Disponibilidade de Peças para Bombas Manuais em África

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Disponibilidade de Peças para Bombas Manuais em África
Outubro de 2006
Apontamentos
Série sobre Abastecimento de Água Rural
Disponibilidade de Peças para
Bombas Manuais em África
Factores de Sucesso com vista à Sustentabilidade
Esta brochura descreve lições aprendidas de uma revisão de 25 estudos realizados em 15 países
diferentes sobre a distribuição e venda de peças sobressalentes para bombas manuais, especialmente em
zonas rurais de países africanos e não africanos. A investigação sugere diversos factores-chave que são
necessários para cadeias bem sucedidas e sustentáveis de distribuição e venda de peças sobressalentes
para bombas manuais.
Sumário Executivo
A instalação de bombas manuais é a solução de maior difusão para o
abastecimento de água para milhares de pessoas nas zonas rurais de
África. Contudo, em qualquer ocasião, uma média de 30% de todas as
bombas manuais instaladas em África não estão a funcionar. Em algumas
regiões, 50% ou mais não funcionam, devido, em parte, a dificuldades de
obtenção de peças. Esta brochura descreve lições tiradas de uma revisão
de 25 estudos realizados em 15 países sobre a disponibilidade de peças,
particularmente em áreas rurais de África.
São identificados diversos factores-chave para manutenção de cadeias
de abastecimento. Eles são analisados nas secções dedicadas a gestão
de cadeias de abastecimento, escolha de tecnologia e tipo de cadeia de
abastecimento (seja do sector público, seja do sector privado, seja em
parceria público/privado). A investigação no âmbito mundial mostra que,
no geral, a gestão das cadeias de abastecimento de peças para bombas
manuais está nas mãos de doadores e Governos, embora as próprias
cadeias de abastecimento geralmente envolvam tanto o sector público
como as empresas privadas.
Esta brochura procura ilustrar que não há solução isolada ideal para o
desenvolvimento de cadeias de abastecimento e que os profissionais
devem continuar a elaborar modelos de redes particulares, públicas e
público/privadas. Está a começar o uso de técnicas de avaliação detalhada
de mercados para determinar a procura pública e privada. Ao mesmo
tempo, reconheceu-se o valor de uma abordagem de processos, descrita
como um “caminho de aprendizagem”, como uma maneira realista de
despertar a compreensão da dinâmica e da capacidade do sector privado e
público por parte dos interessados directos. O “caminho de aprendizagem”
é uma abordagem coordenada dos interessados que tem potencial para
facilitar o desenvolvimento de opções informadas para os utentes finais.
Criação de redes de
distribuição sustentáveis
O desafio da criação de mecanismos
sustentáveis para apoiar a reparação
e manutenção de bombas manuais
depois de instaladas já tem recebido
muita atenção na África rural. Em 1999,
o Programa de Água e Saneamento
iniciou um processo de identificação
sistemática dos factores-chave que
contribuem para o êxito das cadeias
de abastecimento, mediante avaliações
de estudos tipo e de iniciativas de
“aprendizagem pela acção” na Ásia,
Africa e América Latina (Oyo 2001).
O processo continuou em parceria
com a Rede para o Abastecimento de
Água nas Zonas Rurais (RWSN), sob
a direcção do grupo temático sobre
bombas manuais sustentáveis.
Uma análise dos estudos sobre as
cadeias de abastecimento activas,
realizada nos últimos cinco anos,
sugere que têm sido adoptadas
certas abordagens recomendadas em
estudos anteriores sobre cadeias de
abastecimento, por exemplo, a avaliação
do mercado em Moçambique (Governo
de Moçambique Maio 2003). O Gana
adoptou uma abordagem coordenada
ao abastecimento de água nas zonas
rurais (WMC, WaterAid 2005), a qual
ajudou no processo de desenvolvimento
do conhecimento entre os interessados
(Governo, doadores, sectores privados,
ONG) sobre a dinâmica do sector
privado e suas limitações. Para os
interessados directos, o caminho de
aprendizagem tem o potencial de iniciar
o processo de formação de uma base
de conhecimento e compreensão a
partir do qual os utentes finais podem
desenvolver opções informadas para
abastecimento de água rural e redes de
peças sobressalentes.
A abordagem reconhece que as
soluções para cadeias de abastecimento
bem sucedidas precisam de passar para
além dos limites dos projectos de água
e podem mesmo necessitar de uma
perspectiva nacional e possivelmente
internacional. Levando em conta as
demoras na execução de projectos,
algum tempo ainda passará antes
que os resultados destas iniciativas
possam ser avaliados. Parece haver
uma adopção limitada destas e outras
ideias para aprimorar as cadeias de
abastecimento, e neste meio tempo
as bombas manuais continuarão a
falhar e a cair em desuso, muitas vezes
devido à indisponibilidade de peças de
substituição.
O Quadro 1, extraído dos estudos
examinados, resume os problemaschave que afectam o êxito das cadeias
de abastecimento. O quadro indica que
a gestão das cadeias de abastecimento
é exercida predominantemente por
doadores e pelo Governo, através
da execução de projectos. Pode-se
observar também que a padronização
está a tornar-se cada vez mais a norma.
As cadeias de abastecimento referidas
são principalmente públicas/privadas.
