Teatro no Renascimento 1

Transcrição

Teatro no Renascimento 1
TEATRO NO RENASCIMENTO (1)
Inglaterra de Shakespeare se destaca
Gravura do século 18 retrata William
Shakespeare
Entenda como a Inglaterra se tornou palco de importantes produções teatrais durante
o renascimento. Conheça o contexto histórico em que o teatro se desenvolveu no
país, características e principais nomes.
Contexto histórico
O período elisabetano na Inglaterra é o que compreende o reinado da rainha Elizabeth
I (1558-1603), considerado a era de ouro da história inglesa. É o auge do renascimento
naquele país, com os maiores destaques para a literatura e a poesia.
No reinado da rainha Elizabeth I, a Inglaterra conseguiu assumir o posto de potência
mundial, já que a Espanha, que mantinha o "cargo", estava em decadência. O
comércio inglês se impôs e se expandiu pelo mundo, preparando as condições
favoráveis à prosperidade econômica e ao progresso da burguesia.
Era um momento de rápida transformação em todos os setores da sociedade, o
comércio marítimo influenciava a moda, o transporte (com o uso das carruagens), a
arquitetura, os costumes, como, por exemplo, o uso de garfos (trazidos da Itália) e o
tabaco (trazido da Índia e da América).
Esse foi o momento no qual o teatro elisabetano cresceu e autores como Shakespeare
escreveram peças que rompiam com o estilo com o que a Inglaterra estava
acostumada.
A reforma protestante e o humanismo introduziram novos elementos nas
representações. Foi através de grupos de atores mambembes (como na "Commedia
dell'Arte") que surgiu o profissionalismo teatral.
Elizabeth 1 deu proteção ao teatro da época, pois seu gosto pelos espetáculos
populares conseguiu contrabalançar as tendências puritanas do reino. Bailados,
mágicas, representações cênicas de todo tipo eram apresentadas por onde quer que a
rainha fosse.
Os homens do rei
O primeiro teatro londrino foi fundado em 1576. O mais famoso, porém, é o Globe,
fundado em 1599, às margens do rio Tâmisa. Idealizado e construído por Shakespeare
e sua companhia, The King's Men (os homens do rei), seguia os padrões do que
chamamos hoje teatro elisabetano.
A disposição do palco era ideal para a ação dramática e para uma peça que se
desenrolava sem interrupções, rápida e com grande número de figurantes. Havia
pouco ou quase nenhum cenário, os papéis femininos eram representados por
rapazes, pois na época as mulheres ainda não podiam representar. As mulheres
raramente apareciam na platéia, com exceção de prostitutas. As demais, quando iam
ao teatro, usavam máscaras.
O Teatro Globe não era coberto. As apresentações só ocorriam durante o verão.
Também eram suspensas quando havia algum surto de peste, o que era freqüente, de
modo que, para ganhar a vida, a companhia fazia turnês pelo interior. Em algumas de
suas peças, Shakespeare faz referência a isso, como em "Hamlet", quando um grupo
de atores mambembes chega ao Castelo de Elsenor para uma encenação.
Sonetos em tempos de peste
Shakespeare é considerado um dos mais importantes dramaturgos e escritores de
todos os tempos. Seus textos são obras de arte e permanecem vivos e atuais,
retratados freqüentemente no cinema, no teatro, na televisão e na literatura.
O escritor nasceu numa cidade pequena, Stratford-on-Avon, onde começou seus
estudos. Casou-se aos 18 anos com Anne Hathaway, com quem teve três filhos. No
ano de 1588 foi morar em Londres e, em 1592, já fazia sucesso como ator e
dramaturgo. Entretanto, eram seus sonetos e não suas peças que eram aclamados
pelo público, já que de 1592 a 1594, os teatros londrinos tiveram que ser fechados por
causa de um surto de peste.
Em 1594 ingressou na Companhia de Teatro de Lord Chamberlain, mesmo ano em
que escreveu sua primeira peça, a "Comédia dos Erros". Desde então, escreveu mais
de 38 peças.
Sofrimento do herói em cena
Ainda que inspiradas pelos valores do teatro clássico, as tragédias shakespearianas
têm uma diferença marcante que é a morte e/ou o sofrimento do herói em cena, aos
olhos do público. Nas tragédias gregas isso jamais ocorria.
Quando Édipo, num ato de desespero, fura seus olhos com os alfinetes da roupa da
mãe, ou quando Medéia mata seus filhos, é um arauto ou um outro personagem que
vem a cena para narrar o episódio ao espectador.
Com as tragédias no Renascimento, especialmente em Shakespeare, a cena trágica,
violenta, o sofrimento do herói é no palco, aos olhos de todos. Esse escritor tinha uma
predileção por temas ligados à própria história da Inglaterra e posicionou-se
apaixonadamente em relação aos problemas de poder e do destino.
Entre as tragédias escritas por Shakespeare é impossível não destacar "Romeu e
Julieta", que se tornou a história de amor por excelência e "Hamlet", cuja frase "Ser ou
não ser: eis a questão" é uma das mais conhecidas da língua inglesa. "Macbeth", "Rei
Lear", "Otelo", "Ricardo II", "Ricardo III", "Henrique IV", "Henrique V", "Henrique VI" e
"Henrique VIII" também estão entre suas tragédias mais famosas e encenadas até
hoje.
Comédias: lirismo, farsa e sombras
Nas comédias escritas por Shakespeare há forte influência da "Commedia dell'Arte".
Ainda assim, podem-se identificar em sua produção vários tipos de comédias, desde
as mais leves e farsescas, como "A Megera Domada", às líricas, como "Sonho de Uma
Noite de Verão", até as mais sombrias, como "Medida por Medida".
Outras de suas obras mais importantes nesse gênero são "Comédia dos Erros", "Muito
Barulho por Nada", "A Tempestade", "Tudo Está Bem Quando Acaba Bem", "As
Alegres Comadres de Windsor", "Péricles".
*Valéria Peixoto de Alencar é historiadora formada pela USP e cursa o mestrado em
Artes no Instituto de Artes da Unesp.