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ARTIGO o CÁLCIO, O ESTROGÊNIO E A ATIVIDADE FÍSICA NA INTERVENÇÃO DA OSTEOPOROSE EM MULHEXES NO CLIMATERIO Raquel Maria de Abreu Pinto* Sílvia Maria Saraiva Valente Chiapeta" I RESUMO Atualmente, a osteoporose afeta aproximadamente 200 milhões de pessoas em todo o mundo. Este trabalho objetiva reunir informações sobre a contribuição da atividade física, do cálcio e do estrogênio na prevenção da osteoporose em mulheres no climatério. São abordados os sintomas e fatores de risco mais encontrados dessa doença, bem como as formas de preveni-la. Conclui-se que a ingestão de cálcio, o nível adequado de estrogênio e a prática de atividade física regular são importantes na prevenção e no tratamento da osteoporose em mulheres no climatério. UNITERMOS: Osteoporose, climatério, massa óssea. Com o avanço tecnológico e a maior importância dada ao rendimento do trabalhador, o homem, a cada dia, e principalmente a mulher, em razão da própria cultura, vão adquirindo um estilo de vida sedentário, acelerando o processo de envelhecimento. A relação entre atividade física, qualidade de vida e longevidade tem sido objeto de vários estudos, em decorrência dos efeitos deletérios do envelhecimento do organismo. Dentre esses efeitos encontra-se a osteoporose, que é a diminuição da massa por unidade de volume (densidade) do osso normalmente mineralizado. Do nascimento até aproximadamente 20 anos o esqueleto cresce e se solidifica, chegando a percentagem máxima de minerais entre 30 e 35 anos, e a partir dai começa a haver uma perda de massa óssea lenta de 0,5% ao ano. Porém, em mulheres na menopausa esta perda acelera-se entre 1 e 3% ao ano, e acentua-se ainda mais após a menopausa devido a diminuição no nível de estrogênio, que é o principal hormônio regulador do metabolismo ósseo (MATSUDO e MATSUDO, 1992). Após a menopausa, 15 a 20% das mulheres terão fratura de quadril, e, destas, 12 a 20% tendem a morrer durante o primeiro ano após a fratura (ALOIA et al., 1978). Sabe-se que indivíduos que mantêm um estilo de vida ativo possuem massa óssea significantemente maior do que aqueles de vida sedentária, ** Professora de Educação Física. Professora do Departamento de Educaçào Física da Universidade Federal de Viçosa. Rev. min. Educ. Fis., Viçosa, 3(2): 5- 16, 1995 5 portanto, a melhor estratégia para se evitar a osteoporose é adotar um estilo de vida ativo, o mais cedo possível. Neste sentido, o objetivo deste estudo é reunir informações sobre a contribuição da atividade física, do cálcio e do estrogênio na prevenção da osteoporose em mulheres no climatério. JUSTIFICATIVA A osteoporose é considerada pela Organização Mundial da Saúde a epidemia do século XXI. Atualmente, essa doença afeta aproximadamente 200 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo a maior causadora de fraturas em mulheres na pós-menopausa e nos idosos em geral. De acordo com a literatura, 20% das mulheres que sofrem fraturas do colo do fêmur morrem; das que sobrevivem, 50% não voltam a andar sozinhas; e uma em cada quatro mulheres após 65 anos sofre fraturas relacionadas com a osteoporose (ALOIA et al., 1978). A perda mineral óssea aumenta com o processo de envelhecimento, o que é agravado pelo fato de as pessoas, em geral, tornarem-se menos ativas. Entretanto, estudos têm demonstrado que a atividade física é um fator importante não somente em conservar e, ou, reduzir a perda de massa óssea relacionada a idade, mas também podendo incrementar o pico de massa óssea (MARCUS et al., 1992; DALSKY, 1987; CHOW et al., 1986). Diante do exposto e considerando os dados fornecidos pelo IBGE, o qual registra que a população propensa a osteoporose tende a aumentar de 7,s milhões em 1980 para 15 milhões no ano 2000 (Marone, 1989, citado por MATSUDO e MATSUDO, 1992), este estudo se justifica porque possibilita analisar e aprofundar