Livro - Cel. Mauro

Transcrição

Livro - Cel. Mauro
NASCIMENTO E INFÂNCIA
Segundo João Alfredo Montenegro, “os pais de Padre Mororó residiam na
fazenda Santa Barbara, recebida pelo pai como dote, e ficava as margens do
riacho Sabonete; a localidade recebeu o nome de Arrebita. A fazenda ficava
próxima ao povoado Riacho Guimarães, hoje Groairas”. Os Pais de padre
Mororó casaram-se na capela do povoado Riacho Guimarães.
(MONTENEGRO, João Alfredo de Sousa, Padre Mororó – A Revolução
Impressa, 1º Ed. Fortaleza, Museu do Ceará/ Secretaria da Cultura do Estado
do Ceará, 2004, p.22)
Nertan Macedo relata que por volta de 1726, Riacho Guimarães “era o
único núcleo populoso de pequena importância e comércio na região”.
(MARCEDO, Nertan, O Clã de Santa Quitéria, 2ª ed. Rio de Janeiro, Renes
Ltda. 1980, p. 24).
Padre Inácio de Loiola Albuquerque Melo, a que se
acrescentaria o agnome de Mororó, durante a conjuntura armada da
Confederação do Equador, nasceu em uma fazenda, como já foi dito, que
ficava na localidade de Riacho dos Guimarães, eram sete irmãos, os
cincos primeiros nasceram na fazenda, os dois últimos em Sobral, ele foi
o quinto filho; nascido aos 24 de julho de 1778, 4 anos e 11 meses após
Sobral ter se emancipado, e foi batizado na capela de Riacho Guimarães;
seus pais eram o Alferes Felix José de Souza “natural do Rio Grande do
Norte, e Dona Theodozia Maria de Jesus, natural desta Freguesia de
Nossa Senhora da Conceição de Sobral”. (Assento do batizado do Pe.
Gonçalo Mororó,RIC ).
Padre Mororó, era primo de Tomás Aquino de Sousa, pai do ilustre
quiteriense Tomás Pompeu de Sousa Brasil, o Senado Pompeu, tanto o
pai do senador Pompeu como o pai do Padre Mororó, como já foi dito,
vieram do Rio Grande do Norte.
Riacho Guimarães, quando Sobral ainda era a Fazenda Caiçara, já
afirmado anteriormente era a única povoação da região. Vejamos o que
diz Nertan Macedo:
Chegou João Pinto de Mesquita ao Brasil em
companhia de um irmão, Manoel Santiago Pinto, indo
residir nas terras que adquirira por sesmaria no Rio
Jacurutu, situando a sua primeira fazenda de criação
de gados no curso médio desse rio, no local hoje
denominado Jacurutu Velho, não muito distante da
povoação do Riacho dos Guimarães, que era, então, ao
tempo, o único núcleo populoso de pequena
importância e comércio na região. (MACEDO. Nertan,
O Clã de Santa Quitéria, 2ºEd., Rio de Janeiro, Renes,
1980, p.24);
Qual a naturalidade de Padre Mororó? Três municípios reivindicam a
honra de tê-lo como filho. Os municípios são os seguintes: Sobral, Santa
Quitéria e Groairas. E qual deles está com a razão? Os três têm razão, e a
explicação é a seguinte: Padre Mororó nasceu como já vimos , no então
povoado de Riacho dos Guimarães, hoje Groairas. Quando ele nasceu,
Riacho dos Guimarães, pertencia à Sobral, logo Padre Mororó é sobralense.
Com a independência de Santa Quitéria, a 26 de agosto de 1856, Riacho dos
Guimarães passou a pertencer a Santa Quitéria, por tanto, Padre Mororó é
quiteriense. O Hino do município de Santa Quitéria relata esta realidade.
Vejamos o que diz o Hino, o qual foi composto pela Poetisa Maria Aracy
Magalhães Martins:
..........................................................
..........................................................
Terra feliz, que tantos filhos teus,
Aureolados sobre o altar da história,
De Mororó, o berço tu reténs,
Dando ao Brasil o brilho desta gloria.
............................................................
............................................................
O município de Groairas foi criado, e o povoado de Riacho dos
Guimarães passou a pertencer ao referido município, assim sendo, Padre
Mororó, também é groairense.
Padre Mororó foi alfabetizado em Riacho Guimarães, e passou sua
infância na referida localidade.
Falando sobre o Pe. Mororó, o historiador João Alfredo diz que seu
professor de Latim, padre Manuel reconhecia a sua capacidade, ele diz o
seguinte: “Ele sabia aquilatar da inteligência e das tendências intelectuais
do Pe. Mororó. Tanto é assim que ao ter que se ausentar da cadeira de
Latim, deixava justamente Gonçalo Inácio como seu substituto”.
(MONTENEGRO, João Alfredo de Sousa, Padre Mororó – A Revolução
Impressa, 1º Ed. Fortaleza, Museu do Ceará/ Secretaria da Cultura do Estado
do Ceará, 2004).
Padre Mororó foi alfabetizado em Riacho dos Guimarães, como já
relatamos, e estudou em Sobral na escola do Tenente Manuel Correia Lopes
de Sá. Aos 19 anos matriculou-se na escola pública do Padre Manuel
Francisco Rodrigues da Cunha, o Padre Manuel foi o primeiro professor de
gramática Latina em Sobral.
Padre Mororó destacou-se na escola do Padre Manuel, foi indicado
para substituí-lo temporariamente por causa de viagem do Padre Manuel a
Pernambuco, porém não assumiu porque preferiu acompanhá-lo na
viagem, pois tencionava matricula-se no recém criado Seminário de Olinda,
o que aconteceu, sendo um dos primeiros alunos,” fez parte da primeira
turma “( MONTENEGRO, João Alfredo de Sousa, Padre Mororó – A
Revolução Impressa, 1º Ed. Fortaleza, Museu do Ceará/ Secretaria da
Cultura do Estado do Ceará, 2004, p.23).
O Padre Mororó, então jovem estudante, gozava de prestígio junto ao
professor, é tanto que o mesmo o indicou para substituí-lo, por ocasião de
sua viajem a Pernambuco,como já dissemos, Vejamos o oficio a baixo
dirigido ao Bispo de Pernambuco pelo Padre Manuel:
Exmo. e Revdmo. Senhor- Diz Manuel Francisco Roiz
da Cunha, Presbíreto do Hábito de São Pedro, Professor
de Gramática Latina na Vila de Sobral, comarca de
Ceará Grande que ele, pela ânsia de vir beijar os firmes
e sagrados pés de V. Exa. Revdma. e de vir tirar nova
Provisão para o exercício de seu Magistério, em
cumprimento das respectivas ordens de V. Exa.
Revdma. publicadas a este respeito, declara
substituindo o seu lugar um dos seus alunos mais
adiantados, Gonçalo Inácio de Loiola e Albuquerque
sem embargo de lhe negar esta graça em outro tempo
concedida o Corregedor da Comarca respectiva pelo
cordatíssimo motivo declarado nele e porque o
suplicante conhece que lhe não deva substituir outra
pessoa sem que nisto preceda beneplácito de Vossa
Exa. Reverendíssima que se queira dignar haver por
bem a consecução daquele substituto na cadeira do
suplicante. Portanto- pede a Vossa Excelência
Reverendíssima assim se digne decretar e que esta se
registre na Câmara da dita vila para que na ausência do
suplicante conste a todos que tem substituído na
ca d e i ra co m l i c e n ça d e Vo s s a E xc e l ê n c i a
Reverendíssima e receberá mercê. (Apud Frota, 1974,
p.499-500). (MONTENEGRO, João Alfredo de Sousa,
Padre Mororó – A Revolução Impressa, 1º Ed.
Fortaleza, Museu do Ceará/ Secretaria da Cultura do
Estado do Ceará, 2004, p.7-8).
Gonçalo, que se tornou Padre Mororó, foi, como já foi dito, um dos
primeiros alunos do seminário de Olinda-PE, que iniciou suas atividades em
1800, e Padre Manuel, seu professor de Latim, teve influência em sua ida
para aquele seminário.
O seminário da Prainha em Fortaleza-CE foi fundado, somente mais
de 40 anos após a fundação do seminário de Olinda-PE.
A viagem do Padre Manuel e seu aluno Gonçalo foi realizada em 1800,
ocasião, como já disse, em que o Seminário de Olinda estava iniciando suas
atividades.
Montenegro relata: “Gonçalo participa das festividades oficias de
inauguração desse Seminário, precisamente à 6 fevereiro de 1800, tendo
juntamente com o seu conterrâneo e colega Francisco Gonçalo Ferreira
Magalhães, recitado versos em louvor do bispo fundador.” (MOTENEGRO,
João Alfredo de Sousa, Padre Mororó – A Revolução Impressa, 1º Ed.
Fortaleza, Museu do Ceará/ Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, 2004,
p.23)
O jovem Gonçalo Inácio de Loiola Albuquerque de Melo ocupou,
eventualmente, antes de sua viagem à Pernambuco, a cadeira de Gramática
Latina, em Sobral, por mais de uma vez, isto quando tinha por volta de 21
anos, ou seja, em 1799.
PADRE MORORÓ NO SEMINÁRIO
Características do Padre Mororó, inquieto, patriótico, democrático,
possuidor de grande coragem e ousadia, determinado, de bom senso,
inteligente, culto, dominava o Latim, fazia versos, tanto em Português como
em Latim.
Entende-se que o jovem Gonçalo Inácio ingressou no Seminário de
Olinda orientado e influenciado pelo seu professor de Latim, Padre Manuel
Francisco Rodrigues da Cunha. O Seminário de Olinda funcionava sob
supervisão pombalina, e tinha orientação iluminista. Verifica-se que a
amizade do Padre Manuel Francisco com o jovem Gonçalo Inácio antecede
em pouco a Fundação do Seminário de Olinda.
O Seminário de Olinda foi instalado em 06 ou 16 (existe controversas
quanto ao dia) de fevereiro de 1800, o referido seminário foi fundado por D.
Azevedo Coutinho, e foi o mesmo D. Azevedo que aprovou ou autorizou a
substituição do Padre Manuel Francisco pelo aluno Gonçalo.
D. Azevedo seguia as diretrizes iluministas, aplicando as ao Seminário
de Olinda. As reformas iluministas eram apoiadas pela maçonaria. Houve
quem afirmasse que D. Azevedo Continho era maçon. O Marquês de
Pombal era com certeza.
Padre Mororó, mesmo antes do seminário, já era influenciado neste
sentido. Abaixo um relato de Montenegro sobre o assunto:
Padre Mororó, com toda probabilidade, começou a receber influências iluministas,
anteriormente ao seu ingresso no Seminário de Olinda, antes mesmo da fundação do
tradicional instituto, mercê de um professor cuja sigla religiosa se enquadra nos padrões da
política regalista de Pombal. (MONTENEGRO, João Alfredo de Sousa, Padre Mororó – A
Revolução Impressa, 1º Ed. Fortaleza, Museu do Ceará/ Secretaria da Cultura do Estado do
Ceará, 2004, p. 12).
O pai do candidato a seminarista Inácio Gonçalves, futuro Padre
Mororó, faleceu em 06 de fevereiro de 1800. Dom Azevedo Coutinho, o
fundador e diretor do Seminário de Olinda, deu-lhe todo apoio,
possibilitando que o mesmo ingressasse no seminário e continuasse seus
estudos. Dom Azevedo o nomeou como seu secretário particular, ele via no
jovem Gonçalo uma pessoa de futuro promissor e que poderia ter papel
importante na Igreja.
Segundo João Brigido, Dom Azevedo continho fez a seguinte
declaração sobre o Padre Mororó. “Este moço há de perder-se na primeira
revolução que houver no Brasil” (Brigido, 1969, p.368).
No seminário, Gonçalo foi colega de Joaquim do Amor Divino, Frei
Caneca, Padre Miguelinho, Padre João Ribeiro, além de outros que se
envolveram nas revoluções de 1817 e 1824; lá tomaram conhecimento das
ideias iluministas, criadas por filósofos franceses e implantadas em Portugal
e suas colônias, por Marquês de Pombal, na segunda metade do século
XVIII, é tanto que considerando os Jesuítas um obstáculo à estas mudanças
os expulsou de Portugal e suas colônias em 1756.
A Igreja Brasileira foi gradativamente adotando as ideias iluministas.
Instituições como o seminário de Olinda-PE irradiavam as ideias
iluministas e influenciavam os padres ali ordenados, como exemplos cito:
Frei Caneca, Padre Mororó e outros. Estes padres contavam não muito raro,
com o apoio da Maçonaria.
A maior influência do iluminismo sobre o Padre Mororó acredita-se
que tenha vindo do seminário de Olinda, embora o Padre Manuel da Cunha
tenha influenciado de alguma maneira, o padre Manuel Francisco
Rodrigues da Cunha, foi seu primeiro professor de Latim, como já dissemos,
quando Mororó ainda tinha pouco mais de 18 anos.
O Seminário de Olinda teve uma influência importante no clero
brasileiro, fazendo com que a Igreja avançasse no sentido de se libertar do
tradicionalismo.
Devido os conhecimentos que já possuía, o jovem Gonçalo Inácio foi
matriculado logo no curso de Teologia, e após três anos foi ordenado
sacerdote, foi ordenado em novembro de 1802.
Acredita-se que em Recife existam dados importantes sobre o Padre
Mororó, pois foi um dos primeiros alunos do Seminário de Olinda-PE, como
sabemos, e pela sua ligação com Frei Caneca.
A leitura do Correio Brasiliense, jornal liberal, editado na Inglaterra,
deve ter concorrido para suas atitudes de comportamento, além das
influências que adquiriu no seminário de Olinda, no qual Dom Azevedo
Coutinho imprimia ideias iluministas.
PADRE MORORÓ,
SUA ATUAÇÃO DEPOIS DE ORDENADO ATÉ 1821
O padre Mororó celebrou sua primeira missa, dia de Nossa Senhora
da Conceição, ou seja, em 8 de dezembro de 1802, na Igreja da Sé em Sobral,
um mês após a sua ordenação.
Sua primeira missão como sacerdote foi prepara o Natal na capela de
Nossa Senhora da Guia, na Barra do Acaraú.
Na época do Padre Mororó a Igreja era aliada do Estado, o estado
chamado uno. O Padre era um funcionário público, recebia a chamada
côngrua, uma pensão vitalícia, uma espécie de salário mensal.
De 1803 a 1806 o Padre Mororó passou a celebrar, batiza e executar
outros atos religiosos nas capelas dos povoados e fazendas da freguesia de
Sobral.
O Padre Mororó de 1803 a 1806 além de fazer viagens pelas capelas
do interior da freguesia de Sobral auxiliava o Padre Manuel Pacheco
Pimentel, nas funções religiosas e na função de professor, Padre Manuel
Pacheco, na época, era o professor público de Sobral.
O Padre Pacheco Pimentel foi nomeado vigário da freguesia de São Gonçalo
da Serra dos Cocos. Por sinal o Padre Manuel Pacheco Pimentel foi um dos
obstáculos a criação da freguesia de Santa Quitéria; no primeiro instante foi
simpática a idéia, porém depois colocou algumas objeções. No livro Santa
Quitéria - Historia, consta o seguinte:
Esta pretensão dos moradores de Santa
Quitéria demorou a ser atendida, por causa dos
interesses da freguesia de Sobral e da freguesia de
São Gonçalo da Serra dos Cocos. A freguesia de
Sobral não concordava em ceder parte do seu
território e a freguesia de São Gonçalo da Serra dos
Cocos demonstrou simpatia, mas ao mesmo
tempo não queria diminuir a sua área domínio.
(MORORÓ, Antônio Mauro Paiva, 1ª Ed. Santa
Quitéria-CE, Artegráfica , 2006, p.140)
Padre Mororó foi capelão de Boa Viagem em 1810, em 1813 batizou na
capela de Santa Quitéria, que na época era um povoado pertencente à
Vila Real de Sobral, e em 1814 atua em Tamboril.
O Padre Mororó esteve atuando na capela de Vila Nova d' El Rei, que
foi posteriormente chamada de Campo Grande, e atualmente tem o nome
de Guaraciaba do Norte, isto antes de ir para Quixeramobim. Montenegro
diz que naquela época chamou para sua companhia, a fim de educá-los, o
seu sobrinho Felix José de Sousa e seu primo Francisco José de Sousa,
acredito que isto tenha acontecido por ocasião de sua segunda passagem
por Guaraciaba em1821, já que o Dicionário das Famílias Brasileiras diz que
José Felix nasceu por volta de 1810; os Mororó's de Santa Quitéria, Ipu,
Guaraciaba do Norte, Reriutaba, Vajota e Hidrolandia, descendem destes
dois.
Montenegro refere-se ao assunto nos seguintes termos:
A crer no Barão de Studart, teria o clérigo
inconfidente, seguidamente à antes de passar a
residir em Quixeramobim, residido “em Campo
Grande, outrora Vila Nova Del Rei, para onde
chamou para sua companhia, a fim de educá-los, ao
Cel. Félix José de Sousa, seu sobrinho, e Francisco
José de Sousa, seu primo, que residia em Campo
Maior, Capela das Barras; de Campo Grande passouse para a Barra do Sítio e depois para a fazenda
Canafistula e finalmente para Quixeramobim”.
(Studart, 1910, p 348)
Isso significa que ele continuou ainda por
algum tempo a exercitar a missão do magistério,
num período assinalado pela falta de colégios
oficiais, ou até mesmo particulares, dentro do
padrão do ensino coletivizado, de dimensão
enciclopédica, dando aos discípulos uma visão
generalizada do saber ou dos
saberes.(MONTENEGRO, João Alfredo de
Sousa, Padre Mororó – A Revolução Impressa, 1º Ed.
Fortaleza, Museu do Ceará/ Secretaria da Cultura do
Estado do Ceará, 2004, p. 34)
O Dicionário das Famílias Brasileiras refere-se a Felix José de Sousa,
sobrinho do Padre Mororó, trazido por ele para Guaraciaba, nos seguintes
termos:
O terceiro neto, Coronel Félix José de Sousa,
nascido por volta de 1810. Proprietário da Fazenda Boa
Vista, em Ipu. Chefe político de grande influência.
(BARATA, Carlos Eduardo de Almeida e BUENO,
Antônio Henrique da Cunha, Dicionário das Famílias
Brasileiras, São Paulo-SP, Árvore da terra, Cd, TOMO I
– Vol. 1 & 2, TOMO II – Vol. 1 & 2, Software –
Interbrain sistemas.)
Obs.: Félix José de Sousa é tri-neto do bisa-avô do Padre Mororó.
Naquela época, parece-me, que havia mais facilidade para os
padres serem transferidos, ou não existia um controle como existe hoje,
acredito que por isto o Padre Mororó atuou em tantas localidades, talvez
por está à procura de um lugar onde pudesse realiza o seu trabalho com
mais proveito e satisfação própria.
Em Quixeramobim, o Padre Mororó encontrou campo para
desenvolver seus conhecimentos em ciências naturais e humanistas. Foi
aí que parece ter encontrado um melhor campo de atuação, ou seja, o
lugar que ele procurava lá se dedicou ao magistério particular,
desenvolvendo, talvez só tenha iniciado, um importante trabalho sobre a
carnaúba, a árvore símbolo do Ceará. Este trabalho sobre a Carnaúba ele,
tudo indica, que tenha concluiu em Aracati. Em Quixeramobim fazia
homilias bem feitas e de agrado da população.
No seminário, dava-se ênfase aos estudos de Física e História
Natural, seguindo o modelo da reforma pombalina do Ensino, daí o
conhecimento do Padre Mororó sobre botânica, o que possibilitou o seu
estudo sobre a carnaúba, árvore símbolo do Ceará, e considerada árvore
da vida.
A fama do Padre Mororó propagou-se rapidamente e em 1816 foi
convidado pelo governador da Província do Ceará para proferir a Homilia
de ação de graças pela assinatura do Decreto de 16 de dezembro de 1815
que elevou o Brasil a categoria de Reino. Seu sermão foi publicado pela
Imprensa Régia do Rio de Janeiro. O seu desempenho foi tão bom que o
governador Sampaio passou a tê-lo como uma pessoa de grande valor e
procurou sua amizade.
Sobre este assunto Montenegro diz o seguinte:
Aquele governante era uma espécie de
mecenas, que protegia e estimulava literatos,
reunindo-os em tertúlias chamada de outeiros.
