Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Escola
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Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Escola Nacional de Botânica Tropical Biologia reprodutiva de Pseudopiptadenia contorta e P. leptostachya (Leguminosae: Mimosoideae) no Parque Nacional do Itatiaia, Rio de Janeiro Jakeline Prata de Assis Pires 2006 Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Escola Nacional de Botânica Tropical Biologia reprodutiva de Pseudopiptadenia contorta e P. leptostachya (Leguminosae: Mimosoideae) no Parque Nacional do Itatiaia, Rio de Janeiro Jakeline Prata de Assis Pires Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Botânica, Escola Nacional de Botânica Tropical, do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Botânica. Orientador: Dr. Leandro Freitas Rio de Janeiro 2006 2 Biologia reprodutiva de Pseudopiptadenia contorta e P. leptostachya (Leguminosae: Mimosoideae) no Parque Nacional do Itatiaia, Rio de Janeiro Jakeline Prata de Assis Pires Dissertação submetida ao corpo docente da Escola Nacional de Botânica Tropical, Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro - JBRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre. Aprovada por: Prof. Dr. Leandro Freitas (Orientador) ______________________ Profa. Dra. Milene Faria Vieira ______________________ Prof. Dr. Gustavo Martinelli ______________________ em __/__/20__ Rio de Janeiro 2006 3 Para minha Mãe, que durante todo esse tempo esteve mais presente do que nunca... iv P667 b Pires, Jakeline Prata de Assis Biologia reprodutiva de Pseudopiptadenia contorta e P. lepstotachys (Leguminosae: Mimosoideae) no Parque Nacional do Itatiaia, Rio de Janeiro / Jakeline Prata de Assis Pires. – Rio de Janeiro, 2006. ix, 52 f. : il. ; 28 cm. Dissertação (mestrado) – Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro / Escola Nacional de Botânica Tropical, 2006. Orientador: Leandro Freitas. Banca examinadora: Leandro Freitas, Milene Faria Vieira, Gustavo Martinelli . Bibliografia. 1. Pseudopiptadenia contorta 2. Pseudopiptadenia leptostachys . 3. Mimosoideae. 4. Leguminosae. 5. Parque Nacional do Itatiaia. I. Título. II. Escola Nacional de Botânica Tropical. CDD 583.32098153 v AGRADECIMENTOS A Leandro Freitas pela orientação, ensinamentos, ajuda e profissionalismo. Muito obrigada. Ao Prof. Dr. Gustavo Martinelli e a Prof. Dra.Marli Morim pelas sugestões e críticas desde de o começo deste estudo. Aos amigos Rubem, Izar e Bete que estavam sempre ajudando, montando e desmontado andaimes ... À Bernardo e Denize pela ajuda com os tubos polínicos. Aos amigos Léo, Cris e Ita pelas acolhidas e a boa companhia em Campinas. Ao amigo Arno pela ajuda imprescindível na escalada, sem contar a companhia no campo. À Sebastião Neto “Tião”, pela ajuda na hora de localizar as plantas. Ao amigo Sarahyba por todo apoio nos dias em que as coisas não davam certo no campo. Ao amigo Rosembergue, por me socorrer sempre quando o computador não queria obedecer as minhas ordens. Aos funcionários da ENBT, Márcia e Abílio por todos os “galhos quebrados”. Aos amigos (as) do JBRJ: Noa “Maria”, Val e Ravena por todas as boas conve rsas, Bere, Micheline, Ana Angélica, João, Alex, Ronaldo, Henrique .... As amigas de república Jú, Natália Sabrina. À companheira de casa e amiga Dulce “Maria”. À minha querida sogra Maria Clara por todo carinho de sempre e ajuda com o Abstract. Aos meus tios Iracema e Raul por toda ajuda e carinho. À Jerônimo pela compreensão, incentivo, companheirismo. Sem o seu amor tudo teria sido muito mais difícil! À toda minha família que sempre esteve pronta a me apoiar nos momentos mais difíceis, principalmente ao meu Pai e minha vô Judith pelo apoio incondicional de todos os momentos, este trabalho também é dedicado a vocês. Ao CNPq pela concessão da bolsa; ao Programa Mata Atlântica/ Petrobrás pelo custeio das atividades de pesquisa; à direção do PARNA Itatiaia. vi RESUMO O objetivo deste trabalho foi estudar a fenologia, biologia floral, polinizadores e sistema de reprodução de duas espécies arbóreas e simpátricas de Leguminosae Mimosoideae, Pseudopiptadenia contorta e P. leptostachya. A época de floração entre as duas espécies diferiu, o que pode estar relacionado a respostas distintas das plantas ao clima ou a escape de competição por polinizadores. Pseudopiptadenia contorta floresceu na transição da estação seca e chuvosa, enquanto em P. leptostachya a floração se deu no meio da estação chuvosa. As duas espécies apresentaram correlações muito baixas com variáveis climáticas e não foi possível evidenciar um fator que atuasse isoladamente na indução floral, o que sugere que a regulação de tal fenofase depende da interação entre fatores climáticos. Apesar da diferença na época de floração, as sementes das duas espécies foram dispersas durante a estação seca seguinte. A indução da queda foliar nas duas espécies estudadas parece estar relacionada à diminuição do fotoperíodo enquanto a precipitação e temperatura regulam a intensidade. Picos de rebrota foram observados após queda mais intensa das folhas, evidenciado assim que o brotamento nas espécies estudadas parece estar intimamente relacionado à queda foliar. As flores são pequenas e a inflorescência constitui a unidade de polinização. Os polinizadores são abelhas sociais nativas de pequeno porte, além da abelha européia, os quais coletam pólen. Dentre os atributos florais relacionados à atração dos polinizadores estão o odor de mel e a permanência das flores senescentes na raque. Apesar das duas espécies apresentarem características florais e sistema de polinização semelhantes, não foi observado o mesmo sistema reprodutivo. Pseudopiptadenia contorta é auto- incompatível e apresenta ampla distribuição, ocorrendo na Caatinga e em diferentes formações da Floresta Atlântica. Pseudopiptadenia leptostachya é autocompatível e está restrita as florestas montanas da região sudeste, que são formações naturalmente disjuntas. Diante da distribuição geográfica das espécies é possível que o fluxo gênico entre as populações mais isoladas seja pouco freqüente o que teria favorecido a autocompatibilidade em P. leptotachya, coincidindo com a hipótese de que o isolamento entre as populações é um dos principais mecanismos para quebra de auto- incompatibilidade. Palavras-chaves: Floresta Atlântica, Pseudopiptadenia, fenologia, biologia reprodutiva. vii ABSTRACT The main aims of this work were to study the phenology, floral biology, pollinat ors and breeding systems of two arboreal and sympatric tree species of Leguminosae, Pseudopiptadenia contorta and P. leptostachya. The flowering differed between both species and this is probably due to either individual reaction to climate or escape of competition for pollinator. Pseudopiptadenia contorta flowered during the transition of dry and rainy season. Both species presented little correlation to climate changes, which restrained a single evident factor acting alone on floral induction, pointing that phenophase regulation depends on climate factor interaction. Although flowering happens in different periods, the seeds of both species were dispersed during the dry season. In both species leaf fall induction seems to be related to photoperiod decreasing and the intensity is regulated by precipitation and temperature. Leaf flushing peak happened after intense leaf falling, showing that flushing is closely related to leaf fall. Flowers are small and inflorescence is the pollination unit. The pollinators are small native social bees, as well as the European bees, which collect pollen. The pollinators are attracted by the honey- like smell and by the remaining of senescent flowers in the inflorescences. Although both species present similar pollination system and floral characteristics; they do not present the same breeding system. Pseudopiptadenia contorta is self- incompatible and highly distributed, occurring in the Caatinga and in different formations of the Atlantic Forest. Psedopiptadenia leptostachya is self-compatible and occurs only in mountain forests in southeastern Brazil that are naturally disjunctive formations. According to the species geographical distribution it is possible that the low gene flow among isolated populations had collaborated for the self-compatibility occurrence in P. leptostachya, since isolation between populations seems to be one of the main mechanisms for selfincompatibility breaking. Key Words: Atlantic Forest, Pseudopiptadenia, phenology, reproductive biology viii SUMÁRIO Resumo………………………………………………………………………vii Abstract………………………………………………………………………viii Introdução Geral………………………………………………………………1 Capítulo 1: Fenodinâmica de Pseudopiptadenia contorta e P. leptostachya (Leguminosae – Mimosoideae), em uma área de floresta ombrófila densa montana ……….........................4 Capítulo 2: Biologia reprodutiva de duas espécies arbóreas de Leguminosae na floresta ombrófila densa montana. …………………………………………………………28 Conclusões Gerais….............………………………………………………….48 Referências Bibliográficas……....