Alberto Libânio Christo
(cujos nomes eram os primeiros da lista do abaixo-assinado enviado a direção), e Wanderley Caixe
8
Para maiores informações sobre as ações de Hélio Bicudo e do atendimento que prestava Guilherme Simões, sugere-se a leitura
do capítulo “A longa viagem” de Guilherme Simões Gomes no livro “Tiradentes: um presídio da ditadura, 1997, p. 172-180.
9
Sobre as escoltas de presos políticos, vale destacar que os presos que prestaram depoimento sobre suas prisões em livros e
programas de história oral, sempre recordam das escoltas ironicamente, considerando a debilidade física em que se
encontravam (a maioria intensamente fragilizada pelas torturas sofridas, muitos necessitando da ajuda de outros presos para
andar) e a excessiva quantidade de carros e policiais fortemente armados.
12
(advogado), Manuel Porfírio de Souza (camponês) e Maurice Politi (estudante)10. Inicia-se então outra
greve de fome, que durou 32 dias no Tiradentes e 33 dias no Presidente Venceslau.
No Presídio Tiradentes, “cada cela que aderiu à greve colou na porta um papel declarando sua
decisão em solidariedade aos presos transferidos e exigindo a volta deles ao Tiradentes. Os carcereiros,
surpreendidos por essa iniciativa, tiraram fotos das celas consideradas “rebeldes””. (POLITI, 2014,30).
Foi ainda elaborado um documento sobre as reivindicações que foi entregue a direção, e fizeram descer
a carceragem do presídio caixas com os alimentos que haviam recebido de seus familiares para serem
doados às obras sociais da Cúria Metropolitana. Maurice Politi (2014,139) apresenta cópia do
documento entregue em seu livro, do qual apresentamos um trecho.
“Nós, presos políticos, detidos no recolhimento de Presos Tiradentes, em São
Paulo, vimos às autoridades competentes e à opinião pública comunicar a nossa
decisão de, a partir desta data, permanecer em greve de fome, até que a nós se
reúnam nossos companheiros que daqui, arbitrariamente, foram retirados e
confinados em regime de isolamento na Penitenciária do Estado.”
A greve teve uma grande repercussão nacional e internacional, como o apoio da Anistia
Internacional, que gerou desconfortos para os militares. Com a debilidade física dos presos políticos,
dada às torturas e a ausência de alimentação, jornais anunciavam a greve e a possibilidade dos presos
não resistirem e virem a óbito. O apoio da igreja foi muito importante, sobretudo Dom Paulo Evaristo
Arns e suas tentativas de visitar os presos e divulgar a greve de fome e as reivindicações dos presos.
Nem todos suportaram se manter em greve de fome, sobretudo na segunda fase da greve. Muitos
foram ao hospital e tiveram graves problemas, causados pelas torturas e agravados pela ausência de
alimentos e grande quantidade de injeções com soro na veia. Os presos que seguiram na greve foram
reprimidos e alguns transferidos para outras unidades prisionais, como as presas do Tiradentes, Aurea
Moreti e Marlene Soccas que por aderirem a segunda fase da greve foram transferidas para celas
solitárias no DEOPS. Já os presos Paulo de Tarso Venceslau e Paulo Vanucchi foram transferidos para
o DOI-CODI onde foram barbaramente torturados.
A greve foi, portanto, o instrumento encontrado por cerca de 200 presos políticos11, de promover
reivindicações e de se solidarizar com os companheiros que estavam sendo transferidos e separados
em presídios, para outras cidades. As transferências além de desmobilizar as “reuniões” de presos
políticos, dificultava que os mesmos recebessem visita de seus familiares dada à distância dos novos
cárceres.
10
A greve de fome no Presídio Presidente Venceslau foi promovida por esses presos, tendo durado 33 dias. Maurice Politi (2014)
descreve como foi sua estadia no presídio, as condições em que foram tratados e detalhes sobre a greve de fome que para eles
durou 39 dias considerando as duas fases da greve.
