TAJIQUISTÃO
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TAJIQUISTÃO
CONFISSÕES RELIGIOSAS ● Muçulmanos 86.4% ● Agnósticos/Ateus 11.9% ● Cristãos 1.4% Católicos 0.1% / Ortodoxos 1.2% / Protestantes 0.1% ● Outros 0.3% SUPERFÍCIE 143.100 Km² POPULAÇÃO 7.565.000 DESALOJADOS 3.323 REFUGIADOS --- Em teoria, a Constituição do Tajiquistão protege a liberdade religiosa. Contudo, uma lei de 2009 concebida para implementar a Constituição criminaliza as actividades religiosas não registadas, proíbe a educação religiosa e o proselitismo, restringe severamente o número e o tamanho dos locais de culto, legitima a interferência do Governo na nomeação dos líderes religiosos muçulmanos, exige que as comunidades religiosas procurem o reconhecimento oficial para disponibilizar educação religiosa e comunicar com colegas crentes no estrangeiro, e impõe controlos estatais restritos à publicação e importação de literatura religiosa. Em 2011, mais restrições foram impostas, incluindo medidas administrativas que sancionam duramente os crimes associados à religião. O Parlamento tajique alterou o Código Criminal do país, aumentando para dois anos de prisão a sentença para pessoas que organizem e participem em situações que “perturbem a ordem por dirigir e organizar reuniões, encontros de massas, manifestações, procissões de rua, piquetes de greve, incluindo encontros religiosos. Outra nova disposição legal no Código Criminal pune com oito a doze anos de prisão as actividades orientadas por um grupo organizado que causem hostilidade religiosa. Em Agosto de 2011, o Tajiquistão adoptou a Lei da Responsabilidade Parental. A nova lei responsabiliza os pais pelas actividades religiosas dos seus filhos. Proíbe as pessoas com menos de 18 anos de idade de participarem em quaisquer actividades religiosas, excepto funerais. As crianças só podem receber educação religiosa em escolas autorizadas pelo Governo. Num país onde metade da população tem menos de 18 anos, esta lei vai ter um impacto enorme na sociedade. Apesar da oposição, a lei foi adoptada em tempo record por iniciativa do presidente Emomali Rahmonov, um raro acontecimento na história legislativa do Tajiquistão. Pouco depois, a lei foi alterada para impor sentenças pesadas (cinco a oito anos, mais multas severas) aos pais cujos filhos organizem ou participem em aulas “religiosas extremistas”.1 De acordo com o Governo, estas medidas são necessárias para travar o fundamentalismo islâmico, um problema crescente no país. O Tajiquistão faz fronteira com o Afeganistão, onde os grupos terroristas são muito activos. Contudo, as medidas restritivas da liberdade religiosa afectam todas as famílias e comunidades religiosas tajiques. As organizações religiosas cristãs, como por exemplo as missões cristãs, foram forçadas a alterar os seus planos pastorais para a juventude, pois tornaram-se literalmente ilegais. Forum 18, “Tajikistan: Religious activity is only banned up to the age of 18”, 21 de Julho de 2011. 1 TAJIQUISTÃO TAJIQUISTÃO 501 TAJIQUISTÃO 502 Um estudo sobre a liberdade religiosa realizado pelo Forum 18 encontrou “contínuas violações da liberdade religiosa ou de crença e dos direitos humanos fundamentais associados”.2 De acordo com o estudo, o Estado visou toda a actividade independente por parte de muçulmanos, cristãos, judeus, testemunhas de Jeová e outros crentes. Além das medidas legislativas acima referidas, a lista de violações inclui: demolições e o encerramento de mesquitas, de igrejas e da única sinagoga do país; o encerramento de algumas comunidades de testemunhas de Jeová e de alguns movimentos islâmicos e protestantes; a detenção arbitrária de muçulmanos e apresentação de acusações de crime contra testemunhas de Jeová; uma proibição absoluta de toda a actividade religiosa sem a autorização do Estado; restrições ao número de mesquitas permitidas; restrições ao direito a partilhar crenças; e censura governamental rígida aos materiais religiosos. ONGs como a Human Rights Watch,3 a Freedom House4 e o World Christian Council5 criticaram abertamente o Tajiquistão pela fraca reputação na área dos direitos humanos e da liberdade religiosa. Tempos difíceis para os cristãos Com as novas restrições e a nova lei da responsabilidade parental, a pequena comunidade cristã do país (cerca de 150.000 pessoas) pode ver-se, contudo, confrontada com ainda mais dificuldades e problemas. Apenas menos de metade de todas as Igrejas existentes conseguiu registar-se. Muitos cristãos (sobretudo os jovens) tornaram-se “proscritos” do dia para noite, simplesmente por rezarem, prestarem culto e trabalharem em conjunto em programas de apoio social. Segundo a lei, os estudos bíblicos, os grupos de oração, o culto na igreja, o catecismo e outras práticas religiosas podem ser consideradas como “reuniões ilegais” se não forem autorizados directamente pelo Estado. Além disso, segundo uma medida aprovada em 2011, as oportunidades para os tajiques obterem uma educação religiosa no estrangeiro foram drasticamente reduzidas.6 Esta mudança teve um impacto negativo nas Igrejas e comunidades cristãs, que muitas vezes beneficiaram de apoio, intercâmbios e relações com comunidades e correligionários cristãos em todo o mundo. De acordo com a organização Open Doors, não é fácil para os cristãos viverem num contexto social e cultural islâmico. Frequentemente, os convertidos ao Cristianismo enfrentam ameaças, violência física, fogo posto e outras formas de perseguição por parte de mullahs, autoridades locais, vizinhos e parentes. Da mesma forma, importar livros cristãos é limitado e a sua disponibilidade é mínima. A única livraria evangélica do país foi forçada a encerrar. A sociedade bíblica pode operar, mas com certas restrições. Se os cristãos se envolverem em evangelização activa, sujeitam-se a serem acusados judicialmente e multados pelas suas actividades. Também se arriscam a ser alvo de assédio e violência física. Nas áreas tribais mais remotas do país, os cristãos estão isolados e a pressão dos fundamentalistas muçulmanos ainda é 2 Forum 18, “TAJIKISTAN: Religious freedom survey”, Março de 2011. 