Formação de professores por área de conhecimento

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Formação de professores por área de conhecimento
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FORMAÇÃO DE PROFESSORES POR ÁREA DE CONHECIMENTO: INTERRELAÇÕES ENTRE A EXPERIÊNCIA DOCENTE, A REALIDADE DE
ESTUDANTES DO CAMPO E ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR
Jaquiline Visniévski (Licenciatura em Educação do Campo - PIBID Diversidade/UFSC)
Alexandra K. da Silva (Escola de Educação Básica Luiz Davet - PIBID Diversidade/ UFSC)
Henrique Alves de Lima (Escola de Educação Básica Luiz Davet)
Josiane Rafalski (Licenciatura em Educação do Campo - PIBID Diversidade/UFSC)
Néli Suzana Britto (Licenciatura em Educação do Campo - PIBID Diversidade/UFSC)
Resumo
Há amplas possibilidades de pensar o ensino e a formação em ciências pelo viés da
interdisciplinaridade, a formação por áreas do conhecimento é uma delas, pois favorece uma
abordagem integrada de conteúdos. A Licenciatura em Educação do Campo na UFSC tem sua
organização baseada nessa premissa e os futuros professores podem atuar na área de Ciências
da Natureza e Matemática. Esta interdisciplinaridade é vislumbrada nas práticas de estágio e
demais projetos desenvolvidos pelos graduandos em consonância com professores de escolas
públicas, sendo o PIBID1 uma dessas formas de intermediação entre escola-universidade. O
presente trabalho apresenta um relato de experiência baseado nestes pressupostos realizado na
Escola de Educação Básica Luiz Davet, localizada em Major Vieira/Santa Catarina.
Palavras-chave: formação docente; Área Ciências da Natureza; Abordagem interdisciplinar;
Educação do Campo.
1
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência
Da formação por área na universidade às práticas interdisciplinares no contexto escolar
A formação por áreas do conhecimento aponta para as possibilidades de trabalho
interdisciplinar como ampliadoras e enriquecedoras das práticas pedagógicas, na medida em
que os conteúdos sejam abordados por meio de inter-relações possíveis de serem
estabelecidas, sem, no entanto, forçar uma relação entre as disciplinas, na qual ocorre um
mero “encaixe” de conteúdos escolares pré-estabelecidos, levando ao estabelecimento de
relações pontuais que explicam pouco a totalidade dos fenômenos naturais e sociais. Nesse
sentido o curso de Licenciatura em Educação do Campo tem como desafio:
[...] Localizar o campo de estudos das Ciências da Natureza sob uma
perspectiva que não se restrinja à disciplina de Ciências ministrada no
Ensino Fundamental, muitas vezes sob a ênfase exclusiva de um campo de
estudos, geralmente, aquele referente à licenciatura2 cursada pel@s
professor@s que atuam na disciplina. A idéia é da área CN e MTM
constituída por meio de uma rede diversificada de campos de conhecimentos
que diluem suas fronteiras e interagem tecendo os inúmeros fios advindos da
produção científica como da Biologia, Química, Física, Ecologia,
Paleontologia, Antropologia, Matemática e muitas outras, pautadas por
critérios como: a unicidade da Ciência; as realidades e a complexidade dos
fenômenos multidisciplinares, e a interdisciplinaridade como condição para
uma melhor compreensão e apropriação das mais diversas situações
cotidianas. (BRITTO, 2013, p.115)
Os cursos de formação de professores ensinam conteúdos, mas também formas de
abordá-los nas práticas docentes, a formação do curso de Licenciatura em Educação do
Campo aponta a possibilidade de uma abordagem interdisciplinar e preocupa-se com a
abordagem de questões relativas/significativas à realidade dos estudantes.