Num desses, “escreveu e recitou versos pindáricos
em Latim e em vernáculo”, o que ia confirmando os
seus pendores para produções de estilo clássico.
(Araújo, s. d.,p.42)
Viu-se anteriormente a demonstração desses,
pendores na homenagem que se prestou a D. José
Joaquim de Azeredo Coutinho, no Seminário de
Olinda. A formação iluminista do prelado, em
contato estreito com o jovem padre, prenunciava
influência sobre o sobralense. (MONTENEGRO,
João Alfredo de Sousa, Padre Mororó – A Revolução
Impressa, 1º Ed. Fortaleza, Museu do Ceará/
Secretaria da Cultura do Estado do Ceará,
2004,p.26).
Devido à cultura do Padre Mororó, ele passa a ter uma participação na
administração pública, naquela época difícil separar cultura de política, e o
Padre Mororó era um homem culto e inteligente.
Na época do Padre Mororó a Igreja envolvia-se nos assuntos
temporais, época em que a Igreja e Estado não eram independentes,
como hoje.
Devido o envolvimento da Igreja em assuntos temporais, o Marquês de
Pombal resolveu, em 1756, expulsar os Jesuítas de Portugal e de suas
colônias, com a finalidade a reformas baseados no iluminismo. Este foi o
motivo que os Jesuítas, que de fazer tantos serviços prestaram ao Brasil,
foram expulsos daqui.
Padre Mororó foi um homem culto e grande
orador, no livro Santa Quitéria – História consta
sobre ele o seguinte: Homem de vasta erudição
além dos conhecimentos das matérias eclesiásticas,
de Física e de História Natural, foi poeta lírico, com
igual perfeição, escrevendo na língua vernácula,
como em latim, orador sacro, escritor e jornalista,
político, jurisconsulto e botânico. Inédita ficou a
“Memória sobre a Carnaúba”, importante trabalho
do Padre Mororó, onde deu provas de possuir
profundo conhecimento de botânica. (MORORÓ,
Antonio Mauro Paiva. Santa Quitéria – História. In:
Biografia de filhos Ilustres. 1° Ed. Santa Quitéria –
Ceará, Artegráfica, 2006, p.. 173)
O Padre Mororó era um sacerdote de grande cultura, vejamos o que
Sacramento Blake diz a seu respeito:
Homem de vasta erudição possuía, além dos
conhecimentos das matérias eclesiásticas, os de
Física e de Historia Natural e foi poeta-lírico,
compondo com igual perfeição, tanto na língua
vernácula, como na latina; orador sagrado, escritor e
jornalista político, jurisconsulto e botânico. (BLAKE,
1895, p.183).
Segundo João Alfredo, Blake afirma também que o Padre Mororó era
“presbítero do Habito de São Pedro e Cavaleiro da Ordem de Cristo”,
demonstrado o perfil de clérigo formado pelo seminário de Olinda-PE.
Como dissemos anteriormente, Padre Mororó era poeta e diz João
Alfredo com relação ao seu estilo o seguinte: “apresentou-se partidário do
Arcadismo, deste absorvendo notadamente o tom laudatório, como se vê
na Ode a Carvalho, segundo a pratica Habitual do seu tempo”
(MONTENEGRO, João Alfredo de Sousa, Padre Mororó – A Revolução
Impressa, 1º Ed. Fortaleza, Museu do Ceará/ Secretaria da Cultura do Estado
do Ceará, 2004, p. 57).
O Padre Mororó antes de fazer parte do movimento republicano,
serviu fielmente ao governador Sampaio. Em 1817, quando surgiu em
Pernambuco a Revolução inaugural da Confederação do Equador, opõe-se
ao movimento, chegando a denunciar o ouvidor João Rodrigues Carvalho,
isso é justificado por causa de sua amizade com o governador Sampaio, e
por ser seu auxiliar. Ele foi leal ao seu amigo e chefe. Sabemos que o Padre
Mororó tinha convicções iluministas liberais, desde os tempos de
Seminário, ideias contrárias às seguidas pelo governo de Dom Pedro I,
vigente no Brasil de antão. Assim era o nosso herói, Padre Mororó.
João Alfredo Montenegro diz que não houver contradições por parte
do Padre Mororó, pois logo que surgiram novas circunstâncias ele aderiu
aos ideais liberais. Vejamos o que diz João Alfredo Montenegro: “Prefiro
opinar no sentido de uma reapropriação pelo sacerdote de todo um acervo
de idéias iluministas, logo que novas circunstâncias o permitissem”
(MONTENEGRO, João Alfredo. Diário do Nordeste, Fortaleza, 1º abr. 2004.
Caderno 3. p.1).
Em minha opinião não houve realmente incoerência da parte do
Padre Mororó na sua mudança político-ideológica de 1817 e 1824. Em 1817
ele era amigo e auxiliar do Governador Sampaio, cabia-lhe ser leal ao
mesmo, embora contrariando suas convicções.
Os revoltosos de 1817, os inconfidentes do Crato, a revolta de 1817
conseguiu adeptos somente no sul da Província do Ceará. A referida revolta
foi sufocada e seus lideres presos. Paulino Nogueira diz que Padre Gonçalo
Mororó nada fez por aqueles que seriam seus companheiros da Revolução
de 1824, mesmo tendo recebido uma carta de José Martiniano que se
encontrava preso, juntamente com sua mãe, Barbara de Alencar, e seus
irmãos; talvez não tenha dado a atenção que merecia a carta de José
Martiniano, porém João Brígido relata que Padre Gonçalo intercedeu sim a
favor dos presos junto ao governador, tendo o governador Sampaio,
alegando ordens superiores, para justificar seu gesto, mandado melhorar a
comida e distribuir roupas.
Precisamos ter cuidado ao julgarmos o comportamento do Padre
Mororó, que em 1817 foi contra a revolta republicana daquela época, e em
1824 participou, sendo um dos principais lideres da revolta conhecida como
Confederação do Equador, temos que levar em conta a instabilidade política
e ideológica daquela época, e também que em 1817 ele era como já foi dito,
amigo e colaborado do Governador do Estado do Ceará, o Governado
Sampaio.
O Padre Mororó abraçava com garra e determinação tudo o que fazia,
por isto e que mesmo trazendo no seu intimo influências iluministas desde
os tempos de seminário e simpatia pelos ideais republicanos, através da
leitura do jornal Correio Brasiliense, ele foi leal ao regime Imperial de Dom
Pedro I e ao governador Sampaio, pois na ocasião fazia parte do referido
governo.
Vejamos o que João Alfredo diz a respeito dos posicionamentos do Padre
Mororó por ocasião das revoltas de 1817 e 1824:
A verdade é que o Pe. Gonçalo, homem de
temperamento arrebatado, ao dedicar-se a uma
coisa, o fazia com grande entusiasmo, sem
discussões, sem concessões.
De sorte que, ao se filiar ao Absolutismo, à tradição
despótica, repugnava-lhe a postura liberal, e ainda
mais a sediciosa, defendendo castigo para os que a
abraçassem.
Conhecida a sua dedicação ao Absolutismo
real, emprestando-lhe o melhor de seu talento, de
sua afeição.
Do mesmo modo que o fizera ao perfilhar o
ideal liberal-republicano, indo até o extremo
sacrifício.
.............................................................
Vale dizer: a coerência de atitudes do
inconfidente-mártir não deve ficar sujeita a juízos
apressados, comprometendo-a. Principalmente
quando se trata de personalidade que inscreve o
seu desempenho histórico sob a égide do
desassombro, fazendo transparecer em cada um
de seus atos, de seus gestos, a marca da identidade
ideológica. (MONTENEGRO, João Alfredo de Sousa,
Padre Mororó – A Revolução Impressa, 1º Ed.
Fortaleza, Museu do Ceará/ Secretaria da Cultura
do Estado do Ceará, 2004, p's. 50 e 52);
O Padre Mororó endereçou carta ao Governador Sampaio denunciando o
ouvidor João Antônio Rodrigues Carvalho,
esta denuncia lhe trouxe prestigio, e com
isto ele conseguiu a nomeação de seu
cunhado, Francisco José Ximenes Aragão,
para o cargo de escrivão da comarca de
Quixeramobim e a sua própria para
professor de gramática Latina na Vila
Viçosa Real. O cargo de professor ele
jamais assumiu alegando a decadência
daquela Vila (Montenegro, 2004, p. 32).
Em vez de assumir o cargo de
professor de gramática Latina em Viçosa,
preferiu pedir transferência para Aracati,
conseguido nomeação em 17 de Agosto
de 1818. Em Aracati Padre Mororó
produziu um importante estudo sobre a
carnaúba, demonstrando seu grande
conhecimento e interesse sobre Botânica.
Uma das matérias ensinadas no seminário de Olinda era Botânica, e
o Padre Mororó usando os seus conhecimentos sobre esta matéria fez
um estudo sobre a Carnaúba, árvore símbolo do Estado do Ceará. Da
Carnaúba tudo se aproveita, sua cera constituiu-se por muitos anos, um
importante item das exportações do Estado do Ceará. O Padre Mororó
fez este estudo seguindo doutrinas iluministas adotadas por Marquês de
Pombal, e que eram ensinadas no seminário de Olinda, e querendo
contribuir, fez este estudo sobre as riquezas naturais de seu estado e de
seu país. Há quem diga que este estudo foi feito em Quixeramobim,
outros que foi em Aracati, quem sabe tenha iniciado em Quixeramobim e
concluído em Aracati
O Padre Mororó exerceu também a função de professor de Latim
na Vila de Aracati.
Em 1820 o governador Sampaio deixou o cargo e assumiu Francisco
Alberto Rubim.
PADRE MORORÓ, DE 1821 ATÉ O INÍCIO
DA CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR
Padre Mororó foi demitido do cargo de professor de Gramática Latina
no ano de 1821, portanto após o Governador Sampaio ter sido substituído
no governo do Estado.
Em 1821, Padre Mororó consegue transferência para Vila Nova D' El
Rei, hoje Guaraciaba, lá se encontrou com o Padre Manuel Pacheco
Pimentel, aquele que teve influência, como já foi dito, na criação da
freguesia de Santa Quitéria, sendo favorável a princípio, e depois colocou
objeções. Vejamos o que consta no livro Santa Quitéria – História:
Os moradores reunidos em assembléia
elegeram como representante o Sr. Manuel do
Vale Porto, o qual deveria levar às autoridades
competentes a reivindicação do
desmembramento da Paróquia de Sobral e da de
São Gonçalo da Serra dos Cocos para a criação da
Paróquia de Santa Quitéria. ................... tendo
como avalista o Padre Manuel Pacheco, Vigário da
Freguesia de São Gonçalo da Serra dos Cocos.
................... A freguesia de Sobral não
concordava em ceder parte de seu território e a
freguesia de São Gonçalo da Serra dos Cocos
demonstrou simpatia, mas ao mesmo tempo não
queria diminui a sua área de domínio. (MORORÓ.
Antônio Mauro Paiva, 1ª Ed. Santa Quitéria-CE,
Artegráfica, 2006, p.140.
Padre Mororó retorna a Quixeramobim em 1821.
Padre Mororó, antes de retornar a Quixeramobim, reside também em
Aracati e Guaraciaba.
Sobre sua atuação em Quixeramobim, Montenegro relata:
“Nessa vila inicia-se uma nova fase de sua vida: declara-se um político
aberto às mudanças, convertido ao constitucionalismo, impulsionado pelas
idéias liberais. Passava-se da submissão fácil às autoridades constituídas a
atitudes libertárias”. (MONTENEGRO, João Alfredo de Sousa, Padre Mororó
– A Revolução Impressa, 1º Ed. Fortaleza, Museu do Ceará/ Secretaria da
Cultura do Estado do Ceará, 2004).
Ainda em 1821, Padre Mororó, em Quixeramobim, resolve entrar na política
local e elegeu-se vereador. Lá, envolve-se em umas rinchas, em desuniões, e
denúncias; por estes motivos foi chamado a Recife para dar explicações,
suas explicações foram aceitas e ele volta vitorioso. Em Recife mantém
contato com Frei Caneca, seu colega de seminário, e com outros
simpatizantes do modelo de governo republicano e que alimentavam o
sonho de um Brasil, em breve, tornar-se uma Republica Liberal.
A ida de Padre Mororó à Recife, e seu contato com Frei Caneca, fez com que
as ideias liberais aflorassem em seu íntimo com todas as forças. Isto fez com
que ele proclamasse a Republica de Quixeramobim, como vamos ver mais
adiante.
Dia 7 de setembro de 1822 D. Pedro I proclamou a independência do Brasil.
Aqui no Ceará tropas comandadas por Figueiras vão ao Maranhão, eliminar
focos de revoltosos que combatiam contra a independência. Figueira volta
vitorioso.
O Padre Mororó prestigiado por ter apoiado a Independência do
Brasil, determinou a prisão do Ouvidor Lagos, apoiado pela Câmara de
Crato, isto aconteceu em 1822.
Em 1823 D. Pedro I instala uma constituinte para escreve a
Constituição do Brasil Independente; como os constituintes contrariaram D.
Pedro I, retirando-lhe alguns poderes, em 31 de maio de 1823 D. Pedro I
declara sobre a Constituinte do Brasil, com tom de ameaças: “só aceito
Carta se for digna de mim”. Em 12 de novembro de 1823 D. Pedro I dissolve a
1ª constituinte brasileira, instalada por Ele próprio. Em 25 de março de
1824, D. Pedro I outorga sua Constituição, isto traz revoltas e frustrações
para os que queriam um Brasil com direitos iguais e com divisão de poderes.
Prisões e deportações aconteceram. Ao sair do prédio, talvez sede de um
órgão importante do governo, Antônio Carlos de Andrada tira o chapéu com
ironia para “sua majestade, o canhão”.
Em 2 de julho de 1824, Manuel Pais de Andrade, Presidente da Província
de Pernambuco, se rebelou, e lançou uma proclamação denunciando o
despotismo do Sultão D. Pedro I e propondo um Governo constitucional
republicano e federalista que garantisse a liberdade ao povo; proclama
criada a Confederação do Equador, que tinha, como finalidade separar o
Nordeste do restante do Brasil e formar uma republica liberal, que seria
chamada de Confederação do Equador. Os revoltosos de Pernambuco
tinham como lideres além do Governador Manuel Paz de Andrade, Frei
Caneca, amigo e colega de seminário do Padre Mororó, e outros.
No Ceará a noticia da dissolução da Assembléia Constituinte, chegou
através do diácono José Martiniano de Alencar, o referido diácono era
naquela época estudante do seminário de Olinda.
PADRE MORORÓ, SUA ATUAÇÃO DURANTE Á
CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR
No decorrer do tempo houve mudanças, no pensamento e no agir do
Padre Mororó. Consta no Diário do Nordeste, 1º de abril de 2004, que
provavelmente essas mudanças, ou seja, a sua adesão aos ideais libertários
aconteceu com a leitura do Correio Brasiliense, Jornal liberal editado em
Londres.
Compreende-se a mudança de posição do Padre Mororó, de membro
do governo do governador Sampaio para integra-se aos revolucionários da
Confederação do Equador pela instabilidade política da época que
proporcionava passa de um lado para o outro e porque ele, Padre Mororó, já
vinha sofrendo influência política de Hipólito José da Costa, como já foi dito
acima, Hipólito José da Costa foi o fundador do jornal Correio Brasiliense,
que era impresso na Inglaterra – Londres e circulava desde 1808 pelo
Nordeste Brasileiro ou pelo Brasil. O Padre Mororó recebia esse jornal e ele
pregava ideias liberais, não ideias radicais aos quais aderiu a Confederação
do Equador.
Padre Mororó, inicialmente adepto do liberalismo moderado,
conservador, isto lhe permitiu ser auxiliar do Governador Sampaio.
Padre Mororó vai se envolvendo com os ideais republicanos, até
torna-se um dos lideres da revolta, conhecida como Confederação do
Equador.
Em Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, a câmara reuniu-se, em
grande sessão, á 9 de janeiro de 1824, para declarar decaída a dinastia
Bragantina. Foi esse o inicio da revolta que tantas lágrimas e tanto sangue
custou ao Ceará.
O Padre Mororó (Gonçalo Inácio de Loiola Albuquerque Melo
Mororó) encontrava-se na pequena vila de Campo Maior, hoje
Quixeramobim, no Ceará, quando recebeu noticias da deflagração da
revolta em Pernambuco, onde seu colega de seminário, Frei Caneca, era um
dos lideres, e também a decisão da Câmara em Fortaleza. Já tendo em seu
intimo os ideais anteriormente referidos, e ao tomar conhecimento dos
acontecidos reuniu a Câmara de vereadores daquela Vila e em sessão
solene proclamou a republica de Quixeramobim, declarou “o Imperador
deposto do trono e extinto a dinastia dos Braganças”, declarou ainda D.
Pedro I um traidor, por ter dissolvido a constituinte, e por ter outorgado a
sua constituição. Este ato aconteceu em 19 janeiro de 1824.
Na seção acima ficou determinado que de imediato fosse constituído
um governo Republicano para substitui o existente. A histórica seção que
formava um governo republicano também previu o envio de comissões a
outras vilas com a finalidade de promover reuniões com o mesmo
significado, tendo estas comissões conseguido êxito, e o movimento logo se
espalhou por toda Província.
A respeito deste assunto, Domingos Pascoal, relata o seguinte:
O motivo daquela histórica sessão foi a
grande traição cometida pelo imperador, que
dissolveu, em novembro de 1823, a Assembléia
Geral Legislativa e Constituinte que ele mesmo
houvera instalado para escrever a primeira
Constituição do Brasil, em maio do ano de 1823.
Tudo isso aconteceu em 1824, 65 anos antes da
proclamação da República, em 15 de novembro de
1889, sete meses antes da Confederação do
Equador, iniciada em 26 de agosto de 1824.
(PASCOAL, Domingos: Execução de Pe. Mororó
ocorreu há 183 anos. Diário do Nordeste,
Fortaleza, 3 de mai de 2008. Caderno Regional, p.2)
A Confederação do Equador não teve inicio
em 26 de agosto de 1824, como Domingos Pascoal
afirma, pois em 2 de julho do mesmo ano Pais de
Andrade, Governador de Pernambuco, proclama
criada a Confederação do Equador, e em 9 de
janeiro de 1824 a Câmara reuniu-se Fortaleza para
declarar decaída a dinastia Bragantina, e ainda em
Quixeramobim, em 19 janeiro de 1824, Padre
Mororó quando recebeu noticias da deflagração da
revolta em Pernambuco e também a decisão da
Câmara em Fortaleza, reuniu a Câmara de
vereadores daquela Vila e em sessão solene
proclamou a republica de Quixeramobim. Por tudo
isto a Confederação do Equador não teve inicio em
agosto de 1824, mas em janeiro do mesmo ano, ou
até antes. Em 26 de agosto de 1824 foi a data em
que Tristão Gonçalves foi aclamado presidente da
província do Ceará e não o inicio da confederação
do equador.
Participaram do movimento no Ceará: Bárbara de Alencar e seus
filhos, José Martiniano e Tristão Gonçalves, estes de Crateús, Padre Mororó
de Santa Quitéria, e de Sergipe, da localidade de Santo Amaro das Brotas,
Pereira Filgueiras e outros.
O ato de D. Pedro I, em 12 de novembro de 1823, de
dissolver a 1ª constituinte brasileira, como Domingos Pascoal relata,
constituinte instalada por Ele, e em 25 de março de 1824, o mesmo D.
Pedro I outorga sua Constituição, isto traz revoltas e frustrações para os
que queriam um Brasil com direitos iguais e com divisão de poderes, por
tanto quase 2 anos após Independência do Brasil, acontecida em 7 de
setembro de 1822. Por estes motivos a Confederação do Equador
estourou, em Pernambuco em 2 de julho de 1824, por tanto poucos
meses após D. Pedro I outorgar sua Constituição.
A respeito dos assuntos acima tratados, Domingo Pascual, diz o seguinte:
A Confederação do Equador, o mais
significativo movimento autonomista e republicano
no Brasil, no início do século XIX, foi causado pelo
descontentamento que a dissolução da Assembleia
Constituinte de 1823, e a outorga da Constituição de
1824, por D. Pedro I. Isto provocou, no Nordeste,
u m a in s at isfa çã o gera l.........................
