Formação de professores por área de conhecimento
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Formação de professores por área de conhecimento
Trabalho apresentado no http://enebio5.webnode.com FORMAÇÃO DE PROFESSORES POR ÁREA DE CONHECIMENTO: INTERRELAÇÕES ENTRE A EXPERIÊNCIA DOCENTE, A REALIDADE DE ESTUDANTES DO CAMPO E ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR Jaquiline Visniévski (Licenciatura em Educação do Campo - PIBID Diversidade/UFSC) Alexandra K. da Silva (Escola de Educação Básica Luiz Davet - PIBID Diversidade/ UFSC) Henrique Alves de Lima (Escola de Educação Básica Luiz Davet) Josiane Rafalski (Licenciatura em Educação do Campo - PIBID Diversidade/UFSC) Néli Suzana Britto (Licenciatura em Educação do Campo - PIBID Diversidade/UFSC) Resumo Há amplas possibilidades de pensar o ensino e a formação em ciências pelo viés da interdisciplinaridade, a formação por áreas do conhecimento é uma delas, pois favorece uma abordagem integrada de conteúdos. A Licenciatura em Educação do Campo na UFSC tem sua organização baseada nessa premissa e os futuros professores podem atuar na área de Ciências da Natureza e Matemática. Esta interdisciplinaridade é vislumbrada nas práticas de estágio e demais projetos desenvolvidos pelos graduandos em consonância com professores de escolas públicas, sendo o PIBID1 uma dessas formas de intermediação entre escola-universidade. O presente trabalho apresenta um relato de experiência baseado nestes pressupostos realizado na Escola de Educação Básica Luiz Davet, localizada em Major Vieira/Santa Catarina. Palavras-chave: formação docente; Área Ciências da Natureza; Abordagem interdisciplinar; Educação do Campo. 1 Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência Da formação por área na universidade às práticas interdisciplinares no contexto escolar A formação por áreas do conhecimento aponta para as possibilidades de trabalho interdisciplinar como ampliadoras e enriquecedoras das práticas pedagógicas, na medida em que os conteúdos sejam abordados por meio de inter-relações possíveis de serem estabelecidas, sem, no entanto, forçar uma relação entre as disciplinas, na qual ocorre um mero “encaixe” de conteúdos escolares pré-estabelecidos, levando ao estabelecimento de relações pontuais que explicam pouco a totalidade dos fenômenos naturais e sociais. Nesse sentido o curso de Licenciatura em Educação do Campo tem como desafio: [...] Localizar o campo de estudos das Ciências da Natureza sob uma perspectiva que não se restrinja à disciplina de Ciências ministrada no Ensino Fundamental, muitas vezes sob a ênfase exclusiva de um campo de estudos, geralmente, aquele referente à licenciatura2 cursada pel@s professor@s que atuam na disciplina. A idéia é da área CN e MTM constituída por meio de uma rede diversificada de campos de conhecimentos que diluem suas fronteiras e interagem tecendo os inúmeros fios advindos da produção científica como da Biologia, Química, Física, Ecologia, Paleontologia, Antropologia, Matemática e muitas outras, pautadas por critérios como: a unicidade da Ciência; as realidades e a complexidade dos fenômenos multidisciplinares, e a interdisciplinaridade como condição para uma melhor compreensão e apropriação das mais diversas situações cotidianas. (BRITTO, 2013, p.115) Os cursos de formação de professores ensinam conteúdos, mas também formas de abordá-los nas práticas docentes, a formação do curso de Licenciatura em Educação do Campo aponta a possibilidade de uma abordagem interdisciplinar e preocupa-se com a abordagem de questões relativas/significativas à realidade dos estudantes. Para pensar sobre o currículo e sobre o ensino de Ciências Naturais o conhecimento científico é fundamental, mas não suficiente. É essencial considerar o desenvolvimento cognitivo dos estudantes, relacionado a suas experiências, sua idade, sua identidade cultural e social, e os diferentes significados e valores que as Ciências Naturais podem ter para eles, para que a aprendizagem seja significativa. (BRASIL, 1998, p.27) O PIBID incentiva estudantes dos cursos de licenciatura a terem um contato mais amplo com a comunidade escolar, para além dos estágios obrigatórios. Traz a possibilidade de trabalho com temas significativos para determinado contexto escolar, articulando práticas docentes que envolvem graduandos e seu campo de atuação, por meio do exercício da docência, levando-os a compreender o cotidiano escolar e as relações estabelecidas entre escola e comunidade. As características do curso nos permitem estabelecer um plano de trabalho 2 Trata-se das Licenciaturas específicas como Biologia, Física, Química e Matemática para a área de Ciências da Natureza e Matemática. Assim, as atividades formativas aqui propostas visam propiciar interações e mediações significativas aos futuros professores/as do curso de Licenciatura em Educação do Campo, numa relação de consonância entre escolas do campo e instituição universitária. Busca-se com essa relação a inserção dos/as licenciados/as no campo de atuação profissional - tornando-o como objeto de estudo, de investigação, de análise e de interpretação crítica, possibilitando novos modos de pensar e diferentes maneiras de agir perante as realidades vividas no cotidiano escolar. