Algumas lavras auríferas romanas

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Algumas lavras auríferas romanas
ALGUMAS LAVRAS AURÍFERAS ROMANAS
POR
J. SILVA CARVALHO
Engenheiro do Serviço de Fomento Mineiro
E
O. DA VEIGA FERREIRA
Ag. Téc. de Eng.- de Minas da Direcção
Geral de Minas e Serviços Geológicos
I – PRELIMINARES
Está provado que os romanos foram os nossos grandes mineiros da antiguidade, explorando
principalmente o cobre (1), o ouro (2) e o ferro, além de outros metais como o zinco (3) e o chumbo
(4). Porém, se de algumas explorações temos a certeza
(1) A. VIANA, R. FREIRE DE ANDRADE E O. DA VEIGA FERREIRA - Minerações
romanas de Aljustrel. Com. Serv. Geol de Portugal, Tomo XXXIV, Lisboa, 1954. F.
FLORES E C. DE ARAÚJO - História da exploração da mina de Ruy Gomes. «Estudos,
Notas e Trabalhos» do Serviço de Fomento Mineiro, Vol. I, Fase. 2-3, Porto, 1945.
ESTÁCIO DA VEIGA - A tábula de Bronze de Aljustrel, lida, deduzida e comentada em
1876, Lisboa, ISSO. AUGUSTO SOROMENHO - La table de Bronze de Aljustrel, Lisboa,
1876.
(2) A. DE MELLO NOGUEIRA - Uma exploração de minas de ouro da época romana.
Rev. de Arqueologia, Tomo III, Fasc. VII, Lisboa, 1938. S. SCHWARZ - Arqueologia
mineira. Boletim de Minas, ano de 1935, Lisboa, 1936. C. TEIXEIRA - Minas romanas da
Serra da Lousã. Trab. da Soc. Prot. de Antrop. e Etnol., Vol. X, pp. 243-247, Porto, 1945.
C. TEIXEIRA - Notas arqueológicas sobre as minas de ouro das Banjas (Serra de
Valongo), Porto, 1940. O. DA VEIGA FERREIRA - Ara votiva da Lousã. Rev. de
Guimarães, Vol. LXII, pp. 192-195, Guimarães, 1952.
(3) J. CARBALLO - Minas romanas de calamina, Santander, 1949.
(4) L. DE ALBUQUERQUE E CASTRO - Um achado romano - Lucernas. «Estudos,
Notas e Trabalhos» do Serviço de Fomento Mineiro, Vol. II, Fasc. 2, Porto, 1946.
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firme, de outras faltam-nos provas concretas ou, mesmo, não existem estas. A natureza ingrata
duma tal publicação, pela insegurança das afirmações, fez com que, até à data, não aparecessem
autores inclinados a um estudo de conjunto. Há pequenos trabalhos ou vagas citações dispersos, em
estudos de carácter mineiro, em relatórios, etc.
Em muitos casos, não se sabe ao certo qual o minério objecto da indústria romana, se o ouro, se
outro qualquer. Dá-se isto na Serra da Caveira e em algumas concessões de Valongo, onde se têm
explorado, respectivamente, o cobre e o antimónio.
Em outros casos subsistem as dúvidas da proveniência exacta dos trabalhos antigos, pois faltam
os achados para lhes provar rigorosamente a idade e, sendo assim, tornam-se arriscadas as
afirmações. As dúvidas aumentam se nos lembrarmos que os romanos nem sempre seguiam o
mesmo método de lavra, não se podendo falar em características nitidamente romanas por estas
não terem sido notadas. Os trabalhos, umas vezes, foram subterrâneos e, outras, a céu aberto; outras
ainda, limitaram-se à lavagem de terras auríferas. Também é insegura a técnica usada: Um
confronto das nossas minas é suficiente para nos mostrar longos e extensos desmontes, às vezes
verdadeiros montes arrasados, contrastando com poços de secção irregular, quadrada e circular, pois
ambos foram encontrados na Serra de Santa justa (1).
Os poços gémeos, característicos romanos, nem sempre foram adoptados e Ferreira Braga que
encontrou alguns na Serra da Caveira escreve (2):
Os antigos quando pretendiam perscrutar um campo metalífero começavam a abrir poços de
reconhecimento isolados; se as águas apareciam em pequena quantidade estabeleciam os poços
gémeos (dois poços mui próximos que ora
(1) NEVES CABRAL - Reconhecimento Mineiro da Serra de Santa Justa. Revista de
Obras Públicas e Minas, Tomo XIV, Maio e Junho de 1883, n.os 161 e 162.
(2) JOÃO FERREIRA BRAGA - Relatório publicado no Diário do Governo n.° 122, de 31
de Maio de 1805.
iam rebaixando um ora outro e assim conseguiam chegar a alguma profundidade); quando tinham
esperanças no jazigo e as águas os incomodavam, abriam extensas galerias de esgoto, que à
superfície eram denunciadas por poços em linha. Não faziam porém poços mui próximos e em
todas as direcções senão nos pontos de extracção do mineral.
Quando o reconhecimento do campo mineiro, por meio de poços, era animador, procediam os
romanos à abertura de galerias em todos os sentidos onde reconhecessem o filão. A técnica afigurase, no entanto, excessivamente dispendiosa.
As galerias eram rectangulares e cavadas com irregularidade, de pequena largura e pouca altura
e, muitas vezes, tão estreitas e baixas que só rastejando se podia entrar nelas. As galerias e poços,
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uma vez eram entivados com grandes quantidades de madeira, outras vezes passavam sem
entivação. O esgoto, feito quase sempre por processos rudimentares, a balde, era outras vezes
realizado por meio de galerias de esgota a meia encosta. Nalgumas minas importantes chegaram a
empregar os parafusos de Arquimedes e uma espécie de nora de alcatruzes, tendo-se chegado
mesmo a encontrar uma série de pequenos baldes de cobre, atados com espaços regulares a uma
corda de esparto.
Numa mina, em Espanha, encontrou-se talvez a mais antiga bomba aspirante-premente que se
conhece.