A câmara da Vila de Campo Maior de
Quixeramobim, numa memorável e heróica sessão,
acontecida no dia 19 de janeiro de 1824, proclamou
a primeira Republica do Brasil, quebrando , então,
todos os laços que havia com a realeza, acusando,
inclusive, o imperador de traídor da Pátria e
declarando-o e toda a sua descendência decaídos
dos direitos ao trono.
Determinou também que de imediato se
organizasse um governo republicano para, o quanto
antes, substituir o Governo provisório existente na
Capital e que ainda fora nomeado pelo usurpador
deposto. Essa histórica sessão deu início ao
movimento libertário que tantos sacrifícios
custaram aos nossos conterrâneos. (PASCOAL,
Domingos: Execução de Pe. Mororó ocorreu há 183
anos. Diário do Nordeste, Fortaleza, 3 de mai de
2008. Caderno Regional, p.2).
Também Segundo, Domingo Pascoal (Diário do Nordeste,
Caderno Regional 3 do maio de 2008) os integrantes desse movimento
escondiam-se usando apelidos como: Alecrim, Anta, Araripe, Aroeira,
Baraúna, Beija-Flor, Bolão, Carapinima, Crueira, Ibiapina, Jaguaribe, Jucás,
Manjericão, Mororó, Sucupira, Oiticica, etc.
A prisão do Ouvidor Lagos, as dificuldades para recruta pessoas
destinadas à libertação de Caixias no Maranhão, de tal modo que já havia
em 1824 fatos anteriores ao ato liderado pelo Padre Mororó que resultou
na declaração na câmara de Quixeramobim. Vejamos o que Montenegro
diz sobre o assunto:
De sorte que em 1824, já havia enorme soma
de fatos antecedentes do movimento encetado pela
Câmara de Quixeramobim, sob a liderança do Padre
Mororó.
A l a st ro u - s e p e l a p ro v í n c i a o s u r to
contestatório ao Imperador. As Câmaras se
articularam, auxiliando a organização de uma
República.
Pereira Filgueiras, comandante das tropas
vitoriosas em Caixias, de regresso se colocou à
frente das forças alinhadas em prol da causa
nacional.
O Padre Mororó, a esta altura, cumpre
liderança destacada no movimento, a ele se
dedicando com ardor e combatividade.
No Icó e, depois, no Crato, integrando
Comissão da Câmara, trata daquela organização. As
Câmaras dessas vilas aderem sem dificuldades ao
movimento que cresce e se alastra pela província.
Com pouco mais, seriam as Câmaras de Aracati e de
Russas. Ele já tem á sua disposição Filgueiras, que
está no Crato, de volta de Caxias, com o exército
emancipador.
Tristão Gonçalves, que exercia forte
ascendência sobre Filgueiras, e que, desde o
governo provisório do Icó, vinha promovendo a
eclosão de revoltas políticas, de temperamento
exaltado, pouco inclinado à avaliação das
conseqüências de atitudes como essa (a de
alteração violenta de uma ordem pública de
acentuadas tradições), não hesitou em acatar a
proposta de revolução.
Ademais, ele se achava terrivelmente excitado
contra o governo imperial, em virtude de carta que
recebera de seu irmão, o Pe. José Martiniano de
Alencar, que se inclina entre outros deputados
descontentes, a resistir ao Monarca, declarando-o
publicamente nas andanças que empreendia.
Nesse justo momento, “o Padre Gonçalo, à imitação
de outros, substitui o seu cognome – Melo – pelo de
Mororó, planta cearense”, trazia significado de
adesão a causa da Independência. (Brígido, 1969, p.
371-373)
Ele, juntamente com Tristão, desempenhava o
papel de mentor do movimento libertário. Os dois,
praticamente, decidem o rumo que o movimento
tomaria.
Depois de tomarem as decisões mais
importantes, ambos se separem.
Tristão partiu com Filgueiras para Fortaleza e o
Padre Mororó retorna a Quixeramobim, pondo-se
na expectativa dos acontecimentos.
(MONTENEGRO, João Alfredo de Sousa, Padre
Mororó – A Revolução Impressa, 1º Ed. Fortaleza,
Museu do Ceará/ Secretaria da Cultura do Estado do
Ceará, 2004, p.'s. 38-40)
Após os acontecimentos iniciais, o Padre Mororó, que estava em
Quixeramobim, tenta recuar depois de antever a impossibilidade de
sucesso do movimento. Sendo um homem inteligente previu, antes dos
seus companheiros que o movimento estava desorganizado e com total
impossibilidade de sucesso e tudo indica consciente que o movimento seria
derrotado, resolveu afastar-se do mesmo. O movimento demonstrava
também desorganização, falta de estrutura, injustiças, briga entre famílias,
atitudes intempestivas de Tristão como mandar saquear as fazendas de seu
próprio pai, por ele ter se negado aderir ao movimento, grande
possibilidade de fracasso, falta apoio popular, e outros desmandos,
enfraquecendo os ideais da revolução. Tudo isto deve ter influenciado na
decisão tomada pelo Padre Mororó de tentar afastar-se do movimento.
Porém Tristão Gonçalves, que tinha tomado a frente do movimento,
pressionou o querendo que ele fosse para a Capital e se integrasse a direção
do movimento, para assumir, inicialmente, a função de Redator Chefe do
Diário do Governo do Ceará, primeiro jornal impresso no Ceará. No inicio
Padre Mororó não aceitou a convocação de Tristão para deixar
Quixeramobim e assumir funções ligadas ao Conselho Revolucionário.
Respondeu a Tristão que agora sua missão era cuidar de suas capelas.
Tristão sabia das convicções republicanas de Padre Mororó e também do
seu valor, por isto o queria fazendo parte da direção do Movimento, o
ameaçou, dizendo que não estava convidando, e sim convocando, As
ameaças eram para valer, Tristão estava decidido manter-se na luta e não
queria ficar só. Aquele que deixasse o barco poderia pagar caro.
Montenegro relata o seguinte a respeito do assunto acima:
“Então estava persuadido de que a República do Equador no Ceará, como
em outras províncias do Nordeste, ruiria por terra, logo que acionada a
Contra-Revolução, deflagrado o movimento das tropas imperiais”.
(MONTENEGRO, João Alfredo de Sousa, Padre Mororó – A Revolução
Impressa, 1º Ed. Fortaleza, Museu do Ceará/ Secretaria da Cultura do Estado
do Ceará).
Talvez temendo estas ameaças, Padre Mororó resolve integra-se
novamente aos revoltosos, e também, por ver amigos como Frei Caneca,
e seus companheiros, lá em Pernambuco continuando com o movimento,
acreditando e enfrentando todas as dificuldades, a atitude de Frei
Caneca, que tinha sido seu companheiro de seminário, e que mesmo
sentindo o fracasso do movimento, permanecia firme, acreditando,
provavelmente que, no mínimo, plantaria uma semente republicana.
Naquela época as desordens eram generalizadas, a população vivia
desprotegida, imagine o próprio Tristão Gonçalves permitindo ou até
mesmo mandando saquear fazendas, isto também deve ter influenciado
ao Padre Mororó ter tentado afastar-se dos revoltosos. João Alfredo
Montenegro relata que João Brigido referiu-se a esse assunto nos
seguintes termos:
Isso sustenta João Brigido, influiu por demais
na decisão que tomou de abandona a trincheira
revolucionária, recolhendo-se aos misteres
sacerdotais.
Imagine-se o quanto não pesaria no espírito
de homem da elite do tempo, e muito
negativamente, o espetáculo da desordem
generalizada, com a sequência de crimes de todas
as espécies, deixando a população
completamente sem segurança, à mercê de
supostos vândalos ou bandidos, que se
a p ro ve i ta r i a m d a h o ra p a ra ata ca re m
propriedades, ameaçando a intimidade dos lares,
propiciando o advento de um estado quase
permanente de sublevação da ordem pública,
numa região interiorana, já por si desprovida do
mínimo de proteção oficial.
Isso iria perdura até depois da Revolução de
1832 no Ceará. (MONTENEGRO, João Alfredo de
Sousa, Padre Mororó – A Revolução Impressa, 1º
Ed. Fortaleza, Museu do Ceará/ Secretaria da
Cultura do Estado do Ceará, P's. 42 e 43).
O povo do um modo geral desejava um regime democrático, desejava
liberta-se do governo Monarquio-absolutista, onde à-vontade do Rei, no
caso, Dom Pedro I, era lei, porém temia que a falta de segurança, as
desordens aumentassem, ou permanecesse, e também o respeito à
legalidade, e ainda acreditavam que quando a Contra-Revolução derrotasse
os rebeldes, e tomassem às rédeas da situação a ordem iria voltar, a
segurança iria surgir, acredito que esta era uma das dificuldades de adesão
aos revoltosos
Aqueles que desejavam ver o progresso de nosso País valorizavam as
pessoas cultas e inteligentes como Padre Mororó. Tristão Gonçalves, líder
da Confederação do Equador no Ceará, não era eloquente nos seus
discursos, por este motivo entende-se sua insistência para que o Padre
Mororó assumisse cargos na direção do movimento. O Barão de Studart
assim se refere a Tristão Gonçalves:
Esse mesmo Tristão – diz um seu biógrafose bem que homem inteligente era sobremaneira
enfático, e o seu discurso recaía para a palavra ôca e
sem significação. Referindo os mais graves
acontecimentos de sua campanha, em vez de
adstringir-se a uma maneira grave e séria, como lhe
convinha na qualidade de Chefe sobre quem
pesavam as mais tremendas responsabilidades,
usava de uma linguagem sobrecarregada de tropos
insignificantes, que não esclareciam senão que
embaraçavam o pensamento. (STUDART,
Guilherme, 1924b, p. 233).
Padre Mororó volta para junto dos companheiros revolucionários e
assume, inicialmente, a função de Redator Chefe do Diário do Ceará, isto em
1º de abril de 1824, e em 22 de maio do mesmo ano assume o cargo de
Secretário do Conselho Revolucionário, que tinha como presidente Tristão
Gonçalves de Alencar, mais tarde Araripe. Tristão Gonçalves em 26 de
agosto de 1824 foi aclamado pelos rebeldes republicanos como Presidente
da Província do Ceará. Coube ao Padre Mororó a honra de ser o secretário
da sessão histórica, realizada na mesma data, que Tristão foi aclamado
presidente e que foi chamada de grande Conselho, em que foram
proclamadas a república do Ceará e sua total adesão a Confederação do
Equador. A reação do Governo Imperial não tardou, e foi implacável, o
movimento foi debelado.
Em 17 de setembro de 1824 a Confederação do Equador é derrotada
em Pernambuco, nesta data o Exército Imperial toma o último reduto
republicano em Recife. No Ceará a derrota da Confederação do Equador
aconteceu em 31 de outubro, também de 1824, quando seu líder maior
Tristão Gonçalves de Alencar Araripe, é morto em combate na localidade de
Santa Rosa, hoje Inundada pelas águas do açude Castanhão.
No ano de 1824, no ano da rebelião, o Padre Mororó tornou-se, como
já foi dito, redator chefe do Diário do Governo do Ceará, que era o órgão
oficial da República Proclamada, isso aconteceu em 1º de abril de 1824. No
dia 22 de maio do mesmo ano. Padre Mororó deixa o cargo de redator para
assumir a função de secretario do Conselho Revolucionário da
Confederação do Equador, por tanto ele só passou um mês e 22 dias na
função de Redator Chefe do Diário do Governo do Ceará. A sua saída foi
anunciada por ele próprio no referido Diário e em forma de aviso. Vejamos
os termos do citado aviso:
Enquanto durar no Emprego de
Secretário do Governo desta Província, demito
da Redação do Diário, que será ocupada por
pessoa capaz de desempenhar esta laboriosa
tarefa. Gonçalo Inácio Melo de Albuquerque
Mororó.
No Museu do Ceará existe um exemplar do 1º numero do Diário do
Governo do Ceará, lançado em 1º de abril de 1824, que tinha como redator
Padre Mororó. Esse exemplar de jornal foi doado ao Museu do Ceará pela
Família do Historiador Ismael Pordeus. É um jornal raríssimo porque os
jornais Republicanos daquela época foram quase todos destruídos pelos
contra-revolucionários.
As forças federais derrotaram rapidamente os rebeldes devido a
vários motivos, entre eles os seguintes: superioridade militar das tropas do
governo federal, a pouca participação popular, a maioria da população
embora insatisfeita com o governo central, preferia a legalidade, e por que
as principais lideranças foram presas ou mortas.
Na contra revolução do Crato, José Felix abandona o movimento
deixando os revoltosos, e é proclamada de novo a Monarquia. José Felix
assumiu a presidência da Província, como substituto de Tristão Gonçalves.
Vejamos o que João Alfredo Montenegro fala sobre o que levou os
revoltosos republicanos de 1824 serem derrotados rapidamente:
Em seguida, vêm os desastres que são
bem conhecidos. A derrota da Santa Rosa, “o
bloqueio, a dispersão das forças republicanas
em Jaguaribe, a contra-revolução do Crato, a
deserção de José Félix, o furor da população, os
assassinatos, a declaração dos amigos,
finalmente um esmorecimento geral, tudo
provou que não havia mais salvação para a
República e para os republicanos”, escreve
dramaticamente João Brígido.
(MONTENEGRO, João Alfredo de Sousa,
Padre Mororó – A Revolução Impressa, 1º Ed.
Fortaleza, Museu do Ceará/ Secretaria da
Cultura do Estado do Ceará, p's. 43 e 44).
A Confederação do Equador foi esmagada em Pernambuco em 17 de
setembro de 1824, depois de meses de lutas, depois que o Exército Imperial
toma o último reduto republicano, em Recife.
No Ceará a derrota da Confederação do Equador aconteceu em 31 de
outubro de 1824, quando seu líder maior, Tristão Gonçalves de Alencar
Araripe, é morto em combate na localidade de Santa Rosa, onde foi
construído um monumento, hoje enlodado pelas águas do açude
Castanhão.
Os revoltosos dispersaram-se, tentando escapar da prisão, Padre
Mororó escondeu-se em Baturité, porém é preso, quando já se encontrava
em Fortaleza, e é mandado, juntamente com outros companheiros para o
Rio de Janeiro.
Padre Mororó, antes de viaja para o Rio de Janeiro, como prisioneiro,
publicou no Diário do Governo do Ceará, em 17 de novembro de 1824, uma
despedida em forma de aviso, na qual o historiador Eusébio de Souza diz
que o conteúdo denúncia “grave perturbação de espírito”, porém não vejo
assim, noto certo arrependimento dos seus atos políticos, através dos quais
cometeu erros. Imagine uma pessoa presa e sendo encaminhada para um
julgamento que tinha certeza que seria severo, e que dificilmente escaparia
da pena máxima, só poderia estar preocupado e com dificuldade de
concatenar as ideias, e ainda escreveu este aviso no navio, onde se
encontrava preso, e alguém o publicou. Será que foi publicado exatamente
como foi escrito? O Diário do Governo do Ceará estava na ocasião sob o
controle de seus adversários. Mesmo preso, Padre Mororó, assistia seus
companheiros, confortando os, tanta espiritual como psicologicamente.
Estas atitudes não são de quem estava perturbado espiritualmente.
Vejamos a declaração do Padre Mororó, segundo Eusébio de Souza:
Declara que naquele momento de partida, beija as
mãos dos amigos, rogando-lhes muito não perdoarem ás suas
faltas para se emenda de seus erros políticos, tão somente
esperando do publico imparcial verdade e justiça. (Souza,
1922, p. 82)
O Diário do Nordeste relata:
Na capital, o imperador exigiu a pena máxima para os
revoltosos, fato confirmado por ofício em que se lê:
”Recomendo a V. Exa. Esse malvado Padre Gonçalo Inácio
Albuquerque Mororó, o redator das célebres folhas do Ceará
que tão descaradamente se afoita sempre a insultar a sagrada
pessoa de S. M o Imperador, aleivosamente em seus péssimos
escritos. Esse demônio foi o autor da República de
Quixeramobim, e de sua abominável e execrável ata”.
Inicialmente condenado à forca, a falta de um carrasco
disposto a executar a pena fez com que Padre Mororó fosse
fuzilado, a 30 de abril de 1825, no Passeio Público, juntamente
com o coronel Pessoa Anta. “Caminha sobranceira para o
suplício. Recusa a venda aos olhos e aponta o lugar do
coração, para o tiro que o prostra sem vida”, descreveu João
Brígido. Na vida do redator-chefe do primeiro jornal editado
no Ceará; (MOURA, Dalwton, Diário do Nordeste, Fortaleza,
1º de abril de 2004, caderno 3, p.1º).
O Padre Gonçalo Inácio de Loiola Albuquerque Melo quando se envolveu
na revolta da Confederação do Equador, para manter-se no anonimato,
passou a usar o agnome de Mororó, que é uma planta do semi-árido
nordestino.
Depois de um mês e 22 dias Padre Mororó deixa a função que ocupava
no Diário do Governo do Ceará para assumir a função de secretario do
conselho Revolucionário, pois assumiu a função de redator em primeiro de
abril de 1824 e desligou se da mesma em 22 de maio do mesmo ano. Pública
no jornal o seu desligamento da função de redator, esta publicação é feita
em forma de aviso e o seu conteúdo é o seguinte:
Enquanto durar no Emprego de Secretário do Governo desta Província, demito da Redação
do Diário, que será ocupada por pessoa capaz de desempenhar esta laboriosa tarefa.
Gonçalo Inácio Melo de Albuquerque Mororó.
Padre Mororó, assume o cargo de secretario do conselho revolucionário,
em 26 de agosto de 1824 ,o referido conselho foi denominado de Grande
Conselho na qual Tristão Gonçalves é aclamado presidente.
A contra revolução começa a organizar-se, e a agir. Bloqueia os portos. Os
revoltosos do Crato são derrotados. Tristão Gonçalves é morto em combate,
como já foi dito, em Santa Rosa, essa localidade hoje se encontra coberta
pelas águas do açude Castanhão. José Felix abandona o grupo e negocia
com o Almirante Cochrane uma anistia, que foi feita em forma de
Proclamação, o almirante assinou a dita anistia em nome do Imperador,
anistia esta que não aconteceu, e nem podia acontecer, porque D. Pedro I
exigiu pena de morte para os lideres da Revolta. Tristão continuou o
movimento, e lutou até a morte, em 31 de outubro de 1824, data que é
considerada como a derrota da Confederação do Equador no Ceará. Os
lideres despeçam-se. Padre Mororó refugia-se em Baturité, depois é preso
em Fortaleza, é colocado em um navio, juntamente com companheiros que
seriam levados para o Rio de Janeiro, para serem julgados. Padre Mororó
demonstrando fortaleza e autocontrole, procurava encorajar os outros
presos e assisti-los psicologicamente. Antes de viajar para o Rio de Janeiro,
Padre Mororó fez uma despedida, a qual é publicando no Diário do Governo
do Ceará. Paulino Nogueira e Eusébio de Souza ver nessa despedida grave
perturbação de espírito, porém não veja assim, acha que não houve
perturbação de espírito.O motivo de minha opinião já expliquei
anteriormente. Abaixo o conteúdo da despedida:
Declaro que naquele momento de partida, beijo as mãos dos amigos, rogando-lhes muito
não perdoarem ás suas faltas para se emenda de seus erros políticos, tão somente
esperando do publico imparcial verdade e justiça.
FUZILAMENTO DE PADRE MORORÓ
A maioria dos lideres da Confederação do Equador foram
condenados. Manuel Carvalho Pais de Andrade, Presidente da Província de
Pernambuco, e outros se salvaram numa fragata Inglesa.
Com a derrota dos revoltosos da Confederação do Equador no Ceará, os
lideres revolucionários dispensaram-se, Tristão Gonçalves é morto lutando,
Padre Mororó esconde-se em Baturité, e depois é preso em Fortaleza. O
Padre Mororó foi preso em Fortaleza na Rua Sena Madureira, que naquela
época tinha o nome de Rua dos Mercadores.
Sobrado onde foi preso o Padre Mororó
(pintura de J.Carvalho,1935-acervo do Museu do Ceará)
O padre Mororó tornou-se mártir devido as intransigência de D. Pedro I.
Veio à ordem de prisão, e ele não pode evitar, não pode empreender
fuga.
