2013 - Tecnologia e futuro da acção humanitária
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2013 - Tecnologia e futuro da acção humanitária
21ª Edição Relatório Mundial sobre Desastres Enfoque na tecnologia e o futuro da acção Super sumários Enfoque na tecnologia e o futuro da acção humanitária CAPÍTULO 1: Tecnologia Humanitária São propostas novas ferramentas TIC para a acção humanitária que podem detectar mais cedo necessidades e prever melhor crises, permitindo uma melhor resposta e aumentando a prestação de contas e transparência. As tecnologias oferecem novas fontes de informação e alerta precoce, e novas plataformas para a formação ou sensibilização e angariação de fundos. Existem agora mais de 6 mil milhões de assinantes de telemóveis e cerca de 2 mil milhões de assinaturas de banda larga móvel de internet. Entre 2008 e 2013, os países desenvolvidos duplicaram o número de assinantes de telemóveis, aumentando 2,5 mil milhões. Há hoje quase o dobro de assinaturas de banda larga móvel que de banda larga fixa. A melhoria da comunicação e informação para as comunidades em risco também reflecte uma melhoria de acessibilidade e dos média sociais . Os telemóveis são agora utilizados para transferências de dinheiro, operações bancárias e até para serviços de saúde, e são frequentemente usados por humanitários. Isto também é o resultado da fusão tecnológica ou da integração das redes de informação, hardware de tecnologia móvel e aplicações, média sociais e plataformas de mapeamento num único aparelho móvel. CAPÍTULO 2: Comunidades, Comunicação e Tecnologia Apesar de viver em Chicago, a mais de 9.000 km da sua terra natal na Síria, Zaher Sahloul, médico, tem ajudado a tratar doentes no seu país devastado pela guerra. Nos Estados Unidos, ele usou os média sociais para arranjar consumíveis hospitalares e doações superiores a 5 milhões de dólares da diáspora Síria, carregou vídeos no Youtube em Árabe para dar conselhos aos médicos que estão na Síria, e usou um sistema de código de barras para monitorizar os consumíveis hospitalares na Síria. Sahloul tem sido capaz de comunicar com o pessoal médico no terreno graças engenheiros de sistemas informáticos como Dishad Othman, que trabalha para a Internews, uma ONG internacional. Othman, um Sírio que foi obrigado a fugir, ajudou a criar ferramentas de encriptação e contas virtuais de redes privadas, para criar formas seguras para os Sírios dentro do país comunicarem por internet. O colapso da fábrica de roupa Rana Plaza em Dhaka, Bangladesh a 24 de Abril de 2013, é outro testemunho de que o uso de tecnologias de informação e comunicação – tais como telemóveis – são uma ferramenta para a recuperação pós-desastre. Enquanto se procurava por entre os destroços, o socorrista civil Saydia Gulrukh noticiou que muitas das vitimas morreram agarrando-se a cartões de identificação e a telemóveis. Gulrukh diz que isto pode estar ligado a outro desastre numa fábrica que ocorreu em Novembro de 2012, quando um incêndio destruiu uma fábrica de vestuário em Tazreen, também em Dhaka, matando mais de 100 pessoas. As estimativas do governo sobre desaparecidos foi baixa, em parte porque muitas famílias não tinham registos dos seus entes queridos, o que se tornou difícil para eles reclamarem os corpos e provarem que estavam qualificados para receber subsídios.. CAPÍTULO 3: Reforçar a informação humanitária: o papel da tecnologia Quando ocorre um desastre, o acesso à informação é tão importante como alimentos e água. Isto foi reconhecido pelo Relatório Mundial sobre Desastres de 2005. Desde então, a informação gerada e consumida durante emergências é cada vez mais digital e fornecida pelos usuários. As populações afectadas geram cada vez mais uma grande quantidade de informação em tempo real. As organizações humanitárias também estão a adoptar tecnologias geo-espaciais e móveis tais como smartphones para recolher dados em diversos formatos. Tipicamente elas enfrentavam um vazio de informação após desastres repentinos, mas um dos grandes desafios de hoje é a grande quantidade de dados gerados pelas próprias comunidades afectadas. Investigações têm demonstrado que as comunidades locais salvam a maioria das vidas após um desastre. As comunidades têm realmente sido sempre as primeiras a responder. A auto-organização num mundo digital oferece oportunidades que no passado analógico eram inviáveis. As populações afectadas por catástrofes têm agora maior acesso a informação, e muita das suas necessidades de informação durante uma crise podem ser colmatadas por tecnológicas móveis. Os meios de comunicação social local continuam a ter um papel crítico durante as crises. Capítulo 4: Tecnologia e a eficácia da acção humanitária Tecnologia para mitigação de desastres Há uma série de factores que tornam os sistemas de alerta precoce eficazes, e a tecnologia pode desempenhar um papel importante no fortalecimento de cada um deles. Os avanços na computação de alto desempenho e computação “em nuvem” tornaram possível o desenvolvimento modelos mais complexos de risco hidrológico e sismológico. Os gestores de catástrofestêm usado ferramentas que tiram proveito da tecnologia computacional, por exemplo, o Sistema Global de Alerta e Coordenação de Desastres, o Serviço de Alerta Precoce Humanitário, UN Global Pulse e SARWeather. A monitorização automatizada e os serviços de alerta permitem aos gestores de catrástrofes e outro