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1 RODRIGUES, E dos S. Processamento da concordância de
1 RODRIGUES, E dos S. Processamento da concordância de número entre sujeito e verbo: formulação sintática x derivação sintática na construção de modelos psicolingüísticos In Anais do IV Congresso Internacional da ABRALIN, p.263-274, 2005, disponível on-line: http://www.abralin.org/publicacao/abralin2005.pdf Processamento da concordância de número entre sujeito e verbo: formulação sintática x derivação sintática na construção de modelos psicolingüísticos∗ Erica Rodrigues (PUC-Rio/ LAPAL) Abstract: Compatibilities between syntactic derivation (cf. Chomsky, 1999) and the process of syntactic formulation in sentence production are discussed, taking into account experimental results about subject-verb agreement errors. Explanations about semantic and morphophonological interference provided by psycholinguistic models are examined and the idea of an autonomous syntactic formulator is considered. Key-words: agreement errors; sentence production; syntactic derivation. Resumo: Possíveis compatibilidades entre derivação sintática (cf. Chomsky, 1999) e o processo de formulação sintática na produção de sentenças são discutidas, levando-se em consideração resultados experimentais obtidos em tarefas de eliciação de erros de concordância sujeito-verbo. Explicações fornecidas por modelos psicolingüísticos para a interferência de fatores semânticos e morfofonológicos são examinadas e avalia-se a idéia de um formulador sintático autônomo. Palavras-chave: erros de concordância; produção de sentenças; derivação sintática. 1. Apresentação O objetivo deste trabalho é discutir possíveis compatibilidades entre a idéia de derivação sintática, nos termos do que é proposto no âmbito do Programa Minimalista (Chomsky 1995, 1998, 1999), e o processo de formulação sintática de sentenças conforme caracterizado nos modelos psicolingüísticos de produção de sentenças. Considera-se, para isso, o fenômeno da concordância sujeito-verbo, com vistas a comparar a computação sintática da concordância no quadro teórico do Minimalismo e o tratamento dispensado ao processamento da concordância nos modelos de produção. A concordância no programa Minimalista é concebida como uma operação estritamente sintática, que se estabelece com base em informação de natureza gramatical codificada nos itens lexicais, dispostos em uma dada configuração estrutural. Em termos de processamento, porém, resultados experimentais têm apontado para a atuação de fatores semânticos e morfofonológicos na produção da concordância, o que coloca em xeque a idéia da concordância como um processo que lança mão exclusivamente de informação sintática e, por conseguinte, da idéia de que o formulador sintático atua de forma autônoma. Esse questionamento acerca da autonomia do formulador sintático traz, por sua vez, dificuldades para a articulação entre teoria gerativista e modelos de processamento dado que, no modelo de língua proposto no Minimalismo, o sistema computacional da língua é concebido como independente em relação aos demais sistemas cognitivos e lida com propriedades formais ∗ Este trabalho faz parte da tese de Doutorado “Processamento da concordância de número entre sujeito e verbo na produção de sentenças”, em fase final de elaboração, e vincula-se ao Projeto Explorando relações de interface língua-sistemas de desempenho no processamento da concordância e na aquisição da linguagem normal e desviante (CNPq), desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Processamento e Aquisição da Linguagem (GPAL), no Laboratório de Psicolingüística e Aquisição da Linguagem (LAPAL), coordenado pela professora Letícia Maria Sicuro Corrêa. 2 dos itens lexicais. Neste texto, apresentam-se resultados obtidos em tarefas de eliciação de erros e discute-se o impacto desses trabalhos para a referida articulação, considerando-se modelos de processamento de orientação interativa e não-interativa. 