teshuvá - Eidy Tasaka

Transcrição

teshuvá - Eidy Tasaka
TESHUVÁ
GOTA A GOTA!
PERUZBUL
Para evitar
cancelamento
das dívidas
DINHEIRO
EM XEQUE
A Casa
MARAVILHOSO MUNDO ANIMAL!
Av / Elul 5775
1
Nº 139
Capa:
Nesta Edição
Teshuvá Gota
a Gota
Comemorando II,
pág. 39.
Expediente
A revista Nascente
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10
Variedades
“Mundo Animal”.
supervisão: Rabino Isaac Dichi
diretor de redação: Saul Menaged
colaboraram nesta edição:
Ivo e Geni Koschland
e Silvia Boklis
projeto gráfico e editoração: Equipe Nascente
editora: Maguen Avraham
tiragem: 11.500 exemplares
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e os conceitos emitidos nos artigos
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Revista Nascente. Cabe aos leitores indagar
sobre a supervisão rabínica.
A Nascente contém termos sagrados.
Por favor, trate-a com respeito.
53
Infantil
“Surpresa em
Istambul”.
24
Comemorando I
“Peruzbul”.
39
46
“Teshuvá Gota a Gota”.
Datas e horários
judaicos, parashiyot e
haftarot para os meses
de av e elul.
Comemorando II
Rabino Yissachar Frand
6
Datas & Dados
Av / Elul 5775
30
Nossa Gente
Acontecimentos que
foram destaques na
comunidade.
8
50
Dinheiro em Xeque
De Criança
para Criança
“A Casa”.
A lei judaica sobre casos
monetários polêmicos
do dia a dia.
“Tenho Chance?”.
Chayim Walder
16 18
Guimatriyá
“Teshuvá”.
Leis e
Costumes I
“Shir Hashirim”.
Rabino Eli J. Mansour
Av / Elul 5775
28 19
Leis e
Costumes II
“As Orações de
Shabat”.
Pensando
Bem II
“Pensamentos”.
14
Pensando Bem I
“A Última Criança”.
23 20
Pensando
Bem III
“Rabi Zusha de
Anipoli”.
Visão Judaica
“A Teshuvá – Uma
Bondade Divina”.
Rabino I. Dichi
Rabino I. Dichi
7
Dinheiro em Xeque
A Casa
Todas as dúvidas e
divergências monetárias
de nossos dias podem ser
encontradas em nossos livros
sagrados!
Efráyim
era um sujeito que possuía duas casas. Ele morava em uma
delas. A outra estava alugada para
inquilinos.
Em certa oportunidade, os inquilinos
mudaram-se para outra casa maior.
Como Efráyim estava necessitando de
dinheiro para investir em seus negócios,
aproveitou a oportunidade para tentar
vender a casa.
Perguntou para alguns conhecidos se
eles conheciam algum corretor no bairro
e recebeu a indicação de um deles, chamado Beni.
Efráyim telefonou para Beni e contratou-o para vender sua casa, combinando
8
Av / Elul 5775
Dinheiro em Xeque
sobre vários assuntos.
de o enviado não desempenhar sua fun-
Durante a conversa animada, surgiu
ção corretamente, o ato que fez é válido e
o tema da venda da casa. Efráyim comen-
a moça torna-se noiva (mecudêshet) dele.
tou que estava contente porque vendera
O que foi feito valeu, mesmo que tenha
sua casa no dia anterior por novecentos
sido realizado de má fé.
mil. Imediatamente Levi perguntou por
Sobre este caso, o comentarista Ran
que Efráyim se recusara a vender a casa
faz a seguinte observação: “Mas é óbvio
para ele por novecentos e cinquenta mil,
que o ato é válido! Por acaso o noivado
conforme tinha oferecido.
não estaria válido somente porque o en-
Surpreso, Efráyim disse que não fica-
viado agiu de má fé?” E responde qual
ra sabendo da oferta de Levi pois, do con-
poderia ser o problema neste episódio:
trário, certamente teria fechado com ele!
Poderíamos pensar que o noivado foi um
Após uma breve averiguação dos fa-
engano já que, se o indivíduo soubesse
tos, Efráyim descobriu que o comprador
que seu enviado não iria cumprir com
tinha oferecido uma “comissão extra”
sua função, não o teria enviado. Pode-
ao corretor Beni, para que ele lhe desse
ríamos imaginar que a ação do enviado
prioridade no negócio. Foi por isso que
deveria ser desconsiderada, uma vez que
Beni levou este cliente, e não Levi, para
o indivíduo que enviou o mensageiro foi
fechar o negócio com Efráyim.
enganado. É por isso que se faz necessá-
Ciente dos fatos, muito chateado,
Efráyim quer anular a venda da casa,
rio dizer que, mesmo assim, não se invalida a ação, e que o noivado está de pé.
alegando ter sido uma venda equivocada
No nosso caso aconteceu o mesmo.
(mêcach taut), e quer vendê-la para Levi,
Apesar de ter havido má fé por parte do
que lhe ofereceu mais dinheiro.
corretor, a venda da casa não é cancela-
Efráyim tem este direito?
da. O dono da casa foi enganado – como
o indivíduo que enviou o mensageiro no
O Veredicto
caso da Guemará – mas a transação foi
Neste caso, a venda da casa não é
válida apesar disso. Ou seja, na própria
considerada uma transação equivocada.
uma comissão no caso de a venda se
concretizar.
transação não houve qualquer engano.
O vendedor escutou o preço oferecido e
No entanto, apesar de a venda não
viu o comprador, não havendo engano
ter sido cancelada, é plausível dizer que
em relação à venda.
o bêt din (o tribunal judaico) deve tirar
Houve sim um engano na história,
parte da comissão recebida por Beni e
Após três semanas, Beni levou até
mas foi algo paralelo à venda. Se Efráyim
devolvê-la a Efráyim, já que Beni agiu de
Efráyim um cliente que desejava comprar
soubesse que seu amigo Levi estava inte-
má fé com ele, não merecendo receber
a casa e que tinha oferecido novecentos
ressado em pagar mais, é óbvio que ven-
toda a comissão combinada.
mil por ela.
deria a casa para ele! Quanto a isso, ele
Efráyim recebeu Beni e seu cliente
para tentarem fechar o negócio.
foi enganado. Mas a venda para o cliente
de Beni foi legítima.
Após uma breve conversa, Efráyim
Prova disso é o seguinte caso que o
concordou com a quantia oferecida pelo
comentarista Ran (no Rif) cita na Guema-
cliente, fecharam o negócio e assinaram
rá no Tratado de Kidushin:
um contrato.
Alguém que diz para outro sujeito:
No dia seguinte à venda, Efráyim
“Vá até onde se encontra fulana e tome-a
se encontrou com um amigo seu,
para mim como noiva (faça kidushin para
chamado Levi, no supermercado. Como
mim)”. O enviado vai até a moça mas, em
já fazia algum tempo que eles não se
vez de realizar sua missão, toma-a para
encontravam, começaram a conversar
si mesmo como noiva. Neste caso, apesar
Av / Elul 5775
Do semanário “Guefilte-mail”
([email protected]).
Traduzido de aula ministrada pelo
Rav Hagaon Yitschac Zilberstein Shelita
Os esclarecimentos dos casos estudado no
Shulchan Aruch Chôshen Mishpat são facilmente mal-entendidos. Qualquer detalhe omitido
ou acrescentado pode alterar a sentença para
o outro extremo. Estas respostas não devem
ser utilizadas na prática sem o parecer de um
rabino com grande experiência no assunto.
9
Variedades
A intervenção direta de um Autor do Universo
pode ser constatada na imensidão das galáxias,
na perfeição do corpo humano, na maravilhosa
diversidade da botânica e na observação do
extraordinário e impressionante
MUNDO
ANIMAL
10
Av / Elul 5775
PREDADOR
EM APUROS
Variedades
O leão é o “Rei da Selva” e
está, geralmente, no topo da
cadeia alimentar. Contudo, em
um raro registro capturado pelo
ex-oficial do exército americano
Charles Comyn, uma manada
de búfalos pôs o grande felino
para correr após uma tentativa
frustrada de ataque a um dos
filhotes do bando.
