Publication - Foundation for Defense of Democracies
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CMYK Mundo 20 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, Editora: Ana Paula Macedo // [email protected] 3214-1195 • 3214-1172 / fax: 3214-1155 domingo, 12 de fevereiro de 2012 IRÃ Guerrasubterrânea Mehdi Ghasemi /Isna/Reuters - 30/11/09 Inimigos do programa nuclear são suspeitos de assassinar cientistas e de danificar usinas Vítimas de sabotagem » RODRIGO CRAVEIRO guerra é secreta, suja e envolve tecnologia aliada a assassinatos seletivos. Como as sanções impostas pela comunidade internacional não reverteram a euforia do Irã em relação a seu programa nuclear, inimigos do regime do presidente Mahmud Ahmadinejad têm apelado para métodos nada ortodoxos e criminosos. Nos últimos dois anos, quatro cientistas nucleares morreram em circunstâncias misteriosas (veja quadro). A vítima mais recente foi o engenheiro químico Mostafa Ahmadi-Roshan, vice-diretor de marketing da central de processamento de urânio de Natanz. Um motociclista foi visto acoplando uma bomba magnética à porta do Peugeot 405 de AhmadiRoshan, em 11 de janeiro passado. Menos de dois meses antes, uma explosão havia sacudido a usina de conversão de urânio de Isfahan — 340km ao sul de Teerã —, que teria ficado seriamente danificada. Primeiro, o governo afirmou tratar-se de um exercício militar na região. Depois, retratou-se e negou qualquer tipo de explosão. No campo virtual, o worm de computador Stuxnet também representou um duro golpe para o programa nuclear iraniano. De acordo com o neoconservador Michael Arthur Ledeen, ex-conselheiro especial do secretário de Estado norte-americano Alexander Haig (1981-1982) e autor de The iranian time bomb (A bomba-relógio iraniana), o Stuxnet modificou a velocidade de operação das centrífugas, responsáveis pela separação das moléculas mais leves de urânio. “O Stuxnet precisaria ser instalado fisicamente nos computadores iranianos. Alguém teria que ter usado um pendrive para inocular o worm no sistema”, admite Ledeen ao Correio. O especialista, que também integra os quadros da instituição apartidária Foundation for Defense of Democracies, não descarta um ato de vingança cometido pelo próprio regime. “Ao menos alguns dos cientistas assassinados estavam na posição de sabotar o programa nuclear com o Stuxnet e o governo iraniano sabia disso”, explica. Teerã cita os serviços de inteligência de Israel, dos Estados Unidos e do Reino Unido como principais suspeitos da campanha subversiva. Apesar de manter silêncio sobre os assassinatos de cientistas nucleares iranianos, o governo israelense parece longe de estar incomodado. “Definitivamente, não estou derramando uma lágrima”, declarou o general-brigadeiro Yoav Mordechai, porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF), em referência à morte de Roshan. A Desconfiança O iraniano Ali Alfoneh, especialista do American Enterprise Institute (em Washington), vê com desconfiança esse comportamento de Israel. “As autoridades israelenses têm expressado abertamente sua alegria com qualquer ato capaz de atrasar o programa nuclear de Teerã, ainda que não admita envolvimento na sabotagem”, afirma ao Correio. Massoud Ali-Mohammadi, 12 de janeiro de 2010 Técnicos operam a central atômica de Bushehr, ao sul de Teerã: software malicioso mudou a rotação das centrífugas, onde o urânio é enriquecido Especialista em física de particulares elementares e em teoria quântica, Massoud também lecionava no Departamento de Física da Universidade de Teerã. Foi assassinado pouco antes das 8h (hora local), em frente à sua casa, quando se dirigia ao trabalho. Uma motocicleta-bomba, acionada por controle remoto, explodiu do lado de seu carro, no bairro de Gheytariyeh, na região norte da capital. A mídia iraniana culpou Israel e os Estados Unidos pela morte. Sajad Safari/IIPA/Reuters Um mal invisível Descoberto em 2010, o Stuxnet se espalha por meio do Windows e atinge softwares e equipamentos da marca Siemens. Em agosto do mesmo ano, a companhia de antivírus Symantec revelou que 60% dos computadores infectados por esse worm estavam no Irã. Diferentemente de outros vírus e cavalos de Troia, o Stuxnet não causa danos diretos a computadores e redes que não atenderam a determinados prérequisitos de configuração. Ele falsifica sinais de controle do processo industrial, impedindo que um sistema atingido seja desligado e mudando a velocidade de rotação das centrífugas usadas em usinas nucleares e em centros de processamento de urânio. Dariush Rezaei-Nejad, 23 de julho de 2010 O carro do cientista nuclear Mostafa Ahmadi-Roshan é içado, após explosão de bomba magnética Suspeito de trabalhar em um mecanismo de ativação de armas nucleares, Dariush foi morto com cinco tiros, enquanto ele e a mulher aguardavam os filhos, em frente a um