os conhecimentos existentes na área e conscientizar os profissionais de Educação Física a voltarem sua atenção para esta nova área de trabalho que vem surgindo. REVISÃO DE LITERATURA Osteoporose e Seus Fatores de Risco Os ossos, como os outros tecidos do corpo, estão constantemente sofrendo mudanças (ECKERT, 1993), podendo com isso surgir a osteoporose, que tem, dentre outros fatores de risco, o estilo de vida sedentário (MATSUDO e MATSUDO, 1992). A osteoporose é uma doença em que a massa óssea é reabsorvida lentamente pelo corpo e o conteúdo mineral, principalmente o cálcio, é perdido, tornando os ossos frágeis e susceptíveis a fraturas, especialmente nas regiões do quadril, do punho e das vértebras (DAIRS, 1987; SCHAPIRA, 1988; SZEJNFELD e ATRA, 1993; OTIS e LUNCH, 1994). Essas fraturas começam a ocorrer na quarta década e continuam em uma média vagarosa durante toda a vida (Cohn et al., 1972, citados por ALOIA et al.. 1978: SCHAPIRA. 1988). De acordo com SZEJNFELD e ATRA 6 Rev. min.Educ. Fis., Viçosa, 3(2): 5-16, 1995 (1993), as fraturas representam um estágio avançado da osteoporose, em que mais de 30% da massa óssea já foi perdida. Para Mackinnon (1988), citado por MATSUDO e MATSUDO (1992), osteoporose é a diminuição da massa por unidade de volume (densidade) do osso normalmente mineralizado. ECKERT (1993) define o mesmo termo como sendo ossos mais porosos, e a condição é marcada por áreas corticais mais finas e conteúdo mineral ósseo reduzido, de modo que as áreas ósseas compactas se tomam mais porosas. Para os autores, tal fato se deve ao desequilíbrio entre a reabsorção e a formação óssea, e, quando a reabsorção excede a formação do osso, este pode se tomar mais poroso com redução do conteúdo mineral ósseo. No entanto, para MARCUS et al. (1992), estas duas definições não estão inteiramente corretas, pois a osteoporose não consiste somente em uma redução da massa óssea, mas também em importantes mudanças na microarquitetura trabecular, tais como perfuração trabecular e perda de conectividade. Existem dois tipos de osteoporose, uma que acomete mulheres após a menopausa (tipo I) e outra, a osteoporose senil (tipo JT), que surge em tomo dos 70 anos em ambos os sexos, porém na proporção de duas mulheres para cada homem (WEHBA, 1991). Para o autor, o mecanismo de desmineralização é diferente nos dois tipos de osteoporose. A osteoporose pós-menopausa ocasiona uma perda do osso trabecular e a causa principal é a perda de estrogênio, já a osteoporose senil ataca a periferia dos ossos e a causa principal é o estilo de vida sedentário. Na visão de SZEJNFELD e ATRA (1993) a osteoporose é dividida de uma forma mais clínica: a osteoporose primária e a secundária. A secundária é causada por diferentes doenças, tais como: endócrinas, gastrintestinais, inflamatórias e outras. Já a primária é subdividida em quatro classificações, em que a osteoporose pós-menopausa e a senil estão incluídas. De acordo com esses autores, a taxa de perda do osso trabecular na osteoporose pós-menopausa é duas a três vezes maior que o normal, enquanto a perda do osso cortical está apenas discretamente aumentada. Os principais sintomas da osteoporose são dor lombar, perda de altura, deformidade da coluna (principalmente cifose) e múltiplas fraturas, geralmente das vertébras, do quadril e da região dista1 do rádio (MATSUDO e MATSUDO, 1992). Ein estado avançado de osteoporose, a caixa torácica pode apoiar-se no rebordo pélvico, prejudicando a função respiratória (STEINBERG, 1989; LUCASIN Jr. e LIMA, 1994). Os fatores de risco mais comumente observados para instalação da osteoporose são as deficiências de estrogênio, a inatividade física e o consumo de álcool e fumo (STEINBERG, 1989; MATSUDO e MATSUDO, 1992; SZEJNFELD e ATRA, 1993; LUCASTrU' Jr. e LIMA, 1994; OTIS e LUNCH, 1994). Além desses fatores, menopausa precoce (antes de 45 anos), mulheres