O Passarinho os Frutos Mágicos

Transcrição

O Passarinho os Frutos Mágicos
O Passarinho
e
os Frutos Mágicos
Escrito por SOHTA
Ilustrado por NYOZE
No interior da montanha, vivia um cão montanhês.
Ele tinha pêlos castanhos escuros, e era um macho juvenil.
O cão montanhês vivia sozinho em uma gruta.
Certa manhã de sol radiante,
ele encontrou um pequeno pássaro azul que não podia
se mover na mata.
Às vezes, o passarinho movimentava suas asas,
e tentava se afastar da mata.
Mas uma de suas pequenas asas parecia estar presa
nos espinhos da mata.
"Acho que vou comê-lo no café da manhã.
É pequeno, mas vai saciar a minha fome..."
O cão montanhês quebrou alguns galhos da mata.
Foi então que a asa que estava presa nelas se soltou dos espinhos,
e o passarinho rolou pelo chão.
Parecia ser um filhote, em cuja cabeça havia uma penugem cinza.
O passarinho tentou bater asas para voar,
mas a asa que tinha ficado presa não parecia abrir bem.
"Puxa, acho que eu não posso voar..."
Foi o que disse o passarinho, soltando um suspiro.
Com olhos negros arredondados, ele observou o cão
montanhês e perguntou:
"Você é uma serpente?"
"Não! Eu não sou uma serpente."
O cão montanhês ficou surpreso e respondeu abruptamente.
"Ainda bem.
Mamãe disse que as serpentes são esguias,
rastejam por aí,
e comem passarinhos com suas
bocas enormes.
Então... Você é uma raposa?"
"Não, eu também não sou uma raposa."
"Ainda bem.
Mamãe disse que as raposas
são da mesma cor
das flores de rosa-do-japão,
e comem passarinhos com suas
presas afiadas."
A pergunta seguinte deve ser:
"Você é um cão montanhês?"
Se ela fosse feita, o cão montanhês tinha planejado
que responderia "sim",
e comeria o passarinho de uma só vez.
No entanto, a pergunta dele foi inesperada.
"Então... Você é um pássaro?"
Eu não posso ser um pássaro.
Pensando assim,
o cão montanhês quis pregar uma pequena peça.
Ele iria enganar este passarinho tolo e ignorante.
Para o cão montanhês, seria fácil comer um passarinnho
que não podia voar por causa de uma asa machucada.
"Isso mesmo. Sim, eu sou um pássaro."
Quando o cão montanhês respondeu de maneira afetada,
o passarinho piou e perguntou:
"Você é um pássaro! Que bom! Obrigado por me ajudar.
Mas, onde estão suas asas? Como faz para voar?"
"Aqui está... Esta é a minha asa!"
O cão montanhês respondeu balançando sua cauda.
Mas, achando que não era natural mostrar apenas a cauda,
ele também mexeu as orelhas.
O cão montanhês não parecia ser capaz de voar com
sua cauda e orelhas,
mas o passarinho não desconfiou de nada.
"Ahá! Que fantástico!
Mamãe me disse que existem pássaros de aspectos diferentes.
Eu imagino que esse seja o seu caso."
O que é um pássaro de aspecto diferente?
Enquanto ficava se perguntando,
o cão montanhês quis levar o passarinho até sua gruta para
comê-lo com calma.
Então, ele disse:
"É muito arriscado permanecer aqui.
É melhor que você descanse na minha casa até que sua
asa esteja curada."
O cão montanhês colocou o passarinho sobre sua cabeça,
e o levou até sua moradia.
No caminho até a gruta que servia de moradia para
o cão montanhês,
tudo que o passarinho enxergava ao seu redor era novidade.
Ele perguntava a todo instante:
"O que é aquilo que respingou agora dentro d'água?"
"É um peixe, um tipo de truta."
"O que é aquilo que saiu de dentro da terra?"
"É uma toupeira. Ela vive debaixo da terra."
