Carbon Capture and Geological Storage (CCS) in Brazil as
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Carbon Capture and Geological Storage (CCS) in Brazil as
MONITORAMENTO AMBIENTAL E GERENCIAMENTO DE RISCOS NA CAPTURA E SEQUESTRO GEOLÓGICO DE CARBONO V. P. P. ESTEVES1 e C. R. V. MORGADO2 1 Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Programa de Engenharia Ambiental e-mail: [email protected] 2 Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Programa de Engenharia Ambiental e-mail: [email protected] RESUMO –. Durante a extração de petróleo e gás é carregado para superfície um percentual de CO2 que, por não ter valor comercial, atualmente é lançado na atmosfera. Como a concentração de CO2 nas jazidas do pré-sal é maior que nos poços atualmente explorados o crescimento das emissões se dará não só pelo crescimento esperado do volume de produção. Uma das alternativas para impedir que todo esse carbono seja liberado para a atmosfera é reinjetar o CO2 nos próprios reservatórios ou em outras formações geológicas próximas. Foram analisadas as etapas de separação, desidratação, compressão, transporte, injeção, monitoramento e análise de riscos, identificando os riscos associados a cada uma das etapas. PALAVRAS-CHAVE: sequestro de carbono; armazenamento geológico; análise de risco. 1. INTRODUÇÃO A atmosfera terrestre é composta aproximadamente de 21% de oxigênio (O2) e 78% de nitrogênio (N2). Os demais gases presentes na atmosfera somam 1%. Entre esses gases podemos citar o dióxido de carbono (CO2), o monóxido de carbono (CO), o óxido nitroso (N2O), os gases nobres, o metano (CH4), o ozônio (O3) e o vapor d’água. O sol é a principal fonte de energia do planeta. Quando a radiação solar chega ao nosso planeta, a atmosfera reflete 25% desta radiação de volta para o espaço. A radiação que atravessa a atmosfera parte será absorvida, aquecendo o solo, os seres vivos, a própria atmosfera e as águas. A superfície da Terra, por sua vez, irradia calor de volta na faixa do infravermelho. Se só houvesse o nitrogênio e o oxigênio na atmosfera toda esta radiação se perderia no espaço. No ISSN 2178-3659 entanto existem certos gases, chamados gases de efeito estufa (GEE), que ao serem atingidos por esta radiação infravermelha vibram nesta faixa de frequência, retendo assim esta energia e consequentemente o calor da terra. Sem este “efeito estufa” (EE) natural destes gases a vida na terra não existiria ou pelo não teria a atual exuberância. Estudos mostram que a temperatura média da superfície da terra seria de -18º C ao invés da atual média de +15º C. Este efeito estufa, que possibilitou o surgimento e ampliação da vida na terra, vem crescendo por causa do aumento das emissões antropogênicas destes gases. A crescente utilização de combustíveis fósseis desde o inicio da revolução industrial, está causando um aumento do efeito estufa com consequente aumento gradual da temperatura do planeta e mudanças nas condições de sobrevivência das espécies. 1376 Os quatro principais gases de efeito estufa (GEE) são, em ordem decrescente de contribuição para o aumento do EE, o os dióxido de carbono (CO2), clorofluorcarbonos (CFCs), o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O). Todas as atividades humanas, desde a descoberta do fogo, que resultem em combustão geram CO2 e influem na concentração atmosférica de CO2. No entanto só a partir da revolução industrial e da ampliação das atividades agro-pastoris é que esta influencia antropogênica começou a se tornar relevante. Entre as principais atividades humanas que contribuem para o crescimento das emissões de CO2 pode-se citar: • Usinas termoelétricas que utilizam a queima de combustíveis para a geração de energia elétrica; • Poços de extração de combustíveis fósseis; • Processos industriais que utilizem qualquer forma de combustão; • Veículos terrestres, aquáticos ou aéreos que utilizem motores a combustão e • Queimadas para “limpeza” de áreas destinadas a agricultura extensiva ou ao plantio de pastos para pecuária. Embora a utilização de combustível renovável, como o etanol de cana