claras de descendência européia, baixo peso corporal, histórico familiar de osteoporose e consumo excessivo de café aumentam o risco de adquirir osteoporose (ALOIA, 1989; SZEJNFELD e ATRA, 1993; HARGARTEN, 1994; LUCASIN Jr. e LIMA, 1994; OTIS e LUNCH, 1994). Segundo ALOIA (1989) e SZEJNFELD e ATRA (1993), a nuliparidade, as mulheres magras e pequenas e o tratamento por meio de corticóides também 7 Rev. rnin. Educ. Fís., Viçosa, 3(2): 5-16, 1995 - - são fatores de risco da osteoporose. Para alguns autores, uma dieta extremamente alta de proteínas (ALOIA, 1989 e HARGARTEN, 1994), fósforo (ALOIA, 1989) e fibras (HARGARTEN, 1994) não é aconselhável, pois também aumenta o risco de adquirir a doença. Por outro lado, a atividade física pode promover a hipertrofia óssea e prevenir a osteoporose (STEMBERG, 1989; MATSUDO e MATSUDO, 1992; SZEJNFELD e ATRA, 1993). A síndrome osteoporótica em mulheres pós-menopausa tem causas hormonais, metabólicas e nutricionais, e a redução da atividade fisica pode contribuir para a instalação da doença (STEMBERG, 1989; MATSUDO e MATSUDO, 1992). OTIS e LUNCH (1994) dão a sua contribuição ao afirmarem que falta de vitamina D ou pouca exposição ao sol são fatores que favorecem a instalação da doença. Outros fatores de risco, como lactação, indicadores antropométricos, dieta na infância e consumo excessivo de sal, têm sido estudados, mas ainda não há dados comprovados sobre o assunto (MATSUDO e MATSUDO, 1992). O Cálcio na Prevenção da Osteoporose Com o passar dos tempos o homem tem evoluído e mudado seus hábitos de vida, pois antes da industrialização havia uma maior carga mecânica de trabalho e de movimentos, não existindo tantas facilidades como hoje. A partir da evolução do processo industrial o homem vem se modernizando, surgindo assim uma desvalorização dos movimentos exercidos pelo corpo e uma maior valorização do intelecto. Com todas essas mudanças, a alimentação também foi modificada, pois o tempo passou a ser essencial para possibilitar maior rendimento. Com isso os enlatados, as conservas e os lanches rápidos, ricos em carboidratos e gorduras, foram ocupando o lugar dos alimentos com maior quantidade de vitaminas, proteínas e minerais. Dentre os minerais, o cálcio é o principal elemento para o desenvolvimento e a manutenção da massa óssea, podendo prevenir a condição de osteoporose (KANDERS et al., 1988; WICKHAM et al., 1989; HUGHES et al., 1990). Por isso, este mineral é um participante obrigatório da função fisiológica vital, e o corpo humano não o produz, dependendo da alimentação para obtê-lo. Assim, sob condições de ingestão inadequada deste elemento, o cálcio esquelético é lançado na corrente sanguínea para prevenir os desequilíbrios nutric;onais, gerando assim um balanço negativo na remodelação óssea (DALSKY, 1987; SANDLER, 1989). Em contrapartida, o equilíbrio nutricional do cálcio permite a homeostase esquelética (SANDLER, 1989). Pessoas adultas necessitam de 800 mg de cálcio diariamente, entretanto a carência deste nutriente é frequente; ao se estudar a alimentação de mulheres norte-americanas, observou-se que 25% delas consomem menos de 300 mg de cálcio por dia (KATCH e MCARDLE, 1990). Tal fato leva o organismo a recorrer a reservas ósseas de cálcio para restaurar o déficit. Esses autores afirmam que, caso o desequilibrio se prolongue, ocorre a 8 Rev. min. Educ. Ffs., Viçosa, 3(2): 5-16, 1995 instalação da osteoporose a medida que o osso perde sua massa mineral e toma-se progressivamente poroso e quebradiço, podendo ser fraturado em atividades diárias. Já OTIS e LCTNCH (1994) recomendam uma dieta de cálcio diária de 1.200 mg a 1.500 mg para garotas de até 20 anos, 1 .O00 mg para mulheres adultas e 1.500 mg para mulheres acima de 50 anos que possuem ciclo menstrual irregular ou abstenção do mesmo, e também para grávidas ou em período de amamentação. Mulheres na terceira idade