cartografia apilicada extraçao mineral - DNPM
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cartografia apilicada extraçao mineral - DNPM
RETORNA CARTOGRAFIA APILICADA À EXTRAÇÃO MINERAL Estudo de Caso Rogério Valença Ferreira1 Lucilene Antunes Correia Marques de Sá2 1 DEPARTAMENTO NACIONAL DE PRODUÇÃO MINERAL - DNPM Estrada do Arraial, 3824 – Casa Amarela 52.070-230 – Recife – PE – Brazil Telefone: (081) 441-5477 R. 222 Fax: (081) 441-5777 e-mail: [email protected] 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO - UFPE Centro de Tecnologia e Geociências - CTG Departamento de Engenharia Cartográfica - DECart Av. Acadêmico Hélio Ramos, s/n - Cidade Universitária Recife - Pernambuco - Brasil 50740-530 Telefone: (081) 271-8714 Telefone/Fax: (081) 271-8235 e-mail: [email protected] RESUMO Com o objetivo de identificar uma nova metodologia que possibilite monitorar de forma mais eficiente a extração do calcário, e determinar as interferências desta atividade no meio ambiente próximo, esta pesquisa utilizou técnicas empregadas a partir do conhecimento existente na Engenharia Cartográfica, como a interpretação de imagens, a cartografia digital e o geoprocessamento. O presente artigo apresenta a aplicação da metodologia empregada, os resultados e as conclusões obtidos no estudo. As duas áreas de concessão de lavra que foram objeto desta pesquisa estão localizadas no município de Paulista, Estado de Pernambuco, região Nordeste do Brasil . ABSTRACT The use of the calcareous founded on the Metropolitan Region of Recife began in 1940. In the beginning of 1970, with the increase of the civil construction, the exploration of this mineral become a serious environment problem. This research studied a new methodology in the manager of the extraction of this mineral and its interference in the environment. Techinics as GIS, image processing and Cartography were used. The regions studied are in Paulista city, in Pernambuco state, Brazil's northeastern. 1. INTRODUÇÃO A utilização da Cartografia, especialmente o geoprocessamento, nas mais diversas aplicações, tais como: estudos ambientais, urbanos, uso do solo agrícola, dentre outras, são imprescindíveis já há algum tempo, dado que, a velocidade das transformações espaciais e a quantidade de informações relativas às mesmas vêm aumentando permanentemente. A exploração mineral é uma das atividades econômicas que mais provocam transformações de ordem ambiental. Os impactos ambientais observados variam de acordo com as características do ambiente, o tipo de minério explotado e a utilização de tecnologias específicas na extração e no beneficiamento. A demanda por novas matérias primas, vem aumentando nas últimas décadas a produção do setor mineral no Brasil, tendo como conseqüências mais áreas de exploração, fazendo com que o volume de informações deste setor tenha crescido bastante do ponto de vista cartográfico. Sendo assim, necessário se faz a utilização de técnicas mais modernas para o processamento destas informações. RETORNA O presente trabalho é resultado da aplicação da Cartografia, utilizando técnicas de geoprocessamento, para o monitoramento da extração mineral em frente de lavra a céu aberto. Como área teste, foi escolhida uma mina de calcário localizada no município de Paulista, estado de Pernambuco. detríticos; Formação Maria Farinha (Terciário) com calcários detríticos; Grupo Barreiras (Terciário) composto por depósitos pouco consolidados de natureza continental, formados por materiais areno-argilosos; sedimentos cenozóicos, estando identificados como terraços holocênicos e pleistocênicos (areias de praia) e mangues (siltes e argilas orgânicas). O clima da região é quente e úmido, com precipitações em torno de 1.800 mm anuais.A cobertura vegetal é constituída por manguezais, vegetação nativa de mata atlântica substituida por vegetação secundária denominada de capoeira e áreas cultivadas de coqueirais. 2. OBJETIVOS 2.1 – Gerais Estudar uma metodologia para o monitoramento da extração mineral em frente de lavra a céu aberto com base em técnicas cartográficas aplicadas ao geoprocessamento. 2.2 – Específicos • Diagnosticar as principais mudanças ambientais ocorridas na área de estudo com base em documentos cartográficos, período 1970 a 1988; • quantificar o volume de calcário extraído na área no período de 1975 a 1988. 3 . ÁREA DE ESTUDO A área de estudo está localizada no município de Paulista, Região Metropolitana do Recife, estado de Pernambuco, conforme mostra a Figura 1. 