Revista 2006 - Faculdade Farias Brito
Transcrição
Revista 2006 - Faculdade Farias Brito
Ano III Nº 3 Dezembro de 2006 Diretor Superintendente Tales de Sá Cavalcante Diretor da FFB Prof. Dr. Miguel Antônio Borges Araújo Diretor de Ensino Genuino Sales Coordenadora do Curso de Administração Danielle Brasil Accioly de Paula Conselho Editorial Ana Cristina Teixeira Leite, Dra. FFB. Andréia Maria de Senna Marques, Msc. FFB. Claudia Butsamra, Dra. UFC. Danielle Brasil Accioly de Paula, Msc. FFB. José Maria Porto Magalhães Sobrinho, Msc. FFB. Sérgio Barbosa Elias, Msc. FFB. Sergio Henrique Arruda Cavalcante Forte, Dr. Unifor. Supervisão Editorial: Antônio Duarte Fernandes Távora Projeto Gráfico: Wellington Nogueira da Silva Impressão: Gráfica FB Revisão: Karinne Mesquita Paiva Martins Os textos são de inteira responsabilidade de seus autores. Artigo e colaborações devem ser remetidos à: Faculdade Farias Brito Rua Castro Monte, 1364 2º andar Cep: 60175-230 Fortaleza CE Fones: (85) 3486.9090 e 3486.9003 Fax: (85) 3267.5169 e-mail: [email protected] ALBERTO DOS SANTOS PAIVA FILHO DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES GUSTAVO NOCE CHASTINET HUMBERTO FERREIRA ORIÁ FILHO LÍDIA VALESCA PIMENTEL MARIA DO SOCORRO ARAÚJO NEYANA BEZERRA PAULINO OCIONE MARQUES MENDONÇA OTÁVIO DE ALENCAR DIÓGENES PAOLO GIUSEPPE LIMA DE ARAÚJO PAULO ROBÉRIO PEROTE DA SILVA ROSANY CORREA DOS SANTOS SANDRA MARIA DOS SANTOS SARAH CAMARGO CAMPOS SÉRGIO JOSÉ ELIAS BARBOSA THIAGO VIANA FERREIRA VINÍCIUS DE CASTRO ALVES SAMPAIO © Faculdade Farias Brito Coordenação do Curso de Administração Castro Monte, 1364 2º andar CE 60175-230 (85) 3486.9090 e 3486.9003 (85) 3267.5169 [email protected] Distribuição: Rua: Fortaleza: Cep: Fones: Fax: e-mail: Organização Editorial: Capa: Tiragem Mínima: Antônio Duarte Fernandes Távora Gráfica FB 1.000 exemplares ISSN 1679-723X Ficha Catalográfica FFBusiness: revista do curso de administração / Faculdade Farias Brito. v. 3, n.3 (jan. a dez.) Fortaleza: Faculdade Farias Brito, 2006 Anual ISSN 1679-723X 1. Administração de Empresas. 2. Periódico. I. Faculdade Farias Brito CDD-658.05 EDITORIAL A publicação do terceiro número da FFBusiness marca a continuidade de um projeto editorial da FACULDADE FARIAS BRITO, que tem como objetivo delimitar um espaço voltado para a divulgação de trabalhos acadêmicos na área de Administração e naquelas que com ela mantém uma estreita correlação. É o que se pode observar no perfil dos diversos temas abordados pelos articulistas deste número, que é aberto com a avaliação apresentada pela “Eficácia do sistema de controle interno das grandes empresas localizadas no Estado do Ceará”, de Paolo Giuseppe Lima de Araújo e Sandra Maria dos Santos. Dois olhares voltados para questões sociais que são o foco, ou infelizmente a margem do fazer administrativo, podem ser vistos em “A responsabilidade social empresarial e a filantropia – um estudo comparativo”, de Humberto Ferreira Oriá Filho e Vinícius de Castro Alves Sampaio; e em “O papel do catador de materiais recicláveis na cidade pós-moderna”, uma avaliação construída por Lídia Valesca Pimentel. O percurso plural de leitura deste número segue com o estabelecimento de um outro perfil, flagrado no artigo que trata das “Características do empreendedor e a mudança organizacional”, de Sérgio José Barbosa Elias; e continua com a avaliação da viabilidade das estratégias de redução de custos nos serviços de nutrição terceirizados nos hospitais públicos do Estado do Ceará, elaborado por Ocione Marques Mendonça e Neyana Bezerra Paulino. Já “A participação do cliente nas organizações” é uma análise aplicada a concessionárias de veículos sediadas em Fortaleza, elaborada por Alberto dos Santos Paiva Filho e Danielle Miranda de Oliveira Arruda Gomes. Os três últimos trabalhos, plurais como a constituição deste número, encerram o temário desta edição: “Um estudo empírico sobre a correlação entre responsabilidade social corporativa (CSR) e a performance financeira nas empresas participantes do Prêmio Delmiro Gouveia – 2005”, de Sarah Camargo Campos e Rosany Correa dos Santos; “Endomarketing: uma aplicação do modelo de Cerqueira em um restaurante da cidade de Fortaleza”, de Maria do Socorro Araújo, Otávio de Alencar Diógenes e, finalmente, “Qualidade – uma análise da visão dos lojistas de um shopping de Fortaleza”, de Paulo Robério Perote da Silva, Thiago Viana Ferreira e Gustavo Noce Chastinet. A FFBusiness, consciente de sua missão como veículo de publicação de trabalhos acadêmicos, reafirma, com a continuidade editorial deste periódico, o propósito da FACULDADE FARIAS BRITO de fomentar e promover a divulgação de pesquisas feitas por seus colaboradores, professores e alunos como elemento indispensável para o desenvolvimento do fazer científico e acadêmico-administrativo. CONSELHO EDITORIAL SumÛrio A EFICÁCIA DO SISTEMA DE CONTROLE INTERNO DAS GRANDES EMPRESAS LOCALIZADAS NO ESTADO DO CEARÁ .............................................................................................. 11 PAOLO GIUSEPPE LIMA DE ARAÚJO SANDRA MARIA DOS SANTOS A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL E A FILANTROPIA – UM ESTUDO COMPARATIVO ....................... 25 HUMBERTO FERREIRA ORIÁ FILHO VINÍCIUS DE CASTRO ALVES SAMPAIO O PAPEL DO CATADOR DE MATERIAIS RECICLÁVEIS NA CIDADE PÓS-MODERNA ....................................................... 39 LÍDIA VALESCA PIMENTEL AS CARACTERÍSTICAS DO EMPREENDEDOR E A MUDANÇA ORGANIZACIONAL ................................................. 53 SÉRGIO JOSÉ ELIAS BARBOSA ESTRATÉGIAS DE REDUÇÃO DE CUSTOS NA ÁREA HOSPITALAR: UMA ANÁLISE DA VIABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA DA TERCEIRIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE NUTRIÇÃO DAS UNIDADES HOSPITALARES DA REDE PÚBLICA ESTADUAL DO CEARÁ ....................................................................................... 65 OCIONE MARQUES MENDONÇA NEYANA BEZERRA PAULINO A PARTICIPAÇÃO DO CLIENTE NAS ORGANIZAÇÕES: UM ESTUDO APLICADO ÀS CONCESSIONÁRIAS DE VEÍCULOS DA CIDADE DE FORTALEZA .................................. 83 ALBERTO DOS SANTOS PAIVA FILHO DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES UM ESTUDO EMPÍRICO SOBRE A CORRELAÇÃO ENTRE RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA (CSR) E A PERFORMANCE FINANCEIRA (CFP) NAS EMPRESAS PARTICIPANTES DO PRÊMIO DELMIRO GOUVEIA 2005 ........................................... 107 SARAH CAMARGO CAMPOS ROSANY CORREA DOS SANTOS ENDOMARKETING: UMA APLICAÇÃO DO MODELO DE CERQUEIRA EM UM RESTAURANTE DA CIDADE DE FORTALEZA ................................................................................... 129 MARIA DO SOCORRO ARAÚJO OTÁVIO DE ALENCAR DIÓGENES QUALIDADE – UMA ANÁLISE DA VISÃO DOS LOJISTAS DE UM SHOPPING DE FORTALEZA ............................................... 139 PAULO ROBÉRIO PEROTE DA SILVA THIAGO VIANA FERREIRA GUSTAVO NOCE CHASTINET Artigos A EFICÁCIA DO SISTEMA DE CONTROLE INTERNO DAS GRANDES EMPRESAS LOCALIZADAS NO ESTADO DO CEARÁ1 PAOLO GIUSEPPE LIMA DE ARAÚJO2 SANDRA MARIA DOS SANTOS3 RESUMO: Este artigo tem por objetivo identificar o que os administradores fazem para assegurar que os controles internos estão funcionando eficazmente na coleta de dados e geração de informações, nas médias e grandes empresas localizadas no Estado do Ceará. Para sua realização, efetuou-se pesquisa de campo, procurando identificar as atribuições e estrutura do sistema de controle interno, além dos procedimentos adotados pelas empresas para verificar o adequado funcionamento do sistema de controle interno e prevenir e/ou identificar fraudes. Este trabalho está organizado em dois tópicos principais: um de pesquisa bibliográfica sobre controle interno, seus princípios, importância, objetivos e tipos; e testes a serem executados sobre os controles internos, distinguindo o que é fraude e erro e as responsabilidades da auditoria interna e externa; e outro onde se apresenta os resultados da pesquisa de campo. Os resultados obtidos indicam que os trabalhos desenvolvidos pelas auditorias internas e externas asseguram que os controles internos estão funcionando adequadamente; que investimento em tecnologia da informação procura eliminar deficiências no funcionamento dos controles internos; e que a análise efetuada pelos administradores sobre o fluxo de caixa identifica possíveis falhas nos controles internos. PALAVRAS-CHAVE: Controle Interno. Fraudes. Erros. Auditoria Interna. Auditoria Externa. ABSTRACT: The purpose of this research is to identify what managers make to assure that the internal controls are efficiently functioning in the data collection and generation of information, in the middle and biggest companies located in the State of the Ceará. For its accomplishment, a field research was made in order to identify the internal control system structure and its attributions; the procedures adopted for the companies to verify the internal control system proper operation and to prevent and/or to identify frauds. This paper is organized in two fields: first, a bibliographical research on internal 1 Artigo apresentado no III Seminário Regional de Auditoria e Controladoria, em 2005. 2 Mestre em Controladoria pela Universidade Federal do Ceará, Professor da Faculdade Farias Brito e Faculdade Sete de Setembro. 3 Doutora em Economia Industrial pela Universidade Federal de Pernambuco, Professora da Universidade Federal do Ceará. 12 PAOLO GIUSEPPE LIMA DE ARAÚJO SANDRA MARIA DOS SANTOS control, its principles, importance, objectives and types; and tests to be executed on the internal controls, distinguishing fraud and error and responsibilities of the internal and external auditing; and second, the analysis of the field research. The results found indicate that the works developed for the internal and external auditing are used to assure that the internal controls are proper operating; that investment in information technology looks for eliminate deficiencies in the internal controls operations; and that the analysis affected by the managers on the cash flow identifies possible imperfections in the internal controls. KEY WORDS: Internal Control. Fraud. Mistake. Internal Audit. External Audit. INTRODUÇÃO O ambiente dos negócios apresenta diversos desafios às empresas na busca constante de garantir a continuidade de suas operações. Sobreviver e, sempre pensando no futuro, crescer de forma consistente, faz com que as empresas estejam em constante mutação, procurando se adaptar às novas exigências. Neste ambiente de constantes mudanças, a controladoria surge como ferramenta importante no processo de gestão das empresas. Com base nos dados obtidos e nas informações com eles gerados, a controladoria pode exercer suas funções com eficiência. O sistema de controle interno é o pilar da contabilidade, pois é baseado na sua eficácia que os dados são gerados e armazenados. Um sistema de controle interno fraco gerará dados inconsistentes e, por conseqüência, informações erradas ou, no mínimo, incompletas, para os tomadores de decisão. Os meios de comunicação divulgaram a existência de fraudes contábeis ocorridas em grandes empresas mundiais. Fato para o Brasil, país que disso não passou isento. Em meados da década passada, ocorreram os escândalos dos bancos Nacional, Econômico, Bamerindus e Noroeste, mas recentemente pode-se citar o Banco Santos e a Parmalat. Nos Estados Unidos foi sancionada a Lei Sarbanes & Oxley, que trata da importância e das responsabilidades dos administradores quanto à existência, funcionamento e eficácia dos controles internos das empresas. Esta lei teve como objetivo restaurar a confiança dos investidores e aumentar a transparência das informações contábeis e operacionais. Estes aspectos foram considerados na definição do objeto desta pesquisa, que procura responder a seguinte questão: o que os administradores fazem para assegurar que os controles internos estão funcionando eficazmente na coleta de dados e geração de informações? A EFICÁCIA DO SISTEMA DE CONTROLE INTERNO DAS GRANDES EMPRESAS LOCALIZADAS NO ESTADO DO CEARÁ 13 O objetivo geral consiste em demonstrar a relevância do sistema de controle interno para as empresas, enquanto que especificamente buscou-se demonstrar que o sistema de controle interno é a base para a coleta de dados das empresas, na preparação de informações gerenciais e das demonstrações financeiras; identificar a relação entre o tamanho da empresa e o nível de preocupação com o sistema de controle interno e qual a forma que os administradores utilizam para confirmar que os controles internos estão funcionando adequadamente. Na metodologia utilizada para a elaboração desse trabalho, considerou-se a tipologia sugerida por Santos (1999), que engloba a seguinte classificação: (a) quanto aos objetivos: pesquisa exploratório-descritiva; (b) quanto aos procedimentos de coleta: pesquisa bibliográfica e levantamento e é classificada como pesquisa qualitativa; e (c) quanto às fontes de informações: de campo e bibliográfica. A população da pesquisa é formada pelas empresas cearenses listadas no Balanço Anual 2003, publicado pela Gazeta Mercantil e na Revista Exame Maiores e Melhores 2003, publicado pela revista Exame, com faturamento líquido ajustado superior a R$ 100.000.000,00 (cem milhões de reais). 1 CONTROLE INTERNO Para Figueiredo e Caggiano (1997), o conceito amplo de controle encontrado na literatura da ciência da administração trata o termo controle como sinônimo da própria administração. Neste sentido, controle abrange os vários processos nos quais a administração determina seus objetivos, delineia seus planos para alcançar estes objetivos, organiza e supervisiona as operações necessárias para implementação dos planos e desempenhos esperados. Já Catelli (2001, p.146) diz que: o controle deve ser executado nas áreas operacionais, na administração das áreas operacionais e na empresa em sua totalidade: avaliação do desempenho global e analítica. Para que seja implementado com sucesso, o controle envolve quatro etapas: 1. prever os resultados das decisões na forma de medidas de desempenho; 2. reunir informações sobre o desempenho real; 3. comparar o desempenho real com o previsto; e 4. verificar quando uma decisão foi deficiente e corrigir o procedimento que a produziu e suas conseqüências, quando possível. 14 PAOLO GIUSEPPE LIMA DE ARAÚJO SANDRA MARIA DOS SANTOS O controle interno está relacionado com os procedimentos de uma organização, fazendo parte das estratégias organizacionais das empresas. De acordo com a Norma Brasileira de Contabilidade Técnica (NBCT) 11 – Normas de Auditoria Independente das Demonstrações Contábeis (CFC, 2000a, p.162): 11.2.5.1 – O sistema contábil e de controles internos compreendem o plano de organização e o conjunto integrado de método e procedimentos adotados pela entidade na produção do seu patrimônio, promoção da confiabilidade e tempestividade dos seus registros e demonstrações contábeis, e de sua eficácia operacional. Boynton, Johnson e Kell (2002, p.320) assim definem controle interno: Controles internos são um processo operado pelo conselho de administração, pela administração e outras pessoas, desenhado para fornecer segurança razoável quanto à consecução de objetivos nas seguintes categorias: 1. Confiabilidade de informações financeiras. 2. Obediência às leis e regulamentos aplicáveis. 3. Eficácia e eficiência de operações. Sancovschi (1999, p.65) define controle interno como sendo composto pelo plano de organização e pelos métodos e procedimentos que o acompanham para salvaguardar os ativos, propiciar dados contábeis precisos e confiáveis, promover a eficiência das operações e incentivar o respeito às políticas gerenciais. Pelas definições apresentadas, vê-se que os objetivos do sistema de controle interno são a proteção dos ativos das empresas, a verificação da exatidão e da fidedignidade dos dados contábeis, a promoção da eficiência operacional e o encorajamento da adesão à política traçada pela administração. O sistema de controle interno de uma organização pode variar conforme as condições dos ambientes externo (mercado) e interno (instalações e pessoal), dependendo, principalmente, da vontade e apoio de seu dirigente. Como forma de se manter um nível mínimo de eficiência e eficácia nas atividades executadas por esse sistema, é que se definem alguns princípios básicos que devem ser adotados por qualquer sistema de controle interno. A EFICÁCIA DO SISTEMA DE CONTROLE INTERNO DAS GRANDES EMPRESAS LOCALIZADAS NO ESTADO DO CEARÁ 15 Cardozo (1994) apresenta os seguintes princípios: (1) É necessário fixar responsabilidades; (2) Os registros devem estar separados das operações; (3) O ciclo completo de uma transação não deve ser executado por uma única pessoa; (4) O pessoal envolvido com funções de controle deve ser criteriosamente selecionado e bem treinado; (5) Sempre que possível, promover o rodízio de funcionários; (6) As tarefas devem estar previstas no manual de organização; (7) Os responsáveis pela custódia de numerário e outros ativos devem ter seguro-fidelidade; e (8) Sempre que praticável, devem ser usados engenhos mecânicos para registro automático de operações. Sancovschi (1999), além dos princípios acima citados, inclui a revisão independente como princípio dos controles internos. Os procedimentos implantados em uma empresa podem ser classificados em: (a) controle contábil: que é efetuado com base nas informações contábeis, utilizando os instrumentos de contabilidade; (b) controles organizacionais: que são formados pelos métodos administrativos e operacionais, para uso rotineiro no exercício das diversas atividades; e (c) controles sobre os procedimentos e do fluxo de documentação: que objetivam obter razoável certeza de que as transações foram realizadas de acordo com especificações da administração e são contabilizadas de acordo com os princípios fundamentais de contabilidade, e que são atribuídas responsabilidades para que as operações e transações contabilizadas sejam comparadas periodicamente com os itens existentes. 2 RESPONSABILIDADES DA AUDITORIA INTERNA E EXTERNA SOBRE OS CONTROLES INTERNOS A auditoria interna é aquela exercida de forma permanente, que tem por principal objetivo o exame da integridade, adequação e eficácia dos controles internos, bem como das informações físicas, contábeis, financeiras e operacionais, fornecendo à administração da empresa informações necessárias para a tomada de decisão. A NBC T 12 (CFC, 2000b, p. 243) diz que os testes realizados pela auditoria interna visam a “obtenção de uma razoável segurança de que os controles internos estabelecidos pela administração estão em efetivo funcionamento”. Na execução de seu trabalho, o auditor interno deve 16 PAOLO GIUSEPPE LIMA DE ARAÚJO SANDRA MARIA DOS SANTOS “obter, analisar, interpretar e documentar as informações físicas, contábeis, financeiras e operacionais para dar suporte aos resultados de seu trabalho” (CFC, 2000b, p.245). A mesma norma diz ainda que o auditor interno deve assessorar a administração da empresa no trabalho de identificação e prevenção de erros e fraudes, obrigando-se a mantê-la informada, de forma reserva, sobre quaisquer indícios ou confirmações de erros ou fraudes que vierem a tona quando da execução de seu trabalho. Diferentemente da auditoria interna, a auditoria externa é exercida por profissionais liberais ou empresas, sem vínculo de emprego com a empresa auditada. Tem por objetivo a emissão de um parecer fidedignidade das informações constantes nas demonstrações contábeis, relativas a determinado período. Do ponto de vista do auditor independente, o sistema de controle interno implantado pelas empresas tem o objetivo de assegurar que erros e irregularidades (fraudes) sejam prontamente identificados, assegurando confiança e integridade das informações e registros contábeis. Dessa forma, o controle interno apresenta-se como instrumento de trabalho importante e necessário para a auditoria. O auditor externo deve ter especial atenção aos eventos ou condições que representam possibilidades da ocorrência de fraudes ou erros. Embora os sistemas de controle interno sejam desenhados para prevenir erros e/ou fraudes, ou detectá-los, algumas vezes, até por envolvimento dos próprios administradores, é improvável que os controles internos exerçam sua função eficazmente. A NBCT 11 (CFC, 2000a, p. 156-157), define erro e fraude da seguinte forma: 11.1.4.1 – Para os fins destas normas, considera-se: a) fraude, o ato intencional de omissão ou manipulação de transações, adulteração de documentos, registros e demonstrações contábeis; e b) erro, o ato não intencional resultante de omissão, desatenção ou má interpretação de fatos na elaboração de registro e demonstrações contábeis. A EFICÁCIA DO SISTEMA DE CONTROLE INTERNO DAS GRANDES EMPRESAS LOCALIZADAS NO ESTADO DO CEARÁ 17 Já a NBCT 12 – Da Auditoria Interna (CFC, 2000b, p. 244), diz: 12.1.4.1 – O termo fraude aplica-se a atos voluntários de omissão e manipulação de transações e operações, adulteração de documentos, registros, relatórios e demonstrações contábeis, tanto em termos físicos quanto monetários. 12.1.4.2 – O termo erro aplica-se a atos involuntários de omissão, desatenção, desconhecimento ou má interpretação de fatos na elaboração de registros e demonstrações contábeis, bem como de transações e operações da Entidade, tanto em termos físicos quanto monetários. Como se pode observar, a distinção básica entre fraude e erro é que na primeira há intenção de se cometer o ato ou omissão, enquanto na segunda, o ato ou omissão não foi realizado de forma intencional. 3 ASPECTOS METODOLÓGICOS Com o objetivo de coletar dados sobre a opinião e confiança das empresas sobre os sistemas de controle interno, efetuou-se uma pesquisa de campo junto a profissionais de controladoria, executivos financeiros e auditores internos de empresas de grande porte do Estado do Ceará. As empresas, objeto da pesquisa, foram escolhidas com base no Balanço Anual 2003, publicado pela Gazeta Mercantil e na Revista Exame Maiores e Melhores 2003, publicado pela revista Exame e correspondiam a empresas com faturamento operacional líquido superior a R$100.000.000,00 (cem milhões de reais), totalizando 17 (dezessete) empresas. O instrumento utilizado para a coleta de dados foi o questionário padronizado, constituído de perguntas fechadas. Em linhas gerais, este questionário buscou obter informações sobre o processo de implantação do sistema de controle interno (inclusive sistemas de TI); revisão sobre a eficácia dos controles existentes; como os gestores verificam se o sistema e os controles continuam funcionando como planejado inicialmente; como são tratados os erros identificados; existência ou não de função de auditoria interna e externa; e qual o nível de confiança que os administradores depositam no sistema de controle externo existente. Dos 17 (dezessete) questionários enviados, foram obtidas respostas de 9 (nove) pesquisados, representando aproximadamente 53%. 18 4 PAOLO GIUSEPPE LIMA DE ARAÚJO SANDRA MARIA DOS SANTOS ANÁLISE DE DADOS 4.1 Procedimentos desenvolvidos nas diversas áreas das empresas estão formalmente descritos em manuais de normas internas Buscou-se informação sobre se os procedimentos e processos estão formalmente descritos e organizados em manual de normas e procedimentos para os processos/atividades de Vendas, Crédito e Cobrança, Compras, Tesouraria, Folha de Pagamento e Custo de Produção/Serviços. Tabela 1 Nível de formalização dos procedimentos Processos/Atividades Vendas Crédito e cobrança Compras Tesouraria Folha de pagamento Custos de produção Sim (%) 78% 67% 67% 67% 67% 44% Não (%) 22% 33% 33% 33% 33% 56% Pesquisa realizada pelo autor em 2004. Pode-se concluir que, apesar da importância dos processos para os gestores, muitos deles são informais, baseados na comunicação oral dos gestores ou dos funcionários mais antigos. 4.2 Grau de confiança que os administradores depositam nos sistemas utilizados pelas empresas Buscou-se conhecer o nível de confiança que os administradores depositam nos processos como geradores de informações para a tomada de decisão. A tabela 2 demonstra o resultado obtido com a pesquisa. Tabela 2 Nível de confiança nos sistemas Processos/Atividades Contas a receber Estoques Custos de produção Contas a pagar Folha de pagamento Imobilizado Muita confiança (%) 89% 67% 89% 100% 100% 78% Razoável confiança (%) 11% 22% 11% – – 22% Pouca confiança (%) – 11% – – – – Pesquisa realizada pelo autor em 2004. A EFICÁCIA DO SISTEMA DE CONTROLE INTERNO DAS GRANDES EMPRESAS LOCALIZADAS NO ESTADO DO CEARÁ 19 O resultado da pesquisa evidencia que os administradores demonstram maiores preocupações com os sistemas de controle internos ligados com a possibilidade de gerar algum questionamento judicial ou afetar a imagem da empresa, como contas a pagar e folha de pagamento. Outros pontos observados foram: a) Apesar de somente 67% dos processos de compras e folha de pagamento estarem normatizados, 100% dos pesquisados demonstraram ter confiança total nestes sistemas de controle interno; b) O processo de vendas foi o que apresentou maior nível de normatização, 78%, o mesmo não foi refletido no nível de confiança que os administradores depositam no sistema de controle de contas a receber. Deve-se considerar, também, que o nível de normatização do processo de crédito e cobrança foi de 67%, o que, com certeza, influencia no nível de confiança do sistema de contas a receber. c) O processo de custo de produção/serviços apresentou o menor nível de normatização, 56%, entretanto o grau de confiança neste sistema de controle interno foi alto, 89% dos pesquisados informaram ter muita confiança. 4.3 Freqüência com que os controles internos são executados Indagou-se com que freqüência os controles internos são executados. Dividiu-se a pesquisa nos dois principais controles: conciliações e inventários físicos. Os resultados foram: 45% dos pesquisados informaram que realizam as conciliações mensalmente, 44% informaram que algumas conciliações são executadas mensalmente, outras semanalmente, e 11% informação outra freqüência, sendo informado que as conciliações são realizadas diariamente. Com estas respostas, pode-se dizer que a conciliação é um importante controle e está sendo utilizado com freqüência, uma vez que os gestores utilizam informações mensais para a tomada de decisão. Quanto aos inventários físicos, tem-se uma divisão entre a realização de inventários mensais (45%) e outros (44%), representados por inventários diários e semestrais, este último foi apresentado por somente um pesquisado. Por fim, 11% dos pesquisados informaram que realizam inventários mensais e/ou semanais. 20 PAOLO GIUSEPPE LIMA DE ARAÚJO SANDRA MARIA DOS SANTOS 4.4 Nível de informatização dos sistemas de controle interno Outro aspecto importante nos sistemas de controle interno das empresas é quanto ao grau de informatização. Todos os pesquisados informaram que os sistemas de controles internos estão informatizados, sendo que 56% destes sistemas estão totalmente integrados e 44% estão parcialmente integrados. Esta informação é de grande importância para os administradores, uma vez que o elevado grau de informatização e de integração facilita a obtenção das informações necessárias para a tomada de decisão. Outro aspecto a salientar é o nível de controle, pois um elevado grau de informatização dos sistemas de controle interno dificulta a ocorrência de fraudes, além de facilitar sua identificação. 4.5 Procedimentos realizados pela empresa quando fraudes são identificadas Indagou-se quais os procedimentos executados pelos administradores quando fraudes são identificadas. Os pesquisados poderiam apresentar mais de uma opção. O principal procedimento realizado pelas empresas é a convocação do setor de auditoria interna para efetuar levantamento dos responsáveis e da extensão da fraude. Os pesquisados também responderam que, em alguns casos, contratam terceiros para efetuar o levantamento dos responsáveis e da extensão da fraude. Gráfico 1 Procedimentos realizados quando fraudes são identificadas Controles para identificar fraudes 9 8 7 8 O setor de auditoria interna é convocado para identificar os responsáveis pelas fraudes 7 6 5 4 3 2 1 0 3 Procura-se identificar as deficiências com o objetivo de aprimorar os controles internos Contrata-se terceiros para identificar os responsáveis pela fraude e o montante envolvido Pesquisa realizada pelo autor em 2004. A EFICÁCIA DO SISTEMA DE CONTROLE INTERNO DAS GRANDES EMPRESAS LOCALIZADAS NO ESTADO DO CEARÁ 4.5.1 CONTROLES 21 EXISTENTES PARA IDENTIFICAR FRAUDES Os procedimentos, em ordem de freqüência, realizados para identificar fraudes são: utilização das funções de auditoria interna e externa; informatização dos sistemas utilizados pelas empresas; revisão dos controles periodicamente e análise do fluxo de caixa. Quase 90% dos pesquisados informaram que utilizam as funções da auditoria interna e externa para a identificação de fraudes. Convém lembrar, como já citado neste trabalho, que não é função da auditoria externa identificar fraudes. Sendo esta uma atividade da auditoria interna, como função auxiliar dos gestores da empresa. A informatização dos sistemas é uma importante ferramenta utilizada pela empresa na identificação de fraudes, assim como a revisão periódica dos controles existentes. A análise do fluxo de caixa, citado por 3 (três) empresas, é uma ferramenta da alta gerência para identificar desvios nas suas projeções. Salienta-se que esta ferramenta somente poderia identificar fraudes de grande valor. Gráfico 2 Controles existentes para identificar fraudes Revisão dos controles periodicamente 6 Informatização dos sistemas utilizados pela empresa 6 Utilização das funções de auditoria interna e externa Análise do fluxo de caixa 8 3 Pesquisa realizada pelo autor em 2004. 4.5.2 FUNÇÃO DE AUDITORIA INTERNA Indagou-se aos pesquisados se as empresas possuíam a função de auditoria interna. 78% dos pesquisados informaram que possuem esta função. Não foi indagado se esta função era exercida por funcionários da própria empresa ou por empresas terceirizadas, uma vez que o importante é a existência da função, e não quem a executa. O nível de resposta positiva foi bastante elevado, evidenciando que os administradores estão preocupados com os controles internos e gerenciamento de risco de suas atividades. 22 PAOLO GIUSEPPE LIMA DE ARAÚJO SANDRA MARIA DOS SANTOS 4.5.3 ATRIBUIÇÕES DA AUDITORIA INTERNA Para as empresas que possuem a função de auditoria interna, indagou-se se fazia parte de suas atribuições a verificação do cumprimento das normas operacionais. A totalidade dos pesquisados que possuem esta função respondeu que sim. Buscou-se saber quais seriam as outras funções da auditoria interna. Os pesquisados informaram que são: (i) verificar o cumprimento dos normativos internos (56%); (ii) a identificação de fraudes (11%); e (iii) a presença da auditoria interna visitando os diversos setores das empresas é uma forma de demonstrar que a administração está interessada em todos os departamentos (11%). Os outros motivos citados foram identificar pontos vulneráveis nos controles internos e otimizar o processo e agregar valor à organização. Estas respostas evidenciam um novo enfoque para as funções de auditoria interna, ou seja, a preocupação não é mais a busca de fraudes e/ou erros e descumprimento de normativos internos, e sim a melhoria dos controles internos e o gerenciamento das áreas de risco importantes para a organização como um todo. 4.5.4 TRATAMENTOS AOS PONTOS IDENTIFICADOS PELA AUDITORA INTERNA Perguntou-se quais os procedimentos executados pelos gestores relativamente aos pontos identificados pela auditoria interna. Os pesquisados responderam que esses pontos são utilizados como base para melhoria dos controles internos (62%) e que são discutidos com as respectivas áreas (38%). Estas respostas evidenciam uma preocupação dos gestores com a melhoria dos controles internos. Isto também é evidenciado com o nível de respostas sobre a discussão dos pontos identificados com os gestores das respectivas áreas. 4.5.5 FUNÇÃO DA AUDITORIA EXTERNA Indagou-se se estas empresas são auditadas por auditores independentes. A totalidade dos pesquisados informou que sim. Importante observar que nem todas as 17 empresas selecionadas para a pesquisa, assim como as empresas que responderam ao questionário são obrigadas a ter auditoria externa. Isso evidencia a preocupação dos administradores em demonstrar transparência aos usuários de suas demonstrações financeiras. A EFICÁCIA DO SISTEMA DE CONTROLE INTERNO DAS GRANDES EMPRESAS LOCALIZADAS NO ESTADO DO CEARÁ 4.5.6 TRATAMENTOS 23 AOS PONTOS IDENTIFICADOS PELA AUDITORIA EXTERNA Questionou-se quais os tratamentos dados pelos gestores em relação aos pontos de melhoria dos controles internos identificados pela auditoria externa. Os pesquisados responderam que estes pontos são discutidos com as áreas responsáveis, buscando identificar o motivo das deficiências (58%) e que são utilizados como base para melhoria dos controles internos (42%). 5 CONCLUSÃO Em razão dos recentes escândalos financeiros ocorridos em grandes empresas mundiais, sem esquecer as quebras de diversas instituições financeiras brasileiras, ocorridas em meados do século passado, julgou-se relevante efetuar uma pesquisa sobre qual a importância que as empresas dão aos seus sistemas de controles internos. O trabalho foi focado nas grandes empresas localizadas no Estado do Ceará. O problema proposto na pesquisa tinha por objetivo identificar o que os administradores fazem para assegurar que os controles internos estão funcionando eficazmente na coleta de dados e geração de informações. A pesquisa, de forma conclusiva, indica que os trabalhos desenvolvidos pelas auditorias internas e externas asseguram que os controles internos estão funcionando adequadamente; que investimento em tecnologia da informação procura eliminar deficiências no funcionamento dos controles internos; e que a análise efetuada pelos administradores sobre o fluxo de caixa identifica possíveis falhas nos controles internos. Sabe-se que as empresas pesquisadas, por representarem as maiores empresas do Estado do Ceará, estão mais bem preparadas e preocupadas com os sistemas de controle interno. Indaga-se então se as mesmas preocupações estão presentes nas pequenas e médias empresas. Esta é a pesquisa sugerida: o nível de preocupação das pequenas e médias empresas do Estado do Ceará com os controles internos. 24 PAOLO GIUSEPPE LIMA DE ARAÚJO SANDRA MARIA DOS SANTOS Referências BALANÇO ANUAL 2003. São Paulo: Gazeta mercantil, ano XXVII, nº 27, setembro/2003. BOYNTON, William C., JOHNSON, Raymond N., KELL, Walter G. Auditoria. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2002. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Normas brasileiras de contabilidade. NBCT 11 – Normas de Auditoria Independente das Demonstrações Contábeis, 2000a. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Normas brasileiras de contabilidade. NBCT 12 – Da Auditoria interna, 2000b. CARDOZO, Júlio Sérgio S. Controles Internos. Revista brasileira de contabilidade. São Paulo: v. 23, n. 87, p. 32-41, jun. 1994. CATELLI, Armando. Controladoria: uma abordagem da gestão econômica. 2. ed., São Paulo: Atlas, 2001. EXAME MELHORES E MAIORES. São Paulo: Abril, julho/2003. FIGUEREIDO, Sandra. CAGGIANO, Paulo César. Controladoria: teoria e prática. 2. ed., São Paulo: Atlas, 1997. SANCOVSCHI, Moacir. Reengenharia de Processos e Controle Interno: uma avaliação comparativa, RAE ñ Revista de administra˘ıo de empresas. São Paulo, v. 39, n. 2, p. 64-77, Abr./Jun. 1999. SANTOS, A. R. dos. Metodologia cientˇfica: a construção do conhecimento. Rio de Janeiro: DP&A, 1999. A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL E A FILANTROPIA UM ESTUDO COMPARATIVO HUMBERTO FERREIRA ORIÁ FILHO1 VINÍCIUS DE CASTRO ALVES SAMPAIO2 RESUMO: O presente trabalho objetiva diferenciar práticas de Responsabilidade Social de filantropia, introduzindo que muitas vezes estes conceitos são confundidos pela sociedade, assim como utilizados de forma errada por empresas com o intuito de promover uma falsa imagem de empresa cidadã. São apresentados vários entendimentos de autores distintos do que vem a ser Responsabilidade Social, um termo relativamente novo, mas que vem ganhando destaque cada vez maior no meio empresarial, e em seguida é feita uma diferenciação com a filantropia, que está associada à caridade e humanidade. O artigo conclui que os conceitos das duas terminologias são distintos, pois a filantropia é uma ação isolada, podendo ou não fazer parte de uma ação maior, ao passo que Responsabilidade Social envolve toda uma postura de relacionamento de empresas com a sociedade, os stakeholders e o meio ambiente. PALAVRAS-CHAVE: Responsabilidade Social. Filantropia. Ação. ABSTRACT: This paper aims distinguishing Social Responsibility practices of charity, introducing that quite often these concepts are misused by society, as such as altered by companies in order to promote a false image of social commitment. Various understandings of distinct authors are presented in this paper clarifying the concept of Social Responsibility, a relatively new expression but that has been gaining greater evidence in the business market; and in the following it is presented a differentiation with charity that is associated with donations and humanity. This paper concludes that the concepts of charity and Social Responsibility are distinct, as charity is an isolated action, of which may or may not be a part of a greater action, and that Social Responsibility involves a complete model of relationship of companies with society, stakeholders and environment. KEY WORDS: Social Responsibility. Charity. Action. 