O Campo da Bola - alvorada
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O Campo da Bola - alvorada
O Campo da Bola Escrito por Gilberto Pinelas Quarta, 15 Abril 2009 21:37 - O acto de fumar durante as esperas nocturnas aos javalis, pelo efeito que eventualmente pode provocar no desfecho de uma destas caçada, este normalmente e como principio, é prontamente repudiado pela grande maioria dos amantes desta modalidade de caça, embora e ainda assim, exista quem o faça despreocupadamente, com alguma frequência e deste modo, mesmo assim, vá conseguindo atingir os seus objectivos cinegéticos, cobrando bons javalis, isto sem grandes dificuldades. A história que vos pretendo contar, tem exactamente como argumento, o facto de ter conseguido conciliar uma espera, aliás duas esperas, com o verdadeiro acto de fumar, sem que isso consistisse num problema, antes... Situado num autêntico descampado, o então baptizado "campo da bola", era um cevadouro cuja ubicação tinha resultado de uma mera decisão intuitiva, mas também motivada por um misto de "teimosia"/aposta com o guarda daquela zona de caça e o meu amigo Joaquim Ramalho. Ambos diziam, ou melhor, ambos torceram prontamente o nariz, quando lhes propus que ali fizéssemos um cevadouro, onde mais tarde e por palavras minhas, iria eu, em jeito de compromisso e provocação, matar um navalheiro para que não duvidassem da minha insistência. Autor: Gilberto Pinelas Um "risco" de milho no chão, umas pinceladas de gasóleo no tronco de um pinheiro já morto e carunchoso que nos servia de referância para localizarmos o engodo, deixámo-lo entregue ao tempo e remetemo-nos á tão ansiosa espera, na expectativa de que os javalis o visitassem o mais breve possível, e que um dos possíveis visitantes fosse um macho adulto, para poder "calar" a boca aqueles "meninos", que não faziam outra coisa senão sorrir em jeito de troça, sempre que falámos no dito cujo. Nos primeiros dois meses, nas suas mais que visíveis deambulações nocturnas em busca de alimento, os javalis, e apesar de frequentarem quase assíduamente os terrenos adjacentes ao cevadouro visado, pois viam-se bastante fossadas, pareciam e mesmo assim, desprezar aquele local, aquela comida fácil e não entravam de maneira nenhuma para petiscarem qualquer coisinha. E com isto, o guarda, através das nossas regulares e habituais conversas, começou a questionar-se, a questionar-me, se faria ainda sentido continuar a cevar-se os javalis ali naquele descampado e em simultâneo desperdiçar-se o precioso milho, que segundo ele, faria falta para os outros cevadouros, onde os porcos comiam á "boca cheia" práticamente todos os dias. Como sou um bocado teimoso nestas coisas das esperas, ainda para mais sendo o desafio 1/6 O Campo da Bola Escrito por Gilberto Pinelas Quarta, 15 Abril 2009 21:37 - protagonizado por estes enigmáticos animais, não desisti, e disse-lhe para continuar a cevar, nem que para isso eu tivésse que comprar mais milho, como até aí vinha habitualmente fazendo. As luas foram-se sucedendo, as esperas foram-se efectuando. algumas com êxito, outras nem por isso, e ao fim de alguns dias, tive a boa nova de que os nossos amigos javalis já se tinham decidido a entrar no "campo da bola" e comiam razoávelmente o grão... Questionado o guarda, isto para saber se no engodo entrava algum javali "patudo", a resposta não se fez esperar e tive que me resignar com um não. Segundo ele, estariam a entrar porcos no cevadouro, mas nada que merecesse a pena perder uma noite, como é hábito dizer-se por aquelas bandas. Através da minha persistência para que não deixasse de fornecer comida ao cevadouro, ao fim de pouco tempo, isto creio que no princípio de Abril, recebi então outro telefonema, e aí tive a notícia que esperava ansiosamente. Tinha finalmente um navalheiro a comer no "campo da bola". Informado mas não convencido, um dia que estava no monte com a família, e conseguindo escapar-me ás sempre gratificantes mas também trabalhosas tarefas de pai, contactei o guarda da zona de caça, e "voei" até lá