A iluminação era feita por variados meios, desde os archotes de madeira resinosa até às
elegantes lucernas de barro e de bronze. As ferramentas empregadas variavam também, podendo-se
mencionar: maços, marretas, martelos, martelos-picos, cunhas, picos, picadeiras, enxadas, etc., etc.
(1)
(1) Para a bibliografia ver os trabalhos
M. TORRES - La Peninsula Hispanica, provincia romana, La minéria y otras industrias
extractivas. Hist. de España, dirigida por Menendez Pidal, T. II, Madrid, 1935. G. Gosse Las minas y el arte minero de España en la antiguedad. Ampúrias, Vol. IV, pp. 43-68,
Barcelona, 1942. A. BELTRAN MARTINEZ - Las minas romanas de la región de
Cartagena según los dados de la colección de su Museo. Mem. de los Museos Arq.
Provinciales, Vol. V, Madrid, 1945.
II - O OURO A SUL DO PAÍS
A consulta dos modernos arquivos da Direcção-Geral de Minas diz-nos que não há demarcações
sobre jazigos auríferos a sul do Tejo. Por outro lado, as antigas demarcações - hoje designadas por
campos livres - só raramente dizem respeito a estes jazigos e, mesmo assim, nunca a sul do nosso
principal rio. Algumas minas antigas, registadas oficialmente como de cobre e outros metais,
poderiam suscitar dúvidas quanto à natureza das suas primitivas lavras, e daí alguns pequenos
estudos foram modernamente levados a efeito pelo Serviço de Fomento Mineiro, na Herdade de
Água-Todo-o-Ano (Montemor), onde havia trabalhos antigos, nas minas de Alcalainha e na
Herdade de Entre-Águas, ambas na região de Casa Branca, trabalhos que não confirmaram qualquer
existência de ouro ou confirmaram-no em pequeníssimas percentagens. Com probabilidades de
lavra aurífera, mesmo assim muito problemáticas, apenas nos surge a mina de Monte Gouveia, em
Montemor, onde não se encontraram trabalhos antigos.
A passagem dos romanos pelos jazigos a sul do país só aparece bem vincada nas minas de cobre
e de ferro, muito principalmente em Aljustrel (1) e S. Domingos (2). Nesta última, mina foram
encontrados abundantes vestígios da ocupação romana conforme se conclui do relatório anónimo da
Biblioteca dos, Serviços Geológicos, do qual fazemos, seguidamente, um breve resumo.
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Pelas moedas encontradas no decurso das escavações podemos afirmar que as minas foram
trabalhadas desde o império de Augusto até Teodósio, o que nos dá uni período de três séculos e
meio.
(1) Nestas minas além da sua famosa tábula foram encontrados muitos outros objectos. No
Museu dos Serviços Geológicos de Portugal, existem restos de cordas de esparto, alcofas,
alpergatas, gorros, dois lingotes (um de chumbo e outro de cobre), instrumentos de ferro,
muita cerâmica, (alguma de terra sigillata), um arco de fíbula, restos de lucernas,
fragmentos de uma taça de vidro e de um frasco, etc., etc. - A. VIANA, R. FREIRE DE
ANDRADE e O. DA V. FERREIRA - Minerações... Ob. cit.
(2) Anónimo - PORTUGAL - Notice sur la mine de pirite cuivreuse de S. Domingos,
Lisbonne, 1873.
Ao longo do vale onde desagua a galeria de esgoto foram encontrados restos de habitações,
como colunas, capitéis, socos, etc., assim como uma necrópole cujos túmulos eram feitos de lajes
de xisto. Esta necrópole estava a pouca profundidade e nela se encontraram restos de ossadas,
alguns com cremação parcial, ampolas e lacrimatórios de vidro, objectos de cerâmica, telhas e
tijolos, grandes vasos com asas (ânforas), etc. Pena é que tudo tenha desaparecido. Entre os
vestígios de exploração mineira propriamente dita podemos citar as grandes rodas de madeira no
género das de Tharsis, que serviam para o esgoto das águas da mina. Foram encontradas 10 rodas.
A galeria de esgoto dos romanos escavada com grande irregularidade, como era seu costume, foi
aproveitada pelos trabalhos modernos depois de regularizada. Abaixo desta 20 metros, ainda se
encontraram trabalhos atribuídos àquele povo.
Na Serra da Caveira, onde se encontraram trabalhos de certo vulto, não subsistem dúvidas
acerca da proveniência romana de alguns deles, assinalados por Nicolau Biava a partir de 1855,
embora não se saiba ao certo qual o minério explorado. Assim, Manuel Roldan y Pego assinala
trabalhos romanos no chapéu de ferro da massa piritosa e porque aí não encontrou vestígios de
cobre, mas apenas uma elevada percentagem de prata e ouro, confirmada por análises químicas
posteriores, conclui que teria sido o ouro o objectivo principal da lavra romana (1).
Não quisemos deixar de referir esta opinião que pode muito bem ser verdadeira, relativamente à
camada superficial do jazigo (1). Porém, a partir da leitura de outros relatórios, parece concluir-se
que os romanos procuraram em profundidade o cobre, já explorado com toda a certeza na mina de
Aljustrel.
(1) MANUEL ROLDAN Y PEGO - O ouro e a prata do Sado. Revista de Obras Públicas e
Minas, Tomo XL, Outubro a Dezembro de 1909, n.os 478 a 480.
(2) Durante muito tempo pensou-se que os romanos exploraram só o chapéu de ferro dos
jazigos por eles descobertos. Porém, depois de trabalhos recentes em Espanha e no nosso
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País (Minas da Lousã, Serra da Caveira, Aljustrel, etc.), verificou-se que eles desceram
muito abaixo do nível hidrostático.
Ernesto Daligny no seu relatório de 1863 (1) apenas nos diz:
Os antigos e sem dúvida nenhuma os romanos, exploraram estas minas da Caveira com
actividade. O sistema de seus trabalhos consistia em galerias de esgoto e poços de extracção.