2. Arquitetura do sistema lingüístico e a derivação sintática da sentença no Minimalismo No modelo de língua proposto no Minimalismo, a faculdade da linguagem pode ser entendida em sentido amplo (cf. Hauser, Chomsky & Fitch, 2002) como compreendendo um sistema computacional da linguagem e sistemas cognitivos com os quais este faz interface. O sistema computacional é o mecanismo responsável pela construção de objetos sintáticos a partir de um arranjo de itens lexicais selecionados do léxico por meio de uma operação Select e reunidos em uma Numeração. Na arquitetura proposta, os únicos níveis de representação são aqueles que fazem interface com os sistemas cognitivos: a Forma Lógica, que faz interface com o sistema conceptual-intencional, e a Forma Fonética, que faz interface com o sistema perceptualarticulatório. Um princípio que orienta o funcionamento do sistema computacional é o Princípio da Interpretabilidade Plena (Full Intepretation). De acordo com esse princípio, só pode chegar aos níveis de interface informação passível de ser lida nesses níveis; cabe ao sistema computacional da língua, portanto, eliminar informação não-interpretável nas interfaces. A interpretabilidade constitui uma propriedade de traços do léxico. Cada item lexical é um conjunto de traços semânticos, fonológicos e formais. Traços semânticos seriam interpretáveis na interface semântica e traços fonológicos seriam interpretáveis na interface fonética. Quanto aos traços formais, estes poderiam ser interpretáveis ou não. Por exemplo, um traço como o de número seria interpretável no nome e entraria na derivação com um valor atribuído – singular ou plural; já o mesmo traço no verbo seria não-interpretável e precisaria ser eliminado antes de chegar à Forma Lógica. No modelo de Chomsky 1999, a eliminação de um traço não-interpretável se faz através de um mecanismo de valoração, por meio da operação Agree. No caso de nomes e verbos, por exemplo, o traço interpretável de número do nome valora o traço não-interpretável de número do verbo, a fim de que apenas chegue em Forma Lógica informação legível nesse nível de representação. O ponto de envio das informações para as interfaces é chamado de Spell-Out. Além de Agree, o sistema computacional da língua também faz uso da operação Merge, que serve para concatenar objetos sintáticos, e da operação Move, que serve para deslocar objetos para posições mais altas na estrutura sintática. Uma propriedade importante do modelo é o fato de ser derivacional, isto é, a geração de frases se faz por aplicações sucessivas de operações computacionais que devem exaurir uma numeração. A derivação estará completa quando todos os itens da numeração forem utilizados e os traços não-interpretáveis forem eliminados.1 3. A arquitetura do sistema de produção e a formulação sintática de sentenças A produção da linguagem é concebida, na maior parte dos modelos de produção, como uma atividade complexa que envolve processamento de informação em diferentes níveis ou estágios. A idéia geral é que o processo teria início com a concepção da mensagem, ao que se seguiria uma busca de elementos no léxico compatíveis com os conceitos a serem expressos. Informação de natureza gramatical presente nos lemas dos itens lexicais alimentaria um estágio de codificação gramatical, durante o qual a estrutura sintática da sentença seria construída e 1 Para uma visão geral da proposta Minimalista, encaminhamos o leitor a Augusto (no prelo). 3 operações de ordem sintática, como a concordância, seriam implementadas. O resultado do processamento desse nível seria enviado para uma codificação morfofonológica, o que viria a permitir a articulação da sentença. Uma questão acerca da qual os modelos de produção divergem diz respeito a como se dá o fluxo de informação ao longo do processamento, mais especificamente, se poderia haver ou não interação entre informações de natureza distinta num dado estágio do processamento. Dependendo da resposta dada a essa questão, os modelos podem ser definidos como nãointerativos ou interativos (cf. Vigliocco & Harstuiker, 2002). Os modelos não-interativos apresentam, em geral, uma visão serial e unidirecional da produção da linguagem, em que não há possibilidade de interação entre os níveis de processamento (feedforward models). O input de um nível para o outro é o mínimo necessário, isto é, apenas informação relevante e necessária é encaminhada de um estágio para outro. Nesse tipo de modelo, a concordância é estabelecida exclusivamente com base em informação de natureza léxico-sintática, não havendo interferência de fatores semânticos ou morfofonológicos no processamento. Os modelos interativos, por sua vez, assumem uma concepção interativa do processamento com possibilidade de convergência de informações de fontes distintas ao longo do processo de formulação de sentenças. Sob esse rótulo, agrupam-se desde propostas conexionistas até modelos alinhados com a idéia de níveis de processamento. No caso dos modelos de níveis, a diferença em relação aos interativos reside na idéia de retroalimentação, segundo a qual informação de um dado nível poderia alimentar um nível anterior (feedbackward models). A concordância, a despeito de ser um processo sintático, poderia mobilizar informação de natureza não-sintática. Evidências experimentais obtidas em tarefas de produção induzida vêm sendo consideradas no confronto dos dois modelos. A seguir, reportam-se resultados sobre os fatores que atuariam no processamento da concordância e apresentam-se as explicações fornecidas por cada tipo de modelo. 