Para fugir, o leão tentou escalar
uma árvore, mas como ela era
alta demais para ele, acabou se
cansando. Restou fugir, no dia
em que o caçador virou caça.
soneca
Os leões dormem até 20
horas por dia. À noite
acordam para caçar, comer,
e depois... descansar mais
um pouco. Como não
têm predadores naturais,
dormem sossegados em
qualquer lugar e, por vezes,
preferem se esticar nas
árvores mais baixas.
Av / Elul 5775
11
elefante
gigantes
Variedades
12
O que você vê na foto ao
lado parece algum tipo de
montagem, mas não é.
O Besouro-Titan (Titanus
giganteus) é o maior besouro
do mundo, chegando a
ter até 17 centímetros de
comprimento e uma mordida
poderosa, capaz de rasgar
pequenos animais e até mesmo
a pele humana. Para a nossa
sorte, ele é inofensivo. Pode
ser encontrado nas florestas
tropicais da América do Sul,
inclusive no Brasil.
Os elefantes africanos são os
maiores mamíferos da terra.
Pesam de 4 a 6 toneladas,
medem entre 5 e 7 metros e
vivem cerca de 60 anos.
A espécie está em constante
ameaça de extinção devido à
caça ilegal. O marfim de seus
dentes é usado em joias, teclas
para piano e outros objetos.
Apesar da sua corpulência,
não são animais agressivos,
mas podem ficar muito bravos
caso sintam que seu território
está sendo ameaçado por
intrusos.
Av / Elul 5775
Frequentemente os leopardos
protegem sua comida contra
hienas e outros animais que
se alimentam de carniça,
arrastando-os para uma
forquilha no alto da árvore.
Puxar do solo um antílope que
pesa quase tanto quanto ele
mesmo, a uma altura de 9m,
exige um bocado de força.
Os leopardos têm as pernas e os
músculos do pescoço fortes, mas
mesmo assim o esforço esgotaos, fazendo com que sempre
tenham que descansar por uma
meia hora antes de comer.
TUBARÃO
leopardo
Variedades
Av / Elul 5775
O imenso tubarão-branco
da foto acima até conseguiu
uma bela refeição, mas pagou
caro por ela! No registro do
fotógrafo David Jenkins, o
predador acabou perdendo
um dente (no detalhe) ao
abocanhar uma foca.
O registro aconteceu na Cidade
do Cabo e sua captura foi
acidental, já que o próprio
fotógrafo só percebeu o dente
voador bem mais tarde.
13
Pensando Bem I
A Última
Criança
Certa vez o Rebe de
Parshis’cha perguntou:
“Onde está a última
criança?”.
Certa
vez, um jovem rabino perguntou para um negociante de sua cidade, porque ele não dedicava
mais tempo ao estudo da Torá.
rabino confrontou-o com a mesma pergunta que
– Ah, rabino! – respondeu o homem com um
– Se dependesse exclusivamente de mim, cer-
suspiro. – Eu trabalho de manhã até de noite
tamente eu sentaria e estudaria o dia inteiro.
para garantir meu sustento e o de minha família!
Porém, eu preciso me preocupar também com o
– Mas graças a D’us você tem bastante dinhei-
futuro de meus filhos, para que eles possam ter
ro! – insistiu o rabino. – Mesmo que, a partir de
– Rabino, infelizmente eu não tenho tempo
para estudar – respondeu o novo interlocutor.
uma vida tranquila!
hoje, você parasse de trabalhar completamente,
– Então – dizia o Rebe de Parshis’cha zt”l
ainda assim estaria garantido o dinheiro necessá-
– onde está a última criança? Quem será o
rio para sustentar a si e à sua família fartamente
último elo desta incrível cadeia de pais e filhos
até o fim da sua vida!
tão trabalhadores? Quem será o responsável, o
O homem soltou um suspiro ainda mais profundo e respondeu, balançando a cabeça:
14
fizera tantos anos antes a seu pai.
beneficiário final do esforço de tantas gerações?
Quem finalmente aproveitará todo o empenho
– E o que seria de meus filhos? Realmente,
e os sacrifícios de anos e décadas de trabalho
eu já tenho o suficiente para viver bem o resto
contínuo, utilizando seu tempo em seu próprio
de minha vida, mas eu preciso também garantir
benefício? Eu realmente gostaria de conhecê-lo!
o futuro de meus filhos, para que eles possam
Este indivíduo deverá ser alguém extraordiná-
viver tranquilamente.
rio, para merecer a recompensa do trabalho
Muitos anos passaram e o rabino encontrou
árduo de tantas pessoas, que fizeram de tudo
com o filho daquele comerciante, que também
durante toda a vida delas, para que ele tivesse
não encontrava tempo para o estudo da Torá. O
uma vida tranquila!...
Av / Elul 5775
Leis e Costumes I
Shir Hashirim
Vale a pena recitar Shir Hashirim na sexta-feira?
Rabino Eli J. Mansour
O
Midrash Talpiyot, com base no Zôhar
em Parashat Noach, escreve que as
almas dos ímpios condenados ao sofrimento
no Guehinam recebem um indulto – uma
anistia – do seu sofrimento durante os momentos em que estamos rezando aqui neste
mundo. Cada um dos três serviços de oração diária, o Midrash Talpiyot escreve, tem
a duração de uma hora e meia.
Parece que nos tempos antigos os tsadikim
gastavam um total de 90 minutos em cada oração, mesmo em Minchá e Arvit!
tipo de sentença dura.
O Rei Shelomô escreveu este livro para expiar os três pecados que ele cometeu, violando as restrições da Torá sobre a quantidade de
esposas, riqueza e cavalos que é permitido a
um rei possuir. Cada violação é punida com 39
chicotadas. Sendo assim, ele compôs os 117 pessukim de Shir Hashirim (39 X 3) para expiar
essas transgressões.
O motivo simples para ler Shir Hashirim
quando começa o Shabat é porque ele se refere
Isto significa que os ímpios desfrutam de
ao povo judeu como uma “calá” – a noiva do
quatro horas e meia de alívio por dia (três perí-
Todo-Poderoso – como em “Báti legani achoti
odos de 90 minutos), ou 27 horas por semana
calá” e “libavtini achoti calá”. Sendo assim, ele
(4,5 X 6), excluindo o Shabat, ao longo do qual
está relacionado com o Shabat, que também é
os ímpios já são, de qualquer, forma anistiados.
chamado de “noiva”, como dizemos toda sexta-
Sendo assim, das 144 horas da jornada total
semanal (24 X 6), as almas dos ímpios passam
117 horas (144-27) sofrendo no Guehinam.
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va que possamos ter realizado para ganhar este
-feira à noite: “Bôi calá, bôi calá, bôi calá”.
À luz da importância e valor da leitura do
Shir Hashirim antes do Shabat, todos devem fa-
O livro de Shir Hashirim foi composto pelo
zer um esforço para chegar à sinagoga a tempo
Rei Shelomô e contém 117 versículos, corres-
na sexta-feira à tarde e participar da sua leitu-
pondentes às 117 horas de sofrimento suporta-
ra. A leitura de Shir Hashirim não é um tempo
das pelas almas dos ímpios a cada semana.
para conversar, sociabilizar-se ou empreender
Sendo assim, quando nós terminamos a se-
outras atividades. É uma parte importante da
mana, lemos este livro – no caso, D’us nos livre,
tefilá, na qual todos devem participar, espe-
de termos feito algo durante a semana pelo qual
cialmente à luz do fato de que, como nossos
mereceríamos ser condenados ao Guehinam.
sábios ensinam, enquanto todos os livros do
Nossa leitura dos 117 versículos do Shir Hashi-
Tanach são “côdesh” (santo), o Livro de Shir
rim, no final da semana, serve como um ticun
Hashirim é “côdesh hacodashim” – “o mais san-
(uma retificação) para qualquer atividade negati-
to dos santos”.