As galerias de esgoto são abertas nas rochas estéreis e por meio dum considerável número de
poços de contra ataque que para a galeria da mina A dela se eleva a 26 poços antes de tocar o
minério.
Entre os poços, a galeria oferece uma grande irregularidade em direcção, em largura, em
altura e em nivelamento.
Ela tem, além disso, três pisos sobrepostos. Do segundo piso partia um ramal, para a mina
Frederica, muito alto para ir ferir o minério.
Os trabalhos antigos para a lavra ou extracção, consistem em uma infinidade de poços, a maior
parte desmoronados ou cheios de entulhos acarretados pelas águas. Quando estes poços deviam
ser mui profundos eram gémeos, dois a dois.
III - O OURO DA ADIÇA
O ouro da Lusitânia é tão antigo que já Justino (1) e Estrabão (3) dele falam, embora não
indiquem o local da sua origem. Baseando-se, talvez, nestes historiadores, o prof. Manuel Heleno
acrescenta: Em especial as aluviões do Tejo, do aurifer Tagus, eram fonte copiosa deste metal (4).
Não queremos deixar de anotar esta opinião, pois é muito possível que o nosso principal rio
tivesse proporcionado uma antiquíssima exploração aurífera, provada por achados arqueo-
(1) ERNESTO DALIONY - Relatório de 1863. Processo 41, Vol. I, Arquivo da Repartição
de Minas.
(2) JUSTINO - Epist. historiarum, XLIV, III. (3) ESTRABÃO - Geogr. III, II, 8.
(4) MANUEL HELENO - Jóias pré-romanas. Ethnos, Vol. 1, Lisboa, 1935.
lógicos que, lamentavelmente, desconhecemos. Nós, evidentemente, não o afirmamos mas também
não pretendemos cometer a falta de amputar a história, excluindo do nosso trabalho esta opinião em
si tão aceitável.
Se escasseiam as provas quanto à actividade dos romanos, não resta dúvida que o ouro da foz do
Tejo existiu e foi explorado no tempo dos nossos primeiros reis, conforme documentos que José
Bonifácio de Andrada e Silva diz ter encontrado na Torre do Tombo. Gama Barros também refere
esse facto numa das suas obras.
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Mais tarde, a Intendência de Minas e Metais do Reino explorou as areias da costa, desde o
Bugio até ao Cabo Espichel (1), tirando daí algum ouro, vendido à Casa da Moeda. No tempo de
Eschwege essas areias já pouco ouro produziam.
Propriamente no Tejo, não sabemos de nenhuma exploração que tivesse podido interessar os
nossos antigos, à parte uma vaga citação de Eschwege que a assinala, com proveniência romana, na
confluência daquele rio com o Zêzere e para sul desta, até Mouriscos e Concavada (2). Porém, a
citação é tão vaga que quase não merece referência.
Difícil se afigura falar em aluviões do Tejo, uma vez que as não sabemos situar. A menos que
por Tejo se considere a região costeira e, provavelmente, a barra onde os adiceiros outrora
trabalharam, revivendo, talvez, trabalhos romanos.
IV - REGIÕES DA IDANHA-A-NOVA E PENAMACOR
O distrito de Castelo Branco não tem oficialmente muitas minas de ouro demarcadas : Sob este
ponto de vista apenas ali podemos assinalar as concessões n.os 223, 224, 225 e 228, todas contíguas
umas às outras e situadas sobre o rio Erges,
(1) J. BONIFÁCIO DE ANDRADA E SILVA - Memória sobre a Nova Mina de Ouro da
Outra Banda do Tejo. História e Memórias da Academia Real das Sciencias de Lisboa,
Tomo V, Parte I, Lisboa, 1817.
(2) BARÃO D'ESCHWEGE - Notícias Históricas e Curiosas das Minas e dos
Estabelecimentos Metalúrgicos em Portugal (man. Arquivo da Repartição de Minas).
freguesia de Salvaterra do Extremo, concelho de Idanha-a-Nova (1).
Samuel Schwarz, num seu trabalho sobre arqueologia mineira (2), assinala trabalhos romanos
nesse rio e já o Marquês das Minas, num relatório datado de 1886, se aproximava dessa opinião,
escrevendo (3):
... existem vestígios importantíssimos de trabalhos. executados em tempos remotos. Não se pode
fixar a estes trabalhos uma data exacta. Podem datar do tempo da dominação romana, ou mais
recentemente, terem sido executados por conta do Estado Português por criminosos condenados a
trabalhos forçados nas minas, o que como é sabido se praticava noutro tempo. Não existe, na
localidade tradição alguma a este respeito, ali só dizem que estes trabalhos foram executados pelos
mouros ou para melhor dizer pela mourama! É esta uma versão também aceitável. O que não nos
parece provável é que estes trabalhos se executassem sem eles produzirem e que por meio deles se
procurava encontrar o ouro aliás teriam sido abandonados.
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Quando mais tarde os aluviões do Erges foram motivo dum pedido de adjudicação, o
engenheiro do Governo que procedeu ao reconhecimento confirmou a planta topográfica levantada
e escreveu no seu relatório de 5 de Abril de 1948:
Os terrenos abrangidos pela área reservada da mina de ouro denominada Veiga de Cima
foram completamente explorados pelos romanos e que na maior parte constituem a veiga marginal
do rio Erges e é formado por terras para, ali carreadas pelos exploradores dos terrenos auríferos
(4).
(1) Além destas, foi modernamente demarcada a mina n.° 2.425, situada próximo do
Fundão.
(2) SAMUEL SCHWARZ - Arqueologia Mineira. Boletim de Minas,
Lisboa, 1935.
(3) MARQUÊS DAS MINAS - Relatório de 29-8-1866. Processo n.° 223 do Arquivo da
Repartição de Minas.
(4) LUÍS DE MENEZES ACCIAIUOLI - Relatório de 5-4-1948. Processo
n.° 223 do Arquivo da Repartição de Minas.
A planta de que damos ligeira cópia representa a área que teria sido objecto das explorações
romanas.
