Amanda Basso Morelli Ana Carolina Faria Carlos Eduardo
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Amanda Basso Morelli Ana Carolina Faria Carlos Eduardo
Projeto 3a | Módulo 1 | Sistema Urbano em Rede: estações de integração intermodal EXERCÍCIO 01 | REFERÊNCIAS Amanda Basso Morelli Ana Carolina de Faria Almeida Carlos Eduardo Bruel Wellichan Jessica Sayaka Komori Laureane D. Andreassa Cabral Renan Leite Antiqueira | 8909481 | 8909220 | 8909432 | 8909258 | 8909557 | 8909331 Instituto de Arquitetura e Urbanismo | iau.usp São Carlos, abril de 2016 APRESENTAÇÃO O presente dossier integra as atividades desenvolvidas por nosso grupo junto à disciplina de Projeto 3 do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo do IAU.USP São Carlos. Através do levantamento analítico de edificações que tiram proveito de formas complexas buscamos construir um repertório que deverá nos apoiar no decorrer da disciplina e do curso, bem como de nossa atuação profissional. Apresentamos, a seguir, nossa leitura e compreensão de seis projetos de acordo com os aspectos propostos pelo exercício: princípios de concepção, implantação e acessos, programa arquitetônico, sustentabilidade sócio-ambiental, materialidade, contrutibilidade, scripts utilizados, uso de fabricação digital, entre outros que consideramos importantes. <1> SUMÁRIO 1. Iglesia De La Medalla Milagrosa ...................................................................................................................3 Felix Candela, Cidade do México, México, 1955 2. Viaduto do rio Basento ......................................................................................................................................9 Sergio Musmeci, Basento e Potenza, Itália, 1774 3. Marquise do edifício WestendGate ..........................................................................................................14 Just Burgeff architekten + a3lab, Frankfurt, Alemanha, 2010 4. Proposta para a Estação Central de Houston .....................................................................................16 Snøhetta, Houston, EUA, 2012 5. Galeria Serpentine Sackler ...........................................................................................................................20 Zaha Hadid Architects, Londres, UK, 2013 6. Terminal central de Arnhem .......................................................................................................................26 UNStudio, Arnhem, Holanda, 2015 Conclusões .....................................................................................................................................................................33 Referências ....................................................................................................................................................................34 <2> 1. IGLESIA DE LA MEDALLA MILAGROSA Felix Candela, Cidade do México, México, 1955 A arquitetura de Felix Candela é bastante representada pela forte presença de cascas extremamente finas – sendo encontradas em casos com espessuras de 4 cm – de concreto, seguindo formas geométricas complexas, como parabolóides hiperbólicos e romboides. Apesar de seus projetos serem de difícil execução e portanto terem um custo de produção consideravelmente elevado, Candela encontra bastante apoio para sua arquitetura no México, tendo um grande apoio financeiro do governo para produção de obras públicas. 1.1. Princípios de concepção No projeto em questão, da Iglesia de la Medalla de la Virgen Milagrosa, Candela trabalha com a utilização de cascas de concreto em forma parabolóides hiperbólicos bastante finos – com espessuras até menores do que 4 cm, à excessão da capela lateral. Apesar de apresentar extensas inovações estruturais e tecnológicas, o projeto não apresenta nenhuma inovação de ordem funcional. Fig. 1 - Planta e corte da Iglesia de la Medalla Milagrosa. Fonte: http://www.arqred.mx/blog/2009/09/05/cscae-arquitecto-felix-candela-outerino/ Como é possível notar, a planta do edifício não apresenta nenhuma pretenção formal, e é obtido, a partir disso, um desenho bastante tradicional que até consegue se aproximar do desenho de uma planta de uma igreja de ordem Gótica. Além de ser considerado uma das mais marcantes traduções do “espírito Gótico” na Modernidade, é interessante notar que o projeto do edifício foi realizado e entregue em apenas uma semana, e sua análise estrutural foi realizada a posteriori. 1.2. Implantação e acessos <3> Durante sua concepção, em meados da década de 50, o edifício encontrava-se em uma situação de subúrbio na Cidade do México. Com o passar do tempo e com a expansão do território urbano, a cidade alcançou o edifício e este passou a se encontrar muito próximo a uma das vias de maior movimentação local. Essa expansão também fez com que o edifício “desaparecesse” na paisagem, sendo absorvido pelo entorno. Atualmente, o único ponto que realmente é capaz de marcar a presença do edifício na cidade é a presença da sua torre, que abriga o sino da igreja. Fig. 2 - Implantação do edifício. Fonte: Google Earth Em relação aos acessos do edifício, é válido notar que, guiado pela própria tipologia do edifício, é limitado à uma entrada pela fachada sul do edifício. Atualmente o edifício se encontra cercado por uma cerca metálica devido à sua inserção no ambiente urbano, na busca de uma situação de maior segurança para a obra. Quando o edifíico se encontrava, logo após sua construção, em uma situação de subúrbio, esse “bloqueio” era inexistente e a igreja tinha um contato mais direto com o público local. 