4. Evidências experimentais A análise de erros cometidos em tarefas de produção induzida vem sendo amplamente empregada no estudo do processamento da concordância sujeito-verbo. A técnica experimental consiste em apresentar, por via auditiva, um preâmbulo contendo o sujeito da sentença, o qual deverá fazer parte de uma frase completa. A tarefa do participante é repetir o preâmbulo e completar a frase com um verbo flexionado, que pode ser produzido livremente ou ser apresentado, no infinitivo, na tela de um computador. Os preâmbulos são em geral sintagmas complexos formados por um termo nuclear e um modificador que contém um elemento interveniente, responsável pela indução de erro (Ex.: A pasta dos documentos rasgaram). A variável dependente nesse tipo de experimento é o total de erros de concordância produzidos. 4.1 Fatores sintáticos Sendo a concordância um processo eminentemente sintático, é de se esperar, tanto em modelos interativos quanto em modelos não-interativos, que variáveis sintáticas venham a atuar no processamento. Uma das primeiras variáveis investigadas foi o tipo de modificador do núcleo do sujeito. Verificou-se que erros de atração são mais comuns quando o núcleo interveniente está em um sintagma preposicionado (O técnico dos jogadores) do que em um modificador sentencial (O técnico que falou dos jogadores) (Bock & Miller, 1991). Esses resultados foram explicados como resultantes de um efeito de insulamento informacional do 4 elemento interveniente na oração relativa. Esse elemento ficaria menos acessível ao formulador e haveria menos chance de gerar interferência na produção da concordância. Uma explicação alternativa foi formulada por Vigliocco & Nicol (1998). Segundo essas autoras, a diferença entre as condições experimentais deveria ser atribuída à idéia de percolação ascendente de traços. O traço de número do núcleo interveniente nos sintagmas preposicionados estaria hierarquicamente mais próximo do nó mais alto do DP sujeito do que nas relativas e por isso teria mais chance de gerar interferência. Logo, o fator atuante seria a posição hierárquica do núcleo interveniente no DP sujeito. Em experimentos com sintagmas complexos do tipo a tinta do cartucho da impressora, registrou-se efeito da posição hierárquica do núcleo interveniente: houve mais erros quando o núcleo interveniente era o N2 (Ex.: A tinta dos cartuchos da impressora) do que quando era o N3 (Ex.: A tinta do cartucho das impressoras), a despeito de este último estar linearmente próximo do verbo (Franck, Vigliocco & Nicol, 2002, para o inglês e o francês; Rodrigues & Corrêa, 2004 e Corrêa e Rodrigues, 2005, para o português). Outro fator testado foi a posição linear do núcleo do sujeito em relação ao verbo. Há registro de efeito do tamanho do DP sujeito em experimentos de produção (Bock & Cutting, 1992), bem como em trabalhos sobre compreensão (Deutsch, 1998) e em estudos com potenciais evocados (Kaan, 2002). Não foram, contudo, obtidos efeitos similares em outros trabalhos (Bock & Miller, 1991 e Nicol & Barker, 1997 apud Kaan, 2002). No caso do português, foi observado efeito dessa variável tanto para modificadores do tipo PP quanto para orações (Rodrigues & Corrêa, 2004; Corrêa e Rodrigues, 2005). Quanto à posição linear do núcleo interveniente em relação ao verbo, há evidências nas duas direções: enquanto alguns resultados experimentais apontam efeito de proximidade linear (Fayol et al., 1994; Haskell & MacDonald, 2002), outros indicam que não há interferência desse fator (Vigliocco & Nicol, 1998). Em trabalho recente, Franck et al.(2003), rediscutem a questão de ordem linear, a partir de uma análise que incorpora pressupostos do Minimalismo, e apresentam resultados compatíveis com um efeito de precedência linear. 