Se o rio Erges nos aparece como uma duvidosa mina romana o mesmo se não pode dizer da
região do Rosmaninhal, onde Samuel Schwarz assinalou uma galeria que, segundo ele (1), teria
servido para a lavagem do ouro.
São antiquíssimas as notícias que temos das aluviões do Rosmaninhal e já o Barão de Eschwege
(2), em 1825, escrevia sobre a actividade dos povos da região que apanhavam o ouro da terra,
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vendendo-o aos ourives das vilas próximas. Mais tarde o Rosmaninhal foi visitado por Carlos
Ribeiro, que chegou a fazer um pequeno relatório e levantamento topográfico, sendo curioso que a
galeria de que nos fala Schwarz não tivesse sido assinalada por este eminente arqueólogo e homem
de ciência.
(1) SAMUEL SCHWARTZ – Ob. Cit.
(2) BARÃO D’ESCHWEGE – Ob. Cit.
* * *
A ser certa a mineração romana no rio Erges e no Rosmaninhal e natural que os vestígios de
trabalhos antigos encontrados nos concelhos de Penamacor e de Idanha-a-Nova tenham também
essa proveniência, principalmente as aluviões dos rios Basagueda, Aravil e Ponsul, citadas por
Schwarz.
V -AS MINAS DA LOUSÃ
As grandes explorações romanas situam-se a norte do rio Tejo.
A serra da Lousã, principalmente a mina da Escádia Grande, foi de grande valor para os
romanos, que aí exploraram filões de sulfuretos arseno-argentíferos (1).
Também o engenheiro Ramiro da Costa Cabral Nunes de Sobral (2) se refere à mina da Escádia
Grande, nestes termos:
Na área deste registo, como na de outros existentes nas proximidades... encontram-se trabalhos
romanos de grande envergadura, em uma zona com cerca de 7 km de comprimento por 1 de
largura. A direcção dos cortes antigos é sensivelmente noroeste e sudoeste. Estes trabalhos em
alguns lugares, sobretudo em esta mina, têm um grande desenvolvimento. Assim, encontra-se um
campo de lavra antiga com mais de 110 metros de profundidade e galerias algumas das quais com
cerca de 200 m de comprimento, perfeitamente conservadas.
As pesquisas que levámos a efeito, mostraram, claramente, tratar-se duma mina trabalhada
pelos Romanos. Encontrámos vários objectos característicos tais como, candeias de iluminação,
objectos diversos de barro, madeira de entivação cortada a machado, etc. com o que pensamos
fazer um pequeno museu na mina.
Durante os trabalhos recomeçados há pouco sob a direcção dos engenheiros Almeida Fernandes
e Quintino Rogado, foram
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(1) C. TEIXEIRA - Minas romanas da Serra de Lousã. Ob. cit., 1945.
(2) RAMIRO DA COSTA CABRAL NUNES DE SOBRAL - Relatório de 26-4-939.
Processo n.° 1.999 do Arquivo da Repartição de Minas.
postas a descoberto mais algumas antigualhas romanas. De entre elas destacaremos a formosa
arasinha duma importância grande para o conhecimento de mais uma divindade pagã, cujo culto foi
por certo romanizado, e duas picaretas de ferro, uma delas muito interessante, pois conserva ainda
parte do cabo metido no olhal em que a madeira foi completamente limonitizada.
Além de todos estes achados podiam ainda citar-se outros, principalmente os que deram origem
ao estudo atrás citado do prof. Carlos Teixeira e a um outro da responsabilidade dum dos autores do
presente trabalho (1).
VI – OURO DE VILA POUCA DE AGUIAR
Outra região intensamente explorada é a de Jales, junto a povoação de Campo, freguesia de
Alfarela de Jales, concelho de Vila Pouca de Aguiar. Os romanos, conta-nos Augusto de Mello
Nogueira (2), abriram no afloramento do filão uma sanja da largura deste, isto é, inferior a 1 metro,
com profundidades variáveis, atingindo em alguns pontos 50 metros. Diz-nos ainda o mesmo autor
que, nas proximidades de Jales, nas minas de Lagos da Ribeirinha, há grandiosas cortas e túneis de
enorme secção que demonstram uma exploração mais intensa do que em Jales.
Dois registos mineiros feitos modernamente originaram as concessões denominadas Lagos da
Ribeirinha N.os 1 e 2, situadas na freguesia de Tresminas, concelho de Vila Pouca de Aguiar.
(1) O. DA VEIGA FERREIRA – Ara votiva da Lousã. Ob. cit., 1952.
(2) AUGUSTO DE MELLO NOGUEIRA - Uma exploração de minas de ouro da época
romana. Revista de Arqueologia, Tomo III, Lisboa, 1936. Existem nos Serviços
Geológicos os seguintes objectos: uma marreta de ferro e dois fragmentos de madeira de
entivação. No entanto, a peça mais interessante ali encontrada é uma taça de terra sigillata
ricamente ornamentada. Ver J. M. BAIRRÃO OLEIRO - Elementos para o estudo da terra
sigillata em Portugal. Revista de Guimarães, Vol. LXI, Fasc. 1-2, Guimarães, 1951.
O eng.º Monteiro de Barros, que então visitou o jazigo, escreveu:
Dentre a série de filões referidos destaca-se principalmente um, sobre o qual se constata a
realização de enormes trabalhos mineiros em época muito remota, indeterminada
aproximadamente.
Noutro lugar do mesmo relatório acrescenta:
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Do lado da povoação de Covas, constata-se a existência de desmontes antigos de profundidade
indeterminada.
Seguindo este filão para SE observam-se três enormes cortas ou funis com profundidades
superiores a 50 m que deviam ter correspondido a zonas de alargamento e enriquecimento do filão
talvez provocadas por fenómenos de cruzamento com outros filões.
Do fundo do vale parte para SW um grande túnel, também trabalho antigo com mais de 250 m
de comprimento que se encontra desabado na extremidade SW.
Neste túnel deviam ter estado instalados a quebragem e moagem do minério dos antigos, nos
alargamentos que no mesmo se constatam e onde se verificam ainda vestígios dessa afirmação.
