- Programa de Pós
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA ÁREA DE GEOLOGIA AMBIENTAL, HIDROGEOLOGIA E RECURSOS HÍDRICOS TESE DE DOUTORADO ECOGERENCIAMENTO: ASPECTOS DAS CARACTERÍSTICAS GEOLÓGICAS E DE GESTÃO NA CONSTRUÇÃO DE UM MODELO PARA INSTALAÇÃO DE ATERROS SANITÁRIOS NO ESTADO DA BAHIA CRISTINA MARIA DACACH FERNANDEZ MARCHI Salvador- Bahia 2011 CRISTINA MARIA DACACH FERNANDEZ MARCHI ECOGERENCIAMENTO: ASPECTOS DAS CARACTERÍSTICAS GEOLÓGICAS E DE GESTÃO NA CONSTRUÇÃO DE UM MODELO PARA INSTALAÇÃO DE ATERROS SANITÁRIOS NO ESTADO DA BAHIA Tese de Doutorado apresentada ao Curso de PósGraduação em Geologia do Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia como requisito parcial à obtenção do grau de Doutora em Geologia. Orientador: Prof. Dr. Johildo Salomão Figueirêdo Barbosa Co-Orientador: Prof. Dr. Ronaldo Montenegro Barbosa Salvador- Bahia 2011 1 2 ECOGERENCIAMENTO: ASPECTOS DAS CARACTERÍSTICAS GEOLÓGICAS E DE GESTÃO NA CONSTRUÇÃO DE UM MODELO PARA INSTALAÇÃO DE ATERROS SANITÁRIOS NO ESTADO DA BAHIA Autora: Cristina Maria Dacach Fernandez Marchi Orientador : Prof. Dr. Johildo Salomão Figueirêdo Barbosa Co-Orientador: Prof. Dr. Ronaldo Montenegro Barbosa RESUMO: A crise ambiental vivenciada no mundo tem se constituído em um dos maiores desafios da humanidade. Contudo, a problemática não se resume ao contexto ecológico, mas também permeia o contexto social. As dificuldades de natureza social e ecológica são indissociáveis, apesar de muitas vezes serem tratadas de forma isolada. A complexidade que envolve a prestação dos serviços públicos de coleta, tratamento e destinação final de resíduos sólidos, as dimensões que a questão assume face às diversas repercussões sociais, governamentais, territoriais e técnicas e o seu potencial de alteração qualitativa do meio ambiente, conduzem a um estudo mais aprofundado da caracterização geológica e de gestão dos aterros e suas inter-relações com as instituições ligadas aos resíduos sólidos e ao meio ambiente. A questão que norteou esta Tese foi se o desenvolvimento de um modelo para instalação de equipamentos de destinação final dos resíduos sólidos, que envolvesse aspectos geológico-ambientais e de gestão, poderia atender às especificidades, particularidades, de diferentes municípios? Este Trabalho procura buscar conceitos e técnicas que sirvam de base para a obtenção de resultados inovadores na área de resíduos sólidos; compor um cenário mundial do estado da arte na gestão de resíduos sólidos no mundo e no Brasil, por meio de pesquisa bibliográfica; avaliar as tecnologias utilizadas na implantação e gerenciamento de dois aterros sanitários no estado da Bahia, com enfoques geológico e de gestão; e utilizar os resultados encontrados, identificando a relação entre os fatores ambientais/litologia e a gestão dos aterros sanitários selecionados, para o desenvolvimento de um modelo para instalação de equipamentos de destinação final de resíduos sólidos. A metodologia adotada foi o estudo multicasos descritivo e exploratório. O delineamento utilizado se deu por meio da pesquisa bibliográfica e da pesquisa de campo. Quanto aos procedimentos sistemáticos para a descrição e explicação dos eventos encontrados, o estudo se desenvolveu num ambiente que preconizou a abordagem quantiqualitativa. Conclui-se que, quando o Estado resolve instalar um equipamento de destinação final vem aplicando, na maioria das vezes, corretos fundamentos técnicos e geológicos. Mas, é durante o processo de operacionalização e gestão desses equipamentos, que começam as dificuldades e carências de recursos humanos, técnicos, operacionais e financeiros, transformando o equipamento apropriado em vazadouro a céu aberto. PALAVRAS CHAVE - Ecogerenciamento; Geologia Ambiental; Resíduos Sólidos. i ECO-MANAGEMENT: ASPECTS OF GEOLOGICAL AND MANAGEMENT CHARACTERISTICS IN THE COSNTRUCTION OF A MODEL FOR THE INSTALATION OF LANDFILLS IN THE STATE OF BAHIA. Author: Cristina Maria Dacach Fernandez Marchi Adviser : Prof. Johildo Salomão Figueirêdo Barbosa, PHD. Co- Adviser: Prof. Ronaldo Montenegro Barbosa, PHD. ABSTRACT: The environmental crisis experienced in the world has been constituted as one of the greatest challenges facing humanity. However, the problem is not restricted to the ecological context, but also permeates the social context. The difficulties of a social and ecological nature are interlinked, though often they are treated in isolation. The complexity involved in providing waste collection, treatment, and disposal of solid waste, the dimensions that the problem assumes makes for various social, governmental, technical and territorial consequences and, their potential for qualitative change of the environment lead to further study of the geological characterization and management of landfills and their inter-relationships with institutions related to solid waste and the environment. The key question of this thesis is: would the development of an equipment model for a final disposal of solid waste, able to involve at the same time geological and environmental aspects, be able to suit the specific needs, peculiarities from the different municipalities? This study aims to look for new concepts and techniques that could be used to achieve innovative results in the of solid waste area; compose a global scenario of how the solid waste management is being conducted in Brazil and around the world, by bibliographical research; evaluate the technologies used in the deployment and management of two landfills in the state of Bahia, with geological emphasis and a management approach; and use the results identifying the relationship between environmental factors and management of the selected landfills in order to develop an equipment model for the final disposal of solid waste. The methodology used was descriptive and an exploratory multicase study. The experimental design was through the literature and field research and the study was conducted in an environment that invoqued the quantitative and qualitative approach. The conclusion is that when the State takes the decision to install an equipment for final disposal, it was applied with it, in mostly cases, the right technical and geological grounds. But it's only during the operation and management of those equipments that the difficulties show up as the lack of human, technical, financial and operational resources come and transform the new and appropriate equipments into an open dump. KEY WORDS: Eco-Management; Environmental Geology; Solid Waste. ii AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, à minha família, ao meu orientador e co-orientador, aos colegas do Grupo de Pesquisa Observatório de Políticas Públicas (Observa Políticas), da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia, aos participantes do Grupo de Pesquisa em Gestão Ambiental e Desenvolvimento em Empreendimentos Sociais (GamDes), da Escola de Administração da Universidade Católica do Salvador, aos parceiros da Associação de Moradores do Mutá (AMMU), aos meus amigos e colegas que leram, ouviram e aprimoraram esta Tese, à Secretaria de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (SEDUR) e à Empresa Baiana de Águas e Saneamento S. A. (EMBASA). Finalmente, agradeço a todos que, direta ou indiretamente, colaboraram para este trabalho. iii SUMÁRIO RESUMO i ABSTRACT ii AGRADECIMENTOS iii SUMÁRIO iv LISTA DE FIGURAS vii LISTA DE QUADROS viii CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO 1 1.1. Considerações Iniciais 2 1.2. Justificativa da Pesquisa 2 1.3. Pergunta da Pesquisa 4 1.4. Objetivos Geral e Específicos da Pesquisa 4 CAPÍTULO II – REVISÃO DE ANTIGOS E NOVOS CONCEITOS 6 2.1. Geologia Ambiental 7 2.2. Ecogerenciamento 9 2.3. Saneamento: Conceito e Estrutura Organizacional na Bahia 13 2.4. Resíduos Sólidos Urbanos 16 CAPÍTULO III – ESTADO DA ARTE DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO 24 MUNDO E NO BRASIL 3.1. Estado da Arte dos Resíduos Sólidos no Mundo 25 3.1.1. Minimização – Redução, Reuso e Reciclagem dos Resíduos Sólidos 25 3.1.1.1. África 26 3.1.1.2. América do Norte 26 3.1.1.3. América Latina e Caribe 28 3.1.1.4. Ásia e Pacífico 28 3.1.1.5. Europa 31 3.1.2. Destinação Final - Aterros Sanitários 32 3.1.2.1. África 32 3.1.2.2. América do Norte 33 3.1.2.3. América Latina e Caribe 36 iv 3.1.2.4. Ásia e Pacífico 38 3.1.2.5. Europa 40 3.1.3. Gerenciamento dos Resíduos Sólidos Urbanos 43 3.1.3.1. África 43 3.1.3.2. América do Norte 44 3.1.3.3. América Latina e Caribe 47 3.1.3.4. Ásia e Pacífico 50 3.1.3.5. Europa 55 3.2. Estado da Arte dos Resíduos Sólidos no Brasil 58 3.2.1. Minimização – Redução, Reuso e Reciclagem dos Resíduos Sólidos 60 3.2.2. Destinação Final - Aterros Sanitários 68 3.2.3. Gerenciamento dos Resíduos Sólidos Urbanos 76 CAPÍTULO IV – ÁREAS DE ESTUDO E METODOLOGIA APLICADA 84 4.1. Localização Geográfica e Geológica dos Aterros Amostrados 85 4.2. O Processo Metodológico 89 4.2.1. Coleta de Dados 90 4.2.2. Análise dos Dados 91 CAPÍTULO V – RESULTADOS E DISCUSSÃO 93 5.1. Dados Básicos Relativos aos Aterros Sanitários da Região 94 Metropolitana de Salvador e da Ilha de Itaparica 5.2. Caracterização Geológica dos Aterros Sanitários Estudados 95 5.2.1. Localização Geológica do Aterro Metropolitano Centro (AMC) 95 5.2.1.1. Reconhecimento Geológico de Campo do Aterro Metropolitano Centro 97 5.2.1.2. Solos do Aterro Metropolitano Centro 97 5.2.1.3. Barreiras Naturais a Migração de Poluentes no Aterro Metropolitano Centro 98 5.2.1.4. Lençol Freático do Aterro Metropolitano Centro 99 5.2.2. Localização Geológica do Aterro Integrado Ilha (AII) 100 5.2.2.1. Reconhecimento Geológico de Campo do Aterro Integrado Ilha 103 5.2.2.2. Solos do Aterro Integrado Ilha 103 5.2.2.3. Barreiras Naturais a Migração de Poluentes no Aterro Integrado Ilha 104 5.2.2.4. Lençol Freático do Aterro Integrado Ilha 105 v 5.3. Caracterização Organizacional e da Gestão dos Aterros Sanitários 106 Estudados 5.3.1. Levantamento Organizacional do Aterro Metropolitano Centro 107 5.3.1.1. Frequência da Coleta dos Resíduos Sólidos para o Aterro Metropolitano Centro 107 5.3.1.2. Adequação da Destinação dos Resíduos Sólidos 109 5.3.1.3. Busca por Alternativas para o Processamento dos Resíduos Sólidos 116 5.3.1.4. Qualidade das Respostas das Exigências Ambientais e Econômicas 118 5.3.1.5. Incentivos às Iniciativas que Busquem Minimizar a Geração de Resíduos 121 Sólidos 5.3.2. Levantamento Organizacional do Aterro Integrado Ilha 5.3.2.1. Frequência da Coleta dos Resíduos Sólidos para o Aterro Integrado Ilha 121 5.3.2.2. Adequação da Destinação dos Resíduos Sólidos 122 5.3.2.3. Busca por Alternativas para o Processamento dos Resíduos Sólidos 123 5.3.2.4. Qualidade das Respostas das Exigências Ambientais e Econômicas 129 5.3.2.5. Incentivos às Iniciativas que Busquem Minimizar a Geração de Resíduos 129 Sólidos 5.4. Apresentação de um Modelo Alternativo para a Gestão de Aterros 131 Sanitários CAPÍTULO VI – CONCLUSÃO 139 6.1. Conclusão 140 REFERENCIAS 144 ANEXO 151 LISTA DE FIGURAS 3.1. Evolução do Número de Aterros nos Estados Unidos - 1988 a 2006 33 3.2. Aterro Sanitário situado no Estado da Flórida – EUA 35 3.3. Maquete de Aterro Sanitário Gerido pelo SyCTOM nos arredores de Paris Hábitos e Costumes que Agravam a Limpeza das Vias Públicas nas Metrópoles Indianas – Jaipur, Índia Gráfico da Geração de Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil em 2008 e 2009 Participação das Regiões do País no Total de RSU Coletado 42 3.4. 3.5. 3.6. 54 58 73 vi 3.7. Jovens Catando Lixo no Aterro de Jequié- BA 76 3.8. Fluxograma da Gestão dos Resíduos Sólidos. 82 4.1. Localização Geográfica dos Aterros Sanitários Estudados 87 4.2. 88 4.5. Mapa Geológico com a Localização dos Aterros Sanitários Estudados Croquis com a Localização do Aterro Metropolitano Centro e Aterro Integrado Ilha Metodologia Adotada na Tese 5.1. Mapa Geológico da RMS 96 5.2. e 5.3. Detalhes dos Solos do AMC 98 5.4. e 5.5. Barreiras Naturais no AMC 99 5.6. e 5.7. Vista Geral das Lagoas Artificiais Existentes no AMC 100 5.8. Mapa Geológico da Ilha de Itaparica 102 5.9. e 5.10. Detalhes dos Solos do Aterro Integrado Ilha 104 5.11. e 5.12. Barreiras Naturais no Aterro Integrado Ilha 105 5.13. e 5.14. Organização da Entrada e das Vias do AMC 110 5.15. e 5.16. Recepção dos Resíduos Sólidos do AMC 111 5.17. e 5.18. Estado de Conservação dos Equipamentos do AMC 111 5.19. e 5.20. Sinalização no AMC 112 5.21. e 5.22. Sede Administrativa da Battre 113 5.23. e 5.24. Uso de Equipamentos de Proteção Individual no AMC 113 5.25. e 5.26. Aspectos da Impermeabilização e Cobertura do AMC 115 5.27. e 5.28. Aspectos da Drenagem do AMC 116 5.29. e 5.30. Captação Gases no AMC 117 5.31. e 5.32. 117 5.33. e 5.34. Sala Informatizada para Controle dos Gases Gerados e Vendidos pelo AMC Aspectos da Captação Gás para Geração de Energia Limpa no AMC 5.35. e 5.36. Tratamento do Lixiviado do AMC 119 5.37. e 5.38. Campanha Interna para Reutilização de Material Orgânico Proveniente dos Resíduos Sólidos no AMC Coleta Seletiva do Aterro Metropolitano Centro 120 122 5.42. e 5.43. Presença de Pontos de Resíduos Sólidos nas Margens das Rodovias da Ilha de Itaparica Recepção dos Resíduos Sólidos do Aterro Integrado Ilha 5.44. e 5.45. Balança e Equipamentos para Pesagem do Aterro Integrado Ilha 124 5.46. e 5.47. Estado de Conservação dos Equipamentos do Aterro Integrado Ilha 124 5.48. e 5.49. Sinalização no Aterro Integrado Ilha 125 4.3. e 4.4. 5.39. e 5.40. 5.41. 88 90 118 121 123 vii 5.50. e 5.51. Sede Administrativa do Aterro Integrado Ilha 125 5.52. e 5.53. Vegetação do Aterro Integrado Ilha 126 5.54. e 5.55. Ausência de Uso de EPI no Aterro Integrado Ilha 127 5.56. e 5.57. Presença de Catadores e de Animais no Aterro Integrado Ilha 127 5.58. e 5.59. Aspectos da Impermeabilização e Cobertura do Aterro Integrado Ilha Presença de Entulho e Sucatas na Área do Aterro Integrado Ilha 128 Queima a Céu Aberto dos Resíduos Sólidos de Saúde no Aterro Integrado Ilha Aspectos da Catação de Reciclados no Aterro Integrado Ilha 131 Modelo para Instalação e Gestão de Equipamentos de Destinação Final de Resíduos Sólidos 134 5.60. e 5.61. 5.62. e 5.63. 5.64. e 5.65. 5.66. 129 132 LISTA DE QUADROS 3.1. 3.2. 5.1. 5.2. Quantidade de Unidades de Processamento de Resíduos Sólidos Urbanos, por Disposição no Solo Natureza Jurídica dos Órgãos Gestores do Manejo dos RSU nos Municípios Brasileiros – 2008 Dados Comparativos entre o Aterro Metropolitano Centro e o Aterro Integrado Ilha Frequência da Coleta de Resíduos Sólidos junto à População de Baixa Renda em 10 Municípios Baianos 72 81 94 108 viii CAPÍT ULO I - INTRODUÇÃO 1 I - INTRODUÇÃO 1.1. Considerações Iniciais A crise ambiental vivenciada no mundo tem se constituído em um dos maiores desafios da humanidade. O aumento da poluição e a utilização predatória das riquezas naturais têm acelerado o aquecimento global causado pelo efeito estufa e a destruição das florestas e dos rios. Contudo, a problemática não se resume ao contexto ecológico, mas também permeia o contexto social. As dificuldades de natureza social e ecológica são indissociáveis, apesar de muitas vezes serem tratadas de forma isolada. As práticas inadequadas de saneamento básico fomentam a deterioração ambiental e mobilizam o Estado a implantar novas tecnologias, além de enfatizar ações educativas, visando reduzir o desequilíbrio existente no meio ambiente e criar facilidades à incorporação de novas práticas, que proporcionem maior qualidade de vida. Entende-se como qualidade de vida qualquer estímulo que nos afeta direta ou indiretamente, como a forma que a sociedade enfrenta os desafios de mudança de hábitos para a sua sustentabilidade. Muitas vezes, procedimentos e posturas simples, como evitar jogar papel no chão, outras complexas, como controlar de forma organizada a maneira que os representantes do Estado e das organizações lidam com as Políticas Públicas. 1.2. Justificativa da Pesquisa Em junho de 2012, no Rio de Janeiro, acontecerá a Rio+20, a cúpula mundial de desenvolvimento sustentável. Uma das razões do Brasil ter sido escolhido como sede, foi a realização, em 1992, de uma conferência semelhante, a Rio 92. Além disso, o Brasil é visto como país que registrou importante crescimento econômico, apesar das crises mundiais, com avanços na erradicação da pobreza e na conservação ambiental. Um dos objetivos desse futuro evento será a discussão de um modelo de desenvolvimento econômico global destinado a melhorar a vida das pessoas e garantir a equidade social, reduzindo os riscos ambientais e a escassez ecológica, ou seja, a transição de uma economia de alto consumo para uma Economia Verde, de baixo carbono e eficiência de recursos. Em fevereiro de 2011, em Nairóbi, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) lançou um relatório que estimula o mundo a investir dois por cento do Produto Interno Bruto (PIB) em dez áreas estratégicas. Uma dessas áreas é a de resíduos sólidos. Pretende-se 2 desassociar o crescimento do PIB com a geração de resíduos sólidos. Em vez de aumentar os resíduos sólidos, investir em ações de recuperação e reciclagem. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) (Lei nº. 12.305/2010) segue a visão do PNUMA e determina o prazo final de 2014 para que os estados e municípios possam elaborar seus planos de gestão, para cumprimento das suas determinações. O Capítulo Primeiro desta Política Nacional estabelece que deva ser observada a seguinte ordem de prioridade na gestão e no gerenciamento de resíduos sólidos: (i) não geração; (ii) redução; (iii) reutilização; (iv) reciclagem; (v) tratamento dos resíduos sólidos; e (vi) destinação final ambientalmente adequada dos rejeitos. Essas ações de gestão e gerenciamento desafiam o Poder Público, as empresas e a sociedade. A complexidade que envolve a prestação dos serviços públicos de coleta, tratamento e destinação final de resíduos sólidos, as dimensões que a questão assume face às diversas repercussões sociais, governamentais, territoriais e técnicas e, o seu potencial de alteração qualitativa do meio ambiente, conduzem a um estudo mais aprofundado da caracterização geológica e de gestão dos aterros e suas inter-relações com as instituições ligadas aos resíduos sólidos e ao meio ambiente. Nas duas últimas décadas, o padrão de comportamento social e institucional vem sendo modificado, principalmente por razões de ordem cultural, intervindo no cotidiano social e ambiental, necessitando de novos investimentos em saneamento básico, notadamente em locais destinados à disposição dos resíduos sólidos gerados, cada vez mais, nos centros urbanos. Na maioria dos locais de depósito final dos resíduos sólidos urbanos, principalmente os das pequenas cidades brasileiras, não existe estudo preliminar da área, que envolva a definição de fatores condicionantes geológicos da região, como litologias, estratigrafia e estruturas, para o auxílio do estudo de alternativas de traçado viáveis e que possam causar o menor impacto ambiental possível. A gestão da área de saneamento básico é, antes de tudo, uma questão de sobrevivência, tanto para a sustentabilidade do meio ambiente, quanto das instituições e organizações que o cercam. Isto faz com que a variável ambiental esteja presente no planejamento das organizações por envolver a oportunidade de redução de custos, já que a poluição significa o desperdício de matéria-prima e insumos, além de afastamento de novos investimentos. Diante da falta de trabalhos específicos sobre esse tema, a presente Tese se reveste de uma relevância especial. Objetivando suprir essa lacuna, o estudo em questão procura ser congruente com a idéia de sustentabilidade ambiental e organizacional de equipamentos públicos de destinação final. Busca investigar quais os instrumentos de gestão que podem provocar ampliação 3 e melhoria no atendimento às comunidades e ao meio ambiente, analisando as relações entre aspectos ambientais/litologia e a gestão em dois aterros sanitários, localizados no estado da Bahia. O presente texto foi estruturado em quatro partes (que são os quatro Capítulos), além desta introdução e da conclusão. A primeira parte incumbe-se de revisar antigos e novos conceitos que fundamentam o estudo e trazem as principais discussões sobre a Geologia Ambiental, o Ecogerenciamento, o Saneamento Básico e os Resíduos Sólidos Urbanos. Na segunda, investiga-se como está se dando o estado da arte dos resíduos sólidos no mundo e no Brasil, relativo à minimização, reciclagem, reuso e redução dos resíduos sólidos, à destinação final e ao gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos. A terceira apresenta a área de estudo e a metodologia aplicada e finalmente, na quarta parte do texto são relatados os resultados obtidos na pesquisa de campo, por meio da descrição das observações efetuadas e das informações obtidas em entrevistas e relatórios e apresentado o Modelo para Instalação de Equipamentos de Destinação Final dos Resíduos Sólidos, onde são observados aspectos ambientais e de gestão. Os resultados desta pesquisa demonstraram que os aspectos gerenciais e de gestão, além dos geológicos, devem se apresentar inter-relacionados para fornecer sustentabilidade a uma área onde se pretende destinar os resíduos sólidos de pequenos, médios ou grandes municípios. 1.3. Pergunta da Pesquisa No intuito de verificar se a situação geológica de uma área a ser utilizada como aterro sanitário é suficiente para a preservação sócio-ambiental do seu entorno, o questionamento que norteou o estudo foi: o desenvolvimento de um modelo para instalação de equipamentos de destinação final dos resíduos sólidos, que envolva aspectos geológico-ambientais e de gestão pode atender às especificidades, particularidades, de diferentes municípios? 1.4. Objetivos Geral e Específicos da Pesquisa Geral: Desenvolver um Modelo para Instalação de Equipamento de Destinação Final dos Resíduos Sólidos, que integre os aspectos geológicos e de gestão observados nos aterros sanitários estudados, quais sejam: o da Região Metropolitana de Salvador (Aterro Metropolitano Centro) e o da Ilha de Itaparica (Aterro Integrado Ilha). 4 Específicos: (i) buscar conceitos e técnicas que sirvam de base para a obtenção de resultados inovadores na área de resíduos sólidos; (ii) compor um cenário mundial do estado da arte na gestão de resíduos sólidos no mundo e no Brasil, por meio de pesquisa bibliográfica; (iii) avaliar as tecnologias utilizadas na implantação e gerenciamento de dois aterros sanitários no estado da Bahia (Região Metropolitana de Salvador e Ilha de Itaparica), com enfoque geológico; (iv) avaliar as tecnologias utilizadas na implantação e gerenciamento de dois aterros sanitários no estado da Bahia (Região Metropolitana de Salvador e Ilha de Itaparica), com enfoque de gestão; e (v) utilizar os resultados dos objetivos (i) ao (iv), identificando a relação entre os fatores ambientais/litologia e a gestão dos aterros sanitários selecionados, para o desenvolvimento do Modelo pretendido no Objetivo Geral desta Tese. 5 CAPÍTUL O II – RE VISÃO DE ANTIGOS E NOVOS C O N C E I TO S 6 II – REVISÃO DE ANTIGOS E NOVOS CONCEITOS A compreensão das definições de Geologia Ambiental, Ecogerenciamento, Saneamento Básico e Resíduos Sólidos, assim como as suas perspectivas, características e desdobramentos, mostra-se como fator preponderante para se entender os princípios que norteiam o desenvolvimento desta Tese. 2.1. Geologia Ambiental A Geologia é a ciência que estuda a Terra. De forma ampla, ainda permanece nos estudos das Geociências os aspectos ligados aos minerais e rochas, aos fenômenos naturais da crosta terrestre e à água. Durante muitos anos, os geólogos pesquisadores foram preparados para desenvolver ao máximo suas experiências em campos de atuação muito reduzidos. Essa tendência está sendo revertida. Press et al. (2006) relatam que nas últimas décadas os homens têm modificado o meio ambiente pelo desmatamento, pela agricultura e por outros tipos de uso do solo, afetando a qualidade de todo o ecossistema global numa escala inteiramente nova. Assim, os estudos das ciências da Terra vêm envolvendo a atuação de especialidades distintas, observando as atividades humanas, visando o equacionamento correto de problemas globais. O conceito de Geologia Ambiental pode suscitar questionamentos. Poderia estar aí uma redundância. Porém, o que se percebe é um esforço para colocar nos estudos da Terra o conceito de meio ambiente, ligado à idéia de conjunto de condições, leis, influências e infraestruturas de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e permeia a vida; como objeto de diversas apropriações. Para Hrasna (2002), o termo meio ambiente tem sido usado há quase quarenta anos e que uma das primeiras definições aceitas internacionalmente prega que o meio ambiente é parte do universo, que está em interação com o homem, que o explora, o afeta e se adapta. Dentro desta linha de raciocínio, esse autor define Geologia Ambiental como parte da litosfera, que o homem explora e altera e que influencia diretamente, pelas suas ações, nas condições de existência e de progresso. O autor afirma que, existem geofatores que formam as condições da Geologia Ambiental em um território, as quais trazem ao homem benefícios ou problemas para a sua evolução. Coloca que, o conceito de Geologia Ambiental, para ser usado racionalmente, deve abranger os seguintes aspectos: (i) utilidade; que não impacte nocivamente o meio ambiente; (ii) a paisagem; (iii) simplicidade; e, (iv) adequabilidade ao cenário e à arquitetura. 7 O autor destaca que as condições geoambientais de um território são tomadas dentro de uma perspectiva ampla, permitindo várias possibilidades de uso da terra. Explica que as melhores decisões para esse uso são adotadas com base na visão nacional ou por meio de requerimentos econômicos regionais. De acordo com Hrasna (2002), The geoenvironmental conditions of a territory enable generally various possibilities of land use (mining of mineral raw materials, civil and industrial construction, transport construction, ground water exploitation, recreation, sanitary and sporting purposes, etc.). Decision making process in that case is aimed at the best way of land use from point of view of nation-wide or regional economic requirements. So the first demand covers possible collisions of interests in a territory (HRASNA, 2002, p.4). No Brasil, em 1982, com a proposta inicial de direcionar as Geociências nos estudos do Meio Ambiente, o Instituto Geológico de São Paulo desenvolveu a Política Básica para Manejo do Meio Ambiente, a fim de impulsionar e movimentar uma série de políticas setoriais, integrando-as e racionalizando-as. Azevedo et al. (1982) afirmam que o objetivo geral desta Política foi: ... adequar e direcionar ações no sentido de respeitar os mecanismos da natureza e garantir sua continuidade. Estes postulados podem ser definidos em uma única frase: "uso racional da terra”, que pressupõe o uso propriamente dito, a preservação da terra e a recuperação de áreas degradadas. Compreende ainda todas as formas possíveis de uso, desde o urbano ao rural, do natural ao cultural (AZEVEDO et al., 1982, p.6). Esse foi um dos primeiros movimentos, na prática, de integração das relações entre as Geociências e o Meio Ambiente. Inicialmente, foi realizado um estudo preliminar no Vale do Rio Ribeira de Iguape, São Paulo. A pretensão era que os subsistemas integrados gerassem o “Geossistema”, que forneceria subsídios para o manejo do meio ambiente. Durante os últimos anos, a parceria entre o estudo das Ciências da Terra e o estudo do seu entorno promoveu sistematicamente a aproximação entre a Geologia e o Meio Ambiente. Esta aproximação vincula as principais preocupações dessas duas áreas, ou seja, a da Geologia, em sentido mais restrito, que evidencia facetas da evolução da Terra e a do Meio Ambiente, em sentido mais amplo, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida. O Instituto de Geociências e Ciências Exatas, da Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (IGCE) considera que a Geologia Ambiental é um ramo da Geologia que atualmente apresenta um grande desenvolvimento, graças às preocupações em relação ao Meio Ambiente e às legislações cada vez mais exigentes e restritivas. Esse Instituto aborda a Geologia Ambiental como uma disciplina que estuda e analisa as interações entre o ser humano e o meio físico, dando grande ênfase para os estudos ambientais como os Estudos de Impactos Ambientais 8 – Relatórios de Impactos Ambientais (EIA-RIMA), a série 14000 de normas desenvolvidas pela International Organization for Standardization (ISO), que estabelecem diretrizes sobre a área de gestão ambiental dentro de empresas, a cartografia geológico-geotécnica, que tratam do planejamento urbano, dos riscos geológicos e da destinação final de resíduos sólidos, sendo todos esses temas integrados, principalmente aos processos geológicos (IGCE 2010). Segundo o ICGE (2010), nos livros textos mais antigos era dada muita ênfase aos processos geológicos, centrando as discussões na sua caracterização. Atualmente, os referidos processos ainda têm grande importância nos livros, porém vêm ganhando bastante espaço, as discussões sobre as consequências econômicas e sociais da interação inadequada do ser humano com o meio físico. Medina et al (2007) afirmam que o campo das Geociências, que trata a Geologia Ambiental, avançou bastante nos últimos vinte anos, diante da sua efetiva contribuição ao desenvolvimento sustentável do Planeta e definem a Geologia Ambiental como o estudo da Geologia aplicada ao meio ambiente, buscando investigar os problemas geológicos decorrentes da relação entre o homem e a superfície terrestre. Consideram que a Geologia Ambiental interage com outras áreas do conhecimento visando estabelecer e definir os relacionamentos entre os diversos meios que integram os sistemas da paisagem. De acordo com Medina et al. (2007) a importância da Geologia Ambiental está diretamente relacionada à capacidade de apoio à gestão ambiental e ao planejamento territorial. Seguindo as perspectivas relatadas, afirma-se que a disposição incorreta dos resíduos sólidos é um problema geológico na medida em que, acumulados no ambiente, são capazes de contribuir com mecanismos que provocam desastres como enchentes, alagamentos e poluição. O próximo item abordará o Ecogerenciamento, no intuito de construir consensos ao reunir perspectivas inovadoras e muito diversas. 2.2. Ecogerenciamento O modelo de produção contemporâneo não coincide com os limites ambientais do planeta. Assunto presente nos constantes debates entre o setor produtivo, o Estado e a sociedade civil organizada é o ascendente descarte dos resíduos sólidos urbanos, que gera consequências ambientais intensas, como emissões de gases de efeito estufa, odores e contaminação da água e da terra, provocando impactos sobre a vida das pessoas. O gerenciamento dos resíduos sólidos no 9 mundo é motivo de preocupação e os países buscam, cada vez mais, o compartilhamento das ações entre o poder local, organizações e a sociedade civil organizada. A gestão ambiental se tornou uma importante ferramenta estratégica, consoante com os objetivos do modelo integrado, descentralizado e participativo, de gerir uma organização. Para Moreno & Pol (1999) a gestão ambiental é aquela que incorpora os valores do desenvolvimento sustentável1 na organização social e nas metas corporativas da empresa e da administração pública. Integra políticas, programas e práticas relativas ao meio ambiente, em um processo contínuo de melhoria da gestão. Portanto, a gestão ambiental é a forma de gerir uma organização pública ou privada, sem prejuízos ao meio ambiente. Para Shigunov et al. (2009), poucos pesquisadores vêm apresentando conceitos claros relativos à gestão ambiental, voltadas para a perspectiva de atendimento às normas e às leis. Reis define a gestão ambiental como rotinas e procedimentos que permitem a uma organização administrar adequadamente as relações entre suas atividades e o meio ambiente, atendendo às expectativas das partes interessadas; Reis ainda analisa a gestão ambiental, como dinâmica que objetiva identificar as ações mais adequadas ao atendimento das imposições aplicáveis às várias fases dos processos organizacionais, desde a geração, até o descarte final, observando permanentemente os parâmetros legais (REIS, 1996, apud SHIGUNOV et al., 2009). Outra definição publicada é a de Moreira, que afirma que para a empresa apresentar um nível mínimo de gestão ambiental tem que possuir um departamento de meio ambiente responsável pelas exigências legais e pelas indicações dos meios mais adequados para o controle do processo (MOREIRA, 2001, apud SHIGUNOV et al., 2009). Conforme Barbieri (2004) na origem da expressão “Gestão Ambiental” estão as ações governamentais para enfrentar a escassez de recursos, afirma que com o tempo outras questões estão sendo incorporadas por outros agentes e com alcances diferentes (BARBIERI, 2004, apud SHIGUNOV et al., 2009). Shigunov et al. (2009) desenvolvem a Gestão Ambiental como ação eficaz entre a organização e o meio ambiente e que trata das atividades da função gerencial que determinam a Política ambiental, os objetivos e as responsabilidades e os colocam em prática por intermédio do sistema ambiental, do planejamento ambiental e do controle ambiental. Atualmente, muitos esforços são realizados na elaboração de normas relativas aos sistemas de gestão ambiental, auditoria ambiental, rotulagem e outros processos ambientais. Entretanto, esse esforço pode aumentar o custo operacional das organizações. Programas de 1 Nesta Tese o termo Desenvolvimento Sustentável será entendido como desenvolvimento desejável que propõe uma conciliação entre o desenvolvimento e o crescimento econômico, sendo, simultaneamente, sensível à dimensão social, ambientalmente prudente e economicamente viável (Morin 2001). 10 gestão ambiental, nos quais as organizações estabelecem e mantêm ações visando atender a seus objetivos e metas ambientais, são práticas que vêm ganhando espaço nas empresas públicas e privadas. Esses programas estão em busca da melhoria contínua para as políticas voltadas para a conservação e proteção das riquezas naturais, da prevenção e do controle da poluição, da minimização dos resíduos sólidos, do reaproveitamento de materiais recicláveis e do desenvolvimento de novas tecnologias, que minimizem possíveis impactos no meio ambiente. Apesar dos esforços, cada vez são mais frequentes as notícias sobre desastres ambientais, aquecimento global, redução do volume de água potável e aumento da miséria, comprometendo o sucesso de sistemas e modelos econômicos convencionais. Os gestores dos serviços públicos, das organizações privadas e a sociedade civil são chamados a esse debate, para que contribuam com as transformações requeridas, construindo novos caminhos em direção a modelos que possam contemplar as demandas da sociedade e do Estado. Gestores demonstram preocupações não só com a resolução dos problemas ambientais em benefício das suas organizações, mas também com a mudança de clima e com a mitigação da degradação das riquezas naturais. A proposta é alargar a perspectiva atual, compreender o caminho trilhado, na busca da incorporação da gestão ambiental de forma ampliada, que a associa não só às regras, normas, leis, mas também, ao reconhecimento de que os problemas ecológicos no mundo não podem ser entendidos isoladamente. Eles devem ser tratados de forma interligada e interdependente, requerendo para a sua compreensão e solução um novo tipo de comportamento ecológico. Nessa direção, emerge um regulamento europeu que traduz a co-participação entre organizações, governos e comunidade: o Regulamento do Conselho das Comunidades Europeias (CEE) de número 1836/93, tendo sido adotado em junho de 1993. Esta normativa possibilita a participação voluntária das empresas do setor industrial num sistema comunitário de eco-gestão e auditoria, objetiva melhorar o desempenho ambiental, buscar a conformidade das ações empresariais com a legislação ambiental e, comunicar ao público os resultados ambientais alcançados no cenário das organizações europeias. Está aberta à participação voluntária das empresas desde abril de 1995, e se encontra em constante revisão, buscando a integração do seu conteúdo com outros instrumentos, normas e políticas, como a International Organization for Standardization (ISO 14001), o Responsible Care Program, o Modelo Winter, a Coalision for Environmentally Responsible Economies (CERES), o Strategies for Today’s Environmental Partnership (STEP), dentre outras. As organizações que participam desse Sistema recebem atestados e os seus nomes são divulgados no Jornal Oficial da União Europeia. O público é informado do comportamento ambiental, a fim de exercer controle social sobre as atividades da organização. Esse regulamento é chamado de Ecogerenciamento. 11 Orbach e Liedtke (1998) definem Ecogerenciamento como a gestão voltada para integrar as questões ambientais no processo decisório. Para esses autores, é uma área emergente, de grande importância para empresas comprometidas com seu ambiente ecológico e que inserem a variável ambiental nas suas atividades. Classificam essa definição em quatro abordagens, que diferem de acordo com as limitações impostas na sua aplicação: a econômica restrita, a econômica ampla, a ecológica restrita, além da econômica e ecológica integradas. Seu ponto de partida é uma mudança de valores na cultura organizacional. O Ecogerenciamento sugere práticas de gestão que diminuam os impactos negativos ocasionados pela organização, em contraste com a simples adesão às normas e às regulações impostas pelo mercado ou pelo Estado. O Ecogerenciamento se baseia em uma visão ecológica, em uma acepção mais ampla e profunda do que as descritas nos regulamentos dos Sistemas de Gestão Ambiental (SGA2). A coletânea de textos organizada por Callenbach (2000), propõe que as organizações identifiquem o que pode ser feito a fim de reduzir os impactos das suas operações junto ao meio ambiente. Os autores dos textos recomendam a sistematização de prioridades e a criação de uma estratégia de ação, para que melhorias ambientais sejam implementadas. É uma nova forma de agir, que não se subordina às ações defensivas ou reativas. Seria um comportamento ativo e criativo junto ao seu entorno. Está-se falando, portanto, de um valor e de práticas que pressupõem a potencialização da definição do conceito de gestão ambiental. Essa definição não é só voltada para a preocupação do atendimento legal, mas, sobretudo, para a incorporação de variáveis ecológicas e ambientais, que ainda não estejam institucionalizadas no processo gerencial. Para Bitar e Ortega (1998) começa a delinear-se um contexto no qual investimentos e proposições de projetos de Engenharia e uso de riquezas naturais, deixam de ser analisados somente sob o aspecto tradicional desenvolvimentista, passando a ser discutidos e entendidos sob uma nova perspectiva: a da efetiva contribuição ao desenvolvimento sustentável local, regional e global. As Geociências se adaptam a essa tendência geral e iniciam a direcionar parte de suas pesquisas e aplicações para o desafio da sustentabilidade ambiental, social e econômica, buscando responder às demandas correlatas, como às do Ecogerenciamento. Neste estudo, o Ecogerenciamento passa a ser concebido, como importante condição, para o estabelecimento da interação entre a Gestão e a Geologia. Tal constatação também é explicada 2 SGA - segundo a NBR ISO 14.001 o SGA é parte do sistema da gestão que compreende a estrutura organizacional, as responsabilidades, as práticas, os procedimentos, os processos e os recursos para aplicar, elaborar, revisar e manter uma política ambiental. 