Av / Elul 5775
Pensando Bem II
Pensamentos
Não coloque um ponto de interrogação
onde D’us colocou um ponto final.
Se você quer se sentir rico, considere todas aquelas coisas
que possui que o dinheiro não pode comprar.
Eu prefiro uma má pessoa que sabe que é ruim
a um devoto que acredita ser pio.
(Rebe de Kotzk, Rabi Menahem Mendel Morguenstern).
Encorajamento depois de uma censura é como
o Sol depois de uma tempestade!
Por que ninguém se pergunta
“Por que isto está acontecendo comigo?”
quando as coisas boas acontecem?
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Pensando Bem III
Rabi Zusha
de Anipoli
No Tratado de Berachot (9:5), a Mishná cita que
se deve bendizer o Todo-Poderoso pelas situações
que parecem ruins da mesma forma que se faz nas
situações que parecem boas.
Certa
vez, o grande sábio Rabi
Shmelke de Nicolsburg
(Rabi Shemuel Horowitz, 1726–1778), um
dos principais alunos do Gaon Rabi Dov Ber
zt”l – o Maguid de Mezritch (1772) – certa
vez perguntou ao seu mestre:
ciam sabiam que sua vida era repleta de apertos
– É certo que tudo o que acontece para as
a mesma alegria que agradece por algo de bom
pessoas provém da vontade Divina. Sabemos
e dificuldades.
Rabi Shmelke foi à procura de Rabi Zusha
e lhe contou que o Maguid lhe dissera que ele
poderia responder à sua pergunta – como uma
pessoa pode agradecer por algo de “ruim” com
– Rabi Zusha lhe respondeu espantado:
também que todas essas decisões de D’us vêm
– Rabi Shmelke, deve haver algum engano!
sempre para o bem, mesmo que muitas vezes
Como eu poderia responder uma pergunta como
não entendamos como poderemos ser beneficia-
esta? Somente alguém que já passou por muitas
dos com determinado incidente. Mesmo sabendo
circunstâncias ruins e sofrimentos, D’us nos li-
disso, como pode uma pessoa atingir o incrível
vre, pode lhe dar esta resposta. Quanto a mim,
nível espiritual de agradecer por algo de “ruim”
graças a D’us, nunca me aconteceu nada de
que lhe acontece com o mesmo entusiasmo e
ruim! Toda a minha vida foi somente de coisas
alegria que agradece por algo de bom?
boas! Como eu poderia saber a resposta sobre
O Maguid de Mezritch, então, mandou que
qual a maneira de aceitar algo ruim com alegria?
seu discípulo procurasse outro de seus alunos,
Rabi Shmelke olhou para o homem à sua
Rabi Zusha, na cidade de Anipoli. Rabi Zusha
frente, fraco e vestido com roupas esfarrapadas.
certamente poderia lhe dar a resposta.
Então ele entendeu imediatamente a resposta
Rabi Zusha era um grande sábio e tsadic,
que estava procurando: a pessoa deve estar
porém era extremamente humilde e escondia
sempre tão satisfeito e alegre com todas as ma-
de todos sua grande sabedoria. Além disso, Rabi
ravilhosas benfeitorias que o Todo-Poderoso lhe
Zusha era um homem muito pobre e cheio de
proporciona, que nem mesmo imagine que algo
sofrimentos, de modo que todos os que o conhe-
de ruim possa estar lhe acontecendo.
Av / Elul 5775
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Comemorando II
Teshuvá
Gota a Gota
O nome Yissachar Frand tem se
tornado sinônimo de eloquência,
humor, paixão, sensibilidade e
sabedoria da Torá. Raramente
alguém consegue capturar a atenção
de tantas plateias diferentes. Com
este texto, adaptado de uma de suas
palestras, pode-se comprovar seu
admirável estilo, considerando a
vida moderna e os valores eternos.
Rabino Yissachar Frand
Rabi
Akiva, na última mishná do
Tratado Yomá (85b) diz: “Felizes são vocês, pertencentes ao povo de
Israel. Perante Quem vocês são purificados
e Quem os purifica? Seu Pai que está nos
Céus”.
Por que Rabi Akiva citou dois diferentes versículos para sustentar seu ponto de vista?
Para responder a esta pergunta, o Rabino
Hirsch Spector, filho do Rabino Yitschac Elchanan Spector (1817-1896, Lituânia), explicou que
existem dois tipos de purificações com água se-
Rabi Akiva traz duas citações bíblicas para
gundo a legislação judaica. Numa delas, a pes-
sustentar sua declaração de que o Povo de Israel
soa precisa mergulhar completamente num mi-
é purificado pelo Todo-Poderoso. A primeira
cvê (uma estrutura cheia de água, em conformi-
consta no livro “Yechezkel” (36:25): “Aspergirei
dade com as leis de imersão ritual). Na outra,
sobre você águas purificadoras e ficará purifi-
é suficiente que o cohen respingue uma gota de
cado”. A segunda consta no livro “Yirmeyáhu”
água especialmente preparada sobre a pessoa.
(17:13): “O micvê de Israel é D’us”.
Depois destes rituais, realizados em ocasiões
Av / Elul 5775
39
Comemorando II
distintas, a pessoa se torna pura nova-
outro pedido. Dessa forma, poderia em
mente. Similarmente, explica o rabino
algum tempo pagar seus débitos atra-
Hirsh, existem dois tipos de teshuvá
sados e reerguer-se.
(retorno ao caminho da Torá, arrepen-
“Mas o gerente de crédito também
dimento). Uma é a teshuvá completa,
se opôs a esta sugestão, dizendo que
que pode ser simbolizada pela total
não poderia entregar a mercadoria a
imersão no micvê. A outra é a teshuvá
preço de atacado para um pedido tão
que pode ser simbolizada pela asper-
pequeno. O comerciante implorou para
são de uma gota de água especial. Esta
que ao menos aquela sugestão fosse
última teshuvá é menos completa, mas
atendida e ele pudesse comprar a pre-
menos dramática. Ela se constrói com
ço de atacado. O bondoso atacadista
o passar dos anos, gota por gota, até
acabou concordando. Assim, o comer-
que a teshuvá completa seja atingida.
ciante começou a reconstruir seu negó-
O Chafets Chayim (1839-1933, Po-
cio e, depois de alguns anos trabalhan-
lônia) nos traz uma parábola para ilus-
do com afinco, conseguiu pagar todos
trar este tipo de teshuvá cumulativa:
os seus débitos.”
“Um comerciante fez um grande
“Nós somos este pequeno comer-
pedido ao atacadista com quem nor-
ciante”, disse o Chafets Chayim. “Todo
malmente fazia negócios. O atacadis-
ano dirigimo-nos para o Criador afir-
ta separou o pedido e apresentou-lhe
mando que faremos teshuvá ‘no ataca-
a conta. O comerciante, então, pediu
do’: nada mais de bitul Torá (desperdí-
algum prazo para pagar, pois possuía
cio do tempo de estudo da Torá), nada
pouco dinheiro à vista. O atacadista
mais de lashon hará (difamação), nada
estava quase lhe concedendo crédito
mais de raiva e nervosismos... Então
quando verificou sua ficha. Nela cons-
ele diz para nós: ‘Mas eu te conheço
tava que ele já devia uma grande soma
bem! Você disse o mesmo no ano pas-
e que os pagamentos anteriores foram
sado’. Nós imploramos por uma nova
realizados sempre com atraso. Sendo
chance e o Todo-Poderoso fica inclina-
uma pessoa de bom coração, o ataca-
do a conceder-nos. Aí aparece o Sa-
dista ainda pensou em dar-lhe crédito,
tan, como um promotor de acusação, e
mas o gerente de crédito interveio e
mostra nossa ‘ficha’, cheia de detalhes
exigiu que não lhe dessem mais ne-
alarmantes. A esta altura, nossa única
nhum centavo: ‘Este homem nos deve
chance é dizer para D’us: ‘Tudo bem,
milhares de reais! Ele nunca pagou em
nada mais de teshuvá no atacado. Este
dia e a sua palavra pouco vale! Como o
ano tudo o que peço é a chance de eu
senhor pode pensar em dar mais cré-
me aperfeiçoar um pouco. Nada de
dito para este pedido?!’, perguntou o
excepcional, mas algo ao meu alcan-
gerente incrédulo.