Disponibilidade de Peças para
Bombas Manuais em África
Quadro 1: Factores-chave que afectam o êxito das cadeias de abastecimento
Problemas-Chave
Estudos de Caso com Evidência de:
Gestão das Cadeias
de Abastecimento
Existência de um papel formalizado
de gestão da cadeia de abastecimento
3
Bangladesh
Uganda (2)
Vietname
Gestão da cadeia de abastecimento
exercida por doadores de uma maneira
não formalizada
10
África do Sul
Bangladesh
Etiópia (relatório de Maio de 2003)
Gana (2)
Malawi
Mauritânia
Moçambique
Tanzânia
Uganda (2)
Vietname
Política de padronização a definir
o aprovisionamento de bombas manuais
9
África do Sul
Etiópia
Gana (2)
Malawi
Mauritânia
Moçambique (2)
Paquistão
Tanzânia
Uganda (2)
Políticas para aprovisionamento
de bombas manuais sem padronização
2
Etiópia (relatório de Maio de 2003)
Quénia
Cadeias de abastecimento
do sector privado
2
Bangladesh
Vietname
Nicarágua
Cadeias de abastecimento
do sector público
4
Etiópia
Malawi
Mauritânia
Tanzânia
Cadeias de abastecimento público-privadas
6
Bangladesh
Gana (2)
Moçambique (2)
Paquistão
Tanzânia
Uganda
Cadeias de abastecimento instigadas pela
procura (uso de instrumentos do mercado
para determinar a procura)
4
Africa Ocidental (bomba Vergnet*)
Bangladesh
Vietname
Moçambique (2)
Adopção da abordagem
do “caminho de aprendizagem”
2
Gana
Moçambique
Opções
Tecnológicas
Tipo de Cadeia
de Abastecimento
“Caminho
de Aprendizagem”
Número
de Países
Países (o número “2” indica que foram
efectuados dois estudos num país)
de gestão da cadeia de abastecimento
a partir da sua base de operações
em França. Esta rede estende-se até
ao distribuidor local a nível de distrito,
bem como aos mecânicos da região
que mantêm as bombas instaladas. O
sucesso da Vergnet deve-se ao facto de
que o seu modelo de procura é efectivo
e ao facto de a cadeia de abastecimento
estar integrada numa rede existente.
Os organismos executores, muitas vezes
sem se darem conta disto, participam
na gestão da cadeia de abastecimento
quando tentam criar redes de
fornecimento de sobressalentes.
O papel importante que lhes cabe nas
etapas iniciais da implantação de redes
rurais de abastecimento de água vem a
diminuir com a formação de cadeias de
abastecimento. Quando os organismos
executores são doadores, eles precisam
de ter uma clara estratégia de saída
e uma estrutura de substituição para
continuar a exercer o papel de gestão,
quer a estrutura de substituição seja
privada, pública ou público-privada.
Visão Geral da Gestão das
Cadeias de Abastecimento
A gestão geral de qualquer cadeia de
abastecimento é de crítica importância
para o sucesso e pode ser desdobrada em
várias componentes-chave para acção:
• Efectuar avaliações do mercado
• Formar a cadeia de abastecimento
• Identificar oportunidades de
melhoramento da cadeia de
abastecimento e novos negócios.
• Comercializar produtos para a cadeia
de abastecimento.
• Estabelecer comunicação entre os
elos da cadeia.
• Entregar produtos ao utente final
através da cadeia, pela maneira
mais económica (a fim de maximizar
o lucro para operadores do sector
privado).
• Gerir a resolução de problemas.
• Facilitar ou gerir a determinação de
preços ao longo da cadeia.
• Promover o controlo de qualidade.
As grandes companhias internacionais
dedicam um volume significativo de
recursos à gestão das suas cadeias de
abastecimento. Na África Ocidental, a
fábrica de bombas Vergnet (ver* Quadro
1) (Oyo 2001) exerce um papel completo
Estudos realizados em África mostram
que, embora o sector privado exerça
um papel de gestão no sector agrícola,
esta gestão, no caso do abastecimento
de água em zonas rurais, geralmente é
exercida por doadores e executores de
projectos. No Malawi (Alexander 2003),
organizações religiosas parecem ter
obtido certo grau de êxito na gestão
do abastecimento de peças através
das suas redes existentes. O sucesso
contínuo parece depender do empenho
constante de organizações sem
fins lucrativos e da continuação do
abastecimento de peças subsidiado
pelos doadores e pelo Governo.
No Vietname (SDC & HTN Nov 2002),
apesar da alta densidade demográfica,
Empresas de Desenvolvimento
Independentes (EDI) desempenharam
papel crucial no estabelecimento de um
mercado de bombas manuais mediante
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Bombas Manuais em África
apoio aos fornecedores (fabricantes
e instaladores) com treino, capital de
arranque e comercialização de produtos.
O papel de gestão desempenhado
pelas EDI possibilitou à cadeia de
abastecimento desenvolver-se com êxito
e apoiar subsequentemente a procura
dos consumidores de novas bombas e
peças, ajudando a gerar um mercado
próspero de bombas manuais. Quando
as EDI reduziram a sua participação,
aqueles que já estavam na cadeia de
abastecimento puderam exercer por si
mesmos a necessária função gestora.
No Gana (CWSA Ghana 2004, SKAT
Foundation 2004), um agente central
de distribuição com quatro pontos de
venda recebeu peças de substituição e
a responsabilidade de transaccionar por
intermédio de uma rede de distribuição.