1.3. Programa arquitetônico Trata-se de um edifício de uso religioso e que apresenta uma planta retângular subdividida em três naves. Sua entrada ocorre pela face do edifício que contempla a torre do sino. A estrutura formada pelos parabolóides hiperbólicos, ao se voltar para a área interna do edifício, ocasiona – por meio de uma deformação de sua forma – na formação dos pilares internos do edifício. A existência e posicionamento desses pilares marca as divisões entre a nave pricipal e as naves laterais da igreja. <4> Fig. 3 - Perspectiva Isométrica. Fonte: http://www.arqred.mx/blog/2009/09/05/cscae-arquitectofelix-candela-outerino/ Fig. 4 - Interior da igreja. Fonte: http://www.jotdown.es/2011/11/los-hypars-de-felix-candela-y-ii/ <5> 1.4. Sustentabilidade sócio-ambiental Considerando a época de produção e desenvolvimento do projeto em questão, é necessário notar que exigir o conceito de sustentabilidade ambiental seria uma atitude anacrônica, portanto não seria um ponto de primeira necessidade a ser considerado pelo arquiteto durante a concepção. No entanto, é válido notar que há uma preocupação com o uso de material ao desenvolver o projeto com o uso de cascas, que possibilitam uma estrutura bastante fina e que, portanto, poupa o gasto de material durante sua execução. Além disso, a leveza da estrutura, proporcionada por essa escolha é bastante providencial, ao se considerar o local de implantação do edifício, já que neste o solo apresenta uma baixa capacidade de resistência a cargas, o que evita a ocorrência de problemas de fundação no edifício, que permanece em ótimo estado de conservação até os dias de hoje. 1.5. Materialidade O projeto faz uso extenso de estruturas de concreto armado, os muros laterais da igreja são construídos a partir de tijolos de barro cozido. O mobiliário e outras peças construídas a partir de madeira foram construídos utilizando madeiras encontradas em grande quantidade nos arredores, como é o caso do cedro vermelho, proporcionando um corte de gastos no transporte de material. Os pisos da igreja são feitos em mármore. 1.6. Construtibilidade O projeto é concebido a partir de uma construção feita em concreto moldado in loco. Isso é notado a partir da análise da estrutura e como são perceptíveis as marcas dos moldes utilizados para o despejo do concreto. Fig. 5 - Interior da igreja. Fonte: https://br.pinterest.com/pin/303500462364398783/ <6> 1.7. Scripts utilizados Ao analisarmos a geometria do edifício estudado, concluímos que é possível atingir o desenho da cobertura apresentada com a criação de uma superfície formada entre duas retas reversas, e que, ao alterar seus parâmetros, seria possível moldar os parabolóides hiperbólicos da cobertura e que ocasionaria em um projeto completamente diferente. Em relação aos pilares, seria possível obter sua forma com um script de torção de geometria básico, ao considerar que há apenas uma rotação em torno de seu eixo. Fig. 6 - Script de torção básica de geometria 1.8. Uso de fabricação digital Considerando o período de desenvolvimento e construção do projeto, entendemos que não é possível que tenha havido um uso direto de fabricação digital durante o processo. Entretanto, em discussão, concluímos que, atualmente, o uso de software de fabricação seria capaz de facilitar o desenvolvimento da geometria do edifício. Além disso, o uso desses mesmos programas facilitaria a produção das formas de despejo do concreto, que se produzidas em bastauma escala maior – ocasionando no uso de menos moldes – mudaria a percepção plástica do edifício, já que as marcas das formas que são tão presentes no edifício atual seriam menos marcantes 1.9. Considerações Ao analisarmos o projeto em questão, consideramos que como um projeto moderno ele ainda apresenta características bastante aproveitáveis para a concepção de um projeto de arquitetura contemporãnea que se utiliza de geometria complexa, sendo que sua produção é inclusive facilitada a partir dos métodos de fabricação digital que cada vez mais são mais difundidos. Consideramos que um dos fatores mais interessantes apresentados pelo projeto é a integração formal entre os apoios e a cobertura do edifício e a possibilidade de produzir uma estrutura de grande porte com espessuras de casca bastante mínimas. A integração entre apoios e cobertura é um dos fatores de projeto que consideramos ser um item de grande importância, para que seja possível a produção de um projeto em que a geometria complexa não seja um item superfluo, e sim para que seja necessário para a fruição máxima da obra seja atingida. <7> 2. VIADUTO DO RIO BASENTO Sergio Musmeci, Basento e Potenza, Itália, 1774 “There is no reason why the unknown factors should always be the internal stresses and not, for example, the geometric parameters which define the form itself of the structures, since in this latter case a uniformity of stresses and a much more complete and efficient use of material may be obtained. With this method, it is possible to arrive at a synthesis of new forms rich in expressive strength.” (MUSMECI, 1980) Fig. 7 - Fotografia do viaduto. Fonte: http://www.arturotedeschi.com/wordpress/?p=2251 2.1. Princípios de concepção O arquiteto e engenheiro estrutural Sergio Musmeci buscou propor um projeto que fugisse do processo estrutural arbitrário da geometria tradicional a partir do desenvolvimento de um design manejado formalmente para apresentar o máximo de eficiência na performance de orientação de forças e tensões, além do uso mínimo de material. A criação de uma casca isotrópica carregada apenas de forças de tensão, a qual poderia ser traduzida em uma superfície estrutural que suportaria compressão foi um de seus principais princípios. A forma foi, também, influenciada pela localização do rio, pela linha de trilhos de trem e por duas estradas locais. Além disso, procurou exprimir a essência do fluxo da água e da natureza em sua estrutura minimalista. Resultando, assim, em uma peça de escultura, arquitetura, dinâmica e expressiva de todos os pontos de vista. A geometria do viaduto é, basicamente, a repetição de uma forma modelada particular. O processo de geração desta forma foram, no início, os estudos de Musmeci com uma película de sabão. De modo esquemático, formariam a ligação da fundação com a passagem de automóveis na parte superior. <8> Fig. 8 - Modelo físico de estudo com sabão. Fonte: ADRIAENSSENS, S. et al. Após este ensaio, Musmeci computou uma primeira aproximação do resultado utilizando a equação de Laplace (Fig. 9), a qual, além de retratar a forma desejada, otimiza a distribuição de cargas na estrutura e reduz o desperdício de material (concreto). Fig. 9 – Estudos digitais posteriores resolvendo a equação de Laplace. Fonte: ADRIAENSENS, S. et al. Tais estudos, no entanto, não satisfizeram o engenheiro, pois buscava uma forma mais curva. O que o levou a propor outro modelo físico (Fig. 