de açúcar, tenha, teoricamente a vantagem de não acrescentar na atmosfera carbonos novos, visto que o carbono do CO2 gerado pela sua queima foi capturado da própria atmosfera pelos vegetais dos quais foram produzidos, temos que analisar o ciclo de vida completo da produção destes combustíveis. Práticas como a queima de canaviais para facilitar a colheita e a utilização de equipamentos agrícolas e caminhões de transporte movidos a combustíveis fósseis, sem falar nas questões sociais, são aspectos que tendem a diminuir a vantagem comparativa. ISSN 2178-3659 2. CAPTURA E ARMAZENAMENTO GEOLÓGICO DE CARBONO A Captura e Armazenamento Geológico de Carbono (CCGS - Carbon Capture and Geological Storage) é um processo de mitigação das mudanças climáticas pelo qual o CO2 gerado por atividades industriais concentradas, como as três primeiras listadas na seção anterior, é capturado e armazenado em formações geológicas. Poder-se-ia questionar a importância da utilização do CCGS uma vez que hoje em dia os veículos a combustão são os maiores contribuintes para o aumento do EE. No entanto os veículos tendem a diminuir esta contribuição com o desenvolvimento e progressiva mudança para outros tipos de motores e combustíveis. Como exemplo pode-se citar o carro elétrico. Embora a geração de energia elétrica utilizada para abastecer um carro elétrico possa vir de uma usina termoelétrica a carvão, considerada fonte de energia “suja”, o CO2 emitido de forma concentrada por esta usina pode ser sequestrado, enquanto a captura do CO2 emitido de forma distribuída por estes milhões de veículos a combustão é economicamente inviável. O estudo da Agência Internacional de Energia (IEA, 2008) mostra que a redução das emissões de GEE só poderá ser alcançada adotando-se uma série de medidas e tecnologias. Como visto na Figura 1, traçando linhas até o ano de 2050, a IEA (2008) afirma que se continuarmos emitindo GEE da forma indiscriminada, as emissões globais podem chegar a 62 GtCO2 ao ano. Com um grande esforço de redução de emissões, mesclando o CCGS, o sequestro por biomassa, as energias renováveis, a eficiência energética em diversos aspectos, e a energia nuclear, podemos reduzir as emissões globais para 14 GtCO2 ao ano. 1377 CCGS de Indústrias de transformação (9%) CCGS de Geração de Energia (10%) Energia Nuclear (6%) Energias Renováveis (21%) Eficiência na geração de energia e mudança de combustíveis (7%) Mudança de combustíveis no usuário final (11%) Eficiência na utilização de energia pelo usuário final (12%) Eficiência na utilização de combustíveis pelo usuário final (24%) aquece uma caldeira que gera vapor que movimenta as turbinas que estão interligadas aos geradores de eletricidade, como visto no esquema da Figura 2. Os gases de exaustão, que são constituídos de aproximadamente 15% de CO2, 85% de N2 e menos de 1% de outros compostos (entre eles SOx e NOx), passam por um sistema de dessulfurização para retirada de maior parte dos compostos a base de enxofre e segue para a unidade de captura onde o CO2 é separado dos outros constituintes que seguem o seu caminho até serem lançados na atmosfera. O gás lançado na atmosfera é predominantemente nitrogênio (N2). carvão ar Caldeira O processo de CCGS pode ser dividido em seis etapas básicas: • • • • • • Separação; Desidratação; Compressão; Transporte; Injeção e Armazenamento e monitoramento. Turbina engate mecânico gases de exaustão N2+CO2 +NOx+SOx+... Unidade de Desulfurização Figura 1 – Cenários para redução das emissões de CO2 – Fonte: IEA (2008). O CCGS é uma opção de transição entre uma matriz energética baseada em combustíveis fósseis e um futuro no qual a economia passará a ser dominada por energias livres de carbono. vapor Unidade de Captura de CO2 Gerador Elétrico energia elétrica Lançamento na Atmosfera (N2) Armazenamento de CO2 Figura 2 – Usina termoelétrica a carvão com captura de carbono. Existem hoje em dia, já desenvolvidos ou em desenvolvimento, uma série de métodos de separação de CO2, entre eles podemos citar: • • • • • Absorção química; Absorção física; Filtragem através de membranas; Destilação criogênica e Oxicombustão. 