para confirmar realmente o que me dissera anteriormente. E não restavam dúvidas, era mesmo um navalheiro, pois apesar de também não ter uma grande pata, deixava marcadas no tronco do tal pinheiro morto, umas já razoáveis navalhadas... Dissipadas as dúvidas e feitas as contas aos poucos dias que faltavam para a lua que se avizinhava redonda que nem uma bola, isto apesar da insistência do guarda, que no seu entendimento, deveria de esperar logo nessa lua, sob pena de o porco se ir embora por qualquer motivo, decidi então e mesmo assim, esperá-lo só na lua do mês seguinte, Maio, dando-lhe assim mais tempo para que reforçasse a sua suposta querença e ganhasse mais alguma confiança, e assim foi... Com a data prevista a avizinhar-se, a poucos dias do dia "D", recebo outra informação do guarda que me deixou ainda mais nervoso, pois noutro cevadouro que também já andava a namorar há já algum tempo, a "guarita", entrava agora também um outro navalheiro bastante grande, que por sinal, e como me dizia o meu relator, este já teria "fintado" mais uma dúzia de esperistas, inclusivamente ele, o próprio guarda, quando em duas noites se pusera de atalaia á espera dele, na companhia do seu sogro. Chega o dia e durante a viagem, na amena cavaqueira com o meu companheiro habitual nestas andanças, o Joaquim Ramalho, mesmo assim, nao consigo desprender-me dos meus pensamos sobre aqueles dois porcos, de tanta hesitação, e só quando chegámos mesmo á ZC, é que acabei por me decidir e ficar no dito "campo da bola", honrando assim os meus "compromissos" iniciais, deixando o cevadouro da "guarita" para o meu bom companheiro. Deixámos o carro longe, e o Joaquim Ramalho foi o primeiro a colocar-se, sem antes eu lhe ter indicado e na minha opinião, como deveria fazê-lo, isto em virtude daquele porco já saber muito bem onde o esperavam todas as luas, e parece-me que em boa hora o fiz... No meu caso e bastante confiante que esta jornada nocturna seria um êxito, coloquei-me bastante longe do cevadouro, debaixo da copa frondosa de um dos sobreiros velhos que bordejavam o dito descampado, e sentado na minha fiel cadeirinha, testemunha de tantas e tantas esperas, deixei-me levar pelo tempo, numa absoluta mas extrema confortável imobilidade... Cai a noite e começo a ouvir com agrado os primeiros gorgeios das corujas que parecem ter 2/6 O Campo da Bola Escrito por Gilberto Pinelas Quarta, 15 Abril 2009 21:37 - acordado do seu sono diurno, quiçá avisando que também elas já estariam prontas para iniciarem ás suas caçadas... Com o vento sempre certo e favorável, o tempo decorre lentamente e por volta das 21 horas, sobre a minha esquerda, embora ainda longe, finalmente oiço pela primeira vez, aquilo que me parece ser um javali pisar um galho e parti-lo, tento concentrar-me na minha audição, e se assim o supus, mais tive a certeza quando já bem perto de mim, mas no abrigo das sombras dos sobreiros ramalhudos, ouço agora o porco sorver o ar, na tentativa de descortinar algum perigo. Á medida que o tempo passava, o porco parecia adivinhar o que o esperava, sorvia o ar e teimava em dar a cara, começa então a dar mostras de se querer posicionar nas minhas costas, de forma a ficar de focinho ao vento e... e se assim o mostrou, assim o fez, em "bicos dos pés" rodou, rodou, e eis que ouço aquele sopro já diferente, já de aviso, tinha acabado de ser descoberto por aquele "menino", logo no primeiro "round". E para mal dos meus pecados tinha que "gramar" ali até que a vista já não descortinasse o cevadouro, pois tinha sido o combinado e... e ****** para isto! Agora acompanhado e com alguns sopros misturados, por volta das 22.30h oiço um tiro da 300 WMag. do meu companheiro Joaquim Ramalho, logo a seguir mais dois e faz-se um silêncio absoluto. Durante uma hora não mais ouvi aquele porco soprar, o que me levou a pensar que finalmente estaria sózinho e assim existir uma ténue possibilidade de aparecer outro mais descuidado e entrar, mas... mas o que não tardou a ouvir-se, foi novamente aquele malandro a soprar, dizendo-me