10) usando neopreno (elastômero sintético policloropreno) com 0.8 mm de espessura em escala 1:100. Para, então, desenvolver a forma, Musmeci ao invés de simular a situação real, aplicou as forças de carregamento nos pontos onde seriam as junções da casca e o deck para passagem e entre a casca e as fundações, no sentido contrário. Fig. 10 - Modelo tencionado de neopreno. Fonte: ADRIAENSSENS, S. et al. Este modelo, contudo, não era uma superfície isotrópica, como se apresentou no primeiro ensaio. Musmeci, então, procurou realizar uma análise estrutural da ponte. Para tanto, construiu um modelo de metracilato nas escala 1:100. A obtenção de informações quanto a sua performance estrutural foi realizada com medidores de tensão elétrica e, assim, associadas às tensões na casca; considerando, também, a irregularidade de cargas devido à função tráfego de veículos. Para calcular as forças internas e o tamanho das secções, foi usado um modelo de vigas. A fim de que a estrutura funcione corretamente, Musmeci adotou uma técnica baseada em cálculos numéricos para desenvolver a forma mais adequada (form-finding techniques). Técnicas estas que integram equações de equilíbrio, de compatibilidade e prevêem o comportamento estrutural ao longo dos anos. Deve-se enfatizar, além dos esforços de carregamento, o peso próprio da obra, visto isso, o autor projetou secções que variam de 30 <9> cm a 120 cm de espessura. Variâncias estas que dependem diretamente de sua localização na casca estrutural. O modelo de estudos final foi feito em estrutura de micro concreto em escala 1:10 (Fig. 11). Fig. 11 - Modelo físico de micro concreto. Fonte: ADRIAENSSENS, S. et al. 2.2. Implantação e acessos O viaduto está localizado em Potenza, Basilicata, Italy. Este propicia a ligação entre a cidade de Basento com a antiga cidade de Potenza (A.C. 260). Atravessa o rio Basento e um trilho de trem. A sua interferência na paisagem, porém, não é agressiva, sendo justamente o contrário. Fig. 12 - Fotografia da implantação. Fonte: Wikiarquitectura 2.3. Programa arquitetônico É a principal rota de acesso, via automoóveis, da área industrial para a área residencial das cidades de Basento e de Potenza. Devido a destruição de inúmeras pontes no período de guerra, fundos internacionais providenciaram verbas para a acelerar a industrialização e recuperar o país. Assim foi possível que vários engenheiros civis aplicassem experimentos com as novas tecnologias disponíveis, tais como concreto armado e protendido; esta época tornouse conhecida como "expressionismo estrutural" (Poretti). As cidades em questão apresentaram significativa industrialização e crescimento, como consequência disto o mobilidade apresentava-se congestionada. Motivo o qual motivou o presidente do Consórcio Industrial, Gino Viggiani, a requisitar uma ponte que suportasse esse trânsito e que representasse a arquitetura e cultura italiana do século XX. 2.4. Sustentabilidade sócio-ambiental <10> A análise deste tópico cai em uma questão anacrônica, já que se trata de uma interpretação em um época diferente. Discussão a qual compõe aspectos que ainda não eram ressaltados nos meados de 1960. Por outro lado, observamos uma vontade de economia do material quando da realização de diversos modelos de estudo anteriores à execução. 2.5. Materialidade O projeto faz uso de concreto protendido em larga escala. No projeto constuiído, é possível notar claramente a marca das formas de madeira da concretagem, o que denota pouca preocupação com o acabamento. Acreditamos que isso se deve à escala da obra e ao fato de que ela foi pensada para ser observada de longe, bem como à vontade moderna de deixar transparecer no produto final o processo de execução. 2.6. Construtibilidade O projeto foi construído com concreto moldado in loco. Na podemos notar o contraste entre o projeto e o desenho ortogonal dos andaimes. Fig. 13. Processo de execução. Fonte: ADRIAENSSENS, S. et al. 2.7. Scripts utilizados No software Grasshopper esta forma poderia ser atingida de modo mais prático com uso de algoritmos. A exemplo disto, existe o plugin "Kangaroo" o qual possibilita a modelagem de planos em formas complexas. Ou seja, aplica-se características físicas no projeto e promove plasticidade e maleabilidade no plano em questão. Com pugins de análise estrutural pode-se, também, prever os locais mais solicitados pelas tensões de carregamento e, logo, definir tamanhos da secção transversal. Assim ao determinar as alturas e as larguras pretendidas, é possível reproduzir o design do viaduto com mais facilidade. <11> Fig. 14 - Simulação em Rhinoceros e Grasshopper. Fonte: Wikiarquitectura. 2.8. Uso de fabricação digital O uso de fabricação digital para além do processo de concepção poderia ter sido empregado na concepção do escoramento e das formas para a concretagem. O projeto Bricktopia do coletivo de arquitetos Map13 – ganhadores do concurso "Buid-it" do Eme3 International Architecture Festival de Junho 27-30 em Barcelona – ilustra este caso com o uso de fôrmas desenhadas no script de Grasshopper "Waffle". Assim, esta torna-se uma alternativa viável para otimizar processos construtivos de formas complexas. Fig. 15 - Processo de construção de Bricktopia. Fonte: site de eme3 2.9. Considerações Sergio Musmeci foi uns dos pioneiros a propor sistemas estruturais em formas complexas. Nesse sentido, acreditamos que é importante notar a maneira como o arquiteto e engenheiro estrutural teve que prever o comportamento da estrutura através de modelos físicos, sendo que esta prática, nos dias de hoje, pode ser facilitada com o uso de softwares computacionais e maquinas de fabricação programada. Na atualidade, notamos uma retomada pelo interesse em design de formas complexas estruturais na concepção de projetos arquitetônicos contemporâneos. Por outro lado, percebemos uma preocupação da arquitetura contemporânea em utilizar materiais alternativos ao concreto, já que este é um grande ator poluente. <12> 3. MARQUISE DO EDIFÍCIO WESTENDGATE Just Burgeff architekten + a3lab, Frankfurt, Alemanha, 2010 3.1. Princípios de concepção Aliar forma e estrutura, visando otimização de uso dos materiais. 