OF/INAIRA/001/09 São Paulo, 5 de maio de 2009 - Inaira

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OF/INAIRA/001/09 São Paulo, 5 de maio de 2009 - Inaira
RELATÓRIO CIENTÍFICO REFERENTE AO PROCESSO
FAPESP Nº 2012/24114-2
Dra. Regiani Carvalho de Oliveira
O presente relatório apresenta os pontos relevantes do “Environmental HEALTH 2013” organizado pela
Elsevier, realizado em Boston, Massachusetts, EUA, no período de 3 a 6 de março de 2013.
O Comitê Científico do “Environmental Health 2013 Science and Policy to Protect Future Generations”
foi composto pelos pesquisadores Prof. Dr. Andreas Gies, Federal Environment Agency, Germany; Prof.
dr. Jochen F. Mueller, National Research Center for Environmental Toxicology, The University of Queensland,
Australia; Profa. Dra. Ellen Silbergeld, Johns Hopkins University, USA; Profa. Dra. Ana M. Soto, Tufts
University School of Medicine, USA; Prof. Dr. Michael Wilhelm, Universität Bochum, Germany.
A Conferência “Saúde Ambiental 2013 - Ciência e Política para proteger as gerações futuras”
proporcionou a discussão dos mais recentes resultados científicos sobre as interações entre o ambiente e a
saúde humana. Em um ambiente global em rápida mutação a proteção das gerações futuras tornou-se um
dos principais objetivos da política nacional e internacional. Assim, a conferência apresentou à sociedade as
evidências científicas em estratégias para a futura investigação direta sobre os problemas de saúde ambiental
dando subsídios para a ação política para mitigação destes.
Os palestrantes foram pesquisadores experientes e expoentes em suas áreas de investigação. Os
tópicos presentes nas discussões foram: poluição do ar exterior e interior, mudanças climáticas, produtos
químicos e partículas toxicas. Na Conferencia tiveram enfoque especial os temas relacionados à justiça
ambiental e propostas de soluções imediatas para os problemas em áreas urbanas em crescimento. A
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conferencia foi idealizada como uma plataforma interdisciplinar para promover o
intercâmbio de
conhecimentos e aprendizado sobre as últimas questões em saúde ambiental. O evento proporcionou a
oportunidade de interação com os principais pesquisadores em saúde ambiental promovendo a discussão de
resultados de pesquisas recentes na área, pois contou com delegação internacional de pesquisadores com
interesses e preocupações comuns.
O “Author Workshop: Tips for Successfully Publishing in Peer Reviewed Journals”, com coordenação
dos Prof. Andreas Gies, Editor da Chemosphere e Prof. Gert-Jan Geraeds, Publisher Elsevier, realizado no
dia 02/03/13, teve como principal objetivo oferecer informações sobre como preparar artigos científicos. Além
de recomendações sobre como melhorar a qualidade dos artigos foram também discutidos temas como
relevância para o meio científico e para a sociedade dos artigos e a mudança no cenário das da produção
científica. Nos anos 2000 com o aumento da produção da China em contraponto com o decréscimo da
produção Americana, sendo esperado que a partir de 2014 a China ultrapasse a produção dos EUA,
tornando-se o primeiro no ranque mundial. No workshop foi discutido o plagio e a fraude no meio científico e
apontados os mecanismos e as ações empregadas atualmente para combatê-los.
As atividades diárias da conferencia foram organizadas em Sessões Plenárias, seguidas de Sessões
Temáticas. O tema que teve grande enfoque e que foi muito bem discutido nas Sessões Plenárias foi o da
exposição prolongada e sinérgica à baixas doses (consideradas subtoxicas) de substâncias químicas, como
compostos orgânicos (bisfenol-a) nano partículas e, outros poluentes persistentes e suas consequências
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genéticas, na programação do organismo biológico, em especial o humano, a predisposição a disfunções
endócrinas (obesidade e diabetes), hipertensão, razão sexual, orientação sexual e envelhecimento.