……………………………………………50 ix INTRODUÇÃO GERAL Os trabalhos em biologia reprodutiva nas florestas tropicais têm aumentado nas últimas décadas, por exemplo com a investigação de alguns grupos de polinizadores e sua relação com a vegetação local (q.v., Heithaus 1974, Heithaus et al. 1975, Frankie et al. 1976, Bawa et al. 1985, Frankie et al. 1988, Oliveira 1991), mas ainda são raros os estudos com espécies arbóreas, principalmente na Floresta Atlântica. Estudos sobre a biologia floral destacam diversas características das flores que podem ser fundamentais na atração de seus visitantes. Por exemplo, a cor e forma das flores parecem contribuir como sinais para os visitantes sobre o tipo de recurso presente em determinada espécie, oferecendo assim a possibilidade de incluí- la ou não em sua rota de forrageio (Waser & Price 1983). Portanto, os atributos florais estão envolvidos na atratividade e recursos disponíveis aos polinizadores, possibilitando o transporte de pólen, o qual tem como função principal o fluxo gênico (Faegri & van der Pijl 1980, Vogel & Westerkamp 1991). Como as flores da grande maioria das angiospermas são hermafroditas, dependendo do comportamento do polinizador, um grande número de flores pode ser autopolinizada. No entanto, muitas espécies apresentam sistemas de auto-incompatibilidade que impedem a formação de frutos e sementes provenientes de autofertilização. Os primeiros estudos sobre os sistemas sexuais e reprodutivos das espécies arbóreas tropicais foram realizados, principalmente, por Ruiz & Arroyo (1978), Bawa et al. (1985), Seavey & Bawa (1986). Outra questão importante na reprodução das plantas é a compreensão dos mecanismos fenológicos. Apesar de sua importância, durante muito tempo, os estudos fenológicos em regiões tropicais não despertaram interesse dos pesquisadores, pela equivocada crença de que a ausência de uma sazonalidade climática implicaria em uma sazonalidade fenológica muito baixa ou ausente. Porém, trabalhos recentes indicam que a sazonalidade está presente em maior ou menor grau na ocorrência dos eventos fenológicos (floração, frutificação, queda e brotamento foliar), tanto em florestas com uma estação seca mais pronunciada, como também em florestas úmidas (Frankie et al. 1974, Jackson 1978, Morellato et al. 1989, Morellato 1992, Newstrom et al. 1994). Estudos sobre as estratégias fenológicas em nível de comunidade ou população são importantes para se conhecer a variação temporal da disponibilidade de recursos para 1 polinizadores (Gentry 1974, Opler et al. 1976) e dispersores e frugívoros (Morellato & Leitão-Filho 1992), fornecendo informações para o monitoramento, manejo e conservação das florestas tropicais (Newstrom et al. 1993). No entanto, falta uniformidade de terminologia e de métodos que permitam a comparação entre os padrões encontrados em diferentes locais, tanto a nível populacional quanto comunidade (Bencke & Morellato 2002). Além da falta de padronização, a grande maioria dos trabalhos são de curta duração, não evidenciando padrões de dinâmica fenológica das espécies, nem variações interanuais nos ritmos. Leguminosae representa uma das maiores famílias de angiospermas. Suas espécies estão distribuídas em diversos ecossistemas do mundo e apresentam incalculável importância econômica. Na Floresta Atlântica representam uma das famílias com maior freqüência e riqueza de espécies. Segundo Guedes-Bruni (1998), as leguminosae representam a segunda família em importância na estrutura e o terceiro grupo mais expressivo em riqueza de espécies na floresta montana do Parque Nacional do Itatiaia. Dentre as espécies encontradas por esta mesma autora, Pseudopiptadenia leptostachya constitui o segundo táxon em maior valor de importância, estando este por volta de 7,83, com um número estimado de 12 ind/ha. Já P. contorta, apresentou valor de importância de 2,52 e um número de 3 ind/ha no Parque Nacional do Itatiaia. O gênero Pseudopiptadenia esta subordinado à subfamília Mimosoideae, sendo composto por oito espécies, todas exclusivas da faixa neotropical e tendo sua área de distribuição geográfica concentrada no Nordeste/Sudeste do Brasil. Entretanto a maioria das espécies deste gênero habita a Floresta Atlântica (Morim 2006). Com relação ao sistema reprodutivo, as espécies de Leguminosae foram caracterizadas por apresentar principalmente sistema de auto- incompatibilidade homomórfico gametofítico (Arroyo, 1981), sendo que mais recentemente tem sido registrado em muitas leguminosas tropicais, auto- incompatibilidade de ação tardia (Seavey e Bawa 1986, Gibbs 1990, Gibbs et al 1999), em que a autofertilização é controlada por mecanismos de rejeição pós- zigótica. Apesar dos representantes de Mimosoideae apresentarem significativa importância na estrutura das florestas tropicais, poucos são os trabalhos que investigam o sistema reprodutivo deste grupo. O tamanho reduzido das flores e o grande número de estames dificultam a manipulação experimental. Os estudos até o presente se referem principalmente a gêneros como Acacia (Arroyo 1981,Tandon et al. 2001) e Inga (Koptur 1984). 2 Quanto ao sistema de polinização, as leguminosas são polinizadas principalmente por abelhas e por se tratar de uma das maiores famílias de angiospermas, seus representantes são considerados como uma das principais fontes de alimento para as abelhas, evidenciando a associação entre espécies dessa família e esses insetos ao longo de sua história evolutiva (Arroyo 1981). Ainda que a polinização por abelhas seja freqüente em Mimosoideae, a ornitofilia e quiropterofilia também são observadas em algumas espécies. O objetivo geral desta dissertação foi estudar a biologia reprodutiva de Pseudopipdenia leptostachya (Benth.) Rauschert e P.contorta (DC) G.P. Lewis et M.P. Lima, caracterizando a fenologia e os sistemas de polinização e reprodução destas espécies em uma área de Floresta Ombrófila Densa Montana no Parque Nacional do Itatiaia, Rio de Janeiro (fig. 1). Para melhor apresentação e discussão dos resultados, este trabalho foi dividido em dois capítulos. O primeiro apresenta a fenodinâmica das espécies em relação a fatores climáticos e o segundo descreve a biologia floral, sistema de polinização e sistema reprodutivo das espécies. Figura 1: Localização do Parque Nacional do Itatiaia, Rio de Janeiro, região sudeste do Brasil. 3 Fenodinâmica de Pseudopiptadenia contorta e P. leptostachya (Leguminosae – Mimosoideae), em uma área de Floresta Ombrófila Densa Montana 1 ABSTRACT Studies of sympatric species belonging to the same taxonomic group and having the same pattern of pollination and seed dispersion allow the identification of factors that determine the phenological patterns of the species, since such factors can be related, for example, to the climate or phylogenetic constrains. The phenophases leaf fall, leaf flushing, flowering, and fruiting of the Pseudopiptadenia contorta e P. leptostachya were studied on a monthly basis from June 2004 to December 2005 in 10 and 11 individuals, respectively, in a area of the Atlantic rain forest in the southeastern Brazil. The phenophases were related to climatic data and present a high level of correlation to those months previous to the occurrence of events. Both species present increase in the intensity of leaf fall during periods that are drier and colder and are strongly related to the day length. Flushing was an irregular phenomenon over the months and occurred immediately after the leaf fall. The two species differed according to their flowering seasons and the correlations for this phenophase did not identify the regulating factors for flowering, moreover Pseudopiptadenia contorta seems to present a supra-annual flowering pattern. The duration of fruit development differed between the two species, but seed dispersal occurred during the dry season for both species. The vegetative phenophases presented more similar patterns between the two species than the reproductive phenophases, especially the flowering. This indicates that these species answer in different ways to abiotic factors or biotic factors may regulate their flowering season. ___________________________________ 1 Manuscrito preparado seguindo as normas da revista Biotropica 4 RESUMO Estudos com espécies simpátricas de um mesmo grupo taxonômico e que compartilham as mesmas síndromes de polinização e dispersão são promissores para esclarecer questões acerca dos determinantes dos padrões fenológicos das espécies, uma vez que esses padrões podem estar relacionados, por exemplo, a fatores climáticos e restrições filogenéticas. As fenofases queda de folhas, brotamento, botão floral, flores em antese, fruto verde e fruto maduro de Pseudopiptadenia contorta e P. leptostachya foram estudadas mensalmente de junho de 2004 a dezembro de 2005, em 10 e 11 indivíduos, respectivamente, em uma área de Floresta Atlântica Ombrófila Densa Montana no sudeste do Brasil. As fenofases foram relacionadas a dados climáticos e apresentaram correlação alta com os meses anteriores à ocorrência dos eventos. As duas espécies apresentaram maior intensidade de queda nos períodos mais secos e frios e foram relacionadas principalmente ao fotoperíodo. O brotamento foi um evento irregular entre os meses e ocorreu imediatamente após a queda. As espécies diferiram quanto à época de floração e as correlações encontradas para esta fenofase não permitiram a identificação de fatores reguladores do florescimento. Pseudopiptadenia contorta parece apresentar padrão supra-anual de floração. A frutificação apresentou diferença no tempo de desenvolvimento dos frutos entre as espécies, mas a dispersão das sementes ocorreu na estação seca. As fenofases vegetativas apresentaram padrões mais similares entre as duas espécies que as fenofases reprodutiva, principalmente a floração, indicando que as espécies respondem diferentemente a fatores abióticos, ou podem ainda ter sua época de floração ligada a fatores bióticos. Key words: Atlantic Forest; flowering; fruiting; leaf flushing; leaf fall. 5 O CONHECIMENTO FENOLÓGICO É DE FUNDAMENTAL IMPORTÂNCIA para o entendimento da dinâmica dos ecossistemas de florestas tropicais, a biologia reprodutiva de suas espécies e interações ecológicas da comunidade (Morellato 1992, Morellato & Leitão-Filho 1992). Estudos sobre o padrão fenológico de comunidades ou populações auxiliam outros estudos, fornecendo informações sobre ritmos de crescimento e reprodução, interações com o clima, produção de frutos e sementes, sendo também uma importante