11
Informação apresentada pela Carta de solidariedade aos presos políticos que estavam em greve de fome, escrita pela Liga de
Defesa dos Penitenciários Políticos do Brasil em 12/05/1972. IN: POLITI (2014,148).
13
Imagens 05, 06 e 07:
Greve de fome de presos
políticos
no
Presídio
Tiradentes em 1972.
Fonte: Não identificado.
Fonte:
Acervo
da
Secretaria de Segurança
Pública
–
APESP
DEOPS.
14
A MODERNIZAÇÃO E A DEMOLIÇÃO DO PRESÍDIO
A cidade de São Paulo na década de 60, durante a gestão do prefeito José Vicente de Faria Lima
passa por um processo de modernização com a implantação do sistema metroviário. O intuito era ligar a
zona norte com a zona sul da cidade. Projeto que reconheceu o presídio Tiradentes como uma pedra no
caminho. Assim, em 1972 o presídio foi demolido para ceder espaço ao “progresso” apresentado pelo
metro, numa área total de 9.670 m² construídos. A estação, inaugurada em 29/09/1975, integrou a linha
azul do metro, recebendo a denominação de Estação Tiradentes. Os presos que ali estavam, foram
então transferidos para o Carandiru e para a Penitenciária do Estado, sob um regime muito violento
comandado pelo então Coronel Erasmo Dias, conforme destaca FREIRE (1985,38).
Vale destacar que o espaço do que foi o Presídio Tiradentes não foi utilizado em sua totalidade
pela estação do metro. O excedente foi utilizado pelo Banco do Estado de São Paulo Nossa Caixa, que
instalou ali uma agência bancária em 1976. Nesse sentido, o arco do antigo presídio foi igualmente
mantido, agora no projeto elaborado pelo escritório de arquitetura Croce Aflalo e Gasperini, sob a
responsabilidade dos arquitetos Giancarlo Gasperini e Teresinha Corrêa Maia de Carvalho. A agência
do Banco Nossa Caixa funcionou até o ano 2009, quando foi comprado pelo Banco do Brasil.
O TOMBAMENTO E A SALVAGUARDA DA MEMÓRIA – o pórtico como ingresso na
imaterialidade.
A solicitação do tombamento contou com a inciativa do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no
Estado de São Paulo e endossado por diversas organizações da sociedade civil e entidades de direitos
humanos como a Comissão Justiça e Paz, Comitê Brasileiro pela Anistia, entre outros. O pedido foi
apresentado ao CONDEPHAAT em 30 de outubro de 1984 sob o processo nº 4180/84, e requeria para
além do tombamento do “Arco de Pedra” erguido junto a Avenida Tiradentes, e sua transformação em
Monumento Público. Transformado em estudo de tombamento, foi convertido no processo nº
23345/1985 e posteriormente registrado como patrimônio histórico e monumento público.
O parecer do conselheiro do CONDEHAAT Lúcio Felix Frederico Kowarick, em 01 de abril de 1985
deixa claro o reconhecimento do valor imaterial ante a materialidade do que sobrou daquele lugar de
memória.
Considerando o valor histórico do Arco da Pedra enquanto símbolo da luta contra
o arbítrio e a violência é meu parecer que ele deva ser tombado, e posteriormente
transformado em monumento público. Sendo um arco, é forçosamente uma
passagem que simboliza o esforço atual para a plena redemocratização do país12.
12
Parecer de Lúcio Felix Frederico Kowarick, conselheiro do CONDEHAAT em 01 de abril de 1985. Folha 014 do processo de
Tombamento nº 23345/85, pg. 16, disponível em: < http://www.arquicultura.fau.usp.br/index.php/encontre-o-bemtombado/uso-original/administracao-publica/portal-de-pedra-do-antigo-presidio-tiradentes>, acessado em 19/05/2014.
15
O tombamento do Arco de Pedra do Presídio Tiradentes inova, já em 1985, o trato com memórias
de dor e violência da história política nacional, bem como a percepção do que vem a ser um patrimônio
histórico.