3.2. Implantação e acessos A estrutura acompanha a queda do terreno e envolve o edifício integrando-se com o contexto em que está inserido (Fig. 16); além disso, permite uma espécie de reconciliação do arranhacéu com o espaço urbano ao estabelecer um dossel de escala mais adequada ao sujeito. Fig. 16 - Processo de concepção da estrutura de cobertura. Fonte: ArchDaily 3.3. Programa arquitetônico Uma cobertura, que funciona como abrigo e marco de entrada do edifício . Fig. 17 - Fotografia da inserção. Fonte: site do escritório. 3.4. Sustentabilidade sócio-ambiental A locação da estrutura de cobertura foi uma das várias intervenções realizadas no edifício, as quais, ao cabo, permitiram redução do consumo de energia e emissão de CO2 de cerca de 36%, o que conferiu ao edifício o Certificado de Green Building emitido pela Comissão Européia. Ademais, avaliando somente a estrutura em particular, vê-se que uma das estratégias de projeto foi buscar uma forma que permitisse o emprego mínimo de aço, estratégia considerada sustentável. 3.5. Materialidade <13> A estrutura é feita em tubos de aço que comportam o sistema de iluminação e de escoamento da água. A vedação da cobertura é feita com almofadas de ETFE (Ethylene tetrafluoroethylene) insufladas constantemente com ar injetado por mecanismos da própria estrutura de aço também. 3.6. Construtibilidade Os tubos de aço são soldados juntos conformando peças que são galvanizadas. In lócus estas unidades apenas são aparafusadas, permitindo uma maior velocidade de montagem. É interessante notarmos que a soldagem em fábrica de partes da estrutura acelera o processo de construção e diminui a possibilidade de falhas na execução. Fig. 18 - Superfície superior da cobertura. Fonte: site do escritório. Conforme citado, são locadas mangueiras de alimentação de ar e cabos no interior das calhas, para que haja constante insuflação de ar nas almofadas de ETFE (Fig. 18). 3.7. Scripts utilizados A criação da forma parte da aplicação de algoritmo de crescimento inverso das árvores, gerando uma mesh, a qual se emprega o método de análise dos elementos finitos, que possibilita a otimização do material utilizado; tal procedimento resulta em malha com dupla curvatura (Fig. 19). A tal superfície acreditamos que foi aplicado o script voronoi. Fig. 19 - Corte humanizado. Fonte: site do escritório. 3.8. Uso de fabricação digital Da concepção à produção do edifício, foi-se necessário o uso de software avançado, constante elaboração de maquetes físicas através de maquinário especifico e, enfim, fabricação dos elementos construtivos em indústria especializada que permitisse tal precisão. <14> 3.9. Considerações Como grupo, o que mais nos chamou atenção nessa obra foi o modo como se deu a implantação em relação ao edifício WestenGate e à cidade. Primeiramente considerando a adaptação dele ao terreno e à configuração das edificações, envolvendo-as e integrando-se ao pré-existente, conformando um conjunto por mais que materialmente seja distinto. E, em segundo lugar, o seu papel urbanístico; já que um edifício da escala do WestenGate (160 metros), em demasia alto, contrasta com a cidade circundante podendo criar espaços pouco convidativos a permanência. A cobertura de 14 metros, ainda que alta, possibilita certa reconciliação com o transeunte e dialoga com as áreas verdes públicas próximas. Dessa forma, a estrutura atua como marco visual e abrigo. 4. PROPOSTA PARA A ESTAÇÃO CENTRAL DE HOUSTON Snøhetta, Houston TX, EUA, 2012 O desenvolvimento de políticas e projetos no sentido de atrair pessoas para o centro de Houston fora do horário de trabalho tornou necessário a expansão do sistema de transportes sobre trilhos (VLT) como forma de diminuir os congestionamentos e, em 2012, foi realizado um concurso de projetos para a nova estação central, que seria localizada na Main Street, entre a Capitol Street e a Rusk Street. Trouxemos como referência a proposta vencedora do concurso (Fig. 20), do escritório norueguês Snøhetta que, no entanto, não foi construída porque os valores de construção (estimado em 2,164 milhões de dólares) e de manutenção (estimado em 88.900 dólares por ano) estariam muito acima do previsto pela METRO (Metropolitan Transit Authority of Harris County de Houston no Texas). Fig. 20 - Perspectiva renderizada. Fonte: site do escritório. 4.1. Princípios de concepção As fortes chuvas e os problemas de enchentes são os aspectos de Houston que chamaram a atenção de Snøhetta no momento de concepção deste projeto. O desenho da estação busca incorporar a essência destas questões e transformá-la em um atributo positivo: abrigar passageiros e pedestres e fornecer à estes as características esteticamente agradáveis da água, sua fluidez. As estruturas em forma de copas, inspiradas nos movimentos da água, hora tocam o solo e exercem a função esbeltos pilares e horas se interrompem antes, terminando em um bico <15> com um pequeno buraco, que permite escorrer fios de água da chuva que caem em um pavimento permeável, proporcionando um contato mais próximo do usuário da estação com a água. As fendas translúcidas que parecem descascar a cobertura de concreto chamam a atenção do usuário para a água que flui quando chove e permitem a iluminação natural durante o dia. Durante a noite, a iluminação artificial com efeitos também remeteria ao movimento da água e as sombras na superfície superior poderiam ser observadas de cima dos prédios circundantes. Segundo o site do próprio escritório, Snøhetta encarou o concurso como uma oportunidade para adicionar uma narrativa visual à cidade de Houston e para marcar, por meio do design, a importância daquele local, bem como dos meios de transporte coletivos alternativos. Fig. 21 - Elevação e princípios de concepção. Fonte: World Architectural News. 4.2. Programa arquitetônico, implantação e acessos O projeto consiste em uma estação de VLT na região central de Houston e, por isso, o abrigo comporta um grande número de usuários. É importante notar também que a estação conta com painéis digitais de informação sobre linhas e horários. Os trilhos de VLT nesta região de Houston são localizados no centro da rua, um de cada lado do canteiro central da Main Street. Assim, o abrigo da estação ocuparia posição central na via, em continuidade com o canteiro, assumindo grande destaque visual na paisagem urbana. A estação central como proposta por Snøhetta é completamente aberta permeável à fluxos de pessoas, não impondo barreiras, permitindo o acesso por qualquer posição. 