12 pelas observações de Bitar e Ortega (1998), que abordam o papel da Geologia de Engenharia no contexto da Gestão Ambiental. Os autores afirmam que: O papel da Geologia de Engenharia no contexto da gestão ambiental, é preponderante na caracterização dos processos do meio físico, atuantes no ambiente considerado, bem como na previsão das alterações a que estes processos estão sujeitos em face da instalação e funcionamento de uma mina, obra civil ou outra forma de uso do solo. Os processos que, com frequência, interessam à gestão, especialmente em razão da potencialidade que apresentam no sentido de influir, de forma significativa, na qualidade ambiental de um determinado contexto, são os que representam a dinâmica terrestre atual, como erosão, transporte e deposição de sedimentos e partículas, escorregamentos ... (BITAR E ORTEGA, 1998, p.449). Os autores estabelecem dois grupos de instrumentos da gestão ambiental relacionados com os riscos geológicos do meio físico e do uso do solo, nos quais a Geologia de Engenharia tem atuado e contribuído por meio dos seus estudos, ou seja: (i) a escala territorial como minerações, hidrelétricas, estradas, indústrias, dutovias, aterros sanitários, loteamentos, dentre outros; e, (ii) a região geográfica que delimita bacias hidrográficas, unidades de conservação ambiental e metrópoles, dentre outros. A gestão de riscos geológicos pode ser conceituada como um processo que se traduz pelas escolhas políticas e pelas decisões finais de organização em um determinado território. Os danos causados à Terra “são largamente evitáveis através de uma melhor gestão” (ARAÚJO et al., 2005, p.41). Infere-se, portanto, que a escolha do presente estudo junto aos aterros sanitários e das proposições de medidas mitigadoras dos impactos de projetos de saneamento básico em uma escala territorial, constituem-se objeto de grande importância para as Geociências. A crescente preocupação com os problemas ambientais e o posicionamento mais crítico por parte da sociedade vêm pressionando os gestores públicos, ligados ao saneamento básico, a identificarem modelos de gestão mais apropriados para apoiarem a gestão ambiental. 2.3. Saneamento: Conceitos e Estrutura Organizacional na Bahia A história das organizações de saneamento do estado da Bahia mostra que estas surgiram obedecendo a uma lógica de atuação política, baseada em estruturas organizacionais autônomas, com significativa ausência de articulação interna e externa, apoiadas por interesses de poder dominante, sem levar em consideração a preservação ambiental. 13 A partir de meados dos anos 70, os investimentos para fazer face ao crescimento do Estado da Bahia e, principalmente, a expansão da cidade do Salvador e de sua região metropolitana, foram cada vez maiores. Nessa época, o Plano Nacional de Saneamento (Planasa) supria as necessidades de expansão, pois o processo de urbanização não era tão célere como nas últimas quatro décadas. Além disso, a massa de população carente, principalmente a residente no interior do estado, devido à sua incapacidade de discernimento, sempre serviu de garantia de votos para os políticos, admitindo inaugurações de obras de fachada, perpetuando, assim, uma situação de precariedade nos serviços públicos de saneamento básico, acarretando em desperdício de recursos, tão necessários para a otimização de uma distribuição bem planejada e proteção do meio ambiente. Diante da carência de serviços públicos de saneamento básico, em 1992, o Governo do Estado da Bahia apresentou protocolo ao BID, solicitando financiamento para o “Programa de Recuperação Ambiental de Salvador e Baía de Todos os Santos”, com o objetivo de amenizar os problemas de abastecimento de água, esgotamento sanitário e gerenciamento de resíduos sólidos, dentre outros, da cidade do Salvador e de mais dez cidades localizadas no entorno da Baía de Todos os Santos. A partir de 1995, o Programa foi denominado “Bahia Azul - Programa de Saneamento Ambiental da Bahia”, com investimento total de U$ 600 milhões. Outro marco importante para a área de saneamento básico na Bahia foi a promulgação da Lei nº 11.445, sancionada em janeiro de 2007, que estabelece as Diretrizes Nacionais para o Saneamento Básico e para a Política Federal de Saneamento Básico, contribuindo para esta proposta, na medida em que enfatiza a necessidade de regulação do saneamento básico e o seu controle, garantindo transparência e participação no processo de formulação das medidas relacionadas à área, com o objetivo de preservar o interesse da sociedade e um meio ambiente salubre. O Estado da Bahia vem discutindo, portanto, a sua política estadual para os resíduos sólidos. A expressão meio ambiente salubre pode ser representada pelo ato de perceber o ambiente, em que se está inserido, de forma saudável, higiênica, benéfica. Dias et al. (2003) consideram que a salubridade ambiental é o produto das relações entre as pessoas, comunidades e organizações e o meio ambiente, criado pela mesma sociedade, dentro de uma tradição cultural, ou seja, que o meio ambiente deriva da cultura, da educação e da ideologia daqueles que o habitam. A relação entre saneamento e salubridade é intrínseca. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saneamento é o controle de todos os fatores do meio físico do homem, que 14 exercem ou podem exercer efeitos nocivos sobre o bem-estar físico, mental e social. O saneamento é o conjunto de ações sócio-econômicas que têm por objetivo alcançar a salubridade ambiental, colaborando para a proteção ao meio ambiente. O saneamento é uma matriz capaz de gerar avanços na preservação e salubridade ambiental. Fundamentado na ampla noção de saneamento, a OMS engloba os seguintes serviços públicos no saneamento: (i) água; (ii) esgotamento sanitário; (iii) drenagem urbana; (iv) resíduos sólidos; (v) controle de vetores de doenças transmissíveis; (vi) saneamento dos alimentos; (vii) saneamento dos meios transportes; (viii) saneamento e planejamento territorial; (ix) saneamento da habitação, dos locais de trabalho, de educação e de recreação e dos hospitais, e (x) controle da poluição ambiental (água, ar e solo, acústica e visual). Essa amplitude conceitual possibilita, até, uma visão estendida de saneamento a fatos históricos do País; segundo Rezende e Heller (2008) o saneamento decorre de processos econômicos, sócio-políticos e culturais. Os autores instam uma visão menos fragmentada, mais abrangente para o papel do saneamento identificando sua contextualização na sociedade, na vida das cidades, nas bacias hidrográficas e no âmbito da saúde humana. Borja e Moraes (2006) afirmam que a noção de saneamento assume conteúdos diferenciados em cada cultura e que o seu conceito vem sendo socialmente construído ao longo da história em função das condições materiais e sociais de cada época, do avanço do conhecimento e da sua apropriação pela população. Assim, o conceito de saneamento não pode ficar vinculado a uma ampla definição, nem tampouco a uma concepção estreita, atrelada somente às ações voltadas ao abastecimento de água, ao esgotamento sanitário, a coleta e disposição de resíduos sólidos ou a drenagem urbana. Assim sendo, o saneamento pode ser conceituado de forma ampla, como conjunto de medidas visando preservar ou modificar as condições do ambiente com a finalidade de melhorar a qualidade do meio físico e de vida da população, prevenir doenças, promover a saúde, melhorar a produtividade do indivíduo e facilitar a atividade econômica. Também pode ser tomado de forma restrita, conforme a Lei 11.445/2007, como conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais de: (i) abastecimento de água potável: constituído pelas atividades, infraestruturas e instalações necessárias ao abastecimento público de água potável, desde a captação até as ligações prediais e respectivos instrumentos de medição; (ii) esgotamento sanitário: constituído pelas atividades, infraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, tratamento e destinação final adequados dos esgotos sanitários, desde as ligações prediais até o seu lançamento final no meio ambiente; (iii) limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, referindo-se ao conjunto de atividades, infraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, 15 transbordo, tratamento e destino final dos resíduos sólidos domésticos e dos resíduos sólidos originários da varrição e limpeza de logradouros e vias públicas; e (iv) drenagem e manejo das águas pluviais urbanas que encerram um conjunto de atividades, infraestruturas e instalações operacionais de drenagem urbana de águas pluviais, de transporte, detenção ou retenção para o amortecimento de vazões de cheias, tratamento e destinação final das águas pluviais drenadas nas áreas urbanas. Quaisquer que sejam os diversos conceitos e componentes utilizados, esses revelarão sempre múltiplas associações entre o saneamento e o meio ambiente. A conservação do meio físico e biótipo é um pressuposto atual inserido nos projetos de saneamento, diferentemente de alguns anos atrás quando a concepção sanitária clássica recaía somente na promoção da saúde humana. A condição ambiental e social gerada pelos efeitos dos investimentos ligados aos sistemas de saneamento nas cidades vem se incorporando como pressupostos relevantes nos estudos avaliativos adotados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), principalmente naqueles referentes a levantamentos suplementares como a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (PNAD) construída ao longo dos anos. A ausência do saneamento interfere na conservação do meio físico e biótipo. No que tange aos serviços públicos de resíduos sólidos, a destinação final mal gerenciada pode causar sérios danos ambientais, como será tratado adiante. 2.4. Resíduos Sólidos Urbanos Segundo a Norma Brasileira ABNT NBR 10004, de 2004, os resíduos sólidos são definidos como: Resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível (NBR 10004, p.1). Esta Norma adverte que esses tipos de resíduos sólidos podem causar risco à saúde pública, provocando mortalidade, incidência de doenças ou acentuando seus índices; e riscos ao meio ambiente, quando o resíduo for gerenciado de forma inadequada (NBR 10004). Portanto, o gerenciamento adequado dos resíduos sólidos tem relação direta com a mitigação de impactos 16 ambientais, ou seja, o gerenciamento pode minimizar os impactos ambientais nocivos, causados pelos resíduos sólidos. O Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos é a co-participação no sistema de limpeza urbana (acondicionamento, coleta, triagem e reciclagem, transporte, tratamento e destinação final dos rejeitos). Envolve diferentes órgãos da Administração Pública, das organizações e da sociedade civil, objetivando elevar a qualidade de vida da população e promover o desenvolvimento sustentável. Um instrumento que apóia o gerenciamento integrado de resíduos sólidos é o Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos (PGIRS), documento que diagnostica a situação atual e traça cenários para o sistema de limpeza urbana. O plano de gerenciamento integrado estabelece diretrizes e ações ligadas aos aspectos ambientais, econômicos, financeiros, administrativos, técnicos, sociais e legais, desde a geração até a destinação final dos resíduos sólidos. As ações normativas, operacionais, financeiras e de planejamento, que compõem o plano de gerenciamento integrado dos resíduos sólidos, devem se processar de modo articulado, porque as atividades e procedimentos envolvidos nesse componente do saneamento básico encontram-se interligados, comprometidos entre si. A interligação entre estas diferentes esferas necessita de instrumentos legais que a fundamente. Desde os anos oitenta, as legislações federais que vêm atuando como ferramenta de apoio na inter-relação entre resíduos sólidos, sociedade e meio ambiente são: i) A Lei Federal nº 6.766/1979, que define as competências do Estado e do Município sobre a questão do parcelamento do solo. É um instrumento importante na interface de áreas contaminadas com o desenvolvimento urbano. A Lei não permite o parcelamento do solo em áreas poluídas, em terrenos que tenham sido aterrados com material nocivo à saúde pública, sem que sejam previamente saneados. ii) A Lei Federal nº 6.938/1981, regulamentada pelo Decreto nº 99.274/1990, define a política nacional do meio ambiente e regula a estrutura administrativa de proteção e de planejamento ambiental, o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA). iii) A Constituição Federal do Brasil de 1988, que estabelece os princípios da política nacional do meio ambiente. No capítulo VI (“Do Meio Ambiente”), Artigo 225, é colocado, dentre outros, o princípio que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. 17 iv) A Resolução CONAMA n.º 005, de 31 de março de 1993, dispõe sobre o tratamento de resíduos sólidos gerados em estabelecimentos de saúde, portos e aeroportos e terminais ferroviários e rodoviários; v) A Lei ordinária n.º 787, de 1997, dispõe sobre o Programa de Prevenção de Contaminação por Resíduos Tóxicos, a ser promovido por empresas fabricantes de lâmpadas fluorescentes, de vapor de mercúrio, vapor de sódio e luz mista e dá outras providências. vi) A Resolução CONAMA n.º 237, de 19 de dezembro de 1997, estabelece norma geral sobre licenciamento ambiental, competências, listas de atividades sujeitas a licenciamento. vii) A Lei nº 9.605/98, sobre as sanções penais e administrativas derivadas de lei de crimes ambientais, condutas e atividade lesivas ao meio ambiente. Prevê penas de reclusão de até cinco anos. viii) A Lei nº. 11.445/2007 estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico e a política federal de saneamento básico. Estabelece a responsabilidade do titular dos serviços públicos de saneamento básico. ix) O Decreto n.º 7.217/2010, que regulamenta a Lei n.º 11.445/2007 e estabelece normas para sua execução. x) A Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei n.º 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Dentre outras definições, esta Lei considera área contaminada o local onde há contaminação causada pela disposição, regular ou irregular de quaisquer substâncias ou resíduos. xi) O Decreto n.º 7.404/2010, que regulamenta a Lei n.º 12.305/2010. Os marcos relativos aos itens viii ao xi merecem destaque. A Lei n. 11.445, de 5 de janeiro de 2007, que estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico e a Política Federal de Saneamento Básico, resultado de décadas de debates, exige legalmente a ação de planejamento. Na Lei cabe ao titular dos serviços públicos de saneamento básico formular a política pública de saneamento básico, ação indelegável a outro ente, devendo para tanto elaborar 18 o plano de saneamento básico (art. 9º, do Capítulo II). A participação da sociedade na elaboração do Plano é assegurada no parágrafo 5, inciso V, do art. 19, do Capítulo IV e no art. 51, do Capítulo IX. Esse Marco Regulatório também prevê, com consultas e audiências públicas, o acesso a todos, aos estudos e às informações. Assim, não só a ação de planejamento se constitui em um desafio, mas também a promoção de um planejamento participativo (MORAES E BORJA, 2009). Em 2011, o Governo do Estado da Bahia vem discutindo e elaborando a Política Estadual de Resíduos Sólidos (PERS), em consonância com o Conselho Nacional das Cidades (ConCidades), ligado ao Ministério das Cidades, que coordena a formulação de estratégias para dar apoio aos planos municipais de saneamento básico de forma participativa. Esse Conselho aprovou a Resolução Recomendada nº. 32/2007, que estabelece uma campanha para elaboração dos planos dessa área. Determinou também, por meio da Resolução Recomendada nº. 33/2007 o prazo de até dezembro de 2010 para os municípios formularem seus planos de saneamento básico, senão, a partir de 2011, não teriam acesso aos recursos financeiros da União para aplicar em serviços de abastecimento de água, de esgotamento sanitário, de coleta e destinação final de resíduos sólidos e de drenagem urbana. Entretanto, o ConCidades constatou a dificuldade de muitos municípios brasileiros para prepararem eficientemente os seus planos e por meio da Resolução Recomendada nº. 75/2009 estabeleceu os conteúdos mínimos para elaboração dos seus planos, detalhando aqueles contidos no art. 19 da Lei n.º 11.445/2007. Finalmente, em 21 de junho de 2010, o Decreto nº. 7.217, estendeu para 2014 a apresentação dos planos de saneamento básico elaborados como condição para acesso a recursos federais. A justificativa utilizada pelos municípios para a dificuldade na elaboração dos planos municipais de saneamento básico é que eles não possuem técnicos capacitados para a elaboração de trabalhos dessa natureza ou verbas para a contratação de profissionais para tal fim (AESBE, 2010). Outra importante Norma para a área é a Lei nº. 12.305, de 2 de agosto de 2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, tendo sido discutida desde 1991, pelo Congresso Nacional. Em março de 2010, a Câmara dos Deputados aprovou esse marco regulatório. Em julho de 2010, o Senado aprovou a matéria e, em agosto do mesmo ano, foi sancionada pelo presidente da República. Esse regulamento impõe obrigações aos empresários, ao Poder Público e aos cidadãos no gerenciamento dos resíduos sólidos. Esse marco regulatório busca reforçar e incentivar o consumo consciente e o combate ao desperdício. Estimula a pesquisa, as tecnologias sustentáveis e o controle social. Reconhece também a ação dos catadores de materiais recicláveis, como a força motriz da coleta seletiva, seja ela de caráter formal ou não. 19 Para os efeitos da Lei nº 12.305/2010, os resíduos sólidos foram classificados quanto a origem e a periculosidade. Quanto à origem, incluem-se: (i) resíduos sólidos domiciliares, aqueles originários de atividades domésticas em residências urbanas; (ii) resíduos sólidos de limpeza urbana, aqueles originários da varrição, limpeza de logradouros e vias públicas além de outros serviços de limpeza urbana; (iii) resíduos sólidos urbanos, aqueles englobados nas alíneas “a” e “b”; (iv) resíduos sólidos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços; (v) resíduos sólidos dos serviços públicos de saneamento básico, aqueles gerados nessas atividades, excetuados os referidos na alínea “c”; (vi) resíduos sólidos industriais, aqueles gerados nos processos produtivos e instalações industriais; (vii) resíduos sólidos de serviços de saúde, aqueles gerados nos serviços de saúde, conforme definido em regulamento ou em normas estabelecidas pelos órgãos do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA) e do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS); (viii) resíduos sólidos da construção civil, aqueles gerados nas construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, incluídos os resultantes da preparação e escavação de terrenos para obras civis; (ix) resíduos sólidos agrossilvopastoris, aqueles gerados nas atividades agropecuárias e silviculturais, incluídos os relacionados a insumos utilizados nessas atividades; (x) resíduos sólidos de serviços de transportes, aqueles originários de portos, aeroportos, terminais alfandegários, rodoviários e ferroviários e passagens de fronteira; e, (xi) resíduos sólidos de mineração, aqueles gerados na atividade de pesquisa, extração ou beneficiamento de minérios. Quanto à periculosidade estão incluídos: (i) resíduos sólidos perigosos, aqueles que, em razão de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade, apresentam significativo risco à saúde pública ou à qualidade ambiental, de acordo com lei, regulamento ou norma técnica; e, (ii) resíduos sólidos não perigosos, aqueles não enquadrados na alínea “a”. As disposições da recente Lei reforçam e apóiam o desenvolvimento sustentável. Alterações ambientais, físicas e biológicas ao longo do tempo modificam a paisagem e comprometem a qualidade de vida do cidadão, principalmente, aqueles que habitam em áreas empobrecidas. É inevitável a geração de resíduos sólidos nas cidades devido à cultura do consumo. O sistema de limpeza urbana deve estar preparado para ser administrado por meio de diversas estruturas organizacionais, seja pela administração direta do município, por uma empresa pública específica, por uma empresa de economia mista, criada para desempenhar especificamente essa função, por concessões, terceirizações ou consórcio com outros municípios, especialmente para a destinação final dos resíduos sólidos. O uso de instrumentos gerenciais como planejamento 20 técnico, operacional e gerencial, administração dos recursos humanos, patrimoniais e financeiros, organização das tarefas, direção das atividades e controle de todo o sistema de limpeza urbana, permitem a criação de procedimentos e rotinas, que contribuem para um manejo apropriado dos resíduos sólidos. Esses procedimentos e rotinas enfocam desde o planejamento integrado dos sistemas de limpeza urbana, com a elaboração dos Planos de Gestão de Limpeza Urbana (PGLU), até a sua implementação, ou ainda construção de aterros sanitários, recuperação de áreas degradadas por “lixões”, programas de educação ambiental, capacitação do pessoal operacional e projetos de ressocialização dos catadores dos “lixões”. A etapa do sistema de limpeza urbana que será tratada nesta Tese, com maior profundidade, é a da destinação final dos resíduos sólidos. Assim, convêm definir, clara e objetivamente, o que sejam os processos de destinação final, fazendo distinção entre aterro sanitário, aterro controlado e o seu concorrente maior, amplamente utilizado no Brasil: “o lixão”. O aterro sanitário é um equipamento projetado para receber e tratar os resíduos sólidos gerados pelos habitantes de uma cidade, com base em estudos de Engenharia e Geologia, para reduzir ao máximo os impactos causados ao meio ambiente. Segundo a UNEP (2005) e o SyCTOM (2008), o aterro sanitário constitui-se em uma das técnicas mais seguras e de mais baixo custo para destinação final de resíduos sólidos. Os aterros são projetados para uma vida útil superior a 10 anos, prevendo-se ainda a sua monitorização alguns anos após o seu fechamento. São projetados e construídos em conformidade com a legislação vigente, após estudos de impacto ambiental (EIA) e processo de licenciamento. Os aterros sanitários não são considerados, realmente, um processo de tratamento dos resíduos sólidos. Trata-se, apenas, de uma tecnologia de disposição segundo métodos adequados de colocação da escória industrial, resíduos sólidos vegetais, papéis e papelões, panos, madeiras, latas, vidros, louça e sintéticos. O resíduo sólido é disposto no solo, proveniente da alteração das rochas, em camadas sucessivas de espessura predeterminada, cada uma das quais é recoberta por uma camada de solo argiloso, compactado. De acordo com a CETESB (1984), formam-se assim células recheadas de resíduos sólidos, os quais passam a sofrer um processo de decomposição em ambiente confinado, livre do acesso de insetos e outros animais. Nesses processos de destinação final, ocorre a decomposição do material orgânico originalmente disposto devido à ação da microbiota nativa, tanto em aerobiose, que ocorre nas regiões mais superficiais das células de confinamento, quanto em anaerobiose, estabelecida nas regiões mais profundas. No caso da matéria orgânica morta, a sua estabilização só se processa com a presença de bactérias saprófitas, que existem em abundância nas camadas superficiais do 21 solo (DACACH, 1990). Como produto da biodeterioração dos resíduos sólidos e somados à água infiltrada nas células forma-se o líquido chamado lixiviado. As características físico-químicas e microbiológicas do lixiviado são funções da composição, origem e idade dos resíduos sólidos inicialmente dispostos, bem como da fase de decomposição do processo. De forma geral, esse líquido contém, em concentrações variadas, compostos orgânicos polares, apolares, além de metais pesados que podem contaminar o meio ambiente e ser tóxicos aos seres vivos (PALMISANO E BARLAZ, 1996). Diferentemente dos aterros sanitários, nos quais são empregados procedimentos e cuidados para uma disposição adequada dos resíduos sólidos sobre o solo, os aterros controlados dispõem os resíduos sólidos sem proteger a área utilizada para este fim. Contudo, o aterro considerado como controlado utiliza alguns mecanismos para minimizar os impactos ao solo, como: disposição ordenada, compactação dos resíduos sólidos e cobertura com uma camada de terra. Pode ainda apresentar algum controle para evitar a poluição do lençol freático. Apesar dos órgãos ambientais exigirem a instalação de aterros sanitários, muitas vezes aceitam que esse tipo de equipamento funcione temporariamente, devido às dificuldades impostas pela instalação e gerenciamento de aterros convencionais. Os “lixões” consistem na disposição inadequada dos resíduos sólidos em áreas baldias, afastadas da cidade e sem qualquer cuidado com o uso do solo. Não existem medidas de proteção à saúde pública, tampouco ao meio ambiente. A disposição inadequada de resíduos sólidos no solo que vai contaminando as águas superficiais é reconhecida como um dos graves problemas da atualidade (UNEP, 2005; EPA, 2007). Os efeitos do lançamento de rejeitos na natureza são incalculáveis e recaem principalmente na escassez, na contaminação da água e no aumento das doenças associadas à poluição ambiental. Segundo Nascimento e Barbosa (2005), a água pode ser importante veículo para a transmissão de numerosas doenças epidêmicas, principalmente por meio das bactérias do grupo coliforme, que compreendem todos os bacilos gram-negativos, não formadores de esporos, aeróbicos ou anaeróbicos facultativos. Fazem parte deles, gêneros e espécies indicativas de poluição por fezes, embora possam ser também provenientes do solo e de determinados vegetais. Assim, a poluição das águas pode aparecer de vários modos, ocorrendo por infiltração do solo ou transportada pelas águas de chuva para os rios e mares. Outras destinações dadas aos resíduos sólidos são: a redução, a reutilização e a reciclagem, ferramentas gerenciais que ajudam a diminuir o volume de resíduos urbanos e industriais, que seguiriam para os aterros sanitários. Estas ferramentas se encontram inseridas na Política Nacional de Resíduos Sólidos e também serão tratadas com destaque nos próximos capítulos. 22 A participação da comunidade nas atividades de minimização de resíduos sólidos pode funcionar como uma promessa de reequilíbrio ambiental, de desenvolvimento, tendo seus desdobramentos na vida cotidiana. A criação de dispositivos para o fortalecimento da participação popular e do controle social, de modo a ampliar o controle público da sociedade sobre os serviços públicos de saneamento básico é fundamental para a transformação sócioambiental. A figura do catador de resíduos sólidos, de uma maneira geral, é vista como reflexo de um gerenciamento inadequado das áreas de destinação final. Para Zanta e Ferreira (2006), as diretrizes das estratégias de gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos evitam ou reduzem a geração de resíduos sólidos e de poluentes prejudiciais ao meio ambiente e à saúde pública. Dessa forma, se faz necessário analisar, com ênfase, o gerenciamento dos resíduos sólidos no Brasil e no mundo. O crescimento populacional, a consequente expansão territorial urbana e a ampliação do sistema de produção e consumo industrial têm contribuído para agravar as condições ambientais. A forma precária que vêm sendo avaliados os aterros sanitários baianos, tanto no que refere à gestão, quanto aos impactos ambientais, sinalizam a necessidade de investigação acurada. O objetivo geral desta Tese inclui esta preocupação, visto que busca analisar quais instrumentos de gestão que podem provocar ampliação e melhoria no atendimento da destinação final de resíduos sólidos e, a consequente prevenção da poluição ambiental. Para atingir esta finalidade, uma análise da localização geográfica e das formas como vêm se dando as práticas de gestão dos resíduos sólidos nas diversas regiões do mundo foi realizada, assunto que será tratado no próximo Capítulo. 23 CAPÍTUL O III – ESTADO DA ART E DOS RESÍDUOS SÓLIDOS N O M U N D O E N O B R A SI L 24 III – ESTADO DA ARTE DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO MUNDO E NO BRASIL A intervenção antrópica na natureza é uma das principais causas do desequilíbrio do ecossistema mundial. Na hierarquização das questões relativas à exploração predatória das riquezas naturais, a geração, tratamento e destino dos resíduos sólidos podem ser considerados como principais problemas. A Organização das Nações Unidas (ONU), por meio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, tem concentrado esforços para manter o estado do meio ambiente global sob contínua monitorização. Considerando a complexidade da área de resíduos sólidos, em 2005, o International Environmental Technology Centre (IETC), divisão do PNUMA, publicou um extenso trabalho sobre o cenário mundial de resíduos sólidos (Solid Waste Management - Volume II: Regional Overviews and Information Sources). Esse trabalho permite aos países uma autoavaliação e comparação do seu desempenho, entre diversos serviços públicos ligados ao resíduo sólido urbano e industrial, como: a coleta de resíduos sólidos, a reciclagem e as técnicas de destinação final. A presente Tese buscou ampliar os dados publicados pelo IETC e pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), com outros fornecidos por estudos acadêmicos, para relatar como vem acontecendo o gerenciamento dos serviços públicos de resíduos sólidos nos diferentes continentes da Terra. 3.1. Estado da Arte dos Resíduos Sólidos no Mundo Por meio da publicação Solid Waste Management: Regional Overviews and Information Sources, o PNUMA buscou divulgar dados de resíduos sólidos dos continentes da Terra. Esse propósito objetiva difundir as boas práticas na área e as convergências em relação a problemas ambientais comuns, causados pelos resíduos sólidos. 3.1.1. Minimização – Redução, Reuso e Reciclagem dos Resíduos Sólidos A publicação da IETC, imbuída na divulgação do estado da arte praticado pela área de resíduos sólidos, promove as ações em direção à minimização dos resíduos sólidos, que inclui a redução, o reuso, a reciclagem e a compostagem (na fonte), que desvia os resíduos sólidos dos locais de destinação final. A redução na fonte leva à diminuição da quantidade e redução da 25 toxicidade provocada pelos resíduos sólidos ao solo. O reuso do produto inclui a redução do volume de material, a eliminação da toxicidade, o aumento da vida do produto e a diminuição do consumo. Por fim, o reaproveitamento, que abrange a reciclagem e a compostagem, gera a necessidade de desenvolvimento de novas tecnologias, que fazem parte das estratégias de alcance do desenvolvimento sustentável. 3.1.1.1. África Na maioria dos países africanos, o poder municipal é o responsável pela coleta dos resíduos sólidos. Esta coleta é feita de diversas maneiras, desde homens e carroças, até caminhões compactadores. A coleta de resíduos sólidos no Continente varia de 20% a 80%, perfazendo uma média de 40% a 50% em toda África, sendo o descarregamento, frequentemente, em locais a céu aberto, sobre o solo, sem preocupação com o preparo da área ou dos aspectos operacionais (UNEP, 2005). Em Lagos (Nigéria), a rápida urbanização das cidades incrementou a geração de resíduos sólidos urbanos e industriais. Aproximadamente 90% das indústrias não tratam seus rejeitos, que não são controlados nem fiscalizados, devido à fragilidade das instituições que gerenciam essa área (UNEP, 2005). Em Lusaka (Zâmbia), aproximadamente 1.400 toneladas de resíduos sólidos são diariamente geradas e não coletadas. As instituições locais ligadas à área de resíduos sólidos têm poucos funcionários, equipamentos e recursos financeiros (AGYEMANG et al., 1997). Exceto nas principais cidades, inexistem sistemas formais de coleta de materiais recicláveis. Porém, no setor informal, esta atividade é amplamente realizada e ocorre em diferentes níveis, de acordo com a valoração promovida pelo mercado. A indústria de bebidas, por exemplo, incentiva o reuso das suas embalagens. 3.1.1.2. América do Norte Na América do Norte, muitos problemas de poluição e de desperdício são causados pelo contínuo crescimento econômico e pela dependência de níveis elevados de energia e de riquezas naturais. Os norte-americanos são os maiores produtores de resíduos sólidos contínuos municipais do mundo. Entre 1980 e 1995, o norte-americano gerou aproximadamente 620 quilogramas de resíduos sólidos por ano, nível elevado se confrontado com a média de 430 quilogramas gerados por ano pelo cidadão europeu. A prática de redução de resíduos sólidos, reuso e reciclagem nos Estados Unidos vem promovendo uma gradual redução das quantidades 26 enviadas para disposição e tratamento final (aterros ou incineração). Porém, ainda é baixa a reciclagem de materiais como o vidro e o papel, se comparada com a da maioria dos países europeus (UNEP, 2005). No passado, a reciclagem na América do Norte ocorria fora da jurisdição oficial da gestão dos resíduos sólidos. Grupos voluntários organizavam nos bairros movimentos de coleta de materiais como jornais, frascos e latas. Uma rede bem organizada de negócios recuperava o papel e os metais dos centros comerciais. Nos últimos anos, a reciclagem é prioridade máxima na América do Norte, devido ao aumento dos custos relativos à destinação final dos resíduos sólidos, à dificuldade de encontrar locais para construir aterros ou incineradores e à renovada preocupação pública com o meio ambiente. O Canadá, por exemplo, no ano 2000, projetou para os próximos anos uma meta de 50% na redução da destinação final dos materiais de empacotamento. Em 2005, aproximadamente 25% a 30% dos resíduos sólidos contínuos na América do Norte eram dirigidos para reciclagem, incluindo cerca de 5% para compostagem. Comparativamente, em 1975, menos de 10% dos resíduos sólidos eram destinados à reciclagem e nenhum destinado para compostagem. Em 2005, mais de 9.700 programas de reciclagem estavam em operação na região, na forma de incentivos advindos de programas de todos os níveis do governo, especialmente do nível local nos Estados Unidos e do regional no Canadá. As quantidades e os tipos de materiais recuperados per capita, entretanto, diferem de forma distinta, especialmente se consideradas as zonas urbanas, suburbanas ou rurais. A disponibilidade de determinada infraestrutura pública para reciclagem é igualmente causa determinante (UNEP, 2005). Na América do Norte, os programas de redução na fonte foram executados por meio da educação, da pesquisa, de incentivos e de estímulos financeiros (por exemplo, taxas baseadas em volumes gerados), regulamentações e desenvolvimento tecnológico. Os métodos mais utilizados para coleta desses materiais são: (i) coleta central, onde os geradores transportam materiais a um receptor central; e, (ii) coleta selecionada, onde os recicláveis são coletados nos domicílios. Os centros coletores permanecem no mesmo local há muitos anos. Atualmente, governos locais se esforçam para alcançar um alto grau de coleta de recicláveis, estimulando também a reciclagem doméstica. Pontos centrais de coleta recebem utensílios domésticos e materiais de pequenos comerciantes e são conhecidos geralmente como centros de recompra (buyback centres) ou centros de depósito (dropoff centres). Esses centros determinam que os usuários levem os recicláveis a um ponto central de coleta. Somente os 27 centros de recompra pagam pelo material. Os custos de operação desse tipo de coleta são menores que a coleta tradicional nos bairros (UNEP, 2005). A United States Environmental Protection Agency (EPA), agência de proteção ambiental americana, publicou um guia para ajudar os planejadores de eventos culturais, esportivos, acadêmicos, sociais e públicos a reduzir a quantidade de resíduos sólidos gerados nas suas reuniões. Esse guia resume os passos chave para planejar e organizar um evento que seja marcado pela consciência ambiental, por meio de uma lista com itens como: utilização de transporte público para os participantes do evento; hospedagem em hotéis que tenham preocupações ambientais; uso de material impresso frente e verso, em papel reciclado; uso de tintas não tóxicas para as impressoras e canetas distribuídas; oferecimento de coffee-breaks em recipientes reutilizáveis e, distribuição de contêineres para coleta de restos de alimentos, com fins de compostagem (EPA, 1996). Esse guia revela a preocupação da agência ambiental americana com a redução, reuso e reciclagem, no país de maior consumo per capta do mundo. 3.1.1.3. América Latina e Caribe Na América Latina e no Caribe a recuperação dos materiais recicláveis é uma atividade difundida amplamente. A reciclagem ocorre na maioria das grandes e médias cidades. Os materiais reversos mais utilizados são o papel e papelão, o vidro, os metais (predominantemente o alumínio) e plásticos. Todos esses materiais, exceto os plásticos, são reciclados pelas indústrias em grande escala, para a fabricação de sacos plásticos e recipientes. Nos grandes centros urbanos argentinos, brasileiros, colombianos e mexicanos, locais de recepção de materiais recicláveis podem ser encontrados nas áreas externas de centros comerciais. Posteriormente, as ações de minimização desempenhadas no Brasil serão tratadas de forma mais detalhada. 