Embora ainda necessite de considerável
ajuda dos doadores, o projecto pode
suportar um nível de procura capaz de
garantir certo grau de sustentabilidade
a longo prazo. Outros projectos ainda
em fase embrionária, por exemplo
em Moçambique (Ministério de Obras
Públicas e Habitação de Moçambique
2003), reconhecem o valor da gestão
das cadeias de abastecimento e
advogam o uso de fornecedores do
sector privado para desempenhar
este papel.
Como chegar à gestão
sustentável das cadeias
de abastecimento?
A necessidade de uma função de
gestão das cadeias de abastecimento
parece clara, mas qual é a maneira
mais sustentável de chegar a isto?
A situação ideal seria um operador
do sector privado dar-se conta de um
incentivo comercial de longo prazo
para assumir este papel, desde que
possua a sensibilidade comercial e o
capital necessários, bem como ligações
já estabelecidas com uma rede de
distribuidores. Até agora, em África,
os estudos, no geral, têm achado
observadores potenciais do sector
carentes em pelo menos uma destas
três áreas. Em regra, a comunidade de
doadores apoia quer o capital financeiro,
quer a criação da rede, senão ambos,
como, por exemplo, o Gana (CWSA
Ghana 2004, SKAT Foundation 2004) e
projectos propostos no Uganda (SKAT
Foundation Outubro 2002).
Uma forma que poderia mostrar-se efectiva seria impor aos grandes
empreiteiros de instalação obrigações
contratuais de longo prazo no sentido
de criar cadeias de abastecimento de
peças e assumir o papel de gestão. Um
tal arranjo colocaria peças no mercado
imediatamente depois da execução do
projecto. A secção intitulada “Tipo de
Cadeia de Abastecimento” (ver página
11) descreve três tipos de arranjos desta
natureza, pelos quais um operador do
sector privado contrata a prestação
de certo nível de serviço, com um
regime de desempenho e um regime
de sanções para o baixo desempenho.
Tais arranjos têm o potencial para
proporcionar o apoio sustentável,
embora as evidências de implementação
sejam limitadas nesta altura.
Em países onde há baixa densidade
demográfica e, consequentemente,
baixos níveis de procura, é
pouco provável que uma cadeia
de abastecimento de peças
verdadeiramente operada pelo sector
privado possa ser viável, por exemplo
Mauritânia (WSP/Banco Mundial Set
2004) e Malawi (Alexander 2003).
Em tais casos, o papel de gestão da
cadeia de abastecimento deve ficar
predominantemente no sector público.
Os projectos executados por doadores
e pelo Governo podem ajudar neste
processo, trabalhando juntos para
criar focos de procura. Isto poderia
ser conseguido com o financiamento
de estudos de avaliação do mercado,
defesa da padronização de tecnologias
quando apropriada e defesa de uma
redução das restrições ao sector privado
tais como registo e impostos. Esta
última abordagem foi recomendada
por um projecto financiado pelo DFID
visando a participação em pequena
escala do sector privado nos sectores
de água em zonas rurais do Gana,
Tanzânia e Zâmbia (WMC, WaterAid
2003). O estudo recomenda que o
Governo assuma inicialmente o papel
de gestão da cadeia de abastecimento,
coordenando os doadores e o sector
privado, até chegar ao ponto em
que os operadores do sector privado
poderão assumir. Não se supõe que
o Governo tenha capacidade para
desempenhar este papel, razão pela
qual é recomendado o “caminho de
aprendizagem”. Isto seria facilitado pelos
profissionais de desenvolvimento de
negócios e cadeias de abastecimento
e proporcionaria o processo pelo qual
o Governo desenvolveria a sua própria
capacidade de tomar a dianteira na
formação de cadeias de abastecimento.
Quem puder assumir a função de gestão
de uma cadeia de abastecimento deverá
reconhecer que o faz a longo prazo. Por
isso mesmo, não é apropriado que organismos dos doadores assumam papéis
de gestão de longo prazo de cadeias
de abastecimento, visto que isto colide
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Bombas Manuais em África
Caixa 1. Factores do êxito da gestão de cadeias de abastecimento
• A gestão geral da cadeia de abastecimento é essencial para o seu êxito
completo. Sem o preenchimento deste papel, uma cadeia de abastecimento
tem probabilidades de desmoronar, especialmente numa cadeia complexa que
envolve numerosos actores.
• Quer seja assumido pelo sector privado-público ou pelo Governo, é evidente que
o papel deve ser de longo prazo.
• Os operadores do sector privado que assumem um papel de gestão da
cadeia de abastecimento têm mais probabilidades de ter êxito quando podem
ver um incentivo comercial de longo prazo e estão equipados em termos de
sagacidade comercial, capital financeiro e uma ligação existente com uma rede
de distribuidores.
• Os órgãos do Governo, no geral, necessitam de desenvolvimento de capacidade
para assumir a função de gestão da cadeia de abastecimento. A abordagem do
“caminho de aprendizagem” pode ajudar neste processo.
• Quando tal papel é assumido por doadores, é preciso que seja formulada, no
início do projecto, uma clara estratégia de saída que inclua adequadas iniciativas
de formação.
claramente com o objectivo de reduzir o
apoio directo a países. Se este processo
for iniciado por doadores e organismos
externos, eles terão de fazê-lo com uma
estratégia de saída claramente definida,
que inclui iniciativas adequadas de formação para garantir que o papel possa
ser assumido e mantido, uma vez que
eles se tenham afastado, por exemplo
no caso das EDI no Vietname (SDC,
HTN, SDC, Nov 2002).