4.2 Fatores semânticos A interferência de informação associada a uma representação conceitual de número no processamento da concordância vem sendo investigada a partir de duas possíveis fontes de erro: sintagmas contendo substantivos coletivos e sintagmas distributivos. O emprego de substantivos coletivos no estudo de interferência semântica na concordância se justifica pela incongruência que apresentam entre número nocional e número gramatical. A previsão é que, caso a representação conceitual de número possa afetar o processamento da concordância, haverá mais erros nas condições experimentais envolvendo substantivos coletivos do que não-coletivos. Verifica-se essa possível interferência para coletivos na posição de núcleo do sujeito (A equipe do jogador) e na posição de núcleo interveniente (O jogador da equipe). Manipula-se também o número do núcleo interveniente associado ao coletivo – singular ou plural (O público do jogo x O público dos jogos). Experimentos realizados com falantes de inglês revelaram efeito dos coletivos quando na posição de núcleo do sujeito (cf. Bock, Nicol & Cutting, 1999; Bock & Cutting, 2004); já, quando o coletivo faz parte do modificador, os resultados não são conclusivos: enquanto em inglês e holandês, o número conceitual do modificador do sujeito não parece ser fator de interferência (Bock & Eberhard, 1993, para o inglês; Bock et al., 2001, para comparação inglês/holandês), em espanhol, os resultados apontam para um efeito de substantivos coletivos, porém, apenas no caso daqueles empregados no plural (Greth, 1999). 5 Olhando atentamente os preâmbulos testados, percebe-se que, nos casos em que foi obtido efeito, parece ser possível atribuir uma leitura distributiva aos preâmbulos. Bock, Eberhard & Cutting (2004) observam que os erros com coletivos como núcleo do sujeito ocorrem particularmente na condição em que o substantivo coletivo é acompanhado de um elemento interveniente plural (ex.: The audience at the tennis matches - O público nas partidas de tênis). Nesse tipo de preâmbulo, poder-se-ia imaginar um público para cada partida, o que viria a induzir erros de concordância. O mesmo parece se aplicar aos resultados obtidos por Greth (1999) para o espanhol. Grande parte dos itens testados são do tipo La foto de los equipos (a foto das equipes), em que os participantes podem atribuir uma leitura distributiva ao núcleo do sujeito foto, relacionando foto a mais de um referente (uma foto para cada equipe). Logo, o efeito de número nocional não estaria relacionado a propriedades semânticas dos coletivos, mas sim à possibilidade de leitura distributiva dos sintagmas testados. Nos experimentos envolvendo sintagmas distributivos, o que está em jogo é a possibilidade de se relacionar o núcleo do sujeito a uma única instância (single token) de um referente ou a várias instâncias (multiple token), em função de informação de natureza semânticopragmática. Manipula-se o fator distributividade em preâmbulos do tipo O telhado das casas, que privilegiaria uma leitura distributiva de telhado, e preâmbulos como A pasta com os documentos, que não privilegiaria esse tipo de leitura. Os primeiros experimentos, realizados com falantes de inglês, indicaram ausência desse efeito (Bock & Miller, 1991; Vigliocco, Butterworth & Garrett, 1996). Em outras línguas, contudo, foi verificado um efeito desse fator (Vigliocco, Butterworth & Semenza, 1995, para o italiano; Vigliocco, Butterworth & Garrett, 1996, para o espanhol; Vigliocco, Hartsuiker, Jarema & Kolk, 1996, para o holandês e o francês). Mais recentemente, Eberhard (1999) também obteve efeito de distributividade para o inglês, em experimento no qual reviu o material experimental utilizado anteriormente. Logo, no que tange à questão da distributividade, os resultados apontam para uma possível influência desse fator semântico no processamento da concordância. Resta determinar o momento dessa interferência. 