Em 30 de Setembro de 1936, o eng.° António Bernardo Ferreira e o condutor Alberto Joaquim
de Lima depois de feito o reconhecimento do jazigo escreveram (1):
Dentro da área do registo (Lagos da Ribeirinha N.° 1) verifica-se a existência de duas grandes
cortas antigas (romanas) causando a admiração pelas suas dimensões e pelas amplas galerias, poços
e chaminés existentes.
(1) ANTÓNIO BERNARDO FERREIRA E A. J. LIMA - Relatório de 30-9-1936.
Processo n.° 1941 do Arquivo da Repartição de Minas. Deu origem à nota publicada por A.
DE MELLO NOGUEIRA in Boletim de Minas, ano de 1937, p. 43, Lisboa.
A corta mais próxima da povoação de Covas ou de Covas deve ter sido feita não só para
trabalhar os filões principais mas também para desmontar um stockwerk existente neste local.
A corta da Ribeirinha situada mais a nascente é de maiores dimensões devendo as condições do
jazigo neste local ser idênticas às da corta Covas e ter havido maior número de trabalhos antigos.
Existem, feitas pelos romanos, duas galerias travessas de amplas dimensões, 5 x 1,5,
embocadas na encosta do lado nordeste, avançando uma para debaixo da corta Covas na extensão
de 250 m aproximadamente.
Nesta galeria parece que os antigos faziam parte da britagem e lavagem do minério visto se
encontrarem vestígios desses trabalhos.
A outra galeria situada entre as duas cortas tem aproximadamente 150 m de extensão. Ambas
as galerias terminaram em trabalhos antigos.
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A atestar a passagem dos romanos pelo concelho de Vila Pouca de Aguiar temos três inscrições
romanas interpretadas por J. Leite de Vasconcelos (1) e que hoje estarão possivelmente no Museu
Regional de Chaves.
VII - OURO DE PENEDONO JUNTO DO DOURO
Na freguesia da Granja, concelho de Penedono, distrito de Viseu, também podemos assinalar
vestígios romanos, precisamente no local onde hoje se encontram as minas n.os 1997 (Santo
António) e 1998 (Vieiros). Referindo-se à primeira destas minas o eng ° Ramiro da Costa Sobral (2)
escreve:
Todos os filões foram trabalhados até profundidades variáveis, mas sempre relativamente
pequenas, pelos romanos, não nos sendo possível encontrar até hoje os vestígios de galerias que
supomos não abriram.
Notam-se, porém, em todos os filões, cortes longitudinais sobre os afloramentos que, em geral,
os não interessaram totalmente.
Parece que só uma pequena zona, junto aos encostos (10 cm aproximadamente) lhes
interessava. A parte central, representando a grande maioria da possança e com teores apreciáveis
(14 a 15 gr por t) foi abandonada, notando-se ainda hoje, nas antigas escombreiras grande parte
deste mineral, quando não mesmo sur place.
(1) J. LEITE DE VASCONCELOS - Três inscrições romanas inéditas do concelho de Vila
Pouca de Aguiar. Revista de Arqueologia, Tomo III, Lisboa, 1936.
(2) RAMIRO DA COSTA CABRAL NUNES SOBRAL - Relatório de 14-6-1939.
Processo n.º 1997 do Arquivo da Repartição de Minas.
Com a abertura dos poços de pesquisa, verificámos que os cortes, sempre muito estreitos, junto
ao encosto dos filões, atingiram, em alguns pontos, 26 m e mais de profundidade. Feita uma
colheita de amostras, em certas zonas que tanto lhes interessavam verificou-se que os teores eram
muitíssimo superiores aos verificados na zona central (150 gr por t) sendo ainda a rocha
continente junto ao encosto, muito mais friável. Estas razões justificam, perfeitamente, o trabalho à
primeira vista incompreensível dos romanos.
O eng.° Brandão de Melo (1) que, em seguida, visitou a mina, diz-nos também:
Os romanos adoptaram o processo do não enchimento dos vazios e os trabalhos antigos
efectuados, alguns a profundidades já importantes, conservam-se absolutamente intactos.
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VIII - O OURO DE VALONGO
As mais extensas explorações auríferas encontram-se na região de Valongo, na serra de Santa
Justa, pela primeira vez assinaladas, ao que nos conste, pelo eng.° Neves Cabral (1), que as
considera antiquíssimas, provavelmente do tempo dos fenícios.
(1) L. M. BRANDÃO DE MELO - Relatório de 13-5-1940. Processo n.° 1997 do Arquivo
de Repartição de Minas.
É com saudade que recordamos aqui o nome do nosso querido amigo Eng.°
BRANDÃO DE MELO. A ele deve um dos autores (V. FERREIRA), informações e
fotografias sobre um curioso lagar romano ou pré-romano descoberto por ele numa das
suas propriedades da Beira. Pena é que o seu poder de observação e cultura, não tenha sido
traduzido em trabalhos dados à publicidade. Nesta pequena nota consignamos à sua alma
todo o respeito, admiração e amizade que sempre lhe tributámos. O. DA VEIGA
FERREIRA - Notícia sobre dois lagares antigos. Revista do Sind. Eng.° Aux., etc., n.° 7576, Lisboa, 1952.
(2) NEVES CABRAL - Reconhecimento Mineiro da Serra de Santa Justa. Revista de
Obras Públicas e Minas, Tomo XIV, Maio e Junho de 1883, n.os 161 e 162, Lisboa.
Este ilustre engenheiro reconheceu imensos e variados trabalhos que correm de Valongo, rumo
para o Douro e ao sul deste rio, numa extensão superior a 20 km. Deixou-nos ele um comprido
relatório e planta topográfica por onde se conclui que os principais trabalhos se situam nas minas do
Fojo das Pombas e Pirâmide de Santa Justa, na parte mais elevada da serra do mesmo nome e,
fundamentalmente, no Fojo das Pombas e Fojo Sagrado, na primeira daquelas minas.