"Com licença,
mas eu gostaria de beber a água daquelas folhas."
"Está bem."
Nossa.
Mas que passarinho mais inquieto!
O cão montanhês ficou um pouco aborrecido,
mas se aproximou das folhas
para que o passarinho bebesse algumas gotas de orvalho.
Após retornarem à gruta,
o passarinho passou a explorar o local,
pulando e caminhando aqui e ali.
O passarinho arrancou minhocas do espaço entre as rochas,
e brincou de se rastejar até a grama da cama do cão montanhês.
Já satisfeito, o passarinho se aproximou do cão montanhês,
inclinando sua cabeça e observando a cauda dele,
para finalmente se enrolar nela.
"Uau! Sua asa é bem quentinha."
O passarinho estendeu suas asas, enrolou-se,
e continuou falando.
"Você é tão grande! Deve ser capaz de voar bem rápido, não?
Você já voou em direção do arco-íris?
Algum dia, eu quero voar além do arco-íris.
Você já voou para dentro das nuvens do pôr do sol?
Do meu ninho, eu olhava para o céu avermelhado.
Algum dia, eu também quero voar."
Naquela noite, ao escutar a voz do passarinho,
o cão montanhês se recordou que, em sua infância,
ele havia corrido pelos campos em busca do arco-íris.
E que havia latido, chamando por seus companheiros,
em direção do pôr do sol.
Então, o cão montanhês pensou vagamente:
"Eu gostaria de voar de verdade com minha cauda e orelhas."
E caiu no sono.
Na manhã seguinte,
o cão montanhês despertou e deixou o passarinho na gruta
para ir pescar trutas no rio.
Ele pegou muitos peixes e ficou de estômago cheio.
Muito animado no caminho para casa,
o cão montanhês quebrou um pequeno ramo de onde
nasciam frutos vermelhos.
Ele o pegou para dar ao passarinho.
Enquanto caminhava com o ramo entre os dentes,
o cão montanhês viu alguns pássaros da mesma cor
do passarinho: azul-violeta.
Eles voavam baixo.
Oh, entendi. Eles estão procurando pelo passarinho.
Ao avistarem o cão montanhês,
os pássaros voaram apressadamente para além da mata,
em direção da árvore de cânfora.
Será que alguém procurou por mim dessa maneira,
quando eu acabei me separando dos meus companheiros?
Ao divagar, ele viu, por alguns momentos,
os pássaros voando para longe.
Quando o cão montanhês retornou à gruta,
o passarinho voou até ele alegremente.
E, então, ao ver os frutos vermelhos do ramo
que o cão montanhês havia trazido,
o passarinho pulou e gritou:
"Esses são os Frutos Mágicos!"
"Frutos Mágicos? Não, eles não são.
São frutos comuns e estão por toda parte.
Não podem ser Frutos Mágicos."
Isso é tolice.
Surpreso, o cão montanhês chacoalhou a cabeça.
O passarinho disse:
"Sim, eles são mesmo os Frutos Mágicos.
É bom porque eles estão disponíveis em qualquer lugar.
Podemos comê-los a qualquer momento."
"Se os Frutos Mágicos estão disponíveis em qualquer lugar,
eu não acho que eles sejam tão especiais."
Quando o cão montanhês disse isso,
o passarinho pegou um dos dos frutos vermelhos
com seu pequeno bico e disse:
"Isto aqui é um Fruto Mágico de verdade.
Porque mamãe sempre dizia isso
e me deixava comê-los.
Ao comer um, você terá energia um milhão de vezes.
Ao comer dois, você terá coragem um milhão de vezes.
Sempre que comer esses frutos,
você terá muito vigor em todos os momentos."
O cão montanhês resmungou e, por um instante,
olhou com indiferença para os frutos vermelhos.
Pouco depois, ele perguntou ao passarinho:
"E se... Comer três?"
"Bem, ao comer três..."