4.3 Fatores morfofonológicos A marcação morfofonológica de número parece atuar no processamento da concordância. Resultados experimentais indicam uma assimetria entre o número do núcleo do sujeito e o de um núcleo interveniente, com maior ocorrência de erros na condição que este é plural e aquele, singular (A pasta dos documentos) (Bock & Eberhard, 1993; Fayol et al. 1994; Vigliocco, Butterworth & Semenza, 1995; Vigliocco, Butterworth & Garrett, 1996; Haskell & MacDonald, 2002, entre outros). Resultados semelhantes foram obtidos para o português (Rodrigues & Corrêa, 2004; Corrêa & Rodrigues, 2005). Como no caso de efeitos semânticos, é preciso determinar o momento em que esse fator atua. 5. Os modelos de produção diante das evidências experimentais Os resultados experimentais que indicam interferência de fatores semânticos e morfofonológicos no processamento da concordância parecem favorecer modelos interativos, visto que estes admitem acesso a informações de tipos diferentes em cada momento do processo de formulação de sentenças. De acordo com esses modelos, os erros semânticos poderiam ser explicados a partir da idéia de input máximo: na perda de informação sintática de número, informação semântica de número, também disponível no nível de processamento sintático, seria utilizada de modo a suprir a perda. No caso de efeitos morfofonológicos, estes seriam explicados com base na idéia de fluxo bidirecional e de retroalimentação. 6 Mas será que modelos não-interativos poderiam dar conta desses resultados? É possível explicar a interferência de fatores semânticos e morfofonógicos na concordância, mantendo a autonomia do formulador sintático? Modelos não interativos diante das evidências experimentais Para preservar a autonomia do formulador sintático no processamento da concordância, a solução encontrada pelos modelos seriais, não-interativos, é atribuir a interferência de fatores semânticos e morfofonológicos a estágios anteriores ou posteriores à computação sintática da concordância. Em relação a efeitos de ordem semântica, Bock et al. (2001) situam esses efeitos em um estágio anterior à computação da concordância. Os autores incorporam o modelo de produção apresentado em Bock & Levelt (1994), em que a codificação gramatical compreende duas etapas: uma de atribuição de função sintática (nível funcional) e uma de composição da estrutura sintagmática da sentença (nível posicional). O sistema de produção funcionaria da seguinte forma: com base em uma representação conceitual, seriam definidas as funções sintáticas (sujeito, objeto direto etc.) dos constituintes da sentença e, através de um processo chamado number marking, informação de ordem conceitual permitiria a especificação do valor do número da função sujeito. No nível posicional, o sintagma que receberia a função de sujeito seria construído com base em informação codificada nos lemas dos itens lexicais. Montado o sintagma, o traço de número do núcleo percolaria ascendentemente até o nó mais alto de modo a especificar o número do sintagma. Haveria, então, um processo de unificação2 de informação de número definida a partir do nível da mensagem e do traço de número do núcleo do sujeito, o que poderia, nos casos de incongruência, levar a erro na definição final do valor de número do DP sujeito. Assim, em preâmbulos com leitura distributiva, como em O rótulo nas garrafas, poderia vir a prevalecer, no processo de unificação de traços, a informação de plural. O verbo, no momento da computação da concordância, terminaria marcado como plural não por uma falha nesse processo em si, mas sim em decorrência de uma falha na definição final do número do sintagma sujeito. Logo, o erro seria pré-computação da concordância entre sujeito e verbo. Corrêa (no prelo (b)) também explica a interferência de fatores semânticos/contextuais como pré-sintáticos, porém os atribui a um esvaecimento da representação literal do DP-sujeito na memória de trabalho. Corrêa investiga a possibilidade de o DP sujeito ser fechado como uma unidade independente antes de o verbo ser introduzido na formulação. Quando o verbo é introduzido na computação sintática, o DP sujeito seria retomado por um elemento nulo de natureza pronominal que recuperaria os traços semânticos do referente desse DP. Assim, no caso dos distributivos, o que seria retomado seria a idéia de pluralidade do referente, levando ao erro de concordância. 2 Na literatura psicolingüística, dois mecanismos de implementação da concordância são considerados: um mecanismo de cópia de traços e um mecanismo de unificação de traços. Na concordância por cópia, um termo controlador da concordância transmitiria informação gramatical (número, gênero, pessoa, etc.) ao termo controlado; na concordância por unificação de traços, cada termo já portaria traços com valor especificado, sendo a concordância o resultado de um processo de compatibilização desses valores. Bock et al. (2001) propõem que os dois mecanismos atuariam durante a produção: o de unificação, na definição do número do sujeito, e o de cópia, na concordância sujeito-verbo. Traçando um paralelo com a teoria lingüística, poder-se-ia comparar o processo de cópia ao processo de valoração de traços (Chomsky, 1999) e o de unificação, ao processo de checagem de traços (Chomsky, 1995). Note-se, porém, que cada mecanismo é adotado em versões distintas do Programa Minimalista e tem implicações específicas para como transcorre a derivação sintática. 