Padre Mororó foi condenado à morte, juntamente com outros
companheiros revolucionários, que foram os seguintes: Pessoa Anta,
Azevedo Bolão, Carapinima e Padre Ibiapina.
Durante a prisão, Padre Mororó, deu demonstração de fortaleza,
assistiu religiosa e moralmente aos seus companheiros de cárcere,
procurava confortá-los e animá-los.
Padre Mororó, foi preso, juntamente com outros companheiros, e em
seguida levado para um navio que os conduziu ao Rio de Janeiro, onde
foram julgados por uma comissão Militar, o Imperador Dom Pedro I, que
tinha outorgado sua constituição em 25 de março de 1824, a qual lhe
garantia plenos poderes, por isto, Dom Pedro, ou seu auxiliares, exigiram
que os revoltosos fossem condenados a morte. João Alfredo Montenegro
divulga trecho de um oficio, dirigido ao Ministro Clementino Ferreira
França, no qual é solicitada a condenação de Padre Mororó, abaixo o
documento referido:
Recomendo a V. Exa. esse malvado Pe. Gonçalo
Inácio Albuquerque Mororó, o redator das celebres
folhas do Ceará que tão descaradamente se afoitou
sempre a insultar a sagrada pessoa de S. M. o
Imperador; aleivosamente em seus péssimos escritos.
Este demônio foi o autor da República de
Quixeramobim, e de sua abominável e execrada ata.
(MONTENEGRO, João Alfredo de Sousa, Padre Mororó
– A Revolução Impressa, 1º Ed. Fortaleza, Museu do
Ceará/ Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, 2004,
p. 44).
Noto-se que o Padre Mororó era acusado de faltas graves e
consequentemente era difícil escapar da pena máxima, realmente não
escapou e foi condenado a morte.
O Padre Mororó era acusado formalmente, após a conclusão do
processo a que foi submetido, de três crimes:
1) de ter proclamado a republica em Quixeramobim;
2) de ter servido de secretário do Presidente da Província do Ceará,
Tenente- Coronel Tristão Gonçalves Araripe;
3) finalmente, de ter sido redator do Diário do Governo do Ceará,
órgão dos Republicanos. (Nogueira, 1894, p.18);
Apôs a condenação, Padre Mororó é mandado de volta para o Ceará, a
fim de cumprir a pena na presença de seus conterrâneos, para que servisse
de exemplo para os demais.
A pena de Padre Mororó deveria ser morte por enforcamento, era o
que previa o código de Processo Criminal do Império. Para que se cumprisse
o que previa o código de Processo Criminal do Império, foi alertado, através
de oficio, por Conrado Jacob Niemeyer, chefe da Comissão Militar
encarregada de processar e condenar os revoltosos, ao Presidente da
Província do Ceará, Jose Félix, que seria necessário mandar procurar um
carrasco para cumprir a difícil missão de enforcar o Padre Mororó e o
Coronel Pessoa Anta. A referida tarefa deveria caber a um condenado da
justiça, ou a um negro, ou a um açougueiro, ou ainda a um esfolador de pele
(aquele que tira couro dos animais no açougue). Não houve quem quisesse
exercer a função de carrasco, o chefe da Comissão Militar encarregada de
processar os revoltosos, Conrado Jacob Niemayer, temeroso que
acontecesse o que havia ocorrido na execução de Frei Caneca, que o
carrasco recusou-se a enforcá-lo, decidiu verbalmente pelo fuzilamento de
ambos, Padre Mororó e Coronel Pessoa Anta. (Montenegro, 2004, p. 73);
Decidido que o Padre Mororó, e o Coronel Pessoa Anta seriam fuzilados, foi
marcado a execução. Montenegro assim se expressa sobre o assunto:
Em seguida procedeu-se a intimação da
sentença, esta alterada em virtude daquela decisão,
precisamente a 25 de abril, quando ambos os
condenados “subiram para o oratório, no andar
superior do quartel da 1ª linha, servindo-lhes de
confessores d'agonia os Padres Antônio de Castro e
Silva (depois Cônego) e Antônio Joaquim do
Nascimento Beleza”.
Cumpriu-se o ritual de praxe: prévia
encomenda de corpo presente, missa, degradação das
honras militares, formação de aparato militar,
fuzilamento.
O primeiro a ser arcabuzado foi o Padre Mororó
que, nesses últimos momentos, não deixando baquear
a fortaleza de que era possuidor, as revelou de
extraordinária grandeza, sabendo conciliar a
humildade com a coragem, conferindo a esta a nota de
profunda coerência e de autenticidade. (Nogueira,
1894, p. 18)
Causou admiração e enternecimento a quantos
o assistiam no final de uma vida, que se caracterizou
por rasgos apaixonados em prol do que considerava a
causa justa. (MONTENEGRO, João Alfredo de Sousa,
Padre Mororó – A Revolução Impressa, 1º Ed.
Fortaleza, Museu do Ceará/ Secretaria da Cultura do
Estado do Ceará, p. 73).
O Padre Mororó, herói da Confederação do Equador, foi fuzilado em
Fortaleza a 30 de abril de 1825, por ordem da “comissão Militar” que
esmagou a “Confederação do Equador”, juntamente com seu companheiro
revolucionário, o Coronel de Milícia João de Andrade Pessoa Anta. Foram
mortos na Praça dos Mártires, que fica do lado norte do passeio publico, em
Fortaleza.
Consta no Diário do Nordeste o seguinte:
Assim o historiador cearense João Alfredo de
Sousa Montenegro narra, em “Padre Mororó – A
Revolução Impressa”, os últimos dias do padre Gonçalo
Inácio Loiola de Albuquerque Melo, que exatamente
nos momentos de ápice da Confederação do Equador
acrescentaria o agnome indígena pelo qual até hoje é
lembrado. (MOURA, Dalwton. Diário do Nordeste,
Fortaleza, 1º abr. 2004. Caderno 3, p.1).
Veriato Correia, em uma de suas crônicas descreve como foi o
fuzilamento de Padre Mororó, vejamos o que diz Veriato:
Naquele dia 30 de abril de 1825 havia em
Fortaleza um grande rumor de multidão emocionada.
Ia ser executado, pelas tropas imperiais, o Padre
Mororó. Na praça em que vai haver a execução, a
multidão é tanta que, a custo, as tropas conseguem
abrir passagem. Mororó é colocado na coluna da
morte. Um soldado traz a venda para lhe por nos olhos,
'não', responde ele, 'eu quero ver como isto é'. Vem
outro soldado para colocar-lhe sobre o coração a
pequena roda de papel vermelho que vai servir de alvo.
Detém a mão do soldado: 'não é necessário. Eu farei o
alvo' e, cruzando as duas mãos sobre o peito, grita
arrogantemente para as praças: 'Camaradas, o alvo é
este'. E num tom de riso, como se aquilo fosse
brincadeira diz: 'e vejam lá! Tiro certeiro que não me
deixem sofrer muito.
Segue Veriato, em seu relato: “Houve na
multidão um instante cruel de ansiedade...
A descarga estrondou. O Padre Mororó tombou sem
vida. A seus pés tinham caído três dedos da mão que as
balas deceparam”. (PASCOAL, Domingos: Execução de
Pe. Mororó ocorreu há 183 anos. Diário do Nordeste,
Fortaleza, 3 de mai de 2008. Caderno Regional, p.2).
Sobre o fuzilamento de Padre Mororó, João Brigido diz o seguinte:
“caminha sobranceiro para o suplicio. Recusa a venda aos olhos e aponta o
lugar do coração, para o tiro que o prosta sem vida. (BRIGIDO, João, Padre
Gonçalo Inácio Loiola Albuquerque Melo Mororó, Fortaleza, 1969. p's. 374383)
Padre Mororó e sua execução
(Foto: Denise Mustafa)
As alamedas tranquilas do Passeio Público, em Fortaleza, guardam
memórias de tempos heróicos em que mártires da história, como padre
Mororó, foram mortos por lutarem por mais liberdade política.
O Padre Sadoc diz o seguinte:
1825,30 DE MAIO (Sábado): Em Fortaleza, são fuzilados o Padre
Mororó e o Cel. Pessoa Anta; mártires da Confederação do Equador. (ARAUJO,
PE.Francisco Sadoc de, Cronologia Sobralense, Imprensa universitária-UVA-Sobral-Ceará,
1979)
O Padre Sadoc enganou-se, pois o Padre Mororó foi executado em
30 de abril de 1825, uma 5ª feira.
Padre Mororó possuía grande cultura e inteligência, preparou em
pouco tempo duas proclamações para Tristão e Figueira que causam
admiração e receberam elogios dos que ouviram, no Rio de Janeiro
julgaram que a autoria dessas proclamações fossem de Frei Caneca.
(Studart 1924b,p.233) .(Montenegro 2004,p. 67).
Em 30 de abril de 1825, Padre Mororó e o Coronel João de Andrade
de Pessoa Anta foram mortos por tiro de arcabuz, uma espécie de
bacamarte. Os dois foram condenados a forca segundo o código de
Processo Imperial, mas como não houve entre condenados da justiça,
negros ou açougueiros quem aceitasse a missão de enforcá-los, o tipo de
morte foi convertida para morte por fuzilamento. Quando se tratava de
sacertodes ou pessoas importantes, normalmente não havia voluntários
para executar o enforcamento e as normas em vigor previam que fosse um
voluntário entre os condenados, negros ou açougueiros, já havia
acontecido que o carrasco designado para executar Frei Caneca, recusouse, alegando respeito ao sacerdote.
Zenilo Almado , colaborador do Diário do Nordeste assim relata a
execução de Padre Mororó: Vestido na sua alve,indagaram-lhe qual seria seu último
pedido a fazer; ele levantou o braço flexionado,colocou a mão direita sobre o peito para
que a mira do fuzil e disse:Aqui!!! – tombando já agonizante.Caiu envolto nas
ensangüentadas vestes , por tiro fatal ,compungindo a multidão que assistia aquele
heróico e corajoso gesto,que enlutou nossa Fortaleza,cobrindo fenestro e penumbroso
manto a todos quanto da noticia tomavam conhecimento.(ALMADA,Zenilo Passeio
público.Diário do Nordeste ,Fortaleza,15 ago. 2010.Caderno de cultura p.1).
Padre Mororó, mesmo na hora da morte, manteve-se com altivez e
coragem, suas ultimas ações podem ser comparadas com as de São
Lourenço que morreu queimado, e na hora da morte ainda fazia
brincadeiras. São Lourenço foi queimado em uma espécie de grelha. Apos
algum tempo que estava sendo torrado gritou para os carrascos. Pode virar
que este lado já está assado.
Onde foi que Padre Mororó e são Lourenço encontraram tanta força e
serenidade, para na hora da morte enfrentá-la com coragem e até com
alegria. São Lourenço foi sacrificado por propagar a doutrina de Nosso
Senhor Jesus Cristo, e isto lhe dava alegria por está sendo morto por causa
Dele. E Padre Mororó foi condenado por defender a liberdade, e isto
também lhe dava a convicção de estar plantando a semente da Democracia,
e entrando para História, como de fato aconteceu.
O que foi feito dos restos mortais de Padre Mororó? Não encontrei
nenhuma referência a esse respeito, provavelmente tenham sido
sepultados em local desconhecido, para que não ficasse sendo visitado e
cultuado, podendo assim, transforma-se em motivação para novas
revoltas.
O JORNAL “DIÁRIO DO GOVERNO DO CEARÁ”-PADRE MORORÓ
SEU PRIMEIRO REDATOR
Em 1816 já circulava no Ceará um jornalzinho manuscrito, consta que
era escrito pelo próprio governador Sampaio, o governador Sampaio o
chamava de folheto, diz Montenegro, 2004, p.75, “Tratava-se por certo, de
algo parecido com jornal ou folha”.
A partir de 1817 começaram a surgir pequenos jornais (folhas) no
Nordeste, principalmente em Recife, que traziam as idéias da Revolução
Francesa e difundiam os ideais de libertação nacional.
Segundo Montenegro os folhetos escritos pelo governador Sampaio
“são sinônimos de fascículos, espécie de periódico incorporado, com
muitas paginas, de cunho predominantemente doutrinário, com propostas
econômicas e políticas, as quais colidiam com a orientação oficial”
(Montenegro, 2004, p.79);
No período de governo Sampaio, consta que circulava aqui no Ceará,
o jornal Correio Brasiliense, impresso em Londres e a Gazeta do Ceará
(folheto manuscrito) redigida pelo próprio Sampaio, isto antes do Diário do
Governo do Ceará, que teve sua primeira edição em 1º de abril de 1824.
Barão de Studart diz sobre este assunto o seguinte:
Lembrou-se de negar a propriedade do Diário no
jornalismo cearense, chegando a essa conclusão por
inferência de documentos do tempo do governador Manuel
Inácio de Sampaio. Nada há de verdadeiro em tal opinião
senão que realmente houver uma gazeta no tempo daquele
notável homem de governo, mas essa não era impressa,
redigia-a o próprio Sampaio, que a fazia circular; posso afirmálo, pois, que tal gazeta faz parte de meu arquivo. Chamava-se
Gazeta do Ceará. (Studart, 1924a);
O Diário do Governo do Ceará, oficialmente é considerado o primeiro
jornal impresso no Ceará. Seu primeiro redator foi o Padre Gonçalo Inácio
de Loiola Albuquerque Melo Mororó, sua primeira edição foi em 1º de abril
de 1824, foram mais ou menos uns duzentos exemplares, pois a população
que lia jornal era muito pequena. Na primeira pagina desse primeiro
número consta a ata da sessão que tratou da normalização da tipografia que
deveria imprimir o referido jornal.
As impressoras do Diário do Governo do Ceará vieram de
Pernambuco, mandadas do governador Manuel Paes de Andrade. Os
empregados do Diário do Governo do Ceará tinham salários pagos pelo
erário público.
Houve uma sessão do Governo Revolucionário do Ceará. Essa sessão
tratou do corpo de funcionários da tipografia e quanto cada um deveria
receber enquanto não produzisse rendimento.
A tipografia era chamada de “tipografia nacional”, dando uma
indicação que os revoltosos desejavam formar uma nação. Estabeleceu que
o “imprensário” Francisco José Sales, que havia sido enviado pelo
Presidente da província de Pernambuco, auxiliaria o tipógrafo e ensinaria o
oficio aos jovens interessados, ganharia a quantia de trezentos mil réis,
pagos pela Fazenda Nacional. Dois ajudantes de compositores, Felipe José
Fernandes Lana e Urbano José do Espírito Santo, que deveriam receber
cada um, cento e sessenta réis por dia, nos primeiros três meses, daí em
diante seriam aumentados de acordo com seus desempenhos. Dois
serventes receberiam duzentos reis por dia. Ao redator, Padre Mororó,
“pessoa de instrução e conhecimentos” ficou estabelecido o ordenado de
quatrocentos mil reis anuais. Esses pagamentos deveriam ser feitos pela
Fazenda Publica e o produto de venda dos jornais e outros produtos
deveriam ser recolhidos. José Bezerra de Albuquerque, comerciante em
Fortaleza ficou encarregado da vendas e tinha o direito de 8% do produto da
venda. O jornal era vendido ao preço de 20 ou 40 réis, conforme o espaço
preenchido do papel. O preço do folheto ficou a cargo do “imprensário”.
Ficou o redator autorizado a receber e publicar “composições e escritos, as
memórias, lembranças e queixas de qualquer pessoa”. Essas matérias
deveriam estar assinadas e reconhecidas.
Foi previsto também um “gazeteiro” que tinha a função de receber
mensalmente, a quantia correspondente a venda das folhas. Ficou
estabelecido que o Diário do Governo do Ceará circulasse duas vezes por
semana, as quartas e sábados e ficou estabelecido a data de 1º de abril para
edição do primeiro número. Constava também nesse primeiro número um
oficio - circular expedido pelo Supremo Conselho do Governo, formado pelo
Padre Francisco Pinheiro Landim, por José Pereira Filgueiras, Tristão
Gonçalves de Alencar Araripe, Joaquim Felício Pinto d' Almeida e Castro e
Miguel Antônio da Rocha. Esse oficio era datado de 31 de março de 1824 e a
finalidade era informar que o governo passava a dispor de uma Tipografia
Nacional, a qual tinha sido fornecida pelo Presidente da Província de
Pernambuco, Manuel de Carvalho Pais de Andrade.
O fornecimento da referida tipografia fazia parte da solidariedade e ajuda
mutua que deveria existir entre as províncias formadoras da Confederação
do Equador, que iriam constituir a nova nação. Pernambuco era como se
fosse à capital, pois dela vinham às orientações e diretrizes para as outras
províncias que faziam parte do movimento. A idéia de formar uma nova
nação, provavelmente, fez com que a tipografia fosse chamada de
Tipografia Nacional. O referido oficio afirmava que aquela doação “abre o
caminho livre as nossas comodidades, e legítimos interessados; e é obraprima da liberdade do Brasil”. Naquela tipografia deveria ser impressas as
mensagens libertarias, mensagens que divulgariam os ideais do
movimento. Afirmava que o empreendimento custou caro e muito esforço.
Foi dirigido a pessoas que ocupavam cargos públicos e também a
particulares, que seriam possíveis assinantes, a assinatura anual custava
600 reis e era chamada de pensão anual. Previa que o redator Padre
Mororó, deveria encaminhar um exemplar a cada assinante. Nesse mesmo
número comunica o recebimento de um oficio vindo da Vila do Crato, onde
constava o pensamento da Câmara daquela Vila, que desaprovava a
dissolução da constituinte, e criticava a atitude daqueles que chamava de
“Mandões” portugueses. Afirmava que queriam fazer dos Brasileiros novos
escravos. Em resposta foi elogiado a atitude da Câmara de Crato, diz trata-se
de um ato patriótico e os chamava de “briosos e denodados” e ainda faz
votos que outras câmaras sigam o mesmo caminho. Estes foram os
principais assuntos do primeiro número do Diário do Governo do Ceará, do
qual o Padre Mororó era o redator;
O Diário do Governo do Ceará foi o primeiro jornal cearense com
impressão tipográfica, embora por volta de 1815, 1816 já circulavam
jornais manuscritos, como a Gazeta do Ceará, que era redigida pelo
próprio governador Sampaio.
O jornal Diário do Governo do Ceará mostra que o Ceará teve
participação ativa e importante na Confederação do Equador, e com
certeza influenciou muitos a aderirem ao movimento.
Imagine as dificuldades para imprimir um jornal naquele tempo.
Uma tipografia, com certeza de difícil manuseio, e foi por isto que veio
um técnico de Recife. Existe um exemplar desse jornal histórico na
Biblioteca que leva o nome do quiteriense Menezes Pimentel.
Sobre o primeiro jornal que circulou no Ceará, do qual o Padre
Gonçalo (Mororó) foi o seu Redator-Chefe, o Diário do Nordeste diz o
seguinte:
Produzido com maquinário enviado de Pernambuco,
pelos confederados, o Diário inaugurou oficialmente o
jornalismo cearense, apesar de bem antes de 1º de abril de
1824 já circularem por aqui folhas rodadas em outras
províncias e mesmo na Europa (o célebre Correio
Brasiliense, de Hipólito da Costa) passa a circular em 1808,
bem como gazetas manuscritas. O tema vale dizer, ainda
inspira controvérsias. Em sua edição inaugural, datada de
uma quinta-feira, o Diário do Governo do Ceará trazia, em
seu formato aproximado ao de uma folha de ofício dobrada
ao meio, a ata da sessão de estabelecimento da “tipografia
nacional” confederada.
O imprensário era Francisco José de Sales, também vindo de
Pernambuco, para auxiliar os tipógrafos e ensinar o ofício
aos jovens interessados. A cada um dos dois ajudantes de
compositores, cabia um ordenado diário de 160,00 réis. Ao
Padre Mororó, 400 mil réis anuais.
Nas páginas dois e três uma circular destinada aos “amantes
da pátria” e ao Senado explica a importância do envio de
recursos para a conservação da impressora. Ainda á terceira
página, há um ofício em que a Vila do Crato se associa á
confederação do Equador.
Uma manifestação aclamada na quarta e última página da
edição, em que se lê: “Maldito seja o cearense que não
propugnar pela liberdade de sua pátria”.
Mesmo naquele contexto de dificuldade o jornal contava
com um “representante comercial”, José Bezerra de
Albuquerque, encarregado das vendas nas praças de
Fortaleza. Havia também a previsão de matérias publicadas
mediante pagamento, e até mesmo venda de assinaturas,
pelo preço proposto de 600 réis anuais.
