[léxico poéticopolítico do México contemporâneo] Simone Gomes

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[léxico poéticopolítico do México contemporâneo] Simone Gomes
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[léxico poéticopolítico do México contemporâneo]
Simone Gomes1
No México eu aprendi, cantando, que “yo soy que [insira o nome de um grupo oprimido ou vítima de
um massacre sistemático, como “las mujeres de Juarez”] " que si, que no, Ayotzinapa". Ainda assim,
que a versão machista de uma música “que lo vengan a ver, que lo vengan a ver, eso no es presidente,
es una puta de cabaret”, foi paulatinamente substituída por outra“que lo vengan a ver, que lo vengan a
ver, eso no es presidente, es asesino macho burgues”. Ademais, o fato de o Estado do México ter
assumido a liderança nos feminícidios desde o período em que foi governador também é lembrado:
“Enrique escucha las mujeres no se calan/ es un feminicida lo decimos en su cara”. O brado é
retumbante “ ni una a mas, ni una a mas, ni una asasinada a mas”.
Aprendi, contando, que de 1 até 43 se pede justicia ao final, para que a história não se repita e não
vivamos "ni 43, ni 68", referência ao massacre de estudantes de hoje e de outrora. Contamos também
um sem número de bravatas, em que ouvíamos a plenos pulmões: "volveremos y seremos millones",
dentro do "estado, estado guerrillero, estamos com Guerrero". Outras advertências seguem: “van a
volver, las balas que disparaste van a volver, la sangre que derramaste la pagaras, los hombres que
asesinaste no morirían,no moriran!”
Sobre a enorme bandeira inerte do México no Zócalo e as suas inúmeras representações, em
movimento e em marcha, com as extremidades negras, ao invés do habitual verde e vermelho, aprendi
que aos prédios públicos gritamos "esos son, esos son, los que chingan la nación".
O alerta é igualmente dado pelos que caminham: "alerta, alerta que caminan, la lucha estudantil en
América Latina". Os estudantes também deixam claro o lugar de onde falam: “ ¡La gente nos pregunta!
¡La gente nos pregunta! ¡¿Quiénes son ustedes?! ¡¿Quiénes son ustedes?! ¡Y les contestamos! ¡Y les
contestamos! ¡Estudiantes, sí señor! ¡Estudiantes sí señor! ¡De lo bueno lo mejor! ¡De lo bueno lo
mejor! ¡Quítate de en medio! ¡Quítate de en medio! ¡Pinche Peña Nieto!”.
E para além, na demanda: "Aplaudan, aplaudan, no dejen de aplaudir, el pinche gobierno se tiene que
morir". Do alerta ao espanto, também se escuta: "porque, porque nos asesinan, se somos la esperança
de la América Latina?"
Sobre a morte, categoria celebratória e viva no país, se chamam aos desaparecidos, além de pedirmos
castigo e justicia, mas o desejo expresso mais firmemente é o por vida: "porque vivos se los llevaran,
vivos los queremos".
De dentro também se grita "Fuera, Peña Nieto", mas de fora quase não se escuta mais, passados mais
de dois meses. Além disso, o chamado é pelo povo: “el pueblo conciente se une al contingente”,
celebrando igualmente os apoios dos transeuntes que se manifestam a favor das pautas levantadas: “si
se ve, si se ve/ esse apoyo si se ve”. A empatia urge “ hombro con hombro/ codo con codo/ Ayotzi,
Ayotzi, Ayotzi somos todos”. E que do contínuo político da direita à esquerda, "estamos todos desde
abajo".
Do caminho que se inicia na Avenida Reforma, passando pela Avenida 5 de Mayo, (in)feliz aniversário
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Doutoranda em Sociologia pelo IESP-UERJ, atualmente como pesquisadora na UNAM, no México, pensa poesia e
escreve prosa. [email protected]
ALEGRAR - nº15 - Jun/2015 - ISSN 18085148
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da (im)provável vitória contra o exército francês, o grito que mais se ouve é por Revolución.
Por fim, (fue) el Estado, está muerto y el pueblo está despierto, no bojo de um anacronismo pérfido da
guerra às drogas: "para que las drogas no lleguem a sus hijos, los estamos matando". E a constatação
sonhática que "Y es que si, quisieron enterrarnos y no se dieron cuenta de que somos semillas".
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