Busca pela beleza em arte, design e artesanato

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Busca pela beleza em arte, design e artesanato
Diseño en Palermo. Encuentro Latinoamericano de Diseño.
Busca pela beleza em arte, design e artesanato
Maria Evany Nascimento
Resumo
O presente curso é fruto de discussões e reflexões geradas nas aulas do curso de
Design da Faculdade Marta Falcão em Manaus; AM. Trata das questões estéticas da
produção em design, arte e artesanato, como uma busca constante. Tomando como
base filmes, vídeos, conceitos filosóficos e história da arte, as reflexões caminham
para indicar a importância do estudo da História, para a percepção dos processos de
criação e da busca ontológica que resulta desse processo.
A busca pela beleza
O vídeo da Discovery Channel, sobre Beleza: Harmonia e Perfeição, nos apresenta o
universo da beleza como uma busca constante; defende que nós estamos
programados para buscar a beleza em todo e qualquer ambiente. Nos dá o seguinte
exemplo: se morássemos em um planeta cercado de lodo, nos acostumaríamos ao
lodo e começaríamos a ver beleza nas formas do lodo. Essa busca pela beleza é o
que a ciência afirma ser a nossa busca de ordem em meio ao caos. Da mesma forma,
percebemos a busca pela beleza quando se trata de arte, design e artesanato. E
quando essa busca não se manifesta na materialização de um objeto, se apresenta
como experiência estética – é o caso da arte contemporânea. Mas, onde mora a
beleza? Na efetivação de um produto de design, podemos perceber que há sempre
uma idealização antes da concretização. Estamos predispostos a buscar a forma ideal
em um plano seguro das ideias, o que poderíamos chamar de plano metafísico, que
subsidia o projeto? Essa forma ideal, é constituída de uma necessidade identificada e
de uma busca pela beleza, estando esta beleza idealizada num plano superior?
Os processos de criação
Em outro vídeo, também da Discovery Channel, sobre As Sete Maravilhas do Mundo,
vemos que o processo de construção de uma obra de arte, a escultura de Zeus, foi um
trabalho minucioso e matematicamente planejado. Zeus era o deus maior dos gregos
antigos. A escultura de 12 metros de altura foi recoberta com mármore e possuía os
cabelos de ouro. As ferramentas utilizadas foram ferramentas pequenas, de ouríves,
porque a escultura foi feita como uma jóia. Seu criador, Fìdias, criou o rosto de Zeus.
Pela primeira vez tinha-se um Deus com rosto real e definido. Com as invasões, a
estátua foi levada para Istambul e posteriormente destruida. Durante mil anos, as
pessoas puderam contemplar a face de Zeus. Depois disso, com o cristianismo
oficializado pelos romanos, a imagem do Zeus é convertida no Cristo entronado.
Aproveitou-se os mil anos de culto à imagem de Zeus, para fortalecer o culto à figura
de Cristo, dando-lhe um ar imponente. É interessante essa passagem para nos
darmos conta de que nosso imaginário é construído e como ele é construído. Como as
formas são criadas e como os significados vão sendo incorporados ao imaginário e
memória coletiva por séculos. E mais, o poder que a arte tem em materializar esse
imaginário. Neste mesmo vídeo, vemos ainda que os gregos cultuavam os deuses e
os reproduziam nas esculturas, e seus templos eram construídos em sua homenagem.
Os romanos, passaram a cultuar os heróis e pelo seu poder militar e suas grandes
conquistas, Alexandre, torna-se o primeiro herói da História. Um escultor, Lisipo, é seu
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construtor de imagem. O Colosso de Hodes mostra ao mundo esse novo homem.
Podemos dizer que, nascia aí, os princípios da propaganda. Quando Lisípo constrói a
imagem de Alexandre, ele transforma suas deformidades e limitações em
características de um herói. E cria com isso, a imagem do herói que mais tarde será
retomada por Napoleão, durante a Revolução Francesa e hoje, por todos os astros e
políticos.
Estudar História nos abre para a percepção desse processo da evolução da tecnologia
e transformação do homem. No filme Agonia e Êxtase, observamos que durante o
período da renascença, Michelângelo aceitou o desafio do Papa de pintar o teto da
Capela Sistina. E criou uma das maravilhas da pintura de todos os tempos. Em um
dos detalhes, A Criação de Adão, ele apresenta o novo homem, o homem da
Renascença, bonito, forte, inocente, sem pecado. E mostra, pela primeira vez, a face
de Deus. Como os artistas renascentistas retomam a cultura greco-romana, vemos aí
as releituras das criações de Fídias e Lisipo. Fídias criou a face de Zeus que se
transformou na face de Cristo e Michelângelo, criou a face do Criador – Deus, o Zeus
do Cristianismo. Enquanto Lisípo criou a imagem do novo homem, herói, Michelângelo
criou a imagem do homem moderno recém criado por Deus. Esses padrões de beleza
e perfeição estão presentes no imaginário de todo o Ocidente, e nosso. Está presente
nas revistas e na TV, e nas técnicas usadas por designers e cirurgiões plásticos para
criar o corpo perfeito.