3.1.1.4. Ásia e Pacífico Nas maiores cidades da Austrália, Hong Kong, Japão, Coréia do Sul e Nova Zelândia, encontra-se um alto grau na redução de resíduos sólidos, separação na fonte e reciclagem, estimulados pela educação pública, novas práticas e cobrança de taxas de coleta. A Coréia do Sul vem implementando, desde 1995, um sistema de cobrança de taxa. Usuários devem colocar os seus resíduos sólidos em sacolas, que são vendidas pela administração municipal, com os 28 materiais reutilizáveis separados. Esta iniciativa vem resultando em 20% a 30% de decréscimo de resíduos sólidos nos aterros coreanos (UNEP, 2005). Yasuda (2006) apresenta os resultados de uma pesquisa realizada em mais de duas mil residências japonesas, sobre a geração de resíduos sólidos perigosos. Assinala que entre 2,5 e 4,3kg por tonelada de resíduos sólidos domésticos são considerados perigosos. O percentual de baterias corresponde a mais de 50%. Nos meses de novembro e dezembro, o descarte desses resíduos sólidos é maior do que nos meses anteriores. Um dos objetivos desta pesquisa foi o de estimar a geração desse tipo de resíduos sólidos, na busca de subsídios para a elaboração de projetos na área da coleta e possíveis reusos dos resíduos sólidos especiais no País. A UNEP (2005) expõe que o conceito americano de garage sale também vem sendo adotado pelo Japão. O poder municipal de algumas cidades japonesas vem encorajando escambo de roupas e de eletrodomésticos entre a vizinhança. A cidade de Osaka possui uma publicação intitulada Osaka Recycling Monthly, que visa incentivar trocas, principalmente de móveis e utensílios elétricos. O Hong Kong Productivity Council vem promovendo educação ambiental com foco na geração e destinação de resíduos sólidos. Há um sofisticado mercado de produtos ligados aos resíduos sólidos, inclusive com resultados que geram excedentes para exportação. Estas cidades possuem companhias especializadas para coletar produtos recicláveis, com o intuito de processamento e venda interna ou externa. Em Singapura, 38% do total dos resíduos sólidos gerados, majoritariamente pela indústria e pelo comércio, é reciclado por companhias comerciais. Na República Popular da China e no Vietnam, a reutilização e reciclagem são atividades organizadas a nível municipal, com suporte federal. A China, especialmente as principais cidades, tem grandes companhias que coletam materiais das organizações privadas e das governamentais para reciclagem. Há também feiras nos bairros, onde as pessoas podem vender frascos, papel e roupa. Normas estatais regulamentam os materiais e os preços de forma ineficaz. Porém, nos últimos anos, desde o estabelecimento da nova política econômica no País, as pessoas têm mais liberdade e, preferem negociar com os materiais de maior valor de mercado, tais como os metais e não com recicláveis domésticos. Atualmente, materiais são coletados e negociados por empreendedores privados, que podem vender às companhias do governo ou diretamente às fábricas. Diversas cidades no Sudeste e no Leste da Ásia tentaram, de forma experimental, a separação na fonte. Bancoc, Hanói, cidade de Ho Chi Minh, Shah Alam (Malásia) e Xangai, buscaram pôr em prática esta atividade em bairros selecionados, mas nenhuma persistiu, por causa dos muitos problemas encontrados. Um município de Kuala Lumpur está tentando financiar esta atividade. Recentemente, o Programa GEO 2000 - Ásia-Pacífico da United Nations 29 Environment Programme (UNEP), vem financiando organizações comunitárias para promoverem a separação na fonte (UNEP, 2005). Em diversos países do subcontinente asiático, existe dificuldade na gestão de pessoas dos serviços públicos ligados aos resíduos sólidos. É visto com desconfiança o manejo executado por sindicatos, considerados muito fortes e demasiadamente poderosos. Quase em toda parte, são deficientes a execução dos planos de limpeza urbana e a monitorização sistemática do seu desempenho. Não há norma ou plano de manejo moderno. Em alguns casos, não há padronização de desempenho, como manuais de procedimentos para varrição e coleta nas ruas indianas. Em geral, trabalhadores de manejo de resíduos sólidos são mal pagos, mal treinados e supervisionados inadequadamente, além do departamento de gestão de resíduos sólidos ser considerado de baixo-status. Técnicos graduados não permanecem por muito tempo nas funções, trazendo permanente descontinuidade nos serviços. É difícil para as autoridades da área de resíduos sólidos interagirem com as populações de baixa renda. Tal cooperação está sendo conseguida, entretanto, com a mediação de ONGs em diversos países (projeto de Orangi em Karachi, projeto piloto PROUD em Bombaim, Society for Clean Environment and United Way em Baroda, Sneha Bhavan em Cochin e comitê Save Pune em Pune) (UNEP, 2005). A presença das organizações ambientais cívicas está aumentando na região e, especialmente, desde os casos de epidemia na Índia, em 1994, estas organizações estão voltando a atenção para o gerenciamento dos resíduos sólidos. Em geral, o papel das ONGs junto às comunidades locais pode ser extremamente útil, verificando o desempenho dos serviços, implementando a redução por meio da compostagem e promovendo a reciclagem. No que se refere ao reuso, a Índia priorizou o do plástico. Bangladesh tem discutido limites para o empacotamento plástico. Nas regiões sul e ocidental da Ásia, muitas atividades ligadas à redução, à reutilização e à reciclagem, têm dificuldades no seu desenvolvimento, devido às elevadas porcentagens de resíduos sólidos orgânicos e em alguns lugares, de cinzas. A separação formal e informal na fonte e a reciclagem da maioria dos produtos manufaturados nãoorgânicos são significativas na região. A prática é essencialmente controlada pelo mercado; as indústrias se interessam em usar materiais reciclados somente quando o seu custo é compensador, em relação ao custo da matéria prima convencional (UNEP, 2005). 30 3.1.1.5. Europa Os governos europeus, muitos com tradição política social-democrata, não questionam a sua responsabilidade direta na área da saúde pública, assim como também no gerenciamento dos resíduos sólidos, que se enquadram nas competências dos governos locais. Nos países da União Europeia (EU), o reuso e a reciclagem fazem parte das práticas incorporadas pelos cidadãos e são necessárias e essenciais para o bom desempenho dos sistemas de gerenciamento integrado. Porém, há consideráveis variações nas práticas europeias de redução na fonte, de recuperação dos materiais e de reciclagem. Estas variações ocorrem desde os métodos empregados, grau de compromisso político e fiscal e mercados disponíveis (UNEP, 2005). A logística reversa vem sendo difundida e incorporada, de forma crescente, pela indústria europeia. Esse princípio obriga ao poluidor a arcar com os custos da atividade poluidora, que, em decorrência de sua atividade produtiva, possa estar causando danos ao meio ambiente. Dessa forma, a responsabilidade financeira de coleta dos resíduos sólidos industriais cabe ao produtor. Alguns países, tais como Áustria e Alemanha, tratam esse princípio como lei; outros, como a Grã Bretanha e a França, voluntariamente executam a coleta, depois elaboram relatórios documentados, objetivando obter incentivos fiscais com a recuperação, o reuso ou a reciclagem dos resíduos sólidos coletados. Na França, o Estado permite que a indústria utilize a infraestrutura de gerenciamento dos resíduos sólidos públicos para fins privados de reciclagem e, em contrapartida, recebe taxas que convergem para a melhoria dos equipamentos públicos. Relatórios objetivos sobre a eficácia desses programas são difíceis de encontrar (UNEP, 2005). Um complicador, que pode ser citado, é o fato que muitos programas tiveram objetivos ambiciosos de recuperação e não demonstraram os seus efeitos até o ano 2000. Um exemplo do esforço de responsabilidade do gerador é o sistema alemão de DSD (DUALIS), que obteve prejuízos em 1993, e terminou disseminando grandes quantidades de recicláveis de baixa qualidade no mercado secundário europeu. Sobreviveu somente depois de intervenção governamental, que patrocinou alguns empréstimos em longo prazo para quitação dos débitos dos governos locais e regionais (UNEP, 2005). A diretiva Waste Electrical and Electronic Equipment (WEEE/2002) e a diretiva Restriction of Hazardous Substances Directive (RoHS/2003) estabelecidas pela Comunidade Europeia para disciplinar os resíduos sólidos de equipamentos eletroeletrônicos, revisadas em 2008, sinalizam um caminho a ser seguido. Estas duas diretivas se complementam e, se por um lado estimulam a reciclagem de produtos eletroeletrônicos, por outro proíbem que certas substâncias como cádmio, mercúrio e chumbo sejam usadas em processos de fabricação de 31 produtos. Apesar destas normas, somente um terço dos eletroeletrônicos europeus são separados, coletados e tratados apropriadamente (EC, 2010). Diversos estados norte-americanos também estabeleceram marcos regulatórios para disciplinar esta questão e o debate também ocorre no âmbito federal. Porém, os custos e as implicações envolvidos na recuperação e tratamento dos Resíduos Eletroeletrônicos (REEE) se revelaram complexas, retardando avanços mais significativos. 3.1.2. Destinação Final - Aterros Sanitários A publicação Solid Waste Management: Regional Overviews and Information Sources conceitua aterro sanitário como a área reservada e operada por normas técnicas para a destinação final de resíduos sólidos, gerados pela atividade humana. Nele são dispostos resíduos sólidos domésticos, comerciais, de serviços de saúde e industriais. Para uma análise mais acurada, optouse por desenvolver o estudo por região, para permitir uma melhor visualização das características registradas na publicação do IETC. 3.1.2.1. África Nesse Continente a operação e o tratamento final dos resíduos sólidos são de responsabilidade do setor público. Na maioria das principais cidades africanas, os resíduos sólidos são depositados em áreas a céu aberto no perímetro urbano, apesar de muitas prefeituras possuírem regulamentos para construção e manutenção de aterros. Os locais para depósito de resíduos sólidos são escolhidos de acordo com a localização, em detrimento dos aspectos hidrológicos, das consequências ao nível da degradação do solo e das questões de salubridade, principalmente nas regiões ao norte da África, como Argélia, Líbia e Sudão (UNEP, 2005). Segundo a UNEP (2005), nos aterros existentes, o gerenciamento é mínimo, não inclui compactação, nem cobertura. Nos últimos cinco anos, países como Egito e África do Sul têm estimulado políticas para promover melhorias nos seus aterros. Programas nacionais para construção e operação de aterros vêm sendo desenvolvidos na Tunísia. Em 1995, a África do Sul instituiu um guia para construção e operação de aterros, assim como a Zâmbia, nesse mesmo ano, buscou melhorar a sua performance nesses serviços, por meio de um plano nacional. Na maioria dos países africanos, o despejo no oceano é proibido por lei, porém algumas cidades costeiras do Sul e do Oeste africanos ainda utilizam esta prática. 32 3.1.2.2. América do Norte Aterros sanitários ainda são os meios preliminares de disposição dos resíduos sólidos contínuos na América do Norte, manejando aproximadamente 65% a 70% dos resíduos sólidos urbanos. Desde os finais dos anos 80, quando aterros sanitários eram usados para a disposição final de aproximadamente 80% do total de resíduos sólidos, vem se dando uma diminuição progressiva da utilização desse equipamento público. No ano de 1988, havia, aproximadamente, 7.924 aterros sanitários em operação nos Estados Unidos, enquanto que em 2006, tinha apenas 1.754 aterros. Este número representa um declínio significativo de equipamentos em operação, visto que, em 1979, foi proibido por Lei o despejo de resíduos sólidos a céu aberto, conforme pode ser verificado na Figura 3.1.(EPA, 2007). Figura 3.1. – Evolução do Número de Aterros nos Estados Unidos - 1988 a 2006 Fonte: EPA (2007). Recentes exigências reguladoras americanas ampliaram as proibições de 1979, de modo que a destinação final deve possuir projeto adequado, destinado a minimizar os perigos à saúde pública e ao meio ambiente. Autoridades locais têm dificuldades para encontrar terrenos para a instalação de novos aterros. Algumas comunidades têm se deparado com uma verdadeira crise de instalação (capacity crisis), particularmente no Nordeste e no meio Oeste americano. Nos últimos anos, uma parte dos resíduos sólidos que era encaminhada para os aterros, tem sido levemente reduzida. Entretanto, a quantidade total gerada tem aumentado significativamente, resultando em aumento do volume destinado aos aterros. Pelas leis americanas, somente a disposição dos resíduos sólidos contínuos não perigosos são permitidas 33 nos aterros, tais como resíduos sólidos domiciliares e comerciais, além de pequenas quantidades de resíduos sólidos considerados perigosos oriundos de residências e do comércio (EPA, 2007). Em parte, em resposta à esta situação, aterros regionais estão sendo projetados e construídos em número menor, porém com maior capacidade de processamento. Esses megafills estão sendo projetados e construídos, visando assegurar as necessidades atuais e futuras de destinação final de resíduos sólidos. Esses novos aterros, que fornecem uma considerável economia de custos, são projetados com o objetivo de cumprir os regulamentos federais e estaduais e contam inclusive, com parceria entre o Estado e o setor privado. Entretanto, instalar em um determinado local um aterro desta natureza pode ser difícil. Por exemplo, em 1991, na região de Toronto, o processo de localização de um novo aterro foi assunto de intenso debate. Por esse motivo, a responsabilidade para estudar a questão deslocou-se das esferas locais e regionais, para um comitê independente, ligado ao governo provincial (UNEP, 2005). Nos Estados Unidos, a monitorização é realizada pela U.S. Environmental Protection Agency (EPA), a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos e possui critérios rígidos e permanentes. Aplica duras penalidades para o não cumprimento das suas recomendações. Um caso típico, que pode ser relatado, é o da cidade de Fort Lauderdale, Broward County, Flórida. Em 1964, o projeto original do equipamento de disposição de resíduos sólidos existente abrangia aterro de materiais e incineração. No local eram depositadas as cinzas da incineração e os resíduos sólidos de construção e demolição. Em 1975, o incinerador foi desativado, devido às novas leis ambientais de proteção da atmosfera. Nesse mesmo ano, o equipamento foi modernizado e todos os resíduos sólidos municipais aí depositados, além de material lubrificante e lama tratada dos esgotos municipais. No início do ano de 1980, a EPA confirmou uma contaminação na área do aterro. Em 1987, as atividades foram encerradas. Em 1988, a Unidade de Saúde Pública do Condado de Broward County encontrou contaminação em poços privados na região do aterro. A EPA solicitou ao Condado a recuperação da área, onde foram encontrados lama e água subterrânea contaminadas. Em 1995, o aterro foi completamente fechado. Paralelamente, a EPA recomendou que a Prefeitura analisasse a água subterrânea próxima ao aterro e tomasse providencias junto à operadora de água, alertando-a. Em 2003, a monitorização feita pela EPA demonstrou que os primeiros resultados relativos à água subterrânea apresentavam a sua despoluição. Em 2006, o local estava fora da lista de prioridades da EPA. Atualmente, a área é utilizada como um parque público. Por causa do material perigoso depositado no solo, a EPA avalia as condições da área a cada cinco anos. Foram avaliados os anos 1994, 2000, 2005. As conclusões dos relatórios revelam que as áreas remediadas estão sob controle e não causam perigo ao homem e ao meio ambiente (EPA, 2007). 34 Na América do Norte, um aterro com tecnologia avançada inclui características sofisticadas de engenharia, visando impedir a liberação de substâncias perigosas ao ambiente e possui todas as instalações técnicas necessárias para a proteção do meio ambiente, como: manta, captação e tratamento do lixiviado, cobertura de argila, dentre outras. Mesmo com esses cuidados, é inevitável a aproximação de aves, conforme pode ser visualizado na Figura 3.2. Figura 3.2. - Aterro Sanitário situado no Estado da Flórida – EUA Fonte: Marchi (2007). Aproximadamente cento e cinquenta aterros sanitários situados nos Estados Unidos vêm recuperando o gás metano como fonte de energia. Os aterros americanos têm que estar dentro dos padrões estabelecidos pelas leis ambientais do País. Caso contrário são fechados, para assegurar a proteção ambiental, conforme anteriormente referido. Dentre os 1.200 itens da lista Superfund dos Estados Unidos, onde constam os locais de resíduos sólidos perigosos, cerca de 10% está situado em antigos aterros, que aceitavam além de resíduos sólidos urbanos, quantidades de perigosos resíduos sólidos industriais. A estimativa de investimentos para a limpeza desses locais se encontra em torno de vinte e cinco milhões de dólares, por aterro. As atividades corretivas podem incluir a incineração no local, ou fora deste, e a destinação para outro aterro, que contenha células apropriadas para resíduos sólidos perigosos (UNEP, 2005). Um novo conceito de destinação, que está sendo desenvolvido na área, é o Landfill mining (escavação de materiais aterrados). Esse procedimento consiste em escavar o solo visando recuperar materiais enterrados, tais como: alumínio, vidro, plástico e outros materiais, que podem 35 ser usados como combustível. Porém, como outras técnicas de gerenciamento de resíduos sólidos urbanos, a sua aplicabilidade dependerá das circunstâncias locais específicas e pode envolver riscos ambientais, como encontrar resíduos sólidos perigosos. As operações de destinação final na América do Norte são vistas como um componente necessário de todo o sistema de gestão integrada de resíduos sólidos. Embora a reciclagem e a compostagem possam desviar uma parte significativa dos resíduos sólidos dos aterros, nem todos os resíduos sólidos podem ser aproveitados para estas atividades. Do mesmo modo, embora a geração de energia limpa possa significativamente reduzir o volume de resíduos sólidos, uma parte desses ainda permanece e deve ser disposta em aterros sanitários. Deve-se observar também que a geração de energia limpa é frequentemente interrompida para reparos ou manutenção. 3.1.2.3. América Latina e Caribe O uso de aterros sanitários na América Latina e no Caríbe aumentou significativamente na última década. Toda capital e grande cidade no continente latino-americano, México, Costa Rica e Trinidad Tobago, dentre outras, têm aterros sanitários. Entretanto, muitos desses equipamentos de destinação final são aterros controlados, caracterizados pela não pesagem dos caminhões com material a ser disposto nas células e a inexistência das máquinas e equipamentos no local da operação. Em muitos casos, os resíduos sólidos têm cobertura diária. Entretanto, nem sempre há recomposição da camada de argila e colocação de nova manta protetora do solo. Frequentemente não existe captação ou tratamento do lixiviado e monitorização ambiental. Aproximadamente 60% dos resíduos sólidos gerados na região são dispostos em aterros controlados. Algumas metrópoles da região (Belo Horizonte, Buenos Aires, Guayaquil, Medellín, Cidade do México, Santiago e São Paulo) têm aterros sanitários modernos. Geralmente, as mantas sintéticas não são utilizadas, à exceção de alguns novos aterros localizados na Argentina, no Brasil e no Chile. Existem sistemas de coleta e tratamento do lixiviado e os aterros são divididos em células, que possuem drenagem dos gases gerados. Os resíduos sólidos são cobertos diariamente por argila. Quando cheias, as células são desativadas e cobertas por uma camada de terra, a seguir recobertas por vegetação (UNEP, 2005). Para traçar um real quadro da situação, toma-se uma análise feita pelo Banco Mundial da destinação final no México: do total de 97 locais de destinação final no País, somente 11, localizados na maior parte na região Norte, possuem as condições que permitem que sejam considerados aterros sanitários. Muitos locais de destinação final mexicanos enfrentam significativos problemas operacionais e ambientais, como acesso e disposição descontrolados, 36 lixiviados não captados, tratados ou monitorizados. Esta análise concluiu que somente 15% dos resíduos sólidos gerados no México estão dispostos adequadamente. Na maioria dos aterros da região, o lixiviado não tratado pode se infiltrar nos lençóis freáticos ou nos rios, contaminando-os. Algumas exceções são os aterros localizados em Santiago (onde a precipitação é muito baixa), no Brasil, onde o lixiviado é captado, passa por filtros e tratado em lagoas de estabilização e no aterro da cidade de Buenos Aires, que possui análise, tratamento químico e biológico do lixiviado. A Cidade do México instalou igual sistema de tratamento em um de seus aterros. Devido ao alto índice de disposição de resíduos sólidos orgânicos nos aterros da região, há tendência para uma alta geração do gás metano. Não obstante, esse gás é somente usado no Chile (Santiago e Valparaiso), onde três aterros têm sistemas de coleta. O gás é usado por companhias de gás e serve a aproximadamente 30% da população em cada uma destas cidades. No aterro do Rio de Janeiro, o gás metano era usado como combustível para caminhões e máquinas. Entretanto, atualmente, com os preços do gás em queda, é mais barato usar o gás comercial. Na América Central (à exceção da Costa Rica), as Guianas e a maioria dos países caribenhos não têm aterros sanitários. Este é também o caso de todas as cidades, que não sejam as capitais, da Bolívia, do Equador e do Peru e de muitas cidades de tamanho médio, à exceção daquelas localizadas no Chile, em Cuba, em Trinidad Tobago e na Colômbia. Na ausência de aterros sanitários, os resíduos sólidos são dispostos em “lixões”. Esses locais são perigosos para a saúde humana e o meio ambiente. Catadores de resíduos sólidos entram livremente nesses locais, vivendo, as vezes, lá. Estas pessoas recolhem uma grande quantidade de materiais, incluindo resíduos sólidos orgânicos, para alimentar porcos (UNEP, 2005). Constantes tentativas são feitas para impedir o acesso de catadores ao aterro, porém, geralmente, esses esforços são mal sucedidos. Na Colômbia, entretanto, os catadores de materiais recicláveis e guerrilheiros foram treinados e financiados para o comércio de reciclados e para a limpeza das ruas. Muitos aterros são operados por empresas privadas, particularmente na Argentina, no Brasil, no Chile, na Colômbia e no México. Normalmente, os serviços ficam a cargo dos municípios, que os concedem às empresas. Não há autorização para dispor resíduos sólidos no mar. Entretanto, algumas cidades litorâneas mais pobres depositam seus resíduos sólidos nas margens dos rios e nas praias. Os resíduos sólidos são levados ao oceano, quando não permanecem na própria margem, causando odores e sérios problemas ambientais. 37 Aterros Simplificados (Manual landfills) Em cidades pequenas e médias do continente americano, com menos de 50.000 habitantes, estão sendo construídos aterros simplificados (manual landfills). O projeto desse tipo de aterro é similar aos aterros sanitários, à exceção do tamanho e dos equipamentos exigidos. Aterros simplificados têm capacidade para receber de 10 a 50 toneladas de resíduos sólidos por dia. Demandam, às vezes, uso de tratores e máquinas escavadeiras, mas somente para preparo periódico do terreno. A operação e manutenção cotidiana são realizadas manualmente, incluindo o arranjo das células, a compactação, a cobertura com argila e o fechamento das células. Os custos de construção, operação e manutenção são mais baixos do que o do aterro sanitário convencional. Os casos mais bem sucedidos se encontram na Colômbia, embora o Chile, a Costa Rica, Honduras e o Peru também possuam aterros simplificados. Frequentemente, o aterro simplificado é a melhor opção para pequenas cidades e vilas. Especialistas na Colômbia acreditam que a média de 20 toneladas/dia é o máximo que cada equipamento desse porte consegue operar de forma razoável (UNEP, 2005). 3.1.2.4. Ásia e Pacífico Nas cidades dos países em desenvolvimento da região, a principal prática de destinação final dos resíduos sólidos é o despejo em “lixões” a céu aberto. Muito frequentemente, os locais de descarga dos resíduos sólidos urbanos são áreas baixas ou várzeas, sendo que os moradores próximos à esses locais reclamam constantemente a presença do mau cheiro e de doenças. Kuala Lumpur vem usando antigas minas de estanho, próximas à cidade, para a disposição de resíduos sólidos. Embora a argila seja usada ocasionalmente para recobrimento dos resíduos sólidos, pouca importância é dada à migração do lixiviado ou dos resíduos sólidos, para os rios e lençóis freáticos, assim como o gás gerado pela decomposição dos resíduos sólidos para a atmosfera. A porcentagem elevada de produtos orgânicos, combinada com resíduos sólidos plásticos, quando comprimidos, formam camadas que contribuem para o acúmulo de gás metano em muitos aterros asiáticos. A combustão dos gases metano é frequente nos aterro de cidades como Bancoc e Manila, causando doenças aos trabalhadores dos arredores (UNEP, 2005). Os locais de descarga dos resíduos sólidos são descontrolados, criando problemas consideráveis à saúde, à segurança e ao meio ambiente. É difícil para estas cidades adotarem os regulamentos das nações industrializadas. São necessárias políticas apropriadas para a destinação de resíduos sólidos, que sejam flexíveis, atendendo às diferentes regiões do Continente. 38 Algumas cidades dos países em desenvolvimento da região, incluindo Bandung e Jacarta (Indonésia) e Manila (Filipinas), têm destinação final desenvolvida e razoavelmente operada. Durante a última década, por quase toda a região, tem se sentido progressos nessa área. Em pequenas cidades da Indonésia, próximas ao mar, os resíduos sólidos são despejados a céu aberto. Depois, uma parte é queimada e lançada de um penhasco ao mar. Nesta região, a destinação final combina dois métodos, a queima e a destinação no mar. Ásia Oriental e Sul O despejo a céu aberto é o método mais comum da destinação de resíduos sólidos por toda a região. Especialmente no subcontinente indiano e nas pequenas cidades e vilas, os resíduos sólidos são lançados em áreas abertas, algumas vezes com cobertura esparsa ou parcialmente queimados nas estações secas. Frequentemente os gestores municipais de resíduos sólidos despejam os coletados em áreas erodidas, designadas como locais para descarga dos resíduos sólidos. Latifundiários privados podem aceitar resíduos sólidos municipais para preencher as áreas erodidas dos seus terrenos. O aterramento de pantanais pelos resíduos sólidos é utilizado em algumas cidades, como: Calcutá, Bombaim, Madras e Colombo (UNEP, 2005). As cidades metropolitanas e as principais cidades da região Norte e Central possuem locais que podem ser denominados de aterros, embora raramente sigam todas as técnicas que orientam a operação de descarga. Problemas como: falta de material para cobertura, ausência de coleta e tratamento do lixiviado, inadequada compactação, projeto impróprio para o local e presença de catadores são comuns. Em cidades como Karachi (Paquistão) e Teerã (Irã) ocorrem frequentes incêndios espontâneos nos aterros da região, provocados pelos gases da decomposição do material orgânico, colaborando de forma significativa para a poluição do ar, tanto nos aterros legais, quanto nos ilegais. Não existe, ou se existe, é de forma precária, o controle dos resíduos sólidos perigosos, de saúde ou orgânicos, originários de restos de animais, embora determinadas áreas dos aterros sejam designadas para esses tipos de resíduos sólidos (matadouros e saúde) (UNEP, 2005). No subcontinente, muitos aterros são construídos e operados inadequadamente, devido à ausência de equipamentos. Os acessos que conduzem aos aterros são precários, tornando-se intransitáveis na estação úmida. Os resíduos sólidos são despejados ilegalmente em corpos d’água de todos os tipos, especialmente pelos usuários que não são servidos pela coleta municipal. Em alguns casos, a destinação final no mar é realizada pelas próprias autoridades 39 municipais. É comum que muitos resíduos sólidos alcancem o mar, após seu despejo ilegal nos rios e nos canais. Os riscos para a saúde das pessoas, principalmente, as que trabalham junto aos resíduos sólidos na região, são mais elevados do que os daqueles de países desenvolvidos. A maioria dos grandes aterros desta região possui centenas de trabalhadores extras sob a forma de catadores de resíduos sólidos e os trabalhadores formais não têm acesso aos equipamentos de proteção individual (EPI). Esses trabalhadores são expostos aos riscos das fezes humanas, resíduos sólidos de matadouros, gases da operação de descarga, à poeira tóxica, aos resíduos sólidos infecciosos provenientes de hospitais e clínicas, às serpentes, aos escorpiões e vidros quebrados e às explosões. Mortes têm ocorrido quando catadores de resíduos sólidos, incluindo crianças, são soterrados enquanto catam materiais recicláveis nos aterros. O planejamento para operações de destinação final seguras, a monitorização de futuros impactos e a remediação do local são raramente empreendidos nos países mais pobres da Ásia do Sul e Ocidental. Frequentemente, após a vida útil dos locais de despejo dos resíduos sólidos municipais, estas áreas são reutilizadas para construção de prédios ou como fazendas. Melhorias são necessárias para o planejamento, o uso de equipamentos e pessoal técnico. Nos países centrais, embora os locais para destino dos resíduos sólidos sejam projetados e operados pelas autoridades municipais, a consciência sobre a monitorização dos impactos ambientais é ainda baixa. Uma exceção é uma cidade, recentemente industrializada, Jubail, na Arábia Saudita, cuja destinação final dos resíduos sólidos é dividida em três áreas: resíduos sólidos perigosos, orgânicos e inertes. O local é monitorizado sistematicamente, por meio de levantamento e análise de dados. Recentemente, o Ministério do Ambiente em Israel vem fechando e remediando áreas de despejo impróprio. Atualmente, o país planeja aterros voltados para operações com menor impactos ambientais, com o uso de tecnologias avançadas (UNEP, 2005). Experimentalmente, a captação de gás tem sido tentada apenas em alguns casos, como por exemplo, em Nova Deli, onde o gás é fornecido a um hospital próximo. Na Índia, culturalmente, há inibição de uso do gás dos aterros para utilização doméstica. 3.1.2.5. Europa O aterro sanitário é um componente inevitável de todos os sistemas de gerenciamento de resíduos sólidos europeus. Em determinados países do Norte, menos da metade dos resíduos sólidos seguem para esses locais, enquanto nos países do Sul, como a Grécia e a Espanha ou nos 40 países do Leste Europeu, Hungria e Polônia, todos os resíduos sólidos coletados são destinados para aterros. A diretriz orientadora da operação de descarga da União Europeia identifica três tipos de operações para destinação final: resíduos sólidos perigosos, resíduos sólidos municipais e materiais inertes. Monofills (aterros para um resíduo especial) é também reconhecido por esta diretriz orientadora. Nos países europeus, há vinte anos, a prática era a da operação em pequenos e majoritariamente descontrolados aterros sanitários; esta situação ainda pode ser encontrada, mas, está mudando devido à legislação europeia. Ainda são encontrados pequenos aterros municipais, frequentemente localizados em pântanos ou em áreas erodidas, geralmente sem controle e que não exigem pesagem do volume dos resíduos sólidos, não cobram taxas, não promovem controle ambiental e, frequentemente, utilizam a queima visando diminuir o volume dos resíduos sólidos. Nenhuma cobertura é realizada e o fechamento destas áreas quando ocorre, é informal. Dentro de determinados países, o interesse político sobre a água subterrânea, o solo e a saúde, geralmente tem envidado maior esforço na preservação ambiental das operações de destinação final. Iniciativas de políticas supranacionais na Comunidade Europeia têm reforçado esta tendência e vêm contribuindo para um deslocamento gradual das operações de descarga menores, que não monitorizam o meio ambiente e a qualidade da água, para sistemas maiores, geralmente regionais, que dão ênfase ao controle da poluição. A localização desses aterros modernos é cuidadosamente planejada e o acesso e o despejo são monitorizados. Balanças são utilizadas para pesagem dos resíduos sólidos na entrada do local, visando a cobrança por tonelada (UNEP, 2005). A crescente atenção nos controles ambientais conduz para aumentos de custo de construção dos aterros, da operação e do fechamento. Esse procedimento tende a forçar economia de escala, com enfoque mais ambiental e mais moderno e melhorias contínuas. Na França, por exemplo, a Lei de 1º julho de 2002, instituiu um procedimento chamado mise en décharge, para encaminhar os resíduos sólidos não reversos ou rejeitos, para os aterros. Também é utilizada a incineração com filtros para os gazes. Apesar de prometer “fumaça limpa”, esse tipo de tratamento sofre séria oposição de especialistas e ONGs. Técnicas, cada vez mais modernas, estão sendo implementadas na França. Os projetos atuais dos aterros franceses estão cada vez mais “ambientalmente corretos”, visando minimizar as reações da comunidade para a instalação desses equipamentos nos seus territórios. O Syndicat Mixte des Hauts de Seine pour l'Elimination des Ordures Ménagères (SyCTOM), criado em 1984, presta serviços, de forma regionalizada de tratamento final para os resíduos sólidos gerados na aglomeração parisiense, para mais de cinco 41 milhões de usuários. Esse sindicato adverte que os resíduos sólidos que são encaminhados para os aterros sanitários, geridos por eles, não podem mais ser reutilizados (ultimes) (Figura 3.3.). Figura 3.3. – Maquete de Aterro Sanitário Gerido pelo SyCTOM nos arredores de Paris Fonte: SyCTOM (2008). A regionalização dos aterros sanitários é observada também na maioria dos outros países europeus e gera efeitos secundários, que variam da necessidade de criar autoridades regionais para a operacionalização desses serviços, à de construir diversas estações de transferência. Controles ambientais aumentam custos. Isto influencia a construção de aterros maiores, que servem a uma região em vez de uma única municipalidade e é dispendioso. O projeto e a construção de aterros modernos são mais caros do que o simples despejo e locais destinados para esses serviços também são difíceis de serem encontrados. A resistência popular à construção de um aterro na Europa é menor do que a da América do Norte, mas, ainda assim, é considerável. Aterros sanitários regionais tendem a ter projetos maiores e mais importantes e o retorno do investimento geralmente exige taxas ou impostos. Os governos europeus nem sempre optam pela amortização do investimento realizado nos aterros por meio de taxas. Essas escolhas dependem dos objetivos da política adotada, que variam desde a cobrança de multas em locais que recebem resíduos sólidos a céu aberto, até subsídios governamentais diretos. Em alguns casos, arbitrariamente, as taxas de operação dos aterros são mais elevadas do que os custos, visando desencorajar o descarte ou a geração de resíduos sólidos; em outros, as taxas são mais baixas, para incentivar a destinação legal (UNEP, 2005). A decomposição de materiais orgânicos nos aterros gera gás natural, uma combinação de metano e de dióxido de carbono. Alguns aterros na Europa reutilizam o gás para energia, outros não. Em 1993, houve um acidente trágico em um aterro próximo à Istambul: a explosão do metano e de outros gases, provocados pela decomposição dos resíduos sólidos, atingiu parte de 42 um estabelecimento, matando 39 pessoas. Recentemente, em Izmir, Turquia, um aterro foi construído com capacidade instalada para captação de gás (UNEP, 2005). A Europa tem uma considerável experiência em aterros biorreatores, que se processa pela adição de líquido e ar para favorecer os processos microbianos, que transformam e degradam rapidamente os resíduos sólidos orgânicos. 3.1.3. Gerenciamento dos Resíduos Sólidos Urbanos 3.1.3.1. África A administração do sistema de limpeza urbana do continente é frágil, comprometida pela ausência de recursos, de técnica e de mão de obra especializada. O controle e a avaliação são precários e os marcos regulatórios inconsistentes. Existem muitas formas de administração: pública, privada e por meio de parcerias. Os arranjos institucionais são fincados em três esferas de responsabilidade; a primeira, em nível federal, geralmente sob os cuidados dos Ministérios de Meio Ambiente, também envolvidos com turismo, conservação das selvas, do solo e dos recursos hídricos, áreas que geralmente prevalecem sobre a de gestão de resíduos sólidos. Também ministérios como Saúde, Planejamento e Desenvolvimento ou Serviços Públicos cuidam dos resíduos sólidos. Diante dos desafios que o manejo dos resíduos sólidos apresenta na região, os recursos são escassos e a técnica é limitada. Os ministérios controlam os recursos para resíduos sólidos e os transferem para serem executados pelas autoridades responsáveis pelo manejo dos resíduos sólidos. Em muitos casos, os ministérios são solicitados a implementar padrões ou normas para o sistema de limpeza urbana, baseados nas leis promulgadas, mas não cumpridas. Geralmente, as cooperações internacionais em resíduos sólidos acontecem dentro desta esfera governamental. Existem, ainda, algumas agências nacionais, que tratam do manejo de resíduos sólidos, como a Agência Federal de Proteção Ambiental da Nigéria e o Conselho Ambiental da Zâmbia (UNEP, 2005). Abaixo da esfera federal, existem governos distritais nas principais cidades, que planejam e moldam as ações em resíduos sólidos e recebem da esfera federal os recursos para aplicação na área, por exemplo, o Governate of Cairo, a Communaut Urbaine in Dakar e o Gouvernorat de District in Bamako, como também os governos municipais em Ibadan, Accra e Harare. Normalmente, estas esferas possuem um orçamento anual, que provêm dos recursos federais e não cobram taxas de limpeza pública dos usuários pelos serviços prestados. Exceções podem ser citadas como em Accra, Ghana, onde os departamentos de resíduos sólidos estão autorizados a 43 cobrar taxas da população servida. Em Conakry, na Guinea e Lagos, na Nigéria, as agências municipais cobram taxas de limpeza urbana. Atualmente, a gestão se apresenta híbrida, entre pública municipal e privada. No Cairo, a Zabbaleen opera como uma cooperativa e utiliza caminhões para coleta de materiais recicláveis. Côte d'Ivoire, Ghana, África do Sul e Tanzânia, vêm buscando parcerias com o setor privado para a coleta dos resíduos sólidos nas principais cidades. Parcerias entre cooperativas e grupos comunitários vêm sendo construídas para coleta, reciclagem e compostagem. Em Cotonou, Benin, grupos comunitários participam do processo de coleta, contratados pelo município. Os sistemas de gerenciamento de resíduos sólidos da África do Sul são organizados em agências municipais, sob suporte de instituições acadêmicas e organizações profissionais ativas no campo da gestão dos resíduos sólidos. Embora escassos, existem alguns aterros sanitários privados no País, muitos associados aos resíduos sólidos perigosos e outros ligados aos proprietários de empresas de serviços de coleta. 