ce; algo que eu possa sentir que estou
“O comerciante começou a implo-
progredindo sensivelmente.’”
rar e a chorar, pedindo uma extensão
Este é, para nós, o único caminho
em seu crédito. Um cliente que passava
possível. E funciona. Eis uma sugestão
por ali ouviu o que estava acontecendo
para pensarmos neste Rosh Hashaná
e pediu licença para tentar ajudar. Ele
e Yom Kipur – uma característica para
sugeriu que o comerciante fizesse um
ser melhorada “gota a gota”.
pedido muito menor que o original e
que pagasse à vista. Então ele vende-
40
Eu, Nervoso?!
ria as mercadorias adquiridas, teria
Não existe alguém que nunca ficou
algum lucro e poderia voltar para fazer
nervoso. O nervosismo é causado, em
Av / Elul 5775
Comemorando II
grande parte, por frustrações que sen-
ele disse: “Você não acha que a guema-
Gaon certa vez respondeu à pergun-
timos quando nossos desejos não são
rá ficou bonita em azul?”
ta: “Se os egípcios perceberam que os
atendidos. Como não existem pessoas
Quando Rav Moshê era questiona-
sapos se multiplicavam cada vez que
que não têm desejos ou que todos os
do sobre este incidente, sempre enfa-
eram atingidos, por que não pararam
seus desejos já tenham sido realizados,
tizava: “Levei anos aprendendo como
de bater neles?” Os egípcios não con-
não existe alguém que não tenha que
fazer aquilo; como me controlar. Você
seguiam parar porque estavam fora de
aprender como controlar seu tempe-
pensa que não tenho temperamento?
controle. Uma vez que a raiva tinha
ramento.
Claro que tenho, mas trabalhei sobre
tomado conta deles, não conseguiam
mim constantemente e aprendi como
mais se conter, mesmo ao preço de au-
controlar meu nervosismo”.
mentar a extensão daquela praga.
Isto também se aplicava aos nossos grandes talmidê chachamim, os
sábios do nosso povo, que passaram
décadas de suas vidas se esforçando
Guehinam na Terra
Orgulho e Raiva Sócios no Crime
intensamente, lapidando suas virtudes.
A Guemará diz: “Todas as formas
A midá (característica) da raiva
Eles constituem os melhores modelos
de Guehinam (Purgatório, lugar aonde,
é inseparável do orgulho. A fúria de
para nós. Não os respeitamos por te-
após a morte do corpo, as almas vão
Cáyin contra seu irmão Hêvel é o pri-
rem nascido perfeitos, mas exatamente
para serem purificadas) recaem sobre
meiro relato sobre a raiva registrado
pelo esforço que despenderam em di-
uma pessoa nervosa”. Em geral, enten-
na Torá. Cáyin se sentiu deprimido e
reção à perfeição. Isto sim é um com-
demos desta afirmação que uma pes-
rejeitado quando a oferenda de seu ir-
portamento modelo para nós.
soa que não sabe controlar sua raiva
mão foi aceita por D’us e a sua não.
Logo após a Segunda Guerra Mun-
terá seu fim no Guehinam. Mas o Ra-
Então, agindo com toda a sua fúria,
dial, uma nova edição do Talmud, cha-
bino Yerucham Levovitz (1874-1936),
matou o irmão.
mada Shulsinger Shás, foi publicada.
famoso líder espiritual da yeshivá de
O “Netsiv” (Rabino Naftali Tsvi
O Rabino Moshê Feinstein z”tl (1895-
Mir, na Polônia, comenta que a gue-
Yehudá Berlin, 1817-1893, nasceu em
1986; nascido na Rússia, mudou-se
mará se referia a este mundo: “Um
Mir e faleceu em Volodjin, na Lituânia)
para Nova Iorque em 1937) foi um dos
indivíduo que não tem controle sobre
nos explica melhor esta passagem: “A
primeiros a comprar esta belíssima
sua fúria, que está sempre explodindo
raiva traz um grande sofrimento, que
edição do Shás de Vilna. Rav Moshê
e saindo do sério”, escreveu o rabino
faz com que o corpo se inflame e o san-
Feinstein era um escritor prolífico e
Yerucham, “vive o Guehinam na Terra.
gue comece a ferver. Um sofrimento tão
costumava anotar comentários sobre
Ele fica fora de controle e não é o mes-
grande que se parece com a morte. A
o que estudava nas margens dos livros.
tre de sua própria vida. Na verdade,
pessoa sofre porque algo não foi feito
Estes comentários lhe eram muito úteis
é dirigido pelas circunstâncias que se
de acordo com sua vontade, e isto pro-
em estudos e consultas posteriores.
lhe apresentam ou pelo que os outros
vém de um coração cheio de orgulho.
Certo dia, quando Rav Moshê saiu de
lhe fazem.”
Isto é, a raiva é resultado do seguinte
perto de sua guemará por alguns mo-
Um sujeito que não consegue con-
modo de pensar: ‘Devido à importân-
mentos, um de seus melhores alunos
trolar sua índole, pode até reconhecer
cia que eu possuo, este problema não
se aproximou para ver o que o rabino
que suas ações são autodestrutivas,
deveria ter acontecido comigo’”.
havia anotado. Ao inclinar-se sobre
mas não consegue frear a si mesmo.
Na realidade, Cáyin disse para
o livro, o jovem não percebeu o pote
O midrash (uma coletânea de comen-
o Todo-Poderoso: “O que o Senhor
de tinta que servia para alimentar a
tários sobre a Torá, que nos traz lições
quer dizer com ‘minha oferenda não
caneta-tinteiro do sábio. Ele aciden-
através da moral e de histórias) nos
foi aceita?’ Como pôde aceitar a ou-
talmente virou o pote e uma enorme
conta que a praga dos sapos no Egito
tra oferenda e recusar a minha?” En-
mancha azul se espalhou por toda a
começou com um único sapo. Somente
contramos nesta situação um potente
página que o rabino estava estudando,
quando os egípcios bateram no sapo é
coquetel de ataques contra o ego de
escorrendo pela lateral da guemará. O
que este se duplicou. Como eles conti-
Cáyin, que o levou a assassinar Hêvel.
aluno ficou ali parado, aterrorizado,
nuaram batendo nos sapos, tentando
Ego – ego ferido, ego desprezado, ego
até que o mestre retornou. Rav Moshê
matá-los, eles continuaram se multi-
pisado – e o resultado é a raiva; até
Feinstein deu uma olhada na guemará
plicando exponencialmente.
mesmo um assassinato.
toda azul e no rapaz petrificado. Então
Av / Elul 5775
Sobre este comentário, o Staipler
Muitos de nós não iriam tão longe
41
Comemorando II
quanto Cáyin. “Mas atrás de cada ex-
ou para o outro. Por exemplo, não deve
do sua visão subconsciente de serem
pressão de raiva” – escreve o Rabino
ser muito generoso nem miserável;
pessoas de pouco valor.