3 Human Rights Watch, World Report 2012. 4 Freedom House, Freedom in the World 2011. 5 O World Christian Council critica as políticas religiosas do Tajiquistão, The Christian Telegraph, 22 de Setembro de 2011. 6 International Christian Concern, 27 de Maio 2011. Muçulmanos sob controlo apertado A 28 de Maio de 2011, um tribunal ordenou o encerramento da maior e mais importante mesquita do país, a Mesquita Muhammadiya, em Vahdat, gerida pela família de Haji Akbar Turajonzoda, um famoso teólogo e líder carismático durante a guerra civil de meados da década de 1990. O encerramento “fez parte de uma campanha alargada contra a vida muçulmana não oficial em todas as suas formas”, bem como contra todas as formas de oposição política, disse John Heathershaw da Universidade de Exeter, especialista em Islamismo no Tajiquistão.9 Turajonzoda foi o líder do clero aprovado pelo Estado durante a era soviética e tornou-se num crítico acérrimo do presidente Emomali Rahmonov. É também uma das figuras de topo na oposição muçulmana ao Governo. A Mesquita de Vahdat atraía regularmente 15.000 homens para as orações de sexta-feira e os sermões nela gravados eram vendidos em CD em todo o país. A decisão do tribunal faz parte de uma campanha do Governo, dos tribunais e do Parlamento para impor controlos mais apertados ao Islão, de modo a travar os grupos radicais e terroristas. O caso da Mesquita de Vahdat foi seguido de muitos outros. O Governo de facto usou um punho de ferro contra as comunidades muçulmanas não oficiais e contra as manifestações não autorizadas. Enviou as suas forças para as mesquitas, pôs os crentes na prisão sem julgamento, multou e retirou imãs, e proibiu sermões.10 Após dois anos de reorganização, o país tem agora 3.347 mesquitas autorizadas e 327 centros para as orações de sexta-feira.11 Segundo a lei da religião, foram criados novos regulamentos para as mesquitas, restringindo o seu número e definindo claramente as suas actividades. Os edifícios de grande dimensão são autorizados nos distritos com 10.000 a 20.000 membros, ou 50.000 no caso da capital. TAJIQUISTÃO maior. As actividades de todas as Igrejas e organizações cristãs são monitorizadas de perto pelas autoridades.7 Dados de um censo realizado no final do século XX mostram que a população cristã estava a crescer, incluindo todas as confissões e comunidades.8 A Igreja Ortodoxa russa tinha cerca de vinte comunidades registadas, sete templos e cerca de 70.000 membros. As Igrejas Ortodoxas búlgara e ucraniana também tinham membros. Desde o estabelecimento de uma mission sui iuris em 1997, a Igreja Católica tinha três igrejas registadas com cerca de 250 membros (sobretudo russos, alemães e ucranianos). A certa altura, Dushanbe, a capital, tinha registado 3.000 conversões. Protestantes, evangélicos e pentecostais, bem como cerca de 500 baptistas, estavam presentes no país. A Igreja Luterana tinha cerca de 8.600 membros. Mais recentemente, o número de cristãos, na sua maioria ortodoxos russos, caiu drasticamente como consequência da emigração, que aumentou na sequência da guerra civil e do período que se lhe seguiu. Open Doors, Tajikistan World Watch List 2012. 7 www.worldmap.org/index.php 8 Eurasianet, “Tajikistan: Could Showdown With Popular Cleric Backfire?”, 1 de Junho de 2012. 9 Forum 18, 6 de Fevereiro de 2012. 10 Departamento de Estado norte-americano, July-December, 2010 International Religious Freedom Report, Setembro de 2011. 11 503 TAJIQUISTÃO Segundo a lei, os imãs devem ser seleccionados pelas “entidades estatais autorizadas responsáveis pelos assuntos religiosos” e os muçulmanos apenas estão autorizados a rezar em quatro tipos de lugares: mesquitas, cemitérios, casas ou santuários. Contudo, “após décadas de secularismo forçado, o povo desta antiga república soviética empobrecida tem aderido em massa à sua religião tradicional, com todo o zelo que os movimentos de renascidos têm em qualquer parte do mundo”, escreveu recentemente um observador.12 Movido pelo receio do radicalismo islâmico, o Governo tentou controlar todas as formas de expressão religiosa. Pois se é verdade que os grupos extremistas muçulmanos se aproveitam de um número crescente de crianças de rua e órfãos tajiques, como afirmam algumas ONGs, de modo a recrutarem e instigarem neles ideologias radicais e transformarem-nos em pequenos terroristas,13 por outro lado, demasiada pressão governamental pode igualmente ter o efeito oposto e levar muitos, sobretudo os jovens, a aderirem a “organizações ilegais”, como observa Mahmadali Hait, vice-presidente do Partido do Revivalismo Islâmico na oposição no Tajiquistão. Isto poderá levar a um ciclo vicioso que só pode aumentar o nível de radicalização no país. The New York Times, “On the Rise in Tajikistan, Islam Worries an Authoritarian Government”, 17 de Julho de 2011. 12 504 Agência Fides, 28 de Maio de 2011 13