2.1 Separação Esta etapa visa separar o CO2 dos demais gases de exaustão de um processo industrial de combustão. Usando como exemplo uma usina termoelétrica a carvão, a combustão do mesmo ISSN 2178-3659 Absorção química: Este é o processo mais amplamente utilizado já possuindo uma série de plantas piloto e espalhadas pelo mundo. A mais antiga planta comercial de CCGS em Sleipner, na Noruega, utiliza este 1378 processo e está em operação desde 1996 (Solomon, 2007). As reações químicas globais associadas ao CAP são definidas nas equações 1-4: O processo consiste em se usar um solvente, normalmente uma amina, que reage quimicamente com o CO2 formando um composto. Como visto na Figura 3, esta reação ocorre em uma torre de absorção, cujo comprimento e seção reta dependem basicamente da vazão do gás de exaustão do processo industrial. O composto assim formado é transferido para o elemento de regeneração onde é submetido a uma elevação de temperatura para liberar o CO2. O solvente livre do CO2 retorna a torre de absorção começando assim um novo ciclo. CO2 (g) Ù CO2 (aq) gás de exaustão tratado CO2 a ser armazenado energia refrigeração Torre de Absorção gás de Torre de Regeneração energia exaustão a ser tratado calor Solvente rico em CO2 Solvente pobre em CO2 Figura 3 – Esquema de absorção e regeneração para captura de CO2. Como exemplo de processos comerciais de absorção química tem-se o CAP (Chilled Ammonia Process – Processo de Amônia Resfriada) que foi desenvolvido pela Alstom Power e é utilizado em suas plantas piloto de captura de carbono desenvolvidas em parceria com empresas americanas de geração de energia elétrica. A primeira planta piloto, de 1,7 Mwatts, foi desenvolvida para a Usina Termoelétrica Pleasant Prairie da WE Energies, em Wisconsin. A segunda foi desenvolvida para uma unidade de 20 Mwatts da Usina Termoelétrica de Mountaineer da American Electric Power na Virginia do Oeste. ISSN 2178-3659 (1) (NH4)2CO3 (aq) + CO2 (aq) + H2O (l) Ù 2(NH4)HCO3 (aq) (2) (NH4)HCO3 (aq) Ù (NH4)HCO3 (s) (3) (NH4)2CO3 (aq) Ù (NH4)NH2CO2 (aq) + H2O (l) (4) As reações no processo são todas reversíveis e suas direções dependem da pressão, da temperatura e da concentração no sistema. As equações são exotérmicas, da esquerda para direita, e endotérmicas da direita para esquerda, requerendo a retirada ou adição de calor. Absorção Física: O processo de absorção física é semelhante ao da absorção química com a diferença que neste caso não há reação química entre o CO2 e o elemento que irá absorvê-lo. Filtragem através de membrana: Neste processo o CO2 é separado dos demais elementos de compostos presentes nos gases de exaustão por intermédio de membranas a base de polímeros. Destilação criogênica: Este processo se baseia na diferença dos pontos de condensação e vaporização dos gases. Oxicombustão: Neste processo o combustível fóssil é queimado usando-se O2 ao invés de ar. Neste processo o N2 é separado previamente. Neste processo, portanto, a presença do óxido nitroso (N2O) é praticamente eliminada do gás de exaustão, que tiradas os particulados e demais impurezas é CO2 em alta concentração. 1379 2.2 Desidratação Esta etapa só é necessária caso o CO2 separado na etapa anterior esteja com grau de umidade que possa levar à corrosão os elementos de transporte. 2.3 Compressão Para ser transportado o CO2 precisa ser comprimido na faixa entre 1000 e 3000 psi (Barrie et al., 2004). funcionamento desde 2000. Neste projeto o CO2 capturado em uma planta de gaseificação de carvão em Beaulah (Dacota do Norte) é transportado por carboduto até o poço de produção de óleo em Weyburn (Canadá) onde é injetado. A Figura 4 mostra o gráfico que comprova a elevação da produção de óleo após o inicio da injeção de CO2 (indicado pela seta vermelha) em comparação com a tendência de se continuar com o sistema de injeção de água (linha pontilhada em azul). 2.4 Transporte O CO2 é transportado por carbodutos. Dependendo do tamanho do carboduto pode haver a necessidade de se utilizar unidades de compressão no meio do trajeto. 