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Pouco tempo depois Severiano Monteiro e A. Barata (1) referem-se a estas lavras acrescentando
que em nenhuma outra região do país se encontram trabalhos tão profundos, extensos e com
desmontes tão desenvolvidos.
(1) SEVERIANO MONTEIRO e A. BARATA - Catálogo da Secção de Minas - Exposição
Industrial Portuguesa de 1888, Lisboa, 1889.
IX - OURO DE PAREDES, GONDOMAR E CASTELO DE PAIVA
Sob esta designação genérica abrangem-se as concessões ao sul do Douro, da Cabranca e do
Portal, e, ainda, o moderno Couto Mineiro das Banjas, formado pelas minas Poço Romano, Ribeiro
da Castanheira, Vale do Braçal, Vale Fundo, Serra de Montezelo, Vargem da Raposa e Serra do
Facho, situadas nos concelhos de Paredes e Gondomar, freguesias de Sobreira e Melres.
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Legenda: (1) – Couto Mineiro das Banjas (2) Portal (3) Cabranca
Minas das Banjas
Toda esta região das Banjas se encontra intensamente juncada de trabalhos antigos, já
assinalados em 1882 pelo eng.° Frederico de Albuquerque de Orey que, num seu relatório sobre a
mina de Vale Fundo (1), diz suspeitar que a água que corria pelos barrancos era proveniente
daqueles, acrescentando:
Estes trabalhos antigos adquirem às vezes dimensões importantes; ora são poços e galerias
bem conservadas e de secção definida e regular; ora são cortas ou escavações muito irregulares...
Alguns anos mais tarde, o mesmo engenheiro, referindo-se à mina Vargem da Raposa (2),
escreveu
Numerosos trabalhos antigos encontram-se principalmente na encosta oriental desta serra (de
Montezelo) e denotam que em tempos remotos se desenvolveu aqui uma importante indústria
mineira, tendo por objectivo segundo todas as probabilidades a exploração de filões auríferos.
Uma das mais importantes minas deste grupo das Banjas, sob o ponto de vista das lavras
antigas, é aquela que se denomina Poço Romano. Sobre ela o eng.º Salema Garção, ao ser chamado
a dirigir as modernas lavras, elaborou um precioso relatório (3) com a planta dos trabalhos, que
publicamos em tamanho reduzido.
Os trabalhos modernos desta concessão seguiram os antigos constituídos por três poços, uma
galeria e várias trincheiras seguindo o filão principal, conhecido por «filão dos romanos». Este
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inclina 60 a 70º para nordeste com possança variável entre 1 e 2 metros e um enchimento
constituído por pirites de ferro arsenical contendo ambas ouro e prata.
A galeria tem a extensão de 41 metros incluindo 19 metros em trincheira; não chegou a
encontrar o filão e modernamente foi continuada e alargada para permitir a passagem de vagonetas.
O poço maior, chamado «poço romano», encontra-se perto
(1) FREDERICO DE ALBUQUERQUE D'OREY - Relatório de 28 de Dezembro de 1882.
Processo 212 do Arquivo da Repartição de Minas.
(2) FREDERICO DE ALBUQUERQUE D'OREY - Relatório de 9 de Novembro de 1888.
Processo 248 do Arquivo da Repartição de Minas.
(3) JOSÉ CAETANO SALEMA GARÇÃO - Relatório de 10 de Fevereiro de 1938.
Processo n.º, 2094 do Arquivo da Repartição de Minas.
do cume do monte e tem 50 metros de profundidade, servindo a um desmonte de certo modo
notável.
Provenientes das minas das Banjas (possivelmente do Poço Romano, que de todas elas é a de
maior tradição) conhecem-se várias moedas de cobre, uma delas do tempo de Constantino, e uma
curiosa lucerna, que se encontra classificada pelo prof. Carlos Teixeira (1).
Mina da Cabranca
A sul do Douro existe ainda a mina Cabranca que em 1884 foi registada por Serafim Moreira
Lopes, dizendo-nos este, no manifesto redigido em 26 de Janeiro de 1884, que descobriu «por
simples inspecção do solo, em trabalhos dos mouros, um filão contendo antimónio e outros metais».
Este documento revela talvez a tendência para uma tradição longínqua que dava a essas lavras uma
idade antiquíssima.
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(1) C. TEIXEIRA - Notas arqueológicas sobre as minas de ouro das Banjas (na Serra de Valongo),
Porto, 1940.
E nada mais podemos concluir, porquanto o eng.º Frederico Albuquerque de Orey, no
reconhecimento efectuado em 1884, acha as pesquisas insuficientes para avaliar do valor do jazigo
e refere-se vagamente aos trabalhos antigos que só mais tarde foram desentulhados.
Em 1888, o eng.° Alfredo Morais de Carvalho vem dizer-nos que ao nível do rio Arda, acessível
à mais pequena cheia, abriram os antigos uma galeria com 8 metros de extensão que encontrou a
substância metalífera.
A partir dessa galeria e segundo o plano de filão, encontrava-se um poço inclinado e para um e
outro lado deste uma outra galeria começada a abrir.
O poço - diz-nos ele - «foi esgotado, desentulhado e rectificado quanto possível, apresentando
um filão bem caracterizado e com boa metalização de sulfureto de antimónio de grande pureza».
Sendo assim, porque não exploraram os antigos esse minério de tão boas possibilidades? Isto
não faz pensar, evidentemente, que o objecto da lavra não era o antimónio e, nesse caso, estaremos
próximos do depoimento de Severiano Monteiro que, no seu Catálogo, nos diz terem aparecido na
mina Cabranca, nas margens do Arda, um forno com escórias e um plano inclinado talhado na
rocha, com sulcos abertos em determinados sentidos, que teriam servido para a lavagem do ouro.
Mina do Portal
Outra mina objecto de lavra romana é a do Portal, situada na freguesia de Lomba, concelho de
Gondomar, distrito do Porto. Abrange a margem esquerda da ribeira de Portal, afluente a sul do
Douro. Infelizmente, perdeu-se um relatório do eng. Alberts, de 1878, que deveria trazer preciosos
elementos acerca dos trabalhos antigos, que se supõem romanos.