Escolha de Tecnologia
A escolha de tecnologia tem um
impacto fundamental na capacidade
de uma cadeia de abastecimento de
atender às necessidades de peças e de
reparação. O objectivo do processo de
escolha de tecnologia é proporcionar
aos utentes finais (as comunidades
que usam as bombas) os meios de
compreender o impacto da escolha de
cada tipo de bomba manual – requisitos
de operação e manutenção, custos e
estruturas de apoio de longo prazo.
Tecnologias simples, como a bomba
de corda, usada mais notoriamente
na Nicarágua e transferida ao Gana
e em pelo menos sete outros países
africanos (WSP 2001), trabalham com
poucas peças substituíveis, e estas
muitas vezes podem ser produzidas
localmente. Normalmente, tais
tecnologias exigem uma cadeia de
abastecimento relativamente pequena e
simples. Consequentemente, o tempo
de inactividade das bombas de corda é
significativamente menor do que ocorre
com tecnologias mais complexas.
Quando a profundidade da água
aumenta, torna-se necessário equipamento tecnicamente mais complexo
e uma cadeia de abastecimento mais
articulada, porque as peças de substituição, como anilhas, por exemplo, terão
de atender a níveis de qualidade mais
alto e podem requerer a localização
de fontes. Embora possa haver uma
variedade de bombas manuais disponí-
Fig 1 – Cadeia de abastecimento simples
Fig 2 – Escolha de tecnologia e complexidade
da cadeia de abastecimento
Fabricante
Local
Bens e
serviços
Fabricante
Internacional
Importador
$
Distribuidor
Retalhista
Bens e
serviços
Bens e
serviços
$
$
Retalhista
Artífice/Mecânico
Cliente
(utente final)
Cliente
(utente final)
Os bens e serviços são fornecidos pelo fabricante
local ao cliente, seja directamente, seja por
intermédio de um retalhista. Os clientes são
capazes de realizar suas próprias reparações.
veis para fazer face ao desafio geológico
e ambiental (profundidade e impacto
da qualidade da água), o processo de
selecção de tecnologia deve sempre
seguir o princípio “tecnologia mais
simples = cadeia de abastecimento mais
simples = maior possibilidade de êxito”.
Uma maneira de abordar a escolha
de tecnologia é ter em vista altos
volumes de determinadas bombas
dentro de uma área geográfica e gerar
desta maneira suficiente procura para
estimular o interesse do sector privado
(Oyo 2001). A padronização de bombas
manuais como política nacional está a
propagar-se cada vez mais em África,
por exemplo no Gana (CSSA Ghana
2004, SKAT Foundation 2004), onde são
actualmente permitidos apenas quatro
Os bens e serviços são fornecidos pelo fabricante
internacional passando por quatro elos da cadeia
de abastecimento antes de chegar ao utente final.
São necessários artífices experientes para manter
e reparar a tecnologia.
tipos de bombas em novas instalações.
Esta política ajuda a obter volumes
crescentes de tecnologias semelhantes.
Este aumento da procura cria um
ambiente que permite certo controlo e
gestão da qualidade e, possivelmente,
do preço. Ao mesmo tempo, é possível
padronizar as peças para as bombas
escolhidas, criando assim uma procura
maior de um grupo genérico de peças
e aumentando a viabilidade da oferta no
sector privado.
Em muitos países, os governos
regulamentam os padrões e o controlo
da qualidade do equipamento e dos
serviços – embora estudos realizados
no Paquistão (Robinson 2000) e no
Bangladesh (Robinson e Ajay 2000)
sugiram a necessidade de um equilíbrio
entre custo e qualidade. No Paquistão,
os organismos executores obtiveram um
sucesso apreciável na criação de um
variado mercado de abastecimento de
bombas AfriDev para atender a grandes
programas de instalação executados por
doadores. Paralelamente, estabeleceu
-se um mercado privado para
utilizadores usando o desenho básico
das AfriDev originais, embora com
algumas alterações das componentes
acima do solo que tornaram a bomba
mais barata e, em termos de operação,
mais apropriadas para os utentes finais.
No Bangladesh, a bomba de pedal
é uma tecnologia muito simples para
zonas com lençóis freáticos pouco
profundos. A investigação da WSP
sobre irrigação de baixo custo no
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Bangladesh (WSP Agosto 2000)
mostrou que os utilizadores estavam
a tomar decisões económicas para
compra de bombas de qualidade inferior
que só duravam dois anos, em vez de
bombas 50% mais caras (em média)
que duravam cinco a sete anos. Esta
compensação entre preço e qualidade,
ligada aos níveis de rendimento, é um
aspecto importante a ser considerado
pelos organismos de desenvolvimento,
dado que desafia a prática convencional
do desenvolvimento de tecnologia
para elevar a qualidade e a fiabilidade.
Isto tem repercussões nas cadeias de
abastecimento porque os padrões de
qualidade têm potencial para deixar à
margem a fabricação local.