2.5 Injeção Nesta etapa o CO2 é injetado através de poços de injeção cuja tecnologia já é amplamente dominada, pois já é utilizada há muito tempo pelas empresas de produção de óleo e gás no processo de EOR (Enhanced Oil Recovery – Recuperação Avançada de Óleo). Existem várias opções de locais para a injeção entre as quais podemos citar: • • • . Campos de produção de petróleo esgotados ou em via de esgotamento; Aquíferos salinos e Leitos de carvão. Injeção em campos de produção de petróleo esgotados ou em via de esgotamento: A opção da injeção em campos de produção de petróleo em vias de esgotamento, além da função de sequestro do CO2, cumpre o papel de aumentar a produção, no processo de EOR. A vantagem de se substituir a água por CO2 no processo de EOR é que o CO2 aumenta a fluidez do óleo. Como exemplo pode-se citar o projeto Weyburn localizado na fronteira entre o Canadá e os Estados Unidos em ISSN 2178-3659 Figura 4 – Evolução da produção de Óleo no campo de Weyburn – Fonte: IEA (2008). Aquíferos salinos: Os aquíferos salinos estão espalhados por todo o subsolo do planeta. Como esta água não pode ser utilizada nem pela agricultura e muito menos para consumo animal ou humano, esta opção de armazenar o CO2 em aquíferos salinos parece ser bem promissora. O primeiro projeto de CCGS foi desenvolvido pela Statoil (empresa de energia da Noruega) em seu campo de produção de gás natural de Sleipner. Segundo a Statoil o percentual de CO2 no gás natural de seu campo em Sleipner é de 9% (BGS, 2010). Este percentual está acima dos padrões requeridos por seus consumidores. Em 1991 o governo norueguês introduziu uma taxa de USD 50 por tonelada de CO2 emitida. Estes dois aspectos (padrões exigidos por consumidores mais taxação) incentivaram a Statoil a desenvolver o projeto para captura geológica. 1380 Fisicamente o projeto é composto de duas plataformas. Na primeira é realizada a extração do gás natural rico em CO2. Este gás é repassado para a segunda plataforma onde em uma unidade de absorção química o CO2 é separado, comprimido e injetado em um aquífero salino que fica localizado a 1000 metros abaixo do leito do mar. Segundo as projeções do relatório especial do IPCC (2005) a capacidade de armazenamento total do projeto de Sleipner é de 20 milhões de toneladas de CO2, das quais, segundo a Statoil até o final de 2008 quase 11 milhões de toneladas de CO2 já tinham sido armazenadas. Leito de Carvão: Para a viabilização do armazenamento de CO2 em leitos de carvão este processo deve estar associado ao processo de produção de metano a partir de leitos de carvão. A injeção de CO2 visa à recuperação da produção do metano ECBM (Enhanced Coal Bed Methane Recovery). O processo vem sendo estudado pelo instituto federal suíço de tecnologia (ETH, 2010). Estes estudos visam alcançar a compreensão necessária para a aplicação da tecnologia em campos de maior escala A Figura 5 mostra o esquema de pesquisa onde a injeção do CO2 capturado é realizada em 4 formações geológicas distintas sendo que a segunda da esquerda para a direita é a relacionada com a ECBM. 2.6 Armazenamento e monitoramento Armazenamento e monitoramento são considerados como uma única etapa, pois o monitoramento nada mais é que a garantia de estanqueidade do armazenamento do CO2. Segundo o relatório especial do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, 2005) este monitoramento visa verificar possíveis vazamentos ou outras formas que possam deteriorar a integridade do armazenamento ao longo do tempo, garantindo que não apresenta riscos ao meio ambiente. Várias tecnologias devem ser utilizadas para atingir diversos tipos de monitoramento: • • • • • Monitoramento da vazão e pressão da injeção; Monitoramento da distribuição do CO2 no subsolo; Monitoramento da integridade dos poços de injeção; Monitoramento dos efeitos locais sobre o meio ambiente e Monitoramento através de uma rede de sensores colocados em pontos distantes dos locais de injeção. Todos os dados provenientes destes monitoramentos alimentam sistemas computacionais dotados de softwares “inteligentes” que implementam um sistema de gestão de riscos que, além de definir tendências que podem antever situações de risco e determinar mudanças de operação, determinam as devidas rotas de mitigação em caso de possíveis vazamentos ou mau funcionamento do sistema. Figura 5 – Estudo da Recuperação Avançada de produção de metano a partir de leitos de carvão – Fonte: ETH (2010). ISSN 2178-3659 3. GERENCIAMENTO DE RISCO O Risco é o produto da probabilidade de causas pela severidade das consequências. 