em jeito de desafio que por ali mandava ele, e que fosse dormir, pois já não estava ali a fazer nada... _Ai é, queres baile? Dizia eu enervado e em surdina. _Então aqui tens! Pego no maço de tabaco, tiro um cigarro, acendo-o e vá de mandar umas valentes bafuradas de fumo mesmo na sua direcção. Com certeza, não estava á espera que quando o fumo lhe chegasse ás ventas, ele tossisse, o que eu queria mesmo era denunciar-me agora o mais possível isto sem fazer outros tipos de barulho, isso não! Sopros, mais sopros, e não fumei um, acabei por fumar três ou quatro se bem me lembro... e ele sempre ali por perto, sempre atrás de mim, encoberto pelas sombras das árvores, sem nunca se mostrar. _Onde estará? Pensava eu. _Isto não tem mato, como é possível não conseguir vê-lo? Quando já não via quase nada ou mesmo nada, quando esperava a todo o momento que eles me viéssem buscar, e isto pode parecer caricato, começo a ouvir um tropel, este vindo também do mesmo lado onde se encontrava aquele porco matreiro, e para meu espanto, a correr, passa uma vara enorme de javalis e entram no cevadouro... guerream uns com os outros, as marrãs tentam por ordem naquilo, mas parece-me que os mais pequenos não colaboram e... e ainda pensei que naquela leva de confusão e grunhidos, o "meu" porco entrasse, mas não, nem sequer se mexeu de onde estava e apreciava aquele verdadeiro espectáculo, assim como eu. Vislumbro as luzes da pickup, esta imobiliza-se, e vejo o guarda vir na minha direcção com o máximo de cuidado, como era seu hábito para não fazer barulho, mas ao chegar perto de mim, deixo-o perplexo ao dizer-lhe em voz normal, que poderia falar normalmente e se deixasse de cuidados... _Então Sr. Gilberto? Perguntou-me ele admirado. 3/6 O Campo da Bola Escrito por Gilberto Pinelas Quarta, 15 Abril 2009 21:37 - _Então? então vou fumar mais um cigarrinho para ver se ainda consigo matar esse porco "desgraçado" que me apareceu por aqui, mas que nem sequer lhe vi o focinho. _ É pá, não faça isso, a fumar aqui então é que você nunca mais põe a vista em cima deste porco ò Sr. Gilberto, pare lá de fumar e venha-se embora daí. Dizia-me ele perplexo. _ olhe até lhe vou dizer mais, vou deixar aqui as beatas dos cigarros, e tenho a certeza que o matarei na próxima vez. _ Você é que sabe. Dizia-me ele com um sorriso trocista, mas já resignado com a minha decisão. Tralha ás costas, cadeira, vara, saco de espera, mochila, etc, caminhámos para junto da pickup e, quando vou a por o meu equipamento na caixa da mesma, até me assustei. O meu companheiro Ramalho, tinha finalmente conseguido matar aquele navalheiro que há muito enganava toda a gente. De pelagem negra, bem encabelado, com um para de amoladeiras beíssimas e uma navalhas bastante boas, pesou na balança 122 kgs certinhos... Com aquele "monstro" a encher a bagageira do Land Rover e o meu amigo com um sorriso de orelha a orelha, antes de partirmos rumo a casa, disse ainda ao guarda que, provávelmente e agora durante uns dias, o porco se ausentaria dali, mas que mantivésse aquilo debaixo de olho, e logo que ele desse indícios de ter voltado, me telefonasse de imediato, para o esperar novamente, e assim foi. Já em casa, não houve dia que não pensasse naquele navalheiro, naquela noite, e quando faltavam dois dias para o pico da lua, recebo um telefonema que me diexou mais contente que nem um rato, ele tinha voltado e continuava a marcar presença no "campo da bola". Estratégia afinada, dei-lhe mais um dia para se enquerençar, e no dia seguinte, agora na companhia do meu amigo Alexandre, este irmão do Joaquim, voámos para a zona de caça de armas e bagagens... _Veja lá ò Sr. Gilberto, hoje não se esqueça de fumar um cigarrinho também. Dizia-me o guarda em tom de gozo, quando já nos aproximávamos do palco onde tudo se iria desenrolar. _ Não sei vamos ver, nunca se sabe... Já com o cevadouro á vista, o guarda pensava que me iria deixar no mesmo sítio, e "embica" a viatura para lá, quando lhe perguntei o que estaria a fazer e... _ Páre lá a carrinha que tenho que