A selecção de tecnologia é um
processo iterativo. O primeiro passo
é determinar os requisitos geológicos
e ambientais. O passo seguinte deve
ser a selecção da tecnologia mais
simples possível e a condução de uma
avaliação do mercado para determinar
a viabilidade de uma cadeia de
abastecimento no sector privado. Em
Moçambique (Governo de Moçambique,
Maio 2003) este processo começou na
Província de Inhambane. Para assistir
neste processo, Harvey e Reed (2004)
sugerem um cálculo aproximado para
determinar a procura por peças para
determinada tecnologia, por área
geográfica.
Se existe uma tecnologia já estabelecida
em dada zona ou região, com uma cadeia de abastecimento a funcionar, esta
deve ser considerada, dado que o seu
volume de procura pode equivaler a uma
procura viável de peças dentro da área
do novo projecto proposto. A escolha
de tecnologia deve sempre considerar
a sustentabilidade dos mecanismos de
apoio a longo prazo, após a instalação,
e os benefícios de abordagens coordenadas, sejam elas regionais, nacionais
ou internacionais.
A avaliação da tecnologia apropriada
deve considerar também as políticas e
disposições institucionais que poderiam
limitar ou apoiar o uso de certa tecnologia (Caixa 2). Harvey e Reed (2004)
sugerem que um relaxamento dos
direitos de importação pode conduzir a
condições favoráveis para tecnologias
que não suportam o aprovisionamento
local ou o suporte das reposições.
O regime de políticas precisa de ser
aplicável à situação do país.
também uma mudança no sentido de
abandonar a bomba manual em favor de
um interesse maior em sistemas motorizados. No geral, as cadeias de abastecimento de tecnologia diesel e eléctrica
são relativamente bem estabelecidas e
estão mesmo ao alcance de localidades
rurais. À medida que a tecnologia solar
se desenvolve mais e os custos diminuem, o equipamento de bombeamento
solar pode também tornar-se mais viável
para uso rural.
A possível mudança para uma propriedade mais pessoal/familiar do equipamento para elevação de água pode
criar procura por novos tipos de bomba
manual no sector privado, o que uma
política de padronização pode não ser
capaz de controlar. Pode antecipar
Tipo de Cadeia
de Abastecimento
A função de uma cadeia de
abastecimento é entregar os bens
e/ou serviços correctos ao utente, no
momento devido, ao custo devido e
Caixa 2. Factores a considerar no processo de selecção de tecnologia
As tecnologias mais simples invariavelmente requerem cadeias de abastecimento
mais simples, mas o processo de selecção de tecnologia deve ter carácter iterativo,
desenvolvendo-se em paralelo com a avaliação de uma cadeia de abastecimento
efectiva e sustentável para fornecimento de bens e prestação de serviços após a
instalação. O processo precisa considerar o seguinte:
• Preferências e exigências do consumidor
• Requisitos e limitações geológicas e ambientais
•Procura potencial de bens e serviços pós-instalação dentro de uma área
geográfica definida
•Provável efectividade da cadeia de abastecimento no tocante ao
fornecimento de bens e serviços de apoio (públicos, privados ou em parceria
público/privada)
• Custo
• Qualidade
• Fiabilidade
• Requisitos e custos de operação e manutenção
• Disposição e capacidade de pagar por serviços de apoio.
com a devida qualidade, para obter
os quatro elementos fundamentais –
disponibilidade, acessibilidade,
exequibilidade e adequabilidade. As
cadeias de abastecimento podem ser
operadas pelo sector privado (incluindo
ONGs, Governo e doadores) ou pela
combinação dos dois sectores público
e privado.
Cadeias de abastecimento
do sector privado
O principal instigador de uma cadeia de
abastecimento sustentável no sector
privado é uma procura adequada.
Isto depende muito da densidade
demográfica e da taxa de reposição de
sobressalentes. Pode-se observar uma
ilustração simples deste facto na Figura
3, que mostra que, à medida em que
a procura aumenta, aumenta também
o rendimento das vendas. O custo
unitário do abastecimento diminui
até se atingir um certo ponto no qual
a procura é suficientemente elevada
para produzir lucro (a área amarela).
Se a cadeia de abastecimento não for
capaz de transaccionar dentro da área
amarela, o negócio não será atractivo
e é pouco provável que a cadeia de
abastecimento tenha êxito.
O efeito da densidade demográfica
sobre a procura pode ser observado
nos estudos asiáticos sobre a
bomba manual AfriDev no Paquistão
(Robinson 2000) e a bomba Treadle
(a pedal) no Bangladesh (Robinson
e Ajay 2000), quando densidades
populacionais relativamente elevadas
nas zonas rurais geraram procura
suficiente para permitir o crescimento
de cadeias de abastecimento no
sector privado. Em comparação, as
cadeias de abastecimento de peças
em África, com suas densidades
demográficas relativamente baixas,
tendem a ser operadas pelo sector
público, como no Malawi, por exemplo
(Alexander 2003).
10
Disponibilidade de Peças para
Bombas Manuais em África
serviços de operação e manutenção
e melhoramentos de rotina.
Fig 3. Rentabilidade de uma cadeia de abastecimento do sector privado
Alto
Custo unitário
do abastecimento
Cadeia de
abastecimento lucrativa
do sector privado
$
Rendimento
(Depende da densidade demográfica e da procura)
Baixo
Volume de Peças
A Figura 4 (Narkevic 2005) indica
que a viabilidade de uma cadeia de
abastecimento operada por particulares
e não subsidiada é, em grande parte,
uma função da densidade populacional
e do nível de rendimento do país.
