JORNAL EXTRA 25/05/2011 – TERÇA-FEIRA Piratas: ex

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JORNAL EXTRA 25/05/2011 – TERÇA-FEIRA Piratas: ex
JORNAL EXTRA 25/05/2011 – TERÇA-FEIRA
Piratas: ex-motoristas de vans ilegais usam
cada
vez
mais
carros
particulares
insuspeitos para fazer lotadas e escapar da
fiscalização
Fabíola Gerbase e Paulo Roberto Araújo
RIO - Um problema que parecia restrito à Região dos Lagos chegou com força
ao Rio: o transporte pirata feito em carros particulares. Dos 5.279 veículos
apreendidos em blitzes do Detro entre janeiro e abril deste ano, 59% eram
automóveis, sem a menor aparência de piratas, que faziam lotadas. A prática
ilegal, difícil de ser flagrada pela fiscalização, aumentou na capital depois que
licitações reduziram de quatro mil para 500 o número de vans no Grande Rio.
EU-REPÓRTER : Viu algum ponto de transporte pirata? Fotografe e envie para
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A apreensão dos carros é dificultada porque os passageiros costumam
defender os motoristas, em sua maioria ex-proprietários de vans ilegais que
foram proibidas de circular.
— Nós já sabíamos que quem viveu durante anos à margem da lei, fazendo
suas próprias regras, buscaria uma forma de driblar a fiscalização — diz o
presidente do órgão, Rogério Onofre.
Nós já sabíamos que quem viveu durante anos à margem da lei, fazendo suas
próprias regras, buscaria uma forma de driblar a fiscalização
Para caracterizar a lotada e combater o problema, os fiscais tiveram que lançar
mão de uma estratégia.
— A gente espera todos os passageiros entrarem no carro. Depois que o
veículo parte, a gente aborda e pergunta o nome dos passageiros ao motorista,
e vice-versa. Se eles não se conhecerem, é uma lotada — explica Almir
Teixeira, supervisor de operações do órgão.
Entre as rotas preferidas pelos piratas estão a ligação da Rodoviária Novo Rio
com a Região dos Lagos, com Angra dos Reis e com a Baixada Fluminense.
Mas o problema também já chegou à Barra e ao Recreio, onde a fiscalização
do transporte clandestino é feita pela prefeitura.
Na Barra, tabela para o Galeão
Na região da Barra e do Recreio, há grupos que se apresentam como
empresas de transporte executivo e chegam a produzir tabelas de preços para
vários pontos da cidade. O trajeto entre o Recreio e o Aeroporto Internacional,
por exemplo, sai por R$ 80 com a Strategos Drive Service, com frota de cinco
Vectras pretos. Já uma corrida para Copacabana custa R$ 60 e, para Botafogo,
R$ 65. A Strategos anuncia em seu panfleto: “faturamos para empresas”. Mas,
por telefone, informa estar temporariamente impossibilitada de emitir nota
fiscal, problema que seria sanado este mês, segundo a atendente.
— A empresa está começando agora. Ainda está sendo registrada. É quase
como uma cooperativa. As pessoas podem ligar uns 15 minutos antes para
pedir um carro. Por enquanto, não tem taxímetro. São R$ 2 por quilômetro —
explicou.
A empresa está começando agora. Ainda está sendo registrada. É quase como
uma cooperativa. As pessoas podem ligar uns 15 minutos antes para pedir um
carro. Por enquanto, não tem taxímetro. São R$ 2 por quilômetro
Em frente ao Shopping Recreio, na Avenida das Américas, ponto que
concentra muitos piratas, um Fiat Uno deixa três passageiros que entregam
dinheiro ao motorista. Ao ser abordada, uma das mulheres diz que o condutor é
“um amigo que ajuda o pessoal que trabalha longe”.
No mesmo local são vistas vans piratas. Os veículos — sem adesivo padrão,
identificação de rota ou numeração do Detro — usam placas improvisadas com
os nomes dos destinos e, apesar de muitas vezes oferecerem condições
precárias, conseguem pegar passageiros em pontos como o do Recreio
Shopping.
— As opções de transporte aqui são reduzidas. A gente acaba pegando o que
aparece — argumenta Jussara Neves, que saiu do shopping em direção à
Barra.
O presidente do Detro admite que a maioria dos piratas atua onde o transporte
de ônibus é deficiente. Mas ele garante que, até 2013, todas as 1.140 linhas
intermunicipais serão licitadas, com uma frota de oito mil ônibus, divididos por
105 empresas. As licitações, segundo ele, vão garantir a melhoria do serviço e
cerca de R$ 3 bilhões para os cofres do estado.
Veículos fazendo lotadas são facilmente encontrados sob os viadutos no
entorno da Rodoviária Novo Rio. Quando há fiscalização no local, os motoristas
param atrás do Hospital do Câncer. Sob o viaduto próximo ao setor de
embarque, atuam três grupos principais, diferenciados pelo destino do
transporte: Angra; Macaé e Campos; e Cabo Frio. O primeiro cobra R$ 25 pela
viagem, que pode ser feita de van ou carro particular, dependendo do veículo
que estiver disponível. Numa ida do GLOBO ao local, o responsável informava
aos passageiros interessados que havia uma “falta momentânea” de carros de
passeio para Angra porque “o Detro estava segurando o pessoal lá em cima”.
Pouco tempo depois, no entanto, um motorista já estava disponível para a
viagem.
—- Não podemos impedir o estacionamento porque isso é atribuição da
prefeitura. As lotadas eram feitas para Macaé e Cabo Frio, mas agora há
piratas para a Baixada, Angra e outros pontos do estado — disse a chefe da
fiscalização do Detro, major Marly de Souza.
Para uma ida a Campos, num carro de passeio com ar-condicionado, são
cobrados R$ 55. Comprando uma passagem de ônibus intermunicipal
regularizado com ar, o custo varia entre R$ 59,77 (convencional) e R$ 85,27
(leito). Mesmo com a pequena diferença de valor, o serviço pirata tem grande
procura. Uma usuária que pediu para não ser identificada contou que costuma
usar o transporte clandestino para Campos porque é mais barato:
Acho uma boa opção. Na última vez, não gostei tanto porque o motorista
correu muito, passou o tempo todo no telefone e viajou sem cinto. Mas eles me
deixam onde eu pedir
— Acho uma boa opção. Na última vez, não gostei tanto porque o motorista
correu muito, passou o tempo todo no telefone e viajou sem cinto. Mas eles me
deixam onde eu pedir.
O estado de conservação dos carros também é comentado pelos usuários,
que, no entanto, não desistem da viagem pirata por conta da aparência pouco
confiável de alguns veículos.
Na saída do desembarque da Rodoviária Novo Rio, irregularidade similar
acontece diariamente: motoristas de carros de passeio oferecem viagens a
preços combinados.
— Fui abordada na saída da rodoviária por um homem que se apresentou
como taxista. Perguntei onde estava o táxi e me explicou que era um carro sem
a tradicional pintura, mas era um veículo legalizado. Perguntei se tinha
taxímetro e ele disse que negociaríamos o valor — conta Isabel Baptista,
moradora de Niterói