4.3. Sustentabilidade sócio-ambiental Em termos de sustentabilidade ambiental, o uso extensivo de concreto é um ponto negativo, mas percebemos uma vontade de diminuição do desperdício de concreto com superdimensionamento da estrutura, tendo em vista que a espessura da casca de concreto é variável e definida através de análise estrutural realizada com softwares avançados. Consideramos positivo que, de certa forma, o projeto busca chamar a atenção dos usuários e da população de Houston para questões bioclimáticas do local através de seu design. <16> 4.4. Materlialidade As copas da forma são como placas dobradas compondo uma estrutura de concreto armado. Arcos de catenária, dobras e ondas calculados digitalmente na superfície são concebidos para reduzir deflexões e tensões na estrutura. A utilização de uma técnica de execução que deveria ser um híbrido de concreto pré-moldado, aço de reforço e concreto moldado in loco permite que a espessura da casca de concreto seja reduzida para até cerca de 10 centímetros em algumas áreas e permite que, nas bordas da cobertura, hajam pequenos furos para melhorar a iluminação. 4.5. Construtibilidade Como forma de conferir leveza visual à estação, o projeto utiliza-se de um mesmo recurso que foi fundamental para vertentes do modernismo brasileiro como a escola paulista: a busca pela concentração de toda a carga do edifício em pontos mínimos, ou seja, a redução da superfície de contato entre edifício e o solo, Este princípio, esta vontade de que a estrutura se erga do solo, podem ser observados, por exemplo, na cobertura do Ginásio do Clube Atlhético Paulistano de Paulo Mendes da Rocha, no Santa Paula Iate Club e na residência Taques Bittencourt, ambos de Vilanovas Artigas. As paraboloides hiperbólicas em concreto armado que se transformam em pilares no projeto da Iglesia de la Medalla Milagrosa, de Felix Candela, nos permitem imaginar como seria a execução da estrutura proposta por Snøhetta, apesar deste não ter sido construído. O tamanho da estrutura faz com que grande parte dela tenha que ser armada e moldada in loco, assim como eram as obras de Candela, no entanto a concretagem poderia ser facilitada e agilizada através do uso de fabricação digital da armadura, das formas e do escoramento, por exemplo, que poderiam ainda ser pensados para permitir o reuso e a reciclagem. O escoamento de água da chuva é facilitado pelo formato de copa da estrutura, e a a água é levada por dutos diretamente para o sistema subterrâneo de coleta de águas pluviais. As grandes fendas abertas em material translúcido não especificado – imaginamos que poderia ser uma membrana de ETFE ou outro tipo de polímero – na estrutura em concreto servem para iluminação mas também para tornar perceptível este escoamento, e dar visibilidade às questões colocadas na concepção do projeto. <17> Fig. 22 - Escoamento de água e iluminação natural. Fonte: World Architectural News. Quanto às pequenas aberturas na borda da cobertura, supomos que seriam previstas digitalmente no momento da fabricação da própria forma de moldagem do concreto. De forma manual, este tipo de recurso de construção de uma iluminação natural por pequenas aberturas em coberturas de formas complexas feitas de concreto já é utilizado por Felix Candela em 1955, em sua Fábrica High Life. 4.6. Scripts utilizados Não encontramos informações precisas acerca de scripts utilizados no processo de projeto da estação, mas podemos supor que a construção da forma se deu através de um plug-in de mecanismos físicos, como é o caso do Kangaroo Physics. Este plug-in permite atribuir características físicas a uma superfície criada digitalmente com o Rhinoceros e/ou com o Grasshopper e, dessa forma, seria possível deformá-la como tal, por exemplo, simulando dobras e a ação de forças concentradas – como attractor points – ou distribuídas – como a gravidade, que geraria as catenárias da forma. Além disso, acreditamos que foi utilizado um plug-in de verificação estrutural como o RhinoVAULT para analisar a estrutura e definir a espessura da casca de concreto e a densidade da armação nos diferentes momentos da forma. <18> Fig. 23 - Simulação de uma curva catenária utilizando Rhinoceros, Grasshopper e Kangaroo Physics. Fonte: próprios autores. 4.7. Uso de fabricação digital Segundo o site do escritório, Snøhetta pratica um método de trabalho que busca exprolar simultâneamente os processos artesanais e as potencialidades das novas tecnologias. No atelier de projeto, convivem maquinário tradicional e recursos de prototipagem de ponta, como cortadoras à laser, máquinas de CNC, impressoras e scaners 3D e, segundo eles, esta relação impulsiona o processo criativo do grupo. Especificamente neste projeto em que se trata de uma estrutura em casca de concreto armado, acreditamos que o uso de fabricação digital se daria também na construção da estação: através da concepção e fabricação das formas, das armaduras e dos escoramentos necessários para a concretagem in loco. 4.8. Considerações Apesar de que a interação entre usuário e água da chuva pareça atrativa e expressiva das ideias de concepção do projeto, consideramos que poderiam ocorrer alguns problemas de ordem prática devido à maneira como esta relação é colocada: os espaços em que a água da chuva escorre por fora de tubos não podem comportar usuários em dias de chuva, o que gera uma perda de área numa plataforma já relativamente estreita. Dentro da nossa compreensão, parece muito elegante a maneira como se constitui a forma: a cobertura retangular se desdobra e toca o solo somente em alguns pontos, permitindo um efeito estético interessante. No entanto, supomos que a redução tão extrema do ponto de contato de uma estrutura pesada com o solo torna necessário uma grande quantidade de ferraduras e aumenta os gastos com a fundação. É interessante notar como o processo de concepção e de projeto de Snøhetta se dá através da conciliação de métodos artesanais e tecnologias de ponta, possibilidade que também podemos explorar na disciplina de Projeto 3 caso seja de interesse no desenvolvimento