Com base nisto, a maioria dos países
africanos necessitará de entre 10 e
20 anos de cadeias subsidiadas de
abastecimento de peças antes que
o suprimento de sobressalentes se
torne auto financiável, e até mesmo
mais tempo no caso de países com
rendimento e densidade muito baixos.
A procura é afectada também pela
disposição do utente final de pagar
pelo abastecimento de água e pelos
serviços de apoio. Portanto, onde
as populações rurais são pequenas,
como na Mauritânia (Bernage 2000),
pode não ser possível criar procura
suficiente para estimular o interesse
sustentável do sector privado. É preciso
que os profissionais sejam realistas
com relação aos níveis de rendimento
necessários para serviços de
abastecimento de água para suportar
determinadas tecnologias.
Alto
Cadeias de abastecimento
público/privadas
Os estudos sugerem que as cadeias
auto sustentadas dedicadas
exclusivamente ao abastecimento
de peças não serão viáveis na África
rural. A probabilidade de êxito é maior
quando as cadeias de abastecimento
de sobressalentes estão ligadas
a serviços de tecnologia da água
relacionados, tais como instalação de
bombas e serviços de manutenção. Os
planos público/privados de operação
e manutenção (PPOM) (Harvey e Reed
2004) regulamentados e contratados
pelo Governo podem bem oferecer
uma solução efectiva mediante a qual
as peças sobressalentes podem ser
obtidas nas localidades regionais
maiores e levadas para os locais que
delas necessitam. Aqui estão três
exemplos de planos PPOM:
• Planos de Água Garantida –
empresas privadas são contratadas
por comunidades que possuem
sistemas próprios, para prestar
• Planos de Garantia Total (Harvey
e Reed 2000) – fabricantes de
bombas apoiam empresas locais
que fornecem peças e assistência
técnica pagando uma taxa
anual. Um contrato de garantia
assegura determinado nível de
serviço e fiabilidade mediante um
regime de desempenho, como
por exemplo, fiabilidade de uma
bomba e tempo de inactividade.
O Governo desempenha um papel
na regulamentação e apoia os
utentes finais no controlo de seus
fornecedores quando existe um
conflito. Para ser efectivo e não
incorrer em custos proibitivos, o
Plano de Garantia Total exige firme
apoio institucional e jurídico.
• Planos de Aluguer de Bombas (Van
Beers Agosto 2001) – semelhante
ao Plano de Garantia Total, com a
diferença de que as comunidades
alugam o equipamento em vez
de possuí-lo e pagam uma taxa
mensal por determinado nível
de serviço, de acordo com um
contrato. Neste caso também
se aplicaria um regime em que o
desempenho insatisfatório é sujeito
a penalidades.
Custos pertinentes a todos os elos da cadeia
de abastecimento para entregar um produto
ou serviço.
1
Harvey e Reed (2004) oferecem o cálculo do Ponto
de Equilíbrio de Densidade para Bombas Manuais
(HDB) como meio de testar a viabilidade comercial
do abastecimento de peças no nível dos utentes. O
HDB define a procura mínima de bombas manuais
necessária para gerar suficiente movimentação de
sobressalentes e suficiente lucro para o retalhista.
Os autores admitem que este é um método
de cálculo um tanto grosseiro, mas demonstra
claramente que há necessidade de uma densidade
de bombas manuais relativamente elevada para
chegar à lucratividade (p. ex., 200 bombas num
raio de 20 km do ponto de venda). Isto é raramente
encontrado nas zonas pouco povoadas de África
subsariana.
2
11
Fig. 4. Operação de cadeias de abastecimento de bombas manuais em relação ao rendimento nacional e às
densidades demográficas em países seleccionados
4 500
China
(Rendimento Nacional Bruto/hab USD 2002)
4 000
3 500
3 000
Cadeias de abastecimento operadas por particulares
2 500
Cadeias de abastecimento operadas
pelo sector público
Guiné
Gana
Senegal
1 500
1 000
Chade
Burkina
Uganda
Quénia
Benin
Moçambique
Etiópia
Níger, Mali,
500
Congo
0
Índia
Vietname
2 000
0
Ruanda
Nigéria
Malawi
Zâmbia
50
100
150
200
250
300
350
400
Densidade Demográfica (hab/km2)
Todos os três planos fazem uso de
um operador estabelecido do sector
privado, que já está envolvido no
sector da água e tem apoio financeiro
e possível incentivo comercial para
apoiar a cadeia de abastecimento de
peças. Porém, mesmo com contratos,
os planos ainda dependem do requisito básico do sector privado, de uma
procura adequada, o que equivale,
por sua vez, à possível densidade de
clientes. Uma política nacional que use
tais planos pode ajudar na criação
de suficiente procura, mas nesta
altura os indícios de boa aplicação
são limitados (WSP Agosto 2000).
O Programa de Água e Saneamento –
África (WSP-AF) (www.wsp.org)
explorará oportunidades para modelos
semelhantes no âmbito de sua iniciativa regional intitulada “Formação de
Grupos de Serviços Públicos Rurais
e Alugueres” (FRUGAL).