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, 2012, p.2) Considerando as características da Licenciatura em Educação do Campo, o núcleo de Major Vieira/ SC do subprojeto Educação do Campo – Ciências da Natureza/ PIBIDDiversidade, desenvolveu durante o ano letivo de 2013 em uma escola pública estadual, um projeto pautado em questões ambientais com o enfoque no estudo e conhecimento da biodiversidade regional, principalmente das árvores nativas. A Educação Ambiental, como Tema Transversal3 sob a perspectiva curricular que baliza a Licenciatura em Educação do Campo na UFSC, é entendida como um campo de conhecimento que perpassa todos os níveis de ensino, e aglutina a possibilidade de um estudo interdisciplinar, associando as diversas disciplinas em torno de um mesmo tema, gerando envolvimento de professores e estudantes e quando possível dos demais sujeitos da escola, como pais e comunidade externa, sem a tradicional separação de conteúdos em partes integrantes do currículo de apenas uma disciplina. A disponibilidade para o efetivo trabalho interdisciplinar não se constrói facilmente; a passagem gradual do estado de não-integração ao estado de intensa integração requer um crescente aumento da quantidade e da qualidade das colaborações e, para que estas se efetivem, os especialistas têm que superar obstáculos e enfrentar o desafio de lançar-se ao diálogo, à integração e às trocas recíprocas. (PIERSON; NEVES, 2001, p. 21 apud LEANDRO; ZANON, 2013 p. 39) As atividades desenvolvidas pelo PIBID-Diversidade/Educação do Campo, basearamse nas premissas acima especificadas, de trabalhar com um tema que estivesse relacionado à realidade dos estudantes, sob um olhar interdisciplinar, relacionando as diversas disciplinas, em uma dinâmica de ensino-aprendizagem, onde os estudantes pudessem estudar a floresta nativa do lugar onde vivem, além de buscar em todo o seu desenvolvimento, o diálogo entre 3 Os Temas Transversais têm natureza diferente das áreas convencionais. Tratam de processos que estão sendo intensamente vividos pela sociedade, pelas comunidades, pelas famílias, pelos alunos e educadores em seu cotidiano. (BRASIL, 1998a, p. 26) os saberes da escola e aqueles presentes na comunidade, por meio do plantio de árvores, informações sobre a flora nativa, pesquisas com pessoas da comunidade e doação de livros para a escola. O projeto intitulado “Eco-Cultura: Plante esta Ideia” foi realizado com as oitavas séries da Escola de Educação Básica Luiz Davet. O nome do projeto deriva da importância que as árvores nativas têm nas questões culturais e históricas do município (também de toda a região do planalto norte catarinense onde a mata de pinhais domina a vegetação), e cita a palavra "plante" por envolver o plantio efetivo de árvores e por trazer uma nova forma de pensar a abordagem das questões ambientais nas práticas docentes, não ficando o tema restrito apenas a disciplina de ciências. O objetivo principal do projeto em 2013 foi trazer conhecimentos aos estudantes, por meio de atividades práticas e teóricas, conceitos sobre a biodiversidade da flora regional, tornando as práticas docentes conectadas com os conhecimentos prévios que os alunos trazem para o contexto escolar, além de aproveitar espaços educativos que a escola e a comunidade possuem, passíveis de ações educativas, considerando sempre o exposto nas Diretrizes Operacionais para Educação Básica nas Escolas do Campo que afirma: “A identidade da escola do campo é definida pela sua vinculação às questões inerentes à sua realidade, ancorando-se na temporalidade e saberes próprios dos estudantes." (Resolução CNE/CEB 1/2002 apud INSTITUTO EDUCAÇÃO DO CAMPO, 2011 p.3) Desse modo as questões ambientais se inserem como temas relevantes e contemporâneos na formação docente e finalidades previstas no curso de Licenciatura em Educação do Campo, na área de Ciências da Natureza e Matemática. Ao mesmo tempo a estrutura do projeto realizado na escola permitiu articulação