ferramenta para o manejo sustentável de florestas tropicais. A compreensão das flutuações sazonais das plantas tem sido considerada essencial para o estudo da ecologia e evolução nos trópicos (Croat 1969). Estudos sobre a fenologia deste tipo de floresta têm investigado como a sazonalidade climática e interações bióticas afetam os padrões fenológicos (Janzen 1967, Frankie et al. 1974, Opler et al. 1976, Hilty 1980, Koptur et al. 1988, Morellato et al.1989, van Schaik et al. 1993). Segundo van Schaik et al. (1993), a época de ocorrência de um evento fenológico estaria associada ao clima, enquanto a amplitude ou intensidade de resposta estaria relacionada a fatores bióticos. A disponibilidade de água e temperatura tem sido identificada como os principais fatores externos que controlam, o ritmo fenológico das espécies tropicais (Opler et al. 1976, Monasterio & Sarmiento 1976, Jackson 1978, Borchert 1983, Reich & Borchet 1984. Morellato et al. 1989). No entanto, alguns estudos têm mostrado a importância de outras variáveis ambientais, como por exemplo, o fotoperíodo, na regulação dos padrões fenológicos das espécies tropicais, que apresentam comportamento sazonal mesmo em locais onde não há sazonalidade bem definida da precipitação e temperatura (Wright & van Schaik 1994, Richards 1996, Morellato et al. 2000, Borchet et al. 2005). Além da influência de variáveis ambientais, principalmente o clima, outras questões, como a competição por agentes polinizadores na época de floração (Gentry 1974, 6 Opler et al.1976), efeito da herbívora no brotamento (Aide 1988), e disponibilidade de recursos para os animais (Frankie et al. 1974), são freqüentemente relacionados a eventos fenológicos. E ainda, segundo Janzen (1974), eventos fenológicos reprodutivos e vegetativos sincronizados, podem representar vantagens adaptativas para muitas espécies tropicais, uma vez que, favorecem a atração dos polinizadores e mantêm baixos níveis de predação. A grande maioria dos estudos realizados na floresta tropical foram desenvolvidos no nível de comunidade, fornecendo padrões gerais da fenologia de diferentes ecossistemas (Burger 1974, Frankie et al. 1974, Monasterio & Sarmiento 1976, Jackson 1978, Opler et al. 1980, Morellato et al. 1989, Alencar 1990, Morellato & Leitão-Filho 1990, Morellato et al. 1990, Pires-O’Brien 1993). Estudos que enfocam os padrões fenológicos de população ou comparam espécies de um mesmo grupo taxonômico, são mais escassos e começaram a ser desenvolvidos recentemente (e.g Gómez & Fournier 1996, Pedroni et al. 2002, San MartinGarjardo & Morellato 2003, Santos & Takaki 2005). O presente estudo aborda a fenologia de duas espécies arbóreas, Pseudopiptadenia leptostachya e P. contorta, que compartilham os mesmos polinizadores (q.v. capitulo. II) e síndrome de dispersão de sementes. O objetivo deste estudo é descrever e discutir os padrões fenológicos reprodutivos e vegetativos das duas espécies, relacionando-os a fatores climáticos. MATERIAL E MÉTODOS ÁREA DE ESTUDO E CLIMA - Este estudo foi realizado em uma área de Floresta Atlântica no Parque Nacional do Itatiaia (22º 30’ e 22º 33’S; 42º 15’ e 42º 19’W), localizado no município de Itatiaia na região sudeste do Brasil. A área total do Parque é de aproximadamente 30.000 7 ha. A vegetação do PARNA Itatiaia, no presente trabalho, é tratada como Floresta Atlântica, segundo o conceito de Oliveira-Filho & Fontes (2000), e segundo o sistema de classificação de Veloso et al. (1991) esta formação pode ser caracterizada como Floresta Ombrófila Densa Montana. Segadas-Vianna (1965) descreveu o clima do Itatiaia em seis diferentes níveis altitudinais. O presente estudo se restringe aos dois primeiros andares propostos por este autor, que compreende cotas altitudinais entre 400 e 1.000m, sendo estes caracterizados segundo a classificação de Koeppen do tipo Cwa e Cfb, com períodos frios associados à baixas pluviosidades e períodos mais quentes coincidindo com as chuvas. Os dados climáticos mensais do período de estudo e dados da última normal climatológica de precipitação total; médias das temperaturas mínimas e máximas; insolação e umidade relativa do ar, foram obtidos na Estação Meteorológica “Classe A” de Resende (22º 27’ S, 44º 26’ W, 439m), distante ca. 10Km da área de estudo. Dados do comprimento do dia foram obtidos a partir das coordenadas geográficas do local de estudo. De acordo com a última normal climatológica (1961 e 1990), a estação seca se concentra entre os meses de maio e setembro, com menos de 50mm de chuva e temperaturas variando de 12.1ºC a 24.7ºC, enquanto a estação chuvosa começa em outubro estendendo-se até abril, apresentando pluviosidade maior que 100mm e temperaturas entre 30,9ºC e 24,7ºC(fig. 1). Durante o ano de 2004 a precipitação nos meses de maio e julho foi superior a 70 mm, contrastando com os dados da normal climatológica. Já no mês de agosto deste mesmo ano, a precipitação foi inferior a 2 mm, enquanto a normal é de 30,5 mm. O ano de 2005 apresentou pequena diferença na precipitação em relação a normal. O comprimento do dia no período de estudo foi sazonal, onde o inverno apresentou dias mais curtos (fig. 1). 8 10 5 0 f m a m j j s o 30 250 25 200 20 150 15 100 10 50 5 0 j f m a m j j 350 Precipitação mm d 35 normal 300 0 a s o n d 35 2004 300 30 250 25 200 20 150 15 100 50 10 5 0 0 j f m a m j j 350 Precipitação mm n temperatura ºC Precipitação mm 350 a Temperatura ºC j a s o n d 2005 35 300 250 30 25 200 150 20 15 100 10 50 5 0 temperatura ºC comprimento do dia (h) 15 0 j f m a m j j a s o n d Figura 1 – Distribuição média mensal da precipitação (barras) temperatura mínima (♦) e máxima (•) e comprimento do dia para a região do Parque Nacional do Itatiaia, Rio de Janeiro. Fonte: Sexto Distrito de Meteorologia e Observatório Nacional. ESPÉCIES AMOSTRADAS - Pseudopiptadenia leptostachya é exclusiva da Floresta Atlântica de encosta e P. contorta, apresenta ampla distribuição nas diferentes formações da Floresta Atlântica (Lewis & Lima 1989). Apresentam características morfológicas muito próximas, tais como, glândula na base da folha; inflorescência em espiga, fruto folículo e semente alada. A principal característica que as separa são as margens diferenciadas dos seus frutos , sendo que P. leptostachya apresenta fruto com margens constritas e em P. contorta as margens são 9 retas e o fruto apresenta certo grau de contorção (Lewis & Lima 1989). As características morfológicas dos frutos e sementes indicam que as espécies dispersam suas sementes pelo vento. Em estudo fitossociológico realizado por Guede s-Bruni (1998), P. leptostachya foi o táxon com o segundo maior valor de importância (7,83), enquanto P. contorta apresenta valor de importância bem mais baixo (2,52). O material botânico testemunho encontra-se depositado no herbário do Instituto de Pesquisas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (RB360407; RB240915). FENOLOGIA - Observações de campo foram realizadas mensalmente de junho de 2004 a dezembro de 2005, registrando eventos fenológicos reprodutivos e vegetativos de 11 indivíduos de P. leptostachya e 10 de P. contorta, com diâmetro a altura do peito (DAP) superior a 12 cm e boa visibilidade da copa. As observações foram realizadas com auxílio de binóculos, registrando-se a presença das seguintes fenofases: floração, separada pela presença de botões florais e flores em antese; frutificação separada em frutos imaturos e maduros, onde a distinção entre estas duas fenofases foi realizada em função da coloração dos frutos, frutos imaturos apresentavam coloração verde enquanto os frutos maduros foram caracterizados pela coloração marrom; queda foliar, quando as folhas se apresentavam com tons castanhos ou havia falhas na copa e galhos; brotamento, identificado pelo surgimento de novas folhas de cor laranja-avermelhada ou verde claro. ANÁLISE DOS DADOS - A intensidade das fenofases foi estimada para cada indivíduo através de uma escala semi-quantitativa de cinco categorias (0 a 4) a intervalos de 25% entre as categorias (Fournier 1974). Os dados coletados foram analisados por diferentes métodos, a fim de verificar informações sobre o comportamento fenológico dos indivíduos amostrados. 10 As fenofases foram classificadas quanto à sua freqüência e duração, com base nos critérios adotados por Newstrom et al. (1994). Percentual de intensidade de Fournier (1974) – a porcentagem de intensidade das fenofases foi estimada somando-se os valores de intensidade de Fournier dos indivíduos, dividindo-se este somatório pelo valor máximo possível (número de indivíduos amostrados multiplicado por 4) e multiplicando-se o valor obtido por 100. Índice de atividade - é uma observação qualitativa, baseada na presença ou ausência da fenofase no indivíduo, indicando a porcentagem de indivíduos amostrados que apresentam determinado evento fenológico, independentemente de sua intensidade (Bencke & Morellato 2002). Correlação de Spermam – foi utilizada para relacionar os fatores climáticos às diferentes fenofases observadas, já que os dados não apresentaram distribuição normal (Zar 1984). Os eventos fenológicos foram correlacionados com os dados climáticos do mês de ocorrência do evento e dos três meses anteriores. Também foi calculada a correlação entre as fenofases brotamento e floração. Índice de Sincronia Augspurger (1983) foi calculado para verificar (Z) – proposto por a sincronia entre os indivíduos amostrados das duas espécies estudadas que apresentavam as diferentes fenofases , estando seu valor entre 1 quando a sincronia dos indivíduos é máxima e 0 quando não há sincronia alguma entre os indivíduos. RESULTADOS FENOLOGIA VEGETATIVA - A queda de folhas nas duas espécies estudadas foi contínua (fig. 2 B e H), mas em nenhum momento a cobertura das copas foi inferior