jardim de infância, em Teerã. O governo do Irã também acusou os EUA e Israel pelo atentado. O cientista de 35 anos fazia mestrado em engenharia elétrica pela Universidade de Tecnologia K.N. Toosi, também em Teerã. “Não estamos envolvidos”, assegurou Victoria Nuland, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA. Usina de Bushehr, setembbro de 20100 Eu acho... Fotos: Arquivo pessoal “Se todos ou alguns dos assassinatos de cientistas nucleares iranianos foram resultado de um ou mais serviços de inteligência estrangeiros, isso sugere que há uma grave debilidade no aparato de segurança iraniano. Se agentes secretos podem matar cientistas iranianos no centro de Teerã – que é uma espécie de campo armado, com postos de controle da polícia por toda a cidade —, então eles podem operar em quase todos os lugares.” » Michael Ledeen,, especialista da Foundation for Defense of Democracies “Essa dualidade pode indicar que Israel esteja por trás de tais ações. No entanto, o programa atômico iraniano não tem muitos amigos, e a maior parte dos atores regionais gostaria de testemunhar seu fracasso”, lembra. Ali Alfoneh acredita que qualquer grande ator regional pode estar apoiando, ativa ou passivamente, atos subversivos contra o Irã. Segundo ele, não bastassem os assassinatos de colegas, os cientistas nucleares têm se sentido desestimulados a cooperar com o programa nuclear, ante as “Vários políticos dos EUA e de Israel já reivindicaram, implícita ou explicitamente, a autoria da sabotagem do programa nuclear iraniano, por meio do malware Stuxnet e do assassinato de cientistas nucleares. Defensores de sabotagem, espionagem e assassinatos (com o presidenciável Rick Santorum) têm pedido mais ações. A liderança iraniana já deixou claro que, apesar dessas brechas de segurança, o programa nuclear não cessará e se tornará mais fortalecido.” » Faarideeh Faarhi, cientista política iraniana da Universidade do Havaí pesadas sanções impostas pela comunidade internacional — que tiveram impacto na importação de hardwares para as usinas atômicas. “Fereydoon Abbasi, chefe da Organização de Energia Atômica do Irã, tem admitido abertamente que alguns cientistas temem perder seus ‘contatos internacionais’”, explicou o especialista iraniano. Há quem acredite que o inimigo dos cientistas iranianos seja seu próprio governo. Uma das mais renomadas ativistas de direitos humanos persas, a “Vírus de computadores atrasaram a conclusão da usina nuclear de Bushehr. Além disso, o assassinato de cientistas nucleares iranianos e daqueles engajados na compra de hardware para o programa nuclear, com explosões misteriosas em bases de mísseis, indica que os oponentes do Irã estão engajados numa guerra secreta contra Teerã.” Majid Shahriari, 29 de novembro de 2011 Integrante da Faculdade de Engenharia Nuclear da Universidade Shahid Beheshti, Majid foi assassinado após uma bomba magnética ser acoplada a seu carro, por um motociclista. » Ali Alfoneh, especialista iraniano do American Enterprise Institute (em Washington) advogada Lily Mazahery disse ao Correio ter conhecimento sobre a existência de especialistas ávidos pela deserção. “Se as autoridades descobrem que essas pessoas buscam ajuda no exterior para abandonar o Irã, isso já seria um motivo substancial para sua execução”, afirma. Ela também não descarta que Teerã utilize os assassinatos como uma poderosa ferramenta de propaganda, uma forma de culpar israelenses, americanos e britânicos pelos assassinatos. “Isso não quer dizer que alguns ENFERMAGEM É UMA CARREIRA COM MUITAS POSSIBILIDADES. BRASÍLIA TEM CARÊNCIA DE BONS PROFISSIONAIS. ENFERMAGEM. O NOVO CURSO DO IESB. O worm Stuxnet infecta 30 mil computadores no Irã e atinge a usina nuclear de Bushehr, modificando sua capacidade de operação. O governo iraniano acusa um especialista em segurança de computadores, de nacionalidade alemã, pelo ataque. dos incidentes não tenham sido orquestrados por forças externas”, emenda. A iraniana não tem dúvidas das ambições nucleares de seu país natal e teme suas consequências. Na opinião dela, o Irã deseja se firmar como uma superpotência do Oriente Médio, e as armas atômicas teriam um papel de dissuasão nesse processo. “Se eles conseguirem ogivas nucleares, poderão fornecê-las a grupos terroristas, com ideologias radicais e de ódio em relação ao Ocidente”, alerta Lily. Mosstaffa Ahmadi-Roshan, 11 dee janeirro de 20122 Vice-diretor de marketing da central de enriquecimento de urânio de Natanz, Ahmadi-Roshan morreu ao ser atingido também pela explosão de uma bomba magnética acoplada a seu próprio carro, na movimentada Rua Gol Nabi — região norte de Teerã. Um motociclista teria colocado o artefato na lateral do Peugeot 405. Aos 32 anos, Ahmadi-Roshan era formado pela Universidade Sharif. IESB. CENTRO UNIVERSITÁRIO. LIGUE 3340-3747 OU ACESSE WWW.IESB.BR CMYK