Jardim do México - Amigos de Monserrate

Transcrição

Jardim do México - Amigos de Monserrate
MONSERRATE
A Quinta de Monserrate foi fundada em 1790 por um negociante Inglês chamado
Gerard de Visme. Este jardim do século XVIII foi o primeiro feito no estilo naturalista
em Portugal. De Visme gastou uma fortuna na construção da casa, um castelo neogótico, e na formação do jardim, que ainda hoje mantêm a sua forma pitoresca dos
setecentos: nos caminhos, muros e nas suas vistas. Ficaram como monumentos deste
tempo a cascata grande e a capela de N. S. de Monserrate.
Na época romântica Monserrate ficou famoso com a visita do Lord Byron em 1809. A
casa nesta altura já estava em ruínas. Tinha sido abandonada por De Visme e Beckford
(que vivia na casa em 1794-5). Tornou-se um local de visita obrigatória descrito em
inúmeros relatos de viagem, e ilustrado em colecções de gravuras.
Uma destas visitantes foi o jovem Francis Cook, chegado da sua Grand Tour da Itália,
Grécia, Turquia, Egipto, Espanha e Portugal. Neste mesmo ano de 1841 ele casou com
Emily Lucas, filha duma família Britânica estabelecida em Lisboa.
Cook fez um contracto de subrogação da quinta de Monserrate em 1856. A reconstrução
da casa foi iniciada com a compra definitiva e a chegada do construtor J. Samuel
Bennet, em 1863. Mas os projectos de arquitectura já estavam feitos pelo arquitecto J.
T. Knowles em 1858. Os jardins foram começados mais cedo, talvez ainda antes da
subrogação. Em 1866 a casa já estava concluída, ilustrada no Arquivo Pitoresco e
descrito assim:
O palácio, sacudindo de si o pó das ruínas, tomou uma forma mais nobre e esbelta, Enfeitou-se
por fora com colunas de mármore, com janelas góticas de variados relevos, e com graciosas
cúpulas. Adornou-se por dentro com muita variedade de mármores finíssimos, entre os quais
sobressaem magníficas colunas de porfido; com estuques e pinturas mui ricas; com lindos
sobrados de madeiras diversas embutidas, formando mui bonitos desenhos: com móveis,
alfaias, e obras de arte de subido custo e bom gosto, dos tempos antigos e modernos.
A quinta também passou por igual transformação: A numerosíssima colecção de plantas
exóticas e raras que encerra, umas admiráveis pela beleza das flores, outras singulares pela
esquisita folhagem; a abundância e frescura das aguas; a arte e bom gosto que presidiram á
abertura das ruas, á disposição das plantas e á direcção dos mananciais, auxiliados por aquele
benigno clima, por aquela natureza tão potente, que empresta ali á vegetação o brilho e
pompas que a dos trópicos ostenta: tantas galas e encantos, realçados ainda mais pela
formosura da situação, parecem realizar essas vivendas de fadas, criação fantástica dos poetas
nos arrojados voos da sua ardente imaginação.
Ignacio de Vilhena Barbos
O JARDIM DO MÉXICO
O jardim de Francis Cook recebeu plantas vindas dos quatro cantos do mundo e foi
organizado em áreas geográficos para reflectir esta diversidade de origem. Os fetos
arbóreos, trazidos em caixas de madeira directamente de Dandenong, perto de
Melbourne, Australia em 1867, foram plantados no Vale dos Fetos, e havia outras áreas
dedicadas às raridades botânicos de Peru, Japão, China, Brasil, e Africa do Sul. Mas o
mais idiomático destes jardins foi o México:
“Lo ! Mexico,
Rock-strewn, in front of thee ! what colours glow
On his hot surface ! All that Cactus gives,
Of indescribable painting, gorgeous gives,
On his steep slope, and Aloe’s flaming head
Shoots darting upwards from his rocky bed,
And Yucca’s thousand chalices of snow
Hang bending o’er those broken depths below,
Outpouring all their sweets on fragrant Mexico.”
Thomas Cargill, 1869
Nos meados do século XIX os jardins botânicos da Europa tinham um grande
entusiasmo pelas plantas mexicanas. Foram construídas estufas propositadamente para
recolher as estranhas formas dos cactos e piteiras descobertos pelas expedições
científicas e exploradores aventureiros. Mas a ambição de Francis Cook ir mais longe,
porque ele quis recriar os ambientes naturais para abrigar estas curiosidades no ar livre.
O poema citado acima mostra o seu entusiasmo por este projecto. As descrições escritas
e as fotografias da época mostram tão bem que ele sucedeu.