1381 Avaliação de risco é uma ferramenta utilizada para tomada de decisões que auxilia no gerenciamento de eventos adversos. Para uma perfeita avaliação todos os potenciais perigos e suas consequências podem ser identificados em uma série de riscos, como exemplificado na Figura 6. Figura 6 – Série de Risco Normalmente em empreendimentos industriais as causas de eventos de grande magnitude são tratadas com uma gestão da tecnologia, ou seja, especificação de equipamentos e materiais, elaboração de normas e procedimentos, programas de treinamento, etc. Desta forma a busca pela diminuição do risco se concentra na diminuição da probabilidade de ocorrência das causas que desencadeiam a série que leva aos eventos catastróficos e suas consequências. Estas consequências são analisadas a partir de dados do entorno do empreendimento, sua população e recursos naturais dos quais ela depende. Desta forma são propostos planos de contingência e mitigação caso os eventos catastróficos venham a ocorrer. Os riscos em projetos CCGS são de origem híbrida, uma combinação de riscos tecnológicos e naturais, pois uma parte das causas de possíveis vazamentos não depende da operação da tecnologia. O tamanho do reservatório, mudanças demográficas, o comportamento sísmico na região, o micro clima, etc., podem atuar modificando as características do processo e consequentemente a sua complexidade. Desta forma tem-se menos controle sobre as ISSN 2178-3659 causas que podem levar a um evento catastrófico, sendo importante monitorar e identificar anomalias no processo que possam acionar um plano de alerta de forma a controlar o processo com antecipação. A complexidade da análise de risco de um projeto de CCGS depende de uma série de aspectos inerentes a cada projeto dos quais se podem citar: • Tecnologia de separação; • Vazão de separação e injeção; • Distância entre o local onde se dá a separação e o local de injeção; • Finalidade da injeção; • Características do reservatório utilizado para o armazenamento; • Tecnologia de monitoramento e • Substâncias que formam o gás a ser injetado. A combinação destes aspectos irá determinar quais riscos devem ter a sua análise realizada. 3.1 Riscos nas etapas de separação, desidratação e compressão Devido ao seu caráter pontual, os riscos destas etapas são semelhantes aqueles envolvidos no processo industrial que será a fonte de CO2. No caso de Weyburn, a planta de gaseificação de carvão em Beaulah, no caso de Sleipner, o seu próprio poço de produção de gás. No entanto deve-se ressaltar que a adição de unidades de separação, desidratação e compressão de CO2 aumenta a complexidade da planta industrial, aumentando os riscos cruzados e consequentemente alterando por completo a análise de risco. 3.2 Riscos nas etapas de transporte Quase em todos os projetos de CCGS em funcionamento, o transporte em longas distâncias, quando necessário, é realizado por carbodutos. Segundo Koornneef et al. (2010) 1382 existem hoje nos Estados Unidos mais de 6.000 km de carbodutos ligados a projetos de EOR. As falhas no sistema de carbodutos podem ser causadas por furos ou por rompimento completo do carboduto. Em ambos os casos a falha pode ser causada por: • • • • • • Corrosão; Construção; Defeitos de material; Movimentos do solo; Erros de operação e Atividades da população no entorno. As questões climáticas e geológicas do local onde está ou será implantado um carboduto, influem diretamente nos efeitos sofridos pelos materiais empregados na construção do mesmo. Além disso, estes aspectos também influenciam diretamente a escolha da utilização de carbodutos enterrados ou