7 Quanto a efeitos morfofonológicos, Rodrigues & Corrêa (2004) e Corrêa & Rodrigues (2005) consideram que a interferência de fatores morfofonológicos se dá após a computação da concordância, no momento da codificação morfofonológica do verbo. No modelo proposto, incorpora-se um parser monitorador ao qual seria submetido o resultado da produção da fala. Partindo de uma concepção moderadamente incremental da produção (cf. Ferreira, 1999), considera-se que o DP correspondente ao sujeito seria enviado para a codificação morfofonológica e articulado após o estabelecimento da concordância, estabelecida com base em traços presentes no léxico. Como somos ao mesmo tempo falantes e ouvintes, propõe-se que o parser monitorador analisaria o material lingüístico recém-produzido concomitantemente à formulação do restante da sentença. O erro de concordância poderia ocorrer devido a uma interferência de uma representação do DP sujeito, gerada pelo parser monitorador (representação essa vulnerável a decay), no momento da codificação morfofonológica do verbo. Este ainda estaria “aguardando” para ser enviado para a codificação fonética e articulação e, por isso, poderia vir a ter uma realização fonética diferente daquela correspondente ao valor do traço de número especificado na computação da concordância. Seria uma interferência num componente morfofonológico. Logo, segundo esse modelo, o erro seria posterior à computação sintática da concordância. Voltando à pergunta formulada na seção anterior, pode-se afirmar que, a despeito dos resultados experimentais, é viável manter a idéia de um formulador sintático que atua de forma autônoma sem sofrer interferência de informação semântica e morfofonológica, conforme proposto em modelos não-interativos. A vantagem de se trabalhar com esse tipo de modelo é que são mais restritivos do que os interativos, o que permite a formulação de hipóteses passíveis de serem testadas, com previsões claras sobre como atuaria cada componente envolvido na produção de sentenças. Um problema, contudo, desses modelos de produção é que, em geral, se baseiam em gramáticas procedurais3, desenvolvidas no âmbito das pesquisas em linguagem artificial. Carecem, portanto, de um modelo de língua que possa prover uma caracterização formal do conhecimento lingüístico adquirido e das operações sintáticas que permitam derivar sentenças nas línguas naturais. Nessa direção, um diálogo que parece ser promissor é o dos modelos de processamento com os desenvolvimentos recentes da teoria gerativa. Como visto na seção 2, com o Minimalismo, as restrições impostas pelos sistemas de desempenho passam a determinar o próprio funcionamento do sistema computacional da língua, fazendo com que qualquer operação desse sistema seja motivada por questões de interface. Logo, passa a fazer sentido pensar em termos de compatibilidades entre derivação sintática e formulação sintática dos enunciados. Na próxima seção, explora-se esse ponto, considerando-se, ao final, duas visões acerca da relação gramática/processador. 6. Formulação sintática e derivação sintática Vimos na seção 2 deste artigo que o sistema computacional das línguas humanas não sofre interferência de informação dos demais sistemas cognitivos no curso da derivação de uma sentença; logo, um tratamento da concordância que busque integrar teoria lingüística e processamento deve assumir uma perspectiva modular do processo de produção de sentenças, com um formulador sintático que atue de forma autônoma. Os modelos de produção nãointerativos parecem ser, em princípio, compatíveis com o modelo de língua assumido no 3 Para exemplo do tipo de gramática assumida pelos modelos de produção, ver Kempen & Hoenkamp (1987) e Smedt (1990). 