O jornal, que circulava ás quartas e sábados, teve
duas fases: a primeira intimamente ligada á Confederação
do Equador; a segunda, com o restabelecimento da
legalidade. Já em 22 de maio, porém o Padre Mororó
comunica sua demissão da função de redator, instado que
foi, por Tristão Gonçalves, a assumir a secretaria de
governo: “Enquanto durar no Emprego de Secretário do
Governo desta Província demito da Redação do Diário”.
De acordo com João Alfredo Montenegro é impossível saber
quem imediatamente substituiu o religioso na redação do
primeiro jornal do Ceará.
Certo é a importância fundamental da publicação para o
ideário republicano: “A propagação dos interesses e da
mensagem confederativa se sustentam na crença da eficácia
da força da palavra, do discurso capaz de mover pessoas, de
agilizar o comportamento delas em torno da grande causa”.
(MOURA, Dalwton, Diário do Nordeste, Fortaleza, 1º de abril
de 2004, caderno 3, p.3)
O Diário do Nordeste de 1ª de abril de 2004 traz a respeito do
Diário do governo do Ceará o seguinte:
O Diário do Governo do Ceará, primeiro periódico a
ser impresso em nossas terras, desafiando o poder e
inaugurando oficialmente o jornalismo cearense. O jornal
circulou pela primeira vez há exatos 180 anos, em 1° de abril
de 1824- por coincidência, também uma quinta-feira. Uma
historia agora recontada em “Padre Mororó – A revolução
Impressa” biografia de autoria do historiador João Alfredo
de Sousa Montenegro. Livro que será lançado logo mais, no
Museu do Ceará. (Diário do Nordeste, Caderno 3, Fortaleza,
1° de abril de 2004, p.2).
O Diário não podia deixar de combater ás ações contrarevolucionários.
Com á vitoria da contra-revolução, Padre Mororó foi preso, como já
foi dito, assim como outros também foram, entre eles, Francisco José
Sales, que havia sido mandado pelo Governador de Pernambuco e que
era “diretor dos trabalhos”, auxiliava o tipógrafo e ensinava aos jovens
interessados no oficio. Assinava os artigos e documentos como o agnome
de Jurubeba. Assinou, por exemplo, o termo de instalação do colégio
para eleição dos deputados, a 28 de agosto (Studart, 1924ª, p's 64 e 65).
Segundo Montenegro, a maior parte dos números do Diário do
Governo do Ceará perdeu-se, e diz também que para isto deve ter
contribuído a queima de documentos relativos á Confederação do
Equador, os existentes encontram-se, em mãos de particulares ou em
arquives e biblioteca de outros estados.
De acordo com o Barão de Studart o número 8, de 22 de maio de
1824, encontra-se na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, setor de
Obra Raras, e outro também no Rio de Janeiro, no Arquivo Nacional, o de
3 de novembro, do mesmo ano. No Arquivo público, do Estado do Ceará,
acha-se o de número 5, de 1º de maio, portanto um mês após o primeiro
número, verifica-se que não foi comprida a previsão da publicação de
dois números por semana, como foi previsto no primeiro número.
No exemplar do Diário número 5, de 1º de maio de 1824,
existente no Arquivo Público Estadual, Padre Mororó, comenta um
requerimento de Antônio Joaquim de Oliveira. Padre Mororó diz ter sido
suspensa “a ordem de expulsão dos europeus” e relata também que
Antônio Joaquim não vislumbrou “a conservação desses miseráveis
Europeus, aos quais o Governo e todo homem honrado, procuravam
arrancar das garras da morte” comenta ainda, “mas as autoridades
constituídas em vão trabalham para aplicar a infernal rivalidade dos
Brasileiros contra os Europeus nesta época terrível”. Não atentando, o
requerimento, para esta situação difícil, de muitos assassinatos, de tanto
sofrimento e de tanta dor.
A junta de Governo ao suspender a expulsão dos europeus, não foi
coerente, opondo-se a uma decisão anteriormente tomada sobre o
assunto, que considerava justo a expulsão dos europeus solteiros. Foi
contrariado um critério já adotado para atender um caso particular.
Prossegue o Padre Mororó dizendo: “a Excelentíssima Junta do Governo
imprudentemente (falo com a liberdade de Redator) desatou um
fomento de desordem no tal despacho”.
A seguir o texto do Padre Mororó, onde ele comenta a expulsão dos
portugueses do Brasil:
Quando a América Setentrional levantou o pavilhão
da sua liberdade, contou a todo inglês europeu por inimigo
capital; bania-os; e ao mesmo tempo recebia com braços
abertos os mais execráveis malvados das outras nações para
aumentar a sua população; e ainda agora é grande ofensa
chamar inglês aos americanos das Províncias Unidas do
Norte. Nós, porém somos mais humanos. Fiquem embora
entre nós portugueses casados; e os solteiros de
reconhecida adesão, não sei o que digo! Este ódio
implacável é próprio de uma nação que quer ser livre, e nós
estamos nas mesmas circunstâncias dos americanos.
Washington e Franklin delinearam o seu plano com rasgos
tão vivos, que ainda hoje estão gravados em todos os povos
da América. As vilas do Sul, e quase todos do Oeste do
Ceará têm banhado cruelmente mãos criminosas no sangue
precioso dos nossos antigos irmãos. O povo está furioso; e
quando o Senhor Oliveira cuidou fazer um grande bem, fez o
maior de todos os males a si e a todos os europeus,
expostos a uma aluvião aterradora de homens
desesperados e temerosos das invasões de Portugal.
Clamaremos então na efusão de sangue inocente contra a
indiferente compaixão do Governo.
Note-se que Padre Mororó, escreveu este comentário, quando
ainda era redator do Diário, pais só deixou este cargo a 22 de maio de
1824, para dedicar-se exclusivamente aos assuntos da Secretaria do
Governo da Confederação do Equador.
Através do texto, observa-se o perfil, ideológico de Padre Mororó,
como também seu amor ao próximo.
Verifica-se que ele, padre Mororó, tinha conhecimento do que
vinha acontecendo, ou tinha acontecido, na America do norte, mostra
que acompanhava os acontecimentos do exterior, era uma pessoa que se
mantinha atualizada através de suas leituras e seus estudos. Afirma que
somos mais humanos e escreve “Fiquem embora entre nos portugueses
casados, e os solteiros de reconhecida adesão, não sei o que digo!” Cita
as desavenças nas vilas do Sul e em quase todas do Oeste do Ceará, e que
trazem mortes e muita dor. Diz que o Senhor Oliveira pensando em fazer
um grande bem, concorreu para aumentar sofrimentos, mortes e o
banho de sangue que vinha acontecendo.
A este respeito Montenegro escreve o seguinte:
Através das mesmas reflexões se colhe não apenas
uma faceta do perfil ideológico do clérigo biografado, como
também demonstração de humanismo cristão.
Mais não fica nisso. Trata-se de um escrito que revela
certa postura democrática, desenvolvida com desembaraço
pelo mesmo. A critica sem censura, solta, é exercitada aí
numa visível explicitação do princípio maior da Liberdade,
experimentada vivamente pelo Pe. Mororó ao discorrer
sobre o delicado problema dos portugueses na circunstancia
conturbada do momento revolucionário de 24.
O texto é altamente revelador de aspectos
relacionados com a vida cultural e política do Pe. Mororó,
deixando transparecer um direcionamento ideológico pouco
ou nada conhecido dele.
.................................................................................................
.........................................
Observa-se mais: a postura de Mororó, nesse objeto,
é bastante equilibrada. Ele vê com agudeza o acerto da
decisão governamental, expulsando os portugueses
solteiros da Província, levado essencialmente pela
observação de lutas sangrentas, envolvendo-os
perigosamente.
Com efeito, eles vinham sendo alvos de investidas
em diversos recantos do Ceará. Tudo em torno do conflito
entre o elemento colonizador e os brasileiros que emergiam
no cenário nacional, sequiosos de protagonismo,
predispostos aos engajamentos no trabalho de uma nova
ordem política.
.................................................................................................
...........................................
Assim, se tem um precioso escrito de Pe. Mororó,
indicativo de suas tendências político-ideológicas naquele
precioso momento da Confederação do equador.
Mesmo tratando de matéria específica, ele deixa
vazar o grande amor que perfilhava á Liberdade, erigida
como princípio central do Liberalismo radical, em
contraposição ao Liberalismo conservador ou centrista,
voltado principalmente para os problemas de organização
do Estado Nacional.
A essa última corrente doutrinária aderem os que se
subordinam à política de Pedro I, sobrepondo a Ordem à
Liberdade. Esta animaria todas as ações do sacerdote
inconfidente, pondo-a em prática em quaisquer
circunstâncias, indefectivelmente.
Note-se como ele discorda da Junta Governamental,
ele próprio membro dela, na questão há pouco tratada, e o
fazendo de modo sério, com argumentos convincentes, o
que era raro. (MONTENEGRO, João Alfredo de Sousa, Padre
Mororó – A Revolução Impressa, 1º Ed. Fortaleza, Museu do
Ceará/ Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, 2004, p's.
113, 114 e115).
O número 8 do Diário do Governo do Ceará, do dia 22 de maio de
1824, exemplar anteriormente citado, foi localizado na biblioteca
Nacional, setor de Obras Raras. Neste número constam as seguintes
matérias: 1) comunicações e ofícios, tanto de Fortaleza, como das vilas e
povoados. Entre os comunicados consta o agradecimento a Câmara da
Vila de São Bernardo de Russas, pela assinatura do Diário, e informa que
será mandado pelo correio. Como seriam levadas, pelo correio as
correspondências e encomendas naquela época? Talvez em costa de
animais ou através de mensageiros, com certeza demorava muito. Na
década de 30 do século XX, levava-se 30 dias para se levar gado de Santa
Quitéria para Fortaleza, meu pai participou dessas viagens. Voltando ao
Diário, ainda entre os comunicados, existia um que informava ao
comandante de Maranguape que “fica aprovado o plano que oferecera
para uma companhia de guerrilhas naquela povoação”. Certamente tinha
a finalidade de manter a ordem e prepara-se para uma possível contrarevolução. Constava também, entre os avisos uma Proclamação, para
conhecimento do tenente-coronel Comandante do Batalhão de Homens
Pardos de Fortaleza.
2) Noticias, provavelmente escritas pelo Padre Mororó, uma delas
relatava e criticava a Câmara de Aracati, que no primeiro momento,
quando D. Pedro I dissolveu a Assembléia constituinte, protestou
energicamente contra o ocorrido, protestou com expressões fortes,
vejamos o que dizia: “clamou altamente contra a usurpação dos direitos
invioláveis da nação; e mesmo riscou um plano de oposição ao progresso
do despotismo”. Esta atitude da Câmara de Aracati cansou satisfação a
junta Provisória do Governo da Província do Ceará que deu
conhecimento a Pernambuco dessa manifestação de apoio da Câmara de
Aracati. A referida Câmara mudou de posição quando Padre José da Costa
Barros tomou posse como governador da Província do Ceará, dizia a
noticia, que passou a defender o projeto da nova Constituição do
Imperador. Dizia ainda, “nação muda e acabrunhada pelo temor das
baionetas, e dos punhais”. Afirmava também que agindo assim concorreu
para “subscrever a sentença de infâmia, e de aviltado cativeiro da sua
Pátria, e da sua mesma nação”.
Montenegro diz o seguinte, com relação a essa noticia do Diário que
desaprovava a mudança de posicionamento da Câmara de Aracati:
Completa-se, pois, um discurso radical, ao qual não faltam os elementos básicos
que o constituem, formando um estereótipo ideológico que os brasileiros mais
esclarecidos e patriotas perfilhavam naquela fase critica da vida nacional.
É inquestionável que a mão do Pe. Mororó, redator do Diário, está presente na
elaboração da “Notícia” ora comentada. ( MONTENEGRO, João Alfredo de Sousa, Padre
Mororó – A Revolução Impressa, 1º Ed. Fortaleza, Museu do Ceará/ Secretaria da
Cultura do Estado do Ceará, 2004, p. 98).
No Diário número 8, de 22 de maio de 1824, consta uma carta
enviada por senhoras de Quixeramobim dirigida ao Padre Mororó, ele a
considerou “um vivo exemplar do mais heróico patriotismo” e poderia
ser exemplo “a indiferença de muitos homens.
A referida carta traz rasgados elogios ao Padre Mororó, onde diz que
possui “amáveis virtudes”, que é o “protótipo de nossa liberdade” e o
“astro radiante”. Abaixo a parte inicial da referia carta:
Um vivo transporte de prazer, e alegria, se apodera dos nossos corações pela
lisonjeadora e aprazível noticia de que V. S., opondo-se à barreira da honra na defesa de
nossa santa causa, digna-se, pelas suas amáveis virtudes, ser o protótipo de nossa
liberdade, o intrépido, e irresistível piloto, que fará surgir a nau do marulho das
impetuosas ondas, e desaparecer o negrume de ameaçadora tempestade: sim será V. S.
o astro radiante que fará aparecer a luz do dia, mergulhado nos horrores das trevas o
nefando, e sempre detestável despotismo.
As senhoras de Quixeramobim denominaram-se “fracas cunhãs”.
Diziam que assumem “deveres com a nossa mãe Pátria”. Declararam
também que trenavam com as “competentes flechas”, naturalmente para
estarem prontas para o combate. Afirmaram que “Dirigiremos hinos aos
atletas da Sagrada liberdade, e ao toré em aplausos às festas da Pátria.
Terminaram dizendo que estão certas que o Padre Mororó divulgará por
todos os cantos “o esplendor de suas luzes”. Essa carta foi redigida por
pessoa competente e que procurou adotar o estilo dos integrantes da
Confederação do Equador, ou seja, usar expressões indígenas e também
cognomes derivados de mistura racial.
No caso cunhã, segundo o Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua
Portuguesa significa “mulher em Tupi-guarani”, de acordo com outros
dicionários pode significar a mulher do Caboclo. Em nossa região tem um
significado pejorativo, depreciativo, com certeza não era neste sentido
que elas se intitulavam.
Toré significa gaita de taboca.
Essa carta constitui-se em um documento importante, e que foi
redigido pelas “cunhãs de Quixeramobim,” e indica que o Padre Mororó
era uma pessoa de prestigio lá naquela terra, ele conseguiu este prestigio
através de sua atuação como líder religioso daquela região, como
político, conseguindo eleger-se vereador, e ainda devido a sua destacada
atuação como auxiliar do governador Sampaio, também teve importante
participação na Independência do Brasil. Plantou uma semente no
sentido de conscientizar o povo com relação a importância da liberdade,
da democracia. As cunhãs certamente foram doutrinadas por ele, daí
tanta admiração, ressaltando suas qualidades e seu trabalho em prol de
um Brasil democrático, e contra a conjuntura política opressora e
autoritária.
- Montenegro assim se expressou sobre este assunto.
O padre Mororó, ao ser tratado de “piloto”, se coloca num plano irrecusável de
liderança. É o mentor de uma gente que o conhece e o admira, necessitando de suas
luzes para orientá-lo em negócio transcendental, como o da Pátria.
O contraste posto entre trevas e luz é típico do iluminismo, denotando o combate
maniqueísta que se trava entre as duas posições, a dos bons, “iluminados”, e a dos
maus, que vivem na escuridão dos vícios do Absolutismo, da opressão. O caos dá a idéia
de oposição á ordem, um dualismo a se projetar também do Iluminismo, estendendo-se
á infelicidade reservada aos ignominiosos, aos desgraçados, aos que não conhecem a
verdade. (MONTENEGRO, João Alfredo de Sousa, Padre Mororó – A Revolução Impressa,
1º Ed. Fortaleza, Museu do Ceará/ Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, 2004, p.
102).
No final desse número do Diário, Padre Mororó comunica o seu
afastamento da função de redator do Jornal em apreço, para dedicar-se
ao cargo de Secretario de Governo da Província do Ceará, e fez nos
seguintes termos:
Enquanto dura no Emprego de Secretário do Governo desta Província, demitome da Redação do Diário, que será ocupada por pessoa capaz de desempenhar esta
laboriosa tarefa. Gonçalo Inácio Melo de Albuquerque Mello Mororó.
Observa-se que o Padre Mororó passou menos de dois meses
como redator do Diário do Governo do Ceara. O primeiro número do
Diário foi publicado em 1º de abril de 1824, e em 22 de maio do mesmo
ano, Padre Mororó deixou a função, para assumir a secretaria do Governo
Provincial. Mesmo com o afastamento do Padre Mororó da função de
redator, o Diário deve ter conservado a mesma orientação ideológica,
pelo mesmo até próxima a vitoria da contra-revolução no Ceará. Até
próximo a vitoria do contra-revolução, porque quando Tristão foi morto,
os representantes do Governo Imperial já tinham o controle de várias
localidades, inclusive Fortaleza. A vitoria da contra-revolução, ou derrota
da Confederação do Equador, no Ceara, se deu a 31 de outubro de 1824,
data em que Tristão Gonçalo morreu, combatendo, em Santa Rosa,
localidade hoje coberta pelas águas do açude Castanhão.
O Padre Mororó deve ter sido substituído na função de redator do
Diário, por uma pessoa “capaz de desempenhar esta laboriosa tarefa”
como ele próprio diz, e que fosse dotado dos ideais da Confederação do
Equador.
Três números do Diário do Governo do Ceará, o Barão de Studart
encontrou no Arquivo Público do Rio de Janeiro, porém esses números
encontram-se desaparecidos. Um deles, o de número 15, editado em 30
de julho de 1824, contém matéria importante, consta um oficio de Tristão
Gonçalves dirigido aos párocos, convidando a participarem de um grande
conselho provincial, com a finalidade de tratar do “Sistema que se deve
abraçar para segurança e salvação”. Consta também uma proclamação de
João Andrade Pessoa Anta aos habitantes de Granja, e ainda uma
Proclamação de “Tristão exortando aos cearenses aceitarem o convite de
Pernambuco, que é digno da nação e de seu governo”. Todos esses
documentos eram, provavelmente, preparados pelo Padre Mororó.
Constava também uma mensagem das senhoras de Icó endereçada ao
Padre Mororó, elogiando suas qualidades e virtudes cívicas, e prestava
solidariedade a ele (Padre Mororó). As mulheres de Icó, que assinam a
referida mensagem, acrescentaram aos seus nomes, o de uma planta,
ave, etc, a exemplo do que fizeram Padre Gonçalo Inácio, que
acrescentou Mororó e Francisco José Sales “diretor dos trabalhos” do
Diário do Governo do Ceará, que assinava os seus artigos e mensagem
com o cognome de Jurubeba.
Vamos agora analisar, ou seja, comentar e transcrever parte do
conteúdo, do diário de 03 de novembro de 1824, que se encontrava sob
nova orientação, pois a Confederação do Equador no ceará, já havia sido
derrotada em 31 de outubro de 1824, com a morte de Tristão, enquanto
Tristão estava vivo o movimento estava aceso no Ceará, com a morte do
líder, não havia mais lutas, e é considerado como o dia da derrota da
Confederação do Equador no Ceará.
Tristão morreu lutando, devemos considerá-lo herói, ou uma
pessoa com falta de bom senso, por continuar lutando mesmo estando
inferiorizado, e sem possibilidade de vitoria?
Jose Felix apelou a Tristão, através de carta, para depor as armas e
evita derramamento de sangue, inclusive com promessa de anistia, que
foi feita pelo Almirante Cochrane, em forma de Proclamação, em nome
do Imperador. Tristão continuou o movimento, e lutou ate a morte.
Na primeira pagina do Diário que comentamos, ou seja, o número
de 03 de novembro de 1824 traz ofícios com providências tomadas pela
contra-revolução e também de apoio ao governo Imperial.
O primeiro oficio, datado de 18 de outubro de 1824, era do
presidente da província do Ceará, José Felix de Azevedo e Sá, dirigido ao
marquês do Maranhão, Almirante Cochrane. José Felix informa que o
“supremo arquiteto do universo” o fez assumi este cargo importante e
honroso. Diz também que todos as providencias foram tomadas “para
conservação da paz, e da harmonia” e ainda que os emissários do oficio
darão outros informações complementares. Informa também que a
província esta pacificada, estando em condições de receber, a qualquer
hora, o Imperador ou um seu representante, que será bem recebido,
tanto pelo povo, como pelo presidente da Província.