Encontra-se ainda a planta que este levantou e nela estão marcadas algumas galerias e poços
indubitavelmente existentes à data da sua visita. Modernamente, em 1882, o jazigo foi concedido a
Manuel dos Santos e outros. Em 1907, Manuel Correia de Melo elucida-nos que nesse tempo
apenas se explorava o chumbo, acrescentando:
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Este jazigo como quase todos os desta formação, da região do Douro, foi também explorado
pelos antigos, para ouro e antimónio; pois nos entulhos que se acham junto dos poços N.os II e III
aparece alguma estibina o que mais vem confirmar que o filão não é da formação plumbífera, mas
sim da aurífera antimoniosa.
Em 1909, o engenheiro Alfredo Morais de Carvalho escreve:
As minas do Portal foram exploradas pelos romanos ou mouros e posteriormente, há cerca de
30 anos, uma sociedade mineira portuguesa, fez desenvolvidos trabalhos de reconhecimento e
preparatórios de lavra tendo em vista a exploração de antimónio.
Este ilustre engenheiro diz-nos que a Companhia Mineira Portal continuou os trabalhos das
antigas explorações e como o antimónio novamente decaiu de preço voltou a sua atenção para a
mineralização aurífera denunciada não só pelos trabalhos romanos mas reconhecida pelas
diferentes análises químicas durante a lavra anterior...
X - OS MINÉRIOS DO RIO SABOR
As aluviões do rio Sabor são antiquíssimas e já Eschwege lhes faz referência dizendo ter visitado a
região e atribuindo a origem dos trabalhos aos romanos. Entretanto, forçoso é dizer-se, a
Intendência de Minas e Metais do Reino nunca empreendeu aí qualquer exploração e só
modernamente foram demarcadas quatro concessões designadas por:
571 - Fonte Cova.
572 - Pingão dos Quintais.
573 - Vale de Cancelo.
524 - Covas Altas.
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A brigada da Direcção-Geral de Minas que, em 1911, reconheceu o jazigo encontrou bastantes
sanjas que mereceram ao eng.° Carlos Duque o seguinte comentário:
Não se fizeram pesquisas na mina de Covas Altas por ser evidente que os filões que nela se
encontram são da mesma formação que os da mina Pingão dos Quintais. Em compensação existem
muitos trabalhos antigos; todos eles desmontes do filão à superfície, formando cortes no terreno
por vezes muito profundos. Atribuem-se estes trabalhos aos romanos.
XI - MINAS DE MIRANDELA
Nas freguesias de S. Salvador e Vila Verde, concelho de Mirandela, revelam-se-nos a existência
de grande número de trabalhos antigos, sanjas, poços e galerias, que não será ousadia atribuir ao
esforço dos romanos. Foi esta a opinião da brigada de reconhecimento da Direcção-Geral de Minas
quando, em Maio de 1943, inspeccionou as pesquisas a que o Banco Burnay procedeu no vasto
filão.
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Além dos poços e galerias novos, o Banco Burnay desentulhou imensos trabalhos antigos e
consolidou outros, pondo a descoberto o interesse industrial do jazigo que, presentemente,
compreende as concessões: Vale Pereira (2183), Portela n.° 1 (2184), Latadas (2185), Mouros n.° 1
(2187) e Mouros n.° 2 (2188).
É de notar, como curiosidade, o nome dado a estas duas últimas minas, decerto inspirado na
tradição oral dos povos da região e revelador da tendência destes de atribuírem ao esforço da
mourama todos os vestígios de causas remotas, inclusive as explorações mineiras que, segundo
parece, nunca lhes interessaram grandemente.
Neste trabalho de simples divulgação não nos parece despropositado incluir as minas de
Mirandela, mesmo a despeito da inexistência de qualquer achado que nos permita afirmar a sua
origem romana. De resto, não consta que o jazigo tivesse sido explorado nos primeiros tempos da
nossa monarquia e, de certeza absoluta, foi desconhecido da Intendência de Minas e Metais do
Reino, visto não constar na relação de Eschwege. É possível que o futuro, quando o Banco Burnay
empreender nas suas concessões uma lavra activa, venha revelar, nas escavações, o material de que
tanto se necessita para a formulação de opiniões mais concretas.
XII - O OURO NO ALTO MINHO
Como preparamos um estudo mais detalhado sobre as minerações romanas do Alto Minho,
apenas daremos neste capítulo uma informação ligeira sobre o que conhecemos de jazidas ou locais
que nos parecem ter sido objecto de exploração mineira nessa época.
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Não há dúvida de que o ouro nesta região e em todo o Norte da Península foi intensamente
explorado pelos romanos, que seguiram ou aproveitaram, por certo, as explorações indígenas. Haja
em vista a quantidade de jóias pré-romanas, sobretudo da idade do ferro, encontradas (1).
(1) M. CARDOZO - Jóias arcaicas encontradas em Portugal - Nós A Cruña, 1950. Idem - Uma notável peça de
joalharia primitiva. Anais da Faculdade de Ciências do Porto, Tomo XXVII, Porto, 1942. Idem - Antiguidades
transmontanas. Revista de Guimarães, Vol. III, Guimarães, 1945. M. HELENO - Jóias, Ob. cit., 1955. R. SEVERO - O
Thesouro de Lebução (Trás-os-Montes). Portugália, II, Porto, 1905-1908. F. BOUZA BREY - Dos torques aureos. El
Museo de Pontevedra, 7.ª entrega, Pontevedra, 1944. F. LOPEZ CUEVILLAS - Os torques do Noroeste Hispânico.
Arq. do Sem. de Est. Galegos, Santiago de Compostela, 1952. F. BOUZA BREU – Nueva joya protohistórica gallega.
Actas y Mem. de la Soc. Esp. de Antrop. Etnog. y Preh., XXI, Madrid, 1946. C. TEIXEIRA - Os torques do Castro de
Lanhoso. Anais da Faculdade de Ciências do Porto, Tomo XXIV, Porto, 1939. E. JALHAY - Uma jóia de ouro na
Citânia de Sanfins. Brotéria, Vol. L, Fasc. 1, Lisboa, 1950.