8 Minimalismo. A seguir, considera-se essa possibilidade de compatibilização no que diz respeito ao processo de formulação de sentenças e, em particular, ao processamento da concordância. De acordo com a proposta de Levelt (1989), o processo de formulação sintática de um enunciado, em um modelo de produção, tem início com a concepção da mensagem, a que se segue a busca de representações lexicais com propriedades semânticas que possam servir para expressar as idéias pretendidas. Essa operação de seleção pode ser tomada como equivalente à operação Select, que permite a seleção dos itens lexicais a serem empregados em uma dada derivação sintática. A concepção de item lexical como um conjunto de traços semânticos, formais e fonológicos é, por sua vez, compatível com o tratamento dado aos itens lexicais em teorias de acesso lexical, que consideram a existência de três estratos lexicais: um estrato conceitual, que reuniria conceitos lexicais associados a uma dada palavra; um estrato dos lemas, em que estaria representada informação acerca de propriedades gramaticais dos itens lexicais4, e um estrato da forma, que teria informação relativa a morfemas e segmentos fonêmicos (cf. Levelt et al., 1999). Outro ponto de compatibilidade é a idéia de que existem dois tipos de traços formais e que um deles só tem seu valor definido a partir de operações que ocorrem em um componente sintático. Conforme visto na seção 2, em Chomsky (1999) considera-se que os traços não interpretáveis, isto é, aqueles que apresentam uma função sintática pura, são valorados no curso da derivação sintática e eliminados antes de chegarem à Forma Lógica. Na proposta de Levelt et al.(1999), os lemas apresentam parâmetros diacríticos que precisam ser definidos. Alguns desses diacríticos têm seu valor estabelecido com base em informação proveniente de uma representação conceitual, como é o caso do traço de tempo expresso no verbo. Outros, por sua vez, são valorados durante a etapa de codificação gramatical, como o traço de número do verbo, o qual assume o mesmo valor do traço de número do sujeito. O que Levelt (1989) caracteriza como etapa da codificação gramatical corresponderia, no modelo de língua considerado, às operações implementadas pelo sistema computacional da língua, que busca construir objetos sintáticos a partir de itens selecionados do léxico. A definição de Spell-out como um ponto de envio de informação para os níveis de interface também parece ser compatível com a idéia de que, na produção de sentenças, o resultado da codificação gramatical é encaminhado para a codificação morfofonológica a fim de poder ser posteriormente articulado. Outro aspecto que aproxima o modelo de língua dos modelos de produção é a abordagem derivacional e a idéia de fases. No Minimalismo, adota-se uma abordagem derivacional de geração de frases, de acordo com a qual a sentença é o resultado de aplicações sucessivas de operações computacionais. Considera-se também que existem pontos de envio de informação para a Forma Fonética e que o material enviado corresponde ao que integraria uma dada fase computacional. Esse funcionamento do sistema computacional é compatível com a idéia de que a estrutura sintática da sentença vai sendo construída de modo incremental (ou moderadamente incremental) e com idéia de que haveria unidades de processamento mantidas em uma memória de trabalho. Ainda quanto ao modo como transcorre uma dada derivação sintática, um aspecto a ser considerado é a direção em que se dá a montagem da estrutura sintática. No modelo proposto em 4 O termo lema, introduzido por Kempen & Hoenkamp (1987; porém já citado em Kempen & Hiybers, 1983), era empregado originalmente para fazer referência à palavra como uma entidade semântico-sintática em oposição ao conceito de lexema, usado para designar os traços fonológicos da palavra.(cf. Levelt, 1989). Com os desenvolvimentos da teoria de acesso lexical, o termo ganhou um uso mais restrito, passando a designar apenas a informação sintática acerca de uma dada palavra. 9 Chomsky (95, 98, 99), a derivação sintática é bottom-up e a adição de novo material é feita no topo da árvore sintática. Assim numa frase como Paulo comeu o bolo, primeiro há a formação do DP o bolo, que é concatenado ao verbo comer na posição de argumento interno desse verbo; depois disso, Paulo é concatenado ao conjunto comeu o bolo, em uma posição à esquerda desse sintagma.5 No entanto, quando se considera o processo tanto de produção quanto de compreensão de sentenças, verifica-se um outro direcionamento: as sentenças são formuladas e compreendidas da esquerda para a direita, de modo incremental. Logo, para que haja compatibilidade entre derivação e formulação/parsing é necessário que o sistema computacional da língua permita a construção de estruturas