a 70%, sendo as espécies 11 caracterizadas como perenifólias. Foram observadas porcentagens alternadas de queda entre um mês e outro, e mais de 60% dos indivíduos amostrados nas duas espécies estudadas apresentaram queda foliar no período mais seco do ano de 2005 (junho a outubro) (Fig. 2 A e G). O índice de sincronia de queda foliar entre os indivíduos nas duas espécies estudadas foi elevado nos dois anos de estudo (tabela 1). Apesar da queda foliar ter sido observada durante todo o período de estudo, em P. contorta a maior intensidade foi observada nos meses com menor precipitação, temperaturas mais baixas, dias mais curtos e maior insolação, o que pode ser confirmado pela correlação que foi encontrada entre estes fatores e esta fenofase, principalmente nos dois meses anteriores ao evento (tabela 2). Em P. leptostachya maior intensidade de queda também foi observada nos meses com menor precipitação e apresentou correlação negativa com temperatura máxima e mínima e fotoperíodo (tabela 3). A produção de folhas nas duas espécies analisadas foi contínua ao longo do ano, com porcentagens alternadas de brotamento entre um mês e outro (Figura 2 B e H). Picos de rebrota foram observados após queda mais intensa das folhas e, mais de 50% dos indivíduos nesta fenofase foram observados logo após o período de estiagem, na transição da estação seca com a chuvosa. As duas espécies apresentaram auto grau de sincronismo no brotamento durante o período de estudo (tabela 1). Pseudopiptadenia contorta apresentou correlação negativa do brotamento com insolação, temperatura máxima e mínima e umidade relativa (tabela 2), enquanto P. leptostach ya apresentou correlação negativa do brotamento com precipitação, temperatura máxima e mínima e umidade relativa (tabela 3). FENOLOGIA REPRODUTIVA - A época de floração diferiu entre as duas espécies estudadas e essas apresentaram um padrão de floração intermediário, correspondente a um período floração que pode durar de um a cinco meses. Os indivíduos de P. contorta, assim como os de P. leptostachya que floresceram, apresentaram alto grau de sincronismo (tabela 1). 12 Pseudopiptadenia contorta, no ano de 2004, floresceu de setembro a novembro (fig. 2 I e J), concomitantemente ao brotamento, apresentando correlação positiva entre botões florais e brotamento (r s =0,56; p<0,009). No ano de 2005 não foi observada floração em P. contorta, o que pode estar associado a um padrão supra-anual de floração. As fenofases de botão floral e flores em antese apresentaram correlação negativa com umidade relativa, temperaturas máxima e mínima e correlação positiva com insolação, no entanto essas correlações aconteceram de forma isolada apenas em alguns meses antes do evento (tabela 2). A floração de P. leptostachya ocorreu entre os meses de outubro e fevereiro, no meio da estação chuvosa e subseqüente à época de maior intensidade de brotamento. Apesar da intensidade e porcentagem de indivíduos que floresceram no primeiro ano de estudo ter sido baixa (fig. 2 C e D), P. leptostachya parece apresentar um padrão anual de floração. A espécie apresentou correlação positiva significativa da floração com precipitação e correlação negativa com insolação e umidade relativa (tabela3). As espécies analisadas diferiram quanto a época de frutificação e tempo de desenvolvimento dos frutos, no entanto ao final da estação seca subseqüente a floração de cada espécie, todos os frutos formados já se encontravam maduros e, dispersando suas sementes (fig 2 F e M). Ainda que P. leptostachya tenha tido um menor tempo de desenvolvimento e maturação dos frutos quando comparada a P. contorta,em função da época de floração, as duas espécies podem ser caracterizadas por apresentar uma frutificação de longa duração. Pseudopiptadenia contorta apresentou correlação positiva dos frutos verdes com precipitação, temperatura mínima e máxima e fotoperíodo, enquanto a fenofase frutos maduros apresentou apenas correlação positiva com temperatura mínima (tabela 2). 13 (A) Brotamento 100 j j a s o n d j f m a m j j a j j a s o n d j f j j a s o n d j m a f m j j a s m a m j j a s o n d j f j j a s o j j a s o n d j f m a m j j a j j a s 2004 o n d j ma m j f d j a s o n d j f m a m j j a s o n n s o j a m a d m j j s o a s o j a s j a s 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 j f m a m j j a s o n d j f m a m o n d j f j j a s o n d j f o j j a s j a s o 2004 n d j f d o n d (J) m a m j j a m a s m a o n d (L) m j j a s m o n d (M) Fruto maduro j n (I) Fruto verde 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 n d d Antese j n d n Botão floral j s o n d a j 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 (F) 2005 j d (H) Queda 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 (E) Fruto maduro 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 n (D) Fruto verde 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 o (C) Antese 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 j d 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Botão floral 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 n (B) Queda 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 s o (G) Brotamento 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 j j a s o n d 2005 Figura 2 - Fenologia reprodutiva e vegetativa de Pseudopiptadenia leptostachya (A à F) e Pseudopiptadenia contorta (G à M) no Parque Nacional do Itatiaia, onde ( ) percentual de intensidade de Fournier, ( ) percentual de atividade. 14 Tabela 1 - Índice de sincronia de ocorrência das fenofases, entre indivíduos, calculado segundo Augspurger (1983), onde quando mais próximo de 1 for o índice, maior o sincronismo entre os indivíduos que apresentaram a fenof ase. Fenofases Pseudopiptadenia contorta (n=10) 2004 2005 Pseudopiptadenia leptostachya (n=11) 2005 2004 Queda foliar 0,77 0,72 0,96 0,81 Brotamento 0,83 0,59 0,92 0,89 Botão floral 0,87 - - 0,85 Antese 0,89 - - 0,85 Fruto verde 0,78 0,67 - - Fruto maduro 0,72 0,89 - - Tabela 2 – Valores da análise de correlação de Sperman (r 2 ) entre fatores climáticos (mensais) no mês de ocorrência do evento (0), meses anteriores a orrência dos eventos (1, 2 e 3) em Pseudopiptadenia contorta , onde ns indica que o teste não apresentou correlação significativa para p < 0,05. Precipitação Insolação Temperatura mínima Temperatura máxima Umidade relativa Fotoperíodo meses Queda brotação botão antese 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3 -0,683 -0,593 -0,56 ns ns ns 0,77 ns ns -0,480 -0,62 ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns -0,516 -0,69 -0,59 ns ns ns ns -0,524 ns ns ns ns ns ns -0,59 ns ns ns -0,62 -0,632 ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns 0,45 ns ns ns ns -0,63 ns ns ns -0,58 -0,49 ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns 0,45 ns ns ns ns -0,62 ns ns ns -0,62 -0,48 ns ns ns ns ns ns ns Fruto verde 0,63 ns 0,76 0,49 ns ns ns ns ns 0,52 0,58 0,48 ns ns ns 0,49 ns ns ns ns ns ns -0,65 0,73 Fruto maduro ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns 0,65 ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns 15 Os indivíduos de P. contorta que frutificaram apresentaram sincronia moderada para a fenofase de frutos verdes e alta sincronia para frutos maduros (tabela 1). Em P. leptostachya no ano de 2005, apenas 3 indivíduos frutificaram, apresentando intensidade inferior a 10%. Apesar da baixa porcentagem e intensidade de frutificação a fenofase fruto verdes apresentou correlação negativa com precipitação e correlações positivas com insolação e fotoperíodo, os frutos maduros foram correlacionados negativamente com precipitação e positivamente com insolação (tabela 3). Tabela 3 – Valores da análise de correlação de Sperman (r 2 ) entre fatores climáticos (mensais) no mês de ocorrência do evento (0), meses anteriores a orrência dos eventos (1, 2 e 3) em Pseudopiptadenia leptostachya , onde ns indica que o teste não apresentou correlação significativa para p < 0,05. Precipitação Insolação Temperatura mínima Temperatura máxima Umidade relativa Fotoperíodo meses Queda brotação botão antese 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3 ns ns ns ns ns ns ns ns -0,52 -0,643 ns ns -0,456 -0,61 -0,63 -0,49 ns ns ns ns ns -0,51 -0,69 -0,59 ns ns ns -0,46 ns ns ns ns ns ns ns -0,61 ns ns ns -0,54 ns ns -0,48 ns ns ns ns ns 0,48 ns ns ns ns ns -0,5625 ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns 0,46 ns ns ns ns ns ns -0,53 ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns -0,45 ns ns ns ns ns Fruto verde ns -0,576 ns ns ns 0,489 ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns 0,65 0,73 Fruto maduro ns ns ns -0,57 ns ns ns 0,50 ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns 16 DISCUSSÃO FENOLOGIA VEGETATIVA - O decréscimo na precipitação, temperatura e comprimento do dia, que são característicos do inverno, parecem influenciar a intensidade de queda foliar nas duas espécies estudadas. Em P. contorta o comportamento e as correlações verificadas entre fatores climáticos e a fenofase de que da foliar indicam que a precipitação é um importante fator na regulação da intensidade desta fenofase, tanto no mês de ocorrência do evento como nos meses anteriores. Deste modo, a precipitação atípica observada nos meses de junho e julho de 2004, parece ter influenciado a baixa intensidade e porcentagem de queda foliar em P. contorta neste período. Lemos-Filho & Mendonça-Filho (2000) estudando as relações entre estresse hídrico e eventos fenológicos na Floresta Atlântica, em três espécies arbóreas de leguminosa, verificaram que a fenofase de queda foliar esta relacionada a disponibilidade de água. A correlação negativa de queda foliar com temperatura mínima e máxima tanto no mês do evento, como em meses anteriores, registrada para P. leptostachya, indica