3.1.3.2. América do Norte Os governos locais na América do Norte são os responsáveis pelo controle dos serviços públicos de resíduos sólidos, com algum envolvimento da esfera estadual ou de autoridades regionais e públicas com pouquíssima participação do governo federal. No Canadá é mais descentralizado. Por um lado, o governo federal canadense tem poucas leis relativas ao gerenciamento dos resíduos sólidos, embora detenha o controle sobre os resíduos sólidos considerados perigosos. Por outro lado, nos Estados Unidos existem planos básicos e padronização para a operação de aterros, incineração e normas para recuperação de materiais. Esses padrões ou normas federais devem ser adotados em nível estadual e implementados pelos governos locais ou empresas privadas. Nos Estados Unidos, na maioria das vezes, os departamentos públicos municipais administram os resíduos sólidos urbanos, embora outros departamentos, como o da saúde ou o do meio-ambiente, estejam frequentemente envolvidos. Um significativo número de organizações da comunidade também participa das decisões locais do gerenciamento dos resíduos sólidos, tais como os meios de comunicação, as empresas e as organizações sociais. Em alguns Estados e Províncias, as pressões econômicas e ambientais de eliminação dos resíduos sólidos estão deslocando a responsabilidade de gerenciamento do nível local para o estadual. Nos Estados Unidos, as disputas mais sérias tendem a serem transferidas para o nível federal (UNEP, 2005). 44 A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), associada a algumas instituições estaduais, estabeleceram e adotaram uma hierarquia para o planejamento e para a operação dos resíduos sólidos de forma integrada: redução e reuso, reciclagem e compostagem, incineração para utilização em energia e eliminação no solo. A aplicação específica desse esquema de planejamento depende das circunstâncias geográficas, ambientais, sociais e econômicas locais. O Estado de Oregon estabeleceu, com sucesso, prioridades para o planejamento local, resultando em diversas estratégias integradas no gerenciamento de resíduos sólidos e no seu programa de reciclagem, um dos mais bem sucedidos dos Estados Unidos. Alguns Estados e Províncias têm feito pouco em relação ao planejamento do manejo dos resíduos sólidos urbanos, enquanto outros desenvolveram legislação extensiva, adotaram práticas inovadoras e possuem equipe de funcionários habilitados para este manejo. A maioria tem planos de manejo de resíduos sólidos, que definem os objetivos e a agenda para a ação regional da gerência. Frequentemente, esses planos e regras de financiamento se baseiam nos recursos e programas da comunidade local e sugerem desempenho apropriado para a sua execução. A atuação para o desenvolvimento do planejamento do manejo dos resíduos sólidos urbanos inclui duas importantes ações: a adoção e execução do plano pelo município e os programas voluntários subsidiados por incentivos diversos (UNEP, 2005). Algumas leis requerem que os governos locais ajustem suas ações, por meio de programas específicos, atingir níveis específicos de reciclagem; outras leis responsabilizam as indústrias e o comércio pela reciclagem. Os Estados e as Províncias incentivam também a atuação local para gerenciamento de resíduos sólidos, estabelecendo recursos de acordo com os indicadores apresentados nas atividades do programa adotado, tais como: programas de reciclagem e yard waste. A legislação também contém provisões de concessões de recursos, combinando financiamento para estudos de novas práticas, auxílio técnico, desenvolvimento e execução de programas, programas de treinamento, educação pública, materiais e cartilhas educacionais, programas domésticos para resíduos sólidos perigosos e especiais, marketing e redes de informação, tanto junto aos gestores públicos quanto aos privados. Em algumas jurisdições, a taxação e outras políticas de incentivos básicos também possuem um importante papel, como os créditos dados para a compra de equipamento para reciclagem ou para as indústrias que empreguem atividades junto à reciclagem do papel ou do óleo. Visando incentivar a reutilização de recipientes de bebida, de pneus e de baterias automotrizes, são aplicados, em algumas jurisdições, sistemas de reembolso de impostos pagos. A indústria da cerveja, em Ontário, há anos tem tido sucesso com a operação desse sistema de 45 reembolso, com uma taxa de retorno em torno de 90%. O sucesso é, em grande parte, devido à natureza centralizada da distribuição de cerveja, pelo comércio varejista provincial, único distribuidor autorizado. A indústria de bebidas leves, por todo o Canadá, tem sido menos bem sucedida nesta forma de subsidio, devido à sua natureza descentralizada de distribuição. Guias ou cartilhas, voltadas para a reutilização, são outras ferramentas que os governos centrais utilizam. O governo federal dos Estados Unidos, por exemplo, possui guias para reutilização do papel, do óleo lubrificante, da recauchutagem de pneus, dos restos de construção e de outros produtos que tenham condições para serem reciclados. A responsabilidade e o gerenciamento das atividades de coleta e da destinação final dos resíduos sólidos na América do Norte variam desde programas inteiramente públicos, aos contratos de governo com empresas privadas, até a operação de um mercado aberto, operado pelo setor privado. As vantagens dos sistemas privados incluem o aumento da eficiência de prestação de serviços e da manutenção, devido à competição, menos susceptíveis às influências políticas. Nesse tipo de gestão, é usual maior flexibilidade no gerenciamento e menor tensão para captação de recursos governamentais. As vantagens de um sistema público incluem seu caráter não lucrativo, vantagens de compras governamentais, operação centralizada e procedimentos padronizados (UNEP, 2005). Como consequência das limitações na despesa do governo local, as municipalidades transferem, cada vez mais, a operação e a manutenção dos serviços públicos de resíduos sólidos para a iniciativa privada. Estudos vêm mostrando que os municípios podem cortar seus custos significativamente, se terceirizar os serviços públicos de coleta. Existe também a transferência dos riscos técnicos, financeiros e potenciais, para o setor privado. Muitos municípios optam pela privatização, porque não têm no seu quadro de pessoal técnicos especializados como operadores, coordenadores e pessoal da manutenção. Alguns municípios preferem gerenciar e operar por conta própria o sistema de limpeza urbana, devido ao controle exercido pelas autoridades sobre o desenvolvimento e a operação do sistema. Outras alternativas são a parceria público/privada e os consórcios. Esta opção tem a vantagem de permitir que os riscos e os custos de construção e operação estejam voltados para a realidade e circunstâncias locais. Muitos municípios escolhem a opção de “controle público, operação privada” em parceria com as firmas que projetaram e construíram as instalações. Para incentivar um gerenciamento eficiente dos resíduos sólidos urbanos, algumas cidades, tais como Phoenix, transferiram o serviço em algumas áreas para operação privada e mantém operação pública em outras. Algumas das cidades norte-americanas têm adotado licitar o gerenciamento da prestação de serviços públicos de limpeza urbana de forma competitiva, ou 46 seja, tanto podem ser prestados por empresas governamentais, quanto por privadas (UNEP, 2005). 3.1.3.3. América Latina e Caribe Os gestores e pesquisadores ligados à área de saneamento básico na América Latina e no Caribe concordam que o gerenciamento do sistema de limpeza urbana é o tópico de maior preocupação nos serviços públicos urbanos. Medidas urgentes necessitam ser tomadas para melhorar os serviços públicos de resíduos sólidos. Os especialistas afirmam que as tecnologias estão bem desenvolvidas, embora pequenas melhorias sejam necessárias. A qualidade dos serviços é, atualmente, o item prioritário para um melhor desenvolvimento dos sistemas de gerência atuais. Por toda a região, os governos locais são responsáveis pela gerência dos resíduos sólidos. Os municípios com grandes áreas urbanas tendem a ter um departamento específico de manejo de resíduos sólidos. As cidades menores ou menos organizadas têm frequentemente um departamento municipal responsável pelo gerenciamento de resíduos sólidos. As entidades responsáveis pela supervisão de todas as fases da operação, tanto nos serviços privatizados, quanto nos públicos, são departamentos municipais. Entretanto, à exceção de algumas cidades como Buenos Aires, São Paulo e Rio de Janeiro, o desempenho gerencial é muito baixo. Culturalmente, os empregos ligados à área de resíduos sólidos representam atividades que abrangem condições de trabalho e de remuneração inferiores. Tampouco a operação e a supervisão são realizadas de forma apropriada. Segundo a UNEP (2005), por meio de uma maior participação de empresas privadas pode-se esperar mudanças para melhor. O déficit na prestação de serviços públicos de resíduos sólidos na Região se reflete pela ausência de atendimento às demandas sociais, bem como, pela qualidade da mesma. O problema não se encerra na simples transferência de serviços da esfera pública para a privada, na tentativa de responder às demandas, mas, na promoção da melhoria e ampliação destes serviços públicos, fundamentada em mudanças comportamentais e culturais da população, aliadas ao uso de inovações tecnológicas e capacitação do pessoal envolvido nestes serviços. Para a UNEP (2005), há uma visível demanda por planos para a gestão de resíduos sólidos e um número significativo de cidades está trabalhando nesse sentido. Entretanto, poucos planos estão sendo executados e os programas de gerenciamento de resíduos sólidos são improvisados pela maior parte das cidades, influenciados fortemente pelo ambiente político do momento. A 47 pressão para a melhoria dos serviços públicos ligados à coleta conduziu, em alguns casos, ao fortalecimento institucional local, assim como à privatização dos serviços. Muitas cidades vêm optando por realizar o manejo dos resíduos sólidos por meio de administração direta. Grandes cidades, tais como a Cidade do México onde o departamento de resíduos sólidos urbanos é forte e bem administrado, assim como a maioria das pequenas cidades mexicanas trabalham sob esse esquema. O pessoal técnico é despreparado, em muitas cidades centro-americanas e algumas cidades andinas. No Brasil, a prefeitura da cidade de São Paulo contratou empresas privadas, reduziu custos e mantém o papel de supervisora dos serviços (UNEP, 2005). Outras metrópoles criaram empresas municipais para gerir os serviços de limpeza urbana. Esse é o exemplo de Buenos Aires, Lima, Rio de Janeiro, Bogotá, Santiago, Caracas, Medellín, Belo Horizonte, La Paz e Porto de Spain. Nesses casos, as empresas são subordinadas às prefeituras, mas funcionam independentemente. As fontes de financiamento das empresas variam. Em alguns casos, são auto-sustentáveis como no Cinturon Ecologico del Área Metropolitana Sociedad del Estado (CEAMSE) em Buenos Aires e da empresa de limpeza urbana de Porto de Spain. Em outros casos, os recursos financeiros vêm por meio da municipalidade, como por exemplo, a Empresa de Serviços Municipais de Limpeza de Lima (ESMLL). Na maioria dos casos, há uma combinação de recursos próprios e de subsídios diretos do governo local. A participação do setor privado sempre está presente em algum nível do gerenciamento dos serviços públicos dos resíduos sólidos na região. Esta participação se dá por meio de empresas de todas as dimensões, desde multinacionais, até de pequeno porte e em toda a cadeia de gerenciamento da área (reciclagem, coleta, transporte, tratamento e destinação final). A eficiência das empresas privadas varia significativamente. Se os municípios, por meio de departamentos ou empresas públicas, são os responsáveis pela gestão dos resíduos sólidos, geralmente, a sua coleta é terceirizada para o setor privado. Por exemplo, em cidades como São Paulo, Buenos Aires, Bogotá, Santo Domingo e La Paz, a coleta dos resíduos sólidos é feita, quase inteiramente, por empresas privadas. A municipalidade ou empresa municipal se restringe à supervisão desses trabalhos (UNEP, 2005). A qualidade desta supervisão depende da capacidade institucional. Por exemplo, alguns municípios, localizados no México, optaram por empresas privadas, visando melhorar os serviços públicos prestados. Porém, esses municípios não têm quase nenhuma experiência em contratos de serviço, em concessões, nem em monitorizar a conformidade das condições do contrato. 48 Consequentemente, os padrões de desempenho sob tais arranjos nem sempre são satisfatórios e os níveis de eficiência pretendidos são raramente obtidos. Em alguns casos, como a Cidade de Guatemala, a coleta é feita pelo setor privado. Entretanto, a participação do setor privado é resultante da ausência de infraestrutura e não de um plano elaborado para este fim. Nesse caso, as empresas de coleta têm indefinição quanto às áreas onde vão atuar e cobram taxas de serviços diretamente a usuários. Em alguns casos, quando uma residência não está satisfeita com o serviço fornecido por uma determinada prestadora de serviços outra empresa é contratada. Em consequência, duas empresas distintas podem servir à uma mesma área, dificultando o controle geral dos serviços (UNEP, 2005). O setor privado da região vem desenvolvendo iniciativas, em pequena escala, em áreas de baixa renda e de difícil acesso. Coleta de resíduos sólidos, ainda incipiente, está acontecendo na Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Equador, Panamá e Peru. Esta atividade, desenvolvida por empresas privadas, começaram a ser desempenhadas sob a responsabilidade de ONGs ou de organizações de cooperação técnica. Têm geralmente um acordo com o governo local, seus serviços são pagos pelo governo ou são autorizadas cobranças de taxas diretamente dos usuários. O sucesso ou a falha destas empresas depende de um número de fatores. Inicialmente, há necessidade de uma boa cooperação entre o município e a empresa envolvida, de modo que a jurisdição e os sistemas de custos estejam bem definidos. É necessário treinamento apropriado de recursos humanos nas prestadoras de serviços, não somente no que se refere à coleta, como ao gerenciamento da empresa. As empresas que se caracterizam por possuir trabalhadoras mulheres demonstraram maior eficiência. Estas mulheres são em sua maioria mães solteiras, com grande necessidade de trabalhar e a prestação de serviços ligados à limpeza urbana é uma fonte de renda dentro da comunidade (UNEP, 2005). Embora não encontrado com frequência, o setor privado também se envolve com o gerenciamento dos aterros sanitários. Por exemplo, em Buenos Aires, assim como em algumas das maiores cidades brasileiras, os aterros estão em mãos de operadores privados. Outras cidades com operação privada estão localizadas na Colômbia, no Equador, no México, no Panamá, no Paraguai e na Venezuela. A maioria dos aterros isolados é operada por empresas de pequeno porte. Há pouca monitorização do desempenho das operações relativas aos resíduos sólidos na região. O desempenho é medido geralmente como parte dos estudos que avaliam a eficácia da coleta em pontos isolados. Assim, esses estudos mostram raramente séries temporais. Os resultados desses estudos são usados como ferramentas de planejamento. 49 Os programas de ampliação e melhorias são praticamente inexistentes. A razão para esse duplo colapso é a fragilidade da legislação, contando-se com poucos instrumentos legais, que poderiam ser aplicados de forma eficaz para melhorias dos serviços e cultural, pois o manejo dos resíduos sólidos foi tradicionalmente de responsabilidade dos municípios, que, alegando falta de recursos, não se esforçam para oferecer serviços de qualidade (UNEP, 2005). A UNEP (2005) cita alguns esforços envidados para atendimento aos mais pobres. Em Curitiba, Brasil, diversas inovações foram introduzidas para promover o gerenciamento apropriado dos resíduos sólidos nas áreas pobres da cidade. O Programa intitulado Lixo que não é Lixo tenta promover a reciclagem baseada na separação na fonte. Esse Programa não vem sendo muito bem sucedido no que se refere à quantidade coletada, sendo o custo da coleta de recicláveis, aproximadamente dez vezes maior que o da coleta normal. O Programa Compra do Lixo, também implantado em áreas onde havia problemas ambientais na cidade de Curitiba, tem sido bem sucedido no seu principal objetivo, que é o de promover a redução dos resíduos sólidos nas ruas. Esse Programa "compra" sacos de lixo, em troca de cupons de alimentos ou de transporte. Um programa similar, Garbage Exchange, foi iniciado na cidade de Cuauhtémoc, México. Nesse caso, seis sacos de lixo são trocados por um saco de alimentos básicos. A própria comunidade sugere o tipo de alimento. O sucesso desses programas de troca dos resíduos sólidos depende de dois fatores básicos: o programa necessita ser subsidiado; e os custos necessitam ser absorvidos como parte de um programa social do município. Não deve ser tratado como um item ligado às despesas com o sistema de manejo de resíduos sólidos. 3.1.3.4. Ásia e Pacifico Nas cidades dos países industrializados do continente asiático, como as riquezas naturais e humanas não são escassas, o gerenciamento dos serviços públicos de limpeza urbana é plenamente executado. Planos de curto, médio e longo prazo são comuns. No Japão e na Austrália, por exemplo, algumas cidades têm desenvolvido leis e regulamentos ligados à ordenação da destinação final. São numerosas as normas para tratamento de resíduos sólidos como baterias, óleo usado, pneus, produtos que utilizam gases CFC, dentre outros, assim como sobre a responsabilidade pela coleta e destinação final de baterias, óxido de mercúrio, alumínio, recipientes plásticos, pneus e sacos plásticos não degradáveis. No Japão, para assegurar que a separação dos resíduos sólidos seja realizada corretamente, alguns procedimentos são exigidos. Nas residências são solicitados o uso de sacos plásticos 50 transparentes, para a eliminação dos resíduos sólidos domésticos, de modo que os coletores possam verificar o seu conteúdo. Em 1992, na Coréia do Sul, uma norma que estimulava a reciclagem foi promulgada (UNEP, 2005). Nos países desenvolvidos da região, a principal dificuldade para o planejamento do gerenciamento de resíduos sólidos está na busca de locais para a destinação final dos resíduos sólidos. Nos países em desenvolvimento da região, os problemas mais comuns relacionados ao gerenciamento de resíduos sólidos são as deficiências institucionais, inadequados marcos legais e recursos escassos. Há uma sobreposição considerável das atividades administrativas em níveis nacionais, regionais, locais e no controle ambiental. Não há planejamento, tanto no longo, quanto no curto prazo, devido à escassez de recursos e pessoal técnico experiente. Muitas leis e regulamentos que tratam do gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos estão fora dos padrões e se apresentam fragmentados, inadequados para tratar eficazmente as exigências requeridas pelos cidadãos. Leis federais para o uso da terra e controle ambiental estão sendo formuladas (UNEP, 2005). Em muitos casos, as leis e normas são copiadas das dos países desenvolvidos. Estas leis são desenvolvidas sem estudos aprofundados, que contemplem as peculiaridades socioeconômicas, tecnológicas, de recursos financeiros, administrativos e institucionais locais. Consequentemente, permanecem inócuas. Um dos maiores problemas é a ausência de autoridade, que reforce eficazmente os regulamentos ambientais existentes. Na maioria das nações em desenvolvimento, as leis que regulamentam a reciclagem, quando existem, não são estimuladas pelo Poder Público, nem absorvidas pela sociedade. Mas, há exceções. Na China, na Coréia do Norte e no Vietnam, iniciativas comunitárias são adotadas para a separação e para a coleta de resíduos sólidos reversos para venda e reuso. Estas atividades são informais e não são subsidiadas pelas autoridades municipais. Quanto às atividades de monitorização e controle das áreas de disposição dos resíduos sólidos, dos países em desenvolvimento desta região, não há programas institucionalizados para operação e manejo de resíduos sólidos, incluindo o tratamento do lixiviado e do gás nos aterros. O processo de tomada de decisão é lento e complicado, devido à burocracia, implicando na proliferação de depósitos de resíduos sólidos a céu aberto, que poluem o meio ambiente com resíduos sólidos perigosos para o solo e para as águas. Atualmente, as facilidades para obter informações sobre as práticas corretas, o apoio de instituições internacionais e o comércio entre países de materiais reciclados vêm aprimorando alguns sistemas de limpeza urbana (UNEP, 2005). 51 Em Manila, Bancoc e Jacarta, projetos piloto estão sendo testados fora das metrópoles, a fim de promover a coleta e a disposição dos resíduos sólidos em áreas invadidas e levar a melhoria para as comunidades. O principal desafio da maioria desses projetos piloto é ajustar à visão dos planejadores urbanos e gestores de resíduos sólidos as necessidades das pessoas de baixa renda. Nos países em desenvolvimento, as ONGs poderiam desempenhar um papel mais eficaz na melhoria do gerenciamento dos resíduos sólidos, caso fossem reconhecidas pelas autoridades municipais. A participação da comunidade no gerenciamento dos resíduos sólidos é vital para a melhoria dos serviços. Tradicionalmente, tomadores de decisão não buscam conhecer a realidade em que vivem as comunidades locais. Muitas vezes, em locais onde as autoridades municipais não fazem a coleta e o transporte dos resíduos sólidos, as comunidades se organizam e realizam esses serviços. Ásia do Sul e Oriental Os municípios, na maioria dos países sul-asiáticos, operam sob o comando das instituições ligadas à saúde, ao ambiente, aos governos central ou regional. Os ministérios da saúde, na parte central desta região e em alguns países ao norte estão se organizando para operar e gerir os resíduos sólidos municipais. Por outro lado, na região subcontinental, há um movimento para a descentralização, responsabilizando os municípios para buscar fundos e para criar as suas próprias competências. O sistema de gerenciamento de resíduos sólidos nesta região é caracterizado pela fragmentação burocrática: procedimentos interligados estão, muitas vezes, sob o comando de departamentos ou ministérios diferentes (UNEP, 2005). Ainda é deficiente a legislação que trata do gerenciamento de resíduos sólidos, embora muitos países possuam agências de proteção ambiental. Desde 1994, a Índia, em consequência da grande preocupação que se seguiu à epidemia em Surat, vem formulando um novo plano nacional de resíduos sólidos e examinando todas as leis que se relacionam ao assunto. Decisões em legislar, priorizar despesas ou estabelecer mudanças administrativas, necessitam da aprovação dos ministérios ou dos departamentos. Quanto à gerência e ao planejamento rotineiros há uma variação considerável nos procedimentos por toda a região. Por exemplo, em Oman, o ministério das municipalidades regionais é o órgão responsável por fornecer serviços públicos municipais em todas as cidades, exceto no município de Muscat, onde foram dados poderes ao conselho municipal para decidir o encaminhamento dos resíduos sólidos. No subcontinente, os municípios têm a responsabilidade de executar as atividades rotineiras. 52 Nas grandes cidades, que possuem regimes democráticos, as principais decisões são tomadas nas organizações municipais por conselheiros eleitos, dirigidos por um prefeito ou por uma autoridade equivalente. As matérias importantes que influenciam o gerenciamento de resíduos sólidos, como as receitas obtidas pelos impostos urbanos, são conhecidas por estes representantes, que têm assim a vantagem de poder opinar. Por outro lado, há constante possibilidade de resistência política às medidas corretas, técnica e financeiramente, porém impopulares. Os políticos endossam frequentemente "os projetos visíveis", mesmo que sejam inapropriados para as dificuldades existentes. Motivações corruptas podem distorcer seriamente decisões financeiras e técnicas. Torna-se urgente priorizar o planejamento e a sua execução. As principais discussões sobre gerenciamento de resíduos sólidos são iniciadas depois de crises de saúde pública. Planos Diretores foram preparados para algumas das grandes cidades, com consideráveis recursos, mas poucas de suas propostas foram executadas. As cidades menores não planejam em longo prazo. Segundo a UNEP (2005), regionalmente, os planos de gerenciamento de resíduos sólidos ainda não respondem às tendências mundiais de desenvolvimento de práticas técnicas e comunitárias. Não se encontram, nos itens dos regulamentos de gerenciamento de resíduos sólidos, temas como minimização dos resíduos sólidos gerados, reciclagem e políticas de ajuda. Futuramente, esse procedimento deve se aprimorar, devido à influência de novas legislações e pela formação de conselhos de proteção ambiental. Há dificuldades de gestão de recursos humanos em diversos países do subcontinente. É visto com desconfiança o manejo executado por sindicatos, considerados muito fortes e demasiadamente poderosos, assim como protegidos por possíveis ineficiências. Posições sindicalizadas que afetam a coleta de resíduos sólidos urbanos contínuos podem rapidamente ameaçar a saúde pública em climas quentes e úmidos. Os gerentes dessa área optam por equipamentos mecanizados, em vez da mão de obra humana, na esperança de impedir acréscimo de funcionários, como também para evitar treinamento e supervisão extra. A privatização está sendo contestada fortemente por sindicatos dos trabalhadores de resíduos sólidos no subcontinente. Quase em toda parte, são deficientes a execução dos planos e a monitorização de desempenho de forma sistemática. Frequentemente, não há normas ou planos de manejo modernos, chegando até à ausência de padronização de procedimentos para varrição e coleta das ruas. Em geral, na Índia, trabalhadores de manejo de resíduos sólidos são mal pagos, mal treinados e supervisionados inadequadamente. 53 A estrutura hierárquica da burocracia local, que resulta na falta de comunicação entre os responsáveis pelas decisões e a equipe de funcionários de campo, restringe o fluxo de práticas e de idéias advindas das experiências dos trabalhadores para os departamentos de planejamento. Há poucas oportunidades para que a equipe de funcionários operacionais troque informações entre colegas, entre cidades do mesmo porte. Na Índia, o departamento de gestão de resíduos sólidos é considerado de baixo-status e técnicos graduados não permanecem por muito tempo nas funções, trazendo permanente descontinuidade no gerenciamento dos serviços (UNEP, 2005). Em algumas metrópoles, tais como Bangalore, New Delhi, Jaipur e Calcutá, cujos hábitos e costumes da população conduzem para o agravamento da limpeza das vias públicas (Figura 3.4.), o interesse em conhecer a situação e as circunstâncias da destinação final em depósitos de resíduos sólidos em locais a céu aberto vem aumentando (UNEP, 2005). Figura 3.4. – Hábitos e Costumes que Agravam a Limpeza das Vias Públicas nas Metrópoles Indianas – Jaipur, Índia Fonte: Marchi (2010). As principais mudanças relativas à descentralização estão ocorrendo em alguns países como a Índia, que vem aplicando taxação municipal. A tendência à privatização traz implicações para o planejamento e a gestão. A privatização abrupta, sem a construção cuidadosa de contratos e critérios para uma boa monitorização, provoca uma série de problemas. Algumas funções como a provisão, o reparo e a manutenção dos veículos foram bem sucedidas com a privatização. A exceção de Israel, o maior desafio para os departamentos de gerenciamento de resíduos sólidos nesta região é como as necessidades e as opiniões das comunidades desprivilegiadas 54 residentes em invasões ou favelas podem ser expressas, compreendidas e incorporadas, no momento das tomadas de decisões. Mesmo porque, as áreas de invasões são tratadas como ilegais. É difícil para as autoridades da área de resíduos sólidos interagir com estas áreas, em consequência os serviços públicos de saneamento básico inexistem. Atualmente, a cooperação necessária entre população de baixa renda e departamentos de limpeza urbana está sendo desenvolvida pela intermediação de ONGs em diversos países (projeto de Orangi em Karachi, projeto piloto PROUD em Bombaim, Society for Clean Environment and United Way em Baroda, Sneha Bhavan em Cochin e comitê Save Pune em Pune) (UNEP, 2005). A presença das organizações ambientais cívicas está aumentando na região. Especialmente desde os casos de epidemia na Índia, em 1994, estas organizações estão voltando sua atenção para o gerenciamento dos resíduos sólidos. Em geral, o papel de ONGs junto às comunidades locais pode ser extremamente útil, verificando o desempenho dos serviços, implementando a redução por meio da compostagem e promovendo a reciclagem. Mesmo em áreas onde moram as pessoas de classe média, estas organizações vêm trabalhando para melhorar a limpeza das ruas e para facilitar uma coleta de resíduos sólidos mais eficiente. O Instituto de Pesquisa Ambiental Nacional de Engenharia em Nagpur, Índia, vem desenvolvendo uma recente técnica ligada a um software para administrar e planejar os serviços públicos de resíduos sólidos. Esse programa tem sido desenvolvido em instituições nacionais. A utilidade desse programa, entretanto, depende da confiabilidade dos dados básicos levantados nos locais onde serão aplicados. O papel de agências e de doadores internacionais vem sendo debatido. O controle e os recursos realizados pelas agências e doadores, multilaterais e bilaterais, foram de grande importância no processo de implementação dos serviços públicos de resíduos sólidos nos países menos desenvolvidos. Por outro lado, há queixas de que as agências internacionais de empréstimos e vendedores de equipamentos exercem pressão e conduzem esses sistemas à privatização precipitada, ou mal concebida, ou ainda, os fazem adotar procedimentos e equipamentos impróprios. Um exemplo é o incinerador, sem utilidade, construído com financiamento estrangeiro em Nova Deli. Esta situação deve melhorar com o aumento do entendimento mundial sobre a necessidade de minimização de resíduos sólidos. Talvez, o maior impedimento para a melhoria do planejamento do manejo dos resíduos sólidos nesta região seja a falta de conhecimento sobre as quantidades, características e fatores que afetam as variações dos resíduos sólidos; atitudes, comportamentos e necessidades dos geradores; valor real das diferentes operações; desempenho da equipe de funcionários e entendimento de boas práticas (UNEP, 2005). 55 3.1.3.5. Europa Mais do que em toda outra região do mundo, a Europa ocidental emprega largamente o gerenciamento dos resíduos sólidos de forma integrada. Os governos europeus ocidentais projetam seus sistemas de gerenciamento em torno da hierarquização de procedimentos, ou seja, priorizam a prevenção, em seguida para o reuso, a reciclagem, a recuperação dos materiais e a geração de energia e, como último recurso, a eliminação. Porém, ainda há alguma variação desses procedimentos dentro da própria região. Por exemplo, enquanto a maioria das nações europeias localizadas no Norte do Continente dá ao reuso ou à recuperação de materiais maior prioridade do que à geração de energia, a França não distingue entre esses dois processos e atribui-lhes peso igual, objetivando manter os resíduos sólidos longe dos aterros sanitários (UNEP, 2005). Para a UNEP (2005), existe outra forma de sustentação que os governos da Europa Ocidental praticam para a integração do gerenciamento dos resíduos sólidos. Com algumas exceções, o financiamento empregado é geralmente subsidiado ou suplementado a nível nacional e este recurso nacional assegura que as prioridades da política de Estado sejam incorporadas pelos sistemas de manejo de resíduos sólidos locais. Isto garante que todos os aspectos do sistema sejam financiados conjuntamente, por mecanismos tais como créditos diversificados, visando incentivar a reciclagem. Em consequência desta política integrada de gerenciamento dos resíduos sólidos, a Europa tem mais experiência na prevenção dos resíduos sólidos do que outras regiões e a reciclagem e o reuso de materiais estão bem incorporados, principalmente na Europa do Norte. Isto é menos verdadeiro nos países do Sul da União Europeia e nas economias de transição da Europa Oriental. A Europa, em geral, é uma região bem estruturada e densamente povoada, com muitas cidades antigas. A experiência com a saúde pública e consequências comerciais advindas de inadequado saneamento básico data mais de 1000 anos. Talvez por esse motivo, os governos europeus aceitem desempenhar o papel de gestor do setor público de gerenciamento dos resíduos sólidos nos níveis locais, regional e em alguns casos nacionais e serem responsabilizados pelas consequências advindas destas ações. Esta instância tem sido confirmada nos tribunais que tratam das diretrizes orientadoras para gerenciamento de resíduos sólidos da Comissão Europeia. Além do mais, o modelo social democrata dos governos nacionais e regionais europeus tende a reforçar as expectativas governamentais onde a esfera pública é o motor principal na gestão dos resíduos sólidos, embora sejam estimulados a converter a gestão dos resíduos sólidos para o sistema privado. 56 Na Alemanha, o Plano de Gestão de Resíduos Sólidos serve como referência e base para o planejamento detalhado das medidas da área, priorizando e hierarquizando medidas de gestão de resíduos sólidos. Por exemplo, a instalação de equipamentos de grande porte (incineradores ou aterros) leva pelo menos cinco anos, desde o primeiro planejamento até a fase de testes e o funcionamento regular (SCHMIDT, 2005) Na Europa do Leste, os governos estão se voltando, cada vez mais, para o planejamento, gerenciamento e normatização interligados para a área de resíduos sólidos urbanos. Empresas públicas vêm se submetendo a uma variedade de transformações, geralmente no sentido de permitir uma maior participação do setor privado. As decisões de planejamento e de políticas de gerenciamento dos resíduos sólidos são feitas em nível federal, respondendo às pressões políticas para proteção ambiental. Os objetivos desses ministérios, frequentemente altruístas, entram em conflito com as missões cotidianas das autoridades locais, que têm que controlar um difícil cotidiano da área. Os ministérios ambientais nacionais europeus, até aqueles que ainda não são membros da Comunidade Europeia, planejam e elaboram políticas para responder às diretrizes orientadoras da União Europeia e algumas vezes antecipando-se a elas. Entretanto, estas diretrizes podem ser demasiadamente dispendiosas para que os países da Europa Oriental sigam integralmente. Recentemente, a União Europeia emitiu algumas diretrizes para incineração, aterramento dos resíduos sólidos e reciclagem contínua dos resíduos sólidos de empacotamento. Geralmente, a estrutura destas diretrizes fornece aos governos nacionais uma condição geral para metas de desempenho, procedimentos para certificação ou documentações necessárias. Em geral, na Europa, o impacto dos lobbies e do ativismo ambiental é sentido mais em nível nacional do que em nível de programas locais, embora os processos de tomada de decisão em nível nacional, regional e local, variem extensamente dentro da região, fazendo da padronização algo impossível. Países como a França centralizam os processos de tomada de decisão, enquanto outros, como a Grã-Bretanha, deixam a maior parte das decisões para as autoridades locais. As decisões dos programas locais podem variar. Nos Países Baixos existe ampla consulta, na Grã-Bretanha respondem aos apelos dos cidadãos e na Espanha, os apelos sociais nem sempre são observados. Na Europa do Norte, a execução e o controle tendem a ocorrer dentro de uma cultura de consenso, onde o descumprimento é a exceção e não a regra (UNEP, 2005). As pesquisas e orientações científicas voltadas para projetos de monitorização são executadas pelos institutos federais, tais como RIVM nos Países Baixos ou pelo Umweltbundesamt, na Alemanha. Esses podem também ocorrer em universidades ou em outras 57 instituições acadêmicas. Esses institutos definem os programas de pesquisa e respondem às sugestões e às propostas de organizações de pesquisa independentes, que investigam problemas específicos ou monitorizam o sucesso de novos programas. 3.2. Estado da Arte dos Resíduos Sólidos no Brasil O problema da geração dos resíduos sólidos no Brasil é incessante. A Abrelpe (2009) divulgou um dado preocupante de uma pesquisa sobre o crescimento do volume de resíduos sólidos gerado no Brasil, demonstrando que, de 2008 para 2009, a geração desses aumentou em 7,7%, enquanto que o crescimento populacional foi de apenas 1% (Figura 3.5.). 57.011.136 t 2008 2009 52.933.296 t 2008 2009 Figura 3.5. - Gráfico da Geração de Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil em 2008 e 2009 Fonte: ABRELPE (2009). Adaptado pela autora. Apesar de a quantidade de resíduos sólidos coletados ter crescido quase 8% nesse período, a intensificação da geração de resíduos sólidos pela população brasileira representa um cenário de quase sete milhões de toneladas de resíduos sólidos sem serem coletados, jogados em áreas inapropriadas. O tratamento dado aos resíduos sólidos no Brasil pode ser avaliado a partir da própria dificuldade na obtenção de informações detalhadas sobre o tema, que são bastante escassas. Os últimos dados publicados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são do ano 2008. Estes dados, divulgados em 2010, reúnem os resultados da pesquisa sobre a oferta e a qualidade dos serviços públicos de 58 saneamento básico no País, com base em levantamento realizado junto às entidades formais, com registro no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica, prestadoras desses serviços em todos os municípios brasileiros. Essas entidades englobam prefeituras municipais e empresas contratadas para a prestação de serviços públicos de saneamento básico, tais como autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista, consórcios públicos, empresas privadas, fundações e associações. Outra fonte de dados de saneamento básico, administrado pelo Governo Federal, no âmbito do Programa de Modernização do Setor Saneamento (PMSS), Ministério das Cidades, é o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). Desde 2002, é publicado um diagnóstico relativo aos resíduos sólidos. O SNIS contém informações coletadas e indicadores calculados, referentes a uma amostra de municípios do País, que atenderam, voluntariamente, à solicitação para participar desse Sistema. Entretanto, o próprio Ministério das Cidades concorda que ainda falta muito para que se tenha um quadro mais consistente dos serviços públicos ligados aos resíduos sólidos, inclusive porque a amostra não contempla a aleatoriedade e a estratificação exigidas, para que se tenha uma representatividade garantida estatisticamente. Apesar do esforço desenvolvido pelo Estado, que reconhece que existe espaço para evoluir e vem buscando o aperfeiçoamento e ampliação do banco de dados, ainda são escassos os elementos que propiciem uma análise completa da forma como estão atendendo aos usuários. Segundo o Ministério das Cidades, o próximo desafio é transformar o SNIS em Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (SINISA). Para o SINISA, foi dedicado um capítulo inteiro, o Capítulo V, do Decreto nº. 7.217, de 21 de junho de 2010, que regulamenta a Lei nº. 11.445, de 5 de janeiro de 2007, que estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico. Esse enfoque especial objetivou estimular os prestadores dos serviços públicos de saneamento básico a se organizarem e manterem sistemas de informações atualizados. Novos elementos devem ser agregados e organizados em uma matriz de dados, dando subsídios para a melhoria da área e para o desenvolvimento sustentável. Além da importância de se evidenciar os indicadores da área, conhecer as normas e procedimentos são requisitos para a ampliação dos serviços públicos de saneamento básico. Tendo em vista a definição de desenvolvimento sustentável e suas premissas, a Política Nacional de Resíduos Sólidos, discutida desde 1991 no Congresso Nacional e aprovada em 2010, estabeleceu a “responsabilidade compartilhada” entre governo, indústria, comércio e consumidor final no gerenciamento e na gestão dos resíduos sólidos. A Política Nacional de Resíduos Sólidos preconiza que o desenvolvimento da gestão integrada deve contemplar, além da coleta, valorização, tratamento e disposição final dos 59 resíduos sólidos, as tecnologias disponíveis para cumprir as definições contidas na Lei. Um dos maiores problemas atuais para se fazer cumprir esta Lei, é a ausência de canais de escoamento dos materiais recicláveis para serem reaproveitados pela indústria. Esta infraestrutura terá que ser instalada o mais rápido possível. Os próximos itens discorrerão sobre o estado da arte da minimização, da destinação final e do gerenciamento dos resíduos sólidos no Brasil. 