4. A EXTRAÇÃO DE CALCÁRIO Os calcários são rochas constituídas, basicamente, por carbonato de cálcio (CaCo3). A calcita e a aragonita são os principais minerais formadores dos calcários. Geneticamente os calcários podem ser originados pelo acúmulo de restos orgânicos ou precipitação química de soluções. Na área de estudo, os calcários são decorrentes das Formações Gramame e Marinha Farinha, que se dispõem ao longo da Bacia Sedimentar Costeira Pernambuco/Paraíba. São impuros, com elevados teores de resíduo insolúvel. A explotação de calcário é feita em Concessão de Lavra, dividida em duas áreas de 375,12ha e 109,60ha. A concessionária é a Companhia de Cimento Portland Poty, cuja unidade fabril fica localizada dentro da área de concessão. A explotação de calcário nestas áreas teve início na década de quarenta, voltada para a produção de cimento da fábrica que abastece o mercado regional. O método de lavra é a céu aberto, sendo totalmente mecanizado. O capeamento, material que se encontra sobre o calcário, é retirado com escavadeiras e transportado para o bota-fora, área onde é armazenado. O desmonte do minério é feito com explosivos. O carregamento do material para os caminhões basculantes é feito com pás carregadeiras, sendo posteriormente transportados até o britador primário na fábrica. Figura 1 – Mapa de Localização A geologia regional é constituída pelo embasamento cristalino, com rochas Pré-Cambrianas; Formação Gramame (Cretácio) composta por calcários argilosos e Os dados relativos a produção mineral durante o período estudado, 1975 a 1988, é apresentada na Tabela 1. Os valores da produção, em toneladas, são informados pela empresa mineradora anualmente, através do Relatório Anual de Lavra, apresentado ao Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM. RETORNA Tabela 1 Produção de Calcário, Argila Calcífera e Volume de Estéril ANO 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 TOTAL Produção(t) Calcário Arg. Calcífera 844.591 982.940 965.543 1.001.938 1.055.600 1.429.458 1.485.206 1.441.129 970.600 792.720 196.503 817.133 358.258 988.630 172.071 826.950 92.040 803.963 221.535 14.406.401 1.040.407 Volume (m ³) 351.912 409.558 402.309 417.474 439.833 595.607 618.835 600.470 404.416 445.890 551.212 513.147 398.703 465.298 6.614.664 Relação Estéril/minério 0,40 0,60 0,40 0,50 0,50 0,70 0,94 0,86 1,57 1,20 1,00 1,00 1,00 1,00 - Vol. de estéril (m ³) 140.764 245.734 160.923 208.737 219.916 416.924 581.704 516.404 634.933 535.068 551.212 513.147 398.703 465.298 5.589.467 Vol. total estéril/minério 492.676 655.292 563.232 626.211 659.749 1.012.531 1.200.539 1.116.874 1.039.349 980.958 1.102.424 1.026.294 797.406 930.596 12.204.131 Fonte: DNPM - Relatórios Anuais de Lavra • 5 . MATERIAL E MÉTODOS 5.1 - Documentos Cartográficos: • • Carta Topográfica, escala 1:25 000, ano 1970; Ortofotocartas, escala 1:10 000, anos de 1975 e 1988. 5.2 – Processamento de Dados A pesquisa estuda dois aspectos: • o monitoramento de questões ambientais relacionadas a extração do minério; e 5.2.1 – Níveis de Informação Os níveis de informação foram definidos com base na escala da carta, nos dados existentes na época e nas análises a serem desenvolvidas. As curvas de nível e os pontos cotados fazem parte de um arquivo separado, pois foram utilizados para o cálculo do volume de minério retirado. 5.2.2 – Digitalização A digitalização é a técnica de conversão dos dados espaciais do meio analógico para o meio magnético. O programa utilizado para transposição dos dados foi o MAXICAD. a determinação da quantidade de minério retirada, em um determinado período de tempo, através das curvas de nível disponíveis nos documentos cartográficos. Níveis de Informação Carta Topográfica de 1970 Mangue Área de Concessão Fábrica Aeródromo Hidrografia Sistema Viário Limite Municipal Ortofotocartas de 1975 e 1988 Mangue, Área Cultivada e Solo Nu Área de Concessão Área de Lavra Tanque de Decantação Fábrica Aeródromo Hidrografia Sistema Viário Limite Municipal Curvas de Nível e Pontos Cotados Os mapas foram digitalizados em níveis definidos anteriormente. As figuras 2, 3 e 4 são resultados da digitalização dos documentos cartográficos, e mostram como se encontrava a área de estudo em 1970, 1975 e 1988, respectivamente. Posteriormente, foi executada a edição do arquivos digitalizados, e realizado a análise espacial. Como o programa utilizado na análise espacial foi um CAD – Computer Aided Design, foi necessário o cruzamento dos níveis para a obtenção dos resultados relativos ao monitoramento. O cálculo do volume de material extraído da mina foi obtido com base nos arquivos digitalizados, utilizando-se um programa MDT – Modelo Digital de Terreno, o TASH(Topographisches Auswerte System Der Universitaet RETORNA Hannover). O programa foi alimentado com a malha de coordenadas tridimensionais obtidas a partir das curvas de nível e pontos cotados. Figura 2 – Mapa da Situação da Área em 1970. Figura 3 – Mapa da Situação da Área em 1975. RETORNA Figura 4 – Mapa da Situação da Área em 1988 5.3 – Equipamentos utilizados na Pesquisa: • Microcomputador; • Mesa digitalizadora; • Plotter ; e • Impressora. 