Dear high commission of Universidad Ricardo Palma, dear
Transcrição
Dear high commission of Universidad Ricardo Palma, dear
Prezados senhores e senhoras da Universidade Ricardo Palma, Sou muito grato por esta grande honra que me foi concedida, pois fiz na vida e no trabalho o que faz a maioria das pessoas: muito esforço para atingir o melhor resultado possível. O que eu fiz? Saí de um vilarejo nas montanhas de Salzburgo, na Áustria, e comecei a estudar psicologia e psicopatologia na cidade de Salzburgo. Meus pais eram fazendeiros e, quando os vizinhos perguntavam o que eu estudava (eu fui a primeira pessoa do vilarejo a cursar a universidade), e a maioria dos vizinhos perguntava se eu estudava para ser veterinário, meu pai dizia que eu seria algo como um novo tipo de padre. Após os estudos, mudei-me para Viena e trabalhei em uma clínica ambulatorial com pessoas de baixa renda e vi que há enorme falta de atendimento psicoterápico também para as populações carentes, que não podem pagar um psicoterapeuta. Além disso, a prática da psicoterapia não era regulamentada na Áustria. Por isso fundou-se uma organização geral abrangente, não foi fácil reunir todas as principais escolas de psicoterapia no mesmo local, mas acabou dando certo. Em 1990, a primeira lei de regulamentação da psicoterapia como verdadeira profissão foi votada no parlamento austríaco. Em 1991, eu trabalhei na lei de seguridade social, e o resultado foi muito bom, pois a lei provê tratamento de psicoterapia para todos os cidadãos austríacos pago pelos planos de saúde públicos! Desde então, a psicoterapia vem se disseminando. Todos os distritos da Áustria têm psicoterapeutas qualificados. Em 1991, fundamos a Associação Européia de Psicoterapia, e em 1996, o Conselho Mundial de Psicoterapia, que está organizando conferências mundiais nos três anos (já ocorridas em Viena, Buenos Aires e Beijing, as próximas serão em Sidney, em 2011, e em Durban, na África do Sul, em 2014). A psicoterapia ganhou notoriedade mundial nos últimos 15 anos. Eu fui testemunha quando meus amigos e colegas latino-americanos fundaram a Federação Latino-Americana de Psicoterapia, há 10 anos (e assim tive a oportunidade de ir à América Latina e conhecer pessoas e países que enriqueceram muito a minha vida). Além do meu trabalho organizacional e da minha prática como psicanalista, comecei a publicar livros sobre vários assuntos referentes à psicoterapia (meu livro escrito em parceria com Gerhard Stumm, “Dicionário de Psicoterapia”, será lançado em espanhol em poucos meses) e comecei a lecionar em várias universidades de Viena, África do Sul e Ucrânia. As universidades sempre tiveram e ainda têm dificuldades para implementar a filosofia psicoterápica. Isto se deve ao fato de que psicoterapia é a ciência da subjetividade. Nós, psicoterapeutas, nutrimos interesse pelo universo interior de uma pessoa, que transcende a medida exata das ciências naturais. Assim, a psicoterapia é uma ciência hermenêutica, uma interpretação do texto do paciente, de um grupo ou de textos sociais e políticos. Acho que as associações de psicoterapia já fizeram muito pelo desenvolvimento da psicoterapia, mas hoje em dia, as universidades também têm que contribuir com sua parcela de compromisso com a meticulosidade e com a valorização da pesquisa na psicoterapia. Em 2003, eu e mais três colegas fundamos a primeira universidade de ciência psicoterápica mundial em Viena: a Universidade Sigmund Freud, que conta com 850 estudantes e continua crescendo. Foi uma batalha árdua, mas finalmente, em 2005, conquistamos credenciamento do governo e, desde 2009, temos uma filial da universidade Sigmund Freud em Paris, credenciada pelo governo da França e pelo governo da Áustria, e outra filial já está sendo preparada em Berlim, na Alemanha. Com a criação da Universidade Sigmund Freud, tentamos resolver algumas questões que são discutidas em relação ao desenvolvimento da psicoterapia no mundo todo: O que um psicoterapeuta precisa aprender? Já está claro que um psicoterapeuta precisa aprender psicopatologia, algumas intervenções, fazer trabalho de supervisão e submeter-se à psicoterapia. Talvez seja a única profissão em que é preciso ser um dos pacientes antes de se poder tratá-los. Segundo problema: quem pode se formar psicoterapeuta? A psicoterapia faz parte da psicologia ou da medicina? Podem outros profissionais, como assistentes sociais e professores, praticar a psicoterapia? Seria, ao contrário, uma profissão à parte? A nossa resposta a esta questão é que a psicoterapia é uma profissão à parte, com suas próprias bases científicas, uma ciência integrativa, que implementa conhecimento psicológico, conhecimento médico, além de pensamento filosófico, elementos pedagógicos e aspectos de teoria sistêmica. E existe uma segunda parte, tão importante quanto o aprendizado cognitivo, que é o treinamento de técnicas como estabelecer empatia com o paciente, uma parte em que a personalidade do psicoterapeuta tem que ser “afinada” como um instrumento a fim de ser capaz de atender necessidades emocionais de um paciente. Terceiro problema: qual deve ser a idade mínima de um estagiário de psicoterapia? Será esta uma atividade exclusiva de pós graduados ou pode ser estagiada por qualquer universitário? Este assunto era tabu, e nós o superamos oferecendo cursos de bacharelado, mestrado e doutorado em psicoterapia. Hesitamos muito por supor que estudantes jovens não teriam maturidade suficiente para desenvolver identidade e técnicas necessárias à prática da psicoterapia, mas na prática, tivemos boas experiências. Os primeiros alunos formados começaram a praticar com bons resultados, aplicando o conhecimento e a experiência que adquiriram na clínica ambulatorial em que tiveram que trabalhar durante o período de estudos. Quarto problema: a psicoterapia é uma ciência experimental. É possível implementar essa formação na estrutura de uma universidade, com suas regras rígidas e estrutura obsessiva compulsiva de pensamento e publicação de ideias estritamente baseadas em pesquisas? Discutimos, principalmente, a questão da auto experiência. O resultado foi os alunos fazendo supervisão sob um sistema de avaliação (o aluno pode ser reprovado) e auto experiência em um sistema sem avaliação (o aluno tem que cumprir um determinado número de sessões). Assim, damos privacidade no trabalho de auto experiência e exigimos técnicas apuradas no trato com pacientes. Finalmente, sob um ponto de vista globalizado, o desenvolvimento da psicoterapia é uma necessidade urgente: em cada 500 milhões de pessoas, 250 milhões não têm acesso a atendimento psicoterápico segundo dados da Organização Mundial de Saúde. A maioria destas pessoas são de baixa renda. Então, é uma obrigação lutarmos por essas pessoas. Não apenas no aspecto da assistência financeira, mas também no aspecto da assistência emocional. Para isso, temos que desenvolver a profissão com padrões adequados de qualidade, conduzir pesquisas corretamente e apoiar uma luta política pela aceitação desta área de estudo como um todo. E, em geral, recebemos atenção, pois os políticos também enfrentam problemas emocionais em suas vidas e muitas vezes não sabem como superar as próprias dificuldades. Eles podem gostar de receber a assistência de que precisam. Então, distintos professores, colegas, senhoras e senhores, este é um resumo da minha trajetória profissional, e fico muito grato por esta extraordinária honra! Muito obrigado.