das atividades, tendo em vista o maquinário que nos está disponível na maquetaria, bem como aquele disponibilizado pelo grupo de pesquisas nomads. Por fim, o que consideramos mais interessante neste projeto e que foi o motivo de o termos escolhido para apresentar neste relatório são seus princípios de concepção: nos parece muito positiva a maneira como Snøhetta traduz uma questão específica de Houston em conceito – o movimento das águas – e como esse conceito dá origem à forma final da edificação por meio de formas complexas. <19> 5. GALERIA SERPENTINE SACKLER Zaha Hadid Architects, Londres, UK, 2013 A galeria Serpentine Sackler é o conjunto formado por um anexo de estrutura tensionada construído pelo grupo Zaha Hadid Architects e um antigo pavilhão de uma fábrica de pólvora do século XIX, chamado The Magazine, e preservado como patrimônio histórico. O escritório foi contratado para realizar mudanças que possibilitariam o uso do espaço preexistente como uma galeria de arte contemporânea. Fig. 24 Serpentine Sackler Gallery. Fonte: ArchDaily 5.1. Princípios de concepção “Nosso objetivo é criar uma intensa experiência estética, uma atmosfera que parece oscilar entre uma extensão da deslumbrante natureza do local e um fascinante convite ao enigma da arte contemporânea.” (ZAHA HADID ARCHITECTS, 2013.) Além do anexo, que abriga o restaurante, adaptações no The Magazine foram necessárias, por exemplo, paredes construídas posteriormente à estrutura principal foram removidas para possibilitar um espaço amplo de exposição; e os pátios centrais foram cobertos por material translúcido. 5.2. Implantação e acessos O anexo de estrutura tensionada se liga à face oeste de The Magazine. “A galeria Serpentine Sackler consiste de duas partes distintas, a reconversão de uma estrutura clássica de alvenaria do Século XIX - The Magazine - e uma estrutura tensionada contemporânea.”, diz excerto tirado do site do grupo de arquitetos. <20> 5.3. Programa arquitetônico A obra é uma galeria de arte contemporânea. Além do espaço de exposição, nela encontramse duas lojas, setores administrativos, de limpeza e de armazenamento e um restaurante, que está localizado no anexo de estrutura tensionada. 5.4. Sustentabilidade sócio-ambiental Um aspecto social da obra é a preservação do patrimônio histórico nela presente. A intervenção, projetada para ser light touch, se liga à estrutura principal sem modificá-la (Fig. 25) <21> Fig. 25 Detalhamento da ligação light touch entre as duas partes do projeto. Fonte: E-Archtect UK 5.5. Materialidade A edificação é o primeiro resultado da pesquisa do escritório sobre superfícies estruturais curvilíneas. É revestida por fibra de vidro tecida e revestida por PTFE, fabricada sob medida, e o fechamento se dá através de placas de vidro. As cinco colunas, que também atuam como claraboias, são reforçadas por peças metálicas (Fig. 26). Outros materiais também são utilizados com fins estruturais e de revestimento, como aço e plástico reforçado (Fig. 27). <22> A face oeste de The Magazine, constituída por tijolos cerâmicos, aparece no interior da intervenção, complementando-a. Fig. 26 Detalhamento pilar/claraboia. Fonte: E-Architect UK <23> Fig. 27 Corte/detalhamento do fechamento. Fonte: E-Architect UK <24> 5.6. Construtibilidade Montagem in loco com peças produzidas a partir de fabricação digital. 5.7. Scripts utilizados Presumimos que a forma pode ser sido gerada através dos comandos ‘Loft’ e ‘Extrude’. O primeiro, para juntar as curvas que delimitam as laterais e o centro; o segundo, aplicado no fechamento, a partir de uma curva na base. Quantos aos pilares internos, procuramos no fórum do plugin Grasshopper e encontramos algumas discussões sobre scripts que se aproximam da forma dos mesmos. Fig. 28 Script de superfície irregular com colunas similares às da galeria. Fonte: Grasshopped Recebemos ajuda da monitora Gabriele Landim para chegar às conclusões relatadas neste item. 5.8. Uso de fabricação digital Fabricação digital das peças. Não há relatos confiáveis sobre o software ou scripts utilizados. 5.9. Considerações Nossa primeira impressão sobre o projeto em questão é o contraste entre um estilo clássico e um estilo contemporâneo do século XXI. Sabemos que este choque está previsto no processo de concepção da obra, em que os arquitetos utilizaram a ampliação da natureza e o convite aos enigmas da arte contemporânea, atrelados à preservação do patrimônio histórico, para atingir a forma final. As dissidências entre os estilos de diferentes épocas podem ser encontradas em outros projetos como o The Department of Islamic Arts, anexo projetado pelo escritório do arquiteto Mario Bellini, para o museu Louvre, na França. Entretanto, neste caso, elas aparecem harmonizadas; o entorno parece ter sido considerado visando não causar grandes contrastes em relação à edificação preexistente (Fig. 29). A discussão acima surgiu nas reuniões dos autores deste dossier e as opiniões positivas se direcionaram para projetos que se aproximam do segundo caso. <25> Estes dois projetos também se opõem em outra perspectiva: a sustentação das formas complexas. Na galeria que dá nome ao item, estrutura e sustentação têm a mesma linguagem, confundindo-se. O anexo de Bellini, por sua vez, separa ambos, entre uma cobertura composta por chapas metálicas de finos pilares que não seguem a mesma linguagem. Por fim, foi enriquecedor para o grupo observar com mais cuidado os cortes e detalhamentos do projeto. O acabamento das obras de Zaha Hadid impressiona por não apresentar parafusos e seus variantes. Entender melhor sobre aspectos técnicos das obras de formas complexas – como neste caso ou como nas peças metálicas com fins estruturais muitas vezes escondidas - é inestimável para embasar o processo projetual. Fig. 29 Departament of Islamic Arts at Louvre. Fonte: DesignBoom 6. TERMINAL CENTRAL DE ARNHEM UNStudio, Arnhem, Holanda, 2015 Com o crescente fluxo de passageiros, o projeto para o novo terminal de transferência central de Arnhem, integrado no plano de desenvolvimento do sistema ferroviário das cidades de Amsterdã, Delft, Haia, Breda e Utrecht, deve funcionar como catalisador para a renovação urbana e o crescimento econômico da região. Considerado o maior empreendimento