subscreverem emails ou textos de alerta, mas também dar a outros sistemas uma mensagem de alerta estandardizada. O padrão mais comum de partilha de alerta é o Common Alert Protocol (CAP), que muitas agências e países têm adoptado. Rádios meteorológicas especializadas de baixa tecnologia, sirenes e altifalantes públicos são rapidamente acrescentados por e-mails, sms ou mensagens twitter como canais de aviso, sem dúvida contribuindo para reduzir o número de mortos nos desastres. A Google começou a partilhar alertas baseados no CAP e a Agência Federal de Gestão de Catástrofes dos Estados Unidos começou a incentivar funcionalidades dos sistemas de rede móvel para começar a difundir mensagens de alerta precoce. Tem de haver mais esforço para se alcançar a “última milha” do alerta precoce. Capítulo 5: Os riscos da inovação tecnológica Com a evolução de metodologias de recolha de dados, bem como de telemóveis, média sociais, sistemas de informação geográfica e sistemas de posicionamento global alterou-se profundamente a forma como as crises humanitárias são abordadas. Embora as inovações tecnológicas continuem a transformar os esforços humanitários, actualmente muito do optimismo em torno do papel da tecnologia na área humanitária é baseada em dois pressupostos: que adicionar tecnologia é inevitável e que isso irá gerar progresso. Ao longo da década de 1990, a prestação de contas ganhou proeminência como um ponto da agenda. As organizações humanitárias começaram a estabelecer padrões para tal e a auto regularem-se. As reformas humanitárias de meados dos anos 2000 foram concebidas para: dar resposta a desperdícios e má gestão; reforçar o sistema da ONU de “coordenadores humanitários”; e garantir, através da abordagem “cluster”, uma atenção mais confiável e sistemática da resposta. Supôs-se que tornar a acção humanitária mais responsabilizada, transparente e eficaz também a tornaria mais legítima. Esta narrativa de renovação encontra a sua expressão contemporânea deriva para a inovação tecnológica. Mas dois objectivos da reforma humanitária – prestação de contas e transparência – estão ausentes das discussões sobre tecnologia. E um terceiro, maior eficácia, não é tão discutido quanto se presume. CAPÍTULO 6: Tecnologia digital na resposta humanitária: aproveitar informação para obter melhores resultados Os novos avanços tecnológicos desafiam agora muitos aspectos do empreendimento humanitário. A estrutura hierárquica de informação da resposta foi reorganizada com o advento da tecnologia e da redução de barreiras para a entrada no “campo de jogo”. Voluntários e agências privadas estão a ter um papel mais directo na gestão dos fluxos de informação e ligação às populações afectadas. Em 2010 o Haiti assistiu à primeira mobilização para o terreno de muitas tecnologias com potencial para apoiar a avaliação e resposta a desastres. Tendo em vista as dificuldades enfrentadas por agências humanitárias experientes, levanta-se a questão de saber se é prudente testar novas TIC em crises tão grandes e complexas. No entanto, a mobilização ocorreu e agora oferece uma oportunidade de reflectir sobre os desafios e oportunidades. O surgimento de ferramentas tecnológicas para a resposta a desastres serve não só para ligar socorristas às fontes de dados existentes, mas também para aumentar a capacidade de resposta dentro e entre as organizações de resposta. O uso de registos médicos eletrónicos na resposta a desastres foi relatado na resposta ao terramoto no Haiti em 2010 por dois hospitais de campo: em Ford Parasien, gerido pela Harvard Humanitarian Initiative, e do hospital de campo móvel, estabelecido pelas Forças de Defesa de Israel. O crescimento da rápida cobertura de telemóveis (de 6 mil milhões em 2012) está a ocorrer em países de baixo e médio rendimento, entre as populações mais susceptíveis de serem afectadas por catástrofes. Os telemóveis têm um papel fundamental a desempenhar ao permitirem um melhor acesso à informação para todos – quando e onde as redes estão disponíveis. Mais uma vez, o terramoto do Haiti em 2010 é o melhor exemplo de tal oportunidade, uma vez que foi talvez o primeiro grande desastre que afetou uma população muito “conectada”. CAPÍTULO 7: Inovação, Avaliação e Difusão de Tecnologia Humanitária As tecnologias digitais tornaram-se parte integrante das operações de preparação para, mitigação, resposta e recuperação de desastres. Apesar de já existirem há três décadas e serem amplamente utilizadas, várias novas tendências causam grande entusiasmo. • • Aumento em acessibilidade, conectividade, usabilidade e tecnologias open-source Fusão de redes, hardware, aplicações, média sociais e plataformas de mapeamento. As comunidades afectadas por desastres podem estar directamente envolvidas no diálogo e nas duas vias de comunicação, melhorando rapidamente a compreensão dos humanitários das suas necessidades e do contexto local, e permitindo que às comunidades construir a sua própria resposta; as comunidades estão cada vez mais empenhadas na acção humanitária. Ao mesmo tempo, o aumento de informação e comunicação também dá capacidades únicas de coordenação da acção humanitária e mais responsabilizada perante as comunidades locais; dá ferramentas únicas para mobilizar apoio financeiro e comunidades voluntárias. Os três pontos de acção chave no sucesso da mobilização de tecnologia em acções humanitárias são a inovação, avaliação e difusão.