1 Administrador, Contador, Economista e pós-graduado em Auditoria Interna. Mestrando profissional em Controladoria pela Universidade Federal do Ceará. Coordenador da Auditoria Interna da Unimed de Fortaleza. Professor da Faculdade Farias Brito (FFB). 2 Contador, administrador e mestrando profissional em Controladoria pela Universidade Federal do Ceará. Sócio da Trust Consultoria Empresarial. 26 HUMBERTO FERREIRA ORIÁ FILHO VINÍCIUS DE CASTRO ALVES SAMPAIO SAMPAIO INTRODUÇÃO Atualmente, falar sobre o tema Responsabilidade Social Empresarial (RSE) está em voga tanto no cotidiano empresarial como também em tópicos de estudo e debate nas ciências administrativas, entretanto é preciso tomar cuidado para não confundi-la com a filantropia. Geralmente, os gestores empresariais e a população como um todo não têm bem claro e preciso o significado destes conceitos e, muitas vezes, os utilizam como meros sinônimos. O uso incorreto é explorado especialmente pelo meio empresarial através da promoção de imagem de empresas cidadãs. Como comentado neste trabalho, muitas vezes algumas empresas extrapolam e vão além nas estratégias de marketing, vendendo uma falsa imagem de filantropia e empresa socialmente responsável, quando muitas vezes estão apenas utilizados artifícios fiscais permitidos em lei, que concede a estas empresas o redirecionamento de despesas com impostos para projetos sociais. A legislação fiscal brasileira apresenta uma série de incentivos, para que empresas tomem a dedutibilidade de investimentos na área social para determinados impostos. Como exemplo, vale citar a Lei Rounet, a qual possibilita que Pessoas Jurídicas doem até 4% do Imposto de Renda (IR) para programas culturais, previamente aprovados por uma comissão avaliadora mantida pelo Ministério da Cultura; a Lei do Audiovisual, que autoriza o repasse de até 3% de IR devido por Pessoas Físicas ou Jurídicas para projetos de filmes e/ou documentários que tenham passado pelo aval técnico da Agência Nacional do Cinema (ANCINE), com doação limite de R$ 3 milhões por projeto; o financiamento programas assistenciais, através do Funcriança, que permite a dedução de 6% do Imposto de Renda de Pessoa Física e 1% de pessoas jurídicas, dentre outras leis federais e estaduais. O presente trabalho acadêmico procura responder à seguinte questão: Qual a diferenciação entre Responsabilidade Social e filantropia, no âmbito das empresas? Em vista disso, objetiva-se realizar um estudo comparativo entre estas duas terminologias “Responsabilidade Social Empresarial” e “filantropia”, destacando suas diferenças e semelhanças, assim como esclarecer o emprego de ambas de forma ética e coerente por parte tanto das empresas como da sociedade. O referencial teórico será principalmente os artigos e textos publicados por órgãos reconhecidamente ligados à Responsabilidade Social. A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL E A FILANTROPIA UM ESTUDO COMPARATIVO 1 27 FILANTROPIA A palavra filantropia, sinônimo de caridade e humanidade, vem cada vez mais sendo inserida na sociedade brasileira, como uma obrigação social onde indivíduos e entidades jurídicas passam a cobrar um dos outros, no intuito de atenuar as desigualdades sociais e incapacidade do governo, em todas as instâncias, de adotar medidas que venham ao menos aliviar as necessidades básicas primárias de setores mais desprivilegiados. Como muito bem diz Grajew (2005): É uma prática louvável e salutar, sem dúvida alguma, e deve ser enaltecida. No entanto, após tantos anos de filantropia – até programas de televisão a incentivam, o País ainda não foi capaz de deixar de condenar milhões de cidadãos à miséria absoluta. Apesar do desenvolvimento econômico e de toda a colaboração que a sociedade proporciona a seus excluídos na forma de donativos, o Brasil continua sendo o segundo maior país do mundo em termos de desigualdade social. É bem verdade que a prática da filantropia é importante e sempre traz algum tipo de conforto para os desvalidos, sobretudo num país de população tão carente como o Brasil. Mas ela não é suficiente para substituir políticas públicas. Nos moldes em que é realizada acaba se tornando um paliativo para o grave quadro social, porque, em muitos casos, não busca a continuidade das ações e se concentra, geralmente, em promoções episódicas, como campanhas de agasalho no inverno e arrecadações de brinquedos no período natalino. No meio empresarial, o que se tem visto muitas vezes são ações de financiamento de projetos, como por exemplo assistenciais a crianças e adolescentes, ganhando a conotação de filantropia, e toda uma venda excessiva de imagem e divulgação da empresa pela ação realizada. No entanto, conforme comentado no tópico anterior, observa-se, em considerável parcela destes casos, que as empresas estão realizando é apenas uma realocação de forma mais direta de despesas com impostos, conforme permitido em lei. Esse tipo de atitude é no mínimo uma postura antiética, pois distorce a essência da ação e visa o benefício próprio do empreendedor. 28 2 HUMBERTO FERREIRA ORIÁ FILHO VINÍCIUS DE CASTRO ALVES SAMPAIO SAMPAIO RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL Oriá Filho (2002), em relação à Responsabilidade Social, explica o seguinte: Apenas duas palavras, mas que juntas estão provocando uma grande repercussão e reviravolta nas consciências empresariais dos dias atuais, em todo o mundo. Entretanto, no Brasil, apesar da crescente divulgação, ainda muito pouco se fala sobre este tema e, com certeza, a sua concretização na prática é ainda muito restrita. Como se diz, as mudanças comportamentais sempre caminham a passos lentos. Num ambiente globalizado, os vencedores, contudo, serão aqueles que partirem na frente. A empresa socialmente responsável é aquela que, além de ser ética nos seus negócios, preocupa-se com questões sociais da comunidade a que está inserida, bem como de seus colaboradores internos (empregados). Ou seja, é um composto de consciência e competência, em que os objetivos estratégicos são alinhados com os mais relevantes interesses da sociedade. As práticas socialmente responsáveis, portanto, são geradoras de valores para todos. Foi-se o tempo que o consumidor brasileiro levava somente em conta o preço e a qualidade do produto na hora de fazer suas compras. Nos dias atuais, influenciado pelo conceito de Responsabilidade Social, começam-se a levar em conta a ação social das empresas. É o que comprova os dados da pesquisa do Instituto Ethos e do Valor Econômico, realizada pela Indicator Opinião Pública, em 11 regiões metropolitanas, com 1.002 pessoas entrevistadas, em 2001: 31% dos consumidores prestigiaram e/ou puniram empresas com base nas suas avaliações sobre a prática da Responsabilidade Social. 24% compraram produtos de empresas por causa de sua atuação social, enquanto 19% deixaram de comprar produtos de empresas que descuidam da sua ação social. Para 51% dos entrevistados, a imagem da empresa está relacionada à qualidade do tratamento dispensado aos funcionários e à conduta ética nos negócios. 73% se negariam a comprar produtos de uma empresa envolvida em corrupção e 53% teriam a mesma atitude em relação a uma empresa que utilizasse mão-de-obra infantil. A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL E A FILANTROPIA UM ESTUDO COMPARATIVO 29 Tal fato é reforçado por SEBRAE (2005): Tempos atrás, bastava às empresas oferecer bons produtos e serviços e tratar de forma ética seus fornecedores e parceiros para obter uma boa imagem perante o mercado. Com o tempo, as exigências foram aumentando e passou a ser necessário possuir uma política de recursos humanos e dar atenção adequada aos funcionários. A cada nova exigência do mercado, a fim de se manterem admiradas e respeitadas, as empresas passaram a ter que criar estruturas internas e formalizar ações que atendessem a essas exigências. A palavra de ordem atual passou a ser comunidade. Começamos a prestar atenção na forma como as empresas se relacionam com a comunidade a sua volta, não simplesmente respeitando-a, mas atuando de forma ativa para ajudá-la. É uma nova consciência do contexto social e cultural no qual se inserem as empresas, a chamada responsabilidade social. A responsabilidade social está, portanto, intimamente ligada à imagem que as empresas querem ter perante o mercado. Pode-se ainda questionar: Por que as empresas devem exercer a Responsabilidade Social? São vários os motivos, entre eles: porque é uma vantagem competitiva; um determinante para o sucesso mercadológico; uma questão de estratégia financeira e de sobrevivência empresarial; um atributo imprescindível para uma empresa moderna (conceito de empresa cidadã); um importante instrumento para reduzir as desigualdades sociais; uma sinergia entre Estado e a Sociedade na solução para problemas de exclusão social; um efetivo agente de transformação social (ORIÁ FILHO, 2002). Há uma preocupação cada vez maior das empresas em vincular sua imagem à noção de Responsabilidade Social. Esta nova postura, chamada empresa cidadã, baseada nos princípios éticos e morais, torna-se hoje um paradigma e um desafio a ser alcançado (ORIÁ FILHO, 2002). Importante realçar também que este levantamento realizado pelo Instituto Ethos, em 2000, na pesquisa denominada “Responsabilidade Social das Empresas – Percepção do Consumidor Brasileiro”, onde o comportamento social empresarial é bastante prestigiado. Os resultados 30 HUMBERTO FERREIRA ORIÁ FILHO VINÍCIUS DE CASTRO ALVES SAMPAIO SAMPAIO desta pesquisa são bem animadores. Para 43% dos entrevistados, colaborar com escolas, instituições e entidades sociais da comunidade civil é uma atitude que estimula a compra de produtos da empresa, e faz com que ela seja recomendada aos amigos. Em 2001, a mesma pesquisa demonstrou que essa é uma tendência, já que, na apuração destes dados, praticamente o mesmo percentual de consumidores respondentes (42%) considerou que esse tipo de colaboração ou ajuda só aumenta o prestígio e as vendas das empresas que a pratica. Segundo o Instituto Ethos (2005), Responsabilidade social empresarial é uma forma de conduzir os negócios que torna a empresa parceira e co-responsável pelo desenvolvimento social. A empresa socialmente responsável é aquela que possui a capacidade de ouvir os interesses das diferentes partes (acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio ambiente) e conseguir incorporá-los ao planejamento de suas atividades, buscando atender às demandas de todos, não apenas dos acionistas ou proprietários. Explica o seguinte Denise Teles, sobre a questão da Responsabilidade Social das empresas: Há uma palavra repetida por todos os que se propõem a definir o que é responsabilidade social de empresas: stakeholders, assim mesmo em inglês, usada para abranger o conjunto formado por acionistas, empregados, comunidade e meio ambiente. É para eles que se voltam as ações de responsabilidade social das empresas (TELES, 2005). Conforme Judi Cavalcante, diretor-executivo adjunto do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife), desenvolver projetos sociais não é fundamental. Eis o que ele explica sobre Responsabilidade Social: A responsabilidade social tem duas dimensões, uma externa e outra interna. Se a responsabilidade social, como infelizmente acontece em muitos casos, for praticada somente das portas para fora da empresa, vai haver uma grande contradição e uma falta de sustentação. Em primeiro lugar, a empresa tem que praticar a responsabilidade social com seus empregados. E depois, A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL E A FILANTROPIA UM ESTUDO COMPARATIVO 31 praticá-la diante da sociedade, dos clientes e do governo. É aceitável que uma empresa se preocupe com todos os outros itens da responsabilidade social, como cuidados com o meio ambiente e benefícios aos seus funcionários, e não faça investimentos sociais. O problema, para ela, é que não repercute na mídia (apud TELES, 2005). Carolina Frazon Terra, professora do curso de Relações Públicas da Universidade de Santo Amaro (UNISA) e mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da ECA/USP, faz as seguintes considerações sobre o tema da Responsabilidade Social Empresarial: Contudo, questionamos: a responsabilidade social empresarial é um exercício comprometido ou é um modismo, um discurso vazio? Isso porque, para ser socialmente responsável, a empresa deve cumprir uma série de obrigações que incluem uma relação saudável com funcionários e com todos os públicos a ela ligados, obediência às leis, comunicação ética e transparente, preservação do meio ambiente, fabricação de produtos com qualidade e não lesivos à sociedade, e deixar que a dimensão mercadológica seja superada pela social, não alardeando atos benemerentes praticados e não se valendo disso. Esperamos que não seja um modismo e sim uma condição sine qua non para a existência da organização e, mais, que seja uma tendência de âmbito mundial que minimize as diferenças sociais gritantes e vergonhosas em pleno século XXI (TERRA, 2005). Para Edward Wolff, que é engenheiro, professor universitário e redator de Mídia Sem Máscara, a Responsabilidade Social está atrelada ao indivíduo e não às organizações: Há uma moda relativamente nova nas empresas privadas brasileiras, envolvendo funcionários e diretores. É a chamada “responsabilidade social”. Ora, o que vem a ser isso? Se nos detivermos por um instante na tentativa de compreender o que significa essa expressão, descobriremos que sua essência vai de encontro aos interesses dos próprios empresários e seus funcionários. O conceito de “responsabilidade” pode ser encarado de duas formas. A acepção normal diz que “responsabilidade” é a 32 HUMBERTO FERREIRA ORIÁ FILHO VINÍCIUS DE CASTRO ALVES SAMPAIO SAMPAIO obrigação de responder por suas próprias ações. Por exemplo: se eu não estudar para os exames e for reprovado, sou responsável por isso; se eu mato alguém sem motivo aparente, sou responsável pelo crime e devo pagar; se bato meu carro em um poste, sou responsável pelo acidente e devo reembolsar o Estado pelos prejuízos causados. Em resumo, é aquilo que o povo chama de “ser responsável pelos seus próprios atos”. Trata-se de algo inerentemente saudável e adulto, pois envolve a honestidade e a integridade de admitir a verdade, arcando com os bônus e os ônus de suas ações. Mas responsabilidade também pode ser entendida como uma obrigação de responder por atos de outrem. É como o pai responsável pelos filhos, o motorista responsável pelos passageiros, o médico responsável pelo paciente. Não obstante, em qualquer uma de suas acepções, o agente das ações praticadas é sempre o indivíduo (WOLFF, 2005). Kreitlon (2004) explica que a Responsabilidade Social está dividida basicamente em 3 (três) escolas de pensamento: – a Business Ethics (Ética Empresarial), referente à abordagem ética ou normativa, que se baseia na idéia que a empresa e suas atividades estão sujeitas ao julgamento ético e que a Responsabilidade Social da empresa decorre diretamente de sua responsabilidade moral. Nesta época, a idéia de Responsabilidade Social dissocia-se progressivamente da noção discricionária de filantropia; – a Business & Society (Mercado e Sociedade), com uma abordagem contratual, que parte sobre três grandes pressupostos: a) a empresa e sociedade são parte de um mesmo sistema; b) ambas estão ligadas entre si por um contrato social; c) a empresa está sujeita ao controle por parte da sociedade; e – a Social Issues Management (Gestão de Questões Sociais), numa abordagem utilitarista, também está atrelada a três argumentos principais: a) a empresa pode tirar proveito das oportunidades de mercado decorrentes de transformações nos valores sociais, se souber antecipar-se a eles; b) o comportamento socialmente responsável pode garantir-lhe uma vantagem competitiva; c) uma postura proativa permite antecipar-se a novas legislações ou mesmo evitá-las. A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL E A FILANTROPIA UM ESTUDO COMPARATIVO 3 FILANTROPIA EMPRESARIAL X RESPONSABILIDADE 33 SOCIAL Não existe uma conceituação muito clara e definida a respeito do que seja Responsabilidade Social. Geralmente, por isso, as pessoas acabem confundindo o termo filantropia com Responsabilidade Social, entretanto estas duas questões são bem distintas. Pode-se dizer que uma das principais diferenças entre os dois termos, é que a filantropia é estática, pois se dá o recurso ou bem e se acaba o seu comprometimento com aquela ação. Já a Responsabilidade Social demanda gerenciamento e acompanhamento daquele recurso ou bem. É algo que tem caráter contínuo e permanente. César Delmas (2005), Diretor de Recursos Humanos – CITi, nos lembra que “infelizmente, muitos ainda confundem responsabilidade social com filantropia. Ser socialmente responsável faz parte de uma conjuntura muito maior, cuja essência é a forma com que a empresa trata seus stakeholders, valorizando seus relacionamentos e a atuação dos seus colaboradores”. No Fórum Social Mundial 2005, levantou-se os seguintes questionamentos sobre este assunto: “Qual é a diferença entre filantropia e responsabilidade social? Pode ser considerada socialmente responsável a empresa que respeita os direitos trabalhistas e os do consumidor, mas polui o meio ambiente? Qual é o compromisso da organização empresarial com as comunidades que vivem próximas à sua sede?” (FSM, 2005). Uma parte destas questões é respondida da seguinte maneira no site do Fórum Social Mundial: De acordo com o presidente do Instituto Ethos, Oded Grajew – um dos idealizadores e membro do Comitê Organizador e do Conselho Internacional do FSM –, existe uma confusão entre os conceitos de Responsabilidade Social e filantropia. Esta última remete a ações externas das organizações empresariais, em benefício de determinada comunidade ou grupo social, enquanto a primeira tem um objetivo estratégico e está, necessariamente, incorporada à cadeia de negócios da empresa. 34 HUMBERTO FERREIRA ORIÁ FILHO VINÍCIUS DE CASTRO ALVES SAMPAIO SAMPAIO “A filantropia é apenas parte da Responsabilidade Social. Mas não adianta promover uma ação social isolada, se a companhia joga lixo no rio ou é conivente com atos de corrupção”, exemplifica Grajew. O conceito de Responsabilidade Social também não se confunde com o de marketing social, cujo principal objetivo é alavancar os negócios da empresa através da divulgação de uma imagem positiva perante a opinião pública e o consumidor (FSM, 2005). Para o Instituto Ethos (2005), a diferenciação destes dois conceitos, pode ser assim exposta: A filantropia é basicamente uma ação social externa da empresa, que tem como beneficiária principal à comunidade em suas diversas formas (conselhos comunitários, organizações não-governamentais, associações comunitárias etc) e organizações. A responsabilidade social é focada na cadeia de negócios da empresa e engloba preocupações com um público maior (acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio ambiente), cuja demanda e necessidade a empresa deve buscar entender e incorporar aos negócios. Assim, a responsabilidade social trata diretamente dos negócios da empresa e de como ela os conduz. Esta diferenciação é ainda mais esclarecida num texto de Denise Telles. Eis o trecho que esta autora fala a este respeito: “Filantropia é um elemento importante da atuação social da empresa, mas é apenas isso, um elemento que faz parte de algo muito maior. É como comparar o motor do automóvel com o automóvel”, diz Felipe Cajiga, diretor de responsabilidade social do Centro Mexicano de Filantropia (Cemefi), uma ONG que, apesar do nome, não se dedica apenas à caridade. Assim, a responsabilidade social abrange não apenas ações sociais desenvolvidas pelas empresas, mas a forma como elas tratam seus empregados, a transparência com que se revela para seus acionistas e as políticas que desenvolve para não agredir o meio ambiente (TELLES, 2005). A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL E A FILANTROPIA UM ESTUDO COMPARATIVO 35 Para a Fundação CSN (2005), esta diferenciação é assim explicada: Filantropia é um termo cada vez mais em desuso, pois é freqüentemente associado às antigas práticas de relacionamento com a Comunidade (e não com todos os stakeholders, como no caso da Responsabilidade Social Empresarial), onde não raro o que se fazia eram ações pontuais e não projetos de longo prazo, baseados em diagnósticos de reais necessidades e constante processo de avaliação dos mesmos, a fim de corrigir rumos e aprimorar as tecnologias sociais. Utilizando-se das fontes bibliográficas européias, tem-se a seguinte visão desta diferenciação: Muitas vezes, e durante muito tempo, erradamente, confundiu-se a Responsabilidade Social com acções de filantropia ou de mecenato, acções pontuais e muitas vezes desligadas do objecto de negócio da empresa. Naturalmente, estas acções podem fazer parte da Responsabilidade Social de uma empresa mas, por si só, não tornam uma empresa socialmente responsável. O caminho da Responsabilidade Social é algo de muito mais metódico e sistemático, precisamente porque é central e transversal a toda a actuação da empresa. Para começar este percurso é preciso fazer um diagnóstico, inventariar todos os potenciais impactos negativos da actividade, ouvir as partes interessadas e fazer um plano que estará, naturalmente, sempre em evolução e em mudança. A empresa torna-se socialmente responsável à medida que concretiza esse plano, à medida que concretiza essa genuína vontade de participação e mudança (SAIR DA CASA, 2005). Para Carolina Frazon Terra, simplesmente a filantropia é entendida como a prática da ação social sem alarde, enquanto que a Responsabilidade Social empresarial é, atualmente, a prática de ações sociais objetivando visibilidade pública e retorno de imagem aos acionistas ou investidores do projeto. 36 4 HUMBERTO FERREIRA ORIÁ FILHO VINÍCIUS DE CASTRO ALVES SAMPAIO SAMPAIO CONCLUSÃO Este trabalho apresentou diversos entendimentos do que consiste Responsabilidade Social e filantropia. Em linhas gerais, pode-se entender que a filantropia é como um ato isolado de boa ação e humanitário, ao passo que a Responsabilidade Social é algo muito maior e compreende toda uma postura formada entre empresas e sociedade como um todo, incluindo os stakeholders e meio ambiente. Poderá existir sim um conjunto de ações com caráter de filantropia, mas que no todo fazem parte de toda uma estratégia de Responsabilidade Social de entidades jurídicas distintas. Essa seria uma das situações em que as duas terminologias poderiam estar próximas, mas nunca serem confundidas. Vale frisar e chamar a atenção para que a sociedade não se deixe confundir acerca de algumas medidas, sob o contexto de filantropia ou de práticas oriundas da política de Responsabilidade Social de uma empresa, com um falso marketing social, quando empresários, ao se utilizarem dos benefícios concedidos em lei, promovem o nome de suas empresas, sob a ótica de empresas cidadãs, quando nada mais concedem em aporte financeiro, do que poderiam terem doado, caso o governo não tivesse criado brechas na legislação fiscal incentivando o financiamento de projetos assistenciais, culturais, dentre outros. Enfim, caberá à sociedade não só distinguir e avaliar as empresas, que efetivamente estão preocupadas com os aspectos sociais e ambientais, como também se opor e avaliar as falsas propagandas, com intuito de ludibriar consumidores, que costumam levar em conta boas práticas de Responsabilidade Social. É fato que essa constatação é um tanto difícil, pois, geralmente, em se tratando de redirecionamento de despesas tributárias, essa análise só poderia ser efetuada analisando em detalhes a apuração de determinados impostos das empresas, especialmente os federais. No entanto, vale o alerta e o ceticismo de determinadas informações que são lançadas publicamente, especialmente de empresas lucrativas, como exclusivamente de projetos de Responsabilidade Social. A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL E A FILANTROPIA UM ESTUDO COMPARATIVO 37 Referências CONSELHO EMPRESARIAL BRASILEIRO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. Relatðrio de sustentabilidade empresarial. [S.l.]: Três, 2004. DELMAS, César. CETi & responsabilidade social. Disponível em: <http://www.cin. ufpe.br/~citi/PortalFinal/portal/interna-responsabilidadesocial.html>. Acesso em: 09. out. 2005. FORMENTINI, Márcia; OLIVEIRA, Tiago Mainieri. ⁄tica e responsabilidade social – repensando a comunicação. Artigo – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. FSM - FORUM SOCIAL MUNDIAL. Em debate, a ˚tica das corpora˘þes. Disponível em: <http://www.forumsocialmundial.org.br/dinamic.php?pagina=rel_resp_ soc_2005_po>. Acesso em: 09. out. 2005. FUNDAÇÃO CSN. Dvidas. Disponível em: <http://www.fundacaocsn.org.br/ portugues/geral/duvidas/duvidas.php#pergunta85>. Acesso em: 09. out. 2005. GRAJEW, Oded. Filantropia e responsabilidade social. Disponível em: <http:// www. filantropia.org/artigos/oded_grajew.htm>. Acesso em 09. 0ut. 2005. INSTITUTO ETHOS. Perguntas freq•entes. Disponível em: <http://www.ethos. org.br/DesktopDefault.aspx?TabID=3344&Alias=Ethos&Lang=pt-BR>. Acesso em: 09. out. 2005. KANITZ, Stephen. Os 11 mandamentos da responsabilidade social. Disponível em: <http://www.filantropia.org/artigos/kanitz_responsabilidade_social.htm>. Acesso em: 09. out. 2005. KREITLON, Maria. A ética nas relações entre empresas e sociedade: fundamentos teóricos da responsabilidade social empresarial. In: Encontro da Associa˘ıo Nacional de Pesquisa e Pðs-Gradua˘ıo em Administra˘ıo, 28, Curitiba, Anais... Paraná: Curitiba, 2004. CD ROM. ORIÁ FILHO, Humberto Ferreira. Responsabilidade Social. Unimed Fortaleza em revista, Fortaleza, ano I, n° 1, out. 2002. SAIR DA CASA. Introdu˘ıo. Disponível em: <http://www.sairdacasca.com/ respsocial introducao.asp>. Acesso em: 09. out. 2005. SEBRAE. Responsabilidade social. Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/ br/ parasuaempresa/responsabilidadesocial.asp>. Acesso em: 09. out. 2005. TELLES, Denise. Saiba o que ˚ responsabilidade social de empresas. Disponível e m : < h t t p : / / w w w. b b c . c o . u k / p o r t u g u e s e / n o t i c i a s / s t o r y / 2 0 0 3 / 0 9 / 030922_definecsr.shtml>. Acesso em: 09. out. 2005. 38 HUMBERTO FERREIRA ORIÁ FILHO VINÍCIUS DE CASTRO ALVES SAMPAIO SAMPAIO TERRA, Carolina Frazon. As rela˘þes pblicas e sua fun˘ıo social no gerenciamento da responsabilidade social corporativa. Disponível em: <http:// www.comtexto.com.br/2convicomrpcomrpfuncaosocialCarolinaTerra.htm>. Acesso em: 09. out. 2005. TINOCO, João E. Prudêncio; KRAEMER, Maria E. P. Kraemer. Contabilidade e gestıo ambiental. São Paulo: Atlas, 2004. WOLFF, Eduard. A responsabilidade social dos empresÛrios: lucrar. Disponível em: <http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=840>. Acesso em: 09. out. 2005. O PAPEL DO CATADOR DE MATERIAIS RECICLÁVEIS NA CIDADE PÓS-MODERNA LÍDIA VALESCA PIMENTEL1 RESUMO: O presente artigo realiza uma reflexão acerca da situação dos catadores de materiais recicláveis, entendendo-os como um fenômeno urbano, intrinsecamente relacionado com a conjuntura socioeconômica do país e com o destino que é dado aos resíduos sólidos presentes nas metrópoles. A exacerbação do consumo é uma das características da cidade pós-moderna, é nela que residem os catadores de materiais recicláveis que, paradoxalmente, sobrevivem de seus “restos” em situação de extrema pobreza. PALAVRAS-CHAVE: Cidade. Pós-modernidade. Catadores de Materiais Recicláveis. Desemprego. Exclusão Social. ABSTRACT: This article proposes a reflexion about the situation of recycable litter pickers, taking it as an urban fenomena, intrinsecly related to socialeconomic conjuncture of a country and to the final use which is given for solid residue found in big cities. The high consumption, one of characteristics of posmodern cities, is where the litter pickers live, who paradoxially survive from their "remains" in extrem poor conditions. KEY WORDS: City. Pos-modern. Recyclable Material Picker. Unapployment, Social Exclusion. INTRODUÇÃO Quando realizei a consultoria ao diagnóstico da situação socioeconômica e cultural dos catadores de materiais recicláveis em Fortaleza, coordenada pelo setor de pesquisa do Instituto Municipal de Pesquisa, Administração e Recursos Humanos, IMPARH, órgão da prefeitura de Fortaleza, pensei desde o início como dar um retorno aos meus alunos, aos estudiosos, pesquisadores de modo geral. Tarefa maior do que compilar e analisar dados. Acho que este artigo pode ser um desdobramento do relatório da pesquisa, dos tantos que outros pesquisadores poderão fazer ao se deparar com o diagnóstico. 1 Lídia Valesca Pimentel é doutora em Sociologia, professora de Sociologia e Antropologia da Faculdade Farias Brito, realizou a consultoria geral da pesquisa “Diagnóstico socioeconômico e cultural dos catadores(as) de materiais recicláveis de Fortaleza”, publicado pelo IMPARH. 40 LÍDIA VALESCA PIMENTEL Este artigo também é fruto de reflexões acerca de uma cidade com tantas contradições sociais e o modo como os sujeitos, principalmente aqueles que ocupam os espaços públicos, utilizam a rua como forma de sobrevivência. Os catadores de materiais recicláveis apareceram no cenário da cidade nos tempos atuais. Eles eram os “garrafeiros”, homens que passavam nas residências comprando ferro-velho, vasilhames de vidro vazios. Eu mesma vendi várias vezes os litros de refrigerantes e bebidas a fim de apurar alguns centavos quando eu era menina no Bairro Parquelândia. Hoje, os catadores de materiais recicláveis são muitos, não se tem um universo estaticamente definido, mas há uma estimativa dada pelo Fórum do Lixo e Cidadania de que existam 6 a 8 mil pessoas em Fortaleza catando do lixo materiais que são vendidos a depósitos e esses à indústria de reciclagem. O olhar dos poderes públicos para esse segmento social também é um movimento recente. Os catadores de materiais de reciclagem caminham por toda a cidade, vencem longas distâncias entre o seu destino e a sua chegada. Eles arriscam a sorte, driblam o trânsito intenso da cidade, incomodam a muitos com o seu aspecto rude, com sua diferença. Sempre disse em sala de aula que, em Fortaleza, há um medo crônico da pobreza. É um medo social, do diferente. Não estou descartando o medo paralisante da violência que assusta a todos, sejam ricos ou pobres. A existência do catador de material reciclável tem a ver com a cidade, porque a cidade tem a ver com o consumo, essa pode ser a contribuição que pode surgir, para além de um relatório técnico de pesquisa. Essa é a razão desse artigo, pensar sobre um segmento social cada vez mais comum nos grandes centros urbanos, seu impacto ao meio ambiente e à cidade. 1 A CIDADE E O CONSUMO Vivemos hoje num mundo globalizado, de relações econômicas de interdependência, sob os auspícios de uma Segunda Revolução Industrial, marcada, fundamentalmente, pela automatização e robotização dos processos produtivos. Se por um lado acelerou-se a produção, podendo-se de forma eficiente e veloz alcançar metas anteriormente chegadas apenas com o esforço humano, hoje realizado por máquinas de alta resolução, a automação dispensou milhares de operários, desencadeando uma onda de desempregos, marcando de forma brutal o final do século XX no Brasil. O PAPEL DO CATADOR DE MATERIAIS RECICLÁVEIS NA CIDADE PÓS-MODERNA 41 Fortaleza, capital do Ceará, é uma metrópole com população de aproximadamente 2,5 milhões de habitantes, sendo a quinta capital mais populosa do Brasil. Os seus parques industriais, sediados em Maracanaú e Horizonte, além de outros de menor envergadura, concentram 15.466 indústrias sediadas e ativas (IBGE, 2000). O comércio atacadista possui 3.567 estabelecimentos, chegando a 66% dos estabelecimentos registrados no Ceará (IBGE, 2000). A cidade possui um centro comercial com um número de 8 mil lojas de pequeno, médio e grande porte que geram 22 mil empregos diretos, arrecadando recursos que representaram – em 2003, 14,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado ou, em outras palavras, cerca de R$144 milhões, segundo dados da organização Ação Novo Centro2. Com a geração de outros “subcentros”, no início da década de oitenta, a descentralização de Fortaleza hoje é uma realidade, e possibilitou a distribuição de atividades comerciais em vários bairros. Notadamente, alguns importantes corredores que se destacam atualmente podem ser representados por regiões comerciais como a Avenida Bezerra de Menezes, que cruza diversos bairros, a Avenida Gomes de Matos / Alberto Magno – no Bairro Montese, a Avenida Monsenhor Tabosa – no Bairro Meireles, a Avenida Santos Dummont, Dom Luís, Barão de Studart e várias outras do Bairro Aldeota e adjacências. Na dinâmica do crescimento dos setores produtivos, o consumo se faz sentir, principalmente, no aumento dos resíduos sólidos. A saturação do aterro sanitário de Jangurussu, desativado desde 1998, Fortaleza destina o seu lixo no aterro metropolitano localizado em Caucaia que tem vida útil estimada até o ano 2010. Em Fortaleza, são coletados de 60 a 90 mil toneladas de lixo por dia3 e reflete, como já foi dito, a capacidade consumidora de sua população que cresce a cada dia. 2 Dados apresentados na 2ª reunião do Fórum sobre o centro de Fortaleza, realizado em 19/03/2004. 3 Segundo dados do Projeto Reciclando, implementado pelo governo do Estado em parceria com o Sindicato de Resíduos Sólidos do Estado do Ceará (Sindiverde) e Sebrae. 42 LÍDIA VALESCA PIMENTEL É na esteia do aumento do consumo que vem surgindo um novo setor na economia – a indústria de reciclagem. No Brasil, o setor da reciclagem vem ao longo da última década em processo franco de expansão. Atualmente, o país é considerado o quarto maior “reciclador” do mundo, somente atrás de nações como Alemanha, Áustria e EUA, o que rende para as 500 indústrias brasileiras de reciclagem, uma receita de R$1,3bilhão4. Esse crescimento somente é barrado pela tímida cultura da coleta seletiva. A questão é quanto mais consumo, mais lixo. Desse modo, podemos concluir que a cidade tem um grande potencial de consumo de bens, mercadorias e serviços. Por conseqüência, quanto maior o consumo, maior a capacidade produtora de lixo. Os consumidores fazem parte de um ciclo que se inicia no próprio consumo, que faz gerar mais produção que, por sua vez, gera mais renda, e faz alcançar novas metas de consumo. Esse ciclo, que faz girar as economias das sociedades industriais parece não ter fim. Por isso, é considerado virtuoso para alguns e para outros, “vicioso” (FERREIRA, 2000). Os detritos gerados pelo ciclo da sociedade de consumo têm deixado os ambientalistas, economistas e gestores receosos de seus desdobramentos futuros, dentre os quais, a degradação do meio ambiente, que pode levar à escassez de matérias-primas. Desse modo, os detritos pós-consumo são uma questão que parece crucial para a sociedade e requer respostas dos gestores públicos, ambientalistas e estudiosos do assunto. O que fazer com a quantidade de resíduos produzidos pelo consumo (bem como pela exacerbação dele)? No Brasil, são produzidas 240 mil ton de lixo por dia, das quais 149 mil ton são coletadas, e tem a seguinte destinação: 59,0% se destinam aos lixões, 16,8% em aterros controlados, 12,6% em aterros sanitários, 3,9% compostagem, 2,8 reciclagem, 2,6% em aterros especiais, 1,8% incineração e 0,5 em áreas alagadas (IBGE, 2000). Segundo Montenegro5, com a população concentrada em centros urbanos, o problema da concentração do lixo em volume é uma questão urgente a ser enfrentada. Quinhentos e vinte e cinco municípios, com mais de 50 mil habitantes geram 80% do lixo no Brasil. Para esse estudioso, as três maiores cidades do Brasil são responsáveis por 32% do lixo urbano coletado. 