A flor exótica

Transcrição

A flor exótica
Os Condes de Liz tinham uma filha muito linda chamada Isabel, que gostava de cuidar pessoalmente das suas flores. Num poético país lendário, há muitos e muitos anos, dois palácios erguiam‐se sobre colinas, muito próximos um do outro. Um pertencia aos Condes de Liz e outro aos Marqueses de Aron… Os Marqueses de Aron tinham também uma filha que se chamava Elisa. As vossas flores, marquesinha! Obrigada, João! São de um perfume sublime!
Como vês, Branca, posso ter flores mais formosas do que as da Condessa Isabel, sem necessidade de sujar as mãos! A Condessa é uma rapariga sem experiência! A proximidade dos palácios permitia que as duas famílias se visitassem com frequência… As duas moças mantinham uma rivalidade amistosa, por causa das suas flores. Vamos ao jardim. Verás como floresceram as minhas roseiras! Vê que pétalas delicadas! Presunção da tua parte. Gosto muito das minhas flores e em todas ponho um nome, logo que nascem. Esta chama‐se Rosa Suave. Não estão mal… ainda que não se possam comparar com as minhas! Certo dia, numa das visitas de Isabel a Elisa… O teu vestido é um sonho!
Gostaria de ter os teus conhecimentos de jardinagem! Crê que cultivo pes‐
soalmente as flores… Pobre ingénua! Gostas?
É para a minha apresentação na Corte, no baile da Primavera! Eu também serei apresentada! Se dançar com o Príncipe, vou‐me sentir envergonhada… Ele notará que as minhas mãos estão arranhadas pelas roseiras! Quanto a mim será um prazer dançar com o Príncipe!
Chegada a noite do baile na Corte… Vê as minhas mãos! A mim as flores não me arranham! Elogiaram‐me muito o vosso jardim! Sois vós mesma que o cultivais? Não és tão desajeitada como eu! Será um prazer iniciar o baile convosco, Elisa de Aron!
É para mim
uma honra, Alteza! Sim, Alteza! Encanta‐me o cultivo das flores!
Ao terminar a primeira dança… Ordenarei ao meu jardineiro que vos mande a muda de uma planta exótica, para que embeleze o vosso jardim! Prodigalizar‐lhe‐ei as maiores atenções por ser um obséquio vosso, Alteza! Isabel também dançou com o Príncipe, e tal como acontecera à amiga… Sei que o vosso jardim é maravilhoso. Cuidais dele pessoalmente? Sim… sim… Alteza! Ordenarei ao meu jardi‐
neiro que vos mande a muda de uma planta exótica, para que floresça no vosso jardim! Obrigada, Alteza! Dias mais tarde…
O Príncipe mandou‐me a muda prometida! Que espécie de flor julgas que será? Que exótica flor é a que pensais mandar àquelas raparigas, Alteza? Também recebi a minha muda, mas ignoro de que flor é!
Meu prezado Marechal, permiti que guarde segredo a esse respeito! Pela primeira vez na vida, Elisa dedicou a sua atenção a uma planta, cuidando‐a pessoalmente… Tratando‐se de um presente do Príncipe, quero eu mesma cuidar da planta. Ao terminar a primeira dança… Passaram‐se semanas… Este tronco é ridículo! Nunca florescerá! Mais parece uma
árvore do que a muda de uma planta de jardim! Arrancai‐a! Substitui‐a por outra verda‐
deiramente exótica! Plantarei uma variedade rara de crisântemo! Cuidados pela mão experiente do jardineiro, os crisântemos cresciam de modo maravilhoso. Vendo‐os, Isabel disse à amiga… Não fui tão favorecida pelo Príncipe. A muda que me deu de presente floresceu, mas… Não posso mostrar ao Príncipe uma planta feia e
desnuda. Ele acreditará que os crisântemos são as flores da muda que me deu. E, levando jardim… Elisa ao Vê. Três flores pequenas e sem perfume? Realmente! É uma planta raquítica! Nesse instante…
Ao ficar sozinha, Isabel dispôs‐se a seguir o conselho de Elisa. Confessarei o meu fracasso ao Príncipe. É muito triste fazê‐lo, depois da esperança que depositei na muda que ele me enviou! seu Não faças isso, Isabel! Continua prodigalizando o teu afecto ao feio tronco, e tudo o que desejas se transformará em realidade! Deveras?
O vento deixá‐la‐á sem flores e só ficará um lenho horroroso, que não poderás apresentar ao Príncipe. Oooh! Transformou‐se em borboleta! É a Fada das Flores! Certa manhã, o Príncipe visitou o palácio dos Marqueses de Aron… Desejo ver como floresceu a muda que ofereci à vossa filha. Sede bem‐vindo, Alteza! Vede com são belas as flores! Sim, são lindas! Lamento apenas que não sejam da muda que vos enviei! Deveras?
O Príncipe visitou em seguida o jardim de Isabel …
Sinto, Alteza… É uma simples macieira. A macieira é como vós. Floresce, dá frutos e vive muito tempo, ano após ano, espalhando felicidade. E já que foste leal, ficaria feliz se aceitásseis partilhar o meu trono como minha esposa. Aceito, Alteza, porque sei que sois um Príncipe bom e também leal! Não me iludiste. Já sabia que era uma macieira. Ambos se casaram e foram muito ditosos, crescendo sempre o amor que os ligava e a veneração dos súbditos para com eles, como crescia e dava frutos a macieira que simbolicamente os uniu.
Revista Princesinha, nº49, Junho 1960

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