6. RESULTADOS Com relação às mudanças ambientais decorrentes da extração do calcário na região, observa-se, através das Figuras 5 e 6, que houve uma redução nas áreas de mangue e solo nu. Entretanto, observa-se, também, que ocorreu uma ampliação na área de lavra e no tanque de decantação, aonde são armazenados os rejeitos da fábrica de cimento. Estes fatos podem ser observados através dos números apresentados na Tabela 2. RETORNA Figura 5 – Mapa com a análise do Período de 1970 a 1975. Figura 6– Mapa com a análise do Período de 1975 a 1988. RETORNA Tabela 2 – Monitoramento da Área 2 Níveis Observados 1970 Área (m ) 1975 1988 % Diferença m² ha Mangue 1.888.205 1.724.706 1.398.012 -26,0 490.193 49,0 Solo Nu - 345.606 210.568 -39,1 135.038 13,5 Área de Lavra - 368.338 839.480 56,1 471.142 47,1 Tanque de Decantação - 307.550 418.383 26,5 110.833 11,0 Fonte: Pesquisa Direta O estudo mostrou, ainda, em outra importante constatação que, a empresa responsável pela exploração da mina, extrapolou a área de concessão, pois, a área de lavra referente ao ano de 1988 está fora do limite da área de concessão, logo, além dos limites permitidos. Este fato pode ser observado na Figura 4. Para o cálculo do volume foram utilizados os arquivos contendo as curvas de nível e os pontos cotados digitalizados. As Figuras 7 e 8 apresentam a topografia da área. Figura 7 – Mapa Altimétrico do ano de 1975. RETORNA Figura 8 – Mapa Altimétrico do ano de 1988. Com relação ao volume de calcário explotado, o cálculo é feito dividindo-se o valor da produção pela densidade do minério. A densidade do calcário é de 2,4; a da argila calcífera é de 1,7. Para se obter o volume de estéril, material extraído que não é minério, multiplica-se pelo valor da relação estéril/minério, proporção entre volume de estéril com o volume de minério. A soma do volume de estéril com o volume de minério irá representar o volume total de material extraído. Nesta pesquisa quando é feita a comparação entre o volume calculado e o informado pela empresa, considerase apenas o volume de minério explotado, pois parte-se da premissa que o material estéril foi depositado, outra vez, na própria área de lavra. Os resultados são apresentados na Tabela 3. Tabela 3 – Volume de Minério Explotado Período:1975 - 1988 Ano 1975 1988 Total Fonte: Pesquisa Direta Área(m²) 361.855 808.000 - Volume(m³) 6.035.744 10.038.310 - Vol. Explotado(m³) 4.002.566 RETORNA O Volume calculado difere do volume informado pela empresa mineradora. Os cálculos mostram que a diferença é da ordem de 39,5% para menos. Sendo: Vinf = volume informado = 6.614.664m³ Vcal. = volume calculado = 4.002.566m³ ∆V = Vinf. - Vcal. = 6.614.664 - 4.002.566 = 2.612.098m³ 7. CONCLUSÕES O principal impacto ambiental causado pela extração de calcário na área de estudo, foi a redução da área de mangue, na ordem de 50ha, motivado por dois fatores: a construção do tanque de decantação dos rejeitos da fábrica, ao norte da área; e os aterros feitos ao sul da área de concessão, objetivando possibilitar a explotação do minério, pois parte do calcário está sob a área de mangue. A explotação do minério fora da área de concessão, foi outro fato importante observado. Isto, está em desacordo com o item II do art. 37 do Código de Mineração (DecretoLei n° 227, de 28 de fevereiro de 1967): “a área de lavra será adequada à condução técnico econômica dos trabalhos de extração e beneficiamento, respeitando os limites da área de pesquisa”. A razão da diferença entre o volume de minério extraído e o volume calculado, deve-se, provavelmente, ao empolamento do material estéril, que uma vez revolvido, vai ocupar um volume maior do que anteriormente ocupava, motivado pela aeração sofrida na descompactação do material. Por outro lado, o fato do período observado ser muito extenso, quatorze anos (1975 - 1988), dificulta a detecção de outros possíveis fatores interferentes. Portanto, a quantificação do material extraído de uma mina a céu aberto, necessitaria de medições periódicas, em intervalos de tempos menores e regulares, para que fosse possível obter com precisão o volume retirado, e assim, compará-lo com o informado pela empresa mineradora. 8. 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