4 Dados extraídos da Primeira Pesquisa nacional sobre reciclagem feita pelo Instituto Sócio Ambiental Plásticos (Plastivida), sob orientação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 5 Participante do workshop realizado em Brasília nos dias 23 e 24 de fevereiro de 2005. Publicado no estudo do Adensamento tecnológico do Processo em Cadeia da Reciclagem. O PAPEL DO CATADOR DE MATERIAIS RECICLÁVEIS NA CIDADE PÓS-MODERNA 43 Esse é o dilema que a sociedade de consumo terá que enfrentar. O risco de uma “entropia ecológica”, como diz Ferreira (2003) não é mais uma previsão aterrorizante, mas um fato real que se faz sentir nitidamente nas freqüentes respostas que a natureza vem dando sob forma de mudanças climáticas repentinas, possibilidade de derretimento das calotas polares entre outras, como reflete Jacques Cousteau: a sobrevivência deste planeta depende da descoberta de um modo de incorporar a perspectiva a longo prazo – as conseqüências para as futuras gerações – às decisões atuais no governo ou no negócio. Hoje, ninguém parece se preocupar com o futuro. Por quê? As pessoas precisam de informações objetivas. Os governos estão sujeitos às preocupações eleitorais a curto prazo. As empresas estão ocupadas com balanços trimestrais para verificar suas condições financeiras. As Nações Unidas, que deveriam cuidar do futuro, podem apenas dar conselhos, não podem tomar decisões. E, infelizmente, as universidades, refletindo o espírito do mercado, não estão produzindo cidadãos melhores, mas incitando-os a uma espécie de competição feroz, visando apenas ao sucesso e ao dinheiro. (Jacques Cousteau. Jornal O Estado de São Paulo, 22 de setembro de 1996). Podemos afirmar que Fortaleza tem característica de cidade pós-moderna. A cidade “pós-moderna” surge num processo social de construção de novos referenciais, tanto sociais como simbólicos. A imagem se corporifica na cidade pós-moderna, a imagem é tudo. A aquisição de uma imagem (por meio de um sistema de signos com roupas de grife, carro da moda, entre outros) torna-se elemento singularmente importante. “Dada a capacidade de produzir imagens como mercadorias mais ou menos à vontade, é factível que acumulação se processe, ao menos em parte, com base na pura produção e venda da imagem” (HARVEY, 1992, p. 260). A imagem que corporifica a cidade pós-moderna é a exacerbação do consumo. Não são somente mercadorias que são consumidas, mas o espaço torna-se produto, “um nexo fictício, uma imagem que uma larga faixa da população pode comprar, um panorama onírico de consumo visual” (ZUKIN, 2000, p. 82). 44 LÍDIA VALESCA PIMENTEL Na cidade pós-moderna há um paradoxo a ser enfrentado – o desemprego, que apesar de não ser um fenômeno novo, agravou-se de forma tão intensa a partir das últimas décadas no Brasil. As conseqüências podem ser vistas no aumento da criminalidade, na pobreza, na proliferação de favelas, na crescente mendicância, no abandono das crianças, na pauperização de alguns setores sociais, entre eles os catadores de materiais recicláveis. 2 OS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS COMO SUJEITOS SOCIAIS E AMBIENTAIS As contradições oriundas do sistema capitalista, modelo econômico que conduz à apropriação desigual das riquezas, faz de Fortaleza uma cidade dividida em leste e oeste, existe, portanto, duas cidades. Uma cidade do culto ao consumo e cidade da pobreza. Esse contraste pode ser sentido quando cruzamos a cidade e percebemos a cartografia social de Fortaleza, que salta aos olhos dos passantes. A pobreza tem matizes históricos e se encontram na formação urbana da cidade desde o século XIX, perdurando até hoje, reafirmando velhas formas de segregação espacial, da mesma forma que gera novas modalidades, advindas, principalmente, do elevado déficit habitacional que atinge hoje 163.933 pessoas só na Região Metropolitana de Fortaleza6. Em uma perspectiva mais ampla, deve-se levar em consideração este dado com o fato de que quase 700 mil pessoas vivem em favelas em Fortaleza (IBGE, 2000), o que denota a falta de infra-estrutura satisfatória para mais ou menos um terço da população da cidade, potencializando uma tensão social que desemboca na segregação social, que, por sua vez, repercute nos altos índices de violência. É nesse quadro de pobreza extrema que se encontram os catadores de materiais recicláveis. Eles saem, em sua maioria, dos bairros mais pobres e periféricos da cidade, como Jangurussu, Serrinha, São Cristóvão, Antônio Bezerra e Quintino Cunha, com suas carroças pelas ruas da cidade. Eles são andarilhos, não tem destino certo, seguindo a rota do caminhão do lixo, se antecipando a este, nas calçadas onde os citadinos colocam os sacos com o lixo. Sem proteção alguma, os catadores abrem os sacos a procura de algum material que tenha valor para a indústria de reciclagem. 6 Dados oriundos de pesquisa realizada pela Fundação João Pinheiro (Minas Gerais), em 2000. O PAPEL DO CATADOR DE MATERIAIS RECICLÁVEIS NA CIDADE PÓS-MODERNA 45 Os catadores de materiais recicláveis estão no “revesso da vitrine”, pois é do outro lado da opulência que eles se encontram. Catar materiais recicláveis nos sacos de lixo das residências, nos condomínios e empresas é uma forma de resistir a miséria. Caminhando pelas regiões centrais da cidade, homens, mulheres e crianças depositam em suas enormes carroças o material encontrado. A carroça parece um apêndice de seu próprio corpo, ou o corpo, apêndice da carroça. Eles levam os restos fragmentários do desperdiço da cidade, portanto, são depositários desta. O “catador” está na ponta da cadeia produtiva que movimenta o setor de reciclagem e gera riqueza, e reduz o impacto ambiental. É nesse sentido que os catadores de materiais recicláveis podem ser considerados agentes ecológicos. É possível afirmar que os catadores de materiais recicláveis fazem parte da paisagem urbana de Fortaleza. É pouco provável que alguém nunca os tenha visto andando com suas carroças pelas ruas e avenidas da cidade. Eles fazem parte de um contingente populacional ao qual podemos chamar de excluídos sociais, sem direitos a trabalho, habitação, justiça, entre outros direitos. Entre eles são encontrados jovens, mulheres, crianças, idosos, moradores de diversos bairros pobres de Fortaleza, além de moradores de rua que encontram na catação remuneração para o seu sustento e o de sua família. Os catadores estão numa situação de vulnerabilidade social, estão entre os que vivem na extrema pobreza, sem acesso aos direitos sociais fundamentais. A maioria vive sem renda fixa, submetidos à sorte de encontrar algum “bico”, ou de mendicância. Por ser uma atividade laboral que não requer nenhum tipo de qualificação, somente força física, grosso modo, não é exigida a escolarização. As relações de trabalho com o dono do depósito se dá de modo informal, sem nenhum tipo de controle da legislação trabalhista, muitas vezes não é exigido documentação ou registro em carteira de trabalho. De acordo com o diagnóstico sociocultural dos catadores de materiais recicláveis em Fortaleza, realizado pelo IMPARH, os catadores são em sua maioria homens (45,6%). Uma categoria social segmentada quanto à faixa etária, mas tendo como marca a juventude, visto que (27,8%) tem entre 18 e 25 anos. Aqueles com idade inferior a 18 anos representam (9,9%). 46 LÍDIA VALESCA PIMENTEL O dado que revela a juventude do catador de material reciclável (27,8%) mostra que ele possui entre 18 e 25 anos e está associado a uma questão complexa, mas como já foi dito, principalmente ao fato de possuir baixa escolaridade, por reproduzir a mesma situação de seus pais, a de não encontrar outras oportunidades de trabalho. Os jovens também têm mais força física e se dispõem a passar a semana nas ruas, na maioria das vezes dormindo na própria rua. Também é significativo o número de crianças e adolescentes catando materiais recicláveis, 9,9%. Eles estão, na maioria das vezes, acompanhados de parentes, familiares ou amigos, sem freqüentar a escola. A faixa etária que corresponde de 31 a 40 anos está associada também ao desemprego, mas de uma parcela da população que já não encontra facilmente vaga no mercado de trabalho formal. A baixa escolaridade dos catadores é, talvez, a questão crucial dos estudos sobre essa população. O dado da pesquisa do IMPARH revelou que 75,5% dos catadores possuem até a quarta do Ensino Fundamental, sendo 22,6% de não alfabetizado. A relação entre a baixa escolarização e a idade do catador de materiais recicláveis é preponderante para entender a sua situação, mas aponta para uma questão desanimadora quanto ao seu futuro. Eles são jovens que não estudam e têm na catação a única alternativa para a sua sobrevivência. A escolaridade é fator preponderante para empregabilidade na sociedade contemporânea, pautada pela forte influência das novas tecnologias. Nesse sentido, é perceptível uma elevação dos níveis de estudo, sendo o Ensino Médio o grau menor a ser exigido, de modo geral, mesmo nas camadas mais pobres da população e entre os setores considerados menos qualificados. O que se percebe entre os catadores de materiais recicláveis é uma reprodução dos mesmos níveis de escolarização de seus pais, e conseqüentemente de sua situação social. O PAPEL DO CATADOR DE MATERIAIS RECICLÁVEIS NA CIDADE PÓS-MODERNA 3 47 O IMAGINÁRIO DO LIXO NA SOCIEDADE DE CONSUMO Catadores e catadoras vivem do que a sociedade de consumo descarta. Aquilo que deixa de ter utilidade. É o consumidor que decide o que lhe serve, e o que deseja excluir, seja de sua residência, empresa, escritório etc. Pode-se dizer que o descarte do lixo é influenciado pela cultura local. Cada uma define a utilidade e a inutilidade dos materiais. Segundo Calderoni (2002 apud GONÇALVES, 2005) “entende-se por lixo domiciliar todo o material sólido ao qual o seu proprietário ou possuidor não atribui mais valor e dele deseja descarta-se, atribuindo ao poder público a responsabilidade pela sua disposição final”. O lixo tinha (e ainda tem) no imaginário coletivo o sentido pejorativo. É algo que não se deseja. Jogar algo no lixo pode ser uma ação sem volta. Muito comun são as expressões populares: “rebolar no mato”, “estou me sentindo um lixo”, “jogar fora”, “jogar na rua”. Elas denotam um sentido pejorativo e desclassificatório, frente às coisas que são consideradas limpas e úteis. O sentido dado ao lixo e ao “lixeiro” sofreu mudanças ao longo do tempo, hoje, pode-se extrair do lixo renda. Os materiais (re)aproveitados do lixo voltam ao ciclo produtivo, tornam-se mercadorias. Essa realidade ganhou mais ênfase no Brasil a partir da década de noventa e trouxe para as ruas os catadores de materiais recicláveis. Por ser um sujeito que trabalha nas ruas, os catadores(as) se inserem na dinâmica própria desse espaço, relacionam-se com outros atores sociais, desenvolvendo uma sociabilidade própria da rua. Grande parte deles podem ser considerados “perambulantes”, isto é, pessoas desterradas, sem vínculos empregatícios e locais fixos de moradia. (BURSZTYN, 2000) É como se pertencessem a uma “cidade invisível” (Calvino, 1997) subterrânea, onde as leis são impostas por quem manda no pedaço; onde é possível comer no chão; dormir sob papelões; andar sempre a pé; trabalhar e namorar ao mesmo tempo; divertir-se em rodas de cachaça; reunir-se no meio da noite em pontos estratégicos esperando o dia amanhecer. Essa “cidade invisível” e subterrânea muitas vezes não é vista pelo simples passante, mas, quando menos se espera, um catador(a) de materiais recicláveis aparece, cruzando o caminho do citadino, impondo-se como diferença. Por isso, os catadores são muitas vezes discriminados, por não se enquadrarem na lógica de trabalho e na sociabilidade formal da sociedade. 48 4 LÍDIA VALESCA PIMENTEL SITUAÇÃO DE TRABALHO E RENDA DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS DE FORTALEZA A carroça é o instrumento de trabalho do catador de materiais recicláveis, mas raramente esse instrumento lhe pertence. Na maioria das vezes, a carroça é do dono do depósito, chamado de “deposeiro”. Ele “concede” a carroça para o catador coletar o material e, com isso, estabelece uma relação ao mesmo tempo de confiança e de dependência. O “deposeiro” é um pequeno comerciante, certamente um empreendedor que se estabeleceu dentro do ramo da reciclagem. Ele está entre o catador e a indústria de reciclagem. Contudo, freqüentemente existem os atravessadores para quem o dono do depósito vende o material, aqueles possuem logística para armazenar e transportar o produto até as indústrias de reciclagem. Não há uma tabela que indique o valor de cada material reciclável. Os preços fazem parte da própria dinâmica do mercado de reciclagem, que por sua vez está submetida ao preço do dólar. Essa é uma explicação superficial dada por um “deposeiro” por meio de entrevista. Na prática, o catador que não possui carroça própria será submetido ao preço praticado pelo “deposeiro”, sem chances de encontrar preços melhores. A figura do “deposeiro” é ambígua, ao mesmo tempo em que possui traços de exploração de força de trabalho, é realizador de ações “beneméritas” como adiantar dinheiro sob forma de “vales” nos momentos difíceis, como nos dias em que se necessita comprar remédio, gás, etc. No dizer de Holanda (2002), este é da cordialidade patrimonialista presente na cultura brasileira de modo geral. O catador se sente grato ao deposeiro por ter lhe dado trabalho, e freqüentemente lhe ajudar. 4.1 COMO OS CATADORES RECOLHEM E COMO TRANSPORTAM O MATERIAL COLETADO O esforço desprendido nos longos percursos pela cidade feitos pelo catador tem como alvo, principalmente, o recolhimento de materiais recicláveis que tenham as melhores cotações do mercado. Ele sai da periferia da cidade até as regiões centrais no intuito de arrecadar o lixo “bom”, considerado o lixo “rico” localizado nos bairros mais abastados. Em sua carroça, o catador chega a transportar até 150 quilos de materiais. O PAPEL DO CATADOR DE MATERIAIS RECICLÁVEIS NA CIDADE PÓS-MODERNA 49 Este é o caso, por exemplo, do plástico das garrafinhas PET que podem chegar a ser comercializadas a R$0,42, o quilo7. Já materiais como o papel branco têm um outro diferencial em contrapartida ao seu baixo valor de mercado (mais ou menos R$0,03), que é o da abundância e o da facilidade de aquisição por parte do catador. O aspecto econômico é refletido através dos dados onde observamos os materiais nos quais os catadores mais trabalham. Dessa forma, temos como materiais mais citados: o PET (95,9%), o papel branco (92,3%), o papel misto (90%) e a latinha de aço (89,4%). O que se nota é que, se analisarmos um pouco mais a fundo, estes materiais são justamente os mais presentes nos produtos de consumo rápido, tendo, portanto, uma rotatividade maior. Neste aspecto, verificou-se que a catação tem patamares de baixíssima lucratividade, chegando a configurar somente para 24,5% dos entrevistados pela pesquisa do IMPARH, lucros que atinjam, por mês, uma renda próxima de um salário mínimo. Para todo o restante dos catadores consultados, a sua renda mensal não chega a mais do que R$240,00, dando-nos uma idéia das condições de miséria em que vive grande parte dos catadores, tendo em vista o esforço rotineiro de sua atividade. Mesmo tendo baixa lucratividade, é possível perceber a explosão de crescimento de tal tipo de esfera produtiva na última década, sendo o desemprego a principal razão apontada pelos próprios catadores. 5 CONCLUSÃO Ao pensar qual o papel do catador na cidade pós-moderna, não se esperou encontrar uma única resposta. Essa é uma questão complexa, que envolve políticas sociais, ambientais e econômicas. Começar por entender aquele que está na ponta da cadeia produtiva da indústria de reciclagem é o começo. A sociedade do consumo se caracteriza pela circulação intensa de consumo e de imagens, vive-se do supérfluo, num circuito produtivo que sustenta a criação de trabalho e renda, que, por sua vez, gera mais consumo. 7 Dados da Fundação Banco do Brasil em parceria com a ASMARE – Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável de Belo Horizonte. 50 LÍDIA VALESCA PIMENTEL As conseqüências da sociedade de consumo para a degradação ambiental são evidenciadas por ambientalistas e especialistas, mas pouco percebida pelo mercado, que sobrevive do circuito renda, consumo e produção. Os catadores de materiais recicláveis paradoxalmente vivem dos excessos, eles são reverso da sociedade de consumo, ao mesmo tempo podem ser considerados “agentes ambientais”, pois contribuem para minimização do impacto dos detritos na cidade. Um catador disse durante uma entrevista8: “eu tenho uma televisão e um armário que consegui no lixo. Eu achei um brinquedo bonzinho pro meu filho. No lixo se acha muitas coisas”. Essa fala ao mesmo tempo em que revela a discrepância social, também ressalta que é possível viver da reciclagem, e da inventividade das classes pobres, que modificam a sua realidade reutilizando objetos, (re)criando o tempo útil das mercadorias. Como diz De Certeau: ... nos próprios lugares onde reina a máquina a que deve servir, o operário trapaceia pelo prazer de inventar produtos gratuitos destinados somente a significar por sua obra um saber-fazer pessoal e a responder por uma despesa a solidariedades operárias ou familiares (1996, p. 87-88). O papel dos catadores não é, portanto, somente de retirar do lixo sua sobrevivência, mas principalmente, de nos alertar sobre as contradições latentes da sociedade de consumo, de sua efemeridade, de suas limitações. A saturação dos aterros sanitários é um alerta para os poderes públicos. O que fazer com a quantidade de lixo? O que fazer com o montante de materiais que chegam às indústrias de reciclagem? Essas respostas precisam ser dadas com urgência, é delas que depende o destino da cidade e do próprio homem. 8 Entrevista realizada durante a coleta de dados que resultou no diagnóstico da situação sociocultural dos catadores de materiais recicláveis de Fortaleza/CE. O PAPEL DO CATADOR DE MATERIAIS RECICLÁVEIS NA CIDADE PÓS-MODERNA 51 Referências BRASIL. Adensamento tecnolðgico do processo em cadeia da reciclagem – algumas contribuições resultantes do workshop realizado em Brasília. Brasília. Ministério da Ciência e da Tecnologia, 2005. BRASIL QUARTO COLOCADO na reciclagem. Fortaleza 25 mar 2006. Disponível em www.setorreciclagem.com.br CATADORES DOMINAM CADEIA produtiva dos recicláveis e se tornam proprietários de indústrias. Brasília 5 de set 2005. <www.bb.com> acessado em 25/03/2006. CRISPIM, Maristela. Fortaleza tem cerca de 8 mil catadores, Fortaleza 9 de outubro de 2005. Disponível em <www.prt7,mpt.gov.br>, Acessado 30/03/2006. DA GENTE INVISÍVEL, Fortaleza 10 de set 2005. Disponível em <www.noolhar.com/opovo>, acessado em 28/03/2006. CERTEAU, Michel. Artes de fazer, a inven˘ıo do cotidiano. Petrópolis: Vozes, 1996. FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. D˚ficit habitacional no brasil 2000 (Informativo CEI). Belo Horizonte 2002, p 413. FERREIRA, Delson. A sociedade de consumo In: Manual de sociologia. São Paulo: Atlas, 2003. GONÇALVES, Rubia Cristina Matins. Dando voz aos catadores de lixo em sua luta pela sobreviv¸ncia. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará – Uece. Dissertação de Mestrado, 2005. HOERNING, Joanna. A questıo habitacional em fortaleza. Fortaleza: 2003. IBGE. Atlas saneamento. Rio de Janeiro, 2000. Disponível em <www.ibge.gov.br>. Acesso em 04/03/2006. IBGE. Popula˘ıo Brasil. Rio de Janeiro, 2000. Disponível em <www.ibge.gov.br>. Acesso em 04/03/2006. OLIVEIRA, Patrícia, Lixo solidÛrio. São Paulo 24 de fev 2006. Disponível <www.facasper.com.br>. Acessado em 29/03/2006. PIMENTEL, Lídia Valesca. Vidas nas ruas, corpos em percursos no cotidiano da cidade. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará – UFC. Tese de doutorado, 2005. SMITH. Niel. Contornos de uma polˇtica espacializada: veículos dos sem-teto em produção de escala geográfica In: ARANTES, Antonio. O espaço da diferença. São Paulo: Papiros, 2000. ZUKIN, Sharon. Paisagem do século XXI: notas sobre a mudança social e o espaço urbano IN: ARANTES, Antonio A. O Espa˘o da diferen˘a. São Paulo: Papirus, 2000. AS CARACTERÍSTICAS DO EMPREENDEDOR E A MUDANÇA ORGANIZACIONAL SÉRGIO JOSÉ BARBOSA ELIAS1 RESUMO: Este artigo aborda o ciclo de vida das organizações e o papel do empreendedor na evolução da empresa. Durante o seu ciclo de vida, a empresa pode sentir a necessidade de mudanças organizacionais que a coloquem em um patamar superior de desempenho. Entretanto, freqüentemente, as mudanças não obtêm êxito, podendo comprometer a saúde organizacional. É observado então que algumas características do empreendedor são fatores-chave para a condução com sucesso de um processo de mudança, constituindo-se, desta forma, em um tipo especial de liderança, propício a tais situações. PALAVRAS-CHAVE: Mudança Organizacional. Ciclo de Vida das Organizações. Empreendedor. ABSTRACT: This paper is about the life cycle of organizations and the role entrepreneur in the evolution of the company. During its life cycle a company can feel necessity of some organizational changes that could put it in a high level of performance. Nevertheless, some changes frequently do not achieve their goals and compromise company health. It is observed that personal aspects of the entrepreneur are very important to successfully achieve the conduction of changes. These aspects are considered a special kind of leadership very convenient for these situations. KEY WORDS: Organizational Change. Life Cycle of Organizations. Entrepreneur. INTRODUÇÃO Cada nova empresa que surge traz consigo uma série de expectativas e limitações. Normalmente, inicia pequena, mas o seu fundador, por mais tímido que seja, tem a esperança de que ela um dia se torne uma grande corporação. 1 Professor da Universidade Federal do Ceará e da Faculdade Farias Brito – Mestre em Engenharia de Produção. 54 SÉRGIO JOSÉ BARBOSA ELIAS Um fator fundamental para a sobrevivência e sucesso do negócio é a figura do empreendedor, que identificou e resolveu explorar uma oportunidade de mercado. O empreendedor pode ser definido como o indivíduo que inova, identifica e cria oportunidades de negócios, monta e coordena novas combinações de recursos, para extrair os melhores benefícios de suas inovações num meio incerto (MORALES,1997). As organizações, assim como os seres vivos, possuem um ciclo de vida. Este ciclo pode ser longo ou bastante curto, em função de vários fatores, notadamente hoje em dia, com a acirrada competitividade empresarial. Fatores ambientais e macroeconômicos têm forçado o segmento empresarial a buscar alternativas que lhe proporcionem maior qualidade e produtividade. Neste sentido, a mudança organizacional tem se apresentado como uma das opções. Este artigo enfoca, desta forma, o papel fundamental que o empreendedor desempenha para o êxito das necessárias mudanças organizacionais. 1 O CICLO DE VIDA DAS ORGANIZAÇÕES Com o passar do tempo, as organizações mudam, notadamente, em função do ambiente em que ela atua, podendo ser classificadas como velhas ou jovens. Entretanto, “tamanho e tempo não são causas de crescimento e envelhecimento: empresas grandes, com uma longa tradição, não são necessariamente velhas; e empresas pequenas sem tradição alguma não são necessariamente jovens” (ADIZES, 1998, p.2). Jovem aqui significa possuir alta flexibilidade e baixo nível de controle; contrariamente, empresa velha significa baixa flexibilidade e comportamento controlável, sendo assim pouco propensa à mudança. O importante para a organização é que ela atinja a plenitude, com vantagens da flexibilidade e da controlabilidade (ADIZES,1998). Neste sentido, deve ser destacada a atuação do empreendedor no atingimento deste estágio. Dentre os diversos modelos para representar o ciclo de vida das organizações, será dada ênfase neste artigo ao Modelo Funcional desenvolvido por Scott e Bruce, que é um dos mais conhecidos. AS CARACTERÍSTICAS DO EMPREENDEDOR E A MUDANÇA ORGANIZACIONAL 55 De acordo com este modelo, as etapas do ciclo são: Início; Sobrevivência; Crescimento; Expansão e Maturidade. O início corresponde à fase onde é concebida a empresa e quando são tomadas as medidas cabíveis para colocá-la em funcionamento. A sobrevivência equivale à etapa onde a empresa procura ocupar seu lugar no mercado, através da aceitação do seu produto/serviço. O crescimento corresponde à ampliação nos negócios, buscando uma maior fatia no mercado, sem entretanto dedicar-se a grandes modificações estruturais. Já na expansão, a empresa se dedica a uma reorganização profunda, buscando atingir a um novo patamar de atuação do mercado, por meio de novas estratégias. Finalmente, a última etapa é a maturidade, onde a empresa está solidamente estabelecida no mercado. É na fase de expansão que há propensão às mudanças organizacionais, que poderão fazê-la ingressar na maturidade. Esta etapa torna-se, desta forma, relevante, tendo em vista que é na transição entre as etapas que ocorre com freqüência o fracasso. É necessário assim a atuação precisa do empreendedor, a fim de que a mudança organizacional contribua para evolução da empresa, conduzindo-a à maturidade. A maturidade no modelo funcional corresponde à plenitude, de acordo com a abordagem de Adizes (1998). Cabe ressaltar, entretanto, que “a plenitude não significa que a organização chegou ao seu destino, mas que ela ainda está crescendo” (ADIZES, 1998, p.65). Assim sendo, é necessário que o espírito empreendedor continue presente, a fim de que a organização não ingresse em uma fase de declínio. 2 AS CARACTERÍSTICAS DA PERSONALIDADE DO EMPREENDEDOR Embora não exista um “protótipo” de “personalidade empreendedora”, através de pesquisas, chegou-se às principais características dos empreendedores de sucesso (MORALES, 1997): • Necessidades: aprovação; independência; desenvolvimento pessoal; segurança; auto-realização. • Conhecimento: aspectos técnicos relacionados com o negócio; experiência na área comercial; escolaridade; experiência em empresas; formação complementar; vivência com situações novas. 56 SÉRGIO JOSÉ BARBOSA ELIAS • Habilidades: identificação de novas oportunidades; valoração de oportunidades e pensamento criativo; comunicação persuasiva; negociação; aquisição de informações; resolução de problemas. • Valores: existenciais; estéticos; intelectuais; morais; religiosos. Estas características podem ser positivas ou negativas em função da situação vivenciada. Neste sentido, algumas destas serão essenciais para uma determinada fase do ciclo de vida da organização e maléficas para outras. Cabe ao empreendedor saber usá-las na ocasião oportuna. 3 AS MUDANÇAS ORGANIZACIONAIS A economia competitiva e a globalização têm impelido as empresas na busca de novos modelos organizacionais. Nos últimos anos, surgiram várias filosofias/técnicas destinadas a incrementar o desempenho empresarial, tais como Qualidade Total, Just In Time (JIT), Reengenharia, ISO 9000, Benchmarking, Downsizing, dentre outras, levando empresas dos mais diferentes portes e áreas de atuação a dedicar-se à implementação de uma ou mais destas filosofias/técnicas. Entretanto, as estatísticas mostram que apenas de um quinto a um terço dos esforços de mudança alcançam o desempenho pretendido. Neste aspecto é que se identifica como necessária a presença do espírito empreendedor, para que estas mudanças organizacionais obtenham o êxito desejado. As características do empreendedor correspondem às dos líderes que têm visão e são capazes de inspirar com a credibilidade e a atratividade de algum estado futuro (SMITH,1997). Os empreendedores podem viabilizar a mudança, contrariamente aos gerentes convencionais que “produzem um vácuo que, como sempre, a natureza se encarrega de preencher com fracassos, frustração e um comodismo ainda maior” (SMITH,1997, p.6). Considerando-se o empreendedor como pertencente à cúpula da empresa, ele deve “defender ostensivamente e enfatizar ao máximo o que pretende que a empresa venha a ser” (SMITH,1997, p.43). Isto também deve ser verdade para os líderes do nível de equipe. As mudanças organizacionais necessitam sempre de uma adequada liderança, que deve estar comprometida com a transformação. “O sucesso da implantação do JIT não pode ser obtido sem uma implantação clara da crença da alta administração no sistema JIT. Mudanças de atitude em toda a empresa são necessárias...” (CORREA,1996, p.100). AS CARACTERÍSTICAS DO EMPREENDEDOR E A MUDANÇA ORGANIZACIONAL 57 Para que a reengenharia possa acontecer é necessário que haja um líder que deve ser um “alto executivo com bastante influência para fazer uma organização virar de ponta-cabeça e persuadir os seus integrantes a aceitar as rupturas radicais trazidas pela reengenharia” (HAMMER,1994, p.84). Na qualidade total e ISO 9000, a abordagem não é diferente: “só inicie um projeto ISO série 9000 se a direção estiver claramente convencida e compromissada com as mudanças” (MARANHÃO, 2001, p.90). Para o benchmarking a “gerência precisa não só compreender o plano de benchmarking e seus potenciais resultados, mas também remover as barreiras e obstáculos ao sucesso” (CAMP, 1996, p.29). Seria exaustivo discorrer mais sobre este aspecto, que é ponto comum entre as várias filosofias/técnicas. Pode-se observar, desta forma, que para que a mudança organizacional aconteça, deverá haver um líder com características especiais, ou seja, com espírito empreendedor. 4 CARACTERÍSTICAS DO EMPREENDEDOR PARA A MUDANÇA ORGANIZACIONAL Passa-se a considerar aqui que, da mesma forma como as características do empreendedor devem estar em sintonia com o negócio da empresa, estas características também necessitam estar presentes para que a mudança organizacional se processe com êxito. Como já foi abordado, é necessário o comprometimento da alta administração da empresa para que a mudança possa obter sucesso. Neste momento, a mudança é o negócio do empreendedor, e ele, mas do que um gerente ou técnico qualquer, deve possuir as características que possibilitem a transformação da organização. As verdadeiras causas de crescimentos vertiginosos nas empresas é o espírito empreendedor (FARREL,1993). A partir desta abordagem, e da propensão à mudança organizacional encontrada na fase de expansão, dentro do ciclo de vida da organização, pode-se destacar as seguintes características no empreendedor que devem ser enfatizadas: • Necessidade de Aprova˘ıo: O empreendedor comprometido com a mudança organizacional deseja conquistar algo e ser reconhecido por isto. O seu status e prestígio podem ser aumentados ao demonstrar para todos, principalmente concorrentes e clientes, que sua empresa está na frente em termos organizacionais, podendo inclusive servir de referencial para outras. 58 • • • • • • SÉRGIO JOSÉ BARBOSA ELIAS Por outro lado, a busca da excelência serve de ótimo instrumento de marketing; o fato de ser certificado pelo ISO 9000, por exemplo, poderá possibilitar a conquista de novos mercados. Necessidade de Desenvolvimento Pessoal: Envolver a empresa em uma mudança organizacional que tenha possibilidade de sucesso passa, necessariamente, dentre outros fatores, pela melhor qualificação das pessoas que a fazem. É uma ótima oportunidade para que o empreendedor possa aprender coisas novas e tornar-se diferenciado pelo conhecimento. Necessidade de Auto-Realiza˘ıo: A mudança organizacional representa um desafio para o empreendedor, que julga possuir potencial para viabilizá-la. Ao vencer este desafio, ele se sentirá realizado. Esta energia é um poderoso componente para o êxito da mudança. Conhecimento de Aspectos T˚cnicos Relacionados ao Negðcio: É fundamental que o empreendedor conheça tecnicamente o processo de mudança que será implementado, seus pontos positivos e negativos, bem como as possibilidades de fracasso e de risco que a organização enfrentará. Experi¸ncia na rea Comercial: A ênfase nesta característica se refere ao necessário conhecimento do cliente externo. Nenhuma mudança organizacional terá sentido se não servir para propiciar um melhor atendimento ao meio ambiente ou, especificamente, aos clientes dos produtos e serviços da empresa. Escolaridade: É necessário que o empreendedor possua a educação formal para poder acompanhar o nível de abrangência que uma mudança organizacional exige. Experi¸ncia em Empresas: Esta característica tornará mais seguras as decisões tomadas pelo empreendedor. Normalmente, as mudanças organizacionais envolvem toda a empresa e, para possuir uma adequada visão global da organização, são necessárias experiências em diversas funções. Isto certamente será de grande utilidade para o empreendedor, na medida em que ele terá maior sensibilidade sobre o que pode acontecer em cada área. AS CARACTERÍSTICAS DO EMPREENDEDOR E A MUDANÇA ORGANIZACIONAL • • • • • • 59 Forma˘ıo Complementar: A mudança organizacional envolve conhecimentos multidisciplinares que às vezes, aparentemente, não possuem relação com os objetivos da mudança. Como a mudança deve ser principalmente nas pessoas, o empreendedor deve procurar novos conhecimentos que o capacite a enfrentar a resistência à mudança. Cursos de relações interpessoais, neurolingüística, dentre outros, darão a formação complementar necessária. Viv¸ncia com Situa˘þes Novas: A mudança organizacional trará uma nova realidade para a empresa. É natural, portanto, um temor com relação a esta “nova organização”. Na medida em que o empreendedor possui vivência com situações novas, ele terá mais segurança e equilíbrio na condução desta transformação. Habilidade na Identifica˘ıo de Novas Oportunidades: Certamente a organização objeto da mudança possuirá áreas onde os resultados serão mais fáceis de ser conseguidos, podendo assim servir de “vitrine” para as outras mais resistentes à transformação. O empreendedor deve possuir este sentimento de identificar oportunidades de sucesso. Habilidade na Valora˘ıo de Oportunidades e Pensamento Criativo: Além de ser criativo para criar instrumentos que viabilizem a mudança, é fundamental que o empreendedor possua um aguçado senso crítico para avaliar se aquela oportunidade é ou não viável, em função da relação custo-benefício. Comunica˘ıo Persuasiva: Como já foi dito, a mudança organizacional será alvo de várias resistências; algumas declaradas, outras disfarçadas. O empreendedor deve possuir, desta forma, boa habilidade de persuasão escrita ou oral, a fim de contribuir para a quebra da resistência das pessoas, fazendoas comprometerem-se também com a mudança. Negocia˘ıo: Como complemento à comunicação persuasiva, o empreendedor deve possuir habilidades refinadas de negociação, a fim de convencer as pessoas que a mudança organizacional será vantajosa para todos. 60 • SÉRGIO JOSÉ BARBOSA ELIAS Habilidade na Aquisi˘ıo de Informa˘þes: O empreendedor deve estar permanentemente informado sobre as novidades do mundo empresarial, a fim de que não se comprometa com uma mudança que não trará mais os benefícios esperados ou que necessita ser redirecionada em função dos fatores externos e internos da empresa. • Habilidade na Resolu˘ıo de Problemas: O processo de mudança organizacional envolverá certamente muitos problemas de diversos tipos a serem resolvidos. O empreendedor poderá, por exemplo, se defrontar com a falta de motivação das pessoas, falta de recursos materiais e financeiros etc. Vencê-los é caminhar no sentido da mudança, requerendo desta forma habilidade do empreendedor. • Valores Existenciais: Considerando-se o empreendedor como o dono da empresa, ele deve visualizar a mudança organizacional como um meio para que a empresa possa obter maiores lucros, dando-lhe assim melhor nível de vida. • Valores Est˚ticos: Embora com menor peso, a mudança organizacional trará mais organização para a empresa, com melhor nível de apresentação, como, por exemplo, o programa “5S”, servindo para atender aos valores estéticos do empreendedor. • Valores Intelectuais: Estes valores, uma vez presentes no empreendedor, servirão para incentivar a mudança organizacional, como um meio para o aprimoramento de sua capacidade bem como da empresa. • Valores Morais: Para que a mudança se processe verdadeiramente na organização, é fundamental que o empreendedor possua valores éticos e morais, a fim de não passar para a organização algo que a mudança não poderá oferecer, objetivando auferir vantagens de curto prazo, com efeitos maléficos para a saúde da empresa. É importante neste ponto ressaltar que as características do empreendedor para a mudança organizacional não são necessariamente apenas estas. Possivelmente haverá outras. Foram destacadas aqui aquelas que, na visão do autor, são as mais relevantes. Mas, uma condição é fundamental: o empreendedor deve ser um líder. Outro aspecto importante que merece ser abordado se refere a quem é o empreendedor. AS CARACTERÍSTICAS DO EMPREENDEDOR E A MUDANÇA ORGANIZACIONAL 61 Ele pode aqui tanto ser visto como o fundador do negócio, como alguém que trabalhe para a empresa e esteja conduzindo um processo de mudança organizacional. É o “empreendedor interno” ou intrapreneur. O intrapreneur é aquele que assume a responsabilidade pela criação de inovações de qualquer espécie dentro de uma organização. É quem concebe como transformar uma idéia em uma realidade lucrativa. O impulso do empreendedor é exatamente o que as organizações precisam. O intrapreneur existe nas empresas e precisa de poder para agir e de compensação material. Mais do que os gerentes profissionais, ele toma decisões rápidas na ausência de dados adequados (PINCHOT, 1989). O intrapreneur verá a mudança organizacional como uma “decisão de transformar um conceito de negócio em realidade dentro da empresa em que trabalham, a despeito das barreiras e dos riscos.” (PINCHOT,1989, p.28). Sem o intrapreneur, as idéias que surgem de um lado não chegariam aos gerentes profissionais do outro. Assim sendo, as mudanças organizacionais surgem de idéias e de planejamento, mas há uma lacuna entre esta etapa e a efetiva implementação e assimilação da mudança. Este vazio deverá ser preenchido pelo empreendedor (intrapreneur), conforme pode ser verificado na Figura I. Figura I O empreendedor como viabilizador da transformação de idéias em realidade. MUDANÇAS ORGANIZACIONAIS • Qualidade Total • Reengenharia • ISO 9000 • Just In Time • Etc. EMPREENDEDOR MUDANÇA ORGANIZACIONAL CONCRETIZADA Idéias, Planejamento Implementação Gerenciamento da Nova Realidade Adaptado de Pinchot, 1989, p. 27. 