Para pensar sobre o currículo e sobre o ensino de Ciências Naturais o
conhecimento científico é fundamental, mas não suficiente. É essencial
considerar o desenvolvimento cognitivo dos estudantes, relacionado a suas
experiências, sua idade, sua identidade cultural e social, e os diferentes
significados e valores que as Ciências Naturais podem ter para eles, para que
a aprendizagem seja significativa. (BRASIL, 1998, p.27)
O PIBID incentiva estudantes dos cursos de licenciatura a terem um contato mais
amplo com a comunidade escolar, para além dos estágios obrigatórios. Traz a possibilidade de
trabalho com temas significativos para determinado contexto escolar, articulando práticas
docentes que envolvem graduandos e seu campo de atuação, por meio do exercício da
docência, levando-os a compreender o cotidiano escolar e as relações estabelecidas entre
escola e comunidade.
As características do curso nos permitem estabelecer um plano de trabalho
2
Trata-se das Licenciaturas específicas como Biologia, Física, Química e Matemática
para a área de Ciências da Natureza e Matemática. Assim, as atividades
formativas aqui propostas visam propiciar interações e mediações
significativas aos futuros professores/as do curso de Licenciatura em
Educação do Campo, numa relação de consonância entre escolas do campo e
instituição universitária. Busca-se com essa relação a inserção dos/as
licenciados/as no campo de atuação profissional - tornando-o como objeto de
estudo, de investigação, de análise e de interpretação crítica, possibilitando
novos modos de pensar e diferentes maneiras de agir perante as realidades
vividas no cotidiano escolar. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA
CATARINA, 2012, p.2)
Considerando as características da Licenciatura em Educação do Campo, o núcleo de
Major Vieira/ SC do subprojeto Educação do Campo – Ciências da Natureza/ PIBIDDiversidade, desenvolveu durante o ano letivo de 2013 em uma escola pública estadual, um
projeto pautado em questões ambientais com o enfoque no estudo e conhecimento da
biodiversidade regional, principalmente das árvores nativas.
A Educação Ambiental, como Tema Transversal3 sob a perspectiva curricular que
baliza a Licenciatura em Educação do Campo na UFSC, é entendida como um campo de
conhecimento que perpassa todos os níveis de ensino, e aglutina a possibilidade de um estudo
interdisciplinar, associando as diversas disciplinas em torno de um mesmo tema, gerando
envolvimento de professores e estudantes e quando possível dos demais sujeitos da escola,
como pais e comunidade externa, sem a tradicional separação de conteúdos em partes
integrantes do currículo de apenas uma disciplina.
A disponibilidade para o efetivo trabalho interdisciplinar não se constrói
facilmente; a passagem gradual do estado de não-integração ao estado de
intensa integração requer um crescente aumento da quantidade e da
qualidade das colaborações e, para que estas se efetivem, os especialistas
têm que superar obstáculos e enfrentar o desafio de lançar-se ao diálogo, à
integração e às trocas recíprocas. (PIERSON; NEVES, 2001, p. 21 apud
LEANDRO; ZANON, 2013 p. 39)
As atividades desenvolvidas pelo PIBID-Diversidade/Educação do Campo, basearamse nas premissas acima especificadas, de trabalhar com um tema que estivesse relacionado à
realidade dos estudantes, sob um olhar interdisciplinar, relacionando as diversas disciplinas,
em uma dinâmica de ensino-aprendizagem, onde os estudantes pudessem estudar a floresta
nativa do lugar onde vivem, além de buscar em todo o seu desenvolvimento, o diálogo entre
3
Os Temas Transversais têm natureza diferente das áreas convencionais. Tratam de processos que
estão sendo intensamente vividos pela sociedade, pelas comunidades, pelas famílias, pelos alunos e
educadores em seu cotidiano. (BRASIL, 1998a, p. 26)
os saberes da escola e aqueles presentes na comunidade, por meio do plantio de árvores,
informações sobre a flora nativa, pesquisas com pessoas da comunidade e doação de livros
para a escola. O projeto intitulado “Eco-Cultura: Plante esta Ideia” foi realizado com as
oitavas séries da Escola de Educação Básica Luiz Davet.