12
Além do seu papel como regulamentador, o Governo tem a possibilidade de influenciar os incentivos do
mercado a fim de instigar a actividade
do sector público, ao ajudar a criar um
clima propício para os negócios. Por
exemplo, o desagravamento fiscal no
que se refere à tecnologia de água e
aos direitos de importação pode ajudar
a reduzir os custos de transacção. O
mesmo pode fazer um relaxamento das
exigências de registo, para permitir a
empresas menores a concorrer para
pequenos contratos de suporte do
sector privado (WMC, WaterAid 2005).
Se existirem subsídios do Governo
para instalação de bombas manuais
e serviços de apoio, o Governo tem
a oportunidade de usar o processo
de subsídios nos seus critérios de
selecção. Se for possível reduzir o
subsídio dentro dos termos do próprio
contrato, isto pode actuar como um
mecanismo controlado para conduzir
a uma cadeia de abastecimento mais
independente.
Outra maneira pela qual a intervenção
do Governo está a suportar o investimento em aptidões (Uganda, KAT
Foundation Out 2002) é a que utiliza
provedores de serviços de desenvolvimento de negócios (BDS). Iniciativas
comerciais internacionais como o Fórum
Internacional de Negócios do Príncipe
de Gales (www.iblf.org), do Reino Unido,
que vincula negócios internacionais com
pequenas e médias empresas em países
em vias de desenvolvimento, podem
ser capazes de proporcionar apoio
empresarial geral ao sector privado, bem
como, possivelmente, apoio à comercialização de produtos específicos.
Como o objectivo dos operadores
do sector privado será o lucro, os
Disponibilidade de Peças para
Bombas Manuais em África
incentivos que apelam para o seu
senso de responsabilidade social não
bastarão para garantir a sustentabilidade
a longo prazo. Por exemplo, no Malawi,
fez-se uso de subsídios para fornecer
sobressalentes para bombas manuais
através de uma rede nacional de lojas de
ferragens. Quando a rede foi privatizada,
os lucros da venda de peças não eram
suficientemente elevados para os novos
donos individuais das lojas e a cadeia
de abastecimento foi rompida (Kandulu
2004) (Harvey e Reed 2004).
Cadeias de abastecimento
do sector público
Onde não são viáveis cadeias de abastecimento privadas e público/privadas,
a alternativa é o modelo do sector
público. Estas cadeias de abastecimento exigem um compromisso de
longo prazo no sentido de apoiar o
fornecimento de sobressalentes. Em
regra, os fundos provirão de doadores,
através do Governo, e a cadeia de
abastecimento pode ser operada pelos
órgãos governamentais para a água e
por organizações sem fins lucrativos
como os grupos religiosos – como no
Malawi (Alexander 2003). Tal como no
sector privado, estas cadeias de abastecimento têm melhores possibilidades
de obter êxito se forem usadas redes
existentes e onde já exista ou possa ser
desenvolvido certo grau de gestão da
cadeia de abastecimento.
Conclusão
Os estudos mostram que não existe
na África rural um tipo de cadeia de
abastecimento que seja melhor que os
outros para fornecer bombas manuais
e sobressalentes, bem comos serviços
de reparação. A adopção de lições
aprendidas com o trabalho anterior
sobre cadeias de abastecimento
está, quando muito, ainda na infância.
Ainda se passarão alguns anos antes
13
Caixa 3. Sumário
• As cadeias de abastecimento podem ser operadas pelo sector privado, pelo
sector público ou por meio de parcerias público/privadas. As cadeias de
abastecimento mais longas requerem maior gestão e contribuição financeira ao
longo de toda a cadeia, exigindo assim um maior rendimento para cada unidade
vendida.
• Não são muito numerosos os exemplos de cadeias isoladas de abastecimento
bem sucedidas no sector privado para serviços de suporte ao abastecimento
de água rural em África, havendo, porém, potencial para planos de operação
e manutenção (PPOM) público/privados nos quais agências do Governo
desempenham inicialmente o papel de gestoras da cadeia de abastecimento
e, a longo prazo, de órgãos regulamentadores da indústria. Onde projectos
instigados por doadores não sejam capazes de criar uma procura adequada,
mediante uma abordagem coordenada da avaliação da procura e da escolha
tecnológica, podem ser ainda necessários subsídios a longo prazo.
• As cadeias de abastecimento do sector público podem ser a única solução
exequível em certas situações (zonas remotas com população escassa, que
requerem tecnologia complexa), o que exige um compromisso de suporte de
longo prazo, através, por exemplo, de agências governamentais ou organizações
de cunho religioso.
• Existem ferramentas para fazer a aproximação entre a procura potencial dos bens
e serviços fornecidos pelas cadeias de abastecimento (aferindo as necessidades
de sobressalentes e as densidades populacionais por área geográfica), mas os
serviços de tecnologia de água em zonas rurais têm maior potencial para obter
êxito quando alinhados com cadeias de abastecimento existentes, por exemplo
na instalação de bombas manuais.
que os impactos de iniciativas como o
uso franco de avaliações do mercado
possam ser verificados.
Uma cadeia de abastecimento eficiente
necessita de uma boa gestão e de
adequada procura de bens e serviços,
o que pode ser determinado pela
escolha de tecnologia e pela densidade
geográfica das bombas manuais. As
cadeias de abastecimento podem
pertencer ao sector privado, ao sector
público/privado ou ao sector público.