Prof. T. C. Archer, descreveu o Vale do México em «Botanical notes on the garden of
Montserrat, Portugal», Transactions and Proceedings of the Botanical Society of
Edinburgh, 10, 414-420. (1870).
This part of the garden is called Mexico, the contrast it offers to the luxuriance of the other
parts of the ground is most striking, the bare rocks of which it is composed glow in the
burning sun with a dry heat which almost seem to forbid vegetation, but this site suits the
Cacteæ, the Agaves, and other succulent plants admirably, and they are seen in such profusion
and luxuriance as cannot be imagined by those who have only known them in cultivation
under glass.
Cereus hildmannianus stood twelve feet high. Furcraea gigantea well merited its specific
name, for we measured some of its leaves and found them twelve inches broad. There was a
singularly beautiful Agave, called A. cubensis var. coccinea, which was entirely new to me.
George Lessing, embaixador dos Estados Unidos, visitou Monserrate em 1890:
The south sloping lawn at the threshold of the Palacio is bounded by "Mexico," which is
situated on a minor ridge, and sheltered at the west by a group of pine trees. Delicate palms,
such as Phoenix reclinata, Archontophoenix alexandrae, Syagrus romanzoffianum and
Lytocaryum weddellianum, the Howea belmoreana, the Rhopalostylis, are planted here; and
you go thence directly into a dense growth of Furcraea parmentieri and Agaves, Lampranthus
and Gazanias fill up all the spaces. Aloes and Yuccas abound in "Mexico" as well as date
palms [Phoenix], and many tender plants seldom grown in the open air except in the tropics.
Here we find Dracena draco, large cacti, Dasylirion acrotrichum, Opuntias, Echium, Eucharis
x grandiflora, Cordyline fruticosa ‘Shepherdii’, Agave geminiflora, Euphorbia pulcherrima,
and Vriesia glaucophylla. The hillside above is covered with cedars, Eucalypti, and cork-trees.
[binómios botânicos actualizadas]
Foto: Colecção de Brenda, Lady Cook
Projecto de restauro
O projecto de recuperação do Jardim do México – de restauro e não de construção de um novo
jardim – foi guiado pelo critério de reposição de estruturas e valores desaparecidos, tendo-se
procedido, previamente: à limpeza dos lagos; à modelação do terreno de modo a restituir as
cotas originais alteradas pelas grandes enxurradas de 1983; à reconstrução dos muros de
suporte de terras e da estrutura do Jardim; à reabilitação do antigo sistema hídrico; à
reimplantação dos caminhos pedonais, nas encostas e no vale. Foi desenvolvido por uma
equipa multidisciplinar e executado, na maior parte, por colaboradores da empresa. O trabalho
de investigação, o projecto de arquitectura paisagista e a escolha das plantas que deviam
figurar no Jardim do México, devem-se ao Arq. Paisagista Gerald Luckhurst, que trabalhou em
Monserrate desde os anos 80, foi membro fundador dos Amigos de Monserrate e é um dos
mais reconhecidos especialistas em Monserrate e Sintra.
A reconstituição das colecções que teriam existido no Jardim do México baseou-se em
descrições de Thomas Cargill (colaborador de Francis Cook no projecto do Jardim); de
botânicos de renome que visitaram Monserrate e de Walter Oates; na correspondência trocada
com Kew Gardens para a importação e troca de espécies exóticas; na comparação com os
registos das espécies existentes à época no Jardim de La Mortola; em referências de 1948 do
Professor Carvalho e Vasconcellos; nas espécies listadas pela equipa de botânicos canadianos
que trabalharam em Monserrate em 1988; e na lista de espécies que restaram no Jardim do
México ou em Monserrate, e que o levantamento botânico realizado evidenciou.
As mais de 3.500 plantas importadas agrupam-se em espécies distribuídas por 11 famílias:
Agavaceae (Agave, Yucca); Aizoaceae (Lampranthus, Droseranthemum); Aloaceae (Aloe);
Arecaceae (Chamaerops, Howea, Livistona); Asteraceae (Gazania, Osteospermum, Felicia);
Cactaceae (Echinocactus, Ferocactus, Cereus); Crassulaceae (Crassula, Aeonium, Sedum);
Cycadaceae (Cycas); Dracaenaceae (Dasylirion, Nolina, Beaucarnea); Euphorbiaceae
(Euphorbia); Zamiaceae (Dioon, Encephalartos, Zamia).
RECUPERAÇÃO DO JARDIM DO MÉXICO