O que este estudo nos traz de efetivamente novo é a visão do tombamento não
apenas como um instrumento de preservação da memória, da história, e como
guardião de bens culturais que se constituem em suportes de valores que formam
sentido em nossa sociedade, mas também como co-participe na identificação e
manutenção de um espaço de recordação e homenagem de uma realidade
histórica que muitos prefeririam negar, justamente porque o edifício não existe
mais. Desta forma, o tombamento do arco “reconstitui” o bem, reconhece, lembra e
homenageia períodos da história e procedimentos que se gostaria enterrados e
demolidos, como as próprias paredes do presídio 13.
A prática de tombar prédios históricos no Brasil remonta a década de 1930, quando da criação do
SPHAN, que atualmente se chama Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN. O
órgão é responsável por preservar o patrimônio histórico e artístico a nível nacional. Em 02 de agosto de
1984 o IPHAN outorgava um reconhecimento similar aos valores patrimoniais considerados para o
tombamento do arco do presídio Tiradentes, a imaterialidade.
Tratava-se da intenção em preservar o modo tradicional de fazer o vinho tinto de caju na cidade de
João Pessoa/Paraíba, através do tombamento do prédio que abrigava a antiga Fábrica de Vinho Tinto
de Cajú Tito Silva e seu maquinário. Mas ao incluírem a técnica industrial do modo de fazer o vinho no
processo de tombamento, o IPHAN inovou na salvaguarda da imaterialidade, ao tombar o bem material,
ou seja, o prédio14.
O que nos indica que já havia uma preocupação com a memória e com o patrimônio imaterial por
parte dos órgãos de preservação, ainda que tímido. No que tange aos órgãos estaduais, o
CONDEPHAAT inovou nesse reconhecimento. Não se sugere que o tombamento da Fábrica de Vinho
da Paraíba tenha influenciado na decisão pelo tombamento do Arco do Presídio Tiradentes, dada entre
outros a distância geográfica e a dificuldade de intercambio de informações entre os órgãos citados. No
entanto, cabe destacar que o tombamento do Arco do Presídio inovou por dois principais motivos: por
reconhecer a importância da preservação do que sobrou do antigo presídio, e, sobretudo, por desafiar
um silêncio institucional que vigia em se tratando de memórias políticas do período ditatorial no Brasil.
Vale ressaltar que em 1985 o Brasil estava saindo oficialmente de um governo ditatorial, e elegendo o
primeiro presidente democraticamente eleito pós-ditadura civil-militar, no que ficou conhecida como
Diretas Já.
13
Parecer de Sheila Schvarzman, historiadora do CONDEPHAAT em 29 de setembro de 1985. Processo de Tombamento nº
23345/85, pg. 40.
14
Para maiores informações sobre esse tombamento, e sobre a Fábrica de Vinho Tinto de Caju sugere-se a consultar: <
http://www.iphan.gov.br/ans.net/tema_consulta.asp?Linha=tc_hist.gif&Cod=1494>, acessado em 19/05/2014.
16
ATUALMENTE E/OU ACONTECIMENTOS RECENTES
Do que foi o presídio Tiradentes, hoje resta apenas seu pórtico de entrada. Em sua antiga área,
hoje funcionam: uma estação de metro que foi denominada Estação Tiradentes, e uma agência do
Banco do Brasil.
Em reconhecimento a importância da memória do lugar, a Pinacoteca do Estado de São Paulo, em
parceria com os artistas alemães Horst Hoheisel e Andreas Knitz realizaram no ano de 2003 uma
instalação de metal dentro da Pinacoteca. Tratava-se de uma gaiola de pássaros, que reproduzia em
escala real o pórtico do presídio demolido. A intervenção chamou-se Pássaro Livre/Vogel Frei, e nele
foram colocados pombos, que semanalmente eram libertos numa analogia aos presos políticos que
eram soltos do antigo Tiradentes15.
Imagens 08 e 09: Inauguração da exposição Pássaro Livre/Vogel
frei, 02/08/2003. Fonte: Acervo CEDOC / Pinacoteca do Estado de
SP.
