Fala de Mãe Fátima Damas no Locutório de Umbanda

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Fala de Mãe Fátima Damas no Locutório de Umbanda
Fala de Mãe Fátima Damas no Locutório de Umbanda na UEUB em 20.08.2005
Qui, 04 de Novembro de 2010 16:36
Aproveitando a oportunidade da presença de irmãos de outros Estados, desejosos de uma
abordagem sobre os rumos da Umbanda, quero e devo dizer que não podemos cometer aqui
os erros terríveis da intolerância que presenciamos em outros países, onde irmãos matam
irmãos em nome da religião. No Oriente Médio temos visto os conflitos na Faixa de Gaza, entre
judeus e muçulmanos; na Irlanda o derramamento de sangue entre católicos e protestantes.
Que religiosos são esses que praticam atrocidades em nome de Deus?!
Saindo da esfera da intolerância, na atualidade identificamos aqueles que usam Deus como um
meio de iludir pessoas incautas e carentes - são os bem conhecidos vendilhões da fé imbuídos
do propósito sórdido de extorquir dinheiro, de se dar bem na vida, de arrebanhar inocentes com
discursos bem preparados, com gestos eloqüentes e teatrais, por meio de livros de impressão
gráfica refinada, tudo visando tocar mais os sentimentos das pessoas do que a razão. Suas
obras se forem analisadas com isenção de ânimo não passam pelo crivo da razão.
Normalmente esses aproveitadores surgem trazendo "novas revelações" - conceitos
sofisticados, de difícil entendimento. Propõem no mais das vezes que seus leitores tenham
calma, visto que coisas novas causam estranheza às nossas mentes atadas a hábitos antigos.
Alguns buscando suporte às suas idéias estapafúrdias chegando a alegar que grandes
verdades são preciosidades não acessíveis a todos, imediatamente. Daí, explicam eles, porque
Jesus falava por parábolas!
Como conseqüência da maravilha que trazem à luz, não antes revelada porque não era
chegado o momento, tornam-se líderes absolutos de grupos que os seguem, núcleos esses
vencidos pelo poder do malabarismo intelectual, que põem de lado o bom censo, engolindo
tudo que tais líderes lhes sugerem.
Tentando seduzir os sentidos naturalmente atraídos ao conforto, à beleza, à estética visual,
são construídos, à custa de sacrifícios em geral de gente simples, novos Templos onde
ocorrem desfiles de moda, a presença de pessoas belas, bem trajadas... sorrisos artificiais e
palavras calculadas, escondendo o veneno atirado sobre quem lhe é alvo.
Falta-nos, a nós assim chamados religiosos, a simplicidade cativante e a sinceridade que abre
os corações para a troca de expressões de fraternidade.
Fraternidade não implica necessariamente a existência de consenso nas idéias.
Quanto aos rumos que tomará a Umbanda, cito o pensamento de um escritor asiático "os livros
são a base, mas A UTILIDADE É O PRINCÍPIO"... diz ele ainda "a pureza é a força".
Antes eu falei sobre a intolerância, mas cabe aqui umas avaliações sobre o excesso de
tolerância nas questões religiosas ou litúrgicas. É um campo muito delicado, pois se não
tivermos o equilíbrio necessário, teremos a crítica que temos uma postura radical ou em outro
extremo, com o título de LIBERDADE DE PENSAMENTO ou NA UMBANDA PODE TUDO,
resvalamos para a ANARQUIA. Precisamos, e eu proponho aqui, sentar, discutir e codificar
conceitos básicos e consensuais, que possam proporcionar uma base de entendimento seguro
para as gerações futuras; que possam trazer ordem na prática em nível, municipal, estadual e
nacional.
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Temos muitas Umbandas: "Umbanda de Maria", "Umbanda de Antônio", "de José", Umbanda
sei lá de quantos, todas propondo ou impondo conceitos e rituais de todos os tipos e maneiras
- são verdadeiros atrativos à mente e aos olhos dos não conhecedores dos trabalhos dos
Espíritos que vêm com a missão da prática da caridade.
Lembrando o que disse ainda há pouco: qual o porquê de um princípio ou ritual trazido à tona
por uma revelação MAS QUE NÃO TEM NENHUMA UTILIDADE na prática diária dos Templos
de Umbanda? Além do mais, muitos conceitos são estranhos na observação que podemos
fazer nas giras, ali no "téte a téte" com as Entidades.
Abro um espaço aqui para esclarecer que não estou propondo uma postura austera na
Umbanda, querendo para ela livros mal acabados, templos-barracos, pessoas vestindo roupas
rotas, etc. Não é isso absolutamente. Penso é que devemos nos calcar mais no conteúdo do
que na forma, no que é essencial e não no supérfluo. Não é pecado terem-se templos
confortáveis e roupas bem acabadas, MAS AS PESSOAS SÃO MAIS IMPORTANTES QUE
TUDO ISSO.
Hoje estamos vendo uma enxurrada de livros com títulos e capas belíssimos - é uma
necessidade impressionar para vender bastante.
Surgem agora escritos psicografados por Preto tal, Caboclo tal, Exú tal, ... as vendas tendem a
crescer, pois as pessoas acreditam nas Entidades. Se não acreditam, temos que concordar
pelo menos que em nossa cultura essas Entidades geram o impulso da compra pela fama que
têm e pela curiosidade que o povo tem em saber o que pensam, onde nasceram, como
viveram, etc.
O trabalho de psicografia é feito nos Centros Espíritas de base normalmente Kardecista,
através da intuição passadas por Espíritos que se aproximam dos médiuns. Nessa modalidade
de mediunidade - psicografia - cito como exemplo o maior de todos da nossa época, despido
de qualquer vaidade, de qualquer interesse político e financeiro: CHICO XAVIER.
Digo embasada numa observação prática em Terreiros há mais de 30 anos que na Umbanda
não existe a prática da psicografia... ela nem sequer é observada com intensidade e
freqüência. Já visitei Templos por todos os cantos desse Brasil e até fora dele. Não há essa
prática porque os Espíritos têm os médiuns de incorporação - modalidade predominante nos
Templos Umbandistas. As mensagens e os ensinamentos são passados de forma oral.
Cabe-nos o dever de registrar o que nos passam as venerandas Entidades sem adulterar seus
pensamentos.
Pela minha ótica os princípios deixados pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, explicados por
Moab Caldas, "Não matar, não cobrar, usar o branco, evangelizar e utilizar as forças da
natureza
" vão ao encontro da sobriedade (não matar), da ética (não cobrar)
, da estética agradável (
usar o branco
), da paz (
evangelizar
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) e da saúde (
utilizar as forças da natureza
).
O Caboclo veio cumprindo uma ordem dada pelo Astral Superior de "baixar" na Terra num
médium católico, jovem, alheio ao Espiritismo.
Finalizando, tenho na mente a paisagem imaginada do Caboclo das Sete Encruzilhadas
realizando curas maravilhosas, surpreendendo a todos que participavam de seus trabalhos,
sem aparatos, com roupas simples, sem o abrigo de Templos suntuosos e sem ligações
escusas com o dinheiro. Vejo-o numa inspiração do meu modesto coração a dizer bem no
fundo " isso é a minha Umbanda!"
Salve o Caboclo das Sete Encruzilhadas!
Fátima Damas
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