Os EUA e as relações russo-iranianas

Transcrição

Os EUA e as relações russo-iranianas
2009/08/16
OS EUA E
AS RELAÇÕES RUSSO - IRANIANAS
Alexandre Reis Rodrigues
A central atómica de Bushehr, no Irão, continua sem data
marcada para começar a trabalhar; as autoridades iranianas
falavam até há pouco tempo na conclusão dos trabalhos até
ao final do ano ao que seguiria um primeiro ensaio (test run)
em Fevereiro; mas ao fim de quase cinco anos de anúncios
semelhantes já ninguém acredita nestas informações.
A história tem-se repetido sem qualquer variação: quando
tudo parece finalmente encaminhado para solução, surge
sempre uma dificuldade inesperada a comprometer tudo o
que estava anteriormente anunciado. O último contratempo,
ocorrido há cerca de dois anos atrás, teve a sua origem na
decisão russa de suspensão dos trabalhos em curso e
retirada dos técnicos por alegada falta de pagamento de prestações, o que Teerão desmentiu; o
actual, que pode comprometer a data atrás referida, deve-se, segundo refere a imprensa, à recusa
dos bancos russos em continuar a financiar as operações por receio dos riscos decorrentes da
situação política no Irão. Ninguém duvida, porém, que Moscovo, se o quisesse, poderia facilmente
resolver esta dificuldade.
A Rússia continuará a tentar adiar tanto quanto possível a conclusão dos trabalhos, pois enquanto
mantiver a actual situação conserva mais um elemento importante de controlo sobre Teerão;
procurará manter essa situação, pelo menos enquanto precisar de utilizar a sua influência sobre o
Irão na definição dos termos do seu relacionamento com os EUA. Moscovo, no entanto, tem que se
dividir entre o objectivo de impedir que o Irão se torne numa potência nuclear, o que coloca a Rússia
em rota de colisão com Teerão, e a necessidade de, por outro lado, de cultivar um relacionamento
tão estreito quanto o necessário para que Teerão fique na sua órbita.
A ajuda que Moscovo poderá ter dado a Teerão para gerir a insurreição resultante da contestação
dos resultados eleitorais, nomeadamente a informação passada sobre prováveis envolvimentos
exteriores, parece indiciar uma intensificação do relacionamento entre os dois países mas levantamse dúvidas sobre as bases em que assentará essa situação: se correspondem a uma orientação
concreta de Moscovo para equilibrar as contrariedades do atraso de finalização da central ou se são
apenas sinais que estão a ser injectados para perturbar a estratégia americana de aproximação
diplomática a Teerão.
As concessões que, durante algum tempo, a Rússia esperou da nova administração americana em
relação às suas principais preocupações de segurança (alargamento da NATO e escudo de
protecção antimíssil) não receberam até agora qualquer atenção especial de Washington. A Cimeira
de Moscovo, precedida de muitas promessas de um “reset” do relacionamento e inicialmente
considerada como positiva, limitou-se à questão da redução dos arsenais nucleares e à concessão
de facilidades de sobrevoo para o trânsito de material de guerra em apoio das forças americanas no
Afeganistão; estes dois entendimentos, embora constituindo um progresso importante em relação à
política de Bush, não são, por si só, suficientes para o relançamento do relacionamento russoamericano.
A Rússia está desapontada com as reduzidas perspectivas (na sua avaliação) de um entendimento
mais alargado e, em especial, com a falta de vontade dos EUA em reconhecerem o seu estatuto de
potência com interesses que deverão ser tidos em conta e com um papel a desempenhar no
mundo. Na verdade, as declarações que o vice presidente americano, Joe Biden, fez na sequência
da visita à Ucrânia e Geórgia apontam numa direcção quase oposta, ao considerar que a Rússia,
com os problemas internos que enfrenta, nem sequer conseguirá enfrentar satisfatoriamente os
desafios que tem pela frente para os próximos 15 anos («Russia have a shrinking population base,
a withering economy, a banking sector and structure not likely to be able to withstand the next 15
years, are in a situation where the world is chaging before them and are clinging tosomething in the
past that is not sustainable»). Por outras palavras, os EUA não precisam de se preocupar com a
Rússia.
É natural que Moscovo tenha olhado para estas declarações como mais um sinal de que afinal a
política americana talvez não tenha mudado assim tanto como as declarações de Obama faziam
prever. E, por isso, empenha-se em tentar demonstrar que pelo menos alguns dos problemas com
que os EUA se debatem não só não serão resolvidos sem o apoio russo como até podem tornar-se
muito mais complicados se Moscovo assim quiser.
Obviamente, o Irão vem neste contexto logo em primeiro lugar. Serve bem a estratégia russa de
prosseguir a criação de um mundo multipolar, menos dominado pelos EUA, em especial nas
regiões de interesse primário para Moscovo. Contraria o propósito americano, recentemente
defendido pela Secretária de Estado, de orientar a ordem internacional no sentido de um mundo de
multiparcerias, em que os EUA liderarão, em vez do mundo multipolar que os outros aspiram.
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