com professores de outras disciplinas como Artes, Língua Portuguesa, Inglês, Geografia. [O que] pressupõe um procedimento que parte da ideia de que as várias ciências deveriam contribuir para o estudo de determinados temas que orientariam todo trabalho escolar [...] Pelo estudo de realidade que antecede [...], propicia-se um olhar multifacetado da realidade. É como o fenômeno ou situação fossem vistos através de uma lente que os decompõe segundo as diferentes luzes do conhecimento (física, química, biologia, história, geografia, artes, etc.) permitindo revelar aspectos fragmentados da realidade. Estes integrados permitem melhor compreensão daquele fenômeno ou situação. (DELIZOICOV; ZANETIC, 1993, p.13) A seguir são apresentadas as informações sobre a articulação efetivada pelo projeto, suas atividades desenvolvidas e os resultados obtidos, assim como a percepção dos estudantes sobre a realização do projeto e a forma como este foi organizado. Práticas interdisciplinares: ações e reflexões no contexto da Educação do Campo Conforme o que foi abordado anteriormente, as atividades desenvolvidas foram baseadas no estudo da biodiversidade da região onde os estudantes vivem, e como estratégia didático-metodológica foi realizada uma gincana4, para tal os estudantes foram divididos em grupos nomeados pela nomenclatura de árvores nativas que possuem significação histórica, social, econômica ou cultural para a região do planalto norte catarinense5 como; erva-mate (Ilex paraguariensis), imbuia (Ocotea porosa), pinheiro (Araucaria angustifolia), cedro ( Cedrela fissilis Vell ) e ipê ( Tabebuia chrysotricha). Estas árvores foram escolhidas por se relacionarem direta ou indiretamente com os aspectos citados, por exemplo: a erva-mate que foi uma das primeiras atividades econômicas dos imigrantes europeus que chegaram na região, e também ter sido usada anteriormente pela cultura indígena, no caso os Xoklengs já a utilizavam como erva medicinal e “energizante”; o cedro relaciona-se às questões da Guerra do Contestado e sua implicância religiosa sobre o povo da região, onde até hoje são comuns as rezas nos cruzeiros (cruzes implantadas pelo monge João Maria), sendo que estas eram sempre feitas a partir da madeira do cedro. Todas as árvores além de serem nativas da floresta ombrófila mista, parte da mata atlântica, bioma específico da região, apresentam história e importância regional. Partindo da ideia de que os estudantes pudessem estar pesquisando mais sobre as árvores de cada equipe, seja em livros, na internet ou mesmo através de pesquisas e entrevistas com pessoas da comunidade, foi proposto aos grupos, a realização de pesquisas que deveriam contemplar as características da árvore de seu grupo, como o nome científico, nome popular, influência na região (história, cultura, economia), morfologia (altura, tronco, folhas, flores, fruto, sementes) e uso (ornamental, medicinal, produção de madeira etc), durante a pesquisa, os professores da escola e bolsistas PIBID ajudaram na abordagem dos conceitos específicos relacionados aos campos disciplinares envolvidos, pela via do diálogo entre os saberes que os estudantes traziam de suas vivências e o conhecimento científico. Desde o primeiro ano6 do projeto na escola uma das atividades propostas foi a coleta e identificação de sementes de árvores, uma ação educativa que foi retomada e favoreceu às 4 Nesse caso foram organizadas equipes numa estrutura de gincana, mas sem ênfase a competitividade, bem pelo contrário incentivando a organização coletiva. 5 Região onde a escola está localizada 6 O projeto foi implantado na escola em 2011, por iniciativa do professor das disciplinas de Inglês e Português, uma das atividades consistia na leitura de livros clássicos da literatura inglesa como Frankenstein, O Fantasma da Ópera, Drácula, etc. No momento em que escolhiam o livro, cada estudante recebia uma muda de árvore nativa, ornamental ou frutífera, para plantio em sua residência, equipes um estudo mais aprofundado sobre a biodiversidade, ampliando os conhecimentos sobre as cinco árvores que nomeavam os grupos. Vale ressaltar que durante as atividades a comunidade na qual a escola se insere mostrou-se colaborativa, auxiliando os estudantes na identificação prévia da semente, para posterior estudo dentro das equipes. Também foi realizada a busca por doações de livros e a recuperação de livros do acervo da biblioteca que haviam sido emprestados ao conjunto da escola, porém encontravamse extraviados e não devolvidos. Mostra-se assim, aos estudantes, outras formas de participação, nesse caso como facilitadores da