ver uma coisa, mas não desligue o motor. Disse-lhe eu. Braço de fora bem na vertical, isqueiro acesso, noto que o vento se mantinha igual á noite anterior, e então disse-lhe para que chegásse a carrinha o mais perto possível de uma azinheira isolada, isto numa rotação de 90 graus em relação ao local onde tinha ficado na última noite, e onde também, supostamente, permaneciam no chão as beatas da meia dúzia de cigarros que ali tinha fumado nessa noite. Com o barulho do motor da carrinha nitidamente a afastar-se pelo caminho fora, e já sentadinho na minha cadeirinha, vara espetada á minha frente no chão para poder apoiar a minha velhinha carabina Voere, ensacado até ás orelhas pelo meu saco de "loden", preparo-me para uma longa e emocionante espera, pois agora tinha lua que chegava e sobrava, para ver e abusar do tempo, mas... mas havia um aspecto, um pormenor que me deixava um pouco apreensivo e que agora não poderia resolver, pois entre a minha posição e o cevadouro, existia um pasto alto e não me deixava ver o milho ali depositado. Cai a noite, e logo uma lebre "ziguezagueante", tonta, de focinho no chão, quase vem esbarrar comigo, parando-se a uns escassos dois metros a olhar para mim... as corujas, estas, também apareceram, e logo se puseram também de atalaia, de espera assim como eu, na mira de algum ratinho menos precavido, ousasse ir comer o milho do cevadouro, quiçá saindo-lhe caro 4/6 O Campo da Bola Escrito por Gilberto Pinelas Quarta, 15 Abril 2009 21:37 - essa ousadia. O tempo passa, e cada vez mais, convenço-me que o porco iria aparecer tarde, que estaria bastante desconfiado, isto em virtude do sucedido na última noite, mas não! Eram cerca das 21.00 horas, vindo do mesmo síto, oiço novamente aquele estalido tão característico, e que me enche de alegria. Aliás, nunca pensei que o facto de ouvirmos um pequeno barulhinho, um partir de um pauzinho, fosse motivo de tanto contentamento, mas assim é, principalmente para aqueles que vivem estas situações, esta modalidade de caça tão bela, a 100%. De vez em quando, inadvertidamente, pisa mais alguns paus, e noto que se aproxima-se cada vez mais, vem cauteloso, vagaroso, fazendo paragens, mas desta vez ainda não soprou, e mais uma vez começo a ficar irritado, pelo facto de haver tanta luz e mesmo assim não ter conseguido vê-lo por entre as árvores, mas de facto não conseguia mesmo! Durante uma longa meia hora, deixo-o de ouvir e começo a questionar-me se não se terá ido embora, sem que eu tenha dado conta disso, mas não! Sopra agora e parece-me querer posicionar-se no mesmo sítio quando me descobriu no nosso último "encontro", mas... mas eu agora já não estava lá, e ele dava-me a entender que ainda não o sabia. Lentamente vai rodando, vai soprando, e coloca-se sem que eu mesmo assim o consiga vislumbrar, exactamente no mesmo sítio onde estivera naquela angustiante última noite de quarto crescente em que nos "apresentámos", um ao outro. _ Fixou-se Gilberto, fixou-se... Dizia eu entre dentes e em surdina, tal era o nervoso miúdinho e a enorme expectativa. O coração esse, quase que parecia querer saltar-me pela boca, e não parava de engolir em sêco, tal a emoção que sentia. Passam os minutos, cai novamente um silêncio que me incomoda brutalmente, e nisto ouço o porco a movimentar-se, dando indicação de se querer agora posicionar nas minhas costas novamente. _ Fod...-se! Não acredito nisto, _ Não me digam que o sacana do porco me vai descobrir outra vez. E de facto não havia dúvidas, o porco agora mais tranquilo, pelo menos parecia-me, este movimentava-se no intuito de se colocar outra vez nas minhas costas, mas... mas não sei porquê, quando chega perto do trilho feito pela carrinha aquando da minha colocação, dá novamente um sopro e volta para trás num passo mais descuidado, mais apressado, pois agora conseguia nitidamente ouvi-lo a deslocar-se. Com algumas ideias menos positivas a assaltarem-me constantemente o meu pensamento, começo a ficar verdadeiramente nervoso, e penso que aquele porco já não entrava no