que a diminuição da temperatura parece ser o principal fator relacionado a intensidade de queda foliar na espécie. Além disso, a queda foliar nas duas espécies estudadas parece esta relacionada com fatores climáticos anteriores a ocorrência do evento. Ferraz e colaboradores (1999) estudando a fenologia de Cedrela fissilis na floresta ombrófila densa, também encontram correlação da queda foliar com a diminuição da precipitação e temperatura no mês de ocorrência do evento e em meses anteriores. Apesar das espécies terem apresentado correlação com as variáveis climáticas citadas anteriormente, o decréscimo do fotoperíodo durante o inverno parece ser outro fator importante na queda de folhas para as duas espécies, uma vez que, estas apresentaram correlação negativa entre queda e fotoperíodo para os três meses anteriores ao evento. Sendo o fotoperíodo um fator constante, que apresenta pequena variação entre os anos, podemos 17 sugerir, que o fotoperíodo atua como um “gatilho”, estimulando a queda das folhas, e a precipitação e temperatura regulam a intensidade. Borchert (2002) estudando a fenologia vegetativa em uma floresta tropical semidecídua constatou que muitas espécies começavam a perder suas folhas no final da estação úmida (abril/maio), isto, provavelmente em função da combinação do envelhecimento das folhas e diminuição do fotoperíodo, antes do aumento da seca. O brotamento nas espécies estudadas parece esta intimamente relacionado a queda foliar. Além disso, as correlações significativas encontradas para esta fenofase, muitas vezes, também foram observadas na queda foliar. Apesar de não ter sido encontrada correlações significativas entre brotamento e precipitação nas duas espécies estudas, foi possível observar que após períodos de chuva as espécies aumentavam sua intensidade de rebrota. Sendo assim, esta tendência corrobora com os resultados encontrados em outros estudos, onde o brotamento esta relacionado com períodos de maior disponibilidade de água (Alvim & Alvim 1978, Lieberman & Lieberman 1984). Ainda que as espécies tenham aumentado sua intensidade de rebrota logo após as chuvas, esta fenofase também foi observada durante períodos secos. Segundo Riveira et al (2002), o alto potencial hídrico que algumas espécies arbóreas conseguem manter durante períodos secos permite a emissão de novas folhas logo após a queda das folhas velhas, mesmo durante os períodos de baixa precipitação. Com base nos resultados apresentados por Riveira et al (2002), podemos sugerir que o potencial hídrico das espécies estudadas favoreceu o brotamento após a queda mesmo em períodos de seca. FENOLOGIA REPRODUTIVA – Apesar das fenofases de floração terem se correlacionado com algumas variáveis climáticas, as análises realizadas para identificar a influência destas variáveis em relação a época e intensidade da floração não foi evidenciada. Trabalhos realizados em diferentes tipos de vegetação tem demonstrando que as espécies apresentam 18 estratégias fenológicas distintas e a indução floral pode estar associada a fatores, como por exemplo, fotoperíodo (Morellato et al. 2000, Borchet et al. 2005), temperatura (Opler et al. 1976, Borchet 1983, Talora &), estresse (Janzen 1967, Augspurger 1982) e insolação (Corlett 1990). As correlações significativas encontradas para as fenofases, apresentaram valores baixos ou ocorreram de forma esparsa em algum mês anterior ao evento. Tais resultados nos levam a acreditar que a indução da floração nestas espécies, mais ainda que nas demais fenofases, esta relacionada a interação entre os fatores climáticos. O brotamento é outro fator que pode ser relacionado a época de floração das espécies. Borchert (1992) reconheceu três padrões de floração em relação ao brotamento, a saber: floração simultânea ao brotamento, tal como em P.contorta que apresentou alta correlação entre estas fenofases; floração durante ou após a queda das folhas e floração quando as folhas já estão maduras, mas bem antes da queda foliar, semelhante a P. leptostachya, onde não foi possível detectar correlações significativas entre as feno fases em função do grande espaço de tempo que existe entre a ocorrência dos eventos. Afora a questão do padrão de floração, P. leptostachya apresentou baixa intensidade e porcentagem de indivíduos com flor e fruto em 2004. Isto poderia estar associado a um padrão supra-anual de frutificação, já que muitas vezes, quando a deficiência de recursos torna -se acentuada em função de frutificações anteriores, este tipo de padrão pode ocorrer (Flowerdew & Gardner 1978). Outra observação pertinente seria em função da precipitação atípica durante a estação seca de 2004. As correlações observadas para a fenofase fruto verde nas duas espécie não permitem identificar que fator climático estaria ligado a indução desta fenofase. Isto se deve ao longo período em que os frut os permanecem imaturos após a floração e, por outro lado, à longa duração desta etapa da frutificação, pode estar relacionada a uma melhor época para dispersão das sementes. Portanto, para a fenofase fruto maduro, as correlações encontradas refletiram as 19 condições para maior eficiência de amadurecimento e dispersão das sementes. A alta intensidade de frutos maduros na estação seca corrobora com as observações realizadas em florestas tropicais com maior sazonalidade, nas quais ocorre predomínio da frutificação de árvores anemocóricas do dossel na época seca (Frankie et al. 1974, Morellato & Leitão-Filho 1996, Morellato & Leitão Filho 1992). O ar seco que ocorre normalmente nesta estação, segundo Janzen (1967), é necessário ao processo de perda de umidade que acompanha a maturação de frutos em Leguminosae, Bombacaceae e Bignoniaceae. A da maturação dos frutos antes da estação chuvosa, proporciona às sementes maiores chances de germinação, devido á alta umidade no solo (Frankie et al. 1974), e maior sucesso no estabelecimento das plântulas (Janzen 1967). Kochmer & Handel (1986) sugeriram que as espécies de um mesmo grupo sistemático possuiam influências filogenéticas quanto à época de floração. Mas apesar de pertencerem a um mesmo grupo taxonômico e partilharem os mesmo polinizadores (Pires, cap. II), as espécies estudas diferiram quanto ao seu padrão de florescimento. Isto poderia estar associado a uma menor competição por polinizadores, como foi sugerido por Frankie (1974). Mas como já foi discutido neste trabalho, esta diferenciação também pode ser uma resposta da planta a diferentes variáveis ambientais. Deste modo, torna-se urgente um conhecimento mais amplo sobre a ecologia das espécies para entender melhor estes padrões. Os índices de sincronia encontrados para as diferentes fenofases das duas espécies estudadas foram altos, todavia este índice proposto por Augspurger (1983), consegue apenas identificar a sobreposição de ocorrência do evento entre os indivíduos. Já que utiliza apenas dados de atividade e, portanto, não consegue quantificar o sincronismo entre os indivíduos. Além disso, exclui os indivíduos que não apresentaram a fenofase e eventos com baixa 20 ocorrência em certo ano, o alto valor de sincronia pode não refletir o comportamento da população. Te ndo em vista a importância que a sincronia pode representar para os processos ecológicos torna-se necessário a adoção de métodos que calculem o sincronismo dos indivíduos levando em consideração as questões acima (Augspurger 1982). A análise de correlação simples, amplamente utilizada em estudos fenológicos, e adotada neste estudo como metolodologia para relacionar a influência dos fatores climáticos sobre a fenofase possui limitações, por exemplo, no sentido de não descrever os efeitos sinérgicos entre estados da planta e fatores climáticos interativos. O padrão irregular de fenofases vegetativas, a baixa intensidade da fenofase reprodutiva e a quase ausência de correlações entre fatores climáticos e as diferentes fenofases, sugerem que estudos fenológicos necessitam de uma abordagem mais ampla e integrada, utilizando, por exemplo, correlações múltiplas. 21 LITERATURA CITADA AIDE, M. T. 1998. Herbivory as a selective agent on the timing of leaf production in a tropical understory community. Nature 336:574-575. ALENCAR, J. C. 1990. Interpretação fenologia de espécies lenhosas de Campinas na reserva Biológica de Campina do INPA ao norte de Manaus. Acta Amazônica 24: 145-183. ALVIM, P. T. AND R. ALVIM . 1978. 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Englewood Ciff: Prentice-Hall, 1984. 