3.2.1. Minimização – Redução, Reuso e Reciclagem dos Resíduos Sólidos Para minimizar os problemas ambientais inerentes ao descarte dos resíduos sólidos urbanos, a Agenda 21 considera os 3Rs (reduzir, reutilizar, reciclar) como passos fundamentais para minimizar os impactos dos aterros sanitários sobre o meio ambiente. A redução na fonte é uma das atividades na gestão integrada dos resíduos sólidos, que se sobrepõe às decisões cotidianas de gerenciamento, ação esta que pressupõe, além de esforço gerencial, com tomada de decisões no âmbito legal e fiscal, participação comunitária, por meio de normas e educação sócioambiental. A reutilização se refere às ações que possibilitam a utilização de resíduos sólidos gerados para outras finalidades, otimizando ao máximo o uso desses materiais antes do descarte final. A reciclagem é um conjunto de técnicas que tem por finalidade aproveitar os resíduos sólidos e reutilizá-los no ciclo de logística de fluxos de retorno ou logística reversa, que recupera produtos, reintegrando-os aos ciclos produtivos e de negócios. Este é um instrumento de desenvolvimento econômico e social, caracterizado por ações destinadas a facilitar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos aos seus geradores, para que sejam tratados ou reaproveitados em novos produtos, na forma de novos insumos, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, visando a não geração de rejeitos. No Brasil, resíduos sólidos orgânicos e inorgânicos são usualmente misturados na fonte geradora e na coleta. Esta prática dificulta o reuso de muitos materiais que poderiam ter destino final diferente do usual, ou seja, depósitos de resíduos sólidos ou aterros sanitários. Em 2006, aproximadamente 3% dos resíduos sólidos orgânicos urbanos gerados no Brasil foi reciclado. O índice nacional de 11% de reciclagem e compostagem de resíduos sólidos urbanos está acima da República Tcheca, Portugal, Argentina, Colômbia e Hungria e próximo do Reino Unido (CEMPRE, 2010). Os dados publicados pelo Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos (BRASIL, 2010), relativos ao ano de 2008, levantados em 372 municípios de todos os Estados brasileiros e o Distrito Federal, englobando mais de 91,8 milhões de habitantes, coloca que a coleta seletiva é praticada em 54,4% dos municípios da amostra. Nesses locais, a triagem de 60 materiais recicláveis recupera uma média de 4,6kg/habitante urbano/ano. Esse valor implica um montante aproximado de 276,5 milhões de toneladas/ano de resíduos sólidos. Para o IBGE (2010), os programas de coleta seletiva são realizados em 994 municípios brasileiros, sendo que os principais materiais recolhidos nesses municípios são: o papel ou papelão em 98,6%, o plástico em 98,3%, o vidro em 92,9% e o metal em 92,0%. Trazendo ainda dados do SNIS de 2008 (BRASIL, 2010), a amostra representada por 54,4% dos municípios que afirmaram possuir coleta seletiva, esta é realizada, majoritariamente, por meio de: coleta porta a porta em dias específicos e em postos de coleta voluntária. A coleta porta a porta em dias específicos é obtida de três maneiras: (i) pelas Prefeituras ou por empresas contratadas por estas (49,1%); (ii) por cooperativas ou associações de catadores com parceria da Prefeitura (52,1%); e (iii) por cooperativas ou associações de catadores sem parceria da Prefeitura (6,0%). A coleta realizada por meio de postos de coleta voluntária é alcançada da seguinte forma: (i) pelas Prefeituras ou por empresas contratadas por estas (23,4%); (ii) por cooperativas ou associações de catadores com parceria da Prefeitura (24,6%) e, (iii) por cooperativas ou associações de catadores sem parceria da Prefeitura (5,4%) (BRASIL, 2010). Percebe-se que o aumento de investimentos de prefeituras e empresas da área, participação de cooperativas e associações de catadores de materiais recicláveis e do controle mais rígido por parte de agentes ambientais e da sociedade, vem permitindo um melhor desempenho dos 3 Rs no Brasil. No Brasil, nos últimos anos, algumas medidas vêm sendo tomadas visando minimizar os impactos que os resíduos sólidos trazem à sociedade e ao meio ambiente. Em fevereiro de 2011, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), reuniu delegados de mais de 120 países na cidade de Nairobi, Quénia, para discutir medidas de combate à crescente ameaça representada pelos resíduos sólidos, principalmente junto aos mais pobres. O relatório final gerado defendeu um maior investimento na economia verde. Intitulado "Em Direção de uma Economia Verde: Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável e para Erradicação da Pobreza" defende o investimento global de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) e sugere um modelo econômico que evitaria riscos, choques, escassez e crises cada vez mais inerentes na atual economia de alta emissão de carbono. Caso esse montante fosse aplicado em algumas áreas, entre elas a da reciclagem dos resíduos sólidos, o mundo estaria financiando a transição para uma economia de carbono e combate à pobreza. Este relatório cita o Brasil como exemplo: a reciclagem já gera retornos de 2 bilhões de dólares por ano no País, evitando desta forma a emissão de 10 milhões de toneladas de gases de efeito estufa. 61 Mas, o que se percebe é que programas de reciclagem no País não são contínuos, a boa vontade dos cidadãos em participar de campanhas, muitas vezes frágeis ou esporádicas, das prefeituras e das organizações não governamentais não é suficiente para que o Brasil tenha maior consistência e uniformidade nos projetos para a redução, o reuso e a reciclagem. Segundo pesquisa Ciclosoft, realizada pelo Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRE), que informa desde 1994 sobre os problemas de coleta seletiva desenvolvidos pelas prefeituras brasileiras, a coleta seletiva cresceu 24% nos municípios brasileiros e mais de um milhão de pessoas têm acesso aos programas municipais desse tipo de coleta, passando de 25 milhões, em 2006, para 26 milhões em 2008 (CEMPRE, 2010). Esse crescimento é importante na medida em que cada dia aumenta o consumo de produtos industrializados devido à mudança nos hábitos dos centros urbanos. Porém, esses programas têm que ter maior dinâmica e incentivo. Em 1988, uma resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), estabeleceu a obrigatoriedade da realização do Inventário Nacional de Resíduos Industriais pelos programas estaduais de gerenciamento de resíduos sólidos industriais. Em outubro de 2002, o CONAMA fez uma revisão da Resolução de 1988, dando enfoque às responsabilidades civil, penal e ambiental do gerador. A revisão objetivou sistematizar as informações sobre a geração, características, armazenamento, transporte, tratamento, reutilização, reciclagem, recuperação e destinação final dos resíduos sólidos gerados pelas indústrias do País. A retomada do Inventário de Resíduos Industriais por esse Conselho, sinalizou a importância atribuída à esse tema na agenda ambiental. Uma má gestão na área dos resíduos sólidos industriais provoca graves impactos ambientais, causando a contaminação do solo, das águas e do ar, comprometendo as riquezas naturais necessárias à vida humana. Marchi et al. (2007) afirmam que atualmente a sustentabilidade é um tema recorrente no mundo empresarial. É imperativo para as empresas estarem voltadas para a responsabilidade corporativa e social e para a sustentabilidade no uso de recursos humanos, naturais e financeiros. Produtos e serviços de qualidade são exigidos pelos clientes, provocando nas organizações adaptação rápida e constante. Um estudo elaborado pelos Institutos Ethos e Acatu revela que 76% dos consumidores brasileiros tem consciência de que pode interferir na gestão das empresas, por meio do consumo responsável; 72% tem interesse em saber mais sobre as ações e iniciativas ligadas à responsabilidade sócio-ambiental das organizações. Os gestores brasileiros vêm buscando novos modelos e formas de gerir, diante da necessidade de sobrevivência do seu negócio frente ao mercado internacional e aos seus clientes, praticando um novo pensar e agir no âmbito empresarial. O preço e a qualidade não são mais fatores decisivos para a competitividade das organizações. Atualmente, investir nas relações com 62 todos os públicos, dos quais dependem e com os quais se relacionam, ou seja, os stakeholders, é de fundamental importância para que uma organização seja competitiva. Ainda assim, por falta de consciência sobre o problema dos resíduos sólidos e de políticas públicas focadas, no Brasil, o componente Reciclagem registra “índices insatisfatórios e apresenta(m) alto potencial de ampliação para os próximos anos” (ABRELPE, 2009). Nos últimos anos, algumas empresas, localizadas principalmente no Estado de São Paulo, vêm se especializando no desenvolvimento e implantação da logística reversa. A especialização visa fornecer serviços de consultoria às indústrias de informática, eletro-eletrônicos, lâmpadas, aço inoxidável e ligas, catalisadores automotivos e industriais e baterias, por meio de tecnologia de coleta de materiais, desmontagem, descaracterização das marcas e destruição de produtos fora de linha, assim como da destinação final dos resíduos sólidos tecnológicos inservíveis. Indústrias de grande porte vêm adotando práticas sustentáveis, ainda que de forma tímida. A indústria automobilística procura utilizar matéria-prima obtida de fontes renováveis como a fibra de coco, a juta e o sisal, na fabricação de componentes, nos revestimentos e estofamentos dos bancos. Outros exemplos pontuais podem ser citados, no intuito de difundir tecnologias que podem ser inseridas em outras organizações, por meio de processo de benchmarking3. Empresas multinacionais instaladas no Brasil trazem as suas experiências externas e têm se preparado constantemente para enfrentar os desafios da preservação do meio ambiente. Neiva (2009) expõe que a Hewlett-Packard (HP), companhia multinacional que opera em mais de 170 países, tem como objetivo para o ano de 2010, a redução de 25% no consumo combinado de energia e nas emissões de gases que provocam o efeito estufa associados às operações e produtos da empresa, em relação aos níveis de 2005. No que se refere à redução de resíduos e reciclagem, a HP reservou uma sala de cerca de 40 metros quadrados, no piso térreo de sua fábrica, em Sorocaba, no interior de São Paulo, especialmente para o projeto. Os cartuchos devolvidos pelos consumidores em diversos pontos de coleta do País são reciclados. Mais de trezentos e setenta e cinco mil cartuchos já foram reciclados. O processo, em três etapas, consiste na desmontagem, na separação de materiais não recicláveis, como a tinta remanescente e na logística reversa do plástico. Nesse processo, o plástico é moído e transformado em placas, que são enviadas ao Canadá para servirem como insumo de peças instaladas na parte interna de impressoras. A empresa afirma que hoje, em média, até 85% dos componentes das impressoras mais modernas são recicláveis. Dez anos atrás esse porcentual não passava de 40%. 3 Benchmarking - O benchmarking é uma ferramenta que busca a adoção das melhores práticas na indústria. Sua essência está centrada em um processo comparativo, ao identificar modelos de excelência para produtos, serviços ou processos. 63 Outra experiência bem sucedida é a das embalagens PET4. Estas embalagens foram introduzidas no Brasil em 1988, e desde seu lançamento a produção nacional é crescente. No ano de 2008, o País gerou quatrocentos e sessenta e duas mil toneladas, sendo que 54,8% foram recicladas. O Brasil alcançou o segundo lugar no mundo na reciclagem do PET, perdendo apenas para o Japão, que reciclou 69,2% (CEMPRE, 2010). Está à frente da Europa, Argentina e Estados Unidos. Apesar destes números estimulantes, é necessário lembrar que 45,2% de embalagens PET seguiu para a destinação final. Para um país onde menos de 57% dos resíduos sólidos gerados tem uma destinação apropriada, esses resíduos sólidos, apesar dos avanços, representam algo de nocivo à natureza. Diante do inconveniente de adequada destinação final no Brasil, a Coca-Cola e AmBev vêm buscando ampliar o reaproveitamento das suas embalagens. Cerca de 70% da cerveja vendida pela AmBev é sob a forma de garrafas retornáveis de plástico e vidro. Os rótulos das embalagens são reciclados e a celulose resultante é usada na produção de papelão. As cascas do malte, o extrato de levedura e outros produtos decorrentes da fermentação, são usados na alimentação de animais, na criação de peixes e na indústria de laticínios. Em março de 2010, em São Paulo, a Coca-Cola lançou o PlantBottle, uma garrafa sustentável que utiliza uma embalagem feita de PET, na qual o etanol da cana-de-açúcar substitui parte do petróleo utilizado como insumo. Os resíduos sólidos das embalagens são triturados e passam por um processo de limpeza. O material é derretido e misturado a uma nova resina, produzindo os recipientes que retornarão ao mercado. Por ter origem parcialmente vegetal (30% à base da planta), a nova embalagem reduzirá a dependência da empresa em relação aos recursos não-renováveis, além de diminuir em até 25% as emissões de CO². Esta tecnologia já estava disponível na Alemanha e nos países nórdicos há quase dez anos. Mas, a Coca Cola resolveu aplicá-la no Brasil, e, antes do lançamento nacional, experimentou a PET retornável em supermercados e bares de algumas cidades do interior de São Paulo, agregando um atrativo monetário: o preço de uma Coca de 1,5 litro em PET retornável variava de R$1,59 a R$2,10, se o consumidor levasse o casco; a mesma garrafa, sem a troca, custava R$1,50 a mais (COCA-COLA, 2010). Esta postura da empresa vem ao encontro das diretrizes da Política Nacional de Resíduos Sólidos. O comércio de latas de alumínio é o mais atrativo em preço, pois é o material reciclável com maior valor de mercado. O valor residual de latas de alumínio é alto, visto que o mesmo não se degrada durante o processo e pode ser usado para o mesmo fim, ao contrário das garrafas 4 PET - Politereftalato de etileno, polímero termoplástico, formado pela reação entre o ácido tereftálico e o etileno glicol. Utiliza-se principalmente na forma de fibras para tecelagem e de embalagens para bebidas. 64 plásticas. Cada brasileiro consome em média 54 latas por ano, volume bem inferior ao norteamericano, que é de 375 latas/ano. Em 2008, apesar do consumo inferior, aproximadamente 91,5% da produção de latas de alumínio brasileira foi reciclada, superando os Estados Unidos que recuperou apenas 54,2%. Além de reduzir os resíduos sólidos que vão para os aterros, a reciclagem desse material proporciona significativo ganho energético, visto que para reciclar uma tonelada de latas se gasta 5% da energia necessária para produzir a mesma quantidade de alumínio pelo processo primário (CEMPRE, 2010). Desenvolver tecnologias que permitam economia energética e materiais mais fáceis de reciclar, inofensivos e inertes, visando a proteção do meio ambiente, é uma prática corporativa que vem tomando corpo. Neiva (2009) opina que desde 2005, a Whirlpool (Brastemp e Consul) dispõe de um programa experimental de coleta e reciclagem de geladeiras antigas. As peças usadas são removidas e seguem para uma linha de desmontagem na fábrica da empresa, em Joinville, Santa Catarina. Uma parte das embalagens dos produtos da Whirlpool Latin América é reciclada. Essas embalagens são coletadas por meio de parceria com uma empresa de varejo paulista, onde os seus entregadores, quando levam os produtos novos à casa do cliente, retiram a embalagem do eletrodoméstico. Esta prática já gerou o recolhimento de aproximadamente 127 toneladas de papelão, plástico e isopor. A dificuldade da coleta, transporte, tratamento e destinação correta dos resíduos industriais vem ajudando a desenvolver novas tecnologias para apoio estratégico em ações menos poluentes. O consumidor vem cobrando uma postura ética e responsável das empresas. A cada dia, o mercado está mais exigente no que diz respeito às questões ambientais. Em junho de 2010, na Feira Internacional de Embalagens e Processos para as Indústrias de Alimentos e Bebidas (FISPAL), a TetraPak, empresa que lida com soluções para processamento e acondicionamento de alimentos, apresentou as suas mais recentes tecnologias e ações de sustentabilidade. Lançou as tampas plásticas produzidas com polietileno de alta densidade (PEAD5), a partir do etanol de cana de açúcar, matéria-prima 100% renovável. Este produto foi desenvolvido em parceria com a Braskem. No evento, também foi divulgado, com a parceria da mesma empresa, uma tecnologia que produz embalagens cartonadas, feitas com 75% de papel certificado pelo Forest Stewardship Council (FSC), um material renovável e 100% reciclável. Essas ações derivaram da pesquisa e desenvolvimento de novas máquinas para serem usadas na sua linha de produção, considerando o conceito de ecodesign ou design for environment, que busca sempre comprovar os benefícios comparados, como a redução na geração 5 PEAD – Polietileno de Alta Densidade. Polietileno de baixo custo e alta produção mundial. É quimicamente inerte e obtido por meio da polimerização do etileno. 65 de resíduos sólidos e no consumo de energia e água. Segundo Neiva (2009), para garantir esse desenvolvimento tecnológico, muitos funcionários da TetraPak fazem mestrado e doutorado em universidades e centros de pesquisa, gerando diversas tecnologias para a reciclagem das embalagens. A recuperação das fibras e do plástico/alumínio (componentes do Tetra Pak) é feita nas fábricas de papel, utilizando um equipamento denominado de hidrapulper, semelhante a um liquidificador gigante. As fibras são hidratadas, separadas do plástico/alumínio e podem ser utilizadas para a produção de papelão, tubetes ou material gráfico, utilizados pela própria empresa. O material composto de plástico/alumínio é encaminhado às fabricas de processamento de plásticos, para servirem como matéria prima em produtos como cabos de pá, vassouras, coletores, dentre outros; também pode ser prensado a quente, transformando-se em chapas, que serão utilizadas na fabricação de divisórias, móveis, peças decorativas e telhas. Este material poderá ainda ser processado em forno de plasma, transformando-se em lingotes de alumínio, tornando-se matéria-prima que retornará como folhas, para serem usadas em novas embalagens longa vida. Em apoio aos programas de coleta seletiva, a empresa presta assistência ao trabalho de cooperativas (TETRA PACK, 2010; NEIVA, 2009). Quando se trata de coleta seletiva dos resíduos sólidos, o Grupo Pão de Açúcar tornou-se um exemplo a ser destacado. Este grupo foi a primeira rede de varejo a disponibilizar pontos de entrega voluntária (PEV) de materiais recicláveis (papel, plástico, metal, vidro e óleo de cozinha usado). Este material é doado a 33 cooperativas de catadores. A Unilever foi parceira desta iniciativa. Nos últimos anos, foram instaladas as chamadas Estações de Reciclagem Pão de Açúcar/Unilever, em cento e dez lojas, abrangendo 30 municípios, o que resultou na coleta de trinta e duas mil toneladas de material. Somente no ano de 2009, sete mil toneladas de recicláveis foram coletadas. Outra iniciativa do Grupo, desde 2007, em 48 lojas, foi o desenvolvimento do Programa Caixa Verde de reciclagem pré-consumo. Este atua diretamente na hora da compra, com o objetivo de diminuir o impacto ambiental dos produtos comercializados pelas lojas. Oferece a possibilidade ao cliente de descartar suas embalagens de plástico e papel, livre de resíduos sólidos de alimentos, em urnas especiais no momento em que passa pelo caixa. As embalagens arrecadadas são encaminhadas para cooperativas de reciclagem. Este Programa foi desenvolvido com a parceria de um Centro Universitário paranaense. Diversas iniciativas empresariais de sustentabilidade ambiental, que exigem não só recursos financeiros, mas também idéias inovadoras, estão surgindo nos últimos anos no Brasil, proporcionando maior credibilidade às empresas que as desenvolveram. Na Federação da Indústria do Estado de São Paulo (FIESP), os membros da Câmara Ambiental da Indústria Paulista (CAIP), vêm discutindo acordos setoriais para o estabelecimento de logística reversa 66 para produtos especiais, como previsto na Política Nacional de Resíduos Sólidos. Algumas inovações estão em pauta. Uma das quais preconiza que ao invés de algumas empresas, devido às restrições de seus produtos, investirem na coleta e no processamento dos seus resíduos sólidos descartados pós-consumo, possam comprar créditos de outras, que já reciclem ou utilizem a logística reversa. Esta prática teria semelhança com a compra internacional de Crédito de Carbono, licenciando às empresas que queiram participar quotas de geração de resíduos industriais e quotas de reciclagem e destinação correta dos resíduos sólidos gerados (CEMPRE, 2010). O Brasil está longe de ser considerado como referencia no tratamento e destinação final dos seus resíduos sólidos industriais. A logística reversa impõe a coleta seletiva. A coleta seletiva é praticada em 56,9% dos municípios brasileiros, apesar desse dado não ser considerado confiável pela própria instituição que o levanta. Muitas vezes as atividades de coleta seletiva, praticadas pelos municípios, resumem-se a pontos de entrega voluntária ou na formalização de convênios com cooperativas de catadores para a execução desses serviços. Um dos materiais residuais mais difíceis de serem coletados é o da categoria dos resíduos eletroeletrônicos (REEE), devido ao grande volume dos mesmos. O Panorama Econômico e Desempenho Setorial, relatório 2002-2009 apresentado pela Associação Brasileira da Indústria Nacional de Eletro Eletrônico (ABINEE), demonstra crescimento contínuo do faturamento do setor, exceto em 2009. Pode-se afirmar que muitos desses equipamentos estão com a sua vida útil chegando ao fim. E o que fazer com esses equipamentos? Não basta que os consumidores tenham a disposição e os recursos para levá-los a um local apropriado ou que o fabricante possua tecnologia para aplicar a logística reversa naquele material. O Poder Público, no novo marco regulatório, terá que disponibilizar áreas ambientalmente apropriadas para que o gerador possa dar seguimento à parte que lhe cabe. Áreas apropriadas que garantam manejo seguro e ambientalmente adequado dos resíduos, inclusive dos procedimentos de armazenamento e transporte, pressupõem unidades padronizadas em locais estratégicos e de fácil acesso. Como promover espaços dessa natureza se a destinação final no Brasil ainda é precária? Qual arranjo institucional facilitará o progresso da cooperação e da gestão entre os diversos atores? Mas, agora é Lei. Com o crescente interesse na preservação do meio ambiente, pesquisas e técnicas estão sendo desenvolvidas de forma a minimizar o impacto da disposição dos resíduos sólidos no solo. O estado da arte da destinação final no Brasil será apresentado no próximo item. 67 3.2.2. Destinação Final – Aterros Sanitários Em 2008, a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico revela que mais da metade dos resíduos sólidos (50,6%) no Brasil está disposto em “lixões”. Por outro lado, o SNIS de 2008 (BRASIL, 2010) assinala que aproximadamente 68% dos locais de destinação final dos resíduos sólidos no Brasil podem ser considerados inadequados (aterros controlados e “lixões”). Infere-se que a preservação do meio ambiente nas áreas que servem para a destinação final dos resíduos sólidos está diretamente ligada à ampliação, melhoria e desenvolvimento das tecnologias e procedimentos existentes (BRASIL, 2010). Oliveira e Brito (1998) destacam que a proteção do meio ambiente na área dos resíduos sólidos envolve duas questões fundamentais relacionadas à geologia. A primeira é a análise da migração de contaminantes, a partir dos locais de disposição e a segunda é a garantia de estabilidade das áreas usadas para tal destinação. Para esses autores, no que concerne aos resíduos sólidos, são necessárias muitas atividades técnicas e metodológicas para a proteção do meio ambiente, a saber: i) identificar e caracterizar os condicionantes geológicos, hidrogeológicos e geomorfológicos; ii) escolher o local de disposição e execução das investigações geológicas e hidrogeológicas; iii) definir e acompanhar a monitorização pré-operacional; iv) definir os dispositivos de contenção e de coleta dos percolados e das plumas de contaminação; v) definir os tratamentos prévios dos resíduos sólidos, dos métodos e do projeto de disposição; e vi) implementar e acompanhar a monitorização operacional e pós-operacional. Os manuais brasileiros para construção e operação de locais para destinação final dos resíduos sólidos determinam que, preferencialmente, esses equipamentos devem possuir uma vida útil superior a dez anos, prevendo-se a sua monitorização por mais alguns anos. Um projeto de aterro deve constar basicamente de: impermeabilização do solo, implantação de sistemas de drenagem eficazes, tratamento do lixiviado e drenagem dos gases e da água, aterramento com espalhamento, compactação e cobertura dos resíduos sólidos e barreira natural feita com vegetação de maior porte, de forma a evitar contaminação da água, do solo, do ar e da paisagem. 68 A disposição adequada dos resíduos sólidos é importante para evitar que esses se transformem em fonte de contaminação ambiental e humana. Além da aplicação das técnicas de destinação final no solo, é necessária a classificação física dos resíduos sólidos gerados. Os sistemas de classificação têm por objetivo qualificar os resíduos sólidos quanto aos riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública, e norteiam-se pelos pressupostos e instrumentos das políticas nacionais de meio ambiente. Em 2004, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) criou a Comissão de Estudo Especial Temporária de Resíduos Sólidos (CEET-00.01.34) para revisar a NBR 10004 (1987) relativa à classificação de resíduos sólidos. A Comissão tinha a finalidade de aperfeiçoar a antiga Norma e, dessa forma, fornecer subsídios para o gerenciamento da área. Uma das principais metas era ampliar os parâmetros do processo de classificação, pois a metodologia utilizada para o laudo de classificação anterior era baseada unicamente na destinação final dos resíduos sólidos. Segundo a nova edição da NBR 10.004, a classificação de resíduos sólidos envolve a identificação do processo ou atividade que lhes deu origem, de seus constituintes e características, e a comparação desses constituintes com listagens de resíduos sólidos e substâncias cujo impacto à saúde e ao meio ambiente é conhecido. Nessa Norma, para que os resíduos sólidos sejam dispostos adequadamente, é necessário classificá-lo de duas formas: classe I – perigosos; classe II - não-perigosos. Os não perigosos podem ser classificados como II A - não inertes e II B - inertes. Essa classificação baseia-se na indicação da origem do resíduo, descrição do processo de segregação, descrição do critério adotado na escolha de parâmetros analisados e em testes laboratoriais complementares, nos quais vários parâmetros químicos são analisados nos extratos lixiviados e solubilizados dos resíduos sólidos. Sígolo (2003), durante o VIII Simpósio de Geologia do Sudeste, debateu o relatório intitulado Estabelecimento de Valores Orientadores para Solos e Águas Subterrâneas, elaborado em 2001 pela Companhia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo. Ele discutiu novas formas de enquadrar os resíduos sólidos, visando melhor adequação destes à disposição no solo, de forma mais segura. Propôs a seguinte classificação: (i) resíduos sólidos de origem orgânica sendo sub-classificados em: sólidos, constituídos dos diferentes produtos ejetados pelo ser humano em suas necessidades diárias de alimentação, higiene pessoal e limpeza residencial e, líquidos, constituídos de diferentes produtos aplicados na higiene pessoal e de limpeza, além dos rejeitos gerados na rede de esgoto; (ii) resíduos sólidos de origem orgânica tratados: oriundos dos órgãos Estaduais e Municipais e que contribuem para minimizar o impacto poluidor gerado pelo despejo inadequado dos rejeitos de esgoto, face ao tratamento proporcionado pelas Estações de Tratamento de Esgoto (ETE). A disposição desse produto, via de regra, representa problema 69 ambiental complexo pela existência de compostos orgânicos bastante tóxicos como a dioxina, além de diferentes organismos patogênicos quase sempre associado a uma gama de elementos metálicos de elevada toxicidade como mercúrio, cobre, zinco, chumbo, cádmio, cromo, níquel, arsênio, dentre outros; (iii) resíduos sólidos de origem industrial, principalmente aqueles de origem química e metalúrgica, e (iv) resíduos sólidos de origem de atividade extrativa mineira, seja associado a metais nobre e ferroso, seja na indústria da construção civil, como pedreiras e areiais. No Brasil, são poucos os locais de destinação final de resíduos sólidos que seguem as orientações técnicas e metodológicas para que os serviços públicos de limpeza urbana fiquem dentro dos padrões recomendados. Entretanto, segundo a PNSB (IBGE, 2010), houve uma expansão no destino dos resíduos sólidos para os aterros sanitários, solução mais adequada, que passou de 17,3% dos municípios, em 2000, para 27,7%, em 2008. Esse avanço pode significar a adoção pelos municípios brasileiros de iniciativas voluntárias, códigos de prática e aplicação das normas, em direção à melhoria do desempenho e da gestão ambiental. Uma questão a ser observada é que, apesar dos avanços, principalmente das normas ambientais do Brasil, a solução para a destinação final dos resíduos sólidos não está só no aspecto técnico, mas também tem contornos políticos, administrativos e comportamentais. Zanta e Ferreira (2006) observam que: A falta de diretrizes claras, de sincronismo entre as fases que compõem o sistema de gerenciamento e de integração dos diversos órgãos envolvidos com a elaboração e aplicação das leis possibilitam a existência de algumas lacunas e ambiguidades, dificultando o seu cumprimento (ZANTA e FERREIRA, 2006, p.3). Assim, apesar do considerável progresso, a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), revela que, de 5.565 municípios brasileiros, em 2008, 50,8% ainda depositam seus resíduos sólidos em “lixões”, 27,7% somente utilizam aterros sanitários e 22,5% dispõem seus resíduos sólidos em aterros controlados. A situação precária do gerenciamento dos resíduos sólidos no Brasil requer normas mais próximas da realidade dos municípios onde os serviços são executados. A Lei Federal de Crimes Ambientais nº. 9.605/98 considera ilegal a destinação final de resíduos sólidos dispostos a céu aberto. A Abrelpe (2009) indica a região Nordeste como a que apresenta maior concentração de “lixões” no território nacional (51,3%). A PNSB de 2008 corrobora esta afirmativa e registra as regiões Nordeste (89,3%) e Norte (85,5%) como as de maiores proporções de municípios que destinam seus resíduos sólidos aos “lixões”. 70 Zanta e Ferreira (2006) explicam que este tipo de destinação é o mais utilizado na maioria dos municípios nordestinos com população inferior a 10.000 habitantes. Os autores afirmam que: A predominância dessas formas de destinação final pode ser explicada por vários fatores, tais como: falta de capacitação técnico-administrativa, baixa dotação orçamentária, pouca conscientização da população quanto aos problemas ambientais ou mesmo falta de estrutura organizacional das instituições públicas envolvidas com a questão nos municípios, o que acaba refletindo na inexistência ou inadequação de planos de GIRSU6 (ZANTA e FERREIRA, 2006, p.2). Moraes e Borja (2009) reforçam a idéia de que um dos maiores desafios ambientais do Brasil é a destinação final dos resíduos sólidos. Segundo os autores, o assunto vem sendo estudado, objetivando identificar alternativas financeiras e ambientais mais viáveis. Indicam algumas alternativas para municípios de pequeno porte, a exemplo do Aterro Sustentável, Aterros Sanitários em Valas tipo os da Companhia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo, Aterros Sanitários Simplificados, tipo os da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (CONDER) e Aterros Sanitários Manuais, tipo os do Centro Panamericano de Ingeniería Sanitaria y Ciencias del Ambiente (CEPIS), da Organização Mundial da Saúde (OMS). Apresentam também o Aterro Sustentável, proposto pelo Programa de Pesquisas em Saneamento Básico (PROSAB), para municípios com população até 10.000 habitantes. Uma tendência atual, adotada pelos aterros sanitários de grande porte existentes no País, é o aproveitamento energético dos resíduos sólidos. É necessário que um aterro sanitário esteja em perfeitas condições de operação para ser certificado pela Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima (CIMGC), autoridade nacional designada para aprovação de projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) no Brasil. Alguns aterros são classificados como sanitários, mas na prática muitos se enquadram como controlados ou “lixões”, pois não abrigam boas condições de destinação dos resíduos sólidos. A PNSB de 2008 destaca que a proporção de cidades que recorrem a aterros controlados, alternativa mais higiênica do que o “lixão”, porém também inadequada, estagnou nos últimos oito anos no País. Em 2000 eram 22,3%; em 2008 passou para 22,5%. Os estudos realizados por Mello (2004) especificam o tipo de resíduos sólidos, a quantidade diária de resíduos sólidos recebida e acumulada ao longo do tempo, a vida útil do aterro, a forma de operacionalização, dentre outras, como características necessárias para se verificar o potencial de geração de energia e a quantidade de emissão de Gases do Efeito Estufa (GEE) associadas aos aterros. Borba (2002) considera que a quantidade de 200 mil toneladas de resíduos sólidos ao ano em um aterro, seria o volume mínimo viável para a geração de energia 6 GIRSU - Gestão Integrada de Resíduos Sólidos Urbanos. 71 elétrica. A vida útil do equipamento é fator determinante para um projeto MDL, visto que geralmente aterros com menos de cinco anos ainda não possuem carga suficiente de gases acumulados para geração de eletricidade. O SNIS de 2008 (BRASIL, 2010) apresenta o cenário da destinação final de resíduos sólidos no Brasil. Os resultados estão no Quadro 3.1. Quadro 3.1. - Quantidade de Unidades de Processamento de Resíduos Urbanos, por Disposição no Solo Quantidade Tipo de Unidade de Processamento Absoluta Relativa (%) Unidade de triagem (galpão ou usina) 170 23,0 Aterro sanitário 133 18,0 Aterro controlado 95 12,9 “Lixão” 87 11,8 Unidade de transbordo 51 6,9 Vala especifica de RSS 43 5,8 Outra 39 5,3 Aterro de Resíduos de Construção Civil 29 3,9 Unidade de compostagem (pátio ou usina) 25 3,4 Unidade de tratamento por incineração 16 2,2 Unidades de tratamento por microondas ou autoclave 14 1,9 Unidade de manejo de galhadas e podas 11 1,5 Área de Transbordo de RCD e volumosos 10 1,4 Área de Reciclagem de RCD (entulho) 8 1,1 Aterro industrial 4 0,5 Total 739 100,0 Fonte: Adaptado de BRASIL, 2010. De acordo com o SNIS de 2008 (BRASIL, 2010), existem 133 aterros sanitários, 95 aterros controlados e 87 “lixões”, que, juntos, totalizam 42,7% das unidades cadastradas em 2008. A Figura 3.6. demonstra a participação no total de resíduos sólidos urbanos coletados, segundo cada região brasileira. Percebe-se que a Região Sudeste representa 53,1% do total de resíduos sólidos coletados no País. 72 Região Norte 6,1% Região Nordeste 22,0% Região Centro-Oeste 8,0% Região Sudeste 53,1% Região Sul 10,8% Figura 3.6. - Participação das Regiões do País no Total de RSU Coletado Fonte: Adaptado de Pesquisa IBGE (2010). No Estado da Bahia há maior número de “lixões” do que de aterros controlados e convencionais. Esse descontrole na destinação final dos resíduos sólidos motivou a criação do Programa O Desafio do Lixo, patrocinado pelas Promotorias de Justiça do Meio Ambiente (CEAMA) dos diversos municípios baianos. Este Programa vem realizando uma avaliação de alguns “lixões”, dada à necessidade de urgente implementação de políticas municipais, pois os resíduos sólidos têm sido depositados em qualquer lugar, como, por exemplo, próximo a rodovias, em áreas ricas em recursos hídricos ou em áreas de preservação permanente. Mas essa dificuldade é também sentida em outros Estados brasileiros. O SNIS de 2008 (BRASIL, 2010) indica algumas áreas onde estão localizadas unidades de disposição de resíduos sólidos – “lixões” e aterros – sem impermeabilização, drenagem, tratamento e até licenciamento 73 para operar. Um exemplo é o sistema de drenagem de percolado que deve atender ao volume de líquido gerado na trincheira e ao que atravessa a massa de resíduos sólidos. Sem esse procedimento básico, para minimizar os impactos negativos ao solo existe o comprometimento da integridade ambiental, além de outros percalços que podem afetar a saúde humana. Torna-se necessário ressaltar os dados que trazem riscos à saúde e à integridade física destas áreas: 42,5% informaram não ter impermeabilização da base; 23,4% não fazem recobrimento; e 63,6% não possuem tratamento de lixiviado interno à área do aterro. Por outro lado, 37,7% de unidades não fazem drenagem de lixiviado e 34,4% não realizam monitorização ambiental. A monitorização ambiental consiste na avaliação qualitativa e quantitativa, contínua ou periódica, da presença de poluentes no meio ambiente. Um aterro sanitário para funcionar dentro das normas brasileiras, precisa da aprovação do estudo prévio de impacto ambiental (EIA) e do relatório de impacto ambiental (RIMA), previstos no artigo 225, § 1º, IV da Constituição Federal (CF/88). Esses instrumentos são necessários para o início de qualquer obra, atividade e operação, que possa causar prejuízo ao meio ambiente. O EIA é composto por estudos técnicos, científicos, sociais, econômicos, dentre outros, que possam aferir o impacto ambiental. O RIMA, que é realizado posteriormente, detalha e completa o EIA e é o instrumento de comunicação do EIA com a Administração Pública e o cidadão e, por esse motivo, deve ter uma linguagem acessível. O SNIS de 2008 (BRASIL, 2010) revela que, entre as 695 unidades para as quais há informação sobre licença ambiental, 39,1% não têm qualquer tipo de licença; 3,6% têm licença prévia; 4,9% têm licença de instalação; e 46,2% possuem licença de operação. A não realização do EIA/RIMA pode acarretar a responsabilidade do empreendedor ou do órgão licenciador por eventuais danos ao meio ambiente. A problemática da ausência de licenciamento ambiental pode ser medida pelos dados apresentados pelo SNIS de 2008 (BRASIL, 2010) sobre a massa de resíduos sólidos processada no Brasil: 38,6 milhões de toneladas de resíduos sólidos dispostas em 406 unidades, sendo 43,6% delas operadas por prefeituras, 33,5% por empresas, 16,3% por associações de catadores e mais 2,0% por consórcios intermunicipais e outros operadores. Entretanto, as empresas privadas assumem uma maior concentração de processamento, já que, com 38,3% das unidades, processam 67,2% da massa. Observe-se que esses dados não são precisos, já que em todos os dados e indicadores a respeito de massa que são analisados pelo SNIS, estão considerados tanto os municípios que afirmaram pesar os resíduos sólidos coletados (60,5%) como os que informaram não utilizar balança (39,5%), apresentando massa coletada estimada. 