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domingo, 12 de fevereiro de 2012
IRÃ
Guerrasubterrânea
Mehdi Ghasemi /Isna/Reuters - 30/11/09
Inimigos do
programa nuclear
são suspeitos de
assassinar cientistas
e de danificar usinas
Vítimas
de sabotagem
» RODRIGO CRAVEIRO
guerra é secreta, suja e
envolve tecnologia aliada a assassinatos seletivos. Como as sanções
impostas pela comunidade internacional não reverteram a euforia do Irã em relação a seu programa nuclear, inimigos do regime do presidente Mahmud Ahmadinejad têm apelado para
métodos nada ortodoxos e criminosos. Nos últimos dois anos,
quatro cientistas nucleares
morreram em circunstâncias
misteriosas (veja quadro). A
vítima mais recente foi o engenheiro químico Mostafa Ahmadi-Roshan, vice-diretor de marketing da central de processamento de urânio de Natanz. Um
motociclista foi visto acoplando
uma bomba magnética à porta
do Peugeot 405 de AhmadiRoshan, em 11 de janeiro passado. Menos de dois meses antes,
uma explosão havia sacudido a
usina de conversão de urânio de
Isfahan — 340km ao sul de Teerã
—, que teria ficado seriamente
danificada. Primeiro, o governo
afirmou tratar-se de um exercício militar na região. Depois, retratou-se e negou qualquer tipo
de explosão.
No campo virtual, o worm de
computador Stuxnet também representou um duro golpe para o
programa nuclear iraniano. De
acordo com o neoconservador
Michael Arthur Ledeen, ex-conselheiro especial do secretário de
Estado norte-americano Alexander Haig (1981-1982) e autor de
The iranian time bomb (A bomba-relógio iraniana), o Stuxnet
modificou a velocidade de operação das centrífugas, responsáveis
pela separação das moléculas
mais leves de urânio. “O Stuxnet
precisaria ser instalado fisicamente nos computadores iranianos. Alguém teria que ter usado
um pendrive para inocular o
worm no sistema”, admite Ledeen ao Correio. O especialista,
que também integra os quadros
da instituição apartidária Foundation for Defense of Democracies, não descarta um ato de vingança cometido pelo próprio regime. “Ao menos alguns dos cientistas assassinados estavam na
posição de sabotar o programa
nuclear com o Stuxnet e o governo iraniano sabia disso”, explica.
Teerã cita os serviços de inteligência de Israel, dos Estados Unidos e do Reino Unido como principais suspeitos da campanha
subversiva. Apesar de manter silêncio sobre os assassinatos de
cientistas nucleares iranianos, o
governo israelense parece longe
de estar incomodado. “Definitivamente, não estou derramando
uma lágrima”, declarou o general-brigadeiro Yoav Mordechai,
porta-voz das Forças de Defesa
de Israel (IDF), em referência à
morte de Roshan.
A
Desconfiança
O iraniano Ali Alfoneh, especialista do American Enterprise
Institute (em Washington), vê
com desconfiança esse comportamento de Israel. “As autoridades israelenses têm expressado
abertamente sua alegria com
qualquer ato capaz de atrasar o
programa nuclear de Teerã, ainda
que não admita envolvimento na
sabotagem”, afirma ao Correio.
Massoud Ali-Mohammadi,
12 de janeiro de 2010
Técnicos operam a central atômica de Bushehr, ao sul de Teerã: software malicioso mudou a rotação das centrífugas, onde o urânio é enriquecido
Especialista em física de particulares
elementares e em teoria quântica,
Massoud também lecionava no
Departamento de Física da
Universidade de Teerã. Foi assassinado
pouco antes das 8h (hora local), em
frente à sua casa, quando se dirigia ao
trabalho. Uma motocicleta-bomba,
acionada por controle remoto,
explodiu do lado de seu carro, no
bairro de Gheytariyeh, na região norte
da capital. A mídia iraniana culpou
Israel e os Estados Unidos pela morte.
Sajad Safari/IIPA/Reuters
Um mal invisível
Descoberto em 2010, o Stuxnet
se espalha por meio do Windows
e atinge softwares e
equipamentos da marca
Siemens. Em agosto do mesmo
ano, a companhia de antivírus
Symantec revelou que 60% dos
computadores infectados por
esse worm estavam no Irã.
Diferentemente de outros vírus e
cavalos de Troia, o Stuxnet não
causa danos diretos a
computadores e redes que não
atenderam a determinados prérequisitos de configuração. Ele
falsifica sinais de controle do
processo industrial, impedindo
que um sistema atingido seja
desligado e mudando a
velocidade de rotação das
centrífugas usadas em usinas
nucleares e em centros de
processamento de urânio.
Dariush Rezaei-Nejad,
23 de julho de 2010
O carro do cientista nuclear Mostafa Ahmadi-Roshan é içado, após explosão de bomba magnética
Suspeito de trabalhar em um
mecanismo de ativação de armas
nucleares, Dariush foi morto com cinco
tiros, enquanto ele e a mulher
aguardavam os filhos, em frente a um
jardim de infância, em Teerã. O governo
do Irã também acusou os EUA e Israel
pelo atentado. O cientista de 35 anos
fazia mestrado em engenharia elétrica
pela Universidade de Tecnologia K.N.