718 p. 28 Biologia reprodutiva de duas espécies arbóreas de Leguminosae em Floresta Ombrófila Densa Montana 1 Resumo A biologia floral o sistema de polinização e o sistema reprodutivo de Pseudopiptadenia contorta e P. leptostachya foram estudadas em uma área de floresta atlântica ombrófila densa montana no sudeste do Brasil. As espécies apresentaram flores dispostas em inflorescências espiciformes, abertas, pequenas, branco-amareladas. Flores senescentes que permanecem na raque das inflorescências e o forte odor de mel foram associadas à atração dos polinizadores. O recurso oferecido aos visitantes é pólen e os polinizadores são Trigona spinipes e Apis mellifera. Apesar das duas espécies apresentarem características florais e sistema de polinização semelhante, não foi observado o mesmo sistema reprodutivo. Testes experimentais de polinização manual e observação de crescimento de tubos polínicos evidenciaram que P. leptostachya apresenta um elevado índice de autocompatibilidade, sendo que a porcentagem de frutos formados não difere entre autopolinização e polinização cruzada e, após 72 horas, foi possível observar tubos polínicos penetrando nos óvulos em todos os tratamentos. Já P. contorta apresentou frutos apenas nos tratamentos provenientes de polinizações cruzadas, caracterizando a espécie como auto- incompatível. Embora tratamentos de autopolinizações apresentaram tubos polínicos no ovário após 48 horas, estes não foram vistos penetrando nos óvulos. A autocompatibilidade verificada em P. leptostachya pode estar relacionada ao seu padrão de distribuição geográfica restrito, que inviabilizaria fluxo gênico frequente entre as populações. Ainda que o sistema reprodutivo seja divergente, as duas espécies não apresentaram diferença significativa na porcentagem de frutos formados em flores expostas aos polinizadores e a baixa razão fruto:flor por inflorescência refletiria ___________________________________ 1 Manuscrito preparado seguindo as normas da revista Flora (Jena) 29 restrições fisiológicas da planta mãe em produzir e maturar um número de frutos equivalentes ao número de flores. Palavras chave: Pseudopiptadenia, sistema reprodutivo, autocompatibilidade, autoincompatibilidade. Introdução Características reprodutivas das comunidades nas florestas tropicais têm sido relacionadas a padrões gerais de diversidade e estrutura (Bawa, 1974; 1990). No caso da Floresta Atlântica, embora abrigue uma das mais altas diversidades biológicas dos trópicos (Joly et al., 1991), os trabalhos que investigam a biologia reprodutiva de espécies arbóreas são raros. O grande porte das árvores, indivíduos com galhos finos e os terrenos declivosos dificultam o acesso às flores e isto parece ser a razão da escassez de estudos. De acordo com Bawa (1974), as altas taxas de auto- incompatibilidade entre as espécies arbóreas das florestas tropicais provavelmente estão relacionadas a pressões seletivas para a manutenção da variabilidade genética. Mas em casos onde as fertilizações cruzadas são inadequadas ou ineficientes, a autofertilização pode assegurar a reprodução das espécies (Affre et al., 1995; Ortega Olivencia et al., 1995). A quebra do sistema de incompatibilidade tem sido associada à redução no número de alelos no locus-S e diminuição da depressão por endogamia (Charlesworth e Charlesworth, 1979). Esta mudança no sistema reprodutivo das espécies pode se dar em resposta ao grau de isolamento, tamanho da população e/ou variação na abundância dos polinizadores (Stebbins, 1957; Karron 1989; 1991). No levantamento realizado por Arroyo (1981), grande parte das espécies de Mimosoideae estudadas apresenta sistema de incompatibilidade. No entanto, foi verificado 30 que o sistema reprodutivo pode variar entre espécies de um mesmo gênero. Deste modo, o presente estudo teve o objetivo de estudar comparativamente a biologia floral, a polinização e o sistema reprodutivo de Pseudopiptadenia contorta e P. leptostachya, discutindo possíveis relações entre as características reprodutivas e parâmetros de distribuição geográfica e estrutura da comunidade de espécies arbóreas. Material e métodos Área de estudo O presente estudo foi realizado em uma área de Floresta Atlântica no Parque Nacional do Itatiaia (22º 30’ e 22º 33’S; 42º 15’ e 42º 19’W), localizado no município de Itatiaia, região sudeste do Brasil. A vegetação do PARNA Itatiaia, no presente trabalho, é tratada como Floresta Atlântica, segundo o conceito de Oliveira-Filho e Fontes (2000) e segundo o sistema de classificação de Veloso et al. (1991) esta formação pode ser caracterizada como Floresta Ombrófila Densa Montana. Segadas-Vianna (1965) descreveu o clima do Itatiaia em seis diferentes níveis altitudinais. O presente estudo se restringe aos dois primeiros andares propostos por este autor, que compreendem cotas altitudinais entre 400 e 1.000m, sendo estes caracterizados segundo a classificação de Koeppen do tipo Cwa e Cfb, com períodos frios associados a baixas pluviosidades e períodos mais quentes coincidindo com as chuvas. Espécies estudadas Pseudopiptadenia leptostachya foi descrita por Lewis e Lima (1989) como uma espécie de distribuição restrita à região sudeste do Brasil, ocorrendo apenas na Floresta Ombrófila Densa Montana da Serra do Mar e da Serra da Mantiqueira, podendo atingir até 31 30m de altura. Já P. contorta, é uma espécie generalista, tem distribuição muito ampla sendo encontrada em amb ientes do domínio da Caatinga arbórea, em matas de Restinga e nas formações da Floresta Atlântica, no PARNA Itatiaia é encontrada na formação montana até os 900m (Morim, 2006.). O seu porte é variável, nas formações do domínio Florestal Atlântico são bem mais altas (20 a 30 m) que na restinga e na caatinga (Lewis e Lima, 1989). No levantamento florístico e estrutural realizado por Guedes-Bruni (1998) no PARNA Itatiaia, P. leptostachya foi o táxon que apresentou o segundo maior valor de importância, sendo este de 7,83 com um número estimado de 12 ind/ha, enquanto P. contorta apresentou valor de importância de 2,52 e um número estimado de 3 ind/ha. A floração de P. contorta no Itatiaia aconteceu de setembro a outubro e P. leptostachya floresceu de dezembro a janeiro (q.v capítulo I). Biologia floral e polinizadores A morfologia floral das duas espécies foi estudada a partir de material fresco e estocado em álcool 70%. O comprimento das inflorescências foi medido e o número de flores por inflorescências contadas. Foram realizadas ainda medições do tamanho dos botões florais com o auxílio de microscópio estereoscópico, régua e paquímetro. A presença de osmósforos foi verificada por meio do teste com vermelho neutro (Dafni 1992). A viabilidade polínica foi estimada em flores abertas há menos de 24 horas e, o número de grãos de pólen por políade contado com auxilio de microscópio óptico. A receptividade estigmática foi determinada através da mudança de coloração e turgidez ocorrida no ápice do estilete, com auxílio de lupa de campo. Outros atributos florais, tais como, coloração, odor, presença de dicogamia, horário 32 da antese, duração da flor e período de disponibilidade da recompensa para os visitantes, foram registrados em observações diretas no campo. Os visitantes florais foram coletados, quando possível, e seu comportamento de abordagem da inflorescência, coleta de pólen e tempo de visita foram registrados a fim de se caracterizar sua eficiência na polinização. As observações foram distribuídas ao longo do dia (de 7:00 às 17:00h) e realizadas em dias com céu limpo, totalizando 26 horas. Sistema reprodutivo O sistema reprodutivo das espécies foi estudado através de testes de polinizações controladas, utilizando-se a inflorescência como unidade amostral, em função do alto grau de coesão e tamanho reduzido das flores. Nas duas espécies estudadas dois indivíduos serviram como “plantas mãe” e o pólen para os cruzamentos foi obtido de três indivíduos distantes no mínimo 15 m da planta-mãe. O acesso às flores foi feito com o auxílio de técnicas de escaladas e utilização de andaimes de construção, em função do elevado porte das plantas (Fig. 1). Inflorescências apresentando botões em pré -antese foram isoladas em sacos de “voile” e submetidas aos seguintes tratamentos: autopolinização espontânea, na qual a inflorescência foi deixada intacta; autopolinização manual, realizada com auxílio de um estilete bem fino que era passado sobre a inflorescência, efetuando a polinização com pólen das flores da própria inflorescência (geitonogamia); polinização cruzada manual, efetuada utilizando-se pólen de indivíduos diferentes; e para avaliação da eficiência da polinização natural, inflorescências foram marcadas e mantidas expostas (controle). O sucesso reprodutivo (fecundidade) dos diferentes tratamentos foi estimada através do número de frutos formados. Os tratamentos que formaram frutos foram submetidos ao 33 teste X2, para verificar possíveis diferenças significativas no sucesso reprodutivo das espécies. Flores de P. leptostachya submetidas à polinização cruzada manual e autopolinização manual foram coletadas 24, 48 e 72 horas após os tratamentos e fixadas em FAA 50. Em P. contorta flores oriundas de autopolinização foram coletadas 12, 24 e 48 horas após os tratamentos. Utilizando-se a técnica proposta por Martin (1959), foram realizadas observações em microscópio de fluorescência para verificar o crescimento de tubos polínicos nas duas espécies. (A) (B) Figura 1: Técnicas de acesso as flores de através de escalada artificial (A, Pseudopiptadenia leptostachya) e andaimes (B P. contorta) . 34 Resultados Biologia floral e polinizadores As flores de P. contorta e de P. leptostachya são diminutas (ca. 2 a 3mm de diâmetro), hermafroditas, exalam odor de mel e estão reunidas em inflorescências espiciformes. Em ambas as espécies o androceu é composto em média por 10 estames de coloração brancoamarelada, as anteras apresentam deiscência longitudinal e possuem glândula globosa de cor branca presa ao ápice da antera. Essas glândulas caem pela ação mecânica dos polinizadores e coram na presença de vermelho-neutro. Os grãos de pólen estão reunidos em políades ovóides, compostas por 16 grãos de pólen. A maioria das políades observadas apresentou grãos de pólen viáve is. O pistilo (ca. 3 mm de altura) apresenta ovário súpero, unilocular com ca. 14 óvulos com placentação marginal. A razão entre grãos de pólen por políade/óvulo resultou em 1,1 grão de pólen por óvulo. Em média foram observadas 11 sementes por frutos. O recurso floral oferecido aos polinizadores é pólen. Apesar da morfologia floral das duas espécies ser bastante semelhante, algumas características as diferenciam. Pseudopiptadenia contorta, por exemplo, apresenta corola pilosa com pétalas unidas, coloração branco-amarelada e ovário viloso. As inflorescências são eretas e, em média, apresentam 109 ± 32,0 flores (n = 58) e o comprimento médio da raque é de 72,3 ± 21,9 cm (n = 58 ). As flores são protogínicas (fig. 2 C-F). A medida em que as pétalas começam a se abrir, o estigma é exposto, apresentando-se receptivo por aproximadamente duas horas, gradativamente os estames também vão sendo expostos e o estilete se curva em direção à base da flor, mudando de tonalidade e turgidez. A maior parte das flores apresenta antese por volta das 08:00 h e a liberação do pólen acontece aproximadamente 2 horas após o início da antese. Em geral, a abertura das flores 35 Figura 2: Flores e polinizadores de Pseudopiptadenia contorta (C-F) e P. leptostachya (H-K): (A) inflorescências no segundo dia de antese; (B) visita de Trigona spinipes a inflorescência; (G) inflorescência no primeiro dia de antese; (H-K). 