Moshê Chayim Luzzatto (1707-1746,
nem extremamente brincalhão nem
Seguindo esta análise, nosso ego
Pádua, Itália) em seu clássico livro
sério demais; nem preguiçoso nem im-
frágil é um dos maiores empecilhos
“Messilat Yesharim” – “esconde-se um
petuoso, e assim por diante. Porém, o
ao sucesso dos nossos casamentos.
desejo reprimido de matar qualquer
meio termo não deve existir para duas
Nós tendemos a encarar como a ta-
um que vá contra nossas vontades”.
características. A primeira é o orgu-
refa principal dos nossos cônjuges
Quando a raiva é levada a extremos,
lho. Não é suficiente ser modesto, diz
massagear nossos egos. Quando eles
pode resultar em violência e até em
o Rambam. A pessoa deve se esforçar
não fazem o que queremos ou não
derramamento de sangue.
para ter uma índole muito humilde.
concordam conosco, encaramos isto
Em momentos de raiva, não reco-
Similarmente, a raiva é extremamente
como uma afronta pessoal. Além de
nhecemos nada além da nossa própria
prejudicial e deve-se tomar todo tipo
tudo, para que casamos se não para ter
vontade. Este é o motivo porque nossos
de medidas para evitá-la. Portanto,
alguém o tempo todo adorando-nos e
sábios (Shabat 105b) compararam a
novamente vemos a raiva e o orgulho
elogiando-nos? De forma semelhante,
um idólatra aquele que rasga sua roupa
associados.
nossos filhos têm o poder de irritar-nos
ou quebra um vaso por raiva. Sua raiva
O problema com o ego, que leva à
mais que qualquer outro ser no mundo.
e frustração resultam da pretensão de
raiva, não acontece, como poderíamos
Nós os vemos como indivíduos obri-
que tudo deveria acontecer da forma
pensar, com alguém que possui um ego
gados a nos escutar. Se nem mesmo
que ele quer. Isso é um reflexo da sua
gigantesco. Na verdade, hoje em dia é
aqueles que estão sob nossa autorida-
falha em reconhecer que o mundo é de
difícil encontrar alguém assim. É muito
de nos obedecem, acabamos sentindo-
D’us e é Ele Quem decide se e quando
mais comum encontrarmos indivíduos
-nos como um nada e encarando tudo
algo deve acontecer. A incapacidade de
com um ego frágil, que se manifestam
num contexto de ofensas pessoais.
reconhecer que D’us é Quem manda
frequentemente por meio da raiva.
neste mundo é equivalente à idolatria.
Para compensar sua insegurança – e
O Rambam (Maimônides, 1135-
demonstrar sua “segurança” – acabam
Numa manhã o marido pede à es-
1204, nasceu em Córdoba e morreu
dando um “show”. Como seus egos são
posa para fazer um depósito no banco.
no Cairo) explica em seu livro “Hilchot
muito frágeis, eles são incapazes de
Ele acrescenta ser muito importante
Deot” que uma pessoa deve procurar
lidar com a frustração. Toda vez que
que ela observe esta recomendação,
viver sempre seguindo um caminho
não se faz o que desejam ou quando
pois vários cheques seriam descon-
intermediário em relação às suas ca-
as coisas não acontecem como o pla-
tados por conta do depósito. Naquela
racterísticas, sem tender para um lado
nejado, imaginam estar se confirman-
noite, ao entrar em casa, sua primeira
NO MÊS DE ELUL NÃO
PERCA A OPORTUNIDADE,
Analisemos um exemplo muito
simples:
‘O Liveen foi um dos primeiros estabelecimentos a abraçar o Keren
Chai. Qualquer yehudi tem o direito e dever de comer carne kasher. O
Keren Chai proporciona esse acesso de forma prática e digna. Um
projeto onde quem precisa, recebe, e quem quer doar, não precisa se
esforçar. Sem dúvida, todos que participam do sucesso do Keren Chai,
tem um grande mérito!’
Diretoria do Liveen
‘Acho o projeto sensacional, que além de ajudar os necessitados de
forma honrosa, fortalece o ato de caridade, criando o hábito de se
preocupar pelo próximo de forma constante. Chizku VeImztu!’
Mauricio Majtlis - Super K
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42
‘Acho o projeto muito interessante e me sinto honrada em poder
participar e ajudar. É uma ideia simples e incrível! Parabéns!’
Renata Grosman - Colaboradora
‘O projeto Keren Chai é super valioso para nossa comunidade. Através
dele, famílias menos favorecidas podem continuar cumprindo a mitsva
de comer Kasher, obtendo descontos nos supermercados e restaurantes
kasher. E famílias mais favorecidas podem contribuir com uma grande
mitsva de ajudar quem precisa mais. Parabéns pelo trabalho desse
lindo projeto!’
Anônimo - Recebe descontos através do projeto
Av / Elul 5775
Comemorando II
pergunta é: “Você se lembrou de fazer o
muito frágil?”.
seu livro “Sêfer Hachassidim” sobre
depósito?” Quando a mulher faz aquela
Se isto não funcionar, tente per-
um certo homem, à beira da morte, que
cara de que esqueceu, ele explode: “O
guntar a si mesmo: “Vale a pena ficar
deu a seu filho um conselho: “Durma
que está acontecendo com você?!”
nervoso por isso?”. Uma dica para sa-
com sua raiva”. Quando o filho cresceu,
Então ele começa a imaginar que
ber se vale a pena ficar nervoso por
casou-se e partiu para uma longa via-
se sua esposa realmente o amasse e o
determinado assunto é avaliar se você
gem, que durou alguns anos. Depois de
respeitasse, aquele depósito teria sido
ainda estará nervoso depois de dois
tanto tempo longe de casa, ele voltou
o item mais importante de sua agen-
dias. Se não, por que não poupar estes
e encontrou sua esposa abraçando um
da. Sua falha em não fazer o depósito,
dois dias e esquecer o assunto? A raiva
rapaz. Ele estava prestes a tirar sua es-
portanto, não representa apenas um
destrói aquilo que mais valorizamos:
pada e matar os dois, quando lembrou
esquecimento, mas um reflexo do fato
nossos casamentos e as relações com
do conselho do pai sobre dormir com
que ela não o ama. Isso ataca o seu
nossos filhos.
a raiva. Na manhã seguinte, descobriu
orgulho.
Devemos nos treinar a lembrar que
que o rapaz era seu próprio filho.
Se analisarmos todas as ocasiões
a maioria das coisas às quais damos
O Rabino Eliyáhu Lopian (1876-
que perdemos a calma, veremos que a
muita importância, simplesmente não
1970, Nasceu na Polônia e faleceu em
maioria delas têm a ver com afrontas
valem toda esta preocupação. Como
Israel) certa vez demorou duas sema-
ao nosso orgulho. Quando perceber-
o Rambam escreve no final de “Hil-
nas para conversar com seu filho sobre
mos que perdemos o controle porque
chot Deot” (7:7): “(Um judeu) deve es-
algo que o jovem fez e que deixou-o
nossos egos estão sendo de alguma
tar sempre preparado para ignorar o
nervoso. O rabino quis ter certeza de
forma ameaçados, começaremos a ter
desprezo e as ofensas dos outros. Não
que era ele mesmo quem iria falar e
chance de recuperar o controle. Uma
passam de vaidade e de um vazio, e
não sua raiva.
análise lógica poderia resolver o pro-
não vale a pena nos incomodarmos por
blema de forma mais saudável:
causa disto”.