pósguerra em Arnhem, o ambicioso projeto de 20 anos, realizado pela UNStudio ao custo de aproximadamente 37,5 milhões de euros, se transformará em uma nova "porta de entrada" da cidade, promovendo um importante vínculo entre os países da Holanda, Alemanha e Bélgica. <26> Fig. 30 - Fachada principal do terminal. Fonte: Archdaily 6.1. Princípios de concepção Para integrar o público com o espaço e criar um diálogo entre o edifício e o crescente fluxo de passageiros, o escritório UNStudio propôs um projeto dinâmico, com formas fluidas, de superfície exterior e interior contínuas, em que desconstruiu-se a distinção entre espaços internos e externos, criando uma continuação da paisagem urbana dentro da sala de transferência. Em razão da concepção formal, a arquitetura ampliada do novo terminal passou a dirigir e determinar como as pessoas utilizariam o espaço e como se moveriam ao redor do edifício. A principal referência para a constituição do projeto foi a garrafa de Klein (Fig. 31), que corresponde a uma superfície fechada sem margens e não orientável, isto é, uma superfície onde não é possível definir um “interior” e um “exterior”. A garrafa de Klein pode ser construída pela junção de ambos os lados de duas tiras de Möbius. Enquanto a tira de Möbius consiste numa superfície com fronteiras, a garrafa de Klein é caracterizada como uma superfície sem fronteiras. Fig. 31 - Garrafa Klein. Fonte: Allan Brito Outro ponto de partida seria o intuito de integrar o novo edifício com a paisagem urbana gerando o mínimo de impacto visual possível e, ao mesmo tempo, transformar o novo terminal <27> em um marco para a região, funcionando como catalisador para a renovação urbana e o crescimento econômico. 6.2. Implantação e acessos Em relação à implantação (Fig. 32), o edifício está localizado em uma área comercial e de conferências, contando com ligações a escritórios próximos, em Stationsplein, no centro da cidade de Arnhem, na Holanda. Fig. 32 - Implantação do edifício. Fonte: Archdaily O terminal ampliado assumiu a função de “máquina de transferência”, incorporando toda a gama de passageiros e de transporte público e satisfazendo as demandas de deslocamento da região. Assim, seu programa abrange grandes acessos (Fig. 33), sendo um edifício bastante permeável, permitindo continuidade e fluidez. O terminal é composto por amplas rampas e escadarias, além de escadas rolantes que interligam os seis pavimentos do edifício. Fig. 33 - Interior do edifício - Acessos. Fonte: Archdaily 6.3. Programa arquitetônico <28> Caracterizado pela sua estrutura interna fluida e curvilínea, o terminal foi construído em uma área total de 21,75 metros quadrados e assinala uma expressão arquitetônica de formas que possibilitam o uso intuitivo do espaço. Integrando o cenário natural de Arnhem, o escritório UNStudio concebeu o terminal como uma fluida paisagem utilitária, composta de diferentes funções sobrepostas em quatro andares acima do solo e três andares no subsolo (Fig. 34). Nos andares do subsolo, encontramse um parque de estacionamento e parte do bicicletário, que se estende ao primeiro pavimento acima do solo. O edifício abrange também um grande salão, lojas, escritórios, uma varanda localizada em um dos pontos mais altos da estrutura, além de plataformas de embarque e desembarque tanto para trens, como para ônibus. Fig. 34 - Corte. Fonte: Archdaily O espaço chave é o salão principal de transferência, com uma área de 5.355 metros quadrados, marcado por uma cobertura dinâmica e ondulada, que segue uma continuidade com o principal pilar do edifício, de modo a produzir uma unidade visual entre cobertura e pilar (Fig. 35), transformando-os em um só elemento, cuja união proporcionou vãos livres de até 60 metros de extensão. <29> Fig. 35 - Ligação cobertura - pilar. Fonte: Archdaily A junção entre a cobertura e o pilar possibilitou também a presença de fendas ( Fig. 36), que foram revestidas por vidro, de modo a promover o uso de iluminação natural em grande parte do edifício. Fig. 36 - Detalhe da cobertura. Fonte: Archdaily O projeto inclui também o uso de pilares e paredes em “V" (Fig. 37), cujos espaços entre esses elementos formam o acesso público a partir do estacionamento subterrâneo aos outros componentes. <30> Fig. 37 - Deatalhe paredes e pilar em "V". Fonte: Archdaily 6.4. Sustentabilidade sócio-ambiental O quesito “sustentabilidade sócio-ambiental” não foi um dos princípios de concepção do projeto. No entanto, pudemos observar uma notável intenção de aproveitamento da iluminação natural em todo o edifício, assim como o uso de estratégias para que a luz natural atingisse até mesmo o subsolo, contribuindo, portanto, para a redução do consumo de energia. Aparentemente, esse foi o único aspecto relevante nesta questão. 6.5. Materialidade O terminal central de transferência de Arnhem apresenta uma composição estrutural mista, abrangendo materiais metálicos, o concreto e o vidro, além de madeira no revestimento. A estrutura da cobertura e do pilar torcido só foi possível no momento em que os métodos e materiais tradicionais de construção foram abandonados. Um aço muito mais leve, de sustentação, tomou o lugar do concreto – material originalmente destinado ao terminal. Grande parte da fachada do edifício é composta por paredes de vidro e treliças metálicas. O concreto autoportante também foi utilizado em alguns pontos, como nos pilares e nas paredes em “V”, que compõem o bloco de estacionamento. 6.6. Construtibilidade No desenvolvimento do projeto, foram utilizadas uma série de ferramentas estruturais digitais para modelar a geometria do terminal e para abrigar as diferentes funções do programa. As formas complexas do edifício foram construídas utilizando técnicas de construção de barcos em uma escala nunca antes empreendida. Supomos que as curvas se tornaram possíveis com uma estrutura metálica interna, recoberta pelo acabamento em metal, assim como acontece com placas de fibra de vidro no projeto das estações de Innsbruck, de Zaha Haddid Architects. <31> Além disso, os métodos tradicionais de construção também foram utilizados, como no bloco de estacionamento subterrâneo e no bicicletário, onde foram empregados pilares, vigas e lajes de concreto. 