No final pedia perdão para os que “divergiram de opiniões, por
estarem sem duvida iludidos”. Vale ressaltar que a Confederação do
Equador, ainda não tinha sido derrotada no Ceará, pois somente
aconteceu em 31 de outubro de 1924, com a morte de seu líder, Tristão
Gonçalves.
Outro oficio transcrito neste mesmo numero do Diário e que
também era datado de 18 de outubro de 1824, é dirigido ao Presidente
José Felix de Azevedo e Sá, pelo Marquês do Maranhão, Almirante
Cochrane. Nele Cochrane declara que D' Pedro I é o “defensor perpetuo
do Império” e diz que tudo foi feito para evitar a anarquia na Província,
que os males foram cortados pela raiz, garante que as ordens imperiais
serão cumpridas, no sentido de perdoar as pessoas envolvidas na
“Anarquia” e que estão cumprindo “os deveres para com o seu imperador
constitucional”.
Outro oficio transcrito no Diário de 03 de novembro de 1824, era
um oficio endereçado a Antônio Bezerra de Souza Menezes, assinado
pelo Presidente da Província, José Feliz de Azevedo e Sá. Nesse oficio José
Felix expõe as medidas para evitar “Males incalculáveis”. Informa que o
Porto de Fortaleza esta totalmente bloqueado, e “guarnecido por mais de
3 mil homens, e boas munições de guerra, e que houve por bem arvorar
o Estandarte Imperial, recurso esse eficaz para a preservação da
província”.
Exorta ao Antonio Bezerra que faça o mesmo na região que esta
sob o seu domínio. Diz que o juramento feito no período da
Confederação do Equador não tem mais validade. Pedia para não “vexar
os povos d' essa Serra”.
Determina que Antônio Bezerra recolha suas tropas ao centro de
operações em Fortaleza, prestando antes assistência aos habitantes que
estão sob sua responsabilidade. Em seguida, o presidente José Felix,
informa que cabe ao Tenente coronel Joaquim Martins Ribeiro, assumir o
comando das tropas, caso o coronel Antônio Bezerra de Souza Menezes,
recuse-se a cumprir o que estava lhe sendo determinado.
Observa-se que Antônio Bezerra comandava uma tropa que estava
a serviço da Confederação do Equador, que tinha feito um juramento, e
que o Presidente da Província, Jose Felix, tentava dissuadi-lo, ou seja,
convencê-lo a abandonar o movimento.
O seguinte impresso foi anexado ao oficio dirigido a Antônio
Bezerra, as câmaras e autoridades civis e militares. Abaixo a transcrição
do impresso.
Tendo eu conhecido pouco a pouco os ânimos, e
vontade geral dos Povos desta Província, que de dia a dia se
vão mostrando aderidos ao muito Alto e muito Poderoso Sr.
D.P.1º, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo deste
Império; tendo eu tomado as adequadas medidas para fazer
obstar os males incalculáveis que já de perto ameaçavam a
província; e tendo finalmente fundeado em frente deste
porto um respeitoso bloqueio guarnecido de mais de 3 mil
homens, e boas munições de guerra: tomei o expediente de
fazer aqui arvorar o Estandarte Imperial, única medida que
me pareceu conveniente á salvação da Província, em cujo
ato me achei rodeado dos bons cidadãos brasileiros, não só
desta capital, como de muitos lugares da Província: ordeno
a V. Sas. Que fazendo convocar os povos deste distrito, com
eles, nessa Vila, façam também aclamar o mesmo Imperial
Sr., tendo em vista, que um juramento fictício não pode
obrigar a um brasileiro amante de sua Pátria; e eu em
consciência não posso julgar dele. Torna-se também
necessário que V. Sas. façam-lhes conhecer isto mesmo, e o
conteúdo do impresso junto, bem como que este Governo,
com eles unidos em sentimentos, marcha incansável em
objeto de tanta monta. Em terra, já fica Excelentíssimo
Chefe da Divisão o Sr. Comendador David Jwet, que acaba
de saltar da fragata Ipiranga com 200 homens; e à tarde há
de saltar o Excelentíssimo Sr. Lord Cochrane com 1.000
homens de bordo da nau Pedro. Deus Guarde a V. Sas.
Palácio do Governo do Ceará, 19 de setembro de 1824, 3º
da Independência e do Império. José Felix d' Azevedo e Sá,
Presidente.
Podemos verificar que o anexo ou ofício dirigido a Antonio Bezerra,
que foi dirigido também, em forma de circular, as câmaras e autoridades,
foi preparado dois dias após a derrota da Confederação do Equador em
Pernambuco e antes do movimento ser considerado derrotado no Ceará,
o que só aconteceu com a morte de Tristão Gonçalves em 31 de outubro
do mesmo ano.
Neste mesmo número do Diário foi transcrito oficio ao
comandante Luiz Rodrigues Chaves informando o que tinha acontecido
em Fortaleza, a 18 de outubro de 1824, e que resultou na elevação do
José Felix de Azevedo e Sá a presidência da Província, com apoio do povo
e do Marquês do Maranhão, almirante Cochrane. Por fim diz que há
urgência no retorno a legalidade, recomenda prudência e paciência, e
também diz que não entende a teimosia de Tristão em não aceita uma
rendição pacífica. Consta ainda uma carta de José Felix a Tristão apelando
para que ele tenha bom senso e evite derramamento de sangue.
Montenegro relata este assunto e outros correlatos com as seguintes
palavras:
Segue-se carta enviada por José Felix a Tristão, na
qual, após expressar-lhe a necessidade de sustar males e
desgraças para a combalida Província, para que a
reencontre o cominho de glória e de esperança apela para
ele suspender o banho de sangue dos compatrícios e
empreender a salvação da Pátria.
Em outro lugar desse número do Diário vem oficio de
José Felix a Pereira Filgueiras, Governador de Armas do
Ceará, com data de 21 de outubro, em que fala de tropa
encaminhando-se sob o comando de Tristão Gonçalves para
aprisionar o Sargento-Mor Luiz Rodrigues Chaves, “que no
Aracati fez Proclamar o muito Alto, e muito Poderoso Sr. D.
Pedro I”.
No mais, se desenvolve a enunciação contida naquele
documento-modelo: o mesmo apelo de concórdia com
promessa de anistia para os revoltosos que regressarem, a
começar por Tristão e por Filgueiras, com a condição de
prestarem submissão ao Imperador, é feito por Cochrane
em Proclamação, com a qual termina essa edição de 3 de
novembro de 1824 do Diário do Governo do Ceará.
(MONTENEGRO, João Alfredo de Sousa, Padre Mororó – A
Revolução Impressa, 1º Ed. Fortaleza, Museu do Ceará/
Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, 2004, p. 109)
O Diário do Governo do Ceará de 17 de novembro de 1824 traz
assuntos Históricos importantes, entre os quais os seguintes:
1) carta de Cochrane a Tristão ameaçando bloqueio total por mar caso
eles não se entregassem pacificamente;
2) Um oficio de Antonio Ricardo Bravo Sussuara, tratando do que chamou
de “as extorsões feitas por Tristão em Aracati”;
3) Noticia da “tentativa de prisão e fuga” do mesmo Tristão, de São
Bernardo de Russas;
4) Um aviso de Padre Mororó, em forma de despedida, tendo em vista
que viajaria para o Rio de Janeiro, abordo de um navio, onde ia ser
julgado por crimes cometidos, inclusive por ter sido redator do jornal
aqui tratado. Abaixo o aviso do Padre Mororó:
A despedida para corte de Rio de Janeiro, ou para onde melhor lhe convier, o
Padre Mororó beija a mão de seus amigos aos quais não pude visitar no aperto de sair
dentro de três dias no Brigue Inglês Laxford. Roga-lhes muito não perdoem as suas faltas
para se emendar de seus erros políticos tão somente; e espera do público imparcial
verdade e justiça.
Há quem diga que nesta despedida, Padre Mororó, demonstrou
perturbação do espírito, demonstrou fraqueza. Reconhecer que errou,
será um ato de fraqueza? Padre Mororó entrou no movimento porque
desejava um regime democrático para o nosso País, porém depois
reconhece que errou, talvez por ter lutado contra um governo legalmente
Constituído, por ter preparado proclamações onde declarava D. Pedro I, o
Rei de seu País, um traidor.
Padre Mororó, diz: “espera do Público imparcial verdade e justiça”.
Atendendo o seu apelo, devemos contar sua Historia, apresentado fatos
verdadeiros, e comentá-los com justiça. Anteriormente já comente este
fato com mais detalhes. Sobre este assunto Montenegro diz o seguinte:
Como se compreender essa demonstração de fraqueza do revolucionário, senão
situando-a em meio às pesadas decorrências geradas pelo fracasso do movimento que
abraçou com tanto entusiasmo?
Não lhe teria invadido a alma forte sentimento de culpa, quando a sacralidade da
pessoa do monarca e do sistema político vigente facilmente induzia à gravidade do
crime de lesa-majestade, em que recaíram os sublevados de 24?
É muito possível. De qualquer modo, os dizeres do Aviso coincidem com um estado de
desânimo que, em outras oportunidades, no interior do mesmo contexto, assolou o
espírito do sacerdote inconfidente.
Ele sabia, por outro lado o que lhe esperava, a pena grave que receberia, numa época
de repressão violenta, fundada no ódio e na truculência de homens como Conrado de
Niemeyer, chefe da Comissão Militar que processaria e condenaria os sediciosos.
(MONTENEGRO, João Alfredo de Sousa, Padre Mororó – A Revolução Impressa, 1º Ed.
Fortaleza, Museu do Ceará/ Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, 2004, p´s 95 e 96).
Com a derrota dos revoltosos da Confederação do Equador, o Diário
do Governo do Ceará deve ter sofrido profundas modificações, no seu
corpo de funcionários, no conteúdo das matérias, porém continuou
funcionando, pois como vimos no arquivo nacional, que fica no Rio de
Janeiro encontro-se um exemplar de 03 de novembro de 1824, portanto
após a derrota dos revoltosos no Ceará, pois a derrota da Confederação
do Equador, no Ceará,como sabemos, foi a 31 de outubro de 1824, dia
em que seu líder máximo, Tristão Gonçalves de Alencar Araripe, morreu
em combate. Existe também o número de 17 de novembro, que traz fatos
importantes, como já citamos.
JORNAIS QUE CIRCULARAM NO NORDESTE, ANTES, E
MESMO DEPOIS, DO
“DIÁRIO DO GOVERNO DO CEARÁ”
Na década de 20 do Século XIX circulavam no nordeste pequenos
jornais vindos de outras localidades, a este respeito vejamos um trecho
de um oficio do governador Sampaio:
Tendo procedido às diligências necessárias a fim de
recolher os exemplares do folheto intitulado, O Preto e o
Bugio no Mato, que aparecessem nesta Capitania, como me
foi ordenado por Aviso de 14 de novembro próximo
passado, devo assegurar a V. Excia. Que ainda até agora não
pude aqui descobrir nenhum dos ditos exemplares, e fica ao
meu cuidado a continuação das precisas diligências para a
apreensão dos que acaso possam para o futuro vir a entrar
nesta Capitania. Seria bem para desejar que V. Excia. Se
dignasse também dar-me as competentes ordens a respeito
dos exemplares do Correio Brasiliense, Português, e outros
papéis incendiários impressos em Londres, que foram sem
dúvida a causa principal da rebelião em Pernambuco. Estes
impressos têm nestes últimos tempos sido lidos com
entusiasmo e satisfação pelos habitantes destes sertões,
que para este fim os recebiam francamente da mão do
Ouvidor, que foi desta Comarca João Antônio Rodrigues de
Carvalho, da mão do Capitão-mor Antônio José Moreira
Gomes, que atualmente se acha nesta corte, e da mão do
Tenente-coronel João da Silva Feijó, que também ai se acha.
(oficio nº 6 , 20 out. 1827. Oficio do Governado do Ceará)
(MONTENEGRO, João Alfredo de Sousa, Padre Mororó – A
Revolução Impressa, 1º Ed. Fortaleza, Museu do Ceará/
Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, 2004, p. 77).
João Alfredo diz que o oficio nº06, acima
tratado, é de 20 de outubro de 1827, porém há
engano, pois em 1820 o governador Sampaio
deixou o cargo e assumiu Francisco Alberto
Rubim.
Segundo Montenegro os folhetos mencionados pelo governador
Sampaio “são sinônimos de fascículos, espécie de periódico incorporado,
com muitas paginas, de cunho predominantemente doutrinário, com
propostas econômicas e políticas, as quais colidiam com a orientação
oficial” (Montenegro, 2004, p.79).
No período de governo Sampaio, consta que circulava aqui no
Ceará, o jornal Correio Brasiliense, impresso em Londres e a Gazeta do
Ceará redigida pelo próprio Sampaio, isto antes do Diário do Governo do
Ceará, que teve sua primeira edição em 1º de abril de 1824. Abaixo o que
diz Barão de Studart sobre este assunto:
Lembrou-se de negar a propriedade do Diário no
jornalismo cearense, chegando a essa conclusão por
inferência de documentos do tempo do governador Manuel
Inácio de Sampaio. Nada há de verdadeiro em tal opinião
senão que realmente houver uma gazeta no tempo daquele
notável homem de governo, mas essa não era impressa,
redigia-a o próprio Sampaio, que a fazia circular; posso
afirmá-lo, pois, que tal gazeta faz parte de meu arquivo.
Chamava-se Gazeta do Ceará. (Studart, 1924a)
O historiador Geraldo S. Nobre, levanta a possibilidade de ter
havido, no Ceará, um jornal, impresso antes do Diário do Governo do
Ceará, porém não apresenta provas. Vejamos o que Nobre diz sobre o
assunto:
Nesse período de sete anos (1817-1824), senão
antes, surgiu uma tipografia no Ceará, da qual saíram
Proclamações, Avisos, Editais, etc. Se havia jornal e oficina
de composição e impressão, tudo indica que a referida folha
circulou impressa antes do 'Diário' a que se atribui a
prioridade do jornalismo cearense. (Nobre, 1975, p. 41).
Nobre diz também que uma indicação da existência de impressora
antes do Diário do Governo do Ceará, refere-se ao apelo que o Padre José
Martiniano de Alencar fez ao Imperador, no qual ao se referir à
sublevação no Ceará, destaca a existência de proclamações, discursos,
etc, Impressos durante a sua permanência na Província, e de sua autoria.
(Nobre, 1975, p.42). Esta afirmação aumenta a possibilidade da existência
de tipografia, no Ceará, antes da tipografia do Diário do Governo do
Ceará. Nobre afirma também que existe a possibilidade de ter existido
jornal ou jornais impressos durante a junta do governo provisório do
Ceará, no período de 15 de janeiro de 1822 a 23 de janeiro de 1823.
Nobre fez esta afirmação baseado em um anuncio publicado em o
Cearense, de 20 de novembro de 1857, propondo empréstimo ou compra
da “coleção de jornal do governo publicado no Ceará ao tempo do
governo Provisório, ou mesmo alguns jornais não seguidor” (Nobre,
1975. p's. 42-43). Montenegro escreve dizendo que o problema é não ter
sido encontrado nenhum exemplar deste jornal nos arquivos.
(MONTENEGRO, 2004, p.83).
Existem indícios da existência de jornais impressos, antes do Diário
do governo do Ceará, porém não existe nenhuma comprovação. Nobre
diz que existem vários pontos a esclarecer. Geraldo S. Nobre diz o
seguinte: “o que se escreveu, até agora, sobre a fase primordial do
jornalismo no Ceará, não pode ser considerado definitivo, porquanto
existem vários pontos a esclarecer”. (Nobre, 1975, p.60). Geraldo S,
Nobre refere-se à necessidade de pesquisas nas bibliotecas de
Pernambuco, da Bahia, Maranhão e do Rio de Janeiro.
Segundo Montenegro, o período de 1817 a 1824 foi um dos
períodos mais conturbado no Nordeste, e com isto surgiram muitos
panfletos e folhas, comuns naquela época. Quase todos de oposição. A
Gazeta do Ceará surgiu nessa época, surgiu na época do Governador
Sampaio, era inicialmente manuscrita e depois impressa, porém não
existe comprovação, daí o Diário do Governo do Ceará ser considerado o
primeiro jornal impresso no Ceará, do qual o Padre Mororó foi o seu
primeiro redator. Também não se sabe se esta Gazeta que dizem que
existiu, e que era impressa, é a mesmo do tempo do Governado Sampaio.
ORIGEM DA FAMÍLIA MORORÓ
A família Mororó originou-se da família Souza Oliveira.
Importante família do Rio Grande do Norte. A união dos dois sobrenomes
teve princípio em Nicácio de Aguiar de Oliveira Júnior, nascido em 1696 e
falecido a 3 de Novembro de 1761, no Ceará. Sepultado na Capela de
Santa Cruz. Filho de outro Nicácio de Aguiar de Oliveira e de Maria
Madalena de Sá. Neto paterno de Domingos de Aguiar de Oliveira, da
antiga família Aguiar de Oliveira (v.s.), do Ceará. Deixou numerosa
descendência de seu cas., c.1724, com Maria de Góes e Souza, nascida
por volta de 1706, em Pernambuco (Carlos Barata, Família Jorge de
Souza). Entre os descendentes do casal, que se estabeleceram no Rio
Grande do Norte, registram-se: I - o filho, Tenente Francisco de Souza
Oliveira Catunda, de quem descendem os Catunda (v.s.), do Rio Grande
do Norte; (BARATA, Carlos Eduardo de Almeida e BUENO, Antônio Henrique da Cunha,
Dicionário das Famílias Brasileiras,São Paulo-SP, Árvore da terra, Cd, TOMO I – Vol. 1 & 2,
TOMO II – Vol. 1 & 2, Software – Interbrain sistemas.)
Os dados acima foram extraídos do Dicionário das Famílias Brasileiras,
vejamos agora o que diz o Padre Sadoc com relação ao assunto, e depois
continuaremos analisando o que consta no dicionário acima referido:
1761, 3 de novembro (3ª feira): Falece Nicácio de Aguiar e Oliveira,
marido de Maria de Goes Vasconcelos (uma das Sete Irmãs). Morreu
“homem pobre que vivia de esmolas”, com idade de 65 anos, e foi
sepultado na Capela de Santa Cruz (hoje Bela-Cruz). Era simultaneamente
cunhado e genro de Manoel Vaz Carrasco. Cunhado por ser irmão da
segunda mulher, e genro por que se casou com uma filha do primeiro
matrimônio de Manoel de Vaz Carrasco.
Do casal Nicácio de Aguiar e Oliveira e Maria de Goes, conhecemos dois
filhos que são:
1. FRANCISCO DE SOUSA OLIVEIRA, c. c. Tecla Rodrigues, no R. G. do
Norte. Deste casal nasceu Felix José de Souza, escrivão da Câmara de
Sobral durante muitos anos e genitor do Pe. Mororó.
2. VICENTE FERREIRA DE AGUIAR, c. c. Maria da Conceição, natural do Rio
Grande do Norte. Deste casal nasceu Maria Vitória que se casou com
Francisco Jorge de Sousa, natural do Seridó, e foram pais dos padres
Francisco Jorge de Sousa e Vicente Jorge de Sousa, ambos vigários de
Sobral.
Nicácio tinha um irmão, o Comissário Domingos de Aguiar e Oliveira, que
foi homem de muitas posses tendo inclusive feito doação de terras para a
constituição do patrimônio da Capela de Bela Cruz em 1732, mas que
faleceu falido, com seus bens seqüestrados, na serra dos Cocos para onde
fugira, em dias de maio de 1747.
(ARAUJO, PE.Francisco Sadoc de,
Cronologia Sobralense, Imprensa universitária-UVA-Sobral-Ceará, 1979)
Do descrito acima podemos verificar que a ascendência do Padre Mororó
é a seguinte:
Treta avô: Domingos de Aguiar de Oliveira;
Tri avós (paternos): Nicácio de Aguiar de Oliveira e Maria Madalena de
Sá;
Bis avós (paternos): Nicácio de Aguiar de Oliveira e Maria de Goes
Vasconcelos;
Avós (paternos): Francisco de Sousa Oliveira Catunda e Tecla Rodrigues;
Avós (maternos): Manuel Madeira de Matos e Francisca de Albuquerque
e Melo;
Pais: Felix José de Souza Oliveira e Theodora Maria de Jesus Madeira.