74 De acordo com a PNSB, em 2008, aproximadamente 26,8% dos municípios que possuíam serviço público de manejo de resíduos sólidos sabiam da presença de catadores nas unidades de destinação final desses resíduos sólidos. Pelos dados do SNIS de 2008 (BRASIL, 2010), as associações de catadores operam maior número de unidades de destinação final (12,5%), quase que exclusivamente unidades de triagem, do que os consórcios intermunicipais (1,4%). No Brasil, o modelo de gestão de consórcios intermunicipais é recente. É um modelo baseado no ganho de eficiência na gestão e na execução das políticas e despesas públicas entre serviços comuns dos municípios associados, geralmente operados por uma empresa privada da área de saneamento básico. Em 2006, dados do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), movimento ligado à auto-gestão e organização dos catadores nos Estados brasileiros, apontam para uma série de dificuldades enfrentadas por associações de catadores, quanto à operação da unidade de destinação. As principais dificuldades são: baixo preço dos materiais recicláveis vendidos; ausência de leis de incentivo ao trabalho do catador; falta de espaço para trabalho; preconceito da sociedade para com o trabalho do catador; dificuldade de organização entre os catadores; desunião e disputa entre os catadores (MNCR, 2010). Estas dificuldades se agravam quando se associa à forma precária onde vivem muitas famílias de catadores. Segundo o SNIS de 2008 (BRASIL, 2010), há moradias de catadores em 3,6% das unidades de destinação final nos municípios da amostra. Em 84,% dos municípios existe catadores autônomos dispersos pela cidade. Os catadores, sejam os dos “lixões” e aterros, sejam os dispersos pela cidade, estão organizados em associações ou cooperativas em 196 (52,7%) dos municípios da amostra. Por sua vez, em 143 municípios (38,4% da amostra) as prefeituras realizam algum tipo de trabalho de assistência social com os catadores. A atitude das autoridades tem sido reativa quando se trata de problemas ambientais e sociais ligados aos resíduos sólidos. A presença de pessoas catando resíduos sólidos nos aterros sanitários, inclusive crianças, se configura como fonte de trabalho e sobrevivência (Figura 3.7.). 75 Figura 3.7. - Jovens Catando Resíduos Sólidos no Aterro de Jequié- Ba Fonte: Marchi (2005). O cenário precário apresentado ressalta a necessidade de um esforço maior na direção de um gerenciamento mais efetivo e eficaz nas instituições que administram os locais reservados para destinação final dos resíduos sólidos urbanos. Novas técnicas, metodologias e, sobretudo, capacitação de recursos humanos, tornam-se urgentes nessa área. Será apresentado no próximo item, o estado da arte do gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos no Brasil. 3.2.3 Gerenciamento dos Resíduos Sólidos Urbanos O gerenciamento dos RSU é o conjunto articulado de ações normativas, operacionais, financeiras e de planejamento, que uma administração municipal desenvolve, baseando-se em critérios sanitários, ambientais e econômicos, para coletar, tratar e dispor os resíduos sólidos do seu município. Para tanto, gerir os resíduos sólidos de uma maneira integral significa limpar o município e processar os resíduos sólidos, utilizando as tecnologias mais compatíveis à realidade local, dando-se destinação final ambientalmente segura. De acordo com o Manual publicado pelo Compromiso Empresarial para el Reciclaje (CEMPRE, 1998), a integralidade das ações no sistema de limpeza urbana significa: … tener conciencia de que todas las acciones y operaciones implicadas en la gestión están coordinadas y se influyen las unas a las otras, porque: • la recolección mal planificada encarece el transporte; 76 • el transporte mal dimensionado, además de generar perjuicios y reclamos, perjudica las formas de tratamiento y disposición final; • el tratamiento mal dimensionado no alcanza los objetivos deseados y se vuelve blanco fácil de las críticas (CEMPRE, 1998, p.25). Para Nunesmaia (2002), a gestão integrada traduz a necessidade de harmonizar políticas públicas, de definir normas comuns, de lutar contra medidas discriminatórias, de suprimir disparidades existentes, de estabelecer hierarquia dos princípios da gestão de resíduos sólidos, de conceber várias linhas tecnológicas de valoração e de eliminação dos resíduos sólidos, de fortalecer cooperações intermunicipais, de financiar os serviços, de proporcionar forte participação da população na definição de prioridades no modelo de gestão, no controle e no acompanhamento e de integrar resíduos sólidos às preocupações relativas às atividades econômicas, ao emprego, à autonomia e ao desenvolvimento sustentável. Esta autora conclui que, embora o emprego da expressão “gestão integrada” tenha tornado-se mundial, o seu conteúdo continua ambíguo e é adotado segundo as conveniências do seu utilizador. Nunesmaia (2002) apresenta um novo conceito da gestão integrada de resíduos sólidos, a Gestão de Resíduos Socialmente Integrada. Este conceito agrega ao anterior, aspectos sociais, ambientais, sanitários, econômicos, participativos, sempre respeitando a realidade local. A autora observa que o quadro que apresenta a gestão municipal de resíduos sólidos no Brasil é contraditório, … de um lado com anseios similares aos dos países do Norte (a gestão dos resíduos sólidos pautada em princípios hierarquizados da mesma maneira), por outro lado, com limitações elementares em seus serviços de limpeza urbana (políticas públicas), similares aos paises do Sul (em particular América Latina e em algumas situações da África Portuguesa (NUNESMAIA, 2002, p.3). Conforme visto acima, assim como foi apresentado no cenário mundial, o gerenciamento de resíduos sólidos municipais é o maior problema para a melhoria da área de resíduos sólidos na América Latina e no Brasil. Pessoal inadequado, equipamentos danificados e obsoletos, recursos escassos e mal aplicados, são problemas constantes nos municípios brasileiros, com alguma exceção nas capitais dos Estados mais desenvolvidos. Moraes e Borja (2009) divulgam os seguintes determinantes para a inadequada gestão dos resíduos sólidos na maioria dos municípios brasileiros: (i) limitações de ordem financeira, como orçamentos inadequados, fluxo de caixas desequilibrados, taxas desatualizadas, quando existe, arrecadação insuficiente e inexistência de linha de crédito específica; (ii) pouca capacidade institucional; (iii) deficiência na capacitação técnica e profissional do gari ao engenheiro-chefe; (iv) descontinuidade política e administrativa; (v) uso de tecnologias inadequadas às realidades institucional, operacional, à disponibilidade de recursos humanos e financeiros e aos aspectos de 77 ordem sócio-cultural; (vi) falta de programas de educação ambiental; (vii) pouco envolvimento da sociedade com a problemática dos resíduos sólidos; e, (viii) ausência de controle ambiental. A ausência de coleta seletiva em muitos municípios brasileiros, a presença de catadores de materiais recicláveis, sejam crianças ou adultos, nos “lixões” ou aterros sanitários, dentre outras situações existentes no cenário dos resíduos sólidos no Brasil, podem ser ajustadas e redirecionadas por meio de compartilhamento dos problemas entre órgãos municipais autônomos e a sociedade civil organizada. Para Rezende e Heller (2008) é muito acanhada a evolução do saneamento básico na direção de um ambiente mais consentâneo com a realidade democrática do Brasil, sobretudo quando se compara com a evolução em outras áreas públicas. A introdução de normas especificas contribui, gradativamente, para a resolução dos muitos problemas enfrentados pelos diversos setores públicos. A existência de Normas na área do saneamento colabora para estender a qualidade aos serviços públicos oferecidos e superar a informalidade registrada, principalmente no tocante aos resíduos sólidos. Jogar resíduos sólidos em qualquer lugar, principalmente nas áreas mais pobres dos municípios brasileiros ainda não é visto, pela maioria da população, como um comportamento negativo. A Constituição federal de 1988 previu instauração da função social da cidade, tratando da política urbana e de uma série de instrumentos para a garantia, no âmbito de cada município, do direito à cidade, da defesa da função social da cidade, da propriedade e da democratização da gestão urbana. A Lei nº 10.257/2001 - Estatuto da Cidade, contempla um conjunto de princípios e uma série de instrumentos que permitem a construção participativa de cidades sustentáveis e democráticas. Dentro do texto do Estatuto das Cidades foi criado o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU), obrigatório para todas as cidades brasileiras, com mais de 20 mil habitantes, que visa favorecer a discussão e a apresentação de soluções e projetos para os problemas das cidades. Este processo participativo incentiva a elaboração de Planos de Ações para estruturação de sistema de gestão de resíduos sólidos nos municípios brasileiros. Com base na articulação de atores diversos, inclusive o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), encontra-se o Fórum Nacional Lixo & Cidadania, criado em 1998. No âmbito dos Estados existem os Fóruns Estaduais e Municipais Lixo & Cidadania, que 78 desenvolvem tecnologias de transformação social7 para inclusão da comunidade e difundem seus programas e projetos de forma articulada. Em 2007, foi promulgada a Lei Nacional de Saneamento Básico, que estabelece o marco legal e define as regras de funcionamento da área. A Lei nº 11.445/2007 determina as diretrizes nacionais e cria a Política Federal de Saneamento Básico. As diretrizes nacionais são de cumprimento obrigatório dos agentes públicos e privados com atuação na área. Há na legislação, instrumentos jurídicos para auxiliar os municípios na gestão dos resíduos sólidos. A política federal orienta a participação do Governo Federal junto aos órgãos pertinentes, para o desenvolvimento das ações de abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem urbana e resíduos sólidos. Este marco legal vem trazendo nova perspectiva à população que sofre da falta de saneamento básico. O Capítulo VIII trata da Participação de Órgãos Colegiados no Controle Social e afirma que as diversas esferas de governo, o setor privado e organizações nãogovernamentais, podem promover ações e programas de urbanização, de habitação, de saneamento básico e ambiental, transporte urbano, trânsito e desenvolvimento, proporcionando um caminho para o enfrentamento desse grande desafio, que é a justa distribuição dos serviços públicos de saneamento básico a toda população das cidades brasileiras. Daí se ter considerado e dado destaque também à limpeza urbana e ao manejo de resíduos sólidos, que apresentam, de certa forma, um quadro diferenciado dos serviços públicos de água e esgoto, no que tange à relação que mantém a sociedade civil com as operadoras desses serviços e os órgãos municipais gestores da limpeza urbana. O Governo do Estado da Bahia vem formulando o Anteprojeto de Lei da Política Estadual de Resíduos Sólidos (PERS/BA), que é semelhante à Política Nacional. O objetivo desse projeto de lei é estabelecer uma política estadual de gestão dos resíduos sólidos, cuja prioridade é, além de reduzir a geração dos resíduos sólidos na fonte, implantar um programa consistente de educação ambiental. Com os instrumentos que a educação ambiental dispõe, a população poderá participar mais efetivamente dos serviços públicos de limpeza urbana, embora o gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos de uma municipalidade seja de responsabilidade da Administração Pública. 7 Tecnologias de transformação social são entendidas como um conjunto de metodologias específicas, capazes de despertar, em um grupo alvo, a importância do associativismo para a participação e o controle das Políticas Públicas na área de saneamento básico. 79 A cobrança pelos serviços ainda está longe de ser uma prática geral, uma vez que, de acordo com o SNIS de 2008 (BRASIL, 2010), 46,5% dos municípios afirmaram não realizar cobrança pelos serviços regulares de limpeza urbana. Significa que os municípios que afirmaram cobrar os serviços regulares, o valor médio do serviço é de aproximadamente R$23,60/habitante/ano. No Estado da Bahia, somente Salvador, Lauro de Freitas, Camaçari e Vera Cruz cobram tarifa específica para coleta de resíduos sólidos. A autonomia financeira pode facilitar a parceria entre o órgão municipal responsável pela limpeza urbana com entidades associativas, desenvolvendo trabalhos sociais e evitando a presença de catadores de resíduos sólidos no aterro sanitário. Quanto ao gerenciamento dos resíduos sólidos, este é efetuado pela administração direta municipal, ficando geralmente os serviços sob a responsabilidade de variados órgãos da Prefeitura. Nesse modelo não existe autonomia financeira ou patrimonial, sendo que os serviços participam do sistema de caixa único e, na maioria dos municípios, a cobrança pelos serviços é realizada por meio de inserção de taxa especifica nos boletos do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Os orçamentos não vinculam as receitas tarifárias exclusivamente aos serviços, os quais têm se mostrado insuficientes para manter as atividades de manejo dos resíduos sólidos coletados. Não há meios adequados para se verificar se as receitas são utilizadas para o custeio geral da Administração. Se há controle, é apenas para uso interno e não é sistematizado. A Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (IBGE, 2010) identificou 5.027 entidades ligadas à administração direta do Poder Público como prestadoras de serviços públicos de manejo de resíduos sólidos, no universo de 8.208 entidades brasileiras, o equivalente a 61,2%. Para a PNSB, seriam: 44 autarquias; 72 empresas públicas; 23 sociedades de economia mista; 46 consórcios públicos; 2.830 empresas privadas; 10 fundações; 112 associações; e 44 outras formas de organizações. Segundo dados do ano de 2008 do SNIS (BRASIL, 2010) as entidades ligadas à administração direta do Poder Público, como prestadoras de serviços públicos de manejo de resíduos sólidos, seriam de maior incidência (89,8%). Dos municípios que responderam ao questionário aplicado pelo Ministério das Cidades, o resultado está demonstrado no Quadro 3.2. 80 Quadro 3.2. – Natureza Jurídica dos Órgãos Gestores do Manejo dos RSU nos Municípios Brasileiros – 2008 Natureza Jurídica Administração Pública Direta Autarquia Empresa Pública Sociedade de Economia Mista com Administração Pública Total % 89,8 5,4 2,4 2,4 100,0 Fonte: BRASIL 2010. Elaboração da autora. Esta incongruência pode ser justificada pela grande tendência à terceirização dos serviços ligados aos resíduos sólidos. O Poder Público não consegue acompanhar com eficiência o aumento da geração de resíduos sólidos nos centros urbanos, a agilidade em sanar problemas técnicos e operacionais, já que as empresas terceirizadas não estão submetidas às normas de licitações e contratos e não contam com pessoal tecnicamente capacitado nos quadros municipais. Em muitos casos, resta terceirizar serviços que seriam da competência da administração direta. Constitucionalmente, cabe ao município prestar e organizar os serviços públicos de limpeza urbana de forma direta, ou não. Apesar das contradições nos levantamentos, o importante é ressaltar que a terceirização exige controle e fiscalização, pautados em instrumentos técnicos, operacionais e administrativos. A falta de cultura da gestão dos resíduos sólidos urbanos, a incipiente estrutura da Administração Pública municipal, a baixa arrecadação das receitas tributárias próprias e, por fim, a falta de instrumentos que respaldem o exercício de atividades gerenciais na esfera municipal, agrava o controle dos serviços realizados por terceiros, refletindo-se na discrepância dos dados levantados. Ainda segundo dados do SNIS de 2008 (BRASIL, 2010), o atendimento da população por serviços de coleta regular, apresenta razoável cobertura, com a média da amostra chegando a 100,0%. A frequência de coleta que predomina é de duas ou três vezes semanais (70,0%), com uma considerável taxa de população atendida com coleta diária (27,8%) e uma taxa residual de população atendida com coleta de frequência semanal (2,3%). O número de vezes na semana que os resíduos sólidos são coletados não implica necessariamente em maior limpeza das ruas. A redução da geração dos resíduos sólidos é fator preponderante para o desenvolvimento sustentável. A educação pode se constituir em importante ferramenta nesse sentido. É fundamental a formulação e proposição de programas de educação ambiental como política pública. Programas de educação ambiental devem estar materializados no mau uso da natureza e nas regras políticas de convívio social e de mercado. Por meio desses programas, torna-se possível reconstruir uma idéia de resíduos sólidos compatível com a 81 tendência mundial, ou seja, os rejeitos que são encaminhados para os aterros sanitários não podem mais ser reutilizados (ultimes). A Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, vem apoiar o caminho a ser trilhado para a universalização dos serviços públicos de limpeza urbana no Brasil. Esta Lei preconiza que a responsabilidade pela coleta, tratamento e destinação final seja compartilhada entre Poder Público, empresas e consumidores na questão dos resíduos sólidos. No Capitulo IV, relativo ao fluxo dos resíduos sólidos, a Lei dispõe que os resíduos sólidos deverão ser reaproveitados em produtos na forma de novos insumos, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, cabendo ao consumidor, ao titular dos serviços públicos, ao fabricante e aos comerciantes, o comprometimento no exercício das suas funções para obter sucesso na sua aplicação. Por exemplo, os resíduos sólidos reversos, coletados pelo Poder Público, deverão ser disponibilizados em instalações ambientalmente adequadas e seguras, para que as empresas providenciem o retorno para o ciclo produtivo. Para a gestão dos resíduos sólidos, uma hierarquia de etapas relativas ao fluxo dos resíduos sólidos deve ser observada, começando pela redução na fonte, ou seja, redução dos resíduos domésticos, comerciais e industriais, até a deposição final em aterro sanitário, como retrata a Figura 3.8. 2- Reutilização 3- Reciclagem 1- Redução na Fonte 4- Tratamento 5- Eliminação 6- Deposição Final Figura 3.8. – Fluxograma da Gestão dos Resíduos Sólidos. Fonte: Adaptado da Lei nº. 12.305/2010. Não é suficiente unicamente se investir em serviços públicos com tecnologias apropriadas, mas é necessário dotar os gestores de canais e ferramentas que tragam novas práticas e posturas, criando, desta forma, uma nova cultura para o gerenciamento desses serviços. 82 Conforme analisado, o Brasil possui planos municipais para varrição e coleta, ausentes em alguns países em desenvolvimento, como a Índia. As técnicas utilizadas também são apropriadas, tendendo, porém, de forma constante, para a ausência de gerenciamento efetivo, que acarreta descuido e rápida deterioração de aterros sanitários projetados adequadamente, inclusive financiados com recursos externos. Ressaltam-se duas questões de gerenciamento dos resíduos sólidos nos locais de destinação final do Brasil: 51,5% das unidades de disposição final não têm impermeabilização de base e 78,4% não captam nem tratam o lixiviado gerado pela decomposição dos materiais orgânicos depositados no seu solo. Algumas pesquisas vêm demonstrando que o lixiviado pode ser muitas vezes mais poluente do que o esgoto doméstico. No Estado da Bahia o estudo do solo para a instalação de aterros sanitários é pouco utilizado, ocorrendo infiltração de contaminantes derivados do lixiviado nos córregos, nos rios e em lençóis freáticos. Pode-se afirmar que não há, na maioria dos aterros do Estado da Bahia, gestão voltada para integrar as questões ambientais no processo decisório. Tampouco existe gestão de riscos geológicos, aquela pautada por escolhas políticas e por decisões finais de organização em um determinado território. A Lei revela novas questões que requerem estudos e pesquisas específicos. É imperioso fazer cumprir a Lei n.11.445/07, cujas discussões têm enfatizado a importância do envolvimento dos municípios na área de saneamento básico, incluindo medidas que fortaleçam os governos locais, por meio de consórcios intermunicipais, além do controle social, o que vai exigir mecanismos de gestão que garantam o poder das autoridades locais e comunidades em um esforço de diálogo e cooperação. Assim, diante do estudo apresentado e dos resultados obtidos, pôde-se constatar que, muito embora se observe a fragilidade das práticas e do manejo dos resíduos sólidos urbanos brasileiros, as técnicas disponíveis não estão muito distantes das aplicadas em países desenvolvidos. A principal conclusão é que esses resultados podem vir a ser utilizados como referencial para subsidiar o estudo das relações entre tecnologias para uso do solo em aterros sanitários e os instrumentos de gestão que colateralmente possam provocar ampliação e melhoria no atendimento às comunidades e ao meio ambiente. Este estudo será apresentado no próximo Capítulo. 83 CAPÍTUL O IV – ÁRE AS DE ESTUDO E METODOLOGIA A P LI C A D A 84 IV – ÁREAS DE ESTUDO E METODOLOGIA APLICADA 4.1 Aterros Sanitários na Bahia: Localização Geográfica e Geológica dos Aterros Amostrados A necessidade de análises sistemáticas sobre a gestão de equipamentos públicos que apóiam a preservação ambiental, no caso desta Tese, aterros sanitários, decorre pelo desafio em se ter o equilíbrio entre atendimento dos serviços públicos e poluição do meio ambiente. A partir da década de 90, algumas ações e programas relativos aos resíduos sólidos foram implementados no Estado da Bahia, envolveram aspectos sanitários ambientais com reflexo direto na melhoria da saúde pública. Deve ser feita especial referência ao Projeto Metropolitano, pioneiro nas ações de Resíduos Sólidos do estado, ao Programa de Saneamento Ambiental da Baía de Todos os Santos (Baía Azul), Programa de Desenvolvimento Turístico (PRODETUR) e ao Programa de Administração Municipal e Desenvolvimento de Infraestrutura Urbana (PRODUR). Todos estes programas foram realizados através da Secretaria de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (SEDUR), da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (CONDER), da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional do Estado da Bahia (CAR) e das Prefeituras Municipais. As ações e programas referidos enfocaram desde o planejamento integrado dos sistemas de limpeza urbana, com a elaboração dos Planos de Gestão de Limpeza Urbana (PDLU), até a sua implementação com a doação de equipamentos de coleta, soluções para a questão da destinação final de lixo, com a construção de vários aterros sanitários convencionais e simplificados, recuperação de áreas degradadas por lixões, programas de educação ambiental, capacitação do pessoal operacional do sistema de limpeza urbana e projetos de ressocialização dos catadores dos “lixões”. Em 2000, os primeiros aterros sanitários compartilhados começaram a dar mostras de falta de sustentabilidade no modelo de gestão. Inicialmente, pensou-se que os problemas relativos à gestão dos aterros implantados estavam ligados ao compartilhamento entre municípios próximos e a falta de um modelo de integração adequado, mais tarde observou-se que também os aterros sanitários isolados e os simplificados, implantados desde o final dos anos 90, inclusive com financiamento internacional, apresentavam problemas semelhantes e necessitavam de avaliação e melhorias. Os problemas enfrentados pelos serviços públicos de resíduos sólidos no estado da Bahia são de tal gravidade que o Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça de Defesa do 85 Meio Ambiente de diversos municípios baianos, por meio do Programa “O Desafio do Lixo” vem promovendo inquérito civil e ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social do meio ambiente. O CEAMA vem constatando a necessidade de urgente implementação de políticas municipais para a gestão da área de resíduos sólidos. Um dos problemas mais significativos referentes à implantação de aterros sanitários reside na escolha da sua área. Uma área adequada constitui economia no preparo, operação e encerramento do aterro, mas, principalmente, menor risco ao meio ambiente e à saúde pública. A escolha da área é, todavia, um aspecto de difícil solução devido aos problemas técnicos envolvidos e à rejeição da comunidade local à idéia de disposição de resíduos sólidos nas imediações das suas casas. Três fatores são fundamentais para a escolha da área a ser implantado um aterro sanitário: (i) aspectos sociais; (ii) alteração do meio físico; e (iii) custos de implantação, manutenção e encerramento do equipamento público. Os seguintes aspectos sociais, econômicos e legais devem ser considerados na escolha da área para implantação de um aterro sanitário: dados populacionais; caracterização dos resíduos sólidos; informações sobre manejo de resíduos sólidos no município; existência de aeroportos ou outros equipamentos públicos que requeiram distância mínima (maus odores e insetos); distância máxima (custos com transporte); menor distância da zona urbana geradora de resíduos sólidos; aceitação da população; custos das terras (aquisição); benefícios da implantação do aterro; informações sobre as leis ambientais federais, estaduais e municipais e outros condicionantes do ponto de vista legal. Outros dados têm que ser levantados para atender a preservação do meio físico, como: identificação de áreas de preservação ambiental; identificação de zonas de preservação de mananciais; distância dos corpos d’água; regime de cheias e áreas inundáveis; localização das principais bacias hidrográficas e divisores de água; escoamento superficial e infiltração; nível das águas subterrâneas; relevo do solo (declividades); material não consolidado (caracterização do solo); substrato rochoso; alterabilidade dos materiais geológicos; compressibilidade do solo; disponibilidade de material para a cobertura do aterro, precipitação e evapotranspiração; direção preferencial dos ventos; avaliação das principais formações vegetais presentes e seu estágio atual e os espécimes animais associados; dentre outros. Portanto, a escolha do local para acomodar resíduos sólidos deve obedecer a várias normas de caráter social, ambiental, operacional e econômico. No Estado da Bahia, a análise de uma unidade receptora de resíduos sólidos passa necessariamente pelo estudo de seleção da área realizado pela Companhia de Desenvolvimento 86 Urbano do Estado da Bahia (CONDER) e pela autorização de operação do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (INEMA), que sinalizam a qualidade e a eficiência dos critérios para seleção das áreas de implantação dos aterros baianos. Foram escolhidos para este estudo dois aterros sanitários situados no estado da Bahia, um na Região Metropolitana de Salvador (Aterro Metropolitano Centro – AMC) e o outro na Ilha de Itaparica (Aterro Integrado Ilha – AII) (Figura 4.1.). Aterro Salvador Aterro Itaparica N Figura 4.1. - Mapa Localização Geográfica dos Aterros Sanitários Estudados Fonte: Adaptação de Mapas Google (2010). Figura 4.1. – Localização Geográfica dos Aterros Sanitários Estudados Por meio de tal escolha foi possível analisar duas áreas com características geológicas distintas, apesar de geograficamente próximas, o que facilitou as visitas de campo (Figura 4.2.). Outro fator preponderante para a seleção das áreas de estudo foi a semelhança de tipo de aterro, ou seja, aterro convencional compartilhado, o qual por servir a mais de um município possui variada composição de resíduos sólidos. Finalmente, a opção pelos dois aterros também foi motivada pela oportunidade de se estudar diferentes modelos de gestão, pois o AMC é gerido por empresa privada e o AII pelo Poder municipal. 87 Figura 4.2. - Mapa Geológico com a Localização dos Aterros Sanitários Estudados Fonte: Adaptação de Corrêa Gomes et al. (2005). As Figuras 4.3. e 4.4. mostram os croquis de localização do Aterro Metropolitano Centro e do Aterro Integrado Ilha, verificando-se ainda as áreas adjacentes: Figuras 4.3. e 4.4. – Croquis com a Localização do Aterro Metropolitano Centro e Aterro Integrado Ilha Fonte: ECOPLAN 1993, GEOHIDRO 1995. 88 4.2. O processo metodológico A estratégia adotada para o desenvolvimento desta Tese é o estudo multicasos descritivo. Segundo Yin (1994), essa é a estratégia mais usual nas pesquisas de campo focalizadas em eventos contemporâneos, que retratam situações nas quais o pesquisador tem pouco controle sobre o comportamento dos eventos e indicada por perguntas do tipo como ou por que. É possível demonstrar, nesta Tese, a presença das três condições acima citadas, visto que: (i) os dois casos focalizam eventos contemporâneos; (ii) não houve nenhum controle sobre o comportamento dos eventos; e (iii) observou-se como se dão as caracterizações geológica e de gestão adotados em dois aterros sanitários no estado da Bahia. Trata-se de um estudo exploratório (GIL, 1991), que teve como finalidade buscar ampliar o conhecimento sobre os serviços de resíduos sólidos urbanos, de modo a garantir familiaridade com o tema e contribuir para a difusão de informações que possam responder algumas questões sobre a gestão e a preservação do meio ambiente. O delineamento utilizado se deu por meio da pesquisa bibliográfica e da pesquisa de campo. Quanto aos procedimentos sistemáticos para a descrição e explicação dos eventos encontrados, o estudo se desenvolveu num ambiente que preconizou a abordagem quantiqualitativa. Os aspectos quantitativos representam melhor fisicamente os aterros sanitários, tratou-se de confrontar as ocorrências de variáveis e situações entre os dois equipamentos públicos amostrados. Por outro lado, a preocupação em relação aos aspectos qualitativos de aterros sanitários no estado da Bahia tem aumentado, já que, cada vez mais, estes equipamentos públicos vêm se transformando em vazadouros a céu aberto. Portanto, foram analisados os significados dos eventos ocorridos, de forma crítica, uma vez que apontam tendências quando avaliadas em conjunto. Segundo Roesh (1999), a pesquisa qualitativa é apropriada para avaliação formativa, quando se trata de melhorar a efetividade de uma política, de um programa ou plano ou mesmo quando é o caso de proposição de planos. A metodologia utilizada no estudo e na seleção das áreas de destinação final de resíduos sólidos foi feita em diferentes etapas, conforme pode ser observado no fluxograma de trabalho, apresentado na Figura 4.5. 89 Figura 4.5. – Metodologia Adotada na Tese Fonte: Elaboração da autora. 4.2.1. Coleta de dados Para possibilitar a coleta de dados, foram identificados indicadores relacionados ao referencial teórico, que permitiram aproximar os dados coletados àqueles relacionados ao tema da pesquisa. A pesquisa procurou desenvolver uma cadeia de evidências para explicitar a situação geológica e a situação de gestão e de gerenciamento dos aterros estudados. Os trabalhos se dividiram em dois blocos principais. O primeiro referente à caracterização geológica das áreas onde estão implantados os aterros sanitários selecionados. Os solos dos aterros foram observados in loco para a verificação das suas propriedades em relação aos percolados gerados; também foram verificadas as topografias visando a garantia de barreiras naturais à migração de poluentes; finalmente observou-se a presença de lençol freático. O segundo bloco de investigação esteve ligado à gestão desses aterros sanitários. Buscouse a legislação da área; as políticas governamentais; o nível de conhecimento dos gestores sobre os instrumentos de planejamento (humano, financeiro e tecnológico); os documentos pertinentes à operação dos aterros; a participação do Estado; a terceirização dos serviços; existência de projetos ligados à educação ambiental. As informações espaciais e materiais de interesse para este trabalho, assim como os dados gerenciais e de gestão, foram levantados durantes as visitas aos aterros sanitários em estudo. 90 Para a pesquisa de campo, elaborou-se um roteiro de consulta, visando a retratar a situação geológica e de gestão das áreas de destinação final dos resíduos sólidos. A pesquisa de campo resultou também em um registro fotográfico acompanhado de anotações. Para a pesquisa bibliográfica levantou-se o estado da arte dos resíduos sólidos no Brasil e no mundo e no Brasil, além da consulta de relatórios, estudos e projetos relacionados aos dois aterros nas bibliotecas da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (CONDER) e da Secretaria de Desenvolvimento Urbano do estado da Bahia (SEDUR), que foram posteriormente digitalizados. Também foram utilizados os resultados da pesquisa intitulada “Tecnologias de Gestão no Combate à Pobreza e às Desigualdades Sociais: desafios da Sociedade e dos Serviços Públicos na Bahia”, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), em 2008, junto a dez municípios baianos. Esta pesquisa englobava três áreas dos serviços públicos: saúde, educação profissional e saneamento básico. A área de saneamento básico foi coordenada pela autora desta Tese. 4.2.2. Análise dos Dados Os dados foram coletados de forma complementar, compreendendo a pesquisa documental e pesquisa de campo; as evidências fornecidas foram comparadas àquelas que compõem o referencial teórico, objetivando a corroboração das conclusões. Inicialmente fez-se um inventário sobre os dados existentes da área de estudo, o qual possibilitou a identificação do meio físico dos locais aonde foram instalados os dois aterros sanitários. Foram analisados estudos, projetos e relatórios sobre o clima, a geologia, a geomorfologia e relevo e recursos hídricos, também os documentos cartográficos existentes. A análise dos dados geológicos foi embasada pelos procedimentos para a proteção do meio ambiente indicadas por Tressoldi e Consoni (1998). Segundo esses autores a proteção do meio ambiente na área dos resíduos sólidos envolve duas ações complementares. A primeira é a análise da migração de contaminantes, a partir dos locais de disposição. A segunda é a garantia de estabilidade das áreas usadas para a destinação dos resíduos sólidos. Assim, observando essas recomendações, foram desenvolvidos e caracterizados os seguintes aspectos das áreas onde se localizam os aterros Metropolitano Centro e Integrado Ilha: (i) Tipo de solo e rochas com propriedades inadequadas para uso de disposição de resíduos sólidos; (ii) Local frágil, incompatível com os percolados gerados; (iii) Garantia de barreiras naturais à migração de poluentes; e (iv) Utilização de área de mananciais com a presença de lençol freático. 91 As análises da gestão e do gerenciamento se basearam no levantamento organizacional dos dois aterros estudados. O Instituto de Pesquisas Tecnológicas e o Compromisso Empresarial para Reciclagem (IPT e CEMPRE, 1995) sugerem alguns indicadores básicos para a análise de modelos de gestão e gerenciamento de aterros sanitários, tais como: (i) frequência da coleta dos resíduos sólidos; (ii) adequação da destinação dos resíduos sólidos; (iii) busca por alternativas para o processamento dos resíduos sólidos; (iv) qualidade das respostas das exigências ambientais e econômicas; e (v) incentivos às iniciativas que busquem minimizar a geração de resíduos sólidos. 92 CAPÍ TULO V – RESULTADOS E DI SCUSSÃO 93 V – RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1. Dados básicos relativos aos aterros sanitários da Região Metropolitana de Salvador e da Ilha de Itaparica Apresenta-se abaixo um quadro comparativo (Quadro 5.1) contendo dados técnicos dos dois aterros analisados nesta Tese. Quadro 5.1. – Dados Comparativos entre o Aterro Metropolitano Centro e o Aterro Integrado Ilha DADOS ATERRO METROPOLITANO CENTRO 17/07/2010 Dia da visita técnica Equipamento compartilhado entre Modelo de gestão os municípios de Salvador, Simões Filho e Lauro de Freitas Concessão dada à Empresa Battre Operadora pela Prefeitura de Salvador Início da operação pelo 09/10/1997 gestor Consórcio de Empresas ITM/MIRAL/CEEMA que construíram o Aterro Região Metropolitana Localização População Censo 2010 (1.000 hab.) População atendida 2010 Instrumento Planejamento Tecnologia Adotada Fonte de Recursos Custo Total Vida útil Contribuição estimada ATERRO INTEGRADO ILHA 26/11/2010 Equipamento compartilhado entre os municípios de Vera Cruz e Itaparica Prefeitura de Vera Cruz 07/02/1997 PAISART SART MENDONÇA HYDROSISTEM de Ilha de Itaparica Salvador Salvador- 2.675 Simões Filho- 112 Lauro de Freitas – 154 2.941 Vera Cruz – 37 Itaparica – 21 58 de PGLU/PDLU/PGIRS elaborado PGLU/PDLU/PGIRS elaborado pela empresa GEOHIDRO em pela empresa HIGESA em 1992 1993 Aterro sanitário composto de células específicas para cada tipo de resíduo CONDER – Programa RMS Projeto Metropolitano R$ 2.317.934,00 20 anos 2.250 dia Empresa executora dos Empresa Estudos de Impacto LEITE Ambiental (EIA/RIMA) CARLSON M. M. Aterro sanitário composto de células específicas para cada tipo de resíduo CONDER – Programa RMS Projeto Metropolitano R$ 892.002,08 20 anos 30 dia Empresa GEOHIDRO Fonte: Elaboração da autora 94 5.2. Caracterização Geológica dos Aterros Sanitários Estudados Devido ao alto grau poluente de percolados oriundos dos resíduos sólidos, os aterros sanitários têm sido alvos de estudos geológicos detalhados, objetivando servir de suporte a um adequado planejamento dos serviços públicos de disposição e tratamento dos resíduos sólidos urbanos. Tendo em vista que a preservação das áreas onde se instalam esses equipamentos públicos está relacionada essencialmente com características técnicas e de explorabilidade e que os indicadores geológicos devem ser o mais representativos da proteção ambiental, foram escolhidos quatro critérios, quais sejam: (i) reconhecimento geológico da área estudada; (ii) solos; (iii) barreiras naturais à migração de poluentes e (iv) presença de lençol freático. Posteriormente, esses critérios serão detalhados. Um primeiro passo é considerar os ambientes geológicos, notadamente a localização geológica das duas áreas estudadas. 