36 na inflorescência se dá da base em direção ao ápice (fig. 2 A), sendo necessários três dias para abertura de todas as flores, encontrando-se flores em diferentes estágios de abertura ao longo da inflorescência neste período. As flores duram 24 horas apresentando mudança na coloração dos seus verticilos ao final deste período. No dia seguinte à abertura da flor, cálice e corola mostram coloração ferrugínea, as anteras ficam vazias e retorcidas e o estilete murcho. As flores senescentes permanecem na raque da inflorescência por, aproximadamente, três dias. Em P. leptostachya, apenas o cálice é levemente piloso, a corola é dialipétala com coloração verde-claro e os estames são branco-amarelados. O ovário é glabro, mas flores polinizadas apresentaram pequenos pêlos na parede do ovário no início de desenvolvimento do fruto. Todavia esses pelos não são vistos em frutos um pouco mais desenvolvidos. Tais características já haviam sido observadas por Lewis e Lima (1989). As flores iniciam o processo de antese com a abertura das pétalas, em seguida o estilete e os estames são expostos e aproximadamente duas horas após a antese, as anteras já estão liberando pólen e o estilete ainda se encontra receptivo (fig. 2 H - K). As inflorescências de P. leptostachya são pêndulas, apresentam, em média, 116 flores ± 8,06 (n = 20) e o comprimento da raque, em média, é de 9,1 cm ± 1,84 (n = 20). A abertura das flores na inflorescência não apresenta uma direção determinada e após 24 horas todas as flores da inflorescência estão abertas (fig.2 G). Assim como as flores de P. contorta, grande parte das flores de P. leptostachya apresenta antese pela manhã e no dia seguinte à antese, as flores apresentam cor ferrugínea, as anteras se encontram vazias e as flores senescentes permanecem na raque da inflorescência por cerca de dois dias. A polinização de P. leptostachya e de P. contorta é realizada, principalmente, por Trigona spinipes Fabr. (Apidae – Meliponinae) e Apis mellifera L. (Apidae – Apinae). O 37 comportamento de visita das abelhas foi o mesmo para as duas espécies. As abelhas pousavam sobre a inflorescência e, então, realizavam movimentos circulares ao longo do eixo da inflorescência, enquanto coletavam pólen com as pernas dianteiras e medianas, o qual era transferido para a corbícula nas pernas traseiras. Durante as visitas, devido ao tamanho pequeno das flores, a porção ventral das abelhas ficava coberta com grãos de pólen e ao visitar outros indivíduos pode ocorrer a polinização cruzada. As visitas de T. spinipes duravam, em média, 6 segundos por inflorescência, enquanto Apis mellifera realizava visitas mais curtas, em média, 3 segundos por inflorescência. As duas espécies de abelha visitavam várias inflorescências do mesmo indivíduo, o que possivelmente acarretava um grande número de autopolinizações. As visitas em geral, tinham início por volta das 8:00horas, intensificando entre 10:30 e 13:00 h e a partir desse horário começavam a diminuir. Porém até por volta das 16:30 horas ainda se podia observar visitantes. Uma espécie da família Vespidae foi freqüentemente observada tomando néctar nos nectários extraflorais localizados na raque foliar, tanto durante a floração como nas fases vegetativas. Esporadicamente foram observadas sobre as flores, porém não coletam pólen e aparentemente não desempenham papel na polinização. Ainda foram observados pequenos coleópteros e duas espécies de lepidópteros na inflorescência, mas aparentemente estes também não desempenhavam nenhum papel como polinizadores. As borboletas permaneciam paradas sobre a inflorescência sem coletar pólen e os besouros estavam sempre na base das flores e raramente eram vistos sobre as flores. Sistema reprodutivo As espécies diferiram quanto ao sistema reprodutivo. Em P. contorta nenhum fruto se desenvolveu a partir de autopolinizações manuais ou espontâneas, caracterizando a espécie 38 como auto- incompatível (tabela 1). Polinizações cruzadas manuais e polinizações controle não apresentaram diferença entre o número de frutos formados (X2 = 0,03 p< 0.05, gl= 1). Através de análises de microscopia de fluorescência em pistilos autopolinizados foi observado tubos polínicos penetrando no ovário após 48 horas da polinização, porém não se observou penetração dos tubos nos óvulos (fig. 3 A e B). Pseudopiptadenia leptostachya foi caracterizada como autocompatível, formando frutos em todos tratamentos a que foi submetida (tabela 1). Tubos polínicos foram observados no ovário 48 horas após os cruzamentos e penetrando nos óvulos após 72 horas após os cruzamentos (fig. 2 C e D). A taxa de frutos formados não apresentou diferença entre os diferentes tratamentos (X2 = 1,87 p< 0.05, gl= 3). Em ambas espécies, independentemente do tamanho e do número de flores por inflorescência, as inflorescências apresentaram no máximo três frutos. Os frutos formados estavam posicionados sempre do meio da inflorescência para o ápice, não sendo encontrado frutos na base da raque. Comparando as duas espécies, os valores de produção de frutos não apresentaram diferença tanto para o tratamento controle (X2 = 0,07 p< 0.05, gl= 1) como na polinização cruzada manual (X2 = 0,22 p< 0.05, gl= 1). Os tratamentos que formaram frutos nas duas espécies estudadas, quando analisados em relação ao número estimado de flores, obtidos em função do número médio de flores por inflorescência, também não apresentaram diferença estatística (P.contorta X2 = 0,03 p< 0.05, gl= 1; P. leptostachya X2 = 1,46 p< 0.05, gl= 3 ) e, ao comparamos a produção de frutos entre as duas espécies, mais uma vez, não foi verificada diferença (controle X2 = 0,01 p< 0.05, gl= 1, polinização cruzada manual X2 = 0,26 p< 0.05, gl= 1). 39 Tabela 1. Fecundidade (produção de frutos por inflorescência) de Pseudopiptadenia contorta e P. leptostachya após diferentes tratamentos de polinizações controladas em área de Floresta Atlântica no Parque Nacional do Itatiaia, Itatiaia, Rio de Janeiro. Tratamento P. contorta P. leptostachya nº nº de frutos nº nº de frutos inflorescências formados inflorescências formados autopolinização espontânea 21 0 16 2 (12,5%) autopolinização manual 17 0 15 4 (26,66%) polinização cruzada manual 22 5 (22,75%) 18 3 (16,66%) condições naturais (controle) 40 10 (25%) 25 7 (28%) Figura 3: Crescimento de tubos polínicos provinientes de flores autopolinizadas de : (A) tubos de Pseudopiptadenia contorta após 48h do autocruzamento penetrando o ovário; (B) Detalhe de A; (C) tubos de P. leptostachya 48h após auto cruzamento no estilete próximo ao ovário; (D) P. leptostachya 72h após autocruzamento penetrando os óvulos. 40 Discussão Biologia floral e polinizadores As flores de P. contorta e P. leptostachya apresentam tamanho reduzido em densas inflorescências, sendo a unidade de polinização a inflorescência, já que funciona como plataforma de pouso e aparentemente uma única flor no meio do dossel não é muito atrativa aos polinizadores. Estes resultados coincidem com o padrão de evolução floral proposto por Arroyo (1981), no qual as espécies de Mimosoideae teriam reduzido o tamanho de suas flores e compactado suas inflorescências, transferindo a função de atração de uma única flor para a inflorescência. A mudança de coloração da flor ao final do primeiro dia após a antese e a permanência destas na raque da inflorescência, parece ser um elemento na atratividade dos polinizadores nas duas espécies estudadas. Sendo assim, a atratividade dos polinizadores a longa distância seria influenciada pela quantidade de flores abertas, independentemente do número de flores com recompensa naquele momento. Então, quando as abelhas se aproximam da planta é que direcionam a visita para as flores com recompensa, visto que essas não são capazes de distinguir cores a longa distância (Oberrath e Gaese, 1999). Outra característica que parece estar envolvida na atratividade dos polinizadores é o forte odor de mel. Estudos caracterizando a estrutura e a composição química das glândulas encontradas no ápice das anteras da tribo Mimosae, que inclui Pseudopiptadenia, sugerem que estas glândulas poderiam possuir osmóforos ou ainda servir como recurso alimentar para os polinizadores (Luckow e Grimes, 1997). Todavia não foi observado nenhum polinizador utilizando as glândulas como recurso nas espécies estudadas e estas parecem estar relacionadas apenas à produção de odor. 41 Pseudopiptadenia contorta e P. leptostachya são polinizadas por abelhas sociais. Dentre as duas espécies de abelhas que foram observadas visitando e polinizando as flores de ambas espécies é importante ressaltar o papel das abelhas Meliponini, que são nativas e compartilham uma história evolutiva com essas plantas. Apesar de representantes de Meliponini serem visitantes florais comuns nas espécies tropicais, pouco se conhece de sua importância e efetividade como polinizadores. Ramalho e colaboradores (1989), estudando os recursos e preferências florais em Meliponini, observaram que as espécies arbóreas são uma importante fonte de recursos para este grupo de abelhas. Dentre as três espécies de Mimosoideae estudadas por Bawa et al., (1985), as duas espécies de dossel, Pentaclethra macroloba e Stryphnodendron excelsum, foram polinizadas por