absorvem cálcio menos eficientemente de sua dieta e o excreta mais prontamente através de seus rins do que faz uma mulher jovem (Gallagher et a]., 1979, citados por ECKERT, 1993). Assim, quando esta ingestão é baixa, a densidade óssea é proporcional ao consumo de cálcio (Loucks, 1988, citado por MATSUDO e MATSUDO, 1991). Mulheres ativas possuem massa óssea lombar 8% mais alta que mulheres menos ativas quando a ingestão de cálcio é similar (DALSKY, 1989). De acordo com o autor, quando as mulheres foram agrupadas segundo a ingestão diária de cálcio, o grupo de alta ingestão tinha massa óssea lombar 5% mais alta do que o grupo de baixa ingestão. Não se conhecem todas as causas do processo de osteoporose, mas sabe-se que o volume reduzido de cálcio na alimentação é um aspecto negativo para o conteúdo mineral ósseo (ECKERT, 1993). A suplementação de cálcio, a administração de estrogênios e a atividade física têm sido o principal regime profilático e terapêutico para a osteoporose em mulheres pós-menopausa (SMAKI et al., 1989). Da mesma forma, vários autores observaram aumento na densidade óssea em grupos que praticam exercícios e diminuição em grupos sedentários (ALOIA et al., 1978; CHOW et al., 1987; DALSKY et al., 1988; ASTRAND, 1992; MATSUDO e MATSUDO, 1992; LUCASIN Jr. e LIMA, 1994). Importância da Utilizaqão de Estrogênio em Mulheres no Climatério para Prevenção da Osteoporose O climatério é definido como a fase transitória na vida da mulher, entre as idades de capacidade reprodutora e não-reprodutora, tendo como marco central a amenorréia definitiva, isto é, a menopausa (HARGARTEN, 1994). Para o homem, a perda normal de minerais ósseos não apresenta maiores problemas até aproximadamente 70 anos, entretanto a mulher na menopousa pode chegar a perder entre 1 a 3% de massa óssea anualmente (KATCH e MCARDLE, 1990; MATSUDO e MATSUDO, 1992). A maioria das mulheres entra na menopausa entre 42 e 55 anos, porém esses valores não são fixos, podendo variar de indivíduo para indivíduo; a perda de massa óssea que ocorre neste período tem como fenômeno primordial a diminuição da produção de estrogênio, que é peculiar a este período da evolução biológica da mulher (OTIS e LUNCH, 1994). O estrogênio é um hormônio produzido pelos ovários e sua função é controlar o ciclo menstrual, aumentar a deposição de gorduras e promover as 9 Rev. min. Educ. Fís., Viçosa, 3(2): 5-16, 1995 características sexuais femininas (MCARDLE et al., 1991). A maneira exata pela qual o estrogênio exerce seu efeito protetor no osso não é bem conhecida, porém acredita-se que aprimora a absorção de cálcio pelo organismo e limita sua retirada do osso (MCARDLE et al., 1991). Neste sentido, o decréscimo de estrogênio pode acentuar a perda óssea em mulheres pós-menopausa, devido a um maior grau dessa deficiência, causando assim a osteoporose (Heaney, 1963, citado por ECKERT, 1993; HARGARTEN, 1994). A reposição deste hormônio é considerada o fator mais importante na prevenção da massa óssea em mulheres pós-menopausa (Drinkwater, 1984, citado por MATSUDO e MATSUDO, 1991; HARGARTEN, 1994). Porém, outros estudos sugerem que exercícios também auxiliam na prevenção e possibilitam minimizar a perda óssea causada pela idade (DALSKY, 1987; MARCUS et al., 1992; HARGARTEN, 1994), uma vez que a taxa de estrogênio é aumentada com o exercício físico (MCARDLE et al., 1991). Contudo, o estímulo que o exercício proporciona ao osso em mulheres na pós-menopausa pode não ser suficiente para diminuir a taxa acelerada de reabsorção óssea (MATSUDO e MATSUDO, 1991); portanto, a medida profilática para tentar inibir ou reverter parcialmente a perda óssea causada em mulheres na pós-menopausa seria, além da atividade física regular, administrar suplementos de estrogênio, para mantê-lo, assim, em níveis adequados no organismo feminino (Lindsay, 1980, citado por MATSUDO e MATSUDO, 1991; KROLNER