5.2.1. Localização Geológica do Aterro Metropolitano Centro (AMC) O AMC se encontra em zona de APA. Esta zona é incompatível com a instalação de um aterro sanitário. Além disso, o AMC localiza-se na região fito-geográfica de domínio da Floresta Pluvial Litorânea, ou seja, a Mata Atlântica. Essa região caracteriza-se por um alto índice pluviométrico. É inconciliável a instalação de um aterro sanitário em um ecossistema complexo e frágil, com elevada biodiversidade, de relevante interesse público. As constantes ampliações das células do AMC vêm suprimindo muitos hectares de Mata Atlântica. O AMC também se insere na bacia hidrográfica do rio Itinga, próximo à sua nascente, sendo esse mesmo rio contribuinte do rio Ipitanga, que por sua vez é afluente do rio Joanes, que abastecem a cidade de Salvador (GEOHIDRO, 1993). A Figura 5.1. que se segue, adaptada dos trabalhos desenvolvidos pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), Superintendência Regional de Salvador (GONÇALVES et al., 2008), apresenta o mapa Geológico da Região Metropolitana de Salvador. Demonstra que o AMC se encontra sobre domínio pertencente ao Embasamento Cristalino Pré-Cambriano, (Cinturão Salvador-Esplanada) (A4PP2gl) formado, principalmente, de ortognaisses granulíticos e de depósitos geológicos superficiais, representados pelo Grupo Barreiras (ENb), caracterizados por arenitos imaturos, fino a grosso, com níveis conglomeráticos e com intercalações de siltitos e argilitos (GONÇALVES et al., 2008). 95 96 5.2.1.1. Reconhecimento Geológico de Campo do Aterro Metropolitano Centro (AMC) Nas cinco áreas, dentre dezessete iniciais, pré-selecionadas para a implantação do Aterro Metropolitano Centro (AMC) foram realizados estudos comparativos para a análise da caracterização ambiental e dos custos básicos. Esses estudos comparativos visavam subsidiar a escolha final da área, já que não é tarefa fácil a escolha da localização para a implantação de um aterro sanitário. Dessas cinco áreas, duas foram excluídas por questões sociais, de vida útil e de influência metropolitana. Outra, por apresentar alto custo operacional, devido à distancia e ao prazo de vida útil. Outra área pré-selecionada foi descartada por possuir localização superposta a conjuntos habitacionais implantados pelo Estado. Restou a área Norte da Região Metropolitana de Salvador (RMS), entre os traçados de duas importantes vias de tráfego, a Via Parafuso e a BA-526 (CIA /Aeroporto). A partir dos estudos empreendidos (GEOHIDRO, 1993), solicitados pela CONDER para caracterizar a capacidade de suporte dos terrenos do AMC, concluiu-se que os terrenos selecionados eram adequados para a utilização proposta. Foram identificados quatro domínios com características geológico-geotécnicas próprias: (i) Depósitos Arenosos Inconsolidados, que ocorre em pequena porção da área e possuem alta permeabilidade e porosidade; (ii) Depósitos Alúvio-coluvionares, que se estende ao longo das drenagens que cortam a área do aterro e possuem pouca espessura e alto teor de umidade, devido à sua proximidade com o lençol freático; (iii) Coberturas Terciárias, que se apresentam nas porções mais elevadas da área e se constitui por conjunto de camadas arenosas e argilosas (Grupo Barreiras – ENb, Figura 5.1); e, (iv) Substrato Rochoso Alterado, onde as rochas do embasamento cristalino sofreram intenso processo de fragmentação, transformando-se em um manto de material alterado, que atinge mais de vinte metros de espessura (A4PP2gl) (Figura 5.1). 5.2.1.2. Solos do Aterro Metropolitano Centro Em termos pedológicos, a área do aterro é constituída por latossolos podzólicos, solos aluviais e hidromórficos. Os latossolos podzólicos são constituídos de sedimentos arenoargilosos, correspondendo a 1,3% da área e ocorrendo em zona de relevo plano. São também derivados da cobertura, sendo fortemente ácidos e correspondendo a 78,3% da área e ocorrendo nos bordos dissecados, em locais com relevo suave ondulado. Os solos aluviais, que são formados a partir das deposições de sedimentos fluviais recentes, formam camadas estratificadas 97 de diferentes composições granulométricas e correspondem a 8% da área, encontrando-se nas várzeas dos rios e córregos e contendo alto coeficiente de permeabilidade. Os solos hidromórficos são formados a partir de depósitos carreados pela erosão superficial, resultantes de encharcamentos periódicos, mal drenados. Ocorrem em aproximadamente 11% da área e acumulam-se nos fundos de vale (GEOHIDRO, 1993) (Figuras 5.2. e 5.3.). Figuras 5.2. e 5.3. – Detalhe dos Solos do AMC Fonte: Marchi (2010). É importante ressaltar que, dentre alguns principais agentes da degradação das terras nos aterros sanitários, dois interagem e são interdependentes: a contaminação do solo e o dano ao lençol freático. O resultado é a deterioração crescente, quando não é seguida a tecnologia apropriada, criando situações críticas de poluição ao meio ambiente e graves riscos para a saúde pública. No AMC a tecnologia é utilizada de forma correta. Entretanto, a região em que se encontra possui características que necessitam de grande atenção, já que é considerada parte da Área de Proteção Ambiental – APA de Joanes-Ipitanga. 5.2.1.3. Barreiras Naturais a Migração de Poluentes no Aterro Metropolitano Centro A área do aterro apresenta um relevo fortemente ondulado, com dois grotões principais que nascem na própria área, indicativos desfavoráveis à migração de poluentes, já que as ondulações naturais podem servir como barreiras da poeira e dos odores provenientes da operação e da decomposição da matéria orgânica (Figuras 5.4. e 5.5.). 98 Figuras 5.4. e 5.5. - Barreiras Naturais no AMC Fonte: Marchi (2010). Ainda se encontra reminiscência da vegetação nativa no AMC, composta por capoeira de porte médio a alto, por capoeira de baixo a médio porte e por vegetação herbácia pioneira, que mesmo com o registro de desmatamento, proporciona isolamento visual do empreendimento. 5.2.1.4. Lençol Freático do Aterro Metropolitano Centro Como referido anteriormente, o AMC se localiza na APA de Joanes-Ipitanga. Os terrenos com lençol freático aflorante ou muito próximo da superfície são impróprios para a construção de aterros, uma vez que possibilitam a contaminação dos aquíferos. Em algumas partes do AMC, os solos rasos associados às rochas subjacentes, implicam na ocorrência de lençol freático mais próximo da superfície e eventualmente afloram em alguns pontos, em períodos muito chuvosos. Os sedimentos que correm para os rios e ribeirões tornam a água túrbida. Turbidez elevada da água proporciona a diminuição da penetração da luz solar, que contribui para uma diminuição da fotossíntese e a sobrevivência da vegetação local. No projeto original do aterro, o sistema de drenagem de águas pluviais considerou a utilização de canaletas de argila compactada, direcionadas para caixas de passagem e daí para poços de visita em concreto. Entretanto, é alto o risco de assoreamento gradual do represamento dos cursos d’água, com a formação de lagoas artificiais. (Figuras 5.6. e 5.7.). 99 Figuras 5.6. e 5.7. – Vista Geral das Lagoas Artificiais Existentes no AMC Fonte: Marchi (2010). Também é elevado o risco de possível comprometimento da qualidade das águas do rio Ipitanga, que abastece a cidade de Salvador de água potável, com os impactos inerentes à presença de disposição de resíduos sólidos, inclusive soterramento de nascentes. Quanto maior é o valor ecológico da bacia, menor a aptidão da área para implantação de aterros sanitários. 5.2.2. Localização Geológica do Aterro Integrado Ilha (AII) Na maior parte das vezes, a escolha de um local já parte de um número reduzido de alternativas, como foi o caso do Aterro Integrado Ilha. O relevo da Ilha de Itaparica é relativamente plano, com regiões mais onduladas na sua contra-costa. Um fator negativo para a localização escolhida é de que o distrito de Baiacu se encontra na direção predominante dos ventos da região. Dentre outros problemas existentes estão o crescimento urbano desordenado e a ausência de rede coletora de esgoto sanitário, ambos críticos, além de a paisagem local ser constituída por coqueirais, brejos, restingas, matas e manguezais, incompatíveis com a disposição final de resíduos sólidos (ECOPLAM, 1995). Os resíduos sólidos compõem um aglomerado relativamente macio e de alta porosidade, o que permite sua rápida saturação com a água e seu excessivo aumento de peso, facilitando o escorregamento, que se torna mais grave quando os resíduos sólidos são lançados, juntamente 100 com as águas servidas, nas linhas de drenagem natural, como é hoje o caso do Aterro Integrado Ilha. Observou-se que o local, embora não tenha sido considerado o ideal, possui alguma infraestrutura, como boas condições da rodovia de acesso ao aterro, rede elétrica e adutora de água tratada instalada, que apóia o empreendimento. O tipo de solo da ilha abrange rochas sedimentares, que foram depositadas desde o Cretáceo até o período mais recente. A origem dos sedimentos cretáceos é atribuída à formação da Bacia do Recôncavo, contemporânea à abertura do Oceano Atlântico Sul (ECOPLAM, 1995). A Figura 5.8., adaptada dos trabalhos desenvolvidos por Gonçalves et al. (2008) e apresenta o mapa geológico da Ilha de Itaparica. Na área de estudo a cobertura de idade cenozóica, provavelmente do Neógeno, caracterizados por depósitos flúvio-lagunares (N4fl) assenta-se no limite entre rochas da Formação Marfim (K1mf), compostas por arenito fino, siltito e folhelhos; e da Formação Marizal (K1m), constituídas por conglomerado, com seixos de arenito, folhelho, siltito, calcário e silexito. 101 102 5.2.2.1. Reconhecimento Geológico de Campo do Aterro Integrado Ilha (AII) Estudos preliminares realizados pela CONDER (ECOPLAM, 1995) concluíram que o município insular de Itaparica apresentava limitações para a locação de aterros sanitários. Sendo assim, não foi possível locar uma área ideal para implantação do aterro. Contudo, como é imprescindível a escolha de uma área para destinação final dos resíduos sólidos, optou-se pelo distrito de Baiacu, a Oeste da rodovia estadual BA-001, pelo fato de ser um local onde se adquire terrenos com facilidade, com menor taxa de ocupação, mais altos e longe de depressões, além de fácil acesso. Com relação às litologias existentes, o local se mostrou também o melhor possível. Do lado leste desta rodovia estadual encontra-se a maior parte dos residentes e veranistas da Ilha. Segundo o Relatório de Impacto Ambiental-RIMA (1995), áreas alagadiças são muito comuns nessa parte da Ilha e as áreas protegidas de manguezais são impraticáveis para a implantação de aterros. O RIMA (ECOPLAM, 1995) considera que a não realização do empreendimento implicaria na manutenção do lamentável quadro de saneamento básico da região, haja vista que, em 1989, o índice de óbitos em Itaparica devido a doenças infecciosas e parasitárias foi de 22,73%, enquanto que este mesmo índice em todo o estado da Bahia se encontrava em 10,17%, ou seja, a Ilha apresentava mais que o dobro do índice estadual. 5.2.2.2. Solos do Aterro Integrado Ilha A pedologia local apresenta, nas proximidades da área do aterro, a ocorrência de solo do tipo Podzólico, amarelo avermelhado, pouco profundo, fortemente ácido e de baixa fertilidade. A textura é fina, tendendo à arenosa fina com matriz siltosa. Esse tipo de solo possui características de impermeabilização e atenuação da contaminação dos lixiviados, se devidamente reforçado por técnica adequada e gerenciamento eficaz. Uma técnica importante em aterros sanitários é o cobrimento e compactação dos resíduos sólidos depositados por uma camada de solo visando o seu adensamento. O que se percebe no AII é a ausência de recobrimento dos resíduos sólidos, que deveria ser diária. A camada de recobrimento é útil para que o local possa resistir a erosões e a ataques químicos, suportar recalques acentuados e sobrecargas, impedindo desta forma a deterioração estrutural, a erosão acelerada do solo e o desequilíbrio da atividade e diversidade da fauna (Figuras 5.9. e 5.10.). 103 Figuras 5.9. e 5.10. – Detalhes dos Solos do Aterro Integrado Ilha Fonte: Marchi (2011). 5.2.2.3. Barreiras Naturais a Migração de Poluentes no Aterro Integrado Ilha O processo de migração ou retenção de poluentes no solo é influenciado por alguns fatores relacionados com o fluido percolante, com o tipo de solo e com as condições ambientais. Conforme visto anteriormente, atualmente, o fluido percolante advindo dos resíduos sólidos dispostos no AII não é tratado, sendo composto por uma grande quantidade de matéria orgânica. São inexistentes as técnicas para conter a infiltração do lixiviado no solo. O tipo de solo é adequado, mas se encontra desprotegido, pois as barreiras impermeabilizantes naturais não são, por si só, suficientes para reter o lixiviado e não estão sendo reforçadas por barreiras impermeabilizantes industriais, ou seja, material geossintético. Quanto às condições ambientais, verificou-se, nas cotas topograficamente mais elevadas do aterro, a presença de uma delgada crosta limonítica na superfície do terreno. Essa crosta sustenta a forma do relevo, permitindo certa separação do aterro em relação às partes mais densamente habitadas da Ilha. Entretanto, estas barreiras naturais não vêm impedindo o grande impacto visual e olfativo dos resíduos sólidos dispostos em condições deficientes. Pouco sobrou da cobertura vegetal remanescente da época da instalação do aterro, que poderia reter o material particulado proveniente da operação, bem como barrar a migração dos gases para fora da área do aterro (Figuras 5.11. e 5.12.). 104 Figuras 5.11. e 5.12. - Barreiras Naturais no Aterro Integrado Ilha Fonte: Marchi (2011). 5.2.2.4. Lençol Freático do Aterro Integrado Ilha A área correspondente ao Aterro Integrado Ilha pertence às Sub-Bacias de drenagem do riacho Ponta de Castellanos e do riacho Jacu-Açú. A poluição do rio Castelhanos como corpo receptor do lixiviado descartado, após tratamento, foi prevista pelo RIMA do Aterro Sanitário Ilha de Itaparica (ECOPLAM, 1995). Porém, pelo fato do rio Castelhanos possuir pouca vazão, abrigar espécies pouco significativas e não ter um uso mais importante na região, o RIMA (ECOPLAM, 1995) dá pouca importância à possibilidade de sua poluição. Como referido antes, a profundidade do lençol freático é um dos elementos decisivos para a escolha da área de implantação de um aterro. Terrenos com lençol freático aflorante ou muito próximos da superfície são impróprios para a construção desta infraestrutura. O espaço mínimo recomendado entre o lençol freático e o fundo da vala escavada é de três metros. Conforme o RIMA (ECOPLAM, 1995), a profundidade do lençol freático do AII ocorre em níveis superiores a 30 metros. A base mais profunda se localiza a uma distancia de dez metros do nível do lençol freático. Apesar da distância segura, as propriedades dos líquidos percolantes nas barreiras de solo compactadas podem influenciar a condutividade hidráulica, contaminando as linhas de água pelas águas lixiviantes, resultantes da degradação da matéria orgânica depositada sem qualquer tratamento nesse aterro. Tampouco existem barreiras hidráulicas, trincheiras profundas executadas a jusante da área, com o objetivo de interceptar o lençol freático pela instalação de um conjunto de motores e bombas recalcando as águas contaminadas para a superfície. 105 5.3. Caracterização Organizacional da Gestão dos Aterros Sanitários Estudados Para Chanlat (1995), modelo de gestão pode ser definido por um conjunto de práticas administrativas empregadas em uma dada Instituição, com vistas a se alcançar os objetivos que lhe foram fixados, estabelecendo as condições e a organização do trabalho, a natureza das relações hierárquicas, os tipos de estruturas organizacionais, os sistemas de avaliação e controle dos resultados, as políticas em matéria de gestão de pessoal e os objetivos, os valores e a filosofia de gestão que o inspiram. No mundo contemporâneo, modelos de gestão vêm passando por constantes mudanças, que podem se constituir de perspectivas diversas, adotando maior ou menor integração com a sociedade ou praticando posturas mais ou menos participativas junto aos seus empregados, fornecedores e clientes. Para Kozlowski e Klein (2000), o contexto organizacional é o efeito resultante da combinação das diferenças individuais e contextuais, ou seja, a articulação entre atos humanos individuais e condutas coletivas. Na ausência de gestão adequada, a geração e a destinação dos resíduos sólidos podem conduzir a vários problemas, tais como: contaminação do solo com fungos e bactérias; contaminação das águas de chuva e do lençol freático; aumento da população de ratos, baratas e moscas, disseminadores de doenças diversas; aumento dos custos de produtos e serviços; entupimento das redes de drenagem de águas pluviais; assoreamento dos córregos e dos cursos d’água; incêndios de largas proporções e difícil combate; destruição da camada de ozônio, dentre outros. Nesse sentido, diante das dificuldades enfrentadas por essa área, é importante que, além dos procedimentos técnicos, se faça uma avaliação da estrutura organizacional, das práticas, dos comportamentos e das ações mais representativas das aspirações e interesses coletivos da amostra selecionada, o que vai contribuir para o desenvolvimento de um modelo alternativo para a gestão de aterros sanitários. 106 5.3.1. Levantamento organizacional do Aterro Compartilhado Centro (AMC) Breve Histórico do Aterro Metropolitano Centro (AMC) O AMC iniciou as operações em 1997, tendo sido implantado e operado pela Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia até 1998, quando foi transferido para a Empresa de Limpeza Urbana de Salvador. Desde janeiro de 2000, a empresa Bahia Transferência e Tratamento de Resíduos S.A. (BATTRE) vem sendo a responsável pelos serviços de operação e manutenção da Estação de Transbordo, que atende a cidade de Salvador e pela implantação, operação e manutenção do Aterro Metropolitano Centro, que atende aos municípios de Salvador, Simões Filho e Lauro de Freitas. Essa empresa gerencia os resíduos sólidos urbanos e comerciais da Região Metropolitana de Salvador e possui 140 funcionários. A Solví é a holding controladora da empresa Battre e de outras empresas localizadas em diversos estados do Brasil. Possui também uma base no Peru. Estas empresas atuam nos segmentos de Resíduos Sólidos, Saneamento e Valorização Energética. 5.3.1.1. Frequência da Coleta dos Resíduos Sólidos para o Aterro Metropolitano Centro Os resíduos sólidos das cidades de Salvador, Lauro de Freitas e Simões Filho é coletado com frequência, principalmente nos bairros comerciais e de residência das classes de renda mais alta. O SNIS de 2007 (BRASIL, 2009) revela que mais de oitocentas mil toneladas de resíduos sólidos são coletadas na cidade de Salvador, apresenta o percentual de 72% de habitantes servidos diariamente pela coleta de resíduos sólidos e 28% em dias alternados. Esses dados corroboram a pesquisa feita junto a dez municípios baianos, intitulada “Tecnologias de Gestão no Combate à Pobreza e às Desigualdades Sociais: desafios da Sociedade e dos Serviços Públicos na Bahia”, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), que teve os seus resultados publicados em 2008. Segundo os resultados desta pesquisa, 38,8% da população de baixa renda respondeu que não tem coleta diária de resíduos sólidos e quase 10% afirmou que nunca foi beneficiado por esse serviço público (Quadro 5.2.). 107 Quadro 5.2. - Frequência da Coleta dos Resíduos Sólidos junto à População de Baixa Renda em 10 Municípios Baianos A Coleta de Resíduos Sólidos é feita diariamente pela Prefeitura? Não resposta Sim Não Não sei Total Quantidade Frequência 4 942 616 26 1588 0,3% 59,3% 38,3% 1,6% 100% Fonte: Tecnologias de Gestão no Combate à Pobreza e às Desigualdades Sociais: desafios da Sociedade e dos Serviços Públicos na Bahia, 2008. Esta pesquisa revela ainda que a população de baixa renda acredita que o convívio com a poluição causada pela ausência do saneamento básico é considerado componente grave para o seu cotidiano. Esses resultados se referem aos serviços públicos de varrição, coleta, transporte e tratamento dos resíduos sólidos e revelam uma baixa participação popular e alta centralização desses serviços, além da precária qualidade do meio físico, mais acentuadamente nas zonas onde moram as populações mais carentes. As prefeituras dos três municípios terceirizam os serviços de limpeza urbana para empresas privadas que atuam na área. Uma estação de transbordo fica localizada no município de Salvador, no antigo “lixão” de Cana Brava, otimizando o transporte dos resíduos sólidos desde esse município até o aterro sanitário. A terceirização e o compartilhamento de projetos e obras ou serviços públicos relativos aos resíduos sólidos com outras áreas são atividades crescentes; a LIMPURB busca compartilhar projetos e estimular a participação da sociedade civil organizada na sua gestão. Um caso que pode ser citado, embora ainda incipiente, é a articulação promovida entre a Prefeitura Municipal de Salvador com empreiteiras ligadas aos serviços públicos de coleta de resíduos sólidos, que orientam e apóiam algumas associações comunitárias situadas em locais de difícil acesso aos caminhões coletores/compactadores. Um acordo estabelecido entre os três segmentos objetivava facilitar a limpeza e coleta nos locais em que o acesso dos equipamentos é difícil. A comunidade coleta e acondiciona os resíduos sólidos em caixas estacionárias, localizadas em pontos estratégicos, para posterior coleta das empreiteiras. Visa, ainda, a geração de renda: no momento da coleta, realizada pela comunidade, ocorre uma triagem dos materiais recicláveis, que são armazenados e posteriormente vendidos. O lucro obtido é partilhado entre as associações participantes. 108 Uma ampla mobilização da sociedade, do governo e do Terceiro Setor, pode propiciar às prefeituras baianas incentivo à formação de cooperativas e associações que promovam a inclusão da população, principalmente daquela de baixa renda, no âmbito local. Representantes da LIMPURB afirmam possuir normas para minimizar possíveis problemas na área. A Secretaria de Desenvolvimento Urbano, por meio da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia, oferece apoio institucional para a elaboração dos Planos de Gerenciamento de Limpeza Urbana (PGLU) e disponibiliza manuais de operação e gestão dos resíduos sólidos aos municípios baianos. O gestor de Simões Filho afirma possuir cadastro e acompanhamento das demandas populares por meio de banco de dados, avaliando sistematicamente a satisfação do serviço ou obras prestados. Apesar destas afirmativas, do recebimento de demandas populares e do estímulo à participação da sociedade civil organizada nas suas atividades, o propósito parece ainda não ter sido atingido, pois ruas sujas e com problemas de entupimento nos sistemas de drenagem urbana são facilmente encontrados. O exercício da discussão entre poder local e comunidade evita a segregação e leva à busca de soluções, desenvolvendo uma comunidade de prática em torno de objetivos comuns. Diante do exposto, pode-se afirmar que a frequência da coleta dos resíduos sólidos é realizada de forma desigual nos bairros dos municípios servidos pelo Aterro Metropolitano Centro. O outro problema detectado nos serviços públicos de limpeza urbana na RMS é a questão da coleta seletiva. Não existem programas persistentes por parte das prefeituras para viabilizar o processo de redução, reuso e reciclagem nos três municípios. Isso é preocupante, tendo em vista que a geração de resíduos sólidos na região é bastante significativa. 5.3.1.2. Adequação da Destinação dos Resíduos Sólidos A necessidade de fornecer destino adequado aos resíduos sólidos urbanos não se restringe apenas ao processamento e à destinação final em células específicas para cada tipo de resíduos sólidos, atendendo as condições básicas de segurança. Devem ser considerados outros fatores que contribuem para a disposição correta de resíduos sólidos e determinam a eficiência organizacional de um aterro sanitário. Para que esta eficiência seja maximizada, tornar-se cada vez mais necessário os cuidados com os aspectos administrativos, como: recepção dos resíduos sólidos; pesagem e registro dos resíduos sólidos; manutenção e limpeza das áreas administrativas e operacionais; sinalização; rotina operacional; a 109 adequação de pessoal e equipamentos e com os aspectos operacionais, como impermeabilização, disposição e drenagem, dentre outros. Aspectos Administrativos do AMC Como anteriormente relatado, a Battre é uma empresa pertencente ao Grupo Solvi. Esta empresa administra a estação de Transbordo de Cana Brava e gerencia os resíduos sólidos urbanos e comerciais da RMS. Para serem desenvolvidos a contento, aspectos administrativos, jurídicos, econômicos, sociais e políticos envolvidos no AMC, necessitam de pessoal técnico-administrativo treinado. As práticas operacionais têm que estar conforme os regulamentos e as leis brasileiras e desempenhadas com profissionalização. Conforme pode ser constatado pelo registro fotográfico feito no momento da vista ao aterro, verifica-se que, no trabalho cotidiano, práticas pertinentes à prevenção e ao controle dos fatores de risco são observadas: a entrada do aterro é restrita a veículos cadastrados e as vias de acesso para as áreas administrativas e para aquelas ligadas à destinação final, são desimpedidas, sinalizadas e asfaltadas (Figuras 5.13. e 5.14.). Figuras 5.13. e 5.14. – Organização da Entrada e das Vias do AMC Fonte: Marchi (2010). Em função do volume de resíduos sólidos gerados pela Região Metropolitana de Salvador, verificou-se que alguns procedimentos padronizados são adotados pelo aterro, como: recepção dos resíduos sólidos com registro e pesagem, sinalização apropriada, rotina operacional por meio de fluxos bem definidos de transporte para as células específicas (Figuras 5.15. e 5.16.). 110 Figuras 5.15. e 5.16. – Recepção dos Resíduos Sólidos do AMC Fonte: Marchi (2010) No que se refere ao estado de conservação e manutenção das máquinas e equipamentos, a partir dos dados obtidos nesta pesquisa, verificou-se que tratores e máquinas de operação se encontravam em bom estado. Também em funcionamento se encontrava a balança de pesagem dos veículos coletores para o controle da quantidade dos volumes diários e mensais dispostos no AMC (Figuras 5.17. e 5.18.). Figuras 5.17. e 5.18. - Estado de Conservação dos Equipamentos do AMC Fonte: Marchi (2010). As vias do AMC são bem sinalizadas. Placas de advertência de áreas de risco podem ser encontradas em locais de fácil visualização. Em função da boa sinalização existente, as diversas unidades do aterro são facilmente encontradas. 111 Placas informativas indicam a quantidade de dias sem acidentes, estimulando o cuidado e a atenção no trabalho desenvolvido nas dependências do aterro. A sinalização do programa de Coleta Seletiva se encontra exposta na sede administrativa (Figuras 5.19. e 5.20.). Figuras 5.19. e 5.20. – Sinalização no AMC Fonte: Marchi (2010). A sede administrativa possui amplo espaço de escritórios, além de abrigar um auditório para eventos educacionais e culturais. Nesse local também são apresentados aos visitantes os procedimentos administrativos e operacionais da Bahia Transferência e Tratamento de Resíduos (BATTRE). Na região onde se encontra o AMC, a vegetação original encontra-se bastante alterada, passando por um processo constante de desmatamento. Na área do aterro é marcante a presença de gramíneas e de espécies invasoras. A área é ocupada por construções que impedem a ocorrência de processos naturais de regeneração. Entretanto, existe a conservação de um cinturão verde em torno do AMC, de grande importância em um aterro sanitário, já que serve como barreira física à ocorrência e desenvolvimento da degradação ambiental (Figuras 5.21. e 5.22.). 112 Figuras 5.21. e 5.22. – Sede Administrativa da Battre Fonte: Marchi (2010). Adequação de Pessoal e Equipamentos No momento da visita realizada para esta pesquisa, cento e trinta e sete colaboradores trabalhavam na Battre: cento e doze no AMC e vinte e cinco na estação de transbordo localizada em Cana Brava. O ser humano é um dos elementos mais importantes de uma organização. É dever da organização que lida com os resíduos sólidos, além de promover treinamentos contínuos, fornecer equipamento de proteção individual (EPI) a cada trabalhador, visando a preservação da saúde dos servidores que mantêm contato direto com os resíduos sólidos, orientá-los como usar o uniforme, as luvas, as botas, as máscaras individuais, os aventais, óculos e gorros. No momento da visita ao AMC chovia, observou-se que além do uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), os funcionários usavam capa protetora de PVC (Figuras 5.23. e 5.24.). Figuras 5.23. e 5.24. – Uso de Equipamentos de Proteção Individual no AMC Fonte: Marchi (2010). 113 Aspectos Operacionais do AMC O aterro sanitário é uma obra de engenharia projetada sob critérios técnicos, recomendados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). As normas NBR 8419/1984 e NB 843/1983 preconizam, entre outros aspectos, a observação rigorosa de elementos essenciais como impermeabilização da base e impermeabilização superior, sistema de drenagem de lixiviados e de gases e cobertura diária dos resíduos sólidos. Um dos inúmeros problemas encontrados nos aterros sanitários está relacionado à impermeabilização da base destas instalações, ou seja, a possibilidade de ocorrência de contaminação das águas subterrâneas, além do comprometimento de aquíferos e reservas importantes de águas e do solo, devido à infiltração dos líquidos percolados. Nesse sentido, a impermeabilização do local que receberá os resíduos sólidos é de grande interesse para a preservação ambiental. Nesta área devem ser instaladas redes para coleta e tratamento do lixiviado, material que reúne todas as impurezas líquidas e tóxicas dos resíduos sólidos. No AMC a célula de disposição dos resíduos sólidos possui sistema duplo de impermeabilização inferior, composto de manta sintética (dois milímetros) sobreposta a uma camada de argila compactada. Esse sistema busca evitar rupturas causadas por pressões hidrostáticas e hidrogeológicas, condições climáticas, tensões da instalação, da impermeabilidade ou originárias da operação diária. O sistema de cobertura tem a função de proteger a superfície das células de resíduos sólidos, de eliminar a proliferação de vetores, de diminuir a taxa de formação de líquidos percolados, de reduzir a exalação de odores, de permitir o tráfego de veículos coletores sobre o aterro e de eliminar a queima de resíduos sólidos e a saída descontrolada do biogás. Na cobertura do AMC a terra é compactada diariamente por tratores compactadores. A cobertura final usa o geotextil não tecido de polipropileno, trinta centímetros de areia, quarenta centímetros de pedra e cobertura vegetal (Figuras 5.25. e 5.26.). 114 Figuras 5.25. e 5.26. – Aspectos da Impermeabilização e Cobertura do AMC Fonte: Marchi (2010). Na drenagem superficial do AMC são utilizados vários sistemas e dispositivos, tais como: valetas de proteção de aterro, descidas d'água, caixas coletoras, dentre outras. Esses sistemas de drenagem superficial visam promover um deságue seguro das águas que incidem diretamente sobre as vias, garantindo a segurança e estabilidade do aterro. Vale salientar ainda a importância da drenagem superficial do aterro sanitário, para evitar que as águas das chuvas penetrem no maciço do aterro, contribuindo para o acréscimo de líquido percolado gerado. Para a drenagem do lixiviado é utilizado o método de camada drenante. Esse método consiste em uma camada de brita, localizada diretamente abaixo do pavimento e acima da base ou sub-base. O lixiviado é um dos responsáveis pela estabilidade do maciço de resíduos sólidos, assim sendo, deve ser bem gerenciado para evitar qualquer possibilidade de desmoronamento. O lixiviado drenado no AMC é canalizado para uma estação, onde carretas específicas transportam esse material até a Empresa de Proteção Ambiental (CETREL S.A.) para adequado tratamento. Para drenagem de gás são utilizados dutos e drenos no maciço do aterro, que captam e transportam o biogás para dois flares, onde são queimados. Atualmente, uma parte desse gás está sendo reaproveitado para geração de energia limpa, conforme será descrito posteriormente, no item 5.3.1.3. (Figuras 5.27. e 5.28.). 115 Figuras 5.27. e 5.28. – Aspectos da Drenagem do AMC Fonte: Marchi (2010). 5.3.1.3. Busca por Alternativas para o Processamento dos Resíduos Sólidos Nos últimos anos, o AMC vem buscando uma maior eficiência no processamento dos seus resíduos sólidos. Esse aterro adota um sistema automatizado de processamento de resíduos sólidos urbanos, voltada tanto para a não liberação de gases tóxicos oriundos dos resíduos sólidos na atmosfera, vendendo créditos de carbono, quanto para a geração de energia limpa. No que se refere à captação de gases para venda no mercado de crédito de carbono, vale ressaltar que o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE) é um sistema voltado para as oportunidades de negócios com países desenvolvidos, pertencentes ao Anexo I do Tratado de Kyoto, que buscam promover a redução do Gás do Efeito Estufa (GEE) fora de seu território, ou seja, comprando no mercado as Reduções Certificadas de Emissões (CER). Uma iniciativa conjunta da Bolsa Mercantil & Futuro (BM&F) e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), abriga um “Banco de Projetos BM&F” composto por projetos validados por Entidades Operacionais Designadas pela ONU e também por Intenções de Projetos, ou seja, projetos parcialmente estruturados para atingir condição futura de validação no âmbito dos Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL). Nesse sistema, vários projetos de redução de gás metano de aterros sanitários brasileiros encontram um canal de divulgação, interação e captação de recursos com investidores estrangeiros interessados em adquirir créditos de carbono. O AMC se encontra dentre os aterros brasileiros que vendem crédito de carbono. O sistema de extração dos gases do AMC encaminha o biogás desde a captação até o sistema de tratamento, que é composto basicamente por um conjunto de sopradores, filtros para a 116 remoção de gotículas de condensado e material particulado e tubulação de encaminhamento para a queima nos Flares (Figuras 5.29. e 5.30.). Figuras 5.29. e 5.30. – Captação Gases no AMC Fonte: Marchi (2010). Nesse contexto, é relevante para o AMC possuir um sistema de informação inovador. A existência de uma sala informatizada melhora a produção e a gestão de dados e relatórios. Um software adquirido pelo AMC registra e controla a quantidade de gás gerado nas células do aterro, objetivando a concretização da comercialização realizada anteriormente com países interessados (Figuras 5.31. e 5.32.). Figuras 5.31. e 5.32. – Sala Informatizada para Controle dos Gases Gerados e Vendidos pelo AMC Fonte: Marchi (2010). 117 Frequentemente técnicos contratados pela Comissão de MDL da Organização das Nações Unidas (ONU) monitorizam os dados coletados, comprovando a retirada dos gases da atmosfera. Outra iniciativa de processamento de resíduos sólidos no AMC foi o desenvolvimento de novas formas para maximizar a captação do biogás, recuperando emissões fugitivas para atender a uma Termelétrica instalada em uma área de 13 mil metros quadrados, que obteve investimentos de aproximadamente cinquenta milhões de Reais. A Solvi, empresa controladora da Battre está sendo a responsável pela gestão desse empreendimento. A Termelétrica teve capacidade inicial de geração de energia de 20 megawatts (MW), suficiente para abastecer uma cidade com mais de 200 mil habitantes (Figuras 5.33. e 5.34.). Figuras 5.33. e 5.34. – Aspectos da Captação Gás para Geração de Energia Limpa no AMC Fonte: Marchi (2010). É inegável os benefícios que a geração da energia trazidos pela energia advinda de aterro. Entretanto, para a geração de energia é necessária uma grande quantidade de matéria orgânica. Torna-se conflitante a necessidade de decomposição de matéria orgânica como matéria prima para a geração de energia limpa. Dessa forma, é imperativo que os 3Rs (reduzir, reutilizar e reciclar) sejam implementados pelo Poder Público, para que uma haja efetiva prevenção dos impactos ambientais que um aterro de tal porte proporciona. 5.3.1.4. Qualidade das Respostas das Exigências Ambientais e Econômicas As respostas às exigências ambientais e econômicas podem ser analisadas sobre dois aspectos. O primeiro pela redução do uso de riquezas naturais (energia, água e matérias primas). O exemplo do uso dos gases do aterro para a geração de energia limpa na operação e na administração pode ser considerado como uma resposta às questões ambientais e econômicas. 118 Vale ressaltar que o AMC possui inovações tecnológicas, principalmente em seu sistema de cobertura final, onde a célula é encoberta por manta de PVC, que possibilita uma maior eficiência na captação do biogás. Entretanto, como prevalece a mistura de resíduos sólidos orgânicos e inorgânicos nas células do AMC, uma alta quantidade de material orgânico acaba sendo depositada no solo, diminuindo o tempo de vida desse equipamento. É inegável, para uma gestão privada, que quanto maior a massa de resíduos sólidos depositada nas células, maior é o retorno financeiro da operação. Faz-se urgente que as três prefeituras envolvidas no compartilhamento do aterro promovam campanhas viáveis para a reciclagem e reutilização. O segundo aspecto se encontra no vislumbre de boas práticas operacionais, na existência de equipamentos e de técnicas existentes para o controle de percolados e no tratamento e monitorização das emissões de lixiviado. Os equipamentos e as técnicas utilizadas para a operação no AMC se encontram dentro das Normas brasileiras. No que se refere ao tratamento das emissões de lixiviado, líquido escuro que contém altas concentrações de compostos orgânicos e inorgânicos, esse material é drenado e levado para uma bacia de acumulação, com capacidade de vinte e quatro mil metros cúbicos. Esta bacia também é recoberta, a fim de evitar escapamento dos gases. Posteriormente, o lixiviado acumulado é drenado para um pátio de carga, onde carretas especiais transportam o material até a CETREL S. A., para, então, ser encaminhado à Estação de Tratamento de Efluentes (ETE), o que evita emissões gasosas, líquidas e sólidas no meio ambiente (Figuras 5.35. e 5.36.). Figuras 5.35. e 5.36. – Tratamento do Lixiviado do AMC Fonte: Marchi (2010). 