6.7. Scripts utilizados Não obtivemos informações claras em relação aos scripts utilizados no projeto do terminal. No entanto, supomos que a forma do edifício foi concebida através do uso de algoritmos e curvas nurbs, baseadas nas equações do anel de Möbius () e da garrafa de Klein, provavelmente gerando uma superfície contínua, criada digitalmente pelo Rhinoceros/ Grasshopper. Supomos ainda, que tenha sido aplicado um script de divisão da superfície em uma grid {u, v} e Isotrim para decompô-la em quadriláteros, que correspondem ao revestimento de metal do edifício. Fig. 38 - Scrip do anel de Mobius. Fonte: Explode_Breps 6.8. Uso de fabricação digital Acreditamos que desde o princípio do projeto foram utilizados software avançados e estudos de maquetes - tanto digitais quanto físicas - visto que a forma do edifício, baseada na garrafa de Klein, possui fórmulas matemáticas complexas em sua concepção. De acordo com o site do escritório, a UNStudio busca desenvolver constantemente novas estratégias de trabalho e novas técnicas de desenho conforme o papel dos arquitetos se altera com o tempo. Desta forma, deduzimos que o uso de fabricação digital foi essencial no desenvolvimento do projeto e não apenas, mas também na construção do edifício – na composição das placas de aço, na estrutura dos pilares que se estendem à cobertura e nos caixilhos. 6.9. Considerações O aspecto que consideramos mais interessante nessa obra parte da iniciativa do escritório em projetar um edifício com formas complexas baseadas no uso dos espaços, ou seja, no fluxo de pessoas e nos meios de transporte que deveria comportar, criando uma ligação estreita entre o meio interior e o meio exterior do edifício, com suas formas fluidas e contínuas refletidas diretamente na função do terminal de transferência. Em outras palavras, a questão do vínculo entre função e forma foi o ponto de maior relevância para o grupo na escolha desse projeto. <32> Outro ponto que nos chamou atenção corresponde à própria concepção estrutural do edifício. A unidade visual entre a cobertura e o grande pilar do salão principal é muito positiva de modo a representar o grande avanço tecnológico em que a arquitetura leva como aliada e segue demonstrando uma grande habilidade em executar, aprimorar, estudar e progredir. Por fim, a arquitetura do terminal de transferência central de Arnhem que visa a conexão entre função e forma, aliada aos avanços tecnológicos, gerou um grande interesse do grupo em investigar e compreender a obra como um todo. CONCLUSÕES A partir da análise das obras supracitadas, destacamos alguns aspectos que consideramos pertinentes: inserção na paisagem, métodos de concepção e diretrizes projetuais, uso de fabricação digital e integração entre forma e estrutura. Quanto a inserção na paisagem, apontamos a marquise do edifício WestenGate como um bom exemplo de integração com o contexto, adaptando-se ao relevo e envolvendo a edificação préexistente, proporcionando também uma escala mais próxima ao pedestre de forma a reconciliar o arranha-céu com a cidade que o circunda. Ainda sobre esse projeto, apenas foi possível sua concepção através do uso de aparatos tecnológicos e constante produção de modelos físicos por maquinário especializado, que permitiram melhor entendimento dos encaixes, facilitando a posterior construção. No projeto de Sergio Musmeci, notamos a importância do desenvolvimento de modelos físicos para a concepção estrutural do viaduto, tendo em vista a inexistência de softwares capazes de prever o comportamento estrutural proposto na época. Para Snøhetta, a fabricação digital e a realização de modelos de estudo também são de grande importância. O resultado é atingido através de uma pesquisa formal contínua, que concilia meios tradicionais e tecnologias de ponta. Assim como no projeto de Musmeci e na marquise em Frankfurt, a maquete, assume um papel não apenas de representação, mas de processo de projeto. Consideramos bastante construtivo este diálogo no processo de design, e é interessante reafirmar que podemos experimentar esse processo rico graças aos equipamentos que nos são disponibilizado. Outro ponto que consideramos relevante no projeto para a estação central de Houston é a maneira como ele busca traduzir para o seu resultado formal questões que são específicas do contexto, ou seja, uma característica ambiental da cidade. De certa forma, acreditamos que este tipo de estratégia confere legitimidade ao projeto, gerando uma apropriação por parte da sociedade das questões relativas à sua cidade. Quanto a questões plásticas, colocando em questão os diferentes projetos analisados, conseguimos chegar em dois subgrupos no que se trata da relação entre forma e estrutura dos edifícios: apoios visualmente independentes da cobertura, como no projeto de Mario Bellini <33> para o Departamento de Artes Islâmicas do Louvre; e apoios que se integram à cobertura de forma a produzir uma unidade visual. Alguns dos projetos apresentados no dossiê foram escolhidos por se encaixarem no segundo subgrupo. No terminal de transferência central da cidade de Arnhem, por exemplo, observamos essa característica de continuidade entre o pilar principal e a cobertura, cujas curvas, baseadas na garrafa de Klein, proporcionaram ao ambiente uma forma contínua. Também achamos interessante como no exemplo do Zaha Hadid Architects - galeria Serpentine Sackler -, a cobertura de formas complexas toca o chão três vezes e divide a distribuição das forças com cinco pilares que mantêm o diálogo proposto pela edificação e atuam como claraboias. No projeto da Iglesia de la Medalla Milagrosa, de Candela, a cobertura formada a partir de uma geometria de curvas complexas, ao se voltar para o interior do edifício, realiza uma torção de sua forma, para que ocorra uma unidade plástico-visual entre cobertura e apoios. Por fim, consideramos a importância do presente levantamento e análise de projetos para a construção de um repertório comum que deverá orientar o prosseguimento de nossas atividades bem como enriquecer nosso conhecimento pessoal e fomentar o debate da arquitetura contemporânea. REFERÊNCIAS BOTTARI, A.; GIACOSA, G.; QUINTERO, N. Analisis de autores: Félix Candela, 2012. 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