et al., 1983). Vale salientar que a terapia estrogênica deve prosseguir por períodos prolongados, o que aumenta o risco de câncer do útero, da mama e de outros órgãos. Por isso, o tratamento hormonal para a osteoporose deve ser recomendado para casos mais graves (MCARDLE et al., 1991). Atividade Física e Prevenção da Osteoporose Assim como os músculos, os ossos permanecem fortes com a prática de exercícios regulares (OTIS e LUNCEI, 1994). A relação entre força muscular e densidade mineral óssea tem-se tornado um importante tópico de pesquisa durante os últimos anos, quando os investigadores observaram a interação lógica dos dois sistemas, em que a força muscular é importante para a densidade mineral óssea (ALOIA et al., 1978; SANDLER, 1989; SNOW-HARTER, 1991; MARCUS et al., 1992). Para SANDLER (1989), a força muscular é a indicadora habitual do iiível de atividade física e da densidade óssea, por isso a pt- idade física tem capacidade de otimizar a massa óssea dentro de seus limites genéticos e parece não haver limite de idade para a capacidade de o esqueleto respoiider efetivamente a atividade física. De ..-'? similar, JILKA et al. (1991), em seus estudos, também concluíram q;.c a força muscular e a densidade óssea estão significativamente correlacionadas, principalmente nas áreas relacionadas anatômica e funcionalmente. No entanto, o grau desta relação não é suficiente para predizer a densidade mineral óssea Alguns autores acrescentam que a manutenção da massa óssea, ou sua hipertrofia, parece estar relacionada não só com a contração muscular, 1O Rev. min. Educ. Fis., Viçosa, 3(2): 5-1 6, 1995 mas também com a ação da gravidade e com o estresse mecânico a que o osso está submetido (ALOIA et al., 1978; DALSKY, 1987; MARCUS et al., 1992; LUCASIN Jr. e LIMA, 1994; HARGARTEN, 1994). Reforçando o efeito da ação da gravidade, observou-se notável perda óssea em astronautas que retomaram de missões espaciais (DALSKY, 1987; ASTRAND, 1992). Considerando o declínio paralelo na perda óssea e na força muscular com a idade, a atividade física pode compensar a deficiência que tem sido encontrada em populações sedentárias (MARCUS et al., 1992). De 70 a 80 anos, a força muscular é de 35 a 45% mais baixa que seu valor de pico na juventude, sendo este grau de declínio comparável aquele no osso (SANDLER, 1989). Contudo, pessoas idosas que tenham praticado exercícios por vários anos durante a juventude apresentam densidade óssea maior que aqueles idosos sem passado esportivo (Jocobson, 1984, citado por LUCASIN Jr. e LIMA,1994). Por isso, os exercícios em mulheres na pósmenopausa atuam produzindo mudanças na massa óssea, podendo modificar a quantidade de perda óssea neste período (ALOIA et al., 1978; KROLNER et al., 1983; CHOW et al., 1986; WHALEN et al., 1988; DALSKY, 1987; MARCUS et al., i392; HARGARTEN, 1994). Em contrapartida, a inatividade física incrementa a reabsorção óssea e reduz sua formação (ALOIA et al., 1978; DALSKY et aí., 1988; STEINBERG, 1989; MATSUDO e MATSUDO, 1991). Neste sentido, mulheres de meia idade aumentam a massa óssea ou reduzem a taxa de perda em resposta a programas de exercícios de intervenção (ASTRAND, 1992). Da mesma forma, Sinaki et al. (1986), citados por MARCUS et al. (1992), relatam que mulheres com atividade física regular têm maior força isométrica e maior densidade óssea da coluna que aquelas mulheres menos ativas, comprovando que há uma relação entre força de um grupo muscular específico e o osso correspondente. Em contrapartida, Mergulies et al. (1986), citados por DALSKY (1987) e MATSUDO e MATSUDO (1992), ressaltam que a quantidade de estresse mecânico para mulheres na pós-menopausa não é conhecida, mas deve-se ter moderação nos estágios iniciais de qualquer programa de exercícios, particularmente para aqueles indivíduos com altos riscos de fraturas, pois níveis exagerados de atividade física, além