Observando a obra de Gaudí, especialmente a arquitetura, no final do século XIX e
início do século XX, vemos que ele criou em Barcelona um novo estilo inspirado nas
formas orgânicas: o Modernismo (chamado na França de Art Nouveau). Seus prédios,
palácio e a Igreja da Sagrada Família, são formas vivas, com imensa riqueza de
detalhes numa forma de mosaicos. A beleza para Gaudí estava nas formas da
natureza, no que é orgânico e vivo. O que Gaudí produziu é reconhecido como obra
de arte. Uma produção do Canal Futura chamada Toda Beleza, nos permite um
paralelo nesta reflexão sobre o processo de criação. Um dos vídeos mostra que em
uma favela do Rio de Janeiro, chamada Paraisópolis, um jardineiro construiu sua casa
com colagens de cerâmica e pequenos objetos, é a Casa de Pedra Enfeitada. Em
entrevista, ele chama a atenção para seu processo de criação solitário, pelo amor que
dedica à colagem de cada peça. Questiona o ritmo de vida autômato das pessoas, no
ir e vir de casa para o trabalho, sem um projeto maior. Sua casa é uma obra de arte?
Ele pode ser considerado um artista ou um artesão? Na produção intitulada de Design
Popular, vimos que este não deve ser considerado como uma arte menor, mas que
precisa ser valorizado e preservado.
O design popular nasce da necessidade das pessoas comuns, e da falta de dinheiro
para participar da sociedade do consumo. Para satisfazer suas necessidades, se
apropriam de matérias-primas, muitas vezes recicladas e criam objetos que satisfazem
e impressionam pela criatividade. São carrinhos adaptados para vender café,
salgados; pequenos objetos como copos, lamparinas; adaptações para cadeira de
roda, etc. Tecendo os fios O que se percebe de comum entre todos estes criadores é
a identificação com sua criação. No filme Agonia e Êxtase, Michelângelo diz que “A
criação é um ato de amor”. Seu Estêvão, da Casa de Pedra Enfeitada, disse “Eu fiz
toda essa beleza porque eu gosto da arte, da beleza. Porque quem não ama o que faz
não vai fazer nada de bonito e de bom.” A criação tem sempre um propósito, e enche
de contentamento e orgulho o seu criador. Não se viu tristeza nos olhos do Sr.
Estêvão, só contentamento em mostrar a sua casa. O orgulho estava presente nas
palavras e lições dos entrevistados do documentário de Design Popular. A criação, faz
com que seu criador se sinta um pouco Deus. E esse estado de espírito se faz
presente em todos que criam, do artista ao homem comum, de Fídias ao artesão que
mora na zona leste de Manaus. Toda obra é fruto de um contexto e precisamos olhá-la
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sem preconceitos. Arte, design e artesanato são processos de criação que se
enquadram em categorias diferentes mas, todos tem seu valor. E o design, pode se
apropriar desse valor da arte e do artesanato, para seu próprio processo de criação.
Nosso olhar é a janela do nosso conhecimento. O que vemos é o que sabemos sobre
o que vemos e quanto mais estudamos a História mais ampliamos o nosso olhar. E
para encerrar por hora, essas reflexões, essa busca pela beleza, pode ser entendida
em design como a busca pela forma ideal, a gestalt. Nós pensamos o objeto como
algo ideal. O “grid” seria essa estrutura prévia que existe no mundo dos deuses e que
buscamos incansavelmente em nossas criações. Precisamos satisfazer nossa
necessidade de beleza.
Referências:
Vídeo: A casa de pedra enfeitada. Programa Toda Beleza. Canal Futura. 2006.
(WWW.futura.org.br) Vídeo: Cultura da Bahia – Design Popular. Cipó Comunicação
Interativa. 2004. (WWW.cipó.org.br)
Vídeo: As Sete Maravilhas do Mundo. Discovery Channel. Direção: Peter Spry
Leverton. Edição: Jonathan Cooke. Filme: Agonia e Êxtase. Estados Unidos. 1965.
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