comunicação escola-comunidade, trazendo benefícios para ambos. Para a escola, pelo aumento e recuperação do acervo da biblioteca, e para a comunidade, pelo plantio de árvores e pela troca de conhecimentos que resultou na aprendizagem pelos alunos. Uma experiência que evidencia que a escola e a comunidade possuem inter-relações que são enriquecedoras do processo ensino/aprendizagem. Também houve uma palestra com o tema "A história das sementes", ministrada pelas acadêmicas do curso de Licenciatura em Educação do Campo, bolsistas PIBID-Diversidade, antes dos estudantes realizarem a coleta de sementes. Essa palestra privilegiou o diálogo sobre as diversas formas de coletar e armazenar sementes, sem a perda de seu poder germinativo, formas de dispersão e importância nas questões da diversidade de plantas existentes, também foi proposta a confecção de sementários7 para armazenamento das sementes coletadas, o que facilitou a assimilação e estudo sobre diversos tipos árvores, e levou ao aproveitamento destas sementes para fins educativos. Cada equipe confeccionou um sementário, onde o desafio foi selecionarem e identificarem no mínimo 10 sementes das coletadas anteriormente e achar uma forma criativa de armazená-las, preferencialmente, utilizando recursos oriundos de materiais recicláveis. Os sementários propiciaram a identificação das sementes, e também os aspectos relativos à árvore de cada equipe, como a utilização de resíduos e fragmentos da própria planta, como a erva-mate espalhada pelo interior do sementário, galhos de ipê, cápsulas de cedro8, etc, e também o uso de materiais recicláveis como garrafas pet, tampinhas, jornais e madeira etc. Entretanto, o plantio das sementes, no final do projeto, foi comprometido pelo fato de algumas equipes não terem realizado os procedimentos adequadamente, o que levou a para tal houve palestras sobre a forma como a árvore deveria ser plantada e os cuidados que os estudantes deveriam ter com ela. 7 Entende-se por sementário uma forma de armazenar sementes de várias espécies (no caso do projeto em foco, foram de árvores nativas), de forma criativa e diferenciada, incentivando o estudo sobre a árvore, como nome científico, família, nome popular 8 Envoltório onde fica a semente até sua abertura e consequente dispersão. perda do poder germinativo, devido a utilização de sementes apodrecidas, quebradas e/ou imaturas. Outra atividade desenvolvida foi a visita ao “Viveiro de produção de mudas Municipal”, onde os estudantes estiveram em contato com os materiais utilizados no viveiro (tubetes, envoltório de mudas feito de lâminas), e acompanharam o processo desde a semeadura até o ponto de comercialização, além de conversarem com o viveirista responsável sobre as árvores exóticas9, principalmente o pinus e o eucalipto e terem seu auxílio na identificação de algumas sementes coletadas que não haviam sido identificadas. A questão ambiental em sala de aula pode ser abordada de diferentes formas e valendo-se de diferentes estratégias metodológicas, sob essa compreensão as atividades propostas objetivaram levar os estudantes a pensarem sobre o tema que estava sendo abordado e pudessem opinar sobre ele, e também perceberem a ligação do que se estava estudando com a realidade da sua comunidade. Por esse motivo, outra estratégia utilizada no projeto foi o filme “O Lorax: Em Busca da Trúfula Perdida” 10 , uma animação infantil, com enredo baseado na estória de uma cidade onde não há mais árvores, apenas as artificiais, e a esperança de uma cidade nova é depositada em uma semente de “trúfula” 11. Os estudantes construíram maquetes sobre o tema do filme utilizando materiais alternativos, o trabalho foi desenvolvido em equipe, com foco na criatividade e coletividade. As maquetes também integraram os sementários anteriormente confeccionados e cada equipe pode explicar o porquê daqueles materiais serem utilizados, sua opinião sobre o filme e sobre a importância das árvores nativas. Vale destacar a importância do desenvolvimento de um projeto que favoreça atividades articuladas que promova a manifestação criativa e crítica, de uma forma que os estudantes se sintam motivados a desenvolvê-las, dando espaço à produção coletiva, e ao mesmo tempo à ação do estudante como sujeito participativo de seu ensinoaprendizagem. Por fim foi realizada uma trilha ecológica12, durante a qual os estudantes socializaram os estudos sobre a árvore nativa pesquisada. Durante a trilha muitas árvores nativas, puderam 9 No caso dessa região, o pinus e eucalipto ocupam vastas áreas, em conseqüência do florestamento dessas árvores para suprir as empresas madeireiras, fortemente presentes nas atividades econômicas que envolvem grande parte da população. 