62 SÉRGIO JOSÉ BARBOSA ELIAS Alguns autores vêem diferenças nas características do empreendedor tradicional para o intrapreneur. Devido às limitações e objetivos deste artigo, estes fatores não serão abordados aqui. Pelo exposto, vê-se que as empresas para evoluírem necessitam do espírito empreendedor. O gerenciamento profissional, embora útil, não gera crescimento. Um bom exemplo de mudança organizacional é a criação do Just In Time na Toyota, através dos empreendedores Eiji Toyota e Taiichi Ohno, que mudou radicalmente a organização produtiva tradicional de automóveis, servindo de referencial para todo o mundo (FARREL,1993). 5 CONCLUSÃO Muito mais poder-se-ia analisar sobre mudança organizacional e os empreendedores, o que não caberia nas limitações deste artigo. O que se procurou destacar foi que “não são as modernas técnicas praticadas por profissionais de administração que levam as empresas ao sucesso e ao crescimento. É o espírito empreendedor” (FARREL,1993, p.14). Assim, a organização poderá passar pela fase de expansão e chegar à maturidade. Este artigo mostrou assim a correspondência do líder necessário ao processo de mudança, com algumas características do empreendedor. Naturalmente, a mudança não ocorrerá apenas devido a um empreendedor. É fundamental o engajamento de todos que fazem a organização no processo de transformação. É importante que a empresa busque desenvolver o espírito empreendedor em cada colaborador. Este artigo suscita a discussão sobre a eficácia e eficiência das mudanças empreendidas por uma empresa e o perfil do líder dessa mudança, o que pode ser objeto de novas pesquisas. AS CARACTERÍSTICAS DO EMPREENDEDOR E A MUDANÇA ORGANIZACIONAL 63 Referências ADIZES, Ichak. O ciclo de vida das organiza˘þes. 4 ed. São Paulo: Thomson Pioneira, 1998. CAMP, Robert C. Benchmarking. 3 ed. São Paulo: Thomson Pioneira, 1996. CORREA, Henrique L. Just In Time, MRP II e OPT: um enfoque estratégico. São Paulo: Atlas, 1996. DRUKER, Peter F. Inova˘ıo e espˇrito empreendedor (Entrepreneurship). 5 ed. São Paulo: Thomson Pioneira, 1998. FARREL, Larry C. Entrepreneurship – fundamentos das organizações empreendedoras. São Paulo: Atlas, 1993. HAMMER, Michael ; CHAMPY, James. Reengenharia. Rio de Janeiro: Campus, 1994. LEZANA, Álvaro G. Cria˘ıo de empresas: ciclo de vida das pequenas empresas. Florianópolis: Apostila da UFSC, 1997. MARANHÃO, Mauriti. ISO S˚rie 9000: manual de implementação. 6 ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001. MORALES, Sandro. Cria˘ıo de empresas: o empreendedor. Florianópolis: Apostila da UFSC, 1997. PINCHOT III, Gifford.Intrapreneuring. São Paulo: Habra, 1989. SMITH, Douglas K. Fazendo a mudan˘a acontecer. Rio de Janeiro: Campus, 1997. ESTRATÉGIAS DE REDUÇÃO DE CUSTOS NA ÁREA HOSPITALAR: UMA ANÁLISE DA VIABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA DA TERCEIRIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE NUTRIÇÃO DAS UNIDADES HOSPITALARES DA REDE PÚBLICA ESTADUAL DO CEARÁ OCIONE MARQUES MENDONÇA1 NEYANA BEZERRA PAULINO2 RESUMO: Este trabalho tem por objetivo apresentar análise de viabilidade econômico-financeira da terceirização dos serviços de nutrição dos hospitais da rede pública estadual do Ceará, fornecendo informações que possam subsidiar, com confiabilidade, a decisão dos gestores públicos estaduais quanto à manutenção do modelo atual (próprio) ou implantar o modelo terceirizado. A pesquisa foi baseada em método exploratório e estudo de caso nos 06 (seis) hospitais públicos da rede estadual do Ceará, com visitas in loco e entrevistas. Na primeira etapa do trabalho, é feito relato das motivações da terceirização no segmento de nutrição. A etapa de diagnóstico da situação atual compreende a análise dos custos da área de nutrição. Na fase de reconhecimento do mercado fornecedor identifica-se, nas dimensões da competitividade e representatividade e sob a ótica da oferta de produtos e serviços e as principais características dos fornecedores. Na última etapa, são apresentadas as estratégias de racionalização de gastos e o resultado da avaliação realizada ao longo do trabalho. PALAVRAS-CHAVE: Estratégias de Redução de Custos. Serviços de Nutrição Hospitalar. ABSTRACT: This work has the objective of presenting an analysis of economic and finacial viability of outsourcing the nourishment service in public state hospitals in Ceará providing information that can confidently help public managers' decisions regarding the maintainance of the current model (on their own) or to implement the outsource model. The research has been based on exploring method and study of case at 6 (six) public state hospitals in Ceará, visiting them and carrying out a survey. For the first step of the work, a report of motivations of nourishment service outsource is carried out. The diagnosis step of the current situation takes account of analysis of cost of the nurishment service. During the concession step of contractor of provisions 1 Economista/Bancário – Mestrando em Controladoria pela UFC. 2 Contadora/Servidora Pública – Especialista em Auditoria pela UVA. 66 OCIONE MARQUES MENDONÇA NEYANA BEZERRA PAULINO there will be a process of identification, under clear and fair competitiveness, through the offered products and service and also the main characteristics of the suppliers. And finally, the last step which is concerned about the strategies of rationalization of cost and the results of the evaluation during the whole work. KEY WORDS: Strategies of Expense Reduction. Hospital Nurishment Service. INTRODUÇÃO Com o crescimento dos gastos públicos e com as limitações impostas pela escassez de recursos, faz-se imprescindível a racionalização dos gastos e dos processos, para o que é fundamental, o conhecimento dos custos efetivos dos serviços prestados, pois somente assim as instituições estarão em condições de evitar os desperdícios, aprimorar seus serviços, avaliar incentivos de qualidade e impulsionar para o melhoramento contínuo. Essa necessidade potencializa-se no âmbito dos serviços na área de saúde, que vem sofrendo com o crescente incremento da demanda pelos serviços e com as dificuldades para gerar ingressos que lhes permitam fazer frente a situação que se apresenta. Some-se a isso o fato de que, ao contrário do setor privado, o setor público não acumula maiores experiências com sistemas que objetivem a aferição de custos e, por conseqüência, enfrenta sérias dificuldades dentro do processo decisório na perseguição da eficácia e eficiência operacionais. Na verdade, não existe, sequer, metodologia desenvolvida ou disponível no mercado que possibilite a sua imediata incorporação. Os gestores públicos apenas estão habituados a trabalhar com os conceitos de dotação e de verba orçamentária, não havendo uma cultura instalada para aferição de custos no serviço público. As experiências, ainda que em termos globais, são citadas vagamente e a literatura é também escassa. Não obstante todas essas constatações, com a edição da Lei Complementar nº 101/00, popularmente denominada Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF, o desenvolvimento de um sistema de custos para dar suporte aos administradores na execução de suas atividades, no Brasil, tornou-se uma obrigação legal, tendo o assunto passado a ser objeto de interesse das administrações, ainda que de forma tímida e vagarosa. ESTRATÉGIAS DE REDUÇÃO DE CUSTOS NA ÁREA HOSPITALAR: UMA ANÁLISE DA VIABILIDADE ECONÔMICO FINANCEIRA DA TERCEIRIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE NUTRIÇÃO DAS UNIDADES HOSPITALARES DA REDE PÚBLICA ESTADUAL DO CEARÁ 67 Esta iniciativa encontra respaldo doutrinário na afirmação de Miranda Filho (2003, p. 25) citando Ostrenga (1997), Nakagawa (1994) e Kaplan & Cooper (1998), de que a Gestão de Custos é um fator de ganho de competitividade, para melhor gerenciamento dos recursos organizacionais. A apuração e o controle dos custos, dessa forma, constitui uma absoluta necessidade dentro das instituições públicas, pois enquanto a primeira serve de instrumento eficaz de gerência e acompanhamento dos serviços, a segunda permite a implantação de medidas corretivas que visem a um melhor desempenho, com base na possível redefinição das prioridades essenciais, aumento da produtividade e racionalização do uso de recursos dentre outras medidas administrativas. Destarte, e com o intuito de manter a qualidade como característica inalienável dos serviços relacionados à saúde, as unidades hospitalares devem contar com uma gestão eficiente que assegure a otimização e o controle efetivo dos recursos que dispõem, bem como com a análise periódica dos resultados obtidos para determinar os fatores que estão incidindo nos mesmos, de maneira que se possam tomar decisões e ajustar os rumos. Para fazer face a essa necessidade de contenção e/ou de redução de gastos por parte dos hospitais, com o objetivo de oferecer produtos e serviços a custos mais baixos, sem deixar de lado a qualidade dos mesmos, a Contabilidade de Custos e a Contabilidade Gerencial emergem com o instrumental necessário para dar o suporte fornecendo as informações e os meios suficientes à construção de estudos analíticos visando a definição de estrat˚gias de redu˘ıo e controle de custos. Desse modo, considerando a essencialidade dos serviços de nutrição e a representatividade dos seus custos em relação aos custos totais dos hospitais, este trabalho científico busca apresentar estratégias de redução de custos para os serviços de nutrição hospitalar, analisando-se como alternativa a terceirização dos serviços, albergado na convicção de que, para conferir maior racionalidade à utilização dos recursos disponíveis, os gestores hospitalares não prescindem das informações gerenciais de custos para suportar suas decisões e direcionar suas ações estratégicas. Nesse contexto, o tema fez parte do estudo técnico realizado pela Coordenação de Racionalização de Recursos da Secretaria da Controladoria do Estado do Ceará, juntamente com equipe de nutricionistas das unidades hospitalares estaduais, com o objetivo de oferecer subsídios à tomada de decisão acerca da terceirização ou não dos serviços de nutrição dessas unidades. 68 OCIONE MARQUES MENDONÇA NEYANA BEZERRA PAULINO Assim, este trabalho foi estruturado sob o desencadeamento lógico 04 (quatro) etapas, iniciando-se pelo reconhecimento dos fundamentos da Terceirização dos Serviços de Nutrição Hospitalar na Rede Pública de maneira a fornecer uma noção preliminar do objeto de estudo proposto, adentrando em seguida nas fases de diagnóstico da situação interna atual e de reconhecimento do mercado fornecedor. Aquela, objetiva realizar o levantamento dos dados intrínsecos das unidades hospitalares escopo do estudo, com vistas ao conhecimento da experiência de cada uma delas bem como ao entendimento dos custos diretos e indiretos e dos seus processos internos de compras/contratação, detalhando cada item de gasto em seus aspectos fundamentais. Essa última visa investigar o mercado fornecedor para explorar suas inovações e alternativas operacionais, tecnológicas e processuais, com o objetivo de assegurar uma base de informações que garantam o fornecimento dos itens de compra com qualidade e preço competitivo. Em seguida, são demonstradas as estratégias de racionalização de recursos definidas a partir do desenvolvimento dos tópicos anteriores para, por fim, apresentar-se as conclusões dos estudos. A pesquisa teve o seu embasamento metodológico assentado no design do tipo exploratório, tendo como método o estudo de caso, no nível da análise organizacional, e as unidades pesquisadas são hospitais públicos da rede estadual do Ceará nas quais, através de visitas in loco e entrevistas, foi possível verificar a estrutura e o mecanismo dos sistemas de custos utilizados. Utilizando-se, para tanto, o método de abordagem dedutivo, partindo-se de premissas para se chegar a conclusões sobre os argumentos explicitados. O estudo foi construído com base no procedimento funcionalista, visando interpretar as inter-relações e interdependências do objeto dentro de um contexto sistêmico. Para a obtenção dos propósitos do trabalho, aplicou-se a técnica de pesquisa de documentação indireta. Nela o levantamento de dados e informações dar-se-á por intermédio de pesquisa bibliográfica e documental. E, por fim, visando o esclarecimento do problema apresentado, o estudo será sistematizado com base em fundamentos da Teoria da Contabilidade sob os enfoques legal, ético, econômico e comportamental, por meio do raciocínio dedutivo positivo. ESTRATÉGIAS DE REDUÇÃO DE CUSTOS NA ÁREA HOSPITALAR: UMA ANÁLISE DA VIABILIDADE ECONÔMICO FINANCEIRA DA TERCEIRIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE NUTRIÇÃO DAS UNIDADES HOSPITALARES DA REDE PÚBLICA ESTADUAL DO CEARÁ 1 69 A TERCEIRIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE NUTRIÇÃO HOSPITALAR NA REDE PÚBLICA Na área da saúde, todas as decisões tomadas têm uma estreita relação com a vida das pessoas. Desta forma, existe um aspecto emocional que permeia as ações dos gestores e que, muitas vezes, dificultam ainda mais a tomada de certas decisões de redução e de racionalização de gastos. Em um hospital público, o qual pode ser compreendido como uma unidade econômica autônoma que difere basicamente das outras entidades em função do seu objetivo ou “produto” básico que é a manutenção ou restabelecimento da saúde do paciente, atuando no interesse da coletividade e remunerado por serviço prestado com recursos provenientes do desempenho fiscal, essas dificuldades se acentuam não podendo, porém, tornar-se fator impeditivo para o alcance da eficiência. Em vista disso, conhecer o verdadeiro custo de cada serviço e do valor de cada conjunto de atividades que compõe os procedimentos técnicos e operacionais torna-se de fundamental importância quando se reflete sobre a necessidade de ampliação quantitativa e qualitativa do atendimento à população. Vem ao encontro dessa afirmação a observação de Tognon (1999) apud Abbas (2001, p.14): A era do empirismo na gestão hospitalar está com seus dias contados. As ferramentas administrativas e financeiras são cada vez mais necessárias. Hoje já se fala em planejamento financeiro, fluxo de caixa e outras ferramentas simples, porém de grande utilidade para a administração do negócio. Dentre estas ferramentas, a questão dos custos hospitalares também é de extrema importância. Por essa razão, considera-se que, nos hospitais públicos, onde os fatores de produtividade e competitividade exigem outras abordagens, a gestão estratégica de custos assume um papel vital. A exemplo disso, outro aspecto que não raro tem sido discutido refere-se à necessidade de profissionalização e especialização dos serviços prestados, não somente na área de gestão, como também em serviços auxiliares, considerados de apoio à atividade fim. Nesse intuito, desde 1967, o decreto Lei 200 recomenda a terceirização do setor público, nos seguintes termos: 70 OCIONE MARQUES MENDONÇA NEYANA BEZERRA PAULINO Art.10. A execução das atividades da Administração Federal deverá ser amplamente descentralizada. §7º Para melhor desincumbir-se das tarefas de Planejamento, coordenação, supervisão, controle e com o objetivo de impedir o crescimento desmesurado da máquina administrativa, a administração procurará desobrigar-se da realização material das tarefas executivas, recorrendo, sempre que possível, à execução indireta, mediante contrato, desde que exista, na área, iniciativa privada suficientemente desenvolvida e capacitada a desempenhar os encargos da execução. Do mesmo modo, o processo de globalização, aliado à redução de custos e a necessidade estratégica das entidades de se concentrarem em suas próprias atividades, contribuíram para o aumento da terceirização nas organizações de modo geral. Dessa forma, reproduzindo uma tendência mais geral da economia contemporânea, os hospitais vêm utilizando de forma crescente o expediente da terceirização, ou seja, a intermediação de agentes terceiros organizacionalmente constituídos para o suprimento de força de trabalho e serviços. Com isso, o hospital pode concentrar-se em seu core business, qual seja, atender pacientes, e os serviços auxiliares ficam sob a responsabilidade de parceiros especializados, aptos a realizar os serviços de forma mais qualificada e a um custo menor, sendo essa redução de custos não uma causa e sim uma conseqüência advinda da agilidade, do aumento de satisfação dos clientes, da especialização da equipe e do maior conhecimento em determinado assunto. Em consonância com a recomendação legal e com o novo paradigma gerencial de incessante busca da eficiência operacional, observa-se cada vez com maior freqüência e em maior volume a terceirização dos serviços ligados às áreas auxiliares imprescindíveis ao funcionamento dos hospitais, dentre eles os serviços Nutrição, por ser considerado essencial e por requerer grandes esforços para sua operacionalização. Junte-se a isso o fato de que, no setor de produção de serviços, especificamente no hospitalar, os custos indiretos e as despesas representam uma parcela considerável dos custos totais. ESTRATÉGIAS DE REDUÇÃO DE CUSTOS NA ÁREA HOSPITALAR: UMA ANÁLISE DA VIABILIDADE ECONÔMICO FINANCEIRA DA TERCEIRIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE NUTRIÇÃO DAS UNIDADES HOSPITALARES DA REDE PÚBLICA ESTADUAL DO CEARÁ 71 Numa avaliação conjugada das constatações acima destacadas tem-se que o processo de terceirização de serviços na área pública e em particular nos serviços relacionados à nutrição hospitalar devem estar amparados por um exame crítico da relação custo-benefício dessa decisão, razão pela qual as estratégias de racionalização de recursos devem ser definidas de forma consistente. Portanto, investigar as formas de construção e aplicação dessas estratégias é uma iniciativa importante, na medida em que pode estabelecer parâmetros e elementos de análise para subsidiar essas discussões presentes hoje na agenda dos gestores dos serviços de saúde. 2 DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO INTERNA ATUAL Para se proceder à análise interna, ou seja, ao diagnóstico da situação dos serviços de nutrição dos hospitais da rede pública estadual do Ceará, foi necessário primeiro se buscar uma visão integrada dos pontos a seguir: a) Recursos utilizados: humanos, materiais, financeiros, tecnológicos etc. b) Estrutura de apoio existente: instalações prediais, equipamentos e utensílios disponíveis. c) Serviços prestados e produtos fornecidos: tipos de refeição fornecida. d) Público atendido: clientelas beneficiadas com os serviços. e) Processos produtivos pelos quais os serviços são consumidos pela prestação de cada um destes serviços. f) Custos efetivamente associados a cada um desses elementos. Referida visão pôde ser obtida a partir da análise das informações necessárias ao embasamento do estudo, as quais foram disponibilizadas pelos hospitais da rede pública estadual do Ceará, quais sejam: Hospital de Messejana – HM, Hospital Infantil Albert Sabin – HIAS, Hospital São José – HSJ, Hospital Geral de Fortaleza – HGF, Hospital Geral Cesar Cals – HGCC e Hospital de Saúde Mental de Messejana – HSMM. Foi constatada a existência de sistema de apuração de custos implantado em 03 unidades da rede: Hospital de Messejana – HM, Hospital Infantil Albert Sabin – HIAS e Hospital São José – HSJ. 72 OCIONE MARQUES MENDONÇA NEYANA BEZERRA PAULINO Em razão desse fato, tomou-se a decisão pela adoção desses hospitais como referência para o estudo, pela qualidade da informação de custo disponível. Para permitir então a projeção desses custos para toda a rede, foi feita, complementarmente, uma investigação acerca dos volumes de refeições produzidos por cada um dos 06 (seis) hospitais (Gráfico 1), além da compatibilização de seus perfis de gastos decorrentes das aferições que foram possíveis a partir da visão integrada obtida. Gráfico 1 Número de leitos por Hospital [unid] 368 312 306 304 220 101 HGF HIAS HGCC Nº de Refeições Diárias 3.515 3.515 2.820 2.820 2.150 2.150 Nº de Refeições Por Leito 9,55 9,55 9,0 9,0 7,03 7,03 HM HSMM HSJ 4.104 4.104 1.751 1.751 954 954 13,50 13,50 7,96 7,96 9,44 9,44 Hospitais da Rede e análises dos autores. Os dados referentes ao levantamento dos volumes de refeições produzidas indicam que dois hospitais da rede, Hospital de Messejana – HM e Hospital Geral de Fortaleza – HGF, representam 50% da demanda de refeições da rede, sendo que 49% destinam-se a funcionários e acompanhantes. Uma análise desse consumo mensal global evidencia oportunidades de racionalização na concessão de refeições a essas duas clientelas com a adoção de política única para todas as unidades. Ademais, e com os dados dos custos e das quantidades, verificou-se que os gastos dos serviços de nutrição dos hospitais são da ordem de R$13 milhões anuais e que estão fortemente concentrados nos custos diretos, conforme demonstra a Figura 1 adiante: 73 ESTRATÉGIAS DE REDUÇÃO DE CUSTOS NA ÁREA HOSPITALAR: UMA ANÁLISE DA VIABILIDADE ECONÔMICO FINANCEIRA DA TERCEIRIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE NUTRIÇÃO DAS UNIDADES HOSPITALARES DA REDE PÚBLICA ESTADUAL DO CEARÁ Figura 1 Custos Totais Custos CustosTotais Totais R$13MM R$13MM 86% 14% Outros Custos Outros Custose e Despesas Despesas Custos CustosDiretos Diretos Sistema de Apuração de Custos e análises dos autores. Com o detalhamento dos custos diretos identificados, chegou-se à seguinte estrutura: Figura 2 Custos Diretos Custos Diretos R$11,2MM 58% 42% Material de Consumo Pessoal G. Alimentícios – 39,3% Terceirizados – 35,73% Copa e Cozinha – 2,4% Func. SESA – 30,92% Gás de Cozinha – 1,86% Func. INAMPS – 15,88% Manutenção – 3,51% Produtividade – 4,48% Diversos – 9,85% Diversos – 12,99% Sistema de Apuração de Custos e análises dos autores. 74 OCIONE MARQUES MENDONÇA NEYANA BEZERRA PAULINO Replicando-se o mesmo procedimento, encontrou-se também a composição dos outros custos e despesas: Figura 3 Outros Custos e Despesas Outros Custos e Despesas R$1,8MM 31% 69% Custos Indiretos Despesas Administrativas Energia – 48,67% Administração – 96,55% Água e Esgoto – 39,73% Manutenção – 3,19% Limpeza – 5,72% Transporte – 0,25% Diversos – 5,88% Sistema de Apuração de Custos e análises dos autores. Diante dessas informações, apurou-se que os gastos estão concentrados em poucos itens os quais são passíveis de medidas de racionalização. A apuração desses custos das unidades hospitalares é realizado utilizando-se o custeio por absorção em dois estágios – método progressivo. 3 RECONHECIMENTO DO MERCADO FORNECEDOR Na análise externa, ou fase de reconhecimento do mercado fornecedor, foram avaliadas 03 (três) dimensões principais, quais sejam: a) Competitividade b) Representatividade c) Oferta de Produtos e Serviços Relativamente à competitividade buscou-se em primeiro lugar identificar no mercado a presença de empresas especializadas na prestação de serviços de nutrição coletiva, tendo-se verificado que o mesmo é bastante pulverizado e competitivo, contando com a existência de pelo menos 04 (quatro) empresas com experiência comprovada no fornecimento de refeições à população não sadia. ESTRATÉGIAS DE REDUÇÃO DE CUSTOS NA ÁREA HOSPITALAR: UMA ANÁLISE DA VIABILIDADE ECONÔMICO FINANCEIRA DA TERCEIRIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE NUTRIÇÃO DAS UNIDADES HOSPITALARES DA REDE PÚBLICA ESTADUAL DO CEARÁ 75 Em seguida, buscou-se conhecer esse mercado fornecedor através da avaliação de materiais institucionais e de informações fornecidas a partir do preenchimento do formulário de Pedido de Informações ao Fornecedor – PIF, por parte dos fornecedores potenciais, o qual abordou diversos assuntos de interesse da pesquisa, como dados cadastrais, faturamento, capacidade produtiva etc., destacando-se entre eles os dados relacionados a aspectos qualitativos e quantitativos de seus maiores clientes. Foi disponibilizado para os fornecedores, a fim de subsidiar a apresentação da proposta orientativa de preços uma sugestão de Termo de Referência, do qual constou o objeto, os volumes e níveis de serviços exigidos, as obrigações gerais, o padrão de alimentação, com os cardápios, tipos de dietas, per capitas, freqüências de produtos e preparações etc. Com base nos dados apresentados e tabulados, foi possível conhecer a representatividade dos 06 (seis) hospitais da rede pública estadual (Rede SESA – Secretaria da Saúde do Estado do Ceará) frente ao mercado. Como resultado dessa análise, constatou-se que esta é bastante significativa quando comparada aos maiores clientes hoje existentes nessas empresas, o que sinaliza que juntos os hospitais são bastante atrativos aos olhos do mercado, conforme apresentado no Gráfico 2 abaixo: Gráfico 2 Volume de refeições demandado3 [unid/dia] 15.294 10% 15.000 MERCADO FORNECEDOR 10.000 100% 98% 65% 1.400 10% Rede SESA Fornecedor A Fornecedor B Fornecedor C Elaborado pelos autores. 3 Para o fornecedor, leia-se: “Volume demandado pelo atual maior cliente”. 76 OCIONE MARQUES MENDONÇA NEYANA BEZERRA PAULINO Objetivando aprofundar as análises, foram também realizadas reuniões e contatos diversos com representantes de empresas que atuam no ramo com o intuito de realizar um levantamento dos produtos e serviços ofertados por elas com vistas a explorar as alternativas e inovações tecnológicas e operacionais existentes no mercado de terceirização dos serviços de nutrição. Nesse ínterim, foram visitados, também, dois hospitais situados na cidade de Fortaleza-CE (uma Organização Social e um hospital privado) com o propósito de avaliar a política, estratégias e controles de qualidade e técnicos adotados no processo de terceirização das áreas de nutrição desses hospitais. Com esse vasto conjunto de informações, verificou-se que existem pelo menos 04 (quatro) modelos de prestação de serviços de nutrição, onde somente 02 (dois) deles atendem aos requisitos técnicos e legais dos hospitais públicos, com as seguintes características básicas: Figura 4 Modelos de Prestação de Serviços de Nutrição MODELOS Administrada Mandato Produção local Cessão do orçamento Remuneração através de Taxa de Administra˘ıo Transportada Tradicional Produção local Remuneração por refei˘ıo vendida Cook & Chill Tradicional Produção centralizada com regenera˘ıo local Produção centralizada Transporte da refeição resfriada Transporte da refeição quente Remuneração por refei˘ıo vendida Remuneração por refei˘ıo vendida ADEQUADO Elaborado pelos autores. Feita a avaliação dos modelos demonstrados, procedeu-se em seguida à ponderação dos aspectos qualitativos atinentes à manutenção do serviço de nutrição próprio e da terceirização deste, como detalhado adiante: ESTRATÉGIAS DE REDUÇÃO DE CUSTOS NA ÁREA HOSPITALAR: UMA ANÁLISE DA VIABILIDADE ECONÔMICO FINANCEIRA DA TERCEIRIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE NUTRIÇÃO DAS UNIDADES HOSPITALARES DA REDE PÚBLICA ESTADUAL DO CEARÁ 77 a) Próprio • Pontos positivos – Atendimento das necessidades da clientela dentro dos objetivos do hospital. • Pontos negativos: – Baixo nível de eficiência dos processos. – Profissionais não especializados e pouco qualificados. – Capacidade de investimento em melhorias e inovações limitada. – Desperdícios. b) Terceirizado • Pontos positivos: – Maior dedicação ao Core Business. – Melhor custo-benefício → mais eficiência. – Profissionais especializados e bem qualificados. – Flexibilidade na solução dos problemas. – Absorção de inovações tecnológicas e operacionais. – Profissionalização da Gestão dos Serviços. • Pontos Negativos: – Limitação ao estritamente especificado no Termo de Referência que servirá de base para a licitação. – Necessidade de uma gestão eficiente do contrato e de formulação e implantação de indicadores para acompanhamento e avaliação do serviço prestado. – Custos superiores aos custos próprios apurados (cerca de 17% maior). Dando continuidade aos estudos, foram obtidas referências de preços junto aos fornecedores que apresentaram suas propostas orientativas de preços unitários de refeição, cujos valores mostraram-se competitivos em relação aos custos próprios apurados. 78 OCIONE MARQUES MENDONÇA NEYANA BEZERRA PAULINO Com base nos preços de terceirização propostos e nas quantidades levantadas, realizou-se uma simulação para verificar qual seria o impacto financeiro global anual da substituição da produção própria pela terceirizada. A melhor proposta apresentada dentre as empresas pesquisadas indicou que os gastos anuais, somente com o serviço de nutrição, seria de R$12,6 milhões. Não obstante as referências de preços utilizadas estarem compatíveis com a realidade de mercado, o valor de R$12,6 milhões estimado acima foi ajustado retraindo-se para um novo patamar de R$10,73 milhões. Esse redimensionamento foi feito, para efeito de comparação, visando a tomada de decisão gerencial por parte dos gestores públicos – clientes do presente estudo técnico – pelo fato de que se espera que, com a realização do processo licitatório, concretize-se a expectativa de economia de 15%, conforme histórico dos pregões realizados pelo Governo do Estado, em relação ao valor estimado decorrente da disputa no Pregão que, segundo Fernandes (2003, p. 419) é: (...) procedimento administrativo por meio do qual a Administração Pública, garantindo a isonomia, seleciona fornecedor ou prestador de serviço, visando a execução de objeto comum no mercado, permitindo aos licitantes, em sessão pública, reduzir o valor da proposta por meio de lances verbais e sucessivos. Entretanto, as Despesas Administrativas e parte dos Custos Diretos e dos Indiretos ainda permaneceriam na estrutura de custos do setor de Nutrição com a Terceirização como, por exemplo, os gastos com Gás de Cozinha, Energia Elétrica, Água e Esgoto, Despesas Administrativas etc., perfazendo um total de R$4,96 milhões. Dessa forma, com a terceirização, o custo total da área de nutrição seria formado pelo valor contratual e por parcela de custos próprios, como visualizado no Gráfico 3 a seguir: ESTRATÉGIAS DE REDUÇÃO DE CUSTOS NA ÁREA HOSPITALAR: UMA ANÁLISE DA VIABILIDADE ECONÔMICO FINANCEIRA DA TERCEIRIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE NUTRIÇÃO DAS UNIDADES HOSPITALARES DA REDE PÚBLICA ESTADUAL DO CEARÁ 79 Gráfico 3 Custo Total da Nutrição Após Terceirização 15 ,68 , 10,72 0, 4,96 , Representatividade Representatividade Custo Total após Terceirização Valor Estimado após Pregão Gastos Próprios Remanescentes 100% 68 % 32 % Elaborado pelos autores. Com esse novo montante, depreende-se que, para que os custos com os serviços de nutrição pelo menos se mantenham no mesmo nível atual (próprio), isto é, R$13 milhões, os custos após a terceirização devem ser reduzidos em, no mínimo, 17%. Percentual este que pode ser perseguido através das estratégias de racionalização de recursos definidas a partir do diagnóstico realizado. 4 ESTRATÉGIAS DE RACIONALIZAÇÃO DE RECURSOS NOS SERVIÇOS DE NUTRIÇÃO DAS UNIDADES HOSPITALARES DA REDE PÚBLICA ESTADUAL DO CEARÁ Desde os resultados das análises contidas nos tópicos anteriores, foi possível desenhar duas grandes linhas estratégicas em busca da redução dos custos de nutrição nos hospitais a partir de um processo de terceirização. A primeira e mais importante medida proposta diz respeito ao modelo de terceirização a ser adotado que, após as avaliações e ponderações sobre as alternativas encontradas no mercado, recaiu sobre o padrão Cook & Chill em função das vantagens operacionais e financeiras inerentes ao modelo. 80 OCIONE MARQUES MENDONÇA NEYANA BEZERRA PAULINO Com a incorporação do Cook & Chill, onde a produção se daria em uma unidade exclusiva, com a concentração dos gastos racionalizados de itens como gás de cozinha, energia elétrica, água e esgoto etc., estima-se uma drástica redução nos custos próprios remanescentes. A outra ação a ser tomada refere-se à redução do volume demandado de refeições e consiste em regulamentar a Lei Estadual nº 13.363, de 16/09/2003, que “institui o Auxílio Alimentação, em pecúnia, aos servidores públicos ativos (...)”, através de Portaria ou outro instrumento normativo da Direção dos hospitais, e no efetivo controle de seu cumprimento, objetivando uniformizar as quantidades de refeições fornecidas para as clientelas de funcionários (turno diurno) e de acompanhantes nos Hospitais da Rede Estadual, de forma a evitar as discrepâncias detectadas. Essa ação implicará na retração direta do volume a ser contratado e conseqüentemente no valor do contrato. Por fim, verificou-se ainda que existe margem para atuação em outros itens de custos remanescentes, mais propriamente nos gastos com pessoal que sinalizaram um potencial de redução com o redimensionamento e otimização do quadro de servidores alocados na área de nutrição. 5 CONCLUSÃO A preocupação dos gestores públicos do Governo do Estado do Ceará em embasar suas decisões estratégicas e de repercussão financeira e operacional em estudos técnicos representam o objetivo do trabalho de analisar a viabilidade econômico-financeira da terceirização dos serviços de nutrição dos hospitais públicos estaduais do Ceará. O caráter inovador do presente estudo caracteriza-se pela adoção de metodologia segmentada em três etapas – Diagnóstico da Situação Interna Atual, Reconhecimento do Mercado Fornecedor e Definição das Estratégias de Racionalização de Recursos – as quais são essenciais para subsidiar tomada de decisão apropriada à luz do conjunto de informações obtidas durante os estudos técnicos. No Diagnóstico da Situação Interna Atual, procedeu-se ao detalhamento dos custos próprios da área de nutrição dos hospitais da rede pública estadual, verificando-se a concentração dos custos em itens com potencial de redução. ESTRATÉGIAS DE REDUÇÃO DE CUSTOS NA ÁREA HOSPITALAR: UMA ANÁLISE DA VIABILIDADE ECONÔMICO FINANCEIRA DA TERCEIRIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE NUTRIÇÃO DAS UNIDADES HOSPITALARES DA REDE PÚBLICA ESTADUAL DO CEARÁ 81 Conhecer o mercado fornecedor foi fundamental para a precificação dos produtos a valores de mercado, além de identificar novos modelos e serviços disponíveis e praticados no mercado privado. Com os dados obtidos nas duas fases anteriores, foram definidas estratégias de racionalização relacionadas ao redimensionamento do volume de refeições demandadas e a adoção do modelo centralizado de produção das refeições utilizando o método Cook & Chill. Finalmente, os resultados das análises indicam que com os preços ofertados pelo mercado fornecedor, bem como com a estrutura de custos próprios atual, não se revela viável a terceirização dos serviços de nutrição dos hospitais públicos estaduais do Ceará. 82 OCIONE MARQUES MENDONÇA NEYANA BEZERRA PAULINO Referências ABBAS. Kátia. Gestıo de custos em organiza˘þes hospitalares. 2001. 171f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. BRASIL. Decreto-lei n. 200, de 25 de fevereiro de 1967. Disponível em: http:// www.interlegis.gov.br. Acesso em 15 mai. 2006. BRASIL. Lei complementar n. 101, de 04 de maio de 2000. Lei de Responsabilidade Fiscal. Disponível em: http://www.interlegis.gov.br. Acesso em 15 mai. 2006. CEARÁ. Lei estadual n. 13.363, de 16 de setembro de 2003. Disponível em: http://www.al.ce.gov.br/legislativo/tramitando/lei/13363.htm. Acesso em 31 mai. 2006. FERNANDES, Jorge Ulysses Jacoby. Sistema de registro de pre˘os e pregıo. 2. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2003. LEITE, Eduardo de Oliveira. A monografia jurˇdica. Porto Alegre: Fabris, 1985. MIRANDA FILHO, Carlos Ramos de. Sistema de custos na administra˘ıo pblica: Uma Análise das Proposições Teóricas atuais à luz da realidade institucional – O caso da Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia. 2003. 156f. Dissertação (Mestrado em Administração). Núcleo de Pós-Graduação da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia, Salvador. A PARTICIPAÇÃO DO CLIENTE NAS ORGANIZAÇÕES: UM ESTUDO APLICADO ÀS CONCESSIONÁRIAS DE VEÍCULOS DA CIDADE DE FORTALEZA ALBERTO DOS SANTOS PAIVA FILHO1 DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES2 RESUMO: Esta pesquisa tem como objetivo analisar a participação dos clientes nas concessionárias de veículos de 4 (quatro) montadoras na cidade de Fortaleza, segundo os modelos de John e Hubbert. A relevância do tema decorre da contribuição que este assunto pode dar às empresas, além de contribuir para a uma reflexão sobre as contradições entre a teoria e a prática desta abordagem. O estudo caracteriza-se como uma pesquisa de natureza positiva e qualitativa, do tipo descritiva, que analisa o nível, os instrumentos promotores e as dimensões de motivação para a participação dos clientes nas empresas. Para tanto, foi realizada uma pesquisa de campo, junto ao corpo gerencial dessas empresas, utilizando como instrumento um questionário estruturado, baseado no modelo teórico referenciado. O resultado mostrou que é possível por meio destes modelos se delinear a participação dos clientes e que as empresas estudadas promovem um nível e de participação moderado, utilizando-se de instrumentos convencionais de comunicação, com a predominância do telemarketing e que motivam a participação de seus clientes por meio de relação interativa, que visa em primeiro lugar à satisfação destes clientes, comprovando o modelo de John. PALAVRAS-CHAVE: Participação. Gestão do Cliente. Marketing Contemporâneo. Relacionamento. ABSTRACT: This research has as objective to analyze the participation of the customers in the concessionaires of vehicles of 4 (four) assembly plants in the city of Fortaleza, according to models of John and Hubbert. The relevance of the subject elapses of the contribution that this subject can give to the companies, beyond contributing for the one reflection on the contradictions between the theory and the practical one of this boarding. The study it is characterized as a research of positive and qualitative nature, of the descriptive type, that analyzes the level, the promotional instruments and the dimensions of motivation for the participation of the customers in the companies. For in such a way a field research was carried through, next to the managemental body of these companies, using as instrument a structuralized questionnaire, based inthe theorical model. The result showed that it is possible by means of these models if to delineate the 1 Mestre em Administração. 2 Doutora em Administração – Docente do Mestrado em Administração da Universidade de Fortaleza – Unifor. 84 ALBERTO DOS SANTOS PAIVA FILHO DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES participation of the customers in the company and that the studied companies promote a level moderate of participation, is used of conventional instruments of communication, with the predominance of telemarketing and that they motivate the participation of its customers by means of interactive relation. KEY WORDS: Participation. Management of the Customer. Marketing Contemporary. Relationship. INTRODUÇÃO A participação nas atividades de produção de bens e serviços organizacionais vem emergindo em um contexto que é denominado por diversos autores como pós-modernidade, e tem como característica principal o fato do indivíduo nunca ter sido tão livre em suas escolhas privadas e públicas. O cliente pós-moderno é um indivíduo definido pelo consumo e experiências dele derivadas. Caracteriza-se pelo fato de assumir diferentes gostos, através da mudança de produtos e serviços que representam uma imagem, pois ele é um criador de auto-imagens em cada momento de consumo e não apenas um consumidor. Assim, os clientes se tornam parte da cadeia organizacional e podem ajudar a criar valor aos negócios e, como geram a auto-imagem de produtos e serviços, se tornam colaboradores, participando dos mesmos. A eficácia de uma organização voltada para o marketing, depende da aceitação que os mercados e os públicos têm com seus produtos e serviços, o que torna esta perspectiva uma oportunidade, desde que as organizações se incluam neste contexto e se voltem para os clientes, colocando-os como o centro e canalizando suas ações em termos da relação que esse indivíduo desenvolve com o objeto que deverá melhorar sua condição de vida. Sendo assim, pergunta-se: essa visão respalda o dia-a-dia das empresas? As empresas promovem a participação de seus clientes nos processos organizacionais, integrando-os na construção dos produtos e serviços que oferecem? A PARTICAÇÃO DO CLIENTE NAS ORGANIZAÇÕES: UM ESTUDO APLICADO ÀS CONCESSIONÁRIAS DE VEÍCULOS DA CIDADE DE FORTALEZA 85 O objetivo geral desta pesquisa é analisar a participação dos clientes nas concessionárias de veículos das 04 (quatro) maiores montadoras do Brasil situadas na cidade de Fortaleza, a saber, a Fiat, Ford, Volkswagem e Chevrolet, segundo os modelos de John e Hubbert, que consideram o nível de participação destes clientes além dos instrumentos que as empresas dispõem aos clientes para criarem ou motivarem esta participação. Para bem se trabalhar este objetivo, definiu-se como objetivos específicos: 1) Identificar o nível de participação do cliente nas concessionárias de veículos investigadas, segundo o modelo de Hubbert; 2) Identificar os instrumentos que são utilizados para promover a participação do cliente na organização na visão de autores diversos; e 3) Identificar a luz do modelo de John em que dimensão as concessionárias motivam seus clientes a participarem. Esta pesquisa torna-se relevante, porque busca contribuir para a reflexão sobre o tema, além de poder servir de orientação para gestores e organizações que sentem necessidade de motivar a participação de seus clientes e consumidores. Este estudo foi estruturado em 03 (três) etapas: A primeira descreve a fundamentação teórica que dá o embasamento da pesquisa, a segunda apresenta a metodologia da pesquisa e a terceira etapa apresenta a análise de dados e interpretação dos resultados. 1 A EMPRESA E O CLIENTE PÓS-MODERNO O uso do conceito de participação pode ser observado há pelo menos 200 anos. McLagan e Nel (2000, p. 29 a 31) identificaram denominações como: autogerenciamento, envolvimento dos funcionários, administração ou gestão participativa, autogestão e co-gestão em pesquisas sobre o histórico da participação. A idéia de participação existe desde a Antiguidade, tendo sido inventada pelos gregos, com o nome de democracia. Embora a idéia seja antiga, passou a tomar corpo no mundo moderno somente a partir da Segunda Guerra Mundial, assumindo forma concreta e despertando o interesse das organizações, conforme estudos realizados por Leite et al. (2000, p. 194). 86 ALBERTO DOS SANTOS PAIVA FILHO DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES Autores estudiosos do tema participação organizacional (MENDONÇA, 1987; FERREIRA, 1998; PINTO, 1995; MACHADO, 2002; LERNER, 1996 e BARROS, 1991) afirmam que desde o final do século XX a participação constitui um dos mais importantes temas da teoria e práticas organizacionais e, seja no meio acadêmico, ou no interior das organizações, é sempre um tema muito discutido e polêmico, por causa do teor de liberdade de expressão e ação que ele traz consigo. Neste contexto, Perpers e Rogers (1994) afirmam que seria muito benéfico para as empresas se elas buscassem o relacionamento individualizado com seus clientes, pois a natureza do relacionamento com cada um deles acontecerá de forma colaborativa. O cliente deve perceber que as empresas estão pedindo a sua colaboração. Para Paterman (apud MOGGI, 1991, p. 7) e Brewer (1996, p. 24), a participação consiste basicamente na criação de oportunidades para que as pessoas influenciem decisões que as afetarão. Neste contexto, entra a participação do cliente na organização que segundo Dabholkar (apud BENDAPUDI, 2003) é definida como o grau com o qual o cliente está envolvido na produção e entrega do produto ou serviço. Em um estudo que combina as percepções dos clientes e dos funcionários com os quais o cliente interage na empresa, Wikstrom (1996) mostra que a participação do cliente aliada ao esforço que o funcionário dedica ao serviço é determinante na qualidade percebida do serviço, o que na verdade é valor percebido pelo cliente. Prahalad (apud STAHL, 2004) entende que o parceiro mais importante para uma organização é o cliente, e que, se a empresa não adaptar sua infra-estrutura para permitir que o cliente assuma seu papel no processo de criação de valor para a organização, ela corre o risco de que sua habilidade para competir no futuro seja fortemente ameaçada. Bendapudi (2003) examina os efeitos da participação na satisfação do cliente e concluiu que o grau de satisfação do cliente é dependente do nível de participação. Isto implica dizer que quanto mais a empresa envolve o cliente na produção dos bens e dos serviços, mais eles participam e mais eles se sentem parte integrante da empresa. A PARTICAÇÃO DO CLIENTE NAS ORGANIZAÇÕES: UM ESTUDO APLICADO ÀS CONCESSIONÁRIAS DE VEÍCULOS DA CIDADE DE FORTALEZA 87 Os modelos modernos relacionados ao ciclo produção-consumo sempre incluem o consumidor de forma passiva, enquanto as ações de marketing partem do produtor. O consumidor ocupa, assim, uma posição fixa, sendo considerado um alvo que recebe vários produtos provenientes das ações mercadológicas. Nas estruturas pós-modernas, o marketing terá que abandonar estes modelos e considerar estruturas em que ambos se movam, ou os produtos permaneçam fixos, enquanto os consumidores se movem. No marketing pós-moderno, o consumidor não é um alvo, mas uma ligação no contínuo processo de produção e reprodução de imagens e simbolismos. O consumidor pós-moderno busca experiências em situações de produção-consumo. Os paradigmas existentes são totalmente incapazes de lidar com estas situações. O marketing precisa de modelos apropriados à dinâmica pós-moderna de movimento contínuo, fragmentação e de mudança nas representações simbólicas, afirma Firat et al, (1995). O Pós-modernismo proporciona uma base para entender o papel maior do cliente na produção, assim como no consumo. Na medida em que os clientes se tornam customizados, as organizações de marketing lhe oferecerão cada vez mais processos do que produtos acabados. Os consumidores que são integrados nos sistemas de produção serão necessariamente conceitualizados como produtores. A participação do cliente na organização dá-se em um encontro de serviço. De um modo geral, o uso do termo encontros de serviço tem se focalizado no elemento interpessoal do desempenho de uma empresa de serviços. Shostack (apud WALKER, 1995), entretanto, define o encontro de serviços como algo mais amplo – “um período de tempo no qual o cliente interage diretamente com um serviço”. Sua definição abrange todos os aspectos do serviço com os quais o consumidor possa interagir, incluindo pessoal, as facilidades físicas e outros elementos visíveis. Segundo Hubbert (in BITNER et al, 1997, p. 194) a participação do cliente no encontro de serviço varia de acordo com os 3 (três) níveis apresentados na tabela a seguir: 88 ALBERTO DOS SANTOS PAIVA FILHO DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES Tabela 1 Níveis de participação do cliente nos diversos tipos de serviços. Baixo: A presença do cliente é necessária durante a entrega do serviço. Produtos são padronizados. O serviço é realizado sem considerar as conseqüências de qualquer compra individual. O pagamento pode ser a única ação requerida ao cliente Exemplos: Consumidor final Viação Aérea. Restaurante Fast-Food; Lavagem de uniformes. Dedetização; Serviço de manutenção de jardins internos. Moderado: Requerida a interação com o cliente para a realização do serviço. Informações do cliente tornam um serviço padrão customizado. A entrega do serviço requer a compra pelo cliente. Interações com o cliente: (informações, materiais) são necessárias para um resultado adequado. Exemplos: Corte de cabelo. Exame médico anual Agência de publicidade. Serviço de Folha de Pagamento. Alto: O cliente co-cria o produto do serviço. A participação ativa do cliente orienta o serviço. O serviço não pode ser criado sem a participação ativa do cliente na compra. As interações com o cliente tornam-se obrigatórias para co-criar o resultado do serviço. Exemplos: Treinador pessoal; Programa de redução de peso; Consultoria gerencial; Seminário para Executivos Instalação de Redes Metropolitanas (WAN) HUBBERT (1995, in Bitner et al.,1997, pág. 194), adaptado pelo autor. Para Hubbert (in BITNER et al, 1997, p. 195), a participação do cliente na organização apresenta três níveis: a) baixo: a participação se reduz à presença do cliente durante a realização do serviço, b) moderado: para um resultado adequado do serviço, faz-se necessária a interação com o cliente, opinando sobre o serviço e, c) alto: quando é obrigatória a interferência do cliente na co-criação do serviço. Já para John (2003), o que motiva o cliente a participar na organização é o seu envolvimento no processo de troca e transformação, denominado encontro de serviços e o resultado é o conhecimento do processo. A autora destaca dimensões afetivas, culturais, intencionais, de atitudes e benefícios classificando-as em motivações relacionadas à realização de tarefas ou não. No processo do encontro do serviço, são destacadas as dimensões funcionais, técnicas e de auto-serviço e igualmente à proposta de Hubbert (1995), os níveis de participação baixo, médio ou alto, além de destacar os benefícios da participação, que estão relacionados à satisfação. A PARTICAÇÃO DO CLIENTE NAS ORGANIZAÇÕES: UM ESTUDO APLICADO ÀS CONCESSIONÁRIAS DE VEÍCULOS DA CIDADE DE FORTALEZA 89 A Figura 1 apresenta a proposta de John para análise da participação do cliente na organização. Figura 1 Modelo da participação do Cliente e Controle na Realização do Serviço. JOHN, Denise (2003), adaptado pelo autor. O modelo apresentado por John (2003) descreve a participação do cliente no processo de troca e transformação. Este processo deve ser motivado pela organização que colherá como resultado uma série de benefícios, que a autora denominou de psicológicos e utilitários. Três dimensões fundamentais são destacadas quando o cliente participa da realização e conseqüente do consumo do serviço: 1) a sua motivação; 2) o processo de transformação e conseqüente a troca, que apresenta praticamente um serviço personalizado e 3) o resultado e o processo apreendido pelo cliente e principalmente por parte da empresa. John (2003), por meio de seu modelo, detalha os principais elementos de cada 90 ALBERTO DOS SANTOS PAIVA FILHO DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES dimensão e designa como as motivações do cliente e os vários níveis de participação interagem com os componentes humanos e físicos do serviço durante o processo de transformação e de que forma vão influenciar na percepção do processo e no resultado. Especifica também, como a participação funcional, técnica e de auto-serviço estão relacionadas com as motivações inerentes à tarefa ou não, com a percepção do processo e com os resultados psicológicos ou utilitários. As motivações iniciais do cliente, tais como as atitudes e expectativas, dirigem o comportamento do consumidor no processo de transformação/troca durante as interações com o serviço e o pessoal da empresa. Clientes podem ser motivados para participar do serviço por razões econômicas, tais como baixa de preço, para satisfazer necessidades sociais ou simplesmente para participar da experiência (GRONROOS, 1990). As motivações individuais que aparecem no modelo de John (2003) são forças diretoras que podem ser naturais ou aprendidas, tais como: fatores estimulantes, necessidades e desejos ou valores que dirigem a vontade de se engajar num objetivo específico ou comportamento de consumo (KATZ, 1960; MASLOW, 1970; ROKEACH, 1973; SHETH, 1989; NEWMAN & GROSS, 1991; SIRGY, 1983, apud JOHN, 2003). O modelo releva consideravelmente as motivações relacionadas às tarefas, que é o envolvimento nas ações e nas não tarefas, relacionado às percepções e sugestões. As motivações gerais são definidas na literatura como tendo a habilidade de dirigir, durante a realização do serviço, tanto as interações humanas como as não-humanas (máquinas e equipamentos), enquanto que as motivações não relacionadas às tarefas vão usualmente ter impacto na participação funcional do cliente. As relacionadas à tarefa por sua vez, impactam tanto a participação técnica do cliente, como quando ele realiza o seu próprio serviço (JOHN, 2003). A participação do cliente ocorre como uma interação na realização do processo de transformação/troca na produção e consumo do serviço. Por isso é que, para John (2003), a participação pode ser funcional, técnica ou de auto-serviço e ocorrer nos níveis alto, médio e baixo. Interações humanas geralmente envolvem participação técnica ou funcional e as não-humanas o auto-serviço. Na maioria das vezes, a participação A PARTICAÇÃO DO CLIENTE NAS ORGANIZAÇÕES: UM ESTUDO APLICADO ÀS CONCESSIONÁRIAS DE VEÍCULOS DA CIDADE DE FORTALEZA 91 funcional contribui para resultados psicológicos e a participação no auto-serviço contribui para resultados utilitários. Dependendo dos objetivos do cliente e da natureza dos serviços, os clientes podem interagir com um ou ambos componentes humanos e não-humanos do serviço, e contribuir, via qualquer combinação das três formas de participação. O processo de transformação conduz o cliente a perceber que ele é participante ativo dos processos organizacionais. Os resultados desta percepção são usualmente classificados como psicológicos ou utilitários, dependendo se a organização os orienta a se envolverem nos processos ou simplesmente os orienta a utilizarem as máquinas e equipamentos. O controle do cliente, dentro do modelo, se manifesta como uma motivação, comportamento, resposta ou resultado percebido por ele mesmo. Esse controle pode ocorrer como o resultado de fontes de controle cognitivo, decisório ou comportamental como afirma Averill (apud JOHN, 2003). Porém, as três dimensões: motivações, transformações e percepções são interconectadas e se influenciam simultaneamente, dependendo das respostas durante a interação das partes. Clientes podem então ser orientados a terem motivações múltiplas e contribuírem com um, dois ou os três tipos de dimensões de participação e podem atingir resultados psicológicos, utilitários ou ambos. O processo de transformação remodela as motivações iniciais e influencia as motivações dos encontros subseqüentes. Este modelo permite visualizar o cliente de múltiplas maneiras: a) como um produtor do serviço, usuário ou influenciador (COWELL, 1984); b) como um elemento do produto (LOVELOCK & WRIGHT 1999); c) como empregado em tempo parcial (MILLS & MORRIS 1986); d) como recurso (MILLS, 1990); e) como co-produtor (LOVELOCK, 1996); f) como um recurso produtivo, contribuindo para a qualidade, satisfação e valor e g) como competidor no auto-serviço (BITNER et al. 1997). Bordenave (1983, p.33) afirma que o nível e o grau são questões-chave na participação em uma organização. O grau de participação refere-se ao controle que o participante tem sobre as decisões tomadas na organização. Já o nível de participação, que é considerado outra questão-chave, se refere à importância das decisões, nas quais os participantes da empresa têm acesso. 92 2 ALBERTO DOS SANTOS PAIVA FILHO DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES METODOLOGIA DA PESQUISA Esta pesquisa, quanto à tipologia, segue o que orientam Malhotra (2001, p.107), Mattar (2001, p.18), Vergara (2004, p. 49) e Forte (2003, p. 8) e se caracteriza por ser um estudo exploratório e descritivo. Considera-se uma pesquisa exploratória pela busca de maior conhecimento sobre o assunto em sua fase bibliográfica, seguindo o que dizem Mattar (2002, p. 26) e Malhotra (2001, p. 105): “esta fase da pesquisa é apropriada para estágios iniciais de investigação, quando a compreensão do problema a ser pesquisado é pouco conhecida do pesquisador, tendo como principal objetivo prover o pesquisador à compreensão do problema que irá enfrentar. A fase exploratória para esta pesquisa constou da definição do problema com maior precisão, para identificação de cursos relevantes de ação e para obtenção de dados adicionais, que lhe dessem maior consistência. O método utilizado na pesquisa exploratória foi basicamente o levantamento em fontes secundárias, incluindo levantamentos bibliográficos, documentais (dados das concessionárias), outras pesquisas já realizadas (dissertações e teses), artigos de publicações especializadas na Internet, artigos publicados em jornais e revistas científicas e bancos de dados on-line. O levantamento de documentos se deu através de contatos com pessoas que possuem informações acerca do objeto de pesquisa. Dentre estas, o responsável pela FENABRAVE – Ceará, na pessoa do Sr. Fernando Dantas, advogado e gestor da instituição, que passou as informações necessárias que não estavam disponíveis no website da instituição. Esta pesquisa que também é considerada descritiva assume esta tipologia devido ao seu objetivo e à significativa e relevante coerência entre o objeto de estudo e seu propósito, considerando o que diz Mattar (2002, p. 45), quando define a pesquisa descritiva como aquela que é utilizada em casos que haja a necessidade de descrever as características de grupos; estimar proporção de elementos numa população específica que tenha determinadas características ou comportamentos. A pesquisa também se caracteriza como um estudo de campo que é um tipo básico de pesquisa descritiva. Mattar (2001, p. 26) afirma que o estudo de campo se caracteriza pela preocupação do pesquisador em fazer um estudo mais profundo de algumas situações típicas. O caso específico deste estudo enquadra-se A PARTICAÇÃO DO CLIENTE NAS ORGANIZAÇÕES: UM ESTUDO APLICADO ÀS CONCESSIONÁRIAS DE VEÍCULOS DA CIDADE DE FORTALEZA 93 no que afirma o autor, pois analisa no âmbito das concessionárias de veículos o nível de participação dos clientes, assim como os mecanismos utilizados para promover a participação, bem como a dimensão que esta participação atinge. Quanto à natureza das variáveis, Forte (2003, p.8) classifica as pesquisas como quantitativas e qualitativas. Nas quantitativas, predominam os métodos estatísticos, com utilização de variáveis bem definidas e cálculos, utilizando estatísticas descritivas e/ou inferenciais. Nas qualitativas, há uma predominância de classificações e de análises mais dissertativas. Por fim, o autor evidencia que como sempre há explicações para fenômenos, cálculos e resultados quantitativos, as pesquisas têm em si os dois métodos. Este estudo se enquadra como qualitativo e quantitativo, pois utiliza técnicas estatísticas e análises bem dissertativas, e fez opção por métodos diretos, não usando qualquer disfarce para atingir seus objetivos. A população da pesquisa foi definida como sendo todas as concessionárias de veículos automotores, representantes das 04 maiores montadoras do Brasil, instaladas na cidade de Fortaleza, Estado do Ceará, segundo orientação da FENABRAVE – Federação Nacional dos Distribuidores de Veículos do Brasil, regional Ceará. A pesquisa utiliza um censo, pois atinge todas as concessionárias de Fortaleza. O montante de lojas concessionárias das 04 (quatro) maiores montadoras do Brasil, na cidade de Fortaleza são 17 (dezessete). Este dado se conforma com o que afirma Aaker et al (2001, p. 378), que o censo é apropriado quando o tamanho da amostra é bastante pequeno ou quando são necessárias informações sobre todos os sujeitos da população. Corroborando com ele Cooper & Shindler (2003, p. 151), descrevem que o censo é viável quando a população é pequena e necessário quando os elementos são muito diferentes entre si. Esta pesquisa utilizou-se de tipos e fontes de dados secundários e primários. As fontes de dados primários foram diretamente as concessionárias de veículos. Os respondentes são necessariamente executivos que exerçam cargo de gerentes na empresa. O meio básico da coleta de dados primária é a comunicação que segundo Mattar (2001, p. 67), consiste no questionamento, oral ou escrito, dos 94 ALBERTO DOS SANTOS PAIVA FILHO DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES respondentes, para a obtenção do dado desejado, que será fornecido por declaração oral ou escrita do próprio respondente. Como instrumento de pesquisa, foi utilizado o questionário de grau estruturado e não disfarçado. Para atender aos objetivos propostos, a análise e a interpretação dos dados coletados foram elaborados de acordo com as técnicas de análise tabular e descritiva, com freqüência absoluta, média, correlação e análise fatorial, seguindo-se de uma análise qualitativa. 3 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS Em decorrência da quantidade de variáveis e indicadores, optou-se por dispor os resultados da pesquisa em 03 (três) itens principais: o primeiro é relativo à identificação do nível de participação dos clientes segundo Hubbert; o segundo é relativo à identificação dos instrumentos promotores da participação do cliente e o terceiro é relativo a identificação das dimensões da participação dos clientes segundo o modelo de John. 3.1 Análise do nível de participação dos clientes nas concessionárias O nível de participação dos clientes segundo o modelo de Hubbert foi identificado nesta pesquisa por meio da média dos valores atribuídos pelos respondentes aos indicadores, segundo uma escala intervalar, no modelo de Likert com valores de 1 a 5, demonstrando seu nível de concordância com 5 para concordo totalmente; 4 para concordo; 3 para não concordo, nem discordo; 2 para discordo e 1 para discordo totalmente, conforme descrito na Tabela 2. Segundo os dados apresentados na Tabela 2, o nível moderado apresenta a maior média com um valor de 4,35, segundo o grau de concordância dos gerentes das concessionárias. Estatisticamente, o teste aplicado utilizando a média dos indicadores aponta inferência, pois o teste Kolmogorov-Smirnov (K-S) da amostra apresentou todos os valores maiores do que 0,33 (zero ponto trinta e três), valor considerado crítico para a amostra analisada. Isto significa que a distribuição dos dados atende os parâmetros da distribuição normal exigida para os testes estatísticos. A PARTICAÇÃO DO CLIENTE NAS ORGANIZAÇÕES: UM ESTUDO APLICADO ÀS CONCESSIONÁRIAS DE VEÍCULOS DA CIDADE DE FORTALEZA 95 Outro aspecto considerado na análise a fim de fornecer maior confiabilidade à pesquisa foi o cálculo do nível de significância. Com isso, observou-se que o valor da média obtida é considerada consistente pela segurança de 98% que foi encontrado, uma vez que o valor do teste de significância é igual a 0,02. Verifica-se que dos 17 gestores entrevistados todos discordaram que a concessionária limita a participação do cliente no serviço somente à presença dele. Todos foram unânimes em responder que os clientes interagem na prestação dos serviços, desde o serviço oferecido pelos atendentes que vendem os bens, como aqueles que são prestadores de serviços. Nenhuma das empresas entrevistadas, segundo o discurso de seus gestores, está no nível baixo de participação. Ao contrário do nível baixo, todos os gestores concordam que os clientes participam de forma interativa dos serviços oferecidos pela concessionária. Foi unânime a confirmação dos respondentes que a interação maior consiste em informações trazidas para um resultado adequado, confirmando, desta forma, a hipótese de que os clientes, segundo este modelo, participam em nível moderado. Destacam-se neste nível de participação as respostas dos gestores das concessionárias 12 e 13. O respondente da concessionária 12 afirmou que a empresa disponibiliza aos clientes atendimento com hora marcada, dependendo de suas necessidades e compromissos, enquanto o da empresa 13 afirmou que os clientes têm a liberdade de ficar próximos a execução do serviço e observar o operador, pedir explicações e entender o processo do serviço. Todos os gerentes afirmaram que em suas empresas não existe a prática do nível alto de serviço, segundo Hubbert porque o cliente não pode interferir como um co-produtor. A explicação foi basicamente a mesma. A maior contingência de serviços de uma concessionária se dá na oficina e são muito especializados, exigindo dos operadores uma formação específica para execução dos mesmos. Como afirmou o gestor da concessionária 16: “Os clientes não interferem, pois os serviços são muito especializados e o pessoal que executa foi treinado nas próprias montadoras”. 96 ALBERTO DOS SANTOS PAIVA FILHO DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES Tabela 1 Nível de participação segundo Hubbert. Alto Nível de Participação (Hubbert) Moderado Baixo A participação O cliente se reduz à interage durante O cliente presença do a realização do interfere como cliente durante serviço para um co-produtor do serviço a realização do resultado serviço adequado Média 1,76 4,35 1,41 Desvio Padrão 1,15 1,11 0,80 Kolmogorov-Smirnov Z-S 1,38 1,51 1,66 Significância 0,04 0,02 0,01 Elaboração do autor segundo a coleta de dados. 3.2 Identificação dos instrumentos que são utilizados para promover a participação do cliente na organização A Tabela 2 apresenta a distribuição de freqüências relativas aos instrumentos que são utilizados pelas concessionárias para promover a participação de seus clientes. Verifica-se que os instrumentos “Reuniões sistemáticas envolvendo grupos específicos” e “Visitas dos vendedores”, são pouco utilizados pelas concessionárias. Os demais instrumentos analisados são muito utilizados: Tabela 2 Distribuição de freqüências dos instrumentos utilizados para promover a participação do cliente. 1 2 3 4 5 6 7 Instrumentos Telemarketing Pesquisas de satisfação no ponto de vendas Pesquisas de opinião do ponto de vendas Promoções de vendas Cartas de mala direta Visitas dos vendedores Reuniões sistemáticas envolvendo grupos específicos Freqüências Sim Não 17 0 16 1 15 2 14 3 14 3 8 9 5 12 Percentuais Sim Não 100,00 0,00 94,12 5,88 88,24 11,76 82,35 17,65 82,35 17,65 47,06 52,94 29,41 70,59 Elaborado pelo autor. A PARTICAÇÃO DO CLIENTE NAS ORGANIZAÇÕES: UM ESTUDO APLICADO ÀS CONCESSIONÁRIAS DE VEÍCULOS DA CIDADE DE FORTALEZA 97 O uso do Telemarketing é utilizado por 100% das distribuidoras pesquisadas, seguido de: “Pesquisas de satisfação no ponto de Venda” com 94,12%. Em um segundo bloco com percentuais variando de 88,24% a 82,35%, foi encontrado respectivamente: “Pesquisa de opinião no ponto de vendas”, “Promoções de Venda” e “Cartas de mala direta”. Verificou-se pelo discurso dos gerentes que a grande maioria das concessionárias utilizam a Pesquisa de Opinião para promover a participação de seus clientes. Vários são os instrumentos utilizados: utilizam via telemarketing; programas específicos como CRM e QCP; caixinha de sugestão e abordagem pessoal, quando os clientes fazem visitas à Concessionária. O uso do telemarketing nas concessionárias para promover a participação de seus clientes é fortemente utilizado, percebe-se pelo discurso dos gestores que existe uma cultura que favorece o uso desta ferramenta. São considerados instrumentos eficazes, que trazem grandes retornos, pois além de atrair novos clientes, são utilizados para pesquisas de opinião e satisfação, aumentando o índice de retenção dos clientes, correspondendo ao que Kotler define para o uso deste instrumento. 3.3 Identificação das dimensões de motivação para participação Ainda como parte dos objetivos deste estudo, a análise fatorial foi empregada com o intuito de identificar as dimensões da motivação para a participação. Os indicadores da variável motivação foram extraídos do modelo de Denise John (2003), detalhados na figura 4. Os gerentes das concessionárias foram solicitados a informar seu grau de concordância, numa escala Likert de 5 pontos, sendo 5 para concordo totalmente; 4 para concordo; 3 para nem concordo e nem discordo; 2 para discordo e 1 para discordo totalmente, com as motivações dos clientes para a participação na empresa. O uso da análise fatorial de componentes principais neste trabalho teve por objetivo: a) reduzir o número de variáveis por meio da eliminação da redundância (AAKER et. al, 2001) e b) identificar dimensões latentes ou fatores que expliquem as correlações entre um conjunto de variáveis (MALHOTRA, 2001). O coeficiente Alfa de Cronbach foi utilizado para verificar a confiabilidade do questionário aplicado. O coeficiente Alfa de Cronbach (Tabela 6) apresentou o valor de 0,93 (>0,6) o que indica confiabilidade satisfatória da consistência interna. 