de provocar incremento na massa óssea, podem causar fraturas por estresse, indicando que um excesso de atividade, em vez de benéfico, torna-se prejudicial. O tipo de exercício que melhor promove a densidade óssea ainda está para ser determinado. Exercícios com sustentação do peso do corpo, tais como caminhada, '3ogging" e dança, foram os priineiros exercícios de terapia prescritos para reduzir a perda óssea associada a menopausa (SANDLER, 1989; STEIMBERG, 1989; MATSUDO e MATSUDO, 1992). No entanto, recentes pesquisas sugerem que exercícos de sobrecarga em locais específicos promovem um estímulo mais efetivo ao osso do que cargas com distribuição generalizada (DALSKY, 1987; KATCH e MCARDLE, 1990; MARCUS et al., 1992; ASTKAND, 1992), ou seja. o exercício não tem somente um efeito sistêmico, mas também um efeito local sobre o osso (HARGARTEN, 1994), visto que o tecido ósseo é sensível as demandas que agem sobre ele e responde prontamente a elas, fazendo com II Rev. rnin. Educ. Fis., Viçosa, 3(2): 5-16, 1995 que cada modificação na função de um osso seja acompanhada por uma alteração específica na arquitetura interna (ASTRAND e RODAHL, 1980; SANDLER, 1989). Mulheres na pós-menopausa submetidas a caminhadas e corridas, com intensidade de 70 a 90 % do V02 máximo durante 50 a 60 minutos, com frequência de três vezes por semana, apresentaram conteúdo mineral ósseo aumentado em 5,2% em nove meses e 6,1% em 22 meses de treinamento, quando comparadas ao grupo-controle (DALSKY et ai., 1988). Porém, 13 meses após a parada do treinamento, a massa óssea estava apenas 1,1% acima da condição inicial. Os autores indicam que o treinamento de resistência com baixa intensidade pode ser introduzido para a população da terceira idade com sucesso, entretanto não se pode concluir que as atividades diárias aumentarão a massa óssea. CHOW et al. (1987) compararam três grupos de mulheres saudáveis na pós-menopausa: o controle, um com exercícios aeróbicos e outro com exercícios aeróbicos associados a resistência. A aptidão física e a massa óssea foram significativamente maiores nos grupos de exercícios se comparadas ao controle, mas a diferença não foi significativa entre os grupos com exercícios. COOPER (1991) relatou que o exercício aeróbico tem o seu melhor efeito sobre o sistema cardiovascular e a obesidade, enquanto exercícios de resistência aumentam a força muscular e a densidade óssea. Contudo, para prevenir a desmineralização óssea, exercícios aeróbicos e de força devem ser incluídos no programa de exercício (HARGARTEN, 1994; LUCASIN Jr. e LIMA, 1994). Segundo HARGARTEN (1994), os exercícios aeróbicos devem incluir pesos do próprio corpo em uma frequência de três vezes por semana, enquanto os exercícios de resistência ou treinamento de força devem ser feitos todos os dias por mais de 30 minutos cada sessão. LUCASiN Jr. e LIMA (1994) recomendam que o programa de exercícios deve ser individualizado e precedido por adequada avaliação das condições físicas do indivíduo, uma vez que a intensidade, a frequência, a duração e o tipo de exercício para obtenção de determinados resultados ainda não são totalmente conhecidos. Achados conflitantes exemplificam a dificuldade em se estudar com precisão o teina (SINAKI e OFFORD, 1988). Falhas de metodologia, tais como: vícios na especificação das amostras, na análise e na interpretação dos resultados, bem como a não-definição de um programa de treinamento para prevenção da osteoporose, foram observadas por OLDRIDGE (1992) e MATSUDO e MATSUDO (1992). Porém, foi estabelecido que os objetivos básicos deste treinamento seriam prevenir a rápida perda óssea que acontece ein mullieres com níveis inadequados de estrogênios, prevenir a taxa de perda óssea nos adultos em terceira idade e nos indivíduos mcnos ativos e aumentar o nível de densidade óssea nas mulheres durante a adolescência, uma vez. que a prevenção