Portanto, apenas mencionaremos os locais mais importantes onde se observaram poços, galerias
e grandes desmontes feitos certamente nesses recuados tempos (1).
Jazigo da Forca - Neste jazigo podemos observar um poço com uma pequena galeria.
Jazigo das Tinas - Neste jazigo podem observar-se os restos duma actividade intensa,
certamente romana ou pré-romana. Poços de secção rectangular, galerias e grandes desmontes. Os
romanos trabalharam mais aqui que na Forca. O movimento de terras feito nessas épocas ascende
aos milhares de toneladas.
Região do Monte Mor (2) - Observámos aqui uma série de poços e galerias todos em franca
comunicação. Perto das minas existe um castro bem fortificado. Neste castro colocam vários
autores a cidade de Norba dos romanos. É conhecido pelo nome de Monte do Facho, Alto da Nó,
Nahor ou Nora.
Serra de Arga - Existem vestígios de grandes escombreiras da serra de Arga. Nesta serra, na
capela de S. Miguel do Anjo, defronte da vila de Ponte de Lima, fazem assentar vários autores uma
cidade romana de nome Aurea, fazendo-a derivar, bem como Arga, de Aurega, mãe do ouro.
Grovelas - Nesta localidade podem-se apreciar grandes cortas feitas com o fim de desmontar
filões de quartzo com sulfo-arsenietos. Pelo movimento de terras feito pode-se avaliar em milhões
de metros cúbicos o que os romanos fizeram remover.
(1) J. M. COTELO NEIVA e PASTORA CHOROT - Alguns jazigos de ouro do Alto
Minho. «Estudos, Notas e Trabalhos» do Serviço de Fomento Mineiro, Vol. 1. Fasc. 3-4,
Porto, 1945.
(2) L. FIGUEIRO DA GUERRA - Límia e Brutóbriga. Arch. Port., Vol. V, Fasc. 1, Lisboa,
1900.
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CONCLUSÕES
Este estudo, apresentado sem pretensões de qualquer ordem, foi feito com o intuito de fornecer,
embora sem minúcias demasiadas, uma visão das jazidas de ouro que parece terem sido exploradas
intensamente pelos romanos ou já pelos pré-romanos. Nesta designação podemos abranger, mesmo,
as milenárias civilizações eneolíticas ou do começo dos metais (1).
Duma maneira geral, podemos concluir que, todas as jazidas de ouro hoje conhecidas, foram
objecto de intensa lavra por parte dos povos antigos, e em especial pelos romanos que, nalgumas
delas, deixaram bem marcada a sua passagem, encontrando-se objectos de toda a ordem desde o
material de iluminação, ferramentas, cordas, restos de vestuário, acessórios, de esgoto, baldes,
roldanas, rodas hidráulicas, etc. etc.
Nalgumas das antigas minas, atrás descritas, é possível precisar o tempo que durou a respectiva
lavra mineira, pelas moedas encontradas, por inscrições ou legislação embora não tivéssemos
descido a essas minúcias. Não obstante, a nossa contribuição para o conhecimento das minas de
ouro antigas, embora modesta, poderá servir para ajudar aos que, no futuro, meterem ombros à,
realização dum estudo profundo sobre o assunto.
(1) R. SERPA PINTO - Explotaciones mineras de la Edad del Bronce en Portugal. Invest.
y progreso, Ano V, Junho, Madrid, 1953. Idem - Activité minière et métallurgique pendant
l'âge du Bronze en Portugal, Porto, 1933.
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ESTAMPAS
ESTAMPA I
Fig. 1 - Ara votiva da mina de ouro da Escádia Grande, Serra da Lousã, seg. V. Ferreira. Esta ara foi
descoberta por Quintino Rogado. (Col. dos Serv. Geol. de Portugal)
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ESTAMPA II
Fig. 2 - Lucerna da mina de ouro das Banjas, seg. C. Teixeira.
Fig. 3 - Fragmento de um bordo de terra sigillata das minas de ouro de Jales. (Col. dos Serv. Geol.
de Portugal)
Fig. 4 - Marreta de ferro das minas de ouro de Jales. (Col. dos Serv. Geol. de Portugal)
Fig. 5 – Martelo-pico das minas do Zambujal. Vila Nova da Baronia. (Col. dos Serv. Geol. de
Portugal)
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ESTAMPA III
Fig. 6 - Lucerna romana da mina de chumbo e, possivelmente de ouro, do Braçal e Malhada, seg.
Albuquerque e Castro
Fig. 7 - Lucerna romana das minas da Serra da Caveira, Grândola. (Col. dos Serv. Geol. de
Portugal)
Fig. 8 - Lucerna romana (fundo) das minas de chumbo do Braçal e Malhada, seg. Albuquerque e
Castro.
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ESTAMPA IV
Fig. 9 - Lucerna romana da mina de ouro da Escádia Grande. Serra da Lousã, seg. C. Teixeira.
Fig. 10 - Fíbula anular (falta-lhe o botão terminal) da mina de Rui Gomes, Moura. (Col. dos Serv.
Geol. de Portugal)
Fig. 10a - Lucerna romana da mina de ouro da Escádia Grande. Serra da Lousã, seg. C. Teixeira.
Fig. 11 - Picadeira da mina de ouro da Escádia Grande, Serra da Lousã. (Col. dos Serv. Geol. de
Portugal)
Fig. 12 - Martelo-marreta da mina de ouro da Escádia Grande. Serra da Lousã. (Col. dos Serv. Geol.
de Portugal)
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ESTAMPA V
Fig. 13 - Lucerna romana - vista superior da fig. 8 da Est. III, seg. Albuquerque e Castro.
Fig. 14 - Lucerna romana da mina de ouro da Escádia Grande, Serra da Lousã, seg. C. Teixeira.
Fig. 15 - Lucerna romana das minas de Santo Estevão, Silves. (Col. dos Serv. Geol. de Portugal)
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