De acordo com que relata Padre Sadoc do casamento de Félix José de
Souza Oliveira com Theodora Maria de Jesus Madeira, originou-se Sete
filhos. Abaixo o relato do Padre Sadoc:
1765- 5 de agosto (2º feira): “Aos cinco de agosto de mil setecentos e
sessenta e cinco, na Capela do Riacho de Guimarães, em minha presença
e da testemunha Manoel Madeira de Matos, se casaram Felix José de
Sousa Oliveira, filho legitimo do Tenente Francisco de Sousa Oliveira e
Dona Tecla Rodrigues Pinheiro, natural do Rio Grande do Norte com
Theodora Maria de Jesus, filha legitima do Capitão Manoel Madeira de
Matos e de sua mulher Dona Francisca de Albuquerque Melo... Vigário
Manoel Rodrigues Chaves” (Liv. Cas. 1741-69, fl. 90).
Deste casal nasceram os seguintes: I- filhos:
1. PADRE GONÇALO INÁCIO DE LOIOLA ALBUQUERQUE celebremente conhecido por
PADRE MORORÓ, mártir da Confederação do Equador, nascido a 24 de julho de 1778 e
batizado a 15 de setembro do mesmo ano. Foi fuzilado em Fortaleza a 30 de abril de
1825.
2. GERTRUDES TERESA INÁCIA. Nascida e 28 de fevereiro de 1767, c. c. Antonio Martins
Viana, português de São Miguel das Marinhas, filho de Manoel Francisco e Maria da
Costa, a 6 de novembro de 1787, na Capela de N. Sra. Do Rosário dos Pretos, hoje no
centro comercial de Sobral.
3. MARIA JOAQUINA DE OLIVEIRA, c. c. Francisco Lopes Teixeira, português de Coimbra,
filho de José Lopes de Fonseca e Luzia Maria da Conceição, a 28 de outubro de 1788, no
sitio Santo Antonio sobre a Serra do Rosário.
4. ANA ANTONIA DE SOUSA, c. c. Antonio Furtado do Espírito Santo, filho de Antonio
Furtado dos Santos e Antonia Maria de Conceição, a 22 de setembro de 1791, na Matriz
de Sobral.
5. FRANCISCO DE SOUSA OLIVEIRA, c. c. sua prima legítima Agueda Francisca Xavier,
viúva de João José Rodrigues e filha de José da Páscoa Loreto e Maria Madeira de
Matos, a 24 de fevereiro de 1800, na Matriz de Sobral.
6. RAIMUNDA FRANCISCA XAVIER, nascida e 24 de agosto de 1783, c. c. seu primo José
Francisco Ximenes Aragão, filho de Manoel Ximenes Aragão e Antonia Maria da Páscoa,
a 15 de julho de 1800, na Matriz de Sobral.
7. INÁCIO DE SOUSA OLIVEIRA. (Cfr. Jarbas Cavalcante, Colonização do Nordeste, Rio
1969, p. 244). Não encontramos registro de batismo nem de casamento deste Inácio a
que se refere o autor citado.
Felix José de Sousa foi escrivão e vereador da Câmara de Sobral. (ARAUJO, PE.Francisco
Sadoc de, Cronologia Sobralense, Imprensa universitária-UVA-Sobral-Ceará, 1979)
II - o neto, Félix José de Souza Oliveira, nascido por volta de 1745, no Rio Grande do
Norte e falecido depois de 1799. Deixou geração do seu cas., na manhã do dia 5 de
agosto de 1765, na Capela de Nossa Senhora do Rosário do Riacho Guimarães, Ceará,
com Theodora Maria de Jesus Madeira, batizada a 08 de outubro de 1740. Filha de
Manuel Madeira de Matos, de Coimbra, Portugal (casado a 16 de Abril de 1738, Riacho
Guimarães, Ceará) e de Francisca de Albuquerque e Melo (nascida em Riacho Guimarães
- da antiga família Guimarães (v.s.), do Rio Grande do Norte. E 1791, Félix serviu na
função de Vereador da Câmara de Sobral, no Ceará.
Segundo as informações de alguns Genealogistas nordestinos, este casal “deu origem,
entre outros, aos Ibiapinas, aos Souzas de Carvalhos (que se ligaram, mais tarde, aos
Ximenes de Aragão), ao Padre Mororó, aos Souza e Oliveiras (destes, pode se
acrescentar como descendentes, os Jorge de Souza), etc.; (BARATA, Carlos Eduardo de
Almeida e BUENO, Antônio Henrique da Cunha, Dicionário das Famílias Brasileiras,São
Paulo-SP, Árvore da terra, Cd, TOMO I – Vol. 1 & 2, TOMO II – Vol. 1 & 2, Software –
Interbrain sistemas.)
Do relato acima podemos concluir que os pais do Padre Mororó, ou seja,
Félix José de Souza Oliveira e Theodora Maria de Jesus Madeira casaramse na Capela de Nossa Senhora do Rosário de Riacho Guimarães, hoje
cidade de Croairas. Podemos verificar também que os avôs maternos do
Padre Mororó, O avô era Português de Coimbra e a avó era Cearense do
Riacho Guimarães descendente da antiga família Guimarães do Rio
Grande do Norte. O pai do Padre Mororó projetou-se politicamente
tornando-se vereador da Câmara de Sobral- CE.
Os avôs do Padre Mororó eram Francisco de Souza Oliveira e Tecla
Rodrigues, naturais do Rio Grande do Norte. Os avôs do Padre Mororó
imigraram para a região que margeia o Rio Acaraú, para onde vieram
outros conterrâneos, como Antônio de Oliveira Magalhães, que doou as
terras que hoje constituem o centro de Sobral, Tereza de Oliveira
Magalhães, casada com o português João Pinto de Mesquita. João Pinto
de Mesquita juntamente com sua família fundaram o povoado onde hoje
é a cidade de Santa Quitéria.
Os pais do Padre Mororó deram origem aos Ibiapinas porque um
dos seus bisnetos foi criado por uma irmã do Padre Ibiapina grande
missionário do Nordeste, segundo relato do Padre Sadoc, Cronologia
Sobralense, Ed. 1974, Vol.1, 321. O Padre Sadoc diz o seguinte: 1791, 22 de
setembro (5º feira ): Na Matriz de Sobral, casamento de Antonio Furtado do EspíritoSanto, filho de Antonio Furtado dos Santos e Ana Maria da Conceição, com Ana Antonia
de Sousa, filha de Felix José de Sousa e Teodora Maria de Jesus. A nubente é irmã do
Padre Mororó. Deste casal nasceram:
1. PARDE JUSTINO FURTADO DE MENDONÇA, que foi coadjutor em Sobral do ano
de 1838 a 1840.
2. RUFINO FURTADO DE MENDONÇA, que participou ativamente na Confederação
do Equador, sendo condenado à morte, mas anistiado nos últimos momentos
antes da execução. Casou duas vezes. A primeira com Maria Quitéria da Silva,
filha do Alferes Joaquim Domingues da Silva e Florência Maria de Jesus, a 18 de
dezembro de 1824. Segunda vez, com Maria Tomázia do Livramento, “a
libertadora”, conhecida por suas atividades em favor da libertação dos
escravos, filha de José de Xerez da Furna Linhares e Ana Figueira de Melo, a 25
de dezembro de 1840. Fincando viúva de Rufino, Dona Maria Tomázia casou-se,
em segundas núpcias com Francisco de Paulo Lima, filho de José Felício de
Oliveira e Francisca Joaquina de Oliveira, naturais de Aracati, a 30 de maio de
1859, na residência particular da nubente.
3. IRENE EMILINA DA GLÓRIA, que foi segunda mulher de Vicente Alves da
Fonseca, viúvo de Antonia Geracina Isabel de Mesquita, filho de Vicente Alves
da Fonseca e Maria Francisca do Espírito-Santo, cujo casamento foi a 13 de
novembro de 1802.
Irene Emilina, viuvando, casou-se por sua vez, em segundo núpcias, com o Dr.
João Francisco de lima, filho de João José de Lima e Antonia Benedita de
Araújo, naturais do Maranhão, a 17 de abril de 1842, às 7 horas da noite, em
sua casa particular, “por urgência”.
4. MARIA SABINA DE SOUSA, c. c. Jorge Moreira da Rocha, filho de João da Rocha
Moreira e Ana Luzia da Fonseca, naturais de Pernambuco, a 15 de abril de
1817.
5. CAROLINA FURTADO DE MENDONÇA, de cuja união com o Pe. Vicente Jorge de
Sousa Nasceu o Desembargador Dr. Antonio Ibiapina a 7de fevereiro de 1858,
que recebeu o sobrenome de Ibiapina por ter sido criado por Dona Francisca
Ibiapina, irmã do Pe. Ibiapina, grande Missionário do Nordeste.
6. SILVANA FURTAD, inupta.
7. RITA TERESA DE JESUS, c. c. João Pereira Jacinto.
8. ANTONIO FURTADO DOS SANTOS (neto) c. c. sua prima legítima Teodora Maria
do Espírito-Santo, filha de Apolinário Furtado de Mendonça e Ana Maria de
Jesus, a 30 de novembro de 1833.
9. SANCHO FURTADO DE MENDONÇA, c. c. Teresa Maria de Anunciação, filha de
Joaquim José de Almeida e Rita Maria Furtado, a 17 de novembro de 1818
HERCULANO FURTADO DO MENDONÇA.
(ARAUJO, PE.Francisco Sadoc de,
Cronologia Sobralense, Imprensa universitária-UVA-Sobral-Ceará, 1979)
10.
Os Mororó's têm origem nos Souza Oliveira, já que o pai do Padre
Mororó era Souza Oliveira e seus irmãos e irmãs, uns eram Souza, e
outros Oliveiras, e ainda dois irmãos com o sobrenome Souza Oliveira. E
também porque o pai do Padre Mororó era descendente dos Souza
Oliveira do Rio grande do Norte.
III - a bisneta, Ana Antônia de Souza e Oliveira [c.1766 - 29.03.1857,
Sobral, CE], de quem descendem alguns Furtados de Mendonça (v.s.), do
Ceará; (BARATA, Carlos Eduardo de Almeida e BUENO, Antônio Henrique da Cunha,
Dicionário das Famílias Brasileiras,São Paulo-SP, Árvore da terra, Cd, TOMO I – Vol. 1 & 2,
TOMO II – Vol. 1 & 2, Software – Interbrain sistemas.)
Esta bisneta ou seja Ana Antônia de Souza e Oliveira é irmã do Padre
Mororó cujo casamento e descendência já foi relatado acima na pagina
anterior.
IV - o bisneto, Félix Jorge de Souza e Oliveira, patriarca da família Jorge
de Souza (v.s.), do Rio Grande do Norte; (BARATA, Carlos Eduardo de Almeida e
BUENO, Antônio Henrique da Cunha, Dicionário das Famílias Brasileiras,São Paulo-SP,
Árvore da terra, Cd, TOMO I – Vol. 1 & 2, TOMO II – Vol. 1 & 2, Software – Interbrain
sistemas.)
Este Félix Jorge de Souza e Oliveira como é bisneto a exemplo de Padre
Mororó, e não é filho de nenhum irmão ou irmã do pai do Padre Mororó
é, provavelmente, filho de um primo ou de outro parente com mesmo
grau de parentesco do pai do Padre Mororó.
Brígida afirma que a ascendência do Padre Mororó é ilustre, ele diz
o seguinte:
“Pertencia, pois, a uma das famílias de distinção
daqueles tempos. Seu Bisavô tinha sido como um patriarca
naqueles sertões então quase desertos. Lourenço
Guimarães foi seu trisavô. Pelo lado de seu pai, entroncava
na família Almeida Prado, da qual brotou o imortal Padre
Miguel Joaquim de Almeida e Castro, juridicamente
assassinado na Bahia pelo Conde D' Arcos, e além de outros
barões ilustre dos tempos modernos, o Senador Tomás
Pompeu, nome perpetuado na história do Ceará” (Brígida,
1969, p. 367-368).
V - o bisneto, Padre Mororó - Gonçalo Inácio de Loiola Albuquerque e
Melo nascido a 24 de Julho de 1778, batizado a 15 de Setembro do
mesmo ano, no Riacho de Guimarães e faleceu fuzilado a 30 de Abril de
1825, em Fortaleza, Ceará, em conseqüência de sua participação no
Movimento Revolucionário Republicano de 1824; (BARATA, Carlos Eduardo de
Almeida e BUENO, Antônio Henrique da Cunha, Dicionário das Famílias Brasileiras,São
Paulo-SP, Árvore da terra, Cd, TOMO I – Vol. 1 & 2, TOMO II – Vol. 1 & 2, Software –
Interbrain sistemas.)
1825,30 DE MAIO (Sábado): Em Fortaleza, são fuzilados o Padre Mororó e
o Cel. Pessoa Anta; mártires da Confederação do Equador. (ARAUJO,
PE.Francisco Sadoc de, Cronologia Sobralense, Imprensa universitária-UVA-Sobral-Ceará,
1979)
O Padre Sadoc enganou-se, pois o fuzilamento aconteceu em 30 de abril
de 1825, uma 5ª feira.
VI - o bisneto, Coronel Antônio José de Souza e Oliveira, nascido no Rio
Grande do Norte. Escrivão da Fazenda Real do Almoxarifado e Vedoria,
Matrícula de Gente de Guerra, Feitos e Demarcação de Sesmarias, em
1788, de Natal, Rio Grande do Norte; ; ((BARATA, Carlos Eduardo de Almeida e
BUENO, Antônio Henrique da Cunha, Dicionário das Famílias Brasileiras,São Paulo-SP,
Árvore da terra, Cd, TOMO I – Vol. 1 & 2, TOMO II – Vol. 1 & 2, Software – Interbrain
sistemas.)
Talvez o Coronel Antôno José de Souza e Oliveira seja irmão de Féliz Jorge
de Souza e Oliveira.
VII - a terceira neta, Maria Sabina de Souza [c.1793 - 14.02.1873], de
quem descende parte dos Moreira da Rocha (v.s.), do Ceará; (BARATA,
Carlos Eduardo de Almeida e BUENO, Antônio Henrique da Cunha, Dicionário das
Famílias Brasileiras,São Paulo-SP, Árvore da terra, Cd, TOMO I – Vol. 1 & 2, TOMO II –
Vol. 1 & 2, Software – Interbrain sistemas.)
A terceira neta ou tri-neta Maria Sabino de Souza é filha de uma irmã do
Padre Mororó. O Padre Sadoc faz o seguinte relato sobre ela: 1817- 15 DE
ABRIL (3º - feira: ) Casamento de Jorge Moreira da Rocha, filho de João da Racha
Moreira e Ana Luiza da Fonseca, com Maria Sabino de Souza, filha do Cap. Antonio
Furtado do Esp. Santo e Ana Antonia de Souza.
São filhos deste matrimônio:
1. Comendador José Antonio Moreira da Rocha que se casou duas vezes. A
primeira, com Carolina Leopoldina Alves da Fonseca, Filha do Cel. Vicente Alves
da Fonseca e de sua segunda mulher Irene Ermelinda da Glória, a 7 de janeiro
de 1854. Deste último matrimônio nasceu Desembargador Moreira da Rocha,
em Sobral, a 24 de maio de 1868, o qual governou o Ceará no quatriênio 1924
– 1928.
Irene Moreira da Rocha, c. c. o viúvo José Gomes Rodrigues de Albuquerque, filho de
Antonio Joaquim Rodrigues e Ana Rosa Rodrigues de Albuquerque, a 3 de março de
1853. Faleceu a 22 de abril de 1855, com 23 anos
(ARAUJO, PE.Francisco Sadoc
de, Cronologia Sobralense, Imprensa universitária-UVA-Sobral-Ceará, 1979)
2.
Comendador José Antonio Moreira da Rocha, que é filho de uma
sobrinha do Padre Mororó casou-se com sua prima Carolina Leopoldina
Alves da Fonseca, filha do Cel. Vicente Alves da Fonseca de seu segundo
casamento, já que sua primeira esposa era Antonia Geracina Isabel de
Mesquita neta de João Pinto de Mesquita, fundador de da cidade de
Santa Quitéria, e filha única de Antonio Pinto de Mesquita e Luiza Tereza
de Jesus Colaço. Antônio Pinto de Mesquita nasceu na fazenda Jacurutu
Velho, Santa Quitéria, e constitui família na sede do então povoado de
Santa Quitéria.
VII - o terceiro neto, Coronel Félix José de Souza, nascido por volta de
1810. Proprietário da Fazenda Boa Vista, em Ipu. Chefe político de grande
influência; (BARATA, Carlos Eduardo de Almeida e BUENO, Antônio Henrique da
Cunha, Dicionário das Famílias Brasileiras,São Paulo-SP, Árvore da terra, Cd, TOMO I –
Vol. 1 & 2, TOMO II – Vol. 1 & 2, Software – Interbrain sistemas.)
O terceiro-neto, ou tri- neto, o Coronel Félix José de Souza é sobrinho do
Padre Mororó, aquele que o Padre Mororó levou para Guaraciaba a fim
de educá-lo, e o quarto-neto, ou tetra-neto, Dr. Félix José de Souza Júnior
é filho do Coronel Felix José de Souza, e deles surgiram os Mororó's da
região compreendendo os municípios de Santa Quitéria, IPU, Hidrolandia
etc.
VIII - o quarto neto, Dr. Félix José de Souza Júnior, nascido por volta 1835,
em Ipú, e falecido a 12 de Julho de 1876, em Mecejana, Ceará, vítima de
uma aneurisma da aorta. Bacharel em Direito, em 1863, pela Faculdade
do Recife. Foi Oficial-Maior da Secretaria do Governo e foi Professor de
Geografia no Liceu Cearense. Deputado provincial, de 1864 a 1870;
(BARATA, Carlos Eduardo de Almeida e BUENO, Antônio Henrique da Cunha, Dicionário
das Famílias Brasileiras,São Paulo-SP, Árvore da terra, Cd, TOMO I – Vol. 1 & 2, TOMO II –
Vol. 1 & 2, Software – Interbrain sistemas.)
Meu avô, Raimundo de Souza Mororó, que tinha dois irmãos, de nomes
Francisco de Souza Mororó e Felix de Souza Mororó, nasceu em 28 de
Abril de 1891. Provavelmente entre ele e o Dr. Félix José de Souza Júnior
existem duas gerações. Como nasceram no município do Ipu, se for feita
uma pesquisa na secretaria da Igreja e nos Cartórios poderemos obter os
nomes destas duas gerações acima citadas.
IX - a terceira neta, Francisca Isabel de Souza, de quem descendem os
Souza Carvalho (v.s.), do Ceará. ((BARATA, Carlos Eduardo de Almeida e BUENO,
Antônio Henrique da Cunha, Dicionário das Famílias Brasileiras,São Paulo-SP, Árvore da
terra, Cd, TOMO I – Vol. 1 & 2, TOMO II – Vol. 1 & 2, Software – Interbrain sistemas.)
VIII - o quarto neto, o Padre, Dr. Senador Tomaz Pompeu de Souza Brasil detalhes adiante; ((BARATA, Carlos Eduardo de Almeida e BUENO, Antônio Henrique
da Cunha, Dicionário das Famílias Brasileiras,São Paulo-SP, Árvore da terra, Cd, TOMO I –
Vol. 1 & 2, TOMO II – Vol. 1 & 2, Software – Interbrain sistemas.)
Geracina Isabel de Sousa, Filha de Isabel Pinto de Mesquita, que por sua
vez, era filha de João Pinto de Mesquita, ”O Partrianca do Jacurutu,”
casou-se com Tomás de Aquino Sousa, primo legítimo dos Padres Mororó
e Miguelinho, mártires dos ideais liberais, todos descendentes de
tradicional família do Rio Grade do Norte. Tomás de Aquino Sousa era
filho do Coronel Antônio Jose de Sousa Oliveira do Rio Grande do Norte.
O Senador Pompeu é filho desse casal, logo os Pompeu's de Sousa Brasil
são parentes dos Mororó's.
São parentes dos Mororó's também os Catundas, porque o avô pateno do
Padre Mororó era Francisco de Oliveira Catunda, e ainda dos Pintos de
Mesquita porque o pai do senador Pompeu, que era primo, do Padre
Mororó, casou-se com Geracina Isabel de Sousa, filha de Isabel Pinto de
Mesquita, e também de outras famílias.