Toosi, também em Teerã. “Não
estamos envolvidos”, assegurou
Victoria Nuland, porta-voz do
Departamento de Estado dos EUA.
Usina de Bushehr,
setembbro de 20100
Eu acho...
Fotos: Arquivo pessoal
“Se todos ou
alguns dos
assassinatos de
cientistas
nucleares
iranianos foram
resultado de um
ou mais serviços
de inteligência
estrangeiros, isso
sugere que há
uma grave
debilidade no
aparato de
segurança iraniano. Se agentes secretos
podem matar cientistas iranianos no centro
de Teerã – que é uma espécie de campo
armado, com postos de controle da polícia por
toda a cidade —, então eles podem operar em
quase todos os lugares.”
» Michael Ledeen,,
especialista da Foundation for Defense of
Democracies
“Essa dualidade pode indicar que
Israel esteja por trás de tais ações.
No entanto, o programa atômico
iraniano não tem muitos amigos,
e a maior parte dos atores regionais gostaria de testemunhar seu
fracasso”, lembra.
Ali Alfoneh acredita que qualquer grande ator regional pode
estar apoiando, ativa ou passivamente, atos subversivos contra o
Irã. Segundo ele, não bastassem
os assassinatos de colegas, os
cientistas nucleares têm se sentido desestimulados a cooperar
com o programa nuclear, ante as
“Vários políticos dos EUA e de Israel já reivindicaram, implícita
ou explicitamente, a autoria da sabotagem do programa
nuclear iraniano, por meio do malware Stuxnet e do
assassinato de cientistas nucleares. Defensores de sabotagem,
espionagem e assassinatos (com o presidenciável Rick
Santorum) têm pedido mais ações. A liderança iraniana já
deixou claro que, apesar dessas brechas de segurança, o
programa nuclear não cessará e se tornará mais fortalecido.”
» Faarideeh Faarhi,
cientista política iraniana da Universidade do Havaí
pesadas sanções impostas pela
comunidade internacional —
que tiveram impacto na importação de hardwares para as usinas
atômicas. “Fereydoon Abbasi,
chefe da Organização de Energia
Atômica do Irã, tem admitido
abertamente que alguns cientistas temem perder seus ‘contatos
internacionais’”, explicou o especialista iraniano.
Há quem acredite que o inimigo dos cientistas iranianos
seja seu próprio governo. Uma
das mais renomadas ativistas
de direitos humanos persas, a
“Vírus de
computadores
atrasaram a
conclusão da
usina nuclear de
Bushehr. Além
disso, o
assassinato de
cientistas
nucleares
iranianos e
daqueles
engajados na
compra de
hardware para o programa nuclear,
com explosões misteriosas em
bases de mísseis, indica que os oponentes do
Irã estão engajados numa guerra secreta
contra Teerã.”
Majid Shahriari,
29 de novembro de 2011
Integrante da Faculdade de Engenharia
Nuclear da Universidade Shahid
Beheshti, Majid foi assassinado após
uma bomba magnética ser acoplada a
seu carro, por um motociclista.
» Ali Alfoneh,
especialista iraniano do American Enterprise
Institute (em Washington)
advogada Lily Mazahery disse
ao Correio ter conhecimento
sobre a existência de especialistas ávidos pela deserção. “Se as
autoridades descobrem que essas pessoas buscam ajuda no
exterior para abandonar o Irã,
isso já seria um motivo substancial para sua execução”, afirma.
Ela também não descarta que
Teerã utilize os assassinatos como uma poderosa ferramenta
de propaganda, uma forma de
culpar israelenses, americanos
e britânicos pelos assassinatos.
“Isso não quer dizer que alguns
ENFERMAGEM É UMA CARREIRA COM MUITAS POSSIBILIDADES. BRASÍLIA TEM CARÊNCIA DE BONS PROFISSIONAIS.
ENFERMAGEM. O NOVO CURSO DO IESB.
O worm Stuxnet infecta 30 mil
computadores no Irã e atinge a usina
nuclear de Bushehr, modificando sua
capacidade de operação. O governo
iraniano acusa um especialista em
segurança de computadores, de
nacionalidade alemã, pelo ataque.
dos incidentes não tenham sido
orquestrados por forças externas”, emenda.
A iraniana não tem dúvidas
das ambições nucleares de seu
país natal e teme suas consequências. Na opinião dela, o Irã
deseja se firmar como uma superpotência do Oriente Médio, e
as armas atômicas teriam um papel de dissuasão nesse processo.
“Se eles conseguirem ogivas nucleares, poderão fornecê-las a
grupos terroristas, com ideologias radicais e de ódio em relação
ao Ocidente”, alerta Lily.
Mosstaffa Ahmadi-Roshan,
11 dee janeirro de 20122
Vice-diretor de marketing da central de
enriquecimento de urânio de Natanz,
Ahmadi-Roshan morreu ao ser
atingido também pela explosão de uma
bomba magnética acoplada a seu
próprio carro, na movimentada Rua Gol
Nabi — região norte de Teerã. Um
motociclista teria colocado o artefato
na lateral do Peugeot 405. Aos 32 anos,
Ahmadi-Roshan era formado pela
Universidade Sharif.
IESB. CENTRO UNIVERSITÁRIO.
LIGUE 3340-3747 OU ACESSE WWW.IESB.BR
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