10 Nome original do filme: Dr. Seuss The Lorax. Direção: Chris Renauld. Produção: Chris Meledandri, Janet Healy. Estúdio: Illumination Entertainment. Distribuição: Universal Pictures, 2012, 86 min. 11 Esse era o nome das árvores que predominavam na cidade, as quais foram sendo exploradas comercialmente, chegando a sua quase total extinção. 12 Essa uma atividade promovida por uma empresa de papel de Três Barras (município vizinho a Major Vieira), o que aproveitamos pela riqueza de espaço e informações disponíveis, assim como a viabilidade econômica para realização de uma saída de campo. ser reconhecidas e identificadas, despertando a atenção dos estudantes e favorecendo articulações com os estudos realizados na escola. Pontos de chegada geradores de novos pontos de partida Os principais resultados não se restringiram aos nossos registros e observações ao longo do projeto, mas também envolveram aplicação de questionários, que recolheram a opinião dos sujeitos (estudantes e professores) que participaram do projeto sobre as atividades desenvolvidas e a forma como estas foram organizadas, e os trabalhos produzidos como os sementários e maquetes. Essa avaliação se insere como uma contribuição bastante significativa para a formação docente inicial das estudantes bolsistas envolvidas. Os estudantes da escola avaliaram como positivas as atividades, relataram ter sido uma experiência que trouxe muito conhecimento sobre a região onde moram, por meio das características das árvores nativas e sua contextualização histórica, econômica e cultural. Os estudantes destacaram também a interdisciplinaridade, afirmando que conseguiram aprender conceitos de diversas disciplinas como: biologia (características morfológicas das árvores, reprodução das plantas (sementes)), geografia (vegetação, clima, relevo), português e inglês (leitura de livros, realização de pesquisas) entre outras. Resumidamente não se pode pensar a interdisciplinaridade se esta não é concebida como algo que parte dos docentes para os discentes, envolvendo-os em torno de uma temática, a qual requer uma ação e reflexão coletiva. Tal procedimento indicou uma nova forma de organização das disciplinas, afastando-se do tipo de currículo de coleção e aproximando-se de um tipo integrado de currículo, como diria Basil Bernstein. Para a realização de tal mudança foi escolhido o rumo da interdisciplinaridade, que busca tornar menos rígidas as fronteiras entre as diversas fronteiras entre as diversas áreas do conhecimento. Como fazer isso? Era preciso construir o caminho caminhando. (DELIZOICOV; ZANETIC, 1993, p.11) Ao serem questionados sobre a importância da abordagem interdisciplinar, os alunos apontaram que essa forma favorece uma aprendizagem de uma forma diferenciada, pois envolvem assuntos de diversas disciplinas, assim como enfatizaram o fato das atividades terem extrapolado o espaço escolar e a organização de aulas não restritas a exposição teórica de conteúdos, como aspectos que lhes atraiu mais a atenção e um maior envolvimento com as atividades realizadas. Um dos pontos positivos ressaltados pelos estudantes foi a pesquisa sobre as árvores, que envolveu conhecimentos principalmente da disciplina de ciências, por meio das características principais das árvores (época de floração, forma de reprodução e dispersão de sementes, nome científico, família etc). O plantio de árvores também enriqueceu a dinâmica do projeto, pois antes das mudas serem distribuídas, foi feito um trabalho sobre a forma como a árvore deveria ser plantada e os cuidados posteriores com ela. As produções realizadas pelos estudantes como maquetes e sementários mostraram a apreensão que estes obtiveram durante as aulas e palestras, e também, muita criatividade. A conexão e diálogo com a comunidade, através do plantio de árvores, conversas e entrevistas sobre a flora local, e pelos conhecimentos aprendidos na escola por parte dos estudantes, também foram destacados como aspectos importantes, assim como as saídas de campo no viveiro de produção de mudas e a trilha ecológica, as quais propiciaram uma nova significação a espaços que a região possui, e puderam ser aproveitados em outras práticas educativas. Sendo assim ousamos afirmar que a educação escolar não se dá apenas no espaço físico da escola, em uma sala de aula, pela abordagem exclusiva de uma disciplina e seus conteúdos escolares específicos e isolados. Pois ficou evidenciado que a aprendizagem é mais significativa quando os conteúdos não são abordados como díspares, isolados, e