Um rebe chassídico tinha uma cura
mágica para problemas de shalom
“É possível que minha esposa não
Winston Churchil (ministro inglês
báyit (harmonia no lar). Ele dava ao
tenha feito o depósito porque não pres-
durante a Segunda Guerra Mundial)
casal que estava brigando garrafas com
tou atenção ao que falei. Por outro
certa vez disse que se pode julgar a es-
“água mágica”. Então, o rebe mandava
lado, não seria mais provável que ela
tatura de uma pessoa pelas coisas que
que, toda vez que eles sentissem a rai-
tenha tido um dia muito corrido? Que
a enfurecem. Quanto menor a pessoa,
va crescer, enchessem suas bocas com
ela esqueceu meu pedido por causa da
maior o número de minúcias que a fa-
aquela água especial e segurassem-na
pressão de centenas de outras coisas?”
zem perder o controle. Quanto mais
por alguns momentos, até que a raiva
“Talvez meus filhos não me aten-
elevada uma pessoa, menos problemas
passasse. Assim não falariam desafo-
dam imediatamente cada vez que lhes
fazem com que se enfureça. Eis outro
ros um para o outro.
peço alguma coisa porque não me
prisma que pode nos ajudar a avaliar
Se não conseguir controlar sua rai-
amam ou não me respeitam. Por outro
se vale a pena ficar nervoso: “Será que
va, tente ir para outro cômodo antes
lado, não seria mais provável que eles
queremos nos ver como pessoas cujas
de explodir; de preferência vá para um
normalmente ficam tão concentrados
vidas podem ficar amarguradas pelo
quarto que possua um espelho. Assim,
no livro que estão lendo que mal ouvem
modo como nosso cônjuge aperta o
você poderá ver o quanto é grotesco ter
o que eu falo?”
tubo da pasta de dentes?”
um ataque de nervos. Isto o ajudará a
“Será que não foi um simples
Às vezes, nenhuma destas suges-
recuperar seu controle.
tões consegue evitar que percamos o
Algumas vezes o problema é que
controle. Digamos que não tivemos
a raiva se torna tão habitual e rotinei-
êxito em “evitar o incêndio”. Como
ra que nem a notamos. Neste caso, a
podemos apagar as chamas, agora? A
primeira tarefa é recobrarmos a sen-
De tudo que falamos, está claro que
regra fundamental é: se você não con-
sibilidade em nossas ações. Certa vez,
a primeira pergunta que devemos fa-
segue abafar sua raiva, pelo menos não
percebi que o nível de decibéis em mi-
zer quando sentimos que a raiva está
a expresse imediatamente. Não reaja
nha casa estava crescendo muito. Para
chegando é: ‘‘Por que estou com raiva?
de supetão. Rabênu Yehudá Hechassid
garantir que os gritos não se tornassem
Será que meu ego está muito inflado ou
(Alemanha, 1150-1217) escreve em
a forma comum de diálogo, instituímos
erro?”
Algumas Dicas Para Controlar a
Raiva
Av / Elul 5775
43
Comemorando II
um sistema de penas monetárias para
Rabino Shelomô Wolbê Shlita (Israel,
educação de nossos filhos, em determi-
a gritaria. As multas não fizeram que-
1915-2005) explica que a palavra em
nadas circunstâncias é permitido de-
brar o cofrinho de nenhum de meus
hebraico para casamento – nissuin –
monstrar nervosismo, mas apenas “de-
filhos, mas tiveram o efeito salutar de
também significa “carregar”. Existem
monstrar”. Sobre isso, o Rabino Moshê
tornar-nos conscientes dos padrões de
algumas coisas em nossos cônjuges
Chayim Luzzatto escreve em seu livro
conversa não desejáveis que tinham
que sempre serão um fardo para nós, e
“Messilat Yesharim”: “Nosso nervosis-
surgido com o tempo.
devemos aprender como carregar este
mo deve ser um nervosismo apenas
Estivemos discutindo como contro-
fardo. Sempre podemos esperar que
aparente, não uma raiva que parta do
lar nossa raiva depois que os primeiros
nossos cônjuges modifiquem aquela
coração. Nossas crianças percebem a
sintomas de irritação começam a apa-
atitude que tanto nos incomoda, mas
diferença. Se vêem que estamos fora de
recer. Mas será que existe um método
não devemos viver com a expectativa
controle, nossa fúria os levará a apren-
para prevenirmos estes sentimentos
que o farão. Devemos estar prepara-
der uma lição muito diferente da que
antes mesmo que eles aflorem?
dos para conviver com o fato de que
pretendíamos lhes transmitir: ‘que é
Algo que podemos fazer é aprimo-
certas particularidades em nossos côn-
permitido perder o controle ou, ao me-
rar nossas virtudes com relação à pa-
juges serão sempre difíceis para nós,
nos, que é permitido perder o controle
ciência. Uma pessoa paciente é aquela
e o mesmo vale em relação a nossos
quando se fica mais velho e torna-se
que reconhece que o mundo não anda
filhos. Não somos perfeitos e não temos
pai (ou mãe)’”.
de acordo com seu relógio, que é D’us
o direito de exigir que eles sejam.
Não importa o quão justificável
e não ela quem determina quando algo
Acima de tudo, devemos aprender
seja nossa raiva, não ganhamos nada
tem que acontecer. Uma pessoa que
a ser mais pacientes com nós mesmos.
ao alimentá-la. Raramente nossa rai-
consegue reconhecer isto já percorreu
Só porque, num determinado momento
va tem algum efeito sobre quem nos
boa parte do caminho para evitar o
de tranquilidade, nós resolvemos me-
magoou; no máximo nos dá mais um
nervosismo.
lhorar certas características que pre-
motivo de queixa contra esta pessoa.
Paciência só pode ser adquirida
cisam ser trabalhadas, isto não signi-
Se deixarmos nossa raiva – mesmo que
“pacientemente”. Não existe outra
fica que tudo acontecerá da noite para
justificável – controlar-nos, nós é que
maneira de nos tornarmos pacientes a
o dia. Como Shelomô Hamêlech nos
teremos muito a perder. Serão nossas
não ser dando um passo de cada vez.
ensina (Mishlê 24:16): “Um tsadic cai
vidas que não valerão a pena ser vi-
Podemos começar determinando al-
sete vezes e levanta”. A diferença entre
vidas.
gumas horas por dia durante as quais
uma pessoa justa e honrada (um tsa-
Como judeus, nossa definição de
nos concentraremos em não deixar que
dic) e uma má não está na queda, mas
“homem valente” não é “aquele que
nada nos incomode.
em levantar novamente. Temos que
tem grande força física”, mas sim, “o
Se tivermos sucesso em desenvol-
lembrar disto e não deixar que cada
que consegue controlar suas emoções”.
ver a paciência em um certo aspecto de
tropeço em controlar nosso tempera-
Aquele que custa a se enervar é maior
nossas vidas, isso irá gradualmente se
mento nos faça acreditar que somos
que o mais forte dos homens, e aquele
espalhar para as demais áreas. Uma
pessoas irremediavelmente nervosas.
que domina seus instintos é maior que
um conquistador de cidades. Nenhuma
das coisas que mais me irritavam era
ter que ficar, no trânsito, esperando
atrás de algum motorista lento. Agora,
Será que é Permitido Ficar Nervoso?
característica nos traz mais benefícios
por parte de D’us que aceitar um in-
quando isso acontece, encaro a situa-
Como pais, temos a responsabili-
sulto sem revidar. Quando fazemos
ção como uma “construção do cará-
dade de ensinar nossos filhos a segui-
isto, cumprimos a mitsvá de seguir o
ter”. Meus filhos estão até autorizados
rem um determinado caminho. Parte
exemplo de D’us, que criou o mundo
a, quando virem um motorista deste
do cumprimento desta responsabili-
num ato de bondade e que nos poupa
tipo, lembrar-me que estou me esfor-
dade é fazer nossos filhos entenderem
a todo momento, evitando julgar-nos
çando para tornar-me um motorista
que certos comportamentos não são
de acordo com Seu julgamento estrito.
paciente.
toleráveis. Se falharmos em transmitir
Aqueles que exercitam seu autocontro-
esta lição quando ainda são jovens, isto
le e reprimem sua raiva e nervosismo
nos assombrará mais tarde.
são os verdadeiros heróis que trazem
É óbvio que o primeiro local que
devemos aprender a ser pacientes é
em casa, com a esposa e os filhos. O
44
Sendo assim, para promover a boa
satisfação a seu Criador.