O nome do projeto deriva da importância que as árvores nativas têm nas questões
culturais e históricas do município (também de toda a região do planalto norte catarinense
onde a mata de pinhais domina a vegetação), e cita a palavra "plante" por envolver o plantio
efetivo de árvores e por trazer uma nova forma de pensar a abordagem das questões
ambientais nas práticas docentes, não ficando o tema restrito apenas a disciplina de ciências.
O objetivo principal do projeto em 2013 foi trazer conhecimentos aos estudantes, por
meio de atividades práticas e teóricas, conceitos sobre a biodiversidade da flora regional,
tornando as práticas docentes conectadas com os conhecimentos prévios que os alunos trazem
para o contexto escolar, além de aproveitar espaços educativos que a escola e a comunidade
possuem, passíveis de ações educativas, considerando sempre o exposto nas Diretrizes
Operacionais para Educação Básica nas Escolas do Campo que afirma: “A identidade da
escola do campo é definida pela sua vinculação às questões inerentes à sua realidade,
ancorando-se na temporalidade e saberes próprios dos estudantes." (Resolução CNE/CEB
1/2002 apud INSTITUTO EDUCAÇÃO DO CAMPO, 2011 p.3)
Desse modo as questões ambientais se inserem como temas relevantes e
contemporâneos na formação docente e finalidades previstas no curso de Licenciatura em
Educação do Campo, na área de Ciências da Natureza e Matemática. Ao mesmo tempo a
estrutura do projeto realizado na escola permitiu articulação com professores de outras
disciplinas como Artes, Língua Portuguesa, Inglês, Geografia.
[O que] pressupõe um procedimento que parte da ideia de que as várias
ciências deveriam contribuir para o estudo de determinados temas que
orientariam todo trabalho escolar [...] Pelo estudo de realidade que antecede
[...], propicia-se um olhar multifacetado da realidade. É como o fenômeno ou
situação fossem vistos através de uma lente que os decompõe segundo as
diferentes luzes do conhecimento (física, química, biologia, história,
geografia, artes, etc.) permitindo revelar aspectos fragmentados da realidade.
Estes integrados permitem melhor compreensão daquele fenômeno ou
situação. (DELIZOICOV; ZANETIC, 1993, p.13)
A seguir são apresentadas as informações sobre a articulação efetivada pelo projeto,
suas atividades desenvolvidas e os resultados obtidos, assim como a percepção dos estudantes
sobre a realização do projeto e a forma como este foi organizado.
Práticas interdisciplinares: ações e reflexões no contexto da Educação do Campo
Conforme o que foi abordado anteriormente, as atividades desenvolvidas foram
baseadas no estudo da biodiversidade da região onde os estudantes vivem, e como estratégia
didático-metodológica foi realizada uma gincana4, para tal os estudantes foram divididos em
grupos nomeados pela nomenclatura de árvores nativas que possuem significação histórica,
social, econômica ou cultural para a região do planalto norte catarinense5 como; erva-mate
(Ilex paraguariensis), imbuia (Ocotea porosa), pinheiro (Araucaria angustifolia), cedro
( Cedrela fissilis Vell ) e ipê ( Tabebuia chrysotricha). Estas árvores foram escolhidas por se
relacionarem direta ou indiretamente com os aspectos citados, por exemplo: a erva-mate que
foi uma das primeiras atividades econômicas dos imigrantes europeus que chegaram na
região, e também ter sido usada anteriormente pela cultura indígena, no caso os Xoklengs já a
utilizavam como erva medicinal e “energizante”; o cedro relaciona-se às questões da Guerra
do Contestado e sua implicância religiosa sobre o povo da região, onde até hoje são comuns
as rezas nos cruzeiros (cruzes implantadas pelo monge João Maria), sendo que estas eram
sempre feitas a partir da madeira do cedro. Todas as árvores além de serem nativas da floresta
ombrófila mista, parte da mata atlântica, bioma específico da região, apresentam história e
importância regional.