a céu aberto. No caso de falha em um carboduto de alta pressão enterrado que cause um grande vazamento, a pressão irá cair rapidamente, desprendendo uma grande quantidade de energia. Esta energia irá fazer com que o solo acima do carboduto seja ejetado causando possíveis danos materiais e de vidas. Os acidentes relacionados às atividades da população do entorno em áreas densamente povoadas representa um risco maior tanto em probabilidade quanto em severidade. Tal fato requer um maior investimento em segurança patrimonial e um monitoramento constante das expansões urbanas nos locais por onde o carboduto passa. Os principais aspectos que influenciam a vazão de escape de CO2 durante um acidente são: • • • • Diâmetro interno do carboduto; Tamanho do furo; Temperatura e pressão de operação e Distância entre válvulas de bloqueio. ISSN 2178-3659 A dispersão do CO2 liberado ocorre de forma diferente à dispersão de gases menos pesados que o ar. A dispersão se dá em forma de uma nuvem que se move perto da superfície e o seu progresso depende fortemente da topografia e da meteorologia. A questão mais importante a ser analisada é o impacto de vazamentos de CO2 à saúde humana. A concentração e o tempo de exposição são os dois aspectos a serem analisados. A concentração de 150.000 ppm (15% em volume) de CO2 pode levar um ser humano à perda de consciência em menos de 1 minuto. Uma exposição por 1 hora à concentrações entre 100.000 ppm e 150.000 ppm pode produzir um grau de mortalidade entre 20% e 90% (Koornneef et al. 2010). 3.3 Riscos nas etapas de injeção e armazenamento/monitoramento Os riscos envolvidos nas duas etapas finais estão intimamente ligados ao objetivo do processo de CCGS uma vez que se relacionam diretamente com a garantia da estanqueidade. Risco na Injeção: Os riscos relacionados à injeção são bem conhecidos, pois esta etapa já é amplamente empregada comercialmente nos processos de EOR. Fuga do CO2 injetado para a atmosfera: Quando injetado o CO2 é menos denso que os fluidos salinos dos reservatórios e, portanto pode migrar para outras formações geológicas no subsolo ou para a superfície. A fuga para a atmosfera pode além de causar risco à saúde humana e ao meio ambiente dos arredores do vazamento, comprometer a efetividade do processo de controle das emissões de GEE, que o CCGS visa atender. A fuga de CO2 em elevada concentração pode afetar catastroficamente a biota local. Vazamentos de CO2 para a superfície podem ocorrer por: 1383 • Fraturas ou falhas geológicas préexistentes; • Fraturas geológicas causadas por movimentos sísmicos induzidos ou não pelo processo de armazenamento; • Poços de produção ou de injeção abandonados e • Mudanças a longo prazo das propriedades das rochas do reservatório. Em um projeto de EOR a perfuração de novos poços de injeção é feita até que não seja mais economicamente viável. Os poços abandonados, apesar de selados com cimento antes de seu abandono, podem fornecer caminhos possíveis para fuga do CO2. Isto pode ocorrer devido à degradação dos materiais de vedação. O contato de CO2 em salmoura aumenta em cerca de dez vezes o ataque ao cimento selante quando comparado com água pura (Barlet-Goue´dard et al., 2009). O projeto Weyburn possui atualmente mais de mil poços em toda a extensão lateral do modelo de migração. Um dos pressupostos dos estudos realizados em Weyburn leva em consideração um aumento, em 100 anos, da permeabilidade do cimento de selagem de um valor inicial de 0,001 md até 1 md em 100 anos (Zhou et al.,2004). As mudanças das propriedades de porosidade e permeabilidade das rochas do reservatório de armazenagem podem ser causadas pelo efeito das interações químicas entre o ácido carbônico e os minerais formadores da rocha. O ácido carbônico é gerado diretamente pela reação do CO2 com a água presente no reservatório. Este efeito é mais preponderante no armazenamento que utiliza aquíferos salinos, como o projeto de CCGS em Sleipner, mas também ocorre, em menor escala, em reservatórios de poços em processo de EOR, como no projeto Weyburn. Movimentação subterrânea do CO2 injetado: Quando a migração se dá dentro do subsolo um dos aspectos mais importantes a ISSN 2178-3659 ser analisado na movimentação do CO2 injetado é a capacidade que o mesmo possui de carrear metais podendo contaminar águas subterrâneas. Para uma perfeita avaliação deste risco deve se levar em conta a composição principal da formação rochosa do reservatório de armazenagem. Existem basicamente dois tipos de formação rochosa: • Rochas de carbonato (calcita, argonita, dolomita etc.) e • Rochas de silicato (quartzo, feldspato etc.). A presença de água salgada, que ocorre quando o armazenamento se dá em aquíferos salinos, é importante, pois propicia a formação do ácido carbônico, que reage com os minerais do reservatório podendo carrear os metais presentes nos mesmos. Este carreamento pode levar à contaminação de aquíferos potáveis próximos. No caso de rochas de silicato o ácido carbônico reage lentamente com a rocha e quase não há mudança na porosidade e permeabilidade. De forma diversa as rochas de carbonato reagem mais rapidamente com o CO2 alterando a porosidade e a permeabilidade. Este efeito, no entanto, sofre um amortecido devido ao aumento rápido do PH da água salgada acarretando uma diminuição da ação ácida sobre a rocha (Wilson et al. 2007). Outro risco associado à movimentação subterrânea é a possibilidade de geração de abalos sísmicos devido à alteração das características geofísicas do subsolo. Em uma análise em série de risco o abalo sísmico pode ser considerado como o evento principal capaz de desencadear outros eventos catastróficos com danos materiais, perdas de vidas e alteração de ecossistemas naturais. Além disso, o abalo sísmico pode ser considerado um risco contribuinte capaz de gerar uma fratura geológica por onde se desenvolva uma fuga de grande vazão do CO2 armazenado. 1384 4. CONCLUSÃO A magnitude e a complexidade dos eventos envolvidos num projeto de CCGS impedem que o mesmo possa ter um gerenciamento de risco clássico baseado em procedimentos administrativos e controles operacionais. Diferentemente de uma planta industrial o processo de CCGS está embutido em um corpo natural que é responsável pela sua função final. A atuação da população do entorno e dos abalos sísmicos como causa e efeito em uma série de risco e as alterações geofísicas e geoquímicas naturais do reservatório, exemplificam claramente a dinâmica impar do gerenciamento de risco de um projeto de CCGS, impondo ao seu sistema de gerenciamento de risco uma inteligência adaptativa capaz de acompanhar esta dinâmica. 5. NOMENCLATURAS CAP (Chilled Ammonia Process) – Processo de Amônia Resfriada. CCGS (Carbon Capture and Geological Storage) – Captura e Armazenamento Geológico de Carbono. ECBM (Enhanced Coal Bed Methane recovery). – Recuperação Avançada de Metano de Jazida de Carvão. EE – Efeito Estufa EOR (Enhanced Oil Recovery) – Recuperação Avançada de Óleo. GEE – Gases de Efeito Estufa. 6. REFERÊNCIAS BARLET-GOUE´DARD, V.; RIMMELE, G.; PORCHERIE, O.; QUISEL, N.; DESROCHES, J. A solution against well cement degradation under CO2 geological storage environment. Int. J. Greenhouse Gas Control, 3, p. 206–216, 2009. ISSN 2178-3659 BARRIE, J.; BROWN, K.; HATCHER, P.R.; SCHELLHASE, H.U. Carbon dioxide pipelines: A preliminary review of design and risk. VII Inter. Conf. GHG Cntrl. Tech., 2004. BGS (2010), http://www.bgs.ac.uk/education /carboncapture/RemovalCO2NaturalGas.html, acessado em 15/04/2010. ETH (2010), http://www.esc.ethz.ch/research/ efficientconversion/cotwo/co2projects, acessado em 13/04/2010. IEA. Energy Technology Perspectives 2008, Scenarios and Strategies for 2050, 2008. IPCC, IPCC Special Report on Carbon Dioxide Capture and Storage. Working Group III of the Intergovernmental Panel on Climate Change, Cambridge University Press, New York, 2005. KOORNNEEF, J.; SPRUIJT, M.; MOLAG, M.; RAMÍREZ, A.; TURKENBURG, W.; FAAIJ, A. Quantitative risk assessment of CO2 transport by pipelines - A review of uncertainties and their impacts. Journal of Hazardous Materials 177, p. 12-27, 2010. SOLOMON, S. 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