A exposição ficou aberta ao público entre 02/08/2013 a 07/09/2003. Integrou o projeto Octógono
Arte Contemporânea da Pinacoteca e recebeu cerca de 1050 visitantes. O livro de visitas registra muitas
felicitações a obra, mas também muitas críticas ao aprisionamento das aves. As aves eram soltas
semanalmente, e a primeira a ser liberta foi conduzida por Alípio Freire, ex-preso político do Presídio
Tiradentes, que foi um dos organizadores do livro com depoimentos sobre o presídio em 1997.
O pórtico tombado salvaguarda a memória do que foi o Presídio Tiradentes. Lugar de memórias de
dor e de alegrias. Alegria de ter sobrevivido aos centros de tortura e extermínio, que buscavam destruir
o corpo e a mente dos que combatiam a repressão militar.
15
Para
maiores
informações
sobre
a
exposição,
sugere-se
a
consulta
no
site:
http://www.knitz.net/index.php?Itemid=3&id=14&option=com_content&task=view&lang=pt-br>, acessado em 26/05/2014.
<
17
A solidariedade possui cadeira cativa nos relatos de ex-presos políticos que passaram pelo
Tiradentes. O programa Coleta Regular de Testemunhos do Memorial da Resistência, destaca que a
emoção nos relatos sobre o companheirismo e a solidariedade sempre emocionam os entrevistados. A
lembrança do apoio recebido e doado é mais detalhado que as memórias das torturas sofridas no
cárcere. Isso pode ser compreendido por vários motivos, e cada um deles deve ser respeitado: o direito
ao esquecimento (para alguns, o esquecimento é utilizado como mecanismo de funcionalidade para
lidar com um passado doloroso, e esse mecanismo pode ser consciente ou inconsciente), o direito de
ter detalhes de seu passado preservado (direito a reserva legal do passado, percebido, sobretudo em
casos de violência sexual a homens e a mulheres durante as torturas), entre outros pontos que fazem
com que esses depoentes deem mais ênfase a resistência e a solidariedade, em detrimento a
especificidades das violências sofridas por parte da repressão militar.
“O esquecimento não compreende um problema para a memória, o perigo está na manipulação do
esquecimento e ainda na violação do direito à memória que omite e oculta o passado” (BRITO,
2013,41). Assim, é importante destacar que dentro do tema, temos uma promoção de memórias e
esquecimentos que nem sempre são harmônicas, disputam e por vezes recorrem ao silêncio. O fato é
que as experiências vividas nesses lugares históricos, como o Presídio Tiradentes, marcaram toda uma
geração e suas memórias.
“A experiência prisional deixa marcas que carregamos por muito tempo. Algumas
são físicas e se manifestam, por exemplo, no tímpano rompido pela tortura
conhecida por telefone; o algoz bate ao mesmo tempo com as duas mãos nos
ouvidos do preso, produzindo forte pressão que resulta em quedas, zumbidos, dor.
Outras, psicológicas, traduzidas em pesadelos noturnos; policiais surgem no meio
da noite com maquininhas de choque elétrico, e riem com as contorções e o
espasmo do homem nu que deseja ver campos e bosques, mas só reconhece os
limites de sua impossibilidade”. (CITELLI, 1997, 198).
Em reconhecimento ao que representou e ao que representa o Presídio Tiradentes, na resistência
(de cidadãos que ousaram reivindicar democracia durante uma ditadura militar) e na repressão (que
sofreram naquele lugar), aqui é apresentado o Presídio Tiradentes como um lugar de memória.
ENTREVISTAS RELACIONADAS AO TEMA
O Memorial da Resistência possui um programa especialmente dedicado a registrar, por meio de
entrevistas, os testemunhos de ex-presos e perseguidos políticos, familiares de mortos e desaparecidos
e de outros cidadãos que trabalharam/frequentaram o antigo Deops/SP. O Programa Coleta Regular de
Testemunhos tem a finalidade de formar um acervo cujo objetivo principal é ampliar o conhecimento
sobre o Deops/SP e outros lugares de memória do estado de São Paulo, divulgando desta forma o tema
da resistência e repressão política no período da ditadura civil-militar.