O passarinho se aproximou do cão montanhês,
colocou um fruto vermelho
diante do pé dele e disse:
"O terceiro... Você o dará a um amigo."
Com indiferença,
o cão montanhês resmungou novamente e falou:
"Eu não preciso de frutos vermelhos."
Ele disse em voz baixa e se deitou em sua cama,
no fundo da gruta.
O passarinho seguiu o cão montanhês e abriu suas asas.
Após voar baixo e fragilmente,
ele se enfiou sob o peito do cão montanhês.
"Não sei porquê, mas hoje estou com muito sono."
Ao dizer isso, o passarinho fechou os olhos.
Embora o cão montanhês tenha se separado de seus
companheiros durante a infância
e tenha vivido só desde então,
ele nunca havia se sentido solitário.
O calor do passarinho que dormia sob o seu peito
proporcionava um calor prazeroso ao cão montanhês.
...Mesmo que eu coma este pequenino,
ele não será capaz de saciar a minha fome.
O cão montanhês resmungou em voz baixa,
e, tomando cuidado para não esmagar o passarinho,
esticou seus pés vagarosamente.
Alguns dias mais tarde,
o cão montanhês retornou à gruta com um ramo de frutos
vermelhos entre os dentes.
O passarinho estava ausente.
Quando o cão montanhês procurava por ele,
"Estou aqui!"
Ele ouviu a voz do passarinho vindo do alto.
O passarinho abria bastante as suas asas,
e voava pelo teto da gruta.
Então, ele voou até a cabeça do cão montanhês,
desceu até a altura do nariz dele, e disse animadamente:
"Eu aprendi a voar.
Tenho treinado pouco a pouco, todos os dias.
Por que não voamos juntos agora?
Quero voar até bem longe."
"Sua velocidade e a minha são muito diferentes.
Por isso, não podemos voar juntos.
Eu voo muito rápido."
O passarinho parecia estar decepcionado.
Após pensar um pouco, o cão montanhês disse:
"Vamos fazer o seguinte.
Voe reto para além da mata onde você caiu da outra vez.
Poderá ver uma árvore de cânfora alta, adiante.
Se conseguir voar até lá, sem parar,
então, eu voarei com você.
Não olhe para trás.
Posso alcançá-lo num instante."
"É mesmo?
Se eu conseguir voar até a árvore, sem parar,
você voará comigo depois?"
"Sim. Voaremos juntos nas nuvens do pôr do sol."
"Oba! Vou me esforçar ao máximo!"
Deve ser muito bonito de se ver,
o passarinho abrindo suas asas azul-violeta
e voando no pôr do sol.
"Vá agora.
Se não partir logo, vou ultrapassá-lo de uma só vez."
O passarinho piou de alegria,
voando em círculos sobre a cabeça do cão montanhês.
"Vou partir agora mesmo!"
Ao dizer isso, ele deixou a gruta e voou rumo ao céu.
As asas azul-violeta se mesclaram ao azul do céu.
E foram se tornando cada vez menores e mais distantes.
O cão montanhês comeu, pela primeira vez,
o fruto vermelho aos seus péus.
"Você tem razão.
Os frutos estão disponíveis em qualquer lugar.
Isso é bom."
Ao comer um, você terá energia um milhão de vezes.
Ao comer dois, você terá coragem um milhão de vezes.
Sim.
Talvez, a partir de agora,
o coração do cão montanhês se tornará terno.
Ao se recordar do passarinho azul-violeta,
ao ver o arco-íris sobre o céu depois da chuva,
e ao vislumbrar as nuvens avermelhadas no pôr do sol.
"O terceiro... Ele era seu, não é?"
Dentro da boca do cão montanhês,
que resmungou assim,
o Fruto Mágico vermelho foi esmagado,
e seu perfume se espalhou.
Ele era doce e amargo.
O Passarinho e os Frutos Mágicos
Escrito por SOHTA
Ilustrado por NYOZE
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