98 ALBERTO DOS SANTOS PAIVA FILHO DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES Tabela 3 Análise de Confiabilidade Coeficiente Alfa de Cronbach Motivações do cliente para participação. R E L I A B I L I T Y A N A L Y S I S – S C A L E (A L P H A) Coeficiente de Confiabilidade N de Casos = 16,0 N de Itens = 23 AlphaCronbach = ,9312 Elaborada pelo autor. Para a análise fatorial, utilizou-se a abordagem denominada componentes principais, que leva em conta a variância total dos dados (MALHOTRA, 2001) seguida de rotação varimax. Tabela 4 Autovalores e variância: fatores extraídos e rotacionados para motivação do cliente. Total da Variância Explicada Eigenvalues iniciais Fator Total 1 2 3 4 5 11,05 3,19 2,47 1,62 1,34 Somas dos quadrados das cargas rotacionadas % da Variância % Acumulado Total % da Variância % Acumulado 48,03 13,86 10,72 7,06 5,81 48,03 61,90 72,62 79,69 85,50 8,83 3,24 3,20 2,76 1,64 38,38 14,11 13,90 11,98 7,13 38,38 52,48 66,38 78,37 85,50 Método de Extração: Análise dos Componentes Principais Dados da pesquisa. Os loadings de 05 fatores emergiram com 09 interações, considerando o autovalor (eigenvalue) maior ou igual a 1.0. Os autovalores dos cinco primeiros fatores escolhidos são maiores do que 1, sendo que o fator predominante possui o valor mais alto 8,83 e representa 38,38% da variância. Os cinco fatores extraídos atingem 85,50% da variância da amostra. Este índice encontra-se acima dos 60% considerados satisfatórios por Hair & Anderson (1992). Exceto para a variável: “Porque é estimulado pela montadora”; as cargas dos fatores são positivas e maiores que 0,59. Esta variável teve um índice de concordância muito alto, com respostas do tipo concordo e concordo totalmente. A Tabela 8 mostra as cargas fatoriais atribuídas aos fatores de cada variável, que são as contribuições das várias variáveis 99 A PARTICAÇÃO DO CLIENTE NAS ORGANIZAÇÕES: UM ESTUDO APLICADO ÀS CONCESSIONÁRIAS DE VEÍCULOS DA CIDADE DE FORTALEZA para os 5 componentes retidos. As contribuições representam a correlação entre cada variável original e cada um dos fatores e permitem interpretar a sua natureza. Para o efeito, consideraram-se apenas as contribuições significantes (entre 0,4 e 0,5) e muito significante (> 0,5) de acordo com Hair & Anderson (1992). Neste estudo, foram consideradas somente contribuições muito significantes acima de 0,59. A tabela mostra também as comunalidades das variáveis incluídas no modelo, sendo comunalidade a quantidade de variância que uma variável compartilha com todas as outras variáveis incluídas na análise, conforme explica Malhotra, (2001), ou seja, o percentual de cada variável que é explicado pelos fatores em conjunto. A variável que melhor foi explicada pelos fatores (maior comunalidade) foi: “Por ser uma ação societal (outros clientes participam)” com 95,4% de sua variância captada pelos fatores e a de menor explicação foi “Porque é estimulada pela montadora”, explicando 63,7% da variância dos fatores estudados. A variável “Para garantir a qualidade do resultado” com 95,8% de sua variância explicada pelos fatores constitui ela mesma um fator. Tabela 5 Variáveis das dimensões da motivação e participação do cliente nas organizações e suas comunalidades. Matriz de Componentes rotacionada Variáveis 1 “Por ser uma ação societal (outros clientes participam)”. Por trazer benefícios psicológicos ao cliente 2 Componentes 3 4 0,921 0,179 0,228 0,132 5 -0,069 Comunalidades 0,954 0,916 0,165 0,200 -0,037 0,066 0,913 Por ser um processo eficaz 0,881 0,305 0,050 0,178 0,045 0,905 Por sentir a utilidade do cliente na tarefa 0,870 0,334 0,132 0,049 0,034 0,889 0,848 -0,215 0,151 -0,140 0,033 0,809 0,796 0,346 -0,029 -0,030 -0,342 0,871 Para o cliente ter o controle da decisão 0,795 0,111 0,377 0,174 0,312 0,913 Por que sente necessidade de promover a participação 0,789 0,206 0,532 0,003 -0,026 0,948 Para gerar dependência na relação cliente-empresa 0,766 -0,081 0,047 -0,321 0,400 0,859 Porque o cliente tem a disposição para participar 0,700 0,202 0,417 -0,223 -0,381 0,899 0,675 0,080 0,575 0,246 0,173 0,882 0,613 0,518 0,079 -0,467 0,191 0,905 0,070 0,876 0,166 0,131 0,127 0,833 0,363 0,806 -0,074 0,215 -0,043 0,835 0,167 0,733 0,291 -0,220 0,265 0,769 Por que o cliente tem a habilidade para construir o que lhe interessa Porque os clientes preferem ser independentes e isso acontece Para ter o controle cognitivo da situação na relação empresa-cliente Porque gera lealdade à empresa Para economizar tempo nos processos Para a construção do relacionamento empresa-cliente Para melhorar o desempenho organizacional 100 ALBERTO DOS SANTOS PAIVA FILHO DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES Para se socializar organizacionalmente 0,053 0,232 0,825 0,218 -0,287 0,867 Por que é estimulado pela montadora -0,298 -0,005 -0,736 -0,071 -0,047 0,637 Porque gosta de motivar 0,605 0,140 0,634 -0,143 0,240 0,865 Para participar da experiência 0,030 -0,012 0,069 0,809 -0,097 0,669 Para diminuir a chance de riscos de erros 0,512 0,028 0,299 0,751 0,091 0,925 Para satisfazer necessidades sociais 0,079 0,449 0,436 0,684 -0,070 0,870 Por razões econômicas 0,438 0,023 -0,305 0,592 0,230 0,688 Para garantir a qualidade do resultado 0,101 0,454 -0,079 -0,030 0,857 0,958 Método de Extração: Análise do Principal Componente Método de Rotação: Varimax com Normalização Kaiser Rotação convergida em 9 interações Dados da pesquisa. Os componentes são extraídos em ordem decrescente de importância, assim o primeiro fator é o mais importante, representando cerca de 38,38% da variância total e é composto pelas variáveis: “Por trazer benefícios psicológicos ao cliente”, “Por ser um processo eficaz”, “Por sentir a utilidade do cliente na tarefa”, “Por que o cliente tem a habilidade para construir o que lhe interessa”, “Porque os clientes preferem ser independentes e isso acontece”, “Para o cliente ter o controle da decisão”, “Porque sente necessidade de promover a participação”, “Para gerar dependência na relação cliente-empresa”, “Porque o cliente tem a disposição para participar”, “Para ter o controle cognitivo da situação na relação empresa-cliente” e “Porque gera lealdade à empresa”. A dimensão subjacente a estas variáveis é a que se refere ao cliente e ao relacionamento cliente-empresa. Por esta razão, este fator é denominado relacionamento cliente-empresa. O segundo fator em ordem de importância, explicando 14,11% da variância total é composto pelas variáveis: “Para economizar tempo nos processos”, “Para a construção do relacionamento empresa-cliente” e “Para melhorar o desempenho organizacional”. Pelas características das variáveis envolvidas, a este fator foi atribuído o nome produtividade. O terceiro fator captado pela análise fatorial, com 13,9% da variância total é composto pelas variáveis “Para se socializar organizacionalmente” e “Porque gosta de motivar” e foi denominado: sociabilidade. O quarto fator, respondendo por 11,98% da variância total, e, composto pelas variáveis: “Para participar da experiência”, “Para diminuir a chance de riscos de erros”, “Para satisfazer necessidades sociais” e “Por razões econômicas” foi denominado por economia. A PARTICAÇÃO DO CLIENTE NAS ORGANIZAÇÕES: UM ESTUDO APLICADO ÀS CONCESSIONÁRIAS DE VEÍCULOS DA CIDADE DE FORTALEZA 101 Finalmente o quinto e último fator, que corresponde a 7,13% da variância total e é composto por uma única variável: “Para garantir a qualidade do resultado” foi denominado por qualidade. A análise fatorial destacou então cinco dimensões da motivação para o cliente participar na organização segundo o modelo de Denise John (2003): relacionamento cliente-empresa, produtividade, sociabilidade, economia e qualidade. 4. CONCLUSÃO Pelos resultados apresentados, considera-se que esta pesquisa teve seus objetivos atingidos, pois o primeiro objetivo específico que era identificar o nível de participação do cliente nas concessionárias de veículos investigadas, segundo o modelo de Hubbert foi atinfgido, pois, identificou-se que na opinião dos respondentes que as concessionárias estão em um nível de participação moderado. O segundo objetivo específico que era identificar os instrumentos que são utilizados para promover a participação do cliente na organização na visão de autores diversos. Este objetivo específico também foi atingido, pois se identificou que o telemarketing e a pesquisa de opinião são os instrumentos mais utilizados para promover a participação dos clientes nas empresas. O terceiro objetivo específico que era identificar à luz do modelo de John (2003) em que dimensão as concessionárias motivam seus clientes a participarem também foi atingido, pois foi identificado que a dimensão que as concessionárias motivam seus clientes a participarem é o relacionamento cliente-empresa. Identificou-se que, segundo os gerentes das concessionárias, elas não têm em seus planos particulares pontos que possam dimensionar a participação dos clientes. Porém, segundo o modelo da base teórica, eles consideraram a variável descrita como estímulo que é dado pela montadora, muito relevante, fazendo com que o objetivo específico, considere como identificado esta variável que está dentro da dimensão relacionamento cliente-empresa. Porém a variável: Por ser uma ação societal, foi considerado relevante para os respondentes, embora esta dimensão esteja no relacionamento empresa-sociedade. 102 ALBERTO DOS SANTOS PAIVA FILHO DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES Referências AAKER, D. A; KUMAR, V., DAY, G. S. Pesquisa de marketing. São Paulo: Atlas, 2001. BARROS, Cláudius DÀrtagnan C. de. Qualidade e participa˘ıo: o caminho para o êxito. São Paulo: Nobel, 1991. BATESON, John E. G. E HOFFMAN, K. Douglas. Marketing de servi˘os, 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. BERGMAN, B; KLEFSJO, B. Quality: From Customer Needs to Customer Satisfaction; Sweden: Mc Graw-Hill, 1994. Disponível em <http://www.emeraldinsigth.com >. Acesso em 18/07/2004. BENDAPUDI, N. Study of Consumer behavior in service. Journal of retailing, Vol. 77 No. 6, 2003. Disponível em <http: // www.emeraldinsigth.com >. Acesso em 12/08/2004. BETTENCOURT, L.A. . Customer voluntary performance: customers as partners in service delivery, Journal of retailing, Vol. 73 No. 3, pp. 383-406, 1997. Disponível em <http: // www.emeraldinsigth.com >. Acesso em 18/07/2004. BITNER, Mary Jo, FARANDA, William T., HUBBERT, Amy R., ZEITHAML, Valarie A., Customer contributions and roles in service delivery, International journal of service industry management, Vol. 8 N° 3, 1997. Disponível em <http: // www.emeraldinsigth.com >. Acesso em 18/06/2004. BOWEN, D.E. Managing customers as human resources in service organizations, human resources management, 1986. Disponível em <http: // www.emeraldinsigth.com. Acesso em 18/07/2004. BONOMA, Thomas V. – Case research in marketing: opportunities, problems, and process. Journal of marketing research, Vol XXII, May 1985. Disponível em <http: // www.emeraldinsigth.com >. Acesso em 18/07/2004. BORDENAVE, Juan E. Diaz. O que ˚ participa˘ıo – 2. ed. S. Paulo: Brasiliense, 1985. BREWER, Ann M. “Developing commitent between managers and employees”. Journal of managerial psychology: Sidney (Australia) v. 11, n° 4, 1996, p. 24. Disponível em <http: // www.emeraldinsigth.com >. Acesso em 18/08/2004. CAVALCANTE, Fabiane de B. Figueiredo. Marketing de relacionamento no franshising: um estudo no setor fast-food. Dissertação de mestrado. Fortaleza: Unifor, 2002. COLOMBINI, Letícia. Ouça o que Ele diz. Revista voc¸ s.a. Editora Abril, março, 2000. A PARTICAÇÃO DO CLIENTE NAS ORGANIZAÇÕES: UM ESTUDO APLICADO ÀS CONCESSIONÁRIAS DE VEÍCULOS DA CIDADE DE FORTALEZA 103 COOPER, Donald R. e SCHINDLER, Pámela S. M˚todos de pesquisa em administra˘ıo, 7. ed. Porto Alegre: Bookman, 2003. COWELL, Donald W. The marketing of services, London: William Heinemann Ltda, 1984. Disponível em <http: // www.emeraldinsigth.com >. Acesso em 18/08/2004. DABHOLKAR, P.A. Consumer evaluations of new technology-based self-service options: an investigation of alternative models of service quality. International journal of research in marketing, Vol. 13 No. 1, pp. 29-51, 1996. Disponível em <http: // Disponível em <http: // www.emeraldinsigth.com >. Acesso em 16/08/2004. FERREIRA, A. Gestıo empresarial: de Taylor aos nossos dias. S. Paulo: Pioneira, 1998. FORTE, Sérgio Henrique Arruda Cavalcante. Manual de elabora˘ıo de tese, disserta˘ıo e monografia. Fortaleza: Universidade de Fortaleza, 2001. GRÖNROOS, Christian. Service management and marketing: managing the moments of truth in service competition, Lexington, MA: Lexington Books, D.C. Heath, 1990. GOODE, W. J. & HATT, P. K. M˚todos em pesquisa social. 3. ed., São Paulo: Cia Editora Nacional, 1969. GORDON, Ian. Marketing de relacionamento: estratégias, técnicas e tecnologias para conquistar clientes e mantê-los para sempre. São Paulo: Futura, 1998. HUBBERT, Amy R., Customer contributions and roles in service, International journal of service industry management, Vol. 8 N° 3, 1995, p. 168-225, 1995. Disponível em <http: // www.emeraldinsigth.com >. Acesso em 16/06/2004. JOHN, Denise Jeannie. The effects of employee service quality provision and customer personality traits on customer participation, satisfaction and repurchase intentions. A dissertation submitted to the graduate faculty of the Louisiana state university and agricultural and mechanical college in partial fulfillment of the requirements for the degree of doctor of philosophy in business administration (marketing), 2003. Disponível em <http: // www.emeraldinsigth.com >. Acesso em 18/06/2004. KELLEY, S.W., SKINNER, S.J. and DONNELLY, J.H. Customer participation in service production and delivery. Journal of retailing, 1990, p. 315-335. Disponível em <http://www.emeraldinsigth.com >. Acesso em 18/08/2004. KELLEY, S.W., SKINNER, S.J. and DONNELLY, J.H. Organizational socialization of Service Customers, Journal of business research, (1992), p. 197-214. Disponível em <http: // www.emeraldinsigth.com . Acesso em 18/08/2004. 104 ALBERTO DOS SANTOS PAIVA FILHO DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES KRISHNA, K Govender. Proposing a model for managing service quality in the financial services industry, 1998. Disponível em <http://130.195.95.71:8081/www/ ANZMAC1998/Cd_rom/Govender77.pdf>, Acessado em 12/07/2004. KOTLER, Philip e ARMSTRONG, G. Principios de marketing, 9. ed. Sao Paulo: Prentice Hall, 2003. KOTLER, Philip. Administra˘ıo de marketing, 10. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2000. LANGEARD, E., BATESON, J.E.G., LOVELOCK, C.H. and EIGLIER, P. Marketing of services: New insights from consumers and managers, Marketing science institute, Cambridge, MA, Report No. 81-104 (1981). Disponível em <http: // www.emeraldinsigth.com >. Acesso em 18/08/2004. LATIF, Sumaia Abdei, A análise fatorial auxiliando a resolução de um problema real de pesquisa de marketing. Caderno de pesquisas em administra˘ıo, São Paulo, V. 00, nº 0, 2º sem / 1994. LEITE, Tarcíso F. (Organizador). Por uma teoria da gestıo participativa: novo paradigma de administra˘ıo para o s˚culo XXI. Fortaleza: Universidade de Fortaleza, 2000. LERNER, Walter. Organiza˘ıo Participativa: mais uma poderosa tecnologia na busca da competitividade. São Paulo: Atlas, 1996. LOVELOCK, C.H. and YOUNG, R.F. Look to customers to improve productivity. Harvard business review, 57 (May-June), 168-178, 1979. Disponível em <http: // www.emeraldinsigth.com >. Acesso em 06/08/2004. LOVELOCK, Christopher H. Services marketing, 3rd ed., Upper saddle river, NJ: prentice hall, 1996. Disponível em <http: // www.emeraldinsigth.com >. Acesso em 05/07/2004. LOVELOCK, Christopher H. and WRIGHT, Lauren K. Principles of service marketing and management, Upper saddle river, NJ: prentice hall, Inc, 1999. Disponível em <http: // www.emeraldinsigth.com >. Acesso em 05/07/2004. MALHOTRA, Naresh K. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada – 3ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. MATTAR, Fauze Nagib. Pesquisa de marketing – Edição Compacta – 3. ed. S. Paulo: Atlas, 2001. MAXIMIANO, A. C. Amaru. Teoria geral da administra˘ıo: da revolução urbana à revolução digital – 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002. McKENNA, Regis. Marketing de relacionamento: estratégias bem-sucedidas para a era do cliente. Rio de Janeiro: Campus, 1992. A PARTICAÇÃO DO CLIENTE NAS ORGANIZAÇÕES: UM ESTUDO APLICADO ÀS CONCESSIONÁRIAS DE VEÍCULOS DA CIDADE DE FORTALEZA 105 Mc LAGAN, Patricia A. & NEL, Christo. A nova era da participa˘ıo. Rio de Janeiro: Campus: 2000. MELLO, Clarissa. Cresce o uso da gestão participativa nas companhias. Jornal correio da Bahia – Caderno Trabalho, de 11/02/2001. MENDONÇA, Luiz Cavalheira de. Participa˘ıo na organiza˘ıo: uma introdução aos seus fundamentos, conceitos e formas. São Paulo: Atlas, 1987. MILLS, P.K. and MORRIS, J.H. Clients as “partial” employees of service organizations: role development in client participation, Academy of management review, Vol. 11 No. 4, pp. 726-35, 1986. Disponível em <http:// www.emeraldinsigth.com >. Acesso em 18/08/2004. MILLS, Peter K. On the quality of services in encounters: an Agency perspective, Journal of business research, 20 (1), 31-41, 1990. Disponível em <http://www.emeraldinsigth.com >. Acesso em 18/08/2004. MOGGI, Jair. Administra˘ıo participativa e nˇvel de identifica˘ıo com a empresa ñ um estudo de caso. Dissertação de mestrado apresentada na FEA – USP, São Paulo, 1991. Disponível em www.capes.gov.br/bancodeteses. MOREIRA, Julio César Tavares, PASQUALE, Perrotti Pietrângelo, GOBE, Antonio Carlos. FISCHER, César Henrique, SOUSA, José Júlio. Administra˘ıo de vendas. São Paulo: Saraiva, 2000. PINTO, Eder Paschoal. MultianÛlise do desempenho e do potencial: um novo e revolucionário paradigma para uma real gestão participativa. São Paulo: Editora STS, 1995. PRAHALAD, C.K. e RAMASWAMY, V. Inovação pela experiência. Revista HSM management, nº 43, abril, 2004. PLUNKET, Lorne C. & FORNIER, Robert. Participative management. New York: John Wiley & Son Inc, 1991. REEDY, Joel, SCHULLO, Schauna e ZIMMERMAN, Kenneth. Marketing eletrÞnico: a integração de recursos eletrônicos ao processo de marketing. Porto Alegre: Bookman, 2001. SCHNEIDER, B. and BOWEN, D.E. The service organization: human resources management is crucial . Organizational dynamics, 21 (4), 15-22, 1993. Disponível em <http://www.emeraldinsigth.com >. Acesso em 07/07/2004. SCHNEIDER, B. and BOWEN, D.E. Winning The Service Game. Boston: Harvard business school press, 1995. Disponível em <http: // www.emeraldinsigth.com >. Acesso em 07/07/2004. 106 ALBERTO DOS SANTOS PAIVA FILHO DANIELLE MIRANDA DE OLIVEIRA ARRUDA GOMES SILPAKIT, P. and FISK, R.P. Participatizing the Service Encounter: A theoretical framework, in Services marketing in a changing environment, Bloch, T.M., Upah, G.D. and Zeithaml, V.A. Ed. Chicago: American Marketing Association, 1985. STEVENSON, William J. Estatˇstica aplicada Ú administra˘ıo. São Paulo: Harper & Row do Brasil, 1981. STONER, James A. F. & FREEMAN, R. E. Administra˘ıo. 5. ed. Rio de Janeiro: Prentice Hall do Brasil, 1985. TOFFLER, Alvin. A empresa flexˇvel – 4. ed. Rio de Janeiro: Record, 1985. VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatðrios de pesquisa em administra˘ıo. São Paulo: Atlas, 1998. WHITELEY, Richard C. A Empresa totalmente voltada para o cliente: do planejamento a ação. Rio de janeiro: Campus, 1992. WIKSTROM, S. (1996), The Customer as Co-Producer, European journal of marketing, 30 (4), 6-19. Disponível em <http: // www.emeraldinsigth.com >. Acesso em 07/07/2004. YONGDALHL, W.E. & KELLOGG, D.L. On the relationship between costumer participation e satisfactions. International journal of marketing, 2003. Disponível em <http: // www.emeraldinsigth.com >. Acesso em 09/07/2004. UM ESTUDO EMPÍRICO SOBRE A CORRELAÇÃO ENTRE RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA (CSR) E A PERFORMANCE FINANCEIRA (CFP) NAS EMPRESAS PARTICIPANTES DO PRÊMIO DELMIRO GOUVEIA 2005 SARAH CAMARGO CAMPOS1 ROSANY CORREA DOS SANTOS2 RESUMO: Examinar se existe relacionamento entre as empresas que adotam a Responsabilidade Social Corporativa e o desempenho financeiro tem sido alvo de inúmeros estudos na última década. Entretanto, ainda não existe consenso entre os autores, se há correlação significativa entre as duas variáveis e em qual direção ela ocorre. Os pesquisadores sugerem diversas razões para os resultados ambíguos, não-conclusivos e confusos apresentados, e destacam entre elas as diferenças conceituais e metodológicas entre as definições de responsabilidade social e desempenho financeiro. No entanto, embora “a ciência do retorno de medição dos investimentos em iniciativas sociais incorporadas é ainda muito nova, com poucos dados e perícia histórica” na visão de Kotler e Lee (2005) existe um benefício subliminar para as empresas em relação à implementação da responsabilidade social, o que justifica novos estudos sobre o tema. Daí surge o problema deste estudo que se traduz em responder à questão: em que medida as ações de responsabilidade social impactam o desempenho financeiro das empresas? A pesquisa, que utilizou como universo as empresas concorrentes ao Prêmio Delmiro Gouveia 2005, é de natureza quantitativa quanto às variáveis e exploratória / descritiva quanto aos fins. Utilizou os critérios estabelecidos pelos avaliadores para medição do CSR e CFP e técnicas de análise estatística por meio de modelos de regressão linear múltipla. Os resultados confirmam uma relação fraca, estatisticamente significativa entre desempenho financeiro e desempenho social corporativos para as empresa estudadas. PALAVRAS-CHAVE: Responsabilidade Social Corporativa. Desempenho Financeiro. Correlação e Regressão. Indicador de Desempenho Social Corporativo. 1 Professora da Faculdade Christus e mestranda em Administração da Unifor. 2 Mestranda em Administração na Unifor. 108 ASARAH CAMARGO CAMPOS ROSANY CORREA DOS SANTOS ABSTRACT: To examine if exists relationship, between the companies who adopt the Corporative Social Responsibility and the financial performance has been white of innumerable studies in the last decade. However, not yet consensus between the authors exists, if it has significant correlation between the two variable and in which direction it occurs. The researchers suggest diverse reasons for the ambiguous, not-conclusive and confused results presented, and detach among them the conceptual and methodological differences between the definitions of social responsibility and financial performance. However, even so “the science of the return of measurement of the investments in incorporated social initiatives is still very new, with few data and historical skill” in the vision of Kotler and Lee (2005) exists a benefit to subliminal for the companies in relation to the implementation of the social responsibility, what he justifies new studies on the subject. From there the problem appears of this study that if translates answering to the question: where measure the social actions for damages impactam the financial performance of the companies? The research, that it used as universe the competing companies to the Prêmio Delmiro Gouveia 2005, is of quantitative nature how much to the variable and descriptive exploratory/how much to the ends. It used the criteria established for the appraisers for measurement of CSR and CFP and techniques of analysis statistics by means of models of multiple linear regression. The results confirm a weak relation, statistical significant between corporative financial performance and social performance for the company studied. KEY WORDS: Corporative Social Responsibility. Financial Performance. Correlation and Regression. Pointer of Corporative Social Performance. INTRODUÇÃO Uma revisão da literatura especializada sobre Responsabilidade Social Corporativa denota que o interesse dos pesquisadores sobre o assunto cresceu exponencialmente na última década, desde o primeiro trabalho publicado por Naver (apud Tsoutsoura, 2004) em 1971. Embora seja crescente o interesse sobre o tema, além do debate se a maximização da riqueza deva ser o único objetivo das organizações, resta, entretanto, a dúvida se existe um relacionamento positivo e significativo entre a Responsabilidade Social Corporativa (CSR) e o desempenho financeiro das empresas. O fato de que empresas relacionadas pelo Fortune 1000, assim como, no Ceará, as ganhadoras do Prêmio Delmiro Gouveia 2005 vêm apresentando relatórios sobre ações de responsabilidade social, atesta o interesse das organizações pela CRS. UM ESTUDO EMPÍRICO SOBRE A CORRELAÇÃO ENTRE RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA (CSR) E A PERFORMANCE FINANCEIRA (CFP) NAS EMPRESAS PARTICIPANTES DO PREMIO DELMIRO GOUVEIA 2005 109 De acordo com Mangelis e Wash (2002, apud TSOUTSOURA, 2004), entre 1996 e 2001, 122 (cento e vinte e duas) publicações examinaram o relacionamento entre a responsabilidade social corporativa e o desempenho financeiro das empresas. Tsoutsoura (2004) divide os estudos em 2 (dois) tipos: a) pesquisas que procuraram determinar a existência de retornos financeiros (ou a diminuição deles) resultantes de ações sociais responsáveis ou não; e b) pesquisas que examinaram o relacionamento entre alguma medida de desempenho social incorporado e medidas de desempenho financeiro. Ambos tipos de estudo apresentaram resultados contraditórios e pouco conclusivos. Na mesma linha de pesquisa, Orlitzky, Schimidt e Rynes (2003) afirmam que os estudos existentes sobre o relacionamento da responsabilidade social e o desempenho financeiro das empresas têm apresentado resultados muito variados para se chegar a conclusões generalizadas. Os autores fazem esta afirmação, baseados nos estudos de Jones (1999); Donaldson (1999); McWilliams e Siegel (2001); Roman et al. (1999), Ullmann (1985) e Madeira e Jones (1995), cujos resultados, são no geral inconclusivos. Um número significativo de revisões e de teorias sobre o relacionamento entre responsabilidade social e desempenho financeiro, por exemplo: Aupperle et al. (1985); Pava e Krausz (1995); Ullmann (1985); Wartick e Cochran (1985); Madeira (1991a, 1991b); Griffin e Mahon (1997); Husted (2000); McWilliams e Siegel (2001); Madeira e Jones (1995), apud Orlitzky et al. (2003), propuseram explanações conceptuais para a existência (ou falta) de um relacionamento causal entre CSR (Corporate Social Responsibility) e CFP (Corporate Financial Performance) e também porque não apresentam respostas claras para a questão. Segundo Orlitzky et al. (2003), as revisões precedentes desta área sugerem que fatores como: não combinação entre a parte interessada e o tema, a negligência geral de fatores de contingência e erros de medição pode explicar os resultados inconsistentes. No entanto, por considerarem que o tema é relevante, utilizando uma metodologia própria, conduziram uma meta-análise com 52 pesquisas, totalizando uma amostragem de 33.878 observações e concluíram, com alto grau de certeza, que existe uma associação positiva e moderada entre aqueles índices (CSR e CFP) e que o relacionamento entre responsabilidade social e resultados financeiros é mais forte do que com outros índices estudados. 110 ASARAH CAMARGO CAMPOS ROSANY CORREA DOS SANTOS Na mesma linha de pensamento, encontram-se Kotler e Lee (2005), quando afirmam que não obstante o aumento do número de estudos acadêmicos é surpreendente notar a inconsistência substancial nos resultados obtidos, tanto em relação à existência, como em relação ao sentido da correlação, entre CSR e desempenho financeiro incorporado (CFP). Margolis e Walsh2 (apud Kotler e Lee, 2005) contaram 127 estudos, publicados entre 1972 e 2003, devotados a explorar o relacionamento de CSP-CFP, que também apresentaram resultados confusos e não conclusivos. Apesar disso, a maioria das pesquisas encontrou relacionamento significativo e positivo entre CSP-CFP. Os resultados divergem, principalmente, quando estudos diferentes se baseiam na mesma amostra de empresas. Tsoutsoura (2004), após estudo com as empresas do Fortune 500, dos anos 1996 a 2000, concluiu que o resultado das práticas de responsabilidade social se beneficia com resultados financeiros positivos e estatisticamente significativos. Sinha et al (2002), analisando empresas do setor de turismo, encontraram indícios de que o aumento da lucratividade está associado a altas percepções, pela organização, da responsabilidade social. Em estudo similar no Brasil, Borba (2005) cita uma série de pesquisas que encontraram problemas relacionados à determinação da relação entre responsabilidade social, embasada pela Teoria dos Stakeholders, e o desempenho financeiro. Entre eles, o autor destaca: a) Donaldson e Preston (1995, p.80-81) que sublinham a ausência de indicadores confiáveis; b) Wood (1995) que entende que a causalidade a ser determinada é complexa, além de que a relação é ambígua e que não existe medida abrangente de desempenho financeiro; c) Griffin e Malon (1997), que afirmam que nenhum consenso foi encontrado devido à diferenças conceituais e metodológicas entre as definições de responsabilidade social e desempenho financeiro; d) Freeman e McVea (2000), que entendem que as conclusões atuais são apenas tentativas e; e) Stenberg (1999), para o qual o desempenho da responsabilidade social é confuso com custos e conseqüências negativas para os negócios (BORBA, 2005). Borba (2005) representou o desempenho financeiro com duas variáveis de mercado e três variáveis contábeis e construiu um Indicador de Desempenho Social Corporativo, para representar o desempenho social das empresas baseando-se nos Balanços Sociais publicados segundo modelo do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE). UM ESTUDO EMPÍRICO SOBRE A CORRELAÇÃO ENTRE RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA (CSR) E A PERFORMANCE FINANCEIRA (CFP) NAS EMPRESAS PARTICIPANTES DO PREMIO DELMIRO GOUVEIA 2005 111 Além dessas variáveis, duas variáveis de controle consideradas relevantes pela teoria, o Tamanho da Empresa e o Setor de Atuação, também constituíram o modelo estatístico. O autor fez sua análise estatística através de matriz de correlações, de modelos de regressão linear múltipla, e os resultados confirmam uma relação estatisticamente significante entre o desempenho social e o desempenho financeiro corporativos. A realização de mais um estudo sobre o tema se justifica pelo interesse que ações referentes à responsabilidade social vem assumindo para as organizações, assim como pela insipiência de estudos no Brasil. Desta forma, este artigo corrobora com Kotler e Lee (2005, p.21) que embora reconheçam que “a ciência do retorno de medição dos investimentos em iniciativas sociais incorporadas é ainda muito nova, com poucos dados e perícia histórica”, os autores estão convencidos do benefício subliminar para as empresas em relação à implementação da responsabilidade social. Neste contexto, o estudo tem a intenção de responder à seguinte questão de pesquisa: em que medida as ações de responsabilidade social (CRS) impactam o desempenho financeiro (CFP) das empresas? Utilizou-se metodologia proposta por Borba (2005) por utilizar variáveis financeiras do Balanço Social das empresas e ter como base a Teoria dos Stakeholders, cujos parâmetros compõem o critério da premiação do Prêmio Delmiro Gouveia 2005 para definir as Melhores Empresas na categoria Desempenho Social. 1 TEORIA DOS STAKEHOLDERS Para a Teoria dos Stakeholders ou dos grupos de interesse, a relação entre responsabilidade Social e desempenho financeiro é naturalmente positiva, isto é, quanto maior o nível de responsabilidade social, maior o desempenho financeiro da empresa. No entanto, esta abordagem administrativa difere frontalmente com a Teoria dos Shareholders, ou dos acionistas, para a qual um grande número de ações sociais poderia resultar em resultados financeiros menores, o que significaria uma relação negativa entre responsabilidade social e desempenho financeiro (BORBA, 2005). Segundo Freeman e McVea (2002, apud Borba, 2005, p.24) o termo stakeholder apareceu pela primeira vez em 1963, num memorando do Instituto de Pesquisa de Stanford, designando todas as pessoas sem as quais uma empresa não sobreviveria. Diversas definições posteriores, entre elas as de Freeman (1984) e McMitchell et al (1997) também referenciados em Borba (2005), apresentaram conceitos diferentes para classificar os grupos de interesse em função de atributos como legitimidade, urgência e poder. 112 ASARAH CAMARGO CAMPOS ROSANY CORREA DOS SANTOS Figura 1 Tipologia dos Stakeholders baseada em três atributos PODER Stakeholder dormente Stakeholder dominante Stakeholder discricionário LEGITIMIDADE Stakeholder definitivo Stakeholder perigoso Stakeholder dependente Stakeholder demandante URGÊNCIA McMitchell et al (1997, apud Borba, 2005) Para a Teoria dos Stakeholders, gerenciar é integrar os interesses dos fornecedores, da comunidade, dos funcionários, dos clientes, da sociedade além do dos acionistas, mas, segundo Evan e Fremam (1993, apud Borba, 2005), isto deve ser feito salvaguardando o bem-estar da entidade empresa. Os autores destacam que a responsabilidade social, uma das linhas da Teoria dos Stakeholders, “não poderia ser considerada um grupo teórico formalizado, mas uma série de abordagens de casos empresariais e de casos empíricos que buscariam enfatizar e demonstrar a importância da construção de relacionamentos fortes e confiáveis e de reputação com todos os grupos externos à organização, para o sucesso da administração” (BORBA, 2005, p.27). Assim, instrumentalmente, a Teoria dos Stakeholders, na visão de Borba (2005) se aproximaria do conceito de responsabilidade social, uma vez identifica vantagens estratégicas no gerenciamento da empresa em função dos interesses de todos os elementos, direta ou indiretamente envolvidos em suas atividades. Neste contexto, se incluiriam, também, o meio ambiente e a comunidade onde a empresa está inserida. O aspecto instrumental da Teoria dos Stakeholders se define como a implementação de metodologia que procura medir e associar as ações da teoria com desempenho empresarial, entre os quais se incluem os resultados financeiros. UM ESTUDO EMPÍRICO SOBRE A CORRELAÇÃO ENTRE RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA (CSR) E A PERFORMANCE FINANCEIRA (CFP) NAS EMPRESAS PARTICIPANTES DO PREMIO DELMIRO GOUVEIA 2005 113 Esta teoria foi mencionada pela primeira vez por Eduard Freeman (1984, p.46), que define stakeholders como: “todo grupo ou indivíduo que pode afetar ou ser afetado pela empresa ao realizar seus objetivos”. Na visão de Stoner e Freeman (1999), os stakeholders influenciam de forma direta a organização, sendo então parte do ambiente de ação direta. Os autores classificam os stakeholders como internos (empregados e acionistas) e externo (clientes, concorrentes, fornecedores, governo). Para Srour (1998), os stakeholders são todos aqueles que tem interesse na preservação e vitalidade da empresa, ou seja, são os grupos de interesse que se relacionam, influenciam e são influenciados pela organização e pelas suas atividades. Não havendo, assim, interesses mais importantes ou mais legítimos, os acionistas são apenas mais um grupo de stakeholders. 2 CONCEITOS DE RESPONSABILIDADE CORPORATIVA (CSR) SOCIAL Existe uma grande diversidade de conceitos sobre responsabilidade social corporativa porque ainda há alguma confusão sobre o significado da frase “social responsável”. Alguns acreditam que responsabilidade social consiste simplesmente em “doações corporativas”, outros sugerem que as companhias cumprem sua responsabilidade social sendo “cidadãos globais bons”. Na visão de Priest Steve (apud Keeler, 2002, p.1), fundador do Grupo Liderança Ética: “uma companhia é socialmente responsável se realiza seriamente suas obrigações em relação a todas suas partes interessadas”. Segundo Kotler e Lee (2005, p.22), iniciativas sociais são definidas como “as atividades principais empreendidas por uma corporação para suportar causas sociais e cumprir compromissos de responsabilidade social corporativa”. Um dos princípios importantes é que responsabilidade social para uma empresa deve envolver mais do que iniciativas sociais, a empresa também precisa implantar uma estratégia de responsabilidade social. Kotler e Lee (2005, 3) definem CSR (corporate social responsability) como “um compromisso para melhorar o bem-estar da comunidade através de práticas empresariais discricionárias e com contribuições de recursos corporativos”. De acordo com esta definição, entende-se que 114 ASARAH CAMARGO CAMPOS ROSANY CORREA DOS SANTOS CSR é um processo de longo prazo e requer planejamento. Para os autores, as companhias necessitam mudar a perspectiva sobre a responsabilidade social; de obrigação para estratégia. Esta mudança deve representar uma resposta às pressões contínuas e crescentes de melhoria e modernização por parte dos stakeholders, ou seja, organizações não governamentais, setor público, grupos de interesse especial, fornecedores, investidores potenciais, acionistas e clientes. 3 DESEMPENHO FINANCEIRO Desempenho financeiro é entendido como o resultado financeiro com base em informações contábeis da empresa, e está relacionado aos resultados dos indicadores de lucratividade e receita. Estes indicadores são agregados para obter um indicador composto por dois ou mais indicadores. Curran (2005), em estudo para examinar a taxa de retorno das iniciativas corporativas em responsabilidade social, analisou, com a metodologia de revisão Crochane adaptada, 100 trabalhos, dos quais 31 foram selecionados pelo método. Nesses trabalhos, dos quais 70% mostraram relacionamento positivo e significativo entre CSR e desempenho financeiro, os autores utilizaram uma grande variedade de indicadores financeiros. Dentre eles, citam-se: Taxa dos resultados operacionais sobre ativos, Valor adicional do mercado, Q de Tobin, Valor da firma, ROCE, ROE, ROA; ROI; ROE, Taxa de Rendimentos sobre Ativos, Taxa de Vendas sobre Ativos , Crescimento das vendas, Crescimento do ativo, Crescimento do lucro operacional, Rendimento do preço, Fluxo de caixa, Rendimento de dividendo, Valor do lucro líquido, Retorno do preço em estoque, Retorno total do acionista, Rendimento dos dividendo, Alfa de Jensen, Risco (beta), Retorno do risco ajustado, Retorno alfa, Risco de Mercado: desvio beta e desvio padrão do retorno total, ROA, recursos totais, crescimento das vendas, crescimento do lucro operacional, Taxa de dívidas sobre o ativo, Lucratividade e Lucro antes da depreciação. Os cinco mais utilizados, segundo (ROSS et al, 1998), são: 1. Medidas de solvência em curto prazo ou liquidez – objetivam medir a capacidade da empresa de pagar suas contas em curto prazo. Incluem: Índice de Liquidez Corrente, Índice de Liquidez Seca e Índice de Caixa; UM ESTUDO EMPÍRICO SOBRE A CORRELAÇÃO ENTRE RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA (CSR) E A PERFORMANCE FINANCEIRA (CFP) NAS EMPRESAS PARTICIPANTES DO PREMIO DELMIRO GOUVEIA 2005 115 2. Medidas de solvência em longo prazo – objetivam medir a capacidade da empresa de saldar suas obrigações em longo prazo. Incluem: Índice de Endividamento Geral, Cobertura de Juros e Cobertura de Caixa; 3. Medidas de gestão de ativos ou de giro, cuja finalidade é determinar a eficiência da utilização dos recursos pela empresa para gerar vendas. 4. Medidas de rentabilidade que visam medir a administração das operações da empresa e a eficiência dos ativos. Incluem Margem de Lucro, Taxa de Retorno do Ativo, e Taxa de Retorno do Capital Próprio; e, 5. Medidas de valor de mercado que somente são utilizadas para empresas que possuem ações negociadas em bolsas. Incluem: preço/lucro, preço/ valor patrimonial. Na Teoria dos Stakeholders, o retorno financeiro é esperado pelos proprietários através de suas ações; pelos funcionários na troca de seu trabalho pelo salário e benefícios; pelo fornecedor através do suprimento de matérias-primas, que definirá a qualidade e o preço final dos produtos; para consumidores na troca de seus recursos pelos produtos e a comunidade local que recebe os benefícios de taxas e contribuições da organização, pelo direito de construir facilidades, plantas industriais e escritório. Freeman (1984) ainda destaca a importância dos gestores atuarem na maximização de valor para todos os stakeholders. 