119 Outro destaque que pode ser dado, principalmente no que se refere às exigências ambientais, é a monitorização dos sistemas de destinação final de resíduos sólidos urbanos coletados por esse aterro. A monitorização permite o controle operacional e contribui para o entendimento do comportamento geotécnico dos resíduos sólidos. O levantamento dos dados do AMC para monitorização é efetuada por empresas terceirizadas. Estes dados são analisados por um grupo composto por pessoal técnico, pertencente ao quadro da Universidade Federal da Bahia. Finalmente, caso algum desvio seja detectado, esse grupo emite recomendações ou propõe modelos de comportamento. Um espaço foi criado nas instalações do aterro, com o objetivo de educar e sensibilizar os funcionários para o reuso de material orgânico para compostagem. A compostagem é um processo biológico em que os microrganismos transformam a matéria orgânica proveniente dos resíduos sólidos em um material semelhante ao solo. Uma horta foi instalada e é mantida pelos próprios funcionários. A produção obtida é compartilhada pelos funcionários que aderiram ao programa (Figuras 5.37. e 5.38.). Figuras 5.37. e 5.38. – Campanha Interna para Reutilização de Material Orgânico Proveniente dos Resíduos Sólidos no AMC Fonte: Marchi (2010). Outra referência é o projeto de educação ambiental que vem sendo desenvolvido pela Battre junto às escolas da Região Metropolitana de Salvador. Em parceria com a ONG Estação das Formas e a LIMPURB, alunos de escolas públicas e particulares, matriculados do Ensino Fundamental, têm a oportunidade de conhecer as instalações do aterro, discutir a questão ambiental, a problemática dos resíduos sólidos, assistir a um vídeo institucional e teatro de fantoches, além de receber material didático-pedagógico. 120 5.3.1.5. Incentivos às Iniciativas que Busquem Minimizar a Geração de Resíduos Sólidos Reforçando práticas que incentivam a minimização de resíduos sólidos, a Solvi, grupo o qual a empresa Battre pertence, possui diversas publicações nesse sentido, como revistas, relatórios e cartilhas contendo legislação aplicável à área de saneamento básico, além de códigos de conduta. Essas publicações possuem versão em português e espanhol. Para a obtenção e manutenção do certificado ISO 14000, a Battre tem que se submeter a auditorias periódicas, realizadas por uma empresa certificadora, credenciada e reconhecida pelos organismos nacionais e internacionais. Como parte do esforço para a obtenção desse certificado, a conscientização da importância da redução, reuso e reciclagem dos resíduos sólidos é de grande importância. Um programa de coleta seletiva foi instalado nas suas instalações (Figuras 5.39. e 5.40.). Figuras 5.39. e 5.40. – Coleta Seletiva do Aterro Metropolitano Centro Fonte: Marchi (2010). 5.3.2 Levantamento Organizacional do Aterro Integrado Ilha Breve Histórico do Aterro Integrado Ilha O Aterro Integrado Ilha atende a dois municípios: Vera Cruz e Itaparica. Esse aterro integra a Administração Direta da Prefeitura de Vera Cruz, como órgão de execução de políticas e serviços públicos de limpeza urbana. O Aterro Integrado Ilha localiza-se no distrito de Baiacu. Iniciou as suas operações no ano de 1997. Esse aterro recebeu Estudo de Impacto Ambiental e seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental (EIA-RIMA), conforme as normas do Conselho Nacional de Meio Ambiente 121 (CONAMA). Nesse aterro foi projetado um conjunto de quatro células, onde os resíduos sólidos, após o aterramento, deveriam ser submetidos à tratamento secundário. Também foi proposto um modelo que incluía uma unidade de segregação e reciclagem, para só então os resíduos sólidos seguirem para as células ou para a central de podas e entulhos. Entretanto, segundo Nunesmaia et al. (2004), o Aterro Integrado Ilha transformou-se em “lixão”. No ano de 2005, foi recuperado pela CONDER. Pouco tempo depois, entregue à Prefeitura converteu-se, novamente, em “lixão”. Em 2007, o Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça do Meio Ambiente divulgou um laudo técnico, que descreve o seu estado como o de vazadouro a céu aberto. Em janeiro de 2011, durante a visita in loco, o Aterro Integrado Ilha foi enquadrado como “lixão”. 5.3.2.1. Frequência da Coleta dos Resíduos Sólidos para o Aterro Integrado Ilha O sistema de coleta de resíduos sólidos nos municípios de Vera Cruz e Itaparica compreende a coleta indiferenciada dos RSU porta-a-porta. Segundo Nunesmaia et al. (2004), os resíduos sólidos, tanto no município de Itaparica quanto no de Vera Cruz eram recolhidos diariamente, sendo que nos locais impossibilitados de tráfego aos caminhões, os descartes eram realizados em pontos estratégicos, principalmente no período de alta estação. Como a coleta é irregular, muitas vezes os resíduos sólidos são jogados nas rodovias (Figura 5.41.). Figura 5.41. – Presença de Pontos de Resíduos Sólidos nas Margens das Rodovias da Ilha de Itaparica Fonte: Marchi (2011). 122 5.3.2.2. Adequação da Destinação dos Resíduos Sólidos Nesse item serão considerados os cuidados com os aspectos administrativos e operacionais realizados pelo Aterro Integrado Ilha. Aspectos Administrativos do Aterro Integrado Ilha As práticas pertinentes à prevenção e ao controle dos fatores de risco no Aterro Integrado Ilha não são observadas. Não existe controle algum na entrada do aterro, conforme pode ser constatado pelas Figuras 5.42. e 5.43.. Figuras 5.42. e 5.43.– Recepção dos Resíduos Sólidos do Aterro Integrado Ilha Fonte: Marchi (2011). Os mecanismos de controle de acesso são necessários para restringir a presença de estranhos na área do aterro. A ausência de controle efetivo de acesso pode permitir a entrada inadvertida de pessoas, que se expõem à insalubridade inerente a um aterro sanitário, além de permitir depósitos clandestinos de resíduos sólidos de origem desconhecida nas áreas dos mesmos. As caçambas com os resíduos sólidos chegam e saem livremente no Aterro Integrado Ilha, sem que ninguém tome conhecimento do material transportado nas mesmas. A vigilância do aterro estava sendo realizada pelo jardineiro. Como não existe controle, a descarga de resíduos sólidos é feita em qualquer local, além do acesso estar disponível para pessoas estranhas aos serviços. Verificou-se a presença de vários catadores de materiais recicláveis nas dependências do aterro. 123 A recepção dos resíduos sólidos é feita por meio da pesagem dos caminhões e caçambas coletores. Entretanto, a impressora não funciona e os registros são feitos à mão. A organização das rotinas de recepção, da pesagem e do registro é muito precária (Figuras 5.44. e 5.45.). Figuras 5.44. e 5.45.– Balança e Equipamentos para Pesagem do Aterro Integrado Ilha Fonte: Marchi (2011). Devem ser mantidos permanentemente no aterro, em perfeitas condições de operação e manutenção, tratores de terraplanagem e de esteira, com as adaptações recomendadas. Mas, o estado de conservação e manutenção dos equipamentos do Aterro Integrado Ilha é lastimável. Exceto a balança de pesagem, que ainda funciona, tratores se encontram abandonados em várias partes do aterro (Figuras 5.46. e 5.47.). Figuras 5.46. e 5.47. - Estado de Conservação dos Equipamentos do Aterro Integrado Ilha Fonte: Marchi (2011). Segundo as normas brasileiras, a estrada de acesso aos aterros sanitários deverá ter sinalização e manutenção periódica para a promoção de um bom escoamento dos veículos. No 124 momento da visita, havia apenas uma placa de sinalização, danificada, na rodovia de entrada do Aterro Integrado Ilha (Figura 5.48.). A colocação de sinalização em aterros sanitários é uma ação simples, mas de grande importância. O deslocamento de caminhões coletores para os locais de descarga apropriados é um dos objetivos das placas de sinalização. Porém, como também não existem locais adequados para o despejo dos resíduos sólidos, as placas não fariam sentido. Não existe sinalização de entrada e das vias do aterro, assim como nenhuma para áreas consideradas de maior perigo (Figura 5.49.). Figuras 5.48. e 5.49. – Sinalização no Aterro Integrado Ilha Fonte: Marchi (2011). A sede administrativa é acanhada e não possui móveis e equipamentos que indiquem o seu uso cotidiano. Uma sucata de pá escavadeira de trator se encontra largada no caminho de entrada da sede (Figuras 5.50. e 5.51.). Figuras 5.50. e 5.51.– Sede Administrativa do Aterro Integrado Ilha Fonte: Marchi (2011). 125 Os taludes e patamares do aterro devem ser cobertos por vegetação adequada, imediatamente após a sua construção. O objetivo da vegetação é de minimizar a erosão com o rápido estabelecimento das raízes. No Aterro Integrado Ilha, ainda se encontra parcialmente conservada a vegetação original, da época de instalação do aterro (Figuras 5.52. e 5.53.). Figuras 5.52. e 5.53.– Vegetação do Aterro Integrado Ilha Fonte: Marchi (2011). Adequação de Pessoal e Equipamentos No momento da visita, a recepção foi feita pelo jardineiro. Como foi afirmado anteriormente, o elemento humano é de grande importância em uma organização. O empregador deve garantir a organização das atividades de prevenção dos riscos profissionais necessárias a assegurar aos trabalhadores as condições de segurança, higiene e saúde em todos os aspectos relacionados com o trabalho. É uma grande preocupação a presença de pessoas nos “lixões”. A contaminação acontece de forma direta, afetando gravemente a saúde desses indivíduos. Além disso, animais se alimentando dos restos de comida, muitas vezes em estado de decomposição nas áreas de disposição dos resíduos sólidos urbanos, podem ser contaminados e se tornarem transmissores de doenças. O problema se agrava quando esses animais são utilizados na alimentação de pessoas. Os trabalhadores do Aterro Integrado Ilha podem estar expostos a agentes biológicos, com riscos para a sua saúde nas muitas das atividades desenvolvidas. Observou-se a ausência de EPI. O funcionário presente no momento da visita afirmou que existem mais trabalhadores para a operação do aterro. Porém, o estado de descuido que se viu no local, deixa dúvidas a respeito de alocação de recursos humanos permanentes no Aterro Integrado Ilha pelo seu gestor (Figuras 5.54. e 5.55.). 126 Figuras 5.54. e 5.55.– Ausência de Uso de EPI no Aterro Integrado Ilha Fonte: Marchi (2011). No momento da visita ao Aterro Integrado Ilha, registrou-se um grande número de pessoas catando resíduos sólidos e animais soltos, como cavalos, galinhas e cachorros, comprometendo gravemente a sua saúde e, eventualmente, a saúde de humanos que venham a abatê-los e consumi-los (Figuras 5.56. e 5.57.). Figuras 5.56. e 5.57.– Presença de Catadores e de Animais no Aterro Integrado Ilha Fonte: Marchi (2011). 127 Aspectos Operacionais do Aterro Integrado Ilha O Aterro Integrado Ilha foi concebido para ser um aterro sanitário. Entretanto, na visita feita registrou-se que não há qualquer mecanismo para impermeabilização do solo, captação e tratamento de gases e lixiviado. Os resíduos sólidos, conforme pode ser constatado nas Figuras 5.58. e 5.59., são colocado sem critérios técnicos. As células originais estão desativadas. O aterro se transformou em um vazadouro a céu aberto. Figuras 5.58. e 5.59.– Aspectos da Impermeabilização e Cobertura do Aterro Integrado Ilha Fonte: Marchi (2011). A forma de distribuição das áreas para disposição não foi definida em função do emprego de técnicas específicas e sim da maior comodidade dos caminhões de resíduos sólidos que despejam o seu conteúdo em qualquer parte do aterro. A cobertura com terra dos resíduos sólidos dispostos é feita de tempos em tempos. A identificação da periodicidade de recobrimento dos resíduos sólidos foi avaliada em função da massa de resíduos sólidos exposta e das informações prestadas pelo funcionário presente no momento da visita. O funcionário afirmou que a última cobertura com terra havia sido feita há três meses. O gás gerado pela decomposição dos resíduos sólidos é diretamente lançado na atmosfera, sem ser queimado, causando intoxicação nas pessoas que têm contato direto com esse gás poluente. 128 O lixiviado gerado nesse aterro, por apresentar substâncias altamente solúveis, pode estar escorrendo e alcançando recursos hídricos superficiais ou até mesmo infiltrando-se no solo, atingindo as águas subterrâneas, comprometendo a qualidade e seus potenciais usos. 5.3.2.3. Busca por Alternativas para o Processamento dos Resíduos Sólidos Não há no Aterro Integrado Ilha qualquer processamento dos resíduos sólidos. De maneira informal há a catação de materiais recicláveis. 5.3.2.4. Qualidade das Respostas das Exigências Ambientais e Econômicas São inexistentes práticas para a redução no uso de riquezas naturais (energia, água e matérias primas) no Aterro Integrado Ilha. A despeito dos benefícios da proximidade com os dois municípios atendidos, qualquer possibilidade para geração de energia não é levada em consideração. Atualmente, em aterros que recebem alta carga de resíduos sólidos orgânicos, a instalação de biodigestores, para a geração de energia alternativa experimental, é relativamente de fácil aplicação. Ao contrário, a ocupação do solo do aterro é desregrada. A Prefeitura deposita veículos, caminhões e sucatas em um local próximo à sede administrativa. A presença desse material compromete as condições estéticas, ambientais e sanitárias do Aterro Integrado Ilha (Figuras 5.60. e 5.61.). Figuras 5.60. e 5.61 – Presença de Entulho e Sucatas na Área do Aterro Integrado Ilha Fonte: Marchi (2011). 129 As boas práticas operacionais, ou seja, a existência de equipamentos e de técnicas para o controle, a redução na fonte e a monitorização de emissões de lixiviados no meio ambiente não se aplicam nesse aterro. Nenhum monitorização de líquidos percolados, gases, sólidos e qualidade de águas superficiais e subterrâneas é realizado. A principal dificuldade encontrada para a instalação dos instrumentos da monitorização geotécnica refere-se à sua interferência com a rotina operacional do aterro. Essa rotina não é aplicada no Aterro Integrado Ilha. Se faz urgente uma monitorização referente à deposição dos resíduos sólidos de serviços de saúde (RSS) pelos órgãos competentes das ações dos gestores desse aterro. Os resíduos sólidos de serviços de saúde oferecem risco potencial ao ambiente e à vida de forma geral, devido às características biológicas, químicas e físicas que lhes são inerentes, e é objeto de preocupação do Estado, dos órgãos de saúde, dos órgãos ambientais e de pesquisadores da área. Todo o gerenciamento dos resíduos sólidos de serviços de saúde, desde a geração até a destinação final, é de responsabilidade das unidades de saúde. A Resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), nº 358, de 29 de abril de 2005, dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos dos serviços de saúde e estabelece critérios mínimos para disposição final desses resíduos. Um dos critérios é relativo à seleção da área de disposição, que deve: i) ser afastada de Unidades de Conservação ou áreas correlatas; e ii) respeitar as distâncias mínimas estabelecidas pelos órgãos ambientais competentes de ecossistemas frágeis, recursos hídricos superficiais e subterrâneos. No momento da visita ao AII foi flagrada a disposição e a queima desse tipo de resíduos diretamente no solo. Foram identificados seringas, luvas, embalagens de soros, medicamentos e materiais perfuro-cortantes (Figuras 5.62. e 5.63.). 130 Figuras 5.62. e 5.63.– Queima a Céu Aberto dos Resíduos Sólidos de Saúde no Aterro Integrado Ilha Fonte: Marchi (2011). Não há campanhas ou programas educacionais que criem consciência sobre a necessidade da limpeza da cidade. As raras e tímidas campanhas de reciclagem promovidas nos municípios de Vera Cruz e Itaparica se tornam ineficientes, tendo em vista a ausência da coleta seletiva, que acaba desmotivando aqueles que poderiam se dispor a separar os resíduos sólidos em casa. 5.3.2.5. Incentivos às Iniciativas que Busquem Minimizar a Geração de Resíduos Sólidos Existe viabilidade para a formação de associações e cooperativas de coletores de materiais recicláveis, mesmo em municípios que não possuam recursos materiais disponíveis. Catadores ajudam a diminuir os resíduos sólidos depositados em aterros ou “lixões”, mas precisam de iniciativas oficiais que minimizem a sua exposição aos perigos que esta atividade expõe e incentivem a gestão participativa de resíduos sólidos. Nos municípios beneficiários pelo Aterro Integrado Ilha não existe articulação visando propostas coletivas no sentido de apoiar cooperativas de catadores de materiais recicláveis, evidenciando a presença social desse segmento. No momento da visita, percebeu-se além da presença de várias pessoas catando resíduos sólidos, a montagem de barracas dentro do aterro, sugerindo que alguns catadores possam estar morando nesse local (Figuras 5.64. e 5.65.). 131 Figuras 5.64. e 5.65.– Aspectos da Catação de Reciclados no Aterro Integrado Ilha Fonte: Marchi (2011). A falta de cultura da gestão dos resíduos sólidos urbanos, a incipiente estrutura da Administração Pública Municipal, a baixa arrecadação das receitas tributárias próprias e, por fim, a falta de instrumentos que respaldem o exercício de atividades gerenciais na esfera municipal, agrava a operação e o controle dos serviços realizados no Aterro Integrado Ilha. 5.4. Apresentação de um Modelo Alternativo para a Gestão de Aterros Sanitários Em muitas ocasiões não é possível dar uma resposta definitiva a antigos e difíceis problemas. Entretanto, existe a possibilidade de se fornecer um delineamento teórico, por meio de uma modelo que adote a visão do conjunto, ou seja, observando-se diferentes variáveis e construindo-se um esquema com um alcance analítico aplicável às particularidades de cada município. O modelo para implantação de aterros sanitários proposto nesse trabalho leva em consideração as dificuldades de recursos enfrentadas pelos municípios baianos e está apoiada em quatro pressupostos: i) Projeto, Implantação e Gestão do aterro sanitário a cargo do Poder Público. ii) Desconhecimento da população dos prejuízos ambientais causados pela disposição inadequada dos resíduos sólidos, o que dificulta a participação e controle popular no sistema público de limpeza urbana. 132 iii) Qualificação insuficiente de recursos humanos nos municípios, impedindo a prática dos conceitos ligados à gestão ambiental. iv) Utilização de alguns dispositivos contidos na Lei nº. 11.445/2007, como o da Gestão dos Serviços Públicos de Saneamento Básico, que contempla as funções de Planejamento, Regulação, Prestação dos Serviços e Fiscalização, com o controle social transversal a todas elas. Com base nos pressupostos anteriormente apresentados, o modelo teórico para Instalação e Gestão de Equipamentos de Destinação Final dos Resíduos Sólidos foi concebido como uma proposta alternativa e mais abrangente, do que os atuais modelos técnico-operacionais, mais conhecidos e disseminados pela bibliografia nacional. Os aspectos ambientais e de gestão devem ser levados em consideração. Em termos gerais, a perspectiva ambiental se constitui em educação ambiental, licenciamento ambiental e controle dos impactos sócio-ambientais. Na vertente de gestão, de forma mais ampla, considera-se modelo de gestão do equipamento, elaboração de planos das ações, implantação do equipamento, capacitação técnica e de gestão e instalação de equipamentos de apoio. A Figura 5.66. apresenta o fluxograma da proposta de modelo, evidenciando que a sua estrutura, que inclui os tipos de atividades e suas interações, pode ser válida para qualquer município, seja de pequeno, médio ou grande porte. 133 Levantamento da Situação da Destinação dos Resíduos Sólidos Elaboração e Aplicação de Oficinas de Educação Ambiental P E R S P E C T I V A P Escolha do Modelo de Gestão Escolha da Área Aplicação da Análise SWOT Obtenção do Licenciamento Ambiental Implantação do Equipamento e Capacitação Técnica e de Gestão A M B I E N T A L Promoção de Programas de Educação Ambiental E R S P E C T I V A D E G Instalação dos Equipamentos de Apoio Prevenção e Controle dos Impactos Sócios Ambientais E S T Â O Utilização de Plano de Captação e Aplicação de Recursos Avaliação da Destinação dos Resíduos Sólidos Figura 5.66. – Modelo para Instalação e Gestão de Equipamentos de Destinação Final dos Resíduos Sólidos Fonte: Elaboração da autora. Definição das Atividades do Modelo Na sequência serão apresentadas as atividades propostas para o modelo desenvolvido. Todo o processo de implantação de um aterro sanitário deverá estar fundamentado no levantamento da situação da destinação dos resíduos sólidos. Esse levantamento deverá ser realizado pelo Poder Público. Com base nesse documento, considerando os dispositivos da 134 legislação vigente, os órgãos competentes definirão a necessidade de instalação de um novo equipamento ou de recuperação do existente. No caso de recuperação de aterros existentes, os procedimentos e legislações próprias para atividades potencialmente poluidoras deverão ser seguidos. Para a outra situação, apresenta-se o modelo proposto nesta Tese. É importante salientar que, antes de iniciar a instalação de um equipamento de destinação final, recomenda-se realizar oficinas de educação ambiental, a fim de capacitar a população local, tornando-a agente transformador da sua realidade sócio-ambiental. No final das oficinas, deverão ser apresentadas as áreas selecionadas para a implantação do equipamento para a escolha da área, onde será observada a caracterização dos processos do meio físico, atuantes no ambiente selecionado, bem como na previsão das alterações a que esses processos estão sujeitos, em face da instalação e funcionamento de um aterro sanitário. Alguns tipos de processos do meio físico podem ser destacados, como a disposição de sedimentos ou partículas, a erosão eólica, o escoamento de água na superfície, o escorregamento, a queda de blocos, as interações físico-químicas na água e no solo, a queda de detritos, o rastejo de solo (creep), a corrida de massa, a radioatividade, a subsidência, a inundação, a carstificação e os processos pedogenéticos. Definida a área com a comunidade impactada pelo equipamento, o próximo passo é a escolha do tipo de gestão mais adequada, que deverá ser feita pelo Poder Público. Se gestão regionalizada, por meio de gestão privada, parcerias público-privada, gestão pública, gestão interinstitucional, sob a forma de consórcios, redes ou parcerias. Para Suzuki e Gomes (2009), a destinação final dos resíduos sólidos urbanos em aterros sanitários regionais pode viabilizar o rateio dos custos operacionais e administrativos com ganhos de escala: a contratação de serviços profissionais de operação do aterro, a otimização do uso de máquinas e equipamentos, a redução do número de áreas utilizadas, a redução de possíveis focos de contaminação ambiental e, a concentração das ações de fiscalização do órgão ambiental competente. Para esses autores, no caso dos municípios de pequeno porte essas vantagens adquirem ainda mais relevância. Ao final da escolha do tipo de gestão a ser aplicada no aterro é recomendável a análise SWOT8 do futuro equipamento, ou seja, o levantamento dos pontos fortes e fracos, oportunidades e ameaças inseridos no modelo de gestão escolhido. A próxima etapa é o processo de licenciamento ambiental, que pode se desenvolver por meio da licença de localização, licença de implantação e licença de operação. A autoridade 8 Análise SWOT (Strengths, Weakness, Oppotunites e Threats) é uma técnica de planejamento e gestão que discute quais as posições internas a serem tomadas diante das forças e fraquezas que agem contra ou a favor dos interesses da organização, e quais são as posições externas que devem ser reforçadas ou evitadas. 135 ambiental competente pode estabelecer procedimentos simplificados para as atividades de licenciamento, em função do porte do equipamento e dos impactos ambientais esperados, conforme prega o Capítulo V - Do Licenciamento Ambiental, do Decreto nº. 7.217/2010, que regulamenta a Lei nº. 11.445/2010, que estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico e dá outras providências. Cada fase de licenciamento deve ser intercalada com capacitação técnica e de gestão para o pessoal envolvido no sistema de limpeza urbana do município ou dos municípios participantes. Os municípios reconhecem que não possuem técnicos capacitados para a elaboração de trabalhos dessa natureza ou verba para a contratação de profissionais para tal fim. O Artigo 26, Parágrafo 2º, do Decreto nº. 7.217/2010, prorrogou o prazo final para até 2014 para que os planos municipais de saneamento básico fossem elaborados. Barbosa, Marchi e Mendes (2010), corroboram com a idéia que o pessoal lotados nos órgãos ligados à área do saneamento básico dos municípios baianos necessitam de treinamento e capacitação técnica. Apresentam os resultados obtidos pela Pesquisa Tecnologias de Gestão, que demonstram a falta de sensibilidade de atendimento ao público por parte dos gestores dos serviços públicos de saneamento básico. Intermitência no fornecimento de serviços públicos de saneamento básico nos bairros periféricos, ausência de acesso da população de baixa renda à educação são problemas encontrados nos municípios pesquisados. Questões como participação e controle social, prestação de contas à sociedade, ferramentas de gestão e avaliação das ações contidas no Capítulo IV- Do Controle Social – inserido no Decreto nº. 7.217/2010, muitas vezes, são ignoradas ou deixadas em segundo plano. Por outro lado a amostra total levantada pela pesquisa, aproximadamente 70% da população dos municípios pesquisados, acredita que o saneamento básico é um dos três principais problemas existentes no seu município, sendo que 33% afirmou que a ausência de serviços públicos de abastecimento de água, esgotamento sanitário e da coleta e da destinação adequada dos resíduos sólidos é o principal problema enfrentado no seu dia-a-dia. É necessária a construção de uma nova forma de pensar e agir, envolver as ações de serviços públicos de saneamento básico com a prática da cidadania. Esta “nova” prática precisa se tornar concreta e materializar-se como tecnologias de gestão9 destinadas à transformação social. Para isso, o que se espera é que pessoal capacitado, envolvido com a comunidade, esteja pronto para uma adequada gestão do aterro sanitário, envolvendo a comunidade, assegurando o 9 Tecnologias de Gestão é o modus operandi de uma organização ou atividade. 136 aproveitamento da totalidade de sua vida útil, evitando que se torne um foco de contaminação ambiental. Nessa direção alguns equipamentos de apoio instalados nas zonas urbanas dos municípios são necessários, como: maquinários relacionados à reciclagem e reuso dos resíduos sólidos, veículos, contêineres, dentre outros. Esses equipamentos devem ser utilizados na coleta porta-aporta, em estação de transbordo, em unidades de triagem ou de compostagem, em pontos de entrega voluntária (PEV), em postos de reaproveitamento (responsabilidade compartilhada com escolas, casas comerciais, hospitais, clínicas de saúde e indústrias da região, visando a reutilização e o reaproveitamento do material descartado) e ainda, por cooperativas habilitadas para coletar os resíduos sólidos, dentre outros. A partir daí é iniciada uma nova etapa no modelo, ou seja, uma etapa cíclica, orientada para a utilização de novas técnicas, educação permanente, controle de impactos sócio-ambientais, captação e aplicação de recursos. Esta dinâmica dialética busca transformar a realidade, a partir de ações recorrentes e recursivas, que contêm práticas ambientais, pedagógicas, de regulação e de gerenciamento, interagindo umas com as outras. A redução, a reutilização e a reciclagem (3 Rs) pressupõem atenção preponderante ao ser humano. A educação insere-se na dinâmica da aprendizagem, a partir da concepção de que é o homem o principal protagonista do processo de separação dos resíduos sólidos na origem, quando passa de uma posição passiva para um papel ativo. Portanto, a educação é foco de atenção especial para o processo de gestão ambiental. A segunda etapa de programas educacionais proposta por esta Tese terá como público alvo tanto a comunidade, quanto as pessoas envolvidas na gestão e operação do aterro, visando atender aos 3 Rs. Os conhecimentos a serem fornecidos devem abranger diferenciados valores e tomadas de decisões. Decisões que englobem o desenvolvimento de potencialidades e de possibilidades, para informação e convencimento da comunidade sobre os benefícios das ações de redução dos resíduos sólidos. O objetivo principal desta segunda etapa educacional é sensibilizar e estimular a consciência sobre a necessidade da limpeza do município e incentivar iniciativas que busquem diminuir a geração pessoal e coletiva de resíduos sólidos. Sugere-se ainda esforços à disseminação da sensibilização ambiental, como o desenvolvimento de cartilhas auto-explicativas, de programas de visitação para escolas, hospitais, clínicas, comércio e indústria, pois difundem os conceitos de sustentabilidade e responsabilidade compartilhada. A prevenção e o controle dos impactos sociais e ambientais reúnem a observação e a mensuração de todas as ações e medidas anteriores, reexaminando os avanços e limitações. Na 137 última fase desta etapa cíclica se encontra o plano de captação de recursos, que identifica cada componente de apoio ao processo e garante a adequada aplicação dos recursos para os fins para os quais foram captados. Encerrando o processo do modelo de instalação e gestão de um aterro sanitário, se deve proceder a uma avaliação periódica dos trabalhos e dos resultados e, com base nela, se deve determinar um conjunto de ações a serem desenvolvidas, com cronograma de execução. Esse cronograma detalha, ao máximo, cada uma das ações previstas para o próximo período, bem como os responsáveis por sua execução. Essa atividade, a depender dos resultados encontrados, realimentará um novo levantamento sobre a situação da destinação dos resíduos sólidos nos municípios, contribuindo para a tomada de decisões nos programas de ajuste das dificuldades encontradas. O modelo sugerido se constitui em um instrumento de análise, que busca evitar futuros problemas e viabilizar soluções. Esse modelo pode contribuir para a construção de um caminho possível em atendimento equânime e universal de serviços públicos de saneamento básico. 138 CAPÍ TULO VI – CONCLUSÃO 139 VI – CONCLUSÃO 6.1. Conclusão As políticas públicas aplicadas até a década passada não foram suficientes para melhorar a situação ambiental do Brasil. Com a promulgação da Lei nº 12.305/10, referente aos resíduos sólidos, o País busca superar as dificuldades decorrentes do crescimento das cidades, com o aumento da quantidade gerada de resíduos sólidos. Esta Lei vem trazer melhoria da qualidade de vida, da saúde pública e da preservação das riquezas naturais e, deverá ser integrada a outras Normas, como a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (nº. 6.938, de 17/01/1981), a Lei da Área de Proteção Ambiental (nº. 6.902, de 27/04/1981), a Lei de Recursos Hídricos (nº. 9.433, de 08/01/1997), a Lei de Crimes Ambientais (nº. 9.605, de 12/02/1998), o Estatuto da Cidade (nº. 10.257, de 10/07/2001), a Lei do Saneamento (nº. 11.445, de 5/01/2007) e a Política Nacional sobre Mudança do Clima (nº. 12187, de 29/12/2009), dentre outras. Sem a institucionalização das normas ambientais, o País não conseguirá alcançar plenamente os seus objetivos de desenvolvimento. Não obstante o sucesso da promulgação da Lei federal em 2010, embora certos aterros sanitários possam estar de fato sendo adequadamente gerenciados, os resíduos sólidos do estado da Bahia ainda não tem destino final apropriado. Como as condições gerais de urbanização das cidades não se modificam na mesma velocidade, a tendência será de que mais da metade dos resíduos sólidos seja descartado em qualquer parte: nas estradas, nas matas, nos rios, nas esquinas. Esta afirmativa é corroborada com os dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (IBGE, 2010), que indica o “lixão” como destino final dos resíduos sólidos em 89,3% das cidades nordestinas. Esse estudo também afirma que no estado da Bahia, 381 dos 417 municípios dispõem os seus resíduos sólidos diretamente no solo. O estudo sobre os aspectos geológicos em aterros sanitários comprovou que quando o Estado resolve instalar um equipamento de destinação final, vem aplicando, na maioria das vezes, corretos fundamentos técnicos e geológicos. Mas, é durante o processo de operacionalização e gestão desses equipamentos, que começam as dificuldades e carências de recursos humanos, técnicos, operacionais e financeiros, transformando o equipamento apropriado em vazadouro a céu aberto. No Capítulo II desta Tese apresentou-se a definição de Ecogerenciamento, como a gestão voltada para integrar as questões ambientais no processo decisório. O Ecogerenciamento sugere práticas de gestão que diminuam os impactos negativos ocasionados pela organização, em 140 contraste à simples adesão às normas, à aplicação das técnicas geológicas e às regulações impostas pelo mercado ou pelas leis vigentes. Outras ações, além das condições geológicas e técnicas, devem ser implementadas, concretizando efetiva contraposição ao círculo vicioso existente e ao contínuo processo de degradação ambiental. O desafio reside na visão estratégica do equilíbrio entre o atendimento das necessidades básicas de serviços públicos de saneamento básico e o fomento de uma consciência necessária para consolidar envolvimentos e motivações com a perspectiva de enfatizar o interesse geral. A Política Nacional de Resíduos Sólidos reúne o conjunto de princípios, objetivos, instrumentos, diretrizes, metas e ações adotado pelo Governo Federal, isoladamente ou em regime de cooperação com Estados, Distrito Federal, Municípios ou particulares, com vistas à gestão integrada e ao gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos. Mas, esta Norma, por si só, não será capaz de modificar a realidade desta área no Brasil. Para se atingir os objetivos propostos pela Política Nacional de Resíduos Sólidos são necessários certos cuidados: i) tornar permanentes as linhas de Educação Ambiental Pública, Formal, de Comunidades e de Empresas; ii) observar na pré-seleção das áreas para instalação de aterros sanitários alguns atributos do meio físico, como os geológicos e geomorfológicos, os hidrológicos e hidrogeológicos, os socioeconômicos e os operacionais, que indicam de forma segura as áreas viáveis ao empreendimento; iii) escolher o tipo de equipamento mais adequado para a destinação final dos resíduos sólidos; iv) obter Licenciamento Ambiental; v) capacitar técnica e gerencialmente a equipe envolvida com o equipamento público; vi) diversificar os equipamentos, ferramentas e tecnologias que complementem a sustentabilidade do equipamento público; vii) respeitar uma hierarquia de gestão dos resíduos sólidos que priorize: evitar a geração; minimizar a geração; reaproveitar os resíduos sólidos inevitavelmente gerados; tratar; e dispor os rejeitos de forma ambientalmente adequada; viii) controlar os inevitáveis impactos sócio-ambientais. A elaboração de plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos, nos termos previstos pela Lei que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, é condição para o Distrito Federal e os Municípios terem acesso a recursos da União. Mas, como poderão ser esses Planos 141 elaborados e executados, se muitas vezes, nos municípios, principalmente os de pequeno porte, não existe pessoal capacitado para analisar e ter acesso às exigências legais? Uma grande parte do pessoal técnico municipal não está preparada para indicar os meios para minimizar os impactos negativos ocasionados pelas formas de uso, costumes e hábitos culturais relativos aos resíduos sólidos dos municípios. A educação ambiental não responde a todos os graves desafios vivenciados pela população junto à área de saneamento básico. Mas, há caminhos, percursos, metas, objetivos estratégicos que podem se alterar por meio desta. Nessa direção, as articulações entre o Estado e as comunidades impactadas por esses equipamentos podem possibilitar um crescente fortalecimento e melhorias institucionais. A integração entre o município e suas ações na área de saneamento básico e as pessoas, se constitui em uma importante via de acesso para uma nova forma de governança territorial, rumo ao desenvolvimento sustentável. A análise dos procedimentos de manejo dos resíduos sólidos desenvolvidos nas diversas partes do mundo e do Brasil, permitiu elencar algumas ações básicas que devem ser consideradas durante a instalação, gestão e operação de um novo equipamento de destinação final, financiado ou apoiado pelo Estado. No modelo que se propõe, compete ao Poder Público fomentar, organizar e educar em vez de prover, intervir e assistir, como vem acontecendo ao longo das últimas décadas. A pergunta norteadora desta Tese foi se o desenvolvimento de um modelo para instalação de equipamentos de destinação final dos resíduos sólidos, que envolvesse aspectos geológicoambientais e de gestão, poderia atender às especificidades, particularidades, de diferentes municípios. A realização deste trabalho proporcionou um maior entendimento do tema, o que permitiu concatenar as práticas de operação, que vêm sendo utilizadas em diferentes partes do estado da Bahia, com novas práticas ambientais e de gestão, favorecendo assim a elaboração do modelo proposto, que atende a municípios diversos. A proposição feita por meio deste modelo busca ainda proporcionar informações, que podem servir de auxílio ao aprimoramento dos equipamentos já existentes. Deve se considerar que resultados positivos e duradouros podem ser obtidos por meio da integração entre serviços públicos e cidadania. As prioridades máximas para qualquer modelo devem estar apoiadas na coleta de todos os resíduos sólidos municipais, na promoção de uma destinação adequada e na busca de novas tecnologias e formas de manejo para os resíduos sólidos dos municípios, sempre apoiadas pela participação cidadã. 142 Tratou-se, enfim, de um processo de construção teórica e metodológica que partiu de perguntas e gerou novas questões, especialmente quanto à forma de mensurar e analisar possíveis mudanças comportamentais em saneamento básico, em função das posturas e procedimentos inovadores difundidos em todo o País pela recente Política Nacional de Resíduos Sólidos. 143 REFERÊNCIAS 144 REFERÊNCIAS ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10004: Resíduos Sólidos: classificação. Rio de Janeiro, 2004. ABRELPE - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E RESIDUOS ESPECIAIS. Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil. São Paulo: ABRELPE, 2009. 210p. 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