Av / Elul 5775
Infantil
Surpresa em
Istambul
Uma belíssima história com o grande sábio
Rabi Tsêmach Sarfati, rabino chefe da Tunísia no início do século XVIII
Há muito, a escuridão já envolvera as ruas
Shachrit.
do bairro judeu da cidade de Tunes, a capital da
A esta hora, no entanto, somente o som
Tunísia. A esta hora, quase meia-noite, não se
do forte vento que batia nas janelas podia ser
via uma única luz no raio de vários quarteirões
ouvido.
de ruas desertas.
Contrariando o costume da maioria das
Todos já haviam se recolhido a suas casas
pessoas, um homem estava, já a esta hora,
e dormiam tranquilamente. Logo, porém, ainda
acordando de seu breve sono. O grande sábio
antes do Sol nascer, as ruas se encheriam do
Rabi Tsêmach Tsarfati, rabino chefe da Tunísia,
barulho de homens com seus tefilin e taletot
levantou-se da sua cama e preparou-se para
indo para o bêt hakenêsset para a reza de
recitar o Ticun Chatsot, chorando e lamentando
Av / Elul 5775
53
Infantil
a destruição do Bêt Hamicdash, como
Rabi Tsêmach saiu animado do
ele o incomodasse novamente. Ainda
fazia todas as noites. Há muito tempo,
quarto do homem e caminhou rapida-
assim, preferia enfrentar a raiva do
esse era seu costume – ia dormir nas
mente para sua casa. Mal havia dado
homem a ter que passar a noite sem
primeiras horas da noite e, perto da
alguns passos, entretanto, e um forte
estudar Torá. Assim, voltou para a pa-
meia-noite, acordava para o Ticun.
vento apagou a vela. O rabi ficou para-
daria e bateu novamente à porta.
Depois, permanecia acordado até o
do alguns instantes na rua sem saber o
amanhecer estudando Torá.
que fazer. Passar a noite sem nenhuma
O árabe realmente abriu a porta
muito nervoso:
Nesta noite, porém, quando acor-
luz ou voltar e incomodar novamente
– Veja, rabi. Já é a quarta vez que
dou, percebeu que não tinha nenhum
o pobre padeiro? Com um suspiro de
o senhor incomoda meu sono. Eu pre-
fogo para acender sua lamparina.
pesar, o rabino voltou para a padaria e
ciso acordar muito cedo amanhã para
Naquela época, há cerca de trezentos
bateu novamente à porta.
preparar o pão e não posso ficar a
anos, não havia a mesma facilidade
O empregado apareceu novamen-
noite inteira acendendo velas para o
que existe hoje em dia para fazer fogo
te, ainda meio dormindo, e acendeu
senhor! Além disso, cada vez que eu
– quanto mais o advento da luz elétri-
outra vez a vela para o rabino – desta
abro a porta para o senhor, eu tenho
ca, que só aconteceria quase duzentos
vez já um pouco mal-humorado. Rabi
que retirar esta pesada madeira que
anos depois.
Tsêmach saiu, andando pela rua cui-
serve como tranca. Meus braços já
Permanecer a noite inteira mer-
dadosamente e protegendo a chama
estão doendo de tanto abrir e fechar
gulhado na escuridão não parecia ao
da vela com seu casaco. Apesar de
a porta!...
rabino uma perspectiva agradável,
seus esforços, quando já estava quase
Enquanto o árabe falava, mostrou
além do que, sem luz não poderia con-
entrando em sua casa, a vela nova-
para o sábio uma pesada tora de ma-
sultar seus preciosos livros.
mente se apagou.
deira que, encaixada nos lados da por-
Após alguns minutos de reflexão,
“Parece que o yêtser hará está fa-
ta, servia como tranca para a padaria.
Rabi Tsêmach Tsarfati teve uma ideia.
zendo de tudo para impedir meu estu-
Rabi Tsêmach pediu humildemente
Perto de sua casa havia uma padaria.
do hoje”, pensou o sábio. Novamente,
desculpas para o homem pelo tran-
Num quarto dos fundos dormia um
Rabi Tsêmach foi para a padaria ba-
storno e agradeceu pelo grande favor
empregado árabe, que certamente po-
ter à porta do árabe. Desta vez, o ho-
que ele estava lhe prestando.
deria acender-lhe uma vela.
mem nem mesmo queria abrir a porta.
– Eu o abençoo pelo bem que você
O sábio vestiu seu sobretudo, pe-
Depois de muita insistência, irritado,
está me fazendo – disse o rabino. – Que
gou a vela e caminhou pela escuridão
atendeu o rabino, pela terceira vez, e
D’us lhe pague, em ouro, o mesmo
até a padaria. Após várias batidas in-
acendeu novamente a vela.
peso desta tora.
sistentes, finalmente o árabe foi até
Infelizmente, como em todas as
Ao ouvir as palavras do sábio,
a porta para atender o chamado. O
outras vezes, a vela apagou-se antes
o árabe imediatamente se acalmou.
homem conhecia e respeitava o rabi-
que o sábio conseguisse chegar em
Ele já tinha ouvido muitas vezes que
no. Assim, acatou prontamente seu
casa. Rabi Tsêmach sabia que o em-
as bênçãos do Rabi Tsêmach Tsarfati
pedido, acendendo a vela.
pregado da padaria ficaria furioso se
eram infalíveis. Animado com a pos-
Família
Kignel
54
Av / Elul 5775
Infantil
sibilidade de ficar rico, o homem não
dono do lugar algum tempo de férias.
subiu e desceu várias escadas, atra-
só acendeu a vela para o rabino, como
No dia seguinte, encontrou-se com
vessou portas e corredores até que, fi-
também o acompanhou segurando a
o misterioso homem que lhe havia ofe-
nalmente, parou e a venda foi retirada
vela até sua casa, não deixando desta
recido o emprego. O homem avisou o
de seus olhos.
vez que a chama se apagasse.
padeiro de que o trabalho que faria era
Quando seus olhos se acostu-
No dia seguinte, quando o padei-
secreto. Assim, deveria ser mantido
maram com a claridade, o padeiro
ro andava tranquilamente pelas ruas
o máximo de sigilo sobre o assunto.
descobriu o motivo de tanto segredo.
da cidade, pensando ainda na bênção
Além disso, era melhor que ele não
Espalhados pelo chão do quarto em
que tinha ouvido dos lábios do Rabi
soubesse nem mesmo a localização de
que se encontrava, havia centenas de
Tsêmach, um estranho parou-o na rua.
onde estaria trabalhando. O padeiro
sacos com dinheiro, moedas de ouro e
O homem lhe ofereceu um novo em-
ficou bastante assustado mas, confian-
pedras preciosas amontoados uns em
prego, apenas por algumas semanas,
do na Providência Divina, deixou que o
cima dos outros.
que lhe daria um salário muito maior
estranho vendasse seus olhos e entrou
– Seu trabalho será o de organizar
do que o que recebia na padaria.
numa carroça que o levaria até seu
todas essas riquezas – disse o misteri-
novo emprego.
oso homem que havia lhe oferecido o
O padeiro estranhou o convite, mas
percebeu que, provavelmente, aquilo
O padeiro tentou descobrir, pelos
emprego. – Você deve contar o dinhei-
já fazia parte da bênção do sábio judeu
sons e pelo caminhar da carroça, o
ro e as moedas de ouro e separar as
começando a se concretizar. Assim,
lugar para onde estavam indo, mas foi
pedras preciosas conforme seu taman-
combinou com seu novo patrão um
impossível. Depois de muito tempo,
ho e cor. À noite eu voltarei para ver
local para se encontrarem no dia se-
num lugar que parecia ser fora da ci-
como anda o trabalho e para levá-lo
guinte, quando começaria o novo tra-
dade, a carroça parou e o padeiro foi
embora.