3.1 O Prêmio Delmiro Gouveia O Prêmio Delmiro Gouveia é uma realização conjunta da Bolsa de Valores Regional (BVRg) com o jornal O Povo, com patrocínio da FIEC/ CNI (Federação das Indústrias do Estado do Ceará), BNB (Banco do Nordeste do Brasil), Sebrae-CE (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e contando com o apoio do CRC-CE (Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Ceará). A atividade econômica no Ceará apresentou, em 2004, uma série de resultados positivos. O PIB estadual fechou o ano com um crescimento de 4,4% sobre o de 2003 e o crescimento da economia foi liderado pelo setor industrial (7,0%) pouco acima da taxa da industria brasileira (6,2%), seguida dos serviços (3,9%). Somente a agropecuária registrou 116 ASARAH CAMARGO CAMPOS ROSANY CORREA DOS SANTOS decréscimo de 5,7%. O Faturamento Líquido Ajustado das 10 maiores empresas totalizou R$10.393.871.323, 40, representando um acréscimo de 56% em relação ao ano de 2004, e demonstrando a força e crescimentos das empresas, objeto da análise da edição 2005 do Prêmio Delmiro Gouveia (O Povo, 2005). Para definir as maiores empresas do Desempenho Econômico e Financeiro, o Prêmio Delmiro Gouveia utiliza os critérios apresentados no Quadro 1. Quadro 1 Critérios de Premiação da Melhores Empresas no Desempenho Econômico-Financeiro. 1 1.1 1.2 1.3 1.4 2 2.1 2.2 2.3 3 Retorno e Rentabilidade Retorno sobre o Patrimônio Líquido Retorno sobre Vendas Crescimento no Retorno sobre as Vendas Crescimento no Retorno sobre Patrimônio Líquido Liquidez Liquidez Corrente EBITDA (Lucro antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização) Crescimento na Geração de Caixa em Vendas Crescimento do Faturamento Transparência nas Demonstrações Contábeis Peso 50 Peso 12,5 Peso 12,5 Peso 12,5 Peso 12,5 Peso 40 Peso 15 Peso 10 Peso 15 Peso 10 Bônus 10 Revista Prêmio Delmiro Gouveia, 2005, Empresa Jornalística O Povo. Segundo dados apresentados na revista Prêmio Delmiro Gouveia (O Povo, 2005), a quinta edição do prêmio avaliou o desempenho de empresas cearenses no ano 2005, e conferiu 39 troféus, premiou 30 empresas e 5 contabilistas. Além da categoria Maiores Empresas, as concorrentes foram avaliadas por suas demonstrações contábeis e balanços sociais para figurar também entre as Melhores Empresas em Desempenho Econômico Financeiro e as Melhores Empresas em Desempenho Social. Em cada categoria, foram classificadas 10 empresas, por meio de critérios estritamente técnicos, segundo Manuel Salgueiro (O Povo, 2005), coordenador da equipe da BVRg, que avaliou os dados e apurou os resultados. O universo de organizações que se candidataram ao Prêmio e enviaram seus dados ultrapassou 300 empresas. Para efeito de premiação, as empresas são categorizadas em dois grupos: Faturamento Líquido Ajustado até e acima de 60 milhões de reais. Para definir as Melhores Empresas no Desempenho Social, objeto de estudo desta pesquisa, são considerados os seguintes critérios: UM ESTUDO EMPÍRICO SOBRE A CORRELAÇÃO ENTRE RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA (CSR) E A PERFORMANCE FINANCEIRA (CFP) NAS EMPRESAS PARTICIPANTES DO PREMIO DELMIRO GOUVEIA 2005 117 Quadro 2 Critérios de Premiação da Melhores Empresas no Desempenho Social. 1 1.1 1.2 2 2.1 3 3.1 3.2 3.3 3.4 4 4.1 5 Ações sociais de Iniciativa da Empresa com Relação a seu Público Interno (empregados) Investimentos Sociais no Ambiente Interno em relação à Receita Líquida do Ano Investimentos Sociais Médios por Empregado Ações Sociais de Iniciativa da Empresa com Relação ao Público externo Investimento em programas Sociais na Comunidade Apoio às Minorias na Oferta de Empregos da Empresa Percentual de Empregados Negros na empresa Percentual de Empregados Portadores de Deficiência Física Percentual de Mulheres em Cargo de Chefia Percentual de Negros em cargo de Chefia Investimentos Compulsórios com Impacto Social Representatividade dos Tributos Gerados Geração de Empregos Apresentação do DVA Peso 20 Peso 10 Peso 10 Peso 30 Peso 30 Peso 15 Peso 3 Peso 4 Peso 4 Peso 4 Peso 10 Peso10 Peso 25 Bônus 10 Revista Prêmio Delmiro Gouveia, 2005, Empresa Jornalística O Povo. Dentre as 10 Melhores em Desempenho Econômico e Financeiro, com faturamento acima de R$60 milhões encontram-se: Santa Clara Ind. e Com. de Alimentos Ltda, Agripec Química e Farmacêutica S/A, Cia de Alimentos do Nordeste CIALNE, Durametal S/A, Auto Peças Padre Cícero S/A; e com faturamento até R$60 milhões: Porto Freire Engenharia e Incorporação Ltda, Grandene S/A, BMS Participações e Negócios Ltda, Uniodonto de Fortaleza Cooperativa de Trabalho Odontológico e Granitos S/A GRANOS. Dentre as 10 Melhores em Desempenho Social, com faturamento acima de R$60 milhões encontram-se: Viação Urbana Ltda, Empreendimentos Pague Menos S/A, Marisol Indústria Têxtil Ltda, Norsa Refrigerantes Ltda, Expresso Guanabara S/A; e com faturamento até R$60 milhões: Cia Eletrocerâmica do Nordeste – CELENE, Avine Comercial e Avícola do Nordeste Ltda, Jobek do Brasil Industria Têxtil, DWA Tecnology e Importação e Exportação Ltda e Micrel Benfio Têxtil Ltda. O prêmio é considerado um verdadeiro Oscar, porque acima de tudo ele tem credibilidade e inovação. As empresas que participam e recebem a premiação, participam porque sabem que é sério. Essa é a maior característica que pode ser atribuída ao Delmiro Gouveia: a credibilidade dos números, dos critérios, de quem faz o trabalho, afirma Régis Dias, secretário do Desenvolvimento Econômico do Estado do Ceará. 118 4 ASARAH CAMARGO CAMPOS ROSANY CORREA DOS SANTOS METODOLOGIA A metodologia, segundo Malhotra (2001), detalha os procedimentos necessários à obtenção das informações indispensáveis para estruturar ou resolver problemas. Esta pesquisa utilizou como classificação a definida por Vergara (2004), segundo a qual, a pesquisa é considerada descritiva quando expõe características de determinada população e de determinado fenômeno. Quanto aos meios para obter os dados secundários, a pesquisa se identifica como documental. Quanto à natureza das variáveis, é classificada como quantitativa, uma vez que no seu desenvolvimento predominam os métodos estatísticos, com utilização de variáveis bem definidas e cálculos, utilizando estatísticas descritivas e/ou inferências.Vergara (2004) afirma que a pesquisa descritiva pode também estabelecer correlações entre as variáveis e definir sua natureza, mas não tem, entretanto, o compromisso de explicar os fenômenos que descreve. Para a determinação da amostra, foi utilizada a relação das empresas participantes na categoria Melhores em Desempenho Social, publicada pelos organizadores do Prêmio Delmiro Gouveia (O Povo, 2005). Segundo Malhotra (2001), população é o agregado, ou a soma, de todos os elementos que compartilham algum conjunto de características comuns conforme o universo para a pesquisa; já a amostra é um sub-grupo da população selecionado para participação no estudo. Este trabalho considerou como população o universo das 50 (cinqüenta) empresas que se inscreveram para participar do Prêmio Delmiro Gouveia, na categoria Responsabilidade Social (O Povo, 2005). Na visão de Cooper e Shindler (2004), a idéia básica da amostragem é que, ao selecionar alguns elementos de uma população, pode-se tirar conclusões sobre toda a população. Um censo é a contagem de todos os elementos de uma população. Concorda com ele Stevenson (1981) quando afirma que um censo envolve um exame de todos os elementos de um dado grupo, e requer o exame de todos os itens de uma população. No entanto, ainda na opinião de Cooper & Shindler (2004), as vantagens da amostragem são menos aparentes quando a população é pequena e a variabilidade dentro da população é alta. Assim, duas condições são apropriadas para um censo: 1) o censo é viável quando a população é pequena, e, 2) necessário quando os elementos são muito diferentes entre si. O que se verifica nesta pesquisa, e que a caracteriza como censo, é que a população é pequena. UM ESTUDO EMPÍRICO SOBRE A CORRELAÇÃO ENTRE RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA (CSR) E A PERFORMANCE FINANCEIRA (CFP) NAS EMPRESAS PARTICIPANTES DO PREMIO DELMIRO GOUVEIA 2005 119 Sendo o propósito determinar qual o impacto que as ações da responsabilidade social corporativa (CRS) exercem sobre o desempenho financeiro (CFP) das empresas; tomou-se como base os índices sociais e financeiros exibidos na revista que consolidou os resultados do prêmio. Para a avaliação, segundo os organizadores do evento, “utilizaram-se o Balanço Social e as demonstrações contábeis relativos a 2004. Item que ainda configura certa novidade no universo contábil, o Balanço Social compreende todo o grupo de ações desenvolvidas pela empresa no decorrer do exercício” (O Povo, 2005, p.16). Nas palavras dos organizadores (O Povo, 2005, p.62), “o Prêmio Delmiro Gouveia baseia-se em metodologia de análise técnica e fundamentada em princípios práticos e conceitos teóricos consagrados no universo acadêmico e na prática do desempenho de empresas, no Brasil e no mundo”. As variáveis que serviram de base para premiar as empresas estão visualizadas no Quadro 1, mas nem o índice geral de desempenho financeiro e nem todos os índices utilizados foram divulgados. Para medir o Desempenho Financeiro Corporativo, este estudo também utilizou o índice LOAT que é definido em: (BORBA, 2005, p.61) como: Indicador de Desempenho Financeiro (CFP) LOAT = Lucro Operacional / Ativo Total. O Lucro Operacional (O Povo, 2005, p. 62), na visão dos organizadores do Prêmio Delmiro Gouveia é “o resultado apurado após a dedução do lucro bruto de todas as receitas e despesas necessárias ou decorrentes das operações da empresa”, enquanto que Ativo Total “é a soma dos diversos itens de patrimônio à disposição da empresa para desempenho de suas atividades, demonstrados no Balanço Patrimonial como Ativos depois de considerados os efeitos da inflação” (O Povo, 2005, p.62). A justificativa para a escolha deste índice, deveu-se à disponibilidade dos dados secundários analisados. 120 ASARAH CAMARGO CAMPOS ROSANY CORREA DOS SANTOS Quadro 3 Indicadores Sociais que compõem o CSR. Grupo de Interesse Indicadores de Desempenho em Responsabilidade Social (CSR) (Skateholders) Investimentos. Internos sob número de funcionários Funcionários Investimentos. Sociais externos sobre faturamento líquido % de empregados portadores de deficiência % de mulheres em cargos de chefia Comunidade % de empregados negros % de negros em cargos de chefia Número de empregos gerados por ano Tributos sob faturamento líquido Governo Revista Prêmio Delmiro Gouveia, 2005, Empresa Jornalística O Povo. Para medir a responsabilidade social, este trabalho utilizou os indicadores, que disponibilizados pela Revista do Prêmio Delmiro Gouveia, e que estão sendo divulgados por meio dos Balanços Sociais das empresas. Estes indicadores estão baseados na de acordo com a Teoria dos Skateholders conforme mostra o Quadro 3. Segundo os organizadores do Prêmio Delmiro Gouveia (O Povo, 2005, p.62), as ações sociais são representadas pelo valor dos investimentos declarados no Balanço Social elaborado pela empresa, que foi dedicado a custear diversos programas sociais voltados a beneficiar seus próprios empregados ou a pessoas da comunidade; subtraindo-se destes investimentos o valor dos tributos gerados por conta dessas ações em função de sua existência. Também se denominam e se identificam como ações de responsabilidade social a participação relativa das classes sociais menos favorecidas na empresa, com destaque para os negros e mulheres em cargos de chefia, e deficientes físicos. Inclui-se ainda a quantidade de empregos gerados pelas empresas durante o exercício demonstrado no Balanço Social e os investimentos compulsórios com impacto social, que são representados pelo valor dos custos ou arrecadações feitas pela empresa e repassados ao poder público a título de impostos ou encargos sociais. UM ESTUDO EMPÍRICO SOBRE A CORRELAÇÃO ENTRE RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA (CSR) E A PERFORMANCE FINANCEIRA (CFP) NAS EMPRESAS PARTICIPANTES DO PREMIO DELMIRO GOUVEIA 2005 5 121 PLANO DE ANÁLISE DOS DADOS E TÉCNICAS ESTATÍSTICA DE DADOS Utilizou-se a regressão múltipla como forma de medir o impacto das ações de responsabilidade social sobre o desempenho financeiro. Segundo Malhotra (2001, p.458), “a análise de regressão é um processo poderoso e flexível para análise de relações associativas entre uma variável métrica dependente e uma ou mais variáveis independentes.” Esta técnica estatística, segundo palavras do autor, pode ser utilizada para examinar se as variáveis independentes explicam uma variação significativa na variável dependente, ou seja, se existe uma relação entre as variáveis. Em outras palavras, determina o quanto da variação na variável dependente pode ser explicado pelas variáveis independentes, o que significa medir qual a intensidade da relação e qual a direção que ela assume. Regressão múltipla é a técnica estatística utilizada para atingir os objetivos propostos, por que o presente estudo examina a relação entre uma variável dependente: desempenho financeiro corporativo (CFP) e 8 (oito) variáveis independentes: a) Investimentos. Internos sob número de funcionários; b) Investimentos. Sociais externos sobre faturamento líquido; c) % de empregados portadores de deficiência; d) % de mulheres em cargos de chefia; e) % de empregados negros; f) % de negros em cargos de chefia; g) Número de empregos gerados por ano; e, h) Tributos sob faturamento líquido, que representam as ações de responsabilidade social (CSR). Entre as estatísticas associadas à regressão múltipla, o R2, coeficiente de determinação múltipla, é ajustado em função do tamanho da amostra e do número de variáveis independentes, para o R ajustado, e representa o quanto o modelo encontrado explica relação existente. Também é denominado Coeficiente de Determinação Múltipla e mede a intensidade da associação (MALHOTRA, 2001). O teste da significância é feito com a estatística F, que envolve não somente a equação da regressão global, mas também os coeficientes específicos da regressão parcial. O teste global tem distribuição F, para (n – k – 1) graus de liberdade e é significativo ao nível α = 0,05. 122 6 ASARAH CAMARGO CAMPOS ROSANY CORREA DOS SANTOS ANÁLISE DOS RESULTADOS A análise dos dados foi realizada com dois softwares estatísticos: o SPSS (Statistical Package for Social Sciences) e o Microsoft Excel, porque tem tratamento diferenciado para os Missing Values. No primeiro, foi examinada a existência de relação entre a variável independente e as 8 variáveis dependentes, e no segundo, foram eliminadas as duas variáveis independentes: número de empregos gerados por ano e tributos sob faturamento líquido, por conterem grande número de respostas ausentes. Ao se realizar a análise dos dados, o primeiro resultado a ser observado é o valor e a significância de F, porque esta estatística envolve a significância da equação de regressão. No caso, o F calculado é igual a 3,942 (maior que o tabelado 2,34) e significância menor que 0,01 (sig = 0,00). Estes dados informam que existe uma correlação significante entre as variáveis investigadas. Tabela 1 Resultados da Estatística Regressão Múltipla = Microsoft Excel. Estatística de regressão R múltiplo R-quadrado R-quadrado ajustado Erro padrão Observações 0,646 0,417 0,312 0,359 40 ANOVA Regressão Resíduo Total F de significação gl 6 33 39 0,004 SQ 3,049 4,255 7,305 Coeficientes Erro padrão Interseção 0,279 0,117 Investimentos Internos sob nº de funcionários 0,000 0,000 Investimentos Sociais externos sobre Fat. Líquido. 0,004 0,018 % de empregados portadores de deficiência –0,009 0,037 % de mulheres em cargos de chefia –0,001 0,003 –0,015 0,003 % de empregados negros 0,023 0,008 % de negros em cargos de chefia MQ 0,508 0,129 F 3,942 Stat t 2,389 –0,115 0,207 –0,243 –0,382 –4,501 2,988 valor-P 0,023 0,909 0,837 0,810 0,705 0,000 0,005 Elaborada pelas autoras com dados da pesquisa. Numa segunda etapa, é então examinado o valor de R2, também denominado coeficiente de determinação ou poder explicativo da regressão e tem por objetivo avaliar a qualidade do modelo encontrado. UM ESTUDO EMPÍRICO SOBRE A CORRELAÇÃO ENTRE RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA (CSR) E A PERFORMANCE FINANCEIRA (CFP) NAS EMPRESAS PARTICIPANTES DO PREMIO DELMIRO GOUVEIA 2005 123 Os valores de R2 estão entre os intervalos 0 e 1. Quando R2 é zero, a reta ajustada é paralela ao eixo x, e o modelo não é explicado pela equação da reta. Se R2 for igual a 1, a reta ajustada explicará toda a variação de y. Portanto, quanto mais próximo R2 estiver de 1, melhor a qualidade do ajuste da função aos pontos da reta de dispersão e quanto mais próximo de zero, pior será a qualidade do modelo (TOLEDO, 1985). Segundo dados da Tabela 1, R2 = 0,417 fornece a proporção da variável y que é explicada pela variável x através da função da reta ajustada. Para as variáveis estudadas, significa que apenas 41,70% dos valores do desempenho financeiro corporativo (CFP) são explicados pelo modelo. O coeficiente R-ajustado, numa posição mais conservadora que o R2, indica, porque o número de empresas estudado é pequeno, que 31,2% dos valores do CFP são explicados pela variação das ações de responsabilidade social (CSR). A terceira etapa da análise procura identificar, entre as variáveis independentes (CSR), quais as que têm impacto na variável dependente (CFP). Novamente a significância é o indicativo da validade da correlação, neste caso o valor-P bicaudal do teste-z. A análise da Tabela 1 mostra que duas variáveis que compõem o CSR, têm impacto sobre o desempenho financeiro; a) o % de empregados negros; cujo valor de β = –4,501 e significância igual a 0,00 indica uma correlação negativa; e, b) o % de negros em cargos de chefia, cujo β = 2,988 e significância igual a 0,005 apresenta uma correlação positiva. As outras variáveis estudadas não impactam o desempenho financeiro corporativo para a amostra estudada. Uma preocupação decorrente da análise de regressão é saber o quão precisas são as estimativas obtidas pela substituição das variáveis independentes na equação da reta encontrada. Vimos que R2 nos mostra a proporção dos acertos, mas a determinante principal da precisão é a medida da dispersão na população. A medida da dispersão é o desvio padrão dos yc (valores calculados) em relação aos yi observados, também visualizados na Tabela 1. A regressão efetuada no software SPSS utilizou como parâmetros: regressão linear, método “enter”, e “exclude case listwise” para o tratamento dos valores faltantes. Foram também selecionadas todas as oito variáveis independentes formadoras do CSR. Observando os resultados apresentados na Tabela 2, verifica-se que software excluiu uma variável: número de empregos criados, em função da grande quantidade de empresas que não informaram este dado. 124 ASARAH CAMARGO CAMPOS ROSANY CORREA DOS SANTOS A análise realizada com os dados obtidos pelo SPSS é semelhante à anteriormente descrita. As estatísticas são verificadas na mesma ordem, mas, pela inclusão de outra variável, apresentam valores um pouco mais elevados. O valor de F = 6,361, com sig = 001 indica que existe relacionamento entre as variáveis estudadas. O valor de R = 0,837, e R2 = 0,701 e R2 quadrado ajustado = 0,591 são um pouco maiores que os encontrados com 6 variáveis. O coeficiente de determinação múltipla R2 indica que 70,1% de y, ou seja, desempenho financeiro corporativo – CFP é explicado pela equação resultante. Este valor demonstra uma correlação alta, positiva e significativa entre as variáveis CFP e CSR. O R2 ajustado também apresenta correlação positiva de 59,1% conforme demonstrado na Tabela 2. Tabela 2 Resultados da Estatística Regressão Múltipla = SPSS. Modelo R R Quadrado R Quadrado Ajustado Erro Padrão da Estimativa 1 ,837 ,701 ,591 ,2343295 ANOVA Soma dos Quadrados df Quadrado Médio F Sig. Regressão 2,445 7 ,349 6,361 ,001(a) Residual 1,043 19 ,055 Total 3,488 26 Modelo 1 Modelo 1 Variáveis independentes Coeficientes Não Padronizados Coeficiente Padronizado t Sig. 2,421 ,026 B Erro Padrão ,276 ,114 6,798E-06 ,000 ,068 ,452 ,656 –,003 ,013 –,038 –,257 ,800 2,629E-05 ,027 ,000 ,001 ,999 % de mulheres em cargos de chefia ,000 ,003 ,016 ,107 ,916 % de empregados negros –,014 ,002 –,871 – 5,984 ,000 % de negros em cargos de chefia ,023 ,005 ,664 4,357 ,000 Tributos sob faturamento líquido –,009 ,007 –,191 –1,267 ,220 (Constante) Investimentos. Internos sob nº de funcionários Investimentos. Sociais Externos sobre Faturamento Líquido % de empregados portadores de deficiência Beta Elaborada pelas autoras com dados da pesquisa. UM ESTUDO EMPÍRICO SOBRE A CORRELAÇÃO ENTRE RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA (CSR) E A PERFORMANCE FINANCEIRA (CFP) NAS EMPRESAS PARTICIPANTES DO PREMIO DELMIRO GOUVEIA 2005 125 Da mesma forma que os resultados anteriores, os dados da Tabela 2 indicam que as variáveis que dependentes que impactam o desempenho financeiro corporativo das empresas participantes do Prêmio Delmiro Gouveia são: a variável que representa o % de empregados negros, com impacto negativo, denotado por β = –5,984 e sig = 0,00, além da que indica o % de negros em cargos de chefia com β = 4,357 e sig = 0,000. A título de experiência e contribuição, este estudo elaborou um indicador de desempenho financeiro utilizando as variáveis: a) Retorno sobre o PL (%); b) Crescimento no Giro do Ativo; c) Liquidez Geral; d) Liquidez Corrente e, e) Crescimento das vendas (%). Destaca-se que estas variáveis foram utilizadas no Prêmio Delmiro Gouveia, conforme demonstra o Quadro 1. Para o cálculo do indicador financeiro, foi realizado procedimento semelhante ao utilizado por Borba (2005), no qual, para cada variável incluída foi calculada a mediana. Posteriormente, o resultado de cada empresa é comparado com a mediana, e se maior é adicionado 2 ao indicador. Desta forma, com a utilização das 5 variáveis acima citadas, a empresas recebem um índice que varia de 10 a 0. Foi então efetuada a regressão entre este índice e as variáveis de desempenho social e os resultados apresentados na Tabela 3 denotam que não existe relacionamento entre as variáveis estudadas. Tabela 3 Resultados da Estatística Regressão Índice Financeiro elaborado. Estatística de regressão R múltiplo R-quadrado R-quadrado ajustado Erro padrão Observações ANOVA 0,36 0,13 – 0,03 3,08 40,00 gl Regressão Resíduo Total F de significação Interseção Investimentos. Internos sob nº de funcionários Investimentos. Sociais externos sobre fat. Líquido % de empregados portadores de deficiência % de mulheres em cargos de chefia % de empregados negros % de negros em cargos de chefia SQ MQ 6,00 33,00 39,00 0,57 46,30 313,60 359,90 Coeficientes 6,04 0,00 0,10 – 0,34 – 0,05 0,01 0,07 Erro padrão 1,00 0,00 0,15 0,31 0,03 0,03 0,07 F 7,72 9,50 Stat t 6,03 – 0,28 0,67 –1,08 –1,68 0,47 1,01 0,81 valor-P 0,00 0,78 0,51 0,29 0,10 0,64 0,32 Elaborada pelas autoras com dados da pesquisa. 126 7 ASARAH CAMARGO CAMPOS ROSANY CORREA DOS SANTOS CONCLUSÃO A primeira consideração que pode ser feita sobre o estudo apresentado é que o índice de desempenho financeiro utilizado, o LOAT definido como o Lucro Operacional dividido pelo Ativo Total não é o mesmo índice que foi utilizado pelos organizadores do Prêmio Delmiro Gouveia para avaliar o desempenho financeiro das empresas participantes. Também, vale ressaltar que embora as variáveis utilizadas para definir o desempenho social sejam as mesmas do Prêmio Delmiro Gouveia, não o foram com os pesos estabelecidos pelos organizadores do evento. Este fato pode explicar por que não existe nenhuma intersecção entre as empresas ganhadoras na categoria de Melhor Desempenho Financeiro e na categoria Melhor Desempenho Social. A comparação entre as empresas ganhadoras nas duas categorias leva ao entendimento de que não existe relacionamento entre desempenho social e financeiro na amostra estudada, o que contraria os resultados obtidos. A segunda observação é que uma mudança na concepção do índice que mede o desempenho financeiro resultou na verificação de independência entre as variáveis CFP e CSR. O artigo vem corroborar com a miríade de autores que realizaram trabalhos semelhantes e encontraram resultados ambíguos, não conclusivos e conflitantes, e, principalmente, com Kotler e Lee (2005) quando afirmam que o processo de medição dos índices sociais ainda é um infante. Sugere-se que outros estudos, com número maior de empresas, sejam realizados, pois os resultados obtidos não são conclusivos do ponto de vista dos valores encontrados. Resta ainda a questão: pode-se afirmar que o número de empregados negros impacte negativamente o desempenho financeiro das organizações, enquanto que o número de empregados negros na chefia o faça positivamente? Qual o elemento diferenciador que propiciaria este fato? Poderia a existência de uma relação fraca entre desempenho financeiro e social ser explicada pela falta de cultura em reconhecer estes novos valores? Ou estariam as ações sociais sendo implantadas de forma que não afetem os comportamentos dos consumidores? UM ESTUDO EMPÍRICO SOBRE A CORRELAÇÃO ENTRE RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA (CSR) E A PERFORMANCE FINANCEIRA (CFP) NAS EMPRESAS PARTICIPANTES DO PREMIO DELMIRO GOUVEIA 2005 127 Referências BORBA, Paulo da Rocha, Rela˘ıo entre desempenho social corporativo e desempenho financeiro de empresas no Brasil, Dissertação apresentada ao Departamento de Administração e Contabilidade da USP, São Paulo: 2005, disponível em <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12139/tde17082005-155828/>, acessado em 3/05/2006. COOPER, Donald R., Schindler, Pámela S. M˚todos de pesquisa em administra˘ıo, 7. ed. Porto Alegre: Bookman, 2004. CURRAN, Marina Martin. Assessing the rate of return of the adoption of corporate social responsibility initiatives, Thesis submitted in fulfilment of the requirements for the degree of Doctor of Philosophy University of Edinburgh: 2005. FREEMAN, R. Strategic management: a stakeholder approach. Boston: Ballinger, 1984, disponível em <http://www.darden.virginia.edu/corporate-ethics/ publications.htm> , acessado em 08/05/2006. KEELER, Dan. Spread the love and make it pay. Global finance, May 2002, disponível em: <http://www.findarticles.com/p/articles/mi_qa3715/is_200205/ ai_n9021321>. Acessado em 4/05/2006. KOTLER, Philip, HOBOKEN, Nancy Lee, Corporate social responsibility doing the most good for your company and your cause, New Jersey: Wiley, 2005. MALHOTRA, Naresh K. Pesquisa de marketing. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. ORLITZKY, Marc, SCHMIDT, Frank, RYNES, Sara.Corporate social and financial performance: A Meta analysis, Global finance, May 2003, disponível em <http:/ /www.findarticles.com/p/articles/mi_m4339/is_3_24/ai_99699578/>, acessado em 05/05/2006. ROSS, Stephen A. Ross, WESTERFIELD, Randolph W., JORDAN, Bradford D. Princˇpios de administra˘ıo financeira. São Paulo: Atlas, 1998. SINHA, Proven, DEV Chekitan S., SACHS Tânia. The relationship between Corporate social responsability and profitability of Hospitality Firms: do firms that do good also do well?, New York:2002. Disponível em <http:// www.hotelschool.cornell.edu/chr/pdf/showpdf/chr/research/working/ c o r p r e s p o n s i b i l i t y. p d f ? m y _ p a t h _ i n f o = c h r / r e s e a r c h / w o r k i n g / corpresponsibility.pdf> , acessado em 7/05/2006. SROUR, Robert Henry. Poder, cultura e ˚tica nas organiza˘þes. Rio de Janeiro: Campus, 1998. STONER, James A. F.; FREEMAN, Edward R. Administra˘ıo. Rio de Janeiro: LTC, 5. ed., 1999. 128 ASARAH CAMARGO CAMPOS ROSANY CORREA DOS SANTOS STEVENSON, William J. Estatˇstica aplicada Ú administra˘ıo – São Paulo: Harper & Row do Brasil, 1978. TOLEDO, Geraldo Luciano. Estatˇstica bÛsica – São Paulo: Atlas, 1985. TSOUTSOURA, Margarita. Corporate social responsibility and financial performance. Berkeley, 2004, disponível em <http://www.haas.berkeley.edu/ responsiblebusiness/documents/FinalPaperonCSR_PDFII.pdf> , acessado em 8/05/2006. VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatðrios de pesquisa em administra˘ıo. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004. ENDOMARKETING: UMA APLICAÇÃO DO MODELO DE CERQUEIRA EM UM RESTAURANTE DA CIDADE DE FORTALEZA1 MARIA DO SOCORRO ARAÚJO 2 OTÁVIO DE ALENCAR DIÓGENES3 RESUMO: Para que uma empresa possa conseguir resultados satisfatórios, seja através da qualidade, da produtividade ou do marketing, é preciso antes desmobilizar os velhos hábitos e construir uma nova base cultural, comprometendo todos os envolvidos em um processo de geração de riqueza. O endomarketing, neste contexto, mostra que as pessoas só caminham para a excelência quando percebem que a empresa respeita seus valores, investe no desenvolvimento de modelos gerenciais avançados e aposta no potencial humano. Cerqueira propõe um modelo de avaliar o endomarketing através do valor social que ele denominou liberdade e suas múltiplas formas de ser analisado. Com base nessa proposta, este trabalho tem como objetivo avaliar as ações de endomarketing em uma empresa da indústria alimentícia instalada na cidade de Fortaleza. A importância da pesquisa consiste na contribuição que ele dará aos dirigentes do restaurante, além da reflexão que ele pode gerar sobre o tema proposto, nos dirigentes de empresas e pesquisadores. A metodologia utilizada consiste em um estudo de campo realizado no ambiente do restaurante com os funcionários. Como resultado, verifica-se que os funcionários do restaurante percebem que as ações de endomarketing são de grande valor, visto que a maior parte deles aderem totalmente às práticas propostas por este modelo, pois eles concordam que se sentem livres para trabalhar na empresa, percebem transparência nas relações dentro do ambiente de trabalho e também se sentem participantes da organização, além de sentirem que a empresa é democrática e desenvolve uma boa comunicação interna e relacionamento interpessoal. PALAVRAS-CHAVE: Endomarketing. Modelos Gerenciais. Indústria Alimentícia. ABSTRACT: In order that companies can accomplish satisfactory results, or by productivity quality either by marketing, it is necessary before a break of old-fashioned conduct or habits for building a new cultural base, engaging all the involved people for a process of wealth generation. Endomarketing in this context shows that employees only improve their job when they realize 1 Trabalho realizado sob a orientação do Prof. Msc. Alberto dos Santos Paiva Filho, docente da FFB. 2 Graduado em Administração pela FFB. 3 Graduado em Administração pela FFB. 130 MARIA DO SOCORRO ARAÚJO OTÁVIO DE ALENCAR DIÓGENES that the company respects their values, invests in the development of advanced management models and believes in human potential. Cerqueira proposes an evaluation model for endomarketing through social values that he denominated freedom and its multiple ways of being analysed. Taking account of this proposal, this work has as an objective of evaluating the action of endomarketing in a food industrial company located in Fortaleza city. The importance of this research consists in the contribution that it will be provided in favor of restaurant owners, besides the reflexion that it can generate about the proposed theme and company owners and researchers. The applied methodology consists in a field study held in the restaurant's own enviroment with the employees. As a result, we verified that the restaurant employees have realized that the application of endomarketing are very worth, as soon as most of them totally accepted the proposed practice by that model, so they have agreed that they feel well working in the restaurant, they have realized the transparence in the workplace and also they feel part of the organization process, feeling that the company is democratic and there is a good internal communication and interpersonal relationship. KEY WORDS: Endomarketing. Menagements Models. Nutritious Industry. INTRODUÇÃO Endomarketing ou marketing de relacionamento interno são ações de marketing desenvolvidas para o público interno da empresa com o objetivo de facilitar e realizar trocas, construindo relacionamentos com este público, harmonizando e fortalecendo estas relações. A palavra endomarketing significa marketing para dentro. A forma de trabalhar o endomarketing consiste em um conjunto de processos, projetos ou veículos de comunicação integrada que permite a venda, a consolidação de uma nova imagem para dentro da empresa. Cerqueira propõe um modelo de avaliar o endomarketing através do valor social que ele denominou liberdade e suas múltiplas formas deste valor ser analisado. Com base nesta proposta, este trabalho tem como objetivo avaliar as ações de endomarketing em uma empresa da indústria alimentícia instalada na cidade de Fortaleza. A importância da pesquisa consiste na contribuição que ele dará aos dirigentes do restaurante, além da reflexão que ele pode gerar sobre o tema proposto, nos dirigentes de empresas e pesquisadores. A metodologia utilizada consiste em um estudo de caso individual, uma vez que a pesquisa se limita a analisar o trabalho de uma única empresa, que é realizado por meio de um estudo de campo desenvolvido no ambiente do restaurante, por meio de entrevista aplicada aos funcionários da organização. ENDOMARKETING: UMA APLICAÇÃO DO MODELO DE CERQUEIRA EM UM RESTAURANTE DA CIDADE DE FORTALEZA 131 Para o bom desenvolvimento do trabalho, ele foi realizado em 04 (quatro) etapas, onde a primeira é esta introdução que mostra o objetivo e a justificativa do trabalho. A segunda etapa apresenta a fundamentação teórica do estudo, em que são apresentados os conceitos e sistemas de endomarketing na visão de autores diversos. A terceira apresenta a metodologia da pesquisa e a quarta etapa apresenta os resultados da pesquisa. 1 FUNDAMENTOS TEÓRICOS Cerqueira (2002) afirma que endomarketing são projetos e ações que uma empresa deve empreender para consolidar a base cultural do comprometimento dos seus funcionários com o desenvolvimento adequado das suas diversas tecnologias visando: a) a prática dos valores estabelecidos como base; b) a manutenção de um clima ideal de valorização e reconhecimento das pessoas; c) a obtenção de índices maiores de produtividade e qualidade, com a conseqüente redução de custos; d) o estabelecimento de canais adequados de comunicação interpessoal, que permitirão a eliminação de conflitos e insatisfações, que possam afetar o sistema organizacional; e) a melhoria do relacionamento interpessoal; f) o estabelecimento da administração da administração participativa; g) a implantação de ações gerenciais preventivas. Para Kotler (2000), o marketing de relacionamento interno é a tarefa de contratações acertadas, treinamento e motivação de funcionários hábeis que desejam atender bem os clientes. Já para Bekin (1998), o endomarketing consiste em realizar ações de marketing voltadas para o público interno da empresa, com o fim de promover entre os seus funcionários e departamentos aqueles valores destinados a servir o cliente. Continua o autor que o objetivo do endomarketing é facilitar e realizar trocas construindo relacionamentos com o público interno, compartilhando os objetivos da organização, harmonizando e fortalecendo estas relações. É interessante observar como os autores, apesar de usarem palavras diferentes, estão convergindo para a mesma linha de raciocínio, dentro de um mesmo objetivo que é a ação de marketing aliado às atividades de treinamento e motivação voltadas para promover os valores destinados a servir os clientes externos. 