Partindo da ideia de que os estudantes pudessem estar pesquisando mais sobre as
árvores de cada equipe, seja em livros, na internet ou mesmo através de pesquisas e
entrevistas com pessoas da comunidade, foi proposto aos grupos, a realização de pesquisas
que deveriam contemplar as características da árvore de seu grupo, como o nome científico,
nome popular, influência na região (história, cultura, economia), morfologia (altura, tronco,
folhas, flores, fruto, sementes) e uso (ornamental, medicinal, produção de madeira etc),
durante a pesquisa, os professores da escola e bolsistas PIBID ajudaram na abordagem dos
conceitos específicos relacionados aos campos disciplinares envolvidos, pela via do diálogo
entre os saberes que os estudantes traziam de suas vivências e o conhecimento científico.
Desde o primeiro ano6 do projeto na escola uma das atividades propostas foi a coleta e
identificação de sementes de árvores, uma ação educativa que foi retomada e favoreceu às
4
Nesse caso foram organizadas equipes numa estrutura de gincana, mas sem ênfase a competitividade,
bem pelo contrário incentivando a organização coletiva.
5
Região onde a escola está localizada
6
O projeto foi implantado na escola em 2011, por iniciativa do professor das disciplinas de Inglês e
Português, uma das atividades consistia na leitura de livros clássicos da literatura inglesa como
Frankenstein, O Fantasma da Ópera, Drácula, etc. No momento em que escolhiam o livro, cada
estudante recebia uma muda de árvore nativa, ornamental ou frutífera, para plantio em sua residência,
equipes um estudo mais aprofundado sobre a biodiversidade, ampliando os conhecimentos
sobre as cinco árvores que nomeavam os grupos. Vale ressaltar que durante as atividades a
comunidade na qual a escola se insere mostrou-se colaborativa, auxiliando os estudantes na
identificação prévia da semente, para posterior estudo dentro das equipes.
Também foi realizada a busca por doações de livros e a recuperação de livros do
acervo da biblioteca que haviam sido emprestados ao conjunto da escola, porém encontravamse extraviados e não devolvidos.
Mostra-se assim, aos estudantes, outras formas de
participação, nesse caso como facilitadores da comunicação escola-comunidade, trazendo
benefícios para ambos. Para a escola, pelo aumento e recuperação do acervo da biblioteca, e
para a comunidade, pelo plantio de árvores e pela troca de conhecimentos que resultou na
aprendizagem pelos alunos. Uma experiência que evidencia que a escola e a comunidade
possuem inter-relações que são enriquecedoras do processo ensino/aprendizagem.
Também houve uma palestra com o tema "A história das sementes", ministrada pelas
acadêmicas do curso de Licenciatura em Educação do Campo, bolsistas PIBID-Diversidade,
antes dos estudantes realizarem a coleta de sementes. Essa palestra privilegiou o diálogo sobre
as diversas formas de coletar e armazenar sementes, sem a perda de seu poder germinativo,
formas de dispersão e importância nas questões da diversidade de plantas existentes, também
foi proposta a confecção de sementários7 para armazenamento das sementes coletadas, o que
facilitou a assimilação e estudo sobre diversos tipos árvores, e levou ao aproveitamento destas
sementes para fins educativos. Cada equipe confeccionou um sementário, onde o desafio foi
selecionarem e identificarem no mínimo 10 sementes das coletadas anteriormente e achar uma
forma criativa de armazená-las, preferencialmente, utilizando recursos oriundos de materiais
recicláveis.