a proposição de projeto não se restringe a uma disciplina, se caracterizando como algo fragmentado, porque a abordagem de um tema requer o olhar de diferentes áreas de conhecimentos, o que extrapola o ensino de conteúdos disciplinares/ escolares predeterminados. Desse modo a temática meio ambiente, mesmo sendo um tema que perpassa e é perpassada por várias disciplinas, não teria uma abordagem interdisciplinar, no sentido de contemplar as teias de relações disciplinares imbricadas na compreensão dos fenômenos em estudo. Sob esse pressuposto o projeto em tela vem ao encontro das concepções de Educação do Campo, na medida em que toma a realidade dos sujeitos que compõe o dia-a-dia escolar, e o contexto externo da escola como passível de análise e estudo, alterando a visão que limita o aprendizado ao espaço delimitado pelos portões da instituição escolar. As aproximações do ECN13 no contexto escolar nas escolas do/no campo, têm evidenciado a relevância de uma abordagem por área de CN e MTM temas significativos que oportunizam o diálogo entre as várias ciências como a Biologia, Química, Física, Geologia e Matemática - que rompa, inclusive com as grades de horários marcadas pelo isolamento das disciplinas escolares. Ou seja, que contribuam com a compreensão das mais distintas situações da/na natureza e também na/da sociedade, ultrapassando as fronteiras dos campos disciplinares tão cristalizados na formação de professor@s das licenciaturas específicas. Logo, as práticas educativas e os novos contextos formativos para o ECN na Educação do Campo têm o compromisso em ater-se às realidades e diversidades que compõe o complexo mosaico de sujeitos constituintes dos ambientes educacionais, por 13 ECN: Ensino em Ciências da Natureza meio de um processo pedagógico emancipatório. (BRITTO, 2013, p.115116) A concepção e consolidação do projeto “Eco-Cultura: plante essa idéia” se identificam a esse pensamento, pois além de desenvolver atividades interdisciplinares, propiciou o aprendizado aos alunos em outros espaços, transformando a teoria em experiências práticas contextualizadas a região e pautadas como outra possibilidade de aporte a abordagem de ensino de Ciências da Natureza na escola. O que leva a afirmação que a abordagem interdisciplinar é sim uma boa possibilidade para as práticas pedagógicas, que resulta em estudantes mais motivados, envolvimento da comunidade externa no ensinar-aprender e aprendizado de temas de mais de uma disciplina, sem, contudo, forçar uma relação de conteúdos ou trabalhá-los de forma superficial. Por mais que o tema educação ambiental seja frequentemente relacionado apenas as disciplinas de Ciências/Biologia, não há restrição em sua abordagem, desde que aja interesse por parte de professores e estudantes, desse modo sendo trabalhado sem limites entre disciplinas/áreas do conhecimento, valendo-se da interdisciplinaridade. Ao considerar que um dos objetivos do PIBID prevê o envolvimento de acadêmicos dos cursos de Licenciatura em dinâmicas que promovam a análise e a docência crítica no cotidiano escolar, cabe ressaltar que o envolvimento das bolsistas neste projeto trouxe inúmeras significações, atendendo as expectativas, pois houve uma maior e melhor aproximação com a escola e com a sala de aula, sob o entendimento que a abordagem da realidade pela via da interdisciplinaridade enriquece as práticas pedagógicas. E ainda que a estratégia de formação por área do conhecimento abordada pelo curso de Licenciatura em Educação do Campo faz com que a formação docente estimule pensar e propor conteúdos, materiais e atividades que ultrapassem o limite das disciplinas escolares. Desse modo a tessitura desse relato de experiência buscou mostrar práticas possíveis de trabalho docente com um tema relacionado à disciplina de Ciências, mas não exclusivo desse aporte de conhecimentos, ou seja, pelo viés da interdisciplinaridade e uma forma de abordar os conteúdos de acordo com questões significativas a realidade dos estudantes do campo. Referências BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências Naturais/Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC / SEF, 1998 _______. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Apresentação dos temas transversais / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998a. BRITTO, Néli S. Prática docente em Ciências da Natureza em Educação do Campo – desafios, diálogos, reflexões e ações educativas. In: DUSO, Leandro; HOFFMANN, Marilisa B. (Orgs.). Docência em Ciências e Biologia: Propostas para um continuado reiniciar. 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