132 MARIA DO SOCORRO ARAÚJO OTÁVIO DE ALENCAR DIÓGENES Para se criar um processo de endomarketing, deve-se partir de três premissas básicas, segundo orienta Bekin (1998): (a) A empresa deve estar em um mercado orientado para o cliente. Clientes só podem ser conquistados e retidos com um serviço excelente; (b) estar atentos às expectativas dos funcionários, pois estes se constituem no primeiro mercado para a organização. Assim, funcionários devem ser tratados como clientes e valorizados como pessoas; (c) a busca da excelência nos serviços aos clientes e o gerenciamento dos recursos humanos significam envolver e comprometer os funcionários com os objetivos e decisões da empresa. Segundo o que orienta Silva (1999), o endomarketing atua diretamente na excelência do clima organizacional, refletindo no índice de satisfação interna e na melhoria do fluxo de comunicação entre os diversos níveis da organização, o que gera uma conexão com os objetivos de desenvolver uma cultura de valorização do cliente despertando no cliente interno o interesse por marketing. Violin (2003), por sua vez, afirma que endomarketing é toda e qualquer ação de marketing voltada para a satisfação e aliança do público interno com o intuito de melhor atender aos clientes externos. Segundo o autor, o marketing interno tem se tornando uma ferramenta de extrema importância para as organizações. A razão de tal importância é porque se constitui em um processo cujo foco é sintonizar e sincronizar todas as pessoas que trabalham na empresa na implementação e operacionalização de ações mercadológicas. O principal benefício que se busca, continua Violin (2003), é o fortalecimento e construção de relacionamentos, compartilhando os objetivos da empresa e fortalecendo estas relações, inserindo a noção de que todos são clientes de todos também dentro da empresas. Antes de vender um produto para seus clientes, as empresas precisam convencer seus funcionários a comprá-lo. O endomarketing surge como elemento de ligação entre o cliente, o produto/serviço e o colaborador. Silva (1999) informa que a necessidade crescente pelo interesse em endomarketing se dá pela busca da eficiência por parte das organizações, especialmente atribuída ao renascimento do ser humano nos negócios dentro do clima competitivo atual. Este aspecto é de fundamental importância, pois realmente encontra-se uma real justificativa para tão grande interesse neste assunto que consiste no fato da competitividade com base na eficiência dos funcionários, ou seja, ganha a empresa que ENDOMARKETING: UMA APLICAÇÃO DO MODELO DE CERQUEIRA EM UM RESTAURANTE DA CIDADE DE FORTALEZA 133 melhor trabalhar seus clientes internos, ganha a empresa que formar o melhor time, tiver o grupo mais coeso e centrado em um só objetivo. Do ponto de vista da psicologia, para muitos empregados, seus grupos de trabalho são fontes básicas de interação social. A comunicação que acontece dentro do grupo é um mecanismo fundamental pelo qual seus membros demonstram suas frustrações e sentimentos de satisfação. A comunicação, portanto, proporciona uma liberação para expressão emocional dos sentimentos e para a satisfação de necessidades sociais é o que ressalta a autora Vier (1999). Por isso, as organizações que tem seus objetivos centrados em vencer em mio a competitividade, devem estar muito bem estruturadas em seus processos de comunicação interna, criando um clima organizacional, onde a livre expressão deve funcionar eficazmente, gerando a satisfação do público interno, para que este público possa se empenhar em buscar a satisfação do público externo. Baseado nesta idéia é que Bekin (1998) afirma que realizar ações de marketing voltadas para o público interno da empresa, com fim de promover entre seus funcionários e departamentos aqueles valores destinados a servir o cliente. Rabaça e Babosa (1996) argumentam que o funcionário bem informado tem a medida exata de sua responsabilidade para com os objetivos da companhia e sabe que sua contribuição, mais do que uma força de trabalho funciona como vantagem competitiva para a empresa. O comprometimento dos empregados com os objetivos da organização é um dos pontos fortes de qualquer empresa, porém isso decorre de uma política de recursos humanos, que inclui a satisfação dos empregados entre as prioridades de negócio da companhia. Vavra (1993) faz uma ligação entre a reação do sistema pós-venda, ou venda continuada e o endomarketing, ou seja, a participação do cliente interno na decisão do cliente externo, quando afirma que a interação continuada pós-venda é uma parte muito importante do pós-marketing e é tão necessária quanto a venda, se uma organização deseja contar com oportunidades continuadas de negócios com o mesmo cliente no futuro. O autor considera que “marketing deve mudar a mentalidade de ‘completar uma venda’, para a de ‘iniciar um relacionamento’; de ‘fechar um negócio’ para ‘construir lealdade’”. De fato, não se trata apenas de prestar os serviços pós-venda a quem adquiriu o produto da empresa; trata-se de estabelecer um diálogo interativo com o seu cliente, de modo a garantir a sua satisfação 134 MARIA DO SOCORRO ARAÚJO OTÁVIO DE ALENCAR DIÓGENES constante, retendo esse cliente e garantindo, assim, a sua lealdade. Ferreira (1995) corrobora plenamente com Vavra quando afirma que o marketing de relacionamento é a busca da construção de bases para uma conexão de longo prazo entre a empresa e seus clientes. O autor ressalta que os principais pressupostos do marketing de relacionamento são “estabelecimento de promessas; cumprimento das promessas; desenvolvimento de novas promessas a partir das necessidades dos clientes vistos individualmente”. Reconhece, entretanto, que é difícil implementar o marketing de relacionamento e que “geralmente, [a empresa] busca um segmento com pequeno número de clientes, mantém o relacionamento no nível de parceria e obtém, com isso, uma alta margem de lucro”. Diante da exposição de Ferreira, verifica-se ser mais necessário ainda o desenvolvimento do processo de endomarketing considerando as premissas expostas por Bekin (1998), para que as organizações não coram o risco de verem seus processos de relacionamento com o cliente externo não lograrem o sucesso esperado. O conceito de marketing de relacionamento já havia sido introduzido por Levitt (1985), que definiu marketing como o processo de atrair e manter o cliente. Da mesma forma, Kotler (1998) enfatiza a importância de se manterem os atuais clientes, ao explicar que o marketing integrado significa que os vários departamentos na organização reconhecem que as ações conjuntas é que tornam a empresa eficaz e não apenas as ações de pessoas de vendas e de marketing têm um efeito profundo sobre a habilidade da organização de criar, reter e satisfazer os clientes.” Falando sobre relações de confiança entre empresas e clientes, cabe aqui destacar as considerações de Popcorn (1994) que fala a respeito do marketing ser a alma da empresa, tema este que pode ser adaptado às necessidades do endomarketing. Segundo a autora, “a empresa precisa ter uma alma”. O consumidor desejará saber quem é você antes de comprar o que você vende e o público interno é o responsável direto pela alma organizacional (...). A direção geral que as empresas tomaram na última década foi a de esconder-se por trás de seus produtos, ENDOMARKETING: UMA APLICAÇÃO DO MODELO DE CERQUEIRA EM UM RESTAURANTE DA CIDADE DE FORTALEZA 135 deixando-os falar, realmente, por si (...). O que as empresas precisam fazer agora é criar laços com seus clientes, laços baseados na confiança, por meio de seu público interno, como fruto do seu bom trabalho de endomarketing. 2 METODOLOGIA DA PESQUISA Esta pesquisa utiliza a metodologia do estudo de caso individual e aplica-se a um restaurante de grande porte localizado no Bairro Papicu na cidade de Fortaleza. O método do estudo de caso se caracteriza por ter cinco componentes segundo Yin (1989), que são: (a) Questões de Estudo – este método é indicado para responder às perguntas “como” e “por quê” que são questões explicativas, em eventos contemporâneos, em situações onde os comportamentos relevantes não podem ser manipulados, mas onde é possível se fazer observações diretas e entrevistas sistemáticas e a primeira tarefa a ser empreendida é a clarificação precisa da natureza das questões; (b) Proposições do Estudo – dizem respeito ao que será examinado dentro do escopo do trabalho e sua definição ajudará na decisão de onde procurar evidências relevantes, que sem elas um investigador pode sentir-se tentado a coletar tudo; (c) Unidade de Análise – está relacionada com a definição do que o caso é e ela pode ser um indivíduo, uma decisão, um programa, pode ser sobre a implantação de um processo e sobre uma mudança organizacional; (d) Ligação dos Dados à Proposição e aos Critérios para a Interpretação dos Dados – representam a análise no estudo de caso que relaciona se as informações obtidas com as proposições estabelecidas no início da elaboração do projeto de pesquisa. Com relação aos critérios para interpretação dos dados, as análises e inferências, em estudos de caso, são feitas por analogia de situações e buscam responder às questões “por quê” e “como” inicialmente formuladas. Para a pesquisa bibliográfica, foi realizada uma pesquisa exploratória secundária em livros, artigos e teses. Para análise dos resultados, foi aplicado o método qualitativo de análise comparativa entre a pesquisa secundária e a primária. 136 3 MARIA DO SOCORRO ARAÚJO OTÁVIO DE ALENCAR DIÓGENES ANALISE DOS RESULTADOS 3.1 Caracterização do Objeto de Pesquisa A empresa em estudo é do ramo de indústria e comércio de alimentos. Classificada como um restaurante que atinge pessoas com características demográficas de classe média-alta, em sua maioria adultos, entre 27 a 55 anos. A renda deste varia entre 10 e 30 salários mínimos. O restaurante também assume a característica de bar, oferecendo aos seus clientes música ao vivo, petiscos e bebidas. Seu corpo de funcionários é composto por gerente administrativo, almoxarife, serviços gerais, garçons, cozinheiros e maître. Atua no mercado há 20 anos e a sua participação neste mercado é de 20% e atinge cerca de 1000 clientes por mês. 3.2 Análise Qualitativa Comparativa O quadro a seguir faz uma comparação entre as características de um sistema de endomarketing definidas por Cerqueira (2001), e as respostas dadas pelos funcionários do restaurante estudado. Premissa CERQUEIRA (2001) Funcionários do Restaurante 1. Prática dos valores estabelecidos como base. 2. Manutenção de um clima ideal de valorização e reconhecimento das pessoas. 3. Obtenção de índices maiores de produtividade e qualidade, com a conseqüente redução de custos. 4. Estabelecimento de canais adequados de comunicação interpessoal, que permitirão a eliminação de conflitos e insatisfações, que possam afetar o sistema organizacional. 5. Melhoria do relacionamento interpessoal. 6. Estabelecimento da administração administração participativa. 7. Implantação de ações gerenciais preventivas. da 87% dos funcionários se sentem livres para trabalhar na empresa e 57% percebem transparência nas relações dentro da empresa. 87% dos funcionários se sentem participantes dentro da empresa. 87% dos funcionários se sentem participantes e 93% deles sentem que a empresa é democrática. 67% dos funcionários concordam que a empresa desenvolve uma boa comunicação. 74% dos funcionários se sentem bem com o relacionamento interpessoal (funcionários entre funcionários) e 94% se sente bem com o relacionamento interpessoal (diretoria e funcionário) dentro da empresa. 67% dos funcionários se sentem participantes nas decisões da empresa e 67% deles sentem bem acolhidos ao dar opiniões e sugestão dentro da empresa. Não foi detectado. ENDOMARKETING: UMA APLICAÇÃO DO MODELO DE CERQUEIRA EM UM RESTAURANTE DA CIDADE DE FORTALEZA 137 3.3 Análise dos dados Os funcionários do restauarnante analisado percebem que as ações de endomarketing segundo os 7 (sete) itens do modelo de Cerqueira como sendo de grande valor, visto que dos 13 colaboradores entrevistados, 11 aderem totalmente às práticas propostas por este modelo. Concordam que se sentem livres para trabalhar na empresa, percebem transparência nas relações dentro do ambiente de trabalho e se sentem participantes da organização. Sentem que a empresa é democrática e concordam que a empresa desenvolve uma boa comunicação interna além de se sentirem bem com o relacionamento interpessoal (funcionários entre funcionários) e o ponto de destaque é que em sua totalidade eles se sentem bem com o relacionamento interpessoal (diretoria e funcionário) dentro da empresa. Isso sinaliza que a empresa estudada é uma empresa que se preocupa com seus funcionários e trabalham no sentido de fazer crescer a imagem da empresa na concepção de seus colaboradores. 4 CONCLUSÃO Conclui-se que o restaurante analisado, segundo o modelo de Cerqueira, desenvolve fortes ações de endomarketing e que, embora não tenha um plano formal, o índice de satisfação dos funcionários, o grau de participação e a liberdade que eles sentem ao trabalhar na organização pode classificar esta empresa como um firma que desenvolve endomarketing. Pode-se afirmar que o objetivo desta pesquisa foi atingido, uma vez que foram avaliadas todas as possíveis ações de endomarketing, culminando com o alto índice de satisfação do público interno da organização. 138 MARIA DO SOCORRO ARAÚJO OTÁVIO DE ALENCAR DIÓGENES Referências BEKIN, Saul Faingaus.Conversando sobre endomarketing. São Paulo: Makron Books, 1998. CERQUEIRA, Wilson. Endomarketing: educação e cultura para a qualidade. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002. FERREIRA, Armando Leite. Marketing para pequenas empresas inovadoras. Rio de Janeiro: Expert Books, 1995. Cap. 12. KOTLER, Philip. Administra˘ıo de marketing: análise, planejamento, implementação e controle. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1994. 676p. LEVITT, Theodore. A imagina˘ıo de marketing. São Paulo: Atlas, 1985. POPCORN, Faith. O Relatðrio Popcorn: centenas de idéias de novos produtos, empreendimentos e novos mercados. Rio de Janeiro: Campus, 1994. p. 143-157. RABAÇA, Carlos Alberto e BARBOSA, Gustavo. Marketing: segredos e estratégias – modelos para a conquista de maior competitividade e fidelidade dos clientes. São Paulo: Saraiva, 1996. SILVA, Luís Carlos Carvalho da. AnÛlise da rela˘ıo existente entre as a˘þes de endomarketing e a imagem de corporativa: um estudo de caso no Banco do Brasil em João Pessoa- Paraíba. João Pessoa: 1999. Dissertação (Mestrado em Administração)- Universidade Federal da Paraíba. VAVRA, Terry G. Marketing de relacionamento: aftermarketing. São Paulo: Atlas, 1993. VIER, Suzana Aparecida. A comunica˘ıo como diferencial competitivo nas organiza˘þes. Monografia de Especialização em Engenharia de Produção. Bauru: Universidade Estadual Paulista, 1999. VIOLIN, Fábio Luciano. Endomarketing. Disponível em www.google.com.br / endomarketing / artigos no dia 25/05/2003. Acessado em 25/09/2005. YIN, Robert K. – Case Study Research – design and methods. Sage Publications Inc., USA, 1989. QUALIDADE UMA ANÁLISE DA VISÃO DOS LOJISTAS DE UM SHOPPING DE FORTALEZA1 PAULO ROBÉRIO PEROTE DA SILVA2 THIAGO VIANA FERREIRA3 GUSTAVO NOCE CHASTINET4 RESUMO: Um dos atributos mais necessário para a sobrevivência de qualquer empresa é a concepção de qualidade que esta passa para o mercado. São muitos os autores que trabalham este conceito e apresentam modelos para que as organizações possam caminhar baseadas na qualidade, diferenciando-se pela oferta de produtos e serviços de alto nível. Neste contexto, este trabalho tem como objetivo analisar a visão de qualidade que os lojistas de um shopping center, na cidade de Fortaleza, têm sobre qualidade e como eles aplicam este conceito em sua vivência organizacional. A importância do trabalho consiste na contribuição que ele pode dar para administração do Shopping e para os próprios lojistas e na reflexão que os pesquisadores estão fazendo a partir do estudo para suas futuras vistas profissionais. O trabalho utiliza os conceitos de qualidade definidos por Paladine e faz um confronto entre os conceitos teóricos deste autor com a percepção dos lojistas do Shopping. Os resultados apresentam que o Shopping analisado, segundo o modelo de Paladine, necessita estabelecer no item qualidade um real potencial de um shopping center, com vistas ao crescimento de vendas, receitas e resultados, ele encontra-se no momento defasado em relação a outros estabelecimentos de mesma atividade, espalhados na grande Fortaleza. PALAVRAS-CHAVE: Gestão de Qualidade. Vivência Organizacional. Administração de Shopping. ABSTRACT: One of the most necessary attributes for the survival of any company is the conception of quality which is passed to the market. There are so many authors who work on this conception and present models in order that some organizations can walk on based on the quality, making the difference by offering products and service of high level. In this context, this work has as an objective to analyse the shop owners' point of view about quality in a 1 Trabalho realizado sob a orientação do Prof. Msc Alberto dos Santos Paiva Filho, docente da FFB. 2 Graduado em Administração pela FFB. 3 Graduado em Administração pela FFB. 4 Graduado em Administração pela FFB. 140 PAULO ROBÉRIO PEROTE DA SILVA THIAGO VIANA FERREIRA GUSTAVO NOCE CHASTINET shopping mall, in Fortaleza city, and how they apply that concept for their organizational experiences. The importance of this work consists in the contribution that it can provide for the management of the shopping mall, for the shop owners and in the reflexion that the researchers are taking from the study itself for their further professional visiting. The work uses the concepts of quality defined by Palandine and compares the author's theoretical concepts to the shop owners' perception. The results showed that the shopping mall in question, by Paladine's model, needs to establish the real potencial of a shopping mall for quality issue, in pursue for increasing the sales , incomes and results, they were found behind their time regarding other shops of the same ativity in Fortaleza city. KEY WORDS: Quality Administration. Existence Organizacional. Shopping Administration. INTRODUÇÃO A qualidade é hoje um fator intrínseco de qualquer organização, seja ela de produto, de serviço, indústria, comércio ou terceiro setor. A qualidade cobre todo o tipo de funções da empresa: marketing e vendas; investigação e desenvolvimento; produção; contabilidade; finanças; administração; transportes; distribuição; e fundamentalmente gestão de topo. A expansão dos conceitos de gestão da qualidade, métodos e ferramentas para todas as indústrias são facilmente demonstráveis se considerarmos os fornecedores do Prêmio Nacional de Qualidade Malcom Baldrige de 1992. Estes incluem: um hotel, a Polícia do Estado de Nova Iorque, um sistema escolar, inspetores de terra e arquitetos, bem como uma ampla variedade de outras empresas de produção e serviços. Na administração, o enfoque da qualidade nasceu para resolver o problema da uniformidade, conseqüente da produção em massa, que exigia um controle. O termo qualidade tem se tornado muito popularizado e isso leva muitos a definirem qualidade de forma incorreta, o que se torna um problema, pois é muito difícil se redefinir intuitivamente um termo que todo mundo já conhece; nem restringir seu uso a situações QUALIDADE UMA ANÁLISE DA VISÃO DOS LOJISTAS DE UM SHOPPING DE FORTALEZA 141 específicas, se ele for de domínio público. Paladine (2004) apresenta 8 (oito) aspectos que para ele são cruciais na gestão da qualidade. Estes termos são: 1) abstrato; 2) perfeição; 3) imutável; 4) subjetividade; 5) adequação ao projeto; 6) funcionamento; 7) classes, estilos ou categorias; 8) especialidade. Neste contexto, este trabalho tem como objetivo analisar a visão de qualidade dos lojistas de um shopping center situado no Bairro da Aldeota, na cidade de Fortaleza. A importância da pesquisa consiste na contribuição que ele dará à administração do shopping e aos lojistas, além da reflexão que ele está gerando nos alunos pesquisadores sobre este tema. A metodologia utilizada consiste em uma pesquisa de campo, na qual foram abordados os dirigentes ou representantes das lojas que compõem o shopping em estudo. O trabalho foi desenvolvido em 04 (quatro) etapas, onde a primeira é esta introdução que mostra o objetivo e a justificativa. A segunda etapa apresenta a fundamentação teórica do estudo, onde são apresentados os conceitos e métodos utilizados na qualidade na visão de autores diversos. A terceira apresenta a metodologia da pesquisa e a quarta etapa apresenta os resultados da pesquisa. 1 FUNDAMENTOS TEÓRICOS Paladini (2004) afirma que o alcance da palavra qualidade apresenta características que implicam dificuldades de porte considerável para sua perfeita definição, pois não é um termo técnico exclusivo, mas uma palavra de domínio público, onde não se pode defini-la de qualquer modo, certo de que as pessoas acreditarão ser este seu significado, porque o termo é conhecido no dia-a-dia das pessoas. Para Maximiano( 2002) qualidade é uma palavra que faz parte do dia-a-dia e desempenha papel importante em todos os tipos de organização e em muitos aspectos da vida das pessoas. Continua o autor que a idéia de qualidade tem uma história muito antiga. Dos filósofos gregos aos chineses, dos renascentistas aos engenheiros e fabricantes da Revolução Industrial, muitas pessoas no campo do pensamento e da ação ocuparam-se desse assunto. 142 PAULO ROBÉRIO PEROTE DA SILVA THIAGO VIANA FERREIRA GUSTAVO NOCE CHASTINET Por sua vez, Chiavenato (2000) corrobora com os outros dois autores e acrescenta a figura do cliente quando descreve que a palavra qualidade tem vários significados, porém, a define como o atendimento das exigências do cliente. Deming apud Chiavenato (2000) afirma que a qualidade deve ter como objetivo as necessidades do usuário, presentes e futuras. Continua o autor que os vários conceitos de qualidade falam o mesmo idioma através de vários dialetos. Por trás desses conceitos de qualidade está a figura do cliente, que pode ser interno ou externo. Motta (2002), por sua vez, reflete sobre a qualidade se reportando para o final dos anos oitenta que, segundo ele, foi marcado por muitos livros que faziam a combinação de temas de cultura corporativa e de administradores de qualidade. Esses temas incluíam o espírito de grupo, valores compartilhados e projeto comum, bem como círculos de qualidade. O autor afirma ainda que a maior parte dos livros mais vendidos em nossos dias na área de análise organizacional combinam de uma forma ou de outra cultura corporativa e administração de qualidade. Temas como espírito de time, valores compartilhados, e círculos de qualidade são repetidos infinitamente nesse tipo de texto. O sucesso econômico dos sistemas de administrativos japonês, alemão e sueco levou o mundo a perceber que as empresas não podiam mais se preocupar apenas em fazer produtos cada vez mais rapidamente e a custo cada vez mais baixo, mas de produzir melhor, de forma mais criativa e confiável. Essa é a essência da Era da qualidade. Com a globalização mais intensa das últimas duas décadas, acentuou-se a competição nos mercados, afirma Bulgacov (1999) que reflete no mesmo sentido já apresentado por Chiavenato (2000). O autor continua sua explanação descrevendo que para fazer frente a esta competição as empresas precisam tornar-se mais rápidas em responder às demandas do mercado, mais capazes de captar os melhores QUALIDADE UMA ANÁLISE DA VISÃO DOS LOJISTAS DE UM SHOPPING DE FORTALEZA 143 fornecedores do mercado e assim por diante. Só assim afirma o autor é possível dirigir-se para o objetivo estratégico da qualidade. Essa forma de agir preventivamente aos problemas leva à empresa a atingir a excelência. O resultado é não apenas produtos de qualidade e sim qualidade da empresa ou excelência empresarial. Lovelock e Wright (2004) refletem sobre o tema da qualidade em serviços. Afirmam os autores os clientes de uma empresa comparam o que esperam obter com aquilo que fato recebem durante a etapa de pós-compra do serviço. Eles decidem o quanto estão satisfeitos com a entrega e os resultados e também fazem um julgamento sobre a qualidade do serviço. Bateson e Hoffman (2001) descrevem que a qualidade é conceituada mais geralmente como uma atitude, a avaliação global do cliente de uma oferta de serviço. A qualidade é criada a partir de uma série de experiências avaliadas. Na verdade, a qualidade de serviço proporciona uma maneira de obter sucesso entre serviços concorrentes. Principalmente quando várias empresas que fornecem serviços quase idênticos concorrem em uma área pequena, como acontece com bancos, estabelecer qualidade de serviço pode ser a única maneira de se diferenciar. Essa diferenciação pode oferecer uma maior possibilidade de escolha para o consumidor e, com isso, estabelecer a diferença entre sucesso e fracasso financeiro. Chiavenato, dentro de outra visão, afirma que a qualidade se baseia no empoderamento (empowerment) das equipes. Isso significa proporcionar aos funcionários as habilidades e a autoridade para tomar decisões que tradicionalmente eram dadas somente aos gerentes. Esta técnica traz uma diferença significativa na melhoria dos produtos e serviços, na satisfação dos clientes, na redução de custos e de tempo, trazendo economias para a organização e a satisfação das pessoas envolvidas. Porém, esta qualidade é dirigida por 10 (dez) mandamentos que são definidos por Chiavenato como: 144 PAULO ROBÉRIO PEROTE DA SILVA THIAGO VIANA FERREIRA GUSTAVO NOCE CHASTINET Quadro 1 Os dez mandamentos da qualidade. Nº 1 MANDAMENTO Satisfação do cliente 2 Delegação 3 Gerência 4 Melhoria contínua 5 Desenvolvimento das pessoas 6 Disseminação de informações 7 Não aceitação de erros 8 Constância de propósitos 9 Garantia de qualidade 10 Gerência de projetos CONCEITO O cliente é a pessoa mais importante de uma organização e nunca deve ser tratado como importuno ou um receptor passivo dos produtos ou serviços da organização. Significa colocar o poder de decisão mais próximo da ação para evitar gargalos ou demora das soluções. Mobilizar esforços, atribuir responsabilidades, delegar competências, motivar, debater, ouvir sugestões, compartilhar objetivos, informar, transformar grupos e equipes integradas e autônomas. Aperfeiçoamento contínuo (kaizen). A organização se ultrapassa a cada momento. Dar espaço e oportunidades aos funcionários para que possam demonstrar suas aptidões capacidade profissional e reconhecimento. Todos devem ter conhecimento dos planos e metas da organização. A participação coletiva nas decisões implica ação coletiva na busca dos resultados. A busca de perfeição deve ser uma preocupação constante e o padrão de desempenho deve ser zero defeito ou nenhum erro. Fazer certo pela primeira vez e fazer cada vez melhor na seqüência. A definição de objetivos deve ser feita através de um planejamento participativo, integrado e baseado em dados corretos para obter comprometimento, confiança e convergência de ações na organização. A documentação escrita e acessível é fundamental para que se saiba qual é o caminho a percorrer e qual o caminho percorrido. É preciso investir em planejamento, organização e sistematização de processos. As barreiras hierárquicas e departamentais devem ser eliminadas para facilitar a realização de mudanças. A ênfase nos processos utiliza o conceito de cadeia-forncedor para eliminar barreiras entre as áreas da empresa, promovendo integração e eficiência no resultado final. Chiavenato (2000). Paladine (2004) apresenta 8 (oito) aspectos usados para se medir o entendimento de qualidade e contribuem para gerar a eficácia na gestão da qualidade. QUALIDADE UMA ANÁLISE DA VISÃO DOS LOJISTAS DE UM SHOPPING DE FORTALEZA 145 Quadro 2 Os critérios da gestão da qualidade. Nº 1 2 3 4 5 6 7 8 ASPECTOS Qualidade é algo abstrato DECORRÊ NCIAS Algo inatingível, um estado ideal sem contato com a realidade. Qualidade é sinônimo de É uma situação que não comporta alterações.. perfeição Qualidade é imutável É um conceito definitivo. Qualidade é subjetividade A forma de percepção é muito diversificada. Qualidade é conformidade O que se considera é a relação entre o projeto e o com o projeto produto, sem verificar a relação entre o projeto e os usuários. Qualidade é um requisito Se o produto funciona, ele com certeza satisfará ao mínimo de funcionamento. consumidor. Qualidade são classes (estilo Qualidade é vista como diversidade, sofisticação, ou categorias de produtos ou luxo ou variedade. serviços) Qualidade é para especialistas Só algumas restritas pessoas podem analisar a qualidade. Paladini (2004). 2 METODOLOGIA DA PESQUISA A metodologia utiliza o modelo proposto por Mattar (2001), e define este estudo como uma pesquisa descritiva que trabalha por meio de uma pesquisa de campo que aborda os dirigentes ou representantes das lojas que compõem o shopping em estudo. Classifica-se como uma pesquisa qualitativa, pois estuda os aspectos qualitativos do conceito e aplicação do termo qualidade. A fonte de coleta de dados foram os lojistas ou os responsáveis pelas lojas no momento da visita dos pesquisadores. O período da coleta de dados foi na primeira quinzena de agosto de 2005 e foram abordadas todas as lojas que se dispuseram a responder o questionário. O método da coleta de dados foi por meio de um questionário de pesquisa estruturado, não disfarçado. Para análise dos dados, utilizou-se o método da análise de freqüência por meio de gráficos que mostram a incidência de respostas semelhantes, que serão analisadas conforme maior ou menor percentual apresentados. 146 3 PAULO ROBÉRIO PEROTE DA SILVA THIAGO VIANA FERREIRA GUSTAVO NOCE CHASTINET RESULTADOS 3.1 Caracterização do objeto de pesquisa O objeto em pesquisa trata-se de um shopping center com mais de trinta anos de existência na cidade de Fortaleza e possui, como qualquer shopping existente, a meta de manter os seus corredores adequadamente movimentados, dando oportunidades de venda a todos os seus lojistas, seu proprietário foi o primeiro franqueado do grupo Pão de Açúcar no Brasil, fazendo assim na época de sua inauguração, um verdadeiro pioneirismo num novo padrão de qualidade, com atendimento num espaço climatizado e diversidade de produtos ofertados, atualmente este estabelecimento possui um supermercado âncora, restaurante e demais lojas, com estacionamento privativo, localizado em uma área nobre desta cidade. 3.2 Apresentação dos resultados Segundo os respondentes: Aspectos 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. PALADINI (2004) Percentual % Qualidade é algo abstrato Qualidade é sinônimo de perfeição Qualidade é imutável Qualidade é subjetividade Qualidade é conformidade com o projeto Qualidade é um requisito mínimo de funcionamento. Qualidade são classes (estilo ou categorias de produtos ou serviços) Qualidade é para especialistas 80% Consideraram 95% Consideraram 98% Não Consideraram 80% Não Consideraram 60% Não Consideraram 90% Não Consideraram 70% Não Consideraram 70% Não Consideraram 3.3 Análise dos dados De acordo com os resultados obtidos pelos pesquisadores, a grande maioria dos entrevistados no shopping não mostraram aderência aos aspectos de qualidades acima citados, sinalizando que as empresas deste centro comercial ainda precisam se desenvolver bastante em relação aos aspectos apresentados na proposta de Paladine. QUALIDADE UMA ANÁLISE DA VISÃO DOS LOJISTAS DE UM SHOPPING DE FORTALEZA 4 147 CONCLUSÃO Concluímos que o shopping analisado, segundo o modelo de Paladini, necessita estabelecer no item qualidade um real potencial de um shopping center, com vistas no crescimento de vendas, receitas e resultados. Ele situa-se no momento, um tanto quanto defasado em relação a outros estabelecimentos do mesmo gênero, espalhados na grande Fortaleza. Sugerimos, então, um treinamento em Qualidade Total para os seus gerentes e corpo de funcionários. 148 PAULO ROBÉRIO PEROTE DA SILVA THIAGO VIANA FERREIRA GUSTAVO NOCE CHASTINET Referências BATESON, John E. G. e HOFFMAN, K. Douglas. Marketing de servi˘os. Porto Alegre: Bookman, 2001. BULGACOV, Sérgio. Manual de gestıo empresarial. São Paulo: Atlas, 1999. CHIAVENATO, Idalberto. Introdu˘ıo Ú teoria geral da administra˘ıo. Edição Compactada. Rio de Janeiro: Campus, 2000. KOTLER, Philip. Administra˘ıo de marketing: análise, planejamento, implementação e controle. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2000. LOVERLOCK, C. e WRIGHT, C. Servi˘os: marketing e gestão. São Paulo: Saraiva, 2004. MATTAR, Fauze N. Pesquisa de marketing – edição compactada. São Paulo: Atlas, 2001. MAXIMIANO, A. C. Amaru. Teoria geral da administra˘ıo: da revolução urbana à revolução digital. São Paulo: Atlas, 2002. MOTTA, Fernando C. P. Teoria geral da administra˘ıo: uma introdução. São Paulo: Pioneira Thompson Learning, 2002. NORMAS DE PUBLICAÇÃO PARA OS AUTORES Os trabalhos para publicação da Revista FFBusiness deverão ser inéditos e sua publicação não deve estar pendente em outro local. A Revista FFBussiness comunica aos seus colaboradores que os artigos a serem submetidos à seleção deverão ser encaminhados para a Coordenação do Curso de Administração da Faculdade Farias Brito, Rua Castro Monte, 1364, Varjota. Fortaleza-CE. CEP: 60175230. Os artigos podem ser originados de relatos de pesquisa, estudos teóricos, revisões críticas da literatura, relato de experiências profissionais, resenhas, atividades teórico-práticas relativas à Administração e áreas afins. Os artigos devem ser originais e não devem estar pendentes para publicação em outro periódico. Para efeito de publicação, eles serão examinados pelos especialistas do Conselho Editorial da Revista. O artigo deverÛ apresentar a seguinte estrutura organizacional, metodolðgica e de formata˘ıo: Folha de rosto em que figurará somente o nome, endereço e telefone do autor, bem como o título do trabalho. Identifica˘ıo: título do trabalho; autor(es) após o título, em nota de rodapé, a qualificação acadêmica e profissional: o que faz, local de trabalho e a titulação acadêmica mais elevada. Resumo em português e o abstract em idioma estrangeiro de grande divulgação, contendo em torno de 200 palavras, onde deverá estar descrita a finalidade do objeto de estudo, os objetivos pretendidos, a metodologia utilizada e os resultados ou conclusões alcançadas. PALAVRAS-CHAVE (Key Words): termos (palavras ou frases curtas) que indicam o conteúdo do artigo, em português e no idioma estrangeiro estabelecido no abstract. Artigo (corpo do trabalho) deve contemplar: I) Introdução: a) deve estar delimitada a dúvida a ser investigada (problema de estudo – o quê), b) os objetivos da investigação (para que serviu o estudo); c) a metodologia usada no estudo (como) e que autores, obras ou teorias serviram como base teórica para construir a análise do problema. II) Desenvolvimento: a) uma exposição e uma discussão do referencial teórico que foi utilizado para entender e esclarecer o problema, relacionando-as com a dúvida investigada; b) apresentar os dados coletados sobre o objeto de estudo, as respectivas análises e as reflexões realizadas descrevendo os argumentos teóricos e/ou resultados das constatações ou refutações que as sustentam. III) Conclusão: comentários finais, avaliando o alcance e limites do estudo e, se for oportuno, recomendações. O corpo do artigo pode ser dividido em tantos itens quantos forem necessários, de acordo com a natureza do trabalho elaborado. Recomenda-se que os elementos textuais sejam agrupados em seções de acordo com a pertinência dos assuntos ou gênero do trabalho e sejam numerados, para que ajudem o leitor no manuseio do texto. Refer¸ncias BibliogrÛficas: lista da bibliografia pertinente a todas as citações feitas, de acordo com as normas da ABNT: NBR 6023/2002. Anexos e/ou ap¸ndices: em artigo evitam-se; colocam-se, somente, quando se torna imprescindível concretizar o conteúdo do texto. Data do artigo: se for uma comunicação apresentada em algum simpósio, seminário ou congresso especificar o local e o nome do evento. Estilo: pelo fato de o artigo científico se caracterizar por ser um trabalho sucinto, exige-se que adote o padrão culto da Língua Portuguesa, clareza e precisão. Formata˘ıo: o artigo inédito deverá ser digitado no editor de texto Word 7.0 ou superior e remetido para o e-mail [email protected] ou enviar CD para a Rua Castro Monte, 1364 e mais três vias impressas que serão encaminhadas aos membros do Conselho Editorial. Deve conter até 10.000 palavras ou entre 10 a 12 laudas, com parágrafos de 1,25cm, espaço entre linhas 1,5cm, fonte Times New Roman 12, impresso em papel A4 somente no anverso. A configuração da página deve seguir o seguinte padrão: margem superior, inferior e direita 3,0cm e margem esquerda 3,0cm. Todos estrangeirismos, neologismos devem vir em itálico. As transcrições diretas e indiretas devem ficar em destaque, conforme padrão da NBR 10.520. Crit˚rios de publica˘ıo: a seleção dos trabalhos para publicação compete ao Conselho Editorial da Revista. Os trabalhos que não estiverem de conformidade com os critérios estabelecidos serão encaminhados para complementação ou redimensionamento. Se as recomendações não forem acatadas a publicação não se efetivará. Não serão devolvidos os trabalhos recusados. Normas de autoria: não serão devidos direitos autorais ou qualquer remuneração pela publicação dos trabalhos na FFBusiness, em qualquer tipo de mídia. A publicação se constitui parceria, por conseguinte, não acarretará ônus ao(s) autor(es). Este(s) receberá(ão), gratuitamente, cinco exemplares da Revista em que seu trabalho esteja publicado. Aceitamos permuta. Entre em contato! Rua Castro Monte, 1364 (esquina com Júlio Abreu) – PABX: 3486.9015 – FAX: 3267.5169 e-mail: [email protected] OSG.: 12924/06 - 16/02/07WNS