Os sementários propiciaram a identificação das sementes, e também os aspectos
relativos à árvore de cada equipe, como a utilização de resíduos e fragmentos da própria
planta, como a erva-mate espalhada pelo interior do sementário, galhos de ipê, cápsulas de
cedro8, etc, e também o uso de materiais recicláveis como garrafas pet, tampinhas, jornais e
madeira etc. Entretanto, o plantio das sementes, no final do projeto, foi comprometido pelo
fato de algumas equipes não terem realizado os procedimentos adequadamente, o que levou a
para tal houve palestras sobre a forma como a árvore deveria ser plantada e os cuidados que os
estudantes deveriam ter com ela.
7
Entende-se por sementário uma forma de armazenar sementes de várias espécies (no caso do projeto
em foco, foram de árvores nativas), de forma criativa e diferenciada, incentivando o estudo sobre a
árvore, como nome científico, família, nome popular
8
Envoltório onde fica a semente até sua abertura e consequente dispersão.
perda do poder germinativo, devido a utilização de sementes apodrecidas, quebradas e/ou
imaturas.
Outra atividade desenvolvida foi a visita ao “Viveiro de produção de mudas
Municipal”, onde os estudantes estiveram em contato com os materiais utilizados no viveiro
(tubetes, envoltório de mudas feito de lâminas), e acompanharam o processo desde a
semeadura até o ponto de comercialização, além de conversarem com o viveirista responsável
sobre as árvores exóticas9, principalmente o pinus e o eucalipto e terem seu auxílio na
identificação de algumas sementes coletadas que não haviam sido identificadas.
A questão ambiental em sala de aula pode ser abordada de diferentes formas e
valendo-se de diferentes estratégias metodológicas, sob essa compreensão as atividades
propostas objetivaram levar os estudantes a pensarem sobre o tema que estava sendo
abordado e pudessem opinar sobre ele, e também perceberem a ligação do que se estava
estudando com a realidade da sua comunidade. Por esse motivo, outra estratégia utilizada no
projeto foi o filme “O Lorax: Em Busca da Trúfula Perdida”
10
, uma animação infantil, com
enredo baseado na estória de uma cidade onde não há mais árvores, apenas as artificiais, e a
esperança de uma cidade nova é depositada em uma semente de “trúfula” 11.
Os estudantes construíram maquetes sobre o tema do filme utilizando materiais
alternativos, o trabalho foi desenvolvido em equipe, com foco na criatividade e coletividade.
As maquetes também integraram os sementários anteriormente confeccionados e cada equipe
pode explicar o porquê daqueles materiais serem utilizados, sua opinião sobre o filme e sobre
a importância das árvores nativas. Vale destacar a importância do desenvolvimento de um
projeto que favoreça atividades articuladas que promova a manifestação criativa e crítica, de
uma forma que os estudantes se sintam motivados a desenvolvê-las, dando espaço à produção
coletiva, e ao mesmo tempo à ação do estudante como sujeito participativo de seu ensinoaprendizagem.
Por fim foi realizada uma trilha ecológica12, durante a qual os estudantes socializaram
os estudos sobre a árvore nativa pesquisada. Durante a trilha muitas árvores nativas, puderam
9
No caso dessa região, o pinus e eucalipto ocupam vastas áreas, em conseqüência do florestamento
dessas árvores para suprir as empresas madeireiras, fortemente presentes nas atividades econômicas
que envolvem grande parte da população.
10
Nome original do filme: Dr. Seuss The Lorax. Direção: Chris Renauld. Produção: Chris Meledandri,
Janet Healy. Estúdio: Illumination Entertainment. Distribuição: Universal Pictures, 2012, 86 min.
11
Esse era o nome das árvores que predominavam na cidade, as quais foram sendo exploradas
comercialmente, chegando a sua quase total extinção.
12
Essa uma atividade promovida por uma empresa de papel de Três Barras (município vizinho a
Major Vieira), o que aproveitamos pela riqueza de espaço e informações disponíveis, assim como a
viabilidade econômica para realização de uma saída de campo.
ser reconhecidas e identificadas, despertando a atenção dos estudantes e favorecendo
articulações com os estudos realizados na escola.