da doença não deve começar na pré ou pósmenopausa, inas na infância (Loucks, 1988, citado por MATSUDO e MATSUDO, 1992). Considerando os possíveis efeitos colaterais dos tratamentos com drogas e a relutância em usá-los como profilaxia, medidas nutricionais e atividade física surgem como segurança e atrativos à prevenção da 12 Rev. min. Educ. Fís., Viçosa, 3(2): 5-16, 1995 osteoporose (SCHAPIRA, 1988). Contudo, para Netelovitz (1993), citado por LUCASIN Jr. e LIMA (1994), mulheres na menopausa devem ter adequada reposição hormonal, pois ciclo menstrual normal ajuda a forinar ossos fortes e a prevenir a osteoporose (OTIS e LUNCH, 1994). Entretanto, futuros estudos são necessários para determinar os efeitos a longo prazo do exercício físico na involução da perda óssea ein diferentes partes do corpo e para determinar o limiar de prescrição de exercícios que irão produzir significantes aumentos na massa óssea (DALSKY et al., 1988; KROLNER et al., 1983), pois a diminuição da capacidade física, iiicluiiido a saúde óssea, é o preço que se paga pela dependência, cada vez inaior. dos ineios modernos. Portanto, um programa de exercícios cuidadosainei~teplanificado será um coadjuvante importante para prevenção da perda óssea ein inulheres na pós-menopausa (STEINBERG, 1989), porque, aléin de prevenir a osteoporose (STILLMAN, 1986; DALSKY, 1989; M AKCUS et al., 1992; LUCASIN Jr. e LIMA 1994), a atividade física proporciona outros benefícios, como prevenção de problemas cardiovasculares, combate a obesidade, promoçãc do bem-estar físico e integração social do indivíduo em seu meio (LUCASIN Jr. e LIMA, 1994). A ingestão de cálcio, o nível adequado de estrogênio e a prática de atividade física regular são importantes para a manutenção ou ate mesmo o incremento da massa óssea em mulheres no climatério, porém a prevenção da osteoporose deve ser um projeto ao longo da vida, que começa estabelecendo hábitos e condutas saudáveis na infância. A utilização de estrogênio no tratamento da osteoporose, embora seja benéfica, pode aumentar o risco de câncer de útero, de mama, bem como de outros órgãos. Assim, são necessárias alternativas para prevenção e tratamento da osteoporose. Neste sentido, destaca-se a importância da atividade física, pois um prograrna bem elaborado poderá ser um coadjuvante para a prevenção e o tratamento da osteoporose. A prescrição de exercícios para prevenção e, ou, tratamento deve ser definida de acordo com o tipo, a intensidade, a duração e a freqüência, entretanto não há concordância entre os resultados obtidos em diferentes trabalhos, sendo necessárias futuras pesquisas. Além disso, observa-se que, embora a prevenção e o tratamento da osteoporose devam ser de responsabilidade da Medicina, da Nutrição e da Educação Física, não há um trabalho conjunto entre os profissionais destas áreas. Assim, o avanço na prevenção e no tratamento da osteoporose passa pela conscientização desses profissionais, bem como da população sujeita a esta doença. Rev. min. Educ. Fís., Viçosa, 3(2): 5-16, 1995 13 ALOIA, J.F. Osteoporosis: a guide to prevention and treatament. lllinois: Champaign, 1989. ALOIA, J.F., COHN, S.H., OSTUNI, J.A., et al. Prevention of involutional bone loss by exercise. Annals of Internal Medicine, v. 89, p. 356-358, 1978. ASTRAND, P.O. Why exercise? Medicine and Science in Sports and Exercise, v. 24, p. 153-162, 1992. ASTRAND, P.O., RODAHL, K. Tratado de fisiologia do exercício. Rio de Janeiro: Interamericana, 1980. 61 7p. CHOW. R.K.. HARRISON. J.E.. BROWN. C.F.. et al. Phvsical fitness effekt on'bone mass i; posimenopausál wómen. ~ r c hPhys. . ~ Med. Rehabil , v. 67, p. 23 1-234, 1986. CHOW , R.K., HARNSON, J.E., NOTARIUS, C. Effect of two randomised exercise programmes on bone mass of healthy postmenopausal women. Br. Med. J., v. 295, p. 144.1-1444, 1987. 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