balho. O árabe voltou para a padaria e,
levado para dentro do que parecia ser
O homem saiu da sala e trancou
sem maiores explicações, pediu para o
uma casa. Ainda vendado, o padeiro
a porta por fora, deixando o padeiro
Daf Hayomi
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Av / Elul 5775
55
Infantil
entregue ao seu novo e estonteante
colado nos muros da cidade. O gover-
bia se existia. Entrou e revistou todos
serviço. Com o cair da noite, o homem
no iria realizar um leilão para a venda
os quartos, cavou buracos, destruiu
voltou e aprovou o serviço que fora
de uma grande casa nos arredores
escadas... e nada do tesouro. Quan-
realizado durante o dia. Então ele ven-
da cidade. A casa pertencia a um es-
do finalmente já estava perdendo as
dou novamente o padeiro, revistou-o
trangeiro que fora encontrado morto
esperanças, com lágrimas escorrendo
para ver se ele não havia pegado nada
dentro dela. O homem era desconheci-
pelos olhos por ter gasto tanto dinheiro
e levou-o de volta ao ponto onde havi-
do do local e não possuía parentes ou
numa imensa casa inútil, o padeiro
am se encontrado.
amigos. Assim, o governo havia toma-
descobriu uma passagem secreta. A
Durante várias semanas o padeiro
do posse da casa e estava vendendo-a
ligação levava diretamente à sala onde
continuou trabalhando para o homem
num leilão para qualquer interessado.
havia trabalhado durante tantas se-
misterioso. Todos os dias o ritual se
Sem nenhuma explicação lógica, o
repetia: pela manhã os dois se encon-
padeiro ficou pensando se aquela não
O padeiro mal podia acreditar em
travam na feira da cidade, o homem
seria a casa em que havia trabalhado
seus olhos. O dinheiro estava todo lá!
o levava vendado pelo longo camin-
e nas riquezas que ainda estariam es-
Cada pedra preciosa e moeda de ouro
ho, deixava-o trancado no quarto tra-
condidas lá. Com a confiança nas pa-
ainda estava no lugar onde ele havia
balhando e, à noite, levava-o nova-
lavras do rabino renovada, o padeiro
deixado. “Se eu trocasse tudo isso por
mente vendado para a feira da cidade.
juntou todo o dinheiro que possuía e
ouro”, pensou o padeiro enquanto pu-
conseguiu arrematar a casa no leilão.
lava de alegria, “certamente seu peso
Finalmente o trabalho foi concluí-
manas.
do. O padeiro recebeu seu salário e
Com o coração aos pulos, com
mais algumas moedas de ouro como
medo de que aquela não fosse a casa
recompensa. Concluindo que aque-
certa, ou que fosse a casa e o tesouro
Quando finalmente conseguiu se
le era o final da “história” – e que a
não se encontrasse mais lá, o padeiro
acalmar, o padeiro tentou pensar fria-
bênção do rabino havia falhado – o pa-
tomou uma carroça alugada e foi até
mente. Seguramente não poderia con-
deiro voltou para o seu antigo trabalho
sua nova casa.
tinuar morando em Tunes. Todas as
ultrapassaria o peso da tora de madeira que tranca a porta da padaria!”.
Durante todo o dia, o padeiro revi-
pessoas que conhecia, assim como a
Pouco tempo depois, no entanto,
rou a casa de cima a baixo, procurando
polícia e o governo local, desconfiari-
o padeiro estremeceu ao ler um aviso
por um tesouro que nem mesmo sa-
am da forma como havia enriquecido
na padaria.
repentinamente. Precisava mudar-se
para outra cidade, talvez para outro
O Costume da “Velada”
No ano de 1705, o Tribunal
Rabínico da Tunísia foi presidido
pelo Grande Rabino Tsêmach Sarfati. Em certa oportunidade, Rabi
Tsêmach adoeceu gravemente,
tendo sido diagnosticado como
portador de uma doença incurável.
Certa noite, Eliyáhu Hanavi, que
participa em todas as cerimônias
de Berit Milá, apareceu no sonho
de Rabi Tsêmach e lhe receitou o
único remédio para salvar sua vida:
a cada nascimento de um menino
ele deveria organizar uma noite de
estudos do Zôhar, no sétimo dia,
véspera do Berit Milá.
Ao tomar conhecimento do
56
maravilhoso sonho do sábio e de
como poderiam salvar seu querido
líder, a comunidade judaica respondeu com entusiasmo. Instituiu
este estudo do Zôhar como tradição em toda véspera de Berit Milá,
costume que foi abraçado pelas
gerações posteriores e é observado até os nossos dias. O costume
recebeu o nome de “Billada” ou
“Velada” em ladino, castelhano e
português antigo.
Rabi Sarfati curou-se e no final
de sua vida foi para Jerusalém,
passando por Istambul.
Rabi Tsêmach Sarfati faleceu em
1717 e foi enterrado no Monte das
Oliveiras, em Jerusalém.
país...
No dia seguinte, o padeiro pediu
demissão da padaria. Ele começou a
avisar todas as pessoas que conhecia que se mudaria para Istambul, na
Turquia, onde trabalharia no comércio
de linho com um parente distante. Assim, sem despertar suspeitas, começou
a fazer viagens constantes, como se
fosse um comerciante comum. Aos poucos, conseguiu levar toda a sua fortuna para Istambul, transformando-se
num dos homens mais ricos de toda a
Turquia.
* * *
Muitos anos se passaram. Rabi
Tsêmach Tsarfati já tinha se esquecido
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Infantil
há muito da noite em que abençoara o
bom homem. Espero que possa ouvir
suas forças e continuar a viagem.
boas notícias dele.
árabe que o havia ajudado a acender
Em Istambul não foi diferente. A
uma vela. Já com setenta anos, o rabi
grande comunidade de judeus da cida-
– Pois eu sou aquele padeiro –
resolveu que gostaria de passar os úl-
de recebeu o grande sábio de braços
disse o homem, beijando novamente
timos anos de sua vida na Terra Santa
abertos, com alegria e festa. Quando o
as mãos do sábio com lágrimas nos
– em Israel.
Rabi Tsêmach caminhava para a casa
olhos. – Graças à sua bênção, tornei-
Com os corações pesados, os mem-
onde ficaria hospedado em Istambul,
me um dos homens mais ricos de toda
bros da comunidade judaica de Tunes
junto a vários habitantes da cidade
a Turquia! Bendito o D’us que faz cum-
se despediram de seu amado rabino.
que o acompanhavam, foi abordado
prir a palavra de seus sábios!
Após todos os preparativos e as
por um grupo de ricos negociantes
O homem levou o Rabi Tsêmach
despedidas, Rabi Tsêmach iniciou sua
muçulmanos. Para espanto de todos
Tsarfati para conhecer a sua casa e
jornada rumo a Israel. Naquela época,
os judeus, um dos árabes mais ricos e
mostrou-lhe sua riqueza. Depois,
a viagem para Israel era longa e difícil;
poderosos de Istambul desceu do ca-
cuidou pessoalmente que a viagem
envolvia muitos perigos e várias para-
melo em que estava montado, curvou-
do rabi para a Terra Santa fosse feita
das em cidades pelo caminho.
se para o rabino e beijou suas mãos.
com o máximo possível de conforto e
segurança.
O bom nome do grande sábio Rabi
Antes que o rabi pudesse se recuperar
Tsêmach Tsarfati o precedia em cada
de seu espanto, o árabe olhou bem em
nova parada. Por todas as cidades
seus olhos e perguntou:
Além disso, o rico ainda providenciou que um banco com filial em Israel
onde passava, o rabino era acolhido
– Rabi, o senhor se lembra de um
desse, todo mês, dinheiro suficiente
com alegria e respeito pela comunida-
pobre padeiro que era seu vizinho em
para que o rabino vivesse os últimos
de local, que o recebia com festa. Em
Tunes?
anos de sua vida com tranquilidade,
cada lugar o sábio permanecia somen-
– Lembro-me sim – respondeu o
te o tempo necessário para recuperar
rabino ainda espantado –­ ele era um
dedicando-se exclusivamente ao estudo da Torá.
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