Pontos de chegada geradores de novos pontos de partida
Os principais resultados não se restringiram aos nossos registros e observações ao
longo do projeto, mas também envolveram aplicação de questionários, que recolheram a
opinião dos sujeitos (estudantes e professores) que participaram do projeto sobre as atividades
desenvolvidas e a forma como estas foram organizadas, e os trabalhos produzidos como os
sementários e maquetes. Essa avaliação se insere como uma contribuição bastante
significativa para a formação docente inicial das estudantes bolsistas envolvidas.
Os estudantes da escola avaliaram como positivas as atividades, relataram ter sido
uma experiência que trouxe muito conhecimento sobre a região onde moram, por meio das
características das árvores nativas e sua contextualização histórica, econômica e cultural. Os
estudantes destacaram também a interdisciplinaridade, afirmando que conseguiram aprender
conceitos de diversas disciplinas como: biologia (características morfológicas das árvores,
reprodução das plantas (sementes)), geografia (vegetação, clima, relevo), português e inglês
(leitura de livros, realização de pesquisas) entre outras. Resumidamente não se pode pensar a
interdisciplinaridade se esta não é concebida como algo que parte dos docentes para os
discentes, envolvendo-os em torno de uma temática, a qual requer uma ação e reflexão
coletiva.
Tal procedimento indicou uma nova forma de organização das disciplinas,
afastando-se do tipo de currículo de coleção e aproximando-se de um tipo
integrado de currículo, como diria Basil Bernstein. Para a realização de tal
mudança foi escolhido o rumo da interdisciplinaridade, que busca tornar
menos rígidas as fronteiras entre as diversas fronteiras entre as diversas áreas
do conhecimento. Como fazer isso? Era preciso construir o caminho
caminhando. (DELIZOICOV; ZANETIC, 1993, p.11)
Ao serem questionados sobre a importância da abordagem interdisciplinar, os alunos
apontaram que essa forma favorece uma aprendizagem de uma forma diferenciada, pois
envolvem assuntos de diversas disciplinas, assim como enfatizaram o fato das atividades
terem extrapolado o espaço escolar e a organização de aulas não restritas a exposição teórica
de conteúdos, como aspectos que lhes atraiu mais a atenção e um maior envolvimento com as
atividades realizadas.
Um dos pontos positivos ressaltados pelos estudantes foi a pesquisa sobre as árvores,
que envolveu conhecimentos principalmente da disciplina de ciências, por meio das
características principais das árvores (época de floração, forma de reprodução e dispersão de
sementes, nome científico, família etc). O plantio de árvores também enriqueceu a dinâmica
do projeto, pois antes das mudas serem distribuídas, foi feito um trabalho sobre a forma como
a árvore deveria ser plantada e os cuidados posteriores com ela. As produções realizadas pelos
estudantes como maquetes e sementários mostraram a apreensão que estes obtiveram durante
as aulas e palestras, e também, muita criatividade.
A conexão e diálogo com a comunidade, através do plantio de árvores, conversas e
entrevistas sobre a flora local, e pelos conhecimentos aprendidos na escola por parte dos
estudantes, também foram destacados como aspectos importantes, assim como as saídas de
campo no viveiro de produção de mudas e a trilha ecológica, as quais propiciaram uma nova
significação a espaços que a região possui, e puderam ser aproveitados em outras práticas
educativas.
Sendo assim ousamos afirmar que a educação escolar não se dá apenas no espaço
físico da escola, em uma sala de aula, pela abordagem exclusiva de uma disciplina e seus
conteúdos escolares específicos e isolados. Pois ficou evidenciado que a aprendizagem é mais
significativa quando os conteúdos não são abordados como díspares, isolados, e a proposição
de projeto não se restringe a uma disciplina, se caracterizando como algo fragmentado, porque
a abordagem de um tema requer o olhar de diferentes áreas de conhecimentos, o que extrapola
o ensino de conteúdos disciplinares/ escolares predeterminados. Desse modo a temática meio
ambiente, mesmo sendo um tema que perpassa e é perpassada por várias disciplinas, não teria
uma abordagem interdisciplinar, no sentido de contemplar as teias de relações disciplinares
imbricadas na compreensão dos fenômenos em estudo.