abelhas pequenas e de médio porte. De fato, as abelhas foram consideradas os principais polinizadores das espécies arbóreas das florestas tropicais, principalmente as espécies de dossel (Bawa et al., 1985), porém estes autores não especificam que grupos de abelhas são os mais importantes para o dossel. Entretanto, características florais como coloração branco-amarelada, odor adocicado, facilidade de pouso, antese diurna e a grande quantidade de pólen disponível nas flores das espécies estudadas, não são atributos exclusivos da síndrome de melitofilia e poderiam também ser associados a outras síndromes, como cantarofilia e miiofilia (no caso, sirfídeos) (q.v Faegri e van der Pijl ,1979). Deste modo, mais estudos são necessários para verificar a causa da não ocorrência de outros agentes além de meliponídeos em Pseudopiptadenia, que poderia estar ligada, por exemplo, à constituição química das políades. Sistema reprodutivo Pseudopiptadenia leptostachya apresentou frutos em todos os tratamentos a que foi 42 submetida, indicando um sistema de autocompatibilidade. Como citado anteriormente, P. leptostachya é uma espécie restrita à região sudeste do Brasil e ocorre apenas em florestas montanas e altomontanas. Sendo que este tipo de vegetação ocorre naturalmente de forma disjunta, é possível que o fluxo gênico entre as populações seja pouco freqüente e isto tenha gerado alta consangüinidade entre os indivíduos. Portanto, o grau de isolamento entre as populações pode ter beneficiado o surgimento e manutenção da autocompatibilidade. Em P. contorta, uma espécie com ampla distribuição em que em tese é possível manter fluxo gênico intenso entre as populações, a auto- incompatibilidade seria favorecida. De fato, alguns estudos tem sustentado a idéia de que espécies com distribuição limitada tendem a apresentar maior incidência de autocompatibilidade e menor diversidade genética quando comparadas com espécies congêneres que apresentam distribuição mais ampla (q.v. Karron, 1991; Hamrick et al., 1991). Apesar de P. contorta não ter produzido frutos oriundos de autopolinização, tubos polínicos foram observados no ovário após autopolinizações, mas não foi verificada penetração no óvulo. Isto poderia estar relacionado ao tempo insuficiente de crescimento do tubo polínico ou, mais provavelmente, a um sistema de auto-incompatibilidade gametofítica ou de ação tardia, ou ainda, devido a depressão por endogamia. Porém, estudos mais aprofundados precisam ser realizados para esclarecer tal questão. A auto-incompatibilidade de ação tardia tem sido sugerida para várias espécies de leguminosas tropicais (e.g., Hymenaea coubaril na floresta tropical, Bawa, 1974; Caesalpinia calycina na caatinga, Gibbs et al., 1999; Copaifera langsdorffi no cerrado, Freitas e Oliveira, 2002; Senna sylvestris no cerrado, Carvalho e Oliveira, 2003). Entretanto o sistema de autoincompatibilidade tardia em muitas espécies ainda não está muito claro e tem-se sugerido que a abscisão dos pistilos autopolinizados em diferentes momentos após a polinização pode estar 43 associada à depressão por endogamia e não a sistema de incompatibilidade (ver revisão em Sage et al., 1994). A apresentação dos grãos de pólen em políades parece ser uma importante adaptação no sistema reprodutivo, particularmente em espécies auto-incompatíveis. A equivalência entre o número de grãos de pólen por políade e de ovúlos por ovário, sugere maior eficiência da polinização cruzada. Espécies auto-incompatíveis que apresentam grãos pólen em políades, segundo Cruden e Jensen (1979), aumentam a eficiência de polinização quando comparadas com espécies auto-incompatíveis que possuem grãos de pólen em mônades. Isto porque se os grãos de pólen da políade depositada sobre o estigma forem compatíveis, há a possibilidade de fertilização da totalidade ou de grande parte dos óvulos. Koptur (1984) e Kenrick e Knox (1989), estudando o sistema reprodutivo de algumas espécies de Inga, verificaram que a razão do número de grãos de pólen por políade e o número de óvulos por ovário é sempre um pouco maior do que um. As inflorescências nas duas espécies estudadas, independentemente do tratamento e sistema reprodutivo, formaram no máximo três frutos. Isto sugere que a baixa razão fruto:inflorescência nas duas espécies estaria relacionada à incapacidade fisiológica da planta mãe em produzir e maturar um número de frutos equivalente ao número de flores (Ruiz e Arroyo, 1978; Koptur, 1984) ou mesmo, a limitações físicas em se ter um grande número de frutos por inflorescência, que poderia quebrar com o peso dos frutos. Outra questão que pode estar influenciando a produção de frutos por inflorescência, pode estar relaciona da à esterilidade feminina de algumas flores, que muitas vezes não pode ser detectada morfologicamente e parece ser bastante comum entre as espécies de Mimosoideae (Arroyo, 1981). Dessa forma, a ausência de formação de frutos nas flores da base da inflorescência pode estar associada à esterilidade feminina (i.e., andromonoecia), diminuindo o número de 44 flores aptas a formar frutos. Apesar do comportamento dos polinizadores favorecer a geitonogamia (q.v. Frankie e Haber, 1983), tal característica aparentemente não influencia o sucesso reprodutivo das duas espécies, visto que a produção de frutos oriundos de polinizações cruzadas não diferiu do número de frutos formados por polinizações controle nestas espécies. As espécies apresentam semelhanças em suas características florais e no sistema de polinização. Porém, diferem quanto ao sistema reprodutivo e, também, em parâmetros fitossociológicos (valor de importância e freqüência). Embora, diversos autores (e.g. Baker; 1959; Ashton, 1969; Bawa, 1974, 1990) afirmem que características reprodutivas estão relacionadas a padrões gerais de diversidade e estrutura nas florestas tropicais, estes estudos não mostram de que maneira estes dois tipos de parâmetros estão relacionados. Os resultados encontrados para as duas espécies de Pseudopiptadenia, tal como autocompatibilidade ocorrendo na espécie mais freqüente, fornecem indícios de que pode haver uma relação entre parâmetros fitossociológicos e o sistema reprodutivo das espécies na Floresta Atlântica. 45 Referências Affre, L., Thompson J. D., Debussche M., 1995. The reproductive biology of the Mediterranean endemic Cyclamen Balearicum Willk. (Primulaceae). Bot. J. Linn. Soc. 118, 309-330. Arroyo, M. T. K., 1981. Breeding systems and pollination biology in Leguminosae. In: R. M. Polhill & P. H. Raven (eds.). Advances in Legume Systematics Part.2 . Royal Botanical Garden, Kew,723-769. Ashton, P. S., 1969. Speciation among tropical forest trees: some deductions in the light of recent evidence. Biol. J. Linn. Soc. 1, 155-196. Baker, H.G., 1959. Reproductive methods as factors in the speciation in flowering plants. Cold Spring Harbor Symp. Q. Biol. 24, 177-191. Bawa, 1974. 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Isto não necessariamente indica uma ausência de relação entre clima e fenologia, pois as análises de correlação simples, as quais vêm sendo utilizadas amplamente nos estudos de fenologia, podem não descrever com acurácia a relação entre os eventos fenológicos e o clima, uma vez que efeitos sinérgicos não são considerados. Assim, a ocorrência das fenofases nas espécies de Pseudopiptadenia pode estar relacionada à integração entre diferentes fatores do clima. Deste modo, delineamentos experimentais e análises estatísticas que considerem a atuação conjunta dos fatores climáticos podem complementar e auxiliar na investigação das relações ent re as fenofases e o ambiente. Da mesma forma que as espécies estudadas não floresceram simultaneamente, foi observado que a floração de outras espécies da sub-família Mimosoideae na floresta montana do PARNA Itatiaia também não foi sobreposta. Por outro al do, estas espécies apresentam morfologia floral semelhante, sugerindo polinização pelo mesmo grupo de abelhas. Estudos futuros que investiguem a fenologia e a biologia reprodutiva de outras espécies de Mimosoideae na floresta atlântica poderão confirmar a importância dos meliponídeos na 50 polinização destas espécies, bem como esclarecer se a época de floração beneficia a partilha de recursos florais ao longo do ano. Os resultados sobre o sistema reprodutivo das espécies indicam que o isolamento de uma população pode beneficiar o sistema de auto-compatibilidade. Uma vez que a floresta atlântica se encontra fragmentada e que esses fragmentos freqüentemente estão isolados, é possível que com o passar do tempo espécies auto-incompatíveis adquiram auto- compatibilidade, o que pode ter efeitos na variabilidade genética e, em última instância, na perpetuidade destas espécies. Afirmações gerais de que características reprodutivas estão relacionadas com padrões gerais de diversidade e estrutura das comunidades de florestas tropicais, são citados na literatura (Baker 1959, Bawa 1974, Bawa 1990, Aizen e Feinsinger 1994). Mas efetivamente os estudos não têm mostrado de que forma a reprodução das espécies pode influenciar os padrões fitossociológicos. Diante da situação de fragmentação que se encontra a floresta atlântica estudos testando essas relações poderiam auxiliar ações para manter a diversidade biológica dos fragmentos e a adoção de estratégias que otimizem o manejo e a conservação. 51 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Arroyo, M. T. K., 1981. Breeding systems and pollination biology in Leguminosae. In: R. M. Polhill & P. H. Raven (eds.). Advances in Legume Systematics Part.2 . Royal Botanical Garden, Kew,723-769. Bawa, K. S., Bullock, S. H., Perry,D.R., Coville R. E., Grayum, M. H., 1985. Reproductive biology of tropical lowland rain forest trees. II. 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