As cadeias de abastecimento do sector
público/privado, usando, por exemplo,
grandes empresas distribuidoras ou
instaladoras para exercer a sua gestão e
14
o aprovisionamento de bens e serviços,
com apoio de mecanismos de garantia
ou aluguer, necessitam também de
uma procura adequada para que
sejam sustentáveis. É possível que haja
potencial para manter os interesses do
sector privado e desenvolver mercados
usando iniciativas governamentais que
reduzam o custo de transacção para
as empresas, como, por exemplo,
desagravamento fiscal e promoção de
uma forma mais simples de registo.
A alternativa à operação nas mãos
do sector privado, onde a procura é
insuficiente para estimular este sector, é
usar o sector público. As organizações
religiosas têm, com um adequado
nível de interesse, o potencial para
usar com sucesso as suas redes para
distribuir peças. Na maioria dos países,
a responsabilidade final pela prestação
de serviços pertence ao Governo. Onde
o Governo está envolvido na gestão
da cadeia de abastecimento, isto exige
um compromisso de longo prazo, o
que pode ser, de facto, a solução mais
exequível para sustentar a provisão de
serviços em áreas muito esparsamente
povoadas, onde não são viáveis outros
mecanismos.
Embora não exista uma fórmula
fácil de compreender, há potencial
para um processo lógico capaz de
orientar aqueles que estão a executar
projectos e programas tendo em vista o
sucesso. Descrito como um “caminho
de aprendizagem”, o processo nada
mais faz do que facilitar a todos os
interessados a avaliação das opções da
cadeia de abastecimento, paralelamente
com a selecção de tecnologia, dentro
de uma área geográfica determinada.
Esta pode ser local, regional ou
internacional. Reconhecendo que as
cadeias de abastecimento não são
constrangidas pelos limites de um
projecto, este processo permite aos
interessados chegar ao mesmo nível de
compreensão com respeito à dinâmica
fundamental do sector privado e público
e desenvolver, com os utilizadores
finais, uma série de opções informadas,
com consequências entendidas. O
“caminho de aprendizagem” continua
ao longo da execução do programa e
projecto.
O resumo que se segue esboça uma
sequência sugerida para a formação,
gestão e manutenção de uma cadeia
de abastecimento de peças para
bombas manuais:
Disponibilidade de Peças para
Bombas Manuais em África
Caixa 4. Desenvolvimento de uma cadeia de abastecimento – passos rumo ao sucesso
Passo 1
Definir as limitações geológicas e ambientais da área do projecto.
Passo 2
Determinar a variedade de tecnologias disponíveis, juntamente com perfis de fiabilidade e requisitos no
tocante a peças sobressalentes e suporte.
Passo 3
Facilitar a coordenação de interessados (particulares, Governo, ONGs, público, doadores) por todo o país
em adoptar uma abordagem à formação baseada no “caminho de aprendizagem”, a fim de compreender
a dinâmica do sector privado em geral e a do abastecimento de peças sobressalentes em particular.
Passo 4
Levar a cabo uma avaliação do mercado que inclua:
• Determinação do negócio potencial de sobressalentes (ver cálculo em Harvey e Reed, nota 2)
• Identificar todos os factores limitadores do desenvolvimento de cadeias de abastecimento no
sector privado, incluindo a política de aprovisionamento do Governo, acesso ao crédito, apoio ao
desenvolvimento de negócios para negociantes, capacidade e disposição de pagar e atitudes dos
utentes finais
• Determinar mercados comparativos e cadeias de abastecimento já existentes
• Determinar outros projectos e abordagens de doadores/ONGs ao uso de subsídios para apoio
a bombas e peças
• Identificar opções para a função de gestão da cadeia de abastecimento
• Identificar opções para cadeias de abastecimento no sector público.
Passo 5
Decidir quanto à cadeia de abastecimento e à tecnologia apropriadas.
Passo 6
Influenciar a mudança de política, quando necessária.
Passo 7
Planear a função de gestão da cadeia de abastecimento e identificar uma clara estratégia de saída para
entidades externas do sector público (especialmente para doadores)
Passo 8
Planear a implementação de políticas e assegurar uma abordagem contínua e coordenada com outras
entidades, como parte do “caminho de aprendizagem” em curso
Passo 9
Implementar o uso da acção gestora no planeamento da prática (o ciclo de planeamento, execução
revisão, planeamento).
15
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Upper Hill Road
PO Box 30577
Nairobi
Quénia
Tel.: +254-20-322-6306
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Autor: Anthony Oyo
Revisores: Erich Baumnann, Peter Harvey,
Aaron Kabirizi e Sam Mutomo
Preparado sob a orientação de Joseph Narkevic
e Piers Cross (WSP-Africa)
Acerca do Autor
Anthony Oyo é um engenheiro mecânico com base no Reino Unido, com uma vasta
experiência em Água e Saneamento, Energia, Transporte e Pequenas e Médias Empresas,
esteve à frente da Iniciativa das Redes de Abastecimento da WSP em1991 e continua a
apoiar iniciativas de desenvolvimento do sector privado de pequena escala nos sectores de
água e energia, em todo o mundo. Trabalhou anteriormente no Banco Mundial, na DfID no
Grupo de Desenvolvimento de Tecnologia Apropriada (GDTA).
Direcção da tradução para o Português
de Luís Macário (WSP-África)
Redactora: Mindy Stanford
Fotografias: Erich Baumannn (SKAT)
Contactos: Anthony Oyio [[email protected]]
Erich Baumnann [[email protected]]

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