Sob esse pressuposto o projeto em tela vem ao encontro das concepções de Educação
do Campo, na medida em que toma a realidade dos sujeitos que compõe o dia-a-dia escolar, e
o contexto externo da escola como passível de análise e estudo, alterando a visão que limita o
aprendizado ao espaço delimitado pelos portões da instituição escolar.
As aproximações do ECN13 no contexto escolar nas escolas do/no campo,
têm evidenciado a relevância de uma abordagem por área de CN e MTM temas significativos que oportunizam o diálogo entre as várias ciências como
a Biologia, Química, Física, Geologia e Matemática - que rompa, inclusive
com as grades de horários marcadas pelo isolamento das disciplinas
escolares. Ou seja, que contribuam com a compreensão das mais distintas
situações da/na natureza e também na/da sociedade, ultrapassando as
fronteiras dos campos disciplinares tão cristalizados na formação de
professor@s das licenciaturas específicas. Logo, as práticas educativas e os
novos contextos formativos para o ECN na Educação do Campo têm o
compromisso em ater-se às realidades e diversidades que compõe o
complexo mosaico de sujeitos constituintes dos ambientes educacionais, por
13
ECN: Ensino em Ciências da Natureza
meio de um processo pedagógico emancipatório. (BRITTO, 2013, p.115116)
A concepção e consolidação do projeto “Eco-Cultura: plante essa idéia” se identificam
a esse pensamento, pois além de desenvolver atividades interdisciplinares, propiciou o
aprendizado aos alunos em outros espaços, transformando a teoria em experiências práticas
contextualizadas a região e pautadas como outra possibilidade de aporte a abordagem de
ensino de Ciências da Natureza na escola. O que leva a afirmação que a abordagem
interdisciplinar é sim uma boa possibilidade para as práticas pedagógicas, que resulta em
estudantes mais motivados, envolvimento da comunidade externa no ensinar-aprender e
aprendizado de temas de mais de uma disciplina, sem, contudo, forçar uma relação de
conteúdos ou trabalhá-los de forma superficial. Por mais que o tema educação ambiental seja
frequentemente relacionado apenas as disciplinas de Ciências/Biologia, não há restrição em
sua abordagem, desde que aja interesse por parte de professores e estudantes, desse modo
sendo trabalhado sem limites entre disciplinas/áreas do conhecimento, valendo-se da
interdisciplinaridade.
Ao considerar que um dos objetivos do PIBID prevê o envolvimento de acadêmicos
dos cursos de Licenciatura em dinâmicas que promovam a análise e a docência crítica no
cotidiano escolar, cabe ressaltar que o envolvimento das bolsistas neste projeto trouxe
inúmeras significações, atendendo as expectativas, pois houve uma maior e melhor
aproximação com a escola e com a sala de aula, sob o entendimento que a abordagem da
realidade pela via da interdisciplinaridade enriquece as práticas pedagógicas. E ainda que a
estratégia de formação por área do conhecimento abordada pelo curso de Licenciatura em
Educação do Campo faz com que a formação docente estimule pensar e propor conteúdos,
materiais e atividades que ultrapassem o limite das disciplinas escolares. Desse modo a
tessitura desse relato de experiência buscou mostrar práticas possíveis de trabalho docente
com um tema relacionado à disciplina de Ciências, mas não exclusivo desse aporte de
conhecimentos, ou seja, pelo viés da interdisciplinaridade e uma forma de abordar os
conteúdos de acordo com questões significativas a realidade dos estudantes do campo.
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