sintáticas da esquerda para a direita. Phillips (1996) apresenta uma possível solução para essa falta de compatibilidade. Inserido em uma perspectiva gerativista de análise lingüística, Phillips busca especificar um sistema unificado para gramática e processamento e propõe que a gramática é um sistema de construção de estrutura que opera de modo incremental, da esquerda para a direita. Apresenta como evidências para sua proposta o exame de testes de constituência em Inglês, incluindo movimento, elipse, coordenação, escopo e ligação. O autor parte da constatação que os resultados de testes de constituência são muitas vezes conflitantes e mostra que a solução para o problema de constituência está em propriedades de construção de estrutura de modo incremental. Com a idéia de derivação da esquerda para a direita, Phillips aproxima o modo de funcionamento da gramática do processador, unificando-os em um único sistema. O problema dessa proposta é que, ao se propor essa integração, erros de concordância precisam ser vistos como decorrentes de falhas no componente sintático da língua, e torna-se difícil explicar, mantendo-se a idéia de sintaxe autônoma, a interferência de fatores semânticos e morfofonológicos. Um caminho mais interessante para se discutir a relação gramática/processador é apontado por Corrêa (no prelo (a), 2005). Segundo a autora não se pode afirmar que gramática e processador são um sistema único, dado que aquilo que ocorre em tempo real é o parsing e a formulação de enunciados. A gramática seria uma entidade virtual, correspondente à capacidade computacional da língua, que teria como operação básica a concordância. Concordância, nesse sentido, seria a operação que permitiria o pareamento de traços formais interpretáveis com seus homólogos não interpretáveis, de modo a atender o Princípio da Interpretabilidade Plena (Full Interpretation), o qual garante que expressões lingüísticas possam ser faladas e analisadas. Essa distinção parece bastante relevante pois permite dar conta da produção e da compreensão e separar as operações do sistema computacional, que operaria de forma ‘cega’ -- isto é sem levar em conta propriedades pertinentes à semântica lexical dos itens do léxico selecionados quando da implementação da computação --, das ações do parser e do formulador, as quais têm propriedades específicas.6 Quanto aos erros de concordância, estes não ocorreriam durante a codificação gramatical, isto é, quando se dá propriamente a computação da concordância, mas sim seriam pré ou pós-sintáticos, mantendo-se, dessa forma, a autonomia do formulador sintático na produção de sentenças. 7. Considerações finais Procurou-se mostrar, ao longo deste texto, que uma aproximação entre Teoria Lingüística e Psicolingüística pode ser bastante promissora na caracterização do processamento da concordância na produção de sentenças. Foi discutido que, a despeito de resultados experimentais 5 Note-se que apresentamos uma versão simplificada da composição da sentença Paulo comeu o bolo. Numa análise detalhada, seria necessário considerar projeções funcionais como TP e vP. 6 Para uma visão detalhada da proposta de Corrêa, ver também Corrêa & Augusto (2005) e Corrêa (neste volume). 10 que apontam para interferência de fatores semânticos e morfofonológicos na concordância, é possível manter a autonomia do formulador sintático, atribuindo-se tais interferências a estágios anteriores ou posteriores à computação sintática. Isso, por sua vez, está em conformidade com a idéia de que o sistema computacional da língua opera de forma automática, levando em consideração apenas informação relativa aos traços formais da língua. Referências bibliográficas AUGUSTO, M. As relações com as interfaces no quadro minimalista gerativista: uma promissora aproximação com a Psicolingüística. In: MIRANDA, N.; NAME, M.C.L. (orgs). Lingüística e Cognição. Juiz de Fora, Editora da UFJF, no prelo. BOCK, K.; MILLER, C. A. Broken agreement. Cognitive Psychology, v. 23, p. 45-93, 1991. BOCK, K.; CUTTING, J.C. Regulating mental energy: performance units in language production. Journal of Memory and Language, v. 31, p. 99-127, 1992. BOCK, K.; EBERHARD, K.M. Meaning, sound and syntax in English number agreement. Language and Cognitive Processes, v. 8, p. 57-99, 1993. BOCK, K.; LEVELT, W. Language production: grammatical encoding. In.: GERNSBACHER, M. A (ed.) Handbook of Psycholinguistics. 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