Após a cerimônia de abertura da Conferencia, realizada no dia 03/03/2013, deu-se início a Sessão
Plenária do dia com as palestras, “Our environment, our health: You can’t change your gene, but you can
change your environment” proferida pela Dra. Linda S. S. Birnbaum que é diretora do National Institute of
Environmental Health Sciences (NIEHS) e do National Toxicology Program (NTP), a palestra “Can persistent
organic pollutants explain the current epidemic of type 2 diabetes?” proferida pela Dra. Duk-Hee Lee que é
professor no Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina, Kyungpook National
University in Daegu, South Kore; e a palestra “Health effects of endocrine disruptors with special reference
to male reproductive function“ proferida pelo Dr. J. Toppari, que é Professor de fisiologia na Universidade de
Turku e médico chefe de Pediatria e Endocrinologia do Hospital da Universidade de Turku, na Finlandia, o
Prof. Toppari é também professor adjunto da Universidade de Copenhagen, Dinamarca. Esta sessão plenária
teve as palestras que, em meu entender, nortearam as discussões de maior parte da conferência. As
palestras tiveram em comum a discussão sobre o quanto o meio ambiente pode alterar a programação
genética dos indivíduos, fato que é denominado epigenética. A Profa. Birnbaum mostrou evidencias de
estudos realizados em modelos animais de que os efeitos de bisfenol A (BPA) são semelhantes aos efeitos
observados em exposição aos estrogênios dietilestilbestrol e o etinilestradiol. Para a maioria dos efeitos, a
potência da BPA é cerca de 10 a 1000 vezes menor do que a do dietilestilbestrol ou do etinilestradiol,
entretanto já há consenso de que as resposta à exposição ao BPA ocorrem a baixas doses e que estes níveis
já podem ser determinados. Há também fortes evidências de que a exposição de indivíduos adultos ao BPA
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afeta o sistema reprodutivo masculino, e que a exposição de longa duração, tem efeitos sobre o
desenvolvimento cerebral e nos processos metabólicos. A exposição de mulheres adultas ao BPA leva aos
mesmos efeitos já confirmados em homens, mas estas evidências ainda necessitem de mais estudos para
serem confirmadas. Em sua palestra a Dra. Duk-Hee Lee mostrou os resultados de seu estudo em que há
fortes relações entre as concentrações séricas de poluentes orgânicos persistentes (POPs), especialmente
pesticidas organoclorados (OC) e o Nondioxin-like polychlorinated biphenyls (PCBs), e a prevalência de
diabetes na população dos EUA. Estes resultados sugerem que os pesticidas OC e PCB pode estar
associado com o aumento do risco de diabetes tipo 2, uma vez que os POPs podem aumentar o risco de
obesidade o que é um fator de risco para o desenvolvimento do diabetes tipo 2. O Dr. Toppari relatou que a
saúde reprodutiva masculina se deteriorou em muitos países durante as últimas décadas. Desde a década de
1990, a queda na qualidade do sêmen tem sido relatada em estudos realizados na Bélgica, Dinamarca,
França e Grã-Bretanha. A incidência de câncer testicular aumentou durante o mesmo período, a incidência de
hipospadia e criptorquidismo também parecem mostrar aumento na prevalência neste mesmo período.
Problemas reprodutivos semelhantes ocorrem em muitas espécies de animais selvagens. Não são
encontradas nestes relatos diferenças geográficas na prevalência dos distúrbios reprodutivos masculinos.
Embora as razões para estas diferenças são atualmente desconhecidas, estudos clínicos e experimentais
sugerem que as mudanças adversas podem estar inter-relacionados e têm uma origem comum na vida fetal
ou infantil. A exposição do feto masculino a níveis supranormais de estrogênios tais como diethlylstilbestrol,
pode resultar nos efeitos reprodutivos referidos acima. O crescente número de artigos que demonstram que
os contaminantes ambientais comuns e fatores naturais possuem atividade estrogênica reforça a hipótese de
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que a redução na qualidade da saúde reprodutiva masculina pode estar, pelo menos em parte, associada à
exposição a substâncias químicas ambientais, como por exemplo, substancias like-hormônios estrogênicos
e/ou antiandrogênicos, durante o desenvolvimento fetal e infantil. O Dr. Toppari afirma que é necessário um
programa de investigação extensa sobre esta temática para compreender a extensão do problema da sua
etiologia subjacente, e para o desenvolvimento de uma estratégia para a prevenção e intervenção.