18
Produzidas pelo Programa Coleta Regular de Testemunhos do Memorial da Resistência
PADILHA, Anivaldo. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a ditadura civilmilitar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Karina Alves e Marcela Boni em
30/08/2013.
PIRES, Áurea Moretti. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a ditadura civilmilitar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Karina Alvese Marcela Boni em
25/10/2013.
CASTRO, Cloves de. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a ditadura civilmilitar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Karina Alves e Marcela Boni em
12/06/2013.
IVO, Emílio. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a ditadura civil-militar.
Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Karina Alves e Vanessa Amaral em
13/09/2013.
ALMADA, Izaías. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a ditadura civilmilitar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Kátia Filipini, Maurice Politi,
Vanessa do Amaral em 08/11/2012.
CHILE, João. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a ditadura civil-militar.
Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Katia Felipini em 25/02/2013.
ALMEIDA, Leane de. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a ditadura civilmilitar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Karina Alves e Marcela Boni em
23/07/2013.
NETO, Manoel Cyrillo de Oliveira. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a
ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Karina Alves e
Marcela Boni em 26/07/2013.
BELLOQUE, Maria Luiza Locatelli Garcia. Entrevista sobre militância, resistência e repressão
durante a ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Katia
Felipini, Maurice Politi, Rodrigo Pezzoni, Vanessa Amaral e Gilberto Bolloque em 31/10/2012.
VANNUCHI, Paulo de Tarso. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a
ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Katia Felipini,
Maurice Politi e Vanessa Amaral em 21/12/2012.
SIPAHI, Rita Maria de Miranda. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a
ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Katia Felipini em
19/03/2013.
19
SISTER, Sérgio. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a ditadura civilmilitar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Katia Felipini e Marcela Boni em
27/03/2013.
SCAVONE, Artur. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a ditadura civilmilitar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Karina Alves e Paula Salles em
26/04/2014.
LOBO, Elza. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a ditadura civil-militar.
Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Karina Alves em 26/04/2014.
LOPES, Guiomar Silva. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a ditadura
civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Ivan Seixas em 08/04/2014.
ROIG, Vicente Eduardo Gomez. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a
ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Karina Alves e
Paula Salles em 15/04/2014.
FILMES E/OU DOCUMENTÁRIOS
Documentário: 1964 - Um golpe contra o Brasil. Direção de Alípio Freire, 2013. Sinopse: O
documentário apresenta uma série de memórias sobre o período da ditadura civil-militar no Brasil, e
através de um registro informativo dos principais fatores e acontecimentos em torno do tema, promove
uma reflexão sobre o período com olhares do presente. Possui diversos depoimentos de ex-presos
políticos que passaram pelo Presídio Tiradentes, entre outros centros de detenção e tortura, que
compartilham suas memórias de dor e de resistência.
Documentário: Mulheres em Luta. Direção de Ana Miranda, 2014. Sinopse: Trata-se de uma série
documental do canal GNT que apresenta em cinco episódios a vida e a história de cinco mulheres e sua
militância, com destaque ao período da ditadura civil-militar, em que pegaram em armas e foram presas.
Muitas das mulheres apresentadas na série estiveram presas no Presídio Tiradentes.
REMISSIVAS: Casa de Detenção de São Paulo – Carandiru; OBAN / DOI-Codi; Deops/SP; 1º Batalhão
– ROTA; Presídio Presidente Venceslau.
20
PLANTAS E MAPAS
Imagem 10: Planta da Casa de correção de São Paulo. Fonte: Relatório da comissão Inspetora
da Penitenciária de 12 de novembro de 1885. In: Relatório apresentado à Assembléia Legislativa
Provincial de São Paulo pelo Presidente da Província João Alfredo Corrêa de Oliveira no dia 15 de
fevereiro de 1886. São Paulo: Typographia a vapor Jorge Seckler & C. 1886, planta n°. 1.
21
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COMO CITAR ESTE DOCUMENTO:
Programa Lugares da Memória. Presídio Tiradentes. Memorial da Resistência de São Paulo, São
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24

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