cevadouro, pois a maneira como invertera o seu rumo, daquela maneira, levava-me a crer sinceramente, que se iria embora, para não mais o ver. Mas não! Volta a posicionar-se no mesmo esconderijo que lhe tinha dado tão bons resultados na última noite, pára de soprar, começa a caminhar lentamente na direcção onde o tinha esperado no primeiro dia da lua, e eis que consigo vê-lo pela primeira vez, de ventas no ar, sorvendo o vento. Numa lentidão extrema, mas com o olhar sempre fixo naquele digno adversário, com a ponta dos dedos, toco finalmente na madeira fria da carabina e muito lentamente tento erguê-la... Durante este gesto que práticamente antecede um desfecho mais que provável, o porco, agora mais tranquilo, mas mais descuidado também, isto provávelmente pelas suas enganosas certezas, mesmo assim e ainda no intuito de se certificar definitivamente, chega mesmo perto muito perto do local onde eu estivera da última vez, provávelmente ainda pelo cheiro das beatas dos cigarros que ali ficaram propositadamente e... e nisto, num trote despreocupado, de 5/6 O Campo da Bola Escrito por Gilberto Pinelas Quarta, 15 Abril 2009 21:37 - atravessado dirige-se para o cevadouro. De carabina na cara e já apoiada na "forqueta" da minha também já velhinha vara, por incrível que pareça, sinto agora um imenso conforto, uma imensa acalmia, e enquanto o meu adversário segue no seu passo apressado, no intuito de saciar a sua fome, rumo ao "campo da bola", mesmo assim, em cinco aumentos, consigo ainda meter-lhe o retículo da "Schimt & Bender" na sua agora recortada e vísivel figura. Poderia tê-lo abatido logo ali, na sua caminhada para a comida, mas não o fiz. Queria disfrutar ao máximo aquela noite mágica, aquele lance, e esperei que se posicionasse para culminar o lance calmamente. Chega ao cevadouro e antes de começar a comer, dirige-se ao pinheiro morto, cheira-o, dá uns sopros mais, e quando eu pensava que se iria esfregar nele, dá uns passos e... e fica a comer o milho, mas tapado pelos pastos altos, conseguindo eu apenas ver e mal, uma pequena parte do seu lombo e nada mais. _Merda! No meio de tanta emoção e atenção, tinha-me esquecido daquele pormenor, e agora quase que não via o porco. Aumentos no máximo, dez aumentos, tento descortinar-lhe no meu imaginário, o que seria a sua zona do omoplata, da "pá", respiração controlada, e decido finalmente "soltar-lhe" uma bala de 150 grains, Nosler Ballistic Tip... Puuuuuum! Naquele silêncio da noite, apenas entrecortado pelo barulho que o javali fazia ao mastigar o grão, diga-se, o estrondo do tiro ecoou por aquela planície fora, e fez calar a noite definitivamente... tinha-se culminado o lance. Tiro a carabina da cara, respiro fundo e escuto como "pateia" o meu adversário, supostamente vendo a sua vida esgueirar-se e a sua noite fazendo-se definitivamente escura... O silêncio era agora total, e por isso decido puxar de um cigarro para me acalmar definitivamente, mas... mas de repente começo a ouvir barulho e um sopro vindo do local do cevadouro, deixa-me admirado. _ Não acredito! _ Não me digam que o porco está vivo? Num ápice levanto-me da cadeira, poiso a carabina em cima da mochila, liberto-me do saco de espera, pego novamente na carabina e devagarosamente acerco-me do cevadouro para confirmar o sucedido. E realmente, infelizmente, posso dizê-lo, o porco estava ainda vivo, para mal dos meus pecados e... ainda pensei rematá-lo á faca, mas não me deu hipóteses. Sempre que procurava entrar-lhe por trás, o porco voltava-se e não me deixava aproximar... rematei-o com outro tiro. Para que percebam melhor, e por incrível que pareça, ao invés da minha suposição, coloquei-lhe o tiro na anca. Ao posicionar-se para comer, este navalheiro de 98 kgs, tapado pelos pastos altos que não me deixaram vê-lo bem, este terá rodado, virou-se ao contrário, e eu não me apercebendo da sua real posição, fiz o que fiz, mas... mas tinha conseguido finalmente marcar um "golo" naquele "campo da bola". Isto são as esperas aos javalis, é a CAÇA! Já agora pensem nisto... 6/6