Os 184 trabalhos escolhidos pelo comitê científico do ENVHelath-2013 para apresentação oral foram
distribuídos em Sessões Temáticas, a saber: Ambientes urbanos e de saúde; Desigualdades ambientais e
justiça; Emergentes substâncias e misturas; Ambiente, Epigenética e programação antecipada; Estudos
epidemiológicos; Natureza e Humanos - Interações saúde; “Omics” e resultados de saúde; “Hot spot” de
Contaminação e os resultados para a saúde; Nano partículas e saúde; Integração da saúde e segurança –
“design” de produtos sustentáveis; Diretrizes e estratégias de pesquisa para proteger as gerações futuras e
Transformar ciência em ação política. As sessões eram realizadas simultaneamente, sendo quatro sessões
no período da manhã e quatro no período da tarde. Nos intervalos destas sessões, almoço e café,
aconteciam a exposição e visitação dos trabalhos apresentados em forma de pôsteres. Nestas sessões foram
apresentados os 228 pôsteres que abrangiam todas as temáticas contempladas na Conferência. Nos dias 05
e 06 de março foram expostos os trabalhos do grupo de pesquisa do Laboratório de Poluição Atmosférica
Experimental, sendo:
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- “Ambient air pollution exposure, proximity to vehicular traffic and low birth weight: A preliminary study in São
Paulo, Brazil” de autoria de C,N. Villegas, L.C. Martins, L.V. Barrozo, A.L.F. Braga, P.H.N. Saldiva, L.A.A.
Pereira. University of São Paulo.
-“Relation between air pollution, green areas and respiratory disease mortality” de autoria de T.C.L. Moreira e
R. C. Oliveira, São Paulo University, Brazil and National Institute for Integrated Analysis of Environmental
Risk, Brazil.
Comentários gerais:
Sendo um evento interdisciplinar houve discussão de ampla variedade temas de grande relevância para
saúde ambiental. A epigenética relacionada a contaminantes ambientais antropogênicos, tais como os
desreguladores endócrinos, ou mais frequentemente denominados like-estrógenos, teve destaque na
conferencia pela atualidade e relevância em saúde pública. Epigenética é um mecanismo importante de ação
de substâncias pelo qual tóxicas ambientais que influenciam a relação saúde e doença. Com a melhor
compreensão dos efeitos epigenéticos de substâncias químicas ambientais, tais como o bisfenol A (BPA) e
ftalatos, na metilação do DNA, na modificações das histonas, e na expressão de RNAs não-codificantes
(incluindo microRNAs), expandimos a nossa compreensão da etiologia das doenças complexas humanas,
como câncer e diabetes. Hoje temos corpo consistente de evidências demonstrando que modificações
epigenéticas causadas pela exposição ambiental a substâncias tóxicas ambientais na fase intrauterina
podem induzir alterações na expressão gênica que podem persistem por toda a vida do indivíduo. Plásticos e
pesticidas são exemplos de produtos que contêm substâncias desreguladores endócrinos, que podem
interferir com o desenvolvimento dos mamíferos, imitando a ação do hormônio sexual estradiol, é por isto que
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são denominados substâncias like-estrógenos. O estrogênio é um hormônio que interage com outros
esteroides para regular o desenvolvimento normal do sistema reprodutivo e de outros tecidos. O Bisfenol A,
um composto que foi inicialmente sintetizado como um estrogênio sintético é agora usado como monômero
para a produção de produtos de plástico de policarbonato tais como mamadeiras e uma infinidade de outros
materiais que possuem grande e indiscriminado consumo diário pela população mundial. O Bisfenol A é
liberado a partir de tais produtos, a uma taxa que aumenta com o uso repetido, tornando doses baixas de
liberação diárias/uso em doses altas a longo tempo. Em adição, há evidencias de que a exposição à baixas
doses ambientais de substâncias desreguladoras endócrinas podem afetar o desenvolvimento humano,
consistentes com aqueles observados em animais após exposição a altas doses destas substâncias. A
queima de combustíveis fósseis libera para a atmosfera inúmeras espécies orgânicas tóxicas, dentre estas,
algumas substâncias desreguladoras endócrinas. Desta forma as emissões veiculares soma-se a
contaminação do meio ambiente (e a disponibilização ao consumo involuntário) de substâncias
desreguladoras endócrinas proveniente do uso de matérias plásticos e pesticidas. A contaminação do ar
atmosférico por estas substâncias possui um agravante que é a exposição involuntária da população.
Podemos escolhee os produtos que consumimos (alimentos cultivados sem pesticidas, utensílios feitos de
material sem os desreguladores endócrinos) mas não conseguimos escolher o ar que respiramos. A redução
na emissão veicular de substâncias tóxicas depende de fatores que passam pela economia e política pública,
para a substituição de modelos já estabelecidos de transporte urano para novos e menos poluidores meios
de transporte.
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Referencias comentários gerais:
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Kembra L. Howdeshell, Andrew K. Hotchkiss, Kristina A. Thayer, John G. Vandenbergh & Frederick S. vom
Saal, 1999. Environmental toxins: Exposure to bisphenol A advances puberty. Nature 401, 763-764
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study in Gharbiah, Egypt. Environ Health, 6;12(1):33.
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São Paulo, 01 de maio de 2013.
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