IX - o quarto neto, o Capitão Antônio Pompeu de Souza Catunda,
patriarca da família Catunda (v.s.), do Ceará. (BARATA, Carlos Eduardo de
Almeida e BUENO, Antônio Henrique da Cunha, Dicionário das Famílias Brasileiras,São
Paulo-SP, Árvore da terra, Cd, TOMO I – Vol. 1 & 2, TOMO II – Vol. 1 & 2, Software –
Interbrain sistemas.)
O Capitão Antônio Pompeu de Souza Catunda era irmão do Senador
Pompeu e pai do Senador Joaquim de Oliveira Catunda (Senador
Catunda). O Senador Catunda, além de sobrinho do Senador Pompeu, era
também afilhado, o padrinho o levou para estudar em Fortaleza.
Linha de Batina: o Padre, Dr. Senador Tomaz Pompeu de Souza Brasil
[1818-1877], quarto neto daquele fundador, deixou geração de sua união
com Felismina Carolina Filgueiras. Foram os patriarcas das famílias
Pompeu e Pompeu de Souza Brasil (v.s.), do Ceará. (BARATA, Carlos Eduardo
de Almeida e BUENO, Antônio Henrique da Cunha, Dicionário das Famílias
Brasileiras,São Paulo-SP, Árvore da terra, Cd, TOMO I – Vol. 1 & 2, TOMO II – Vol. 1 & 2,
Software – Interbrain sistemas.)
O pai do Senador Pompeu era primo do Padre Mororó, portanto o Padre
Mororó era tio, em segundo grau, do Senador Pompeu
CONTRIBUIÇÃO DO PADRE MORORÓ PARA DEMOCRACIA
O Padre Mororó, assim como Frei Caneca deixaram como herança
uma orientação tipicamente humanista, que ajudou na formação
Teopolítica do País. Suas orientações são no sentido de estabelece o
Estado Liberal, com instituições bem elaboradas, preservando os direitos
individuais. Isto é o liberalismo radical, ao contrario do conservador que
fortalece o Estado. O liberalismo radical traz consigo o direito de
cidadania, como hoje conhecemos.
Padre Mororó, e Frei Caneca eram oradores de alta qualidade, eram
jornalistas políticos, poetas, estudiosos da ciência, seguindo a postura do
iluminismo que obtiveram no seminário. Uma pessoa com este preparo
tinha respeito e admiração por parte das elites daquela época. Vejamos o
que o Barão de Studart diz a respeito deste assunto:
Na luta em que se empenhara para alcançar o fim
colimado, isto é, a efetividade da republica tão
desastradamente idealizada e levada a efeito, não se podia
prescindir do concurso de um vulto cujos talentos eram
incontestes, como de fato sucedia com Mororó, possuidor
de uma ilustração pouco vulgar em um tempo em que eram
dum preço inestimável os trabalhos da inteligência.
(STUDART, Guilherme, 1924, p. 233).
A República que o Padre Mororó e o Frei Caneca pregavam não foi
igual à república proclamada em 1889. A República de 1889 foi criada
com requintes conservadores, e autoritários.
Padre Mororó foi um idealista, sofreu influencia de outras pessoas,
especialmente do Frei Caneca, que é autor de uma teoria política.
O Padre Mororó teve participação ativa no movimento de 1824.
Sobre isto João Brigido diz o seguinte:
Os últimos destes movimentos foram assistidos, e
aconselhados, e justificados pelo Padre Gonçalo, Luiz Pedro
de Melo e César, e Padre Estevão José da Porciúncula,
homens de talento e patriotas ardentes, que redigiam os
papéis oficiais, ou escreviam no 'Diário do Governo',
primeira publicação periódica que via o Ceará. (BRIGIDO
João. Antologia de João Brigido,1969 p. 373) Obs. 40 e
41(MONTENEGRO, João Alfredo de Sousa, Padre Mororó –
Revolução Impressa, 1º Ed. Fortaleza, Museu Ceará/
Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, 2004,p's 40-41).
Como podemos observar na narração de João Brigido, o Padre
Mororó com seus conhecimentos de homem culto e com sua inteligência
contribuiu muito com o movimento conhecido como Confederação do
Equador, dando ideias, influindo na opinião pública através de artigos no
jornal Diário do Governo do Ceará, e preparando proclamações e outros
documentos, isto plantou uma semente democrática no nosso povo.
Padre Mororó, mesmo na hora da morte, manteve-se com altivez e
coragem, suas ultimas ações podem ser comparadas com as de São
Lourenço que morreu queimado, e na hora da morte ainda fazia
brincadeiras. São Lourenço foi queimado em uma espécie de grelha. Apos
alguém tempo que estava sendo torrado gritou para os carrascos. Pode
virar que este lado já está assado! São Lourenço suportou as dores da
morte com alegria porque acreditava em Deus, e Padre Mororó, talvez,
por está convicto que seu fuzilamento contribuiria para democracia em
nosso País.
Onde foi que Padre Mororó e são Lourenço encontraram tanta força e
serenidade, para na hora da morte, enfrentá-la com coragem e até com
alegria. São Lourenço foi sacrificado por propagar a doutrina de Nosso
Senhor Jesus Cristo, e isto lhe deva alegria por está sendo morto por
causa Dele. E Padre Mororó foi condenado por defender a liberdade, e
isto lhe dava a convicção de esta plantando a semente da Democracia, e
entrando para História, como de feto aconteceu.
O Padre Mororó sempre gostou de escrever, ler, e estudar, porém
sua participação literária sobressaiu-se mais por volta de 1820, quando
esteve em Pernambuco, defendendo-se de acusações que lhe haviam
sido feitas. Por ocasião de sua ida à Recife-PE renovou velhas ligações
com Caneca e fez amizade com Cipriano de Almeida Barata, idealistas e
participantes de vários surtos políticos (Brigido, 1969, p.371). Estes
contatos fizeram com que Padre Mororó se entusiasmasse pelas ideias
republicanas, e viesse à tona com toda força o que tinha no seu intimo
desde os tempos de seminário, desde o tempo que era aluno do Padre
Francisco Manuel, e dos conceitos obtidos através da leitura do Correio
Brasiliense. Tudo isto fez com que ele em 1824 aderisse com todo
entusiasmo a Confederação do Equador, e inicialmente, em 19 de janeiro
daquele ano, proclamasse a Republica de Quixeramobim.
O sonho do Padre Mororó, e de Frei Caneca e ainda de outros
lideres da Confederação do Equador, era tornar o Brasil um pais
possuidor de uma constituição que garantisse os direitos individuais, a
divisão clássica de poderes, eliminando o autoritarismo, onde o
Imperador era absoluto.
O Padre Mororó, além da amizade com Frei Caneca, seu
companheiro de seminário, era muito sintonizado com a sua maneira de
agir e de pensar. Seu comportamento político, sua idéia de Igreja, sua
capacidade intelectual, ideias iluministas, muito se assemelhavam.
Ambos tiveram atitudes parecidas por ocasião da Independência, ou seja,
trabalharam e se colocaram a favor Dela, porém sua luta, seu ideal era
ver o Brasil democrático.
No seminário, Gonçalo, futuro Padre Mororó, foi colega de Joaquim
do Amor Divino, Frei Caneca, Padre Miguelinho, Padre João Ribeiro, além
de outros que se envolveram nas revoluções de 1817 e 1824; lá tomaram
conhecimento das ideias iluministas, criadas por filósofos franceses e
implantadas em Portugal e suas colônias, por Marquês de Pombal, na
segunda metade do século XVII. Isto fez, Padre Mororó, lutar com todas
suas forças para livrar o Brasil de um governo absolutista.
O PADRE MORORÓ NÃO TEM SIDO HOMENAGEADO
COMO MERECE
O ilustre historiador sobralense, padre João Mendes Lira, a
respeito da falta de homenagem ao Padre Mororó, assim se expressou:
“O Padre Mororó foi tão elevado em seus ideais
cívicos, religiosos e sociais quanto o General Sampaio. Por
que, então, não deixar em Groaíras uma lembrança que
perpetue a bravura, o destemor, o heroísmo de um homem
que soube dar sua vida pelos nobres ideais que
professava?”. Embora padre Lira não tenha dito
expressamente, ao citar a cidade de General Sampaio, outro
grande cearense, nascido na localidade que hoje tem o seu
nome como homenagem, quis o ilustre professor sugerir a
mudança do nome de Groaíras para “Padre Mororó”, idéia
com a qual concordo e aproveito para conclamar os
groairenses a apoiá-la. (MAURÍCIO. Ivan, PADRE MORORÓ,
História do Ceará, Diário do Nordeste, Fortaleza, 21
fevereiro de 2009).
O município de Santa Quitéria o homenageou, através da Poetisa
Aracy Martins, no seu Hino Pátrio, e nomeando uma rua com seu
nome, porém isto é pouco, outras homenagens poderiam ser feitas,
como por exemplo: uma praça com seu nome, uma estatua, que
poderia ser colocada na referida praça, etc. E Sobral que também
reivindica tê-lo com um de seus filhos ilustre, poucas homenagem tem
lhe prestado. Groairas prestou-lhe algumas homenagens, porém estão
abandonadas. Domingo Pascoal, em artigo especial, relata também o
seguinte: O seu nome, como de muitos outros mártires brasileiros, encontra-se na
gaveta empoeirada do esquecimento, inclusive na sua cidade natal, Groaíras, pouca
atenção tem sido dispensada àquele que foi seu filho mais ilustre. Nas décadas de 60
e 70, o então prefeito Cezário Feijó de Melo, um de seus descendentes, colocou o seu
nome numa rua e numa praça. Na década de 80, quando governava o município,
Joaquim Guimarães Neto, foi feita a divisão da cidade em bairros, o local onde ele
nasceu conhecido como Mato Grosso, passou a chamar-se bairro Padre Mororó,
porém, pouca gente hoje tem conhecimento disso e, por tal razão, continua a ser
conhecido pela antiga denominação. Naquela mesma década, por sugestão de um
grupo de groairenses que criaram a Associação dos filhos de Groaíras residentes em
Fortaleza, e por influência do desembargador José Maria Melo, foi construído um
memorial: Prédio moderno, bonito, porém, abandonado, infelizmente. (PASCOAL
Domingos: Execução de Pe. Mororó ocorreu há 183 anos. Diário do Nordeste,
Fortaleza, 3 de mai de 2008. Caderno Regional, p.2).
ALGUNS DADOS CRONOLÓGICOS REFERENTES Á
CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR E OUTROS FEITOS
IMPORTANTES NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XIX.
? 29 de novembro de1807, O regente D.João embarca para o
Brasil escondido. O povo de Lisboa vaia a fuga da família
real;
? 28 de janeiro de 1808, abertura dos portos. Começa o
processo de superação do domínio colonial do Brasil, que
vai até 1831;
? 18 de fevereiro de1808, fundada a escola de medicina e
cirurgia do hospital militar, BA, 1ª de nível universitário no
país;
? 7 de março de 1808,a família real portuguesa chega ao Rio
;
? 1 de abril de 1808 ,abolido o alvará de 1785 que proibia
indústrias do Brasil;
? 1 de junho de 1808, Hipólito José da Costa lança em
Londres o 1ª jornal brasileiro,correio brasiliense;
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13 de agosto de 1808, D.João cria a imprensa Régia
e junto a censura previa;
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10 de setembro de 1808, a gazeta do Rio de
Janeiro, 1ª jornal impresso no Brasil, oficial, 4 págs,sob
censura;
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12 de outubro de 1808, alvará real criam o 1ºbanco
do Brasil;
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25 de Novembro 1808, fim da proibição da posse
de terra por estrangeiros;
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5 de janeiro de 1809 , escravos nagôs ,haussás e
jejes se insurgem no Recôncavo,Bahia.queimam
canaviais,fogem às centenas , atacam Nazaré das
Farinhas, mas são batidos (7-1).Presos 83 homens e
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132 mulheres;
4 de fevereiro de 1810,carta rédea autoriza
tipografia em Salvador,BA sob a dupla censura do
governador e do Arcebispo;
26 de fevereiro de 1810, Portugal e Inglaterra
Firmam tratados Liberais e comercio: privilégios para
mercadorias inglesas;
4 de dezembro de 1810,carta régia ordena criação
de usina de ferro de Ipanema,Sorocaba,São Paulo.Será
primeira unidade industrial brasileira,todavia usando o
braço escravo ;
13 de maio de 1811, criada a real biblioteca do Rio;
3 de agosto de 1811, aberta a Biblioteca pública da
Bahia;
18 de fevereiro de 1813, denunciada conspiração
dos escravos haussás das docas de cachoeira Bahia;
18 de fevereiro de 1813, rebelião dos escravos
pescadores de Itapuã, BA, liderada por Francisco; Mata
o feitor e mais doze brancos e ruma para Salvador;
Derrotada na travessia do rio joanes, onde morrem 56
rebeldes; quatro enforcados, vários deportados;
4 de dezembro de 1816 D.João VI permite estradas
para o interior de MG e ES ,proibidas em todo Brasil
colonial;
6 de março de 1817 ,começa ,na Fortaleza de cinco
pontas ,Recife a revolução pernambucana de 1817 que
se estenderá à PB, RN e Sul do CE. Proclama a república
sonhada pelos conjurados de MG e BA e forma um
governo provisório com uma ala jacobina que propõe a
libertação imediata dos escravos;
8 de março de 1817 1ª tipografia em Recife,PE,a
serviço da Revolução republicana;
10 de março de 1817, os revolucionários de
Pernambuco lançam o manifesto Preciso: “Viva a
pátria, vivam os patriotas e acabe para sempre a tirania
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real”
11 de março de 1817 a Paraíba adere a Revolução
de 1817;
2 de abril de 1817,abençoada e consagrada no
Recife a bandeira da revolução republicana ;
26 de abril de 1817, morre André de Albuquerque
Maranhão, líder da revolução republicana de 1817 no
Rio Grande do Norte. Em sua última noite, já ferido de
morte na cela do forte dos reis magos, seus algozes
dão lhe uma pedra por travesseiro, pois “é o que
merecem os patriotas”;
12 de junho de 1817 fuzilados em Salvador mais 3
chefes da República de PE;
25 de junho de 1817, o Rei proíbe pela 3ª vez, sob
pesadas penalidades a circulação do jornal Correio
Brasiliense, que era editado em Londres e tinha como
editor Hipólito José da Costa;
10 de julho de 1817 executados no Recife 4 líderes
da insurreição republicana de 1817;
16 de setembro de 1817, o Rei separa Alagoas de
Pernambuco,como castigo pela revolução de 1817;
30 de março de 1818 D.João VI proíbe, sob pena de
morte a maçonaria e qualquer sociedade secreta;
14 de janeiro de 1819, isenção de impostos sobre a
importação de livros;
4 de outubro de 1819, 1ª linha brasileira de
navegação a vapor:Salvador-Cachoeira,BA;
6 de abril de 1820 decreto cria Os Correios do Brasil
;
26 de abril de 1821. D. João VI volta a Lisboa, sob
pressão da revolução liberal do Porto;
7 de setembro 1822,grito do Ipiranga .No
calendário oficial ,a data marca a independência do
Brasil. Na verdade a separação de Portugal inicia-se
bem antes (1808), finda bem depois (com a derrubada
de D.Pedro I, 1831)e não resolve por inteiro a questão
da dependência que volta a se agravar com a ofensiva
neoliberal dos anos 90;
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12 de outubro de 1822, D.Pedro I é aclamado
Imperador, no Rio;
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31 de maio de 1823, Dom Pedro I declara sobre á
constituinte do Brasil, com ameaças: só aceito carta se
for “Digna de mim”
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20 de agosto de 1823, D.Pedro I condecora Maria
Quitéria, Heroína da Bahia, que morrerá no abandono
em 1853;
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27 de abril de 1842 São Paulo passa a ter
iluminação pública a azeite;
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14 de julho de 1824 a Confederação do Equador
triunfa na Paraíba;
? 12 de novembro de 1823, Dom Pedro I dissolve a 1ª constituinte
brasileira: prisões, deportações. Ao sair do prédio, Antônio Carlos de
Andrade tirou o chapéu com ironia para “sua majestade, o canhão”;
? 25 de março de 1824, Dom Pedro I outorga sua Constituição;
? 1º de abril de 1824, Padre Mororó assume a função de Redator
Chefe do Diário do Governo do Ceará;
? 22 de maio, Padre Mororó, deixa a função de Redator Chefe do
Diário do Governo do Ceará e assumi o cargo de Secretario do Grande
Conselho Republicano;
? 02 de julho de 1824, Pais de Andrade, Governador de
Pernambuco, proclama criada a Confederação do Equador;
? 7 de março de 1825 executados no Rio 2 líderes da Confederação
do Equador;
? 25 de julho de 1824, Dom Pedro I suspende garantias individuais
para reprimir a Confederação do Equador;
? 13 de setembro de 1824, violento combate em Recife entre as
tropas imperiais e rebeldes republicanos;
? 17 de setembro de 1824, derrota da Confederação do Equador. O
Exército Imperial toma o último reduto republicano, em Recife;
? 31 de outubro de 1824, derrota da confederação do equador no
Ceará (Santa Rosa) seu líder, Tristão Gonçalves de Alencar Araripe, morre
em combate;
? 05 de dezembro de 1824, lei complementar a Constituição
Imperial Brasileira proíbe escravos e leprosos de frequentarem a escola.
Instruir a escravaria, classe trabalhadora fundamentalmente da época,
para os senhores legisladores era crime;
? 13 de janeiro de 1825, Fuzilamento de Frei Caneca, revolucionário
republicano, herói da Confederação do Equador. O Império autocrático
sentenciou a forca (morte degradante), mas ele terminou fuzilado por
não se encontrar no Recife um carrasco, preso ou escravo que aceitasse
enforcá-lo;
? 30 de abril de 1825, Fuzilamento do Padre Mororó, que aconteceu
no Passeio Publico em Fortaleza, por ter sido um dos líderes da
confederação do Equador no Ceará.
BIBLIOGRAFIA
(ARAUJO, PE.Francisco Sadoc de Cronologia Sobralense, Imprensa universitáriaUVA-Sobral-Ceará, 1979);
(BARATA, Carlos Eduardo de Almeida e BUENO, Antônio Henrique da Cunha,
Dicionário das Famílias Brasileiras, São Paulo-SP, Árvore da terra, Cd, TOMO I –
Vol. 1 & 2, TOMO II – Vol. 1 & 2, Software – Interbrain sistemas.);
(BLAKE, Augusto Vitoriano Alves Sacramento. Dicionário Bibliográfico Brasileiro,
Rio de Janeiro :Impressa Nacional,v.3,1895;
(BRIGIDO, João. Padre Gonçalo Inácio Loiola Albuquerque Melo Mororó. In:
CARVALHO, Jáder de (Org.). Antologia de João Brigido. Fortaleza: terra do sol,
1969.);
(MONTENEGRO, João Alfredo de Sousa, Padre Mororó – Revolução Impressa, 1º
Ed. Fortaleza, Museu Ceará/ Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, 20;
(MORORÓ, Antonio Mauro Paiva. Santa Quitéria – História. In: Biografia de filhos
Ilustres. 1° Ed. Santa Quitéria – Ceará, Artegráfica, 2006;
(MACEDO. Nertan, O Clã de Santa Quitéria, 2ºEd., Rio de Janeiro, Renes, 1980,
p.24);
(MOURA, Dalwton, Diário do Nordeste, Fortaleza, 1º de abril de 2004, caderno 3, p.1º);
(MAURÍCIO. Ivan, PADRE MORORÓ, História do Ceará, Diário do Nordeste,
Fortaleza, 21 fevereiro de 2009);
(NOBRE Geraldo da Silva. Relações familiares e movimento da independência no
Ceará. Revista do instituto do Ceará, Fortaleza, t.especial, 1972);
(PASCOAL Domingos: Execução de Pe. Mororó ocorreu há 183 anos. Diário do
Nordeste, Fortaleza, 3 de mai de 2008. Caderno Regional, p.2);
(STUDART, Guilherme (Barão de), Dicionário Bibliográfico cearense, Fortaleza: Tipo
litografia a vapor, 1910);
(SOUZA, Eusébio de. O Pe.Mororó e seus julgadores perante a história.Revista do
Instituto do Ceará,Fortaleza,t.36, 1922.).

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